1096-Texto Do Artigo-4167-1-10-20210423
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1 O presente artigo sintetiza a monografia de conclusão da pesquisa, realizada para o Programa Interno
de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC 2019-2020) da Faculdade de Direito de Franca (FDF),
Franca/SP.
2 Discente da Faculdade de Direito de Franca (FDF), Franca/SP. Bolsista do Programa Interno de
Constitucional pela Universidade de Franca (2005), especialização em Ciências Criminais pela Puc-
Minas (2011) e MBA em Direito Empresarial pela FGV (2011). É doutor em Direito Constitucional
pela Fadisp, advogado e professor da graduação da Fafram/Ituverava e da Faculdade de Direito de
Franca. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Constitucional, Direito Penal e
Direito Processual Penal. Foi pesquisador/bolsista durante a graduação pela Fapesp, e durante o
mestrado pesquisador/bolsista pela Capes.
146 ISSN 2675-0104 – v.5, n.1, dez. 2020
Resumo
A execução provisória de pena pelo Tribunal do júri é um tema que vem ganhando repercussão,
suscitando intenso debate jurídico. Deve ser aplicada a pena privativa de liberdade em primeira
instância, decorrente de decisão pelo Tribunal do Júri, mesmo havendo a oportunidade recursal e a
ausência de periculum libertatis? Essa medida não pode ferir o princípio da presunção de inocência
e/ou o duplo grau de jurisdição? O objetivo do artigo é dar um breve panorama sobre o estudo acerca
da execução provisória da pena decorrente de condenação pelo Tribunal do Júri, contrapondo a
soberania dos veredictos à presunção de inocência.
Palavras-chave: Direito Processual Penal. Prisão provisória. Tribunal do Júri. Soberania dos
Veredictos. Presunção de Inocência.
Abstract
The provisional execution of sentences by the jury court is a topic that has gained repercussions,
sparking intense legal debate. Should the penalty of deprivation of liberty be imposed at first instance,
resulting from a decision by the Jury Court, even if there are an appealing opportunity and the absence
of a periculum libertatis? Can this measure not undermine the principle of the presumption of
innocence and / or the double degree of jurisdiction? The purpose of the article is to give a brief
overview of the study on the provisional execution of the sentence resulting from the Jury Court's
conviction, contrasting the sovereignty of the verdicts with the presumption of innocence.
Keywords: Criminal Law. Provisional arrest. Jury court. Sovereignty of Verdicts. Presumption of
Innocence
1. INTRODUÇÃO
4. A PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA
5. A LEI 13.964/2019
sentença condenatória. Logo, como o acusado precisa ser culpado para ser
preso, a sua prisão também deverá ser feita após sentença penal
condenatória.
Destaca-se que o réu poderá ser preso por meio de prisões
cautelares, desde que comprovada a “cautelaridade”. Nesse caso, não se
trata de uma antecipação da pena, mas sim uma prisão a título de cautela,
uma das formas de relativização da presunção de inocência admitida pelo
ordenamento jurídico brasileiro.
Enfim, qual a relação da presunção de inocência com a soberania
dos veredictos no contexto do Tribunal do Júri? Primeiramente, estão em
discussão dois princípios contidos no texto constitucional. Nesse caso, não
se pode em favor de um, sacrificar totalmente o outro. É preciso uma
ponderação justa, igualitária, de modo que ambos possam produzir seus
efeitos na prática e como previu o legislador. Conforme o princípio da
concordância prática ou da harmonização consegue-se chegar a uma
solução. Nas palavras do brilhante constitucionalista José Gomes
Canotilho (1993, p. 228): “Reduzido ao seu núcleo essencial, o princípio
da concordância prática impõe a coordenação e combinação dos bens
jurídicos em conflito de forma a evitar o sacrifício (total) de uns em relação
aos outros.”
Portanto, conclui-se que: a soberania dos veredictos, princípio
constitucional atinente ao Tribunal do Júri, tem a finalidade de tornar a
decisão dos jurados soberana, no que tange ao mérito da decisão.
Ressaltando que mérito é tudo aquilo que se relaciona com a substância do
pedido, o conteúdo do feito, a existência do direito reclamado,
a qualidade das partes litigantes, o apreço que resulta do conjunto de fatos,
provas ou razões na causa que conduzem à formação de um juízo. Por
conseguinte, como o princípio da soberania dos veredictos possui relação
com o mérito da causa, a não autorização da imediata execução da pena
decorrente de decisão do conselho de sentença não tem capacidade para
ferir o referido princípio. Usar a soberania dos veredictos para legitimar a
execução provisória da pena decorrente de decisão do júri é alterar o real
sentido do princípio em questão, atribuindo a ele capacidade que nem
mesmo o constituinte deu na formação da Carta Magna.
Acredita-se que a decisão que autoriza a imediata execução da
pena com base na soberania dos veredictos viola profundamente o
princípio da presunção de inocência, uma vez que a soberania dos
veredictos teria seu grau de incidência totalmente modificado, ocasionando
uma descoordenação quando confrontada com a presunção de inocência.
156 ISSN 2675-0104 – v.5, n.1, dez. 2020
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
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