Aula Hegel
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Vida e obra
Os primeiros escritos (1790 a 1805): Durante seus primeiros anos no seminário de Tubinga,
Hegel se preocupou mais com os problemas religiosos e históricos do que propriamente
filosóficos. Hegel tinha um grande interesse pelo concreto, isto é, a vida dos povos, o espírito
das religiões e a vida humana tal como ela se apresenta ao longo da história. Também se
interessava por questões de ordem política e prática, como por exemplo, sob a influência da
Revolução Francesa, ele começou a pensar em reformas concretas destinadas a devolver a
vida às instituições políticas que estavam, segundo ele, carcomidas e ultrapassadas. Somente
ao chegar em Jena nos primeiros anos do século XIX, ele começa a tomar consciência da
filosofia como o meio teórico mais adequado para exprimir o sentido da vida humana em sua
história e publica seu primeiro livro, Sobre a diferença dos sistemas filosóficos de Fichte e
Schelling.
Ciência da Lógica I, II e III (1812 a 1816): Após abandonar seu projeto inicial de sistema
no qual a Fenomenologia do Espírito seria a primeira parte, Hegel escreve a Ciência da
Lógica. A ciência da lógica, para Hegel, é a ciência do pensamento puro, da própria filosofia
e, consequentemente, da realidade ontológica. Alguns a apelidaram de “os pensamentos de
Deus antes de criar o mundo”. Ela constitui o núcleo do pensamento de Hegel, pois explicita
a dialética especulativa e a rede conceitual que atravessa e constitui todo o seu sistema. Com
a Lógica, Hegel propõe uma série de encadeamentos categoriais - conceitos da tradição
filosófica - que expressam o próprio movimento do real. Com isso, a filosofia nada mais seria
do que a compreensão desse processo de auto-exposição, que é também uma forma de
autoapresentação do absoluto. Tal processo consistiria em uma exposição dialética das
categorias, seqüencialmente progressivas, que vão da indeterminação primeira de ser/nada, na
Doutrina do Ser, passando pela qualidade e quantidade na Doutrina da Essência até a
completude da idéia absoluta, no último livro, a Doutrina do Conceito. A verdadeira filosofia
seria, então, uma critica na qual todas essas categorias são dissolvidas, uma crítica, portanto,
das pressuposições que se naturalizaram em nossas formas de pensar, como por exemplo,
pressupostos que têm por evidente as distinções entre forma e conteúdo, essência e aparência,
ser e nada, finito e infinito. Assim, Hegel sustenta sua tese de que o mundo é racional e que
estas categorias apresentadas são, não apenas categorias do pensar, mas categorias do ser, ou
seja, de que a própria realidade é mediada pelo pensamento assim como o pensamento é
determinado por essa realidade, de que a dialética ocorre tanto a nível do pensar quanto nas
coisas mesmas. A Ciência da Lógica, dessa forma, realiza uma revolução na filosofia, pois
transforma o conceito de lógica na medida em que ela passa a se determinar a partir de seus
conteúdos substanciais objetivos, e ela revoluciona a filosofia na medida em que ela
determina esses conteúdos substanciais como relações lógico-categoriais.
Enciclopédia das Ciências Filosóficas (1817): Com a Enciclopédia das Ciências Filosóficas
Hegel finalmente completa e realiza o seu sistema. O sistema hegeliano se mostra como
verdadeiramente um sistema porque nele a ordem das razões de conhecer e a ordem das
razões de ser - o processo epistemológico e o processo ontológico - são idênticos e, no seu
curso, verificam a afirmação de Hegel de que pensamento e ser são a mesma coisa
dialéticamente relacionada. Alguns consideram a Enciclopédia e, consequentemente o
sistema hegeliano como a exposição mais rica e mais acabada que encontrou o idealismo
alemão. Dividindo-se em três partes, sendo elas: parte I - A Ciência da lógica, também
conhecida como pequena lógica, por ser uma versão sintética da Ciência da lógica publicada
anos antes. Parte II - A Filosofia da Natureza, momento em que Hegel passa da Ideia lógica a
natureza enquanto o outro da Ideia, e assim divide a apresentação da natureza em três
momentos: a mecânica, em que são apresentados os conceitos de espaço, tempo, lugar,
movimento. A física, em que são apresentados os conceitos de corpos físicos, luz, som, calor,
figura. E por fim, a física orgânica, em que são apresentados os conceitos de geologia,
natureza vegetal e organismo até a morte do organismo/indivíduo que dá início a última parte
da Enciclopédia. Parte III - A Filosofia do Espírito, momento em que Hegel apresenta o
desenvolvimento do Espírito de sua forma animal natural enquanto alma, passando pela
consciência até tornar-se razão e espírito e atingir sua forma objetiva, isto é, a exposição do
espírito em sua forma de realidade objetiva instituida enquanto relações éticas, formação da
família, da sociedade civil e do Estado. Por fim, expõe-se o Espírito em sua forma absoluta,
enquanto conteúdo da Arte (forma sensível), da Religião (forma representativa) e da Filosofia
(forma conceitual).
Linhas fundamentais da filosofia do direito (1820): Considerada uma das maiores obras
de Hegel e também da filosofia jurídica e política modernas, as Linhas fundamentais da
filosofia do direito é o resultado de uma longa maturação do pensamento político de Hegel.
Apropriando-se da herança das teorias do direito natural moderno (Hobbes, Locke, Rousseau,
Kant), Hegel rompe com os pressupostos individualistas e o juridicismo dessa corrente em
prol de uma abordagem dialética e instituicional do que ele chama de ‘espírito objetivo’, com
o intuito de pensar a articulação sistemática dos diferentes domínios da filosofia prática
(direito, moral, política). Dando continuidade ao seu método dialético-especulativo aplicado e
desenvolvido ao longo de suas obras anteriores (Fenomenologia do Espírito, Ciência da
Lógica, Enciclopédia das ciências filosóficas), Hegel pensa essa dimensão social do espírito
objetivo enquanto realização da liberdade na história, ou seja, para Hegel a evolução do
direito privado, da moralidade subjetiva e do que ele chama de eticidade (Sittlichkeit) - que é
o espaço das interações familiares, sociais e políticas -, é expressão de um processo histórico
de realização da liberdade nas sociedades. Tanto é assim que uma das tarefas que Hegel
confia ao Estado e suas instituições, é a de gerir as contradições sociais submetendo-as às
exigências de um ‘viver-junto’ político sempre recriado. O Estado, dessa forma, não seria
uma máquina de opressão, como pensavam os contratualistas, porém o garantidor da ‘união
enquanto tal’ de cidadãos livres que aceitam se submeterem às normas sociais que constituem
não um obstáculo, mas uma condição e garantia de sua liberdade. Tal abordagem inovadora
do direito e da política abriu caminho e influenciou decisivamente autores revolucionários
que vieram depois de Hegel, como Karl Marx e Bakunin, mas também serviu para fins
reacionários e restauradores da velha ordem monárquica, dada sua enorme complexidade e,
por isso, sujeita a diferentes interpretações.
Referências bibliográficas: