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Serie D"• ~E;:E \~jEditoraSepal

-Reflexao e Teologia Pastoral

Recomenda~6es aos
Jovens Te61ogos e
Pastores ­

Helmut Thielicke

1
Recomenda~6es aos Jovens Te61ogos e Pastores

Prtmeira Ed1~o - Dezembro / 1990


SETE
EDITORA SEPAL
Hehnut Thielicke

Cr1a~o e Arte
Oswaldo Pahio Jr.

Produ~o GrM1ca
C1daPaiao

Tradu~o
Glauber Meyer Pinto Ribeiro

Revisao de Texto
Elisabeth Fernandes
Ivone Brito

Impressao
Imprensa da Fe

© Todos os direitos reservados por


SETE
Caixa Postal 723 4 - 507 12 - Recife - PE

EDITORA SEPAL
Catxa Postal 30.548 - 0 1051 - Sao Pa u lo I SP
2
Sumario

Prefacio .................. ................ .. 05

Capitulo 1- Uma Conversa


Preliminar com 0 Leitor ............... . 09

Capitulo II - A Ansiedade do

Cristao Sobre a Teologla .............. 1 3

Capitulo III - Infeliz Experlencia

no Retorno de urn Jovem Te610go .. 17

Capitulo IV - A Adolescencia

Teo16g1ca .. ...... .......... .................... 21

Capitulo V - A Ofensa d a Vaidade

por Conceitos Teo16g1cos .............. 27

Capitulo VI - A Patologla do

Jovem Te610go .................. ............ 31

Capitulo VII - A Sabedorla do

Mundo como Alia da d a Fe ............ 37

3
Capitulo VIII - 0 Instinto dos

Filhos de Deus ....... .. ................... 43

Capitulo IX - Elevada e D1ficll

Arte da Dogmattca ........................ 47

Capitulo X - 0 Per1go do Belo ...... 53

Capitulo XI - Estudando Teologia

em Ora<;ao ........ ..... ..................... 57

Capitulo XII - Teolog1a Sagrada e

Teolog1a D1ab611ca ... .. ................... 61

Capitulo XIII - 0 Labor Teo16g1co

nas Grandes Alturas ... ...... .. ......... 65

4
PREFA.CIO

Aconteceu em Minas, pouco antes


do que seria meu primeiro dia de aula no
seminarto. Caminhavamos, minha amtga
e eu, discutindo sobre a estrada de terra
que se havia de fazer da vida. Eu havia
onfessado minha decisao de estudar
:-eologla, e eIa estava chorando (por que?):
- "Quem val para 0 Sel1liruirto volta
diferente.....

FOi 0 meu primeiro encontro com


a quilo que Helmut Thielicke chama de
-instinto espiritual dos mhos de Deus".

Este pequeno livro e a transcric;ao


da aula introdut6ria de urn curso de
!)ogmatica (a mesma disciplina que
alguns de nossos seminarios chamam
5
de "Teologta Sistematica"). Thielicke, que
nao d eve s er confundido com seu quase
hom6ntmo Paul Tilich, ja influenciou
muita gen te atraves de seus serm6es
profundamente blbllcos e humanos, nas­
cidos de u rn m1n1s terio capaz de lotar
u m a grande igreja na Alemanha secu­
larizada do p6s-guerra. 0 que a SETE e
a EDITORA SEPAL colocam agora nas
maos dos sem1nartstas, pastores, e lideres
da Igreja b r asUeira, e urn texto que fala
diretamente a realidade do estudante de
Teologta. Seja nas grandes universidades
alemas , produtoras de muito do pensar
teol6gico deste seculo, seja no Brasil,
onde es tu d ar Teologia, na maioria das
vezes, nao e ingressar numa atividade
academica, mas uma aventura de resul­
tados intelectuais e espirituais incertos,
questionada de dentro e de fora, solitarla
e mal-com preendida pelos irmaos da
igreja, para a qual 0 seminarista rara­
m en te esta preparado.

Nao se trata aqui simplesmente de


repeUr as velhas palavras de cautela
sob re 0 intelectualismo excessivo das
aula s de s eminario. Alias, em muitas de
n ossas ins tituic;6es de ensino teol6gico 0

6
problema e oposto: flca-se a ansiar por
:.un pouco mats de conteudo intelectual.
Estamos no Brasil, nao na Alemanha, e
cada urn faz 0 que podell 0 autor faz urn
""1uestionamento muito mats profundo,
do pr6prio relacionamento entre a fe que
se apren de e a fe que se vive. Em sua
m aneira simples de ver as coisas, esta a
explica<;ao para m uitos dos problemas
do seminarista e do pastor que Uem _
prega" seminaristas em sua igreJa.

Acima de tudo, e urn livro que nao


podiamos guardar para n6s mesmos.
--m livro que acompanhara 0 leitor multo
alem de seu curso teol6gico, por toda a
sua vida ministerial. Palavras pastorats
que podem aJuda-lo a voltar do semi­
::lflrio multo Udiferente": intelectualmente
e espiritualmente maduro ; urn lider fiel
e eficaz para a IgreJa brasileira!

Rev. Glauber Meyer Pinto Ribeiro


SETE

7
Capitulo I

Uma Conversa Preliminar


com 0 Leitor

(orlglnalmente com os alunos,


na sala de aula)

Johann Tobias Beck, 0 velho pro­


fessor de Tublngen, linha 0 costume de,
·ez por outra, introduzlr dlgressoes em
suas aulas, transformando asslm 0
estrado do professor em pUlpito. Na
minha op1nHio, algo assim nao pode
fazer mal a n6s , professores e alunos de
hoje. Meu alvo aqul e uma dlscussao
paralela deste ttpo. 0 leitor certamente
compreendera, e sera tolerante, porque
estes obiter dicta sao muito dlstlntos,
em forma e conteudo, do estllo e assunto
pr6prlos aos dlscursos teo16g1cos for­
mats. Tenha em mente que estas dlgres­
soes preclsam necessarlamente ser dl­
tas de manelra natural e esponUmea,
9
Reco me nd~ 6es aos Jouens Te61ogos e Pastores

enquanto 0 discurso formal nao pode


dlspensar os rigores do metodo, nem as
s u as salvaguardas.

Pensoque vez por outraeu preciso


ver e ouvtr aqueles que assistem minhas
aulas nao apenas com o alunos, mas
como a lmas confiadas ao meu c uidado.
E a alma do estudante de Teoiogia esta
em grave perigo, perIgo que nao e apenas
dos dias de hoJe, mas talvez especlalmente
neles. Este e 0 tema do restante deste
p equeno livro.

Talvez atraves destas reflex6es 0


pastor no ministerio aUvo possa nao
apenas reviver algumas lembran<;as -
Isto ele certamente fara! - mas possa
tambern sentir-se desafiado em seu
problema teol6gico concreto , da mesma
forma que eu quls falar dos meus.
Possivelmente tambem, fora d o alcance
normal de urn professor de Teologia, 0
Irm ao na pratica do pastorado possa
encontrar nestas notas uma expl1ca<;ao,
ou uma aJ uda a compreensao da estra­
nha conduta de urn estudante de Teolo­
gia, ou de urn assis tente mals Jovem. Ele
podera, assim, encarar estas paginas
como u ma reportagem sobre 0 que esta
10
Um a Conversa Prellmtnar com 0 Lelto r

acontecendo hOJe em nossos cu rsos de


Teologia. Mas talvez multa coisa se
a pliqu e a sua vida tambem, penetrando
n o recondito de seu escr1t6rio pastora l.

Ja se tornou u rn lugar-comum ,
rantas vezes repetido por n6s m esmos,
que a Teologia tern a ver com a vida.
Sendo assim, nada mais n a tu ral que
come<;:ar nossas aulas com uma m edi­
'a<;:ao sobre 0 que acontece com a n oss a
i da crista dentro de urn curso de Teolo­
gia , como esta vida caminha na estrada
do estudo teol6gico - e nao apenas
caminha, mas pode tambem se tornar
mais rica, profunda e frutifera .
Tenha a bondade d e encarar es te
\ '[0 como urn pequeno exercicio espiri­
u al, qu e eu gostaria de usar como
prefacio para 0 curso em si, e que ocu p a
na Teologia u rn lugar semelhante ao da
medlta<;:ao espiritual e da ora<;ao que 0
coloca bem no principio de suas es pecu ­
a<;6es, em seu Pr61ogo.

11
Capitulo /I

A Ansiedade do Cristiio Comurn

Sobre a Teologia

Se Rudolf Otto dtsse que 0 Sa­


;~ado e nao apenas fasctnante, mas
-ambem assustador (numen tremen­
d um e numen fascinosum) , 0 mesmo
erta ser dtto, com uma ponta de
~on1a, da Teologta: a muttos ela as­
~ sta.

o cristao comum, membro de


.greja, 0 equtvalente espiritual daquele
h ornem da rua", tern diversas raz6es
?ara temer a Teologla. Provavelmente
:mo ha estudante de Teologla que nao
enha stdo alertado por alguma alma
piedosa contra a estranha ativldade de
. atar a Biblia com ferramentas clentffi­
a s. contra a tentativa de resolver todos
S "pontos obscuros", e contra entregar­
e despreparado nas maos daquele
13
Recamendw;:6es aos Jovens Te%gos e Pastores

monstro faminto que e 0 professor des­


crente. S6 preciso apelar a mem6ria do
leHor. Mas 0 que ha na raiz destes avi­
sos, destas ansiedades, deste misterio
que sempre nos assusta?

o cristao comum nem quer discu­


tir a validade ou nao de se abordar a
Palavra de Deus com qualquer outro
prop6sito alem da mais simples fe, sem
qualquer muleta intelectual a sup orta­
la, sem qualquer orgulho na sabedoria
deste mundo. Em outras palavras, por
que qualquer aparato "alem d a fe" seria
necessario para compreender a Biblia?
Quanto mais cedo se levanta esta ques­
tao no seminario, mais facti achar tudo
uma tolice, e mais facilmente 0 aluno
orgulhoso se considerara parte do
pequeno grupo esoterico dos ··iniciados".
Ele pode ate pensar que os cristaos
comuns naoconseguem entender certas
coisas, como por exemplo as questocs
hist6rico-criticas do estudo da Bibl1a, e
que e inut1l tentar explica-Ias . Porem, se
o te6logo nao consegue levar a serio as
objec;6es levantadas pela lavadeira ou
pelo operarl0 comum, e se ele pensa
(embora dificilmente venha a dize-lo)
que 0 proletariado espiritual nao tern
14
A Ansledade do CrLstdo Comum Sobre a Teologla

conscH~ncla das questoes mats del1ca­


das , e nao deve se envolver com elas ­
esta e a l1nguagem dos membros de
clu bes esoterlcos - entao certamente ha
algo de errado com a Teologla.

Resumindo, se a congregac;ao
comum (por assim dizer) desconf1a urn
pouco da Teologla, nao e por pura In­
genuldade. E uma desconfianc;a apolada,
sem duvida, por argumentos de principl0
e de experienc1a. E Ja que nos, como
te6logos, estamos todos 1nteressados
neste problema - pols, na medlda em que
estamos decldldos a ser verdadeiros
te6logos, nosso pensamento ocorre dentro
d a comunidade do povo de Deus, pen­
samos por esta comunidade e em nome
d esta comunidade: (como dlzer 1sto?)
pensamos como pessoas que fazem parte
esta comunidade - e porque esta
comurudade esta muito certa em preo­
cupar-se com a nossa saude esplritual,
eu gostarla de dlscutir brevemente este
problema.

15
Capitulo 11/

Infeliz Experiencia no Retorno


de urn Jovern Te61ogo

Eu disse que as pessoas comuns


d a igreja podem usar argumentos de ex­
periencia e de principio. Vejamos em pri­
metro lugar os argumentos de experien­
cia.

Para impressiona-Io bern , preciso


ser drastico no uso de urn evento que
nao deve ser desconhecido de todos os
leitores, e que alem disto, repete-se com
triste monoton1a em muitas variar;oes, e
que me fOi relatado por Wilhelm Busch,
o competente pastor de mocidade em
Essen, com 0 seu est1lo todo peculiar de
humor iron1co.

Imagine urn jovem vivo e ativo,


querido por seus colegas na mocidade
da Igreja. Ele encontrou Jesus CrIsto e
quer dar testemunho. E ocasionalmente
17
Reco mend~6es a os Jo ue ns Te ologos e Pastores

ja ate dirige estudos bibl1cos. Nao usa


comentarios, mas tern 0 cuidado de
consultar 0 material1mpresso que existe
para estas ocasioes, e as vezes tira
algumas duvidas com 0 pastor. No mais,
ele pede a Deus que 0 ajude a entender
tudo certo e 0 guarde de dizer bobagens.

Tudo que vern de uma fe viva, e


vivo ta mbem. E os joven s ficam satis­
feitos . Alem disto, 0 jovem lider esta
entusiasmado com seus pIanos de es­
tudar Teologia, porque espera aprofun­
dar -se mais na Bibl1a e entender m uita
coisa que agora the parece obscura. Ele
esta feliz de poder entrar n u ma ocu­
pac;ao em que seu principal trabalho en­
volve aquilo que ele ama. Quem nao
gostaria de viver segundo 0 desejo de seu
corac;ao?

Quando volta para casa ap6s 0


seu primeiro semestre de estudo, aos
olhos de seus antlgos camaradas ele
sofreu uma mudanc;a subita e horrivel.
Se urn deles, 0 Jovem artesao, d irige urn
estudo biblico tiplcamente lelgo, la esta
ele com ar de enfado no rosto. Ap6s 0 f1m
da reuniao, ele explica a seu amigo ­
como uma [o[oqueira que quase nao
18
Infellz Experlencta no Retorno de urn Jovern Teologo

agiienta 0 peso das n ovidades - 0 que "as


inves Uga<;oes m ats recentes" tern desco­
ber to n os campos da m itologia, len das e
criUcas das formas.

E mesmo antes que seu com­


panhetro possa recu perar-se d o susto,
ja foi class1f1ca do s egundo a term inolo­
gia clerical aprendida nos corredores do
seminario. Ele d iz a seu amigo leigo:
"Sua s opinioes s ao Upicamen te p ieUs­
tas", ou "tipicamente ortodoxas", ou
talvez, "metodistas·'. Ele the d 1z: "Voce
pertence a escola de Osiander, que nao
compreende ainda 0 ca rater forense da
justlftca<;ao", e paternalisUcamente ex­
plica 0 significado destas estranhas
palavras de erudi<;ao, que sao os efeitos
colaterais questionaveis de seu estud o
cientifico.

Quando novamente ele esta em


casa, ap6s seu terceiro semestre - neste
interim, seu amigo n unca mais teve a
ousadla de exibir sua exegese ingenua
dlante de oUvidos tao s ablos - ele e
convidado a dirigtr uma m edita¢o. Todo
coral amador tern urn interesse natural
em saber como u rn de seus me mbros ,
que satu para estudar em uma academ ia
19
ReClJmend~6es aos Jovens Te6/ogos e Pastores

de muslca, val cantar em sua prlmelra


volta a cldade natal. Muitas vezes, 0
desapontamento e Indescritivel: atras
de uma Incrivel demonstrac;ao de care­
tas e gesticulac;ao frenetica, 0 jovem
cantor produz sons muito mms deplo­
ravels do que quando estava em casa,
cantando amadorlsticamente em uma
socledade coral.

Deixando esta ilustrac;ao de lado,


lsto acontece tambem com 0 estudante
de Teologla. Atras de uma extblc;ao
impresslonante da terminologla exegetlca
clentlfica, e cercado por uma aura de In1­
clado, ele apresenta trlvial1dades terrivels
e Infelizes, e a exuberante forc;a Interlor
de urn jovem crlstao ativo e horrlvel­
mente esmagada por uma courac;a for­
mal de Idelas abstratas. Se havia alguma
esperanc;a para a dlscussao ap6s 0 es­
tudo, aqul tambem ele desenvolve uma
Incrivel hab1l1dade para introduzlr in­
jec;6es paraltzantes de Idelas em toda
conversa viva, livre e Informal.

E compreensivel por que tao pou­


cas 19rejas sentem-se encorajadas por
estas experienclas a valorlzar a Teologla
como ela e ensinada nas universidades 1
20
Capitulo IV

A Adolescencia Teo16gica

Longe de mim querer s1mples­


mente acusar 0 estudante de Teologia ou
caricatur.:l-Io, embora, por raz6es de
clareza e concisao, eu tenha falado com
urn certo grau de ironia amigavel. 0
problema que estamos abordando tern
duas causas.

Em prlmelro lugar, estamos 11­


dando com 0 fen6rneno tao natural do
cresc1mento. 0 pensarnento teol6g1co
pode (e deve) tomar conta de alguem
como verdadelra pa1xao. Mas dedlca<;ao
apa1xonada slgnif1ca uma maneira de
pensar e falar que quase sempre e
emprestada dos arnblentes em que a
pessoa tern se rnovtmentado.

A Teologla l1da com a forma dada


pela reflexao as experlenclas esplrituals
ao longo dos seculos, e especialrnente
21
RecomendG.foes aos Jovens Teologos e Pastores

atraves das grandes figuras d a historia


da igreja. Digamos que urn r apaz de
vinte anos apren de sobre os problemas
relacionados com a doutrtna da Trindade.
Sobre estes problemas, ao longo dos
seculos, amarga s batalhas se tr avaram,
batalh as de vida e morte . A estes proble ­
m a s, os grandes lideres da 19reja dedi­
cara m enorm e esforGo esplritual, e por
tras dlsto tudo estao experienClas es pl­
rituals con cretas . Voce pode ver que 0
jovem teologo nao esta de maneira alguma
a altura destas doutrlnas em seu proprio
desenvolvimento espiritual, m esmo se
for capaz de entender bern a loglca do
sistema - ou seja, a casca daquilo que
era n o inicl0 urn problema esplrltual, eo
curso legitimo e logtco do desenvolv1mento
vivo na historla d a doutrlna.

Assim, fica claro por que e onde,


em tais circunstanclas, as crises serias
surgtrao. Existe urn hiato entre 0 cresci­
mento espiritual real do jovem te61ogo
e aquilo que ele conhece intelectu­
almente sobre a possibilldade de cresci­
mento espiritual. Podemos dizer que
ele esta vestido como uma crianGa d a
ro<;a, com calGas grandes demais, dentro
das quais ele devera crescer; da me sm a
22
A Adolescencia Teol6gica

forma que a pessoa que acaba de fazer


sua Confirmac;iio 2 precisa ainda cres­
cer dentro das roupas do Catecismo 3 .
Enquanto Isto. a roupa larga. solta ao
redor de seu corpo. nao e urn espetaculo
bOnito de se ver.

o jovem aIuno esta provavelmente


multo longe de suspeitar. espiritu­
aImente. e de conhecer na prattca . como
cristao que ora. que apesar de toda a
nossa rebel1ao contra Deus. podemos
atnda vtver confia ntes s ob 0 seu perdao.
em l1berda de. Mas intelectualmen te. ele
ja com ec;;a a pensar atra ves da dialetica
de lei e evangelho. e do paradoxo de
Lutero (simuljustus et peccator ) sob
o qual 0 h omem e ao mesmo tempo Jus to
e peca dor. Dialetica e paradox~s sao a
maneira como a igreja. desejosa de
cumprir a lei de Deus. consegue s u perar
as m ais incriveis tensoes. Sao 0 resu l­
tado de enormes e repetldas frustrac;oes.
profundissima ansiedade e m aravllho­
sos momentos de consolo .

o mesmo homem que esta em


condlc;oes d e repetir uma palestra sobre
Lutero. ou ate de faze-Ia sozinho . prova­
velmente conhece nada ou quase. n ada
23
Recomend~iles aos Jovens Te61ogos e Pastor es

destas coisas, e nem pode conhecer.


Em seu livro sobre Goethe, Gundolf fala,
refertndo-se a casos como este, de ex­
periencia meramente conceitual. Alguma
verdade nao fOi "assimilada" como ex­
periencia de primeira mao, mas foi
substttuida pela "percep<;ao" daquilo que
outra pessoa (Lutero, por exemplo) des­
cobriu por experiencia pr6pria. It assim
que se vive por empresUmo.

Mas , como uma percep<;ao assim,


da religiosidade ou espiritualidade de
outrem , pode ser extremamente viva e
ate apaixonada, e facil cair em auto­
sugestao. como se a pr6pria pessoa
Uvesse vivido e experimentado tudo
aquilo . Ele cai numa ldentifica~ao
ilegitima com outra pessoa. It possivel
ser enfeiti<;ado ~ntelectualmente pelos
poderosos pensamentos do jovem Lute­
ro e cair, entao, na ilusao de que aquilo
• que e intelectualmente apreendido, e
provoca uma impressao tao forte. e fe
genuina. Na realidade. e apenas urn
defeito de percep<;ao, uma s edu<;ao da
experiencia con ceitual. Em sua pr6p ria
vida. em sua pr6pria fe. a q uele jovem
ainda nao foi tao longer Te610gos jovens
costumam exibtr alguns efeitos intelec­
24
A Adolescencia Teologlca

tua1s exagerados que. na real1dade. nao


valem coisa alguma.

Falando nguradamente. 0 estudo


de Teologla frequentemente produz crl­
anc;as crescldas cujos 6rgaos internos
nao se desenvolvem tanto quanta 0 exte­
rlor. Isto e caracteristlco da adolescencla.
Existe realmente uma especle de puber­
dade teol6g1ca. Todo professor sabe que
isto e apenas sinal do cresclmento natu­
ral. e nao deve dar motivo para preocu­
pac;ao. As 19rejas tambem preclsam
entender. e preclsam que alguem lhes
expl1que esta situaC;ao de todas as
maneiras possivels.

It urn erro colocar alguem que


acaba de entrar neste estagio a frente da
19reja para ensinar. Ele ja passou da fase
de Inocencla em que no trabalho com a
mocldade. poderla ter feito 0 seu papel.
Ele a1nda nao atingiu aquela maturl­
dade em que sera capaz de absorver em
sua pr6prla vIda e reproduzlr na vital1­
dade de sua fe pessoal as colsas que
Imaglna intelectualmente. e que the sao
acessivels pela reOexao . Precisamos ter
paciencla e esperar. Por estas razoes. eu
nao permlto sermoes de jovens te6logos
25
Reco mend~6es aos Jovens Te61ogos e Pastores

d o pr1me1ro semestre, que acabaram de


ser embrulhados em suas togas, como
em fraldas.E prec1so saber flcar calado.
No periodo em que a voz esta mudando,
nao se canta, e neste periodo formativo
na vida do estudante de Teolog1a, ele nao
prega tambem.

26
Capitulo V

A Ofensa da Vaidade

por Conceitos Teo16gicos

Muitos de n6s Ja observamos tn­


cldentes em dlscuss6es de estudantes
de eologla que ilustram 0 que aca­
barnos de dlzer. Nao Importa sobre qual
escola, especlficamente, estamos pen­
sando: Gotttngen, Heildelberg, Erlangen,
Tublngen, Hamburg... Por exemplo, urn
Jovem estudante de Medlctna tern uma
pergunta para fazer no perfodo de dls­
cuss6es ap6s 0 estudo bfbl1co, e esta
ansloso por lsto. Sob a pressao de colo­
car sua dUvida em palavras, sua pul­
sa~ao come~a subir. Mas ftnalmente ele
consegue controlar seu nervoslsmo, fi­
car de pe e comunicar sua duvida, com
uma ou duas obje~6es crfticas.

Neste momento, voce deverla ver


os jovens te610gos "proftsslonals"
senttndo-se desafiados. Lan~as em rlste,
27
Recomend~6es aos Jouens Teologos e Pastores

e a pleno galope, com seus labios aper­


tados, mal repr1mlndo urn uivo de tri­
unfo, eles se lan<;am sobre 0 colega.
Entao, os termos tecnicos voam de todas
as d1re<;6es em volta dos ouvidos igno­
rantes do pobre J~igo . Entao irrompem
sobre ele palavras como "trad1<;ao
sinotica", "principio hermeneutico", "es­
catologia realizada", "encurtamento
profetico da perspectiva temporal", "aqui
e agora", "para sempre e sempre", "uso
legit1mO e llegitiP1o", "pressupostos" e
"em d1re<;ao ao flm almcjado", de tal
forma que ele foge apavorado, prote­
gendo 0 rosto com uma mao enquanto
agita a bandeira branca com a outra.

E imed1atamente eles sup6em que


este arm1sticio provocado pela falta de
me10s de defesa e uma vHor1a, e que
acabam de convencer seu colega. Mas
na verdade, ao inves de conquista-Io,
eles s1mplesmente apl1caram uma espec1e
de tratamento de choque (que nao e
"tratamento" de maneira nenhuma!). Eles
sufocaram a pr1me1ra pequenina chama
de uma vida espiritual, e destruiram
uma pr1me1ra e tim1da aproximaGao com
o exttntor de tncendio de sua erudiGao. It
perfettamcnte possivel estrangular e
28
A OJensa da VaJdade por Conceitos Teol6g1cos

sufocar alguem desta forma!

o estudante de Medicina estava


realmente interessado. Quem tern in­
teresse genuino, reage com sensibili­
dade fora do comum. E seu instinto 0
leva a dizer, com razao: "Embora minha
vida e meu destine estivessem em jogo,
estas pessoas cairam em cima de mlm
com sua prattca habitual (rotina). Nao 'Vi
neles sinal algum de vida ou de verdades
aprendidas por experiencia pr6pria. s6
encontrei corpos de ideias mortas. Pre­
firo ir aos me us colegas pagaos, eles sao
menos duros. Sim, eles nao tern multo a
me dizer, eo pouco que tern esta prova­
velmente errado, mas pelo menos e
autentico. Estava procurando urn cris­
tao em quem pudesse ver uma chama.
Encontrel apenas alguns trapos quelma­
dos. Talvez ainda haja urn pouco de calor
escondido. mas tenho pouca pratica. e
nunca serei capaz de encontrar este fogo
escondido."

Eu sei, meus caros alunos, que


machuca quando falo desta forma brusca,
e provavelmente exagerada. Mas eu
precisava mostrar a voces de forma
dramatica como e serio este meu con­
29
Recomend~6es aos Jovens Te%gos e Pastores

selho que, acima de tudo voces sejam


discretos com seus conceitos teo16gicos.
Certamente e algo para pensarmos, 0
fato que as reuni6es rel1giosas sao fre­
quentemente multo mats livres e vivas
nas universldades que nao possuem
faculdades de Teologia 4. Voces me co­
nhecem multo bern, e sabem que nao
estou questionando 0 valor do estudo
teo16g1co em universidades - estou bern
convencido deste valor - mas estou
apenas tratando do problema da "pu­
berdade teo16gica".

30
CAPiTULO VI

A Patologia do Jovem Teologo

Embora por urn lado esteJamos


lidando aqui basicamente com a coisa
mais normal do mundo. sobre a qual nao
ha motivo para nos preocuparmos
demais. olhando par outro angulo. e
bern possivel que as cenas descritas ha
pouco. na volta ao lar do Jovem es­
tudante de Teologia. mostrem alguns
slntomas de uma verdadeira doen<;a. It
possivel- e os leigos conseguem percer­
b er isto multo bern - que a Teologia
desperte a vaidade do Jovem te6logo.
fazendo n ascer nele uma especie de
orgulho agn6stico. 0 principal motivo
disto e que em n6s. seres humanos.
raramente a verdade e 0 amor andam
juntos.

Tambem podemos dlzer exa­


tamente por que . A verdade mui facil­
31
ReClJmenda~oes aos Jovens Te6/ogos e Pastores

mente nos seduz a uma especie de ale­


gria de posse: eu consegui entender isto
e aquilo, aprendi, compreendi. Saber e
poder. Por isto, eu sou melhor que aquela
outra pessoa, que nao sabe isto nem
aquilo. Tenho maiores possibilidades e
tambem maiores tentac;6es. Qualquer
pessoa que lida com a verdade - como os
te610gos certamente fazem - sucumbe
facilmente a psicologla do possuldor.
Mas 0 amor e exatamente 0 oposto da
vontade de possuir. 0 amor e altruista;
nao se vangloria, antes humilha a si
mesmo.

Veja, e quase demoniaco que


mesmo no caso do te6logo, a alegria de
possuir pode matar 0 amor. E demoniaco
porque a verdade da Teologia envolve
exatamente 0 amor de Deus, sua vinda
ao mundo, sua busca e seu cUidado
pelas almas. Assim 0 te610go, e espe­
cialmente 0 te610go jovem, entra num
terrivel conflito interior. Ele esta es­
tudando Cristologia, que significa que
esta lidando com 0 Salvador dos peca­
dores, 0 Irmao dos perdidos. Relacionado
com isto ele aprende, por exemplo, 0
credo de Calced6nia e a hist6ria da
composic;ao dos Sin6ticos. E, possuindo
32
A Patologla do Jovem Te61ogo

esta verdade, despreza - claro, da manel­


ra mats sublime - as pessoas que, como
simples crlstaos, oram a este Salvador
dos pecadores e confiam em cada urn
dos seus (lendarios, talvez?) mllagres.

No distanciamento reflexivo, 0 te6­


logo sente-se superior aqueles que, em
seu relaclonamento pessoal com Cristo,
Ignoram completamente os problemas
relaclonados ao Jesus hist6rIco, ou a
demitologlzac;ao, ou a objetiv1dade da
salvac;ao.

Este desdem e uma verdadelra


doen~a espirituaI. Ele resIde exatamente
no conf1lto entre verdade e amoT. Este
conflito, exatamente, e a doen~a dos
te61ogos. Como as doenc;as infantis, ela
e as vezes especialmente severa. Ate
mesmo pastores ordenados podem pegar
esta doenc;a, que nao se torna menos
mal1gna com a Idade.

Alguns anos atras, urn seminartsta


de Tubingen entrou numa discussao
sobre Bultmann com seu senhorl0, urn
digno e respeltavel pleUsta da Suabla.
(Com sua compreenslvel preocupac;ao
com a reputac;ao de Bultmann, 0 pletista
33
Reoomend~Oes aos Jovens Te61ogos e Pas/ores

via nele a pr6pr1a encarnaC;ao do mal).


Agora, acontece que a estudante era urn
daqueles chamados bultmar1ano - na
verdade, urn Upo com quem este mestre
ter1a tanto direito de se desgostar quanto
Karl Barth e RUsch!, com os seus bar­
Uanos e ritschl1anos. Nao f01 por alguma
efervescenc1a de zelo que 0 estudante
defendeu tao ardorosamente seu 1ncom­
preend1do mestre. Ao 1nves d1sto, havia
urn senUmento farisaico de tr1unfo
quando ele enfiou nas maos daquele
homem, que nao sabia nada de grego, a
Teologia do Novo Tes t amento escrita
pelo Professor de Marburg, toda subl1­
nhada em azul e vermelho.

Seu proposlto tnquestionavelmen­


te era 0 de esmagar aquele homem,
extbtndo uma erudiC;ao que ele nunca
poderia alcan<;ar, reduzindo-o, ass1m, a
urn senUmento de incapacidade. A
combtnaC;ao da impotencia tntelectual
do senhorio pieUsta mais 0 nervosismo
provocado pelas heresIas, que s6 podIa
aumentar vendo-as destacadas em ver­
melho e azul, provocou, sem duvIda,
uma alegrla maldosa no estudante - e
Irrltou 0 pleUsta.

34
A Patologla do Jovem Teologo

Ninguem dlra que 0 dubio prazer


daquele estudante tern algu ma rela<;ao
com 0 verdadeiro amor cristao ao proximo,
nem mesmo n uma forma extrem amente
demitologizada. 0 objetivo de sua ati­
tude nao era dar a o outro alguma intro­
du<;ao sobre 0 que os teologos tern pas­
sado, ou conduzi-lo mansamente a u rn
nivel superior de conhecimento, m as
faze-Io sentir-se incapaz - a este homem
que, em virtude de sua educa<;ao ante­
rior , nao p oderia aproveitar 0 livro que
fOi colocado diante dele - sufocando assim
suas obje<;6es, bern simples, talvez, sobre
o estudo historico-critico da Biblia, soter­
rando-o debaixo de uma pesada massa
de argumentos .

Assim , a verdade e usada como


meio·para 0 triunfo pessoal e, ao mesmo
tempo, meio d e marte , 0 que esta no
maiar contraste possivel com 0 amor.
Desta maneira s urge, dentro de alguns
anos, aquela especie de pastor que age
nao para instrulr, mas para destrllir sua
igreja. E se os anciaos, a igreja e os
jovens come<;am a gerner, se eles protes­
tam as autoridades eclesiasticas, e fi­
nalmente deixam de freqiientar os cuI­
tos, este homem ainda e farise u ao ponto
35
Recomend~6es aos Jovens Te6/ogos e Pastores

de nao dar a minima atenC;ao.

Ao contra.rl0, ele contempla trlun­


fantemente os bancos vazlos e fala con­
slgo mesmo: "Regala-te, 6 alma, pols
pela tua verdade produz1ste urn escandalo
de verdade, e podes agora ter-te por
JusUflcada." Ou ate mesmo: "Grac;as de
dou, 6 Deus, porque nao sou urn lnven­
tor de nOvidades ou soluc;6es facels,
como aqueles pastores cujas 19rejas toda
a cldade quer freqiientar. Estes bancos
vazlos testificam a meu favor."

Os lrmaos que, com fidel1dade


lnabalavel ao pastorado, estao dla a dla
se gastando com muito pouco resultado,
devem perdoar-me este ultimo exemplo.
Nao quls ofende-lo, pols estes sao ho­
mens de outra esttrpe. Asslm como as
crlanc;as de petto podem dar louvor a
Deus, 19rejas vazlas podem testemu­
nhar sobre fidel1dade do ministro, mas
de forma muito diferente destes colegas,
com sua dlaletlca vergonhosa.

36
Capitulo VII

A Sabedoria do Mundo
como Aliada da Fe

Mas existe ainda urn outro angulo,


no qual deve-se levar a serio as obje<;oes
que 0 cristao comum faz a Teologia. Alem
das questoes de experH~ncIa, ja men­
cionadas, ha tambem umacertadescon­
fian<;a baseada em principios. Esta e a
argumenta<;ao caracteristlca.

Por que, alem da fe, deveria ser


necessarI0 algum Upo de conhecImento
adicional, que a sustente? Nao e ar­
rogancia demals pensar que s6 atraves
de analise critlca da Bibl1a podem ser es­
tabelecidos fundamentos firmes para a
fe? Isto nao seria fazer da sabedoria do
m undo juiza da Palavra de Deus? Claro,
dita asslm, esta obje<;ao a Teologta parece
urn tanto Ingenua. Mas Isto nao deveria
nos Impedlr de descobrir nela urn
37
Recome~6es aos Jovens Te6/ogos e Pastores

problema real, que d everla deixar nossa


auto-critica de pronUdao.

Se perguntarmos por que e ne­


cessarl0 urn suporte clentifico para a fe,
podemos estar completamente fora de
perspectiva em rela<;ao ao trabalho teo­
16glco. Normalmente, 0 te610go nao tern
desejo nenhum de destrulr a fe com sua
Teologla. Mas estamos tentando desco­
bru 0 que ha por tras desta critica feita
por p essoas pledosas.

Eles estao defendendo nada menos


que os principlos reform ados de "somen­
te a fe" e "somente as escrituras". Eles
suspeitam da Teologla porque pensam
que esta deseja dllulr a ousada aventura
da fe com a aJuda do conhecimento. Eles
sentem que 0 principlo de "somente as
Escrituras" e enfraquecldo porque
crite rlos humanos como intel1glb1l1dade
e analise raclonal sao apl1cados, e a sa­
bedorla do mundo torna-se 0 criterl0
dom inante no estudo das Sagradas
Escrituras. Pode haver a qui algumas
lembran<;as da forma da Teologla tiu­
m1n1sta, que esta pratlcamente superada.
mas cUJas tendenclas a buscar 0 mel0
termo entre fe e razao ainda afetam as
38
A Sabedorta do Mundo como Allada da Fe

pessoas simples ate a terceira e quarta


gera<;ao, e alem.

Por outro lado, qualquer iniciado


sabe que estas duvidas nunca chegam a
ser respondidas de forma completa.
Precisamos apresenta-las com firmeza e
decisao a diversas figuras atuais da
Teologia. Por exemplo, certos principios
de interpreta¢o que sao moda no campo
da Teologia do Novo Testamento hOje
parecern claramente merecer este es­
tigma de sabedoria mundana.

Mais ainda, quando prestamos


aten<;ao a estas obje<;oes feltas de forma
tao ingenua - que 0 ultimo fundamento
da fe sera dissolvido pela analise atraves
da alta critica, de forma que sera ne­
cessario definlr dentro da Palavra de
Deus 0 que pode ser crido, 0 que e
hist6ria verdadelra, qual a essencia d o
evangelho (Kerigma) - nao conseguimos
talvez ouvir nestas obje<;oes aquilo que
Martin Kahler dlsse de forma tao convin­
cente, com argumentac;ao multo m elhor
e mais b ern fundamentada, contra 0 que
ele chama de metodo da subtra¢o critlca.
Em seu conhecldo livro Der sogenannte
historische Jesus und der geschicht­
39
Recome~oes aos JOl!ens Te6/ogos e Pastores

Uche biblische Cristus ("0 Jesus


HIst6rico e 0 Cristo Bibl1co da Hist6ria"),
Kahler chamou atenc;ao para dois Hens:

Em prlmetro lugar, a fe s6 faz


sentido como fe incondicional, porque
envolve nosso destino eterno. Nao e
possivel que isto dependa e seja condi­
cionado pelos resultados instaveis da
pesquisa hIst6rIca, ou pela opiniao
cientifica que esteja em moda. Em
segundo lugar, Kahler mostrou -nos que
a pessoa de Jesus CrIsto nao pode ser
separada de seu Impacto, ou seja, da
pregaC;ao movtda pelo Espirito e es­
tabelecida na tgreja. Perde-se 0 prop6stto
fundamental dos relatos dos Evange­
lhos se eles sao encarados nao como
testemunho de fe, mas apenas registros
de Interesse hist6rico e bIogrrulco.

Da mesma forma como todo


metodo de pesqulsa e determinado pela
coisa pesquisada, precisamos levar a
serio 0 fato que 0 "assunto" da Teologla,
Jesus Cristo, s6 pode ser entendldo cor­
retamente se estivermos preparados para
encontra-Io no plano em que Ele atua,
ou seja, na igreja crIsta. 56 0 Fllho
conhece 0 Pat; s6 0 servo conhece 0 seu
40
A Sabedor1a do Mundo como AlLada da Fe

Senhor. Deixando de lade os pontos que


devem ser criticados na obra de Kahler,
ele disse de maneira muito convincente
que a reconstruc;ao hist6rlca isolada da
fe nao pode se constitulr em base para a
fe e, portanto, nao pode de maneira
alguma haver tal coisa como cooperac;ao
da ciencia como suporte ou substituto
para a fe , mas cada esforc;o da Teologia
esta envolto no pr6prio ate da fe.

41
Capitulo VIII

o Instinto dos Filbos de Deus

Em outras palavras, a Teologia


Jamals podera servir de "prova" para a
prega<;ao, mas tern fun<;ao paralela a da
prega<;ao; a Teologia tambem e uma
forma de testemunho, embora com outros
metodos e meios. Asslm, 0 seu carater
cientifico, sua rela<;;ao correta com 0
assunto, sua obJetividade no sentido
pleno da palavra, expressa-se somente
quando ela se considera urn testemunho
que atua atraves da reflexao . E este
carater clentifico nao vern da ambi<;;ao
no sentido de incluir no estudo teol6gico
alguns capitulos cheios de erudi<;;ao
"independente da fe". Pelo menos, e assim
com a Teologia Dogmatica. (Mas, de­
monstrar isto de forma detalhada e tarefa
para as aulas de dogmatica.)

Gostaria de acrescentar que a


43
Recome~6es aos Jooens Te%gos e Pastores

igreja tern a priori todo 0 direito de nos


questionar, mesmo quando ela nao pode
ou nao consegue compreender os de­
talhes de nosso trabaIho; pOis estamos
realizando a obra da Teologia no meio da
igreja, tao certo como somos membros
desta igreja. Portanto, este questio­
namento, mesmo quando denota urn
envolvimento incom pleto com algumas
de nossas ideias teol6g1cas, pode ser
altamente relevante, e e urn fogo pelo
qual precisamos estar constantemente
passando. Na essencia, estas perguntas
sempre tern em mente a vida crista por
tras de nossas reflexoes teol6gicas . Sao,
portanto, questionamentos acerca da
sande de nossa fe. A igreja e 0 nosso
pastor.

Isto lmplica em que estas pergun­


tas devem ser sempre levadas a serio, e
nunca liquidadas com base em questoes
de detalhes. Por exemplo, eu mesmo ja
recebi pilhas de cartas com duvidas
sobre "demitolog1zaC;ao". Em parte, elas
sao caracterizadas par uma tr1ste 19­
noranc1a da verdade1ra natureza do
problema, e, freqiientemente, par uma
demonstrac;ao daquele orgulho que ge­
ralmente aparece (mesmo entre cr1s­
44
taos) junto com a ignorancia. Mas, ape­
sar de tudo isto, elas trazem urn sinal
daquilo que eu gosto de chamar de ins­
tinto espiritual dos filbos de Deus.

Eu sempre tive consciencia de que


este instinto nao e para ser desprezado e
que, d1ante dele, mio posso fugir de
minha responsabilidade. Gostaria que
voces colocassem este instinto junto a
todo 0 conhecimento de natureza teo­
l6g1ca que consegutrem obter neste curso,
e que mantivessem urn diaIogo vivo ­
teol6g1co mesmo - com todos os filhos de
Deus. Oculta<;ao esoter1ca de conheci­
mento com base na perfida argumen­
ta<;ao de que "nao posso esperar que 0
pavo esteja a altura disto" pode ate mesmo
levar aquela ofensa contra os peque­
ninos, sobre a qual Jesus cr10u a for­
midavelimagem da pedra de moinho.

45
Capitulo IX

A Elevada e DUtcH

Arte da Dogmatica

A Teologia. porem. ll<10 e apenas


aquela eoisa assustadora que pareee ser
para a eomunidade dos erentes. mas e
tambem urn obJeto de faseinac;ao. Urn
te6logo bern eonheeido disse eerta vez
que a DogmMiea e uma arte difieil e
elevada. Isto e verdade. primeiramente
por causa de seu proposito. Ela reflete
sobre as liltimas eOisas; ela indaga a
verdade sobre nosso destino temporal e
eterno. E esta pergunta forma urn areo
que une a manha da eriac;ao do mundo
e 0 anoiteeer do mundo do juizo final;
atinge desde 0 mais simples. a orac;ao
pelo pao nosso de eada dia. ao mais
grandioso. a orac;ao pela vinda do Reino.

Mas a DogmMiea e uma parte


difieU e elevada por causa de seu as­
47
Recomenda,.6es aos Jovens Te6logos e Pastores

sunto tambem. Ela pressupoe 0 estudo


cientifico e religioso dos textos bfblicos.
avalia 0 pensamento da igreja por mais
de dois mil anos. entra em diaIogo com a
filosofia e a arte. observa os problemas
modernos. e pesquisa 0 homem. quem e
este ser com quem ela precisa lidar. e em
que abismo ele vive. Nada que e humano
e es tranho a ela. se everdadeira Teologia
DogmMica e nao mera recitac;ao de tex­
tos reformados e ortodoxos. A Dogmatica
viva nunca permite que os seus proble­
mas sejam auto-gerados. como por
nascimento virginal. mas esta sendo
constantemente fecundada. atingindo
seu impulso produtivo grac;as aos proble­
mas de seu tempo. A Dogmatica existe
num estado de tensao viva.

Alem disto, a Dogmatica e uma


disciplina sistematica. ou seja, procura
lidar com a totalidade da revelac;ao. e
classiflcar os detalhcs segundo seu lugar
no todo. It. portanto. por assim dizer.
completamente anti-sectaria. pOis a
caracteristica marcante do sectarismo e
da heresia, e separar urn membra do
corpo de ensino e absolutiza-lo, defor­
mando todo 0 corpo. numa elefantiase
que acaba por destrui-lo.
48
A Elellru::ta e Dificll Arte eta Dogmatlca

Grac;as a este prop6s ito sis­


tematico, a Dogmatica possui algo como
u ma forma arquitet6n1ca. Ela cria urn
edificio de estrutura convtncente, qu e
revela u m a certa 16gica na construc;ao, e
possui urn grande fascinlo estetico,
m esm o para quem tern multo pou ca
a tr ac;ao pelos obJetos da cultura . Para
mim, s 6 uma pessoa muito limita da n ao
seria atingida por uma alegria estetlca
ao contemplar a estrutura da Dogmatica
de S chleiermacher, com s uas linhas de
llgac;ao em extensao e profundidade, com
suas proporc;6es e s1metrias.

Mas , agora que estou d e certa


forma louvando a Dogmatica, falando de
s u a fasctnac;ao estetica e quas e cor­
re ndo 0 risco de me entuslasmar, nova­
men te aparece uma questao qu e e deci­
siva p ara nossa vida espiritual. Pois este
fascin10 mesmo traz -nos novamen te, de
outra direc;ao, 0 problema que eu defin1
anteriormente com os termos "ex­
perien cia de primeira mao" e "experiencia
conceitual" .

Q uando somos vencidos pela


beleza de uma ideia teo16gica - digamos ,
a ideia d e "ju izo salvador" (servu m arbi­
49
Reco mendCI\=Oes aos Jovens Te%gos e Pastores

trium), de Lu tero, ou ensin o d e Kier­


0
kergaard sobre 0 paradoxo e a comu­
nhao indireta - e m u1to facti nos esquecer­
mos de que estamos sendo sedu zidos
pela mera forma da fe que n os chega
atraves da reflexao. A p rontidao com q ue
aceitamos esta reflexao, e deixamos que
eia n os domine , e m esmo entendendo-a
e sendo aben<;oados por eIa, nao signi­
fica que estejamos sendo conduzidos
peia verdadeira fe .

It possivel fic ar enfeiti<;ado pelo


clima do pensamento cristao primitivo,
digamos, pelas compridas somb ras que
o sol poen te do jUizo final d o mundo
projeta sobre a palsagem . Asslm, e
possivel alguem se tornar urn escatolo ­
gista romantico e urn neu r6 Uco apo­
caliptico. Ha casos concretos disto, meus
caros alun os, embora a prudencla me
aconselhe a nao cHar nomes agora.
Apesar de tudo, esta pes soa nao com­
preendeu atnda nem u rn centavo do que
significa viver no campo de batalha de
Deus, en tre a primeira e a segunda
vin da d o Senhor, esperando e Granda
como cristao.

Os alunos mats talentosos , visio­


50
A Elevada e DiflcU Arte da Dogmatica

n arios e entusiasmados das clas ses ele­


mentares d e Dogmatica sao os que facil­
mente absorvem esta m a gica do pensa­
mento que carece de qualquer verdadeiro
p eso de fe. Por isto as discuss 6es dos
alunos de Teologia freqftentemente pare­
cern estranhas para 0 ouvinte mats velho.
Elasassemelh am-se, paraele, alutas de
drag6es de sombras, sem qualquer corpo
s 6lido de vida por tras.

51
Capitulo X

o Perigo d o Belo

Nao estou mutto certo se devo ou


n ao dizer 0 que vou d1zer agora. Pois nao
desejo privar 0 combate esp1rttual de
sua alegrla, e nem gostarla de ver 0
entuslasmo lntelectual e estetico, e a
ben<;ao do arnor tntelectual a Deus serem
trocados pelas lmaglna<;6es cansadas de
urn velho (que, espero, voces nao pensem
que eu sou!). Permtta-me expor agora a
hlpertrofia do esteta teo16gico (quem
negaria que este tipo encontra-se fac11­
mente em muttas catedras de Teologla?)
como uma doen<;a multo real, embora
possa as vezes ser tambern uma feb re
benigna .

Minha tese e a segutnte: cada ideIa:-­


teo16g1ca que impressionar voces , deve
ser considerada como desafio a fe . Nao
acelte sem pensar que voce realmente
53
ReCQme~Oes aos Jouens Te6/ogos e Pastores

cre em tudo qu e 0 impresslona teologl­


camente, em tudo que 0 satisfaz Intelec­
tualmente. Serno, subltamente voce nao
estani mats crendo em Jesus Cristo,
mas em Lu tero, ou em urn de seus
professores d e Teologla.

Urna das expertenclas mats dificels


para 0 professor de Teologla combater
vern do fato de que, pelas raz6es que ja
m encloneI, a Teoiogia boa e respettavel ­
nao apenas a Teoiogia dissoluta e fervi­
lhante de heresias - pcxle ser uma ameac;a
a nossa vida pessoal de fe . A fe precisa
ser mats do que urn mero objeto enlata­
do nos livros ou engarrafado nos cader­
nos, de onde pode, no momenta certo,
ser transferido para nosso cerebro.

Ness e interim, uma nova forma de


pensamento nos invade. Nao dlzemos
m ats, como 0 homem de orac;ao:"Senhor
Jesus Cr Isto, Tu prometeste", nos
comec;amos a dlzer: "0 Keryg ma nos
deixa perceber que ... ". Enquanto esta
diferenc;a e apenas p arte da tecnica de
nosso artesanato teol6g1co, nao ha
problema . A tecnica preclsa de seus
c6dIgos essenclats, e do vocabul,lrl0
academico convenclonal. Em nosso tra­
54
o Pertgo do Belo
balho, por assim dizer, nao podemos
estar constantemente usando a lin­
guagem da liturgia. Mas para quantos
esta diferen<;a tornou-se multo mais,
urn sintoma das condi<;6es de sua fe (ou
melhor, de sua falta de fe), do estado
dtluido de sua fe?

55
CapftuloXI

Estudando Teologia em Ora~ao

o estudante de Teologia e, espe­


cialmente, 0 es tu dante de Dogmatica,
precisa vigiar-se constantemente contra
o perIgo de pensar na terceIra, ao 1nves
da segunda pessoa. Voces sabem 0 que
eu quero dizer com isto. Esta transic;ao
de urn para outro m vel de pensamento,
do relaclonamento pessoal com Deus
para uma mera referencla tecnica, ocorre
geralmente em exata sincronia com 0
momenta em que eu deixo de ler a palavra
das Escrituras como palavra dirigida a
mlm, para ser apenas obJeto de meu
labor exegetico. Este e 0 primeiro passo
para a plor e m als dissemlnada doenc;a
pastoral. Pols 0 p astor raramente con­
segue expor u rn texto como se fosse uma
carta enderec;ada a ele pr6prio, e s6 Ie a
Bibl1a sob a pressao de como encaixar 0
texto em urn serm ao .
57
Reco mend~6es aos Jo vens Te61ogos e Pastores

Eu ja ful pastor, e falo com ex­


perlencla pr6prla. Lembre -se que
Anselmo come<;ou sua demonstra<;a o da
existencla de Deus no Pr61ogo com uma
ora<;ao, e que a sua DogmaUca e, por­
tanto, Dogmauca fetta em espirtto d e
ora<;ao. Estariamos compreendendo este
fato extraordincirto de manetra completa­
mente errada se 0 conslderassemos
apenas como uma introdu<;flO edlf1cante
que demonstra urn Upo especIal de
pledade. Anselmo busca expressar algo
de forte relevancla teol6g1ca: 0 pensa­
mento teol6g1co s6 pode resPtrar numa
atmosfera de dlalogo com Deus.

Essenclalmente, 0 metoda d a
Teologla leva em conta 0 fa to que Deus
falou, e agora 0 qu e ele falou precls a ser
entend ldo e res pondldo. Mas a fala de
Deus somente sera entendlda quando
eu:
(1) reconhecer que 0 que fol dUo
dlrige -se a mim, e
(2) envolver-me na formula<;a o de
uma resposta.

S6 dentro deste dlalogo 0 metodo


teo16gico torna-se compreensivel (GaJa­
tas 4.9). Tenha em mente que a primeira
58
Es tudando Teologla em Ora~do

'ez que alguem falou de Deus na terceira


pessoa (falou sobre Deus, e nao mats
com Deus), foinoexatomomentoemque
soou a famosa pergunta: .oF: assim que
Deus disse ... ?,,(Genesis 3.1). Este fato
deveria fazer-nos pensar.

Contrastando com isto, Jesus


crucificado, dentro da mats profunda
escuridao de abandono por Deus, nao
fal a aos homens, nao reclamasobre este
Deus que 0 abandonou . Ele fala com
Deus, e ate nesta hora - na segunda
pessoa. Ele 0 chama de meu Deus, e ate
expressa sua queixa numa Palavra de
Deus, como se fechasse 0 circulo entre
ele e seu Pat. Esta observac;ao tambem
deveria fazer -nos pensar.

Na hist6ria recente da Teologia, 0


mesmo fato - mudanc;a da segunda para
a terceira pessoa - e visto naquele
fen6meno chamado "Escola da Hist6ria
das Religi6es" (Religionsgeschichte).
Embora seja muito dificil ver isto tratado
assim nos livros, 0 acha tamento e rela­
tivizac;ao do evangelho e consequencia
de urn fa to espiritual muito su til e no
principio quase imperceptivel: uma troca
de papeis, de alguem recebendo pes­
59
Recomenda<;oes aos J ovens Te61ogos e Pastores

soalmente a m ensagem divina, para urn


observador neu tro; uma mudanc;a de
segunda para terceira pessoa.

Aquieu vejo tambem umprlncipl0


para 0 metodo do estudo da hlst6rla da
Teologia - os m eus alunos sabem dlsto ­
que nao apenas 0 desenvolvimento das
formas de reflexao teo16gica (por exem­
plo , 0 confronto com a idealismo, com a
mos ofia extstencla1ista e tc.) deve ser
mostrado com o hist6ria espiritual
legitlma, mas toda reflexao teol6g1ca deve
ser vista como crlstalizac;ao de dilemas
espirituais. Posso arriscar a seguinte
d efinic;ao: a hist6ria da Teologia e a
hist6ria dos cristaos e de suas deci­
s6es tomadas s ob a fe, apresentada na
forma das reflex6es provocadas por
estas decis6es.

60
Capitulo XII

Teologia Sagrada e

Teologia Diab6lica

Mas sendo asstm, au seja, se a


vida e a morte do pensamento teo16g1co
dependem dec1sivamente da atmos fera
de relac10namento de "segunda pessoa"
e do fato que a Teologla Dogmatica e
essenc1almente teologia-em-orac;ao (pa­
lavras de Wilhelm Stahlin), entao, ma1s
uma vez, 1sso naturalmente faz urn
desafio a nossa vida como cr1staos.
Qualquer pessoa que deixe de ser esp1­
ritual, automaticamente estara desen­
volvendo uma Teolog1a fa lsa, mesmo se
seu pensamento for puro, or todoxo e
afinado com sua trad1c;ao confessional.
Neste caso, "ha morte na panela".

A Teologta pock ser uma frta cam1sa


de ferro que nos esmaga . e nos congela
ate a morte. Pode ser tambem - para isto
61
Recomend~6es aos Jo vens Te6/ogos e Paslores

elaexiste - acon sCienciadacongrega<;ao


crista, sua bussola, e 0 canto de louvor
das ideia s. Qual das duas possibilidades
se concretizara, depende do grau em que
ha cristaos que ouvem e oram p or tras
do labor teol6gico. Como cristao, como
urn cristao que ouve e ora, cada urn de
voces precisa lutar para nao ser es ­
magado pela Teologla e tornar -se, ao
inves de urn soldado de Cristo, mera­
mente mats urn corpo no campo de
b a talha.

Assim , Teologla sagrada nao e urn


termo que possamos usar sem cuidado.
A Teologia e uma atividade sumamente
hum ana , e urn artesanato e, as vezes ,
uma arte. Em Ultima aruilise, ela e sempre
amb ivalente. Pode ser Teologia sagrada
ou Teologla diab6lica. Depende das maos
e cora<;6es envolvidos . E nao e neces ­
sariamente 0 criterio de ortodoxia ver­
sus heresia que define com qual d a s
duas estamos lidando. Nao creio que
Deus viva neuroticamente procuran do
erros n a s ideias teol6gicas . Aquele que
con cede perdao a vida do pecador, e
tambem certamente urn j uiz generos o
das reflex6es teo16gicas . Mesmo urn
te610go ortodoxo pode estar espiritu ­
62
Teologla Sagrada e Te% gla Dlab611ca

almente morto, enquanto talvez 0 herege


esgueira-se por atalhos prolbldos e en­
contra as fontes da vida.

Como e supremamente importante


que uma vida esplritual vigorosa, unida
a Sagrada Escritura e no mel0 da comu­
nldade crlsta, seJa a esplnha dorsal de
todo trabalho teol6glco, e que as ldelas
informes ganhem vida e substancla desta
fonte! Tudo lsto torna-se muito claro
para mim observando a forma como 0
estudo hlst6rico-criUco da Biblia afeta a
muitos te610gos mats Jovens. Por que,
apesar de tao tndispensavel, este estudo
provoca ferimentos tao serlos, ou ate
mortais?

Por ou tro lado, se tomarmos


qualqu er pessoa s imples, mas espiritual,
como por exemplo algum colega de mais
idade e tradl<;ao pietista, e explicarm os a
ele as quest6es da alta-critica, m os­
trando como a unidade do testemunho
biblico nao e destruida por ela, mas ao
contrario, a sinfonia de testemunhos e a
plenitude da mensagem sao ate enri­
quecidos, nao creio que ele ficaria
chocado. Talvez ate se sentisse enri­
quecido.
63
Capitulo XIII

o Labor Teo16gico
nas Grandes Alturas

Parece-me que ha uma explicaC;ao


simples para 0 fato que 0 efeito provo­
cado por este conhecimento varia tao
drasticamente em funC;ao da idade do
aluno. Antes que 0 jovem calouro tenha
realmente conhecido 0 que e mais im ­
portante, a hist6rta da salvaC;ao na Bfblia,
por exemplo. a hist6ria da CriaC;ao e da
Queda. antes que possa conhecer os
picos alpinos dos pensamentos de Deus
em toda a sua majestade. ele se fam ilia­
riza com as tecnicas de analise m inera­
16gica da pedra. Mas quem estuda Geo­
logia em mapas e grMlcos. e memoriza
dados de tabelas mineral6gicas. s em
nunca ter escalado uma montanha. esta
multo mal equipado para saber como os
Alpes realmente s ao.

65
Reco me~6es aos Jovens Teologos e Pas /o res

Confesso que para mim, uma das


perplexidades Insohivels do ensino teo­
16g1co e que mio parece haver uma
maneira pratica de fazer com que estas
experlenclas venham na ordem certa e
saudavel. Mas isto s6 torna mais impor­
tante insistir sempre , e quase sendo
mon6tono, que qua lquer pessoa que se
dedica a estudar Teologia e espiritu ­
alm ente doente, a nao ser que esteja
lendo a Bibl1a com freqiH~ncla acima do
normal, e aproveUando ao m<ix1mo as
oportunidades, na prega<;ao e no ensino
da Biblia, em que as coisas realmente
importantes podem se manisfestar.

Tenha a bondade de encarar tudo


isto que acabei de dizer como uma exor­
ta<;ao preliminar. Se, no decorrer deste
livro, eu nao estivesse seguro de ter dUo
estas coisa s, teria de me culpar por
falta r com meu dever, e n ao poderia fugir
da terrivel sensac;a o de qu e, ap esar de
todas as minhas ideias teol6gicas serem
provavelmente b oa s (nem isto e tao facll
ass im!), eu poderia estar desviando-os
d a fe. A unica forma de fazer urn b orn
curso de Teologia (ou seja, urn curso
relevantel, e levar consigo a toda analis e
de ideias este corretlvo de ver e ouvir
66
o Labor Te%gleo nas Grandes Alturas
todas as colsas com simpl1cldade.

Aqul trabalhamos como no labo­


rat6rl0 de mlneralogla. Mas, em rela<;ao
ao verdadeiro conhecimento, estara tudo
errado, a nao ser que voces mesmos
tenham a experlencla de subir as mon­
tanhas para conhecer como e 0 ar la em
clma. Todos conhecemos personagens
saidos de laborat6rios de Teologia, e
frios arquttetos da fe, cujo pr6prio halito
e mortal. Todos corremos 0 risco de apo­
drecermos no laborat6rio, ao inves de
chegar as grandes alturas, onde pode­
mos achar vida. Resumindo, esta bern
de acardo com a essencla da Teologla,
ou, como costumam dizer hOje em dla, e
teologicamente "legitimo" que a classe
de Dogmattca seja composta par uma
congrega<;ao de alunos cristaos.

Eu set, caros alunos, que esta e


uma estranha maneira de come<;ar urn
curso de Teologla. Mas eu precisava
colocar este pequeno exercicio espiritual
bern no principI0, porque rninha familia­
ridade com urn grande numero de tur­
mas faz-me lembrar constantemente das
necessldades que pode existir por tnis
do estudo teol6glco, e porque eu de­
67
Recomend~iies aos Jovens Te6/ogos e Pastores

sejavajustlficar a mim mesmo e ao meu


trabalho diante da igreJa de Cristo. Foi
exatamente este ana e meio em que eu ·
tive apenas encargos admlnistrativos,
sem poder lecionar, que colocou-me na
perspectiva em que esta situac;ao apare­
ceu de forma especialmente niUda.

A ligac;ao que existe entre 0 te610go


e 0 homem espirttual velo a m im com
forc;a ren ovada. Espero qu e voces tambem
percebam isto, mesmo quando estiver­
mos p ercorrendo os vastos espac;os do
pensamento abstrato, e mesmo se esta
exortac;ao a "higiene" espiritual a que me
permit! na primeira aula nao venha a se
repetir exatamente nesta forma. Se qwse­
rem, guardem na memoria estas obser­
vac;6es prel1mtnares, detxem que elas
sejam 0 lema que dara sentido a todo 0
trabalho que voces fizerem em Teologia
Dogmatica.

1 N.T.Na Europa, vta de regra, 0 curso de Teologla faz


parte da universldade . No Brasil, 0 tenno poderla ser
subtendldo por semlnarlos, ja que se trata do local
onde a Teologla e ens1nada.
2 c 3 Trata-se
de express6es do domfnlo luterano para
referlr-se ao ato de conftnnac;ao do batlsmo, medi­
ante a profissao de fe pessoal.

68
o Labor Teologleo nas Grandes Alturas
4 N.T.Novamente aqul ha uma refen~ncla ao fato de
que, n a Europa, os cursos de Teologta estao Junto a
u ma Unlversldade.

69
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Da teologia canned* para uma teologia brasileira -


Apontamentos a partir de Júlio Zabatiero
Alonso Gonçalves1

Resumo: A partir de suas marcações na história, o protestantismo demonstra a vanguarda


em uma série de temas como liberdade religiosa, fundamentos da política contemporânea e
educação como ferramenta de desenvolvimento humano. Ocorre que ao longo do tempo - e
para essas constatações há diversos teóricos que abordam o assunto em diferentes facetas -, o
protestantismo se deixou embalar pelas ondas da ortodoxia e, com suas Declarações Doutri-
nárias, fixou-se, encruou-se, enrijeceu-se em seus dogmas e perdeu o “princípio protestante”
que o alimentou e o gerou quando incipiente. No Brasil, o protestantismo de missão é derivado
do protestantismo anglo-saxão tendo sua matriz nos Estados Unidos. A “teologia brasileira”
se deu dentro das prerrogativas teológicas norte-americanas. Tendo essa constatação como
ponto de partida, este artigo colhe as análises e os apontamentos do teólogo Júlio Zabatiero,
procurando, a partir de seus principais temas, pontes para uma reflexão teológica que contem-
ple a realidade brasileira.

Palavras-chave: Protestantismo de Missão - Teologia Protestante -Fundamentalismo -


Brasilidade.

Abstract: In the History, Protestantism shows vanguard in different themes: religious li-
berty, foundations of contemporary political, and education as human development’s tool. But,
through the time – and for those observations are many theorists who approach the subject
in different aspects –, Protestantism let itself be influenced by orthodoxy and, with the Doctri-
nal Statements, stood up at its own dogmas, quitting progress and stiffening itself, losing the
“Protestant Principle” what fed and create it when novice. In Brazil, Protestantism of Mission
is derivative from Anglo-Saxon Protestantism that has its matrix in U.S. The “Brazilian Theolo-
gy” was occurred within North-American theological prerogatives. So, having this observation

* Enlatada, em inglês.
1 Bacharel em Teologia (FAETESP); Licenciado em Filosofia (ICSH); Mestrando em Ciências da Religião (UMESP); Pastor Ba-
tista - Igreja Batista Central em Pariquera-Açu/SP - Vale do Ribeira. Autor do livro: Cristologia Protestante na América Latina:
uma nova perspectiva para a reflexão e o diálogo sobre Jesus. São Paulo: Arte Editorial, 2011; Membro do Instituto Kaine Vox
– Grupo de Pesquisa em Religião e Teologia. E-mail: [email protected]

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in a starting point, this article collects he analyses and notes of the theologian Júlio Zabatiero,
looking, from his main themes, some connection for a theological reflection that including
Brazilian reality.

Key Words: Protestantism of Mission - Protestant Theology - Fundamentalism - Brazilian-


ness.

Introdução
Na história do Cristianismo, o protestantismo tem seu lugar ao sol. Seu surgimento - le-
vando em consideração toda a ambiguidade de qualquer movimento social e contexto reli-
gioso - teve elementos que contribuíram para o desenvolvimento de setores fundamentais da
sociedade ocidental. Em seus primórdios, o protestantismo foi comprometido com a política
do seu tempo, o que ocasionou, assim, a recusa por qualquer sistema de governo absolutista.
Em países predominantemente protestantes, com algumas exceções, na ciência e na busca por
novas descobertas de conhecimento existia a oportunidade de pesquisas e estudos.2 O protes-
tantismo é fruto da modernidade e seus valores são racionalismo e a epistemologia. No cam-
po filosófico, o tema da liberdade sempre esteve na pauta do protestantismo. Liberdade para
tolerar o outro e suas opções (John Locke); liberdade de consciência e expressão e o conceito
de individualidade foram temas frequentes entre os reformadores. A temática da liberdade na
Reforma foi vista por Georg Hegel como um momento decisivo na história, quando o espírito
servil dá lugar a um espírito livre.3

O que se tornou o protestantismo em terras brasileiras? O protestantismo por aqui sofreu


sérias mutações, passando por um processo de desvirtuamento. A capacidade de diálogo, tão
singular nos primórdios do protestantismo, inclusive sinalizado com o diálogo ecumênico, so-
freu baixas ao longo de sua trajetória, principalmente o segmento surgido nos Estados Unidos.

Uma vez que o protestantismo no Brasil e no continente latino-americano tem sua matriz
estadunidense, o protestantismo de missão não soube lidar com a brasilidade – sua formação
cultural e religiosa. Com um discurso exclusivista, teve como resultado o isolamento cultural
– tornou a igreja num gueto de “salvos e santificados” esperando apenas o céu; o não envolvi-
mento com o tido “mundanismo” é evidência de salvação, daí a completa falta de inserção na
cultura do país; o discurso hermético – extremamente confessional; a apologética como chave
hermenêutica para entender os “sinais dos tempos”. Desse modo, o protestantismo se alimen-

2 Surgindo também a cosmovisão utilitarista do mundo e seus recursos naturais, contribuindo para uma visão dessacraliza-
da do mundo.

3 Cf. ALVES, Rubem. Liberdade e ortodoxia: opostos irreconciliáveis? In. VVAA. Tendências da teologia no Brasil. São Paulo:
ASTE, 1977, p. 8.

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ta de disputas com o catolicismo e propaga um ufanismo, sempre atacando os diferentes, ab-


sorvendo a cultura anglo-saxônica e preterindo a brasileira.

O resultado disso é um conjunto de crenças, modismos, ideologias, idiossincrasias que, na


sua maioria, não contempla o espírito protestante (Paul Tillich).

Os pressupostos da pós-modernidade têm solicitado uma abertura de diálogo. Quando se


pensa em pós-modernidade e suas bases – pluralismo e secularismo –, há dois tipos de dis-
curso sendo viabilizado: um de teor apologético e outro de convergência. O primeiro trata de
importar elementos discutíveis na Europa e nos EUA (ateísmo e evolucionismo) como sendo
problema também no Brasil e América Latina, não levando em consideração o fato de que o
continente respira religião. O segmento que procura ler a pós-modernidade e convergir a par-
tir de temáticas relevantes para o contexto são tidos como heréticos e progressistas.

Faz-se necessário uma leitura pós-moderna da realidade. Assim como o teólogo suíço Karl
Barth lia a conjuntura do seu tempo, quando assumiu o pastorado em Safenwill, numa mão a
Bíblia e noutra o jornal,4 se faz necessário buscar parâmetros e ferramentas hermenêuticas
que possam contribuir para uma reflexão teológica que contemple o contexto atual com seus
desafios e suas perspectivas.

É tomando como ponto de partida a necessidade de diálogo coerente e de bom senso com
a cultura pós-moderna, e, entendendo, que o protestantismo de missão não tem, em sua maio-
ria, tido essa preocupação, a não ser defender seus postulados, é que tomo como interlocutor
o teólogo protestante Júlio Zabatiero e sua reflexão teológica contemporânea que atende, de
certa maneira, aos anseios e os questionamentos do atual momento da igreja e da sociedade
apontando ferramentas coerentes com este tempo.

A teologia canned no protestantismo brasileiro


O protestantismo de missão no Brasil produziu uma reflexão teológica em que aliou a
conquista da cultura local e a ausência cultural anglo-saxônica. O discurso civilizador estava
presente na pregação dos missionários que além de passar o Evangelho propagou também à
ideia de que a cultura anglo-saxônica era a melhor forma de viver e expressar o Evangelho de
Cristo em terras tupiniquins.5 Por uma questão óbvia, quando se é “evangelizado” a partir de
pressupostos etnocêntricos, se produziu no País temas teológicos importados e traduziram-se
textos que refletiam questões que, na sua maioria, não era oportuno por aqui. Os púlpitos ex-

4 Cf. MONDIN, Battista. Os grandes teólogos do século vinte: os teólogos protestantes e ortodoxos. Trad. José Fernandes. São
Paulo: Paulinas, 1980, vol. 2, pp. 16-17.

5 Cf. WIRTH, Lauri Emílio. Protestantismo latino-americano entre o imaginário eurocêntrico e as culturas locais. In. FERREIRA,
João Cesário Leonel (Org.). Novas perspectivas sobre o protestantismo brasileiro. São Paulo: Fonte Editorial/Paulinas, 2009, p.
42.

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ternaram uma teologia branda, sem cor, sem tempero. Importaram-se uma hinologia que não
atentou para as raízes mestiças do País, ignorando a capacidade de miscigenação que o povo
brasileiro tem em seus diferentes aspectos.6

O processo de “evangelização” teve uma conotação imperialista7 que deixou a sua con-
tribuição além de produzir uma visão míope da realidade e da cultura brasileira. Mas essa
constatação não é de hoje. José Manoel da Conceição, convertido ao presbiterianismo, desde o
início procurou agregar fé, cultura e raízes brasileiras ao protestantismo na tentativa de ade-
quar os princípios protestantes à mentalidade do povo brasileiro.8 Infelizmente, essa foi uma
atitude unívoca no protestantismo brasileiro.

No Brasil se pensa teologia a partir de referências externas e importadas.9 A formação teo-


lógica nos principais seminários e faculdades do protestantismo de missão respirou por muito
tempo - e ainda respira - uma reflexão puritana que tem como compromisso absorver métodos
hermenêuticos, teologias, liturgias e agenda pastoral do Norte.10 Essa teologia exógena produ-
zida por aqui deixou suas marcas que até hoje sentimos a sua força desde a produção teológica
até a liturgia. Com essa análise, não pretendo ser considerado xenofóbico por constatar que
ao invés de se produzir uma teologia que levasse em consideração as características do povo
brasileiro e seus dilemas, fomentou uma teologia canned que não respondia aos anseios da
brasilidade e nem mesmo considerava relevante às questões ora levantadas. Fiquemos com
um exemplo: Teologia da Prosperidade e Missão Integral.

Começo pela chamada “Teologia da Prosperidade”.

Esta surge nos EUA e seu principal expoente é Kenneth Hagin11 dentre outros. Como toda
teologia é fruto de uma cultura, a Teologia da Prosperidade não poderia ser diferente. Os EUA
foram a principal potência responsável pela estabilização econômica do mundo sendo promo-
tores do neoliberalismo econômico depois da Segunda Guerra Mundial. É dentro deste quadro
que a Teologia da Prosperidade surge.

No Brasil, a “febre” pegou por volta dos anos 1970. Com a “igreja brasileira” sofrendo pro-
fundas mudanças, os líderes neopentecostais importaram o produto; assimilaram a socieda-

6 Cf. ALENCAR, Gedeon. Protestantismo tupiniquim: hipóteses sobre a (não) contribuição evangélica à cultura brasileira. São
Paulo: Arte Editorial, 2007, p. 79.

7 Não cabe aqui o julgamento, apenas constatações, até porque os missionários refletiram a sua cultura e sua cosmovisão
daquela época.

8 Cf. VVAA. Protestantismo e imperialismo na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1968, p. 85.

9 Em Cristologia Protestante na América Latina: uma nova perspectiva para a reflexão e o diálogo sobre Jesus. São Paulo:
Arte Editorial, 2011, há uma análise do uso da Teologia Sistemática como legitimadora de dogmas e doutrinas.

10 Cf. SILVA, Geoval Jacinto da. Educação teológica e pietismo: a influência na formação pastoral no Brasil, 1930-1980. São
Bernardo do Campo: UMESP/EDITEO, 2010, p. 147.

11 Cf. ROMEIRO, Paulo. Supercrentes: o evangelho segundo Kenneth Hagin, Valnice Milhomens e os profetas da prosperidade.
6ª ed. São Paulo: Mundo Cristão, 1993, p. 10.

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de de consumo; adequaram a mensagem ao mercado empresarial e formularam um discurso


triunfalista repleto de prescrições aos fiéis que desejam progresso financeiro.

Quanto a Missão Integral, ela teve seu início embrionário no Congresso Mundial de Evange-
lização em Lausanne, em 1974, dando origem ao Pacto de Lausanne, cujo relator foi John Stott,
eminente teólogo inglês já falecido. O Pacto de Lausanne foi o combustível necessário para o
que se tornaria a Missão Integral no continente latino-americano. Teólogos como Orlando Cos-
tas, Samuel Escobar e René Padilla formularam uma teologia holística para as necessidades do
continente.

A Missão Integral fez uma pergunta crucial que teve como consequência uma renovação na
reflexão teológica latino-americana e um afastamento da teologia norte-americana.12 A per-
gunta foi: o que fazer diante do avanço do capitalismo neoliberal desumano? René Padilla, já
em Lausanne mesmo, fez duras críticas ao imperialismo norte-americano, propondo, entre
outras coisas, a rejeição de um cristianismo que carregasse consigo o famoso slogan: american
way of life.

A Missão Integral olhou para o Reino de Deus e seus valores e procurou implantá-los na
realidade latino-americana com uma mensagem que fosse “o evangelho todo, para o homem
todo”; uma evangelização que tenha na sua agenda não apenas o assistencialismo social, mas
uma postura profética e comprometida com este tempo e que forçasse transformações.

Por uma razão muito simples a Teologia da Prosperidade teve a sua fama, contando com a
mídia como principal elemento disseminador.

Outro exemplo de teologia canned é a crescente preocupação com a apologética.

Sabe-se que na história do Cristianismo sempre houve movimentos que reivindicassem a


“defesa” ou a “proteção” do bom nome de Deus. Todas as vezes que houve um confronto com a
sociedade e suas formas de conhecimento que a Igreja não tinha competência, ocorreu o cho-
que. Foi o caso de Galileu Galilei que sofreu as investidas da Santa Inquisição por conta de sua
curiosidade sobre o Universo.

No caso do protestantismo a questão da veracidade é uma preocupação premente. É uma


fé em busca de conhecimentos absolutos, irrefutáveis. A verdade é uma obsessão, sem ela não
há fundamentação “protestante”. É tanto que o critério de participação na comunidade é a con-
fissão da reta doutrina,13 o contrário disso provoca ruptura entre o indivíduo e a comunidade
de fé. Essa ruptura é cruel tanto quanto a Santa Inquisição, só que não há fogo literalmente,
embora alguns quisessem esse item na disciplina também.

12 Cf. GONDIM, Ricardo. Missão Integral: em busca de uma identidade evangélica. São Paulo: Fonte Editorial, 2010, p. 61.

13 Cf. ALVES, Rubem. Religião e repressão. São Paulo: Teológica/Loyola, 2005, p. 105-106.

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O fato é que o conceito de verdade persegue tanto algumas mentes lá do Norte e julgam
que suas compreensões e inquietações também são de outros aqui do Sul. Obstante a isso,
esse tipo de raciocínio encontra adeptos no Brasil que passa a transferir toda essa temática
ao leitor brasileiro. É o que tem acontecido no mercado editorial protestante evangélico que
tem esmerado em reproduzir a temática da apologética com a proposta de defender a fé cristã
racionalmente visando, quase exclusivamente, o público acadêmico.

Em tempos de secularismo e pluralismo religioso, existem alguns caminhos a serem per-


corridos pelas diferentes alas da igreja de segmento protestante. A ala notadamente conserva-
dora (para não dizer fundamentalista) está promovendo através de livros, sites, blogs, encon-
tros e congressos onde se rechaça esse fenômeno com posturas fundamentalistas tendo como
discurso fundamental a “proteção da igreja”.

A preocupação teológica é sempre importada e não reflete prontamente o que se está dis-
cutindo aqui. Nesse caso da apologética, percebemos que no Brasil nunca houve - por enquan-
to - uma discussão ferrenha sobre Evolucionismo e Criacionismo. O Brasil respira religião e,
embora exista, não temos um surto de ateísmo no País, pelo contrário, o que há é uma eferves-
cência religiosa sem conteúdo, nutrindo um relacionamento com Deus com base no “toma lá,
dá cá”.

Neste sentido, surge a seguinte pergunta: no atual cenário de secularização e pluralidade


em todos os sentidos, a postura de enfrentamento e reclusão é a melhor solução para se pen-
sar e dialogar com a sociedade?

Esses são alguns exemplos de teologia canned que respiramos em terras de “brava gente”.

Por uma teologia autóctone


O anseio por uma teologia autóctone é nutrido por grande parte de teólogos brasileiros e
latino-americanos que olham para a realidade brasileira e da América Latina e espera que o
protestantismo de missão tenha voz e condições de oferecer algo que não seja meramente a
formulação de dogmas e doutrinação. Esta é, por exemplo, a aspiração de Júlio Zabatiero que
desabafa:

Frustração, pois após quase trinta anos de trabalho teológico e


missional de várias pessoas em diversos rincões das igrejas evan-
gélicas no Brasil [...] nós ainda temos de nos perguntar “até quan-
do” a agenda de igrejas, movimentos e instituições norte atlânticas
irão determinar a nossa agenda pastoral, missional e teológica.14

14 ZABATIERO, Júlio. Para uma teologia pública. São Paulo: Fonte Editorial, 2011, p. 13.

Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano IX, n. 43 64


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Júlio Zabatiero não é o único incomodado com uma teologia canned que trabalha em cima
de preocupações externas. Jorge Pinheiro sente a necessidade de se formular uma teologia
protestante brasileira que leve em consideração a brasilidade como chave hermenêutica.15
Para o teólogo batista, muitos se tornaram protestantes sem entender muito bem o motivo.
Como a produção teológica foi excessivamente importada do Norte, o protestantismo brasilei-
ro se tornou um estranho no próprio ninho.16 Essa dificuldade é evidente na relação que o pro-
testantismo brasileiro de missão tem com a cultura brasileira. Viu no catolicismo um oponente
e se distanciou da cultura tachando-a como pagã e, em certo ponto, demoníaca.17

O teólogo presbiteriano radicado no Brasil, Richard Shaull,18 pagou um alto preço dentro
das estruturas políticas da sua denominação por desenvolver uma teologia que fosse aberta
para a realidade brasileira, principalmente em relação à política. O mesmo aconteceu com Ru-
bem Alves que teve no mestre Richard Shaull o provocador de novos caminhos, ou a troca de-
les, levando a olhar não mais o céus como fim último, mas o mundo e as pessoas.19 As reações
foram devastadoras tanto para Richard Shaull quanto para Rubem Alves. Ambos passaram
pelo processo da “Santa Inquisição” e foram banidos da reflexão teológica denominacional.
Destarte, com todos os embaraços, ambos deixaram um legado extraordinário que superou
e muito as estruturas confessionais. Contribuíram para uma reflexão teológica com um rosto
mais brasileiro.

Dentro desse desejo de fomentar uma teologia nacional, ou que formule algo mais concreto
com a realidade brasileira, instituições deram a sua contribuição. Entre essas instituições se
destaca a ASTE – Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos. Com o propósito de pro-
duzir teologia contextualiza no Brasil, a ASTE publicou – e ainda publica, não mais com a mes-
ma intensidade quando no seu início – obras que atendem as necessidades contemporâneas.
Congressos, debates e simpósios foram financiados pela ASTE com a finalidade de promover
uma teologia abrasileirada. Há outras instituições que demonstraram empenho para produzir
teologia no Brasil. É o caso da Fraternidade Teológica Latino-Americana – Setor Brasil. Um
Boletim Teológico foi produzido na América Latina com teólogos latino-americanos e o Brasil
contribuiu com autores que popularizaram um pensamento teológico contextualizado.

Apesar dessas iniciativas, a igreja, de um modo geral, não acompanhou essas reflexões
produzidas na academia e nos boletins teológicos. A crítica de Júlio Zabatiero ainda ressoa:

15 Cf. PINHEIRO, Jorge. Deus é brasileiro: as brasilidades e o Reino de Deus. São Paulo: Fonte Editorial, 2008, p. 11.

16 Cf. ibid., p. 12.

17 Cf. VELASQUES FILHO, Prócoro. Deus como emoção: origens históricas e teológicas do protestantismo evangelical. In. MEN-
DONÇA, Antonio Gouvêa; VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p.
100.

18 Um trabalho que aborda a saga de Richard Shaull e suas vicissitudes teológicas no País: FARIA, Eduardo Galasso. Fé e compro-
misso: Richard Shaull e a teologia no Brasil. São Paulo: ASTE, 2002.

19 Cf. REBLIN, Iuri Andréas. Outros cheiros, outros sabores: o pensamento teológico de Rubem Alves. São Leopoldo: Oikos,
2009, p. 28.

Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano IX, n. 43 65


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a teologia que se formula é distanciada da comunidade de fé.20 É justamente na comunidade


eclesial que a teologia com tempero brasileiro deveria ter o seu espaço. Na ausência desta,
reina àquela produzida ainda em lugares onde fé é faith. A observação de Jaci Maraschin conti-
nua válida: teologia se produz na comunidade de fé. Na experiência do amor pelo outro é que
o Theós se transforma em logos.21

Teologia e brasilidade: a contribuição de Júlio Zabatiero


Júlio Paulo Tavares Zabatiero é doutor em Teologia pela Escola Superior de Teologia, EST/
IEPG, em São Leopoldo/RS. Sua formação eclesial se deu nas igrejas Batista e Presbiteriana.
Hoje coordena e leciona em cursos de graduação e pós-graduação na Faculdade Unida, Vitó-
ria/ES.

A bibliografia de Júlio Zabatiero é extensa e seus trabalhos têm sido na área de Antigo
Testamento (objeto de pesquisa no mestrado e doutorado em Teologia) e, neste tempo, vem
pesquisando temas como hermenêutica (precisamente a semiótica) e a relação entre teologia
e espaço público.

Aqui interessa a contribuição perspicaz e pontual que Júlio Zabatiero faz do protestantis-
mo de missão e as demandas da contemporaneidade. Ele trabalha questões que a sociedade,
a ciência e a teologia acadêmica levantam procurando refletir essas questões com um espírito
de leveza a partir da comunidade de fé, na realidade eclesial. Uma vez que seu pensamento
não é sistemático, sua contribuição se dá em textos e artigos produzidos em diferentes edito-
ras, tanto católicas quanto protestantes, fazendo uma leitura do atual momento e formulando
compreensões hermenêuticas que atendam ou dialoguem com os principais temas discutidos
hoje. Destaquemos dois.

Teologia do e para o povo

Júlio Zabatiero advoga o retorno da teologia na comunidade de fé. Para que se tenha uma
teologia com as características de nossa terra e nossa gente, é preciso resgatar a noção teoló-
gica da e na igreja.

Durante boa parte da história da Igreja institucionalizada, a teo-


logia foi distanciada do dia a dia das comunidades eclesiais, dos
movimentos sociais, da vida, enfim tornou-se prisioneira do dog-

20 Cf. ZABATIERO, Júlio. Para um método teológico. São Paulo: Fonte Editorial, 2011, p. 15.

21 Cf. MARASCHIN, Jaci. Um caminho para a teologia no Brasil. In. VVAA. Tendências da teologia no Brasil. São Paulo: ASTE,
1977, p. 143.

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ma e virou “doutrina”, deixou de ser teologia. No início do mundo


moderno, a Reforma questionou o aprisionamento da teologia ao
dogma e propôs um retorno à função teológica edificante, servin-
do como instrumento fundamental para a expansão e o desenvol-
vimento das Igrejas protestantes nascentes. Entretanto, com o
passar do tempo, a teologia protestante volta a se afastar do dia
a dia das comunidades, mas desta vez, além de voltar a ser pri-
sioneira da “doutrina”, também se tornou prisioneira do sistema
acadêmico [...].22

A teologia, segundo ele, terá que mudar seu sistema epistemológico baseado na ciência
com suas divisões e subdivisões. Os manuais de Teologia Sistemática trabalham com conceitos
derivados da Filosofia e demais ciências humanas, sendo incoerentes para a igreja e sua fé
cotidiana.23 Pensando ao contrário disso, Júlio Zabatiero defende um método que tenha quatro
características para a teologia chegar e ser provocada na vida da gente - edificante: uma teo-
logia que aponte caminhos para o futuro, que seja gestada na comunidade de fé; testemunhal:
que tenha uma linguagem contemporânea e possa ser voltada para aquelas pessoas que ainda
não fazem parte da comunidade de fé; profética: que tenha o que dizer à sociedade de maneira
argumentativa e coerente, fornecendo para a igreja parâmetros para denunciar as estruturas
que sufocam gente que tem em Deus a sua esperança; cognitiva: é o diálogo com outros sabe-
res a fim de contribuir para a reflexão e não agir apologeticamente.24 Para essa teologia ser
possível, é preciso superar o modo fundamentalista de interpretar a Bíblia.25 Com a obsessão
pela verdade, a hermenêutica fundamentalista quer ser ao mesmo tempo contra e a favor da
ciência, mas não abre mão desta para corroborar seus esquemas doutrinários e textuais. Uma
hermenêutica que valoriza a experiência de fé no enredo bíblico e procure enxergar no texto a
dinâmica de uma relação entre Deus e um povo (Israel) e Jesus e seus discípulos (Igreja) se faz
urgente como paradigma de interpretação.

Espiritualidade encarnada: o compromisso com o outro

Outro aspecto da teologia que merece o devido destaque é a espiritualidade, a qual é pa-
tente na matriz cultural e religiosa do povo brasileiro. A espiritualidade que o protestantismo
forjou é marcada pelo individualismo, uma vez que a noção de indivíduo foi um dos pilares da
Reforma Protestante. O fato é que se entende espiritualidade no âmbito pessoal e o termôme-

22 ZABATIERO, Júlio. Para um método teológico. São Paulo: Fonte Editorial, 2011, p. 15.

23 Não que o estudo acadêmico da teologia não seja importante, Júlio Zabatiero questiona a academicidade da teologia que
não tem eco na comunidade de fé.

24 Cf. ibid., pp. 17-23.

25 Cf. ZABATIERO, Júlio. Hermenêutica fundamentalista: uma estética do interpretar. In. ZABATIERO, Júlio; SANCHEZ, Sidney;
ADRIANO FILHO, José. Para uma hermenêutica bíblica. São Paulo: Fonte Editorial, 2012, pp. 107-119.

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tro mais comum para se “medir” a espiritualidade é a frequência na leitura bíblica, nos cultos
e a oração diária. Não se concebe uma espiritualidade que tenha dimensões sociais, políticas
e ecológicas.

Júlio Zabatiero faz lembrar de que espiritualidade é cristocêntrica, não cabendo à igreja ou
qualquer instituição denominacional o seu aprisionamento. A igreja anseia por uma espiritua-
lidade comunitária e solidária.26 Onde o outro seja a ponte para ver Deus; a reunião em torno
da Bíblia seja carregada de entusiasmo comunitário; a oração não seja para buscar “poder”,
pelo contrário, seja para fortalecimento mútuo e oportunidade de adoração coletiva; que a
celebração da comunhão (ceia) não seja apenas um acessório do culto, mas uma celebração de
alegria e louvor pela comunhão dos irmãos.

Considerações finais
A teologia canned não será mais importada quando houver uma reflexão teológica que leve
em consideração as raízes do povo brasileiro e seu modo abrasileirado de viver. Uma teologia
que tenha o que dizer a seu povo dentro do seu contexto social, cultural e religioso.

Embora as reflexões de Júlio Zabatiero sejam mais profundas e embasadas teoricamente


em fundamentos teológicos e filosóficos, aqui apontamos dois aspectos de sua bibliografia
bem superficialmente, a hermenêutica e a espiritualidade. É preciso começar a pensar teologia
para gente e seu cotidiano. É necessário forjar uma espiritualidade que tenha como compro-
misso não apenas as paredes de um templo. Eis um desafio.

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26 Cf. ZABATIERO, Júlio. Fundamentos da teologia prática. São Paulo: Mundo Cristão, 2005, p. 93ss.

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__________. Para um método teológico. São Paulo: Fonte Editorial, 2011.
__________. Para uma teologia pública. São Paulo: Fonte Editorial, 2011.
__________; SANCHEZ, Sidney; ADRIANO FILHO, José. Para uma hermenêutica bíblica. São Paulo:
Fonte Editorial, 2012.

Recebido: 01/02/2013
Aprovado: 13/04/2013

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