Avaliação Do Raciocínio Verbal em Estudantes Do 2º Grau: Estudos de Psicologia (Natal) December 1997

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Avaliação do raciocínio verbal em estudantes do 2º grau

Article  in  Estudos de Psicologia (Natal) · December 1997


DOI: 10.1590/S1413-294X1997000200004 · Source: DOAJ

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Wagner Bandeira Andriola


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Estudos de Psicologia
Avaliação do raciocínio verbal
1997, 2(2), 277
277-285

Avaliação do raciocínio verbal em


estudantes do 2º grau1

Wagner Bandeira Andriola


Universidade Federal do Ceará

Resumo:
A presente pesquisa objetivou avaliar a capacidade cognitiva
denominada de raciocínio verbal em estudantes do 2º grau.
Trata-se da capacidade que possuímos para expressar as idéais
utilizando símbolos verbais. A amostra foi composta por 658
estudantes do 2º grau, de escolas públicas e privadas
de Fortaleza (CE) e o instrumento utilizado foi o Teste de
Raciocínio Verbal (RV) desenvolvido por Andriola e Pasquali Palavras-chave:
(1995). Através do Teste da Análise de Variância (ANOVA), Raciocínio
compararam-se as variáveis sexo, idade e série escolar quanto Verbal,
Avaliação
ao desempenho no Teste RV, utilizando-se o software SPSS Psicológica,
for Windows (V. 6.1). Cognição

Abstract:
Assessment of the verbal reasoning in high school students
This research has as its objective the assessment of the
cognitive capacity called verbal reasoning in high school
students. It deals with our capacity to express ideas using
verbal symbols. The random sample was composed of 658
high school students from public and private schools in the
city of Fortaleza in the state of Ceará (Brazil), while the
instrument used was the Verbal Reasoning Test developed by
Andriola & Pasquali (1995). By using analysis of variance
Key words:
Verbal (ANOVA) it was possible to compare the variables: sex, age
Reasoning, and academic level with the performance on the Verbal
Psychological
Evaluation,
Reasoning Test, using the software SPSS for Windows (V.
Cognition. 6.1).
278 W. B. Andriola

Introdução

A
avaliação das capacidades cognitivas tem a sua história ligada
às necessidades sociais de explicação do comportamento
humano, e às necessidades educacionais ligadas a melhoria
do rendimento escolar dos alunos.
O interesse e desenvolvimento dos testes para avaliação do ra-
ciocínio têm que ser enquadrados em um contexto sócio-cultural espe-
cífico. Assim, devemos nos reportar ao final do século XIX citando as
necessidades de caráter tecnológico, as exigências em termos pro-
fissionais colocadas pela industrialização progressiva das sociedades
ocidentais, o rápido aumento demográfico, a massificação do ensino
e, sobretudo, as necessidades de avaliação psicológica na seleção de
recrutas norte-americanos para a 1ª guerra mundial (Almeida, 1994).
Os instrumentos destinados a avaliação psicológica, os chamados
testes, permanecem, ainda hoje, associados às necessidades de (1)
identificação de crianças com baixo potencial cognitivo ou menor
desenvolvimento intelectual, (2) elaboração de perfis profissionais
considerando as aptidões, os interesses e a personalidade dos
adolescentes e jovens, tendo em vista a sua orientação vocacional
(Andriola, 1994), (3) seleção profissional objetivando identificar os
sujeitos com maior adequação às exigências da função e (4)
identificação do estado de demência ou deterioração intelectual dos
indivíduos, sobretudo em situações clínicas e jurídicas.
Como ressaltam Wigdor e Garner (1982), pode-se afirmar que a
avaliação das capacidades cognitivas permanece ainda hoje um dos
domínios mais significativos de aplicação da psicologia, apesar de
reconhecerem as limitações dos instrumentos. Andriola (1995 a, b)
acrescenta ainda o problema da formação profissional inadequada na
área psicométrica daquele que irá lidar com esses instrumentos de
avaliação psicológica - o psicólogo.
Embasado nas limitações dos instrumentos e dos profissionais
que os utilizam, a avaliação deve ser vista como um processo relevante
para obtenção de informações sobre as capacidades cognitivas dos
indivíduos testados, porém não pode ser tida como algo “milagroso”
e ausente de erros e vieses.
Avaliação do raciocínio verbal 279

Definição e caracterização do raciocínio


Almeida (1988 a) caracteriza a investigação e a prática psicológica
da perspectiva psicometrista, com referência ao raciocínio, segundo três
aspectos fundamentais. O primeiro refere-se à possibilidade de estabe-
lecimento de uma relação entre o desempenho dos sujeitos no teste e a
sua realização escolar, permitindo assim predizer a margem de sucesso
esperado para cada indivíduo, além de proporcionar ao indivíduo a pos-
sibilidade de uma decisão pessoal sobre o seu futuro escolar e profissional.
O segundo aspecto é resultante do postulado que afirma que a
estabilidade das características dos indivíduos permaneceriam está-
veis ao longo de sua existência, designadamente após os primeiros
anos de maior desenvolvimento psicofisiológico. Tal postulado
fundamenta a existência de diferenças individuais permanentes quanto
às capacidades intelectuais, enfocando a influência hereditária. Apesar
disso, não é negada a influência das aprendizagens ou experiências
sociais sobre a utilização do raciocínio.
O terceiro aspecto refere-se à distribuição dos escores obtidos
pelos sujeitos nos testes seguirem as leis da curva normal, ou seja, há
maior número de indivíduos cujos resultados situam-se em torno da
média da população, e indivíduos cujos escores situam-se simetrica-
mente acima e abaixo de tal valor médio. Tal lei permite a generalização
dos resultados obtidos com a amostra para a população da qual é
originária, sempre que for garantida a representatividade populacional.
Como o raciocínio pode ser usado em problemas com conteúdos
diferenciados, os teóricos psicometristas acreditam na existência de um
fator geral de raciocínio (expresso pela capacidade de estabelecer e aplicar
relações entre elementos) e em aptidões primárias ou específicas
(expressas pelas diferenças de contexto ou conteúdo dos elementos).
Pode-se então depreender que o raciocínio é um mecanismo cog-
nitivo que é utilizado para solucionar problemas (simples ou comple-
xos), em suas mais diferentes formas de conteúdos (verbal, numérico,
espacial, abstrato e mecânico) através de seus componentes relacionais
(de descoberta e de aplicação).
Almeida (1988 b) propõe que o raciocínio pode ser caracterizado
pela aptidão do sujeito em (1) identificar os elementos de um
280 W. B. Andriola

problema; (2) conceitualizar ou compreender a sua formulação; (3)


conceber formas alternativas de resolvê-lo; (4) avaliar as diferentes
formas alternativas elaboradas para resolvê-lo; (5) retirar conclusões
lógicas da informação fornecida e processada; (6) utilizar os
componentes relacionais nos procedimentos anteriores; (7) utilizar
os procedimentos anteriores independente do conteúdo e da forma
da situação, e (8) avaliar a adequação da resposta elaborada conside-
rando mais a especificidade da situação que a “opinião pessoal” so-
bre a mesma.
No presente caso, pode-se afirmar que o raciocínio verbal é a
capacidade cognitiva utilizada na resolução de problemas cujo con-
teúdo seja composto por símbolos verbais. A relevância da avaliação
dessa capacidade, no caso específico de estudantes do 2º grau que
objetivam cursar a universidade, está associada ao fato de terem, obri-
gatoriamente, de submeterem-se a uma prova para avaliar o raciocínio
verbal: a redação.
Sendo uma prova obrigatória e de caráter eliminatório, a avaliação
do raciocínio verbal através do Teste RV, permite ao estudante ter
noção de como está a sua capacidade para lidar com símbolos verbais,
forçando-o a uma utilização mais freqüente da mesma que poderá
resultar num maior aprimoramento. Aliás, alguns autores (Almeida,
1993; Almeida & Morais, 1992; Nisbet, 1992; Salema, 1992; Santos,
1992; Sprinthal & Sprinthal, 1993) chegam mesmo a propor um
Programa de Treinamento Cognitivo para os estudantes que se
mostram com baixa capacidade de raciocínio.
Dentro do contexto teórico até aqui apresentado, a pesquisa
objetivou avaliar a capacidade de raciocinar utilizando símbolos
verbais numa amostra de estudantes do 2º grau de escolas públicas e
particulares de Fortaleza, aleatoriamente escolhidas.

Método

Amostra
Utilizou-se uma amostra composta por 658 estudantes secunda-
ristas da cidade de Fortaleza (CE) com idade média de 17,86 anos
Avaliação do raciocínio verbal 281

(DP=3,19), sendo a maior parte do sexo feminino (53,5%), de escolas


públicas (61,1%) e da 2ª série (40,7%).
Instrumento
A escolha do Teste de Raciocínio Verbal (RV) deve-se ao fato de
ser um instrumento cujos parâmetros métricos de validade de construto,
precisão e índices de dificuldade, homogeneidade e discriminação
dos itens, terem sido determinados cientificamente. O Teste RV foi
construído por Andriola e Pasquali (1995) e objetiva a avaliação da
capacidade cognitiva denominada de raciocínio verbal de estudantes
do 2º grau. Trata-se de um instrumento de medida psicológica de
apuração objetiva, composto por 40 analogias verbais e com tempo
limite de 10 minutos para a sua resolução. No presente estudo utilizou-
se o formato lápis-papel do Teste RV, existindo também o formato
computadorizado (Andriola, 1996).
Procedimento
A aplicação do Teste RV foi realizada por dois Bolsistas de
Iniciação Científica (CNPq), após contactar previamente os diretores
das escolas escolhidas para a coleta dos dados. Os bolsistas
apresentavam as instruções para resolução do Teste RV informando
os objetivos da pesquisa, o tipo de tarefa a ser executada e o tempo
limite, além de solicitarem alguns dados pessoais para a descrição da
amostra. Após a coleta agradeciam a participação dos alunos.

Resultados
Os dados foram então organizados em um banco de dados e
analisados utilizando-se o software SPSS for Windows (V. 6.1).
Inicialmente as idades foram organizadas em três faixas etárias
distintas: 1ª) entre 13 e 15 anos (25,6%), 2ª) entre 16 e 18 anos (41,1%)
e a 3ª) com mais de 19 anos (33,3%).
Uma análise inicial revelou que a média de desempenho da amostra
total no Teste RV foi de 8,58 (DP=2,18), com amplitude variando de
1 a 16. O Quadro 1 apresenta o desempenho dos estudantes no Teste
RV considerando-se as variáveis sexo, série escolar e faixa etária.
282 W. B. Andriola

Quadro 1 - Escores obtidos no Teste de Raciocínio Verbal (RV) segundo


o sexo, a série escolar e a faixa etária (n=658)

ESCORES OBTIDOS NO TESTE RV


Média Desvio Padrão Amplitude
Homens (n=305) 8,59 2,11 4 - 16
Mulheres (n=353) 8,57 2,24 1 - 15
1ª Série (n=188) 8,65 2,23 3 - 16
2ª Série (n=268) 8,39 2,21 1 - 15
3ª Série (n=202) 8,75 2,09 3 - 14
Idade 1 (n=169) 8,49 2,18 1 - 16
Idade 2 (n=270) 8,53 2,26 3 - 15
Idade 3 (n=219) 8,81 2,06 4 - 14

Os dados apresentados no Quadro 1 revelam que os homens


obtiveram desempenho médio um pouco superior às mulheres, além
de variabilidade menor. Os alunos da 3ª série obtiveram desempenho
médio superior às demais, além de menor variabilidade. Considerando
a idade, os alunos mais velhos obtiveram desempenho médio superior
às outras duas faixas etárias, também com variabilidade menor.
Objetivando verificar se as diferenças supra referidas, quanto ao
desempenho no Teste RV eram significativas, utilizou-se o Teste da
Análise de Variância (ANOVA - Three Way). O resultado obtido na
comparação entre os sexos foi F(1, 656)=0,005; n.s., ou seja, detectou-
se a inexistência de diferença entre homens e mulheres quanto ao
desempenho no Teste RV.
Comparando-se os respondentes quanto a série escolar, o resultado
foi F(2, 655)=1,505; n.s., ou seja, também detectou-se a inexistência de
diferenças entre as três séries quanto ao desempenho no Teste
RV.
Por último, a comparação entre as três faixas etárias resultou no
valor F(2, 655)=0,856; n.s., ou seja, repetiu-se a tendência verificada
entre os sexos e as séries quanto a inexistência de diferenças signifi-
cativas no desempenho dos sujeitos submetidos ao Teste RV.
Avaliação do raciocínio verbal 283

Conclusões
Sobre os resultados obtidos a partir da pesquisa, observou-se a
inexistência de diferenças entre homens e mulheres na utilização do
raciocínio verbal utilizando-se o formato lápis-papel do Teste RV.
Também observou-se igual tendência entre os sujeitos das faixas
etárias consideradas no estudo. Tais dados corroboram os resultados
obtidos por Andriola e Pasquali (1995).
Quanto às séries escolares, também não encontraram-se diferenças
significativas quanto ao raciocínio verbal, refletindo desempenhos
similares dos estudantes no Teste RV. Os resultados aqui obtidos vão
de encontro aos resultados encontrados por Almeida (1988a), que
observou uma elevação no desempenho dos estudantes à medida em
que avançavam nas séries escolares.
A observação que deve ser considerada é que não se encontrou
qualquer diferença significativa no desempenho dos estudantes
utilizados nesse estudo, mesmo comparando-os segundo o sexo, a
idade e a série escolar. Uma explicação plausível é que trata-se de
uma amostra de estudantes extremamente homogênea quanto a
capacidade avaliada.
Quanto a avaliação do raciocínio, deve ser mencionado que se
tratade uma atividade relevante para a compreensão de problemas
freqüentes na área da psicologia escolar, sobretudo aqueles associados
às dificuldades de aprendizagem e baixo rendimento escolar dos estu-
dantes. Também poderá ser de grande utilidade para as atividades de
orientação vocacional e profissional de adolescentes e pré-universi-
tários.
Apesar da importância, a avaliação é um processo complexo em
que erros e vieses não estão ausentes. Assim, a escolha dos instru-
mentos a serem utilizados num processo dessa natureza é algo que
deve estar cercado de muito cuidado. O psicólogo deverá certificar-
se de que o(s) instrumento(s) que utilizará possuem algumas qualidades
imprescindíveis. Refiro-me às suas características métricas tais como,
a validade de construto, a fidedignidade, às características dos itens
(dificuldade, homogeneidade e discriminação), além das normas de
apuração dos resultados.
284 W. B. Andriola

O conhecimento sobre as qualidades métricas que um instrumento


de medida psicológica deve possuir só é conseguido através de uma
sólida formação na área psicométrica! É justamente nessa área que os
cursos de graduação têm extrema necessidade de bons especialistas,
o que tem gerado uma formação incompleta dos futuros psicólogos.
Ressalte-se que são exatamente esses que atuarão, num futuro muito
próximo após a sua formação, nos Hospitais, Escolas, Clínicas e Em-
presas nas atividades ligadas, de forma direta ou indireta, à avaliação.

Referências
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de Psicologia.
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Instituto Nacional de Investigação Científica.
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Almeida, L. S. (1993). Capacitar a escola para o sucesso. Edipsico:
Vila Nova de Gaia.
Almeida, L. S. (1994). Inteligência. Definição e Medida. Aveiro: Cen-
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Andriola, W. B. (1996). O uso de computadores na avaliação psicoló-
gica: verificação de sua influência sobre o desempenho individual
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Nisbet, J. (1992). Ensinar e aprender a pensar: uma (re)visão temática.
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Avaliação do raciocínio verbal 285

Santos, M. E. M. (1992). Aprender a pensar interacções Ciência/


Tecnologia/Sociedade. Inovação, 5 (2/3), 93-102.
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Wigdor, A. K., & Garner, W. R. (1982). Ability testing: Uses,
consequences and controversies. Washington, D.C.: National
Academic Press.

1
Estudo realizado no Laboratório de
Nota
Pesquisas em Avaliação e Medida Psico-
Educacional (LABPAM/UFC).

Wagner Bandeira Andriola é Sobre o autor


professor do Departamento de
Fundamentos da Educação, Mes-
trado em Avaliação Educacional,
da Faculdade de Educação
(FACED) da Universidade Fede-
ral do Ceará. Coordenador do
LABPAM/UF. Especialista em
Psicometria e Mestre em Psicolo-
gia Social e do Trabalho pela Uni-
versidade de Brasília. Endereço
para correspondência: UFC/
FACED/Departamento de Funda-
mentos da Educação/Mestrado em
Avaliação Educacional, rua
Waldery Uchoa, 01 - Benfica -
Fortaleza (CE) - CEP 60020-110
- Fone/Fax: (085) 283-3926. E-
mail: [email protected].

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