A Assembleia de Deus No BR
A Assembleia de Deus No BR
A Assembleia de Deus No BR
ASSEMBLEIA DE DEUS NO
BRASIL: UMA IGREJA QUE
CRESCE ENQUANTO SE
FRAGMENTA1
RESUMO
1
Este artigo apresenta algumas das reflexões de pesquisa de doutorado em desenvol-
vimento na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) com tér-
mino previsto em Julho de 2015.
2
Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo. Douto-
rando em História pela UNESP.
162 Maxwell Pinheiro Fajardo
ABSTRACT
The Assemblies of God church is the second greatest religious group in Brazil, losing in
numbers only to the Catholic Church. With 12 million members, the Assemblies of God
is far ahead the second greatest Pentecostal group, the Christian Congregation in Brazil,
with 2 million members. However, when we speak of Assemblies of God we are not
talking of a homogeneous group. It is possible to find in the medium-sized and major
cities of the country Assemblies of God of different Ministries: Belém, Madureira,
Ipiranga, Vitória em Cristo, Perus, Taubaté, among an infinity, many times even neighbors.
Such ministries can or cannot be associated with the National Convention, and can also
have different liturgical characteristics. Therefore, it is not possible to comprehend the
Assemblies of God in Brazil without highlighting its fragmentary process, which, far
from being a recent historical contingency, can be traced back to the 1930’s. Fragmentation
is a constitutive element of the Assemblies of God and was present in all of the expansion
process of the denomination throughout parts of the country. The Assemblies of God is
a church that grows while it is fragmented.
INTRODUÇÃO
3
A expressão explica-se pelo fato de a AD de Belém do Pará ser a igreja mais antiga
do país, fundada em 1911.
4
Dos programas listados apenas o Vitória em Cristo e o Família debaixo da Graça
não se apresentam como programas oficiais de suas respectivas igrejas ou convenções,
embora seus apresentadores se identifiquem como pastores-presidentes de tais igrejas.
Especificamente sobre a Igreja liderada por Malafaia falaremos mais no decorrer do
texto.
164 Maxwell Pinheiro Fajardo
5
READ, William R. Fermento religioso nas massas do Brasil. Campinas: Livraria
Cristã Unida, 1967.
6
FRESTON, Paul. Breve história do pentecostalismo brasileiro. In: ANTONIAZZI,
Alberto. Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
7
ALENCAR, Gedeon. Assembleias de Deus: origem, implantação e militância (1911-
1946). São Paulo: Arte Editorial, 2010.
166 Maxwell Pinheiro Fajardo
8
Desde 1917, no antigo Jornal Boa Semente, os artigos doutrinários publicados fazi-
am questão de destacar a diferença da AD em relação às igrejas protestantes históricas.
9
A primeira edição da Harpa Cristã, hinário oficial da Igreja, com a adaptação/tradu-
ção de canções suecas e estadunidenses, além de composições próprias foi publicada
em 1922.
10
As Lições Bíblicas são o material didático produzido pela CPAD para as Escolas
Bíblicas Dominicais (EBD’s) das igrejas em todo o país. Até hoje são publicadas trimes-
tralmente.
11
Na Convenção de 1930 decidiu-se que os missionários suecos deveriam evangelizar
nas regiões sul e sudeste do país. Apesar de ser uma decisão política, que deixaria o
nordeste “livre” para a liderança dos pastores brasileiros, a decisão não deixou de ser
uma estratégia para a expansão da igreja nas outras partes do território nacional.
12
A Igreja no bairro de São Cristóvão, no Rio de Janeiro, além de ser dirigida pelos
líderes mais influentes da denominação, também abrigava em suas dependências a reda-
ção do Jornal Mensageiro da Paz. Embora não fosse a sede nacional da Igreja (aliás, em
consequência do sistema decentralizado de liderança, nunca houve uma igreja que pu-
desse ser considerada a “sede nacional” da AD), era a igreja que exercia maior influên-
cia sobre as demais.
Azusa – Revista de Estudos Pentecostais 167
13
FRESTON, 1994, p. 78.
14
DANIEL, Silas. História da convenção geral das Assembléias de Deus no Brasil.
Rio de Janeiro, CPAD, 2004. p. 22-23.
15
A CGADB ganhou personalidade jurídica em 1946. Atualmente reúne-se ordinaria-
mente a cada dois anos em uma cidade diferente do país. Até Agosto de 2013 a entidade
já havia realizado 46 assembleias gerais, sendo 41 ordinárias e 5 extraordinárias
(www.cgadb.com.br).
16
DANIEL, 2004, p. 27.
168 Maxwell Pinheiro Fajardo
17
Pethrus era pastor da Sétima Igreja Batista de Estocolmo desde 1911. Em 1913 sua
Igreja foi excluída da Convenção Batista Sueca, transformando-se na Igreja Pentecostal
Filadélfia. Posteriormente Pethrus se tornaria um dos mais conhecidos líderes pentecostais
da Suécia, inaugurando um enorme templo em Estocolmo em 1930 (PETHRUS, 2004).
Graças à proximidade de Petrhus com o fundador Daniel Berg, a Igreja Filadélfia envi-
ava missionários ao Brasil desde 1917, mesmo ano em que Gunnar Vingren e Daniel
Berg foram inscritos no rol de missionários da Igreja.
18
PETHRUS, Lewi. Lewi Pethrus: biografia. Rio de Janeiro, CPAD, 2004. p. 221-
222.
Azusa – Revista de Estudos Pentecostais 169
19
A AD de São Cristóvão foi pastoreada por suecos até 1958. VASCONCELOS; LIMA,
2003.
20
Por treze vezes o presidente da CGADB também era pastor da AD de São Cristóvão.
Atualmente a Igreja não está mais vinculada à Convenção. DANIEL, 2004.
21
Apesar da grande influência que exerceu na AD, Cícero Canuto não tem nenhuma
biografia produzida, diferente de Paulo Macalão, que teve duas biografias publicadas.
ALMEIDA, 1983 e MACALÃO, 1986.
22
ARAÚJO, Isael. José Wellington: biografia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012.
23
Foi o caso de Isidoro Filho, o primeiro brasileiro a ser consagrado pastor na AD.
Escolhido para liderar o grupo de crentes em Soure/PA em 1913, Isidoro era o único
alfabetizado do grupo. Já Absalão Piano, o segundo pastor autóctone, responsável pelo
núcleo de Tajapurú/PA já havia sido membro da Igreja Presbiteriana Independente.
ARAÚJO, 2007.
170 Maxwell Pinheiro Fajardo
24
Entrevista ao Jornal Mensageiro da Paz: Ano 44 nº 6, jun.1974.
Azusa – Revista de Estudos Pentecostais 171
25
Entrevista ao Jornal Mensageiro da Paz: Ano 44 nº 6, jun.1974.
26
Antes de assumir a Igreja do Belenzinho em São Paulo, Canuto pastoreou por dois
meses a AD de Santos, litoral de São Paulo. ARAÚJO, 2007.
27
Evangelista é o cargo que hierarquicamente está logo abaixo ao de pastor.
28
CORREA, Marina Aparecida Oliveira dos Santos. A operação do carisma e o exer-
cício do poder. A lógica dos ministérios das igrejas Assembleias de Deus no Brasil, Tese
de Doutorado em Ciencias da Religião, PUC-SP, 2012.
172 Maxwell Pinheiro Fajardo
29
ARAÚJO, Isael. Dicionário do movimento pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 2007.
p.140.
30
CABRAL, David. Assembléias de Deus: a outra face da história. Rio de Janeiro:
Betel, 2002.
Azusa – Revista de Estudos Pentecostais 173
31
ARAÚJO, 2007.
32
ALENCAR, 2012.
33
ALMEIDA, Abrãao de (Org). Paulo Macalão: a chamada que Deus confirmou. Rio
de Janeiro: CPAD, 1983. p. 32.
34
ALENCAR, 2012, p.142.
174 Maxwell Pinheiro Fajardo
contar com dois grupos de ADs, aquelas ligadas à Igreja de São Cristóvão,
lideradas pelos suecos e aquelas ligadas à igreja de Madureira, que com o
tempo passaram a ser denominadas respectivamente de Igrejas da Missão
(já que eram lideradas pelos missionários suecos) e Igrejas de Madureira,
embora os líderes de ambos os grupos pertencessem à CGADB.35
Cria-se aqui o conceito de “Ministério”, sem o qual não é possível
entender a configuração atual da AD. O Ministério, no sentido corporativo-
institucional, diz respeito aos grupos de igrejas liderados por um mesmo
pastor-presidente e que têm autonomia administrativa em relação aos
demais Ministérios e que pode manter ou não um vínculo com uma
convenção de abrangência nacional, como a CGADB.
Com o tempo, o Ministério liderado por Macalão ultrapassou os
limites geográficos da Guanabara e do Rio de Janeiro. Em 1938, por
exemplo, Macalão alugou um pequeno salão no bairro do Brás, em São
Paulo, onde estabeleceu seu Ministério na metrópole paulista. Segundo os
relatos oficiais da Igreja, esta empreitada se justificou a partir de uma
revelação divina por intermédio de um sonho, elemento fundamental no
imaginário assembleiano:
O Ministério do Brás36, na verdade, foi gestado em outro estado,
quando um pastor da Igreja Assembleia de Deus do Rio de Janeiro
teve uma revelação de Deus. Em visão ele viu um salão com uma
placa de aluguel. O nome desse pastor era Paulo Leivas Macalão.
Pastor Paulo não perdeu tempo. Acompanhado da esposa, Zélia,
e do cunhado Sylvio Brito, viajou a São Paulo a fim de receber
mais provas da vontade de Deus. Andando pelas ruas do antigo
Centro da Capital paulista, passou em frente ao número 605 da
Rua da Glória onde reconheceu o salão e viu a placa de aluguel.37
35
O próprio Macalão chegou a presidir a CGADB em 1937.
36
Ministério do Brás é a forma como o Ministério de Madureira por vezes é chamado
no Estado de São Paulo, já que sua sede estadual está no bairro do Brás, na capital.
37
Relato de João Cruzué. Disponível em: <www.olharcristao.blogspot.com.br> Aces-
so em: 23 jul. 2013.
Azusa – Revista de Estudos Pentecostais 175
38
Sylvio Brito, cunhado de Macalão, era pastor da Missão em São Paulo, no entanto,
deixou a liderança da igreja para pastorear a Igreja de Madureira no Brás, possivelmen-
te levando membros da antiga igreja com ele. Disponível em:
<www.mariosergiohistoria.blogspot.com.br> Acesso em: jul. 2013. ARAÚJO, 2007.
39
CABRAL, 2002.
40
Como exemplo cito o caso de um pastor assembleiano que era responsável por uma
igreja no interior do Mato Grosso. Em conversa informal, o pastor me contou que na
cidade os membros das igrejas ligadas ao Ministério do Belém não cumprimentavam os
membros dos Ministérios de Perus e Madureira, e vice-versa, já que os consideravam
menos crentes”. Na ocasião, o pastor me falou das dificuldades que encontrou para
tentar mudar tal situação.
176 Maxwell Pinheiro Fajardo
41
CORREA, 2012.
42
CABRAL, 2002.
Azusa – Revista de Estudos Pentecostais 177
43
TORRES, Haroldo. Medindo a segregação. In: MARQUES, Eduardo; TORRES,
Haroldo (Orgs.). São Paulo: segregação pobreza e desigualdades sociais. São Paulo:
SENAC, 2005.
44
BARRERA RIVERA, Dario Paulo. Evangélicos e periferia urbana em São Paulo e
Rio de Janeiro: estudos de sociologia e antropologia urbanas. Curitiba: CRV, 2012.
45
MAFRA, Clara. Casa dos homens, casa de Deus In: Revista Análise Social, vol.
XLII (182): 2007, p. 150.
46
JACOB, Cesar Romero et al. Religião e sociedade em capitais brasileiras. Rio de
Janeiro: PUC-Rio; São Paulo: Loyola; Brasília: CNBB, 2006.
178 Maxwell Pinheiro Fajardo
49
No blog Memórias das Assembleias de Deus, que promove discussões sobre a histó-
ria da instituição e que é coordenado pelo historiador Mário Sérgio Santana, é possível
encontrar comentários de diversos leitores, tanto cariocas quanto paulistas sobre o cli-
ma de rivalidade entre os Ministérios nas décadas 70, 80 e 90. Disponível em:
<www.mariosergiohistoria.blogspot.com.br> Acesso em: 15 ju. 2013.
50
TERCIO, Jason. Os escolhidos: a saga dos evangélicos na construção de Brasília.
Coronário: Brasília/DF, 1997. p. 167.
51
“Campo” ou “setor de trabalho” é a forma como normalmente são denominadas as
subdivisões administrativas de um Ministério. No caso, o Campo de Perus era um dos
ramos do Ministério de Madureira. No entanto, neste caso, sua expansão também não
obedece critérios territoriais geográficos.
52
Perus é um bairro da região noroeste de São Paulo, onde a AD está presente desde
1947. Cf. FAJARDO, 2011.
180 Maxwell Pinheiro Fajardo
53
O grande templo de Cuiabá, cujo formato lembra um estádio foi inaugurado em
1996. Comporta 22 mil pessoas sentadas segundo. ARAÚJO, 2007.
54
DANIEL, 2004, p. 527.
55
Macalão faleceu em 1982, não acompanhando processo de cisão de seu Ministério
da CGADB.
Azusa – Revista de Estudos Pentecostais 181
56
A AD de São Cristóvão desligou-se da CGADB em 2002, quando seu líder, o Pr. Tulio de
Barros Ferreira (que foi presidente da CGADB por quatro mandatos, o último deles no biênio
1979-1981) fundou a Convenção Nacional dos Ministros Pentecostais (CONAMEP). ARAÚ-
JO, 2007. Em 2006, a Igreja mudou de nome e seu líder passou a utilizar o título de “apóstolo”,
o que não foi bem visto por parte da liderança da Igreja. Assim, parte dos membros desligou-se
da igreja e criou a Assembleia de Deus do Rio de Janeiro (www.igrejaadrj.com). Tulio faleceu
em 2007 e a igreja atualmente é dirigida por seu filho, Ap. Jessé Maurício Ferreira.
57
No caso de Manaus, tanto os obreiros da IEADAM (AD Manaus) como os obreiros
da AD Tradicional fazem parte da CGADB, já que os últimos foram readmitidos à
CGADB em 2011.
58
CORREA, 2006.
182 Maxwell Pinheiro Fajardo
59
CORREA, 2012.
60
O nome “Assembleia de Deus” foi patenteado em 1958 pela AD de Porto Alegre,
dirigida pelo missionário sueco Gustav Nordlund, o que na época criou um mal estar
entre a CGADB e a igreja gaúcha. No entanto, em 2004 a AD de Porto Alegre transferiu
a patente do nome à CGADB. ARAÚJO, 2007.
Azusa – Revista de Estudos Pentecostais 183
61
FAJARDO, Maxwell Pinheiro. Pentecostais, migração e redes religiosas na perife-
ria de São Paulo. Dissertação de Mestrado em Ciências da Religião. Universidade
Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo, 2011.
62
Na pesquisa citada classificamos os Ministérios em dois grupos: o primeiro deles
consiste naqueles que derivam seu nome do local de sua fundação, como as Assembléias
de Deus dos Ministérios de Perus, Belém, Madureira, São Paulo, São José do Rio Preto,
Brasilândia (que anteriormente chamava-se “Comunidade Assembleia de Deus”), Mis-
são em Perus, Jardim da Conquista, Recanto do Paraíso, Centro-Oeste, Barra Funda,
Vila Guilherme e Belém do Pará. Há ainda o Ministério Salmista, que apesar da refe-
rência bíblica, deriva seu nome da rua em que está situada a igreja. O segundo grupo de
ministérios autônomos deriva seu nome de expressões bíblicas, como os ministérios
Caminho Santo, Pleno, Missões Primitivas, Maná de Deus, O Senhor é Nossa Força,
Nova Esperança, Concentração Divina, Nova Aliança, Monte Sinai e Mundial Deus
Forte. Há ainda a AD Unida e a AD do Amor de Jesus. FAJARDO, 2011.
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63
BAPTISTA, Saulo de Tarso Cerqueira. Cultura política brasileira, práticas
pentecostais e neopentecostais: a presença da Assembléia de Deus e da Igreja Universal
do Reino de Deus no Congresso Nacional (1999-2006). Tese de doutorado. São Bernardo
do Campo: Universidade Metodista de São Paulo, 2007. p. 32.
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A Igreja do Evangelho Quadrangular saltou de 1,3 milhão para 1,8 milhão, a Igreja
Pentecostal Deus é Amor ganhou 70 mil membros, passando dos seus 774 mil para os
845 mil adeptos. A Igreja O Brasil para Cristo passou de 175 mil para 192 mil, a Maranata
de 277 mil para 356 mil, a Casa da Benção de 128 mil para 125 mil e a Vida Nova (de
onde se originou a Universal) de 92 mil para 90 mil. CENSO 2000; CENSO, 2010.
Azusa – Revista de Estudos Pentecostais 185
REFERÊNCIAS