TOTVS CNI MIT Reorganização Das Cadeias Globais
TOTVS CNI MIT Reorganização Das Cadeias Globais
TOTVS CNI MIT Reorganização Das Cadeias Globais
DAS CADEIAS
GLOBAIS DE VALOR
RISCOS E OPORTUNIDADES
PARA O BRASIL, RESULTANTES
DA PANDEMIA DE COVID-19
REORGANIZAÇÃO
DAS CADEIAS
GLOBAIS DE VALOR
RISCOS E OPORTUNIDADES
PARA O BRASIL, RESULTANTES
DA PANDEMIA DE COVID-19
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA – CNI
Robson Braga de Andrade
Presidente
Gabinete da Presidência
Teodomiro Braga da Silva
Chefe do Gabinete - Diretor
Diretoria Jurídica
Hélio José Ferreira Rocha
Diretor
Diretoria de Comunicação
Ana Maria Curado Matta
Diretora
Diretoria de Inovação
Gianna Cardoso Sagazio
Diretora
CNI
Superintendência de Desenvolvimento Industrial
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CNI
Confederação Nacional da Indústria
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Tel.: (61) 3317–9000
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LISTA DE
FIGURAS
Figura 1 – Filiais estrangeiras ligadas verticalmente e suas matrizes, 2011..................................29
Figura 2 – P
articipação “para frente” e “para trás” nas CGVs, 1995 e 2011
(as 25 maiores economias em 2011).............................................................................30
Figura 3 – E
xportações e importações mensais para todos os produtos, janeiro
de 2018-2021, para 18 exportadores, em US$..............................................................36
Figura 4 – E
xportação de produtos finais e importação de produtos intermediários
em três setores da CGV, fluxos comerciais mensais, janeiro de 2018-2021,
para 18 exportadores, em US$......................................................................................37
Figura 5 – E
xportações de itens relacionados à pandemia, fluxos comerciais mensais,
janeiro de 2018-2021, 18 exportadores, em US$..........................................................39
Figura 6 – Variação no PIB do Brasil em termos relativos e absolutos, 1961-2019.......................44
Figura 7 – Taxa de câmbio mensal do Brasil, R$ para US$, 2003-2020.........................................45
Figura 8 – P
articipação das exportações brasileiras em três commodities primárias: soja,
minério de ferro e petróleo, com pontos de inflexão.....................................................47
Figura 9 – Participação
da China nas importações anuais e mensais de soja do Brasil
e dos EUA, 1996-2019....................................................................................................48
Figura 10 –Balança comercial do Brasil - Classificação em grupo de Lall por nível
de intensidade tecnológica, 1995-2018.......................................................................49
Figura 11 – Locais de fornecimento de produtos para empresas brasileiras selecionadas,
2016-2020 (set.), % kg..................................................................................................51
Figura 12 – Exportações e importações mensais de todos os produtos do Brasil e países
comparados, e exportações brasileiras de soja e minério de ferro,
janeiro 2018-2021, em US$..........................................................................................55
Figura 13 – E
xportação de produtos finais e importação de produtos intermediários em três
setores da CGV, fluxos comerciais mensais, janeiro de 2018-2021, para o Brasil
e países comparados, em US$....................................................................................56
LISTA DE
TABELAS
Tabela 1 – P
apéis nas CGVs “governadas” com especializações, principais atributos,
benefícios e riscos..........................................................................................................33
Tabela 2 – F
luxos acumulados de entrada e saída de investimento estrangeiro direto,
2005-2020, 20 maiores países (US$ Milhão).................................................................50
Tabela 3 – 500 maiores empresas no Brasil por país de propriedade e vendas líquidas - 2019...53
Tabela 4 –500 maiores empresas no Brasil por setor, vendas líquidas (US$ milhões)
e propriedade - 2019.......................................................................................................54
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO............................................................................................................................ 9
APRESENTAÇÃO ..........................................................................................................................11
RESUMO EXECUTIVO.................................................................................................................. 13
Contexto......................................................................................................................................13
Conclusões.................................................................................................................................13
Recomendações ........................................................................................................................15
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 19
2 CONTEXTO: O QUE SÃO CGVs E POR QUE ELAS SÃO IMPORTANTES?.......................... 27
2.1 Papéis nas CGVs..................................................................................................................28
2.2 Oportunidades e riscos........................................................................................................31
3 PARTE I. DIAGNÓSTICO DO IMPACTO GLOBAL DA PANDEMIA DE COVID-19 SOBRE
AS CGVs..................................................................................................................................... 35
3.1 Tendências comerciais durante a pandemia.......................................................................35
3.2 Tendências de investimento estrangeiro direto durante a pandemia.................................40
4 PARTE II: EFEITOS PARA O BRASIL....................................................................................... 43
4.1 Crise e volatilidade no Brasil................................................................................................43
4.2 Posição comercial do Brasil nas CGVs................................................................................46
4.3 O investimento estrangeiro direto e o papel das empresas multinacionais no Brasil........49
4.4 Desempenho comercial do Brasil durante a pandemia......................................................55
5 RECOMENDAÇÕES................................................................................................................... 61
REFERÊNCIAS.............................................................................................................................. 63
Apresentação 9
APRESENTAÇÃO
Na década de 1990, o comércio internacional de bens e serviços se organizou em
Cadeias Globais de Valor (CGVs). Nesse tipo de arranjo, países e regiões que recebem
investimentos produtivos são definidos com base na fragmentação da produção e nas
estratégias das empresas.
Entretanto, nos últimos anos, as CGVs vêm passando por uma série de transformações,
causadas por decisões empresariais ou por fatores geopolíticos. Essas mudanças podem se
acelerar devido aos impactos da pandemia de Covid-19, que, ao interromper diversos siste-
mas de produção, trouxe insegurança ao suprimento de bens e serviços em todo o mundo.
A posição do Brasil nas CGVs ainda é frágil. Não temos papel relevante em inovação
e controle, em processamento de exportações nem em vendas ao exterior de peças e
componentes. Nossas exportações estão cada vez mais concentradas em bens intensivos
em recursos naturais.
Além disso, os investimentos brasileiros no exterior têm sido pouco expressivos em relação
aos de outros países com um nível de desenvolvimento similar ao nosso. De outro lado,
os investimentos estrangeiros no Brasil têm se limitado a atividades que visam principal-
mente o mercado doméstico.
Para avaliar o cenário e contribuir com o debate sobre as mudanças recentes nas CGVs,
a Confederação Nacional da Indústria (CNI) e a TOTVS encomendaram este estudo ao
professor Timothy Sturgeon, do MIT Industrial Performance Center, e ao professor Mark
Dallas, do Union College.
Boa leitura.
APRESENTAÇÃO
Aqui na TOTVS, a gente acredita que o sucesso do Brasil passa pelo sucesso das compa-
nhias nacionais. Nascemos e crescemos nesse país que vai muito além de praia e futebol,
e continuamos comprometidos em escalar nossos negócios e os de outras milhares de
companhias para que o país e o seu ecossistema empresarial sigam crescendo.
E foi assim que surgiu esse estudo. Nossa parceria com a CNI reafirma nossa missão
de apoiar o país com dados e informações que de fato colaborem para a retomada da
economia. A partir da análise dos efeitos da pandemia sobre as Cadeias Globais de Valor
(CGVs) no Brasil e no mundo, a pesquisa se baseou nas estatísticas mais recentes sobre
comércio e investimentos internacionais para ajudar o Brasil a encontrar os melhores
caminhos para o futuro.
Esperamos que este material traga conhecimentos importantes para nos ajudar a passar
por este momento desafiador, certos de que os brasileiros são capazes de enxergar
oportunidades, mesmo nas dificuldades. A TOTVS acredita no Brasil que faz.
Boa leitura!
Dennis Herszkowicz
Presidente da TOTVS
Resumo Executivo 13
RESUMO EXECUTIVO
CONTEXTO
Este relatório analisa os efeitos da pandemia de covid-19 sobre as Cadeias Globais de
Valor (CGVs), em todo o mundo e no Brasil, com foco nas estatísticas mais recentes sobre
comércio e investimentos internacionais. O objetivo desse estudo é contribuir para o
debate e construção de políticas públicas para o aumento da integração internacional do
Brasil, em especial, para a integração nas CGVs.
CONCLUSÕES
O que são CGVs e por que elas são importantes?
RECOMENDAÇÕES
• O governo e as empresas brasileiras podem precisar rever seus acordos e relações
comerciais;
• O Brasil é altamente dependente da China, tanto como destino das suas expor-
tações de commodities, quanto como fonte de produtos intermediários de alto
valor agregado adquiridos por empresas líderes e seus fornecedores que atuam
no Brasil. O comércio industrial é mais intensivo com Estados Unidos, Europa
e América Latina, que podem ser priorizados;
• O Brasil importa muito mais produtos intermediários do que exporta produ-
tos finais, uma vez que a produção nestes setores se destina principalmente
ao mercado interno, especialmente quando consideramos que as exportações
certamente incorporam alguma parcela de produtos intermediários importados.
Contudo, empresas de setores específicos apresentam perfis de fornecimento
muito diferentes para produtos intermediários, logo é mais prudentes analisar
seus perfis de importação individualmente;
REORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR.
16 – RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, RESULTANTES DA PANDEMIA DE COVID-19
• As empresas bem sucedidas devem olhar para fora do Brasil, não apenas para
as exportações, mas também para os investimentos no exterior, almejando uma
expansão global.
1 INTRODUÇÃO 19
1 INTRODUÇÃO
Há cinco anos, ninguém seria capaz de imaginar as recentes mudanças nas cadeias globais
de valor (CGVs), no que se refere ao comércio, investimento estrangeiro, sourcing global
e política industrial. Uma guerra comercial entre os EUA e a China e uma pandemia
global fizeram com que as empresas e os políticos repensassem suas ideias de como a
economia global deve funcionar e ser regida.
Inicialmente, essas mudanças foram desencadeadas pela geopolítica, que de uma hora
para outra abandonou as estratégias comerciais neoliberais baseadas em regras para
corte de custos e acesso ao mercado, que vinham impulsionando a integração global
e a formação de CGVs desde a década de 90. As guerras comerciais e tecnológicas instigadas
pela administração Trump foram, em parte, uma reação à percepção de práticas comerciais
desleais por parte da China, mas, mais importante, aos esforços de longa data e cada vez
mais agressivos da China para alcançar os países da OCDE tecnologicamente1 – e, com
isso, econômica e politicamente.
A pressão política das empresas recém-globalizadas sediadas nos EUA há muito impedia
as administrações anteriores de implementar políticas destinadas a apoiar a produção
doméstica, restringindo a inundação de bens de consumo nos EUA. Para a surpresa de
muitos, essa pressão teve pouca influência no governo Trump, que tomou várias medidas
para escalar a guerra comercial, mesmo depois de a China retaliar com tarifas sobre
commodities agrícolas dos EUA, especialmente a soja.
Além das guerras tarifárias entre EUA e China, os EUA iniciaram ataques generalizados
a algumas das principais empresas tecnológicas da China, usando outras ferramentas
políticas, principalmente controles de exportação sobre a tecnologia dos EUA. Embora seja
possível dizer que as guerras tecnológicas foram iniciadas pela ZTE (uma empresa chinesa
de telecomunicações) em 2017 e 2018, essas disputas foram rapidamente resolvidas por
meio de negociações, que incluíram uma multa sem precedentes sobre a ZTE e mudanças
significativas na governança corporativa impostas à empresa.
Então, a partir de fevereiro e março de 2020, a pandemia provou que uma crise de saúde
pública é capaz de perturbar o status quo de forma ainda mais abrangente, profunda e
rápida. A pandemia trouxe duas crises interligadas entre si – uma crise na saúde pública, uma
vez que o vírus se propagou rapidamente por todo o mundo devido à interconectividade
das viagens internacionais e, logo depois, uma crise econômica global, à medida que as
economias começaram a paralisar e a demanda sofreu mudanças radicais, causando caos
em muitas cadeias de suprimentos.
Apesar da incerteza contínua, podemos afirmar algumas coisas com certa confiança. Primeira-
mente, os impactos mais agudos nas CGVs ocorreram no primeiro e no segundo trimestres de
2020. Depois que foram feitos ajustes nas práticas de produção e fornecimento, a produção
e o comércio retornaram a níveis próximos aos registrados antes da pandemia no 3º e 4º
trimestres do ano. A demanda reduzida por serviços presenciais, como entretenimento, foi
mais prolongada. Contudo, por envolverem pouco comércio e investimento internacionais,
a crise nesses setores tem menos impacto nas CGVs.
No fim das contas, a China era a fonte mais importante de muitos produtos e insumos críticos,
e muitos países, incluindo a própria China, se movimentaram rapidamente para bloquear as
exportações, mesmo para parceiros comerciais de longa data, embora em caráter temporário.
REORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR.
22 – RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, RESULTANTES DA PANDEMIA DE COVID-19
Estes eventos, agravados pela guerra comercial e uma guinada em direção ao naciona-
lismo econômico e tecnológico, levaram à desvalorização das moedas mais valiosas nos
negócios internacionais e na cooperação econômica: a confiança e a previsibilidade das
instituições. Estas decisões políticas rápidas e drásticas vieram como um choque para as
práticas comerciais normais. Empresas multinacionais que haviam se convencido de que
eram de alguma forma “metanacionais” e não dependiam do regime político de seu país
de origem rapidamente descobriram o quanto estavam erradas.
Como as empresas irão ajustar suas estratégias a longo prazo dependerá em grande
parte da extensão e rapidez com que o novo governo dos EUA conseguirá “voltar ao
normal” no âmbito geopolítico e da eficácia das vacinas no controle da pandemia.
No entanto, estamos confiantes de que os acontecimentos dos últimos anos e meses não
serão facilmente esquecidos. Enquanto esperamos a roda política girar e para ver como
as vacinas serão eficazes no controle do vírus, é evidente que muitas das mudanças que
estamos vendo hoje influenciarão significativamente os negócios e a tomada de decisões
políticas por muitas décadas.
Talvez por causa da capacidade comprovada das CGVs de se adaptarem e das economias
de se recuperarem desses “cisnes negros” (eventos raros e imprevisíveis), mesmo que
às vezes de forma lenta e incompleta, as respostas anteriores em geral foram voltar aos
negócios normalmente ou mesmo dobrar as CGVs que entregam com o menor custo.
Com isso, mesmo quando o comércio global começou a desacelerar em 2011, a China
manteve e até consolidou sua posição central em uma série de CGVs, incluindo, ao que
parece, para EPIs e, junto com a Índia, para insumos farmacêuticos genéricos.
Conforme a pandemia revelou, as CGVs são complexas, e pode ser difícil identificar nós
críticos com antecedência. As realidades de produção e investimento variam para uma
infinidade de produtos finais, produtos intermediários e serviços que contribuem para
qualquer produto, e vulnerabilidades geopolíticas complexas e inesperadas podem surgir
quando as cadeias de suprimentos atravessam várias fronteiras. Os problemas revelados
incluem, entre outros:
Uma lição óbvia que pode ser aprendida pelas empresas e países é produzir e manter
mais estoque de produtos e insumos essenciais. Como isso será feito ainda não se sabe
ao certo. A aplicação direta de restrições abrangentes em amplos setores industriais
provavelmente trará consequências negativas e indesejadas.
O Brasil está enfrentando essas novas mudanças globais a partir de um ponto de partida
específico, a maioria com raízes na sua política econômica adotada no século 20: as
exportações estão concentradas em commodities primárias e produtos manufaturados
primários, com os setores de maior intensidade tecnológica dominados por empresas
líderes e fornecedores multinacionais.
As CGVs são impulsionadas por uma dupla “dissociação” geográfica e organizacional, fre-
quentemente referidas como offshoring (ou deslocalização) e outsourcing (terceirização)
(Baldwin, 2011, 2016). O resultado é uma presença cada vez maior de empresas multinacionais
no exterior em busca de mercado, de reduzir custos e aumentar a capacidade, bem como
o aumento do uso de um novo e crescente quadro de fornecedores “globais” altamente
capacitados que podem apoiar as necessidades operacionais, de materiais e de insumos em
todo o mundo.
Uma razão para essa “coordenação explícita” ser importante é que ela cria caminhos
para a aplicação de poder, bem como oportunidades para modernizar a indústria quando
fornecedores e unidades de produção distantes precisam atender aos padrões globais de
características do produto, normas ambientais ou trabalhistas, demandas de qualidade,
entrega ou qualquer número de demandas estabelecidas pelas empresas líderes que
estabelecem operações em novos locais ou fazem pedidos.
As principais diferenças na abordagem são que esses pesquisadores são mais propensos a
pesquisar no nível da empresa (ao invés de fluxos comerciais agregados), e que a definição
de ciência social não economista exclui commodities primárias, o que é uma distinção
importante para o Brasil, um país com forte especialização em exportação de commodities
como minério de ferro e soja, bem como produções mais simples e baseadas em recursos
naturais, como alimentos e bebidas. Como veremos adiante, o uso desta definição mais
restrita de CGV destaca a posição excepcionalmente fraca do Brasil nas CGVs.
Inovação e controle. Este papel é mais frequentemente desempenhado por locais que
concentram as sedes das “empresas líderes”. Neles, são estabelecidas normas e são tomadas
2 Por exemplo, nas áreas de geografia econômica, sociologia industrial, ciência política e estudos de desenvolvimento, bem como na
gestão internacional.
2 CONTEXTO: O QUE SÃO CGVs E POR QUE ELAS SÃO IMPORTANTES? 29
decisões sobre onde realocar a produção e outras funções da CGV. Por serem “compradores”,
as empresas líderes têm o poder de selecionar fornecedores e de participar na coordenação
explícita da cadeia. Tipicamente, as sedes globais e/ou regionais são onde a P&D, concepção e
desenvolvimento de produtos e marketing, são desenvolvidos, ou seja, as atividades relacio-
nadas à inovação da EMN. Embora a Figura 1 não inclua compradores que não utilizam filiais
próprias para a produção internacional (os grandes varejistas e os revendedores de marca
frequentemente utilizam uma abordagem totalmente terceirizada ou ”sem fábricas”), ela
mostra claramente como as sedes de EMNs se concentram nos países da OCDE. Apesar de
as EMNs de países menos desenvolvidos, como China, Índia e Brasil, estarem aumentando
sua presença internacional, o padrão de dominância da OCDE é claro e persistente.
Fonte: Blyde (ed.) (2014, p. 29) usando cálculos baseados nos dados de Dun & Bradstreet.
FIGURA 2 – Participação “para frente” e “para trás” nas CGVs, 1995 e 2011 (as 25 maiores economias
em 2011)
Participação “para trás” na CGV Participação “para frente” na CGV
(sugere o papel de processador de exportação) (sugere o papel de exportador de peças e componentes)
Hungria Japão
Eslováquia Países Baixos
Rep. Tcheca Suíça
Taiwan EUA
Irlanda Reino Unido
Singapura Suécia
Coreia do Sul Áustria
Malásia Romênia
Bulgária Alemanha
Tailândia Dinamarca
Cambodja Letônia
Vietnã Taiwan
Eslovênia Bélgica
Estônia Lituânia
Finlândia Polônia
Bélgica Hong Kong
Dinamarca Finlândia
Portugal Eslovênia
1995 1995
Tunísia França
Polônia 2011 Itália 2011
China Eslováquia
México Estônia
Países Baixo Coreia do Sul
Suécia Espanha
Letônia Singapura
0 10 20 30 40 0 10 20 30 40
Percent of export value Percent of export value
Observações:
• A participação “para trás” na CGV é medida pela parcela dos produtos intermediários importados incorporada no valor das exportações (sugere o papel
do processador de exportações nas CGVs);
• A participação “para frente” na CGV é medida pela parcela do valor das exportações incorporada nas exportações dos parceiros comerciais (sugere o papel
de exportador de peças e componentes intermediários nas CGVs).
• A classificação “para frente” exclui países com 49% ou mais das exportações de 2011 em commodities primárias (categorias ISIC 0, 1, 2, 3, 4 e 68). Foram
excluídos Brunei, Arábia Saudita, Noruega, Rússia, Peru, Chile, Indonésia, Colômbia, Austrália, Filipinas, Islândia, Brasil e África do Sul.
Fontes:
• GVC participation: OECD/WTO Trade in Value-added Indicators - https://stats.oecd.org/
• Commodity share of exports: UNCTAD - https://unctadstat.unctad.org
3 A presença de países da Europa Ocidental na lista se deve principalmente a um forte comércio entre regiões.
2 CONTEXTO: O QUE SÃO CGVs E POR QUE ELAS SÃO IMPORTANTES? 31
Por outro lado, como as CGVs são fragmentadas geograficamente, os países podem se
especializar verticalmente em funções comerciais específicas na cadeia de valor agregado,
como P&D ou fabricação, mas também em funções de baixo valor agregado. Semelhante
ao nível da empresa, a especialização no nível nacional ou regional também pode ser uma
faca de dois gumes, dependendo da “fatia” da cadeia de valor. Por exemplo, a separação
geográfica entre produção e inovação é uma característica marcante das CGVs.
A Tabela 1 lista os benefícios e riscos para os papéis na CGV mencionados acima, indicando
as especializações em exportação, importação e fluxo de investimentos e principais
atributos. Obviamente, as empresas de qualquer país desempenham vários papéis nas
CGVs, mas a predominância de um papel específico é bastante comum, com benefícios
e riscos associados.
O caso do Brasil é atípico para uma grande economia, devido à sua postura introspectiva
em relação às CGVs. As exportações se concentram em commodities primárias e na pro-
dução baseada em recursos (que não fazem parte das CGVs na visão do cientista social
não economista), enquanto nas CGVs as importações de produtos intermediários com alta
intensidade de conhecimento e os setores com altos custos para comercializar se concen-
tram nos mercados doméstico e regional. O alto IED nos setores com alta intensidade de
conhecimento e tecnologia cria empregos e eleva os padrões para a base industrial, mas
gera custos operacionais altos, a demanda fica dependente do mercado local (volátil) e
desestimula a inovação. Este último ponto é agravado pelo fato de que, para uma EMN,
a maior parte da inovação ocorre em seu país de origem.
TABELA 1 – Papéis nas CGVs “governadas” com especializações, principais atributos, benefícios e riscos
Exemplo de
Especializações
Especializações Especializações Principais obtenção de valor
Papel na CGV em fluxos de Benefícios Riscos
em exportação em importação atributos de um iPhone 4 de
investimentos
US$ 600 (2010)
Liderança de Apple: US$ 360 (60%)
Poder do compra- Inovação com
Comando e con- Encomendas, marca e inova- • P&D e design: US$
dor, obtenção de baixo nível de
trole (locais com coordenação e Produtos acabados IED no exterior ção, liderança no 270 (45%)
valor, liderança emprego, desi-
sedes de EMNs) controle estabelecimento • Distribuição e varejo:
em inovação gualdade
de padrões US$ 90 (15%)
Comp. principais: US$
Poder do forne- Isolamento em 124 (21%)
Exportação de
Produtos interme- Nenhuma especí- cedor, obtenção nichos, encapsula- • Coréia (62%)
peças e compo-
diários com alta fica - depende do Liderança em de valor, liderança mento de compe- • EUA (20%)
nentes (inte- Nenhuma específica
intensidade de tamanho e peso inovação em inovação tências essenciais
gração “para • Alemanha (13%)
conhecimento do item para materiais e em produtos de
frente”) • França (2,5%)
componentes outros
• Japão (0,5%)
Custos elevados,
Commodities pri- Produtos interme- Grande mercado Filiais estrangeiras pouco incentivo à
IED do exterior Montagem + custos
márias e baseadas diários com alta protegido, centro elevam o nível da inovação, produ-
Caso do Brasil para o mercado elevados para impor-
em recursos (não intensidade de regional na Am. base industrial, ção dependente
interno tar e exportar
incluídas na CGV) conhecimento do Sul criam empregos das condições do
mercado local
2 CONTEXTO: O QUE SÃO CGVs E POR QUE ELAS SÃO IMPORTANTES?
33
3 PARTE I. DIAGNÓSTICO DO IMPACTO GLOBAL DA PANDEMIA DE COVID-19 SOBRE AS CGVs 35
3P
ARTE I. DIAGNÓSTICO DO
IMPACTO GLOBAL DA PANDEMIA
DE COVID-19 SOBRE AS CGVs
Nesta seção analisaremos o impacto da pandemia de covid-19 sobre as CGVs. Como
os dados para 2020 ainda eram limitados na data de elaboração deste relatório, nosso
foco será principalmente as mudanças nos fluxos de comércio internacional para os países
onde há dados mensais disponíveis, e especialmente em setores onde as CGVs evoluíram
amplamente desde os anos 90, como eletrônicos, veículos automotivos e vestuário. Também
analisaremos os fluxos de produtos relacionados à pandemia, como EPIs, equipamentos
médicos e insumos farmacêuticos. Entretanto, também abordaremos o outro indicador
principal da atividade das CGVs, o investimento estrangeiro direto (IED).
semelhante de crise e recuperação, com uma retomada mais lenta, muito provavelmente
porque os fabricantes importadores utilizaram os estoques existentes antes de retomar
as importações (ver painel inferior da Figura 3).
FIGURA 3 – Exportações e importações mensais para todos os produtos, janeiro de 2018-2021, para
18 exportadores*, em US$***
Exportações
Importações
*Inclui apenas os 18 países que divulgaram seus dados comerciais mensais para 2020: Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, China, Alemanha, Irlanda, Japão, Países
Baixos, Filipinas, Portugal, Rússia, Singapura, África do Sul, Coreia do Sul, Espanha, Suécia e Estados Unidos. Portanto, o gráfico não inclui todos nem os
maiores países envolvidos no comércio.
**Foram utilizadas as taxas de câmbio de janeiro de 2020 quando os dados comerciais foram relatados na moeda local
Fonte: Explorador de Tendências Recentes do Observatório da Complexidade Econômica
Uma exceção é a China, que havia sofrido uma queda anterior relacionada à guerra comercial
em fevereiro de 2019, de US$ 191 bilhões para US$ 115 bilhões, com uma recuperação
gradual até um novo pico de US$ 204 bilhões em dezembro de 2019, quando as sanções
comerciais impostas pelos EUA foram parcialmente revistas para a maioria das categorias
3 PARTE I. DIAGNÓSTICO DO IMPACTO GLOBAL DA PANDEMIA DE COVID-19 SOBRE AS CGVs 37
de produtos. Mas esta foi a véspera da pandemia, que surgiu pela primeira vez na China,
reduzindo as exportações para um nível ainda mais baixo, de US$ 68,4 bilhões em fevereiro
de 2020, uma queda de 2/3. No entanto, a retração durou pouco e as exportações da China
bateram um novo recorde de US$ 211 bilhões em julho, em parte para atender aos pedidos
em atraso, antes de cair novamente abaixo da média de US$ 154 bilhões em setembro.
FIGURA 4 – E
xportação de produtos finais e importação de produtos intermediários em três setores
da CGV, fluxos comerciais mensais, janeiro de 2018-2021, para 18 exportadores*, em US$**
Exportações de veículos automotivos (HS 8703) Importações de peças para veículos automotivos (HS 8708)
*Inclui apenas os 18 países que divulgaram seus dados comerciais mensais para 2020: Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, China, Alemanha, Irlanda, Japão, Países
Baixos, Filipinas, Portugal, Rússia, Singapura, África do Sul, Coreia do Sul, Espanha, Suécia e Estados Unidos. Portanto, o gráfico não inclui todos nem os maiores
países envolvidos no comércio.
**Foram utilizadas as taxas de câmbio de janeiro de 2020 quando os dados comerciais foram relatados na moeda local
Fonte: Explorador de Tendências Recentes do Observatório da Complexidade Econômica
REORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR.
38 – RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, RESULTANTES DA PANDEMIA DE COVID-19
O Japão, que atipicamente apresenta níveis extremamente baixos de IED (ver Tabela 2),
é um importador insignificante de produtos intermediários (peças e componentes), o que
significa que a maioria dos fornecedores são japoneses e sediados no Japão.
O papel da China neste setor é muito diferente do que no setor eletrônico. Semelhante
ao Brasil, as exportações de veículos acabados são baixas e as importações de produtos
intermediários são altas, já que a produção se destina principalmente ao mercado interno,
que é o maior do mundo e ainda se encontra em crescimento. Neste segmento da CGV
automotiva, a China atua como uma plataforma de exportação.
Na Figura 4, isso é refletido pelo vasto domínio da China nas exportações de produtos
finais (vestuário) e nas importações insignificantes e de produtos intermediários (têxteis).
Por fim, a Figura 5 mostra as tendências recentes de exportação de itens com alta demanda
devido à pandemia. É importante ressaltar novamente que nem todos os países estão
representados, apenas os 18 que divulgaram suas estatísticas mensais, e em meio a uma
crise e um choque de demanda global, as exportações unitárias são reflexos mais precisos
do comércio real devido ao aumento abusivo de preços.
Esterilizadores médicos, cirúrgicos ou de laboratório Recipientes para gás comprimido/liquefeito, ferro ou aço
REORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR.
40 – RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, RESULTANTES DA PANDEMIA DE COVID-19
*Inclui apenas os 18 países que divulgaram seus dados comerciais mensais para 2020: Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, China, Alemanha, Irlanda, Japão, Países
Baixos, Filipinas, Portugal, Rússia, Singapura, África do Sul, Coreia do Sul, Espanha, Suécia e Estados Unidos. Portanto, o gráfico não inclui todos nem os maiores
países envolvidos no comércio.
**Foram utilizadas as taxas de câmbio de janeiro de 2020 quando os dados comerciais foram relatados na moeda local
Fonte: Explorador de Tendências Recentes do Observatório da Complexidade Econômica
Com estas ressalvas em mente, os dados ainda indicam claramente que a composição
dos exportadores de itens altamente regulamentados, como medicamentos embalados,
não mudou muito durante a pandemia além de um aumento nas exportações em geral
entre fevereiro e agosto de 2020, provavelmente pela dificuldade de substituir os locais
de produção para itens altamente regulamentados, onde as linhas de produção devem
ser certificadas. No caso de produtos com alta intensidade tecnológica que poderiam ser
substituídos, como ventiladores pulmonares, esterilizadores e cilindros de oxigênio, foi
observada certa substituição temporária de produtos fabricados nos EUA por produtos
chineses (embora o nível de qualidade dos produtos substituídos muitas vezes fosse
diferente), com um retorno ao status quo em um nível mais elevado nos últimos meses.
faixa estimada entre 920 bilhões e 1,080 trilhão). Para a América Latina, esperava-se uma
queda ainda mais acentuada, de 40-55% (de US$ 164 bilhões para US$70-100 bilhões).
A gravidade dessa queda pode ser vista ao compará-la com as variações muito menores
relatadas pela UNCTAD nos últimos anos: um aumento de 14% para a América Latina
em 2017, uma queda de 5% em 2018, e um aumento de 10% em 2019 (UNCTAD, 2020).
Faz todo o sentido que novos investimentos estrangeiros sejam amplamente reduzidos
ou suspensos durante a pandemia.
As reduções no IED nem sempre são motivadas por decisões corporativas. A política também
desempenha um papel. Em um estudo recente de novas medidas políticas relacionadas
ao IED, a UNCTAD (2020) relatou que, entre maio e dezembro de 2020, 52 economias
adotaram 96 medidas políticas de investimento, sendo 45% delas destinadas a restringir
o IED, a maior porcentagem em quase duas décadas. Quase todas visavam reforçar os
regimes de triagem de IED existentes em resposta à pandemia e outras preocupações
de segurança nacional.
4P
ARTE II: EFEITOS PARA
O BRASIL
Qualquer análise do impacto da pandemia de Covid-19 sobre a posição do Brasil nas
CGVs deve partir das condições prévias do país. A economia brasileira sofre com grande
volatilidade há décadas, na condição de exportador dependente de recursos naturais,
e, em geral, dependendo fortemente de empresas multinacionais e da importação de
peças e componentes intermediários em setores com alta intensidade tecnológica,
como o eletrônico e de veículos automotivos, bem como de maquinário e software para
a indústria como um todo.
10
percent
0
1961
1962
1963
1964
1965
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1967
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1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
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1985
1986
1987
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
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1997
1998
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2000
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2019
-5
-10
600,00
400,00
200,00
-
1961
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1969
1970
1971
1972
1973
1974
1975
1976
1977
1978
1979
1980
1981
1982
1983
1984
1985
1986
1987
1988
1989
1990
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1992
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2000
2001
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2012
2013
2014
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2016
2017
2018
2019
(200,00)
(400,00)
(600,00)
(800,00)
Os problemas econômicos do Brasil também são refletidos, até certo ponto, na taxa de
câmbio do real (ver Figura 7). Após altas recorrentes de 0,64 dólares por real no verão
de 2008 e 0,5 no verão de 2011, marcadas por uma queda de curto prazo durante a CFG,
a moeda brasileira perdeu valor em relação ao dólar depois disso, entrando em território
desconhecido de menos de US$ 0,30 após a crise de 2014, com novas quedas depois disso,
atingindo o mínimo histórico de US$ 0,18 em abril de 2020.
0,6
0,5
Taxa de Câmbio
0,4
0,3
0,2
0,1
99
00
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
19
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
1 Real por Dólar
Observação: Dados cambiais até julho de 2020; dados de exportação até 2018.
Fonte: Investing.com (https://www.investing.com/)
Somente entre 2003 e 2008, a produtividade per capita aumentou 1,5%, enquanto a
taxa de emprego cresceu apenas 0,4% (Dutz, 2018, p. 19).
Essa desaceleração atingiu duramente os produtos com altos preços de compra. A Figura 5
mostra o pico na produção de veículos e do emprego no setor automotivo no período
entre 1993 e 2013, com uma queda acentuada até 2016, e uma fraca recuperação depois
disso. De 2013 a 2016, a produção de veículos caiu 42% e o emprego 23%. Com isso,
as montadoras, juntamente com produtores de outros setores, foram forçadas a reduzir
sua força de trabalho em etapas, em resposta à queda da demanda.
Tudo isso significa que os produtores brasileiros tendem a ter uma estrutura de custo
elevado que eleva os preços e diminui a qualidade para os consumidores, o que limita as
opções políticas e estratégicas para o Brasil e as empresas que estão com dificuldades
para responder à pandemia.
De fato, como mostra a Figura 8, apenas três commodities, minério de ferro, soja e petróleo,
compõem uma parcela cada vez maior das exportações brasileiras, representando quase
um terço em 2010 (com a carne, o café, a cana e o açúcar de beterraba representando mais
10%), com pontos de inflexão desencadeados por mudanças na demanda dos importadores
e eventos geopolíticos. Em ambos os casos, a China desempenhou um papel de destaque.
De 2016 a 2019, a China foi responsável por 93% das exportações de soja do Brasil, 66%
das exportações de minério de ferro e 69% das exportações de petróleo.
4 PARTE II: EFEITOS PARA O BRASIL 47
Com foco na soja, o volume de exportações do Brasil para a China vinha aumentando
em relação aos EUA desde meados da década de 90. A guerra comercial virou a maré
fortemente a favor do Brasil (ver lado esquerdo da Figura 9), além de ter interrompido a
regularidade das exportações sazonais alternadas para a China dos EUA (normalmente
com pico em outubro e novembro) e do Brasil (normalmente com pico em abril e maio).
Nesse caso, o Brasil se beneficiou do conflito, mas com a desaceleração parcial da frente
agrícola da guerra comercial entre EUA e China em 2020, esses ganhos poderiam ser
facilmente revertidos.
FIGURA 8 – Participação das exportações brasileiras em três commodities primárias: soja, minério
de ferro e petróleo, com pontos de inflexão
35%
30% 2018
2011
25%
20% 2016
15%
2007
10%
5%
0%
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
20
Fonte: Panjiva
REORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR.
48 – RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, RESULTANTES DA PANDEMIA DE COVID-19
FIGURA 9 – Participação da China nas importações anuais e mensais de soja do Brasil e dos EUA,
1996-2019
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
2019
Brasil EUA BR+EUA
Guerra comercial
EUA-China
4.500
4.000 Out - Nov Abr - Mai
3.500
3.000
US$ Bilhão
2.500
2.000
1.500
1.000
500
0
01/02/2010
01/04/2010
01/06/2010
01/08/2010
01/10/2010
01/12/2010
01/02/2011
01/04/2011
01/06/2011
01/08/2011
01/10/2011
01/12/2011
01/02/2012
01/04/2012
01/06/2012
01/08/2012
01/10/2012
01/12/2012
01/02/2013
01/04/2013
01/06/2013
01/08/2013
01/10/2013
01/12/2013
01/02/2014
01/04/2014
01/06/2014
01/08/2014
01/10/2014
01/12/2014
01/02/2015
01/04/2015
01/06/2015
01/08/2015
01/10/2015
01/12/2015
01/02/2016
01/04/2016
01/06/2016
01/08/2016
01/10/2016
01/12/2016
01/02/2017
01/04/2017
01/06/2017
01/08/2017
01/10/2017
01/12/2017
01/02/2018
01/04/2018
01/06/2018
01/08/2018
01/10/2018
01/12/2018
01/02/2019
01/04/2019
01/06/2019
01/08/2019
01/10/2019
01/12/2019
01/02/2020
01/04/2020
01/06/2020
01/08/2020 EUA Brazil
Fonte: Panjiva
Por outro lado, o Brasil tem um déficit comercial em setores com média e alta intensidade
tecnológica (medido pelos gastos com P&D), especialmente no de eletrônicos e de veículos
automotivos (Figura 10). No entanto, devido ao alto custo de comercialização desses
produtos no mercado brasileiro, os déficits comerciais são impulsionados pela importação
de peças e componentes intermediários para os quais o Brasil, apesar do tamanho de seu
mercado, não pode deixar de oferecer a escala de produção necessária para motivar o
estabelecimento da produção nacional plena. O fato de que a maioria das empresas líderes
que operam nesses setores são EMNs estrangeiras desestimula ainda mais a inovação.
FIGURA 10 –Balança comercial do Brasil - Classificação em grupo de Lall por nível de intensidade
tecnológica, 1995-2018
80.000.000
60.000.000
40.000.000
20.000.000
-20.000.000
-40.000.000
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
Combustíveis minerais e lubrificantes Manufaturas de média intensidade tecnológica: automotivo
Commodities primárias Manufaturas de média intensidade tecnológica: processo
Manufaturas basedas em recursos: agro Manufaturas de média intensidade tecnológica: engenharia
Manufaturas basedas em recursos: outros Manufaturas de alta intensidade tecnológica: electrônicos
e elétricos
Manufaturas de baixa intensidade tecnológica: têxteis,
vestuários e calçados Manufaturas de alta intensidade tecnológica: outros
Manufaturas de baixa intensidade tecnológica: outros
Observações: Os grupos de setores acima foram classificados por Sanjay Lall com base na proporção média dos gastos com P&D em relação à receita nos
setores de manufatura da ISIC de 2 e 3 dígitos. A classificação foi formalizada pela UNCTAD e refinada pela OCDE e também adotada por outras agências
estatísticas, incluindo a Eurostat e a agência estatística brasileira, a CNAE. Os principais exemplos incluem eletrônicos e telecomunicações (alta tecnologia),
veículos automotivos e químicos (tecnologia média), e madeira, alimentos e vestuário (baixa tecnologia).
Fonte: UNCTAD Stat (https://unctadstat.unctad.org/wds/)
4.3 O
INVESTIMENTO ESTRANGEIRO DIRETO E O PAPEL
DAS EMPRESAS MULTINACIONAIS NO BRASIL
As filiais estrangeiras mostradas na Figura 1 foram estabelecidas com investimento
estrangeiro direto (IED), seja por meio da construção de novas fábricas ou por meio
da aquisição de empresas nacionais, ou ambos. Os 20 países que mais receberam IED
(do exterior) durante o período entre 2005 e 2020, mostrados na Tabela 2, se enquadram
em duas categorias: a) países da OCDE onde o investimento transfronteiriço domina os
fluxos de IED (EUA, Reino Unido, Europa Ocidental) e b) países onde as multinacionais
estabeleceram filiais para fornecer plataformas de exportação (Canadá, Irlanda, México),
para acessar o mercado local (Brasil) ou ambos (China e Índia). As economias maduras
e engajadas ocupam as primeiras posições em ambas as listas, buscando fluxos de entrada
e saída mais ou menos equilibrados como o objetivo ideal.
REORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR.
50 – RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, RESULTANTES DA PANDEMIA DE COVID-19
O Brasil não figura entre os 20 maiores investidores externos durante o período, ocu-
pando o 31º lugar, uma posição muito baixa para uma economia grande (a Índia ocupa
a 20ª posição). O resultado para o Brasil é uma relação extremamente baixa entre
os fluxos de saída e entrada, de 6%, que reflete a alta dependência do país de EMNs
estrangeiras para produção, bem como a falta de engajamento global por parte da
maioria das empresas nacionais.
As EMNs geralmente são empresas de grande porte e a Tabela 3 lista as 500 maiores
empresas operando no Brasil por país ou região de propriedade em 2019. As empresas
privadas brasileiras representam 56% (278) das 500 empresas e 47% das vendas (US$ 387
bilhões). As empresas estatais brasileiras têm uma participação muito menor, de 8 e 15%
respectivamente, dominadas pela enorme estatal petrolífera Petrobras, que teve receita
de 73 bilhões em 2019 em seu braço de desenvolvimento petrolífero e 24 bilhões em
4 PARTE II: EFEITOS PARA O BRASIL 51
As empresas estrangeiras, que, por definição, são filiais de EMNs estrangeiras, representam
36% das empresas e 37% das receitas. Os 512,6 bilhões em vendas líquidas das 320 maiores
empresas brasileiras responderam por 16,1% do PIB brasileiro de 2019 em dólares PPC
(Banco Mundial), enquanto os 306,6 bilhões em vendas líquidas das 180 filiais estrangeiras
representaram 9,8%. Os dados sobre a contribuição das EMNs para o PIB são difíceis de
obter, mas para fazer uma comparação aproximada, as EMNs estrangeiras representaram
6,1% do PIB dos EUA em 2015, enquanto as EMNs sediadas nos EUA representaram 24,9%.
Como nem todas as empresas brasileiras entre as 500 maiores são multinacionais, é muito
provável que as multinacionais brasileiras representem significativamente menos do que
os 16% do PIB citados acima. Contudo, como sabemos que as empresas não brasileiras
da lista integram EMNs, a participação de 9,8% do PIB parece ser relativamente grande.
Tudo isso sugere uma contribuição grande atípica das EMNs estrangeiras para a economia
brasileira, enquanto as EMNs nacionais representam uma parcela atipicamente pequena.
6%
7% 4%
4%
8%
12%
46% 56%
19%
14%
2% 3%
4%
13%
44%
14%
86%
17%
3% 2% 7%
13% 7%
11%
14%
54%
68% 15%
Fonte: Panjiva.
4 PARTE II: EFEITOS PARA O BRASIL 53
TABELA 3 – 500 maiores empresas no Brasil por país de propriedade e vendas líquidas - 2019
Vendas Vendas
Número Porcentagem Porcentagem
Propriedade (ações) líquidas, líquidas,
de empresas das empresas das vendas
R$ milhões US$ milhões
Privadas brasileiras 278 56% 1.559.878 387.494 47%
Estatais brasileiras 42 8% 504.285 125.111 15%
Europa 93 19% 725.456 180.958 22%
EUA 38 8% 256.701 63.687 8%
Japão 12 2% 63.779 15.823 2%
China 11 2% 61.928 15.364 2%
Outros países da América Latina 10 2% 23.376 5.799 1%
Outros 16 3% 100.866 25.024 3%
Total estrangeiras 180 36% 1.232.106 306.656 37%
Total brasileiras 320 64% 2.064.164 512.605 63%
Total 500 100% 3,296,269 819,261 100%
Fonte: Exame Melhores e Maiores 2020: https://mm.exame.com/maiores-empresas/
A importância das EMNs é reforçada pelos setores com alta intensidade tecnológica nos
quais operam. A parte à esquerda da Tabela 4 mostra que os setores onde as filiais de EMNs
estrangeiras representam 50% ou mais do total de vendas do setor entre as 500 maiores
empresas atuando no Brasil tendem a ter maior intensidade tecnológica: eletrônicos,
veículos e aeroespacial, tecnologia da informação, telecomunicações, produtos químicos
e petroquímicos (mesmo quando a petroleira estatal Petrobras é considerada), bens de
consumo e produtos farmacêuticos. Os resultados são apenas ligeiramente diferentes
quando se considera o número de empresas em cada categoria da indústria, mostrado
na parte à direita da Tabela 4.
REORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR.
54 – RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, RESULTANTES DA PANDEMIA DE COVID-19
TABELA 4 –500 maiores empresas no Brasil por setor, vendas líquidas (US$ milhões) e
propriedade - 2019
Estrangeiras
Estrangeiras
Brasileiras
Brasileiras
empresas
empresas
líquidas
Vendas
Nº de
Nº de
Setor
Setor
O que é possível concluir desta discussão é que as filiais estrangeiras no Brasil, por não
estarem focadas nas exportações e possivelmente dependerem sempre da importação
de componentes de alto valor agregado, provavelmente manterão uma balança comercial
negativa. A ausência de uma estratégia exportadora por parte do país e algumas empresas
indica que as relações custo/qualidade no Brasil são muito altas para atender aos padrões
globais, e também que os consumidores brasileiros são obrigados a aceitar produtos de
qualidade inferior a custos elevados. A falta de IED do Brasil no exterior também indica
uma deficiência na base industrial brasileira em relação aos países que possuem muitas
sedes de EMNs (Figura 1). Como provam as exceções a esta regra (por exemplo, WEG,
TOTVS, Iochpe-Maxion, Sabo e Multilaser), o IED no exterior pode ajudar as empresas
4 PARTE II: EFEITOS PARA O BRASIL 55
Portanto, o nível de IED do exterior no Brasil não é, por si só, um problema. As filiais
estrangeiras trazem investimento e tecnologia e geram empregos no Brasil. Os países de
alta renda (exceto os que se desenvolveram tardiamente, Japão e Coreia do Sul) também
registram fluxos altos de entrada de IED. O que precisa ser revisto é o desequilíbrio, com
um fluxo de entrada muito alto em relação ao fluxo de saída. O domínio dos setores
com alta intensidade tecnológica no Brasil pelas filiais de EMNs estrangeiras também indica
uma deficiência da base industrial brasileira em relação à inovação. Mandatos de investi-
mento em P&D geram fundos para inovação, mas para a maioria das EMNs tecnologicamente
avançadas é provável que sejam insuficientes para criar um ecossistema de inovação
vibrante por conta própria.
4.4 D
ESEMPENHO COMERCIAL DO BRASIL DURANTE
A PANDEMIA
A fim de analisar as posições comerciais do Brasil em 2020, recorremos novamente ao
Explorador de Tendências Recentes do Observatório da Complexidade Econômica para
obter as estatísticas de alta frequência, desta vez para o Brasil e alguns países de compa-
ração, dependendo da disponibilidade de dados (ver Figura 13 e Figura 14). Novamente,
é preciso ressaltar que estes dados apresentam apenas uma visão parcial de como o Brasil
se compara a outros países e que uma análise mais completa só poderá ser feita quando
todos os países divulgarem seus dados para 2020.
* Inclui apenas os 18 países que divulgaram seus dados comerciais mensais para 2020: Bélgica, Brasil, Canadá, Chile, China, Alemanha, Irlanda, Japão, Países
Baixos, Filipinas, Portugal, Rússia, Singapura, África do Sul, Coreia do Sul, Espanha, Suécia e Estados Unidos. Portanto, o gráfico não inclui todos nem os maiores
países envolvidos no comércio.
**Foram utilizadas as taxas de câmbio de janeiro de 2020 quando os dados comerciais foram relatados na moeda local
Fonte: Explorador de Tendências Recentes do Observatório da Complexidade Econômica
De modo mais generalizado, o Brasil importa muito mais produtos intermediários do que
exporta produtos finais, uma vez que a produção nestes setores se destina principalmente
ao mercado interno (note que o eixo Y de importações é várias vezes maior do que as
exportações para computadores-semicondutores e vestuário-têxteis). Isto fica ainda
mais evidente quando consideramos que as exportações certamente incorporam alguma
parcela de produtos intermediários importados.
Primeiro, a África do Sul em grande parte exporta mais do que o Brasil em todos os três
principais setores, apesar de a economia da África do Sul ter menos de 25% do tamanho
do Brasil em termos de PIB nominal, evidenciando mais uma vez a orientação interna da
economia brasileira.
REORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR.
58 – RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, RESULTANTES DA PANDEMIA DE COVID-19
5 RECOMENDAÇÕES
• Os acordos e relações comerciais brasileiros podem demandar revisão do governo
e empresas brasileiras;
• O Brasil é altamente dependente da China, tanto como destino das suas expor-
tações de commodities, quanto como fonte de produtos intermediários de alto
valor agregado adquiridos por empresas líderes e seus fornecedores que atuam
no Brasil. A relação do Brasil com a China é, portanto, extremamente importante,
porém a presença de empresas industriais e produtoras ,dos Estados Unidos e da
Europa no Brasil, demonstra um caminho natural de priorização de relações que
podem ampliar as possibilidades do Brasil nas cadeias de valor;
• O Brasil importa muito mais produtos intermediários do que exporta produ-
tos finais, uma vez que a produção nestes setores se destina principalmente
ao mercado interno, especialmente quando consideramos que as exportações
certamente incorporam alguma parcela de produtos intermediários importados.
Contudo, empresas de setores específicos apresentam perfis de fornecimento
muito diferentes para produtos intermediários, logo é mais prudentes analisar
seus perfis de importação individualmente;
• Os programas e instituições de apoio à P&D e aos serviços de tecnologia no Brasil
precisarão de maior apoio no futuro;
• As empresas brasileiras precisarão de maior assistência para financiar as
exportações;
• As empresas brasileiras precisarão de maior assistência para financiar e desen-
volver um pensamento estratégico voltado para IED no exterior;
• As políticas industriais do Brasil precisam estar mais alinhadas com suas políticas
de inovação. Apesar de suas políticas bem sucedidas de atração de investimentos
estrangeiros, houve aumentos gerais de custos de comércio e em geral, o que
inibe o investimento em tecnologias avançadas e reduz os incentivos à inovação;
• As empresas bem sucedidas devem olhar para fora do Brasil, não apenas para
as exportações, mas também para os investimentos no exterior, almejando uma
expansão global.
REFERÊNCIAS 63
REFERÊNCIAS
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REORGANIZAÇÃO DAS CADEIAS GLOBAIS DE VALOR.
64 – RISCOS E OPORTUNIDADES PARA O BRASIL, RESULTANTES DA PANDEMIA DE COVID-19
UNCTAD. Impact of the Covid-19 pandemic on Global FDI and GVCs (Updated Analysis).
Investment Trends Monitor, 26 mar. 2020.
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Dennis Herszkowicz
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