Aula 11 - Harmonia e Beleza Nos Jardins

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AULA
Harmonia e beleza nos jardins
Meta da aula
Apresentar a história, a evolução
e os tipos de jardins.
objetivos

Esperamos que, após a realização das atividades


propostas, você seja capaz de:
• descrever como se deu a evolução dos jardins,
relacionando com a história da sociedade;
• definir paisagismo e entender a importância
das plantas em um jardim;
• definir como se escolhem plantas para compor
os jardins.
O Incrível Poder dos Seres Clorofilados | Harmonia e beleza nos jardins

INTRODUÇÃO Vamos começar esta aula recordando um pouco sobre os primeiros vegetais
que conquistaram o meio terrestre. Essas primeiras plantas tiveram de se
adaptar ao ambiente mais seco, rigoroso e desfavorável que é a atmosfera. Por
isso, tiveram de desenvolver adaptações tanto morfológicas como fisiológicas
para enfrentar esse problema. São as briófitas, vulgarmente denominadas
musgos, vivendo na sua maioria em locais úmidos, ainda ligados à água,
como seus ancestrais.
No Japão, os musgos são usados tradicionalmente na composição de jardins.
Os monges zen-budistas que viveram há milhares de anos apreciavam
o crescimento espontâneo desses vegetais nos jardins de seus templos. Eles
acreditavam que havia uma espécie de comunicação entre os monges e
os musgos durante o ritual das venerações da fé do Zen.
No jardim japonês, a espécie mais amplamente plantada é Polytrichum
commune, que ajuda a contemplar a natureza e compreender melhor os
conceitos mais profundos da filosofia do Zen. Nesses jardins, os princípios mais
significativos são a não valorização da simetria, da naturalidade, da harmonia
e da simplicidade, os quais se traduzem em sensações de paz, tranqüilidade
e serenidade. Os jardins japoneses são exemplos de prazeres espirituais.

JARDIM ± Feche os olhos e imagine um JARDIM. O que você pensou? Quais


É definido por alguns as sensações associadas a essa lembrança?
autores como um
local da natureza onde ² Você pode ter lembrado de algum jardim agradável, de um
houve intervenção
lugar que você tenha visitado e gostado muito ou até mesmo do jardim
humana.
de sua casa.
Mas, independentemente disso, as sensações estão relacionadas
sempre ao prazer. Esse prazer pode ser físico, como o proporcionado
pelos sentidos, tais como a beleza ou um cheiro agradável, ou ainda
espiritual, conforme exemplificaremos.

AS BRIÓFITAS NAS FLORESTAS E JARDINS

Se você for à Floresta da Tijuca, ou qualquer outra floresta poderá


observar que há um tapete de musgos que serve como um despertador
da sensibilidade humana. Ele apresenta uma riqueza de cores indo do
verde claro – como as espécies do gênero Leucobrium – até o verde mais
escuro, como é o caso do gênero Polytrichum (Figura 11.1).

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a

AULA
b

Figura 11.1: Polytrichum do Parque Cremerie em Petrópolis em vista geral (a) e em


maior detalhe (b).

No estado do Rio de Janeiro, se você der um passeio no Parque


Cremerie em Petrópolis, observará que os espaços, normalmente
preenchidos por gramado, são substituídos por musgos (Figura 11.1.b),
o que visualmente é muito harmonioso com a paisagem local.
Além disso, esses musgos cobrem o substrato dos bonsais, outro
tipo de jardim japonês em miniatura. Além de ornamentá-los, esses
musgos servem como elementos que mantêm o substrato úmido para
esses bonsais. É comum também encontrarmos nos mercados musgos
retendo a umidade para as plantas insetívoras, muitas vezes chamadas
de forma equivocada de carnívoras, como a Dionea, Nepenthes, Drosera
etc. Além disso, os musgos também são comumente encontrados com
as plantas da família Orchidaceae.

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COMO FAZER UM BONSAI?

A palavra bonsai refere-se ao cultivo de árvores plantadas em


bandejas. A seguir, você verá como fazer.

Itens necessários:
• tesoura afiada (se possível, uma pequena e uma grande);
• fios de cobre de diversas espessuras;
• alicate para corte de arames;
• um pedaço de tela de nylon;
• Hashi (os “pauzinhos” da comida japonesa!) com pontas (que
podem ser feitas com um apontador) ou espetos de churrasco;
• terra preta;
• argila (preferivelmente em flocos de aproximadamente 0,5 cm);
• areia peneirada;
• pedras pequenas;
• uma muda de planta de caule lenhoso, folhas pequenas e com
copa cheia.

Como fazer:
1. Observar fotos ou árvores na natureza e identificar padrões na
forma do tronco, dos galhos e da copa.
2. Podar a parte aérea da muda, buscando formas similares a
árvores naturais observadas (a muda deve ser preparada antes do plantio
definitivo no vaso ou bandeja).
3. Usar os fios de cobre para simular o efeito da gravidade sobre
os galhos mais velhos.
4. Preparar o substrato: uma parte de terra preta, uma parte de
argila e duas partes de areia.
5. Preparar o vaso definitivo:
– coloca-se um pedaço de tela de nylon sobre o orifício de
drenagem do vaso;
– cobre-se o fundo do vaso com pequenas pedras ou com o
substrato preparado.
6. Transplantar a muda para o vaso definitivo:
– remoção do saco ou vaso em que a muda foi vendida;
– remoção do excesso de terra com auxílio dos hashis até que
a planta caiba no vaso definitivo (com muito cuidado para
não danificar mais raízes do que o necessário);

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– poda de parte das raízes;
– acomodação da planta sobre o vaso devidamente

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preparado;
– preenchimento dos espaços vazios com o substrato (sempre
empurrando com o hashis para que a planta não fique
frouxa);
– leve pressão com as mãos sobre o vaso completamente
cheio pelo substrato.

Observações
ç :
Após esses passos, a planta deverá ser regada com muito cuidado
para que a terra não saia pelas bordas. Isso pode ser feito por imersão
do vaso em uma bacia com água até um nível inferior à altura do vaso.
O vaso é retirado da água quando o substrato estiver completamente
molhado.
Se a remoção de raízes for muito drástica, recomenda-se podar
o máximo possível da parte aérea, a fim de diminuir as taxas de
transpiração da planta.
Essa “receita de bonsai” foi cedida por Caio Imbassahy, mestrando
do Museu Nacional do Rio de Janeiro.

!
Na Holanda, existe um parque em miniatura, com diversos pontos turísticos do país.
Dentre os cenários, foi feita a reprodução de uma floresta típica de região temperada
com bonsais de mais de trinta espécies arbóreas (Figura 11.2).

Figura 11.2: Parque Madurodan, Holanda. Observe as diferentes espécies vegetais


em bonsai.

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EVOLUÇÃO DOS JARDINS

Desde os períodos mais antigos da história, o homem está


diretamente ligado à natureza, necessitando dela para sobreviver.
Com o início da agricultura e pecuária e da organização de estruturas
sociais e políticas, foram criados fatores de distanciamento entre o homem
e os elementos naturais. Esse distanciamento foi ainda mais acentuado
após a Revolução Industrial, período no qual se inicia a criação de
grandes jardins públicos, como veremos mais adiante.
Há uma preocupação crescente ao longo da história, mesmo que
inconsciente, nos diferentes povos, de manter o elo entre o homem e a
natureza, através dos jardins.
Quer um exemplo? Lembra-se do motivo pelo qual Nabucodonosor
construiu os Jardins Suspensos da Babilônia para sua esposa? Se não,
dê uma olhada na Aula 10.
A jardinagem evoluiu também como expressão artística, dando
origem a formas consagradas de jardins como, por exemplo, o francês
ou o inglês. Os jardins passaram a ser diretamente influenciados
por características culturais e por idéias vigentes em cada período.
Fatores locais como clima, vegetação e terreno também influenciavam
(e influenciam) bastante na escolha de espécies e forma de um jardim.
Nesta parte da aula, veremos exemplos de alguns jardins importantes
para a humanidade e como se deu sua evolução até os dias atuais.
Mas, antes, abordaremos algumas características gerais sobre jardins.
Os elementos que compõem um jardim podem ser naturais ou
artificiais, como por exemplo: vegetação, pedras (Figura 11.3), água,
animais (Figura 11.4), elementos arquitetônicos (como o palácio ou a
casa), inclusive nos lagos (Figura 11.5), pinturas, esculturas, mobílias
(como mesas e cadeiras).

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Figura 11.3: Jardim com pedras, entremeado com plantas.

Figura 11.4: Jardim com elementos artificial (estátua) e natural (pavão).

Figura 11.5: Presença de elemento arquitetônico no lago.

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Os jardins podem ser divididos:

– quanto ao tipo
1. privados: são os jardins, de diferentes estilos, desde a Antigüidade
até o século XX, que não são abertos ao público em geral;
2. públicos: jardins, também de diferentes estilos, que apareceram
no século XIX, abertos à visitação pública.

– quanto ao uso:
1. do prazer: são jardins decorativos, geralmente tornam os
elementos da arquitetura mais agradáveis, mostram status;
2. científico: são os jardins botânicos, para o estudo das plantas;
3. utilitário: um pomar, uma horta ou espaços para cultivo que
não são decorativos.
Começaremos a acompanhar, então, a evolução de jardins desde
a Antigüidade. É importante para o bom entendimento desta aula que
você pense no jardim de cada um dos períodos evidenciados aqui como
uma manifestação de idéias da época, e não de idéias atuais.

ANTIGÜIDADE

Na Antigüidade, o cenário era dos grandes impérios agrários,


como a Mesopotâmia (o primeiro império foi fundado em cerca de
5.000 a.C.) e o Egito (fundado em cerca de 3.100 a.C.). Os jardins eram
utilitários e podiam ser ligados aos palácios (como no Egito) ou interligar
as casas dentro das cidades muradas (como na Mesopotâmia).
No Egito, os jardins eram privados, com muros, animais e
quiosques, recebiam irrigação do rio Nilo, eram simétricos e apresentavam
espécies comuns da região, como uva, tâmara, palmeira e figueira.
As flores não eram comuns nesses jardins.
Posteriormente, pode-se destacar a importância da civilização
grega, cuja fundação é datada de 776 a.C., e romana, fundada, em 753
a.C. A cultura romana sofreu grande influência grega, e por isso seus
jardins são muito similares, embora tenham sofrido adaptações em
função do clima.
Na Grécia, os jardins eram geométricos e estavam presentes nos
canteiros centrais, praças, ginásios, academias, teatros (que surgiram na
Grécia) e túmulos. Em Roma, estavam presentes nas casas e decorados

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com animais, bancos, pinturas, baixos-relevos, PÉRGOLAS, fontes, canais,
PÉRGOLAS
vasos de plantas e flores presentes em arranjos. Surgem nesse momento

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Pérgolas ou pérgulas
a ARTE TOPIÁRIA e os AUTÔMATOS. são objetos de
madeira ou alvenaria
Ambos os tipos de jardins utilizam conhecimentos de hidráulica, que servem de suporte
para o crescimento
fazendo a água entrar por um ponto mais alto do terreno e terminar em
de trepadeiras.
um chafariz, utilizando o mesmo princípio de vasos comunicantes.
ARTE TOPIÁRIA

É a arte de dar forma


aos elementos vegetais
As cidades de Pompéia e Herculano, que pertenciam ao império romano, foram
através da poda.
encobertas pela erupção do vulcão Vesúvio em cerca de 79 a.C. e redescobertas no
Surgiu em Roma e se
século XVIII. Esse fato possibilitou que grande parte das cidades fosse preservada difundiu pelo mundo,
por causa da lava, incluindo casas, pinturas, esculturas e jardins. Inclusive, pôde-se com momentos de
ter uma idéia de quais eram as principais espécies de plantas utilizadas na época, grande ou pouca
pelas sementes que foram preservadas. ocorrência ao longo
do tempo.

IDADE MÉDIA AUTÔMATOS


São elementos para
adorno em jardins
O jardim ocidental que se põem em
movimento pela força
Com a queda do império romano e as invasões bárbaras, da água, como por
exemplo, moinhos
a Europa passou a viver em uma atmosfera de incerteza e insegurança. e cenários
em miniatura.
A informação escrita, neste período, estava restrita aos mosteiros e,
em menor escala, aos palácios, onde os nobres se cercavam de sábios.
Nos mosteiros, os jardins possuíam, em geral, função de horta, inclusive
com plantas medicinais e pomar.
O jardim era dividido em quatro, com formato retangular,
fechado por muros ou cercas vivas. As espécies utilizadas eram
muito variadas, desde plantas da Europa até do Oriente. Poderia
haver, por exemplo, plantas como a arruda, que segundo a crença da
época afastava animais maléficos. Plantas nocivas e de raízes longas
(que afetam a arquitetura) eram dispensadas. Também existiam nos
jardins os gramados, labirintos e chafarizes. Surgiram os jardins secretos
e os primeiros livros ligados a jardinagem.

O jardim muçulmano

É um jardim espiritual como o japonês, constituindo um local de


repouso e isolamento. Enquanto na Europa, durante a Idade Média, o
conhecimento se encontrava principalmente nos mosteiros, nos países
árabes, o desenvolvimento científico floresceu, nas áreas de astronomia,
alquimia e medicina.

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A religião era o islamismo, que impõs alguns elementos ao jardim,


como a proibição da representação da figura humana, por isso, não
existiam esculturas no jardim, murado e privado.
Esse jardim possuía muitos vasos, continha flores, caminhos com
pisos de cerâmica, sistemas de drenagem de água, grandes jatos de água,
e, como ela é um elemento de purificação, havia grande importância
no barulho que ela faz. O aroma produzido por flores e arbustos
aromáticos também aguçava os sentidos. Existiam, também, quiosques
para observação visual e auditiva.

ATIVIDADE

1. Trace um paralelo entre os jardins ocidental e muçulmano, ressaltando


as principais diferenças e semelhanças.
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RESPOSTA COMENTADA
O jardim muçulmano é um jardim espiritual, tem uma preocupação
com as sensações humanas, tais como o olfato, daí a presença de
flores e arbustos aromáticos, dentre outras. A concepção de jardim
ocidental, ao contrário, tem maior preocupação com a utilidade,
daí a presença de frutas (alimentação) e o cultivo, também, de
plantas medicinais. Ambos os jardins são privados e possuem
formato simétrico.

RENASCIMENTO

No final da Idade Média, começaram a surgir os burgos,


ou cidades, e também se definiram as classes sociais (burguesia, nobreza
e camponeses). No Renascimento (séculos XV e XVI), a sociedade estava
em plena revolução comercial: foi o início das grandes navegações e
descobertas. Havia circulação de dinheiro para financiar a arte e também
a construção do primeiro modelo de grande jardim.
Os castelos perderam as muralhas e incorporaram os jardins,
algumas vezes ao redor, outras em pátios internos. Houve uma

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valorização do homem, que passou a ter mais acesso ao conhecimento,
e a cultura greco-romana foi retomada.

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O jardim do Renascimento evoluiu do medieval. Este jardim
prezava pela harmonia e o traçado geométrico, que são reguladores
paralelos e perpendiculares, direcionando o posicionamento do jardim,
ELEMENTOS-
da pintura e da obra de arte. O jardim era claro, racional e lógico, e seu
SURPRESA
terreno devia ser montanhoso e com declive. Podiam ser, por
exemplo, uma
alameda com
± Você lembra onde o terreno também era assim? uma escultura em
determinado ponto.
² Isso mesmo, na Grécia. O proprietário teria do ponto mais alto O observador chegava
perto, pisava em um
uma perspectiva de todo o jardim.
sistema e acionava um
jato de água que
o molhava.
Havia, nesses jardins, um forte elemento de simetria com a
presença de labirintos (até a altura da cintura), grutas, esculturas e
ORANGERIE
fontes de água. No século XVI, o jardim simétrico começou a sofrer
Era uma espécie
transformações para o jardim maneirista (também no renascimento), de estufa (sem
manutenção da
que correspondia ao jardim renascentista alterado. Ocorreu na Itália temperatura) onde se
guardavam as laranjas
e posteriormente foi difundido para outros países, chegando ao Brasil
e os vasos de plantas
apenas no século XVII. que não suportavam
baixas temperaturas.
O jardim maneirista possuía eixos de simetria diversos e a
utilização de formas geométricas variadas, com a presença de grutas,
PARTERRES DE
esculturas em forma de monstros, autômatos e ELEMENTOS-SURPRESA, BRODERIES
dentre outros. Eram canteiros
geométricos que
O jardim refletia um período de instabilidade causada por guerras pareciam um bordado
e grandes mudanças. Nos jardins maneiristas, surgiram a ORANGERIEE e as ou uma renda e
utilizavam vegetação.
PARTERRES DE BRODERIES.

ATIVIDADE

2. Compare os jardins da Antigüidade e da primeira fase do período


renascentista.
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RESPOSTA COMENTADA
Os dois tipos de jardim têm muitas características em comum, até
porque o Renascimento foi resultado de uma retomada à cultura
greco-romana, e isso também se reflete nos jardins.
Assim, temos em comum o formato geométrico e simétrico, com
características de racionalidade e lógica, a valorização da figura
humana e a presença de elementos hidráulicos, como autômatos
e chafariz. O jardim renascentista, inclusive, tentava imitar o relevo
montanhoso existente na Grécia.
Se sua resposta conteve essas informações, está completa, se não,
volte ao texto e releia os tópicos referentes a esse assunto.

ABSOLUTISMO

Nesse período (século XVII), o poder estava concentrado nas mãos


de um rei, e existia uma dominação da população pelo governante e pela
Igreja. Os monumentos eram grandiosos, dando a impressão de esmagar
o indivíduo; o governante era cercado de luxo; havia uma teatralidade
evidente com grandes espetáculos para poder manipular a população;
havia um gosto pela exuberância e pelo ornamento.
Surgiu o chamado jardim francês, jardins grandes, simétricos, com
uma grande avenida perpendicular ao palácio que dá uma perspectiva
de infinito (Figura 11.6). Os jardins ficavam em um terreno plano,
com poucos declives, possuíam esculturas (Figura 11.7), elementos
decorativos, água (canais, fontes de bronze e mármore, chafarizes),
terras coloridas, arte topiária (Figura 11.8), cercas-vivas (cercas feitas
com plantas arbustivas) e funcionavam como grandes cenários para a
aparição dos reis. Os reis, por sua vez, utilizavam as muitas janelas dos
palácios para proporcionar diferentes pontos de observação do jardim
(Figura 11.9).
A vegetação utilizada era de plantas perenes, com muitas plantas
exóticas (lembra da Orangerie?) e flores, como jacinto, narciso, tulipa
(Figura 11.10), papoula, rosa, dentre outras. No século XVII, ainda não
havia chegado ao Brasil esse formato de jardim.

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a b

Figura 11.6: Praça Paris com vista do Centro do Rio de Janeiro (a) e da igreja da Glória (b). Esse jardim foi criado
no século XX, segundo o estilo francês.

Figura 11.7: Exemplo de escultura na Praça Paris, Rio de Janeiro.

Figura 11.8: Exemplos de arte topiária.

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Figura 11.9: Jardim em estilo francês na Holanda. Observe a simetria do jardim,


a presença de chafariz ao fundo e de arte topiária nas árvores que margeiam
o lago.

Figura 11.10: Exemplos de tulipas de diferentes cores.

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

No século XVIII, o jardim se popularizou. A França e a Inglaterra


passavam por problemas econômicos e o jardim francês entrou em
decadência. A grandiosidade foi substituída pela graciosidade, e o luxo
foi substituído pela aparência. Por exemplo, objetos que no período
anterior seriam feitos de ouro, passam a ser somente pintados com
tinta dourada.

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Surgiu o JARDIM inglês, mais PAISAGÍSTICO, com caminhos sinuosos,
JARDIM
sem organização geométrica. Muros e cercas foram substituídos pelo

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PAISAGÍSTICO
fosso, conhecido como ha-ha. Houve uma fusão dos jardins aos parques É um jardim mais
voltado para
de caça. Estes possuíam gramados de grandes dimensões, ruínas, templos, o natural, para
túmulos, chinouseries (elementos do jardim chinês/japonês foram o campestre.

inseridos no jardim inglês), folies (como as casas-pirâmides, pontes em


lagos etc.) e os elementos efêmeros (as TRELIÇAS de madeira, elementos TR E L I Ç A S
São sistemas de vigas
de gesso, flores etc.).
ou ripas que são
Utilizavam-se árvores de grande porte, como pinheiro, cipreste, cruzadas e sustentam
as trepadeiras
abeto e salgueiro-chorão, plantadas de maneira “natural”, e não se próximas a muros
ou paredes.
retiravam as que eventualmente morrem, de forma a tornar o jardim
o mais natural possível.
Os textos sobre jardinagem começaram a ser voltados para as
mulheres. No final do século XVIII, iniciou-se o período neoclássico,
com a descoberta de Pompéia e Herculano, e houve uma retomada da
cultura greco-romana e do Renascimento.
Com a chegada do século XIX, houve um crescimento urbano,
o êxodo rural e o fortalecimento da burguesia, com grandes mudanças
na estrutura social. As cidades sofreram com a explosão demográfica e
tiveram de se adequar às novas condições. Começaram a ser utilizadas
máquinas no sistema produtivo e desenvolveu-se a cultura de massa.
Surgiam a arquitetura do ferro (Torre Eiffel) e a do vidro. Surgiu, também,
o cortador de grama, aparelhando e facilitando o trabalho no jardim.
As grandes pesquisas científicas se iniciaram e, juntamente com
a botânica, os jardins científicos e os jardins públicos floresceram. Devido
à grande urbanização, a população sentia falta do campo, do natural.
A orangerie se transformou na estufa, pois a temperatura poderia
ser mantida com a eletricidade. Os jardins que se iniciaram no estilo inglês
passaram a ser ecléticos, e os arquitetos começaram a copiar diferentes
movimentos culturais anteriores.
Os jardins possuíam parterres de flores, terraços, gramados,
coretos (de ferro e de vidro), jardins de inverno, fontes, chafarizes, grutas,
pontes e arte topiária. A vegetação era bastante variada com a utilização
de muitas espécies exóticas e roseirais. No Brasil, a vinda da família real
trouxe bastante mudança à corte, havendo predomínio do jardim inglês
com a utilização de muitas plantas importadas e algumas tropicais.

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ATIVIDADE

3. Todo o processo de colonização portuguesa no Brasil foi marcado


pela introdução de espécies exóticas, tanto animais quanto vegetais. A
introdução de espécies vegetais, vindas da Ásia e da África, foi baseada,
principalmente, no interesse econômico.
Além disso, havia uma intensa troca entre as colônias portuguesas de
sementes de espécies de interesse econômico, além de muitas sementes
e plantas levadas ilegalmente (o que é hoje conhecido como biopirataria).
A criação dos jardins botânicos no final do século XVIII e início do XIX
facilitou, ainda mais, o intercâmbio e a aclimatação de espécies. Reflita
um pouco e responda quais seriam os principais problemas relacionados a
essa prática tão comum na colonização do Brasil. Quais as conseqüências
para a flora nativa?
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RESPOSTA COMENTADA
Os principais problemas estão relacionados ao fato de que muitas
espécies exóticas não possuem predadores naturais, podem trazer
parasitas e pragas não existentes aqui e causar grandes perdas à
flora nativa. Além disso, a ausência de predadores e doenças naturais
para as espécies exóticas e sua adaptação ao clima aumentam
a competição com espécies nativas, e as primeiras encontram-se
freqüentemente mais favorecidas.

SÉCULO XX E ATUALIDADE

A partir de 1900 até a atualidade, ocorreram grandes mudanças,


principalmente, nas cidades, que continuaram a crescer. Desapareceram
as grandes propriedades e os palácios. A indústria continuou a crescer, e
a mão-de-obra passou a ser mais qualificada. Surgiram novos materiais,
como o plástico e o concreto, por exemplo, e novas tecnologias que
provocaram mudanças muito rápidas nos jardins.
Houve uma preocupação crescente com o planejamento urbano,
com a preservação da natureza – inclusive com o surgimento de leis
que garantissem a conservação de áreas verdes, – e com a importância
da criação de parques e jardins públicos. Surgiram os jardins de
recuperação de pacientes, que possibilitaram a cura através do contato
com a natureza.

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Hoje os jardins continuam a ser ecléticos, com maior predominância
do jardim paisagístico e de grande influência oriental. Há gramados com

AULA
árvores de grande porte, maior utilização de vegetação que requer pouco
cuidado e são priorizadas as plantas locais. São populares os vasos de
plantas no interior das casas.
A partir das décadas de 1950 e 1960, foram criados os jardins
temáticos como o selvagem, que visava mexer o mínimo possível em um
espaço natural, e o jardim deserto, que utilizava vegetação de ambientes
desérticos, como por exemplo, o cacto. Neste período, os jardins sofreram
influência da pintura, passando a ser abstratos, e surge o TACHISMO (Figura
11.11).
TA C H I S M O
No Brasil, rapidamente se observam as influências externas. As
Vem da palavra tache,
cidades foram remodeladas a partir do final do século XIX. No Rio que significa mancha.
Eram jardins abstratos
de Janeiro, por exemplo, houve grandes mudanças, principalmente no onde a vegetação era
plantada formando
centro da cidade, com a construção dos aterros da Glória e do Flamengo. manchas de colorações
Como você viu na Aula 10, foram criados grandes espaços públicos diferentes ou mesmo
utilizando-se
com jardins, como o Aterro do Flamengo, o Ibirapuera, a Pampulha e flores diferentes.

também casas particulares cujos jardins eram de autoria de Burle Marx.


Há uma difusão do jardim integrado à arquitetura, dos jardins internos,
da ecologia e da importância da proteção da flora natural.

a b

Figura 11.11: Três exemplos de tachismo


no Aterro do Flamengo (a) e em parques
holandeses (b, c), utilizando folhas e flores de
diferentes colorações.

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O Incrível Poder dos Seres Clorofilados | Harmonia e beleza nos jardins

Atualmente, existe no Jardim Botânico do Rio de Janeiro o


Jardim Sensorial. É uma área dedicada aos deficientes visuais, onde
as plantas foram plantadas à altura da cintura para que pudessem ser
tocadas e as placas de identificação estão também em braile. As plantas
foram selecionadas para que o visitante pudesse perceber diferentes
consistências, texturas e aromas das plantas. É uma idéia muito
interessante, vale a pena visitar. E se você não mora na cidade do Rio
de Janeiro, procure saber se na sua cidade há um jardim botânico com
áreas dedicadas a um público em especial.

PAISAGISMO

O paisagismo é uma atividade que mistura arte, ciência e técnica,


procurando reconstruir uma paisagem natural dentro do cenário urbano,
reintegrando o homem a esta. Burle Marx foi o mais famoso paisagista
brasileiro, um dos pioneiros do design moderno, priorizando a utilização
de espécies locais. A importância desta utilização baseia-se:
1. na idéia de que plantas provenientes do próprio local demandam
um menor cuidado por estarem mais adaptadas;
2. se o intuito é reintegrar o homem à paisagem, o jardim tem de
ser o mais parecido possível com a localidade onde ele “vive”, com o
natural (assim, jardins feitos no Amazonas seriam diferentes de jardins
no Rio de Janeiro);
3. valorização da flora tropical, da sua exuberância e possibilidades.
Além dessas idéias de Burle Marx, lembre-se de que o contato com
a flora nativa pode conscientizar a população sobre a importância da
preservação. Quer ver um exemplo? Foi criado no posto seis da praia de
Copacabana um jardim museu, onde são cultivadas espécies típicas de
restinga que cobriam as areias deste bairro. É o caso da espécie Eugenia
copacabanensis, que possui esse nome por ter sido tão abundante no
passado no bairro em questão e que hoje dificilmente é encontrada.
A partir da década de 1960, o projeto paisagístico eclético,
de caráter europeu, foi banido do foco de atenções na urbanização
de espaços públicos e privados, sendo priorizados jardins voltados
para a atividade recreativa. Surgiram também na década de 1980,
principalmente nas grandes cidades, secretarias especializadas para a
criação de projetos e gestão de espaços públicos.

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Extrativismo versus cultivo

AULA
A utilização de nossa flora no paisagismo de espaços públicos,
comerciais e residenciais cresceu muito na última década, com grande
utilização de plantas como bromélias e orquídeas. Você reparou como é
freqüente encontrarmos bromélias enfeitando os shoppings? Entretanto,
com essa valorização, surgiu um perigo eminente para essas plantas: o
extrativismo predatório. Com perigosa freqüência, muitas dessas espécies
são retiradas em grande quantidade de seu ambiente natural (matas e
restingas), onde as mais raras já sofrem risco de extinção.
O uso sustentável de nossa riqueza biológica deve ser enfatizado
em diferentes fóruns, como escolas, associações de moradores, centros
comunitários e cooperativas. É, portanto, fundamental que estejamos
atentos à procedência das plantas que adquirimos. O cultivo de flores da
nossa fauna cresceu e pode crescer ainda mais. Se você tiver curiosidade,
visite os sites de empresas:

www.maniadebromelia.com.br
www.jardimdeflores.com.br
www.bromeliaenatureza.eng.br

CONCLUSÃO

A importância dos jardins para o homem acompanhou toda


sua história. O desenvolvimento de diferentes tecnologias e materiais
possibilitou uma inovação crescente nos jardins ao longo dos séculos,
estando a beleza das espécies sempre presente e a harmonia ligada à
disposição destas no espaço. É possível relacionar, claramente, os grandes
movimentos da humanidade, como o absolutismo ou o renascimento, à
composição dos jardins.

ATIVIDADE FINAL

Entre na internet e digite os endereços a seguir. Você reconhece os jardins de que


falamos nesta aula? Classifique-os e justifique sua resposta. Lembre-se de que
sua resposta pode se basear, também, em informações retiradas de outras fontes
além desta aula.

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O Incrível Poder dos Seres Clorofilados | Harmonia e beleza nos jardins

1. http://www.gardenvisit.com/je/corinth_grotto_garden.jpg

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2. http://www.istockphoto.com/file_thumbview_approve/225178/2/Versailles__
orange_trees_garden.jpg e http://www.gruyere.org/gruyeres/bg_122_2243.jpg

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3. http://www.probrasil.com.br/rj/Rio6.jpg e http://www.sefa.es.gov.br/painel/
images/Jardim1.jpg

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4. http://luminescencias.blogspot.com/1107_54_Jardim.jpg e http:// ww.vivercidades.


org.br/publique/media/jardim_ingles.jpg

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RESPOSTA COMENTADA
Conforme você viu nesta aula, existem importantes elementos que
distinguem os diversos estilos de jardim. Veja, a seguir, se você
conseguiu identificá-los.
1. Greco-romano. A arquitetura ao redor tem características do período
em questão como os arcos e lembra um possível teatro (Grécia).
Os jardins são encontrados como parte da concepção arquitetônica,
como nesta imagem, em um canteiro central.
2. Francês. Esse jardim possui forte simetria, há uma avenida central
que culmina em um lago, dando uma perspectiva de infinito, fazendo
com que o jardim pareça maior do que é. Você deve ter notado, ainda,
a presença das parterres de broderie e da arte topiária.

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3. Paisagismo de Burle Marx. Como freqüentemente utilizado pelo

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grande paisagista Roberto Burle Marx, os jardins utilizam formas

AULA
geométricas (círculos, quadrados) e abstratas (tachismo).
4. Inglês. É tipicamente um jardim paisagístico, que parece mexer
o mínimo possível no natural, incluindo árvores de grande porte e
lagos, sem utilizar-se de podas (arte topiária). Você deve ter observado
também a presença de grama e de caminhos sinuosos.

RESUMO

Os jardins têm acompanhado o desenvolvimento da sociedade humana ao longo


do tempo. Em cada época, o jardim possui diferentes aspectos, que refletem o
comportamento e o pensamento de diversos períodos históricos e civilizações.
Podemos citar os jardins gregos, romanos, muçulmanos e ocidentais.
Os jardins nos proporcionam uma aproximação com a natureza e estão sempre
ligados a alguma forma de prazer, seja ela sensorial ou espiritual. O paisagismo,
por exemplo, procura trazer a paisagem natural para dentro do espaço urbano,
fazendo essa aproximação do homem à natureza. A escolha das plantas e dos
demais elementos do jardim será feita, então, de forma a buscar essa aproximação
com o natural e também a proporcionar prazer ao visitante. Essa escolha também
vai levar em consideração as características de cada espécie, o relevo e o clima.

INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA

Você verá na Aula 12 que o odor de flores favorece a atração de polinizadores e


estes, nem sempre, gostam de odor de rosas ou jasmim. Então, do que será que
gostam? Fique conosco em mais uma aula e você saberá.

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