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Serie D"• ~E;:E \~jEditoraSepal
Recomenda~6es aos
Jovens Te61ogos e
Pastores
Helmut Thielicke
1
Recomenda~6es aos Jovens Te61ogos e Pastores
Cr1a~o e Arte
Oswaldo Pahio Jr.
Produ~o GrM1ca
C1daPaiao
Tradu~o
Glauber Meyer Pinto Ribeiro
Revisao de Texto
Elisabeth Fernandes
Ivone Brito
Impressao
Imprensa da Fe
EDITORA SEPAL
Catxa Postal 30.548 - 0 1051 - Sao Pa u lo I SP
2
Sumario
Capitulo II - A Ansiedade do
Capitulo IV - A Adolescencia
Capitulo VI - A Patologla do
3
Capitulo VIII - 0 Instinto dos
4
PREFA.CIO
6
problema e oposto: flca-se a ansiar por
:.un pouco mats de conteudo intelectual.
Estamos no Brasil, nao na Alemanha, e
cada urn faz 0 que podell 0 autor faz urn
""1uestionamento muito mats profundo,
do pr6prio relacionamento entre a fe que
se apren de e a fe que se vive. Em sua
m aneira simples de ver as coisas, esta a
explica<;ao para m uitos dos problemas
do seminarista e do pastor que Uem _
prega" seminaristas em sua igreJa.
7
Capitulo I
Ja se tornou u rn lugar-comum ,
rantas vezes repetido por n6s m esmos,
que a Teologia tern a ver com a vida.
Sendo assim, nada mais n a tu ral que
come<;:ar nossas aulas com uma m edi
'a<;:ao sobre 0 que acontece com a n oss a
i da crista dentro de urn curso de Teolo
gia , como esta vida caminha na estrada
do estudo teol6gico - e nao apenas
caminha, mas pode tambem se tornar
mais rica, profunda e frutifera .
Tenha a bondade d e encarar es te
\ '[0 como urn pequeno exercicio espiri
u al, qu e eu gostaria de usar como
prefacio para 0 curso em si, e que ocu p a
na Teologia u rn lugar semelhante ao da
medlta<;:ao espiritual e da ora<;ao que 0
coloca bem no principio de suas es pecu
a<;6es, em seu Pr61ogo.
11
Capitulo /I
Sobre a Teologia
Resumindo, se a congregac;ao
comum (por assim dizer) desconf1a urn
pouco da Teologla, nao e por pura In
genuldade. E uma desconfianc;a apolada,
sem duvida, por argumentos de principl0
e de experienc1a. E Ja que nos, como
te6logos, estamos todos 1nteressados
neste problema - pols, na medlda em que
estamos decldldos a ser verdadeiros
te6logos, nosso pensamento ocorre dentro
d a comunidade do povo de Deus, pen
samos por esta comunidade e em nome
d esta comunidade: (como dlzer 1sto?)
pensamos como pessoas que fazem parte
esta comunidade - e porque esta
comurudade esta muito certa em preo
cupar-se com a nossa saude esplritual,
eu gostarla de dlscutir brevemente este
problema.
15
Capitulo 11/
A Adolescencia Teo16gica
26
Capitulo V
A Ofensa da Vaidade
30
CAPiTULO VI
34
A Patologla do Jovem Teologo
36
Capitulo VII
A Sabedoria do Mundo
como Aliada da Fe
41
Capitulo VIII
45
Capitulo IX
A Elevada e DUtcH
Arte da Dogmatica
51
Capitulo X
o Perigo d o Belo
55
CapftuloXI
Essenclalmente, 0 metoda d a
Teologla leva em conta 0 fa to que Deus
falou, e agora 0 qu e ele falou precls a ser
entend ldo e res pondldo. Mas a fala de
Deus somente sera entendlda quando
eu:
(1) reconhecer que 0 que fol dUo
dlrige -se a mim, e
(2) envolver-me na formula<;a o de
uma resposta.
60
Capitulo XII
Teologia Sagrada e
Teologia Diab6lica
o Labor Teo16gico
nas Grandes Alturas
65
Reco me~6es aos Jovens Teologos e Pas /o res
68
o Labor Teologleo nas Grandes Alturas
4 N.T.Novamente aqul ha uma refen~ncla ao fato de
que, n a Europa, os cursos de Teologta estao Junto a
u ma Unlversldade.
69
ISSN 1809-2888
Licenciado sob uma Licença Creative Commons
Abstract: In the History, Protestantism shows vanguard in different themes: religious li-
berty, foundations of contemporary political, and education as human development’s tool. But,
through the time – and for those observations are many theorists who approach the subject
in different aspects –, Protestantism let itself be influenced by orthodoxy and, with the Doctri-
nal Statements, stood up at its own dogmas, quitting progress and stiffening itself, losing the
“Protestant Principle” what fed and create it when novice. In Brazil, Protestantism of Mission
is derivative from Anglo-Saxon Protestantism that has its matrix in U.S. The “Brazilian Theolo-
gy” was occurred within North-American theological prerogatives. So, having this observation
* Enlatada, em inglês.
1 Bacharel em Teologia (FAETESP); Licenciado em Filosofia (ICSH); Mestrando em Ciências da Religião (UMESP); Pastor Ba-
tista - Igreja Batista Central em Pariquera-Açu/SP - Vale do Ribeira. Autor do livro: Cristologia Protestante na América Latina:
uma nova perspectiva para a reflexão e o diálogo sobre Jesus. São Paulo: Arte Editorial, 2011; Membro do Instituto Kaine Vox
– Grupo de Pesquisa em Religião e Teologia. E-mail: [email protected]
in a starting point, this article collects he analyses and notes of the theologian Júlio Zabatiero,
looking, from his main themes, some connection for a theological reflection that including
Brazilian reality.
Introdução
Na história do Cristianismo, o protestantismo tem seu lugar ao sol. Seu surgimento - le-
vando em consideração toda a ambiguidade de qualquer movimento social e contexto reli-
gioso - teve elementos que contribuíram para o desenvolvimento de setores fundamentais da
sociedade ocidental. Em seus primórdios, o protestantismo foi comprometido com a política
do seu tempo, o que ocasionou, assim, a recusa por qualquer sistema de governo absolutista.
Em países predominantemente protestantes, com algumas exceções, na ciência e na busca por
novas descobertas de conhecimento existia a oportunidade de pesquisas e estudos.2 O protes-
tantismo é fruto da modernidade e seus valores são racionalismo e a epistemologia. No cam-
po filosófico, o tema da liberdade sempre esteve na pauta do protestantismo. Liberdade para
tolerar o outro e suas opções (John Locke); liberdade de consciência e expressão e o conceito
de individualidade foram temas frequentes entre os reformadores. A temática da liberdade na
Reforma foi vista por Georg Hegel como um momento decisivo na história, quando o espírito
servil dá lugar a um espírito livre.3
Uma vez que o protestantismo no Brasil e no continente latino-americano tem sua matriz
estadunidense, o protestantismo de missão não soube lidar com a brasilidade – sua formação
cultural e religiosa. Com um discurso exclusivista, teve como resultado o isolamento cultural
– tornou a igreja num gueto de “salvos e santificados” esperando apenas o céu; o não envolvi-
mento com o tido “mundanismo” é evidência de salvação, daí a completa falta de inserção na
cultura do país; o discurso hermético – extremamente confessional; a apologética como chave
hermenêutica para entender os “sinais dos tempos”. Desse modo, o protestantismo se alimen-
2 Surgindo também a cosmovisão utilitarista do mundo e seus recursos naturais, contribuindo para uma visão dessacraliza-
da do mundo.
3 Cf. ALVES, Rubem. Liberdade e ortodoxia: opostos irreconciliáveis? In. VVAA. Tendências da teologia no Brasil. São Paulo:
ASTE, 1977, p. 8.
Faz-se necessário uma leitura pós-moderna da realidade. Assim como o teólogo suíço Karl
Barth lia a conjuntura do seu tempo, quando assumiu o pastorado em Safenwill, numa mão a
Bíblia e noutra o jornal,4 se faz necessário buscar parâmetros e ferramentas hermenêuticas
que possam contribuir para uma reflexão teológica que contemple o contexto atual com seus
desafios e suas perspectivas.
É tomando como ponto de partida a necessidade de diálogo coerente e de bom senso com
a cultura pós-moderna, e, entendendo, que o protestantismo de missão não tem, em sua maio-
ria, tido essa preocupação, a não ser defender seus postulados, é que tomo como interlocutor
o teólogo protestante Júlio Zabatiero e sua reflexão teológica contemporânea que atende, de
certa maneira, aos anseios e os questionamentos do atual momento da igreja e da sociedade
apontando ferramentas coerentes com este tempo.
4 Cf. MONDIN, Battista. Os grandes teólogos do século vinte: os teólogos protestantes e ortodoxos. Trad. José Fernandes. São
Paulo: Paulinas, 1980, vol. 2, pp. 16-17.
5 Cf. WIRTH, Lauri Emílio. Protestantismo latino-americano entre o imaginário eurocêntrico e as culturas locais. In. FERREIRA,
João Cesário Leonel (Org.). Novas perspectivas sobre o protestantismo brasileiro. São Paulo: Fonte Editorial/Paulinas, 2009, p.
42.
ternaram uma teologia branda, sem cor, sem tempero. Importaram-se uma hinologia que não
atentou para as raízes mestiças do País, ignorando a capacidade de miscigenação que o povo
brasileiro tem em seus diferentes aspectos.6
O processo de “evangelização” teve uma conotação imperialista7 que deixou a sua con-
tribuição além de produzir uma visão míope da realidade e da cultura brasileira. Mas essa
constatação não é de hoje. José Manoel da Conceição, convertido ao presbiterianismo, desde o
início procurou agregar fé, cultura e raízes brasileiras ao protestantismo na tentativa de ade-
quar os princípios protestantes à mentalidade do povo brasileiro.8 Infelizmente, essa foi uma
atitude unívoca no protestantismo brasileiro.
Esta surge nos EUA e seu principal expoente é Kenneth Hagin11 dentre outros. Como toda
teologia é fruto de uma cultura, a Teologia da Prosperidade não poderia ser diferente. Os EUA
foram a principal potência responsável pela estabilização econômica do mundo sendo promo-
tores do neoliberalismo econômico depois da Segunda Guerra Mundial. É dentro deste quadro
que a Teologia da Prosperidade surge.
No Brasil, a “febre” pegou por volta dos anos 1970. Com a “igreja brasileira” sofrendo pro-
fundas mudanças, os líderes neopentecostais importaram o produto; assimilaram a socieda-
6 Cf. ALENCAR, Gedeon. Protestantismo tupiniquim: hipóteses sobre a (não) contribuição evangélica à cultura brasileira. São
Paulo: Arte Editorial, 2007, p. 79.
7 Não cabe aqui o julgamento, apenas constatações, até porque os missionários refletiram a sua cultura e sua cosmovisão
daquela época.
8 Cf. VVAA. Protestantismo e imperialismo na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1968, p. 85.
9 Em Cristologia Protestante na América Latina: uma nova perspectiva para a reflexão e o diálogo sobre Jesus. São Paulo:
Arte Editorial, 2011, há uma análise do uso da Teologia Sistemática como legitimadora de dogmas e doutrinas.
10 Cf. SILVA, Geoval Jacinto da. Educação teológica e pietismo: a influência na formação pastoral no Brasil, 1930-1980. São
Bernardo do Campo: UMESP/EDITEO, 2010, p. 147.
11 Cf. ROMEIRO, Paulo. Supercrentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade.
6ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1993, p. 10.
Quanto a Missão Integral, ela teve seu início embrionário no Congresso Mundial de Evange-
lização em Lausanne, em 1974, dando origem ao Pacto de Lausanne, cujo relator foi John Stott,
eminente teólogo inglês já falecido. O Pacto de Lausanne foi o combustível necessário para o
que se tornaria a Missão Integral no continente latino-americano. Teólogos como Orlando Cos-
tas, Samuel Escobar e René Padilla formularam uma teologia holística para as necessidades do
continente.
A Missão Integral fez uma pergunta crucial que teve como consequência uma renovação na
reflexão teológica latino-americana e um afastamento da teologia norte-americana.12 A per-
gunta foi: o que fazer diante do avanço do capitalismo neoliberal desumano? René Padilla, já
em Lausanne mesmo, fez duras críticas ao imperialismo norte-americano, propondo, entre
outras coisas, a rejeição de um cristianismo que carregasse consigo o famoso slogan: american
way of life.
A Missão Integral olhou para o Reino de Deus e seus valores e procurou implantá-los na
realidade latino-americana com uma mensagem que fosse “o evangelho todo, para o homem
todo”; uma evangelização que tenha na sua agenda não apenas o assistencialismo social, mas
uma postura profética e comprometida com este tempo e que forçasse transformações.
Por uma razão muito simples a Teologia da Prosperidade teve a sua fama, contando com a
mídia como principal elemento disseminador.
12 Cf. GONDIM, Ricardo. Missão Integral: em busca de uma identidade evangélica. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p. 61.
13 Cf. ALVES, Rubem. Religião e repressão. São Paulo: Teológica/Loyola, 2005, p. 105-106.
O fato é que o conceito de verdade persegue tanto algumas mentes lá do Norte e julgam
que suas compreensões e inquietações também são de outros aqui do Sul. Obstante a isso,
esse tipo de raciocínio encontra adeptos no Brasil que passa a transferir toda essa temática
ao leitor brasileiro. É o que tem acontecido no mercado editorial protestante evangélico que
tem esmerado em reproduzir a temática da apologética com a proposta de defender a fé cristã
racionalmente visando, quase exclusivamente, o público acadêmico.
A preocupação teológica é sempre importada e não reflete prontamente o que se está dis-
cutindo aqui. Nesse caso da apologética, percebemos que no Brasil nunca houve - por enquan-
to - uma discussão ferrenha sobre Evolucionismo e Criacionismo. O Brasil respira religião e,
embora exista, não temos um surto de ateísmo no País, pelo contrário, o que há é uma eferves-
cência religiosa sem conteúdo, nutrindo um relacionamento com Deus com base no “toma lá,
dá cá”.
Esses são alguns exemplos de teologia canned que respiramos em terras de “brava gente”.
14 ZABATIERO, Júlio. Para uma teologia pública. São Paulo: Fonte Editorial, 2011, p. 13.
Júlio Zabatiero não é o único incomodado com uma teologia canned que trabalha em cima
de preocupações externas. Jorge Pinheiro sente a necessidade de se formular uma teologia
protestante brasileira que leve em consideração a brasilidade como chave hermenêutica.15
Para o teólogo batista, muitos se tornaram protestantes sem entender muito bem o motivo.
Como a produção teológica foi excessivamente importada do Norte, o protestantismo brasilei-
ro se tornou um estranho no próprio ninho.16 Essa dificuldade é evidente na relação que o pro-
testantismo brasileiro de missão tem com a cultura brasileira. Viu no catolicismo um oponente
e se distanciou da cultura tachando-a como pagã e, em certo ponto, demoníaca.17
O teólogo presbiteriano radicado no Brasil, Richard Shaull,18 pagou um alto preço dentro
das estruturas políticas da sua denominação por desenvolver uma teologia que fosse aberta
para a realidade brasileira, principalmente em relação à política. O mesmo aconteceu com Ru-
bem Alves que teve no mestre Richard Shaull o provocador de novos caminhos, ou a troca de-
les, levando a olhar não mais o céus como fim último, mas o mundo e as pessoas.19 As reações
foram devastadoras tanto para Richard Shaull quanto para Rubem Alves. Ambos passaram
pelo processo da “Santa Inquisição” e foram banidos da reflexão teológica denominacional.
Destarte, com todos os embaraços, ambos deixaram um legado extraordinário que superou
e muito as estruturas confessionais. Contribuíram para uma reflexão teológica com um rosto
mais brasileiro.
Dentro desse desejo de fomentar uma teologia nacional, ou que formule algo mais concreto
com a realidade brasileira, instituições deram a sua contribuição. Entre essas instituições se
destaca a ASTE – Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos. Com o propósito de pro-
duzir teologia contextualiza no Brasil, a ASTE publicou – e ainda publica, não mais com a mes-
ma intensidade quando no seu início – obras que atendem as necessidades contemporâneas.
Congressos, debates e simpósios foram financiados pela ASTE com a finalidade de promover
uma teologia abrasileirada. Há outras instituições que demonstraram empenho para produzir
teologia no Brasil. É o caso da Fraternidade Teológica Latino-Americana – Setor Brasil. Um
Boletim Teológico foi produzido na América Latina com teólogos latino-americanos e o Brasil
contribuiu com autores que popularizaram um pensamento teológico contextualizado.
Apesar dessas iniciativas, a igreja, de um modo geral, não acompanhou essas reflexões
produzidas na academia e nos boletins teológicos. A crítica de Júlio Zabatiero ainda ressoa:
15 Cf. PINHEIRO, Jorge. Deus é brasileiro: as brasilidades e o Reino de Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2008, p. 11.
17 Cf. VELASQUES FILHO, Prócoro. Deus como emoção: origens históricas e teológicas do protestantismo evangelical. In. MEN-
DONÇA, Antonio Gouvêa; VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p.
100.
18 Um trabalho que aborda a saga de Richard Shaull e suas vicissitudes teológicas no País: FARIA, Eduardo Galasso. Fé e compro-
misso: Richard Shaull e a teologia no Brasil. São Paulo: ASTE, 2002.
19 Cf. REBLIN, Iuri Andréas. Outros cheiros, outros sabores: o pensamento teológico de Rubem Alves. São Leopoldo: Oikos,
2009, p. 28.
A bibliografia de Júlio Zabatiero é extensa e seus trabalhos têm sido na área de Antigo
Testamento (objeto de pesquisa no mestrado e doutorado em Teologia) e, neste tempo, vem
pesquisando temas como hermenêutica (precisamente a semiótica) e a relação entre teologia
e espaço público.
Aqui interessa a contribuição perspicaz e pontual que Júlio Zabatiero faz do protestantis-
mo de missão e as demandas da contemporaneidade. Ele trabalha questões que a sociedade,
a ciência e a teologia acadêmica levantam procurando refletir essas questões com um espírito
de leveza a partir da comunidade de fé, na realidade eclesial. Uma vez que seu pensamento
não é sistemático, sua contribuição se dá em textos e artigos produzidos em diferentes edito-
ras, tanto católicas quanto protestantes, fazendo uma leitura do atual momento e formulando
compreensões hermenêuticas que atendam ou dialoguem com os principais temas discutidos
hoje. Destaquemos dois.
Júlio Zabatiero advoga o retorno da teologia na comunidade de fé. Para que se tenha uma
teologia com as características de nossa terra e nossa gente, é preciso resgatar a noção teoló-
gica da e na igreja.
20 Cf. ZABATIERO, Júlio. Para um método teológico. São Paulo: Fonte Editorial, 2011, p. 15.
21 Cf. MARASCHIN, Jaci. Um caminho para a teologia no Brasil. In. VVAA. Tendências da teologia no Brasil. São Paulo: ASTE,
1977, p. 143.
A teologia, segundo ele, terá que mudar seu sistema epistemológico baseado na ciência
com suas divisões e subdivisões. Os manuais de Teologia Sistemática trabalham com conceitos
derivados da Filosofia e demais ciências humanas, sendo incoerentes para a igreja e sua fé
cotidiana.23 Pensando ao contrário disso, Júlio Zabatiero defende um método que tenha quatro
características para a teologia chegar e ser provocada na vida da gente - edificante: uma teo-
logia que aponte caminhos para o futuro, que seja gestada na comunidade de fé; testemunhal:
que tenha uma linguagem contemporânea e possa ser voltada para aquelas pessoas que ainda
não fazem parte da comunidade de fé; profética: que tenha o que dizer à sociedade de maneira
argumentativa e coerente, fornecendo para a igreja parâmetros para denunciar as estruturas
que sufocam gente que tem em Deus a sua esperança; cognitiva: é o diálogo com outros sabe-
res a fim de contribuir para a reflexão e não agir apologeticamente.24 Para essa teologia ser
possível, é preciso superar o modo fundamentalista de interpretar a Bíblia.25 Com a obsessão
pela verdade, a hermenêutica fundamentalista quer ser ao mesmo tempo contra e a favor da
ciência, mas não abre mão desta para corroborar seus esquemas doutrinários e textuais. Uma
hermenêutica que valoriza a experiência de fé no enredo bíblico e procure enxergar no texto a
dinâmica de uma relação entre Deus e um povo (Israel) e Jesus e seus discípulos (Igreja) se faz
urgente como paradigma de interpretação.
Outro aspecto da teologia que merece o devido destaque é a espiritualidade, a qual é pa-
tente na matriz cultural e religiosa do povo brasileiro. A espiritualidade que o protestantismo
forjou é marcada pelo individualismo, uma vez que a noção de indivíduo foi um dos pilares da
Reforma Protestante. O fato é que se entende espiritualidade no âmbito pessoal e o termôme-
22 ZABATIERO, Júlio. Para um método teológico. São Paulo: Fonte Editorial, 2011, p. 15.
23 Não que o estudo acadêmico da teologia não seja importante, Júlio Zabatiero questiona a academicidade da teologia que
não tem eco na comunidade de fé.
25 Cf. ZABATIERO, Júlio. Hermenêutica fundamentalista: uma estética do interpretar. In. ZABATIERO, Júlio; SANCHEZ, Sidney;
ADRIANO FILHO, José. Para uma hermenêutica bíblica. São Paulo: Fonte Editorial, 2012, pp. 107-119.
tro mais comum para se “medir” a espiritualidade é a frequência na leitura bíblica, nos cultos
e a oração diária. Não se concebe uma espiritualidade que tenha dimensões sociais, políticas
e ecológicas.
Júlio Zabatiero faz lembrar de que espiritualidade é cristocêntrica, não cabendo à igreja ou
qualquer instituição denominacional o seu aprisionamento. A igreja anseia por uma espiritua-
lidade comunitária e solidária.26 Onde o outro seja a ponte para ver Deus; a reunião em torno
da Bíblia seja carregada de entusiasmo comunitário; a oração não seja para buscar “poder”,
pelo contrário, seja para fortalecimento mútuo e oportunidade de adoração coletiva; que a
celebração da comunhão (ceia) não seja apenas um acessório do culto, mas uma celebração de
alegria e louvor pela comunhão dos irmãos.
Considerações finais
A teologia canned não será mais importada quando houver uma reflexão teológica que leve
em consideração as raízes do povo brasileiro e seu modo abrasileirado de viver. Uma teologia
que tenha o que dizer a seu povo dentro do seu contexto social, cultural e religioso.
Referências Bibliográficas
ALENCAR, Gedeon. Protestantismo tupiniquim: hipóteses sobre a (não) contribuição evangéli-
ca à cultura brasileira. São Paulo: Arte Editorial, 2007.
ALVES, Rubem. Religião e repressão. São Paulo: Teológica/Loyola, 2005.
FARIA, Eduardo Galasso. Fé e compromisso: Richard Shaull e a teologia no Brasil. São Paulo:
ASTE, 2002.
FERREIRA, João Cesário Leonel (Org.). Novas perspectivas sobre o protestantismo brasileiro.
São Paulo: Fonte Editorial/Paulinas, 2009.
GONDIM, Ricardo. Missão Integral: em busca de uma identidade evangélica. São Paulo: Fonte
Editorial, 2010.
MENDONÇA, Antonio Gouvêa; VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no
Brasil. São Paulo: Loyola, 1990.
26 Cf. ZABATIERO, Júlio. Fundamentos da teologia prática. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 93ss.
Recebido: 01/02/2013
Aprovado: 13/04/2013