Aula Hegel

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Aula Hegel - Epifânia Experiência

Vida e obra

Georg Wilhelm Friedrich Hegel nasceu em 27 de agosto de 1770, em Stuttgart,


Alemanha. Hegel era o filho mais velho de um funcionário da administração pública de
Württemberg. Na juventude, Hegel se interessou por grego, latim, geometria e matemática.
Seu interesse pela filosofia acontece por meio da leitura de filósofos como Leibniz, Kant,
Herder, Rousseau e Schiller. Ao longo de sua juventude Hegel foi um grande admirador da
Revolução Francesa, que eclodiu quando ele tinha dezoito anos e era aluno do Tübinger Stift
(Instituto de ensino superior de teologia da Alemanha). Lá divide quarto com o poeta
Hölderlin e o filósofo Schelling; estuda Platão, Aristóteles, ceticismo grego e a filosofia
crítica de Kant.
Depois que se forma, Hegel vai trabalhar como tutor privado em Berna e depois em
Frankfurt, onde aprofunda seus estudos sobre economia política e também começa a esboçar
um sistema filosófico. Em 1801 Hegel se muda para Jena para tentar a vida como professor e
publica seu primeiro livro, Sobre a diferença dos sistemas filosóficos de Fichte e Schelling.
Mas apenas em 1807 que Hegel publica sua primeira grande obra, a Fenomenologia do
Espírito. Obra concluída ao som dos canhões das tropas de Napoleão que invadiam Jena,
evento que obrigou Hegel a recomeçar sua vida em Heidelberg, onde ele foi nomeado
redator-chefe do Bamberger Zeitung, importante jornal progressista da época. Após abdicar
da redação do jornal por causa da censura da época, Hegel se torna professor de filosofia e
reitor do Aegydianum, em Nüremberg, entre 1806 e 1816. Nesse período Hegel publica os
três tomos da Ciência da Lógica e a primeira versão da Enciclopédia das Ciências
Filosóficas.
Em outubro de 1818 assume a cátedra de filosofia da Universidade de Berlim, que
estava vaga desde a morte de Fichte em 1814. Em 1820 Hegel publica sua última grande obra
em vida, as Linhas fundamentais da filosofia do direito. Até falecer em 14 de novembro de
1831 em meio a um surto de cólera em Berlim, Hegel ainda publica mais duas edições da
Enciclopédia e da Ciência da Lógica, e dá uma série de cursos sobre filosofia da arte, religião
e história que mais tarde seriam organizados e publicados por seus alunos (Cursos de
Estética, Filosofia da História, História da Filosofia, Filosofia da Religião).

Evolução do pensamento e principais conceitos

Os primeiros escritos (1790 a 1805): Durante seus primeiros anos no seminário de Tubinga,
Hegel se preocupou mais com os problemas religiosos e históricos do que propriamente
filosóficos. Hegel tinha um grande interesse pelo concreto, isto é, a vida dos povos, o espírito
das religiões e a vida humana tal como ela se apresenta ao longo da história. Também se
interessava por questões de ordem política e prática, como por exemplo, sob a influência da
Revolução Francesa, ele começou a pensar em reformas concretas destinadas a devolver a
vida às instituições políticas que estavam, segundo ele, carcomidas e ultrapassadas. Somente
ao chegar em Jena nos primeiros anos do século XIX, ele começa a tomar consciência da
filosofia como o meio teórico mais adequado para exprimir o sentido da vida humana em sua
história e publica seu primeiro livro, Sobre a diferença dos sistemas filosóficos de Fichte e
Schelling.

Fenomenologia do Espírito (1807): A Fenomenologia do Espírito marca a entrada de Hegel


na cena filosófica de sua época e, consequentemente, na história da filosofia. Resultado dos
seus anos de estudos ao lado de Schelling em Jena, essa obra também marca a ruptura
filosófica de Hegel em relação à filosofia de Schelling. Com ela Hegel acerta as contas com a
filosofia crítica de Kant, com o idealismo de Fichte e a filosofia do absoluto de Schelling, e
assim transforma profundamente os termos do debate filosófico de sua época e os rumos da
história do pensamento ocidental, se tornando um referência e influência decisiva na filosofia
de Marx e, mais tarde, na filosofia do século XX. O objeto principal da Fenomenologia do
Espírito é o processo de autoconhecimento da consciência humana enquanto espírito, isto é,
enquanto totalidade social e histórica, enquanto coletividade de singularidades
interdependentes. Ao explicar a realidade humana da perspectiva da consciência que descobre
que sua verdade é o conceito de espírito, Hegel superou os limites colocados pela filosofia de
Kant à razão, escapava das armadilhas do idealismo subjetivo de Fichte e ainda conseguia ir
além da filosofia do absoluto de Schelling, que não foi capaz de entender o absoluto enquanto
espírito, mas, por conta de seu espinosismo, o pensava enquanto natureza. Mas tudo isso só é
possível porque Hegel pensa de forma dialética, isto é, deixando que as próprias contradições
se desdobrem e se resolvam a partir da negação de si mesmas, em um processo em que a
mudança de perspectiva em relação àquilo que é negado garante a transformação do próprio
objeto negado. Por isso o conceito de dialética para Hegel é indissociável do conceito de
Aufhebung (conservar e superar), pois em toda dialética há um movimento de conservação e
interiorização daquilo que se visa superar antes que possamos de fato superar o estágio
anterior. É justamente esse o processo pelo qual passa a consciência ao longo dos capítulos da
Fenomenologia enquanto supera suas posições equivocadas em relação a realidade, até
alcançar o conceito de si mesma enquanto totalidade histórica e social, que Hegel chama de
espírito. Por fim, ao fazer isso, a consciência alcança o saber absoluto, o saber dessa verdade
de forma retroativa, isto é, o olhar para trás e ter consciência de todo o caminho percorrido
até o ponto em que esse saber se torna possível. Com essa obra, portanto, Hegel consagra a
dialética como o núcleo de sua filosofia e como um dos conceitos mais importantes da
filosofia do século XIX e XX.

Ciência da Lógica I, II e III (1812 a 1816): Após abandonar seu projeto inicial de sistema
no qual a Fenomenologia do Espírito seria a primeira parte, Hegel escreve a Ciência da
Lógica. A ciência da lógica, para Hegel, é a ciência do pensamento puro, da própria filosofia
e, consequentemente, da realidade ontológica. Alguns a apelidaram de “os pensamentos de
Deus antes de criar o mundo”. Ela constitui o núcleo do pensamento de Hegel, pois explicita
a dialética especulativa e a rede conceitual que atravessa e constitui todo o seu sistema. Com
a Lógica, Hegel propõe uma série de encadeamentos categoriais - conceitos da tradição
filosófica - que expressam o próprio movimento do real. Com isso, a filosofia nada mais seria
do que a compreensão desse processo de auto-exposição, que é também uma forma de
autoapresentação do absoluto. Tal processo consistiria em uma exposição dialética das
categorias, seqüencialmente progressivas, que vão da indeterminação primeira de ser/nada, na
Doutrina do Ser, passando pela qualidade e quantidade na Doutrina da Essência até a
completude da idéia absoluta, no último livro, a Doutrina do Conceito. A verdadeira filosofia
seria, então, uma critica na qual todas essas categorias são dissolvidas, uma crítica, portanto,
das pressuposições que se naturalizaram em nossas formas de pensar, como por exemplo,
pressupostos que têm por evidente as distinções entre forma e conteúdo, essência e aparência,
ser e nada, finito e infinito. Assim, Hegel sustenta sua tese de que o mundo é racional e que
estas categorias apresentadas são, não apenas categorias do pensar, mas categorias do ser, ou
seja, de que a própria realidade é mediada pelo pensamento assim como o pensamento é
determinado por essa realidade, de que a dialética ocorre tanto a nível do pensar quanto nas
coisas mesmas. A Ciência da Lógica, dessa forma, realiza uma revolução na filosofia, pois
transforma o conceito de lógica na medida em que ela passa a se determinar a partir de seus
conteúdos substanciais objetivos, e ela revoluciona a filosofia na medida em que ela
determina esses conteúdos substanciais como relações lógico-categoriais.

Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817): Com a Enciclopédia das Ciências Filosóficas
Hegel finalmente completa e realiza o seu sistema. O sistema hegeliano se mostra como
verdadeiramente um sistema porque nele a ordem das razões de conhecer e a ordem das
razões de ser - o processo epistemológico e o processo ontológico - são idênticos e, no seu
curso, verificam a afirmação de Hegel de que pensamento e ser são a mesma coisa
dialéticamente relacionada. Alguns consideram a Enciclopédia e, consequentemente o
sistema hegeliano como a exposição mais rica e mais acabada que encontrou o idealismo
alemão. Dividindo-se em três partes, sendo elas: parte I - A Ciência da lógica, também
conhecida como pequena lógica, por ser uma versão sintética da Ciência da lógica publicada
anos antes. Parte II - A Filosofia da Natureza, momento em que Hegel passa da Ideia lógica a
natureza enquanto o outro da Ideia, e assim divide a apresentação da natureza em três
momentos: a mecânica, em que são apresentados os conceitos de espaço, tempo, lugar,
movimento. A física, em que são apresentados os conceitos de corpos físicos, luz, som, calor,
figura. E por fim, a física orgânica, em que são apresentados os conceitos de geologia,
natureza vegetal e organismo até a morte do organismo/indivíduo que dá início a última parte
da Enciclopédia. Parte III - A Filosofia do Espírito, momento em que Hegel apresenta o
desenvolvimento do Espírito de sua forma animal natural enquanto alma, passando pela
consciência até tornar-se razão e espírito e atingir sua forma objetiva, isto é, a exposição do
espírito em sua forma de realidade objetiva instituida enquanto relações éticas, formação da
família, da sociedade civil e do Estado. Por fim, expõe-se o Espírito em sua forma absoluta,
enquanto conteúdo da Arte (forma sensível), da Religião (forma representativa) e da Filosofia
(forma conceitual).
Linhas fundamentais da filosofia do direito (1820): Considerada uma das maiores obras
de Hegel e também da filosofia jurídica e política modernas, as Linhas fundamentais da
filosofia do direito é o resultado de uma longa maturação do pensamento político de Hegel.
Apropriando-se da herança das teorias do direito natural moderno (Hobbes, Locke, Rousseau,
Kant), Hegel rompe com os pressupostos individualistas e o juridicismo dessa corrente em
prol de uma abordagem dialética e instituicional do que ele chama de ‘espírito objetivo’, com
o intuito de pensar a articulação sistemática dos diferentes domínios da filosofia prática
(direito, moral, política). Dando continuidade ao seu método dialético-especulativo aplicado e
desenvolvido ao longo de suas obras anteriores (Fenomenologia do Espírito, Ciência da
Lógica, Enciclopédia das ciências filosóficas), Hegel pensa essa dimensão social do espírito
objetivo enquanto realização da liberdade na história, ou seja, para Hegel a evolução do
direito privado, da moralidade subjetiva e do que ele chama de eticidade (Sittlichkeit) - que é
o espaço das interações familiares, sociais e políticas -, é expressão de um processo histórico
de realização da liberdade nas sociedades. Tanto é assim que uma das tarefas que Hegel
confia ao Estado e suas instituições, é a de gerir as contradições sociais submetendo-as às
exigências de um ‘viver-junto’ político sempre recriado. O Estado, dessa forma, não seria
uma máquina de opressão, como pensavam os contratualistas, porém o garantidor da ‘união
enquanto tal’ de cidadãos livres que aceitam se submeterem às normas sociais que constituem
não um obstáculo, mas uma condição e garantia de sua liberdade. Tal abordagem inovadora
do direito e da política abriu caminho e influenciou decisivamente autores revolucionários
que vieram depois de Hegel, como Karl Marx e Bakunin, mas também serviu para fins
reacionários e restauradores da velha ordem monárquica, dada sua enorme complexidade e,
por isso, sujeita a diferentes interpretações.

Referências bibliográficas:

HEGEL, F. W. Georg. Ciência da lógica. A Doutrina do Ser. Petrópolis: Vozes, 2016.


______. Ciência da lógica. A Doutrina da Essência . Petrópolis: Vozes, 2017.
______. Ciência da lógica. A Doutrina do Conceito . Petrópolis: Vozes, 2018.
______.Diferença entre os Sistemas Filosóficos de Fichte e de Schelling. Imprensa
Nacional – Casa da Moeda. Lisboa, 2003.
______. Enciclopédia das Ciências Filosóficas 1830. A Filosofia do Espírito. Editora
Loyola. São Paulo, 2011.
______. Enciclopédia das Ciências Filosóficas 1830. A Filosofia da Natureza. Editora
Loyola. São Paulo, 2013.
______. Enciclopédia das Ciências Filosóficas 1830. A Ciência da Lógica. Editora Loyola.
São Paulo, 2012.
______. Fenomenologia do Espírito. Editora Vozes. São Paulo, 2016.
______. Linhas fundamentais da filosodia do direito. Editora 34. São Paulo, 2022.

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