Scouting Novo
Scouting Novo
Scouting Novo
Discentes: Arlindo Fernandes – A76037; João Parreira – A?????; Diogo Arcão A?????;
Henrique Brito – A?????
INTRODUÇÃO
Numa ótica mais tradicional, segundo Garganta (1997) são quatro as dimensões que
contribuem para a fundamentação e explicação do rendimento desportivo em Futebol:
dimensão técnica; dimensão tática; dimensão física; e dimensão psicológica.
Assim, a Observação e Análise de Jogo tem vindo a ganhar um papel decisivo no desporto em
geral e no Futebol em particular, pois a informação recolhida a partir da análise do
comportamento dos atletas, quer em treino quer em jogo, é considerada uma das variáveis
que mais afeta a eficácia desportiva (Hughes & Franks, 2004). De acordo com Gama et al.
(2017), através da análise de jogo os treinadores procuram aumentar os seus conhecimentos
de forma a melhorar a qualidade da prestação das suas equipas.
Assim sendo, planear é antecipar o futuro controlando o maior número de variáveis possível, o
que significa que, o treinador deve avaliar e corrigir constantemente o percurso adaptativo em
que o praticante se encontra, não esquecendo nenhum fator desta tarefa de enorme
complexidade.
Para isso realizámos uma revisão sistemática da literatura existente sobre as temáticas
abordadas, realizámos a nossa própria reflexão pessoal e discutimos os tópicos aqui
apresentados, por forma a trazer conteúdos esclarecedores e que enriqueçam o conhecimento
dos leitores.
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Scouting no Futebol: Uma Revisão Sistemática da Literatura
O Scouting
Segundo dados da FIFA Magazine (Kunz, 2007) relativa à BIG COUNT de 2006, cerca de 265
milhões de pessoas praticam futebol no mundo. Em Portugal, a Federação Portuguesa de
Futebol (FPF) registou, a 30 de junho de 2019, mais de 190 mil atletas federados, dos quais
1200 são profissionais.
Para que mais atletas consigam tornar-se profissionais o investimento na formação do jogador
é fundamental. Williams e Reilly (2000) sugerem que o talento pode ser caracterizado por uma
componente genética sendo, portanto, inata ao indivíduo. Já Garganta (2018) afirma que o
talento, para além de pessoal e intransmissível, é atualizável através do treino e da
aprendizagem.
Pode ser entendido como a observação feita a uma equipa adversária (Lopes, 2005), na análise
dessa observação em relação ao efeito que essa equipa terá na nossa (Wooden, 1998), ou a
observação de jovens talentos, vulgarmente chamado de prospeção.
A palavra Scouting deriva da palavra Scout que, em inglês, significa observar. Quando esta
palavra começou a ser associada ao Futebol, foram vários os autores a definir Scouting como o
processo de observação, registo e conhecimento dos adversários, na vertente coletiva e/ou
individual, nos diversos fatores do rendimento (técnicos, táticos, físicos e psicológicos)
(Gomelsky, 1990; Comas, 1991).
Desta forma, o socuting é uma boa ferramenta para ajudar a reduzir custos e gerar lucros
futuros com as vendas dos jogadores, sendo vital os clubes formarem os seus próprios
jogadores e prepará-los para uma carreira sénior de alta competição.
Neste contexto, os clubes com maior poder financeiro tentam atrair e assegurar os jovens
atletas, oriundos de clubes de menor expressão, para integrarem os seus escalões de base,
oferecendo mais e melhores possibilidades de treino, recursos financeiros e condições para
triunfar.
Domínio Recrutamento
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Assim, neste domínio, é importante não confundir o rendimento da equipa com o rendimento
individual, devendo ser observado apenas o individual. Desta forma, cabe ao scout a tarefa de
tentar retirar o jogador do contexto tático da equipa, para tentar perceber o que o jogador
vale e o que se pode transferir para o clube onde trabalha, uma vez que os comportamentos
táticos são, na sua maioria, condicionados pelo que o treinador pede.
Domínio Rendimento
A princípio, no domínio rendimento, o scout terá como principal missão a análise coletiva, da
própria equipa em contexto de treino e jogo, e dos adversários.
Por outro lado, no contexto da observação da própria equipa, a observação contribui para
identificar as forças da equipa e os seus pontos fracos. A partir disso deve-se trabalhar e
verificar se o que se preparou durante o processo de treino, se realizou no jogo ou não. Além
disso, também se deve verificar, se o conjunto de ações desenvolvidas pelos jogadores vão ao
encontro do plano de jogo preparado durante a semana.
Competências do scout
Há ainda que frisar o conhecimento profundo do jogo, a mente aberta, a descrição de factos e
nunca opiniões, o perfecionismo e conhecimento do nível dos jogadores do seu clube de
origem.
Funções e deveres
Neste capítulo iremos abordar as funções e deveres que consideramos importantes para o
desempenho da função, de acordo com a literatura consultada e experiência de alguns dos
redatores.
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Como deveres de um scout, enunciamos:
Discrição;
Rigor no desempenho das suas funções;
Prestável e com forte capacidade de relacionamento interpessoal;
Capacidade de liderança;
Espírito de iniciativa;
Boa capacidade de análise;
Humildade e seriedade;
Atenção ao pormenor;
Profundo conhecimento do mundo do futebol;
Bom conhecimento de tecnologia e serviços de informação.
Como visto anteriormente, é impossível o treinador controlar tudo, desde a formação à equipa
principal, às equipas adversárias ou futuros reforços, assim como oportunidades de mercado
que surjam e encaixem de imediato na equipa.
Desta forma, é crucial que exista um elevado nível de confiança e bom relacionamento entre o
treinador e a equipa de scouting, sendo de extrema importância haver sintonia e colaboração
nos mais variados assuntos que influenciam o funcionamento das equipas que constituem um
clube.
É comum atualmente, os clubes com maior poder financeiro, criarem e desenvolverem redes
de colaboradores sediados de Norte a Sul, dentro e fora do país, que reúnem um manancial de
informação que deve ser tratada e vista como uma vantagem a ser aproveitada ao limite para
elevar os níveis competitivos das equipas.
Assim, é importante a sintonia entre a equipa de scouting e o treinador, mas também deverá
haver divergências que obriguem no mínimo a olhar o problema de diferentes perspetivas,
retirando os prós e contras e no final, formar uma opinião válida acerca do assunto tratado.
Cremos por isso que desde o início, haverá critérios que devem ficar bem definidos por ambas
as partes, que possibilitem o desenvolvimento de um trabalho de qualidade para ambas as
partes, como por exemplo o perfil de jogador desejado ou as posições carenciadas em
determinado escalão.
O processo de observação
De acordo com Bell (1997), a observação não é um dom natural, mas uma atividade altamente
qualificada para a qual é necessária não só um grande conhecimento e compreensão de fundo,
como também a capacidade de desenvolver raciocínios originais e a habilidade para identificar
acontecimentos significativos.
Desta forma depreende-se que, o que importa em scouting é “ver”, é “observar” e captar os
pormenores que porventura diferenciarão o lance ocasional do lance treinado, o jogador
médio do jogador de topo.
O que observar?
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Antes de ir para um jogo de futebol, o scout deve fazer o trabalho de casa, ou seja, saber
exatamente o que vai observar, de que forma (direta ou indiretamente), o que procura num
jogador, se procura um jogador específico pedido pela estrutura técnica, entre outros.
Deve ainda ter em conta os escalões onde vai proceder à observação. Observar um miúdo de
10 anos, é inevitavelmente incomparável a observar um adolescente de 17 anos.
O processo de observação
A concretização do scouting pode ser feita ao vivo, com a observação no terreno, ou de forma
indireta, através de meios audiovisuais. É geral a preferência pelo acompanhamento in loco de
um jogo. Desta forma, tem-se uma perspetiva geral da equipa e até do comportamento do
atleta, em situações passivas, como por exemplo em que a equipa perde a posse de bola.
Desta forma, identificámos pressupostos que o scout deve ter em conta no processo de
observação, em três momentos distintos que agora diferenciamos: o antes, o durante e o
depois.
Observação direta- Este tipo de observação realiza-se quando o scout se desloca ao local onde
o jogo se realiza. Esta observação apresenta muitas vantagens, como por exemplo, a
possibilidade de observar “in loco” todos os pormenores do jogo e do jogador. Permite ainda
observar as ações sem bola do jogador e os seus comportamentos psicológicos e mentais,
como por exemplo: a sua reação a uma substituição, algo que na observação indireta é muito
limitado de observar. No entanto, apresenta algumas limitações, como a impossibilidade de
observar tudo, devido à multiplicidade de ações simultâneas num jogo de futebol.
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como por exemplo, através da análise de vídeos dos jogos disponibilizados em diversas
plataformas digitais, de entre as quais, o Wyscout e o Instat. Este método de observação
apresenta diversas vantagens: como a possibilidade de observar algum jogador ou equipa com
mais detalhe, ou a possibilidade de rever inúmeras vezes o mesmo lance. Também apresenta
algumas desvantagens, como a incapacidade de visualizar as ações sem bola de um jogador e
da sua equipa, uma vez que as filmagens têm como principal foco, a zona onde se encontra a
bola, permitindo apenas rever os lances que o vídeo permite ou, em contextos mais amadores,
a qualidade da filmagem, uma vez que esta pode interferir na coleta dos dados necessários.
Metodologia de Scouting
O que se procura…talento?
Em teoria, a procura por jovens talentos é o principal objetivo do processo de souting. Para
Vaeyens et al. (2008), é a mestria superior das habilidades sistematicamente desenvolvidas em
qualquer campo da atividade humana. Para Mirallès (2006), é a excelência em determinada
atividade.
No tópico seguinte iremos debater mais a fundo a questão da idade na busca de talento, por
forma a tentar perceber a sua implicância na vida de muitos jovens jogadores.
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Jogadores cronologicamente mais velhos e, por consequência, na maioria dos casos mais
evoluídos maturacionalmente obtêm vantagens no desempenho físico, e na performance em
geral. Com isso, são indevidamente avaliados conseguindo mais oportunidades de seleção
(Sedano et al., 2015; Fenner & Unnithan, 2016) devido à preferência da grande maioria dos
treinadores em selecionarem jogadores que demonstrem maiores capacidades físicas (Castillo
et al., 2019).
Sendo selecionados para níveis competitivos superiores, estes jogadores vão também
beneficiar de melhores treinadores e melhores condições de treino (Sedano et al., 2015), o que
certamente e em casos normais, fará com que desenvolvam mais precocemente as suas
qualidades técnicas, táticas e físicas.
Em sentido inverso, os jogadores com um nível de maturação menor, não só veem as suas
oportunidades de seleção para níveis competitivos superiores serem reduzidas, devido
principalmente às suas capacidades físicas, como também muitos deles acabam por desistir do
futebol e inclusive do desporto, num fenómeno amplamente verificado e estudado.
Assim o sistema de escalões agrupados por idade cronológica tende a dar vantagens aos
jogadores nascidos na primeira parte do ano de seleção (Sæther, 2015). Este é um problema
que influencia em grande medida os procedimentos de Scouting uma vez que se observam
atletas em contextos onde estes estão logo à partida desfavorecidos.
Um dos métodos mais eficazes na redução dos Efeitos da Idade Relativa é o biobanding que
consiste em agrupar os jogadores de acordo com as suas características físicas de forma a
minimizar os efeitos da maturação e do crescimento na performance dos atletas (Bennet et al.,
2019). A aplicação do bio-banding no futebol parece promover experiências positivas aos
atletas, com os jogadores que amadurecem mais cedo a disputar competições mais
desafiadores, enquanto que os jogadores que amadurecem mais tarde vivenciam uma maior
capacidade de influenciar o jogo atuando de forma mais sistemática sobre a bola (Bennet et
al., 2019).
“Sem compromisso nada se começa, mas sem consistência nada se termina!”, Floyd
Mayweather Jr.
Garganta (2004) afirma que, para se ser jogador de alto nível, não basta nascer com talento, é
necessário muito treino, até porque fatores múltiplos terão impacto no desenvolvimento
atlético de uma criança.
Aurélio Pereira (in Revista Visão, 2012) conhecido observador nacional, defende que é
impossível dizer que uma criança de 7 ou 8 anos vai ser o novo Cristiano Ronaldo, dado que
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existem inúmeros fatores que podem influenciar negativamente a evolução do atleta,
mencionado de imediato a pressão excessiva dos pais como uma das principais causas.
O mesmo autor, reconhece ainda que o mercado se centra hoje nos atletas entre os 6 e os 11
anos, sendo nesses escalões que a concorrência é mais feroz.
Existem múltiplos fatores que determinarão o sucesso ou insucesso dos jovens atletas, como o
caráter, a sorte, o envolvimento e até as lesões, motivo pelo qual a prática não explica tudo.
Nestas idades, o foco deverá estar voltado nas habilidades e nas características que poderão
ser relevantes na idade sénior e que irão influenciar o processo de aprendizagem e de
progressão, uma vez que não se pode pedir que uma criança reproduza eficazmente a ação
desportiva de uma adulto.
O físico não é de alguma forma, a única determinante do sucesso desportivo (Day, 2011). Por
conseguinte, os atributos físicos e biológicos, por si só e independentes, não podem ser vistos
como fiéis indicadores de habilidade num desporto coletivo, uma vez que o desenvolvimento
do talento depende de múltiplos fatores.
É essencial entender que atletas com predisposição genética desfavorável, não devem ser
excluídos à partida se apresentarem bons indicadores noutras características de relevo para a
prática da modalidade, podendo ainda alcançar níveis de excelência se tiverem um ambiente
propicio para tal, assim como suceder o contrário, com indivíduos favorecidos geneticamente.
(Philips et al., 2010).
Como exemplo podemos falar do jogador Jamie Vardy, recuando no tempo até ao ano de
2002, ano em que, com os seus 16 anos recém-feitos, Vardy faz os testes para entrar para
o Sheffield Wednesday, um clube tradicional da sua Terra Natal. Infelizmente, Jamie não foi
admitido na equipa e, segundo boatos, a rejeição do jogador teve como principal motivo a sua
baixa estatura. Em 2007, Jamie começou a atuar pela equipa principal do Stocksbridge Park
Steels, onde começou a mostrar o seu valor. Em 2010, Jamie Vardy é transferido para o Halifax
town e, no mesmo ano, para o Fleetwood Town, clube da quinta divisão. á com 25 anos, em
2012, o ano que catapultou Vardy para o sucesso, este marcou uns impressionantes 31 golos
em 36 jogos realizados, o que levou a sua equipa a ser campeã da quinta divisão. A futura
estrela já estava na mira de três grandes clubes: o Peterborough, o Cardiff City e o clube que o
contratou, o Leicester City, que na época atuava no Championship (segunda divisão inglesa), o
resto é sobejamente conhecido, como um dos melhores goleadores atuar na liga inglesa até
aos dias de hoje.
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A identificação da qualidade do jogador enquadrada nestas variáveis leva à construção de um
perfil antropométrico e fisiológico que vai facilitar o processo de Scouting e seleção de talento
(Galy et al., 2015).
Por outro lado, a força muscular já não mostrou tamanha importância, pois apenas se
verificava útil numa curta faixa etária (dos Sub-15 aos Sub-17). A agilidade por sua vez não se
revelou um indicador útil para o processo de Scouting visto que esta variável sofre grandes
alterações no período da adolescência (Hirosea & Sekib, 2016).
Também a capacidade de resistência dos atletas pode servir como uma ferramenta
complementar valiosa no processo de identificação de talentos, sendo que neste caso se aplica
de forma mais acentuada ao futebol feminino (Datson et al. 2019).
Como não podia deixar de ser, a composição corporal é também um indicador a ter em conta
no processo de seleção de talento, contudo, esta é afetada por diversas variáveis como o
desenvolvimento da massa muscular ou o próprio efeito da idade relativa (Sinovas et al.,
2015).
Assim, é importante referir que prever o talento dos atletas com base exclusivamente em
testes fisiológicos pode ser um grande erro (Reeves & Roberts, 2019), uma vez que no final da
adolescência os aspetos físicos tendem a atingir níveis semelhantes e essa vantagem deixa de
existir (Dodd & Newans, 2018).
Desta forma, sugere-se que sejam adotados protocolos de avaliação física combinados com
provas técnicas de habilidades específicas do futebol, complementados com testes cognitivos,
com o intuito de, por exemplo, simular as exigências do processo de tomada de decisão
(Sinovas et al., 2015; Qader et al., 2017; Bennet et al., 2019; Reeves & Roberts, 2019).
Os small-sided games (realizados em áreas de terreno mais reduzidas (espaço reduzido) e com
um menor número de jogadores, comparativamente ao que acontece no jogo formal), por
englobarem uma forte vertente técnica e também um contexto exigente de tomada de
decisão, são uma ferramenta útil no processo de identificação de talento (Bennet et al., 2018)
e as evidências sugerem que a utilização de SSG em formato competitivo, por induzirem uma
grande quantidade de ações técnicas, leva a uma discriminação clara de jogadores mais e
menos talentosos (Fenner & Unnithan, 2016).
Existem ainda ferramentas como o “TOPSIS” (Qader et al., 2017) ou o “PoSMAT Protocol”
(Jubjitt et al., 2017) que possibilitam a realização destes testes e realizam a associação de
todos os indicadores de forma a identificar a qualidade do atleta. No primeiro são realizados
testes físicos, antropométricos e técnicos e o programa identifica posteriormente o melhor e o
pior desempenho para cada teste (Qader et al., 2017). Cada performance de cada atleta é
então comparada com o desempenho ideal e o pior desempenho, chegando assim a um valor
de qualidade comparada com todos os participantes que realizaram os testes. Já o “PoSMAT
Protocol” tem em consideração também a posição do atleta em campo, relacionando padrões
de movimento e as exigências fisiológicas de cada posição de forma a produzir um conjunto de
testes válidos, objetivos e confiáveis (Jubjitt et al., 2017).
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Para além de todos estes testes, a palavra do treinador acerca do desempenho de um jogador
é um forte indicador da qualidade do atleta, uma vez que poderá encontrar características que
encaixem no seu estilo de jogo ou sistema tático, não visíveis nos testantes testes.
No que diz respeito à vertente técnica do jogo, Larkin e O’Connor (2017) revelaram que a
qualidade do primeiro toque, a capacidade de 1vs1 e técnica de remate são consideradas as
mais importantes dentro processo de identificação de talento.
Os Scouts perceberam que estas habilidades técnicas são extremamente importantes e que a
melhor forma de as avaliar seria através do desempenho em jogos reduzidos (small-sided
games), uma vez que executa as habilidades mais vezes e seguramente com mais pressão dos
adversários e menos tempo para tomar decisões.
Para avaliar estas capacidades, o ideal é criar situações representativas da realidade, em jogo
real, em que a manipulação de condicionantes dos exercícios cria um ambiente ideal para
avaliar as habilidades técnicas específicas do jogo de futebol.
No plano tático a tomada de decisão é sem dúvida o fator mais abordado por parte dos Scouts
sendo considerado um dos mais importantes na avaliação de um jogador (O'Connor et al.,
2016; Larkin & O’Connor, 2017).
Para além da tomada de decisão, Barron et al. (2018) considera que a leitura de jogo que
resulta da capacidade de antecipação que caracteriza os jogadores mais talentosos, fazendo
com que estes tenham interceções e abordagens cruciais no desenvolvimento do jogo.
Do ponto de vista físico o Efeito da Idade Relativa (abordado anteriormente) poderá induzir os
Scouts em erro, uma vez que os jogadores mais velhos podem ser mais talentosos em
comparação com os pares relativamente mais jovens (O'Connor et al., 2016; Barron et al.,
2018). A vantagem física mantida pelos jogadores mais velhos tem um impacto grande na
seleção dos jogadores e este dado pode indicar que os Scouts não relativizam a importância
das características físicas ao identificar e selecionar talento (O'Connor et al., 2016).
No âmbito psicológico a atitude revela-se como um dos indicadores mais importantes (Larkin
& O’Connor, 2017; Reeves et al., 2019). Também a capacidade de receber feedback e utilizá-lo
de forma a melhorar a sua performance é um fator bastante relatado pelos Scouts como
fundamental num atleta talentoso (Larkin & O’Connor, 2017).
Os meios tecnológicos afirmaram-se como uma ferramenta de grande valia para os Scouts uma
vez que permitem recolher informações sobre os jogadores e monitorizar o seu desempenho
ao longo do tempo (Radicchi & Mozzachiodi, 2016), triangulando informações que levam à
criação do perfil do atleta a observar (Prieto-Ayuso et al., 2017).
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De facto, as redes sociais são, sobretudo para os mais jovens, um meio de excelência para que
se deem a conhecer, permitindo que estabeleçam relações com um público potencial de
treinadores e Scouts (Radicchi & Mozzachiodi, 2016).
Nas últimas duas décadas a tecnologia de vídeo veio mudar completamente o processo de
análise de jogo (Carling et al., 2007; Brümmer, 2019). Esta tecnologia tem sido utilizada ao
longo dos anos para a análise da dimensão técnica, tática, física (Carling et al., 2009) e em
alguns casos também da vertente psicológica em processos como a antecipação ou a tomada
de decisão (Carling et al., 2007). Com vista à melhoria da performance das suas equipas os
treinadores têm utilizado a tecnologia de vídeo sobretudo de duas formas: transmitir feedback
acerca de uma ação ou comportamento que já foi concluído; expor um modelo de
comportamento correto ou que se pretenda atingir no futuro (Middlemas, 2014). Segundo
Carling et al. (2007), os benefícios da utilização do sistema de vídeo passam pela capacidade
que o vídeo oferece de gravar o desempenho competitivo para que este possa ser visto
quantas vezes forem necessárias, a hipótese de focar a análise em qualquer detalhe da
performance ou em algum jogador em particular, ou, entre outras, a possibilidade de
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utilização do vídeo em tempo real para uma análise imediata ou para a revisão de alguns
aspetos algum tempo após a sua execução (ao intervalo do jogo, por exemplo).
Nos últimos anos têm sido desenvolvidos sistemas e dispositivos que permitem integrar
diversos procedimentos de recolha de informação num só equipamento para uma análise
simultânea de diversas variáveis da performance. Um excelente exemplo disso é o
desenvolvimento dos Global Positioning Systems (GPS) que são capazes de armazenar dados
com o indivíduo em movimento (ver Figura 29). Contudo, as grandes melhorias na
performance ocorrem quando se combinam diversas tecnologias (Carling et al., 2009;
Castellano et al., 2014). Em competição a informação sobre o desempenho de cada jogador
nas diferentes dimensões do rendimento desempenha um papel fundamental no sucesso
desportivo (Thinh et al., 2019).
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Figura 2: Processo de análise. Adaptado de “Handbook of Soccer Match Analysis”, de Carling,
Williams e Reilly (2007).
Todos estes avanços tecnológicos têm permitido não só aos treinadores reunir e analisar
informação de forma mais eficiente, com o objetivo de melhorar o processo de treino (Carling
et al., 2009), mas também melhorar o processo de análise de jogo a todos os níveis desde a
recolha de dados, ao seu tratamento e apresentação (Carling et al., 2007).
Análise Notacional
A evidência científica indica que o início dos sistemas manuais de análise de jogo, também
designados por sistemas de análise notacional (Notational Analysis), ronda os meados do
século XIX (Eaves, 2015). A análise notacional é talvez a mais tradicional técnica de análise e é
utilizada sobretudo para fornecer informação sobre a prestação desportiva, baseada em
grande parte na contagem de ações isoladas relativas ao desempenho técnico (por exemplo,
número de passes, remates, desarmes, etc.) (Aquino et al., 2019). Assim, pode afirmar-se que
o objetivo da análise notacional em desportos coletivos como o futebol é identificar a
frequência de ações relacionadas com indicadores da performance (Abdullah et al., 2016). A
maioria dos sistemas de análise notacional centra-se nos jogadores com bola. Os métodos
mais utilizados passam pelo registo das ações utilizando uma forma de notação abreviada com
marcas de contagem ou códigos de ação (ver tabelas 1 e 2).
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Tabela 1: Sistema de Análise Notacional com marcas de contagem. Adaptado de “Handbook
of Soccer Match Analysis”, de Carling, Williams e Reilly (2007).
Outra forma de abordar a análise notacional é através do movimento da bola. Podem registar-
se dados como o número de passes ou a velocidade da bola e essas informações, juntamente
com os dados referentes à posição no campo, podem fornecer informações valiosas sobre o
padrão do jogo da equipa (Carling et al., 2007).
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Hoje em dia a análise notacional é cada vez menos utilizada sobretudo devido às imprecisões
principalmente no que toca ao registo de informações posicionais. Outra grande limitação
deste tipo de análise centra-se sobretudo na falta de informações relativas ao contexto e às
interações cooperativas que ocorrem entre elementos físicos, técnicos e táticos do jogo
(Ribeiro et al., 2017).
Um dos primeiros estudos realizados utilizando este tipo de análise foi publicado em 1976, da
autoria de Reilly e Thomas onde estudaram o índice de trabalho em jogadores profissionais de
futebol (Carling et al., 2008).
Este método revelou-se eficaz para a identificação da fadiga, distinguindo as posições dos
atletas e o seu índice de trabalho (ver Figura 5).
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Figura 5: Distância percorrida por jogo de acordo com a posição. Adaptado de “Handbook of
Soccer Match Analysis”, de Carling, Williams e Reilly (2007).
Tendo em conta que aos dias de hoje está comprovado que o desempenho de uma equipa é
altamente dependente de fatores contextuais, o facto da análise de tempo-movimento isolar
as exigências físicas do contexto é umas das suas principais limitações (Aquino et al., 2019).
Ainda assim, a inclusão de novas variáveis, sobretudo variáveis contextuais, em estudos que
utilizam análises de movimento tem crescido bastante nos últimos anos (Castellano et al.,
2014).
Análise de Redes
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Figura 6: - Esquema representativo de uma rede de passes entre diversos jogadores.
Adaptado de “Networks as a novel tool for studying team ball sports as complex social
systems”, de Passos et al. (2011).
Alguns dos trabalhos mais relevantes realizados através do método de análise de redes
investigaram coletivamente uma variedade de conteúdos, incluindo a identificação de estilos
de jogo e os indicadores de referência das equipas de sucesso (Young et al., 2019).
Mais recentemente, a análise de redes tem sido utilizada para identificar jogadores
preponderantes dentro de uma equipa bem como para avaliar a consistência do grupo e a
previsibilidade das interações entre os jogadores (Clemente, Couceiro et al., 2015; Clemente,
Martins et al., 2015; Santos et al., 2019).
Assim, as análises de rede permitem “não só para mapear as interações estabelecidas entre
jogadores, mas também caracterizar a dinâmica coletiva e os “graus de liberdade” da equipa”
(Vaz et al., 2014).
Indicadores da Performance
1. Análise tática;
2. Análise técnica;
3. Análise do movimento;
Assim, para analisar cada uma das cinco áreas anteriormente referidas, o analista deverá
recorrer a indicadores de desempenho (key performance indicators) que permitam avaliar o
desempenho do jogador ou da equipa (Barreto, 2019).
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Um dos objetivos da Análise de Jogo é identificar os principais indicadores que estão
diretamente relacionados com o resultado do jogo, e que por consequência, conduzam a
equipa às vitórias.
Para isso, utilizam-se indicadores de performance, para ser possível quantificar as diversas
variáveis envolvidas.
Os avanços tecnológicos que se têm verificados ao longo das últimas duas décadas têm
permitido que os processos de análise de jogo e de scouting se tornem muito mais eficientes
(Radicchi & Mozzachiodi, 2016; Memmert & Rein, 2018).
Como tal, é fundamental que os analistas dominem os recursos tecnológicos ao seu dispor
para exercerem um trabalho de maior qualidade dada a mais-valia destes meios.
O SportsCode por exemplo, é um software bastante utilizado para a análise de jogo, sendo que
são também utilizados o Coach Paint e o DaVinci Resolve, sobretudo para edição de imagem e
grafismos.
Já no que toca ao scouting, o Wyscout e o Instat são duas ferramentas fundamentais para que
os analistas possam ter acesso à informação (vídeos e dados estatísticos) de jogadores das
mais variadas competições ao redor mundo.
HUDL SportsCode
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s. É um software especificamente desenvolvido para a análise de jogo e pode ser utilizado para
vários desportos, sobretudo de cariz coletivo. De um ponto de vista mais qualitativo, este
programa permite a codificação do jogo nos seus diferentes momentos, quer ao vivo, quer
através de um vídeo descarregado para o nosso computador. Com o SportsCode é possível
realizar a edição de vídeos, adicionando grafismos ou texto, bem como o ajuste dos clips na
linha de tempo. De um ponto de vista quantitativo, existe também a possibilidade de extrair
reports daquilo que codificamos, como por exemplo o número de remates, passes, zonas
pisadas por um jogador, etc. Tudo aquilo que é codificado é possível de ser extraído sob a
forma de report. Assim, informações sobretudo baseadas na frequência das ações são
facilmente extraídas do software bem como resumos estatísticos do conteúdo codificado (Cox,
2010).
Este software é utilizado também para a captura direta de jogos e/ou treinos. Conectando a
câmara de filmar ao computador o software oferece a possibilidade gravar automaticamente a
imagem que a câmara está a captar.
Wyscout
O WyScout (Wyscout Spa, Itália) é uma plataforma privada online onde treinadores,
analistas, agentes de futebol ou qualquer outro envolvido na modalidade consegue assistir e
realizar o download de jogos das mais variadas ligas de futebol de todo o mundo (González-
Rodenas et al., 2020). Através desta plataforma é possível ter acesso a informações de cerca
de quarenta e dois mil novecentos e sessenta e nove equipas e mais de quatrocentos e
sessenta mil jogadores. Para além disso esta plataforma disponibiliza o acesso a vídeos de
jogos de cerca de seiscentas competições de todo o mundo. Existe ainda a possibilidade de
realizar o download de Relatórios de Jogo com informações detalhadas acerca dos jogos que
existem na plataforma (Campodonico & Falzetti, 2004).
Instat Scout
O Instat (InStatSport, Rússia) é uma plataforma privada online através da qual podemos ter
acesso a informação de mais de novecentos e sessenta mil jogadores. O Instat Scout permite
o acesso a informação estatística detalhada, dados de GPS e reports individuais de todos os
jogadores (Ivanskiy, 2017). Esta plataforma permite ainda o download de jogos das mais
variadas equipas, bem como informação detalhada, como por exemplo a posição, acerca dos
seus jogadores (Sarajärvi et al., 2020).
Coach Paint
O Coach Paint (ChyronHego, EUA) é um dos softwares mais utilizados para a análise de jogo,
com a funcionalidade de edição de imagem e grafismos extremamente desenvolvida. Segundo
Neil McIlhargey, analista dos Rangers F.C. “O Coach Paint deu-nos a capacidade de
comunicarmos com os jogadores de uma forma visual muito fácil de entender, que permitiu
uma melhor visão e compreensão do jogo no sentido de melhorarem os seus desempenhos
táticos.” (Barton, 2017).
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DaVinci Resolve
O DaVinci Resolve (Blackmagic Design, EUA) é um software de edição de vídeo com várias
ferramentas desde a correção de cores, efeitos visuais e pós-produção de áudio (Blackmagic
Design, S.D.).
Este software é utilizado pelos videoanalistas sobretudo para a edição de imagem no que diz
respeito à inclusão de grafismos nos vídeos, tais como, setas, sombreados ou mesmo para
realizar os grafismos de tracking dos jogadores.
Panoris Recorder
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CONCLUSÃO
O scouting, na expressão inglesa, afigura-se decisivo neste contexto, pelo que se tornou, há
alguns anos já, uma das ferramentas mais importantes no universo futebolístico.
Nos dias de hoje, qualquer clube com aspirações de se afirmar na alta roda do futebol sente a
necessidade de uma boa articulação entre o departamento de scouting e as restantes
estruturas do clube.
Concluímos que é esse o objetivo primordial do uso da tecnologia no futebol, que faz uma
grande diferença com todas as informações e dados que são compilados e que passam a estar
disponíveis visando a melhoria de desempenho.
Temos uma quantidade de informação imensa à disposição, e o grande desafio dos tempos
atuais é extrair desses dados, informação necessária para aumentar a performance dos atletas,
prevenir lesões e tirar vantagem sobre os adversários, por exemplo.
A atenção dada aos aspetos individuais dos jogadores também sai reforçada, quer pela análise
dos parâmetros fisiológicos, quer pela análise do seu desempenho físico, parâmetros
indispensáveis para o aumento do rendimento individual e coletivo.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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systematic approach to improving performance. Routledge.
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Development in Male Football: A Systematic Review. Sports Medicine, 48, 907– 931. DOI:
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Match analysis in football: a systematic review. Journal of Sports Sciences, 32(20), 1831-1843.
DOI: 10.1080/02640414.2014.898852.
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