Portfólio - Práticas Escolares de Língua Portuguesa
Portfólio - Práticas Escolares de Língua Portuguesa
Portfólio - Práticas Escolares de Língua Portuguesa
JUIZ DE FORA- MG
2023
CATARINA MENEZES DE JESUS FERREIRA
JUIZ DE FORA- MG
2023
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SUMÁRIO
1. APRESENTAÇÃO........................................................................................................5
2. MEMORIAL ................................................................................................................5
3. RESENHAS…..............................................................................................................7
3.1. Artigo: Ensino de Língua Portuguesa: reflexões sobre a necessidade de análise
crítica de textos………………………………………………………………………..………7
3.2. Artigo: Letramento e suas implicações para o ensino de língua materna……......8
3.3. Artigo: Todos nós semos de frontera: ideologias linguísticas e a construção de
uma pedagogia translíngue…………………………………………………………....…..….10
4. ENSAIO.......................................................................................................................11
7. REFLEXÕES………………………………………………………………....……..23
8. ANEXOS……………………………………………………………………...……..24
8.1. Entrevistas………………………………………………………………...……..24
8.1.1. Entrevista 1……………………………………………………………………24
8.1.2. Entrevista 2……………………………………………………………………26
8.1.3. Entrevista 3………………………………...………………………………….27
8.1.4. Entrevista 4……………………………………………………………………29
8.1.5. Entrevista com a professora…………………………………………………...31
3
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS……………………………………………..32
9.1. Memorial…………………………………………………………………………32
9.2. Resenhas………………………………………………………………………….33
9.3. Ensaio…………………………………………………………………………….33
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1. APRESENTAÇÃO
O presente documento tem como objetivo apresentar, de forma clara e objetiva, os
conhecimentos adquiridos durante a disciplina de Saberes Escolares de Língua Portuguesa e
expor os tópicos abordados do ponto de vista individual de cada discente. Contando com sete
tópicos textuais, o portfólio se desenvolve de acordo com as vivências que cada aluno teve
dentro de sala de aula, e como tais experiências podem ser expostas de forma prática no dia a
dia, durante a nossa formação como educadores.
2. MEMORIAL
Eu nunca tive interesse por leituras que eram obrigatórias dentro das escolas. Estudei a
minha vida inteira em escolas particulares e sempre tive a impressão de que coordenadores e
professores são péssimos para escolher livros que despertem o interesse dos alunos,
principalmente daqueles que ainda estão no Ensino Fundamental e, consequentemente, estão
desenvolvendo uma formação mais básica.
Meu hábito de leitura sempre esteve presente, os meus pais sempre me presenteavam e
me educavam para que eu criasse interesse pelos livros, mas esse hábito não envolvia livros
escolares. Eu detestava eles. Eles nunca me despertavam interesse e, por muitas vezes, a
linguagem não conseguia prender a minha atenção. Tive vários problemas em aulas de Língua
Portuguesa por conta disso, até que, em um ano específico, uma professora conseguiu mudar a
minha opinião.
Me lembro carinhosamente da minha professora de Língua Portuguesa do sexto ano
do Ensino Fundamental II, do Colégio Metodista Granbery, que me ensinou que leituras
escolares podem ser, na verdade, bem divertidas. A leitura do livro “Extraordinário”, de R. J.
Palacio, era obrigatória para todos os alunos e deveríamos começar o ano já com ele em mãos
logo no primeiro dia de aula. Eu já tinha em mente que provavelmente não iria ler, que a
leitura deveria ser feita em casa e teríamos alguma avaliação sobre, o que de fato aconteceu,
mas a dinâmica da leitura foi completamente diferente. Ao invés de lermos individualmente, a
professora propôs uma dinâmica inédita para nós: faríamos a leitura juntos, em sala, sempre
nos últimos vinte minutos de cada aula. Cada aluno iria ler um parágrafo, e assim teríamos a
oportunidade de ir comentando um com os outros sobre nossas opiniões durante o processo.
Deu certo. Não me lembro quanto tempo demoramos para terminar o livro de em
média 300 páginas, mas foi uma experiência superdivertida. Tivemos contato com diferentes
opiniões, interagimos durante todo o livro e toda aula nos deixava mais ansiosos para
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terminarmos o drama – era quase como esperar pelo fim de uma novela. Me lembro até hoje
das risadas que dei, dos apertos no coração que senti, da timidez que me consumiu por ter que
ler para todos em uma sala lotada, mas tudo isso valeu a pena. Eu não sabia que ler um texto
para a escola poderia ser tão divertido e, até hoje, esse é o tipo de dinâmica que eu adoraria
levar para a sala de aula se um dia eu me tornar educadora.
Acredito que alinhar a idade dos alunos ao tipo de leitura que pode ser pedida, não só
ajuda a despertar o interesse pela matéria, mas também pela leitura no geral. “Extraordinário”
é um livro que eu guardo até hoje na minha estante e que fui na pré-estreia assisti-lo nos
cinemas. Não é um dos meus favoritos, mas eu guardo uma memória de muito carinho sobre
ele, principalmente pela experiência única e, ao mesmo tempo, coletiva que tive com ele.
Infelizmente, esse foi um caso à parte. O sistema educacional insiste que os clássicos
da literatura brasileira devem ser exaltados por alunos escolares, o que não deixa de ser uma
verdade, mas não é a leitura ideal para alunos novos e que já não possuem interesse por
qualquer tipo de leitura.
No ano seguinte, ainda no Colégio Metodista Granbery, o meu professor de Língua
Portuguesa do sétimo ano nos propôs uma leitura que, de acordo com ele, mudaria nossa
visão de mundo: “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis. Dessa vez, a
dinâmica não foi coletiva, cada aluno teria que ler o livro individualmente e, no final do ano,
escreveríamos um texto sobre nossas impressões como trabalho final.
Eu não li o livro, mas eu tentei. Eu tinha 12 anos de idade, e meu único interesse era
terminar de ler “Percy Jackson e os Olimpianos: O Ladrão de Raios”, que era uma leitura
infanto-juvenil própria para a minha idade, mas eu ainda assim tentei dar uma chance para
Machado de Assis. Não deu certo.
A escrita não me atraiu, tudo aquilo era muito confuso (como assim ele já tava
morto?) e eu não consegui desenvolver a leitura. Eu não fui a única, vários colegas de classe
tiveram dificuldade e decidimos nos juntar para pedir para o professor que o livro fosse
trocado. Tudo o que recebemos foi: “Vocês já têm idade o suficiente para nutrir interesse
pelos clássicos brasileiros”. Eu acho 12 anos uma idade muito nova para ler Machado de
Assis, mas pelo visto o professor pensava diferente.
Meu trabalho final foi feito pelas impressões que minha mãe teve quando ele leu
“Memórias Póstumas de Brás Cubas” pela primeira vez aos 19 anos, e eu fiquei anos fugindo
dos livros do Machado por medo de ainda não ter nutrido interesse algum pela leitura ou pelos
clássicos brasileiros. Não tive vontade de relê-lo mais tarde, nem de pegar qualquer outro
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livro que seja marcante para a literatura brasileira, principalmente pela experiência horrível
que tive.
Acontece que anos depois eu tive que ler “Dom Casmurro” para a apresentação de um
trabalho no segundo ano do Ensino Médio, no Colégio CAVE, e me envolvi imensamente
com o drama Bentinho-Capitu-Escobar. Li o livro inteiro em menos de quatro dias e decidi
que talvez fosse a hora de dar outra chance para Brás Cubas – e dessa vez deu certo. Eu
consegui entender os personagens, adentrei o enredo da história e, por fim, essa leitura
conseguiu deixar um marco na minha trajetória.
Acredito que todo gosto por literatura deve ser criado a partir de leituras que condizem
com a sua idade. Com 12 anos eu queria ler a saga de Harry Potter, aos 17 eu me sentia
confortável em tentar algum romance de Machado de Assis. Aos 21, eu estou relendo a saga
infanto-juvenil “Percy Jackson e os Olimpianos”, mas com uma prateleira repleta de clássicos
brasileiros na minha estante dos quais eu já li e alguns que ainda tenho vontade de ler
novamente.
Está na hora do sistema educacional brasileiro rever seus métodos e entender que, no
nosso país, 44% da população não lê, e em alguns casos a falta de interesse já vem de dentro
das escolas. A escolha de livros com leituras mais intelectuais para crianças do Ensino
Fundamental ao invés de algum romance infanto-juvenil, faz com que esse índice permaneça
o mesmo ou aumente com o passar dos anos. Eu sempre tive pais que me incentivaram a ler
livros que me chamassem a atenção, mas se fosse pelo sistema escolar eu provavelmente
nunca teria desenvolvido esse hábito.
O mercado editorial atual tem se tornado cada vez mais amplo. Os gêneros literários
para pré-adolescentes tem se expandido cada dia mais e podem ser utilizados e trabalhados
dentro das escolas junto com os alunos. A literatura nacional não precisa ser esquecida, mas
uma elaboração deve ser feita antes que possamos chegar até lá. Não se estuda a fórmula de
Bhaskara sem antes entender as noções básicas da matemática, e não deveria se estudar
clássicos brasileiros sem antes desenvolver uma familiaridade com a leitura.
3. RESENHAS
3.1 Artigo: Ensino de Língua Portuguesa: reflexões sobre a necessidade de
análise crítica de textos.
Por Rafaela Lopes
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O artigo tem como objetivo analisar aulas de Língua Portuguesa nos anos de 2013 e
2014, em escolas públicas de Belo Horizonte. Os professores e alunos foram analisados
sob a forma como trabalham textos que circulam na sociedade. A pesquisa trabalhada
contou com o apoio de um docente de ensino superior, professores de língua portuguesa
da educação básica e alunos da graduação da Universidade Federal de Minas Gerais, que
se encontram semanalmente nas escolas para analisar trabalhos de alunos de ensino
médio, com o objetivo de construir soluções para problemas encontrados.
Atualmente, muito se discute a necessidade de implantar novos objetos de ensino nas
aulas de Língua Portuguesa. Há pouco tempo, a discussão se baseava em ministração de
aulas de gramática e, hoje, a discussão se volta para os gêneros textuais. Geraldi (1984,
1997) busca afastar o ensino de língua portuguesa da redação e da gramática, defendendo
que o ponto de partida e de chegada deva ser a produção de texto, e a análise linguística
como um instrumento para auxiliar na melhor escrita e leitura, fazendo com que o aluno
atinja seus objetivos, tanto para si, quanto para o leitor de seu texto.
É a partir disso que será definido o letramento crítico, não apenas leitura e análise do
texto, mas o poder de criticidade. Dar ao aluno ferramentas para que, juntamente com o
seu conhecimento de mundo, possa ter a capacidade de fazer um letramento crítico, não
apenas de assuntos problematizados, mas de todo texto.
Posso me recordar do meu ensino médio. Minha professora de língua portuguesa
trabalhou muito nosso senso crítico. Todas as aulas eram voltadas para leituras de textos, e
ela sempre nos estimulava e perguntava nossa opinião a respeito de determinado tema. Foi
muito importante para o nosso desenvolvimento e nos auxiliou na produção de redações
para possíveis vestibulares.
Portanto, penso que seja de extrema importância que o letramento e o letramento
crítico sejam postos em prática dentro de sala de aula, principalmente nas aulas de língua
portuguesa. O conteúdo das aulas não deve de forma alguma ser considerado neutro, visto
que deve permanecer em constante confronto com ideias, pensamentos, conceitos e
teorias. Estimular o senso de criticidade do aluno é estimular seu desenvolvimento pessoal
e intelectual, portanto, faz-se necessária a produção de atividades e conversas, as quais
eles possam exercer o papel de sujeitos agentes e protagonistas de seu ensino.
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3.3 Artigo: Todos nós semos de frontera: ideologias linguísticas e a construção de
uma pedagogia translíngue.
Por Catarina Menezes
O ensino da língua materna dentro das escolas brasileiras jamais será uma discussão
politicamente neutra. A necessidade de ensino da língua portuguesa começa sua história
durante o período imperial de Dom Pedro II, em que civilizar povos originários e banir a
língua de povos africanos como uma forma de construir um país monolíngue se tornou o
principal objetivo para a popularização do idioma. Idioma este que persistiu durante inúmeros
séculos, depois de passar por repúblicas, ideais iluministas e ideologias de que há uma língua
comum, única e homogênea. No artigo de Adriana Carvalho Lopes e Daniel Nascimento e
Silva, é instaurado um debate sobre a politização do ensino da língua portuguesa que visa
problematizar a ideologia linguística vigente. Normalmente visto como um ensinamento
natural de uma língua materna, o objetivo desse artigo é transportá-lo para o campo da
política, dando um fim à visão natural.
Foi no início da década de 1980, que o movimento pelo direito do acesso à escola
tornou possível a transformação social, afastando o ensino da língua materna de um
paradigma mecanicista e utilitário. Por meio dessa virada pragmática, os Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) se fundamentaram, a fim de compreender a língua como um
conteúdo ideológico e transformador. Além disso, Paulo Freire, através de seu livro “A
Pedagogia do Oprimido”, impactou na formação dos docentes, que passou a ser encarada
como prática no desenvolvimento de indivíduos intelectuais, com poder social.
Dentre as ideologias que aproximam a língua portuguesa, se faz presente a ideologia
monoglota, com a tranquilidade de manter o ensino dentro de um padrão único, desejável e
meramente bom. É assim, então, que somos apresentados a uma pedagogia translíngue no
terceiro tópico do artigo e, por fim, a elaboração de um curso de língua materna multilíngue
por Adriana Lopes por meio da UFRRJ.
Com o objetivo de ter uma abordagem voltada para a diferença, a proposta translíngue
visa estudar as línguas e seus signos em prol da produção de significados. É preciso que o
diferencial entre línguas pare de ser visto com inferioridade dentro do sistema de ensino
brasileiro. Debater sobre multilinguismos é uma solução para que a riqueza e diversidade,
com seus elementos ordinários e singulares, sejam vistas com uma perspectiva diferente da de
língua padrão que desde cedo estamos acostumados a ouvir. Sabemos como a língua
portuguesa funciona, entendemos que nossa herança vem de tempos em que a língua do
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príncipe era essencial para criar vassalos úteis à Coroa. Homens e mulheres que tiveram seus
dialetos e idiomas rebaixados durante a história até chegarmos aos dias atuais, em que grupos
periféricos ainda são oprimidos e excluídos, mesmo dentro de um mesmo idioma comum.
É preciso que o conhecimento de mundo venha para o aluno por meio do ensino
escolar, e estudar as funcionalidades multilíngue, como descrito no curso universitário citado
no artigo, “[...] é sobretudo assumir uma cultura, suportar o peso de uma civilização [...]”
(Franz Fanon, 2008). É trabalhando as diferenças que resistimos à padronização e exclusão
daqueles considerados irregulares.
4. ENSAIO
O ensino de língua portuguesa e o futuro: como a linguagem
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Com tantos questionamentos, identificamos que até mesmo as perguntas que tinham
intenção de quebrar o gelo entre o entrevistador e o entrevistado eram parte, também, do que
foi construído no ensino de língua portuguesa na escola. Dessa forma, é perceptível que o
hábito de leitura, ou a falta dele, estão ligados às práticas conservadoras ou inovadoras na
educação de linguagem e a condução do profissional de Letras nesse percurso.
“Ah, porque assim, eu sempre fui… Sempre gostei de ler, né, 2019 comecei a
ler. Aí… E eu gosto muito de português também. Eu sou… bom, um pouco,
assim, em português. Aí… A (nome da professora) falando comigo, né, a
professora, começou a falar comigo e eu comecei a gostar de português,
gostar, e eu falei “ah, vou fazer letras!” (estudante, 18 anos)
Percebe-se, então, que o ponto central da discussão não é somente sobre o hábito de
leitura ser ou não cotidiano para o aluno, e sim o que se absorve das suas leituras. O conteúdo
é capaz de promover as rupturas do pensamento ”moderno-colonial” ao mesmo tempo? Existe
capacitação nesse material para atribuição das escolhas de futuro dos alunos?
Definitivamente, a leitura é a ferramenta em que o professor extrai o suco do saber, porque os
estudantes já possuem conhecimento de mundo ao entrar na sala de aula, mas qual é o
letramento essencial para o aprimoramento dessa habilidade? É necessário fazer com que as
aulas de língua portuguesa possam contribuir para a construção do pensamento decolonial.
“Eu gosto de ler porque assim, dependendo do livro que eu leio, ele me transporta
da minha realidade. Principalmente os romances que a gente fica assim “caraca!”.
(estudante, 17 anos).
A entrevistada afirma e expressa o gosto pela leitura e, mais tarde, completa dizendo
que sua leitura atual é “Uma Noite na Itália”. Podemos tornar evidente como o acesso às
leituras, mesmo quando não obrigatórias nas escolas, são voltadas para cenários que não
totalizam a pluralidade da sociedade, sendo um claro reflexo das mazelas da falta de
mobilização para fazer valer uma educação decolonial. Se o letramento das escolas não
estimula e problematiza temáticas graves, por que leituras livres valorizam a cultura daqueles
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que são esquecidos? Percebemos, então, um grande movimento da massa para a apreciação da
arte originária do lado bonito do globo.
Assim, em uma sociedade racista, excludente de povos originários, que ainda hoje
valoriza a branquitude e a cultura primitiva colonizadora, traceja-se sob o olhar dos alunos
qual seria o papel dos professores para despertar uma visão que ultrapasse essa fronteira.
“Ah, a educação, ela é atrativa, né, no sentido de que trabalhar com a linguagem na
educação é muito bom. Você tem, é… Falta de base, muitas vezes, você percebe que
os alunos não tem tanta base, mas é a nossa língua, né, no caso a língua portuguesa
que eu trabalho. Então é muito mais fácil você trabalhar a língua portuguesa, eu
acho, do que a matemática ou outras matérias que às vezes o aluno não tem tanta
base, entendeu? E a educação é fundamental, né? A educação você vê que é a
formadora de tudo, né, então tem que ter um trabalho muito grande em torno
disso.” (mulher, professora, 35 anos).
“Então, eu gosto… Eu gostei das viagens que teve, mas eu também gostei de
quando a gente começou a estudar redação porque era aquele processo de
criar, né? Escrevia uma história e eu sempre gostei muito de escrever.”
(estudante, 17 anos).
A estudante surpreende ao responder que uma boa memória da escola seria as aulas de
redação e abre espaço para que valorizemos ainda mais o ensino de língua portuguesa. Além
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das viagens escolares, dos passeios e de todas as atividades que ocorreram dentro da escola
durante a vida acadêmica dessa estudante, a criação de um texto como escolha daquilo mais
marcante em sua trajetória, desperta uma reflexão sobre qual seria a melhor maneira de fazer
com que outros alunos sintam o mesmo. Claro, considerando o gosto individual dessa aluna
pela escrita e suas possibilidades como algo não comum entre todos os estudantes, uma vez
que, geralmente, escrever pode ser visto como tedioso, complicado e até desnecessário. Qual é
o nosso papel para mudar essa concepção?
“[...] Sim. E mais assim, na verdade quando eu fiz Letras eu não pretendia a
princípio seguir a área de educação, não. Mas quando eu entrei, eu fui atraída por
isso. [...] Sim, aí eu acabei sendo chamada para trabalhar na área de educação,
gostei de trabalhar com as pessoas, né? A vivência com a educação, o poder que
você tem de ajudar o aluno a pensar no futuro dele.” (mulher, professora, 35 anos).
Não obstante, respostas como “não sei” e “talvez futuramente” foram dadas durante a
entrevista e são as respostas que cercam o futuro dos estudantes quando perguntados sobre um
possível interesse na classe dos trabalhadores da educação. Porém, em sintonia com a fala da
maioria dos alunos entrevistados, é interessante observar o posicionamento da professora
sendo o mesmo antes da oportunidade para lecionar. Então, o que e como nós, futuros
profissionais da educação, mobilizaremos um movimento contrário à negativa da nossa
ocupação? Nos questionemos: já negamos nossa futura profissão? Caso sim, a negativa tem a
ver com a visão em massa equivocada da sociedade sobre a licenciatura?
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“Então, eu acho que é um material bom, né, se comparado em alguns lugares. E, eu
acho que ajuda muito, né? Porque se você não tiver um conhecimento da literatura,
da linguagem, acho que… Sei lá, te ajuda a você conseguir cargos melhores.”
(estudante, 17 anos)
Todo cidadão tem um conjunto de direitos e deveres que os rege. O direito ao voto,
por exemplo, é garantido para todos. A cidadania, então, tem a função de garantir a
permanência desse conjunto de leis para a formação de uma sociedade justa.
A educação, portanto, é essencial para que a cidadania continue nos eixos. A formação
de pessoas responsáveis, solidárias, humildes, conhecedoras de seus direitos e deveres é de
suma importância para a construção de um país democrático e livre.
Dentro das escolas, a aprendizagem e o exercício da cidadania não precisam ir muito
além de uma aula de língua portuguesa. Para Steven Ten Brinke, cada aluno terá um nível de
conhecimento único e diferente de qualquer outro colega de classe. Na aula de português,
esses aprendizados serão expandidos. A linguagem dos alunos e seus conhecimentos culturais
e sociais serão desenvolvidos a fim de favorecer sua comunicação oral e escrita, reconhecidas
como parte do processo de desenvolvimento social.
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O tema da aula, com base no documento de competência três da BNCC para
linguagem e suas tecnologias, objetiva tratar sobre os direitos humanos e as injustiças
presentes no Brasil. Desse modo, pretende-se instigar os alunos a refletirem sobre seus
direitos e como esses direitos têm sido violados. Por que vivemos em uma sociedade que não
se preocupa com a fome, falta de moradia, baixo poder aquisitivo, saúde precária e tantos
outros temas primordiais para a sobrevivência íntegra? Por que banalizamos questões
cotidianas problemáticas que influenciam negativamente a vida da sociedade? Pretendemos,
então, mobilizar a competência da BNCC, com textos que para além de remeterem os alunos
às mazelas, também fortalecem o pensamento crítico desses estudantes.
TEXTO 1
TEXTO 2
Eu sei, mas não devia
A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as
janelas ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz.
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E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
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A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
À contaminação da água do mar.
À lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos
cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
TEXTO 3
Rap do Silva
(MC Bob Rum)
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Ele era funkeiro, mas era pai de família
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MC BOB RUM. Rap do Silva. Rio de Janeiro: 1996. Disponível em:
https://www.vagalume.com.br/bob-rum/rap-do-silva.html. Acesso em 10 jan. 2023.
Dentro das salas de aula, a charge de Quino pode ser usada como uma forma de criar
uma consciência social coletiva. Uma forma de introduzir seria, em uma sala de informática
ou como dever de casa, pedir aos alunos que pesquisem mais sobre o Quirino, sobre a
Mafalda e sobre as questões sociais e políticas que são destacadas em seus textos. É
importante compreender o autor e entender sua obra antes de que se possa, de fato, interpretar
a mensagem que ele está tentando passar para seus leitores. Caso se sintam interessados, é
afável que também procurem textos complementares que visam abordar de forma clara e
compreensiva temas que são comumente expostos pela Mafalda
Após fazerem suas pesquisas e lerem algumas tirinhas de Quino e/ou textos
complementares, está na hora de se reunir. Em duplas, trios ou grupos, a tirinha do Texto 1
será distribuída para toda a sala e cada grupo deve escrever suas interpretações acerca da
charge. Em seguida, quando cada grupo tiver terminado de reunir suas análises, a turma deve
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se reunir em círculo e cada grupo deve debater sobre suas opiniões, críticas e esclarecimento
de suas observações.
O educador irá acompanhar a turma o tempo todo, debatendo, estimulando o seu senso
de criticidade junto com os alunos e expondo os seus conhecimentos acerca dos direitos
humanos, da desigualdade, violência, discriminação, negligência e tanto outros males que
adoecem o mundo diariamente. A consciência deve ser construída de modo expositório, de
maneira didática, mantendo sempre um diálogo entre alunos e professor.
Já na segunda proposta de letramento podemos trabalhar o texto “Eu sei, mas não
devia” da autora Marina Colasanti que foi publicado em 1972 e circula até os dias atuais.
Podemos dizer que há textos, músicas e poemas em nosso mundo que são atemporais,
independente da época em que foram lançados, sempre estarão em constante processo de
ensinamento, nunca deixam de perder o seu valor apesar do tempo passado.
É possível trabalhar este texto em sala de aula com todas as turmas do ensino básico,
desde o Fundamental I até o Ensino Médio. Este texto é um texto muito especial e com uma
mensagem muito forte. Pode ser feita uma grande roda na sala de aula e pedir para cada aluno
fazer a sua leitura individualmente, após alguns minutinhos eles podem combinar entre si qual
trecho do texto mais fez sentido para cada um, conversar sobre ele e depois, junto com a
turma ler em voz alta. Após esse momento de leitura individual, diálogo em grupo com os
colegas e escolha do trecho, pode ser feita a leitura integral na sala de aula para todos, cada
um lendo o seu trecho escolhido e ao final dizer para os colegas e para o professor o porquê
escolheu aquele trecho. Assim, é uma forma do professor trabalhar o conteúdo do texto de
forma didática, clara e ainda ter a oportunidade de conhecer um pouquinho mais seus alunos.
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Por fim, para finalizar a reflexão sobre a competência três da BNCC, propomos a
utilização da música lançada em 1996 pelo carioca MC Bob Rum. A letra da canção narra a
história de um “Silva”: jovem homem da periferia que morre no caminho de um baile funk.
Nessa ótica, a música tornou-se um hino brasileiro que marca para além da atemporalidade, a
ilustração da realidade de tantos outros jovens periféricos que são dizimados por motivo
algum no caminho do baile, trabalho, escola e qualquer outro trajeto.
7. REFLEXÕES
Durante todo o meu período como estudante da disciplina de Saberes Escolares da
Língua Portuguesa, tive muito a aprender e entender sobre o que é e como é ser um educador
em formação dentro do sistema educacional brasileiro. Por diversas vezes, foi dito nesse
documento que a atuação de um professor não é bem vista. Não é comum vermos alunos do
ensino fundamental e ensino médio almejando essa profissão, idealizando uma carreira dentro
da educação.
O meu maior desafio ao entrar na faculdade de Letras foi pensar em como eu poderia
ser uma profissional que trabalhasse junto com os alunos, e não em uma hierarquia, onde eu
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teria o poder de fala dentro de uma sala de aula. Ainda estou no início do curso, a formação é
longa, mas com essa disciplina eu consegui me integrar mais aos assuntos que envolvem não
só a minha formação, mas a integração dos futuros alunos aos quais darei aula como uma
forma de constante aprendizado. É sobre passar os meus conhecimentos e, ainda assim, estar
continuamente recebendo ensinamentos por meio do convívio. Uma sala de aula deve ser um
lugar acolhedor, onde todos têm o direito de se expressar, questionar, afirmar e aprender.
Eu pouco me integrava com textos que se relacionassem a esses assuntos, nunca tive
base e muito menos sabia onde correr atrás, mas os textos complementares foram de suma
importância para o desenvolvimento das aulas e dos meus estudos fora da Universidade
Federal de Juiz de Fora. A nossa evolução dentro da sala de aula não teria sido a mesma sem
os materiais dispostos pelo professor no início do semestre.
Por fim, espero ansiosamente por uma oportunidade em que eu possa colocar em
prática tudo aquilo que aprendi e assimilei no decorrer do curso. Entendo agora o quão difícil
é o trabalho de um educador, mas todos os desafios são válidos quando se tem em mente o
apoio e suporte que você está dando para a formação de outra pessoa que tem a chance de se
tornar um profissional competente e bem sucedido.
8. ANEXOS
8.1. ENTREVISTAS
Entrevistas completas feitas com os alunos e professora em uma escola particular em
Três Rios, no Rio de Janeiro.
8.1.1. ENTREVISTA 1
Entrevistadora: Ana Luisa da Silva Santos
Entrevistado: Alfredo Xavier Henrique Costa - 17 anos
Ana Luisa: Tudo bem? Então Alfredo, queria saber de você se você tem hábito de leitura.
Alfredo: Tenho.
Ana Luisa: Você gosta?
Alfredo: Uhum, gosto.
Ana Luisa: E, se você tá lendo algum livro no momento, qual o tipo de leitura que te desperta
interesse? Se é fantasia…
Alfredo: É fantasia, e no momento eu tô lendo “É assim que começa”.
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Ana Luisa: “É Assim que Começa”? Já li, é muito bom! Então você gosta de ler, é um hábito
seu?
Alfredo: Aham.
Ana Luisa: Beleza. Você já teve alguma leitura que foi pedida na escola?
Alfredo: Já.
Ana Luisa: Qual livro foi? Foi mais de uma?
Alfredo: Não, eu li um que era “De Mãos Atadas”, eu acho. Se eu não me engano.
Ana Luisa: Foi pedido dentro da escola para você?
Alfredo: Dentro da escola.
Ana Luisa: Entendi. O que você achou dessa experiência? Achou que foi uma leitura fácil,
você entendeu fácil ou não?
Alfredo: Foi o primeiro livro que eu li, na verdade.
Ana Luisa: Entendi.
Alfredo: Aí foi por ele que eu comecei a ler os outros.
Ana Luisa: Ah, entendi, dentro da escola. Você lembra em qual ano, mais ou menos?
Alfredo: Foi no nono (ano).
Ana Luisa: No nono ano. Legal. Tá. Qual é a sua melhor memória da atividade dentro da
escola? Uma feira, um passeio, uma aula dentro da sala de aula ou fora da sala de aula…
Alfredo: Ah, foi… Deixa eu pensar. Eu acho que foi a… As feiras que tem no colégio.
Ana Luisa: As feiras?
Alfredo: Sim. De linguagens.
Ana Luisa: De nações, de linguagens, saraus? Já tiveram sarau?
Alfredo: Sim.
Ana Luisa: Beleza. Você pretende fazer faculdade?
Alfredo: Sim.
Ana Luisa: Qual curso?
Alfredo: Letras.
Ana Luisa: Muito bom, letras! Quando que te despertou esse interesse na letras?
Alfredo: Ah, porque assim, eu sempre fui… Sempre gostei de ler, né, 2019 comecei a ler.
Ana Luisa: Uhum.
Alfredo: Aí… E eu gosto muito de protuguês também. Eu sou.. bom, um pouco, assim, em
português.
Ana Luisa: Entendi. Gramática…
Alfredo: Sim, gramática. Eu… É, no geral, gramática.
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Ana Luisa: Uhum.
Alfredo: Aí… A Lidiane falando comigo, né, a professora, começou a falar comigo e eu
comecei a gostar de protuguês, gostar, e eu falei “ah, vou fazer letras!”
Ana Luisa: Entendi. Então foi a sua vivência na escola que te inspirou a área de educação ou
foi algum outro motivo?
Alfredo: Não, foi a vivência na escola.
Ana Luisa: Isso aqui para você, você idealiza, você acha interessante?
Alfredo: Aham.
Ana Luisa: Beleza, vamos lá. O que você acha – apesar de você querer fazer Letras, então a
sua opinião vai ser um pouco particular – o que você acha das aulas de língua portuguesa?
Para você, dentro da escola, você gosta?
Alfredo: Acho muito bom.
Ana Luisa: Você acredita que elas te ajudam a desenvolver o seu senso crítico de alguma
forma? Talvez nas aulas de redação?
Alfredo: Sim.
Ana Luisa: Você tá no terceiro ano, não é? Então tá acostumado a escrever redação para o
ENEM.
Alfredo: E ajuda a interpretar também outras situações, né? Que você consegue ter outro olhar
para as coisas.
Ana Luisa: Exatamente. Entendi, Alfredo, muito obrigada!
8.1.2. ENTREVISTA 2
Entrevistadora: Ana Luisa da Silva Santos
Entrevistado: Ane Rayssa Diniz Brasilino - 17 anos
Ana Luisa: Então vamos lá, Ane. Você tem hábito de leitura?
Ane: Tenho.
Ana Luisa: Mas você gosta de ler, você lê porque é necessário…?
Ane: Eu gosto de ler porque assim, dependendo do livro que eu leio, ele me transporta da
minha realidade. Principalmente os romances que a gente fica assim “caraca!”.
Ana Luisa: Então você gosta muito de romance?
Ane: Sim.
Ana Luisa: Você tá lendo um agora?
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Ane: Tem um que era para eu estar lendo, mas como tá período de prova eu dei uma parada. É
“Uma Noite na Itália”.
Ana Luisa: Hm, legal!
Ane: Eu vou ler ele ainda.
Ana Luisa: Aí você vai lendo ele? Mas tá bom, é a sua leitura do momento, “Uma Noite na
Itália”. Beleza. E teve alguma leitura que foi pedida para você fazer na escola? Pra alguma
atividade?
Ane: Já, que foi o da coleção série Vaga-Lume, que geralmente eles usam nas escolas mesmo
porque são temas mais infanto-juvenil.
Ana Luisa: Ah, entendi.
Ane: Eu li foi “O Supertênis”, também teve… “De Mãos Atadas” também.
Ana Luisa: Entendi. Você teve várias leituras.
Ane: É, eu gostei de ler eles porque eles têm uma leitura assim, sabe? Uma linguagem mais
jovial e você entende, é mais fácil de entender. Eu acho que, assim, a gente entende mais,
principalmente quando é adolescente, né.
Ana Luisa: Ah, entendi! Então você já adiantou a minha próxima pergunta que eu ia te
perguntar o que você tinha achado desses livros, se foi uma leitura fácil ou uma leitura difícil.
Então você considerou uma leitura fácil, deu para entender numa boa?
Ane: Fácil, aham.
Ana Luisa: Tudo bem. E assim, qual é a sua melhor memória dentro da escola de atividade?
Uma feira, um passeio, uma aula dentro da sala de aula ou fora da sala de aula…
Ane: Então, eu gosto… Eu gostei das viagens que teve, mas eu também gostei de quando a
gente começou a estudar redação porque era aquele processo de criar, né? Escrevia uma
história e eu sempre gostei muito de escrever.
Ana Luisa: Entendi. E foi a partir de qual ano da escola, você lembra?
Ane: Acho que a partir do sexto ano que a gente tinha.
Ana Luisa: Do sexto ano que vocês começaram a trabalhar com criação de texto, gêneros
literários e tudo mais?
Ane: Uhum.
Ana Luisa: Beleza. Você pretende fazer faculdade?
Ane: Sim.
Ana Luisa: Qual curso que você quer?
Ane: Publicidade.
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Ana Luisa: Publicidade, legal! Você acha que a sua vivência na escola em algum momento vai
te fazer voltar para a área da educação? Porque publicidade a gente sabe que não… Talvez
não mexeria tanto, a não ser que você faria uma publicidade dentro de uma escola, mas você
acha que em algum momento você teria essa vontade pela sua vivência dentro da escola
durante esses anos?
Ane: Acho que sim porque… Pelos (inaudível), né? Que a gente tem um conhecimento, a
gente aprende, então eu acho que na publicidade a gente tem que ter esse contato.
Ana Luisa: Entendi. Mas aí não te despertaria uma vontade de ser professora ou diretora,
orientadora?
Ane: Não sei. Talvez futuramente.
Ana Luisa: Talvez futuramente, mas até então…
Ane: Até então não.
Ana Luisa: Não? Beleza. E o que você acha das aulas de língua portuguesa? Elas funcionam
bem para você?
Ane: Eu acho que sim, né. É o essencial.
Ana Luisa: Entendi. Você acredita que elas ajudam no seu desenvolvimento, te ajudam a
pensar de alguma forma diferente? Quando você tem contato com os textos na aula, você acha
que isso te faz refletir durante a construção da redação? Como que é para você, assim, o
material que trabalham com você em sala de aula?
Ane: Então, eu acho que é um material bom, né, se comparado em alguns lugares. E, eu acho
que ajuda muito, né? Porque se você não tiver um conhecimento da literatura, da linguagem,
acho que… Sei lá, te ajuda a você conseguir cargos melhores.
Ana Luisa: É, com certeza, né? Então tá bom, Ane, muito obrigada!
8.1.3. ENTREVISTA 3
Entrevistadora: Ana Luisa da Silva Santos
Entrevistado: Gabriel Antonio Bastos Pinto - 17 anos
8.1.4. ENTREVISTA 4
Entrevistadora: Ana Luisa da Silva Santos
Entrevistado: Letícia Lourdes Carvalho Araújo de Moraes - 17 anos
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Letícia: Ajuda, porque se eu ler um texto de apoio antes eu consigo argumentar melhor na
redação. Tem texto, assim, que é bem curtinho, não fala quase nada, e eu fico meio com
dificuldade para saber, mas tem uns textos (inaudível).
Ana Luisa: Então tem alguns letramentos que são um pouco mais enxugados e eles te trazem
uma dificuldade?
Letícia: Sim.
Ana Luisa: Tá bom, Letícia. Muito obrigada!
Ana Luisa: Tá bom, Lidi. Por que você escolheu atuar na área de educação?
Lidiane: Ah, a educação, ela é atrativa, né, no sentido de que trabalhar com a linguagem na
educação é muito bom.
Ana Luisa: Uhum.
Lidiane: Você tem, é… Falta de base, muitas vezes, você percebe que os alunos não tem tanta
base, mas é a nossa língua, né, no caso a língua portuguesa que eu trabalho. Então é muito
mais fácil você trabalhar a língua portuguesa, eu acho, do que a matemática ou outras
matérias que às vezes o aluno não tem tanta base, entendeu?
Ana Luisa: Entendi.
Lidiane: E a educação é fundamental, né? A educação você vê que é a formadora de tudo, né,
então tem que ter um trabalho muito grande em torno disso.
Ana Luisa: Então foi o que te atraiu a… Entendi.
Lidiane: Sim. E mais assim, na verdade quando eu fiz letras eu não pretendia a princípio
seguir a área de educação, não. Mas quando eu entrei, eu fui atraída por isso.
Ana Luisa: Entendi, foi durante o processo.
Lidiane: Sim, aí eu acabei sendo chamada para trabalhar na área de educação, gostei de
trabalhar com as pessoas, né? A vivência com a educação, o poder que você tem de ajudar o
aluno a pensar no futuro dele.
Ana Luisa: Entendi.
Lidiane: A incentivar a trabalhar ali a linguagem para ele conseguir alcançar o que ele quer.
Ana Luisa: Entendi. Beleza, e como você seleciona os letramentos que você usa nas aulas?
Lidiane: Normalmente?
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Ana Luisa: Aham. Provas…?
Lidiane: Então, a minha seleção também vai muito pelo meu gosto. Assim, eu gosto de
trabalhar música, poemas em geral, crônicas… Então, assim, eu tento variar o currículo
mínimo que se exige, né, para cada série, e escolho ali os que eu mais gosto para trabalhar
com eles. Gosto muito de crônicas reflexivas, né, para incentivar.
Ana Luisa: Entendi. Incentivar o pensamento crítico também, né, do aluno.
Lidiane: Com certeza, tem muita coisa boa.
Ana Luisa: Você acredita que as atividades extra sala de aulas, né, que não são feitas dentro da
sala de aula, são importantes para o desenvolvimento dos alunos? Você acha que talvez até
um pouco mais importante do que… Uma coisa não vai anular a outra, mas você acha que é
um bom complemento, ou você acredita que a sala de aula já dá conta de tudo?
Lidiane: Não, são essenciais, né? Porque assim, na escola sempre tem atividades viáveis, o
professor tá ali, tem o colega, mas em casa ele se encontra mais autônomo, né? Fora, em casa,
ou fora de casa mesmo, o que ele for fazer da escola eu acho que ele começa a se perceber
como um construtor da aprendizagem dele muito mais fora do que quando ele é guiado, né?
Ana Luisa: Quando ele tem alguém guiando, né?
Lidiane: Quando ele tem alguém guiando, isso.
Ana Luisa: Entendi.
Lidiane: Mesmo a gente orientando, né, é ali que ele vai pensar e desenvolver.
Ana Luisa: Entendi, e você acredita também que propostas que nem sarau… Esses tipos de
trabalho, você acha que eles vão combinar bastante para o desenvolvimento do aluno ou tem
como dar uma aula só com o que tem no livro didático?
Lidiane: Não, não. O sarau, assim, ele é muito rico porque ele começa a ver também a beleza
de tudo que ele estuda, né? Porque eu vejo assim, tem muito aluno que estuda por obrigação,
né, ele pega um poema e ele lê por obrigação. Um poema é pra ler, pra interpretar, responder.
Agora, quando ele declama o poema, quando ele leva isso para um sarau, né, de uma forma
mais lúdica, mais… Interagindo ali com os outros colegas, aí ele começa a ver beleza naquilo.
A maioria deles vai conseguir ver essa beleza.
Ana Luisa: É, essa era a minha próxima pergunta, você acha que eles engajam bem com esse
tipo de atividade? Talvez mais do que dentro de sala de aula… Como que funciona, assim,
com os seus alunos, com as turmas que você teve até hoje?
Lidiane: Aqui na escola, né, eles engajam muito. São muito, assim, é.. Responsáveis,
desenvolvem muito isso sem precisar ficar cobrando.
Ana Luisa: Entendi.
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Lidiane: Diferentemente de uma atividade da escola, eu acho que isso traz uma riqueza muito
grande em todos os sentidos pra eles, né?
Ana Luisa: Entendi, e eles conseguem, assim, pegar os textos e fazer uma boa leitura
daquilo… Texto que eu digo é qualquer letramento que eles tiverem, assim, música, alguma
coisa do tipo, e desenvolver bem em cima daquilo? Ou você sente que tem uma… Alguém
trava por algum motivo, ou você acha que boa parte tem um aproveitamento bom?
Lidiane: Eu acho que boa parte tem um bom aproveitamento, eles conseguem entender bem,
né. E quem tem mais dificuldade acaba sendo envolvido ali pelos que…
Ana Luisa: Pelo que tá acontecendo, né, no geral.
Lidiane: É, justamente.
Ana Luisa: É uma forma também de eles aprenderem mais sobre.
Lidiane: Muito, e verem coisas que estão bem além da época deles, né? Que aconteceu antes.
Ana Luisa: Entendi.
Lidiane: Música… A cultura toda, né?
Ana Luisa: Que também tem tudo a ver com a linguagem, né?
Lidiane: Tudo a ver com a linguagem.
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
9.1. MEMORIAL
PAZ, Walmaro. No Brasil, 44% da população não lê e 30% nunca comprou um livro, diz
Rafael Guimaraens: No Dia Mundial do Livro, o escritor comenta o desafio de escrever e
editar em um país que não lê. Brasil de Fato, Porto Alegre, 24 abr. 2022. Disponível em:
https://www.brasildefato.com.br/2022/04/24/no-brasil-44-da-populacao-nao-le-e-30-nunca-co
mprou-um-livro-diz-rafael-guimaraens. Acesso em: 7 dez. 2022.
9.2. RESENHAS
GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. Paraná: Assoeste, 1984.
GERALDI, João Wanderley. Portos de Passagem. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
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ideologias linguísticas e a construção de uma pedagogia translíngue. Linguagem em
(Dis)curso – LemD, Tubarão, SC, v. 18, n. 3, p. 695-713, set/dez. 2018.
FREIRE, Paulo. A Pedagogia do Oprimido. 1º edição. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra LTDA,
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FRANON, Frantz. Pele Negra, Máscaras Brancas. 1º edição. ed. São Paulo: Ubu, 2020. 320 p.
9.3. ENSAIO
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ensino de filosofia. Educar em Revista [online]. 2020, v. 36 [Acessado 10 Janeiro 2023],
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OLIVEIRA, Maria Bernadete. Política Linguística, Cidadania e Ensino de Língua Portuguesa.
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