Apostila - Desenvolvimento Integral Da Igreja

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Maio / 2020

Professor/autor: Dr. Antonio Carlos Barro


Projeto Gráfico e Capa: Mauro S. R. Teixeira - Departamento de Marketing e Comunicação
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:

Rua: Martinho Lutero, 277 - Gleba Palhano - Londrina - PR


86055-670 Tel.: (43) 3371.0200
SUMÁRIO

Desenvolvimento integral da igreja


UNIDADE 1 - Plantação de igreja
1.1. O início da igreja protestante no Brasil...............................................04
1.2. Fundamentos para a plantação de igreja...........................................10
1.3. Plantação de novas igrejas.................................................................14

UNIDADE 2 - O crescimento da igreja


2.1. A preocupação com o crescimento....................................................25
2.2. O movimento de crescimento de igreja..............................................28
2.3. Bases bíblicas para o crescimento de igreja.....................................31
2.4. Tipos de crescimento..........................................................................36
2.5. Os responsáveis pelo crescimento da igreja.....................................38

UNIDADE 3 - Crescimento integral e encarnação


3.1. O mistério da igreja..............................................................................45
3.2. As dimensões do crescimento de igreja............................................48
3.3. As qualidades do crescimento da igreja............................................53
3.4. A importância do modelo encarnacional...........................................57

UNIDADE 4 - Desafios contemporâneos da igreja


4.1. A igreja virtual.......................................................................................67
4.2. A igreja lar........................................................................................73
4.3. A igreja multimundo.............................................................................77
4.4. A igreja emergente...............................................................................80
4.5. A igreja pós-moderna...........................................................................85

Para fazer os exercícios, acesse o A.V.A

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UNIDADE 1 – PLANTAÇÃO DE IGREJA
Tem sido dito e já é um dado entender a igreja como sendo um organismo
e ao mesmo tempo uma organização.

Como organização a igreja, talvez fosse melhor dizer denominação,


ela cumpre com os aspectos da legislação do país onde se localiza.
Ela funciona como uma organização qualquer da sociedade e cumpre
como todas as obrigações legais que lhe são impostas. Tem endereço,
funcionários, tem CNPJ, paga pela manutenção do prédio, tem conta em
banco, faz balanços etc.

Como organismo a igreja, neste caso como corpo de Cristo, nasce,


desenvolve, produz resultados e espera-se que não venha a morrer
como alguns outros organismos vivos. Para alcançar longevidade a
igreja como organismo precisa ser nutrida constantemente, pois pode
ocorrer que caso não seja, ela venha mesmo a desaparecer ou tornar
inoperante (Ap 3.1).

Exercício de Aplicação - 01
Leia o artigo de Alessandra Assad e pense em como traçar alguns
paralelos entre os conselhos que ela traz para as empresas e sua
possível aplicação na igreja. Quais pontos destacados pela autora
você acha que poderiam ser temas de reflexão, estudos bíblicos ou
pregações em sua comunidade?
a) Perdão, salvação e crescimento;
b) Perdão, justificação e identidade;
c) Identidade, unidade e missão;
d) Organização, crescimento e erros;
e) Ordem, hierarquia e administração.

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Saiba mais
A metáfora do “organismo vivo” tem sido largamente empregada
para explicar a organização diante de uma perspectiva. Da mesma
forma que seres vivos, a organização busca a sobrevivência e,
para isso, ela precisa de recursos. As organizações, assim como
os seres vivos, buscam a vida, a sobrevivência, a longevidade, e a
melhoria contínua.
Fonte: Alessandra Assad 05/11/2015. https://administradores.
com.br/artigos/empresa-organismo-vivo-para-aprendizado-
existencial

1.1. O início da igreja protestante no Brasil


De que igreja estamos falando? A implantação da igreja protestante
no Brasil, por meio do trabalho missionário, data de meados de 1800.
Oficialmente entendemos que isso ocorreu com a chegada do missionário
Robert Kalley, escocês, vindo acompanhado de sua esposa Sarah Kalley,
que aportam no Rio de Janeiro em 1854. O segundo missionário foi
Ashbell Green Simonton, norte-americano que chega também na cidade
do Rio de Janeiro em 1859. O primeiro da denominação congregacional
e o segundo presbiteriano. Ambos estabelecem no Brasil igrejas de suas
respectivas denominações.

Antes destes dois missionários, temos notícias de alguns colportores


que vinham em navios mercantes, especialmente da Inglaterra. Também
do trabalho feito entre 1836 a 1840 por um colportor metodista, o
jovem pastor Daniel Kidder (1815-1891), que foi nomeado o primeiro
representante da Sociedade Bíblica Americana (SBA) no Brasil, realizando
nesse período uma ampla distribuição de Bíblias, Novos Testamentos e
Evangelhos, nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo.
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Glossário
Colportagem é a distribuição de publicações, livros e panfletos
religiosos por pessoas chamadas “colportores”. O termo não se
refere necessariamente a livros religiosos. Na França, colportor
tinha originalmente o sentido de mascate, ou seja, vendedor que
transportava suas mercadorias.

É importante ainda recordar uma história precedente quase esquecida


da igreja brasileira sobre os primeiros protestantes a virem ao Brasil: A
tragédia da Guanabara.

Saiba mais
Sobre essa expedição da chegada dos huguenotes franceses
de tradição reformada sugiro a leitura deste artigo introdutório
de Judiclay S. Santos. De Genebra para Guanabara em Teologia
Brasileira no. 79.
Fonte: https://teologiabrasileira.com.br/de-genebra-para-guanabara/

Vale igualmente registrar que antecedendo ao trabalho de Kelley e


Simonton tivemos a presença de um ‘protestantismo de imigração’,
ainda na primeira metade do século XIX, trazido por trabalhadores
imigrantes que se estabeleceram no país. Eram anglicanos, que atuavam
especialmente no comércio, e que construíram o primeiro templo
protestante em solo brasileiro, em 1819, em Nova Friburgo, RJ. Também
Luteranos, que se fixaram como colônia de agricultores em São Leopoldo,
na região sul do Brasil, em 1824. Esse tipo de protestantismo tinha
como principais características a preservação do culto em sua língua de
origem e ausência de trabalho evangelizador conversionista, ou seja, era
voltado exclusivamente ao cuidado pastoral dos imigrantes, visando a
preservação étnica de sua identidade e costumes.
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Essa igreja estabelecida por missionários teve um começo bastante difícil,
tendo em vista que a religião oficial do Brasil era o catolicismo romano.
Assim, como desenvolver uma igreja se ela precisava de membros e os
candidatos a isso estavam dentro de uma igreja oficial? Certamente que
não era uma tarefa fácil para estes missionários. Nas aulas de História
do Cristianismo III, você estudará os pormenores desta implantação.

Com o passar dos tempos, outras denominações se estabeleceram no


Brasil e este período termina, ao meu modo ver, com a chegada da Igreja
Quadrangular em 1951. Em 1955/56 temos o surgimento da primeira igreja
nascida em solo brasileiro, com Manoel de Mello e Silva (1929-1990), O Brasil
para Cristo. A partir deste momento a igreja brasileira começa um processo
de divisões favorecendo o surgimento de centenas de novas denominações
e comunidades independentes. Movimento que perdura atualmente.

Exercício de Reflexão - 02
A igreja brasileira continua ainda em um processo acelerado de
divisões. Reflita sobre pelo menos dois motivos que na sua opinião
levam a estas separações e inícios de novas igrejas. Produza um
texto que contenha de 150 a 200 palavras.
Reação: São muitas as causas que podem levar às divisões nas
igrejas. Podemos citar algumas:
• A chegada de um novo pastor ou liderança que possui uma
proposta que conflita com aquilo que está estabelecido ou em
andamento na comunidade que ele passa a liderar;
• Divergência sobre questões doutrinárias;
• Disputas por controle das decisões ou por poder;
• Ciúmes, invejas, conflitos de vaidades entre líderes;
• Dificuldades de relacionamento e incapacidade para o trabalho
em equipe;
• Priorização de interesses pessoais em detrimento do coletivo.

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Nos dias de hoje é quase impossível estabelecer com precisão quantas
denominações há no Brasil. Estima-se em Soube que vc está gravando
aulinhas prè éNãomilhares entre grandes e pequenas, conhecidas
e desconhecidas, nacionais e regionais. As tendências teológicas e
doutrinárias são as mais diversas possíveis e encontrar alvos em comum
entre estes grupos não é tarefa fácil.

Certamente nunca na história houve tamanha profusão de igrejas como nos


dias de hoje. Temos igrejas de todos os tipos, todos os nomes e predileções.
Temos igrejas com doutrinas, sem doutrinas, barulhentas, silenciosas,
pentecostais e neopentecostais, tradicionais, liberais, ortodoxas, a favor da
mulher, contra a mulher, ceia restrita, ceia aberta, favor das curas, contra as
curas, rock, rap ou samba, com coral, sem coral, louvor extravagante, sem
bateria, somente órgão de tubo, com apóstolos, bispos e bispas, missionários,
profetas, com dinheiro e sem dinheiro, terno e gravata, camiseta polo e jeans.
A lista é interminável. Para encontrar elementos em comum nestas igrejas
precisamos extrapolar o campo da teologia e doutrinas.

a) Todas são chamadas ou se chamam de evangélicas.


O nome evangélico, nesse caso, não significa muita coisa e não constitui
que necessariamente a igreja esteja sendo regida pelos valores e
princípios do evangelho conforme anunciado por Jesus. Evangélica aqui
quer dizer simplesmente uma coisa: não é Católica Romana. Assim tanto
faz se o nome é Universal, Metodista, Batista, Luterana, Reformada ou
Assembleiana – está tudo num mesmo espaço – é evangélica.

b) Todas são adeptas dos dízimos e ofertas.


Um outro elemento comum a todas as igrejas evangélicas é o dízimo. Ele é
onipresente. Tanto faz a que denominação pertence a igreja ou mesmo sem
pertencer, todas querem o dízimo dos fiéis. Umas são mais finas e polidas na
hora de pedir: “Se você nos visita, fique à vontade, pois esse é um compromisso
dos membros dessa igreja”. Outras são ousadas: “Não seja tímido, coloque
Deus a prova, ele dará a você conforme o tamanho da sua oferta”. “Deus
retribui conforme o tamanho da sua fé em ofertar para a causa do evangelho”.

c) Todas têm liderança messiânica ou caudilhesca.


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Certamente que as chamadas igrejas livres ou independentes não
têm nenhum pudor em exercer a liderança tirana sobre o povo que
corre em busca de algum paliativo para a vida vazia e sem sentido que
estão vivendo. Apelam para os bordões: “Eu tenho o cajado”. “Deus me
revelou”. “O Senhor me ungiu”. Por aí a coisa anda. Os históricos são mais
refinados: “A Bíblia diz”. “O presbitério impôs as mãos”. “A assembleia é
soberana”. Essa última eu ouvi no primeiro dia de ordenação pastoral e
nunca me esqueci mesmo tendo se passado 40 anos. No final é tudo a
mesma coisa. É proibido pensar, perguntar ou discordar.
Talvez você diga: minha igreja não é assim. Ótimo! Levante as mãos
para o céu e agradeça muito, pois é raro mesmo. A pergunta a se fazer é
que tipo de igreja queremos plantar? Que tipo de comunidade devemos
iniciar em um bairro ou cidade? Para levar uma igreja que é doente e que
vai adoecer ainda mais as pessoas, é melhor nem se apresentar para tal
tarefa. O papel da igreja é curar, pois foi para isto que Jesus Cristo veio
ao mundo: salvar e curar os enfermos da alma e do corpo. Naturalmente
que para curar a liderança precisa estar constantemente em processo de
cura para não produzir um cristianismo enfermo.
Ao fim e ao cabo são tantas coisas que ninguém mais se lembra para que
mesmo é que a igreja foi deixada na terra. Os textos de Mateus 28:18-20,
João 20:21, Atos 1:8, vão caindo no vazio e a igreja atual corre sério risco
de ser apenas mais uma organização nesta sociedade em caos. Sobre
isto falaremos em seguida.

Continuando o raciocínio, vou pensar na igreja local de cada um de


vocês. Sei que mesmo pertencendo a uma denominação esta tem
pouca influência na vida das igrejas locais, especialmente das pequenas
comunidades. Minha experiência de quase 40 anos trabalhando como
pastor de igreja local me mostrou que se há alguém preocupado com
a igreja da qual sou membro ou estou pastoreando, sou eu mesmo.
Raramente um(a) pastor(a) receberá ajuda da denominação para o
desenvolvimento de sua igreja. Raríssimas vezes receberá a visita de
um líder “importante” da igreja, quase impossível fazer parte do grupo de
elite que dirige a denominação. A realidade para pastores é nua e crua: a
tarefa é dele(a) e de mais ninguém.
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Exercício de aplicação - 03
Avalie as afirmações abaixo e indique quais estão em sintonia com
a ideia de plantação de igrejas como sinais do Reino de Deus.
I - Deus é glorificado na construção de templos belos e confortáveis;
II - A glória de Deus há de ser vista em toda a terra. Esse é o
propósito último do Criador em relação às suas criaturas;
III – Não existe nenhum indício de que a Grande Comissão de
Mateus 28:18-20 direciona os cristãos ao cumprimento de fazer
discípulos de todas as nações;
IV - Jesus é o principal modelo de cidadão do Reino e nele o Reino
se torna realidade pela prática da justiça, paz, bondade, amor,
misericórdia, compaixão, solidariedade, salvação, esperança, etc;
V - A igreja está no mundo não para servir-se a si mesma, mas para
servir as pessoas que são objetos do amor de Deus.
a) As afirmações I, II e III são as que estão em sintonia;
b) As afirmações I, II e IV são as que estão em sintonia;
c) As afirmações II, III e IV são as que estão em sintonia;
d) As afirmações II, IV e V são as que estão em sintonia;
e) As afirmações III, IV e V são as que estão em sintonia;

1.2. Fundamentos para a plantação de igreja


Nossa primeira tarefa é delinear, ainda que não rapidamente, alguns aspectos
bíblicos e teológicos sobre a expansão da igreja neste mundo. Este mundo é
o único lugar possível que serve de arena para a missão da igreja. Sem este
mundo não existe absolutamente necessidade de igreja. Assim, ainda que
pareça óbvia esta afirmação uma grande parte dos cristãos e liderança de
igrejas não fazem disso a razão de ser de suas igrejas. É necessário retomar
alguns postulados básicos da razão de ser da igreja.

a) A razão de ser da igreja é a glória de Deus


Infelizmente se tornou um chavão evangélico dizer que todas as coisas
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são para a glória de Deus especialmente quando se quer fazer alguma
coisa que poderá gerar controvérsias. Por exemplo: se alguém quer
comprar algo que custa muito dinheiro para os cofres da igreja, diz-se
que é para a glória de Deus. Se quer instalar ar condicionado, diz-se que
temos que ter o melhor para Deus. Não seria mais honesto dizer que está
muito quente e por isso quer-se colocar ar condicionado?

Deus é glorificado não na aquisição de bens, na construção de novos


templos ou no acúmulo de dinheiro na conta bancária da igreja. Segundo
o apóstolo Paulo, o próprio Deus é o objeto de glorificação: “Aquele que se
gloria glorie-se no Senhor” (1Co 1:31, 2Co 10:17). O apóstolo João vai na
raiz da questão ao colocar tudo de forma bem transparente: “Quem fala de
si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que
o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça” (Jo 7:18). O contrário
também é verdade: aquele que busca a sua própria glória é injusto.

A glória de Deus está intimamente ligada ao evangelho de Cristo; evangelho


este que é o próprio Cristo. Quando as pessoas recebem a mensagem elas
se tornam recipientes da glória de Deus revelada em Cristo: “Aos quais
Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério
entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1:27). O
Cristo em nós é o que Deus mais almeja e é como ele é glorificado.

Essa glória de Deus há de ser vista em toda a terra. Esse é o propósito


último do Criador em relação às suas criaturas. É a promessa feita em
Habacuque 2:14: “E a terra se encherá do conhecimento da glória do
Senhor, como as águas enchem o mar”.

Saiba mais
A música de Nelson Bomilcar reflete essa ideia da glória de Deus
entre as nações. Vale a pena ouvir, refletir e orar para que isso se
cumpra por meio da igreja: “Declarando sua glória entre as nações”
(LP Missões & Adoração III)
Fonte: https://youtu.be/SmzkZD7X5xE

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b) A razão de ser da igreja é obedecer aos mandamentos de Jesus.
Para que essa glória seja vista e percebida entre as nações é imprescindível
retornar o olhar para a Grande Comissão de Mateus 28:18-20. Esse é
um momento histórico para o desenvolvimento daquilo que Jesus Cristo
começou a fazer, usando a linguagem de Lucas em Atos 1.

Toda a sua vida, história, lutas e vitórias estão agora nas mãos de seus
seguidores que ouvem dele a ordem de fazer discípulos de todas as etnias
do mundo. O evangelho sairia dos limites de Israel e cruzaria fronteiras
para sempre. E assim tem sido e assim precisa ser. O cristianismo
somente tem e fará sentido se for o cristianismo para o outro. O avanço
da fé cristã depende, do ponto de vista humano, da obediência dos
cristãos em todas e de todas as épocas.

Grande Comissão é o paradigma missionário máximo


da igreja. Apresentada em todos os quatro evangelhos
e no livro de Atos dos Apóstolos, a ordem de Jesus de
expandir a mensagem do evangelho indica não apenas o
que a igreja deve fazer, mas também o que ela deve ser.
O texto de Mateus 28.19-20 se reveste de importância
crucial por ser o relato mais completo da Grande
Comissão. Ao mesmo tempo, temos vivido uma época
em que a plantação de igrejas tem sido uma boa ênfase
de muitas igrejas e denominações evangélicas e um
modelo que merece destaque é o de plantação de igrejas
por transplante. Tendo isso em vista, uma análise dos
dois versículos finais de Mateus e a identificação das
relações existentes entre eles e a prática da plantação de
igrejas por transplante se torna digna de estudo. Neste
artigo procurar-se-á demonstrar, preliminarmente, que o
método de plantação de igrejas através do transplante
de membros de uma igreja já estabelecida constitui uma
aplicação correta do ‘ide’ da Grande Comissão conforme
registrada por Mateus (Keller, 2011).

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c) A razão de ser da igreja é demonstrar ao mundo os sinais do reino de Deus
Se a igreja está no mundo para manifestar a glória de Deus e faz isso em
obediência a Cristo consequentemente ela será um sinal visível do reino que
Deus concretizou na pessoa de seu Filho. Jesus é o cidadão por excelência
do reino e nele o reino se torna realidade. Os sinais do reino de Deus estão
todos na pessoa de Cristo: justiça, paz, bondade, amor, misericórdia,
compaixão, solidariedade, salvação, esperança etc. Os seguintes textos
podem ser lidos para melhor compreender os sinais do reino de Deus:
Mateus 4:23; 9:35; 10:7-8; 12:28; 16:19. Lucas 9:2, 11; 10:9; 11:20; Joao
2:23; 3:2; 4:48; 6:2. Ler ainda sobre o fruto do Espírito em Gálatas 5:22-23.

Estes sinais devem estar presentes também na comunidade do Rei.


Isto é mais do que óbvio, mas custa para entendermos isto. De que
maneira a igreja instila nas pessoas o desejo de pertencer a este reino?
Simplesmente mostrando em sua vida os mesmos sinais que Cristo
mostrou enquanto peregrinou por este mundo. Este é um grande desafio.
Segundo C. René Padilla (2017) falta “consciência entre os cristãos de
que somos cidadãos do Reino de Deus e do mundo. Estamos no mundo,
mas não somos do mundo. O que significa isso? Alguns querem poder
porque com poder se pode ter mais dinheiro e se aproveitar das posições
para proveito próprio e não para servir”. Naturalmente que sem o serviço
não haverá sinais do reino de Deus neste mundo.
d) A razão de ser da igreja é transformar o mundo com o evangelho da paz
Como consequência do que estamos observando acima, o alvo da
missão se torna realidade. O mundo é conquistado para Deus. Com isto
estamos afirmando que a igreja não é o alvo da sua missão. A igreja não
é a razão de ser da missão. A igreja está no mundo não para servir-se a
si mesma, mas para servir as pessoas que são objetos do amor de Deus.

Em Jesus Deus está redimindo todo o cosmos. Falta a nós a dimensão


cósmica da redenção, entendimento este que não faltou a Paulo quando
disse: “Pois Deus estava em Cristo reconciliando consigo mesmo o
mundo, não levando em conta as transgressões dos seres humanos”,
e ele ainda enfatiza, “e nos encarregou da mensagem da reconciliação”
(2Co 5:19). Em Cristo Deus inicia o processo de reconciliação e transfere
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à igreja a mesma missão. Somos encarregados de zerar o débito deste
mundo com o Criador. Todas as esferas da sociedade precisam desta
cura divina passando pelo indivíduo e atingindo os setores mais amplos
da política, economia, cultura, educação etc.

Se queremos plantar novas igrejas este é o desafio para este tempo que
vivemos: Igrejas como sinais do Reino. Igrejas comprometidas com todo
o evangelho para todo o ser humano. Qualquer mensagem fragmentada e
distante dos ideais bíblicos não tem mais lugar nos dias de hoje. É esta igreja
que queremos estabelecer em todos os cantos de nossas cidades e bairros.

1.3. Plantação de novas igrejas


Como afirmei acima a igreja é um organismo vivo e como tal ela precisa
ser constantemente plantada e multiplicada. Esse termo “plantar” igreja
pode soar um pouco estranho, mas tem sido a nomenclatura usada
nas literaturas sobre o tema. Poderíamos usar outros como implantar,
estabelecer, iniciar, principiar, começar etc. A ideia é que em algum lugar
uma nova igreja terá início e proporcionará aos habitantes daquele lugar
um espaço para ouvir o evangelho da salvação em Cristo Jesus. Também
assumimos que este processo de plantar uma nova igreja se dará
especialmente por uma igreja-mãe que por vezes também chamamos de
sede ou central. Todavia, não exclusivamente, pois como veremos uma
nova igreja pode surgir por outros meios.

1.3.1. O método tradicional de iniciar novas igrejas


Segue uma palavra de testemunho da minha experiência neste campo
para ilustrar o primeiro modelo de implantação de novas igrejas. Quando
ainda adolescente fui levado pela minha mãe a uma pequena casa de
madeira já bem deteriorada. Não havia absolutamente nada naquele
espaço que fosse agradável. Morávamos num bairro pobre e assim
aquela casa refletia o nosso contexto de vida. Era um trabalho iniciado
pela Igreja Presbiteriana de Marília que ficava no centro da cidade.
Todos os domingos para lá se dirigia o Presbítero Fausto Camargo
César e ele dirigia uma escola dominical. Foi neste local que ouvimos o
14 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
evangelho pela primeira vez e toda a nossa família se tornou membro
daquela igreja. Aquele espaço era carinhosamente conhecido como
“igrejinha”. Assim era como as novas igrejas surgiam. A igreja central
ou sede escolhia um bairro da cidade e para lá enviava um diácono ou
presbítero com alguns poucos crentes para dar início a uma nova igreja.

Ainda dentro deste sistema tradicional encontramos o surgimento de


igrejas a partir da mobilidade urbana especialmente nas periferias das
grandes cidades. O movimento migratório e o empobrecimento das
famílias levaram pessoas a procurar moradias em lugares distantes
dos centros urbanos. Muitas destas pessoas eram membros de igrejas
evangélicas e assim era comum que por estarem distante da cidade
elas começassem algum tipo de reunião em seus lares como encontros
de oração, estudos bíblicos, cultos de evangelização. Mais tarde,
quando o grupo já estava mais sedimentado a igreja sede era avisada
sobre aquele ponto de pregação e iniciava-se então um processo de
oficialização daquela igreja.

Este modelo de implantação de igrejas foi o mais prevalente nas igrejas


pentecostais, especialmente as mais estruturas como as Assembleias
de Deus, O Brasil para Cristo e a Quadrangular. As igrejas históricas
tinham mais facilidade em comutar seus membros dos bairros para a
igreja central. Talvez isso explique em parte o grande crescimento das
igrejas pentecostais nos grandes centros urbanos.

Podemos ainda destacar uma terceira maneira como as igrejas


começavam nos bairros. Era muito comum nas igrejas do interior
que durante a semana houvesse cultos nos lares. Alguma família
oferecia a sua casa para que numa noite da semana um grupo da igreja
acompanhado do pastor fizesse um pequeno culto com suas bíblias e
hinários. Os hospedeiros convidavam seus vizinhos, parentes e amigos.
Cantavam os hinos a capela mesmo, faziam orações e ouviam uma
pregação evangelística, geralmente acompanhada de um apelo para
aceitar a salvação em Cristo. Se houvesse naquele bairro um número
razoável de convertidos, começava-se a pensar num espaço específico,
que não as casas, que eventualmente se tornaria uma igreja.
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É possível que em alguns lugares do Brasil ainda se use algumas destas
metodologias e outras similares, todavia, os tempos são outros e vivemos
num contexto muito diferente da sociedade dos anos 60 e 70.

1.3.2. Plantando igrejas nos dias de hoje


Se pensarmos que alguns dos métodos antigos não funcionam mais
com tanta eficácia, então teríamos que buscar novas maneiras de iniciar
igrejas. Com isto nos ocupamos agora.
A primeira indagação seria a mais básica possível: as igrejas estabelecidas
desejam iniciar novas igrejas? Aparentemente a resposta deveria ser sim,
mas não é algo tão simples para ser resolvido. O modus operandi das
igrejas de hoje é bem diferente daqueles dos anos 60 e 70. Mencionei
acima os cultos que se faziam nos lares. Poderíamos dizer que foram
os precursores do movimento celular que se espalhou por quase toda as
igrejas do Brasil. Mas, não a mesma coisa.
Os cultos nos lares tinham o objetivo de evangelizar e eventualmente
estabelecer novas igrejas. As células de hoje, talvez com raras exceções,
não têm esse objetivo. Você poderá observar que as grandes igrejas
mantêm quatro ou cinco e até mais células em um determinado bairro
que não se transformam em igrejas. As razões são muitas e aqui não é o
espaço para discutir essa questão. O meu ponto é que as igrejas centrais,
neste caso, as que tem mais recursos deixaram de plantar novas igrejas.
É um fato comprovável bastando estudar ou pesquisar quantas novas
igrejas surgiram na última década como estratégia pensada e executada.
a) O contexto da nova igreja
Diferentemente do passado quando as igrejas surgiam sem muito
planejamento (na maioria das vezes), hoje temos ferramentas que nos ajudam
a identificar as cidades e bairros que precisam de novas comunidades.
Muitas pesquisas já foram realizadas para detectar em quais bairros
se tem mais necessidade de igrejas. Assim, é importante ter acesso
a elas para determinar de forma estratégica a implantação de novas
comunidades. Mas, caso não exista esta pesquisa, também não é
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complicado para quem mora e conhece a sua cidade fazer uma análise
de quais setores da mesma são mais carentes de igrejas.

Uma ideia é visitar a prefeitura da cidade e ver se ela tem esse


mapeamento. Estando na prefeitura é importante descobrir quais são os
novos loteamentos aprovados para o crescimento da cidade. Com estes
dados é imprescindível visitar o local várias vezes e em diversos horários
para observar atentamente qual é a dinâmica daquela localidade. Notar
a movimentação nas ruas, no comércio, nas escolas. Qual a situação
socioeconômica, qual o perfil cultural, educacional. Se há jovens ou se a
população está envelhecida. Não é difícil “ler” o bairro para determinar
que tipo de igreja vamos implantar e qual a abordagem apropriada.
Falaremos mais sobre o contexto nos próximos capítulos.

Exercício de fixação - 04
Com base na argumentação sobre a importância de se conhecer
o contexto onde se pretende plantar uma igreja, qual das opções
abaixo representa um objetivo para esse tipo de abordagem?
a) O objetivo de se conhecer o contexto antes da plantação de uma
igreja é poder enviar apenas pastores que tenham o mesmo perfil das
pessoas que ali habitam;
b) O objetivo de se conhecer o contexto antes da plantação de uma
igreja é poder transformá-lo de acordo com o planejamento que as
prefeituras fornecem sobre a localidade;
c) O objetivo de se conhecer o contexto antes da plantação de uma igreja
é poder decidir se ela deve ou não ser plantada por causa de diferenças
entre o perfil das pessoas da localidade e da igreja plantadora;
d) O objetivo de se conhecer o contexto antes da plantação de uma
igreja é poder planejar o tipo de linguagem, atividades e ações que
atendam aquela população específica;
e) Não é importante conhecermos o contexto de onde se pretende
plantar uma igreja, uma vez que todas as igrejas são iguais desde os
tempos apostólicos

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b) Avaliar os recursos disponíveis
Se no tópico acima olhamos para fora, para as necessidades que o
bairro ou cidade apresentam para determinar o curso de ação temos
agora que olhar para dentro da nossa comunidade. É preciso fazer um
levantamento dos recursos que precisaremos para dar início a esta
nova igreja. E que recursos são esses?

Recursos humanos. Quantas pessoas serão necessárias e que vão se


comprometer com este trabalho pioneiro. É importante que a liderança deixe
claro o que será realizado, o que se espera de cada voluntário e por quanto
tempo. Preciso observar que é muito importante determinar por quanto
tempo se espera deste trabalho voluntário. Se não for explicitado corre-se
o risco de não encontrar pessoas dispostas a este ministério que envolve
bastante sacrifício e dedicação. Deve-se listar todas as pessoas e catalogar
as habilidades que possuem. Talvez nem todas sejam necessárias no início
do trabalho. Algumas podem contribuir durante um período da implantação
da igreja. É bom atentar para a advertência de Ed Stetzer:

[...] cuidado para não pôr simplesmente qualquer um


para ‘tapar buraco’ numa função que você precisa
preencher – um erro comum que observo nos
plantadores de igreja. Não apresse o processo de
identificação da pessoa certa para a função certa, ou
você possivelmente acabará na situação incômoda de
ter de tirar alguém da equipe. Isso, além do tempo e
da energia perdidos, gera problemas de credibilidade
e confiança junto aos colaboradores remunerados e à
igreja como um todo (2015, p. 142).

ii. Recursos financeiros. Que tipo de trabalho será realizado no início da


comunidade? Uma reunião de oração nos lares dos crentes daquele bairro?
Um culto semanal nos lares? Um missionário será contratado para liderar este
ministério? Um dos pastores da igreja será designado para esta tarefa? Que
material será necessário comprar, tais como literatura, bíblias, livros infantis?
18 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
A igreja deve votar verbas financeiras para esse projeto pois isso evitará
o desgaste entre as pessoas envolvidas e a direção da igreja.

iii. Recursos diversos. Em qual etapa do projeto será alugado um espaço


para o funcionamento da igreja? Mobiliário necessário, matéria de
berçário, instrumentos musicais, equipamento de som etc. Será bom que
tudo isso esteja na mente da liderança.

c) As estratégias utilizadas para a plantação da igreja


Tendo definido o local e os recursos necessários é chegado o momento
de reunir as pessoas interessadas para planejar quando e como dar início
a execução do projeto. Quais estratégias serão usadas?

Uma primeira ação seria descobrir se há membros da igreja morando


naquele bairro e se estas pessoas estão dispostas a se envolver neste
novo trabalho. Isto pressupondo que a liderança geral da igreja esteja
de acordo. Estes membros nem sempre estão animados com esta ideia
porque vão deixar um lugar em que tudo funciona para frequentar uma
comunidade em que está tudo por fazer. Nem todas as pessoas estão
dispostas a fazer este sacrifício e isto é perfeitamente compreensível.

Se a igreja está funcionando dentro do movimento em células seria


também interessante verificar com a liderança se estas células podem se
reunir para formar esta nova comunidade. Normalmente as lideranças das
grandes igrejas não gostam desse tipo de estratégia porque certamente
esvaziará um pouco os trabalhos da sede e diminuirá a contribuição
financeira. Portanto, espera-se alguma resistência sobre estas duas
ações descritas acima.

Como no bairro ainda não há estruturas para funcionar uma igreja


em todos os aspectos necessários, pode-se iniciar em uma escola ou
qualquer pequeno lugar que seja disponibilizado. Um salão social de
um prédio residencial. Um galpão de alguma empresa. Nestas horas é
necessário andar pelo bairro e pesquisar bem o local.

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 19


Exercício de Fixação - 05
Ao pensarmos em plantar uma igreja e colocar em prática esse
projeto, listamos algumas questões que precisamos levar em
consideração. Abaixo, são indicadas três ações estratégicas, porém,
uma delas não configura algo a ser seguido. Indique qual opção não
deve fazer parte de um possível projeto de plantação de igreja.
a) Precisamos estar preparados para o caso da nossa igreja ou
comunidade se ressentir ao iniciar um trabalho de plantar uma nova
igreja, pois certamente esvaziará um pouco os trabalhos da sede e
diminuirá a contribuição financeira, sendo que seus membros nem
sempre estão animados com esta ideia, porque vão deixar um lugar
em que tudo funciona para enfrentar dificuldades iniciais de uma
nova igreja;
b) Precisamos nos concentrar em tantos problemas que não
devemos perder tempo fazendo um levantamento de recursos
humanos, assim como a elaboração de um plano financeiro. Tais
atitudes são desnecessárias. Podemos simplesmente repetir
as experiências e modelos passados, pois Deus é o mesmo e
sustentará os nossos projetos;
c) Ao iniciar um trabalho evangelístico num bairro, por exemplo, é
preciso demonstrar interesse pelas pessoas de maneira integral,
por todo tipo de problema que apresentarem e não somente com a
salvação de suas “almas”.

Passo a descrever algumas estratégias. Lembre-se que cada contexto


ajuda a definir o que é mais apropriado para o bairro e para a igreja ou
grupo que vai trabalhar no projeto.
i. Fazer um levantamento do perfil do bairro
A idade do bairro já ajuda a determinar muito desse perfil. É um loteamento
novo e, portanto, distante do centro da cidade? É um bairro antigo? Se o
loteamento é novo é mais provável que haja famílias em formação, casais
20 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
e casais com crianças pequenas. Renda financeira ainda em construção.
Num bairro antigo é provável encontrar uma boa população de pessoas
com idade avançada, casais já sem os filhos em casa. Pessoas com
renda financeira estável.

Existem vários modelos de pesquisas socioeconômica para fazer um


levantamento com detalhes que poderão auxiliar nas estratégias da
formação da nova igreja.

Saiba mais
Neste link você encontrará um modelo de questionário
socioeconômico. Ele é bem completo. Você poderá modificar
para inserir as perguntas de cunho religioso ou outras que julgar
importante.
http://download.inep.gov.br/educacao_basica/encceja/
questionario_socioeconomico/2013/questionario_
socioeconomico_encceja_2013.pdf

Uma ideia é usar os jovens da igreja para fazer este levantamento. Talvez
em um sábado você possa reunir os voluntários e explicar o que será feito
e dar instruções de como fazer a pesquisa. Uma boa coisa a fazer é que
todos usem uma camiseta igual e que tenha algum tipo de identificação
da igreja e nome do pesquisador. É uma atividade que vai dar trabalho,
mas as informações colhidas serão extremamente úteis para o projeto a
ser desenvolvido.

ii. Encontrar os “desigrejados”


Em todo bairro novo ou velho há dezenas de pessoas que já frequentaram
alguma igreja evangélica. A razão pela qual deixaram de frequentar
é quase impossível enumerar. Pode ter sido a mudança de residência
para um local afastado, falta de dinheiro para locomoção, desavenças
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 21
com a antiga comunidade, falta de interesse de membros da família,
necessidades não preenchidas etc. Esta informação pode ser um item
no levantamento acima descrito.

Não é difícil encontrar essas pessoas. Na verdade, assim que encontrar a


primeira família dentro deste perfil, ela irá apontar outras pessoas no bairro
nas mesmas circunstâncias. Assim, pode-se começar visitando estas
pessoas, orar com elas e informar a respeito da nova igreja no bairro. A
possibilidade de ter essas pessoas envolvidos é bem grande. Naturalmente
que é necessário ouvir estas pessoas atentamente, pois muitas estão
feridas e magoadas com líderes e igrejas de onde vieram. Um processo
de cura é fundamental para que a nova igreja não seja já no seu início um
ajuntamento de gente crítica e amarga com a causa do evangelho.

Saiba mais
Você tem noção de quantas pessoas deixam de frequentar a sua
comunidade todos os anos? Estas pessoas que foram embora
recebem algum tipo de visita ou mesmo telefone? Em quanto tempo
você imagina que estas pessoas serão completamente esquecidas
pela comunidade?
Indico a leitura do artigo “Os desigrejados” de Karina Passos
Marinho em Teologia Brasileira no. 79 (2018), para uma melhor
compreensão desse grupo cristão.
Fonte: https://teologiabrasileira.com.br/os-desigrejados/

iii. Descobrir as necessidades do bairro


Em qualquer lugar onde mora gente haverá todos os tipos de necessidades.
Certamente, a igreja ou o grupo de implantadores não poderá suprir
todas, pois as demandas são muitas. Mas, certamente que uma ou duas
serão possíveis.

22 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


No levamento do perfil do bairro algumas dessas necessidades serão
descobertas. Alto índice de gravidez na adolescência, crianças muito
tempo nas ruas, idosos sem atividades físicas, divórcio, violência familiar,
desemprego etc. Após esses dados voltarem para a igreja/grupo, como
já destacamos acima, pode-se verificar quais recursos estão disponíveis
para ajudar em alguma necessidade.
É importante que a igreja chegue no bairro e demonstre que está
interessada nas pessoas no seu todo e não somente em suas “almas”. As
pessoas precisam ver a igreja como parceira e não somente uma agência
religiosa que pouca se interessa por suas histórias. A igreja precisa ouvir
antes de falar e não o contrário.

Este modelo de igreja que queremos implantar se enquadra em uma


nomenclatura que passou a ser conhecida há alguns anos chamada de
igreja missional. Uma igreja preocupada em ser missão e não em fazer
missão. Ela é herdeira da missio Dei, portanto, tem em Deus a origem
do seu ministério sob a direção constante do Espírito Santo que a leva a
semear a Semente que produz vida: Jesus Cristo.

Para resumir, colocamos aqui uma distinção feita por Ricardo Agreste,
sem mais considerações, sobre três modelos de igrejas. O modelo
missional é o que estamos priorizando em nossos estudos. A tabela a
seguir apresenta os principais aspectos desses três modelos:

Base Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3


Eclesiológica Tradicional Sociedade de Consumo Missional
Líder Capelão Empresário Mentor, Facilitador
Palavra-Chave Manutenção Satisfação Missão
Membros Pacientes Clientes Discípulos
Papel Do Líder Consolar Impactar Equipar
Relação Maior Visitação Culto-Evento Discipulado
Sucesso Bem-estar Numérico Maturidade
Disciplina Eutanásia Nenhuma Restauração

Esta tabela foi adaptada do livro Formação de liderança e crescimento de igreja, de Eder Mello.

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 23


Concluindo, nesta unidade apontamos para algumas dificuldades que a
igreja enfrenta no desempenho de sua missão na terra. Mas, por outro é
sempre importante ter em mente que esta igreja mesmo com todas as
suas mazelas e fraquezas é a igreja que Cristo comissionou para pregar
o evangelho da graça.

Nos ajudaria muito em nossa missão recuperar a teologia da igreja como


corpo de Cristo presente neste mundo na dispersão de todos os cristãos
por todas as esferas da sociedade.

É também importante recuperar o ímpeto missionário e evangelístico que


foi marca da igreja brasileira a não muito tempo atrás. Essa motivação
deve e precisa passar por nossas lideranças. Uma melhor compreensão
dos mandamentos bíblicos e especialmente da ordem emitida por Cristo
de pregar o seu evangelho por todos os cantos e a todas as pessoas.

Essa compreensão passa também por um entendimento teológico


especialmente de duas disciplinas que julgo de capital importância para
os dias de hoje: eclesiologia e soteriologia. Acredito que nos dias de hoje
e no futuro estas duas áreas vão ser crucias: precisamos de igrejas e
Jesus Cristo é de fato o único Salvador da humanidade!

Referências bibliográficas
KELLER, Tim. A Grande Comissão como paradigma para a multiplicação
de igrejas por transplante. https://veritatisverbum.wordpress.
com/2011/04/15/a-grande-comissao-como-paradigma-para-a-
multiplicacao-de-igrejas-por-transplante/.
MELLO, Eber. Formação de liderança e crescimento de igreja. (falta a
refrência completa
PADILLA, C. René. “Somos cidadãos do Reino de Deus e do mundo”.
Entrevista em 20/10/2017. http://tearfundbrasil.org/7066-2/.
STETZER, Ed. Plantando igrejas missionais. São Paulo: Vida Nova, 2015.

24 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


UNIDADE 2 – O CRESCIMENTO DA IGREJA
2.1. A preocupação com o crescimento
Quando conversamos com pastores e pastoras percebemos que a
grande maioria tem como objetivo para suas igrejas o crescimento delas.
Dificilmente você encontra líderes de igreja evangélica que não querem
crescer. A nossa cultura evangélica exige isso, o crescimento acelerado das
igrejas neopentecostais pressiona a todos nessa direção. Os membros de
outras igrejas questionam se isso não acontece com as delas e os próprios
líderes entram em crise ministerial por falta do crescimento numérico.
É correto pensar que uma igreja com mais membros tenha mais
possibilidades de oferecer “bons serviços” para seus frequentadores. Uma
igreja bem estruturada tem boas acomodações, salas apropriadas para
as crianças, berçários adequados, excelente qualidade de som, assentos
confortáveis, segurança particular para os carros estacionados nas ruas
etc. Além das instalações físicas apropriadas, esta igreja tem um bom e
qualificado número de voluntários para todos os departamentos. Quem
frequenta uma igreja assim não fica preocupado com o que vai acontecer,
por exemplo, com suas crianças e adolescentes. Sabe também que
raramente alguém vai lhe pedir para ir tomar conta do berçário porque
não tem ninguém fazendo isso.
Mas, não queremos pensar que sejam estas as únicas razões para se buscar
o crescimento de uma igreja, a fim de oferecer “bons serviços” aos seus
membros. Nesta unidade vamos estudar alguns aspectos que levam as igrejas
a este crescimento e quais são as motivações bíblicas e coerentes com os
princípios do reino de Deus estabelecidos nas páginas do Novo Testamento.
Por que uma igreja declina? Vamos começar com esta pergunta. Quando
leciono sobre Ministério Pastoral, costumo dizer que é mais fácil fazer
uma igreja declinar do que crescer. Há um ditado nosso que diz: “para
baixo todo santo ajuda”. Para declinar não precisa fazer muita coisa. Basta
não fazer nada, não cumprir com algumas exigências do ministério, não
se importar com o estado das ovelhas, e logo a igreja começa a murchar.

A realidade é dura e a verdade é que as igrejas, em geral, não estão


Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 25
crescendo, mas sim estagnadas ou em declínio. Há igrejas que estão
do mesmo tamanho há décadas. Assim sendo, é bem provável que a
maioria dos pastores, antes de ver a igreja crescer, precisa se preocupar
em estancar o seu declínio.

Ampliando a pergunta sobre o que leva uma igreja a declinar, podemos


ainda questionar, o que leva uma igreja a perder o seu sabor? Ou, o que
leva uma igreja a não cumprir com o seu propósito na missão de Deus?

Thom S. Reiner, um estudioso de igrejas, aponta que o principal fator de


declínio de uma comunidade é o seu foco para dentro das quatro paredes
do templo, para tudo o que faz voltando os seus recursos apenas para o
bem-estar da comunidade.
Esse fato é corroborado com a afirmação de um estudo que o autor
realizou sobre igrejas que deixaram de existir.

Em todas as igrejas que realizamos autópsia, um padrão


financeiro foi desenvolvido no decorrer do tempo. O padrão foi o
lugar em que os recursos financeiros foram usados para manter
a máquina da igreja movendo; manter os membros felizes, e não
para financiar a grande comissão e a o grande mandamento.
O dinheiro, no entanto, era sintomático de um problema do
coração. A igreja se preocupava mais com suas necessidades
do que com a comunidade e o mundo. E, nenhuma igreja
pode sustentar um foco para dentro indefinidamente. Ela
eventualmente morrerá por falha no coração. (citação
encontrada em https://infopastor.com.br/site/2-fatores-
que-levam-uma-igreja-ao-declinio/)

Percebemos então que quanto mais o pastor se voltar para agradar os


frequentadores da igreja, mais rapidamente ele a leva à catástrofe.
Outro fator que leva uma igreja ao declínio está intimamente ligado ao
que foi descrito por Spurgeon, isto é, a falta de conteúdo nas pregações.
A imensa maioria dos pregadores não se prepara para esta tarefa vital
que é de pregar a palavra de Deus. Muitos vão aos púlpitos todos os
26 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
domingos com um alimento espiritual de pouca qualidade para entregar aos
seus ouvintes. É importante mencionar que não é somente falta de teologia
bíblica, mas também o desprezo por toda a teologia em geral. Vivemos em uma
época de acomodação. Acomodamos todas as coisas para não molestarmos
a ninguém com a nossa fé e assim nos adaptamos para experimentarmos
este novo mundo onde a tônica é a pluralidade religiosa. Consequentemente a
mensagem segue na mesma direção, ela se torna superficial.
Assim, o púlpito fraco colabora imensamente para o declínio da igreja.
Aliás, estudos apontam que a maioria das pessoas que retorna a uma
igreja, o faz em virtude da pregação profunda das Escrituras.
Uma igreja declina, então, por ser ensimesmada, por tornar-se o seu
próprio alvo.

Glossário
Ensimesmar: Concentrar-se ou estar completamente absorvido pelos
próprios pensamentos; voltar-se para o interior de si mesmo. É sinônimo
de: concentrar, meditar, recolher, absorver.

Tornou-se assim também por falta da pregação sólida sobre todo o


conselho de Deus conforme o exemplo de Paulo: “Porque nunca deixei
de vos anunciar todo o conselho de Deus” (At 20:27) e, esqueceu-se
da instrução de Cristo: “‘Ensinai-os a observar todas as coisas que vos
ordenei” (Mt 28:18-20).

Exercício de fixação - 06
De acordo com o texto, quais os principais fatores que levam uma
igreja a morrer?
a) Entretenimento, falta de conteúdo na pregação e focar apenas em
questões internas.
b) Falta de criatividade por parte da liderança.
c) Músicos com pouco técnica e repertório desatualizado.
d) Pregações doutrinarias ou teológicamente maçantes.
e) Líderes que não sentem compaixão de suas ovelhas.

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 27


2.2. Movimento de Crescimento de Igreja
O Movimento de Crescimento de Igreja (Church Gowth Movement)
popularizou-se no Brasil a partir das publicações C. Peter Wagner. Para
uns ele é o mestre a ser reverenciado e seus escritos sobre como a
igreja deve crescer fazem ou fizeram bastante sucesso entre pastores e
lideranças. Para os críticos do movimento, Wagner não sabe o que fala e
os seus postulados são destituídos de bases bíblicas e teológicas. Creio
que a conclusão não deveria ser uma coisa e nem outra.

Peter Wagner tem várias contribuições importantes sobre como a igreja


deve crescer. Muitas das suas estratégicas são derivadas de pesquisas,
do apoio das ciências sociais e naturalmente da Palavra de Deus. Ele é
um autor extremamente estudioso das questões que atrapalham e/ou
ajudam no crescimento da igreja. É verdade também que Wagner muitas
vezes usa os textos bíblicos fora de seus contextos tão somente para
fundamentar algumas de suas pressuposições, e por isso ele tem sido
muito criticado.

O movimento de crescimento de igreja, conhecido nos Estados Unidos


como “The Church Growth School” tem influenciado muitos pastores e
líderes de todas as partes do mundo. As suas principais formulações foram
disseminadas através do Seminário Teológico Fuller em Pasadena, Califórnia.
O nosso propósito aqui não é o de fornecer uma história deste movimento,
mas pincelar algumas contribuições e discordâncias do mesmo.

2.2.1. Os principais postulados do movimento


a. O crescimento da igreja é bíblico – A Bíblia ensina que Deus tem
interesse em ver a sua igreja crescendo e este crescimento é sinal de que
ela está realizando bem a tarefa de evangelização mundial.

b. O princípio dos grupos homogêneos – A igreja cresce mais rapidamente


quando os seus membros pertencem a uma mesma classe social ou
grupo racial. As pessoas gostam de estar em comunhão com as pessoas
do seu mesmo nível, que falam a mesma língua, têm os mesmos
28 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
costumes. Esta teoria foi talvez a que mais recebeu críticas dos teólogos,
principalmente os da América Latina.
c. A opção pelos campos mais produtivos – Os campos onde a semente
do evangelho não está germinando devem ser abandonados em favor
dos campos onde as colheitas são mais abundantes.
d. A importância do papel do pastor – O pastor é a pessoa chave no
crescimento da igreja e ele deve incentivar o seu rebanho nesta direção.
Sem a participação efetiva do pastor dificilmente a igreja crescerá.

e. O descobrimento dos dons espirituais – Wagner trabalhou bastante a


questão de que cada membro da comunidade deve descobrir o seu dom
espiritual e colocá-lo a serviço da igreja para que ela venha a crescer.
f. A tarefa evangelizadora – O evangelismo é prioritário sobre todas as
outras atividades de igreja.

2.2.2. As principais críticas ao movimento1


a. Este movimento exportou muitas das suas ideias a todas as partes
do mundo, mas não levou em consideração os contextos dos povos e
igrejas onde ele chegava. Assim, é possível ver líderes em regiões pobres
tentando aplicar uma metodologia que era perfeitamente lógica no rico
contexto norte-americano, mas que não fazia nenhum sentido fora daquele
ambiente, especialmente em lugares da África, Ásia e América Latina.
b. Este movimento dá prioridade à questão numérica da igreja em
detrimento do crescimento qualitativo. Naturalmente que quando
questionados a este respeito, os seus defensores negaram esta crítica,
todavia, fica nítido nos escritos dos principais proponentes que há uma
preocupação maior com o número de pessoas aderindo a uma igreja do
que com o estado dessas pessoas e da própria igreja.
1 Os autores latino-americanos que mais criticaram este movimento foram:
Orlando Costas, René Padilla e Samuel Escobar. Destes, creio que Costas se destaca
porque além da crítica ofereceu contribuições para o enriquecimento desta trajetória da
igreja rumo ao seu crescimento. As contribuições de Costas vamos estudar na Unidade 3.
Ver a minha tese de doutorado: “Orlando Enrique Costas: mission theologian on the way
and at the crossroad” Fuller Theological Seminary, 1993, para uma visão completa deste
autor sobre o tema.
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 29
c. Pouca importância foi dada a outros aspectos vitais da missão
da igreja. Um destes é a diaconia (serviço). Quase nada se fala entre
estes autores a respeito do envolvimento da igreja na mudança das
estruturas pecaminosas da sociedade por meio uma diaconia bíblica.
Este aspecto não é negado por eles, mas também não é enfatizado e,
quando mencionado, ocupa lugar de menor destaque, pois a prioridade é
a evangelização que leva ao crescimento numérico.
d. Finalmente, este movimento contribuiu para que a dicotomia entre
evangelização e ação social fosse aumentada, colocou a primeira como
prioridade sobre a segunda. Assim, os autores não conseguiram perceber
que a Bíblia e principalmente Jesus Cristo, não separam as pessoas
em compartimentos e que Deus quer a restauração harmoniosa do ser
humano em todo o seu ser.

Exercício de Fixação - 07
A igreja deve crescer porque:
a) Líderes dedicados buscam inevitavelmente crescimento.
b) É a consequência natural de uma igreja que segue um bom modelo
de crescimento.
c) É dá vontade de Deus que igreja cresça.
d) Igrejas assim busca avivamento
e) Os líderes precisam ter igrejas grandes para investir mais na missão.

2.2.3. As principais contribuições do movimento


a. Nos seus primórdios, ele contribuiu para desafiar o movimento missionário
a ter um envolvimento mais próximo com o povo evangelizado. As missões
estavam se tornando um gueto nos países onde haviam se instalado e os
missionários tinham pouco contato com o povo, pois ficavam isolados em
suas vilas missionárias e saiam de lá apenas para realizar os trabalhos
evangelísticos. Com isso o crescimento da igreja já não acontecia mais, pois
não havia parceria entre os missionários e os líderes locais.

30 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


b. Trouxe também desafios para as denominações norte-americanas que
não mais se preocupavam com a evangelização do ser humano. Com a
influência do chamado “evangelho social”, muitas igrejas perderam por
completo todo e qualquer desejo de pregar a salvação no sentido espiritual,
preocupadas que estavam com a salvação social do indivíduo. O movimento
critica esta situação e chama às igrejas de volta a um trabalho evangelístico.

Saiba mais
O movimento do “evangelho social”, liderado pelo teólogo batista
americano Walter Rauschenbusch (1869-1918) difundiu-se nos
países anglo-saxões. O pensamento básico do “social gospel”
consistia em priorizar a missão social e política da igreja em
detrimento da evangelização. Houve uma natural reação dos
chamados teólogos fundamentalistas que assumiram uma posição
oposta priorizando apenas o aspecto da proclamação do evangelho
em detrimento das questões sociais e éticas do evangelho. Carlos
Queiroz, “Missão Integral” s/d.

c. Influenciou o desenvolvimento de um novo ramo de estudos na teologia


que hoje é conhecido como “missiologia”. Ninguém pode negar que os
professores do Fuller tiveram uma enorme participação na implantação
de cadeiras de missões nos seminários mundo afora. Com isto, quebrou-
se um pouco o elitismo acadêmico em que somente as teologias bíblicas
e sistemáticas recebiam atenção.

2.3. Bases bíblicas para o crescimento de igreja


Naturalmente que ao falar de crescimento de igreja estamos
estabelecendo que ela necessitará compartilhar o evangelho de Cristo
com outras pessoas. Isso por si só já constitui um problema na sociedade
pós-moderna.

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 31


Nesta sociedade essencialmente liberal, relativa e plural em todos os
sentidos como a igreja proclamará uma verdade que crê não ser uma,
mas a verdade? Que não é relativa, mas absoluta?

Primeiramente, se cremos que a Bíblia é o nosso livro de fé e prática,


precisamos olhar para ela e derivarmos dela a nossa autoridade para a
proclamação do evangelho.

Já pontuamos na Unidade 1 a importância da Grande Comissão de Mateus


28:18-20. Há na literatura cristã excelentes estudos sobre esta famosa
passagem. Jesus Cristo antes de partir para reassumir a sua glória instruiu
os seus seguidores para que andassem pelo mundo fazendo discípulos.
Não diz para fazer discípulos da igreja, mas de todos os povos, todas as
etnias. Todavia, ao instruir que os novos seguidores fossem ensinados
e batizados Jesus estava explicitamente dizendo que essas pessoas
formam uma comunidade. No dizer de Paulo, elas formam uma nova
humanidade, ou conforme a versão King James Atualizada, “um novo ser
humano” (Ef 2:15). O batismo, antes de ser um rito, é uma incorporação na
vida comunitária, é a aceitação e inclusão em uma nova família, a igreja.

2.3.1. A vida e ministério de Jesus Cristo


A vida do próprio Jesus estabelece o exemplo da importância de transmitir a
mensagem de Deus. Logo no início do evangelho de João somos informados
que o Cristo encarnou-se e veio habitar na terra. Era o Deus Conosco em
forma concreta e visível. O evangelista faz uma afirmação interessante:
“Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens” (Jo 1:4). Mas adiante ele
diz que essa luz ilumina a todo o homem (v. 9). Note que João faz referência
ao escopo universal da missão de Jesus: luz para toda a humanidade.
Jesus afirma que veio ao mundo para buscar e salvar quem estava perdido
(Lc 19:10). Este é centro de sua atividade missionária. Em outro lugar ele
afirma que quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus (Jo
3:3), e aos judeus declarou abertamente que quem nele cresse teria a
vida eterna (Jo 6:47) e isto significa obviamente não morrer eternamente
(Jo 11:25). Ele afirma ser o caminho de regresso a Deus (Jo 14:6) e

32 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


adverte que pessoas podem até mesmo conquistar todas as coisas que
este mundo pode oferecer, mas o que adiantaria tudo isto se essa pessoa
perdesse a sua alma (Mt 16:26). Por isso, ensina que é melhor ajuntar
tesouros no céu onde não existe a menor possibilidade que venha a ser
perdido ou corrompido (Mt 6:19; Mc 10:21).
No Novo Testamento é correto afirmar que há um forte sentido escatológico
para o termo salvação: salvação do pecado, do julgamento, da condenação
e da “ira” de Deus. Todavia, também pode ser usado para libertação da
morte, doença, possessão demoníaca, escravidão do mal ou qualquer
sorte de calamidade. Em Jesus todas estas dimensões são concretizadas.
Esta salvação, então, que Jesus oferece não é meramente uma transferência
do domicílio terreno para o celestial. É uma vida totalmente nova, modelada
na pessoa dele que é o protótipo de como Deus quer que vivamos. Uma vida
plena e abundante (Jo 10:10). É esta salvação que a igreja foi comissionada
a proclamar. Ela é integral e visa o ser humano em sua totalidade.

2.3.2. A vida e ministério do apóstolo Paulo


Qualquer reflexão sobre o crescimento da igreja precisa passar pela
pessoa de Paulo. A Revista Super Interessante publicou em 2003 uma
matéria cujo título causou curiosidade: Paulo: o homem que inventou
Cristo. O conteúdo versa sobre como ele foi a pessoa por detrás do
estabelecimento do cristianismo.

Saiba mais
Paulo desempenhou um papel maior na evangelização dos
primeiros cristãos”, diz o biblista Jerome Murphy-O’Connor,
professor da Escola Bíblica e Arqueológica de Jerusalém e um dos
maiores estudiosos do santo.
O historiador André Chevitarese, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), especialista em cristianismo e judaísmo antigos,
concorda: “O cristianismo, tal como existe hoje, deve muito a Paulo.
Se não fosse o apóstolo, ele provavelmente não teria passado de mais

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 33


uma seita judaica”. Isso não quer dizer que o trabalho dos 12 apóstolos
tenha sido irrelevante, mas eles pregaram numa região, a Palestina,
que viria a ser devastada pelos romanos entre os anos 66 e 70.
“Sem dúvida, Paulo foi o apóstolo que teve maior repercussão com
o passar dos séculos”, afirma o teólogo Pedro Lima Vasconcellos,
professor do Departamento de Teologia e Ciências da Religião da
Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo.
Fonte: https://super.abril.com.br/historia/o-homem-que-inventou-cristo/

Não há como negar que sem a conversão e depois o entusiasmo e zelo


de Paulo o cristianismo não teria tido o avanço que teve e na velocidade
como aconteceu. Ele foi a pessoa que mais entendeu o propósito da
vinda de Cristo ao mundo. Para ele não havia a menor possibilidade de
existir a igreja divorciada de uma íntima relação como o seu Salvador.
Assim, é bastante forte em Paulo o conceito de que a igreja é o povo de Deus.
Antes de ser qualquer organização ou instituição ela é o ajuntamento de
pessoas que seguem os mandamentos do Filho de Deus. A igreja é a nova
humanidade formada como resultado do recebimento do evangelho da paz
anunciado pelo Messias. Assim ele narra que Cristo “é a nossa paz. De ambos
os povos [judeus e gentios] fez um só e, derrubando o muro da separação, em
seu próprio corpo desfez toda a inimizade... para em si mesmo criar do dois
um novo ser humano, realizando assim a paz” (Ef 2:14-15).
Agora, Cristo e a igreja estão em uma íntima associação, que é um
mistério. Ao narrar sobre o casamento, Paulo faz uma analogia para o
relacionamento de Cristo e a igreja e então ele conclui: “Este é um mistério
grandioso; refiro-me, contudo, à união entre Cristo e sua Igreja” (Ef 2:32).
Os textos abaixo descrevem o que Paulo ensinava sobre este tema:
• Ora, vocês são o corpo de Cristo, e cada um de vocês, individualmente,
é membro desse corpo (1Co 12:27)
• Assim como cada um de nós tem um corpo com muitos membros e
esses membros não exercem todos a mesma função, assim também
em Cristo nós, que somos muitos, formamos um corpo, e cada

34 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


membro está ligado a todos os outros (Rm 12:4-5).
• Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos
membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um
só corpo, assim também com respeito a Cristo (1Co 12:12).
• Há um só corpo e um só Espírito, assim como a esperança para a
qual vocês foram chamados é uma só... (Ef 4:4).
• Agora me alegro em meus sofrimentos por vocês e completo no meu
corpo o que resta das aflições de Cristo, em favor do seu corpo, que
é a igreja (Cl 1:24).
• Além do mais, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo, antes o
alimenta e dele cuida, como também Cristo faz com a igreja, pois
somos membros do seu corpo (Ef 5:29-30).
• Que a paz de Cristo seja o juiz em seu coração, visto que vocês foram
chamados para viver em paz, como membros de um só corpo. E
sejam agradecidos (Cl 3:15).
• Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja; é o princípio e o primogênito
dentre os mortos, para que em tudo tenha a supremacia (Cl 1:18).
• Dele todo o corpo, ajustado e unido pelo auxílio de todas as juntas,
cresce e edifica-se a si mesmo em amor, na medida em que cada
parte realiza a sua função (Ef 4:16).
• Vocês não sabem que os seus corpos são membros de Cristo?
Tomarei eu os membros de Cristo e os unirei a uma prostituta? De
maneira nenhuma! (1Co 6:15).
Foi esse entendimento da igreja como o corpo de Cristo que motivou
Paulo a realizar suas viagens missionárias, plantar novas igrejas, se
interessar pelo desenvolvimento de cada uma, conforme atesta suas
cartas, e ainda por não descansar até ver Cristo conhecido em lugares
onde o evangelho ainda não havia sido anunciado: “Sempre fiz questão
de pregar o evangelho onde Cristo ainda não era conhecido, de forma
que não estivesse edificando sobre alicerce de outro. Mas antes, como
está escrito: ‘Hão de vê-lo aqueles que não tinham ouvido falar dele,
e o entenderão aqueles que não o haviam escutado’” (Rm 15:20-21).
Inclusive é isso que ele pede aos cristãos de Éfeso: “Orem também por

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 35


mim, para que, quando eu falar, seja-me dada a mensagem a fim de que,
destemidamente, torne conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou
embaixador preso em correntes. Orem para que, permanecendo nele, eu
fale com coragem, como me cumpre fazer” (Ef 6:19,20). Paulo continua
sendo uma inspiração a todos nós que seguimos a Jesus Cristo.

Certamente, não temos espaço aqui para desenvolver toda a teologia


paulina sobre a igreja. Há inúmeras fontes bibliográficas disponíveis sobre
o tema. Mas, é importante ressaltar como incentivo para os cristãos de
hoje que o evangelho somente tem sentido quando compartilhado com
o outro. O cristianismo é, e Paulo deixa isso bem claro, a religião para o
outro, pois sem o outro não há absolutamente a necessidade da igreja e
mesmo do evangelho.

2.4. Tipos de crescimento


Temos basicamente três tipos de crescimento de igreja. O primeiro é o
crescimento biológico. Ele ocorre pela simples geração de filhos e filhas
dos cristãos. Igrejas com casais novos vão experimentar este tipo de
crescimento em grande escala. Devemos lembrar que a Bíblia valoriza
bastante o papel das crianças nos lares e que é dever de todos os pais e
mães educarem suas crianças nos caminhos do Senhor. Devemos notar
ainda que a maioria das conversões se dá até a idade de 17 anos.

Permita-me uma digressão aqui. Relacionado com o tema das crianças,


creio que a igreja perde uma grande oportunidade de incentivar os
infantes das igrejas a ser tornarem missionários. Não podemos nos
esquecer que os filhos e filhas dos cristãos estão também inseridos na
sociedade. São alunos de escolas, frequentam atividades esportivas, são
convidados para festas de aniversários etc. Nossas crianças podem levar
seus amigos e amigas para alguma atividade especial que a igreja possa
promover. Certamente, esta é uma grande oportunidade de apresentar o
evangelho para estas famílias.

O segundo é o crescimento por transferência. Naturalmente que com

36 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


tantas igrejas disponíveis para congregar é bem provável que exista uma
grande circulação de crentes por elas. O tempo da fidelidade doutrinária
ou apego por uma tradição eclesiástica específica ficou para trás há
tempos. As razões que levam alguém a se transferir de comunidade para
outra são as mais diversas possíveis: desavenças de todos os tipos;
desgosto com o ambiente; mudança de cidade ou bairro; convite de
amigos ou familiares; adaptação das crianças nos programas da igreja;
busca por melhor estrutura para filhos adolescentes e jovens; espaços
mais adequados e confortáveis; estilo de música; louvor de boa qualidade;
profundidade da pregação e estudos bíblicos; células familiares próximas
de casa; etc.

Assim sendo, da mesma maneira que uma igreja pode receber muitas
pessoas por transferência, ela também pode perder muitas destas
pessoas. O crescimento por transferência não estende o reino de Deus,
mas traz muita visibilidade para a igreja local, pois ela começa a ser
comentada na cidade como uma “boa igreja”, como uma igreja que tem
muitas qualidades e recursos para oferecer. Naturalmente que isto gerará
desejos de ser conhecida e visitada.

Finalmente temos o crescimento por conversão. Este crescimento


ocorre quando alguém de forma consciente e inteligente deposita sua
fé em Jesus Cristo para a sua salvação. Eventualmente esta pessoa
será ensinada, batizada e se tornará membro da igreja local. Donald
McGavran diz: “Esse é o único tipo de crescimento pelo qual as boas
novas da salvação podem se espalhar para todos os segmentos da
sociedade e para os limites mais remotos da terra. A Grande Comissão
exige, evidentemente, um enorme crescimento de conversão” (https://
churchleaderinsights.com/3-kinds-of-church-growth/).

O que deve ficar patente aqui é que Deus deseja que a sua igreja cresça
espalhando a semente do evangelho por todos os lugares conforme
lemos na parábola do bom semeador (Mt 13; Mc 4 e Lc 8). Não faz
nenhum sentido a igreja existir apenas para si mesma ou crescer apenas
biologicamente e por transferência.

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 37


Exercício de Aplicação - 08
Olhando para a realidade atual, o que mais se vê é a rotatividade
de crentes entre igrejas, inclusive muitas pessoas passaram por
diversas igrejas ao longo de poucos anos, filiando-se a elas, fazendo
parte de sua membresia. Olhando para este tópico, o nome dado a
este tipo de crescimento é:
a) Crescimento biológico.
b) Crescimento por divisão de outras igrejas.
c) Crescimento celular.
d) Crescimento por transferencia.
e) Crescimento orgânico.

2.5. Os responsáveis pelo crescimento da igreja


Se Deus deseja que a igreja cresça isto naturalmente implica em que o seu
povo seja o instrumento para que isso ocorra. Temos em tese dois grupos
responsáveis para que o crescimento ocorra: pastores e membros das igrejas.

2.5.1. O papel do pastor no crescimento da igreja


O papel da liderança pastoral já foi estabelecido nas cartas paulina:
capacitar ou equipar os santos para o ministério. Mais e mais isto tem
que se tornar uma realidade. Igrejas nas quais os pastores e pastoras
estão somente preocupados em pregar um bom sermão ou administrar
os problemas das igrejas, mas sem tempo para o discipulado ou para
preparar o povo para testemunhar no dia a dia, raramente experimentam
algum tipo de crescimento. Esse ministério da capacitação é crucial na
renovação da vida da igreja.
A verdade que precisamos afirmar é que o ministério do discipulado é uma
das tarefas mais difíceis dentre as muitas atividades pastorais. Talvez
a razão principal desta dificuldade seja que este ministério toma muito
tempo e energia pastoral. Uma dificuldade para a falta do discipulado
38 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
é que muitos líderes não foram discipulados quando convertidos ou
não tiveram este aprendizado durante o treinamento ministerial. Isto
naturalmente leva a não realização desta parte da Grande Comissão e
consequentemente muitos cristãos fracassam em suas vidas e assim
perdem o potencial de compromisso com o reino de Deus.
É um paradoxo pensar que a arte de fazer discípulos, prática tão comum
nas Sagradas Escrituras, é algo ainda pouco exercido por muitos pastores,
justamente eles que passaram tanto tempo nos seminários estudando
a Bíblia. Pastores no Brasil, principalmente nas denominações mais
tradicionais, são louvados por suas capacidades de oratória, mas não
por causa da ênfase no treinamento dos membros de suas igrejas.

O problema disto tudo é que justamente este ministério é o que mais


contribui não só para o crescimento da igreja, mas também para uma
melhor compreensão do papel do crente na sociedade de hoje. É este
ministério que irá ajudar o fiel a relacionar a sua fé com o mundo e não
fugir deste por causa da sua fé.
Enquanto os pastores não atentarem para esta realidade, o crescimento
da igreja local será uma tarefa quase que impossível. Mark A. Finley, em
um pequeno artigo, antigo, mas ainda atual, intitulado O pastor: chave para
o crescimento da igreja apontou para este fato com muita propriedade.
A pessoa chave no inteiro processo do crescimento de
igreja é o pastor. A igreja que tiver um pastor que creia
que é da vontade de Deus que a sua igreja cresça e que
compreenda que o propósito da igreja é redentivo, ver
a sua igreja crescer. Se o crescimento da igreja é tão
somente uma das muitas opções congregacionais, o
mesmo será inconsistente e esporádico. Qualquer pastor
que for sensível a direção do Espírito Santo, que leva a
autoridade da Bíblia com seriedade, e que ora inteligente
e sistematicamente sobre as suas prioridades em como
capacitar a sua igreja, verá crescimento (1982, p.4).

Estes fatos não estão sendo mencionados para que o pastor se orgulhe
de sua posição na igreja. Isto está sendo dito justamente para mostrar

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 39


que o pastor como líder de sua comunidade tem a obrigação de conduzir
o seu rebanho com dedicação e fidelidade ao chamado de Deus.
Uma das muitas maneiras do pastor mostrar esta fidelidade, é reconhecer
que as ovelhas do seu rebanho também possuem dons outorgados por
Deus. O papel do pastor como líder é reconhecer estes dons e encorajar
os crentes a coloca-los em prática. Isto é muito difícil para a maioria
dos pastores. Difícil porque muitos deles veem-se a si mesmos como a
principal e mais importante figura dentro da igreja que pastoreiam. Listo
algumas atividades pastorais que podem levar ao crescimento da igreja.
a. Estimular o rebanho
O pastor não somente supervisiona o rebanho, mas a ele cabe
principalmente a tarefa de estimular os crentes à obra do Senhor. Se
isto não acontecer, a igreja pode chegar ao ponto de eventualmente não
precisar deste líder. Para estimular o rebanho, o pastor tem que passar
por um processo de reflexão e atingir um certo grau de maturidade para
que possa exercer o dom de estimular outros ao serviço. Caso isto não
aconteça, o pastor consciente ou inconscientemente exercerá a função
de “podador” dos sonhos e aspirações do povo de Deus.
b. Prover oportunidades missionais
Se a função da ovelha é gerar outras ovelhas, a função do pastor é
prover avenidas ministeriais para que o crente venha a exercer a sua
vocação. Esta responsabilidade cabe ao pastor e à liderança da igreja
e não somente aos crentes. Para ser este provedor de oportunidades, a
liderança tem que passar por um processo de mudança de paradigma. O
nosso padrão de igreja está fundamentado na tradição que divide pastor
e leigo. Para que isto aconteça a liderança deve ver o povo, principalmente
aqueles que também têm habilidade de líder, não como competidores
pelo “sucesso” do trabalho realizado, mas como pessoas que desejam
ver o reino de Deus expandido.
Portanto, para que o crescimento ocorra pastores e pastoras precisam
repensar a igreja a partir da missio Dei e não tanto a partir das tradições de sua
denominação. Uma igreja missional é uma igreja bem liderada e harmoniosa
na tarefa de proclamar com palavras e ações o evangelho de Cristo.

40 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


Exercício de Aplicação - 09
Em qual das realidades o pastor exerce a função de ser o responsável
pelo crescimento da igreja?
a) Quando estimula o rebanho, ensina e treina para a proclamação do
evangelho.
b) Quando os membros das igrejas são os principais responsáveis pelo
amadurecimento da igreja.
c) Quando o pastor é um administrador, atuando principalmente na gestão
da igreja.
d) Quando o pastor divide com os membros o amadurecimento da igreja.
e) Quando apenas os líderes e supervisores de células podem produzir o
crescimento da igreja.

2.5.2. O papel do povo de Deus no crescimento da igreja


O dicionário assim define o termo “leigo”, que muitas vezes é
erroneamente usado por líderes cristãos: “aquele que não tem ordens
sacras ou é estranho ou alheio a um assunto”. Assim, o leigo é aquela
pessoa que não possui o conhecimento teológico profissional do clérigo.
Uma definição sociológica diria que é aquele que ganha o seu sustento
em uma ocupação secular e não pelo serviço à igreja.

Estas definições partem do negativo. A palavra leigo vem do grego laos


que em temos gerais significa “todo o povo”. A frase ho laos to Theou,
quando aplicada à igreja significa: “o povo de Deus.” Neste sentido, todas
as pessoas que foram incorporadas ao corpo de Cristo são laos, um povo
chamado por Deus com uma missão especial neste mundo. As seguintes
passagens bíblicas ilustram este fato: Atos 15:14; Hebreus 4:9 e 1Pedro
2:10. Todas referem-se ao povo como pertencendo a Deus. Estes autores
não fazem distinções entre o clero e o corpo de fiéis. Da dualidade greco-
romana da cidade-estado (polis), a igreja primitiva tomou emprestado as

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 41


distinções de kleros (magistrado) e laos (povo). Logo, se tornou comum
falar de kleros e laos, o clero e o laico ou leigo.
Este desvio das Escrituras nos levou à tradição de devotar um lugar
especial para os clérigos e praticamente nenhuma responsabilidade aos
então chamados leigos no desenvolvimento da igreja. Essa dicotomia
não encontra respaldo nas Escrituras, mas sim na tradição das igrejas
evangélicas por meio de práticas, conceitos ultrapassados e muita
racionalização. O problema é que isto é disseminado não somente entre
a liderança, mas também entre os membros.
Esta dicotomia precisa ser superada para que se restaure o modelo
bíblico de ministério e leve a igreja ao crescimento. O primeiro passo para
esta mudança deve ser dado pelos pastores. Os líderes precisam de uma
renovação teológica e de um entendimento correto do papel do povo no
plano de Deus para a igreja e para o mundo.
Outro obstáculo para que o ministério do povo de Deus não se desenvolva é
que os próprios crentes menosprezam ou dão pouco valor àquilo que Deus
dispensou a eles. Se esta discussão for aplicada ao contexto brasileiro
veremos que em algumas denominações poucas pessoas que não são
pastores têm tido papel em sua liderança. Na igreja local esta liderança
quando existente está sempre atrelada à vontade e desejo dos pastores.
Quando olhamos para as igrejas no Brasil, não existe dúvidas de que
muitas delas estão crescendo bem abaixo daquilo que se esperaria,
mesmo aquelas que se orgulham de possuir “o verdadeiro evangelho”
ou a melhor das tradições e doutrinas. Seria de se esperar, portanto, um
crescimento formidável entre elas, o que não ocorre.

Note o interessante comentário, feito em 1972, por Charles Gates que


publicou um estudo que realizou no Brasil. Ele diz que:
As igrejas tradicionais no Brasil não experimentarão
um rápido crescimento como visto entre as igrejas
pentecostais a menos que haja mudanças funcionais
e estruturais em seus meios. Deve haver por parte
42 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
do leigo um maior desejo e prontidão em se envolver
mais com a vida de suas igrejas. Deve haver uma
prontidão entre os pastores em aceitar a cooperação
dos membros de suas igrejas para que o crescimento
ocorra (1972, p. 64).
O problema detectado por Gates ainda é o mesmo hoje. O crescimento de
qualquer igreja não está nas mãos dos pastores — ainda que eles sejam
responsáveis pelo mesmo —, mas nas mãos de milhares de fiéis que
diariamente se misturam com os brasileiros das mais variadas camadas e
segmentos da sociedade.

Tradicionalmente, os membros das igrejas foram considerados pessoas


que precisavam ser servidas, protegidas e alimentadas. Isto tem sido
perpetuado por uma má compreensão dos pastores e dos próprios
crentes. A maioria dos seminários teológicos não ensinam sobre a
teologia do povo de Deus. Os pastores, portanto, não estão preparados
para trabalhar com o povo de Deus, mas para este povo, assumindo
muitas vezes uma função meramente sacerdotal de ministério.

Quando os cristãos são reconhecidos como parceiros de ministério,


alguns resultados podem acontecer:
• Remover a falsa concepção de que o ministério pastoral tem um
“quê” de divino e de uma experiência com Cristo diferente dos demais
membros da igreja.
• Dirimir as dúvidas para os fiéis, bem como para os pastores, de que
Deus mesmo chamou a todos para o seu serviço.
• Responsabilizar a todos os membros da comunidade na tarefa da
expansão do reino de Deus.
• Produzir um impacto total da comunidade cristã sobre o mundo não
cristão.
Concluindo, o povo de Deus precisa ser encorajado e equipado para usar
os seus dons espirituais. É tarefa do pastor descobrir uma metodologia
adequada para que isto ocorra. Esta metodologia deve refletir o contexto
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 43
onde a igreja está inserida. Vejamos como foi descrito o trabalho dos
cristãos do primeiro século:
Assim como na igreja primitiva não havia distinção
entre ministros de tempo integral e leigos, quanto à
responsabilidade de difundir o evangelho por todos os meios
possíveis, também não havia distinção entre os sexos nesta
questão. Era ponto pacífico que todos os cristãos eram
chamados para serem testemunhas de Cristo, com a vida
e com as palavras. Todos deveriam ser apologistas, pelo
menos a ponto de poderem dar satisfação da esperança
que havia neles. Isto incluía as mulheres, com toda a
certeza. Elas desempenham um papel importantíssimo na
propagação do evangelho (Green, 1984, p. 215).
Assim sendo, cada cristão que tem o desejo de ser útil no reino de Deus e
no serviço cristão deve se juntar a esta linhagem de homens e mulheres
que no decorrer dos tempos vêm fazendo grandes coisas para o Senhor
e deve se perguntar: “qual é o meu dever espiritual?”

Exercício de reflexão - 10
Tendo em vista que os pastores são os principais responsáveis
pelo crescimento da igreja e isso se dá a partir do discipulado,
treinamento e capacitação dos membros. Descreva quais seriam
os conteúdos que deveriam ser contemplados para que uma igreja
local tenha seus líderes devidamente preparados para contribuir
com seu crescimento. Por se tratar de um exercício de reflexão,
descreva refletindo sobre o porquê dos conteúdos.

Referências bibliográficas
FINLEY, Mark A. Industrialization: Brazil Catalyst for Church Growth.
South Pasadena: William Carey Library, 1972.
GREEN, Michael. Evangelização na Igreja Primitiva. São Paulo: Editora
Vida Nova, 1984
44 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
UNIDADE 3 – CRESCIMENTO INTEGRAL E ENCARNAÇÃO
3.1. O mistério da igreja
A igreja que queremos não será nunca uma realidade pois tudo o que
acontece na igreja é temporário. Ela somente será uma realidade naquele
dia em que o reino for consumado conforme promessa de Jesus Cristo.
Por isso, devemos ter em mente duas coisas a respeito da igreja.
A primeira é que ela, em união com Cristo, é um mistério: “Este é um
mistério profundo; refiro-me, porém, a Cristo e à igreja” (Ef 5:32). Querer
entender e dissecar a igreja como se ela fosse um amontoado de coisas
é uma impossibilidade. Podemos refletir sobre tudo a respeito da mesma,
mas tendo sempre em mente que a igreja é um mistério.
O segundo aspecto que precisamos observar é que a igreja está a
caminho de ser o que ela não é hoje, em outras palavras: ela será aquilo
que Jesus planejou e não o que vemos hoje. O apóstolo Paulo nos ensina
que “Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de a
santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para
apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem
qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Ef 5:25-27). Note
que o próprio Cristo está encarregado de preparar a igreja para o fim dos
tempos. Veja ainda que ele apresentará a igreja a si mesmo. Ou seja,
ele sabe que a igreja que entrará no reino eterno está em processo e
quando chegar o dia de ela entrar triunfalmente no neste reino, ele não
terá nenhuma surpresa pois ele mesmo a preparou para aquele dia.
Naquele dia, na consumação dos tempos, a igreja será então santa e
sem defeitos. Por isso, juntos, o apóstolo Paulo e tantos outros que nos
antecederam, cremos que a nossa lealdade é com o evangelho de Jesus
Cristo. Ele estava sempre pronto a anunciar o evangelho (Rm 1:15; 15:20;
1Co 1:17 e 9:16) e declarou que tudo fazia por causa do evangelho: “Faço
tudo isso por causa do evangelho, para ser co-participante dele” (1Co
9:23). Assim, não somente tudo o que acontece com a igreja é temporário,
como qualquer crítica a ela também é temporária. Ainda que seja uma
crítica válida, ela é para hoje apenas.
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 45
Parece-me que em nossa pressa em apontar as falhas da igreja, ainda
que válidas, precisamos ter em mente que as nossas observações
devem ter como motivação a causa do evangelho. É o próprio evangelho
ao ser proclamado — também dentro da igreja — que é o corretivo para os
alarmantes desvios da mesma.
Orlando Costas, autor primário que vamos estudar nesta unidade, propõe
uma pastoral social,

[...] que leve a sério o caráter pastoral da igreja, a situação


concreta dos povos latino-americanos, a herança da
Reforma do Século 21 e a tradição evangélica latino-
americana. A proposta pressupõe uma interpretação
missiológica da pastoral, definindo-a como a expressão
prática da missão com uma dimensão dupla: ao interior
da igreja, com o propósito de renová-la, e ao exterior
da mesma, para ajudá-la a encarnar-se na sociedade e
contribuir com sua transformação integral (1984:14).

Saiba mais
Orlando E. Costas (1942-1987) nasceu em Porto Rico e faleceu
nos Estados Unidos, vitimado por um câncer, aos 45 anos de
idade. Era pastor e teólogo batista. Graduou-se doutor em teologia
e missiologia nos Estados Unidos. Foi reitor e professor do
Seminário Bíblico Latino-Americano de Costa Rica; fundou o Centro
Evangélico Latino-Americano de Estudos Pastorais (CELEP), em
1973, em San José, Costa Rica. Atuou como administrador da
faculdade do Eastern Baptist Theological Seminary, na Filadélfia,
onde também foi professor de missiologia e diretor de estudos
hispânicos.Além disso, ocupou o cargo de segundo vice-presidente
do Conselho Latino-Americano de Igrejas (CLAI) e, na ocasião
de seu falecimento, atuava como professor no Andover Newton
Theological School, em Massachussetts, e como vice-presidente
da Fraternidade Teológica Latino-Americana.

46 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


Nota do professor da matéria: Costas graduou-se no seu doutorado
na Universidade Livre de Amsterdã, Países Baixos, sob a supervisão
do missiólogo Johannes Verkuyl (1908-2001) que deixou sobre ele
grande influência.
Fonte: https://ejesus.com.br/orlando-costas-e-a-igreja-brasileira/

Quando estudamos sobre o desenvolvimento integral da igreja estamos


imediatamente remetendo o tema para a missão da igreja (missio
ecclesiae). Muitos teólogos têm feito verdadeiro artifício para fazer uma
teologia divorciada da missão. É simplesmente sem propósito essa
relutância, tendo em vista que não existe teologia sem a missão. Fazer
teologia ignorando a missão é o mesmo que tentar respirar sem ter o
ar, é elaborar sobre o nada, é uma viagem no vácuo. A famosa frase de
Emil Brunner precisa ser lembrada: “A igreja existe pela missão, assim
como o fogo existe pela combustão. Onde não existe missão, não existe
igreja; e onde não existe nem missão nem igreja, não existe fé [teologia]”
(1931, p. 108). Martin Kähler também expressou de forma similar:
“Missão é a mãe da teologia” (Bosch, 2002, p. 34).
Seria interessante lembrar as palavras de Judo Poerwowidagdo quando
aponta a communio sanctorum como a
[...] comunidade que é distinta de outras comunidades
porque foi Deus quem a ajuntou e não por causa da
concordância social e política de seus membros. Eles
não pertencem à ‘comunidade’ por causa de propósitos
ou interesses mútuos. Não é uma comunidade por causa
de um contrato sócio-político, nem por associação
profissional. Ela é uma comunidade em continuidade,
com seu início no Novo Testamento quase dois milênios
atrás. Ela continua até o presente momento, e continuará
até o eschaton, isto é, até a completude do reino de
Deus. A sua existência continua não depende de seus
membros, mas de uma ordenança divina (1994, p. 21).
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 47
O nosso ponto de partida para o desenvolvimento da igreja é sempre
a missio Dei que engloba a reflexão teológica da ação de Deus tanto
na criação como na redenção. Isso significa que a missio Dei contém a
missio ecclesiae e não o contrário.

Tendo feito esta introdução sobre a importância da igreja, descrevo


agora em detalhes aquilo que julgo ser a melhor contribuição para o
crescimento de igreja feita Costas ao contribuir para o entendimento do
crescimento da igreja em quatro dimensões.

Exercício de Reflexão -11


Logo na introdução dessa unidade, vimos que a igreja está longe de
ser aquilo que desejamos e querer entende-la é de certa forma uma
impossibilidade. Para algumas pessoas é frustrante se deparar com
problemas e conflitos, e a igreja é um lugar com essas situações e
outras mais. Ao pensar a respeito da igreja, você consegue ter essa
perspectiva de que ela está em um processo de aperfeiçoamento?
Como lida com a realidade de que somente na consumação dos
tempos a igreja será santa e sem defeitos?

3.2. As dimensões do crescimento de igreja


Para se conhecer o racional por trás do conceito de crescimento integral
de Costas (1983, p. 102) é necessário observar como ele explica estas
dimensões. Quatro dimensões de crescimento fluem da realidade de que a
igreja é uma companhia crescente de pessoas compromissadas na jornada
da fé. Como uma comunidade a caminho do reino de Deus, cujos membros
vivem em comunhão uns com os outros, que são ouvintes e praticantes
das Palavras de Deus, e que estão compromissados incondicionalmente
a servir a humanidade no amor do evangelho, a igreja deve experimentar
o crescimento em quatro direções: no aumento de número de seus
membros, no desenvolvimento de sua vida orgânica, no aprofundamento
de seu entendimento da fé, e na eficácia de seu serviço ao mundo.
48 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
Cada uma destas dimensões está relacionada com algum aspecto da
vida em missão da igreja como eu destacarei a seguir.

3.2.1. Crescimento numérico


Esta dimensão está relacionada com o aumento do número de pessoas
entre as milhões que não conhecem a Jesus Cristo como Senhor e
Salvador. Esta é uma parte fundamental da natureza da igreja por ser uma
comunidade apostólica, enviada ao mundo como herdeira da mensagem
e comissionamento dos apóstolos.

Saiba mais
Aos que desejam se aprofundar sobre a natureza missionária
da igreja a sugestão é ler e estudar o livro de Johannes Blauw. A
natureza missionária da igreja: exame da teologia bíblica da
missão. Aste, 1966. Aqui ele desenvolve a ideia centrípeta e
centrífuga da missão.

Além do mais, a igreja é o sinal do reino de Deus e como tal deve semear a
semente das boas novas do evangelho a todos e a cada setor da sociedade.
Neste processo, a igreja se torna o fermento do mundo. Crescimento, para
Costas, é um sinal fundamental da verdadeira igreja que confirma que ela
está participando na ação de expansão do Espírito (1979, p. 37)
Com relação a vida em missão da igreja, este aspecto desafia a igreja a
se preocupar com aqueles que estão alienados de Deus, e necessitam da
reconciliação e incorporação em uma comunidade onde serão amados e
nutridos. A igreja deve ao mundo a proclamação do evangelho.

Costas expande esta perspectiva em seu livro Compromiso y Misión


(1979), onde esta dimensão é chamada de “crescimento em profundidade”.
Aqui, deduzindo de algumas parábolas, ele destaca alguns princípios
para o crescimento numérico:
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 49
• Semear a semente,
• Cultivar o solo,
• Podar os galhos secos, isto é, mudar de uma área que não produz
frutos para um campo mais responsivo,
• Realizar a colheita para não podemos perder frutos preciosos (1979,
p. 38-47).

Neste aspecto do crescimento numérico, Costas não difere muito


do Movimento de Crescimento de Igreja — que será estudado mais
adiante. Lembrando que este crescimento, além da evangelização para
a incorporação de novos convertidos, pode incluir o crescimento por
nascimento de filhos e filhas dos cristãos e por transferência de membros
de uma igreja para a outra.

3.2.2. Crescimento Orgânico


Se o crescimento numérico é, principalmente, o desenvolvimento externo
da igreja, alcançando a sociedade com a proclamação do evangelho; o
crescimento orgânico é o desenvolvimento interno da comunidade da
fé. Costas diz: “Esta dimensão engloba a forma de governo da igreja, sua
estrutura financeira, seu estilo de liderança, o tipo de atividades nas quais
ela investe seu tempo e dinheiro, e sua celebração litúrgica” (1983, p. 102).

Na realidade, o crescimento orgânico está preocupado com aqueles que são


acrescentados à igreja. Estes novos convertidos devem ser incorporados
na vida comunitária e a liderança deve inserir cada um deles em algum
ministério. Um erro muito comum nas igrejas é esperar muito tempo para
envolver as pessoas em suas atividades. Às vezes exige-se um longo tempo
explicando-se a tradição daquela igreja, às vezes cai-se no extremo oposto
de ignorar que as pessoas estão ali. Assim, o tempo vai passando e muitas
dessas pessoas vão perdendo o entusiasmo e a alegria da nova vida.

Em relação ao aspecto da vida em missão da igreja, este crescimento


tem a ver com cultura e contextualização, educação cristã e mordomia,
comunhão e louvor. A igreja necessita ser relevante e significativa onde
está sendo formada.
50 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
Um detalhe importante no crescimento orgânico é o cuidado que se deve
ter com a chegada de muita gente. É necessário prestar atenção se os
espaços da igreja são adequados aquele número de pessoas. Como as
estruturas serão afetadas se cinquenta pessoas são acrescidas? Haverá
assentos, salas de educação, banheiros, estacionamento, etc.?
Além dessas questões do espaço, há outras como: os professores
possuem suficiente treinamento para o discipulado? Há gente para cuidar
das crianças ou para a assistência dos que precisam de ajuda?
Veja que o crescimento numérico pode causar desconforto para os que
já estão na igreja. Alguns serão incomodados com o jeito de ser desses
novos que não têm a mesma cultura evangélica. A tudo isso a liderança
precisa estar atenta.

3.2.3. Crescimento Conceitual


Costas também chama este tipo de crescimento reflexivo. Ele tem
a ver com o entendimento da fé; ele “envolve o aprofundamento do
auto entendimento da Igreja e seu conhecimento da fé, incluindo seu
entendimento das Escrituras, do desenvolvimento histórico da doutrina
cristã, e do mundo na qual ela vive e ministra” (1983, p. 103). Este
crescimento permitirá à Igreja encarar todos os desafios que o mundo lhe
apresenta em suas muitas e diversas formas. A igreja, sendo capaz de
responder criticamente sobre sua fé, evitará se tornar estéril e protegerá
sua criatividade orgânica, evangelística e ética.

Em relação a vida em missão da igreja, este crescimento se relaciona a


reflexão crítica a tudo que é pertinente a ela, como a oração, fé, Palavra
e missão. O pano de fundo para esta reflexão é a realidade concreta
socioeconômica e histórica nas quais a Igreja está imersa.

3.2.4. Crescimento Diaconal


Este crescimento também é chamado de encarnacional. É o serviço que
a Igreja presta ao mundo como uma demonstração concreta do amor
redentor de Deus. Envolve a ação em direção daqueles que são pobres,

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 51


destituídos e que estão sofrendo a dor que vem de uma situação adversa
imposta pelas estruturas da sociedade. “A igreja perde, sem esta
dimensão, sua autenticidade e credibilidade. Somente à medida que a
igreja é capaz de viabilizar concretamente sua vocação de amor e serviço
é que pode esperar ser ouvida e respeitada” (1983, p. 103).
Em relação a vida em missão este crescimento se relaciona com o lado
ético e com a missão da Igreja. Está ligado ao envolvimento da igreja
com as batalhas coletivas na solução, ou pelo menos, na ajuda quanto
aos problemas estruturais da sociedade. É necessário que a igreja esteja
atenta ao que afeta as pessoas de uma maneira geral.
Se a igreja está em um bairro ela precisa observar como é viver naquela
localidade, quais são os problemas recorrentes, as necessidades básicas.
Mesmo sabendo que ela não poderá preencher todas as demandas
existentes, ela poderá escolher alguns ministérios e envolver o seu povo
para ser agente de transformação daquela situação.
Deve ficar bem claro que é nesta dimensão que a igreja ganha ou perde
a estima das pessoas. Esta é a dimensão que coloca a igreja na rua para
andar junto com as pessoas. A igreja sai do templo e encontra o povo no
seu contexto para ministrar a ele.

Exercício de fixação - 12
A respeito das dimensões de crescimento da igreja no conceito de
Orlando Costas, é correto afirmar que:
a) O crescimento numérico possui princípios, o quais são retirados
de algumas parábolas: semear a semente, cultivar o solo, podar os
galhos secos e realizar a colheita. (correta)
b) O crescimento orgânico é o desenvolvimento externo da igreja,
alcançando a sociedade com a proclamação do Evangelho.
c) O crescimento conceitual engloba a forma de governo, a estrutura
financeira e a sua celebração litúrgica.
d) O crescimento diaconal também pode ser chamado de
crescimento reflexivo.

52 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


3.3. As qualidades do crescimento da igreja
Vimos como uma igreja pode crescer forma integral. Tenha em mente
que Orlando Costas escreveu sobre isso na década de 70 e 80. Algumas
coisas ainda permanecem como desafios para hoje especialmente
a dimensão encarnacional. Naturalmente que outros autores fizeram
contribuições para enriquecer estas dimensões. Charles Van Engen,
por exemplo, escreveu um belo texto que deveria ser lido por pastores e
líderes por uma redefinição do papel da igreja local (1996).

Complementando a ideia das várias dimensões do crescimento da


igreja, Costas sugere ainda que existem três qualidades de crescimento:
espiritualidade, encarnacionalidade e fidelidade. “Estas três qualidades
representam as variáveis controláveis do modelo. Elas são os fatores
com os quais avaliamos qualitativamente os vários tipos de crescimento,
ou, em outras palavras, os princípios críticos que testam a validade
teológica do crescimento da igreja” (1983, p. 101). Ou seja, para cada
dimensão devemos aplicar estas qualidades. Neste sentido, como são
quatro dimensões aplica-se as três qualidades para cada uma delas.
Segue um pequeno resumo de cada qualidade.

3.3.1. Espiritualidade
A espiritualidade está relacionada com o trabalho e a operação do Espírito
Santo. Ela é o elemento que investiga se existe a vitalidade do Espírito
no desenvolvimento da igreja. Para avaliar se existe espiritualidade nas
dimensões do crescimento, três perguntas devem ser feitas:
• A primeira pergunta tem a ver com a inspiração e a motivação. O
crescimento é inspirado e motivado pelo Espírito Santo?
• A segunda pergunta relaciona o crescimento ao fruto do Espírito. O
crescimento da igreja reflete este fruto?
• A terceira pergunta tem a ver com a ação. O crescimento demonstra
uma fé alegre, vibrante, amorosa e esperançosa?
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 53
A igreja deve demonstrar sua fé não para si mesma ou somente dentro de
suas paredes, mas para as pessoas que estão do lado de fora do portão,
àqueles que estão na periferia da sociedade. Espiritualidade não é um
sinônimo de abstração. Deve-se valorizar a espiritualidade no caminho,
tanto aquela que busca em Deus a direção por meio das disciplinas
espirituais, bem como aquela que tem a ver com a comunidade dos fiéis,
a comunhão que se dá no caminhar juntos no dia a dia da vida na terra.

A aplicação que se faz aqui é se em cada dimensão do crescimento


percebemos esta espiritualidade? Não são meramente atividades
religiosas para cumprir rituais ou alcançar metas. É um crescimento que
está debaixo da direção segura do Espírito Santo.

3.3.2. Encarnacional
Qualidade encarnacional é a segunda variável para se avaliar o crescimento
da igreja. Ela é entendida, e não pode ser diferente, baseando-se no
nascimento e ministério de Cristo. A encarnação de Cristo se tornou
um paradigma para todos os que querem segui-lo e participar em sua
missão. A arena onde ela deve ser desenvolvida está entre o povo e suas
situações concretas. Nós não estamos falando aqui sobre uma categoria
abstrata da teologia, mas sobre um fato teológico, isto é, “Porque Deus
tanto amou o mundo que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que
nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).

Se a Igreja não deseja crescer nesta dimensão, “ela não poderá iluminar
efetivamente o caminho da vida, nem dar adequadamente o sabor à terra
nem levedar as estruturas da sociedade. Neste caso, ela irá se tornar
funcionalmente e praticamente uma morta ambulante” (1983, p. 101)

O crucial para Costas quanto ele relaciona encarnação ao crescimento


da igreja é que nós devemos “perguntar até que ponto a igreja está
experimentando um crescimento que demonstra um testemunho
concreto (encarnado) ao compromisso e à presença compreensiva de
Cristo entre os que são atormentados e as multidões sem esperança

54 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


deste mundo (Mt 9:36; 25:31-46)” (1983, p. 101). Se a igreja não reflete
esta dimensão, ela perde a sua validade.

Saiba mais
Leia o texto abaixo sobre este termo conforme descrito por Alan
Hirsch:
Eu uso a palavra (encarnacional) para descrever esse modo de
engajamento missionário que leva a sugestão da doutrina da
Encarnação de Deus em Cristo. Se missional se refere à nossa
“sentença” como crentes / igreja, então encarnacional dá forma
a entendermos como devemos nos envolver nessa missão. Deus
veio ao mundo em um ato de identificação profunda, não só com
a humanidade como um todo, mas com um grupo particular de
pessoas. Que Ele estava na vizinhança por 30 anos e ninguém

percebeu, isso nos diz muito sobre Deus e como Ele se envolveu na
situação humana. A Encarnação nos mostra que Deus fala a partir
de uma cultura particular, de maneira que as pessoas possam
perceber, entender e responder. A Encarnação nos dá o modelo
bíblico primário de engajamento - é assim que Deus faz isso e nós
que seguimos seu Caminho. Devemos seguir os seus passos. A
missão encarnacional exige que contextualizemos o Evangelho de
forma que sejam valorizadas as situações culturais e existenciais
particulares dos vários povos, sem comprometer a própria missão.
Ser missional significa sair (ser enviado) para o mundo, então, o
ser encarnacional significa entrar profundamente em uma cultura.”
Fonte: http://evangelismoereforma.blogspot.com/2017/07/
conhecendo-o-conceito-encarnacional-de.html

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 55


3.3.3. Fidelidade

Esta qualidade expressa a necessidade de a igreja viver “sintonizada”


com a ação de Deus na história.
Um desafio que Costas nos apresenta é a ideia de que Deus está
trabalhando no mundo não somente por meio da Igreja. Assim, a igreja
deve estar sintonizada com a ação de Deus na história. Isto significa
que Deus pode trabalhar na história por meio da igreja e/ou por meio de
outras agências. Pensemos em um exemplo que acontece com muita
constância. Quando ocorre uma tragédia de grandes proporções como
um terremoto, ou um alagamento, uma doença de grandes proporções.
Muitas organizações colaboram para mitigar as dores e os sofrimentos
de milhares e milhares de pessoas. O que Costas está dizendo é que a
igreja precisa entender que estas organizações estão sendo usadas por
Deus para preservar vidas preciosas. Elas são instrumentos de Deus.

Nós devemos retornar a nossa primeira intenção e perguntar por que este
entendimento da história é tão importante para o crescimento da igreja?
Fidelidade a Deus implica em um compromisso com a história e com o
mundo. Portanto é importante olhar para o crescimento da igreja e perguntar
se este crescimento é a consequência deste compromisso com o outro. Um
segundo aspecto é analisar se este crescimento levará a igreja a se envolver
com aquilo que Deus está realizando na história, isto é, sua transformação.
Se o crescimento da igreja não tem quaisquer outras consequências e
implicações, então, falta a este crescimento a qualidade da fidelidade.

Nós podemos resumir estas três qualidades em poucas palavras.


Crescimento espiritual é o trabalho do Espírito Santo; crescimento
encarnacional acontece em situações concretas e tem suas raízes
históricas, e o crescimento em fidelidade acontece quando a igreja está
sintonizada com o agir de Deus na história.

56 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


3.4. A importância do modelo encarnacional
O que estamos delineando nesta unidade é a importância de se ter
um desenvolvimento e crescimento de igreja que sejam inspirados no
modelo encarnacional.

John (Juan) Mackay foi um missionário escocês que na década de


1920 trabalhou como missionário no Peru. Foi muito influente no
desenvolvimento da teologia na América Latina com seus escritos
contextualizados para a nossa realidade. Ele desenvolveu uma metáfora
que é usada até os dias de hoje: a sacada e o caminho.

A sacada é o símbolo do espectador perfeito, “para o qual a vida e o


universo são objetos permanentes de estudo e contemplação,” e “por
caminho, eu quero dizer o lugar onde a vida é vivida intensamente, onde
o pensamento nasce do conflito e da preocupação, onde as escolhas
são feitas e decisões são tomadas. É o lugar de ação, de peregrinação,
de cruzadas, onde a preocupação nunca está ausente do coração do
viajante” (1943, p. 29-30).

A igreja que realiza seu ministério a partir da sacada será sempre distante
da realidade que o povo está vivendo. O desafio a ela é ministrar onde
a vida acontece, pois ali é o lugar da ação. É no caminho que o drama
da vida é experimentado. Descer da sacada e integrar ao caminho é um
processo encarnacional.

O apóstolo Paulo ilustra essa encarnação de maneira admirável e


profunda no seu texto de Filipenses 2:5-11:

Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que,


embora sendo Deus, não considerou que o ser igual a
Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se
a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-se semelhante
aos homens. E, sendo encontrado em forma humana,
humilhou-se a si mesmo e foi obediente até à morte,
e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 57


posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome,
para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, no
céu, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse
que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.

Notemos que este texto paulino tem dois movimentos. A descida de Cristo
ao nosso mundo e a ascensão à mais alta posição celestial. No primeiro
movimento temos o modelo da encarnação. Sua voluntariedade em
abandonar o lugar de superioridade, esvaziar-se de tudo o que era, tornar-
se um servo e assumir a posição do outro. Essa descida foi humilhante,
realizada em obediência e totalmente sacrificial. Assim, a igreja também
deve ministrar no mundo de hoje, acompanhando esses movimentos de
Jesus. No dizer de Mackay, descer da sacada e entrar na estrada da vida.
No segundo movimento temos a ascensão de Cristo. Ele é exaltado por
tudo o que fez, por ter cumprido a sua missão de reconciliar o mundo com
Deus. Sua glória é eterna e para sempre será honrado e adorado. A igreja
não pode querer o segundo movimento sem passar pelo primeiro. Não
pode ter a honra sem o sacrifício. Não se pode ter um ministério que seja
o oposto deste apresentado por Jesus. Seria incoerente e desfigurado.
Pois, como poderia a igreja representar Jesus com uma representação
diferente daquilo que ele foi enquanto ministrava nesse mundo?
John Stott (2005, p. 107) também faz um resumo interessante do
ministério de Jesus que merece ser destacado e refletido:
Ninguém jamais demonstrou tanto quanto o próprio
Senhor Jesus Cristo o que significa esta “santa
mundanidade”. Sua encarnação é a perfeita encarnação
dessa mundanidade. Por um lado, ele desceu ao
nosso mundo e assumiu a completa realidade da
nossa humanidade. Tornou-se um conosco em nossa
fragilidade, expondo-se às tentações. Comungou com
gente comum, que se juntava ansiosamente ao seu
redor. Ele aceitou todo mundo, sem desprezar ninguém.
Identificou-se com as nossas tristezas, nossos pecados
e nossa morte. Contudo, ao misturar-se livremente
58 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
com gente como nós, ele nunca sacrificou nem
comprometeu sequer por um momento a sua própria
identidade e unicidade. Ele vivenciou a perfeição da
“santa mundanidade”.

Alan Hirsch (2011), mencionado anteriormente, faz um resumo do que


seria o modelo da encarnação de Deus em Cristo:
1. Presença: o ato de identificação com um grupo de pessoas. Estar
‘presente´ para eles.
2. Proximidade: Indo para onde as pessoas vão, estando em seus
‘espaços’ por assim dizer.
3. Preveniente (que chega antes): Confiando que Deus já foi antes de
nós e está chamando as pessoas para si mesmo por meio de Jesus
e que assim podemos nos unir a ele.
4. Poder de menos: Na verdade, isso não significa que não temos
poder (temos no Evangelho e no Espírito), mas sim que tomamos
sobre nós mesmos uma forma de servo e de ser humildes em nosso
compromisso com os outros.
5. Pathos: Sofremos com os outros... sentimos/entendemos
enfaticamente sua dor, sua luta. Em uma palavra... somos um povo
de compaixão.
6. Proclamação: Que tendo amado e cuidado das pessoas que
buscamos alcançar, nós amorosa, corajosa e verbalmente
proclamamos o Evangelho de maneiras que fazem sentido
para a cultura das pessoas que estamos alcançando.

Eu descrevo esse modelo com outras palavras, mas que reforça o mesmo
conceito. A igreja é:
1. O povo da missão – missio Dei;
2. O povo peregrino – caminha em direção ao final dos tempos:
• A igreja entre os “dois tempos”;
• 2. Símbolos entre os tempos: tenda ou catedral.
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 59
3. O povo servo – manifestação de Cristo ao mundo;
4. O povo libertador – em todos os níveis da sociedade;
5. O povo responsável – cada um participa do todo da missão;
6. O povo obediente ao Espírito Santo:
• Originador da missão;
• Condutor da missão;
• Sustentador da missão.
7. O povo da Bíblia – única regra de fé e prática.

Exercício de aplicação - 14
Há um aspecto no desenvolvimento e crescimento da igreja que
é trabalhado por diferentes autores e ilustrado por Paulo em seu
texto Filipenses 2:5-11, que aspecto é esse?
a) Numérico c) Diaconal
b) Espiritual d) Encarnacional

Um dos aspectos que já mencionamos sobre a contribuição de Costas


e que destaco também é o papel do Espírito Santo. Esse é um tema
da teologia bíblica/sistemática que precisamos trazer para mais perto
da igreja missional hoje. Qual é o papel do Espírito Santo na vida da
comunidade? De que maneira se ouve o seu direcionamento? A questão
que eu levanto é em termos práticos como isso acontece.

No seminal trabalho de David Bosch, por incrível que pareça, não há


um tratado mais detalhado sobre o Espírito Santo e a missão da igreja.
Ele, ao destacar a teologia lucana, elabora em poucas linhas o papel
do Espírito. Faço um resumo abaixo, porque é importante que a igreja
contemporânea entenda o papel da terceira pessoa da Trindade em seu
viver diário e crescimento.
Bosch, que a seguir menciono, nos dá uma ideia sobre o papel do Espírito
Santo na vida em missão da Igreja. Ele afirma que:
60 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
... através do Espírito que o Cristo ressurreto estava
presente na comunidade... Lucas se deu conta de
que a missão e o ministério de Jesus tinham de ser
reinterpretados para a igreja de sua própria época, e
acreditava que essa reinterpretação seria mediada pelo
Espírito... O ministério do Jesus terreno já é descrito em
termos da iniciativa e orientação do Espírito.

Entretanto, a ideia de ser conduzido pelo Espírito


à missão é, então, aplicada a maneira bem mais
abrangente ao ministério dos discípulos. Eles se
transformarão em testemunhas de Jesus tão logo
sejam revestidos de poder do alto (Lc 24.49; At 1.8).
O mesmo Espírito em cujo poder Jesus foi à Galiléia
também impulsiona as discípulas para a missão. O
Espírito torna-se o catalisador, a força orientadora e
motriz da missão. A cada ponto a missão da igreja é
tanto inspirada quanto confirmada por manifestações
do Espírito.

O dom do Espírito é o dom de engajar-se na missão, pois


a missão é a consequência direta do derramamento do
Espírito... O Espírito não só inicia a missão, mas também
orienta os missionários sobre aonde eles deveriam ir e
como deveriam proceder. Eles não devem executar seus
próprios planos, mas têm de esperar que os Espírito os
guie... Em todas essas narrativas [no livro de Atos], a
ênfase está no Espírito Santo como catalisador, guia e
inspirador rumo à missão... o Espírito é, além disso, não
só o iniciador e guia da missão, mas também aquele
que capacita para a missão... Através do Espírito, Deus
controla a missão (2002, p. 147-149).
O papel do Espírito Santo para a vida em missão da igreja é de fundamental
importância para que ela caminhe no rumo que Deus tem para que o

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 61


mundo ouça a mensagem transformadora do evangelho. Sobre isso John
Stott assim expressa, contrariando o lugar comum sobre o que a igreja
pensa sobre a grande comissão: “Nós precisamos deixar de pregar a
Grande Comissão como uma ordem a ser obedecida. Devemos anunciá-
la, isto sim, como uma lei que expressa a natureza da igreja e que governa
a vida dela... O derramamento do Espírito é, por sua própria natureza, a
efetivação da Grande Comissão na vida da igreja” (2005, p. 143).

Outra contribuição importante para a encarnação da igreja refletindo o


ministério de Jesus Cristo é encontrada nos escritos de Charles Van Engen,
professor emérito do Seminário Teológico Fuller. Van Engen escreveu
como fruto de sua dissertação de doutorado aquela que talvez seja a mais
completa análise do Movimento de Crescimento de Igreja. Um único livro
(Povo missionário, povo de Deus) dele está em português e merece ser
lido e aplicado nas comunidades cristãs. No capítulo dois ele trata do
papel da igreja local no mundo, ou seja, da sua encarnação na sociedade.

Van Engen inicia esse capítulo com a pergunta mais básica a ser
feita para a igreja: qual é a sua finalidade de existir neste mundo? Em
outras palavras: qual é a razão de ser da igreja? Esta pergunta tem sido,
ou procurada ser, respondida por teólogos no decorrer dos tempos.
Aparentemente a resposta deveria ser simples, mas este não é caso.

Van Engen cita Alvin Lindgren:

Definir a natureza e a finalidade da Igreja é uma questão


intensamente pessoal para o ministro, já que o conceito
de ministério brota diretamente do conceito de Igreja
[...] Estamos afirmando que o próprio conteúdo do
evangelho predetermina os veículos capazes de
transmiti-lo [...] O cumprimento da finalidade de Deus,
não o ativismo, é a única preocupação da administração
da Igreja [...] Fique claro que nossa preocupação é com

62 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


a finalidade essenciais, e não uma descrição do que
é agora, ou senão o que tem sido na história da Igreja
ou mesmo no Novo Testamento [...] A Igreja deve ser
o que quer que Deus pretenda que seja, e buscarmos
nas Escrituras descobrir os desígnios de Deus para ela
(1996, p. 110).

Essa tarefa é, então, fruto da leitura e compreensão do Novo Testamento


sob a direção do Espírito Santo. Não é e não pode ser algo relativo em
que para uma comunidade é uma coisa e para outra algo diferente. O
ministério pode ter cores diferenciadas devido à situação, mas na sua
essência a igreja tem a mesma finalidade em qualquer época e contexto.

Van Engen (1996, p. 112) propõe quatro áreas que cada igreja local
precisa trabalhar teologicamente e analisar como elas governam a sua
vida em missão. Elas são:
• Coinonia - “... que vos ameis uns aos outros...” (Jo 13.34-35; Rm 13:8;
1Pe 1:22)
• Querigma - “... Jesus [é] Senhor...” (Rm 10:9; 1Co 12:3)
• Diaconia - “... um destes mais pequeninos...” (Mt 25:30, 45)
• Martiria - “... sereis minhas testemunhas...”; “... que vos reconcilieis
com Deus...” (Is 43:10, 12; 44:8; At 1:8; 2Co 5:20)

Van Engen coloca estas dimensões em relação ao reino de Deus:


“Coinonia, querigma, diaconia e marturia brotam de uma perspectiva
mais ampla do reino de Deus num mundo criado, sustentado, governado
e redimido por Jesus Cristo, o Rei” (1996, p. 129). Estas quatro áreas, ou
poderíamos chamar também de dimensões, formam a base do que a
igreja deve realizar no mundo. O seguinte diagrama nos ajuda a entender
como estas dimensões funcionam na vida da igreja local em relação à
sua missão (1996, p. 124).

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 63


Não perca de vista que o nosso tema é o crescimento integral da igreja
e é crucial que ela esteja no mundo em semelhança ao Senhor Jesus
Cristo, isto é, de modo encarnacional.

Ed Stetzer aprofunda a temática citando Michael Frost e Alan Hirsch:

A igreja missional é encarnacional, e não atracional, em


sua eclesiologia. Por encarnacional queremos dizer que
ela não cria espaços santificados para os quais o não
crente deva vir para ter um encontro com o evangelho.
Pelo contrário, a igreja missional se autodesmonta e
penetra pelas fissuras e fendas da sociedade para ser
Cristo para aqueles que ainda não o conhecem” (212).
64 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
Note que o conceito acima vai na contramão do que acontece no
Brasil e boa parte do mundo, qual seja, as igrejas criam dezenas de
bons programas para os seus membros e incentiva a que os mesmos
convidem pessoas para “participarem” ou “assistirem”. Isto tudo dentro
das estruturas físicas do templo. A ideia é que alguns permaneçam e
eventualmente se tornem membros da comunidade.

Quando isso acontece os membros da igreja vão aos poucos esquecendo


a vida em missão. A organização eclesiástica é reforçada enquanto o
organismo é enfraquecido. A igreja se desenvolve estruturalmente, mas se
enfraquece em relação ao contexto em que está inserida. O ideal é que o
crescimento da igreja resulte “em milhares de crentes comprometidos que
não ingressarão no ministério vocacionado — pastores e missionários —,
mas que, em vez disso, entrarão no mercado de trabalho para plantar igrejas
nas casas, nas empresas, nos centros comunitários etc.” (Stetzer :221).

O desafio agora é ajudar estas pessoas a enxergarem que foram


vocacionadas por Cristo para a vida em missão no momento da
conversão e como tal elas não precisam de um chamado “especial” ou
“sobrenatural” para engajar-se no ministério encarnacional modelado em
Jesus Cristo.

Concluindo, iniciamos esta unidade descrevendo os aspectos


conceituais de desenvolvimento de Igreja, conforme delineado pelo
missiólogo Orlando Costas, quando elabora as quatro dimensões e as
três qualidades do crescimento. Na sequência procuramos elaborar com
mais profundidade o tema da encarnação. Como a igreja é desafiada
a olhar para a vida e ministério de Jesus Cristo e incentivar, motivar e
promover a vida em missão de todos os seus membros. Quando isto
acontecer o sal da terra e a luz do mundo serão perceptíveis pelos
membros da sociedade. “Uma vez que passamos a ser novas criaturas
em Cristo, tornando-nos membros de sua nova sociedade, recebemos
dele a responsabilidade de impregnar a velha sociedade, funcionando
para esta como sal e luz” (Stott 2005, p. 154).
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 65
Referências bibliográficas
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COSTAS, Orlando E. Compromiso y misión. Editorial Caribe, 1979.
______. The integrity of mission: The inner life and outreach of the church.
Harper & Row, 1979.
______. “A wholistic concept of church growth.” Exploring Church Growth
(1983): 95-107.
______. Teólogo en la encrucijada. In PADILLA, C. René (org.). Hacia una
teología evangélica latinoamericana. San Jose (Costa Rica): Editorial
Caribe, 1984.
HIRSCH, Alan. What do I mean by Incarnational.
https://www.facebook.com/notes/alan-hirsch/what-do-i-mean-by-
incarnational/10150189514096009 (2011).
MACKAY, John. A Preface to Christian Theology. New York: The Macmillan
Company, 1943.
PEREIRA, Josivaldo de França. Orlando Costas e a Igreja Brasileira.
https://ejesus.com.br/orlando-costas-e-a-igreja-brasileira/
POERWOWIDAGDO, Judo. Towards the 21st Century: Challenges and
opportunities for theological education. Geneva: World Council of
Churches, 1994.
STOTT, John. Ouça o Espírito, ouça o mundo. São Paulo: ABU Editora,
2005.
VAN ENGEN, Charles. Povo missionário, povo de Deus. São Paulo: Vida
Nova, 1996.

66 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


UNIDADE 4 – DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS DA IGREJA
Na unidade anterior mencionei que é ideal que o crescimento da igreja
resulte “em milhares de crentes comprometidos que não ingressarão no
ministério vocacionado [pastores, missionários], mas que, em vez disso,
entrarão no mercado de trabalho para plantar igrejas nas casas, nas
empresas, nos centros comunitários etc.” (Stetzer, 2015, p. 221).

Nesta unidade trataremos dos desafios que a igreja cristã tem pela frente
de se “reinventar” para não perder a sua significância em um mundo que
se transforma numa incrível velocidade. Quando a gente pensa que uma
coisa foi aprendida e que se terá um tempo para digeri-la outras dezenas
ou mesmo centenas de novidades estão nos esperando.
Vivemos num mundo novo e precisamos ter ciência disso:

A cidade contemporânea, rodeada de tecnologias,


vem experimentando diferentes formas de relações
sociais entre os seus usuários. As redes sociais
digitais possibilitam que os indivíduos interajam com
outros usuários da rede, que leiam notícias, opinem,
reivindiquem, produzam seu próprio conhecimento,
divulguem informações e até mesmo se mobilizem
coletivamente. São novas maneiras de compartilhar,
usufruir e fazer parte da sociedade em que vivem
(Araújo e Vilaça, 2016, p. 18).

Notemos acima a frase “produzam seu próprio conhecimento”. Isto será


ao uma enorme vantagem para os cristãos, pois o acesso ao saber é
ilimitado e necessariamente não se precisa da igreja para isso. Mas,
por outro lado, como esses saberes chegarão aos membros de nossas
igrejas? Serão suficientes para que a pessoa abandone sua comunidade?
Enfim, a pergunta que se faz é: precisamos da igreja no futuro? Se a
resposta for não, cabe a igreja se reinventar para que as pessoas voltem
a ter necessidade dela. Se a resposta for sim, outra pergunta deve ser
feita: a que tipo de igreja as pessoas desejarão fazer parte?

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 67


Esta unidade tentará responder a segunda pergunta ao assumirmos que a
igreja ainda tem um papel preponderante a realizar na sociedade brasileira.
Tentaremos expor vários modelos que estão sendo utilizados em várias
partes do mundo. Lembramos ainda que a contextualização é imprescindível,
pois não se pode transferir, como feito no passado, um modelo de um lugar
para o outro sem levar em conta a cultura do povo recipiente.
Vejamos em mais detalhes alguns desafios, ideias e conceitos que estão
diante de nós como participantes e líderes de igrejas.

4.1. A igreja virtual


Com certeza de todas as mudanças nos últimos anos a que mais
revolucionou a sociedade em geral e também o mundo das igrejas foi o
advento da era digital e mais recentemente a chegada das mídias sociais.
Uma nova reunião de crentes está surgindo, uma igreja
não no mundo real de tijolos e argamassa, mas no mundo
virtual de endereços IP e experiências compartilhadas.
Este tipo de igreja, é diferente de qualquer igreja que o
mundo já viu. Tem o poder de quebrar barreiras sociais,
unir crentes de todo o mundo e construir o reino de Deus
com um financiamento no valor da moeda da viúva
pobre. É um tipo de igreja completamente diferente de
qualquer uma que o mundo já viu (Estes, 2009, s/p).

Neste novo cenário, que se renova todos os dias, como será a comunicação
do evangelho? Um outro tipo de comunicação, certamente. O seguinte
resumo feito por Pierre Lévy (2011, p. 65) explica que os dispositivos
comunicacionais podem ser distintos em três categorias:
a) Um-todos: em que um centro emissor envia suas
mensagens a um grande número de receptores passivos
e dispersos (Ex.: a imprensa, o rádio, a televisão);
b) Um-um: específica de relações recíprocas entre
interlocutores, mas apenas para contatos de indivíduo
a indivíduo ou ponto a ponto (Ex.: correio, telefone); c)
68 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
Todos-todos: quando o ciberespaço torna disponível um
dispositivo comunicacional original, já que ele permite
que comunidades constituam de forma progressiva
e de maneira cooperativa um contexto comum (Ex.:
conferência eletrônica, sistemas para ensino ou trabalho
cooperativo, World Wide Web) (Silva, 2016, p. 44).

Se observarmos o acima exposto podemos classificar a igreja em duas das


categorias mencionadas. Na categoria um-todos a igreja tradicionalmente
torna os seus ouvintes em receptores passivos e dispersos. O modelo de
culto e de ensino é antigo, similar a um teatro onde no palco se desenvolve
o drama e nas cadeiras os ouvintes não interagem com o que está
acontecendo a não ser em poucas ocasiões, como no cântico.

Na categoria um-um temos o que chamamos de discipulado individual,


pessoa a pessoa. Existe interação, todavia, limitada a duas pessoas.
Algumas igrejas ainda colocam grande ênfase neste tipo de comunicação.
O grande desafio para as igrejas cristãs está na terceira categoria, o
todos-todos. Esta área será onde acontecerá as grandes mudanças da
igreja física —simbolizada pelo Templo fixoa numa localidade — para
a igreja virtual — simbolizada pela tenda que se move globalmente. A
categoria todos-todos elimina quase toda a hierarquia eclesiástica,
pois todos têm voz e podem opinar livremente sem medo de censura. A
internet democratizou a fala e não existe mais a menor possibilidade de
que isso deixe de ser assim. As comunidades virtuais vão se formar não
tem torno de doutrinas, denominações, credos, tradições etc. Elas irão
se formar em torno de temas comuns, afinidades de geração, culturas
similares e a cooperação será o grande atrativo destes ajuntamentos.
Eis algumas perguntas que são feitas sobre a igreja virtual:
a) Qual a teologia da igreja virtual?
b) Que tipo de eclesiologia teremos na igreja virtual?
c) O que significa ser igreja no mundo virtual?
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 69
d) Qual a razão de ser da igreja virtual?
e) Como será a comunhão na igreja virtual?
f) O louvor tomará que forma na igreja virtual?
g) Que tipo de pastor — ou se haverá pastor — na igreja virtual?
h) Como manter os fiéis comprometidos com a igreja virtual?
Naturalmente que acima temos um pequeno exemplo das dezenas de
perguntas que são feitas sobre a igreja virtual. Talvez a mais importante
de todas é se a igreja virtual irá substituir a igreja presencial.
A meu ver duas perguntas são cruciais para a igreja virtual. A primeira tem
a ver com a vida em missão que discutimos na Unidade 3. Os autores que
citamos escreveram antes do advento da internet e tinham um ideal da
missio Dei em perspectiva. Qual será a missão da igreja virtual e como se
dará essa missão? Sobre a missão, Douglas Estes (2009) diz o seguinte:
Outra teoria moderna da igreja argumenta que a
orientação da igreja deve ser a igreja como missão.
Lesslie Newbigin... argumentou que a igreja é missional
em sua própria natureza, não apenas em seu dever.
Uma vez que a ideia de Newbigin é uma crítica da igreja
Ocidental como império, ela se encaixa bem com o
espírito dinâmico das igrejas virtuais envolvendo um
novo mundo sem qualquer vestígio da cristandade.
Resta saber como essa missão será desenvolvida. Que tipo de educação
cristã será forte o suficiente para mover os membros desta igreja virtual
para se inserirem no mundo como sal e luz? Todavia, pensando na igreja
presencial talvez não seja muito diferente, pois tem sido uma tremenda
luta incutir nos fiéis o compromisso missional.
No livro de Douglas Estes não encontrei o termo encarnacional. A pergunta
seria então como levar os membros da igreja virtual a encarnarem-se em
seus contextos de forma a representar a pessoa de Cristo.
Uma das igrejas mais conhecidas na internet é a ALM CyberChurch. Em
sua página eletrônica o visitante tem a seguinte informação sobre a igreja:
70 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
Nosso objetivo é romper a religião e as tradições e
mitos feitos pelo homem e os métodos que nos levam a
acreditar que a ficção é a realidade para que possamos
acreditar no máximo de coisas verdadeiras e no menor
número possível de coisas falsas. Promovemos amor,
empatia, aceitação e boa vontade, independentemente
de crenças, identidade de gênero e estilo de vida. Venha
como você está e seja amado!
O visitante é convidado a escolher um nome para ser identificado, um
avatar que o represente, e observar o culto. Poderá também, se quiser, se
engajar em algum tipo de conversação via chat. Um “frequentador” desta
igreja disse: “Eu já estive em muitas igrejas na vida real e nenhuma me
deu tanta satisfação como na igreja virtual” (Johnson, 2010, p. 248). A
igreja virtual existe e veio para ficar.
Para encerrar este tema apresento a contribuição de Monsenhor Tarcisio
Justino Loro (2009, p. 140-144). Ele entende que a missão evangelizadora
da igreja, via internet, deveria estar atenta aos seguintes elementos, que
descrevo apenas como tópicos sem entrar em maiores discussões:
a) Utilização do diálogo.
b) Utilização de uma linguagem evangelizadora nova.
c) Nova postura dos internautas missionários.
d) Novos conteúdos. Vivemos numa sociedade sedenta de Deus, de
orientação, do sentido da vida.
e) Banco de dados da fé cristã. Como quase tudo do campo secular pode
ser encontrado na Internet, assim também é de se desejar que a ela seja
um “depositum” de informações e conteúdos sobre a fé cristã.
f) Os novos pagãos nas ondas da Internet. Com a Internet surgem
novos “pagãos” individuais ou coletivos escondidos nos milhares de
computadores do mundo.
A igreja virtual não precisa ser vista como uma competidora da igreja
presencial. Se pensarmos em termos de desenvolvimento integral da igreja
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 71
as possibilidades são imensas. Qualquer igreja local poderá, com criatividade
e uso dos dons e talentos, especialmente da juventude, ter também a sua
versão virtual. Assim, ela ocupa os vários espaços que da sociedade.
O campo está branco para a ceifa e para isso é preciso levantar os olhos
do lugar comum e ver: “Vocês costumam dizer: ‘Daqui a quatro meses
teremos a colheita.’ Mas olhem e vejam bem os campos: o que foi plantado
já está maduro e pronto para a colheita” (Jo 4:35). Se fizéssemos uma
tradução desse texto para hoje, poderia ser assim: “Vocês costumam
dizer: ‘Está difícil trazer gente para igreja.’ Mas olhem e vejam bem a
Internet: o que foi inventado já está disponível e pronto para a colheita”.
Uma nova leitura da Grande Comissão poderia começar assim: “Portanto,
naveguem por toda a internet e façam curtidores...”.

Exercício de Fixação - 16
Na igreja virtual existem dispositivos comunicacionais que podem
ser diferentes em três categorias: Um-um; Um-todos; Todos-todos.
A igreja, por sua vez, pode ser classificada nessas três categorias.
É correto afirmar que a igreja classificada na categoria todos-todos
contém a seguinte característica:
I – a igreja todos-todos torna seus ouvintes em receptores passivos
e dispersos.
II – a igreja todos-todos possui o discipulado individual, de pessoa
a pessoa.
III – a igreja todos-todos elimina quase toda a hierarquia eclesiástica.
Assinale a alternativa correta:
a) I e III estão corretas.
b) II e I estão corretas.
c) II e III estão corretas.
d) apenas a III está correta.
e) nenhuma das alternativas estão corretas.

72 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


4.2. A igreja lar
Talvez, de todas as formas de igreja a comunidade que se reúne nos lares
seja a mais antiga. O cristianismo que começa parecendo uma divisão do
judaísmo, vai aos poucos tomando vida própria, todavia, por ser emergente,
não possuía nenhuma estrutura pronta para recebê-lo. Ele era também um
movimento, primordialmente, que ocorria entre as camadas mais pobres
da população. Outro fator determinante é que ele existia às margens do
Império Romano e, portanto, sem muitas condições de realizar reuniões
em espaços públicos. Mesmo tendo iniciado com reuniões próximas ao
templo (At 2:46), vemos que as casas foram se tornando a alternativa
mais viável para as reuniões (At 5:42). Muitas casas possuíam um cômodo
chamado cenáculo e que era utilizado para esses encontros.

Saiba mais
Cenáculo é a palavra utilizada para se referir a sala onde eram feitas
as refeições ou a um quarto no primeiro andar de uma casa onde era
utilizado como aposento de hóspedes desde tempos imemoriais.
A palavra cenáculo não aparece originalmente na Bíblia. Na
verdade, essa palavra vem do latim cenaculum, e é utilizada nos
textos bíblicos para traduzir algumas palavras hebraicas e gregas.
Basicamente, a palavra cenáculo significa algo como “sala de
refeições”, ou, de modo mais genérico, “quarto no andar superior
de uma casa”. Essa palavra é derivada do termo latino cena, que
significa “jantar” ou “ceia”. A seguir, veremos alguns termos em que
a palavra cenáculo é utilizada como tradução.
Nos Evangelhos, cenáculo traduz a palavra grega anogeon, que se
refere ao local que foi providenciado para que Jesus celebrasse a
Páscoa acompanhado de seus discípulos. Esse local foi onde Cristo
realizou a Última Ceia, às vésperas de sua crucificação. Tratava-se
de um quarto no primeiro andar mobiliado, onde havia leitos baixos
em que os participantes se reclinavam para cear conforme o
estilo greco-romano (Mc 14:15; Lc 22:12). Muitos acreditam que o
cenáculo mobiliado utilizado nesse episódio era originalmente uma

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 73


sinagoga, que acabou se tornando um ponto de encontro entre os
primeiros cristãos.
Daniel Conegero. O Que é Cenáculo e o Que Significa?
https://estiloadoracao.com/o-que-significa-cenaculo/

Um pouco mais além desse começo, somos informados que Paulo —


então Saulo —, “assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando
homens e mulheres, os encerrava na prisão” (At 8:3). Após a sua
conversão ele foi levado para a casa de Judas onde foi batizado por
Ananias (At 9:12-19). Em uma de suas viagens ele tem um encontro com
Lídia, responsável por uma casa-igreja na cidade de Tiatira (At 16:14-15).
Mais tarde durante o desenvolvimento de seu ministério, muitas igrejas-
casas foram estabelecidas:
• Saudai também a igreja que está em sua casa. Saudai a Epêneto, meu
amado, que é as primícias da Acáia em Cristo (Rm 16:5).
• As igrejas da Ásia vos saúdam. Saúdam-vos afetuosamente no Senhor
áqüila e Priscila, com a igreja que está em sua casa (1Co 16:19).
• Saudai aos irmãos que estão em Laodicéia e a Ninfa e à igreja que
está em sua casa (Cl 4:15).
• E à nossa amada Áfia, e a Arquipo, nosso camarada, e à igreja que
está em tua casa (Fl 1:2).
Na história do cristianismo talvez o movimento que mais utilizou a
reunião nas casas foi o metodismo. As classes formadas por John
Wesley foram assim descritas: “Cada classe era guiada por um
líder responsável por convocar a classe semanalmente, recebendo
contribuições para o alívio dos pobres, investigando a vida espiritual
de cada membro e oferecendo conselhos e orientações espirituais,
conforme necessário” (Watson, 2014, p. 3).
Recentemente a igreja-casa ganhou grande ímpeto no Brasil e passou
a ser chamada de célula familiar que é um novo nome para os cultos
nos lares, reunião doméstica etc. É inegável que este movimento cresceu
muito e está presente em quase todas as igrejas de médio e grande
74 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
porte. A diferença do passado é que existe hoje todo um aparato para
consolidar e fazer esse ministério funcionar.
A pergunta central recai sobre o objetivo destas células. Assim como
perguntamos qual é a razão de ser da igreja, também devemos perguntar
qual é a razão de ser de uma célula familiar? Os objetivos são os mais
variados: evangelização, discipulado, comunhão e ajuda mútua. Avaliar se
as células estão realizando um bom ministério não é tão fácil e muitas vezes
ela fica limitada ao crescimento numérico. Os líderes são muitas vezes
pressionados para multiplicar as células e depois promover a sua divisão e
ocupam grande parte do tempo devotados aos membros de seus grupos.
A crítica que tenho em relação a esse movimento é que, de maneira
geral, as células (1) não são transformadas em igreja e (2) são reuniões
privadas nos lares dos crentes com pouca exposição nos bairros. O
segundo aspecto é mais fácil de solucionar. Para isso, bastaria que as
lideranças das igrejas as entendessem como missionais e, assim, cada
célula também seria missional. Cada grupo poderia ser transformado em
agente de transformação do bairro onde está inserido. É possível que
dependendo do tamanho da igreja haja em um determinado local da
cidade mais de uma célula. Assim, seria relativamente fácil juntar estas
células com o objetivo de promover a obra diaconal onde estão.
O foco deve ser direcionado para juntar-se a Deus em
sua missão. Cada grupo precisa de uma missão além
de si mesmo. Lembre-se de que todo cristão nascido
de novo é responsável pelo mundo. O crescimento e
a maturidade acontecem tanto na missão quanto no
conhecimento. Quanto mais você pode aprender sobre
a missão? Como você pode dizer que está crescendo
e amadurecendo em sua fé se não está em missão
(Stetzer e Queiroz, 2017).
Naturalmente, como advertem Stetzer e Queiroz, uma consequência
trágica dessa falta de perspectiva da missão poderá ser a seguinte:
“Grupos pequenos que se voltam apenas para si mesmos e não se
preocupam com o evangelismo ou com o serviço amoroso ao próximo
correm o risco de se tornar meros clubes sociais”.
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 75
Vimos acima na descrição das classes de Wesley que o grupo coletava
ofertas para aliviar o sofrimento dos pobres. O metodismo, dentre outros
movimentos, nos legou essa história de compaixão e solidariedade:

O envolvimento do metodismo com as questões


relevantes da sociedade é uma marca que o
acompanha desde seu início. A humanização dos
presídios, o combate à escravidão, a luta por salários
dignos para os operários, o fornecimento de ensino
básico para as crianças pobres, distinguiram os
metodistas quando ocorreu a assim chamada
Revolução Industrial, na Inglaterra (Marques).

Voltemos nossa atenção para aquilo que parecer ser o maior desafio
das grandes igrejas que adotam as células: permitir que certo número
de células em uma determinada região da cidade possa se juntar e
estabelecer uma nova igreja. Certamente, uma igreja estabelecida
tem muito mais visibilidade e importância em um bairro do que cinco
células “escondidas” em casas. Caso a igreja não deseje “perder esses
membros” e nem a arrecadação que eles trazem, ela pode pensar em
uma alternativa: constituir igreja satélites. Assim, estas igrejas menores
continuariam a fazer parte do ministério da igreja maior e seus pastores
participariam de um corpo pastoral.
A primeira onda, que foi a implantação das células no Brasil deve agora
caminhar para a segunda onda, que seria inserir as células no contexto
diaconal e eventualmente permitir que se transformem em igrejas.

Exercício de Aplicação - 17
Sobre o significado da palavra cenáculo é correto afirmar: Era um
quarto no subsolo das casas dos cristãos para as reuniões secretas
por causa da perseguição do Império Romano. Foi num lugar como
esse que Jesus Cristo realizou a última Ceia, às vésperas de sua
crucificação. Assinale ‘Verdadeira’ ou ‘Falsa’.

76 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


4.3. A igreja multimundo
Vivemos na era da diversidade. Talvez nunca tenhamos tido um período
na história do mundo como o dos dias atuais. Tudo gira em torno da
palavra “multi”. O prefixo multi dá origem a uma infinidade de termos.
Muitos deles já existiam, todavia, novos foram criados. Mas, não é nem
tanto a quantidade de palavras, mas o sentido novo que multi traz.

Neste multimundo a igreja terá que encontrar seu espaço. Normalmente,


a igreja prefere ficar à margem da estrada do novo. A igreja sempre
teve dificuldade com o diferente, com a pessoa que não se enquadra no
estereótipo do que significa ser “crente”. Já faz tempo que os cristãos
são conhecidos não por aquilo que fazem, mas, especialmente, por aquilo
que não fazem. Assim, quem faz alguma coisa que a igreja não permite,
ou muda ou não é aceito na comunidade.

Como isto acontece no novo multimundo onde o que predomina é o


multiculturalismo?

Saiba mais
O que é Multiculturalismo:
O multiculturalismo é a convivência pacífica de várias culturas em
um mesmo ambiente. É um fenômeno social diretamente
relacionado com a globalização e as sociedades pós-modernas.
O Canadá e o Brasil, por exemplo, são países multiculturais.
Muito devido aos diferentes grupos de imigrantes recebidos,
mas também por observar outros fatores de integração, como
a não subordinação a cultura dominante, e desenvolvimento
de novas culturas a partir do choque cultural inicial.
O multiculturalismo também pode ser chamado de
multiculturalidade e pluralismo cultural, e é um conceito da
sociologia aplicado aos estudos em ciências sociais. A ideia de
um grupo multicultural pressupõe que os grupos culturais estariam

Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 77


cada vez mais interligados, em função do crescente contato que
as culturas têm entre si e a quase inexistência de grupos isolados.
A questão é correntemente debatida entre antropólogos e
sociólogos de diferentes linhas de pensamento. Alguns estudiosos
acreditam que esta visão multicultural não existe, e que houve uma
imposição da cultura dominante com a chegada dos europeus, que
teria culminado terminantemente com a

hegemonização da globalização. Já outros pensadores veem


diversos traços multiétnicos e defendem a existência das múltiplas
culturas no continente americano, e que habitam em harmonia
justamente em função da possibilidade das relações globais.
O conceito de multiculturalismo tem grande influência do relativismo
cultural, que questiona a ideia de que os hábitos e costumes de um
grupo poderiam ser superiores a outros. Esta ideia de que as culturas
são diversas e devem ser respeitadas na sua essência, sem existir
um certo ou errado nos costumes, é a base do multiculturalismo

Multiculturalismo no Brasil
O Multiculturalismo no Brasil é diretamente associado ao processo
migratório desde a chegada dos portugueses em 1500. A princípio
houve o choque natural, mas sabe-se que vários costumes indígenas
foram incorporados aos hábitos dos portugueses, como o banho diário,
por exemplo. Ao longo dos séculos, o território brasileiro recebeu
holandeses, franceses, espanhóis, italianos, japoneses, alemães. E na
pós-modernidade, esta mistura de etnias só aumenta no nosso país.
Internacionalmente o Brasil é conhecido por ser um dos países que melhor
recebe seus visitantes, tentando adequar-se para receber bem as culturas
alheias sem deixar de lado os costumes locais. A diversidade étnica dos
próprios brasileiros é outra forte característica multicultural. As diferentes
cores de pele, os diversos costumes compartilhados, a liberdade de credo
religioso, tudo isso faz parte do conjunto multicultural.
Fonte: https://www.significados.com.br/multiculturalismo/

78 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


Neste contexto multicultural, cuja tendência é aumentar, surgem várias
oportunidades de vida em missão para a igreja. Naturalmente que será
necessária uma intencionalidade para ministrar no multimundo. Os
ministérios não vão acontecer sem que a liderança mova a igreja nesta
direção. A pergunta é se a liderança quer que isto aconteça. Há dois
empecilhos que podem atrapalhar a marcha do desenvolvimento integral
da igreja no multiculturalismo. O primeiro é teológico. A igreja demora para
entender sua missão na terra. Ela pensa, fruto da má formação teológica
de sua liderança, que é responsável em promover mudanças na vida das
pessoas. Como dito acima, quando alguém não se enquadra no padrão
vigente do que é ser crente e não manifesta as esperadas adaptações, pelo
menos esteticamente, essa pessoa não será aceita na comunidade com a
justificativa de que “Deus não aceita” ou “Deus não gosta”.
Essa percepção teológica-religiosa não aceita que as necessárias
mudanças na vida da pessoa convertida sejam realizadas pelo poder do
Espírito Santo no tempo de Deus e não no tempo da igreja. Paulo fala sobre
isso em suas cartas: “[...] porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer
como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fp 2:13) e, “Mas, pela graça
de Deus, sou o que sou. E a sua graça para comigo não foi inútil [...]” (1Co
15:10). Essa argumentação me parece suficiente para mostrar que é Deus
e não a igreja que produz a nova humanidade em cada um de nós.
O segundo empecilho que pode atrapalhar o desenvolvimento da
igreja no multiculturalismo é o geracional. A maioria absoluta das
denominações evangélicas tem uma grande quantidade de igrejas locais
que são dirigidas e pastoreadas por pessoas com imensas dificuldades
em aceitar o novo. Pessoas que não conseguem acompanhar os novos
tempos e as mudanças que a nova sociedade traz todos os dias. Dizem
que o evangelho é o mesmo e é assim que tem que ser. O problema
não é o evangelho, que, sim, é o mesmo, mas a relutância em colocar o
evangelho em outros moldes que não sejam aqueles do século passado
ou de quando os missionários estrangeiros pisaram em solo brasileiro.
A esperança é que surja uma nova geração de líderes, homens e
mulheres, jovens e adolescentes, advindos todas as culturas e camadas
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 79
da sociedade que consigam dialogar com esta geração multicultural.
Caso a geração antiga não consiga entender isso, ficará ela só com a
sua igreja porque os novos partirão para outros tipos de ministérios. No
mundo dos negócios estudos são feitos em como trabalhar em ambientes
multiculturais e geracionais:
“Compreensão geracional é o novo treinamento sobre
diversidade“, diz Sharalyn Orr, diretora executiva da
Frank N. Magid Associates, empresa que realizou
uma pesquisa que revelou que  52% dos profissionais
afirmam que são  menos  propensos a se relacionar
bem com pessoas de outras gerações.  Trabalhar
com pessoas de todas as idades tornou-se essencial
no ambiente multigeracional de hoje, uma vez que o
mercado de trabalho hoje é composto por três ou mais
gerações, construindo um ambiente de pluralidade
como nunca visto antes.
Isto significa dizer que os membros de nossas igrejas já estão inseridos
neste novo mundo. Portanto, se no mundo dos negócios os nossos
crentes podem viver e conviver com os diferentes, por que não trazem
esta mesma disposição para dentro das igrejas?

Exercício de Reflexão - 18
Há dois empecilhos que podem atrapalhar a marcha do
desenvolvimento integral da igreja no multiculturalismo: o
teológico e o geracional. Discorra reflexivamente sobre estes dois
empecilhos.

4.4. A igreja emergente


O termo igreja emergente já está conosco há algum tempo. Nem sempre é
fácil entender o que isto significa. É necessário estudar o tema e entender
o que deve e pode ser adequado ao contexto da vida em missão. As
80 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
definições abaixo são de pessoas que estão atuando ministerialmente
com base nesta ideia:
• Entendo Igreja Emergente como uma oportunidade de se fazer
livremente perguntas incômodas à luz do evangelho de Jesus Cristo,
repensar nossa forma cristã de ser tirando a influência do pensamento
moderno que nos moldou e viver essa nova realidade, seja anunciando
o Reino de Jesus Cristo a uma sociedade pós-moderna que está longe
de ser alcançada pela igreja tradicional, seja curando esse mundo
que ainda espera por uma redenção que somente Jesus Cristo pode
dar (Luis Fernando – criador do RenovatioCafe)

• Igrejas emergentes são comunidades que praticam o modo de vida de


Jesus na cultura brasileira (Gustavo Frederico – criador do wiki Emergente)
• A igreja emergente é um termo semelhante ao termo reforma. Não há
unidade teológica, como não havia entre os diferentes movimentos
reformadores protestantes…É verdade que existe um tema principal para o
movimento emergente…E esse tema é: A igreja como agente missiológico
na terra, livre de instituição e hierarquias, simples, um organismo vivo
cuja cabeça é Jesus, e onde a vida cristã é uma vida de comunidade e de
compartilhamento (Nuno Barreto – autor do blog Simplice)
Fonte: https://servosdedeus.com/artigos/igreja-emergente-com-br

A igreja emergente surge no contexto que descremos acima, o


multiculturalismo. Neste ambiente as possibilidades de ministração
são múltiplas, pois procura alcançar as pessoas nos lugares onde se
encontram e não dentro dos templos das igrejas. Alguns exemplos para
refletirmos a viabilidade ou não de tais projetos.

a. Cafés e confeitarias
Locais agradáveis em que as pessoas podem ter momentos de lazer e
convivência. A cortesia do serviço deve espalhar os valores de Cristo.
Literatura com bom apelo visual e conteúdo cristão será disponibilizada.
Uma ilustração deste ministério que está em funcionamento desde 2006:
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 81
Somos a Ebenezers Coffeehouse e servimos café com
uma causa. Todo o nosso café é negociado de maneira
razoável e também temos muitas opções de cultivo
orgânico e à sombra. Para obter mais informações sobre
comércio justo e nosso café, confira nossa torrefadora
principal, One Village Coffee.
Somos de propriedade e mantidos pela National
Community Church e todos os lucros são direcionados
aos nossos projetos de extensão comunitária, local e
internacionalmente
( h t t p s : // e b e n e z e r s c o f f e e h o u s e . c o m / s t o r y ) .
Ainda no aspecto da gastronomia é interessante ver o ressurgimento,
por parte especialmente dos homens, do desejo de se aprender a
arte da culinária. Quase todas as igrejas têm cozinhas que ficam sem
utilidade ao longo do ano. Seria interessante montar cursos de culinária
aos sábados ou outro dia da semana. Certamente isso atrairia muitas
pessoas interessadas nesse tipo de atividade.

b. Igreja Multiespaços
Especialmente nos Estados Unidos é muito comum ter megaigrejas
que funcionam em várias localidades ao mesmo tempo. O culto é
transmitido desde a igreja sede para várias localidades. Nestes locais há
um pastor e uma equipe de louvor que conduzem o culto até o momento
da mensagem em que passam a assistir aquilo que é transmitido pela
igreja sede. Naturalmente, este tipo de funcionamento exige um grande
investimento em recursos humanos e financeiros devido à complexidade
da estrutura necessária.
O Grupo Barna fez uma pesquisa com igrejas que optaram por este tipo
de organização e obtiveram o seguinte resultado:
• 44% disseram que foi mais difícil do que previram;
• 50% disseram que ficou dentro da expectativa;
• 6% disseram que foi mais fácil do que previram.

82 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA


No entanto, é importante ressaltar que como este tipo de estrutura multiespaços
exige um alto grau de compromisso dos voluntários, muitas vezes, passado o
entusiasmo inicial, as igrejas acabam por desistindo do projeto.

c. ONG
Existem centenas de ONG cristãs espalhadas pelas cidades do Brasil. A
maioria absoluta dependente de ofertas e trabalhos voluntários. Muitos
espaços destas ONG podem ser usados como locais de aconselhamento,
consolo e demonstração de solidariedade. Além disso, esses espaços podem
ser usados como locais para cultos, estudos bíblicos e momentos de louvor.
Na cidade de Londrina, fruto da educação teológica na FTSA, o casal
Sérgio e Clarissa Sanchez começaram a ONG Tok de Amor que provê
assistência para pacientes com câncer e seus familiares durante cinco
dias na semana. Por meio da ONG o casal já alcançou e tocou centenas
de vidas com o amor de Deus (https://www.tokdeamor.org).
Qualquer igreja pode adotar uma ONG e incentivar seus membros a serem
voluntários para auxiliar o trabalho, apoiar com alimentos e finanças e
assim ministrar às pessoas atendidas.

d. Arte, artesanato, moda


A arte sempre foi apaixonante para muitas pessoas e, nos últimos tempos,
aliada ao lazer e terapia, elas estão descobrindo ou redescobrindo um
amor por ela.
Muitas igrejas têm espaços ociosos que poderiam ser usados como
oficinas de arte. Há muitas mulheres e homens que poderiam ensinar
alguma modalidade de arte. Certamente, o tempo e a convivência durante
as atividades tornam-se preciosos para compartilhar o evangelho de Cristo.

Outra ideia é usar a arte como projeto social, para atrair crianças, pessoas
da terceira idade e, também, de baixa renda com poucas opções de
lazer. Outra opção é usar os espaços de escolas, tanto públicas como
particulares, para este ministério. Um espaço para artes, poesia, música
etc. Lembremo-nos que o autor de toda a criação é o nosso Deus.
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 83
e. Esportes
O brasileiro, em geral, é aficionado por esportes. Existe hoje um apelo muito
grande para o fitness: saúde integral, prevenção, qualidade de vida, etc.

Em qualquer igreja é possível organizar grupos para atividades como


caminhar, correr, pedalar, futebol, vôlei etc. Podemos convidar amigos
para a prática coletiva destas atividades. Devemos ter em mente que,
talvez, estas pessoas não se juntem à igreja, mas, certamente, estarão
mais abertas a ouvir o evangelho, frequentar alguma atividade especial.
Outra ideia é usar as dependências da igreja para ensinar jogos de xadrez,
dama, dominó, etc. Também, outra atividade bem simples e fácil de
realizar é convidar os vizinhos da comunidade para a prática de exercícios
de alongamento. Pessoas da terceira são um público alvo típico.

f. Outras ideias
• Musicalização para todas as faixas etárias.
• Leitura pública de livros tanto para adultos como infantil.
• Leitura e canto nos hospitais, praças, casa de idosos.
• Biblioteca e empréstimo de livros para comunidades carentes.
• Ensino de corte e costura.
• Reforço escolar.
• Educação continuada para adultos.
• Qualificar jovens para o mercado de trabalho

g. Novos locais para se reunir como igreja


• Salão sociais de prédios residenciais.
• Auditórios de hotéis.
• Shopping centers.
• Escritórios.
• Empresas, indústrias, lojas comerciais.
• Padarias, confeitarias, restaurantes.
• Parques, jardins.
84 | Desenvolvimento integral da igreja | FTSA
Algo que também será definitivo na busca de novas formas de ser igreja:
a questão financeira. O mundo de hoje caminha na direção do estilo
de vida simples, minimalista. Portanto, creio que o tempo de construir
grandes templos com alto grau de investimento financeiro para a sua
manutenção vai ficando para trás.

Exercício de Aplicação - 19
Sobre a igreja emergente é correto afirmar que ela possui duas
características bem peculiares: a) são igrejas surgidas dentro do
multiculturalismo; b) são igrejas que procuram alcançar as pessoas
nos ambientes onde elas se encontram e não dentro dos templos
das igrejas. Assinale ‘Verdadeira’ ou ‘Falsa’.

4.5. A igreja pós-moderna


Estamos vendo até agora algumas ideias sobre como o desenvolvimento da
igreja pode se dar nos dias de hoje. Para alguns estudiosos, estamos num
período que pode ser chamado de pós-moderno. Para outros, já passamos
desse momento e estamos em outro momento “pós” na história:
Pós-modernidade, modernidade líquida, modernidade
em um estágio ‘avançado’. Não importa qual termo seja
utilizado, é notável que há na contemporaneidade uma
série de transformações em setores tão diversos como
o social, o econômico e o artístico, todas compreendidas
em algum desses termos (Freitas, 2012, p. 68).
Outra maneira de compreender o termo:
Não há como buscar uma verdade que se chama
pósmodernidade. Mas há, sim, como colocar
em evidência a construção de sentido sobre um
processo de recomposição de diversos elementos
(políticos econômicos, culturais, religiosos etc.), que
leva à emergência do que se tem chamado hoje de
pósmodernidade (Esperandio, 2007, p. 9).
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Por ser complexa a nossa era, para a igreja é sempre importante fazer
uma leitura do seu tempo. Por isso, a célebre referência a Karl Barth sobre
“ler a Bíblia e o jornal”. Isto significa estar constantemente atento ao que
se passa na sociedade. É impressionante como a igreja está alheia ao
que acontece no mundo. Frequentamos os cultos e podemos perceber
o quanto estão divorciados da realidade que o povo sentado nos bancos
está vivenciando.

Para muitos, não interessa o que acontece na cidade, no país e no mundo;


os sermões não tratam sobre isto. Muitas vezes, face a grandes tragédias
nem orações são feitas pedindo o consolo de Deus. Uma igreja assim,
tão alheia, tão insensível, terá capacidade de olhar para o mundo e tentar
dialogar de forma respeitosa para apresentar o evangelho?

Por isso, olhemos um pouco para a nossa sociedade tão diversa e plural
com o desafio de fazer desse povo discípulos de Jesus Cristo.

Saiba mais
Guilherme Kerr compôs uma canção chamada Unidade e
diversidade que nos motiva a pensar numa multidão desorientada
e sem pastor como o próprio Jesus nos oferece o modelo (Mt 9:36).
h�ps://www.youtube.com/watch?v=lpO2q-mCibQ

Como afirmei, lendo os estudiosos do pós-modernismo podemos


perceber que as ideias e reflexões sobre o tema são bem diversas. Como
engajar os cristãos na vida em missão neste contexto? Como encarnar
Jesus Cristo numa sociedade como a atual?

Um desafio que a igreja enfrentará é a mudança de paradigma.

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Saiba mais
Paradigma é um modelo ou padrão a seguir.
Etimologicamente, este termo tem origem no grego paradeigma que
significa modelo ou padrão, correspondendo a algo que vai servir
de modelo ou exemplo a ser seguido em determinada situação.
São as normas orientadoras de um grupo que estabelecem limites e
que determinam como um indivíduo deve agir dentro desses limites.
O termo surgiu inicialmente em Linguística na teoria do signo
linguístico criada por Ferdinand de Saussure, na qual relacionava
o signo ao conjunto de elementos que constituem a língua.
O paradigma seria o conjunto de elementos linguísticos que
podem ocorrer no mesmo contexto ou ambiente. Os elementos
são substituídos por outros que vão ocupar a mesma posição.
Na filosofia, um paradigma está relacionado com a
epistemologia, sendo que para Platão, um paradigma
remete para um modelo relacionado com o mundo
exemplar das ideias, do qual faz parte o mundo sensível.
O norte-americano Thomas Samuel Kuhn (1922-1996), físico
e filósofo da ciência, no seu livro “A Estrutura das Revoluções
Científicas” designou como paradigma as “realizações científicas
que geram modelos que, por período mais ou menos longo e de
modo mais ou menos explícito, orientam o desenvolvimento
posterior das pesquisas exclusivamente na busca da solução para
os problemas por elas suscitados.”
Fonte: “Significado de paradigma” In https://www.significados.com.br/
paradigma/

A igreja precisará então substituir os moldes que ela usou por gerações,
naturalmente preservando os princípios ou a essência do conteúdo,
para alcançar o povo deste tempo. A dificuldade é que a igreja sempre
vê o diferente como errado e ela quer que o outro se adeque a ela. Isso
não vai mais funcionar. A sociedade seguirá seu curso, pois aos seus
próprios olhos está indo bem. Arnold Toynbee em 1954 já falava que “a
Desenvolvimento integral da igreja | FTSA | 87
longo prazo só uma religião universal — que seria necessariamente uma
fé sincrética — poderia garantir o futuro do planeta” (Esperandio, 2007, p.
34). Será nesta direção que caminha o mundo hoje: a sincretização da fé?
É a igreja que precisa participar da sociedade. Ela possui uma mensagem
e uma missão, afinal todas as pessoas precisam de Deus. Portanto, cabe
a igreja buscar meios e recursos para que isso aconteça. Se ela não o
fizer, falará apenas para os seus membros e ainda cuidando para não os
perder como tem sido o caso.
Concluindo, a cultura brasileira valoriza a comunhão e os fortes laços de
relacionamentos. Por isso, torna-se altamente atrativo construí-los. Esse
deverá ser o segredo de qualquer expansão da igreja nos dias atuais e
futuros. Por mais que a sociedade se torne virtual, multicultural ou pós-
moderna nada irá superar o contato e o convívio pessoal. Isto será ainda
maior forte em lugares como o Brasil e a América Latina.

Os ministérios que valorizarem os relacionamentos serão mais efetivos e


encontrarão as pessoas mais abertas para ouvirem sobre Cristo e a salvação
que ele promove. O papel da comunhão na igreja do futuro talvez seja uma
das poucas coisas que atrairão pessoas para a comunidade dos fiéis.

É necessário renovar a nossa fé e confiança que Deus está no controle da


história e no controle da igreja. É necessário ousar e usar toda a criatividade
do Deus Criador dos céus e da terra. É necessário o compromisso sério
com os valores do reino para que se cumpra a profecia de Habacuque
2:14: “E a terra ficará cheia do conhecimento da glória do Senhor, assim
como as águas enchem o mar”.

Exercício de Fixação - 20
Sobre a definição da palavra multiculturalismo é correto afirmar:
I – multiculturalismo é um fenômeno social diretamente
relacionado somente com a globalização, mas não com as
sociedades pós-modernas.
II – multiculturalismo é a convivência conflituosa de várias culturas
num mesmo ambiente.
III – multiculturalismo é um conceito da sociologia aplicado aos

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estudos em ciências sociais.
IV – multiculturalismo não pode ser chamado de multiculturalidade
e pluralismo cultural porque os termos diferem entre si.
V - O multiculturalismo é a convivência pacífica de várias culturas
em um mesmo ambiente. Assinale as alternativas corretas:
a) I, II e III estão corretas. b) III, IV e V estão corretas.
c) II e IV estão corretas. d) III e V estão corretas.
e) nenhuma das alternativas estão corretas.

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