Análise Jurídica de Venture Capital - Considerações Iniciais
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1. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS
Não há qualquer dúvida que a tecnologia chegou para ficar. Apenas no primeiro
trimestre de 2022, dados levantados pelo Transactional Track Record (TTR) indicam
que o mercado de Venture Capital brasileiro movimentou quase R$ 9 bilhões, em 173
rodadas de investimento. E o segredo por trás de números tão altos, além de decorrer
– é claro – do alto potencial de retorno dos negócios de risco e da disponibilidade de
capital, também perpassa pelos aspectos jurídicos do mercado. O objeto deste
trabalho é abordar a indústria de Venture Capital por meio de seus aspectos jurídicos.
Sabe-se que as startups são aquelas empresas em etapa inicial de operação, que
desenvolvem um modelo de negócios inovador, seja ele um produto ou serviço, com o
intuito de solucionar um problema vivenciado por uma grande quantidade de pessoas,
físicas ou jurídicas, e que, portanto, possuem um alto potencial de escalabilidade. Estas
empresas dependem fortemente de seu time fundador, possuem despesas altas, têm
receita limitada e, assim, são permeadas por um alto risco atrelado a um alto potencial
de retorno em prazo razoável. A principal forma encontrada por essas empresas para
fazer frente às altas despesas e à receita limitada é, justamente, a captação de
recursos externos, nas chamadas rodadas de investimento que formam a indústria de
Venture Capital.
A primeira fase do ciclo de vida das startups é chamada de early stage. Ela abrange as
rodadas de investimento iniciais da empresa e, atualmente, tem início nas captações
denominadas “Series Pre-Seed” ou “Series Seed”. Neste momento, o ticket médio das
operações costuma ser de até US$ 4 milhões e é comum que os investidores sejam,
majoritariamente, aqueles chamados investidores-anjo, embora também exista muitos
investidores institucionais especializados em investimento early stage no Brasil e no
mundo. O fator principal que influencia os investidores na percepção de valor das
empresas nesta fase é a experiência do time fundador, somada às perspectivas do
mercado alvo e ao product/market fit do produto ou solução desenvolvidos.
Como o nível de maturidade das empresas nas rodadas iniciais ainda é baixo e tendo
em conta o grau de urgência que têm na captação de recursos, os investimentos early
stage (à exceção das rodadas Series A) costumam ser realizados por meio de títulos
conversíveis em participação societária, que permitem aos investidores aportar
recursos sob a promessa de participação societária futura, adquirida apenas na
hipótese de amadurecimento do modelo de negócios da startup. Estes títulos são uma
forma mais simples de contratação, que permite minimizar negociações, permitindo,
ainda, que os investidores abandonem seus investimentos malsucedidos sem maiores
dificuldades. Eles costumam ser formalizados como mútuo conversível, contrato de
participação, opção de subscrição, simple agreement for future equity (SAFE)
ou convertible note.
Por fim, o late stage é a fase que abarca as rodadas finais de captação de recursos
pelas startups no mercado de Venture Capital, denominadas Series E e seguintes, que
costumam movimentar valores a partir de US$ 60 milhões. Esta fase, que costuma
preceder os chamados “eventos de liquidação” ou uma oferta pública inicial de ações
(IPO), é marcada por investimentos realizados por investidores institucionais
especializados em late stage, bancos de investimento, hedge funds e fundos
soberanos, que miram em empresas reconhecidas no mercado, que possuem receita
recorrente mensal considerável e base de parceiros e clientes consolidada.
Para manter o controle desta estrutura de capital – em que diversas pessoas têm
direito a participação societária, mas apenas algumas estão, de fato, nos documentos
societários vigentes, e em que é necessário realizar diversos cálculos para alcançar
dados objetivos da situação do capital social da empresa – os fundadores devem
manter sempre atualizada a tabela de capitalização da empresa, chamada de “cap
table”. O cap table apresenta todas as participações societárias emitidas e passíveis de
emissão (mediante conversão de títulos conversíveis ou atribuição em âmbito
de option pool) pela empresa, indicando a classe das ações, seus preços de emissão e
os percentuais totais de interesse dos sócios e investidores na empresa.
Por mais que a ideia dos investidores na indústria de Venture Capital, de fato, seja de
fomentar a inovação por meio de um amplo portfólio com o qual o investidor pode
contribuir no limite de seu conhecimento e de seu envolvimento com as startups em
que investiu, fato é que o principal motivador do investimento continua sendo os
aspectos econômicos e a possibilidade de alto retorno que o investimento em capital
de risco traz consigo.
2.2. Valuation
A participação das ações após a preferência na liquidação pode ser integral, limitada
ou inexistente. Assim, o investidor que possui preferência na liquidação com
participação integral participará, após recebimento de recursos prioritários por todos
os investidores, da distribuição dos recursos remanescentes a ser realizada aos demais
acionistas (especialmente os fundadores), em iguais condições com os demais
acionistas, com base em suas respectivas participações no capital social da empresa; o
investidor que possui preferência na liquidação limitada receberá, após recebimento
de recursos prioritários por todos os investidores, da distribuição dos recursos
remanescentes até um valor determinado ou determinável; e, por fim, o investidor
que possui preferência na liquidação com participação inexistente não participará da
distribuição dos recursos remanescentes.