Admin, AVBv5a44
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317-324, 2011
[Poisonous plants of livestock interest in the Amazonia and Savanna ecotone region Part II: Araguaína, North of
Tocantins state, Brazil]
Ana Maria Dantas Costa, Domenica Palomaris Mariano de Souza, Tânia Vasconcelos Cavalcante, Vera
Lúcia de Araújo, Adriano Tony Ramos, Viviane Mayumi Maruo
Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal Tropical, Universidade Federal de Tocantins (UFT), Araguaína, TO
RESUMO - O trabalho objetivou determinar as plantas tóxicas de interesse pecuário na região de Araguaína.
Foram entrevistados 87 produtores rurais em 14 municípios do norte do Tocantins e foram realizadas visitas às
propriedades. Segundo os relatos, a Palicourea marcgravii e a Brachiaria decumbens foram as principais plantas
responsáveis por intoxicações, também apresentaram importância os relatos de surtos causados por Manihot
esculenta, Ipomoea asarifolia, Enterolobium contortisiliquum, Pteridium aquilinum, Dimorphandra mollis,
Stryphnodendron obovatum, Ricinus communis e Palicourea juruana. Outras plantas aparentemente de menor
importância na região foram Ipomoea setifera, Manihot glaziovii, Senna occidentallis, Enterolobium gumiferum,
Crotalaria sp. e Asclepias sp. Dentre as plantas relatadas como tóxicas para bovinos na região, mas que ainda
não tiveram sua toxicidade comprovada destacam-se Buchenavia tomentosa, como causa de abortos e mortes,
Parkia Pendula causando incoordenação, Psychotria colorata e Samanea tubulosa como causa de abortos e
Mucuna pruriens como responsável por dermatite de contato. Conclui-se que na região do ecótono Amazônia e
Cerrado as plantas tóxicas de interesse pecuário, embora guardem certa similaridade com aquelas de outras
regiões, apresentam características peculiares. Em especial, o estudo revelou a presença de plantas cuja
toxicidade ainda não foi comprovada e a ocorrência de surtos vinculados a elas evidencia sua relevância para
pecuária e, portanto, merecem investigação. Ressalta-se ainda que, embora os produtores possuam conhecimento
sobre as principais plantas tóxicas, a aparente incidência elevada dos surtos na região revela a necessidade de
estudos que visem medidas de prevenção e controle, para que os prejuízos econômicos sejam evitados.
Palavras-Chave: Bovino, intoxicação, ruminante, toxicologia.
ABSTRACT - This study aimed to determine the poisonous plants of livestock interest in Araguaína region. A
total of 87 farmers from 14 counties of northern Tocantins were interviewed and the properties were visited.
According to reports, Palicourea marcgravii and Brachiaria decumbens were the main plants responsible for
poisoning, in addition to outbreaks reports caused by Manihot esculenta, Ipomoea asarifolia, Enterolobium
contortisiliquum, Pteridium aquilinum, Dimorphandra mollis, Stryphnodendron obovatum, Ricinus communis,
and Palicourea juruana were also relevant. The apparently less important plants were Ipomoea setifera, Manihot
glaziovii, Senna occidentallis, Enterolobium gumiferum, Crotalaria sp. e Asclepias sp. Among the plants
reported as poisonous to cattle, but without toxicity yet established were mentioned Buchenavia tomentosa as a
cause of abortion and death, Parkia pendula as a cause of incoordination, Psychotria colorata and Samanea
tubulosa as abortive and Mucuna pruriens as responsible for mucosa irritation. It is concluded that the outbreaks
by poisonous plants at the ecotone region of Amazonia and Savanna show particular characteristics although
presents certain similarity to other regions of Brazil. This study revealed the presence of plants with the toxicity
not established yet and the outbreaks occurrence related to them shows the importance to livestock and deserve
to be investigated. Although the farmers have some knowledge of main poisonous plants, the high incidence of
outbreaks in the region shows that there is a lack of studies aimed at prevention and control of poisoning to avoid
economic losses.
Keywords: Cattle, poisoning, ruminant, toxicology.
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Tabela 1. Distribuição geográfica das plantas e das intoxicações em animais por elas causadas, distribuídas segundo o
município, na região de Araguaína ao norte do Tocantins, de acordo com informações obtidas de 87 entrevistados entre maio
de 2007 a novembro de 2008.
Plantas Municípios
Palmeiras do Tocantins
Santa Fé do Araguaia
Nº de municípios
Nº de produtores
Total de surtos
Wanderlândia
Babaçulândia
Carmolândia
Darcinópolis
Muricilândia
Nova Olinda
Aragominas
Araguaína
Araguanã
Filadélfia
Xambioá
Piraquê
Arrabidaea bilabiata 0/6a 0/6 0/4 0/6 0/8 0/6 0/7 0/8 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0 0 0
Chibata
Arrabidaea japurensis 0/6 0/6 0/4 0/6 0/8 0/6 0/7 0/8 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0 0 0
Brachiaria decumbens 3/6 4/6 4/4 6/6 2/8 6/6 6/7 5/8 6/6 4/6 2/6 6/6 6/6 6/6 14 7 66
Capim braquiária (4)b (1) (2) (2) (1) (3) (1)
[4]c [1] [2] [2] [1] [3] [1]
Brachiaria radicans 0/6 0/6 0/4 0/6 0/8 0/6 0/7 0/8 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0 0 0
Tannergras
Dimorphandra mollis 0/6 2/6 0/4 3/6 0/8 1/6 1/7 1/8 0/6 1/6 0/6 0/6 0/6 1/6 5 3 10
Fava D´Anta (1) (3) (1)
[1] [3] [1]
Enterolobium 1/6 1/6 4/4 1/6 0/8 1/6 6/7 2/8 0/6 1/6 1/6 6/6 3/6 3/6 4 2 30
contortisiliquum
Tamboril
Ipomoea asarifolia 0/6 4/6 0/4 0/6 0/8 0/6 7/7 0/8 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 1 1 11
Salsa (1)
[1]
Ipomoea carnea subsp. 0/6 0/6 0/4 0/6 0/8 0/6 0/7 0/8 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0 0 0
fistulosa
Manjerana
Lantana camara 0/6 1/6 0/4 0/6 1/8 2/6 2/7 0/8 0/6 0/6 5/6 4/6 0/6 1/6 0 0 16
Chumbinho
Manihot esculenta 6/6 6/6 4/4 6/6 8/8 6/6 7/7 8/8 6/6 6/6 6/6 6/6 6/6 6/6 2 2 87
Mandioca (1) (1)
[1] [1]
Manihot spp. 1/6 1/6 1/4 0/6 1/8 1/6 0/7 2/8 0/6 0/6 1/6 2/6 0/6 1/6 0 0 11
Maniçoba
Palicourea grandiflora 0/6 0/6 0/4 0/6 0/8 0/6 0/7 0/8 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0/6 0 0 0
Palicourea juruana 2/6 1/6 0/4 0/6 1/8 3/6 0/7 1/8 0/6 0/6 1/6 1/6 0/6 1/6 1 1 10
Roxa (1)
[1]
Palicourea marcgravii 6/6 4/6 6/4 2/6 4/8 6/6 4/7 6/8 1/6 0/6 6/6 6/6 6/6 5/6 18 11 62
Erva de Rato (2) (2) (2) (1) (3) (1) (1) (2) (1) (2) (1)
[2] [2] [2] [1] [3] [1] [1] [2] [1] [2] [1]
Pteridium aquilinum 0/6 6/6 0/4 3/6 2/8 0/6 1/7 0/8 0/6 0/6 2/6 1/6 0/6 0/6 1 1 21
Samambaia (1)
[1]
Ricinus communis 6/6 6/6 4/4 6/6 0/8 6/6 7/7 6/8 6/6 /6/6 6/6 6/6 6/6 6/6 2 1 77
Mamona (2)
[2]
Stryphnodendron 1/6 0/6 1/4 2/6 0/8 2/6 2/8 2/6 2/6 5/6 5/6 2/6 4/6 2 6/7 2 34
obovatum (2)
Barbatimão da folha [2]
miúda
Sorghum vulgare 6/6 4/6 4/4 6/6 2/8 4/6 7/7 3/8 0/6 6/6 6/6 4/6 2/6 1/6 0 0 55
Sorgo
a
nº de produtores que conheciam a planta / nº de produtores entrevistados; b ( ) nº de produtores que assistiram a surtos da
intoxicação; c [ ] nº de surtos que segundo os produtores ocorreram na sua região anualmente.
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Os surtos de intoxicação pela “roxa”, como é Os surtos de intoxicação por “maniçoba” Manihot
conhecida popularmente na região a P. marcgravii, esculenta ocorreram após a invasão da cultura e
acometeram bovinos que pastavam em áreas recém- consumo das folhas da planta por bovinos. Os
desmatadas, os quais apresentaram pelos arrepiados, sintomas descritos incluíram sialorréia, paresia,
depressão, queda ao solo, ataxia, convulsão, poliúria convulsões e morte alguns minutos após o inicio dos
e morte ao se movimentarem para a troca de pasto. sintomas. A intoxicação por M. esculenta ocorre
Embora, a intoxicação pela P. marcgravii seja quando as folhas frescas ou os tubérculos são
amplamente descrita para todas as regiões do Brasil, fornecidos aos animais sem os devidos cuidados
a região norte tem evidenciado o aumento de surtos, quanto à eliminação do ácido cianídrico (HCN)
devido à presença de grandes áreas alagadiças e (Tokarnia et al., 2002). Assim, como na região a
pastos recém formados que favorecem o planta é oferecida para os animais como fonte de
desenvolvimento da planta (Tokarnia et al., 2002). volumoso, principalmente durante a escassez de
Ainda, a importância da intoxicação pela P. foragem, recomendam-se cuidados no uso da forma
marcgravii na região de estudo é demonstrada pela in natura para minimizar os riscos de intoxicação
alta frequência de surtos durante a estação chuvosa, por HCN (Amorim et al., 2005).
período no qual a toxicidade é máxima em todas as
partes da planta (Riet-Correa & Medeiros, 2001). A “salsa“ (Ipomoea asarifolia) promoveu surtos de
intoxicação em bovinos caracterizada por balançar
A ocorrência de intoxicação pela ingestão do “capim da cabeça, tremores musculares e desequilíbrio dos
braquiária” (B. decumbens) em bezerros lactentes e membros posteriores ao caminhar, com recuperação
vacas paridas, foi caracterizada por lesão exsudativa dos animais após a retirada da área infestada pela
com crostas e desprendimento da pele. Os sinais planta. Intoxicações naturais pela I. asarifolia no
regrediram após a retirada dos animais das áreas Brasil foram relatadas em bovinos, ovinos e
infestadas, os quais eram colocados à sombra e caprinos, sendo os tremores e a incoordenação
tratados com antibióticos. De modo similar, ovinos atribuídas à Lectina Tóxica de Salsa, presente nas
adultos e cordeiros lactentes que pastavam em uma folhas frescas da planta (Santos et al., 2004; Mello
área exclusiva de braquiária, apresentaram além dos et al., 2010).
sinais de fotossensibilização hepatógena,
emagrecimento progressivo, apatia, mucosas pálidas, A intoxicação pelo “tamboril “(Enterolobium
icterícia e morte três meses após o inicio dos contortisiliquum) em bovinos na região costuma
sintomas. A fotossensibilização hepatógenea, a ocorrer após o consumo de frutos no período de
susceptibilidade de bezerros e cordeiros e a maior escassez de alimento e foi caracterizada por
sensibilidade de ovinos à toxicose induzida pela inapetência, anorexia e diarréia, sendo esses achados
ingestão espontânea de braquiária, já foram relatadas semelhantes aos relatos de intoxicação em bovinos
por outros autores (Lemos et al., 1996; Mendonça et de diferentes idades (Costa et al., 2009). Como
al., 2008). medida preventiva, os produtores da região evitam o
aceso dos animais às favas, por meio da mudança de
A etiopatogenia da doença não é totalmente pasto ou pelo corte de árvores nas áreas infestadas.
estabelecida, estudos sugerem que a ação
hepatotóxica esteja relacionada às saponinas Surtos associados ao consumo de “samambaia do
esteroidais litogênicas (Smith & Miles, 1991; Cruz campo” (P. aquilinum) foram relatados em bovinos,
et al., 2001) e à presença do fungo Phitomyces os sinais incluíram inapetência, anorexia,
chartarum, produtor da toxina esporodesmina emagrecimento progressivo, andar cambaleante,
(Nobre & Andrade, 1976; Saturnino et al., 2010). diarréia sanguinolenta, tosse, disfagia, regurgitação e
Embora os surtos de intoxicação pelas espécies de halitose. Os bovinos afetados eram provenientes de
Brachiaria sejam relatados com frequência nas propriedades onde a samambaia era abundante nas
regiões do Cerrado, as pastagens constituídas de áreas de pastoreio e nos locais de acesso a água, o
Brachiaria spp ocupam cerca de 51 milhões de que pode contribuir para o estabelecimento de
hectares na região, sendo os benefícios adquiridos à formas crônicas de intoxicação por samambaia
pecuária de corte no Brasil, superiores aos relatados da literatura (Peixoto et al., 2003).
problemas de fotossensibilização (Mendonça et al., Entretanto, na região de estudo não existem dados
2008). que comprovem a prevalência de carcinomas de
células escamosas ou hematúria enzoótica bovina,
Também apresentaram importância os relatos de característicos do consumo de P. aquilinum por
surtos causados por Manihot esculenta, Ipomoea período prolongado. Cabe ressaltar que as diferentes
asarifolia, Enterolobium contortisiliquum, Pteridium formas clínicas de intoxicação por samambaia não
aquilinum, Dimorphandra mollis, Stryphnodendron ocorrem com mesma frequência em diferentes
obovatum, Ricinus communis e Palicourea juruana. regiões (Moreira Souto et al., 2006).
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A ingestão de “Fava d’anta “(Dimorphandra mollis) Lantana spp, Palicourea grandiflora e Sorghum
em bovinos foi associada à ocorrência de cólica, vulgare embora conhecidas pelos entrevistados,
poliúria, oligúria, hematúria e morte em 24 horas. parecem não desencadear surtos de intoxicação na
Segundo a literatura, os surtos de intoxicação região de estudo.
ocorrem quando há escassez de pastagens e os
animais consomem as favas caídas no solo (Féres et Outras plantas mencionadas pelos produtores,
al., 2006). Porém, na região de estudo, os sinais de aparentemente de menor importância na região,
intoxicação foram observados durante o período de foram Ipomoea setifera como causa de
transição de estação, quando as favas estão incoordenação em bovinos, Manihot glaziovii
molhadas e túrgidas pelas chuvas de verão. Ainda, a (mandioca de veado) responsável por morte súbita
ampla distribuição da D. mollis no Cerrado faz com em bovinos, Senna occidentallis (fedegoso) como
que os produtores tenham conhecimento da causadora de miopatia em bovinos, Enterolobium
toxicidade da planta e evitem o acesso dos animais gumiferum (rosquinha) como causa de
aos pastos que tenham frutos maduros no chão. fotossensibilização em ovinos, Crotalaria sp
(crotalária) como causa de hepatopatia em bovinos e
Os surtos de intoxicação por “barbatimão” Asclepias sp. (oficial de sala) responsável por
(Stryphnodendron obovatum) foram caracterizados, tremores musculares em bovinos.
segundo os relatos, por diarréia e leves sinais de
fotossensibilização nos bovinos, achados estes Dentre as plantas relatadas como tóxicas para a
condizentes com os estudos de Brito et al. (2001). região, mas que ainda não tiveram sua toxicidade
Na região de estudo, as intoxicações ocorreram pelo comprovada para a pecuária destacam-se, por ordem
consumo de favas caídas ao chão no período de de ocorrência, Buchenavia tomentosa, Parkia
julho a setembro, época de estiagem. Poucos Pendula, Psychotria colorata, Samanea tubulosa e
produtores tomam medidas preventivas para evitar Mucuna pruriens.
intoxicações, possivelmente pela baixa frequência
dos surtos ou desconhecimento. O consumo de frutos maduros da “mirindiba”
(Buchenavia tomentosa) foi associado à ocorrência
Segundo os produtores, a ingestão de folhas verdes de abortamentos e/ou mortes em bovinos (Figura 1).
ou murchas de R. communis por bovinos, durante o
período crítico de estiagem, entre os meses de agosto
e setembro, promove salivação, excitação, queda ao
solo, decúbito esternal depois lateral, opístotono e
morte em aproximadamente 24 horas, dados que
corroboram aqueles encontrados na literatura (Mello
et al., 2010). A sintomatologia de ordem nervosa é
atribuída ao principio ativo tóxico ricinina presente
nas folhas e no pericarpo da planta (Tokarnia &
Döbereiner, 1997).
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