4 - Niveis e Areas de Atuação Entidades de Classe
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Resumo
A discussão deste artigo em torno da atuação das entidades representativas na formação do pedagogo
na realidade educacional piauiense aborda o seguinte problema: como se delineia a presença das
entidades representativas na formação profissional do pedagogo? Como objetivos buscamos analisar a
presença das entidades representativas na formação profissional do pedagogo, caracterizar as entidades
representativas dos profissionais pedagogos nos contextos educacionais brasileiro e piauiense e
descrever a atuação dos movimentos representativos dos pedagogos em sua formação profissional.
Trabalhamos com a pesquisa narrativa, extraindo dos sujeitos pedagogos seus sentimentos e impressões
acerca de suas vivencias profissionais. A partir dos relatos constatamos a insatisfação do pedagogo
diantedas condições representativas que se delineiam na atualidade.
Palavras Chave: Pedagogo. Representação sindical. Formação.
Introdução
Na análise das narrativas, constatamos aspectos que concorrem para as perdas profissionais do
pedagogo, dentre as quais destacamos: discrepância salarial entre profissionais da mesma área, extinção
do órgão de apoio ao profissional vinculado à Secretaria de Educação Estadual (Equipe Central de
Orientação Educacional / ECOE), falta de sintonia e de apoio por parte da SEDUC ao profissional
pedagogo e a extinção das associações de classe que representavam e difundiam os interesses dos
pedagogos. As memórias de Violeta, Lírio, Flor de Lis, Rosa e Gardênia retratam, nos seguintes
fragmentos narrativos, claramente esses fatos:
A Secretaria Estadual de Educação mantinha, através do S.O.E. (Serviço de Orientação
Educacional), um apoio constante aos orientadores educacionais que trabalhavam nas escolas,
e esse apoio tanto fortalecia a ação pedagógica do O.E. como mantinha uma comunicação mais
estreita entre escola e Secretaria, além de promover seminários, encontros para estudo,
congressos e outros eventos a título de “formação continuada”, embora na época os eventos não
tivessem essa denominação, mas o objetivo era esse. Além de manter os orientadores
atualizados, fortalecia os laços de amizade, melhorava a auto-estima e, sem dúvida, repercutia
de forma positiva na qualidade do trabalho na escola. Outro aspecto que merece ressalva é a
AOEPI (Associação dos Orientadores Educacionais do Estado do Piauí), que mantinha um elo
com as outras categorias: a APEP (Associação dos Professores do Estado do Piauí) e a
ASSUEPI (Associação dos Supervisores do Estado do Piauí). [...]. E assim, eu diria que a
orientação educacional viveu seus “anos dourados”, diferente da situação atual. Hoje resta o
pedagogo que, na sua atuação, busca conciliar orientação, supervisão e administração, na
tentativa de contribuir, neste conturbado mundo pedagógico, para a melhoria do processo
educativo. A sobrecarga de atribuições para o pedagogo tem interferido negativamente no
resultado de seus trabalhos, contribuindo para o insucesso de sua ação e, em grande parte,
desmotivando-o e diminuindo a sua auto-estima. (Violeta.)
[...] Hoje não sei por que este profissional está totalmente sem apoio. Ele já não sabe maisem
quem deve se apoiar para buscar os seus direitos; não existe, por parte dos sindicatos, uma
preocupação com os mesmos, e cada dia que passa ficamos no anonimato, não existe o
reconhecimento do profissional e nem da profissão; nem nos congressos que são desenvolvidos
pelos sindicatos se coloca temas voltados para esse profissional e então, sem apoio, não se
alcança objetivo. Enfim, a valorização também no que diz respeito ao seu salário, hoje cada
governo que entra diminui o salário e os seus direitos, deixando cada vez mais achatado. (Lírio)
Considero fundamental termos uma instância que possa nos reunir para tratar de assuntos
ligados à nossa profissão e que possa nos representar legalmente. Isso, a meu ver, impediria
certos abusos do poder público e da sociedade em geral, como, por exemplo, hoje, a Secretaria
Estadual de Educação e Cultura - SEDUC – garante ao supervisor escolar uma portaria que o
remunera e lhe confirma a função que desempenha na escola; ainda há uma intenção clara deste
órgão em realizar um processo eletivo para a função. Isso revela que é urgente a necessidade
de um reconhecimento da profissão, enquanto categoria profissional e não apenas como uma
função a ser desempenhada por alguém que foi eleito e possui uma portaria. Tais dilemas têm
gerado também uma péssima repercussão entre outrosprofissionais da educação, especialmente
entre os professores; eles não têm uma informação clara sobre o que é ser pedagogo e acredita
na falsa idéia de ele é o profissional que trabalha com Ensino Fundamental apenas; [...]. (Flor de
Lis)
O pedagogo, no contexto atual, não é visto como um profissional que possa contribuir defato
para o bom desempenho das atividades educativas. O exemplo é a gratificação que beneficia
apenas uma parte, isto caracteriza descaso em relação aos outros. È difícil para o pedagogo
desempenhar um bom trabalho diante desse quadro. É necessário que ele busque junto à
categoria atitudes que possam mudar esta situação, para que o valor seja extensivo a todos, até
mesmo aqueles que estão sendo beneficiados devem se manifestar contra esta medida, ou todo
mundo é beneficiado ou ninguém, pois todos têm a mesma importância no contexto educativo.
(Rosa)
Nos últimos anos, os orientadores educacionais de minha geração têm ficado sem apoio. Não
sabemos a quem recorrer quando o desânimo bate à nossa porta. Nós somos sobreviventes,
estou à beira da aposentadoria e só agora, através desse trabalho, tenho oportunidade para
desabafar. No meu caso, principalmente, com minha habilitação somente em Orientação
Educacional, não há espaços nos concursos (sei que houve também acomodação de minha
parte) apesar de ter feito especialização em Psicopedagogia. [...]. Reconheço que poderia ter
feito muito mais se tivesse havido mais ações dirigidas aos orientadores educacionais, através
da Associação dos Orientadores, como ocorreu nos anos iniciais de minha trajetória como
educadora, a qual promovia encontros e seminários, proporcionando-nos novos conhecimentos,
além de maior integração com os demais professores da área e a luta da classe para ter seus
direitos reconhecidos. (Gardênia)
Ao externar suas memórias, os interlocutores demonstram que se ressentem da falta de apoio,
relembrando dos momentos vividos como período áureo da profissão. Seus relatos evidenciam o mal-
estar decorrente das transformações radicais ocorridas, já que muitas situações ocorreram em curto
tempo: a perda do espaço sindical, o isolamento profissional, a desintegração dos grupos da área e outras
situações que fizeram o pedagogo perder sua referência, ocasionando conseqüentemente
descaracterização da sua identidade profissional.
O mal-estar vivido por esses interlocutores se assemelha ao que Nóvoa (1992)aborda. Segundo
ele, nas últimas décadas, existe um mal-estar docente gerado pelas transformações sociais, políticas e
econômicas que vêm ocorrendo no mundo de forma acelerada, e essas mudanças atingiram o processo
educativo. Tudo indica que a sociedade deixou de acreditar na educação como promessa de um futuro
melhor, sendo que os professores enfrentam a sua profissão com uma atitude de desilusão e renúncia, o
que degrada cada vez mais sua imagem social. Percebemos claramente que essas situações,
caracterizadas por Nóvoa (1995), foram em parte introjetadas pelos interlocutores desta pesquisa, ao
deixarem fluir nas suas memórias um sentimento conflituoso.
Outro aspecto que a análise das narrativas nos revela é que os pedagogos participantes desta
pesquisa se ressentem da omissão e do descaso do Sindicato dos Profissionais da Educação (SINTE) na
defesa dos direitos dos associados diante dos órgãos administrativos do Sistema Público Estadual de
Educação, bem como da falta de empenho para que os deveres sejam efetivados na prática. Na
concepção desses interlocutores, a falta efetiva do sindicato enfraquece e debilita a categoria e,
sobretudo, contribui para a descaraterização do processo de construção da identidade profissional do
pedagogo. Vendo a importância dessa representação Marafon e Machado (2005, p.74) ressaltam:
Pensamos ser necessária a criação de um conselho representativo dos
educadores que possa acompanhar uma formação qualificada dos profissionais
para atender às necessidades educacionais brasileiras e garantir o exercício
competente e exclusivo da atividade profissional do pedagogo, bem como sua
especificidade na área de atuação. Dessa forma acreditamos que os profissionais
poderão conseguir uma maior participação nas definições das políticas públicas
para a educação do país.
Percebemos que esse é o desejo dos participantes da pesquisa, ou seja, de que seja criado um
órgão deliberativo forte e lícito que possa atuar de forma representativa e interventiva nas questões que
afetam, desgastam e desvalorizam a profissão e identidade do pedagogo. O sentido deve ser o de
fortalecê-lo no enfrentamento dos dilemas e na superação dos desafios emergentes da sua prática
pedagógica, conforme já exposto pelos participantes, nos relatos de suas memórias.
Ainda, em se tratando da falta de apoio, os participantes reclamam das instituições educacionais,
em nível de macro e micro sistema, por não disponibilizarem condições apropriadas de trabalho e
formação continuada para os profissionais pedagogos, em especial para os orientadores educacionais.
Conclusão
Sumarizando, entendemos que a falta de apoio e das condições reportadas no texto, podem se
constituir como perda da própria referência do pedagogo, abalando, fragilizando e fragmentando sua
identidade profissional, visto que afetam a auto-estima e motivação para exercer a profissão.
Ademais, os sentimentos desses interlocutores revelam as marcas de fragilidade ocasionada
pelas dificuldades, dilemas e desafios vividos no exercício de sua profissão. Desse modo, os obstáculos
de toda ordem, que perpassam desde o apoio do Sistema de Ensino em oferecer as condições mínimas
de trabalho até a falta do reconhecimento profissional dainstituição educacional, contribuem para
que o cotidiano do pedagogo se caracterize como conflituoso.
Paulo: Atlas, 1987.