A W Pink - Os Atributos de Deus - 2003
A W Pink - Os Atributos de Deus - 2003
A W Pink - Os Atributos de Deus - 2003
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Ttulo Original: The Attributes of God Editora: Bible Truth Depot Traduo do Ingls: Odayr Olivetti
Primeira Edio em Portugus:1985 Reimpresso: 1990 Capa:
Ailton Oliveira Lopes Composio: Intertexto Linotipadora S/C Ltda. Impresso: Imprensa da F
NDICE
PREFCIO 1. A SOLIDO DE DEUS 2. OS DECRETOS DE DEUS 3. A ONISCINCIA DE DEUS 4. A PRESCINCIA DE DEUS 5. A SUPREMACIA DE DEUS 6. A SOBERANIA DE DEUS 7. A IMUTABILIDADE DE DEUS 8. A SANTIDADE DE DEUS 9. O PODER DE DEUS 10. A FIDELIDADE DE DEUS
11 . A BONDADE DE DEUS 1. A PACINCIA DE DEUS 2. A GRAA DE DEUS 3. A MISERICRDIA DE DEUS 4. O AMOR DE DEUS
PREFCIO
"Une-te pois a ele, e tem paz, e assim te sobrevir o bem (J 22:21). "Assim diz o Senhor: No se glorie o sbio na sua sabedoria, nem se glorie o forte na sua fora; no se glorie o rico nas suas riquezas. Mas o que se gloriar glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor..." (Jeremias 9:2324). Um conhecimento salvador e espiritual de Deus a maior de todas as necessidades de cada criatura humana. O fundamento de todo conhecimento verdadeiro de Deus s pode ser a clara compreenso mental de Suas perfeies, segundo revelam as Escrituras Sagradas. No nos possvel servir nem adorar a um Deus desconhecido, nem depositar nEle a nossa confiana. Neste breve livro fez-se um esforo para apresentar algumas das principais perfeies do carter, divino. Para que o leitor se beneficie realmente com a leitura das pginas que se seguem, ele precisa suplicar a Deus com seriedade e determinao que as abenoe para seu proveito, que aplique Sua verdade conscincia e ao corao, a fim de que a sua vida seja transformada. Necessitamos algo mais que um conhecimento terico de Deus. S conhecemos verdadeiramente a Deus em nossa alma, quando nos rendemos a Ele, quando nos submetemos Sua autoridade e quando os Seus preceitos e mandamentos regulam todos os pormenores da nossa vida. "Conheamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor..." (Osias 6:3), "Se algum quiser fazer a vontade dele... conhecer" (Joo 7:17). "... o povo que conhece ao seu Deus se esforar e far proezas" (Daniel 11:32). Os captulos que se seguem apareceram pela primeira vez na revista mensal "Studies in the Scriptures" (Estudos nas Escrituras), publicada pelo autor e totalmente dedicada exposio da Palavra de Deus e proviso de alimento espiritual para almas famintas. Estes artigos foram reeditados em sua presente forma graas generosidade de um amigo cristo que financiou o custo total de sua publicao. Se Deus o permitir, o produto da venda deste livro ser empregado na publicao de outros, de natureza similar. Seja sobre ele a bno de Deus.
ARTHUR W. PINK
1 A SOLIDO DE DEUS
O ttulo deste captulo talvez no seja suficientemente claro para indicar o seu tema. Isto se deve, em parte, ao fato de que hoje em dia bem poucas pessoas esto acostumadas a meditar nas perfeies pessoais de Deus. Dos que lem ocasionalmente a Bblia, bem poucos sabem da grandeza do carter divino, que inspira temor e concita adorao. Que Deus grande em sabedoria, maravilhoso em poder, no obstante, cheio de misericrdia, muitos acham que pertence ao conhecimento comum; contudo, chegar-se a um conhecimento adequado do Seu Ser, Sua natureza, Seus atributos, como esto revelados nas Escrituras Sagradas, coisa que pouqussimas pessoas tm alcanado nestestempos degenerados. Deus nico na excelncia do Seu Ser. " Senhor, quem como Tu entre os deuses? Quem como Tu glorificado em santidade, terrvelem louvores, operando maravilhas?" (xodo 15:11). "No princpio... Deus..." (Gnesis 1:1). Houve tempo, se que se lhe pode chamar "tempo", em que Deus, na unidade de Sua natureza, habitava s (embora subsistindo igualmente em trs pessoas divinas). "No princpio... Deus...". No existia o cu, onde agora se manifesta particularmente a Sua glria. No existia a terra, que Lhe ocupasse a ateno, No existiam os anjos, que Lhe entoassem louvores, nem o universo, para ser sustentado pela palavra do Seu poder. No havia nada, nem ningum, seno Deus; e isso, no durante um dia, um ano ou uma poca, mas "desde sempre". Durante uma eternidade passada, Deus esteve s: completo, suficiente, satisfeito em Si mesmo, de nada necessitando. Se um universo, ou anjos, ou seres humanos Lhe fossem necessrios de algum modo, teriam sido chamados existncia desde toda a eternidade. Ao serem criados, nada acrescentaram a Deus essencialmente. Ele no muda (Malaquias 3:6), pelo que, essencialmente, a Sua glria no pode ser aumentada nem diminuda. Deus no estava sob coao, nem obrigao, nem necessidade alguma de criar. Resolver faz-lo foi um ato puramente soberano de Sua parte, no produzido por nada alheio a Si prprio; no determinado por nada, seno o Seu prprio beneplcito, j que Ele "faz todas as coisas, segundo o conselho da sua
vontade" (Efsios 1:11). O fato de criar foi simplesmente para a manifestao da Sua glria. Ser que algum dos nossos leitores imagina que fomos alm do que nos autorizam as Escrituras? Ento, o nosso apelo ser para a Lei e o Testemunho: "... levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade; ora bendigam o nome da tua glria, que est levantado sobre toda a bno e louvor" (Neemias 9:5). Deus no ganha nada, nem sequer com a nossa adorao. Ele no precisava dessa glria externa de Sua graa, procedente de Seus redimidos, porquanto suficientemente glorioso em Si mesmo sem ela. Que foi que O moveu a predestinar Seus eleitos para o louvor da glria de Sua graa? Foi, como nos diz Efsios 1:5, ".... o beneplcito de sua vontade". Sabemos que o elevado terreno que estamos pisando novo e estranho para quase todos os nossos leitores; por esta razo faremos bem em andarmos devagar. Recorramos de novo s Escrituras. No final de Romanos captulo 11, onde o apstolo conclui sua longa argumentao sobre a salvao pela pura e soberana graa, pergunta ele: "Por que quem compreendeu o intento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado?" (vers. 34-35). A importncia disto que impossvel submeter o Todo-poderoso a quaisquer obrigaes para com a criatura; Deus nada ganha da nossa parte. "Se fores justo, que lhe dars, ou que receber da tua mo? A tua impiedade faria mal a outro tal como tu; e a tua justia aproveitaria a um filho do homem" (J 35:7-8), mas certamente no pode afetar a Deus, que bem-aventurado em Si mesmo. "...quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inteis, porque fizemos somente o que devamos fazer" (Lucas 17:10) nossa obedincia no d nenhum proveito a Deus.
De mais a mais, vamos alm: nosso Senhor Jesus Cristo no acrescentou nada a Deus em Seu Ser essencial e glria essencial do Seu Ser, nem pelo quefez, nem pelo que sofreu. certo, bendita e gloriosamente certo, que Ele nos manifestou a glria de Deus, porm nada acrescentou a Deus. Ele prprio o declara expressamente, e no h apelao quanto s Suas palavra.; "... no tenho outro bem alm de ti" (Salmo 16:2; na verso usada pelo autor, literalmente: "... a minha bondade no chega a Ti"). Em toda a sua extenso, este um Salmo sobre Cristo. A bondade e a justia de Cristo alcanou os Seus santos na terra (Salmo 16:3), mas Deus estava acima e alm disso tudo, pois unicamente Deus "o Bendito" (Marcos 14:61, no grego). absolutamente certo que Deus honrado e desonrado pelos homens;no em Seu Ser essencial, mas em Seu carter oficial. igualmente certo que Deus tem sido "glorificado" pela criao, pela providncia e pela redeno. No contestamos isso, e no ousamos faz-lo nem por um momento. Mas isso tudo tem que ver com a Sua glria declarativa e com o nosso reconhecimento dela. Todavia, se assim Lhe aprouvesse, Deus poderia ter continuado s, por toda a eternidade, sem dar a conhecer a Sua glria a qualquer criatura. Que o fizesse ou no, foi determinado unicamente por Sua prpria vontade. Ele era perfeitamente bem-aventurado em Si mesmo antes de ser chamada existncia a primeira criatura. E, que so para Ele todas as Suas criaturas, mesmo agora? Deixemos outra vez que as Escrituras dem a resposta: "Eis que as naes so consideradas por ele como a gola dum balde, e como o p mido das balanas: eis que lana por ai as ilhas como a uma coisa pequenssima. Nem todo o Lbano basta para o fogo, nem os seus animais bastam para holocaustos. Todas as naes so como nada perante ele; ele as considera menos do que nada e como uma coisa v. A quem pois fareis semelhante a Deus: ou com que o comparareis?" (Isaas 40:15-18). Esse o Deus das Escrituras; infelizmente Ele continua sendo o "Deus desconhecido" (Atos 17:23) para as multides desatentas. "Ele o que est assentado sobre o globo da terra, cujos moradores so para ele como gafanhotos; ele o que estende os cus como cortina, e os desenrola como tenda para neles habitar; o que faz voltar ao nada os prncipes e torna coisa v os juzes da terra" (Isaas 40.22-23). Quo imensamente diverso o Deus das Escrituras do "deus" do plpito comum! O testemunho do Novo Testamento no tem nenhuma diferena do que vemos no Velho Testamento; como poderia ser, uma vez que ambos tm o
mesmo Autor! Ali tambm lemos: "A qual a seu tempo mostrar o bemaventurado, o nico poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores; aquele que tem, ele s, a imortalidade, e habita na luz inacessvel; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver: ao qual seja honra e poder sempiterno. Amm" (1 Timteo 6:15-16). O Ser que a descrito deve ser reverenciado, cultuado, adorado. Ele solitrio em Sua majestade, nico em Sua excelncia, incomparvel em Suas perfeies. Ele tudo sustenta, mas Ele mesmo independente de tudo e de todos. Ele d bens a todos, mas no enriquecido por ningum.
Um Deus tal no pode ser encontrado mediante investigao; s pode ser conhecido como e quando revelado ao corao Esprito Santo, por meio da Palavra. verdade que a criao manifesta um Criador, e isso com tanta clareza, que os homens ficam "inescusveis" (Romanos 1:20); contudo, ainda temos que dizer com J: "Eis que isto so apenas as orlas dos seus caminhos; e quo pouco o que temos ouvido dele! Quem pois entenderia o trovo do seu poder?" (J 26:14). Cremos que o argumento baseado no desgnio, assim chamado, argumento apresentado por "apologetas" bem intencionados, tem causado mais dano que benefcio, pois tenta baixar o grande Deus ao nvel do entendimento finito e, com isso, perde de vista a Sua singular excelncia. Tem-se feito uma analogia com o selvagem que achou um relgio e que. depois de um detido exame, inferiu a existncia de um relojoeiro. At aqui, tudo bem. Tentemos ir mais longe, porm. Suponhamos que o selvagem procure formar uma concepo pessoal desse relojoeiro, de seus afetos pessoais, de suas maneira, de sua disposio, conhecimentos e carter moral de tudo aquilo que se junta para compor uma personalidade. Poderia ele chegar a imaginar ou pensar num homem real ___ o homem que fabricou o relgio de modo que pudesse dizer: "Eu o conheo"? Fazer perguntas como esta parece ftil, mas estar o eterno e infinito Deus tanto mais ao alcance da razo humana? Realmente, no. O Deus das Escrituras s pode ser conhecido por aqueles a quem Ele prprio Se d a conhecer. Tampouco o intelecto pode conhecer a Deus. "Deus esprito..." (Joo 4:24) e, portanto, s pode ser conhecido espiritualmente. Mas o homem decado no espiritual; carnal, Est morto para tudo que espiritual. A menos que nasa de novo, que seja trazido sobrenaturalmente da morte para a vida, miraculosamente transferido das trevas para a luz, no pode sequer ver as coisas de Deus (Joo 3:3), e muito menos entend-las (1 Corntios 2:14. E mister que o Esprito Santo brilhe em nossos coraes (no no intelecto) para dar-nos o "... conhecimento da glria de Deus, na face de Jesus Cristo" (2 Corntios 4:6). E at mesmo esse conhecimento espiritual apenas fragmentrio. A alma regenerada ter de crescer na graa e no conhecimento do Senhor Jesus (2 Pedro 3:18). A nossa principal orao e finalidade como cristos deve ser que possamos "... andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus" (Colossenses 1:10).
2 OS DECRETOS DE DEUS
O decreto de Deus Seu propsito ou determinao com respeito s coisas futuras. Usamos o singular, como o fazem as Escrituras (Romanos 8:28; Efsios 3:11), porque houve somente um ato de Sua mente infinita acerca das coisas futuras. Entretanto, ns falamos como se houvesse muitos, porque as nossas mentes s conseguem pensar em ciclos sucessivos, conforme surgem os pensamentos e as ocasies, ou com referncia a vrios objetos do Seu decreto, os quais, sendo muitos, parecem-nos requerer um propsito diferente para cada um deles. O entendimento infinito de Deus no avana passo a passo, ou de etapa a etapa. "Conhecidas por Deus so todas as Suas obras desde a eternidade" (Atos 15:18 verso autorizada KJ, 1611). As Escrituras fazem meno dos decretos de Deus em muitas passagens, empregando vrios termos. A palavra "decreto" acha-se no Salmo 2:7, etc. Em Efsios 3:11 lemos a respeito do Seu "eterno propsito". Em Atos 2:23, do "... determinado conselho e prescincia de Deus... ". Em Efsios 1:9, do "... mistrio da sua vontade... ". Em Romanos 8:29 lemos que Ele tambm "predestinou". Em Efsios 1:9, sobre "o seu beneplcito". Os decretos de Deus so denominados Seu "conselho" para significar que so consumadamente sbios. So chamados Sua "vontade" para mostrar que Ele no estava sob nenhum outro domnio, mas agiu de acordo com o Seu beneplcito. Quando a norma de conduta de uma pessoa a sua vontade, geralmente caprichosa e irrazovel. Mas nos procedimentos divinos a sabedoria est sempre associada com a "vontade" e, por conseguinte, os decretos de Deus so descritos como sendo "o conselho da sua vontade" (Efsios 1:11). Os decretos de Deus se relacionam com todas as coisas futuras, sem exceo: o que quer que seja feito no tempo, foi pr-ordenado antes de iniciarse o tempo. O propsito de Deus dizia respeito a todas as coisas, grandes e pequenas, boas e ms, conquanto, com referncia a estas, devemos ter o cuidado de afirmar que, se bem que Deus o Ordenador e Controlador do pecado, no o seu Autor do mesmo modo como o Autor do bem. O pecado no poderia proceder de um Deus santo por criao direta e positiva, mas
somente por permisso decretatria e ao negativa. O decreto de Deus to abrangente como o Seu governo, estendendo-se a todas as criaturas e a todos os eventos. Relaciona-se com a nossa vida e com a nossa morte, com o nosso estado no tempo, bem como na eternidade. Como Deus faz todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade, ficamos sabendo por Suas obras em que consiste (ou consistiu) o Seu conselho, assim como julgamos a planta de um arquiteto inspecionando o edifcio que foi construdo sob sua direo. Deus no decretou meramente criar o homem, coloc-lo na terra, e depois deix-lo entregue sua prpria direo descontrolada; antes, fixou todas as circunstncias do destino dos indivduos, e todas as particularidades que a histria da raa humana compreende, desde o seu incio at o seu fim. Ele no decretou simplesmente o estabelecimento de leis gerais para o governo do mundo, mas disps a aplicao dessas leis a todos os casos particulares. Os nossos dias esto contados, como contados esto os cabelos das nossas cabeas. Podemos entender a extenso dos decretos divinos pelas distribuies providenciais, mediante as quais eles so executados. Os cuidados de Deus alcanam as criaturas, mais insignificantes e os mais diminutos eventos, como a morte de um pardal e a queda de um fio de cabelo.
Consideremos agora algumas das propriedades dos decretos divinos. Em primeiro lugar, so eternos. Supor que sequer um deles foi ditado dentro do tempo, supor que ocorreu algum novo acontecimento, surgiu algum evento imprevisto ou alguma combinao imprevista de circunstncias, que induziu o Altssimo a idealizar uma nova resoluo. Isto favoreceria a idia de que o conhecimento de Deus limitado e que Ele vai ficando mais sbio conforme o tempo avana o que seria uma horrvel blasfmia. Ningum que creia que o entendimento divino, infinito, abrangendo o passado, o presente e o futuro, jamais admitir a errnea doutrina de decretos temporais. Deus no ignora os eventos futuros que sero executados por volies humanos; Ele os predisse em inmeros casos, e a profecia no nada menos do que a manifestao da Sua prescincia eterna. As Escrituras afirmam que os crentes foram escolhidos em Cristo antes da fundao do mundo (Efsios 1:4), sim, que foi ento que a graa lhes foi dada (2 Timteo 1:9). Em segundo lugar, os decretos de Deus so sbios? A sabedoria evidenciada na seleo dos melhores fins possveis e dos meios mais apropriados para cumpri-los. Pelo que conhecemos dos decretos de Deus, evidente que lhes pertence esta caracterstica. Eles se nos revelam por sua execuo, e toda evidncia de sabedoria nas obras de Deus prova da sabedoria do plano segundo o qual eles so realizados. Como declara o salmista, "O Senhor, quo variadas so as tuas obras! Todas as cousas fizeste com sabedoria..." (Salmo 104:24), Na verdade, s podemos observar uma pequenssima parte delas, mas devemos proceder aqui como fazemos noutros casos, e julgar o todo pela amostra, o desconhecido pelo conhecido. Aquele que percebe o funcionamento admiravelmente engenhoso das partes de uma mquina que teve oportunidade de examinar, ser naturalmente levado a crer que as outras partes so de igual modo admirveis. Da mesma maneira, devemos persuadir nossas mentes quanto s obras de Deus quando nos invadem dvidas, e repelir as objees acaso sugeridas por alguma coisa que no podemos conciliar com as nossas noes do que bom e sbio. Quando alcanarmos os limites do finito e contemplarmos os misteriosos domnios doinfinito, exclamemos: " profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da cincia de Deus..." (Romanos 11:33). Em terceiro lugar, so livres. "Quem guiou o Esprito do Senhor? E que conselheiro o ensinou? Com quem tomou conselho, para que lhe desse entendimento, e lhe mostrasse as veredas do juzo e lhe ensinasse sabedoria, e
lhe fizesse notrio o caminho da cincia?" (Isaas 40:13-14). Deus estava sozinho quando elaborou os Seus decretos, e as Suas determinaes no foram influenciadas por nenhuma causa externa. Ele era livre para decretar ou no, epara decretar uma coisa e no outra. preciso atribuir esta liberdade quele que supremo, independente e soberano em tudo que faz.
Em quarto lugar, so absolutos e incondicionais. Sua execuo no depende de qualquer condio que se pode ou no cumprir. Em cada caso em que Deus tenha decretado um fim, decretou tambm todos os meios para esse fim. Aquele que decretou a salvao dos Seus eleitos, tambm decretou produzir f neles, (2 Tessalonicenses 2:13). "...O meu conselho ser firme, e farei toda a minha vontade" (Isaas 46:10); mas no poderia ser assim, se o Seu conselho dependesse de uma condio que no pudesse ser cumprida. No entanto Deus "...faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade" (Efsios 1:11). Lado a lado com a imutabilidade e invencibilidade dos decretos de Deus, as Escrituras ensinam claramente que o homem uma criatura responsvel e que tem que responder por suas aes E se as nossas idias se formam com base na Palavra de Deus a defesa de um daqueles ensinos no levar negao do r outro (Reconhecemos sem reserva que h real dificuldade em definir onde um termina e o outro comea) Sempre acontece isto quando h uma conjuno do divino e do humano. A verdadeira-, orao ditada pelo Esprito e, no obstante, tambm o clamor do corao humano. As Escrituras so a Palavra de Deus inspirada mas foram escritas por homens que eram algo mais que mquinas nas mos do Esprito. Cristo Deus e homem. Ele e onisciente, mas crescia em sabedoria (Lucas 2:52). todo-poderoso porm "... foi crucificado por fraqueza..." (2 Corntios 13:4). o Prncipe da vida e, contudo, morreu. Mistrios profundos so estes, mas a f os recebe sem contestao. Tem-se assinalado muitas vezes no passado que toda objeo contra os decretos eternos de Deus aplica-se com igual intensidade contra a Sua eterna prescincia. "Se Deus decretou ou no todas as coisas que acontecem, aqueles que admitem a existncia de Deus reconhecem que Ele sabe de antemo todas as coisas. Pois bem evidente que se Ele conhece de antemo todas as coisas, Ele as aprova ou no as aprova, isto , ou quer que se realizem, ou no quer. Mas querer que se realizem decret-las (Jonathan Edwards). Finalmente, procure-se supor e depois contemplar o oposto. Negar os decretos divinos seria proclamar um mundo, e tudo que se relaciona com ele, regulado somente por acaso ou por destino cego. Ento, que paz, que segurana, que consolo haveria para os nossos pobres coraes e mentes? Que refgio haveria para onde fugir na hora da necessidade e da provao? Nada disso haveria. No haveria nada menos que as densas trevas e o abjeto horror do atesmo. Oh meu leitor, quo agradecidos devemos estar porque tudo est
determinado pela infinita sabedoria e bondade de Deus! Quanto louvor e gratido devemos a Ele por Seus decretos! Graas a estes "... sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que so chamados por seu decreto" (Romanos 8.28). Podemos muito bem exclamar: "...glria pois a ele eternamente. Amm" (Romanos 11:36).
3 A ONISCINCIA DE DEUS
Deus onisciente. Ele sabe todas as coisas todas as coisas possveis, todas as coisas reais, todos os eventos, conhece todas as criaturas, todo o passado, presente e futuro. Conhece perfeitamente todos os pormenores da vida de todos os seres que h no cu, na terra e no inferno. "... conhece o que est em trevas..." (Daniel 2:22). Nada escapa Sua ateno, nada pode ser escondido dEle, no h nada que Ele esquea! Bem podemos dizer com o salmista: "Tal cincia para mim maravilhosssima; to alta que no a posso atingir" (Salmo 139:6). Seu conhecimento perfeito. Ele jamais erra, nem muda, nem passa por alto coisa alguma. "E no h criatura alguma encoberta diante dele: antes todas as coisas esto nuas e patentes aos olhos daquele com quem temos de tratar" (Hebreus 4:13). Sim, tal o Deus a quem temos de prestar contas! "Tu conheces o meu assentar e o meu levantar: de longe entendes o meu pensamento. Cercas o meu andar, e o meu deitar; e conheces todos os meus caminhos. Sem que haja uma palavra na minha lngua, eis que, Senhor, tudo conheces" (Salmo 139:2-4), Que maravilhoso Ser o Deus das Escrituras! Cada um dos Seus gloriosos atributos deveria torn-lo honorvel nossa apreciao. A compreenso da Sua oniscincia deveria inclinai-nos diante dEle em adorao. Contudo, quo pouco meditamos nesta perfeio divina! Ser por que o s pensar nela nos enche de inquietao? Quo solene este fato: nada se pode esconder de Deus! :... quanto s cousas que vos sobem ao esprito, eu as conheo" (Ezequiel 11:5). Embora sendo Ele invisvel para ns, no o somos para Ele. Nem as trevas da noite, nem as mais espessas cortinas, nem o calabouo mais profundo podem ocultar .a o pecador dos olhos do Onisciente. As rvores do jardim no puderam ocultar os nossos primeiros pais. Nenhum olho humano viu Caim assassinar seu irmo, mas o seu Criador testemunhou o crime. Sara pde rir zombeteira, oculta em sua tenda, mas foi ouvida por Jeov. Ac roubou uma cunha de ouro e a escondeu cuidadosamente no solo, mas Deus a trouxe luz. Davi escondeu a sua iniqidade a duras penas, mas pouco depois o Deus que tudo v envioulhe um dos Seus servos para dizer-lhe: "Tu s o homem!" E tanto ao escritor como
ao leitor se diz: "... sabei que o vosso pecado vos h de achar" (Nmeros 32:23). Os homens despojariam a Deidade da Sua oniscincia, se pudessem prova de que "... a inclinao da carne inimizade contra Deus... " (Romanos 8:7). Os mpios odeiam esta perfeio divina com a mesma naturalidade com que so compelidos a reconhec-la. Gostariam que no houvesse nenhuma Testemunha dos seus pecados, nenhum Examinador dos seus coraes, nenhum Juiz dos seus feitos. Procuram banir tal Deus dos seus pensamentos: "E no dizem no seu corao que eu me lembro de toda a sua maldade..."
(Osias 7:2). Como solene o Salmo 90:8! Boa razo tem todo o que rejeita a Cristo para tremer diante destas palavras: "Diante de ti puseste as nossas iniqidades: os nossos pecados ocultos luz do teu rosto". Mas a oniscincia de Deus uma verdade cheia de consolao para o crente. Em tempos de aflio, ele diz com J: "Mas ele sabe o meu caminho..." (23:10). Pode ser profundamente misterioso para mim, inteiramente incompreensvel para os meus amigos, mas "Ele sabe"! Em tempos de fadiga e fraqueza, os crentes podem assegurar-se de que Deus " ... conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos p" (Salmo 103:14). Em tempos de dvida e vacilao, eles apelam para este atributo, dizendo: "Sonda-me, Deus, e conhece o meu corao: prova-me, e conhece os meus pensamentos. E v se ha em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno" (Salmo 139:2324). Em tempos de triste fracasso, quando os nossos coraes foram trados por nossos atos; quando os nossos feitos repudiaram a nossa devoo, e nos feita a penetrante pergunta, "Amas-me?", dizemos, como o fez Pedro: "... Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo..." (Joo 21:17). A temos estmulo para orar. No h motivo para temer que as peties do justo no sero ouvidas, ou que os seus suspiros e lgrimas no sero notados por Deus, visto que Ele conhece os pensamentos e as intenes do corao. No h perigo de que um santo seja passado por alto no meio da multido de suplicantes que todo dia e toda hora apresentam as suas variadas peties, pois a Mente infinita capaz de prestar a mesma ateno a multides como se apenas um indivduo estivesse procurando obter a Sua ateno. Assim tambm a falta de linguagem apropriada, a incapacidade de dar expresso ao anseio mais profundo da nossa alma, no comprometer as nossas oraes, pois, "... ser que antes que clamem, eu responderei: estando eles ainda falando, eu os ouvirei" (Isaas 65:24). "Grande o nosso Senhor, e de grande poder; o seu entendimento infinito" (Salmo 147:5). Deus no somente sabe tudo que aconteceu no passado em todos os rinces dos Seus vastos domnios, e no apenas conhece por completo tudo o que agora est ocorrendo no universo inteiro, mas tambm perfeito conhecedor de todos os acontecimentos, do menor ao maior deles, que havero de suceder nas eras vindouras. O conhecimento que Deus tem do futuro to completo como o Seu conhecimento do passado e do presente, e isso porque o futuro depende totalmente dEle prprio. Se fosse possvel ocorrer alguma coisa sem a ao direta de Deus ou sem a Sua permisso, ento aquilo
seria independente dEle, e Ele deixaria, de pronto, de ser Supremo. Ora, o conhecimento divino do futuro no mera abstrao, mas algo inteiramente ligado ao Seu propsito, o qual o acompanha. Deus mesmo planejou tudo que h de ser, e o que Ele planejou ter que ser efetuado. Como a Sua Palavra infalvel afirma, "... segundo a sua vontade ele opera com o exrcito do cu e os moradores da terra: no h quem possa estorvar a sua mo e lhe diga: Que fazes?" (Daniel 4:35). E de novo: "Muitos propsitos h no corao do homem, mas o conselho do Senhor permanecer" (Provrbios 19:21). Como a sabedoria e o poder de Deus so igualmente infinitos, tudo que Deus projetou est absolutamente garantido. (Que os conselhos divinos deixem de cumprir-se, to impossvel como seria para Deus, trs vezes santo, mentir. Quanto realizao dos conselhos de Deus relativos ao futuro, nada incerto. Nenhum dos Seus decretos deixado na dependncia das criaturas, nem das causas secundrias. No h evento futuro que seja apenas uma possibilidade, isto , coisa que pode ou no vir a acontecer. "Conhecidas por Deus so todas as suas obras desde a eternidade" (Atos 15:18). O que quer que Deus tenha decretado inexoravelmente certo, pois nEle "... no h mudana nem sombra de variao" (Tiago 1:17). Portanto, "logo no incio do livro que nos desvenda tantas coisas do futuro, so nos ditas "... as coisas que brevemente devem acontecer..." (Apocalipse 1:1).
O perfeito conhecimento de Deus exemplificado e ilustrado em todas as profecias registradas em Sua Palavra. No Velho Testamento acham-se vintenas de predies concernentes histria de Israel, as quais se cumpriram at o mnimo pormenor, sculos depois de terem sido feitas. H tambm vintenas doutras mais, predizendo a carreira de Cristo na terra, e tambm se cumpriram literal e perfeitamente. Tais profecias s poderiam ter sido dadas por Algum que conhecesse o fim desde o princpio, e cujo conhecimento repousasse na incondicional certeza da realizao de tudo quanto fosse predito..De modo semelhante, o Velho e o Novo Testamento contm muitos outros anncios ainda futuros, e estes tambm "tem que cumprir-se" (Lucas 24:44, na verso usada pelo autor), tem que cumprir-se porque preditos por Aquele que os decretou. Contudo, deve-se assinalar que, nem o conhecimento de Deus, nem a Sua cognio do futuro, considerados simplesmente em si mesmos, so causativos. Nada jamais aconteceu, nem acontecer, apenas porque Deus o sabia. A causa de todas as coisas a vontade de Deus. O homem que realmente cr nas Escrituras sabe de antemo que as estaes do ano continuaro a seguir-se sucessivamente com infalvel regularidade at o fim da histria da terra (Gnesis 8:22); todavia, no o seu conhecimento a causa da referida sucesso de eventos. Assim, o conhecimento de Deus no nasce das coisas porque elas existem ou existiro, mas porque Ele ordenou que existissem. Deus sabia da crucificao do Seu Filho e a predisse muitas centenas de anos antes que Ele Se encarnasse, e isto, porque, segundo o propsito divino, Ele era um Cordeiro morto desde a fundao do mundo. Portanto, lemos que Ele "... foi entregue pelo determinado conselho e prescincia de Deus..." (Atos 2:23). Uma ou duas palavras, guisa de aplicao. O conhecimento infinito de Deus deveria encher-nos de assombro. Quo exaltado o Senhor, acima do mais sbio dos homens! Nenhum de ns sabe o que o dia nos trar, mas todo o futuro est aberto ao Seu olhar onisciente. O conhecimento infinito de Deus deveria encher-nos de santa reverncia. Nada do que fazemos, dizemos ou mesmo pensamos, escapa percepo dAquele a quem teremos que prestar contas: "Os olhos do Senhor esto em todo o lugar, contemplando os maus e os bons" (Provrbios 15:3). Que freio seria para ns, se meditssemos nisso mais freqentemente! Em vez de agir descuidadamente, diramos com Hagar: "Tu, Deus, me vs" (Gnesis 16:13) segundo a verso utilizada pelo autor, A capacidade de compreenso que o conhecimento infinito de Deus tem deveria encher o cristo de adorao. Minha vida A inteira esteve aberta ante os Seus
olhos desde o princpio! Ele previu todas as minhas quedas, todos os meus pecados, todas as minhas reincidncias; todavia, fixou em mim o Seu corao. Como a percepo disto deveria fazer-me prostrar em admirao e adorao diante dEle!
4 A PRESCINCIA DE DEUS
Que controvrsias tm sido engendradas por este assunto no passado! Mas que verdade das Escrituras Sagradas existe que no se tenha tornado em ocasio para batalhas teolgicas e eclesisticas? A deidade de Cristo, Seu nascimento virginal, Sua morte expiatria, Seu segundo advento; a justificao do crente, sua santificao, sua segurana; a Igreja, sua organizao, oficiais e disciplina; o batismo, a ceia do Senhor, e uma poro doutras preciosas verdades que poderiam ser mencionadas. Contudo, as controvrsias sustentadas no fecharam a boca dos fiis servos de Deus; ento, por que deveramos evitar a disputada questo da prescincia de Deus porque, com efeito, h alguns que nos acusaro de fomentar contendas? Que outros se envolvam em contendas, se quiserem; nosso dever dar testemunho segundo a luz a ns concedida. H duas coisas referentes prescincia de Deus que muitos ignoram: o significado do termo e o seu escopo bblico. Visto que esta ignorncia to amplamente generalizada, fcil aos prega dores e mestres impingir perverses deste assunto, at mesmo ao povo de Deus. S h uma salvaguarda contra o erro: estar firme na f. Para isso, preciso fazer devoto e diligente estudo, e receber com singeleza a Palavra de Deus infundida. S ento ficamos fortalecidos contra as investidas dos que nos atacam. Hoje em dia existem os que fazem mau uso desta verdade, com o fim de desacreditar e negar a absoluta soberania de Deus na salvao dos pecadores. Assim como os seguidores da alta crtica repudiam a divina inspirao das Escrituras e os evolucionistas a obra de Deus na criao, alguns mestres pseudo-bblicos andam pervertendo a prescincia de Deus com o fim de pr de lado a Sua incondicional eleio para a vida eterna. Quando se expe o solene e bendito tema da pr-ordenao divina, e o da eterna escolha feita por Deus de algumas pessoas para serem amoldadas imagem do Seu Filho, o diabo envia algum para argumentar que a eleio se baseia na prescincia de Deus, e esta "prescincia" interpretada no sentido de que Deus previu que alguns seriam mais dceis que outros, que responderiam mais prontamente aos esforos do Esprito e que, visto que Deus sabia que eles
creriam, por conseguinte, predestinou-os para a salvao. Mas tal declarao radicalmente errnea. Repudia a verdade da depravao total, pois defende que h algo bom em alguns homens. Tira a independncia de Deus, pois faz com que seus decretos se apiem naquilo que Ele descobre na criatura. Vira completamente ao avesso as coisas, porquanto ao dizer que Deus previu que certos pecadores creriam em Cristo e, por isso, predestinou-os para a salvao, o inverso da verdade. As Escrituras afirmam que Deus, em Sua soberania, escolheu alguns para serem recipientes de Seus distinguidos favores (Atos 13:48) e portanto, determinou conferir-lhes o dom da f. A falsa teologia faz do conhecimento prvio que Deus tem da nossa f a causa da eleio para a salvao, ao passo que a eleio de Deus a causa, e a nossa f em Cristo, o efeito.
Antes de continuar discorrendo sobre este tema, to errneamente interpretado, faamos uma pausa para definir os nossos termos. Que se quer dizer por "prescincia"? "Conhecer de antemo, a pronta resposta de muitos. Mas no devemos tirar concluses precipitadas, nem tampouco apelar para o dicionrio do vernculo como o supremo tribunal de recursos, pois no se trata de uma questo de etimologia do termo empregado. O que preciso descobrir como a palavra empregada nas Escrituras. O emprego que o Esprito Santo faz de uma expresso sempre define. " seu significado e escopo. Deixar de aplicar esta regra simples tem causado muita confuso e erro. Muitssimas pessoas presumem que j sabem o sentido de certa palavra empregada nas Escrituras, pelo que negligenciam provar as suas pressuposies por meio de uma concordncia. Ampliemos este ponto. Tomemos a palavra carne. Seu significado parece to bvio, que muitos achariam perda de tempo examinar as suas vrias significaes nas Escrituras. Depressa se presume que a palavra sinnima de corpo fsico e, assim, no se faz pesquisa nenhuma. Mas, de fato, nas Escrituras "carne" muitas vezes inclui muito mais que a idia de corpo. Tudo que o termo abrange, s pode ser verificado por uma diligente comparao de cada passagem em que ocorre e pelo estudo de cada contexto, separadamente. Tomemos a palavra mundo. O leitor comum da Bblia imagina que esta palavra equivale a "raa humana" e, conseqentemente, muitas passagens que contm o termo so interpretadas erroneamente. Tomemos a palavraimortalidade. Certamente esta no requer estudo! bvio que se refere indestrutibilidade da alma. Ah, meu leitor, uma tolice e um erro fazer qualquer suposio, quando se trata da Palavra de Deus. Se o leitor se der ao trabalho de examinar cuidadosamente cada passagem em que se acham mortal e imortal, ver que estas palavras nunca so aplicadas alma, porm sempre ao corpo. Pois bem, o que acabamos de dizer sobre "carne", "mundo", e "imortalidade", aplicasse com igual fora aos termos "conhecer" e "prconhecer". Em vez de imaginar que estas palavras no significam mais que simples cognio, preciso ver que as diferentes passagens em que elas ocorrem exigem ponderado e cuidadoso exame. A palavra "prescincia" (prconhecimento) no se acha no Velho Testamento. Mas "conhecer" (ou "saber") ocorre ali muitas vezes. Quando esse termo empregado com referncia a Deus, com freqncia significa considerar com favor, denotando no mera
cognio, mas sim afeio pelo objeto em vista. "... te conheo por nome" (xodo 33:17). "Rebeldes fostes contra o Senhor desde o dia em que vos conheci" (Deuteronmio 9:24). "Antes que te formasse no ventre te conheci..." (Jeremias 1:5). "... constituram prncipes, mas eu no o soube..." (Osias 8:4). "De todas as famlias da terra a vs somente conheci..." (Ams 3:2). Nestas passagens, "conheci" significa amei ou designei. Assim tambm a palavra "conhecer" empregada muitas vezes no Novo Testamento no mesmo sentido do Velho Testamento. "E ento lhes direi abertamente: Nunca vos conheci..." (Mateus 7:23). "Eu sou o bom Pastor, e conheo as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido" (Joo 10:14). "Mas, se algum ama a Deus, esse conhecido dele" (1 Corntios 8:3). "... o Senhor conhece os que so seus..." (2 Timteo 2:19).
Pois bem, a palavra "prescincia", como empregada no Novo Testamento, menos ambgua que a sua forma simples, "conhecer". Se cada passagem em que ela ocorre for estudada cuidadosamente, ver-se- que discutvel se alguma vez se refere apenas percepo de eventos que ainda esto por acontecer. O fato que "prescincia" nunca empregada nas Escrituras em relao a eventos ou aes; em lugar disso, sempre se refere a pessoas. Pessoas que Deus declara que "de antemo conheceu" (prconheceu), no as aes dessas pessoas. Para provar isto, citaremos agora cada uma das passagens em que se acha esta expresso ou sua equivalente. A primeira Atos 2:23. Lemos ali: "A este que vos foi entregue pelo determinado conselho e prescincia de Deus, tomando-o vs, o crucificastes e matastes pelas mos de injustos". Se se der cuidadosa ateno terminologia deste versculo, ver-se- que o apstolo no estava falando do conhecimento ..antecipado que Deus tinha do ato da crucificao, mas sim da Pessoa crucificada: "A este (Cristo) que vos foi entregue", etc. A segunda Romanos 8:29-30. "Porque os que dantes conheceu tambm os predestinou para serem conformes imagem de seu Filho; a fim de que ele seja o primognito entre muitos irmos. E aos que predestinou a estes tambm chamou", etc. Considere-se bem o pronome aqui empregado. No se refere a algo, mas a pessoas, que ele conheceu de antemo. O que se tem em vista no a submisso da vontade, nem a f .do corao, mas as pessoas mesmas. "Deus no rejeitou o seu povo, que antes conheceu..." (Romanos 11:2). Uma vez mais a clara referncia a pessoas, e somente a pessoas. A ltima citao de 1 Pedro 1:2: "Eleitos segundo a prescincia de Deus Pai..." Quem so "eleitos segundo a prescincia de Deus Pai"? O versculo anterior n-lo diz: a referncia aos "estrangeiros dispersos", isto , a Dispora, a Disperso, os judeus crentes. Portanto, aqui tambm a referncia a pessoas, e no aos seus atos previstos. Ora, em vista destas passagens (e no h outras mais), que base bblica h para algum dizer que Deus "pr-conheceu os atos de certas pessoas, a saber, o seu "arrependimento e f e que devido a esses atos Ele as elegeu para a salvao? A resposta : absolutamente nenhuma. As Escrituras nunca falam de arrependimento e f como tendo sido previsto ou pr-conhecido por Deus. Na verdade, Ele sabia desde toda a eternidade que certas pessoas se arrependeriam e creriam; entretanto, no a isto que as Escrituras se referem como objeto da "prescincia de Deus. Esta palavra se refere uniformemente
ao pr-conhecimento de pessoas; portanto, conservemos "...o modelo das ss palavras.. ." (2 Timteo 1:13). Outra coisa para a qual desejamos chamar particularmente a ateno que as duas primeiras passagens acima citadas mostram com clareza e ensinam implicitamente que a "prescincia de Deus no causativa, pelo contrrio, alguma outra realidade est por trs dela e a precede, e essa realidade o Seu decreto soberano Cristo "... foi entregue pelo (1) determinado conselho e (2) prescincia de Deus" (Atos 2:23). Seu "conselho" ou decreto foi a base da Sua prescincia. Assim tambm em Romanos 8-29. Esse versculo comea com a palavra "porque", conjuno que nos leva a examinar o que o precede Imediatamente. E o que diz o versculo anterior? "... todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles... que so chamados por seu decreto". Assim que a "prescincia" de Deus baseia-se em seu decreto (ver Salmo 2:7).
Deus conhece de antemo o que ser porque Ele decretou o que h de ser. Portanto, afirmar que Deus elege pessoas porque as pr-conhece inverter a ordem das Escrituras, pr o carro na frente dos bois. A verdade esta: Ele as pr-conhece porque as elegeu. Isto retira da criatura a base ou causa da eleio, e a coloca na soberana vontade de Deus. Deus Se props eleger certas pessoas, no por haver nelas ou por proceder delas alguma coisa boa, quer concretizada quer prevista, mas unicamente por Seu beneplcito. Quanto ao por que Ele escolheu os que escolheu, no sabemos, e s podemos dizer: Sim, Pai, porque assim te aprouve (Mateus 11:26). A verdade patente em Romanos 8:29 que Deus, antes da fundao do mundo, elegeu certos pecadores e os destinou para a salvao (2 Tessalonicenses 2:13). Isto se v com clareza nas palavras finais do versculo: ... os predestinou para serem conformes imagem de seu Filho, etc. Deus no predestinou aqueles que dantes conheceu sabendo que eram conformes, mas. Ao contrrio, aqueles que Ele dantes conheceu (isto , que Ele amou e elegeu), predestinou para serem conformes. Sua conformidade a Cristo no a causa, mas o efeito da prescincia e predestinao divina. Deus no elegeu nenhum pecador porque previu que creria, pela razo simples, mas suficiente, de que nenhum pecador jamais cr enquanto Deus no lhe d f; exatamente como nenhum homem pode ver antes que Deus lhe d a vista. A vista dom de Deus, e ver a conseqncia do uso do Seu dom. Assim tambm a f dom de Deus (Efsios 2:8-9), e crer a conseqncia do uso deste Seu dom. Se fosse verdade que Deus elegeu alguns para serem salvos porque no devido tempo eles creriam, isso tornaria o ato de crer num ato meritrio e, nesse caso, o pecador salvo teria motivo para gloriar-se, o que as Escrituras negam enfaticamente: Efsios 2:9. Certamente a Palavra de Deus bastante clara ao ensinar que crer no um ato meritrio. Afirma ela que os cristos vieram a crer pela graa (Atos 18:27). Se, pois, eles vieram a crer pela graa, absolutamente no h nada de meritrio em crer, e, se no h nada de meritrio nisso, no poderia ser o motivo ou causa que levou Deus a escolh-los. No; a escolha feita por Deus no procede de coisa nenhuma existente em ns, ou que de ns provenha, mas unicamente da Sua soberana boa vontade. Mais uma vez, em Romanos 11:5 lemos sobre ... um resto, segundo a eleio. Eis a, suficientemente claro; a eleio mesma da graa, e da graa favor imerecido, coisa a que no tnhamos direito nenhum diante de Deus.
V-se, pois, como importante para ns, termos idias claras e bblicas sobre a prescincia de Deus. Os conceitos errneos sobre ela, inevitavelmente levam a idias que desonram em extremo a Deus. A noo popular da prescincia divina inteiramente inadequada. Deus no somente conheceu o fim desde o princpio, mas planejou, fixou, predestinou tudo desde o princpio. E, como a causa est ligada ao efeito, assim o propsito de Deus o fundamento da Sua prescincia. Se, pois, o leitor um cristo verdadeiro, porque Deus o escolheu em Cristo antes da fundao do mundo (Efsios 1:4), e o fez no porque previu que voc creria, mas simplesmente porque Lhe agradou faz-lo; voc foi escolhido apesar da tua incredulidade natural. Sendo assim, toda a glria e louvor pertence a Deus somente. Voc no tem base nenhuma para arrogar-se crdito algum. Voc creu pela graa (Atos 18:27), e isso porque a tua prpria eleio foi da graa (Romanos 11:5)
5 A SUPREMACIA DE DEUS
Numa de suas cartas a Erasmo, disse Lutero: "As tuas idias sobre Deus so demasiado humanas". Provavelmente o renomado erudito se ofendeu com aquela censura, ainda mais que vinha do filho de um mineiro; no obstante, foi mais que merecida. Ns tambm, embora no ocupando nenhuma posio entre os lderes religiosos desta era degenerada, proferimos a mesma acusao contra a maioria dos pregadores dos nossos dias, e contra aqueles que, em vez de examinarem pessoalmente as Escrituras, preguiosamente aceitam o ensino de outros. Atualmente se sustentam, em quase toda parte, os mais desonrosos e degradantes conceitos do governo e do reino do Todo-poderoso. Para incontveis milhares, mesmo entre cristos professos, o Deus das Escrituras completamente desconhecido. Na antigidade, Deus queixou-se a um Israel apstata: "... pensavas que (eu) era como tu..." (Salmo 50:21). Semelhante a essa ter que ser a Sua acusao contra uma cristandade apstata. Os homens imaginam que o que move a Deus so os sentimentos, e no os princpios. Supe que a Sua onipotncia uma ociosa fico, a tal ponto que Satans desbarata os Seus desgnios por todos os lados. Acham que, se Ele formulou algum plano ou propsito, deve ser como o deles, constantemente sujeito a mudana. Declaram abertamente que, seja qual for o poder que Ele possui, ter que ser restringido, para que no invada a cidadela do "lvre-arbtrio" humano, e o reduza a uma "mquina. Rebaixam a toda eficaz expiao, a qual de fato redimiu a todos aqueles pelos quais foi feita, fazendo dela um mero "remdio" que as almas enfermas pelo pecado podem usar se se sentem dispostas a faz-lo; e enfraquecem a invencvel obra do Esprito Santos, reduzindo-a a um "oferecimento" do evangelho que os pecadores podem aceitar ou rejeitar a seu bel-prazer. O Deus deste sculo vinte no se assemelha mais ao Soberano Supremo das Escrituras Sagradas do que a bruxuleante e fosca chama de uma vela se assemelha glria do sol do meio-dia. O Deus de que se fala atualmente no plpito comum, comentado na escola dominical em geral, mencionado na maior
parte da literatura religiosa da atualidade e pregado em muitas das conferncias bblicas, assim chamadas, uma fico engendrada pelo homem, uma inveno do sentimentalismo piegas. Os idolatras do lado de fora da cristandade fazem "deuses" de madeira e de pedra, enquanto que os milhes de idolatras que existem dentro da cristandade fabricam um Deus extrado de suas mentes carnais. Na realidade, no passam de ateus, pois no existe alternativa possvel seno a de um Deus absolutamente supremo, ou nenhum deus. Um Deus cuja vontade impedida, cujos desgnios so frustrados, cujo propsito derrotado, nada tem que se lhe permita chamar Deidade, e, longe de ser digno objeto de culto, s merece desprezo.
A distncia infinita que separa do todo-poderoso Criador as mais poderosas criaturas um argumento em favor da supremacia do Deus vivo e verdadeiro. Ele o Oleiro, elas so em Suas mos apenas o barro que pode ser modelado para formar vasos de honra, ou pode ser esmiuado (Salmo 2:9), como Lhe apraz. Se todos os habitantes do cu e todos os moradores da terra se juntassem numa rebelio contra Ele, no Lhe causariam perturbao e isso teria ainda menor efeito sobre o Seu trono eterno e inexpugnvel do que o efeito da espuma das ondas do Mediterrneo sobre o alto rochedo de Gibraltar. To pueril e impotente . a criatura para afetar o Altssimo, que as prprias Escrituras nos dizem que quando os prncipes gentlicos se unirem com Israel apstata para desafiar a Jeov e Seu Ungido, "aquele que habita nos cus se rir; o Senhor zombar deles" (Salmo 2:4). Muitas passagens das Escrituras afirmam clara e positivamente a absoluta e universal supremacia de Deus. "Tua , Senhor, a magnificncia, e o poder, e a honra, e a vitria, e a majestade; porque teu tudo quanto h nos cus e na terra; teu Senhor, o reino, e tu te exaltaste sobre todos corno chefe ... e tu dominas sobre tudo..." (1 Crnicas 29:11-12). Observe-se, diz "dominas" agora, e no diz "dominars no milnio". "Ah! Senhor, Deus de nossos pais, porventura no s tu Deus nos cus? Pois tu s Dominador sobre todos os reinos das gentes, e na tua mo h fora e poder, e no h quem te possa resistir" (nem o prprio diabo) (2 Crnicas 20:6). Perante Ele, presidentes e papas, reis e imperadores, so menos que gafanhotos. "Mas, se ele est contra algum, quem ento o desviar? O que a sua alma quiser isso far" (J 23:13). Ah, meu leitor, o Deus das Escrituras no um falso monarca, nem um mero soberano imaginrio, mas Rei dos reis e Senhor dos senhores. "Sei que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido (J 42:2, ou, segundo outro tradutor, "nenhum dos teus propsitos pode ser frustrado". Tudo que designou fazer, Ele o faz. Realiza tudo quanto decretou. "Mas o nosso Deus est nos cus: faz tudo o que lhe apraz" (Salmo 115:3). Por que? Porque "no h sabedoria nem inteligncia, nem conselho contra o Senhor (Provrbios 21:30). As Escrituras retratam vividamente a supremacia de Deus sobre as obras de Suas mos. Toda matria inanimada e todas as criaturas irracionais executam as ordens do seu Criador. Por Sua vontade dividiu-se o Mar Vermelho e suas guas se levantaram e ficaram eretas como paredes (xodo 14); e a terra abriu suas fauces e os rebeldes carregados de culpa foram tragados vivos pelo abismo (Nmeros 14). Sua ordem o sol se deteve (Josu 10), e, noutra
ocasio, voltou atrs dez graus do relgio de Acaz (Isaas 38:8). Para exemplificar Sua supremacia, mandou corvos levarem alimento a Elias (1 Reis 17), fez o ferro flutuar (2 Reis 6:5), manteve mansos os lees quando Daniel foi lanado na cova dessas feras, fez que o fogo no queimasse os trs hebreus que foram arrojados s chamas da fornalha. Assim, "Tudo o que o Senhor quis, ele o fez nos cus e na terra, nos mares e em todos os abismos" (Salmo 135:6). O perfeito domnio de Deus sobre a vontade dos homens tambm demonstra a Sua supremacia, Pondere o leitor cuidadosamente sobre xodo 34:24, Exigia-se que todos os vares de Israel sassem de casa e fossem a Jerusalm, trs vezes por ano. Viviam entre gente hostil, que os odiava por se terem apropriado das suas terras. Ento, o que que impedia aos cananeus aproveitarem a oportunidade e, durante a ausncia dos homens, matarem as mulheres e as crianas e se apossarem de suas fazendas? Se a mo do Onipotente no estivesse at mesmo sobre a vontade dos mpios, como poderia Ele ter feito esta promessa, de que ningum sequer cobiaria suas terras? Ah, "Como ribeiros de guas, assim o corao do rei na mo do Senhor; a tudo quanto quer o inclina" (Provrbios 21:1). Mas, poder-se-ia objetar, no lemos uma e outra vez nas Escrituras sobre como os homens desafiavam a Deus, resistiam Sua vontade, transgrediam os Seus mandamentos, menosprezavam as Suas advertncias e faziam ouvidos moucos a todas as Suas exortaes? Certamente que sim; B isto anula tudo que dissemos acima? Se anula, ento evidente que a Bblia se contradiz, Mas isso no pode ser. A objeo se refere simplesmente iniqidade do homem em rebelio contra a Palavra de Deus, escrita ao passo que mencionamos acima o que Deus se props em Si mesmo. A regra de conduta que Ele nos d para seguirmos no cumprida perfeitamente por nenhum de ns; os Seus "conselhos" eternos so realizados nos mnimos detalhes.
O Novo Testamento afirma com igual clareza e firmeza a absoluta e universal supremacia de Deus. Ali se nos diz que Deus "... faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade" (Efsios 1:11). A palavra grega traduzida por "faz" significa "fazer eficazmente". Por esta razo, lemos: "Porque dele por ele, e para ele, so todas as coisas; glria pois a ele eternamente. Amm" (Romanos 11:56). Os homens podem jactar-se: de que so agentes livres, com vontade prpria, e de que tm liberdade de fazer o que querem, mas as Escrituras dizem aos que se jactam: ".... vs que dizeis: hoje, ou amanh, iremos a tal cidade, e l passaremos um ano, e contrataremos, e ganharemos... em lugar do que deveis dizer: Se o Senhor quiser (Tiago, 5:13-15), H aqui, pois, um lugar de repouso para o corao. A nossa vida no , nem produto do destino cego, nem resultado do acaso caprichoso, mas todas as suas minudncias foram prescritas desde toda a eternidade e agora so ordenadas por Deus que vive e reina. Nem um fio de cabelo de nossa cabea pode ser tocado, sem a Sua permisso. "O corao do homem considera o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos" (Provrbios 16:9). Que segurana, que poder, que consolo isso deveria dar ao cristo real! "Os meus tempos esto nas tuas mos..." (Salmo 31:15). Portanto digo a mim mesmo: "Descansa no Senhor, e espera nele..." (Salmo 37:7).
6 A SOBERANIA DE DEUS
Pode-se definir a soberania de Deus como o exerccio de Sua supremacia, estudada no captulo anterior. Sendo infinitamente elevado acima da mais elevada criatura, Ele o Altssimo, o Senhor dos cus e da terra. No sujeito a ningum, no influenciado por nada, absolutamente independente: Deus age como Lhe apraz, somente como Lhe apraz, sempre como Lhe apraz. Ningum consegue frustr-lo nem impedi-Lo. Assim, Sua Palavra declara expressamente: "... o meu conselho ser firme, e farei toda a minha vontade (Isaas 46:10). "... segundo a sua vontade ele opera com o exrcito do cu e os moradores da terra: no h quem possa estorvar a sua mo..." (Daniel 4:35). O sentido da soberania divina que Deus Deus de fato, bem como o de nome, que Ele ocupa o trono do universo dirigindo todas as coisas, fazendo todas as coisas "... segundo o conselho da sua vontade" (Efsios 1:11). Acertadamente disse o senhor Spurgeon em seu sermo sobre Mateus 20:15; "No h atributo mais consolador para os Seus filhos do que o da soberania de Deus, Sob as circunstncias mais adversas, em meio s mais duras provaes, eles crem que Deus na Sua soberania ordenou as suas aflies, que Ele as dirige soberanamente, e que na Sua soberania santificar todas elas? Para os filhos de Deus no deveria haver nada por que lutar mais zelosamente do que a doutrina de que o seu Senhor domina toda a criao do reinado de Deus sobre todas as obras de Suas mos do trono de Deus e Seu direito de ocupar esse trono. Por outro lado, no h doutrina mais odiada pelos mundanos, nenhuma verdade de que tenham feito joguete a tal ponto como a grandiosa, estupenda, porm certssima doutrina da soberania do infinito Jeov. Os homens se dispem a permitir que Deus esteja em toda parte, menos no Seu trono. Dispem-se a deix-lo em Sua oficina formando mundos e criando estrelas. Deixaro que esteja em Seu dispensrio a distribuir esmolas e a conceder benefcios. Permitiro que fique sustentando a terra e mantendo firmes as suas colunas, que acenda os luzeiros do cu e governe as irrequietas ondas do oceano; mas quando Deus sobe ao Seu trono. Suas criaturas rangem os dentes, e quando ns proclamamos um Deus entronizado, e Seu direito de fazer o que quiser com o que lhe pertence, como tambm de dispor de Suas
criaturas como Ele achar melhor, sem consult-las sobre a questo, ento os homens nos vaiam, nos amaldioam e se fazem de surdos para no nos ouvir, porquanto Deus no Seu trono no o Deus que eles amam. Mas Deus no Seutrono que muito nos agrada pregar. em Deus no Seu trono que confiamos". Tudo que o Senhor quis, ele o fez, nos cus e na terra, nos mares e em todos os abismos' (Salmo 135:6). Sim, dileto leitor, tal o imperial Potentado revelado nas Escrituras Sagradas. Sem rival em majestade, ilimitado em poder, imune de tudo quanto Lhe alheio. Mas estamos vivendo dias em que at mesmo os mais "ortodoxos" parecem ter medo de admitir em termos prprios a deidade de Deus. Dizem que acentuar a soberania de Deus exclui a responsabilidade humana quando, na verdade, a responsabilidade humana baseia-se na soberania divina e desta resultado.
"Mas o nosso Deus est nos cus: faz tudo o que lhe apraz" (Salmo 115:3). Ele escolheu soberanamente colocar cada uma de Suas criaturas na condio que pareceu bem aos seus olhos. Deus criou anjos: a alguns, colocou num estado condicional; a outros, deu uma posio imutvel diante dEle (I Timteo 5:21), estabelecendo Cristo como sua cabea (Colossenses 2:10). No passemos por alto o fato de que tanto os anjos que pecaram (2 Pedro 2:5) como os que no pecaram, eram Suas criaturas. Contudo, Deus previu que aqueles cairiam; no obstante, colocou-os num estado condicional, prprio das criaturas mutveis, e permitiu que cassem, embora no sendo o Autor do pecado deles. Assim tambm Deus colocou soberanamente Ado no jardim do den num estado condicional, Se Lhe aprouvesse, t-lo-ia colocado num estado incondicional; poderia t-lo colocado numa posio to firme como a dos anjos que no caram, posio to segura e imutvel como a dos santos em Cristo.Em vez disso, porm, preferiu coloc-lo no den sobre a base da responsabilidade como criatura, de modo que permanecesse ou casse conforme correspondesse ou no sua responsabilidade de obedincia ao seu Criador. Ado foi feito responsvel a Deus pela lei que o Criador lhe deu. Responsabilidade existia a no jardim, responsabilidade intacta, submetida prova sob as mais favorveis condies. Ora, Deus no colocou Ado num estado condicional e de criatura responsvel porque faz-lo era justo. No, era justo porque Deus o fez. Tampouco Deus deu existncia s criaturas porque era justo que o fizesse, isto , porque estava obrigado a criar; mas sim era justo porque Ele o fez. Deus soberano. Sua vontade suprema. Longe de estar sujeito a qualquer lei sobre "direito", Deus lei para Si prprio, de modo que tudo quanto Ele faz justo. E ai do rebelde que levante questo sobre a Sua soberania! "Ai daquele que contende com o seu Criador! O caco entre outros cacos de barro! Porventura dir o barro ao que o formou: Que fazes?... (Isaas 45:9). Ainda mais, o Senhor Deus colocou soberanamente Israel numa posio condicional. Os captulos 19, 20 e 24 de xodo do provas abundantes e claras disto. Israel estava sob um pacto de obras. Deus lhe deu certas leis e fez que as bnos para a nao dependessem da sua observncia dos estatutos divinos. Mas Israel era duro de cerviz e incircunciso de corao. Rebelou-se contra Jeov, abandonou Sua Lei, voltou-se para os falsos deuses, apostatou. Em conseqncia, o juzo divino caiu sobre Israel e este foi entregue s mos dos seus inimigos, foi disperso por toda a terra, e at hoje permanece sob a pesada
severidade do desfavor de Deus. Foi Deus que, no exerccio de Sua sublime soberania, colocou Satans e seus anjos, Ado e Israel em suas respectivas posies de responsabilidade. Entretanto, longe de acontecer que a Sua soberania retirasse das criaturas a sua responsabilidade, foi pelo exerccio da mesma que Ele as colocou em estado condicional j sob as responsabilidades que julgou apropriadas; em virtude de cuja soberania, v-se que Ele Deus sobre todos. Assim, h perfeita harmonia entre a soberania de Deus e a responsabilidade da criatura. Muitos tm dito tolamente que de todo impossvel mostrar onde termina a soberania divina e comea a responsabilidade da criatura. A responsabilidade da criatura comea aqui: na ordenao soberana do Criador. Quanto Sua soberania, no h e nunca haver nenhum "fim" para ela!
Vamos dar algumas provas de que a responsabilidade da criatura baseiase na soberania de Deus. Quantas coisas esto registradas nas Escrituras e que eram justas porque Deus as ordenou, e no seriam justas se Ele no as tivesse ordenado! Que direito tinha Ado de "comer" das rvores do jardim? Sem a permisso do seu Criador (Gnesis 2:16), Ado teria sido um ladro! Que direitoIsrael tinha de pedir prata, ouro e vestes aos egpcios (xodo 12:35)? Nenhum,se Jeov no o tivesse autorizado (xodo 3:22). Que direito possua Israel de matar tantos cordeiros para sacrifcio? Nenhum, a no ser pelo fato de que Deus ordenou isso. Que direito Israel tinha de eliminar todos os cananeus? Nenhum, salvo porque Jeov mandou. Que direito tem o marido de exigir submisso da esposa? Nenhum, se Deus no o tivesse estipulado. E poderamos prosseguir nisso mais e mais. A responsabilidade humana est baseada na soberania divina. Mais um exemplo do exerccio da absoluta soberania de Deus. Deus colocou os Seus eleitos num estado diferente do de Ado ou Israel. Colocou-os num estado incondicional. No pacto eterno Cristo foi designado a Cabea deles, levou sobre Si as suas responsabilidades e cumpriu por eles uma justia perfeita, irrevogvel e eterna. Cristo foi colocado num estado condicional, pois Ele estava "debaixo da lei, para ganhar os que estavam debaixo da lei", s que com esta diferena infinita: os outros falharam: Ele no falhou e no podia falhar. E quem foi que colocou Cristo naquele estado condicional? O Trino Deus. A vontade soberana O designou, o amor soberano O enviou, e a autoridade soberana determinou a Sua obra. Certas condies foram postas diante do Mediador. Ele teria que ser feito em semelhana da carne do pecado; teria que engrandecer, e dignificar a lei; teria que levar em Seu corpo no madeiro todos os pecados do povo de Deus; teria que fazer plena expiao por eles; teria que suportar o derramamento da ira de Deus; e teria que morrer e ser sepultado. Pelo cumprimento dessas condies, era-Lhe oferecida uma recompensa: Isaas 53:10-12. Ele haveria de ser o Primognito entre muitos irmos; haveria de ter um povo que participaria de Sua glria. Bendito seja o Seu nome para sempre, pois Ele cumpriu essas condies e, uma vez que as cumpriu, o Pai est comprometido, com juramento solene, a preservar sempre e abenoar por toda a eternidade cada um daqueles pelos quais o Seu Filho encarnado fez mediao. Desde que Ele tomou o lugar deles agora eles participam do dEle. Sua justia deles, Sua posio diante de Deus deles. Sua vida deles. No lhes resta sequer uma condio para
cumprir, nem uma s responsabilidade da qual desincumbir-se para alcanarem a bem-aventurana eterna. ... com uma s oblao aperfeioou para sempre os que so santificados" (Hebreus 10:14). Eis a, pois, a soberania de Deus exposta abertamente diante de todos nas diferentes formas pelas quais Ele se relaciona com as Suas criaturas. Alguns dos anjos, Ado e Israel foram colocados numa posio condicional, na qual a continuidade da bno dependia da sua obedincia e fidelidade a Deus. Porm, em marcante contraste com eles, o "pequeno rebanho" (Lucas 12:32) recebeu uma posio incondicional e imutvel no pacto de Deus. nos Seus conselhos e em Seu Filho; a bno dele depende do que Cristo fez por ele, "... o fundamento de Deus fica firme, tendo este selo: o Senhor conhece os que so seus..." (2 Timteo 2:19), O fundamento sobre o qual esto os eleitos de Deus perfeito; nada se lhe pode acrescentar, e nada se lhe pode tirar (Eclesiastes 3:14). Eis aqui, pois, a maior e mais elevada demonstrao da absoluta soberania de Deus. Verdadeiramente, Ele "... compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer" (Romanos 9:18).
7 A IMUTABILDADE DE DEUS
Esta uma das perfeies divinas no suficientemente examinadas. uma das excelncias do Criador que O distinguem de todas as Suas criaturas. Deus perpetuamente o mesmo: no sujeito a mudana nenhuma em Seu ser, em Seus atributos e em Suas determinaes. Da, Deus comparado a uma rocha (Deuteronmio 32:4, etc.) que permanece inamovvel quando todo o oceano circundante est numa condio de contnua oscilao, exatamente assim, conquanto sendo sujeitas a mudana todas as criaturas, Deus imutvel. Visto que Deus no tem princpio nem fim, no pode experimentar mudana. Ele eternamente o "... Pai das luzes, em quem no h mudana nem sombra de variao" (Tiago 1:17). Primeiro, Deus imutvel em Sua essncia. Sua natureza e Seu ser so infinitos e, assim, so sujeitos a mutao alguma, jamais houve tempo quando Ele no era; jamais vir tempo quando Ele deixar de ser. Deus no evoluiu, nem cresceu, nem melhorou. Tudo que Ele hoje, sempre foi e sempre ser. "...eu, o Senhor, no mudo... (Malaquias 3:6) a Sua afirmao categrica. Ele no pode mudar para melhor, pois j perfeito; e, sendo perfeito, no pode mudar para pior. Completamente imune de tudo quanto Lhe alheio, impossvel melhoramento ou deteriorao. Ele perpetuamente omesmo. Somente Ele pode dizei "...EU SOU O QUE SOU..." (xodo 3:14). Ele absolutamente livre da influncia do curso do tempo. No h um vinco sequer nos sobrolhos da eternidade. Portanto, o Seu poder jamais pode diminuir, nem Sua glria desvanecer-se. Segundo, Deus imutvel em Seus atributos. Tudo que atributos de Deus eram antes do universo ser chamado existncia, so precisamente o mesmo agora, e permanecero assim para sempre. E isto necessariamente, pois eles so as prprias perfeies, as qualidades essenciais do Seu ser, Semper idem (sempre o mesmo) est escrito em cada um deles. Seu poder imbatvel, Sua sabedoria no sofre diminuio. Sua santidade imaculada. Os atributos de Deus no podem sofrer mudana mais do que a Deidade pode deixar de existir. Sua veracidade imutvel, pois a Sua Palavra "...permanece no cu (Salmo 119:89). Seu amor eterno: "...com amor eterno te amei... (Jeremias 31:3) e
"...como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os at o fim" (Joo 13:1). Sua misericrdia no cessa, pois, "eterna" (Salmo 100:5). Terceiro, Deus imutvel em Seu conselho. Sua vontade nunca muda. Talvez alguns estejam prestes a objetar que lemos, "Ento arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem.. . " (Gnesis 6;6). Nossa primeira resposta : ento as Escrituras se contradizem? No, isso no pode ser. Nmeros 23:19. suficientemente claro; "Deus no homem, para que minta: nem filho do homem, para que se arrependa. .." (Nmeros 23:19). Assim tambm em 1 Samuel 15:29: "... a Fora de Israel no mente nem se arrepende: porquanto no um homem para que se arrependa". A explicao deveras simples. Quando fala de si mesmo, Deus freqentemente acomoda a Sua linguagem s nossas capacidades limitadas. Ele Se descreve a Si mesmo como revestido de membros corporais como olhos, ouvidos, mos, etc. Fala de Si como tendo despertado (Salmo 78:65) e como "madrugando" (Jeremias 7:13), apesar de que Ele no cochila nem dorme. Quando Ele estabelece uma mudana em Seu procedimento para com os homens, descreve a Sua linha de conduta em termos de arrepender-se.
Sim, Deus imutvel em Seu conselho. "Os dons e a vocao de Deus so sem arrependimento" (Romanos 11:29). S pode ser assim, pois, "... se ele est contra algum, quem ento o desviar? Q que a sua alma quiser isso far" (To 23:13). "Mudana e declnio vemos em tudo ao redor; 6 Aquele que no muda, permanea contigo onde quer que for". O propsito de Deus nunca se altera. Uma destas duas coisas faz com que um homem mude de opinio e inverta os seus planos: falta de previso para antecipar tudo, ou ausncia de poder para executar o que planeja. Mas visto que Deus onisciente assim como onipotente, nunca Lhe necessrio rever Seus decretos. No, "O conselho do Senhor permanece para sempre: os intentos do seu corao de gerao em gerao" (Salmo 33:11). Portanto, podemos ler sobre "... a imutabilidade do seu conselho..." (Hebreus 6:17). Aqui podemos perceber a distncia infinita que separa do Criador a criatura mais elevada. Mutabilidade e criatura so termos correlatos, Se a criatura no fosse mutvel por natureza, no seria criatura; seria Deus. Por natureza tendemos para o nada, como do nada viemos. Nada detm a nossa aniquilao, exceto a vontade e o poder sustentador de Deus. Ningum pode manter-se nem por um momento. Dependemos do Criador para cada sorvo de ar que aspiramos. Alegremente concordamos com o salmista em que o Senhor sustenta ".. . com vida a nossa alma..." (Salmo 66:9). A compreenso disto deveria fazer com que nos prostrssemos sob o senso da nossa nulidade na presena dAquele em quem ...vivemos, e nos movemos, e existimos...'' (Atos 17:28). Como criaturas decadas, no somente somos mutveis, mas tudo em ns oposto a Deus. Como tais, somos ... estrelas errantes. . , " (Judas 15), fora da nossa rbita. "... os mpios so como o mar agitado que no se pode aquietar" (Isaas 57:20). O homem decado inconstante. As palavras de Jac referentes a Rubem aplicam-se com fora total a todos os descendentes de Ado; "Inconstante como a gua..." (Gnesis 49:4), Desta maneira, no apenas sinal de vida piedosa, mas tambm elemento de sabedoria, dar ouvido injuno: "Deixai-vos pois do homem..."' (Isaas 2:22), No se deve ficar na dependncia de nenhum ser humano. "No confieis em prncipes nem em filhos de homens, em quem no h salvao" (Salmo 146:5). Se desobedeo a Deus, mereo ser enganado por meus companheiros de i existncia e decepcionar-me com eles. Pessoas que gostam de voc hoje, podero odi-lo amanh. A multido que clamou "Hosana: bendito o rei de Israel que vem em nome do Senhor", depressa
passou a bradar: "... tira, tira, crucifica-o (Joo 12:13; 19:15). Aqui h firme consolao. No se pode confiar na natureza humana, mas em Deus sim! Por mais inconstante que eu seja7 por mais volveis que os meus amigos se mostrem, Deus no muda. Se Ele mudasse como ns, se quisesse uma coisa hoje e outra amanh, e se fosse controlado por capricho, quem poderia confiar nEle? Mas, todo o louvor ao Seu glorioso nome, Ele _ sempre o mesmo. Seu propsito firme, Sua vontade estvel, Sua palavra segura. Aqui, pois, est uma Rocha em que podemos firmar os nossos ps, enquanto a poderosa torrente leva tudo de arrasto ao nosso redor. A permanncia do carter de Deus garante o cumprimento de Suas promessas; "Porque as montanhas se desviaro e os outeiros tremero; mas a minha benignidade no se desviar de ti, e o concerto da minha paz no mudar, diz o Senhor, que se compadece de ti" (Isaas 54:10).
Aqui h incentivo para a orao, "Que consolo haveria em orar a um deus que, como o camaleo, mudasse de cor a cada momento? Quem elevaria uma petio a um prncipe terreno que fosse to mutvel que atenderia a um pedido um dia e o negaria no dia seguinte?" (S. Charnock, 1670), Se algum perguntar: "Mas que utilidade h em orar a um Ser. cuja vontade j foi fixada? Respondemos: Porque Ele o exige. Que bnos Deus prometeu sem que ns as busquemos? ".., se pedirmos alguma coisa, segundo a sua vontade, ele nos ouve" (1 Joo 5:14), e Ele sempre quis tudo que para o bem dos Seus filhos. Aqui h terror para os mpios. Os que O desafiam, transgridem Suas leis, no tm interesse em Sua glria, mas vivem como se Ele no existisse, no devem imaginar que, quando no dia final clamarem a Ele por misericrdia, Ele mudar a Sua vontade, revogar a Sua Palavra e rescindir as suas ameaas terrveis. No. Ele declarou: "Pelo que tambm eu procederei com furor; o meu olho no poupar, nem terei piedade: ainda que me gritem aos ouvidos com grande voz, eu no os ouvirei" (Ezequiel 8:18). Deus no Se negar a Si prprio para gratificar a luxria deles. Deus santo, imutavelmente santo. Portanto, Deus odeia o pecado; eternamente odeia o pecado. Da a eternidade do castigo de todos quantos morrem em seus pecados. "A imutabilidade divina, como a nuvem que se interpunha entre os israelitas e o exrcito egpcio, tem um lado escuro, bem como um lado claro. Ela assegura a execuo das Suas ameaas, como tambm a concretizao das Suas promessas; e destri a esperana, carinhosamente acalentada pelos culpados, de que Deus ser todo brandura para as Suas frgeis e errantes criaturas, e de que sero tratados de modo muito mais leve do que as declaraes da Sua Palavra nos levam a esperar. Contrapomos a estas especulaes enganosas e presunosas a solene verdade de que Deus imutvel em Sua veracidade e propsito, em Sua fidelidade e justia" (J, Dick, 1850).
8 A SANTIDADE DE DEUS
"Quem te no temer, Senhor e no magnificar o teu nome? Porque s tu s santo..." (Apocalipse 15:4). Somente Ele independente, infinita e imutavelmente santo. Muitas vezes Ele intitulado "O Santo* nas Escrituras. Sim, porque se acha nEle a soma total de todas as excelncias morais, Ele pureza absoluta, que nem mesmo a sombra do pecado mancha. "...Deus luz... (1 Joo 1:5). A santidade a excelncia propriamente dita da natureza divina: o grande Deus "... glorificado em santidade... (xodo 15:11). Da lermos: Tu s to puro de olhos, que no podes ver o mal, e a vexao no podes contemplar..." (Habacuque 1:15). Como o poder de Deus o oposto da fraqueza inata da criatura, como a Sua sabedoria est em contraste com o menor defeito de entendimento ou com a menor insensatez, assim a Sua santidade a prpria anttese de toda mancha ou corrupo moral. No passado Deus designou cantores em Israel para "que louvassem a Majestade santa", ou, na verso utilizada pelo autor, "que louvassem a beleza da santidade" (2 Crnicas 20:21). "O poder a mo ou o brao de, Jesus, a oniscincia os Seus olhos, a misericrdia as Suas entranhas, a eternidade a Sua durao, mas a santidade a Sua beleza" (S. Charnock). isto Que, acima de tudo. torna-O amorvel aos que foram libertos do domnio do pecador. Grande nfase dada a esta perfeio de Deus. "Deus com mais freqncia intitulado Santo do que Onipotente, e mais exposto por esta parteda Sua dignidade do que por qualquer outra. fixada ao Seu nome como um (epitto) mais do que qualquer outra, Voc jamais o v expresso,"Seu poderoso nome" ou "Seu sbio nome", mas Seu grande nome e, acima de tudo, Seu santo nome. Este o maior ttulo de honrar neste ltimo transparecem a majestade e a venerabilidade do Seu nome (S. Charnock). Como nenhuma outra, esta perfeio celebrada diante do trono do cu, bradando os serafins: "... Santo, Santo, Santo o Senhor dos Exrcitos..." (Isaas 6:3), Deus mesmo coloca em distino esta perfeio: "Uma vez jurei por minha santidade que no mentirei a Davi" (Salmo 89:35). Deus jura por Sua "santidade porque esta uma expresso do Seu ser, expresso mais completa que qualquer outra coisa. Eis porque somos exortados: "Cantai ao Senhor, vs que sois seus santos, e
?;
celebrai a memria da sua santidade" (Salmo 30:4). "Pode-se dizer que este atributo transcendental e que, por assim dizer, permeia os demais e lhes dbrilho, o atributo dos atributos" (J. Howe, 1670). Assim, lemos sobre "... a formosura do Senhor. ,." (Salmo 27:4), que no outra que "... a beleza da santidade.. ." (Salmo 110:3), "Visto que esta excelncia parece se colocar acima d todas as outras perfeies de Deus, assim ela constitui a glria destas; como a glria da Deidade, assim a glria de cada uma das perfeies da Deidade; como o poder de Deus a energia das Suas perfeies, a Sua santidade a beleza delas: como todas seriam fracas sem a onipotncia divina para sustent-las, seriam todas desgraciosas sem a santidade para adorn-las. Se esta se maculasse, todas as demais perderiam a sua honra; seria como se o sol perdesse a sua luz
no mesmo instante perderia seu calor seu poder, sua virtude geradora e vivificante. Como no cristo a sinceridade o brilho de todas as graas, em Deus a pureza o esplendor de todos os Seus atributos, Sua justia santa. Sua sabedoria santa. Seu brao poderoso um "brao santo" (Salmo 98:1), Sua verdade ou palavra uma "santa palavra" (Salmo 105:42). Seu nome, que expressa todos os Seus atributos juntos, "santo" (Salmo 103:1)" (S. Charnock). A santidade de Deus se manifesta em Suas obras. "Justo o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras" (Salmo 145:17), Nada seno o que excelente pode proceder d Ele. A santidade o padro de todas as Suas aes. No princpio Ele declarou que tudo o que tinha feito '"era muito bom" (Gnesis 1:31), e no poderia ter feito o que fez se nisso houvesse algo imperfeito ou impuro. O homem foi feito "reto" (Eclesiastes 7:29), imagem e semelhana do seu Criador. Os anjos que caram foram criados santos, pois se nos diz que "... no guardaram o seu principado, mas deixaram a sua prpria habitao..." (Judas 6). Sobre Satans est escrito: "Perfeito eras nos teus caminhos, desde o dia em, que foste criado, at que se achou iniqidade em ti" (Ezequiel 28:15). A santidade de Deus se manifesta em Sua lei. Essa lei probe o pecado em todas as suas variantes - nas suas modalidades mais refinadas, e nas mais grosseiras, os intentos da mente, como a contaminao do corpo, o desejo secreto como o ato abertamente praticado. Pelo que lemos: "...a lei santa, e o mandamento santo, justo e bom" (Romanos 7:12). Sim, "... o mandamento do Senhor puro, e alumia os olhos. O temor do Senhor limpo e permanece eternamente, os juzos do Senhor so verdadeiros e justos juntamente" (Salmo 19:8-9). A santidade de Deus se manifesta na cruz. De maneira espantosa, e, contudo, a mais solene, a expiao demonstra a santidade infinita de Deus e Seu dio ao pecado. Quo odioso para Deus" h de ser o pecado, a ponto de castig-lo at ao limite extremo do seu merecimento, quando o imputou ao Seu Filho! "Nem todos os vasos do juzo j derramados ou por derramar sobre o mundo mpio, nem a chama ardente da conscincia do pecador, i nem a sentena irrevogvel pronunciada contra os demnios rebeldes, nem o gemido das criaturas condenadas demonstram o dio de Deus ao pecado, como o demonstra a ira de Deus derramada sobre o Seu Filho. Nunca a santidade divina parece mais bela e mais amorvel do que na hora em que o semblante do Salvador ficou por demais desfigurado em meio aos estertores da Sua agonia
mortal. Ele prprio o reconhece no Salmo 22. Quando o Senhor afastou dEle o Seu risonho rosto e Lhe fincou no corao aguda faca, provocando Seu terrvel brado, "Deus meu, Deu meu, por que me abandonaste?" (vers. 1). Ele adora esta perfeio "Tu s santo" (vers. 3) S. Charnock. Desde que Deus santo, Ele odeia todo e qualquer pecado. Ele ama tudo quanto est em conformidade com as Suas leis, e detesta tudo que lhes contrrio. Sua Palavra declara expressamente: "... o perverso abominao para o Senhor... (Provrbios 3:32), E ainda: "Abominveis so para o Senhor os pensamentos do mau., .." (Provrbios 15:26). Segue-se, pois, que Ele necessariamente tem que punir o pecado. Do mesmo modo como o pecado requer a punio por Deus, exige tambm o Seu dio. Deus perdoa muitas vezes o pecador; nunca, porm, perdoa o pecado; e o pecador s perdoado com base no fato de que Outro levou sobre Si o castigo que lhe era devido; sim, pois; ... sem derramamento de sangue no h remisso (Hebreus 9:22). Razo pela qual se nos diz: "...o Senhor toma vingana contra os seus adversrios, e guarda a ira contra os seus inimigos" (Naum 1:2). Por um pecado Deusexpulsou do den os nossos primeiros pais. Por um pecado toda a posteridade de Co caiu sob maldio que permanece sobre ela at o dia de hoje. Por um pecado Moiss foi impedido de entrar em Cana, o servo de Eliseu foi castigado com lepra, Ananias e Safira foram eliminados da terra dos viventes.
Temos aqui prova da divina inspirao das Escrituras. Os no regenerados no crem realmente na santidade de Deus. O conceito que eles tm do carter de Deus inteiramente unilateral. Eles esperam de corao que a Sua misericrdia sobrepuje tudo mais. "... pensavas que era como tu..." (Salmo 50:21) a acusao que Deus lhes faz. Eles pensam somente num "deus" segundo o padro dos seus coraes maus. Da permanecerem eles no caminho de uma exacerbada insensatez. A santidade atribuda pelas Escrituras natureza e ao carter de Deus tal, que demonstra com clareza a sua origem super-humana. O carter atribudo aos deuses dos antigos e do, paganismo moderno justamente o inverso daquela imaculada pureza que pertence ao Deus verdadeiro. Um Deus inefavelmente santo, que tem a mais intensa averso a todo pecado, jamais foi inventado por um dos decados descendentes de Ado. O fato que nada torna mais manifesta a. terrvel depravao do corao do homem e a sua inimizade contra o Deus vivo, do que expor diante dele Aquele Ser nico que infinita e imutavelmente santo. A idia que o homem faz de pecado limita-se praticamente ao que o mundo chama de "crime''. Tudo que fica aqum disso pode ser abrandado como "defeitos", "'enganos", "'fraquezas etc. E mesmo quando se admite a existncia do pecado* apresentam-se escusas e atenuantes. "O "deus" que a imensa maioria dos cristos professos "ama ' visto como algum muito parecido com um ancio indulgente, que pessoalmente no tem prazer nas loucuras, mas tolerantemente fecha os olhos para as "indiscries" da mocidade. Mas a Palavra diz: ... aborreces a iodos os que praticam a maldade (Salmo 5:5). E mais: "Deus um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias" (Salmo 7:11). Mas os homens se recusam a dar crdito a este Deus e rangem os dentes quando o Seu dio ao pecado lhes enftica e fielmente apresentado. No, como o homem preso ao pecado jamais teria criado o lago de fogo no qual seria atormentado para todo o sempre, muito menos haveria a probabilidade dele inventar um Deus santo. Sendo que Deus santo, a aceitao da parte dEle, com base nas aes das criaturas, completamente impossvel. Uma criatura cada pode mais facilmente criar um mundo, do que produzir algo capaz de receber aprovao dAquele que pureza infinita. Podem as trevas morar com a luz? Pode o Ser imaculado sentir prazer com o "trapo da imundcia"? (Isaas 64:6) O melhor que o homem pecador pode produzir vem manchado. Uma rvore contaminada no pode dar bom fruto. Deus se negaria a Si prprio, envileceria as Suas
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perfeies, se tivesse por justo e santo aquilo que no o em si mesmo; e nada santo, desde que tenha a mnima mancha do que seja contrrio natureza de Deus. Mas, bendito seja o Seu nome, pois, aquilo que a Sua santidade exigiu, a Sua graa supriu em Cristo Jesus,nosso Senhor! Todo pobre pecador que correu para Ele em busca de "refgio, foi e permanece aceito "no Amado" (Efsios 1:6). Aleluia!
Posto que Deus santo requer-se de ns que nos aproximemos dEle com a mxima reverncia. "Deus deve ser em extremo tremendo na assemblia dos santos, e grandemente reverenciado por todos os que o cercam'" (Salmo 89:7), Portanto, "Exaltai ao Senhor nosso Deus, e prostrai-vos diante do escabelo de seus ps, porque ele santo" (Salmo 99:5). Sim, diante do escabelo dos seus ps", na postura da mais profunda humildade, prostrai-vos. Quando Moiss ia aproximar-se da sara ardente, disse Deus: "., . tira os teus sapatos de teus ps... " (xodo 3:5), preciso servi-lO "com temor" (Salmo 2:11). A exigncia que Deus fez a Israel foi: "... serei santificado naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo... (Levtico 10:3), Quanto mais tomados de temor ficarmos por Sua inefvel santidade, mais aceitvel ser o nosso acesso a Ele. Visto que Deus santo, devemos querer amoldar-nos a Ele. Seu mandamento : ...sede santos, porque eu sou santo" (1 Pedro 1:16). No somos obrigados a ser onipotentes ou oniscientes como Deus , mas temos que ser santos, e isto em toda a nossa "... maneira de viver" (1 Pedro 1:15). "Esta a maneira primordial de honrar a Deus. Glorificamos a Deus pelas atitudes de elevada admirao, pelas expresses eloqentes, pelos pomposos servios de adorao, mas no tanto como quando aspiramos a conversar com Ele com esprito livre de mcula, e a viver para Ele vivendo como Ele vive" (S. Charnock). Ento, como s Deus a origem e a fonte da santidade, busquemos zelosamente dEIe a santidade; seja a nossa orao diria no sentido de que Ele nos "... santifique em tudo ... "; e todo o nosso "esprito, e alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Tessalonicenses 5:23),
9 O PODER DE DEUS
No poderemos ter correto conceito de Deus, se no pensarmos nEle como onipotente, igualmente como Onisciente. Quem no pode fazer o que quer e no pode realizar o que lhe agrada, no pode ser Deus. Como Deus tem uma vontade para decidir o que julga bom, assim tem poder para executar a Sua vontade. "O poder de Deus aquela capacidade e fora pela qual Ele pode realizar tudo que Lhe agrade, tudo que a Sua sabedoria dirija, e tudo que a infinita pureza da Sua vontade resolva. "... como a santidade a beleza de todos os atributos de Deus, assim o poder aquilo que d vida e movimento a todas as perfeies da natureza divina. Como seriam vos os conselhos eternos, se o poder no interviesse para execut-los! Sem o poder, a Sua misericrdia seria apenas uma dbil piedade, as Suas promessas um som vazio, as Sua ameaas mero espantalho. O poder de Deus como Ele mesmo: infinito, eterno, incompreensvel; no" pode ser refreado, nem restringido, nem frustrado pela criatura (S. Charnock). Uma coisa disse Deus, duas vezes a ouvi: que o poder pertence a Deus" (Salmo 62:11). "Uma coisa disse Deus", ou segundo a verso autorizada, KJ, 1611, "Uma vez falou Deus": nada mais necessrio! Passaro os cus e a terra, porm a Sua palavra permanece para sempre. "Uma vez falou Deus": como Lhe fica bem a Sua majestade divina! Ns, pobres mortais, podemos falar muitas vezes e, contudo, sem sermos ouvidos. Ele fala somente uma vez, e o trovo do Seu poder ouvido em mil montanhas. E o Senhor trovejou nos cus, o Altssimo levantou a sua voz; e havia saraiva e brasas de fogo. Despediu as suas setas, e os espalhou: multiplicou ratos, e os perturbou, Ento foram vistas as profundezas das guas, e foram descobertos os fundamentos do mundo; pela tua repreenso, Senhor, ao soprar das tuas narinas" (Salmo 18:13-15). "Uma vez falou Deus": vede a Sua imutvel autoridade. Pois quem no cu se pode igualar ao Senhor? Quem semelhante ao Senhor entre os filhos dos poderosos?" (Salmo 89:6). "E todos os moradores da terra so reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exrcito do cu e os moradores da terra: no h quem possa estorvar a sua mo, e lhe diga: Que fazes?" (Daniel 4:35), Esta realidade foi amplamente descortinada quando Deus Se encarnou e
tabernaculou entre os homens. Ao leproso Ele disse: ...s limpo. E logo ficou purificado da lepra" (Mateus 8:3). A um que jazia no tmulo j fazia quatro dias, Ele bradou: "... Lzaro, sai para fora. E o defunto saiu..." (Joo 11:43-44). Os ventos tempestuosos e as ondas bravias se aquietaram a uma s palavra dEle, Uma legio de demnios no pde resistir Sua ordem repassada de autoridade.
"O poder pertence a Deus", e somente a Ele. Nem uma s criatura, no universo inteiro, tem sequer um tomo de poder, salvo o que delegado por Deus. Mas o poder de Deus no adquirido, nem depende do reconhecimento de nenhuma outra autoridade. Pertence a Ele inerentemente. "O poder de Deus como Ele mesmo, auto-existente, auto-sustentado. O mais poderoso dos homens no pode acrescentar sequer uma sombra de poder ao Onipotente. Ele no se firma sobre nenhum trono reforado; nem se apia em nenhum brao ajudador. Sua corte no mantida por Seus cortesos, nem toma Ele emprestado das Suas criaturas o Seu esplendor. Ele prprio a grande fonte central e o originador de toda energia" (C. H. Spurgeon). Toda a criao d testemunho, no s do grande poder de Deus, mas tambm da Sua inteira independncia de todas as coisas criadas. Oua o Seu prprio desafio: "Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligncia, Quem lhe ps as medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que esto fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de esquina? (J 38:4-6). Quo completamente o orgulho do homem lanado ao p! "Poder usado tambm como um nome de Deus, "...o Filho do homem assentado direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do cu*' (Marcos 14:62), isto , destra de. Deus. Deus e poder so to inseparveis que so recprocos. Como a Sua essncia imensa, no pode ser confinada a um lugar; como eterna, no pode ser medida no tempo; assim a Sua essncia todopoderosa, no sofrendo limite para a ao" (S. Charnock). "Eis que isto so apenas as orlas dos seus caminhos; e quo pouco o que temos ouvido dele! Quem pois entenderia o trovo do seu poder?" (J 26:14). Quem capaz de contar todos os monumentos do Seu poder? Mesmo aquilo que demonstrado do Seu poder na criao visvel est inteiramente fora da nossa capacidade de compreenso, e menos ainda podemos conceber da onipotncia propriamente dita. H infinitamente mais poder abrigado na natureza de Deus do que o expresso em todas as Suas obras. "Partes dos Seus caminhos" contemplamos na criao, na providncia, na redeno, mas apenas uma "pequena parte" do Seu poder se v nessas obras. Isto nos exposto extraordinariamente em Habacuque 3:4: "... e ali estava o esconderijo da sua fora". Dificilmente se pode imaginar algo mais grandiloqente do que as figuras deste captulo todo, no entanto nele nada supera a nobreza desta declarao. O profeta (numa viso) viu o poderoso Deus espalhando os outeiros e abatendo os montes, o que se julgaria espantosa
demonstrao de fora. Nada disso, diz o nosso versculo; isso mais o ocultamento do que a exibio do Seu poder. Que se quer dizer? Isto: to inconcebvel to imenso, to incontrolvel o poder da Deidade, que as terrveis convulses que Ele opera na natureza escondem mais do que revelam do Seu poder infinito! coisa bela juntar as seguintes passagens: "O que s estende os cus, e anda sobre os altos do mar" (J 9:8), que expressa o indomvel poder de Deus. "...Ele passeia pelo circuito dos cus (J 22:14), que fala da imensidade da Sua presena. "...anda sobre as asas do vento" (Salmo 104:3), que expressa a espantosa rapidez das Suas operaes. Esta ltima expresso deveras notvel, No que "Ele voa ou'"corre", mas que Ele anda", e isso, nas "asas do vento" sobre o mais impetuoso dos elementos, impelido com o mximo furor, e varrendo tudo com quase inconcebvel velocidade, todavia sob os Seus ps, debaixo do Seu controle perfeito!
Consideremos agora o poder de Deus na criao. "Teus so os cus, e tua a terra; o mundo e a sua plenitude tu os fundaste. O norte e o sul tu os criaste..." (Salmo 89:11-12). Antes de poder trabalhar, o homem precisa ter ferramentas e material, mas Deus comeou com nada, e s por Sua palavra fez do nada todas as coisas. O intelecto no pode captar isto. Deus "... falou, e tudo se fez, mandou, e logo tudo apareceu" (Salmo 33:9). A matria primeva ouviu a Sua voz. "Disse Deus: Haja... e assim foi" (Gnesis 1). Bem podemos exclamar: "Tu tens um brao poderoso; forte a tua mo, e elevada a tua destra" (Salmo 89:13). Quem, que olha para cima, para o cu da meia-noite e, com os olhos da razo, contempla as suas maravilhas em movimento; quem pode abster-se de indagar: do que foram feitos estes poderosos astros? espantoso diz-lo, foram produzidos sem material nenhum. Brotaram do vazio. A majestosa estrutura da natureza universal emergiu do nada. Que instrumentos foram usados pelo supremo Arquiteto para modelar as partes com tio refinada elegncia e aplicar to belo polimento ao todo? Como ter sido feita a juno de tudo numa estrutura primorosamente proporcionada e com to magnfico acabamento? Um puro e simples fiat realizou tudo. Haja estas coisas, disse Deus. Nada acrescentou; e logo o edifcio maravilhoso se ergueu, adornado com todo tipo de beleza, pondo mostra inumerveis perfeies, e proclamando em meio a extasiados serafins o louvor do seu grande Criador. "Pela palavra do Senhor foram feitos os cus, e todo o exrcito deles pelo esprito da sua boca" (Salmo 33:6)" (James Hervey, 1789), Considere-se o poder de Deus na preservao. Nenhuma criatura tem poder para preservar-se a si mesma. "Porventura sobe o junco sem lodo? Ou cresce a espadana sem gua?" (Jo 8:11). Tanto o homem como o animal pereceriam, se no houvesse erva para alimento, e a erva murcharia e morreria, se o solo no fosse refrescado com chuvas frutferas. Portanto, Deus denominado o Preservador dos "homens e os animais" (Salmo 36:6), Ele sustenta "... todas as coisas, pela palavra do seu poder..." (Hebreus 1:3). Que maravilha de poder divino a vida pr-natal de todo ser humano! Que uma criana possa sequer viver, e por tantos meses, num alojamento apertado e estranho assim, inexplicvel sem o poder de Deus. Verdadeiramente, Ele "... sustenta com vida a nossa alma..." (Salmo 65:9). A preservao da terra, guardando-a da violncia dos mares outro claro exemplo do poder de Deus. Como que aqueles elementos em fria ficaram
encerrados dentro daqueles limites em que primeiro se alojaram, permanecendo em suas baas e canais sem inundar a terra e sem fazer em pedaos a parte mais baixa da criao? A condio natural da gua ficar acima da terra, por ser mais leve, e imediatamente abaixo do ar, por ser mais pesada. Quem pe restries qualidade natural da gua? O homem certamente que no, e notem poderes para tanto. unicamente o fiat do Criador da gua que a refreia. "E disse: At aqui virs, e no mais adiante, e aqui se quebraro as tuas ondas empoladas" (J 38:11). Que altaneiro monumento ao poder de Deus a preservao do mundo! Considere-se o poder de Deus no governo. Tome-se a restrio que Ele impe ruindade de Satans, " .., o diabo, vosso adversrio, anda em derredor, bramando como leo, buscando a quem possa tragar" (1 Pedro 5:8). Satans est cheio de dio a Deus, e de diablica inimizade contra os homens, particularmente contra os santos. Aquele que invejou a Ado no paraso, no quer que sintamos o prazer de usufruirmos nenhuma das bnos de Deus. Se ele pudesse fazer o que deseja, trataria todos os homens como tratou J: enviaria fogo do cu sobre os frutos da terra, destruindo o gado faria vendavais derribarem nossas casas, e cobriria de chagas os nossos corpos. Mas, embora mal percebido pelos homens, Deus o refreia em grande medida, impede-o de levar a cabo os seus maus desgnios, e lhe impe limites dentro das Suas ordenaes.
Assim tambm Deus restringe a corrupo natural dos homens. Ele suporta suficientes erupes do pecado para mostrar que terrveis estragos tm sido causados pela apostasia do homem, que rompeu com o seu Criador, mas quem pode conceber a que medonho extremo os homens iriam se Deus retirasse a Sua mo repressora? A boca dos mpios "... est cheia de maldio e amargura. Os seus ps so ligeiros para derramar sangue" (Romanos 3:14-15). Esta a natureza de cada um dos descendentes de Ado. Ento, que desenfreada licenciosidade e obstinada loucura triunfariam no mundo, se o poder de Deus no se interpusesse para fechar as comportas do mal! Ver Salmo 93:3-4. Considere o poder de Deus no juzo. Quando Ele fere, ningum Lhe pode resistir: ver Ezequiel 22:14, Quo terrivelmente isso foi exemplificado no Dilvio! Deus abriu as janelas do cu e rompeu as grandes fontes do abismo, e (excetuando-se os que estavam na arca) a raa humana inteira, impotente diante do furor da Sua ira, foi tragada. Uma chuva de fogo e enxofre caiu do cu, e as cidades da plancie foram exterminadas. O Fara e todos os seus exrcitos nada puderam, quando Deus soprou sobre eles no Mar Vermelho. Que palavra terrificante, a de Romanos 9:22: "E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita pacincia os vasos da ira, preparados para a perdio". Deus manifestar o Seu tremendo poder sobre os reprovados, no apenas encarcerando-os na Geena, mas preservando sobrenaturalmente os seus corpos como tambm as suas almas em meio s chamas eternas do Lago de Fogo, Bem que deveriam tremer todos, diante de um Deus tal! Tratar desconsideradamente Aquele que pode esmagar-nos mais facilmente do que ns a uma traa, suicdio. Desafiar abertamente Aquele que esta revestido de onipotncia, que pode rasgar-nos em pedaos ou lanar-nos no inferno na hora que quiser, o cmulo da insanidade. Para reduzi-lo ao seu plano mnimo, simplesmente parte da sabedoria dar ouvidos Sua ordem: "Beijai o Filho, para que se no ire, e pereais no caminho, quando em breve se inflamar a sua ira..." (Salmo 2:12), Bem que a alma iluminada deve adorar um Deus tal! As estupendas e infinitas perfeies de um Ser como Deus requerem fervoroso culto. Se homens de poder e renome reclamam a admirao do mundo, quanto mais deve o poder do Onipotente encher-nos de assombro e mover-nos a prestar-Lhe homenagem. "O Senhor, quem como tu entre os deuses? Quem como tu glorificado
emsantidade, terrvel em louvores, obrando maravilhas?" (xodo 15:11). Bem que o santo pode confiar num Deus tal! Ele digno de implcita confiana. Nada Lhe demasiado difcil, Se Deus fosse limitado em poder e fora, a sim, poderamos ficar desesperados.
Mas, vendo que Ele Se reveste de onipotncia, nenhuma orao to difcil que Ele no possa responder, nenhuma necessidade to grande que Ele no possa suprir, nenhuma clera to forte que Ele no possa subjugar, nenhuma tentao to poderosa que Ele no nos possa livrar dela, nenhuma misria to profunda que Ele no possa aliviar, ... o Senhor a fora da minha vida; de quem me recearei?" (Salmo 27:1). "Ora, quele que poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente alm daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em ns opera, a esse glria na igreja, por Jesus Cristo, em todas as geraes, para todo o sempre. Amm" (Efsios 3:20-21),
10 A FIDELIDADE DE DEUS
A infidelidade um dos pecados mais proeminente nestes maus dias. Com rarssimas excees, a palavra de um homem no mais a sua fiana, nos negcios deste mundo. No mundo social, a infidelidade conjugai ocorre por todo lado, sendo que os laos matrimoniais so desfeitos com a mesma facilidade com que uma roupa velha rejeitada. Na esfera eclesistica, milhares que se comprometeram solenemente a pregar a verdade, sem nenhum escrpulo a negam e a atacam. Nem o autor, como tampouco o leitor, podem arrogar-se completa imunidade deste pecado terrvel: de quantas maneiras temos sido infiis a Cristo, e luz e aos privilgios que Deus nos confiou . Como animador ento, que indizvel beno erguer os olhos acima desta ruinosa cena e contemplar Aquele que, s Ele, fiel, fiel em tudo, fiel o tempo todo. "Sabers, pois, que o Senhor teu Deus Deus, o Deus fiel..." {Deuteronmio 7:9). Esta qualidade essencial ao Seu ser; sem ela Ele no seria Deus. Pois, ser Deus infiel seria agir contrariamente Sua natureza, o que impossvel. "Se formos infiis, ele permanece fiel: no pode negar-se a si mesmo" (2 Timteo 2:15). A fidelidade uma das gloriosas perfeies do Seuser, como se Ele estivesse vestido com esta perfeio; "0 Senhor, Deus dos Exrcitos, quem forte como tu, Senhor, com a tua fidelidade ao redor de ri?!" (Salmo 89;8). Assim tambm, quando Deus Se encarnou, foi dito: "E a justia ser o cinto dos seus lombos, e a verdade o cinto dos seus rins" (Isaas 11:5). Que palavra, a do Salmo 36:5 "A tua misericrdia, Senhor, est nos cus, e a tua fidelidade chega at s mais excelsas nuvens". Muito acima de toda compreenso finita est a imutvel fidelidade de Deus. Tudo que h acerca de Deus grande, vasto, incomparvel. Ele nunca esquece, nunca falha, nunca vacila, nunca deixa de cumprir a Sua palavra, O Senhor Se mantm estritamente apegado a cada declarao de promessa ou profecia, faz valer cada compromisso de aliana ou de ameaa, pois "Deus no homem, para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa: porventura diria ele, e no o faria? Ou falaria, e no o confirmaria? (Nmeros 23:19). Da o crente exclama; "...as suas misericrdias no tm fim, Novas so cada manh; grande a tua
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fidelidade" (Lamentaes 3:22-23). H nas Escrituras numerosas ilustraes da fidelidade de Deus. H mais de quatro mil anos Ele disse: "Enquanto a terra durar, sementeira e sega, e frio e calor, e vero e inverno, e dia e noite, no cessaro" (Gnesis 8;22). Cada novo ano d-nos um novo testemunho de que Deus cumpre esta promessa. Em Gnesis 15 vemos que Jeov declarou a Abrao; "...peregrina ser a tua semente em terra que no ser tua, e servi-los-o ... E a quarta gerao tornara para c" (versculos 13-16). Os sculos percorreram o seu curso fatigante. Os descendentes de Abrao gemiam entre os fornos de tijolos do Egito. Deus esquecera a Sua promessa? Certamente que no. Leia xodo 12:41: "E aconteceu que, passados os quatrocentos e trinta anos, naquele mesmo dia, todos os exrcitos do Senhor saram da terra do Egito". Por meio de Isaas o Senhor declarou: ...eis que uma virgem conceber, e dar luz um filho, e ser
o seu nome Emanuel" (7:14). De novo sculos se passaram, mas, "vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gaiatas 4:4). Deus verdadeiro. Sua Palavra de promessa certa. Em todas as Suas relaes com o Seu povo, Deus fieL Pode-se confiar nEle, com segurana, Nunca houve algum que tivesse confiado nEle em vo. Vemos esta preciosa verdade expressa em quase toda parte nas Escrituras, pois o Seu povo precisa saber que a fidelidade uma parte essencial do carter divino. Esta a base da nossa confiana nEle, Mas, uma coisa aceitar a fidelidade de Deus como uma verdade divina, e outra coisa, muito diferente, agir com base nisso. Deus "nos tem dado grandssimas e preciosas promessas", mas ns contamos realmente com o seu cumprimento por Deus? Esperamos de fato que Ele vai fazer por ns tudo que disse que far? Descansamos com implcita segurana nestas palavras: " ... fiel o que prometeu" (Hebreus 10:23)? H ocasies na vida de todos em que no fcil, nem mesmo para 05 cristos, crer que Deus fiel. Nossa f provada dolorosamente, nossos olhos ficam toldados pelas lgrimas, e no conseguimos mais encontrar o rumo dos baluartes do Seu amor. Os nossos ouvidos se distraem com os rudos do mundo, arruinados pelos sussurros atesticos de Satans e no conseguimos mais ouvir a doce entonao da voz mansa e delicada do Senhor. Sonhos alimentados foram frustrados, amigos em quem confivamos falharam conosco, um falso irmo ou irm em Cristo nos traiu. Vacilamos. Procuramos ser fiis a Deus, e agora uma trevosa nuvem O esconde de ns. Achamos difcil, impossvel mesmo, razo carnal harmonizar a Sua sombria providncia com as promessas da Sua graa, Ah, alma titubeante, companheiro de peregrinao provado com tanto rigor, procure graa para ouvir Isaas 50:10; "Quem h entre vs que tema. a,Jeov, e oua a voz do seu servo? Quando andar em trevas, e no tiver luz nenhuma, confie no nome do Senhor, e firme-se sobre o seu Deus". Quando voc for tentado a duvidar da fidelidade de Deus, brade: "Para trs de mim, Satans". Ainda que voc no possa harmonizar os misteriosos procedimentos de Deus com as Suas declaraes de amor, confie nEIe e aguarde mais luz, Na hora dEIe, certa e boa, Ele far com que voc o veja com clareza, ...o que eu fao no o sabes tu agora, mas tu o sabers depois" (Joo 13:7). A seqncia dos fatos demonstrar que Deus no abandonou nem enganou Seu filho. "Por isso o Senhor esperar, para ter misericrdia de vs; e por isso ser exalado, para se compadecer de vs, porque o Senhor um Deus
de eqidade: bem-aventurados todos os que nele esperam (Isaas 30:18). "No julgues o Senhor por tua mente, porm, confia nEIe por Sua graa. Por trs de uma severa providncia
Ele oculta um semblante sorridente. Animai-vos, santos temerosos! As nuvens que temveis vos parecem, ricas so de mercs, e irrompero em bnos derramadas sobre vs." "Os teus testemunhos que ordenaste so retos e muito fiis" (Salmo 119:138). Deus no nos falou apenas o melhor, mas tambm no retirou o pior. Ele descreveu fielmente a runa efetuada pela Queda. Ele diagnosticou fielmente o terrvel estado produzido pelo pecado. Fielmente fez conhecido o Seu inveterado dio ao mal, e que preciso que Ele o puna. Advertiu-nos fielmente de que Ele "fogo consumidor" (Hebreus 12:29). Sua Palavra no contm somente numerosas ilustraes de Sua fidelidade no cumprimento de Suas promessas, mas tambm registra numerosos exemplos de Sua fidelidade em fazer valer as Suas ameaas. Cada estgio da histria de Israel exemplifica esse fato solene. Foi assim com indivduos: Fara, Core, Ac e uma multido de outros mais, so outras tantas provas. E ser assim com voc, meu leitor, a menos que voc tenha buscado ou busque refgio em Cristo, as chamas eternas do Lago de Fogo sero a tua poro certa e segura. Deus fiel. Deus fiel na preservao do Seu povo. "Fiel Deus, pelo qual fostes chamados para a comunho de seu Filho Jesus Cristo nosso Senhor'" (l Corntios 1:9). No versculo anterior foi feita a promessa de que Deus confirmar o Seu povo at o fim. A confiana do apstolo na absoluta segurana dos crentes estava baseada no na fora das resolues deles ou em sua capacidade para perseverar, mas sim na veracidade dAquele que no pode mentir. Visto que Deus prometeu ao Seu Filho um certo povo como Sua herana, livr-lo do pecado e da condenao e faz-lo participante da vida eterna na glria, certo que Ele no permitira que nenhum dos pertencentes a esse povo perea. Deus fiel na disciplina ministrada ao Seu povo. Ele no menos fiel naquilo que retira, do que naquilo que d. fiel quando envia tristeza como quando outorga alegria. A fidelidade de Deus uma verdade que devemos confessar no somente quando a tranqilidade nos bafeja, mas tambm quando nos afligirmos sob o castigo mais spero. Tampouco esta confisso deve ser apenas de boca, mas tambm de corao, Quando Deus nos fere com a vara da punio, a fidelidade que a maneja. Reconhecer isso significa que nos humilhamos diante dEle, confessamos que merecemos totalmente a Sua correo e, em vez de murmurar, damos-Lhe graas por isso. Deus nunca nos
aflige sem algum motivo: "Por causa disto, h entre vs muitos fracos e doentes..." (1 Corntios 11:30), ilustra este princpio. Quando a Sua vara cair sobre ns, digamos com Daniel; "A ti, Senhor, pertence a justia, mas a ns a confuso de rosto..." (9:7). "Bem sei eu, Senhor, que os teus juzos so justos, e que em tua fidelidade me afligiste" (Salmo 119:75), Problemas e aflies no so apenas coerentes com o amor de Deus empenhado na aliana eterna, mas so partes da sua administrao. Deus fiel no s quando afasta as aflies, mas tambm fiel quando no-las envia. '" Ento visitarei com vara a sua transgresso, e a sua iniqidade com aoites, Mas no retirarei totalmente dele a minha benignidade, nem faltarei minha fidelidade" (Salmo 89:32-33), O castigo no apenas concilivel com a benignidade amorosa de Deus, mas tambm seu efeito e expresso. A mente dos servos de Deus se tranqilizaria muito se eles se lembrassem de que a aliana de Deus O obriga a aplicar-lhes correo oportuna. As aflies so-nos necessrias: "...estando eles angustiados, de madrugada me buscaro" (Osias 5:15).
Deus fiel na glorificao do Seu povo, "Fiel o que vos chama, o qual tambm o far" (1 Tessalonicenses 5:24), A referncia imediata aqui aos santos serem "preservados inculpveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". Deus nos trata, no com base em nossos mritos (pois no temos nenhum), mas por amor do Seu grande nome. Deus constante para consigo mesmo e segundo o propsito da Sua graa, "... aos que chamou ... a estes tambm glorificou" (Romanos 8:30). Deus d plena demonstrao da constncia de Sua bondade eterna para com os Seus eleitos, chamando-os eficazmente das trevas para a Sua maravilhosa luz, e isto deveria torn-los seguros da certeza da sua continuidade. "... o fundamento de Deus fica firme..." (2 Timteo 2; 19), Paulo estava firmado na fidelidade de Deus quando disse: ". . , eu sei em quem tenho crido, e estou certo de que poderoso para guardar o meu depsito at quele dia" (2 Timteo 1:12). A percepo desta bendita verdade nos protegera da preocupao. Estar cheio de preocupaes, ver a nossa situao com prenncios sombrios, antecipar o amanh com ansiedade, ofender a fidelidade de Deus. Aquele que vem cuidando do Seu filho atravs dos anos, no o abandonar quando o filho envelhecer. Aquele que ouviu as oraes que voc fez no passado, no se negar a suprir suas necessidades na presente emergncia. Descanse em J 5:19: Em seis angstias te livrar; e na stima o mal te no tocar". A percepo desta bendita verdade catar as nossas murmuraes. O Senhor sabe o que melhor para cada um de ns, e um efeito da confiana nesta verdade ser o silenciar das nossas petulantes reclamaes. Deus grandemente honrado quando, sob provao e castigo, temos bons pensamentos sobre Ele, vindicamos a Sua sabedoria e justia, e reconhecemos o Seu amor mesmo em Suas repreenses. A percepo desta bendita verdade gera crescente confiana em Deus. "Portanto tambm os que padecem segundo a vontade de Deus encomendemlhe as suas almas como ao fiel Criador, fazendo o bem (1 Pedro 4:19). Quando confiantemente nos resignarmos e deixarmos todos os nossos interesses nas mos de Deus, plenamente persuadidos do Seu amor e fidelidade, tanto mais depressa ficaremos satisfeitos com as Suas providncias e compreenderemos que "ele tudo faz bem.
11 A BONDADE DE DEUS
"A bondade de Deus permanece continuamente" (Salmo 52:1). A "bondade" de Deus tem que ver com a perfeio da Sua natureza: "... Deus luz, e no h nele trevas nenhumas (1 Joo 1:5). H uma to absoluta perfeio na natureza e no ser de Deus que nada Lhe falta, nada nEle defeituoso, e nada se Lhe pode acrescentar para melhor-lO. "Ele essencialmente bom, bom em Si prprio, o que nada mais ; pois todas as criaturas s so boas pela participao e comunicao da parte de Deus. Ele essencialmente bom; no somente bom, mas a prpria bondade: na criatura, a bondade uma qualidade acrescentada; em Deus, Sua essncia. Ele infinitamente bom; na criatura a bondade uma gota apenas, mas em Deus h um oceano infinito ou um infinito ajuntamento de bondade. Ele eterna e imutavelmente bom, porquanto Ele no pode ser menos bom do que ; como no se pode fazer nenhum acrscimo a Ele, assim tambm no se Lhe pode fazer nenhuma subtrao" (Thomas Manton). Deus summum bonum, o Sumo Bem. O significado saxnico original do vocbulo ingls. "God" (Deus) "The Good" (O Bom ou O Bem). Deus no somente o maior de todos os seres, mas o melhor. Toda a bondade existente em qualquer criatura foi-lhe infundida pelo Criador, mas a bondade de Deus no derivada, pois a essncia da Sua natureza eterna. Como Deus infinito em poder desde toda a eternidade, desde antes de ter havido alguma demonstrao desse poder, ou antes de ter sido executado algum ato de onipotncia, assim Ele era eternamente bom, antes de haver qualquer comunicao da Sua generosidade, ou antes de haver qualquer criatura qual essa generosidade pudesse ser infundida ou exercida. Portanto, a primeira manifestao desta perfeio divina consistiu em dar existncia a todas as coisas. "Tu s bom e abenoador...", ou, na verso utilizada pelo autor: "Tu s bom, e fazes o bem... (Salmo 119:68). Deus tem em Si mesmo um infinito e inexaurvel tesouro de todas as bnos, capaz de encher todas as coisas. Tudo que provm de Deus os Seus decretos, a Sua criao as Suas leis as Suas providncias s pode ser bom, como est escrito: "E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom..." (Gnesis 1:31). Assim, v-se
a bondade de Deus primeiro na criao. Quanto mais de perto se estuda a criatura, mais visvel se torna a benignidade do seu Criador, Tome a mais elevada criatura da terra, o homem. Abundantes motivos tem ele para dizer com o salmista: "Eu te louvarei, porque de um modo terrvel e to maravilhoso fui formado; maravilhosas so as tuas obras, e a minha alma o sabe muito bem" (Salmo 139:14). Tudo acerca da estrutura dos nossos corpos atesta a bondade do seu Criador. Que mos apropriadas para realizar a obra a elas confiada! Que bondade do Senhor, determinar o sono para restaurar o corpo cansado! Que benvola a Sua proviso, dar aos olhos clios e sobrancelhas para proteg-los! E assim poderamos prosseguir indefinidamente.
E a bondade de Deus no se limita ao homem; exercida em favor de todas as Suas criaturas. "Os olhos de todos esperam em ti, e tu lhes ds o seu mantimento a seu tempo. Abres a tua mo, e satisfazes os desejos de todos os viventes" (Salmo 145:15-16). Volumes inteiros poderiam ser escritos, na verdade tm sido, para discorrer sobre este fato. Sejam as aves do espao, os animais das matas ou os peixes no mar, foi feita abundante proviso para suprir todas as suas necessidades. Deus "... d mantimento a toda a carne; porque a sua benignidade para sempre" (Salmo 136:25). Verdadeiramente, "... a terra est cheia da bondade do Senhor" (Salmo 33:5). V-se a bondade de Deus na variedade de prazeres naturais que Ele providenciou para as Suas criaturas. Deus poderia ter-Se satisfeito em saciar a nossa fome sem que os alimentos fossem agradveis ao nosso paladar como Sua benignidade transparece-nos diversos sabores de que Ele revestiu os diferentes tipos de carne, vegetais e frutas! Deus no nos deu somente os sentidos, mas tambm nos deu aquilo que os agrada; e isso tambm revela a Sua bondade. A terra poderia ser to frtil como , sem a sua superfcie ser to deleitavelmente variegada, A nossa vida fsica poderia ser mantida sem as lindas flores para encantarem os nossos olhos e para exalarem suaves perfumes. Poderamos andar pelos campos, sem que os nossos ouvidos fossem saudados pela msica dos pssaros. Donde, pois, esta beleza, este encanto, to livremente difundido pela face da natureza? Verdadeiramente, "O Senhor bom para todos, e as suas ternas misericrdias so sobre todas as suas obras" (Salmo 145:9). V-se a bondade de Deus em que, quando o homem transgrediu a lei do seu Criador, no comeou de imediato uma dispensao de ira sem contemplao. Bem poderia Deus ter privado as Suas criaturas decadas de todas as bnos, de todos os confortos e de todos os prazeres. Em vez disso, Ele introduziu um regime de natureza mista, de misericrdia e juzo. Devidamente considerado, isso por demais maravilhoso, e quanto mais completamente se examine esse regime, mais transparecer que " ... a misericrdia triunfa do juzo** (Tiago 2:13). No obstante os males todos que acompanham o nosso estado decado, o prato do bem predomina grandemente na balana. Com relativamente ratas excees, os homens e as mulheres experimentam muito maior numero de dias de boa sade, do que de enfermidade e dor. H no mundo muito mais felicidade prpria das criaturas do que infelicidade igualmente prpria delas. Mesmo as nossas tristezas admitem considervel
alvio, e Deus conferiu mente humana uma versatilidade que lhe possibilita adaptar-se s circunstncias e tirar delas o melhor proveito possvel. No se pode com justia pr em questo a benignidade de Deus pelo fato de haver sofrimento e tristeza no mundo. Se o homem peca contra a bondade de Deus, se ele despreza "as riquezas da sua benignidade, e pacincia e longanimidade" e, seguindo a dureza e a impenitncia do seu corao entesoura para si mesmo ira para o dia da ira (Romanos 2:4-5), a quem deve culpar, seno a si prprio? Deus seria bom, se no punisse os que usam mal as Suas bnos, abusam da Sua benevolncia e pisoteiam as Suas misericrdias? No haver a menor censura quanto bondade de Deus, mas, ao contrrio, a mais brilhante e modelar demonstrao dela, quando Deus eliminar da terra os que quebrantara as Suas leis, desafiam a Sua autoridade, zombam dos Seus mensageiros, escarnecem do Seu Filho e perseguem aqueles pelos quais Ele morreu.
A bondade de Deus foi mais ilustremente visvel quando Ele enviou o Seu Filho, "... nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoo de filhos" (Gaiatas 4:4-5). Foi ento que uma multido dos exrcitos celestiais louvou seu Criador e disse: "Glria a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens" (Lucas 2:14). Sim, no evangelho a graa (em grego, a benevolncia ou bondade) de Deus se h manifestado, trazendo salvao a todos os homens (Tito 2:11). No se pode pr em dvida a benignidade de Deus pelo fato de no ter feito Ele a todas as criaturas pecadoras objetos da Sua graa redentora. No o fez com os anjos decados. Se Ele tivesse deixado que todos perecessem, no haveria censura Sua bondade, A quem quer que desafiasse esta afirmao faramos lembrar a soberana prerrogativa de nosso Senhor: "Ou no me lcito fazer o que quiser do que meu? Ou mau o teu olho porque eu sou bom?" (Mateus 20:15), "Louvem ao Senhor pela sua bondade, e pelas suas maravilhas para com os filhos dos homens" (Salmo 107:8). Gratido o justo retorno exigido dos objetos da Sua benignidade; contudo, muitas vezes negada ao grande Benfeitor, simplesmente porque a Sua bondade to constante e to abundante. A bondade de Deus apreciada superficialmente porque exercida para conosco no curso comum dos eventos. No a percebemos bem porque a experimentamos diariamente. "Ou desprezas tu as riquezas da sua begnidade?..." (Romanos 2:4). A Sua bondade desprezada" quando no utilizada como um meio para levar os homens ao arrependimento, mas, ao contrrio, serve para endurec-los a partir da suposio de que fecha os olhos para o pecado deles. A bondade de Deus o sustentculo da confiana do crente, esta excelncia de Deus que exerce mais atrao sobre os nossos coraes. Visto que a Sua bondade dura para sempre, jamais deveramos ficar desanimados-. "O Senhor bom, uma fortaleza no dia da angstia, e conhece os que confiam nele" (Naum 1:7). "Quando outros nos maltratam, isso deveria somente estimular-nos a dar graas mais calorosamente ao Senhor, porque Ele bom; e quando ns mesmos nos damos conta de que estamos longe de sermos bons, somente deveramos bendizem com maior reverncia Aquele que bom jamais deveramos tolerar um instante de descrena na bondade, do Senhor; seja o que for que possa ser questionado, isto absolutamente certo, que o Senhor bom; as Suas dispensaes podem variar, mas a Sua natureza sempre a
12 A PACINCIA DE DEUS
Tem-se escrito muito menos sobre esta excelncia do carter divino do que sobre as demais. No poucos dos que tm se estendido largamente sobre os atributos divinos, deixaram de lado, sem nenhum comentrio, a pacincia de Deus. No fcil opinar sobre a razo disto, pois certamente a pacincia de Deus igualmente uma das perfeies divinas, como a Sua sabedoria, poder ou santidade, e igualmente digna de ser admirada e reverenciada por ns. verdade que esse vocbulo no se acha numa concordncia tantas vezes como os outros, mas a glria desta graa refulge em quase todas as pginas das Escrituras. O certo que perdemos muito, se no meditamos com freqncia na pacincia de Deus e se no oramos fervorosamente, rogando que os nossos coraes a ela se disponham mais completamente. O mais provvel que a principal razo pela qual tantos escritores deixaram de dar-nos algo, separadamente, sobre a pacincia de Deus, a dificuldade em distinguir este atributo da bondade e da misericrdia divinas, particularmente desta ltima A longaminidade de Deus mencionada repetidamente era conjunto com a Sua graa e misericrdia, como se pode verificar consultando xodo 34:6; Nmeros 14:18; Salmo 86:15 etc No se pode negar que a pacincia de Deus realmente uma demonstrao da Sua misericrdia, na verdade um modo pelo qual esta se manifesta freqentemente; no se pode conceder, porm que ambas sejam urna s e a mesma excelncia e que no se possa separar uma da outra. Embora no seja fcil distinguir entre elas as Escrituras nos autorizam plenamente a afirmar sobre uma delas algumas coisas que no podemos afirmar sobre a outra. Stephen Charnock, o puritano, define em parte a pacincia de Deus assim: " uma parte da bondade e da misericrdia divinas e, contudo, difere de ambas. Sendo Deus a maior bondade tem a maior brandura; a brandura sempre companheira da bondade e, quanto maior a bondade, maior a brandura. Quem houve to santo como Cristo, e to gentil? A lentido de Deus para a ira um aspecto da Sua misericrdia: "... o Senhor () sofredor e de grande misericrdia" (Salmo 145:8; Atualizada, semelhante verso da citao: "... o Senhor () tardio em irar-se e de grande clemncia"). A pacincia difere da misericrdia na
considerao formal do objeto: a misericrdia considera a criatura como infeliz, a pacincia considera a criatura como criminosa; a misericrdia tem pena do ser humano em sua infelicidade a pacincia tolera o pecado que gerou a infelicidade e deu nascimento a mais infelicidade ainda".
Pessoalmente, definimos a pacincia divina como aquele poder de controle que Deus exerce sobre Si mesmo, levando-0 a tolerar os maus e a demorar-Se a castig-los. Em Naum 1:3 lemos: O Senhor e tardio em irar-se, mas grande em fora...", sobre o qual disse o senhor Charnock: "Os homens que so grandes no mundo sofrem rpido impulso da paixo, e no se dispem a perdoar logo, ou a tolerar um ofensor, como algum de nvel inferior. a falta de poder sobre o prprio ego que os leva a fazer coisas imprprias sob provocao. Um prncipe capaz de sujeitar as suas paixes um rei sobre si mesmo, bem como sobre os seus sditos. Deus tardio em irar-Se porque grande em fora, Ele no tem menos poder sobre Si mesmo do que sobre as Suas criaturas'. na questo acima, pensamos ns, que a pacincia de Deus se distingue mais claramente da Sua misericrdia. Embora a criatura seja beneficiada por ela, a pacincia de Deus diz respeito principalmente a Si prprio, como uma restrio imposta por Sua vontade aos Seus atos, ao passo que a Sua misericrdia esgota-se totalmente na criatura. A pacincia de Deus aquela excelncia que O leva a suportar grandes ofensas sem vingar-Se imediatamente. Ele tem um poder de pacincia, como tambm um poder de justia. Assim, a palavra hebraica para "longnimo" traduzida por '"tardio em irar-se" em Neemias 9:17, Joel 2:13, etc. No que haja quaisquer paixes na natureza divina, mas que sabedoria e vontade de Deus apraz agir com aquela dignidade e sobriedade que vem a ser a Sua exaltada majestade. Em apoio de nossa definio acima, permita-me assinalar que foi para esta excelncia do carter divino que Moiss apelou, quando Israel pecou to afrontosamente era Cades-Barnia, e ali provocou ao Senhor to dolorosamente. Ao Seu servo disse o Senhor: "Com pestilncia o ferirei, e o rejeitarei..." (Nmeros 14:12). Ento foi que o mediador tipolgico intercedeu: "Agora, pois, rogo-te que a fora do meu Senhor se engrandea; como tens falado, dizendo: O Senhor Longnimo" (versculos 17 e 18). Portanto, a Sua "longanimidade"" ou pacincia a Sua "fora" ou o Seu poder de auto-restrio. Ainda em Romanos 9:22 lemos: "E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita pacincia os vasos da ira, preparados para perdio". Se Deus imediatamente fizesse em pedaos estes vasos reprovados, o Seu poder de auto-controle no apareceria to eminentemente; tolerando a iniqidade deles e lhes sobre-levando demoradamente o castigo, o poder da Sua pacincia fica demonstrado
gloriosamente. verdade que os mpios interpretam a pacincia de Deus de maneira muito diferente - "Visto como se no executa logo o juzo sobre a m obra, por isso o corao dos filhos dos homens est inteiramente disposto para praticar o mal" (Eclesiastes 8:11) mas o olhar ungido adora o que eles insultam. "O Deus de pacincia" (Romanos 15:5) um dos ttulos divinos. A Deidade assim denominada, primeiro, porque Deus tanto o Autor como o Objeto da graa da pacincia na criatura. Segundo, porque isto que Ele em Si mesmo: a pacincia uma das Suas perfeies. Terceiro, como um padro para ns: "Revesti-vos pois, como eleitos de Deus, santos, e amados, de entranhas de misericrdia, de benignidade, mansido, longanimidade" (Colossenses 3:12). E ainda: "Sede pois imitadores de Deus como filhos amados" (Efsios 5:1). Quando tentado a aborrecer-se com a lerdeza doutrem, ou a vingar-se de algum que o ultrajou, lembre-se da infinita pacincia e longanimidade de Deus para com voc.
A pacincia de Deus se manifesta em Sua maneira de tratar os pecadores. Quo surpreendentemente foi demonstrada para com os antediluvianos. Quando a humanidade estava universalmente degenerada, e toda a carne havia corrompido os seus caminhos, Deus no a destruiu sem antes adverti-la. "... a longanimidade de Deus esperava..." (1 Pedro 3:20), Deus esperou no menos de cento e vinte anos (Gnesis 6:3), tempo durante o qual No foi "... pregoeiro da justia... " (2 Pedro 2:5). Assim, mais tarde, quando os gentios no s cultuavam e serviam mais a criatura do que ao Criador, mas tambm cometiam as mais vis abominaes contrrias at mesmo aos .ditames da natureza (Romanos 1:1926), e com isso encheram a medida da sua iniqidade; todavia, em vez de desembainhar a Sua espada para o extermnio desses rebeldes, Deus "... deixou andar todas as gentes em seus prprios caminhos..." e lhes deu "... chuvas e tempos frutferos..." (Atos 14:16-17). A pacincia de Deus foi maravilhosamente exercida e manifestada para com Israel. Primeiro, Ele "...suportou os seus costumes no deserto por espao de quase quarenta anos (Atos 13.18) Posteriormente, quando os israelitas entraram em Cana, mas seguiam os maus costumes das naes ao seu redor e pendiam para a idolatria, conquanto Deus os castigasse dolorosamente no os destruiu por completo, mas sim em sua angustia, levantava libertadores para eles. Quando a sua iniqidade subiu a tal ponto que ningum, seno um Deus de infinita pacincia, poderia suport-los, Ele, no obstante, poupou-os durante muitos anos antes de deixar que fossem levados para a Babilnia. Finalmente quando a sua rebelio contra Ele atingiu o clmax pela crucificao de Seu Filho, Deus esperou quarenta anos, antes de enviar os romanos contra eles, e isso, s depois deles Julgarem que no eram "...dignos da vida eterna... (Atos 13:46) Quo maravilhosa a pacincia de Deus com o mundo hoje! Por toda parte as pessoas pecam a peito aberto. A lei divina e pisoteada e o prprio Deus desprezado abertamente. deveras espantoso que Ele no elimine de vez aqueles que to descaradamente O desafiam. Por que Ele no corta da face da terra o infiel insolente e o escarnecedor verboso, como fez com Ananias e Safira? Por que no faz a terra abrir a boca e devorar os perseguidores do Seu povo para que, semelhana de Data e Abiro fossem vivos para o Abismo? E que dizer da cristandade apstata, em que todas as formas de pecado possveis so agora toleradas e praticadas sob a capa do santo nome de_ Cristo? Por que a justa ira do Cu no pe fim a tais abominaes? Somente uma resposta possvel: porque Deus tolera com muita pacincia os vasos da ira, preparados
para perdio (Romanos 9:22). E que dizer do autor e do leitor? Faamos uma reviso em nossas vidas. No transcorreu muito tempo desde quando ns seguamos a multido na prtica do mal, no nos interessvamos nem um pouco pela glria de Deus e s vivamos para gratificar o nosso ego. Quo pacientemente Ele tolerou a nossa conduta vil! E agora que a graa nos tirou como ties do fogo, dando-nos um lugar na famlia de Deus, e nos gerou para uma herana eterna na glria, quo miseravelmente Lhe retribumos! Quo superficial a nossa gratido, quo tardia a nossa obedincia e quo freqentes as nossas apostasias! Uma razo pela qual Deus tolera que o crente permanea carnal que Ele possa demonstrar a Sua longanimidade para conosco (2 Pedro 3:9). Desde que este atributo divino s se manifesta neste mundo, Deus se empenha mais em mostr-lo para com "os Seus".
Oxal a nossa meditao nesta excelncia divina abrande os nossos coraes, enternea as nossas conscincias, e possamos aprender na escola da santa experincia a "pacincia dos santos' , a saber, a submisso vontade divina e a perseverana na prtica do bem. Busquemos fervorosamente a graa que nos capacite a imitar esta excelncia divina. "Sede vs pois perfeitos, como perfeito o vosso Pai que est nos cus'" (Mateus 5:48); no contexto imediato Cristo nos exorta a amar os nossos inimigos, a bendizer os que nos maldizem, a fazer o bem aos que nos odeiam. Deus tolera bastante os mpios, apesar da multido dos seus pecados; e ns, haveremos de querer vingar-nos por causa de uma nica ofensa?
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13 A GRAA DE DEUS
Esta perfeio do carter divino s exercida em favor dos eleitos. Nem no Velho Testamento nem no Novo jamais se menciona a graa de Deus em conexo com a humanidade em geral, e muito menos com as ordens inferiores das Suas criaturas. Nisto a graa se distingue da "misericrdia", pois a misericrdia "... sobre todas as suas obras ' (Salmo 145:9). A graa a nica fonte da qual fluem a boa vontade, o amor e a salvao de Deus para o Seu povo escolhido. Este atributo do carter divino foi definido por Abraham Booth em seu proveitoso livro, The Reign of Grace O Reino da Graa, assim: " o livre, absoluto e eterno favor de Deus, manifesto na concesso de bnos espirituais e eternas a culpados e indignos. A graa divina o soberano e salvador favor de Deus exercido na ddiva de bnos a pessoas que no tm em si mrito nenhum, e pelas quais no se exige delas nenhuma compensao. No apenas isso, ainda mais; o favor de Deus demonstrado a pessoas que, no s no possuem merecimentos prprios,mas so totalmente merecedoras do inferno. completamente imerecida, no procurada de modo nenhum e no atrada por nada que haja nos objetos aos quais dada, por nada que deles provenha, e tampouco pelos prprios objetos. A graa no pode ser comprada, nem obtida, nem conquistada pela criatura. Se pudesse, deixaria de ser graa. Quando dizemos que uma coisa "de graa", queremos dizer que seu recebedor no tem direitos sobre ela, que de maneira nenhuma ela lhe era devida. Chega-lhe como pura caridade e, a princpio, no solicitada nem desejada. A mais completa exposio da maravilhosa graa de Deus acha-se nas epstolas do apstolo Paulo. Em seus escritos "graa" est em direta oposio a obras e merecimento, todas as obras e todo merecimento, de qualquer espcie ou grau. V-se isto com muita clareza em Romanos 11:6, na verso utilizada pelo autor: "E se por graa, j no pelas obras; de outra maneira, a graa j no graa. Se por obras, j no pela graa; de outra maneira, as obras jno so obras". to impossvel unir a graa e as obras, como o unir um cido e um lcali. "Porque pela graa sois salvos, por meio da f; e isto no vem de vs; dom de Deus. No vem das obras, para que ningum se glorie (Efsios
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2:8-9). O absoluto favor de Deus no pode harmonizar-se com o mrito humano, mais do que o leo e a gua fundir-se num s elemento. Ver tambm Romanos 4:4-5.
So trs s principais caractersticas da graa divina: primeira, eterna. A graa foi planejada antes de ser exercida, e fez parte do propsito divino antes de ser infundida: "Que nos salvou, e chamou com uma santa vocao; no segundo as nossas obras, mas segundo o seu prprio propsito e graa que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos sculos" (2 Timteo 1:9). Segunda, livre, ou gratuita, pois ningum a pde comprar jamais: Sendo justificados gratuitamente pela sua graa..." (Romanos 3:24. Terceira, soberana, porque Deus a exerce em favor daqueles a quem Lhe apraz, e a estes a concede: "Para que... tambm a graa reinasse..." (Romanos 5:21). Se a graa "reina", ocupa um trono, e o ocupante do trono soberano. Da o "... trono da graa..." (Hebreus 4:16). Exatamente porque a graa um favor imerecido, exerce-se necessariamente de maneira soberana. Portanto, o Senhor declara: "Terei misericrdia" (ou graa) "...de quem eu tiver misericrdia,..'" (xodo 33:19). Se Deus mostrasse graa a todos os descendentes de Ado, os homens logo concluiriam que Ele, sendo justo, estava compelido a lev-los para o cu como uma razovel compensao por ter deixado a raa humana cair em pecado. Mas o grande Deus no est sob nenhuma obrigao para com nenhuma de Suas criaturas, menos ainda para com os que so rebeldes contra Ele. A vida eterna um dom e, portanto, no pode ser obtida pelas boas obras, nem reivindicada como um direito. Vendo que a salvao um "dom", quem tem direito de dizer a Deus a quem Ele deve do-lo? No que o Doador recusa este dom a qualquer que o busque de todo corao e de acordo com as regras que Ele prescreveu. No; Ele no o recusa a ningum que O busca de mos vazias e da maneira determinada por Ele. Mas, se de um mundo impenitente e incrdulo Deus est resolvido a exercer o Seu direito soberano escolhendo um nmero limitado de pessoas para serem salvas, quem sai prejudicado? Estar Deus obrigado a impor o Seu dom aos que no lhe do valor? Estar Deus compelido a salvar os que esto determinados a seguir o seu prprio caminho! Nada, porm, enraivece mais o homem natural e mais contribui para trazer tona a sua inata e inveterada inimizade contra Deus, do que insistir com ele sobre a eternidade, a gratuidade e a absoluta soberania da graa divina. Dizer que Deus formou Seu propsito desde a eternidade, sem nenhuma consulta criatura, demasiadamente humilhante para o corao no quebrantado Dizer que a graa no pode ser adquirida ou conquistada pelos esforos do homem, esvazia demais o ego dos que confiam em sua justia
prpria. E o fato de que a graa separa os que ela quer para serem os objetos do seu favor, provoca acalorados protestos dos rebeldes arrogantes. O barro se levanta contra o Oleiro e pergunta: "Por que Tu me fizeste assim?' Um rebelde infrator da lei atreve-se a questionar a justia da soberania divina. Vse a distintiva graa de Deus no ato de salvar aqueles que Ele separou soberanamente para serem os Seus favoritos. Com "distintiva" queremos dizer que a graa discrimina, faz diferenas escolhe alguns e deixa de lado outros. Foi a distintiva graa de Deus que separou Abrao dentre os seus vizinhos idolatras e fez dele "o amigo de Deus". Foi a distintiva graa que salvou "publicanos e pecadores", mas disse acerca dos fariseus: Deixai-os" (Mateus 15:14). Em parte nenhuma a glria da livre e soberana graa de Deus fulge mais conspicuamente do que na indignidade e diversidade dos que a recebem.
Esta verdade foi belamente ilustrada por James Hervey (1751): "Onde o pecado abundou, diz a proclamao do tribunal do cu superabundou a graa. Manasses foi um monstro cruel, pois fez passar seus prprios filhos pelo fogo, e encheu Jerusalm de sangue inocente. Manasses foiperito em iniqidade, pois, no s multiplicou, chegando a extremos extravagantes, as suas impiedades sacrlegas, como tambm envenenou os princpios e perverteu os costumes dos seus sditos, fazendo-os agir pior do que os pagos idolatras mais detestveis. Veja 2 Crnicas 33. Contudo, atravs desta super abundante graa, ele se humilhou, mudou de vida, e se tornou um filho do amor que perdoa e um herdeiro da glria imortal. "Vede Saulo, aquele perseguidor cruel e sanguinrio, quando, respirando ameaas e disposto matana, atormentava as ovelhas de Jesus e levava morte os Seus discpulos. A devastao que causara e as famlias inofensivas que arruinara, no eram suficientes para mitigar o seu esprito vingativo. Eram apenas uma amostra para o paladar que, em vez de saciar a sede de sangue, fizeram-no seguir mais de perto a presa e ansiar mais ardentemente pela destruio. Continuava sedento de violncia e morte. To vida e insacivel era sua sede, que chegava a respirar ameaas e mortes (Atos 9:1). Suas palavras eram verdadeiras lanas e flechas, e a sua lngua, uma espada afiada. Para ele, ameaar os cristos era to natural como respirar. Nos propsitos do seu corao rancoroso, eles no paravam de sangrar. S devido falta de poder que cada slaba que proferia e cada sopro da sua respirao no espalhavam mais mortes nem faziam cair mais discpulos inocentes. Quem, segundo os princpios da justia humana, no o teria pronunciado vaso da ira, destinado a inevitvel condenao? E mais, quem no estaria pronto a concluir que, se houvesse cadeias mais pesadas e masmorra mais triste no mundo das torturas, certamente se reservariam para to implacvel inimigo da verdadeira religiosidade? Entretanto, admirai e adorai os inexaurveis tesouros da graa este Saulo admitido na santa comunho dos profetas, enumerado com o nobre exrcito de mrtires e faz distinguida figura no glorioso colgio dos apstolos. "Era proverbial a maldade dos corntios. Alguns deles chafurdavam em to abominveis libertinagens, e estavam habituados a to ultrajantes atos de injustia que eram uma infmia at para a natureza humana. Contudo, at mesmo esses filhos da violncia e escravos do sensualismo foram lavados, santificados, justificados (1 Corntios 6:9-11). "Lavados" no sangue precioso do
Redentor que deu Sua vida; "santificados" pelas poderosas operaes do bendito Esprito; "justificados" atravs das misericrdias infinitamente ternas do Deus da graa. Os que outrora foram um aflitivo fardo para a terra, vieram a ser o jbilo do cu, o encanto dos anjos". Agora, a graa de Deus se manifesta no Senhor Jesus Cristo, por Ele e atravs dEle.-"Porque a lei foi dada por Moiss; a graa e a verdade vieram por Jesus Cristo (Joo 1:17). Isto no significa que Deus nunca exercera a Suagraa em favor de algum antes de encarnar-Se o Seu Filho, Gnesis 6:8; xodo 33:19; etc; mostram que a verdade outra. Mas a graa e a verdade foram plenamente reveladas e perfeitamente exemplificadas quando o Redentor veio aesta terra e morreu na cruz por Seu povo. somente atravs de Cristo, o Mediador, que a graa de Deus flui para os Seus eleitos. "Muito mais a graa de Deus e o dom pela graa, que dum s homem (ou "por um S homem"), Jesus Cristo... muito mais os que recebem a abundncia da graa, e o dom da justia, reinaro em vida por um s Jesus Cristo ... para que ... tambm a graa reinasse pela justia para a vida eterna, por Jesus Cristo nosso Senhor" (Romanos 5:15, 17, 21).
A graa de Deus proclamada no evangelho (Atos 20:24), o qual para o judeu confiante em sua justia prpria um "escndalo" (ou "pedra de tropeo"), e para o grego presunoso e filsofo "loucura". Por qu? Porque no h nada no evangelho que se preste para gratificar o orgulho do homem. Ele anuncia que se no formos salvos pela graa, no seremos salvos de modo nenhum. Ele declara que, fora de Cristo -o Dom inefvel da graa de Deus o estado de todos os homens desesperador, irremedivel, sem esperana. O evangelho trata os homens como criminosos culpados, condenados e mortos. Declara que o moralista mais puro est na mesma condio terrvel em que se acha o libertino mais voluptuoso; que o religioso confesso e zeloso, com todas as suas prticas religiosas, no melhor do que o mais profano infiel. O evangelho considera a todo descendente de Ado como pecador decado, corrupto, merecedor do inferno e desvalido. A graa que o evangelho divulga a sua nica esperana. Todos permanecem diante de Deus como rus sentenciados, transgressores da Sua santa lei, como criminosos culpados e condenados, no a espera de alguma sentena, mas esperando a execuo da sentena j passada sobre eles (Joo 3:18; Romanos 3:19). Queixar-se da parcialidade da graa suicdio. Se o pecador insiste em que se lhe faa a pura justia, ento o "lago de fogo" ter que ser o seu quinho eterno. Sua nica esperana est em render-se a sentena que a justia divina lhe passou, apropriar-se da retido absoluta que a caracteriza, lanar-se misericrdia de Deus, e estender mos vazias para servir-se da graa de Deus, que agora chegou a conhecer por meio do evangelho. A terceira pessoa da Deidade o comunicador da graa pelo que e denominado "... o Esprito de graa... " (Zacarias 12-10) Deus, o Pai, a fonte de toda graa, pois Ele em Si mesmo determinou a aliana eterna da redeno. Deus, o Filho, o nico canal da graa. O evangelho o divulgador da graa. O Esprito o doador. Ele aplica o evangelho com poder salvador alma vivificando os eleitos enquanto ainda mortos, dominando as suas vontades rebeldes, amolecendo os seus duros coraes, abrindo-lhes os olhos da sua cegueira, limpando-os da lepra do pecado Podemos assim dizer com G. S. Bishop (j falecido): A graa uma proviso para homens que se acham to decados que no podem erguer o machado da justia, to corruptos que no podem mudar as suas prprias naturezas, to contrrios a Deus que no podem voltar para Ele, to cegos que no podem v-10, to surdos que no podem ouvi-1O, e to mortos que Ele mesmo precisa abrir os seus tmulos e levant-
14 A MISERICRDIA DE DEUS
"Louvai ao Senhor, porque ele bom; porque a sua begnidade (ou misericrdia) dura para sempre" (Salmo 136-1) Deus deve ser grandemente louvado por esta perfeio do Seu carter. Por trs vezes, em trs versculos, o salmista convida os santos a louvarem ao Senhor por este atributo adorvel. E certamente o mnimo que se pode pedir aos que to copiosamente se beneficiaram dele. Quando ponderamos as caractersticas desta excelncia divina, no podemos seno bendizer a Deus por ela A Sua misericrdia (ou benignidade), "grande" (1 Reis 3-6-1 Pedro 1:3), "abundante" (Salmo 86:5), "terna" (Lucas 1-78 'na verso utilizada pelo autor); "... de eternidade a eternidade sobre aqueles que o temem..." (Salmo 103:17). Bem podemos dizer com o salmista: "... louvarei com alegria a tua misericrdia ... (Salmo 59:16). "... eu farei passar toda a minha bondade por diante de ti e apregoarei o nome do Senhor diante de ti; e terei misericrdia de quem eu tiver misericrdia, e me compadecerei de quem me compadecer" (xodo 33:19). Em que a misericrdia de Deus difere da Sua "graa"? A misericrdia de Deus tem sua origem na bondade divina. O primeiro fruto da bondade de Deus Sua benignidade ou generosidade, pela qual Ele d liberalmente a Suas criaturas como criaturas; assim deu Ele o ser e a vida a todas as coisas. O segundo fruto da bondade de Deus Sua misericrdia, que denota a pronta inclinao de Deus para aliviar a misria das criaturas cadas. Assim, "misericrdia" pressupe pecado. Embora no seja fcil, primeira considerao, perceber uma real diferena entre a graa e a misericrdia de Deus, podemos compreend-la se ponderarmos cuidadosamente os Seus procedimentos para com os anjos que no caram. Ele nunca exerceu misericrdia para com eles, pois jamais tiveram qualquer necessidade dela, pois no pecaram, nem ficaram debaixo dos efeitos da maldio. Todavia, eles so objetos da livre e soberana graa de Deus. Primeiro, porque Deus os elegeu do seio de toda a raa anglica (1 Timteo 5:21), Segundo, e em conseqncia da sua eleio, porque foram preservados da apostasia, quando Satans se rebelou e arrastou consigo um tero das hostes celestiais (Apocalipse 12:4), Terceiro, tornando Cristo a Cabea deles
(Colossenses 2:10; 1 Pedro 3:22), meio pelo qual eles permanecem eternamente seguros na santa condio em que foram criados. Quarto, devido exaltada posio que lhes foi atribuda: viver na presena imediata de Deus (Daniel 7:10), servi-1O constantemente em Seu templo celestial, receber dEle honrosas misses (Hebreus 1:14). Isso graa abundante para com eles, mas "misericrdia" no .
No empenho em estudar a misericrdia de Deus como exposta nas Escrituras, preciso fazer uma trplice distino, se que a Palavra da Verdade h de ser "bem manejada" nesse ponto. Primeiro, h uma misericrdia geral de Deus, que se estende no somente a todos os homens, crentes e descrentes igualmente, mas tambm criao inteira: "...as suas misericrdias so sobre todas as suas obras" (Salmo 145:9); "... de mesmo quem d a todos a vida, e a respirao, e todas as coisas" (Atos 17:25). Deus tem compaixo da criao animal em suas necessidades, e a supre de proviso adequada. Segundo, h uma misericrdia especial de Deus, exercida para com os filhos dos homens, ajudando-os e socorrendo-os, apesar dos seus pecados. Tambm a estes Deus supre todas as necessidades da vida: "... porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desa sobre justos e injustos" (Mateus 5:45). Terceiro, h uma misericrdia soberana, reservada para os herdeiros da salvao, comunicada a estes por meio de uma aliana, atravs do Mediador. Acompanhando um pouco mais a diferena entre o segundo e o terceiro pontos distintivos acima expostos, importante notar que as misericrdias que Deus concede aos mpios so exclusivamente de natureza temporal; quer dizer, limitam-se estritamente a presente vida. No haver misericrdia que se estenda a eles alm-tumulo: "... este povo no povo de entendimento-por isso aquele que o fez no se compadecera dele, e aquele que o formou no lhe mostrar nenhum favor" (Isaas 27:11) Neste ponto, porm, pode oferecer-se uma dificuldade a algum dos nossos leitores, a saber: no afirmam as Escrituras que a misericrdia de Deus, ...a sua benignidade dura para sempre"? (Salmo 13b: 1)7 E preciso assinalar duas coisas neste contexto. Deus nunca deixa de ser misericordioso, pois isto constitui uma qualidade da essncia divina (Salmo 116:5); mas o exerccio da Sua misericrdia e regulado por Sua vontade soberana. Tem que ser assim, pois no ha fora dEle coisa nenhuma que O obrigue a agir; se houvesse, essa "coisa" seria suprema e Deus deixaria de ser Deus. somente a pura graa soberana que determina o exerccio da misericrdia divina. Deus afirma expressamente este fato em Romanos 9:15: "Pois diz a Moiss: Compadecer-me-ei de quem compadecer, e terei misericrdia de quem eu tiver misericrdia. No e a desgraa da criatura que O leva a mostrar misericrdia, pois Deus no influenciado por coisas alheias a Si mesmo, como ns somos. Se Deus fosse influenciado pela misria abjeta dos pecadores leprosos, Ele os limparia e os salvaria a todos. Mas no o faz. Por qu? Simplesmente porque no do Seu agrado e do Seu propsito agir assim.
Menos ainda so os mritos da criatura que O levam a conceder-lhes misericrdias, pois uma contradio de termos falar em merecer "misericrdia. "No petas obras de justia que houvssemos feito, mas segundo a sua misericrdia, nos salvou..." (Tito 3:5) aquelas estando em direta anttese a esta. Tampouco so os mritos de Cristo que movem Deus a conceder misericrdias aos Seus eleitos; isto seria tomar o efeito pela causa. "atravs" ou por causa da misericrdia de Deus que Cristo foi enviado ao mundo, ao Seu povo (Lucas 1:78). Os mritos de Cristo tornaram possvel a Deus conceder justamente misericrdias espirituais aos Seus eleitos, tendo sido satisfeita plenamente a justia pelo Fiador! No, a misericrdia provm unicamente da vontade soberana de Deus.
Ademais, conquanto seja verdade, bendita e gloriosa verdade, que a misericrdia de Deus "dura para sempre", devemos observar cuidadosamente os objetos a quem Deus mostra misericrdia. At o lanamento dos reprovados no "lago de fogo" um ato de misericrdia. O castigo dos mpios deve ser considerado de um trplice ponto de vista. Do lado de Deus, um ato de justia, vindicando a Sua honra, A misericrdia de Deus nunca se mostra cm detrimento da Sua santidade e justia. Do lado dos mpios, um ato de eqidade, dado que so postos a sofrer a merecida recompensa das suas iniqidades. Mas do ponto de vista dos redimidos, o castigo dos mpios um ato de indescritvel misericrdia. Quo terrvel seria se a presente ordem de coisas continuasse para sempre, quando os filhos de Deus so forados a viver no meio dos filhos do diabo! O cu logo deixaria de ser cu, se os ouvidos dos santos ainda ouvissem a Linguagem blasfema e corrompida dos reprovados. Que misericrdia, o fato de que na Nova Jerusalm no entrar ... coisa alguma que contamine, e cometa abominao... " (Apocalipse 21:27)! Para que o leitor no pense que no ltimo pargrafo acima estivemos laborando sobre a nossa imaginao, apelemos para as Escrituras Sagradas em apoio do que foi dito. No Salmo 143:12 vemos Davi orando: "E por tua misericrdia desarraiga os meus inimigos, e destri a todos os que angustiam a minha alma: pois sou teu servo". Ainda, no Salmo 136:15 lemos que Deus "derribou a Fara com o seu exrcito no Mar Vermelho; porque a sua benignidade (ou misericrdia) dura para sempre". Foi um ato de castigo a Fara e aos seus exrcitos, mas foi um ato de "misericrdia" para os israelitas. Mais ainda, em Apocalipse 19:1-3 lemos: "... ouvi no cu como que uma grande voz de uma grande multido, que dizia: Aleluia; Salvao, e glria, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus; porque verdadeiros e justos so os seus juzos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituio, e das mos dela vingou o sangue dos seus servos. E outra vez disseram: Aleluia. E o fumo dela sobe para todo o sempre". Do que se acaba de ver diante de ns, notemos como v a presunosa esperana dos mpios que, apesar do seu continuado desafio a Deus, mesmo assim contam com uma atitude misericordiosa de Deus em favor deles. Quantos h que dizem: no acredito que Deus me lanar no inferno; Ele muito misericordioso. Essa esperana uma vbora que, se for acalentada no colo deles, ir feri-los com picada morta!. Deus Deus de justia, como de misericrdia, e Ele declarou expressamente que "... ao culpado no tem
porinocente..." (xodo 34:7). Sim, Ele disse: "Os mpios sero lanados no inferno e todas as gentes que se esquecem de Deus" (Salmo 9:17). Tambm poderiam raciocinar os homens: se se deixasse acumular o lixo, e os esgotos ficassem estagnados, e as pessoas ficassem privadas de ar renovado, no acredito que um Deus misericordioso as deixaria cair presas de uma febre mortal. O fato que aqueles que negligenciam as leis da sade so tomados pela doena, apesar da misericrdia de Deus. Igualmente verdade que os que negligenciam as leis da sade espiritual sofrero para sempre a ''segunda morte". indizivelmente grave ver tantos abusando desta perfeio divina. Continuam desprezando a autoridade de Deus, pisoteando Suas leis; continuam em pecado, e ainda se vangloriam apoiados na Sua misericrdia.
Mas Deus no ser injusto para Consigo mesmo. Deus mostra misericrdia para o penitente sincero, no porm para o impenitente (Lucas 13:3). diablico continuar em pecado e ainda contar com a misericrdia de Deus para a proscrio do castigo. Equivale a dizer: "Faamos males, para que venham bens". Dos que falam assim, est escrito: "... A condenao desses justa' (Romanos 3:8). Com toda a certeza, essa presuno se ver frustrada; leia cuidadosamente Deuteronmio 29:18-20. Cristo a propiciao espiritual, e todos quantos desprezarem e rejeitarem o Seu senhorio, perecero "... no caminho, quando em breve se inflamar a sua ira" (Salmo 2:12). O nosso pensamento final ser sobre as misericrdias espirituais de Deus para com o Seu povo. "... a tua misericrdia grande at aos cus..." (Salmo 57:10). As riquezas da misericrdia transcendem os nossos mais elevados pensamentos. "Pois quanto o cu est elevado acima da terra, assim grande a sua misericrdia para com os que o temem" (Salmo 103:11). Ningum pode medi-la. Os eleitos so designados "... vasos de misericrdia..." (Romanos 9:23). Foi a misericrdia que os vivi-ficou quando estavam mortos em pecado (Efsios 2:4-5). A misericrdia os salvou (Tito 3:5). Sua abundante misericrdia os regenerou para uma herana eterna (1 Pedro 1:3). E nos faltaria tempo para falar da misericrdia de Deus que preserva, sustenta, perdoa e supre os Seus. Para eles Deus "... Pai das misericrdias..." (2 Corntios 1:3). Quando em elevao minha alma sonda as Tuas misericrdias, meu Deus, a viso me arrebata, e ento me absorvo em encanto, em amor e em louvor.
15 O AMOR DE DEUS
As Escrituras nos dizem trs coisas a respeito da natureza de Deus. Primeira, "Deus esprito" (Joo 4:24). No grego no h artigo indefinido. Dizer "Deus um esprito" sumamente repreensvel, pois O coloca na mesma classificao de outros seres. Deus "esprito" no sentido mais elevado. Como "esprito", incorpreo, no tem substncia visvel. Tivesse Deus um corpo tangvel, no seria onipresente, estaria limitado a um lugar; sendo "esprito", enche os cus e a terra. Segunda, "Deus luz" (1 Joo 1:5), o que oposto s trevas. Nas Escrituras as "trevas" representam o pecado, o mal, a morte; a "luz" representa a santidade, a bondade, a vida. "Deus luz" significa que Ele a soma de todas as excelncias. Terceira, "Deus amor" (1 Joo 4:8). No simplesmente que Deus ama, porm que amor mesmo. O amor no meramente um dos Seus atributos, mas sim Sua prpria natureza, Muitos hoje falam do amor de Deus, mas so completamente alheios ao Deus de amor. Comumente se considera o amor divino como uma espcie de fraqueza amvel, uma certa indulgncia boazinha; fica reduzido a um sentimento enfermio, modelado nas emoes humanas. Pois bem, a verdade que nisto, como em tudo mais, os nossos pensamentos precisam ser formulados e regulados por aquilo que revelado nas Escrituras Sagradas. Que h urgente necessidade disto transparece no s na ignorncia que geralmente prevalece, mas tambm no baixo nvel de espiritualidade atual que lamentavelmente se evidencia entre os cristos professos. Quo pouco amor genuno a Deus existe! Uma das principais razes disso que os nossos coraes pouco se ocupam com o Seu maravilhoso amor por Seu povo. Quanto melhor conheamos o Seu amor sua natureza, sua plenitude, sua bemaventurana mais os nossos coraes sero impelidos a am-1O. 1. O amor de Deus imune de influncia alheia. Queremos dizer com isso que no h nada nos objetos do Seu amor que possa coloc-lo em ao, e no h-nada na criatura que possa atra-lo ou impulsion-lo. O amor que uma criatura tem por outra deve-se a algo existente nelas; mas o amor de Deus gratuito espontneo e no causado por nada nem por ningum. A nica razo pela qual Deus ama algum acha-se em Sua vontade soberana: "O Senhor no
tomou prazer em vs, nem vos escolheu, porque a vossa multido era mais do que a de todos os outros povos, pois vos reis menos em nmero do que todos os povos: mas porque o Senhor vos amava" {Deuteronmio 7:7-8), Deus amou o Seu povo desde a eternidade e, portanto, a criatura nada tem que possa ser a causa daquilo que se acha em Deus desde a eternidade. Seu amor provm dEle prprio: "... segundo o seu prprio propsito..." (2 Timteo 1:9).
"Ns o amamos a ele porque ele nos amou primeiro" (1 Joo 4:19). Deus no nos amou porque ns O amvamos, mas nos amou antes de ns termos uma s partcula de amor por Ele. Se Deus nos tivesse amado em resposta ao nosso amor, ento o Seu amor no seria espontneo; mas visto que Ele nos amou quando ns no O amvamos, claro que o Seu amor no foi influenciado. Para que se honre a Deus, e se firme o corao do Seu Filho, altamente importante que entendamos com absoluta clareza esta verdade preciosa. O amor de Deus por mim e por todos e cada um dos que so "Seus" no foi movido nem motivado por coisa nenhuma em ns. Que havia em mim que atraiu o corao de Deus? Absolutamente nada. Ao contrrio, porm, havia tudo para O repelir, tudo na medida para lev-lO a detestar-me sendo eu pecador, depravado, corrupto, sem "nenhum bem" em mim. "O que existia em mim que merecesse estima ou desse algum prazer ao Criador? Fosse assim mesmo, Pai, eu sempre cantaria por veres algo bom em mim, Senhor." 2. eterno. Necessariamente, Deus eterno, e Deus amor; portanto, como Deus no teve princpio, Seu amor tambm no teve. Mesmo concedendo que esse conceito transcende o alcance das nossas frgeis mentes, contudo, quando no podemos compreender, podemos inclinar-nos em adorao. Como claro o testemunho de Jeremias 31:3: "... com amor eterno te amei, tambm com amorvel benignidade te atra"! Que bem-aventurana saber que o grandioso e santo Deus amava o Seu povo antes do cu e a terra terem sido chamados existncia, que Ele pusera o Seu corao neles desde toda a eternidade! Esta uma prova clara de que o Seu amor espontneo, pois Ele os amou eras sem fim, antes de sequer existirem! A mesma verdade preciosa exposta em Efsios 1:4-5: "Como tambm nos elegeu nele antes da fundao do mundo, para que fssemos santos e irrepreensveis diante dele em caridade; e nos predestinou..." (ou, na verso empregada pelo autor, "Havendo-nos predestinado em amor"). Que de louvores isto deveria evocar de cada um dos Seus filhos! Que tranqilidade para o corao saber que, uma vez que o amor de Deus por mim no teve comeo, certamente no ter fim! Se certo que "de eternidade a eternidade" Ele Deus, e "amor", ento igualmente certo que "de eternidade a eternidade" Ele ama a Seu povo.
3. soberano. Isso tambm evidente em si mesmo. Deus soberano, no deve obrigao a ningum; Ele Sua prpria lei e age sempre de acordo com a Sua vontade dominadora. Assim, pois, se Deus soberano e amor, inferese necessariamente que o Seu amor soberano. Porque Deus Deus, faz o que Lhe agrada; porque amor, ama a quem Lhe apraz. Eis a Sua prpria afirmao expressa: "... amei Jac e aborreci Esa" (Romanos 9:13). Em Jac no havia mais razo do que em Esa para ser objeto do amor divino. Ambos tinham os mesmos pais e, gmeos que eram, nasceram na mesma hora.
Contudo, Deus amou um e aborreceu o outro. Por que? Porque assim Lhe aprouve. A soberania do amor de Deus infere-se necessariamente do fato de que nada do que h na criatura o influencia. Portanto, afirmar que a causa do Seu amor est em Deus outro modo de dizer que Ele ama a quem Lhe apraz. Por um momento, suponha o oposto. Suponha que o amor de Deus fosse governado por outra coisa que a Sua vontade, caso em que Ele amaria seguindo alguma norma e, amando por alguma norma, Ele estaria subordinado a uma lei do amor e, ento, longe de ser livre, Deus seria governado por uma lei. "Em amor nos predestinou para filhos de adoo por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo" o qu? Alguma virtude que previu neles? No. O que, ento? "... segundo o beneplcito de sua vontade" (Efsios 1:4-5). 4. infinito. Em Deus tudo infinito. Sua essncia enche os cus e a terra. Sua sabedoria no sofre nenhuma limitao, porquanto Ele conhece todas as coisas, do passado, do presente e do futuro. Seu poder ilimitado, pois no h nada difcil demais para Ele. Assim, o Seu amor sem limite. H nele uma profundidade que ningum consegue sondar; h nele uma altitude que ningum consegue escalar; h nele uma largura e um comprimento que desdenhosamente desafiam a medio feita por todo e qualquer padrohumano. declarado belamente em Efsios 2:4: "Mas Deus, que riqussimo em misericrdia, pelo seu muito amor com que nos amou". A palavra "muito" aqui faz paralelo com a expresso "... Deus amou... de tal maneira..." (Joo 3:16), Diz-nos que o amor de Deus to transcendental que no pode ser avaliado. "Nenhuma lngua pode expressar plenamente a infinidade do amor de Deus, e nenhum intelecto pode compreend-lo: "... excede todo o entendimento..." (Efsios 5:19). As idias mais amplas que nossa mente finita possa conceber acerca do amor divino, esto infinitamente abaixo da sua verdadeira natureza. O cu no se acha to distante da terra como a bondade de Deus est alm das mais elevadas concepes que somos capazes de formular dela. A bondade divina um oceano que se avoluma e se torna mais alto do que todas as montanhas de oposio nos que so objetos dela. E uma fonte da qual dimana todo o bem necessrio aos que a ela esto ligados" (John Brine, 1743). 5. E imutvel. Como em Deus "... no h mudana nem sombra de variao" (Tiago 1:17), assim o Seu amor no conhece mudana nem diminuio. O verme Jac d-nos enftico exemplo disto: "Amei Jac", declarou Jeov, e, a despeito de toda a sua incredulidade e obstinao, Ele nunca deixou de am-
lo. Joo 13:1 oferece-nos outra bela ilustrao. Precisamente naquele noite um dos apstolos diria "... mostra-nos o Pai. .."; outro O negaria soltando maldies; todos se escandalizariam por causa dEle e O abandonariam. Todavia, "... como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os at ao fim". O amor divino no se rende s vicissitudes. O amor divino "... forte como a morte ... as muitas guas no poderiam apagar este amor..." (Cantares de Salomo 8:6-7). Nada nos pode separar dele: Romanos 8:35-39. "Seu amor no se mede e no conhece fim, nada pode mud-lo, nem seu curso. Eternamente o mesmo, sem cessar dimana
do manancial eterno."
1. santo. O amor de Deus no regulado por capricho, paixo ou sentimento,
mas por princpio. Exatamente como a Sua graa reina, no s suas expensas, mas "pela justia" (Romanos 5:21), assim o Seu amor nunca entra em conflito com a Sua santidade. Que "Deus luz" (1 Joo 1:5) se menciona antes de dizer-se que "Deus amor" (1 Joo 4:8). O amor de Deus no mera fraqueza boazinha, nem brandura efeminada. As Escrituras declaram: "... o Senhor corrige o que ama, e aoita a qualquer que recebe por filho" (Hebreus 12:6). Deus no tolerar o pecado, mesmo em Seu povo. O Seu amor puro, e no se mistura com nenhum sentimentalismo piegas. 2. pleno de graa. O amor e o favor de Deus so inseparveis. Esta verdade exposta claramente em Romanos 8:32-39. O que esse amor, do qual,nada nos pode -separar, percebe-se facilmente pelo propsito e alcance do contexto imediato: aquela boa vontade ou beneplcito e graa de Deus que O determinou a dar Seu Filho pelos pecadores. Esse amor foi o poder impulsivo da encarnao de Cristo: "... Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unignito..." (Joo 3:16). Cristo morreu, no para fazer com que Deus nos amasse, mas porque Ele amava o Seu povo. O Calvrio a suprema demonstrao do amor divino. Leitor cristo, sempre que voc for tentado a duvidar do amor de Deus, volte ao Calvrio. H aqui, pois, farta causa para confiana e pacincia sob a aflio debaixo da mo de Deus. Cristo era amado pelo Pai, porm Ele no foi eximido de pobreza, humilhao e perseguio. Cristo teve fome e sede. Assim, quando Cristo permitiu que os homens cuspissem nEle e O golpeassem, isso no foi incompatvel com o amor de Deus por Ele. Portanto, que nenhum cristo questione o amor de Deus quando passar por aflies e provaes. Deus no enriqueceu a Cristo na terra com prosperidade temporal, pois Ele no tinha "... onde reclinar a cabea" (Mateus 8:20). Mas Deus Lhe deu o Esprito sem medida {Joo 3:34). Aprenda o cristo, pois, que as bnos espirituais so os principais dons do amor divino. Que bno saber que, ao passo que o mundo nos odeia, Deus nos ama!
16 A IRA DE DEUS
triste ver tantos cristos professos que parecem considerar a ira de Deus como uma coisa pela qual eles precisam pedir desculpas, ou, pelo menos, parece que gostariam que no existisse tal coisa. Conquanto alguns no fossem longe o bastante para admitir abertamente que a consideram uma mancha no carter divino, contudo, esto longe de v-la com bons olhos, no gostam de pensar nisso e dificilmente a ouvem mencionada sem que surja em seus coraes um ressentimento contra essa idia. Mesmo dentre os mais sbrios em sua maneira de julgar, no poucos parecem imaginar que h na questo da ira de Deus uma severidade terrificante demais para propiciar um tema para considerao proveitosa. Outros do abrigo ao erro de pensar que a ira de Deus no coerente com a Sua bondade, e assim procuram bani-la dos seus pensamentos. Sim, muitos h que fogem de visualizar a ira de Deus, como se fossem intimados a ver alguma ndoa no carter divino, ou algum defeito no governo divino. Mas, o que dizem as Escrituras? Quando a procuramos nelas, vemos que Deus no fez tentativa alguma para ocultar a realidade da Sua ira. Ele no se envergonha de dar a conhecer que a vingana e a clera Lhe pertencem. Eis o Seu desafio: "Vede agora que eu, eu o sou, e mais nenhum Deus comigo; eu mato, e eu fao viver; eu firo, e eu saro; e ningum h que escape da minha mo. Porque levantarei a minha mo aos cus, e direi: Eu vivo para sempre. Se eu afiar a minha espada reluzente, e travar do juzo a minha mo, farei tornar a vingana sobre os meus adversrios, e recompensarei aos meus aborrecedores" (Deuteronmio 32:39-41). Um estudo na concordncia mostrar que h mais referncias nas Escrituras indignao, clera e ira de Deus, do que ao Seu amor e ternura. Porque Deus santo, Ele odeia todo pecado; e porque Ele odeia todo pecado, a Sua ira inflama-se contra o pecador Salmo 7:11. Pois bem, a ira de Deus uma perfeio divina tanto como a Sua fidelidade, o Seu poder ou a Sua misericrdia. S pode ser assim, pois no h mcula alguma, nem o mais ligeiro defeito no carter de Deus, porm, haveria, se nEle no houvesse "ira"! A indiferena para com o pecado uma ndoa moral, e aquele que no o odeia um leproso moral. Como poderia Aquele que
a soma de todas as excelncias olhar com igual satisfao para a virtude e o vcio, para a sabedoria e a estultcia? Como poderia Aquele que infinitamente santo ficar indiferente ao pecado e negar-Se a manifestar a Sua "severidade" (Romanos 11:22) para com ele? Como poderia Aquele que s tem prazer no que puro e nobre, deixar de detestar e de odiar o que impuro e vil? A prpria natureza de Deus faz do inferno uma necessidade to real, um requisito to imperativo e eterno como o cu o . No somente no h imperfeio nenhuma em Deus, mas tambm no h nEle perfeio que seja menos perfeita do que outra.
A ira de Deus a Sua eterna ojeriza por toda injustia. o desprazer e aindignao da divina eqidade contra o mal. a santidade de Deus posta emao contra o pecado. a causa motora daquela sentena justa que Ele lavra sobre os malfeitores. Deus est irado contra o pecado porque este rebelio contra a Sua autoridade, um ultraje Sua soberania inviolvel. Os insurgentes contra o governo de Deus sabero um dia que Deus o Senhor. Sero levados a sentir quo grandiosa aquela Majestade que eles desprezaram, e como terrvel aquela ira de que foram ameaados e a que no deram a mnima importncia. No que a ira de Deus seja uma retaliao maldosa e mal intencionada, infligindo agravo s pelo prazer de infligi-lo, ou devolver a ofensa recebida. No; embora seja verdade que Deus vindicar o domnio como Governador do universo, Ele no ser revanchista. Evidencia-se que a ira divina uma das perfeies de Deus, no somente pelas consideraes acima apresentadas, mas tambm fica estabelecido claramente pelas declaraes expressas da Sua Palavra. "Porque do cu se manifesta a ira de Deus..." (Romanos 1:18). "Manifestou-se quando foi pronunciada a primeira sentena de morte, quando a terra foi amaldioada e o homem foi expulso do paraso terrestre; e depois, mediante castigos exemplares como o dilvio e a destruio das cidades da plancie com fogo do cu, mas, especialmente pelo reinado da morte no mundo todo. Foi proclamada na maldio da lei para cada transgresso, e foi imposta na instituio do sacrifcio. No captulo 8 de Romanos, o apstolo Paulo chama a ateno dos crentes para o fato de que a criao inteira ficou sujeita vaidade, e geme e tem dores de parto. A mesma criao que declara que existe um Deus, e publica a Sua glria, tambm proclama que Ele o inimigo do pecado e o vingador dos crimes dos homens. Acima de tudo, porm, do cu se manifestou a ira de Deus quando o Filho de Deus veio a este mundo para revelar o carter divino, e quando essa ira foi demonstrada nos Seus sofrimentos morte, de maneira mais terrvel do que por todas as provas que Deus antes dera da Sua averso pelo pecado. Alm disso, o castigo futuro e eterno dos mpios agora declarado em termos mais solenes e explcitos do que antes. Sob a nova dispensao h duas revelaes dadas do cu, uma da ira, a outra da graa" (Robert Haldane). Mais: que a ira de Deus uma perfeio divina est demonstrado claramente pelo que lemos no Salmo 95:11: "Por isso jurei na minha ira que no entraro no meu repouso". Duas so as ocasies em que Deus "jura": quando faz promessas (Gnesis 22:16), e quando faz ameaas (Deuteronmio 1:34). Na
primeira, jura com misericrdia dos Seus filhos; na segunda, jura para aterrorizar os mpios. Um juramento feito para confirmao: Hebreus 6:16. Em Gnesis 22:16 disse Deus: "Por mim mesmo, jurei", No Salmo 89:35 Ele declara; "Uma vez jurei por minha santidade". Enquanto que no Salmo 95:11 Ele afirma: "Jurei na minha ira". Assim que o grande Jeov pessoalmente recorre Sua "ira" como a uma perfeio igual Sua "santidade": tanto jura por uma como pela outra! Ainda: como em Cristo "... habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Colossenses 2:9), e como todas as perfeies divinas so notavelmente manifestadas por Ele (Joo 1:18), por isso lemos sobre "... a ira do Cordeiro" (Apocalipse 6:16).
A ira de Deus uma perfeio do carter divino sobre a qual precisamos meditar com freqncia. Primeiro, para que os nossos coraes fiquem devidamente impressionados com a ojeriza de Deus pelo pecado, Estamos sempre inclinados a uma considerao superficial do pecado, a encobrir a sua fealdade, a desculp-lo com excusas vrias, Mas, quanto mais estudarmos e ponderarmos a averso de Deus pelo pecado e a maneira terrvel como se vinga dele, mais probabilidade teremos de compreender quo horrvel o pecado. Segundo, para produzir em nossas almas um verdadeiro temor de Deus: "... retenhamos a graa, pela qual sirvamos a Deus agradavelmente com reverncia e piedade ("santo temor"); porque o nosso Deus um fogo consumidor" (Hebreus 12:28-29). No poderemos servi-1O "agradavelmente" sem a devida "reverncia" ante a Sua tremenda Majestade e sem o devido "santo temor" de Sua justa ira, e promoveremos melhor estas coisas trazendo freqentemente memria o fato de que "o nosso Deus um fogo consumidor". Terceiro, para induzir nossas almas a fervoroso louvor a Deus por ter-nos livrado "... da ira futura" (1 Tessalonicenses 1:10). A nossa prontido ou a nossa relutncia em meditar na ira de Deus um teste seguro de at que ponto os nossos coraes reagem Sua influncia. Se no nos regozijamos verdadeiramente em Deus, pelo que Ele em Si mesmo, e por todas as perfeies que nEle h eternamente, como poder permanecer em ns o amor de Deus? Cada um de ns precisa vigiar o mais possvel em orao contra o perigo de criar em nossa mente uma imagem de Deus segundo o modelo das nossas inclinaes pecaminosas. Desde h muito o Senhor lamentou: "...pensavas que (eu) era como tu" (Salmo 50:21). Se no nos alegramos "...em memria da sua santidade" (Salmo 97:12), se no nos alegramos por saber que num dia que logo vem, Deus far uma demonstrao sumamente gloriosa da Sua ira, tomando vingana em todos os que agora se opem a Ele, prova positiva de que os nossos coraes no esto sujeitos a Ele, que ainda permanecemos em nossos pecados, rumo s chamas eternas. "Jubilai, naes (gentios), com o seu povo, porque vingar o sangue dos seus servos, e sobre os seus adversrios far tornar a vingana..." (Deuteronmio 32:43). E ainda lemos: "E, depois destas coisas, ouvi no cu como "que uma grande voz de uma grande multido, que dizia: Aleluia; Salvao, e glria, e honra, e poder pertencem ao Senhor nosso Deus; Porque verdadeiros e justos so os seus juzos, pois julgou a grande prostituta, que havia corrompido a terra com a sua prostituio, e das mos dela vingou o
sangue dos seus servos. E outra vez disseram: Aleluia..." (Apocalipse 19:1 -3). Grande ser o regozijo dos santos naquele dia em que o Senhor ir vindicar a Sua majestade, exercer o Seu domnio formidvel, magnificar a Sua justia, e derribar os orgulhosos rebeldes que ousaram desafi-lO. "Se tu, Senhor, observares (imputares) as iniqidades, Senhor, quem subsistir?" (Salmo 130:3). Cada um de ns pode muito bem fazer esta pergunta, pois est escrito que "...os mpios no subsistiro no juzo..." (Salmo 1:5). Quo dolorosamente a alma de Cristo padeceu ao pensar na ao de Deus observando as iniqidades do Seu povo quando estas pesaram sobre
Ele! Ele "... comeou a ter pavor, e a angustiar-se" (Marcos 14:33). Sua agonia terrvel, Seu suor de sangue, Seu grande clamor e splicas (Hebreus 5:7), Suas reiteradas oraes, "Se possvel, passe de mim este clice", Seu ltimo e tremendo brado, "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" tudo manifesta que pavorosas apreenses Ele teve quanto ao que era para Deus "observar iniqidades '. Bem que ns, pobres pecadores, podemos clamar: Senhor, quem subsistir, se o prprio Filho de Deus tremeu tanto sob o peso da Tua ira? Se tu, meu leitor, ainda no correste em busca do refgio em Cristo, o nico Salvador, "... que fars na enchente do Jordo?" (Jeremias 12:5). "Quando considero como a bondade de Deus sofre abusos da maior parte da humanidade, no posso seno apoiar quem disse; "O maior milagre do mundo a pacincia e generosidade de Deus para com o mundo ingrato. Se um prncipe tem inimigos metidos numa de suas cidades, no lhes envia provises, mas mantm sitiado o local e faz o que pode para venc-los pela fome. Mas o grande Deus, que poderia levar todos os Seus inimigos destruio num piscar de olhos, tolera-os e se empenha diariamente para sustent-los. Aquele que faz o bem aos maus e ingratos, pode muito bem ordenar-nos que bendigamos os que nos maldizem. No penseis, porm, que escapareis assim, pecadores; o moinho de Deus mi devagar, mas mi fino; quanto mais admirvel agora a Sua pacincia e generosidade, mais terrvel e insuportvel ser a fria resultante dos abusos feitos Sua bondade. Nada mais brando do que o mar; contudo, quando se agita e forma temporal, nada se enfurece mais. Nada to suave como a pacincia e bondade de Deus, e nada to terrvel como a Sua ira quando se inflama" (William Gurnall, 1660). "Fuja", pois, meu leitor, fuja para Cristo; fuja "...da ira futura" (Mateus 3:7), antes que seja tarde demais. Ns lhe rogamos com todo o empenho, no pense que esta mensagem tem em vistaoutra pessoa. para voc . No fique satisfeito em pensar que voc j fugiu para Cristo. Obtenha certeza disso! Rogue ao Senhor que sonde o teu corao e te revele o que tu s.
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Uma palavra aos pregadores. Irmos, em nosso ministrio temos pregado sobre este solene assunto tanto como devamos? Os profetas do Velho Testamento muitas vezes diziam aos seus ouvintes que as suas vidas mpias provocavam o Santo de Israel, e que estavam entesourando para si mesmos ir para o dia da ira. E as condies do mundo hoje no so melhores do que eram
ento! Nada se presta mais para despertar os indiferentes e fazer com que os crentes carnais sondem os seus coraes, do que alongar-nos sobre o fato de que Deus "...se ira todos os dias" com os mpios (Salmo 7:11). O precursor de Cristo exortava os seus ouvintes a fugirem "...da ira futura" (Mateus 3:7). O Salvador ordenava a quantos O ouviam: "Temei aquele que, depois de matar, tem poder para lanar no inferno, sim, vos digo, a esse temei" (Lucas 12:5). O apstolo Paulo dizia: "... sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens..." (2 Corntios 5: li). A fidelidade exige que falemos to claramente do inferno como do cu.
17 CONTEMPLANDO A DEUS
Nos captulos anteriores passamos em revista algumas das maravilhosas e belas perfeies do carter divino. Dessa dbil e defeituosa contemplao dos Seus atributos, deve ter ficado evidente para ns que Deus , primeiramente, um Ser incompreensvel, e, encantados e absortos ante a Sua grandeza infinita, vemo-nos constrangidos a adotar as palavras de Sofar: "Porventura alcanars os caminhos de Deus ou chegars perfeio do Todo-poderoso? Como as alturas dos cus a sua sabedoria; que poders tu fazer? Mais profunda ela do que o inferno; que poders tu saber? Mais comprida a sua medida do que a terra, e mais larga do que o mar" (J 11:7-9). Quando volvemos os nossos pensamentos para a eternidade de Deus,^ Sua imaterialidade, Sua onipresena, Sua onipotncia, vemos que todas elas transcendem nossas mentes. Mas a incompreensibilidade da natureza divina no razo para desistirmos da pesquisa reverente e da luta em orao para apreender o que Ele de Si mesmo revelou por Sua graa em Sua Palavra. Dado que somos incapazes de adquirir conhecimento perfeito, seria insensato dizer que, portanto, no faremos nenhum esforo para conseguir qualquer proporo dEle. Com acerto se tem dito que "nada alargar tanto o intelecto, nada engrandecer tanto a alma do homem, como uma investigao devota, zelosa e continuada do grande tema da Deidade. O mais excelente estudo para a expanso da alma a cincia de Cristo, e Este crucificado, e o conhecimento do Ser divino na Trindade gloriosa" (C. H. Spurgeon). Para citar um pouco mais o prncipe dos pregadores: "O estudo prprio do cristo o da Deidade. A mais alta cincia, a mais elevada especulao, a mais vigorosa filosofia, com o poder de empolgar a ateno de um filho de Deus, o nome, a natureza, a pessoa, os feitos e a existncia do grande Deus, a Quem ele chama seu Pai. Na contemplao daDeidade h algo capaz de comunicar sumo progresso mente. um assunto to vasto que todos os nossos pensamentos se perdem em sua imensidade; to profundo que o nosso orgulho se submerge em sua infinidade. Outros assuntos podemos compreender e tentar assimilar; neles sentimos uma espcie de
satisfao prpria, e seguimos nosso caminho pensando: "Vejam como sou sbio! Mas quando chegamos a este assunto magistral, vendo que a nossa sonda no consegue sondar a sua profundidade e que o nosso olho de guia no consegue ver a sua altura, vamos embora pensando: "Eu sou de ontem apenas, e nada sei" (Sermo sobre Malaquias 3:6).
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Sim, a incompreensibilidade da natureza divina deveria ensinar-nos humildade, cautela e reverncia. Aps todas as nossas pesquisas e meditaes, temos que dizer com J: "Eis que isto so apenas as orlas dos seus caminhos; e quo pouco o que temos ouvido dele!..." (J 26:14). Quando Moiss implorou ao Senhor por uma viso da Sua glria, Ele respondeu-lhe: ". . . apregoarei onome do Senhor diante de ti..." (xodo 33:19), e, como j se disse, "o nome a coleo dos Seus atributos". Acertadamente o puritano John Howe declarou: "Portanto, a noo que podemos formar da Sua glria apenas como a que podemos ter de uma obra volumosa comparada com uma breve sinopse, ou de uma espaosa regio comparada com uma pequena vista panormica. Ele nos d aqui um fiel relato de Si mesmo, mas no completo; o bastante para garantir graas orientao que por ele nos vem que a nossa compreenso fique livre de erro, mas no de ignorncia. Podemos aplicar as nossas mentes contemplao das diversas perfeies pelas quais o Deus bendito nos revela o Seu ser, e em nossos pensamentos podemos atribu-las todas a Ele, apesar de s termos ainda fraca e defeituosa concepo de cada uma delas. Todavia, na medida em que a nossa compreenso corresponda revelao que Ele nos d das Suas vrias excelncias, temos uma apropriada viso da Sua glria". Como realmente grande a diferena entre o conhecimento de Deus que os Seus santos tm nesta vida e aquele que eles tero no cu! Contudo, como o primeiro no deve ser menosprezado por ser imperfeito, o ltimo no deve ser engrandecido acima da realidade. Certo, as Escrituras declaram que ento veremos "face a face" e conheceremos como somos conhecidos (1 Corntios 13:12), mas inferir disto que conheceremos ento a Deus to completamente como Ele nos conhece deixar-nos iludir pelos simples sons das palavras e no atentar para a restrio delas, restrio que o assunto exige necessariamente. H uma imensa diferena entre serem glorificados os santos e serem eles divinizados. No seu estado glorificado, os cristos continuaro sendo criaturas finitas, e, portanto, nunca sero capazes de compreender plenamente o Deus infinito. "Os santos no cu vero a Deus com os olhos da mente, pois Ele sempre ser invisvel aos olhos do corpo; e O vero mais claramente do que poderiam vendo-O pela razo e pela f, e mais extensamente que tudo que as Suas obras e dispensaes dEle revelaram at ento; mas as suas mentes no sero aumentadas a ponto de poderem contemplar de uma vez, ou minuciosamente, a excelncia completa da Sua natureza. Para compreenderem a perfeio
infinita, eles prprios teriam que se tornar infinitos. Mesmo no cu, o seu conhecimento ser parcial, mas ao mesmo tempo a sua felicidade ser completa, porque o seu conhecimento ser perfeito neste sentido: ser adequado capacidade do sujeito, sem todavia exaurir a plenitude do objeto. Cremos que ser progressivo e que, medida que se lhes amplie a viso, sua bem-aventurana aumentar; nunca, porm, chegar a um limite alm do qual no haja mais nada para ser descoberto; e depois de se terem passado eras e mais eras, Ele continuar sendo o Deus incompreensvel" (John Dick, 1840).
Segundo, um exame das perfeies de Deus mostrar que Ele um Ser absolutamente suficiente. -o em Si e para Si mesmo. Como o primeiro dos seres, Ele no precisa receber nada de outrem, nem pode ser limitado pelo poder de ningum. Sendo infinito, possui todas as perfeies possveis. Quando o Deus trino existia totalmente s, Ele era tudo para Si prprio. Seu entendimento, Seu amor, Suas energias encontravam nEle mesmo um objeto adequado. Se tivesse necessidade de alguma coisa externa, no seria independente e, portanto, no seria Deus. Ele criou todas as coisas, e isso "para ele" (Colossenses 1:16); todavia, no para preencher alguma lacuna, mas para poder comunicar vida e felicidade a anjos e homens e permitir-lhes a viso daSua glria. certo que Ele exige a lealdade e os servios de Suas criaturas dotadas de inteligncia, mas no extrai benefcio algum das suas funes; toda a vantagem redunda em favor delas mesmas: J 22:2-3. Ele faz uso de meios e instrumentos para realizar os Seus fins; no, porm, por deficincia de poder, mas muitas vezes para demonstrar mais extraordinariamente o Seu poder atravs da fragilidade dos instrumentos. A absoluta suficincia de Deus faz dEle o objeto supremo, que sempre se h de buscar. A verdadeira felicidade consiste unicamente em fruir a Deus. Seu favor vida, e Sua amorvel bondade mais que a vida. "A minha poro o Senhor, diz a minha alma; portanto esperarei nele" (Lamentaes 3:24). As nossas percepes do Seu amor, da Sua graa, da Sua glria, so os principais objetos do desejo dos santos e os mananciais da sua mais elevada satisfao. "Muitos dizem: quem nos mostrar o bem? Senhor, exalta sobre ns a luz do teu rosto. Puseste alegria. no meu corao, mais do que no tempo em que se multiplicaram o seu trigo e o seu vinho" (Salmo 4:6-7). Sim, o cristo, quando em so juzo, pode dizer: "Porquanto, ainda que a figueira no floresa, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos no produzam mantimento; as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, e nos currais no haja vacas: todavia eu me alegrarei no Senhor; exultarei no Deus da minha salvao" (Habacuque 3:17-18). Terceiro, ao se fazer um exame das perfeies de Deus, v-se que Ele o Soberano Supremo do universo. Tem-se dito com acerto que, "Nenhum domnio to absoluto como o que se funda na criao. Aquele que bem podia no ter feito coisa alguma, tinha o direito de fazer todas as coisas de acordo com o Seu beneplcito. No exerccio do Seu poder indomvel, Ele fez algumas partes da criao simples matria inanimada, de textura mais grosseira ou mais refinada,
e distinguida por qualidades diferentes, mas sempre matria inerte e inconsciente. Ele deu organizao a outras partes, e as fez suscetveis de crescimento e expanso, mas ainda destitudas de vida no sentido prprio do termo. A outras no s deu organizao, mas tambm vida consciente, os rgos dos sentidos, e energia para auto-motivao. A estas Ele acrescentou, no homem, o dom da razo e um esprito imortal, pelos quais o homem se junta a uma ordem mais elevada de seres localizados nas regies superiores. Sobre o mundo que criou, Ele empunha o cetro da onipotncia. "... eu bendisse o Altssimo, e louvei, e glorifiquei ao que vive para sempre, cujo domnio um domnio sempiterno, e cujo reino de gerao em gerao. E todos os moradores da terra so reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exrcito do cu e os moradores da terra: no h quem possa estorvar a sua mo e lhe diga: Que fazes? Daniel 4:34-35" (John Dick).
Uma criatura, como tal considerada, no tem direitos. Nada pode exigir do seu Criador; e, seja qual for a maneira como tratada, no lhe compete queixar-se. Contudo, quando pensamos no absoluto domnio de Deus sobre todas as coisas e sobre todos os seres, no devemos perder de vista as Suas perfeies morais. Deus justo e bom, e sempre faz o que reto. No obstante, Ele exerce o Seu domnio de acordo com o beneplcito da Sua vontade soberana e justa. Atribui a cada criatura o lugar que aos Seus olhos parece bom. Ordena as diferentes circunstncias relacionadas com cada criatura de acordo com os Seus conselhos. Modela cada vaso segundo a Sua determinao independente de toda e qualquer influncia. Tem misericrdia de quem Ele quer ter misericrdia, e endurece a quem Lhe apraz. Onde quer que estejamos, Seus olhos esto sobre ns. Quem quer que sejamos, nossa vida e tudo mais est disposio dEle. Para o cristo, Ele um Pai amoroso e gentil; para o pecador rebelde, Ele continuar sendo fogo consumidor. "Ora ao Rei dos sculos, imortal, invisvel, ao nico Deus seja honra e glria para todo o sempre. Amm" (1 Timteo 1:17).