4 - Niveis e Areas de Atuação Entidades de Classe

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A PRESENÇA DAS ENTIDADES REPRESENTATIVAS NAFORMAÇÃO

PROFISSIONAL DO PEDAGOGO: RESGATE DOS MOVIMENTOS

Reijane Maria de Freitas Soares1 Carmen


Lúcia de Oliveira Cabral2
Eixo: Formação de Professores Memória e Narrativas

Resumo
A discussão deste artigo em torno da atuação das entidades representativas na formação do pedagogo
na realidade educacional piauiense aborda o seguinte problema: como se delineia a presença das
entidades representativas na formação profissional do pedagogo? Como objetivos buscamos analisar a
presença das entidades representativas na formação profissional do pedagogo, caracterizar as entidades
representativas dos profissionais pedagogos nos contextos educacionais brasileiro e piauiense e
descrever a atuação dos movimentos representativos dos pedagogos em sua formação profissional.
Trabalhamos com a pesquisa narrativa, extraindo dos sujeitos pedagogos seus sentimentos e impressões
acerca de suas vivencias profissionais. A partir dos relatos constatamos a insatisfação do pedagogo
diantedas condições representativas que se delineiam na atualidade.
Palavras Chave: Pedagogo. Representação sindical. Formação.

Introdução

A discussão desenvolvida aborda como tema a presença das entidades representativas na


formação profissional do pedagogo, envolvendo a realidade educacional brasileira e piauiense a partir da
seguinte problemática: Como se delineia a presença das entidades representativas na formação
profissional do pedagogo? Nesse sentido objetivamos analisar a presença das entidades representativas
na formação profissional do pedagogo e, de forma mais específica, caracterizar as entidades
representativas dos profissionais pedagogos nos contextos educacionais brasileiro e piauiense e
descrever a atuação dos movimentos representativos dos pedagogos em sua formação profissional.
Nesse propósito utilizamos como metodologia a pesquisa qualitativa alicerçada na abordagem
das narrativas (TRIVINOS, 1987; CHIZZOTTI, 1995; JOSSO, 2004; ABRAHÃO 2006). Para interpretação
dos dados recorremos à análise de conteúdo (BARDIN, 1997) e como campo de pesquisa envolvemos
05 escolas da Rede Pública Estadual de Ensino do Piauí no município de Teresina na qual selecionamos
05 pedagogos sujeitos da pesquisa, correspondendo a 05 escolas. Os sujeitos foram definidos pela
predisposição de participar do estudo, serem formados na área de atuação e terem experiência na área
que atuam. A seleção da escola se deu à medida que selecionamos os sujeitos partícipes, pela aceitação
dos diretorese por representarem as regionais vinculadas à Secretaria Estadual de Educação do Piauí.
As Entidades Representativas como espaço de organização e formação do Pedagogo
No processo de luta em defesa dos direitos e deveres dos profissionais da educação afloram as
associações sindicais, com o objetivo de fortalecer o trabalhador na luta contra a exploração capitalista.
Dentre as funções desenvolvidas, essas entidades assumem com vigor a luta contra a redução dos
salários, procurando garantir apoio à classe dos trabalhadores em período de greve, sendo que, quando
as reivindicações não são atendidas, as entidades mobilizam seus associados para que aderirem ao
movimento grevista, considerando-a como meio alternativo para a conquista de direitos e deveres e a
politização da classe. Quanto a isso,Gadotti (2004, p. 194) ressalta:
[...] para o trabalhador a greve é o seu espaço de educação enquanto classe. [...]
A greve é uma escola para a classe trabalhadora. Sob o ponto de vista da
educação, nenhuma greve fracassa. [...] sob o ângulo político têm igualmente as
greves sempre um saldo positivo: revelam a capacidade de um e a incapacidade
de outros na condução política. [...] Por isso, uma greve educa muito mais que os
próprios grevistas poderiam supor. [...] Toda greve é sempre um avanço.
Compreendemos que as estratégias de lutas incorporadas pelos trabalhadores e encabeçadas
pelos líderes das associações alcançam êxitos à medida que a organização atinge uma maciça e
expressiva participação dos associados. Assim, através desse movimento de
engajamento e garra dos seus membros, as associações se firmam como espaço viável para o
trabalhador conquistar sua emancipação, como confirma Antunes (2003, p. 18-19):
[...] a história destas associações é caracterizada por momentos de vitórias e de
derrotas, é inegável que elas constituíram a primeira tentativa efetiva de
organização dos trabalhadores na luta contra os capitalistas. [...]. Desde seu
nascimento, os sindicatos mostraram-se fundamentais para o avanço das lutas
operárias. E sua evolução não se limitou à nação inglesa. [...]. O movimento
sindical expandiu-se. Floresceram as greves em todo o mundo capitalista, desde
os países mais avançados até aqueles de industrialização mais atrasada. A classe
operária ganhava novas dimensões e avançava na batalha pela sua emancipação.
[...]. Estas associações devem não só lutar contra os ataques do capital, como
também devem trabalhar conscientemente como locais de organização da classe
operária em busca do grande objetivo que é a sua emancipação radical. [...].
As ações das associações/sindicatos não se limitam aos aspectos econômico- políticos, mas
também ao campo de formação, em busca de novos saberes, consciênciapolítica, autonomia cidadã e
politização, para superar os desafios emergentes do mundocapitalista. As associações/sindicatos
contribuem para um espaço de educação não formal, que dinamiza e articula estrategicamente a
formação política dos trabalhadores, fomentando e fortalecendo a base classista de fundamentos
necessários ao domínio de conhecimentos que, geralmente, lhe são negados pela educação formal,
sendo, no entanto, substanciais à ascensão social e à emancipação de classe dos trabalhadores.
Segundo Manfredi (1989, p. 66),
Quando se fala de educação da classe trabalhadora [...], pode-se falar daquele
processo de educação (informal) que a própria classe operária se propicia. Aquela
educação que os próprios trabalhadores propiciaram a si próprios na família, no
trabalho, através de sua participação em organizações de classes (associações,
partidos, sindicatos) e em movimentos sociais de natureza variada: greves,
campanhas salariais, movimentos pelas reivindicações de direitos sociais e
políticos, etc., contudo, concomitantemente a este processo de educação informal,
também se pode identificar, no movimento operário-sindical, a existência de um
conjunto de atividades educativas mais sistemáticas, intencionalmente
programadas para garantir: I) a divulgação, a socialização e a reflexão do saber
acumulado através das experiências de luta pelas classes subalternas, através de
sua história; II) a apropriação de certos códigos dominantes, para que possam
deles se defender ou ainda, III) a apropriação daqueles domínios do saber
acumulados historicamente numa sociedade, e aos quais a maioria dos
trabalhadores não tem acesso. Incluímos, nesta outra categoria de atividades
educativas, os congressos operários, encontros, cursos, seminários, palestras,
etc., promovidas por suas entidades de classe e/ou organizações culturais criadas
para tais fins.
Essas abordagens revelam a importante das associações/sindicatos para a formação da classe
trabalhadora, a qual, pela sua própria natureza político-ideológica, realiza ações combativas a qualquer
forma de alienação, procurando aproximar-se ao máximo das questões polêmicas geradas pela realidade
negada: educação, trabalho digno, liberdade, cidadania. As entidades agem na perspectiva de contribuir
para a construção da identidade da sua classe. Com essa dinâmica de formação, as
associações/sindicatos alcançam o diferencial em relação ao processo de educação formal que,
historicamente, como sublinha Arroyo (1995, p. 78-79):
[...] o direito à educação, os avanços das classes trabalhadoras na formação do
saber, da cultura e da identidade da classe. [...] Ao longo de nossa formação social
os conflitos pela educação entre elites-massas, Estado-povo, burguesia-
proletariado passam basicamente pela negação-afirmação do saber, da identidade
cultural da educação e formação da classe.
Ao tecer comentários sobre a relação dos profissionais da educação com as organizações
associativas, Brzezinski (2004, p. 91-92) argumenta:
A progressiva proletarização aproximava os professores do movimento sindical do
operariado urbano, que, no último quartel da década de 1970, [...] passou a ocupar
o espaço político que fora alargado por um conjunto de medidas que permitiram
maior participação da sociedade civil no questionamento de legitimidade do estado
de segurança nacional. O impacto desses movimentos que se revitalizaram no
País após 1978 conduziu a uma revitalização das práticas sociais que passara a
sustentar as manifestações e os protestos que encontraram maior efervescência
na greve dos trabalhadores ABC paulista (1978), que marcou a historia sindical
no período pós-
64. A dinâmica do movimento reivindicante atravessa a categoria dos professores
profundamente prejudicados pela política econômica de arrocho salarial. Em 1978
eles também deflagraram greves por melhores condições de trabalho, buscando
ainda a reposição das perdas salariais. Esta realidade reflete fortemente no
comportamento dos profissionais da educação mobilizando suas concepções e a
própria identidade.
Conforme Manfredi (1989), culturalmente, o movimento social foi concebido como um espaço ou
atividade apenas dos operários. Essa concepção assim formada carrega uma gama de estereótipos que
não só contribui para estigmatizar a classe trabalhadora, como também enfraquecê-la e mantê-la no
processo desumano de desigualdade social, atrapalhando, pois, a agremiação de profissionais das
diversas áreas na congregação das entidades classistas.
O pedagogo, como educador-trabalhador precisa incorporar a idéia de que, independentemente
do seu grau de formação acadêmica, também é um trabalhador do ensino. Assim, o pedagogo deve
exercer seu papel de cidadão crítico, com vistas a superar os tabusem relação às reivindicações dos
direitos de trabalhador, da valorização humana e profissional, estando ciente que tal conquista resulta da
organização coletiva, um dos veículos próprios das entidades representativas. Diante dessa abordagem
concordamos com Gadotti (2004, p. 195), ao se reportar à condição do trabalhador:
[...] este se educa tomando consciência de sua situação, de seus direitos. Luta por
eles. Ao saber da humilhação à qual é submetido diariamente, conscientiza-se da
necessidade e da possibilidade de ultrapassar os seus limites atuais, porque é
criador, é produtor de cultura. Descobre a sua capacidade de ser, não porque
alguém lhe esteja insuflando no ouvido, mas porque, diante da humilhação, decide
ser. A escola, quando não lhe foi negada, não lhe ensinou a ser. Muitas vezes
humilhou-o ainda mais, incutindo-lhe a idéia de sua inferioridade e a sua
incapacidade de ser. [...].
Assim, reafirmamos que as associações/sindicatos, exercem um papel muito importante na
formação política, humana e social do trabalhador, no entanto não é fácil sua tarefa, por combater
arduamente as diferenças em busca de respostas aos desafios impostos pela dominação de classe.
Referimo-nos à formação, com a compreensão de um processo contínuo que se consolida nos contextos
internos e externos aos âmbitos escolares, visando a uma articulação com um projeto de sociedade
comprometido com a qualidade social da educação e voltado para a transformação do cidadão.
O processo de formação de classe demanda dos confrontos travados entre os segmentos político
e econômico, que se realizam, fundamentalmente, pela mediação das forças sociais instituídas na
realidade em que vive o sujeito. Essa mediação não ocorre de forma neutra, mas num contexto histórico,
social e político, no qual o cidadão está imerso. Desse modo, na confluência da realidade em que se
insere, o pedagogo vivencia, na sua trajetória profissional, situações conflituosas.
Em meio aos dilemas vividos crescem as manifestações de insatisfação entre os trabalhadores,
suscitando neles o interesse em fortalecer sua entidade de classe, a partir da tomada de consciência
sobre o valor da associação/sindicato como segmento articulador, defensor e deliberativo das questões
profissionais, desde as mais simples às mais complexas.
Com essa consciência formada afloram outras concepções e ideais no ser pedagogo, politizando-
o e re-delineando seu perfil identitário. No horizonte de lutas e conquistas movidas pelos movimentos
sociais, se consolida a história profissional do pedagogo, desde sua gênese aos dias atuais. Planos,
estratégias e organizações são traçados pela classe no intuito de obter melhor preparação para o
enfrentamento dos desafios impostos pela sociedade capitalista e seu poder legislador e legitimador das
questões educacionais.
Ao tecer comentário sobre os movimentos desencadeados pelas associações frente aos
desafios emergentes da sua realidade contextual, Brzezinski (2004, p. 83) enfatiza que as lutas e ações
ocorreram também de forma paralela e compartilhada em determinado período junto à Comissão Nacional
de Reformulação dos Cursos de Formação do Educador – CONARCFE:
A partir de 1980, engajados em discussões, estudos e pesquisas sobre a
reformulação dos cursos que formam professores, com todas as dificuldades,
pressões e incertezas, os educadores passam a escrever a sua história. Essa
história se construiu e se constrói na ação e no movimento, pelo diálogo e pelo
conflito, no conjunto das relações entre esses atores sociais movidos,
contraditoriamente, pela objetividade e pela subjetividade do homem como sujeito
político e social.
Fortalecidos nessa parceria, os movimentos sociais e sindicais de educadores, a partir de 1980,
somam forças, articulam-se em torno do mesmo objetivo, formam uma vanguarda, buscando manter a
coesão ideológica e unidade do movimento. Todos esses fatos, ocorridos em meados das décadas de
1980 e 1990, demarcaram a trajetória dos movimentos associações/sindicatos, inaugurando uma nova
fase na vida dos profissionais de educação propiciando-lhes um maior grau de consciência,
amadurecimento, aprendizado, emancipação e, sobretudo, uma valorização social, fato salientado por
Brzezinski (2004, p. 95):
[...], de modo geral, após o final dos anos 70, desempenham o papel de
reorganização dos educadores em núcleos de resistência e de crítica ao poder
constituído imperador da democratização da educação. Os espaços dessas
associações concentravam-se, sobretudo, em um trabalho de mobilização coletiva
com vistas a desenvolver mecanismos que permitam uma tomada de consciência
dos educadores e da sociedade como um todo, acerca da importância das políticas
educacionais e da valorização social dos profissionais da educação. [...]. [As
associações] Visavam, [...] promover a difusão no âmbito da sociedade das
discussões e da produção de conhecimentos sobre questões do campo
educacional e das prioridades, de modo a conseguir adesões à luta pela
democratização da educação e, mais amplamente, da própria sociedade
brasileira. [...].
O movimento social que viabilizou o movimento nacional de reformulação dos cursos de
formação do educador consolida-se a partir do confronto gerado entre um grupo de educadores
participantes do I Seminário de Educação Brasileiro, os quais, por discordarem das idéias do Conselho
Federal de Educação, são radicalmente deslocados das discussões. Nesse sentido, Brzezinski (2004, p.
101-112) informa:
Foi nesse seminário que os “excluídos” pelo CFE da discussão sobre as
redefinições dos cursos em que trabalham cotidianamente sentiram a necessidade
de investir contra a estratégia de exclusão. A idéia de participação em um
movimento de forma organizada se fortalece. Inicia a caminhada para essa
organização em nível nacional. Os profissionais da educação voltam aos seus
estados de origem e se mobilizam, realizando debates, discussões e estudos
sobre as reformulações do curso de pedagogia. No final do ano de 1980, como
conseqüência da campanha de divulgação, do estímulo e da insistência do
colegiado nacional em fazer o movimento crescer, a situação apresentava-se
desse modo: consolidaram-se dois comitês, inclusive estruturados em comissões,
que asseguravam a continuidade dos trabalhos: [...] instalou-se o Comitê Regional
de Santa Catarina, sediado em Florianópolis, com núcleos, local em várias cidades
do estado, fundou-se um comitê local na Faculdade de Filosofia de Uberaba;
surgiram núcleos de comitês em Pernambuco, Sergipe, Rio grande do Norte,
Piauí, Bahia e Minas Gerais (Belo Horizonte).
Embora não esteja explicitada pela autora, a participação da Federação Nacional dos
Orientadores Educacionais (FENOE), da Federação Nacional de Supervisores Escolares (FENASE) e da
Associação Nacional de Profissionais da Administração Escolar (ANPAE) nos movimentos sociais, foi
efetiva conforme se encontra registrado nos livros de atas das entidades locais como representações
legítimas e deliberativas da classe de pedagogos.
No contexto específico do Piauí, tanto essas organizações sindicais como o Comitê Nacional de
Reformulação do curso de Pedagogia se fizeram representar pelas entidades de classe dos pedagogos:
Associação dos Orientadores Educacionais do Estado do Piauí (AOEPI), fundada em 1980; Associação
dos Supervisores Escolares do Estado do Piauí (ASSUEPI), fundada em 1983, e Associação dos
Profissionais da Administração Escolar/ seção Piauí (ANPAE/PI), cuja data de fundação não foi possível
ser identificada. Nesse patamar de busca, conflitos e contradições, as lutas dessas associações se
voltavam para aspectos relativos à valorização profissional: formação, condições de trabalho, garantia de
direitos, remuneração digna, etc. Assim, com foco nessas questões, Brzezinski (2004, p.36) se refere ao
período desses movimentos:
Esse período de reorganização, inclusive de redução do educador, favoreceu
estudos e debates sobre a dimensão política do ato educativo, fortaleceu o
compromisso do educador em tornar-se um agente de transformação da realidade
social mediante o ato pedagógico e despertou a necessidade de seu engajamento
em associações de classe, sindicatos ou cientificas. A nova tarefa exigia, portanto,
que o educador fosse reeducado e uma dimensão dessa reeducação se construía
na formação política, dimensão integrante de sua formação intelectual e didático-
pedagógica.
Os movimentos sociais incorporados pelas associações de classe dos pedagogos, tanto no
contexto nacional (FENOE/FENASE/ANPAE) como local (AOEPI/ASSUEPI/ANPAE), vivenciaram
momentos ímpares de primazia sindical, pois, em ações conjuntas, ergueram suas bases; conseguiram
um contingente expressivo de filiados; mobilizaram a categoria; desencadearam lutas; promoveram
encontros, seminários, debates, cursos de formação política, sindical, profissional; participaram de
congressos e encontros regionais; incentivaram o intercâmbio cultural através de encontros regionais e
nacionais; organizaram acervos bibliográficos; elaboraram e distribuíram boletins informativos para
difundir e socializar suas ações.
Dentre todos os pontos, destacamos a luta que as entidades travaram contra a prática ilícita
dessas instituições ao conceder acesso ao exercício da profissão de pedagogo a pessoas não qualificadas
na área. Tal postura submetia os legítimos profissionais a situações aviltantes em que, além de perder seu
espaço de trabalho de forma descriteriosa, tinham que concorrer com a indicação política, pois não havia
concurso público para os cargos.
De fato o descaso com a situação profissional do pedagogo, bem como o descrédito de que vinha
sendo alvo levaram as instituições públicas a postergar a democratização do seu acesso ao exercício da
profissão. No eixo dessas controvérsias vão surgindo as inquietações e necessidades de lutar com vistas
a traçar novos rumos para a educação e para os profissionais do ensino. Diante disso, emerge no conjunto
das entidades de classe AOEPI/ASSUEPI/ANPAE/APEP e CERMAP (estas duas últimas são entidades
representativas de professores) uma compreensão sobre a importância da valorização daescola pública
e dos profissionais da educação. No horizonte desses ideais, tecendo o fio de uma nova história, e,
embora mantendo sua especificidade e concepções ideológicas, essas associações cultivaram
aspirações e projetos comuns a todos, constituindo, assim, a singularidade dentro da pluralidade e
diversidade sindical. A ação desses movimentos de classes faz emergir novas concepções, saberes,
experiências e debates, que se traduzem e se fortificam na prática cotidiana pela transformação social
da própria classe, bem como contribuem para a ressignificação da identidade profissional da categoria.
Além disso, conquistam confiança, adesão e credibilidade entre seus associados pelo trabalho realizado
e avanços galgados. Ganham também respeito dos órgãos e autoridades governamentais, que, ao
reconhecerem nessas entidades a capacidade de mobilizar e articular a categoria, com responsabilidade
e compromisso.
No rol das conquistas alcançadas pela força conjunta dos movimentos nos idos das atuações,
destacamos, entre outras: instalação de uma comissão de profissionais da educação (compostas por
pedagogos e professores) para a elaboração do Estatuto do Magistério Público estadual; participação de
representantes das associações de classes (AOEPI/ ASSUEPI/ANPAE e APEP) na comissão de
organização e sistematização dos trabalhos para elaboração do Estatuto do Magistério; aprovação da
maioria das propostas reivindicatórias no Estatuto do Magistério, como concurso público para profissionais
da educação; exercício da profissão restrito exclusivamente ao qualificado na área da atuação;
representação das entidades nas comissões de organização de concursos públicos para seleção de
profissionais; liberação integral e exclusiva de membros diretores (correspondendo a três (03) por
unidade) para atender às necessidades específicas da categoria.
Essa fase histórica de 1980 a 1996, correspondente às ações dos movimentos de classe, vem
sendo considerada como “uma fase de lutas e conquistas” vividas e escritas na memória de todos aqueles
profissionais que, direta ou indiretamente, contracenavam no palco desses movimentos. Todo esse
movimento de lutas, porém, foi desarticulado com a extinção das Associações dos Pedagogos (AOEPI/
ASSUEPI) e professores (APEP), para selar a unificação sindical em uma única organização, que passou
a absorver todos os trabalhadores da área da educação, o SINTE (Sindicato dos Trabalhadores da
Educação).
Conforme evidenciamos nas narrativas dos interlocutores desta pesquisa, oprofissional se sentiu
desamparado, desacreditado e insatisfeito, como se estivesse em processo de decadência, retroagindo
aos velhos tempos. Assim, acometido por um estado de desesperança, se afastou do movimento desde
o período da unificação (1996), causando o esvaziamento da força sindical e, de certa forma, o próprio
isolamento do pedagogo, que se mantém distanciado até o momento atual. Esses fatos justificam,
portanto, o recorte temporal desta pesquisa. Evidentemente não manifestamos sentimentos de nostalgia
de uma época tragada pela evolução dos tempos, pois a diversidade dos fatos impõe situações
paradoxais à realidade. Sabemos, no entanto, que o passado representa a história e ajuda entender o
presente, portanto precisamos decifrá-lo e entendê-lo para termos condições de entretecer um futuro
promissor. Com isso, expomos alguns dos episódios que, em nosso entender, influenciaram na
construção da identidade profissional do pedagogo.
Algumas das associações nacionais e estaduais de pedagogos existiam legalmente, pois, como
sujeitos coletivos, nasceram, foram registradas, possuíam estatutos, tinham caráter de utilidade pública,
constituindo grupos de associados, filiados. Também possuíram sede própria, patrimônio, autonomia,
representatividade, idoneidade/independência político- ideológica e financeira perante o Estado e o setor
privado, legitimidade para, desenvolveram suas funções, enfim tinham identidade, construindo histórias
conforme está documentado em livros de atas dessas entidades. Isso se confirma nos escritos de Antunes
(2003, p. 29-32), ao enfatizar:
A luta pelo sindicato único tem sido, desde os primeiros tempos, uma luta
incansável da classe operária visando a seu fortalecimento e união concreta contra
os interesses capitalistas. [...] a existência de sindicatos únicos possibilita aos
operários, na luta pelo fortalecimento sindical, a criação de uma central única dos
trabalhadores, momento maior da unidade orgânica, que aglutina todas as
categorias assalariadas da cidade e do campo. É evidente que uma central unitária
forte constitui-se num dos baluartes mais importantes da luta da classe operária
contra o capital. [...].
No eixo das discussões, defendendo uma tese do sindicato único, a CUT investe todos os seus
recursos e poder para buscar o apoio necessário ao processo de unificação das entidades. Desse modo,
sacramentou-se o fim da FENOE/FENASE (nacional), AOEPI/ASSUEPI e demais associações estaduais
de pedagogos e professores, sendo que as entidades que não se engajaram no processo de unificação
passaram a ocupar a zona de isolamento e neutralidade, agindo no anonimato. Passaram então ao
assistencialismo, sendo negadas pelas organizações majoritárias que hoje, infelizmente, exercem mais o
papel de barganha do que o sindical.
A CUT utilizou, pois, argumentos que combateram e venceram as microorganizações de classes,
com as quais é que, ironicamente, foram efetivadas muitas mudanças na formação e profissão do
pedagogo. Desse modo, suprimiu-se parte das conquistas alcançadas, como a suspensão, no curso de
Pedagogia, das habilitações Orientação/ Supervisão/ Administraçãoem algumas universidades, inclusive
na UFPI; flexibilidade do acesso ao exercício da profissão por pessoas não qualificadas na área; não
realização de concurso público na rede estadual de ensino; extinção praticamente do pedagogo
(orientador educacional) em algumas escolas, sendo esse profissional deslocado da função para
atividades burocráticas.
Com base em nossa vivência nos movimentos sindicais, constatamos que, até mesmo no próprio
espaço orgânico do sindicato, o pedagogo deixou de ser representado de fato. Muito embora tenha
assegurado o direito oficialmente a sua representação, no Sindicato- SINTE, na prática, isso não se
efetiva. Verificamos, nesse sentido, a ocupação do espaço do pedagogo na rede pública estadual pelo
professor de área do ensino, ou pedagogo comformação em docência para as disciplinas pedagógicas
ou séries iniciais do Ensino Fundamental, o qual também é professor. E, diante desse fato, não
percebemos nenhuma ação concreta de intervenção pelo sindicato, vendo-se o pedagogo desamparado,
sem uma representação legal que defenda e resguarde seus direitos. Torna-se, portanto, perceptível que
o pedagogo, em detrimento de ascensão político-social do conjunto de trabalhadores e do fortalecimento
dos movimentos sociais, perde sua referência, sua base, fragilizando-se sua representação profissional.
Diante desse quadro, consideramos pertinentes os questionamentos contundentes de Libâneo
(1999, 2001): Que destino os educadores darão à Pedagogia? Quem é contra a Pedagogia? Pedagogia
e Pedagogos para quê? Quem tem medo do Pedagogo? Quem é a favor ou contra o Pedagogo? No rol
dessas questões, acrescentamos: Por que o pedagogo é visto como um fragmentador, divisor de tarefas,
quando verificamos que, no mundo globalizado de evolução tecnológica, as profissões estão cada vez
mais se subdividindo, buscando a especificidade? Por que será que os currículos das disciplinas se
subdividem, como emMatemática I, II e III, Física I, II e III, Língua Portuguesa I, Literatura/ Redação/
Gramática etc., e essas divisões não são vistas como fragmentação ou divisão do trabalho pedagógico?
Para responder a tais indagações, buscamos apoio também em Libâneo (2005, p. 54), quando
esse autor esclarece:
[...]. Os documentos da ANFOPE são suficientemente claros em explicitar a
aversão pelas habilitações, apoiando se em dois argumentos ligados entre si: a) a
fragmentação na formação dos especialistas; b) essa fragmentação tem uma
explicação pela tese marxista da divisão técnica do trabalho no capitalismo. [...]
Na sociedade capitalista predomina a divisão entre proprietários e não
proprietários dos meios de produção, ou seja, entre burguesia e proletariado. A
essas duas classes sociais corresponde uma divisão social do trabalho em que
uma se ocupa do trabalho intelectual, outra do trabalho manual Há assim, uma
cisão entre o trabalhador e os meios ou instrumentos de trabalho, em que esses
meios são providos pelos gestores de produção [...]. Essa divisão social do
trabalho, expressão das relações capitalistas de reprodução, e que se manifesta
na organização do processo de trabalho, se reproduz em todas as instâncias da
sociedade, inclusive escolar, onde haveria dois segmentos de trabalhadores
opostos entre si, os especialistas (diretor, coordenador pedagógico) e os
professores. [...]. Essas abordagens nos levam a compreender que existe algo em
comum, intencional ou não, que gera dois movimentos paralelos: no campo da
formação, se erguem bandeiraspara extinguir a profissão, enquanto, no campo
do exercício profissional, se eliminam as funções do pedagogo, deixando os
profissionais à mercê da sorte ou do acaso, sendo também, na dinâmica desses
movimentos, extintas as associações. Sobre esses fatos, Libâneo e Pimenta
(2002, p. 21) enfatizam:
[...] com a descaracterização dos pedagogos- especialistas como profissionais, as
associações de pedagogos (por exemplo, Associação Nacional de Orientadores
Educacionais, Associação Nacional de Supervisores Educacionais) se auto-
eliminaram, resultando na perda do espaço de discussão teórico-prático da
Pedagogia e do exercício profissional do pedagogo existente nessas associações.
Diante desses acontecimentos, questionamos: Como o sindicato único, no âmbito nacional
(CNTE) e local (SINTE), tem se mobilizado para defender o pedagogo, tentando evitar sua extinção por
completo? Nesse sentido, a prática do SINTE revela uma indiferença e descaso, nem mesmo contempla
nas pautas de reivindicação propostas no sentido de defender a existência profissional do pedagogo. Tal
postura nos faz interpelar: Qual o saldo resultante dessa unificação? Quem ganhou e quem perdeu com
esse processo?
Esses argumentos são conflitantes e polêmicos, sendo assim, não intencionamos dar- lhes
respostas categóricas, mas gostaríamos de mencionar que a Confederação Nacional e as associações
dos professores de todos os estados também foram extintas para unificar-se no macrosindicato. Diante
dos fatos e da busca de respostas para os questionamentos aqui apresentados, nos cabe analisar e
descobrir a quem interessa e por que se deseja a extinção do pedagogo e de suas entidades de classes,
refletindo sobre qual a relação existente entre esses pleitos.
Ao delinear essas considerações, compreendemos que a mobilização, participação e integração
do pedagogo formam um tripé indissociável na conjugação de sua atuação sindical. O pedagogo precisa,
nesse sentido, ocupar seu espaço, não devendo haver lutas isoladas, pois as associações/sindicatos
representam um palco privilegiado para esse profissional, associado ou não combater as desigualdades
sociais, formar consciências e fazer voltarem os direitos do trabalhador.
Verificamos, nessa perspectiva, que, embora a entidade congregue um grande contingente de
pedagogos, cada qual é um ser singular dotado de crenças, concepções e ideais, portanto tem vez e voz,
podendo se manifestar com liberdade. Contudo os profissionais não podem perder de vista a visão da
coletividade, da organização e representatividade já que toda associação/sindicato, como entidade,
representa um segmento classista. Nesse sentido, Ridenti (2001, p. 110-112) esclarece: [...] as classes
não são apenas fruto de condições objetivas, dadas pelo modo capitalista de produção, mas também da
ação voluntária dos homens que constroem sua história. [...]. As classes constroem-se na luta, vale dizer,
elas vêm a ser classes no processo de auto-identificação e de identificação de seu outro. Isso remete à
questão da representação. Representação é canal de mediação no relacionamento de alguém com
outrem.
A partir dessa premissa, o pedagogo, como profissional produtor do saber, deve engajar-se no
movimento dialético da construção de sua identidade, buscando fortalecer a representação da classe
como forma de não se desestruturar e se descaracterizar sua identidade profissional no contexto
avassalador do capitalismo e da globalização.

O que dizem os pedagogos sobre sua realidade profissional

Na análise das narrativas, constatamos aspectos que concorrem para as perdas profissionais do
pedagogo, dentre as quais destacamos: discrepância salarial entre profissionais da mesma área, extinção
do órgão de apoio ao profissional vinculado à Secretaria de Educação Estadual (Equipe Central de
Orientação Educacional / ECOE), falta de sintonia e de apoio por parte da SEDUC ao profissional
pedagogo e a extinção das associações de classe que representavam e difundiam os interesses dos
pedagogos. As memórias de Violeta, Lírio, Flor de Lis, Rosa e Gardênia retratam, nos seguintes
fragmentos narrativos, claramente esses fatos:
A Secretaria Estadual de Educação mantinha, através do S.O.E. (Serviço de Orientação
Educacional), um apoio constante aos orientadores educacionais que trabalhavam nas escolas,
e esse apoio tanto fortalecia a ação pedagógica do O.E. como mantinha uma comunicação mais
estreita entre escola e Secretaria, além de promover seminários, encontros para estudo,
congressos e outros eventos a título de “formação continuada”, embora na época os eventos não
tivessem essa denominação, mas o objetivo era esse. Além de manter os orientadores
atualizados, fortalecia os laços de amizade, melhorava a auto-estima e, sem dúvida, repercutia
de forma positiva na qualidade do trabalho na escola. Outro aspecto que merece ressalva é a
AOEPI (Associação dos Orientadores Educacionais do Estado do Piauí), que mantinha um elo
com as outras categorias: a APEP (Associação dos Professores do Estado do Piauí) e a
ASSUEPI (Associação dos Supervisores do Estado do Piauí). [...]. E assim, eu diria que a
orientação educacional viveu seus “anos dourados”, diferente da situação atual. Hoje resta o
pedagogo que, na sua atuação, busca conciliar orientação, supervisão e administração, na
tentativa de contribuir, neste conturbado mundo pedagógico, para a melhoria do processo
educativo. A sobrecarga de atribuições para o pedagogo tem interferido negativamente no
resultado de seus trabalhos, contribuindo para o insucesso de sua ação e, em grande parte,
desmotivando-o e diminuindo a sua auto-estima. (Violeta.)

[...] Hoje não sei por que este profissional está totalmente sem apoio. Ele já não sabe maisem
quem deve se apoiar para buscar os seus direitos; não existe, por parte dos sindicatos, uma
preocupação com os mesmos, e cada dia que passa ficamos no anonimato, não existe o
reconhecimento do profissional e nem da profissão; nem nos congressos que são desenvolvidos
pelos sindicatos se coloca temas voltados para esse profissional e então, sem apoio, não se
alcança objetivo. Enfim, a valorização também no que diz respeito ao seu salário, hoje cada
governo que entra diminui o salário e os seus direitos, deixando cada vez mais achatado. (Lírio)
Considero fundamental termos uma instância que possa nos reunir para tratar de assuntos
ligados à nossa profissão e que possa nos representar legalmente. Isso, a meu ver, impediria
certos abusos do poder público e da sociedade em geral, como, por exemplo, hoje, a Secretaria
Estadual de Educação e Cultura - SEDUC – garante ao supervisor escolar uma portaria que o
remunera e lhe confirma a função que desempenha na escola; ainda há uma intenção clara deste
órgão em realizar um processo eletivo para a função. Isso revela que é urgente a necessidade
de um reconhecimento da profissão, enquanto categoria profissional e não apenas como uma
função a ser desempenhada por alguém que foi eleito e possui uma portaria. Tais dilemas têm
gerado também uma péssima repercussão entre outrosprofissionais da educação, especialmente
entre os professores; eles não têm uma informação clara sobre o que é ser pedagogo e acredita
na falsa idéia de ele é o profissional que trabalha com Ensino Fundamental apenas; [...]. (Flor de
Lis)

O pedagogo, no contexto atual, não é visto como um profissional que possa contribuir defato
para o bom desempenho das atividades educativas. O exemplo é a gratificação que beneficia
apenas uma parte, isto caracteriza descaso em relação aos outros. È difícil para o pedagogo
desempenhar um bom trabalho diante desse quadro. É necessário que ele busque junto à
categoria atitudes que possam mudar esta situação, para que o valor seja extensivo a todos, até
mesmo aqueles que estão sendo beneficiados devem se manifestar contra esta medida, ou todo
mundo é beneficiado ou ninguém, pois todos têm a mesma importância no contexto educativo.
(Rosa)

Nos últimos anos, os orientadores educacionais de minha geração têm ficado sem apoio. Não
sabemos a quem recorrer quando o desânimo bate à nossa porta. Nós somos sobreviventes,
estou à beira da aposentadoria e só agora, através desse trabalho, tenho oportunidade para
desabafar. No meu caso, principalmente, com minha habilitação somente em Orientação
Educacional, não há espaços nos concursos (sei que houve também acomodação de minha
parte) apesar de ter feito especialização em Psicopedagogia. [...]. Reconheço que poderia ter
feito muito mais se tivesse havido mais ações dirigidas aos orientadores educacionais, através
da Associação dos Orientadores, como ocorreu nos anos iniciais de minha trajetória como
educadora, a qual promovia encontros e seminários, proporcionando-nos novos conhecimentos,
além de maior integração com os demais professores da área e a luta da classe para ter seus
direitos reconhecidos. (Gardênia)
Ao externar suas memórias, os interlocutores demonstram que se ressentem da falta de apoio,
relembrando dos momentos vividos como período áureo da profissão. Seus relatos evidenciam o mal-
estar decorrente das transformações radicais ocorridas, já que muitas situações ocorreram em curto
tempo: a perda do espaço sindical, o isolamento profissional, a desintegração dos grupos da área e outras
situações que fizeram o pedagogo perder sua referência, ocasionando conseqüentemente
descaracterização da sua identidade profissional.
O mal-estar vivido por esses interlocutores se assemelha ao que Nóvoa (1992)aborda. Segundo
ele, nas últimas décadas, existe um mal-estar docente gerado pelas transformações sociais, políticas e
econômicas que vêm ocorrendo no mundo de forma acelerada, e essas mudanças atingiram o processo
educativo. Tudo indica que a sociedade deixou de acreditar na educação como promessa de um futuro
melhor, sendo que os professores enfrentam a sua profissão com uma atitude de desilusão e renúncia, o
que degrada cada vez mais sua imagem social. Percebemos claramente que essas situações,
caracterizadas por Nóvoa (1995), foram em parte introjetadas pelos interlocutores desta pesquisa, ao
deixarem fluir nas suas memórias um sentimento conflituoso.
Outro aspecto que a análise das narrativas nos revela é que os pedagogos participantes desta
pesquisa se ressentem da omissão e do descaso do Sindicato dos Profissionais da Educação (SINTE) na
defesa dos direitos dos associados diante dos órgãos administrativos do Sistema Público Estadual de
Educação, bem como da falta de empenho para que os deveres sejam efetivados na prática. Na
concepção desses interlocutores, a falta efetiva do sindicato enfraquece e debilita a categoria e,
sobretudo, contribui para a descaraterização do processo de construção da identidade profissional do
pedagogo. Vendo a importância dessa representação Marafon e Machado (2005, p.74) ressaltam:
Pensamos ser necessária a criação de um conselho representativo dos
educadores que possa acompanhar uma formação qualificada dos profissionais
para atender às necessidades educacionais brasileiras e garantir o exercício
competente e exclusivo da atividade profissional do pedagogo, bem como sua
especificidade na área de atuação. Dessa forma acreditamos que os profissionais
poderão conseguir uma maior participação nas definições das políticas públicas
para a educação do país.
Percebemos que esse é o desejo dos participantes da pesquisa, ou seja, de que seja criado um
órgão deliberativo forte e lícito que possa atuar de forma representativa e interventiva nas questões que
afetam, desgastam e desvalorizam a profissão e identidade do pedagogo. O sentido deve ser o de
fortalecê-lo no enfrentamento dos dilemas e na superação dos desafios emergentes da sua prática
pedagógica, conforme já exposto pelos participantes, nos relatos de suas memórias.
Ainda, em se tratando da falta de apoio, os participantes reclamam das instituições educacionais,
em nível de macro e micro sistema, por não disponibilizarem condições apropriadas de trabalho e
formação continuada para os profissionais pedagogos, em especial para os orientadores educacionais.
Conclusão
Sumarizando, entendemos que a falta de apoio e das condições reportadas no texto, podem se
constituir como perda da própria referência do pedagogo, abalando, fragilizando e fragmentando sua
identidade profissional, visto que afetam a auto-estima e motivação para exercer a profissão.
Ademais, os sentimentos desses interlocutores revelam as marcas de fragilidade ocasionada
pelas dificuldades, dilemas e desafios vividos no exercício de sua profissão. Desse modo, os obstáculos
de toda ordem, que perpassam desde o apoio do Sistema de Ensino em oferecer as condições mínimas
de trabalho até a falta do reconhecimento profissional dainstituição educacional, contribuem para
que o cotidiano do pedagogo se caracterize como conflituoso.
Paulo: Atlas, 1987.

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