Perfil Cog Dislexia e Tdah

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Diniz JM

ARTIGO et al.
ORIGINAL

Perfil cognitivo de crianças com


dislexia e de crianças com TDAH
Joyce Moreira Diniz; Jane Correa; Renata Mousinho

DOI: 10.5935/0103-8486.20200008

RESUMO - Este estudo objetivou traçar o perfil cognitivo de crianças


com dislexia e de crianças com Transtorno de Déficit de Atenção com
Hiperatividade (TDAH), com idades entre 6 a 8 anos. A Escala Wechsler de
Inteligência para Crianças (WISC-IV) possibilitou, por meio dos resultados
de seus índices e subtestes, análises comparativas do desempenho dos
grupos clínicos. O grupo de crianças com dislexia apresentou seu melhor
desempenho em Compreensão Verbal e Organização Perceptual, enquanto
sua maior dificuldade se deu no Índice de Memória Operacional. O melhor
desempenho das crianças com TDAH revelou-se no Índice de Organização
Perceptual, enquanto Velocidade de Processamento representou sua maior
dificuldade. Conhecer as potencialidades e dificuldades específicas das
crianças nos diagnósticos associados a dificuldades de aprendizagem pode
contribuir para intervenções adequadas para garantir o acesso à Educação
inclusiva e de qualidade.

UNITERMOS: Dislexia. Transtorno de Déficit de Atenção com Hipe­ra­


tividade. Escala Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC-IV).

Joyce Moreira Diniz - Psicóloga graduada pela Uni­ Renata Mousinho - Fonoaudióloga. Doutora e Mestre
versidade Federal do Rio de Janeiro; Mestre em em Linguística, Universidade Federal do Rio de
Psicologia - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Janeiro (UFRJ); Pós-doutorado em Psicologia - UFRJ.
Rio de Janeiro, RJ, Brasil. Especializada em Psicomotricidade, ISRP-Paris; Es­
Jane Correa – Psicóloga graduada pela Universidade pecializada em Educação Inclusiva, UGF; Professora
do Estado do Rio de Janeiro; Mestre em Psicologia Cog­ Associada da Graduação em Fonoaudiologia da
nitiva, ISOP/FGV; Doutora em Psicologia Universidade Faculdade de Medicina (UFRJ); Coordenadora do
de Oxford; Estágio pós-doutoral no Instituto de Edu­ Projeto ELO: escrita, leitura e oralidade, Rio de Janeiro,
cação da Universidade de Londres; Professora Titular RJ, Brasil.
do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do
Rio de Janeiro; Docente permanente do Programa de Correspondência
Pós-graduação em Psicologia da UFRJ e supervisora do Joyce Moreira Diniz
Estágio Profissional em Transtornos de Aprendizagem, Avenida Antônio de Almeida, 1692 – Retiro – Volta
na Divisão de Psicologia Aplicada (UFRJ); Coordena Redonda, RJ, Brasil – CEP 27277-330
o projeto das Oficinas de Leitura e Escrita, Rio de E-mail: [email protected]
Janeiro, RJ, Brasil.

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Perfil cognitivo de crianças com dislexia e com TDAH

INTRODUÇÃO meio dos subtestes Cubos, Raciocínio Matricial,


A maior parte da demanda por avaliação neu­ Conceitos Figurativos e Completar Figuras. Em
ropsicológica para crianças e adolescentes pro- Cubos, um dos principais subteste do Índice, são
vém de queixas escolares, especialmente no que investigadas as habilidades de processamento
diz respeito a dificuldades de aprendizagem. A visuoespacial e as funções executivas de plane-
compreensão do funcionamento cognitivo que a jamento e organização. O Raciocínio Matricial é
avaliação neuropsicológica possibilita faz-se im- uma medida de inteligência fluida por meio da
portante, tanto para a condução de diagnósticos habilidade de realizar analogias em uma matriz.
como para que propostas de intervenção possam Em Conceitos Figurativos avalia-se o raciocínio
ser realizadas de acordo com as particularidades não verbal por meio da habilidade de categoriza-
de cada indivíduo. ção. No subteste Completar Figuras é avaliado o
Dentre os instrumentos empregados no pro- reconhecimento visual e a atenção aos detalhes.
cesso de avaliação neuropsicológica, a Escala O IMO avalia os recursos de memória de
Wechsler de Inteligência para Crianças (WISC) trabalho e a flexibilidade cognitiva por meio dos
é considerada uma das mais utilizadas1. Atual­ subtestes Dígitos e Sequência de Números e
mente em sua 4ª edição normatizada para a Letras e Aritmética, este último um teste suple-
população brasileira2, a escala objetiva avaliar o mentar. O subteste Dígitos recruta os recursos
funcionamento cognitivo dos 6 aos 16 anos, por para armazenamento e operação da memória
meio de 15 subtestes, dez de aplicação obrigató- de trabalho. Sequência de Números e Letras
ria e cinco suplementares, agrupados em quatro requer, principalmente, recursos de memória
índices fatoriais: Índice de Compreensão Verbal de trabalho, habilidade de sequenciamento e
(ICV), Índice de Organização Perceptual (IOP), flexibilidade cognitiva. O subteste Aritmética
Índice de Memória Operacional (IMO) e Índice avalia o raciocínio numérico.
de Velocidade de Processamento (IVP). Por fim, o IVP avalia a agilidade mental, a
O ICV avalia a habilidade linguística de velocidade e a precisão na integração visuomo-
expressão verbal e de capacidade de raciocinar tora e no emprego dos recursos atencionais por
com palavras por meio dos subtestes de Voca- meio dos subtestes Códigos, Procurar Símbolo
bulário, Compreensão, Semelhanças, Raciocínio e Cancelamento, este último, suplementar. Em
com Palavras e Informação, sendo os dois úl­ Códigos, examina-se a velocidade e a precisão
timos suplementares. O subteste Vocabulário com que números são associados aos códigos
avalia a extensão do léxico mental, requerendo correspondentes. Quanto mais fácil for a me-
habilidade linguística para elaborar definições. morização das associações entre os elementos,
Em Compreensão, por meio da habilidade ver- melhor será o desempenho na tarefa. Avalia-se
bal, avalia-se a resolução de situações-problema também a memória visual, atenção e coordena-
envolvendo o entendimento de regras sociais e ção visuomotora. Em Procurar Símbolos deve-se
maturidade. A habilidade de conceituação por marcar se determinado elemento está ou não
meio de raciocínio verbal é examinada pelo sub- presente em uma linha de símbolos, sendo cada
teste Semelhanças, o que exige raciocínio lógico linha da tarefa um item independente. Avalia-se
e habilidade de síntese. Crianças com limitações também a memória visual, atenção e coordenação
intelectuais demonstram especial dificuldade visuomotora.
em Semelhanças1. Em Raciocínio com Palavras Além de apresentar aspectos gerais do fun-
examina-se o reconhecimento de conceitos em cionamento intelectual, a WISC-IV permite a
presença de pistas verbais. O teste Informação avaliação de habilidades cognitivas específicas,
avalia o domínio de conhecimentos gerais. o que possibilita o delineamento de um perfil
O IOP examina a integração visuoespacial, cognitivo, podendo levar a comparações entre
o raciocínio não verbal e planejamento por diferentes grupos clínicos. Na avaliação de

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transtornos do neurodesenvolvimento, a apli- com­preensão destes grupos clínicos e da natu-


cação da WISC-IV pode corroborar hipóteses reza das dificuldades com as quais se deparam.
diagnósticas, como auxiliar a realização de
diagnósticos diferenciais1. Dentre os diagnós- MÉTODO
ticos apoiados pela WISC-IV, encontram-se a Participantes
dislexia e o transtorno de déficit de atenção/ O estudo foi realizado a partir da análise
hiperatividade, alguns dos principais transtor- dos protocolos de 24 escolares avaliados no
nos associados a dificuldades no processo de Ambulatório de Transtornos da Língua Escrita
aprendizado escolar. da Universidade Federal do Rio de Janeiro en-
A dislexia do desenvolvimento é o transtorno tre os anos de 2015 e 2016. Foram utilizados os
específico da aprendizagem mais comum e seu seguintes critérios para inclusão dos protocolos
prejuízo reside, particularmente, na leitura, e se na pesquisa: diagnóstico com ausência de
dá na ausência de prejuízos intelectuais. Crianças comorbidades, idade e escolaridade, conforme
com dislexia tendem a ter experiências de alfa- descrito na Tabela 1. Quanto ao diagnóstico,
betização frustradas em função de suas habili- foram selecionados os protocolos das crianças
dades linguístico-cognitivas, particularmente, diagnosticadas com dislexia ou Transtorno de
relacionadas ao processamento fonológico es- Déficit de Atenção com Hiperatividade. Foram
tarem desenvolvidas aquém do esperado para excluídos os protocolos das crianças que apresen-
sua idade e escolaridade3. tavam comorbidades, como deficiências visual
Dificuldades comportamentais, atencionais e e/ou auditiva e transtornos psicológicos. Quanto
de funcionamento executivo estariam no cerne à idade, as crianças deveriam ter entre 6 e 8 anos,
das dificuldades escolares encontradas pelo e escolaridade entre o 1o e o 3 o ano do ensino
Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperativi- fundamental.
dade (TDAH). O TDAH pode manifestar-se com
predomínio da desatenção, com predomínio da Procedimentos
hiperatividade ou pela manifestação simultânea As 24 crianças, cujos protocolos foram ana­
de ambos3. Os sinais de desatenção podem in- lisados neste estudo, realizaram avaliação
cluir, por exemplo, erros por descuido, distrações mul­tidisciplinar pelo projeto de pesquisa do
frequentes, dificuldade para finalizar tarefas
e procrastinação. A hiperatividade, por outro
lado, aparece por meio de agitação mental e/ou
motora, fala excessiva e por comportamentos Tabela 1 - Perfil dos grupos clínicos
inadequados às situações sociais. Além disso, por idade e escolaridade.
é possível observar sintomas de impulsividade Dislexia TDAH
(N=16) (N=8)
nas interrupções ou respostas intempestivas ou
precipitadas4. n % n %
O estudo de perfis cognitivos envolvendo Idade
os transtornos do neurodesenvolvimento pode 6 anos 4 25% 2 25%
contribuir para a realização de melhores diag- 7 anos 8 50% 4 50%
nósticos, como fornecer dados relevantes para 8 anos 4 25% 2 25%
a condução de intervenções. Sendo assim, o Escolaridade
presente estudo objetiva traçar o perfil cognitivo,
1º. Ano 3 19% 0 0%
na WISC-IV, de crianças com dislexia e daquelas
2º. Ano 7 44% 3 38%
com TDAH. Em seguida, discutir semelhan-
ças e diferenças entre tais perfis para melhor 3º. Ano 6 37% 5 62%

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Ambulatório de Transtornos da Língua Escrita da diferença entre as mesmas, para cada grupo
- diagnóstico, acompanhamento e capacitação clínico, por meio do teste de Friedman, para três
profissional, aprovado em julho de 2010 pelo ou mais pontuações, ou pelo teste de Wilcoxon,
CEP-INDC. Os responsáveis assinaram o Termo para duas medidas.
de Consentimento Livre e Esclarecido e as ava- Em seguida, foi realizada a comparação do
liações ocorreram no período entre os anos de desempenho entre os dois grupos clínicos por
2015 e 2016. As crianças foram encaminhadas meio da prova não paramétrica Mann-Whitney
para o projeto devido a queixas acerca de seu U. Em sequência, foi realizada a comparação
desempenho escolar, particularmente, no que diz do desempenho nos Índices Fatoriais, para cada
respeito ao aprendizado da leitura e da escrita. grupo clínico, considerando a classificação qua-
A avaliação multidisciplinar do projeto ELO litativa dos pontos compostos obtidos. Foram,
- Escrita, Leitura e Oralidade - foi realizada ainda, comparados o melhor e pior desempenhos
em dois dias, contando com a participação de nos diferentes subtestes entre ambos os grupos
fonoaudiólogo, psicopedagogo, professor de clínicos.
matemática, neurologista e neuropsicólogo. A
Escala Wechsler de Inteligência para Crianças RESULTADOS
(WISC-IV) foi utilizada, pela equipe de neurop- Em relação à inteligência geral, os grupos de
sicologia, para avaliar o funcionamento intelec- crianças com dislexia (QI médio=96, DP=10)
tual e as funções executivas das crianças. Apenas e com TDAH (QI médio=103, DP=8) tive-
os subtestes obrigatórios foram empregados na ram de­sempenho classificado como médio na
avaliação do desempenho das crianças. A pon- WISC-IV. Os grupos de crianças com dislexia
tuação referente ao desempenho nos subtestes e com TDAH não diferiram significativamente
e índices da WISC-IV, bem como a pontuação em seus coeficientes de inteligência.
referente ao QI Total, foi baseada na conversão
de pontos proposta pelo manual do instrumento. Desempenho dos grupos clínicos nos índices
A análise comparativa do perfil de ambos os fatoriais da WISC-IV
grupos clínicos foi realizada de duas maneiras: A Tabela 2 apresenta o desempenho dos
por meio do emprego de prova não paramétrica grupos clínicos nos índices de Compreensão
e por meio da comparação qualitativa do desem- Verbal (ICV), Organização Perceptual (IOP),
penho das crianças. Na primeira delas, foram Memória Operacional (IMO) e Velocidade de
comparadas as pontuações obtidas na WISC-IV Processamento (IVP). Para as crianças com dis-
com o objetivo de testar a significância estatística lexia, a comparação entre os Índices, por meio

Tabela 2 - Escores dos grupos clínicos nos índices fatoriais da WISC-IV.


Índices Fatoriais
ICV IOP IMO IVP
Dislexia Média 99 102 91 93
(n=16) Desvio Padrão 10,41 10,12 9,80 16,08
Mediana 100 100 89,50 92
TDAH Média 109 110 101 86
(n=16) Desvio Padrão 9,70 11,55 22,11 17,39
Mediana 113 110 94 80
ICV=Compreensão Verbal; IOP=Organização Perceptual; IMO=Memória Operacional; IVP=Velocidade de Processamento.

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do teste de Friedman, revelou-se significativa (X2 Verbal, bem como em Organização Perceptual,
(3)=8,55, df=3, p=0,04). As análises seguintes foi significativamente melhor do que em Velo-
das diferenças entre os pares de Índices, reali- cidade de Processamento.
zadas pelo teste de Wilcoxon, revelam diferença A comparação entre ambos os grupos clínicos
estatisticamente significativa entre Organização mostra que as crianças com dislexia apresenta-
Perceptual e Memória Operacional (Z=2,67, ram desempenho significativamente diferente
p=,01). daquelas com TDAH apenas no Índice de Com-
O desempenho das crianças em Organização preensão Verbal (U=29,000, p=0,03).
Perceptual foi significativamente melhor do que
em Memória Operacional. Diferenças entre Comparação entre o desempenho dos grupos
alguns pares de índices revelaram-se marginal- clínicos nos subtestes da WISC-IV
mente significativas, o que pode sugerir tendên-
O desempenho dos grupos nos subtestes com-
cia à existência de expressiva dificuldade relati-
ponentes da WISC-IV encontram-se reunidos
va entre tais pares de índices. O desempenho em
segundo os índices fatoriais.
Compreensão Verbal tendeu a ser melhor do que
em Memória Operacional (Z=1,89, p=0,06). Por
Subtestes do Índice Compreensão Verbal
sua vez, o desempenho em Organização Percep-
tual tendeu a ser melhor do que em Velocidade O desempenho dos grupos clínicos no subtestes
de Processamento (Z=1,89, p=,06). do Índice de Compreensão Verbal é apresentado
Para as crianças com TDAH, a comparação na Tabela 3. A comparação por meio do teste de
entre os Índices, por meio do teste de Friedman, Friedman não revelou diferenças significativas
revelou-se significativa (X 2(3)=9,45, df=3, entre o conjunto de subtestes verbais para o
p=0,02). Análise posterior, com intuito de inves- Grupo Dislexia (X2 (2)=,33, df=2, p=0,85), nem
tigar as diferenças entre os pares de Índices, foi para o Grupo TDAH (X2 (2)=,20, df=2, p=0,90).
realizada por meio do Teste de Wilcoxon, reve- Houve diferença significativa entre os grupos
lando diferença estatisticamente significativa clínicos em Semelhanças (U=30,500, p=0,04),
entre os Índices de Compreensão Verbal e Ve- tendo o grupo TDAH melhor desempenho do que
locidade de Processamento (Z=2,24, p=0,02) e o grupo Dislexia. Observou-se diferença marginal-
entre os Índices de Velocidade de Processamento mente significativa para Vocabulário (U=35,500,
e Organização Perceptual (Z=2,17, p=0,03). p=0,08). Há tendência do grupo TDAH em ter
A habilidade das crianças em Compreensão melhor vocabulário do que o grupo Dislexia.

Tabela 3 - Escores dos grupos clínicos nos subtestes do Índice de Compreensão Verbal da WISC-IV.
Subtestes do Índice Compreensão Verbal
Vocabulário Semelhanças Compreensão
Dislexia Média 9,81 9,75 10,00
(n=16)
Desvio Padrão 2,31 2,26 1,86
Mediana 10,00 10,00 10,00
TDAH Média 11,75 12,00 11,00
(n=8)
Desvio Padrão 3,01 2,14 2,51
Mediana 12,50 12,00 10,50

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Subtestes do índice de Organização Per- Sequência de Números e Letras (Z=,95, p=0,34),


ceptual embora as crianças tendam a ter melhor desem-
A Tabela 4 apresenta o desempenho dos gru- penho em Sequência de Números e Letras. Para
pos clínicos nos subtestes do Índice de Organi- o grupo TDAH, a comparação por meio do teste
zação Perceptual. Para o grupo Dislexia, a com- de Wilcoxon também não revelou diferenças
paração entre os subtestes, por meio do teste de significativas entre o conjunto de subtestes de
Friedman, revelou diferença significativa entre os memória operacional (Z=0,35, p=0,72).
mesmos (X2 (2)=8,62, df=2, p=0,01). As análises Houve diferença estatisticamente significati-
das diferenças entre os pares de Índices, realiza- va entre os grupos clínicos TDAH e Dislexia ape-
das pelo teste de Wilcoxon, corrobora a análise nas para o subteste Dígitos (U=26,500, p=0,05),
principal realizada. Houve diferença estatistica- tendo o grupo TDAH obtido melhores escores.
mente significativa na comparação entre o par
de subtestes Conceitos Figurativos e Raciocínio Subtestes do Índice de Velocidade de Pro-
Matricial (Z=2,04, p=0,04), com melhor desem- cessamento
penho no subteste Raciocínio Matricial. Para o A Tabela 6 apresenta o desempenho dos gru-
Grupo TDAH, a comparação por meio do teste pos clínicos nos subtestes do Índice de Veloci-
de Friedman não revelou diferenças significativas dade de Processamento. Para o grupo Dislexia,
entre o conjunto de subtestes de Organização a comparação entre os subtestes do Índice, por
Perceptual (X2 (2)=2,57, df=2, p=0,27). meio do teste de Wilcoxon, não revelou diferença
O grupo com TDAH apresentou diferença significativa entre eles (Z=1,01, p=,31), embora
estatisticamente significativa somente no de- o desempenho das crianças em Procurar Sím-
sempenho do subteste Conceitos Figurativos bolos tenha sido melhor do que em Códigos. A
do grupo clínico Dislexia (U=26,500, p=0,02). comparação entre os subtestes do Índice para o
Grupo TDAH, por meio do teste de Wilcoxon, não
Subtestes do Índice de Memória Opera- revelou diferença significativa entre os mesmos
cional (Z=1,52, p=0,13), embora o desempenho das
A Tabela 5 apresenta o desempenho dos crianças em Códigos tenha sido melhor do que
dois grupos clínicos nos subtestes do Índice de em Procurar Símbolos.
Memória Operacional. Para o grupo Dislexia, Não houve diferença significativa entre os
as análises das diferenças entre os pares de grupos Dislexia e TDAH entre os escores dos
subtestes, realizadas pelo teste de Wilcoxon, não grupos nos subtestes Código (U=62,000, p=0,93)
revelam diferença significativa entre Dígitos e e Procurar Símbolos (U=36,000, p=0,13).

Tabela 4 - Escores dos grupos clínicos nos subtestes do Índice de Organização Perceptual da WISC-IV.
Subtestes do Índice de Organização Visuoespacial
Cubos Raciocínio Matricial Conceitos Figurativos
Dislexia Média 10,69 11,19 9,25
(n=16) Desvio Padrão 2,12 2,34 3,33
Mediana 10,00 10,50 9,00
TDAH Média 11,25 11,75 12,25
(n=8) Desvio Padrão 4,13 2,05 1,48
Mediana 10,00 12,00 12,50

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Tabela 5 - Escores dos grupos clínicos nos Tabela 7 - Desempenho dos grupos clínicos nos
subtestes do Índice de Memória Índices Fatoriais da WISC-IV.
Operacional da WISC-IV. Grupos Clínicos
Subtestes do Índice de Índices Dislexia TDAH
Memória Operacional
M Classificação M Classificação
Sequência
Dígitos ICV 99 Média 109 Média
de Letras
Dislexia Média 8,13 8,94 IOP 102 Média 110 Média
(n=16) Superior
Desvio Padrão 1,36 2,95
IMO 91 Média 101 Média
Mediana 8,50 9,50
IVP 93 Média 86 Média Inferior
TDAH Média 9,63 9,38
(n=8) Desvio Padrão 1,59 3,77
Mediana 9,50 9,00
Observa-se que o grupo dislexia foi o único
a apresentar classificação média em todos os
índices da bateria. O grupo TDAH traz o Índice
de Velocidade de Processamento como sua maior
Tabela 6 - Escores dos grupos clínicos
dificuldade e o Índice de Organização Perceptual
nos subtestes do Índice de Velocidade de
o seu melhor desempenho.
Processamento da WISC-IV.
Subtestes do Índice
Comparação pelo desempenho nos diferentes
de Velocidade de
Processamento subtestes
Procurar A Tabela 8 apresenta os subtestes da WISC-IV
Códigos responsáveis pelos destaques positivos e nega-
Símbolos
Dislexia Média 8,50 9,47 tivos de cada grupo clínico.
(n=16) As melhores e piores pontuações de cada
Desvio Padrão 2,80 2,64
grupo clínico ressaltam as especificidades de seu
Mediana 8,00 9,00
funcionamento cognitivo global. O desempenho
TDAH Média 8,13 7,00 das crianças com dislexia pode ser caracterizado
(n=16) Desvio Padrão 2,16 4,27 pelos seus melhores escores serem em todos os
Mediana 7,00 6,50 subtestes verbais, e em dois dos subtestes de
Organização Perceptual. Por outro lado, Dígi-
tos e Código apontam para a tendência deste
grupo a mostrar fragilidade mais expressiva em
Comparação qualitativa do desempenho dos termos de memória de trabalho e velocidade de
diferentes grupos clínicos processamento.
Comparação por índices fatoriais Todos os subtestes do Índice de Organização
Os grupos estudados apresentam perfis Perceptual encontram-se presentes entre os
particulares de funcionamento cognitivo, que melhores escores do grupo TDAH, sendo esta a
caracterizam a natureza de suas dificuldades. principal característica de seu perfil cognitivo.
Identificamos as principais potencialidades e A maior parte dos subtestes verbais também se
dificuldades de cada grupo clínico para, em se- apresenta entre os melhores escores, embora
guida, compararmos seu desempenho. A seguir não todos. Compreensão foi o único subteste
encontra-se, na Tabela 7, a análise relativa ao de Compreensão Verbal a não figurar entre os
desempenho nos Índices Fatoriais da WISC-IV. melhores escores do grupo TDAH. Os subtestes

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Tabela 8 - Melhor e pior desempenho dos grupos clínicos nos subtestes da WISC-IV.
Grupos Clínicos
Dislexia TDAH
Melhores Escores Pontos Melhores Escores Pontos
Cubos 10,69 Cubos 11,25
Raciocínio Matricial 11,19 Raciocínio Matricial 11,75
Conceitos Figurativos 12,25
Semelhanças 9,75 Semelhanças 12,00
Compreensão 10,00 Compreensão 11,00
Vocabulário 9,81 Vocabulário 11,75
Piores Escores Pontos Piores Escores Pontos
Dígitos 8,13 Procurar Símbolos 7,00
Código 8,50 Código 8,13

Código e Procurar Símbolos, ambos componen- A análise qualitativa do desempenho dos


tes do Índice de Velocidade de Processamento, grupos revelou que o grupo de crianças com
foram os únicos representantes dos piores esco- dislexia apresentou seu melhor desempenho em
res deste grupo clínico, o que mostra como os Compreensão Verbal e Organização Perceptual,
subtestes deste índice expressam as dificuldades enquanto sua maior fraqueza cognitiva foi iden-
atencionais para o grupo em questão. tificada pelo desempenho no Índice de Memória
Comparando o desempenho dos dois grupos Operacional. A dificuldade manifestada pelo
clínicos, observa-se que nenhum subteste compo- desempenho no IMO demonstra o prejuízo do
nente dos índices de Memória Operacional e de processamento fonológico em crianças com
Velocidade de Processamento destacou-se positi- dislexia5-7.
vamente. O subteste Código representa o pior es- O destaque positivo do desempenho do grupo
core de ambos os grupos clínicos participantes do de crianças com TDAH foi o Índice de Organização
estudo. Os grupos mostram tendência em terem Perceptual, enquanto Velocidade de Processamen-
seus melhores resultados em subtestes verbais to representou sua maior fraqueza. É importante
e de execução, enquanto memória e velocidade considerar a influência de aspectos comportamen-
de processamento aparecem mais prejudicadas. tais, tais como a impulsividade e a dificuldade para
monitorar a ação durante a execução da tarefa, e,
DISCUSSÃO consequentemente, em seus resultados8-11.
O principal objetivo deste estudo foi o de rea- Os índices de Compreensão Verbal e Organiza-
lizar a análise comparativa do perfil de funciona- ção Perceptual avaliam o funcionamento cognitivo
mento cognitivo dos grupos clínicos de crianças global. Por sua vez, os índices Memória Operacio-
com dislexia e Transtorno de Déficit de Atenção nal e Velocidade de Processamento, embora con-
com Hiperatividade por meio da WISC-IV. A tribuam para o funcionamento intelectual global,
partir da observação de que as facilidades e são mais suscetíveis a variáveis não relacionadas
dificuldades das crianças dos diferentes grupos à inteligência, como aspectos da personalidade,
clínicos são distintas, procurou-se comparar o comportamentais ou emocionais10,12,13.
desempenho entre os grupos clínicos nos dife- A literatura indica que os índices de Com-
rentes índices fatoriais da WISC-IV. preensão Verbal e Organização Perceptual

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representam as melhores pontuações na WISC dificuldades no aprendizado escolar em dife-


do grupo de crianças com diferentes transtornos rentes diagnósticos, como autismo, TDAH e os
do neurodesenvolvimento14. Ao mesmo tempo, próprios Transtornos da Aprendizagem15. Os
este mesmo grupo apresenta maiores prejuízos resultados encontrados neste estudo mostram
associados aos desempenhos em Velocidade de que os grupos clínicos revelaram prejuízos na
Processamento e Memória Operacional (cha- velocidade de processamento. Tais prejuízos
mado Resistência à Distração na terceira edição estão associados à realização de atividades vi-
da WISC)14,15. Os resultados encontrados neste suais e motoras de forma veloz, como também
estudo mostraram que as crianças participantes ao perfil cognitivo de crianças com dificuldades
dos dois grupos clínicos revelaram seus melho- no aprendizado17,18.
res desempenhos em Compreensão Verbal e/ou Observou-se que o grupo com dislexia foi
Organização Perceptual, corroborando outros aquele considerado mais rápido. Embora o de-
estudos5,9,15,16. sempenho dos dois grupos não tenha diferido
O desenvolvimento de linguagem oral de significativamente em relação ao Índice de
ambos os grupos clínicos, dislexia e TDAH, Ve­locidade de Processamento, apresentaram di­
não revela prejuízos, bem como encontram-se fe­rença em termos de classificação qualitativa:
de acordo com o esperado para sua idade. O desempenho médio na dislexia e médio inferior
desempenho de crianças com TDAH no Índice no TDAH. Desse modo, as fraquezas cognitivas
de Compreensão Verbal se apresentou compa- do grupo clínico TDAH ressaltam déficits em me-
tível com o da média de seus pares de idade mória de trabalho e atenção, bem como prejuízo
em diferentes edições da WISC15. Por sua vez, comportamental evidenciado pela impulsividade
o desempenho das crianças com dislexia, neste com que realizam as tarefas8-11.
índice, pode ser melhor observado a partir da O subteste Código, entre os piores escores
quarta edição da bateria5. É nesta edição que os dos dois grupos, evidencia a dificuldade comum
subtestes Dígitos e Aritmética deixam de compor entre os grupos clínicos estudados e corrobora
o coeficiente associado à habilidade verbal. A outros estudos acerca das principais caracterís-
inclusão destes subtestes diminuíam os escores ticas do funcionamento cognitivo na presença
das crianças com dislexia em habilidade verbal. de dificuldades de aprendizagem14,16,17.
Considerando o prejuízo das crianças com O comprometimento da velocidade de pro-
dislexia nas habilidades de processamento cessamento traz implicações acadêmicas, de
fonológico, é possível que aí resida a causa da modo que as crianças possam compreender e
discrepância entre as habilidades verbal e de realizar as atividades no mesmo tempo em que
execução observada na WISC-III14. O subteste seus pares o fazem12. Desta maneira, garantir
Dígitos torna-se particularmente difícil para que as crianças que processam a informação
crianças com dislexia, uma vez que estas preci- de modo mais lento que as outras tenham mais
sam armazenar e manipular informações verbais tempo para cumprir suas tarefas é fundamental
sem qualquer apoio visual. para o melhor aproveitamento da experiência
Ambos os grupos clínicos mostraram seu acadêmica e do rendimento escolar.
melhor desempenho em Organização Percep-
tual. Sugere-se que os subtestes deste índice CONCLUSÃO
mostram-se menos dependentes das capacida- A contribuição deste estudo reside nas com-
des de velocidade de processamento e memória, parações das semelhanças e diferenças do
e mais das capacidades de raciocínio perceptual perfil cognitivo dos grupos clínicos por meio
e integração visuoespacial. da WISC-IV, buscando descrever as particula-
Prejuízos no desempenho em velocidade de ridades de cada um deles. Não se pretende, por
processamento são associados a crianças com meio deste trabalho, negligenciar as diferenças

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Perfil cognitivo de crianças com dislexia e com TDAH

individuais de cada criança, mas, a partir de seu e pedagógicas pertinentes a cada diagnóstico.
perfil característico, contribuir para que sejam Fornecer estratégias de suporte educacional
pensadas estratégias que favoreçam sua expe- para crianças com dificuldade de aprendizagem
riência cotidiana e escolar, já que precisarão de significa tornar o aprendizado não apenas possí-
recursos específicos e intervenções adequadas vel, como também prazeroso e frutífero.
e qualificadas para garantir seu direito consti-
tucional de acesso à Educação. Além disso, visa Agradecimentos
ampliar a discussão para os aspectos mais rele- Ao CNPq – Conselho Nacional de Desenvol-
vantes para a condução de intervenções clínicas vimento Científico e Tecnológico.

SUMMARY
Cognitive profile of children with dyslexia and children with ADHD

The present study examined the cognitive profile of children with dyslexia
and children with Attention Deficit Hyperactivity Disorder (ADHD), aged
from 7 to 9 years. The Wechsler Intelligence Scale for Children (WISC-IV)
enabled comparisons of clinical groups performance in its various
indexes and subtests. The group with dyslexia performed best in Verbal
Comprehension and Perceptual Reasoning, while their greatest difficulty was
in the Working Memory Index. The best performance of children with ADHD
was observed in the Perceptual Organization Index, while the Processing
Speed represented their greatest difficulty. Understanding children’s
potentials and difficulties in cases of learning difficulties contributes to
adequate interventions to ensure access to inclusive quality education.

KEYWORDS: Dyslexia. Attention Deficit Hyperactivity Disorder. Wechsler


Intelligence Scale for Children (WISC-IV).

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Trabalho realizado na Universidade Federal do Rio Artigo recebido: 18/3/2020


de Janeiro, Campus Praia Vermelha, Rio de Janeiro, Aprovado: 2/4/2020
RJ, Brasil.
Conflito de interesses: As autoras declaram não haver.

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