Análise Dworkin I
Análise Dworkin I
Análise Dworkin I
O QUE É O DIREITO?
Uma análise a partir de Hart e Dworkin
1
Erika Juliana Dmitruk1
RESUMO:
INTRODUÇÃO
1
Docente no Curso de Direito no Centro Universitário Filadélfia – UniFil.
Mestre em Teoria e Filosofia do Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina.
E-mail: [email protected]
2
CARRIÓ, Genaro. Notas sobre Derecho y lenguage. 4.ed. Buenos Aires: Abeledo-Perrot, 1990,
p.321-328.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 11 72
3Ibidem, p.324-325.
4Ibidem, p.325.
5Ibidem, p.326.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 1 73
6
WARAT, L. A. A pureza do poder: uma análise crítica da teoria jurídica. Florianópolis: UFSC,
1983, p.33.
7
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. (Trad. João Baptista Machado). São Paulo: Martins
Fontes, 2000. “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em
geral, não de uma ordem jurídica especial.” (p.1). ... “ela se propõe a garantir um conhecimento apenas
dirigido ao Direito e excluir deste conhecimento tudo quanto não pertença ao seu objeto.” ( p.1).
8
Ver: Ideologia, Estado e Direito, de Antonio Carlos Wolkmer.
9
HART, H.L.A. O conceito de Direito. Com um pós-escrito editado por Penelope A Bulloch e Joseph
Raz. (Trad. de A. Ribeiro Mendes). 3.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p.233-234.
10
Norberto Bobbio em sua obra Teoria do Ordenamento Jurídico descrevendo as características de
um ordenamento jurídico trata de analisá-lo sob essas três características: unidade, coerência e
completude, desenvolvendo e descrevendo técnicas para solucionar casos onde esses predicados não
são perfeitamente alcançados. BOBBIO, Norberto. Teoria do ordenamento jurídico. 7.ed. Brasília:
UNB, 1996.
11
Ibidem, p.326.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 11 74
12
HART, H. L .A.; DWORKIN, R. La decisión judicial. Studio preliminar de César Rodrigues.
Universidad de Los Andes, 1997, p.15.
13
HART, H.L.A. O conceito de Direito. (Com um pós-escrito editado por Penelope A. Bulloch e
Joseph Raz). (Trad. de A. Ribeiro Mendes). 3.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p.8-18.
14
Ibidem, p.332-337.
15
DWORKIN, Ronald. Los derechos en serio. Madrid: Ariel Derecho. (Cap. 2).
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 1 75
1. 1. A IMPORTÂNCIA DO PROBLEMA
16
HART, H. L. A. O conceito de Direito. ( Com um pós-escrito editado por Penelope A. Bulloch e
Joseph Raz). (Trad. de A. Ribeiro Mendes). 3.ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
17
Ibidem, p.19.
18
Ibidem, p.20.
19
Ibidem, p.21.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 11 76
1. 2. O CONCEITO DE OBRIGAÇÕES
20
Ibidem, p.92.
21
Ibidem, p.94-95.
22
Ibidem, p.98.
23
Ibidem, p.101-103.
24
Ibidem, p.103.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 1 77
1. 4. A REGRA DE RECONHECIMENTO
25
Ibidem, p.104.
26
Ibidem, p.105.
27
Ibidem, p.106.
28
Ibidem, p.112.
29
Ibidem, p.113.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 11 78
critérios necessários para conferir a validade de todas as outras regras. Por isso
não existe nenhuma outra regra que confira validade à regra de reconhecimento.
Pode-se até afirmar que quando se passa da afirmação de que uma lei concreta é
válida para a afirmação de que a regra de reconhecimento do sistema é excelente
e o sistema nela baseado merece ser apoiado, passamos de uma afirmação de
validade jurídica para uma afirmação de valor.30 “A regra de reconhecimento
apenas existe como uma prática complexa, mas normalmente concordante, dos
tribunais, dos funcionários e dos particulares, ao identificarem o Direito, por refe-
rência a certos critérios. Sua existência é uma questão de fato.” 31
Mesmo com razões distintas dos critérios contidos na regra de reconheci-
mento, o cidadão comum obedece ao Direito em muitos casos levando em conta
as conseqüências do não cumprimento das normas, tais como as sanções dele
advindas. Todavia, o simples fato das normas serem obedecidas pela maioria da
população constitui prova de que um sistema jurídico existe, e de que a regra de
reconhecimento vige.32
A partir dessas considerações Hart estabelece duas condições mínimas ne-
cessárias e suficientes para a existência de um sistema jurídico:
“Por um lado, as regras de comportamento que são válidas
segundo os critérios últimos de validade do sistema devem ser
geralmente obedecidas, e por outro lado, as suas regras de
reconhecimento especificando os critérios de validade jurídica
e as suas regras de alteração e de julgamento devem ser
efetivamente aceites como padrões públicos e comuns de
comportamento oficial pelos seus funcionários. A primeira
condição é a única que os cidadãos privados necessitam de
satisfazer: podem obedecer cada qual “ por sua conta apenas”
e sejam quais forem os motivos por que o façam. (...) A segunda
condição deve também ser satisfeita pelos funcionários do
sistema. Eles devem encarar estas regras como padrões comuns
de comportamento oficial e considerar criticamente como lapsos
os seus próprios desvios e os de cada um dos outros.” 33
30
Ibidem, p.118-119.
31
Ibidem, p.121.
32
Ibidem, p.126
33
Ibidem, p.128.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 1 79
Boa parte da teoria do Direito deste século tem-se caracterizado pela toma-
da de consciência progressiva das incertezas derivadas da linguagem. Mesmo as
normas gerais e supostamente claras, podem ser objeto de dúvida quando da sua
aplicação aos casos concretos. As diretrizes de interpretação, embora não possam
eliminar tais incertezas, podem diminuí-las. Não se pode perder de vista que tais
cânones interpretativos são eles próprios regras gerais sobre o uso da linguagem e
utilizam termos gerais que, eles próprios exigem interpretação. Nos casos simples,
a interpretação é feita de maneira não problemática.34
Existirão casos no Direito em que a textura aberta de sua linguagem poderá
ocasionar interpretações conflitantes, sem que nenhuma se sobreponha à outra.
Nesta zona poderá surgir uma questão para a qual não haja uma única resposta,
apenas respostas. 35 Nestes casos o juiz fará um julgamento discricionário da
matéria. Apesar disso significar que no Supremo Tribunal a decisão tomada pelos
juízes seja definitiva e dotada de autoridade, não se pode esquecer que mesmo os
juízes do Supremo Tribunal são partes de um sistema cujas regras são suficiente-
mente determinadas para fornecer padrões de decisão judicial correta.36
34
Ibidem, p.139.
35
Ibidem, p.165.
36
Ibidem, p.159.
37
Ibidem, p.201.
38
Ibidem, p.202.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 11 80
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 1 81
40
Ibidem, p.226.
41
Ibidem, p.227.
42
Ibidem, p.227.
43
DWORKIN, Ronald. O império do Direito. (Trad. de Jefferson Luiz ). São Paulo: Martins
Fontes, 1999, p.XI.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 11 82
44
Ibidem, p10.
45
Ibidem, p.13.
46
Ibidem, p.14.
47
Ibidem, p.15.
48
Ibidem, p.17.
Artigo
REVISTA JURÍDICA da UniFil, Ano I - nº 1 83
49
Ibidem, p.20.
50
Ibidem, p.25.
51
Ibidem, p.25-28.
Artigo
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52
Ibidem, p.479.
53
Ibidem, p.480/481.
54
Ibidem, p.481.
55
Ibidem, p.228.
Artigo
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pessoas divergem, como é inevitável que às vezes aconteça, sobre quais princípios
são, de fato, assumidos pelas regras explícitas e por outras normas de sua comuni-
dade. 56
Já o princípio judiciário de integridade instrui os juízes a identificar direitos e
deveres legais até onde for possível, a partir do pressuposto de que foram todos
criados por um único autor – a comunidade personificada – expressando uma
concepção coerente de justiça e equidade.57
O Direito, entendido como integridade, permite e promove formas de conflito
substanciais dentro da melhor interpretação do Direito, já que as noções de eqüi-
dade, justiça e devido processo legal, costumam entrar em conflito. Por justiça,
podemos entender o resultado correto do sistema político, por eqüidade, a estrutu-
ra correta para esse sistema e por devido processo, os procedimentos corretos
para aplicação das regras que o sistema produziu. 58
A integridade pode se dar em dois níveis. O princípio adjudicativo que gover-
na o Direito aplica a integridade inclusiva: isso exige que um juiz considere todas as
virtudes componentes. Ele constrói sua teoria geral do Direito contemporâneo a
fim de que reflita, tanto quanto possível, os princípios coerentes de eqüidade políti-
ca, justiça substantiva e devido processo legal adjetivo, e de que reflita todos esses
aspectos combinados na proporção adequada.59
Hércules, o juiz concebido por Dworkin para dar efetividade a esse método
interpretativo da legislação, deve revelar em suas avaliações a respeito de qual é o
Direito, a melhor interpretação dos princípios de eqüidade da sua comunidade, que
define seus próprios poderes contra os de outras instituições e autoridades, e seus
princípios de devido processo legal adjetivo, que se tornam pertinentes pelo fato de
os julgamentos do Direito serem predicados para a atribuição de culpa e responsa-
bilidade, baseadas em experiências anteriores.60
Conforme expõe Dworkin, o Direito contemporâneo e concreto, é determi-
nado pela integridade inclusiva. Esse é o Direito do juiz, o Direito que ele é obriga-
do a declarar e colocar em vigor. O Direito contemporâneo, entretanto, contém um
outro Direito que delimita suas ambições para si próprio; esse Direito mais puro é
definido pela integridade pura. Compõe-se de princípios de justiça que oferecem a
melhor justificativa do Direito contemporâneo, posto que não são vistos a partir da
56
Ibidem, p.229.
57
Ibidem, p.271.
58
Ibidem, p.482-483.
59
Ibidem, p.483.
60
Ibidem, p.484.
Artigo
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3. 1. Discricionaridade
61
Ibidem, p.485.
62
HART, H. L. A.; DWORKIN, R. La decisión judicial. Studio preliminar de César
Rodrigues.Universidad de Los Andes, 1997, p.34.
63
Ibidem, p.35.
64
Ibidem, p.37.
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Para Dworkin, no modelo proposto por Hart as regras sociais estão constitu-
ídas por uma conduta uniforme das pessoas que compõem o grupo social – aspec-
to externo -, unida à utilização destas regras como fonte de críticas e exigências –
aspecto interno. Todavia, estas características não são encontradas nas regras
morais, as quais são reivindicadas não importa a freqüência com que são observa-
das. Dworkin aponta para os erros da sustentação sociológica proposta por Hart
para a regra de reconhecimento. Com isso Dworkin procura demonstrar a neces-
sidade de ampliação do conceito de Direito, incluindo nele princípios justificativos
das práticas jurídicas. Com essa ampliação, a proposta de Dworkin é romper com
a separação conceitual entre Direito e Moral, defendida pelos positivistas.65
3. 4. As respostas de Hart
65
Ibidem, p.37-38.
66
Ibidem, p.38.
67
Ibidem, p.40.
Artigo
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4. Considerações finais
Como vimos no presente artigo, as teses defendidas por Hart e Dworkin procu-
raram responder, através de métodos diferenciados, à pergunta “O que é o Direito?”.
Hart, com o propósito de criar uma teoria geral do Direito, utilizou-se do
método descritivo. Descreveu quais os tipos de normas existentes nos Estados de
Direito Moderno, quais as formas de reconhecimento das normas jurídicas, suas
formas de alteração e imposição. Para isso não se valeu de nenhum ordenamento
jurídico concreto. Buscou construir uma teoria que oferecesse um relato explicativo
e clarificador do Direito como instituição social e política complexa.
Já Dworkin, para construir sua teoria geral do Direito, valeu-se do método
indutivo, partindo do estudo de casos da Suprema Corte dos Estados Unidos e da
Câmara dos Lordes, da Inglaterra. Reforçou seu entendimento do Direito como
atividade interpretativa, defendendo uma hermenêutica construtivista, na medida
em que as Constituições dos modernos Estados de Direito já incorporaram as
liberdades e direitos fundamentais; é a partir delas que os juízes devem julgar.
Com a sua teoria do Direito como integridade, Dworkin procura reconhecer
no Direito uma construção da razão e, com isso, os elementos para aplicar o mes-
mo de forma coerente já estão todos dados.
Ao final desse trabalho, entende-se que as divergências existentes entre Hart
e Dworkin são divergências pontuais. Não é possível limitá-las à utilização de
diferentes métodos utilizados pelos autores para a análise do Direito, tendo em
vista que derivam muito mais das teorias de fundo utilizadas por ambos.
É possível demonstrar simpatia pela construção de Dworkin, que busca uma
visão integral e coerente da prática jurídica, políticas públicas e direitos individuais.
Se tal reconstrução integral da prática jurídica, em concomitância com a prática
política, fosse possível, certamente a resposta encontrada de tal conjugação seria
a melhor, mas não a única correta. A defesa de uma única resposta correta deriva
de uma devoção ao conceito de segurança jurídica e verdade válida para todos,
que, pelo desenvolvimento das epistemologias, não é mais possível sustentar.
Em virtude disto, após as pesquisas do presente artigo, é possível encerrá-lo
citando Dworkin: “Quanto mais aprendemos sobre o Direito, mais nos con-
vencemos de que nada de importante sobre ele é incontestável.” 69
68
Ibidem. p,44.
69
DWORKIN, Ronald. O império do Direito. (Trad. De Jefferson Ruiz Camargo). São Paulo:
Martins Fontes, 1999, p.13.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Artigo