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Fundamentos da Matemática
ab
Notas de Aula

Diego Sebastián Ledesma


el

Atualizado 11/10/2022
Em
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ab
el
Em

The structure of the book is a modification of the "Legrange Orange Book"wich is a Latex template model
obtained at LaTeXTemplates.com as and licensed under the Creative Commons Attribution-NonCommercial 3.0
Unported License ( http://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0).
ão
Conteúdo


1
or
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
ab
I Lógica e Conjuntos

2 Proposições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
el

3 Tabelas da Verdade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

4 Cálculo Proposicional . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15
Em

5 Argumentação Lógica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

6 Quantificadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

7 Conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

8 Produto Cartesiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

9 Familia de conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57

10 Relações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

11 Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

II Conjuntos Numéricos

12 Números Naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
13 Cardinalidade de conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99

14 Números Inteiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

15 Divisibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

16 Números Racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129

17 Números Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

ão
18 Representação decimal dos números reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

19 Sequências e Recorrências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163


20 Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 183

III Introdução à Análise combinatória

21
or
Introdução à Análise combinatória . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
ab
el
Em
ão
1. Apresentação


or
Este texto está composto por minhas notas de aula para o ministério da disciplina Fundamentos da Matemática.
O conteúdo do texto está baseado em material dos seguintes livros
ab
• Iezzi, G., Murakami, C., Fundamentos de Matemática Elementar, Atual Editora, 2013
• Aguilar, I.; Dias, M. Sequeiros. A Construção dos Números Reais e Suas Extensões. Rio de Janeiro:UFF,
2015.
• Roitman, J. Introduction to modern set theory. Wiley (1990).
• Saenz, J. Fundamentos de la Matemática. Hipotenusa (2005).
el

• Seymour Lipschutz - Schaum’s outline of theory and problems of set theory and related topics. McGraw-
Hill (1998)
e foi modificado e adapatado da forma que achei conveniente para o ministério das aulas.
O texto é de ajuda e guia sobre os tópicos que irei abordando ao longo do semestre com a maior quatidade
de detalhes que consegui. No entanto, recomendo fortemente que seja feita sempre uma conferência com as
Em

fontes acima citadas.


Em
el
ab
or

ão
I
Lógica e Conjuntos

ão

or
ab
el

2 Proposições . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Em

3 Tabelas da Verdade . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

4 Cálculo Proposicional . . . . . . . . . . . . . . . 15

5 Argumentação Lógica . . . . . . . . . . . . . . . 23

6 Quantificadores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33

7 Conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45

8 Produto Cartesiano . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

9 Familia de conjuntos . . . . . . . . . . . . . . . . 57

10 Relações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61

11 Funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
Em
el
ab
or

ão
ão
2. Proposições


or
Em matemática utilizamos uma linguagem com termos e expressões específicas e com significados precisos.
Começamos a estudar estes termos e expressões
ab
Definição 2.1 Uma proposição é uma sentença declarativa, por meio de palavras ou termos, e cujo conteúdo
é submetido a juízo no qual poderá ser considerado Verdadeiro (V) ou Falso (F). Estes verdadeiros ou falsos
correspondem ao valor lógico da proposição.

Os princípios do raciocínio lógico são os seguintes


el

• Princípio da Exclusão: uma proposição só pode ser verdadeira ou falsa, não existindo possibilidade de
uma terceira opção.
• Princípio da Identidade: uma proposição verdadeira é verdadeira e uma falsa é falsa.
• Princípio da não contradição: nenhuma proposição é verdadeira e falsa simultâneamente.
Em

Definição 2.2 Um Paradoxo ou Absurdo é uma sentença declarativa que não possue valor de verdade
verdadeiro nem falso e, portanto, não é proposição.

 Exemplo 2.1 Alguns exemplos de paradoxos ou absurdos são :


• "Isto que escrevo é falso": Se a frase é Falsa também é Verdadeiro pois acabei de escrever algo que é falso.
Por outro lado se é Falsa, também é verdadeira pois o que acabei de escrever é falso.
• "Eu só digo mentiras": Se o que disse é verdadeiro então não digo mentiras unicamente de onde a frase é
falsa. Por outro lado se o que disse é falso então eu o que disse não é uma mentira de onde é verdadeira
também.
• "A regra é que não há regra": Se é verdade então há uma regra que é a de não ter regras, portanto é falsa.
Mas se for falsa, então há regra é portanto é verdadeira.


Algumas proposições tem seu valor de verdade fixo e não pode ser provado ou demonstrado.
Definição 2.3 Um axioma é uma proposição que aceitamos como verdadeira e que não admite demonstração.

Denotamos às proposições com letras O, P, Q, R.


 Exemplo 2.2 O que é proposição:
• P="O gelo é o estado sólido da água cristalizada no sistema cristalino hexagonal"(Verdadeiro)
• P="Em um triângulo retângulo, o comprimento da hipotenusa é sempre maior que a soma dos comprimento
10 Capítulo 2. Proposições

dos catetos"(Falso)
• P="a soma dos ângulos internos de um triângulo retângulo no plano é menor do que π"(Falso)
• P="Brasilia é a capital do Brasil"(Verdadeiro)
• P="52 = 25"(Verdadeiro).
• P="7 > 5"(verdadeiro)
• P="2 < π"(verdadeiro)
O que não é proposição:
• "O número π tem propriedades tão interessantes!"(sentença exclamativa)
• "Tomara seja um número par"(sentença optativa)

ão
• "Será que a2 + b2 < a + b?"(sentença interrogativa)
• "Faça a conta para mostrar que (−2)2 = 4” (sentença imperativa )
• Opiniões não são proposições.
• Sentenças abertas também não são proposições: "quanto devo adicionar a 2 para obter 5?



Dadas certas proposições P e Q podemos criar novas proposições fazendo operações sobre elas. Passamos a
descrever estas operações:
• Negação: Dada uma proposição P formamos uma nova proposição "não P" que é a negação de P e é
denotada por ¬P.

por P ∧ Q.
or
• Conjunção: Dadas duas proposições P e Q formamos uma nova proposição "P e Q" e que é denotada

• Disjunção Dadas duas proposições P e Q formamos uma nova proposição "P ou Q" e que é denotada por
P ∨ Q.
ab
• Condicional: Dadas duas proposições P e Q formamos uma nova proposição "se P então Q" e que é
denotada por P ⇒ Q. Neste caso P é denominada "condição suficiente ou hipótese" e Q é chamada de
"condição necessária ou conclusão".
• Bicondicional: Dadas duas proposições P e Q formamos uma nova proposição "P se, e somente se, Q"e
que é denotada por P ⇔ Q .
el

Observamos que com estas operações lógicas podemos formar novas proposições a partir de proposições simples.
Chamamos estas proposições de proposições compostas.
 Exemplo 2.3 Sejam P, Q, R, S proposições, então

P ∨ [(Q ∧ ¬R) ⇒ S] ⇔ (Q ∧ P)
Em

é um exemplo de proposição composta. 

 Exemplo 2.4 Considere as proposições


• P="O gelo é o estado sólido da água cristalizada no sistema cristalino hexagonal"(Verdadeiro)
• Q="Beber água quente ou chá mata o coronavírus"(Falso)
Então, por exemplo,
• ¬P ="O gelo não é o estado sólido da água cristalizada no sistema cristalino hexagonal"
• P ∧ Q ="O gelo é o estado sólido da água cristalizada no sistema cristalino hexagonal e Beber água quente
ou chá mata o coronavírus"
• P ∨ Q ="O gelo é o estado sólido da água cristalizada no sistema cristalino hexagonal ou Beber água
quente ou chá mata o coronavírus"
• P ⇒ Q ="Se O gelo é o estado sólido da água cristalizada no sistema cristalino hexagonal então Beber
água quente ou chá mata o coronavírus"
• P ⇔ Q ="O gelo é o estado sólido da água cristalizada no sistema cristalino hexagonal se, e somente se,
Beber água quente ou chá mata o coronavírus"


 Exemplo 2.5 Considere as proposições


• P ="3/4 é um número racional".
• Q = "3 é um número impar".
11

• R = "5 é um número primo".


Então
• P ∧ Q ="3/4 é um número racional e 3 é um número impar".
• ¬P ∨ Q ="3/4 não é um número racional ou 3 é um número impar".
• ¬(¬P) ="não é verdade que 3/4 não é um número racional".
• ¬((¬P ⇒ Q) ="não é verdade que se 3/4. não é um número racional então 3 é um número impar".
• (P ∧ Q) ⇒ R ="se 3/4 é um número racional e 3 é um número impar então 5 é um número primo".
• (R ∨ (¬Q)) ⇒ ¬P ="Se 5 é um número primo ou 3 não é um número impar então 3/4 não é um número
racional".

ão


Obs.
O sistema lógico que estamos trabalhando só temos, como vimos, dois valores de verdade (V ou F) no


entanto há outros sistemas lógicos em que o número de valores de verdade pode ser maior. Existe, por
exemplo, a lógica de n ∈ N valores de verdade para a lógica de E. Post ou a lógica difusa ou Fuzzy em que
há tantos valores de verdade como pontos no intervalo real [0, 1].

or
ab
el
Em
Em
el
ab
or

ão
ão
3. Tabelas da Verdade


or
Como dizemos anteriormente, uma proposição tem um valor de verdade (Verdadeira ou Falsa). Vamos ver
agora qual é o valor de verdade das proposições compostas obtidas a partir das operações negação, conjunção,
ab
disjunção, condicional e bicondicional.
Junto a isto vamos construir um dispositivo muito útil no estudo da lógica matemática que são as tabelas
da verdade. Com elas poderemos definir valor lógico de uma proposição composta em função dos valores de
verdade das proposições que a compõem.
• Negação: Para a negação temos a seguinte regra,
el

– se uma proposição P é verdadeira, então a negação dela, ¬P será falsa.


– se uma proposição P é falsa, então a negação dela, ¬P será verdadeira.
Podemos resumir isto na seguinte tabela.
P ¬P
Em

V F
F V
• Conjunção: Para a conjunção temos a seguinte regra: Sejam P e Q duas proposições, então a proposição
P ∧ Q é verdadeira se, e somente se, P e Q são verdadeiras.
Podemos resumir isto na seguinte tabela.
P Q P∧Q
V V V
V F F
F V F
F F F
• Disjunção: Para a disjunção temos a seguinte regra: Sejam P e Q duas proposições, então a proposição
P ∨ Q é falsa se, e somente se, P e Q são falsas.
Podemos resumir isto na seguinte tabela.
P Q P∨Q
V V V
V F V
F V V
F F F
14 Capítulo 3. Tabelas da Verdade

• Condicional: Para o condicional temos a seguinte regra: Sejam P e Q duas proposições, então a proposição
P ⇒ Q é falsa se, somente se, P e verdadeiro e Q é falso.
Podemos resumir isto na seguinte tabela.
P Q P⇒Q
V V V
V F F
F V V
F F V

ão
• Bicondicional: Para a proposição bicondicional temos então a seguinte regra: P ⇔ Q é verdadeira se os
valores de verdade de P e Q coincidem e falsa no caso contrário
Podemos resumir isto na seguinte tabela.
P Q P⇔Q


V V V
V F F
F V F
F F V
or
Com estas tabelas básicas podemos formar as tabelas das proposições compostas (uma proposição formada a
partir de outras proposições utilizando conectivos lógicos, veremos isto depois) seguindo o seguinte roteiro:
Dada uma uma formula proposicional construímos uma tabela-verdade da seguinte forma
• Na linha superior colocamos as subfórmulas da fórmula proposicional. Dispondo de menor a maior na
ab
formação da proposição.
• Para cada subformula teremos uma coluna.
• As proposições básicas sobre as quais esta construida a proposição por meio das operações lógicas são
colocadas nas primeiras colunas.
• Completamos as linhas em função dos valores de verdade das proposições básicas. Observar que se temos
el

k proposições básicas, teremos 2k linhas.


Assim por exemplo: Se a proposição é (P ∨ Q) ∧ R teremos como tabela da verdade

P Q R (P ∨ Q) (P ∨ Q) ∧ R
V V V V V
Em

V V F V F
V F V V V
V F F V F
F V V V V
F V F V F
F F V F F
F F F F F
ão
4. Cálculo Proposicional


or
Como vimos anteriormente a partir de proposições simples podemos formar, utilizando operadores lógicos,
proposições compostas.
ab
O conjunto das proposições munido das operações negação, conjunção, disjunção formam uma álgebra que
é a chamada álgebra proposicional. Com ela podemos fazer "contas". Passamos agora estudar essa álgebra.
Uma fórmula proposicional é uma regra, construída a partir de um número finito de conectivos lógicos,
que pode ser aplicada a um conjunto de proposições,
el

P(Q1 , . . . , Qk ).

Nesse caso a regra P é a fórmula e as entradas Q1 , . . . , Qk são as variáveis. Ao aplicar uma fórmula proposicional

P(Q1 , . . . , Qk )
Em

a um conjunto de proposições fixas R1 , . . . , Rk teremos uma proposição

P(R1 , . . . , Rk ).

A proposição assim obtida é chamada de proposição composta, isto é, uma proposição composta é uma
proposição P que é obtida ao aplicar uma fórmula proposicional a um conjunto de proposições.
Dada uma fórmula proposicional P(Q1 , . . . , Qk ) e um conjunto de proposições R1 , . . . , Rk produzimos uma
proposição composta

P = P(R1 , . . . , Rk ),

o valor lógico de P é obtido em função dos valores lógicos das proposições R1 , . . . , Rk e das tabelas da verdade
para os conectivos lógicos utilizando para definir P.
 Exemplo 4.1 Por exemplo
• Considere a fórmula

P1 (P) = ¬(¬(P).

Quando aplicada a uma proposição específica, por exemplo,

P = ”5 < 6”,
16 Capítulo 4. Cálculo Proposicional

teremos

P1 (P) = ¬(¬(5 < 6)).

Em particular, se P é falsa então P1 (P) será falsa.


• Considere a fórmula

P1 (P, Q) = P ∧ (P ⇒ Q).

Quando aplicada, por exemplo às proposições

ão
P = ”O número π é irracional” Q = ”π < 5”

teremos


P1 (P, Q) = ”O número π é irracional e se número π é irracional então π < 5 .”

Em particular se P é falsa, para qualquer valor lógico que assuma Q a proposição P1 (P, Q) será falsa.
• Considere a fórmula

P1 (P, Q, R) = R ∨ (P ∧ Q).

Quanto aplicada, por exemplo, às proposições

P = ”5 < π”
or
Q = ”5 é número impar” R = ”2 divide a 3”
ab
teremos,

P1 (P, Q, R) = ”2 divide a 3 ouπ < 5 e 5 é número impar”


el

Se R é verdadeira então para qualquer valor lógico que assuumam P e Q a proposição P1 (P, Q, R) será
verdadeira.


A seguir estabelecemos um critério de equivalência entre as fórmulas proposicionais.


Definição 4.1 Duas fórmulas proposicionais P1 (Q1 , . . . , Qk ) e P2 (Q1 , . . . , Qk ), são ditas lógicamente equiva-
Em

lentes se elas assumem valores lógicos iguais para quaisquer escolha dos valores lógicos que podem assumir
as variáveis Q1 , . . . , Qk .

Para provar que duas fórmulas proposicionais são equivalentes podem ser utilizadas tabelas da verdade. A
seguir vemos alguns exemplos que mostrar algumas equivalência básicas de fórmulas proposicionais.
- Dupla Negação: "¬(¬P) = P"
De fato
P ¬P ¬(¬P)
V F V
F V F

- Idempotência:

”P ∨ P = P” e ”P ∧ P = P”.

De fato
P P∨P P∧P
V V V
F F F
17

- Comutatividade:

”P ∨ Q = Q ∨ P” e ”P ∧ Q = Q ∧ P”.

A prova disto segue imediato da definição de conjunção e disjunção.


- Associatividade:

”(P ∨ Q) ∨ O = P ∨ (Q ∨ O)” e ”(P ∧ Q) ∧ O = P ∧ (Q ∧ O)”.

Mostramos uma, pois a outra se prova de forma similar.

ão
P Q O (P ∨ Q) (Q ∨ O) P ∨ (Q ∨ O) (P ∨ Q) ∨ O
V V V V V V V
V V F V V V V
V F V V V V V


V F F V F V V
F V V V V V V
F V F V V V V
F F V F V V V

- Distributividade:
F F F

”P ∨ (Q ∧ O) = (P ∨ Q) ∧ (P ∨ O)”
F
or
e
F F F

”P ∧ (Q ∨ R) = (P ∧ Q) ∨ (P ∨ O)”.
ab
Novamente mostramos um pois o outro é análogo
P Q O (P ∨ Q) (P ∨ O) (Q ∧ O) P ∨ (Q ∧ O) (P ∨ Q) ∧ (P ∨ O)
V V V V V V V V
V V F V V F V V
el

V F V V V V V V
V F F V V F V V
F V V V V V V V
F V F V F F F F
F F V F V F F F
Em

F F F F F F F F

- Leis de De Morgan:

”¬(P ∨ Q) = (¬P) ∧ (¬Q)” e ”¬(P ∧ Q) = (¬P) ∨ (¬Q)”.

Novamente mostramos uma, a outra é análoga.


P Q ¬P ¬Q (P ∨ Q) ¬(P ∨ Q) (¬P) ∧ (¬Q)
V V F F V F F
V F F V V F F
F V V F V F F
F F V V F V V

- Lei de exclusão: "(P ∨ ¬P) ∧ Q = Q"

P ¬P (P ∨ ¬P) Q (P ∨ ¬P) ∧ Q
V F V V V
V F V F F
F V V V V
F V V F F
18 Capítulo 4. Cálculo Proposicional

- Lei de dominação: Se Q é uma proposição verdadeira então

”P ∨ Q = Q” e ”P ∧ Q = P”.

De fato
P Q (P ∨ Q)
V V V
F V V

ão
e
Q P (P ∧ Q)
V V V
V F F


Obs. Da mesma forma que provamos as equivalências acima, podemos mostrar as seguintes:
• P ⇒ Q = (¬P ∨ Q). De fato
P ¬P Q P⇒Q ¬P ∨ Q
V
V
F
F
V
V
F
F
or V
F
V
F
V
F
V
V
V
F
V
V
ab
Trataremos, daqui para frente, a identidade

P ⇒ Q = ¬P ∨ Q

de definição do condicional (⇒).


• P ⇔ Q = [(P ⇒ Q) ∧ (Q ⇒ P)]. De fato
el

P Q P⇒Q Q⇒P P⇔Q (P ⇒ Q) ∧ (Q ⇒ P)


V V V V V V
V F F V F F
F V V F F F
F F V V V V
Em

Trataremos, daqui para frente, a identidade

P ⇔ Q = (P ⇒ Q) ∧ (Q ⇒ P)

de definição do bicondicional (⇔).

Obs. A fórmula proposicional dada pelo condicional


R1 (P, Q) = (P ⇒ Q)

é equivalente a

R2 (P, Q) = {¬[P ∧ (¬Q)]}.

Para ver isto utilizamos as identidades acima

P⇒Q = ¬P ∨ Q
= ¬[P ∧ (¬Q)].

A partir da proposição condicional podemos definir as seguintes proposições


• Recíproca: Dada uma proposição condicional P ⇒ Q definimos a proposição recíproca por Q ⇒ P.
• Inversa: Dada uma proposição condicional P ⇒ Q definimos a proposição inversa por ¬P ⇒ ¬Q.
19

• Contrapositiva: Dada uma proposição condicional P ⇒ Q definimos a proposição contrapositiva por


¬Q ⇒ ¬P. A fórmula da contrapositiva é equivalente ao condicional. De fato, se

R1 (P, Q) = (P ⇒ Q) e R2 (P, Q) = (¬Q ⇒ ¬P),

utilizando as regras acima vemos que


P ⇒ Q = ¬P ∨ Q
= ¬(¬Q) ∨ (¬P)
= ¬Q ⇒ ¬P.

ão
Lema 4.1 Se R é uma proposição falsa então P ∧ R é falsa e P ∨ R = P.

Demonstração. De fato, se R é falsa ¬R é verdadeira. Utilizando a lei de dominação temos


¬(P ∧ R) = ¬P ∨ ¬R


= ¬R → De onde R falsa garante P ∧ R é falsa.
Para a segunda, vemos que
¬(P ∨ R) = ¬P ∧ ¬R
= ¬P → De onde R é falsa garante (P ∨ R) = P.

Lema 4.2 A fórmula proposicional


or 
ab
R1 (P) = P ∨ ¬P

é sempre verdadeira para qualquer valor que possa assumir P, e a fórmula proposicional

R2 (P) = P ∧ ¬P
el

é sempre falsa para qualquer valor que possa assumir P.

Demonstração. Para mostrar que P ∨ ¬P é sempre verdadeira observamos que


P ¬P P ∨ ¬P
Em

V F V
F V V
Da mesma forma, P ∧ ¬P é sempre falsa. De fato,
P ¬P P ∧ ¬P
V F F
F V F


Definição 4.2 Uma fórmula proposicional Q = Q(P1 , . . . , Pk ) é uma


• Tautologia quando o seu valor de verdade é Verdadeiro independentemente dos valores de verdade que
possam assumir as variáveis P1 , . . . , Pk que a compõem.
• Contradição quando o seu valor de verdade é Falso independentemente dos valores de verdade que
possam assumir as variáveis P1 , . . . , Pk que a compõem.
• Contingência se não for Tautologia nem Contradição.

Obs. As Tautologias recebem o nome de Leis da lógica.


20 Capítulo 4. Cálculo Proposicional

 Exemplo 4.2 • Dadas P e Q proposições, vamos mostrar que a fórmula


R(P, Q) = [(P ⇒ Q) ∧ ¬Q] ⇒ ¬P
é uma tautologia.
De fato, construindo a tabela de verdade vemos que:
P Q ¬Q P⇒Q (P ⇒ Q) ∧ ¬Q ¬P [(P ⇒ Q) ∧ ¬Q] ⇒ ¬P
V V F V F F V
V F V F F F V

ão
F V F V F V V
F F V V V V V
• Dadas P e Q proposições, vamos mostrar que a fórmula
R(P, Q) = P ∧ ¬(Q ∨ P)


é uma contradição.
De fato, construindo a tablea de verdade vemos que:
P Q Q∨P ¬(Q ∨ P) P ∧ ¬(Q ∨ P)
V V V F F
V
F
F
F
V
F
V
V
F
or F
F
V
F
F
F

ab
Com as leis e resultados acima podemos fazer contas com as proposições. Vejamos a seguir alguns exemplos.
 Exemplo 4.3 Vamos mostrar que as seguintes equivalências entre fórmulas proposicionais

• [(P ∧ Q) ⇒ R] = [P ⇒ (Q ⇒ R)] ( esta fórmula é conhecida como Lei de exportação).


De fato
(P ∧ Q) ⇒ R = ¬(P ∧ Q) ∨ R (definição de ⇒)
el

= (¬P ∨ ¬Q) ∨ R (De Morgan)


= ¬P ∨ (¬Q ∨ R) (associatividade)
= ¬P ∨ (Q ⇒ R) (definição de ⇒)
= P ⇒ (Q ⇒ R) (definição de ⇒).
Em

• [(P ∧ ¬Q) ⇒ ¬(P ∧ R ⇒ ¬Q)] = [Q ∧ (P ⇒ R)]


De fato,
(P ∨ ¬Q) ⇒ ¬[(P ∧ R) ⇒ ¬Q] = ¬(P ∨ ¬Q) ∨ ¬[¬(P ∧ R) ∨ ¬Q) (definição de ⇒)
= (¬P ∧ Q) ∨ [(P ∧ R) ∧ Q] (De Morgan)
= [¬P ∨ (P ∧ R)] ∧ Q (distributividade)
= [(¬P ∨ P) ∧ (¬P ∨ R)] ∧ Q (associatividade)
= [(¬P ∨ R)] ∧ Q (pois (¬P ∨ P) é Verdadeira)
= Q ∧ (P ⇒ R) (definição de ⇒).
• Vamos ver como expressar a fórmula do condicional e do bicondicional utilizando somente a negação e a
disjunção.
P ⇒ Q = ¬(¬(P ⇒ Q)) (dupla negação)
= ¬[P ∧ (¬Q)] (definição de ⇒)
= ¬P ∨ Q (De Morgan).
Para o bicondicional temos, pelo visto para o condicional e a definição, que
P ⇔ Q = (P ⇒ Q) ∧ (Q ⇒ P)
= (¬P ∨ Q) ∧ (¬Q ∨ P) (definição de ⇒)
= ¬[¬(¬P ∨ Q) ∨ ¬(¬Q ∨ P)] (relação vista acima e De Morgan)
21

Lema 4.3 — Leis da Absorção. Sejam P e Q proposições, então

P ∨ (P ∧ Q) = P e P ∧ (P ∨ Q) = P,

Demonstração. Observamos que se R é uma proposição que sempre é verdadeira, temos que
P ∨ (P ∧ Q) = (P ∧ R) ∨ (P ∧ Q) (R é verdadeira)
= P ∧ (R ∨ Q) (distributividade)

ão
= P ∧ R (R é verdadeira)
= P (R é verdadeira).
Também
P ∧ (P ∨ Q) = ¬[¬P ∨ ¬(P ∨ Q)] (dupla negação)


= ¬[¬P ∨ (¬P ∧ ¬Q)] (De Morgan)
= ¬[¬P] (resultado anterior)
= P (dupla negação).

or 
ab
el
Em
Em
el
ab
or

ão
ão
5. Argumentação Lógica


or
A argumentação lógica é uma organização ou estruturação de proposições pela qual, junto com as regras da
lógica, chegamos a uma conclusão ou solução. Ela é importante pois nos permite, principalmente, encontrar o
ab
caminho correto para a resolução de um problema. No entanto, claramente, ajuda na resolução de problemas
práticos do dia a dia.
Definição 5.1 Sejam P e Q duas proposições. Dizemos que P implica logicamente Q (ou P implica Q) e o
denotamos por
el

P ` Q.

se a proposição composta

P1 (P, Q) = [P ⇒ Q]
Em

é verdadeira.

Obs. Lembramos que se P e Q são duas proposições temos que a tabela da verdade do condicional é
P Q P⇒Q
V V V
V F F
F V V
F F V

Portanto, para que o condicional seja verdadeira temos que pedir que se P é verdadeira, então Q é verdadeira.
Veremos isso com mais detalhes depois.

Definição 5.2 • Um raciocínio ou argumento lógico é a afirmação de que uma proposição C, cha-
mada conclusão, é consequência de outras proposições, P1 , . . . , Pn , chamadas premisas. Neste caso,
denotamos

{P1 , · · · , Pn } ` C
24 Capítulo 5. Argumentação Lógica

• Um argumento é válido ou correto se a conjunção das premisas implica lógicamente a conclusão, isto
é, se a fórmula

Q1 (P1 , . . . , Pn ,C) = [P1 ∧ · · · ∧ Pn ⇒ C]

é verdadeira quando avaliada em P1 , . . . , Pn ,C ou, equivalentemente,

P1 ∧ · · · ∧ Pn ` C.

Neste caso a conclusão é chamada de Teorema.

ão
• Uma falácia e um raciocínio que não é válido.
Vamos mostrar agora, utilizando o que foi visto acima, duas regras canônicas da argumentação lógica: As
regras de Modus Ponens e Modus Tollens.
Observamos que estas regras são na verdade fórmulas que valem sempre que as componentes forem


substituidas por proposições com seus respectivos valores de verdade.
• A regra Modus Ponendo Ponens (do Latim "maneira que afirma afirmando") ou afirmação do antecedente.
Chamamos esta regra de modus ponens por simplicidade. Esta regra pode ser escrita da seguinte forma:
sejam P e Q duas proposições então

{P ⇒ Q, P} ` Q.

Para isto, considere proposição

R(P, Q) = P ∧ (P ⇒ Q)
or
ab
e vamos mostrar que R implica lógicamente Q, isto é, R ` Q. Construímos a tabela
P Q P⇒Q R R⇒Q
V V V V V
el

V F F F V
F V V F V
F F V F V

Portanto a fórmula S(P, Q) = [R(P, Q) ⇒ Q] é uma tautologia, de onde segue que R(P, Q) implica lógica-
mente Q para quaisquer valores de P e Q.
Em

Um exemplo da regra de Modus ponens é a seguinte

"Se hoje é domingo então não trabalho. Hoje é domingo. Logo, não trabalho."

Podemos também mostrar este argumento utilizando as regras de cálculo proposicional, para isto observa-
mos que

[(P ⇒ Q) ∧ P] ⇒ Q = [(¬P ∨ Q) ∧ P] ⇒ Q (definição ⇒)


= [(¬P ∧ P) ∨ (Q ∧ P)] ⇒ Q (associatividade)
= (Q ∧ P) ⇒ Q (dominação)
= ¬(Q ∧ P) ∨ Q (definição ⇒)
= (¬Q ∨ ¬P ∨ Q) (De Morgan)
= (¬Q ∨ Q) ∨ ¬P (associatividade)
que é uma tautologia pois ¬Q ∨ Q = ¬(Q ∧ ¬Q) é verdadeira.
• A regra de Modus Tollendo Tollens (do Latim: "maneira que nega por negação") ou negação do con-
sequente. Chamamos esta regra de modus tollens por simplicidade. Esta regra pode ser escrita na
forma

{P ⇒ Q, ¬Q} ` ¬P
25

Para isto, considere proposição

R(P, Q) = ¬Q ∧ (P ⇒ Q)

e vamos mostrar que R implica lógicamente Q, isto é, R ` Q. Construímos a tabela


P Q P⇒Q ¬Q R ¬P R ⇒ ¬P
V V V F F F V
V F F V F F V
F V V F F V V

ão
F F V V V V V
Portanto a fórmula S(P, Q) = [R(P, Q) ⇒ ¬P] é uma tautologia, de onde segue que R(P, Q) implica
lógicamente ¬P para quaisquer valores de P e Q.
Um exemplo da regra de Modus Tollens é a seguinte


"Se hoje é domingo então não trabalho. Trabalho. Logo, hoje não é domingo."
Podemos também mostrar este argumento utilizando as regras de cálculo proposicional, para isto observa-
mos que

or
[(P ⇒ Q) ∧ ¬Q] ⇒ ¬P = [(¬P ∨ Q) ∧ ¬Q] ⇒ ¬P (definição ⇒)
= [(¬P ∧ ¬Q) ∨ (Q ∧ ¬Q)] ⇒ ¬P (distributividade)
= [(¬P ∧ ¬Q)] ⇒ ¬P (pois (Q ∧ ¬Q) é Falsa e dominação)
= ¬(¬P ∧ ¬Q) ∨ ¬P (definição ⇒)
ab
= (P ∨ Q) ∨ ¬P (De Morgan)
= Q ∨ (P ∨ ¬P) (asociatividade)
que é uma tautologia pois ¬P ∨ P = ¬(P ∧ ¬P) é verdadeira.
Associadas a estas regras temos duas falácias ou argumentos inválidos que são de uso cotidiano na forma de
el

raciocinar:
• Falácia da afirmação do consequênte: É muito similar a Modus Ponens. A fórmula proposicional da
mesma é

{P ⇒ Q, Q} ` P
Em

Para ver que o argumento é inválido temos que mostrar que a fórmula do argumento não é uma tautologia.
De fato, se

R(P, Q) = (P ⇒ Q) ∧ Q

temos
P Q P⇒Q R R⇒P
V V V V V
V F F F V
F V V V F
F F V F V
Um exemplo desta falácia é o seguinte argumento
"Se hoje é domingo então não trabalho. Não trabalho. Logo, hoje é domingo."
Veja que, neste caso,

P = ”Hoje é domingo” Q = ”Não trabalho”

e argumento não se sustenta precisamente quando P é falso e Q verdadeiro, pois pode ser segunda-feira e,
no caso, também não trabalhar.
26 Capítulo 5. Argumentação Lógica

• Falácia da negação do antecedente: É muito similar a Modus Tollens. A fórmula proposicional da


mesma é

{P ⇒ Q, ¬P} ` ¬Q

Para ver que o argumento é inválido temos que mostrar que a fórmula do argumento não é uma tautologia.
De fato, se

R(P, Q) = (P ⇒ Q) ∧ (¬P)

ão
temos
P Q P⇒Q ¬P R ¬Q R ⇒ ¬Q
V V V F F F V
V F F F F V V


F V V V V F F
F F V V V V V
Um exemplo da falácia é o seguinte argumento

Veja que, neste caso,

P = ”Hoje é domingo” Q = ”Não trabalho”


or
"Se hoje é domingo então não trabalho. Hoje não é domingo. Logo, trabalho."
ab
e argumento não se sustenta precisamente quando P é falso e Q verdadeiro, pois pode ser segunda-feira e,
no caso, também não trabalhar.

Obs. Estas duas falácias vistas acima são a mais comuns em argumentação de prova. Principalmente nos
el

resultados em que temos que provar que uma propriedade vale para todo elemento de um conjunto. A falácia
surge ao argumentar que como "vale para um caso particular vale para todo". Isto é uma falácia do tipo
afirmação do consequente, pois a argumentação correta é que se "vale para todo elemento do conjunto, vale
para o caso particular". Isto ficará mais claro quando sejam vistos os quatificadores.

A seguir estudamos alguns exemplos de regras de argumentos lógicos com as mesmas técnicas que estudamos
Em

acima.
 Exemplo 5.1 • Considere as seguintes fórmulas proposicionais

P1 = (P ⇒ Q) P2 = (R ⇒ ¬Q) P3 = R C = (¬P)

e o argumento

{P1 , P2 , P3 } ` C.

A tabela de verdade associada a este argumento é


P Q R P1 P2 P1 ∧ P2 ∧ P3 C P1 ∧ P2 ∧ P3 ⇒ C
V V V V F V F V
V V F V V F F V
V F V F V F F V
V F F F V F F V
F V V V V V V V
F V F V V F V V
F F V V V V V V
F F F V V F V V
27

portanto o argumento é válido. Um exemplo deste tipo de argumento é


– P ="hoje é dia 15".
– Q ="amanhã é dia 16"
– R ="hoje é dia 13"
Então
– P1 ="Se hoje é dia 15 então amanhã é dia 16"
– P2 ="Se hoje é dia 13 amanhã não é dia 16"
– P3 ="Hoje é dia 13"
– C ="Hoje não é dia 15"

ão
e o argumento seria:

"Se hoje é dia 15 então amanhã é dia 16. Se hoje é dia 13 amanhã não é dia 16. Hoje é dia 13. Logo, hoje
não é dia 15."


Podemos também mostrar que este argumento é valido utilizando as regras de cálculo proposicional, para
isto observamos que

P1 ∧ P2 ∧ P3 ⇒ ¬P = (P ⇒ Q) ∧ (R ⇒ ¬Q) ∧ R ⇒ ¬P
= (¬P ∨ Q) ∧ (¬R ∨ Q) ∧ R ⇒ ¬P (definição ⇒)
or
= (¬P ∨ Q) ∧ [(¬R ∨ Q) ∧ R)] ⇒ ¬P (associatividade)
= (¬P ∨ Q) ∧ [(¬R ∧ R) ∨ (Q ∧ R)] ⇒ ¬P
= (¬P ∨ Q) ∧ (Q ∧ R) ⇒ ¬P (dominação)
(distributividade)
ab
= (¬P ∧ Q ∧ R) ∨ (Q ∧ Q ∧ R) ⇒ ¬P (distributividade)
= (¬P ∧ Q ∧ R) ∨ (Q ∧ R) ⇒ ¬P (idempotência)
= [¬P ∧ (Q ∧ R)] ∨ (Q ∧ R) ⇒ ¬P (associatividade)
= ¬P ⇒ ¬P (absorção)
el

= (P ∨ ¬P) (definição ⇒)
que é claramente uma tautologia.
• Considere as seguintes fórmulas proposicionais

P1 = (P ⇒ Q) P2 = (Q ⇒ R) C = (P ⇒ R)
Em

e o argumento

{P1 , P2 } ` C.

Éste argumento é conhecido como Silogismo Hipotético. A tabela de verdade associada a este argumento
é
P Q R P1 P2 P1 ∧ P2 C P1 ∧ P2 ⇒ C
V V V V V V V V
V V F V F F F V
V F V F V F V V
V F F F V F F V
F V V V V V V V
F V F V F F V V
F F V V V V V V
F F F V V V V V

portanto o argumento é válido. Um exemplo deste tipo de argumento é


– P ="ontem foi dia 14".
– Q ="hoje é dia 15"
28 Capítulo 5. Argumentação Lógica

– R ="amanhã é dia 16"


Então
– P1 ="Se ontem foi dia 14 então hoje é dia 15".
– P2 ="Se hoje é dia 15 então amanhã é dia 16".
– C ="Se ontem foi dia 14 então amanhã é dia 16".
e o argumento seria:

"Se ontem foi dia 14 então hoje é dia 15. Se hoje é dia 15 então amanhã é dia 16. Logo, se ontem foi dia
14 então amanhã é dia 16."

ão
Podemos também mostrar que este argumento é valido utilizando as regras de cálculo proposicional, para
isto observamos que

P1 ∧ P2 ⇒ C = [(P ⇒ Q) ∧ (Q ⇒ R)] ⇒ (P ⇒ R)


= [(P ⇒ Q) ∧ (¬Q ∨ R)] ⇒ (¬P ∨ R) (definição ⇒)
= [(P ⇒ Q) ∧ ¬Q] ∨ [(P ⇒ Q) ∧ R)] ⇒ (¬P ∨ R) (Distributividade)
= [¬P] ∨ [(P ⇒ Q) ∧ R)] ⇒ (¬P ∨ R) (Modus Tollens)
= [¬P] ∨ [(¬P ∨ Q) ∧ R)] ⇒ (¬P ∨ R) (definição ⇒)
or
= [¬P ∨ (¬P ∨ Q)] ∧ [¬P ∨ R] ⇒ (¬P ∨ R) (Distributividade)
= ¬[ [¬P ∨ (¬P ∨ Q)] ∧ [¬P ∨ R] ] ∨ (¬P ∨ R) (definição ⇒)
= ¬[¬P ∨ (¬P ∨ Q)] ∨ [¬(¬P ∨ R)] ∨ (¬P ∨ R) (De Morgan)
ab
Que é uma tautologia pois [¬(¬P ∨ R)] ∨ (¬P ∨ R) é sempre Verdadeira.


Nos detemos um pouco na questão de como utilizamos, em matemática, a argumentação lógica para provar
que um determinado argumento
el

{P1 , . . . , Pn } ` C,

é válido. Neste caso sabemos que o que temos que provar é que a proposição
Em

Q(P1 , . . . , Pn ,C) = [P1 ∧ · · · ∧ Pn ⇒ C],

onde P1 , . . . , Pn são as premisas e C é a conclusão, é verdadeira. A proposição Q(P1 , . . . , Pn ,C) tem a seguinte
tabela da verdade

P1 ∧ · · · ∧ Pn C P1 ∧ · · · ∧ Pn ⇒ C
V V V
V F F
F V V
F F V

Portanto, para mostrar que o argumento é válido, temos que ver que NUNCA OCORRE o caso em que

P1 ∧ · · · ∧ Pn : Verdadeira e C : Falsa

Isto pode ser feito de diferentes formas:


• Forma Direta: Assumindo que P1 ∧ · · · ∧ Pn é verdadeira (portanto cada uma das Pi são verdadeiras)
chegamos, utilizando as ferramentas matemáticas que dispomos, o cálculo proposicional e/ou tabelas da
verdade, que a única posibilidade para a conclusão C é ser uma proposição verdadeira.
29

• Forma Indireta: Utilizando a equivalência contrapositiva,


P1 ∧ · · · ∧ Pn ⇒ C = ¬(P1 ∧ · · · ∧ Pn ) ∨C
= C ∨ ¬(P1 ∧ · · · ∧ Pn )
= ¬(¬C) ∨ ¬(P1 ∧ · · · ∧ Pn )
= ¬C ⇒ ¬(P1 ∧ · · · ∧ Pn ).
cuja tabela da verdade é
P1 ∧ · · · ∧ Pn C ¬C ¬(P1 ∧ · · · ∧ Pn ) ¬C ⇒ ¬(P1 ∧ · · · ∧ Pn )
V V F F V

ão
V F V F F
F V F V V
F F V V V
Desta forma, para mostrar que o argumento é válido devemos mostrar que se assumimos a C como sendo


falsa chegamos, utilizando as ferramentas matemáticas que dispomos, o cálculo proposicional e/ou tabelas
da verdade, a que a única posibilidade para ¬(P1 ∧ · · · ∧ Pn ) seja ser uma proposição verdadeira e portanto,
o que está grifado em verde não acontece.
• Redução ao Absurdo: O método consiste em mostrar a partir de supostos que alguma das proposições
que constituem o argumento não pode ser uma proposição, o que é um absurdo ou paradoxo. Ele se baseia
or
em que a negação de uma tautologia é uma contradição. Como
¬(P1 ∧ · · · ∧ Pn ⇒ C) = ¬(¬(P1 ∧ · · · ∧ Pn ) ∨C) = P1 ∧ · · · ∧ Pn ∧ ¬C
a ideia é provar que
ab
P1 ∧ · · · ∧ Pn ∧ (¬C)
é um contradição lógica. Fazendo a tabela da verdade vemos que,
P1 ∧ · · · ∧ Pn C ¬C P1 ∧ · · · ∧ Pn ∧ ¬C
el

V V F F
V F V V
F V F F
F F V F
e portanto, deve-se mostrar que o que está grifado em verde não acontece.
Em

Assim, este caso consiste em mostrar utilizando as ferramentas matemáticas que dispomos, o cálculo
proposicional e/ou tabelas da verdade, que se assumimos que as Pi são verdadeiras e C falsa chegamos a
que uma das proposições que compõem o argumento (geralmente C, mas pode ser alguma das Pi também)
tem dois valores de verdade (Verdadeiro e Falso) simultáneamente violando o princípio de exclusão.
De onde segue que esta não pode ser uma proposição, o que é um absurdo que provém dos supostos.
Consequêntemente o grifado em verde não pode acontecer.
Dado um determinado argumento que devemos provar escolheremos a forma em que vamos mostrá-lo. A
forma que será empregada na demonstração depende do contexto. Muitas vezes uma é mais conveniente respeito
das outras por ser mais simples de ser aplicada.
De forma geral,
• Se vamos mostrar que P ` Q mostramos P ⇒ Q é verdadeira e, portanto, que nunca ocorre o caso em que
P é verdadeira e Q é falsa.
• Se vamos mostrar que P = Q então devemos mostrar que P ` Q e que Q ` P, isto é, que o bicondicional
P ⇔ Q é uma verdadeira e, portanto, nunca ocorre o caso em que as proposições tem valores lógicos
diferentes.
 Exemplo 5.2 • A gente aplica algum dos três métodos no dia a dia: Suponha, por exemplo, que você
mora numa kitnet (casas maiores requerem mais pasos porém o raciocínio é similar) e você tem que sair e
precisa das chaves porque está trancado do lado de dentro. Então, para buscar a chave, o raciocínio que
você aplica é
30 Capítulo 5. Argumentação Lógica

"Se a chave não está na sala então está no banheiro".

Vamos mostrar que este raciocínio é válido das três formas vistas acima.
Primeiramente, denotamos por

P1 = ”Há uma chave”, P2 = ”A chave não está na sala”,

C = ”A chave está no banheiro”.


O argumento então é

ão
{P1 , P2 } ` C,

e queremos mostrar que é válido, isto é, provar que


Q(P1 , P2 ,C) = [P1 ∧ P2 ⇒ C]

é verdadeira.
Assumimos que P1 é sempre verdadeira pois sabemos que há uma chave.

or
ab
– Direta: Assumimos P1 ∧ P2 como verdadeira. Então, como a casa tem 2 cómodos, se a chave não
está na sala (P1 é verdadeira) tem que estár no outro cómodo. Como este cómodo é o banheiro ela
el

deve estar no banheiro. De onde C é verdadeira.


– Indireta: (similar à direta só que na outra direção). Assumimos que C é falsa. Então a chave não está
no banheiro. Novamente, como a casa tem dois cómodos, então deve estar no outro cómodo, que é a
sala. De onde a chave está na sala e, portanto, P2 é falsa. De onde P1 ∧ P2 é falsa.
– Absurdo: Neste caso assumimos P1 ∧ P2 ∧ ¬C é verdadeira, isto é, que a chave não está na sala e
Em

que também não está no banheiro. Portanto, como a casa tem dois cómodos, não pode estar na casa.
Mas a gente estava dentro da casa e teve que abrir a porta. De onde segue que a casa não tem chave.
Isto é um absurdo (pois sabemos que há uma chave) que provém de supor que a chave não está no
banheiro.
• Considere as proposições
P1 = "o número natural N é divisível por 2"
P2 = "o número natural N é divisível por 3"
C = "o número natural N é divisível por 6"
Queremos mostrar que {P1 , P2 } ` C é um argumento válido. Ou, dito de outra forma, que

"Se o número natural N é divisível por 2 e o número natural N é divisível por 3 então o número natural N
é divisível por 6"

Vamos mostrar isto das três formas deferentes vistas acima:


– Direta. Assuma que P1 e P2 são verdadeiras, isto é, que o número natural N é tal que N = 2 · r e
N = 3 · k então, como (2, 3) = 1 existe um t ∈ N tal que k = 2 · t. Portanto

N = 3 · k = 3 · 2 · t = 6 · t.

de onde C é verdadeira.
31

– Indireta. Assuma que C é falsa, e ¬C verdadeira, isto é , que N = 6 · k + r com 0 < r < 6.
Modo 1: Se 2|r (P1 verdadeira) então 3 6 |r pois, se dividisse teríamos que 6|r, o que não acontece.
Portanto P2 é falsa e, consequêntemente P1 ∧ P2 é falsa, de onde ¬(P1 ∧ P2 ) é verdadeira.
Modo 2: Se 3|r (P2 verdadeira) então 2 6 |r pois, se dividisse teríamos que 6|r, o que não acontece.
Portanto P1 é falsa e, consequêntemente P1 ∧ P2 é falsa, de onde ¬(P1 ∧ P2 ) é verdadeira.
– Absurdo: Assuma que P1 e P2 são verdadeiras e C é falsa, isto é que 2|N, 3|N e N = 6k + r com
0 < r < 6. Então, como 2|N temos que N = 2m pois e, como 3|n e (2, 3) = 1 temos que m = 3m0 de
onde N = 6m0 . De onde obtemos que C é verdadeira e falsa ao mesmo tempo, e portanto não pode
ser uma proposição, o que é um absurdo que provém do fato de supor que C é falsa.

ão
• Considere as proposições
P1 = "N 2 um inteiro múltiplo divisível por 3"
C = "N é um número inteiro divisível por 3"
Queremos mostrar que P1 ` C é um argumento válido. Ou, dito de outra forma, que


"Se N 2 um inteiro múltiplo divisível por 3 então N é um número inteiro divisível por 3"

Vamos mostrar isto das três formas deferentes vistas acima, mas antes de começar observamos que se N é
um número inteiro então, do algoritmo da divisão,

N = 3·k+r

portanto
k ∈ Z, 0≤r<3

N 2 = 3 · (3 · k2 + 2 · k) + r2
or
ab
onde

 0 se r = 0
r2 = 1 se r = 1
el

4 se r = 2

– Direta. Assuma que P1 é verdadeira então r2 = 0, de onde r = 0. Portanto 3 divide a N e C é


verdadeira.
– Indireta. Assuma que C é falsa, e ¬C verdadeira. Pelo visto no começo, isto garante que N = 3 · k + r
com r = 1 ou r = 2. De onde P1 é falsa
Em

– Absurdo: Assuma que P1 é verdadeira e C é falsa. Então, N = 3 · k e N 2 = 3 · k0 + r2 para r2 = 1, ou


r2 = 4. Pelo visto no começo, a segunda afirmação garante que N = 3 · l + r para r = 1 ou r = 2, de
onde segue que N não pode ser divisível por 3 e portanto P1 também é falsa, o que é um absurdo.

Em
el
ab
or

ão
ão
6. Quantificadores


or
Existem frases declarativas que não há como dizer se são verdadeiras ou falsas pois dependem do valor que
assume uma variável para que possam ser consideradas como proposição. Estas são chamadas de funções
ab
proposicionais. Para definir corretamente o conceito de função proposicional precisamos da noção de conjunto.
A noção de conjunto, elemento e pertinência, são conceito básicos da matemática e aceitos sem definição.
Algo similar ao que acontece com pontos, retas, etc., na geometria. No entanto, podemos dizer que
• Um agrupamento, classe, coleção ou sistema é, em geral, um conjunto.
• Cada membro ou objeto que entra na formação do conjunto é chamado de elemento do conjunto.
el

• Se A é um conjunto e a um elemento que entra na formação do conjunto A dizemos que a pertence a A e


escrevemos a ∈ A. Caso contrário, dizemos que a não pertence a A e escrevemos a 6∈ A.
• Um conjunto é dito Universal se ele contém todos os elementos que estão em discusão. Geralmente
denotamos a este conjunto por A ou U.
A teoria de conjuntos se constrói então a partir destes três conceitos básicos: conjunto, elemento e relação de
Em

pertenência.
Vamos denotar por letras maiúsculas A, B, C . . . aos conjuntos e por minúsculas a, b, c . . . aos elementos
dos conjuntos.

Obs. Se definirmos os elementos de um conjunto a partir de uma propriedade de seus elementos de forma
descuidada, podemos ter problemas. Por exemplo, considere
O = {X conjunto, X 6∈ X}
Observamos que dizer que X conjunto tal que X 6∈ X ou X ∈ X não é absurdo. De fato
• Seja A o conjunto de todos os carros, como A não é um carro temos que A 6∈ A.
• Seja A o conjunto das ideias abstratas é um conjunto que, por ser uma ideia abstrata, é um conjunto
satisfaz A ∈ A.
No entanto, O não é um conjunto. De fato, se assumimos que é conjunto, observamos que:
• Se O ∈ O então, da definição, O 6∈ O.
• Por outro lado O 6∈ O então O ∈ O. O que é uma contradição.
O problema parte de admitir que O é conjunto. Este problema é conhecido como Paradoxo de Russel. Em
particular, decorre disto que a coleção de todos os conjuntos não é um conjunto.

Para representar gráficamente conjuntos,utilizamos os diagramas de Venn (em honor a John Venn, matemático
inglés). Para isso começamos desenhando um quadrado que é o conjunto universal U e dentro dele utilizamos
34 Capítulo 6. Quantificadores

uma linha fechada que não possui auto-intersecção para representar o conjunto A. Dentro dela, utilizando pontos,
representamos os elementos do conjunto A.
 Exemplo 6.1 Se A = {a, b, c} então

ão



Outra forma de representar os conjuntos é por listando todos seus elementos entre chaves. Por exemplo,

A = {a, b, c, d, . . .}.

Estudaremos na próxima seção a teoria de conjuntos com mais detalhes.


or
Definição 6.1 Uma função proposicional é uma sentença declarativa que possui uma variável aberta e, ao
substituir esta variável por um valor se torna uma proposição.
A função proposicional esta composta de um conjunto A e de um juizo declarativo P(x), onde x é a
variável, que toma valores em um conjunto A chamado universo discursivo.
ab
O domínio de verdade de P é conjunto que denotamos por Dom(P) dado por

Dom(P) = {a ∈ A, P(a) é verdadeira}

Denotamos a função proposicional por (A, P(x)) ou simplesmente P(x) quando damos por subentendido o
conjunto A.
el

 Exemplo 6.2 • P(x) = ”x2 = 9” e A = N. Seu dominio de verdade é Dom(P) = {3}.


• P(x) = ”x ≤ 5” e A = N ∪ {0}. Seu dominio de verdade é Dom(P) = {0, 1, 2, 3, 4, 5}.
• P(x) = ”x é o melhor time de futebol do mundo"e A = {times de futebol}. Seu dominio de verdade é
Dom(P) = {Boca Juniors}.
Em

Se temos uma função proposicional (A, P(x)) podemos nos perguntar para quantos elementos de A a
proposição é verdadeira?. As respostas podem ser: todos, alguns, um e nenhum. Passamos agora a ver estes
quantificadores.
Formalmente, se P é um proposição, existem dois quantificadores
• Quantificador universal (ou para todo): que é simbolizado por

∀x, P

e se lê, "para todo x temos P".


A proposição assim construída será verdadeira se para todo valor que pode assumir x, P for verdadeira.
• Quantificador de existencia (ou existe): que é simbolizado por

∃ x, P = ¬[∀ x, ¬P]

e se lê, "existe x tal que P" ou "não é verdade que para todo x temos que P é falsa".
A proposição assim construída será verdadeira se existe um valor que pode assumir x tal que P é verdadeira.
Com estes quantificadores construimos os chamados de quantificadores delimitados como segue: Seja
(A, P(x)) uma função proposicional
35

• Quantificador Universal delimitado: "Para todo x em A, P(x) é verdadeira. "


A notação para esta expressão é

∀ x ∈ A, P(x) := ∀x, [(x ∈ A) ⇒ P(x)].

Neste caso a proposição é verdadeira se P(x) é verdadeira para todo x ∈ A.


• Quantificador Existencial delimitado: "Existe x em A tal que P(x) é verdadeira. "
A notação para esta expressão é

∃ x ∈ A, P(x) := ∃x, [(x ∈ A) ∧ P(x)].

ão
Neste caso a proposição é verdadeira se P(x) é verdadeira para, pelo menos, um x ∈ A.
• Quantificador Existencial de unicidade delimitado: "Existe um único x em A tal que P(x) é verdadeira."
A notação para esta expressão é
∃! x ∈ A, P(x) ≡ ∃ x ∈ A, ∀ y ∈ A, [(P(x) ∧ P(y)) ⇔ (x = y)].


Neste caso a proposição é verdadeira se P(x) é verdadeira para um único x ∈ A.

Obs. Os quantificadores permitem transformam uma função proposicional em uma proposição.

 Exemplo 6.3

pode ser escrita


• A proposição: or
P ="para todo número real x, se x2 = 1 então x ∈ {−1, 1}"
ab
P = ∀ x, x ∈ R ⇒ (x2 = 1 ⇒ x ∈ {−1, 1})

a negação dela seria


¬P = ∃ x, x ∈ R ∧ ¬[x2 = 1 ⇒ x ∈ {−1, 1}]
el

= ∃ x, x ∈ R ∧ (x2 = 1) ∧ [x 6∈ {−1, 1}]


• A proposição:

P ="existe um número real x tal que x2 = 1 e x ∈ {−1, 1}"

pode ser escrita


Em

P = ∃ x, x ∈ R ∧ {(x2 = 1) ∧ [x ∈ {−1, 1}]}.

Sua negação dela seria


¬P = ∀ x, ¬ x ∈ R ∧ {(x2 = 1) ∧ [x ∈ {−1, 1}]}


= ∀ x, x 6∈ R ∨ (x2 6= 1) ∨ [x 6∈ {−1, 1}].


• A proposição:

P ="Existe um número natural maior que 5"

pode ser escrita

P = ∃x, x ∈ N ∧ (x > 5).

Sua negação seria

¬P = ∀x, x ∈ N ⇒ (x ≤ 5).

• A proposição:

P ="Todo número natural divisível por 2 é par"


36 Capítulo 6. Quantificadores

pode ser escrita

P = ∀ x, x ∈ N ⇒ ( 2|x ⇒ x é par.)

Sua negação seria

¬P = ∃ x, x ∈ N ∧ ¬( 2|x ⇒ x é par.)

ão
Para negar as proposições construidas com quantificadores temos a seguinte regra de De Morgan que segue
da definição: Dada P uma proposição temos

¬[∀x, P] = ¬[¬(∃ x, (¬P))]


= ∃ x, (¬P).


Da regra acima, decorre a seguinte regra:

¬[∃ x, P] = ¬[∃ x, ¬(¬(P))]


= ¬[¬(∀x, ¬P)]
= ∀x, ¬P.

Com isto, podemos mostrar que

¬[∃ x ∈ A, P(x)] = ¬[∃ x, (x ∈ A ∧ P(x))]


or
ab
= ∀ x, [¬(x ∈ A) ∨ ¬P(x)]
= ∀ x, ¬(x ∈ A) ∨ ¬P(x)
= ∀ x. (x ∈ A) ⇒ ¬P(x)
= ∀x ∈ A, ¬P(x).
el

e que

¬[∀ x ∈ A, P(x)] = ∃ x, ¬[(x ∈ A ⇒ P(x))]


= ∃ x, ¬[¬(x ∈ A) ∨ P(x)]
Em

= ∃ x, (x ∈ A) ∧ (¬P(x))
= ∃ x ∈ A, ¬P(x).

Chegamos assim nas seguintes regras:

• ¬[∀ x ∈ A, P(x)] = ∃ x ∈ A, ¬P(x)


• ¬[∃ x ∈ A, P(x)] = ∀ x ∈ A, ¬P(x)

 Exemplo 6.4 Considere as seguintes funções proposicionais:


• a)

"Existe x ∈ R tal que x2 + 1 = 16."

Escrevemos

∃x ∈ R, x2 + 1 = 16

e sua negação
¬[∃x ∈ R, x2 + 1 = 16] = ∀x ∈ R, ¬(x2 + 1 = 16)
= ∀x ∈ R, x2 + 1 6= 16.
• b)
37

"para todo x ∈ R tal que x2 − 1 = 24 temos x + 1 ≥ 6.”


Escrevemos
∀x ∈ R, x2 + 1 = 16 ⇒ x + 1 ≥ 6
e sua negação
¬[∀x ∈ R, x2 + 1 = 16 ⇒ x + 1 ≥ 6] = ∃ x ∈ R, ¬(x2 + 1 = 16 ⇒ x + 1 ≥ 6)
= ∃ x ∈ R, ¬[¬(x2 + 1 = 16) ∨ (x + 1 ≥ 6)]
= ∃ x ∈ R, (x2 + 1 = 16) ∧ ¬(x + 1 ≥ 6)

ão
= ∃ x ∈ R, (x2 + 1 = 16) ∧ (x + 1 < 6).


A demonstração das proposições com quantificadores pode ser feita de forma direta ou provando que sua
negação é falsa.


 Exemplo 6.5 • ∀ x ∈ (1, +∞), x < x2 .
Seja x > 1 então
x2 = x · x > x · 1 = x
• ∃x ∈ N tal que 2x > 201.
Seja x = 101 então 2(101) = 202 > 201.
or
No caso de querermos demonstrar a falsidade das proposições

ab
• com quantificador universal: se utiliza o método de contraexemplo. Ou seja, para mostrar que
∀x ∈ A, P(x)
é falsa se procura um elemento a ∈ A tal que ¬P(a) é verdadeira. Tal elemento, se existir, recebe o nome
de contraexemplo.
el

• com quantificador existêncial: se prova diretamente a não existência do elemento ou se prova que a
negação dela é verdadeira.
 Exemplo 6.6 • ∀ x ∈ (0, +∞), x < x2 .
Seja x = 1/2 então
Em

1 1
x2 = < =x
4 2
portanto a proposição é falsa.
• ∃x ∈ (0, 100) tal que 2x > 201.
– Direto: Se 0 < x < 100 então 0 < 2x < 200 portanto 2x < 200 < 201. de onde a proposição é falsa.
– Negação: provamos que
¬[∃x ∈ (0, 100), 2x > 201] = ∀x ∈ (0, 100), ¬[2x > 201]
= ∀x ∈ (0, 100), 2x ≤ 201.
De fato, se 0 < x < 100 então 0 < 2x < 200 ≤ 201. Portanto a negação da proposição é verdadeira e,
consequêntemente, a proposição é falsa.


Com isto podemos construir a seguinte tabela que relaciona como mostrar que a veracidade ou falsidade das
proposições com um quatificador.
Proposição Quando é Verdadeira Quando é Falsa
∀ a ∈ A, P(a) Para todo a ∈ A Existe a ∈ A para
P(a) é verdadeira o qual P(a) é falsa.
∃ a ∈ A, P(a) Existe a ∈ A para o Para todo a ∈ A
qual P(a) é verdadeira P(a) é falsa.
38 Capítulo 6. Quantificadores

Observamos que nada temos falado das proposições com o quantificador ∃!. Isto porque ele é construido a
partir da conjunção de duas proposições com quantificadores.
Passamos a estudar proposições com dois quantificadores. De modo geral, estas proposições podem-se
resumir a quatro casos. Dada P(a, b) uma função proposicional em um universo U e A, B conjuntos em U,
temos as seguintes proposições
• ∀ a ∈ A, ∀ b ∈ B, P(a, b).
• ∀ a ∈ A, ∃ b ∈ B, P(a, b).
• ∃ a ∈ A, ∀ b ∈ B, P(a, b).
• ∃ a ∈ A, ∃ b ∈ B, P(a, b).

ão
Obs. É fácil ver que
∀ a ∈ A, ∀ b ∈ B, P(x, y) = ∀ b ∈ B, ∀ a ∈ A, P(a, b).
De fato se para todo a ∈ A temos ∀ b ∈ B, P(a, b) então P(a, b) é verdadeira para todo a ∈ A e b ∈ B. De


onde segue que para todo b ∈ B temos que ∀ a ∈ A, P(a, b) é veraddeira. De forma similar, temos que
∃ a ∈ A, ∃ b ∈ B, P(a, b) = ∃ b ∈ B, ∃ a ∈ A, P(a, b).
Pois se existe a ∈ A tal que ∃ b ∈ B, P(a, b) é verdadeira, então existem a ∈ A e b ∈ B tal que P(a, b) é
verdadeira. De onde segue que é equivalente a dizer que existe b ∈ B tal que ∃ A ∈ A, P(a, b) é verdadeira.
or
No entanto, observamos que, de forma geral, temos
∀ a ∈ A, ∃ b ∈ B, P(a, b) 6= ∃ b ∈ B, ∀ a ∈ A, P(a, b).
Sabemos que
ab
{∃ b ∈ B, ∀ a ∈ A, P(a, b)} ` ∀ a ∈ A, ∃ b ∈ B, P(a, b).
De fato, se existe b tal que para todo a ∈ A temos que P(a, b) é verdadeira então para todo a ∈ A existe
b ∈ B tal que P(a, b) é verdadeira.
Para ver que o argumento
el

{∀ a ∈ A, ∃ b ∈ B, P(a, b)} ` ∃ b ∈ B, ∀ a ∈ A, P(a, b).


não é válido de forma geral, mostramos dois contraexemplos:
• Seja A = {Doenças} e B = {Médico especialista} e P(a, b) a função proposicional
P(a, b) = ”b trata a doença a”.
Em

E agora observemos as proposições:

Q1 : ∀ a ∈ A, ∃ b ∈ B, P(a, b) = Para toda doença existe um médico


especialista que trata ela.

e, por outro lado

Q2 : ∃ b ∈ B, ∀ a ∈ A, P(a, b) = existe um médico especialista


que trata todas as doenças.

Claramente Q1 não implica lógicamente Q2 pois Q1 é verdadeira e Q2 é falsa.


• Considere A = (0, ∞) e B = (0, ∞) e P(a, b) : a · b = 1. Claramente para todo a ∈ (0, ∞) existe
b ∈ (0, ∞) tal que a · b = 1. No entanto vejamos que não existe b ∈ B tal que para todo a ∈ A temos
a · b = 1. Para provar isto fazemos pelo absurdo. Assuma que um tal b ∈ (0, ∞) existe então para
a = 1 temos
b·a = b·1 = 1 ⇒ b = 1
de onde b = 1. Por outro lado, para a = 2 temos
1
b·a = b·2 = 1 ⇒ b = .
2
De onde b assuma dois valores diferentes, o que é um absurdo.
39

Como no caso de um quantificador, indicamos como negar proposições com mais de um quantificador.
Assim, utilizamos o visto acima junto as Leis de De Morgan para obter

¬[∀ x ∈ A, ∀ y ∈ B, P(x, y)] = ∃ x ∈ A, ¬[∀ y ∈ B, P(x, y)]
= ∃ x ∈ A, ∃ y ∈ B, ¬P(x, y)

¬[∀ x ∈ A, ∃ y ∈ B, P(x, y)] = ∃ x ∈ A, ¬[∃ y ∈ B, P(x, y)]
= ∃ x ∈ A, ∀ y ∈ B, ¬P(x, y)

ão

¬[∃ x ∈ A, ∀ y ∈ B, P(x, y)] = ∀ x ∈ A, ¬[∀ y ∈ B, P(x, y)]
= ∀ x ∈ A, ∃ y ∈ B, ¬P(x, y)

¬[∃ x ∈ A, ∃ y ∈ B, P(x, y)] = ∀ x ∈ A, ¬[∃ y ∈ B, P(x, y)]


= ∀ x ∈ A, ∀ y ∈ B, ¬P(x, y)
Com isto podemos construir a seguinte tabela que relaciona como mostrar que a veracidade ou falsidade das
proposições com dois quatificadores.
Proposição Quando é Verdadeira Quando é Falsa
∀ a ∈ A, ∀ b ∈ B, P(a, b)

∀ a ∈ A, ∃ b ∈ B, P(a, b)
or
Para todo a ∈ A e b ∈ B
tal que P(a, b) é verdadeira
Para todo a ∈ A existe um b ∈ B
tal que P(a, b)é verdadeira
Existe um a ∈ A e um b ∈ B
tal que P(a, b) é falsa.
Existe um a ∈ A tal que para todo
b ∈ B temos P(a, b) é falsa .
ab
∃ a ∈ A, ∀ b ∈ B, P(a, b) Existe um a ∈ A, para todo b ∈ B, Para todo a ∈ A existe b ∈ B
tal que P(a, b) é verdadeira tal que P(a, b) é falsa.
∃ a ∈ A, ∃ b ∈ B, P(a, b) Existe um a ∈ A e existe um b ∈ B Para todo a ∈ A e para todo b ∈ B
tal que P(a, b) é verdadeira temos P(a, b) é falsa.
el

 Exemplo 6.7 • Considere a proposição

P ="As necessidades da maioria se sobrepõem às necessidades da minoria"

Vamos a descrever a proposição com quantificadores. Começamos definindo o conjunto

A = {necessidades das pessoas}


Em

e as funções proposicionais

M(x) = ”x é necessidade da maioria” N(x) = ”x é necessidade da minoria”

P(x, y) = ”x se sobrepõe a y”.


Então escrevemos

∀ x ∈ A, ∀ y ∈ A, (M(x) ∧ N(y)) ⇒ P(x, y).

A negação é
¬[∀ x ∈ A, ∀ y ∈ A, (M(x) ∧ N(y)) ⇒ P(x, y)]
= ∃ x ∈ A, ¬[ ∀ y ∈ A, (M(x) ∧ N(y)) ⇒ P(x, y)]
= ∃ x ∈ A, ∃ y ∈ A, ¬[(M(x) ∧ N(y)) ⇒ P(x, y)]
= ∃ x ∈ A, ∃ y ∈ A, [(M(x) ∧ N(y)) ∧ ¬P(x, y)],

que poderíamos traduzir a

¬P ="Há uma necessidade de muitos que se não se sobrepõe a uma necessidade de poucos."
40 Capítulo 6. Quantificadores

Observamos que há uma forma melhor de descrever esta proposição definindo o que significa ser maioria
e minoria, em função da cardinalidade do conjunto de pessoas.
• Considere a proposição
"Existe um barbeiro que barbeia a todos aqueles, e somente aqueles que não se barbeiam."
Se consideramos o conjunto dos homens como sendo A e as funções proposicionais
P(x) = ”x é barbeiro”, B(x, y) = ”x barbeia y”
Destacamos que

ão
– "existe um barbeiro": ∃ x ∈ A, P(x)
– "que barbeia a todos aqueles, e somente aqueles, que não se barbeiam": pode ser traduzida como
∀ y ∈ A, ¬B(y, y) ⇔ B(x, y).
A frase então, pode ser escrita


Q = ∃ x ∈ A, {P(x) ∧ [∀ y ∈ A, ¬B(y, y) ⇔ B(x, y)]}”
Veremos abaixo que isto pode ser escrito como
Q = ∃ x ∈ A, ∀ y ∈ A, [P(x) ∧ (¬B(y, y) ⇔ B(x, y)))]”
A negação de P é or
¬Q = ∀ x ∈ A, ∃ y ∈ A, {¬P(x) ∨ ¬[¬B(y, y) ⇔ B(x, y)]}”
que é igual a
ab
¬Q = ∀ x ∈ A, ∃ y ∈ A, {¬P(x) ∨ [B(y, y) ⇔ B(x, y)]}”.
• Consideramos o universo como sendo os números reais
"Para todo ε > 0 existe um δ > 0 para todo x ∈ R tal que se |x − 2| < δ então |2 · x − 4| < ε."
el

Escrevemos
∀ ε > 0, ∃ δ > 0, ∀ x ∈ R |x − 2| < δ ⇒ |2 · x − 4| < ε
Observamos que
Em

ε > 0 = ε ∈ (0, ∞), e que δ > 0 = δ ∈ (0, ∞).


A negação da proposição P é
¬[∀ε > 0, ∃ δ >, ∀ x ∈ R , |x − 2| < δ ⇒ |2 · x − 4| < ε]
= ∃ ε > 0 ¬[ ∃ δ > 0, ∀ x ∈ R , |x − 2| < δ ⇒ |2 · x − 4| < ε]
= ∃ ε > 0 ∀ δ > 0, ¬[ ∀ x ∈ R |x − 2| < δ ⇒ |2x − 4| < ε]
= ∃ ε > 0 ∀ δ > 0, ∃x ∈ R, ¬[ |x − 2| < δ ⇒ |2x − 4| < ε]
= ∃ ε > 0 ∀ δ > 0, ∃x ∈ R, ¬[¬(|x − 2| < δ ) ∨ (|2 · x − 4| < ε)]
= ∃ ε > 0, ∀ δ > 0, ∃x ∈ R, (¬(¬(|x − 2| < δ )) ∧ (¬[|2 · x − 4| < ε])
= ∃ ε > 0, ∀ δ > 0, ∃x ∈ R, (|x − 2| < δ ) ∧ (|2 · x − 4| ≥ ε).
Portanto
¬P = ∃ ε > 0, ∀δ > 0, ∃x ∈ R, (|x − 2| < δ ) ∧ (|2 · x − 4| ≥ ε).
A proposição é verdadeira. De fato, se para todo x ∈ R tal que
|x − 2| < δ temos |2 · x − 4| < 2 · δ
Então dado ε > 0 existe δ = ε2 > 0 tal que se x ∈ R tal que |x − 2| < δ então |2 · x − 4| < ε.
Temos provado assim que
∀ ε > 0, ∃ δ > 0. ∀ x ∈ R, |x − 2| < δ ⇒ |2 · x − 4| < ε.
41

• Para mostrar a falsidade de uma proposição com mais de um quantificador se procede de forma similar ao
caso de um, isto é, se mostra um contraexemplo ou se prova que a negação dela é verdadeira.
Vamos mostrar que a proposição
∀ε > 0, ∃ δ > 0, ∀ x ∈ R, 0 < |x| < δ ⇒ | sin(1/x) − 1| < ε
é falsa. Novamente observamos que
ε > 0 = ε ∈ (0, ∞), e que δ > 0 = δ ∈ (0, ∞).
Para mostrar a falsidade de P provamos que a negação dela é verdadeira, isto é

ão
¬[∀ε > 0, ∃δ > 0, ∀ x ∈ R, 0 < |x| < δ ⇒ | sin(1/x) − 1| < ε]
= ∃ ε > 0 ¬[∃δ > 0, ∀ x ∈ R, 0 < |x| < δ ⇒ | sin(1/x) − 1| < ε]
= ∃ ε > 0, ∀ δ > 0, ¬[ ∀ x ∈ R, 0 < |x| < δ ⇒ | sin(1/x) − 1| < ε]
= ∃ ε > 0 ∀ δ > 0, ∃x ∈ R, ¬[0 < |x| < δ ⇒ | sin(1/x) − 1| < ε]


= ∃ ε > 0 ∀ δ > 0, ∃x ∈ R, (0 < |x| < δ ) ∧ | sin(1/x) − 1| ≥ ε
Provamos então que
¬P = ∃ ε > 0 ∀ δ > 0, ∃x ∈ R, (0 < |x| < δ ) ∧ | sin(1/x) − 1| ≥ ε
De fato, considere ε = 1
2

1
| sin(1/x0 ) − 1| = 1 > .
2
or
e δ > 0 qualquer. Seja k ∈ N tal que δ > 1
k e, portanto, 0 < |x0 | =

1 1
1
kπ <δ e
ab
Portanto, temos mostrado que existe ε = 1/2 tal que para todo δ existe x0 = kπ ∈ R com kπ < δ tal que
0 < |x0 | < δ e
1
| sin(1/x0 ) − 1| = 1 > .
2
Portanto ¬P é verdadeira e P é falsa.
el

A seguir vamos estudar em detalhe como se comportam os quantificadores com respeito a conjunção e
disjunção de proposições. Isto pode ser omitido em uma primeira leitura.
Proposição 6.1 Sejam (U, P(x)) e (U, Q(x)) duas funções proposicionais. Então
Em

• ∀ x ∈ A, (P(x) ∧ Q(x)) = (∀ x ∈ A, P(x)) ∧ (∀ x ∈ A, Q(x))


• ∃ x ∈ A, (P(x) ∨ Q(x)) = (∃ x ∈ A, P(x)) ∨ (∃ x ∈ A, Q(x))

Demonstração. Mostramos cada uma delas por separado. Para a primeira observamos que se P(a) ∧ Q(a) é
verdadeira para todo a ∈ A se, e somente se temos que P(a) é verdadeira e Q(a) é verdadeira (da tabela de
verdade da conjunção) e isto ocorre se, e somente se, P(a) é verdadeira para todo a ∈ A e Q(a) é verdadeira para
todo a ∈ A. Isto prova a primeira identidade.
Para provar a segunda, utilizamos a que acabamos de provar junto com a dupla negação.

∃ x ∈ A, (P(x) ∧ Q(x)) = ¬[¬(∃ x ∈ A, (P(x) ∧ Q(x)))]


= ¬[∀ x ∈ A, ¬(P(x) ∨ Q(x)]
= ¬[∀ x ∈ A, (¬P(x)) ∧ (¬Q(x))]
= ¬[(∀ x ∈ A, ¬P(x)) ∧ (∀ x ∈ A, ¬Q(x))]
= ¬[(∀ x ∈ A, ¬P(x))] ∨ ¬[(∀ x ∈ A, ¬Q(x))]
= (∃ x ∈ A, P(x)) ∨ (∃ x ∈ A, Q(x)).


42 Capítulo 6. Quantificadores

Corolário 6.1 Seja P uma proposição e (U, Q(x)) uma função proposicional. Então
• ∀ x ∈ A, (P ∧ Q(x)) = P ∧ (∀x ∈ A, Q(x)),
• ∃x ∈ A, (P ∨ Q(x)) = P ∨ (∃ x ∈ A, Q(x)).

Demonstração. Segue inmediato da proposição anterior ao observar que


∀ x ∈ A, P = P ∃ x ∈ A, P = P.


ão
Obs. A proposição ∃! a ∈ A, P(a) pode ser escrita
∃! a ∈ A, P(a) = ∃ a ∈ A, [P(a) ∧ ( ∀ b ∈ A, (P(b) ⇔ (b = a) )]
= ∃ a ∈ A, ∀ b ∈ B, [P(a) ∧ (P(b) ⇔ (b = a) )]
e sua negação é


¬[∃! a ∈ A, P(a)] = ¬{∃ a ∈ A, ∀ b ∈ B, [P(a) ∧ (P(b) ⇔ (b = a) )]}
= ∀ a ∈ A, ∃ b ∈ A, ¬[P(a) ∧ (P(b) ⇔ (b = a) )]
= ∀ a ∈ A, ∃ b ∈ A, (¬P(a)) ∨ ¬[(P(b) ⇔ (b = a) )]
= ∀ a ∈ A, ∃ b ∈ A, (¬P(a)) ∨ ¬[ [(¬P(b)) ∨ (b = a)] ∧ [¬(b = a) ∨ P(b)] ]
=
=
or
∀ a ∈ A, ∃ b ∈ A, (¬P(a)) ∨ [P(b) ∧ (b 6= a)] ∨ [(b = a) ∧ ¬P(b)]
∀ a ∈ A, ∃ b ∈ A, ¬P(a) ∨ [P(b) ∧ (b 6= a)]
onde, na última linha, temos utilizado que
[(b = a) ∧ ¬P(b)] = ¬P(a).
ab
Proposição 6.2 Sejam (U, P(x)) e (U, Q(x)) duas funções proposicionais. Então
• [(∀ x ∈ A, P(x)) ∨ (∀ x ∈ A, Q(x))] ⇒ ∀ x ∈ A, (P(x) ∨ Q(x))
• ∃ x ∈ A, (P(x) ∧ Q(x)) ⇒ [(∃ x ∈ A, P(x)) ∧ (∃ x ∈ A, Q(x))]
As recíprocas, em geral, são falsas.
el

Demonstração. Para a primeira observamos que se


[(∀ x ∈ A, P(x)) ∨ (∀ x ∈ A, Q(x))]
é verdadeira então para todo a ∈ A temos, da tabela da verdade da disjunção, que P(a) é verdadeira ou Q(a) é
verdadeira, de onde Q(a) ∨ P(a) é verdadeira. Portanto ∀ x ∈ A, (P(x) ∨ Q(x)) é verdadeira.
Em

Para a segunda, observamos que


∃ x ∈ A, (P(x) ∧ Q(x)) = ¬[¬(∃ x ∈ A, (P(x) ∧ Q(x)))]
= ¬[∀ x ∈ A, ¬(P(x) ∧ Q(x))]
= ¬[∀ x ∈ A, (¬P(x) ∨ ¬Q(x))]
⇒ ¬[(∀ x ∈ A, ¬P(x)) ∨ (∀ x ∈ A, ¬Q(x))] (contrapositiva do item anterior)
= [(∃ x ∈ A, P(x)) ∧ (∃ x ∈ A, Q(x))]
Para ver que as recíprocas são falsas em geral defina
P(x) = ”x é um número natural par”
Q(x) = ”x é um número natural impar”
Então
∀ x ∈ N, (P(x) ∨ Q(x)) e [(∃ x ∈ N, P(x)) ∧ (∃ x ∈ N, Q(x))]
são verdadeiras e, no entanto,
[(∀ x ∈ N, P(x)) ∨ (∀ x ∈ N, Q(x))] e ∃ x ∈ N, (P(x) ∧ Q(x))
são falsas. 
43

Corolário 6.2 Seja P uma proposição e (U, Q(x)) uma função proposicional. Então
• ∀ x ∈ A, (P ∨ Q(x)) = P ∨ (∀x ∈ A, Q(x)),
• ∃x ∈ A, (P ∧ Q(x)) = P ∧ (∃ x ∈ A, Q(x)).

Demonstração. Para o primeiro item observamos que somente devemos mostrar que

∀ x ∈ A, (P ∨ Q(x)) ⇒ P ∨ (∀x ∈ A, Q(x)).

Mas isto é imediato pois se ∀ x ∈ A, (P ∨ Q(x))] é verdadeira então pode acontecer que P é verdadeira, em

ão
cujo caso P ∨ (∀x ∈ A, Q(x)) ou P é falsa, em cujo caso Q(x) é verdadeira, e portanto, P ∨ (∀x ∈ A, Q(x)) é
verdadeira.
Para o segundo item, utilizamos qua regra que acabamos de provar vale junto com a dupla negação. Vemos
então que
∃x ∈ A, (P ∧ Q(x)) = ¬[¬(∃x ∈ A, (P ∧ Q(x)))]


= ¬[∀x ∈ A, ¬(P ∧ Q(x))]
= ¬[∀x ∈ A, (¬P) ∨ (¬Q(x))]
= ¬[ (¬P) ∨ (∀x ∈ A, ¬Q(x))]
= P ∧ (∃ x ∈ A, Q(x)). or
Corolário 6.3 Sejam (U, P(x)) e (U, Q(x)) funções proposicionais. Então

ab
• [(∀ x ∈ A, P(x)) ∨ (∀ x ∈ A, Q(x))] = ∀ x ∈ A, ∀y ∈ A (P(x) ∨ Q(y))
• ∃ x ∈ A, ∃ y ∈ A (P(x) ∧ Q(y)) = [(∃ x ∈ A, P(x)) ∧ (∃ x ∈ A, Q(x))]

Demonstração. Para o primeiro observamos que


∀ x ∈ A, ∀y ∈ A (P(x) ∨ Q(y)) = ∀ x ∈ A, [P(x) ∨ (∀y ∈ A, Q(y))]
el

= (∀ x ∈ A, P(x) ∨ (∀y ∈ A, Q(y))]


= (∀ x ∈ A, P(x) ∨ (∀x ∈ A, Q(x))].
De forma similar se demostra a segunda identidade. 
Em
Em
el
ab
or

ão
ão
7. Conjuntos


or
Vimos, na seção anterior, uma breve introdução à teoria de conjuntos. Em particular, observamos que a teoria
chega rápidamente em paradoxos se for feita de forma descuidada. Para evitar esta problemática, no século
ab
XX foram propostos varios sistemas axiomáticos com o intuito de promover uma teoria dos conjuntos sem os
paradoxos da teoria ingênua dos conjuntos (como o paradoxo de Russell). Um destes sistemas, são os axiomas
de Zermelo-Fraenkel (em homenagem aos matemáticos Ernst Zermelo e Abraham Fraenkel).
Sabemos, no entanto, por um resultado de K. Gödel (ver, para um leitura compreensível, o trabalho Godel’s
Proof de E. Nagel e J. Newman) que estes axiomas não podem ser provados dentro da teoria e, mais ainda,
el

se queremos uma teoria livre de paradoxos (isto é, consistente) então teremos uma teoria incompleta (isto é,
incapaz de provar todas suas afirmações), pois teremos que postular um número infinito de axiomas para evitar
paradoxos visto que a aparição deles é inevitável. O postulado de axiomas se traduz, na prática, em um humilde
reconhecimento da nossa limitação na capacidade de determinar se as afirmações dos paradoxos são verdadeiras
ou falsas.
Em

Nessa linha, enunciamos os axiomas de Zermelo-Fraenkel que formam a base da teoria de conjuntos, embora
não nos deteremos muito sobre eles. O objetivo de fazer isto é que o estudante tome ciência da existência de
uma teoria mais profunda sobre conjuntos e que deve ser levada em consideração ao se fazer um estudo sério e
cuidadoso.
Nos axiomas de Zermelo-Fraenkel todo elemento é visto como sendo também um conjunto. Os axiomas são:
• Axioma da existência: Existe o conjunto vazio, que é conjunto que não possui elementos.
• Axioma da extensão: Dois conjuntos são iguais se eles têm os mesmos elementos.
• Axioma da regularidade: Todo conjunto não-vazio A contém algúm elemento x tal que A e x são
disjuntos, isto é {A} e {x} são disjuntos.
• Axioma de especificação: Se U é um conjunto e P(x) é uma função proposicional com domínio em A,
então existe um subconjunto A de U que contém os elementos a de U para o qual P(a) é verdadeira.
• Axioma do par: Se A e B são conjuntos (não necessariamente distintos) então existe um conjunto no qual
A e B são elementos.
• Axioma da união: Para todo conjunto A existe um conjunto U tal que todo elemento que pertence a um
elemento de A é um elemento de U.
• Axioma da substituição: Seja P(a, b) uma propriedade do tipo: para todo a existe um b para o qual
P(a, b) é verdadeira, então: Para todo conjunto A existe um conjunto B tal que para todo a ∈ A existe
b ∈ B para o qual P(a, b) é verdadeira.
• Axioma do infinito: Existe um conjunto U que tem o conjunto vazio como elemento, e que, para todo
46 Capítulo 7. Conjuntos

elemento y, ele contém seu sucessor s(y) = y ∪ {y}.


• Axioma da potência: Para todo conjunto A existe um conjunto B que tem como elementos todo subcon-
junto de A.
Observamos que:
• No axioma da existência podemos considerar o conjunto como sendo aquele que contém o conjunto vazio,
isto é, A = {{0}}.
/
• O axioma da regularidade garante nenhum conjunto pode ser membro dele mesmo, isto é, que não
existe conjuntos da forma X = {X} e, junto ao axioma do par, também não existem conjuntos da forma
X = {0, / X}.

ão
Demonstração. Se A ∈ A então {A} não contém um elemento disjunto de {A} pois o único elemento é o
próprio A, contradizendo o axioma da regularidade. 

• No axioma de especificação, a restrição a U é necessária para evitar o paradoxo de Russell e suas variantes.
Em outras palavras, a função proposicional precisa, primeiramente, do contexto no qual vai ser formulada.


• Do axioma do par decorre que se temos dois elementos então existe um conjunto que os contém.
• O axioma da substituição garante a existência do conjunto imagem para uma função (veremos isto depois).
• O axioma do infinito garante a existência de um conjunto infinito. Como sabemos que existe um conjunto
então temos a existência dos sucessores.
or
• O axioma da potência garante a existência do conjunto de partes.

De forma geral, podemos determinar conjuntos de duas formas


• Por extensão: Nesta forma se listam todos os elementos do conjunto. Em geral se colocam, entre chaves,
ab
como por exemplo

A = {1, 2, 3, 4, 5, · · · }

B = {2, 4, 6, 8, 10, · · · }
el

• Por compreensão (ou axioma de especificação): Definindo uma propriedade de seus elementos. Como
o conjunto de verdade Dom(P) de uma função proposicional P(x) que tem como domínio um conjunto
universal. Assim se (U, P(x)) temos que o conjunto Dom(P) é

Dom(P) = {x ∈ U, P(x) é verdadeira}.


Em

Por exemplo

A = {n, n é um número natural}

B = {n, n é um número natural par}


Agora, passamos definir a terminologia básica
Definição 7.1 O conjunto vazio é o conjunto

0/ = {x ∈ U, x 6= x}

como não existe nenhum objeto diferente de si mesmo, o conjunto não tem elementos.

Definição 7.2 Sejam A e B conjuntos. Dizemos que


• A é subconjunto de B, ou que A está incluso em B, e escrevemos A ⊂ B se todo elemento de A é um
elemento de B, isto é,

A ⊂ B ⇔ (∀x ∈ A, x ∈ B)

Gráficamente:
47

• o conjunto A está incluido propriamente em B ( que denotamos por A B) ou que A é um subconjunto

ão
próprio de B, se

[(A ⊂ B) ∧ (A 6= B)],

isto é, todo elemento de A pertence a B e existe um elemento b ∈ B que não pertence a A.


• (A = B) ⇔ [(A ⊂ B) ∧ (B ⊂ A)] (Isto, de fato, é consequência do Axioma da Extensão).


 Exemplo 7.1 Sejam

A = {x ∈ R, |x + 3| < 5}

B = {x ∈ R, x ≥ −8}
vamos mostrar que A ⊂ B. Temos que mostrar que

∀x ∈ A ⇒ x ∈ B
or
ab
é verdadeira. Se x ∈ A temos que
|x + 3| < 5 ⇔ −5 < x + 3 < 5
⇔ −8 < x < 2 ⇒ x ≥ −8
e, portanto, x ∈ B. Como o x escolhido pode ser qualquer elemento de A temos que vale para todo x ∈ A. O que
el

prova o resultado. 

Teorema 7.1 Para qualquer conjunto A temos que 0/ ⊂ A.

Demonstração. Assumimos que o universo do discurso U é conhecido. A função proposicional


Em

P(x) = ”x ∈ 0/ ⇒ x ∈ A”.

é verdadeira para todo a ∈ U, pois a ∈ 0/ é sempre falsa e, consequêntemente,

P(a) = (a ∈ 0/ ⇒ a ∈ A)

tem que ser verdadeira. 

Teorema 7.2 A inclusão de conjuntos é


• Reflexiva: A ⊂ A para todo conjunto A.
• Transitiva: Sejam A e B conjuntos tais que [(A ⊂ B) ∧ (B ⊂ C)] então (A ⊂ C).
• Antisimétrica: Sejam A e B conjuntos tais que [(A ⊂ B) ∧ (B ⊂ A)] então (A = B).

Demonstração. • Seja A um conjunto, então se a ∈ A ⇒ a ∈ A. Logo A ⊂ A.


• Assuma que A ⊂ B e B ⊂ C. Então todo elemento a ∈ A então a ∈ B, pois A ⊂ B, e como B ⊂ C temos
que a ∈ C, portanto A ⊂ C.
• Direto da definição de igualdade de conjuntos.

48 Capítulo 7. Conjuntos

Teorema 7.3 A relação de igualdade de conjuntos é


• Reflexiva: A = A, para todo conjunto A.
• Simétrica: (A = B) ⇒ (B = A).
• Transitiva: [(A = B) ∧ (B = C)] ⇒ (A = C).

Demonstração. • Reflexiva: Como A ⊂ A segue inmediato do axioma da extensão.


• Simétrica: Como
(A = B) ⇔ [(A ⊂ B) ∧ (B ⊂ A)]
= [(B ⊂ A) ∧ (A ⊂ B)]

ão
⇔ B = A.
• Transitiva: [(A = B) ∧ (B = C)] ⇒ (A = C).


Definição 7.3 Seja A um conjunto. O conjunto de partes de A, que denotamos por P(A), é aquele cujos


elementos são os subconjuntos de A, isto é,

P(A) = {X, X ⊂ A}.

Obs.

onde segue que P(A) 6= 0.


/
or
• Seja A um conjunto não vazio, então existe um elemento a ∈ A e, portanto, {a} ⊂ A e {a} ∈ P(A) de

/ observamos que B = A ∪ P(A) é um conjunto não vazio com a seguinte propriedade: todo
• Se A 6= 0,
subconjunto A0 ⊂ A é um elemento e subconjunto de B.
ab
De fato como A0 é subconjunto de A temos que A0 ∈ P(A) de onde A0 ∈ B. Por outro lado, como A0 é
subconjunto de A temos que A0 ⊂ A de onde A0 ⊂ B.

 Exemplo 7.2 • Se A = {a, b, c} então


P(A) = {0,
el

/ {a}, {b}, {c}, {a, b}, {a, c}, {b, c}, A}


• Se A = {1, {1, 2}, {1, c}}
P(A) = {0,
/ {1}, {{1, 2}}, {{1, c}}, {1, {1, 2}}, {1, {1, c}}, {{1, 2}, {1, c}}, A}

Em

Obs. Dado A ⊂ U, o conjunto universal Ũ onde o conjunto de partes está não é o conjunto universal U onde A
está. De fato, o conjunto Ũ não é conhecido e deve ser assumido pelo axioma da potência.

Teorema 7.4 Sejam A e B dois conjuntos. Então

A ⊂ B ⇔ P(A) ⊂ P(B).

Demonstração. Temos que provar um bicondicional, então devemos provar


• A ⊂ B ⇒ P(A) ⊂ P(B).
Se X ∈ P(A) então X ⊂ A e A ⊂ B, então por um resultado anterior, X ⊂ B e, consequêntemente
X ∈ P(B).
• (A) ⊂ P(B) ⇒ A ⊂ B.
Se A ∈ P(A) ⊂ P então A ∈ P(B) portanto A ⊂ B.


Vamos agora a estudar as operações básicas da teoria de conjuntos. Para não entrar com axiomas que
permitam fazer as operações, vamos admitir que conhecemos o conjunto universal que contém como subconjuntos
a todos os subconjuntos dos quais trataremos.
49
Definição 7.4 Sejam A e B dois conjuntos em um universo U.

ão
• A união de A e B é o conjunto

A ∪ B = {x ∈ U, x ∈ A ∨ x ∈ B}


Gráficamente:

or
ab
• A interseção de A e B é o conjunto

A ∩ B = {x ∈ U, x ∈ A ∧ x ∈ B}

Caso A ∩ B = 0/ dizemos que A e B são disjuntos.


el

Gráficamente:
Em

• A diferença entre A e B é o conjunto

A\B = {x ∈ A, x 6∈ B}

Gráficamente:
50 Capítulo 7. Conjuntos

• O complemento de B em U é o conjunto

BC = U\B.

Gráficamente:

ão
• A diferença simétrica entre A e B é o conjunto


A∆B = (A\B) ∪ (B\A)

Gráficamente:

or
ab
Teorema 7.5 A união e interseção de conjuntos satisfazem as seguintes propriedades
• Idempotente: A ∪ A = A e A ∩ A = A para todo conjunto A.
el

• Comutatividade: A ∪ B = B ∪ A e A ∩ B = B ∩ A para quaisquer conjuntos A, B.


• Asociatividade

A ∪ (B ∪C) = (A ∪ B) ∪C,
Em

A ∩ (B ∩C) = (A ∩ B) ∩C.
• Distributividade: Para quaisquer conjuntos A, B e C valem as seguintes identidades

A ∩ (B ∪C) = (A ∩ B) ∪ (A ∩C),

A ∪ (B ∩C) = (A ∪ B) ∩ (A ∪C).

Demonstração. • Idempotencia. Claramente A ⊂ A ∪ A. Por outro lado


a ∈ A ∪ A ⇔ (a ∈ A) ∨ (a ∈ A)
⇔ (a ∈ A)
de onde segue que A ∪ A ⊂ A. Logo A = A ∪ A.
Para a segunda identidade, temos que A ∩ A ⊂ A. Por outro lado
a ∈ A ⇔ (a ∈ A) ∧ (a ∈ A)
⇔ (a ∈ A ∩ A)
de onde segue que A ⊂ A ∩ A. Logo A = A ∩ A.
51

• Comutatividade: Provamos uma, pois a outra é análoga.


x ∈ A ∩ A ⇔ (x ∈ A) ∨ (x ∈ B)
⇔ (x ∈ B) ∨ (x ∈ A)
⇔ x ∈ B ∩ A.
• Asociatividade: Novamente provamos uma, a outra é análoga.
x ∈ A ∪ (B ∪C) ⇔ (x ∈ A) ∨ (x ∈ B ∪C)
⇔ (x ∈ A) ∨ [(x ∈ B) ∨ (x ∈ C)]
⇔ [(x ∈ A) ∨ (x ∈ B)] ∨ (x ∈ C)]

ão
⇔ x ∈ (A ∪ B) ∪C.
• Distributividade: Novamente provamos uma pois a outra é análoga.

x ∈ A ∩ (B ∪C) ⇔ (x ∈ A) ∧ (x ∈ B ∪C)


⇔ (x ∈ A) ∧ [(x ∈ B) ∨ (x ∈ C)]
⇔ [(x ∈ A) ∧ (x ∈ B)] ∨ [(x ∈ A) ∧ (x ∈ C)]
⇔ (x ∈ A ∩ B) ∨ (x ∈ A ∩C)
⇔ x ∈ (A ∩ B) ∪ (A ∩C)
or
Teorema 7.6 Sejam A e B dois conjuntos no universo U. Então
• U C = 0/ e 0/ C = U.

ab
• A ∪ AC = U, A ∩ AC = 0.
/
C
• AC ) = A.
• A ⊂ B ⇒ BC ⊂ AC .
• (A ∪ B)C = AC ∩ BC
• (A ∩ B)C = AC ∪ BC .
el

• A∆B = B∆A .

Demonstração. • U C = 0:
/ Claramente 0/ ⊂ U C . Assuma que U C 6= 0. / Seja x ∈ U C então x 6∈ U o que é uma
C
contradição. Portanto U = 0. /
Em

C C
0/ = U: Claramente 0/ ⊂ U. Por outro lado, se x ∈ U então x ∈ / 0/ de onde x ∈ 0/ C , de onde segue que
C
U ⊂ 0/ . Logo U = 0/ .C

• A ∪ AC = U: De fato A ∪ AC ⊂ U naturalmente. Seja x ∈ U tal que x 6∈ A então x ∈ AC , portanto x ∈ A ∪ AC .


De onde segue que U ⊂ A ∪ AC , e portanto A ∪ AC = U
A ∩ AC = 0: / Claramente 0/ ⊂ A ∩ AC . Por outro lado se A ∩ AC 6= 0/ temos que existe x ∈ A ∩ AC então x 6∈ A
e x 6∈ AC . Como A ∪ AC = U então x 6∈ U, o que é uma contradição. Portanto A ∩ AC = 0. /
C
• (AC ) = A:
x ∈ A ⇔ ¬(x ∈ AC )
A ⇔ x ∈ (AC )C (pois A ∪ AC = U).
Logo A = (AC )C
• A ⊂ B ⇒ BC ⊂ AC : Assuma que A ⊂ B . Se x ∈ BC então x 6∈ B de onde x ∈
/ A. Portanto x ∈ AC . Logo
C
B ⊂A . C

• (A ∪ B)C = AC ∩ BC :
x ∈ (A ∪ B)C ⇔ ¬(x ∈ A ∪ B)
⇔ ¬[(x ∈ A) ∨ (x ∈ B)]
⇔ ¬(x ∈ A) ∧ ¬(x ∈ B)] (Lei de De Morgan)
⇔ (x ∈ AC ) ∧ (x ∈ BC )
⇔ x ∈ AC ∩ BC
52 Capítulo 7. Conjuntos

• (A ∩ B)C = AC ∪ BC :
x ∈ (A ∩ B)C ⇔ ¬(x ∈ A ∩ B)
⇔ ¬[(x ∈ A) ∧ (x ∈ B)]
⇔ ¬(x ∈ A) ∨ ¬(x ∈ B)] (Lei de De Morgan)
⇔ (x ∈ AC ) ∨ (x ∈ BC )
⇔ x ∈ AC ∪ BC
• A comutatividade segue da comutatividade da união: de fato
A∆B = (A\B) ∪ (B\A)

ão
= (B\A) ∪ (A\B)
= B∆A.



Obs. Sejam (P(x),U) e (Q(x),U) duas funções proposicionais e considere os domínios de verdade
Dom(P) = {x ∈ U, P(x) é verdadeira} e Dom(Q) = {x ∈ U, Q(x) é verdadeira}

Então
• Dom(P ∨ Q) = Dom(P) ∪ Dom(Q),
• Dom(P ∧ Q) = Dom(P) ∩ Dom(Q),
• Dom(¬P) = Dom(P)C ,
or
• Dom(P ∧ ¬Q) = Dom(P) ∩ Dom(Q)C = Dom(P)\Dom(Q),
• Dom(P ⇒ Q) = Dom(¬P ∨ Q) = Dom(P)C ∪ Dom(Q),
ab

Dom(P ⇔ Q) = Dom([P ⇒ Q] ∧ [Q ⇒ P])
= [Dom(P)C ∪ Dom(Q)] ∩ [Dom(P) ∪ Dom(Q)C ]
= [Dom(P)C ∩ (Ker(P) ∪ Dom(Q)C )] ∪ [Dom(Q) ∩ (Dom(P) ∪ Dom(Q)C )]
= [Dom(P)C ∩ Dom(Q)C ] ∪ [Dom(Q) ∩ Dom(P)]
el

= [Dom(P) ∪ Dom(Q)]C ∪ [Dom(Q) ∩ Dom(P)]


Em
ão
8. Produto Cartesiano


or
Sejam A e B dois conjuntos e considere a ∈ A e b ∈ B definimos o par ordenado (a, b) como sendo o conjunto
formado por
ab
(a, b) = {{a}, {a, b}} .

Neste par ordenado o elementos a e b recebem o nome de primeira e segunda coordenadas, respectivamente.
el

Obs.
• O par ordenado (a, b) pode ser visto como um subconjunto de P(A ∪ B) e é, portanto, um elemento
do conjunto P(P(A ∪ B)).
• A relação de ordem fica clara pois
{a} ⊂ {a, b}.
Em

Teorema 8.1

(a, b) = (c, d) ⇔ [(a = c) ∧ (b = d)].

Demonstração. Temos que provar o bicondicional.


• (a, b) = (c, d) ⇒ [(a = c) ∧ (b = d)] :
Se (a, b) = (c, d) temos duas posibilidades

{a} = {c} ∧ {a, b} = {c, d}

ou

{a} = {c, d} ∧ {a, b} = {c}

Se a primeira é válida temos que a = c da primeira igualdade e da segunda segue que b = d.


Se a segunda é válida temos, da primeira igualdade que a = c e a = d e da segunda que c = b e c = a.
Portanto a = c e b = d.
• [(a = c) ∧ (b = d)] ⇒ (a, b) = (c, d) : segue da definição.

54 Capítulo 8. Produto Cartesiano

Corolário 8.1 Se (a, b) = (b, a) ⇒ a = b

Demonstração. Pelo visto no teorema anterior se (a, b) = (b, a) então a = b. 

Definição 8.1 O produto cartesiano dos conjuntos A e B é o conjunto

A × B = {(a, b) ∈ P(P(A ∪ B)), a ∈ A, b ∈ B}

Quando A = B denotamos A × A por A2 .

ão
 Exemplo 8.1 • Seja A = {a, b, c} e B = {1, 2} então

A2 = {(a, a), (a, b), (a, c), (b, a), (b, b), (b, c) (c, a), (c, b), (c, c)}.

A × B = {(a, 1), (a, 2), (b, 1), (b, 2), (c, 1), (c, 2)}.


B × A = {(1, a), (2, a), (1, b), (2, b), (1, c), (2, c)}.

B2 = {(1, 1), (1, 2), (2, 1), (2, 2)}

• Seja A = R e B = N então

A2 = {(x, y), (x ∈ R) ∧ (y ∈ R)}


or
A × B = {(x, n), (x ∈ R) ∧ (n ∈ N)}
ab
B × A = {(n, x), (x ∈ R) ∧ (n ∈ N)}
B2 = {(n, m), (n ∈ N) ∧ (m ∈ N)}

el

Vimos como representar os elementos de um conjunto A. Para representar gráficamente os elementos de um


produto cartesiano A × B se utilizam, geralemente dois eixos, perpendiculares, um para o eixo A e outro para o B.
Os elementos (a, b) são os pontos dentro do quadrado do desenho
Em

Teorema 8.2 Sejam A, B e C conjuntos


• A × B = 0/ ⇔ [A = 0/ ∨ B = 0].
/
• A × (B ∪C) = (A × B) ∪ (A ×C)
• A × (B ∩C) = (A × B) ∩ (A ×C)
55

• A × (B\C) = (A × B)\(A ×C)

Obs. Utilizando a equivalência da contrapositiva, podemos ver que,


P⇔Q = (P ⇒ Q) ∧ (Q ⇒ P)
= (¬Q ⇒ ¬P) ∧ (¬P ⇒ ¬Q)
= (¬P ⇒ ¬Q) ∧ (¬Q ⇒ ¬P)
= ¬P ⇔ ¬Q.

ão
Demonstração. • Mostramos a proposição equivalente: A × B 6= 0/ ⇔ A 6= 0/ ∧ B 6= 0./
Primeiramente observamos que se A 6= 0/ e B 6= 0/ então A ∪ B 6= 0/ e existem a ∈ A e b ∈ B. Do axioma do
par e da união {a} e {a, b} são subconjuntos de A ∪ B de onde


(a, b) = {{a}, {a, b}} ∈ P(P(A ∪ B)).

Portanto A × B 6= 0.
/ Agora,
A × B 6= 0/ ⇔ ∃ (a, b) ∈ A × B
⇔ ∃ a ∈ A∧∃ b ∈ B
⇔ A 6= 0/ ∧ B 6= 0.
• A × (B ∪C) = (A × B) ∪ (B ×C):
/
or
ab
(a, b) ∈ A × (B ∪C) ⇔ (a ∈ A) ∧ (b ∈ B ∪C)
⇔ (a ∈ A) ∧ [(b ∈ B) ∨ (b ∈ C)]
⇔ [(a ∈ A) ∧ (b ∈ B)] ∨ [(a ∈ A) ∧ (b ∈ C)]
⇔ [(a, b) ∈ A × B] ∨ [(a, b) ∈ A ×C]
el

⇔ (a, b) ∈ (A × B) ∪ (A ×C).
• A × (B ∩C) = (A × B) ∩ (B ×C):
(a, b) ∈ A × (B ∩C) ⇔ (a ∈ A) ∧ (b ∈ B ∩C)
⇔ (a ∈ A) ∧ [(b ∈ B) ∧ (b ∈ C)]
⇔ (a ∈ A) ∧ (a ∈ A) ∧ [(b ∈ B) ∧ (b ∈ C)]
Em

⇔ [(a ∈ A) ∧ (b ∈ B)] ∧ [(a ∈ A) ∧ (b ∈ C)]


⇔ [(a, b) ∈ A × B] ∧ [(a, b) ∈ A ×C]
⇔ (a, b) ∈ (A × B) ∩ (A ×C).
• A × (B\C) = (A × B)\(A ×C) :
(a, b) ∈ A × (B\C) ⇔ (a ∈ A) ∧ (b ∈ B\C)
⇔ (a ∈ A) ∧ [(b ∈ B) ∧ ¬(b ∈ C)]
⇔ (a ∈ A) ∧ (a ∈ A) ∧ [(b ∈ B) ∧ ¬(b ∈ C)]
⇔ [(a ∈ A) ∧ (b ∈ B)] ∧ [(a ∈ A) ∧ ¬(b ∈ C)]
⇔ [(a, b) ∈ A × B] ∧ ¬[(a, b) ∈ A ×C]
⇔ (a, b) ∈ (A × B)\(A ×C).


Observamos que, utilizando o produto cartesiano, podemos fazer as seguintes reduções.

Corolário 8.2 Sejam (U, P(x)) e (U, Q(x)) funções proposicionais. Então
• ∀ x ∈ A, ∀ y ∈ B, P(x, y) = ∀(x, y) ∈ A × B, P(x, y).
• ∃ x ∈ A, ∃ y ∈ B, P(x, y) = ∃ (x, y) ∈ A × B, P(x, y).
56 Capítulo 8. Produto Cartesiano

Demonstração. Se, para todo (a, b) ∈ A × B temos que P(a, b) é verdadeira então seja a ∈ A e b ∈ B temos que
(a, b) ∈ A × B e, portanto, P(a, b) é verdadeira. De onde para todo a ∈ A e para todo b ∈ B temos que P(a, b) é
verdadeira.
Por outro lado, para todo a ∈ A e para todo b ∈ B temos que P(a, b) é verdadeira então dado (a, b) ∈ A × B
temos que, como a ∈ A e b ∈ B, P(a, b) é verdadeira, de onde para todo (a, b) ∈ A × B temos que P(a, b) é
verdadeira.
Para provar a segunda identidade utilizamos que a primeira junto com a negação de quantificadores.
∃ x ∈ A, ∃ y ∈ B, P(x, y) = ¬[¬(∃ x ∈ A, ∃ y ∈ B, P(x, y))]

ão
= ¬[ ∀ x ∈ A, ¬( ∃ y ∈ B, P(x, y))]
= ¬[ ∀ x ∈ A, ∀ y ∈ B, ¬(P(x, y))]
= ¬[ ∀ (x, y) ∈ A × B, ¬(P(x, y))]
= ∃ (x, y) ∈ A × B, ¬[¬(P(x, y))]


= ∃ (x, y) ∈ A × B, P(x, y).


or
ab
el
Em
ão
9. Familia de conjuntos


or
Considere uma familia de conjuntos em um universo U dada por
ab
F = {Ai , i ∈ I} ⊂ P(U),

para I um conjunto de índices.


Dizemos que a familia é finita se I for um subconjunto finito do conjunto dos números naturais e, neste caso,
el

podemos também escrever por extenso, isto é

F = {A1 , . . . , An0 }.
Em

Definição 9.1 Seja F = {Ai , i ∈ I} uma familia de conjuntos de um universo U. Definimos


• a união da familia como sendo o conjunto

∪i∈I Ai = {x ∈ U, ∃ i ∈ I, x ∈ Ai }

• a interseção da familia como sendo o conjunto

∩i∈I Ai = {x ∈ U, x ∈ Ai ∀ i ∈ I}

Teorema 9.1 Seja F = {Ai , i ∈ I} uma familia de conjuntos de um universo U. Uma familia de conjuntos.
Então
• Ak ⊂ ∪i∈I Ai , ∀k ∈ I
• ∩i∈I Ai ⊂ Ak , ∀k ∈ I
• (∪i∈I Ai )C = ∩i∈I ACi
• (∩i∈I Ai )C = ∪i∈I ACi

Demonstração. • Se x ∈ Ak então existe k ∈ I tal que x ∈ Ak , portanto x ∈ ∪i∈I Ai . Logo Ak ⊂ ∪i∈I Ai , ∀ k ∈ I.


• Se x ∈ ∩i∈I Ai então x ∈ Ai para todo i ∈ I, portanto x ∈ Ak , ∀k ∈ I.
58 Capítulo 9. Familia de conjuntos

• Observamos que
x ∈ (∪i∈I Ai )C ⇔ ¬ (x ∈ ∪i∈I Ai , )
⇔ ¬ (∃i ∈ I, x ∈ Ai , )
⇔ ∀i ∈ I, ¬ (x ∈ Ai )
⇔ ∀i ∈ I, x ∈ ACi
⇔ ∀i ∈ ∩i∈I ACi .
Logo

(∪i∈I Ai )C = ∩i∈I ACi .

ão
• Observamos que
x ∈ (∩i∈I Ai )C ⇔ ¬ (x ∈ ∩i∈I Ai , )
⇔ ¬ (∀i ∈ I, x ∈ Ai , )


⇔ ∃i ∈ I, ¬ (x ∈ Ai )
⇔ ∃i ∈ I, x ∈ ACi
⇔ ∀i ∈ ∪i∈I ACi .
Logo

(∩i∈I Ai )C = ∪i∈I ACi .


or 

Definição 9.2 Seja X um conjunto e F = {Ai , i ∈ I} uma familia de subconjuntos de X. Dizemos que F é
ab
uma partição de X se
• Ai 6= 0/ para todo i ∈ I
• Ai ∩ A j = 0/ para todo i, j tais que i 6= j.
• X = ∪i∈I Ai .
el

Gráficamente uma partição F = {Ai , i ∈ I} de um conjunto A pode ser representada por


Em

Se temos uma familia de conjuntos não vazios F = {Ai , i ∈ I} tais que Ai ∩ A j = 0/ para i 6= j então podemos
formar o conjunto
[
A= Ai .
i∈I

Neste caso, de forma natural, F é uma partição de A. Gráficamente


59

 Exemplo 9.1 • Se X = N então a familia F = {A1 , A2 } em que

A1 = {n ∈ N, n é par} A2 = {n ∈ N, n é ímpar},

é uma partição.
• Se X = {a, b, c, d, e, g, f , h} então a familia F = {A1 , A2 , A3 , A4 } em que

A1 = {a, b, c} A2 = {d} A3 = {e, h} A4 = {g, h} A5 = { f },

ão
é uma partição.
Se X = R então a familia F = {Cn , n ∈ N} em que

Cn = {x ∈ R, n ≤ |x| < n + 1}.


é uma partição. 

Seja F = {Ai , i ∈ I} uma familia finita para I = {1, · · · , n}. Definimos o produto cartesiano

X = A1 × · · · × An

pelo processo a seguir:


• para n = 2 temos definido A1 × A2 .
• conhecido A1 × · · · × Ak para k ≥ 2 temos que
or
ab
A1 × · · · × Ak × Ak+1 = (A1 × · · · × Ak ) × Ak+1 .

O processo acima conclui em k = n. Como notação, temos que os elementos do produto A1 × · · · × Ak × Ak+1
são escritos
el

((a1 , . . . , ak ), ak+1 ) = (a1 , . . . , ak , ak+1 ).

No caso em que todos os conjuntos que são membros da familia F sejam iguais, isto é,

F = {Ai , i ∈ I} com Ai = A, ∀ i ∈ I = {1, · · · , n},


Em

denotamos
n vezes
z }| {
n
A = A×···×A.

Obs. Se a familia de conjuntos for finita, isto é for da forma F = {A1 , . . . , An } então se todos os Ai 6= 0/ então
podemos aplicar o axioma da união e do par n vezes e assim provar a existência das n−uplas (a1 , . . . , an ).
De onde A1 × · · · × An 6= 0.
/ Isto pode ser feito para todo n ∈ N aplicando o proceso de indução.

Obs. De modo geral, para uma familia arbitrária de conjuntos F = {Ai , i ∈ I} o produto cartesiano pode ser
definido como sendo uma familia de funções

∏ Ai = { f : I ⇒ ∪i∈I Ai , f (i) ∈ Ai }.
i∈I

Se a familia for finita isto é I = {1, . . . , n} para n ∈ N veremos (quando vejamos funções bijetoras) que o
produto cartesiano assim definido é de certa igual ao conjunto definido acima.
60 Capítulo 9. Familia de conjuntos

 Exemplo 9.2 Considere a familia F = {A1 , A2 , A3 } em que

A1 = A2 = A3 = {a, b} = A

Então

A2 = A1 × A2 = {(a, a), (a, b), (b, a), (b, b)}

ão
A3 = A1 × A2 × A3
= {((a, a), a), ((a, b), a), ((b, a), a), ((b, b), a), ((a, a), b), ((a, b), b), ((b, a), b), ((b, b), b)}
= {(a, a, a), (a, b, a), (b, a, a), (b, b, a), (a, a, b), (a, b, b), (b, a, b), (b, b, b)}.


or
ab
el
Em
ão
10. Relações


or
Dados A e B dois conjuntos quaisquer, estudamos formas de corresponder elementos de A com elementos de B.
Tais correspondências deve conter a informação dos dois elementos então o lugar mais natural para começar
ab
esse estudo é no produto cartesiano A × B.
Definição 10.1 Sejam A e B dois conjuntos.
• Uma relação de A em B é um subconjunto R do produto cartesiano A × B, isto é R ⊂ A × B.
• Neste caso, o conjunto A é dito conjunto de partida da relação e o conjunto B é dito conjunto de chegada
el

da relação.
• Dizemos que a ∈ A está relacionado com b ∈ B, e o denotamos por aRb ou a ∼ b, se (a, b) ∈ R.
• No caso em que A = B dizemos que R é uma relação em A.
Em

Obs.
• Como vimos na definição, uma relação de A em B é um subconjunto R do produto cartesiano A × B,
portanto uma relação pode ser visto como um elemento do conjunto de partes P(A × B).
• Em particular a relação correspondente a 0/ ⊂ A × B é conhecida como relação nula.

 Exemplo 10.1 • Seja A é o conjunto formado por um proposições {P1 , . . . , Pn } e de todas aquelas forma-
das a partir de conjunções, negações e disjunções de um número finito delas. Definimos a relação

R = {(P, Q) ∈ A2 , P ⇒ Q é verdadeira}.

• Seja A = {subconjuntos de um conjunto U } e W ⊂ A2 um subcojunto qualquer. Definimos a relação

R = {(U,V ) ∈ A2 , U ×V ⊂ W }.

• Sejam A = Z e B = R. Definimos a relação

R = {(n, x) ∈ Z × R, (2 · x = n) ∧ (−5 ≤ n ≤ 5)} ⊂ Z × R.

Gráficamente, a relação é o conjunto de pontos que está em vermelho.


62 Capítulo 10. Relações

ão
• Sejam A = R e B = R. Definimos a relação

R = {(x, y) ∈ R × R, x2 + 2 · y2 = 1} ⊂ R × R.


Gráficamente, a relação é o conjunto de pontos que está em vermelho.

or
ab
el

Definição 10.2 Seja R ⊂ A × B uma relação de A em B.


• O domínio da relação é o conjunto

Dom(R) = {a ∈ A, ∃ b ∈ B, (a, b) ∈ R}.


Em

• A imagem da relação é o conjunto

Img(R) = {b ∈ B, ∃ a ∈ A, (a, b) ∈ R}

 Exemplo 10.2 • Seja A é o conjunto formado por um proposições {P1 , . . . , Pn } e de todas aquelas forma-
das a partir de conjunções, negações e disjunções de um número finito delas. Considere a relação

R = {(P, Q) ∈ A2 , P ⇒ Q é verdadeira}.

Então

Dom(R) = A Img(R) = A

• Seja A = {subconjuntos de um conjunto U }, W ⊂ A2 e a relação

R = {(U,V ) ∈ A2 , U ×V ⊂ W }.

Então

Dom(R) = {U ∈ A, ∃ W ∈ A, (U,V ) ∈ R}, Img(R) = {V ∈ A, ∃ U ∈ A, (U,V ) ∈ R}


63

• Sejam A = Z, B = R e a relação

R = {(n, x) ∈ Z × R, (2x = n) ∧ (−5 ≤ n ≤ 5)} ⊂ Z × R.

Então

Dom(R) = {−5, −4, −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, 4, 5}

Img(R) = {−2, 5, −2, −1, 5, −1, −0, 5, 0, 0, 5, 1, 1, 5, 2, 2, 5}

ão
• Sejam A = R, B = R e a relação

R = {(x, y) ∈ R × R, x2 + 2 · y2 = 1} ⊂ R × R.


Então

Dom(R) = {x ∈ R, −1 ≤ x ≤ 1}
√ √
Img(R) = {y ∈ R, −1/ 2 ≤ y ≤ 1/ 2}
or 

Uma forma de representar gráficamente as relações são os chamados diagramas sagitais. Nesta representação
os conjuntos A e B se representam como no diagrama de Venn e se utilizam setas para indicar a relação. Por
ab
exemplo, se

A = {a, b, c, d, e, f } e B = {1, 2, 3, 4, 5},

e R é a relação
el

R = {(a, 1), (a, 3), (d, 2), (e, 5), ( f , 5)}

tem
Em

Dom(R) = {a, d, e, f } e Img(R) = {1, 2, 3, 5}

é representada gráficamente, por

Podemos construir relações a partir de relações já conhecidas. Para isto assuma que temos
• uma familia de conjuntos não vazios F = {Ai , i ∈ I} tais que Ai ∩ A j 6= 0/
• mm conjunto não vazio B
• relações Ri ⊂ Ai × B.
64 Capítulo 10. Relações

Construimos a relação R ⊂ A × B para


[
A= Ai
i∈I

como sendo

R = {(a, b), ∃ i ∈ I, (a, b) ∈ Ai } ⊂ A × B.

Gráficamente

ão

or
ab
Obs. Observamos que algo similar pode ser feito no caso em que F é uma partição de um conjunto A.
el

 Exemplo 10.3 Considere F = {(−∞, 0), [0, 1], (1, 2), {2}, (2, +∞)} e as relações

R1 = {(x, y) ∈ (−∞, 0) × R, y = 2 · x}

R2 = {(x, y) ∈ [0, 1] × R, y = x2 }
Em

R3 = {(x, y) ∈ (1, 2) × R, y = sin(πx/2)}


R4 = {(2, 0)} ⊂ {2} × R
R5 = {(x, y) ∈ (2, +∞) × R, y = 2 − x}
Então, definimos a relação em

A = (−∞, 0) ∪ [0, 1] ∪ (1, 2) ∪ {2} ∪ (2, +∞) = R


  
  y = 2·x se (−∞, 0) 
2
  
y=x se x ∈ [0, 1]

 
 

  
R = (x, y) ∈ R × R, y = sin(πx/2) se x ∈ (1, 2)
y=0 se x=0

 
 


 
 

y = 2−x se x ∈ (2, +∞)
  

Definição 10.3 Seja R ⊂ A × B uma relação de A em B. A relação inversa, que denotamos por R−1 , é a
relação de B em A definida por

R−1 = {(b, a) ∈ B × A, (a, b) ∈ R}


65

Lema 10.1 Seja R ⊂ A × B uma relação de A em B então


• Dom(R−1 ) = Img(R)
• Img(R−1 ) = Dom(R)
Em representação sagital, podemos ver que se

A = {a, b, c, d, e, f } e B = {1, 2, 3, 4, 5},

e R é a relação

ão
R = {(a, 1), (a, 3), (d, 2), (e, 5), ( f , 5)}

então


R−1 = {(1, a), (3, a), (2, d), (5, e), (5, f )}

or
ab
 Exemplo 10.4 • Seja A é o conjunto formado por um proposições {P1 , . . . , Pn } e de todas aquelas forma-
el

das a partir de conjunções, negações e disjunções de um número finito delas. Considere

R = {(P, Q) ∈ A2 , P ⇒ Q é verdadeira}.

Então
Em

R−1 = {(Q, P) ∈ A2 , P ⇒ Q é verdadeira}

• Seja A = {subconjuntos de um conjunto U }, e W ⊂ A2 um subcojunto e a relação

R = {(U,V ) ∈ A2 , U ×V ⊂ W }.

Então

R−1 = {(V,U) ∈ A2 , U ×V ⊂ W }.

• Sejam A = Z, B = R e a relação

R = {(n, x) ∈ Z × R, (2 · x = n) ∧ (−5 ≤ n ≤ 5)} ⊂ Z × R.

Então

R−1 = {(x, n)) ∈ R × Z, (2 · x = n) ∧ (−5 ≤ n ≤ 5)}.

Gráficamente podemos representar a relação inversa como os pontos em vermelho


66 Capítulo 10. Relações

ão
• Sejam A = R, B = R e a relação
R = {(x, y) ∈ R × R, x2 + 2 · y2 = 1} ⊂ R × R.


Então
R−1 = {(y, x) ∈ R × R, x2 + 2 · y2 = 1} ⊂ R × R.
Gráficamente podemos representar a relação inversa como os pontos em vermelho

or
ab
el

Teorema 10.1 Seja R ⊂ A × B uma relação de A em B. Então (R−1 )−1 = R.

Demonstração. Observamos que


Em

(a, b) ∈ (R−1 )−1 ⇔ (b, a) ∈ R−1


⇔ (a, b) ∈ R.
Portanto os conjuntos são iguais, de onde (R−1 )−1 = R. 

 Exemplo 10.5 Sejam A = N, B = Z e C = R e as relações

R = {(n, m) ∈ N × Z, −2n = m},


e
S = {(x, y) ∈ Z × R, x2 = y}
Construimos o conjunto
T = {(n, y) ∈ N × R, ∃ m ∈ Z, [(−2n = m) ∧ (m2 = y)]}.
que representa uma relação em N × R. Observamos que
T = {(n, y) ∈ N × R, ∃ m ∈ Z, [(n, m) ∈ R ∧ (m, y) ∈ T ]}

67
Definição 10.4 Seja R uma relação de A em B e S uma relação de B em C. A relação composta de R com S
é a relação de A em C , que denotamos por S ◦ R, e é dada por

S ◦ R = {(a, c) ∈ A ×C, ∃ b ∈ B, (a, b) ∈ R ∧ (b, c) ∈ S}

Em forma gráfica, podemos fazer

ão

que nos dá uma relação

or
ab
el

Corolário 10.1 Seja R uma relação de A em B e R−1 a relação inversa, então

R ◦ R−1 = IB (R) R−1 ◦ R = IA (R)

onde
Em

IA (R) = {(a, a0 ) ∈ A × A, ∃ b ∈ B, (a, b) ∈ R ∧ (a0 , b) ∈ R}

IB (R) = {(b, b0 ) ∈ B × B, ∃ a ∈ A, (a, b) ∈ R ∧ (a, b0 ) ∈ R}

Demonstração. Seguem de observar que


(a, a0 ) ∈ R−1 ◦ R ⇔ ∃ b ∈ B, (a, b) ∈ R ∧ (b, a0 ) ∈ R−1
⇔ ∃ b ∈ B, (a, b) ∈ R ∧ (a0 , b) ∈ R
⇔ (a, a0 ) ∈ IA (R).

(b, b0 ) ∈ R ◦ R−1 ⇔ ∃ a ∈ A, (a, b0 ) ∈ R ∧ (b, a) ∈ R−1


⇔ ∃ a ∈ A, (a, b0 ) ∈ R ∧ (a, b) ∈ R
⇔ (a, a0 ) ∈ IA (R).


 Exemplo 10.6 • Sejam A = Z, B = N e C = R

R = {(x, y) ∈ Z × N, y = x2 } ⊂ A × B S = {(x, y) ∈ N × R, y = ex } ⊂ B ×C.


68 Capítulo 10. Relações

Então um elemento (x, y) de S ◦ R precisa da existência de um z ∈ N tal que


(x, z) ∈ R ∧ (z, y) ∈ S ⇔ (z = x2 ) ∧ (y = ez )
2
⇔ y = ex
De onde segue que
2
S ◦ R = {(x, y) ∈ Z × R, y = ex }

• Seja A = B = C = R e as relações

ão
R = {(x, y) ∈ N × R, y = sin(x)} ⊂ A × B S = {(x, y), y = 2 · x} ⊂ B ×C.

Então, um elemento (x, y) de S ◦ R precisa da existência de um z ∈ R tal que


(x, z) ∈ R ∧ (z, y) ∈ S ⇔ (z = sin(x)) ∧ (y = 2 · z)


⇔ y = 2 · sin(x).
De onde segue que

S ◦ R = {(x, y), y = 2 · sin(x)}

existe um z ∈ R tal que


or
• Observar que, no último exemplo, S ◦ R não é necessáriamente igual a R ◦ S. De fato, se (x, y) ∈ R ◦ S então

(x, z) ∈ S ∧ (z, y) ∈ R ⇔ (z = 2 · x) ∧ (y = sin(z))


⇔ y = sin(2 · x).
ab
De onde segue que

S ◦ R = {(x, y), y = sin(2 · x))}


el

Teorema 10.2 Sejam


• R uma relação de A em B
• S uma relação de B em C, e
• T uma relação de C em D.
Em

então

T ◦ (S ◦ R) = (T ◦ S) ◦ R,

isto é, a composição é associativa.

Demonstração. Segue de observar que

(a, d) ∈ T ◦ (S ◦ R) ⇔ ∃ b ∈ B, (a, b) ∈ T ∧ [(b, d) ∈ S ◦ R]


⇔ ∃ b ∈ B, ∃ c ∈ C, (a, b) ∈ T ∧ [ (b, c) ∈ S ∧ (c, d) ∈ R]
⇔ ∃ b ∈ B, ∃ c ∈ C, [(a, b) ∈ T ∧ (b, c) ∈ S] ∧ (c, d) ∈ R]
⇔ ∃ c ∈ C, (a, c) ∈ T ◦ S ∧ (c, d) ∈ R
⇔ (a, d) ∈ (T ◦ S) ◦ R.

Teorema 10.3 Seja R uma relação de A em B e S uma relação de B em C. Então

(R ◦ S)−1 = S−1 ◦ R−1 .


69

Demonstração. Segue de observar que


(c, a) ∈ (R ◦ S)−1 ⇔ (a, c) ∈ (R ◦ S)
⇔ ∃ b ∈ B, [(a, b) ∈ R] ∧ [(b, c)) ∈ S]
⇔ ∃ b ∈ B, [(b, a) ∈ R−1 ] ∧ [(c, b)) ∈ S−1 ]
⇔ ∃ b ∈ B, [(c, b)) ∈ S−1 ] ∧ [(b, a) ∈ R−1 ]
⇔ (c, a) ∈ S−1 ◦ R−1 .


ão
 Exemplo 10.7 • Sejam A = Z, B = N e C = R

R = {(x, y) ∈ Z × N, y = x2 } ⊂ A × B S = {(x, y) ∈ Z × R, y = ex } ⊂ B ×C.

Então um elemento (x, y) de (S ◦ R)−1 precisa da existência de um z ∈ N tal que


(x, z) ∈ S−1 ∧ (z, y) ∈ R−1 ⇔ (z, x) ∈ S ∧ (y, z) ∈ R
⇔ (x = ez ) ∧ (z = y2 )

⇔ (z = ln(x)) ∧ ( z = y)
p
⇔ y = ln(x).
De onde segue que

(S ◦ R)−1 = {(x, y) ∈ R × Z, y =
p
or
ln(x)}

• Seja A = B = C = R e as relações
ab
R = {(x, y) ∈ R × R, y = sin(x)} ⊂ A × B

e
el

S = {(x, y) ∈ R × R, y = 2 · x} ⊂ B ×C.

Então um elemento (x, y) de (S ◦ R)−1 precisa da existência de um z ∈ R tal que


(x, z) ∈ S−1 ∧ (z, y) ∈ R−1 ⇔ (z, x) ∈ S ∧ (y, z) ∈ R
⇔ (x = 2 · z) ∧ (z = sin(y))
Em

⇔ x = 2 sin(y).
De onde segue que

(S ◦ R)−1 = {(x, y) ∈ R × R, x = 2 · sin(y)}

Definição 10.5 Seja R uma relação em A. Dizemos que


• a relação R é reflexiva se, e somente se, ∀ x ∈ A, (x, x) ∈ R, (denotamos ∀ x ∈ A, x ∼ x),
• a relação R é simétrica se, e somente se, ∀ x ∈ A, ∀ y ∈ A, (x, y) ∈ R ⇒ (y, x) ∈ R, (denotamos
x ∼ y ⇒ y ∼ x),
• a relação R é antisimétrica se, e somente se, ∀ x ∈ A, ∀ y ∈ A, [(x, y) ∈ R ∧ (y, x) ∈ R] ⇒ x = y,
(denotamos x ∼ y ⇒ y ∼ x),
• a relação R é transitiva se, e somente se, ∀ x ∈ A, ∀ y ∈ A∀ z ∈ A, [(x, y) ∈ R ∧ (y, z) ∈ R] ⇒ (x, z) ∈ R,
(denotamos x ∼ y ∧ y ∼ z ⇒ a ∼ z.),

 Exemplo 10.8 • Seja A = {1, 2} e considere as relações

R1 = {(1, 2)} ⊂ A2 , R2 = {(1, 1)} R3 = {(1, 2), (2, 1)}

Observamos que
70 Capítulo 10. Relações

– Nenhuma é reflexiva, de fato 2 ∈ A e (2, 2) não está em Ri para i = 1, 2, 3


– R2 e R3 são simétricas: R2 segue pois o único elemento é o (1, 1). No caso de R2 temos que
[(1, 2) ∈ R2 ⇒ (2, 1) ∈ R2 ] ∧ [(2, 1) ∈ R2 ⇒ (1, 2) ∈ R2 ].
A relação R1 não é simétrica pois (1, 2) ∈ R1 mas (2, 1) 6∈ R1
– R1 e R2 são antisimétricas. De fato, no caso de R1 pois o único elemento é (1, 2) de onde a condição
de antisimetria se cumple. No caso de R2 temos (1 ∼ 1) ∧ (1 ∼ 1) ⇒ 1 = 1.
A relação R3 não é antisimétrica pois

ão
(1, 2) ∈ R3 ∧ (2, 1) ∈ R3 ,
no entanto, 2 6= 1.
– Não é possível encontrar ternas de (a, b) ∈ Ri ∧ (b, c) ∈ Ri ∧ (a, c) 6∈ Ri para todo i = 1, 2, 3 então as
três relações são transitivas.
• Considere em A = {a, b, c} a relação


R = {(1, 2), (2, 1), (2, 3)}
– R não é reflexiva, pois 2 ∈ A mas (2, 2) 6∈ R,
– R não é simétrica pois (2, 3) ∈ R mas (3, 2) 6∈ R,
or
– R não é antisimétrica pois (1, 2) ∈ R e (2, 1) ∈ R mas 1 6= 2.
– R não é transitiva pois (1, 2) ∈ R e (2, 3) ∈ R mas (1, 3) 6∈ R.
• Seja U = {(a, b) ⊂ R, a < b} e defina
R = {(A, B) ∈ U 2 , A ⊂ B}
ab
– a relação R é reflexiva pois, para todo A ∈ U temos A ⊂ A de onde (A, A) ∈ R.
– a relação R é antisimétrica pois, ∀A ∈ U, ∀B ∈ U, (A, B) ∈ R e (B, A) ∈ R então A = B
– a relação R é transitiva pois se ∀A ∈ U, ∀B ∈ U, (A, B) ∈ R e (B,C) ∈ R implica A ⊂ B ⊂ C de onde
A ⊂ C e (A,C) ∈ R.
• Seja p ∈ N um número diferente de 0. Defina
el

R = {(a, b) ∈ Z2 , a, b tem o mesmo resto na divisão por p}


– a relação R é reflexiva pois, para todo a ∈ Z temos que a tem o mesmo resto que b na divisão por p,
de onde (a, a) ∈ R.
– a relação R é simétrica pois, para todo a, b ∈ Z temos que se a tem o mesmo resto na divisão por p
Em

que b, isto é (a, b) ∈ R, então b tem o mesmo resto na divisão por p que a, de onde (b, a) ∈ R.
– a relação R é transitiva pois se para a, b, c ∈ Z temos que a tem o mesmo resto na divisão por p que
b, isto é (a, b) ∈ R, e b tem o mesmo resto na divisão por p que c, isto é (b, c) ∈ R, então a tem o
mesmo resto na divisão por p que c de onde (a, c) ∈ R.


Definição 10.6 Seja R uma relação em A. A relação R é dita de equivalência se ela for reflexiva, simétrica e
transitiva.
Se a ∈ A definimos a clase de equivalência do elemento a como sendo o conjunto

[a] = {a0 ∈ A, (a, a0 ) ∈ R} = {a0 ∈ A, a ∼ a0 }.

 Exemplo 10.9 •
• Seja A um conjunto e considere uma partição de A dada por
P = {Ai , i ∈ I}
Definimos a relação R por
a ∼ b ⇔ ∃ i ∈ I, (a ∈ Ai ) ∧ (b ∈ Ai ).
vamos ver que esta relação é de equivalência. De fato:
71

– É reflexiva pois para todo a ∈ A existe um i ∈ I tal que a ∈ Ai . Portanto a ∈ Ai e a ∈ Ai de onde


a ∼ a.
– É simétrica pois para todo a, b ∈ A se a ∼ b então existe um i ∈ I tal que a ∈ Ai ∧ b ∈ Ai , isto é,
b ∈ Ai ∧ a ∈ Ai , de onde b ∼ a.
– É transitiva pois se a, b ∈ A tal que a ∼ b e b ∼ c então temos que existem i, j ∈ I tais que

a ∈ Ai ∧ b ∈ Ai e (b ∈ A j ) ∧ (c ∈ A j )

portanto b ∈ A j ∩ Ai . Como P é partição, temos que i = j de onde c ∈ Ai e, portanto, a ∼ c.

ão


Proposição 10.1 Seja R uma relação de equivalência em A. Então


a) a ∈ [a] para todo a ∈ A.
b) para todo a, b ∈ A temos a ∼ b se, e somente se, [a] = [b].
c) para todo a, b ∈ A temos [a] ∩ [b] 6= 0/ ⇒ [a] = [b]


d) A = ∪a∈A [a].
Em particular, a familia formada por todas as classes de equivalência formam uma partição de A. Denotamos,
por abuso de notação, esta familia por

U = {[a], a ∈ A}.

Demonstração.
or
a) Como a relação é simétrica a ∼ a para todo a ∈ A. De onde a ∈ [a] para todo a ∈ A.
b) Dados a, b ∈ A, se a ∼ b então para todo a0 ∈ [a] temos que a0 ∼ a e a ∼ b. Pela transitividade da relação
temos que a0 ∼ b e, portanto a0 ∈ [b]. Temos assim que [a] ⊂ [b]. De forma similar se prova que [b] ⊂ [a]
ab
e portanto [a] = [b].
Por outro lado se [a] = [b] então a ∈ [b] e, portanto, a ∼ b.
c) Seja c ∈ [a] ∩ [b] então c ∼ a e c ∼ b. Por transitividade temos então que a ∼ b. O resultado decorre agora
do item anterior .
d) Claramente ∪a∈A [a] ⊂ A. Se a ∈ A então, pelo item a) vemos que a ∈ [a] e portanto a ∈ ∪a∈A [a]. Da
el

arbitráriedade do a escolhido temos que A ⊂ ∪a∈A [a] e portanto vale a igualdade.


A afirmação segue dos itens acima, de fato observamos que os elementos de duas clases de equivalência
diferentes são disjuntos, cada elemento da familia é não vazio e, por último, a união de todas as clases de
equivalência é o espaço todo. 
Em

Obs. Considere uma relação de equivalência R sobre um conjunto A.


• Há, em virtude do teorema anterior, uma equivalência entre partições de um conjunto e relações de
equivalências.
• Cada classe de equivalência é um subconjunto de A e portanto um elemento do conjunto de partes de
A, P(A).

Definição 10.7 Considere uma relação de equivalência R sobre um conjunto A. Seja F a partição de A dada
pela relação de equivalência R e, na qual, cada conjunto corresponde a uma classe de equivalência. Definimos
o conjunto quociente A/ ∼ como o conjunto que tem por elementos as classes de equivalências. Por abuso de
notação,

A/ ∼= {[a], a ∈ A} ⊂ P(A).

 Exemplo 10.10 • Seja p 6= 0 um número natural e considere

R = {(a, b) ∈ Z2 , a, b tem o mesmo resto na divisão por p}

Pelo que vimos anteriormente que a relação é de equivalência. O conjunto quociente

Z p = Z/ ∼ .
72 Capítulo 10. Relações

temos então as seguintes classes


[0] = {a ∈ Z, p|a}
[1] = {a ∈ Z, ∃ q ∈ Z, a = q · p + 1, }
.. ..
. .
[p − 1] = {a ∈ Z, ∃ q ∈ Z, a = q · p + (p − 1)}

• Seja U = {Triângulos em R2 } e definimos a relação

ão
R = {(A, B) ∈ U 2 , A tem a mesma área que B}

Claramente
– ∀ A ∈ U, (A, A) ∈ R
– (A, B) ∈ R ⇒ (B, A) ∈ R


– [(A, B) ∈ R ∧ (B,C) ∈ R] ⇒ (A,C) ∈ R.
o quociente é T / ∼ está formado pelas classes

[Ar ] = {A ∈ T, Área(A) = r}, ∀ r ∈ R>0 .

em que or
Ar = triângulo com vértices em V1 = (0, 0), V2 = (0, 2), V3 = (r, 0).
ab


Definição 10.8 Seja R uma relação em A. Dizemos que R é uma relação de ordem (ou de ordem parcial), e
a denotamos por a ≺ b quando (a, b) ∈ R, se ela for reflexiva, antisimétrica e transitiva.
Neste caso dizemos que o par (A, ≺) é um conjunto ordenado. Mais ainda se a e b são dois elementos
distintos de A e são tais que a ≺ b então dizemos que b é consecutivo de a.
el

Obs. As relações de ordem parcial é uma generalização da "inclusão"para conjuntos e do "menor ou igual"para
números.
Em

 Exemplo 10.11 • Em N a relação

a ≤ b se, e somente se [(a < b) ∨ (a = b)]

é uma relação de ordem parcial. De fato ela é


– reflexiva: para todo a ∈ N temos a ≤ a.
– antisimétrica: Para todo a, b ∈ N, se a ≤ b e b ≤ a então a = b.
– transitiva: para todo a, b, c ∈ N, e a ≤ b e b ≤ c então a ≤ c.
• Seja U um conjunto então considere a relação em P(U) dada por

R = {(A, B) ∈ P(U)2 , A ⊂ B},

é uma relação de ordem parcial. De fato ela é


– reflexiva: para todo A ∈ P(U) temos A ⊂ A.
– antisimétrica: para todo A, B ∈ P(U) e A ⊂ B e B ⊂ A então A = B.
– transitiva: para todo A, B, C ∈ P(U) se A ⊂ B e B ⊂ C então A ⊂ C.
• A relação em Z dada por

R = {(p, q) ∈ Z2 , p divide a q} ⊂ Z2 ,

é uma relação de ordem parcial. De fato ela é


73

– reflexiva: para todo p ∈ Z temos p divide a p.


– antisimétrica: para todo p, q, r ∈ Z, se p divide a q e q divide a p então p = q.
– transitiva: para todo p, q, r ∈ Z, se p divide a q e q divide a r então p divide a r.
• Considere U = {palavras de um idioma}. Nesse conjunto podemos definir uma relação de equivalência
(deixamos para o leitor verificar que é de equivalência)

a1 . . . am ∼ b1 . . . bm ⇔ a1 = b1

Então dividimos as palavras em classes. Cada classe contem as palavras que começam com a mesma letra,

ão
isto é, por exemplo
[a] = {palavras que começam com a}
[b] = {palavras que começam com b}
.. ..
. .


[z] = {palavras que começam com z}
Então, por exemplo para o idioma português.

U/ ∼= {[a], [b], · · · , [z]}

Também em U podemos definir a ordem dada pela ordem lexicográfica, esta relação é uma relação de
or
ordem. Esta ordem precisa primeiro de um ordenamento das letras do alfabeto para depois induzir a ordem
nas palavras. Neste caso temos a ordem em que está o diccionário.

ab
Definição 10.9 Seja (A, ≺) um conjunto ordenado.
• Dois elementos a, b de A são comparáveis se

P = (a ≺ b) ∨ (b ≺ a)

for verdadeira. Caso contrário, os elementos a, b são ditos incomparáveis.


el

• A relação de ordem ≺ é dita uma relação de ordem total se

∀ a ∈ A ∀ b ∈ A, [a 6= b ⇒ (a ≺ b) ∨ (b ≺ a)]

é verdadeira. Caso contrário, a relação será chamada de ordem parcial.


Em

 Exemplo 10.12 • Em U = N, R a relação

R = {(a, b) ∈ N2 , a ≤ b}

é uma relação de ordem total. Isto será mostrado depois.


• Seja U = P({a, b}) um conjunto então considere a relação em P(U) dada por

R = {(A, B) ∈ P(U)2 , A ⊂ B},

é uma relação de ordem parcial que não é total pois há conjuntos que não são comparáveis, por exemplo
A = {a} e B = {b} .


Definição 10.10 • Um conjunto (A, ≺) é dito bem ordenado se (A, ≺) é um conjunto totalmente orde-
nado para o qual todo subconjunto não vazio tem elemento mínimo, isto é, para todo B ⊂ X existe
b ∈ B tal que b ≤ c para todo c ∈ B.
• Um conjunto que admite uma relação de ordem para a qual é bem ordenado é dito um conjunto que
admite uma boa ordenação.

Um fato surpreendente é o seguinte resultado que é equivalente ao axioma da escolha:


74 Capítulo 10. Relações

Teorema 10.4 Todo conjunto admite uma boa ordenação.

Obs. Como consequência disto é que: Existe uma boa ordem para os números reais. O problema é que não se
sabe qual é essa ordem.

ão

or
ab
el
Em
ão
11. Funções


or
Passamos a estudar o conceito de função. Éste é um dos conceitos fundamentais da matemática e que aparece
em cada uma de suas áreas. Começamos com a sua definição.
ab
Definição 11.1 Sejam A e B dois conjuntos. Uma função f de A em B, que denotamos por f : A → B é uma
relação f ⊂ A × B que satisfaz
• Dom( f ) = A
• ∀ x ∈ A, ∀ y, ∀ z ∈ B, [(x, y) ∈ f ∧ (x, z) ∈ f ] ⇒ (y = z).
el

Obs. A definição garante


• Cada elemento do domínio da relação tem uma única imagem, isto é, se (x, y) ∈ f então y é o único
elemento de B tal que (x, y) ∈ f . É por isto que escrevemos
Em

f (x) = y

• A relação nula associada a 0/ é uma função pois podemos ver 0/ = A × 0. / Portanto o domínio é A e a
segunda condição é satisfeita naturalmente pois, por equivalência da contrapositiva ∀ x ∈ A, ∀ y, ∀ z ∈
B,

y 6= z ⇒ [(x, y) 6∈ f ∨ (x, z) 6∈ f ].

• Há relaçoes que não são funções. Por exemplo, a relação dada pelo círculo S1 ⊂ R2 .

não é função. De fato, para x1 temos que há dois pontos y1 e y2 tais que (x1 , y1 ) e (x2 , y2 ) estão na
relação.
76 Capítulo 11. Funções

Podemos representar a função f : A → B para A = {a, b, c, d, e, f } e B = {1, 2, 3, 4, 5} com diagramas


sagitais como segue

ão
Observamos que de cada elemento do domínio sai uma única seta.
Estabelecemos a seguinte equivalência entre funções.


Definição 11.2 Duas funções f , g : A → B são iguais se f (a) = g(a) para todo a ∈ A.

 Exemplo 11.1 • Seja f : A → B e b0 ∈ B. A função tal que f (a) = b0 para todo a ∈ A é chamada de
função constante.
• Seja f : A → A dada por f (a) = a para todo a ∈ A. Esta função é conhecida como função identidade e a
denotamos por IA : A → A.

χA0 (a) =
1 se a ∈ A0
0 se a 6∈ A0
.
or
• Seja A0 ⊂ A. Definimos a função característica χA0 : A → N por

ab


Vamos a mostrar agora duas formas diferentes de contruir funções a partir de funções conhecidas.
• Restrição de uma função: Dada f : A → B uma função e A0 ⊂ A definimos a função f |A0 : A0 → B por
f |A0 (a) = f (a).
el

Claramente Dom( f |A0 ) = A0 e se


(x, y), (x, z) ∈ f |A0
então
Em

(x, y), (x, z) ∈ f


de onde segue que y = z. Observamos que f |A0 é a única função de A0 em B que coincide com f em A0 .
De fato se g : A0 → B tal que g(a) = f (a) = f |A0 (a) e, portanto g = f |A0 .
• Funções definidas por partes: A ideia é construir funções sobre um espaço A a partir de funções definidas
sobre uma partição. Para isto considere uma partição de A = {Ai i ∈ I} de um conjunto A, isto é
– Ai 6= 0/ para todo i ∈ I
– Ai ∩ A j = 0/ para todo i, j tais que i 6= j.
– A = ∪i∈I Ai .
e assuma que para cada Ai existe uma função
fi : Ai → B
Definimos f : A → B por
f (a) = fi (a) se a ∈ Ai .
Vamos mostrar que f é função. De fato Dom( f ) = A. Por outro lado, se a ∈ A temos que, existe um único
Ai ∈ A tal que a ∈ Ai então, pelo fato de fi : Ai → B ser função temos
fi (a) = b1 e fi (a) = b2 então b1 = b2 .
77

 Exemplo 11.2 • Seja A = (−∞, −1] ∪ (−1, 2) ∪ {2} ∪ (2, +∞). Definimos então as funções f1 , f2 , f3 e
f4 como sendo

f1 : (−∞, −1] → R, x → ex

f2 : (−1, 2) → R, f2 (x) = x2
f3 : {2} → R, f3 (2) = 5
f4 : (2, +∞) → R, f4 (x) = cos(x)

ão
Então

x se x ∈ (−∞, −1]
e


x2

se x ∈ (−1, 2)
f (x) =




5 se x = 2

cos(x) se x ∈ (2, +∞)

• Seja f : R → [1, ∞) definida por

f (x) =

x + 2 se x > 0
x2 + 1 se x ≤ 0

É fácil de ver que f é sobrejetora mas não injetora.


or
ab


Definição 11.3 Seja A0 ⊂ A e seja f : A0 → B uma função. Uma extensão de f é uma função F : A → B tal
que F|A0 = f .

 Exemplo 11.3 A extensão de uma função não é necessáriamente única. por exemplo f : {0, 1, 2, 3} → N
el

definida por f (a) = a admite

F : N → N, F(a) = a

e
Em


a se a ≤ 4
G : N → N, G(a) =
a2 se a > 4

como possíveis extensões. 

Teorema 11.1 Sejam f : X → Y e g : Y → Z duas funções então a relação composta relação g ◦ f : X → Z é


função. Mais ainda, temos a seguinte regra

∀ x ∈ X, (g ◦ f )(x) = g( f (x))

Demonstração. É claro que


i- Dom(g ◦ f ) = X, pois f é função
ii-
((x, z1 ) ∈ g ◦ f ) ∧ ((x, z2 ) ∈ g ◦ f ) ⇔ ∃ y1 , y2 ∈ Y, {[z1 = g(y1 ) ∧ y1 = f (x)] ∧ [z2 = g(y2 ) ∧ y2 = f (x)]}
⇔ ∃ y1 , {[z1 = g(y1 ) ∧ y1 = f (x)] ∧ [z2 = g(y1 ) ∧ y2 = f (x)]}
(y1 = f (x) = y2 pois f é função).
De onde segue que

z2 = g(y1 ) = z1 pois g é função.


78 Capítulo 11. Funções

Utilizando a regra vista acima,

(x, y) ∈ (g ◦ f ) ⇔ (y, f (x)) ∈ g ⇔ y = g( f (x))

Assim como acontece com as relações, temos que vale a associatividade na composição de funções.
Proposição 11.1 Sejam f : W → X, g : X → Y, h : Y → Z, então

f ◦ (g ◦ h) = ( f ◦ g) ◦ h

ão
Demonstração. Decorre do resultado visto para relações. 

Obs. A composição de funções, assim como para acontece para as relações em geral, não é comutativa


 Exemplo 11.4 • Considere f (x) = 2x + 1 e g(x) = x2 + 1. Descreva a composta. Da definição segue que

f ◦ g(x) = 2(x2 + 1) + 1 = 2x2 + 3 6= g ◦ f (x) = (2x + 1)2 + 1 = 4x2 + 4x + 2.


Logo, segue que não vale a comutatividade.

f (x) = cos(x) : R → R,
or
• Vamos aqui exemplificar a definição 8. Considere as seguintes funções

g(x) = x2 + 1 : R → R e h(x) = ex : R → R.
ab
Segue então que

g ◦ h(x) = (ex )2 + 1 = e2x + 1 ⇒ f ◦ (g ◦ h)(x) = cos(e2x + 1)


( f ◦ g)(x) = cos(x2 + 1) ⇒ ( f ◦ g) ◦ h(x) = cos((ex )2 + 1) = cos(e2x + 1)
el

• Considere

x − 1 se x ∈ (−∞, 0]
(
x2

se x ∈ (−∞, 1]
f (x) = x e g(x) = 2 se x ∈ [0, 2]
e se x ∈ (1, ∞) 
 2
x +1 se x ∈ (2, ∞)
Em

Observamos que
– Se x ∈ (−∞, 1] então x2 ∈ [0, ∞) = [0, 2] ∪ (2, ∞) de onde

f ((0, 1)) = (0, 1) e f (−∞, 0] = (−∞, 0].

– Se x ∈ (1, +∞) então ex ∈ (e, ∞) com e


>2
( x2 + 1 se x ∈ (−∞, 0]
g(x2 ) se x ∈ (−∞, 1] 

g ◦ f (x) = = 2 se x ∈ (0, 1]
g(ex ) se x ∈ (1, ∞) 
 2x
e + 1 se x ∈ (1, ∞)


Definição 11.4 Uma função f : A → B é dita


• Injetora: ∀ a1 ∈ A, ∀ a2 ∈ A, f (a1 ) = f (a2 ) ⇒ a1 = a2 .
• Sobrejetora: ∀ b ∈ B, ∃ a ∈ A, f (a) = b. Dito de outra forma, Img( f ) = B.
• Bijetora: Se ela for injetora e sobrejetora.

Obs. Se f : A → B é uma função bijetora então, pelo fato de ser função, para cada elemento de a ∈ A existe um
unico b ∈ B tal que f (a) = b. Agora, pelo fato de ser bijetora, para cada elemento de b ∈ B existe um único
elemento de a ∈ A tal que f (a) = b. Isto é, os elementos de A e B estão em correspondência biunívoca.
79

 Exemplo 11.5 • Seja A um subconjunto de um conjunto U. Definimos

f : P(U) → P(A), f (B) = B ∩ A.

Claramente f é sobrejetora, mas não necessáriamente injetora. De fato, por exemplo, se U = N e A = {1}
então

f ({0, 1}) = {1} = f ({1, 2}).

• Sejam A e B dois conjuntos disjuntos (A ∩ B = 0).


/ Definimos

ão
f : P(A) → P(A ∪ B), f (D) = D

então f é injetora mas não sobrejetora pois para B ∈ P(A ∪ B) não há nenhum conjunto D ∈ P(A) tal
que f (D) = B.


• f : R → R dada por f (x) = x3 é bijetora.

De fato, dado y ∈ R então, x = 3 y satisfaz f (x) = y portanto é sobrejetora.
Se f (x1 ) = f (x2 ) então x13 = x23 de onde

0 = (x13 − x23 ) = (x1 − x2 )(x12 + x1 x2 + x22 ) ⇒ (x1 − x2 ) = 0

e portanto x1 = x2 de onde f é injetora.


or
• f : R → R dada por f (x) = x2 não é injetora nem sobrejetora.
De fato se y < 0 não existe x ∈ R tal que x2 = y. De onde f não é sobrejetora. Por outro lado, f (−1) =
ab
1 = f (1) e, portanto não é injetora.


Proposição 11.2 Sejam f : A → B e g : B → C duas funções.


• Se f e g são injetoras, então g ◦ f é injetora.
• Se f e g são sobrejetoras, então g ◦ f é sobrejetora.
el

• Se f ◦ g é bijetora então g é sobrejetora e f é injetora.

Demonstração. • Assuma que f e g são injetoras, então


g ◦ f (x1 ) = g ◦ f (x2 ) ⇔ f (x1 ) = f (x2 ) (pois g é injetora)
⇔ x1 = x2 (pois f é injetora).
Em

de onde segue que g ◦ f é injetora.


• Assuma que f e g são sobrejetoras. Se c ∈ C existe b ∈ B tal que g(b) = c pois g é sobrejetora. Como f é
sobrejetora existe a ∈ A tal que f (a) = b, de onde

c = g(b) = g( f (a) = (g ◦ f )(a).

Portanto g ◦ f é sobrejetora.
• Assuma que f ◦ g é bijetora. Dado c ∈ C existe a ∈ A tal que c = g ◦ f (a) = g( f (a)). Como f (a) ∈ B
temos que existe b ∈ B tal que g(b) = c de onde segue que g é sobrejetora.
Se f (a1 ) = f (a2 ) temos que

(g ◦ f )(a1 ) = g( f (a1 )) = g( f (a2 )) = (g ◦ f )(a2 )

Como g ◦ f é bijetora, temos que a1 = a2 , de onde segue que f é injetora.




 Exemplo 11.6 Seja f : [0, ∞) → R dada por f (x) = x2 e g : R → [0, ∞) dada por g(x) = |x|. Claramente f não
é sobrejetora nem g é injetora, no entanto, g ◦ f : [0, +∞) → [0, +∞) é dada por f (x) = x e, portanto, é bijetora. 
80 Capítulo 11. Funções

Definição 11.5 Uma função f : A → B é invertível se a relação inversa f −1 : B → A também é função.

Corolário 11.1 Seja f : A → B é invertível então para todo a ∈ A e para todo b ∈ B temos

f (a) = b ⇔ f −1 (b) = a.

Demonstração. A demonstração segue de observar que

f (a) = b ⇔ (a, b) ∈ f

ão
⇔ (b, a) ∈ f −1
⇔ f −1 (b) = a.


Teorema 11.2 Uma função f : A → B é invertível se, e somente se, f é bijetora. Mais ainda, f −1 é também
bijetora.

Demonstração. • Assuma que f é invertível e que f (a1 ) = b = f (a2 ) então


or
(a1 , b) ∧ (a2 , b) ∈ f ⇔ (b, a1 ) ∧ (b, a2 ) ∈ f −1 .
Como f −1 é função, temos que a1 = a2 . Por outro lado Img( f ) = Dom( f −1 ) = B por ser f −1 função.
Portanto f é sobrejetora, de onde segue que é bijetora.
• Assuma agora que f é bijetora. Então B = Img( f ) = Dom( f −1 ) pois f é sobrejetora. Por outro lado
ab
(b, a1 ) ∧ (b, a2 ) ∈ f −1 ⇔ (a1 , b) ∧ (a2 , b) ∈ f ,
Como f é injetora, temos que a1 = a2 . Portanto f −1 é função.
O restante segue de de observar que

( f −1 )−1 (x) = y ⇔ f −1 (y) = x


el

⇔ f (x) = y.

de onde segue que ( f −1 )−1 = f e, portanto f −1 é invertível e, pelo visto acima, bijetora. 

Corolário 11.2 Se f : A → B e g : B → C são bijetoras, então g ◦ f é bijetora e, mais ainda, (g ◦ f )−1 =


Em

f −1 ◦ g−1

Demonstração. Como f e g são bijetoras, por um resultado acima, temos que g ◦ f é sobrejetora e injetora, de
onde segue que é bijetora. O restante segue de observar que

y = (g ◦ f )(x) ⇔ g−1 (y) = f (x) ⇔ ( f −1 ◦ g−1 )(y) = x,

de onde (g ◦ f )−1 (y) = ( f −1 ◦ g−1 )(y) para todo y ∈ C. 

Definição 11.6 Seja f : A → B uma função, A1 ⊂ A e B1 ⊂ B um subconjunto, definimos o conjunto imagem


de A1 e preimagem de B1 , como sendo

f (A1 ) = { f (x) ∈ B, x ∈ A1 } ⊂ B,

f −1 (B1 ) = {x ∈ A, f (x) ∈ B1 } ⊂ A.

Corolário 11.3 Seja f : A → B injetora e A2 ⊂ A1 ⊂ A conjuntos. Então

f (A1 \A2 ) = f (A1 )\ f (A2 ).


81

Demonstração. Se y ∈ f (A1 \A2 ) então existe x ∈ A1 \A2 tal que f (x) = y. Como f é injetora e x 6∈ A2 , y 6∈ f (A2 )
de onde y ∈ f (A1 )\ f (A2 ). Por outro lado, se y ∈ f (A1 )\ f (A2 ) então existe x ∈ A1 tal que f (x) = y, como
y 6∈ f (A2 ) e f é injetora, temos que x 6∈ A2 . 

 Exemplo 11.7 Se f não é injetora não podemos garantir que o resultado acima vale. De fato seja f : R → R
dada por f (x) = x2 . Considere A1 = R e A2 = [0, ∞), então

f (A1 \A2 ) = (0, ∞)

ão
f (A1 )\ f (A2 ) = 0.
/

Proposição 11.3 Seja f : A → B e F = {Bi , ∈ I} então


• f −1 (∪i∈I Bi ) = ∪i∈I f −1 (Bi ).


• f −1 (∩i∈I Bi ) = ∩i∈I f −1 (Bi ).
• f −1 (Bi \B j ) = f −1 (Bi )\ f −1 (B j )

Demonstração. •
x ∈ f −1 (∪i∈I Bi ) ⇔ f (x) ∈ ∪i∈I Bi
⇔ ∃ i ∈ I, f (x) ∈ Bi
⇔ ∃ i ∈ I, x ∈ f −1 (Bi )
⇔ x ∈ ∪i∈I f −1 (Bi ).
or
ab

x ∈ f −1 (∩i∈∈I Bi ) ⇔ f (x) ∈ ∩i∈I Bi
⇔ ∀ i ∈ I, f (x) ∈ Bi
⇔ ∀ i ∈ I, x ∈ f −1 (Bi )
el

⇔ x ∈ ∩i∈I f −1 (Bi ).

x ∈ f −1 (Bi \B j ) ⇔ f (x) ∈ (Bi \B j )
⇔ ( f (x) ∈ Bi ) ∧ ( f (x) 6∈ B j )
⇔ [x ∈ f −1 (Bi )] ∧ [x 6∈ f −1 (B j )]
Em

⇔ x ∈ f −1 (Bi )\ f −1 (B j )


Se f : A → B é injetora podemos pensar que, de alguma forma, A ⊂ B. Nesse sentido, o seguinte resultado é
uma generalização do critério de igualdade entre conjuntos.

Teorema 11.3 — Cantor-Bernstein-Schröder. Sejam A e B dois conjuntos. Se existem funções injetoras


f : A → B e g : B → A então A e B existe uma função bijetora h : A → B.

Demonstração. Seguimos o trabalho de "D. Tonien, A simple visual proof of the Schröder-Bernstein theorem.
Elemente der Mathematik 62 (2007)".
Definimos as familias de conjuntos F1 = {Ai , i ∈ N} e F1 = {Bi , i ∈ N} em que
• A0 = A e B0 = B
• se i > 0 então

Ai = g(Bi−1 ) e Bi = f (Ai−1 )

Graficamente
82 Capítulo 11. Funções

ão

Observamos que, da injetividade de f e g, temos que existem bijeções

A ↔ B1 ↔ A2 ↔ B3 ↔ A4 ↔ · · ·

B ↔ A1 ↔ B2 ↔ A3 ↔ B4 ↔ · · ·

e que
Por contrução

f (An ) ⊂ Bn
or
ab
Ai+1 ⊂ Ai e Bi+1 ⊂ Bi ∀ i ∈ N,

de fato, para i = 1 temos

A1 = g(B) ⊂ A e B1 = f (A) ⊂ B.
el

Assuma que vale para n então An ⊂ An−1 e Bn ⊂ Bn−1 então

An+1 = g(Bn ) ⊂ g(Bn−1 ) = An

e
Em

Bn+1 = f (An ) ⊂ f (An−1 = Bn

de onde segue que vale para todo n ∈ N.


Definimos agora as familias F3 = {Ci , i ∈ N} e F4 = {Di , i ∈ N} em que

C j = A j \A j+1 D j = B j \B j+1 .

Desta forma, F3 é uma partição de A e F4 é uma partição de B. Mais ainda os mapas

f |Ci : Ci → Di+1 e g|Di : Di → Ci+1 ,

são bijetores para todo i ∈ N, pois por um lado são injetores, e por outro lado são injetores e
f (Ci ) = f (Ai \Ai+1 )
= f (Ai )\ f (Ai+1 ) (pois f é injetor)
= Bi+1 \Bi = Di+1

g(Di ) = g(Bi \Bi+1 )


= f (Bi )\ f (Bi+1 ) (pois g é injetor)
= Ai+1 \Ai = Ci+1 .
83

Sejam

à = ∩i∈N Ai e B̃ = ∩i∈N Bi

Como B̃ ⊂ f (A) e

f −1 (B̃) = f −1 (∩i∈N Bi ) = ∩i∈N f −1 (Bi ) = ∩i∈N Ai = Ã,

temos que f é uma bijeção entre à e B̃. De forma similar g é uma bijeção entre B̃ e Ã.
Construimos então h : A → B como

ão

 f (x) se x ∈ C2i
h(x) = −1
g (x) se x ∈ C2i+1
f (x) = g−1 (x) se x ∈ Ã.

Como em cada elemento da partição h é bijetora, então h é bijetora de A em B.


or
ab
el

As consequências deste resultado, para o caso dos conjuntos numéricos, é bem pouco intuitiva.
 Exemplo 11.8 Considere os conjuntos A = (1, 3) e B = (1, 3) ∪ (4, 5). Considere

f : A → B, f (x) = x,
Em

e
3
+ 14 x se x ∈ (1, 3)

g : B → A, g(x) = 4 .
x − 2 se x ∈ (4, 5)
Observamos as duas funções são injetoras. Para a primeira isto decorre trivialmente da definição pois

f (x1 ) = f (x2 ) ⇒ x1 = x2 .

Mostrar a injetividade da função g requer um pouco de trabalho. Primeiramente observamos que se


3+x 3
1<x<3 → 4 < 3+x < 6 → 1< <
4 2
e se

4<x<5 → 2 < x − 2 < 3.

De onde segue que g(1, 3) ∩ g(4, 5) = 0.


/ Portanto se

g(x1 ) = g(x2 ) ⇒ [x1 ∈ (1, 3) ∧ x2 ∈ (1, 3)] ∨ [x1 ∈ (4, 5) ∧ x2 ∈ (4, 5)]

Vemos cada caso por separado


84 Capítulo 11. Funções

• se x1 ∈ (1, 3) ∧ x2 ∈ (1, 3) então

3 + x1 3 + x2
= ⇒ x1 = x2 ,
4 4
• se x1 ∈ (4, 5) ∧ x2 ∈ (4, 5) então

x1 − 2 = x2 − 2 ⇒ x1 = x2 .

Portanto, se g(x1 ) = g(x2 ) temos que x1 = x2 , de onde segue que g é injetora.

ão
Agora, o teorema de Cantor-Bernstein-Schröder garante que existe uma função bijetora

h : (1, 3) → (1, 3) ∪ (4, 5).

Veremos depois que isto implica que os dois conjuntos tem a mesma quantidade de elementos. 


Um tipo particular de funções são as conhecidas como operações unárias e binárias.
Definição 11.7 • Dados dois conjuntos A e B uma operação unária é uma função f : A → B.
• Dados três conjuntos A, B e C, uma operação binária é uma função f : A × B → C.

Obs.
or
• As operações unárias e binárias geralmente não são escritas na forma f (a) = b (para a unária) ou
f (a, b) = c (para a binária) mas na forma
ab
– f a ou a f para a unária, em que f é o símbolo da operação.
– a f b em que f é o símbolo utilizado para a operação binária.
• As operações binárias são a base do estudo de estruturas algébricas. Algumas delas veremos mais
adiante no texto.

Exemplo 11.9 Alguns exemplos de operações unárias são


el

• operação fatorial ! : N → N dada por


se n = 0 então 0! = 1
se n > 0 então n! = n · (n − 1) · (n − 2) · · · 2 · 1.
• o quadrado de um número 2 : Z → N definida por
Em

n2 = n · n.

Alguns exemplos de operações binárias são


• Se P(A) o conjunto de partes de um conjunto A então a união

∪ : P(A) × P(A) → P(A), (U,V ) → U ∪V,

é uma operação binária.


• Se P é um conjunto formado por um número finito de proposições e de todas aquelas formadas a partir
de conjunções de um número finitos delas, então a conjunção

∧ : P × P → P, (p, q) → p ∧ q,

é uma operação binária.




Dada uma familia de conjuntos F = {Ai , i ∈ I} indexadas por um conjunto I, consideramos o conjunto das
funções

U = { f : I → ∪i∈I Ai , f (i) ∈ Ai }
85

No caso em que I = {1, . . . , n} este conjunto pode ser naturalmente identificado de forma bijetora com A1 × · · · An
por meio da função

F : U → A1 × · · · × An , F( f ) = ( f (1), . . . , f (n))

Sua inversa é

F −1 : A1 × · · · × An → U ,

Neste caso F −1 (a1 , . . . , an ) : {1, . . . , n} → ∪ni=1 Ai é definida por

ão
F −1 ( f )(i) = ai ∀i = 1 . . . n.

No caso de uma familia qualquer F = {Ai , i ∈ I} o produto cartesiano é definido por


∏ Ai = { f : I → ∪i∈I Ai , f (i) ∈ Ai }.
i∈I

Na definição de ∏i∈I Ai cada f ∈ ∏i∈I Ai é chamada de uma função escolha.


Nos seguintes casos temos garantida a função escolha:
or
• Para o caso em que I é finita, a existência de uma função escolha é garantida pois o produto cartesiano
neste caso é não vazio como consequência dos axiomas de Zermelo-Fraenkel.
• Se I 6= 0/ e todos os Ai = A com A não vazio e, portanto existe a ∈ A então a função constante f (i) = a
para todo i ∈ I existe e não precisamos do axioma da escolha.
• Se o conjuntos Ai são bem ordenados, então podemos definir f (i) como sendo o menor elemento de Ai e
ab
não precisamos o axioma da escolha. De modo geral, se o conjunto tem alguma estrutura que permita
diferenciar um elemento dele, podemos definir a função escolha utilizando esse elemento.
• Se temos um conjunto infinito de pares de bolinhas de gude brancas e queremos pegar uma de cada par,
não temos como definir a função escolha e, portanto, não podemos garantir sua existência.
Desta forma para o caso infinito não podemos garantir que uma função dessas existe, ou equivalentemente, o
el

produto cartesiano é não vazio. No entanto, isto é assumido como um axioma, que é o Axioma da escoha:

Para toda familia de conjuntos não vacios F , seu produto cartesiano é não vacío.

Uma boa referência sobre o axioma da escolha e suas equivalências é: Jech T. J. - The axiom of choice - North
Em

Holland (1973).
É relevante também observar que o axioma da escolha é independente dos axiomas de Zermelo-Fraenkel. De
fato, Godel mostrou que os axiomas de Zermelo-Fraenkel+(Axioma da escolha) são consistentes se os axiomas
de Zermelo-Fraenkel são consistentes. Cohen mostrou que Zermelo-Fraenkel+ ¬(Axioma da escolha) são
consistentes se os axiomas de Zermelo-Fraenkel são consistentes.
Nestas notas vamos assumir o axioma da escolha.
Em
el
ab
or

ão
II
Conjuntos Numéricos

ão

or
ab
el
Em

12 Números Naturais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89

13 Cardinalidade de conjuntos . . . . . . . . . 99

14 Números Inteiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

15 Divisibilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121

16 Números Racionais . . . . . . . . . . . . . . . . . 129

17 Números Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139

18 Representação decimal dos números re-


ais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

19 Sequências e Recorrências . . . . . . . . . 163

20 Números Complexos . . . . . . . . . . . . . . . 183


Em
el
ab
or

ão
ão
12. Números Naturais


or
Começamos agora a estudar a construção dos conjuntos numéricos. Para responder à pergunta "o que é um
número?" vamos mergulhar a resposta na teoria de conjuntos. Seguiremos assim a construção dos números
ab
naturais feita por von-Neuman (John von Neumann, matemático húngaro).
Vimos que,
• o axioma da existência garante a existência do conjunto vazio. Mais ainda, temos provado que o conjunto
vazio é subconjunto de qualquer conjunto.
• o axioma do infinito, garante que para todo conjunto A existe o seu conjunto sucessor s(A) = A ∪ {A} que,
el

junto ao axioma da regularidade e o axioma do par, é diferente {0,/ s(A)}.


Definição 12.1 Um conjunto A é dito indutivo se
• 0/ ∈ A,
• a ∈ A → s(a) = a ∪ {a} ∈ A.
Em

Obs. Observar que não fazemos distinção entre elemento e conjunto assim como foi dito nos axiomas de
Zermelo-Fraenkel.

Assim,construimos um conjunto indutivo da seguinte forma começamos com o conjunto 0,


/ que denotamos por 0,
e construímos os seus sucessores
• 0 = 0/
• 1 = s(0) = 0/ ∪ {0}
/ = {0}
/ = {0}
• 2 = s(1) = 1 ∪ {1} = {{0},
/ {{0}}}
/ = {0, 1}
• 3 = s(2) = 2 ∪ {2} = {{0},
/ {{0}},
/ {{0},
/ {{0}}}
/ = {0, 1, 2}
• ...
O conjunto formado por todos estes elementos é naturalmente indutivo. Chamamos ao conjunto formado por
todos estes elementos de N .

Obs.
• Na verdade o conjunto N pode ser definido de forma mais precisa do que listando simplesmente os
seus elementos. O mais correto seria dizer que N é o conjunto de elementos que satisfaz
– para cada a ∈ N e b, c ∈ a tais que b 6= c temos que b ∈ c ou c ∈ b. Mais ainda, se c ∈ b ∈ a
então c ∈ a.
90 Capítulo 12. Números Naturais

– O único a ∈ N elemento que não é sucessor de outro é 0.


– todo elemento a 6= 0 tem um elemento, que chamamos de a − 1, que não tem sucessor dentro de
a, isto é
a = (a − 1) ∪ {(a − 1)}
• Cada conjunto n ∈ N como construído acima tem precisamente "n" elementos. Mais ainda, cada
sucessor s(n) contém 0, 1, . . . , n.

Corolário 12.1 Se s(n) = s(m) então n = m.

ão
Demonstração. Provamos isto provanto a contrapositiva. Se n 6= m então, por exemplo, existe k tal que k ∈ n e
k 6∈ m. Tal k 6= 0 pois 0 ∈ m e 0 ∈ n. Temos então que s(k) ∈ n mas s(k) 6∈ m. Portanto s(n) 6= s(m). 
A seguinte é a definição que caracteriza o conjunto dos números naturais. Veremos que esta caracterização
vai ser utilizada para definir a soma, o produto e suas respectivas propriedades.


Definição 12.2 Um número natural é um conjunto que pertence a todo conjunto indutivo. O conjunto de
todos estes elementos é chamado conjunto dos números naturais e o denotamos por N.

O conjunto dos números naturais é indutivo pois


• 0/ ∈ N já que 0/ está en todo conjunto indutivo
or
• se A ∈ N então A ⊂ U para todo U indutivo. Portanto S(A) ⊂ U para todo U indutivo. De onde s(A) ∈ N

Obs. Pedir que os números naturais estejam em todo conjunto indutivo é uma condição de minimalidade. De fato
podemos pensar num conjunto M que esteja construído a partir dos conjunto 0/ e A e todos seus sucessores.
ab
Claramente M é indutivo, no entanto seus elementos não vão estar em todos os conjuntos indutivos. Por
exemplo A não está em N .

Mostramos a seguir que existem os números naturais.

Teorema 12.1 Existe um conjunto cujos elementos são exatamente os números naturais
el

Demonstração. Temos construído o conjunto indutivo N utilizando o axioma da existência e do infinito.


Claramente, todo conjunto indutivo U contém N . De fato, 0 ∈ U pois 0/ ∈ U por U ser indutivo. Se existe n 6∈ U
então o conjunto
{k ∈ n + 1, k 6∈ U}
Em

é não vazio, portanto tem ao menos um elemento n∗ . Claramente n∗ 6= 0 pois 0 ∈ U. Então n∗ = k + 1 para
algum k ∈ U. Mas como U é indutivo n∗ = k + 1, contradizendo a definição de n∗ .
Pelo axioma da especificação a função proposicional
x ∈ U ⇔ [x ∈ N ∧ (∀ B conjunto indutivo, x ∈ B)]
tem um domínio que, por definição, deve ser N. 
Temos assim que o conjunto N é indutivo e é um subconjunto de todo conjunto indutivo.

Teorema 12.2 O conjunto N construído acima coincide com N. Mais ainda, todo número natural diferente
de 0 é sucessor de algúm número natural.

Demonstração. Sabemos que como N é indutivo N ⊂ N e como N é indutivo e está contido em todo conjunto
inductivo temos que N ⊂ N . De onde segue que N = N.
Para o restante do resultado observamos que a proposição
∃ a ∈ N, 0 = s(a)
é falsa pois não existe conjunto cujo sucessor seja 0.
/ Portanto, a negação da proposição é verdadeira de onde
segue o resultado. 
91

Teorema 12.3 — Princípio de indução ou Axioma indução. Todo subconjunto indutivo de N coincide
com N.

Demonstração. Assuma que B ⊂ N. Como B é indutivo temos que N ⊂ B pelo teorema anterior. Portanto
B = N. 

Portanto, para mostrar que um conjunto M ⊂ N é o conjunto dos número naturais mostramos o resultado do
teorema, isto é:

Princípio de Indução: Se M ⊆ N tal que

ão
i- 0 ∈ M
ii- k ∈ M ⇒ s(k) ∈ M, ∀ k ∈ M
então M = N.

Definição 12.3 Dado m, n ∈ N, definimos recursivamente


• m+0 = m
• m + s(n) = s(m + n)

Obs. Observamos, da definição, que


• Como

m + s(0) = s(m + 0) = s(m).


or
ab
Se s(0) = 1 então faz sentido a definir k + 1 = s(k) pois

k + 1 = k + s(0) = s(k + 0) = s(k).

• Se n 6= 0 então n = s(p) para algum p ∈ N, de onde

m + n = m + s(p) = s(m + p).


el

Utilizando a definição dos números naturais é possível mostrar que


Proposição 12.1 Para quaisquer m, n, p ∈ N temos
• m + n está definido.
• O número 0 é o único natural tal que m + 0 = m = 0 + m (existência de elemento neutro)
Em

• m + (n + p) = (m + n) + p (associatividade)
• m + n = n + m (comutatividade)
• m + p = n + p ⇒ m = n (cancelamento).
• m + n = 0 então m = 0 e n = 0.

Demonstração. • Para cada m ∈ N, considere o conjunto

Mm = {n ∈ N, n + m está definido}.

Então 0 ∈ Mm pois m + 0 está definido. Se k ∈ Mm então m + k está definido. Como

m + s(k) = s(m + k)

temos que s(k) ∈ Mm . Pelo princípio de indução temos que N ⊂ Mm , de onde segue o pedido.
• Da definição m + 0 = m. Seja

M = {m ∈ N, 0 + m = m}

claramente 0 ∈ M pois 0 + 0 = 0 da definição. Se k ∈ N então 0 + k = k, como

k + 1 = s(k) = s(0 + k) = 0 + s(k),


92 Capítulo 12. Números Naturais

temos que k + 1 ∈ M de onde M = N.


Por último se existe n tal que m + n = m = n + m para todo natural m temos, em particular,

0 = 0 + n = n + 0 = n.

Portanto o 0 é único.
• Primeiramente observamos que m + 1 = 1 + m. Para isto, defina

M = {n ∈ N, 1 + m = m + 1}.

ão
Claramente 0 ∈ M pois 1 + 0 = 1 e 0 + 1 = s(0 + 0) = s(0) = 1. Por outro lado se k ∈ M então

s(m) + 1 = (1 + m) + 1 = s(1 + m) = s(s(m)) = 1 + s(m),


de onde M = N.
Seja m ∈ N e defina

Mm = {n ∈ N, n + m = m + n}.

m + (k + 1) = m + s(k)
= s(m + k)
or
Claramente 0 ∈ Mn pelo item anterior. Se k ∈ M então n + k = k + m, como

= s(k + m)
ab
= k+m+1
= (k + 1) + m
de onde s(k) ∈ Mn e portanto Mn = N.
• Dados m, n ∈ N considere
el

Mm,n = {p ∈ N, m + p = n + p ⇒ m = n}.

Claramente 0 ∈ Mn,m . Agora se k ∈ Mm,n temos que m + k = n + k ⇒ n = m. Observamos que


m + s(k) = n + s(k) ⇒ m + k + 1 = n + k + 1
Em

⇒ m + k = n + k,
de onde m = n. Portanto s(k) ∈ Mm,n e Mm,n = N.
• Assuma que m + n = 0 então, se n 6= 0

m + n = m + s(n1 ) = s(m + n1 ) 6= 0.

Logo n = 0 de onde m + 0 = 0 garante m = 0




De forma similar definimos o produto de números naturais.


Definição 12.4 Dados m, n ∈ N, definimos recursivamente
• m·0 = 0
• m · (n + 1) = m · n + m

Obs.
• Da definição, que

m · 1 = m · (0 + 1) = m · 0 + m = 0 + m = m
93

• a partir do produto definimos a potenciação como segue, para a, n ∈ N, definimos an como sendo
n vezes
an = a · a · · · a
z }| {

se n > 0 e

a0 = 1.

no caso em que a 6= 0. Observamos que 00 não está definido.

ão
Utilizando a definição dos números naturais junto com as propriedades da soma é possível mostrar que
Proposição 12.2 Para quaisquer m, n, p ∈ N temos
• 0 · m = 0.
• m · n está definida.


• O número 1 é o único natural tal que m · 1 = m (existência de elemento neutro)..
• m · (n + p) = m · n + m · p, e (n + p) · m = n · m + p · m (distributividade).
• m · n = n · m (comutatividade).
• m · (n · p) = (m · n) · p (associatividade)
• se p 6= 0 então m · p = n · p ⇒ m = n (cancelamento).
• m · n = 0 então m = 0 ou n = 0.

Demonstração. • Seja
or
M = {m ∈ M, 0 · m = 0}.
ab
Claramente 0 ∈ M. Se k ∈ M então

0 · s(k) = 0 · k + 0 · 1 = 0 + 0 = 0.
el

Pelo princípio de indução M = N.


• Seja m ∈ N e defina

M = {n ∈ N, m · n está definida.}
Em

Claramente 0 ∈ M. Assuma que k ∈ M então

m · s(k) = m · (k + 1) = m · k + m.

Como ambos termos estão definidos e a soma está definida, temos s(k) ∈ M de onde M = N.
• Seja

M = {m ∈ N, 1 · m = m}.

Claramente 0 ∈ M. Se k ∈ M então

1 · s(k) = 1 · k + 1 · 1 = k + 1 = s(k).

Portanto s(k) ∈ M e M = N. Para ver a unicidade observamos que se n é tal que m · n = m = n · m para
todo m ∈ N então

1 = 1 · n = n · 1 = n.

• Sejam m, n ∈ N e considere

Mm,n = {p ∈ N, m · (n + p) = m · n + m · p}.
94 Capítulo 12. Números Naturais

Claramente 0 ∈ Mm,n . Assuma que k ∈ Mm,n então


m · (n + s(k)) = m · (n + k + 1)
= m · (n + k) + m
= m·n+m·k+m
= m · n + m · (k + 1)
= m · n + m · s(k)
de onde s(k) ∈ Mm,n e, portanto, N = Mm,n .
A outra identidade se prova de forma similar.

ão
• Seja m ∈ N e defina o conjunto

Mm = {n ∈ N, m · n = n · m}.

Vejamos que 0 ∈ M. para isto defina


N = {m ∈ N, 0 · n = 0 = n · 0}

então 0 ∈ N. Se k ∈ N então 0 · k = 0 = k · 0. Como

0 · s(k) = 0 · (k + 1) = 0 · k + 0 = 0 = s(k) · 0

Se p ∈ Mm então m · p = p · m. Como
or
temos que s(k) ∈ N e, portanto, N = N. De onde 0 ∈ Mm .

m · s(p) = m · p + m = p · m + m = (p + 1) · m
ab
temos que s(p) ∈ Mm de onde Mm = N.
• Sejam m, n ∈ N e considere

Mm,n = {p ∈ N, m · (n · p) = (m · n) · p}.
el

Claramente 0 ∈ Mm,n . Assuma que k ∈ Mm,n , então


m · (n · s(k)) = m · (n · (k + 1))
= m · (n · k) + m · n
= (m · n) · k + (m · n)
Em

= (m · n) · (k + 1)
= (m · n) · s(k).
Portanto s(k) ∈ Mm,n e N = Mm,n .
• Se m = n = 0 não ha nada que provar. Claramente se m = 0 então n = 0 pois caso contrário a identidade
não vale. Assuma m 6= 0, n 6= 0, que m = n + k com k 6= 0, isto é k = s(k1 ). Se

m · p = n · p,

temos
m· p = n· p+n·k
= n · p + n · s(k1 )
= n · p + n · k1 + n
então 0 = n · k1 + n de onde n = 0 o que é uma contradição. Portanto k = 0 e m = n.
• Assuma que m · n = 0 e assuma que n 6= 0 então n = s(n1 ) de onde

0 = m · n = m · s(n1 ) = m · n1 + m

então m · n1 = 0 e m = 0.

95
Definição 12.5 Sejam k, m ∈ N números naturais. Dizemos que m > k (ou k < m) se existem um número
l ∈ N tal que l 6= 0 e

m = k + l.

Dizemos que uma função proposicional P(n) vale para todo n ≥ k se ela for verdadeira para n = k e para
todo m tal que m > k.

ão
Obs.
• Dados m, n ∈ N, denotamos
– m ≥ n se, e somente se, n ≤ m.
– m > n se, e somente se, n < m.
• Não é necessário definir a soma para definir a < b. De fato, utilizando a construção dos naturais feita
acima podemos dizer que dados a, b ∈ N dizemos que


a<b ⇔ a ∈ b.

• Voltaremos mais tarde sobre isto e veremos que ">"induz o que chamamos uma "relação de ordem
total"

or
O princípio de indução fornece uma técnica muito útil para provar que uma proposição é verdadeira a partir
de um certo número natural. Éste é o conteúdo do seguinte teorema.

Teorema 12.4 — Princípio de Indução generalizada. Seja k ∈ N um número natural fixo e P(n) uma
função propocicional com domínio em N. Se
ab
• P(k) é verdadeira e
• se, para todo r > k, P(r) verdadeira garante que P(r + 1) é verdadeira,
então, P(n) é verdadeira para todo n ≥ k.

Demonstração. Para demonstrar o teorema utilizamos o princípio de indução. Definimos a função proposicional
el

Q(n) = P(n + k) M = {n ∈ N, Q(n) é verdadeira}

Observamos que
• Q(0) = P(k) é verdadeira, então 0 ∈ M
Em

• se r ∈ M, ⇒ Q(r) = P(k + r) é verdadeira então Q(r + 1) = P(k + r + 1) é verdadeira e, portanto, r + 1 ∈ M.


De onde segue que M satisfaz i− e ii− do princípio de indução, de onde segue que M = N.
Isto garante que Q(n) é verdadeira para todo n ≥ 0, que é equivalente a dizer que P(n) é verdadeira para
todo n ≥ k. 

 Exemplo 12.1 1. Provar que 10n − 1 é divisível por 3 para todo n ≥ 1.


Para isto construímos a função proposicional

P(n) = 10n − 1 é divisível por 3

e seja M o seu domínio de verdade. Observamos que


• 1 ∈ M pois

101 − 1 = 9 = 3 · 3

• Assuma que k ∈ M então existe K ∈ N tal que 3 · K = 10k − 1. Vemos que k + 1 ∈ M, de fato
10k+1 − 1 = 10 · 10k − 1
= 9 · 10k + 10k − 1
= 9 · 10k + 3 · K
= 3 · (3 · 10k + K)
96 Capítulo 12. Números Naturais

Agora, pelo princício de indução, M = N e temos que P(n) vale para todo n ≥ 1.
2. Provar que, para todo n ≥ 1, temos
n
n2 (n + 1)2
∑ i3 = 13 + 23 + · · · + n3 = 4
.
i=1

Para isto construímos a função proposicional


n2 (n + 1)2
P(n) = 13 + 23 + · · · + n3 = .
4

ão
e seja M o seu domínio de verdade. Observamos que
• observamos que 1 ∈ M pois
1 · (1 + 1)
1=
2


• Assuma que k ∈ M então
k2 (k + 1)2
13 + 23 + · · · + k3 = .
4
Vemos que k + 1 ∈ M, de fato
13 + 23 + · · · + k3 + (k + 1)3 =

=
or
k2 (k + 1)2
4
(k + 1)2 2
+ (k + 1)3

(k + 4k + 4)
ab
4
(k + 1)2
= (k + 2)2
4
(k + 1)2 (k + 2)2
=
4
Agora, pelo princício de indução, M = N e temos que P(n) vale para todo n ≥ 1.
el

3. Provar que 4n − 1 é divisível por 3 para todo n ≥ 1.


Para isto construímos a função proposicional

P(n) = 4n − 1 é divisível por 3


Em

e seja M o seu domínio de verdade. Observamos que


• 1 ∈ M pois

41 − 1 = 9 = 3.

• Assuma que k ∈ M então existe K ∈ N tal que 3 · K = 4k − 1. Vemos que k + 1 ∈ M, de fato


4k+1 − 1 = 4 · 4k − 1
= 3 · 4k + 4k − 1
= 3 · 4k + 3 · K
= 3 · (4k + K)
Agora, pelo princício de indução, M = N e temos que P(n) vale para todo n ≥ 1.
4. Sejam Q, P1 , P2 , · · · proposições. Provar que

Q ∧ (P1 ∨ P2 ∨ · · · ∨ Pn ) = (Q ∧ P1 ) ∨ (Q ∧ P2 ) ∨ · · · ∧ (Q ∧ Pn )

para todo n ∈ N.
Para isto construímos a função proposicional

R(n) = Q ∧ (P1 ∨ P2 ∨ · · · ∨ Pn ) = (Q ∧ P1 ) ∨ (Q ∧ P2 ) ∨ · · · ∧ (Q ∧ Pn )

e seja M o seu domínio de verdade. Observamos que


97

• observamos que 1 ∈ M pois

Q ∧ (P1 ) = (Q ∧ P1 ).

• Assuma que k ∈ M então

Q ∧ (P1 ∨ P2 ∨ · · · ∨ Pk ) = (Q ∧ P1 ) ∨ (Q ∧ P2 ) ∨ · · · ∧ (Q ∧ Pk ).

Vemos que k + 1 ∈ M, de fato


Q ∧ (P1 ∨ P2 ∨ · · · ∨ Pk+1 ) = Q ∧ [(P1 ∨ P2 ∨ · · · ∨ Pk ) ∨ Pk+1 ]

ão
= Q ∧ (P1 ∨ P2 ∨ · · · ∨ Pk ) ∨ (Q ∧ Pk+1 )
= (Q ∧ P1 ) ∨ (Q ∧ P2 ) ∨ · · · ∧ (Q ∧ Pk ) ∨ (Q ∧ Pk+1 )
Agora, pelo princício de indução, M = N e temos que R(n) vale para todo n ≥ 1.
5. Para mostrar que uma proposição P(n) com nomínio nos naturais é válida para todos os naturais n ≥ k


temos que ver sempre que P(k) é verdadeira não bastando mostrar que P(n) verdadeira implica P(n + 1)
verdadeira. De fato, observe que se

P(n) = ”4n = 4n+1 ∀ n ∈ N”

Claramente se P(n) é verdadeira temos or


4n = 4n+1 ⇒ 4 · (4n ) = 4 · 4n+1 ⇒ 4n+1 = 4n+2

de onde P(n + 1) é verdadeira. No entanto sabemos que P(0) é falsa e, portanto, o axioma de indução não
ab
nos permite concluir nada.

el
Em
Em
el
ab
or

ão
ão
13. Cardinalidade de conjuntos


or
Procuramos mensurar de alguma forma o tamanho dos conjuntos. Quando o conjunto tem um número natural de
elementos isso pode ser feito simplesmente ao contar seus elementos. No entanto, se esse não for o caso, como
ab
mensuramos o conjunto? o que significa neste caso que dois conjuntos tem a mesma quantidade de elementos?
É sobre isso que trata o conteúdo deste capítulo.
Começamos com algumas definições.
Definição 13.1 • A cardinalidade de um conjunto A é quantidade elementos de um conjunto. Denota-
el

mos a cardinalidade de A pelo símbolo ]A.


• Um número cardinal é o símbolo utilizado para designar a cardinalidade de um conjunto.
• Dados dois conjuntos A e B dizemos que ]A ≤ ]B, se existe uma função injetora f : A → B.
• Dois conjuntos A e B tem a mesma cardinalidade, é denotamos ]A = ]B, se existe uma função bijetora
f : A → B.
Em

Obs. Dados dois conjuntos A, B tais que ]A ≤ ]B e assuma que não existe uma função bijetora f : A → B então
dizemos que ]A 6= ]B e, neste caso, denotamos
]A < ]B.

Corolário 13.1 Se A ⊂ B então ]A ≤ ]B

Demonstração. Segue da injetividade da função f : A → B dada por f (a) = a. 

Teorema 13.1 Seja A um conjunto, então ]A < ]P(A).

Demonstração. Dado A conjunto defina f : A → P(A) como f (a) = {a}. Então f é injetora e ]A ≤ ]P(A).
Seja g : A → P(A) e considere o conjunto

B = {a ∈ A, a 6∈ g(a)}

Claramente, se existe a ∈ A tal que g(a) = B então temos que

a ∈ B se, e somente se a 6∈ B,
100 Capítulo 13. Cardinalidade de conjuntos

o que é uma contradição. De onde B 6∈ Img(g).


Como para toda função podemos construir um tal conjunto B temos que nunca existe uma função sobrejetora
de A → P(A) e, portanto, não pode existir uma função bijetora. De onde segue que a cardinalidade dos conjuntos
é diferente. 

Corolário 13.2 Não existe um conjunto com cardinalidade maior do que todos os outros conjuntos.

Lema 13.1 Sejam A e B dois conjuntos. Assuma que existe uma função sobrejetora f : A → B. Então ]B ≤ ]A.

ão
Demonstração. Para a prova utilizamos o axioma da escolha. Dado b ∈ B escolhemos ab ∈ A tal que f (ab ) = b.
Observamos que para cada b temos um único ab . Seja à = ∪b∈B ab ⊂ A e defina

h : Ã → B, h(ab ) = b


Claramente, h é bijetora por construção. Então temos

]B = ]Ã ≤ ]A.


or
Lema 13.2 Sejam A e B dois conjuntos. Assuma que ]A ≤ ]B e que a ∈ A e b ∈ B são dois elementos. Então

](A\{a}) ≤ ](B\b)
ab
Demonstração. Seja f : A → B injetora. Seja à = A\{a}, B̃ = B\{b} e a0 ∈ A tal que f (a0 ) = b. Definimos
h : Ã → B̃ por

f (x) se x 6= a0
h(x) =
f (a) se x = a0
el

Então h é injetora de onde segue o resultado. 

Dada uma familia de conjuntos F = {Ai , i ∈ I} podemos introduzir a relação

Ai ∼ A j se tem a mesma cardinalidade.


Em

A relação assim definida é de equivalência, de fato


• A ∼ A pois a função identidade I(x) = x é bijetora.
• para todo A, B ∈ F , se A ∼ B então existe f : A → B bijetora, de onde f −1 : B → A bijetora e, portanto,
B ∼ A.
• para todo A, B, C ∈ F se A ∼ B e B ∼ C então, como composição de funções bijetoras é bijetora, temos
existe uma bijeção de f : A → C. Portanto A ∼ C
Lembramos que cada número natural n é um subconjunto de um conjunto indutivo, isto é

n + 1 = {0, 1, 2, . . . , n}.

Definição 13.2 Um conjunto A é dito finito se ele tem a mesma cardinalidade que o conjunto correspondente
um n ∈ N. Neste caso, o cardinal de A será repressentado pelo número natural que tem a mesma cardinalidade
que A.
Caso o conjunto não seja finito, ele será dito infinito.

Com a definição acima, se A um conjunto finito, o cardinal de A, que denotamos por ]A, é
• ]A = 0 se A = 0.
/
• ]A = n se A tem a mesma cardinalidade que {0, 1, 2, . . . , n − 1} ou {1, 2, . . . , n}.
101

 Exemplo 13.1 • Da definição, todo conjunto A que tem a mesma cardinalidade com algúm conjunto da
forma

{0, 1, 2, 3, . . . , n}

para algum n ∈ N é finito.


• Considere P ⊂ N dado por

P = {3 · k, k ∈ N}

ão
Claramente a função f : P → N dada por f (x) = x é injetora. Por outro lado a função g : N → P é também
injetora. Agora o Teorema de Cantor-Bernestein Schröder garante a existência de uma bijeção. De onde
segue que N não é finito.



Teorema 13.2 Seja A um conjunto. Então A é um conjunto finito se, e somente se, para todo subconjunto
próprio B ⊂ A temos ]B 6= ]A.

Demonstração. Assuma que A é finito e de cardinalidade n. Se B ⊂ A própriamente, então B contém, pelo


menos, um elemento menos que A e portanto terá cardinalidade ]B ≤ n − 1 < n = ]B. de onde ]A 6= ]B.
or
Por outro lado, se A é infinito, utilizando o axioma da escolha podemos escolher para cada n ∈ N um conjunto
Bn ⊂ A de cardinalidade n e de forma tal que Bn ⊂ Bn+1 (isto é, na verdade, consequência do princípio da boa
ordem). Desta forma, se A é infinito existe f : N → A injetora. Seja g : A\{ f (0)} → A definida por
ab

a se a 6∈ Img( f )
g(a) = .
g(a) = f (n − 1) se a = f (n)

Claramente g é injetora e sobrejetora. De onde ]A = ]A\{ f (0)}. Então A é infinito e existe um subconjunto
próprio de A com a mesma cardinalidade que A. De onde provamos que A finito implica que todo subconjunto
el

próprio tem caridalidade menor do que A. 

 Exemplo 13.2 • A = {a, b, c, d, e} e B = {1, 2, 3, 4, 5} são finitos e tem a mesma cardinalidade. Mais
ainda A ∼ B pela correspondência

a↔1 b↔2 c↔3 d↔4 5↔e


Em

• A = N e B = {2n, n ∈ N} tem a mesma cardinalidade e não são finitos. Mais ainda A ' B pela correspon-
dência

n ↔ 2n.

Assim como no conjunto dos números naturais é possível definir um operação soma e produto entre números
cardinais, básicamente, a ideia é que se α = ]A e β = ]B são dois números cardinais com A ∩ B = 0,
/ então

α + β = ](A ∪ B) e α · β = ](A × B).

No caso 0 = ]0/ é o elemento neutro da soma e 1 é o neutro do produto.


Mais ainda, α = ]A e β = ]B, podemos definir

β α = ]{ f : A → B, função}.

No caso, 00 = 1 para números cardinais pois a única função que satisfaz é a que corresponde a relação nula
0/ = 0/ × 0.
/
Com isto temos os seguintes resultados para conjuntos finitos.
102 Capítulo 13. Cardinalidade de conjuntos

Proposição 13.1 Sejam A e B dois conjuntos finitos de um universo U. Então

](A ∪ B) + ](A ∩ B) = ]A + ]B.

Demonstração. Assuma que

A = {a1 , . . . , ak , ak+1 . . . , an } B = {a1 , . . . , ak , b1 , . . . bm }.

Então

ão
A ∪ B = {a1 , . . . , an , b1 , . . . , bm } A ∩ B = {a1 , . . . , ak }.

Temos assim as seguintes bijeções


A ↔ Ã = {1, 2, . . . , n}


B ↔ B̃ = {n + 1, n + 2, . . . , n + m + k}
A ∪ B ↔ C̃ = {1, 2, . . . , n + m}
A ∩ B ↔ D̃ = {n + m + 1, . . . , n + m + k}

Observamos que à ∩ B̃ = 0/ e que C̃ ∩ D̃ = 0.


/ Portanto or
](A ∪ B) + ](A ∩ B) = ]{1, 2, . . . , n + m} + ]{n + m + 1, . . . , n + m + k}
= ]{1, . . . , n + m + k}
ab
= n+m+k
= n + (m + k)
= ]{1, 2, . . . , n} + ]{n + 1, n + 2, . . . , n + m + k}
= ]A + ]B.
el

Corolário 13.3 Sejam α e β números cardinais finitos, então a soma entre eles tem como resultado o valor
da soma como números naturais α · β .
Em

Teorema 13.3 Para todo n ∈ N temos que se A é um conjunto tal que ]A = n então ]P(A) = 2n .

Demonstração. Vamos a mostrar o resultado pelo princípio de indução e assumindo a bijeção com conjuntos
disjuntos para poder fazer a soma. Para isto construimos a função proposicional,

P(n) = ”A é um conjunto tal que ]A = n então ]P(A) = 2n .”

Seja M ⊂ N o domínio de verdade de P(n).


Observamos que para 0 ∈ M pois, neste caso, A = 0/ de onde P(A) = {0}
/ que contém 1 = 20 elementos.
Assuma que k ∈ M vamos ver que k + 1 em M também. De fato se

A = {a1 , . . . , ak , ak+1 }

escrevemos A = A1 ∪ Ak em que

A1 = {a1 , . . . , ak }, A2 = {ak+1 }

Então um elemento B do conjunto de partes de A satisfaz somente uma das seguintes afirmações
• B ∈ P(A1 ) (temos ]P(A1 ) elementos deste tipo)
• B = C ∪ A2 com C ∈ P(A1 ) (temos ]P(A1 ) elementos deste tipo).
103

portanto

]P(A) = ]P(A1 ) + ]P(A1 ) = 2k + 2k = 2k+1 .

de onde k + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução, M = N.




Obs. Quando A é não finito temos também que P(A) = 2 . Mas esse número cardinal tem a seguinte descrição:
]A
Dado A um conjunto, considere o conjunto F de todas as funções f : A → {0, 1}, então definimos

ão
χ : P(A) → F,

como sendo

1 se a ∈ B


χ(B)(x) =
0 se a ∈
6 B

Clamente, toda função f assume valor 1 em B = f −1 (1), então f = χ f −1 (1) . Portanto χ é sobrejetora e
naturalmente injetora. De onde se define

]P(A) := 2]A .
or
Teorema 13.4 Se ]A = m e ]B = n então existem 2n·m relações de A em B.
ab
Demonstração. O resultado segue de observar que cada relação se corresponde biunívocamente com um
elemento do conjunto de partes e, neste caso, o conjunto de partes tem 2nm elementos. 

2
Corolário 13.4 Se ]A = m então existem 2m relações em A.
el

Demonstração. Aplicando o teorema anterior para B = A temos que n = m de onde existem 2m×m relações, isto
2
é 2m relações em A. 

De forma similar mostramos que


Em

Teorema 13.5 Sejam n, m ∈ N. Se A é um conjunto tal que ]A = n e B é um conjunto tal que ]B = m então
](A × B) = n · m.

Demonstração. Seja B um conjunto com m elementos. Vamos mostrar que para todo conjunto A tal que ]A = n
temos que ](A × B) = n · m. Para isto construimos a função proposicional

P(n) = ”Se A é um conjunto tal que ]A = n então ](A × B) = n · m.”

Seja M o domínio de verdade desta função. Observamos que se 0 ∈ M, pois

0/ × B = 0/ e ]0/ × B = 0 · m = 0.

Assuma que k ∈ M, vamos ver que k + 1 ∈ N. De fato se

A = {a1 , . . . , ak , ak+1 }

escrevemos A = A1 ∪ Ak em que

A1 = {a1 , . . . , ak }, A2 = {ak+1 }

Então um elemento u do conjunto A × B satisfaz somente uma das seguintes afirmações


104 Capítulo 13. Cardinalidade de conjuntos

• u = (al , b) com l ≤ k e b ∈ B . Denotamos por à aao conjuntos constituído por estes elementos. Temos
](A1 × B) = k · m por hipótese indutiva.
• u = (ak+1 , b) com b ∈ B . Denotamos por B̃ ao conjuntos constituído por estes elementos. Temos
]B̃ = ]B = m, por construção.
Observamos que à ∩ B̃ = 0,portanto
/
](A × B) = ]Ã + ]B̃
= ](A1 × B) + ]B
= k·m+m

ão
= (k + 1) · m.
de onde k + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução, M = N. 

Corolário 13.5 Sejam α e β números cardinais finitos, então o produto entre eles tem como resultado o


valor do produto como números naturais α · β .

De maneira análoga a demonstração para o caso de dois conjuntos, podemos mostrar o seguinte resul-
tado

](A1 × · · · × Ak ) = n1 · n2 · · · · nk .
or
Teorema 13.6 Sejam {A1 , . . . , Ak } uma familia de conjuntos tais que ]Ai = ni para todo i = 1 . . . k então

Demonstração. Provamos o resultado por indução em k. Primeiramente lembramos que se A é um conjunto tal
ab
que ]A = n e B é um conjunto tal que ]B = m então ](A × B) = n · m.
Considere agora a função proposicional

P(k) = ”Se {A1 , . . . , Ak } é uma familia de conjuntos tais que ]Ai = ni

para todo i = 1 . . . k então ](A1 × · · · × Ak ) = n1 · n2 · · · nk . ”


el

Seja M o seu domínio de verdade. Observamos que 0 ∈ M da definição de cardinalidade do conjunto.


Assuma que k ∈ M, isto é que se {A1 , . . . , Ak } uma familia de conjuntos tais que ]Ai = ni então ](A1 × · · · ×
Ak ) = n1 · n2 · · · nk .
Vejamos que k + 1 ∈ M. De fato se {A1 , . . . , Ak , Ak+1 } uma familia de conjuntos tais que ]Ai = ni para todo i
Em

temos
](A1 × · · · × Ak × Ak+1 ) = ]((A1 × · · · × Ak ) × Ak+1 )
= ](A1 × · · · × Ak ) × ](Ak+1 )
= (n1 · n2 · · · · nk ) · nk+1
= n1 · n2 · · · · nk · nk+1 .
Pelo princípio de indução temos que P(k) vale para todo k ∈ N.


Teorema 13.7 Sejam n, m ∈ N. Se A é um conjunto tal que ]A = n e B é um conjunto tal que ]B = m então
](B)](A) = mn .

Demonstração. Sejam A e B conjuntos e assuma que ]A = n e ]B = m e que

A = {a1 , . . . , an } e B = {b1 , b2 , . . . , bn }.

Denotamos por

F(A, B) = { f : A → B, função}.
105

Observamos que uma função f : A → B é construída associar por uma única seta um elemento de A com um
elemento de B, portanto para cada ai ∈ A temos m possibilidades para f (ai ). Assim temos mn possibilidades
diferentes de escolher a função f .


Corolário 13.6 Sejam α e β números cardinais finitos, então o número cardinal β α é o mesmo número que
o número natural que é resultado de fazer β α .

Temos dividido os conjuntos em finitos e infinitos. No entanto, para distinguir um pouco melhor entre a

ão
cardinalidade dos conjuntos que são infinitos introduzimos o conceito de enumerabilidade.
Definição 13.3 Um conjunto A é dito enumerável se existe uma função injetora f : A → N. Em particular
• se a função for sobrejetora sobre um conjunto finito de N então A é dito enumerável finito.
• se a função for sobrejetora sobre um subconjunto de N com a mesma cardinalidade que N então A é
dito enumerável infinito.


Os conjuntos que não admitem uma tal função são chamados de não enumeráveis.

Proposição 13.2 Seja A um conjunto infinito, então existe g : N → A injetora.

Demonstração. Assuma exista uma função escolha f : P(A) → A, então definimos

..
.
f (A) = a0
f (A\{a0 }) = a1
..
.
or
ab
f (A\{a0 , . . . , an }) = an+1
.. ..
. .
Como A é infinito temos que cada
el

A\{a0 , . . . , an } 6= 0/

e como f é uma função escolha an 6∈ {a0 , . . . , an−1 }. O conjunto B = {ai , i ∈ N} é então enumerável. Agora seja
g : N → B definida por g(n) = an . 
Em

De forma similar, assumindo o axioma da escolha, podemos provar o seguinte resultado.

Teorema 13.8 — Princípio da Partição. Sejam A e B dois conjuntos. Se existe f : A → B sobrejetora então
existe g : B → A injetora.

Demonstração. Utilizamos o axioma da escolha. Construimos uma partição de A dada pelos conjuntos

f −1 (b) ∀ b ∈ B.

Escolhemos um único elemento ab ∈ f −1 (b) e definimos

g(b) = ab ∈ f −1 (b).

A função assim definida é injetora pois


g(b) = g(b0 ) ⇔ ab = a0b
⇒ f (ab ) = f (a0b )
⇒ b = b0 .


 Exemplo 13.3 • O conjunto dos números naturais é enumerável infinito de forma natural.
106 Capítulo 13. Cardinalidade de conjuntos

• Todo conjunto finito é, em particular enumerável.


• O conjunto N × N é enumerável. Para isto considere f : N × N → N dada por
f (n, m) = 2n 3m .
Observamos que 2n1 3m1 = 2n2 3m2 se, e somente se, n1 = n2 e m1 = m2 . De onde segue que f é injetora. Por
outro lado g : N → N × N dada por g(n) = (n, n) é naturalmente injetora. O teorema de Cantor Bernstein
e Schröder nos garante que os dois conjuntos tem a mesma cardinalidade.
• Veremos depois que o conjunto dos números reais não são enumeráveis.


ão
Proposição 13.3 O conjunto Z dos números inteiros é enumerável.

Demonstração. De fato, considere a função


 n
2 se 0 ≤ n
f (z) =


3−n se n < 0
Como 2 e 3 são coprimos temos que
2a 6= 3b ∀ a, b ∈ N\{0}.

é injetora.
or
Da mesma forma, se prova que 2a = 2b se, e somente se, a = b e que 3a = 3b se, e somente se a = b. Portanto f

Proposição 13.4 Sejam A, B conjuntos enumeráveis. Então


• Todo subconjunto C ⊂ A é enumerável.

ab
• Se existe f : U → A injetora, então U é enumerável.
• Se existe f : A → V sobrejetora, então V é enumerável.
• A × B é enumerável.
• A ∪ B é enumerável.
el

Demonstração. • Seja C ⊂ A subconjunto. Como A é enumerável temos que existe uma função injetora
f : A → N. Em particular, f |A : A → N é injetora. De onde segue que C é enumerável.
• Como A é enumerável existe g : A → N tal que g é injetora. Então g ◦ f : U → N é injetora. Portanto U é
enumerável.
• Seja f : A → V é sobrejetora e considere a função injetora g : A → N dada pela enumerabilidade de A.
Em

Então, da sobrejetividade de f temos que para cada v ∈ V existe av ∈ A. Definimos F : V → N por


F(v) = g(av ).
observamos que se F(v1 ) = F(v2 ) se, e somente se av1 = av2 mas, pelo fato de f ser função, isto ocorre se
v1 = v2 . Portanto F é injetora.
• Como A e B são enumeráveis, existem f : A → N e g : B → N funções injetoras. Considere F : A × B →
N × N dada por
F(a, b) = ( f (a), g(b)),
é injetora pois f e g são. Como F(A × B) ⊂ N × N é enumerável, então A × B é enumerável.
• Como A e B são enumeráveis, existem f : A → N e g : B → N funções injetoras. Definimos F : A ∪ B → N
por

2 · f (z) se z ∈ A
F(z) =
2 · g(z) + 1 se z ∈ B\A
que é claramente injetora. Por outro lado g : N → Z dada por g(n) = n é naturalmente injetora. O teorema
de Cantor Bernstein e Schröder nos garante que os dois conjuntos tem a mesma cardinalidade.

107

Corolário 13.7 Sejam {Ai , i ∈ N} uma coleção de conjuntos enumeráveis. Então


[
Ai
i∈N

é enumerável.

Demonstração. Considere as funções injetoras fn : An → N dadas pela enumerabilidade de An para todo n ∈ N


então

ão
[
F : N×N → Ai ,
i∈N

definida por

F(n, m) = fn (m),


S
é claramente sobrejetora. De onde segue que i∈N Ai é enumerável. 

Proposição 13.5 O conjunto

Q∗+ =

é enumerável
na
b
or
, (a, b) ∈ (Z\{0}) × (Z\{0}), a > 0, b > 0
o

Demonstração. Considere os números racionais escritos na forma irredutível, isto é na forma


ab
p
onde p, q ∈ Z, tais que (p, q) = 1.
q
Seja f : Q∗+ → N dada por
el

 
p
f = 2 p 3q .
q
Observamos que se
   
Em

p p1
f =f
q q1
então 2 p 3q = 2 p1 3q1 e, pelo teorema fundamental da aritmética, temos que p1 = p e q1 = q e, portanto
p p1
= .
q q1
Logo, f é injetora e, portanto Q∗+ é enumerável.


Corolário 13.8 O conjunto dos racionais é enumerável.

Demonstração. Observamos que Q = Q∗+ ∪ {0} ∪ Q∗− onde


na o
Q∗+ = , (a, b) ∈ (Z\{0}) × (Z\{0}), a > 0, b > 0
b
na o
Q∗− = , (a, b) ∈ (Z\{0}) × (Z\{0}), a < 0, b > 0
b
e que existe uma bijeção F : Q∗+ → Q∗− dada por F(x) = −x. Portanto, os três conjuntos são enumeráveis, de
onde segue que Q é enumerável. 
108 Capítulo 13. Cardinalidade de conjuntos

 Exemplo 13.4 Para ilustrar um pouco o contra-intuitivo dos conjuntos infinitos temos o experimento mental
chamado de "Hotel de Hilbert". Neste experimento considera-se um hotel com infinitos quartos (tantos quartos
como números naturais), no qual todos os quartos contêm um hóspede. Desta forma o hotel está lotado. Ao
chegar um novo hóspede que deseja se hospedar no hotel, o recepcionista consegue acomoda-lo pedindo a cada
hospede do quarto n ir para o quarto n + 1, ficando assim o quarto 1 livre. Mais ainda, se cada hóspede ir do
quarto n ao quarto 2n podemos deixar livre um número infinito de hóspedes.
Claramente isto só pode acontecer pois o conjunto de quartos é infinito, pois se fosse finito a pessoa que
ocupa o último quarto não teria como se movimentar. 

Pelo que vimos acima, para conjuntos infinitos, a noção de cardinalidade é um pouco delicada e pode ser

ão
pouco intuitiva. A definição diz que para mostrar que dois conjuntos tem a mesma cardinalidade devemos
construir uma função bijetora. No entanto, construir a tal função bijetora pode ser una tarefa um tanto complicada.
Nesse sentido o teorema de Cantor-Bernstein-Schröder simplifica o problema.
 Exemplo 13.5 Considere os conjuntos A = (0, 1] e B = (1, 2) ∪ (3, 4]. Considere


f :A→B f (x) = x + 3
 x−1
2 se x ∈ (1, 2)
g:B→A g(x) = x−2
2 se x ∈ (3, 4)

g(1, 2) = (0, 1/2) g(3, 4] = (1/2, 1].

Portanto A e B tem a mesma quantidade de elementos.


or
Observamos as duas funções são injetoras, mais ainda, que


ab
Como vimos os conjuntos finitos tem associado um número cardinal que é igual ao número n ∈ N com a
mesma cardinalidade embora "número cardinal" e "número natural" sejam dois conceitos diferentes, não ha
problema em denotar os dois números da mesma forma. Neste caso o número cardinal é chamado de número
cardinal finito. Os números cardinais dos conjuntos infinitos são camados de infinitos ou números cardinais
el

transfinitos. Como vimos o conjunto dos números cardinais formam um conjunto ordenado (utilizando funções
injetoras e bijetoras) e, mais ainda há um resultado de tricotomia, isto é, dados dois números cardinais a e b se
cumple uma das seguintes

a < b, a = b, a > b.
Em

A cardinalidade dos naturais é denotada por ℵ0 (Aleph 0). Os conjuntos enumeráveis infinitos tem
cardinalidade ℵ0 pelo teorema de Cantor-Bernstein-Schröder. De fato, por um lado sabemos que f : A → N é
injetora. Como A é infinito, então a função é sobrejetora sobre um conjunto com a mesma cardinalidade de N,
de onde construímos uma função injetora g : N → A.
Vimos que tanto os números inteiros como os racionais tem a mesma cardinalidade e igual a ℵ0 e, portanto,
são enumeráveis. Sempre é possível construir conjuntos de cardinalidade maior. Desta forma temos os sucessores
de ℵ0 são denotados por ℵ1 = s(ℵ0 ), ℵ2 = s(ℵ1 ) . . ..
Por outro lado, veremos depois que os reais terão cardinalidade c, que é chamada de cardinalidade do
contínuo, e que satisfaz ℵ0 < c = 2ℵ0 .
Existe uma hipótese, chamada de Hipótese do contínuo que diz que não há número cardinal, isto é número
que indique a quantidade de elementos do conjunto, entre as cardinalidades ℵ0 e 2ℵ0 , isto é ℵ1 = c. Observamos
também que foi mostrado que essa hipótese não pode ser demonstrada nem refutada dentro da teoria de conjuntos
de Zermelo-Fraenkel.
Também é sabido que há conjuntos com cardinalidade maior que o contínuo, por exemplo, o conjunto P(R)
tem cardinalidade 2c > c.
De modo geral temos as seguintes relações entre as cardinalidades
• ℵℵ 0
0 =c 
n
• cn = 2ℵ0 = 2n×ℵ0 = 2ℵ0
ℵ0 ℵ = 2ℵ0 ×ℵ0 = 2ℵ0

• cℵ0 = 2 0
109
c
• cc = 2ℵ0 = 2ℵ0 ×c = 2c .
Para mais detalhes sobre número cardinais, sua aritmética e demais pode ser conjultado o trabalho W.
Sierpinski, Cardinal and ordinal numbers-PWN, Warsaw (1965).
 Exemplo 13.6 • O conjunto P dos números naturais pares com o 0 e o conjunto I dos naturais ímpares
tem a mesma cardinalidade. De fato f : P → I dada por f (p) = p + 1 é injetora e g : I → P dada por
g(p) = p + 1 também é injetora, agora pelo teorema de Cantor-Bernstein-Schröder existe um bijeção entre
I e P.
• O intervalo A = (−1, 1) e o conjunto dos números reais tem a mesma cardinalidade. Podemos argumentar
pelo teorema de Cantor-Bernstein-Schröder. No entanto vamos construir a bijeção. De fato, considere

ão
f : A → R dada por
x
f (x) =
1 − x2
Observamos que


(
0 se a = 0
f −1 (a) = √
−1+ 1+4·a2
2·a se a 6= 0.

pois, se a = 0 então f ◦ f −1
√(0) = f (0) = 0 e se a 6= 0 então
f ◦ f −1 (a) =

De forma similar,
−1 + 1 + 4 · a2
2·a

−1 +
q
· 
1− 1+
1

1− 1+4·a2

a
1 + 4 · (1−a
2
or
 = a.
2·a2
ab
2 )2
f −1 ◦ f (a) = a = a.
2 · 1−a 2

se mostra que f −1 ◦ f (x) = x.


• O intervalos I1 = (0, 1), I2 = [0, 1) e I3 = [0, 1] tem a mesma cardinalidade. De fato, utilizando o teorema
de Schröder-Bernstein, e as funções injetoras
el

f1 : (0, 1) → [0, 1], f (x) = x e g1 : [0, 1] → (0, 1), g(x) = x/2


e
f2 : (0, 1) → [0, 1), f (x) = x e g2 : [0, 1) → (0, 1), g(x) = x/2
Em

temos o resultado.
• Podemos mostrar que (0, 1) × (0, 1) tem a mesma cardinalidade de R2 . Utilizando o teorema de Cantor-
Bernstein-Schröder e as funções injetoras f : (0, 1) × (0, 1) → R2 e g : R2 → (0, 1) × (0, 1) dadas por
√ p !
2 · x − 1 + 1 + 4 · x 2 2 · y − 1 + 1 + 4 · y2
f (x, y) = (x, y) e g(x, y) = ,
4·x 4·y

• O conjunto (0, 1) × (0, 1) tem a mesma cardinalidade que (0, 1). Por um lado temos função injetora
f : (0, 1) → (0, 1) × (0, 1) dada por
f (0, a1 a2 a3 a4 . . .) = (0, a1 a3 a5 . . . , 0, a2 a4 a6 . . .),
e por outro lado g : (0, 1) × (0, 1) → (0, 1) definida por
g(0, a1 a2 a3 . . . , 0, b1 b2 b3 . . .) = 0, a1 b1 a2 b2 a3 b3 . . . ,
é também injetora.
• Da mesma forma podemos mostrar que para Rn a cardinalidade é c.


Fechamos o capítulo com uuma consequência do axioma daregularidade. Para isto precisamos de uma
definição prévia.
110 Capítulo 13. Cardinalidade de conjuntos

Definição 13.4 Considere uma familia de conjuntos {Ai , i ∈ I} com I ⊂ N. Dizemos que Ai é uma cadeia
descendente se

Ai ⊂ A j ∀ j<i

para todo i ∈ I.

Outra consequência do axioma da regularidade é o seguinte resultado.

Teorema 13.9 Não existe uma cadeia infinita e descendente de conjuntos.

ão
Demonstração. Se existe uma tal cadeia. Então defina f : N → A = ∪Ai dada por f (i) = Ai . Considere Img( f )
e F = { f (n), n ∈ N}.
Pelo axioma da regularidade existe B ∈ F tal que B ∩ F = 0.
/ No entanto B = f (k) pois é um elemento de B
e B ⊂ f (k − 1) de onde B = f (k) ∩ F, de onde B não pode ser disjunto de F, o que é uma contradição. Portanto


não existe tal cadeia. 

or
ab
el
Em
ão
14. Números Inteiros


or
Temos construído até agora os número naturais. No entanto o conjunto dos naturais, como conjunto numérico,
não é completo o suficiente no seguinte sentido: De forma geral, procuramos um conjunto de números A munido
ab
de operações soma (+) e produto ( · ) tal que se a0 , a1 , . . . an , b ∈ A então a função proposicional do tipo
polinomial, isto é, da forma

P(x) = ”x ∈ A, a0 + a1 · x + · · · + an · xn = b.”
el

tenha domínio de verdade não vazio em A.


Porém, para os naturais é fácil chegar em funções proposicionais deste tipo com domínio vazio. Por exemplo

P(x) = ”x ∈ N, x + 5 = 3.” ou Q(x) = ”x ∈ N, 4 · x = 5.”


Em

tem por domínio de verdade o conjunto vazio em N.


É por isso que se faz necessário ampliar o universo de números no qual podemos descrever estas funções. O
objetivo então é achar um conjunto numérico de forma tal que as funções propocisionais polinomiais sobre os
naturais estejam contempladas e que tenham seu domínio de verdade não vazio nele. Claramente, este novo
conjunto numérico deve ser construído de forma tal que contenha o conjunto de números naturais.
Nesse sentido, o primeiro passo é a construção dos números inteiros. Damos uma ideia rápida da construção
deste conjunto numérico.
Começamos definindo em N × N a relação de equivalência

(a, b) ∼ (c, d) ⇔ a + d = b + c

• A relação é reflexiva pois para todo (a, b) ∈ N × N temos

a+b = b+a ⇒ (a, b) ∼ (a, b).

• A relação é simétrica pois


(a, b) ∼ (c, d) ⇔ a + d = b + c
⇔ c+b = d +a
⇔ (c, d) ∼ (a, b).
112 Capítulo 14. Números Inteiros

• A relação é transitiva pois


[(a, b) ∼ (c, d)] ∧ [(c, d) ∼ (e, f )] ⇔ (a + d = b + c) ∧ (c + f = d + e)
⇒ (a + d = b + c) ∧ (c + f = b + e)
⇒ a+ f +c+d = b+e+d +a = b+e+b+c
⇒ a+ f = b+e (cancelamentento em N)
⇔ (a, b) ∼ (e, f ).
O espaço quociente por esta relação é

ão
Z = N × N/ ∼

Se (a, b) ∈ N × N temos três casos possíveis

a > b ⇒ a = b+n ∈ N ⇒ (a, b) ∈ [(a, b)] = [(n, 0)].


a = b ⇒ (a, b) ∈ [(a, b)] = [(0, 0)]


b > a ⇒ b = a+n ∈ N ⇒ (a, b) ∈ [(a, b)] = [(0, n)].

Definimos então, para cada n ∈ N tal que n > 0, as classes

n = [(n, 0)] = {(n + k, k), k ∈ N}

também será denotada por +n, a classe

-n = [(0, n)] = {(k, n + k), k ∈ N}.


or
ab
e se n = 0 a classe

0 = [(0, 0)] = {(k, k), k ∈ N}.

Com esta notação, podemos escrever


el

Z = {. . . , -3, -2, -1, 0, 1, 2, 3, . . .}

Passamos agora a definir as operações de soma e produto entre números inteiros. A soma de números inteiros
é a operação + : Z × Z → Z definida por
Em

[(a, b)] + [(c, d)] = [(a + c, b + d)]

Obs. A operação soma nos números inteiros não é igual a operação soma nos números naturais. A notação correta
teria um simbolo para cada operação, então seria +Z : Z × Z → Z definida por

[(a, b)] +Z [(c, d)] = [(a +N c, b +N d)].

Como a notação fica muito sobrecarregada, deixamos a interpretação a cargo do leitor e subentendida ao
contexto.

É fácil ver que a soma, está bem definida, isto é não depende da escolha dos representantes. De fato se

[(a, b)] = [(a0 , b0 )] [(c, d)] = [(c0 , d 0 )]

então,

(a + c) + (b0 + d 0 ) = (b + d) + (a0 + c0 )

e portanto,

[(a + c, b + d)] = [(a0 + c0 , b0 + d 0 )]


113

Mais ainda, temos que a soma nos Inteiros generaliza a soma nos naturais. De fato, observamos que se m ≤ n
são números naturais, e a = n + m e b + m = n então

n + m = [(n, 0)] + [(m, 0)] = [(n + m, 0)] = a


n + (-m) = [(n, 0)] + [(0, m)] = [(n, m)] = [(b, 0)] = b
(-n) + m = [(0, n)] + [(m, 0)] = [(m, n)] = [(0, b)] = -b
(-n) + (-m) = [(0, n)] + [(0, m)] = [(0, n + m)] = -a.

Utilizando as definições acima podemos mostrar as seguintes propriedades da soma.

ão
Proposição 14.1 Sejam a, b, c números em Z. Então
• a + b = b + a (comutatividade).
• a + (b + c) = (a + b) + c (associatividade).
• Existe um único elemento 0 = [(0, 0)] ∈ Z tal que a + 0 = a para todo a ∈ Z (existência de elemento


neutro).
• Para todo a ∈ Z existe −a ∈ Z tal que a + (−a) = 0 (existência de elemento inverso).
• Se a + b = a + c Então b = c. (cancelamento na adição).

Demonstração. Sejam


a + b = [(a1 , a2 )] + [(b1 , b2 )]
or
a = [(a1 , a2 )] b = [(b1 , b2 )] e c = [(c1 , c2 )]
ab
= [(a1 + b1 , a2 + b2 )]
= [(b1 + a1 , b2 + a2 )]
= b + a.

el

a + (b + c) = ([(a1 , a2 )] + [(b1 , b2 )]) + [(c1 , c2 )]


= [(a1 + b1 , a2 + b2 )] + [(c1 , c2 )]
= [(a1 + b1 + c1 , a2 + b2 + c2 )]
= [(a1 , a2 )] + [(b1 + c1 , b2 + c2 )]
Em

= [(a1 , a2 )] + ([(b1 , b2 )] + [(c1 , c2 )]


= (a + b) + c.
• Provamos somente a unicidade pois a existência e a propriedade foi mostrada acima. Assuma que existe
um outro k ∈ Z que satisfaz a + k = a para todo a ∈ Z então,

0 = 0+k = k

de onde segue a unicidade.


• Definimos −a da seguinte forma
se (n, 0) ∈ a ⇒ −a = [(0, n)] e a + (−a) = [(n, n)] = 0,
se (0, n) ∈ a ⇒ −a = [(n, 0)] e a + (−a) = [(n, n)] = 0.

a + b = a + c ⇒ [(a1 + b1 , a2 + b2 )] = [(a1 + c1 , a2 + c2 )]
⇒ a1 + b1 + a2 + c2 = a1 + c1 + a2 + b2
⇒ b1 + c2 = c1 + b2 (cancelamento em N)
⇒ b = c.

114 Capítulo 14. Números Inteiros
Definição 14.1 Dados a, b ∈ Z definimos

a − b = a + (−b)

Os inteiros munidos da operação soma formam uma estrutura algébrica particular que passamos a descrever.
Definição 14.2 Seja G um conjunto e ? : G × G → G uma operação binária definida sobre G. O par ordenado
(G, ? ) é um grupo se são satisfeitas os seguintes axiomas:
• Associatividade: Quaisquer elementos a, b, c ∈ G temos (a ? b) ? c = a ? (b ? c)
• Existência do elemento neutro: Existe um elemento e ∈ G tal que e ? a = a ? e = a
• Existência do elemento simétrico: Para qualquer elemento a ∈ G, existe outro elemento a0 ∈ G, tal que,

ão
a ? a0 = a0 ? a = e, onde e é o elemento neutro previamente mencionado.
Mais ainda, se para todos a, b ∈ G temos a comutatividade, isto é, que a ? b = b ? a o grupo é dito abeliano.

Corolário 14.1 O conjunto dos números inteiros munidos da operação soma, isto é (Z, +), é um grupo


abeliano.

Demonstração. Inmediato da definição de grupo abeliano e as propriedades listadas acima. 

Assim como acontece com a soma, podemos fazer com o produto. O produto de números inteiros · : Z × Z →

então
n = [(a, b)] e m = [(c, d)]
or
Z está definida em função da soma e da multiplicação nos números naturais da seguinte forma: se
ab
n · m = [(a · c + b · d, a · d + b · c)].

Obs. Novamente, aqui a operação produto nos números inteiros não é igual a operação produto nos números
el

naturais. A notação correta teria um simbolo para cada operação, então seria seria ·Z : Z × Z → Z definida
por

n ·Z m = [(a ·N c +N b ·N d, a ·N d +N b ·N c)].

Como a notação fica muito sobrecarregada, deixamos a interpretação a cargo do leitor e subentendida ao
Em

contexto.

É fácil ver que a multiplicação está bem definida, isto é se

n = [(a, b)] = [(a0 , b0 )] e m = [(c, d)] = [(c0 , d 0 )]

então

a + b0 = b + a0 ⇒ ca + cb0 = cb + ca0
a + b0 = b + a0 ⇒ db + da0 = da + db0 .

Somando as equações temos

ca + cb0 + db + da0 = cb + ca0 + da + db0 ⇒


0 0 0 0
[(ac + db, cb + da)] = [(a c + b d, a d + b c)] ⇒
0 0
[(a, b)] · [(c, d)] = [(a , b )] · [(c, d)].

De forma similar se mostra que

[(a0 , b0 )] · [(c, d)] = [(a0 , b0 )] · [(c0 , d 0 )].


115

Em particular observamos que se a = [(a, b)] então

[(a, b)] · [(0, 0)] = [(0, 0)] ⇒ a · 0 = 0,


[(a, b)] · [(1, 0)] = [(a, b)] ⇒ a · 1 = a.

Mais ainda se n, m ∈ N tais que a = n · m então

n · m = [(n, 0)] · [(m, 0)] = [(n · m, 0)] = a

ão
n · (-m) = [(n, 0)] + [(0, m)] = [(0, n · m)] = [(0, a)] = -a
(-n) · m = [(0, n)] · [(m, 0)] = [(0, n · m)] = [(0, a)] = -a
(-n) · (-m) = [(0, n)] · [(0, m)] = [(n + m, 0)] = a.

Em particular vemos que se n, m ∈ N então


n · (-m) = (-n) · m = -a.

Utilizando as definições acima podemos mostrar as seguintes propriedades do produto.


Proposição 14.2 Sejam a, b, c numeros em Z. Então



a · b = b · a (comutatividade).
a · (b · c) = (a · b) · c (associatividade).
or
Existe 1 = [(1, 0)] ∈ Z tal que a · 1 = a (existência de elemento neutro).
ab
• a · (b + c) = (a · b) + (a · c) (distributividade).
• Se a · b = a · c Então b = c. (cancelamento no produto).

Demonstração. Sejam
el

a = [(a1 , a2 )] b = [(b1 , b2 )] e c = [(c1 , c2 )]


a · b = [(a1 · b1 + a2 · b2 , a1 · b2 + b1 · a2 )]
= [(b1 · a1 + b2 · a2 , b1 · a2 + a1 · b2 )]
Em

= b · a.

a · (b · c) = [(a1 , a2 )] · [(b1 · c1 + b2 · c2 , b1 · c2 + b2 · c1 )]
= [(a1 · (b1 · c1 + b2 · c2 ) + a2 · (b1 · c2 + b2 · c1 ), a1 · (b1 · c2 + b2 · c1 ) + a2 · (b1 · c1 + b2 · c2 ))]
= [(a1 · b1 + a2 · b2 , a1 · b2 + b1 · a2 )] · [(c1 , c2 )]
= (a · b) · c.
• Existe 1 = [(1, 0)] ∈ Z tal que
a · 1 = [(a · 1 + 0 · b, a · 0 + 1 · b)]
= [(a, b)]
= a.

a · (b + c) = [(a1 , a2 )] · [(b1 + c1 , b2 + c2 )]
= [(a1 · (b1 + c1 ) + a2 · (b2 + c2 ), a2 · (b1 + c1 ) + a1 · (b2 + c2 ))]
= [(a1 · b1 + a1 · c1 + a2 · b2 + a2 · c2 , a2 · b1 + a2 · c1 + a1 · b2 + a1 · c2 )]
= [(a1 · b1 + a2 · b2 , a1 · b2 + a2 · b1 )]
+[(a1 · c1 + a2 · c2 , a2 · c1 + a1 · c2 )]
= (a · b) + (a · c).
116 Capítulo 14. Números Inteiros


a · b = a · c ⇒ [(a1 · b1 + a2 · b2 , a1 · b2 + b1 · a2 )]
= [(a1 · c1 + a2 · c2 , a1 · c2 + c1 · a2 )]
⇒ ((a1 · b1 + a2 · b2 ) · (a1 · c1 + a2 · c2 )
+(a1 · b2 + b1 · a2 ) · (a1 · c2 + c1 · a2 )
= (a1 · b1 + a2 · b2 ) · (a1 · c2 + c1 · a2 )
+(a1 · b2 + b1 · a2 ) · (a1 · c1 + a2 · c2 )
⇒ (b1 · c1 + b2 · c2 ) = (b2 · c1 + b1 · c2 ) (cancelamento nos naturais)

ão
⇒ b = c.


O conjunto dos números inteiros munidos com a soma e o produto tem uma estrutura algébrica que passamos
a descrever de forma geral.


Definição 14.3 Considere um conjunto A com um elemento 0 ∈ A e duas operações binárias

+ : A×A → A · : A×A → A

que satisfazem as seguintes condições:


• (A, +) é grupo abeliano com elemento neutro igual a 0.
or
• Associatividade de · : para todo a, b, c ∈ A temos (a · b) · c = a · (b · c)
• Distributividade de · em relação a +: a · (b + c) = a · b + a · c e (a + b) · c = a · c + b · c
• Existência de elemento neutro 1 de · : existe 1 ∈ A tal que 1 6= 0 tal que para todo a ∈ A, temos
ab
1 · a = a · 1 = a.

Corolário 14.2 O conjunto dos números inteiros munidos das operações soma e produto, isto é (Z, +, · ), é
um Anel.
el

Demonstração. Inmediato da definição de anel e das propriedades listadas acima. 

Teorema 14.1 Sejam a, b ∈ Z. Toda função proposicional da forma

P(x) = ”x ∈ Z, x + a = b”,
Em

tem por domínio de verdade M = {b + (-a)}.

Demonstração. Imediato das propriedades da soma em Z. 

Nos inteiros temos uma relação de ordem dada por


[(a, b)] ≤ [(c, d)] ⇔ a+d ≤ b+c
Observamos que a relação está bem definida, de fato assuma que
[(a, b)] = [(a0 , b0 )], [(c, d)] = [(c0 , d 0 )] e que[(a, b)] ≤ [(c, d)],
então
a + d ≤ b + c ⇒ a + b0 + d ≤ b + b0 + c
⇒ a + b0 + d + d 0 ≤ b + b0 + c + d 0
⇒ a0 + b + d + d 0 ≤ b + b0 + c0 + d
⇒ a0 + d 0 ≤ b0 + c0 (cancelamento em N)

De onde segue que a relação está bem definida.


117

• ≤ é reflexiva: seja [(a, b)] ∈ Z então a + b ≤ a + b de onde [(a, b)] ≤ [(a, b)]
• ≤ é antisimétrica: sejam [(a, b)], [(c, d)] ∈ Z tais que [(a, b)] ≤ [(c, d)] e [(c, d)] ≤ [(a, b)], então

a+d ≤ b+c ≤ a+d

de onde a + c = b + c e, portanto, [(a, b)] = [(c, d)]


• ≤ é transitiva: sejam [(a, b)], [(c, d)], [(e, f )] ∈ Z tais que [(a, b)] ≤ [(c, d)] e [(c, d)] ≤ [(e, f )] então,
existem p, q ∈ N tais que

a+d + p = b+c e c+ f +q = e+d

ão
(a + f + p + q) + d + c = (a + d + p) + ( f + c + q)
= b+c+e+d
= (b + e) + (c + d) → a + f ≤ b + e.
e, portanto [(a, b)] ≤ [(e, f )].


Vejamos que esta relação é compatível com a que conhecemos usualmente para Z. Sejam m, n ∈ N. Então
-n ≤ m pois [(0, n)] ≤ [(m, 0)],
se m ≤ n ⇒ m ≤ n pois [(n, 0)] ≤ [(m, 0)],
se m ≤ n ⇒ or
-n ≤ -m pois [(0, n)] ≤ [(0, m)].
Mais ainda podemos mostrar que
a ≤ b ⇒ a+c ≤ b+c
ab
a≤b e 0 ≤ c ⇒ a · c ≤ b · c.
Em particular dizemos que

a<b ⇔ (a ≤ b) ∧ (a 6= b).
el

Com isto podemos anunciar o seguinte teorema

Teorema 14.2 — Tricotomia dos Inteiros. Sejam a, b números em Z então ocorre uma das seguintes
situações a = b ou a < b ou b < a.

Demonstração. Provamos por contradição. Para isto assuma que a 6= b e que a < b e b < a simultáneamente.
Em

Então, se a = [(a, b)] e b = [(c, d)], temos


a+d < b+c
c+b < d +a ⇒ c+b < a+d < c+b
o que é uma contradição.
Por outro lado se a = b e a < b temos
a+d < b+c
a+d = b+c ⇒ a+d < c+b = a+d
o que é também uma contradição. De forma similar mostramos que o caso a = b e b < a gera uma contradição.


Definição 14.4 Seja a ∈ Z. Dizemos que


• a é não negativo se 0 ≤ a
• a é não positivo se a ≤ 0
• a é positivo se 0 < a
• a é negativo se a < 0

A seguir listamos as regras de sinais para o produto.


118 Capítulo 14. Números Inteiros

Teorema 14.3 Sejam a, b ∈ Z, mostrar que


a) Se a > 0 e b > 0 então a · b > 0
b) Se a < 0 e b < 0 então a · b > 0
c) Se a > 0 e b < 0 então a · b < 0

Demonstração. Utilizamos o fato de que, para todo a ∈ Z sempre existe n ∈ N tal que se

a > 0 ⇒ a = [(n, 0)]

a < 0 ⇒ a = [(0, n)]

ão
a) Se a > 0 e b > 0 então
a · b = [(n, 0)] · [(m, 0)]
= [(n · m, 0)] > 0
b) Se a < 0 e b < 0


a · b = [(0, n)] · [(0, m)]
= [(n · m, 0)] > 0
c) Se a > 0 e b < 0
a · b = [(n, 0)] · [(0, m)]
= [(0, n · m)] > 0 or
Idetificamos naturalmente os Naturais como um subconjunto dos inteiros pela seguinte função injetora

ab
f : N → Z, f (n) = [(n, 0)] ∈ Z

Em particular, observamos que


f (n · p + q) = [(n · p + q, 0)]
el

= [(n · p, 0)] + [(q, 0)]


= [(n, 0)] · [(p, 0)] + [(q, 0)]
= f (n) · f (p) + f (q).
É por meio desta função (e identificação) que dizemos N ⊂ Z.
Em

Definição 14.5 Seja A um subconjunto não vazio de Z.


• Dizemos que A é limitado inferiormente se existe α ∈ Z tal que α ≤ a para todo a ∈ A. Neste caso α é
chamado de cota inferior de A. A maior das cotas inferiores é chamado de ínfimos. No caso em que o
ínfimo seja um elemento de A, dizemos que ele é o mínimo de A.
• Dizemos que A é limitado superiormente se existe β ∈ Z tal que a ≤ β para todo a ∈ A. Neste caso β
é chamado de cota superior de A. A menor das cotas superiores é chamado de supremo. No caso em
que o supremo seja um elemento de A, dizemos que ele é o máximo de A.

 Exemplo 14.1 • N é limitado inferiormente em Z. De fato α = 0 é a cota inferior (e mínimo).


• A = {−4, −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, 4, 5} é limitado superiormente e inferiormente. Neste caso −4 cota inferior
(que é mínimo) e 5 é conta superior (que é máximo).


Embora os Naturais admitam cota inferior, eles não admitem cota superior em Z como mostra o seguinte
resultado.
Teorema 14.4 O conjunto N não admite cota superior em Z.

Demonstração. Observamos que N admite conta superior se

∃ z ∈ Z, ∀ n ∈ N, n ≤ z
119

Vamos mostrar que a negação disto é verdadeira, isto é, que

∀ z ∈ Z, ∃ n ∈ N, z < n.

Portanto, mostramos que para todo z ∈ Z temos que existe um natural n tal que z < n de onde segue que N não
pode admitir cota superior.
Claramente, se z ≤ 0 então existe 1 ∈ N tal que z < 1. Se z > 0 então z ∈ N e, portanto o seu sucessor,
s(z) ∈ N de onde segue que existe o natural s(z) tal que z < s(z). 

ão
Teorema 14.5 — Princípio da boa ordem. • Seja A ⊂ N um conjunto não vazio então A possui ele-
mento mínimo.
• Seja A ⊂ Z um conjunto não vazio e limitado inferiormente, então A possui elemento mínimo.

Demonstração. Provamos cada caso por separado.


• Para os Naturais considere o conjunto

B = {n ∈ N, n ≤ a, ∀ a ∈ A}.

Claramente 0 ∈ B. Seja a ∈ A, então a + 1 ∈ / B pois a ∈ A e a ≤ a + 1. Então B 6= N. Portanto 0 ∈ B e

B = N.
or
B 6= N portanto existe um k ∈ B tal que k + 1 6∈ B pois, caso contrário, o princípio de indução garante que

Vamos mostrar que k ao mínimo de A. De fato k ∈ B, portanto k ≤ a, ∀a ∈ A e portanto é cota inferior. Se


mostrarmos que k em A teremos que é a maior das cotas inferiores de A e portanto o mínimo de A.
ab
Vamos mostrar que k ∈ A por contradição. Para isto, supomos que k 6∈ A e, portanto k < a para todo a ∈ A.
De onde k + 1 ≤ a para todo a ∈ A e, consequêntemente k + 1 ∈ B o que contradiz a escolha do k. Logo
k ∈ A é um mínimo para A.
• Seja A ∈ Z limitado inferiormente. Seja α uma cota inferior de A. Seja

A0 = {a − α, a ∈ A} ⊂ N.
el

Pelo princípio da boa ordem de N (item anterior) temos que A0 possui elemento mínimo α 0 ∈ A0 . Então
existe a0 ∈ A tal que α 0 = a0 − α de onde m = α 0 + α ∈ A e, mais ainda, é um mínimo de A. De fato se
a ∈ A então α ≤< a − α e α + α 0 ∈ A, de onde α + α 0 ≤ a.

Em

Corolário 14.3 • Sejam a ∈ Z tais que 0 < a ≤ 1 então a = 1.


• Sejam a, b ∈ Z tais que a < b ≤ a + 1 então b = a + 1.

Demonstração. • Seja A = {x ∈ Z, 0 < x ≤ 1/}. Claramente 1 ∈ A e A é limitado inferiormente por 0. Pelo


princípio da boa ordem, A possui elemento mínimo, m. Se m < 1 temos que

0 < m2 < m < 1,

e, portanto m2 ∈ A e é menor do que m portanto m não pode ser mínimo. Então m = 1 e é o mínimo e
máximo elemento de A, portanto A = {1}.
• Seja A = {x ∈ Z, a < x ≤ a + 1/}. Aqui a + 1 ∈ A de onde segue que A 6= 0./ Também temos que A está
limitado inferiormente por a. Pelo princípio da boa ordem, A possui elemento mínimo m ∈ A e, portanto,

0 < m − a ≤ 1.

Agora, pelo item anterior, m − a = 1, de onde m = a + 1.


‘ 
Em
el
ab
or

ão
ão
15. Divisibilidade


or
O objetivo desta seção é dar uma ideia rápida sobre o algoritmo da divisão nos números inteiros e suas aplicações.
Começamos com a definição.
ab
Definição 15.1 Dados a, b ∈ Z com a 6= 0. Dizemos que a|b (a divide a b) se existe c ∈ Z tal que b = a · c.
Mais ainda, neste caso, dizemos que b é um múltiplo de a.

Proposição 15.1 Sejam a, b ∈ Z\{0}. Então


• 1|a, a|a e a|0
el

• se a|b e b|c então a|c.


• se a|c e b|d então a · b|c · d.
• se a|(c + d) então a|c se, e somente se a|d.
• se a > 0 e b > 0 e a|b então a ≤ b
Em

Demonstração. • Observamos que

a = 1 · a, a = 1·a e 0 = a · 0.

o que mostra o resultado.


• Da hipótese temos que existem inteiros p, q tais que

a = p·b e b = q·c

então

a = p · b = p · q · c = (p · q) · c.

Portanto c|a.
• Sabemos que existem inteiros p, q tais que

c = p·a e d = q·b

então

c · d = (p · a) · (q · b) = (a · b) · (q · p)

portanto a · b|c · d.
122 Capítulo 15. Divisibilidade

• Provamos uma implicação pois a outra é similar. Da hipótese temos que existem inteiros p, q tais que
c+d = a· p e c = a·q
então
d = a · p − a · q = a · (p − q).
de onde segue que a|d.
• Sejam a, b ∈ N. Se b 6= 0 e a|b então existe p ∈ Z tal que a = p · b. Como a, b > 0 temos que p > 0
portanto, p ≥ 1 de onde

ão
a = a · 1 ≤ p · a = b.

 Exemplo 15.1 Sejam a, b ∈ Z e n ∈ N então


• (a − b)|(an − bn ).
Provamos o resultado por indução. Seja
P(n) = ”(a − b)|(an − bn )”
e M o domínio de verdade de P. Observamos que 0 ∈ M pois a0 − b0 = 0 e (a − b)|0.
Assuma que k ∈ M, isto é

. Como
ak − bk = p · (a − b)
or
ab
ak+1 − bk+1 = (a − b) · ak + b · (ak − bk )
= (ak + p · b) · (a − b).
Portanto k + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução, M = N.
• (a + b)|(a2·n+1 + b2·n+1 ).
Provamos o resultado por indução. Seja
el

P(n) = ”(a + b)|(a2·n+1 + b2·n+1 )”


e M o domínio de verdade de P. Observamos que 0 ∈ M pois a1 + b1 = a + b.
Assuma que k ∈ M, isto é
a2·k+1 + b2·k+1 = p · (a + b)
Em

. Como
a2·k+3 − b2·k+3 = (a2 − b2 )a2·k+1 + b2 · (a2·k+1 + b2·k+1 )
= (a2·k + p · b2 ) · (a + b).
Portanto k + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução, M = N.
• a + b|a2·n − b2·n .
Provamos o resultado por indução. Seja
P(n) = ”(a + b)|(a2·n − b2·n )”
e M o domínio de verdade de P. Observamos que 0 ∈ M pois a0 − b0 = 0 e a + b|0.
Assuma que k ∈ M, isto é
a2·k + b2·k = p · (a − b)
. Como
a2·k+2 − b2·k+2 = (a2 − b2 )a2·k + b2 · (a2·k − b2·k+1 )
= [(a2·k · (a − b)) + p · b2 ] · (a + b).
Portanto k + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução, M = N.

123

Definição 15.2 Um número p ∈ N\{0, 1} é dito primo se sus únicos divisores são 1 e ele mesmo.

A importância dos números primos está no seguinte resultado.

Teorema 15.1 — Fudamental da Aritmética. Todo número natural maior do que 1 é primo ou se escreve
de modo único, a menos de uma ordem nos seus fatores, como um produto de primos.

Demonstração. Utilizamos o princípio de indução. Seja P(n) a função proposicional sobre N definida por
P(n) = ”n + 2 é primo ou se escreve de modo único, a menos de uma ordem nos seus fatores,

ão
como um produto de primos”
Seja M o seu domínio de verdade, então 0 ∈ M pois 2 é primo.
Assuma que k ∈ M e vejamos o que acontece com k + 1. Se k + 1 for primo, não temos nada a provar. Se
k + 1 não for primo então existem p, q ∈ N tais que 1 < p, q < k + 1 satisfazendo k + 1 = p · q. Como sabemos
que q, p ∈ M podemos escrever, de forma única,


p = p1 · · · pr q = q1 · · · ql .

Então k + 1 = p1 · · · pr · q1 · · · ql . Vejamos agora que a escrita é única. Para assuma que existem duas escritas de
primos

k + 1 = p̃1 · · · p̃t = q̃1 · · · q̃s


or
onde os p̃ j ’s e q̃i ’s são primos. Como p̃1 |q̃1 · · · q̃s temos que p̃1 = q̃ j para algum j. Podemos supor, depois de
ab
reordenamento que é q̃1 . Então

m = p̃2 · · · p̃t = q̃2 · · · q̃s < k + 1.a

Agora, como m ∈ M temos que t = s e que os p̃i e q̃ j são iguais a pares. 


el

É fácil ver que a quantidade de números primos é infinita

Teorema 15.2 — Euclides. O conjunto formado pelos números primos não é finito.

Demonstração. Mostramos pelo método do absurdo ou contradição. Assuma que se A é o conjunto formado por
todos os números primos, então ]A = k ∈ N, denotamos por
Em

A = {p1 , . . . , pk }

aos elementos de A de forma tal que pi < pi+1 para todo i. Considere o número

a = (p1 · p2 · · · pk ) + 1

Claramente a > pk e pi 6 |a para todo i ≤ k pois pi 6 |1 então a so tem como divisor a 1 e a, portanto é primo o que
é uma contradição. 

Agora mostramos o resultado principal desta seção

Teorema 15.3 Sejam a, b dois números naturais com 0 < a < b. Existem dois únicos naturais q, r tais que

b = a·q+r e 0 ≤ r < a.

Demonstração. Considere o conjunto

A = {b − a · k, k ∈ N} ∩ N

Pelo princípio da boa ordem em N existe um elemento mínimo r = b − a · q para algum q ∈ N.


124 Capítulo 15. Divisibilidade

Se a|b então r = 0 não temos nada a provar. Se a 6 |b então r 6= a. Assuma que r > a então existe c ∈ N tal
que c + a = r e, consequêntemente,

c = b − (q + 1) · a

com c < r, contradizendo o fato de r ser mínimo. Portanto r < a.


Agora, só resta provar a unicidade, assuma que

a · q + r = b = a · q0 + r0

ão
para naturais q, q0 , r, r0 tais que 0 ≤ r ≤ r0 < a Então

a · (q − q0 ) = r0 − r.

Se q − q0 6= 0 então a < r0 − r o que é uma contradição. Portanto q = q0 de onde r = r0 provando a unicidade. 


Corolário 15.1 Dados dois números naturais a, b com 1 < a < b, existe um natural n tal que

n · a ≤ b ≤ (n + 1) · b
or
Demonstração. Do algoritmo da divisão, temos que existe n ∈ N tal que

b = n·a+r
ab
com 0 ≤ r < a. Portanto

n · a ≤ b ≤ n · a + r ≤ n · a + a = (n + 1) · a.


el

Definição 15.3 Sejam a, b ∈ N\{0}. Um número d ∈ N é um divisor comum de a e b se d|a e d|b.


Um divisor comum de a e b será dito o máximo divisor comum, e será denotado por d = (a, b), se para
todo c divisor comum de a e b temos que c|d.

 Exemplo 15.2 Sejam a, b ∈ N. Então


Em

• (0, a) = a
• (1, a) = 1
• (a, a) = a
• a|b se, e somente se, a = (a, b).
De fato se d = (a, b) então d|a, de onde a = (a, b). A outra implicação é imediata da definição.


Definição 15.4 Dois números a, b ∈ N\{0} são ditos primos entre si se (a, b) = 1.

Teorema 15.4 Sejam a, b ∈ Z números diferentes de 0 e seja d = (a, b). Os conjuntos

A = {s = d · n, n ∈ Z} e B = {s = m · a + n · b, m, n ∈ Z},

são iguais.

Demonstração. Observamos que todo elemento de x ∈ B é divisível por d, portanto x = d · p para algum p ∈ Z.
Então B ⊂ A.
Por outro lado seja

c = min(B ∩ N),
125

então

c = n · a + m · b.

Portanto d|c.
Por outro lado, se c|z para todo z ∈ B. De fato, se

z = n1 · a + m1 · b,

ão
z = p·c+r com 0 ≤ r < c,

temos que


0 ≤ r = (n1 − n) · a + (m1 − m) · b < c.

De onde segue que r = 0 pela minimalidade de c. Então c|a e c|b de onde c|d. Portanto c = d e d ∈ B e
A ⊂ B. 

(a, b) = d = m · a + n · b

então, se k = p · d, toda equação sobre Z da forma


or
Exemplo 15.3 Sejam a, b ∈ N\{0}. e assuma que existe m, n ∈ Z tais que
ab
a·x+b·y = k

tem solução dada por


el

x = p·m e y = p · n.

Estas equações são conhecidas como equações diofantinas, pode ser mostrado que todo par da forma

x = p·m+l ·b e y = p·n−l ·a l∈Z


Em

também é solução de

a · x + b · y = k.

Mais ainda, o teorema anterior garante que a equação diofantina

a·x+b·y = k

tem solução se, e somente se d|k. 

Proposição 15.2 Sejam a, b ∈ Z, então (a, b) = 1 se, e somente se, 1 = m · a + n · b para m, n ∈ Z.

Demonstração. Como (a, b) = 1 temos, pelo resultado anterior que 1 = m · a + n · b para m, n ∈ Z.


Por outro lado, se 1 = m · a + n · b para m, n ∈ Z então, d = (a, b) divide a 1, de onde d = 1. 

Lema 15.1 Sejam a, b, n ∈ N com a < n · a < b. Se existe (a, b − n · a) então (a, b) existe e

(a, b − n · a) = (a, b).

Demonstração. Seja d = (a, b − n · a), como d|a e d|b − n · a e b = b − n · a + n · a segue que d é dividor comum
de a e b então c|(a, b). Se c = (a, b) então c|b − n · a portanto c|d. Decorre disto que c = d. 
126 Capítulo 15. Divisibilidade

A seguir apresentamos uma técnica para determinar o máximo divisor comúm de dois números naturais a e
b. Assuma, sem perder generalidade que a < b.
Se a|b então (a, b) = a. Caso a 6 |b então existe q1 , r1 ∈ N tais que

b = a · q1 + r1 .

Então
• se r1 |a então

r1 = (a, r1 ) = (a, b − q1 · a) = (a, b)

ão
• se r1 6 |a então existem q2 , r2 ∈ N

a = r1 · q2 + r2 r2 < r1 .


Novamente temos duas posibilidades
– se r2 |r1 então

r2 = (r1 , r2 ) = (r1 , a − q2 · r1 ) = (r1 , a) = (b, a)

– se r2 6 |r1 então existem q3 , r3 ∈ N

r1 = r2 · q3 + r3 r3 < r2 .
or
Novamente temos duas posibilidades e o procedimento pode continuar um número finito de vezes
ab
pois o conjunto dos = {r1 , r2 , r3 , · · · } ⊂ N com ri < ri+1 e portanto possui um mínimo, pelo princípio
da boa ordem. Logo, existe um k tal que rk ∈ R e rk |rk−1 . De onde segue que

(a, b) = rk .

Lema 15.2 Se (a, b) = d e a = p · d e b = q · d então (p, q) = 1.


el

Demonstração. Se (p, q) = c > 1 então p = p1 · c e q = q1 · c então (a, b) = c · d o que contradiz a definição de


d. Portanto c = 1. 

 Exemplo 15.4 Seja a ∈ Z e n ∈ N.


Em

• (a + 1, a2·n+1 − 1) = (a + 1, a − 1).
De fato, utilizando que (a + 1)|(a2·n − 1) temos
(a + 1, a2·n+1 − 1) = (a + 1, a · (a2·n − 1) + (a − 1)
= (a + 1, a − 1).
• (a + 1, a2·n + 1)= (a + 1, 2).
De fato, utilizando que (a + 1)|(a2·n + 1) temos
(a + 1, a2·n + 1) = (a + 1, (a2·n − 1) + 2)
  = (a + 1, 2).
a2·n −1
• a + 1, a+1 = (a + 1, 2 · n).
Escrevemos
a2·n − 1
= a2·n−1 − a2·n−2 + a2·n−3 + · · · − a2 + a − 1
a+1
= (a2·n−1 + 1) − (a2·n−2 − 1) + (a2·n−3 + 1) + · · · − (a2 − 1) + (a + 1) − 2 · n

e utilizamos que

a + 1|(a2·k − 1) e a + 1|(a2·k+1 + 1),

para obter o resultado.


127
 2·n+1

• a + 1, a a+1+1 = (a + 1, 2 · n + 1). Escrevemos
a2·n+1 − 1
= a2·n − a2·n−1 + a2·n−2 + · · · + a2 − a + 1
a+1
= (a2·n − 1) − (a2·n−1 + 1) + (a2·n−2 − 1) + · · · + (a2 − 1) − (a + 1) + (2 · n + 1)

e utilizamos que
a + 1|(a2·k − 1) e a + 1|(a2·k+1 + 1),

ão
para obter o resultado.


 Exemplo 15.5 Sejam a 6= b, (a, b) = 1 e n ∈ N. Observamos que


(a − b, bk ) = 1 e (a + b, bk ) = 1


de fato, como (a, b) = 1 temos que existe s, t ∈ R tal que
s · (a − b) + (t + s) · b = 1
s·a+t ·b = 1 ⇒
s · (a + b) + (t − s) · b = 1

Com isto, podemos ver que

−b
• a − b, aa−b
n n 
= (a − b, n).
or
de onde (a − b, b) = 1 e (a + b, b) = 1 de onde segue o resultado.
ab
De fato, observamos que

an − bn
= an−1 + an−2 · b + · · · + a · bn−2 + bn−1
a−b
el

= (an−1 − bn−1 + (an−2 · b − bn−1 ) + · · · + (a · bn−2 − bn−1 + n · bn−1 .

E utilizamos que
a − b|(ak − bk ),
Em

junto a (a − b, bk ) = 1 para obter


an − bn
 
a − b, = (a − b, n · bn−1 ) = (a − b, n).
a−b
 2·n+1 +b2·n+1

• se a + b 6= 0 então a + b, a a+b = (a + b, 2 · n + 1).

De fato, observamos que

a2·n+1 + b2·n+1
= a2·n − a2·n−1 · b + · · · − a · b2·n−1 + b2·n
a+b
= (a2·n − b2·n ) − (a2·n−1 · b + b2·n ) + · · · − (a · b2·n−1 + b2·n−1 ) + (2 · n + 1) · b2·n .
E utilizamos que
a + b|(a2·k − b2·k ) e a + b|(a2·k+1 + b2·k+1 ),
junto a (a + b, bk ) = 1 para obter
a2·n+1 + b2·n+1
 
a + b, = (a + b, (2 · n + 1) · b2·n ) = (a + b, 2 · n + 1).
a+b

Em
el
ab
or

ão
ão
16. Números Racionais


or
Com o conjunto dos números inteiros, garantimos que todas as funções proposicionais da forma
ab
P(x) = ”x ∈ Z, x + a = b.”

para a, b ∈ Z, tem domínio de verdade não vazio. No entanto, por exemplo, a função proposicional

P(x) = ”x ∈ N, 2 · x = 7.”
el

tem domínio de verdade vazio em Z.


Continuamos então a ampliar o universo de números de forma tal que toda função proposicional do tipo
polinomial sobre os inteiros esteja contemplada no novo conjunto e com o intuito de que seu domínio de verdade
seja não vazio. O próximo passo é a construção dos números racionais.
Consideramos o conjunto Z∗ = Z\{0}.
Em

Teorema 16.1 A relação ∼ sobre Z × Z∗ definida por

(a, b) ∼ (c, d) ⇔ a·d = b·c

é de equivalênca.

Demonstração. • Reflexiva: De fato, como a · b = a · b temos que (a, b) ∼ (a, b).


• Simétrica: Se (a, b) ∼ (c, d) então a · d = b · c e, portanto b · c = a · d. Então (c, d) = (a, b).
• Transitiva: Se (a, b) ∼ (c, d) então a · d = b · c e se (c, d) ∼ (e, f ) então c · f = d · e. Portanto

a·d · f = b·c· f e b · c · f = b · d · e.

como d 6= 0 temos, por cancelamento nos inteiros, que a · f = b · e.




Definição 16.1 Dado (a, b) ∈ Z × Z∗ , denotamos por


a
= {(c, d) ∈ Z × Z∗ , (a, b) ∼ (c, d)}
b
130 Capítulo 16. Números Racionais
a c
Obs. Observamos que (a, b) ∼ (c, d) se, e somente se b = d , aisto é a · d = b · c.c De fato, como a relação ∼ é de
equivalência temos que se (a, b) ∼ (c, d) então a classe b é igual à clase d .
Por outro lado, se as classes são iguais, temos que por exemplo (c, d) ∈ dc − ab e, portanto, (c, d) ∼ (a, b) ou,
equivalentemente, a · d = b · c.

Definição 16.2 Denotamos por Q ao conjunto de todas as classes de equivalência


na o
Q = Z × Z∗ / ∼= , (a, b) ∈ Z × Z∗ .
b

ão
Este conjunto recebe o nome de conjunto dos números racionais.

Assim como fizemos com os naturais e inteiros, definimos as operações soma e produto.
Definição 16.3 Sejam ab e dc dois números racionais. Definimos a soma + : Q × Q → Q por


a c a·d +b·c
+ = .
b d b·d
e o produto · : Q × Q → Q por
a c a·c
· =
c d b·d or
Obs. As operações soma e produto nos números racionais não são as mesmas que as operações soma e produto
ab
nos números inteiros. A notação correta teria um simbolo para cada operação, então seria algo da forma
+Q : Q × Q → Q dada por

a c a ·Z d +Z b ·Z c
+Q = .
b d b ·Z d
e ·Q : Q × Q → Q
el

a c a ·Z c
·Q =
c d b ·Z d

Como a notação fica muito sobrecarregada, deixamos a interpretação a cargo do leitor e subentendida ao
contexto.
Em

Mostramos agora que as definições de soma e produto são boas e não dependem do representante da classe
escolhido para computá-las. De fato, assuma que

a a0
= isto é a · c0 = c · a0 ,
c c0
e
b b0
= isto é b · d 0 = d · b0 .
d d0
Calculamos
a0 c0 a0 · d 0 + b0 · c0 a0 c0 a0 · c0
+ = · = .
b0 d 0 b0 · d 0 c0 d 0 b0 · d 0
Como

(a · d + b · c) · b0 · d 0 = a · d · b0 · d 0 + b · c · b0 · d 0
= a0 · b · d · d 0 + c0 · d · b · b0
= (a0 · d 0 + c0 · b0 ) · b · d.
131

Temos
a0 · d 0 + b0 · c0 a · d + b · c
= .
b0 · d 0 b·d
De forma similar, como

a0 · c0 · b · d = a0 · b · c0 · d
= a · b0 · c · d 0
= a · c · b0 · d 0 .

ão
Temos
a·c a0 · c0
= 0 0.
b·d b ·d


O fato de ter mostrado que o resultado é independente do representante da classe escolhido para fazer a conta nos
permite fazer qualquer operação utilizando convenientemente qualquer representante da classe de equivalência
que define o número.

Obs.
• A classe 0
1

0 a a
+ =
1 b b
satisfaz

e
0 a 0 0
· = = .
1 b b 1
or
ab
1
• a classe 1 satisfaz

1 a a
· = .
1 b b
a −a
• Se ∈ Q então ∈ Q satisfaz
el

b b

a −a 0 0
+ = = .
b b b 1
a a 0 b
• Se b ∈ Q tal que b 6= 1 então a 6= 0 e, portanto, está definido a ∈ Q. Observamos que
Em

a b 1
· = .
b a 1
dizemos neste caso que
 a −1 b
= .
b a
a 0 p
Mais ainda definimos, para b 6= 1 e q ∈Q

p a p  a −1 p b
÷ = · = · .
q b q b q a

Proposição 16.1 Sejam a, b, c numeros em Q. Então


• a + b = b + a (comutatividade).
• a + (b + c) = (a + b) + c (associatividade).
• Existe um único elemento 0 = 10 ∈ Q tal que a + 0 = a (existência de elemento neutro).
• Para todo a ∈ Q existe −a ∈ Q tal que a + (−a) = 0 (existência de elemento inverso).
• Se a + b = a + c Então b = c. (cancelamento na adição).
• a · b = b · a (comutatividade).
• a · (b · c) = (a · b) · c (associatividade).
• Para todo a ∈ Q tal que a 6= 0 existe um único a−1 ∈ Q tal que a · a−1 = 1.
132 Capítulo 16. Números Racionais

• Existe um único 1 = 11 ∈ Q tal que a · 1 = a (existência de elemento neutro).


• a · (b + c) = (a · b) + (a · c) (distributividade).
• Se a 6= 0 e a · b = a · c então b = c (cancelamento no produto).

Demonstração. Sejam
a1 b1 c1
a= , b= e c= .
a2 b2 c2

a1 · b2 + b1 · a2

ão
a+b =
a2 · b2
b1 · a2 + a1 · b2
=
b2 · a2
= b + a.


a1 b1 · c2 + c1 · b2
a + (b + c) = +
a2 b2 · c2
a1 · (b2 · c2 ) + (b1 · c2 + c1 · b2 ) · a2
=
a2 · c2 · b2
(a1 · b2 + b1 · a2 ) · c2 + (b2 · a2 ) · c1

• Seja 0 = 0
∈ Q, então
=

=
a2 · b2
or
a2 · c2 · b2
a1 · b2 + b1 · a2 c1
+ = (a + b) + c.
c2
ab
1
0 a1
0+a = +
1 a2
0 · a2 + a1 · 1
=
1 · a2
a1
el

= .
a2
Assuma que existe outro elemento d com a mesma propriedade, então
d = d + 0 = 0.
Portanto 0 é o único elemento com esta propriedade.
Em

• Considere a ∈ Q e defina
−a1
−a = ,
a2
então
a1 · a2 + (−a1 ) · a2 0
a + (−a) = = = 0.
a2 · a2 a2 · a2

a1 · b2 + b1 · a2 a1 · c2 + c1 · a2
a+b = a+c ⇒ =
a2 · b2 a2 · c2
⇒ (a1 · b2 + b1 · a2 ) · (a2 · c2 ) = (a2 · b2 ) · (a1 · c2 + c1 · a2 )
⇒ (b1 · a2 ) · (a2 · c2 ) = (a2 · b2 ) · (c1 · a2 ) (Cancelamento em Z)
⇒ b1 · c2 = b2 · c1 (Cancelamento em Z)
⇒ b = c.

a1 · b1
a·b =
a2 · b2
b1 · a1
=
b2 · a2
= b·a
133


a1 b1 · c1
a · (b · c) = ·
a2 b2 · c2
a1 · b1 · c1
=
a2 · b2 · c2
a1 · b1 c1
= ·
a2 · b2 c2
= (a · b) · c
• Seja a ∈ Q tal que a 6= 0 então a1 6= 0 portanto defina

ão
a2
a−1 =
a1
então
a1 · a2
a · a−1 =


= 1.
a2 · a1
1
• Claramente se 1 = 1 então, para todo a ∈ Q temos
1 · a1 a1
1·a = = = a.
1 · a2 a2 or
Se d é outro elemento de Q com a propriedade d · a = a para todo a ∈ Q temos

d = d · 1 = 1.
ab
Portanto o 1 é único.

a1 b1 · c2 + c1 · b2
a · (b + c) = ·
a2 b2 · c2
a1 · (b1 · c2 + c1 · b2 )
el

= ·
a2 · b2 · c2
a1 · b1 · c2 + a1 · c1 · b2 )
= ·
a2 · b2 · c2
a1 · b1 a1 · c1
= · +
a2 · b2 a2 · c2
Em

= (a · b) + (a · c)
• Se a 6= 0 então
a1 · b1 a1 · c1
a·b = a·c ⇒ =
a2 · b2 a2 · c2
⇒ (a1 · b1 ) · (a2 · c2 ) = (a1 · c1 ) · (a2 · c2 )
⇒ (b1 · c2 ) = (c1 · b2 ) (cancelamento em Z)
⇒ b = c.


Os números racionais munidos com a soma e o produto tem uma estrutura algébrica que passamos a descrever
de forma geral.
Definição 16.4 Considere um conjunto A com elementos 0 e 1 em A e duas operações binárias

+ : A×A → A · : A×A → A

que satisfazem as seguintes condições:


• (A, +, ·, 0, 1) é anel com elemento neutro igual a 0 e unidade.
• Para todo a ∈ A tal que a 6= 0 existe b ∈ A tal que a · b = 1
134 Capítulo 16. Números Racionais

Então (A, +, ·) é um corpo.


Uma propriedade importante dos corpos é a seguinte.

Corolário 16.1 Seja (A, +, ·) um corpo. Considere a 6= 0 e b 6= 0 então a · b 6= 0.

Demonstração. Assuma que a · b = 0 então, como a 6= 0 e b 6= 0 existem a0 e b0 tais que a · a0 = 1 e b · b0 = 1 de


onde

0 = 0 · b0 · a0 = a · b · b0 · a0 = 1.

ão
o que é uma contradição. Portanto a · b 6= 0. 

Em particular, temos o seguinte resultado.


Corolário 16.2 O conjunto dos números racionais munidos das operações soma e produto, isto é (Q, +, · ),
é um Corpo.

Demonstração. Inmediato da definição de anel e das propriedades listadas acima. 

 a −1 b
= .
or
Obs. Se a, b ∈ Z tal que a 6= 0 e b 6= 0 temos definido
ab
b a
Observamos que, para r ∈ N\{0} temos
  r  r
a −1 b
=
b a
el

br
=
ar
h a r i−1
= .
b
Definimos então
Em

 a −r   r
a −1
= .
b b

Com esta definição se cumple


 a r  a s  a r+s
= ,
b b b
para r, s ∈ Z.

Definição 16.5 Sejam ab e dc dois números racionais. Dizemos que ba é menor e igual a dc e denotamos por

a c
≤ se a · d ≤ b · c.
b d
Mais ainda, dizemos que
a c a c  a c 
< ⇔ ≤ ∧ 6= .
b d b d b d
Vejamos que, de fato, a relação definida acima é uma relação de ordem.
• Refexividade: Seja ab ∈ Q então a · b ≤ a · b temos que ab ≤ ba .
135

• Antisimetria: Sejam ab , dc ∈ Q e assuma que


a c   c a
≤ ∧ ≤ .
b d d b
Então
(a · d ≤ b · c) ∧ (b · c ≤ a · d) ⇒ a · d = b · c.
Portanto
a c
≤ .

ão
b d
• Sejam ba , dc , ef ∈ Q e assuma que
a c   c e

≤ ∧ ≤ .
b d d f


Então
(a · d ≤ b · c) ∧ (c · f ≤ e · d),
para d, c, f inteiros positivos. Portanto,
a· f ·d ≤ b·c· f
≤ b·e·d
De onde segue que
a
≤ .
e

or
a · f ≤ b · e.
ab
b f

Obs.
Dados a, b ∈ Q, denotamos
• a ≥ b se, e somente se, b ≤ a.
el

• a > b se, e somente se, b < a.

Definição 16.6 Seja (A, ≤) um conjunto munido de uma ordem total. Se a ≤ b e a 6= b então dizemos que a
é menor que b e denotamos por a < b.
Em

Definição 16.7 Um corpo ordenado é um corpo A munido de uma relação de ordem total ≤ que satisfaz
• Para todo a, b, c ∈ A se a < b então a + c < b + c.
• Para todo a, b ∈ A se 0 < a e 0 < b então 0 < a · b.

A seguir mostramos uma propriedade importante para corpos ordenados.

Corolário 16.3 Seja (A, +, ·, 0, 1, <) um corpo ordenado e a ∈ A tal que a 6= 0 então 0 < a2 .

Demonstração. Observamos que temos duas situações:


• se 0 < a então 0 = 0 · a < a · a = a2 .
• se a < 0 temos que 0 = a + (−a) < 0 + (−a) de onde 0 < (−a). Pelo item anterior 0 < (−a)2 . Como
(−a)2 + (−a) · a = (−a) · ((−a) + a) = 0,
e
(−a) · a + a2 = ((−a) + a) · a = 0,
temos
(−a)2 = −((−a) · a) = −(−a2 ) = a2 .
Portanto 0 < a · a = a2 .
136 Capítulo 16. Números Racionais

Vamos mostrar que os números racionais formam um corpo ordenado.


Proposição 16.2 Sejam a, b, e c números racionais
• a ≤ b se, e somente se, a + c ≤ b + c para todo c ∈ Q.
• Se a ≤ b e 0 ≤ c então a · c ≤ b · c
• Se a ≤ b e c ≤ 0 então b · c ≤ a · c.

Demonstração. Sejam

ão
p1 p2 p3
a= b= e c=
q1 q2 q3

com q3 > 0 (sempre é possível pedir isso)


• Observamos que


a ≤ b ⇔ p1 · q2 ≤ p2 · q1
⇔ p1 · q2 · q3 ≤ p2 · q1 · q3
⇔ p1 · q2 · q3 + q1 · q2 · p3 ≤ p2 · q1 · q3 + q1 · q2 · p3 (propieddade dos inteiros)
⇔ (p1 · q3 + q1 · p3 ) · q2 ≤ (p2 · q3 + q2 · p3 ) · q1


p1 · q3 + q1 · p3

p1 p3
q1 · q3

p2 p3
or
⇔ (p1 · q3 + q1 · p3 ) · q2 · q3 ≤ (p2 · q3 + q2 · p3 ) · q1 · q3
p2 · q3 + q2 · p3
q2 · q3
ab
⇔ + ≤ + .
q1 q3 q2 q3
• Como c ≥ 0 temos que p3 ≥ 0. Então
a ≤ b ⇒ p1 · q2 ≤ p2 · q1
⇒ p1 · q2 · p3 · q3 ≤ p2 · q1 · p3 · q3 (pois p3 ≥ 0 e q3 ≥ 0)
p1 · p3 p2 · p3
el

⇒ ≤
q1 · q3 q2 · q3
p1 p3 p2 p3
⇒ · ≤ · .
q1 q3 q2 q3
• Como c ≤ 0 temos que p3 ≤ 0. Então
a ≤ b ⇒ p1 · q2 ≤ p2 · q1
Em

⇒ p2 · q1 · p3 · q3 ≤ p1 · q2 · p3 · q3 (pois p3 ≤ 0 e q3 ≥ 0)
p2 · p3 p1 · p3
⇒ ≤
q2 · q3 q1 · q3
p2 p3 p1 p3
⇒ · ≤ · .
q2 q3 q1 q3


Teorema 16.2 — Tricotonomia em Q. Dados a, b ∈ Q temos que a < b ou a = b ou b < a.

Demonstração. Sejam
p1 p2
a= e b= ,
q1 q2

com 0 < q1 e 0 < q2 . Da tricotomia em Z temos que p1 · q2 = p2 · q1 se a = b ou p1 q2 < p2 q1 que é quando


a < b ou p2 q1 < p1 q2 que é quando b < a. 

Corolário 16.4 Os racionais formam um corpo ordenado.

Demonstração. Mostramos cada uma das propriedades:


137

• Se a < b então a ≤ b e portanto a + c ≤ b + c.Porém se a + c = b + c então teríamos que a = b o que não


acontece. Portanto a + c < b + c.
• Se 0 < a e a < b então 0 ≤ a · b no entanto a · b 6= 0 pois a 6= 0 e b 6= 0. De onde 0 < a · b.


Teorema 16.3 Sejam a, b, c ∈ Q. Toda função proposicional da forma

P(x) = ”x ∈ Q, a · x + b = c”.

ão
tem por domínio de verdade M = {[c + (-b)] · a−1 .}.

Demonstração. Imediato das propriedades da soma em Q. 


Obs. Os números inteiros podem ser vistos como um subconjunto dos números racionais da seguinte forma:
defina f : Z → Q por
a
f (a) = .
1
é fácil ver que

f (a + b) = f (a) + f (b) e
or
f (a · b) = f (a) · f (b).

desta forma dizemos que Z ⊂ Q. Mais ainda, temos que se a ≤ b em Z então f (a) ≤ f (b).
ab
Lema 16.1 Todo número racional positivo pode ser escrito, de forma única, como a = mn com (m, n) = 1.

Demonstração. Seja a = qp para 0 ≤ p, 0 < q e assuma que d = (p, q) então p = p1 · d e q = q1 · d. Observamos


que, como p · q1 · d = p1 · q · d temos que
el

p p1
a= =
q q1

com (p1 , q1 ) = 1. Se
p1 p2
Em

= ⇒ p1 · q2 = p2 · q1 .
q1 q2

com (p1 , q1 ) = 1 e (p2 , q2 ) = 1 Como (p1 , q1 ) = 1 temos que p1 |p2 e p2 = c1 · p1 . Da misma forma q2 = c2 · q1 .
Mas então cc12 = 1 de onde segue que c1 = c2 = 1. 

p
Obs. Vamos dizer que um número racional 0 ≤ a está escrito na forma irredutível quando escrito na forma q em
que (p, q) = 1.

Lema 16.2 — densidade dos racionais. Sejam a e b dois números racionais tais que a < b, então existe um
número racional c tal que a < c < b.

Demonstração. Escrevemos
p1 p2
a= e b= .
q1 q2

Então a < b garante que

p1 · q2 < p2 · q1 .
138 Capítulo 16. Números Racionais

Definimos
p2 · q1 + p1 · q2
c= .
2 · q1 · q2
claramente c ∈ Q. Observamos que
2 · q1 · q2 · p1 = q1 · q2 · p1 + q1 · q2 · p1
< q1 · p2 · q1 + q1 · q2 · p1
= (p2 · q1 + p1 · q2 ) · q1 ⇒ a < c,

ão
e
(p2 · q1 + p1 · q2 ) · q2 = p2 · q1 · q2 + p1 · q2 · q2
< p2 · q1 · q2 + q1 · p2 · q2
= (2 · q1 · q2 ) ⇒ c < b,


obtendo assim o pedido. 

Os racionais não formam um conjunto bem ordenado com a ordem acima.

Teorema 16.4 O conjunto dos números racionais, com a ordem definida acima, não é um conjunto bem
ordenado. or
Demonstração. Vamos mostrar que existem subconjuntos não vazios de Q, limitados inferiormente e sem
elemento mínimo. Para isto considere
ab
A = {a ∈ Q, 1 < 2 · a}

Claramente
• A 6= 0/ pois, por exemplo, a = 1 ∈ A.
• para todo a ∈ A temos que 0 < a.
el

• a = 12 é limite inferior de A.
Assuma A admite elemento mínimo m ∈ A e assuma que
p
m= (p, q) = 1.
q
Em

1
Então, como é limite inferior, temos que temos que
2
 
1 p 1 1 1 p p
< ⇒ < + < .
2 q 2 2 2 q q
Portanto
   
1 1 p 1 1 p p
+ ∈A e + < ,
2 2 q 2 2 q q
o que é uma contradição. 

Teorema 16.5 O conjunto Q, com a ordem acima, não possui elemento máximo nem mínimo.

p
Demonstração. Assuma que existe um elemento mínimo m em Q. Então m = q com p < 0 e q > 0. Como
0 < 12 temos que 21 · qp ∈ Q e

2 p p
· <
1 q q
o que é uma contradição. De forma similar se mostra que não tem máximo. 
ão
17. Números Reais


or
Temos visto na seção anterior a construção dos número racionais. Com os números racionais temos que o
domínio de verdade as proposições da forma
ab
P(x) = ”x ∈ N, a · x + b = c.”

para a, b, c ∈ Q tem domínio de verdade vazio em Q. No entanto, sobre os racionais ainda temos funções
proposicionais do tipo polinomial com domínio de verdade vazio como mostra o seguinte exemplo.
el

 Exemplo 17.1 A função proposicional em Q

P(x) = ”x ∈ R, x2 = 2.”
a
tem domínio de verdade vazio. De fato, se b ∈ Q está no domínio, então temos que
Em

a2 = 2 · b2 .

Como, pelo teorema fundamental da aritmética, a = p1 · · · pk e b = q1 · · · ql para pi , q j primos, temos que

a2 = p21 · · · p2k = 2 · q21 · · · q2l .

Do lado esquerdo o 2 deve aparecer um numero par de vezes e, no entanto, do lado direito deve aparecer um
número impar de vezes. O que é uma contradição pois teríamos duas decomposições diferentes em primos de a2 .
Mais ainda, o conjunto A = {x ∈ Q, x2 < 2} é um conjunto limitado, pois é fácil ver que −2 < x < 2 para
todo x ∈ A e não admite supremo. De fato se existir um supremo m ∈ Q então m > 1, pois por exemplo

1 < (5/4)2 < 2, de onde m > (5/4) > 1.

Portanto

2 < m2 + 2 · m + 1.

Também m2 < 2. De fato, se m2 ≥ 2 temos que, como m ∈ Q sabemos, pelo visto acima, que m2 6= 2. Se m2 > 2
temos que m 6∈ A. Defina

δ = (2 − m2 ) · 2−1 · m−1
140 Capítulo 17. Números Reais

Temos que δ < 0. Seja

n = m+δ,

então n < m e

n2 = m2 + 2 · δ · m + δ 2
= m2 + (2 − m2 ) + δ 2
= 2+δ2

ão
> 2

De onde n também é cota superior, o que contradiz o fato de m ser supremo.


Assuma então m2 < 2. Seja

ε = (2 − m2 ) · (2 · m + 1)−1


⇒ 0 < ε < 1.

Defina

r = m+ε

satisfaz m < r e

r2 = m2 + 2 · ε · m + ε 2
= m2 + (ε + 2 · m) · ε
or
ab
< m2 + (1 + 2 · m) · ε
= m2 + (2 − m2 ) = 2.

Então, r ∈ A e r ≤ m o que√é também uma contradição. De onde seque que A não admite supremo. Observe que
o supremo, no caso, seria 2 que não pertence a Q.
el

É por este tipo de situações que continuamos ampliar nosso conjunto numérico de forma tal que, neste novo
conjunto numérico, as funções proposicionais sobre os racionais estejam contempladas e o seu domínio de
verdade seja não vazio.
Para definir os números reais vamos a proceder de uma forma diferente ao que foi feito anteriormente. Tanto
Em

para definir os números inteiros quanto os racionais considerávamos subconjuntos de um produto cartesiano de
dois conjuntos. Para a construção dos números reais vamos a considerar classes de equivalência de funções.
Começamos com a função valor absoluto | |Q : Q → Q que é definida por

a se 0 ≤ a
|a|Q =
−a se a < 0.

Obs. Tiramos o subíndice | |Q da função para não carregar a notação e a passamos a denotar por | |.

Algumas propriedades desta função são


• |a| = | − a|.
• a ≤ |a| e −a ≤ |a|.
• |a · b| = |a| · |b|
• |a + b| ≤ |a| + |b|

Demonstração. A prova da primeira e da segunda propriedade são inmediatas da definição.


Para mostrar a terceira temos três casos
• 0 ≤ a e 0 ≤ b. Neste caso |a · b| = a · b = |a| · |b|.
• 0 ≤ a e b < 0. Neste caso |a · b| = a · (−b) = |a| · |b|.
141

• a < 0 e b < 0. Neste caso |a · b| = (−a) · (−b) = |a| · |b|.


Para a quarta temos dois casos.
• Se a + b < 0 então
|a + b| = −(a + b) = −a + −b ≤ |a| + |b|.
• Se 0 ≤ a + b
|a + b| = a + b ≤ |a| + |b|.


ão
Definição 17.1 Uma sequência de números racionais é uma função x : N → Q. Denotamos à sequência por
(xn )n∈N e por xn = x(n).

Definição 17.2 Seja (xn )n∈N uma sequência de números racionais. Dizemos que:


• A sequência (xn )n∈N é de Cauchy se: para todo ε ∈ Q com ε > 0 existe um n0 ∈ N tal que se n0 < n, m
então |xm − xn | ≤ ε.
Denotamos por CQ ao conjunto das sequências de números racionais que são de Cauchy.
• A sequência (xn )n∈N converge a um número a ∈ Q se: para todo ε ∈ Q com 0 < ε existe um n0 ∈ N tal
que se n0 < n então |a − xn | ≤ ε.
or
Obs. Seja (xn )n∈N uma sequência então, como vimos antes é uma função x : N → Q. Assim uma sequência pode
ser vista como um processo que vai assumindo valores a medida que aumenta n.
ab
• Se a sequência é de Cauchy significa que seus termos ficam arbitráriamente próximos uns dos outros
a medida que n é maior. Isto, em matemática, é descrito dizendo que para qualquer ε > 0, podendo
ser arbitráriamente pequeno, temos que a distância entre os seus elementos x(n) e x(m) para n, m
suficientemente grandes, será menor que ε. Mais ainda, para cada ε > 0 podemos achar um n0 tal que
|xn0 − xm | < ε
el

para todo m > n0 .


• Se a sequência é convergente a q então os seus termos ficam arbitráriamente perto de um ponto fixo
q. Isto, em matemática, é descrito dizendo que para qualquer ε > 0, podendo ser arbitráriamente
pequeno, temos que a distância entre q e x(n), para n suficientemente grandes, será menor que ε. Mais
anda, para cada ε > 0 podemos achar um n0 tal que
|q − xm | < ε
Em

para todo m > n0 . Ou seja, todos os termos sucessivos estão, no máximo a uma distância menor que
ε < 0.
Se um processo físico é descrito por uma sequência (por exemplo a variação de temperatura T (n) no
instante t = n), o fato que a sequência de eventos seja de Cauchy permite ver que o processo tem uma certa
previsibilidade pois a partir do valor que assume em um ponto, os outros vão estar perto deste. O fato da
sequência ser convergente, permite dizer que os valores vão estar muito perto do valor ao qual converge
(por exemplo T0 ).

O seguinte resultado relaciona os dois conceitos.

Teorema 17.1 Seja (xn )n∈N uma sequência convergente a um número a ∈ Q. Então ela é de Cauchy.

Demonstração. Seja 0 < ε um número racional. Como a sequência (xn )n∈N converge a a temos que, para 12 · ε
existe um n0 tal que se n0 < n então |a − xn | ≤ 21 · ε. Sejam n0 < m, n então observamos que
|xn − xm | = |xn − a + a − xm |
≤ |xn − a| + |xm − a| ≤
1 1
≤ · ε + · ε = ε.
2 2
Portanto para todo ε ∈ Q tal que ε > 0 existe um n0 ∈ N tal que se n0 < n, m então |xm − xn | ≤ ε. 
142 Capítulo 17. Números Reais

 Exemplo 17.2 • Considere a sequência (xn )n∈N em que

xn = (−1)n

Esta sequência não é de Cauchy nem convergente. De fato,

|xn − xn+(2m+1) | = |(−1)n + (−1)n | = 2

portanto existe 1 = ε > 0 tal que para todo n0 temos n, m > n0 e

ão
|xn − xn+(2m+1) | ≥ 1.

Como não é uma sequência de Cauchy, ela não pode ser convergente.
• Dado q ∈ Q, considere a sequência (xn )n∈N em que


xn = q ∀ n ∈ N,

Ou seja x é a função constante. Claramente para todo ε > 0 existe n0 = 1 tal que m, n > 1 temos

|xn − xm | = 0 < ε,
or
portanto, é uma sequência de Cauchy e, mais ainda convergente pois para todo ε > 0 existe n0 = 1 tal que
se n > n0 então
ab
|xn − q| = 0 < ε.

• Uma sequência de Cauchy que não é convergente em Q pode ser construída como segue: Seja a ∈ (0, 1)
um número irracional, então

a = 0, a1 a2 . . . an an+1 . . .
el

Então

xn = 0, a1 . . . an .
Em

Então se n > m temos


an+1 . . . am 1
xn − xm = m
< n
10 10
1
Dado ε > 0 existe n0 de forma tal que 10n0 < ε e de forma tal que se n, m > n0 então

1
|xn − xm | < < ε.
10min{n,m}
Observamos que a sequência não converge em Q. De fato, se o limite for q ∈ Q tem um número máximo
n de cassas decimais ou é uma dízima periódica. Em qualquer dos dois casos haverá sempre um m
suficientemente grande em que xm − q 6= 0 pela construção do xn é pelo fato de a ser irracional. Portanto
chegamos a uma contradição. De onde segue que a sequência não é convergente.
• Considere a sequência (xn )n∈N em que

2 2
 
xn = 1 +
n

Observamos que ela é de Cauchy e é convergente. Mostramos cara uma por separado embora, por causa
do teorema acima, seja suficiente mostrar que é convergente para termos que é de Cauchy.
143

Para ver que é de Cauchy


 considere
  n > m ≥1 e fazemos
2 2 2 2
xm − xn = 2+ + · −
n m m n
   
2 2 1 1
= 2 2+ + · − ,
n m m n
Como n > m > 1 temos
1 1 1
− <
m n m

ão
e
 
2 2
2 2+ + < 12
n m
Portanto


12
|xm − xn | <
m
Seja ε > 0, então sempre existe um número natural n0 tal que

n0 > 12 · ε −1 . or
Assim, dado ε > 0 existe um numero natural n0 > 10 · ε −1 tal que se n, m > n0 temos
12 12
ab
|xn − xm | ≤ < < ε.
min{n, m} n0
De onde a sequência é de Cauchy.
Vamos mostrar que a sequência é convergente. Observamos que, da forma de xn quanto maior for n o
termo 2n está mais perto de 0, desta forma, quando n for a infinito este irá para 0 e xn ficará mais perto de 1.
el

Vamos mostrar então que a sequência converge para 4.


Observamos que

4 4 8
|xn − 1| = + 2 < .
n n n
Em

Seja ε > 0, então existe um numero natural n0 tal que n0 > 8 · ε −1 .


Assim, dado ε > 0 existe um numero natural n0 > 8 · ε −1 tal que se n > n0 então
8 8
|xn − 1| < < < ε.
n n0


Proposição 17.1 Sejam (xn )n∈N , (yn )n∈N ∈ CQ e a ∈ Q.


• Existe M tal que, para todo n ∈ N temos |xn | < M.
• Seja a ∈ Q tal que a 6= 0. A sequência (zn )n∈N definida por zn = a · xn + yn para todo n ∈ N é de Cauchy.
• A sequência (zn )n∈N definida por zn = xn · yn para todo n ∈ N é de Cauchy.

Demonstração. Sejam (xn )n∈N , (yn )n∈N ∈ CQ e a ∈ Q.


• Seja (xn )n∈N uma sequência de Cauchy e considere ε = 1 então existe n0 tal que se n, m > n0 temos que
|xn0 +1 − xm | < 1. Portanto

xn0 +1 − 1 < xm < xn0 +1 + 1 ∀ m.

Como A = {|x0 |, . . . , |xn0 |, |xn0 +1 − 1|, |xn0 +1 + 1|} é um conjunto finito temos que existe N = max A. De
onde segue o resultado.
144 Capítulo 17. Números Reais

• Seja ε > 0 então existe n0 tal que


1 1
|xn − xm | < · |a|−1 · ε e |yn − ym | < · ε,
2 2
para todo n0 < n, m. Considere a sequência (zn )n∈N definida por zn = a · xn + yn para todo n ∈ N então

|zn − zm | = |a| · |xn − xm | + |yn − ym | < ε.

• Seja ε > 0 então existe n0 tal que

ão
1 1
|xn − xm | < · M −1 · ε |yn − ym | < My−1 · ε
2 x 2
para todo n0 < n, m e Mx e My como no primeiro item. Considere a sequência (zn )n∈N definida por
zn = xn · yn então
|zn − zm | = |xn · yn − xm · yn + xm · yn − xm · ym |


= |xn − xm | · |yn | + |xm | · |yn − ym |
≤ |xn − xm | · My + Mx · |yn − ym | < ε.
para todo n, m ∈ N e portanto, é de Cauchy.


Estabelecemos no conjunto CQ a seguinte relação

(xn )n∈N ∼ (yn )n∈N


or
se, e somente se (xn − yn )n∈N converge a 0.
ab
Vejamos que a relação é de equivalência:
• Reflexiva: Claramente (xn )n∈N ∼ (xn )n∈N pois xn − xn = 0 para todo n ∈ N
• Simétrica: Se (xn )n∈N ∼ (yn )n∈N então (xn − yn )n∈N converge a 0. Como |yn − xn | = |xn − yn | temos que
(yn − xn )n∈N também converge a 0.
• Transitiva: Se Se (xn )n∈N ∼ (yn )n∈N e (yn )n∈N ∼ (zn )n∈N então, da definição da relação de equivalência
el

temos que dado ε > 0 existe n0 tal que


1 1
|xn − yn | < ·ε |yn − zn | < ·ε
2 2
para todo n0 < n . Portanto
Em

|xn − zn | ≤ |xn − yn | + |yn − zn | < ε.

e portanto (xn − zn )n∈N converge a 0.


Definição 17.3 O conjunto dos números reais R é o conjunto

R = CQ / ∼ .

Denotamos à clase de (xn )n∈N por [xn ]n∈N . Então um número real a é uma classe de equivalência

a = [xn ]n∈N

para alguma sequência de Cauchy (xn )n∈N ∈ CQ .


 Exemplo 17.3 Vimos anteriormente que a solução de x2 = 2 não pode ser achada dentro dos racionais. O
mesmo argumento pode ser feito para mostrar que para todo p primo o domínio de verdade da proposição

P(x) = ”x2 = p”,


a
é vazio em Q. De fato, se b ∈ Q está no domínio, então temos que

a2 = p · b2 .
145

Como, pelo teorema fundamental da aritmética, a = p1 · · · pk e b = q1 · · · ql para pi , q j primos, temos que


a2 = p21 · · · p2k = p · q21 · · · q2l .
Do lado esquerdo o p deve aparecer um numero par de vezes e, no entanto, do lado direito deve aparecer um
número impar de vezes. O que é uma contradição pois teríamos duas decomposições diferentes em primos de a2 .


Passamos agora a definir as operações soma e produto.


Definição 17.4 Sejam t = [xn ]n∈N e s = [yn ]n∈N em R . Definimos a soma + : R × R → R por

ão
t + s = [xn + yn ]n∈N .

e o produto · : R × R → R por

t · s = [xn · yn ]n∈N


Obs. As operações soma e produto nos números reais não são as mesmas que as operações soma e produto
nos números racionais. A notação correta teria um simbolo para cada operação, então seria algo da forma
+R : R × R → R por
t +R s = [xn +Q yn ]n∈N .
e ·R : R × R → R por
t ·R s = [xn ·Q yn ]n∈N
or
ab
Como a notação fica muito sobrecarregada, deixamos a interpretação a cargo do leitor e subentendida ao
contexto.
Outra observação é que, a diferença dos número inteiros e racionais, a fórmula para computar as operações
não é feito por uma equação simples envolvendo um número finito de elementos. Elas requerem um número
infinito de passos e elementos.
el

Mostramos agora que as definições de soma e produto são boas e não dependem do representante da classe
escolhido para computá-las. De fato, assuma que
[xn ]n∈N = [xn0 ]n∈N e [yn ]n∈N = [y0n ]n∈N
isto é,
Em

(xn − xn0 )n∈N e (yn − y0n )n∈N


convergem a 0. Então, dada ε ∈ Q com ε > 0 existe um n0 tal que se n0 < n então
1 1
|xn − xn0 | < ·ε e |yn − y0n | < ·ε
2 2
Portanto
1 1
|(xn + yn ) − (xn0 + y0n )| <
· ε + · ε = ε.
2 2
De onde segue que [xn + yn ]n∈N = [xn + y0n ]n∈N .
0

De forma similar, temos que dado ε > 0 existe um n0 tal que se n0 < n então
1 1
|xn − xn0 | < · M −1
0 ·ε e |yn − y0n | < · M −1 · ε
2 y 2 x
Portanto
|xn · yn − xn0 · y0n | ≤ |xn · yn − xn · y0n | + |xn · y0n − xn0 · y0n |
= |xn | · |yn − y0n | + |xn − xn0 | · |y0n |
= Mx · |yn − y0n | + |xn − xn0 | · My .
De onde segue que [xn · yn ]n∈N = [xn0 · y0n ]n∈N .
146 Capítulo 17. Números Reais

 Exemplo 17.4 Considere as sequências

(xn )n∈N e (yn )n∈N

definidas por
1 2
xn = yn = 1 +
n n+2
Observamos que as duas sequências são de Cauchy. De fato, dado ε > 0 existe n0 ∈ N, n0 · ε > 4 tal que se

ão
m, n > n0 temos
2
|xn − xm | < <ε
min{n, m}
e


4
|yn − ym | < < ε.
min{n + 2, m + 2}

Então, pelo resultado anterior, as sequências (un )n∈N e (vn )n∈N definidas por

e
1
un = xn + yn = 1 + +
2
n n+2
or
1 2
ab
vn = xn · yn = + ,
n n · (n + 2)
são de Cauchy.

el

Obs.
• A classe 0 = [xn ]n∈N tal que xn = 0 para todo n ∈ N satisfaz

0+t = 0 e 0·t = 0 ∀t ∈ R.
Em

• a classe 1 = [xn ]n∈N tal que xn = 1 para todo n ∈ N

1·t = t ∀t ∈ R.

• Se t = [xn ]n∈N então −t = [−xn ]n∈N satisfaz

t + (−t) = 0.

• Se t = [xn ]n∈N tal que t 6= 0 temos que existe N ∈ N tal que xn 6= 0 para todo n ∈ N tal que n > N.
De fato, como a sequência é de Cauchy temos que para cada k ∈ N existe nk tal que |xn − xm | < 1k e
xnk > 1k . Como a sequência não converge para 0 existe um K ∈ N tal que |xn | > K1 para todo n > nK
pois, caso contrário, teríamos que sempre existe xm < 1k para todo k de onde segue que a sequência
converge para 0 o que é uma contradição.
Mais ainda temos que xm > 0 ou xm < 0 para todo m > nK . De fato, se xnK > 0 então, como a
1
sequência é de Cauchy temos que existe ε = 2·K tal que

1 1 1 1
xm = xm − xn + xn > + xm − xn > − = .
K K 2·K 2·K
De forma similar se mostra se xm < 0.
• Se t = [xn ]n∈N tal que t 6= 0, definimos t −1 = [y−1 −1
n ]n∈N onde yn = 0 para n ≤ n0 e yn = xn para todo
n > n0 satisfaz

t · t −1 = 1.
147

Podemos mostrar que R munido da soma e o produto definido acima satisfaz o seguinte resultado.
Proposição 17.2 Sejam a, b, c números em R. Então
• a + b = b + a (comutatividade).
• a + (b + c) = (a + b) + c (associatividade).
• Existe 0 ∈ R tal que a + 0 = a para todo a ∈ R (existência de elemento neutro).
• Para todo a ∈ R existe −a ∈ R tal que a + (−a) = 0 (existência de elemento inverso).
• Se a + b = a + c Então b = c. (cancelamento na adição).
• a · b = b · a (comutatividade).

ão
• a · (b · c) = (a · b) · c (associatividade).
• Existe 1 tal que a · 1 = a (existência de elemento neutro).
• Para todo a ∈ R tal que a 6= 0 existe a−1 ∈ R tal que a · a−1 = 1.
• a · (b + c) = (a · b) + (a · c) (distributividade).
• Se a 6= 0 e a · b = a · c. Então b = c (cancelamento no produto).


Portanto os número reais formam um corpo.

Demonstração. Sejam

a = [an ]n∈N , b = [bn ]n∈N , e c = [cn ]n∈N

números em R. Então

a + b = [an + bn ]n∈N
or
ab
= [bn + an ]n∈N
= b+a

a + (b + c) = [an ]n∈N + [bn + cn ]n∈N
el

= [an + (bn + cn )]n∈N


= [(an + bn ) + cn ]n∈N
= [(an + bn )]n∈N + [cn ]n∈N
= (a + b) + c.
Em

• Seja

0 = [yn ]n∈N em que yn = 0 ∀ n ∈ N.

Observamos que (0)n∈N é de Cauchy naturalmente. então


a + 0 = [an + 0]n∈N
= [an ]n∈N
= a.
• Seja a = [an ]n∈N ∈ R e considere

−a = [−an ]n∈N

Observamos que (−an )n∈N é de Cauchy, pois

| − an − (−am )| = |an − am |

portanto, se (an )n∈N é de Cauchy, então (−an )n∈N também é de Cauchy. Agora
a + (−a) = [an + (−an )]n∈N
= [0]n∈N = 0.
148 Capítulo 17. Números Reais

• Como

a + b = [an + bn ]n∈N e a + c = [an + cn ]n∈N ,

então a + b = a + c implica que

((an + bn ) − (an + cn ))n∈N converge a 0,

isto é

ão
(bn − cn )n∈N converge a 0.

Portanto b = c. Então b = c.

a · b = [an · bn ]n∈N


= [bn · an ]n∈N
= b·a

a · (b · c) = [an ]n∈N · [bn · cn ]n∈N
= [an · (bn · cn )]n∈N
= [(an · bn ) · cn ]n∈N
= [(an · bn )]n∈N · [cn ]n∈N
or
ab
= (a · b) + c.
• Seja

1 = [yn ]n∈N em que yn = 1 ∀ n ∈ N.

Observamos que (yn )n∈N é de Cauchy naturalmente. então


el

a · 1 = [an · 1]n∈N
= [an ]n∈N
= a.
• Se a 6= 0 então existe ε0 para todo n0 ∈ N tal que n0 < n e |an | ≥ ε0 . Portanto existe a−1
n para todo n > n0 .
Em

Considere então a sequência (αn )n∈N definida por



1 se n ≤ n0
αn =
a−1
n se n0 ≤ n

Se n, m > n0 então

|an − am | 1
|αn − αm | = < 2 |an − am |,
|an · am | ε0

portanto (αn )n∈N é de Cauchy. Mais ainda, para todo n > n0 temos

an · αn = 1

portanto

[an · αn ]n∈N = [1]nN = 1.

Então definimos a−1 = [αn ]n∈N e obtemos

a · a−1 = 1.
149


a · (b + c) = [an · (bn + cn )]n∈N
= [(an · bn ) + (an · cn )]n∈N
= [(an · bn )]n∈N + [(an · cn )]n∈N
= (a · b) + (a · c).
• Se a · b = a · c então

((an · bn ) − (an · cn ))n∈N converge a 0.

ão
de onde

(an · (cn − bn ))n∈N converge a 0.

Assuma que a 6= 0 isto é (an ) não converge a 0. Então existe ε0 para todo n ∈ N tal que n0 < n e |an | ≥ ε0 .


Portanto, para todo n > n0 temos

|an · (cn − bn )| ≥ ε0 |cn − bn |

De onde seque que

(an · (cn − bn ))n∈N

se, somente se,


converge a 0
or
ab
((cn − bn ))n∈N converge a 0.


el

Obs. Os números racionais podem ser vistos como um subconjunto dos números reais da seguinte forma: defina
f : Q → R por

f (a) = (xn )n∈N em que xn = a ∀n ∈ N.

é fácil ver que


Em

f (a + b) = f (a) + f (b) e f (a · b) = f (a) · f (b).

desta forma dizemos que Q ⊂ R. Mais ainda, temos que se a ≤ b em Q então f (a) ≤ f (b).

Obs. Assim como foi feito para os números racionais definimos para a ∈ R e n ∈ N
n termos
n z }| {
a = a · a · · · a,

a−n = (an )−1 = (a−1 )n .

Com ésta definição vemos que se cumple

ar · as = ar+s ,

para todo r, s ∈ Z.
150 Capítulo 17. Números Reais

Definição 17.5 Dado s ∈ R dizemos que 0 ≤ s se s = [xn ]n∈N existe um n0 ∈ N tal que se n0 < n então
0 ≤ xn .
Dados dois números reais s e t dizemos que s ≤ t se

0 ≤ t + (−s).

Mais ainda, dizemos que

s<t ⇔ (s ≤ t) ∧ (s 6= t).

ão
Obs. Dados t, s ∈ R, denotamos
• t ≥ s se, e somente se, s ≤ t.
• t > s se, e somente se, st.


Proposição 17.3 Sejam a, b, e c números reais
• a ≤ b se, e somente se, a + c ≤ b + c para todo c ∈ R
• Se a ≤ b e 0 ≤ c então a · c ≤ b · c
• Se a ≤ b e c ≤ 0 então b · c ≤ a · c.

Demonstração. • Observamos que


a ≤ b ⇔ 0 ≤ b + (−a)
⇔ 0 ≤ b + (−a) + c + (−c)
or
ab
⇔ 0 ≤ (b + c) + (−a) + (−c)
⇔ 0 ≤ (b + c) + [−(a + c)]
⇔ a + c ≤ (b + c).
Para os itens que seguem, sejam
el

a = [xn ]n∈N , b = [yn ]n∈N e c = [zn ]n∈N

• Se a ≤ b e 0 ≤ c então existem naturais n0 e n1 tal que se n > n2 = max{n0 , n1 } temos


Em

0 ≤ (yn − xn ) e 0 ≤ zn .

portanto

0 ≤ (yn − xn ) · zn = (yn · zn ) − (xn · zn ).

de onde segue que a · c ≤ b · c.


• Se a ≤ b e c ≤ 0 então existem naturais n0 e n1 tal que se n > n2 = max{n0 , n1 } temos

0 ≤ (yn − xn ) e 0 ≤ −zn .

portanto

0 ≤ (yn − xn ) · (−zn ) = −(yn · zn ) + (xn · zn ).

de onde segue que b · c ≤ a · c.


Seguem inmediato da definição dos reais e das propriedades do ≤ em Q. 

Corolário 17.1 Os números reais formam um corpo ordenado.


151

Demonstração. Somente resta mostrar que se a = [xn ]n∈N e b = [yn ]n∈N são números reais, então a ≤ b ou b ≤ a.
Para isto observamos que se a 6= b então a sequência (zn )n∈N definida por

zn = (xn − yn )

não converge para 0. Vamos mostrar que existe n0 ∈ N tal que para todo n > n0 temos

0 < xn − yn ou 0 < yn − xn .

ão
Caso isto acontece, temos de forma natural, que a < b ou b < c.
Como (zn )n∈N é de Cauchy e não converge para 0 temos que existe ε0 ∈ Q tal que para todo n0 ∈ N temos
que n > n0 e |zn | ≥ ε0 .
Seja ε1 < ε0 então existe um n1 ∈ N tal que se n, m são maiores que n1 temos |zn − zm | < ε1 . Assuma que
n2 > n1 e que zn1 > 0 então zn1 > ε0 > ε1 . Portanto


−ε1 < zm − zn < ε1 ⇒ −ε1 + zn < zm < ε1 + zn
⇒ 0 < zm .
de onde b ≤ a. Caso zn1 < 0 então, por um argumento similar chegamos a

zm < 0 ⇒ a ≤ b,

provando o que queríamos.


or 
ab
Teorema 17.2 — Tricotonomia em R. Dados a, b ∈ R temos que a < b ou a = b ou b < a.

Demonstração. Segue do fato de R ser um corpo bem ordenado. De fato se a = [xn ]n∈N e b = [yn ]n∈N tais que
a 6= b então (xn − yn )n∈N não converge para 0. Portanto existe um n0 ∈ N tal que
el

0 < xn − yn ou 0 < yn − xn ,

para todo n > n0 . De onde segue que a < b ou b < a. 


Em

Obs. Os números racionais podem ser vistos como um subconjunto dos números reais da seguinte forma: defina
f : Q → R por

f (a) = (xn )n∈N em que xn = a ∀n ∈ N.

é fácil ver que

f (a + b) = f (a) + f (b) e f (a · b) = f (a) · f (b).

desta forma dizemos que Q ⊂ R. Mais ainda, temos que se a ≤ b em Q então f (a) ≤ f (b).
Temos assim as seguintes cadeias de inclussões

N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R.

O conjunto I = R\Q é o conjunto dos números chamados irracionais.

Lema 17.1 O conjunto dos números reais não é enumerável.

Obs. Daremos aqui uma demonstração eurística do resultado de Cantor. Para mais detalhes consultar o livro:
Robert Roth Stoll - Set theory and logic. Dover. ( 1979)
152 Capítulo 17. Números Reais

Demonstração. Vamos mostrar qua a cardinalidade de P(N) é igual a cardinalidade de R e portanto R não
pode ser enumerável pois isso garante a existência de uma função sobrejetora de N → P(N) o que, pelo que
vimos no teorema 13.1, não pode acontecer.
Primeiramente considere f : R → P(Q) a função definida por

f (x) = {q ∈ Q, q ≤ x}

Observamos que se x 6= y então, por exemplo x < y. Da densidade dos racionais, temos que existe um racional
q1 tal que

ão
x < q1 < y ⇒ f (x) 6= f (y).

Portanto f é injetora. De onde segue que a cardinalidade de ]R é menor ou igual que a cardinalidade de ]P(Q)
Como os racionais são enumeráveis, temos que ]P(Q) é menor ou igual que ]P(N).
Definimos a função injetora g : P(N) → R da seguinte forma: Para A ⊂ N definimos χA : N → {0, 1} por



1 se n ∈ A
χA (n) =
0 se n 6∈ A
e definimos

g(A) =
χA (0)
10
+···+
χA (n)
10n
+···
or
Claramente se A 6= B então g(A) 6= g(B) e portanto a função é injetora. De onde segue que ]P(N) é menor
igual que ]R. De onde segue que todas as cardinalidades são iguais. 
ab
Vamos a provar agora uma propriedade dos números reais que, basicamente, diz que um número real não
pode ser infinitamente grande ou infinitamente pequeno.

Teorema 17.3 — Propriedade arquimediana. Dados a e b número positivos em R existe n ∈ N tal que
el

b < n·a

Demonstração. Sejam a = [xn ]n∈N e b = [yn ]n∈N números positivos. Então existe n0 ∈ N tal que

0 < xn e 0 < yn ,
Em

para todo n > n0 . Observamos que o que temos que mostrar é o seguinte:
Existem m, n ∈ N tal que se k > n então yk < m · xk .
Assuma que isto não acontece, então para todo m, n temos k > n e yk ≥ m · xk .
Seja ε ∈ Q tal que ε > 0.
• Como (yn )n∈N é de Cauchy, temos que existe R ∈ Q, R = qp com (p, q) = 1, tal que

0 < yn < R

• Como (xn )n∈N é de Cauchy, existe n1 > n0 tal que se n, m > 0 então
1
|xn − xm | < ε
2
q1
Como ε = q2 , o algoritmo da divisão garante a existência de um l ∈ N tal que

1 1
2 · p · q2 < l · q · q1 ⇒ · R < · ε.
l 2
Agora, dado m = l e n ∈ N com n > n1 temos que k > n1 e
1 1
0 < l · xk < yk < R ⇒ 0 < xk < ·R < ·ε
l 2
153

Então, se m > k temos


|xm | ≤ |xm − xk | + |xk |
1 1
< ·ε + ·ε
2 2
= ε.
E isto vale para todo ε > 0. Então (xn )n∈N converge a 0 o que contradiz o fato de a ser positivo. Portanto existem
m, n ∈ N tal que se k > n então yn < m · xn . 

Estendemos a função valor absoluto aos número reais, isto é definimos | |R : R → R por

ão

a se 0 ≤ a
|a|R =
−a se a < 0.

É fácil verificar que possui as mesmas propriedades que para o caso dos racionais e que |a| < b se, e somente se


−b < a < b. Mais ainda, se q1 , q2 são números racionais, então

|q1 − q2 |R = |q1 − q2 |Q ,

via a identificação Q ⊂ R. De fato, temos que se qi = [qi ]n∈N para i = 1, 2 e


or
q1 − q2 ≥ 0 ⇒ |q1 − q2 |Q = q1 − q2 ≥ 0 ⇒ [q1 ]n∈N − [q2 ]n∈N ≥ 0
q1 − q2 < 0 ⇒ |q1 − q2 |Q = q2 − q1 > 0 ⇒ [q2 ]n∈N − [q1 ]n∈N > 0.

É por isto que tiramos o subíndice | |R da notação e denotamos a função valor absoluto por | | indistintamente se
ab
for sobre os reais ou racionais, deixando ao leitor a interpretação do contexto.
Com esta definição e o resultado anterior podemos mostrar que os numeros racionais são densos no conjunto
dos números reais.
Teorema 17.4 Dados um número real a e um número racional q, 0 < q, existe um número racional r tal que
el

|a − r| < q.

Demonstração. Seja a = [xn ]n∈N . Como (xn )n∈N é de Cauchy, dado q ∈ Q, 0 < q, existe n0 ∈ N tal que se n > n0
então |xn − xn0 | < q. Defina agora r = (yn )n∈N tal que
Em

yn = xn0 ∀ n ∈ N.

Então r ∈ Q. Como

−q + yn < xn < q + yn ∀ n > n0

temos

−q < xn − yn < q ∀ n > n0 ⇒ |xn − r| < q ∀ n > n0 .

De onde segue que |a − r| < q. 

O seguinte resultado é a propriedade geométrica masi importante dos números reais e que é de grande
utilidade na análise matemática. Básicamente, o resultado garante que os números reais, como conjunto, não
tem "furos".
Teorema 17.5 Todo conjunto não vazio de R que é limitado superiormente admite elemento supremo.

Demonstração. Seja A ⊂ R um conjunto não vazio e seja M uma cota superior de A. Seja a ∈ A definimos as
sequências (un )n∈N e (vn )n∈N pelo seguinte processo recursivo ou jogo (veremos recorrências mais adiante no
texto):
154 Capítulo 17. Números Reais

• u0 = M e v0 = a
• Assuma conhecido un e vn , calculamos

1
Mn = · (un + vn )
2
então
– se Mn é conta superior, então un+1 = Mn e vn+1 = vn .
– se Mn não é cota superior, então un+1 = un e vn+1 = Mn .
Observamos que

ão
a) para cada n vn não é cota superior.
b)
un+1 − vn+1 = Mn − vn
1
= = · (un + vn ) − vn


2
1
= · (un − vn )
2
1
≤ |M − a|.
2n
c) por definição,

1
|un − un+1 | ≤ |un−1 − un |
2
or
d)
ab
|un − un+k | ≤ (|un − un+1 | + |un+1 − un+2 | + · · · + |un+k−1 − un+k |)
 
1 1
= |un − un+1 | + · |un − un+1 | + · · · + k−1 |un − un+1 |
2 2
< 2|un − un+1 |
el

2
≤ |M − a|.
2n
Para cada n consideramos qn ∈ Q tal que |un − qn | < 1n e consideramos a sequência (qn )n∈N . Seja ε > 0 e
m ∈ N tal que 1 < m3 ε e 22m |M − a| < 31 · ε ( tal m existe pela propiedade arquimediana) então
Em

|qn − qm | ≤ |qn − un | + |un − um | + |um − qm | < ε.

portanto (qn )n∈N é de Cauchy e representa um real que chamamos de b. Mais ainda, da construção, temos
que (un )n∈N converge para b. Por outro lado

1 1
|vn − qn | ≤ |vn − un | + |qn − un | ≤ n
|M − a| +
2 n
de onde segue que (vn )n∈N converge para b.
Assuma que existe a0 ∈ A tal que b < a0 , escolhemos ε = a0 − b, e como (un )n∈N converge para b existe
um n tal que un − b < ε, portanto

un < b + ε = b + (a0 − b) = a0 ,

o que é uma contradição pois un é uma cota superior de A. Portanto b é a cota superior.
Assuma agora que b0 < b é cota superior de A, então seja ε = b − b0 . Como (vn )n∈N converge para b temos
que existe um n0 ∈ N tal que para todo n0 < n vale b0 < vn mas vn não é cota superior o que contradiz o
fato de b0 ser cota superior.

155

Obs. Com este resultado podemos ver que se b ∈ R e b > 0 então a função proposicional
P(x) = ”x ∈ R, x2 = b.”

tem domínio de verdade não vazio em R e é dado pelo

s = sup{x ∈ R, x2 < b}.

De fato se s2 < b, para todo n ∈ N tal que n > 2·s+1


b−s2
temos que sn = s + 1n é tal que s < sn e s2n < b portanto
s não pode ser supremo. De forma similar, se s2 > b entao escolhemos m = s22·s −b
e obtemos que s̃m = s − m1

ão
é tal que s > s̃m e s̃2m > b2 contradizendo novamente o fato de s se supremo.

Podemos ver que toda função proposicional polinomial em R

P(x) = ”x ∈ R, a2k+1 · x2k+1 + · · · + a1 · x + a0 = 0”,


para k ∈ N e a2k+1 6= 0, tem domínio de verdade não vazio em R. Para demonstrar isto se utiliza a continuidade
do a função polinomial junto ao Teorema do valor intermediário (Cálculo I). Para esses dois conceitos é utilizado
fortemente a propriedade da existência de supremo.
É fácil ver que, no entanto, ainda há funções proposicionais polinomiais sobre os números reais com comínio

Q(x) = ”x ∈ R, x2 + 1 = 0”
or
de verdade vazio. De fato, por exemplo, a função proposicional

Tem domínio de verdade vazio em R. Para resolver finalmente o problema do domínio de verdade não vazio
ab
para funções proposicionais do tipo polinomial, é construído um outro conjunto numérico que é o conjunto dos
números complexos.
el
Em
Em
el
ab
or

ão
ão
18. Representação decimal dos números reais


or
Vimos, na seção anterior, que um número real pode ser representado por uma sequência (xn )n∈N de números
racionais. No entanto, esta representação é pouco conveniente para efeitos práticos, visto que temos que
ab
temos que especificar um conjunto enumerável de números. Para simplificar a notação surge a bem conhecida
representação decimal dos números reais.
Vamos a estudar a representação decimal dos reais não negativos, pois para os negativos basta considerar a
representação decimal do valor absoluto do número e acrecentar um sinal − na frente.
Números inteiros: Primeiramente representamos o 0 e depois o restante dos números.
el

• O número 0 terá por representação decimal

0 = ”0, 00 . . . ” ou, simplesmente por 0.

• No caso dos inteiros positivos observamos que, o algoritmo da divisão, nos permite escrever todo número
Em

inteiro a como somas

a = a0 + a1 · 10 + a2 · 102 + · · · + an · 10n

Assim, representamos o numero a por

a = ”an . . . a2 a1 a0 , 0000 . . . ” ou, simplesmente por a = ”an . . . a2 a1 a0 ”.

 Exemplo 18.1 A representação do número

2 + 3 · 10 + 5 · 102 + 1 · 103 = ”1532”.

Números racionais: No caso em que a é um número racional, sempre podemos escrever


p
a= ,
q

para p, q ∈ N tais que (p, q) = 1. Primeiramente vamos representar cada número da forma
a0 a1 a2 an
+ + 2 +···+ n ,
1 10 10 10
158 Capítulo 18. Representação decimal dos números reais

com

a0 ∈ N e ai ∈ {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9}.

Se a0 tem representação decimal

a0 = ”a0m . . . a00 ”

então a será representado pela expressão

ão
a = ”a0m . . . a00 , a1 a2 . . . an ”

e agora dividimos em dois casos:


• Existe k ∈ N tal que q divide a 10k · p. Neste caso temos que

10k · p = b · q


onde

b = b0 + b1 · 10 + · · · + br · 10r .

Então
p
q
=

=
1
10k
1
10k
·

·
10k · p

b
1
q
or
ab
a
=
10k
1 1 1 1
= br · k−r + br−1 · k−r+1 + · · · + b1 · k−1 + b0 · k .
10 10 10 10
e representamos como acima.
el

• Não existe k ∈ N tal que q divide a 10k · p. Claramente, neste caso, q 6= 10l para todo l ∈ N. Do algoritmo
da divisão temos que

p = q · a0 + r,

com 0 < r < q. Considere o menor m ∈ N tal que


Em

r < q < 10m · r

Agora aplicamos o algoritmo da divisão a

10m+k · r = dk · q + rk k≥0

como temos no máximo q restos possíveis. Escolhemos os menores k1 < k2 tais que rk1 = rk2 . Temos
então que
10m · r · (10k2 − 10k1 ) = q · b ⇒ 10k1 · (10k2 −k1 − 1) < b < 10m+k1 · (10k2 −k1 − 1).
Novamente, pelo algoritmo da divisão, temos que

b = c + 10k1 · (10k2 −k1 − 1) · d


= c + d · (10k2 − 10k1 )
com

c < (10k2 − 10k1 ) e d < 10m+k1

Portanto, escrevemos

c = c0 + c1 · 10 + . . . + ck2 · 10k2 −1
159

d = d0 + d1 · 10 + · · · + dm+k1 −1 · 10m+k1 −1
Então
10m · r b d c
= = + .
q (10 2 − 10 1 ) 1 (10 2 − 10k1 )
k k k

Observamos que
c 1 c
= k · k −k .
(10k2 k
− 10 ) 10 10 1 −1

ão
1 1 2

Agora, utilizamos a identidade


1 1 1 1
= + 2·n + · · · + n·k + · · ·
10n − 1 10 n 10 10


que será mostrada quando estudemos recorrências. Com esta identidade, vemos que se

e = e0 + e1 · 10 + · · · + en−1 · 10n−1
e e e e
= + 2·n + · · · + n·k + · · ·
10n − 1 10 n 10
que é escrita como dízima periódica
e
10n − 1
10

= ”0, en−1 en−2 . . . e1 e0 ”.


or
ab
Com esta notação, temos
r d c
= m+ m
q 10 10 · (10k2 − 10k1 )
el

se escreve
r
= ”0, dm+k1 −1 . . . d1 d0 ck2 −1 ck2 −2 . . . c1 c0 ”.
q
Portanto
Em

p
= ”a0 , dm+k1 −1 . . . d1 d0 ck2 −1 ck2 −2 . . . c1 c0 ”.
q
Da notação acima, temos

Obs.
r b c + d · (10k2 − 10k1 ) (c + d · 10k2 ) − d · 10k1
= m k k
= =
q 10 · (10 2 − 10 1 ) 10m · (10k2 − 10k1 ) 10m · (10k2 − 10k1 )

Então se temos uma dizima períodica da forma

0, dm · · · d0 ck · · · c0

podemos representála como número racional calculando

d = d0 + · · · + dm · 10m e c = c0 + · · · + ck · 10k

e fazendo
(c + 10k+1 · d) − d
.
10m (10k+1 − 1)
160 Capítulo 18. Representação decimal dos números reais
19
 Exemplo 18.2 Considere o número 99 : observamos que

19 < 99 < 10 · 19

Então

10 · 19 · (102 − 1) = 99 · 190

Então, na notação acima, temos m = 1, k1 = 0, k2 = 2 e b = 190. Mais ainda,

ão
190 = 99 · 1 + 91

de onde c = 91 e d = 1. Escrevemos então


19
= 0, 191.
99


Observamos que, pelo formato do número e a notação, também poderiamos ter escrito

0, 191 = 0, 19.

Por outro lado, transformando de dízimas periódicas a número racional temos duas expressões equivalentes:
• Para o caso: 0, 191 temos

d = 1 c = 91
or
ab
de onde o número fica
(91 + 102 · 1) − 1 190
= .
10 · (102 − 1) 990

• Para o caso: 0, 19 temos


el

d = 0 c = 19

de onde o número fica


(19 + 102 · 0) − 0 19
Em

= .
(102 − 1) 99


Números Irracionais: Tamos visto como escrever os números inteiros e racionais na forma decimal. Já com
os irracionais isto nunca poderá ser concluido. O número irracional não, por definição é um número que não é
racional, então sua representação decimal nunca poderá ser feita pois é o trabalho de escrever um número com
infinitas casas decimais depois do 0, o máximo que podemos fazer é uma aproximação racional e escrevé-los
como

a = ”a0 , a1 . . . an . . . ”

onde cada

a j ∈ {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9} ∀ j ∈ N\{0}

Observamos, pelo fato de não ser racional, nunca vamos ter um a n−upla da forma

ak+1 . . . ak+n

que se repete na forma de dízimas periódicas depois da vírgula. Então não temos como simplificar de alguma
forma a notação. Em geral, a menos dos casos de raizes quadradas de números primos, ou otros racionais
161

similares) os números irracionais são nomeados por alguma letra como é o caso do número π, número e etc.
Tambem observamos que há constantes que se conhecem com um número grande de casas decimais e das quais
não se sabe se são racionais ou irracionais, por exemplo π + e ou π · e.
Se a é um irracional, com

a = ”a0 , a1 . . . an . . . ”,

a sequência que define a é

ão
a0 a1 aj
a = [q j ] j∈N onde q j = + +···+ j .
1 10 10

 Exemplo 18.3 Por exemplo, para o número π sabemos que


π = 3, 14159265358979323846264338327950288419716939937510
5820974944592307816406286208998628034825342117067982148
0865132823066470938446095505822317253594081284811174502
or
8410270193852110555964462294895493038196442881097566593
3446128475648233786783165271201909145648566923460348610
454326648213393607260249141273 · · ·
ab
Consulte em htt p : //www.geom.uiuc.edu/ huberty/math5337/groupe/digits.html para mais detalhes. 

Para representar gráficamente os números reais vamos a utilizar uma reta, que será chamada de reta real,
sobre a qual vamos distinguir um ponto 0, que corresponde ao número 0.
el
Em

Com uma unidade de comprimento marcamos os inteiros do lado esquerdo os negativos e do lado direito os
positivos. As marcas são a múltiplos de este comprimento.

Para representar os racionais primeiramente observamos que para representar um racional qp < 1 particionamos
o segmento da reta entre 0 e 1 em q partes iguais e marcamos a prosição p. Por exemplo, representamos os
racionais 16 , 62 , 36 , 64 e 56 como segue:
162 Capítulo 18. Representação decimal dos números reais

ão
p
Agora, todo racional da forma q pode ser escrito como

p a p0
= +


q 1 q

com p0 > 0. Então para representar qp particionamos o segmento da reta entre a e a + 1 em q partes e marcamos
o correspondente a marca p0 . Por exemplo os racionais 6·a+1
6 ,
6·a+2 6·a+3 6·a+4
6 , 6 , 6 e 6·a+5
6 como segue:

or
ab
el

Os números reais que não são racionais podem ser também representados exatamente por um ponto na reta.
Porém pode ser um trabalho delicado, dada a definição dos irracionais. Embora alguns casos particulares possam
ser representados utilizando argumentos de trigonometria e demais, podemos fazer uma repressentação informal
da seguinte forma: sabemos que o número irracional vai estar entre dois racionais. Então, por abuso gráfico
Em

escolhemos dois racionais que estejam arbitráriamente próximos (tanto quanto a definição do nosso gráfico
permitir) e marcamos o ponto do meio.
Por exemplo o número π: pelo visto acima ele satisfaz 314 315
100 < π < 100 e o representamos marcando um ponto
neste intervalo, por exemplo:
ão
19. Sequências e Recorrências


or
Neste capítulo estudaremos com um pouco mais de detalhes as sequências de números e sua definição por meio
de recursões ou processos recursivos do tipo que utilizamos nas demonstrações de alguns dos tópicos já vistos.
ab
Começamos o capítulo generalizando as definições sobre sequências para o caso em que os números da
sequência são números reais.
Definição 19.1 • Uma sequência de números reais é uma função x : N → R. Denotamos à sequência
por (xn )n∈N e por xn = x(n).
el

• Seja (xn )n∈N uma sequência de números reais, uma subsequência é uma aplicação y : N → R obtida de
compor x com uma função m : N → N em que m(i) ≤ mi+1 , isto é y = x ◦ m. Denotamos a subsequência
por (xmk )k∈N em que mnk = (x ◦ m)(k).
• Seja (xn )n∈N uma sequência de números reais. Dizemos que:
– A sequência (xn )n∈N é de Cauchy se para todo ε ∈ R tal que ε > 0 existe um n0 ∈ N tal que se
Em

n0 < n, m então |xm − xn | ≤ ε.


– A sequência (xn )n∈N converge a um número a ∈ R se para todo ε ∈ R tal que 0 < ε existe um
n0 ∈ N tal que se n0 < n então |a − xn | ≤ ε.
Neste último caso denotamos

lim xn = a.
n→∞

Corolário 19.1 Seja x um número real, x = [xn ]n para (xn )n∈N uma sequência de Cauchy de números
racionais. Então, como xn ∈ Q ⊂ R pela identificação vista, temos que (xn )n∈N é uma sequência de Cauchy
de números reais que converge a x.

Demonstração. O baso de ser sequência de Cauchy segue da densidade dos racionais nos reais. De fato, para
todo ε > 0 existe um número racional ε̃ > 0 tal que ε > ε̃ > 0. Portanto, há um n0 tal que se n, m > n0 então
|xn − xm | < ε. Agora da inclusão canônica de Q ⊂ R temos que a sequência é de Cauchy.
Para cada n seja, pela densidade de Q em R o número racional yn tal que

1
|x − yn | < ,
2n
164 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

então, se n > m temos


|ym − yn | < |ym − x| + |x − yn |
1 1
< m
+ n
2 2
1

2n−1
Portanto (yn )n∈N é uma sequência de Cauchy, pois dado ε > 0 existe um n0 de forma tal que 2n0 −1 · ε > 1 e se
m, n > n0 então

ão
|ym − yn | < ε.

Observamos que

|xn − yn | ≤ |xn − xm | + |xm − ym | + |ym − yn |


de onde segue que

||xn − yn | + (−|xm − ym |)| ≤ |xn − xm | + |ym − yn |

Portanto a sequência (zn )n∈N definida por

zn = |xn − yn | ∀ n ∈ N,
or
é de Cauchy e converge para 0 pois, caso contrário, existe em δ > 0 tal que para todo n ∈ N temos m > n
ab
δ < |xm − ym |

de onde δ < |x − ym | o que é um absurdo pela construção de (yn )n∈N . 

Se (xn )n∈N é uma sequência convergente de números reais, então utilizando o mesmo argumento que para
el

sequências convergentes de números racionais, podemos mostrar que ela é de Cauchy. No conjunto dos números
reais podemos ver que a volta deste resultado, isto é, se é de Cacuhcy então é convergente, também vale. Esse é
o conteúdo do proximo resultado.

Teorema 19.1 Seja (xn )n∈N uma sequência reais então ela é de Cauchy se, e somente se, é convergente .
Em

Demonstração. A prova de que se é convergente é de Cauchy é idéntica ao caso de sequência convergente de


números racionais.
Assuma que (xn )n∈N é de Cauchy. Como cada xn ∈ R temos que existem sequências de Cauchy (ynk )k∈N tais
que

xn = [ynk ]k∈N

Dado k ∈ N fixo definimos a sequência (zn )n∈N por

zn = ynk , ∀ n ∈ N.

Observamos que (zn )n∈N é uma sequência de Cauchy. De fato, se ε > 0 existe um n0 ∈ N tal que se n, m > n0
temos
1
|xn − ynk | < · ε
3
1
|xm − ym k | < ·ε
3
1
|xn − xm | < · ε
3
165

De onde segue que


|zn − zm | = |ynk − ym
k|
= |ynk − xn | + |xn − xm | + |xm − ym
k | < ε.

Portanto, (zn )n∈N é de Cauchy. Seja x = [zn ]n∈N . Observamos que dado ε > 0 existe um n0 ∈ N tal que se
n, m > n0 temos
1
|x − zm | < ·ε
3
1

ão
|ym
k − xm | < ·ε
3
1
|xn − xm | < ·ε
3


e, portanto
|x − xn | = |x − zm | + |zm − xn |
= |x − zm | + |ym
k − xm | + |xn − xm | < ε.

Portanto (xn )n∈N converge a x. 

 Exemplo 19.1

xn =
2·n
n+1
∀ n ∈ N.
or
• Seja (xn )n∈N uma sequência reais em que
ab
Dado ε > 0 existe n0 satisfazendo n0 > 2 · ε −1 tal que se n > n0 temos
2·n
|xn − 2| =
n+1
2
=
n+1
el

2
< <ε
n0 + 1
Portanto a sequência (xn )n∈N converge a 2, de onde

lim xn = 2.
n→∞
Em

Como a sequência é convergente é de Cauchy. Seja m : N → N definida por m(n) = 3 · n + 1 então (xmn )n∈N
e uma subsequência de (xn )n∈N e está definida por
2 · m(n)
xmn =
m(n) + 1
2 · (3 · n + 1)
=
(3 · n + 1) + 1
6·n+2
= , ∀ n ∈ N.
3·m+2
• Seja (xn )n∈N uma sequência reais em que
2 n 
xn = · cos · π , ∀ n ∈ N.
n+3 2
Dado ε > 0 existe n0 satisfazendo n0 > 2 · ε −1 tal que se n > n0 temos
2  n 
|xn − 0| = · cos ·π
n+3 2
2

n+3
2
< <ε
n0
166 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

Portanto a sequência (xn )n∈N converge a 0, de onde

lim xn = 0.
n→∞

Como a sequência é convergente é de Cauchy. Seja m : N → N definida por m(n) = 4 · n então (xmn )n∈N e
uma subsequência de (xn )n∈N eestá definida  por
2 m(n)
xmn = · cos ·π
m(n) + 3 2
2
= · cos (2 · π)

ão
4·n+3
2
= ∀ n ∈ N.
4·n+3
Por outro lado se k : N → N definida por k(n) = 2 · n + 1 então (xkn )n∈N e uma subsequência de (xn )n∈N e
está definida por


 
2 k(n)
x kn = · cos ·π
k(n) + 3 2
 
2 2·n+1
= cos · π = 0, ∀ n ∈ N.
n+3 2
Portanto a subsequência (xkn )n∈N tem todos seus termos iguais a 0.
or
A existência de uma ordem e a tricotomia nos números reais nos permite dar a seguinte definição.
Definição 19.2 Seja (xn )n∈N uma sequência reais. Dizemos que ela é

ab
• crecente: se para todo n ∈ N temos xn < xn+1 .
• não decrecente:se para todo n ∈ N temos xn ≤ xn+1 .
• decrecente:se para todo n ∈ N temos xn+1 < xn .
• não crecente:se para todo n ∈ N temos xn+1 ≤ xn .
• monótona se ela for não crescente ou não decrescente.
el

• limitada superiormente: se existe M ∈ R tal que xn ≤ M para todo n ∈ N.


• limitada inferiormente: se existe M ∈ R tal que M ≤ xn para todo n ∈ N.
• limitada: se a sequência for limitada inferiormente e superiormente.
• ilimitada: se não for limitada.
O fato de uma sequência (xn )n∈N monótona e/ou limitada da informações sobre a convergencia da mesma
Em

ou, pelo menos de uma subsequência da própria sequência. Isso é o que veremos nos resultados a seguir.

Teorema 19.2 — da Convergência Monótona. Toda sequência monónota e limitada converge.

Demonstração. Seja (xn )n∈N uma sequência monótona limitada. Assuma que é não decrescente (o caso não
crescente é similar)
Considere o conjunto A = {xi , i ∈ N}. Como a sequência é limitada temos que A é limitado. Portanto, pela
existência de supremo em subconjuntos limitados de R temos que existe

s = sup A.

Seja ε > 0, da definição de supremos exist eum n0 ∈ N tal que

s − ε < xn0 ≤ xn ≤ s < s + ε

de onde

−ε < xn − s < ε ⇒ |xn − s| < ε

Portanto (xn )n∈N converge para s.



167

 Exemplo 19.2 • Seja (xn )n∈N uma sequência reais em que

xn = (−1)n ∀ n ∈ N.

Claramente é uma sequência que é limitada. Não é crescente nem decrescente pois

x2n > x2n+1 > x2n+2 ∀ n ∈ N.

Seja m1 , m2 : N → N dada por m1 ( j) = 2 · j e m2 ( j) = 2 · j + 1 então as subsequênciasy, z : N → R dadas


por

ão
y( j) = x ◦ m1 ( j) = 1 e z( j) = x ◦ m2 ( j) = −1 ∀ j∈N

são monótonas (de fato são constantes) e convergentes a 1 e −1 respectivamente.


• Seja (xn )n∈N uma sequência reais em que


p
xn = 1 + n2 ∀ n ∈ N.

Observamos que, para todo n ∈ N temos

xn ≥ 1 e xn < xn+1 .

De fato, para n = 0 temos que x0 = 1 ≥ 1 e x1 =


vemos que vale para n + 1. Como
or √
2 > 1 = x0 . Assuma que o que está acima vale para n

xn2 = 1 + n2 < 1 + (n + 1)2 = xn+1


2
ab
⇒ 1 ≤ xn < xn+1

de onde segue que

xn ≥ 1 e xn < xn+1 ∀n ∈ N.
el

p xn é crescente, limitada inferiormente. Mais ainda, para todo M ∈ R existe um número natural
Portanto
n0 > |M 2 − 1| tal que se m > n0 então
2
xm = 1 + m2 > 1 + n20 > M 2 ⇒ xn > M.

Então, xm não é limitada superiormente e portanto não é limitada.


Em

• Seja (xn )n∈N uma sequência reais em que


n
xn =
1 + n2
Observamos que, como 0 ≤ n ≤ 1 + n2 para todo n ∈ Ntemos que 0 ≤ xn ≤ 1. De onde segue que a
sequência é limitada superiormente e inferiormente, portanto é limitada. Mais ainda, como
1 1 2
x0 = 0 < = x1 e x1 = > = x2
2 2 5
a sequência não é crescente nem decrescente.
Se m : N → N tal que m( j) = j + 1 então a subsequência x ◦ m : N → R que denotamos por (xn j ) j∈N para
n j = m( j) é crescente. De fato, se j ≥ 1 temos
j · (( j + 1)2 + 1) = j3 + 2 · j2 + 2 · j
> j3 + j
j ( j + 1)
= j · ( j2 + 1) ⇒ > .
j2 + 1 ( j + 1)2 + 1
de onde segue que

xn j > xn j+1 ∀ j ∈ N.
168 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

Veremos que esta subsequência é convergente, mais ainda, veremos que a sequência original é convergente
a 0. De fato, dado ε > 0 existe um número natural n0 > ε1 tal que se n > n0 então
n
|xn − 0| =
1 + n2
1

n
1
< < ε.
n0
De onde

ão
lim xn = 0.
n→∞

• Seja (xn )n∈N uma sequência reais em que


n
xn =
n+1


Observamos que, como 0 ≤ n ≤ 1 + n para todo n ∈ Ntemos que 0 ≤ xn ≤ 1. De onde segue que a
sequência é limitada superiormente e inferiormente, portanto é limitada. Mais ainda, como
n2 + 2 · n < n2 + 2 · n + 1
temos que
xn < xn+1
de onde seque que a sequência é crescente.
or 1
ab
A sequência converge a 1. De fato, dado ε > 0 existe um número natural n0 satisfazendo n0 + 1 > ε tal
que se n > n0 então
1
|xn − 1| =
1+n
1
< < ε.
el

1 + n0
De onde
lim xn = 1.
n→∞

Em

Lema 19.1 Toda sequência (xn )n∈N admite uma subsequência que pode ser não decrescente ou não crescente.

Demonstração. Dada a sequência (xn )n∈N , considere a função proposicional


P(n) = ”xn > xm ∀m > n”
e seja M ⊂ N o seu domínio de verdade.
Se M é um conjunto infinito então, como N é bem ordenado, podemos escrever M = {ni , i ∈ N} de forma
tal que se i < j então ni < n j . Seja m : N → N definida por m(i) = ni , então (xn j ) j∈N é uma subsequência de
(xn )n∈N e
xni > xn j ∀ i < j.
portanto a subsequência é decrescente.
Se M é um conjunto finito e seja k = max M. Então n1 = k + 1 6∈ M, portanto existe n2 > n1 tal que xn1 ≥ xn2 .
Como n2 6∈ M então existe n3 tal que xn2 ≥ xn3 . Podemos repetir este processo indefinidamente e achar um
conjunto M̃ = {ni , i ∈ N} que organizamos de forma tal que ni < n j sempre que i < j. Considere a função
m : N → N dada por m( j) = n j . Então (xn j ) j∈N é uma subsequência de (xn )n∈N e
xni ≤ xn j ∀ i < j.
portanto a subsequência é não decrescente. 
169

Teorema 19.3 — Bolzano-Weierstrass. Toda sequência limitada tem uma subsequência convergente.

Demonstração. Seja (xn )n∈N uma sequência limitada. Pelo lema anterior existe uma subsequência monótona
que é limitada. O teorema da convergencia monótona garante que esta subsequência deve converger. 

Seja (xn )n∈N uma sequência. Sabemos que xn é o valor de uma função x : N → R. No entanto existem
diferentes formas de definir os valores x(n) = xn da função. Listamos aqui alguns.
• Direta: a partir do valor de x(n) = xn .
Por exemplos a sequência (xn )n∈N dada por

ão
1
x(n) = .
n+1
• por recursão: A partir dos valores de x em {0, 1, . . . , n} obtemos o valor de x(n + 1) por uma fórmula


sobre os valores conhecidos {x(0), x(1), . . . , x(n)}.
Por exemplos a sequência (xn )n∈N dada por

x(0) = 1 x(1) = 1 x(n + 1) = x(n) + x(n − 1)

Olhamos com um pouco mais de detalhe o último caso.or


Definição 19.3 Uma relação de recorrência é uma equação que expressa os termos de uma sequência de
numeros reais (xn )n∈N como função dos valores anteriores, isto é

x(n + 1) = f (n + 1, x(n), . . . , x(0)).


ab
 Exemplo 19.3 No conjunto dos números reais, a solução de x2 = p é o número que costumamos denotar

como p é que, por exemplo, é irracional quando p primo ( foi visto antes que neste caso não é racional).
Construímos agora uma sequência de Cauchy que descreve este número como número real utilizando o
conhecido como "Método de Babilónia"para cálculo da raiz quadrada de qualquer número p. O método consiste
el

em construir uma sequência (xn )n∈N por meio de uma recorrência. O algoritmo é o seguinte
1- Escolha x0 ∈ Q tal que

x02 < p < (x0 + 1)2 .


Em

2- Para n ≥ 1 calcule
1 −1

xn = · xn−1 + p · xn−1 .
2
Observamos que

xn2 − p = xn · xn − p
= xn (xn − p · xn−1 )
 
1 −1
= 2 · xn · xn − (xn + p · xn )
2
= 2 · xn · (xn − xn+1 )

Tambem temos que xn2 ≥ p para todo n ≥ 1. De fato, vemos que


1 2
2
xn+1 = · (x + 2 · p + p2 · xn−2 )
4 n
1 −2 4
≥ · x · (xn + 2 · p · xn2 + p2 )
4 n
1 −2
≤ · x · 4 · p · xn2 = p,
4 n
170 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

onde a última linea segue do fato que para a, b ∈ Q temos


(a2 + b2 ) > 2 · a · b.
Juntanto estas duas estimativas temos que
2 · xn · (xn − xn+1 ) = xn2 − p ≥ 0 ⇒ xn ≥ xn+1 ∀ n ≥ 1.
com isto, temos que
p · xn−1 ≥ p · xn−1
−1
⇒ −1
−p · xn−1 ≥ −p · xn−1 .

ão
1 −1 2
|xn − xn+1 | = x · (xn − p)
2 n
1
= · (xn − p · xn−1 )
2
1


−1
≤ · (xn − p · xn−1 )
2
1
= · (xn + xn−1 − 2xn )
2
1
≤ · |xn−1 − xn |.

xm = xm+1
2
Como consequência disto temos que se para algum m temos que
⇒ xn = xm ∀ n ≥ m.
or
Agora, utilizando indução é fácil mostrar que
ab
1 1
|xn+1 − xn | < n
|x1 − x0 | = n+1 · x0−1 (p − x02 )
2 2
e que
1
el

|xn2 − p| = 2 · xn · (xn − xn+1 ) < · x1 · x0−1 (p − x02 )


2n+1
De onde segue que, se m > n temos
1 −1
· x (p − x02 )
|xn − xm | < |xn − xn+1 | + · · · + |xm−1 − xm | <
2n 0
Em

Portanto, dado ε > 0 existe um n0 ∈ N de forma tal que


1 −1
sup {x1 , 1} ·· x (p − x02 ) < ε.
2n0 0
Se m, n > n0 temos, pelo visto acima, que
|xm − xn | < ε.
e
|xn2 − p| < ε
Então (xn )n∈N é de Cauchy e que (xn2 )n∈N converge a p. Mais ainda, como
√ √
|xn − p| · |xn + p| = |xn2 − p| < ε
temos
√ √ √
|xn − p) < ε · (x1 + p)−1 ,
p| < ε · (xn +
√ √
de onde segue que (xn )n∈N converge a p. Mais ainda, [xn ]n∈N é o que denotamos por p.
Por exemplo, utilizamos o método para calcular a raiz quadrada de dois números. Aqui observamos que
temos um erro inherente ao uso da calculadora! Outra coisa, escrevemos os número em notação decimal embora
falaremos disto depois.
171

• 4

x0 = 1 x1 = 2, 5 x2 = 2, 05 x3 = 2, 00060975609756

x4 = 2, 00000009292229 x5 = 2 x6 = 2.

Então
√ 4=2
• 3

ão
x0 = 1, x1 = 2, x3 = 1, 75 x3 = 1, 73214285714286

x4 = 1, 73205081001473 x5 = 1, 73205080756888 x6 = 1, 73205080756888 x7 = · · ·


Aqui o erro da calculadora não permite distinguir os membros seguintes da sequência.
√ Observar que os
membros da sequência são aproximações racionais melhores para o número real 3.




Um caso particular, sobre definição de sequências por recursão está no seguinte resultado.

Teorema 19.4 — Princípio de Recursão. Seja A um conjunto não vazio e f : An × N → A uma função.
Então existe uma única sequência x : N → A tal que
• x0 = a0 , . . . , xn−1 = an−1
• xm = f (m, xm−1 , . . . , xm−n ) para m ≥ n
or
ab
Demonstração. Para fazer a demonstração utilizamos o princício de indução. Considere a função proposicional

P(n) = ”x(n) está definida para n”

Seja M o domínio de verdade de P. Observamos que {0, . . . , n − 1} ⊂ M pois x0 = a0 , . . . , xn−1 = an−1 estão
el

definidos. Se m ∈ M, isto é, xk está definida para todo k ≤ m, então

xm+1 = f (m + 1, xm , . . . , xm−n+1 )

está definida. Portanto m + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução xn está definida para todo n ∈ N.
Para mostrar a unicidade onsidere a função proposicional
Em

Q(n) = ”Se y(n) está definida pela recursão do enunciado então y(n) = x(n)”

Seja N o domínio de verdade de Q. Observamos que {0, . . . , n − 1} ⊂ N pois

x0 = a0 = y0 , . . . , xn−1 = an−1 = yn−1 .

Se ym = xm então

ym+1 = f (m + 1, ym−n+1 , . . . , ym ) = f (m + 1, xm−n+1 , . . . , xm ) = xm+1

e, portanto m + 1 ∈ N. Pelo princípio de indução xn = yn para todo n ∈ N. 

 Exemplo 19.4 A sequência de Fibonacci (xn )n∈N é definida como a única sequência de números naturais tal
que
• x0 = 1 e x1 = 1.
• xn+2 = xn+1 + xn para n ≥ 3..


A seguir listamos algumas recorrências bem conhecidas


172 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

• Progressão aritmética. É a sequência (xn )n∈N de números reais definida pela seguinte recorrência: Dados
a, r ∈ R temos

x0 = a xn = xn−1 + r ∀n ≥ 1.

De forma geral, podemos ver que

xn = a + n · r.

ão
• Progressão geométrica. É a sequência (xn )n∈N de números reais definida pela seguinte recorrência:
Dados a, r ∈ R temos

x0 = a xn = r · xn−1 ∀n ≥ 1.


De forma geral, podemos ver que

xn = a · rn .

• Seja (xn )n∈N de números reais. Construimos de forma recursiva duas recorrências que são importantes de
forma geral.
– O somatório: É a sequência de números reais
!
an = ∑ xi
n
or
ab
i=0 n∈N

definida da seguinte forma

0 n
el

a0 = ∑ xi = x0 an = ∑ xi = an−1 + xn .
i=0 i=0

É fácil ver que


n
∑ xi = x0 + x1 + · · · + xn .
Em

i=0

De fato, seja
n
P(n) = ” ∑ xi = x0 + x1 + · · · + xn ”,
i=0

e considere M o seu domínio de verdade. Então 0 ∈ M pois

0
∑ xi = x0 .
i=0

Assuma que n ∈ M então


n+1 n
∑ xi = xn+1 + ∑ xi
i=0 i=0
= xn+1 + x0 + x1 + · · · + xn
= x0 + x1 + · · · + xn + xn+1
De onde n + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução, M = N.
Sejam (xn )n∈N e (yn )n∈N duas sequências. Então
173

i-
n n
∑ c · xi = c · ∑ xi .
i=0 i=0

De fato seja
n n
P(n) = ” ∑ c · xi = c · ∑ xi ”
i=0 i=k

ão
e considere M o seu domínio de verdade. Então 0 ∈ M, pois
0 0
∑ c · xi = c · x0 = · ∑ xi .
i=0 i=0

Se n ∈ M então como


n+1 n
∑ c · xi = c · xn+1 + ∑ c · xi
i=0 i=0
n
= c · xn+1 + c · ∑ xi
i=k

= c · xn+1 + ∑ xi
n

i=k
Portanto n + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução N = N.
or
!
n+1
= c · ∑ xi .
i=0

ii-
ab
n n n
∑ (xi + yi ) = ∑ xi + ∑ yi .
i=0 i=0 i=0

De fato seja
el

n n n
P(n) = ” ∑ (xi + yi ) = ∑ xi + ∑ yi ”
i=0 i=0 i=0

e considere M o seu domínio de verdade. Então 0 ∈ M, pois


Em

0 0 0
∑ (xi + yi ) = x0 + y0 = ∑ xi + ∑ yi .
i=0 i=0 i=0

Se n ∈ M então como
n+1 n
∑ (xi + yi ) = xn+1 + yn+1 + ∑ (xi + yi )
i=0 i=0
n n
= xn+1 + yn+1 + ∑ xi + ∑ yi
i=0 i=0
n+1 n+1
= ∑ xi + ∑ yi .
i=0 i=0
Portanto n + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução N = N.
iii-
n
∑ c = (n + 1) · c.
i=0

De fato seja
n
P(n) = ” ∑ c = (n + 1) · c”
i=0
174 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

e considere M o seu domínio de verdade. Então 0 ∈ M, pois


0
∑ c = c = 1 · c.
i=0

Se n ∈ M então como
n+1 n
∑ c = c+ ∑c
i=0 i=0
= c + (n + 1) · c = (n + 2) · c.

ão
Portanto n + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução N = N.
iv- Propiedad Telescópica
n
∑ (xi+1 − xi ) = xn+1 − x0 .
i=0


De fato seja
n
P(n) = ” ∑ (xi+1 − xi ) = xn+1 − x0 ”
i=0

0
∑ (xi+1 − xi ) = x1 + x0 .
i=0
or
e considere M o seu domínio de verdade. Então 0 ∈ M, pois
ab
Se n ∈ M então como
n+1 n
∑ (xi+1 − xi ) = xn+2 − xn+1 + ∑ (xi+1 − xi )
i=0 i=0
= xn+2 − xn+1 + (xn+1 − x0 ) = xn+2 − x0 .
el

Portanto n + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução N = N.


– A somatoria generalizada: É a sequência de números reais
!
n+k
an = ∑ xi
Em

i=k n∈N

definida da seguinte forma


! !
n+k k−1
an = ∑ xi − ∑ xi .
i=0 i=0

– A produtória: É a sequência de números reais


!
n
an = ∏ xi
i=0 n∈N

definida da seguinte forma


0 n
a0 = ∏ xi = x0 an = ∏ xi = an−1 · xn .
i=0 i=0

É fácil ver que


n
∏ xi = x0 · x1 · · · xn .
i=0
175

De fato, seja
n
P(n) = ” ∏ xi = x0 · x1 · · · xn ”,
i=0

e considere M o seu domínio de verdade. Então 0 ∈ M pois


0
∏ xi = x0 .
i=0

ão
Assuma que n ∈ M então
n+1 n
∏ xi = xn+1 · ∏ xi
i=0 i=0
= xn+1 · (x0 · x1 · · · xn )


= x0 · x1 · · · xn · xn+1 .
De onde n + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução, M = N.
Sejam (xn )n∈N e (yn )n∈N duas sequências. Então
i-
n
∏ c · xi = cn · ∏ xi .
i=0

De fato seja
i=0
n
or
ab
n n
P(n) = ” ∏ c · xi = cn · ∏ xi ”
i=0 i=k

e considere M o seu domínio de verdade. Então 0 ∈ M, pois


el

0 0
∏ c · xi = c · x0 = c · ∏ xi .
i=0 i=0

Se n ∈ M então como
n+1 n
∏ c · xi = c · xn+1 · ∏ c · xi
Em

i=0 i=0
n
= c · xn+1 · c · ∏ xi
i=k
!
n n+1
n+1
= c · xn+1 · ∏ xi = cn+1 · ∏ xi .
i=k i=0
Portanto n + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução N = N.
ii-
n n n
∏(xi · yi ) = ∏ xi · ∏ yi .
i=0 i=0 i=0

De fato seja
n n n
P(n) = ” ∏(xi · yi ) = ∏ xi · ∏ yi ”
i=0 i=0 i=0

e considere M o seu domínio de verdade. Então 0 ∈ M, pois


0 0 0
∏(xi · yi ) = x0 · y0 = ∏ xi · ∏ yi .
i=0 i=0 i=0
176 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

Se n ∈ M então como
n+1 n
∏ (xi · yi ) = xn+1 · yn+1 + ∏(xi · yi )
i=0 i=0
n n
= xn+1 · yn+1 · ∏ xi · ∏ yi
i=0 i=0
n+1 n+1
= ∏ xi · ∏ yi .
i=0 i=0
Portanto n + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução N = N.

ão
iii-
n
∏ c = cn+1 .
i=0

De fato seja


n
P(n) = ” ∏ c = cn+1 ”
i=0

e considere M o seu domínio de verdade. Então 0 ∈ M, pois


0
∏ c = c = c1 .
i=0

Se n ∈ M então como
or
ab
n+1 n
∏ c = c·∏c
i=0 i=0
n+1
= c·c = cn+2 .
Portanto n + 1 ∈ M e, pelo princípio de indução N = N.
– A Produtória generalizada: É a sequência de números reais
el

!
n+k
an = ∏ xi
i=k n∈N

definida da seguinte forma


Em

! !−1
n+k k−1
an = ∏ xi · ∑ xi .
i=0 i=0

 Exemplo 19.5 Para alguns casos particulares, podemos calcular os termos genéricos do somatorio e a
produtoria dos termos de uma sequência.
• Se sequência (xn )n∈N definida pela progressão aritmética para a, r ∈ R temos

xn = a + n · r.

Portanto se
n
Sn = ∑ xn
i=0

temos que

2Sn = (xn + x0 ) + (xn−1 + x1 ) + · · · + (x0 + xn ) = (n + 1)(a + xn )

de onde segue que


1
Sn = · (n + 1) · (a + xn ).
2
177

• Se sequência (xn )n∈N definida pela progressão geométrica para a, r ∈ R temos

xn = a · nr

Portanto se
n
Sn = ∑ xn
i=0

temos que

ão
Sn − qSn = x0 − xn+1 = a(1 − qn+1 )

de onde segue que

1 − qn+1


Sn = a · .
1−q


Achar o termo genérico da recorrência em função dos dados iniciais pode ser uma tarefa difícil, no entanto
existem alguns casos em que isto é possível.
 Exemplo 19.6

x0 = a xn = n · xn−1 ∀n≥1
or
• Considere a sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma
ab
Observamos que

x2 = 2 · a, x3 = 3 · 2 · a, . . . , xn = n · · · 3 · 2 · a = n! · a.

• Considere a sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma
el

x0 = a xn = xn−1 + f (n) ∀ n ≥ 1

para f : N → R.
Observamos que
Em

n
xn = a + ∑ f (n)
j=1

Definição 19.4 Uma sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma

xn = cd · xn−d + · · · + c1 · xn−1 + f (n) x0 = a0 , . . . , xd−1 = ad−1

é dita uma recorrência linear de ordem d.


Caso f (n) = 0 para todo n ∈ N então chamamos a recorrência de linear homogênea de ordem d.

 Exemplo 19.7 • A sequência de Fibonacci é uma recorrência linear homogênea.


• A sequência (xn )n∈N em que x0 = 1 e x1 = 2 e

xn+2 = 2 · xn+1 + xn ∀ n ∈ N.


178 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

Teorema 19.5 Considere uma sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma

x0 = a
xn+1 = r · xn ∀ n ≥ 1,

Então, o termo genérico da sequência é,

xn = rn · a

Demonstração. Foi feita acima quando vimos o termo genérigo da progressão geométrica. 

ão
Teorema 19.6 Considere uma sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma

x0 = a


xn+1 = g(n) · xn + f (n) ∀ n ≥ 1,

para f , g : N → R duas funções. Então, o termo genérico da recorrência pode ser escrito como produto

xn = zn · yn

em que

zn = g(n − 1) · zn−1
or
ab
yn = yn−1 + f (n − 1)[g(n − 1) · zn−1 ]−1

Demonstração. Substituindo xn = yn · zn temos,


xn = zn · yn
= g(n − 1) · zn−1 · (yn−1 + f (n − 1)[g(n − 1) · zn−1 ]−1 )
el

= g(n − 1) · zn−1 · yn−1 + f (n − 1)


= g(n − 1) · xn−1 + f (n − 1).

Em

 Exemplo 19.8 Considere a recorrência

x0 = a
xn+1 = r · xn + rn ∀ n ≥ 1,
Então resolvemos

zn = r · zn−1 ⇒ zn = rn · z0

e
1
yn = yn−1 + rn−1 [r · rn−1 · z0 ]−1 = yn−1 + + y0 .
z0 · r
que tem por solução
n+1
yn = + y0
z0 · r
portanto a solução de xn é
 
n n+1
xn = z0 · r · + y0 = z0 · y0 · rn + (n + 1)rn−1
z0 · r
179

xn = r(z0 · y0 · rn−1 + n · rn−2 ) + rn−1


= xn−1 + rn−1 .

A seguir mostramos um reultado geral para resolução de recorrências lineares de segunda ordem.

Teorema 19.7 Considere uma sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma

x0 = a

ão
x1 = b
xn+1 = c1 · xn + c2 · xn−1 ∀ n ≥ 1,

e a equação de segundo grau R : x2 − c1 · x − c2 = 0, que chamamos de equação característica da recorrência.


• Se R tem duas raizes reais iguais r = r1 = r2 então


xn = α · r n + n · β · r n

para α e β constantes que depende dem a e b.


• Se R tem duas raizes reais distintas r1 6= r2 então

xn = α · r1n + β · r2n
or
para α e β números reais que são determinados em função de a e b.
ab
Demonstração. Primeiramnte observamos que c1 6= 0 pois a recorrência é de segunda ordem.
• Se r é a única raiz de r temos
1
r2 = c1 · r + c2 r = − · c1 e c21 = 4 · c2
2
el

de onde
1
c1 · r − 2 · c2 = − · (c21 − 4 · c2 ) = 0.
2
Em

Com isto, para n ≥ 2 temos


xn = α · rn + β · n · rn
= α · rn−2 · r2 + n · β rn · r2
= α · rn−2 · (c1 · r + c2 ) + n · β · rn−2 · (c1 · r + c2 )
= c1 · (α · rn−1 + (n − 1) · β · rn−1 ) + c2 · (α · rn−2 + (n − 2) · β · rn−2 )
+(c1 · r − 2 · c2 ) · β · rn−2
= c1 · xn−1 + c2 · xn−2 .
Agora, o resultado segue da unicidade da solução. Mais ainda, para achar α e β temos um sistema

α = a
α ·r+β ·r = b

que tem por solução

α =a e β = b · r−1 + (−a).

• Primeiramente observamos que se r1 e r2 são raizes distintas de R temos que r1 + (−r2 ) 6= 0 e

r12 = c1 · r1 + c2 e r12 = c1 · r1 + c2 .
180 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

Com isto, para n ≥ 2 temos


xn = α · r1n + β · r2n
= α · r1n−2 · r12 + β · r2n−2 · r22
= α · r1n−2 · (c1 · r1 + c2 ) + β · r2n−2 · (c1 · r2 + c2 )
= c1 · (α · r1n−1 + β r2n−1 ) + c2 · (α · r1n−2 + β · r2n−2 )
= c1 · xn−1 + c2 · xn−2 .
Agora, o resultado segue da unicidade da solução. Mais ainda, para achar α e β temos um sistema

ão

α +β = a
α · r1 + β · r2 = b

que tem por solução

α = (b + (−a · r2 ) · (r1 + (−r2 ))−1 e β = (a · r1 + (−b)) · (r1 + (−r2 ))−1 .




x0
• A sequência de Fibonacci é dada por
= 1
or
Obs. A resolução de recorrências de segunda ordem cuja equação característica não tem raizes no conjunto dos
números reais será vista quando estudemos números complexos.

Exemplo 19.9
ab
x1 = 1
xn+1 = xn + xn−1 ∀ n ≥ 1,
então a equação

x2 − x − 1 = 0
el

tem por raizes


√ √
1− 5 1+ 5
r1 = e r2 = .
2 2
Em

portanto
√ !n √ !n
1− 5 1+ 5
xn = α +β
2 2

Como x0 = 1 = x1 temos que


√ ! √ !
1 1− 5 1 1− 5
α = −√ e β=√ .
5 2 5 2

Portanto
" √ !n √ !n #
1 1+ 5 1+ 5
xn = √ − .
5 2 2

• A sequência dada por


x0 = 1
x1 = 1
xn+1 = 4 · xn − 4 · xn−1 ∀ n ≥ 1,
181

então a equação

x2 − 4 · x + 4 = 0

tem por raizes

r1 = r2 = 2.

portanto o termo genérico é

ão
xn = α · 2n + β · n · 2n

Como x0 = 1 = x1 temos que

α =1 e 2·α +2·β = 1


de onde
1
β =−
2
e

xn = (2 − n) · 2n−1 ∀n ∈ N.
or 
ab
Teorema 19.8 Considere uma sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma

x0 = a
x1 = b
el

xn+1 = c1 · xn + c2 · xn−1 + f (n) ∀ n ≥ 1,

para f : N → R uma função, e yn uma sequência que satisfaz

yn+1 = c1 · yn + c2 · yn−1
Em

então se zn = xn + yn temos que

zn+1 = c1 · zn + c2 · zn−1 + f (n).

Demonstração. Fazemos a conta com zn como definido acima e obtemos


zn+1 = xn+1 + yn+1
= c1 · (xn + yn ) + c2 · (xn−1 + yn−1 ) + f (n)
= c1 · zn + c2 · zn−1 + f (n)


 Exemplo 19.10 Considere uma sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma

x0 = 1
x1 = 1
xn+1 = −xn + 2 · xn−1 + 12 · n − 2 ∀ n ≥ 1,

Para achar a solução desta recorrência vamos primeiramente estudar a solução da recorrência homogênea

yn+1 = −yn + 2 · yn−1 .


182 Capítulo 19. Sequências e Recorrências

e depois procuramos uma solução particular da recorrência

zn+1 = −zn + 2 · zn−1 + 12 · n − 2

Logo, a xn terá por expressão xn = zn + yn . Finalmente estudamos o caso x0 e x1 para determinar a forma precisa
de xn .
• Estudamos a recorrência

yn+1 = −yn + 2 · yn−1 .

ão
A equação característica é

x2 + x − 2 = 0

que tem raizes


r1 = 1 e r2 = −2.

Então a solução da recorrência

yn+1 = −yn + 2 · yn−1 ,

é da forma

yn = α · (1)n + β (−2)n = α + β · 2n .
or
ab
• Para zn temos que propor uma solução. Aqui o estudo é intuitivo. Propomos uma solução da forma

zn = a · n2 .

Então
el

a · (n + 1)2 = −a · n2 + 2 · a · (n − 1)2 + 12 · n − 2.

Simplificando temos

12 · n − 2 = 6 · a · n − a
Em

portanto a = 2. De onde

zn = 2 · n2

• Utilizando o visto acima temos que

xn = α + β · 2n + 2 · n2 .

Como x0 = 1 = x1 temos

α +β = 1 e 1 = α − 2 · β + 2.

de onde segue que


1 2
α= e β= .
3 3
Então, a o termo genérico será

1 (−2)n+1
xn = + + 2 · n2 .
3 3

ão
20. Números Complexos


or
Vimos que com os números reais, toda função proposicional em R da forma
ab
P(x) = ”x ∈ R, a2k+1 · x2k+1 + · · · + a1 · x + a0 = 0”,

para k ∈ N e a2k+1 6= 0, tem domínio de verdade não vazio. Também vimos que a função proposicional

Q(x) = ”x ∈ R, x2 + 1 = 0”.
el

Tem domínio de verdade vazio em R. Novamente procuramos ampliar o conjunto numérico de forma tal que as
funções proposicionais sobre os números reais estejam contempladas no novo conjunto numérico e de forma
tal que, no novo conjunto numérico, seu domínio de verdade seja não vazio. Nesse sentido introduzimos os
números complexos.
Para construir o conjunto dos números complexos vamos primeiramente construir seus elementos. Para isto
Em

utilizamos um simbolo i, então dados a, b ∈ R construimos os elementos

a + bi,

e dizemos que dois elementos z1 = (a + bi) e z2 = (c + di) são iguais se (a = c) ∧ (b = d).

Obs. Aqui o sinal + é uma notação e, em princípio, nada tem a ver com a notação. Mais adiante, no texto,
veremos que podemos relacionar esse + com a operação soma entre números complexos.

Definição 20.1 O conjunto dos números complexos, que denotamos por C,é o conjunto

C = {z = a + bi, a, b ∈ R}.

Em particular se z = a + bi então
• a é chamada de parte real de z e a denotamos por Re(z)
• b é chamada de parte real de z e a denotamos por Im(z)

Sobre o conjunto dos números complexos definimos duas operações.


• Soma: + : C × C → C dada por

(a + bi) + (c + di) = (a + c) + (b + d)i.


184 Capítulo 20. Números Complexos

• Produto: · : C × C → C dada por

(a + bi) · (c + di) = (a · c + (−(b · d)) + (a · d + b · c)i.

Obs. Na definição de soma acima utilizamos indistintamente a soma de números reais e de complexos, junto com
a simbologia de ” + ” utilizada na construção do número complexo. Algo similar ocorre com o produto, a
notação correta seria utilizar as operações +R e ·R para as operações sobre os números reais e +C e R e
definir:
• Soma: +C : C × C → C dada por

ão
(a + bi) +C (c + di) = (a +R c) + (b +R d)i.
• Produto: ·C : C × C → C dada por
(a + bi) ·C (c + di) = [a ·R c +R (−(b ·R d)] + (a ·R d +R b ·R c)i.


Claramente, a definição fica sobrecarregada, portanto a omitiremos e deixamos a interpretação ao contexto.

Seja a + bi ∈ C um número complexo qualquer.


• O elemento 0 = 0 + 0i satisfaz

e
(a + bi) + (0 + 0i) = a + bi,

(a + bi) + (−a + (−b)i) = 0 + 0i = 0,


or
ab
(a + bi) · (0 + 0i) = 0 + 0i = 0.

• O elemento 1 = 1 + 0i satisfaz

(a + bi) · (1 + 0i) = a + bi.


el

• o elemento 0 + ai, que denotamos por ai satisfaz

(0 + ai)2 = (0 − a2 ) + 0i = −a2 + 0i

em particular (0 + 1i)2 = −1 + 0i.


Em

• O produto

(a + bi) · (a − bi) = (a2 + b2 ) + 0i.

Em particular vemos que a + bi 6= 0 se, e somente se, a2 + b2 6= 0.


• Se a + bi 6= 0 então
  
a −b
(a + bi) · 2 + 2 i = 1 + 0i = 1.
a + b2 a + b2

Teorema 20.1 Os números complexos com a soma e o produto formam um corpo.

Demonstração. Temos que mostrar as propriedades de corpo. Para isto considere

z1 = a + bi, z2 = c + di e z3 = e + f i.


z1 + z2 = (a + c) + (b + d)i
= (c + a) + (d + b)i
= z2 + z1 .
185


z1 + (z2 + z3 ) = (a + bi) + (c + e) + (d + f )i
= (a + c + e) + (b + d + f )i
= (a + c) + (b + d)i + (e + f i)
= (z1 + z2 ) + z3 .
• Existe o elemento 0 = 0 + 0i

0 + z1 = (a + 0) + (b + 0)i = z1 .

ão
Observamos que é únito. De fato se w possui a mesma propriedade, temos

0 = w + 0 = w.

• Dado z1 definimos −z1 = −a + (−b)i, então


z1 + (−z1 ) = (a + (−a)) + (b + (−b))i = 0 + 0i = 0.


z1 + z2 = z1 + z3 ⇔ (a + c) + (b + d)i = (a + e) + (b + f )i


⇔ c + di = e + f i
or
⇔ [(a + c) = (a + e)] ∧ [(b + d) = (b + f )]
⇔ (c = e) ∧ (d = f ) (cancelamente em R)
⇒ z2 = z3 .
ab
z1 · z2 = (a · c − b · d) + (a · b + b · c)i
= (c · a − d · b) + (b · a + c · b)i
= z1 + z2 .
• Provamos o cancelamento da soma por completitude.
el

z1 · (z2 · z3 ) = (a + bi) · [(c · e − d · f ) + (c · f + d · e)i]


= [a · (c · e − d · f ) − b · (c · f + d · e)][(c · e − d · f ) · b + (c · f + d · e) · a]i
= [(a · c − b · d) + (a · b + b · c)i] · (e + f i)
= (z1 · z2 ) · z3 .
• Vimos acima que existe 1 = 1 + 0i ∈ C tal que z1 · 1 = z1 .
Em

• Para todo z1 ∈ C tal que z1 6= 0 vimos acima que existe um único z−1
1 ∈ C definido por

a b
z−1
1 = + i,
a2 + b2 a2 + b2
tal que

z−1
1 · z1 = 1.


z3 · (z1 + z2 ) = (e + f i)[(a + c) + (b + d)i]
= [e · (a + c) − f · (b + d)] + [e · (b + d) + (a + c) · f ]i
= [e · a + e · c − f · b + f · d] + [e · b + e · d + a · f + c · f ]i
= z3 · z1 + z3 · z2 .
• Provamos o cancelamento do produto por completitude.
z1 · z2 = z1 · z3 ⇒ z−1 −1
1 · z1 · z2 = z1 · z1 · z3
⇒ z2 = z3 .

186 Capítulo 20. Números Complexos

Teorema 20.2 Seja j : R → C definida por

j(a) = a + 0i,

então
• j é injetora,
• j(a + b) = j(a) + j(b)
• j(a · b) = j(a) · j(b).

ão
Demonstração. • Assuma que j(a) = j(b) então a + 0i = b + 0i de onde a = b e portanto j é injetora.
• da definição
j(a + b) = (a + b) + 0i
= (a + 0i) + (b + 0i)
= j(a) + j(b).


• da definição
j(a · b) = (a · b) + 0i
= (a + 0i) · (b + 0i)
= j(a) · j(b).
or
Obs. É por meio desta função injetora que identificamos R como um subconjunto de C. Temos assim uma torre

ab
de inclussões:

N ⊂ Z ⊂ Q ⊂ R ⊂ C.

Em função desta identificação temos

a ∈ R ≡ a + 0i
el

e da regra

(a + 0i) · (b + ci) = (a · c) + (a · b)i

que escrevemos
Em

a · (b + ci) = (a · b) + (a · c)i.

Corolário 20.1 O conjunto dos números complexos não é enumerável

Demonstração. Como R ⊂ C, se C for enumerável então R também deveria ser, o que é uma contradição. 

Definição 20.2 Dado z = a + bi um número complexo, denotamos por z̄ ao número

z̄ = a + (−b)i := a − bi.

O produto

z · z̄ = a2 + b2 + 0i

pode ser identificado com o número real a2 + b2 . Definimos o módulo do número complexo z = a + bi por
√ p
|z| = z · z̄ = a2 + b2 .
187

Corolário 20.2 Sejam z1 , z2 ∈ C então


• z1 + z2 = z1 + z2
• z1 · z2 = z1 · z2

Demonstração. Sejam z1 = a + bi e z2 = c + di. Então.


z1 + z2 = a + c − (b + d)i
= a − bi + c − di
= z1 + z2

ão
e
z1 · z2 = (a · c − b · d) + (ad + bc)i
= (a − bi) · (c − di)


= z1 · z2 .


Teorema 20.3 O conjuntos dos números complexos não é um corpo ordenado.

• 0 + i < 0 + 0i então, como

0 + 0i < (0 + i)2 = −1 + 0i
or
Demonstração. Assuma que C é um corpo ordenado. Então, como 0 + i 6= 0 + 0i temos duas posibilidades:
ab
de onde

0 + 0i < (−1 + 0i)2 = 1 + 0i


el

portanto

1 + 0i = (1 + 0i) + (0 + 0i) < (1 + 0i) + (−1 + 0i) = 0 + 0i < (−1 + 0i)2 = 1 + 0i.

o que é uma contradição.


Em

• 0 + 0i < 0 + i então, como

0 + 0i < (0 + i)2 = −1 + 0i ⇒ 0 + 0i < (−1 + 0i)2 = 1 + i.

Temos então que

1 + 0i = (1 + 0i) + (0 + 0i) < (1 + 0i) + (−1 + 0i) = 0 + 0i < (1 + 0i)2 = 1 + 0i.

o que é uma contradição




Por fim observamos que nos complexos toda função proposicional da forma

P(x) = ”x ∈ R, ak · xk + · · · + a1 · x + a0 = 0”,

como a0 , . . . , ak ∈ C e ak 6= 0 tem domínio de verdade não vazio. Mais ainda, pode ser mostrado que o domínio de
verdade contém, no máximo, k elementos. A prova deste resultado é conhecido como o Teorema fundamental
da Álgebra.
Para representar gráficamente os número complexos consideramos a função φ : C → R2 dada por

φ (a + bi) = (a, b).


188 Capítulo 20. Números Complexos

Observamos que a função é, de fato, bijetora. Para isto, observamos que


φ (a + bi) = φ (c + di) ⇔ (a, b) = (c, d)
⇔ a = c ∧ b = d.
E, todo (a, b) ∈ R2 pode ser visto como

φ (a + bi) = (a, b).

Então representamos os numeros complexo no plano R2 , identificando

ão
(a, b) ≡ a + bi.

como segue:


or
ab
el

Assumindo que conhecemos um pouco de trigonometria elementar, vemos que


p p
a = a2 + b2 cos(θ ) e b = a2 + b2 sin(θ )
Em

Observamos então que, para todo número complexo z = a + bi podemos escreber

z = |z|(cos(θ ) + sin(θ )i).

para θ ∈ [0, 2π) tal que


a b
cos(θ ) = √ e sin(θ ) = √
a + b2
2 a + b2
2

O ângulo θ assim obtido é chamado de argumento de z é será denotado por

θ = Arg(z).

Teorema 20.4 Sejam z1 , . . . , zm ∈ C. Considere

ρi = |zi | e θi = Arg(zi ),

então z = z1 · zn é o número complexo

z = ρ cos(φ ) + ρ sin(φ )i
189

em que

ρ = ρ1 · ρ2 · · · ρn

e φ ∈ [0, 2π) tal que existe k ∈ N satisfazendo

φ + 2 · k · π = θ1 + θ2 + · · · + θn .

Demonstração. Porvamos por indução no número n. Se n = 2 temos Se

ão
z1 = ρ1 (cos(θ1 ) + sin(θ1 )i) e z2 = ρ2 cos(θ2 ) + sin(θ2 )i)

então
z1 · z2 = ρ1 ρ2 [(cos(θ1 ) · cos(θ2 ) − sin(θ1 ) · sin(θ2 )) + (cos(θ1 ) · sin(θ1 ) + cos(θ2 ) · sin(θ2 ))i]


= ρ1 ρ2 [cos(θ1 + θ2 ) + sin(θ1 + θ2 )i]
Então

|z1 · z2 | = ρ2 · ρ2 = |z1 | · |z2 |.

Arg(z1 · z2 ) = Arg(z1 ) + Arg(z2 ) + 2 · k · 2π.


or
para algum k ∈ N.
ab
Assuma que vale para n números, vejamos que acontece para n + 1. Como vale para n temos que z = z1 · zn é
o número complexo

z = ρ cos(φ ) + ρ sin(φ )i
el

em que

ρ = ρ1 · ρ2 · · · ρn

e φ ∈ [0, 2π) tal que existe k ∈ N satisfazendo


Em

φ + 2 · k · π = θ1 + θ2 + · · · + θn .

Calculamos
z1 · · · zn · zn+1 = (ρ · cos(θ ) + ρ · sin(θ )i) · (ρn+1 · cos(θn+1 ) + ρn+1 · sin(θn+1 )i
= [(ρ · ρn+1 ) · cos(θ + θn+1 )] + [(ρ · ρn+1 ) · sin(θ + θn+1 )]i

z1 · · · zn · zn+1 = ρ̃ cos(φ ) + ρ̃ sin(φ )i

em que

ρ̃ = ρ1 · ρ2 · · · ρn · ρn+1

e φ ∈ [0, 2π) tal que existe k ∈ N satisfazendo

φ + 2 · k · π = θ1 + θ2 + · · · + θn + θn+1 .

Portanto, a identidade também vale para n + 1 números. O axioma de indução garante que vale para um número
n ≥ 2 de elementos. 
190 Capítulo 20. Números Complexos

O visto acima fornece uma forma de resolver equações do tipo


zm = a + bi.
De fato, se
a + bi = ρ cos(θ ) + ρ sin(θ )i,
temos que
√ √
zk = m
ρ cos(θk ) + m ρ sin(θk )i.

ão
com θ̃k ∈ [0, 2π) congruente com
1
· (θ + 2 · k · π) 0 ≤ k < m,
m
satisfaz


zm
k = a + bi.

Observamos que para k ≥ m temos que k = i + l · m então


1
θk = · (θ + 2 · k · π) = θi + 2 · l · π,
m or
e os números complexos zk que obtemos coincidem com os primeiros m obtidos.

Corolário 20.3 Para todo z ∈ C existem duas soluçções da equação x2 = z que denotamos por z1 e z2 e que
ab
são tais que z1 = −z2 .

Demonstração. A existência de duas soluções é resultados da discussão acima. O fato de que as soluções
z1 = −z2 satisfazem essa relação é consequência do fato
Arg(z2 ) = Arg(z1 ) + π.
el

 Exemplo 20.1 Procuramos as soluções da equação

z5 = 1 + 1i.
Em

Observamos que
√ √
   
1 1
1 + 1i = 2 cos · π + 2 sin ·π ,
4 4
de onde seguem que os argumentos possíveis para z são
1
θ0 = · π,
20
1 1 9
θ1 = ·π + ·π = · π,
20 5 20
1 2 17
θ2 = ·π + ·π = · π,
20 5 20
1 3 27
θ3 = ·π + ·π = · π,
20 5 20
1 4 33
θ4 = ·π + ·π = · π,
20 5 20
portanto, as soluções são

10

10
zi = 2 cos(θi ) + 2 sin(θi )i, i = 0, 1, 2, 3, 4.
No plano complexo, estas soluções estão nos pontos indicados.
191

ão


Vamos estudar agora a solução da equação

x2 + z1 · x + z2 = 0.


Para achar a solução vamos a derivar a bem conhecida fórmula de Bhaskara.

Teorema 20.5 — Fórmula de Bhaskara. Considere a função proposicional sobre C dada por

P(x) = ”x2 + z1 · x + z2 = 0”.

Se

z21 − 4 · z2 = ρ · cos(θ ) + ρ · sin(θ )i,


or
ab
Então, seu domínio de verdade é M = {x1 , x2 } em que

1 1
x1 = [−z1 + w] e x2 = [−z1 + (−w)],
2 2
para
el

   
√ 1 √ 1
w = ρ · cos · θ + ρ · sin · θ i.
2 2

Demonstração. Comenzamos observando que, pelo corolário 20.3 existe um w ∈ C tal que w e −w são solução
Em

de

y2 = z21 − 4 · z2 .

Mais ainda, observamos que se

z21 − 4 · z2 = ρ · cos(θ ) + ρ · sin(θ )i,

então, pelo visto acima, temos que


   
√ 1 √ 1
w = ρ · cos · θ + ρ · sin ·θ i
2 2
Agora, manipulando a equação temos
1 1
x2 + z1 · x + z2 = 0 ⇔ x2 + z1 · x + · z21 = −z2 + · z21
4 4
⇔ 4 · x2 + 4z1 · x + z21 = z21 − 4 · z2
⇔ (2 · x + z1 )2 = z21 − 4 · z2 .
portanto

2 · x + z1 = w ou 2 · x + z1 = −w
192 Capítulo 20. Números Complexos

de onde, as soluções x1 , x2 da equação

x2 + z1 · x + z2 = 0.

são
1 1
x1 = [−z1 + w] e x2 = [−z1 + (−w)].
2 2


ão
 Exemplo 20.2 Considere a equação

x2 + x + 1 = 0

calculamos a solução de


y2 = 1 − 4 · 1 = −3

que são
√ √
w = 0 + 3i − w = 0 + (− 3)i

Então,

x1 =
1 1 √
+ · 3i
2 2
e x2 =
1 1 √
+ · (− 3)i
2 2
or
ab
são as soluções procuradas. 

Já vimos como resolver recorrências lineares de ordem 2 no caso em que a equação característica tem raizes
reais. Agora, para completar o estudo vemos o caso de recorrências sobre os números reais no caso em que as
raizes da equação característica são complexas.
el

Teorema 20.6 Considere uma sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma

x0 = a
x1 = b
xn+1 = c1 · xn + c2 · xn−1 ∀ n ≥ 1,
Em

e a equação de segundo grau R : x2 − c1 · x − c2 = 0, que chamamos de equação característica da recorrência.


Se R tem duas raizes complexas r1 e r2 temos

xn = α · r1n + β · r2n

para α, β números complexos que são determinados em função de a e b.

Demonstração. A demonstração é idéntica ao caso real. Primeiramente observamos que se r1 e r2 são raizes de
R temos que

r12 = c1 · r1 + c2 e r12 = c1 · r1 + c2 .

Com isto, para n ≥ 2 temos


xn = α · r1n + β · r2n
= α · r1n−2 · r12 + β · r2n−2 · r22
= α · r1n−2 · (c1 · r1 + c2 ) + β · r2n−2 · (c1 · r2 + c2 )
= c1 · (α · r1n−1 + β r2n−1 ) + c2 · (α · r1n−2 + β · r2n−2 )
= c1 · xn−1 + c2 · xn−2 .
193

Agora, o resultado segue da unicidade da solução. Mais ainda

a = x0 = α + β e b = x1 = α · r1 + β · r2

de onde seque que α e β determinados em função de a e b.




Considere uma sequência (xn )n∈N de números reais definida por uma expressão da forma

x0 = a

ão
x1 = b
xn+1 = c1 · xn + c2 · xn−1 ∀ n ≥ 1,

tal que a equação característca R : x2 − c1 · x − c2 = 0, tem duas raizes complexas r1 e r2 . Então r1 6= r2 e


xn = α · r1n + β · r2n .

Mais ainda, para achar α e β temos um sistema



α +β = a
α · r1 + β · r2 = b

que tem por solução

α = (b + (−a · r2 ) · (r1 + (−r2 ))−1 e


or
β = (a · r1 + (−b)) · (r1 + (−r2 ))−1 .
ab
Observamos que as raizes devem satisfazer r1 = r¯2 . De fato, como c21 − 4 · c1 ∈ R e c21 − 4 · c1 < 0 para que
as raizes sejam complexas, temos que se w ∈ C é solução de
q
2 2
y = c1 − 4 · c2 ⇒ w = 0 + 4 · c2 − c21 i.
el

de onde
   
1 1
q q
2
r1 = · c1 + 4 · c2 − c1 i e 2
· c1 − 4 · c2 − c1 i
2 2
Em

e r1 = r2 . Então, podemos escrever

r1 = ρ · cos(θ ) + ρ · sin(θ )i

r2 = ρ · cos(θ ) − ρ · sin(θ )i
e

xn = α · r1n + β · r2n
= (α + β ) · ρ n · cos(n · θ ) + (α − β ) · ρ n · sin(n · θ )i.

para α e β números complexos que dependem de a e b.


 Exemplo 20.3 Considere a sequência (xn )n∈N de números reais definida pela expressão

x0 = 1
x1 = 2
xn+1 = xn − xn−1 ∀ n ≥ 1,

então, a equação característica é x2 − x + 1 = 0 que tem por raizes


1 1√
r1 = + 3i,
2 2
194 Capítulo 20. Números Complexos
1 1√
r2 = − 3i.
2 2
Então

xn = α · r1n + β · r2n

Como

1 = x0 = α + β e 2 = x1 = α · r1 + β · r2

ão
temos

α = r2 e β = r1 .

Utilizando que


 
1 3
r1 · r2 = + + 0i = 1 + 0i,
4 4
e que

r1 = cos

r2 = cos


1
3

1

· π + sin


· π − sin



1
3

1

· π i,


· π i,
or
ab
3 3
temos

xn = r1n−1 + r2n−1
        
n−1 n−1 n−1 n−1
el

= cos · π + sin · π i + cos · π − sin ·π i


3 3 3 3
 
n−1
= 2 · cos · π + 0i.
3
De onde segue que
Em

 
n−1
xn = 2 · cos ·π ∀ n ∈ N.
3

III
Introdução à Análise
combinatória

ão

or
ab
el
Em

21 Introdução à Análise combinatória . . 197


Em
el
ab
or

ão
ão
21. Introdução à Análise combinatória


or
Neste capítulo vamos estudar a contagem de elementos de um conjuntos sob alguma hipótese ou condição.
Em particular, daremos atenção ao problema do número de formas de alocar objetos em compartimentos sob
ab
hipóteses nos mesmos.
O primeiro resultado que estudamos e como contar o número de elementos que pertencem a união de vários
conjuntos que não são necessariamente disjuntos. Esse é o conteúdo do seguinte teorema.

Teorema 21.1 — Princípio de inclusão-exclusão. Seja {A1 , . . . , An } uma familia de conjuntos finitos.
el

Então
n
] (∪ni=1 Ai )) = ∑ ]Ai − ∑ ](Ai ∩ A j ) + ∑ ](Ai ∩ A j ∩ Ak ) − · · · + (−1)n ] (∩ni=1 Ai ) .
i=1 1≤i< j≤n 1≤i< j<k≤n
Em

Demonstração. Construimos a função proposicional

P(n) ="Dada uma familia de n conjuntos finitos A1 , . . . , An temos

n
] (∪ni=1 Ai )) = ∑ ]Ai − ∑ ](Ai ∩ A j ) + ∑ ](Ai ∩ A j ∩ Ak ) − · · · + (−1)n ] (∩ni=1 Ai ) .”
i=1 1≤i< j≤n 1≤i< j<k≤n

Seja M o seu domínio de verdade. Observamos que 2 ∈ M por causa da identidade

](A ∪ B) = ]A + ]B − ](A ∩ B),

que vimos quando estudamos cardinalidade de conjuntos.


Assuma que k ∈ M vejamos que k + 1 ∈ M. Para isto, consideramos

à = ∪ki=1 Ai e B̃ = Ak+1 .

Então, como

à ∩ B̃ = ∪ki=1 (Ai ∩ Ak )
198 Capítulo 21. Introdução à Análise combinatória

Temos
k  
]Ã = ∑ ]Ai − ∑ ](Ai ∩ A j ) + ∑ ](Ai ∩ A j ∩ Al ) − · · · + (−1)k ] ∩ki=1 Ai
i=1 1≤i< j≤k 1≤i< j<l≤k
]B̃ = ]Ak+1
k
](Ã ∩ B̃) = ∑ ](Ai ∩ Ak+1 ) − ∑ ](Ai ∩ A j ∩ Ak+1 )
i=1 1≤i< j≤k
 
+ ∑ ](Ai ∩ A j ∩ Al ∩ Ak+1 ) − · · · + (−1)k ] ∩i=1
k+1
Ai

ão
1≤i< j<l≤k

Agora o resultado segue se aplicar identidades acima em

](Ã ∪ B̃) = ]Ã + ]B̃ − ](Ã ∩ B̃).


Portanto k + 1 ∈ M. De onde M = {n ∈ N, n ≥ 2}. 

 Exemplo 21.1 Sobre um grupo de 70 pessoas sabemos que


• 40 jogam futebol
• 35 jogam tênis
• 15 jogam os dois esportes.
Queremos saber
• Quantas pessoas jogam somente um esporte?.
• Quantas pessoas jogam somente futebol?.
or
ab
• Quantas pessoas jogam somente tênis?
• Quantas pessoas não jogam nenhum esporte ?.
Sabemos que

]F = 40 ]T = 35 ](F ∩ T ) = 15
el

Então o conjunto universo U satisfaz ]U = 70. Mais ainda

](F\(F ∩ T )) = 40 − 15 = 25
](T \(F ∩ T )) = 35 − 15 = 20
Em

](F ∪ T ) = ]F + ]T − ](F ∩ T ) = 40 + 35 − 15 = 60
](U\(F ∪ T )) = 70 − 60 = 10.

• 45 pessoas jogam somente um esporte.


• 25 pessoas jogam somente futebol.
• 20 pessoas jogam somente tênis.
• 10 pessoas não jogam nenhum esporte.


Vimos anteriormente que se A1 , . . . , Ak são conjuntos de cardinalidades n1 , . . . , nk respectivamente, então


temos que

](A1 × · · · × Ak ) = n1 · · · nk .

então, o número de elementos da forma (a1 , . . . , ak ) em que ai ∈ Ai é n1 · · · nk .


 Exemplo 21.2 De quantas formas podemos formar uma placa de carro sabendo que 4 casas devem ser letras e

3 números?
Se A = {a, b, . . . , z} e N = {0, 1, . . . , 9} temos que uma placa de carro será um elemento de

N 3 ×A 4
199

então, como

](N 3 × A 4 ) = 103 · 264 = 456.976.000,

temos 456.976.000 possibilidades de placas diferentes. 

 Exemplo 21.3 Se queremos acomodar n pessoas ao redor de uma mesa redonda, temos que:
• Como a mesa é redonda então não há uma ordem linear, escolhida uma ordem temos n rotações da mesma
que também são possíveis e se identificam com a original. Uma vez escolhida onde se senta a primeira
pessoa, temos

ão
(n − 1)!

possibilidades de distruibuir as pessoas restantes nos 5 lugares que restam.


• Se, por exemplo, temos 3 homens e 3 mulheres e queremos que eles se sentem intercalados, esolhido o


lugar da primeira pessoa, uma mulher, automáticamente temos 2! lugares para as outras mulheres e 3!
possibilidades para os homens. Então temos

3! · 2!

possibilidades diferentes. or
Lembramos que o fatorial é a operação unária que associa a cada número natural n ∈ N o número n! da
seguinte forma

ab
se n = 0 então 0! = 1
se n > 0 então n! = n · (n − 1) · (n − 2) · · · 2 · 1.

Consideremos agora um conjunto A com n elementos, isto é


el

A = {a1 , . . . , an }.

Definição 21.1 Um arranjo de r ≤ n elementos de A é um elemento

(a1 , . . . , ar ) ∈ Ar
Em

de forma tal que ai 6= a j sempre que i 6= j.

 Exemplo 21.4 Se A = {a, b, c, d} então

(a, a, b) (b, c, b) (c, d, d)

não são arranjos de 3 elementos de A. No entanto

(a, b, c) (b, a, c) (c, d, a)

são arranjos de 3 elementos de A. 

Teorema 21.2 Seja A um conjunto de n elementos. O número de arranjos de r elementos de A é dado por

n!
= n · (n − 1) · · · (n − r + 1)
(n − r)!

Demonstração. Provamos contando as possibilidades. Observamos que se o arranjo for

(a1 , . . . , ar )
200 Capítulo 21. Introdução à Análise combinatória

temos que a1 é um elemento qualquer de A. O elemento a2 ∈ A1 = A\{a1 } como ]A1 = n − 1 temos n − 1


posibilidades para a2 . Agora a3 ∈ A2 = A\{a1 , a2 } como ]A2 = n − 2 temos n − 2 posibilidades para a3 .
Continuando desta forma, temos

](A1 × · · · × Ar ) = n · (n − 1) · · · (n − r + 1)

possibilidades diferentes de montar o arranjo. O que prova o resultado. 

Definição 21.2 Seja A um conjunto com n elementos. Uma permutação é um arranjo de n elementos de A.

ão
Com isto, podemos interpretar o fatorial da seguinte forma.

Corolário 21.1 Seja A um conjunto com n elementos. O número de permutações dos elementos de n é n!.

Demonstração. Imediato de


n! n!
= = n!.
(n − n)! 1


 Exemplo 21.5 or
• De quantas formas diferentes podemos escolher um presidente, um secretário e um
funcionario de um grupo de 9 pessoas? Devemos escolher, sem repetição. Então temos
9!
= 9 · 8 · 7,
6!
ab
arranjos diferentes.
• De quantas formas diferentes por três bolinhas diferentes entre si em três caixas diferentes?
Temos 3! permutações diferentes entre as caixas. Portanto o resultado é 6.

el

Seja s = (b1 , . . . , br ) ∈ Ar um elemento em que cada elemento ai ∈ A aparece ri vezes em s (sendo permitido
o caso ri = 0), isto é

r1 + . . . + rn = r.
Em

Queremos saber quantos elementos diferentes podemos construir desta forma ou, dito de outra forma, o número
de permutações distinguíveis de dos elementos de s.
 Exemplo 21.6 Considere s = (A, B,C, B,C, B) queremos ver as possíveis permutações distinguíveis deste
objeto.
Como são 6 elementos temos 6! = 720 permutações. No entanto se trocarmos, por exemplo o elemento da
posição 2 com o da posição 4 temos o mesmo objeto, portanto a permutação não é distinguível.
Começamos com a letra A. Ela só aparece 1 vez e portanto temos que qualquer permutação que troque A de
lugar será distinguíveis. Portanto há
720
1!
permutações em que as letras B,C podem aparecer em locais diferentes.
A letra B se repite 3 vezes. Então cada palavra conta 3! permutações que não producem nenhum efeito pois
só alteram a posição da letra B. Dividimos então as 720 permutações em 3! permutações que não alteram o lugar
onde aparece a letra B e temos
720
= 120
3!
grupos de permutações na qual C pode aparecer em lugares diferentes .
201

A letra C aparece 2 vezes, portanto dividimos estes 120 grupos pelas 2! permutações não váo alterar a
posição da letra C e obtemos o conjunto de todas permutações diferentes entre si. Obtemos assim que, das 720
permutações originais, somente
120
= 60,
2!
vão ser distinguíveis entre si. 

Generalizamos isto no próximo resultado.

ão
Teorema 21.3 Seja s = (b1 , . . . , br ) ∈ Ar um elemento em que cada elemento ai ∈ A aparece ri vezes em s
(sendo permitido o caso ri = 0), isto é

r1 + · · · + rn = r.


o número de permutações distinguíveis de s é
r!
r1 ! · · · rn !

or
Demonstração. Observamos que se s possui r elementos então temos r! permutações possíveis. O elemento a1
vai se repetir r1 vezes, portanto podemos organizar as permutações em
r!
r1 !
ab
conjuntos diferentes, que são todas as permutações obtidas de permutar todas as outras entradas diferentes de a1 .
Da mesma forma procedemos com a2 , ele vai aparecer m2 vezes. Então organizamos rr!1 ! permutações em

r!
el

r1 ! · r2 !
conjuntos diferentes, que são todas as permutações obtidas de permutar todas as outras entradas diferentes de a1
e a2 . Continuando o processo desta forma temos o resultado depois de n passos. 

Definição 21.3 Seja A um conjunto de n elementos e m ∈ N com m ≤ n. Uma m−combinação de A é um


Em

subconjunto de m elementos de A

Teorema 21.4 Seja A um conjunto de n elementos e m ∈ N com m ≤ n. O número de m combinações de A é


dado por
n!
m! · (n − m)!

Este valor recebe o nome de número combinatorio m de n e é denotado por


 
n n!
= .
m m! · (n − m)!

Demonstração. Primeiramente observamos que temos


n!
(n − m)!
arranjos de m elementos possíveis. Cada arranjo dá origem a um conjunto ao fazer

(ai1 , . . . , aim ) → {ai1 , . . . , aim }.


202 Capítulo 21. Introdução à Análise combinatória

Observamos que dois arranjos diferentes, e que sejam um permutação da posição dos elementos do outro, dão
lugar ao mesmo subconjunto. Por exemplo, os arranjos

(ai1 , ai2 , . . . , aim ) e (ai2 , ai1 , . . . , aim )

são diferentes, porém dão lugar ao mesmo subconjunto

{ai1 , . . . , aim }.

De fato temos como cada arranjo tem m elementos todos distintos entre si, temos

ão
m!
= m!
1! · 1! · · · 1!
arranjos dos mesmos elementos que dão origem ao mesmo conjunto.
Portanto, temos que dividir a quantidade de arranjos pelas m! permutações dos seus elementos de onde segue


que há
n!
(n − m)! · m!
combinações possíveis.


or
Exemplo 21.7 Vamos contar o número de contrasenhas possíveis de 8 entradas das quais uma deve ser uma
letra maiúscula, uma deve ser um número e o restante são letras minúsculas.
Temos 26 · 10 (26 letras e 10 números) formas de escolher a letra maiúscula e o número.

ab
Devemos escolher 6 lugares de 8 que devemos preencher com as 26 letras do alfabeto. Temos assim
 
8
(26 · 10) · · 266 = 4, 497813699 · 1012 .
6
el

possibilidades de contrasenhas. Se conseguirmos testar 100 contrasenhas por segundo, para testar todas as
possibilidades vamos a demorar

4, 497813699 · 1012
' 1426 anos.
(365 · 24 · 60 · 60) · 100
Em

Algumas propriedades da combinatoria são

 Sejam 0 ≤ m ≤ n números
Lema 21.1
n n
 naturais.
 Então
• m = e em particular n1 = n−1n
=n
n−mn 
n−k+1
 k−1 se k > 1
n
  n−1  nk
• k = k n−k se k < n .
 n−1 n

k−1 k se n, k > 1

  • Da definição temos
Demonstração.
n n!
=
m (n − m)! · m!
n!
=
(n − m)! · (n − (n − m))!
 
n
=
n−m
Em particular
   
n n n!
= = = n.
1 n−1 (n − 1)! · 1!
203

• Mostramos
  caso por separado. Se k > 1 temos
cada
n n−k+1 n! n−k+1
= ·
k−1 k (k − 1)! · (n − k + 1))! k
 
n! n
= = .
k! · (n − k))! k
Se k <n 
n−1 n (n − 1)! n
= ·
k n−k k! · (n − k − 1)! n − k
 
n! n

ão
= = .
k! · (n − k))! k
E por último,
 se n, k > 1 temos
n−1 n (n − 1)! n
= ·
k−1 k k − 1! · (n − k)! k
 
n! n


= = .
k! · (n − k))! k


 Exemplo 21.8 • De quantas formas diferentes podemos seleccionar 4 pessoas de um conjunto de 8?


Como os conjuntos não são ordenados, o problema é o mesmo que procurar a quantidade de subconjuntos

 
8
4
=
8!
=
8·7·6·5
4! · 4! 4 · 3 · 2 · 1
= 70
or
de 4 elementos de um conjunto de 8 elementos. Temos assim
ab
formas diferentes.
• De um grupo de 11 pessoas, das quais são 6 mulheres e 5 homens. De quantas formas podemos formar
uma comissão 6 pessoas de forma tal que 4 sejam mulheres e 2 homens. Observamos que as mulheres
podem ser seleccionadas de
el

 
6 6!
= = 15
4 2! · 4!

formas diferentes. Já os homens de


 
5 5!
Em

= = 10
2 2! · 3!

Então temos 15 · 10 = 150 formas diferentes de formar a comissão.


• De quantas formas diferentes podemos escolher os números da Mega-Sena?
Devemos escolher um subconjunto de 6 números de um conjunto de 60 números distintos, portanto temos
 
60 60!
= = 50.063.860
6 6! · 54!

escolhas diferentes.
Observe que se você pegar 962766 baralhos de poker. Cada baralho tem aproximadamente 2, 5cm de
altura, portanto isso dá uma torre de pouco mais de 24 km de altura. Agora, se juntamos todos eles e
marcamos uma carta com seu nome. Observe que estaria marcando uma carta em

52 · 962766 = 50063832 cartas.

Ou seja, você tem mais chance de escolher uma dessas cartas e pegar aquela que foi marcada do que
acertar em um bilhete da Mega-Sena (o exemplo foi adaptado de um trecho pego do livro “Five-Minute
Mathematics, Ehrhard Behrends).

204 Capítulo 21. Introdução à Análise combinatória

 Exemplo 21.9 Considere um baralho de 52 cartas estândar para o jogo de poker. Em cada mão recebe 5
cartas.
• Na primeira mão recebemos um subconjunto de 5 cartas de um total de 52 distintas, portanto temos
 
52
T= = 2.598.960
5

possibilidades diferentes para a mão.


• Se queremos que, por exemplo, dessas 5 cartas, nenhuma seja de ouro então temos que escolher essas

ão
5 cartas de um conjunto 52 − 13 = 39 cartas (que são o conjunto total menos as cartas que são ouro) no
total, portanto há
 
39
= = 575.757
5


possibilidades diferentes de receber 5 cartas e que nenhuma delas seja ouro.
Observamos que o número de possiblidades de receber 5 cartas é a soma das possibilidades em que nenhuma
seja ouro, nenhuma seja espada, nenhuma seja copas e nenhuma bastos.
Portanto, a quantidade de possibilidades de que, pelo menos uma, das cartas da mão seja de ouro é subtrair
or
ao número total as possibilidades de que nenhuma seja ouro, isto é

2.598.960 − 575.757 = 2.023.203,


ab
possibilidades. 

 Exemplo 21.10 Se temos uma turma de 20 alunos dos quais 11 são mulheres e 9 homens. Podemos:
escolher 3 estudantes de 20

• 2 formas diferentes.
escolher 3 estudantes mulheres de 11

• 3 formas diferentes.
escolher 3 estudantes dos quais 1 é um homem, de 11
 9
2 · 1 formas diferentes.
el


• escolher 3 estudantes dos quais ao menos 1 é um homem de

total só mulheres
z }| {
 z }| {
20 11

Em

3 3

formas diferentes.


 Exemplo 21.11 Sejam A e B dois conjuntos finitos de cardinalidade ]A = n e ]B = m. Então , podemos


assumir que

A = {a1 , . . . , an } e B = {b1 , . . . , bm }

• O número de funções bijetoras de A em A é n!. De fato cada função bijetora associa biunívocamente os
elementos de A. Assim se f : A → A é bijetora, temos
f (a1 ) = ai1 (n possibilidades)
f (a2 ) = ai2 ∈ A\{ai1 } (n − 1 possibilidades)
f (a3 ) = ai3 ∈ A\{ai1 , ai2 } (n − 2 possibilidades)
.. ..
. .
f (an ) = ain ∈ A\{ai1 , ai2 , . . . , an−1 } (1 possibilidade)

De onde temos que são n! possibilidades para escolha da função f .


205

• Assumindo que n ≤ m podemos ver que o número de funções injetoras f : A → B é


m!
(m − n)!
De fato
f (a1 ) = bi1 (m possibilidades)
f (a2 ) = bi2 ∈ A\{bi1 } (n − 1 possibilidades)
f (a3 ) = bi3 ∈ A\{bi1 , bi2 } (n − 2 possibilidades)
.. ..

ão
. .
f (an ) = bin ∈ A\{bi1 , bi2 , . . . , bn−1 } (m − (n − 1)) possibilidades)

de onde temos
m!


m · (m − 1) · · · (m − n + 1) =
(m − n)!
possibilidades de escolhas para a função f .
• Se n ≥ m podemos ver que o número de funções sobrejetoras f : A → B é
m−1  
m
∑ (−1) · k · (m − k)n .
k=0
k or
Podemos chegar a este resultado utilizando o princípio de inclussão-exclussão. A ideia é fazer o número
total de funções menos o número de funções que não são sobrejetoras, isto é
ab
mn − ](∪mj=1 A j )
em que
A j = { f : A → B, b j 6∈ f (A)}.
el

Como
 
m
∑ ](A j1 ∩ · · · ∩ A jk ) = k · (m − k)n ,
1≤ j1 ≤···≤ jk ≤m

pois estamos contanto as diferentes escolhas de k elementos de B que não vaõ ser atingidos pelo número
Em

de funções que vão dos n elementos de A nos (m − k) elementos restantes.


Temos, utilizando o princípio de inclussão-exclussão, que existem
m−1  
m
∑ (−1) · k · (m − k)n .
k
k=0

funções sobrejetoras.
Cada função sobrejetora f : A → B vai produzir uma partição
A1 = f −1 (b1 ), . . . , Am = f −1 (bm )
de A. Assim, contar o número de funções sobrejetoras está relacionado a contar número de partições de A
com m conjuntos. Para cada partição deste tipo, haverá m! funções sobrejetoras que a geram obtidas de
permitar os valores bi que estão na imagem do conjunto A j . Assim, o número de partições é
1 m−1
 
k m
S(n, m) = ∑ (−1) · · (m − k)n .
m! k=0 k
chamado de Número de Stirling de segundo tipo e é denotado por S(n, m).
O leitor pode consultar ou trabalho de Fahd and Gulf, Classroom note: An inductive derivation of Stirling
numbers of the second kind and their applications in statistics, Journal of Applied Mathematics and
Decision Sciences (1997) para mais detalhes sobre o assunto.
206 Capítulo 21. Introdução à Análise combinatória

Teorema 21.5 • O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m < n compartimentos


distintos é mn .
• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m ≥ n compartimentos distintos de forma
que tenhamos em cada um, no máximo, um objeto é
m!
.
n!
• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m ≥ n compartimentos iguais de forma
que tenhamos em cada um, no máximo, um objeto é

ão
 
m m!
= .
n n!(m − n)!

• O número de maneiras de distribuirmos n objetos iguais em m < n compartimentos distintos é


 
n+m−1
.
n

• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m < n compartimentos distintos sem que
nenhum fique vazio é
m−1

k=0
 
km
∑ (−1) · k · (m − k)n .
or
ab
• O número de maneiras de distribuirmos n objetos iguais em m < n compartimentos distintos sem que
nenhum fique vazio é
 
n−1
.
m−1
el

• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m < n compartimentos iguais sem que
nenhum fique vazio é

1 m−1
 
k m
S(n, m) = ∑ (−1) · · (m − k)n .
Em

m! k=0 k

• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m compartimentos iguais de forma que


tenhamos em cada um, no máximo, um objeto é

0 se n > m
1 se n ≤ m

• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m < n compartimentos iguais é


m
∑ S(n, k).
k=1

Demonstração. • O primeiro é o número de funções de um conjunto com n elementos em um conjunto


com m elementos.
• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m ≥ n compartimentos distintos de forma
que tenhamos em cada um, no máximo, um objeto é igual a contar o número de funções injetoras de um
conjunto com n elementos em outro de m elementos. Portanto temos

m!
n!
207

possibilidades.
• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m ≥ n compartimentos iguais de forma
que tenhamos em cada um, no máximo, um objeto é o mesmo que contar o número de subconjuntos de m
elementos de um conjunto com n elementos. Isto é contar o número de arranjos de m objetos e fazer o
quociente pelas permutações dos seus elementos, ou seja, o número de combinações. De onde segue que
temos
 
m
n

ão
• Para achar o número de maneiras de distribuirmos n objetos iguais em m < n compartimentos distintos
com, no máximo o objeto por compartimento observamos que existem distribuições indistingíveis por
causa dos objetos serem iguais. Assim temos que se xi é o número de objetos no compartimento i temos

x1 + · · · + xm = n.


Então procuramos o número de soluções não negativas desta equação. Isto é equivalente a escolher n
objetos entre m + n − 1 símbolos formados por n estrelas e m − 1 barras. Aqui as estrelas são os objetos e
as barras o que delimitam os compartimentos. Por exemplo para n = 8 e m = 4 um caso seria.

? ? ?| ? ?| ? | ? ?.

Assim o número destes arranjos é igual a m+n−1


n
or

.
• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m < n compartimentos distintos sem que
ab
nenhum fique vazio é igual ao número obtido de contar o número de funções sobrejetoras de um conjunto
de n elementos em um conjunto de n elementos.
• Para obter o número de maneiras de distribuirmos n objetos iguais em m < n compartimentos distintos
observamos que primeiramente devemos colocar um objeto em cada compartimento logo, os n − m restante
devem ser distribuídos novamente nos m compartimentos distintos que é
el

     
m + (n − m) − 1 n−1 n−1
= = .
n−m n−m m−1

• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m < n compartimentos iguais sem que
nenhum fique vazio é igual ao número obtido ao contar o número obtido para compartimentos distintos e
Em

dividir pelas m! possibilidades de escolhas de ordem das caixas (visto que são todas iguais).
• O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m compartimentos iguais de forma que
tenhamos em cada um, no máximo, um objeto é 0 se n > m pois, necessárimante uma vez preenchidos os
m sobram objetos que devem ser colocados em algum dos compartimentos já preenchidos.
No caso em que n ≤ m colocamos um objeto em cada compartimento, podendo sobrar compartimentos.
Como os compartimentos são iguais, qualquer outra distribuição é equivalente a primeira (pios é uma
permutação da mesma), então existe uma única forma neste caso.
• Aqui, novamente utilizamos o princípio de inclussão-exclussão para
Ak = {maneiras de distribuirmos n objetos distintos em
k ≤ m compartimentos iguais sem que nenhum fique vazio}
e observandos que, neste caso as interseções Ai ∩ A j = 0/ para i 6= j pois se, por exemplo, i < j temos que
uma maneira de distribuir n objetos em j compartimentos sem que nenhum fique vazio nunca pode ser uma
maneira de distribuir n objetos em i compartimentos sem que nenhum fique vazio, pois necessáriamente
teremos um número menor que n bolas nos i compartimentos.
O número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em m < n compartimentos iguais é então igual
à soma é a soma
m
∑ ]Ak
k=1
208 Capítulo 21. Introdução à Análise combinatória

isto é, ao número obtido de somar número de maneiras de distribuirmos n objetos distintos em k ≤ m < n
compartimentos iguais sem que nenhum fique vazio de k = 1 até m. Obtendo assim o resultado.


Só resta, na análise do resultado acima, o caso de distribuir objetos iguais em compartimentos iguais.
Começamos por estudar o caso de distribuir n objetos iguais em m compartimentos iguais sem que nehum
fique vazio. Em geral esse número é denotado por

P(n, m),

ão
e satisfaz uma relação de recorrência que passamos a descrever.
O número P(n, m) é a soma das distribuições a seguir
• o caso em que existe um compartimento com um objeto só, e distribuimos os objetos restantes nos m − 1
compartimentos restantes, que dá P(n − 1, m − 1) possibilidades.
• o caso em que todas os compartimentos tem mais do que um objeto (pois como cada compartimento tem


como mínimo um objeto, contamos o objeto a mais como sendo já distruibuído) . Neste caso, temos n − m
objetos a serem distribuídos em m compartimentos. Temos assim P(n − m, m)possibilidades.
Temos assim que

P(n, m) = P(n − 1, m − 1) + P(n − m, m),


or
que é a relação de recorrência procurada. Agora devemos achar os primeiros termos da recorrência. Logo o
princípio da recursão nos garante a unicidade dos termos.
Observamos que, da definição, temos que para todo n ≥ 1 temos
ab
• P(n, 1) = 1, pois a única possibilidade é colocar todos os objétos no único compartimento disponível.
• P(n, n) = 1, pois a única distribuição é uma bola em cada compartimento.
• P(n, m) = 0 para m > n, pois necesáriamente um compartimento ficará vazio.
• P(n + 1, n) = 1, pois preenchemos primeiramente todos os compartimentos com um objeto e depois fica
um objeto a distribuir a um dos n compartimentos. Temos n posibilidades de distibuição, mas como
el

todos os compartimentos são iguais, estas n distribuições são indistinguíveis entre si e, portanto, são todas
equivalentes. De onde segue que temos uma distribuição só.
Com isto, junto a relação de recorrência

P(n, m) = P(n − 1, m − 1) + P(n − m, m),


Em

podemos achar todos os valores P(n, m). Escrevemos alguns dos valores na tabela abaixo.

m 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
n=1 1 0 0 0 0 0 0 0 0 0
n=2 1 1 0 0 0 0 0 0 0 0
n=3 1 1 1 0 0 0 0 0 0 0
n=4 1 2 1 1 0 0 0 0 0 0
n=5 1 2 2 1 1 0 0 0 0 0
n=6 1 3 3 2 1 1 0 0 0 0
n=7 1 3 4 3 2 1 1 0 0 0
n=8 1 4 5 5 3 2 1 1 0 0
n=9 1 4 7 6 5 3 2 1 1 0
n = 10 1 5 8 9 7 5 3 2 1 1

Por último, para obter a forma de distribuir n objetos iguais em m compartimentos iguais utilizamos o
princípio de inclussão-exclussão para

Ak = {maneiras de distribuirmos n objetos iguais em


k ≤ m compartimentos iguais sem que nenhum fique vazio}
209

e observandos que, neste caso as interseções Ai ∩ A j = 0/ para i 6= j pois se, por exemplo, i < j temos que uma
maneira de distribuir n objetos em j compartimentos sem que nenhum fique vazio nunca pode ser uma maneira
de distribuir n objetos em i compartimentos sem que nenhum fique vazio, pois necessáriamente teremos um
número menor que n bolas nos i compartimentos.
Portanto, forma de distribuir n objetos iguais em m compartimentos iguais é a soma
m
∑ ]Ak
k=1

ão
isto é, a soma da possibilidade de distribuir em todos sem que nenhum fique vazio, com a de distribuir m − 1
compartimentos sem que nenhum fique vazio, e assim seguindo. Chegamos então a
m
∑ P(n, k) possibilidades.
k=1




or
ab
el
Em

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