Tese Luciana Reis Carpanez Versão Final
Tese Luciana Reis Carpanez Versão Final
Tese Luciana Reis Carpanez Versão Final
SÃO PAULO
2019
LUCIANA REIS CARPANEZ
Campo de conhecimento:
Administração em Saúde
São Paulo
2019
FICHA CATALOGRÁFICA
CDU 614.21(81)
Ficha Catalográfica elaborada por: Isabele Oliveira dos Santos Garcia CRB SP-010191/O
Biblioteca Karl A. Boedecker da Fundação Getulio Vargas - SP
LUCIANA REIS CARPANEZ
Campo de conhecimento:
Administração em Saúde
Data de aprovação:
___/___/_____
Banca examinadora:
____________________________________
Profa. Dra. Ana Maria Malik (Orientadora)
FGV-EAESP
____________________________________
Prof. Dr. Fernando Burgos Pimentel dos
Santos
FGV-EAESP
____________________________________
Prof. Dr. Olímpio José Nogueira Viana Bittar
Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo
____________________________________
Profa. Dra. Ana Luiza D’Ávila Vianna
USP-FMUSP-Depto. Medicina Preventiva
São Paulo
2019
DEDICATÓRIA
Aos meus filhos, Gabriel e Tomás, porque luto diariamente para ser uma pessoa
melhor por vocês.
Aos pacientes dos pequenos hospitais brasileiros, para que suas necessidades de
saúde sejam melhor atendidas.
AGRADECIMENTOS
Aos meus filhos, por estarem comigo nesta jornada, permitindo que eu lhes
apresentasse o mundo. Agradeço por serem tão pacientes e comportados em
congressos, cursos e simpósios.
À minha orientadora Ana Maria Malik. Amiga, tutora, presença constante e doce,
sustentação em momentos muito difíceis. Não teria feito nada disso sem você.
Ao Estado brasileiro, pela publicidade dos dados, permitindo que esta tese fosse
realizada.
A todos os meus amigos. Sou o que sou porque vocês são o que são.
“Mas na profissão, além de amar, tem de saber. E o saber leva tempo para crescer.”
Rubem Alves
Hospital care accounts for much of the increase in health care costs in recent years.
Many countries have adapted their policies to the hospital sector, focusing attention on
larger centers, after studies in the 1990s show that hospitals with less than 200 beds
show reduced efficiency. The objective of this thesis was to understand how the
Brazilian hospital park, in terms of size of hospitals, legal nature, national and bed
distribution, hospital production (average stay indicators, occupancy rate, bed rotation
rate, index the number of hospitalizations, the percentage of hospitalizations due to
conditions sensitive to primary care, and the mortality rate, and the National Policy for
Small Portholes Hospitals and their implications in the sector. the municipalities
generated a reduction in hospital care, which was the method found by the municipal
managers to meet health needs, with an increase in municipal hospitals, with a
reduction in size, reaching the average of 50 beds / hospital. The reversal of this
scenario involves complementary actions, that go through policies that induce hospital
care qualification to the understanding that the almost 5,000 small hospital units in
Brazil constitute a broad set to be studied in depth, subdividing it into smaller groups
with different vocations. In a complex health system such as the Brazilian,
measurements of national hospital production can help in the execution and direction
of policies for the area. The results show that 83.5% of Brazilian hospitals received
federal funding, most of them municipal, followed by philanthropic, private, state and
federal. The hospitals with the highest proportion of hospitalizations were the
philanthropic ones, followed by the state, municipal, private and federal hospitals.
Small hospitals corresponded to 55.6% of hospitals but performed only 17.6% of
hospitalizations. The medium-sized hospitals participate with 32.3% of the hospitals
and 38.8% of the hospitalizations. Large hospitals correspond to 12.1% of hospitals
and 43.6% of hospitalizations. The indicators analyzed showed a mean of 5-day stay,
mean occupancy rate of 40%, bed-turning rate of 38 patients / bed / year (3 patients /
bed / month). The mean time to bed occupancy after leaving a patient was 135 days
(four and a half months) and 10% of hospitalizations occurred due to conditions
sensitive to basic care. Finally, the analyzed indicators show that the higher the
hospital size, the better the indicators of performance and efficiency. The data can
subsidize policies for the health area with the objective of making the Brazilian hospital
system more efficient and effective, corresponding better to the desires of the
population they serve.
Key words: hospitals, hospital legislation, hospital bed size, national health policy
LISTA DE ILUSTRAÇÕES, QUADROS E TABELAS
Introdução e Metodologia
Tabela 1: Bases de dados utilizados na pesquisa ........................................ página 24
Tabela 2: Bancos de dados utilizados e variáveis e categorias analisadas .. página 25
Tabela 3: Indicadores de produção hospitalar analisados, método de cálculo e
descrição ....................................................................................................... página 27
Artigo 1
Gráfico 1: Número total de hospitais, Brasil, 1950 a 2010 ............................. página 34
Gráfico 2: Número total de hospitais, por unidade mantenedora ................... página 34
Gráfico 3: Número médio de leitos hospitalares, por unidade mantenedora . página 35
Quadro 1: Portarias emitidas pelo Ministério da Saúde para adesão dos Estados na
Política Nacional para os Hospitais de Pequeno Porte, 2005 a 2018 ........... página 41
Artigo 2
Figura 1: Distribuição de hospitais e leitos por regiões, Brasil, 2017 ............. página 53
Figura 2: Distribuição dos hospitais e leitos por região e esfera jurídica ....... página 54
Figura 3: Distribuição dos hospitais e leitos por região e porte hospitalar ..... página 56
Figura 4: Distribuição dos hospitais e leitos por porte e natureza jurídica ..... página 57
Figura 5: Número de leitos por mil habitantes, por região e tipo de leito ....... página 58
Artigo 3
Tabela 1: Bancos de dados utilizados e variáveis e categorias analisadas, Brasil, 2017
....................................................................................................................... página 67
Figura 1: Distribuição proporcional de hospitais e autorizações de internação
hospitalar emitidas, por natureza jurídica do hospital, Brasil, 2017 ............... página 69
Figura 2: Distribuição proporcional de hospitais e autorizações de internação
hospitalar emitidas, por porte hospitalar, Brasil, 2017 ................................... página 69
Tabela 2: Indicadores hospitalares dos hospitais que emitiram Autorização de
Internação Hospitalar, por porte hospitalar, Brasil, 2017 ............................... página 70
Tabela 3: Indicadores hospitalares de hospitais com emissão de Autorizações de
Internação Hospitalar por porte hospitalar e região do país, Brasil, 2017 ..... página 72
Artigo 4
Figura 1: Porcentagem de Hospitais de Pequeno Porte que emitiram Autorizações de
Internação Hospitalar no ano de 2017, por Unidade da Federação, Brasil, 2017
....................................................................................................................... página 83
Figura 2: Distribuição de Hospitais de Pequeno Porte que emitiram Autorizações de
Internação Hospitalar no ano de 2017, por natureza jurídica, Brasil, 2017
....................................................................................................................... página 84
Figura 3: Distribuição de Hospitais de Pequeno Porte que emitiram Autorizações de
Internação Hospitalar no ano de 2017, por número de leitos, Brasil, 2017
....................................................................................................................... página 84
Tabela 1: Indicadores Hospitalares analisados por faixa de intervalo de leitos dos
Hospitais de Pequeno Porte que emitiram Autorização de Internação Hospitalar,
Brasil, 2017.................................................................................................... página 85
Figura 4: Distribuição de Hospitais de Pequeno Porte que emitiram Autorizações de
Internação Hospitalar no ano de 2017, por índice de Giro de leitos e Taxa de
Ocupação, Brasil, 2017 .................................................................................. página 87
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17
2 METODOLOGIA .................................................................................................... 22
2.1 Fase 1: Análise da Política Nacional para os Hospitais de Pequeno Porte ......... 22
2.2 Fase 2: Análise da Produção Assistencial dos Hospitais Brasileiros no ano de
2017 .......................................................................................................................... 23
3 PRIMEIRO ARTIGO ............................................................................................... 29
3.1 TÍTULO EM PORTUGUÊS: ................................................................................. 29
3.2 TÍTULO EM INGLÊS: .......................................................................................... 29
3.3 STATUS .............................................................................................................. 29
3.4 RESUMO EM PORTUGUÊS: .............................................................................. 29
3.5 RESUMO EM INGLÊS: ....................................................................................... 30
3.6 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 30
3.7 OS HOSPITAIS DE PEQUENO PORTE BRASILEIROS .................................... 32
3.8 METODOLOGIA .................................................................................................. 37
3.9 RESULTADOS .................................................................................................... 38
3.10 DISCUSSÃO ..................................................................................................... 42
3.11 CONCLUSÃO .................................................................................................... 44
3.12 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 45
4 SEGUNDO ARTIGO .............................................................................................. 49
4.1 TÍTULO EM PORTUGUÊS: ................................................................................. 49
4.2 TÍTULO EM INGLÊS: .......................................................................................... 49
4.3 STATUS .............................................................................................................. 49
4.4 RESUMO EM PORTUGUÊS: .............................................................................. 49
4.5 RESUMO EM INGLÊS: ....................................................................................... 50
4.6 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 50
4.7 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 52
4.8 RESULTADOS .................................................................................................... 53
4.9 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 58
4.10 CONCLUSÕES ................................................................................................. 60
4.11 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 61
5 TERCEIRO ARTIGO .............................................................................................. 63
5.1 TÍTULO EM PORTUGUÊS: ................................................................................. 63
5.2 TÍTULO EM INGLÊS: .......................................................................................... 63
5.3 STATUS .............................................................................................................. 63
5.4 RESUMO EM PORTUGUÊS ............................................................................... 63
5.5 RESUMO EM INGLÊS ........................................................................................ 64
5.6 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 65
5.7 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................... 66
5.8 RESULTADOS .................................................................................................... 68
5.9 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 73
5.10 CONCLUSÕES ................................................................................................. 74
5.11 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 75
6 QUARTO ARTIGO ................................................................................................. 78
6.1 TÍTULO EM PORTUGUÊS: ................................................................................. 78
6.2 TÍTULO EM INGLÊS: .......................................................................................... 78
6.3 STATUS .............................................................................................................. 78
6.4 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 78
6.5 METODOLOGIA .................................................................................................. 81
6.6 RESULTADOS .................................................................................................... 82
6.7 DISCUSSÃO ....................................................................................................... 88
6.8 CONCLUSÕES ................................................................................................... 91
6.9 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 93
7 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 97
7.1 Limitações do estudo........................................................................................... 99
7.2 Possibilidade de novas pesquisas ..................................................................... 100
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 101
17
1 INTRODUÇÃO
No que tange aos sistemas e serviços de saúde, muito se caminhou nestas últimas
décadas. Em termos de gestão de unidades, a avaliação externa ganhou peso, em
especial, os sistemas de acreditação (BITTAR, 2000). A década de 1990 trouxe a
grande discussão da gestão da qualidade nos serviços de saúde (D’INNOCENZO,
2010) e após os anos 2000, com a publicação do Institute of Medicine, a segurança
do paciente passou a ser muito discutida (KOHN, 2000). Além destes, melhorias nos
processos de trabalho, por meio de variadas metodologias como Lean (BUZZI e
PLYTIUK, 2011) e sistema Kan-ban (MASSARO E MASSARO, 2017), puderam
aumentar a eficiência dos serviços. Dentre todos os serviços de saúde, os hospitalares
18
são dos que mais se beneficiaram deste novo cenário, com ganho potencial e efetivo
de produtividade e melhoria da qualidade.
No Brasil, após a grande ampliação do acesso ocorrida nos anos 1990, estudos
demonstraram, nos primeiros anos dos 2000, que o sistema hospitalar brasileiro
carecia de qualidade e de eficiência (UGÁ e LOPEZ, 2004; LA FORGIA E
COUTTOLENC, 2007). Algumas políticas federais buscaram mudar este cenário,
como a Política Nacional para os Hospitais de Pequeno Porte, o Programa de
Reestruturação e Contratualização dos Hospitais Filantrópicos no Sistema Único de
Saúde e o Programa de Reestruturação e Contratualização dos Hospitais de Ensino
no âmbito do Sistema Único de Saúde, bem como políticas locais em especial nos
estados de Bahia, São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina (BARRETO e FREIRE,
2012; RAMOS et al., 2015). Estudos mais recentes evidenciam que, apesar dos
esforços, a integralidade das ações de saúde não está garantida, com a atenção
hospitalar funcionando como um subsistema com pouca comunicação com a atenção
básica (VIANA et al., 2018). Ainda mais, dentro do próprio subsistema hospitalar,
serviços de média complexidade não se comunicam com os serviços de alta
complexidade. A atenção hospitalar de média complexidade está disponível em
praticamente todo o território nacional e poucos são os municípios que não a
possuem. Situação bem diversa é a das redes de alta complexidade: apenas um
pequeno número de centros presta atendimento deste tipo. DE OLIVEIRA,
CARVALHO e TRAVASSOS (2004) evidenciam que as duas redes, hospitalar de
média complexidade e hospitalar de alta complexidade, têm padrão de fluxos
marcadamente hierárquico e um mecanismo clássico de racionamento e restrição da
demanda por serviços escassos.
20
Desde o início dos anos 2000, publicações nacionais evidenciam que o parque
hospitalar brasileiro é relativamente grande (variando de 6.500 a 7.000 hospitais, a
depender da época da pesquisa), mas formado principalmente por pequenos
hospitais, com menos de 50 leitos. Ugá e Lopez (2007) mostraram que os hospitais
de pequeno porte (aqueles com menos de 50 leitos) correspondiam, em 2004, a 62%
de todos os hospitais brasileiros. Porém, os leitos destes hospitais correspondiam
somente a 18% de todos os leitos existentes no país. Apresentavam taxas de
ocupação ao redor de 32%, internavam doentes com patologias de baixa
complexidade, além de possuírem baixa densidade tecnológica. Destes hospitais de
pequeno porte, 83% se encontravam em municípios interioranos.
São Paulo, mas apresentam taxas de ocupação de 33,1%, somente 1,1% de saídas
hospitalares de diiagnósticos de alta complexidade, média de permanência de 3,7 dias
e índice de rotatividade de leito de 38,7 dias. Em relação à natureza jurídica, o estudo
evidenciou que os hospitais públicos de administração direta apresentavam taxas de
ocupação maiores que os privados, independente do porte. Os autores afirmam que
hospitais públicos tendem a maximizar os ganhos sociais (maiores taxas de ocupação
e média de permanência, com menor índice de rotatividade de leitos), enquanto que
os hospitais privados tendem a se especializar mais, principalmente em
procedimentos de alto custo, com vistas à maximização do lucro.
2 METODOLOGIA
Foram encontradas 1.580 normativas, entre os anos de 1988 e 2017. Nessa pesquisa,
observou-se que os registros do Saúde Legis se encontram incompletos para as
publicações entre os anos 2002 e 2007 (as normas estão descritas em seus títulos,
mas não existe a possibilidade de abrir cada uma em seu texto completo). Assim, a
pesquisa foi complementada nos sítios do Senado Federal e Diário Oficial da União,
com a análise de mais 237 legislações que não constavam do sítio do Ministério da
Saúde. Destas 237 legislações, duas foram incluídas na análise. Ao final, foram
analisadas 1.817 normativas, mas somente 21 foram incluídas no estudo, entre elas
as principais normativas de construção do SUS, como as Leis no. 8.080 e 8.142, as
NOBs e NOAS, as legislações do Pacto pela Saúde e o Decreto Presidencial n o. 7.508
de 2011. A maior parte das normativas não incluídas no estudo tratavam de liberação
de recursos financeiros. As normativas foram avaliadas utilizando um olhar qualitativo,
buscando entender como ocorreu a construção histórica do cenário atual e com o
principal objetivo de enriquecer a discussão dos resultados encontrados na segunda
fase de pesquisa. As variáveis de avaliação foram: categorização da normativa (lei,
portaria, decreto, instrução normativa, etc.), órgão emissor da norma, impacto sobre
a atenção hospitalar, impacto sobre pequenos hospitais, estímulo à construção de
redes de atenção, estímulo à integralidade dos cuidados, estímulo à municipalização
e estímulo à participação das unidades federativas.
A segunda parte desta pesquisa inicial constou da análise da Política Nacional para
os Hospitais de Pequeno Porte e de suas normas e legislações. Foram estudadas
todas as cinco portarias estruturantes da política e as vinte portarias de adesão das
unidades federativas à política, descritas nos resultados. As variáveis de análise das
portarias de adesão das unidades federadas foram a data da emissão, o intervalo de
tempo entre a publicação da portaria de adesão e a publicação das portarias
estruturantes, as unidades federativas que aderiam à política e o número de hospitais
de pequeno porte contemplados.
Foram utilizados três bancos de dados nacionais, sob a gestão do governo federal,
descritos na Tabela 1. O programa utilizado foi o Tabwin (Brasil, 2018), ferramenta de
tabulação própria do Ministério da Saúde que permite o cruzamento de dados dos
bancos sob gestão do nível federal.
Foram realizadas três análises para o indicador leitos por mil habitantes. A primeira
foi a avaliação dos leitos totais do país e por região (Leitos/1000 hab total). A segunda
(Leitos públicos/1000 hab) foi dos leitos públicos, ou seja, os leitos dos hospitais que
27
3 PRIMEIRO ARTIGO
3.3 STATUS
Submetido à Revista Ciência e Saúde Coletiva em 20 de novembro de 2018.
Artigo aceito com ressalvas, com possibilidade de ressubmissão em 01 de fevereiro
de 2019.
Artigo ressubmetido em 16 de março de 2019.
3.6 INTRODUÇÃO
Os gastos com saúde têm aumentado principalmente nas duas últimas décadas, a
ponto de países com acesso universal a serviços de saúde realizarem reformas em
seus sistemas, com objetivo, dentre outros, de redução dos mesmos. Segundo dados
da Organização Mundial de Saúde (OMS) 1, a porcentagem mundial média de gastos
do Produto Interno Bruto (PIB) em saúde se encontrava ao redor de 10% em 2014,
tendo crescido 10% entre 2003 e 2013. Países do continente africano apresentam a
menor média de gastos (ao redor de 3 a 5%) e foram os únicos a apresentar tendência
31
decrescente. Os Estados Unidos é o país com maior média de gastos com saúde,
com 15% do PIB em 2003 e 17% em 2013. O Brasil utilizou 7% de seu PIB para ações
de saúde em 2003 e 10% em 2013, com gasto de R$ 147 bilhões em 2004 (6,9% do
PIB). A porcentagem de gastos individuais em saúde chega a 11% da renda média 2 e
até 5% dos pacientes podem ser levados à pobreza pela utilização de serviços de
saúde. Em países em que o acesso universal a serviços de saúde é uma garantia
constitucional, tais gastos se dão, na maior parte, por meio da compra de
medicamentos. Em países em que tal garantia não existe, o empobrecimento
individual e familiar é gerado pelo dispêndio de recursos próprios para acesso a
serviços de saúde.
Nas duas últimas décadas (2000 a 2018), entre metade e dois terços de todos os
gastos nacionais em saúde foram realizados por serviços hospitalares. Estudos
canadenses4, suíços5 e alemães6 demonstram que os serviços hospitalares
apresentam muitos custos devidos à ineficiência, quer seja pelos números excessivos
de internações e de dias de permanência sem indicação precisa, quer seja pela
subutilização da infraestrutura. Nos países da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OECD), a expectativa de vida poderia ser aumentada
em até dois anos se os serviços de saúde fossem mais eficientes7, por redução (1) da
demora no tempo de acesso dos cidadãos aos serviços de saúde e (2) da duração da
utilização dos serviços pelos cidadãos.
32
Foi nessa década de 1970 que ocorreu a maior expansão hospitalar no Brasil (Gráfico
1), com o aumento de 79,9% no número total de hospitais. Nas décadas seguintes a
expansão dos serviços hospitalares se manteve, mas em grau menor (19,1% na
década de 1980, 7,22% na década de 1990, 0,9% entre os anos 2000 e 2010) 24.
5.000
4.000 3.397
3.000 2.441
1.768
2.000
1.000
0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Gráfico 2: Número total de hospitais, por unidade mantenedora, Brasil, 1950 a 2010
35
6.000
5.246 5.193
4.893
5.000 4.428
4.000
2.913
2.613 2.727
3.000
2.122 2.034
2.000
1.217
896
872
1.000 484
319
0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Público Privado
200
150
115,5
100,9
100 72,6 79,0 76,9
64,3 68,1 65,8 66,5
58,8 54,8 54,6
50
0
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Nos Estados Unidos, no Canadá e em países europeus tais estudos geraram uma
onda de fusões, aquisições e fechamentos de hospitais na segunda metade da
primeira década dos anos 2000, objetivando o melhor balanceamento entre aumento
da eficiência e manutenção do acesso 26, 27. No Brasil tais fatos não puderam ser
observados. Nesse período, ao redor de 60% dos hospitais nacionais possuíam
37
3.8 METODOLOGIA
Presidencial no. 7.508 de 2011. A maior parte das normativas não incluídas no estudo
tratavam de liberação de recursos financeiros. As normativas foram avaliadas
utilizando um olhar qualitativo, buscando entender como ocorreu a construção
histórica do cenário atual e com o principal objetivo de enriquecer a discussão dos
resultados encontrados na segunda fase de pesquisa. As variáveis de avaliação
foram: categorização da normativa (lei, portaria, decreto, instrução normativa, etc.),
órgão emissor da norma, impacto sobre a atenção hospitalar, impacto sobre pequenos
hospitais, estímulo à construção de redes de atenção, estímulo à integralidade dos
cuidados, estímulo à municipalização, estímulo à participação das unidades
federativas.
3.9 RESULTADOS
A PNHPP foi publicada pela Portaria MS n o. 1.044 de 2004. Seu objetivo, segundo o
texto normativo, era o de adequar o modelo de organização e o financiamento para
inserir os HPPs nas redes de atenção e melhorar a resolutividade e a qualidade das
suas ações. A PNHPP pressupunha adesão voluntária dos estados e municípios,
desde que possuíssem hospitais com 5 a 30 leitos, localizados em municípios de até
30.000 habitantes com mais de 70% de cobertura pela Estratégia Saúde da Família.
Para que o HPP pudesse ser cadastrado na Política, deveria adequar seu perfil
assistencial, com atendimento de pediatria, obstetrícia e clínica médica e que pudesse
ainda realizar pequenas cirurgias, atender saúde bucal e urgências e emergências.
Pressupunha ainda a qualificação da gestão destes hospitais, bem como sua inserção
nos mecanismos de regulação de leitos do SUS. Para o cálculo do número de leitos
que cada HPP deveria ter, seriam consideradas as necessidades previstas de
39
A primeira portaria (no. 1.044 de 2004) afirmava que os processos de trabalho seriam
organizados por outra portaria, a ser emitida posteriormente pela SAS. Esta norma
somente foi publicada oito meses após, em fevereiro de 2005 (Portaria no. 94 de 2005)
e estabelecia os mecanismos para a implementação e operacionalização da PNHPP.
Definia que a adesão dos estados somente se daria por meio do Termo de Adesão e
do Plano de Trabalho e que este último seria realizado de acordo com modelo definido
pela SAS. O fluxo se dava do seguinte modo: as secretarias estaduais de saúde
encaminhavam para a SAS o Termo de Adesão Estadual, a lista de municípios e
40
Por último foi publicada pela SAS a Portaria no. 852, também em 2005, quatro meses
após a Portaria no. 94. Tal normativa alterava os critérios de inclusão dos HPPs. Valia
o que tinha sido definido pela Portaria n o. 1.044 de 2004, mas, a critério dos gestores
estaduais e municipais, poderiam ser incluídos hospitais não elegíveis inicialmente. O
ponto mais importante dessa nova normativa, que interferia naquilo definido pela
Portaria no. 1.044, foi a possibilidade de construção e cadastramento de hospitais com
menos de 30 leitos, desde que considerados relevantes para o sistema pela Secretaria
Estadual de Saúde. Se o ganho inicial maior da PNHPP tinha sido de suspender a
inauguração de novas unidades tão pequenas, este foi parcialmente perdido com essa
nova normativa.
Somente foi publicada mais uma portaria estruturante da PNHPP em 2006 (Portaria
SAS no. 1.955) que tratava de HPPs específicos para a área da Amazônia Legal. As
únicas alterações nos critérios de elegibilidade foram a necessidade de internação
(para 6% da população ao ano, ao invés de 5%), e a possibilidade de cadastrar
serviços hospitalares situados em municípios com menos de 70% de cobertura da
Estratégia Saúde da Família, desde que o gestor municipal se comprometesse a
adequar este parâmetro em seus planos de trabalho.
em 2006, 2 em 2007 e 1 em 2009). Percebe-se ainda que nos últimos anos (de 2011
a 2013), somente ocorreram revisões das adesões anteriores, com inclusão de novos
hospitais. Dos 12 estados que aderiram, seis são da Região Nordeste, dois da Região
Norte, um da Região Centro-Oeste, um da Região Sudeste e dois da Região Sul. Para
uma política que pretendia ser nacional, a adesão de somente 12 estados de 27
unidades federadas pode ser considerada pequena. Além disso, a maior parte das
adesões se deu nos Estados da Região Norte e Nordeste.
Quadro 1: Portarias emitidas pelo Ministério da Saúde para adesão dos Estados na
Política Nacional para os Hospitais de Pequeno Porte, 2005 a 2018
DATA DE
PORTARIA DATA DE
ESTADO PUBLICAÇÃO
GM/MS no. ASSINATURA
DOU
Ceará 853 07/06/2005 10/06/2005
Tocantins 1330 10/08/2005 12/08/2005
Sergipe 1539 05/09/2005 08/09/2005
Piauí 2149 08/11/2005 09/11/2005
Mato Grosso do Sul 2314 28/11/2005 29/11/2005
Paraná 2492 14/12/2005 15/12/2005
Pernambuco 6 06/01/2006 06/01/2006
Minas Gerais 539 16/03/2006 17/03/2006
Bahia 663 29/03/2006 30/03/2006
Rio Grande do Norte 2522 19/10/2006 20/10/2006
Pernambuco 87 10/01/2007 11/01/2007
Rondônia 88 10/01/2007 11/01/2007
Rio Grande do Sul 529 18/03/2009 20/03/2009
RS e Ceará 3319 29/12/2009 31/12/2009
Pernambuco, Ceará, Rondônia e
1998 19/08/2011 21/08/2011
Rio Grande do Sul
Rondônia 1791 23/08/2012 24/08/2012
Pernambuco 3004 27/12/2012 28/12/2012
Pernambuco 3007 26/12/2012 28/12/2012
Pernambuco 1509 25/07/2013 26/07/2013
Pernambuco 1756 22/08/2013 23/08/2013
Fonte: SaúdeLegis/MS e Diário Oficial da União (D.O.U.)
A PNHPP foi emitida antes das normativas indutoras de regionalização, como o Pacto
pela Saúde e o Decreto Presidencial no. 7.508 de 2011 e até mesmo antes da Política
Nacional de Atenção Hospitalar, emitida ao final de 2013. Na data de 28 de setembro
de 2017 a Portaria no. 1.044 de 2004, que estabeleceu a PNHPP, foi revogada pela
Portaria de Consolidação no. 0211. Trata-se de uma das seis Portarias de
42
Consolidação (PRC) emitidas pelo MS, que buscaram consolidar as normas relativas
ao Sistema Único de Saúde em seis únicas “macronormas”. Ou seja, apesar de
revogada em sua norma única (Portaria n o. 1044 de 2004), a PNHPP ainda segue
válida, neste outro “endereço” normativo consolidado, mesmo se baseando em
paradigmas diversos das políticas seguintes e de não contemplar a regionalização.
Por fim, chama a atenção que, apesar das NOAS em 2001 e 2002 já evidenciarem a
importância da regionalização na redução das ineficiências e da duplicação de
serviços, a PNHPP não se atém a isso e entende que os HPPS são espaços de
discussão somente de estados e municípios, sem a presença do nível mesoregional.
3.10 DISCUSSÃO
entenderam que a construção de novos hospitais, por menores que fossem, era uma
resposta adequada às expectativas que a população e o SUS tinham em relação a
eles. Os gestores dos governos subnacionais foram sendo induzidos à construção da
atenção básica pelas normativas federais e pelo financiamento a partir delas gerados,
mas ainda basearam muitas de suas decisões políticas em paradigmas de modelos
anteriores, hospitalocêntricos, médico centrados e voltados para a atenção
secundária, terciária e especializada. O grande ponto positivo dessa construção
histórica foi a importante ampliação do acesso, tanto à atenção básica quanto à
atenção hospitalar. Talvez fosse possível definir as décadas de 1990 e 2000 como as
décadas em que a prioridade foi o acesso à serviços de saúde, antes inalcançáveis.
A partir da segunda metade da década de 2000, publicações começam a identificar a
necessidade de qualificação deste acesso, em especial no caso da atenção
hospitalar23,32. Com base nessas necessidades o governo federal criou políticas,
dentre elas a PNHPP, objeto deste estudo. As causas da pouca efetividade dessa
política são muitas, entre elas as dimensões nacionais e diferenças regionais, a
dificuldade de articulação de múltiplos atores (três entes federados, hospitais de
diferentes naturezas jurídicas e esferas administrativas), o sistema político
multipartidário e com característica histórica de descontinuidade de políticas públicas
a cada troca de governo.
Enquanto que na década de 2000 países desenvolvidos como Estados Unidos, Grã-
Bretanha e algumas outras nações europeias concentravam a atenção hospitalar, com
fechamento e fusão de hospitais pequenos em maiores, e pulverizavam as ações de
atenção primária7, 27, o Brasil caminhava na contramão, pulverizando a sua atenção
hospitalar até a periferia do sistema. O resultado é que o parque hospitalar brasileiro
em 2018 é ineficiente, pouco resolutivo e de baixa densidade tecnológica. Além disso,
estes hospitais ainda são voltados para o modelo de atenção hospitalar da década de
1970, de população pouco urbanizada e destinados ao tratamento de casos agudos.
Não se adequam às necessidades atuais, em que impera a tripla carga de doenças
(doenças agudas e crônicas e traumas)32.
50 leitos como pequenos, os de 50 a 149 leitos como médios, os de 150 a 299 leitos
como grandes e os acima de 300 leitos de porte especial. Por conta dos distintos
modelos classificatórios utilizados, as políticas públicas brasileiras elaboradas para o
setor hospitalar correm o risco de dispender mais recursos com menos retorno, como
já amplamente discutido na literatura11, 12, 13. Se por um lado é garantido algum tipo de
acesso, por outro oferece uma atenção hospitalar pouco eficiente e resolutiva.
3.11 CONCLUSÃO
45
Por último, de modo consciente ou não, este é o cenário construído nas últimas
décadas em relação à rede hospitalar brasileira. As perguntas seguintes são (1) “que
modelo de assistência hospitalar desejamos ter no Brasil daqui em diante?” e (2) “o
que fazer com a capacidade instalada existente?”.
3.12 REFERÊNCIAS
6. Herr A. Cost and technical efficiency of German hospitals: does ownership matter?
Health Econ. 2008, 17(9): 1057-1071.
11. Aletras V; Jones A; Sheldon TA. Economies of scale and scope. Concentration and
choice in health care. London: FT Financial Times Healthcare, 1997.
12. Posnett J. The hospital of the future: Is bigger better? Concentration in the provision
of secondary care. BMJ 1999, 319(7216): 1063-1065.
13. Posnett J. Are Bigger Hospitals Better? In: MCKEE, Martin; HEALY, Judith.
Hospitals in a Changing Europ. Buckingham: Open University Press, 2002. Cap. 6,
p. 100-118.
15. Foucault M. Microfísica do Poder. Tradução: Roberto Machado. 27ª. ed. São Paulo:
Graal; 2013.
17. Pagliosa FL, Da Ros MA. O relatório Flexner: para o bem e para o mal. Rev Bras
Educ Med 2008, 32(4): 492-499.
18. Bravo MIS, Andreazzi MFS, Menezes JSB. Organizações Sociais na atenção à
saúde: um debate necessário. Jornada Internacional de Políticas Públicas 2013, v.
6.
22. Ribeiro HP. O hospital: história e crise. São Paulo: Cortez Editora; 1993.
27. Chisholm D, Evans DB. Improving health system efficiency as a means of moving
towards universal coverage. World health report: Background paper. Geneve,
Suíça, 2010.
29. Barretto LD, Freire RC. Tendências da atenção hospitalar no SUS da Bahia: uma
análise de 2006 a 2009. Rev Baiana Saúde Pública 2012, 35(2): 334-349.
48
30. Ramos MDA, Cruz LP, Kishima VC, Pollara WM, Lira ACO, Couttolenc BF.
Avaliação de desempenho de hospitais que prestam atendimento pelo sistema
público de saúde, Brasil. Rev Saúde Públ 2015, 49(43): 1-10.
32. Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Ciênc Saúde Colet 2010, 15: 2297-
2305.
33. Brasil. Decreto presidencial no. 7.508, de 28 de junho de 2011. Regulamenta a Lei
no 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a organização do Sistema
Único de Saúde - SUS, o planejamento da saúde, a assistência à saúde e a
articulação interfederativa, e dá outras providências. Diário Oficial da União 2011;
28 jun.
34. Owens, B. Telemedicine on the rise but lagging in Canada. CMAJ, 2018, 190(38):
E1149-E1158.
36. Abimbola, S et al. On the same page: Co-designing the logic model of a telehealth
service for children in rural and remote Australia. Digit Health 2019, 5: 2055-2076.
37. Comín-Colet, J et al. Impact on clinical events and healthcare costs of adding
telemedicine to multidisciplinary disease management programmes for heart
failure: Results of a randomized controlled trial. J Telemed Telecare 2016, 22(5):
282-295.
49
4 SEGUNDO ARTIGO
4.3 STATUS
A ser submetido à Revista de Administração Pública, revista da Escola Brasileira de
Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV EBAPE).
4.6 INTRODUÇÃO
Os dados levantados foram referentes a todo o ano de 2017. A escolha deste ano
ocorreu porque a pesquisa foi realizada em novembro de 2018, quando os dados
completos do ano de 2018 ainda não estavam disponíveis. Optou-se por analisar
dados de todo um ano com o objetivo de reduzir discrepâncias esporádicas e ainda
de reduzir o impacto da sazonalidade nas internações.
Da relação entre hospitais e leitos foi feita a classificação dos hospitais por porte. Para
determinação do porte hospitalar utilizou-se a classificação mais comum no país,
baseada em portaria ministerial (7), em que se classifica como hospitais de pequeno
porte aqueles que dispõem de um número de leitos entre 5 e 49, os de médio entre
50 e 149 leitos e os de grande porte aqueles com mais de 150 leitos. A portaria em
questão classificava os hospitais de 150 a 299 leitos como de grande porte e os acima
53
de 300 leitos como de porte especial. Como os hospitais com mais de 300 leitos são
em número reduzido, optou-se por incluí-los no grupo de grande porte.
Foram realizadas três análises para o indicador leitos por mil habitantes. A primeira
foi a avaliação dos leitos totais do país e por região (Leitos/1000 hab total). A segunda
(Leitos públicos/1000 hab) foi dos leitos públicos, ou seja, os leitos dos hospitais que
estavam nas categorias “administração pública federal”, “administração pública
estadual” e “administração pública municipal” da variável “Esfera jurídica”. A terceira
análise foi dos leitos disponíveis ao Sistema Único de Saúde, mesmo que de hospitais
filantrópicos ou privados que vendem serviços ao SUS (denominado Leitos SUS/1000
hab).
4.8 RESULTADOS
A Figura 1 evidencia a distribuição dos hospitais e leitos pelas cinco regiões do país.
Na região Sudeste estão 33,4% (2.174) dos hospitais e 42,8% (184.510) de todos os
leitos brasileiros. A segunda região com a maior quantidade de hospitais e leitos é a
Nordeste, que conta com 31,5% (2.050) dos hospitais e 26,7% (116.507) dos leitos. A
região Sul contribui com 15,2% (987) dos hospitais e 17,1% (74.652) dos leitos. Na
região Centro-Oeste estão concentrados 10,2% (664) dos hospitais e 8,03% (34.877)
dos leitos. Por fim, os hospitais da região Norte correspondem a 9,8% (635) dos
hospitais, mas a somente 5,4% (23.679) dos leitos.
45%
40%
35%
30%
25%
20%
15%
10%
5%
0%
N NE CO SE S
Hospitais 9,8% 31,5% 10,2% 33,4% 15,2%
Leitos 5,4% 26,7% 8,0% 42,8% 17,1%
Fonte: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde/CNES
A Figura 2 evidencia a distribuição dos hospitais e leitos por esfera jurídica. Observa-
se que, para todo o país, a maior parte dos hospitais são municipais (34,5%), embora
os leitos municipais correspondam a somente 20,9% do total. Os hospitais
filantrópicos participam com 27,3% dos hospitais e 33,9% dos leitos. Os hospitais
privados correspondem a 27,2% dos hospitais e 23,8% dos leitos. Os estaduais
correspondem a 9,6% do total de hospitais, mas a 17,3% dos leitos. Por fim, os
hospitais federais participam com 1,4% do total de hospitais e com 4,2% dos leitos.
Em termos regionais, percebe-se que nas regiões Norte e Nordeste a maior parte dos
hospitais e leitos são públicos (federais, estaduais e municipais). No Norte a
distribuição entre os hospitais e leitos estaduais e municipais é mais equilibrada. No
Nordeste predominam os hospitais e leitos municipais. As regiões Centro-Oeste e Sul
apresentam distribuição quase que equivalente entre hospitais e leitos públicos e
privados (com finalidade ou não de lucro). Já a participação pública na região Sudeste
é bem menor, tanto em termos de hospitais quanto de leitos. Dos hospitais privados,
predominam nessa região os sem finalidade de lucro.
Figura 2: Distribuição dos hospitais e leitos por região e esfera jurídica, Brasil, 2017
55
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Hosp Leitos Hosp Leitos Hosp Leitos Hosp Leitos Hosp Leitos Hosp Leitos
N NE CO SE S Total
Privado 28,8% 24,7% 19,4% 20,6% 36,3% 33,2% 34,6% 28,1% 20,1% 13,6% 27,2% 23,8%
Filantrópico 7,4% 16,3% 13,0% 21,3% 15,7% 22,2% 37,9% 34,0% 54,3% 64,3% 27,3% 33,9%
Municipal 34,8% 19,2% 55,2% 31,9% 41,9% 23,4% 18,9% 18,0% 20,8% 10,2% 34,5% 20,9%
Estadual 27,6% 37,3% 11,3% 23,3% 5,1% 18,1% 6,8% 15,3% 3,4% 6,1% 9,6% 17,3%
Federal 1,4% 2,6% 1,1% 3,0% 1,1% 3,1% 1,7% 4,7% 1,4% 5,7% 1,4% 4,2%
Em relação à esfera jurídica, a maior parte dos leitos hospitalares encontra-se nos
hospitais filantrópicos (147,162 leitos, 33,9% do total), seguida pelos hospitais
privados (103.443 leitos, 23,8%), municipais (90.609 leitos, 20,9%), estaduais (74.976
leitos, 17,3%) e federais (18.035 leitos, 4,2%). Quanto à distribuição dos hospitais e
leitos por esfera jurídica, os hospitais federais correspondem a 1,4% do total de
hospitais e a 4,2% dos leitos hospitalares. Os estaduais participam com 9,6% dos
hospitais e 17,3% dos leitos. Os municipais correspondem a 34,5% dos hospitais e a
20,9% dos leitos. Os hospitais filantrópicos são 27,3% dos hospitais e 33,9% dos leitos
e, por fim, os hospitais privados correspondem a 27,2% dos hospitais e 23,8% dos
leitos. Em média, os maiores hospitais são os federais, com média de 200,4
leitos/hospital, seguido pelos hospitais estaduais (média de 120,5 leitos/hospital),
filantrópicos (média de 82,7 leitos/hospital), privados (média 58,4 leitos/hospital) e
municipais (média de 40,3 leitos/hospital). A média nacional é de 66,7 leitos/hospital.
A Figura 3 evidencia a distribuição dos hospitais e leitos por região e porte hospitalar.
Em relação ao total de hospitais existentes no Brasil em 2017, 59,7% 3.888) são de
pequeno porte, mas estes acrescentam apenas 20,9% dos leitos ao sistema. Os
hospitais de médio porte correspondem a 29,6% (1.929) dos hospitais e a 36,6% dos
leitos. Quanto aos hospitais de grande porte, correspondem a somente 10,6% (693)
dos hospitais, mas acrescentam ao sistema 42,3% do total de leitos. A média de leitos
56
por hospital é de 266,5 para os de grande porte, 83,2 para os de médio porte e 23,4
para os de pequeno porte.
Figura 3: Distribuição dos hospitais e leitos por região e porte hospitalar, Brasil, 2017
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Peq Med Gde Peq Med Gde Peq Med Gde Peq Med Gde Peq Med Gde Peq Med Gde
N NE CO SE S Total
Hosp 80,8 14,8 4,4% 66,0 26,9 7,1% 71,1 22,0 6,9% 47,5 36,2 16,3 52,4 35,6 12,1 59,7 29,6 10,6
Leitos 38,9 31,5 29,6 27,5 38,6 33,8 31,9 33,4 34,7 13,4 36,3 50,3 18,4 38,4 43,2 20,9 36,8 42,3
e 31% públicos e, por fim, para os hospitais de grande porte 54,5% são privados e
45,5% são públicos. Apesar de os hospitais de pequeno e grande porte possuírem
distribuição relativamente semelhante entre público e privado, o predomínio da esfera
municipal é maior nos hospitais de pequeno porte e da esfera estadual nos hospitais
de grande porte. Observa-se ainda que, em relação aos hospitais públicos, à medida
em que aumenta o porte hospitalar, aumenta a participação dos hospitais estaduais e
federais e diminui a dos hospitais municipais.
Figura 4: Distribuição dos hospitais e leitos por porte hospitalar e natureza jurídica,
Brasil, 2017
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Hosp Leito Hosp Leito Hosp Leito Hosp Leito
Pequeno Médio Grande Total
Privado 28,5% 25,1% 28,7% 28,7% 16,2% 15,0% 27,2% 22,2%
Filantrópico 18,3% 26,6% 40,3% 40,1% 42,0% 41,3% 27,3% 37,8%
Municipal 46,7% 42,1% 18,0% 16,8% 12,1% 11,1% 34,5% 19,6%
Estadual 5,8% 5,3% 11,9% 13,1% 24,1% 25,8% 9,6% 16,9%
Federal 0,7% 0,9% 1,1% 1,3% 5,6% 6,8% 1,4% 3,6%
Quanto à complexidade das ações executadas, dos 6.510 hospitais brasileiros, 4.835
(74,27%) estão cadastrados no CNES como de média complexidade e 1.675 (25,73%)
como de alta complexidade. Em relação às ações de ensino, 558 hospitais (8,57%)
estão cadastrados no CNES como hospitais de ensino e 5.952 (91,43%) não constam
como executando atividades de ensino.
A Figura 5 evidencia o indicador leito por mil habitantes para cada região e tipo de
leito. Observa-se que a região Norte possui em seu parque hospitalar 1,3 leitos por
mil habitantes, dos quais 0,8 leitos públicos por mil habitantes e 1 leito SUS
(contratado ou próprio) por mil habitantes. A região Nordeste apresenta 2,1
58
leitos/1.000 hab, sendo 1,2 leitos públicos /1.000 hab e 1,6 leitos SUS /1.000 hab. A
região Centro-Oeste possui 2,2 leitos/1000 hab, com 1 leito público /1000 hab e 1,4
leito SUS /1000 hab. A região Sudeste apresenta 2,1 leitos/1000 habitantes, 0,7 leitos
públicos/1000 hab e 1,6 leitos SUS/1000 hab. Por fim a região Sul é que apresenta a
maior relação leitos/habitantes, com 2,5 leitos /1000 habitantes, 0,6 leitos
públicos/1000 habitantes e 2,2 leitos SUS/1000 hab. A média nacional é de 2,1 leitos
totais/1000 hab, 0,8 leitos públicos/1000 hab e 1,6 leitos SUS/1000 habitantes.
Figura 5: Número de leitos por mil habitantes, por região e tipo de leito hospitalar,
Brasil, 2017
3,0
2,5
2,5 2,2 2,2
2,1 2,1 2,1
2,0
1,6 1,6 1,6
1,4
1,5 1,3 1,2
1,0 1,0
1,0 0,8 0,8
0,7
0,6
0,5
0,0
N NE CO SE S Total
4.9 DISCUSSÃO
Em relação a estudos realizados na primeira década dos anos 2000 (8 e 9), observa-
se que houve redução de cerca de 15% no número total de hospitais brasileiros, de
todos os portes. Houve redução no número de hospitais filantrópicos, de 45,6% para
os atuais 27,33% (9). Os hospitais públicos aumentaram de 35% para 45%,
principalmente às custas dos hospitais municipais (de 25% para 35%). Em 2002 os
hospitais de pequeno porte correspondiam a 62% dos hospitais brasileiros (9),
enquanto que a proporção atual é de 59,7%. Ainda quanto ao porte, quanto mais local
a esfera administrativa, menor a média de leitos hospitalares. Os hospitais federais
possuem em média 200 leitos, os estaduais 120 e os municipais 40. Os hospitais
brasileiros possuem em média 66,7 leitos. Somente um quarto dos hospitais
brasileiros são classificados como de alta complexidade e menos de 10% do total de
hospitais executam alguma atividade de ensino. Os dados evidenciam que, passada
uma década, o sistema hospitalar brasileiro segue caracterizado por pequenos
hospitais que executam ações de média complexidade e não estão integrados em
atividades de ensino e pesquisa. As únicas diferenças observadas foram a redução
do número de hospitais, o aumento relativo dos hospitais municipais e a redução
numérica dos hospitais filantrópicos.
4.10 CONCLUSÕES
O Sistema Único de Saúde Brasileiro foi criado em 1988, com acesso universal e
diretrizes de garantia da integralidade das ações e de municipalização. Passadas três
décadas de sua criação, observa-se que o sistema hospitalar brasileiro é formado em
sua maioria por pequenos hospitais, com menos de 50 leitos, localizados em
pequenos municípios. Baseado em estudos de eficiência hospitalar, infere-se que o
sistema hospitalar brasileiro apresenta, em geral, pouca eficiência.
4.11 REFERÊNCIAS
10. Nunes, A., Santos, J. R. S., Barata, R. B., & Vianna, S. M. (2001). Medindo as
desigualdades em saúde no Brasil. Brasília: Organização Pan-Americana da
Saúde/Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.
11. ALETRAS VH., JONES A, SHELDON TA. Economies of scale and scope. In:
Ferguson B, Sheldon TA, Posnett J, eds. Concentration and choice in healthcare.
London: Financial Times Healthcare, 1997, p. 2336.
12. BLACK N; JOHNSTON A. Volume and outcome in hospital care: evidence,
explanations and implications. Health Serv. Manag. Research, v. 3, n. 2, p. 108-
114, 1990.
13. POSNETT J. Is bigger better? Concentration in the provision of secondary
care. British Medical Journal, v. 319, n. 7216, p. 1063, 1999.
14. POSNETT J. Are Bigger Hospitals Better? In: Hospitals in a Changing Europ.
Buckingham: Open University Press, 2002. Cap. 6, p. 100-118.
15. RIBEIRO, José Mendes et al. Políticas de saúde e lacunas federativas no Brasil:
uma análise da capacidade regional de provisão de serviços. Ciência & Saúde
Coletiva, v. 22, n. 4, p. 1031-1044, 2017.
16. Mendes EV. As redes de atenção à saúde. Ciênc Saúde Colet 2010, 15: 2297-
2305.
17. BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cidades e Estados.
Estimativa da população, 2018. Disponível em: < https://www.ibge.gov.br/cidades-
e-estados.html>. Acesso em 18 de novembro de 2018.
63
5 TERCEIRO ARTIGO
5.3 STATUS
A ser submetido ao Pan Americal Journal of Public Health, revista da Organização
Panamericana de Saúde, escritório regional da Organização Mundial de Saúde para
as Américas
paciente foi de 135 dias (quatro meses e meio) e 10% das internações ocorreram por
condições sensíveis à atenção básica. Por fim, os indicadores analisados evidenciam
que quanto maior o porte hospitalar, melhores são os indicadores de desempenho e
eficiência. Os dados podem subsidiar políticas para área da saúde com o objetivo de
tornar o sistema hospitalar brasileiro mais eficiente e eficaz, correspondendo melhor
aos anseios da população por eles atendidos.
Palavras-chave: hospitais, legislação hospitalar, tamanho dos hospitais, políticas
públicas de saúde
5.6 INTRODUÇÃO
Soma-se a este cenário a organização do sistema político brasileiro, com três entes
federados (federação, estados e municípios). O SUS foi criado em 1988, a partir da
atual Constituição e, ao longo das décadas de 1990 a 2010, houve forte indução
normativa e de financiamento, no sentido de municipalização. Por conta disso ocorreu
grande aumento do número de municípios (de 4.491 em 1991 para os atuais 5.570),
com vários distritos se emancipando, com vistas à obtenção de verbas federais (4). O
Brasil viu acontecer o contrário do ocorrido em outros países em que, para fortalecer
a descentralização, ocorreu redução no número de municípios (5). Os municípios
brasileiros passaram a competir entre si pelos recursos, diminuindo as possibilidades
de contratualização entre eles (4,5).
Os dados levantados foram de todo o ano de 2017. A escolha deste ano ocorreu
porque a pesquisa foi realizada em novembro de 2018, quando os dados completos
do ano de 2018 ainda não estavam disponíveis. Optou-se por analisar dados de todo
67
5.8 RESULTADOS
O Brasil possuía 6.510 hospitais no ano de 2017, segundo o CNES. Na base de dados
do SIH existiam 5.433 hospitais que emitiram AIHs (83,5% dos hospitais brasileiros)
no mesmo período. Destes 5.433 hospitais, 1,4% (77) são federais, 10,7% (584) são
estaduais, 35,3% (1917) são municipais, 31,5% (1713) são hospitais privados sem
finalidade de lucro (filantrópicos) e 21% (1142) são privados com finalidade de lucro.
Foram emitidas no Brasil, em todo o ano de 2017, 11.175.933 AIHs. A região com a
maior emissão de AIHs foi a Sudeste, com 39,5% (4.414.050), seguida pelas regiões
Nordeste com 26,9% (3.010.176), Sul com 17,9% (2.002.909), Norte com 8,3%
(927.874) e Centro-Oeste com 7,3% (820.924).
% Hosp % AIHs
A média de AIHs emitidas por hospital em todo o ano de 2017 foi de 5912 para os
hospitais federais (493 internações/mês), 4877 para os estaduais (406
internações/mês), 1371 para os municipais (114 internações/mês), 2739 para os
filantrópicos (228 internações/mês) e 484 para os privados (40 internações/mês). Para
o Brasil como um todo, em média foram emitidas 2057 AIHs por hospital (171
internações/mês).
A Figura 2 mostra a distribuição dos hospitais e das AIHs por porte hospitalar.
Observa-se que os hospitais de pequeno porte (com menos de 50 leitos)
correspondem a 55,61% do total de hospitais, mas emitiram somente 17,61% das
AIHs. Os hospitais de médio porte (50 a 149 leitos) são 32,26% do total e emitiram
38,82% das AIHs. Os de grande porte (acima de 150 leitos) correspondem a 12,13%
dos hospitais, mas emitiram 43,57% das AIHs.
60% 55,6%
50%
43,6%
38,8%
40%
32,3%
30%
20% 17,6%
12,1%
10%
0%
Pequeno Médio Grande
% Hosp % AIHs
5.9 DISCUSSÃO
33,75 em todo o ano de 2017), assim, após uma alta hospitalar, aquele leito demorará,
em média, 7 meses até receber nova internação.
5.10 CONCLUSÕES
5.11 REFERÊNCIAS
6. World Health Organization. The world health report 2000: health systems:
improving performance. World Health Organization, 2000.
7. Vecina, G; Malik, AM. Tendências na assistência hospitalar. Ciência & Saúde
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http://cnes.datasus.gov.br/>. Acesso em 18 de novembro de 2018.
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http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=060805. Acesso em 18 de
novembro de 2018.
12. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Manual Técnico do
Sistema de Informação Hospitalar. Brasília, 2007.
13. BRASIL. Ministério da Saúde. “Portaria no. 2.224, de 05 de dezembro de 2002.
Estabelece o Sistema de Classificação Hospitalar do Sistema Único de Saúde.”
Brasília, 2002.
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16. Novaes, HP. “Garantia de qualidade em hospitais da América Latina e Caribe.
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17. World Health Organization, “Health Indicators Catalogue”. 1996.
18. ALETRAS VH., JONES A, SHELDON TA. Economies of scale and scope. In:
Ferguson B, Sheldon TA, Posnett J, eds. Concentration and choice in healthcare.
London: Financial Times Healthcare, 1997, p. 2336.
19. BLACK N; JOHNSTON A. Volume and outcome in hospital care: evidence,
explanations and implications. Health Serv. Manag. Research, v. 3, n. 2, p. 108-
114, 1990.
77
6 QUARTO ARTIGO
6.3 STATUS
A ser submetido ao Cadernos de Saúde Pública, revista da Escola Nacional de Saúde
Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz
6.4 INTRODUÇÃO
Classificar é o ato de agrupar entidades por similaridade, que pode ser realizado
baseado em critérios unidimensionais (uma variável) ou multidimensionais (duas ou
mais variáveis). Dentre as muitas vantagens dos processos classificatórios, algumas
são: redução da complexidade, identificação de similaridades e diferenças,
comparação entre os tipos, inventário e gerenciamento dos tipos e o estudo das
relações das diferentes tipologias (Bailey, 19944). Como afirmado, dada a
complexidade atual das organizações hospitalares, bem como o volume de recursos
gastos pelos sistemas de saúde mundiais neste determinado tipo de assistência,
alguns países elaboraram uma reorganização de seu parque, com o objetivo principal
de redução de custos e aumento de eficiência (Augurzky, 2010 5; Halseth, 20066; Herr,
20087; Kristensen, 20088).
A análise de hospitais pode ser dividida em duas grandes dimensões: a intra e a extra-
hospitalar. Na análise intra-hospitalar, são avaliados estruturas, processos e
resultados da organização (Donabedian, 19809), em geral buscando melhor eficiência,
eficácia e efetividade. Esta dimensão de avaliação engloba ações de gestão de
serviços e unidades e está mais afeita aos campos de conhecimento de
gerenciamento e administração. Por outro lado, na análise extra-hospitalar, a
avaliação é realizada buscando entender como se comportam conjuntos de hospitais
dentro do sistema de saúde, quer seja ele público ou privado, e quais as
características destes grupos, bem como suas relações com os demais componentes
da rede de atenção à saúde. Em geral, para esta segunda dimensão de análise, utiliza-
80
O início dos estudos sobre classificação hospitalar por porte se deu principalmente a
partir da década de 1990, inicialmente com estudos econométricos que buscavam
entender como se dá a relação entre porte dos serviços e eficiência. Tais estudos
avaliaram o quanto o número de leitos de determinado hospital impactava em sua
produção, em termos de eficiência, sem analisar qualidade. Os resultados destes
estudos foram consonantes em afirmar que hospitais eficientes são aqueles que
possuem o número de leitos entre 200 (alguns afirmam 150) e 400 leitos. A curva de
eficiência hospitalar decai quando os hospitais possuem menos de 150 leitos e, em
especial, para aqueles com mais de 600 leitos (Aletras 1997 11; Black, 199012; Posnett,
199913; Posnett, 200014).
6.5 METODOLOGIA
Os dados levantados foram de todo o ano de 2017. A escolha deste ano ocorreu
porque a pesquisa foi realizada em novembro de 2018 e, deste modo, os dados
completos do ano de 2018 ainda não estavam disponíveis. Optou-se por analisar
dados de todo um ano com o objetivo de reduzir discrepâncias esporádicas e ainda
de reduzir o impacto da sazonalidade nas internações.
Em seguida buscou-se no SIH os HPPs que emitiram AIHs no ano de 2017, sua
distribuição por Unidade Federativa e por natureza jurídica. Destes hospitais,
levantou-se os indicadores média de permanência, taxa de ocupação, índice de giro
de leitos, índice de intervalo de substituição, porcentagem de internações por
condições sensíveis à atenção básica e taxa de mortalidade.
Por fim, classificou-se os HPPs em quatro grupo, buscando agrupá-los de acordo com
os índices de giro de leitos e taxa de ocupação. Estes indicadores foram escolhidos
por consenso em literatura sobre desempenho hospitalar (Pabón Lasso, 1984 23; OMS,
200324, Groene, 200826; JCAHO, 201127, Ramos, 201528).
6.6 RESULTADOS
Em 2017 existiam no Brasil 6.510 hospitais e 5.433 (83,5%) emitiram AIHs em 2017.
Destes, 2.399 (55,61%) são hospitais de pequeno porte. Apesar dos HPPs
configurarem o maior grupo de hospitais com emissão de AIHs, estes emitiram apenas
17,61% do total de AIHs. A maior parte destes HPPs concentra-se na região Nordeste
83
(916 HPPs, 38,8% do total), seguidos pelas regiões Sudeste (20,97%, 503 HPPs), Sul
(15,46%, 371 HPPs), Norte (13,67%, 328 HPPs) e Centro-Oeste (11,71%, 281 HPPs).
Do total de hospitais da região Norte, 77,54% são HPPs, o que a configura como a
região com a maior proporção de hospitais de pequeno porte. Em seguida vem as
regiões Centro-Oeste (66,75% de HPPs em relação ao total de hospitais), Nordeste
(61,39%), Sul (47,56%) e Sudeste (39,48%). A Figura 1 evidencia a proporção de
HPPs frente ao total de hospitais, por Unidade da Federação. Observa-se que
nacionalmente ela varia de 10% no Distrito Federal a 83,05% em Rondônia.
A Figura 2 mostra a distribuição dos HPPs por natureza jurídica, evidenciando que
60,19% (1.444) dos HPPs que emitiram AIHs em 2017 são municipais, seguidos pelos
filantrópicos (24,68%, 592 HPPs), estaduais (7,84%, 188 HPPs), privados (7,09%, 170
HPPs) e federais (0,21%, 5 HPPs).
0,21%
7,09% 7,84%
24,68%
60,19%
A distribuição dos HPPs por número de leitos pode ser observada na Figura 3. Do
total de HPPs que emitiram AIHs em 2017, 27,43% (658) possuem entre 10 e 19 leitos,
seguidos por aqueles de 20 a 29 leitos (26,64%, 639), de 30 a 39 leitos (25,30%, 607),
de 40 a 49 leitos (16,17%, 388) e de 1 a 9 leitos (4,46%).
4,46%
16,17%
27,43%
25,30%
26,64%
1a9 10 a 19 20 a 29 30 a 39 40 a 49
Em relação à complexidade das ações executadas, 95,66% (2.295) dos HPPs estão
cadastrados no CNES como hospitais de média complexidade e 4,34% (104)
executam ações de alta complexidade. Quanto às atividades de ensino, 96,84%
(2.323) HPPs não executam ações de ensino e 3,16% (76) executam.
20 a
3,53 23,38% 26,29 99,42 15,22% 2,05%
29
30 a
3,33 24,82% 29,42 108,62 12,72% 2,64%
39
40 a
3,88 29,35% 31,95 85,57 11,13% 3,11%
49
Total 3,82 28,01% 33,75 206,73 11,92% 2,52%
Fonte: Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde/CNES e Sistema de
Informação Hospitalar/SIH
A média de permanência dos HPPs com 10 a 19 leitos foi de 3,18 dias, com taxa de
ocupação de 22,37% (desocupação de 77,63%). O mesmo leito foi utilizado por 2,36
pacientes ao mês (giro de 28,39) e a demora na reutilização do leito após uma alta foi
de 189,38 dias (6,3 meses). Poderiam ser evitadas 16,84% das internações destes
HPPs caso a atenção básica fosse mais resolutiva.
Para os hospitais de 20 a 29 leitos, a média de permanência foi de 3,53 dias, com taxa
de ocupação de 23,38% (desocupação de 76,62%). O giro de leitos foi de 26,29 (2,19
pacientes/leito/mês) e a demora na reutilização do leito após alta foi de 99,42 dias (3,3
meses). A porcentagem de internações por condições sensíveis à atenção básica foi
de 15,22%.
uma alta. A porcentagem de internações por condições sensíveis à atenção básica foi
de 12,72%.
Giro
TO
88
Por fim, o Grupo 4, de alto desempenho, é formado por 669 hospitais (27,89%) e
apresenta média de permanência de 3,12 dias e taxa de ocupação de 55,45%. O giro
de leitos é de 5,75 pacientes/leito/mês e o tempo para ocupação do leito é de 2,01
meses. A porcentagem de internações por condições sensíveis à atenção básica é de
12,76% e a taxa de mortalidade de 1,77%.
6.7 DISCUSSÃO
todas com mais de 60% deste tipo de serviço. Os estados de Rondônia, Acre e
Amazonas possuem mais de 70% de HPPs em relação ao total de hospitais. Os
estados com a menor proporção de HPPs encontram-se nas regiões Sul e Sudeste
(Rio Grande do Sul, São Paulo, Espírito Santo, Rio de Janeiro de Distrito Federal),
todos com menos de 40% de HPPS.
Ainda como evidenciado há mais de uma década, a maior parte dos HPPs é municipal
(Ugá, 200429; La Forgia e Couttolenc, 200930). Este é um fenômeno perverso ocorrido
com a municipalização brasileira. Após a criação do Sistema Único de Saúde, em
1988, os municípios passaram a assumir funções antes de responsabilidade dos
níveis estaduais e federais (Abrucio, 200131; Arretche, 200232). No subsistema
hospitalar este fato gerou o aumento no número de hospitais municipais, modo que
os governantes dos níveis locais encontravam para atender aos anseios e
necessidades de suas populações (Mello, 2017 33). Na falta de uma maior visão de
conjunto, que somente pode ser dada pelos níveis mesoregionais e/ou estaduais
(Pestana e Mendes, 200434), estes hospitais eram planejados e construídos com
poucos leitos, especialidades básicas e estruturas de apoio e diagnóstico e de terapia
mais básicos. São hospitais pouco complexos e pequenos, como evidenciado por
estudos anteriores (Ugá, 200429; La Forgia e Couttolenc, 200930), inclusive pelos
resultados encontrados.
Interessante notar que ao redor de 10% dos HPPs são estaduais e existem até mesmo
os federais. Todos estes (estaduais e federais) encontram-se, em sua maioria, na
região Norte, em especial em áreas amazônicas. Segundo literatura sobre porte e
eficiência hospitalar, os hospitais apresentam sua máxima economia de escala entre
200 e 400 leitos (Aletras 199711; Black, 199012; Posnett, 199913; Posnett, 200014).
Hospitais de menor porte mostram-se, em todos os estudos econométricos
elaborados, em especial na década de 1990, menos eficientes. Assim, a justificativa
para a existência de tais hospitais é a manutenção do acesso da população a serviços
de saúde, principalmente em áreas remotas, como a da floresta amazônica (Posnett,
200014).
Três quartos dos HPPs possuem entre 10 a 39 leitos. Ao redor de 5% deles possuem
menos de 9 leitos. Segundo definição mais recente da Organização Mundial de Saúde
90
Visto que os HPPs são a maior parte dos hospitais brasileiros, em diversas regiões e
localizados em municípios de realidades distintas, não se pode trata-los como serviços
com as mesmas características. Entender como estes hospitais podem ser
classificados pode auxiliar na formulação de políticas para o setor, no sentido de
aproveitamento da capacidade já instalada. A divisão dos HPPs em grupos evidenciou
que a maior parte deles (66,37%, 1.592 hospitais), classificados nos Grupos 1 e 2,
apresenta o pior desempenho de todo o conjunto. São serviços com baixas taxas de
ocupação, de giro de leitos e de intervalo de substituição e altas taxas de internações
por condições sensíveis à atenção básica. Mais estudos são necessários, buscando
entender a razão entre profissionais de saúde/leito e a complexidade do parque
tecnológico, mas talvez estes sejam os serviços hospitalares que devam sofrer
mudança de vocação. A depender de estudos de integralidade das ações de saúde
locais, da vontade política e da pressão da opinião pública, os principais caminhos
seriam o fechamento destas unidades ou a transformação das mesmas em unidades
de pronto atendimento ou mesmo de atenção primária.
Por fim, os HPPs do Grupo 4, com 669 hospitais (27,89%) são serviços com baixas
médias de permanência, alto giro de leitos e taxas de ocupação pouco mais altas.
Estes hospitais se mostram os que mais aportam às ações de saúde local, podendo
ser mantidos como hospitais para agudos, de pequeno porte.
6.8 CONCLUSÕES
92
Porém de outro lado as críticas ao sistema nunca foram tão contundentes quanto no
presente momento, tanto de parte dos gestores, dos prestadores de serviços e da
população. Como afirma Gastão Wagner de Souza Campos (200736), o SUS
apresenta sintomas de crescimento, mas também de degradação. Como as crises
em geral levam a pontos de inflexão, quer sejam disruptivos ou incrementais, esse é
um momento importante para a construção histórica do SUS. É fundamental que haja
clareza nos objetivos almejados, mais do que nos meios de alcança-los ou nas
correntes ideológicas. Além disso, deve-se lembrar que o principal ator do Sistema
Único de Saúde é o usuário. Os objetivos a serem perseguidos devem ser os que os
satisfaçam, em primeiro lugar.
6.9 REFERÊNCIAS
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Estabelece o Sistema de Classificação Hospitalar do Sistema Único de Saúde.”
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elderly. Journal of Clinical Oncology, v. 33, n. 1, p. 107-114, 2014.
17. CHAN T et al. Surgical volume, hospital quality, and hospitalization cost in
congenital heart surgery in the United States. Ped. Card., v. 36, n. 1, p. 205-213,
2015.
18. DE OLIVEIRA APC et al. Desafios para assegurar a disponibilidade e
acessibilidade à assistência médica no Sistema Único de Saúde. Ciência & Saúde
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19. BARBOSA ACQ. Vínculos profissionais em hospitais de pequeno porte
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22. BRASIL. Ministério da Saúde. Departamento de Informática do SUS (DATASUS).
Sistema de Informação Hospitalar (SIH). Disponível em:
95
7 CONCLUSÃO
Desde 2004 estudos evidenciam que o subsistema hospitalar não está integrado em
uma rede de atenção global, prejudicando a integralidade da atenção (DE OLIVEIRA,
CARVALHO e TRAVASSOS, 2004). O sistema hospitalar funciona como duas redes
desconectadas. A primeira é a de atenção hospitalar básica, presente em quase todo
o território nacional, com ações de baixa e média complexidade, que compete com a
atenção primária. A segunda, de alta complexidade, está presente em poucos
municípios, possui um raio de ação mais abrangente e se mostra mais eficiente e
produtiva. Estas duas redes pouco se comunicam e ambas também pouco interagem
com a atenção primária. Este modelo pode até ser mais bem adaptado a condições
epidemiológicas de uma população jovem, com predomínio de agravos agudos.
Porém o Brasil apresentou ao longo das décadas de 1980 e 1990 transição
epidemiológica, com um padrão de morbimortalidade no qual coexistem problemas
decorrentes de causas agudas e pobreza, associados a um quadro de predomínio das
99
Deste modo, a reorganização do parque hospitalar deve levar em conta dois fatores
fundamentais: (1) o interesse dos múltiplos atores, inclusive os de nível
governamental, em inserir este tema na agenda de políticas públicas, com o objetivo
maior de melhoria da eficiência e da qualidade das ações prestadas pelo SUS e (2) o
entendimento de que os quase 5.000 hospitais de pequeno porte existentes no país
não constituem um grupo homogêneo. Em um país de dimensões continentais, com
disparidades regionais tão marcadas e com a multiplicidade de atores presentes, essa
compreensão possibilita que ações distintas sejam tomadas para os distintos grupos
de pequenos hospitais, com o objetivo de mudança do cenário atual.
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scope. In: Ferguson, B; Sheldon, T.A.; Posnett, J., eds. Concentration and choice in
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