37 A Psicologia Do Esporte
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37 A Psicologia Do Esporte
A Psicologia do Esporte
A psicologia do esporte é uma nova ciência do treinamento esportivo que tem prestado importantes
contribuições para a otimização da performance de atletas e equipes.
Dar aos atletas respaldo psicológico é tão importante quanto lhes fornecer uma alimentação balance-
ada, programada por nutricionistas. Afinal, o corpo físico e o mental são as duas faces de uma
mesma unidade e merecem a igual atenção (becker jr, 1998). Cuidar do corpo significa também per-
cebê-lo como um todo unificado, do qual fazem parte emoções e estruturas mentais. O papel do psi-
cólogo responsável pela saúde psíquica de um time se desenvolve a partir de uma abordagem das
emoções vivenciadas pelos jogadores em sua rotina de trabalho (franco, 2000).
É comum ouvir grandes atletas e treinadores dizerem: “temos que nos preparar psicologicamente
para esta partida” ou “fisicamente o time está bem, mas psicologicamente vem passando por dificul-
dades” ou, ainda, “temos que elevar o moral para virarmos o jogo” (becker jr, 1998, p. 31).
As demandas psicológicas esportivas são inegáveis. Muitos atletas acabam sucumbindo diante de
dificuldades que poderiam ser minimizadas caso houvesse um maior interesse de treinadores e diri-
gentes na contratação de psicólogos esportivos.
Assim sendo, se existem necessidades no plano biológico é preciso estar atento ao profissional capa-
citado para intervir no problema em questão, seja ele o nutricionista, o ortopedista, o clínico geral, o
fisioterapeuta ou o cirurgião. Cada um atuando dentro de sua esfera e área de competência. O
mesmo deve valer para o plano social e psicológico (becker jr, 1998).
Existe, na área esportiva, uma necessidade plena de auxílio aos atletas. No entanto, a presença
deste profissional nas comissões técnicas não tem sido bem compreendida.
Será que a ciência não deve ser aplicada ao esporte? Será que a psicologia não é tida como ciência
por aqueles envolvidos no esporte? Se a ciência não lhe pudesse ser aplicada, certamente confiaría-
mos o joelho lesionado do ronaldinho a um curandeiro ou qualquer outro especialista que não tivesse
formação científica para solucionar ou propor solução para o problema.
Para que se alcance o perfeito entendimento acerca da teoria e prática da psicologia do esporte, im-
porta esclarecer seu conceito, proposta e objetivos.
Segundo a american psychological association (apa), “a psicologia do esporte é o (a) estudo dos fato-
res comportamentais que influenciam e são influenciados pela participação e desempenho no es-
porte, exercício e atividade física e (b) aplicação do conhecimento adquirido através deste estudo
para a situação cotidiana” .
Benno becker jr., presidente da sociedade brasileira de psicologia do esporte, afirma que “há uma dis-
ciplina chamada psicologia aplicada ao exercício e ao esporte e está investiga as causas e os efeitos
das ocorrências psíquicas que apresenta o ser humano antes, durante e após o exercício ou o es-
porte, sejam estes, de cunho educativo, recreativo, competitivo, ou reabilitador” (1999, p 17)
A psicologia do esporte tem por finalidade investigar e intervir em todas as variáveis que estejam liga-
das ao ser humano que pratica uma determinada modalidade esportiva e, em seu desempenho (bec-
ker jr, 1999).
Para muitos, esta nova ciência é aplicada apenas em atletas de alto desempenho. Vale ressaltar que
a psicologia esportiva tem um alcance ainda maior do que o acima citado. Psicólogos esportivos po-
dem atuar em academias de ginástica, escolas, centros recreativos, clubes e programações educaci-
onais junto a educadores físicos.
Vários outros segmentos da psicologia têm influenciado a psicologia do esporte na medida em que
contribuem para a ampliação do conhecimento dos fenômenos psicológicos que englobam a ativi-
dade esportiva. Entre eles, a psicologia social, a do desenvolvimento, a clínica, a experimental, a or-
ganizacional, a da personalidade e a educacional (weinberg, 2001).
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A PSICOLOGIA DO ESPORTE
Vale ressaltar a importância dos conhecimentos práticos da modalidade esportiva a ser trabalhada
pelo psicólogo. O objeto de estudo deve ser algo familiar ao profissional, para que o mesmo possa
compreender o discurso e as demandas dos atletas.
A psicologia do esporte é uma ciência (becker jr, 2000). Pesquisas têm sido feitas ao longo dos anos
no intuito de confirmar hipóteses formuladas, consolidar teorias e, enfim, aplicá-las, intervindo eficaz-
mente junto aos atletas.
No brasil existem alguns centros de publicações científicas com reconhecimento internacional: o labo-
ratório de psicologia do esporte (lapes), na ufmg, cujo diretor é o dr. Dietmar samulski e o departa-
mento da pós-graduação da ufrgs, cujo coordenador é o dr. Benno becker junior.
O foco deste estudo está nas diferentes dimensões psicológicas da conduta humana: afetiva, cogni-
tiva, motivadora ou sensório-motora (becker jr, 1999). Os sujeitos investigados são os envolvidos nos
esportes ou exercícios, como atletas, treinadores, árbitros, professores, psicólogos, médicos, fisiote-
rapeutas, espectadores, pais etc.
A psicologia do esporte visa compreender melhor as demandas implicadas nestas atividades e dar
uma assistência aos seus praticantes propondo um crescimento global e harmônico de sua personali-
dade. Objetiva, também, estudar o efeito do exercício sobre a área emocional do indivíduo como da-
quele portador de patologias (becker jr, 1986). Esta nova disciplina faz parte das ciências do movi-
mento humano e das ciências do esporte.
Existe certa dificuldade em determinar o início preciso da psicologia do esporte num país, sem correr
o risco de cometer várias injustiças, mormente no brasil onde estes eventos têm pouca ou nenhuma
divulgação (becker jr, 2000). Os registros oficiais mostram quem a psicologia do esporte, no brasil,
está em sua quarta década (feige,1977).
O início se deu com o professor joão carvalhaes em 1954, no departamento de árbitros da federação
paulista de futebol. Quarenta e cinco anos é uma idade que, no ser humano pode significar a maturi-
dade, reflexo de ricas experiências. Em relação à psicologia do esporte, no entanto, o caminho per-
corrido ainda não trouxe a desejada maturidade.
Ainda com relação ao professor carvalhaes, é preciso que sejam tecidas algumas considerações. Na
época em que atuou como psicólogo da seleção, os testes aplicados por ele reprovaram o mané gar-
rincha que, posteriormente, foi o grande astro da seleção.
O que as pessoas esquecem é que o jogador faleceu de cirrose hepática, em péssimas condições
psicológicas. Se as ferramentas utilizadas pelo professor não foram eficazes para a seleção e traço
de perfil psicológico esportivo, certamente já davam mostras da fragilidade de um dos maiores astros
do futebol brasileiro de todos os tempos.
O início da segunda geração de psicólogos no brasil aconteceu em 1975, envolvendo benno becker
junior (porto alegre) sandra cavasini (são paulo) e joão alberto barreto (rio de janeiro). A partir de en-
tão, quase a totalidade dos eventos científicos de educação física, esporte ou medicina do esporte,
passou a contar com a participação da psicologia do esporte em suas sessões.
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A PSICOLOGIA DO ESPORTE
O psicólogo esportivo foi o último integrante da comissão técnica interdisciplinar a ser reconhecido
pelos clubes. Até hoje, o psicólogo sofre com o preconceito e a desinformação daqueles que, supos-
tamente, deveriam zelar pelo bem-estar dos atletas.
Quando um novo profissional da área da saúde ingressa numa equipe de trabalho, mobiliza uma sé-
rie de mecanismos psíquicos nos seus integrantes (simpatia, resistência etc.). Se este novo profissio-
nal é um psicólogo, pode ocorrer uma mobilização maior entre os membros da equipe. A percepção
que cada ser humano tem do psicoterapeuta é bastante variável. Pode incluir desde expectativas de
grande ajuda (beirando até o sobrenatural) até ansiedades persecutórias nos sujeitos mais inseguros.
Lacrampe e chamalidis (1995) afirmam que a percepção do serviço de psicologia do esporte depende
da interação de fatores como experiência passada dos atletas com o psicólogo esportivo, expectati-
vas do grupo, confiança mútua e a especificidade da situação. A partir destes elementos, é de grande
importância o modo pelo qual o psicólogo será apresentado aos membros de uma equipe esportiva.
Uma apresentação seguida de um grande currículo pode atrapalhar, pelo desnível que eventualmente
despertará no atleta (e nos outros profissionais), frente a este novo integrante da equipe técnica e,
também, pela tendência a atribuir-lhe onipotência, inclusive através da idealização de que o psicólogo
possui poderes mágicos e que resolverá todos os problemas da equipe.
Esses sentimentos podem, se não forem equacionados rapidamente, concorrer para um relaciona-
mento cheio de conflitos entre o psicólogo e os demais integrantes da equipe. Se o psicólogo aceitar
esta auréola de mágico, poderá ser, em pouco tempo, rejeitado e aniquilado pelos integrantes do
grupo. Uma apresentação simples, com nome, função, experiência e objetivos parece suficiente (bec-
ker jr, 2000).
A apresentação e o pré-projeto psicológico são de extrema valia. Uma explicação simples sobre o
que faz ajudará bastante, pois, embora tenha melhorado muito a informação sobre suas funções,
ainda há quem o classifique como alguém que trata de loucos. Possivelmente, tal resistência também
tenha ocorrido quando do início da atividade do médico e do dentista no esporte (becker jr, 2000).
Atualmente, procura-se um médico diante de qualquer distúrbio orgânico e, quando um dente dói, se-
guramente não se pensará em outro profissional que não seja um dentista. Mostrar aos atletas que
cada um deles contribui com seus esforços e sua técnica para alcançar os objetivos da equipe e de
que ele, psicólogo, a partir de agora, fará parte desta equipe utilizando sua técnica para o progresso
do grupo, certamente é o caminho adequado para o início de um trabalho (becker jr, 2000).
É também oportuno acrescentar que um trabalho psicológico tem pouco valor se não for acompa-
nhado de uma preparação físico-técnico-tática e um cuidado da parte médica e administrativa. Desta
forma, o psicólogo tratará por estabelecer, desde logo, um bom vínculo com a equipe técnica, os diri-
gentes e atletas.
Dependendo do nível da equipe e do tipo de esporte (no caso o futebol tem, sem a menor sombra de
dúvidas, o maior espaço na mídia), é possível que a imprensa ofereça alguma divulgação. Será indi-
cado prestar algumas informações aos repórteres e explicar que várias outras coisas não poderão ser
objetos de divulgação—devido à ética profissional.
A posição do psicólogo esportivo nos clubes deve ser discreta. As informações por ele colhidas são
de uso interno, não sendo passives de conhecimento público.
O psicólogo esportivo tem, por norma de atuação, o respeito por algumas etapas de implantação de
seu programa de psicologia esportiva, como veremos a seguir.
Informação
Etapa em que o psicólogo informa a todos os componentes do grupo esportivo (becker jr 2000), como
funciona um programa de psicologia esportiva. Neste momento, recolherá informações básicas sobre
como funciona a instituição e o grupo esportivo em que vai trabalhar. Para isto utiliza entrevistas, in-
ventários e observações pessoais. É de fundamental importância ouvir a avaliação do treinador e dos
membros da equipe técnica a respeito de como funciona a dinâmica do grupo esportivo.
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A PSICOLOGIA DO ESPORTE
Pré-programa
O pré-programa, estruturado de acordo com as informações obtidas pelo psicólogo sobre o funciona-
mento da instituição e do grupo esportivo, deverá ser apresentado aos dirigentes e grupo técnico para
discussão (becker jr, 2000). Se os dirigentes e o grupo técnico aprovarem o pré-programa, ele pas-
sará a ser o programa. Deve haver uma co-responsabilidade de todo o grupo para a implantação do
mesmo.
Programa
Sempre que se inicia um trabalho, em qualquer área da atividade humana, é necessária uma avalia-
ção prévia. Esta deve enfocar o indivíduo e o grupo. Mesmo nos esportes individuais, o técnico traba-
lha com um grupo de atletas e devemos verificar sua dinâmica. Assim (becker jr, 2000), alguns proce-
dimentos como testes, entrevista e observação de conduta são sugeridos.
A avaliação do atleta não é feita através de um teste psicotécnico que aprova ou reprova candidatos
(becker jr, 2000). Na copa de 1962, o psicólogo joão carvalhaes solicitou o desligamento de vários
atletas da seleção pois seus testes eram pobres. Devido à falta de experiência na área, o profissional
colocou em risco o sucesso de sua atuação por não observar a conduta esportiva dos atletas (becker
jr, 2000).
Muitos clubes gastam fortunas contratando atletas que são indicados pelos famosos olheiros (becker
jr, 2000), observadores de treinos e de partidas que opinam a respeito dos desportistas. Um fator que
todo clube exige é o exame médico (becker jr, 2000), para detectar se o jogador não tem alguma en-
fermidade encoberta. Em alguns casos, falta a aplicação de um exame psicológico para complemen-
tar o diagnóstico inicial do jogador novato.
A conduta de um atleta dentro de uma nova equipe não será, necessariamente, a mesma que tinha
na equipe anterior, uma vez que o ambiente e os companheiros de equipe são outros (weinberg,
2001). Desta forma, é importante, além de uma avaliação individual, um exame grupal para que o psi-
cólogo entenda a dinâmica do grupo com que irá atuar.
Somente através desta primeira investigação, o psicólogo esportivo estará capacitado para intervir no
grupo, utilizando as técnicas e ferramentas desenvolvidas em trabalhos e estudos científicos.
Respeitar estas normas, utilizando-as com simplicidade, compromisso e ética, determinará o sucesso
de sua empreitada profissional.
Usualmente quando uma área do conhecimento se aproxima de outra é devido à necessidade de que
informações de uma área sejam aplicadas na outra. Dentre tantas formas da psicologia se aproximar
e auxiliar a profissionais da área de educação física (técnicos, professores e atletas), existe o trabalho
de psicólogos voltado para o estudo e aprimoramento da performance de atletas.
Este tipo de trabalho junto a atletas (quer sejam de alto nível ou não) é um trabalho especializado que
exige do psicólogo conhecimentos específicos da psicologia esportiva, de biologia, de educação fí-
sica, aspectos culturais da modalidade e do local onde se treina e compete, entre outros.
Com várias décadas de estudo de alto nível sendo realizados por algumas das maiores universidades
do mundo e aplicados junto a atletas de elite mundial, a psicologia esportiva é uma ciência bastante
utilizada por comissões técnicas de grandes potencias esportivas devido aos seguintes fatores: resul-
tados positivos obtidos; excepcional relação custo/benefício; pesquisas constantes que possibilitam
novas e úteis descobertas; desenvolvimento de técnicas não invasivas, de fácil assimilação por parte
dos atletas; a possibilidade de trabalhar aspectos relevantes de ordem comportamental e emocional
com critério e profissionalismo.
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A PSICOLOGIA DO ESPORTE
Em uma nação esportiva que combina características de carência econômica com grande nível téc-
nico (com inteligência e criatividade) de atletas, como o caso do brasil, a implementação do trabalho
da psicologia esportiva voltado para a otimização de performance é uma alternativa valiosa como au-
xiliar na obtenção de padrões de desempenho mais altos e constantes.
Primeiramente, gostaria de explicar que trata-se de uma área que não se preocupa apenas com o en-
volvimento entre pessoas e o esporte – este último entendido como modalidade instituída, com re-
gras.
A psicologia do esporte se preocupa com a pessoa envolvida com o movimento humano de uma ma-
neira geral, seja ele dentro de uma modalidade esportiva de competição profissional, amadora ou de
tempo livre. Ou seja, o movimento na atividade física pela manutenção de saúde, tratamento e reabili-
tação de doenças físicas e psíquicas.
É por esta razão que você também pode encontrar os termos “psicologia do esporte e do exercício
físico”, “psicologia do esporte e da atividade física” e “psicologia da saúde”. Peço-lhe que neste texto
considere o termo “psicologia do esporte” como já abarcando todas essas outras ramificações.
Embora a psicologia do esporte já tenha por volta de cem anos, esta é uma área que ainda vem ga-
nhando espaço, por isto muitas pessoas ainda a desconhecem ou não compreendem sua atuação.
Mesmo alguns profissionais do mundo esportivo e dos exercícios físicos não fazem uso deste conhe-
cimento, que pode agregar valor tanto à sua própria prática quanto ao rendimento e ao desenvolvi-
mento de seu aluno/cliente.
Você que está envolvido em temas sobre o movimento humano, pensando principalmente em seus
aspectos físicos e fisiológicos, consegue responder às seguintes perguntas?
Quando uma pessoa inicia a prática de uma atividade física, o que exatamente ela busca?
Por que ela escolhe uma modalidade específica quando há muitas outras opções?
Por que ela desiste mesmo quando sabe de todos os benefícios que a atividade lhe proporcionaria?
Embora você conviva com demandas semelhantes a essas todos os dias, talvez não consiga respon-
der a estes questionamentos de forma simples.
Essas perguntas são exemplos de questionamentos feitos pela psicologia do esporte e do exercício
físico – campo de conhecimento que faz conexão com outras disciplinas das chamadas ciências do
esporte (rubio, 2000) -, que estuda o comportamento das pessoas em atividades físicas e esportivas
para identificar princípios e diretrizes que possam ajudar adultos e crianças a participarem e se bene-
ficiarem de atividades esportivas e de exercício (weinberg & gould, 2017).
A psicologia do esporte se desenvolveu a partir de fatos internacionais que mantem relação direta em
sua história:
1879 – fundação do primeiro laboratório de psicologia experimental em leipzig, na alemanha, por wil-
helm wundt;
1896 – realização da primeira edição dos jogos olímpicos da era moderna, organizados por pierre de
coubertin, que em 1913 também organizou o primeiro congresso internacional sobre a psicologia e a
fisiologia do esporte;
1920 – primeiro laboratório de psicologia do esporte foi criado por robert werner schulte em berlim,
alemanha; 1925 – coleman griffith cria em illinois, estados unidos, mais um laboratório de psicologia
do esporte (tenenbaum et al, 2013).
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A PSICOLOGIA DO ESPORTE
As primeiras pesquisas que se tem conhecimento sobre a relação mais específica entre a psicologia
e os exercícios físicos também datam do final do século xix e começo do século xx, como a desenvol-
vida por norman triplett em 1898, na qual verificou que o desempenho de ciclistas tendia a ser melhor
quando pedalavam com mais alguém (hausenblas & rhodes, 2016).
Ou seja, a psicologia do esporte e do exercício físico foi desenvolvida, principalmente, a partir dos co-
nhecimentos científicos da própria psicologia e das ciências do esporte, bem como da realização de
eventos esportivos como os jogos olímpicos, que acabaram colocando o esporte em evidência na so-
ciedade.
Os primeiros trabalhos publicados sobre alguma relação entre a psicologia e o esporte datam do final
do século xix e começo do século xx, mas é nos anos que se seguiram à segunda guerra mundial
que a disciplina teve seu maior desenvolvimento, em função da realização de pesquisas principal-
mente nos estados unidos e no leste europeu.
Isto se deve ao fato de que nestas regiões do planeta – que representavam o bloco capitalista e o
bloco socialista, respectivamente -, viam no esporte mais um forma de propaganda de seus modelos
ideológicos: o esporte visto como mais uma arma de guerra fria a ser desenvolvida.
Não à toa, os países envolvidos com as pesquisas passaram a ser os principais medalhistas olímpi-
cos, o que aconteceu também com cuba a partir da década de 1960, após replicar os conhecimentos
previamente adquiridos pelos soviéticos (casal, 2007).
No entanto, conforme explicado anteriormente, é errado pensar que a psicologia do esporte preo-
cupa-se apenas como o esporte de alto rendimento, mesmo aqui no brasil.
Psicologia clínica do esporte – qualificação extensiva em psicologia para aprender a detectar e tratar
indivíduos com transtornos mentais relacionados às praticas esportiva e de exercícios físicos;
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A PSICOLOGIA DO ESPORTE
O quadro a seguir mostra alguns temas com os quais a psicologia do esporte e do exercício físico tra-
balham em pesquisa e alguns exemplos de como isso pode ser aplicado ao contexto de ensino e de
prática profissional, conforme tenenbaum et al (2013):
No esporte de rendimento, campo que se preocupa com a análise e modificação dos fatores psíqui-
cos determinantes do desempenho de atletas com a finalidade de melhorar o rendimento e otimizar o
processo de recuperação;
No esporte recreativo, ou seja, se preocupa com as atividades físicas e esportivas de tempo livre de
diferentes grupos;
Em prevenção, saúde e reabilitação, em que são pesquisadas as formas como o esporte e a ativi-
dade física podem ser utilizados de maneira terapêutica, preventiva e reabilitativa em casos de limita-
ções físicas, mentais e sociais.
Como se vê, o profissional da psicologia do esporte pode atuar em várias frentes, com o manejo de
várias temáticas dentro da área, tornando-a em outro campo de trabalho para o profissional da edu-
cação física.
Assim ocorre com o profissional de educação física, que ao trabalhar com uma pessoa precisa ter co-
nhecimento não apenas da forma como o corpo (físico) age e reage ao movimento humano mas, tam-
bém, de como a subjetividade do indivíduo atua nessa relação.
Não basta entender apenas de biomecânica e fisiologia do exercício, por exemplo, quando há prescri-
ção de exercícios. Também é importante entender minimamente o que influencia a pessoa a treinar:
se ela treina, o que a faz seguir à risca os exercícios propostos ou não.
No contexto esportivo, o profissional precisa pensar em, por exemplo, que tipo de variável influencia a
assiduidade de um indivíduo ao treinamento ou por que na situação de competição a pessoa pode
não colocar em prática aquilo faz bem durante o treino, etc.
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A PSICOLOGIA DO ESPORTE
O que quero dizer é que o corpo humano não se põe em movimento sozinho. Ele precisa de proces-
sos neurológicos, mentais e cognitivos que sustentem o movimento, e quem trabalha com essa de-
manda deve conhecer ao menos o básico dessa relação.
Você, como profissional de educação física, pode não trabalhar diretamente com a psicologia do es-
porte, mas ela certamente pode lhe ajudar a entender a pessoa de maneira mais integral, mesmo que
indiretamente.
Não se deixe “assustar” pela palavra psicologia, até mesmo porque a área da psicologia do esporte é
formada por diferentes profissionais, não só psicólogos.
Boa parte dos profissionais da área são formados em educação física, isso porque enquanto os cur-
sos de graduação em psicologia ainda engatinham quanto à disponibilização da disciplina de psicolo-
gia do esporte, os cursos de educação física já o fazem desde as décadas de 1980 e 1990.
Conforme becker jr. (2000), que em relato sobre a experiência de criar o primeiro curso de pós-gradu-
ação da área na américa do sul, em 1995, afirmou ser esta uma das razões pelas quais a maior parte
dos profissionais interessados nas primeiras turmas do curso advinham da graduação em educação
física.
Outro fato utilizado para exemplificar a importância que é dada à psicologia do esporte pela educação
física, é que na universidade de são paulo (usp), os cursos de metrado e doutorado com linha de pes-
quisa na área são oferecidos pela pós-graduação em ciências, da escola de educação física e es-
porte, e não pelo instituto de psicologia.
Implicada em seus primórdios com aspectos mais biológicos, hoje, a psicologia do esporte vem estu-
dando e atuando em situações que envolvem motivação, personalidade, agressão e violência, lide-
rança, dinâmica de grupo, bem-estar de atletas caracterizando-se como um espaço onde o enfoque
social, educacional e clínico se complementam.
Que a psicologia enquanto ciência e profissão tenha ampliado seus horizontes, dividindo espaço em
territórios exclusivos de outros profissionais ao longo dessas últimas décadas, não se constitui uma
novidade. Isso pode ser visto como reflexo de um movimento que busca facilitar o diálogo entre áreas
que se aproximam, mas que mantêm cada qual a sua especificidade.
No caso do esporte essa dinâmica se repete, uma vez que a psicologia do esporte vem compor um
espectro denominado ciências do esporte, compostas por disciplinas como antropologia, filosofia e
sociologia do esporte, no que se refere à área sócio-cultural, incluindo também a medicina, fisiologia
e biomecânica do esporte, demonstrando uma tendência e uma necessidade à interdisciplinaridade.
Essa tendência, contudo, não representa uma prática inter-disciplinar, ainda, uma vez que as diver-
sas sub-áreas convivem enquanto soma, mas não em relação, fazendo com que as ciências do es-
porte vivam hoje um estágio denominado por bracht (1995) de "pluridisciplinar".
Temas como motivação, personalidade, agressão e violência, liderança, dinâmica de grupo, bem-es-
tar psicológico, pensamentos e sentimentos de atletas e vários outros aspectos da prática esportiva e
da atividade física têm requerido estudo e atuação de profissionais da área, visto que o nível técnico
de atletas e equipes de alto rendimento está cada vez mais equilibrado, sendo dada ênfase especial
à preparação emocional, tida como o diferencial.
Apesar da definição que apresentamos de campo e papéis, nem sempre foi clara a abrangência da
psicologia do esporte. Samulski (1992), afirma que no final do século xix já era possível encontrar es-
tudos e pesquisas relativas a questões psicofisiológicas no esporte, porém, conforme de rose jr.
(1992) ainda que houvesse estudos no campo do comportamento humano relacionado à atividade
física e ao esporte esses dois aspectos foram estudados durante muito tempo sob o título de psicolo-
gia do esporte, sem que houvesse uma definição exata do que fosse essa área de estudo e qual seu
verdadeiro objetivo.
Foi na década de 20, de acordo com machado (1997), que encontramos as publicações de schulte
(corpo e alma no desporto: uma introdução à psicologia do treinamento) e de griffith (psicologia do
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A PSICOLOGIA DO ESPORTE
treinamento e psicologia do atletismo) vindo, este segundo, a fundar o primeiro laboratório de pes-
quisa aplicada ao esporte nos estados unidos. Enquanto no ocidente muito tempo se passou até que
fosse dada maior destaque ao estudo e pesquisa na área, na antiga união soviética métodos e técni-
cas eram desenvolvidos para incrementar o rendimento de atletas e equipes.
Durante os anos 60 a psicologia do esporte vive uma fase de grande produção e a relação de nomes
como cratty, oxendine, solvenko, tutko, olgivie, singer e antonelli, que marcaram a história da área
com contribuições voltadas para a psicologia social na atividade física e esporte, culminando em vá-
rias publicações que influenciam trabalhos até os dias de hoje (wiggins 1984; willians et al, 1991).
Foi também durante esse período que se organizou a primeira instituição com o objetivo de congregar
pessoas interessadas na psicologia do esporte. Surgiu, então, a international society of sport psycho-
logy (issp), presidida pelo italiano ferruccio antonelli, que além de ter como principal publicação o in-
ternational journal of sport psychology, passou a realizar reuniões bienais com o objetivo de divulgar
trabalhos na área, além de promover o intercâmbio entre os investigadores.
Preocupados com distanciamento que a issp vinha tomando da área acadêmica, um grupo de pesqui-
sadores fundou, em 1968, a north american society for the psychology of sport and physical activity
(naspspa), cujo foco de estudo e atuação recaía sobre aspectos do desenvolvimento, da aprendiza-
gem motora e da psicologia do esporte, tendo como principal periódico o journal of sport and exercise
psychology.
Mais do que demarcar posições, essas distensões vieram a refletir, em certa medida, o que vem se
passando na psicologia do esporte nas últimas décadas. Martens (1987) afirmou que seria possível
ver profissionais em dois campos distintos de atuação: no primeiro deles estaria a psicologia do es-
porte acadêmica, cujo interesse profissional recairia sobre a pesquisa e conhecimento da disciplina
psicologia do esporte; no segundo estaria a psicologia do esporte aplicada próxima do campo de atu-
ação e intervenção.
Além das questões acadêmicas envolvidas nesse debate (ou seria embate?) Estas divisões refletem
a preparação e as possibilidades de atuação dos profissionais junto a esse campo de atuação, que
se, por um lado representa um certo corporativismo, por outro indica a abertura de uma área.
Como visto anteriormente, a psicologia do esporte, ainda que se utilize desta denominação não é um
terreno exclusivo de psicólogos, isso porque a formação dos profissionais não é formalmente determi-
nada. Brandão (1995) observa que por ser disciplina regularmente oferecida somente na graduação
dos alunos de educação física isto significa que o delineamento do que faz um profissional da psicolo-
gia do esporte e que formação ele necessita, ainda, não estão claros. Prova disto, é que encontramos
engenheiros, médicos, professores de educação física e profissionais de outra formação universitária,
trabalhando e até mesmo 'treinando mentalmente' atletas" (p. 140).
Mais do que uma defesa corporativista essa afirmação vem refletir a dificuldade de construção e defi-
nição do papel profissional daqueles que se vêem atuando num campo marcado pelo empirismo. Não
é de se estranhar o grande número de pessoas que, por conta de seu sucesso como ex-atleta tenha
vindo a se tornar técnico ou treinador, mesmo sem uma preparação acadêmica adequada para isso.
Aliás, as questões relacionadas ao papel e identidade profissional (tani, 1996) têm sido uma das
grandes discussões que envolve o mundo da educação física e esporte na atualidade.
Lesyk (1998) aponta que em 1983 o centro olímpico americano indicou três possibilidades de atuação
para os profissionais da área: o clínico, profissional capacitado para atuar com atletas e/ou equipes
esportivas, em clubes ou seleções, cuja preparação específica envolve conhecimentos da área de
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A PSICOLOGIA DO ESPORTE
psicologia e do esporte, não bastando apenas a formação em psicologia ou educação física; o pes-
quisador, cujo objetivo é estudar ou desenvolver um determinado conhecimento na psicologia do es-
porte sem que haja uma intervenção direta sobre o atleta ou equipe esportiva; e o educador que de-
senvolve a disciplina psicologia do esporte na área acadêmica seja na psicologia, seja na educação
física. Nos dois últimos casos não se exige formação específica do profissional.
Além da definição da possibilidade de atuação profissional, singer (1988) aponta para outros desdo-
bramentos no campo de atuação profissional do psicólogo do esporte, fornecendo os seguintes mo-
delos: o especialista em psicodiagnóstico faz uso de instrumentos para avaliar potencial e deficiên-
cias em atletas; o conselheiro profissional que atua apoiando e intervindo junto a atletas e comissão
técnica no sentido de lidar com questões coletivas ou individuais do grupo; o consultor busca avaliar
estratégias e programas estabelecidos, otimizando o rendimento; o cientista produz e transmite o co-
nhecimento da e para a área; o analista avalia as condições do treinamento esportivo, fazendo a in-
termediação entre atletas e comissão técnica; o otimizbador com base numa avaliação do evento es-
portivo busca organizar programas que aumentem o potencial de performance.
Diante da diversidade de atuações é de se esperar que o profissional que atua em psicologia do es-
porte tenha também uma diversidade de formação.
Esse corpo de conhecimento se faz necessário na medida em que se atua com indivíduos e/ou gru-
pos que têm sua dinâmica limitada pelo contexto vivido, ou seja, os treinamentos, as competições e a
interação com um meio restritivo com períodos de isolamento e concentração ou alojamentos conjun-
tos.
Samulski (1992) destaca a necessidade de uma formação abrangente apontando como sendo quatro
os campos de aplicação da psicologia do esporte:
O esporte de rendimento que busca a otimização da performance numa estrutura formal e institucio-
nalizada. Nessa estrutura o psicólogo atua analisando e transformando os determinantes psíquicos
que interferem no rendimento do atleta e/ou grupo esportivo.
O esporte escolar que tem por objetivo a formação, norteada por princípios sócio-educativos, prepa-
rando seus praticantes para a cidadania e para o lazer. Neste caso, o psicólogo busca compreender e
analisar os processos de ensino, educação e socialização inerentes ao esporte e seu reflexo no pro-
cesso de formação e desenvolvimento da criança, jovem ou adulto praticante.
Já o esporte recreativo visa o bem-estar para todas as pessoas. É praticado voluntariamente e com
conexões com os movimentos de educação permanente e com a saúde. O psicólogo, nesse caso,
atua na primeira linha de análise do comportamento recreativo de diferentes faixas etárias, classes
sócio econômicas e atuações profissionais em relação a diferentes motivos, interesses e atitudes.
Por fim o esporte de reabilitação desenvolve um trabalho voltado para a prevenção e intervenção em
pessoas portadoras de algum tipo de lesão decorrente da prática esportiva, ou não, e também com
pessoas portadoras de deficiência física e mental.
Se até aqui nos deparamos com o campo de atuação profissional do psicólogo do esporte, falaremos
em seguida do campo de intervenção junto a atletas individuais e equipes esportivas. Vale ressaltar
que o que pretendemos aqui é uma apresentação dos temas relevantes e não a exploração de cada
um deles especificamente, visto a abrangência da área e a qualidade, cada vez maior, da bibliografia,
muitas vezes específica, de cada um dos pontos levantados.
O estudo da relação entre tipo de personalidade e a escolha de uma modalidade esportiva tem sido
objeto de estudo de um grande número de pesquisadores (fischer, 1984; silva, 1984; vealey, 1992;
weinberg & could, 1995). Partindo, quase sempre, do conceito de personalidade enquanto diferença
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individual, os estudos nessa área são controversos e, por vezes, confusos, uma vez que, além da di-
vergência sobre o que é personalidade característica subjetiva ou comportamental? no âmbito da psi-
cologia, temos, no esporte uma ansiedade pela busca de um padrão ou modelo que venha caracteri-
zar o atleta de alto rendimento.
Das questões relacionadas a métodos e técnicas até a relação entre tipologia e escolha e prática de
determinadas modalidades esportivas ainda não se chegou a respostas conclusivas ou explicativas
suficientes para satisfazer a técnicos e atletas ou mesmo aos estudiosos do assunto.
Diante dos vários modelos adotados no estudo da personalidade, silva (1984) destaca três perspecti-
vas: a determinista pouco adotada em psicologia do esporte, próxima da psicodinâmica que tem
como referência autores como freud, jung, adler; o traço a personalidade dotada de características
relativamente constantes que diferencia uma pessoa das demais, baseando-se em autores como all-
port; e a interacional que busca compreender a personalidade a partir da integração das influências
pessoais com as do meio em que a pessoa está inserida, tendo em bandura um dos teóricos referen-
ciais. Essa última perspectiva tem sido a mais adotada em pesquisas na última década.
Um dado comum nos estudos relacionados a esse assunto é que ainda que a personalidade seja ca-
racterizada pela composição individual dos traços de um sujeito, no esporte esse assunto ganha con-
tornos próprios quando encontramos um perfil comum naquilo que se refere à conquista e ao êxito.
Intrigados por essas questões messias & pelosi (1997) realizaram um estudo onde se evidenciou que
ainda que existam inúmeras diferenças individuais, há um perfil comum a atletas que apresentam ca-
racterísticas como auto-confiança, melhor concentração, preocupação positiva pelo esporte, determi-
nação e compromisso.
De acordo com vealey (1992) o estágio atual de conhecimento na área tem demonstrado uma preo-
cupação em descrever características psicológicas em atletas, a influência da personalidade no com-
portamento esportivo, bem como transformações da personalidade, e baseado numa vasta revisão
bibliográfica aponta algumas conclusões gerais sobre as pesquisas realizadas na área. Não há evi-
dências, pelos estudos, de que exista uma "personalidade de atleta".
As pesquisas não são conclusivas sobre a existência de um tipo de personalidade que distinga atle-
tas de não-atletas. Também não são conclusivos os estudos que apontam para as diferenças entre
personalidade e os sub-grupos esportivos (esporte individual x esporte coletivo, esporte de contato x
esporte de não contato). O autor destaca ainda que o sucesso no esporte pode influenciar a saúde
mental do indivíduo, facilitando a própriocepção positiva e produzindo estratégias cognitivas de su-
cesso, o que não representa mudança na personalidade traço.
As diferenças individuais na psicologia do esporte também são estudadas a partir de outros temas
que não só a personalidade. Outra questão que intriga psicólogos e pesquisadores relaciona-se ao
motivo que leva um atleta à procura pelo esporte e a dinâmica envolvida na aderência a essa prática.
Numa definição clássica do termo (sage, 1977) motivação é entendida como a direção e intensidade
de um esforço.
No contexto esportivo a direção do esforço refere-se tanto à busca individual de um objetivo quanto
aos atrativos de determinadas situações. Já a intensidade do esforço refere-se ao grau de energia
que uma pessoa despende no cumprimento de uma situação particular. No entender de weinberg &
gould (1995) ainda que próximas, direção e intensidade, do ponto de vista teórico, devem ser separa-
das. Ainda assim, a motivação pode afetar a seleção, intensidade e a persistência de um indivíduo,
que, no caso do esporte, interfere diretamente na qualidade da performance do atleta.
Destacamos da literatura (brawley & roberts, 1984; weinberg, 1984; weinberg & gould, 1995; weiss &
chaumeton, 1992) que o nível de motivação de um atleta é determinado pela interação de fatores
pessoais como personalidade, necessidades, interesses e habilidades, assim como fatores situacio-
nais específicos como facilidade na prática, tipo de técnico ou orientação para a vitória ou fracasso da
equipe. A apreciação dessas questões pode auxiliar na compreensão de diferentes situações num
mesmo jogo, já que alguns atletas podem se sentir mais motivados se criticados ou punidos enquanto
outros podem se frustrar, deprimir ou mesmo exprimir grande raiva.
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Samulski (1992) denomina os traços internos de motivação intrínseca que consiste na capacidade de-
senvolvida pelo próprio atleta para a realização de um interesse. Esses determinantes podem ser de-
signados como vontade, desejo, determinação, que muitas vezes podem contrastar com situações
externas adversas que dificultariam seu cumprimento.
Por determinantes internos entende aqueles fatores de ordem subjetiva como nível de aspiração, hie-
rarquia de motivos, motivação do rendimento e atribuições causais que podem interferir ou determinar
o resultado de uma ação à sua própria capacidade ou a seus próprios esforços. Já os determinantes
externos estão relacionados ao meio social em que o atleta está inserido e que se manifestam na
forma de incentivos ou dificuldades e problemas.
Ainda com relação ao que estamos denominando características e diferenças individuais, encontra-
mos um grande número de trabalhos voltados para o estudo da ansiedade e do stress no esporte
(brandão & matsudo, 1990; davids et al, 1995; de rose junior & vasconcellos, 1997; gould & krane,
1992; hackfort & schwenkmezger, 1993; martens et al, 1990; sonstroem, 1984). Esses conceitos e
estados de difícil descrição, porém perceptíveis em qualquer situação competitiva, também não são
consensuais entre psicólogos e pesquisadores.
É comum ouvir relatos de atletas onde há uma percepção da performance sendo afetada pelo que
chamam ansiedade ou excitação antes e durante as competições, e para poder controlar essas situa-
ções desenvolvem as mais variadas estratégias.
Ansiedade é definida por could & krane (1992) como o impacto emocional ou dimensão cognitiva da
ativação. Sonstroem (1984) afirma que ansiedade tem sido estudada no esporte partindo de seus
efeitos emocionais negativos. Porém, a partir de estudos realizados em fisiologia e psicologia tem-se
demonstrado que um determinado tipo de ansiedade é necessário para a prontidão na execução de
algumas tarefas. Esse estado é chamado de ativação.
Num texto clássico da área spielberg (1972) notou que para a teoria da ansiedade ser adequada é
necessário diferenciar entre ansiedade como um estado de disposição de ânimo e como um traço de
personalidade. O autor define ansiedade estado (a state) como um estado emocional caracterizado
como subjetivo, consciência da percepção de sentimentos de apreensão e tensão, acompanhado
pela associação com o sistema nervoso autônomo (p. 17).
Essa condição varia conforme o momento e flutua proporcionalmente para perceber como reagir den-
tro de uma situação imediata. Ansiedade traço (a trait), por outro lado, é um motivo ou hábito disposi-
ção comportamental que predispõe um indivíduo a perceber uma ampla gama de circunstâncias não-
perigosas objetivamente como ameaçadoras e para responder a isso com reações desproporcionais
de ansiedade estado em intensidade e magnitude de perigo (p. 7 7).
O termo stress tem sido utilizado, muitas vezes, como sinônimo de ansiedade. Martens (1977) afirma
que stress é um processo que envolve percepção de um desequilíbrio substancial entre a demanda
do meio e a capacidade de resposta, dentro de condições onde o fracasso é percebido como tendo
importantes consequências sendo respondido com aumento de níveis de ansiedade-estado (p. 9).
Esta afirmação delineia o stress como um influência do meio mediada pela percepção e ansiedade
como manifestações cognitivas de stress.
De acordo com o que foi exposto os conceitos de ativação, ansiedade e stress no esporte caminham
lado a lado, e as discussões apontam no sentido de investigar qual o nível ótimo -ou aceitável para
um bom desempenho, ou diríamos, para a manutenção de uma boa qualidade de vida para o atleta.
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Estudiosos que se dedicam ao estudo dos grupos procuram destacar a diferença entre grupo e um
conjunto de indivíduos. Neste sentido, andrade (1986) afirma que grupo é um conjunto de indivíduos
que se reúne por ou para alguma coisa. É uma situação indeterminada com dois referenciais: um pro-
blema comum e o conhecimento entre as pessoas.
Equipes esportivas vêm compor esse universo grupai na medida que se constituem, de acordo com
pichon-rivière (1991), num espaço de aprendizagem que implica em informação, emoção e produção,
centrando-se, de forma explícita, numa tarefa e a participação através dela permite não só sua com-
preensão, mas também sua execução.
Na constituição dos grupos esportivos temos claro a necessidade da explicitação daquilo que pichon-
rivière (1991) chama de tarefa, que não é aqui apenas o movimento para o trabalho, mas a compre-
ensão de seu objetivo aquilo que se poderia chamar de conscientização processo e finalidade.
Sendo assim, as etapas de preparação para um torneio são, cada uma delas, uma nova tarefa, que
compreendidas e incorporadas pelo atleta permitem sua execução, de forma desalienada, podendo
culminar no seu sucesso.
Isso reforça o pensamento de rioux & chappuis (1979) que observaram que toda equipe esportiva se
apresenta como um paradigma da vida humana, distribuída em minisociedades. Técnicos e atletas,
em todas as dimensões do rendimento, procuram dedicar boa parte do tempo em busca de conheci-
mento e aprimoramento de suas habilidades de comunicação, cooperação e de convivência media-
das por aquilo que é, sem dúvida, a maior qualidade das equipes: ser coesa, eficiente e eficaz.
Autores como loy & jackson (1990), widmeyer et al (1993) e hanrahan & gallois (1993) entre outros
têm postulado que uma equipe esportiva é mais que a soma de valores individuais e que o time com
melhor performance não é composto, necessariamente, pelos melhores jogadores destacados em
suas funções, representando que não é apenas a qualidade individual que se necessita para formar
uma equipe com probabilidade de êxito.
O mais importante é a capacidade de coordenação de cada um dos valores que entram em jogo rela-
ções humanas, aspectos técnicos e táticos e determinantes biológicos uma vez que o resultado so-
mente se dará com a soma desses valores.
Ao abordar equipes esportivas rubio e simões (1998) referem-se não apenas ao conjunto de indiví-
duos que se agrupam por dimensões temporais e espaciais, mas ao complexo conjunto de fatos obje-
tivos e subjetivos que tornam um grupo efetivo e desejoso de alcançar suas metas, sejam elas uma
atuação adequada em um partida, a vitória ou apenas uma boa colocação em um campeonato.
Uma questão importante, que se coloca hoje, é se o rendimento de uma equipe esportiva é tão efe-
tivo quanto a sua composição, incluindo aí talento coletivo, habilidades e capacidades individuais. As
interações tornam-se mais complexas quando o número de participantes do grupo aumenta, repre-
sentando uma grande dificuldade para técnicos no trabalho com equipes esportivas.
Na ótica de russel (1993) a coesão é tida pelos técnicos como a principal característica de uma
equipe, o requisito mais importante para se obter sucesso, tendo no conflito externo um fator de incre-
mento da coesão interna.
Para carron (1982) coesão é um processo dinâmico que se reflete na tendência do grupo de perma-
necer junto e se manter unido na busca de seus objetivos e metas. Nessa perspectiva o autor propõe
um modelo com quatro categorias que antecedem o desenvolvimento da coesão:
Determinantes situacionais
Refere-se a variáveis impostas pelo meio que interferem diretamente na coesão. Exemplos dessas
situações são as renovações de contratos, mudanças nas regras da modalidade, prêmios oferecidos
por vitórias. Além desses fatores questões como idade e origem podem desempenhar papel funda-
mental na aproximação dos membros da equipe.
Fatores pessoais
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São características individuais dos membros do grupo que podem interferir na coesão. Inclui-se aqui
a identificação com a tarefa e a auto-motivação.
Estilos de liderança
É a complexa interação entre a liderança desempenhada pelo técnico e os atletas. Inclui o estilo de
liderança e comportamentos apresentados e a relação com o grupo.
Determinantes grupais
Sendo assim, os grupos que permanecem juntos por longo tempo e têm um forte desejo de sucesso
apresentam níveis mais elevados de coesão.
Porém, o sucesso do grupo não reside apenas na coesão. Russel (1993) afirma que o desenvolvi-
mento da coesão só será efetivo se o grupo enquanto uma instância independente e auto-suficiente,
possuir uma estrutura efetiva de liderança.
De acordo com martens (1987) a liderança efetiva é determinada pelo estabelecimento de objetivos e
metas concretas, construção de um ambiente social e psicológico favorável, instrução de valores e
motivação dos membros para que se alcance os objetivos e metas e comunicação com outros atletas.
A liderança nos grupos esportivos apresenta-se de uma maneira um pouco mais complexa. Isso por-
que temos o líder externo na figura do técnico e o líder interno representado, muitas vezes, pela fi-
gura do capitão (rubio, 1998).
O reconhecimento desse movimento de dupla liderança pode representar o sucesso da equipe espor-
tiva, uma vez que elas não se sobrepõem, mas se completam e complementam. Técnico e capitão
desempenham papéis distintos e complementares e ambos representam lideranças.
Em suma, liderança refere-se a influência que um indivíduo exerce sobre seus companheiros em
torno de um objetivo, representado no esporte pela relação técnico-atleta.
Considerações finais
Ao longo desse texto busquei apresentar e comentar aquilo que hoje vem chamando a atenção de
psicólogos enquanto uma área emergente de atuação. Nem de longe ele apresenta a totalidade dos
estudos e pesquisas, mas procura mostrar como muitos estudos já foram realizados e que, portanto,
já são referências para uma reflexão e prática.
A psicologia do esporte, como área de produção acadêmica e de atuação profissional, tem ainda um
longo caminho a percorrer, se considerarmos o que já foi feito e o muito que ainda temos a construir,
dada a amplidão e complexidade do mundo esportivo.
Certamente, nessas últimas décadas acumulou-se muita informação sobre indivíduos e grupos que
praticam esporte ou atividade física sem que isso implique em conclusões ou respostas irrefutáveis.
Sei que no âmbito da psicologia no brasil essa discussão é ainda mais nova, tanto do ponto de vista
do interesse como da produção, o que aumenta a necessidade de ampliarmos a discussão e formar-
mos pessoas para uma atuação competente,como já temos em outras áreas da psicologia.
Falar de psicologia do esporte significa falar de uma área em construção que soma conhecimento de
duas grandes áreas a psicologia e o esporte e tanto uma como a outra não apresentam uma concor-
dância em seus pontos de vista, e têm uma gama imensa de objetos de estudo e pesquisa.
O reflexo disso é que, como psicóloga do esporte, aprendi ser imprescindível adentrar nesse mundo,
conhecendo as modalidades, o fenômeno e as instituições esportivas para poder pensar numa prá-
tica. Espero que esse texto tenha mostrado que a prática clínica, pura e simples, é insuficiente para
uma intervenção nesse campo e quanto mais estivermos abertos para o entendimento da psicodinâ-
mica de atletas e grupos esportivos, mais estaremos contribuindo para a construção da área tanto no
que se refere a atuação como a pesquisa.
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