Fichamento Semana 2
Fichamento Semana 2
Fichamento Semana 2
O texto tem por objetivo apresentar possibilidades de intervenção elaboradas pelas autoras
que se exprimem em expressões do pensamento crítico já elaborado em Psicologia e Educação.
O que define um psicólogo escolar não é o seu local de trabalho, mas o seu compromisso
teórico e prático com as questões da escola. p.11
O melhor lugar para o psicólogo escolar é o lugar possível, desde que ele se coloque dentro
da educação e assuma um compromisso teórico e prático com as questões da escola, já que ela deve
se constituir no foco principal de sua reflexão. É do trabalho que se desenvolve em seu interior que
emergem as grandes questões para as quais deve buscar tanto os recursos explicativos, quanto os
recursos metodológicos que possam orientar sua ação. p.11
1 . PRI NCI PAI S QUESTÕES TEÓRI CO- PRÁTI CAS DA PSI COLOGI A NA
EDUCAÇÃO.
Dados obtidos por pesquisas realizadas sobre o processo de escolarização no Brasil revelam
ausência de escola para todos, evasão ou permanência sem nada aprender (expulsão/exclusão),
índices altos de analfabetismo, mostrando que a impossibilidade de constituição da condição
humana pela via da educação formal é ainda uma realidade em nosso País. p.13
Segundo Maria Helena Patto (1990), a Psicologia tem contribuído para justificar essa
realidade educacional. p.13
A autora remete-se ao século XIX para assinalar o momento no qual a contradição vivida
pela burguesia atinge o apogeu, intensificando-se o abismo entre a acumulação de riquezas e as
pequenas conquistas do proletariado que, segregado pela burguesia, já não é mais seu aliado. Buscar
justificar tal abismo é também uma tarefa das ciências humanas que nascem e se oficializam nesse
período. p.14
A burguesia traduz as reivindicações das massas em termos assimiláveis pela ordem social
existente com o auxílio das ciências. Esse é o caminho mais eficaz para permitir uma participação
política, sem que tais reivindicações se tornem ameaças incontroláveis. p.14
A Psicologia, para explicar os ajustes da ordem social capitalista em função das exigências
dos novos momentos históricos de sua recomposição, tem transitado entre teorias e abordagens que
nada mais são do que recursos da Psicologia como ciência para a reordenação do status quo da
própria sociedade, da Filosofia, da Sociologia... p.14
Concluimos que, a Psicologia tendo surgido nesse período, mantém-se até o momento
presente, hegemonicamente, reproduzindo essa condição. p.14
É possível identificar que a heterogeneidade por ele revelada é apenas aparente. p.14
Patto, quando afirma que embora por caminhos teórico-práticos diferentes, a Psicologia em
suas relações com a Educação tem sido conduzida por finalidades semelhantes. Referenda o status
quo da Educação e da própria Psicologia como ciência, por meio da ênfase em aspectos particulares
dos indivíduos, das famílias ou do meio sociocultural que caracterizam a maioria de suas
explicações. p.14
No nível da análise sobre o homem, desenvolvida por Marx, destacamos o trabalho como
atividade vital por meio do qual o homem se relaciona com a natureza e com os outros homens,
criando as condições para a produção e reprodução da humanidade; o caráter material e histórico do
desenvolvimento humano que permite compreender as relações de produção como determinantes da
forma e do conteúdo das relações entre os homens e, a lógica dialética, cujas categorias centrais
viabilizam o conhecimento e a interpretação da realidade, considerando a origem multideterminada
e contraditória dos fenômenos, apreendendo-os em sua história de desenvolvimento e (articulação
entre aparência e essência. p.19
Como a concepção Materialista Histórico Dialética foi gestada visando à análise crítica da
sociedade capitalista, ela veicula, uma concepção ética. Implica a responsabilidade de se construir
uma nova ordem social, capaz de assegurar a todos os homens um presente e um futuro dignos.
Exige compromisso pessoal e com a construção de um conhecimento científico capaz de contribuir
para que o homem se objetive, de forma social e consciente, tornando-se, cada vez mais, livre e
universal. p.19
Nesse sentido, a concepção científica sobre o homem em geral, na visão de Marx, pode dar
sustentação aos estudos sobre a individualidade / subjetividade, uma tarefa para a Psicologia,
assumida por Sève (1979), Vigotski (1996), Leontiev (1978), entre outros. p.19
• a educação das consciências, para que os indivíduos possam tomar distância do material a
ser interpretado, ao mesmo tempo apreendendo no hiato entre um presente e um futuro
radicalmente diferentes, as contradições a serem superadas por ação individual e social;
• a necessidade de romper com a autoconfiança e a auto-satisfação do senso comum para
resistir/superar o estado estabelecido das coisas, indignando-se com a realidade;
• o restabelecimento das condições de autonomia, liberdade e consciência dos indivíduos,
trabalhando com o conhecimento necessário ao rompimento da consciência domesticada
pela via da formação cultural;
• a importância da conscientização dos mecanismos subjetivos da dominação e dos motivos
que levam a ela, para que a submissão se torne insuportável e o desejo de viver melhor tome
conta dos indivíduos.
Destaca o cérebro como órgão material da atividade mental, que também se adapta às
transformações no meio físico e social. p.24
A atuação do psicólogo deve visar uma multiplicidade de ações, uma vez que a identidade
profissional está nas finalidades a serem atingidas por recursos teóricos e práticas diferenciadas; a
pesquisa não pode se constituir em mera investigação científica, deve produzir efeitos, e permitir a
participação de todos no processo de transformação dos resultados em ações concretas para
transformar a realidade. p.26
A avaliação e a intervenção não podem se pautar por métodos que visem encontrar nos
indivíduos a explicação para a "queixa". Não se trata de desfocar a criança, para culpabilizar a
família e/ou a escola. Mudamos a pergunta, em vez de nos dirigirmos a pessoas ou situações
isoladas – o que tem efeito paralisador – buscamos as circunstâncias, porque estas podem ser
transformadas. p.29
O psicólogo deve olhar não para o que a criança não tem e não sabe, mas para o que ela sabe
e gosta de fazer. p.29.
Com a criança, observamos nas atividades realizadas durante os encontros, os aspectos que
estão relacionados com nossa investigação, elementos que revelam seu potencial de aprendizagem
quando colocada diante de situações-problema, desafios. Com a família e a escola, investigamos as
concepções, as hipóteses sobre a "queixa", o que fazem para superá-la e quais são suas expectativas.
Avaliamos e mobilizamos, portanto, as objetivações, os significados, os sentidos atribuídos ou a
serem atribuídos, visando preparar a apropriação de novas possibilidades. p.30
O psicólogo, como mediador na efetivação de todos esses objetivos, deve superar a condição
de "resolvedor de problemas", que espera finais felizes para encerrar “o caso”. p.36
O psicólogo deve compreender de forma mais aprofundada tanto as maneiras pelas quais o
trabalho educativo produz nos indivíduos singulares a humanidade que é produzida histórica e
coletivamente pelo conjunto dos homens, quanto as funções e a natureza social do desenvolvimento
cognitivo, dos afetos e emoções no processo de humanização desses indivíduos pela via da
apropriação da cultura. p.42
Não se pode verdadeiramente ensinar se não se considerar como o aluno aprende, ou ainda,
porque às vezes ele não aprende. p.45
O professor ainda tem de enfrentar um novo desafio: o fato de que nem todos aprendem do
mesmo modo, no mesmo momento e ritmo. Alguns alunos parecem simplesmente não aprender
nada. p.45
Dentre as várias explicações para o não aprender, a mais conhecida é aquela que parte da
idéia de que os alunos não aprendem porque não estão "prontos". p.45
Essa abordagem maturacionista aponta para pelo menos duas questões principais: 1-
afirmação de imaturidade neurológica, intelectual ou emocional da criança só é possível se
tomarmos o adulto como padrão, o que significa que essas explicações desconsideram que o ser
humano é histórico e está em um permanente processo de construção. O conceito de imaturidade
colocado nesses termos não possui nenhuma legitimidade científica, não podemos considerar a
criança como um ser imaturo pelo simples fato de diferenciar-se de um adulto. 2- a idéia de que ela
depende diretamente do desenvolvimento. Esta perspectiva considera que determinados alunos
apresentam dificuldades porque não atingiram o nível de desenvolvimento psicointelectual
necessário. Assim, o professor não pode ensinar porque estes alunos não têm condições de aprender,
não lhe restando outra alternativa a não ser esperar que eles fiquem "maduros”, para só então
cumprir sua função social. p.46
Encontramos esse olhar nas contribuições de L. S. Vigotski, para quem o principal fato
humano é a transmissão e assimilação da cultura. p.47
Vygotsky concorda que existe uma relação entre um determinado nível de desenvolvimento
e a capacidade ou competência para a aprendizagem de certos conteúdos, porém defende que não
existe um único nível de desenvolvimento, mas sim dois: o nível de desenvolvimento atual e a zona
de desenvolvimento próximo. p47
O fato dos alunos não conseguirem realizar sozinhos determinadas atividades não significa
que eles não tenham condições para tanto. Ocorre que, naquele momento, as capacidades cognitivas
necessárias à realização das tarefas propostas encontram-se em processo de formação, razão pela
qual esses alunos necessitam do auxílio do professor. (Através de de novas explicações, apoio
afetivo, atividades diferenciadas, organização de trabalhos em grupo, jogos, brincadeiras, etc.). p.48
Essa perspectiva aponta para o resgate do papel ativo do professor em relação aos processos
de aprendizagem e desenvolvimento de todos os alunos, especialmente daqueles que apresentam
mais dificuldades. p.48
O homem tem sido pensado, a partir dessa idéia de natureza humana, concebido como
portador de uma essência natural e universal, e a Psicologia não tem sido capaz de falar do
fenômeno psicológico em sua articulação com a vida, as condições econômicas, sociais e culturais
nas quais se inserem os homens. p.52
“Na verdade, não se fala de nada. Faz-se ideologia” (Bock, 2001, p.25).
A visão sociohístórica alerta para o fato de que pensar o homem dessa forma significa
naturalizar os fenômenos humanos e desconsiderar todo o processo histórico que determina a
constituição do ser humano. p.52
Metodologia de trabalho
É fundamental contribuir para a constituição de sujeitos capazes de olhar para o seu
cotidiano e relacioná-lo com a realidade num plano mais amplo, de se envolver com ações que
tenham como horizonte a transformação social. p.53
Para que a Psicologia possa contribuir com a construção da cidadania no interior das práticas
educativas é preciso construir metodologias de trabalho fundadas em um movimento de
ação/reflexão/ação de tal forma que todos os envolvidos possam refletir sobre a própria prática
social, buscar elementos teóricos que venham a iluminar essa prática de modo qualitativamente
diferente e comprometer-se com o desenvolvimento de projetos que traduzam em ações concretas
essa nova compreensão crítica sobre si mesmo e sobre a realidade social. p.53
Com isso, rompe-se com a idéia do psicólogo escolar como um técnico e se torna possível
pensá-lo como um elemento mediador que poderá avaliar criticamente os conteúdos, métodos de
ensino e as escolhas didáticas que a escola faz como um todo. p.53
Os possíveis beneficiários dos serviços da Psicologia devem ser, antes de mais nada, sujeitos
ativos e não apenas objetos passivos de ações sobre as quais não têm qualquer controle. p.54
Sistemática de trabalho
O processo de avaliação
Uma avaliação adequada é a primeira condição para a articulação de um bom plano de ação,
com objetivos, metas e estratégias definidas. O processo de avaliação deve envolver uma
multiplicidade de fatores, trazendo pelo menos o seguinte conjunto de dados:
• Relativos à organização da escola: número de turmas (total, por período e série); número de
alunos (total, por período e série); número de professores (total e por série); número de
funcionários e descrição de funções e atividades; serviços prestados aos alunos e à
comunidade; esquema de reuniões (de direção e professores, de professores; de alunos, de
funcionários, de pais, etc);
• Informações sobre o corpo docente: formação dos professores, condições de estudo e
reflexão; salário e condições de trabalho; tempo médio de permanência dos professores na
escola; experiências educacionais anteriores;
• O trabalho pedagógico: metodologia utilizada; recursos didáticos; relação entre professores
e alunos; conteúdos trabalhados; tipo de rotina construída em sala de aula; critérios de
organização e atribuição das classes; processos de avaliação;
• A equipe que dirige a escola: formação, tempo de experiência e forma de escolha do diretor;
número de coordenadores e respectivas funções;
• Elementos quantitativos sobre a progressão escolar dos alunos: índices de evasão (total, por
série, professor e período); índices de repetência (total, por série, professor e período);
• Dados relativos ao nível de organização dos diferentes segmentos da escola: Associação de
pais e mestres; Conselho de escola; Grêmio estudantil; projetos em andamento; nível de
participação dos pais (nas organizações formais e não formais);
• As condições socioeconômicas dos alunos;
• A história da escola;
• O bairro no qual a escola está inserida;
• Dados relativos à compreensão que os diferentes segmentos da escola e/ou instituição
apresentam em relação a seus problemas mais fundamentais;
• As expectativas dos diferentes segmentos da escola e/ou instituição em relação ao trabalho
do profissional da Psicologia;
• As possibilidades e os limites que se apresentam em relação ao trabalho da Psicologia.
No que se refere aos procedimentos de avaliação, os dados podem ser coletados junto a
documentos da escola. Dependendo das possibilidades e condições, os dados podem ser obtidos
diretamente por meio de conversas ou da aplicação de questionários e/ou entrevistas dirigidas. p.57
O relatório de avaliação
Para subsidiar essa discussão é importante que o psicólogo prepare e apresente um relatório
escrito contendo todos os dados obtidos no processo de avaliação. P57
O profissional coloca-se como um mediador que pode contribuir, nas questões que lhe são
pertinentes, para a abertura de espaços de discussão e de resgate da capacidade de pensamento
crítico, o que pode colocar todos os segmentos da escola no lugar de sujeitos ativos. p.58
A discussão do relatório permite que todos possam contribuir para uma compreensão mais
aprofundada sobre sua própria realidade e se comprometerem, de alguma forma, com as
transformações que se fizerem necessárias para a melhoria do trabalho desenvolvido pela escola.
p.58
Não existe um modelo único de plano de intervenção, mas alguns itens não podem deixar de
ser destacados: objetivo geral do trabalho; objetivos específicos dos projetos a serem realizados
com cada um dos segmentos a curto, médio e longo prazos; principais estratégias a serem utilizadas;
condições objetivas necessárias para a realização da intervenção, tais como horários de reunião,
materiais de apoio e de consumo, recursos humanos, etc. p.60
O processo de intervenção
No entanto, permite-nos afirmar que é possível abrir espaços que podem diminuir os limites
e ampliar nossas possibilidades de concretização de uma prática contextualizada e criticamente
comprometida com a humanização. p.62