O Lugar Do Patrimônio Industrial-Dezen-Kempter Eloisa

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Eloisa Dezen-Kempter

O Lugar dO PatrimôniO industriaL

Tese apresentada ao Departamento de História do


Instituto de filosofia e Ciências Humanas
da Universidade Estadual de Campinas
para obtenção do título de Doutor em História

Área de Concentração: Política, Memória e Cidade


Linha de Pesquisa: Cultura, Cidade e Patrimônio

Orientador: Profa. Dra. Cristina Meneguello

Campinas
2011
Revisão:
Maria Regina de Silos Nakamura
Capa:
Fábrica Brasital, Salto, SP. Montagem da autora sobre fotografia de vista aérea do complexo têxtil e parte da
cidade em 1949. Fonte: Museu da Cidade de Salto.
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou
eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA


BIBLIOTECA DO IFCH - UNICAMP
Bibliotecária: Cecília Maria Jorge Nicolau CRB Nº 3387
                 
                                     Dezen-­‐Kempter,  Eloisa    
   D534L                      O  lugar  do  patrimônio  industrial    /  Eloisa  Dezen-­‐Kempter.                                                
-­‐  -­‐  Campinas,      SP  :  [s.  n.],    2011.  
 
                     
                 Orientador:  Cristina  Meneguello.                                                
                                                     Tese  (doutorado)  -­‐  Universidade  Estadual  de  Campinas,  
                                       Instituto  de  Filosofia  e  Ciências  Humanas.  
 
 
             1.  Arquitetura  industrial.    2.  Edifícios  industriais.                                                            
3.  Patrimônio  cultural  –  Proteção.    4.  Urbanização.    5.  
Indústria  –  História.        I.  Cristina  Meneguello.        II.  Universidade  
Estadual  de  Campinas.    Instituto  de  Filosofia  e  Ciências  
Humanas.  III.Título.  
                                                         
                                   
Título em inglês: The place of industrial heritage    
 
Palavras chaves em inglês (keywords) : Industrial archictecture
                 
Industrial buildings
Protection of cultural - Property
Urbanization
Industry – History

Área de Concentração: Política, Memória e Cidade.

Titulação: Doutor em História

Banca examinadora: Cristina Meneguello, Marly Rodrigues, Silvana Barbosa Rubino, Beatriz Mugayar
Kühl, Maria Cristina da Silva Schicchi

Data da defesa: 28-03-2011

Programa de Pós-Graduação: História

ii
À minha família, que incentivou, apostou, confiou,
induziu, encorajou, ajudou, opinou, esperou, dedicou,
acreditou, inspirou, estimulou e compreendeu esta minha
empreitada.

v
Agradecimentos
Este trabalho não teria sido realizado sem a ajuda inestimável de várias pessoas
e instituições que gostaria de agradecer, correndo o risco de ao nomeá-las
expor esquecimentos condenáveis pelos quais me desculpo antecipadamente.
À orientadora deste trabalho, Profa. Dra. Cristina Meneguello, pelo crédito
dado à perspectiva de abordagem adotada, por sua generosidade, confiança
e paciência, que, ao longo do percurso, depositou em minha pesquisa,
incentivando e estimulando os vários caminhos que esta tese tomou.
Às professoras Dra. Silvana Rubino e Dra. Regina Tirello, agradeço pelas valiosas
sugestões feitas no Exame de Qualificação, as quais foram fundamentais para o
enriquecimento deste trabalho.
Aos membros da banca de defesa.
Ao Arquivo Central do IPHAN - Seção Rio de Janeiro, especialmente
Hilário Pereira Filho, que muito gentilmente me atendeu fora do horário de
expediente, assim como Ivan Sardinha e Raquel Hilfred.
Ao Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
Ao CONDEPHAAT.
À biblioteca da Pública Municipal Prf. Arthur Riedel, na Brasital de São Roque.
À regional do Maranhão do IPHAN.
Ao Museu da Cidade de Salto, em especial ao historiador Elton Frias.
Ao Grêmio Literário José Mauro de Vasconcelos.
Aos colegas da CPROJ-FEC; em especial, à Edilene Donadon e ao Tuco, que
me incentivaram de forma muito carinhosa e entenderam a necessidade de
minha ausência.
Aos funcionários da biblioteca do IFCH; em especial, à Regiane Alcântara.
Aos Amigos do TICCH, que, em vários encontros, contribuíram para ampliar a
discussão abordada nesta tese.
Ao Prof. Dieter Hassepflug, meu orientador da Bauhaus-Weimar, que tive a
oportunidade de reencontrar no Brasil, pelas sugestões, ideias e incentivo.
Aos meus alunos do CEUNSP, em Salto, e da UNIP, com os quais também
aprendi no avanço desta pesquisa.
Aos meus colegas da Unicamp, de Salto e da UNIP.
À Tuti, pela inestimável colaboração na organização deste trabalho.
Agradeço aos meus queridos irmãos Vânia e Xico, com quem sempre pude
contar, pela ajuda constante e calorosa torcida.
Em especial, agradeço ao meu pai Floriano, cujas palavras de incentivo
e valorização me deram energias para seguir sempre na busca do meu
desenvolvimento pessoal e intelectual; e à minha querida mãe Ofélia, grande
incentivadora dos meus projetos de vida.
Ao meu amado marido Hermann, minha eterna gratidão pelo seu
companheirismo e pela paciência com que acompanhou minhas angústias.
E aos meus pequenos Isabella, Carolin e Theo, que acompanharam muitas das
visitas às fábricas, correram por seus corredores, brincaram em seus salões e,
acima de tudo, agradeço por se esforçarem em entender por que a mãe deles
precisava estar ausente.

vii
Abstract
KEMPTER, E. D. The Place of Industrial Heritage. 2011. Thesis (Doctorate)
– Institute of Philosophy and Human Sciences, Campinas State University,
Campinas , 2011.

The effects of the deindustrialization and economic restructuring, intensified


during the 1990’s, reaching large manufacturing complexes established in
the XIX and XX centuries, which were the economic drivers and the main
attractors of urban development in that location. These industrial sites
imprinted, in an unique manner, spatial character and identity, organizing the
urban dynamics and the social relations. Its deactivation changes the territory,
beforehand occupied with industrial activities, into obsolete and vulnerable
to restructuring and incorporation process as a result of new urban activities
that demand new spatial presence, putting in danger its existence. Considering
then, that the urban environment is transforming rapidly and fundamentally,
this thesis intends to, by analysis and comparison of the history of five textile
factories in the states of Sao Paulo and Rio de Janeiro, contribute in unveiling
the potential and singularity of the industrial “place” in producing contemporary
urban areas. The industrial buildings analyzed were selected due to their
technical and architectural importance as well as the element that directed
the urban development in that area. In the Sao Paulo state were analyzed
the Sao Luis Factory (1869) in Itu, the Enrico Dell’Acqua and Co (1892),
in Sao Roque, the Brasital (1875) in Salto, and in the city of Rio de Janeiro,
the Cia America Fabril (1878) and the Bangu Factory (1893). In order to do
that, it was analyzed the industrial development in the two states, focusing in
the role the industrial complexes and its edificial structures in configuring an
architectural type and comparing the industrial area preservation strategies
part of the cultural landscape, in a process of praising its form, use and scale
diversity, as well as a witness and reference of historical, technological and
social importance. Based on the analysis of the industrial edifications, focused
in recreating the historical context through a myriad of information sources –
corporate documents, architectural blueprints, publications, cartography, field
visits and review of the process of selection criteria to list a building– it was
possible to established a broad perspective of its complexity. In parallel, it was
analyzed the emerging need to value the industrial patrimony in the Brazilian
preservationist practice by identifying the listed buildings by IPHAN and by
comparing the parameters of selection that purposed the preservation of two
factories, aiming at identifying the specific procedures for industrial areas of
cultural interest. It was verified that, with the disuse and abandonment, these
industrial sites, as material support of cultural and social expressions, were
adjusted to the new urban demands, in which the rehabilitation process plays
an important role in a pratical preservationist, promoting its monumental value
and acknowledgment.

Keywords: Industrial heritage, de-industrialization, urban rehabilitation, re-use


of industrial buildings

viii
Resumo
KEMPTER, E. D.. O Lugar do Patrimônio Industrial. 2011.Tese (Doutorado) –
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas,
Campinas, 2011.

Os efeitos do processo de desindustrialização e de reestruturação econômica,


intensificados na década de 1990, atingiram grandes complexos fabris
estabelecidos nos séculos XIX e XX, os quais foram grandes motores
econômicos e os principais indutores da urbanização dos lugares. Esses sítios
industriais imprimiram, de modo inconfundível, caráter e identidade espacial,
organizando a dinâmica urbana e as relações sociais. Sua desativação torna o
território, antes ocupado pelas atividades industriais, obsoleto e vulnerável a
um processo de reestruturação e incorporação resultante das novas atividades
urbanas que demandam uma nova espacialidade, colocando sua permanência
em risco. Considerando-se, assim, que o ambiente urbano encontra-se em
rápida e fundamental transformação, esta tese pretende, por meio de análise e
comparação da trajetória de cinco indústrias têxteis nos estados de São Paulo
e Rio de Janeiro, contribuir para revelar a potencialidade e a singularidade do
“lugar” industrial na produção do espaço urbano contemporâneo.As edificações
industriais analisadas foram selecionadas em função da sua representatividade
técnica e arquitetônica e por se apresentarem como elemento ordenador
do espaço urbano. No estado de São Paulo foram analisadas a Fábrica
São Luis (1869), em Itu; a Enrico Dell’Acqua e Cia. (1892), em São Roque;
a Brasital (1875), em Salto; e na cidade do Rio de Janeiro, a Cia. América
Fabril (1878) e a Fábrica Bangu (1893). Procedeu-se para tanto a uma análise
do desenvolvimento industrial nesses dois estados, focalizando o papel das
edificações e complexos industriais na configuração de um tipo arquitetônico
e comparando os encaminhamentos das estratégias de preservação do lugar
industrial como parte do patrimônio cultural, em um processo de valoração
de sua diversidade formal, de uso e escala, e como testemunho e referência
histórica, tecnológica e social. Com base na análise das edificações industriais,
pautada em sua reconstituição histórica a partir de fontes documentais
diversas - documentos empresariais, o projeto arquitetônico, publicações,
cartografia, levantamento de campo e vistas aos processos de tombamento –
tornou-se possível uma visão abrangente de sua complexidade. Paralelamente,
foi abordada a emergência da valorização do patrimônio industrial nos órgãos
de preservação por meio do levantamento dos bens tombados pelo IPHAN
e do estudo comparativo do tombamento de duas fábricas, com o intuito
de identificar procedimentos específicos para áreas industriais de interesse
cultural. Verificou-se que, com o abandono e o desuso, essas edificações
industriais, portadoras de expressões culturais e sociais, foram adequadas a
novas demandas urbanas, e que o processo de reabilitação constituiu ação
importante para o seu reconhecimento e valoração.

Palavras-chave: Patrimônio industrial. Desindustrialização. Reabilitação urbana.


Reuso de edificações industriais.

ix
Lista de Tabelas

Tabela 1 Número de fábricas de algodão do Império do Brazil em 1º de dezembro de 1875 41


Tabela 2 Fábricas de tecidos de algodão estabelecidas no Brasil antes de 1905 42

Tabela 3 Evolução da população urbana nas capitais brasileiras 44


Tabela 4 Fábricas de Fiação e Tecelagem de algodão em 1905 53
Tabela 5 Participação da indústria têxtil no produto e no emprego do estado e do país, em São Paulo e no Rio de 58
Janeiro – 1920 e 1940
Tabela 6 Número de Fábricas de Tecido na capital e interior de São Paulo entre 1875-1930 61
Tabela 7 Fábricas de fiação e tecelagem de algodão em São Paulo, em 1905 62
Tabela 8 Taxa de Crescimento do Número de Trabalhadores da Indústria (1989-2002) 72
Tabela 9 Distribuição dos bens tombados entre 1930 e 1969 conforme tipologia 121
Tabela 10 Bens tombados entre 1938 e 2009, por estados 122
Tabela 11 Estatísticas da indústria têxtil de algodão - 1927 220

Lista de Quadros

Quadro 1 Patrimônio Industrial protegido pela UNESCO 131


Quadro 2 Patrimônio Industrial protegido pelo IPHAN 135

Lista de Mapas

Mapa 1 Distribuição das fábricas estudadas no estado de São Paulo. 29


Mapa 2 Distribuição das fábricas estudadas na cidade do Rio de Janeiro. 29
Mapa 3 Localização das fábricas no Estado do Rio de Janeiro em 1905. 49
Mapa 4 Localização das fábricas na cidade do Rio de Janeiro em 1905, com destaque para a área da Fábrica Bangu. 55
Mapa 5 Localização das fábricas no Estado de São Paulo em 1905. 59
Mapa 6 Localização das fábricas de tecidos na cidade de São Paulo em 1914 65
Mapa 7 Área do Zoneamento Histórico da Cidade de Itu. Em destaque a localização da Fábrica São Luiz. 166
Mapa 8 Localização da Fábrica São Luiz no tecido urbano de Itu, em 1925. 169
Mapa 9 Tecido Urbano parcial da cidade de São Roque, em destaque a area da Fabrica Enricco Dell’Acqua e Cia. 178
Mapa 10 Localização da Fábrica Brasital no tecido urbano de Salto. 194
Mapa 11 Mapa Geral de Bangu, incluindo os limites das terras da Cia.. 226
Mapa 12 Implantação atual da Fábrica Bangu. 226

x
Lista de Figuras

Figura 01 Moinho Fluminense, Bom Retiro – São Paulo 18


Figura 02 Planta de Situação do projeto Saarterrassen, Saarbrücken, Alemanha. 20
Figura 03 Vista do Burbacher Hütte a partir do Rio Saar. 21
Figura 04 Vista aérea do projeto Saarterrassen (Burbacher Hütte) - a antiga fábrica à direita, próxima à margem do Rio Saar 21
Figura 05 Fachada e detalhe da E-Werk, Saarbrücken, Alemanha. 21
Figura 06 Vista interna da Sala de concertos da E-Werk, Saarbrücken, Alemanha. 21
Figura 07 Símbolo da mudança estrutural: Zollverein em Essen, Patrimônio da Humanidade. 22
Figura 08 Área de intervenção do Projeto IBA-Emscher Park. 22
Figura 09 Kokerei Hansa. Foto: Manfred Vollmer. 22
Figura 10 Can Gili Vell – Antiga fábrica de farinhas em Poble Nou, Barcelona: (a) manifestação de uma resistência popular contra o projeto; 23
(b) estado da edificação antes de sua reabilitação; (c) panorama futuro da proposta de reabilitação do espaço da fábrica para Lofts.
Figura 11 Companhia de Fiação e Tecelagem São Martinho, Tatuí. Detalhe da Torre do Relógio. 24
Figura 12 Companhia de Fiação e Tecelagem São Martinho, Tatuí. Vista do Conjunto. 24
Figura 13 Companhia de Fiação e Tecelagem São Martinho, Tatuí. Vista da entrada principal. 24
Figura 14 Companhia de Fiação e Tecelagem São Martinho, Tatuí. Residências operárias. 24
Figura 15 Diagrama do agenciamento das implantações, imagens e informações sumárias das Fábricas estudadas no estado de São Paulo. 29
Figura 16 Diagrama do agenciamento das implantações, imagens e informações sumárias das Fábricas estudadas na cidade do Rio de Janeiro. 33
Figura 17 Portão de acesso à Cia. Progresso Industrial do Brasil, Fábrica Bangu, Rio de Janeiro. 34
Figura 18 Real Fábrica de Ferro de Ipanema, séc. XIX, 1884. 38
Figura 19 Real Fábrica de Ferro de Ipanema, Forno alto, construído em 1885 por Mursa (nunca entrou em atividade). 39
Figura 20 Real Fábrica de Ferro de Ipanema, séc. XIX, cerca de 1820 (?). 39
Figura 21 Fachada da Casa das Armas, Real Fábrica de Ferro de Ipanema. 39
Figura 22 Interior da Casa das Armas, Real Fábrica de Ferro de Ipanema. 39
Figura 23 Localização das fábricas de tecidos de algodão até 1875. 43
Figura 24 Localização das fábricas de tecidos de algodão até 1905. 43
Figura 25 Fábrica Santo Aleixo. 52
Figura 26 Fábrica Santo Aleixo, Chalé do proprietário. 52
Figura 27 Vista aérea parcial do bairro de Bangu, com a Companhia Progresso Industrial do Brasil (Fábrica Bangu), 1957. 56
Figura 28 Prédio do Cotonifício, atingido por um violento bombardeio aéreo das forças legalistas federais, durante a Revolução de 1924 66
Figura 29 Companhia Nacional de Tecidos de Juta (Fábrica Santana) em 1918. 66
Figura 30 Vila Maria Zélia atualmente. 67
Figura 31 Cia. Nacional de Tecidos de Juta. Capela de São José. Foto de 1919. 67
Figura 32 Cia. Nacional de Tecidos de Juta. Vila Maria Zélia. Foto de 1919. 67
Figura 33 Escola de Meninas, Vila Maria Zélia. Foto década de 1970. 67
Figura 34 Vista geral do complexo fabril e da moradia operária da Cia. Nacional de Tedidos de Juta. Foto década de 1970. 67
Figura 35 Escola de meninas, Vila Maria Zélia, interior, estado atual. 68
Figura 36 Escola de Meninas, Vila Maria Zélia, fachada, estado atual 68
Figura 37 Ilustrações de Jörg Müller, Die Welt ist kein Märchen (O mundo não é um conto de fadas) 75
Figura 38 Uma cidade católica em 1440. Fonte: Pugin (1836, p. 126). 76
Figura 39 A mesma cidade em 1840. Fonte: Pugin (1836, p. 126). 76
Figura 40 Ponte de ferro sobre o Rio Severn, 1775-1779. 79
Figura 41 Fábrica pré-fabricada de William Fairbairn, para a Turquia, Fonte: KÜHL, 1998, p. 69. 81
Figura 42 Fábricas de turbinas, fachada e corte. Fonte: www.stadtentwicklung.berlin.de/denkmal. 83
Figura 43 Fábrica de turbinas (Turbinenhalle) em 1909. 83
Figura 44 Detalhe da junção da estrutura metálica com a alvenaria da base. 83
Figura 45 AEG, Berlim. Detalhe da fachada da Apparatefabrik. 84
Figura 46 AEG - Pórtico de acesso à fábrica (1896/1897), projetado em 1888/1897 por Franz Schwechten e Paul Tropp. 84
Figura 47 AEG - Apparatefabrik (1888/1890), projetado por Franz Schwechten e Paul Tropp. 84
Figura 48 Peter Behrens, Hennigsdorf. Vista para a Rathenaustraße, década de 1910. 85
Figura 49 Vista para a Rathenaustraße, em 2002. 85
Figura 50 Peter Behrens, Fábrica de Verniz (Lackfabrik), 1912, Hennigsdorf. 85
Figura 51 Peter Behrens, Fábrica de Isolantes (Öltuchfabrik), 1912, Hennigsdorf. 85
Figura 52 Peter Behrens, Fábrica de Porcelana (Porzelanfabrik), 1912, Hennigsdorf. 85
Figura 53 Walter Gropius, Adolf Meyer, Fábrica Fagus, Alfeld. 86
Figura 54 Selos comemorativos dos 750 anos da cidade de Berlim. 87
Figura 55 Detalhe do selo de 60 centavos de marco, com a imagem da fábrica de turbinas da AEG, projetada por Peter Behrens em 1909. 88
Figura 56 Fiat Lingotto, Turim, Itália; saída dos operários, 1931. 95
Figura 57 Fiat Lingotto, Turim, Itália; vista aérea do conjunto em 1928. 95

xi
Figura 58 Fábrica Fiat Lingotto, estado antes da reconversão. 96
Figura 59 A antiga fábrica Fiat Lingotto readequada. 96
Figura 60 Lingotto Bolla e Heliporto; (b) Acesso ao setor de exposição, shopping, universidade e hotel; (c) P{inacoteca Agnelli. 96
Figura 61 Lingotto Fiere. À direita, o escritório central da Fiat. 96
Figura 62 Ruinas de Detroit. Foto de Yves Marchand e Romain Meffre. 100
Figura 63 Moinho Central/Fluminense. Em primeiro plano os cilos. 101
Figura 64 Moinho Central/Fluminense. 101
Figura 65 Casa das Caldeiras. Projeto Kinotrem, parte da exposição Arte/Cidade 1997. 102
Figura 66 Casa das Caldeiras. 102
Figura 67 Casa das Caldeiras. Foto de Pedro Kok. Disponível 102
Figura 68 Complexo industrial da Mina Zollverien em Essen, Vale do Ruhr, Alemanha. 106
Figura 69 Gasômetro de Oberhausen, Vale do Ruhr, Alemanha. Este foi o maior depósito de gás da Europa. 106
Figura 70 Évora, Portugal. 111
Figura 71 Sprague Eletric Company, 111
Figura 72 Mass MoCA. 111
Figura 73 Complexo Siderúrgico de Völklingen. 112
Figura 74 Complexo Siderúrgico Völklingen - Vista das Fornalhas. 112
Figura 75 Complexo Siderúrgico Völklingen - elevador inclinado que acessa a plataforma de carregamento a 30 metros de altura, onde o 112
combustível e os minérios eram pulverizados para dentro das fornalhas.
Figura 76 Gasômetro, Oberhausen,Vale do Ruhr, Alemanha.Vista interna da exposição “Sternstunden – Wunder des Sonnensystems”, parte 113
do projeto de celebração do Vale do Ruhr como Capital Cultural da Europa em 2010.
Figura 77 Gasômetro, Oberhausen, Vale do Ruhr, Alemanha. Vista externa. 113
Figura 78 Conjunto Industrial KKKK, Registro, São Paulo. 114
Figura 79 Número de bens tombados por estado: (a) até 1967; (b) até 2009. Elaboração da autora com base em dados do IPHAN. 127
Figura 80 Praça Victor Civita, antigo incinerdor de lixo hospitalar.
Figura 81 Os 44 bens listados pela UNESCO, considerados Patrimônio Industrial pela APPI. 144
Figura 82 Cotonifício Cândido Ribeiro - Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Vista dos Fundos, Chaminé. 144
Figura 83 Cotonifício Cândido Ribeiro - Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Vista dos Fundos, divisa com a Fonte das Pedras. 144
Figura 84 Cotonifício Cândido Ribeiro - Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Vista da Fachada para a Rua das Crioulas, detalhe do painel de 144
azulejos.
Figura 85 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Detalhe Porta. 146
Figura 86 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Fachada. Detalhe: beiral 146
Figura 87 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Interior. Detalhe: estruturas metálicas. 146
Figura 88 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Interior. 147
Figura 89 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Detalhes do gradil de ferro da sacada (a), escada e guarda-corpo de ferro (b) e portão de ferro 148
da porta principal (c).
Figura 90 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Acesso ao pátio externo (a) e (b); escada de madeira (c) e (d); escada de ferro (e). 150
Figura 91 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Fachada lateral para a Rua da Inveja. 152
Figura 92 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Fachada lateral para a Rua do Mocambo. 152
Figura 93 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Fachada Frontal para a Rua das Crioulas. 152
Figura 94 ábrica de Tecidos Santa Amélia. Detalhe dos azulejos da Fachada Principal. 152
Figura 95 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Levantamento Gráfico. Implantação. 152
Figura 96 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Levantamento Gráfico: Fachada Rua das Crioulas (a); Fachada Rua do Mocambo (b); Corte 152
Transversal (c); Corte logintudinal sobre o corpo principal (d).
Figura 97 Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Levantamento Gráfico. Corte transversal sobre o corpo principal. 152
Figura 98 Fachada Fábrica de Vinho Tito e Silva, 1985. 153
Figura 99 Fachada da Fábrica restaurada. 153
Figura 100 Processamento do pedúnculo. 154
Figura 101 Tonéis e bombas de recalque, depósito de mosto. 154
Figura 102 Máquina de cortar caju, inventada pelo fundador da indústria. À esquerda prensa manual. 154
Figura 103 Detalhe da rotulagem. Funcionário coroando a tampinha. 154
Figura 104 Primeiro plano padiolas para o transporte de frutas. Segundo plano: toneis para acondicionar o mosto. 154
Figura 105 Vista do setor de rotulagem. 154
Figura 106 Fábrica de Vinho Tito e Silva. Bloco Principal, Saguão de acesso. 155
Figura 107 Detalhe do Balcão de recepção e venda 155
Figura 108 Máquina Rotuladeira 157
Figura 109 Máquina de arrolhar. 157
Figura 110 Máquina de lavar garrafas., rotativa, com capacidade de 2000 garrafas por hora 157
Figura 111 Máquina de engarrafar de 12 bicos. Marca Welba 157
Figura 112 Vista do setor de Embalagem e Rotulagem. 158
Figura 113 Vista dos tóneis para acondicionamento do mosto. 158
Figura 114 Local para o procesamento do pedúnculo 158

xii
Figura 115 Planta dos Pavimentos com a distribuição das diferentes funções espacialmente 158
Figura 116 Corte longitudinal da edificação. 158
Figura 117 Foto da Fachada Principal à época do estudo de tombamento. 158
Figura 118 Levantamento gráfico da fachada para a Rua da Areia 158
Figura 119 Brasital, Salto - SP. 161
Figura 120 Croquis de autoria de Paulo Sgarbi, indicando o primeiro edifício da Fábrica São Luiz. 164
Figura 121 Croquis indicando a tipologia e ritmo das envasaduras do primeiro edifício da Fábrica São Luiz. 164
Figura 122 Croquis indicando o segundo edifício da Fábrica São Luiz. 164
Figura 123 Croquis indicando a tipologia, ritmo e ornamentação das envasaduras do segundo edifício da Fábrica São Luiz. 164
Figura 124 Implantaçao da Fábrica na quadra. 166
Figura 125 Corte do Eixo Histórico da Cidade (Rua Paula Souza e Barão de Itaim.). Em destaque os edifícios tombados. 166
Figura 126 Primeiro prédio da Fábrica São Luiz. 168
Figura 127 Levantamento do maquinário existente na fábrica na época do estudo de tombamento. Fotos de Hugo Segawa. 173
Figura 128 Levantamento da Fachada da fábrica para a Rua Paula Souza. 174
Figura 129 Levantamento da Fachada da fábrica para a Praça D. Pedro I. 174
Figura 130 Fachada da fábrica para a Rua Paula Souza. 175
Figura 131 Vista da fábrica a partir da Praça D. Pedro I. 175
Figura 132 Janelas tipo. (a) Prédio de 1869; (b) Prédio de 1897. 175
Figura 133 Porta Principal da Fábrica, entrada do “Espaço Fábrica São Luiz”. 175
Figura 134 Imagens internas do segundo pavimento da Fábrica São Luiz. Note algumas máquinas remanescentes, e o estado precário do piso 176
de assoalho de madeira. Fotos: Paulo Ricardo Zemella Miguel.
Figura 135 Planta do Pav. Térreo da Fábrica São Luiz. Elaboração da autora sobre documentação do processo de tombamento da Fábrica. 176
Figura 136 Imagens internas do segundo pavimento da Fábrica São Luiz. Note algumas máquinas remanescentes, e o estado precário do piso 177
de assoalho de madeira. Fotos: Paulo Ricardo Zemella Miguel.
Figura 137 Planta do Pav. Superior da Fábrica São Luiz. Elaboração da autora sobre documentação do processo de tombamento da Fábrica. 177
Figura 138 Implantação da Fabrica Brasital São Roque na Gleba. 178
Figura 139 Em detalhe, Logo da Empresa 178
Figura 140 Reprodução da circular e questionário a ser distribuída aos vendedores de tecidos pelas agências de correios. 180
Figura 141 Fábrica em construção. Enrico Dell’Acqua está no grupo central de pessoas, à esquerda, sem chápeu 181
Figura 142 Vista panorâmica da Fábrica na década de 1940 do século XX. 182
Figura 143 Vista panorâmica da Fábrica na década de 1930. 183
Figura 144 Vista panorâmica da cidade de São Roque na década de 1940. Note-se ao fundo e à esquerda a chaminé da fábrica e a mata. 183
Figura 145 Vista panorâmica da cidade de São Roque no início do século XX. 184
Figura 146 Sistema de Vigas e colunas metálicas que sustentam a laje do andar superior. Hoje funciona no pavimento inferior a Biblioteca 184
Municipal de São Roque
Figura 147 Sistema de Vigas metálicas que sustentam a laje do andar superior. Hoje funciona no pavimento inferior a Biblioteca Municipal de 184
São Roque
Figura 148 Pavilhão Principal da Fábrica. Hoje funciona ali o salão de eventos 184
Figura 149 Detalhe das vigas e colunas metálias que sustentam a cobertura do Pavilhão principal. 184
Figura 150 Detalhe da Cobertura e Shed do Pavilhão Principal. 184
Figura 151 Fábrica Enrico Dell’Acqua em Buenos Aires, Argentina. Esquina entre a Calle Darwin e a Castillo. 186
Figura 152 Fábrica Enrico Dell’Acqua em Buenos Aires, Argentina. Esquina entre a Calle Loyolla e a via férrea 186
Figura 153 Fábrica Enrico Dell’Acqua em Buenos Aires, Argentina. Esquina entre a Calle Darwin e a Loyolla. 186
Figura 154 Fábrica Enrico Dell’Acqua em Buenos Aires, Argentina. Esquina entre a Calle Darwin e a Loyolla, ao fundo a linha férrea. 186
Figura 155 Detalhe do Acesso aos apartamentos. Fachada para a Calle Darwin. 186
Figura 156 Fábrica Enrico Dell’Acqua em Buenos Aires, Argentina. Esquina entre a Calle Loyolla e a linha férrea. Imagem do início do seeculo 186
XX.
Figura 157 Foto da Brasital ilustra o primeiro exemplar do Catálogo Turístico da Cidade, logo depois de sua aquisição pela prefeitura da 189
cidade.
Figura 158 Vista do Conjunto de Edificações a partir da Via Estrutural. 191
Figura 159 Exposição do calendário de atividades do Centro Cultural Brasital. 191
Figura 160 Worshops do calendário de atividades do Centro Cultural Brasital. 191
Figura 161 Panorama da Fachada Principal da primeira edificação da Empresa de Enrico Dell’Acqua. 191
Figura 162 Imagens internas do Pavilhão Principal, no segundo pavimento da Fábrica. (a)-(b) Grande Salão (c) Sala das turbinas. 192
Figura 163 Planta do Pav. Superior do Pavilhão Principal da Fábrica da Brasital em São Roque. 192
Figura 164 Imagens da Brinquedoteca (d); Corredor de União entre o edifício principal (primeiro prédio construído) e a ampliação) (e); Hall 192
de distribuição das salas de cursos e atividades (f).
Figura165 Cortes longitudinais da Fábrica. (a) Pavilhão original; (b) ampliação.. 193
Figura166 Planta do Pav. Térreo do Pavilhão Principal da Fábrica da Brasital em São Roque. 193
Figura167 Imagens do Bazar que comercializa os trabalhos dos alunos e voluntários. 193
Figura168 Imagens do Bazar que comercializa os trabalhos dos alunos e voluntários. 193
Figura169 Vista do Pátio de acesso à Biblioteca, hoje denominado Praça Enrico Dell’Acqua. 193

xiii
Figura170 Implantação da Fábrica Brasital na quadra urbana 194
Figura171 Fábrica Júpiter. 196
Figura172 Fábrica Júpiter 196
Figura173 Fábrica Fortuna. (1903) 198
Figura174 Fábricas Fortuna, e Júpiter vista a partir do Rio Tietê. 199
Figura175 Moradias Operárias da Fábrica Fortuna 199
Figura176 Praça da Igreja Matriz (1903). 199
Figura177 Construção do Novo prédio da Fiação, denominado pela população local como "Castelinho" (década de 1920). 200
Figura178 Obras de construção do canal da usina Porto Góes (1924). 200
Figura179 Teleférico que fazia a interligação de mercadorias e maquinários entre as fábricas de Papel e de Tecidos. 200
Figura180 Vista dos chalés e do Prédio da Fiação concluído. (1929). 201
Figura181 A presença do espaço público é somente o pano de fundo para as atividades fabris. 201
Figura182 Planta do pavimento térreo da nova fiação. 201
Figura183 Planta do 1. pavimento da nova fiação. 202
Figura184 Planta do 2. pavimento da nova fiação. 202
Figura185 Localização das Fábricas de Papel e Tecidos, e das quadras das moradias operárias 203
Figura186 Planta cadastral das quatro quadras denominadas “quintalão”. 203
Figura187 Moradia operária típica dos quintalões. 203
Figura188 Remanescentes das tubulações de água para acionamento da turbina geradora de energia. 204
Figura189 Esquema de funcionamento da casa das turbinas e dos equipamentos geradores de energia. 204
Figura190 Equipamentos da firma inglesa Matter Platte. 204
Figura191 Vista Panorâmica do conjunto da fábrica em sua cota mais baixa. 206
Figura192 Prédio das Passadeiras e Bancos da Jupiter e Fortuna. 208
Figura193 Prédio dos descaroçadores (1930). 208
Figura194 Prédio da Tecelagem. 208
Figura195 Prédio daTinturaria. 208
Figura196 Diagrama das Edificações que formam o conjunto da Brasital. 210
Figura197 Diagrama das Edificações que formam o conjunto da Brasital. 211
Figura198 Localização da Fábrica Nova América no bairro de Del Castilho. 212
Figura199 Vista Panorâmica da Fábrica e Fazenda Pau Grande (1911). 213
Figura 200 Panorama da Fábrica Cruzeiro no bairro de Andaraí (1911) 214
Figura 201 Planta indicando a localização da Fábrica Cruzeiro. 215
Figura 202 Fachada da Fábrica Bonfim (1921). 216
Figura 203 Entrada para a Fábrica Carioca. 216
Figura 204 Vista Geral das duas Fábricas da Carioca (1921) 216
Figura 205 Loteamento dos terrenos pertencentes à Fabrica Carioc 217
Figura 206 Fábrica Cruzeiro, prédio do almoxarifado. 218
Figura 207 Fábrica Mavilis. 218
Figura 208 Fábrica Cruzeiro. Desmonte e demolição na década de 1960. 218
Figura 209 Fábrica Cruzeiro. Desmonte e demolição na década de 1960. 218
Figura 210 Cia Nova América, acesso principal. 221
Figura 211 Cia Nova América, acesso principal. 221
Figura 212 Cia Nova América, Corredor denominado “Rua do Rio 222
Figura 213 Cia Nova América, Corredor denominado “Rua do Rio 222
Figura 214 Cia Nova América, Corredor denominado “Rua do Rio 222
Figura 215 Cia Nova América, “Rua do Rio”, Cartaz das atividades do carnaval 2010, 222
Figura 216 Cia Nova América, acesso lateral ao boulevard “Rua do Rio”, e também à Universidade. 223
Figura 217 Cia Nova América, acesso lateral ao boulevard “Rua do Rio”, e também à Universidade. 223
Figura 218 Cia Nova América, acesso secundário à Universidade Estácio de Sá. 224
Figura 219 Cia Nova América, fachada para o acesso viário principal. 224
Figura 220 Cia Nova América, detalhe das Janelas. 225
Figura 221 Cia Nova América, detalhes dos espaços internos. 225
Figura 222 Fazenda do Bangu. 227
Figura 223 Planta da Fábrica e Vila Bangu. 229
Figura 224 Planta dos ramais férreos de Bangu. 231
Figura 225 Em primeiro plano a Rua da Fábrica, que dava acesso ao portão principal da empresa. Saída para o almoço (1907). 232
Figura 226 Saída para o almoço na década de 1940 232
Figura 227 Vista da Fábrica no início do século XX. Em primeiro plano à direita, o primeiro conjunto de casas operários (“casinhas”) 232
Figura 228 Escola Rodrigues Alves (início do século XX). (a) Sala das meninas (b) Sala dos meninos. 233
Figura 229 Antigo Campo do Bangu Athletic Club nos jardins da fábrica. 234

xiv
Figura 230 Fábrica Bangu na Exposição Nacional de 1908 - Morro da Urca. Seção de Gravura. 235
Figura 231 Fábrica Bangu casa dos motores (1906). 235
Figura 232 Fábrica Bangu, sala de dobração (1906). 235
Figura 233 Fábrica Bangu, sala de estamparia (1906). 235
Figura 234 Fábrica Bangu, sala dos teares (1906). 235
Figura 235 Fábrica Bangu, oficina de gravura e tipografia (1906). 235
Figura 236 Pavilhões tombados. 237
Figura 237 Propaganda do Vestibular da UniSuam, que tem Campus dentro do Shopping Bangu. 238
Figura 238 Logomarca do Shopping aludindo ao caráter fabril do local. 238
Figura 239 Vistas da Fachada, e seus detalhes, da Fábrica Bangu junto à Rua da Feira. 238
Figura 240 Espaços internos mantém o caráter fabril do local. 239
Figura 241 Fachada para o antigo jardim interno da fábrica (Av. Santa Cruz 239
Figura 242 Corredor de acesso principal à Fábrica Bangu 239
Figura 243 Detalhes de elementos do corredor de acesso principal à Fábrica Bangu 239
Figura 244 Espaços internos do Shopping, onde observam-se as colunas metálicas, shed e cobertura da Fábrica Bangu. 240
Figura 245 Diferentes acessos ao Shopping. (a) antiga Travessa da Fábrica, (b) Rua da Feira e (c) Rua Santa Cruz. 240
Figura 246 Cobertura metálica como elemento conector das duas alas da antiga fábrica, acessado pelo corredor onde encontram-se a 240
Chaminé e a torre do relógio
Figura 247 (a) Logomarca evidencia os elementos tipológicos característicos da Fábrica Bangu (Chaminé, Torre do relógio e ritmo da 240
fenestração). (b) este logo é reproduzido em todo o mobiliário urbano, detalhes, entradas, propaganda do Shopping
Figura 248 Ícones da Fábrica Bangu (a) Torre do relógio e (b) Chaminé. 241
Figura 249 Fábrica Brasital em Salto, SP 243
Figura 250 Minerdora Zollverein 246
Figura 251 Minerdora Zollverein 246
Figura 252 Fábrica Brasital, Salto, SP, vista a partir da margem oposta do Rio Tietê. 248
Figura 253 Fábrica São Luiz, Itu, SP. 249
Figura 254 Fábrica Brasital, São Roque, SP. 249
Figura 255 Fábrica Bangu, Rio de Janeiro. 250
Figura 256 Fábrica Nova América, Rio de Janeiro. 251
Figura 257 Funcionárias da Brasital São Roque. 267
Figura 258 Fábrica Santana. Modelo de seqüência do processo produtivo de fiação e tecelagem. (1911) 268
Figura 259 Fábrica Mavilis. Seção de batedores. (1911). 270
Figura 260 Fábrica Mavilis. Máquinas cardadeiras vistas de costas, com o rolo de pasta de algodão. 270
Figura 261 Fábrica Mavilis. Máquina reunideiras. 271
Figura 262 Fábrica Mavilis. Seção das penteadeiras. (1911) 272
Figura 263 Distribuição, localização por estado e identificação dos bens tombados pelo IPHAN considerados patrimônio industrial no Brasil. 277
Figura 264 Distribuição dos bens tombados pelo IPHAN no Brasil, por estados. Em destaque os estados com maior acervo de bens culturais 279
tombados

Lista de siglas e abreviações

AGCRJ - Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro


ANS - Arquivo Noronha Santos
CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo
COPEDOC - Coordenação-Geral de Documentação e Pesquisa
GIU mbH - Gesellschaft für Innovation und Unternehmensförderung
GLJMV - Grêmio Literário José Mauro de Vasconcelos
ICCROM – International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural Property
ICOMOS – International Council on Monuments and Sites
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
STCR - Serviço Técnico de Conservação e Restauro
TICCIH – The International Committee for the Conservation of Industrial Heritage
UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

xv
Sumário
Introdução 19

Parte 1 A Dinâmica Industrial Brasileira 33


Capítulo 1 O prelúdio da indústria têxtil brasileira – uma visão concisa 35
Capítulo 2 A indústria têxtil no Rio de Janeiro 49
Capítulo 3 A indústria têxtil em São Paulo 59
Capítulo 4 Desindustrialização e reestruturação espacial 71

Parte 2 Um Novo Paradigma Urbano 75


Capítulo 5 A indústria como imagem urbana 77
Capítulo 6 Em busca de uma nova identidade urbana 89

Parte 3 A Questão Patrimonial 105


Capítulo 7 Patrimônio contemporâneo: diversidade complexa 107
Capítulo 8 A construção do patrimônio cultural brasileiro 117
Capítulo 9 O lugar da indústria no patrimônio cultural 129
Capítulo 10 Patrimônio industrial: espaço da memória ou memória do espaço? 141
10.1. A Fábrica de Tecidos Santa Amélia - São Luís, Maranhão 144
10.2. A Fábrica de Vinho Tito Silva - João Pessoa, Paraíba 153
10.3. Acerca de Algumas fábricas e seus tombamentos 159

Parte 4 O Processo de Reabilitação de Antigos Espaços Industriais 161


Capítulo 11 Relações convergentes e divergentes: análise das potencialidades de uso do patrimônio 163
industrial
Capítulo 12 A Fábrica São Luiz 165
Capítulo 13 A Brasital de São Roque – Enrico Dell’Acqua e Cia. 179
Capítulo 14 A Brasital de Salto 195
Capítulo 15 A Companhia América Fabril e a Companhia Nacional de Tecidos Nova América: 213
trajetórias entrecruzadas
Capítulo 16 A Fábrica Bangu 227

Considerações finais 243

Referências Bibliográficas 253

Anexos 267
Anexo I - Por dentro de uma fábrica de tecidos: do fio ao pano 269
Anexo II - Bens tombados pelo IPHAN 277

xvii
▲FIg. 1. moInHo FLumInEnsE, Bom rEtIro – são PauLo
Foto: Douglas Nascimento

Quem não sente ainda grande emoção ao passear por áreas industriais abandonadas,
fábricas desocupadas, ou portos onde gruas enferrujam, ou por estações desativadas?
Uma emoção estranha, uma vez que não está necessariamente relacionada,
como freqüentemente se acredita, à nostalgia de uma outra época. Nossa “boa”
consciência, por outro lado, nos coloca em estado de alerta: como podemos sentir
saudade de um tempo que nossos antepassados eram condenados a horas de
trabalho intensivo, em condições sanitárias difíceis? O silêncio desses territórios
abandonados, dessas construções desmoronadas, nos coloca, contudo, em um
estado de alucinação, uma vez que podemos ver os corpos, escutar vozes e gritos,
ter a sensação de uma atmosfera de vida comum que a literatura e o cinema nos
sugerem o tempo todo. Um estado visionário, retrospectivo, que nos incomoda [...]
(JEUDY, 2005, p.25)

18
Introdução

A (re)significação das áreas preteritamente industriais


representa um grande desafio, que, embora de formas diferenciadas,
vem preocupando arquitetos e urbanistas, historiadores, geógrafos,
antropólogos e gestores urbanos no tocante ao encaminhamento das
estratégias e das soluções que envolvem a preservação e a gestão do
patrimônio material e imaterial relacionado com a indústria, em um
ambiente que se encontra em rápida e fundamental transformação.
A oportunidade de conhecer, analisar e refletir sobre o
patrimônio industrial permite valorizar as marcas da industrialização
passada, hoje territórios funcionalmente obsoletos, que guardam um
1
Harvey (1993) define 1914 amplo e complexo conjunto de bens patrimoniais vinculados à história
como o momento simbólico do 19
início do fordismo. Nesse ano, do trabalho e ao desenvolvimento urbano e tecnológico. É inegável que
Henry Ford introduziu, na linha as cidades contemporâneas passam por uma considerável adaptação
de montagem de sua fábrica aos novos processos econômicos e tecnológicos, e que esses processos
de automóveis, a jornada de
trabalho de oito horas e cinco têm profundo impacto sobre o ambiente construído, em especial, sobre
dólares como recompensa. o tecido urbano constituído pelas estruturas produtivas e consolidado
Para o autor, “[...] o que havia
de especial em Ford era sua ao longo do século XX. Tais estruturas representam uma porção
visão, seu reconhecimento significativa do espaço urbanizado em cidades industriais, encontrando-
explícito de que produção
de massa significava consumo se, atualmente, em sua maioria, desativadas e abandonadas.
de massa, um novo sistema
de reprodução da força de Ao mesmo tempo em que a atividade industrial entra em
trabalho, uma nova política de declínio nos grandes centros, observamos a expansão dos serviços,
controle e gerência do trabalho, particularmente, daqueles altamente especializados, ligados ao consumo,
uma nova estética e uma nova
psicologia, em suma, um novo à cultura, às finanças e à saúde, que requerem novas estruturas físicas
tipo de sociedade democrática, e que mantêm, dentro do espaço urbano, relações espaciais diversas
racionalizada, modernista e
populista” (p. 121). Harvey daquelas de seus precursores, com grande descompasso entre forma e
(1993) afirma ainda que lugar. Ou seja, frente à construção da cidade contemporânea, as relíquias
“Ford acreditava que o novo
tipo de sociedade poderia dos chamados monumentos industriais (lugares, territórios ou edifícios)
ser construído simplesmente tendem a ficar descontextualizadas, pois, ao mesmo tempo em que
com a aplicação adequada
do poder corporativo. O representam o vazio, o improdutivo, o obsoleto, têm a condição de
propósito [...] só em parte indefinido, à espera de reaproveitamento, com seu horizonte em aberto.
era obrigar o trabalhador a
adquirir a disciplina necessária A compreensão desse novo ambiente urbano implica ter
à operação do sistema de presente um conjunto de alterações estruturais na economia e na
linha de montagem de alta
produtividade. Era também sociedade e o desenvolvimento de novas competências e lógicas
dar aos trabalhadores renda e empresariais, atendendo às transformações decorrentes da crise no
tempo de lazer suficientes para
que consumissem os produtos modelo de produção fordista1 e à emergência de novas formas de
produzidos em massa” (p. 122). produção e de articulação das empresas e dos territórios.
Introdução
É fundamental considerar as condições e as causas da evolução
de algumas atividades predominantes hoje nas cidades, bem como as
dos territórios por elas construídos ou reconstruídos, para podermos
entender a representatividade - qualitativa e quantitativa- que os
sítios industriais alcançam, ampliando sua participação entre os bens
considerados patrimônio cultural brasileiro, apesar dos grandes desafios
que se colocam; em especial, quanto à sua conservação.
O interesse sobre o tema patrimônio industrial nasceu a partir
da minha experiência como pesquisadora no programa de Mestrado
da Bauhaus-Universität Weimar, junto à Empresa GIU mbH (Gesellschaft
für Innovation und Unternehmensförderung - Sociedade para inovação e
fomento empresarial), em um estudo para a implantação de projetos de
planejamento regional denominado Saarterrassen AW, em Saarbrücken,
sul da Alemanha, na divisa com a França.
Os projetos implementados nesse plano de reabilitação da
antiga área da usina siderúrgica procuraram trabalhar o significado das
edificações como elementos da memória do espaço construído, dando-
lhes um uso contemporâneo à sociedade atual, como foi o caso da
antiga instalação da central de energia, que se transformou em sala de
concertos.
20 Os demais edifícios industriais da usina foram transformados em
escritórios e estabelecimentos de comércio, compondo com as novas
edificações residenciais o perfil atual da região.
▼Fig. 2. Planta de Situação do
projeto Saarterrassen, Saarbrücken,
Alemanha. Fonte: GIU mbH.

O Lugar do Patrimônio Industrial


 
▲Fig. 3. Vista do Burbacher Hütte a partir do Rio Saar.
Fonte: Landesbildstelle des Saarlandes im LPM. Disponível
em: <http://www.industriekultur-ansichten.com/orte/
deutschland/91-saarbruecken-burbach>. Acesso em: 4 set.
2010.
► Fig. 4. Vista aérea do projeto Saarterrassen (Burbacher
Hütte) - a antiga fábrica à direita, próxima à margem
do Rio Saar [em destaque a área de intervenção e a
localização do E-Werk]. Disponível em: <http://www.iks.
saarbruecken.de/de/ueber_uns/domizil>. Acesso em: 3
maio 2008.

2
O Projeto denominado
Internationale Bauausstellung Esse projeto, seguindo a mesma diretriz implementada pelo
(Exposição Internacional IBA-Emscher Park2, tinha por objetivo incentivar novas ideias e projetos
de Construção), conhecido
por IBA-Emscher Park, foi nas áreas de desenvolvimento urbano, social, cultural e ecológico,
estabelecido na região do consideradas como setores básicos para impulsionar e direcionar as
Ruhrgebiet, no Estado da
Nordrhein-Westfalen, a partir mudanças em uma antiga região industrial em processo de transformação. 21
de 1989, com duração pré-
estabelecida e encerramento As indústrias, como elementos estruturantes dos territórios e da
fixo marcado para 1999. sociedade, formam um complexo sistema de colaborações entre atores
e atividades que imprime uma imagem única nas cidades. Devido a uma
▼Fig. 5. Fachada e detalhe da
E-Werk, Saarbrücken, Alemanha. nova dinâmica socioeconômica, a cidade, construída de modo efetivo e
Disponível em: <http://www.ewerk-
sb.de/index.php?nav=281>. Acesso
também simbólico, constitui um território onde novos atores e novas
em: 10 ago. 2009. atividades irão formalizar e imprimir outra natureza à configuração de
▼▼Fig. 6. Vista interna da Sala de
concertos da E-Werk, Saarbrücken, lugares existentes, e a presença de antigas instalações industriais acaba
Alemanha. Disponível em: transformando-se em espaços passíveis de novas interpretações e
<http://www.ewerk-sb.de/index.
php?nav=281>. Acesso em: 10 ago. interações, o que tem acontecido em regiões preteritamente industriais,
2009.

   

Introdução
▲▲Fig. 7. Símbolo da mudança estru-
tural: Zollverein em Essen, Patrimônio
da Humanidade. Foto: Thomas Willem-
sen, Zollverein Database.
▲Fig. 8. Área de intervenção do Proje-
to IBA-Emscher Park.
Disponível em: <http://4.bp.blogspot.
com>. Acesso em: 14 out. 2010.
◄ Fig. 9. Kokerei Hansa. Foto: Manfred
Vollmer. Disponível em: < http://www.
lwl.org/pressemitteilungen/daten/bil-
der/19220.jpg>. Acesso em 26 jan.
2011.

3
O Projeto 22@ visa
transformar 200 hectares de
solo industrial de Barcelona
em “[...] um inovador distrito
produtivo, dotado de
22 excelentes infra-estruturas, que
oferece mais de três milhões de
m2 de novos espaços no centro
da cidade para atividades
intensivas de conhecimento”,
como é o caso dos projetos 22@3, em Barcelona, e o IBA-Emscher Park, conforme discurso dos
planejadores catalães. Como
na Alemanha. plano urbanístico, o Projeto
22@ prevê a renovação de
Contudo a introdução de novos elementos construtivos somente Poblenou por meio de um
poderá ser considerada positiva se estiver associada à preservação novo modelo de cidade mista,
compacta e sustentável, que
da integridade do patrimônio existente, para não correr o risco de favoreça o desenvolvimento
romper laços de pertencimento e alterar a legibilidade do espaço. E, de talento e a coesão social.
E como estratégia econômica,
especificamente no caso de antigas áreas industriais e de residência transforma o principal pulmão
operária, deve-se levar em conta a possibilidade de uso e apropriação industrial da Catalunha em
social desses novos equipamentos por parte dos primeiros habitantes. importante polo científico,
tecnológico e cultural. Esse
Sobre o projeto 22@, Ester Limonad (2005) coloca que o projeto gerou uma série de
manifestações e indagações
desejo dos movimentos sociais populares de preservar áreas históricas sobre sua validade, como
como signo de um passado de lutas defronta-se com a intenção de podemos perceber na
posição de Horacio Capel:
renovação urbana dos planejadores, arquitetos e técnicos da prefeitura, “Otro aspecto que merece
somada à cobiça dos especuladores imobiliários. Considera ainda debate es el de la atención
al tejido industrial existente.
que os esforços de preservação do patrimônio histórico e cultural Se tiene la impresión de que
industrial catalão impulsionam os movimentos populares em razão das ha primado la conversión en
oficinas y viviendas, sin prestar
descaracterizações do conjunto existente operadas em nome de uma atención a las necesidades de
modernização e integração urbana, as quais constituem propostas da la diversificación del espacio, y
prefeitura de Barcelona no plano 22@. de la importancia de mantener
algunas actividades y talleres
As áreas industriais desativadas representam para os industriales en el barrio,
así como la localización de
empreendedores imobiliários, por sua dimensão e localização, espaços de equipamientos. A ello se une
O Lugar do Patrimônio Industrial
 

▲►Fig. 10. Can Gili Vell – Antiga oportunidades, cujo valor simbólico e arquitetônico pode simplesmente
fábrica de farinhas em Poble Nou,  
Barcelona: (a) manifestação de uma ser desprezado.
resistência popular contra o projeto;
(b) estado da edificação antes de sua
reabilitação; (c) panorama futuro da As mudanças nas relações espaço-tempo estabelecidas com a
proposta de reabilitação do espaço
da fábrica para Lofts. Disponível em: contemporaneidade - destacando-se a velocidade das transformações
<http://www.flickr.com/photos/info_
poblenou/>. Acesso em: 4 set. 2010.
intrínsecas à revolução da informática e da economia, que permeia
todas as atividades humanas - podem restringir drasticamente o
tempo de maturação necessário para a salvaguarda do patrimônio da
la falta de sensibilidad por 23
el patrimonio histórico. En
industrialização e, em especial, para serem definidas as possibilidades de
especial, ha faltado un plan del intervenção. Não havendo essa presteza, todo o processo voltado à sua
patrimonio bien elaborado, y permanência física pode tornar-se ineficaz.
apoyado en criterios sólidos
y transparentes, que debería Tratando-se de medidas de proteção do patrimônio industrial, a
haber existido antes de
tomar decisiones de derribo exigência de maior agilidade em todo o processo encontra dificuldades
de edificios concretos. Los no que se refere à implantação e à implementação dos meios necessários
ciudadanos, y en particular
los del Poblenou, tuvieron para tanto, pois o tempo real de elaboração de inventários, de tramitação
confianza en el Ayuntamiento. dos instrumentos de proteção e de sua promulgação supera muitas
Sin duda se fueron inquietando vezes a destreza das operações especulativas do mercado imobiliário e
cada vez más por el crecimiento
de los precios de las viviendas da própria dinâmica urbana, criando contradições para todo o trajeto
y la falta de voluntad para de conservação da identidade e do caráter que a indústria imprimiu de
construir vivienda social, así
como por la tardanza en la maneira inconfundível em determinadas áreas, cidades e regiões.
llegada de equipamientos
prometidos. Y finalmente se O tempo de maturação das intervenções para valoração e
exaltaron al ver lo que ocurría reabilitação do patrimônio industrial é ainda muito mais extenso do
con Extractos Tánicos, un
edificio que fue derribado que o que se apresenta nos processos tecnológicos econômicos atuais.
por la propiedad un sábado, Para se ter ideia da dimensão desse processo, tomemos, por exemplo,
a pesar de las promesas que
había hecho el Ayuntamiento o tombamento estadual das fábricas Santa Adélia e São Martinho,
para conservarlo”. Ver: CAPEL, em Tatuí. O pedido de tombamento no Conselho de Defesa do
H. De nuevo el modelo Patrimônio Histórico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo -
Barcelona y el debate sobre el
urbanismo barcelonés. In: Bibio CONDEPHAAT - é feito em abril de 1989, e, em 1994, o órgão decide
3W. Revista Bibliográfica de dividir o processo, especificando o caso de cada uma das fábricas. O
Geografía y Ciencias Sociales,
Univ. de Barcelona, 25 jan. 2006, conselheiro dá parecer favorável em setembro de 2006, e os bens são
vol. XI, nº 629. Sem paginação. inscritos no livro do Tombo Histórico em 12 de março de 2008. Entre
Disponível em: <http://
www.ub.es/geocrit/b3w-629. a abertura do processo e a inscrição no livro do tombo, decorreram
htm>. Acesso em: 4 set. 2010. quase dezenove anos.
Introdução
◄Fig. 11. Companhia de Fiação
Caso semelhante aconteceu com o tombamento da Fábrica São e Tecelagem São Martinho, Tatuí.
Luiz, em Itu, também no Estado de São Paulo. O pedido do tombamento Detalhe da Torre do Relógio.
Disponível em: <http://www.
data de 1969, ano em que a fábrica completa seu centenário. Dez anos panoramio.com/photo/1916410>
Acesso em: 20 jan. 2011.
depois, o processo é arquivado a pedido do arquiteto Carlos Lemos, ▲Fig. 12. Companhia de Fiação
e Tecelagem São Martinho, Tatuí.
diretor técnico do Serviço Técnico de Conservação e Restauro - STCR, Vista do Conjunto. Disponível em:
que alega o seguinte motivo:“[...] em face da política do CONDEPHAAT < h t t p : / / w w w. p a n o r a m i o. c o m /
photo/1916501>. Acesso em: 20 jan.
para as chamadas cidades históricas, estarem os tombamentos pontuais 2011.
e isolados fora de cogitação” (CONDEPHAAT, Processo nº 09888/1969,
24 p. 22). O pedido de reabertura do processo foi feito em 1982, data
de encerramento das atividades da fábrica, pelo diretor do Museu ▼Fig. 13. Companhia de Fiação e
Tecelagem São Martinho, Tatuí. Vista
Republicano de Itu, Jonas Soares de Souza, que temia pela vulnerabilidade da entrada principal. Disponível
em: <http://i1.trekearth.com/
do imóvel, sem atividade, frente a uma possível destruição. Entre o photos/37107/sao_mar tinho.jpg>.
Acesso em: 20 jan. 2011.
pedido inicial de tombamento da fábrica, seu encerramento, reabertura
▼▼Fig. 14. Companhia de Fiação
e, finalmente, sua inscrição no livro do tombo, em dezembro de 1983, e Tecelagem São Martinho, Tatuí.
Residências operárias. Disponível
decorreram quatorze anos. em:<http://static2.bareka.com/
photos/medium/1483690.jpg>.
Não obstante essa característica de morosidade inerente Acesso em 20 jan. 2011.
aos órgãos de defesa do patrimônio cultural brasileiro, sublinha-se a
importância que desempenham na sua construção e preservação,
apesar de a base da amostragem estar centrada em determinadas
épocas e limitada a elas (colonial, barroco etc.), e de o patrimônio
da industrialização, devido à sua complexidade, ainda causar certa
perplexidade a esses órgãos, como poderemos constatar na terceira
parte desta tese.
A análise da permanência de estruturas industriais centrada
somente na esfera patrimonial revelou-se uma redução de sua
importância. Essa redução vicia a compreensão do que seria tal
patrimônio, uma vez que os órgãos de defesa forçosamente trabalham
para a formação de uma amostra significativa de cada categoria
patrimonial, o que resulta em não poder cobrir o extenso repertório de
exemplares da arquitetura industrial presentes na maioria das cidades
brasileiras.
Assim,parece oportuna a avaliação da experiência de intervenções
urbanas em áreas preteritamente industriais ocorridas nos últimos vinte
O Lugar do Patrimônio Industrial
anos - para efeito deste trabalho, especificamente, nos estados do Rio
de Janeiro e de São Paulo -, apresentando um panorama que possibilite
visualizar quais seriam as posturas relacionadas à preservação do
patrimônio cultural arquitetônico da industrialização como parte ativa
e importante da cidade em sua totalidade, consideradas em sua forma
espontânea, sem a pressão exercida pelos órgãos de preservação.
Para abordar essas questões, a investigação buscou,
primeiramente, entender as transformações ocorridas no território a
partir do desenvolvimento industrial nas cidades onde se processou
a origem da indústria moderna brasileira e a expressão espacial desse
processo, tendo por foco a indústria têxtil, que, como veremos, foi
o setor industrial mais expressivo, deixando um legado construído
bastante significativo. Em atenção a esse recorte, foram analisadas as
reconstruções do território industrial com base em dois pontos de vista:
a sua salvaguarda patrimonial oficial e a sua preservação como ato de
reapropriação espacial.
Não é mérito desta tese discutir critérios teóricos de restauro.
Importa-nos discutir os impactos que a preservação das reminiscências
das estruturas produtivas - como herança cultural da indústria,
portadora de elementos simbólicos e identitários que foram expressão
de uma sociedade emergente e progressista - produzem no ambiente 25
construído.
Esta pesquisa está centrada em dois eixos. No primeiro eixo,
foi realizada a revisão bibliográfica, mediante a qual emergiram alguns
escritos que foram fundamentais para o desenvolvimento deste
trabalho. No que tange o desenvolvimento da indústria e sua dimensão
econômica, social e urbana, não poderiam deixar de ser revistos os
trabalhos de Warren Dean, Stanley Stein, Wilson Cano, Wilson Suzigan,
Flávio Versiani. Na área do patrimônio industrial e sua preservação, há
os clássicos trabalhos de Kenneth Hudson e Angus Buchanan, além dos
estudos de Cristina Meneguello, Phillip Gunn, Telma de Barros Correia,
Silvana Rubino, José Manuel Lopes Cordeiro, Marly Rodrigues, Beatriz
Kühl, Jorge Tartarini, Jaime Migone Rettig, Eusebi Casanelles, Ulpiano
Bezerra de Meneses, Rui Gama, Ademir Pereira dos Santos, somente
para citar alguns. Outra fonte de consulta importante foram os Anais
dos encontros do TICCIH4, tanto nacionais como internacionais, e as
dissertações e teses de Helena Saia, Gabriela Campagnol, Danielle
Couto Moreira, Manoela Rufinoni, Anicleide Zechini, Ludmila Pauleto,
4
TICCIH, The International
Cláudia dos Reis Cunha, Mary Helle Moda Balleiras, entre outras.
Committee for the O segundo eixo centra-se na consulta às fontes documentais
Conservation of Industrial
Heritage, criado em 1978, é dos inventários constantes dos processos de tombamento dos órgãos
vinculado à UNESCO e visa de proteção do patrimônio cultural nas esferas municipal, estadual e
à salvaguarda do patrimônio
industrial. O Comitê Brasileiro federal, assim como a consulta aos documentos das empresas, mantidos
de Preservação do Patrimônio hoje em arquivos privados, como os das fábricas Brasital, de Salto e de
Industrial é representação
oficial do TICCIH desde 1998. São Roque, que atualmente estão guardados no Centro de Memória

Introdução
da Fundação Bunge; e a documentos governamentais, como os da
Companhia América Fabril, mantidos pelo Arquivo Geral da Cidade do
Rio de Janeiro.
Para entender a lógica de reapropriação dos espaços ocupados
por atividades industriais e responder à questão central desta tese –
qual é o lugar do patrimônio industrial, com suas tipologias específicas
e caráter próprio, nas estratégias de produção do espaço urbano
contemporâneo - partimos de duas hipóteses:
Nos projetos e estratégias de reabilitação de áreas preteritamente
industriais, categorias como tipo e caráter das fábricas são propriedades
enfatizadas, a ponto de se transformarem em testemunhos eloquentes
para a valorização histórica, social e cultural de espaços industriais
abandonados e estigmatizados, decorrendo disso que a sua reintegração
à dinâmica urbana provoca desdobramentos na melhoria da qualidade
de vida e incremento dos aspectos econômicos da comunidade, que
antes dependia das atividades industriais.
Esses processos de reabilitação criam atratividade para áreas até
então degradadas, produzindo um progressivo desenvolvimento que
induz a uma nova interpretação do local e levando a um distanciamento
de seu passado, ligado a um momento histórico específico. Ao perder
26 sua importância econômica, os símbolos arquitetônicos mantidos não
são suficientes para narrar fatos que deveriam ser preservados no
processo de patrimonialização.
Com base nessas hipóteses, no estabelecimento do mapeamento
do território da tese, descrito a seguir, e na sistematização do campo de
pesquisa, o trabalho estrutura-se em quatro partes.
A primeira parte visa descrever o processo de industrialização
nascente no Brasil, no período definido pela história econômica como
primeira fase do desenvolvimento da atividade industrial (até o final
da década de 1920), evidenciando a organização urbana resultante
desse processo e, posteriormente, a reestruturação produtiva, que
impõe mudanças e rupturas em relação aos espaços onde a indústria
se concentrou.
A segunda parte avalia a transformação do paradigma urbano,
buscando identificar a mudança do significado do urbano frente
à transformação do ambiente construído, resultante do processo
de industrialização e, posteriormente, da globalização econômica,
intensificada pela crescente informatização de relações e comunicações,
a qual compromete a relação espaço-tempo, tornando incertos os
paradigmas vigentes de produção do espaço construído no que se
refere à arquitetura, ao urbanismo e à organização territorial.
A terceira parte procura apresentar os conceitos ligados à
problemática patrimonial, em especial, com relação ao patrimônio
da industrialização frente ao processo de renovação e requalificação

O Lugar do Patrimônio Industrial


do ambiente construído. Procura avaliar a ação governamental como
instrumento de preservação, buscando evidenciar as características
estruturais dos instrumentos legais de proteção patrimonial, considerando
sua eficácia formal para a preservação do patrimônio industrial como
símbolo e espaço de apropriação para as novas demandas espaciais que
se delineiam nas cidades.
A quarta parte, tendo em vista a compreensão do atual quadro
de reabilitação do patrimônio material arquitetônico industrial, pauta-
se em estudos pontuais que se alinham ao conteúdo traçado nas
partes anteriores. Visa estabelecer uma análise crítica dos elementos
simbólicos do patrimônio industrial edificado e do desempenho de
instrumentos utilizados em intervenções que resultaram na reintegração
do espaço físico e da herança cultural de espaços preteritamente
fabris, considerando os casos de preservação originados em processos
ligados a cinco fábricas, as quais apresentam características distintas:
unidades tipicamente urbanas, como a Fábrica de Tecidos São Luiz,
em Itu, Estado de São Paulo; unidades que foram implantadas nas
bordas da área urbanizada, como a Brasital, no município paulista de
São Roque; unidades que se originaram de fusões de outras fábricas,
transformando-se em grandes complexos, como a Brasital, no município
paulista de Salto, e a Cia. América Fabril, no município do Rio de Janeiro;
e, finalmente, aquelas instaladas em zona rural, como a Fábrica Bangu, 27
também no município do Rio de Janeiro. A abordagem está circunscrita
aos instrumentos usados em sua preservação, considerando as formas
de valorização do passado, como tempo da memória, e às evidências
de concretização das hipóteses delineadas nesta tese. A análise enfatiza
os aspectos relativos aos elementos tipológicos da arquitetura industrial
a serem preservados, sua forma de preservação e reintegração, bem
como os relativos aos elementos simbólicos do passado evidenciados e
valorizados nessa reabilitação.
Dentro dessa estrutura, os capítulos se desenvolvem da seguinte
forma:
Na primeira parte, o capitulo 1 apresenta uma visão geral do
desenvolvimento industrial brasileiro, de meados do século XIX até fins
dos anos 1920. Os dois capítulos seguintes aprofundam a análise nos dois
estados brasileiros elencados, primeiramente no Rio de Janeiro e depois
em São Paulo - onde a indústria têxtil teve primazia no recorte temporal
especificado -, relatando os impactos na formação do território urbano
e os aspectos remanescentes desse processo. O último capítulo dessa
parte aborda fatores determinantes no processo de desindustrialização,
em que a indústria perde terreno para outras atividades econômicas ou
simplesmente deixa de existir.
A segunda parte é estruturada em dois capítulos. No primeiro,
são apresentadas as características de configuração do espaço urbano
no período fordista e o papel que a indústria desempenhou na criação

Introdução
da imagem da cidade. O segundo capítulo aborda as perspectivas que se
colocam para a cidade pós-fordista, buscando identificar novos símbolos
urbanos, cujo conteúdo sintetize o espaço no tempo. Estuda-se também
a relação entre novos paradigmas socioeconômicos e sua implicação na
relação espacial do tempo presente.
Na terceira parte, o primeiro capítulo parte da análise do papel
dos organismos de preservação na salvaguarda do patrimônio cultural,
congregando o papel histórico do IPHAN e a evolução do quadro de
bens tombados desde a sua fundação até os dias atuais. O segundo
capítulo aborda a indústria como campo do patrimônio cultural. Assim,
é apresentada uma perspectiva histórica da preservação do legado da
indústria. O terceiro capítulo volta-se a uma análise da valorização do
patrimônio industrial brasileiro sob a óptica dos organismos oficiais
de preservação por meio da análise do tombamento da Fábrica Santa
Amélia, no Maranhão, e da Fábrica de Vinho Tito e Silva, na Paraíba.
A quarta e última parte desenvolve-se em seis capítulos. O
primeiro trata da organização interna das fábricas têxteis, objetivando
destacar a importância do processo produtivo na definição física
do espaço industrial. Os cinco capítulos seguintes reinterpretam os
territórios industriais, analisando as características históricas e tipológicas
28
das fábricas selecionadas, tanto no sentido de preservação do edifício
como símbolo, quanto no tocante às potencialidades desses espaços
de oportunidade no processo de requalificação urbana das cidades.
Os relatos dos casos de reabilitação do patrimônio da industrialização
identificam tipologias de intervenção e formas de abordagem e avaliam
as novas políticas de atuação do poder público e da sociedade em
relação à proteção dos bens culturais da industrialização. Nesses
capítulos, são estudadas as fábricas América Fabril e Bangu, do Rio de
Janeiro, e de São Paulo, as fábricas Brasital (municípios de Salto e São
Roque), além da São Luiz.
Por fim, os elementos analisados no decurso desta investigação
levam a uma consideração final sobre as relações que se estabelecem
no atual estágio da sociedade entre a dinâmica espacial vigente e a
abordagem qualitativa na reabilitação do patrimônio arquitetônico da
industrialização.

O Lugar do Patrimônio Industrial


29

▲Mapa 1. Distribuição das fábricas ►Fig. 15. (pag.30) Diagrama do


estudadas no estado de São Paulo. agenciamento das implantações,
imagens e informações sumárias das
Fábricas estudadas no estado de São
Paulo.

►Fig. 16. (pag.31) Diagrama do


agenciamento das implantações,
imagens e informações sumárias das
▼Mapa 2. Distribuição das fábricas Fábricas estudadas na cidade do Rio
estudadas na cidade do Rio de Janeiro. de Janeiro.

Introdução
30

O Lugar do Patrimônio Industrial


31

Introdução
Parte 1
A Dinâmica Industrial
Brasileira
34

Fig. 17. Portão de


Acesso à Cia. Progres-
so Industrial do Brasil,
Fábrica Bangu, Rio de
Janeiro. Fonte: Gracilda
A. de A.Silva, 1989

Não difficultem com ameaças periódicas a sua marcha natural, e mantenham-lhe, como
é de justiça comesinha, as condições em que foi creada e tem evolvido até hoje, e esta
indústria nacional, tão nossa, attingirá, fatalmente, pelas condições especiaes da sua existencia,
importancia egual ou maior á de que se desvanecem e orgulha, com predilecção notoria,
nações essencialmente industriaes.

Cunha Vasco (sobre a indústria de fiação e tecelagem brasileira em 1905).

O Lugar dO PatrimôniO industriaL


1. O prelúdio da indústria têxtil brasileira
– uma visão concisa
O território deve ser entendido não apenas como o
repositório de um conjunto de condições e recursos
disponíveis (infra-estruturas físicas ou tecnológicas,
existência de mão-de-obra qualificada, empresas,
empreendedores, ou outros), mas como algo dinâmico,
em permanente construção e constante diálogo com os
agentes e actores aí localizados.
Rui Jorge Gama Fernandes

O crescimento econômico e o desenvolvimento das sociedades


no século XIX, e no Brasil, em particular, no século XX, estão
fundamentados nas modificações inovadoras introduzidas pelo sistema
produtivo.
O desenvolvimento da atividade industrial no Brasil, a partir
do último quartel do século XIX, é dividido em alguns trabalhos de
história econômica, como o de Suzigan (1975, p. 433), em três fases.
A primeira fase compreende todo o período que se estende até o 35
final dos anos 1920 e se caracteriza pela predominância da defesa
dos interesses dos setores comercial e agrícola, particularmente dos
cafeicultores, por meio de programas de valorização do café, com
pouco ou nenhum interesse em promover a industrialização do país.
A segunda fase abrange o período entre os anos 1930 e meados dos
anos 1950, quando a política econômica passou a comportar medidas
esparsas de apoio ao crescimento da produção industrial, ainda que
prioritariamente ocupada com o suporte ao setor agrícola, que estava
em crise, em especial, o café. Finalmente, a terceira fase compreende
o período iniciado em 1957, quando o desenvolvimento industrial
passou a ser prioritariamente promovido por uma política deliberada
de industrialização.
Este capítulo centra-se na primeira fase do desenvolvimento
industrial brasileiro, de meados do século XIX até fins dos anos 1920,
fase esta em que a indústria, embora ainda não tendo atingido sua
maturidade, irá intensificar o processo de urbanização, desencadeado
pela economia cafeeira.
Até o final do século XIX, o Brasil era um país eminentemente
rural, voltado para a monocultura de exportação, organizado com base
nas economias regionais, apresentando escassas relações mercantis
entre elas e inserido dentro do plano internacional como fornecedor de
borracha produzida na região amazônica; açúcar, algodão, fumo e cacau
produzidos no Norte e Nordeste; mate, couros e peles produzidos no
Sul; e, a partir do último quartel do século XIX, especialmente o café

Capítulo 1 - O prelúdio da indústria têxtil brasileira


produzido no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo.
Os recursos auferidos no mercado externo subsidiavam, sobretudo, a
administração pública e a importação de manufaturados.
Suzigan (1975, p. 434) defende que, até fins da década de 1920,
o crescimento da produção industrial estava atrelado ao desempenho
do setor agrícola exportador, de cuja renda dependia o mercado
interno de produtos manufaturados, e o desenvolvimento se dava pelo
que pode ser chamado de “surtos espontâneos”, nos quais o papel
da política econômica governamental explícita foi pouco significativo.
O autor afirma ainda que, a partir da Primeira Guerra Mundial, o
Estado começou a estimular o desenvolvimento de algumas indústrias
específicas por meio de subsídios e incentivos para empresas individuais,
sem caráter sistemático. Foi somente a partir da década de 1930 que a
ação do Estado em defesa do setor agrícola-exportador em crise (café)
acabou ajudando o desenvolvimento industrial, ainda que indiretamente.
Portanto o chamado “primeiro surto” ou “primeira fase” da
indústria brasileira, ocorrida no século XIX, teve sua atuação voltada
para o mercado interno e estabeleceu a base de nossa indústria
moderna. Cabe recordar a dificuldade enfrentada desde o início para a
constituição desse novo mundo industrial, em especial, a partir do alvará
36
de 1785, de D. Maria I, que abolia e proibia o funcionamento de fábricas
e manufaturas no Brasil:
[...] o grande número de fábricas e manufaturas que
de alguns anos por esta parte se têm difundido em
diferentes capitanias do Brasil, com grave prejuízo da
cultura, e da lavoura, e da exploração de terras minerais
daquele vasto continente; porque havendo nele uma
grande, e conhecida, falta de população, é evidente que,
quanto mais se multiplicar o número dos fabricantes,
mais diminuirá o dos cultivadores; e menos braços
haverá que se possam empregar no descobrimento, e
rompimento de uma grande parte daqueles extensos
domínios que ainda se acha inculta, e desconhecida.
Nem as sesmarias, que formam outra considerável
parte desses mesmos domínios, poderão prosperar, nem
florescer, por falta do benefício da cultura, não obstante
ser esta a essencialíssima condição com que foram dadas
aos proprietários delas. E até nas terras minerais ficará
cessando de todo, como já tem consideravelmente
diminuído, a extração de ouro, e diamantes, tudo
procedido da falta de braços, que devendo-se empregar
nestes úteis e vantajosos trabalhos, ao contrário os
deixam, e abandonam, ocupando-se de outros totalmente
diferentes, como são as referidas fábricas e manufaturas.
E consistindo a verdadeira e sólida riqueza nos frutos
e produções da terra, os quais somente se conseguem
por meio de colonos e cultivadores, e não de artistas e
fabricantes. E sendo, além disso, as produções do Brasil as
que fazem todo fundo e base, não só das permutações
mercantis, mas da navegação e comércio entre meus leais
vassalos habitantes destes reinos, e daqueles domínios,
que devo animar, sustentar em benefício comum de uns
e outros, removendo na sua origem os obstáculos que
lhes são prejudiciais e nocivos. Em consideração de todo
o referido, hei por bem ordenar que todas as fábricas,
manufaturas ou teares [...]; excetuando-se tão somente
aqueles ditos teares ou manufaturas em que se tecem,

O Lugar do Patrimônio Industrial


ou manufaturam, fazendas grossas de algodão, que
servem para o uso e vestuário de negros, para enfardar,
para empacotar, e para outros ministérios semelhantes;
todas as mais sejam extintas e abolidas por qualquer
parte em que se acharem em meus domínios do Brasil
[...] (CARTAS, PROVISÕES E ALVARÁS, 1785).
A proibição das manufaturas no Brasil pode ser interpretada
como uma tentativa de estabelecer e firmar uma indústria manufatureira
portuguesa que pudesse substituir em parte as onerosas importações
da Inglaterra, que, depois da Revolução Industrial, detinha o controle
do mercado de exportação de gêneros industriais. Para Portugal, o
Brasil Colônia representava um importante mercado consumidor para
a sobrevivência de suas manufaturas nascentes.
Depois da Revolução Industrial, há uma crescente necessidade,
por parte da Inglaterra, de mercados consumidores e fornecedores
de matérias-primas para sua mais importante indústria, a têxtil; em
destaque, a necessidade do algodão, produto de regiões e climas
tropicais. Portugal representava, nessa complexa teia de relações, um
importante papel de aliado, importador dos produtos ingleses, os quais
seriam repassados às suas colônias junto com seus próprios gêneros
manufaturados. O Brasil, consecutivamente, cresce de importância não
somente para sua metrópole, tornando-se a mais valorosa colônia do
Império português, mas também despertando crescente interesse de 37
outras nações, atraídas pelo potencial lucrativo de um território tão vasto
e fértil, apesar da enorme população destituída de meios de compra -
os escravos. Durante as guerras de independência das treze colônias,
5
Trata-se do Alvará de o Maranhão tornou-se um importante fornecedor de algodão para a
1808, cujo teor expressa o
seguinte: “[...] revogando toda indústria têxtil inglesa, que retornava manufaturado, posteriormente,
a prohibição que havia de por intermédio de Portugal (HEYNEMANN, 2007).
Fabricas e Manufacturas no
Estado do Brazil, e Dominios Em 1808, o príncipe regente recém-chegado promove várias
Ultramarinos, registrado em
doze de abril de 1808, à Folha mudanças no âmbito cultural, político e econômico. O alvará de 1º
cinco do Livro primeiro de de abril de 1808 (The CÓDIGO BRASILIENSE, Index or Law, 1808,
Leis, Alvarás e Cartas Régias L05)5, que revoga a proibição de 1785, será o primeiro incentivo para o
da Secretaria de Estado dos
Negócios do Brazil”. desenvolvimento industrial do século XIX, apesar do acordo que a Coroa
estabelece com a Inglaterra, abrindo os portos brasileiros aos produtos
6
“Alvará que izenta de Direitos ingleses em troca de apoio na transmigração da Corte e da burocracia
as materias primeiras que do Estado para o Brasil. O segundo incentivo será estabelecido por meio
servirem de baze a quaesquer do Alvará de 28 de abril de 1809 (The CÓDIGO BRASILIENSE, Index
Manufacturas Nacionaes; e
conferir como dom gratuito of Law, 1809, L13)6, no qual foram adotadas diversas medidas voltadas
a quantia de sessenta mil para o desenvolvimento industrial, tais como: a isenção de direitos à
cruzados ás Fabricas, que mais
necessitarem destes socorros, importação de matérias-primas, a isenção de direitos à exportação de
ordenando outras providencias produtos manufaturados e a concessão de privilégios aos inventores
a favor dos Fabricantes, e
da Navegação Nacional”. e introdutores de novas máquinas, que teriam o direito exclusivo de
Registrado na Secretaria de explorar a invenção por 14 anos. Para isso, havia sido criado um órgão
Estado dos Negocios do Brazil
no Livro primeiro de Leis, para avaliar os planos de invenção, a Real Junta do Comércio, que foi
Alvarás, e Cartas Régias a folhas dotada de recursos para conferir prêmios e incentivar as invenções:
100 vers. Rio de Janeiro em três
de maio de mil oitocentos e Sendo o meio mais conveniente para promover a indústria
nove.
Capítulo 1 - O prelúdio da indústria têxtil brasileira
de qualquer ramo nascente, e que vai tomando maior augmento pela
introdução de novas machinas dispendiosas, porém utilíssimas, o conferir-
se-lhe algum cabedal que anima o capitalista que emprehende promover
semelhante fábrica, vindo a ser esta concessão um Dom gratuito que
lhe faz o Estado: sou servido ordenar, que da Loteria Nacional do
Estado, que anualmente quero se estabeleça, se tire em cada anno uma
soma de sessenta mil cruzados [...] a favor daquellas manufacturas e
artes, particularmente das de lãs, algodão, seda e fábricas de ferro e
aço. E as que receberem [...] não terão obrigação de o restituir sendo
muito conveniente que os inventores e introductores de alguma nova
machina, e invenção nas artes, gozem do privilégio exclusivo além do
direito que possam ter ao favor pecuniário, que sou servido estabelecer
em benefício da indústria e das artes; ordeno que todas as pessoas
que estiverem neste caso apresentem o plano de seu novo invento
à Real Junta do Commercio; e que esta, reconhecendo a verdade, e
fundamento delle, lhes conceda o privilégio exclusivo por quatorze
annos, ficando obrigados a publica-lo depois, para que no fim desse
prazo, toda a Nação goze do fructo dessa invenção[...] (The CÓDIGO
BRASILIENSE, 1809, L13, p2-3).
Gunn e Correia (2005, p. 24) ressaltam que esses incentivos e
concessões reais levaram à fundação de diversas fundições, como é o
38 caso da Real Usina de Ferro do Morro do Pilar, em Conceição (MG),
na Serra do Espinhaço, perto de Timóteo, em 1812; a Real Fábrica de
Ferro São João de Ipanema, em Iperó (SP), próxima a Sorocaba, iniciada
em 1811 sob a supervisão do engenheiro militar germânico major ▼Fig. 18. Real Fábrica de Ferro
Varnhagen; a Fábrica de Ferro do Prata, também conhecida como Usina de Ipanema, séc. XIX, 1884. Fonte:
Pedro Correa do Lago. Coleção
Patriótica, próxima a Itabirito (MG), sob a supervisão de Eschwege, Princesa Isabel: Fotografia do
outro engenheiro militar, que deu início à operação em 1812; a Saint século XIX. Disponível em: <http://
upload.wikimedia.org/wikipedia/
John D’El Rey Mining Company, iniciada em 1834, na vila de Morro commons/b/b6/F%C3%A1brica_
fer ro_Sorocaba_1884.jpg>.
Velho, hoje cidade de Nova Lima, situada próxima a Belo Horizonte. Acesso em: 10 jan.2010.

O Lugar do Patrimônio Industrial


▲Fig. 19. Real Fábrica de Ferro de Apesar dos fracassos na viabilização desses empreendimentos,
Ipanema, Forno alto, construído em
1885 por Mursa (nunca entrou em houve outras tentativas de produção ainda no século XIX, como
atividade). Disponível em: <http://
mw2.google.com/mw-panoramio/ a fundição Usina Esperança, inaugurada em 1888, que, nas décadas
photos/medium/10674612.jpg>. seguintes, se tornou um dos maiores estabelecimentos de fundição de
Acesso em: 10 jan.2010.
ferro do país.
►Fig. 20. Real Fábrica de Ferro de
Ipanema, séc. XIX, cerca de 1820 A Usina Esperança também é citada por Suzigan (2000) como
(?). Fonte: ABAP. Disponível em: exemplo de investimentos realizados na área industrial no final da
<http://www.abpfsp.com.br/ferro-
vias/ferrovias34.htm>. Acesso em: década de 1880:
10 jan.2010. [...] durante o encilhamento, foram estabelecidas
grandes fábricas de tecidos de algodão no Nordeste
(particularmente na Bahia, em Pernambuco e no 39
Maranhão), em São Paulo e na própria área do Rio
de Janeiro. Foram também realizados substanciais
▼Fig. 21. Fachada da Casa das investimentos em outras indústrias, tais como sacaria de
Armas, Real Fábrica de Ferro de juta, tecidos de lã, moinho de trigo, cervejarias, fábricas
Ipanema. Fonte: Ricardo Koracso- de fósforo, e indústrias metal-mecânica. Também data do
ny. Disponível em: <http://www. período a construção do auto-forno de Miguel Burnier
panoramio.com/photo/2728744>. (Minas Gerais) operado pela Usina Esperança, única
Acesso em: 10 jan.2010. companhia a produzir ferro-gusa em escala industrial
antes da década de 1920 (p. 51).
▼▼Fig. 22. Interior da Casa das
Armas, Real Fábrica de Ferro de Stein (1979, p. 22) afirma que a expansão do comércio
Ipanema. Fonte: Andre Bonacin.
Disponível em: <http://mw2.goog- internacional, sobretudo com a Grã-Bretanha, favorecida por acordos
le.com/mw-panoramio/photos/ preferenciais até 1843, prejudicou muito a indústria artesanal e
medium/10695174.jpg>. Acesso
em: 10 jan.2010. manufatureira do Brasil. O autor considera de pouca importância o
desenvolvimento de algumas pequenas empresas prematuras nas três
primeiras décadas do século XIX, pois, em primeiro lugar, elas foram
favorecidas por certo apoio governamental e pela ausência momentânea
da concorrência estrangeira após 1808, e, em segundo lugar, a maioria
sucumbiria por volta de 1830 devido ao influxo de manufaturados
importados.
A análise de Stein (1979, p. 23) sobre o período revela que todo
o protecionismo teve caráter acidental. O autor afirma ainda que os
investimentos privados no período anterior a 1850 eram direcionados
especialmente a empreendimentos em que os empresários comerciais já
tivessem experiência, o que excluía a indústria, considerada, no período
mencionado, um investimento arriscado. Fato notável nas décadas de
1850 e 1860 foi a aplicação de grande volume de capital na fundação de
bancos de desconto e depósito, assim como os investimentos realizados

Capítulo 1 - O prelúdio da indústria têxtil brasileira


em companhias de construção de estradas, linhas de carruagem,
navegação costeira e estradas de ferro projetadas para facilitar o
escoamento dos produtos agrícolas de exportação.
O pioneiro banco de investimento Mauá, McGregor & Cia., de
Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, exemplifica essa fase,
assim como a implantação da primeira estrada de ferro, da Raiz da
Serra à cidade de Petrópolis (RJ), em 1854, e o trecho inicial da União e
Indústria, primeira rodovia pavimentada do país, entre Petrópolis e Juiz
de Fora (MG), também em 1854. Em sociedade com capitalistas ingleses
e cafeicultores paulistas, participou da construção da Recife and São
Francisco Railway Company, da ferrovia Dom Pedro II, atual Central do
Brasil, e da São Paulo Railway.
A saga do Barão de Mauá pode ser considerada uma exceção,
pois, entre seus empreendimentos em vários setores, destacavam-se os
da indústria.
As suas fundições foram responsáveis por boa parte do material
empregado na urbanização da cidade do Rio de Janeiro promovida pela
Corte Imperial, e seu Estaleiro da Ponta da Areia chegou a montar
72 navios na primeira década de sua existência, fornecendo parte dos
navios que a Marinha de Guerra brasileira usou na Guerra da Tríplice
40 Aliança. Em 1851, fundou uma companhia de gás, a Fábrica do Aterrado,
para a iluminação pública do Rio de Janeiro. A falta de apoio da política
econômica levou Mauá à falência em meados da década de 1870
(GANNS, 1998).
Dois fatos ocorridos antes de 1850 foram decisivos para o
progresso da indústria têxtil: a promulgação da tarifa protecionista em
1844, conhecida por “Alves Branco” - que estipulava taxas de 30% para
a maior parte dos produtos manufaturados estrangeiros, incluindo os
tecidos de algodão - e a suspensão das taxas alfandegárias que incidiam
sobre as máquinas e matérias-primas, em 1846 e 1847. Essas ações
estimularam a fundação de fábricas de fiação e tecelagem de algodão,
duas das quais – a de Santo Aleixo (Rio de Janeiro, 1848) e a de Todos
os Santos (Bahia, 1844) - deram aspecto verdadeiramente industrial à
manufatura têxtil de algodão nos anos 1840. A maior parte das nove
fábricas de tecidos de algodão, inscritas em exposições nacionais vinte
anos depois7, foi fundada nesse período, sobretudo as da Bahia, o
primeiro centro manufatureiro têxtil de algodão do país.
Tabela 1 - Número de fábricas de algodão do Império do Brazil em 1º de dezembro de 1875
7
Exposições nacionais de
Província / Estado Nº de fábricas 1861 e 1866. Na 1ª Exposição
Bahia 11 Nacional de Produtos Naturais
São Paulo 6
e Industriais, em 1861,
promovida pelo governo
Minas Gerais 5
imperial no Rio de Janeiro para
Rio de Janeiro 5 mostrar aos estrangeiros que o
Alagoas 1 Brasil não produzia só açúcar,
Maranhão 1 café, algodão, cacau, couros
Pernambuco 1 e carnes salgadas, foi exibida
TOTAL 30 boa variedade de produtos
Fonte: Arquivo da Exposição da Indústria Nacional (apud CARONE, 2001, pp. 200-201). manufaturados.

O Lugar do Patrimônio Industrial


Dean (1971) aposta no lado positivo do período de consolidação
da indústria têxtil, representado pela infraestrutura ferroviária instalada
para o café, a mão-de-obra abundante e a existência de pessoal
capacitado.
As primeiras fábricas também se viram incalculavelmente
beneficiadas pela transformação social já operada pelo
café, em particular pela presença não só de uma mão-de-
obra, assim imigrante como nativa, afeita à necessidade
do trabalho constante, mas também de um quadro de
técnicos e contramestres contratados na Europa para
superintender as plantações ou construir estradas de
ferro, ou treinados nos novos institutos de educação
superior de São Paulo. Além da escola de Direito,
fundada em 1830, novas escolas de Engenharia, comércio,
Medicina e Biologia se criaram antes da Primeira Guerra
Mundial (DEAN, 1971, p. 15)
Sobre a implantação da infraestrutura ferroviária após 1860,
ligando o Rio de Janeiro a São Paulo e Minas Gerais, Stein (1979, p.38)
reforça a importância de sua contribuição para o deslocamento da
supremacia têxtil da Bahia para a região Centro-Sul do Brasil. A ferrovia
contribuiu também para o processo de interiorização da localização
industrial em São Paulo e Rio de Janeiro, como pode ser observado pela
implantação das indústrias têxteis nos municípios paulistas Sorocaba,
Salto, Itu e Tatuí, que, além de serem servidas por linhas férreas, contavam
com a proximidade da matéria-prima e a força hidráulica necessária
41
para acionar suas turbinas.
Stein (1979, p. 23) enfatiza a dificuldade de financiamento
enfrentada pelas empresas industriais nascentes, que, sem raízes na
economia nacional e ofuscadas pelas sociedades mercantis urbanas,
eram as primeiras a sofrer com a falta de crédito em qualquer crise. Em
1875, os diretores da Companhia Têxtil Brasil Industrial, localizada nas
proximidades do Rio de Janeiro (distrito de Macacos, atual Paracambi),
queixavam-se da desconfiança com que os bancos tratavam os
empreendimentos industriais durante a depressão da década de 1870. Por
ocasião da crise bancária e da contratação geral do crédito nessa época,
declaravam que os empréstimos eram obtidos apenas sob garantias
cuidadosamente definidas, as quais os industriais não tinham condições
de oferecer. Afirmavam que não podiam aumentar seu capital por meio
da emissão de ações, pois o mercado financeiro estava dominado por
uma reação contra a empresa industrial. Já outros ponderavam que o
malogro das poucas indústrias existentes apenas demonstrava que o
país não estava preparado para uma industrialização em larga escala,
e que o capital investido nesses empreendimentos inevitavelmente se
perderia. Na década de 1880, raros eram os que contestavam a noção
de que o maior obstáculo para a manufatura têxtil de algodão era a
escassez de fundos, pois o capital encontrava no comércio um emprego
seguro e lucrativo, ao contrário das manufaturas, sobre cujas operações
os capitalistas não podiam ter uma ideia clara à primeira vista, nem
podiam estimar rapidamente os lucros.
Suzigan (2000, p. 50) afirma que, embora existam divergências
Capítulo 1 - O prelúdio da indústria têxtil brasileira
entre autores a respeito das origens do desenvolvimento industrial
brasileiro8, no período conhecido como Encilhamento (1890-1891),
houve um pico no investimento industrial, confirmado pelo aumento
das exportações de maquinaria industrial para o Brasil, de 30% em 1890
e mais de 70% em 1891.
Nos dados abordados por Suzigan (2000), relacionados com
o estabelecimento de fábricas de tecidos de algodão antes de 1905,
confirma-se o estabelecimento de grandes empresas industriais no
Nordeste, em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, conforme
demonstra a Tabela 2:
Tabela 2 - Fábricas de tecidos de algodão estabelecidas no Brasil antes de 1905
PROVÍNCIA/ESTADO Nº DE FÁBRICAS
Minas Gerais 31
Rio de Janeiro 28
São Paulo 26
Bahia 11
Maranhão 10
Pernambuco 8
Alagoas 5
Ceará 4
Rio Grande do Sul 2
Sergipe 2
Paraíba 1
42
Rio Grande do Norte 1
TOTAL 129
Fonte: Elaboração da autora com base em SUZIGAN (2000).

Estamos assim na presença de comportamentos espaciais


diferenciados, que nos levam a refletir sobre a natureza do processo de
concentração industrial no Brasil, ocorrido a partir do último quartel do
século XIX.
Importa, na sequência desta análise, contextualizar o processo 8
Autores como Mello (1975),
de industrialização com base nos dados apresentados em 1875 e 1905. Silva (1976), Cano (1998) e
Aureliano (1981) afirmam que
Podemos, nessa perspectiva, elaborar um mapa quantitativo da evolução a gênese do capital industrial
das indústrias têxteis do Brasil (figuras 23 e 24), avaliando números e ocorreu no período da crise
do Encilhamento (momento
localização geográfica em dois períodos importantes: o Brasil Imperial, de intensa especulação
às vésperas da República, e o início do século XX. financeira no início do período
republicano), durante o ciclo de
A análise das figuras revela a existência de uma forte expansão das exportações de
identidade geográfica entre os espaços industriais com três estruturas café. Dean (1976) estabelece
uma relação direta entre a
de funcionamento da economia brasileira no período: o espaço das expansão das exportações
articulações entre agricultura e indústria, como é o caso da Bahia e, de café e o desenvolvimento
industrial no Estado de São
em parte, o de São Paulo; o espaço da concentração urbana, como Paulo. Salienta ainda que os
são os casos, particularmente, do Rio de Janeiro e posteriormente de cafeicultores investiram em
bancos, estradas de ferro,
São Paulo; e o espaço do interior, que apresenta como destaque Minas promoção de imigração e, em
Gerais. menor escala, na indústria de
transformação, e que coube
O fato de a Bahia, no primeiro período analisado, concentrar o aos importadores e imigrantes
o papel mais importante no
maior número de fábricas de tecidos é explicado por Stein (1979, p. 35) processo de desenvolvimento
com base em algumas observações. A região dispunha de suprimentos industrial brasileiro.

O Lugar do Patrimônio Industrial


▲Fig. 23. Localização das fábricas de matéria-prima. Desde o final do século XVIII, a Bahia exportava
de tecidos de algodão até 1875.
Elaboração da autora. algodão bruto, cultivado no interior do estado; possuía um excelente
►Fig. 24. Localização das fábricas
sistema portuário e fluvial que facilitava o transporte de maquinaria
de tecidos de algodão até 1905. e mercadorias; tinha grande demanda para tecidos grossos, composta
Elaboração da autora.
pela necessidade de vestimenta para escravos e trabalhadores livres; 43
havia investidores potenciais, senhores de engenho e exportadores de
açúcar, prontos a aproveitar novas oportunidades de investimentos.
A Fábrica de Todos os Santos, instalada na década de 1840 em
Valença, foi, durante muito tempo, a maior tecelagem de algodão do
país, com 176 teares, 4.160 fusos e duzentos operários (SUZIGAN,
2000, p. 134).
No segundo período analisado, a participação relativa da Bahia
no total das fábricas brasileiras caiu, evidenciando o crescimento das
fábricas de algodão no eixo Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo,
o que pode ser explicado pela importância política e econômica que
a região Centro-Sul do país conquista, promovida especialmente pelo
café. Segundo Suzigan (2000, p. 17), o crescimento da renda a partir
das exportações de café estimulou investimentos em atividades como:
beneficiamento de café, fabricação de máquinas, implementos agrícolas
e de sacaria de juta para ensacar o produto para exportação, construção
de estradas de ferro e portos, assim como investimentos em fábricas de
tecidos de algodão para vestir a força de trabalho.
O fato de São Paulo e, em especial, o Rio de Janeiro terem
uma concentração urbana significativa reforça a tese da concentração
geográfica de indústrias nessas cidades, no período mencionado, como
demonstra a Tabela 3. O fato de Minas Gerais concentrar uma população
relativamente pequena na capital pode ser explicado pelo histórico de
Belo Horizonte, uma cidade nova, projetada pelo engenheiro Aarão Reis
entre 1894 e 1897. A alta taxa de evolução da população urbana em
CaPítuLO 1 - O PreLúdiO da indústria têxtiL brasiLeira
Belo Horizonte, no período de 1900 a 1930, a maior entre as outras
capitais das cidades brasileiras, justifica tal histórico.
Tabela 3 - Evolução da população urbana nas capitais brasileiras
evolução
CAPITAIS 1900 1910 1920 1930 1900/1930
(%)
Distrito Federal 691.565 905.013 1.157.873 1.505.595 217,8
São Paulo 239.820 375.439 587.072 887.810 370,2
Salvador 205.813 242.176 284.963 335.309 162,9
Belo Horizonte 13.472 33.245 56.914 116.981 868,3
São Luís 36.768 44.268 53.256 64.069 174,3
Recife 113.106 193.429 241.888 390.942 345,6
Maceió 36.427 61.281 75.065 107.756 295,8
Fortaleza 48.369 65.816 79.184 126.666 261,9
Porto Alegre 73.764 115.791 181.985 256.550 347,8
Aracaju 21.132 28.264 37.805 50.564 239,3
João Pessoa 28.793 36.398 53.629 84.623 293,9
Natal 16.056 22.322 31.035 43.149 268,7
Fonte: Elaboração da autora sobre Memória Urbana (2001, v. 2 Estatística, p. 25).

A região de Minas aparece, assim, como um caso de espaço


interior, até mesmo pela própria geografia de localização de suas fábricas
têxteis, as quais, a grosso modo, no século XIX, situavam-se na região
central da Província, assim como as siderúrgicas.
44 Paula (2001, p. 65) esclarece que há, contudo, uma grande
diferença entre as indústrias têxteis e as siderúrgicas no que tange o
emprego da mão-de-obra. Enquanto a siderurgia tinha no escravo sua
principal mão-de-obra, a indústria têxtil se constituiu como o único
ramo industrial no século XIX a se caracterizar pelo emprego quase
que exclusivo do trabalho livre, o que, no período em que se dá o
surto industrial têxtil em Minas, foi um dos fatores de estímulo a essa
indústria. O setor têxtil mineiro contava também com a tradição dos
colonizadores em confeccionar seus próprios tecidos, razão pela qual
foi impulsionado o desenvolvimento desse tipo de indústria.
Apesar de Minas Gerais ocupar o primeiro lugar em número
de fábricas, o número médio de teares de suas empresas, de 76,5,
encontrava-se muito aquém da média nacional, de 224,4, denotando o
pequeno porte de suas indústrias no setor têxtil, como explica Oliveira
(20029 apud MOREIRA, 2007, p. 24 ).
Cano (1998, p. 215) afirma ainda que predominaram, em Minas
Gerais, a pequena e a média empresa em seu mercado interiorizado,
pois quanto mais interiorizadas fossem as cidades, maiores condições
surgiriam para que a implantação industrial se desse de forma
nitidamente espraiada.
A localização dessas fábricas não se relacionava com nenhuma 9
OLIVEIRA, M. T. R. Indústria
área particular de influência dos produtos básicos da província, como Têxtil Mineira do Século XIX.
ocorria na Bahia e em São Paulo, pois a matéria-prima principal era In: SILVA, S. S.; SZMRECSÁNYL,
T. (orgs.). História Econômica
cultivada ao redor das fábricas, e a produção (em especial, a de sacaria e da Primeira República. São
de tecidos) era voltada para atender, em primeiro lugar, aquele mercado Paulo: EDUSP, 2002.

O Lugar do Patrimônio Industrial


local, em substituição à produção caseira de panos.
Das 13 fábricas instaladas em Minas Gerais antes de 1885, 12
operavam um total de 530 teares, número relativamente pequeno se
comparado com a Cia. Brasil Industrial, do Rio de Janeiro, que, sozinha,
operava 400 teares.
No período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial,
houve um movimento de expansão das fábricas têxteis, como vimos
anteriormente, o que gerou um excesso da capacidade de produção
industrial instalada, como observa Mello (197510 apud SUZIGAN, 2000,
p. 53).
A expansão da indústria têxtil no início do século XX “[...] foi
interrompida por uma recessão que se iniciou em 1913, agravando-
se com a eclosão da Primeira Guerra Mundial” (STEIN, 1979, p. 115).
A intervenção governamental por meio de emissão de papel-moeda
e facilitação do crédito levou os industriais a superarem a crise e a
10
MELLO, J. M. C.. O Capitalismo ingressarem em um período de prosperidade, que se prolongaria até o
Tardio: contribuição à revisão
crítica da formação e desen- final da década de 1920.
volvimento da economia bra-
sileira. Tese (Doutorado em O período da Primeira Guerra (1914-1918) acelerou o
Economia e Planejamento processo de diversificação industrial, em um processo de industrialização
Econômico) - Instituto de
Filosofia e Ciências Humanas, substitutiva de importações que resultou no monopólio do mercado
45
UNICAMP, 1975. interno pelas fábricas de tecidos brasileiros.
11
Em nenhum momento o
autor se refere à data da ex- O excedente da indústria têxtil criou um precedente para
posição. Por meio de referên- tentar conquistar os mercados exteriores. Essa foi uma preocupação
cias de seu texto à exposição de economistas de São Paulo e do Rio de Janeiro na conferência
municipal de São Paulo, que
teria ocorrido em “setembro algodoeira, que teve lugar no Rio de Janeiro, em 1916, conforme relato
do anno passado” (COSTA, de Isaltino Costa (1920) a respeito da exposição de tecidos brasileiros
1920, p. 10), chega-se ao ano
de 1918, pois em 30 de setem- nas repúblicas do Prata, realizada em 191811, entre maio e junho, na
bro de 1917, ainda inacabado, o Argentina e no Uruguai.
Palácio das Indústrias abrigou a
I Exposição Industrial da Cidade Nestes ultimos quinze annos tivemos bem acentuadas
de São Paulo, com a partici- duas crises nas manufacturas de algodão, sendo que a
pação das principais indústrias ultima não trouxe consequencias mais funestas porque
do município, as quais tiveram foi solucionada pela guerra européia. Numerosas eram as
grande desenvolvimento no fabricas, quer ao norte quer ao sul do paiz, que estavam
período da Primeira Guerra total ou parcialmente paradas antes de agosto de 1914,
Mundial. Essa exposição nasce porque o excesso da producção sobre o consumo tinha
de um projeto apresentado à abarrotado os mercados nacionaes, de tal fórma que os
Câmara Municipal em junho preços de venda, por vezes, chegaram a ser inferiores aos
do mesmo ano, que estabelecia preços de fabricação. Em S.Paulo e nas circumscripções
a realização de eventos desse em que a industria tinha uma organisação mais intelligente
tipo anualmente na cidade. Ela e contava com recursos para uma maior resistencia á
foi a realização material de um crise determinada pela super-producção, as fabricas
projeto há muito acalentado, trabalhavam sómente com um terço ou a metade de
de valorizar diante da popu- suas machinas, ou então apenas tres vezes por semana
lação o crescimento do setor (COSTA, 1920, p. 9).
industrial de São Paulo naque- Essas crises trouxeram algumas consequências para o setor
le período. Ver a análise dessa
exposição em: PICCAROLO, industrial têxtil. Em primeiro lugar, levaram as indústrias de pequeno
Antonio; FINOCCHI, Lino. O porte ao fechamento; em segundo, a busca da estabilidade por meio de
Desenvolvimento Industrial
de São Paulo – Através da soluções rápidas e oportunas levou à incorporação de fábricas menores
Primeira Exposição Municipal. pelas indústrias de maior porte, criando grandes conglomerados; e em
São Paulo: Pocai & Comp, 1918.

Capítulo 1 - O prelúdio da indústria têxtil brasileira


terceiro lugar, as empresas buscaram a diversificação da produção com
a fabricação de produtos de melhor qualidade, que “[...] esbarraram
com a concorrência dos produtos ingleses de qualidade comparável,
despejados em grande quantidade no mercado” (STEIN, 1979, p. 123), o
que levou os industriais a exigir do governo a adoção de barreiras mais
elevadas e eficazes.
Portanto a conquista de mercado externo para a indústria têxtil
foi quase um fator de sobrevivência, tanto para as indústrias que ainda
conseguiam enfrentar a baixa de preços, como também para aquelas
recém-ampliadas.
A ideia de inserir os produtos nacionais na região do Rio
da Prata surgiu com a grande repercussão nacional da exposição
municipal de São Paulo, em 1917. Segundo Costa (1920, p. 10), alguns
comerciantes platinos, de passagem por São Paulo durante o evento,
acabaram adquirindo grande quantidade de tecidos de duas fábricas
paulistas, o que chamou a atenção da imprensa paulista e do presidente
do Brasil, que encarregou o Centro Industrial do Brasil de realizar uma
“exposição-mostruário” da indústria nacional.
A exposição, assim como está representado em seu catálogo,
foi dividida em três departamentos industriais: zona norte, zona centro
46 e zona sul. O Estado de São Paulo “[...] pelos seus vastos e variados
mostruários teve ainda nova subdivisão em indústrias da capital e do
interior” (COSTA, 1920, p. 20).
A exposição de tecidos brasileiros na Argentina foi inaugurada
em 10 de maio de 1918, e o destaque foi a vitrine-mostruário do Liceu
de Artes e Ofícios para a Companhia de Indústrias Têxteis (Bromberg,
Hacker & Cia.), de São Paulo.
Na exposição em Montevidéu, inaugurada um mês depois, foi
proferido um discurso pelo ministro das Indústrias do Uruguai, que
elogia o evento:
Vossa exposição de tecidos não é a formula rigorosa
de vosso estado industrial, completo e surprehendente;
é antes a expressão dos aperfeiçoamentos technicos
alcançados por todas vossas industrias fabris essenciaes
e de uma feliz orientação no aproveitamento da matéria
prima nacional; é demonstração objectiva do mais velho
e persistente esforço industrial brasileiro, que parte dos
dias escuros da colonia, atravessa o céu historico do
Imperio para chegar, renovado e fortalecido, até estes
dias da mais ampla democracia sob governos liberaes e
progressistas (apud COSTA, 1920, p. 49).
Costa (1920, p. 24) afirma que o “[...] Estado do Rio e o Distrito
Federal reunidos, são, depois de São Paulo, a região onde a indústria
presentemente mais prosperou e onde apresenta uma maior variedade
de produção”
Stein (1979, p. 119) avalia o período de 1921 a 1923, que se
seguiu a essa exposição, como positivo para a indústria têxtil, pois “[...] as
grandes fábricas dos centros urbanos tiveram ainda a oportunidade de
O Lugar do Patrimônio Industrial
12
STEIN, S. J. The Brazilian expandir as sua exportações para a região do Prata, devido à queda no
Cotton Manufacture> Textile
Enterprise in a Underdeveloped valor do mil-réis e à ausência momentânea da concorrência das fábricas
Area, 1850-1920. Cambridge: européias e norte-americanas”.
Harvard University Press, 1957,
p. 98. O período até 1923 é chamado por Stein (195712 apud
VERSIANI, 1972, p. 23) de a “idade de ouro” da indústria têxtil brasileira
em razão da alta taxa média de crescimento da produção (acima de 5%
ao ano) entre 1905 e 1923 e da respeitável barreira alfandegária em
vigor desde as últimas décadas do século XIX. A produção interna, em
1907, correspondia a cerca de dois terços do consumo de tecidos do
país e em 1915 já atingia os 95%. A Primeira Guerra Mundial favoreceu
a indústria pela redução drástica de importações; a queda do valor
externo do mil-réis surtiu o mesmo efeito e chegou a estimular um
volume não desprezível de exportações (VERSIANI, 1972, p. 23).
Essa visão concisa sobre a origem e o desenvolvimento da
indústria têxtil brasileira em sua primeira fase, de 1850 a 1920, indicou sua
importância no desenvolvimento urbano, bem como sua contribuição
para formação da imagem que a cidade adquire no início do século e
que perdura até o declínio da atividade industrial.
Com relação à reconstrução do território industrial, a leitura
que esta tese propõe evidencia a participação majoritária de dois
estados brasileiros - Rio de Janeiro e São Paulo -, cada um deles com 47
sua diversidade. A caracterização territorial da indústria têxtil nesses
dois estados será abordada nos capítulos seguintes.

Capítulo 1 - O prelúdio da indústria têxtil brasileira


2. A indústria têxtil no Rio de Janeiro

49

▲Mapa 3. Localizaç vão das fábricas O final do século XIX e o início do século XX constituíram um
no Estado do Rio de Janeiro em 1905.
Fonte: Ilustração da autora sobre Mapa período de transição na história do Brasil, marcado por transformações
de Divisão Municipal do Estado do Rio
de Janeiro. de ordem econômica, social, política e cultural, com repercussões no
espaço urbano, arquitetônico e habitacional das cidades.
No último quartel do século XIX, a cidade do Rio de Janeiro,
antigo Distrito Federal, passou a ser o principal centro comercial e
financeiro do país, o que contribuiu para que a província do Rio de
Janeiro se transformasse em um importante centro de empreendimentos
industriais.
Porém o desenvolvimento da indústria de transformação local
só se tornou possível por meio da proteção em relação à concorrência
estrangeira, visto que o porto do Rio de Janeiro era o mais importante
centro de importação do país.
Suzigan (2000, p. 142) afirma que a substituição da Bahia pelo Rio
de Janeiro como principal centro da indústria manufatureira de algodão
pode ser atribuída aos efeitos da expansão do cultivo e exportação do
café, que se tornou predominante na área do Rio de Janeiro, no período
Capítulo 2 - A indústria têxtil no Rio de Janeiro
de 1840 a 1883.
As primeiras fábricas foram instaladas na cidade e província do
Rio de Janeiro a partir da década de 1840. A primeira foi a Andaraí
Pequeno, que operava com 900 fusos e produzia fios de algodão
para pavios de vela e tecidos grosseiros, de qualidade inferior. Ao ser
desmontada em 1865, sua maquinaria foi usada em outra fábrica, a Santa
Tereza, em Parati, que ainda estava em operação em 1882 segundo o
relatório da Comissão de Inquérito Industrial do mesmo ano.
A suspensão das taxas alfandegárias incidentes sobre máquinas
e matérias-primas, em 1846 e 1847, colaborou para o surgimento de
fábricas maiores. A primeira foi a Fábrica Hartley, “[...] que em 1852 foi
equipada com 76 teares e um máquina a vapor de 30 H.P.” (SUZIGAN,
2000, p. 141). De acordo com a Comissão de Inquérito Industrial de
1882, na década de 1850, ela já operava com uma pequena proporção
de seus teares e acumulava estoques, sendo fechada em seguida. A
segunda foi a Fábrica Santo Aleixo, no distrito de mesmo nome, em
Magé, que entra em funcionamento em 1849, equipada com cinquenta
teares, 2.012 fusos e 50 H.P. de energia hidráulica.
As primeiras fábricas têxteis de algodão se desenvolveram
como unidades industriais completas, situadas nas proximidades das
50 fontes de energia elétrica, integrando fiação, tecelagem e processo de
acabamento em um mesmo lugar. Esse foi o caso da Fábrica Santo
Aleixo, que começa sua construção em 1847, trabalhando nas obras
colonos oriundos da Alemanha e trabalhadores brasileiros. Na ocasião,
já haviam sido construídos canais e um açude de 500 braças (1.100
metros) para conduzir as águas do Rio Roncador, com a função de
mover as máquinas. Em 1850, um engenheiro provinciano afirma
que a fábrica já estava concluída e encontrava-se em funcionamento,
inicialmente em um prédio simples, porém de construção elegante,
com cinquenta teares, dos quais 22 estavam em funcionamento naquele
momento, fabricando diariamente entre 1.200 e 1.400 varas (1.320 e
1.540 metros) de tecido e empregando 116 trabalhadores de ambos os
sexos (STEIN, 1979, p. 54).
O relatório do presidente da Província do Rio de Janeiro13,
conselheiro Luiz Antonio Barboza, indica que, em 1855, a Fábrica Santo
Aleixo funcionava
[...] com uma roda de ferro de 115 palmos de diametro e 16
de bocca, tocada por agua, fazendo mover simultaneamente, ou
conforme as necessidades, 2 moinhos onde se prepara farinha
para sustento dos operarios; uma serra circular; 1 engenho de
descaroçar algodão; duas machinas de o limpar; 16 cardas; 4
spuders; 4 puchadores; 2 tornos; 2012 fusos; 6 machinas de fazer 13
Relatório apresentado ao vice-
novellos; 50 theares (trabalhando actualmente 28); 4 machinas presidente da província do Rio
de urdir e uma de desdobrar. Empregam-se constantemente de Janeiro, Sr. Dr. Joé Ricardo
nesta fabrica de 125 a 150 operários livres de ambos os de Sá Rego, pelo presidente, o
sexos, e pela maior parte mulheres e menores. Consome por conselheiro Luiz Antonio Barboza.
mez, approximadamente, 30.000 libras de algodão [...]. Estes Por ocasião de passar-lhe a
productos consistem em pavios para vellas, barbante para administração da mesma província.
costuras, panos grosso de diversas larguras para vestuario 1855. Disponível em: <http://brazil.
de trabalhadores, saccaria, etc, que no mercado encontram cr l.edu/bsd/bsd/u831/000049.
vantajosa extracção (p. 47). html>. Acesso em: 12 set. 2010.

O Lugar do Patrimônio Industrial


O relatório da Segunda Exposição Nacional, de 1866, descreve
assim o edifício principal:
[...] construído sobre uma fundação de pedra, três andares de
madeira e escoras de ferro, uma torre alta em frente, onde
dois sinos convocam diariamente os operários ao trabalho ou
para celebrar feriados religiosos da colonia de trabalhadores
implantada nesse lugar remoto [...] além do prédio principal,
havia outros situados simetricamente de cada lado da sede da
fábrica, formando um ampla área dominada, ao centro, pela
torre. Nas proximidades ficava o chalé ou a residência do
proprietário da fábrica, um grupo de árvores, de um lado, e
um maravilhoso jardim no outro – tudo isso rodeado pelos
contrafortes da Serra dos Orgãos. O contraste bucólico com
a indústria deixava uma impressão duradoura: quem entra no
prédio principal da Santo Aleixo fica muito surpreendido ao
se deparar com o movimento constante dos 52 teares no
primeiro andar e com os fusos, em plena atividade, arrumados
na sala principal do segundo andar em dez filas (132 fusos)
para cada armação, formando um total de vinte armações
ou 2640 fusos. No terceiro andar, estavam as cardadoras, as
maçaroqueiras e aparelhos de separar mechas para início da
fiação. Havia também oficinas de reparos (ferraria, carpintaria e
marcenaria, ferramentas para trabalhar metais e serraria), salas
para os equipamentos de descaroçar e outras para engomar
e tingir os fios (BORJA CASTRO, 186614 apud STEIN, 1979,
pp. 54-55).
Apesar de entrar em funcionamento antes da abolição da
escravatura, na Fábrica Santo Aleixo não havia mão-de-obra escrava;
ela empregava trabalhadores estrangeiros, contratados por período
determinado, com a finalidade de aprimorar a qualidade da massa de
operários brasileiros não especializados. Stein (1979, p. 64) afirma que, 51
em 1851, a Santo Aleixo era uma “fábrica cosmopolita”, que empregava
operários de ambos os sexos, todos livres e de diferentes nações:
havia 17 brasileiros (15 homens e duas mulheres), cinco italianos (três
homens e duas mulheres), dois ingleses, dois americanos e 83 alemães
(43 homens e quarenta mulheres).
Stein (1979, p. 38) considera que o movimento progressivo da
indústria foi constante graças ao tipo de tecido produzido pelas primeiras
indústrias têxteis e que a fabricação de tecidos grossos de algodão
14
BORJA CASTRO, A. V. Relatório serviu como aprendizado, bem como para vestir escravos, colonos e
do segundo grupo. In: REGO, A. J.
S. Relatório da segunda exposição para ensacamento. De fato, em 1885, a Fábrica Santo Aleixo produzia
nacional de 1866. Rio de Janeiro, pavios de algodão, linhas e fazendas grossas de vários tamanhos para o
1869.
vestuário dos trabalhadores e o ensacamento de mercadorias.
15
Segundo KIDDER e FLETCHER
tanto o chalé quanto a fábrica Os proprietários da Fábrica Santo Aleixo eram de uma
foram fabricados nos Estados
Unidos e montados no Brasil: companhia norte-americana que tinha como diretor Luis S. Moran15.
“The proprietor’s house stands at A companhia americana teve a posse da fábrica por pouco tempo. O
a short distance from the factory,
and both were actually framed Almanak Laemert refere-se à mesma como propriedade de José Antônio
in the United States, brought out
in pieces, and put together in de Araújo Filgueiras, em 1878. A fábrica teve diferentes donos ao longo
Brazil”(1857, p. 275). dos anos, passando do Comendador Filgueiras a Serafim Chaves, depois
16
Othon Bezerra de Mello criou à Cia. Agrícola Magalhães e desta a Othon Lynch Bezerra de Mello,
a Companhia Brasileira de Novos sendo então denominada Companhia de Fiação e Tecelagem Bezerra
Hotéis, cuja razão social foi depois
alterada para Hotéis Othon S. de Mello. A fábrica encerrou suas atividades em 1978 e atualmente
A. Desse modo, as instalações da
fábrica adquiridas por Bezerra de funciona como lavanderia da Rede Othon de Hotéis16 (PEREIRA, 2006).
Mello em 1941 pertencem ainda
à mesma empresa, mas abrigam Foi somente a partir de 1870 que a indústria têxtil de algodão
outras atividades. desenvolveu-se na cidade e província do Rio de Janeiro. Como vimos no
Capítulo 2 - A indústria têxtil no Rio de Janeiro
capítulo anterior, os principais propulsores para o surgimento de novas
fábricas têxteis foram a proteção tarifária nos últimos anos do Império
e a facilidade de crédito aos industriais no início da República. De fato,
a consolidação da atividade têxtil carioca ocorre principalmente na
década de 1880..
Por volta de 1884, dez fábricas haviam sido instaladas; o número
de fusos operados por oito delas era de 42.648, ao passo que o número
de teares (em nove fábricas) era de 990 e o número de empregados
(em sete fábricas) era de 1.260 (SUZIGAN, 2000, p. 141).
Em 31 de julho de 1905, o jornalista Cunha Vasco (1905) divulga
uma relação das fábricas de fiação e tecelagem de algodão existentes
no Brasil (Tabela 4). Os dados recolhidos pelo jornalista mostram que as
19 fábricas instaladas até aquele ano operavam quase 325 mil fusos, um
pouco mais de 11 mil teares e empregavam 14.440 pessoas.
É impressionante o desenvolvimento da indústria têxtil no
período de vinte anos: o número de fusos ampliou em mais de sete
vezes; os teares, assim como os empregados, em mais de 11 vezes. Essas
19 fábricas mencionadas eram movidas por um total de 15749 H.P.
(11669 H.P. de origem a vapor e 4080 H.P. de origem hidráulica). As da
província eram comumente movidas por energia hidráulica - em função
52 de sua implantação fora da malha urbana estabelecida e na proximidade
de quedas de água -, e as da cidade eram movidas a vapor.
Comparando os dados do Rio de Janeiro com os de São Paulo
no mesmo período (ver Tabela 7, capítulo 3), fica evidente a importância
da indústria têxtil no Rio de Janeiro e o quanto essa indústria contribui
para transformar o Rio de Janeiro no grande centro industrial do país
no início do século XX.
◄Fig. 25. Fábrica Santo Aleixo. Fonte:
Em 1907, quando da efetivação do primeiro levantamento geral Kidder, D. P.; Fletcher, J. C.. Brazil and
the Brazilians, portrayed in historical
sobre a indústria brasileira, a região do Rio de Janeiro, incluindo o antigo and descriptive sketches. Philadelphia:
Distrito Federal, respondia por 37,8%, o que lhe conferia a condição de Childs & Peterson, 1857. p. 274.

mais importante centro industrial, com a mais diversificada estrutura ▼Fig. 26. Fábrica Santo Aleixo, Chalé
do proprietário. Fonte: Kidder, D. P.;
produtiva (NEGRI, 1996, p. 24). Fletcher, J. C (1857, p. 276).

 
O Lugar do Patrimônio Industrial
Tabela 4 - Fábricas de Fiação e Tecelagem de algodão em 1905
FORÇA MOTRIZ (HP) PRODUÇÃO
OPERÁ-
LOCAL FUND. NOME FUSOS TEARES ANUAL EM
VAPOR HIDR. RIOS METROS

Jd. Botânico 1889 Fábrica Corcovado 18.000 806 1.406 -- 786 10.000.000

Jd. Botânico 1884 Fábrica Carioca 32.000 1.067 1.243 -- 1.163 14.000.000

Laranjeiras 1880 Fábrica Alliança 56.390 1.336 2.000 -- 1.637 12.599.908

Villa Isabel 1885 Fábrica Confiança Industrial 37.800 1.500 1.650 -- 1.280 17.000.000
1875, Fábrica Cruzeiro, Bomfim e Pau
Andarahy Grande 1890, 27.670 1.100 800 250 1.320 10.000.000
Grande (Cia. América Fabril)
1878
São Cristovão 1900 Fábrica Santa Maria (1) 64 150 -- 150 600.000
Fábrica de Fiação e Tecelagem
Bangú 1889 Bangú (Cia Progresso Industrial 37.340 1.247 1.900 -- 1.600 11.000.000
do Brasil)
Fabrica de Tecidos de Linho
Sapopemba 1906 e Algodão (Cia. Nacional de (1) 240 350 -- 280 --
Tecidos de Linho) (2)
Industrial Campista (Santos,
Campos 1884 2.800 92 160 -- 250 800.000
Moreira & Cia.)
Niterói 1893 Fabrica Manufactora Fluminense 12.840 318 500 -- 1.050 7.800.000

Niterói 1893 Fábrica São Joaquim 8.000 230 500 -- 400 1.000.000

Paracambi 1871 Fábrica Brasil Industrial 31.884 958 -- 1.500 1.050 12.000.000
Fábrica de Fiação e Tecidos
Magé 1891 6.568 160 400 -- 450 2.800.000
Mageense
53
Andorinhas (S. Fáb.de Fiação e Tecidos
1890 7.208 270 -- 450 460 3.000.000
Aleixo-Magé) Andorinhas
Fáb. de Tecidos S. Pedro de
Petrópolis 1874 4.620 164 200 50 290 1.850.000
Alcantara
Fáb. de Fiação e Tecidos Dona
Petrópolis 1892 3.200 108 140 -- 200 2.000.000
Izabel
Fáb. de Fiação e Tecidos
Petrópolis 1874 26.500 1.000 -- 1.380 1.104 8.000.000
Petropoliana
Fábrica de Fiação e Tecidos
Petrópolis -- 8.740 386 300 300 450 4.550.000
Cometa
Fáb. de Fiação e Tecidos Santo
S. Aleixo (Magé) 1849 3.200 140 -- 150 320 1.200.000
Aleixo
TOTAL 324.760 11.186 11.669 4.080 14.240 120.199.908
Obs.: (1) não tem fiação; (2) em liquidação forçada. Fonte: Cunha Vasco (1905, p. 14).

O Rio de Janeiro concentrava, em 1907, mais de um terço


(34,5%) do operariado industrial então recenseado e cerca de 40% do
valor da produção (VERSIANI, 1993, p. 78).
O contexto do Rio de Janeiro como capital acabou por
levar com que ali se experimentassem, em primeira mão, as medidas
de modernização de sua estrutura urbana, o que também pode ser
considerado um fator decisivo para implantação e consolidação das
indústrias na capital, como sugere Vaz (2002, p. 24):
A modernização da cidade se traduziu no acelerado
crescimento urbano, no surgimento de manufaturas e fábricas
e dos modernos serviços públicos - sistemas de iluminação à
gás (1854), transporte coletivo de trens (1861), esgotos (1862),
bondes (1868), abastecimento d’água (1880), telefone (1881),
energia elétrica (1908). Grandes e pequenos capitais foram
investidos nestes setores e na produção da cidade, através do
loteamento de novas áreas [...].

Capítulo 2 - A indústria têxtil no Rio de Janeiro


Weid (1994, p. 4) aponta que, na década de 1880, intensificou-
se o estabelecimento de indústrias na zona sul da cidade, sobretudo
têxteis, como a Fábrica Alliança, em Laranjeiras; as companhias Carioca e
Corcovado, no Jardim Botânico; a Fábrica São Félix, na Gávea; e pequenas
fábricas de produção diversificada, especialmente em Botafogo. Por se
tratarem de arrabaldes distantes do centro, a instalação das indústrias
levou à formação, nas suas proximidades, de núcleos de população
operária, a qual habitava vilas construídas pelas próprias empresas ou
cortiços, geralmente locais improvisados para servirem como segunda
fonte de renda pelos imigrantes portugueses, donos de armazéns.
Esse crescimento continuou no início do século XX, como
apontam Gunn e Correia (2005, p. 28):
[...] no início do século XX, mais duas fábricas foram construídas
na Ponta do Caju: a “Fábrica do Bonfim”, em 1903, e a “Fábrica
Mavilis”, em 1909. Em Andaraí, a “Fábrica de Tecidos Botafogo”
iniciou suas operações em 1911. A “Tecelagem Carioca” foi
construída no Jardim Botânico. Nos arredores da cidade em
expansão, a “Fábrica de Tecidos América Fabril” foi construída
em Deodoro, em 1927, erguendo uma vila operária com mais
de trezentas casas. Outras plantas industriais têxteis no Rio de
Janeiro com moradias foram: a “Cia. Fábrica de Tecidos São
João” e a “Cia. de Tecidos São Lázaro”.
A composição fábrica e vila operária passou a ser característica
do desenvolvimento industrial no Estado do Rio de Janeiro, como
54 ocorreu com as fábricas Esther e Andorinhas, em Santo Aleixo, e o
Cotonifício Levy Gasparian, estabelecido em Três Rios. A Fábrica de
Tecidos e Fiação Pau Grande, fundada em Magé, em 1878, gerou um
importante núcleo fabril – Pau Grande. A Companhia América Fabril
foi proprietária da várias fábricas no Estado do Rio de Janeiro, todas
fornecendo casas para seus operários. Além de Pau Grande, contava
com outras fábricas com moradias: a Fábrica Cruzeiro tinha uma vila com
150 moradias; as fábricas Bonfim e Marvilis tinham, até 1930, 128 casas;
e a Fábrica Carioca, 145 moradias. A Companhia Deodoro Industrial,
incorporada pela Companhia América Fabril em 1968, também tinha
uma vila operária. No final da década de 1920, essa companhia possuía
um total de 643 casas, número que se elevaria nas décadas seguintes
(GUNN; CORREIA, 2005, p. 29).
Muitas indústrias criaram verdadeiros núcleos urbanos em áreas
rurais, como é o caso da Companhia Têxtil Brasil Industrial, fundada
em 1871, na Fazenda Macacos (atual Paracambi, a 72 km do Rio de
Janeiro), que obtinha energia elétrica para sua produção por meio de
uma cachoeira. Foi destruída por um incêndio em 1883 e reinaugurada
em 1885. Em 1886, operava com cerca de 750 operários, dos quais
368 eram homens, 168 mulheres e 272 crianças. Em conjunto com as
suas instalações, a empresa ergueu um núcleo fabril, que, na ocasião,
contava com enfermaria, escola, capela e cerca de oitenta casas (O
AUXILIADOR DA INDÚSTRIA NACIONAL17 apud CORREIA, 2006,
p. 33). 17
O AUXILIADOR DA
Outra fábrica implantada na zona rural do antigo Distrito Federal INDÚSTRIA NACIONAL. Rio de
Janeiro, janeiro de 1886, p. 17.

O Lugar do Patrimônio Industrial


foi a Companhia Progresso Industrial do Brasil (Figura 27), consagrada
posteriormente como Fábrica Bangu, nome dado em razão do lugar
de sua instalação. O engenheiro brasileiro, descendente de ingleses,
Henrique Morgan Snell, membro da firma De Morgan Snell & Co,
sediada em Londres, adquirira propriedades fora dos limites urbanos
da cidade em cerca de 3.600 acres de terras pertencentes às fazendas
do Bangu e do Retiro e aos sítios do Agostinho e dos Amaraes. Por ser
área rural, existia na região apenas uma rua, aberta séculos antes pelos
jesuítas. Essa região ficava à margem da Estrada de Ferro Central do
Brasil, distante cerca de uma hora do centro do Rio.
Segundo a análise de Oliveira (2006), como indústria têxtil
localizada em área rural, a Fábrica Bangu não pôde contar com o
mercado de força de trabalho da cidade do Rio de Janeiro e teve de criar
o seu próprio mercado em nível local, o que significou imobilizar a força
de trabalho não apenas pelo incremento da moradia em vilas operárias,
o que já era comum nas áreas urbanas, mas também pelo controle dos
meios de produção e reprodução, considerando a condição de serem
grandes proprietários de terras, estimulando a fixação de população
por meio da produção agrária em sistema de parcerias e arrendamento.
Nesse caso, a atividade rural foi colocada, de uma forma bem
utilitária, a serviço da dinâmica fabril e de sua rentabilidade capitalista, 55
isto é, subordinando o modo de vida rural e suas práticas à mais-valia
fabril. A diferença entre a Fábrica Bangu e as outras fábricas localizadas
em área rural na região é que ela surgiu no contexto de um surto
▼Mapa 4. Localização das fábricas na
cidade do Rio de Janeiro em 1905, com mais moderno, dominado pela tecnologia a vapor, e foi organizada nos
destaque para a área da Fábrica Bangu.
Fonte: Ilustração da autora sobre Mapa moldes de uma empresa capitalista avançada, em forma de sociedade
de Divisão das Freguesias do Distrito
Federal.
anônima (OLIVEIRA, 2006, s. p.).

Capítulo 2 - A indústria têxtil no Rio de Janeiro


56

A alienação patrimonial de terras de propriedade da Companhia ▲ Fig. 27. Vista aérea parcial do bairro
de Bangu, com a Companhia Progresso
Progresso Industrial, ocorrida a partir da década de 1930, fez surgir o Industrial do Brasil (Fábrica Bangu),
1957. Fonte: Oliveira (2006).
bairro Bangu. Oliveira (2006, s. p.) relata que “[...] a própria empresa
criaria, no início da década de 1930, um Departamento Territorial, que
elaboraria projetos de loteamentos e promoveria a venda dos terrenos
aos arrendatários através de pagamento a prazo”. Os operários da
fábrica tinham as prestações dos terrenos descontadas diretamente
dos seus salários. Entre 1936 e 1948, foram aprovados 61 projetos de
loteamentos.
Na década de 1960, a área da empresa ainda não loteada
foi vendida para a Companhia Estadual de Habitação (CEHAB), que
empreendeu a construção de alguns conjuntos habitacionais em Bangu,
como Vila Aliança (1962),Vila Kennedy (1964) e D. Jaime Câmara (1968),
totalizando 14.237 novas unidades habitacionais para a região.
A fábrica encerra suas atividades em fevereiro de 2004, e o
complexo fabril é transformado no Shopping Bangu18.
Outras tipologias que se destacaram no Rio de Janeiro foram
fábricas que acabaram transformando-se em grandes conglomerados,
como é o caso da América Fabril, cuja gênese foi a criação da Companhia
de Tecidos Pau Grande em Raiz da Serra, região serrana do Estado do 18
Este trabalho analisa as
Rio de Janeiro. A fábrica - idealizada por engenheiros ingleses sob as características tipológicas e a
reabilitação do espaço da Fábrica
ordens de empresários brasileiros - foi implantada em uma localidade Bangu no Capítulo 16, Parte 4.

O Lugar do Patrimônio Industrial


19
O espaço da Cia. América favorável, com potencial de recursos energéticos, e iniciou suas atividades
Fabril e o da Nova América e seu
processo de reabilitação serão em 1875. Em 1891, a empresa começou a implementar sua expansão,
focados no Capítulo 15 da Parte 4. englobando a Fábrica Cruzeiro (em Andaraí), a qual, após reforma,
entra em atividade em 1895. Ao incorporar a nova unidade, sua razão
social muda para Companhia América Fabril, e a indústria inicial passa
a ser Fábrica Pau Grande. Em 1889, é inaugurada, com a Fábrica Pau
Grande, a Fábrica Rio Grande, voltada para a fabricação de tecidos de
meia. Seguiram-se outras incorporações: Fábrica Bonfim (1903), Fábrica
Mavilis (1911), Fábrica Carioca (1920) e Sant’Anna (1950).
Outras ainda deveram sua criação à iniciativa de funcionários de
outras fábricas têxteis, como a Companhia Nova América, cuja fundação
deveu-se à ação de um grupo de diretores e acionistas demissionários
da antiga América Fabril, em 1924. A então “Nova” América não tardou
em ocupar um lugar entre as companhias têxteis de maior expressão
no Rio de Janeiro, até sua falência na década de 1980 e sua completa
desativação em 1991, permanecendo com suas portas fechadas e seus
teares desligados durante os anos seguintes, para, posteriormente,
transformar-se em um shopping center, o Nova América.
A América Fabril entrou em um processo de falência que se
iniciou nos anos 1960. A primeira fábrica a ser desativada foi a Carioca,
em 1962. Sua desativação foi seguida rapidamente pela corrida do 57
mercado imobiliário, que procurou apagar rapidamente seus vestígios
quase por completo. Logo depois, foi a vez da Cruzeiro, entre os
anos 1968 e 1969, que remanejou parte de seus operários para as
que restaram, como Bonfim e Mavilis, Pau Grande e Deodoro. Em seu
terreno, quase tudo foi demolido e dividido entre estatais, que trataram
de instaurar uma nova ordem e função naqueles locais. Hoje, parte de
sua área é ocupada pelo Banco do Brasil, pela Caixa Econômica Federal
e por um condomínio residencial de prédios, cuja construção se deu
anos depois, por meio de financiamento do BNH.
Os anos que se seguiram após a desativação dessas duas
primeiras fábricas não foram diferentes daquele de 1971, quando a
fábrica de Pau Grande e as duas do Caju foram desativadas, e de 1983,
ano em que, finalmente, fecharam a Santana e a Deodoro19.
Um núcleo significativo de fábricas têxteis foi implantado em
Petrópolis, onde também foi adotada a tipologia fábricas com moradias
para operários. A companhia têxtil Companhia Petropolitana, a partir de
1874, criou o núcleo fabril de Cascatinha, com cerca de trezentas casas
e equipamentos de uso coletivo. Em 1873, entrou em funcionamento
a Fábrica São Pedro de Alcântara. No meio da serra, uma fábrica foi
construída em 1890, sendo seguida por uma segunda fábrica, em
Petrópolis, por volta de 1903 – ambas de propriedade da Companhia
Fiação Cometa. Outra fábrica têxtil, organizada pela Companhia de
Tecidos Dona Isabel, teve suas operações iniciadas em 1889 (GUNN;
CORREIA, 2005, p. 30).

Capítulo 2 - A indústria têxtil no Rio de Janeiro


Nas duas primeiras décadas do século XX, o núcleo da emergente
atividade industrial no país, até então localizado na cidade e Estado do Rio
de Janeiro, deslocou-se para São Paulo. No período da Primeira Guerra
Mundial, ocorre uma concentração maior de investimentos industriais
nesse estado, quando a indústria do Rio de Janeiro cresce pouco ou se
estagna, verificando um distanciamento relativo da produção paulista
em relação à carioca (VERSIANI, 1993, p. 91).
O quadro abaixo sublinha a importância que São Paulo adquire
a partir de 1920, ocupando o lugar do Rio de Janeiro como mais
importante centro industrial do país.
Tabela 5 - Participação da indústria têxtil no produto e no emprego do estado e do país, em São Paulo
e no Rio de Janeiro – 1920 e 1940
a) Produto e emprego no setor têxtil e na indústria manufatureira total de São Paulo e do Rio
de Janeiro como percentagem do produto e do emprego no setor têxtil e na indústria do País.
Indústria Têxtil (%) Indústria Manufatureira (%)
Regiões 1920 1940 1920 1940
produto emprego produto emprego produto emprego produto emprego
São 37 31 61 43 33 30 45 37
Paulo
Rio de 17 17 8 10 22 20 17 14
Janeiro

b) Participação do setor têxtil no produto e no emprego da indústria manufatureira em São


Paulo e no Rio de Janeiro.
58
Indústria Têxtil (%)
Regiões 1920 1940
produto emprego produto emprego
São Paulo 31 38 31 33
Rio de Janeiro 21 31 11 20
Fonte: BARROS, J. R. M.; GRAHAM, D. H. (1981, p. 84).

Os elementos analisados sublinham a importância das


características de diversificação de organização do tecido industrial
do Rio de Janeiro. Essas características foram determinantes no
estabelecimento de novas dinâmicas de usos para as áreas obsoletas,
deixadas pelas indústrias em função de sua desativação. Esta tese dedica
a Parte 4 ao estudo de alguns casos de reabilitação do patrimônio da
industrialização na cidade do Rio de Janeiro, no intuito de identificar
tipologias de intervenção e formas de abordagem.

O Lugar do Patrimônio Industrial


3. A indústria têxtil em São Paulo

59

▲Mapa 5. Localização das fábricas


no Estado de São Paulo em 1905.
Fonte: Ilustração da autora sobre Mapa
Como foi sublinhado no capítulo anterior, a indústria têxtil
de Divisão das Unidades Regionais do paulista é ascendente e contínua, superando a do Rio de Janeiro a partir
Estado de São Paulo.
do período da Primeira Guerra Mundial.
O desenvolvimento da indústria têxtil de algodão na província
de São Paulo consolidou-se a partir do fim da década de 1860, quando
foram instaladas 16 fábricas, a maioria durante e imediatamente após o
primeiro boom do café, como relata Suzigan (2000, pp. 145-146):
[...] não há dúvida de que o estímulo mais forte veio
do boom do café na província durante esse período. A
expansão do cultivo do café, com transição antecipada
para a mão-de-obra livre, estimulou o crescimento
econômico geral e uma demanda crescente por
tecido grosseiro de algodão para ensacar café, açúcar,
cereais, etc, e para vestir os escravos trabalhadores.
Mas o que é provavelmente mais importante é que os
cafeicultores começaram cedo a diversificar sua carteira
de investimentos, aplicando lucros em ações de ferrovias,
empresas de serviços públicos e bancos e instalando
fábricas têxteis de algodão.

Diferentemente do ocorrido no Rio de Janeiro e em Minas Gerais,


Capítulo 3 - A indústria têxtil em São Paulo
os fazendeiros de café de São Paulo fizeram investimentos diretos na
indústria de transformação, em especial, na têxtil. De fato, muitas fábricas
de tecido em São Paulo foram fundadas por cafeicultores ou tiveram
a sua participação, como é o caso da Fábrica São Luis, em Itu (de Luiz
Antônio Anhaia, Família Paes de Barros, Antônio Proost Rodovalho,
Francisco Emygdio de Fonseca Pacheco); da Anhaia Fabril (de Luiz
Antônio Anhaia, Família Paes de Barros, Antônio Proost Rodovalho); da
Companhia Industrial de São Paulo (Gabriel Dias da Silva); da Fábrica
Carioba e da Fábrica de Piracicaba (família Souza Queirós); da Fábrica
Monte Serrat, em Salto, das famílias Correia Pacheco, Pereira Mendes e
Elias Pacheco Chaves (SUZIGAN, 2000, p.138).
Suzigan (2000, p. 147) enfatiza que a diferença foi o papel mais
dinâmico exercido pelo café no desenvolvimento industrial de São Paulo,
comparado com sua influência no Rio de Janeiro e Minas Gerais e com
a influência de outros produtos básicos, como o açúcar e o algodão no
Nordeste e a borracha no Norte, cujos lucros eram apropriados, na sua
maior parte, pelos intermediários.
Stein (1979, p. 107) aponta que o interesse pela atividade
industrial, marcantemente nas décadas de 1880 e 1890, justamente
quando se encerrava o primeiro ciclo cafeeiro, coincidiu com a incerteza
60
que pairava sobre o futuro da agricultura dessa cultura no Brasil. O
segundo grande boom do ciclo cafeeiro, ocorrido no final dos anos
1880 e, sobretudo, nos anos de 1890 - quando os cafezais voltaram a se
expandir pelas terras paulistas, e o café continuou a reinar na economia
brasileira, como acontecia desde 1830 -, provavelmente retardou o
crescimento industrial. No entanto houve aspectos inegavelmente
positivos para São Paulo: acelerou a formação de capital de investimento;
atraiu espontaneamente ou subvencionou a vinda de mais de um milhão
de imigrantes, de um total de 1.894.004 que ingressaram no Brasil nos
primeiros 25 anos do século XX; estimulou a construção de estradas e
ferrovias; provocou a urbanização de São Paulo e deu origem a novos
mercados. Proporcionou, acima de tudo, condições particularmente
favoráveis para o empreendimento de iniciativas e experiências em
novos campos de atividade econômica.
Por essa razão, o período de 1885 a 1895, quando a indústria
têxtil teve grande desenvolvimento no Brasil, não foi significativo para
São Paulo, exceto pela implantação da Fábrica Votorantim, sendo
equipada com 14 mil fusos e 624 teares. Foi no período de 1895 a 1905
que a capacidade produtiva de São Paulo elevou-se substancialmente.
Nesse período, as novas fábricas têxteis foram instaladas por imigrantes,
como a Fábrica Mooca (Regoli, Crespi & Cia.) e a Fábrica Mariângela
(Francisco Matarazzo); esta especificamente, embora concebida como
investimento complementar para fornecer sacaria ao moinho de trigo
Matarazzo, tornou-se a maior tecelagem de algodão do país por volta
de 1910, como afirma Stein (1979, p. 114).

O Lugar do Patrimônio Industrial


O quadro da evolução do número de indústrias têxteis na capital
e no interior da província de São Paulo entre 1875 e 1930 elaborado
por Carone (2001) demonstra a ascensão da indústria têxtil paulista.

Tabela 6 - Número de Fábricas de Tecido na capital e interior de São Paulo entre 1875-1930
Ano Capital Interior
1875-1881 1 6
1910 8 16
1911 9 23
1925 30 34
1930 58 61
Fonte: CARONE (2001, p. 96).

A predominância do interior do estado na localização das


indústrias têxteis paulista de modo significativo até a Primeira Guerra
Mundial é a primeira característica que confere uma distinção com
relação à indústria têxtil carioca. Como pudemos conferir no capítulo
anterior, das 21 fábricas instaladas no Rio de Janeiro em 1905, dez
estavam estabelecidas no antigo Distrito Federal, e as outras 11, no
interior, sendo que cinco entre estas se encontravam em um raio de
35 km do centro do Rio de Janeiro (duas em Niterói e três em Magé).
Carone (2001, pp. 96-97) afirma que, apesar de a cidade de São
Paulo estar “[...] na liderança na questão de povoamento”, a vantagem 61
numérica do interior “[...] é superada pelo tamanho e pela importância
das fábricas instaladas na capital”, como podemos verificar na estatística
elaborada por Cunha Vasco em 1905 (Tabela 7). Essa foi uma das
primeiras estatísticas sistemáticas, embora não oficial e contando com
dados incompletos.
O período de 1907 a 1913 marcou outra revolução operada na
indústria têxtil: a mudança da energia a vapor para elétrica, substituindo o
carvão, que, por ser importado, era mais caro e, com a guerra, disponível
em quantidade bastante limitada, como alerta Suzigan (2000, p. 156):
“[...] em São Paulo, em 1913, a capacidade de energia elétrica instalada
nas fábricas têxteis de algodão alcançava a 8072 H.P., contra 4110 H.P. a
vapor e 2345 H.P. de energia hidráulica”.
A questão energética era decisiva para a localização das
indústrias, portanto a Light desempenhou um papel fundamental ao
ampliar a potência de suas usinas, liberando a implantação das indústrias
da necessidade de encontrar quedas d’água ou locais onde os rios
pudessem ser canalizados.
Sobre esse assunto, Stein (1979, p. 108) também centra sua
atenção:
As usinas hidrelétricas estabelecidas por empresas
estrangeiras nos grandes centros urbanos do Rio de
Janeiro e São Paulo, nos primeiros anos do século XX,
sobretudo após 1905, ofereceram às fábricas de tecidos
uma alternativa energética muito mais barata e segura
que o uso direto da água e as dispendiosas máquina a
vapor utilizando carvão. A substituição do carvão pela

Capítulo 3 - A indústria têxtil em São Paulo


eletricidade não obrigou as fábricas a se deslocarem:
as escarpas litorâneas do sudeste do Brasil ofereciam
locais convenientes para a instalação de usinas que iriam
fornecer energia aos estabelecimentos industriais do Rio
e São Paulo.

Com relação ao interior, Negri (1996, p. 43) chama a atenção


para a concentração industrial em Sorocaba, que se tornou o segundo
maior centro produtor têxtil estadual. As empresas de Sorocaba, Salto
e Itu contavam com suprimento de energia elétrica da usina da Fábrica
Votorantim, da Empresa Elétrica de Sorocaba, adquirida pela Light em
1911, e da Companhia Ituana de Força e Luz, organizada em 1903, o que
as desonerava da aplicação de recursos na geração de energia elétrica.
Além da energia, a matéria-prima também era um fator
preocupante para o Estado de São Paulo. A unidade de produção
dominante no período inicial da indústria têxtil algodoeira do Brasil
era a fábrica integrada, que reunia todas as operações, da fiação ao
acabamento.

Tabela 7 - Fábricas de fiação e tecelagem de algodão em São Paulo, em 1905


Força motriz Produção
Local Fund. Nome fusos teares (HP) Operários anual em
Vapor Hidr. metros
62 Piracicaba 1875 Fábrica de Tecidos Arethusina 4.392 120 -- 250 300 1.876.000
(Santa Francisca)
Fábrica de F.e T. Sorocaba (Sta
Sorocaba 1900 14.720 425 650 -- 504 5.600.000
Rosália)
Fábrica de Fiação e Tecidos Santa
Sorocaba 1865 2.830 112 250 -- 200 1.800.000
Maria
Sorocaba 1881 Fábrica N.S. da Ponte -- 160 -- -- 210 --

Sorocaba 1892 Fábrica Votorantim 36.000 625 -- 600 530 6.000.000


Estação de 1895 Fábrica de F. e T. São Bernardo 7.800 200 250 -- 450 1.600.000
S. Bernardo
Estação de 1900 Fábrica Bergmann 1.566 100 -- -- 150 --
S. Bernardo
Villa 1875 Fábrica de F. e T. Carioba 2.300 116 -- 150 200 1.500.000
Americana
Itu 1872 Fábrica de F. e T. S. Luiz 1.680 60 80 -- 130 360.000

Salto de Itu 1882 Fábrica de F. e T. Monte Serrat 2.800 133 120 -- 175 1.350.000

Salto de Itu 1880 Fábrica Júpiter 10.000 400 -- -- 620 6.000.000

São Roque 1879 Fábrica São Roque -- 250 -- 150 400 (1)

Tatuí 1881 Fábrica de F. e T. S.Martinho 5.654 245 300 -- 820 1.800.000


Fábrica de F. e T. de S.Bento (Cia
Jundiaí 1874 3.404 100 400 -- 180 1.960.000
Jundiahyana de Tecidos e Cultura)
São Paulo 1884 Fábrica de F. e T. Anhaia 3.800 200 200 -- 400 3.300.000

São Paulo 1897 Fábrica de F. e T. Móoca 6.000 200 300 (2) -- 500 --

São Paulo 1877 Fábrica da Companhia Industrial -- 210 300 (2) -- 400 3.500.000

São Paulo 1904 Fábrica Mariangela 8.000 250 250 -- 600 --

TOTAL 110.946 3.906 3.100 1.150 6.769 36.646.000


Fonte: VASCO (1905, p. 16). Notas: (1) Os dados da produção referem-se às duas fábricas da S.I.da Esportazione E. Dell’Acqua (Fábricas São Roque
em São Roque e Júpiter em Salto). (2) Movida a energia elétrica.

O Lugar do Patrimônio Industrial


A fábrica integrada, contudo, dependia do algodão em rama,
que, apesar das plantações existentes no país e, posteriormente, no
próprio Estado de São Paulo, não era suficiente para todo o consumo
industrial. Além disso, a fábrica integrada usava a maior parte dos fios
em seus próprios teares, e como não havia na década de 1890 nenhuma
fábrica especializada em fiação no Brasil, as tecelagens dependiam do fio
importado, o qual tinha espessura mais fina e permitia a confecção de
um produto de melhor acabamento.
Dessa forma, a proteção tarifária sobre os fios, que eram
importados da Inglaterra e Itália, favorecia particularmente as fábricas
de tecelagem, e não as fábricas integradas. A Dell’Acqua & Cia. de Milão,
com cinco fábricas na América Latina, trazia fios de suas fábricas de
fiação situadas no Piemonte para alimentar os teares da fábrica de São
Roque, fundada no Estado de São Paulo em 1879 (STEIN, 1979, p. 54).
Somente a partir de 1930, as fábricas de fiação nacionais conseguem
colocar no mercado interno um suprimento mais adequado de fios.
A plantação de algodão em São Paulo, no entanto, é beneficiada
em 1918 pela geada que abateu os cafezais, o que incentivou os
fazendeiros a plantar algodão entre as filas de cafeeiros para cobrir as
suas despesas até que as mudas de café alcançassem a idade da primeira
colheita. 63
Foi nessa época que o governo do estado iniciou um programa
de pesquisa com o intuito de melhorar a qualidade e aumentar a
quantidade de algodão produzida. Essa iniciativa estimulou ainda mais a
concentração regional da indústria têxtil de algodão na década de 1920,
em São Paulo, tornando-o “[...] o principal centro da indústria na esteira
do progresso econômico do estado proporcionado pela cultura do café
para exportação” (SUZIGAN, 2000, p. 161).
Assim, o aumento da produtividade do algodão cultivado em
São Paulo, o clima geral de prosperidade reinante no começo dos anos
1920 e a retomada das importações de máquinas estimularam outra
vez a expansão da indústria têxtil, abrindo inúmeras oportunidades
novas para os brasileiros, tanto os nativos como os imigrantes (STEIN,
1979, p. 117).
Dentro desse quadro, o imigrante italiano Francisco Matarazzo
teve um papel fundamental na geografia e na história industrial da cidade
de São Paulo desde o início do século XX.
Gunn e Correia (2005, p. 33) afirmam que a fundação do grupo
industrial Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo (IRFM) teve início no
distrito do Brás, em 1900, quando da abertura do moinho de cereais, o
Moinho Matarazzo20. Quatro anos depois, a oficina para ensacamento
de cereais do moinho foi separada e tornou-se a base para uma nova
20
O Moinho é inaugurado fábrica têxtil, a Fábrica de Tecelagem Mariângela. Ao lado da Fábrica
em março de 1900, na Rua
Monsenhor Andrade, no bairro Mariângela, Matarazzo fixou o escritório central de seu grupo no ano
do Pari. de 1904. Em 1919, o grupo fundou a fábrica Metalúrgica Matarazzo no
Capítulo 3 - A indústria têxtil em São Paulo
distrito do Brás. Ainda no mesmo distrito, em 1935, comprou uma firma
de tecelagem de seda, que foi renomeada como Tecelagem Brasileira de
Seda. A firma original, a Tecelagem Ítalo-Brasileira de Sedas, foi fundada
no Brás pelos empresários imigrantes italianos Crespi e Puglisi, em 1907.
Carone (2001, p.106) conclui que na indústria têxtil, em
São Paulo, a atividade é basicamente dominada pelos italianos. No
recenseamento de 1920 sobre as atividades industriais, constavam
2.119 estabelecimentos industriais pertencentes a italianos no Brasil,
1446 localizados em São Paulo.
Das fábricas têxteis pertencentes a italianos em São Paulo,
destacam-se o Cotonifício Rodolfo Crespi, o Cotonifício Scarpa, as
fábricas Mariângela e Belenzinho, o Cotonifício Gamba, o Cotonifício
Jorgi, a Fábrica de Toalhas e Estopa de Angelo Lívio, o Cotonifício Itália,
a Fábrica Brasilissa (em Bragança Paulista), a Trevissoli (em Jundiaí), a
Patrocínio (em Araras) e a Sociedade Scarpa (em Sorocaba) (STEIN,
1979, p. 66).
Além desses estabelecimentos, podemos citar também as
empresas têxteis de Enrico Dell’Acqua, com fábricas em Salto, São
Roque e Osasco.
Com relação à localização das indústrias têxteis, a construção da
64
rede de estradas de ferro ligando o Rio de janeiro a São Paulo e Minas
gerais após a década de 1860 definiu vetores de crescimento urbano
e foi fator determinante na geografia de implantação do sistema de
fábricas.
Os bairros Brás, Mooca, Belenzinho, o leste do Ipiranga e o
sudeste do antigo centro da cidade, através do vale do Tamanduateí e
seguindo a linha das estradas de ferro Central do Brasil e SP Railway,
tornaram-se as principais localidades para as novas indústrias no final do
século XIX, como apontam Gunn e Correia (2005, p. 31):
A “Fábrica Santana” foi uma das fábricas têxteis iniciais
na parte leste da cidade, na Mooca, criada pelo conde
Antônio Álvares Penteado, em 1889, para produção de
sacos para café e açúcar e, subseqüentemente, estendida
para a produção de cobertores. Sua produção inicial
começou com cerca de seiscentos operários, e dez anos
mais tarde esse número cresceu para 1.300. Em 1908, a
empresa foi transformada em uma Companhia Limitada,
com o nome de “Companhia Nacional de Tecidos de
Juta”, e vendida para o engenheiro e empresário industrial
Jorge Street. Desde o início do século, a “Fábrica Santana”
“forneceu alojamentos para operários, cujo aumento nos
preços dos aluguéis foi causa de conflito em 1911. No ano
seguinte, supõe-se que Jorge Street tenha adicionado as
cerca de cem casas da vila operária da “Fábrica Santana”.
Em 1912, esse mesmo empresário construiu a “Fábrica
Maria Zélia”, situada entre os trilhos da Estrada de Ferro ►Mapa 6. Localização das fábricas de
da Central do Brasil e o Rio Tietê, em Belenzinho, e em tecidos na cidade de São Paulo em
1916 inaugurou sua vila operária – a Vila Maria Zélia –, 1914. Fonte: Elaboração da autora
sobre Planta Geral da Cidade de
com cerca de duzentas casas e instalações sociais. Depois São Paulo com Indicações Diversas.
de 1923, Street vendeu a companhia, e ela foi deixada Comissão Geográfica e Geológica, eng.
nas mãos de Arnaldo Guinle e Numa de Oliveira, que chefe João Pedro Cardoso, 1914, sem
estavam associados à companhia “Docas de Santos”. escala. (Memória Urbana).

O Lugar do Patrimônio Industrial


65

Capítulo 3 - A indústria têxtil em São Paulo


O distrito da Mooca se consolida como área industrial e
operária. A maioria das empresas que lá se estabelecem constroem vilas
para seus operários, como é o caso da Fábrica de Tecidos Labor e da
Cia. Paulista de Aniagem, da Fábrica de Tecidos de Lã, Algodão e Meias,
criada em 1897 pela firma Regoli, Crespi & Cia., que se transformaria,
nove anos depois, em um empreendimento industrial de produção em
larga escala: o Cotonifício Rodolfo Crespi.
Seguindo a linha da SP Railway ao sul, no bairro do Ipiranga,
foram instaladas mais algumas fábricas com vilas operárias: a Fiação,
Tecelagem e Estamparia Ypiranga Jafet, em 1893, e a Fábrica Corrente,
da firma escocesa J. B.Coats (Machine Cotton), em 1907, com cinquenta
casas.
A escolha dos arredores da cidade para a implantação industrial
não era gratuita; deveu-se, primeiramente, ao valor dos terrenos, como
esclarece a propaganda do loteamento Nova Manchester, situado então
no Belenzinho, veiculada em fevereiro de 1925, na primeira página do
jornal O Estado de São Paulo:
[...] como perfeitamente compreendeis, a base do
sucesso de todas as indústrias é o aumento constante da
produção. Para isso, como fazem os grandes industriais
europeus e norte-americanos, deveis diminuir o capital
imobiliário e aumentar o capital produtos, e isso só
66 podereis fazer transferindo vossas indústrias, do centro
para os arredores da cidade. Porque assim aplicareis, a
diferença enorme do valor dos terrenos, em aquisição
de aperfeiçoados maquinismos, que vos proporcionarão
aumento considerável da renda e produção. E além de
tudo, suprimireis [...] inúmeras circunstâncias imprevistas
para o insucesso das indústrias: greve, má vontade dos
operários, revoluções, motins, incêndios, etc. A ‘Nova
Manchester’, a grande cidade do trabalho, com terrenos
apropriadíssimos para indústrias, sita no próspero bairro
do Belenzinho, o maior centro operário desta capital, vos
garantirá todos os meios precisos para o êxito de vossas
indústrias porque aí tereis terrenos magníficos para as
vossas instalações e vilas operárias, por preço 20 vezes
menor e ainda com o prazo de 5 anos sem juros (apud
SEGAWA, 2000, p. 127). ◄ Fig. 28. Prédio do Cotonifício
Rodolfo Crespi, atingido por um
violento bombardeio aéreo das forças
legalistas federais, durante a Revolução
de 1924. Fonte: Schiavinatto, I.L.. Séries
fotográficas narram um evento: 1924/
São Paulo. In: Revista STUDIUM, n° 8.
Disponível em: <http://www.studium.
iar.unicamp.br/oito/5.htm>. Acesso em:
14 nov.2009.
▼Fig. 29. Companhia Nacional de
Tecidos de Juta (Fábrica Santana) em
1918. Fonte: Acervo Iconográfico,
Pioneiros & Empreendedores, FEA -
USP.

O Lugar do Patrimônio Industrial


21
RAGO, L. M. Do cabaré ao lar: Em segundo lugar, as posturas legais para ordenação do espaço
a utopia da cidade disciplinar:
Brasil 1890-1930. Rio de da cidade - desde o Padrão Municipal de 1886, seguido pelo Código
Janeiro: Paz e Terra, 1987. Sanitário do Estado de São Paulo de 1894 e pela lei 498 de 1900,
que estabelecia “prescrições para construção de casa de habitação
operária” - determinavam sua construção fora do perímetro demarcado
por lei (também denominado “aglomeração urbana” e “perímetro do
comércio”); ou seja, era estabelecida uma segregação espacial por meio
de uma periferização compulsória (SEGAWA, 2000, p. 161).
Apesar dessa segregação, Rago (198521 apud BONDUKI,
1994) afirma que, durante a República Velha, as vilas operárias eram
consideradas pelo Estado e pela elite dominante uma iniciativa modelar a
▲Fig. 30. Vila Maria Zélia atualmente.
Disponível em: <http://www. ser incentivada, pois garantiam condições dignas de moradia, superando
j o r n a l d e t e a t r o. c o m . b r / i m a g e m /
stories/2009/junho/impressa/imp2/ a insalubridade dos cortiços sem exigir a intervenção do poder público,
mariazelia_02_danilobraga_jt.jpg>.
Acesso em 06 fev.2011.
e ainda proporcionavam a possibilidade de controle ideológico, político
▼Fig. 31. Cia. Nacional de Tecidos de
e moral dos trabalhadores diante da sempre temida revolta operária.
Juta. Capela de São José. Foto de 1919.
Fonte: Acervo Iconográfico, Pioneiros & Assim, as vilas operárias eram concebidas como extensão da
Empreendedores, FEA - USP.
fábrica, indicando a tutela do empresariado sobre o operariado. Era
►Fig. 32. Cia. Nacional de Tecidos de
Juta. Vila Maria Zélia. Foto de 1919. muito comum também o estabelecimento de escolas, creches, igrejas,
Fonte: Acervo Iconográfico, Pioneiros
& Empreendedores, FEA - USP. mercados, salão de recreação, como na Vila Maria Zélia, permitindo um
▼▼Fig. 33. Escola de Meninas, Vila controle absoluto do tempo livre dos operários e de suas famílias.
Maria Zélia. Foto década de 1970.
Fonte: Acervo Iconográfico, Pioneiros Stein (1979, p. 66) considera que “[...] os empresários tinham a 67
& Empreendedores, FEA - USP.
►►Fig. 34. Vista geral do complexo
visão, amplamente difundida, de que os pobres eram uma classe dada à
fabril e da moradia operária da indolência se não fosse coagida a trabalhar”. Essa visão era compartilhada
Cia. Nacional de Tedidos de Juta.
Foto década de 1970. Fonte: por outros segmentos da sociedade:
Acervo Iconográfico, Pioneiros &
Empreendedores, FEA - USP.

Capítulo 3 - A indústria têxtil em São Paulo


[...] foi com grande satisfação que os editores de um jornal
de uma província de São Paulo saudaram a fundação
da fábrica São Luís, em 1869, que empregava ‘crianças
68 e mulheres nas máquinas, as primeiras transformando
o tempo desperdiçado no ócio em trabalho útil e as
mulheres empregando o seu tempo de modo mais
vantajoso’. Esperava-se que os filhos e filhas das famílias
pobres que habitavam as vizinhanças das fábricas de
tecido encontrassem no trabalho fabril uma ocupação
apropriada e satisfizessem todas as suas necessidades de
vida. [...] as fábricas forneciam teto, roupas, alimentação
e instrução para treinar artesãos, mecânicos e operários,
formando cidadãos ‘bons, inteligentes e habilidosos
(STEIN, 1979, p. 66).
▲▲Fig. 35. Escola de meninas,Vila Maria
Zélia, interior, estado atual. Foto: Marco
Sobre as mulheres, Canabrava (1984) afirma que estas Gomes. Disponível em: < http://farm4.
static.flickr.com/3369/3279721523_
representavam a mão-de-obra majoritária nas fábricas de tecidos desde ae262e7434_z.jpg>. Acesso em
a sua fundação. Em 1872, a força de trabalho da indústria têxtil era 06.fev.2011.

constituída por um contingente de 10.256 operários, dos quais 9.514 ▲Fig. 36. Escola de Meninas, Vila Maria
Zélia, fachada, estado atual. Disponível
eram mulheres. em: <http://farm4.static.flickr.
com/3560/3772825490_edef82a465.
jpg>. Acesso em 06.fev.2011.
Ao final da Segunda Guerra Mundial, a indústria têxtil brasileira
começa a apresentar sinais de obsoletismo, em especial, com relação ao
maquinário, o que, considerada a proibição de importação na década de
1930, tornou impossível tirar vantagem de qualquer avanço tecnológico
de origem estrangeira.
Além disso, a partir da metade dos anos 1950, a indústria
brasileira entra em um processo acelerado de desenvolvimento,
investindo em setores mais dinâmicos e não tradicionais, como a
indústria automobilística.
O movimento de estímulo ao transporte rodoviário pelos
governos estadual e federal na década de 1940 favoreceu a construção,
em 1947, da Rodovia Anchieta, ligando São Paulo - o principal mercado
O Lugar do Patrimônio Industrial
22
A General Motors já operava consumidor do país - ao porto de Santos - o principal porto do Brasil.
em São Caetano do Sul desde
1927. Seguiram-se a Varam A rodovia, assim como a ferrovia 80 anos antes, além dos incentivos
Motores; depois a Volkswagen fiscais, foi decisiva para a instalação de várias indústrias ao longo do seu
Caminhões, em 1948; a Brás percurso, particularmente as montadoras de automóveis22.
Motor (montadora dos Fuscas),
em 1951; a Willys Overland, O setor têxtil também foi afetado pelo desenvolvimento industrial
em 1953 e a Mercedes Benz,
em 1956. Ver: MARICATO, E. sistêmico da época e começou a passar por grandes transformações.
A proletarização do espaço A partir de 1970, incentivos fiscais e financeiros governamentais
sob a grande indústria São
Paulo: o caso de São Bernardo possibilitaram a modernização e a ampliação da indústria têxtil com o
do Campo na Região objetivo, sobretudo, de aumentar as exportações brasileiras de produtos
Metropolitana de São Paulo.
1977. Dissertação (Mestrado têxteis.
em Arquitetura e Urbanismo)
- FAU Universidade de São Contudo a abertura do mercado interno aos fornecedores
Paulo, 1977, trabalho citado externos iniciada em 1990, a eliminação de entraves burocráticos às
por Sakata (2006).
importações e a redução das tarifas aduaneiras conduziram à regressão
23
Singer (1968, p. 53) alerta das exportações e, consequentemente, a uma grande competição com
que a política industrial per os produtos importados, de melhor qualidade e mais baratos, o que
se privilegia a maior eficiência
produtiva e competitividade acabou induzindo ao fechamento de muitas empresas e obrigando
entre as firmas, o que tenderia aquelas que sobreviveram a investir fortemente na sua modernização.
a reforçar as localidades
com maiores externalidades Essa modernização e a redução de custos de produção estavam
positivas, que era o caso
da capital. Externalidades alinhadas a outro movimento importante ocorrido anteriormente - a
positivas é um conceito desconcentração industrial do núcleo da metrópole, em função das
elaborado no começo do
século XX pelo economista deseconomias de aglomeração23 na capital em direção ao interior e 69
Alfred Marshall, o qual aos municípios vizinhos, particularmente Santo André e São Bernardo,
expressa que, se o progresso o que levou a maioria das indústrias da Mooca, Belenzinho, Pari e Brás a
tecnológico é internalizado
por um determinado número abandonarem suas plantas industriais, deixando um legado construído à
de empresas, a concentração mercê da especulação do setor imobiliário.
espacial favorece uma rápida
difusão desse conhecimento O perfil industrial da cidade se molda a uma nova dinâmica pós-
para a região como um todo.
Contudo as economias de industrial, e os signos identitários impressos nos vestígios das edificações
aglomeração se transformaram, industriais funcionam como códigos a serem decifrados sobre essa
com a saturação das
instalações industriais, em singularidade cultural e social promovida durante décadas pela indústria.
problemas como: degradação
ambiental, encarecimento da
mão-de-obra, precariedade
do sistema de transportes de
massas e sobreutilização dos
sistemas de transportes de
bens, elevação do custo do
solo para fins residenciais e,
consequentemente, aluguéis
dispendiosos. Tudo isso
elevava o valor da produção
e da força de trabalho da
capital em comparação com
as cidades menores, que
não apresentavam ainda tais
problemas.

Capítulo 3 - A indústria têxtil em São Paulo


4. Desindustrialização e Reestruturação
Espacial

Como vimos nos capítulos anteriores, a atividade industrial


constituiu um importante fator de estruturação espacial. A indústria
produziu em São Paulo e no Rio de Janeiro a sua espacialidade,
organizando o cotidiano, promovendo atividades sociais, implantando
novas infraestruturas; enfim, induzindo a formação de um território
específico.
A revolução tecnológica associada à difusão da microeletrônica,
característica do atual paradigma técnico-econômico, proporciona
grandes economias de escala, aumentando o volume de produção por
fábrica e levando ao fechamento de empresas tradicionais que não se
adaptam as novas exigências do mercado24.
Os efeitos desse processo de reestruturação produtiva,
intensificado na década de 1990, atingiram grandes complexos fabris
estabelecidos nos séculos XIX e XX, que foram grandes motores
econômicos e os principais indutores da urbanização. 71

As mudanças que ocorreram no Brasil a partir da década de


1990 - de um lado, a abertura comercial promovida pelo governo nesse
período, forçando as empresas a se modernizarem para enfrentar a
competição com bens importados e aumentar suas exportações, e,
de outro lado, o aumento do consumo per capita interno associado à
24
A desativação de
estabilização da economia - induziram a novas estratégias competitivas
espaços industriais, ou das empresas do setor têxtil.
desindustrialização, é definida
por Bruyuelle “[...] em uma O setor têxtil, considerado o berço da revolução industrial por
primeira aproximação, como o ter protagonizado o processo original de automação da manufatura,
recuo ou a desaparição do fato
industrial em um espaço dado. procurou reduzir o hiato tecnológico em relação a outros setores
Este recuo se manifesta de industriais por meio da difusão de práticas de produção enxuta e
diversas maneiras que têm, cada
uma, significações diferentes. de avançados sistemas de automação e permaneceu relativamente
Ele pode se manifestar em intensivo em mão-de-obra até fins do século XX.
termos de empregos, em
termos de diminuição da A adoção de equipamentos com base na microeletrônica torna-
produção, em termos de
redução do número dos se essencial para aumentar a competitividade das empresas, em especial,
estabelecimentos industriais no cenário de competição global progressivamente mais intensa, na qual
podendo ir até a desaparição a sobrevivência da fábrica depende da capacidade de resposta rápida
total” Em: BRUYELLE,
Pierre. Désindustrialisation, às demandas do mercado, cada vez mais exigente no quesito qualidade,
mutations techologiques et o que resulta na introdução contínua de inovação, particularmente nos
transformations internes dês
entreprises. Revue Belge de segmentos intensivos em capital, como fiação, tecelagem e malharia.
geographie, 116éme année,
1992, Fascicules 1 a 4, p.77 La Rovere, Tigre e Alexim (2006, p. 400) chamam a atenção
(apud PADUA, 2007, p. 30; para o grande investimento, concentrado entre 1994 e 1997, em
tradução de Rafael Faleiros de
Padua). máquinas do complexo têxtil, em função das expectativas favoráveis

Capítulo 4 - Desindustrialização e Reestruturação Espacial


dos empresários com relação ao crescimento do mercado brasileiro, 25
IEMI - INSTITUTO DE
ESTUDOS E MARKETING
ao crédito do governo, à queda dos preços dos bens de capital devida INDUSTRIAL. Perfil e
ao câmbio sobrevalorizado a partir do Plano Real e à necessidade de dimensões do setor têxtil no
modernização do parque fabril instalado. Brasil. São Paulo, 2001.

Os processos de concentração da produção e de modernização


tecnológica levaram a uma significativa redução dos postos de trabalho
no complexo têxtil na década de 1990. Conforme estudo sobre o
perfil e dimensões do setor têxtil no Brasil do Instituto de Estudos
e Marketing Industrial - IEMI, o complexo têxtil, que empregava 2,58
milhões de trabalhadores em 1990, passou a empregar 1,54 milhões
em 2000, tendo, desse modo, uma perda de mais de um milhão de
empregos acumulada na década, ou seja, uma redução de 40,1% no
total (IEMI, 200125 apud LA ROVERE; TIGRE; ALEXIM, 2006, p. 401).
O setor têxtil constitui, assim, um exemplo de grande visibilidade
do processo de redução do número de trabalhadores na produção,
que, aliado ao lento crescimento da economia nacional e à abertura
das importações, oferece uma explicação de caráter conjuntural para o
fechamento de muitas fábricas desse setor e para o deslocamento de
outras (LA ROVERE; TIGRE; ALEXIM, 2006, p. 404).
Sandra Lencioni (2006), ao analisar o período compreendido
72 entre 1989 e 2002, justamente o período em que a reestruturação
produtiva transformou profundamente a atividade industrial, avalia que:
[...] em primeiro lugar, há uma diminuição no número
de trabalhadores, de cerca de um milhão de empregos.
Em segundo lugar, podemos observar que nas principais
metrópoles do país o decréscimo no número de
trabalhadores, não só é geral, mas muito intenso,
destacando-se a metrópole de São Paulo e do Rio de
Janeiro com uma diminuição maior que 50% (LENCIONI,
2006, p. 110).

Tabela 8 - Taxa de Crescimento do Número de Trabalhadores da Indústria (1989-2002)


Estados com crescimento positivo e Estados e Metrópoles com decréscimo
metrópoles com decréscimo
Ceará + 47,0 Rio de Janeiro - 47,7
Fortaleza - 13,4 Rio de Janeiro - 57,7
Paraná + 39,4 Pernambuco - 39,9
Curitiba - 16,1 Recife - 13,4
Pará + 20,1 São Paulo - 34,0
Belém - 40,3 São Paulo - 55,3
Minas Gerais + 6,4
Rio Grande do Sul - 4,8
Belo Horizonte - 23,6
Bahia + 2,9
Porto Alegre - 44,1
Salvador - 31,9
Fonte: Ministério do Trabalho e do Emprego. RAIS: 1989 e 2002 (apud LENCIONI, 2006, p. 111).

Esses dados demonstram que, nos estados de tradição industrial


como São Paulo e Rio de Janeiro, houve maior perda no emprego
industrial, afetando não só o centro metropolitano como a média
estadual. Isso se pode verificar pelos dados referentes à industrialização

O Lugar do Patrimônio Industrial


francamente regressiva no estado e na região metropolitana do Rio de
Janeiro.
Segundo Lencioni (2006, p. 108), as indústrias têxteis e de calçado,
que operam com mão-de-obra intensiva e têm expressiva presença do
capital nacional, sofreram um movimento de desconcentração industrial
em direção ao Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país, enquanto
aquelas indústrias intensivas em tecnologia e com predomínio de capital
transnacional tenderam a se concentrar no Sudeste, particularmente no
Estado de São Paulo, privilegiando assim a cidade de São Paulo e sua
região metropolitana expandida.
Reforça-se e consolida-se, com isso, na região metropolitana de
São Paulo, a concentração das indústrias intensivas em tecnologias e das
indústrias de alta tecnologia, que encontram aí a infraestrutura necessária
à sua reprodução, como, por exemplo, a presença de aeroportos
internacionais, de universidades e núcleos de pesquisa, de trabalhadores
altamente qualificados, de eficientes redes de comunicações e de uma
extensa rede de fibra ótica.
Isso não quer dizer que essas novas indústrias se instalem nas
áreas industriais tradicionais localizadas na cidade de São Paulo. O que
existe de fato é uma outra dimensão de trabalho na indústria, que
tem outras necessidades espaciais e de articulação, elegendo novas 73
localizações industriais, como os parques tecnológicos.
Portanto ocorre um processo de desindustrialização em áreas
específicas na cidade, onde a indústria era a atividade predominante,
passando a perder importância para outras atividades econômicas,
como as relacionadas ao setor terciário, ou a atividade industrial deixa
simplesmente de existir.
A desindustrialização nem sempre acontece de forma
generalizada no caso da região Sudeste, como observa Lencioni (2006,
p.108). Apesar de haver uma diminuição geral no número de postos de
trabalho industrial ao lado de um rearranjo na distribuição territorial
da indústria, ela continua ainda muito concentrada, particularmente no
Estado de São Paulo.
São Paulo, que passou por um processo bastante acentuado de
perda do emprego industrial, continua sendo, de longe, a maior cidade
industrial do país.
Como podemos observar, a reestruturação econômica conduziu
determinados setores das cidades a um esvaziamento das atividades
industriais. Nas regiões tradicionalmente industriais - ABCD, Brás, Mooca,
Belenzinho, Tatuapé, Ipiranga, Santo Amaro- é nítido esse esvaziamento
das plantas industriais. Atividades econômicas são redistribuídas, surgem
novas funções e usos em detrimento dos antigos usos industriais e
antigas estruturas produtivas transformam-se em espaços vazios e ruínas
– espaços urbanos à espera de recomposição. A primeira impressão

Capítulo 4 - Desindustrialização e Reestruturação Espacial


que se tem desses locais é a de abandono e deterioração. Contudo
são espaços privilegiados, cujo valor reside em serem fiéis depositários
das memórias dos seres humanos, de seu trabalho, de sua cultura, de
sua história, de um processo produtivo, constituindo espaços com
elevada carga simbólica, que podem ser preservados, transformados e
adquirirem novos usos e novas significações.

74

O Lugar do Patrimônio Industrial


Parte 2
Um Novo Paradigma
Urbano
76

◄ Fig. 37. (pg. 75) Ilustrações de Jörg


Müller, Die Welt ist kein Märchen (O
mundo não é um conto de fadas)
▲▲Fig. 38. Uma cidade católica em
1440. Fonte: Pugin (1836, p. 126).
▲Fig. 39. A mesma cidade em 1840.
Fonte: Pugin (1836, p. 126).

o lugar do patrimônio industrial


5. A indústria como imagem urbana

It will be readily admitted that the great test of


Architectural beauty is the fitness of the design to the
purpose for which it is intended, and that the style of
a building should so correspond with its use that the
spectator may at once perceive the purpose for which
it was erected.

Augustus Welby Pugin

Em 1836, o arquiteto inglês Augustus Welby Pugin (1812-


1852) publica o livro Contrastes ou um paralelo entre edifícios nobres
dos séculos XIV e XV, e edifícios similares do presente, no qual faz
um contraponto entre a arquitetura britânica do início do século
XIX e a arquitetura medieval. Nesse trabalho, ele apresenta imagens
comparando uma mesma cidade cristã em 1440 e em 1840, chamando
a atenção para a substituição das torres das igrejas pelas chaminés das
fábricas e por todo o aparato edificado que dá subsídio à atividade 77
industrial. Pugin era um defensor do gótico26 e, nesse livro, acusa a
indústria de ter contaminado tanto a paisagem urbana, com suas
instalações desmesuradas, quanto o ambiente doméstico, com seus
produtos vulgares.
A imagem da cidade industrial em contraste com a da cidade
medieval deixa clara a ideia de que a indústria passou a desempenhar
a função de ator principal da cena urbana, o que, no início do século
XIX, como os desenhos de Pugin expressam, causava certo temor pela
radical e rápida transformação da morfologia da cidade.
Essa mudança não se limitava somente à forma urbana, mas dizia
respeito também à sua construção como objeto.
Davis (1977, p. 18) afirma que, às vésperas da Revolução
Industrial, a Europa era uma região quase completamente agrária.
Embora as cidades medievais tivessem permanecido pequenas, o fato
26
“Let us now, therefore, de elas terem se especializado na manufatura e no comércio, além da
examine the pretensions of competição entre as cidades estimularem a especialização e a inovação
the present Century to a
superiority in architectural skill; tecnológica, preparou as condições para a urbanização que se seguiria,
let us examine the results –that potencializada pelo enorme aumento da produtividade decorrente da
is, the edifices that have been
produced: and, I feel confident, difusão do uso da máquina.
we shall not be long in deciding
that, so far from excelling past Assim, a localização das primeiras fábricas, que utilizavam a energia
ages, the architectural works of hidráulica como força motriz, aconteceu em zonas rurais próximas aos
our time are even below par cursos de água, originando a construção de casas, oficinas, hospedarias,
in the sale of real excellence”
(PUGIN, 1836, p. 30). capelas. Foi somente com a invenção da máquina a vapor – em 1712,
Capítulo 5 - A indústria como imagem urbana
por Thomas Newcomen, e em 1763, por James Watt -, a qual forneceu
uma fonte nova e abundante de energia, que as fábricas passaram a se
localizar nas proximidades das cidades, onde era possível contratar os
trabalhadores, na maioria das vezes, migrantes rurais.
O advento da industrialização trouxe enorme melhoria nos
implementos e técnicas agrícolas, na preservação dos alimentos, no
desenvolvimento dos transportes e comunicações e no aperfeiçoamento
das infraestruturas de suprimento de água e esgoto, o que permitiu
também que mais pessoas se concentrassem nas cidades.
Dessa forma, as atividades industriais foram se localizando com
base em diferentes lógicas: próximas aos rios, pela importância dos
engenhos hidráulicos, da máquina a vapor ou da necessidade de água
para o processo produtivo; a vias férreas e rodovias, por questões de
acessibilidade e logística; e ao tecido consolidado, pela disponibilidade
de infraestrutura.
Nesse cenário, a aceleração do ritmo de evolução das sociedades
urbanizadas27, ligada diretamente ao desenvolvimento das atividades
industriais, representou um estágio de evolução social relativamente
novo na história da humanidade. Considerando as pesquisas de Davis
(1977), antes de 1850, nenhuma sociedade poderia ser descrita como
78 predominantemente urbana; essa condição só foi atingida em 1900 pela
Grã-Bretanha, em função do desenvolvimento industrial. O autor, em
sua investigação sobre a aceleração da urbanização, afirma que, entre
1850 e 1950, o ritmo de urbanização foi bem superior ao ocorrido
entre 1800 e 1850, mas que o ritmo das décadas de 1950 e 1960
superou em duas vezes o dos cinquenta anos precedentes.
A mudança acarretada pelo processo de industrialização e
automatização resultou em uma transformação qualitativa da cidade;
ela não pode ser considerada uma versão maior da cidade tradicional,
mas uma nova e diferente forma de agrupamento humano. A Revolução
Industrial promoveu a divisão especializada do trabalho e fez emergir
um novo tipo de estrutura ocupacional - a estrutura que depende do
conhecimento altamente especializado e que funciona apenas quando
as atividades das ocupações componentes estão bem sincronizadas.
Essa estrutura tornou necessária a concentração humana em cidades,
uma vez que o novo sistema exigia a proximidade de trabalhadores
de diversas especialidades e de diversos estabelecimentos, forçados a
intercambiar bens e serviços.
A diversidade, a especialização, a localização e a tipologia das 27
Foi adotado o termo
indústrias geraram novas hierarquias espaciais e redefiniram o papel das urbanização seguindo a
concepção de Davis (1977),
cidades e a sua imagem. referente à proporção da
população concentrada em
Cabe ressaltar que a arquitetura das fábricas, geralmente grandes estabelecimentos urbanos
edifícios com suas chaminés, além de não apresentar preocupação com ou ao crescimento dessa
proporção (da população
o conforto dos numerosos trabalhadores que nelas atuavam – o que se urbana sobre a população
vê, por exemplo, na precariedade da iluminação e da ventilação -, não rural).

O Lugar do Patrimônio Industrial


►Fig. 40. Ponte de ferro sobre o
Rio Severn, 1775-1779. Disponível
em: <http://www.ironbridge.org.uk>.
Acesso em: 18 jul. 2009.

possuía um estilo próprio, apesar de a própria indústria ter promovido


inovações tecnológicas que resultaram no desenvolvimento de novos
materiais e técnicas construtivas.
O historiador Ernest Gombrich (1981) sublinha a falta de um
estilo tipicamente industrial por meio das paródias que eram realizadas
nas fachadas desses edifícios: 79
O homem de negócios ou a comissão de planejamento
urbano que projetavam a construção de uma fábrica,
estação ferroviária, escola ou museu, queriam Arte pelo
dinheiro investido. Assim, quando as outras especificações
tinham sido preenchidas, encarregava-se o arquiteto de
fornecer uma fachada em estilo gótico, de converter o
edifício num arremedo de castelo normando, palácio
renascentista ou até mesquita oriental (p. 395).

Novos materiais, como o ferro bruto, tiveram sua produção


barateada por volta de 1750. No final do século XVIII, a máquina a
vapor já se encontrava de tal modo desenvolvida que podia ser aplicada
na produção de quantidades cada vez maiores de ferro gusa, fundido ou
forjado. Entre 1775 e 1779, a primeira obra de arte usando esse material
foi construída na Inglaterra, sobre o Rio Severn, perto de Coalbrookdale
(Figura 40).
A leveza e a transparência dos arcos em ferro fundido, de
aspecto frágil, faziam um contraponto com os arcos em pedra, o que
pode ser também observado nas imagens de Pugin (figuras 38 e 39). A
ponte de pedra, de 1440, que fazia conexão entre a cidade aberta e a
fortificada, é substituída em 1840 pela ponte de ferro.
O desenvolvimento da indústria suscitou a substituição do
trabalho artesanal manual feito nas oficinas pelas novas formas de
produção mecânica, o que trouxe a princípio muitas críticas daqueles
que, como Pugin, estavam convencidos de que o baixo nível da produção
se devia à separação entre a arte e a indústria.

Capítulo 5 - a indústria Como imagem urbana


Pugin, ao descrever os objetos produzidos em escala industrial,
comenta:
Nem escala, nem forma, nem oportunidade, nem
unidade de estilo são jamais levadas em consideração
por quem desenha esses horrores. [...] Basta introduzir
um ornamento em quatro folhas ou em arco agudo,
embora o esquema do artigo seja moderno e vulgar,
para que o mesmo logo seja qualificado e vendido como
gótico (PUGIN apud BENEVOLO, 1976, p. 188).

O inglês John Ruskin (1819-1900) também atribuía a causa dos


problemas da época às más condições de trabalho do sistema industrial,
o que o levou a condenar todas as novas formas de vida introduzidas
pela Revolução Industrial. Ele explicita em Las siete lámparas de la
Arquitectura (1956), obra originalmente publicada em 1849, as falsidades
contidas na produção arquitetônica da época28. Para Ruskin (1996), o
objetivo da produção industrial era enganar o observador por meio de
materiais que imitavam outros materiais e de ornamentos executados
mecanicamente, no intuito de simular a aparência do trabalho manual,
mais demorado e, portanto, mais caro.
A questão da velocidade incomodava Ruskin (1996), não 28
Ruskin admite sete valores
que iluminam a arquitetura: o
somente com relação à produção mecânica, mas a tudo que dela sacrifício, a verdade, a potência,
poderia derivar, como os meios de transportes: a beleza, a vida, a memória e
80 a obediência. Em A lâmpada
O sistema de estradas ferroviárias é dirigido à gente que da memória, Ruskin afirma
tendo pressa é miserável. Ninguém viajaria dessa maneira que podemos sobreviver
se tivesse tempo de vaguear sobre as colinas por entre sem a arquitetura, mas nossa
as sebes dos campos ao invés de se transportar através memória não pode prescindir
de túneis (leia-se metro) ou entre trilhos. [...] A ferrovia dela. A história ganha vida na
é em todos os seus aspectos uma questão de ganho edificação se comparada à
a ser obtido o mais rapidamente possível e precisa sensação de apenas ouvi-la: "[...]
ser eliminada. Ela transforma o homem de viajante em nós devemos olhar seriamente
pacotes viventes durante todo o tempo em que ele a arquitetura como o elemento
permanece separado das nobres características da sua central e abonador desta
humanidade pelo poder de locomoção de dimensões influência de ordem superior
planetárias (RUSKIN, 1996, nota 15, p. 43). da natureza sobre as obras do
homem. Podemos viver sem ela,
Para Ruskin (1996), a produção industrial é considerada uma rezar sem ela, mas sem ela não
podemos recordar. Como é
falsidade em uma época em que se vive um período de grande fria toda a história, como é sem
desenvolvimento industrial e a fabricação manual é substituída pelas vida toda a fantasia do homem
máquinas. comparada àquela escrita
por um povo cheio de vida
As severas críticas ao trabalho industrial eram dirigidas também sobre a pureza do mármore!
Quantas páginas de incertas
à construção industrializada de caráter temporário: “[...] quando reconstruções do passado não
construirmos, pensemos que estamos construindo para sempre. E não o poderíamos economizar em
troca de umas poucas pedras
façamos para a nossa satisfação de hoje, nem somente para a satisfação deixadas em pé uma sobre
do momento (RUSKIN, 1996 , p. 16). as outras. [...] há dois deveres
em relação à arquitetura do
O importante é relacionar as críticas de Ruskin ao momento nosso país cuja importância
é impossível exagerar: o
histórico vivido, no qual a construção industrializada toma corpo e é primeiro consiste em conferir
consagrada na pré-fabricação de componentes de edifícios inteiros, uma dimensão histórica à
arquitetura de hoje, o segundo,
como estações ferroviárias, mercados, residências, estufas dos jardins em conservar aquela de épocas
botânicos, pontes, viadutos, estradas de ferro, galerias comerciais, passadas como a mais preciosa
pavilhões expositivos e indústrias. das heranças"(RUSKIN, 1996, p.
8).

O Lugar do Patrimônio Industrial


►Fig. 41. Fábrica pré-fabricada de
William Fairbairn, para a Turquia, Fonte:
KÜHL, 1998, p. 69.

A esse respeito, Beatriz Kühl (1998) relata a experiência da


construção do primeiro edifício pré-fabricado de ferro por William
81
Fairbairn, uma indústria feita para a Turquia:
A edificação foi produzida em suas oficinas de Millwall,
Londres, que era seu estaleiro. [...] o prédio foi embarcado
para Istambul em 1840, tendo sido, anteriormente,
montado em Millwall, onde ficou em exposição para
o público. A construção tinha três pavimentos com
estrutura de ferro fundido e cobertura em chapas de
ferro corrugado. Apenas as fundações e uma parede
interna, feita para o suporte de maquinário, eram de
alvenaria. Para a Turquia mandaria ainda vários edifícios
de ferro, entre eles outras indústrias e residências (p. 69).

Para a Primeira Exposição Universal de 185129, em Londres,


Joseph Paxton construiu o Palácio de Cristal, pioneiro na arquitetura
29
Heloisa Barbuy chama a de ferro e vidro para a exibição de produtos industriais e notabilizado
atenção para a racionalidade
na organização da Exposição “[...] pelo uso da modulação e de peças pré-fabricadas para abrigar uma
Universal, que ultrapassava a grande superfície” (KÜHL, 1998, p. 42).
racionalidade da concepção
arquitetônica e construtiva O Palácio de Cristal, que foi construído em nove meses, foi
do edifício como mostra da
produção industrial da época: desmontado em 1854 e transferido e reconstruído em Sydenham, um
“[...] tal concepção representava dos subúrbios de Londres, para abrigar um museu.
uma verdadeira visão de
mundo em que este seria A esse respeito, Ruskin manifesta-se:
racionalmente organizado, de
acordo com uma classificação Eu li no jornal Times a notícia da abertura do Palácio
por nações e, dentro destas, de Cristal em Sydenham enquanto subia a colina entre
por produção industrial ou Vevey e Châtel St. Denis, e os pensamentos que isso
outras atividades laboriosas, me despertou me perseguiram o resto do dia, à medida
segundo o pensamento que minha estrada avançava pelos verdejantes declives
filosófico, os ideais e as crenças de Simmenthal. Havia um estranho contraste entre a
progressistas da sociedade imagem daquele magnífico palácio que, ao se erguer
industrial” (BARBUY, 2006, p. tão alto sobre as colinas em que fora construído, fazia
228). com que parecessem pouco menos do que uma base
Capítulo 5 - A indústria como imagem urbana
para sua brilhante imponência, e aquelas rasas raízes de
lariço, parcialmente ocultas pela floresta, e espalhadas
como pedras cinza ao longo das massas da distante
colina. Aqui, o homem lutando contra os poderes da
Natureza por sua existência; ali, dominando-os para
sua recriação; aqui, um frágil povo aninhado entre as
rochas com a cabra selvagem e o coelho, a perpetuar
o mesmo quieto pensamento de geração a geração;
ali, uma grande multitude triunfante no esplendor da
incomensurável habitação, e orgulhosa com a esperança
de infinito progresso e irresistível poder. [...] E de todo
esse refinamento de pesquisa, desta elevada busca do
ideal, desta sutileza de investigação e suntuosidade de
prática, o grande resultado, a admirável e longamente
esperada conclusão é a de que no centro do século
dezenove, supomos havermos nós mesmos inventado
um novo estilo de arquitetura, quando ampliamos uma
estufa! (RUSKIN apud KERN, 2009, p. 1675).

A resistência de Ruskin contra a cidade industrial moderna


e a criação de objetos e artefatos por meio de novas tecnologias
possibilitadas pela máquina era uma luta contra o desaparecimento
daquilo que ele julgava como “valioso mundo do trabalho artesanal”, e
a arquitetura, como a mais poderosa de todas as artes, era o meio ideal
para transmitir a cultura de um povo.
Ruskin delega à arquitetura o poder de sustentar a memória,
apoiando-se em dois aspectos: a força da arquitetura reside no fato de
82
ela ser mais pública que as outras artes e também porque tende a ser
mais durável.
A durabilidade como atributo da arquitetura outorga-lhe
uma substancial indiferença relativamente ao tempo. Essa quase
inalterabilidade torna-a adequada a ser fiel depositária das memórias
dos seres humanos. Ainda assim, ela não deixa de manifestar uma sutil
sensibilidade no transcorrer do tempo – nas leves rugas que carrega sem
pretensão de dissimulação –, nisso favorecendo uma íntima emulação
da humanidade (ABREU, 2005).
Tal debate terá continuidade com William Morris, responsável
por colocar esse ideário no plano prático. Pintor, escritor e socialista
militante, Morris tenta combinar as teses de Ruskin às de Marx, na defesa
de uma arte feita pelo povo e para o povo. A ideia é que o operário se
torne artista e possa conferir valor estético ao trabalho desqualificado
da indústria.
A postura de Morris ganha corpo ao fundar o movimento
estético e social inglês Arts and Crafts, que reuniu teóricos e artistas
na busca pela revalorização do trabalho manual e pela recuperação
da dimensão estética dos objetos produzidos industrialmente para
uso cotidiano. Com isso, Morris reapropria-se do conceito de guildas
medievais, em que o artesão desenha e executa a obra em um ambiente
de produção coletiva.
Enquanto, na Inglaterra, o movimento Arts and Crafts defendia
o artesanato criativo como alternativa à mecanização e à produção em
O Lugar do Patrimônio Industrial
30
A Deutsche Werkbund massa, na Alemanha, a produção industrial era defendida e estimulada.
foi uma associação fundada
por Friedrich Naumann, Karl Em 1907, com a criação da Deutsche Werkbund (Liga Alemã do
Schmidt, Muthesius, Peter
Behrens, Theodor Fischer, Josef Trabalho)30, legitima-se uma nova linguagem morfológica pela coalizão
Hoffmann e J.M.Olbrich, entre de arquitetos e artistas, políticos, industriais e comerciantes, críticos
outros. Os arquitetos Mies van de arte e todos os demais especialistas envolvidos no processo de
der Rohe,Walter Gropius, Hans
Poelzig e Max Berg ligaram-se criação, desenvolvimento, produção e comercialização de produtos
prontamente a essa Associação industrializados.
de Artes e Ofícios. Enquanto
o movimento inglês Arts and Hermann Muthesius (1861-1927), um dos principais fundadores
Crafts via uma contradição
entre a arte e os métodos da Deutsche Werkbund, considerava que apenas os objetos feitos
industriais de produção da arte, pela máquina, produzidos de acordo com a natureza econômica da
a Werkbund alemã desejava,
prioritariamente, criar uma época, poderiam conferir prestígio à concepção de um novo estilo.
ponte entre a arte e a sua Recomendou que se buscasse, nas construções das novas estações
produção industrial.
ferroviárias, salões de exposição, pontes, as possibilidades desse novo
31
No original: “[...] erstens estilo, sem decoração exterior e com formas totalmente ditadas para
ein Umsetzen künstlerisch
geistiger Arbeit in materielle os propósitos a que se destinavam.
Werte, gerade wie auf dem
technischen Gebiete und Muthesius defendia a padronização para a arquitetura e, com
zweitens das Anbahnen einer ela, para toda a área de atividade da Werkbund. Segundo ele, somente
allgemeinen Geschmackskultur,
indem es möglich würde, nicht a padronização poderia introduzir um gosto universalmente válido e
nur künstlerisch empfindenden seguro (PEVSNER, 1981 p. 179).
Menschen zu dienen, sondern
Kunst und Anstand in die O trabalho do arquiteto Peter Behrens (1868-1940) para a
weitesten Schichten der 83
Bevölkerung zu tragen”. empresa de produtos elétricos AEG (Allgemeine Elektrizitäts-Gellschaft),
fundada em 1883 por Emil Rathenaus, concretiza a tendência de
padronização dos bens industriais, sejam eles os produtos ou a própria
imagem da empresa.
Peter Behrens trabalhou para a AEG de 1907 a 1914 como
▼Fig. 42. Fábricas de turbinas, fachada “consultor artístico” (künstlerischer Berater). O conceito formal de
e corte. Fonte: www.stadtentwicklung.
berlin.de/denkmal. Behrens foi orientado para o desenvolvimento de uma estética plástica
►Fig. 43. Fábrica de turbinas industrial nova, que englobava as edificações fabris, as habitações dos
(Turbinenhalle) em 1909. Fonte:
www.stadtentwicklung.ber lin.de/ operários e os produtos, imprimindo assim uma nova identidade
denkmal. corporativa para a AEG.
►►Fig. 44. Detalhe da junção da
estrutura metálica com a alvenaria da Broch (2005, p. 25) afirma que a intenção de Behrens, assim
base. Fonte: www.stadtentwicklung.
berlin.de/denkmal. como a da própria empresa, era imprimir, por meio da arquitetura,
uma ordem estética para o produto técnico, ou seja, criar um estilo
que identificasse o caráter e o rigor técnico que o produto industrial
incorpora. Nesse sentido, Behrens via duas vantagens:

Capítulo 5 - A indústria como imagem urbana


[...] primeiramente a transformação da obra artística ▲Fig. 45. AEG, Berlim. Detalhe da
fachada da Apparatefabrik. Foto: Georg
intelectual em valores materiais, diretamente no campo Slickers.
técnico (fábrica), em segundo lugar a preparação de
uma cultura geral do gosto, na qual se torna possível ◄Fig. 46. AEG - Pórtico de acesso à
fábrica (1896/1897), projetado em
atender não somente aquelas pessoas sensíveis à arte, 1888/1897 por Franz Schwechten e
mas também levar arte e dignidade a todas as camadas Paul Tropp. Foto: Georg Slickers.
da população (BEHRENS apud BROCH, 2005, p. 26; ◄◄Fig. 47. AEG - Apparatefabrik
tradução da autora).31 (1888/1890), projetado por Franz
Schwechten e Paul Tropp. Foto: Georg
Slickers.
A questão técnica industrial é evidenciada em seu primeiro
projeto para a fábrica de turbinas (Turbinenhalle) em 1908, ainda na
planta da empresa em Berlim-Mobig, onde a AEG havia iniciado suas
atividades, pela combinação do concreto armado e da estrutura metálica
em uma demonstração da força e da grandeza industrial.
84
Os projetos seguintes, para a fábrica de pequenos motores
(Kleinmotorenfabrik) e de alta tensão (Hochspannungsfabrik), seguem a
mesma característica formal.
O emprego do aço e do vidro nesses edifícios e a sua estética
contrastam com as demais edificações da empresa, projetadas entre
1888 e 1897 por Franz Schwechten e Paul Tropp.
Em um período de uma década, a estética arquitetônica industrial
da firma AEG muda radicalmente: o ornamento de Schwechten e Tropp
e a estética industrial vitoriana (Ver Figs. 45, 46 e 47) dão lugar às linhas
puras do prédio de Behrens, pregadas pela Deutsche Werkbund e, em
seguida, pela Bauhaus.
A necessidade de expansão, a escassez e o alto preço das áreas
mais centrais levaram as indústrias a procurar áreas mais periféricas.
Nesse processo, no ano de 1910, como parte do plano de expansão da
empresa, a AEG adquire uma extensa área em Hennigsdorf, pequeno
subúrbio com 2.500 moradores, a noroeste de Berlim. O primeiro
projeto que Behrens realizou para a AEG em Hennigsdorf foi a vila
operária, um conjunto de 34 habitações. Nesse projeto, a padronização
das aberturas e dos caixilhos deixa clara a intenção da reprodutibilidade
característica da produção industrial.
As edificações industriais projetadas por Behrens em
Hennigsdorf (Porzellanfabrik, Öltuchfabrik e Lack Fabrick) contrastam
com a grandiosidade da fábrica de turbinas, situada na região mais
central de Berlim.
O Lugar do Patrimônio Industrial
▲ Fig. 48. Peter Behrens, Hennigsdorf.
Vista para a Rathenaustraße, década de A fachada da fábrica de porcelana expressa a racionalidade
1910. Fonte: Broch (2005).
► Fig. 49. Vista para a Rathenaustraße,
construtiva da estrutura metálica, enquanto que, nas fábricas de verniz
em 2002. Fonte: Broch (2005). e de isolante, a rigidez formal e o ritmo das aberturas dão força aos
planos verticais e horizontais do edifício. Ao contrário do prédio da
fábrica de porcelana, os sheds, elementos característicos da construção
industrial, não são destacados nas fachadas das fábricas de isolantes e
de verniz.
Behrens transformou a planta industrial em um problema
arquitetônico, transformando conscientemente a fábrica em um lugar
digno para o trabalho. O romantismo da máquina ainda não havia 85
aparecido, e a grande inovação do arquiteto foi introduzir um valor
arquitetônico na construção de edificações industriais, o que até então
nunca havia sido feito: incorporar os novos programas funcionais da
indústria à arquitetura.
Argan (2005) argumenta que as fábricas construídas por
Behrens personificam a imagem do pensamento capitalista como
vocação religiosa: “[...] na religiosidade do trabalho industrial, finalmente
se alcançará o pleno domínio do espírito sobre a matéria” (p. 39).

▼ Fig. 50. Peter Behrens, Fábrica de Verniz (Lackfabrik), 1912,


Hennigsdorf. Fonte: Broch (2005).
►Fig. 51. Peter Behrens, Fábrica de Isolantes (Öltuchfabrik), 1912,
Hennigsdorf. Fonte:Broch (2005).
►►Fig. 52. Peter Behrens, Fábrica de Porcelana (Porzelanfabrik), 1912,
Hennigsdorf. Fonte: Broch (2005).

Capítulo 5 - A indústria como imagem urbana


O autor vai além e questiona as relações espaciais, proporções e ▲ Fig. 53. Walter Gropius, Adolf Meyer,
Fábrica Fagus, Alfeld. Fonte: www.fagus.
simetrias aceitas até então e as novas possibilidades de expressão a que de
a arquitetura industrial aspira.
86
As massas se articulam segundo uma regra imposta
pelo trabalho que se desenvolve ali dentro, as formas
se plasmam num processo que é o próprio processo da
matéria bruta que ferve e se purifica nos altos-fornos,
precipita-se em correntes incandescentes, circula por
condutos tortuosos, escorre sob os laminadores e as
filandeiras e finalmente recebe o formato da matéria
lúcida, exata, matemática. A fábrica já não é apenas um
lugar onde se trabalha, mas um instrumento imenso,
uma máquina colossal em cujo interior milhares de
homens agem segundo uma disciplina inflexível: é a
síntese suprema entre máquina e homem, empenhados
no processo racional que subjuga a matéria ao espírito
(ARGAN, 2005, pp. 39-40).

Os projetos de Behrens para a AEG inauguram uma nova


trajetória para a arquitetura industrial em um momento em que a
indústria não é mais considerada o monstro mecânico que destrói o
espírito.
Aos edifícios projetados por Behrens seguem-se outros que
procuram imprimir à arquitetura industrial a imagem da modernidade,
como a Fábrica Fagus, em Alfeld, Alemanha, projetada por Walter
Gropius com a colaboração de Adolf Meyer e construída em 1911.
Sobre a Fábrica Fagus, Pevsner (1995, p. 28) comenta:
Seu projeto ultrapassa nitidamente o de Behrens para
a AEG. Somente alguns detalhes de janelas mostram a
influência de Behrens [...] Pela primeira vez, a fachada
inteira é concebida em vidro. Os elementos portantes
reduzem-se a sutis colunas de aço. Nos ângulos não
há sustentação alguma, solução que desde então foi

O Lugar do Patrimônio Industrial


imitada várias vezes [...] O contido equilíbrio de Behrens
entre horizontais e verticais foi abandonado; aqui, um
movimento horizontal para diante, de enorme eficácia,
domina a composição.

Os espaços da Fábrica Fagus são distribuídos conforme as


exigências das funções produtivas e apoiam-se nas coordenadas
verticais da chaminé e na horizontal correspondente à justaposição dos
dois edifícios principais.
Argan (2005) evidencia que a integridade formal do edifício
deve-se ao seu processo construtivo, “[...] do mesmo modo como o
processo mecânico restitui, concretizada no objeto, a integridade da
ideação original” (p. 92).
Qual é o lugar da indústria no processo evolutivo da cidade?
Da absoluta recusa à industrialização, observadas em Pugin e
Ruskin, até a captura da força persuasiva e simbólica da imagem industrial
nas fábricas construídas por Behrens e Gropius, a indústria consegue, no
decorrer de um século, conquistar lentamente seu lugar na construção
identitária da cidade, concretizando espacialmente ideologias sociais,
▼Fig. 54. Selos comemorativos dos 750 políticas, técnicas e econômicas.
anos da cidade de Berlim.Disponível
em: <http://commons.wikimedia.org>. Ruskin (1996, p. 8) afirma que os edifícios públicos e privados
Acesso em: 18 jul. 2009.
que construímos só alcançam a verdadeira perfeição no momento em 87
que se tornam comemorativos ou monumentais, no sentido etimológico.

Capítulo 5 - A indústria como imagem urbana


Dentro desse referencial, a inclusão da fábrica AEG nos selos 32
O prédio da Filarmônica de
Berlim foi inaugurado em 1963.
comemorativos de 750 anos de Berlim fundamenta a importância da O edifício foi parcialmente
indústria e de sua imagem, personificada em sua arquitetura, para um destruído em 20 de maio de
período glorioso da cidade, transformando-a em um monumento da 2008, em razão de um incêndio.
memória, um marco cultural, estampada ao lado da paisagem urbana
do século XVII; do Castelo Charlottenburg, de 1830; do prédio da
Orquestra Filarmônica e Música de Câmara32, do arquiteto Hans
Scharoun, de 1963.
Sem dúvida, os novos materiais e técnicas desenvolvidos até o
final do século XIX, associados ao trabalho industrial, provocaram uma
polêmica exaltada em torno da forma das edificações e dos objetos, ▼ Fig. 55. Detalhe do selo de 60
forma esta personificada na própria edificação industrial, que deveria centavos de marco, com a imagem da
fábrica de turbinas da AEG, projetada
expressar uma nova ideia de espaço - baseada na organização, na por Peter Behrens em 1909. Disponível
em: < http://commons.wikimedia.org>.
coerência e na mecanização do trabalho humano - e traduzir a imagem Acesso em: 18 jul. 2009.
de uma nova era.

88

O Lugar do Patrimônio Industrial


6. Em Busca de uma nova imagem urbana

Nas descrições dos urbanistas, sociólogos, antropólogos,


etnólogos e economistas foram utilizados termos
geralmente dotados de grande amplitude semântica,
como fragmento, heterogeneidade, descontinuidade,
desordem, caos. Graças ao poder evocativo e construtivo
desses termos, a cidade contemporânea parece para
muitos como um confuso amálgama de fragmentos
heterogêneos, no qual não é possível reconhecer nenhuma
regra de ordem, nenhum princípio de racionalidade que
a faça inteligível. No entanto, como Henry Miller disse
uma vez, confusão é uma palavra inventada para indicar
uma ordem que não se compreende.
Bernardo Secchi

33
Segundo Moisés (1997, p. Na reflexão sobre a noção de patrimônio cultural, e mais
119), essa expressão latina especificamente sobre a noção de patrimônio industrial, torna-se
designava, no teatro grego, a
técnica artifical de precipitar o necessário questionar as ideias e ideais contemporâneos de urbanidade
desenlaçe das tragédias com o e cultura e a pertinência do projeto de patrimonialização – conservar
aparecimento súbito de uma 89
divindade em cena, por meio sítios, preservar sua autenticidade para as gerações futuras – diante de
de um mecanismo que a fazia um objeto que se transforma constantemente, e cujos valores culturais
descer do teto, a elevava do
solo ou lhe permitia executar mudam de acordo com as épocas.
movimentos no ar, como se
voasse. Aristóteles, em seu Nosso ponto de partida é evidenciar que a intensidade do
tratado Poética, censurou processo de urbanização produzido pela era da máquina transportou
expressamente autores que para as cidades, na proporção direta da sua dimensão e aceleração, a
recorriam com frequência ao
Deus ex machina no desenlace aglomeração de vantagens e oportunidades, mas também os principais
de suas tramas, advertindo problemas de polarização - exclusão social, dano ambiental, o aparente
que “[...] ao Deus ex machina,
não se deve recorrer senão caos citado por Bernard Secchi -, criando uma paisagem singular, repleta
em acontecimentos que se de novos signos a partir da fábrica, a que, como um Deus ex machina33,
dão fora do drama, ou nos
do passado, anteriores aos era dado o poder de resolver o conflito em cena, pelo seu domínio ou
que se desenrolam em cena, seu discurso de persuasão.
ou nos que ao homem é
vedado conhecer, ou nos No Brasil, aqueles que vivenciaram a cidade de São Paulo em sua
futuros que necessitam ser
preditos ou pronunciados, pois fase de concentração industrial - que estruturou a região metropolitana,
que aos deuses atribuímos tornando-a o polo econômico do país, com suas chaminés, a poluição,
nós o poder de tudo verem” a velocidade expressa na imagem da “São Paulo que não pode parar” -
(ARISTÓTELES apud MOISÉS,
1997, p.119). O conceito de dificilmente conseguem dissociar essa construção imagética dos novos
Deus ex machina degenerou- conteúdos e formas que brotam na metrópole financeira em sua fase
se nas tragédias e comédias
clássicas, transformando-se, atual: o conteúdo muda, mas a forma se transmite de maneira quase
na Renascença, em linguagem imutável.
alegórica ou simples ornato,
vazio de conteúdo. O sentido O lugar industrial, hoje, remete, ou contém elementos que
que buscamos empregar aqui é
o emprestado pela visão grega remetem, a algo externo a ele: valores, ideais, imaginários. A imagem
do mundo, da divindade a urbana, construída na fase de crescimento das cidades em razão da
quem é dado o poder de tudo
resolver. industrialização, no final do século XVIII e início do XIX, ainda permanece

Capítulo 6 - em busca de uma nova imagem urbana


em sua estrutura, na forma das ruas, nas instituições e no próprio
conceito de cidade: a cidade moderna.
Em meio à decomposição de determinados setores da
cidade, antes ocupados por estruturas industriais, alguns lugares ficam
identificados com marcas. Essas marcas estabelecem uma especificidade
espacial ou até mesmo imaterial, por meio de narrativas, lendas, histórias,
mitos, imagens, pinturas, filmes que retratam tal lugar e formam um
imaginário multifacetado, que nem todos compartilham do mesmo
modo e do qual selecionamos fragmentos de relatos, combinando-os
em nosso grupo, ou individualmente, para elaborarmos uma visão que
nos deixe um pouco mais tranquilos e estabilize nossas experiências
urbanas em constante transição (CANCLINI, 2005, p. 93).
O lugar deixado pela indústria apresenta noções de conjunto
e qualidades, tais como complexidade, dominância, diferença, que
remetem às qualidades de distinção e, por sua vez, à pregnância34, não
só espacial, mas também relacionada à dimensão imaterial, que, neste
período de construção da cidade contemporânea, ainda veicula uma
visão urbana muito forte, como vimos em Canclini (2005) no parágrafo
anterior.
Para podermos compreender melhor o lugar do patrimônio
90 legado pela indústria na cidade atual precisamos recuar até o momento
em que esses espaços perderam a sua importância na dinâmica
urbana em função das transformações dos meios de produção e de
distribuição de mercadorias, que conduziram ao deslocamento das
funções produtivas para outras áreas, promovendo o abandono de
grandes setores do tecido urbano consolidado. Ao mesmo tempo, o 34
Uma figura pregnante é
esvaziamento funcional gerou áreas disponíveis, cheias de expectativas aquela que exprime uma
característica qualquer, forte o
e de forte memória urbana. suficiente para se destacar, se
impor e ser de fácil evocação.
Portanto, na análise histórica do desenvolvimento urbano,
podemos observar que o processo de crescimento das cidades foi
sempre limitado por restrições internas, como a rede de transportes e o
limite legal de expansão vertical, o que resultou no preenchimento dos
espaços vazios e em uma estrutura bastante adensada, onde habitações,
fábricas, lojas e oficinas multiplicavam-se em áreas mais centrais, levando
a um incrível aumento no preço da terra.
A competição para aquisição dos limitados e caros terrenos
centrais levou a indústria e suas atividades correlatas a se transferir dessas
áreas. Isso foi resultado também do crescente volume de produção e
da transformação tecnológica, que impuseram a necessidade de áreas
maiores, encontradas somente na periferia, ou ainda em outras cidades,
como aponta Blumenfeld (1977, p. 63):
Três fatores técnicos estão contribuindo para isso: a
crescente mecanização e automatização da produção
que exige maior área por trabalhador; a preferência por
fábricas com um ao invés de diversos pavimentos; a nova
prática de grandes espaços ao redor da fábrica, tanto

O Lugar do Patrimônio Industrial


para posterior expansão como para estacionamento
e jardins. O efeito combinado desses três fatores
aumentou, cerca de 100 vezes, a metragem quadrada
per capita nas fábricas modernas.

É justamente nesses locais que os fragmentos industriais são


mais vulneráveis, pois o mercado imobiliário é impulsionado pela
necessidade de liberação de áreas para novas incorporações.
Além disso, as atividades industriais, envolvidas no processo
de globalização econômica, passam por um processo simultâneo de
fragmentação, com a especialização cada vez maior dos vários segmentos
da produção, além de um processo de coesão funcional, no qual se faz
necessária a articulação desses segmentos. Essa tendência reforçou o
curso de dispersão industrial e fixou emprego e urbanização fora dos
aglomerados tradicionais.
Quando usos de alta intensidade, como no caso das indústrias,
transferem-se da área central, suas antigas instalações ou são demolidas,
ou permanecem sem uso por um longo período como estoque de
terra bem localizada, sujeita à especulação imobiliária, ou ainda são
reabilitadas para novos usos. Em meados do século XX, quando esse
processo de periferização intensificou-se principalmente nos EUA
e na Europa, e, posteriormente, no Brasil, a política de regeneração
urbana era mais predadora que a atual, como podemos constatar pela 91
abordagem de Lynch (1977, p. 211):
O que está acontecendo sugere um duplo programa:
conservar e reformar antigos centros (ou ajudá-los a
morrer graciosamente se for o caso) e encorajar nas
áreas periféricas novos centros com uma faixa ampla de
atividades. [...] Seria adotada a política de preservação
de símbolos históricos, limitando as mudanças de lugar,
sem contudo congelar os padrões de uso dentro ou
entre os centros. Não precisamos ser atados à estrutura
do passado. As transformações dos usos deveriam ser
encorajadas, as superfícies deveriam ser marcadas pelos
traços do passado e sinais premonitórios.

Lencioni (1998) avalia que, no caso de São Paulo, o processo


de dispersão da indústria no interior do estado “[...] reestruturou a
aglomeração metropolitana homogeneizando espaços, mas também
criou diferenças” (p. 208). Aflora em sua argumentação que a capital e
seu entorno se veem, de certa forma, homogeneizados pela expansão
da atividade econômica, mas, ao mesmo tempo, a capital distingue-se
de seu entorno em função da especialização das atividades terciárias.
Essa característica é evidenciada quando as atividades terciárias
ocupam os antigos lugares industriais, como é o caso dos bairros
outrora industriais da zona oeste paulistana: Água Branca, Barra Funda,
Lapa, como aponta o relatório do DPH:
[...] entre as décadas de 1950 e 1969, a abertura das
avenidas marginais dos rios Pinheiros e Tietê, somado
à abertura de novas estradas de rodagem, contribuiu
para a intensificação da função comercial do bairro da

Capítulo 6 - em busca de uma nova imagem urbana


Lapa, do mesmo modo que a ferrovia tivera participação
ativa na implantação de indústrias desde o final do século
XIX. [...] Com o processo de saída das indústrias da
capital paulista, o mercado imobiliário direcionou seus
interesses ao uso das antigas áreas industriais. [...] Nos
últimos anos, as instalações da antiga fábrica de Louças
Santa Catarina, sucedida pela de Biscoitos Petybon e
parte das instalações da Editora Melhoramentos, ambas
na Vila Romana, deram lugar a condomínios residenciais
de alto padrão. Bairros como Água Branca, Lapa e Barra
Funda têm atraído, desde os anos 1990, incorporadoras
estimuladas pela Operação Urbana Água Branca e pela
presença de rede de trens urbanos e metrô. Também
a área de Vila Leopoldina e imediações conheceu um
boom imobiliário, estimulado pela Operação Urbana
Faria Lima. Investidores estudam o mercado imobiliário e
definem estratégias de atuação, com vistas à otimização
dos lucros em seus empreendimentos. Desse modo,
têm visto nas antigas indústrias da zona Oeste da cidade
uma atraente promessa de retorno relativamente 35
Trecho do artigo do Mover
rápido do investimento realizado. Trata-se de uma (Movimento de oposição à
perspectiva mercantil que elide a história e o passado, verticalização) a respeito do
pois enxerga nessas edificações apenas imóveis velhos “Tombamento do Patrimônio
e abandonados. Os bens relacionados (quando da Histórico da Lapa e a ética
abertura do processo de tombamento em 2004) são com o futuro da cidade e de
expressão das características mais marcantes da Lapa seus moradores”. Nesse artigo,
e arredores: estações e galpões ferroviários, indústrias os autores Sidney Scarazzati
que se beneficiavam da proximidade do rio para terem de Oliveira e Ros Mari Zenha
acesso à água, argila e areia, necessárias à fabricação de relatam que conseguiram “[...]
cerâmica e vidro, além da vizinhança da estrada de ferro, obter, com muita dificuldade e
que facilitava o escoamento da produção; instituições por meio da Câmara Municipal,
92 assistenciais, culturais, educacionais e religiosas, criadas os estudos do Departamento
por operários ou voltadas ao atendimento dessa do Patrimônio Histórico
população; o casario simples; entrepostos de alimentos; (DPH), da Secretaria Municipal
local de passagem ou ponto de encontro de caminhos. de Cultura, que subsidiaram
Patrimônio de características diversas, herdado de um as decisões tomadas pelo
tempo passado, que impõe desafios à sua preservação Conselho Municipal de
(OLIVEIRA; ZENHA).35 Preservação do Patrimônio
Histórico, Cultural e Ambiental
A questão que se coloca é quais estratégias para preservar a da Cidade de São Paulo
(CONPRESP), que, em nenhum
arquitetura e os territórios históricos estão entrelaçadas com estratégias momento, disponibilizou estes
de inovação. Nesse sentido, Zukin (2000) chama a atenção para o fato estudos para a sociedade e
sequer se dignou a apresentar e
de o processo de reestruturação urbana criar uma tensão estrutural com ela debater os resultados
que altera e dilui o sentido da paisagem 36: de seu parecer”. Disponível em:
<http://moverlapa.blogspot.
A mudança em larga escala do final do século XX, com/2010_01_01_archive .
conhecida como ‘desindustrialização’ ou como a criação html>. Acesso em: 6 set. 2010.
de uma economia de serviços e ‘informação’, exige
que cada paisagem seja reestruturada para refletir sua
36
Sharon Zukin (2000, p.106)
inserção na nova economia mundial. A cada negociação toma o conceito de paisagem
em torno dessa inserção, modifica-se o equilíbrio de emprestado dos geógrafos
poder entre as instituições locais; algumas delas perdem e historiadores da arte para
o controle sobre a paisagem local. Tanto na paisagem expressar “[...] a ‘coerência
simbólica quanto na material, os produtos concretos, estruturada’ entre as forças
tangíveis são substituídos por produtos abstratos do invisíveis e as formas visíveis
mercado financeiro, da moda e do entretenimento: das cidades”. A paisagem é,
informação, diversão, liquidação. Dessa forma, enquanto assim, “[...] em grande parte,
as indústrias da cultura e do consumo dão cada vez mais uma construção material, mas
as cartas no centro da reestruturação urbana, as velhas também é uma representação
indústrias de manufatura mudam-se, entram em declínio simbólica das relações sociais
ou desaparecem (ZUKIN, 2000, p. 108). e espaciais”. A autora afirma
ainda que o que observamos
como paisagem - aquilo que
Do ponto de vista de organização territorial do tecido urbano é construído, escondido e que
atual, o que ocorre é a justaposição de áreas novas a elementos de resiste - é uma paisagem do
poder.

O Lugar do Patrimônio Industrial


exceção, como as áreas industriais sem atividades, que se destacam pela
sua singularidade e escala em relação à tipologia construída do entorno
ou pela identidade que ganharam no imaginário coletivo (como as
chaminés e a forma dos telhados em shed das fábricas, ou as gruas dos
portos), mantendo ou reforçando essa identidade para além de sua
função inicial.
Nesse sentido, Pesavento (2007, p. 7) refere-se à arquitetura
como uma “[...] espécie de ‘memória do mundo’ ”, de certa forma
monumental na medida em que preserva no tempo aquilo que foi um
dia – portanto, aquilo que faz a história - e o que continua sendo - ou
seja, é memória de si mesma, como edificação que dura no tempo.
A arquitetura constitui o espaço físico da cidade, e é necessário
entendê-la em seu desenvolvimento histórico, no qual interagem, no
decorrer do tempo, diversos autores. É preciso considerar ainda que
ela adquire atributos sociais e culturais diversificados conforme os
diferentes períodos.
Cabe observar que, ao contrário do auge da industrialização, no
qual a metáfora urbana era basicamente única, associada à máquina e
à mecanização, a metáfora urbana atual é multifacetada. Vários autores
contribuíram para a leitura e o entendimento da realidade urbana
contemporânea: Frederic Jameson e Edward Soja preocupam-se 93
com o predomínio do espaço sobre o tempo; Phil Cooke vincula a
reorganização urbana e regional à reestruturação econômica e global
37
A perspectiva defendida por associada ao pós-fordismo; David Harvey enfatiza a apropriação cultural
François Ascher é considerar como estratégia de fortalecimento do valor econômico. Criaram
a cidade como complexa e
não só como complicada. também múltiplos adjetivos para designar e caracterizar a nova entidade
Assim, ela funciona tendo na urbana emergente: cidade difusa (F. Indovina), cidade genérica (Rem
base lógicas e racionalidades
múltiplas, eventualmente Koolhaas), cidade global (Saskia Sassen), metapolis37 (François Asher),
contraditórias, as quais indicam: e-topia e cidade de bits (William Mitchell), cidade em rede (Dematteis),
que ela forma um sistema Zwischenstadt38 (Thomas Sieverts), entre outros.
aberto; que os seus equilíbrios
são instáveis; que variações Se a sociedade fordista caracterizou-se por processos lineares,
ligeiras podem engendrar
mudanças consideráveis; que estandardização da produção e do conhecimento e imprimiu uma
as evoluções são geralmente estética urbana singular, a sociedade pós-fordista reconhece a
irreversíveis. É traço comum
de toda a estrutura social o heterogeneidade, a sobreposições de ideais e a multiplicidade de
constante movimento dos discursos culturais e trabalha com essa pluralidade para compor a
seus elementos, ocasionando
processos de recomposição imagem da cidade contemporânea.
incessantes, e, nessa medida, a
estrutura urbana não escapa Nessa nova construção da imagem da cidade, Anderson (1999)
a esse movimento de devir sublinha a força das “imagens de máquinas” (metáforas para as indústrias,
constante.
a urbanização), características do Modernismo, em contrapartida às
38
Sieverts denomina a nova “máquinas de imagens” (metáfora para a televisão, o computador, a
forma de cidade, ou a paisagem
urbanizada, de “Zwischenstadt” Internet, os shopping centers) do Pós-modernismo e cita Jameson para
(entre cidade), que sintetiza a descrever o impacto dessa mudança:
discrepância existente entre a
realidade urbana emergente e [...] essas novas máquinas podem se distinguir dos velhos
as ideologias que prevalecem ícones futuristas de duas formas interligadas: todas são
a respeito do que a cidade fontes de reprodução e não de ‘produção’ e já não
europeia deveria ser. são sólidos esculturais no espaço. O gabinete de um
Capítulo 6 - em busca de uma nova imagem urbana
computador dificilmente incorpora ou manifesta suas 39
JAMESON, Fredric. Signatures
energias específicas da mesma maneira que a forma of the Visible. New York:
de uma asa ou de uma chaminé (JAMESON39 apud Routledge, Chapman & Hall,
ANDERSON, 1999, p. 105). 1992, p. 61.

Jameson (1996) acredita que a transformação do espaço


construído operada na pós-modernidade ainda não é assimilada
subjetivamente, pois houve uma mutação no objeto que não foi, até
agora, seguida de uma mutação equivalente no sujeito. Afirma ainda
que nossos hábitos perceptivos foram formados em uma lógica cultural
anterior, o Alto-modernismo, e não desenvolvemos ainda equipamento
perceptivo necessário para darmos conta dessa nova ordem ou desse
novo hiperespaço (JAMESON, 1996, p. 64)
Na lógica pós-moderna, conforme Jameson (1996), a
transformação do espaço e o surgimento do hiperespaço, composto de
uma enorme rede global e multinacional de comunicação, resultaram
na perda da capacidade do sujeito de se localizar corporalmente e
organizar, por meio da percepção, o espaço que o circunda.
Essa dificuldade é interpretada também por intermédio da
valorização dos objetos do passado, como sublinha Jeudy (2005, p. 20):
O sentido mais corrente atribuído à conservação
patrimonial é o da manutenção da ordem simbólica das
94 sociedades modernas. A dinâmica de seu objetivo político
e social vem de uma resistência que se manifesta pela
consagração cultural dos vestígios da História contra os
riscos da desestruturação. O processo de reflexividade,
que incita toda estratégia patrimonial, consiste em
promover a visibilidade pública dos objetos, dos locais,
dos relatos fundadores da estrutura simbólica de uma
sociedade.

Poderá ser esse o sentido que a valorização das edificações


industriais opera na construção da cidade contemporânea?
Se olharmos mais a fundo para o processo de valorização de
antigas áreas urbanas industriais desativadas ou subutilizadas e para a
significativa representatividade que os projetos para a sua reabilitação
assumem no panorama das políticas de desenvolvimento urbano em
muitos países e nas mais variadas escalas, como o 22@ em Barcelona
e o IBA Emscher Park na região do Ruhr, poderíamos confirmar a tese
apresentada por Jeudy (2005).
De acordo com Ghirardo (2002), à medida que a indústria
pesada foge das áreas urbanas para locais menos caros, a administração
urbana encoraja investidores privados ou a eles se alia para transformar
prédios vazios em fontes de renda privada e pública. A autora afirma
ainda que essas iniciativas, como parte de um processo mais amplo
de revitalização, consistem basicamente na retirada do local de famílias
pobres ou operárias das zonas de armazéns, indústrias ou áreas
decadentes e na ocupação por profissionais urbanos em ascensão social.
A autora cita o caso da fábrica da Fiat Lingotto, em Turim, edifício

O Lugar do Patrimônio Industrial


imponente de 250 mil metros quadrados em concreto armado, marco
da arquitetura moderna, projetado, em 1919, por Matté Trucco, que, por
seu mérito arquitetônico e histórico, levou a municipalidade a conservá-
lo em vez de demoli-lo “[..] em favor de arranha-céus de concreto pré-
moldado de terceira categoria” (GHIRARDO, 2002, p. 204). Embora a
iniciativa seja a princípio louvável, ela comenta que
Mudar a função de uma fábrica de produção industrial
para um monstro amplamente dedicado ao consumo de
elite cria problemas proporcionalmente mastodônticos
para a cidade. De início, quando foi construída, a
Lingotto elevava-se em cinzento esplendor solitário
na periferia urbana, mas terminou sendo engolida pela
expansão da cidade nas décadas subseqüentes. Como
aconteceu na maioria das cidades italianas [não só nelas],
a administração turinense não conseguiu prever esse
crescimento e, assim, ignorou a crescente inadequação
da infra-estrutura, das estradas, do transporte público,
do estacionamento e de outras necessidades. Como
empresa multinacional de dimensões gigantescas, a
Fiat beneficiou-se substancialmente de vários tipos
de subvenção governamental e de leis favoráveis que
lhe concederam vantagens sobre os competidores
estrangeiros. Mas a direção empresarial da Fiat assumiu
a posição de que a cidade de Turim deveria cobrir um
terço das despesas da transformação de Lingotto. Além
disso, esperava-se que o governo italiano gastasse somas
ainda maiores (embora até então indeterminadas)
para revolucionar sistemas de transporte totalmente 95
inadequados no distrito circundante, podendo assim
acomodar as multidões previstas pelas várias atividades e
eventos agendados para Lingotto (pp. 204-205).

Depreende-se desse relato de Ghirardo (2002) que a relação


indústria-cidade sempre foi embasada em critérios objetivos de
vantagens mútuas; a cidade se beneficiava dos empregos, dos impostos
e da imagem de progresso e modernidade que a indústria trazia consigo
e, em contrapartida, ficava com o ônus de sua implantação, desde as
subvenções e infraestruturas iniciais até, como no caso da Fiat Lingotto,
os aportes para a readequação.

▼Fig. 56. Fiat Lingotto, Turim, Itália;


saída dos operários, 1931. Disponível
em: <http://www.immaginidistoria.it>.
Acesso em: 27 set. 2010.
►Fig. 57 - Fiat Lingotto, Turim, Itália;
vista aérea do conjunto em 1928.
Disponível em: <http://it.wikipedia.
org>. Acesso em: 27 set. 2010.

 
 
Capítulo 6 - em busca de uma nova imagem urbana
   
Porém como fica, nessa relação, a classe trabalhadora? ◄Fig. 58. Fábrica Fiat Lingotto, estado
antes da reconversão. Fonte: Revista
A autora coloca claramente que a colaboração da empresa e do Domus, n.676, set.86, p. 201.

governo sempre foi a favor dos grupos mais ricos, e que nem a cidade ▲Fig. 59. A antiga fábrica Fiat Lingotto
readequada. Disponível em: <http://
nem a Fiat haviam pensado, mesmo que remotamente, em introduzir upload.wikimedia.or g/wikipedia/
commons/f/f1/Lingotto.JPG>. Acesso
melhorias para a população fabril, forçada a chegar à fábrica do jeito que em: 27 set. 2010.
fosse possível.
Esse modelo foi repetido em várias cidades mundo afora, e,
não obstante as questões econômicas e as estratégias de valorização
envolvidas no processo de reabilitação de antigas áreas industriais
desocupadas, de grandes dimensões e visivelmente degradadas, no intuito
de transformá-las em centros comerciais cenográficos e esteticamente
agradáveis, algumas questões têm sido deixadas para trás. Em primeiro
96 lugar, é necessário apontar que parte desses edifícios e sítios industriais ▼Fig. 60. (a) Lingotto Bolla e Heliporto;
(b) Acesso ao setor de exposição,
deve ser considerada patrimônio cultural, em função dos processos shopping, universidade e hotel; (c)
produtivos e dos valores estéticos da produção industrial que merecem P{inacoteca Agnelli. Disponível em:
<http://flic.kr/p/3RF3eQ>. Acesso em:
ser registrados e fazer parte da memória daquele espaço; e, em segundo 27 set. 2010.

lugar, deve-se considerar que o processo de sua conservação e posterior ▼▼Fig. 61. Lingotto Fiere. À direita,
o escritório central da Fiat. Disponível
reabilitação implica reconhecer o papel da comunidade que deu vida e em: <http://en.wikipedia.org/wiki/
File:Lingotto-2.jpg>. Acesso em: 27 set.
operacionalizou tal espaço. 2010.

     

 
O Lugar do Patrimônio Industrial
O que podemos concluir com esse exemplo é que, nos projetos
de reabilitação de áreas industriais e, de modo geral, na composição
dessa nova cidade contemporânea, não tem restado muito além de
uma vaga referência à sua função anterior, com a conservação de um ou
outro edifício, ou até mesmo somente de elementos simbólicos, como
a casa das caldeiras e a chaminé das Indústrias Matarazzo, na Avenida
Água Branca, mantidos em nome da memória coletiva.
Pois é justamente nesse ambiente especulativo que o fim da
Modernidade, como também o foi para a cidade antiga, transforma-
se em um território de obsolescência e desativação, transformação e
reutilização.
Secchi (2006, p. 91) afirma que essa sucessão de mescla,
diversificação e obsolescência na cidade destrói valores posicionais e
continuamente propõe novos problemas culturais, quer digam respeito
aos graus de tolerância, compatibilidade e incompatibilidade em relação
ao outro, a suas práticas, a seus usos e atividades, aos ruídos e aos
odores, quer refiram-se às temporalidades sobrepostas e entrecruzadas.
O resultado dessa transformação espacial é a mescla de
linguagens arquitetônicas, culturas, figuras sociais, materiais urbanos e
formas espaciais pertencentes a diversos períodos históricos, mescla que
constitui a cidade contemporânea e que, para Secchi (2006), forma uma 97
estrutura que nega o tempo linear, no qual é evidente o anacronismo, a
“[...] violência do curso do tempo, de sua sucessão cronológica” (p. 90).
Nesse contexto, a cidade contemporânea configura-se cada vez
mais como uma estrutura composta de cidades reconhecíveis pela sua
história na sucessão de explosões dos limites herdados desde o período
industrial até o mais recente.
Essa estrutura é considerada por autores como Ascher (2004)
como a base de uma terceira revolução40, ou terceira modernização.
Nela, assim como nas anteriores, operam-se mudanças profundas na
forma de pensar, produzir e gerir os territórios e as cidades.
A terceira modernização refere-se, assim, à sobrecarga das ordens
antropológicas do humano pela intensificação dos regimes de tempo
e espaço na contemporaneidade, traduzido por Augé (2004) como
sobremodernidade. Para o autor, a sobremodernidade é caracterizada
pela perda do lugar antropológico por meio de três figuras de excesso:
o excesso de signos na superabundância de acontecimentos, o excesso
de espaço na aceleração do tempo e o excesso de individualismo na
individualização das referências (AUGÉ, 2004, p. 48).
Segundo Augé (2004, p. 24), um lugar pode definir-se como local
de identidade, espaço relacional e histórico; um espaço que não se pode
40
No entendimento de Ascher
(2004), a primeira revolução definir como espaço de identidade, nem como relacional nem como
é aquela que se opera no histórico, definirá um “não lugar”. Essa análise focaliza-se na concepção
Renascimento, e a segunda é a
Revolução Industrial. de que uma cidade não pode ser considerada unicamente como um

Capítulo 6 - em busca de uma nova imagem urbana


conjunto funcional, capaz de gerir e ordenar a sua própria expansão, 41
Para Jeudy (2003, p.75), a
reflexividade é um modo
mas tem de ser assumida como uma estrutura simbólica, portadora de determinante da preservação
um conjunto de sinais e de referentes que permitam o estabelecimento da ordem simbólica de uma
de relações entre a sociedade e o espaço. sociedade; “A reflexividade
patrimonial se desenvolve
Na atual condição social, cultural e econômica de a partir de um certo
exibicionismo cultural. Tudo
hipertextualidade e reflexividade, faz-se presente a necessidade de uma está à mostra, tudo fica visível,
nova síntese que opere o restabelecimento de valores na construção até mesmo supervisível, mais
particularmente nas cidades.
de novos modelos de desenvolvimento, totalmente diferentes da lógica Trata-se, aqui, de impor ao
da produção industrial. olhar uma visão definida de
territórios e e lugares, uma
Nesse sentido, podemos indagar sobre o que fazer com os visão que não é mais conduzida
pela invisibilidade das coisas,
marcos arquiteturais do período. A fábrica, como elemento referencial por seu enigma. O ato de se
de análise da forma de se pensar e entender o espaço, elemento que colocar em exposição é um
princípio de integração e de
simboliza a memória do lugar, memória esta que narra a história da reprodução da cultura. É o
população local, descreve a importância do edifício e seu significado? contrário de uma aventura, pois
o enquadramento do sentido
Diante dessa indagação, deparamo-nos com a interpretação está definido antes do ato
de autores como Jeudy (2005) sobre o fervor contemporâneo pelo mesmo de expor”. Disponível
em: <http://www.portalseer.
culto do passado como um meio de conjurar a ameaça que pesa ufba.br/index.php/rua/ar ticle/
permanentemente sobre o homem moderno: a possibilidade de perder view/3234/2352>. Acesso em:
10 ago. 2010.
o sentido de sua própria continuidade. “A conservação se torna uma 42
Annales foi uma revista criada
‘questão urgente’ e sua aceleração tende a fazer do próprio presente na França, em 1929, por Lucien
98 um patrimônio potencial prioritariamente percebido na perspectiva de Febvre e Mark Bloch. Sua
metodologia, que futuramente
sua perda” (JEUDY, 2005, p. 22). se estabeleceu como novo
paradigma, consistia em
O autor vai mais além; ele acredita que a conservação como abrir caminho para uma
valor contemporâneo pauta-se em uma necessidade da sociedade atual interdisciplinaridade entre a
de poder identificar nos objetos o reflexo de sua história e de seus história e as Ciências Sociais,
aos poucos estendendo essa
valores: conexão com outras disciplinas,
como a Geografia,Antropologia
As estratégias de conservação caracterizam-se por e a Psicologia. A segunda
um processo de reflexividade41 que lhes dá sentido e geração, que tem como figura
finalidade. A significação contemporânea do conceito dominante Ferdinand Braudel,
de patrimônio cultural vem de uma reduplicação corresponde ao período em
museográfica do mundo. Para que exista patrimônio que aparecem mais bem
reconhecível, é preciso que ele possa ser gerado, que definidos e articulados os
uma sociedade se veja no espelho de si mesma, que novos métodos propostos e
considere seus locais, seus objetos, seus monumentos as categorias que lhes servem
reflexos inteligíveis de sua história, de sua cultura. É de sustentação: história serial,
preciso que uma sociedade opere uma reduplicação longa duração e principalmente
espetacular que lhe permita fazer de seus objetos e de estrutura e conjuntura. A
seus territórios um meio permanente de especulação terceira geração compreende
sobre o futuro (JEUDY, 2005, p. 19). historiadores contemporâneos
bastante conhecidos, Duby,
Com base nessas visões de contemporaneidade, é possível Le Goff e Le Roy Ladurie,
pensar sobre a cidade como um espaço em processo, caracterizado por que abandonam a rigidez dos
primeiros tempos e adotam
estratos históricos que formam o que Casco (2007, p. 160) denominou posturas mais abertas em
de “espessura da membrana do tempo”. A autora usa esse conceito em relação às outras correntes
historiográficas (BURKE, 2003,
referência à Lapa carioca, cuja “[...] espessura da membrana do tempo passim).
[...]” pode ser tocada “[...] com os olhos ou com as pontas dos dedos
[...]”, para indagar como se constrói um lugar de memória dentro de
uma cidade. Nessa busca, ela cita como os historiadores dos Annalles42
trataram esse tema de forma exemplar ao abordar a questão dos

O Lugar do Patrimônio Industrial


espaços culturalmente moldados pelo homem, fortemente marcados
pela presença de objetos urbanos que, por seu caráter histórico, são
monumentalizados e reificados em favor de uma memória coletiva da
nação.
Nessa perspectiva, a noção de lugar de memória está relacionada
de maneira estreita com a ideia de preservação de uma história inscrita
nos “arquivos de pedra” de uma cidade, como indica Le Goff (1990, p.
432):
A pedra e o mármore serviam na maioria das vezes de
suporte a uma sobrecarga de memória. Os “arquivos de
pedra” acrescentavam à função de arquivos propriamente
ditos um caráter de publicidade insistente, apostando na
ostentação e na durabilidade dessa memória lapidar e
marmórea.

Le Goff (1990) refere-se aí ao legado deixado pelos povos antigos,


que obrigava o mundo greco-romano a um esforço extraordinário de
comemoração e de perpetuação da lembrança.
O tratamento dado a essas “espessuras” na construção
patrimonial da memória dos lugares, com a preservação de seus estratos
mais recentes - o legado da industrialização -, tem sido abordado de
uma forma diversa da transmissão tradicional, como coloca Jeudy (2005,
p. 26): 99
O amor coletivo ao patrimônio, nos anos 1980,
foi despertado pelo desmoronamento dos modos
de produção industrial [...] a crise provocada pela
transformação dos modos de produção era tratada
dentro de uma perspectiva de proteção e preservação
dos vestígios e da parte ainda viva de toda história social
de uma região. Era preciso que os signos monumentais
representativos das memórias coletivas persistissem,
assegurando a visão comunitária de uma transfiguração
possível para o futuro, sem produzir o mínimo repúdio
ao que havia sido. O que estava em jogo não era a
transmissão patrimonial tradicional, mas uma ‘transmissão
em ato’, da qual o conjunto da comunidade deveria
participar. Ao invés de ser imposta como uma escritura
da história da qual as pessoas estavam excluídas, uma
escritura feita sem elas, da qual contudo ainda eram
as testemunhas vivas, essa construção da transmissão
tornara-se, na época, uma questão de todos. E foi a
partir da constituição do patrimônio industrial que
uma propensão pela defesa dos “novos” patrimônios
propagou-se.

Dada essa disposição de mudança na transmissão patrimonial,


evidenciada por Jeudy (2005) a respeito dos novos patrimônios, nos
quais o patrimônio industrial está inserido, perguntamo-nos o que pode
ser mudado também nas estratégias de sua conservação ou reabilitação.
Concluímos que cada sociedade define seus próprios valores com base
na reverência e respeito que atribui às especificidades de suas culturas.
Assim, a cidade herdada do período industrial incorpora ou manifesta
ainda a sua energia em número significativo de elementos construídos;
estratificações visíveis que devem ser consideradas como um patrimônio

Capítulo 6 - em busca de uma nova imagem urbana


a conservar ou revitalizar nos seus diferentes componentes – social e 43
Quatremère de Quincy, na
cultural, mas também infraestrutural e econômico -, ainda que subsistam definição do verbete Ruína,
associa a palavra quase sempre
divergências sobre os sentidos e usos da sua renovação. a monumentos antigos: “[...]
aconteça o que acontecer com
O risco significativo introduzido pelos processos de as ruínas modernas, e isso por
transformação de áreas industriais dilapidadas, com a instalação de novas mais de uma causa, é certo,
no entanto, que essas ruínas
infraestruturas, densificações e alterações do perfil das edificações, não têm e não podem ter
é a perda progressiva de sua singularidade. Quando a qualidade do para as artes, e em geral para
o espírito, o mesmo grau de
novo é consensualmente insignificante - como se manifestou Ghirardo mérito e interesse. Milhares de
(2002) a respeito da possível demolição da obra de Matté Trucco para idéias, milhares de lembranças,
milhares de sentimentos ligam-
a Fábrica da Fiat Lingotto em favor de arranha-céus pré-moldados de se às ruínas dos monumentos
terceira categoria -, a cidade nada ganha com as alterações e dilui-se a antigos que não poderiam ser
identidade que tinha. produzidos por aquelas de
uma data recente. É por isso
Por esse motivo, muitas vezes não conseguimos imaginar que as ruínas, à medida que
envelhecem, parecem adquirir
qualquer forma possível de transformação em algumas instalações mais direitos pelo nosso
industriais abandonadas. Seu estado de obsolescência e ruína43 oferece respeito e, por conseqüência,
pela sua conservação”
a imagem perfeita da representação da cidade atual, a transitoriedade. (QUATREMÈRE DE QUINCY
apud KÜHL, 2003, p. 113).
Qualquer sentimento de estabilidade cede sob a representação
da ruína. Nela, o significado da cidade não surge como um monumento à
eternidade, mas como aprofundamento da transitoriedade e da sujeição
ao perecimento. A imagem da ruína imobiliza o tempo alegoricamente,
100 como salienta Fortuna:
▼Fig. 62.. Ruinas de Detroit. Foto de
Yves Marchand e Romain Meffre.
Disponível em: <http://thompson.
typepad.com/.a/6a00e54fc557a2883
3011570aa213e970b-pi>. Acesso em
28 fev. 2010.

O Lugar do Patrimônio Industrial


44
FORTUNA, Carlos. As A ruína é, em si, um modo de conhecer o passado. A
cidades e as identidades – percepção das relíquias, aparentemente, é tornada mais
narrativas, patrimônios e simples pela clara diferença entre as ruínas e o mundo
memórias. Revista Brasileira de real, entre seus materiais e modos de representação
Ciências Sociais, n. 33, ano 12, tão diversos e tão ambicionados pelos atuais. As ruínas
fev. 1997. habitam simultaneamente dois tempos, o ocorrido e o
presente. As ruínas atendem às funções de antiguidade,
continuidade, finalismo e seqüência do passado, ou
seja, não somente colocam aquele que as admira
como herdeiro daquela criação como une aqueles dois
momentos, passado e presente, de forma indelével
(FORTUNA, 199744, p. 133 apud MENEGUELLO, 2000,
p. 93).

As ruínas podem estetizar essa cidade em transformação,


como na proposta da Exposição Arte/Cidade em sua terceira edição,
ocorrida em 1997. Com o título “A cidade e suas histórias”, a proposta
da exposição, segundo seu curador, Nelson Brissac Peixoto, relacionava-
se à questão de uma intervenção urbana que tratasse das escalas
astronômicas – e metropolitanas – de tempo e espaço e às reflexões
sobre a fragmentação do tecido urbano e a difícil apreensão dos espaços
contíguos.
Não por acaso os três locais definidos para acolher essa
exposição/instalação remetiam ao período fabril de São Paulo,
relacionando temporalidades diversas, fazendo novas leituras dos
circuitos de transporte e comunicação, desde um percurso expositivo 101
▼Fig. 63. Moinho Central/Fluminense. que começava na Estação da Luz, seguindo para o segundo local de
Em primeiro plano os cilos. Disponível
em: <http://www.saopauloantiga.com. intervenção, o Moinho Central. Esse prédio de seis andares, entre os
br/moinho-fluminense/#>. Acesso em
29 jul.2010.
bairros de Campos Elíseos, Barra Funda e Bom Retiro, foi inaugurado
►Fig. 64. Moinho Central/Fluminense.
em 1949 como propriedade do Moinho Fluminense da Santista S. A.
Disponível em: <http://www. e desativado na década de 1980, passando para o controle da Rede
saopauloantiga.com.br/categor y/sp-
abandonada/zonas/centro/>. Acesso Ferroviária Federal, e permanece atualmente abandonado.
em 29 jul.2010.

Capítulo 6 - em busca de uma nova imagem urbana


O trajeto cultural terminava quatro quilômetros depois do 45
Comentário de Nelson
Brissac Peixoto, curador do
Moinho Central, no que restou das Indústrias Reunidas Francisco projeto Arte/Cidade, sobre a
Matarazzo, no bairro da Água Branca. Esse complexo fabril, representante mostra fotográfica de Arnaldo
do primeiro grande impulso industrial de São Paulo ocorrido na década Pappalardo, que “[...] incrustada
nas paredes e no chão dos
de 1920, estava abandonado desde os anos 1970, quando foram corredores junto às chaminés,
destruídas quase todas as suas edificações para serem destinadas a parecem um sítio arqueológico.
Como se uma escavação
outros fins. Na época da realização do Arte/Cidade, o terreno estava fizesse aflorar o que ali estava
completamente abandonado, e a vegetação cobria toda a área. enterrado. Fragmentos de
objetos e corpos que emergem
As ruínas das Indústrias Matarazzo constituem um das ferragens, dos fornos”.
campo arqueológico em pleno centro da metrópole. Disponível em: <http://www4.
Soterrada pelos escombros e o mato, ali jaz uma parte pucsp.br/artecidade/site97_99/
importante da era industrial de São Paulo. Um futuro ac3/ar tist/arnaldo_papalardo.
tornado pretérito45. html>. Acesso em: 29 jul. 2010.

Depois do evento Arte/Cidade, a localização estratégica do


bairro, próximo à Marginal Tietê e bem servido pelo transporte, aliada
à sua imensa área desocupada, transformou a região em uma das
maiores promessas de expansão da cidade e não tardou em chamar ◄Fig. 65. Casa das Caldeiras. Projeto
Kinotrem, parte da exposição Arte/
a atenção dos especuladores imobiliários, que adquiriram os cem mil Cidade 1997. Circuito bidirecional
metros quadrados da antiga Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo de emissão e recepção de vídeo em
tempo real entre os bairros Bom
e transformaram o terreno em um megacomplexo empresarial, Retiro, Água Branca, Freguesia do Ó,
Barra Funda, Luz e Lapa Disponível
constituído por quatro torres de vinte andares. A Casa das Caldeiras, em: < http://bambozzi.files.wordpress.
com/2010/04/14_kino_aerialview.jpg>.
como parte desse empreendimento, tornou-se um local de eventos em Acesso em 28 jun. 2010.
102
1999, cujo marketing empresarial focalizava a recuperação do espaço ▼Fig. 66. Casa das Caldeiras. Fotos
de Pedro Kok. Disponível em:
histórico, aludindo à memória de um dos grandes pioneiros de São < h t t p : / / w w w. f l i c k r. c o m / p h o t o s /
Paulo, que sedimentou a capacidade industrial da cidade para capitalizar kuk/3725194456/>. Acesso em 29 jul.
2010.
o investimento empresarial. ▼▼Fig. 67. Casa das Caldeiras.
Foto de Pedro Kok. Disponível
Sobre as estratégias de inovação e a preservação, Sorkin (2003) em: < http://www.flickr.com/
ph o to s /ku k/3 7 2 7 6 0 5 4 0 5 /i n / s e t -
afirma que, para que elas tenham sucesso, precisam estar em simbiose 72157611302117534/>. Acesso em
produtiva. 29 jul. 2010.

O Lugar do Patrimônio Industrial


Se tratarmos a preservação como o antídoto ou a antítese
da inovação, nós não estaremos negando a nós mesmos
o benefício de novas idéias sobre sustentabilidade,
tecnologia, vida social e comunidade. Correremos
também o risco de que, perdendo a relevância para a
cidade viva, a própria preservação também perca sua
capacidade de inspiração e seu poder para abrigar nossas
mais preciosas memórias (SORKIN, 2003, p. 17).

Nossas argumentações pautaram-se nas transformações em


larga escala que ainda acompanham a adaptação do ambiente urbano
às suas necessidades contemporâneas. Nesse processo histórico e
social, corre-se o risco de um crescente distanciamento e alheamento
dos indivíduos em relação ao seu passado histórico, às suas raízes,
origens e especificidade culturais locais, o que poderá produzir sujeitos
descentrados, dificultando a busca de mecanismos e instrumentos de
identificação e vinculação locais no novo contexto global.
Cabe a cada um de nós, portanto, propor referências para as
nossas memórias: sejam quais forem os objetos de transmissão: chaminés,
silos, ruínas, ou outras formas simbólicas que foram construídas dentro
e pela história das cidades.

103

Capítulo 6 - em busca de uma nova imagem urbana


Parte 3
A Questão Patrimonial
106

▲Fig. 69. Gasômetro de Oberhausen, Vale do Ruhr, Alemanha. Este foi o maior depósito de gás da Europa. Foto: Karola Kohler. Disponível em: <http://
www.dlr.de/rd/Portaldata/1/Resources/portal_news/newsarchiv2007/gasometer_380.jpg>. Acesso em 22 mar. 2010.
◄Fig. 68. (página 105) Complexo industrial da Mina Zollverien em Essen,Vale do Ruhr, Alemanha. Disponível em: <http://cdn.fotocommunity.com/Essen/
Zollverein/Kokerei-Zollverein-Weltkulturerbe-a19672660.jpg >. Acesso em 19 fev. 2011.

o lugar do patrimônio industrial


7. Patrimônio contemporâneo: diversidade
complexa

Se, entretanto, um edifício não nasce um monumento,


prontamente pela sua natureza, mas somente mais tarde,
no curso de sua história, torna-se um, levanta-se então
rápido e urgente a pergunta, quem realmente, quando,
com que direito e baseados em quais critérios, determina
seu valor monumental.
Norbert Huse46

Com o questionamento a respeito da responsabilidade sobre a


monumentalização, exposto na epígrafe, Huse (1996) abre o capítulo de
seu livro dedicado ao valor monumental (Denkmalwert), analisando a
obra de dois grandes historiadores de Arte, Alois Riegl, austríaco, e Georg
Dehio, alemão. Na busca do que constitui, realmente, um monumento,
esses historiadores procuraram, na virada do século XX, não somente
justificar um novo princípio para a necessidade de proteção monumental,
mas também encontrar critérios para essa proteção, apropriados ao seu
tempo e à sua especificidade. 107

Essa necessidade de formular critérios e delimitar conceitos


apresenta-se de modo conciso nas preocupações de Alois Riegl.
Alois Riegl colocou em evidência, pela primeira vez, uma
diferença fundamental entre monumento (cuja criação é deliberada e
tem por fim fazer reviver, no presente, um passado engolido no tempo)
e monumento histórico (que não foi criado a princípio como tal, mas
mantém relação tanto com a memória viva quanto com a duração).
Riegl define o monumento histórico pelos valores de que foi investido
ao longo da história, organiza um inventário e define uma nomenclatura.
Sua análise está estruturada pela oposição entre duas categorias de
valor: valor de rememoração, ligado ao passado e no qual intervém
a memória e valores de antiguidade e histórico, aliado às marcas do
tempo, e valor de contemporaneidade, pertencente ao presente
(CHOAY, 2001, p. 168).
Dessa forma, os monumentos históricos, como artefatos
46
No original: “Wenn aber ein produzidos ou não com a intenção de se tornarem memoráveis,
Bauwerk nicht gleich von Natur
und Geburt aus Denkmal adquirem significação cultural por meio de seus valores históricos,
ist, sondern erst später, im simbólicos, cognitivos ou artísticos.
Laufe seiner Geschichte, zum
Denkmal wird, dann stellt Georg Dehio é considerado o fundador da abordagem moderna
sich schnell und drängend
die Frage, wer eigentlich, de preservação na Alemanha. Em livro publicado em 1901, Was wird
wann, mit welchem Recht aus dem Heidelberger Schloss werdem?, o autor repudia a proposta de
und anhand welcher Kriterien
Denkmaleigenschaften festlegt” reconstrução de uma das alas do Castelo de Heidelberg, enfatizando a
(HUSE, 1996, p. 124). importância histórica e o valor de suas ruínas, que, segundo sua concepção,
Capítulo 7 - Patrimônio contemporâneo: diversidade complexa
deveriam ser apenas conservadas, pois somente as ruínas constituíam
o autêntico do castelo, o qual havia se tornado monumento pela sua
incompletude. Segundo Huse (1996), Dehio opunha-se às restaurações
que alteravam a verdade histórica dos monumentos, os quais, para ele,
deveriam ser preservados em sua substância original, ou seja, naquilo
que os tornou históricos. Sobre a reconstrução de Heidelberg, Dehio
(apud HUSE, 1996, p. 108, tradução da autora) afirma:
Perderíamos o autêntico e ganharíamos a imitação;
perderíamos o que se tornou histórico e ganharíamos
a arbitrariedade atemporal; perderíamos a ruína, que
com a sua pátina ainda nos fala tão viva, e ganharíamos
uma coisa, que não é nova nem velha, uma abstração
acadêmica morta. Entre estas duas deveremos decidir. 47

Do confronto entre Riegl e Dehio, Huse (1996) procura trabalhar


determinadas noções, tão centrais na constituição do patrimônio do
ocidente: originalidade, autenticidade, monumento e valor.
Retomando a pergunta de Huse (1996), quanto à escolha
sobre em que residem os valores que justificam a monumentalização
de determinado bem, podemos responder que tais valores devem
ser buscados de modo a constituir um conjunto representativo
da multiplicidade de memórias presentes na sociedade, em que a
preservação do patrimônio industrial encaixa-se na ampliação da ideia
108
de patrimônio cultural.
A busca da compreensão do significado contemporâneo de
monumento e a consequente valorização dos bens reconhecidos
pelo poder público como patrimônio nos reportaram a Riegl (2006).
Segundo o autor, monumento, “[...] no seu sentido mais antigo e
verdadeiramente original [...]” é “[...] uma obra criada pela mão do
homem e edificada com o propósito preciso de conservar presente e
viva, na consciência de gerações futuras, a lembrança de uma ação ou
destino - ou a combinação de ambos” (p. 43).
Riegl (2006) lança mão de um sistema de classificação dos
monumentos - intencionais, históricos e antigos -, que tem orientado a
concepção de patrimônio histórico-arquitetônico na prática dos órgãos
de preservação.
A classe dos monumentos intencionais abrange as obras
destinadas, pela vontade de seus criadores, a comemorar um momento 47
No original: “Verlieren
preciso ou um evento complexo do passado. würden wir das Echte und
gewinnen die Imitation;
Os monumentos históricos compreendem as obras que verlieren das historisch
remetem ainda a um momento particular, mas cuja escolha é Gewordene und gewinnen das
zeitlos Willkürliche; verlieren
determinada por nossas preferências subjetivas. die Ruine, die altersgraue
und doch so lebendig zu uns
Os monumentos antigos são todas as criações do homem, sprechende, und gewinnen
independentemente de sua significação ou destino original, que ein Ding, das weder alt noch
neu ist, eine tote akademische
testemunham a passagem do tempo. Abstraktion. Zwischen diesen
beiden wird man sich zu
Riegl (2006) distingue, nos monumentos, três valores de entscheiden haben.”

O Lugar do Patrimônio Industrial


rememoração: valor de antiguidade, valor histórico e rememoração
intencional.
O monumento não é mais que um substrato sensível
necessário para produzir no espectador uma certa
impressão difusa, suscitada no homem moderno
pela representação do ciclo necessário do devir e
da morte, da emergência do singular fora do geral e
de seu progressivo e inelutável retorno ao geral. Essa
impressão não implica uma abordagem científica e não
parece tributária da cultura histórica. Coloca apenas em
jogo sensibilidade e afetividade e não pretende nada
além de se endereçar exclusivamente às pessoas cultas,
que se interessam pela conservação dos monumentos
históricos, e também às massas, a todos os indivíduos,
sem distinção de nível cultural (RIEGL, 2006, p. 51).

Essa validade universal do monumento, de maior poder de


sensibilização e na qual reside seu valor de rememoração da passagem
do tempo, Riegl (2006) denominou “valor de antiguidade” (Alterswert).
Referindo-se ao valor de antiguidade, Riegl (2006) tece um
comentário sobre as ruínas, às quais, apesar de o efeito de rememoração
ser intenso, faltam a multiplicidade e a variedade de traços de antiguidade
que lhe confeririam a extensão de sua compreensão (RIEGL, 2006, p.
87).
O valor histórico do monumento, segundo Riegl (2006, p. 51), 109
[...] reside no fato de que representa para nós um estado
particular, de alguma forma única, no desenvolvimento
de um domínio humano. Desse ponto de vista, o que no
interessa no monumento não são os traços das forças
destrutivas da natureza, da forma como são exercidas
depois de seu nascimento, mas seu estado inicial como
obra humana.

Choay (2001) comenta que o valor de antiguidade de Riegl


suscita uma “atenção reverente” para com os monumentos históricos e,
nesse aspecto, aproxima-se do valor da reverência de Ruskin, apesar de
Riegl ter, em oposição a Ruskin, outro olhar sobre a sociedade industrial:
o de historiador. Assim, o valor de antiguidade apresenta-se, para Riegl,
como uma realidade de fácil apropriação pelas massas, em razão de
sua imediatez, e pela “[...] sedução fácil que ela [a antiguidade] exerce
sobre estas deixam entrever que ele [o valor de antiguidade] será o
valor preponderante do monumento histórico no século XX” (CHOAY,
2001. p. 169).
O valor de rememoração intencional opõe-se ao valor de
antiguidade, “[...] que aprecia o passado em si [...]”; e ao valor histórico,
que “[...] tende a isolar um momento do desenvolvimento histórico e
apresentá-lo de maneira tão precisa que parece pertencer ao presente
[...]”, ao querer para o monumento a “[...] perenidade do estado original”
(RIEGL, 2006, pp. 85-86).
Para Riegl (2006), a diferença entre o valor de rememoração -
seja de antiguidade ou intencional - e os valores de contemporaneidade

Capítulo 7 - Patrimônio contemporâneo: diversidade complexa


reside no fato de considerarmos o monumento, com base no valor
de contemporaneidade, como igual a uma criação moderna recente
e exigirmos, portanto, que este apresente um aspecto característico
de toda obra humana em sua primeira aparição, ou seja, “[...] que dê a
impressão de uma perfeita integridade, não tocado pela ação destrutiva
da natureza” (RIEGL, 2006, p. 87).
Choay (2001, p. 170) afirma que a análise de Riegl revela as
exigências simultâneas e contraditórias dos valores que o monumento
histórico acumula ao longo dos séculos. Aponta ainda que, por ser o
valor de antiguidade o último a surgir, acaba excluindo o de novidade e
ameaça o de uso e o histórico..
Outra categoria de valores sugerida por Riegl é a da
contemporaneidade, na qual se destaca o “valor de uso”, que “[...] é
igualmente inerente a todos os monumentos históricos, quer tenham
conservado seu papel memorial original e suas funções antigas, quer
tenham recebido novos usos, mesmo museográficos” (CHOAY, 2001.
p. 169).
Muitas vezes, em função do tipo de uso que abrigam, os
monumentos demandam restaurações e adaptações que conflitam com
os seus valores históricos e de antiguidade.
48
Devemos lembrar que a
estrutura de um lugar não é
110 fixa nem eterna. Os lugares
Ao lado de outros tipos arquitetônicos, as edificações industriais,
mudam e recebem diferentes
relíquias da pujança de um passado marcado por empreendimentos conteúdos e significados, o
notáveis, figuram na contemporaneidade como monumentos não que pode levar à perda de
seu genius loci, ou espírito do
intencionais de um tempo não muito distante, inspirando uma lugar, ou seja, sua identidade
reinterpretação dos feitos humanos, cuja imagem e cuja identidade e orientação. Na relação do
do lugar a metamorfose de suas carcaças tenta recuperar. Nesse homem com o lugar, existe a
necessidade de saber onde
processo, a percepção dos valores intrínsecos de que estão imbuídos os está (orientar-se) e saber como
monumentos industriais, sejam eles históricos, de antiguidade, ou mesmo está em um determinado
lugar (identificar-se). Norberg-
de uso, precisa levar a iniciativas que assegurem sua permanência, que Schulz (1980, p. 18) afirma que
regenerem a autoestima esmaecida, que façam o espírito do lugar48 “Genius Loci é um conceito
Romano. Os romanos antigos
voltar ao local de onde ameaça afastar-se. acreditavam que existia um
espírito do lugar – o genius loci
Fortuna (1997) e Zukin (1995) afirmam que o patrimônio (genius – espírito, loci – lugar),
tornou-se um dos campos preferenciais das indústrias culturais urbanas, guardião para cada cidade.
Cada lugar onde ocorria vida
particularmente no plano simbólico, no qual o espírito de lugar e os continha seu próprio genius,
símbolos que o representam tornaram-se campos privilegiados de que se manifestava tanto na
transformação das identidades urbanas. locação como na configuração
espacial e na caracterização da
Zukin (1995) enfatiza ainda que, ao contrário dos anos de articulação”.
1960, quando os preservacionistas reclamavam que as demolições
49
No original: “In the 1960s,
preservationists complained
e as renovações urbanas causavam a perda do patrimônio cultural, that the physical demolition
atualmente, com o ethos preservacionista amplamente aceito, a questão and urban renewal caused the
loss of a cultural heritage. Today,
que se coloca é qual patrimônio cultural será preservado e qual cultura with a preservationist ethos
controlará sua nomeação49. widely accepted, the question
is wich cultural heritage will be
Fortuna (1997, p. 233) cita as mudanças nas funções das preserved and whose culture
will control the designation”
manifestações culturais em Évora, Portugal, naquilo que ele nomeou (ZUKIN, 1995, p. 128).

O Lugar do Patrimônio Industrial


►Fig. 70. Évora, Portugal. Disponível
em: <http://www.flickr.com/photos/
flissphil/61067575/>. Acesso em: 19
set. 2010.

 
destradicionalização da imagem da cidade, em que sua dimensão
temporal, nomeadamente os seus recursos patrimoniais, históricos
e monumentais, tende a ser usada como elemento estratégico da
promoção do local. Esses recursos são voltados ao entretenimento do
turista e, em razão disso, sofrem um processo de releitura, na qual a
tradição assume um novo código. Uma das teses do autor reside no
fato de o patrimônio histórico e monumental local, ele próprio em
processo de destradicionalização, desempenhar um papel crucial na
reconfiguração da identidade-imagem da cidade de Évora, reconhecida
pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade e que tem encontrado, 111
no turismo urbano e cultural, um dos seus recursos mais valiosos, tanto
no que diz respeito à redinamização da cultura e da economia locais,
quanto no que se refere à sua projeção internacional.
Zukin (1995, pp. 80-81), por sua vez, exemplifica sua afirmativa
citando a transformação da antiga cidade industrial de North Adams,
em Massachusetts, quando da instalação do MASS MoCA –Museu de
Arte Contemporânea de Massachusetts- nas instalações abandonadas
da Sprague Electric Company, com a aposta de que esse museu poderia
criar uma indústria de turismo em uma área “desorganizada” pelo
declínio econômico, transformando arquitetura vernacular em paisagens
de consumo.

▲ Fig. 71. Sprague Eletric Company,


Massachusetts. Disponível em: <http://
berkshireramblings.blogspot.com>.
Acesso em 19 set. 2010.
► Fig. 72. Mass MoCA. Foto: Kevin
Kennefick. Disponível em: <http://
www.massmoca.org > Acesso em: 19
set. 2010.

 
Capítulo 7 - Patrimônio contemporâneo: diversidade complexa
◄ Fig. 73. - Complexo Siderúrgico
de Völklingen. Disponível em: <http://
commons.wikimedia.org/wiki/File:VH_
au%C3%9Fen_pano.jpg>. Acesso em:
19 set. 2010.
▼▼Fig. 74. Complexo Siderúrgico
Völklingen - Vista das Fornalhas. Fonte:
Unesco Ourplace.
▼Fig. 75. Complexo Siderúrgico
Völklingen - elevador inclinado que
  acessa a plataforma de carregamento
a 30 metros de altura, onde o
combustível e os minérios eram
pulverizados para dentro das fornalhas.
Fonte: UNESCO Ourplace.

Cabe destacar o posicionamento de Zukin a respeito das


50
No original: “Cultural
strategies of redevelopment
estratégias de renovação cultural, que find much support in areas
that have been „disorganized“
[...] são mais favorecidas em áreas “desorganizadas” by economic decline or natural
112 devido à decadência econômica ou desastres naturais. disaster. Old industrial dynasties
E que antigas dinastias econômicas desapareceram sem have disappeared and no new
serem substituídas. O desenvolvimento de economias power baron take their place.
simbólicas, no mundo pós-anos 1970, onde estratégias Wages are low, jobs are scarce,
culturais trabalhavam na base da visão valorizadora, talk is cheap. Because they have
reabilitaram a arquitetura vernacular e fizeram dela a base grown up with the symbolic
de turismo guiados, hotéis e restaurantes, selecionando economy of the post-1970s
paisagens de consumo (ZUKIN, 1995, p.80-81; tradução world, cultural strategies work
da autora)50. on the basis of valorizing vision.
They rehabilitate vernacular
É interessante notar que as antigas edificações industriais são architecture and make it the
imediatamente reconhecidas pelo seu valor histórico e arquitetônico, base of guided tours, hotels,
and restaurants; they selective
como revelado no exemplo de Massachusetts, e poucas vezes pelo landscapes of consumption”.
seu valor de antiguidade. Ruínas industriais ainda merecem o desprezo 51
Na época de sua nomeação
consensual daqueles que lhes imputam valor e determinam sua como Patrimônio da
Humanidade, o ICOMOS
preservação, salvo exceções, como, no caso do Brasil, as ruínas do Sítio consultou o Dr. Barrie Trinder,
do Físico, em São Luís – MA; a Fábrica de Ferro Patriótica, em Ouro especialista na área, que teceu
o seguinte comentário: “[...]
Preto – MG e a Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema, em Iperó - este é um lugar espetacular,
SP, tombadas pelo IPHAN. que certamente preenche
os critérios históricos
Em outros países, como na Alemanha, a pátina temporal e os estabelecidos para tornar-se
sinais do tempo de ruínas industriais recebem o tratamento monumental Patrimônio da Humanidade
em razão de sua integridade
e um reuso simbólico, como é o caso do Complexo Siderúrgico de tecnológica. Eu não sei de
Völklingen, cuja produção foi encerrada em 1986, e que, apenas oito nenhuma outra área no
ocidente onde um auto-forno
anos depois, entrou para a lista de Patrimônio da Humanidade como completo dessa geração ainda
exemplar único, em toda a Europa Ocidental e América do Norte, de esteja de pé com todas as suas
plantas subsidiárias”. Disponível
um sistema integrado de siderurgia construído e equipado nos séculos em: <http://whc.unesco.
XIX e XX e que se mantinha intacto. Foi nomeado, em 1999, como org/archive/advisor y_body_
Centro Europeu para a Arte e Patrimônio Industrial51. evaluation/687.pdf>. Acesso
em: 3 jul. 2010.

O Lugar do Patrimônio Industrial


▲Fig. 76. Gasômetro, Oberhausen, O que é possível inferir sobre o valor de uso e o patrimônio
Vale do Ruhr, Alemanha. Vista interna
da exposição "Sternstunden – Wunder industrial? O resgate ou a permanência de seu uso original são, na maioria
des Sonnensystems", parte do projeto
de celebração do Vale do Ruhr como dos casos, improváveis, pois seu estado de abandono e/ou esvaziamento
Capital Cultural da Europa em 2010.
Fonte: www.gasometer.de é resultado de um processo técnico e econômico irreversível. Integrar
►Fig. 77. Gasômetro, Oberhausen, o patrimônio industrial na construção da paisagem e do estilo de vida
Vale do Ruhr, Alemanha. Vista externa.
Disponível em: <http://www.dlr.de/ contemporâneo indica que, ao mesmo tempo em que um novo uso
Por taldata/1/Resources/por tal_news/
newsarchiv2009_2/gasometer_sonne.
confere ao monumento industrial uma sobrevida, em muitos casos,
jpg>. Acesso em 19 jan. 2011. acaba interferindo na transmissão de uma mensagem subjetiva da
cultura industrial, e o monumento permanece somente como um
signo em uma paisagem que se torna vazia de marcos orientadores,
113
passando a representar apenas um papel simbólico da presença da
atividade industrial que, em algum momento, conferiu identidade a um
determinado local.
Podemos usar como exemplo o Gasômetro de Oberhausen,
na Alemanha, ícone regional com 117 metros de altura e 67 metros de
diâmetro, que, como parte do projeto IBA-Emscher Park, manteve-se
como elemento referencial industrial que remete à pujança da região
do Rühr, enquanto seu interior foi adaptado para abrigar atividades
contemporâneas do universo cultural. O reuso do Gasômetro, assim
como de muitos outros monumentos industriais, cumpre uma função
conciliadora, que, ao promover a sua reabilitação por meio de novos
usos e funções, insere novamente a edificação dentro de uma dinâmica
contemporânea, reafirmando seu lugar dentro do contexto atual da
sociedade e, ao manter seu aspecto exterior, reafirma sua identidade,
respeita sua tipologia e caráter, bem como, de certa forma, apazigua
polêmicas sobre a preservação de bens da industrialização.
Voltando-nos para as premissas de valor de Riegl (2006), temos
ainda que o valor de arte subdivide-se em duas categorias: o de arte
relativa e o de novidade. O primeiro relaciona-se com o tempo, as
52
Kunstwollen é um conceito- crenças e os valores da época em que foram realizados. Esse valor é
chave na obra de Riegl e foi tra-
duzido como “desejo de arte” definido pelos critérios de recepção contemporânea da obra, relativos
por Choay (2001), “querer ar- ao juízo pessoal e subjetivo daquele que a observa em seu próprio
tístico” por Peixoto e Vicentini
(Cf. RIEGL, 2006, p. 119) e tempo. Neste ponto entra o conceito do querer artístico, ou vontade
“vontade artística” por Patetta de arte (Kunstwollen52), na qual o valor de arte relativo satisfaz nossos
(1997). ideais figurativos do presente. Riegl (2006, p. 111) afirma:
Capítulo 7 - Patrimônio contemporâneo: diversidade complexa
[...] uma apreciação positiva do valor de arte relativo Fig. 78 Conjunto Industrial KKKK,
requererá, portanto, a conservação do monumento em Registro, São Paulo. Fonte: Caldeira;
Fanucci; Ferraz; Santos, 2005. (a)
estado e, por vezes, mesmo uma restauratio in integrum; vista noturna; (b) complexo fabril e
assim, entrará em conflito com as exigências do valor de as adaptações para o novo uso (em
antiguidade. [...] O aspecto sempre novo, a modernidade vermelho); (c) vista do conjunto fabril,
da obra de arte antiga (que apresenta, por sua vez, da edificação nova e sua relação com
o Rio Ribeira de Iguape num projeto
elementos muito velhos) revela-se um triunfo sobre as mais amplo, o Parque Beira-Rio.
marcas de envelhecimento e degradação e sobre as leis
todo-poderosas da natureza. 53
A Carta de Reabilitação
Urbana Integrada – Carta de
O valor de novidade, em oposição ao valor de antiguidade, deve Lisboa (1995) apresenta o con-
ceito de reabilitação como es-
desembaraçar-se “[...] dos traços de envelhecimento [...]”, e reencontrar, tratégia de gestão urbana, que
114 “[...] por meio de restauração completa de sua forma e cores, o caráter pretende requalificar a cidade
de novidade da obra que acaba de nascer” (RIEGL, 2006, p. 97). por meio de intervenções
que valorizem as potenciali-
A mais popular resposta no tocante à reabilitação de edificações dades sociais, econômicas e
funcionais, de modo a melho-
industriais tem sido a reabilitação53 da antiga textura fabril com base nos rar a qualidade de vida da sua
valores atuais, do novo em oposição ao valor de antiguidade, da pátina população, mantendo a sua
identidade e prevendo a ins-
do tempo. Esse tipo de abordagem é endossado pela Carta de Burra54, talação de equipamentos, infra-
cujas recomendações preveem reconstrução, uso compatível, adaptação estruturas e espaços públicos.
1º Encontro Luso-Brasileiro de
e conservação55. Segundo a definição dessa Carta, “[...] reconstrução Reabilitação Urbana, Lisboa, ou-
será o restabelecimento, com o máximo de exatidão, de um estado tubro de 1995. Disponível em:
anterior conhecido [...]”, distinguindo-se pela introdução, na substância <http://194.65.130.238/media/
uploads/cc/cartadelisboa1995.
existente, de materiais diferentes, sejam novos ou antigos. Nela, afirma- pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010.
se ainda que a “[...] reconstrução não deve ser confundida, nem com 54
A carta de Burra foi adotada
a recriação, nem com a reconstituição hipotética, ambas excluídas do em 19 de agosto de 1979 pelo
ICOMOS Austrália, em Burra,
domínio regulamentado pelas presentes orientações”56. Austrália do Sul, sendo atua-
lizada em 1981, 1988 e 1999.
Como exemplo desse tipo de reabilitação, podemos citar a Essa carta provê um guia para
Companhia Ultramarina de Desenvolvimento KKKK, em Registro, Estado a conservação e gestão dos
sítios do patrimônio cultural
de São Paulo, patrimônio histórico reconhecido por tombamento e baseia-se no conhecimento
estadual, cujos vestígios físicos simbolizam a história do município e a e experiência dos membros
origem de grande parte de sua população. A adaptação transformou o do ICOMOS Austrália. Burra
Charter, 1999. Disponível em:
espaço no Memorial da Imigração Japonesa e no Centro de Formação <http://5cidade.files.wordpress.
Continuada de Gestores da Secretaria de Estado da Educação - com/2008/03/car ta-de-burra.
pdf>. Acesso em: 20 jun. 2010.
CENFORGEST. 55
Carta de Burra, “Art. 6º - as
Nesse projeto de reabilitação, os profissionais priorizaram a opções a serem feitas na con-
servação total ou par-
adaptação do conjunto ao novo programa, preservando, porém, muitas cial de um bem deverão ser
das características originais. Explica Marcelo Ferraz: previamente definidas com
O Lugar do Patrimônio Industrial
base na compreensão de sua Respeitamos o antigo, mas não se pode dizer que foi
significação cultural e de sua um trabalho de restauro, porque eliminamos alguns
condição material. Art. 7º - as elementos, como anexos e outras construções
opções assim efetuadas deter- posteriores, que não correspondiam às necessidades
minarão as futuras destinações atuais (CALDEIRA; FANUCCI, FERRAZ; SANTOS, 2005,
consideradas compatíveis p. 43).
para o bem. As destinações
compatíveis são as que impli-
cam a ausência de mo-
dificação, modificações A abordagem de Riegl constitui uma valiosa contribuição para
reversíveis em seu con- a definição moderna do conceito de monumento histórico e para a
junto ou, ainda, modifi-
cações cujo impacto análise crítica sobre as distintas formas de percepção e recepção desses
sobre as partes da sub- monumentos pela sociedade, bem como sobre os valores que esta lhes
stância que apresentam atribui.
uma significação cultu-
ral seja o menor pos- A obra de Riegl oferece ao sujeito da preservação um repertório
sível” (Burra Charter, 1999.
Disponível em <http://5cidade. de diferentes tipos de valor que podem ser atribuídos aos monumentos,
files.wordpress.com/2008/03/ inaugurando uma fundamentação conceitual para que as escolhas
carta-de-burra.pdf>, acesso em
20 jun.2010, grifos nossos). possam ser feitas com base em um juízo crítico.
56
Carta de Burra, 1980, art.1º. Segundo Choay (2001), ainda que o relativismo e a pedagogia
Disponível em: <http://www.
icomos.org.br/car tas/Car ta_ de Riegl tenham sofrido críticas, e sua obra não tenha orientado as
de_Burra_1980.pdf>. Acesso práticas de patrimônio, elementos indicados pelo autor são importantes
em: 20 jun. 2010.
no que se refere a fornecer fundamentos para a operacionalização
57
Choay estabelece, em seu de uma política de conservação, servindo de base para o período de
livro A Alegoria do Patrimônio
(2001), o momento de emer- consagração de monumento histórico57. 115
gência e as etapas progressivas
de instauração do patrimônio É na conferência internacional realizada em Atenas, em 1931,
histórico edificado. Ela deno- pela Comissão Internacional para Cooperação Intelectual da SDN –
mina fase de consagração do
monumento histórico o perío- Sociedade das Nações -, com a cooperação do Conselho Internacional
do de 1820 a 1960, quando seu dos Museus (ICOM), que a preservação dos monumentos históricos
reconhecimento, sua coerência
e sua estabilidade são resultado passa a ser discutida em um quadro supranacional. Segundo Choay
de um conjunto de determi- (apud Riegl, 2006, p. 7), essa conferência debruçou-se, particularmente,
nações novas e essenciais, rela-
tivas à hierarquia dos valores de “[...] sobre o problema das cidades antigas e do tecido menor que
que o monumento histórico é constitui o entorno dos monumentos [...]”, dando ensejo a que se
investido e às suas delimitações levantasse a questão dos monumentos e a cidade. Choay (2001, p.
espaço-temporais, ao seu esta-
tuto jurídico e ao seu tratamen- 201) particulariza a comunicação do italiano Giorgio Nicodemi, que
to técnico, que levaram à insti- desenvolve a dialética do monumento e de seu entorno, defendendo a
tucionalização da conservação
do monumento histórico. ampliação da percepção do monumento para sua articulação com os
outros elementos da malha urbana, o que ele denomina de “ambiente”.
A Carta de Atenas para a “Restauração dos Monumentos
Históricos” centrava-se basicamente nos grandes monumentos e
ignorava o restante. Trinta anos depois, a Carta de Veneza ampliava
consideravelmente os objetivos, abrangendo a “Conservação e a
Restauração dos Monumentos e dos Lugares”. Em seu artigo 1º, a
Carta de Veneza dá uma definição muito mais extensa de monumento
histórico:
A noção de monumento histórico inclui a criação
arquitetural isolada assim como o sítio urbano ou rural
que traz o testemunho de uma civilização particular, de
uma evolução significativa ou de um evento histórico.
Ele se estende não somente às grandes criações, mas
também às obras modestas que adquiriram com o
Capítulo 7 - Patrimônio contemporâneo: diversidade complexa
tempo uma significação cultural (Cury, 2004, p. 92). 58
Sobre a análise e justificativa
de preservação de edifícios
O preâmbulo da Carta de Veneza acentua fortemente a industriais, foram selecionados
nesta tese os tombamentos da
preservação e introduz a noção de patrimônio comum da humanidade: Fábrica Santa Amélia, em São
Luiz do Maranhão, e da Fábrica
Portadoras de mensagem espiritual do passado, as obras de Vinho Tito e Silva, na Paraíba.
monumentais de cada povo perduram no presente Essa abordagem foi desenvolvi-
como o testemunho vivo de suas tradições seculares. A da na parte III, capítulo 10.
Humanidade, cada vez mais consciente da unidade dos
valores humanos, as considera um patrimônio comum, e,
perante as gerações futuras, se reconhece solidariamente
responsável por preservá-las, impondo a si mesma o
dever de transmiti-las na plenitude de sua autenticidade
(Cury, 2004, p. 91).

O sentido de monumento evoluiu com o tempo; a consagração


de edificações industriais como patrimônio provoca, ao mesmo tempo,
encantamento e espanto pela sua proeza técnica e seu tamanho,
muitas vezes colossal. Todo o conjunto de operações de valorização do
monumento busca revelar seu caráter histórico, artístico e memorial.
Nossa responsabilidade é saber reconhecê-los em sua autenticidade,
mas, além disso, nossa responsabilidade encontra-se engajada na relação
com a sua transmissão às gerações futuras.
Rodrigues (2010, p. 38) afirma que os argumentos de
tombamento de bens industriais não têm considerado valores como
116 os do trabalho ou os dos conhecimentos técnicos, que, concernentes
às sociedades industriais, estão em rápido processo de transformação
na atualidade. E se os valores contidos nas representações materiais
da modernização urbano-industrial no Estado de São Paulo fossem
realçados, constituiriam um traço cultural, um diferencial na nomeação
desses bens como patrimônio a ser preservado.
Cabe ainda ressaltar que existe uma tendência da sociedade
de reduzir a complexidade dos ambientes urbano-fabris, que pode ser
conferida nas discussões suscitadas pelos tombamentos de edifícios
industriais, presentes nas instruções dos processos de tombamento
desses imóveis pelos órgãos de preservação do patrimônio58.
Podemos constatar, com base na análise de alguns desses processos,
que a sociedade, na maioria das vezes, resiste à ampliação dos valores
atribuídos aos monumentos, como conceituados por Riegl, para estendê-
los aos edifícios da era industrial. As transformações socioeconômicas
e o desenvolvimento das habilidades técnicas dos seres humanos,
valores culturais cristalizados nas edificações industriais, já bastariam
para legitimá-los como objetos de culto, na acepção usada por Riegl, no
solo desestabilizado de uma sociedade em processo de reestruturação.
A percepção de tal complexidade pode impulsionar outros valores e
desafios para ampliar a concepção de monumento, como poderemos
avaliar no estudo dos casos selecionados, nos capítulos seguintes.

O Lugar do Patrimônio Industrial


8. A Construção do Patrimônio Cultural
Brasileiro

No desempenho de suas atribuições quanto à defesa


do patrimônio cultural do país e na contingência de se
definirem os parâmetros que permitissem selecionar
os bens móveis e imóveis que, por suas singularidades
características, viessem a merecer os cuidados especiais
do poder público, o SPHAN terminou por se impor o
dever de “constituir” o patrimônio nacional.
Antonio Luiz Dias de Andrade (Janjão)

59
Entre as várias referências
bibliográficas sobre o assunto,
podemos citar Andrade (1993), Muito tem sido escrito nos últimos anos sobre o papel do
Rubino (1991), Fonseca (1997) Estado brasileiro na constituição do patrimônio nacional e o papel de
e Chuva (1995).
60
BOMENY, Helena.
destaque que os bens patrimoniais passaram a ocupar como referenciais
Patrimônios da memória no espaço da cidade, em especial, na primeira metade do século XX,
nacional. In: Instituto Brasileiro em um momento no qual se procurava estimular o sentimento de
do Patrimônio Cultural,
Departamento de Promoção, nacionalidade, amalgamando a nação em torno de suas referências
Coordenadoria de Pesquisa simbólicas: bens que ofereciam identidade cultural à sua população59. 117
e Editoração (org.). Ideólogos
do patrimônio (Coletânia
de palestras proferidas no A responsabilidade dessa tarefa coube a um organismo
seminário Intelectuais do responsável pelo patrimônio nacional, criado em 1937, que, como
Patrimônio Cultural, realizado
de 15 a 17 de maio de 1991, no ressalta Chuva (1995, p. 23), já integrava o projeto político-ideológico de
Rio de Janeiro). Rio de Janeiro: nacionalização do Estado nos anos 1930, cuja proposta era estabelecer
ED. IBPC, 1991.
parâmetros para a construção da nacionalidade por meio de referências
61
Essa lei dá nova organização
ao Ministério da Educação e simbólicas, as quais deveriam impingir unidade e impedir qualquer feição
Saúde Pública e cria o Serviço plural da nação.
do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional: Sobre os anos 1930, Helena Bomeny comenta que é desenhada
“Art. 46. Fica creado o Serviço a política institucional em que o Estado ousa reunir intelectuais de todos
do Patrimonio Histórico
e Artístico Nacional, com os matizes, combinando projetos, propostas e ideias mescladas da utopia
a finalidade de promover, dos anos 1920. O discurso do governo vai ao encontro dos discursos
em todo o Paiz e de modo
permanente, o tombamento, a intelectuais (BOMENY60 apud CAVALCANTI, 1995, p. 47).
conservação, o enriquecimento
e o conhecimento do Faria (1995, p. 34) corrobora essa afirmativa ao afirmar: “[...]
patrimonio histórico e artístico
nacional. a parte mais nobre da intelectualidade paulista, que em 1932 está
§ 1.º O Serviço de Patrimonio contra Getúlio Vargas, em 1934 já começa a se aproximar, por causa da
Histórico e Artístico Nacional
terá, além de outros orgãos que Constituinte”.
se tornarem necessarios ao seu
funcionamento, o Conselho Nesse momento, surgem inúmeros estudos com a proposta de
Consultivo. pensar quem era o “povo” do Brasil, compreendendo suas singularidades,
§ 2.º O Conselho Consultivo
se constituirá do director visando contribuir para a orientação de novas diretrizes a serem
do Serviço de Patrimonio traçadas, na forma de instituições e normas, para o controle do espaço
Histórico e Artístico Nacional,
dos directores dos museus e das pessoas, algo característico do Estado Novo.
nacionaes de coisas históricas
ou artísticas e de mais dez Quanto à institucionalização do patrimônio, a Lei nº 378 de
membros, nomeados pelo 13 de janeiro de 193761 e o Decreto-Lei nº 25 consolidam o debate
Capítulo 8 - Construção do Patrimônio Cultural Brasileiro
sobre o patrimônio do país, que, segundo Rubino (1992) “[...] já tinha Presidente da República.
§ 3.º O Museu Histórico
maturidade suficiente para deixar de ser projeto”62. Nacional, o Museu Nacional de
Bellas Artes e outros Museus
No início desse século [XX] houve uma profusão de Nacionaes de coisas históricas
projetos de lei visando a criação de um órgão público ou artísticas, que forem creados,
preservacionista. Em comum, eles têm o fato de serem cooperarão nas actividades
projetos de pouca ou nenhuma eficácia concreta, e o do Serviço do Patrimonio
mais importante: eles começam a delinear, seja via Histórico e Artístico Nacional,
conceitos e disciplinas - arte, arqueologia, história -, seja pela fórma que fôr estabelecida
via distribuição geográfica do que se queria preservar, os em regulamento.
pontos da política cultural que se implantaria mais tarde Art. 47. O Museu Histórico
(RUBINO, 1992, p. 33). Nacional é mantido como
estabelecimento destinado
Rubino (1992, p. 59-61) sinaliza ainda algumas medidas á guarda, conservação e
exposição das reliquias
preliminares importantes que antecederam a criação do Serviço referentes ao passado do Paiz
do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – SPHAN63, como o e pertencentes ao patrimonio
federal” (BRASIL, Diário Oficial
tombamento de Ouro Preto, em 1933; o decreto federal nº 24.735, da União, 15/01/1937, página
de 14 de julho de 1934, que incumbia o Museu Histórico Nacional 1.210, coluna 1).
da proteção, catalogação e fiscalização dos monumentos históricos e
62
Em sua dissertação, Silvana
Rubino discorre sobre a proto-
obras de arte - muito embora não se conhecesse o acervo de bens história da preservação legal do
a serem preservados, exceto pela iniciativa de alguns estados, como patrimônio do país por meio
da reconstrução das tentativas
Minas Gerais, Pernambuco, Bahia e São Paulo64 -; e, por último, o artigo legais, discursivas e intelectuais
148 da Constituição de 1934, que dispunha, entre outras coisas, sobre anteriores à instituição do
SPHAN. Ver: RUBINO, S. B. As
a proteção dos objetos de interesse histórico e o patrimônio artístico fachadas da história: As origens,
do país. a criação e os trabalhos do
SPHAN, 1936-1967. 1991.
118 206p. Dissertação (Mestrado
Soma-se a essas medidas o contexto político e cultural da década em Antropologia Social) -
de 1930, no qual Gustavo Capanema, à frente do Ministério da Educação Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade
e Saúde, e os modernistas Mário de Andrade, Carlos Drummond e Estadual de Campinas,
Cândido Portinari tiveram “[...] a oportunidade de conferir às suas Campinas, 1992.
posições estéticas um caráter prático e efetivo” (RUBINO, 1991, p. 57). 63
O Instituto de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional
Rubino (1991, p. 57) também sublinha a importância do – IPHAN, foi originariamente
denominado Serviço do
anteprojeto de Mário de Andrade e, particularmente, de seu conceito Patrimônio Histórico e Artístico
de patrimônio “abrangente e múltiplo”, que incluía o negro, o índio, Nacional – SPHAN (1937-
1946), passando a constituir
o estrangeiro, o residual e o inusitado, além das formas inacabadas e uma Diretoria do Patrimônio
menores de arquitetura, rompendo com a distinção entre o histórico e Histórico e Artístico Nacional
(1946-1970), Instituto do
o artístico a favor do cultural. Essa visão “profética” de Mário de Andrade Patrimônio Histórico e Artístico
criou o que a autora denominou o “SPHAN virtual”, que diverge do Nacional (1979-1990), Instituto
Brasileiro do Patrimônio
“SPHAN real”, que toma corpo e é efetivado sob a direção de Rodrigo Cultural - IBPC (1990–1994)
M. F. de Andrade, de 1937 a 1967. e novamente IPHAN a partir
de 1994, estando vinculado ao
O caráter nacional popular é evidenciado no discurso de Ministério da Cultura.
Rodrigo M. F. de Andrade, tão logo tomou posso do cargo de diretor
64
Durante a fase sob a
administração de Rodrigo
do SPHAN. M. F de Andrade, o IPHAN
dispunha de seu escritório
O SPHAN dispõe-se a uma tarefa de interesse central no Rio de Janeiro, então
indiscutivelmente nacional: a defesa do patrimônio capital federal, de onde ele,
comum a todos os brasileiros. Tudo deve ser feito do assessorado, entre outros, por
princípio visto que a própria noção do interesse geral Lucio Costa, Alcides da Rocha
precisa ser compreendida por todos e não apenas por Miranda, Edgar Jacinto da Silva
uma elite. Para um fim comum o esforço deverá ser e José de Souza Reis, dirigia
comum. Este espírito de proteção dos testemunhos da as quatro delegacias regionais,
história e da arte merece ser acolhida entre todas as estrategicamente instaladas
classes (ANDRADE, R. M. F.65 apud ANDRADE, A. L. D., nos estados de Pernambuco,
1993, p. 112). Bahia, Minas Gerais e São Paulo
(MAYUMI, 2005, p. 15).
O Lugar do Patrimônio Industrial
65
ANDRADE, Rodrigo Melo A propósito do período de gestão de Rodrigo Melo Franco
Franco. Rodrigo e o SPHAN:
coletânea de textos sobre o de Andrade, Fonseca (1997, p. 157) distingue, na atuação do órgão,
patrimônio cultural. Rio de uma ausência de uniformidade. Enquanto as décadas de 1930 e 1940
Janeiro: Ministério da Cultura,
Fundação Nacional Pró- foram marcadas pelas descobertas, pelas pesquisas do patrimônio que
Memória, 1987, p. 28. estava em formação e, especialmente, pela atuação dos profissionais
66
ANDRADE, Rodrigo Melo que constituíam a vanguarda modernista, as décadas seguintes, 1950 e
Franco. Rodrigo e o SPHAN:
coletânea de textos sobre o 1960, teriam sido um período de tecnificação da atividade do órgão,
patrimônio cultural. Rio de que passou a se concentrar nos tombamentos e nas obras, relegando a
Janeiro: Ministério da Cultura,
Fundação Nacional Pró- segundo plano as atividades de pesquisa e divulgação.
Memória, 1987, p. 39.
Além disso, o órgão, em sua fase inicial, apresentava carência de
67
A expressão “tombamento”
vem do direito português, profissionais especializados para compor seu quadro de funcionários,
no qual o verbo “tombar” como reconhece Antonio Luiz Dias de Andrade:
significava “inventariar” ou
“inscrever” nos arquivos do Uma das principais dificuldades enfrentadas a princípio
reino, os quais eram guardados pelo novo órgão foi a de conseguir montar um quadro
na Torre do Tombo. São quatro de técnicos e profissionais habilitados para as tarefas que
as categorias de livros de se apresentavam indispensáveis. O país não dispunha de
tombo definidas pelo Decreto- experiência anterior a que pudesse recorrer e os poucos
lei nº25: interessados no assunto primavam pelo diletantismo, não
a) Arqueológico, etnográfico e mantendo inclusive afinidades ideológicas com o projeto
paisagístico; que se desejava implementar (ANDRADE, A. L. D., 1993,
b) Histórico; p. 113).
c) Belas-artes;
d) Artes aplicadas. Saia (1977) distingue, entre as ações prioritárias desenvolvidas
Quanto às modalidades de no início das atividades do órgão, um empenho no intuito de consolidar, 119
tombamento:
nas rotinas jurídicas do país, as restrições ao direito de propriedade
a) Provisório: decretado no
início do processo, com efeitos decorrente do ato de tombamento.
imediatos ao tombamento
definitivo, exceto no tocante ao A questão do tombamento já fora tratada por Rodrigo M. F.
registro em cartório imobiliário de Andrade, quando relatava que somente um regime discricionário
e ao direito de preferência
reservado ao Poder Público. disporia de condições necessárias para homologar a legislação, à qual
b) De ofício (ou ex officio): se antepunham as pressões vigorosas em defesa do pleno exercício do
incide sobre bens públicos e
efetua-se por determinação do direito de propriedade:
presidente do IPHAN;
Creio que, se fosse incrementada a idéia de que além,
c) Tombamento voluntário; muito além, da propriedade particular existe uma outra,
d) Tombamento compulsório: que é a propriedade coletiva da nação, constituída por
uma imposição do poder todos esses elementos que constituem sua cultura, o
público, não interessando se Serviço de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico
há ou não aquiescência do teria no Brasil a mesma aceitação que encontramos na
proprietário. França, na Itália, na Inglaterra, ou na Grécia (ANDRADE,
R. M. F. 66 apud ANDRADE, A. L. D., 1993, p. 112)

Rodrigo M. F. de Andrade afirmava ainda caber ao país a


obrigação constitucional de zelar pelo conjunto dos bens eleitos para
serem inscritos nos livros do tombo 67. Mesmo porque esse conjunto
teria a função de representar um modelo reduzido do que “[...] seria
a marca da cultura e da civilização, oposição e resposta a categorias
território, paisagem e natureza”, que dão forma ao caráter nacional do
país (RUBINO, 1996, p. 98).
A propósito do tombamento, Rubino (1992) assinala a
importância desse instrumento como medida suprema na política de
preservação do patrimônio cultural no Brasil, embora esteja basicamente
restrito a ações federais desde a criação do IPHAN:
Capítulo 8 - Construção do Patrimônio Cultural Brasileiro
O tombamento é o momento por excelência do processo
de preservação. É um discurso, pois diz algo sobre o bem,
é instituinte, pois lhe confere história. Confere aos bens
esse caráter de prova, cria um corpo de especialistas para
guardá-lo e estudá-lo. Como contínuo contar e recontar
dos mitos, aproxima diacronia e sincronia (RUBINO,
1992, p. 10)

Apesar de sua importância como instrumento que imputa valor,


as limitações do tombamento no tocante ao cunho de proteção do
patrimônio residem no fato de que tal instrumento passa a restringir
a conservação a um acervo estritamente necessário, como reconhece
Rodrigo M. F de Andrade:
Com efeito, nos livros do Tombo não se inscrevem, em
rigor, senão as coisas consideradas de valor excepcional.
Conseqüentemente, há no pais uma vasta quantidade
de bens culturais cuja preservação, embora de manifesta
convivência pública, escapa à alçada do serviço mantido
pela União para cuidar do setor. Massas consideráveis
de documentos de interesse histórico existentes em
arquivos dos órgãos da administração, nos cartórios
68
ANDRADE, Rodrigo Melo
judiciais, nos arquivos eclesiásticos, nos das associações Franco. Rodrigo e o SPHAN:
civis e em recintos particulares. Remanescentes da coletânea de textos sobre o
pilhagem sistemática operada pelos negociantes do patrimônio cultural. Rio de
gênero, parcelas apreciáveis do espólio de obras de arte Janeiro: Ministério da Cultura,
antiga e de artesanato tradicional deixado por nossos Fundação Nacional Pró-
Memória, 1987, pp. 72-73.
antepassados, disperso em muitos lugares. Poupados
ainda à especulação imobiliária e aos empreendimentos Trecho da entrevista de Lúcio
69
120 mal concebidos das municipalidades, sítios urbanos e Costa concedida a Márcia
rurais em que predominam os traços de ancianidade, de Chuva, Lia Motta e Cícero
pitoresco ou de beleza de paisagem. Disseminados em Almeida, em julho de 1997.
locais diversos do litoral e do interior em edificações 70
Paulo Ormindo de Azevedo
que, conquanto não assumam a importância de esboçou com nitidez esse
monumentos nacionais, são contudo produções genuínas panorama ao comparar o
de arquitetura brasileira, popular ou o seu tanto eruditas, número de monumentos
merecendo estudo e conservação (ANDRADE, R, M. F.68, tombados no Brasil com o da
apud AZEVEDO, 1987, p. 83) França: “[...] hoje, meio século
após a criação do SPHAN, o
Em tal consideração, pode-se apreender implicitamente que não número total de tombamentos
é da ordem de mil, cifra modesta
havia somente a dificuldade de implementar um inventário sistemático se comparada com os 12.000
que conduziria ao tombamento, mas que os bens tombados deveriam monumentos atualmente
‘classificados’ na França, país
conservar características que o crescimento urbano acelerado e suas com maior tradição cultural,
transformações ameaçavam destruir. Quanto a isso, podemos nos mas com um território 15
vezes menor que o brasileiro”
respaldar na justificativa de Lúcio Costa pelo não tombamento de (AZEVEDO, 1987, p. 83). Na
Sabará (MG)69. França, segundo o autor, a
legislação de 1913 autorizou
O trabalho pioneiro exigia um rigor na escolha dos sítios, que à tradicional lista de bens
a fim de não inviabilizar a instituição do tombamento, tombados (classés) fosse
que era nova, frágil e ainda incompreendida; a seleção acrescida a figura do “inventário
dos sítios precisava revestir-se de um caráter excepcional; suplementar”, que possibilita
que imóveis ou parte deles
era preciso escolher os “inimigos” a combater; não era sejam preservados, obrigando
possível enfrentar a proximidade das grandes cidades, seu proprietário a comunicar
nem a atividade de extração de minério; outras cidades qualquer modificação que
históricas, mais distantes dessas ameaças, garantiriam a deseje empreender. A
identidade nacional, sem expor o novo e frágil decreto lei França, com isso, superou a
do tombamento (apud MOTTA, 2000, p. 265). visão estreita de patrimônio
cultural e ampliou os imóveis
A fragilidade desse instrumento pode ser percebida pela supervisionados pelo Estado de
2.162, em 1900, para mais de
modesta cifra de tombamentos realizados pelo IPHAN se comparada 32.000 atualmente, incluindo
à de outros países 70. os tombados e os inscritos no
inventário suplementar (p. 84).

O Lugar do Patrimônio Industrial


A atuação do IPHAN no período de 1930 a 1960 cria um “mapa
do Brasil passado”, com lugares e tempos privilegiados, documentados
por meio do conjunto de bens tombados, apontando para o “[...]
passado que essa geração tinha olhos para ver e, assim, deixar como
legado” (RUBINO, 1996, p. 97).
No mapa, disposto na tabela a seguir, identificam-se os seguintes
tipos de bens:
Tabela 9 - Distribuição dos bens tombados entre 1930 e 1969 conforme tipologia
TIPOS DE BENS N° %
Bens móveis 2 0.3
Conjuntos 26 3.8
Arquitetura urbana 128 18.6
Arquitetura rural 33 4.8
Arquitetura ligada ao Estado (casas de câmara e cadeia, 34 4.9
sede de prefeituras, palácios de governo etc.)
Arquitetura religiosa 343 49.8
Arquitetura militar (fortes etc.) 31 4.5
Parques/áreas naturais 5 0.7
Ruínas/remanescentes 17 2.5
Fontes /chafarizes 24 3.5
Detalhes 8 1.2
Pontes/arcos 6 0.9
Outros 29 4.2 121
TOTAL 689 100
Fonte: Rubino (1992, p. 130).

Conforme dados coletados por Rubino (1992), o IPHAN


inscreveu, de 1938 a 1967, 689 bens nos livros de tombo, sendo que
somente no primeiro ano foram inscritos 215 bens. Nas quatro décadas
seguintes, de 1968 até 2009, foram inscritos mais 352 bens, totalizando
1.041 bens culturais protegidos na esfera federal, conforme nossos
Fig. 79. Número de bens tombados por
estado: (a▼) até 1967; (b►) até 2009. levantamentos nos arquivos do IPHAN (ver Anexo 1). Com base nesses
Elaboração da autora com base em
dados do IPHAN.
dados, elaboramos um quadro evolutivo e um mapa quantitativo da
participação dos estados no total dos bens tombados.

   
Capítulo 8 - Construção do Patrimônio Cultural Brasileiro
Tabela 10 - Bens tombados entre 1938 e 2009, por estados
ESTADO 1938-1967 1968-2009 Variação entre 1967
e 2009
nº % nº % %
Alagoas 7 0,92 11 1,06 57,15
Amazonas 1 0,13 4 0,38 300,00
Amapá 1 0,13 1 0,10 0,00
Bahia 145 19,15 176 16,91 21,40
Ceará 2 0,26 21 2,02 950,00
Distrito Federal 1 0,13 4 0,38 300,00
Espírito Santo 13 1,72 14 1,34 7,69
Goiás 18 2,38 22 2,11 22,22
Maranhão 13 1,72 20 1,92 53,84
Minas Gerais 176 23,25 204 19,60 115,90
Mato Grosso do Sul 0 0,00 4 0,38
Mato Grosso 1 0,13 5 0,48 400,00
Pará 18 2,38 25 2,40 38,88
Paraíba 19 2,51 22 2,11 15,78
Pernambuco(1) 61 8,06 82 7,88 34,42
Piauí 6 0,79 7 0,67 16,67
Paraná 11 1,45 15 1,44 36,36
Rio de Janeiro 156 20,61 225 21,61 44,23
Rio Grande do Norte 14 1,85 14 1,34 0,00
Rio Grande do Sul 18 2,38 38 3,65 111,11
Rondônia 1 0,13 2 0,19 100,00
Santa Catarina 9 1,19 22 2,11 144,44
122 Sergipe 24 3,17 25 2,40 4,16
São Paulo 42 5,55 77 7,40 83,33
Tocantins 0 0,00 1 0,10
TOTAL 757 100,00 1041 100,00 37,52
(1) incluído o bem de Fernando de Noronha
Fonte: Elaboração da autora com base nos arquivos de tombamentos do IPHAN.

A tabela acima revela que, embora a participação de alguns


estados tenha crescido consideravelmente, como é o caso do
Amazonas, que quadriplicou seu número de bens, do Ceará, que passou
de dois para 21 bens tombados, e de Matogrosso, que teve mais oito
bens incorporados ao seu patrimônio entre 1967 e 2009, continua a
hegemonia dos estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais, esse último
apresentando agora 19,6% dos bens tombados no país contra 23,25%
em 1967.
Rubino (1992) argumenta que, apesar de o Rio de Janeiro
também ser marcado por igrejas coloniais, ele não apresenta a imagem
da cidade histórica, semelhante às cidades mineiras, em função da
integração de seu patrimônio ao sentido da cidade contemporânea. A
autora exemplifica:
A antiga escola Politécnica permanece um estabelecimento
de ensino superior, no solar que Grandjean de Montigny
construiu no início do século passado funciona a PUC do
Rio de Janeiro. O Jardim Botânico é um parque público e
o Palácio da Guanabara é a sede do governo do Estado,
e passamos de automóvel sob os arcos da Carioca. A
aproximação surpreendente da quantificação do que se
preservou em Minas e no Rio se deve a incorporação
do patrimônio carioca e fluminense em uma vida urbana

O Lugar do Patrimônio Industrial


de maior escala, onde o patrimônio se dilui em meio à
vida de grande centro e o que fica não é a imagem do
lugar passado, como no caso de Minas Gerais (RUBINO,
1992, p. 142).

Sobre a pequena participação de São Paulo no número de bens


tombados, a autora justifica essa quase ausência da seguinte forma:
São Paulo começou tarde aos olhos da nação. O
século XVI só lhe deixou um conjunto e um forte e
o século XVII, algumas igrejas e casas bandeiristas. [...]
Curiosamente o século XIX, do café, tem apenas cinco
inscrições que o testemunham e, certamente, se não
foi apagado, foi, ao menos esmaecido, juntamente com
os símbolos da Primeira República. [...] A inexistência
do século XX paulista apaga os rastros das massas de
imigrantes que substituíram a mão-de-obra escrava nas
fazendas de café. O ciclo econômico que prosperou na
Primeira República é esquecido e, juntamente com ele,
paradoxalmente, a intensa experiência urbano-industrial
[...] (RUBINO, 1996, p. 102).

Fonseca (1997, p. 183), ao analisar a fase heroica do IPHAN,


chama a atenção para o fato de os processos de decisão quanto à
valoração dos bens a serem tombados serem conduzidos, na sua maioria,
pelos funcionários do IPHAN e seus colaboradores, em oposição ao
período seguinte, denominado pela autora como fase moderna, iniciada
em 1970, quando houve um aumento da participação da sociedade 123
civil na política de preservação federal, perceptível pelo número de
solicitações de tombamento cuja iniciativa partia de assembleias
legislativas e prefeituras - em interesse próprio ou como intermediárias
de grupos locais -, de instituições culturais, assim como de arquitetos,
artistas, historiadores e intelectuais familiarizados com a questão da
preservação.
Podemos indicar essa mudança também como consequência
da abertura política, da revisão da história oficial e da tomada de
consciência das minorias, sejam étnicas, culturais ou mesmo de
categorias profissionais, como os operários fabris, que lutam para
preservar sua identidade, sendo cada vez maior a pressão da sociedade
pela preservação de vestígios históricos e de categorias culturais menos
convencionais que o repertório até então eleito e preservado.
Se o patrimônio cultural representa o conjunto de bens e
conhecimentos de uma sociedade, sua dimensão deveria ser, portanto,
diretamente proporcional à complexidade dessa sociedade. Desse
modo, a valorização patrimonial deveria estar articulada aos valores e
dilemas culturais da sociedade atual, na seleção e distinção dos bens
dignos de registro e perpetuação.
Aqui poderíamos abrir parênteses para focalizar a preservação
do patrimônio industrial, decorrente da própria ampliação do conceito
de patrimônio histórico para cultural.Tanto em São Paulo quanto no Rio
de Janeiro, como abordamos na primeira parte desta tese, as fábricas e a
ferrovia tiveram papel fundamental ao determinar vetores de expansão

Capítulo 8 - Construção do Patrimônio Cultural Brasileiro


urbana, configurando bairros e setores da cidade. O reconhecimento 71
Essas considerações estão
contidas no discurso de Lúcio
de antigas estruturas relacionadas à industrialização como bens a serem Costa, em 1970, quando do
protegidos e preservados - edifícios e maquinaria; oficinas, fábricas, minas encontro de representantes
dos estados e municípios, que
e locais de tratamento e de refinação; entrepostos e armazéns; centros gerou o Compromisso de
de produção, transmissão e utilização de energia; meios de transporte Brasília, em que se defende a
política de descentralização
e todas as suas estruturas e infraestruturas; assim como os locais onde das atividades de proteção
se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indústria, tais do patrimônio, em razão,
primeiramente, da crescente
como habitações, locais de culto ou de educação - complementa a demanda de ações patrimoniais
noção de patrimônio cultural. Tais bens se constituem como elementos gerada pelo quadro urbano
nacional e, em segundo lugar,
indispensáveis para a manutenção das características do espaço e do da carência de recursos do
lugar de memória na construção do tempo presente. É com base nessa IPHAN, o que impossibilitava
uma atuação mais intensiva
visão sobre o patrimônio industrial como testemunho de atividades que em todas as regiões do
tiveram e ainda têm profundas consequências históricas e das quais país. A criação de serviços
de patrimônio estaduais e
participaram inúmeros segmentos sociais que se justificam as iniciativas municipais adquiriu então sua
de sua proteção. primeira feição normativa
no Compromisso de Brasília,
Muitas vezes, a percepção da importância dos objetos dentro ratificado um ano depois em
reunião em Salvador, gerando
de uma sociedade muda em função de sua representatividade simbólica o Compromisso de Salvador.
para reconstruir a vida, a cultura ou mesmo a identidade de determinado
grupo humano. Podemos perceber essa mudança na concepção da
valorização dos testemunhos passados na própria trajetória de atuação
do IPHAN: o que era considerado, a princípio, capaz de preservar a
124 memória e evocar uma manifestação cultural, a partir dos anos de
1960, começou a ser questionado e considerado inadequado aos
novos tempos, conforme salienta Lúcia Lippi Oliveira (2008, p. 125): “[...]
intelectuais envolvidos na efervescência cultural consideravam o IPHAN
elitista, pouco representativo da pluralidade, enfim, alienado em relação
aos problemas fundamentais do desenvolvimento”.
Ao lado dessas críticas, encontra-se também a problemática
relacionada ao caráter centralizador do órgão, o que, na década de 1970,
levou à adoção de uma política de descentralização. A justificativa de
Lúcio Costa para a descentralização era, de um lado, a longa formação
requerida para os técnicos do patrimônio e, por outro lado, que o
modelo de ações prioritárias do IPHAN, estas implementadas desde
o início de suas atividades, implicava uma complexidade de tarefas,
que abrangiam desde o inventário histórico-artístico do que existia na
região, o estudo da documentação recolhida e o tombamento daquilo
que devia ser preservado à eleição do que merecia restauro prioritário
e a apropriação de verbas destinadas ao restauro, além da escolha de
técnicos, o estudo preliminar com base nas investigações históricas e in
loco, o registro das fases da obra e, finalmente, a manutenção e o destino
do bem recuperado, que também demandavam um longo tempo71.
Essa nova política do IPHAN levou à concepção de programas
que buscavam legitimar e reorganizar a esfera patrimonial, como
a criação do Programa de Cidades Históricas (PCH) em 1973, que
viabilizou a preservação do patrimônio de cidades nordestinas ligado
aos ciclos da cana-de-açúcar, cabendo ao IPHAN aprovar a restauração
O Lugar do Patrimônio Industrial
e acompanhar os trabalhos técnicos. O PCH inseriu a preservação de
bens culturais pela primeira vez dentro de planos de desenvolvimento
econômico, ao “[...] transformar antigos presídios, em Recife, Natal
e Fortaleza, em casas de cultura, o que fortaleceu o artesanato e o
turismo” (OLIVEIRA, L. L., 2008, p. 125).
A criação dos Centros Nacionais de Referência Cultural
(CNRC) em 1975 também é citada por Lúcia Lippi Oliveira (2008)
como fundamental para a mudança da esfera patrimonial. Esses centros
eram responsáveis por mapear, documentar e entender a diversidade
cultural do Brasil, referenciando a dinâmica cultural das comunidades
em bancos de dados virtuais. Nos quatro primeiros anos de atuação
do órgão, foram desenvolvidos projetos em quatro áreas: artesanato,
levantamentos socioculturais, história da tecnologia e da ciência no
Brasil e levantamentos de documentação sobre o Brasil.
Esses projetos evidenciavam claramente as diferenças entre
Rodrigo M. F. de Andrade e Aloísio Magalhães, este à frente na busca da
identidade brasileira.
Segundo Gonçalves (2002), Rodrigo M. F. de Andrade valorizava
a tradição histórica e artística conferida por objetos e monumentos que
apontassem o vínculo entre os brasileiros do presente e os do passado,
exercendo, assim, uma política quase que civilizatória: 125
Essa modalidade de narrativa do patrimônio vai,
precisamente, tentar reconstruir esse fio partido da
tradição. Esse fio é feito de monumentos, por meio dos
quais se pode estabelecer uma relação com o passado.
Objetos de arte e arquitetura (igrejas, fortes, palácios,
casas de câmara e cadeia, conjuntos arquitetônicos e
urbanísticos), o chamado patrimônio de “pedra e cal”,
substituto do bronze, material próprio das narrativas
épicas, são itens fortemente valorizados (GONÇALVES,
2002, p. 118).

Já Aloísio Magalhães valorizava o cotidiano, levando em


consideração as várias tradições e seus correspondentes materiais
(monumentos, objetos, espaços), como também seu patrimônio
imaterial e intangível: práticas e atividades.
Esse cotidiano, que já aparecia no discurso do anteprojeto de
Mário de Andrade, foi fortemente tematizado no espaço público por
Aloísio Magalhães, como afirma Gonçalves (2002, p. 119):
Em seu discurso, desloca-se a valorização quase exclusiva
dos chamados “bens patrimoniais”, associados ao passado
da nação, para o que ele chamava de “bens culturais”,
integrantes da vida presente dos diversos segmentos da
população. Além disso, como conseqüência da valorização
do presente, esses bens culturais serão pensados como
instrumentos de construção de um futuro, na construção
do “desenvolvimento”.

Essa abordagem abre espaço para a incorporação de estruturas


arquitetônicas, objetos e atividades em uma rede atual e viva de relações
entre grupos sociais, na qual se insere o patrimônio industrial.
Capítulo 8 - Construção do Patrimônio Cultural Brasileiro
Fonseca (1997) classifica o período dos anos de 1970 e 1980
para o IPHAN como “momento renovador”, ressaltando as diversas
formas de atuação na produção do acervo patrimonial, que ampliam o
conceito de patrimônio e introduzem uma noção mais abrangente de
memória social:
Mas o fato mais característico desse período é a
diversificação dos bens de arquitetura civil, e o
tombamento de bens inusitados, como a Fábrica de
Vinho de Caju Tito Silva, proposto pelo programa de
Tecnologias Patrimoniais da Área de Referência da
Dinâmica Cultural da Fundação Nacional pró-Memória,
cuja finalidade não era propriamente a proteção do imóvel
e do equipamento, mas desses enquanto suporte de um
“fazer intimamente relacionado com as características
regionais do processo cultural brasileiro”(FONSECA,
1997, p. 208; aspas no original).

Podemos considerar essa mudança como parte de um processo


em que o quadro das pesquisas históricas renovou-se e ampliou-se ao
abrir o campo da História para o estudo de atividades humanas até então
pouco investigadas, objetivando construir o passado, problematizando-o
e recompondo-o na forma de complexos fragmentos que não
reconstituem nem a totalidade e nem a complexidade do momento
vivido.
126 Essa diferenciação na abordagem patrimonial é evidenciada
também na confrontação entre o texto do artigo 1º do Decreto-Lei
nº 25/1937, que determinava ser o patrimônio histórico e artístico
nacional “[...] o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país
e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação
a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional
valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico” (BRASIL.
Decreto-Lei nº 25/1937), e o texto constitucional de 1988, que amplia
o conceito de patrimônio para o âmbito cultural:
Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro
os bens de natureza material e imaterial, tomados
individualmente ou em conjunto, portadores de
referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes
grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se
incluem:
I – as formas de expressão;
II – os modos de criar, fazer e viver;
III – as criações científicas, artísticas e tecnológicas;
IV – as obras, objetos, documentos, edificações e demais
espaços destinados às manifestações artístico-culturais;
V – os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,
ecológico e científico.
§ 1º - O Poder Público, com a colaboração da comunidade,
promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro,
por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento
e desapropriação, e de outras formas de acautelamento
e preservação.
§ 2º - Cabem à administração pública, na forma da

O Lugar do Patrimônio Industrial


72
Como verificamos, nos lei, a gestão da documentação governamental e as
últimos anos, o reconhecimento, providências para franquear sua consulta a quantos dela
a defesa e a gestão do necessitem.
patrimônio expandiram-se
rapidamente para além do § 3º - A lei estabelecerá incentivos para a produção e o
contexto de mobilização estatal conhecimento de bens e valores culturais.
em direção a reivindicações § 4º - Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão
locais, incluindo particulares, punidos, na forma da lei.
organizações, fundações
e empresas na defesa do § 5º - Ficam tombados todos os documentos e os sítios
patrimônio cultural, além de detentores de reminiscências históricas dos antigos
firmas de consultoria nacionais quilombos (BRASIL. Constituição Federal de 1988).
e internacionais. Como
exemplo desse tipo de parceria, Essas mudanças verificadas na trajetória do IPHAN no tocante
podemos citar o projeto de
reabilitação da área e do à preservação do patrimônio cultural brasileiro abrem espaço para
prédio do antigo incinerador que novas formas de diálogos entre os atores urbanos envolvidos
no bairro de Pinheiros, em
São Paulo, onde até 1989 se estabeleçam e que outras heranças possam ser incluídas em uma
eram processados resíduos política pública patrimonial, por meio de subsídios, de parcerias público-
domiciliares e hospitalares,
sendo transformados na Praça privadas, de divulgação e de ajuda técnica especializada72.
Victor Civita. Essa iniciativa
foi realizada por meio de Assim, o IPHAN não representa o único caminho para preservar
parceria público-privada entre
a Prefeitura do Município de os bens culturais brasileiros. Sua ação é complementada pela atuação
São Paulo e a Editora Abril, dos estados e municípios, que trabalham nas esferas regionais, além das
que destinou à praça o nome
do fundador da empresa, iniciativas particulares, espontâneas ou não.
Victor Civita. Nesse processo
de reabilitação, houve a
participação de diversos atores,
como a empresa alemã GTZ 127
(Deutsche Gesellschaft für
Technische Zusammenarbeit),
que, em parceria com
a CETESB (Companhia
Ambiental do Estado de São
Paulo), auxiliou nos estudos
que levaram à formulação
do Termo de Referência
para a recuperação de áreas
degradadas, o qual guia todo o
processo de descontaminação
do solo. A GTZ também é
responsável pelo registro
fotográfico e em vídeo da
reabilitação da área, que
resultará em uma exposição
permanente instalada no
interior da construção, o
Museu da Reabilitação.

►Fig. 80. Praça Victor Civita, antigo


incinerdor de lixo hospitalar. Fonte:
Portal Vitruvius.

Quanto à atuação pragmática do IPHAN, Cavalcanti (1995)


indica como este exerce o controle sobre a produção arquitetônica
no exercício da seleção da produção pretérita a ser eternizada, assim
como da futura, que figurará, segundo ele, “[...] ao lado desse pantheon
contrutivo [...]” (p. 46), respaldada pelo conceito de identidade nacional:
O Serviço de Patrimônio atua numa escala urbana e
com a noção de ambiência, ampla em escala e idéia o
bastante para lhe conferir o papel de planejador urbano
ao lado dos órgãos da prefeitura. Ao operar mesclando
padrões estéticos com conceitos de nacionalidade e

Capítulo 8 - Construção do Patrimônio Cultural Brasileiro


identidade, logra atingir uma inquestionabilidade e um
tom ético-emocional que confere certo ar perene e
absoluto a regras visuais e noções de memória que, na
realidade, foram histórica e socialmente construídos
(CAVALCANTI, 1995, p. 46).

Esse esforço de controle na ação de preservação do patrimônio


cultural, antes de ser uma atitude meramente técnica, acadêmica e
científica, não deve ignorar que o maior patrimônio são as pessoas que
(re)produzem e (re)semantizam as suas heranças e recepções culturais
de forma dinâmica e contínua.

128

O Lugar do Patrimônio Industrial


9. O lugar da indústria no patrimônio
cultural

Faz parte do funcionamento da memória e da cultura


poder reatualizar qualquer dos objetos que nela
figuraram uma vez; a repetição é sempre possível, a
repetição com aplicação, transformação.
Michel Foucault

Nos últimos cinquenta anos, o reconhecimento, a defesa e


a gestão do patrimônio industrial expandiram-se rapidamente do
contexto de mobilização local para incluir organizações e fundações de
defesa do patrimônio cultural, além de firmas de consultoria nacionais
e internacionais.
A nomeação de áreas industriais como Patrimônio da
Humanidade pela UNESCO - entre outras, a Siderurgia de Völklingen
e o Complexo da Mina de Carvão Zollverein, ambos na Alemanha; a 129
Vila Mineira de Sewell, no Chile; a Siderúrgica Engelsberg, na Suécia; a
paisagem industrial da Siderúrgica de Blaenavon, na Grã Bretanha; New
Lanark, na Escócia; Saltaire, na Inglaterra e a cidade de Ouro Preto, no
Brasil - reflete o reconhecimento do significado simbólico e social que
assinala esses monumentos industriais como patrimônio cultural.
Nas justificativas de inclusão desses monumentos da sociedade
industrial, é consenso a citação de reconhecida excepcionalidade, tanto
do desenvolvimento técnico associado ao bem, quanto da atividade
desenvolvida em um período significativo da história humana, sem
esquecer a excepcionalidade arquitetônica. Dos 890 bens de 148
Estados inscritos na lista do patrimônio mundial (689 bens culturais,
176 bens naturais e 25 bens mistos), a Associação Portuguesa para
o Património Industrial (APPI) identifica 44 bens que podem ser
considerados patrimônio industrial, listados no Quadro 1 e visualizados
na Figura 81.

Fig. 81. (página 130) Os 44 bens


listados pela UNESCO, considerados
Patrimônio Industrial pela APPI. Fonte:
Elaboração da autora com imagens da
UNESCO-Ourplace.

Capítulo 9 - O Lugar da Indústria no Patrimônio Cultural


130

O Lugar do Patrimônio Industrial


Quadro 1 - Patrimônio Industrial protegido pela UNESCO
PAÍS DATA BEM PROTEGIDO
1 ALEMANHA 1992 Minas de Rammelsberg e Cidade Histórica de Goslar
2 1994 Complexo Siderúrgico de Völklingen
3 1996 Bauhaus e seus sítios em Weimar e Dessau
4 2001 Complexo Industrial da Mina de Carvão de Zollverein em Essen
5 ÁUSTRIA 1997 Paisagem Cultural de Hallstatt-Dachstein, Salzkammergut
6 1998 Linha do Caminho de Ferro de Semmering
7 BÉLGICA 1998 Quatro Ascensores do Canal du Centre e respectivo Sítio, La Louvière e Le Roeulx
(Hainault)
8 2005 Complexo Museológico, Oficinas e Casa de Plantin-Moretus
9 BOLÍVIA 1987 Cidade Mineira de Potosi
10 BRASIL 1980 Cidade Histórica de Ouro Preto
11 2001 Centro Histórico da Cidade de Goiás
12 CHILE 2005 Fábricas de Nitrato do Chile de Humberstone e Santa Laura
13 2006 Cidade mineira de Sewell
14 CUBA 1988 Trinidad e Vale dos Engenhos
15 ESLOVÁQUIA 1993 Cidade Histórica de Banská Štiavnica e os Monumentos Técnicos da sua Vizinhança
16 ESPANHA 1997 Las Medulas
17 2006 Ponte suspensa de Vizcaya
18 FINLÂNDIA 1996 Fábrica de Madeira e de Cartão de Verla
19 FRANÇA 1982 Salinas Reais de Arc-et-Senans
20 1996 Canal do Midi
21 2005 Le Havre, a cidade reconstruída por Auguste Perret 131
22 ÍNDIA 1999 Caminho-de-Ferro Himalaio de Darjeeling
23 ITÁLIA 1995 Complexo têxtil e operário de Crespi d'Adda (Bergamo)
24 MÉXICO 1988 Cidade Histórica de Guanajuato e Minas Adjacentes
25 1993 Centro Histórico de Zacatecas
26 2006 Paisagem de Agave e Antigas Instalações Industriais de Tequila
27 NORUEGA 1980 Cidade Mineira de Røros
28 PAÍSES BAIXOS 1997 Rede de Moinhos de Kinderdijk-Elshout
29 1998 Ir. D. F. Woudagemaal (Estação Elevatória a Vapor D. F. Wouda)
30 POLÔNIA 1978 Minas de Sal de Wieliczka
31 2006 Salão do Centenário em Wroclaw
32 PORTUGAL 1996 Centro Histórico do Porto
33 2001 Região Vitivinícola do Alto Douro
34 REINO UNIDO DA 1986 Garganta de Ironbridge
35 GRÃ-BRETANHA E 2000 Paisagem Industrial de Blaenavon
IRLANDA DO NORTE
36 2001 Fábricas Têxteis do Vale de Derwent
37 2001 New Lanark
38 2001 Saltaire
39 2004 Cidade Mercantil Marítima de Liverpool
40 2006 Paisagem Mineira da Cornualha e de Devon Ocidental
41 SUÉCIA 1993 Fábrica Metalúrgica de Engelsberg
42 2001 Área Mineira da Grande Montanha de Cobre de Falun
43 2004 Estação de Rádio de Varberg
44 2005 Arco Geodésico de Struve
Fonte: APPI. Disponível em: <http://www.museudaindustriatextil.org/appi/patrimonio-humanidade.php>. Acesso em 20 fev. 2010.

Capítulo 9 - O Lugar da Indústria no Patrimônio Cultural


O patrimônio industrial, por abranger um domínio muito amplo,
mobiliza grupos de diferentes campos acadêmicos, como a história, a
arquitetura e o urbanismo, a geografia, a antropologia, citando somente
alguns, contudo com perspectivas sobrepostas sobre a maneira de
refletir sobre o tema. O movimento em prol do reconhecimento, estudo
e preservação do patrimônio industrial levou ao desenvolvimento de
um campo particular, a arqueologia industrial, e culminou na criação de
programas de graduação e especialização na Europa e Estados Unidos
voltados ao ensino e pesquisa nesse campo.
Em 1978, foi criada em Estocolmo, Suécia, uma organização
internacional, The International Committee for Conservation of the
Industrial Heritage (TICCIH), com a finalidade de abordar a história da
técnica, a sociedade e a arquitetura industrial como um novo campo
do patrimônio cultural. O TICCIH teve origem no First International
Congress on the Conservation of Industrial Monuments (FICCIM),
acontecido em Ironbridge, Reino Unido, em 1971 (TRINDER, 2000).
As quase quatro décadas de discussões sobre o tema, várias reuniões
científicas, nacionais e internacionais, e vastas experiências práticas
acumuladas resultaram na elaboração de uma Carta para o Patrimônio
Industrial – Carta de Nizhny Tagil, em 200373.

132
A Carta de Nizhny Tagil define patrimônio industrial como os
vestígios da cultura industrial que possuem valor histórico, tecnológico,
social, arquitetônico ou científico74. Ainda segundo a Carta, esses vestígios
referem-se não somente aos espaços que dão suporte à produção,
armazenagem e infraestrutura industrial, mas também aos espaços das
atividades sociais relacionadas com a indústria, como as habitações
operárias, os locais de culto ou de educação.
Apesar dessas iniciativas pelo patrimônio industrial e sua
preservação, permanecem ainda questões fundamentais sobre como
articular eficazmente ações práticas com as dimensões teóricas. Como
compatibilizar, por exemplo, interesses como reuso adaptável, reparação
ambiental, revitalização de comunidades com temas que exploram o
trajeto da inovação tecnológica, os sentidos amplos de cultura material 73
A Carta de Nizhny Tagil sobre
e as transformações sociais intrínsecas à industrialização. Os desafios o patrimônio industrial foi redi-
gida durante o XII Congresso
profissionais enfrentados para analisar e preservar um passado industrial Internacional do TICCIH, em
no século XXI apresentam-se cada vez mais complexos em razão 2003, na Rússia, e apresenta-
da à XV Assembléia Geral do
das transformações globais, nas quais as antigas “oficinas do mundo” ICOMOS, realizada na China,
vivenciam histórias de desindustrialização e, com isso, períodos longos em 2005, a qual, reconhecendo
a importância do patrimônio
do abandono e negligência. industrial, propôs uma reflexão
específica sobre o tema para
Isso conflui em direção às recentes formulações feitas por a XVI Assembléia Geral do
ICOMOS,que foi realizada no
Cossons (2007), que evidencia que o conhecimento e a experiência da Canadá, em 2008.
indústria estão desaparecendo muito rápido, e já não podemos supor 74
Carta de Nizhny Tagil, tra-
que o significado da industrialização permanecerá na consciência pública. dução para o português de José
Lopes Cordeiro. Disponível em
Parece que estamos diante de um embate sobre o que preservar <http://www.patrimonioindust-
rial.org.br>. Acesso em: 20 jul.
e como, e, para o tratamento do assunto, precisamos entender um 2008.

O Lugar do Patrimônio Industrial


pouco mais sobre os objetos de estudo do patrimônio industrial.
Nesse sentido, parece-nos oportuna a definição dos componentes
do patrimônio industrial elaborada por Meneses (1988). Para o autor,
o patrimônio industrial como coisas físicas integra a cultura material
socialmente apropriada pelo homem, dando a tais coisas forma e/
ou função e sentido. Na cultura material, os artefatos constituem os
produtos e vetores de relações sociais e trazem embutidos em sua
materialidade os atributos e propriedades decorrentes da forma como
os homens organizam-se em sociedade. Nessa perspectiva, os artefatos
que constituem o patrimônio industrial englobam as edificações, as
estruturas e os bens móveis (equipamentos e objetos diversos). Além
dos artefatos, denominados por Meneses (1988) como monumentos,
fazem parte do campo do patrimônio industrial os conhecimentos e
as técnicas, assim como os sítios industriais. Esses últimos constituem
os espaços resultantes do fenômeno industrial, socialmente produzido
como um conjunto de objetos solidariamente inter-relacionados e
espacialmente dependentes (MENESES, 1988, p. 68).
Considerando essas concepções, podemos esboçar uma
delimitação do campo do patrimônio industrial na esfera da cultura
imaterial, presente nos saberes técnicos e nas relações sociais, e na esfera
da cultura material, presente nos monumentos e na sua organização
espacial como um sistema. 133

Segundo Kühl (2008), as expressões “patrimônio industrial”


e “arqueologia industrial” têm sido usualmente empregadas como
sinônimos, apesar de a arqueologia industrial voltar-se ao estudo, análise
e registro de todo o legado da industrialização (testemunhos materiais
existentes ou já desaparecidos) e à sua preservação, quando reconhecido
o interesse como bem cultural, e de o patrimônio industrial tratar de
um bem já identificado como possuidor de elementos que interessam
à preservação, por meio de estudos multidisciplinares conduzidos pela
arqueologia industrial.
Assim, a autora define Arqueologia Industrial como área de
interesse das humanidades em geral,
[...] estando ligada à antropologia, à sociologia, à geografia,
à história – social, do trabalho, econômica, das ciências, da
técnica, da engenharia, da arte, da arquitetura, das cidades
etc. Pode ser entendida como o esforço multidisciplinar
– de inventários, de registro, de entrevistas, de pesquisas
histórico-documentais, iconográficas, de levantamento
métrico e análise de artefatos, de edifícios e de conjuntos
arquitetônicos (de sua formação no decorrer do tempo,
de seus materiais, de suas estruturas, de suas atuais
patologias, de sua inserção na cidade ou território), que,
sendo reconhecidos como bens materiais, devem dar
origem a ações de preservação e projetos de restauração
– para estudar as manifestações físicas, sociais e culturais
de formas de industrialização do passado, com o intuito
de registrá-las, revelá-las e preservá-las (KÜHL, 2008, p.
47).

Os bens de interesse cultural e arquitetônico, portadores


Capítulo 9 - O Lugar da Indústria no Patrimônio Cultural
de expressões culturais e sociais, representam também, atualmente,
um importante papel dentro da dinâmica urbana. Esses bens podem
fornecer uma variedade de benefícios públicos, incluindo educação,
desenvolvimento sustentável, desenvolvimento econômico, recuperação
de áreas deprimidas e repovoamento de áreas centrais, melhorando a
competitividade entre as cidades, o desenvolvimento cultural e provendo
instalações para atividades comunitárias.
A preservação de bens de interesse cultural e arquitetônico
sustenta vários projetos de revalorização de áreas deprimidas com o
objetivo de promover melhorias na qualidade de vida da população
envolvida, reintegrar espaços estigmatizados e fortalecer comunidades
locais.
As fábricas e complexos industriais, em função da sua
especificidade, têm seu próprio valor intrínseco, e os projetos estratégicos
de requalificação urbana e territorial têm o dever de preservar seu
significado urbano e seu papel memorial.
Kühl (2010, p. 28) elenca as razões que motivam a preservação
de um bem cultural em: razões de cunho cultural, que envolvem os
aspectos estéticos, históricos, memoriais e simbólicos dos bens; de
cunho científico, pois os bens são portadores de conhecimentos nos
134 vários campos do saber, tanto das humanidades, quanto das ciências
naturais; de cunho ético, pois, considerando os bens como testemunhos
relevantes de gerações passadas, não temos o direito de apagá-los e
privar o presente e o futuro da possibilidade de conhecimento daquilo
de que os bens são portadores. Com base nessas razões para a
preservação, Kühl (2010) alerta que, apesar de as questões de ordem
prática (de uso, econômicas etc.) estarem sempre presentes, deixam de
ser únicas e prevalentes e passam a ter caráter indicativo, concomitante,
mas não determinante. Essas questões deveriam ser empregadas como
meios de preservar, mas não como a finalidade, em si, da ação.
O valor do patrimônio arquitetônico resultante do processo
de industrialização tem seu reconhecimento no Brasil ainda de forma
bastante incipiente. Poucos são os exemplares de instalações industriais
tombadas na esfera federal, como podemos notar no quadro abaixo:

O Lugar do Patrimônio Industrial


Quadro 2 - Patrimônio Industrial protegido pelo IPHAN
ESTADO ANO BEM CULTURAL MATERIAL TOMBADO
1 Amazonas 1985 Reservatório de Mocó
2 1987 Mercado Municipal
3 1987 Porto de Manaus: conjunto arquitetônico
4 Bahia 1942 Engenho Lagoa: sobrado e capela
5 1943 Engenho Embiara: sobrado
6 1943 Engenho Matoim: sobrado e fábrica de açúcar
7 1943 Engenho Vitória: sobrado, capela, crucifixo, senzala e banheiro
8 1944 Eng.Freguesia: sobrado, fábrica de açúcar e Capela de N.S.da Piedade
9 1944 Engenho São Miguel e Almas: casa e capela
10 Maranhão 1981 Sítio do Físico: ruínas
11 1987 Fábrica Santa Amélia: prédio
12 1998 Engenho Central São Pedro: casa
13 Minas Gerais 1938 Fábrica de Ferro Patriótica: ruínas
14 1989 Complexo ferroviário de São João del Rei
15 2003 Cataguases: conjunto histórico, arquitetônico e paisagístico
16 Pará 1977 Ver-o-Peso: conjunto arquitetônico e paisagístico
17 Paraíba 1984 Fábrica de Vinho Tito Silva
18 Pernambuco 1962 Engenho Poço Comprido: casa grande e capela
135
19 Paraná 1985 Engenho do Mate
20 Rio de Janeiro 1938 Jardim Botânico
21 1954 Trecho ferroviário Mauá-Fragoso
22 1967 Palácio de Cristal e Praça da Confluência
23 1985 Avenida Modelo: conjunto de habitação coletiva
24 1998 Base aérea de Santa Cruz: hangar de zepelins
25 2008 Estação Dom Pedro II, também denominada Central do Brasil
26 Rio G. do Norte 1964 Engenho do Cunhau: ruínas da capela
27 Rondônia 2008 Pátio Ferrov. da E. de F. Madeira Mamoré, Bens Móveis e Integrados
28 Rio Gde do Sul 1983 Cais do Porto: pórtico central e armazéns
29 Santa Catarina 1998 Ponte Hercílio Luz
30 São Paulo 1963 Engenho dos Erasmos: ruínas
31 1964 Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema: remanescentes
32 1985 Casarão do Chá
33 1996 Estação da Luz
34 2004 Conjunto de edificações da Companhia Paulista de Estrada de Ferro.
35 2004 Estação Ferroviária de Mayrink.
36 2008 Vila Ferroviária de Paranapiacaba
Fonte: Elaboração da autora baseada em pesquisa nos arquivos do IPHAN.

Capítulo 9 - O Lugar da Indústria no Patrimônio Cultural


A Fábrica de Ferro Patriótica de São Julião, em Ouro Preto – 75
De acordo com a Lei nº
11.483, de 31 de maio de
MG, fundada pelo Barão de Eschwege em 1812, foi a primeira fábrica 2007, em seu Art. 9º: “Caberá
tombada em nível federal no Brasil, sendo inscrita no livro do Tombo ao Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional
Histórico sob o n° 72 em 30 de junho de 1938 (nº do processo: 0031- - IPHAN receber e administ-
T-38). Após 26 anos dessa iniciativa, o IPHAN faz o tombamento do rar os bens móveis e imóveis
de valor artístico, histórico e
conjunto formado pelos remanescentes da Real Fábrica de Ferro São cultural, oriundos da extinta
João de Ipanema, em Iperó - SP. RFFSA, bem como zelar pela
sua guarda e manutenção.
Outro fato singular em prol do patrimônio industrial é o § 1o Caso o bem seja classi-
tombamento pelo IPHAN da Fabrica de Vinho Tito, em João Pessoa ficado como operacional, o
IPHAN deverá garantir seu
- PB. A fábrica, fundada em 1892 por Tito Henrique da Silva, passou compartilhamento para uso
por processo de modernização na década de 1930, funcionando ferroviário.
normalmente até o início da década de 1980, quando seu patrimônio § 2o A preservação e a difusão
da Memória Ferroviária consti-
foi leiloado para pagar dívidas junto ao Governo. Seu tombamento tuída pelo patrimônio artístico,
representou uma inovação na preservação do patrimônio industrial, pois cultural e histórico do setor
ferroviário serão promovidas
não só o monumento, a maquinaria e o equipamento foram preservados, mediante:
mas, sobretudo, a técnica industrial de manufatura de vinho cuja base I - construção, formação, orga-
é o caju. A arquitetura industrial é modesta, constituída por três blocos nização, manutenção, ampliação
e equipamento de museus, bi-
independentes, interligados por pátios internos. A empresa possui, entre bliotecas, arquivos e outras or-
outros objetos raros, vinte tonéis de madeira de lei de 1892, prensas ganizações culturais, bem como
de suas coleções e acervos;
manuais e uma máquina de rotular alemã de 1930.
II - conservação e restauração
Os tombamentos isolados de patrimônio industrial pelo IPHAN, de prédios, monumentos, lo-
136 gradouros, sítios e demais espa-
como o Engenho de São Jorge dos Erasmos, em 1963, e a Real Fábrica ços oriundos da extinta RFFSA.
de Ferro São João de Ipanema, em 1964, na década em que patrimônio § 3o As atividades previstas no
industrial começara a ganhar maior atenção na Europa, são avaliados § 2o deste artigo serão finan-
ciadas, dentre outras formas,
por Rodrigues (2010, p. 35) como “fatos auspiciosos”, embora não por meio de recursos captados
tenham inaugurado uma política sistemática de tombamentos de bens e canalizados pelo Programa
Nacional de Apoio à Cultura
industriais em São Paulo. A autora salienta ainda que, somente quarenta - PRONAC, instituído pela Lei
anos após esses tombamentos, outros importantes exemplares de no 8.313, de 23 de dezemb-
ro de 1991” (BRASIL. Lei nº
patrimônio industrial seriam tombados: as estações ferroviárias, como 11.483, de 31 de maio de 2007.
o Conjunto de Edificações da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, Dispõe sobre a revitalização do
setor ferroviário, altera dispo-
em Jundiaí - SP, e a Estação de Mairinque - SP. sitivos da Lei no 10.233, de 5
de junho de 2001, e dá outras
Importante ação com relação ao patrimônio ferroviário foi a providências. Diário Oficial da
promulgação da Lei Federal nº 11.483, de 31 de maio de 2007, que União, Brasília, DF, 31 mai. 2007.
Seção 1-Edição Extra, pp. 7-8).
dispõe sobre a revitalização do setor ferroviário e designa ao IPHAN a
tarefa do inventário de bens ferroviários pertencentes à extinta Rede
Ferroviária Federal - RFFSA75.
Rodrigues faz um balanço significativo do patrimônio industrial
tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo – CONDEPHAAT-
nas três ultimas décadas:
A proteção do Condephaat ao patrimônio industrial
iniciou-se em 1974, quando foram tombadas ex-officio
as ruínas do Engenho dos Erasmos, e decididos os
tombamentos das ruínas do Engenho do Rio Quilombo
e da Estação de Bananal. Na mesma década foi tombado
o conjunto do Horto e Museu Edmundo Navarro
(1977), importante peça de sustentação da estrutura
de produção de transporte da Companhia Paulista,
O Lugar do Patrimônio Industrial
uma vez que lá, além do plantio, realizavam-se pesquisas
para escolha e adequação de espécies fornecedoras de
madeira utilizadas nos dormentes.
No decorrer da década de 1980, outras estações
ferroviárias, cerca de dez, foram tombadas. No mesmo
período receberam a proteção do poder público
estadual, os bens imóveis e móveis da Estrada de
Ferro Perus-Pirapora; uma rotunda em Cruzeiro; a Vila
de Paranapiacaba, em Santo André; a Ponte Pênsil, em
Xavantes; a Ponte Metálica, em São José do Rio Pardo; e
as ruínas do Engenho Lagoinha, em Ubatuba.
Na década de 1980 tiveram início os tombamentos
de edifícios relacionados à produção propriamente
industrial. Os exemplares pioneiros foram a Usina de
Corumbataí, em Rio Claro, e o Casarão do Chá, situado
em Mogi das Cruzes, no ano de 1982. Seguiram-se os
tombamentos dos edifícios da Fábrica de Tecido São
Luís, em Itu; da Destilaria Central, em Lençóis Paulista; do
KKKK, em Registro. E um conjunto de moradias operárias,
a Vila Maria Zélia, da já inexistente fábrica de Jorge Street,
no Belenzinho.
Nos anos 1990, foram tombados os edifícios da
Manufatura de Tapetes Santa Helena, em Jacareí; das
Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo, em Marília; e
elementos da estrutura da antiga Fábrica Olivetti, em
Guarulhos, hoje um shopping center cujo edifício nada
revela ao cidadão comum sobre a antiga função [...].
Na presente década, o número de tombamentos
incluídos na categoria de patrimônio industrial ampliou- 137
se, com a inclusão de unidades fabris. No interior do
estado, em 2007, a Fábrica Santa Adélia e as Indústrias
Têxteis São Martinho, em Tatuí; e, em Ribeirão Preto, a
Cervejaria Paulista; no ano seguinte, a Swift Armour, em
São José do Rio Preto. E, desde 2008, a Fábrica Gessy
Lever, em Valinhos, está aguardando homologação, do
mesmo modo que o Moinho Matarazzo, situado em São
Paulo. Em 2009, tombaram-se a Casa das Retortas, os
Balões da Companhia de Gás e o antigo Moinho Gamba.
Há ainda alguns bens industriais, com processos já
informados pelos técnicos, que aguardam a decisão do
Conselho, como é o caso da antiga Fábrica de Seda
Ítalo-Brasileira, na Rua Joli, no Brás; da unidade da Brasital
e a Vila dos Funcionários, em São Roque; dos Galpões
da Fábrica Labor, na Mooca; da Estação Ferroviária de
Araraquara; da Estação Ferroviária e os Armazéns de
Piratininga; e do Complexo Ferroviário de Bauru, cuja
importância é inestimável, pois inclui estações e vila de
funcionários das Companhias Noroeste, Sorocabana e
Paulista, e oficinas da Noroeste.
Outros aguardam o desenvolvimento ou a conclusão de
estudos, como usinas de força e de açúcar; fornos de
cal; fábricas, estações e oficinas ferroviárias, para material
rodante e demais categorias de bens móveis de ferrovias.
(2010, pp. 36-37)

É possível apreender desse balanço a variedade de tipologias


que representam as manifestações arquitetônicas e tecnológicas das
atividades produtivas (tecelagens, indústrias agroalimentares, químicas,
mecânicas, eletrônicas) e a diversidade de locais focalizados nos
tombamentos (capital, interior, litoral), todos alinhavados pela ferrovia
no desenho de uma paisagem urbano-industrial, com qualidade estética
única, estabelecida pelo diálogo entre os imponentes edifícios industriais
Capítulo 9 - O Lugar da Indústria no Patrimônio Cultural
com o entorno, com as vilas operárias, com o desenho da cidade e suas 76
O Grupo de Estudos de
História da Técnica (GEHT), de
aglomerações preexistentes. caráter acadêmico e profissio-
nal, foi formado em 7 de agosto
O campo de estudo sobre o patrimônio industrial alarga-se com de 1996 junto ao Centro de
os debates sobre o tema em reuniões científicas. Pioneiro na área de Memória da Universidade
Estadual de Campinas (CMU/
patrimônio industrial foi o I Seminário Nacional de História e Energia, UNICAMP), no Estado de
realizado em São Paulo, em outubro de 1986. O seminário apresentava São Paulo, com a finalidade de
congregar os profissionais de-
uma sessão temática dedicada ao Patrimônio, Preservação e História dicados à História da Técnica
da Energia, que fomentou a discussão sobre Patrimônio e Arqueologia e da Tecnologia. O GEHT está
integrado oficialmente na est-
Industrial. Essa sessão contou com conferencistas internacionais, como rutura do Centro de Memória
a francesa Fabienne Cardot, que abordou a Preservação da Memória da UNICAMP, sendo seu co-
ordenador membro efetivo da
industrial; o português José Manuel Lopes Cordeiro, com o tema Coordenadoria de Pesquisas
Salvaguarda do Patrimônio Industrial; o belga Eddy Stols, que proferiu desse Centro.
palestra sobre a História e Arqueologia Industrial da Energia Elétrica; o
77
Foram signatários da
Declaração, entre outros 43
historiador norte-americano Warren Dean, entre outros. Pesquisadores profissionais: Celso Lago Paiva,
de relevância nacional, como Ulpiano Bezerra de Meneses, Ruy Gama, relator (Instituto Histórico
e Geográfico de Piracicaba
Paul Singer e Carlos Lemos, também contribuíram para o debate. – IHGP), Ema Elisabete
Rodrigues (Centro de Memória
Somente 13 anos após a realização desse primeiro seminário, UNICAMP), Antonio Henrique
a Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo retoma as Felice Anunziata (Associação
Brasileira de Preservação
discussões sobre o patrimônio industrial ao promover o II Seminário Ferroviária – ABPF), Antonio da
Costa Santos (FAU-PUCCAMP,
Nacional de História e Energia. prefeito de Campinas de
janeiro a setembro de 2001),
138 O debate sobre o papel memorial do legado da industrialização José Manuel Lopes Cordeiro,
foi tema das reuniões dos membros do Grupo de Estudos de História (Universidade do Minho, re-
presentante de Portugal no
da Técnica – GEHT76 em Campinas - SP, em meados de 1997. Com base TICCIH), Olga Rodrigues de
nas discussões sobre a conservação dos bens culturais ligados aos ofícios, Moraes von Simson (coordena-
dora do Centro de Memória
às profissões e às indústrias, designados pelo grupo como “construções UNICAMP – CMU), Simonne
e instalações utilitárias”, foi redigida, em 29 de janeiro de 1999, uma Teixeira (UENF, RJ), Thomas
F. Glick (Boston University),
declaração em defesa das construções e instalações utilitárias, nomeada Lucio Gomes Machado
Declaração de Campinas77. Essa Declaração pode ser considerada uma (Conselheiro do ICOMOS,
FAU-USP), Jonas Soares de
iniciativa pioneira no Brasil no trato da conservação e tutela de bens Souza (Museu Paulista-USP)
vinculados ao processo de industrialização. e Cristina Meneguello (IFCH-
UNICAMP).
A Declaração de Campinas critica os critérios de preferência
dos conselhos de tombamento ao afirmar que
O tombamento de bens culturais edificados obedece
freqüentemente a critérios estéticos, resultando na
conservação de edificações oficiais e particulares,
fartamente decoradas e demonstradoras da riqueza
de seus construtores. Em contrapartida as construções
utilitárias, que aliam a simplicidade e a funcionalidade ao
despojamento decorativo, são por isso freqüentemente
negligenciadas (GRUPO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA
DA TÉCNICA, 1998).

Na mesma Declaração, no capítulo das Recomendações, o


Grupo de Estudos de História da Técnica declara a necessidade da
mudança na sistemática de avaliação por parte dos órgãos oficiais na
seleção de bens culturais a serem tutelados e preservados a fim de
garantir a valorização dos bens culturais específicos do processo de
industrialização:

O Lugar do Patrimônio Industrial


78
Primeira carta produzida Os testemunhos materiais das atividades produtivas
pelos integrantes do Comitê, (máquinas, ferramentas, instalações agrícolas e industriais,
até então provisório, para a edificações pertinentes, oficinas) e respectivos
Preservação do Patrimônio documentos devem obter dos Conselhos de
Industrial no Brasil, em São Tombamento, dos arquivos, dos museus e das bibliotecas
Paulo, no dia 15 de março de a mesma atenção normalmente devida a outros bens
2003. Disponível no sítio do culturais (como solares, igrejas e fortalezas) (GRUPO
TICCIH-Brasil. Acesso em: 4 DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DA TÉCNICA, 1998).
set. 2009.
79
A primeira linha de pesquisa, Em março de 2003, professores universitários, profissionais e
Arqueologia Industrial, enfoca
os estudos de casos, buscando instituições reunidos em São Paulo subscreveram uma Carta Manifesto78,
fundamentar um campo teóri- convocando todos os interessados na preservação do patrimônio
co e de pesquisa. No Encontro,
constituindo uma seção, foram industrial no país a se unirem em torno do Comitê Provisório pela
apresentados estudos sis- Preservação do Patrimônio Industrial no Brasil, fundado nessa data.
temáticos de estações ferro-
viárias, gasômetros, sistemas de A Carta Manifesto alertava para as consequências das mudanças
abastecimento de água, entre
outros. A 2ª seção abordou a tecnológicas, do processo de desindustrialização de algumas regiões do
Arquitetura e Preservação do país e dos impactos do processo de descentralização e desconcentração
Patrimônio Industrial com base
na análise das formas de pre- industrial no âmbito nacional, e para o seu patrimônio edificado, em
servação e revalorização das especial, para “[...] a deterioração das edificações e equipamentos e até
edificações industriais na trama
urbana contemporânea. A 3ª mesmo a simples demolição de muitas delas” (CARTA MANIFESTO,
seção abordou a face imateri- 15/03/2003).
al do patrimônio industrial por
meio das dinâmicas do mundo
do trabalho, do “saber fazer” e Esse texto embrionário, que marca o início do Comitê
do “poder lembrar” inseridas Brasileiro para a Preservação do Patrimônio Industrial, novamente
nas memórias operárias. Na 4ª
e última seção, estiveram pre- repercute a postura adotada até então para com a significância do 139
sentes os temas ligados aos estudo, documentação, salvaguarda e difusão do patrimônio industrial,
espaços da moradia operária,
em que a questão da habitação comparada com a relativa aos outros bens culturais:
revela-se indissociável da vida
nos novos espaços de trabalho Muitas dessas fábricas possuem importante valor
como organizadora também arquitetônico, representando diversas fases do
da máxima produtividade desenvolvimento industrial brasileiro, e também profundas
(MENEGUELLO; RUBINO, relações históricas e culturais com as comunidades que
2004, p. 4). as circundam. No entanto, até mesmo os responsáveis
pela preservação do patrimônio histórico e cultural
80
No II Encontro, foram sele- do país, em seus três níveis de atuação – municipal,
cionados 45 trabalhos e foram estadual e federal, freqüentemente subestimam o
ministradas quatro conferências patrimônio industrial, considerando-o pouco relevante
magistrais. Os temas abordados no conjunto do patrimônio a ser preservado. Além disso,
seguiram as mesmas linhas do I os próprios proprietários encaram esses antigos espaços
Encontro: arqueologia industri-
al, requalificação do patrimônio fabris apenas como fonte de recursos, abrindo espaço
construído da industrialização, para a voracidade da especulação imobiliária (CARTA
o patrimônio imaterial relaci- MANIFESTO, 15/03/2003).
onado à indústria, os espaços
de moradia. Destacaram-se, Em 2004, foi organizado pelo Instituto de Filosofia e Ciências
no segundo, alguns temas que
ganharam amplitude nos de- Humanas da Universidade de Campinas (IFCH-UNICAMP) o I Encontro
bates acadêmicos sobre o pa- em Patrimônio Industrial, no qual foi formalizado o Comitê Brasileiro
trimônio industrial: a questão
da Teoria da Restauração, em para a Preservação do Patrimônio Industrial. Nesse encontro, foram
uma palestra ministrada pela apresentados 25 trabalhos, divididos em quatro linhas de pesquisa que
Profa. Dra. Beatriz Kühl, da
FAU-USP; a paisagem industri- se sobrepõem no estudo do patrimônio industrial79.
al e sua iconografia, na expo-
sição “Arquitetura Industrial” Em 2009, foi realizado o II Encontro Nacional sobre Patrimônio
– gravuras, desenhos e pinturas Industrial80, evento que deu continuidade ao primeiro encontro, realizado
de George Gutlich; os vazios
urbanos e as ruínas industri- cinco anos antes, e que tinha como premissa atualizar o panorama
ais, abordados pela Profa. Dra. inicial das pesquisas acadêmicas e das iniciativas públicas e privadas
Cristina Meneguello, do IFCH-
UNICAMP. relacionadas à preservação do patrimônio industrial e contribuir também
para mobilizar os pesquisadores brasileiros para o V Colóquio Latino-
Capítulo 9 - O Lugar da Indústria no Patrimônio Cultural
Americano e Internacional sobre Rescate y Preservación del Patrimonio
Industrial do TICCIH, previsto para 2010, em Ouro Preto (MG).
Esses encontros evidenciam que os estudos de Arqueologia
Industrial intensificaram-se ao longo dos últimos anos no Brasil, abrindo
perspectivas mais promissoras para a consolidação do nosso patrimônio
industrial.
Kühl (2010) alerta contudo que, apesar de haver ocorrido maior
clareza nas definições de patrimônio industrial, não se pode dizer que
tenha ocorrido igual avanço no aprofundamento do conhecimento, pois
se verifica nas atas das numerosas reuniões científicas dos anos 1990
e 2000 a frequência de “[...] estudos monográficos sobre complexos
industriais ou sobre determinadas tipologias (ou conjunto de tipologias)
[...]” e a ausência de “[...] estudos interdisciplinares que aprofundem a
questão da inserção desses bens no espaço, ao longo do tempo, e suas
relações com a estruturação da cidade ou do território, sua articulação
com aspectos sociais, econômicos, culturais e políticos” (p. 27).
A autora insiste na retomada de questões metodológicas que
possibilitem o estabelecimento de linhas temáticas que
[...] aprofundem tanto aspectos específicos da questão
(arquitetura ferroviária, por exemplo), quanto análises mais
140 abrangentes, envolvendo de maneira articulada campos
como a história (econômica, social, da arquitetura etc.), a
sociologia, a antropologia e o restauro, de modo que se
torne possível uma compreensão mais efetiva dos vários
aspectos vinculados ao processo de industrialização e de
seu legado de interesse para a preservação. O problema
é que a tão decantada interdisciplinaridade não aparece
com frequência na produção científica: temos assistido a
“monodisciplinaridades”, no plural, e não a verdadeiros
estudos interdisciplinares (KÜHL, 2010, p. 27).

Diante desse desafio, partimos para o estudo de casos de


tombamento do patrimônio industrial, ambientes construídos pelos
homens para o seu trabalho e que guardam, em sua materialidade, a
memória das ideias, das práticas sociais, do desenvolvimento tecnológico
e dos sistemas de representação dos indivíduos que ali conviveram.
Como em qualquer ação de preservação do patrimônio
cultural, o processo de ativação de memória corresponde a programar
também o esquecimento, a poder selecionar aquilo que se considera
de fato relevante e que, portanto, interessa manter como elemento de
rememoração e que, assim sendo, seja depositário de valor cultural: valor
testemunhal, singularidade e representatividade tipológica, autenticidade,
integridade, além dos valores histórico-sociais, tecnológicos e artístico-
arquitetônicos.

O Lugar do Patrimônio Industrial


10. Patrimônio Industrial: espaço da
memória ou memória do espaço?

Como vimos no capítulo anterior, a proteção do patrimônio


industrial constitui um campo do patrimônio cultural que só
recentemente vem sendo objeto de pesquisa historiográfica no Brasil.
Ao lado de outros tipos arquitetônicos selecionados e
inventariados pelo IPHAN para fazer parte do patrimônio histórico
e artístico nacional, as edificações industriais começam a despontar
somente nas últimas décadas como representantes de um ciclo
econômico importante, que colocou alguns estados em posição de
liderança econômica em relação ao país, como São Paulo e Rio de
Janeiro, conforme demonstramos na Parte 1 desta tese.
É interessante notar que, ao mesmo tempo em que esses
estados foram importantes centros de empreendimentos industriais
têxteis desde o século XIX, a única indústria têxtil reconhecida como
portadora de valor histórico e arquitetônico pelo IPHAN localiza-se no 141
Maranhão: a Fábrica Santa Amélia.
Conforme preceitos da Carta de Nizhny Tagil, dos 77 bens
tombados pelo IPHAN em São Paulo81, poderíamos arrolar somente
sete como patrimônio industrial, sendo que quatro deles são estações,
oficinas e vilas ferroviárias, dois são ruínas – Engenho dos Erasmos e
os remanescentes da Real Fábrica de Ferro São João de Ipanema - e
o último, o Casarão do Chá, embora constitua um espaço construído
para abrigar uma fábrica de chá, tem grande visibilidade como edifício
representativo da imigração japonesa no Brasil. Em processo de
tombamento junto ao IPHAN encontra-se a Fábrica de Tecidos São
Luiz, em Itu, já tombada pelo CONDEPHAAT. Rubino (1996) já havia
comentado sobre a inexpressiva participação de São Paulo no conjunto
de bens tombados brasileiros, na chamada “fase heróica” do IPHAN,
sendo que, de 1967 até o presente momento, essa condição mudou
relativamente pouco.
O quadro no Rio de Janeiro não difere muito do de São
Paulo, embora aquele estado, desde a criação do IPHAN, tenha uma
representação expressiva entre os bens patrimoniais do país. Dos 225
bens tombados pelo órgão federal, identificamos seis edificações que
caberiam na categoria de patrimônio industrial: Trecho Ferroviário
Mauá-Fragoso, primeiro trecho ferroviário do país, com 14 quilômetros;
81
Os números aqui citados o Hangar de Zepelins, que inclui maquinários e equipamentos; o Palácio
referem-se ao levantamento da de Cristal, construção pré-fabricada; a Estação Central do Brasil; os
autora junto aos arquivos do
IPHAN. Ver Anexo. remanescentes da Real Fábrica de Pólvora, dentro do Jardim Botânico;
Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?
e a Avenida Modelo.
Esse conjunto representa, portanto, uma seleção de bens legados
por esta particular forma de urbanização, originada da progressiva
desativação de áreas industriais em cidades e estados a partir de meados
do século XX.
Cabe aqui indagar qual foi a abordagem metodológico-conceitual
dos procedimentos técnicos de seleção, análise e tombamento
experimentados pelo IPHAN nas últimas décadas, concernentes à
proteção dos bens relacionados à industrialização.
Avaliar o processo de proteção da Fábrica Santa Amélia com
base nos pareceres dos documentos de trabalho do IPHAN justifica-se
pela colocação de Cecília Rodrigues dos Santos (2004, p. 112):
[...] embora os pareceres estejam talvez entre os
documentos mais corriqueiros no cotidiano de uma
repartição pública, eles acabaram por se tornar também
importantes depositários da memória do seu trabalho.

Santos, C. R. dos (2004) enfatiza a aplicabilidade da leitura


sistemática das correspondências trocadas entre técnicos do IPHAN,
entre estes e seus interlocutores e de pareceres provocados por
circunstâncias de trabalho diversas, mesmo que sob a forma de ofícios e
142 memorandos escritos sob o emblema da República para a transparência
“[...] dos critérios técnicos adotados para os tombamentos e as
discussões que os acompanharam [...]” (p. 133), esclarecendo também
“[...] o processo que acabou por delinear, mesmo que de forma não
sistematizada, o corpo conceitual que embasou a ação da Instituição e
o papel de cada um de seus atores” (p. 133).
Não faremos aqui a descrição de todas as etapas de tombamento
da Fábrica Santa Amélia. Interessa-nos entender os critérios adotados
pelo IPHAN para esse tombamento, identificando valores atribuídos ao
bem e a repercussão entre os diferentes atores sociais envolvidos, na
perspectiva do processo de tombamento considerada por Maria Cecília
Fonseca como “verdadeiros dossiês” (FONSECA, 1997, p. 181).
Do que foi dito, algumas questões se impõem.
Quais códigos arquitetônicos, programáticos e funcionais
associados à atividade industrial são representativos de conceitos como
excepcionalidade (artística e histórica) do bem industrial? Seria sua
alvenaria de tijolos aparentes, suas estruturas em ferro fundido ou aço,
suas coberturas em estruturas metálicas ou em madeira com os sheds,
suas platibandas de tijolos trabalhados, seus caixilhos de ferro e vidros, a
extensão dos vãos internos dos galpões, o ritmo das envasaduras e das
fachadas, a forma e altura de sua chaminé?
Qual tipo representativo de configuração territorial da indústria
contribui para a ideia de bem cultural? A variação de escalas arquitetônicas
e urbanísticas na ocupação dos lotes, a forma de implantação em
blocos independentes ou contínuos, a formação de núcleos urbanos
O Lugar do Patrimônio Industrial
82
Foram consultados os conjuntamente com residências operárias ou a conjugação de todos
processos referentes ao
tombamento da Fábrica Santa esses elementos, formando uma paisagem peculiar, representativa de
Amélia, em São Luiz, MA; da valores sociais, tecnológicos, ambientais e afetivos da coletividade?
Fábrica de Vinho Tito Silva, PB
e Sítio do Físico, MA. Ainda que as singularidades morfológicas da atividade industrial
83
O emprego do termo lugar suponham essa série de questionamentos, podemos verificar, com base
de memória se dá dentro
da perspectiva definida por na análise de alguns processos de tombamento82, que o reconhecimento
Pierre Nora em Les France desses objetos patrimoniais - podendo ser dito que figuram como
(1993, vol. I, p. 20), citado por
Enders (1993), na qual a um espaços de exceção na perspectiva do universo salvaguardado pelo
lugar associa-se uma ideia, IPHAN - evolui, partindo do conceito de excepcionalidade para a
transformando-o em símbolo.
Segundo Nora, lugar de abordagem voltada à sua representatividade como formadores da
memória é toda “[...] unidade memória urbana coletiva, de um saber fazer específico, como no caso
significativa, de ordem material
ou ideal, da qual a vontade da Fábrica de Vinho Tito Silva, na Paraíba.
dos homens ou o trabalho
do tempo fez um elemento Esse olhar sobre o patrimônio industrial vai sendo incorporado
simbólico do patrimônio da às práticas patrimoniais juntamente com os temas tradicionais
memória de uma comunidade
qualquer” (NORA apud predominantes no acervo de bens tombados - igrejas, casas de câmara
ENDERS, 1993, p. 134). e cadeias, fortalezas, prédios de intendências e alfândegas, engenhos,
palácios reais e imperiais, cidades coloniais, entre outros – como parte
de um enfoque proposto na transição do século XX para o XXI, de uma
leitura acerca da identificação, documentação, promoção e proteção do
patrimônio cultural de forma mais ampla e plural. Assim, as fábricas,
com seus modos de ocupação do território, seu saber fazer e as formas 143
impostas de viver, saem da vacuidade de sentido histórico e conquistam
seu lugar de memória83.

Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?


10.1. A Fábrica de Tecidos Santa Amélia – São Luís,
Maranhão

Como apresentamos na Parte I desta tese, o setor têxtil,


considerado o berço da revolução industrial, por ter protagonizado
o processo original de automação da manufatura, permaneceu
relativamente ativo em mão-de-obra até fins do século XX. A revolução
tecnológica associada à difusão da microeletrônica, característica do atual
paradigma técnico-econômico, teve impacto significativo também nesse
setor industrial ao reduzir, nos últimos anos, o hiato tecnológico em 84
VIVEIROS, Jerônimo. História
relação a outros setores industriais por meio da difusão de práticas de do Comércio do Maranhão,
1896-1934. São Luís: Lithograf,
produção enxuta e do emprego de avançados sistemas de automação, 1992.
o que se por um lado proporcionou grandes economias de escala,
aumentando o volume de produção por fábrica, por outro levou ao
fechamento de empresas tradicionais que não se adaptaram às novas
exigências do mercado.
Assim ocorreu com a Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Suas
edificações, a princípio, abrigaram a Companhia de Lanifícios Maranhense,
instalada ali em 1892 e que funcionou por dez anos até sua falência. Em
1902, as instalações da fábrica e seu maquinário foram arrematados em
144 leilão pelo empresário Cândido José Ribeiro e, somados à Fábrica São
Luís, passaram a constituir o Cotonifício Cândido Ribeiro, que recebeu
o nome comercial de Fábrica Santa Amélia. A Fábrica funcionou por
64 anos (de 1902 a 1966) e constituiu marco importante na história
das indústrias maranhenses. O nascente parque manufatureiro do
Maranhão, no final do século XIX, concentrou-se em São Luís e, em ▲Fig.82. Cotonifício Cândido Ribeiro
1895, era composto por 27 fábricas, sendo 14 delas têxteis. - Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Vista
dos Fundos, Chaminé. Fonte: IPHAN-
Regional Maranhão.
O algodão representou, durante décadas no século XIX, fonte
◄Fig.83. Cotonifício Cândido Ribeiro
de lucros para a economia do Maranhão, cuja produção encontrou - Fábrica de Tecidos Santa Amélia.
Vista dos Fundos, divisa com a Fonte
condições altamente propícias para se desenvolver e se capitalizar em das Pedras. Fonte: IPHAN- Regional
função da guerra de independência dos EUA e, logo em seguida, da Maranhão.

revolução industrial inglesa, fornecendo matéria-prima para o mercado ▼Fig.84. Cotonifício Cândido Ribeiro
- Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Vista
externo e suprindo o mercado interno de tecidos (VIVEIROS84 apud da Fachada para a Rua das Crioulas,
detalhe do painel de azulejos. Fonte:
CAMPOS, 2008, p. 8). IPHAN- Regional Maranhão.

O Lugar do Patrimônio Industrial


A solicitação de tombamento das edificações da extinta
Fábrica Santa Amélia, referente ao processo 1144-T-85 do IPHAN, foi
apresentada na 121ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, realizada em 10 de julho de 1987, sendo
o tombamento aprovado por unanimidade.
O prédio da Fiação e Tecelagem de Algodão Santa Amélia,
conforme instrução do conselheiro Roberto Cavalcanti de Albuquerque,
baseada nos pareceres da Arquiteta Dora Alcântara, então coordenadora
do setor de tombamento da Diretoria de Tombamento e Conservação
- DTC-, trata-se “[...] de exemplar significativo da arquitetura industrial
do Maranhão, representando, com fidelidade, a simbiose que muitas
construções industriais do Brasil da época revelam, de construção
residencial com a industrial” (IPHAN, Processo de Tombamento
nº1144-T-85, p. 64)85.
A justificativa de seu valor histórico pauta-se no fato de essa
fábrica representar o processo de industrialização maranhense,
iniciado em meados do século XIX com a instalação de inúmeras
fábricas de tecelagem e fiação, explorando a cultura algodoeira local.
A Fábrica Santa Amélia foi responsável por grande parte da produção
de tecidos do estado, tanto para o mercado interno quanto para o
externo, produzindo uma variedade de cerca de 24 tipos de tecidos, 145
em maquinário totalmente de origem inglesa. A fábrica foi ainda uma
grande empregadora, chegando a possuir, em 1941, 300 funcionários, e
atuou mais de meio século na fabricação de fios e tecidos de algodão
(IPHAN, Processo nº 1144-T-85, p. 17).
Quanto às virtudes estéticas do prédio, o técnico do IPHAN,
Eng. Carlos Danúzio de Castro e Lima, dá o seu parecer sobre o imóvel,
enfatizando a notável arquitetura industrial maranhense presente no
edifício:
Construído em pedra cal e tijolo, apresentando
inicialmente partido quadrangular de dois pavimentos,
mirante com cobertura de telha de barro tipo canal, e
estrutura metálica para vencer grandes vãos, o prédio
reproduz os esquemas da arquitetura industrial adotados
no período da industrialização no Maranhão.
Ao ser adquirido, por ocasião da instalação da fábrica,
teve seu sistema estrutural reforçado com a introdução
de elementos metálicos, e seu espaço ampliado com a
construção de dois acréscimos laterais térreos, também
em estrutura metálica, modulada, importada da Inglaterra,
e cobertura em telha de barro tipo Marseille.
A fachada, resultado da construção em várias épocas,
guarda, entretanto, uma distribuição harmoniosa,
simétrica, tendo o corpo central, como já foi assinalado,
dois pavimentos e mirante, recobertos de azulejos
portugueses, e terminando em beiral. Quanto aos
corpos laterais, têm revestimento em cal, areia e barro,
e são terminados em platibanda de elementos vazados.
85
Ata da 121ª reunião do
Conselho Consultivo do As janelas e portas possuem verga em arco abatido. No
Patrimônio Histórico e segundo pavimento as janelas são providas de balcões
Artístico Nacional, realizada em sacados feitos de ferro forjado, sendo que as três centrais
10 de julho de 1987. têm balcão corrido, e as demais, balcões individuais.

Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?


Internamente, em sua parte central, o térreo apresenta 86
Nestor Goulart Reis Filho
compartimentos ligados por grandes arcos, piso de refere-se à similaridade entre
cimento, presumivelmente, cobrindo a pedra de cantaria. as edificações industriais e
Próximo à porta principal, notável escada de metal em o ambiente doméstico: “[...]
caracol, de origem inglesa, leva ao segundo pavimento mesmo as indústrias, cujas
onde o piso é de assoalho e o forro de madeira. O condições de implantação
acesso ao mirante é feito através de uma escada de e dimensões diferiam
madeira. Este se compõe de duas salas e sótãos laterais. fundamentalmente de tudo o
O terreno situado atrás é revestido de paralelepípedos que então existira, adaptavam-
possuindo um grande poço do qual era retirada água se aos tipos tradicionais
de relacionamento com os
que servia ao prédio, e uma chaminé de tijolo refratário lotes. Ressentindo-se de
de aproximadamente 28 m de altura (IPHAN, Processo compromissos de um passado
nº 1144-T-85, p. 18). recente com o ambiente
doméstico, quer em sentido
Embora a fábrica tenha sido desativada em 1966, 19 anos espacial quer em sentido social,
antes do início do processo de tombamento, as adaptações que foram acomodavam-se em galpões,
com feições de residência,
realizadas, em função de novas utilizações do imóvel, não resultaram, até edificados em tijolos, sobre os
aquele momento, em descaracterizações de ordem estrutural ou de sua limites das vias públicas” (Reis
Filho, 1978, p. 84).
espacialidade. Segundo indicam os registros documentais, o empenho na
preservação do imóvel deve-se ao fato de este não se achar inserido na
área de tombamento de São Luís e, portanto, encontrar-se em situação
vulnerável no tocante a uma possível descaracterização.
Quanto ao seu valor artístico, a arquiteta Dora Alcântara faz
uma comparação do edifício da fábrica com os edifícios industriais
construídos na mesma época, valendo-se da descrição de Nestor
146 Goulart Reis Filho (1978)86, aludindo ao caráter nacional do fenômeno
da construção industrial e às particularidades do gosto arquitetônico
regional - no caso da fábrica Santa Amélia, os azulejos portugueses de
padrão e colorido comuns aos grandes sobrados de função residencial
do Maranhão.
A analogia entre a edificação fabril e as edificações residenciais
é novamente apontada pela arquiteta Dora Alcântara, com base em
elementos construtivos ou de composição do conjunto arquitetônico da
Fábrica Santa Amélia, destacando sempre os comentários do professor
Nestor Goulart Reis Filho:
1) As vergas da janelas da Fábrica Santa Amélia, em
forma de arcos de círculo, desvinculadas das obreiras
e com chaves enfáticas nos arcos: “as preocupações
arquitetônicas [das fábricas] encaminhavam-se no
mesmo sentido que as residências, concentrando-se em
detalhes das janelas, de acordo com estilos em voga”;
2) O beiral da fábrica ocultar o recorte das múltiplas
águas do telhado, e a platibanda vazada nos corpos
mais baixos da edificação: “os telhados ocultavam-se
sob platibandas avantajadas, de sorte que os conjuntos
reduziam-se a retângulos alongados de tijolos por
revestir enegrecidos pela fuligem, apenas interrompidos
pelas janelas”(Reis Filho, 1978, p. 85).
3) Os espaços internos apresentar uma organização ▲▲▲Fig.85. Fábrica de Tecidos Santa
Amélia. Detalhe Porta. Fonte: IPHAN,
que os adequava às funções industrias, com grandes regional Maranhão.
vãos possibilitados pelo uso das estruturas metálicas,
que permaneciam ocultas nas fachadas: “ainda que os ▲▲Fig. 86. Fábrica de Tecidos Santa
Amélia. Fachada. Detalhe: beiral Fonte:
interiores fossem por vezes montados com estruturas IPHAN, regional Maranhão.
metálicas, as frentes, bem ou mal ocultavam tais soluções,
organizando-se de modo que ofereciam às ruas aspecto ▲Fig. 87. Fábrica de Tecidos Santa
Amélia. Interior. Detalhe: estruturas
tradicional”(Reis Filho, 1978, p. 86). metálicas. Fonte: IPHAN, regional
Maranhão.

o lugar do patrimônio industrial


4) A varanda doméstica, ventilada através das venezianas
e das ripas alternadas do forro, em uma das alas do
sobrado da casa (IPHAN, Processo nº 1144-T-85, pp. 21-
22).
A instrução do processo de tombamento da Fábrica Santa
Amélia, baseada nos pareceres dos técnicos e conselheiros, apresenta
uma riqueza de informações relativas aos aspectos arquitetônicos do
▲Fig. 88. Fábrica de Tecidos Santa
edifício, acentuando, contudo, que a sua valorização como representante
Amélia. Interior. Detalhe: varanda. da história industrial deve contemplar também o processo industrial, o
Fonte: IPHAN, regional Maranhão.
que se encontra enfatizado pela arquiteta Dora Alcântara no final da
análise do pedido de tombamento:
Chamaríamos a atenção, como objeto de estudo
complementar e para eventual processo de tombamento,
o acervo desta fábrica (maquinário, arquivo, mostras
de tecido, rótulos etc.) que poderão interessar aos
pesquisadores da história da indústria no Brasil e,
particularmente, a participação maranhense nessa
história (IPHAN, Processo de Tombamento nº1144-T-85,
p. 22).

A preocupação do IPHAN com relação ao inventário


complementar de um bem arquitetônico ligado à atividade produtiva
- construído por meio do estudo histórico, documental, analítico e
iconográfico com base no acervo da fábrica para entender a tipologia
e o funcionamento de um setor industrial - é precursora do debate e 147
discussões relacionados com a preservação do patrimônio industrial, os
quais adquirem profundidade em trabalhos como o de Beatriz Kühl, que
enfatiza o papel do inventário sistemático e multidisciplinar:
Para fundamentar essas análises é necessário
desenvolver inventários sistemáticos alicerçados em
processos cognitivos oferecidos pelas ciências humanas
(história, sociologia, antropologia, geografia etc.), pois
somente através desses instrumentos é possível
ter uma compreensão suficientemente ampla do
processo de industrialização para avaliar o interesse
de seus remanescentes – histórico, formal, memorial
e simbólico para as comunidades – para identificar, de
maneira consciente e embasada, os bens considerados
merecedores de ser preservados para as gerações
futuras (KÜHL, 2008, p. 46).

No que se refere ao processo de tombamento, aceita a


indicação do bem a preservar, segue-se a fase de impugnação, na qual o
proprietário contesta o tombamento se assim o desejar.
As considerações colocadas pelo proprietário visando impugnar
o pretendido tombamento da Fábrica Santa Amélia justificam-se dentro
de um quadro singular, em que muito pouco ainda fora preservado
no concernente a edificações industriais, em meio à certeza de que
havia exemplares arquitetônicos indiscutivelmente mais dignos de
tombamento que aquele:
a) São Luiz já tem, tombados, exemplares mais que
suficientes de prédios do padrão arquitetônico em
questão, não se justificando obstaculizar o notório
surto de desenvolvimento da cidade [grifo da autora],
já carente de área como a ocupada pelo imóvel, com o
Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?
dispensável tombamento. 87
Primeira Carta de Oposição
b) Tendo cessado suas atividades industriais há mais de ao tombamento do Cotonifício
vinte anos [grifo no original], já não existem no imóvel Cândido Ribeiro Ltda. pelo
qualquer resquício das instalações e maquinaria, que, Impugnante, Sra. Homera
deteriorada, foi alienada como sucata. Novaes Cavalcanti, que
representa o liquidante da
c) Nem possui o Maranhão parque industrial que empresa, datada de 20 de
justifique a preservação de imóvel de medíocre, senão novembro de 1985.
nenhum, interesse histórico [grifo da autora].
Pelas razões acima, [...] espera e requer o impugnante
88
Segunda Carta de Oposição
ao tombamento do Cotonifício
que não prospere o malsinado tombamento (IPHAN, Cândido Ribeiro Ltda pelo
Processo de Tombamento nº 1144-T-85, pp. 38-39)87. Impugnante, Sra. Homera
Novaes Cavalcanti, que
A essa contestação, encaminhada pela proprietária sem ter representa o liquidante da
vistas do processo devido a erro de localização do prédio no pedido empresa, datada de 3 de março
de 1986.
inicial do tombamento, erro este que devolveu à requerente o direito
de impugnação, segue uma segunda, desta vez elaborada por seus
representantes legais, que distorcem a análise do significado do imóvel
elaborada nos pareceres do IPHAN :
I. O atento exame dos elementos e informações
constantes do processo, longe de vulnerarem as razões
alinhavadas pela Impugnante, na verdade dão-lhe sólido
alicerce.
II. Com efeito, nem mesmo o compreensível zelo, no
caso excessivo, dos que descreveram o imóvel, conseguiu
obnubilar o fato de que o imóvel não passa hoje de um
grande galpão, já irremediavelmente desfigurado de suas
anteriores características, que, de resto, já à época, não
148 primavam pela pureza de estilo.
III. O tombamento de tal imóvel, sobre ser de total
desinteresse cultural e artístico, malferindo portanto, se
efetivado, o elevado conceito nacional e internacional
que, com inteira justiça goza esse colendo órgão, seria
verdadeiro crime [grifo no original] praticado contra o
surto de sadio progresso que bafeja São Luiz, carente de
áreas livres de tombamentos ou suas ameaças [grifo da
autora], para instalação de modernas indústrias que virão
empregar grande número de pessoas, colaborando para
solucionar o grande problema social do desemprego.
IV. A clarividência e patriotismo dos ilustres homens
responsáveis pela preservação do patrimônio histórico
e artístico nacional, está certa a impugnante, imporá seja
indeferida a malsinada pretensão tombatória (IPHAN,
Processo de Tombamento nº 1144-T-85, pp. 49-50)88.
É interessante notar que, no questionamento do proprietário e
seus representantes legais sobre a legitimidade do processo de atribuição
de valor ao bem, o imóvel é citado como “de total desinteresse cultural
e artístico”, “medíocre”. Se não é demonstrada a segurança sobre o
valor artístico do bem em questão no parecer emitido pelo órgão de
preservação, como parece ser o caso quando o processo refere-se ao
patrimônio industrial, o questionamento do proprietário acaba por se
servir dessa vulnerabilidade.
A questão do incipiente quadro de referências para a
preservação de bens não tradicionais é levantada no parecer da ▲Fig. 89. Fábrica de Tecidos Santa
arquiteta Dora Alcântara em outro processo de tombamento, anterior Amélia. Detalhes do gradil de ferro da
sacada (a), escada e guarda-corpo de
ao da Fábrica Santa Amélia. Nas instruções do processo nº 1072-T-82 ferro (b) e portão de ferro da porta
principal (c). Fonte: IPHAN, Processo
para o tombamento do Farol de Macuripe, em Fortaleza, Ceará, de de Tombamento nº 1144-T-85.
1982, arquivado pelo IPHAN, Dora Alcântara comenta:
O Lugar do Patrimônio Industrial
89
Parecer da Assessoria Sempre que nos é proposta a preservação de um bem
Jurídica sobre a oposição ao tradicional em nossa prática institucional de tombamento
tombamento do Cotonifício - igreja, teatro etc. - não há dificuldade maior, porque
Cândido Ribeiro Ltda. já possuímos o necessário quadro de exemplos para
90
Parecer do Relator do referenciá-lo. Se, ao contrário, a proposta refere-se a um
Processo de Tombamento das objeto não tradicional - caixa d’água, vila operária etc.
Edificações que abrigaram - temos necessidade de organizar um mínimo quadro
a Fábrica Santa Amélia, de referência para opinar com menor margem de erro
Conselheiro Roberto (ALCÂNTARA apud FONSECA, 2005, p. 202).
Cavalcanti de Albuquerque.
O encaminhamento da contestação do pedido de tombamento,
91
Sobre o tombamento do
conjunto arquitetônico e que gerou pareceres jurídicos não consensuais, colocando em discussão
paisagístico em São Luis do o patrimônio representado pela Fábrica Santa Amélia, pode ser
Maranhão, Rodrigo M. F de
Andrade, em instrução às entendido somente pelo ângulo da propriedade e de sua imobilização
divisões técnicas do IPHAN, em no tempo e no espaço.
24 de junho de 1955, colocava
que, embora Lúcio Costa A impugnação é da maior importância para compreendermos
advertisse “[...] reiteradamente
da inconveniência de serem alguns aspectos ideológicos envolvidos com o tombamento. No caso,
convertidas em monumentos
nacionais obras de arquitetura em primeiro lugar, a proprietária, preocupada com o fato de a sociedade
de valor secundário e sítios comercial achar-se dissolvida, opõe-se ao pretendido tombamento, pois
urbanos de interesse apenas
relativo [...] no caso de São Luis, parece entender que, se consumado, poderia obstaculizar a alienação
há entretanto a considerar, para do bem ao término do processo de dissolução.
ajuizar-se da conveniência de
estender à cidade a proteção Cumpre-nos, no entanto, assinalar que o tombamento
da lei federal, o seguinte: o consiste, apenas, numa limitação administrativa ao
número e a feição típica das exercício do direito de propriedade, através da qual o
edificações revestidas de que se exige é precipuamente a conservação do bem
azulejos, em grande parte pelo proprietário, conforme preconiza o artigo 17 do 149
assobradadas, ali existentes, Decreto-lei nº25/37, sem, contudo, impedi-lo de exercer
empresta ao conjunto as faculdades inerentes ao seu título e domínio, tais como,
arquitetônico local aspecto alienar, locar, doar, permutar.
nitidamente diferenciado das É válido acrescentar, ainda, que, se ultimado o
demais cidades do país. [...] tombamento, ao proprietário em caso de alienação
Finalmente, cumpre ponderar
que a especulação imobiliária compete oferecer o imóvel preferencialmente à União,
não se manifestou ainda na aos Estados e aos Municípios, nos termos do disposto no
capital do Maranhão com tanta artigo 22 do Decreto-lei nº25/37 (IPHAN, Processo de
intensidade quanto nas outras Tombamento nº 1144-T-85, pp. 51-52)89.
capitais e, assim, a proteção
ao acervo arquitetônico local No relato que transcrevemos sobre a impugnação do
suscitará menor relutância” tombamento, fica visível a percepção do proprietário acerca da proteção
(IPHAN, Processo nº 0454-T-
51, pp. 2-3). do imóvel com o instituto do tombamento como obstáculo não ao seu
valor de uso, mas ao seu valor de troca.
Tal fato é sublinhado também no parecer do conselheiro
Roberto Cavalcanti de Albuquerque, relator responsável pelo processo,
ao sugerir que a liquidante não explicita a “[...] razão fundamental de
sua impugnação, qual seja, a eventual redução do valor venal do bem,
localizado na área central da cidade, em rápida expansão, com acelerada
valorização imobiliária” (IPHAN, Processo de Tombamento nº 1144-T-
85, p. 60)90.
O posicionamento do IPHAN, tanto do setor técnico quanto
do setor jurídico, deixa clara a orientação do órgão na iniciativa de
tombamento do imóvel da Fábrica Santa Amélia: a preocupação com a
salvaguarda dos valores de continuidade histórica e de sua apropriação
como recurso cultural, não cambiável em moeda91. Esse olhar se faz
presente na posição da arquiteta Dora Alcântara ao avaliar o pedido de
impugnação da proprietária:
Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?
O fato de que os núcleos históricos, detentores de
documentos urbanos e arquitetônicos de significativo
valor, sejam aqueles que passaram por um processo de
estagnação econômica parece ter gerado o conceito de
que patrimônio urbano/arquitetônico seja o oposto de
progresso. Não está claro que a falta de apreço pelos
testemunhos históricos seja um outro aspecto da mesma
incúria com que foram tratadas nossas cidades, em nome
de um progresso que procurou, a esse título, escamotear
a falta de capacitação para planejar os espaços
urbanos, face ao crescimento e às transformações
político econômicas por que passou o Brasil. Pelo
menos o caos urbano das cidades, que “progrediram”
despersonalizando-se, deveria dar motivo para reflexão
aos que ainda defendem tais conceitos de progresso.
São Luiz é, justamente, um exemplo de cidade a que
se ofereceu, a tempo, recursos para uma expansão
harmoniosa, permitindo a preservação da área histórica
e o simultâneo desenvolvimento de outras para funções
predominantemente residenciais, ou industriais e
portuárias, modernas, por meio da ligação do centro
tradicional às margens opostas dos rios Anil e Bacanga,
que em grande parte o delimitam. O desenvolvimento
dessas novas áreas tem comprovado a validade da
solução adotada, oferecendo ainda oportunidade a
muitos outros empreendimentos que certamente
advirão, à medida em que a situação da crise nacional
vá cedendo lugar àquela em que serão sanados os
problemas graves com que a presente nos defrontamos,
entre eles os sociais de desemprego (IPHAN, Processo
150 de Tombamento nº 1144-T-85, pp. 53-54).

Importante destacar aqui que o debate internacional abre


caminho para a apreensão da dimensão cultural de variados artefatos,
permitindo a visualização de novos cenários patrimoniais, como na
Declaração de Amsterdã (Congresso do Patrimônio Arquitetônico
Europeu, outubro de 1975), que recomenda a conservação integrada,
em que o patrimônio é constituído não somente pelos monumentos
importantes, mas também pelos conjuntos urbanos (Cf. CURY, 2004,
p.199-210). Essa preocupação fica clara no parecer da arquiteta Dora
Alcântara, ao enfatizar o papel do planejamento urbano na busca
de diálogo entre os diversos atores envolvidos na dinâmica urbana,
ponderando sobre a inserção de novos elementos em sintonia com os
elementos históricos preexistentes.
O respeito pelas qualidades materiais, espaciais, memoriais,
que definem a personalidade de um bem em determinada região,
será colocado em pauta nas discussões internacionais uma década
depois do tombamento da Fábrica Santa Amélia. Na Conferência de
Nara (sobre a autenticidade em relação à Convenção do Patrimônio
Mundial, novembro de 1994), promovida pela UNESCO, ICCROM
e ICOMOS, buscou-se discutir a problemática relativa à questão da
autenticidade como o principal fator de atribuição de valores em um
mundo submetido às forças da globalização e da homogeneização. ▲Fig. 90. Fábrica de Tecidos Santa
Nesse sentido, a consideração do valor de autenticidade na prática Amélia. Acesso ao pátio externo (a) e
(b); escada de madeira (c) e (d); escada
da conservação deveria clarificar e iluminar a memória coletiva da de ferro (e). Fonte: IPHAN, regional
Maranhão.
humanidade, evidenciando que a atribuição de valor pode diferir de

O Lugar do Patrimônio Industrial


cultura para cultura, e mesmo dentro de uma mesma cultura, não sendo
possível basear os julgamentos de valor e autenticidade em critérios
fixos (Cf. CURY, 2004, p.323-328).
No tocante ao julgamento de valor, ainda no caso da Fábrica
Santa Amélia, é interessante ressaltar a resposta da arquiteta Dora
Alcântara às considerações sobre o não tombamento interpeladas
pelo proprietário, debate que contribui para enfatizar as dificuldades
relacionadas com a valorização dos sítios industriais culturalmente
representativos e com a incompreensão de suas especificidades:
Em nenhum momento procuramos afirmar, ou sequer
buscar, “pureza de estilo” para valorizar o edifício.
Perguntamo-nos mesmo que significado poderia ter
essa expressão, se referida ao presente objeto de
tombamento, um exemplar de época de transição, de
adaptação de espaços tradicionais a novas funções.
Pensamos que os elementos arquitetônicos apropriados
para melhor documentar esse fenômeno seja os que
importam; são eles que compõem o autentico estilo
daquele momento.
Podemos, assim, com toda segurança, reafirmar o valor
do imóvel proposto para tombamento, excepcional
como documento histórico de uma fase pioneira do
movimento industrial brasileiro, no Maranhão, bem
como pelas expressivas qualidades arquitetônicas que
o destacam em meio ao conjunto bastante significativo
de edificações em São Luís (IPHAN. Processo de
Tombamento nº 1144-T-85, pp. 54-55; grifos no original). 151

Outro fator relevante na discussão de valor do patrimônio


industrial é como tal bem será inscrito no livro do tombo. Maria Cecília
Londres Fonseca (1997) aponta que o critério de inscrição dos bens
nos livros do tombo pode conduzir a alguns problemas, pois o tipo de
inscrição condiciona não só a leitura do bem, mas também o modo
como o bem tombado será conservado, e exemplifica:
É difícil entender, por exemplo, por que a Caixa d’água
de Pelotas, RS, cujo caráter pioneiro é referido por
documentos, está inscrita apena no LBA [Livro do
Tombo das Belas-Artes], enquanto o Reservatório de
Mocó, Amazonas, mais recente, tem dupla inscrição (LH/
LBA) [Livro do Tombo Histórico/Livro do Tombo de
Belas-Artes]; por que o Açude do Cedro, CE, que, além
de obra notável de arquitetura, foi a ‘primeira rede de
canais de irrigação levada a efeito no Brasil’, não está
inscrito também no LH; por que o Porto de Manaus,
testemunho inconteste do ciclo da borracha, foi inscrito
apenas no LBA e no LAEP [Livro do Tombo Arqueológico,
Etnográfico e Paisagístico], enquanto o Teatro Amazonas,
de inegável valor artístico, havia sido inscrito apenas no
LH (FONSECA, 1997, p. 205).

O mesmo se aplica às edificações da antiga Fábrica Santa Amélia,


que foi inscrita somente no Livro Histórico, sendo que seu valor como
exemplar arquitetônico do período industrial é enfaticamente abordado
na análise do tombamento.
No outro tombamento examinado, a Fábrica de Vinho Tito
Silva, abordamos também o contexto do qual emergiu a iniciativa de
valorização de um bem industrial.
Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?
▲Fig. 91. Fábrica de Tecidos Santa
Amélia. Fachada lateral para a Rua
da Inveja. Fonte: IPHAN, regional
Maranhão.
▲▲Fig. 92. Fábrica de Tecidos
Santa Amélia. Fachada lateral
para a Rua do Mocambo. Fonte:
IPHAN, regional Maranhão.
◄◄ Fig. 93. Fábrica de Tecidos
Santa Amélia. Fachada Frontal
para a Rua das Crioulas. Fonte:
IPHAN, regional Maranhão.
◄ Fig. 94. Fábrica de Tecidos Santa
Amélia. Detalhe dos azulejos da
Fachada Principal. Fonte: IPHAN,
regional Maranhão..
152

▲Fig. 95. Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Levantamento


Gráfico. Implantação. Fonte: IPHAN, Processo nº 1144-T-85.
◄Fig. 96. Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Levantamento
Gráfico: Fachada Rua das Crioulas (a); Fachada Rua do
Mocambo (b); Corte Transversal (c); Corte logintudinal sobre
o corpo principal (d). Fonte: IPHAN, Processo nº 1144-T-85.
▼Fig. 97. Fábrica de Tecidos Santa Amélia. Levantamento
Gráfico. Corte transversal sobre o corpo principal. Fonte:
IPHAN, Processo nº 1144-T-85.

o lugar do patrimônio industrial


10.2. A Fábrica de Vinho Tito e Silva - João Pessoa, Paraíba

Ao contrário do ocorrido no processo de tombamento da


Fábrica Santa Amélia, o caso da Fábrica de Vinho de Caju Tito e Silva,
fundada em 1892, em João Pessoa, Paraíba, configura-se como um dos
únicos exemplares no elenco de bens arquitetônicos selecionados pelo
IPHAN para compor o patrimônio brasileiro cujo tombamento inclui o
processo tecnológico de produção industrial.
No pedido de tombamento encaminhado ao diretor da Divisão
de Conservação e Restauração da SPHAN/SEC, Augusto Silva Telles,
em 9 de dezembro de 1981, Clara de Andrade Alvim, coordenadora de
projetos da Fundação Nacional Pró-Memória, justifica-se:
Temos a honra de trazer a seu conhecimento uma
informação sobre os fundamentos do interesse da
Fundação Nacional Pró-Memória na realização de
um estudo multidisciplinar do Caju, indicando algumas
iniciativas já realizadas nesse sentido. Destacamos nesse
contexto, a importância da Fábrica de Vinho Tito e Silva,
Cia. Solicitamos um parecer quanto à conveniência do
tombamento do prédio da fábrica, de sua maquinaria e
92
Conforme levantamento equipamentos, tendo em vista um duplo objetivo: por um
historiográfico elaborado lado, julgamos importante preservar o testemunho raro
pela Fundação Nacional Pró- de um momento significativo em nossa evolução cultural.
Memória: “No último quartel Por outro lado, acreditamos que esse tombamento irá
do século XIX, a pedido do 153
corresponder à revitalização e à proteção da continuidade
imperador Dom Pedro II, uma e da evolução de um fazer intimamente relacionado às
missão de técnicos franceses características regionais do processo cultural brasileiro
estabeleceu-se em Areias,
na Paraíba, para estudar o (SPHAN/DTC, Processo nº 1054-T-82, p. 2).
problema do ouro na Serra do
Picuí. Um senhor Tito e Silva, No pedido, comparecem como de interesse no tombamento
famoso latinista, entrosou-se da fábrica os proprietários, que, apesar de enfrentarem crescentes
com os franceses e começou
a ter as primeiras noções de dificuldades econômicas desde a década de 1970, ainda mantêm a
enologia, isto é, da ciência fábrica em funcionamento.
do vinho” (SPHAN/DTC,
Processo nº 1054-T-82, p. 7).
A Fábrica de Vinho Tito e Silva é pioneira na utilização do caju
como matéria-prima para fabricação industrial de vinho, aprimorando
uma técnica usada por indígenas, na qual o pedúnculo do caju era
▼Fig. 98. Fachada Fábrica de Vinho Tito
e Silva, 1985. Fonte: Moura Neto. esmagado e o suco resultante fermentado em potes de barro. Seu
►Fig. 99. Fachada da Fábrica fundador,Tito e Silva, aprendeu com os franceses92 a técnica de clarificar
restaurada. Disponível em: <http://
centroevaradouro-imagens.blogspot.
o caldo extraído do pedúnculo do caju fermentado com açúcar, usando
com/2008/04/fabrica-de-vinhos-tito- gelatina ou cola de peixe combinada com tanino.
silva.html>. Acesso em: 19 set. 2010.

 
Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?  
Segundo indicam os registros documentais, a fábrica foi, durante ◄▲▲Fig. 100. Processamento do
pedúnculo. Fonte: IPHAN, Processo nº
meio século, a única a produzir vinho de caju, a princípio de forma 1054-T-82.
artesanal, e a partir de 1920, em razão da grande demanda de vinho de ◄▲Fig. 101. Tonéis e bombas de
recalque, depósito de mosto. Fonte:
caju no Nordeste, a empresa adquire características industriais, importa IPHAN, Processo nº 1054-T-82.
máquinas e chega a prensar cerca de trinta toneladas de caju por dia ▲Fig. 102. Máquina de cortar caju,
inventada pelo fundador da indústria.
(SPHAN/DTC, Processo nº 1054-T-82, p. 8). À esquerda prensa manual. Fonte:
IPHAN, Processo nº 1054-T-82.
A fase áurea do processamento de frutas tropicais no Nordeste,
ocorrida nas décadas de 1940 e 1950, foi resultado do emprego da
técnica industrial nas fábricas, que passaram a contar, a partir de 1938,
com a orientação do Laboratório Bromatológico da Paraíba, sob a
chefia do Dr. Vicente Trevas Filho, importante químico paraibano. A
essa iniciativa privada, seguiu-se a criação do Campo Experimental
do Cajueiro, fundado por iniciativa do Ministério da Agricultura e do
Governo da Paraíba, que realizava experimentações tecnológicas com 93
O líquido da casca da
154
as frutas tropicais, visando à transformação da produção artesanal em castanha (LCC) é vendido
exploração industrial, considerando as tradições culturais e o imenso a alto preço como material
estratégico para fins bélicos.
proveito econômico e social que essa prática trazia para o Nordeste.
A exploração industrial do caju para outros fins93, as novas
orientações econômicas do Ministério da Agricultura e a desativação
da estação experimental de João Pessoa são motivos apontados pela
Fundação Nacional Pró-Memória para o desaparecimento de grande
número de fábricas regionais de doces e vinhos de caju.
◄▼▼Fig. 103. Detalhe da rotulagem.
Funcionário coroando a tampinha.
Conforme indicado no inventário, a Fábrica Tito e Silva, após Fonte: IPHAN, Processo nº 1054-T-82.
duas épocas de franco crescimento, na década de 1920 e entre 1940 ◄▼Fig. 104. Primeiro plano padiolas
para o transporte de frutas. Segundo
e 1950, atingiu uma fase que caracteriza o último estágio do ciclo plano: toneis para acondicionar o
de vida de uma empresa, com a administração passando da segunda mosto. Fonte: IPHAN, Processo nº
1054-T-82.
para a terceira geração, encontrando-se prestes a “[...] desaparecer, ▼Fig. 105. Vista do setor de rotulagem.
suas máquinas serem dispersas, a sua experiência e a sua tecnologia Fonte: IPHAN, Processo nº 1054-T-82.

esquecidas” (SPHAN/DTC, Processo nº 1054-T-82, p. 9).

O Lugar do Patrimônio Industrial


94
Em 1975, em Brasília, foi Portanto é nessa conjuntura que os proprietários procuram os
criado o Centro Nacional
de Referência Cultural, que pesquisadores da Fundação Nacional Pró-Memória em busca de “[...]
teve como idealizadores apoio para ultrapassarem o impasse em que se encontram” (SPHAN/
Aloísio Magalhães, Severo
Gomes - Ministro da Indústria DTC, Processo nº 1054-T-82, p. 9).
e Comércio na época - e
Vladimir Murtinho - diplomata No caso do tombamento da Fábrica Tito e Silva, cujo pedido
e então Secretário de Cultura data de 1981, é interessante notar que o contexto do qual emergiu
do Distrito Federal. O objetivo
do CNRC era “[...] traçar um a iniciativa de seu tombamento coincide com a criação da Secretaria
sistema referencial básico de Cultura do MEC, entregue a Aloísio Magalhães. Dois anos antes,
para a descrição e análise da
dinâmica cultural brasileira, tal era criada a Fundação Nacional Pró-Memória, que, juntamente com a
como é caracterizada na prática experiência de trabalho do CNRC94, contribuiu para a elaboração do
das diversas artes, ciências e
tecnologias” (MAGALHÃES, documento “Diretrizes para Operacionalização da Política Cultural do
1985, p. 42). MEC” (BRASIL, 1981) no ano de 1981, fruto do trabalho coletivo das
várias instituições que integravam a Secretaria de Cultura do MEC. Nesse
documento, assinalava-se a necessidade de um “[...] sistema de ações
descentralizadas que compreendessem e beneficiassem a produção
do bem cultural e a proteção do bem patrimonial” (BRASIL, 1981).
Propunha, assim, a descentralização das atividades da política cultural
do MEC por meio de um sistema de comunicação entre os diferentes
contextos culturais existentes no Brasil e a parceria entre o Estado e
as comunidades pela “[...] articulação dos níveis municipais, estaduais e
federal, através de efetiva interação de instituições oficiais, entidades
privadas e representantes do fazer e do pensamento das comunidades” 155
(BRASIL, 1981).
Amplia-se, assim, a participação da comunidade na tomada de
decisão para definir um consenso sobre o que preservar, com qual
finalidade e sob quais condições.
Para Magalhães (1985), na década de 1970, coexistiam no Brasil
►Fig. 106. Fábrica de Vinho Tito e o mundo avançado da tecnologia e da indústria e o mundo das tradições
Silva. Bloco Principal, Saguão de acesso.
Fonte: IPHAN, Processo nº 1054-T-82. populares, do fazer artesanal. Em seu projeto, a CNRC pretendia cruzar
▼ Fig. 107. Detalhe do Balcão de esses dois mundos, valendo-se do recurso às mais modernas tecnologias
recepção e venda. Fonte: IPHAN, para recuperar e proteger as raízes autênticas da nacionalidade.
Processo nº 1054-T-82.

Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?


O caso da Fábrica Tito e Silva presta-se, portanto, como exemplo 95
No Decreto n° 9296, de
17 de dezembro de 1981,
de inventário de referências culturais e como base para o estudo de o governador do Estado
formas de apoio ao patrimônio imaterial. da Paraíba declara de
utilidade pública, para fim
Convergem, desse modo, os interesses da Fundação Nacional de desapropriação, o imóvel
da Fábrica Tito e Silva, com
Pró-Memória e do proprietário no intuito de manter viva uma prática 1.820 m² edificados em um
específica em uma região definida, por meio da documentação e terreno de 1.800 m², situado
entre as ruas da Areia e Padre
compreensão dessa atividade para poder fornecer subsídios e incentivos Antonio Pereira. Acrescenta
à sua manutenção. que esse decreto tem
como objeto a preservação
Os interesses da Fundação Nacional Pró-Memória, ao solicitar do patrimônio histórico e
imobiliário da cidade, naquele
o tombamento, eram voltados à manutenção da prática tradicional da caso, no Bairro Varadouro,
Fábrica Tito Silva na perspectiva da filosofia proposta pelo Programa com fins de utilidade pública. A
desapropriação se processa em
Tecnologias Patrimoniais do CNRC - ou seja, orientar um trabalho de 1 de julho de 1983, no valor de
preservação baseado na noção de referência cultural, que envolvia 20 milhões de cruzeiros, sendo
16,5 milhões pelo prédio e 3,5
a pesquisa sobre a tecnologia, os padrões, os produtos, as diferentes milhões pelo acervo da firma
Tito e Silva S/A.
orientações da prática, a história, os contextos em que essas práticas se
davam - e à documentação adequada para registrar essas informações.
Para a Fundação Nacional Pró-Memória,
O ato de seu tombamento – incluindo o edifício, sua
maquinaria e equipamento – iria, portanto, revestir-se de
uma significação extraordinária, na medida em que, ao
mesmo tempo, protegeria um testemunho arquitetônico
156 e tecnológico da maior importância do ponto de vista
cultural, e constituir-se-ia em um impulso vital para a
retomada da trajetória de uma tecnologia patrimonial
(SPHAN/DTC, Processo nº 1054-T-82, p. 10).

No tocante à descentralização das atividades da política cultural


proposta pelo MEC, o tombamento da fábrica também é um marco por
envolver outros atores no processo de revitalização da fábrica, como
o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico –
CNPq - e a Universidade Federal da Paraíba:
Tanto aquele Conselho como a Universidade concordam
com a Pró-Memória quanto à importância de salvar a
fábrica e reativá-la, utilizando a iniciativa, inclusive, como
um estímulo para a retomada e o desenvolvimento das
idéias e da ação da antiga Estação Experimental de João
Pessoa (SPHAN/DTC, Processo nº 1054-T-82, p. 10).

Além da ação conjunta do CNPq, da Universidade e do IPHAN,


participaram desse processo os proprietários - dos quais partiu a vontade
da preservação e que não ofereceram impugnação ao tombamento - e
o Estado da Paraíba, que desapropriou o imóvel de forma amigável95.
O parecer da Dora Alcântara, arquiteta da DTC, em instrução
do processo, reafirma a necessidade da vinculação do tombamento à
incorporação da fábrica por alguma entidade que pudesse mantê-la,
condição imprescindível, pois “[...] o objeto do tombamento era uma
tecnologia, cuja vitalidade se desejava preservar”. Alcântara define ainda
três ordens de valor para a seleção de maquinários, equipamentos de
laboratório, mobiliário e utensílios da fábrica:

O Lugar do Patrimônio Industrial


- Importância no processo tradicional de fabrico;

- Importância individual como elementos demonstrativos


de tecnologia e dinâmicas industriais da época;

- Importância individual como componentes de um


conjunto de inegável relevância para constituição de um
eventual e específico Museu do Vinho (SPHAN/DTC,
Processo nº 1054-T-82, p.169).

Cinco meses após o parecer favorável da arquiteta Dora


Alcântara, o conselheiro José Ephim Mindlin vota a favor do tombamento.
Inicialmente, justifica a demora por ter havido a necessidade de sua visita
à Fábrica Tito e Silva, além de precisar equacionar com a Universidade
da Paraíba e com o governo do Estado o problema do funcionamento
da fábrica em caso de tombamento, pois, nas palavras do conselheiro,
“[...] sem assegurar o funcionamento, perderia muito seu sentido a idéia
de tombar a fábrica” (SPHAN/DTC, Processo nº 1054-T-82, p. 173). Ele
acrescenta ainda que:
Trata-se de uma inovação em matéria de tombamento,
pois visa a preservação de um processo industrial, e não
de um monumento de interesse histórico ou artístico.[...]
a fábrica de vinho Tito Silva, fundada no século passado,
é uma indústria pioneira no nordeste, e estabeleceu
uma importante tradição, que merece ser preservada.
Isso não seria possível se a fábrica fosse abandonada ao
seu próprio destino, pois veio enfrentando crescentes 157
dificuldades econômicas, que levaram a uma situação
financeira insustentável, e, certamente, a uma posição
claramente falimentar. A idéia de tombamento ficou
▲▲Fig. 108. Máquina Rotuladeira ligada a uma desapropriação da fábrica pelo governo do
Fonte: IPHAN, Processo nº 1054-T-82. estado da Paraíba, e a um acordo com a Universidade da
▲Fig. 109. Máquina de arrolhar. Fonte:
Paraíba, para que esta assumisse o controle da operação,
IPHAN, Processo nº 1054-T-82. transformando a empresa numa fábrica escola, onde seria
mantido um conhecimento dos processos tradicionais
de fabricação, e, eventualmente desenvolvidos novos
processos (SPHAN/DTC, Processo nº 1054-T-82, p.
173).

Em 9 de julho de 1984, a então Ministra de Estado da Educação


▼Fig. 110. Máquina de lavar garrafas.,
rotativa, com capacidade de 2000 e Cultura, Esther de Figueiredo Ferraz, homologa o tombamento da
garrafas por hora. Fonte: IPHAN,
Processo nº 1054-T-82. Fábrica de Vinho Tito e Silva, sua maquinaria e equipamentos em caráter
▼►Fig. 111. Máquina de engarrafar de ex-officio. Os bens são inscritos no Livro do Tombo Histórico sob o
12 bicos. Marca Welba. Fonte: IPHAN,
Processo nº 1054-T-82. número 495, folha 87, em 2 de agosto de 1984.

Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?


◄▲▲Fig. 112. Vista do setor de
Embalagem e Rotulagem. Fonte:
IPHAN, Processo nº 1054-T-82.

◄▲Fig. 113. Vista dos tóneis para


acondicionamento do mosto. Fonte:
IPHAN, Processo nº 1054-T-82.

▲Fig. 114. Local para o procesamento


do pedúnculo. Fonte: IPHAN, Processo
nº 1054-T-82.

◄Fig. 115. Planta dos Pavimentos com


a distribuição das diferentes funções
espacialmente. Fonte: IPHAN, Processo
nº 1054-T-82.
158

◄▼Fig. 116. Corte longitudinal da


edificação. Fonte: IPHAN, Processo nº
1054-T-82.

▼▼Fig. 117. Foto da Fachada Principal


à época do estudo de tombamento.
Fonte: IPHAN, Processo nº 1054-T-82.

▼Fig. 118. Levantamento gráfico da


fachada para a Rua da Areia. Fonte:
IPHAN, Processo nº 1054-T-82.

o lugar do patrimônio industrial


10.3. Acerca de algumas fábricas e seus tombamentos

Os tombamentos pioneiros das fábricas Santa Amélia e Tito


e Silva podem ser considerados o laboratório de experimentação do
IPHAN para a abordagem dos bens culturais da industrialização.
Na documentação de tombamento consultada, verifica-se
a presença de questionamentos quanto aos procedimentos a serem
adotados e quanto às opções conceituais mais adequadas àquele tipo de
bem, que, até aquele momento, tinham como precedentes as ruínas da
Fábrica de Ferro Patriótica (Ouro Preto - MG, 1938), os remanescentes
da Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema (Iperó - SP, 1964), vários
engenhos, tombados na sua maioria no início dos trabalhos do IPHAN,
e algumas estações ferroviárias.
Esses questionamentos marcam a reorientação dos critérios
adotados pelo IPHAN a partir da década de 1970, na gestão de Aloísio
Magalhães, na qual, segundo Fonseca (2001, p. 112), afirma-se “[...] a
relatividade de qualquer processo de atribuição de valor - seja ele
histórico, artístico, nacional etc. – a bens, e põe em questão os critérios
159
até então adotados para a constituição de patrimônios culturais”.
Processos de tombamento como os dessas fábricas conduzem
a indagações sobre quem tem legitimidade para selecionar os bens a
serem preservados, quais os valores devem ser salvaguardados e quais
as expressões culturais devem ser contempladas, especialmente por se
referirem a um patrimônio cultural até então não consagrado.
Retomando as questões colocadas no início deste capítulo,
acerca da representatividade do bem industrial com base em seus
códigos arquitetônicos, programáticos e funcionais, assim como em
sua configuração territorial, podemos concluir que a preservação de
bens culturais relacionados à indústria, como vimos particularmente no
caso do tombamento da Fábrica Tito e Silva, está inserida em práticas
culturais, sentidos e valores, os quais estão em constante processo de
ressemantização e extrapolam a dimensão da valorização tradicional de
excepcionalidade.
Enquanto o caso da Fábrica Santa Amélia segue um modelo
convencional de valorização, consolidando com o tombamento a
memória do espaço, ou seja, da edificação fabril, pois a sua especificidade
cultural e funcional já estava perdida, no caso da Fábrica de Vinho Tito
e Silva, os procedimentos de tombamento garantiram a perpetuação
do espaço da memória, da preservação das referências culturais que
caracterizam a produção do vinho de caju. Nesse último, o espaço
da fábrica é simbólico, sua arquitetura funciona como suporte para a
atividade, e não o seu fim.

Capítulo 10 - Patrimônio Industrial: espaço da memória ou memória do espaço?


Nos casos que examinaremos a seguir, na Parte 4 desta tese,
retomaremos a significação cultural de edificações industriais e as
implicações dos sentidos atribuídos a esses bens, tomando por base o
exame de cinco exemplares industriais selecionados nos estados do Rio
de Janeiro e São Paulo.

160

O Lugar do Patrimônio Industrial


Parte 4
O processo de reabilitação de
antigos espaços industriais
162

Para elaborar propostas consistentes de intervenção em bens legados pelo processo de


industrialização, portanto, é necessário considerar as obras em seus aspectos materiais,
documentais, formais, memoriais e simbólicos, o que implica necessariamente um processo
multidisciplinar, tanto no processo de identificação daquilo que é considerado um bem
cultural, quanto no processo de intervenção.

[...] É necessário tornar esses critérios operacionais dentro das atuais circunstâncias, fazendo-
se, de modo gradativo, experimentações conscienciosas e fundamentadas, para se chegar a
uma amadurecida e atualizada unidade de princípios, capaz de enfrentar os problemas em
toda a sua complexidade, levando em conta as questões sociais e econômicas envolvidas,
mas com a plena consciência de que a matriz que motiva e em que deve ser tratada a
questão é a cultural.

O intuito é que esses bens possam continuar a exercer seu papel primordial, a saber, ser
documentos fidedignos e, como tal, servir como efetivos suportes do conhecimento, em
vários campos do saber, e da memória coletiva. (Kühl, 2010b, p.18-19)

◄Fig.119 (pag. 161) Brasital, Salto - SP. Foto da autora

o lugar do patrimônio industrial


11. O espaço das fábricas: relações
convergentes e divergentes sobre o uso
do patrimônio industrial

Entre todas as artes, estas filhas do prazer e da


necessidade, às quais o homem associou-se para ajudá-lo
a suportar as agruras da vida e a transmitir sua memória
às gerações futuras, não se pode negar que a Arquitetura
deve ocupar o lugar mais distinto.
Quatremère de Quincy

96
QUATREMÈRE DE As fábricas de tecidos estudadas neste capítulo representam
QUINCY. “Type”. Encyclopédie
Méthodique : Architecture. a configuração de um tipo, considerada a definição de Quatremère
Liège: chez Panckoucke, Tomo de Quincy, no sentido da “[...] idéia por trás da aparência individual
III, 1825, p. 543. Disponível
em: < http://visualiseur.bnf.fr/ do edifício, uma forma ideal, geradora de infinitas possibilidades, da
ar k:/12148/bpt6k85720c>. qual muitos edifícios dissimilares podem derivar” (QUATREMÈRE DE
Acesso em: 29 ago. 2010. QUINCY, 182596 apud PEREIRA, R.B., 2010, p. 66).
97
Ibidem, p. 545. Acesso em: 29
ago. 2010. Ao analisar o espaço consolidado pelas fábricas selecionadas em
163
98
Aqui nos valemos novamente São Paulo e Rio de Janeiro do ponto de vista físico e cultural, buscamos
dos verbetes de Quatremère entender suas relações convergentes - daí a fundamentação no conceito
de Quincy. Caráter é o verbete
mais longo da Encyclopédie de tipo - e desvendar suas peculiaridades e divergências regionais.
(1832), com cerca de quarenta
páginas, em que o autor se No anexo 1, descrevemos como se dá o processo de produção
dispõe a distinguir as diversas de tecido, importante para entender o espaço produtivo das fábricas de
utilizações do termo das
suas aplicações específicas tecido em seus aspectos formais e documentais.
no campo da Arquitetura e,
dentro desta, as numerosas Sobre o tipo, Quatremère de Quincy refere-se à “aparência
variações existentes. Em nossa individual do edifício”, na acepção de que cada um dos principais
análise, empregamos o caráter edifícios deve encontrar em sua destinação fundamental, nos usos que
para definir, nas edificações
industriais, seus caracteres lhe concernem, um tipo que lhe é próprio. A arquitetura deve tender
distintivos que permitem a se conformar, da melhor forma possível, a esse tipo, se quer imprimir
sua singularização, dentro
do conceito já enunciado a cada edifício uma fisionomia particular (QUATREMÈRE DE QUINCY,
de tipo, como expressão da 182597 apud PEREIRA, R.B., 2010, p. 68).
unidade que preside a eleição
de elementos, a disposição Dessa forma, observamos que todas as fábricas selecionadas
das massas, a distribuição, a
ordenação, a modenatura e neste trabalho, apesar da variação em seu produto final (modelo),
os contrastes. Quatremère conservam sempre visível, e de forma sensível ao sentimento e à razão,
de Quincy atribuía o uso da
ideia de caráter “[...] a uma seu princípio elementar: sua destinação como edifício que abriga o
determinada espécie ou a processo de transformação industrial e seus respectivos maquinários.
um certo número de traços
distintivos, ou seja, àqueles A “fisionomia particular” desses edifícios, impressa em seus
que têm eminentemente aspectos plásticos e projetuais, é identificada aqui nas técnicas
a propriedade de designar
e de distinguir um objeto construtivas, no seu sistema estrutural, na escala, na tipologia e tamanho
entre muitos outros objetos das envasaduras, na sua altura, nos seus sistemas de exaustão e ventilação
semelhantes” (QUATREMÈRE
DE QUINCY, 1832 apud forçada e na sua relação com o espaço urbano, que lhes conferem
PEREIRA, 2008, p.191). caráter98 , distinguindo-os de outras tipologias arquitetônicas.
Capítulo 11 - O espaço das fábricas: relações convergentes e divergentes
▲Fig. 120. Croquis de autoria de
No caso da Fábrica São Luiz, em Itu, a questão do caráter do Paulo Sgarbi, indicando o primeiro
edifício da Fábrica São Luiz. Fonte:
edifício fica enunciado na descrição da arquitetura do primeiro edifício CONDEPHAAT, Processo nº
da fábrica feita pelo arquiteto do CONDEPHAAT, Paulo Roberto 22338/82, p. 52.

Sgarbi: “[...] de caráter sóbrio e despojado, o primeiro bloco, ◄▲Fig. 121. Croquis indicando a
tipologia e ritmo das envasaduras
inaugurado em 1869, apresenta no tratamento externo das fachadas, um do primeiro edifício da Fábrica São
Luiz. Autor: Paulo Sgarbi. Fonte:
ritmo regular das envazaduras, com janelas de vergas retas e ausência CONDEPHAAT, Processo nº
22338/82, p. 52
de ornatos” (CONDEPHAAT, Processo Nº 22338/82, p. 52; grifos da
autora).
99
As três acepções que a palavra
caráter pode exprimir, segundo
Quatremère de Quincy, seriam:
Quando o arquiteto Sgarbi refere-se ao segundo edifício da a primeira, relativa à força e à
Fábrica São Luiz, inaugurado em 1897, ele volta a usar a qualificação grandeza física colocadas nas
obras da arte da construção,
164 “sóbrio”: “[...] e a novidade é o tratamento plástico das fachadas, em harmonia com o estado das
com sóbria modenatura neoclássica” (CONDEPHAAT, Processo nº necessidades físicas e morais
vigentes na época; a segunda,
22338/82, p. 54, grifo da autora). relativa à originalidade, no
concernente à distinção de uma
Apesar das diferentes linguagens plásticas, a unidade do conjunto determinada obra, sobretudo
foi obtida através do acabamento da alvenaria de tijolos revestida em nas obras de imitação; e a
terceira, relativa à propriedade
todas as paredes dos dois edifícios e do ritmo das envazaduras, que indicativa do que o edifício é
apesar de sua variedade formal resultam em uma composição dinâmica e do que ele deve parecer ser
(QUATREMÈRE DE QUINCY,
e harmoniosa reforçada pelas variações de altura dos dois volumes, e 1832 apud PEREIRA, 2008, p.
no discreto uso de elementos ornamentais nas fachadas do edifício mais 193).
recente. ▼◄Fig. 122. Croquis indicando
o segundo edifício da Fábrica São
Luiz. Autor: Paulo Sgarbi. Fonte:
Percebemos assim que o caráter identificado pelo arquiteto CONDEPHAAT, Processo nº
22338/82, p. 54
Sgarbi na Fábrica São Luiz vai ao encontro da terceira acepção do
▼Fig. 123. Croquis indicando a
verbete utilizada por Quatremère de Quincy99, na qual caráter “[...] tipologia, ritmo e ornamentação das
envasaduras do segundo edifício da
consiste na arte de imprimir a cada edifício uma maneira de ser de fato Fábrica São Luiz. Autor: Paulo Sgarbi.
apropriada à sua natureza ou ao seu emprego, de forma que nele se Fonte: CONDEPHAAT, Processo nº
22338/82, p. 54.

O Lugar do Patrimônio Industrial


100
QUATREMÈRE DE QUINCY, possa ler através de traços bem evidentes o que ele é ou que não é”
A.C. Dictionnaire historique
d’architecture. Paris: Librairie (QUATREMÈRE DE QUINCY, 1832, p. 306100 apud PEREIRA, R.B., 2008,
d’Adrien Le Clère et C.ie, 1832, p. 203).
tome I, pp. 302-308.
Os traços que definem o caráter do edifício, no caso da
arquitetura industrial, não se restringem somente à sua planta e
elevação, mas conseguimos identificá-los também em sua implantação.
A destinação industrial orienta sua implantação próxima a fontes de
energia, como os rios, e conectada à linha férrea, principal meio de
transporte e elemento essencial para o escoamento da produção e
para a alimentação da fábrica com sua matéria-prima.
As características de implantação das fábricas provocaram
transformações sensíveis no tecido urbano, promoveram a construção
de infraestrutura básica e organizaram bairros inteiros, configurando um
cenário urbano peculiar.
Com base nesse quadro, foram analisadas as características
espaciais de algumas fábricas, identificando unidades tipicamente
urbanas, como a Fábrica de Tecidos São Luiz, em Itu, Estado de São
Paulo, implantada na rua principal da cidade, em um lote vizinho ao da
Igreja de Bom Jesus; unidades que foram implantadas nas bordas da área
urbanizada, como a Brasital, no município paulista de São Roque; unidades
que se originaram de fusões de outras fábricas, transformando-se em 165
grandes complexos, como a Brasital, no município paulista de Salto, e
a Cia. América Fabril, no município do Rio de Janeiro; e, finalmente,
aquelas instaladas em zona rural, como a Fábrica Bangu, também no
município do Rio de Janeiro.
Essa análise se fez necessária, pois identificar o tipo e o caráter
dessas edificações, além do intrínseco valor histórico já considerado nos
processos de patrimonialização, como vimos no capítulo anterior, pode
colaborar para responder às hipóteses desta tese: em que medida, nos
processos de reabilitação urbana, categorias como tipo e caráter das
fábricas são propriedades enfatizadas a ponto de se transformarem em
testemunhos eloquentes para a valorização histórica, social e cultural de
espaços preteritamente industriais.

Capítulo 11 - O espaço das fábricas: relações convergentes e divergentes


166

Rua Paula Souza

Praça D. Pedro I Fábrica São Luiz

▲Mapa 7. Área do Zoneamento


Rua dos Andradas Histórico da Cidade de Itu. Em
destaque a localização da Fábrica São
Luiz.
◄Fig. 124. Implantaçao da Fábrica na
quadra.
▼Fig. 125. Corte do Eixo Histórico
da Cidade (Rua Paula Souza e Barão
de Itaim.). Em destaque os edifícios
tombados.

O Lugar dO PatrimôniO industriaL


11. A FÁBRICA DE TECIDOS SÃO LUIZ

A Fábrica de Tecidos São Luiz, em Itu, município do Estado de


101
A primeira fábrica de tecidos São Paulo, distante cerca de noventa quilômetros da capital, funcionou
movida a vapor que se fundou
em São Paulo, e que, uma vez de 1869 a 1982 e pertence à primeira fase da indústria têxtil no país,
fundada, passou imediatamente sendo a primeira fábrica de fiação e tecelagem a utilizar vapor como
a funcionar e assim, continuando
sem interrupção, até os dias força motriz no Estado101 .
presentes, é a Fábrica São Luiz,
da cidade de Itu” (NARDY Segundo Nardy Filho (2000), o primeiro edifício, “[...] constituído
FILHO, 2000, p. 195).
de dois andares, medindo 24 metros de frente para a rua Direita (hoje
102
O escritor Elyziario Castanho
relata o encontro que teve Paula Souza) e 31 metros de frente para o Largo São Francisco (atual
com o carro de bois que Praça Pedro I) e com 13 janelas para o largo e 9 janelas para a rua [...]”
transportava a máquina a vapor,
encalhado na estrada perto (p. 200), foi concluído em 1869, começando a trabalhar com “[...] 24
da casa de seu avô: “A certo teares, acionados por um vapor de 30 cavalos, contando sua fiação mais
ponto adiante, à beira de um
córrego, achava-se encalhado de 1000 fusos” (p. 203).
um grande carro de quatros
rodas de largas sapatas de ferro, A caldeira havia chegado três anos antes, transportada de São
que conduzia um, para aqueles
tempos, enorme vapor, que ia Paulo a Itu por meio de carros de boi102.
servir na cidade para mover
a primeira fabrica de fiação e O caráter, entendido como sinônimo de propriedade indicativa 167
tecidos que na provincia estava
sendo montada. Dias depois, do que o edifício é e do que ele deve parecer ser, no caso da Fábrica
estando eu, com a família já alli de Tecidos São Luiz, reside na sua arquitetura industrial peculiar. Embora
(em Itú) installado, deu entrada
na cidade, todo enfeitado, o o edifício tenha sido projetado para abrigar a fábrica, o tratamento de
carro com o vapor, puxado por suas fachadas diferencia-se de instalações produtivas contemporâneas
dez juntas de bois escolhidos, de
chifres ornados com largas fitas a ela, nas quais elementos como o tijolo aparente e os lanternins são
de seda de cores variegadas
sendo recebido festivamente imperativos. A aspecto exterior da fábrica remete à arquitetura dos
com musica, flores, etc. etc.” (Cf. solares assobradados existentes na Rua Paula Souza - denominada na
NARDY FILHO, 2000, p. 202).
cidade como “eixo histórico”103 -, onde a fábrica foi implantada, não
103
A Rua Paula Souza, antiga
Rua Direita, forma, juntamente explicitando sua real atividade, com exceção de sua chaminé, um torreão
com a Rua Barão de Itaim, de seção quadrada construído em tijolos aparentes.
o eixo histórico de Itu e faz

CaPítuLO 12 - a FábriCa de teCidOs sãO Luiz


parte da estrutura da cidade
desde o século XVIII, ligando o
Largo do Carmo (atual Praça
da Independência) ao Largo de
São Francisco (atual Praça D.
Pedro I), passando pela Praça
Padre Miguel, onde se situa a
Igreja Matriz Nossa Senhora
da Candelária, e pelo Largo de
Bom Jesus (atual praça Padre
Anchieta), com a Igreja do Bom
Jesus, onde foi construída, em
1610, a capela original dedicada
a Nossa Senhora da Candelária.
O antigo Largo de São
Francisco abriga o Cruzeiro
Franciscano.

◄ Fig. 126. Primeiro prédio da Fábrica


São Luiz. Foto Julio Abe. Arquivo da
  família Pacheco.

Outra característica interessante da arquitetura da fábrica é que,


apesar do emprego de alvenaria de tijolos, técnica construtiva nova
para a época, as espessuras das paredes são ainda aquelas empregadas
quando do uso da taipa.
Quanto à sua implantação, o jornal Correio Paulistano, em sua
edição de 5 de setembro de 1869, publica que havia saído no Brazilian
168 World, na mesma época, uma notícia sobre a “[...] importantíssima
fábrica de tecer algodão, que agora se está montando na cidade de Itu
[...]”, justificando sua implantação e a escolha de seu sistema operacional:
O projecto do estabelecimento de uma fábrica de
tecidos de algodão era discutido há tempo pelo Sr.
Tenente Coronel Luiz Antonio de Anhaia e outros,
sendo primitivamente estudada a possibilidade de
fundar no Salto, aproveitando as águas do Tiete como
motor permanente; mas o facto dos inconstantes altos e
baixos do rio, convenceu da impossibilidade de sustentar
uma altura indispensável para mover as machinas. Em
conseqüência resolveram, fundar o estabelecimento
na cidade de Itu, empregando o vapor, e para o
respectivo edifício escolheram uma excellente localidade
formoseando a rua Direita e largo de S. Francisco (apud
NARDY FILHO, 2000, vol. VI, p. 203).

O terreno onde a fábrica foi construída pertencia na época aos


frades franciscanos e, em 1610, abrigava a capela dedicada à Nossa
Senhora da Candelária, tornando-se, em 1669, a primeira Igreja Matriz
de Itu. Em 1780, quando foi inaugurada a nova Igreja Matriz, a capela
passou a ser dedicada ao Senhor Bom Jesus (NARDY FILHO, 2000, vol.I,
pp. 53-54).
Como podemos constatar, a implantação da fábrica deu-se em
local privilegiado da cidade, dentro do eixo histórico e em área onde
a cidade praticamente iniciou. Considerando aqui a tipologia fabril e
as outras fábricas estudadas, o local de implantação da Fábrica São
Luiz estabelece também um importante elemento de distinção. Como
constata o parecer do conselheiro Antonio Luiz Dias de Andrade:

O Lugar do Patrimônio Industrial


►Mapa 8. Localização da Fábrica
São Luiz no tecido urbano de Itu, em
1925. Elaboração da autora a partir de
mapeamento constante no processo
de tombamento da Fábrica São Luiz.

[...] mantém o conjunto industrial da Fábrica de Tecidos


São Luiz significativas relações com a estrutura urbana na
qual se encontra situado, configurando espaço peculiar
de suma importância para a manutenção dos valores
ambientais que identificam e oferecem personalidade
ao centro histórico de Itu (CONDEPHAAT, Processo nº
22338/82, pp. 72-73). 169
Outro fator importante, ressaltado no parecer do conselheiro
Antonio Luiz Dias de Andrade sobre o tombamento da fábrica, é a
questão da preservação do conjunto urbano. Esse questionamento vai
ao encontro da preocupação levantada por Carlos Lemos em 1969, em
seu relatório de viagem a Itu, em que o arquiteto traça considerações
a respeito de um possível roteiro histórico dentro da zona urbana,
sugerido no plano diretor da cidade, elaborado naquela época pelos
arquitetos João Walter Toscano e Julio Roberto Katinsky. Lemos afirma
que “[...] o espectador, ou turista, poderá ir apreciando ângulos, dentro
do espaço urbanístico, representativos da antiga feição arquitetônica
da cidade [...]”, simbolizados por “[...] grupos de construções do sec.
XIX – as últimas ainda conservadas, que conseguiram escapar da ação
dos reformadores da cidade [...]”, e finaliza aludindo ao fato de que
“[...] poucos exemplares arquitetônicos conseguiram chegar a nossos
dias [...]” e, portanto, “[...] sendo poucos, deverão ser conservados [...]”
(CONDEPHAAT, Processo nº 22338/82, pp. 6-7).
Ele finaliza seu relatório afirmando que “[...] no caso de Itu, o que
é importante, com já dissemos, é o ‘clima’, e o conjunto arquitetônico
uniforme – talvez o único ainda existente em nossas cidades do interior
serra acima” (CONDEPHAAT, Processo nº 22338/82, p. 11).
Depois desse relatório, que data de 1969, o processo de
tombamento permaneceu paralisado, sendo retomado dez anos depois,
quando Carlos Lemos, na época diretor da STCR, manifesta-se pelo
arquivamento, alegando que, diante da nova política do CONDEPHAAT,
Capítulo 12 - A Fábrica de Tecidos São Luiz
referente “[...] às chamadas cidades históricas, principalmente Itu
e após o recebimento do trabalho da equipe do arquiteto Toscano,
os tombamentos pontuais e isolados estão fora de cogitação”
(CONDEPHAAT, Processo nº 22338/82, p. 22).
Podemos inferir aqui, do ponto de vista dos aspectos
conceituais abordados nos pareceres de Carlos Lemos, que existe uma 104
Conforme artigo 2° do
preocupação com a nova orientação na política patrimonial praticada convênio publicado no Diário
Oficial do Estado de São Paulo,
pelo CONDEPHAAT. O período de dez anos entre o primeiro parecer em 20 de dezembro de 1972
de Lemos e o pedido de arquivamento foi um momento em que estava (Cf. MAYUMI, 2005, p. 149).
sendo posta em prática a política de descentralização de atividades do 105
Sobre o curso, sua
IPHAN, que adquiriu sua primeira feição normativa no Compromisso de organização e conteúdo, ver
MAYUMI, L. Taipa, Canela-
Brasília, firmado em 1970 e ratificado no ano seguinte, no Compromisso preta e Concreto - um estudo
de Salvador. O Compromisso de Brasília recomendava também a criação sobre a restauração de casas
bandeiristas em São Paulo.
de cursos com a função de “[...] formar especialistas para o atendimento 2005, 329p. Tese (Doutorado
das unidades dos serviços de proteção do Patrimônio Histórico e em Arquitetura e Urbanismo)
– Faculdade de Arquitetura e
Artístico do país”104, o que se concretizou no convênio firmado entre o Urbanismo, Universidade de
CONDEPHAAT e a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP em São Paulo, São Paulo, 2005.
1972, sendo ratificado em 1973 com a inclusão do IPHAN. O curso de 106
O museólogo e professor
especialização foi oferecido em 1974, formando 28 especialistas, e “[...] francês Hughes de Varine-
Bohan, diretor do Conselho
representou um marco na história da preservação do patrimônio no Internacional dos Museus
Brasil [...]” colocando pela primeira vez “[...] o problema da conceituação (ICOM) por dez anos, foi
170 professor do Bloco 1 do
do patrimônio [...]” (MAYUMI, 2005, p. 154)105. curso. “À noção de patrimônio
Carlos Lemos e Antônio Luiz Dias de Andrade, que histórico e artístico, Varine-
foram alunos do curso, também relatam que foram uma Bohan superpôs o conceito
novidade os conceitos apresentados por Varine-Bohan106, mais abrangente de ‘patrimônio
especialmente no respeitante à abrangência da noção cultural’, cujos elementos
de “patrimônio” (RODRIGUES107, 2000, p. 73 apud constituintes ele definiu a
MAYUMI, 2005, p. 150). partir do seu agrupamento
em três grandes categorias:
a dos elementos de origem
O processo é retomado em 29 de setembro de 1982 por natural (o meio ambiente do
Jonas Soares de Souza, diretor do Museu Republicano Convenção de homem); a dos elementos
intangíveis criados pelo
Itu, exatamente quando a Fábrica de Tecidos São Luiz encerra suas homem (o conhecimento, a
atividades: ciência, a técnica, a arte); e a
do habitualmente chamado de
Temos consciência da impotência do CONDEPHAAT patrimônio cultural, composto
diante da magnitude da tarefa de preservação do pelos bens móveis e imóveis.
patrimônio cultural. Entretanto, alguma medida deverá [...] de acordo com essa
ser tomada para evitar a possível destruição de tão abordagem ampla, adquirem
significativo testemunho dos primórdios do processo de relevo como patrimônios
industrialização do país (CONDEPHAAT, Processo nº culturais inumeráveis elementos
22338/82, p. 26). pertencentes ao mundo
do homem, mas até então
No encaminhamento do processo, o presidente do Conselho, invisíveis ao olhar patrimonial”
(MAYUMI, 2005, p. 150).
Aziz Ab Saber, solicita urgência no estudo “[...] com vistas a possível
proteção e reutilização cultural da antiga Fábrica de Tecidos São Luiz” RODRIGUES, Marly. Imagens
107

do passado: a instituição do
(CONDEPHAAT, Processo nº 22338/82, p. 26). patrimônio em São Paulo,
1969-1987. São Paulo: UNESP:
É interessante notar que o fechamento da fábrica suscitou a Imprensa Oficial do Estado:
retomada das discussões, encerradas em 1979, após o processo ficar CONDEPHAAT: FAPESP, 2000.
paralisado por dez anos. E, além disso, atribuiu uma urgência que até
então não havia se manifestado. A fábrica foi tombada pouco mais de
um ano após o pedido de reabertura do processo, em 15 de dezembro
O Lugar do Patrimônio Industrial
108
Esse olhar pode ser de 1983.
avaliado como um reflexo
das abordagens feitas por Outro fato curioso é que, no parecer do conselheiro
Varine-Bohan, que defendeu o
patrimônio do conhecimento, Antônio Luiz Dias de Andrade, existe a preocupação em preservar o
como o saber fazer e as edifício juntamente com as “[...] primitivas máquinas e equipamentos
técnicas, no curso de formação remanescentes [...]”108 (CONDEPHAAT, Processo nº 22338/82, p. 73),
de especialistas de que Antônio
Luiz Dias de Andrade tomou que acaba não sendo explicitada na minuta de tombamento.
parte.
Entendemos, pela leitura do processo, que a preservação do
109
Participaram dessa vistoria
os arquitetos Silvia Ferreira maquinário ficou condicionada a um levantamento sistemático que
Santos Wolff, Maria Cristina avaliaria a pertinência do pedido.
Wolff de Carvalho, Walter
Pires e Hugo Segawa, do O relatório da vistoria realizada por técnicos do CONDEPHAAT
CONDEPHAAT, e Alexandre
Luis Rocha, do IPHAN. e do IPHAN109 no edifício já tombado, em fevereiro de 1984, descreve
110
Conforme minuta de o processo de fabricação de tecidos e a relação do maquinário existente
tombamento. na fábrica, única documentação a inventariar esses equipamentos.
Nessa vistoria, os técnicos questionam a validade do tombamento
do maquinário, visto que este já havia sido bastante adaptado, não
restando nada do período em que a fábrica funcionava a vapor, a não
ser a caldeira:
A primeira questão que surge é se haveria sentido em
tombar máquinas isoladamente, por um critério de
antiguidade ou raridade, vistas como peças de museu
isoladas do contexto do processo de fabricação têxtil. 171
No caso da Fábrica de Tecidos São Luiz, convivem,
lado a lado, máquinas antigas e outras menos raras e
mais modernas. Outra questão, que de certa forma se
contrapõe a esta, é se há sentido em tombar todo o
maquinário, visto que é numeroso e que nos últimos
tempos ocupam todas as instalações fabris, inclusive
a parte não tombada (CONDEPHAAT, Processo nº
22338/82, p. 94).

Repete-se assim, com relação ao maquinário, o conflito


estabelecido no tombamento do prédio: tombar isoladamente ou
como parte integrante de um sistema mais complexo. No caso do
prédio, “[...] bem cultural de interesse histórico-arquitetônico [...] marco
rquitetônico do pioneirismo na industrialização em nosso Estado em
meados do século passado e componente fundamental da paisagem
urbana tradicional de Itu” (CONDEPHAAT, Processo nº 22338/82, p.
77), o conjunto foi contemplado110. No caso do maquinário, os técnicos
julgaram, ao examiná-lo, que
Talvez o único momento que pode ser preservado
como testemunho do processo de fabricação [...] seja
o momento da paralisação, incorporadas todas as
modificações sofridas. E, na hipótese de que a preservação
daquele maquinário seja encaminhado desta forma, há
que se levar em consideração a necessidade de um estudo
pormenorizado do maquinário necessário e suficiente
para uma linha de produção que, ao mesmo tempo
que seja representativo (por peças isoladas) dos vários
momentos daquela têxtil, viabilize economicamente,
embora jamais com caráter competitivo, a produção de
tecidos e fios (CONDEPHAAT, Processo nº 22338/82,
p. 94).

Capítulo 12 - A Fábrica de Tecidos São Luiz


172

O Lugar do Patrimônio Industrial


111
Os teares e outros De certa forma, na hipótese aventada pelos técnicos para a
maquinários vieram dos Estados
Unidos; os componentes da sua preservação, fica claro que o maquinário só seria importante se
caldeira vieram da Inglaterra. pudesse entrar novamente em operação. O problema levantado pelos
técnicos seria o de adequar o “[...] espaço disponível e o programa
que se pretende implantar” (CONDEPHAAT, Processo nº 22338/82,
p. 95), pois os edifícios tombados, construídos em 1869 e 1897, antes
da paralisação da fábrica, abrigavam somente a tinturaria, urdume,
tecelagem, dobragem e acabamento dos tecidos. As demais etapas da
produção aconteciam nos edifícios construídos entre 1930 e 1945, no
outro lado da rua, e que não foram objeto do tombamento.
Esse olhar da equipe de técnicos sobre a fábrica, buscando
identificar alternativas, possibilidades para a revitalização e valorização
do bem tombado e o tratamento do acervo industrial, inclusive com
propósitos didáticos de formação e treinamento industrial, serviu para
embasar nova solicitação de inclusão do maquinário no livro do tombo
pelo conselheiro Antonio Luiz Dias de Andrade:
Parece-nos, portanto, conveniente, especificar nos
respectivos livros do tombo, a relação das máquinas
arroladas pelo STCR, opinando, outrossim, em atenção
às dúvidas colocadas no aludido parecer, devam
ser consideradas tombadas aqueles equipamentos
encontrados ou em uso no momento do encerramento
das atividades da fábrica. 173
Com efeito, se o tombamento das instalações industriais
considerou as várias ampliações e reformas havidas
em decorrência das urgências sucessivas, associadas
ao desenvolvimento das atividades da indústria, não
vemos razões para não considerar incluídos como
equipamentos da fábrica, os diversos equipamentos –
antigos e modernos – que em seu conjunto permitem
a apreensão do processo industrial do qual são parte
integrante e importantes testemunhos (CONDEPHAAT,
Processo nº 22338/82, pp. 142-143).

◄ Fig. 127. Levantamento do Apesar desse parecer favorável para a inclusão dos equipamentos
maquinário existente na fábrica na
época do estudo de tombamento. como parte integrante do bem tombado isso não ocorreu, e as
Fotos de Hugo Segawa.
máquinas acabaram sendo vendidas pelos proprietários da fábrica,
A - DETALHE DA URDIDEIRA PLATT
BROTHERS restando apenas a caldeira111. Assim, o inventário sistemático dos
B - URDIDEIRA PLATT BROTHERS equipamentos elaborado pelos técnicos do CONDEPHAAT constitui a
C- URDIDEIRA LANCASTER única documentação, visual e descritiva, dos artefatos industriais móveis
MOORE
da Fábrica São Luiz.
D - BATEDOR
E - BATEDOR Quanto à sua reutilização, além das sugestões apresentadas
F - ENROLADEIRA pelos técnicos da STRC visando à reativação da produção fabril com
G - PRENSA ENFORDADEIRA propósitos didáticos, o arquiteto do CONDEPHAAT, Paulo Sgarbi, em
H - BATEDOR instrução no processo de tombamento da Fábrica de Tecidos São Luiz,
I - DOBRADEIRA alude à perspectiva de utilização cultural como medida de preservação
J - DOBRADEIRA NAVALHADEIRA do imóvel.
K - ENROLADEIRA Tendo sido recentemente desativada, não resta dúvida
L/M - INSTRUMENTOS DE AFERIÇÃO que sua preservação até nossos dias, se deve às atividades
E VERIFICAÇÃO DA QUALIDADE ininterruptas, ali desenvolvidas.
DOS FIOS NO LABORATÓRIO
Nesse sentido é imprescindível que uma medida como
N - MÁQUINA DE FABRICO DE o tombamento deste imóvel, seja acompanhada por um
CHINTZ

Capítulo 12 - A Fábrica de Tecidos São Luiz


projeto de revitalização.
Tendo-se em vista que as funções preferenciais para a
reciclagem de edifícios históricos, são as culturais e dada
a carência destes espaços no centro histórico de Itu, uma
das opções é a implantação de um centro cultural.
No entanto, entendemos que outras alternativas de
uso devam ser examinadas, procedendo-se à necessária
consulta à comunidade e entidades representativas, já que
o êxito de iniciativas desta ordem estão condicionadas à
efetiva participação popular (CONDEPHAAT, Processo
nº 22338/82, p. 56)
Os proprietários, por sua vez, transformaram as antigas instalações
fabris, no início do século XXI, no Espaço Fábrica São Luiz, que abriga
eventos, festas, casamentos, exposições, feiras de antiguidades, recitais,
peças de teatro, além de receber a visitação de grupos de turistas
que ouvem as narrativas históricas dos funcionários e do proprietário,
Ricardo Pacheco e Silva.
Em recente visita ao imóvel, constatamos que o piso superior
mantém-se fechado. O proprietário alega que a estrutura do piso em
madeira está comprometida. Muitas janelas encontram-se arruinadas; o
piso do salão inferior, originariamente em pedra varvito, foi substituído
por tijolos de barro.
Com relação à preservação da Fábrica São Luiz, o seu desmonte
174 não resultou em sua desintegração do tecido urbano, nem em abandono,
pois, como parte integrante de um conjunto urbano singular, seu valor
histórico e cultural foi conservado, mesmo depois de ter perdido a
importância econômica. As atividades mantidas hoje em seu espaço não
fazem mais alusão à sua característica industrial, embora reafirmem, por
meio das narrativas históricas e do caráter de seu tipo edificado, seu
lugar como patrimônio da industrialização.

◄ Fig. 128. Levantamento da Fachada


da fábrica para a Rua Paula Souza.
Fonte: CONDEPHAAT, Processo de
Tombamento.
▼ Fig. 129. Levantamento da Fachada
da fábrica para a Praça D. Pedro I.
Fonte: CONDEPHAAT, Processo de
Tombamento.

O Lugar do Patrimônio Industrial


175

▲▲▲ Fig. 130. Fachada da fábrica para a Rua


Paula Souza.
▲▲ Fig. 131. Vista da fábrica a partir da Praça
D. Pedro I.
▲ Fig. 132. Janelas tipo. (a) Prédio de 1869; (b)
Prédio de 1897.
►Fig. 133. Porta Principal da Fábrica, entrada
do "Espaço Fábrica São Luiz".

CaPítuLO 12 - a FábriCa de teCidOs sãO Luiz


A B C

B
C
H

Caldeira a vapor
E

elevador monta-carga

176
F

▲◄▼Fig. 134. Imagens internas


do segundo pavimento da Fábrica
São Luiz. Note algumas máquinas
remanescentes, e o estado precário
do piso de assoalho de madeira. Fotos:
Paulo Ricardo Zemella Miguel.
▲ Fig. 135. Planta do Pav. Térreo da
Fábrica São Luiz. Elaboração da autora
sobre documentação do processo de
tombamento da Fábrica São Luiz.

D E

F G H
O Lugar dO PatrimôniO industriaL
A B C

D E F

177

G H I

▲Fig. 136. Imagens internas do segundo


pavimento da Fábrica São Luiz. Note
setor da Fábrica São Luiz algumas máquinas remanescentes, e o
que não foi tombado estado precário do piso de assoalho de
pelo CONDEPHAAT madeira. Fotos: Paulo Ricardo Zemella
Miguel.
◄ Fig. 137. Planta do Pav. Superior da
Fábrica São Luiz. Elaboração da autora
I

sobre documentação do processo de


tombamento da Fábrica São Luiz.
G

C
elevador monta-carga
D

H
A
B

CaPítuLO 12 - a FábriCa de teCidOs sãO Luiz


178

o lugar Do patrimônio inDustrial


13. A Brasital de São Roque – Enrico
Dell’Acqua e Cia.

Construída pouco mais de uma década depois da Fábrica São


Luiz, a Companhia Industrial de São Roque iniciou suas atividades em
1892, sendo idealizada pelo comerciante italiano Enrico Dell’Acqua,
nascido em Abbiategrasso, no centro da indústria têxtil da Lombardia,
para ser sua primeira fábrica de tecidos de algodão na América do Sul.
Em louvor ao empreendedorismo desse empresário de têxteis,
Luigi Einaudi, economista, político e segundo presidente da República 179
italiana, eleito em 1948, escreveu, em 1900, a obra Un principe mercante:
studio sulla espansione coloniale italiana, na qual descreve a trajetória de
Dell’Acqua - segundo ele, um mercador que, com astúcia, perspicácia
e paciência, construiu um vasto comércio na Argentina e em toda a
América do Sul, aproximando comercialmente o Novo do Velho Mundo.
112
Em nossa tradução: “A
circular perguntava sobre A família de Enrico Dell’Acqua possuía uma companhia têxtil de
o número de habitantes da algodão na região de Busto Arsizio, que ele assume com a morte do pai.
cidade ou município, o clima, os
produtos do lugar, mercado de Abre ainda com o irmão uma tecelagem mecânica em Castrezzato, na
lojas, os meios de transportes, província de Bréscia.
o porto mais próximo para as
comunicações com a Europa, Depois de tentar explorar sem sucesso os mercados da Espanha,
os bancos existentes, o número Tunísia e Líbia, elabora um plano que parecia ousado para a época:
de comerciantes de têxteis,
de gêneros alimentícios, de exportar tecidos para a América do Sul. Em 1886, prepara o terreno
produtos do país, atacadistas para entrar no mercado sul-americano, utilizando um questionário que
e varejistas, as casas de
exportação, bem como o envia aos chefes dos correios de alguns países - selecionados por ele
número de italianos que vivem como potencialmente favoráveis à comercialização de seus produtos e
no país”.
que eram meta de emigração de muitos italianos, como a Argentina e
o Brasil -, juntamente com amostras de tecidos de algodão (ver Figura
140). Segundo Einaudi (1900, p. 27),
◄▲▲Mapa 9. Tecido Urbano parcial
da cidade de São Roque, em destaque Nelle circolari si chiedeva il numero degli abitanti della
a area da Fábrica Enricco Dell'Acqua e città o borgata, il clima, i prodotti del luogo, il mercato
Cia. di spaccio, i mezzi di trasporto, il porto più vicino per le
◄Fig. 138. Implantação da Fábrica comunicazioni con l'Europa, le banche esistenti, il numero
Brasital na Gleba. dei commercianti di tessuti, di generi alimentari, di
◄▲Fig. 139. Em detalhe, Logo da prodotti del paese, di grossisti e di rivenditori al minuto,
Empresa. Fonte: Biblioteca Municipal de le case esportatrici, e il numero degli Italiani viventi nel
São Roque. paese112.

Capítulo 13 - Enricco Dell'Acqua & Cia


◄Fig. 140 - Reprodução da circular
e questionário a ser distribuída aos
vendedores de tecidos pelas agências
de correios. Fonte: Einaudi, 1900, p. 30

180

Em 1887, estabelece uma casa de representação de tecidos


italianos em Buenos Aires, tornando-se o maior fornecedor dos
atacadistas de tecidos da Argentina.
Em 1889, a empresa Enrico Dell’Acqua e Fratello transforma-
se em sociedade anônima, a Società Italiana di Esportazione Enrico
Dell’Acqua, com sede em Milão e filiais em Buenos Aires e São Paulo,
consolidando a exportação de tecidos italianos para a América do Sul.
Devido à crise que se abateu sobre a economia argentina
em 1889 e sobre a brasileira em 1890, com o aumento das tarifas
alfandegárias de importação, Dell’Acqua decide investir na produção de 113
Sobre o início de
tecidos na América do Sul, utilizando fio importado da Itália. operação da Estrada de Ferro
Sorocabana, Paulo Ricardo da
Em 1890, Dell’Acqua vem ao Brasil e adquire terras em São Silveira Santos comenta: “Entre
Roque, distante cerca de 60 quilômetros de São Paulo, ligada à capital e São Paulo e São Roque havia
apenas duas estações: Barueri
a Sorocaba pela Estrada de Ferro Sorocabana113, inaugurada em 1875. e São João, e somente a de
Piragibu entre São Roque e
Sobre São Roque, escreve Einaudi (1900, p. 125): Sorocaba. Corria apenas uma
Nel territorio di San Roque, amenissimo villaggio della composição diária, nos dois
provincia di San Paolo, posto in posizione saluberrima sentidos, levando 3 horas
in una conca in mezzo ad alti monti, aveva notata de São Paulo até aqui (São
una grossa cascata d'acqua. La forza idraulica è il solo Roque), e mais duas, de São
mezzo che ha l’industria nei paesi privi di carbon fossile Roque a Sorocaba (SANTOS,
per lottare con quelli che ne sono ricchi. Il Dell’Acqua P. R. S., 1957, p. 32).

O Lugar do Patrimônio Industrial


114
Em nossa tradução: “No memore delle fiorenti industrie italiane, impiantate lungo
território de São Roque, i corsi d’acqua, non esitò a visitarla; e vistola utilizzabile
povoado agradabilíssimo industrialmente, bene impressionato dalla salubrità e
da província de São Paulo, dalla bellezza del paese e dalla cordialità degli abitanti,
posicionado de forma muito occupati nell’agricoltura e nell’allevamento del bestiame
saudável em uma depressão no in piccolo, la comperò e pose subito mano all’impianto
meio de altas montanhas, ele della fabbrica progettata114.
notou uma grande cachoeira.
A energia hidráulica é a única A escolha do local partiu de indicação de Quirino Aguiar,
maneira que a indústria, nos
países carentes de carvão, comerciante, político republicano e então membro do Conselho
tem para concorrer com Municipal de São Roque, que era amigo do representante da firma
aqueles mais ricos. Dell'Acqua
lembrando das prósperas Dell’Acqua em São Paulo, Carlos Grassi. Aguiar expôs para a firma
indústrias italianas, implantadas Dell’Acqua alguns fatores que viabilizariam a implantação da fábrica
ao longo de cursos d'água, não de tecidos na cidade: a proximidade com a capital, reforçada pela
hesitou em visitá-la; e vendo que
era utilizável industrialmente, ligação ferroviária proporcionada pela Sorocabana; os incentivos fiscais
bem impressionado com a e facilidades que a Câmara Municipal concederia115; além do interesse
salubridade e a beleza do
país e com a cordialidade dos de um “[...] grupo de sanroquenses, dispostos a subscrever ações da
habitantes, empregados na empresa que se fundasse” (SANTOS, J. S., 1939, p. 424).
agricultura e na pecuária de
pequeno porte, a comprou A empresa Dell’Acqua adquiriu a chácara Ranzini em dezembro
e pôs-se imediatamente a
implantar a fábrica projetada”. de 1890, abarcando cerca de 235 mil metros quadrados junto ao Rio
115
A câmara municipal de Aracaí, que garantiria o fornecimento da água necessária para alimentar
São Roque, em sessão de 26 a turbina que, em conjunto com o motor a vapor, possibilitaria o
de dezembro de 1890, aprova movimento dos teares.
resolução de isentar a indústria
de Dell’Acqua de impostos por Sobre a construção da fábrica de tecidos, escreve Santos, J. S. 181
10 anos.
(1939, p. 425):
Adquirida a chácara Ranzini, entrou logo o novo
proprietário a agir energicamente: barragem do rio,
canalização, alicerces da fábrica e dependências, tudo foi
empreendido simultaneamente. Um formigueiro humano
mourejava de sol a sol, no empenho de concluir tudo no
mais breve prazo; e mal coberto e assoalhado o prédio,
começou a instalação do maquinário, e dentro em breve
S. Roque ouvia jubilosos o prolongado e alviçareiro apito
chamando os operários para a fábrica.

►Fig.141. Fábrica em construção.


Enrico Dell'Acqua está no grupo
central de pessoas, à esquerda, sem
chápeu. Fonte: Colombo, 1999, pg. 58.

Capítulo 13 - Enricco Dell'Acqua & Cia


Einaudi (1900, p. 125) relata que, na sociedade firmada para 116
Em nossa tradução:
“Atravessada esta ilíada de
implantar a fábrica de São Roque, coube à Casa Dell’Acqua a aquisição problemas, em 12 outubro 1892
do material e sua montagem, assim como o início da atividade industrial se faz a solene inauguração da
e a venda de seu produto. A implantação e montagem foram dificultadas fábrica quando faltava ainda
uma parte do telhado, o piso
pelo surto de febre amarela que abatia Santos na época, pela anarquia não estava concluído e faltavam
absoluta do serviço da alfândega e pela desordem completa no transporte. muitas máquinas. Era a primeira
fábrica moderna de tecidos que
Ninguém queria ir para Santos, e os poucos que haviam sido poupados se ergueu na América do sul, e
da terrível doença não eram suficientes para conferir e despachar as nascia por obra de um italiano,
cuja constância e cuja pertinácia
mercadorias. Os navios esperavam meses para desembarcar, e não havia em meio às mais intensas
nenhum meio de controlar a segurança dos bens, que ficavam expostos tempestades econômicas, às
mais variadas adversidades
ao tempo e sumiam sem deixar rastro. As máquinas chegavam a São materiais e espirituais, são
Roque arrombadas e parcialmente inservíveis. Nessas condições, foram realmente maravilhosas”.
recebidos os tubos para canalizar a água, a turbina, as vigas, as colunas
de ferro, os quadros e componentes para a preparação das máquinas.
Tanto pelos enormes custos de desembarque das máquinas em Santos
quanto pelas várias pausas, forçando uma resposta das máquinas de
referência, pode-se estimar que o custo de implantação da fábrica foi o
dobro do normal.
Attraverso questa Iliade dei guai, il 12 ottobre 1892 si fece
la solenne inaugurazione della fabbrica quando mancava
ancora una parte del tetto, non era finito il pavimento e
faceva difetto molto macchinario. Era la prima fabbrica
182 moderna di tessuti che sorgeva nell'America del Sud, e
nasceva per opera di un italiano, la cui costanza e la cui
pertinacia in mezzo alle più intense bufere economiche
ed alle avversità materiali e spirituali più svariate, sono
veramente meravigliose (EINAUDI, 1900, p. 126)116 .

A fábrica de São Roque obtém um desenvolvimento inesperado


e passa a pertencer somente à Casa Dell’Acqua. A força motriz era
▼Fig. 142. Vista panorâmica da Fábrica
suficiente para mover 100 cavalos; eram 195 teares mecânicos, dos na década de 1940 do século XX.
Fonte: Foto Studio Roque Jr.
quais 117 simples e 78 duplos, e 10 manuais. O pessoal ocupado era de

O Lugar do Patrimônio Industrial


▲Fig. 143. Vista panorâmica da Fábrica cerca de 330 pessoas, na maioria italianos, dos quais 8 eram diretores,
na década de 1930. Fonte: Foto Studio
Roque Jr. 126 tecelões, 11 assistentes e mestres e 184 operários em outras
▲► Fig. 144. Vista panorâmica da funções. A produção diária era de cerca de 8.000 metros de tecidos
cidade de São Roque na década de de primeira qualidade. A fábrica foi capaz de mudar totalmente o gosto
1940. Note-se ao fundo e à esquerda
a chaminé da fábrica e a mata. Fonte:
Foto Studio Roque Jr.
dos consumidores brasileiros, com a rápida propagação de seus tecidos,
de excelente qualidade e de muito bom gosto (EINAUDI, 1900, p. 144).
Em 1894, a fábrica de São Roque é ampliada para receber 64
teares mecânicos com o dobro de altura.
Comparada à Fábrica São Luiz, que utilizava um modelo de 183
edificação tradicional para o fim industrial, e à Fábrica Santa Amélia,
em São Luiz do Maranhão, que trazia em sua solução arquitetônica
traços da arquitetura vernacular maranhense, como vimos na Parte
3 - capítulo 10.1, na fábrica de São Roque, fundada na mesma época
em que a Fábrica Santa Amélia, são introduzidas inovações nas soluções
construtivas, como o sistema estrutural baseado em perfis metálicos e
pilares de ferro fundido, importados da Inglaterra. O uso de elementos
padronizados na edificação e a solução padronizada de seus pavilhões
possibilitaram a rapidez de execução relatada por Santos, J.S.
Helena Saia, em sua dissertação de mestrado, analisa as fábricas
de tecido de algodão existentes em São Paulo no período entre 1869 e
1930 e propõe a classificação e periodização da arquitetura fabril têxtil
paulista em quatro tipologias: o modelo industrial camuflado (1869-
1881), o modelo do edifício fabril com tipologia específica (1881-1920);
o modelo de padronização parcial (1920-1930) e o modelo de edifícios
fabris com padronização total (no período após 1930) (SAIA, 1988, p.
131).
A Fábrica São Luiz é citada por Saia (1988) como exemplo da
primeira tipologia, que, conforme vimos no capítulo anterior, apresenta
características de fachada que não evidenciam seu uso industrial.
Além do aspecto da aparência, as fábricas pioneiras, como a
São Luiz, adotavam um programa produtivo simplificado, cujo sistema
fabril agregava geralmente em um só edifício as atividades de fiação e
tecelagem, similar ao modelo norte-americano (SAIA, 1988, p. 122).

Capítulo 13 - Enricco Dell'Acqua & Cia


Com um programa produtivo mais complexo, que incluía ▲Fig. 145. Vista panorâmica da cidade
de São Roque no início do século XX.
a fabricação de tecidos finos, colchas, atoalhados, guardanapos e Fonte: Foto Studio Roque Jr.
adamascados, a Fábrica Enrico Dell’Acqua e Cia. encaixa-se no modelo
do edifício fabril com tipologia específica, cujas soluções arquitetônicas
aproximam-se das encontradas nas fábricas inglesas, e elementos como
os sheds já se fazem presentes.
Sua organização espacial e o sistema estrutural adotado
permitiram que os ambientes fossem amplos, bem iluminados e
184 ventilados, especialmente pela adoção de aberturas zenitais (sheds).
Provavelmente era intenção de Enrico Dell’Acqua, ao investir
na fabricação de tecidos na América do Sul, produzir tecidos similares
àqueles italianos que ele já representava, razão da ampla variedade dos
tecidos produzidos e da procedência do maquinário: Itália, Inglaterra e
os teares alemães da Grossenhainer Textilemaschinenbau Gmbh, como ◄◄Fig. 146- 147. Sistema de Vigas
e colunas metálicas que sustentam a
relata João Bombana, funcionário da Brasital de Salto: laje do andar superior. Hoje funciona
no pavimento inferior a Biblioteca
Municipal de São Roque. Foto: E. D-K.
◄◄▼Fig. 148. Pavilhão Principal da
Fábrica. Hoje funciona ali o salão de
eventos. Foto: E. D-K.
◄▼Fig. 149. Detalhe das vigas e
colunas metálias que sustentam a
cobertura do Pavilhão principal. Foto:
E. D-K.
▼Fig. 150. Detalhe da Cobertura e
Shed do Pavilhão Principal. Foto: E. D-K.

O Lugar do Patrimônio Industrial


Na Tecelagem de São Roque existem os famosos teares
Grossemnhainer, para a fabricação de Colchas Isabel, as
quais eram tecidas com tramas próprias produzidas nos
sel facigs (miulas – em Salto, exclusivamente para esse
artigo). Possuía também os teares Jacquada, de onde
saíam os famosos atoalhados e guardanapos. Para estes,
como para as colchas, não havia produção que chegasse
para o atendimento da freguesia que era selecionada.
Existiam teares onde eram fabricadas as faixas para
crianças recém-nascidas. Interessante, que nessa fábrica
foram introduzidos os princípios italianos daquela época,
até há pouco tempo ainda ouviam-se termos daquele
país, como Capo Sala para o Mestre de Tecelagem, 185
Maestrinas para as Inspetoras, Espularinas para as
Boninadeiras e Ortidoi para as Urdideiras e outros mais
(BOMBANA, 1976, p. 5)

A força motriz do Rio Aracaí foi, no entanto, superestimada,


117
Sobre a Fábrica Dell’Acqua como podemos constatar no relato de Santos J. S. (1939, p. 424):
em Buenos Aires, Diego Del
Pino escreve: “Esta fábrica Na verdade, bem reduzida era a força motriz que o
estaba ubicada cerca de la Aracaí podia produzir, motivo por que não conseguiu
actual avenida Córdoba, a a empresa depois ampliar a seção de tecelagem, nem
orillas del arroyo Maldonado montar as máquinas de fiação, pelo que teve ela depois
y las vías del ferrocarril, en el de adquirir, segundo era corrente, as fábricas de Salto
anterior BAP Buenos Aires de Itu.
al Pacífico. Ocupaba una
manzana, tenía dos pisos altos, Essa situação levou a fábrica a trabalhar também com o vapor,
hoy está el edificio reciclado,
allí estaban las maquinarias como relata Bombana (1976, p. 5):
para la manufactura del hilo,
lana y algodón. Se sostiene O vapor era produzido por caldeiras a lenha, a qual
que trabajaban alrededor de era retirada das matas adquiridas para essa finalidade
1.500 operarios y trabajadores e transportada por carroças puxadas por muares
en general. Esta empresa fue selecionados, pois os locais onde retiravam a lenha eram
fundada por el italiano de montanhosos e de difícil acesso. A matéria-prima (fios
Varesse, Enrico Dell´Acqua de algodão), para o abastecimento da Tecelagem, era
que llegó en 1887, primero se remetida pela fábrica de Salto, através da Estrada de
instaló en el centro y pronto Ferro Ituana.
eligió estos terrenos extensos
y económicos de los suburbios Segundo Rocchi (2006, p. 35), a firma de Dell’Acqua investe no
de la ciudad. El edificio fue ramo industrial também fora do Brasil e abre, em 1894, uma fábrica em
proyectado por un hijo de
Comastri, Luís Comastri, quien Buenos Aires117 , que produzia anualmente 1,5 milhões de metros de
estudiaba en la Real Academia tecido de algodão, com fio importado da Itália, além de meias e roupas.
de Bellas Artes de Florencia,
Italia. El edificio actual está en Rocchi (2006, p. 95) afirma também que a empresa de Dell’Acqua na
las calles Darwin y Loyola” Argentina quadruplicou seu capital entre 1900 e 1905.
(1997, p. 170).
Capítulo 13 - Enricco Dell'Acqua & Cia
▲◄◄Fig. 151. Fábrica Enrico
Dell'Acqua em Buenos Aires, Argentina.
Esquina entre a Calle Darwin e
a Castillo. Hoje ocupa as antigas
instalações industriais um condomínio
habitacional. Esta vista corresponde a
A instalação da fábrica em São Roque exerceu influência decisiva fachada lateral esquerda da Fig. 156.
Foto: E. D-K.
sobre a sua estrutura urbana, reforçando novo vetor de expansão ▲◄Fig. 152 . Fábrica Enrico Dell'Acqua
186 urbana, como podemos constatar no depoimento de J. S. Santos (1939, em Buenos Aires, Argentina. Esquina
entre a Calle Loyolla e a via férrea.
p. 425): Foto: E. D-K.

Estou ainda a ver nossa terra no alvoroço daqueles ◄◄Fig. 153. Fábrica Enrico Dell'Acqua
em Buenos Aires, Argentina. Esquina
primeiros tempos. Invadiu-a uma febre de construção, entre a Calle Darwin e a Loyolla. Foto:
alastrando-se não só pelas zonas recentemente abertas E. D-K.
como enchendo os claros do centro urbano. As ruas ◄Fig. 154. Fábrica Enrico Dell'Acqua
da Liberdade (hoje Henrique Dell’Acqua) e Pedro em Buenos Aires, Argentina. Esquina
Vaz, então simples caminhos sem nenhuma habitação; entre a Calle Darwin e a Loyolla, ao
a Dr. Steveaux, onde só havia as pequenas casas do fundo a linha ferrea. Foto: E. D-K.
velho Camilo de Lelis, a de Benedito Mirim e uma ou ▲▲ Fig. 155. Detalhe do Acesso aos
outra em ruína; a hoje Rui Barbosa, que do lado direito apartamentos. Fachada para a Calle
de quem sobe, desde a rua Dr. Steveax, não tinha Darwin. Foto: E. D-K.
nenhuma construção sinão (sic) a face lateral do teatro ▲Fig. 156. Fábrica Enrico Dell'Acqua
e uma casinha contígua – todos esses pontos foram se em Buenos Aires, Argentina. Esquina
povoando quasi simultaneamente. entre a Calle Loyolla e a linha férrea.
Imagem do início do seeculo XX.
O comercio acompanhou este movimento geral, Fonte: Colombo, 1999, p.49.
tomando nele os italianos assinalado relevo: padarias,
barbearias, açougues, fábricas de macarrão e de cerveja,
casas comerciais de todos os ramos, oficinas de alfaiates,
ferreiros, sapateiros – em todos os gêneros de atividade
figuravam eles, e prosperavam. Por uma coincidência
curiosa, até a Matriz esteve por esse tempo entregue a
um vigário italiano – o padre Pedro Gravina.

Percebe-se nessa fábrica a aplicação de princípios utilitaristas


de pequeno porte, agenciando diversos outros programas instalados
nos arredores da fábrica, como residências operárias, serviço de saúde,
ajuda mútua, além de um grêmio recreativo, o “Clube Familiar”.
Em 1903, Enrico Dell’Acqua confronta-se com o conselho de
administração da sociedade e deixa a direção, permanecendo como
conselheiro. Em 1904, o empresário demite-se do cargo de conselheiro
e funda outra sociedade, a Enrico Dell’Acqua e Cia., reconstituindo seu
O Lugar do Patrimônio Industrial
império. Na Argentina, em Buenos Aires, funda o Cotonifício Dell’Acqua;
no Paraguai, uma malharia; e casas de venda no atacado no Chile, Uruguai
e Paraguai (COLOMBO, 1999, p. 27).
As sedes de vendas ficam localizadas em Buenos Aires, Córdoba,
Tucumã e Rosário, na Argentina; São Paulo, Bahia e Curitiba, no Brasil;
Lima, no Peru. Na Argentina, as filiais vendem os produtos importados
e aqueles produzidos na fábrica de Buenos Aires. No Brasil, as filiais
vendem também os produtos importados da Itália e os produzidos em
São Roque. Com os tecidos da fábrica de São Roque, Enrico Dell’Acqua
encontrou uma maneira de dispor de muitos outros tecidos da variedade
daqueles importados diretamente da Itália (EINAUDI, 1900, p. 154).
Enrico Dell’Acqua morre subitamente aos 59 anos, em 1910,
quando retorna para a Itália a fim de apresentar o primeiro resultado
positivo da empresa após a crise econômica de 1907 e 1908 na
Argentina.
Com a saída de Dell’Acqua, a fábrica de São Roque passa a
pertencer à antiga sociedade fundada por ele, a qual se torna Societá per
L’Esportazione e per L’Industria Ítalo Americana, que compra também
as fábricas de Salto.
Com isso a fábrica de São Roque deixou de estar personificada
187
na figura de seu proprietário, caracterizando-se então pela gestão das
sociedades anônimas.
Essa transição não se restringiu à saída de seu fundador, mas a
demissões e uma greve que durou cerca de três meses, como relata
Paulo da Silveira Santos:
Mas acontecimento que realmente agitou a cidade
foi a greve dos operários da Fábrica Dell’Acqua. Os
fatos que tiveram uma duração de três meses e nesse
lapso de tempo ocuparam as primeiras paginas do
“O Sanroquense”, podem ser assim resumidos: com a
alteração verificada na firma e, consequentemente, na
alta direção daquela empreza fabril, esta, como medida
de ordem econômica fez paralizar a secção de tinturaria,
dispensando diversos empregados; em seguida, foram
paralizadas as secções de carretéis, teares e outras
anexas, com novas dispensas de tecelões. Dentro
de pouco tempo cerca de 514 operários se achavam
inativos e ninguém sabia informar se mais tarde seriam
novamente aproveitados (SANTOS, P. S., 1953a, p. 5).

Nesse mesmo artigo, Paulo da Silveira Santos relata que a


sucessão na firma e as reformas administrativas e operacionais que
levaram às demissões em massa e ao fechamento da fábrica no período
entre novembro de 1904 e janeiro de 1905 conferiram um impacto
significativo na cidade, que girava financeira e comercialmente em torno
da fábrica de tecidos fundada por Dell’Acqua. Esse fato levou também
à saída de muitos operários da cidade, conforme editorial da edição de
15 de janeiro de 1905 do jornal O Sanroquense: “Êxodo – Tem sido
elevado o número de famílias operárias que se retiram da cidade por

Capítulo 13 - Enricco Dell'Acqua & Cia


não terem recursos para esperar a reabertura da fábrica, o que é um 118
Antes de a greve acontecer,
Jose Weissohn, acionista
grande prejuízo para o comércio em geral” (SANTOS, P. S., 1953a, p.5). da recém-criada Societá,
esteve em São Roque, “[...]
A paralisação das atividades da fábrica levou ao fechamento do acompanhado do delegado
grêmio recreativo dos funcionários, que era mantido pela empresa e auxiliar de São Paulo e uma
pelos operários, conforme matéria veiculada pelo jornal O Sanroquense forca de dez praças [...]”
e recebeu uma comissão
em sua edição de 12 de fevereiro de 1905: de empregados, aos quais
comunicou que a “[...] fábrica
Clube Familiar, esta divertida sociedade, muito bem ficaria fechada por uns 20 dias,
montada e que viveu brilhantemente pelo espaço de para proceder-se à reforma do
oito anos, extinguiu-se! Foi vendida toda a mobília e maquinário. É que havia super-
mais objetos e pertences que possuía. Como despedida produção dos tecidos até então
entre os sócios que viveram em tão bela camaradagem, fabricados, de sorte que após
ontem realizou-se um banquete nos seus salões, findo a reforma passariam a fabricar
o qual foi declarada extinta a sociedade. A manutenção outra qualidade de tecidos; por
da mesma tornou-se impossível desde que a fábrica estes a fábrica pagaria preços
suspendeu seu funcionamento, pois quem criou o clube menores por metro, mas em
e o auxiliava a manter-se foi a antiga Diretoria da Fábrica, compensação os operários
cujos membros [...] foram despedidos. Também devido à poderiam, no mesmo tempo,
diminuição dos sócios (pois muitos auxiliares da Fábrica fabricar maior quantidade”
já não recebem seus ordenados e tiveram que retirar-se) (SANTOS, P. S., 1953a, p. 5).
tornou-se impossível manter o Clube, que tem grandes
gastos. Extingui-se pois, a Sociedade e diminuiu nesta
cidade mais um centro recreativo, tão útil e necessário
para todos! (SANTOS, P. S., 1953b, p. 5).

Nessa mesma edição, O Sanroquense relata a reabertura


da fábrica após negociações entre a direção e os operários e sua
188 reorganização, que incluíam mudanças no processo de trabalho118:
Fábrica – depois de alguns meses de suspensão de seus
trabalhos, reabriu-se no dia 20 de janeiro ultimo a fábrica
de tecidos da “Societá Italiana per Sportazione”. De
véspera a noticia encheu de contentamento não só a
laboriosa classe proletária, como também a cidade inteira.
Um frêmito de alegria voejava no espaço, os semblantes
se desenrugaram e um sorriso contagioso alegrava o
ânimo de todas, até então abatidos. Logo pela manhã, às
5 horas, ouviu-se o silvo habitual da máquina, acordando
a população que saltou do leito para assistir de novo
a passagem do operariado, soldados do progresso de
nossa terra natal, que iam combater pela grandeza da
cidade” (SANTOS, P. S., 1953b, p. 5).

Esse momento é significativo na consolidação da identidade da


cidade e de seus habitantes associada à fábrica de tecidos.
Em 1919, sua razão social é alterada para Brasital S. A. -
Sociedade Anônima para o Desenvolvimento Comercial no Brasil -, em
função de mudança de acionistas, continuando contudo a ser formada
por acionistas brasileiros e italianos (ZEQUINI, 2004, p. 153).
Aqui cabem parênteses: comparando a Fábrica São Luiz com
a Brasital São Roque, percebemos que, embora a edificação constitua
um elemento identitário de forte apelo sígnico, particularmente em
São Roque, devido à sua dimensão e ao local em que está implantada,
a ligação dos empregados com a empresa enfraquece nas sucessivas
alterações de propriedade da empresa em São Roque, algo que não
ocorre com a Fábrica São Luiz, que permanece na família do fundador
até a atualidade.
O Lugar do Patrimônio Industrial
119
Segundo o ex prefeito Ainda que Enrico Dell’Acqua , como fundador da fábrica de
Mario Luiz Campos de Oliveira,
em entrevista concedida ao tecidos, a tenha mantido somente por 12 anos, sua figura ainda é
repórter Marcelo Roque, o venerada na cidade de São Roque, e a Brasital São Roque personifica
ex-proprietário da Brasital São sua imagem.
Roque, empresário Sr. Szymon
Feldon, entrou na Prefeitura A fábrica, que resistiu a diversas alterações de administrações,
com projeto de loteamento
da área da Brasital, que não foi não resiste à tecnologia dos tecidos sintéticos (rayon e nylon) e encerra
autorizado pela prefeitura, pois suas atividades em 20 de agosto de 1970. Muitos operários foram
o município tinha interesse na
propriedade. O ex-prefeito absorvidos pela Brasital de Salto, e as antigas instalações da Brasital São
afirma que, na época, conversou Roque permanecem fechadas por 17 anos.
pessoalmente com o Sr. Feldon,
detalhando os motivos e Em 1986, o então prefeito, engenheiro Mário Luis de Oliveira,
informando a vontade da
prefeitura em adquirir o imóvel. propôs a aquisição da fábrica desativada com o intuito de dotar a
O Sr. Feldon era do ramo de cidade de um equipamento cultural, social e turístico119. A negociação
tecelagem; havia comprado as
instalações da Brasital em Salto- foi efetivada em 16 de março de 1987, em uma iniciativa conjunta da
SP e já tinha vendido aquela prefeitura e do governo do Estado de São Paulo, cabendo à primeira
propriedade para a Santista as antigas instalações da Brasital, com 9.468m², e toda a área que a
Têxtil. Ele fixou um preço e
considerou que a Prefeitura de cercava, equivalente a um terço da propriedade; os outros dois terços
São Roque não teria dinheiro couberam ao governo do Estado, mais precisamente à Companhia de
para a aquisição. A prefeitura
pediu um prazo, pois tinha Desenvolvimento Habitacional e Urbano – CDHU, onde estava prevista
apenas um percentual do valor. a construção de casas populares. Essa área, de aproximadamente 150
Depois de muita negociação,
obteve o valor complementar mil metros quadrados, foi cedida em comodato pelo prazo de noventa
do governo estadual. As anos para a prefeitura da cidade em 1989, pelo então governador do 189
condições eram favoráveis
para o município; foram dias Estado de São Paulo, Orestes Quércia.
de expectativa. Campos
de Oliveira acompanhou
pessoalmente as negociações,
até que o negócio foi concluído
em 1987, durante a sua
segunda gestão como prefeito
(Informações disponíveis
em <http://fusaoperfeita.
wo r d p r e s s . c o m / 2 0 1 0 / 0 3 /
page/3/>. Acesso em: 1 ago.
2010).

►Fig. 157. Foto da Brasital ilustra


o primeiro exemplar do Catálogo
Turístico da Cidade, logo depois de
sua aquisição pela prefeitura da cidade.
Fonte: Biblioteca Municipal de São
Roque.

Capítulo 13 - Enricco Dell'Acqua & Cia


O jornal da cidade Estação de Notícias tem seu editorial de maio 120
“De acordo com o
que dispõe o artigo 142 do
de 1987 voltado à iniciativa da prefeitura: “Brasital: aquisição absurda ou Decreto 13.426. de 16.03.79,
louvável?” notificamos a todos os
interessados que o Colegiado
O 1° de maio na Brasital veio comprovar que a atual do CONDEPHAAT - Conselho
administração fez uma das mais significativas aquisições de Defesa do Patrimônio
de toda história do Município. Lá estava ela, calada, mas Histórico, Arqueológico,
imponente. Seus grandes olhos, em formas de vitraux, Artístico e Turístico do Estado –
guardaram, por dezessete anos, apenas as imagens imóveis , em sua sessão ordinária de 16
e mortais em seu redor. Sua chaminé ainda desafiava os de março de 2009, Ata nº 1524
ventos. Seus salões, castigados pelas goteiras, pareciam deliberou aprovar o parecer do
transmitir o bater ritual dos teares. Na entrada viam- Conselheiro Relator, favorável
se ex-operários, senhores e senhoras que levavam nos à abertura do processo de
cabelos grisalhos e no falar pausado, uma saudade doce. estudo de tombamento dos
Toca o velho apito (doado pela Empresa), e um silêncio seguintes bens, localizados no
inicial é rompido por aplausos e choros incontidos. [...] Município de São Roque: Antiga
Na saída, uma senhora encontra com uma antiga colega fábrica têxtil Brasital, localizada
de trabalho. A que descia ansiosa para reencontrar a na Av. Aracaí nº 250, Antiga
“sua” Brasital, para e mira sua colega, há anos distante. vila de operários da Fábrica
Um forte abraço faz a vez de um comprimento formal. Brasital, localizada à Av. Santa
Ambas choram. A que estava de saída, dá meia volta, Rita nºs 148, 164, 168, 184, 188,
abraça a amiga e caminhando com ela vai dizendo entre 206, 226; Rua Jamil Chad nºs
lágrimas e sorriso frenéticos: ela é nossa! ela é nossa! ela 10, 20, 40, 60, 5, 15, 25, 35, 45;
é nossa! (ESTAÇÃO DE NOTÍCIAS, maio 1987, p. 3). Rua Pedro Dante Pieroni nº 10,
20, 30, 40, 50, 60. Nos termos
O apito mencionado pelo jornalista, original da fábrica, em do parágrafo único do já citado
artigo 142 e do artigo 146 do
bronze e a vapor, havia sido retirado da Brasital São Roque quando do mesmo Decreto, a deliberação
seu fechamento e permaneceu na Brasital de Salto, que o doou para a ordenando o tombamento ou
prefeitura quando esta comprou a fábrica. a abertura do processo de
190 tombamento assegura, desde
Após essa inauguração simbólica, as edificações passaram por logo, a preservação do bem
até decisão final da autoridade
reformas para acolher a biblioteca municipal, o auditório, núcleos culturais, competente, ficando, portanto,
cursos profissionalizantes em parceria com o SENAI, o Projeto Guri, a vedada qualquer intervenção
que possa vir a descaracterizar
brinquedoteca e oficinas pedagógicas da Divisão Regional de Ensino os bens referidos, sujeitando
do estado. O antigo prédio da administração abriga os departamentos qualquer intervenção à
prévia autorização do
de Educação e a divisão de Cultura da prefeitura. Um dos galpões foi CONDEPHAAT, além de poder
transformado no Museu de Artes Darcy Penteado, artista plástico de ser punido o descumprimento
importância nacional, natural de São Roque, e abriga centenas de obras do acima disposto com as
sanções penais” (DIÁRIO
do autor, que doou o seu acervo para o Museu. OFICIAL DO ESTADO DE
SÃO PAULO, Seção I, 16 abr.
Esse excepcional exemplar da arquitetura industrial do final 2009, p. 60).
do século XIX, ainda não convenientemente estudado, foi salvo de ser
destruído e de ter sua área divida em centenas de lotes, transformando-
se em um equipamento urbano cultural de grande relevância para a
cidade, que reforça a identidade da sua população e que, com seu
conjunto arquitetônico imponente, enobrece a paisagem de São Roque.
As edificações e a vila operária são objeto de um estudo de
tombamento, iniciado pelo CONDEPHAAT e ainda não concluído120.
A prefeitura da cidade, em seu plano diretor de 2006, cria a
“Área de Especial Interesse Ambiental da Brasital e seu entorno”, com
o objetivo de preservação do patrimônio ambiental e cultural.
A mais central destas áreas é a gleba da antiga
Fábrica da Brasital, que compreende, além de prédios
remanescentes, uma mancha de vegetação exuberante
e cursos e quedas d’água. Trata-se de um dos mais
significativos patrimônios ambientais e culturais que a
O Lugar do Patrimônio Industrial
cidade possui e os antigos prédios industriais vêm sendo
gradualmente transformados num centro de atividades
culturais. Um projeto paisagístico adequado permitirá
que seja também explorado todo o seu potencial de
uso externo para o lazer contemplativo e recreação
ativa (SÃO ROQUE, Lei Complementar nº 39, de 8 de
novembro de 2006).

A Brasital, como elemento simbólico da cidade, ocupa a mesma


posição de outros pontos turísticos do município, como a Casa Grande
e a Capela de Santo Antônio, de 1681; a Mata da Câmara, maior reserva
ecológica da região, reconhecida pela UNESCO como Patrimônio da
Humanidade; a Pedreira; o Morro do Saboó, ponto mais elevado de
São Roque; a Casa Grande e Senzala do Bairro do Carmo; o Morro do
Cruzeiro; o Circuito das Adegas e o Recanto da Cascata.
Cabe ressaltar que, no caso de São Roque, a preservação dos
edifícios e do sítio industrial significou uma estratégia de interesse
cultural para o desenvolvimento urbano. Partiu da cidade a iniciativa
de sua preservação, que mantém a história viva e agrega novamente
muitos habitantes nas atividades que ali são desenvolvidas.

191
►Fig. 158. Vista do Conjunto de
Edificações a partir da Via Estrutural.
Fonte: Foto Studio Roque Jr.
▼►►Fig. 159-160. Exposição e
worshops do calendário de atividade
do Centro Cultural Brasital. Fonte:
Prefeitura do Município de São Roque.
▼▼ Fig. 161. Panorama da Fachada
Principal da primeira edificação da
Empresa de Enrico Dell'Acqua. Foto:
E.D-K.

Capítulo 13 - Enricco Dell'Acqua & Cia


A B C

B
192

▲Fig. 162. Imagens internas do Pavilhão


F Principal, no segundo pavimento da
Fábrica. (a)-(b) Grande Salão (c) Sala
das turbinas. Fotos: E.D-K.
◄ Fig. 163. Planta do Pav. Superior do
Pavilhão Principal da Fábrica da Brasital
em São Roque. Elaboração da autora
sobre documentação da prefeitura da
D cidade.
▼Fig. 164. Imagens da Brinquedoteca
E (d); Corredor de União entre o edifício
principal (primeiro prédio construído)
e a ampliação) (e); Hall de distribuição
das salas de cursos e atividades (f).
Fotos: E. D-K.

D E F

O Lugar do Patrimônio Industrial


A

B
▲Fig. 165. Cortes longitudinais da Fábrica. (a) Pavilhão original; (b)
ampliação. Fonte: Prefeitura da Cidade de São Roque.
► Fig. 166. Planta do Pav.Térreo do Pavilhão Principal da Fábrica da
Brasital em São Roque. Elaboração da autora sobre documentação
da prefeitura da cidade.
▼▼Fig. 167- 168. Imagens do Bazar que comercializa os trabalhos
dos alunos e voluntários. Fotos: E. D-K.
►▼Fig. 169.Vista do Pátio de acesso à Biblioteca, hoje denominado
Praça Enrico Dell'Acqua. Foto: E.D-K.

193

169

167

8
16

Capítulo 13 - Enricco Dell'Acqua & Cia


194

o lugar do patrimônio industrial


14. A Brasital de Salto

A Fábrica Brasital, localizada no município de Salto, distante


cerca de 90 km da cidade de São Paulo e vizinha de Itu, originou-se da
fusão das primeiras tecelagens instaladas na cidade, entre 1875 e 1882,
durante o Império. Essas edificações foram ampliadas pelas empresas
que sucederam as instalações industriais pioneiras, tornando-se um
grande complexo que orientou o crescimento de Salto, sua história
e sua cultura, além de constituir a marca visual mais significativa da
paisagem da cidade.
A pequena cidade de Salto é atravessada por dois grandes rios
paulistas, o Tietê e o Jundiaí, que definiram a navegação fluvial de São
Paulo. Santos (2002, p. 78) afirma que o Rio Tietê era a espinha dorsal
de uma grande apropriação humana nunca antes vista no território sul-
americano, formando a geometria do açúcar paulista, cujo centro era a 195
cidade de São Paulo, organizando uma rede de caminhos secundários,
articulada ao percurso bandeirista nas estradas do Viamão e Goyases,
que constituiriam a estrutura básica do grande eixo centro-sul de
circuitos mercantis internos de acumulação de capital.
O Rio Tietê teve, portanto, um papel duplamente importante
para os paulistas: primeiramente, ele representou o início de integração
do Brasil no tocante à ampliação do território, indo para além do
Tratado de Tordesilhas, que havia sido delimitado nas conquistas ibéricas
de Portugal e Espanha; séculos depois, ele foi o eixo principal do
desenvolvimento industrial em São Paulo.
Os rios e cachoeiras, que definiram a localização e o nome da
cidade, propiciaram também o seu desenvolvimento e a atração de
indústrias, cujos maquinários dependiam em grande parte de energia
hidráulica. As indústrias que se instalaram na cidade foram responsáveis
pelo desvio e represamento dos rios, transformando-os em fonte
de energia; ergueram as usinas elétricas e instalaram os serviços de
abastecimento (água e energia). As instalações industriais ocuparam
áreas de imensa riqueza natural, junto às margens de rios e a quedas
d´água, sendo favorecidas também por diversos privilégios, como as
◄▲Mapa 10. Localização da Fábrica
isenções fiscais e a doação de terras municipais.
Brasital no tecido urbano de Salto.
Elaboração da autora sobre carta Em 26 de novembro de 1870, a Companhia Ituana de Estrada
cadastral da Prefeitura da Estância
Turística de Salto. de Ferro chega a Salto e transforma não só a paisagem, mas toda a
◄Fig. 170. Implantação da Fábrica vida econômica e social da cidade. Pode-se dizer que a chegada da
Brasital na quadra urbana. Elaboração
da autora. ferrovia foi tão importante que alavancou a independência político-
Capítulo 14 - A Brasital de Salto
administrativa por meio do desenvolvimento que trouxera para o local
(LIBERALESSO, 2000, p. 125).
Mais uma vez, a vocação de entroncamento de caminhos,
iniciado em meados do século XVIII com os bandeirantes e as monções,
reafirma-se em Salto.
A ferrovia promovia o deslocamento da população, favorecia
a implantação das indústrias e a entrada dos imigrantes, estimulava as
trocas, alterava a noção de temporalidade ao introduzir a velocidade e
facilitava o transporte de mercadorias produzidas, máquinas e matérias-
primas, em especial, por sua ligação rápida com o porto de Santos.
Foram essas conjunturas que favoreceram, em 1875, a
implantação da primeira fábrica de tecidos na cidade, a Fábrica Júpiter,
uma das precursoras da indústria têxtil da província de São Paulo. Seu
proprietário, José Galvão de França Pacheco, era filho de produtores de
cana-de-açúcar e donos de engenho. Como comerciante de algodão, a
principal matéria-prima cultivada na região em 1860, entusiasmado com
o êxito da Fábrica de Tecidos São Luiz, de Itu, inaugurada seis anos antes,
decidiu investir no mesmo segmento industrial.
A fábrica foi implantada à margem direita do Rio Tietê, abaixo da
cachoeira, em um edifício de cerca de 1.240m². Devido à proximidade
196
com o rio, o edifício é construído sobre alicerce de granito bruto,
garantindo sua permanência em caso de enchentes. A fábrica contava
com tecnologia inovadora: maquinário inglês, movido por energia
hidráulica providenciada pela turbina, igualmente inglesa, que, além de
ocupar pouco espaço, também reduzia o custo de produção. A fábrica
era responsável por todas as etapas de fabricação de panos grossos e
finos, desde o desencaroçamento do algodão até a fiação e a tecelagem
dos tecidos.
O jornalista A. Marques, na edição de 31 de março de 1875 do
jornal A Província de São Paulo, em artigo sobre as fábricas pioneiras da
província de São Paulo, descreve a Fábrica Júpiter: ◄Fig. 171. Fábrica Júpiter. A Rua
central é a antiga Rua do Porto, que
em 1910 será incorporada pela fábrica
que sucedeu a Júpiter, eliminando esta
ligação da população com o Rio Tietê.
Fonte: Museu da Cidade de Salto.
▼Fig. 172. A Fábrica Júpiter foi
construída junto a queda do Rio
Tietê e trouxe para a região uma
inovação tecnológica do século XIX, a
turbina hidráulica. As máquinas foram
adquiridas da Platt Brothers & Co.
Limited, de Oldham, Inglaterra. Fonte:
Museu da Cidade de Salto.

O Lugar do Patrimônio Industrial


121
MARQUES, A. Fábricas [...] o edifício, todo de pedra, e bastante vasto, que
Pioneiras. A Província de São comportara 50 teares com suas respectivas fiandeiras
Paulo, São Paulo, 31 mar. 1875. e cardadeiras, tem os alicerces assentes sobre imensas
Descreve as fábricas pioneiras rochas de granito que dominam o rio. O pavimento
da província de São Paulo. superior, cujo assoalho é construído de grossos
pranchões de madeira de lei, está firmado sobre
possantes colunas de pedra. É aqui que se está assentado
todo o machinismo que foi construído segundo os mais
recentes aperfeiçoamentos em 1873, na Inglaterra, de
onde veio um engenheiro especialmente para o assentar.
O motor da fábrica é a água do Tietê, levada por um
aqueduto aberto na rocha viva. O machinismo deste
motor é aperfeiçoadíssimo e novo na província. Turbina
é o seu nome. [...] Turbina é uma machina hidraulica,
composta de uma roda horizontal em forma de hélice,
que gira debaixo de água, posta em movimento por uma
queda dágua, recebida em um grande cilindro de ferro
colocado verticalmente. Utiliza a maior parte da força
da água – 95 por cento. Diminue muito as engrenagens
como na do Sr. José Galvão, em que um grosso eixo
adaptado verticalmente à roda horizontal imprime,
por meio de uma engrenagem, o movimento a outras
engrenagens no pavimento superior de onde partem
as correias a imprimir a seu turno o movimento às
fiandeiras, cardadeiras e teares.[...] Pode funcionar por
ocasião de grandes enchentes, ocupando, de mais a
mais, um pequeno espaço como o que vimos que não
terá mais que 4 metros quadrados (MARQUES121, 1875
apud SAIA, 1988, pp. 159-162).

O jornal O Ituano descreve a fábrica na edição de 24 de janeiro 197


de 1875:
Esse edifficio apresenta uma área de 1239,04 metros e
tem suas fundações no seio de uma grande e massissa
rocha granítica, que tendo uma superfície bastante
inclinada para o rio faz as paredes d’esse lado tomarem
uma altura consideravel que faculta ao edifficio dous
pavimentos. As paredes do pavimento inferior tem 0,77
metros de espessura e são de alvenaria simples (grandes
pedaços de granitos e argamassa), apresentando-a do
lado do rio um arco em que tem de funcionar a roda
motora, o qual tem 17,6 metros de altura contando da
chave do arco pleno, e o lado da fós três grandes portas
de arco pleno com 3,5 metros de largura.
Distribuido em cinco ordens e da mesma alvenaria
simples, vinte pilares de base quadrada, com 1,32m
de face, suportam o pavimento superior: o pavimento
superior sendo cercado por paredes de alvenaria-mixta
( paramentos de granito e argamassa com recheio de
pequenas pedras e argamassa) apresenta sua área e alguns
pilares de alvenaria e columnas de madeira suportando o
telhado: vinte e oito janellas com ogiva, symetricamente
destribuidas pelas quatro paredes, deixam penetrar
no imenso salão ar e luz bastantes. Repousando sobre
um excellente systema de madeiramento, o telhado é
composto de seis vertentes principaes, as quaes tendo
as bases parallellas concorrem duas a duas a tres
cumeeiras differentes e parallellas; as telhas empregadas
são tronco-conicas. [...] É o salão do pavimento superior
que tem de receber as importantes e delicadas machinas
que constituem uma fabrica de tecidos, já se achando
algumas armadas. Jogando com 50 teares, 18 cardas, 5
bancas de fuso, um muller com 1600 fusos, pode esta
grande fábrica empregar 100 trabalhadores, e pelo
genero de trabalho poderão ahi ter emprego mulheres
e menores, o que é de grande alcance para a sociedade

Capítulo 14 - A Brasital de Salto


[...]. As differentes machinas de que fallamos sahiram em
1873 da grande fábrica Platt Brothers e Cia, em Oldham,
concebida a idéia de tão grande empresa, não hesitou
o Snr. Galvão na execução [..] (O ITUANO, 24/01/1875
apud CASTELLARI, 1971, pp. 137-138).

Saia (1988, p. 161) observa que a Fábrica Júpiter distinguia-se


pelo tipo de motor que utilizava, constituindo uma exceção entre as
fábricas pioneiras paulistas, também pelo uso de materiais e soluções
construtivas diversas das usuais na província de São Paulo, como
a alvenaria de pedra e a técnica de assentamento. Além disso, o
despojamento do tratamento das fachadas, destituídas de revestimentos,
remete aos modelos construtivos ingleses.
Podemos aferir pela descrição do jornal O Ituano que o projeto
da fábrica também foi elaborado pela firma Platt Brothers e Co, da qual
Galvão havia comprado o maquinário, como pode ser percebido no
trecho acima citado: “[...] concebida a idéia de tão grande empresa, não
hesitou o Snr. Galvão na execução”.
Além disso, uma das cláusulas do contrato estipulava que,
após a chegada dos equipamentos ao Porto de Santos, eles seriam
imediatamente conduzidos para o local onde já se achava construído o
edifício (ZEQUINI, 2004, p. 61).
198 Cinco anos depois, uma nova fábrica de tecidos é instalada
no povoado. Inaugurada parcialmente em 1882, a fábrica Fortuna,
de propriedade do Dr. Francisco Fernando Barros Júnior, também se
localizava à margem direita do Rio Tietê, 500 metros abaixo da cachoeira,
logo em seguida à fábrica de Galvão. As paredes da fábrica eram 122
FABRICA DE TECIDOS.
constituídas de pedras e tijolos, sendo de pedra todos os alicerces e o Imprensa Ytuana. Itu, 8 abr.
1933, p. 2.
primeiro andar do edifício de fiação e de tijolos o restante (FABRICA
DE TECIDOS, 1933122 apud ZEQUINI, 2004, p.75).

◄Fig. 173. Fábrica Fortuna. (1903)


Fonte: Museu da Cidade de Salto.

O Lugar do Patrimônio Industrial


►Fig. 174. Fábricas Fortuna, e Júpiter
vista a partir do Rio Tietê. Podem ser
identificados, ainda hoje, vestígios das
estruturas dessas fábricas, com várias
alterações (início do século XX) Fonte:
Museu da Cidade de Salto.

Movida também à força hidráulica, a Fábrica Fortuna possuía


vários edifícios para abrigar diferentes funções, como ferramentaria,
carpintaria e armazéns.
Barros Júnior era engenheiro civil formado pela Universidade de
Siracusa, nos EUA. Afeiçoado à política, lutou pela autonomia distrital
de Salto, conseguindo, em 22 de abril de 1885, que de Povoado fosse 199
elevado a Freguesia (CORTI, 2004. pp. 28-29).
Zequini (2004, p. 75) afirma que a solução construtiva e
energética adotada na fábrica de Barros Júnior era muito parecida às
da Fábrica Júpiter, sugerindo que esta poderia ter funcionado como um
modelo construtivo e técnico para aquela.
As fábricas de José Galvão e Barros Júnior foram incorporadas
a partir da década de 1890 por companhias industriais e sociedades
anônimas de maior porte; primeiramente, pela Cia. e Cultura de Tecidos
de Algodão Paulista (1891-1894) e em seguida, pela M. Buarque de
Macedo e Cia. (1894-1897).

►Fig. 175. Moradias Operárias da


Fábrica Fortuna, junto à Fábrica e em
frente à Praça da Matriz (1903). Fonte:
Museu da Cidade de Salto.
▼Fig. 176. Praça da Igreja Matriz (1903).
Fonte: Museu da Cidade de Salto.

Capítulo 14 - A Brasital de Salto


A M. Buarque de Macedo e Cia. passou a funcionar também no
período noturno, iluminada com energia elétrica produzida em gerador
próprio, em um momento em que nem a vila possuía esse tipo de
iluminação. A energia elétrica só chega à cidade de Salto em 1906, com
a inauguração da usina da Lavras, pertencente a Cia. Ytuana de Força e
Luz.
Em 1898, a empresa José Weisshon & Cia. adquire as fábricas
unificadas pelas antecessoras, expandindo as fábricas originárias e
apropriando-se de terrenos circunvizinhos, incorporados ao patrimônio
da empresa (ZEQUINI, 2004, p. 147).
A José Weisshon & Cia. adotou uma política médico-
assistencialista e investiu em moradias operárias, construindo uma vila
com trinta casas junto à empresa, que, na época, já atingia quatrocentos
empregados, dos quais dois terços eram imigrantes italianos (CORTI,
2004. p. 32).
Em 1904, a antiga sociedade de Enrico Dell’Acqua, a Societá per
l’Esportazione e per l’Industria Italo-Americana, adquire a firma de José
Weisshon, que continua como acionista.
A Italo-Americana continua a política de expansão e obtém,
junto à Câmara local, concessões de uso perpétuo de terras à beira
200 do Rio Tietê e de algumas ilhotas para a execução de obras com a
finalidade de aumento da força hidráulica. A Rua do Porto é incorporada
parcialmente pela Italo-Americana em 1910, que, em troca, constrói um
mirante e uma ponte pênsil para facilitar a passagem dos moradores.
“Essas medidas ocasionaram o desaparecimento das lavadeiras,
pescadores e algumas áreas de lazer, aparecendo no seu lugar canais,
açudes e, por último, uma hidrelétrica, vendida em 1927 a Light and
Power” (ZEQUINI, 2004, p. 148).
Nesse momento, a fábrica fecha-se em si mesma como uma
fortaleza, impondo a reestruturação das ligações e do próprio tecido
urbano de Salto.

◄Fig. 177. Construção do Novo prédio


da Fiação, denominado pela população
local como "Castelinho" (década
de 1920). As moradias operárias
construídas por José Weisshon que
aparecem em primeiro plano serão
substituídas a seguir por casas amplas
destinadas aos funcionários mestres
e contra-mestres. Fonte: Museu da
Cidade de Salto.
▲Fig. 178 Obras de construção do
canal da usina Porto Góes (1924).
Fonte: Museu da Cidade de Salto.
▲▲Fig. 179. Teleférico que fazia
a interligação de mercadorias e
maquinários entre as fábricas de Papel
e de Tecidos, quando ambas pertenciam
à Brasital. O transporte de pessoas não
era autorizado, embora como a foto
registra, acabava acontecendo (1940)..
Fonte: Museu da Cidade de Salto.

o lugar do patrimônio industrial


►Fig. 180. Vista dos chalés e do Prédio
da Fiação concluído. (1929). Fonte:
Museu da Cidade de Salto.
▼Fig. 181. A presença do espaço
público é somente o pano de fundo
para as atividades fabris. [a] A praça não
possui mobiliário urbano e funciona
como extensão do espaço fabril, no
momento da troca de turno (1941). [b]
A Praça antes de sua requalificação. [c]
A praça deixa de ser um local somente
de passagem e recebe iluminação e
passeio público conquistando o uso
de seu espaço como também de
permanência e fruição. (1942) Fonte:
Museu da Cidade de Salto.

Em 1918, a Societá Ítalo-Americana empregava mil e trezentos


operários de um universo populacional de oito mil habitantes (CORTI,
2004, p. 41).
A fusão, em 1919, da Societá per L’esportazione e per L’industria
Ítalo Americana com a Belli & Cia. resulta na empresa Brasital - Sociedade
Anônima para o Desenvolvimento Industrial e Comercial no Brasil, que
chega a uma Salto de quase dez mil habitantes, população que havia 201
dobrado de número entre 1910 e 1920.
No período em que a fábrica passou a ser dirigida pela Brasital,
o parque industrial foi ampliado, com a modernização das instalações e
da produção têxtil. Construiu-se uma nova fiação de três andares, com
projeto de uma firma inglesa de Manchester, e o conjunto assumiu a
aparência que apresenta atualmente.

► Fig. 182. Planta do pavimento térreo


da nova fiação. Fonte: Fundação Bunge.
▼ Fig. 183 (pg.202). Planta do 1.
pavimento da nova fiação. Fonte:
Fundação Bunge.
▼▼ Fig. 184 Planta do 2. pavimento
da nova fiação. Fonte: Fundação Bunge.

Capítulo 14 - A Brasital de Salto


202

O Lugar do Patrimônio Industrial


O processo de modernização do parque industrial da Brasital
refletiu-se diretamente no processo de urbanização da cidade.
Paralelamente ao desenvolvimento industrial e ao aumento do
perímetro da cidade, surgem vários prédios institucionais significativos
e também novos equipamentos públicos, como a Cia. Ituana de Força
e Luz, na Usina de Lavras (1905); o Matadouro Municipal (1912); a
Empresa de Águas e Esgotos de Salto S/A (1912); a Ponte Pênsil (1913);
o Grupo Escolar Tancredo Neves (1913); a Cadeia Pública (1913); a
Prefeitura Municipal (1922); a Usina Porto Góes (1924) e a Matriz de
Nossa Senhora de Monte Serrat (1928).
A Sociedade Ítalo-Americana e posteriormente a Brasital foram
responsáveis pela melhoria da cidade, com a instalação de diversos
equipamentos, como creches, vilas operárias, assistência médico-
hospitalar, armazém de emergência, sociedade de socorro mútuo,
teatros, cinemas, escolas, entre outros. Na realidade, essas melhorias
tinham por objetivo beneficiar a própria empresa, que ficava isenta
de impostos de todos os tipos: predial, sobre o produto, importação,
exportação etc., além de manter o domínio sobre a mão-de-obra local.
Apesar disso, a população ganhava indiretamente, pois os problemas e
as dificuldades encontrados pelos moradores eram solucionados sem
prejuízo a seus salários nominais, conferindo à empresa força e prestígio
►Fig. 185. Localização das Fábricas 203
de Papel e Tecidos, e das quadras das perante a população, que se beneficiava com suas obras.
moradias operárias. Fonte: elaboração
da autora. A Brasital construiu 244 casas para os seus funcionários, que
▼Fig. 186. Planta cadastral das quatro pagavam um aluguel simbólico e que, por ocasião da dissolução da
quadras denominadas "quintalão".
Fonte: Mapeamento da Prefeitura da empresa, adquiriram as casas por um valor muito inferior ao do mercado,
Estância Turística de Salto.
▼▼Fig. 187. Moradia operária típica
sendo esse valor também amplamente financiado. Entre 1920 e 1924, a
dos quintalões. Fonte: Museu da Cidade Brasital construiu 13 chalés para mestres e contramestres, substituindo
de Salto.
as casas operárias geminadas construídas pela José Weisshon e Cia.

Capítulo 14 - A Brasital de Salto


Entre 1924 e 1946, construiu mais dois conjuntos no Porto Góes, de 20
e 8 casas respectivamente, junto à fábrica de papel e na Barra do Tietê.
A vila operária, construída em quatro quadras junto à Avenida
Dom Pedro II, tem uma característica singular: as quadras são estruturadas
em torno de uma área comum – um pátio interno, que é denominado
“quintalão”, com cerca de dois mil metros quadrados.
A Brasital encerrou suas atividades em 20 de janeiro de 1970.
No ano seguinte, ela é vendida para Dow Orni e Simon Feldon e entra
em decadência. Em 1981, é vendida para a Alpargatas Santista Têxtil
S/A, que manteve atividades no local até 1995.
O conjunto de imóveis da fábrica foi adquirido em 2000 pelo
Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio por meio de uma
promessa de compra e venda, com outorga executiva em 10 de junho
de 2005.

▼Fig. 189. Esquema de funcionamento da casa das turbinas e dos equipamentos geradores de energia.
Fonte: Centro de Memória da Fundação Bunge.
▼▼ Fig. 190. Equipamentos da firma inglesa Matter Platte. Fotos: E.D-K.

204

▲Fig. 188. Remanescentes das


tubulações de água para acionamento
da turbina geradora de energia. Fotos:
E.D-K.

O Lugar do Patrimônio Industrial


O processo de tombamento

Valderez Antônio da Silva, então secretário da Cultura e Turismo


da cidade, pede, em 14 de novembro de 2006, o tombamento das
edificações da antiga Brasital e dos chalés dos mestres e contramestres,
lindeiros ao agora campus universitário.
Na justificativa para o tombamento, Valderez Silva argumenta:
Por integrarem o processo pioneiro de industrializações
de São Paulo, a história dos movimentos operários no
Brasil e a memória da imigração italiana, bem como por
suas características arquitetônicas, que a comunidade
teme ameaçados, pede-se a esse conselho as mais
breves providências para o resguardo daqueles bens
(CONDEPHAAT, Processo nº 57.118/08, 2006, p. 1).

Na avaliação técnica do pedido de tombamento, a


historiadora Marly Rodrigues, técnica do CONDEPHAAT, posiciona-se
favoravelmente à abertura do processo de tombamento em 12 de abril
de 2007, apresentando o seguinte argumento:
Fábrica e moradia se fundiram compondo um espaço de
sociabilidade, no qual o cotidiano refletia a cultura urbana
industrial, em especial as formas de relacionamento
entre os trabalhadores fabris.
Mais que em outros importantes aspectos – as
características arquitetônicas e o papel na orientação do 205
espaço urbano- parece-me que a importância cultural
deste complexo se concentra em sua representatividade
para a memória da industrialização do estado de São
Paulo, o que corresponde à da formação do capitalismo
industrial e dos grupos sociais que polarizaram este
processo.
O porte e a qualidade estética, a relação deste complexo
composto por exemplares de diversos momentos
da industrialização com a cidade e, as representações
nele contidas recomendam a abertura do estudo de
tombamento. Contudo, ao que se pode depreender
do material enviado, há também a expectativa de que
um possível tombamento venha a solucionar alguns
problemas que hoje afetam a harmonia do conjunto,
tais como a poluição visual, a falta de conservação e as
intervenções desrespeitosas.
[...] seria de todo desejável que o Condephaat, no mais
breve tempo possível, entrasse em contato com as
autoridades municipais de modo a esclarecê-las quanto
a este aspecto e, sobretudo, quanto à necessidade de
negociações e acordos para a utilização econômica
deste complexo, de modo a garantir suas características
materiais fundamentais e a permanência de seu valor
de representação cultural para o estado de São Paulo
(CONDEPHAAT, Processo nº 57.118/08, 2006, pp. 150-
151).

É preciso qualificar o interesse que move o pedido de


tombamento encaminhado pela prefeitura. Esta, como representante da
sociedade saltense, dentro de um ideário de preservação, acredita que
o CONDEPHAAT seja capaz de solucionar problemas urbanos locais,
elencados pela historiadora: poluição visual, a falta de conservação e as
intervenções desrespeitosas.
Capítulo 14 - A Brasital de Salto
Por outro lado, está a população saltense propriamente
dita envolvida afetivamente com a fábrica, que foi parte da sua vida,
e provavelmente acredita na carga simbólica da idéia de patrimônio,
significando reforço das identidades locais, nas quais essa população
também se legitima, como operários, construtores do desenvolvimento
da cidade. Nesse sentido, o bem físico representa somente o suporte,
o signo.
A conselheira do CONDEPHAAT, Maria Cecília França Fonseca,
chama a atenção para esse fato no seu parecer:
Para os saltenses, a fábrica objeto de suas lembranças
é o espaço configurado pela Brasital no século XX; é
este que é objeto do afeto geral e, a seu ver, constitui o
testemunho da história local. Nele se estampa a imagem
construída de uma cidade industrial, moderna, portadora
do progresso (CONDEPHAAT, Processo nº 57.118/08,
2006, pp. 150-151).

Nessa perspectiva, o caráter de permanência e vitalidade


do bem é traço de sua história, ou melhor, de seu poder de evocar
a lembrança, de ser o porta-voz das memórias dos moradores de
Salto, constituindo uma referência espacial e afetiva forte como fator
propulsor na constituição da vida da cidade.

206
Quanto à questão do ato de lembrar, a conselheira Suely Kofes,
em seu parecer sobre o tombamento, refere-se à importância do
Museu da Cidade de Salto na valoração da fábrica e na manutenção da
memória fabril:
Como sabemos, referir-se à memória é também enfrentar
o embate contínuo entre lembranças e esquecimentos.
No caso da cidade de Salto, como é bem mostrado pela
documentação que forma o processo e pelo estudo
do UPPH [Unidade de Preservação do Patrimônio
Histórico], estamos diante deste embate. Por um lado o
Museu guarda e expõe objetos históricos (subsidiando
o conhecimento histórico de todos os interessados e
a continuidade das lembranças e do reconhecimento
da população local), por outro lado parte desta história,
concretizada no conjunto fabril, está submetida a
sucessiva perdas de integridade. O que resta do conjunto
arquitetônico (que, aliás, forma uma paisagem com o rio
Tietê) alimenta-se da documentação do museu, também
o inverso é verdadeiro e é esta alimentação mútua que
garante a possibilidade narrativa de uma história que
é local, mas não é apenas local e que pode provocar ▼Fig. 191. Vista Panorâmica do
conhecimentos e reconhecimentos em diferentes escalas conjunto da fábrica em sua cota mais
(CONDEPHAAT, Processo nº 57.118/08, 2006, p. 268). baixa. Foto: E.D-K.

O Lugar do Patrimônio Industrial


Por fim, encontra-se o proprietário atual, a instituição de Ensino
Superior, que utiliza o imóvel e afirma o valor econômico do bem,
mas que, sob o olhar da prefeitura, constitui o motivo de ameaça à
preservação do imóvel.
A argumentação dos advogados da instituição, contestando o
parecer favorável ao tombamento, baseia-se na alegação de que
[...] espontaneamente a ora contestante deu
andamento às obras de conservação e revitalização do
bem, naturalmente adaptando-o para fins de criação
de salas de aula e demais instalações universitárias; isso
com vistas a que se prestigiassem, a um só tempo e de
maneira mais efetiva possível, dois bens culturais de igual
envergadura, quais sejam: (i) a preservação de edificação
integrante da história do município, evitando-lhes a ruína;
(ii) as manifestações culturais, visto que deu destino mais
útil, sob o prisma ontológico da formação intelectual, do
que a de simples registro da atividade fabril, à medida
que lá se instalou um dos maiores e mais bem sucedidos
núcleos de ensino superior (CONDEPHAAT, Processo
nº 57.118/08, 2006, p. 297; grifo da autora).

Voltamos aqui à mesma situação encontrada no tombamento


da Fábrica Santa Amélia, no Maranhão: a leitura que o proprietário faz
do ato do tombamento como entrave ao uso pleno do imóvel - no
caso da Fábrica Santa Amélia, ao seu valor de troca, e no caso da Brasital,
ao seu valor de uso -, como podemos notar na reação manifestada 207
pelos advogados:
Tem-se que [a instituição] preservou o bem cultural,
voluntariamente e independentemente da imposição de
qualquer gravame ao direito fundamental à propriedade,
sob dois ângulos, a saber: (i) evitou-se a ruína de
edificação apta ao registro da história do município
de Salto, SP; (ii) possibilitou-se amplo acesso a suas
instalações, pois abertas ao público em geral, prestando-
se nas imediações destas, ainda, relevantes serviços de
educação superior, o que faz da Sociedade de Educação
Nossa Senhora do Patrocínio S/S Ltda, destarte, um dos
grandes celeiros da cultura no estado de São Paulo.
[...] o tombamento como proposto da integridade
do imóvel de propriedade da contestante impõe um
congelamento desnaturante do desenvolvimento da
atividade a que foi e está destinada (CONDEPHAAT,
Processo nº 57.118/08, 2006, p. 305).

As restrições e os limites que o tombamento acarreta ao uso do


imóvel costumam ter consequências indesejáveis aos proprietários dos
imóveis, evidenciando a natureza conflitante dos interesses em jogo no
processo de consagração do valor cultural de um bem.
No caso da Brasital Salto, Marly Rodrigues, em seu parecer, tece
considerações sobre a compatibilização entre o ato de preservação do
imóvel e o seu uso atual, como podemos apreender na sua argumentação
sobre o que o tombamento deve ter em vista:
- o caráter do conjunto fabril, cujo sentido em grande
parte reside nas relações espaciais das e entre as
unidades independentes;

Capítulo 14 - A Brasital de Salto


- a volumetria do conjunto, fator essencial para que este 123
Minuta de tombamento,
se mantenha como referência na paisagem da cidade; publicada no Diário Oficial do
- as características construtivas e ornamentais de cada Estado de São Paulo, Seção I,
em 24 de junho de 2009, nas
unidade; páginas 48 e 49: “De acordo
- a existência de remanescentes das edificações primitivas, com o que dispõe o artigo
ainda identificáveis, em composição com intervenções 142 do Decreto 13.426. de
posteriores em parte das unidades; 16.03.79, notificamos a todos os
interessados que o Colegiado
- o atendimento de futuras demandas de espaço para do CONDEPHAAT - Conselho
expansão das atividades da instituição educacional de Defesa do Patrimônio
(CONDEPHAAT, Processo nº 57.118/08, 2006, p. 305). Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico do Estado
A preocupação delineada por Marly Rodrigues foi considerada –, em sua sessão ordinária de 08
de junho de 2009, Ata nº 1533,
nos critérios de tombamento, que definiu o polígono de tombamento deliberou aprovar o parecer da
Conselheira Relatora, favorável
abrangendo o complexo fabril, sua volumetria e fachada, assim como ao tombamento das instalações
aquelas áreas da residência do gerente, no interior do conjunto, e dos da antiga Fábrica de Tecidos
Brasital, no Município de Salto,
chalés dos mestres e contramestres voltados para a Praça Antônio que incluem a) o polígono
Vieira Tavares123 . formado pela Praça Archimedes
Lammoglia, Rua José Weissoh,
Praça Antônio Vieira Tavares,
As reformas e adequações realizadas pela instituição de Ensino Praça da Bandeira, Rua Joaquim
Superior nas edificações foram avaliadas pela equipe técnica do Centro Nabuco, Rua 24 de outubro e
a margem direita do Rio Tietê
de Projetos e Obras em Bens Culturais do CONDEPHAAT. A diretora (entre a Praça Archimedes
do Centro, a arquiteta Tereza Cristina Pereira, visitou as instalações da Lammoglia e a Rua 24 de
outubro); b) a volumetria e
antiga Brasital em 3 de julho de 2008 e manifestou-se entusiasmada fachadas dos edifícios fabris
situados no interior do referido
com a interferência, considerando-a polígono, identificados como
Blocos A, B, C, D, E, F, G, I, J, K,
208 [...] de grande qualidade e respeita de forma admirável N, O, Q, X, Z1; c) volumetria e
o aspecto do conjunto de edificações em processo de fachadas da antiga residência
tombamento. Não temos qualquer objeção a fazer em do gerente, hoje Chalé da
relação ao que pudemos observar durante a vistoria e em Reitoria, bem como o conjunto
relação ao que ainda pretendem fazer (CONDEPHAAT, residencial formado pelas
Processo nº 57.118/08, 2006, p. 180). unidades 153, 165, 175, 187,
199, 209, 219, 229, 239, 251,
261 e 273 da Praça Antônio
Vieira Tavares. Nos termos do
parágrafo único do já citado
artigo 142 e do artigo 146 do
mesmo Decreto, a deliberação
ordenando o tombamento ou
a abertura do processo de
tombamento assegura, desde
logo, a preservação do bem
até decisão final da autoridade
competente, ficando, portanto,
vedada qualquer intervenção
que possa vir a descaracterizar
os bens referidos, sujeitando
qualquer intervenção à prévia
autorização do CONDEPHAAT,
além de poder ser punido o
descumprimento do acima
disposto com as sanções penais

◄▲Fig. 192. Prédio das Passadeiras


e Bancos da Jupiter e Fortuna. Fonte:
Museu da Cidade de Salto..
▲ Fig 193. Prédio dos descaroçadores
(1930). Fonte: Museu da Cidade de
Salto.
◄▼ Fig 194. Prédio da Tecelagem.
Fonte: Museu da Cidade de Salto.
▼Fig. 195. Prédio daTinturaria. Fonte:
Museu da Cidade de Salto.

O Lugar do Patrimônio Industrial


previstas no artigo 63 da Lei Podemos concluir que a conservação desse patrimônio
Federal nº 9605, de 12.12.1998.
Estabeleça-se o prazo de espetacular da industrialização paulista, sendo ela imposta por
15 dias para apresentação tombamento ou realizada de forma voluntária pela instituição desde
de eventual contestação,
conforme disposto no artigo a sua aquisição, contribui para uma melhor leitura e compreensão dos
143 do já citado Decreto
Estadual, contados a partir do processos históricos de construção da identidade local e de organização
recebimento da notificação”. espacial do tecido urbano, moldando o imaginário e a memória coletiva
ao celebrar a longevidade do lembrar associado às formas arquitetônicas
singulares da fábrica.
O perfil outrora industrial da cidade de Salto ajusta-se a uma
nova dinâmica pós-industrial. A elevação da cidade à estância turística
e à cidade universitária em 1998 abriu uma nova perspectiva de
desenvolvimento futuro, em que as funções terciárias ganham crescente
destaque.
A requalificação de prédios históricos vem ao encontro
do que Lepetit (2002, p. 142) chama de poder de absorção dos
territórios urbanos às modificações de uso e mutações econômicas.
Lepetit (2002) menciona a dificuldade de certos territórios urbanos
em absorver modificações de uso ou mutações econômicas, o que
acaba estabelecendo uma relação de mão única entre as mutações das
práticas e as do espaço.
No caso da cidade de Salto, podemos afirmar que as mutações 209
econômicas definiram uma nova direção de desenvolvimento para a
cidade, na qual o conjunto da Brasital desempenha um papel fundamental.

Capítulo 14 - A Brasital de Salto


▼Fig. 196 ►Fig. 197. Diagrama das
Edificações que formam o conjunto da
Brasital. Foto: E.D-K.

BloCo d (antiga teCelagem) bloco e (À eSQ.) - bloco G (À dir.) cASAS doS MeStreS
área = 9.151,57m2

interior do BloCo d
A
b
210 k
c
j g
i
e
O f d

BloCo e (antigo BenefiCiamento)


área = 7.884,79m2

BloCo e (lateral) BloCo e (aCesso via BloCo e (fundos) à BloCo f (antiga tinturaria -
área = 7.884,79m2 BloCo g) direita o BloCo g preparaÇÃo)
área = 3.054,61m2

Os blocos assinalados em vermelho correspondem a localização das edificações existentes no


mapemaneto de 1935 dos espaços da Fábrica, elaborado pela empresa de esgotos de Salto, entre a
antiga Rua do Porto e o Rio Tietê. Foram posteriormente agregados a outras edificações, sofreram
ampliações e adequações às mudanças de maquinário e ao aumento da produção.
O atual Bloco K corresponde à fábrica de Barros Jr. e o Bloco D àquela de José Galvão. Vestígios
destes edifícios podem ainda ser identificados em fragmentos de paredes, colunas, estruturas de
coberturas, assoalhos. (CONDEPHAAT, Processo nº 57.118/08, 2006, p. 255)

o lugar do patrimônio industrial


interior do bloco C

Bloco G (antiga EXPEDIÇÃO) - 1/2 pav.


área = 2.501,78m2

A
b
k
c
j g
i
e 211
o f d

Bloco C (antiga FIAÇÃO)-3 pav.


área = 9.876,10m2

passarela suspensa de conecção entre


Bloco B (ao fundo) Corredor entre os Blocos B (à frente) os blocos E (à direita) e G (à esq.).
área = 3.455,72m2 e A (Fundo) à esq e o bloco C (à dir.).
A passarela suspensa conecta o bloco
C ao Bloco A

Bloco k (depósito da expedição de fios), Bloco G (à esq.) bloco J (à dir.)


vista de fundos, junto ao rio tietê.
área = 2.082,04m2
área = 3.958,03m2
Capítulo 14 - A Brasital de Salto
212

o lugar do patrimôNio iNdustrial


15. A Companhia América Fabril e a
Companhia Nacional de Tecidos Nova
América: trajetórias entrecruzadas
A Companhia América Fabril constitui um exemplo de
conglomerado industrial têxtil que incorporou várias fábricas para criar
um sistema de produção integrada, em uma trajetória de crescimento
vertiginoso que a transformou na mais importante empresa têxtil do
país.
Elisabeth Von der Weid afirma que a Cia. América Fabril
ocupava o primeiro lugar, no final da década de 1920, entre as principais
companhias têxteis do Rio de Janeiro e de São Paulo, estado que já
havia assumido a liderança do ramo:
Apenas as fábricas têxteis das Indústrias Reunidas
Francisco Matarazzo, de São Paulo, tinha um valor
de produção próximo ao da América Fabril, mas a
superavam em metragem, o que indica que os tecidos
desta companhia eram mais caros, e portanto mais
refinados. A fábrica de Matarazzo, que produzia em
maior escala, era especializada em sacaria (WEID, 1986,
p. 18).
213
O núcleo de origem da Companhia América Fabril data de 1878,
quando foi fundada a Fábrica Pau Grande em uma fazenda de mesmo
nome, em Raiz da Serra de Petrópolis, hoje município de Magé, para
produzir tecidos grossos de algodão, aproveitando a energia hidráulica
da região e a mão de obra rural. A Fábrica Pau Grande era vizinha da
Fábrica Santo Aleixo, a mais antiga do Rio de Janeiro, fundada em 1849,
também uma fábrica-fazenda. Sua primeira expansão se faz pela compra
de uma fábrica urbana. Weid (2009) analisa essa ação como resultado
de uma avaliação de oportunidade,

◄ Fig. 198. Localização da Fábrica Nova


América no bairro de Del Castilho.
Fonte: elaboração da autora.
► Fig. 199. Vista Panorâmica da Fábrica
e Fazenda Pau Grande (1911). Fonte:
Arquivo da Cia América Fabril - AGCRJ.

Capítulo 15 - A Cia América Fabril e a Cia Nacional de Tecidos Nova América


[...] efetivada em 1891, momento em que começavam a
se fazer sentir os efeitos da especulação desenfreada e
as primeiras falências de empresas formadas na euforia
inicial do Encilhamento. A Companhia Manufatureira
Cruzeiro do Sul era uma dessas empresas: formada
em 1890, no auge do ciclo, vendia seu patrimônio um
ano depois, antes de instalar as máquinas já compradas.
O senso de oportunidade da diretoria da Companhia
Pau Grande levou-a a aproveitar os fatores positivos
da política oficial, como as facilidades de crédito e
empréstimos às indústrias, a baixa do câmbio e isenções
de direitos alfandegários, e a beneficiar-se da inflexão do
ciclo, adquirindo uma fábrica que não sobrevivera à crise
(p.12)

A aquisição da Fábrica Cruzeiro determinou a mudança do


nome da firma, até então denominada Companhia de Fiação e Tecidos
Pau Grande, para Companhia América Fabril, bem como a real expansão
da empresa com a elevação de seu capital.
A incorporação da Fábrica Cruzeiro marca também uma nova
orientação na produção de tecidos: a de tecidos finos para concorrer
com os artigos estrangeiros, pois a Fábrica Pau Grande voltou-se sempre
para a produção de tecidos mais grossos e resistentes, como os crus,
brins, colchas e cobertores de algodão. Para isso, a firma passou equipar
as fábricas e estruturar seu novo projeto de produção, e, em 1905, com
214 a instalação na fábrica Cruzeiro da primeira seção de beneficiamento do
pano - o alvejamento -, ela pode competir com os artigos importados.
Na fábrica Cruzeiro estava centralizado, portanto, o beneficiamento dos
tecidos de todas as unidades, além das seções de gravação, estamparia,
tintura do pano, laboratório químico industrial, gasômetro e fábrica de
gelo. A Cruzeiro era também, entre as fábricas da companhia, a que
tinha maior produção de tecidos.

◄ Fig. 200. Panorama da Fábrica


Cruzeiro no bairro de Andaraí (1911).
Fonte: Arquivo da Cia América Fabril -
AGCRJ.
►Fig. 201. Planta indicando a
localização da Fábrica Cruzeiro, com
suas funções distribuídas espacialemnte
e a amplitude de suas propriedades.
Fonte: Arquivo da Cia América Fabril -
AGCRJ.

O Lugar do Patrimônio Industrial


215

Em 1903, a Cia. América Fabril compra a Fábrica Bonfim124,


124
A Fábrica Bonfim, assim pertencente na época a Domingos Bebianno, que gerenciava
como a São João e a São simultaneamente as duas empresas.A compra da Fábrica Bonfim ampliou
Cristóvão, pertencia a Cia.
União Industrial São Sebastião, a capacidade da America Fabril e elevou Bebianno a segundo maior
importante empresa têxtil acionista da empresa.Três anos antes, a América Fabril havia adquirido a
do Rio de Janeiro que
“[...] sobreviveu à crise do São Cristóvão, cujos equipamentos foram distribuídos entre a Cruzeiro
Encilhamento, mas não resistiu e a Pau Grande, ampliando assim sua capacidade de produção.
à crise de 1900” (WEID, 1986,
p. 85). Ela foi adquirida em Todo o processo de modernização da Cia. América Fabril passou
1898 por Domingos Bebianno,
Antonio Ribeiro Seabra e a ser orientado pela figura do Diretor Técnico, cargo criado em 1908 e
Antonio Mendes Campos, ocupado pelo engenheiro inglês Mark Sutton, encarregado da produção,
todos acionistas da Cia. das obras e das relações com a força de trabalho, implementando um
América Fabril, por meio de
leilão em razão da liquidação novo sistema de produção na empresa. Segundo Weid (1986, p. 94), em
forçada da Cia. União Industrial 1910, dando continuidade ao projeto de modernização da empresa,
São Sebastião.
Capítulo 15 - a Cia amériCa Fabril e a Cia NaCioNal de teCidos Nova amériCa
◄Fig. 202. Fachada da Fábrica Bonfim
(1921). Publicação do Depto. do
Trabalho. Fonte: Arquivo da Cia
América Fabril - AGCRJ.
▼Fig. 203. Entrada para a Fábrica
Carioca. Fonte: Arquivo da Cia América
Fabril - AGCRJ.
▼►Fig. 204. Vista Geral das duas
Fábricas da Carioca (1921). Fonte:
Arquivo da Cia América Fabril - AGCRJ.

“[...] Sutton viajou à Inglaterra, de onde trouxe plantas e orçamentos


para a construção de uma nova fábrica, deixando todas as máquinas e
equipamentos encomendados”. Ainda segundo a autora,
A fábrica Bonfim completava a linha de tecelagem
média da empresa. Pau Grande produzia os tecidos mais
grossos - brins, riscados, cassinetas e colchas de algodão.
E naquele ano foi inaugurada a nova e moderna fábrica
Mavilis, construída em dois anos com projeto do Diretor
216 Técnico. Esta unidade tinha sido definida como o pólo
decisivo de mudança na linha de produção da companhia,
tendo as mais aperfeiçoadas máquinas de fiação, capazes
de produzir fios mais finos que qualquer outro produzido
no país. Isto permitia a tecelagem de panos sofisticados,
leves, que seriam beneficiados e estampados na Cruzeiro.
Toda esta organização permitia à empresa fazer face à
concorrência estrangeira, e rapidamente a produção da
companhia se expandiu. Em 1915, os artigos da América
Fabril eram os mais refinados do país (WEID, 2009, pp.
24-25).

Em 1920, a Cia. América Fabril decide ampliar a sua capacidade


produtiva e incorpora a Companhia Carioca, cujo patrimônio
correspondia a duas fábricas de fiação e tecelagem localizadas no Horto
Florestal, com suas respectivas vilas operárias, oficinas de carpintaria e
alvejamento. As novas unidades passam a integrar também o sistema de
produção da América Fabril, enviando seus tecidos crus ou alvejados
para serem beneficiados na Cruzeiro.

O Lugar do Patrimônio Industrial


217

▲Fig. 205. Loteamento dos terrenos Com cinco fábricas urbanas espalhadas pela cidade e uma rural,
pertencentes à Fabrica Carioca. . Fonte:
Arquivo da Cia América Fabril - AGCRJ. em Magé, o sistema de comunicação entre elas era crucial. Desde o final
do século XIX, o transporte entre as fábricas urbanas da companhia era
feito por bondes, e por trens com a Pau Grande.
Uma crise administrativa em 1923, originada em divergências
existentes no seio do empresariado - no qual o capital comercial
ainda tinha um peso muito forte, refreando os avanços e a ousadia
do grupo industrial de vanguarda -, levou alguns membros dissidentes,
pertencentes ao grupo que representava a mentalidade industrial e
liderados por Mark Sutton, a fundar uma nova empresa. Possivelmente
foi a mentalidade comercial da equipe administrativa instaurada desde
então, conjugada às dificuldades por que passou o ramo industrial têxtil
no período, que levou a Companhia América Fabril a perder o posto de
liderança na década seguinte (WEID, 2009, p. 33).
A dissidência não ficou restrita ao alto escalão da Cia. América
Fabril. Nesse período, a maior parte dos funcionários da Companhia
Nacional de Tecidos Nova América era procedente também da
América Fabril. Além disso, o movimento constante de crescimento e
modernização permanente verificado até a década de 1920 não foi
mais retomado (WEID, 1986, p. 115).
Capítulo 15 - A Cia América Fabril e a Cia Nacional de Tecidos Nova América
A América Fabril iniciou um processo falimentar nos anos de ◄Fig. 206. Fábrica Cruzeiro, prédio do
almoxarifado. Fonte: Arquivo da Cia
1960, sendo a Fábrica Carioca, localizada no Jardim Botânico, bairro que América Fabril - AGCRJ.
valorizou muito com a expansão da cidade, a primeira unidade a ser ▲Fig. 207. Fábrica Mavilis. Fonte:
Arquivo da Cia América Fabril - AGCRJ.
desativada em 1962 devido às condições precárias de seu maquinário. ▼►Fig. 208 - 209. Fábrica Cruzeiro.
“Sua desativação foi seguida rapidamente pela corrida do mercado Desmonte e demolição na década de
1960. Fonte: Arquivo da Cia América
imobiliário, que tratou de apagar rapidamente seus vestígios quase por Fabril - AGCRJ.
completo” (PIMENTA, 2007, p. 72). Parte do loteamento da área da
antiga Fábrica Carioca foi adquirida pela Rede Globo de Televisão.
A próxima fábrica a ser desativada foi a Cruzeiro, principal
unidade da Companhia América Fabril, localizada, juntamente com suas
218 vilas operárias, em área privilegiada do bairro de Vila Isabel. A fábrica
foi desativada em 1968, e parte de seus operários foi remanejada para
as outras unidades da América Fabril - Bonfim, Mavilis, Pau Grande e a
recém-adquirida Cia. Deodoro Industrial -, na tentativa de recompor
seu parque industrial em uma área da cidade menos valorizada.
A área, até então ocupada pela fábrica Cruzeiro, foi dividida pelos
credores da Cia. América Fabril, na maioria instituições oficiais, como o
Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, e a área que correspondia
à fábrica propriamente dita foi cedida ao Banco Nacional de Habitação,
que a substituiu por um condomínio residencial vertical, “[...] chamado
de ‘tijolinho’ pelos moradores do bairro” (PIMENTA, 2007, p. 72).

O Lugar do Patrimônio Industrial


125
Ver: BRASIL, Diário Oficial A Fábrica Mavilis e sua vizinha Bonfim foram aos poucos
da União, Brasília, DF, 26 jan.
1924, Seção 1, p. 26. Disponível desativadas; fecharam as portas em 1971, ano em que a Cia. América
em: <http://www.jusbrasil.com. Fabril pediu concordata, e seu controle acionário passou à Companhia
br/diarios/1777504/dou-secao- Progresso do Estado da Guanabara. Em 1978, o Banco Central assume o
1-26-01-1924-pg-46>. Acesso
em: 31 jul. 2010. controle do que resta da Cia. América Fabril, e as fábricas já desativadas
vão sendo desaparelhadas e vendidas. A Mavilis e a Bonfim foram
completamente demolidas nos anos 1980. Seus terrenos passaram
a abrigar os depósitos de containeres da zona portuária. Das antigas
fábricas, restam apenas as vilas operárias, as quais convivem agora com
o barulho dos guindastes e a paisagem dos containeres coloridos de
aço que as cercam.
A Fábrica Pau Grande, origem do conglomerado, foi demolida
em 1978. A moderna Fábrica Santana, construída na década de 1950 na
fazenda Pau Grande para trabalhar em sintonia com a antiga unidade
rural, foi vendida juntamente com a Deodoro, que havia sido adquirida
no final da década de 1960 pela Multifabril Industrial Têxtil S. A.
Os ambientes construídos pela América Fabril, longe de
constituírem um objeto físico estático, revelam-se produto de um
processo dinâmico, definido pela transformação industrial decorrente
de avanços tecnológicos e pela configuração espacial dispersa.
As transformações ocorridas na Cia. América Fabril, com a saída 219
do grupo dissidente e as dificuldades econômicas na década de 1960,
significaram seu total desaparecimento após décadas de existência.
Sorte diferente teve a Companhia Nacional de Tecidos Nova
América S. A., criada em 26 de janeiro de 1924125 por iniciativa do
engenheiro mecânico inglês Mark Sutton e de Affonso Alves Bebianno
e Leopoldo de Bulhões, membros demissionários da administração da
Companhia América Fabril.
A família Bebianno vinha dirigindo a América Fabril desde
1897, e Mark Sutton era genro de Domingos Bebianno e seu principal
colaborador. Sutton veio para o Brasil para trabalhar na Fábrica Bangu,
na qual ficou pouco tempo; trabalhou na Tecelagem Carioca antes
de ingressar, em 1896, na América Fabril, tornando-se sócio em 1899
(WEID, 1986, p. 91).
A Companhia Nacional de Tecidos Nova América foi construída
em um modelo arquitetônico caracterizado pela predominância de
grandes fachadas em alvenaria de tijolos aparentes, típico do estilo inglês
manchesteriano. Assim como o projeto da Mavilis foi trazido por Sutton
da Inglaterra, o da Nova América deve ter tido a mesma procedência,
visto que ele tinha muitas relações em Manchester, cidade onde havia
trabalhado e estudado.
A Companhia adquiriu um vasto terreno ao longo da Avenida
Automóvel Clube, atualmente Av. Pastor Martin Luther King, no bairro
Del Castilho, subúrbio carioca. Primeiramente, foram instaladas uma

Capítulo 15 - A Cia América Fabril e a Cia Nacional de Tecidos Nova América


serraria e uma olaria, que serviram de base para a construção da unidade
fabril. A maquinaria e tecnologia foram importadas da Inglaterra, Weid
(1986, p. 115) afirma que a “[...] Nova América foi montada com a
mais moderna aparelhagem da época”, sendo considerada pelos jornais
locais como a fábrica mais moderna de que se tinha notícia no Rio de
Janeiro.
A fábrica de tecidos ali instalada tornou-se não somente a maior
fonte de emprego do bairro, como também o eixo comunitário desde
o qual surgiram a vila operária, a escola, o ambulatório, o posto policial,
as áreas de lazer etc. Por volta de 1945, a fábrica tinha em torno de três
mil funcionários.
A nova empresa nasceu às vésperas da crise de 1926 e conseguiu
crescer e estabilizar-se em plena conjuntura restritiva, chegando, em
1927, ao segundo posto do setor têxtil do Distrito Federal no tocante
ao valor de capital. Seu valor de produção era, naquele ano, superior
ao das empresas do Estado do Rio de Janeiro, posicionando-se em
quinto lugar no Distrito Federal, junto com a Companhia Aliança. A
Companhia América Fabril continuava sendo a primeira do Brasil, mas
já vinha sendo ameaçada de perto pelas fábricas de tecidos Matarazzo
e Scarpa, de São Paulo.
220 Assim como a América Fabril, a Nova América rapidamente
participou do quadro das principais empresas têxteis do Brasil, ainda
na década de 1920. Nos anos que se seguiram, essas duas companhias
estiveram disputando, juntamente com demais indústrias de grande
porte na capital, o mercado no Rio de Janeiro (WEID, 2009, p. 20).

Tabela 11: Estatísticas da indústria têxtil de algodão - 1927


Empresa No Capital Prod. Prod. Teares Fusos Operá-
Fábricas. (contos) anual anual rios
(contos) (1000m)
Distrito Federal
América Fabril 6 32.000 60.911 29.227 4.850 287.000 7.000
Nova América 1 15.000 9.600 6.000 970 65.710 1.325
Corcovado 2 13.000 18.000 12.000 1.885 54.232 2.700
Aliança 1 12.000 9.600 7.200 1.534 70.000 1.200
Progresso Industrial 1 9.000 12.000 9.523 1.980 56.680 2.500
do Brasil (Bangu)
Confiança Industrial 3 9.000 11.000 10.000 1.514 43.482 1.328
Rio de Janeiro
Petropolitana 2 7.000 7.500 7.600 1.080 34.176 1.200
Brasil Industrial 1 6.000 7.434 9.200 1.008 32.200 1.050
São Paulo
Matarazzo 2 - 50.500 36.000 3.600 96.064 4.300
Scarpa S.A. 2 35.000 31.000 18.000 1.584 46.244 2.950
Votorantim 1 20.000 30.000 20.000 1.392 70.000 3.000
Fonte: CIFTA Estatísticas da indústria, comércio e lavoura do algodão relativas ao ano de
1927. Rio de Janeiro, Typ. Do Jornal do Commercio, 1928. Também Relatório. Rio de Janeiro,
Typ. Do Jornal do Commercio, 1927. Arquivo do CIFTA. Quadro organizado com base no
valor do capital por estado (Cf. WEID, 2009, p. 20)

O Lugar do Patrimônio Industrial


126
O empreendimento é A Nova América, ao contrário da América Fabril, centralizava sua
administrado pela Ancar,
responsável pela gestão de produção em uma única unidade no bairro de Del Castilho, subúrbio
outros dez shopping centers carioca.Teve a falência decretada durante a ditadura militar. No governo
no Brasil, entre eles o Shopping do general João Baptista Figueiredo, por meio da luta dos trabalhadores,
Eldorado, na cidade de São
Paulo (RODRIGUES, 2008, p. a Companhia passou ao controle do BNDES. Em 1984, a empresa foi
71). reprivatizada, passando a ser propriedade da Multifabril Industrial Têxtil
S. A., a mesma empresa que comprara, anos antes, a América Fabril. A
fábrica foi desativada em 1991, e a produção foi transferida para sua
▼▼►Fig. 210 - 211. Cia Nova
América, acesso principal. Fotos: E.D-K. nova unidade, denominada Unidade Fonte Limpa, localizada em Santa
Cruz da Serra, no município de Duque de Caxias. De 1991 até sua
conversão em um Shopping Center126 em 1995, ela permaneceu com
suas portas fechadas.
O espaço ocupado pela Cia. Nova América era estratégico. A
fábrica estava implantada em um dos maiores entroncamentos viários
do Rio de Janeiro - Av. Dom Helder Câmara (antiga Av. Suburbana)
com Av. Pastor Martin Luther King (antiga Automóvel Clube) -; possuía
uma saída direta para a Linha Amarela, relativamente próxima à Linha
Vermelha e à Av. Brasil; articulava-se à estação de metrô Del Castilho por
uma passarela que levava o pedestre direto ao interior da antiga fábrica,
além de haver proximidade com a linha férrea. Tal condição tornava
esse espaço uma grande oportunidade para o mercado imobiliário.
221
Apesar disso, o espaço da antiga indústria resistiu, e o Shopping
Nova América manteve a forma fabril como um diferencial, uma questão
estratégica do empreendedor na valorização da história e preservação
da memória urbana, usando essa característica peculiar do shopping
como um atrativo a mais para o consumidor que busca a proximidade
com a história do lugar, além de manter a representatividade simbólica

Capítulo 15 - A Cia América Fabril e a Cia Nacional de Tecidos Nova América


e a identificação que os moradores do bairro possuíam com a fábrica. 127 Disponível em: <http://
www.novaamer ica.com.br/
Isso pode ser evidenciado no site do shopping: site/conteudo/Historico.php>.
Em 1995, nasce o Shopping Nova América, preservando Acesso em: 25 jul. 2010.
a arquitetura original da fábrica, toda em tijolinhos, estilo 128
Disponível em <http://
inglês do início do século. Em 2002, o Nova América www.novaamer ica.com.br/
expandiu e tornou-se um centro integrado de lazer, ruadorio/>. Acesso em: 25 jul.
serviços, negócios, educação e compras, oferecendo 2010.
ao visitante uma grande variedade de opções, em um
só lugar. Hoje, além das 239 lojas, o visitante encontra
lojas-âncora de peso, um campus universitário, a Rua do
Rio e o Centro Empresarial com 154 salas. O shopping
cresceu e mais ainda preserva com orgulho, o patrimônio
histórico da cidade. E o nome, Nova América, permanece
na memória de seus moradores, como símbolo de um
tempo de grandes transformações e prosperidade127 .
A representação simbólica é evidenciada também no espaço
gastronômico e de lazer, situado dentro do Shopping e denominado de
“Rua do Rio”. Esse local, antes uma via interna que conectava os diversos
pavilhões da fábrica, foi coberto e abriga vários bares que reproduzem
cenograficamente a “atmosfera” do Rio antigo e boêmio. A publicidade
do lugar anuncia: “Rua do Rio. Os Bons Tempos do Rio Antigo estão de
Volta”.
Imagine se você pudesse voltar no tempo e caminhar
por uma rua do Rio Antigo, cercados por seus casarios,
pedras portuguesas e ladrilhos pintados, com o clima
222 típico da cidade. Esse é o espírito da Rua do Rio. Um
lugar confortável e descontraído, com capacidade para
2.600 pessoas, repleto de bons restaurantes, bares e
atrações ao vivo. Tudo pra que você possa aproveitar
grandes momentos em boa companhia, onde a diversão
e a badalação são as principais marcas do local128.

O Shopping Nova América representa, assim, um caso de


reconstrução do território industrial do ponto de vista da reapropriação ◄◄▼Fig. 212 - 213 - 214. Cia Nova
América, Corredor denominado "Rua
espacial. As edificações da Cia. Nova América não foram objeto de do Rio". Fotos: E.D-K.
salvaguarda pelos órgãos públicos de defesa do patrimônio; a iniciativa de ▲Fig. 215. Cia Nova América, "Rua do
mantê-las parte da iniciativa privada. A antiga atividade industrial é usada Rio", Cartaz das atividades do carnaval
2010, comparando o boulevard do
como atrativo no processo de reabilitação da área, antes abandonada Shopping com o Rio boêmio de Noel
Rosa. Foto: E.D-K.
e estigmatizada.

O Lugar do Patrimônio Industrial


▲►Fig. 216-217. Cia Nova América, A reabilitação de antigos espaços fabris para um uso
acesso lateral ao boulevard "Rua do
Rio", e também à Universidade. Fotos: contemporâneo à sociedade atual tem sido uma atividade corrente. A
E.D-K.
Fábrica São Luiz tornou-se um espaço de eventos, a Brasital de Salto
abriga um Centro Universitário, a Brasital de São Roque é um Centro
Cultural e as antigas instalações da Fábrica Bangu e da Nova América
transformaram-se em shopping centers. Ambas abrigam também 223
campus universitário.
129
Em 1970, durante o processo
de expansão da educação Rodrigues (2009, p.2) chama a atenção para a combinação “[...]
superior privada promovido
pelo regime militar, a Faculdade campus universitário instalado num shopping center, outrora indústria
Estácio de Sá é criada e têxtil, cercado por um cinturão de favelas, no caminho para o paraíso
começa a funcionar com cerca da classe média emergente”, observada no caso da antiga Cia. Nova
de oitenta alunos. No final do
século XX, em plena nova América:
expansão do setor educacional,
agora incentivada pelos Observada ainda da via expressa Linha Amarela, a
governos democraticamente chaminé de cerca de 50 metros de altura, típica das
eleitos, na época da gestão construções fabris inglesas do século XIX, mantém
de Fernando Collor de Melo, inalterada a imagem de Del Castilho, um antigo e
a Universidade Estácio de Sá tradicional bairro industrial carioca. Aparentemente,
(UNESA) possuía cerca de a fábrica Nova América continua lá. Trafegamos pela
30.000 estudantes, alcançando via expressa, ladeada por favelas, que liga a Cidade
o segundo lugar em corpo Universitária, campus modernista da maior universidade
discente, atrás apenas da maior federal brasileira, a UFRJ, ao bairro da Barra da Tijuca,
universidade federal brasileira, considerado por muitos como um simulacro de Miami.
a UFRJ, com cerca de 42.000 Sobressaindo no imenso estacionamento, a imponente
estudantes. Em 2002, a UNESA arquitetura da velha fábrica de tecidos apresenta,
alcançou 60.000 matrículas, contudo, grandes pórticos de aço pintados em azul que
ultrapassando duas das mais evidenciam a sua mudança de status: ocupando o lugar
tradicionais universidades dos operários, das máquinas à vapor, dos antigos teares,
brasileiras, a USP e a UFRJ, encontramos, agora, consumidores e novas mercadorias
tornando-se a segunda maior – materiais e imateriais (p.2).
universidade brasileira em
matrículas. Atualmente, a Aqui, Rodrigues (2009) refere-se, respectivamente, às lojas e ao
UNESA é, segundo dados campus da Universidade Estácio de Sá, maior universidade do Brasil em
oficiais, a maior instituição de
educação superior do Brasil número de estudantes matriculados129.
em número de estudantes
matriculados (RODRIGUES, A lógica de reapropriação dos espaços preteritamente industriais,
2009, pp. 8-9). a qual visa à sua recuperação econômica, muitas vezes contempla
Capítulo 15 - A Cia América Fabril e a Cia Nacional de Tecidos Nova América
desdobramentos locais, como a reintegração de antigos funcionários, o 130
Cf. Sítio do campus Nova
que é evidenciado no caso do Shopping Nova América por Rodrigues América da Unesa. Disponível
em: <http://www.estacio.
(2009, p. 8): br/campus/nova_america/>.
Acesso em: 25 jul. 2010.
Muitos dos freqüentadores do Shopping Nova América
efetivamente têm suas vidas relacionadas à Companhia
Nacional de Tecidos Nova América (CNTNA), alguns
foram consumidores de seus produtos – já que a
unidade fabril fazia venda direta ao consumidor –,
outros foram trabalhadores da fábrica. Moradores do
entorno que viram a CNTNA fechar, que presenciaram
a construção do parque de estacionamento, hoje
passeiam pelos corredores do Nova América. Existem
mesmo funcionários de lojas que foram empregados da
CNTNA, engenheiros que permanecem em atuação
imediata com o SNA.
A administração do SNA tem plena consciência dessa
situação e busca utilizá-la funcionalmente. De fato, durante
meses, a decoração da praça central de alimentação
retratou em enormes painéis essa suposta harmônica
convivência passado/presente, fábrica/shopping center,
trabalho/lazer; estudo/responsabilidade social.

No entanto há também desdobramentos regionais, como o


impulso aos fatores econômicos personificados, no caso do Shopping
Nova América, na figura da Universidade Estácio de Sá, que atrai dez
mil alunos provindos de vários municípios para os cursos de graduação ▼Fig. 218. Cia Nova América, acesso
secundário à Universidade Estácio de
224 (bacharelado e licenciatura), superiores de tecnologia, de pós-graduação Sá. Foto: E.D-K.
lato sensu e de extensão130, movimento muito superior ao número de ▼◄ Fig. 219. Cia Nova América,
fachada para o acesso viário principal.
funcionários que a empresa teve nas décadas de sua existência. Foto: E.D-K.

O resgate e a preservação da Cia. Nova


América reafirmam o lugar do patrimônio
industrial como catalisador de uma série de
transformações econômicas, urbano-geográficas,
culturais e educacionais pelas quais as cidades
e as sociedades capitalistas vêm passando na
produção do espaço urbano contemporâneo.

O Lugar do Patrimônio Industrial


►Fig. 220. Cia Nova América, detalhe
das Janelas. Foto: E.D-K.
►▼▼Fig. 221. Cia Nova América,
detalhes dos espaços internos.
(a) shed; (b) alvenaria de tijolo
aparente; (c) sistemas elétricos e de
iluminação parcialmente aparentes;
(d) estrutura aparente; (e) Cenários
para caracterizaçao da Rua do Rio;
(f) preservação dos espaços originais
fragmentados, articiulando-os através
de passagens abertas, e por vezes
cobertas. Fotos: E.D-K. A

225

B C

D E F

Capítulo 15 - A Cia América Fabril e a Cia Nacional de Tecidos Nova América


▲Mapa 11 Mapa Geral de Bangu,
incluindo os limites das terras da Cia.
226 ▼Mapa 12 Implantação atual da
Fábrica Bangu. Elaboração da autora.

o lugar do patrimônio industrial


16. A Fábrica Bangu

Entre as fábricas examinadas no presente trabalho, a Cia.


Progresso Industrial do Brasil, ou simplesmente Fábrica Bangu, fundada
em 1889131, destaca-se por diversas particularidades. Em primeiro lugar,
destacam-se os aspectos inusitados de sua implantação em área rural,
onde um longo caminho levava até Bangu. A Fábrica foi instalada em uma
área pouco urbanizada, na freguesia de Campo Grande, hoje Bangu132,
distante cerca de 30 km do centro do Rio de Janeiro. A escolha inicial
para a implantação da fábrica havia sido o bairro da Tijuca, mas, nos
estudos elaborados pela firma londrina De Morgan Snell, responsável
pelo projeto da fábrica, constatou-se que o espaço era insuficiente e o
fornecimento de água, a cargo do governo, era escasso, o que poderia
comprometer a produção, arriscando, portanto, o alto investimento nas
instalações fabris. A firma londrina ficou, assim, responsável por encontrar
131
A Fábrica Bangu entra em outro local, com mananciais hídricos próprios e que fosse interligado
funcionamento em março
de 1893. Na solenidade de à rede ferroviária. A escolha da firma inglesa “[...] recaiu na freguesia
227
inauguração, compareceram de Campo Grande, onde havia terrenos com cachoeiras que podiam
o então vice-presidente da fornecer a água necessária aos trabalhos da Fábrica e que estavam ao
República Marechal Floriano
Peixoto, o prefeito do lado da linha férrea, próximo à povoação de Realengo” (SILVA, G. A. de
Distrito Federal e o prefeito A., 1989, p. 21).
do Conselho Municipal,
evidenciando a importância A área selecionada pela firma inglesa era formada pelas fazendas
desse empreendimento no
panorama socioeconômico do do Retiro e Bangu, Sítio do Agostinho, Sítio dos Amarais e as cachoeiras
Rio de Janeiro e do Brasil. do Fundão e Agostinho. A presença das cachoeiras, como vimos na
132
Há duas hipóteses sobre a descrição das outras fábricas, era fundamental para transformar a sua
palavra Bangu. Na primeira, o potencialidade em força motriz para o funcionamento das máquinas,
vocábulo seria de étimo tupi,
significando anteparo negro, cujos mecanismos eram todos de origem inglesa, como descreve Lloyd :
paredão negro, em referência
ao conjunto de montanhas
que projetam a sombra
escura sobre a planície, onde
se localizavam as terras da
Fazenda Retiro, que originou
a fábrica. A segunda hipótese
refere-se ao étimo africano,
no qual Bangu seria corruptela
de banguê, nome dado pelos
escravos ao local do engenho
onde se guardava o bagaço
da cana-de-açúcar, que, depois
de moída, servia de alimento
para o gado e para alimentar
as fornalhas (SILVA, G. A. de A.,
1989, p. 17).

►Fig. 222. Fazenda do Bangu. Desenho


aquarelado de Júlio Sena. Fonte: SILVA,
G.A.deA., 1989, p.15

Capítulo 16 - A Fábrica Bangu


A força motriz era composta de três motores de 133
A publicação “Impressões
Buckley & Taylor, de Oldham, com força de 1.900 hp, do Brazil no Seculo Vinte”,
dividida em três motores, sendo um de 1.100 hp para editada em 1913 e impressa na
a fiação, um de 500 hp para tecelagem e um de 300 hp Inglaterra por Lloyd's Greater
para a seção e estamparia. Com o aumento da fábrica, Britain Publishing Company, Ltd.,
foram substituídos os motores acima por pequenos com 1.080 páginas, é mantida no
motores elétricos de pequena força, em número de Arquivo Histórico de Cubatão,
149. [...] Destes 149 motores, 110 são dos fabricantes em São Paulo. A obra teve
Mather & Platt, e 39 de Brown Boveri & Co. Possui a como diretor principal Reginald
companhia dois mananciais de água potável, sendo um Lloyd, participando os editores
a 6 quilômetros ao Norte da fábrica e 300 metros de ingleses W. Feldwick (Londres)
altitude em relação a ela, com 3.000.000 de litros em 24 e L. T. Delaney (Rio de Janeiro);
horas, denominado Rio Guandu do Senna; e outro ao Sul, o editor brasileiro Joaquim
na mesma distância, tendo 5.500.000 litros, 350 metros Eulalio e o historiador londrino
acima do nível do mar, e 315 metros acima do nível da Arnold Wright. O Arquivo
fábrica e denominado Rio da Prata (1913, s. p. 133). Histórico de Cubatão elaborou
uma reedição em versão digital,
No intuito de preservar esses mananciais, a companhia recém- e com ortografia atualizada,
constituída desenvolveu uma política de aquisição de novas terras, do exemplar que pertenceu
à Associação Commercial de
incorporando novas fontes de fornecimento de água e ampliando Santos, disponível nas páginas
as áreas florestais que cercavam a fábrica. Com isso a área total da da URL Novo Milênio (<http://
www.novomilenio.inf.br/santos/
companhia chegou a mais de 30 km². h0300g00.htm>). O capítulo
que aborda as fábricas cariocas
Sobre a Fábrica Bangu, em 1913, Reginald Lloyd escreveu ainda: está disponível em: <http://
A fábrica está construída numa vasta planície com uma www.novomilenio.inf.br/santos/
área coberta de 30.611 metros quadrados, e os terrenos h0300g32b.htm>. Acesso em:
de propriedade da companhia têm 32.000.000 de metros 15 jul. 2010.
quadrados. Fica a fábrica a 32 quilômetros de distância
228 da estação inicial da Estrada de Ferro Central do Brasil.
Trabalham atualmente na fábrica 2.700 operários efetivos.
São consumidos 1.800 fardos de algodão mensalmente,
tendo cada fardo o peso mais ou menos de 80 quilos.
Todo este algodão provém do Norte do Brasil. O carvão
empregado na fábrica é o de Cardiff, mas unicamente
para aquecimento de máquinas, calandras, engomadeiras
e estufas. Ainda assim, vai o seu consumo a 300 toneladas
mensalmente. A produção mensal de fio é de 120.000
quilogramas, mais ou menos. Na fábrica, estão em
movimento 5 máquinas de estampar, podendo estampar
até 12 cores. Todos os maquinismos são dos fabricantes
Platt Brothers & Co. e Mather & Platt, Limited (Inglaterra).
A seção de gravura, que vem a ser realmente uma escola
onde se ensina o desenho, a fotografia, a gravura em
aço, cobre, madeira etc., é que prepara as matrizes e os
cilindros de cobre para a estamparia. Na mesma seção
se imprimem, em tricromia, as estampas e rótulos para as
peças de fazenda (LLOYD et al., 1913, s. p.)

Oliveira (2006) afirma que, para administrar essa enorme


propriedade, com 3.660ha, a companhia decide, juntamente com o
início da construção da fábrica, dar uma destinação econômica àquelas
terras, transformando, em 1890, o antigo canavial da Fazenda do Bangu
em área de cultura de algodão, no intuito de fornecer a matéria-prima
necessária à fábrica têxtil, reduzindo os custos de produção. Contudo a
produção de algodão na fazenda mostrou-se, após dois anos de cultivo,
sem representatividade diante das necessidades reais fábrica, o que fez
com que a Companhia abandonasse essa ideia.
Outras iniciativas foram tomadas para conservar os rendeiros
que existiam nas fazendas, os quais representavam para a companhia
não somente a guarda das matas, mas sobretudo a manutenção de
O Lugar do Patrimônio Industrial
um pessoal que, juntamente com suas famílias, poderia ser aproveitado
futuramente como mão-de-obra para a fábrica. Assim, a empresa
preocupava-se não somente
“[...] em dar uma destinação econômica às suas terras,
que complementasse a atividade fabril, mas também com
a manutenção dos seus mananciais, fundamentais para a
vida da fábrica, assim como o fornecimento de força de
trabalho necessária à fábrica” (OLIVEIRA, 2006, s. p.).

Essas iniciativas demonstravam as estratégias tomadas pela


Companhia para exercer controle sobre as condições naturais de sua
propriedade, necessárias para a produção fabril, como também para
“[...] fomentar um mercado de força de trabalho ao redor da fábrica
através do uso de suas terras por rendeiros e parceiros” (OLIVEIRA,
2006, s. p.).
A segunda particularidade decorreu da condição mesma de sua
implantação: a fábrica induziu o processo de urbanização naquele setor
da cidade, que era até então essencialmente rural. Quando da aquisição
da Fazenda Bangu pela Cia. Progresso Industrial do Brasil, existia apenas
a Estrada Real de Santa Cruz, antigo Caminho dos Jesuítas, aberto para
fazer a comunicação com as sesmarias dos jesuítas, que se estendiam
pelo litoral. Com a construção da fábrica, a Companhia abriu duas ruas
“[...] que se chamariam Estevão, em homenagem ao primeiro presidente 229
da Companhia, e Fonseca, nome de um diretor”, sendo que as demais
eram trilhas para circulação dos carros de bois (SILVA, G. A. de A., 1989,
p. 60).
É partindo desse traçado urbano inicial que o ambiente instaurado
pela implantação da fábrica começa a tomar características urbanas. Ao
mesmo tempo em que se erguia o prédio da fábrica, com as sobras
de seu material uma vila operária era construída, sendo denominada
como “casinhas” pelos ingleses, fixando os técnicos e os operários
próximos ao seu local de trabalho. Essa vila, que foi concluída em 1892,
possuía 95 casas, distribuídas por quase três quadras da Rua Estevão
e da Rua Fonseca. Segundo Lloyd (1913), as casas para os operários
eram iluminadas à luz elétrica e tinham água potável, fornecimentos
providos pela fábrica, bem como as vias centrais da vila eram iluminadas
à eletricidade.
Ainda a respeito da iluminação, escreve Oliveira (2006, s. p.):
A Companhia iria este ano [1905] criar também o
primeiro sistema de iluminação elétrica através de
dínamos, que atenderia algumas dependências da fábrica
e iluminaria a rua principal da vila-operária [sic] por
algumas horas à noite, além das casas cujos moradores
realizassem o pagamento de uma mensalidade, que a
diretoria dizia ser módica.

A fábrica entrou em funcionamento em 1893 e, ao final de seu


primeiro ano de funcionamento, empregava 310 homens, 171 mulheres
e 264 menores, sendo 165 meninos e 99 meninas, que faziam funcionar
mais de 800 teares (GRÊMIO).
Capítulo 16 - A Fábrica Bangu
230 Em 1896, devido ao aumento do número de operários, a fábrica ▲ Fig. 223. Planta da Fábrica e Vila
Bangu. Fonte Relatório da Cia (1909).
ergueu um novo grupo de casas no local da antiga olaria. Essas casas
reproduziam a hierarquia funcional, seguindo três tipologias: sete unidades
iguais àquelas da primeira vila operária, as “casinhas”; três menores (com
sala, dois quartos, banheiro e cozinha) e quarenta unidades geminadas,
de um único cômodo.
Quase uma década depois, em 1904, o número de operários da
fábrica era de 1.286 e em 1912 atingia 2.754 funcionários.
A expansão da produção têxtil e a necessidade de aumentar o
número de funcionários, como pudemos verificar, induzem a Companhia
a outra orientação em relação às suas terras. Manter a lavoura e o
engenho exigia um capital de giro constante, que era desviado da
produção têxtil, finalidade principal da Companhia, e, além disso, passava
a concorrer com a fábrica na demanda de força de trabalho, sobretudo
nos períodos de safra. Levando esse quadro em consideração, a fábrica
resolveu desfazer-se do empreendimento agrícola, liberando, a partir
de 1904, as terras para aqueles que queriam morar em Bangu. Assim,
mediante o pagamento de aluguel, foram autorizadas a construção de
casas de alvenaria e a disseminação de ranchos ou sítios para aqueles
que quisessem cultivar, sendo a produção do engenho uma parceria da
fábrica com os rendeiros.
Ao mesmo tempo em que essa nova orientação era tomada,
o processo de urbanização se intensificaria. Abriram-se novas ruas
paralelas e perpendiculares à fábrica e à vila operária existente, prevendo
a expansão do casario da vila operária entre a fábrica, a Estação de
o lugar do patrimônio industrial
Bangu e a Estrada de Ferro.
Oliveira (2006) chama a atenção para o surgimento de um novo
arranjo espacial, o qual se traduz também na forma de referir-se a Bangu,
que de “Arraial” passa a ser, a partir de 1908, “Villa”:
A urbanização seria complementada no ano seguinte
[1908], com a conclusão das obras de canalização das
águas do Rio da Prata, quando o sistema de iluminação
elétrica foi ampliado através da instalação de uma usina de
força movida por uma “Roda Pelton”. Este novo sistema
permitiu estender a iluminação elétrica a praticamente
todas as unidades da fábrica e fornecer luz a um número
maior de casas à noite. Foi instalada, também, em 1908,
a primeira rede telefônica de Bangu, que funcionava
entre a fábrica, a usina e o reservatório do Rio da Prata.
Um ano depois, a CPIB resolveria, de maneira mais
efetiva, o fornecimento de energia elétrica para Bangu,
construindo instalações para colocar os transformadores
que receberiam corrente elétrica por meio da “Rio de
Janeiro Tramway Light and Power Company”. Assim,
em 1910, a iluminação elétrica passaria a fazer parte
do cotidiano operário-fabril de Bangu, quando algumas
máquinas começaram a ser movidas por meio de força
elétrica, iniciando-se a substituição do sistema de energia
a vapor.[...] Foi ampliada a estação férrea e inaugurada
a Linha Circular de Bangu, elevando de 10 para 28 o
número de trens diários, ligando Bangu ao Centro da
cidade do Rio de Janeiro (OLIVEIRA, 2006, s. p.).

Percebe-se aqui a influência da fábrica na conformação 231


territorial, induzindo o desenvolvimento local por meio da implantação
de infraestrutura urbana, que, aliada à decadência da atividade rural,
promoveria um novo vetor de expansão urbana na cidade do Rio de
Janeiro.
▼Fig. 224. Planta dos ramais férreos de
Bangu. Fonte: SILVA, G.A.deA., 1989, p.
74-75.
Até a década de 1930, a fábrica estimulou o arrendamento,
ficando os usos da propriedade territorial articulados com a estrutura
fabril.

Capítulo 16 - A Fábrica Bangu


Oliveira (2006) informa que, a partir de 1930, a fábrica adota 134
O Conjunto Residencial
Cardeal Dom Jaime Câmara é
outra estratégia territorial e inicia o processo de alienação patrimonial, o maior conjunto habitacional
incorporando efetivamente seu território à dinâmica urbana do Rio de da América Latina, com
Janeiro, fazendo surgir o bairro Bangu: 180 blocos e sete mil
apartamentos. Construído
A própria empresa criaria, no início da década de 1930, durante o governov de Carlos
um Departamento Territorial, que elaboraria projetos Lacerda, o “A. de Bangu”, como
de loteamentos e promoveria a venda dos terrenos aos é conhecido, é considerado um
arrendatários através de pagamento a prazo. Quando bairro não oficial e, assim como
estes eram operários da fábrica tinham as prestações a Vila Kennedy (três glebas com
dos terrenos descontadas diretamente dos seus salários. um total de 5054 unidades
Entre 1936 e 1948 foram aprovados 61 projetos de habitacionais unifamiliares) e
loteamentos, número bastante significativo para o a Vila Aliança (2.183 casas),
período, mesmo se tratando do Distrito Federal, a capital serviu para o assentamento
do país à época (s. p.). de favelados removidos de 12
favelas, a maioria situada na
zona sul da cidade (RIO DE
É nesse período que acontece um intenso processo de JANEIRO, 1996).
urbanização rumo à constituição da metrópole do Rio de Janeiro,
◄Fig. 225. Em primeiro plano a Rua
valorizando cada vez mais as terras da companhia e ampliando assim da Fábrica, que dava acesso ao portão
o processo de alienação patrimonial. Portanto a mobilização do capital principal da empresa. Saída para o
almoço (1907). Fonte: SILVA, G.A.deA.,
incorporado ao território fabril tornou-se cada vez mais inconciliável 1989, p.37.
com as tendências do crescimento urbano verificado naquele setor da ▼◄ Fig. 226. Saída para o almoço
na década de 1940. Fonte: SILVA,
cidade a partir dos anos de 1960. G.A.deA., 1989, p.37.
▼Fig. 227. Vista da Fábrica no início
Na década de 1960, parte dos terrenos da fábrica ainda não do século XX. Em primeiro plano à
direita, o primeiro conjunto de casas
loteada foi adquirida pela Companhia Estadual de Habitação - CEHAB, operários ("casinhas")Fonte: Arquivo da
232
que empreendeu a construção dos conjuntos habitacionais Vila Aliança Cia, reproduzido em forma de Postais
pelo Grêmio.
(1962), Vila Kennedy (1964) e Dom Jaime Câmara
(1968)134, o que significou um acréscimo de 14.237
novas unidades habitacionais para a região.
Em 1965, a Companhia inicia o
desmantelamento da vila operária, vendendo as
primeiras casas, que, até o início da década de
1970, estariam vendidas na sua totalidade. Isso
representou a dissolução do núcleo urbano-fabril
original, e Bangu deixaria de ser o território da
fábrica para se tornar apenas mais um bairro da
cidade do Rio de Janeiro.

O Lugar do Patrimônio Industrial


▲Fig. 228. Escola Rodrigues Alves A terceira particularidade refere-se à ampliação das premissas
(início do século XX). As aulas eram
separadas por gênero. (a) sala das utilitaristas no programa da fábrica.Verifica-se, no caso da Fábrica Bangu,
meninas (b) sala dos meninos.Fonte:
Arquivo da Cia, reproduzido em Forma além da vila operária construída por ela, o incentivo à construção por
de Postais pelo GLJMV. particulares em seus terrenos, como já foi mencionado.
A Fábrica também se preocupava com a construção de outras
edificações necessárias à vida de Bangu, como a escola “[....] para
desenvolvimento intelectual e social dos seus operários e respectivas
famílias”, que atendia aproximadamente “[...] 500 alunos nos cursos
diurnos e noturnos, com corpo docente de 6 professores” (LLOYD, 233
1913, p. 386).
Além da escola, a Fábrica Bangu construiu uma igreja e a
Sociedade Musical Progresso de Bangu, que, em 1907, se tornou o
Casino Bangu. As atividades do Casino eram voltadas à arte dramática e
à musica, esta organizada em uma banda com quarenta músicos, além de
manter uma biblioteca. Os esportes tipicamente ingleses, como cricket,
lawn tennis, bowls, croquet, além do futebol, também eram incentivados
pelo Bangu Athletic Club. A Fábrica ainda oferecia aos operários auxílio
médico, farmácia, ambulância e funeral, mediante uma contribuição de
3% dos seus ordenados (LLOYD, 1913, p. 386).
No que se refere à qualificação, a fábrica mantinha uma escola
de aprendizagem têxtil, a princípio funcionando nas suas dependências
e, em 1945, em prédio próprio, aparelhado para preparar operários e
contramestres não só para sua própria absorção, mas também para
outras fábricas por meio de uma parceria com o SENAI.
Com relação à saúde, desde o início de suas operações, a Fábrica
criou a Caixa Beneficente, que a princípio foi instalada na Fazenda Bangu.
Com o crescimento da empresa, foi necessária a sua ampliação para
um prédio próprio, onde permaneceu até 1942, quando foi erguido o
edifício que abrigaria o ambulatório, o centro cirúrgico, uma enfermaria
com 12 leitos, além de uma creche modelo, com seção de puericultura.
(SILVA, G. A. de A., 1989, p. 93). Gracilda A. de Azevedo Silva comenta
ainda que

Capítulo 16 - A Fábrica Bangu


234
A contribuição da Companhia na área de saúde ▲Fig. 229. Antigo Campo do Bangu
extrapolou o âmbito local, levando-a em 1939 a Athletic Club nos jardins da fábrica.
Fonte: Arquivo da Cia, reproduzido em
promover diversas doações a órgãos federais, como a forma de postais pelo Grêmio.
dos terrenos onde estavam construídos os edifícios
do Centro de Saúde do Hospital Almeida Magalhães
e do Abrigo para Tuberculosos Guilherme da Silveira.
À Liga Brasileira contra a Tuberculose deu um terreno
em Bangu para a construção de uma casa de repouso
e tratamento de moças portadoras da moléstia. Ao
Ministério da Justiça cedeu dois terrenos, um destinado à
implantação de uma penitenciária agrícola de mulheres e
outro para a construção de um sanatório para detentos
tuberculosos (p. 192).

O lazer também foi apoiado pela empresa, que incentivou a


criação do Bangu Athletic Club em 1904, construiu o campo de futebol
ao lado dos jardins da fábrica e inaugurou, em 1947, um estádio,
investindo no futebol como “[...] veículo de divulgação de sua marca – a
Fábrica e o Clube tendo o mesmo nome – [o que] lançava uma nova
modalidade de propaganda, só muito mais tarde adotada por outras
empresas” (SILVA, G. A. de A., 1989, p. 107).
A visibilidade da empresa era trabalhada nos eventos esportivos
e culturais. Nos anos de 1950, a empresa promovia desfiles de moda de
caráter beneficente, organizados pela esposa do diretor presidente da
fábrica, Candinha Silveira.
Sobre esses eventos, diz Gracilda Silva (1989, p. 135):
Na verdade o êxito dessa promoção, que seria repetida
em São Paulo e Belo Horizonte, levaria Joaquim
Guilherme da Silveira a lançar uma nova estratégia de

O Lugar do Patrimônio Industrial


▼Fig. 230. Fábrica Bangu na Exposição propaganda, baseada na exploração dos desfiles, uma
Nacional de 1908 - Morro da Urca. prática até então inusitada em nosso meio. E isso vinha
Seção de Gravura. Fonte: Arquivo do
GLJMV. juntar-se a outra inovação, o aproveitamento do esporte
como veículo de publicidade, promovida por Guilherme
▼►Fig. 231. Fábrica Bangu casa dos da Silveira Filho, que investia no futebol, dotando Bangu
motores (1906). Fonte: Arquivo do
GLJMV. de uma poderosa equipe. A combinação dos dois
projetos ensejou uma ampla e positiva difusão da marca
▼▼Fig. 232. Fábrica Bangu, sala de Bangu em todo o país, justamente, e não por acaso, num
dobração (1906). Fonte: Arquivo do
GLJMV.. período de expansão da fábrica.
▼▼►Fig. 233. Fábrica Bangu, sala de
estamparia (1906). Fonte: Arquivo do
GLJMV.
▼▼▼Fig. 234. Fábrica Bangu, sala
dos teares (1906). Fonte: Arquivo do
GLJMV.
▼▼▼►Fig. 235. Fábrica Bangu,
oficina de gravura e tipografia (1906).
Fonte: Arquivo do GLJMV.

235

Capítulo 16 - A Fábrica Bangu


A ARQUITETURA DA FÁBRICA

O edifício da Fábrica foi levantado do lado esquerdo da Estrada


de Ferro Central do Brasil, cobrindo uma área construída de 18.649m².
A arquitetura empreendida na Fábrica Bangu remete a uma
característica linguagem fabril inglesa, com dois pavimentos, janelas em
arco abatido e alvenaria de tijolo aparente.
O edifício principal, um paralelogramo de aproximadamente
210 por 110 metros, foi construído sobre fundação de concreto, da
qual se eleva uma base em alvenaria de pedra até os peitoris das janelas,
e sobre este embasamento em cantaria foram erguidas as paredes em
alvenaria de tijolo aparente que circundam todo o edifício. O prédio
principal é completado pela chaminé, de tijolo aparente e forma circular
de base octogonal, que se eleva 57 metros acima do nível da sala de
cardas. A chaminé se tornou o símbolo da Fábrica na medida em que se
ergue altaneira, acima do edifício, podendo ser vista de longe, tão logo
se chega à região.
O projeto arquitetônico inglês pode ser identificado não só no
uso do material135, mas também na tipologia arquitetônica fabril que
se firmava no período, apresentando soluções estéticas e volumétricas
236
compatíveis com o seu programa, apesar de estar localizada na
zona rural da cidade; no tratamento plástico das suas fachadas, com
envasaduras regulares e repetidas; nos frisos e colunas destacadas, os
quais comprovam o apuro estético da edificação.
A entrada principal é dominada pela chaminé e pelo volume
destacado, onde se encontra o relógio de quatro espelhos, encimado
pelo telhado em ardósia.
Em razão de seu potencial informativo, as características do
conjunto arquitetônico e suas particularidades afirmam-se por meio da
veiculação da imagem da Fábrica como ícone e logomarca da identidade
comercial do shopping center, a nova atividade que ocupa o conjunto
fabril.
O tombamento municipal pelo decreto nº 13.883, de 10 de maio
de 1995, evidencia a preocupação com a manutenção das características
arquitetônicas do conjunto, sobretudo seus elementos construtivos em
ferro fundido, tijolos e pedras e os elementos decorativos:
135
“Na construção do prédio
da fábrica, parte considerável
O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no do material utilizado foi trazido
uso de suas atribuições legais, tendo em vista o que da Inglaterra: as colunas, vigas
consta do processo n.º 12/002507/89, e calhas de ferro; os vidros,
CONSIDERANDO que a fábrica Bangu constitui um ladrilhos, tijolos e telhas.
típico exemplar que testemunha a fase de implantação Todos os mecanismos para
da indústria têxtil na Cidade, a fabricação de tecidos eram
CONSIDERANDO a importância do seu conjunto que dos fabricantes Platt Brothers;
retrata a penetração, no Brasil, de elementos construtivos os de alvejamento, tinturaria
industrializados em ferro fundido, e estamparia, da Mather Platt;
CONSIDERANDO a homogeneidade estilística do seu os motores, de Bucley Taylor”
conjunto fabril que revela influência inglesa, (SILVA, G. A. de A., 1989, p. 25).

O Lugar do Patrimônio Industrial


CONSIDERANDO a importância de seu conjunto
arquitetônico na caracterização da paisagem do bairro
de Bangu,
CONSIDERANDO o pronunciamento favorável do
Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural
do Rio de Janeiro,
DECRETA :
Art. 1.º - Fica tombado, nos termos da Lei n.º 166, de
27 de maio de 1980, parte do conjunto fabril da Fábrica
Bangu, situado na Rua Fonseca, 240, bairro de Bangu, XVII
R.A..
Parágrafo único - Estão incluídos no tombamento
citado no caput deste artigo os prédios e os elementos
arquitetônicos relacionados a seguir:
I além dos blocos originais erguidos em 1889, os da
oficina de gravura (aqui denominado bloco "A");
-ampliação do bloco original (executada em 1910 e aqui
denominado bloco “B”);
- seção de abridores, depósito de fios e penteadeiras
(aqui denominada bloco “C”);
- depósito de algodão, sala de teares, seção de abertura
de algodão e de fibra sintética, geradores e subestação
elétrica (construídos em 1937 aqui denominados bloco
"D3");
- seção de cardas e passadores (construída em 1948 e
aqui denominada bloco "F");
- seção de inspeção do pano e oficinas para tecelagem
(aqui denominadas bloco "G");
II cobertura, em seus revestimentos (telhas) e elementos
decorativos originais, tais como relógios, cornijas,
arremates em ferro fundido;
III elementos arquitetônicos, tais como vãos, esquadrias, 237
pilastras, óculos, cercaduras em massa;
IV revestimentos originais de fachada, tais como tijolos
▲Fig. 236. Pavilhões tombados. Fonte: maciços e aplacagem de pedra de desenho irregular;
Diário Oficial, 11 de maio de 1995 V elementos de serralharia, tais como arremates de
cumeeira, portões e gradis;
VI chaminé em tijolos maciços;
VII castelo d' água em concreto com o símbolo da
Fábrica Bangu.
Art. 2.º - Fica estabelecida como área de proteção do
entorno do referido bem a quadra determinada pelas
136
Sobre a memória dos ruas Fonseca, da Feira, dos Açudes e pela Avenida Santa
operários da Fábrica Bangu, Cruz.
ver: FREITAS, A. O.; MOREIRA, Parágrafo único - Quaisquer obras ou intervenções a
V. M. L. A imagem no espelho: serem realizadas na quadra citada no caput deste artigo
memórias de operários. Agora, deverão ser previamente aprovadas pelo Conselho
Vitória, n. 1, pp. 1-20, 2005. Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural do Rio de
137
O Grêmio Literário Janeiro (CMPPC).
José Mauro de Vasconcelos, Art. 3.º - Este Decreto entrará em vigor na data de sua
também intitulado Centro publicação.
Cultural da Região de Bangu ou Rio de Janeiro, 10 de maio de 1995 – 431. O ano da
Museu de Bangu, inaugurado fundação da Cidade
em 1994, desempenha um CESAR MAIA (RIO DE JANEIRO, Diário Oficial,
importante papel como 11/05/1995).
guardião da história do bairro
e da Fábrica, selecionando e A permanência da Fábrica Bangu e sua ação conformadora
registrando acontecimentos e do território e do bairro perpetuam sua imagem empreendedora e
personagens constitutivos da
memória coletiva da região. O centralizadora para a história e memória dos habitantes de Bangu. O
Grêmio dispõe de um acervo tombamento do conjunto de prédios da fábrica, seu lugar de memória,
fotográfico de fatos e pessoas
que marcaram a história do garante, pelo menos em tese, que a memória dessa imagem – a qual
bairro, disponibilizado em seu marcou profundamente a vida das pessoas ao seu redor136 e que o
site <http://www.bangu.org.
br> e divulgado por meio de bairro guarda, arquiva e exibe137 - seja solidificada nas pedras e possa
uma série de postais. integrar um fundo cultural comum a todos, sendo transmitida de geração

Capítulo 16 - A Fábrica Bangu


em geração. 138
Essa tarefa é desempenhada
pelo Grêmio, mas também
O shopping center, instalado em 2007, preserva a memória pelos relatos dos operários,
pelas fotografias de arquivos
guardada na pedra; o aspecto exterior das fachadas e do conjunto familiares, individuais e a da
arquitetônico transmite a imagem fabril, mas configura, contudo, um própria fábrica, testemunhos
legados à posteridade.
limite muito tênue para o contingente de consumidores, que, ao
adentrarem o espaço da antiga fábrica, perdem o referencial inicial,
o qual é substituído rapidamente pela orgia simbólica e colorida dos
templos de consumo contemporâneos. A alusão ao ambiente fabril e
à rotina dos operários no interior do shopping está reduzida a uma
dezena de fotos colocadas no hall dos sanitários e à logomarca do
shopping, símbolos que se tornam muito frágeis para a interpretação do
passado que se quer salvaguardar.
O amálgama constituído pelo bairro, as pessoas e a fábrica,
presente por mais de um século em Bangu, alimenta-se, em parte, do
referencial arquitetônico e, em parte, da manutenção e continuidade da
história da fábrica por meio do trabalho de reconstrução de seu lugar
social, ordenada pelos acontecimentos que balizaram sua existência e
conduzida pelos guardiões138 da memória da Cia. Progresso Industrial
do Brasil. Se até o fechamento da Fábrica Bangu, pessoas e lugar ▲▲Fig. 237. Propaganda do Vestibular
estavam particularmente ligados na construção dessa história, após a da UniSuam, que tem Campus dentro
do Shopping Bangu. Foto: E.D-K.
238 implantação do shopping, o espaço arquitetônico continua a narrar a ▲ Fig. 238. Logomarca do Shopping
história da fábrica, mas, ao mesmo tempo, dá lugar a uma nova rotina, aludindo ao caráter fabril do local.
Fotos: E.D-K.
com novos personagens, na construção de uma nova história, diversa da ▼Fig. 239. Vistas da Fachada, e seus
anterior, mas nem por isso menos importante. detalhes, da Fábrica Bangu junto à Rua
da Feira. Fotos: E.D-K.

O Lugar do Patrimônio Industrial


▲ Fig. 240 (várias). Espaços internos mantém o caráter fabril do local. Fotos: E.D-K.

▲ Fig. 241 (várias). Fachada para o antigo jardim interno da fábrica (Av. Santa Cruz). Fotos: E.D-K. 239

▲ Fig. 242 (várias). Corredor de acesso principal à Fábrica Bangu. Fotos: E.D-K.

▲ Fig. 243 (várias). Detalhes de elementos do corredor de acesso principal à Fábrica Bangu. Fotos: E.D-K.

Capítulo 16 - A Fábrica Bangu


▲ Fig. 244 (várias). Espaços internos do Shopping, onde observam-se as colunas metálicas, shed e cobertura da Fábrica Bangu. Fotos: E.D-K.

240
▲ Fig. 245 (várias). Diferentes acessos ao Shopping. (a) antiga Travessa da Fábrica, (b) Rua da Feira e (c) Rua Santa Cruz. Fotos: E.D-K.

▲ Fig. 246 (várias). Cobertura metálica como elemento conector das duas alas da antiga fábrica, acessado pelo corredor onde encontram-se a
Chaminé e a torre do relógio. Fotos: E.D-K.

▲ Fig. 247. (a) Logomarca evidencia os elementos tipológicos característicos da Fábrica Bangu (Chaminé, Torre do relógio e ritmo da fenestração).
(b) este logo é reproduzido em todo o mobiliário urbano, detalhes, entradas, propaganda do Shopping Fotos: E.D-K.

O Lugar do Patrimônio Industrial


▲ Fig. 248. Ícones da Fábrica Bangu (a) Torre do relógio e (b) Chaminé. Fotos: E.D-K.
241

Capítulo 16 - A Fábrica Bangu


242

o Lugar do Patrimônio industriaL


Considerações finais
244

◄ Fig. 249. Fábrica Brasital em Salto, SP. Foto: E. D-K.

o Lugar do Patrimônio industriaL


Esta tese inicia com uma afirmação sobre a importância da
conservação de estruturas industriais e seus territórios como elementos
representativos na formação e desenvolvimento das cidades. Isso
implica tanto a participação – quantitativa e qualitativa – do patrimônio
industrial entre os bens culturais protegidos pelos órgãos de preservação
patrimonial, quanto a apreensão de seus valores materiais e imateriais
genuínos, por parte da sociedade.
Gostaríamos de finalizar indicando que, no percurso desta tese,
o estudo sobre o lugar do patrimônio industrial não revela surpresas,
mas intensidades. Intensidades estas percebidas nas inquietações que
essa nova categoria patrimonial suscita nas ações públicas de salvaguarda
patrimonial, bem como na própria percepção de seu significado e
apreensão de seus valores por parte da sociedade.
A pesquisa centrou-se em alguns exemplares de edificações
indústriais, sua identificação como artefatos patrimoniais, e assim
portadores de valores materiais, identificados em suas qualidades
compositivas físicas, e de valores imateriais, expressos por meio dos
valores histórico, estético, científico e social – tal qual recomendado na
Carta de Nizhny Tagil para o Patrimônio Industrial (2004) e na de Burra 245
(1988) -, como também por meio de seu valor de época, teorizado por
Alois Reigl, ou até mesmo de seu valor econômico e político.
Com esta pesquisa, foi possível verificar avanços sensíveis na
139
No evento de lançamento constituição do conjunto de bens culturais representativos da nação,
do programa IBA Emscher Park,
em 16 de dezembro de1988, o que inclui hoje, mesmo que de forma incipiente, uma multiplicidade
ministro de desenvolvimento
urbano de Nord-Rhein- de espaços industriais. Além dos engenhos de açúcar tombados em
Westfallen, Dr. Christof Zöpel, sua grande parte no início das atividades do IPHAN, verificou-se a
evidenciou que o principal
objetivo do IBA-Emscher Park presença de edificações industriais, como fábricas e remanescentes, e,
era “[...] mobilizar as forças em maior número, edificações construídas com peças industrializadas,
endógenas, as forças próprias
na região, as forças econômicas como pontes, estações ferroviárias, mercados, reservatórios, além de
e as forças sociais” (BITTNER,
J, 2001, p. 3; tradução da vilas operárias e conjuntos urbanos que incluíam indústrias e espaços
autora). Essa mobilização pode de moradia operária. Esse conjunto de bens categorizados como
ser sentida na reorganização
da antiga região industrial, patrimônio industrial reflete a maneira como a questão relativa aos
vulgarmente denominada valores atribuídos aos bens representativos da nação está em processo
“pott” (pote que cozinha,
referência à sua atividade de transformação, e valores concernentes ao trabalho, ao conhecimento
mineradora e siderúrgica), e à
mudança do cenário decadente tecnológico, às práticas sociais e ao papel estruturador urbano da cultura
e ambientalmente degradado industrial começam a ser colocados como pautas nas justificativas de
pela atividade industrial, na qual
a própria imagem industrial, tombamento.
antes negativa, transforma-
se em um traço identitário Na pesquisa sobre reabilitação de antigas áreas industriais,
significativamente enaltecido na particularmente na Alemanha, com os projetos Saarterrassen e IBA
memória cultural presente nos
monumentos da arquitetura Emscher Park139 , chegou-se a considerações de que a valorização do
industrial conservados e
adequados a novos usos. patrimônio arquitetônico da industrialização pode desempenhar ainda
Considerações Finais
um papel fundamental para a coesão social por meio da preservação dos 140
Aqui o autor refere-se ao
Wissenschaftspark (parque
valores sociais e culturais das comunidades locais. Assim, a manutenção tecnológico), instalado na antiga
do tecido edificado passa a se realizar em parceria com a manutenção usina de mineração Rhein-
Elbe, no qual o antigo prédio
do tecido social, no espírito de respeito e compreensão pelas diferentes industrial articula-se a um
moderno, e com alto padrão
culturas. arquitetônico-ecológico, centro
de pesquisas de alta tecnologia
Sobre o IBA-Emscher Park, Lineu Castello (2003, s. p.) coloca: em energia solar.
Quaisquer que sejam as futuras propostas, um dos
melhores resultados trazidos pelo IBA foi o de aguçar a
percepção – tanto dos planejadores como dos cidadãos.
E isso foi conseguido porque o processo que foi aplicado
soube respeitar as subjetividades, soube lançar um olhar
novo sobre o patrimônio industrial, percebendo-o
como um potencializador da identidade que congrega
a população da região. Assim como soube olhar para
os brownfields industriais e neles perceber traços de sua
potencialidade de atuar como lugares de suporte da
sustentabilidade regional140 em termos subjetivos – de
serem lugares regionais.

O patrimônio industrial, quando se torna alvo de reabilitação,


geralmente é percebido em um leque inconstante de prioridades, ações
e agentes interventores. Essa variedade de abordagem, como pode ser
percebida nos casos estudados nesta tese, está intimamente ligada às
246 suas especificidades de escala, composição física e dinâmica evolutiva
do tecido urbano em que está implantado, assim como se liga a fatores
de restrições das entidades de salvaguarda patrimonial, de intenções
políticas, de processos avaliativos, de pressão imobiliária, e muitas vezes
à expectativa da própria comunidade.
Em todos os casos de reabilitação de patrimônio industrial
arrolados nesta tese, pudemos perceber intensidades diferenciadas
na valorização do ciclo de vida do edifício, concernentes ao respeito ◄ Fig. 250. Mineradora Zollverein.
Fonte: Zollverein Stiftung.
e valorização de seu passado, por meio de suas pré-existências
▼ Fig. 251. Minerdora Zollverein.
físicas, assim como enfatizamos a melhoria da envolvente material, Fonte: Zollverein Stiftung.

O Lugar do Patrimônio Industrial


considerando seu valor cultural presente, quando são incorporadas
condições de habitabilidade, eficiência e conforto, visando à sua nova
existência contemporânea. Alguns consideraram ainda o futuro
dessas edificações, tanto de um ponto de vista acerca do aspecto
físico, relacionado ao planejamento das adições necessárias a sua nova
existência e da compatibilidade das características espaciais e materiais
entre as subsistências e as adições, e no que diz respeito à possibilidade
de reversibilidade das intervenções, quanto de um ponto de vista acerca
do imaterial, relacionado ao poder do novo uso, a partir do processo de
reabilitação e da perda da função original do edifício, de ainda suscitar
lembranças e resgatar as memórias instaladas no espaço edificado.
No Estado de São Paulo, com forte identidade histórica,
econômica e cultural associada à atividade industrial, o processo de
desocupação industrial foi sucedido por uma nova ocupação de áreas
preteritamente industriais que não observou o patrimônio edificado e
as comunidades envolvidas, as quais haviam ajudado a criar e sustentar
essas indústrias por décadas. Esse processo de substituição acontece
em tal velocidade que não permite o inventário preciso dessas pré-
existências, para que ao menos o registro histórico seja mantido. Como
247
pudemos verificar na terceira parte desta tese, esforços imensos de
acadêmicos, comunidades, organizações não governamentais, entre
outros, têm sido feitos para preservar, inventariar e promover a
reutilização respeitosa desses monumentos industriais com base em
uma abordagem histórico-crítica.
Voltando-nos para as três edificações industriais de São Paulo
que foram examinadas no presente trabalho – a Fabrica São Luiz, a
Brasital de São Roque e a Brasital de Salto-, podemos verificar uma
conduta heterogênea por parte dos proprietários e usuários atuais dos
imóveis, tanto do ponto de vista das intervenções físicas para reabilitação
do imóvel (valorização de seu presente e futuro), quanto nos aspectos
de memórias (valorização de seu passado). Com base no exame a que
nos propusemos realizar sobre essas edificações, foi possível verificar as
hipóteses estabelecidas no início desta tese.
No caso da Brasital de Salto, sua reabilitação como instituição
de Ensino Superior induziu quase a um cataclismo urbano, gerando
atratividade para uma área edificada de significativa monta, que se
encontrava, desde sua desocupação industrial, fechada e abandonada.
A instalação da instituição, que hoje, nove anos após o início de suas
atividade em Salto, conta com mais de 5.000 alunos, produziu um
progressivo desenvolvimento na cidade, gerando empregos, promovendo
o estabelecimento de comércio e de serviços direcionados ao ambiente

Considerações Finais
universitário, o que conduziu a uma nova interpretação do local e a 141
Quando a Instituição de
Ensino Superior comprou as
um relativo distanciamento de seu passado industrial, rememorados instalações da antiga Brasital,
dentro da instituição somente por meio dos símbolos edificados que o conjunto ainda não estava
em processo de tombamento.
foram mantidos141 . Quando a Brasital de Salto é fechada, os antigos Portanto manter o aspecto
original das edificações foi
operários se vão em busca de novos postos de trabalho, e ela perde uma decisão econômica e não
a importância econômica que tinha para a cidade. Os remanescentes política.
edificados não são suficientes para narrar a sua história. Esse papel
memorial é exercido efetivamente na cidade pelo Museu da Cidade de
Salto, que mantém a história da fábrica viva por meio de documentários,
depoimentos de ex-funcionários e de arquivos iconográficos; e também
pelo Centro de Memória Bunge, que, como sucessora da última empresa
a ocupar a edificação, conserva documentos empresariais, cartográficos
e iconográficos, dispobililizando-os para consulta. O primeiro, por estar
na cidade e ter contato direto com ex-funcionários, exerce o papel
de guardião da memória da Brasital de uma forma mais efetiva e
atuante. Por fim, o processo de patrimonialização da fábrica, com seu
tombamento, garante a proteção da edificação e a manutenção de seu
caráter e tipologia.
Com relação ao caso da reabilitação da Fábrica São Luiz, em
248
Itu, estamos diante de uma iniciativa bastante particular, pois a fábrica
permaneceu como propriedade da família de um de seus fundadores,
que zela pelo local como um templo e exerce a função de difusor da ▼Fig. 252. Fábrica Brasital, Salto, SP,
vista a partir da margem oposta do Rio
história da fábrica ao narrá-la aos visitantes. Seu desmonte não resultou Tietê. Foto E.D-K.

O Lugar do Patrimônio Industrial


em sua desintegração do tecido urbano, nem em abandono, pois, como
parte integrante de um conjunto urbano singular, seu valor histórico e
▲Fig. 253. Fábrica São Luiz, Itu, SP. Foto:
Paulo Ricardo Miguel. cultural foi conservado, mesmo depois de ter perdido a importância
▼Fig. 254. Fábrica Brasital, São Roque, econômica. O processo de patrimonialização sugeria a inclusão do
SP. Foto: Studio Roque Jr.
maquinário, o que acabou não sendo efetivado. Do maquinário original
resta apenas parte da caldeira que produzia o vapor que acionava as
máquinas, e as atividades mantidas hoje em seu espaço não fazem mais
alusão à sua característica industrial, embora reafirmem, por meio das
narrativas históricas e do caráter de seu tipo edificado, seu lugar como
patrimônio da industrialização e a sua permanência, tanto em nível
espacial-estrutural quanto histórico, social e cultural.
Na Brasital de São Roque, pudemos verificar que a preservação
dos edifícios e do sítio industrial reconhece suas especificidades materiais 249
e imateriais, as quais ajudaram a configurar a cidade. A manutenção de
seu caráter edificado pela implantação do Núcleo de Atividades Culturais
e Educacionais da cidade significou uma estratégia política de interesse
cultural para o desenvolvimento urbano. Partiu da cidade a iniciativa de
sua preservação, que mantém a história viva e agrega novamente muitos
habitantes por meio das atividades desenvolvidas nos antigos galpões
da fábrica. A implantação desse equipamento público valorizou a área
industrial que estava abandonada e estigmatizada e, consequentemente,
levou a desdobramentos na melhoria da qualidade de vida da população
ao ampliar as opções de atividades culturais e educacionais, e com isso
também proporcionou o incremento dos aspectos econômicos, ao
gerar empregos e contribuir para a formação profissional da população
da cidade. O caráter memorial é mantido pela biblioteca instalada no
local, que, assim como o Museu da Cidade de Salto, detém a história da

Considerações Finais
Fábrica e promove a sua difusão. ◄Fig. 255. Fábrica Bangu, Rio de
Janeiro. Foto: E.D-K.
O Estado do Rio de Janeiro,
como pudemos verificar na primeira
parte desta tese, respondia, no início do
século, por 37,8% da indústria brasileira,
o que lhe conferia a condição de mais
importante centro industrial, com a
mais diversificada estrutura produtiva.
Com o deslocamento industrial para o
Estado de São Paulo em 1920, o Rio
de Janeiro perde seu lugar como centro
industrial do país, o que talvez explique
o fato de sua identidade hoje pouco se
relacionar com a atividade industrial.
As características das intervenções nas edificações fabris
estudadas nos casos do Estado do Rio de Janeiro concretizam essa
imagem cosmopolita e cultural que está fortemente arraigada em sua
imagem urbana.

250
No caso das instalações das Companhias América Fabril e Nova
América, estamos diante de unidades que se originaram de fusões
de outras fábricas para criar um sistema de produção integrada, em
uma trajetória de crescimento vertiginoso que as transformou no
mais importante complexo têxtil do país. No desmonte ocorrido na
década de 1980, muitas unidades que compunham a Cia. América
Fabril foram demolidas. Já o espaço industrial da unidade Nova América
resistiu e foi transformado no Shopping Nova América. A característica
fabril foi utilizada como um diferencial estratégico do empreendedor
na valorização da história e preservação da memória urbana, criando
um atrativo a mais para o consumidor que busca a proximidade com
a história do lugar, além de manter a representatividade simbólica e
a identificação que os moradores do bairro possuíam com a fábrica.
A reabilitação da Cia. Nova América reafirma o lugar do patrimônio
industrial como catalisador de transformações econômicas, urbano-
geográficas e culturais pelas quais as cidades e as sociedades capitalistas
vêm passando na produção do espaço urbano contemporâneo.
O quinto e último caso analisado neste trabalho diferencia-se
das demais indústrias pelo fato de sua implantação ter se dado em uma
área de enorme extensão territorial na zona rural carioca. Em função
dessa característica, a Fábrica Bangu tornou-se o elemento indutor do
desenvolvimento local pela implantação de infraestrutura urbana, que,
aliada à decadência da atividade rural, promoveria um novo vetor de

O Lugar do Patrimônio Industrial


expansão urbana da cidade do Rio de Janeiro. A alienação paulatina dos
territórios fabris, culminando com seu fechamento na década de 1990,
enfraquece a imagem da Fábrica, que a abertura do Shopping Bangu, em
2007, procura resgatar. A reabilitação da fábrica por meio de seu novo
uso procura perpetuar a sua imagem empreendedora e centralizadora
para a história e memória dos habitantes de Bangu. O tombamento do
conjunto de prédios da Fábrica, seu lugar da memória, garante, ao menos
em tese, que a memória dessa imagem – a qual marcou profundamente
a vida das pessoas ao seu redor, e que o bairro guarda, arquiva e exibe
- seja perpetuada nas pedras e possa integrar um fundo cultural comum
a todos, a ser transmitido de geração em geração.
Ao analisar as cinco fábricas nesta tese, não encontrei estruturas
fixas e repetitivas – tanto materiais, cristalizadas nas edificações, quanto
imateriais, relativas a valores culturais, sociais –, que pudessem indicar uma
forma única do lugar do patrimônio industrial na cidade contemporânea.
O que encontrei foi a diversidade. Para cada fábrica estudada existiram
um tempo e um espaço, nos quais uma nova configuração urbana e
social foi estabelecida, de forma heterogênea e com complexidades
variadas, apesar de pertencerem a uma mesma categoria industrial – a
251
indústria têxtil - e de estarem localizadas nos setores em que esse tipo
de indústria mais se desenvolveu no país - São Paulo e Rio de Janeiro.
E mais ainda, observei que cada fábrica encontrou uma forma diferente
para não desaparecer frente às mudanças espaço-temporais.
A história dessas indústrias, e de muitas outras, é uma história
de recriação no tempo, mais do que a simples preservação de seu lugar
dentro da cidade. Apesar de sua função ter sido temporária e de as
pessoas envolvidas na manutenção de tal função serem atores de uma
cena em movimento, fadada a ceder lugar para outras cenas no tempo e
no espaço, a essência de sua estrutura material, particularmente o papel
de sua arquitetura como
monumento, manifesta
uma compreensão social
e cultural, tomada como
objeto veiculador de
memória.
Assim, arquitetura
industrial, mediante os
aspectos da sua forma,
caráter e tipologia, age
como uma espécie de
►Fig. 256. Fábrica Nova América, Rio
de Janeiro. Foto: E.D-K. “máquina do tempo”,

Considerações Finais
que primeiramente conduz aos seus conteúdos de memória, ou seja,
aos conhecimentos e valores do trabalho socialmente acumulados nos
registros da vida dos trabalhadores - homens, mulheres e crianças -
que ajudaram a construir esses espaços de produção, e que conferiram
identidade a bairros e cidades. E em segundo lugar, por meio de sua
reabilitação e de um novo uso, cria a possibilidade de todos interagirem
com o espaço fabril, apesar de nunca terem mantido com este qualquer
tipo de relação de trabalho.
Reabilitar espaços antigamente ocupados pela indústria pode
significar o rompimento de um processo de esvaziamento de sentido
do patrimônio industrial, bem como pode significar a valorização
da memória do trabalho, o que contribui para a formação de uma
imagem positiva da atividade industrial, que sustentou uma grande
parte da população dos estados estudados. Esse processo requer
esforços efetivos dos órgãos de preservação, da sociedade, do Estado
e, sobretudo, dos empreendedores imobiliários.
A valorização cultural, tecnológica, histórica e social do
patrimônio industrial confere às cidades um novo lugar, importante
252 graças às características intrínsecas de seu tipo, caráter, poder, ordem
espacial, aura e pluralidade. A nossa herança industrial poderá, assim,
permanecer objetivamente atuante, tornando-se um lugar sustentável,
capaz de renovar-se, receber funções variadas, ser frequentado e utilizado
com o passar do tempo, além de poder revitalizar áreas desativadas e
estagnadas. Manter viva a imagem e a identidade dos lugares industriais
reafirma o respeito que a população tem pelo seu espaço de moradia
e trabalho, regenerando a autoestima esmaecida com o esvaziamento
produtivo, e torna esses espaços um lugar digno de preservação.

O Lugar do Patrimônio Industrial


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Janeiro. Siglo XIX, Cidade do México, n. 16, p. 78-103, 1994.

O Lugar do Patrimônio Industrial


_____________. Estratégias empresariais e processo de industrialização.
A Companhia América Fabril, 1878-1930. H-industri@ Revista de
historia de la industria argentina y latinoamericana, Año 3- N.
5, 2009. Disponível em: <http://www.hindustria.com.ar/images/client_gallery//
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ZEQUINI, A.. O Quintal da Fábrica: a industrialização pioneira


do interior paulista Salto-SP, séculos XIX e XX. São Paulo:
Annablume Editora, FAPESP, 2004.

ZUKIN, S.. The Cultures of Cities. Cambridge, MA: Blackwell, 1995.

_____________. Paisagens urbanas pós modernas: mapeando cultura e poder.


Paisagens do século XXI: notas sobre a mudança social e o espaço urbano. In:
ARANTES, Antônio (Org.) O espaço da diferença. Campinas: Papirus,
2000.

Processos consultados no IPHAN - Instituto do


Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - RJ
ANS - Arquivo Noronha Santos.
Setor GEDAB / COPEDOC

265
IPHAN. Processo de Tombamento N.0031-T-38. Fábrica de Ferro Patriótica:
ruínas. Ouro Preto, MG.

_____________. Processo de Tombamento N.0068-T-38. São João Del


Rei, MG: conjunto arquitetônico e urbanístico.

_____________. Processo de Tombamento N.0070-T-38. Ouro Preto,


MG: conjunto arquitetônico e urbanístico.

_____________. Processo de Tombamento N.0506-T-54. Estrada de Ferro


Mauá-Fragoso – Trecho. Magé, RJ.

_____________. Processo de Tombamento N.0812-T-69. Conjunto


arquitetônico e paisagístico "Ver-o-Peso" e áreas adjacentes, Praça Pedro II
e Boulevard Castilhos França, inclusive o Mercado de Carne e o Mercado
Bolonha de Peixe. Belém, PA.

_____________. Processo de Tombamento N.1017-T-80. Sítio de Santo


Antônio das Alegrias ou do Físico. São Luís, MA.

_____________. Processo de Tombamento N.1054-T-82. Fábrica de


Vinho Tito Silva. João Pessoa, PB.

_____________. Processo de Tombamento N.1119-T-84. Engenho do


Mate, atual Museu do Mate com todo o seu acervo e o terreno. Campo
Largo, PR.

_____________. Processo de Tombamento N.1124-T-84. Casarão do Chá.


Mogi das Cruzes, SP

_____________. Processo de Tombamento N.1144-T-85. Prédio da antiga


Fábrica Santa Amélia localizado na Rua Cândido Ribeiro, 250. São Luís, MA.

Bibliografia
_____________. Processo de Tombamento N.1185-T-85. Complexo
ferroviário de São João Del Rei, MG.

_____________. Processo de Tombamento N.1252-T-87. Vila Ferroviária


de Paranapiacaba. Santo André, SP.

_____________. Processo de Tombamento N.1342-T-94. Conjunto


histórico, arquitetônico e paisagístico da cidade de Cataguases, MG.

_____________. Processo de Tombamento N.1463-T-00. Conjunto


arquitetônico e paisagístico no bairro da Luz. São Paulo, SP.

_____________. Processo de Tombamento N.1485-T-01. Conjunto de


edificações e bens móveis da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Jundiaí,
SP.

Processos consultados no CONDEPHAAT – Conselho


de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico e
Turísticodo Estado de São Paulo- SP

CONSELHO de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e


Turistico do Estado de São Paulo. Processo nº 09888/1969 – Solicita o
tombamento da Fábrica de Tecidos São Luiz.
266
_____________. Processo nº 22338/82 – Solicita reabertura do
processo de tombamento da Fábrica de Tecidos São Luiz.

_____________. Processo nº 57118/08 – Solicita o tombamento do


conjunto de prédios da antiga Fábrica de Tecidos da Brasital no município de
Salto.

O Lugar do Patrimônio Industrial


ANEXOS
268

◄ Fig. 257. (página anterior)


Funcionárias da Brasital São Roque.
Foto Montagem a partir de fotografias
do Acervo da Cia no Museu Municipal
de São Roque.
▲ Fig. 258. Fábrica Santana. Modelo
de seqüência do processo produtivo
de fiação e tecelagem. (1911) Fonte:
Arquivo da Cia América Fabril - AGCRJ.

O Lugar do Patrimônio Industrial


ANEXO 1 - Por dentro de uma fábrica de tecidos:
do fio ao pano

Compreender o funcionamento de uma fábrica de tecidos


revela-se essencial para ter claro de que maneira a concepção da fábrica,
como espaço de produção, antecede à solução arquitetônica definidora
de uma tipologia específica para o programa que se quer atender.

Poderemos entender essas implicações no decorrer desta parte


da tese, ao analisar as seis fábricas de tecidos selecionadas: a São Luiz, a
Brasital Salto e a Brasital São Roque, em São Paulo; a Cia. América Fabril,
a Nova América e a Bangu, no Rio de Janeiro.

Como exemplo, tomaremos a Fábrica Santana, pertencente ao


sistema produtivo da Cia. América Fabril, construída na década de 1950
e considerada uma fábrica moderna, na qual o processo se fazia em
sequência contínua, facilitando a ligação entre as seções.

As três grandes etapas do processo produtivo têxtil


compreendem: fiação, tecelagem e beneficiamento
diversificado do pano.
269
O texto a seguir baseia-se em partes do capítulo VII, “O controle
fabril”, do livro O fio da meada, de Elisabeth Von der Weid e Ana Marta
Rodrigues Bastos (1986, pp. 197-213). Para descrever o processo de
produção da empresa, as autoras contaram com a colaboração de
antigos empregados da fábrica.

I. Fiação
Constitui a primeira etapa de produção e é dividida em uma
fase preliminar, denominada preparação, e na fiação propriamente dita.

1. A preparação utilizava cinco seções:

a. Sala do algodão: onde a matéria-prima era estocada e


os fardos eram abertos. Retirado aos punhados e colocado em um
carrinho de mão pelo empilhador, o algodão era transportado em
seguida pelo abridor, que o depositava na esteira da máquina abridora
para ser batido ou “aberto”, ou seja, para que fosse limpo, retirando
as impurezas. Na saída da máquina, havia um tubo de ar comprimido
onde o algodão era prensado e conduzido à seção seguinte. O trabalho
era executado em pé, exigindo grande esforço físico, fator pelo qual
era feito exclusivamente por operários do sexo masculino. Havia ruído
constante, e o ar estava permanentemente carregado de partículas da
matéria-prima.
Anexo 1- Por dentro de uma fábrica de tecidos: do fio ao pano
b. Seção dos batedores: comportava apenas um cargo,
exercido por um homem que operava a máquina batedora, encarregada
do aproveitamento da matéria-prima ainda útil nos resíduos por meio
de um dispositivo semelhante a um centrifugador. A parte menos densa
era recolhida em uma abertura superior da máquina e formava rolos
largos de pasta, que iam para a seção seguinte. O operário tinha por
função alimentar e controlar a máquina, executando a tarefa em pé e
em movimento, em um ambiente sempre impregnado de partículas.
270
c. Seção das cardas: aqui as máquinas cardadeiras
beneficiavam a matéria-prima, limpando-a, amaciando-a e produzindo
um pavio grosso e leve de algodão. A função do cardador consistia em
emendar os pavios, alimentar a cardadeira e vigiar o seu funcionamento,
sendo desempenhada em pé e em movimentação constante, em
um ambiente sempre impregnado de partículas. Era um trabalho
semiqualificado e mecanizado, que exigia interferência manual, sendo
vedado a menores, pois existia risco de esmagamento das mãos nos
cilindros da máquina. Ocupava um espaço físico considerável.

▲Fig. 259. Fábrica Mavilis. Seção de


batedores. (1911). Fonte: Arquivo da
Cia América Fabril - AGCRJ.
◄Fig. 260. Fábrica Mavilis. Máquinas
cardadeiras vistas de costas, com o
rolo de pasta de algodão. As correias
de transmissão ainda eram utilizadas,
mesmo com energia elétrica, que
movia os eixos transmissores no
alto das salas. Fonte: Arquivo da Cia
América Fabril - AGCRJ.

O Lugar do Patrimônio Industrial


d. Seção das penteadeiras: utilizava dois tipos de máquinas
- as reunideiras, ou laminadeiras, e as penteadeiras. As primeiras reuniam
vários pavios em rolos de pasta que iam para as penteadeiras, onde
as fibras de algodão eram penteadas, selecionadas e transformadas
em pavios mais finos do que os das cardas. Nas reunideiras, operavam
apenas homens, que faziam ainda o transporte dos latões de pavios. As
penteadeiras exigiam pouco esforço, podendo ser operadas tanto por
homens quanto por mulheres. O trabalho na seção era executado em
pé e em movimento, não exigindo qualificação. Cada operário tomava
conta de várias máquinas ao mesmo tempo, e sua função consistia em
vigiá-las, emendando os pavios e substituindo os latões que vinham de
uma seção e iam para outra.

e. Seção das maçaroqueiras: aqui as máquinas reuniam seis


pavios para formar um fio grosso e rústico chamado maçaroca. As fibras
eram esticadas, agrupadas e enroladas em canelas ou carretéis. Existiam
três tipos de maçaroqueiras: as de banco grosso, médio e fino. À medida
que as fibras passavam de uma máquina para outra, tornavam-se cada
vez mais estiradas, o que afinava a maçaroca. O processo poderia ser
interrompido em qualquer uma das três máquinas, de acordo com o
tipo de fio que se quisesse obter para a produção de tecidos mais
grossos ou mais leves. O trabalho era realizado em pé e exigia um 271
deslocamento constante ao longo da máquina para emendar os fios
que arrebentavam. A operária maçaroqueira dispunha em geral de um
ou mais auxiliares para preparar a máquina e retirar as maçarocas, sendo
às vezes necessário subir na máquina para desembaraçar ou emendar
fios no seu topo. O ambiente era poluído por excesso de poeira de
matéria-prima, havendo ruído intenso e muita umidade causada pela
aspersão de água para proteção da fibra.

► Fig. 261. Fábrica Mavilis. Máquina


reunideiras. Formam rolos de pasta de
algodão com os pavios que vem das
cordas (1911) Fonte: Arquivo da Cia
América Fabril - AGCRJ.

Anexo 1- Por dentro de uma fábrica de tecidos: do fio ao pano


2. Concluída a fase de preparação, o algodão entrava no 142
Canelas são os carretéis
vazios; quando estão cheios,
processo de FIAÇÃO, que também usava o mesmo numero de seções, são chamados de espulas.
constando de: fiação, dobação, retorção, gasadeira e bobinas, essas quatro
últimas correspondendo ao beneficiamento do fio, preparando-o para
ser usado na tecelagem.

a. Fiação: os rolos de maçaroca eram colocados nas


máquinas de fiar, que passavam a encher as canelas – espécies de
carretéis compridos que se encaixavam nos fusos – formando
espulas142. Na seção de fiação, havia três funções diferenciadas para
operar a mesma máquina, que era o filatório. A fiandeira controlava
todo o trabalho relacionado ao fio, trocando os rolos de maçaroca
e emendando o fio quando arrebentava. A atividade era executada
predominantemente por mulheres, encarregadas cada uma de duas a
três máquinas. O arriador de máquina operava a manivela para descer a
balança, permitindo a retirada das espulas. Por ser um trabalho pesado,
destinava-se exclusivamente aos homens. Porém a maioria dos operários
da fiação era formada pelos tiradores de espulas, que as substituíam por
canelas. Esse serviço era executado por crianças, o que tornava a seção
muito agitada, com meninos e meninas correndo entre os filatórios para
fazer as trocas. As tarefas não exigiam qualificação e o esforço físico
272
era pequeno, sendo necessário apenas atenção, rapidez e agilidade. O
ambiente era carregado de partículas de matéria-prima e com ruído
bastante intenso, além de haver muita umidade para melhorar as
condições do fio, impedindo seu ressecamento e rompimento. Era uma
seção importante dentro da fábrica, sendo muito populosa.

b. Dobação (binadeira): consistia em juntar dois fios


singelos em um, passando-os em uma calha de goma para mantê-los
unidos, enrolando-os depois em bobinas. O trabalho era feito em pé e
exigia habilidade manual e acuidade visual, pois o fio destinado à urdição
não podia apresentar defeitos.

◄ Fig. 262. Fábrica Mavilis. Seção das


penteadeiras. (1911). Fonte: Arquivo da
Cia América Fabril - AGCRJ.

O Lugar do Patrimônio Industrial


c. Retorção: aqui os fios eram torcidos na retorcedeira e
enrolados em carretéis. O trabalho da operária consistia em observar
o funcionamento da máquina, substituindo as bobinas que vinham da
dobação e os carretéis e fusos nos quais se enrolava o fio torcido, além
de emendar aqueles que se partiam. Em geral, desenrolavam-se os fios
de dois cones ou bobinas para formar um fuso. Era necessário atenção
e habilidade manual, ocupando-se uma mesma operária de várias
máquinas e mantendo-se em constante locomoção. O ambiente era
trepidante, com ruído intenso, e o ar permanecia saturado de partículas
de algodão.

d. Gasadeira: o fio pronto passava por um bico de gás,


que queimava todos os “pelinhos” ou impurezas a ele aderentes. Neste
ponto o fio já estava pronto para a tecelagem ou para a confecção de
fitas e barbantes, produzidos na última seção, onde se encontravam as
máquinas de cordas e as bobinas.

II. Tecelagem
A tecelagem também era subdividida em duas fases: preparação
e tecelagem. 273

1. A fase de PREPARAÇÃO do fio cru para a trama tinha


início na seção das espuladeiras, em que se passava o fio das espulas
de fiação, que são grandes, para as espulas usadas no tear, de tamanho
inferior. O trabalho exigia grande rapidez de movimentos e coordenação
motora, pois implicava uma troca constante de bobinas e emenda de
fios. O ruído era constante e intenso, e o ar estava sempre impregnado
de partículas de algodão.

Quando o fio da trama devia ser tinto (para o tecido xadrez


ou listrado), era enviado do filatório para a seção de meadas, onde
a máquina meadeira formava meadas de 120 jardas, juntando fios
provenientes de sete espulas. Havia um relógio acoplado que soava
uma campainha ao se aproximar da medida estabelecida, o que levava
o operário a frear a máquina. As meadas eram pesadas, e o título do fio
era calculado. O trabalho podia ser desempenhado por operários de
ambos os sexos, exigindo atenção e responsabilidade, além de algum
conhecimento de escrita e aritmética. O ambiente era mais calmo e
bem iluminado.

As meadas passavam em seguida para a seção de tintura, onde


o fio era mergulhado nos tanques de tinta para cozimento. O operário
ficava encarregado da avaliação e da distribuição das tintas, e também
do controle do banho. Constituía um trabalho insalubre devido ao
grande calor úmido, bem como à toxidez das anilinas e das substâncias

Anexo 1- Por dentro de uma fábrica de tecidos: do fio ao pano


químicas. Exigia esforço físico e grande movimentação, sendo adequado 143
O urdimento vai dar o
comprimento do tecido,
apenas para homens. Depois de tingidas, as meadas eram colocadas enquanto a trama lhe dá a
numa parábola para secar, e daí passava-se o fio para as espulas do tear. largura.
As espulinhas de fio cru e de tinto eram enviadas a seguir para a seção
de engoma e então finalmente para o tear.

O fio que se destinava ao urdimento143 era transferido das


espulas da fiação para a seção das urdideiras. A urdideira é uma
máquina bastante complexa, possuindo numerosos fusos nos quais são
colocadas as bobinas, pentes, ganchos de ferro e dispositivos de louça
por onde passam os fios de modo que não embaracem. O trabalho era
executado em pé e em contínua movimentação, exigindo acuidade visual,
coordenação motora e destreza manual. Era adequado para ambos os
sexos, mas as mulheres predominavam. As operárias recebiam um mapa
com instruções que estabeleciam a disposição das bobinas nos fusos.
Orientavam cada fio segundo o esquema determinado, passando-os
pelos pentes e dispositivos. Ligavam então as máquinas e observavam a
execução do trabalho, emendando os fios que se partiam.

Os rolos que saiam passavam pela seção de engomação do fio,


que era a mesma para a trama e o urdimento. A máquina engomadeira,
de grande porte, continha cilindros por onde corriam os fios, além de
274
uma estufa a vapor. No caso dos fios de urdimento, havia um suporte
para receber o rolo do urdume a ser engomado. O operário trabalhava
em pé, com grande movimentação e esforço físico, sendo necessário
coordenação motora e rapidez. O ambiente se encontrava saturado
de partículas de matéria-prima, e a temperatura era elevada, sobretudo
próximo à estufa, havendo muita umidade e ruído intenso e constante
do escapamento de vapor.

A próxima etapa era a remetação, em que os fios do urdume


eram passados através de pentes ou liços, preparando a “remessa” para
a tecelagem, seguindo um desenho preestabelecido. Parte do trabalho
era feita em movimento, parte sentada, sendo esse último movimento a
remetação propriamente dita.

As seções de preparação para a tecelagem eram muito menores,


requerendo menos operários do que nas seções de fiação e, sobretudo,
do que na da própria tecelagem. A tecelagem constituía o núcleo da
produção, reunindo o principal contingente de mão-de-obra empregada
na fábrica.

2. Na seção de TECELAGEM encontravam-se os teares,


operados por tecelões e aprendizes, sendo os primeiros homens e
mulheres, e os segundos, geralmente, menores. Os tecelões eram
operários qualificados responsáveis pelo funcionamento dos teares e

O Lugar do Patrimônio Industrial


interferiam apenas quando ocorria um defeito, rompimento de fios
ou nos casos de troca de espulas. As máquinas continham múltiplas
peças, e a observação do operário devia ser muito acurada no tocante
a detectar o rompimento dos fios do urdimento e parar rapidamente
a máquina para emendá-los, uma vez que não havia teares automáticos.
Esse trabalho era pago por produção, avaliada em função da metragem
e da complexidade do tecido executado. As tarefas eram executadas
em pé e com movimentação constante, havendo ruído frequente e
intenso e continua trepidação das máquinas.

O tecido pronto era remetido para a sala de inspeção, onde


as revistadeiras o limpavam, verificando sua qualidade. O pano cru era
então enviado para o beneficiamento.

III. Beneficiamento
É a terceira grande etapa da produção de tecidos e compreendia
muitas seções, como: bordados, mercerização, alvejamento, tintura do
pano, estamparia, vaporização, flanela, facas, engomação e acabamento.

O alvejamento consistia em cozer o tecido em diversos tanques, 275


o qual, depois, passava pela máquina de chamuscar que queimava os
pelinhos aderentes.

O pano alvejado seguia para a fase de mercerização, que


consistia em passá-lo por uma máquina contendo soda cáustica, o que
dava brilho ao tecido, o qual depois era lavado para retirar o excesso
de substâncias químicas.

Na seção de tintura do pano, as pecas de tecidos eram


mergulhadas em tanques de tingimento, de forma que a matéria corante
passasse a fazer parte integrante da fibra.

O pano a ser impresso ia para a seção de estamparia, cujas


máquinas com cilindros removíveis tinham as matrizes de desenhos por
entre os quais passava o tecido.

O tecido tinto ou estampado passava pela seção de vaporização,


onde se testava a firmeza de suas cores.

O tecido destinado à flanela era confeccionado com uma trama


mais grossa e era introduzido em uma máquina de escovas de aço, que
levantava lentamente o pelo da trama para produzir a flanela.

Na seção de facas, procedia-se a limpeza do pano, passando-o


bem esticado por lâminas para retirar todos os fiapos das emendas dos
fios e enviando-o em seguida para ser engomado. O tecido então era

Anexo 1- Por dentro de uma fábrica de tecidos: do fio ao pano


lustrado e colocado em calandras quentes para dar o acabamento.

No caso da Cia. América Fabril, todos os tecidos fabricados em


suas unidades eram beneficiados na Fábrica Cruzeiro.

276

O Lugar do Patrimônio Industrial


ANEXO 1I - BENS TOMBADOS PELO IPHAN
Ao lado de outros tipos arquitetônicos selecionados e inventariados
pelo IPHAN para fazer parte do patrimônio histórico e artístico nacional, as
edificações industriais começam a despontar somente nas últimas décadas
como representantes de um ciclo econômico importante, que colocou alguns
estados em posição de liderança econômica em relação ao país, como São
Paulo e Rio de Janeiro
Apesar de sua importância como instrumento que imputa valor, as
limitações do tombamento - no tocante a proteção do patrimônio - residem
no fato de que tal instrumento passa a restringir a conservação a um acervo
estritamente necessário.
No estudo dos tombamentos de edificações industriais no acervo
do Arquivo Central do IPHAN - Seção Rio de Janeiro, levantamos a listagem
de bens tombados e a partir dos preceitos da carta de Nizhny Tagil listamos
▼Fig. 263. Distribuição, localização e os bens que poderiam ser considerados Patrimônio Industrial. Este anexo traz
identificação dos bens tombados pelo
IPHAN considerados patrimônio o resultado desta pesquisa junto ao Arquivo Central do IPHAN no Rio de
industrial no Brasil.
Janeiro.

277

Anexo II - bens tombados pelo iphan


◄Fig. 264. Distribuição dos bens tombados pelo
IPHAN no Brasil, por estados. Em destaque os esta-
dos com maior acervo de bens culturais tombados

ESTADOS
CLASSIFICAÇÃO TOTAL
AL AM AP BA CE DF ES GO MA MG MS MT PA PB PE PI PR RJ RN RO RS SC SE SP TO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens
integrados 0 0 0 7 0 1 2 1 11 7 0 0 0 0 1 0 0 9 4 0 1 1 0 9 0 54
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e
acervos de bens móveis 0 0 0 0 0 0 0 0 0 3 0 0 0 0 1 0 0 4 0 0 2 0 0 6 0 16
anexO ii - bens tOmbadOs PeLO iPhan

BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 3 0 0 9 4 1 0 6 6 13 1 1 5 1 4 0 1 13 0 0 3 2 2 4 1 80


BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 6 4 1 151 13 2 12 15 10 162 2 3 18 19 73 5 12 166 9 2 24 15 23 55 0 802
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-
estrutura 0 0 0 3 1 0 0 0 0 16 0 0 0 0 0 1 0 13 0 0 2 1 0 0 0 37
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 1 0 0 6 0 0 0 1 0 0 0 10
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 1 0 0 5 1 0 0 0 0 1 1 0 0 0 0 0 0 13 0 0 0 0 0 0 0 22
BENS IMÓVEIS - Ruínas 1 0 0 1 0 0 0 0 2 1 0 1 0 1 2 0 0 0 1 0 5 0 0 2 0 17
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos
arqueológicos 0 0 0 0 1 0 0 0 0 0 0 0 1 0 0 0 2 1 0 0 1 1 0 0 0 7
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0 0 0 0 0 0 0 0 1 1 0 0 0 1 0 1 0 0 0 0 0 1 0 1 0 6
TOTAL 11 4 1 176 21 4 14 22 30 204 4 5 25 22 82 7 15 225 14 2 38 22 25 77 1 1051
279
280
ALAGOAS
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANT.
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 0
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
11 BENS BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 3
PATR.INDUSTRIAL: 0 BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 6
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 1
BENS IMÓVEIS - Ruínas 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 11

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Conjunto urbano Penedo Penedo: conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico 30.10.1996 30.10.1996
2 Conjunto Urbano Piranhas Piranhas: Sítio histórico e Paisagístico 04.07.2006 04.07.2006
3 Conjunto Urbano (1) Marechal Deodoro Conjunto Arquitetônico e Urbanístico da Cidade de Marechal Deodoro
4 Edificação Marechal Deodoro Casa natal do Marechal Deodoro da Fonseca 25.08.1964
5 Edificação Marechal Deodoro Convento e Igreja de São Francisco 04.11.1964
6 Edificação Palmeira dos Índios Casa de Graciliano Ramos 03.06.1965
7 Edificação Penedo Convento e Igreja Santa Maria dos Anjos 29.12.1941 29.12.1941
8 Edificação Penedo Igreja de Nossa Senhora da Corrente 28.07.1964
9 Edificação Penedo Igreja de São Gonçalo Garcia 28.07.1964
10 Paisagem natural União dos Palmares Serra da Barriga 19.02.1986 19.02.1986
11 Ruína Porto Calvo Vila colonial de Porto Calvo, AL: remanescentes 17.01.1955
(1)
processo nº 1397-T-97, processo aguardando inscrição no livro do tombo, já homologado pelo Ministério da Cultura em 29/08/2006, Portaria nº 74 do D. O. U
AMAZONAS CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
0
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
4 BENS BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 0
PATR.INDUSTRIAL: 3 BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 4
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 4

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Edificação Manaus Mercado Municipal 01.07.1987 01.07.1987
2 Edificação Manaus Porto de Manaus, AM: conjunto arquitetônico 14.10.1987 14.10.1987
3 Edificação Manaus Reservatório de Mocó 24.04.1985 24.04.1985
4 Edificação Manaus Teatro Amazonas 20.12.1966

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
MERCADO MUNICIPAL O Mercado Municipal de Manaus teve sua construção iniciada em 1880, pela firma “Bakus & Brisbin”, de Belém, com pavilhões construídos em estrutura de
ferro, pela firma “Francis Morton Engineers Liverpool”. Sua inauguração se deu em 1883. Dessa época é datado o edifício principal. Trata-se de um galpão
de aproximadamente 45 metros de comprimento e 42 m de largura, construído em estrutura de ferro. A estrutura é sustentada por 28 colunas, sendo os
parapeitos onde estas se apoiam e as duas salas laterais, em alvenaria de pedra e tijolo. Em 1890 foram construídos dois outros pavilhões (galpões) laterais
de igual tamanho, também com estrutura de ferro e cobertura de zinco. Os “novos” pavilhões possuem 360 m2 de área útil. Sua estrutura é formada por
beirais abertos, encimados por arcos de ferro, os quais são sustentados por colunas, também em ferro. Nas duas fachadas principais, fechando os arcos, há
gradis de ferro com ornatos decorados, acompanhados por vidros coloridos. Por volta de 1908, foi construído o pavilhão posterior para a comercialização,
na época, de tartarugas, o qual possuía iluminação a querosene. Tal pavilhão teve a estrutura em ferro construída pela companhia “Walter Macfarlane,
Anexo II - bens tombados pelo iphan

Glasgow”. Seu formato difere dos outros, sendo este totalmente fechado, possuindo cobertura em quatro águas e feita com chapas onduladas.
PORTO DE MANAUS A forma de pensar a arquitetura do início do século está bem representada no porto. O ferro aparece com soluções formais próprias - armazéns com
chapas onduladas de vedação, o “road-way” sobre bóias flutuantes. Porém, quando se trata dos edifícios da Alfândega e da Administração temos a estrutura
de ferro escondida sob vedações de alvenaria, com elementos alusivos a estilos passados. Os prédios da Alfândega e da Guardamoria representam uma
transição entre o conjunto de armazéns e os edifícios da Manaos Harbour, por utilizarem o sistema de pré-moldagem. Três das edificações tombadas são
anteriores aos empreendimentos da Manaos Harbour Ltd.: o antigo edifício do Tesouro Público (inscrições na fachada 1887-1890) de estilo neo-clássico; o
trapiche 15 de novembro - o único em chapa prensada de fabricação belga (possivelmente trata-se do mesmo trapiche Princesa Isabel cuja construção foi
iniciada em 1888 e rebatizado com o advento da República) e a bomba de incêndio, junto a este trapiche, que já é mencionada nos relatórios das obras
públicas datado de 1869 a 1881. Os armazéns foram construídos de 1903 a 1910.
RESERVATÓRIO DE Com sua obra iniciada em 1893 e concluída em 1897. O prédio, todo em alvenaria de pedra com estrutura de ferro de origem inglesa, feita pela empresa
MOCÓ “Dorman & Long”, serviria para abastecer boa parte da cidade, que contava àquela época, com algo em torno de 100 mil habitantes. Tem capacidade para
5.650m³ e uma área construída de 1.444m², sendo o reservatório construído em estrutura metálica, sustentado por pilares e vigas metálicas que o colocam
a 16 metros da superfície. O reservatório encontra-se em pleno funcionamento e é responsável por 60% do abastecimento de água de Manaus.
281
282
AMAPÁ
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 0
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 0
1 BENS BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 1
PATR.INDUSTRIAL: 0 BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 1

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Edificação Macapá Fortaleza de São José de Macapá 22.03.1950

DISTRITO CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
1
FEDERAL BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 1
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 2
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
4 BENS
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
PATR.INDUSTRIAL: 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 4

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados Brasília Placa comemorativa oferecida a Rui Barbosa / Senado Federal 14.08.1986
2 Conjunto urbano Brasília Brasília, DF: conjunto urbanístico 14.03.1990
3 Edificação Brasília Catedral Metropolitana 01.06.1967
4 Edificação Brasília Catetinho 21.07.1959
BAHIA CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
7
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
176 BENS BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 9
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 151
PATR.INDUSTRIAL: 06 BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 3
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 5
BENS IMÓVEIS - Ruínas 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 176

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BEL. ARTES HISTÓR. ARQUEOL. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integr. Cachoeira Jarras de louça, 02 / Fábrica de Santo Antônio do Porto 09.08.1939
2 Objetos e bens integr. Cachoeira Jarras de louça, 03 / Fábrica de Santo Antônio do Porto 09.08.1939
3 Objetos e bens integr. Cachoeira Lavabo do Convento de Santo Antônio de Paraguassú 25.04.1974
4 Objetos e bens integr. Salvador Azulejos da Reitoria da Universidade Federal da Bahia 27.08.1958
5 Objetos e bens integr. Salvador Casa à Avenida Sete de Setembro, 59: elementos decorativos 12.08.1949 12.08.1949
6 Objetos e bens integr. Salvador Oratório público da Cruz do Pascoal 17.06.1938
7 Objetos e bens integr. Salvador Portada de Solar 16.10.1941
8 Conjunto urbano Andaraí Igatu: conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico 20.06.2000 20.06.2000 20.06.2000
9 Conjunto urbano Cachoeira Cachoeira, BA: conjunto arquitetônico e paisagístico 21.09.1971
10 Conjunto urbano Itaparica Itaparica, BA: conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico 28.04.1980 28.04.1980 28.04.1980
11 Conjunto urbano Lençóis Lençóis, BA: conjunto arquitetônico e paisagístico 17.12.1973
12 Conjunto urbano Mucugê Mucugê, BA: conjunto arquitetônico e paisagístico 26.09.1980
Anexo II - bens tombados pelo iphan

13 Conjunto urbano Porto Seguro Cidade Alta de Porto Seguro, BA: conjunto arquitetônico e paisagístico 15.07.1968 15.07.1968
14 Conjunto urbano Rio de Contas Rio de Contas, BA: conjunto arquitetônico 08.04.1980
15 Conjunto urbano Salvador Rua Carneiro de Campos, Sodré e Trav.Aquino Gaspar: conjunto arquitetônico 08.06.1964
16 Conjunto urbano Salvador Conjunto arquitetônico, paisagístico e urbanístico do centro histórico 19.07.1984
17 Edificação Salvador Mausoléu da família do Barão de Cajaíba e Imagem da Fé 24.11.1966
18 Edificação Salvador Asilo D. Pedro II: prédio 08.07.1980 08.07.1980
19 Edificação Cachoeira Capela da Ajuda 15.09.1939 15.09.1939
20 Edificação Salvador Capela da Ajuda 17.06.1938
21 Edificação Salvador Capela de Nossa Senhora da Escada 11.04.1962
22 Edificação Cachoeira Capela de Nossa Senhora da Pena e ruínas do sobrado anexo 08.07.1943 08.07.1943
23 Edificação Ilhéus Capela de Nossa Senhora de Santana 20.02.1984 20.02.1984
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284
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BEL. ARTES HISTÓR. ARQUEOL. ART.APLIC.


24 Edificação Vera Cruz Capela de Santo Antônio dos Velasques 30.01.1962
25 Edificação Castro Alves Capela de São José de Jenipapo 31.08.1971
26 Edificação Salvador Capela do Corpo Santo 17.06.1938
27 Edificação Salvador Capela N.S.da Piedade e Recolhimento do Bom Jesus dos Perdões 06.04.1943
28 Edificação Salvador Casa à Avenida Frederico Pontes 14.06.1938 14.06.1938
29 Edificação Salvador Casa à Avenida Joana Angélica, 149 20.04.1938
30 Edificação Cachoeira Casa à Praça Dr. Aristides Milton, 23-A 01.03.1941
31 Edificação Cachoeira Casa à Rua Ana Nery, 4 23.03.1943 23.03.1943
32 Edificação Rio de Contas Casa à Rua Barão de Macaúbas, 11 22.09.1958
33 Edificação Cachoeira Casa à Rua Benjamin Constant, 1 16.08.1943
34 Edificação Cachoeira Casa à Rua Benjamin Constant, 17 16.09.1943
35 Edificação Cachoeira Casa à Rua Benjamin Constant, 2 06.04.1943
36 Edificação Salvador Casa à rua Carlos Gomes, 57 18.07.1938
37 Edificação Salvador Casa à rua Inácio Acioly, 4 02.03.1943
38 Edificação Salvador Casa à rua Vinte e Oito de Setembro, 8 26.01.1962
39 Edificação Salvador Casa das Sete Mortes 23.03.1943
40 Edificação Rio de Contas Casa de Câmara e Cadeia 31.07.1959
41 Edificação Salvador Casa de Castro Alves 12.07.1938
42 Edificação Cachoeira Casa de oração da Ordem Terceira do Carmo 22.08.1938 22.08.1938
43 Edificação Salvador Casa dos Carvalhos 28.04.1980 28.04.1980
44 Edificação Jaguaripe Casa dos Ouvidores 27.07.1962
45 Edificação Salvador Casa dos Sete Candeeiros 14.06.1938
46 Edificação Salvador Casa Marback 18.06.1938
47 Edificação Cachoeira Casa natal de Ana Nery 01.03.1941
48 Edificação Salvador Casa natal de Gregório de Matos 02.04.1938
49 Edificação Cachoeira Casa natal de Teixeira de Freitas 18.03.1941
50 Edificação Rio de Contas Casa natal do Barão de Macaúbas 09.09.1958
51 Edificação Salvador Casa Pia e Colégio dos Órfãos de São Joaquim 28.03.1941 28.03.1941
52 Edificação Salvador Catedral Basílica de Salvador 25.05.1938
53 Edificação Cachoeira Convento de Nossa Senhora do Carmo 22.08.1938 22.08.1938
54 Edificação Cachoeira Convento de Santo Antônio de Paraguassú: igreja e ruínas 25.09.1941 25.09.1941
55 Edificação Salvador Convento e Igreja de Nossa Senhora da Lapa 25.03.1938
56 Edificação Salvador Convento e Igreja de Nossa Senhora do Carmo 11.05.1938 11.05.1938
57 Edificação Salvador Convento e Igreja de Santa Teresa 17.06.1938
58 Edificação Cairu Convento e Igreja de Santo Antônio 17.10.1941
59 Edificação S.Francisco do Conde Convento e Igreja de Santo Antônio e Capela da Ordem Terceira 17.10.1941
60 Edificação Salvador Convento e Igreja de São Francisco 31.03.1938 31.03.1938
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BEL. ARTES HISTÓR. ARQUEOL. ART.APLIC.
61 Edificação Salvador Convento e Igreja do Desterro 25.03.1938
62 Edificação Cachoeira Engenho Embiara: sobrado 23.03.1943
63 Edificação Candeias Engenho Freguesia: sobrado, fábrica de açúcar e Capela de Nossa Senhora da Piedade 14.09.1944 14.09.1944
64 Edificação S.Sebastião do Passé Engenho Lagoa: sobrado e capela 06.07.1942 06.07.1942
65 Edificação Candeias Engenho Matoim: sobrado e fábrica de açúcar 06.09.1943
66 Edificação S.Francisco do Conde Engenho São Miguel e Almas: casa e capela 28.06.1944 28.06.1944
67 Edificação Cachoeira Engenho Vitória: sobrado, capela, crucifixo, senzala e banheiro 23.03.1943 23.03.1943
68 Edificação Maragogipe Fazenda de São Roque: casa grande e capela 16.02.1943 16.02.1943
69 Edificação Cairu Fonte Grande do Morro de São Paulo 28.08.1943 08.08.1943
70 Edificação Salvador Fortaleza de São Pedro 10.01.1957
71 Edificação Salvador Fortaleza do Barbalho 09.01.1957
72 Edificação Salvador Fortaleza do Monte Serrat 09.01.1957
73 Edificação Cairu Fortaleza do Morro de São Paulo 24.05.1938 24.05.1938
74 Edificação Salvador Forte da Gambôa 24.05.1938 24.05.1938
75 Edificação Salvador Forte de Santa Maria 24.05.1938 24.05.1938
76 Edificação Salvador Forte de Santo Antônio da Barra 24.05.1938 24.05.1938
77 Edificação Itaparica Forte de São Lourenço 24.05.1938 24.05.1938
78 Edificação Salvador Forte de São Marcelo 24.05.1938 24.05.1938
79 Edificação Maragogipe Forte do Paraguassú 24.05.1938 24.05.1938
80 Edificação Salvador Hospício de Nossa Senhora da Boa Viagem: prédio e cruzeiro 25.09.1941 25.09.1941
81 Edificação Salvador Hospício São João de Deus: prédio 16.10.1941
82 Edificação Cachoeira Hospital São João de Deus: capela 16.09.1943
83 Edificação Cachoeira Hospital São João de Deus: jardim 09.07.1940
84 Edificação Jacobina Igreja da Missão 19.01.1972
85 Edificação Salvador Igreja da Ordem Terceira de São Francisco 25.05.1938
86 Edificação Cachoeira Igreja da Ordem Terceira do Carmo 22.08.1938 22.08.1938
Anexo II - bens tombados pelo iphan

87 Edificação Salvador Igreja da Palma 17.06.1938


88 Edificação Salvador Igreja da Rua do Passo 17.06.1938
89 Edificação Salvador Igreja de Nossa Senhora da Barroquinha 25.09.1941 25.09.1941
90 Edificação Jacobina Igreja de Nossa Senhora da Conceição 19.01.1972
91 Edificação Nazaré Igreja de Nossa Senhora da Conceição 26.01.1962
92 Edificação Salvador Igreja de Nossa Senhora da Conceição do Boqueirão 08.04.1980 08.04.1980
93 Edificação Salvador Igreja de N.S. da Penha e Palácio de Verão dos Arcebispos 25.09.1941 25.09.1941
94 Edificação Salvador Igreja de Nossa Senhora da Saúde 25.09.1941 25.09.1941
95 Edificação Salvador Igreja de Nossa Senhora das Neves 08.07.1958
96 Edificação Nazaré Igreja de Nossa Senhora de Nazaré de Camamú 26.01.1962
97 Edificação Cachoeira Igreja de Nossa Senhora do Carmo 22.08.1938 22.08.1938
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O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BEL. ARTES HISTÓR. ARQUEOL. ART.APLIC.


98 Edificação Rio de Contas Igreja de Santana: ruínas 29.08.1958
99 Edificação Salvador Igreja de Santo Antônio da Barra 17.06.1938
100 Edificação Salvador Igreja de Santo Antônio da Mouraria 17.06.1938
101 Edificação Itaparica Igreja de São Lourenço 28.07.1952 28.07.1952
102 Edificação Salvador Igreja de São Miguel 25.05.1938
103 Edificação Salvador Igreja de São Pedro dos Clérigos 25.09.1941 25.09.1941
104 Edificação Salvador Igreja do Pilar 17.06.1938
105 Edificação Salvador Igreja do Rosário dos Pretos 17.06.1938
106 Edificação Cachoeira Igreja do Seminário de Belém 17.06.1938
107 Edificação Salvador Igreja do Senhor do Bonfim 17.06.1938
108 Edificação Salvador Igreja e Casa da Ordem Terceira de São Domingos 20.06.1938
109 Edificação Salvador Igreja e Casa da Ordem Terceira do Carmo 20.06.1938
110 Edificação Salvador Igreja e Hospício da Boa Viagem 17.06.1938
111 Edificação Salvador Igreja e Mosteiro de Monte Serrat 27.06.1938
112 Edificação Jaguaripe Igreja Matriz de Nossa Senhora da Ajuda 25.09.1941 25.09.1941
113 Edificação Salvador Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição da Praia 17.06.1938
114 Edificação Nazaré Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré 26.01.1962
115 Edificação Santo Amaro Igreja Matriz de Nossa Senhora de Oliveira dos Campinhos 24.06.1942 24.06.1942
116 Edificação Cachoeira Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário 15.09.1939 15.09.1939
117 Edificação Salvador Igreja Matriz de Santana 25.09.1941 25.09.1941
118 Edificação Cachoeira Igreja Matriz de Santiago 01.08.1960
119 Edificação Lauro de Freitas Igreja Matriz de Santo Amaro 31.01.1944 31.01.1944
120 Edificação Maragogipe Igreja Matriz de São Bartolomeu 21.02.1941 21.02.1941
121 Edificação Rio de Contas Igreja Matriz do Santíssimo Sacramento 29.08.1958
122 Edificação Salvador Inscrições tumulares da Igreja da Vitória 17.06.1938
123 Edificação Santo Amaro Matriz de Nossa Senhora da Purificação 25.09.1941 25.09.1941
124 Edificação Salvador Mosteiro e Igreja da Graça 27.06.1938
125 Edificação Salvador Mosteiro e Igreja de São Bento 27.06.1938
126 Edificação Cachoeira Paço Municipal 09.08.1939
127 Edificação Jaguaripe Paço Municipal 02.09.1941 02.09.1941
128 Edificação Maragogipe Paço Municipal 26.09.1941 26.09.1941
129 Edificação Santo Amaro Paço Municipal 16.10.1941
130 Edificação Salvador Palácio Arquiepiscopal 17.06.1938
131 Edificação Salvador Palácio da Associação Comercial da Bahia 13.06.1938
132 Edificação Salvador Palácio do Saldanha 27.06.1938
133 Edificação Salvador Prédio à Avenida Sete de Setembro, 401 04.12.1981
134 Edificação Salvador Prédio à Praça Cairú 25.10.1966
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BEL. ARTES HISTÓR. ARQUEOL. ART.APLIC.
135 Edificação Salvador Prédio à Rua J. Castro Rabelo, 5 16.09.1943
136 Edificação Santo Amaro Prédio à Rua da Matriz, 9 16.09.1943
137 Edificação Salvador Prédio à Rua Militão Lisboa, 80 23.03.1943
138 Edificação Salvador Quinta do Tanque 20.08.1949 20.08.1949
139 Edificação Salvador Santa Casa da Misericórdia da Bahia e Igreja 14.06.1938
140 Edificação Santo Amaro Santa Casa de Misericórdia: prédio central 10.08.1962
141 Edificação Salvador Seminário de São Dâmaso 17.06.1938
142 Edificação Salvador Sobrada à Rua Saldanha da Gama, 25 05.08.1941
143 Edificação Salvador Sobrado à Praça Anchieta, 18 22.02.1943
144 Edificação Salvador Sobrado à Praça Anchieta, 20 02.03.1943
145 Edificação Cachoeira Sobrado à Praça da Aclamação, 4 18.03.1941
146 Edificação Salvador Sobrado à Praça Quinze de Novembro, 17 16.09.1943
147 Edificação Cachoeira Sobrado à Rua Ana Nery, 1 27.06.1941
148 Edificação Cachoeira Sobrado à Rua Ana Nery, 2 23.03.1943 23.03.1943
149 Edificação Cachoeira Sobrado à Rua Ana Nery, 25 16.09.1943
150 Edificação Salvador Sobrado à Rua Conselheiro Junqueira, 55 05.08.1941
151 Edificação Salvador Sobrado à Rua Inácio Acioly, 6 23.03.1943
152 Edificação Cachoeira Sobrado à rua Treze de Maio, 13 25.03.1943
153 Edificação Nazaré Sobrado à Travessa da Capela, 2 11.04.1962
154 Edificação Salvador Sobrado azulejado à Praça Cairú 30.07.1969
155 Edificação Salvador Solar Amado Bahia 29.01.1981 29.01.1981
156 Edificação Salvador Solar do Barão do Rio Real 20.04.1938
157 Edificação Salvador Solar do Berquó 11.06.1938
158 Edificação Santo Amaro Solar do Conde de Subaé 30.01.1979 30.01.1979
159 Edificação Salvador Solar do Conde dos Arcos 25.06.1938
160 Edificação Salvador Solar do Gravatá 24.05.1974
Anexo II - bens tombados pelo iphan

161 Edificação Salvador Solar do Unhão e Capela Nossa Senhora da Conceição 16.09.1943 16.09.1943
162 Edificação Salvador Solar Ferrão 27.06.1938
163 Terreiro Salvador Terreiro do Axé Opô Afonjá 28.07.2000 28.07.2000
164 Terreiro Salvador Terreiro da Casa Branca 14.08.1986 14.08.1986
165 Terreiro Salvador Terreiro de Candomblé do Bate-Folha 03.02.2005 03.02.2005
166 Terreiro Salvador Terreiro de Candomblé Ilê Iyá Omim Axé Iyamassé, rua Alto dos Gantois nº 23, 02.02.2005
Federação.
167 Terreiro Salvador Terreiro do Alaketo, Ilê Maroiá Láji 30.09.2008 30.09.2008
168 Equip.urb.e infra-estr. Cachoeira Chafariz da Praça Dr. Mílton 09.08.1939
169 Equip.urb.e infra-estr. Salvador Parque e Fonte do Queimado 14.02.1997
170 Equip.urb.e infra-estr. Salvador Salvador, BA: conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico 14.07.1959
171 Paisagem natural Palmeiras Morro do Pai Inácio: conjunto paisagístico e rio Mucugêzinho 05.05.2000
287
288
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BEL. ARTES HISTÓR. ARQUEOL. ART.APLIC.


172 Paisagem natural Ituaçu Gruta de Mangabeira 27.07.1962
173 Paisagem natural S.Cruz Cabrália Conjunto paisagístico 29.01.1981
174 Paisagem natural Porto Seguro Conjunto arquitetônico e paisagístico 01.03.1974 01.03.1974
175 Paisagem natural Monte Santo Serra do Monte Santo: conjunto arquitetônico, urbanístico, natural e paisagístico 21.06.1983
176 Ruína Mata de S.João Casa da Torre de Garcia d'Ávila e Capela de N.Senhora da Conceição 30.04.1938

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
ENGENHO EMBIARA: A casa e a fazenda eram denominadas “Morgado Real do Embiara”. A primitiva Capela data de 1637, porém o atual sobrado, construído por Bernardino
SOBRADO José Aragão, só foi edificado em 1806.
ENGENHO FREGUESIA: A Sesmaria, onde mais tarde surgiria o Engenho Freguesia, foi doada em 1560 a Sebastião Álvares. Nesta época, o engenho possuía grandes edifícios. Em
SOBRADO, FÁBRICA DE 1624 foi incendiado pelos holandeses. A feição que a casa possui hoje é resultado das obras que aconteceram em 1760. Em 1900 o engenho deixa de
AÇÚCAR E CAPELA DE moer e é desapropriado, em 1968, pelo Governo Estadual para a instalação do Museu do Recôncavo Wanderley Pinho, aberto ao público em 1971.
NOSSA SENHORA DA
PIEDADE

ENGENHO LAGOA: O conjunto de sobrado e capela implanta-se sobre uma elevação de onde se dominam extensas pastagens, anteriormente ocupadas por canaviais. A capela
SOBRADO E CAPELA se situa à esquerda da casa, muito próxima da mesma. A construção deste conjunto, um dos mais requintados do Recôncavo Baiano, deve datar do final do
século XVIII, ainda que não se saiba com precisão, o que é indicado pela simetria de sua composição. O sobrado desenvolve-se em dois níveis: o primeiro
formado pelo saguão e dependências e o segundo por salões, quartos, cozinhas etc. Devido à topografia, o segundo piso se apóia sobre arcaria, na frente e,
no fundo, sobre o terreno. A monumentalidade caracteriza-o volumetricamente

ENGENHO MATOIM: Em 1584, a propriedade de Jorge Antunes era composta de um engenho, casa-grande e da Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Foi destruído pelos
SOBRADO E FÁBRICA holandeses e reconstruído pela família Rocha Pita no séc. XVIII. Em 1973, o local foi desapropriado pelo Estado da Bahia e passou a integrar o Centro
DE AÇÚCAR Industrial de Aratú.

ENGENHO SÃO O engenho integrava o morgado instituído por José Pires de Carvalho, tendo suas terras demarcadas pelo Conselho Ultramarino em 1797. Em 1820,
MIGUEL E ALMAS: documentos registram a propriedade do Engenho de São Miguel com galeria de casa de moradia, fábrica e capela de pedra e cal. A propriedade continua
CASA E CAPELA em poder dos descendentes de seus primeiros proprietários. Pouco pode-se identificar no monumento devido ao seu avançado estado de arruinamento.
Restam apenas a caixa de muros do sobrado e uma das sineiras da capela.

ENGENHO VITÓRIA: Em 1812 inicia-se a construção do engenho, pelo Com. Pedro Bandeira, abastado negociante e senhor de engenhos da região e um dos introdutores
SOBRADO, CAPELA, da navegação a vapor na Bahia. O edifício é um dos mais representativos exemplos da casa rural assobradada. O sobrado é desenvolvido em três níveis,
CRUCIFIXO, SENZALA segundo planta em “T”, originalmente ligado à fábrica.
E BANHEIRO
CEARÁ CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
0
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
21 BENS BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 4
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 13
PATR.INDUSTRIAL: 0 BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 1
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 1
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 1
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 21

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Conjunto urbano Aracati Aracati, CE: conjunto arquitetônico e paisagístico 31.10.2001 31.10.2001
2 Conjunto urbano Viçosa Viçosa, CE: conjunto Histórico e Arquitetônico 04.02.2005
3 Conjunto urbano Icó Icó, CE: conjunto arquitetônico e urbanístico 03.12.1998 03.12.1998
4 Conjunto urbano Sobral Sobral, CE: conjunto arquitetônico e urbanístico 23.06.2000 23.06.2000
5 Edificação Viçosa Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, inclusive a pintura do forro. 08.07.2004 08.07.2004
6 Edificação Fortaleza Assembléia Provincial 28.02.1973 28.02.1973
7 Edificação Aracati Casa de Câmara e Cadeia 08.04.1980 08.04.1980
8 Edificação Caucaia Casa de Câmara e Cadeia 30.05.1973
9 Edificação Icó Casa de Câmara e Cadeia 17.11.1975
10 Edificação Quixeramobim Casa de Câmara e Cadeia 09.02.1972
11 Edificação Fortaleza Casa natal de José de Alencar 10.08.1964
Anexo II - bens tombados pelo iphan

12 Edificação Fortaleza Departamento Nacional de Obras Contra as Secas: prédio 19.05.1983


13 Edificação Acaraú Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Almofala 18.04.1980 18.04.1980
14 Edificação Aracati Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário 24.01.1957
15 Edificação Iguatu Igreja Matriz de Santana: fachadas 13.03.1974
16 Edificação Aquiraz Mercado de Carne 20.02.1984
17 Edificação Fortaleza Teatro José de Alencar 10.08.1964
18 Equip.urb.e infra-estrutura Quixadá Açude do Cedro 19.07.1984 19.07.1984
19 Jardins hist. e parques Fortaleza Passeio Público 13.04.1965
20 Paisagem natural Quixadá Conjunto Paisagístico dos Serrotes, constituído por formações geomorfológicas em 30.09.2008
monólito
21 Coleções e acervos Fortaleza Col. arqueol. do Museu da Escola Normal Justiniano de Serra 27.01.1941
289
290
ESPÍRITO
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 2
SANTO BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos
0
0
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 12
14 BENS BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
PATR.INDUSTRIAL: 0 BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 14

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados Viana Imagens de Nossa Senhora da Conceição, 02 objetos e alfaias 20.03.1950
2 Objetos e bens integrados Vila Velha Imagem de Nossa Senhora da Penha 20.03.1950
3 Edificação Vitória Casa à rua José Marcelino, 197 05.10.1967
4 Edificação Vitória Casa à Rua José Marcelino, 203-205 13.11.1967
5 Edificação Vitória Casa e Chácara do Barão de Monjardim 25.10.1940
6 Edificação Vila Velha Convento e Igreja de Nossa Senhora da Penha 21.09.1943 21.09.1943
7 Edificação Viana Igreja de Nossa Senhora da Ajuda 20.03.1950
8 Edificação Guarapari Igreja de Nossa Senhora da Conceição 16.09.1970
9 Edificação Vila Velha Igreja de Nossa Senhora do Rosário 20.03.1950
10 Edificação Vitória Igreja de Nossa Senhora do Rosário 24.07.1946
11 Edificação Vitória Igreja de Santa Luzia 01.08.1946
12 Edificação Vitória Igreja de São Gonçalo 06.11.1948 08.11.1948
13 Edificação Serra Igreja dos Reis Magos e residência 21.09.1943 21.09.1943
14 Edificação Anchieta Igreja Nossa Senhora da Assunção e residência 21.09.1943
GOIÁS CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
1
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
22 BENS BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 6
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 15
PATR.INDUSTRIAL: 0 BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 22

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados Goiás Imagem de Nossa Senhora do Rosário 13.04.1950
2 Conjunto urbano Goiás Goiás, GO: conjunto arquitetônico e urbanístico 18.09.1978 18.09.1978 18.09.1978
3 Conjunto urbano Goiás Largo do Chafariz: conjunto arquitetônico e urbanístico 03.05.1951 18.09.1978
4 Conjunto urbano Pilar de Goiás Pilar de Goiás, GO: conjunto arquitetônico e paisagístico 20.03.1954 20.03.1954
5 Conjunto urbano Pirenópolis Pirenópolis, GO: conjunto arquitetônico, urbanístico, paisagístico e histórico 10.01.1990 10.01.1990
6 Conjunto urbano Goiás Rua da Fundição: conjunto arquitetônico e urbanístico 03.05.1951 18.09.1978
7 Conjunto urbano Goiânia Acervo Arquitetônico e Urbanístico Art Déco de Goiânia, 03.02.2005 03.02.2005 03.02.2005
8 Edificação Goiás Capela de São João Batista 05.11.1953
9 Edificação Pilar de Goiás Casa da Princesa 20.03.1954
10 Edificação Goiás Casa de Câmara e Cadeia 03.05.1951
11 Edificação Bela Vista de Goiás Casa do Senador Canedo 23.04.1986 23.04.1986
Anexo II - bens tombados pelo iphan

12 Edificação Pirenópolis Fazenda da Babilônia: casa e dependências 26.04.1965


13 Edificação Goiás Igreja de Nossa Senhora da Abadia 13.04.1950
14 Edificação Goiás Igreja de Nossa Senhora da Boa Morte 13.04.1950
15 Edificação Goiás Igreja de Nossa Senhora do Carmo 13.04.1950
16 Edificação Jaraguá Igreja de Nossa Senhora do Rosário 26.01.1960
17 Edificação Niquelândia Igreja de Nossa Senhora do Rosário e ruínas da Igreja de São José do Tocantins 19.01.1955
18 Edificação Goiás Igreja de Santa Bárbara 13.04.1950
19 Edificação Goiás Igreja de São Francisco de Paula 13.04.1950
20 Edificação Pirenópolis Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário 03.07.1941
21 Edificação Goiás Palácio Conde dos Arcos 03.05.1951 03.05.1951
22 Edificação Goiás Quartel do Batalhão de Infantaria, 20 31.07.1950
291
292
MARANHÃO
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 1
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 6
20 BENS BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 10
PATR.INDUSTRIAL: 03 BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 2
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 1
TOTAL 20

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integr. São Luís Retábulo da Igreja Nossa Senhora da Vitória 23.08.1954
2 Conjunto urbano São Luís Largo do Desterro: conjunto arquitetônico e urbanístico 23.12.1955
3 Conjunto urbano São Luís Praça Benedito Leite: conjunto arquitetônico e paisagístico 23.12.1955
4 Conjunto urbano São Luís Praça Gonçalves Dias: conjunto arquitetônico e paisagístico 23.12.1955
5 Conjunto urbano São Luís Praça João Francisco Lisboa: conjunto arquitetônico e paisagístico 23.12.1955
6 Conjunto urbano São Luís São Luís, MA: conjunto arquitetônico e paisagístico 13.03.1974 13.03.1974
7 Conjunto urbano Alcântara Alcântara, MA: conjunto arquitetônico e urbanístico 10.10.1974 29.12.1948 10.10.1974
8 Edificação São Luís Capela de São José da Quinta das Laranjeiras 16.04.1940
9 Edificação São Luís Casa à Rua Colares Moreira, 84 09.11.1962
10 Edificação São Luís Casas à Avenida Pedro II, 199 e 205 17.08.1961
11 Edificação Pindaré-Mirim Engenho Central São Pedro: casa 03.12.1998
12 Edificação São Luís Fábrica Santa Amélia: prédio 01.07.1987
13 Edificação São Luís Fonte das Pedras 12.07.1963
14 Edificação São Luís Fonte do Ribeirão 14.07.1950
15 Edificação São Luís Palacete Gentil Braga 01.11.1978
16 Edificação São Luís Portão da Quinta das Laranjeiras 16.04.1940
17 Terreiro São Luís Terreiro Casa das Minas Jeje, sit. na Rua de São Pantaleão nº 857 e 857A 02.02.2005 02.02.2005
18 Ruína São Luís Fortaleza de Santo Antônio: remanescentes 06.08.1975
19 Ruína São Luís Sítio do Físico: ruínas 29.01.1981 29.01.1981
20 Sítio arqueológico São Luís Sambaqui do Pindai 19.01.1940
PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL

ENGENHO CENTRAL O Engenho Central da Pindaré-Mirim, ou Companhia Progresso Agrícola, foi criado pelo Decreto-Lei nº 7.811, de 31/08/1880. Todo o maquinário e
SÃO PEDRO: CASA aparelhagem necessários à sua instalação foram importados da Inglaterra e executados pelo técnico Robert Collond, da firma inglesa Fawcet Preston & Cia.
Nessa época foram fixados os trilhos da primeira ferrovia do Estado. Em 1888, ainda por iniciativa da mesma empresa, é instalado em Pindaré o sistema de
iluminação elétrica, conferindo ao município um pioneirismo no gênero em todo o Brasil (somente em 1892 é que a cidade fluminense de Campos foi dotada
de energia elétrica). O Engenho Central possuía 500 carros de boi, 35 carroças, cerca de 50 casas de madeira, três léguas de terra apta à lavoura e 10 km de
via férrea. Hoje, este secular monumento, com sua tradicional chaminé, seus paredões em alvenaria, seu teto laminado sobre custosa estrutura de ferro, é um
dos últimos representantes do sistema de engenhos centrais instalados no Brasil durante o Império.

FÁBRICA SANTA O prédio onde funcionou a Fábrica Santa Amélia abrigou, primeiramente, a fábrica da Companhia de Lanifícios Maranhense, instalada em 1892. Com a
AMÉLIA: PRÉDIO falência desta, a fábrica e o maquinário foram arrematados em leilão, por Cândido José Ribeiro, em 1902 e, somado à Fábrica São Luís, passou a constituir
o “Cotonifício Candido Ribeiro”. A fábrica funcionou por 64 anos, sendo fechada em 1966, tendo grande importância no processo de industrialização do
Maranhão, iniciado em meados do século XIX, produzindo inclusive para exportação

SÍTIO DO FÍSICO: Sua importância está relacionada ao fato do local ter abrigado a primeira indústria da região, com o beneficiamento do couro, arroz e ainda a fabricação de
RUÍNAS cera e cal. Além disso, após a morte do físico em 1817, passou a fabricar fogos de artifícios. Faziam parte do conjunto, além da residência do físico, curtume,
fornos, conjunto de tanques, poços, armazéns, cais, laboratório, rampas, telheiros e canalizações com caixa de distribuição para os tanques.
Anexo II - bens tombados pelo iphan

293
294
MINAS
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 7
GERAIS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos
3
13
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 162
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 16
204 BENS BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
PATR.INDUSTRIAL: 03 BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 1
BENS IMÓVEIS - Ruínas 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 1
TOTAL 204

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados Abre Campo Imagem de São Francisco de Paula / Aleijadinho 06.10.1971
2 Objetos e bens integrados Belo Horizonte Lavatório da Igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem 01.07.1960
3 Objetos e bens integrados Belo Horizonte Presépio de Pipiripau 19.07.1984
4 Objetos e bens integrados Conceição do Mato Obras de talha do Santuário do Bom Jesus de Matozinhos 03.10.1962
Dentro
5 Objetos e bens integrados Nova Lima Obras de talha da Capela da Fazenda da Jaguara: retábulos e púlpitos 19.06.1950 19.06.1950
6 Objetos e bens integrados Ouro Preto Imagem de Santana / Aleijadinho 14.10.1987
7 Objetos e bens integrados Ouro Preto Oratório da Rua Barão de Ouro Branco 08.09.1939
8 Coleções e acervos Congonhas Coleção de ex-votos do Santuário de Bom Jesus de Matozinhos 29.01.1981 29.01.1981
9 Coleções e acervos Ibiá Quilombo Ambrósio: documentação 11.07.2002
10 Coleções e acervos Juiz de Fora Coleções do Museu Mariano Procópio 16.02.1939 16.02.1939
11 Conjunto urbano Cataguases Cataguases: conjunto histórico, arquitetônico e paisagístico 17.02.2003 17.02.2003 17.02.2003
12 Conjunto urbano Congonhas Congonhas: conjunto arquitetônico e urbanístico 17.03.1941
13 Conjunto urbano Diamantina Diamantina: conjunto arquitetônico e urbanístico 16.05.1938
14 Conjunto urbano Mariana Mariana: conjunto arquitetônico e urbanístico 14.05.1938
15 Conjunto urbano Ouro Preto Ouro Preto: conjunto arquitetônico e urbanístico 20.04.1938 15.09.1986 15.09.1986
16 Conjunto urbano Belo Horizonte Pampulha: conjunto arquitetônico e paisagístico 15.12.1997 15.12.1997 15.12.1997
17 Conjunto urbano Nova Era Praça da Matriz: conjunto arquitetônico e Museu Municipal de Arte e História: prédio 17.12.1973 17.12.1973
18 Conjunto urbano São João del Rei São João del Rei: conjunto arquitetônico e urbanístico 04.03.1938
19 Conjunto urbano Serro Serro: conjunto arquitetônico e urbanístico 08.04.1938
20 Conjunto urbano Itaverava Sobrado do Padre Taborda e casario 24.03.1993
21 Conjunto urbano Tiradentes Tiradentes: conjunto arquitetônico e urbanístico 20.04.1938
22 Conjunto urbano Caeté Santuário de Nossa Senhora da Piedade: conjunto arquitetônico e paisagístico 26.09.1956 26.09.1956
23 Conjuntos urbanos Piranga Santuário do Senhor Bom Jesus de Matozinhos: conjunto arquitetônico e paisagístico 31.10.1996 31.10.1996 31.10.1996
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
24 Edificação Juiz de Fora Marco Comemorativo do Centenário de Juiz de Fora 12.11.2001
25 Edificação São João Del Rei e Complexo ferroviário de São João del Rei 03.08.1989 03.08.1989
Tiradentes
26 Edificação Tiradentes Capela da Santíssima Trindade 27.01.1964
27 Edificação Barbacena Capela de Nossa Senhora da Boa Morte 13.06.1988 13.06.1988
28 Edificação Ouro Preto Capela de Nossa Senhora da Piedade 08.09.1939
29 Edificação Ouro Preto Capela de Nossa Senhora das Dores 08.09.1939
30 Edificação Tiradentes Capela de Nossa Senhora das Mercês 27.01.1964
31 Edificação Barão de Cocais Capela de Nossa Senhora do Rosário 08.09.1939
32 Edificação Mariana Capela de Nossa Senhora dos Anjos da Arquiconfraria de São Francisco 08.09.1939
33 Edificação Barão de Cocais Capela de Santana 08.09.1939
34 Edificação Mariana Capela de Santana 08.09.1939
35 Edificação Ouro Preto Capela de Santana 06.12.1949
36 Edificação Sabará Capela de Santo Antônio 08.09.1958
37 Edificação Tiradentes Capela de São Francisco de Paula 27.01.1964
38 Edificação Ouro Preto Capela de São João 08.09.1939
39 Edificação Tiradentes Capela de São João Evangelista 27.01.1964
40 Edificação Ouro Preto Capela de São José 08.09.1939
41 Edificação Ouro Preto Capela de São Sebastião 08.09.1939
42 Edificação Tiradentes Capela do Bom Jesus 27.01.1964
43 Edificação Ouro Preto Capela do Bom Jesus das Flores 08.09.1939
44 Edificação Ouro Preto Capela do Padre Faria 08.09.1939
45 Edificação Ouro Preto Capela do Senhor do Bonfim 08.09.1939
46 Edificação Santa Luzia Casa à Praça da Matriz 08.05.1950
47 Edificação Conceição do Mato Casa à Praça Dom Joaquim 19.11.1948
Dentro
48 Edificação Diamantina Casa à Praça Juscelino Kubitschek 09.01.1950
Anexo II - bens tombados pelo iphan

49 Edificação Sete Lagoas Casa à Praça Santo Antônio, 94 14.08.1968


50 Edificação Diamantina Casa à rua Francisco Sá, 50 28.06.1950
51 Edificação Caeté Casa à Rua Israel Pinheiro, 32 28.06.1950
52 Edificação Sabará Casa Azul 10.03.1965
53 Edificação Sabará Casa Borba Gato 17.06.1938
54 Edificação Mariana Casa Capitular 06.12.1949
55 Edificação Diamantina Casa com forro pintado 02.09.1959
56 Edificação Tiradentes Casa com forro pintado 25.04.1954
57 Edificação Mariana Casa com Rótulas 02.12.1950
58 Edificação Diamantina Casa da Chica da Silva 04.04.1950
59 Edificação Belo Horizonte Casa da Fazenda do Leitão 29.03.1951
295
296
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
O Lugar do Patrimônio Industrial

60 Edificação Sabará Casa da Intendência 28.06.1950 28.06.1950


61 Edificação Mariana Casa de Câmara e Cadeia 19.12.1949
62 Edificação Ouro Preto Casa de Câmara e Cadeia 29.11.1954 29.11.1954
63 Edificação Pitangui Casa de Câmara e Cadeia 04.08.1959
64 Edificação Lassance Casa de Saúde Carlos Chagas 30.09.1985
65 Edificação Mariana Casa do Barão de Pontal 06.07.1962
66 Edificação Tiradentes Casa do Inconfidente Padre Toledo 04.08.1952 04.08.1952
67 Edificação Resende Costa Casa do Inconfidente Resende Costa 23.05.1950
68 Edificação Pitangui Casa do Padre Belquior 18.04.1980
69 Edificação Diamantina Casa do Padre Rolim 28.06.1950
70 Edificação Ouro Preto Casa dos Contos 09.01.1950 09.01.1950
71 Edificação Serro Casa dos Ottoni 28.04.1950
72 Edificação Santa Bárbara Casa no Largo do Rosário 29.11.1954
73 Edificação Ouro Preto Casa Setecentista 10.07.1963
74 Edificação Catas Altas Colégio do Caraça: conjunto arquitetônico e paisagístico 27.01.1955 27.01.1955
75 Edificação Itabira Ermida de Nossa Senhora do Rosário 23.12.1949
76 Edificação Lassance Estação Ferroviária 30.09.1985
77 Edificação Ouro Preto Fábrica de Ferro Patriótica: ruínas 30.06.1938
78 Edificação Belo Vale Fazenda da Boa Esperança: casa 27.08.1959
79 Edificação Antônio Carlos Fazenda da Borda do Campo: sede, capela e sobradinho 13.06.1988 13.06.1988
80 Edificação Matias Barbosa Fazenda de Nossa Senhora da Conceição do Registro do Caminho Novo: capela 20.11.1969
81 Edificação Ritápolis Fazenda do Pombal: remanescentes 21.09.1971
82 Edificação Barbacena Fazenda do Registro Velho: sede 10.07.2002
83 Edificação Bom Jesus do Amparo Fazenda do Rio São João: casa 18.09.1973
84 Edificação Mariana Fonte da Samaritana 19.12.1949
85 Edificação Sabará Hospício da Terra Santa e Capela de Nossa Senhora do Pilar 09.05.1950
86 Edificação Mariana Igreja da Sé 08.09.1939
87 Edificação Raposos Igreja de Nossa Senhora da Conceição 13.06.1938
88 Edificação Mariana Igreja de Nossa Senhora da Glória 21.05.1954
89 Edificação Prados Igreja de Nossa Senhora da Penha 27.07.1949
90 Edificação Diamantina Igreja de Nossa Senhora das Mercês 06.12.1949
91 Edificação Mariana Igreja de Nossa Senhora das Mercês 05.08.1938
92 Edificação Sabará Igreja de Nossa Senhora das Mercês 13.06.1938
93 Edificação Ouro Preto Igreja de Nossa Senhora das Mercês e Perdões 08.09.1939
94 Edificação Diamantina Igreja de Nossa Senhora do Amparo 06.12.1949
95 Edificação Diamantina Igreja de Nossa Senhora do Carmo 19.04.1940
96 Edificação Mariana Igreja de Nossa Senhora do Carmo 08.09.1939
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
97 Edificação Ouro Preto Igreja de Nossa Senhora do Carmo 20.04.1938
98 Edificação Sabará Igreja de Nossa Senhora do Carmo 13.06.1938
99 Edificação Serro Igreja de Nossa Senhora do Carmo 24.11.1949
100 Edificação Sabará Igreja de Nossa Senhora do Ó 13.06.1938
101 Edificação Berilo Igreja de Nossa Senhora do Rosário 13.03.1974
102 Edificação Caeté Igreja de Nossa Senhora do Rosário 09.05.1950
103 Edificação Conceição do Mato Igreja de Nossa Senhora do Rosário 19.11.1948 16.11.1948
Dentro
104 Edificação Diamantina Igreja de Nossa Senhora do Rosário 06.12.1949
105 Edificação Itabirito Igreja de Nossa Senhora do Rosário 11.03.1955
106 Edificação Mariana Igreja de Nossa Senhora do Rosário 05.11.1945 05.11.1945
107 Edificação Ouro Preto Igreja de Nossa Senhora do Rosário 08.09.1939
108 Edificação Paracatu Igreja de Nossa Senhora do Rosário 13.02.1962
109 Edificação Sabará Igreja de Nossa Senhora do Rosário 13.06.1938
110 Edificação Tiradentes Igreja de Nossa Senhora do Rosário 06.12.1949
111 Edificação Mariana Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos 08.09.1939
112 Edificação Ouro Preto Igreja de Santa Efigênia 08.09.1939
113 Edificação Uberaba Igreja de Santa Rita 22.12.1939
114 Edificação Diamantina Igreja de Santana 16.11.1952 16.11.1952
115 Edificação Sabará Igreja de Santana 09.05.1950
116 Edificação Santa Bárbara Igreja de Santo Amaro 30.08.1941
117 Edificação Belo Horizonte Igreja de São Francisco de Assis 01.12.1947
118 Edificação Diamantina Igreja de São Francisco de Assis 06.12.1949
119 Edificação Mariana Igreja de São Francisco de Assis 08.07.1938
120 Edificação Ouro Preto Igreja de São Francisco de Assis 04.06.1938
121 Edificação Sabará Igreja de São Francisco de Assis 13.06.1938
Anexo II - bens tombados pelo iphan

122 Edificação São João Del Rei Igreja de São Francisco de Assis 15.07.1938 15.07.1938
123 Edificação Ouro Preto Igreja de São Francisco de Paula 08.09.1939
124 Edificação Minas Novas Igreja de São José 27.04.1967
125 Edificação Alvorada de Minas Igreja de São José de Itapanhoacanga 28.09.1971
126 Edificação Itabirito Igreja de São Vicente 16.01.1953
127 Edificação Serro Igreja do Bom Jesus de Matozinhos 14.01.1944 14.01.1944
128 Edificação Ouro Preto Igreja do Bom Jesus do Matozinhos 08.09.1939
129 Edificação Diamantina Igreja do Senhor do Bonfim 06.12.1949
130 Edificação Mariana Igreja Matriz de Bom Jesus do Monte 06.12.1949
131 Edificação Berilo Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 13.03.1974
132 Edificação Catas Altas Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 08.09.1939
133 Edificação Conceição do Mato Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 19.11.1948 16.11.1948
Dentro
297
298
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
O Lugar do Patrimônio Industrial

134 Edificação Congonhas Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 21.07.1950


135 Edificação Manga Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 19.02.1954
136 Edificação Mariana Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 06.12.1949
137 Edificação Prados Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 06.12.1996 06.12.1996
138 Edificação Sabará Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 13.06.1938
139 Edificação Serro Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 22.07.1941
140 Edificação Ouro Preto Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Antônio Dias 08.09.1939
141 Edificação Barbacena Igreja Matriz de Nossa Senhora da Piedade 13.06.1988 13.06.1988
142 Edificação Caeté Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré 09.05.1950
143 Edificação Mariana Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré 05.11.1945 05.11.1945
144 Edificação Ouro Preto Igreja Matriz de Nossa Senhora de Nazaré 29.11.1949
145 Edificação Caeté Igreja Matriz de Nossa Senhora do Bonsucesso 13.06.1938
146 Edificação Ouro Preto Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar 08.09.1939
147 Edificação São João Del Rei Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar 29.11.1949
148 Edificação Lavras Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário 02.09.1948
149 Edificação Itaverava Igreja Matriz de Santo Antônio 19.07.1984
150 Edificação Ouro Branco Igreja Matriz de Santo Antônio 03.10.1983
151 Edificação Ouro Branco Igreja Matriz de Santo Antônio 29.11.1949
152 Edificação Paracatu Igreja Matriz de Santo Antônio 13.02.1962
153 Edificação Santa Bárbara Igreja Matriz de Santo Antônio 13.06.1938
154 Edificação Tiradentes Igreja Matriz de Santo Antônio 29.11.1949
155 Edificação Ouro Preto Igreja Matriz de Santo Antônio em Glaura 24.10.1962
156 Edificação Ouro Preto Igreja Matriz de São Bartolomeu 04.03.1960
157 Edificação Mariana Igreja Matriz de São Caetano 25.05.1953
158 Edificação Barão de Cocais Igreja Matriz de São João Batista 08.09.1939
159 Edificação Nova Era Igreja Matriz de São José 17.03.1953
160 Edificação Ouro Preto Igreja Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia 08.09.1939
161 Edificação São João del Rei Igreja Nossa Senhora do Carmo 26.07.1938 26.07.1938
162 Edificação Diamantina Mercado de Diamantina 31.07.1950
163 Edificação Sabará Paço Municipal 07.02.1950
164 Edificação Ouro Preto Palácio dos Governadores 13.03.1950
165 Edificação Ouro Preto Passo à Praça Tiradentes 08.09.1939
166 Edificação Mariana Passo da Ladeira do Rosário 06.12.1949
167 Edificação Mariana Passo da Ponte da Areia 06.12.1949
168 Edificação Ouro Preto Passo da Ponte Seca 08.09.1939
169 Edificação Ouro Preto Passo da Rua do Rosário 08.09.1939
170 Edificação Sabará Passo da Rua Marquês de Sapucaí 09.05.1950
171 Edificação Ouro Preto Passo da Rua São José 08.09.1939
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
172 Edificação Ouro Preto Passo de Antônio Dias 08.09.1939
173 Edificação Sabará Passo do Carmo 09.05.1950
174 Edificação São João Del Rei Passos das Ruas Duque de Caxias e Getúlio Vargas 06.12.1949
175 Edificação Santa Luzia Recolhimento de Macaúbas: prédio 08.02.1963
176 Edificação Sabará Rua Dom Pedro II: conjunto arquitetônico e urbanístico 27.01.1965 27.01.1965
177 Edificação Congonhas Santuário de Bom Jesus de Matozinhos: conjunto arquitetônico, paisagístico e escultórico 08.09.1939
178 Edificação Mariana Seminário Menor e Capela de Nossa Senhora da Boa Morte 06.12.1949
179 Edificação Santos Dumont Sítio Cabangu: casa 02.05.1950
180 Edificação Minas Novas Sobradão 25.09.1959
181 Edificação São João Del Rei Sobrado à Rua Marechal Deodoro, 12 01.08.1946 01.08.1946
182 Edificação Barbacena Sobrado dos Andradas 13.06.1988 13.06.1988
183 Edificação Juiz de Fora Teatro Central 13.06.1994
184 Edificação Sabará Teatro Municipal 02.01.1963
185 Edificação Lagoa Santa Túmulos do Dr.Peter Wilhen Lund, Peter Andreas Brandt, Wilhelm Behrens, Johann 09.05.1960
Rudolph Müller e cemitério
186 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Chafariz da Glória 19.06.1950
187 Equip.urb.e infra-estrut. Conceição do Mato Chafariz da Praça Dom Joaquim 09.03.1960
Dentro
188 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Chafariz de Marília 19.06.1950
189 Equip.urb.e infra-estrut. Tiradentes Chafariz de São José 03.12.1949
190 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Chafariz do Alto da Cruz 19.06.1950
191 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Chafariz do Alto das Cabeças 19.06.1950
192 Equip.urb.e infra-estrut. Sabará Chafariz do Caquende 07.02.1950
193 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Chafariz do Passo de Antônio Dias 19.06.1950
194 Equip.urb.e infra-estrut. Sabará Chafariz do Rosário 07.02.1950
195 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Chafariz dos Contos 19.06.1950
196 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Ponte da Barra 19.06.1950
Anexo II - bens tombados pelo iphan

197 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Ponte de Antônio Dias 19.06.1950


198 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Ponte do Pilar 19.06.1950
199 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Ponte do Rosário 19.06.1950
200 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Ponte dos Contos 19.06.1950
201 Equip.urb.e infra-estrut. Ouro Preto Ponte Seca 19.06.1950
202 Paisagem natural Belo Horizonte Serra do Curral: conjunto paisagístico 21.09.1960
203 Ruína Ibiá Quilombo do Ambrósio: remanescentes 11.07.2002
204 Sítios Arqueológicos Matozinhos Lapa da Cerca Grande 27.06.1962
299
300
O Lugar do Patrimônio Industrial

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL

CATAGUASES: Conjunto histórico que inclui Conjunto de Prédios das Residências Operárias, à Rua Francisca Peixoto, projeto do Arquiteto Francisco Bologna, de Propriedade
CONJUNTO da Companhia Industrial de Cataguases; Prédio da Fábrica Fiação e Tecelagem Cataguases/M.Ignácio Peixoto & Filhos, à Praça Manoel Ignácio Peixoto s/n° de
HISTÓRICO, Propriedade das Indústrias Irmãos Peixoto.
ARQUITETÔNICO E
PAISAGÍSTICO
COMPLEXO O complexo ferroviário de São João del Rei fazia parte da antiga Estrada de Ferro Oeste de Minas, criada através da concessão provincial de 1872, com
FERROVIÁRIO DE o nome “Estrada de Ferro d’ Oeste”. Seu percurso iniciava na cidade de Sítios, atual Antônio Carlos, que estava ligada com a Estrada de Ferro D. Pedro II
SÃO JOÃO DEL REI (depois Central do Brasil), partindo daí para São João del Rei. O complexo ferroviário inclui, além do trecho ferroviário São João del Rei, com uma extensão
de 12 Km, em bitola estreita (0,76 mm) e ainda em funcionamento como linha turística, as seguintes edificações: 1- O prédio da Estação de São João Del Rei,
apresentando plataforma com cobertura estrutural de ferro. 2- O prédio da Estação de Tiradentes, caracterizado pelas linhas simples, sem muito detalhamento,
com cobertura em telha francesa e plataforma arrematada por lambrequins de madeira. 3- O Museu Ferroviário, antigo armazém de carga da ferrovia ,anexo
à estação de São João Del Rei, inaugurado por ocasião do centenário da Estrada de Ferro Oeste de Minas, em 1981, encontrando-se entre suas relíquias a
locomotiva número 1. 4- Rotunda de São João Del Rei, com edifício e telhado em forma diagonal, vãos em arco pleno, paredes em alvenaria de tijolos, cuja
recuperação realizada pela Rede Ferroviária, procurou manter os elementos construtivos originais, como o “girador de locomotivas “, as linhas e valas de
inspeção e alguns pedestais de pedra onde eram apoiadas as colunas de ferro para a sustentação do telhado. Nela acham-se guardados diversas locomotivas e
vagões. 5- Oficinas de manutenção, cujo prédio foi inaugurado em 1822. Possui máquinas centenárias de fabricação inglesa, em perfeito estado de conservação,
que ainda hoje continuam dando assistência na reparação das locomotivas e vagões. 6- O antigo almoxarifado e antigo armazém.

FÁBRICA DE FERRO A Fábrica de Ferro Patriótica foi fundada pelo Barão de Eschwege, tendo sido construída em terreno de propriedade do Barão de Paraopeba, que mais tarde
PATRIÓTICA: viria a ser seu sócio. Os trabalhos de construção tiveram início em fins de 1811 e, a 12 de dezembro de 1812, deu-se a primeira corrida de ferro no Brasil, o
RUÍNAS que confere à Fábrica Patriótica de São Julião um papel fundamental na história da siderurgia no Brasil. O Barão de Eschwege, fundador da fábrica de ferro e
um dos pioneiros da indústria em nosso país, era alemão de origem, engenheiro e naturalista, chegou ao Brasil por ocasião da viagem da Família Real, em 1808,
sendo aqui nomeado Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros de Vila Rica, Intendente das Minas de Ouro e Curador do Real Gabinete de Mineralogia.
Conforme o projeto da fábrica, foram instalados quatro fornos, duas forjas de ferro, um malho, bem como um engenho de socar, instalados num único edifício.
O malho, com os respectivos cabos, bigornas e aspas, foi importado da Inglaterra pelo governo brasileiro e doado à fábrica, tendo sido o primeiro no Brasil
que, movido a força hidráulica começou a forjar o primeiro ferro, produto dos fornos desta primeira fábrica. Alguns anos depois construiu-se, em nível inferior,
um telheiro para o malho e as duas forjas. De acordo com o plano primitivo, o malho foi disposto entre as forjas, o que permitiu a instalação, no mesmo prédio,
de quatro outros pequenos fornos de fundição, possibilitando o uso alternado dos fornos. A fábrica encerrou suas atividades provavelmente em 1822, após a
partida de von Eschewege para a Europa, em razão de divergências entre os principais acionistas da empresa. O plano do barão era de antecipar a fabricação
da grande usina do Morro do Pilar, assim como a de Ipanema e de ser, assim, a primeira fábrica de produzir ferro industrialmente no Brasil.
MATO CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
0
GROSSO DO BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos
0
1
SUL BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros)
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura
2
0
4 BENS BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
PATR.INDUSTRIAL: 00 BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 1
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 4

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Conjunto urbano Corumbá Corumbá, MS: conjunto histórico, arquitetônico e paisagístico 28.09.1993 28.09.1993 28.09.1993
2 Edificação Corumbá Forte Coimbra: conjunto de edificações 31.10.1974 31.10.1974
3 Edificação Corumbá Igreja Matriz de Nossa Senhora da Penha da França e dos Bens Edificados que a 30.09.2008
envolvem
4 Paisagem natural Bonito Grutas do Lago Azul e de Nossa Senhora Aparecida 01.11.1978

MATO CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
0
GROSSO BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos
0
1
5 BENS BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 3
PATR.INDUSTRIAL: 00 BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
Anexo II - bens tombados pelo iphan

TOTAL 5

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Conjunto urbano Cuiabá Cuiabá, MT: conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico 24.03.1993 24.03.1993 24.03.1993
2 Edificação Cáceres Marco do Jaurú 04.10.1978 04.10.1978
3 Edificação Chapada dos Igreja da Sé de Santana 18.01.1957
Guimarães
4 Edificação Cuiabá Igreja de Nossa Senhora do Rosário 04.12.1975 04.12.1975
5 Ruína Vila Bela da Santíssima Vila Bela: ruínas 13.06.1988
Trindade
301
302
PARÁ
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 0
24 BENS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 5
PATR.INDUSTRIAL: 01
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 18
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 1
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 25

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Conjunto urbano Belém Avenida Governador José Malcher e Travessa Rui Barbosa: conjunto arquitetônico 28/03/1985
2 Conjunto urbano Belém Avenida Nazareth: conjunto arquitetônico 28/03/1985
3 Conjunto urbano Belém Praça Frei Caetano Brandão: conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico 28/07/1964
4 Conjunto urbano Belém Ver-o-Peso: conjunto arquitetônico e paisagístico 09/11/1977 09/11/1977 09/11/1977
5 Conjunto urbano Belém Cemitério de Nossa Senhora da Soledade: conjunto paisagístico 23/01/1964
6 Edificação Belém Convento e Igreja de Nossa Senhora das Mercês 03/01/1941
7 Edificação Belém Convento e Igreja de Nossa Senhora do Carmo e Capela da Ordem Terceira 03/01/1941
8 Edificação Gurupá Forte de Santo Antônio 05/07/1963
9 Edificação Belém Forte do Castelo 28/08/1962
10 Edificação Belém Hospital Militar: prédio 17/12/1964
11 Edificação Vigia Igreja da Madre de Deus 14/12/1954
12 Edificação Belém Igreja da Sé 03/01/1941
13 Edificação Belém Igreja de Nossa Senhora do Rosário 23/05/1950 23/05/1950
14 Edificação Belém Igreja de Santana 23/01/1962
15 Edificação Belém Igreja de Santo Alexandre e antigo Colégio dos Jesuítas 03/01/1941
16 Edificação Belém Igreja de São João Batista 03/01/1941
17 Edificação Belém Palacete Azul 07/07/1942 07/07/1942
18 Edificação Belém Palacete Pinho 14/08/1986 14/08/1986
19 Edificação Belém Palácio do Governo 20/08/1974 20/08/1974
20 Edificação Belém Palácio Velho 21/08/1944 21/08/1944
21 Edificação Belém Solar do Barão de Guajará 23/05/1950 23/05/1950
22 Edificação Belém Teatro da Paz 21/06/1963
23 Edificação Belém Engenho do Murucutu: ruínas e Capela de Nossa Senhora da Conceição 08/10/1981
24 Jardins hist. e parques Belém Parque Zoobotânico do Museu Paraense Emílio Goeldi 03/01/1994 03/01/1994
25 Coleções e acervos Belém Col. arqueol. e etnográfica do Museu Paraense Emílio Goeldi 30/05/1940
PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL

VER-O-PESO: O Mercado do Ver-o-Peso, que ficou conhecido como Mercado de Ferro, começou a ser construído em 1899 segundo proposta dos engenheiros Bento
CONJUNTO Miranda e Raymundo Vianna. A estrutura, toda de ferro, foi trazida da Europa, a cobertura principal é em telha tipo "Marselha" e as torres art-noveau possuem
ARQUITETÔNICO E cobertura em escamas de zinco, sistema "Vieille-Montagne". O Mercado de Carne, é conhecido também como Mercado Municipal ou Mercado Bolonha. A
PAISAGÍSTICO edificação foi feita pelo engfenheiro Francisco Bolonha, externamente é de alvenariae com pátio interno com imponente estrutura metálica. É composto de
quatro corpos iguais e autônomos onde se localizam as lojas, separadas por duas vias que se cruzam. Dispõe de um pequeno pavilhão e um mirante circular.
Anexo II - bens tombados pelo iphan

303
304
PARAÍBA
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 0
22 BENS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
PATR.INDUSTRIAL: 01 BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 1
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 19
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 1
TOTAL 22

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Conjunto urbano Areia Areia: Conjunto histórico, urbanístico e paisagístico 07/01/2008
2 Edificação Lucena Capela de Nossa Senhora da Guia 16/05/1949
3 Edificação Santa Rita Capela de Nossa Senhora das Batalhas 15/07/1938
4 Edificação Santa Rita Capela de Nossa Senhora do Socorro 15/07/1938
5 Edificação João Pessoa Capela do Engenho da Graça 30/04/1938
6 Edificação Santa Rita Capela do Engenho Una 11/02/1955
7 Edificação João Pessoa Casa à Praça do Erário 26/04/1971
8 Edificação João Pessoa Casa da Pólvora: ruínas 24/05/1938 24/05/1938
9 Edificação Pilar Casa de Câmara e Cadeia 31/07/1941 31/07/1941
10 Edificação João Pessoa Convento e Igreja de Santo Antônio e Casa de Oração e claustro da Ordem Terceira de 16/10/1952
São Francisco
11 Edificação João Pessoa Fábrica de Vinho Tito Silva 02/08/1984
12 Edificação Sousa Fazenda Acauã: casa, capela e sobrado 27/04/1967
13 Edificação João Pessoa Fonte do Tambiá 26/09/1941
14 Edificação Cabedelo Fortaleza de Santa Catarina 24/05/1938 24/05/1938
15 Edificação Cabedelo Forte Velho: ruínas 09/08/1938
16 Edificação João Pessoa Igreja da Misericórdia 25/04/1938
17 Edificação João Pessoa Igreja da Ordem Terceira de São Francisco 05/05/1938 05/05/1938
18 Edificação João Pessoa Igreja da Ordem Terceira do Carmo 22/07/1938
19 Edificação João Pessoa Igreja de São Bento 10/01/1957
20 Edificação João Pessoa Sobrado à Rua Peregrino de Carvalho, 117 21/06/1938
21 Ruína João Pessoa Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes: ruínas 12/08/1938
22 Sítio arqueológico tombado Ingá Inscrições pré-históricas do Rio Ingá 29/05/1944 29/05/1944
PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL

FÁBRICA DE VINHO A fábrica foi fundada em 1892, por Tito Henrique da Silva. Na década de 30 passou por processo de modernização, funcionando normalmente até o início
TITO SILVA da década de 80, quando seu patrimônio foi leiloado para pagar dívidas junto ao Governo. Seu tombamento representou uma inovação nessa área, pois não
só o monumento, a maquinaria e o equipamento foram preservados, como também a técnica industrial. O prédio se constitui por três blocos independentes,
interligados por pátios internos. A empresa possui entre outros objetos raros, 20 tonéis de madeira de lei de 1892, prensas manuais e uma máquina de rotular
alemã de 1930
Anexo II - bens tombados pelo iphan

305
306
PERNAMBUCO
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 1
82 BENS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 1
PATR.INDUSTRIAL: 01 BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 4
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 73
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 1
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 2
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 82

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados Recife Marco divisório da Capitania de Itamaracá 20/04/1938
2 Coleções e acervos Recife Museu do Estado de Pernambuco: acervo 20/04/1938
3 Conjunto urbano Igarassu Igarassu, PE: conjunto arquitetônico e paisagístico 10/10/1972
4 Conjunto urbano Olinda Olinda, PE: conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico 19/04/1968 19/04/1968 19/04/1968
5 Conjunto urbano Recife Igreja de São Pedro dos Clérigos e Pátio de São Pedro: conjunto arquitetônico 20/07/1938
6 Conjunto urbano Recife Recife, PE: conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico 15/12/1998 15/12/1998
7 Edificação Recife Capela de Nossa Senhora da Conceição 01/07/1987 01/07/1987
8 Edificação Recife Capela de Nossa Senhora da Conceição 07/07/1938
9 Edificação Igarassu Capela de Nossa Senhora do Livramento 25/05/1951 25/05/1951
10 Edificação Goiana Capela de Santo Antônio 25/10/1938
11 Edificação Nazaré da Mata Capela de São Francisco Xavier 17/06/1949
12 Edificação Olinda Capela de São Pedro Advíncula 16/03/1966
13 Edificação Igarassu Capela de São Sebastião 25/05/1951 25/05/1951
14 Edificação Recife Capela Dourada, claustro e Igreja da Ordem Terceira de São Francisco 14/03/1938
15 Edificação Olinda Casa com muxarabi à Praça João Alfredo, 7 27/04/1939
16 Edificação Olinda Casa com muxarabi à Rua do Amparo, 28 27/04/1939
17 Edificação Recife Casa de Gilberto Freyre 21/11/1988 21/11/1988
18 Edificação Olinda Casa do Aljube 16/03/1966
19 Edificação Recife Casa natal de Joaquim Nabuco 23/08/1949
20 Edificação Recife Casa natal de Oliveira Lima 23/01/1968
21 Edificação Recife Casa Paroquial da Igreja de Santo Antônio 28/04/1980 28/04/1980
22 Edificação Cabo de S.Agostinho Convento Carmelita: ruínas e Igreja de Nossa Senhora de Nazaré 06/07/1961
23 Edificação Sirinhaém Convento de Santo Antônio 08/07/1940 08/07/1940
24 Edificação Goiana Convento e Igreja de Nossa Senhora da Soledade 25/10/1938
25 Edificação Olinda Convento e Igreja de Nossa Senhora do Carmo 05/10/1938 05/10/1938
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
26 Edificação Goiana Convento e Igreja de Santo Alberto de Sicília e cruzeiro 05/10/1938 05/10/1938
27 Edificação Igarassu Convento e Igreja de Santo Antônio 17/05/1938
28 Edificação Ipojuca Convento e Igreja de Santo Antônio 21/03/1938
29 Edificação Recife Convento e Igreja de Santo Antônio 20/07/1938
30 Edificação Olinda Convento e Igreja de S.Francisco: capela, casa de oração e claustro dos Terceiros 22/07/1938
Franciscanos
31 Edificação Recife Convento e Igreja do Carmo do Recife e Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Santa 05/10/1938 05/10/1938
Teresa
32 Edificação Vicência Engenho Poço Comprido: casa grande e capela 21/05/1962
33 Edificação Surubim Fazenda Cachoeira do Taepe: casa grande 27/02/1981
34 Edificação Recife Forte das Cinco Pontas 24/05/1938 24/05/1938
35 Edificação Fernando de Noronha Forte de Nossa Senhora dos Remédios 21/08/1961
36 Edificação Olinda Forte de São Francisco 29/05/1984
37 Edificação Recife Forte do Brum 24/05/1938 24/05/1938
38 Edificação Paulista Forte do Pau Amarelo 24/05/1938 24/05/1938
39 Edificação Itamaracá Forte Orange 24/05/1938 24/05/1938
40 Edificação Recife Igreja da Madre de Deus 20/07/1938
41 Edificação Olinda Igreja da Misericórdia 05/08/1938
42 Edificação Recife Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo 30/05/1938
43 Edificação Goiana Igreja da Ordem Terceira do Carmo 25/10/1938
44 Edificação Recife Igreja de Nossa Senhora da Boa Vista 01/08/1938
45 Edificação Goiana Igreja de Nossa Senhora da Conceição 25/10/1938
46 Edificação Recife Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Militares 28/03/1938
47 Edificação Olinda Igreja de Nossa Senhora da Graça e Seminário de Olinda 17/05/1938
48 Edificação Goiana Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia 25/10/1938
49 Edificação Jaboatão dos Igreja de Nossa Senhora da Piedade 04/08/1952
Guararapes
50 Edificação Recife Igreja de Nossa Senhora das Fronteiras 11/11/1949
Anexo II - bens tombados pelo iphan

51 Edificação Goiana Igreja de Nossa Senhora do Amparo 25/10/1938


52 Edificação Olinda Igreja de Nossa Senhora do Monte 16/07/1938 16/07/1938
53 Edificação Recife Igreja de Nossa Senhora do Pilar 25/08/1965 25/08/1965
54 Edificação Goiana Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos 25/10/1938
55 Edificação Recife Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos 08/07/1965
56 Edificação Recife Igreja de Nossa Senhora do Terço 30/12/1975 30/12/1975
57 Edificação Jaboatão dos Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres 16/03/1938
Guararapes
58 Edificação Fernando de Noronha Igreja de Nossa Senhora dos Remédios 29/01/1981
59 Edificação Olinda Igreja de Santa Teresa 05/08/1938
60 Edificação Recife Igreja de São Gonçalo 15/07/1938
307
308
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


61 Edificação Recife Igreja de São José do Ribamar 08/04/1980 08/04/1980
62 Edificação Recife Igreja do Bom Jesus dos Martírios 31/08/1971
63 Edificação Recife Igreja do Divino Espírito Santo 07/12/1972
64 Edificação Igarassu Igreja do Sagrado Coração de Jesus 25/05/1951 25/05/1951
65 Edificação Olinda Igreja e Mosteiro de São Bento 16/07/1938 16/07/1938
66 Edificação Goiana Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário 25/10/1938
67 Edificação Recife Igreja Matriz de Santo Antônio 13/08/1938
68 Edificação Igarassu Igreja Matriz de São Cosme e São Damião 25/05/1951 25/05/1951
69 Edificação Recife Mercado de São José 17/12/1973 17/12/1973
70 Edificação Paudalho Mosteirinho de São Francisco 08/09/1966
71 Edificação Recife Palacete da Benfica 01/07/1987
72 Edificação Recife Palácio da Soledade 18/07/1938
73 Edificação Olinda Palácio Episcopal 17/05/1938
74 Edificação Recife Pavilhão Luís Nunes 26/06/1998
75 Edificação Recife Prédio à Avenida Rui Barbosa, 1596 09/05/1968
76 Edificação Recife Prédio à Praça Adolfo Cirne, s/n 06/08/1980 06/08/1980
77 Edificação Recife Prédio à Rua Aurora 19/07/1984
78 Edificação Recife Sobrado grande da Madalena 27/11/1966
79 Edificação Recife Teatro Santa Isabel 31/10/1949
80 Jardins hist. e parques Jaboatão dos Parque Histórico Nacional dos Guararapes 30/10/1961
Guararapes
81 Ruína Recife Arraial novo do Bom Jesus 08/04/1980
82 Ruína Recife Sítio da Trindade: conjunto paisagístico 17/06/1974

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
ENGENHO POÇO O Engenho Poço Comprido foi construído em meados do século XVIII, destacando-se entre os 71 engenhos existente no Vale do Siriji até o século XIX.
COMPRIDO: CASA O engenho Poço comprindo, assim como os outros engenhos do Vale evoluíram , primeiro moviedos á tração animal, ou em alguns caos com roda d’água,
GRANDE E CAPELA depois por máquina a vapor, até ficarem de fogo morto, passando apenas a fornecediores de cana para as usinas. As atividades açucareiras do Engenho
Poço Comprido foram perdendo força a partir do final do século XIX e início do século XX, encerrando as atividades produtivas por volta da década de
1960, quando foram introduzidas novas tecnologias. utilizando as terras somente para o fornecimento da cana-de-açucar, para a usinas que encamparam a
produção de açucar e alcool na Zona da Mata Norte de Pernambuco. Fato peculiar ao Engenho de Poço Comprido, que o distingue de todos os outros
ainda existentes, contemporâneos ou não, é o fato da casa grande e da capaela formarem um só corpo, interligadas entre si por uma passarela que comunica
o pavimento superior da casa com a galeria lateral superiro esquerda da capela.
PIAUÍ CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
0
7 BENS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 0
PATR.INDUSTRIAL: 00
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 5
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 1
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 1
TOTAL 7

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Edificação Campo Maior Cemitério do Batalhão 30/11/1938 30/11/1938
2 Edificação Teresina Igreja de São Benedito 27/12/1938 27/12/1938
3 Edificação Oeiras Igreja Matriz de Nossa Senhora das Vitórias 15/08/1940 15/08/1940
4 Edificação Piracuruca Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo 15/08/1940 15/08/1940
5 Edificação Oeiras Sobrado Nepomuceno 14/01/1939 14/01/1939
6 Equip.urb.e infra-estrut. Oeiras Ponte Grande 14/01/1939 14/01/1939
7 Sítio arqueológico tombado São Raimundo Nonato Parque Nacional da Serra da Capivara 28/09/1993
Anexo II - bens tombados pelo iphan

309
310
PARANÁ
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 0
15 BENS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
PATR.INDUSTRIAL: 01 BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 1
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 12
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 2
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 15

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Conjunto urbano Lapa Conjunto arquitetônico e paisagístico 14/08/1998 14/08/1998 14/08/1998
2 Edificação Lapa Casa à Rua Francisco Cunha 20/04/1938
3 Edificação Lapa Casa de Câmara e Cadeia 14/05/1940
4 Edificação Lapa Casa do Coronel Joaquim Lacerda 01/04/1938
5 Edificação Paranaguá Colégio dos Jesuítas 24/05/1938 24/05/1938
6 Edificação Campo Largo Engenho do Mate 24/04/1985 24/04/1985
7 Edificação Paranaguá Fortaleza de Nossa Senhora dos Prazeres 24/05/1938 24/05/1938
8 Edificação Paranaguá Igreja da Ordem Terceira de São Francisco das Chagas 27/02/1967
9 Edificação Paranaguá Igreja de São Benedito 03/08/1967
10 Edificação Lapa Igreja Matriz da Lapa 01/04/1938
11 Edificação Guaratuba Igreja Matriz de Guaratuba 01/04/1938
12 Edificação Curitiba Paço Municipal 17/10/1984
13 Edificação Lapa Teatro São João 24/04/1985
14 Coleções e acervos Curitiba Museu Coronel David Carneiro: coleção etnográfica, arqueológica, histórica e artística 08/02/1941 08/02/1941 08/02/1941
arqueológicos
15 Coleções e acervos Curitiba Museu Paranaense: coleção etnográfica, arqueológica, histórica e artística 15/04/1941 15/04/1941 15/04/1941
arqueológicos

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
ENGENHO DO MATE Exemplar de arquitetura rural construído por volta de 1870, é o ultimo remanescente dos inúmeros engenhos de soque de erva mate movidos a
força hidráulica no Paraná. Apresenta planta quadrada e telhado de quatro águas em pavilhão. A técnica construtiva utilizada é a do pau-a-pique sobre
embasamento de alvenaria de pedra. Foi restaurado entre 1980/1981. O tombamento abrange o acervo do museu e o seu terreno.
RIO DE CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
9
JANEIRO BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos
4
13
225 BENS BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 166
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 13
PATR.INDUSTRIAL: 06 BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 6
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 13
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 225

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados Angra dos Reis Imagem de Nossa Senhora do Rosário 11/12/1969
2 Objetos e bens integrados Petrópolis Retábulo e Imagem de Nossa Senhora do Amor Divino 07/07/1970
3 Objetos e bens integrados Rio de Janeiro Fortaleza de São José: portão e frontispício da Capela de São José 07/11/1952
4 Objetos e bens integrados Rio de Janeiro Imagem de Santana / Aleijadinho 16/12/1969
5 Objetos e bens integrados Rio de Janeiro Lápide tumular de Estácio de Sá 20/09/1951
6 Objetos e bens integrados Rio de Janeiro Marco da Fundação da Cidade do Rio de Janeiro 15/07/1938
7 Objetos e bens integrados Rio de Janeiro Pinturas, 02 / [Leandro Joaquim] 11/02/1972
8 Objetos e bens integrados Rio de Janeiro Sabre de honra do General Osório 05/04/1978 05/04/1978
9 Objetos e bens integrados Rio de Janeiro Torah 04/03/1999
10 Coleções e acervos Petrópolis Coleção de armas Sérgio Ferreira da Cunha 10/06/1954
11 Coleções e acervos Rio de Janeiro Partituras de Heitor Villa-Lobos, depositadas no Museu Villa-Lobos, na R. Sorocaba, 200 07/07/2004
12 Coleções e acervos Rio de Janeiro Acervo do Museu de Imagens do Inconsciente 04/02/2005 02/02/2005
13 Coleções e acervos Rio de Janeiro Museu de Magia Negra: acervo 05/05/1938
14 Conjunto urbano Petrópolis Avenida Koeler: conjunto urbano-paisagístico 08/06/1964
Anexo II - bens tombados pelo iphan

15 Conjunto urbano Cabo Frio Cabo Frio, RJ: conjunto paisagístico 27/04/1967
16 Conjunto urbano Rio de Janeiro Conjunto residencial Parque Guinle 16/04/1986
17 Conjunto urbano Rio de Janeiro Jardim e Morro do Valongo: conjunto arquitetônico e paisagístico 30/06/1938 30/06/1938
18 Conjunto urbano Angra dos Reis Mambucaba: conjunto arquitetônico e paisagístico 11/12/1969
19 Conjunto urbano Rio de Janeiro Palácio do Catete, parque e Rua do Catete: conjunto arquitetônico 06/04/1938 06/04/1938
20 Conjunto urbano Parati Parati, RJ: conjunto arquitetônico e paisagístico da Cidade 13/02/1958 13/02/1958
21 Conjunto urbano Parati Parati, RJ: conjunto arquitetônico e paisagístico do Município 01/03/1974 01/03/1974
22 Conjunto urbano Nova Friburgo Praça Getúlio Vargas: conjunto arquitetônico e paisagístico 04/07/1972
23 Conjunto urbano Rio de Janeiro Praça Quinze de Novembro 14/03/1990 14/03/1990 14/03/1990
24 Conjunto urbano Vassouras Vassouras, RJ: conjunto paisagístico e urbanístico 26/06/1958
25 Conjunto urbano Rio de Janeiro Quinta da Boa Vista 30/06/1938 30/06/1938
26 Conjunto urbano Niterói Ilha da Boa Viagem: conjunto arquitetônico e paisagístico 30/05/1938 02/12/1940 30/05/1938
311
312
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


27 Edificação Magé Trecho ferroviário Mauá-Fragoso 07/05/1954
28 Edificação Rio de Janeiro Marco da Fazenda Real de Santa Cruz 05/04/1938 05/04/1938
29 Edificação Rio de Janeiro Alfândega: prédio 24/05/1938 24/05/1938
30 Edificação Rio de Janeiro Arco do Teles 30/06/1938 30/06/1938
31 Edificação Rio de Janeiro Arco e oratório de Nossa Senhora da Boa Esperança 17/03/1960
32 Edificação Rio de Janeiro Asilo São Cornélio: prédio 15/07/1938
33 Edificação Rio de Janeiro Associação Brasileira de Imprensa: prédio 29/05/1984
34 Edificação Rio de Janeiro Avenida Modelo: conjunto de habitação coletiva 30/09/1985
35 Edificação Rio de Janeiro Base aérea de Santa Cruz: hangar de zepelins 03/12/1998
36 Edificação Rio de Janeiro Biblioteca Nacional: prédio 24/05/1973
37 Edificação Rio de Janeiro Caixa de Amortização: prédio 24/05/1973
38 Edificação Rio de Janeiro Capela de Nossa Senhora da Cabeça 13/08/1965
39 Edificação Cabo Frio Capela de Nossa Senhora da Guia 15/01/1957
40 Edificação Campos dos Capela de Nossa Senhora do Rosário do Engenho 16/04/1942
Goytacazes
41 Edificação Angra dos Reis Capela do Senhor do Bonfim 01/12/1954
42 Edificação Niterói Capela e Cemitério de Maruí 23/08/1938 12/01/1948
43 Edificação Niterói Casa à Avenida Quintino Bocaiúva, 145 11/04/1962
44 Edificação Rio de Janeiro Casa à Praça Quinze de Novembro, 32 15/07/1938 15/07/1938
45 Edificação Rio de Janeiro Casa à Praça Quinze de Novembro, 34 10/08/1938 10/08/1938
46 Edificação Rio de Janeiro Casa à Rua da Quitanda, 61 29/06/1972
47 Edificação Rio de Janeiro Casa à Rua das Palmeiras, 35 27/02/1967
48 Edificação Rio de Janeiro Casa à Rua das Palmeiras, 55 27/02/1967
49 Edificação Rio de Janeiro Casa à Rua do Russel, 734 04/06/1970 09/06/1970
50 Edificação Rio de Janeiro Casa à Rua Mayrink Veiga, 9 29/06/1972
51 Edificação Rio de Janeiro Casa à Rua Sorocaba, 200 (Sede do Museu Villa-Lobos) 27/02/1967
52 Edificação Vassouras Casa da Hera e acervo móvel 21/05/1952
53 Edificação Rio de Janeiro Casa da Marquesa dos Santos 30/03/1938
54 Edificação Rio de Janeiro Casa da Moeda: prédio 24/05/1938 24/05/1938
55 Edificação Niterói Casa de Antônio Parreiras 27/04/1967
56 Edificação Rio de Janeiro Casa de Banhos de D. João VI 20/04/1938 20/04/1938
57 Edificação Rio de Janeiro Casa de Benjamin Constant 02/04/1958
58 Edificação São João da Barra Casa de Câmara e Cadeia 27/04/1967
59 Edificação Petrópolis Casa de Carlos Oswald 01/07/1987
60 Edificação Rio de Janeiro Casa de José Bonifácio 13/04/1938
61 Edificação Rio de Janeiro Casa de Rui Barbosa 11/05/1938 11/05/1938
62 Edificação Petrópolis Casa de Santos Dumont 14/07/1952
63 Edificação Rio de Janeiro Casa do Bispo 15/07/1938 15/07/1938
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
64 Edificação Rio de Janeiro Casa do General Osório 14/02/1949
65 Edificação Rio de Janeiro Casa do Marechal Deodoro da Fonseca 04/06/1958
66 Edificação Petrópolis Casa do Padre Correia 30/04/1940
67 Edificação Itaboraí Casa do Visconde de Itaboraí 23/04/1964
68 Edificação Nova Friburgo Casa e Parque da Cidade 28/11/1957
69 Edificação Rio de Janeiro Casa na Ladeira do Morro do Valongo, 21 15/07/1938 15/07/1938
70 Edificação Casimiro de Abreu Casa natal de Casimiro de Abreu 13/03/1963
71 Edificação Rio de Janeiro Casa natal do Barão do Rio Branco 30/06/1938 30/06/1938
72 Edificação Rio de Janeiro Colégio Militar do Rio de Janeiro: pavilhão de comando 29/12/2000
73 Edificação Rio de Janeiro Colégio Pedro II: prédio 19/05/1983 19/05/1983
74 Edificação Rio de Janeiro Companhia Docas de Santos 28/07/1978 28/07/1978
75 Edificação Angra dos Reis Convento de São Bernardino de Sena: ruínas e Capela dos Terceiros 23/07/1947
76 Edificação Itaboraí Convento de São Boaventura: ruínas 28/04/1980 28/04/1980
77 Edificação Rio de Janeiro Convento do Carmo 31/07/1964
78 Edificação Angra dos Reis Convento e Igreja de Nossa Senhora do Carmo 28/11/1944
79 Edificação Cabo Frio Conv. e Igreja de N.S.dos Anjos, Capela e Cemitério da Ordem Terceira de São Francisco 17/01/1957
80 Edificação Rio de Janeiro Convento e Igreja de Santa Teresa 18/06/1938 18/06/1938
81 Edificação Rio de Janeiro Convento e Igreja de Santo Antônio 16/05/1938 16/05/1938
82 Edificação Rio de Janeiro Copacabana Palace Hotel: prédio 14/08/1986 14/08/1986
83 Edificação Rio de Janeiro Escola de Enfermagem Ana Neri: pavilhão de aulas 14/08/1986
84 Edificação Rio de Janeiro Escola Nacional de Engenharia: prédio 11/04/1962
85 Edificação Rio de Janeiro Estação de Hidroaviões 29/01/1957
86 Edificação Com. Levy Gasparian Estação Rodoviária de Paraibuna 21/06/1967
87 Edificação Rio de Janeiro Estádio Maracanã 26/12/2000
88 Edificação Rio de Janeiro Fazenda da Taquara: casa e Capela de Nossa Senhora dos Remédios 30/07/1938 30/07/1938
89 Edificação Parati Fazenda de Nossa Senhora da Conceição: casa 20/10/1967
Anexo II - bens tombados pelo iphan

90 Edificação Rio de Janeiro Fazenda do Capão do Bispo: casa 30/08/1947


91 Edificação São Gonçalo Fazenda do Colubandê: casa e Capela de Santana 23/03/1940
92 Edificação Rio de Janeiro Fazenda do Engenho d' Água: casa 30/07/1938 30/07/1938
93 Edificação Rio de Janeiro Fazenda do Viegas: casa 14/06/1938
94 Edificação Petrópolis Fazenda Samambaia: casa 29/03/1951
95 Edificação Vassouras Fazenda Santa Eufrásia: casa, bosque e parque 22/01/1970 23/01/1970
96 Edificação Valença Fazenda Santa Mônica: casa 17/12/1973
97 Edificação Petrópolis Fazenda Santo Antônio: casa 12/04/1951
98 Edificação Duque de Caxias Fazenda São Bento: casa grande e capela 10/07/1957
99 Edificação Nova Iguaçu Fazenda São Bernardino: casa 26/02/1951
313
314
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


100 Edificação Angra dos Reis Fazenda, Ilhota Morcego e casa 23/07/1942
101 Edificação Rio de Janeiro Fortaleza da Conceição 24/05/1938 24/05/1938
102 Edificação Niterói Fortaleza de Santa Cruz 04/10/1939 04/10/1939
103 Edificação Rio de Janeiro Fortaleza de São João: portão 24/05/1938 24/05/1938
104 Edificação Rio de Janeiro Fortaleza de São José: portão e fronstispício da Capela de São José 10/02/1955
105 Edificação Niterói Forte de Gragoatá 24/05/1938 24/05/1938
106 Edificação Cabo Frio Forte de São Matheus: remanescentes 05/10/1956
107 Edificação Parati Forte Defensor Perpétuo 09/01/1957
108 Edificação Rio de Janeiro Fortim de Caetano Madeira 20/04/1938
110 Edificação Rio de Janeiro Hospital da Santa Casa de Misericórdia: prédio 15/07/1938
111 Edificação Rio de Janeiro Hospital São Francisco de Assis: prédio 23/06/1983 25/06/1983
112 Edificação Nova Friburgo Hotel do Parque São Clemente 30/09/1985
113 Edificação Rio de Janeiro Igreja da Candelária 14/04/1938 14/04/1938
114 Edificação Rio de Janeiro Igreja da Lapa do Desterro 17/05/1938 17/05/1938
115 Edificação Rio de Janeiro Igreja da Mãe dos Homens 15/07/1938 15/07/1938
116 Edificação Angra dos Reis Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo 09/08/1950
117 Edificação Rio de Janeiro Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo 20/04/1938 20/04/1938
118 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Nossa Senhora da Ajuda 26/07/1938 26/07/1938
119 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Nossa Senhora da Conceição e Boa Morte 05/05/1938 05/05/1938
120 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro 04/05/1938 04/05/1938
121 Edificação Angra dos Reis Igreja de Nossa Senhora da Lapa da Boa Morte 01/12/1954
122 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores 20/04/1938 20/04/1938
123 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Nossa Senhora da Pena 06/08/1938 06/08/1938
124 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Nossa Senhora da Saúde 02/08/1938 02/08/1938
125 Edificação Parati Igreja de Nossa Senhora das Dores 13/02/1962
126 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso 15/07/1938
127 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Nossa Senhora do Carmo 16/01/1942 16/01/1942
128 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Nossa Senhora do Desterro 21/07/1938 21/07/1938
129 Edificação Parati Igreja de Nossa Senhora do Rosário 13/02/1962
130 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Santa Cruz dos Militares 22/07/1938 22/07/1938
131 Edificação Angra dos Reis Igreja de Santa Luzia 01/12/1954
132 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Santa Luzia 16/07/1938
133 Edificação Parati Igreja de Santa Rita 13/02/1962
134 Edificação Rio de Janeiro Igreja de Santa Rita 15/07/1938 15/07/1938
135 Edificação Rio Bonito Igreja de Santana do Basílio 18/03/1970
136 Edificação Rio de Janeiro Igreja de São Francisco da Penitência, Cemitério e Museu de Arte Sacra: acervo 08/07/1938 08/07/1938
137 Edificação Rio de Janeiro Igreja de São Francisco da Prainha 08/07/1938 08/07/1938
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
138 Edificação Rio de Janeiro Igreja de São Francisco de Paula 01/04/1938 01/04/1938
139 Edificação Rio de Janeiro Igreja de São José 15/07/1938 15/07/1938
140 Edificação Niterói Igreja de São Lourenço dos Índios 23/08/1938 12/10/1948
141 Edificação S,Pedro da Aldeia Igreja de São Pedro da Aldeia e casa anexa 12/08/1938 12/08/1938
142 Edificação Rio de Janeiro Igreja do Bom Jesus 03/07/1964
143 Edificação Rio de Janeiro Igreja do Rosário e São Benedito 07/04/1938 07/04/1938
144 Edificação Rio de Janeiro Igreja do Santíssimo Sacramento da Antiga Sé 22/07/1938 22/07/1938
145 Edificação Rio de Janeiro Igreja Matriz de Guaratiba 12/11/1938 12/11/1938
146 Edificação Angra dos Reis Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 01/12/1954
147 Edificação Paty do Alferes Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição 17/10/1973
148 Edificação Mangaratiba Igreja Matriz de Nossa Senhora da Guia 03/08/1967
149 Edificação Carmo Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo 23/01/1964
150 Edificação Duque de Caxias Igreja Matriz de Nossa Senhora do Pilar 25/05/1938
151 Edificação Parati Igreja Matriz de Nossa Senhora dos Remédios 13/02/1962
152 Edificação Niterói Igreja Matriz de São Francisco Xavier 20/05/1938
153 Edificação Itaboraí Igreja Matriz de São João Batista 18/03/1970
154 Edificação Rio de Janeiro Monumento a Dom Pedro I 04/03/1999 04/03/1999
155 Edificação Rio de Janeiro Mosteiro e Igreja de São Bento 15/07/1938 15/07/1938
156 Edificação Rio de Janeiro Museu Nacional de Belas Artes: prédio 24/05/1973
157 Edificação Rio de Janeiro Museu Nacional: prédio 11/05/1938 11/05/1938
158 Edificação Rio de Janeiro Paço Imperial 06/04/1938
159 Edificação Petrópolis Palácio da Princesa Isabel 13/09/1939 13/09/1939
160 Edificação Rio de Janeiro Palácio das Laranjeiras 24/05/1983
161 Edificação Petrópolis Palácio de Cristal e Praça da Confluência 21/06/1967 21/06/1967
162 Edificação Rio de Janeiro Palácio Episcopal 24/05/1938 24/05/1938
163 Edificação Rio de Janeiro Palácio Guanabara 06/04/1938 06/04/1938
Anexo II - bens tombados pelo iphan

164 Edificação Petrópolis Palácio Imperial de Petrópolis, parque e Quartel dos Semanários 15/06/1938 23/09/1954
165 Edificação Rio de Janeiro Palácio Itamarati 20/07/1938 20/07/1938
166 Edificação Rio de Janeiro Palácio Tiradentes 17/06/1993 10/03/1993
167 Edificação Rio de Janeiro Prédio à Avenida Marechal Floriano, 168, bloco I 13/06/1988 13/06/1988
168 Edificação Rio de Janeiro Prédio à Avenida Pasteur, 250 11/07/1972
169 Edificação Rio de Janeiro Prédio à Rua dos Inválidos, 193-203 20/04/1938 20/04/1938
170 Edificação Rio de Janeiro Prédio do MEC 18/03/1948
171 Edificação Niterói Recolhimento de Santa Teresa: remanescentes 08/01/1955
172 Edificação Rio de Janeiro Rua Gonçalves Ledo: conjunto urbano 28/04/1980
173 Edificação Angra dos Reis Sobrado à Praça General Osório, 19 03/11/1970
174 Edificação Angra dos Reis Sobrado à Praça General Osório, 3 a 13 17/12/1969
315
316
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


175 Edificação Angra dos Reis Sobrado à Praça General Osório, 35 17/12/1969
176 Edificação Angra dos Reis Sobrado à Praça General Osório, s/n 17/12/1969
177 Edificação Campos dos Solar da Baronesa de Muriaé 19/07/1974 19/07/1974
Goytacazes
178 Edificação Campos dos Solar de Santo Antônio 24/07/1946 24/07/1946
Goytacazes
179 Edificação Rio de Janeiro Solar del Rei 05/05/1938
180 Edificação Niterói Solar do Jambeiro 25/04/1974 25/04/1974
181 Edificação Campos dos Solar do Visconde 21/09/1943
Goytacazes
182 Edificação Rio de Janeiro Solar do Visconde do Rio Seco 26/06/1998
183 Edificação Campos dos Solar dos Airizes 19/02/1940
Goytacazes
184 Edificação Campos dos Solar e Capela do Engenho do Colégio e capela 24/07/1946 24/07/1946
Goytacazes
185 Edificação Rio de Janeiro Solar Grandjean de Montigny e jardim 10/08/1938
186 Edificação Rio de Janeiro Teatro Municipal: prédio 24/05/1973
187 Edificação Rio de Janeiro Observatório Nacional: conjunto arquitetônico e paisagístico 14/08/1986 14/08/1986
188 Edificação (2) Rio de Janeiro Museu do Açude; Chácara do Céu e acervos históricos e artísticos 23/09/1974 23/09/1974 23/09/1974
189 Edificação Rio de Janeiro Palácio de Manguinhos 29/01/1981 29/01/1981
190 Edificação Rio de Janeiro Estação Dom Pedro II, também denominada Central do Brasil 07/01/2008 07/01/2008
191 Edificação Rio de Janeiro Antiga Sede do Ministério da Fazenda 07/01/2008 07/01/2008
192 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Chafariz da Praça Mahatma Gandhi 21/02/1990
193 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Aqueduto da Colônia de Psicopatas 11/05/1938 11/05/1938
194 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Arcos da Lapa 05/04/1938 05/04/1938
195 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Bebedouro da Estrada Velha da Tijuca 11/05/1938 11/05/1938
196 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Bica da Rainha 11/05/1938 11/05/1938
197 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Chafariz à Rua do Riachuelo 11/05/1938 11/05/1938
198 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Chafariz da Glória 11/05/1938 11/05/1938
199 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Chafariz das Saracuras 30/06/1938 30/06/1938
200 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Chafariz de Grandjean de Montigny 11/05/1938 11/05/1938
201 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Chafariz de Paulo Fernandes 11/05/1938 11/05/1938
202 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Chafariz do Lagarto 11/05/1938 11/05/1938
203 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Chafariz do Mestre Valentim 11/05/1938 11/05/1938
204 Equip.urb.e infra-estrut. Rio de Janeiro Ponte dos Jesuítas 05/04/1938 05/04/1938
205 Jardins hist. e parques Rio de Janeiro Aterro do Flamengo 28/07/1965
206 Jardins hist. e parques Rio de Janeiro Passeio Público: chafariz dos Jacarés, obeliscos e portão do Mestre Valentim 30/06/1938 30/06/1938
207 Jardins hist. e parques Rio de Janeiro Horto Florestal: conjunto arquitetônico 17/12/1973
208 Jardins hist. e parques Rio de Janeiro Jardim Botânico 30/05/1938
209 Jardins hist. e parques Rio de Janeiro Sítio Roberto Burle Marx e sua coleção museológica e bibliográfica 04/08/2003 04/08/2003
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
210 Jardins hist. e parques Rio de Janeiro Parque Lage: conjunto paisagístico 14/06/1957
211 Paisagem natural Rio de Janeiro Corcovado 08/08/1973
212 Paisagem natural Rio de Janeiro Lagoa Rodrigo de Freitas: conjunto paisagístico 19/06/2000
213 Paisagem natural Rio de Janeiro Morro Cara de Cão 08/08/1973
214 Paisagem natural Rio de Janeiro Morro da Babilônia 08/08/1973
215 Paisagem natural Rio de Janeiro Morro da Urca 08/08/1973
216 Paisagem natural Rio de Janeiro Morro Dois Irmãos 08/08/1973
217 Paisagem natural Rio de Janeiro Morros da Cidade do Rio de Janeiro 30/06/1938 30/06/1938
218 Paisagem natural Rio de Janeiro Pão de Açúcar 08/08/1973
219 Paisagem natural Rio de Janeiro Pedra da Gávea 08/08/1973
220 Paisagem natural Rio de Janeiro Praias de Paquetá 30/06/1938 30/06/1938
221 Paisagem natural Guapimirim Dedo de Deus 06/07/2004
222 Paisagem natural Rio de Janeiro Parque Nacional da Tijuca e floresta 27/04/1967
223 Paisagem natural Rio de Janeiro Estátua do Cristo Redentor, no Morro do Corcovado 30/09/2008
224 Coleções e acervos Rio de Janeiro Col. arqueol. Balbino de Freitas: conchais do litoral sul 14/04/1948
arqueológicos
225 Edificação, Coleção Rio de Janeiro Prédios do Museu Histórico Nacional e Coleção que ali abrigam, com exclusão da
Coleção Bibliográfica (1)
(1) O MINISTRO DE ESTADO DA CULTURA, no uso das atribuições que lhe confere a Lei nº 6.292, de 15 de dezembro de 1975, e tendo em vista as manifestações do Conselho Consultivo do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, em sua 28ª reunião, realizada em 19 de abril de 2001, resolve:
PORTARIA Nº 378 de 08/07/2002- Homologar para efeitos do Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, o tombamento dos Prédios do Museu Histórico Nacional e Coleção que ali se abrigam, com exclusão
da Coleção Bibliográfica, no Rio de Janeiro, RJ, de acordo com o processo nº 1.392-T-97. Publicado no Diário Oficial da União em 10/07/2002, seção 1, p.14.

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
TRECHO FERROVIÁRIO O trecho ferroviário foi declarado Monumento Histórico Nacional pelo Decreto nº 35.447-A, de 30 de abril de 1954. Este Decreto foi revogado pelo
MAUÁ-FRAGOSO Decreto nº 67.592, de 17/11/70. Este foi o primeiro trecho ferroviário do país (14 Km).
Anexo II - bens tombados pelo iphan

AVENIDA MODELO: Conjunto residencial edificado no último quartel do século XIX. Cortiços, estalagens, avenidas e vilas são as denominações dos diversos tipos de habitação
CONJUNTO DE popular surgidos para suprir a demanda crescente de moradia para trabalhadores livres na capital do país. A Avenida Modelo segue o padrão de casas
HABITAÇÃO COLETIVA térreas em seqüência, estruturadas ao longo de uma servidão, com entrada pelo logradouro público, junto ao sobrado do proprietário.
BASE AÉREA DE SANTA O tombamento inclui as pontes rolantes, os elevadores, as escadas de acesso, o motor, o mecanismo de abertura das portas principal e secundária, e a
CRUZ: HANGAR DE estação de passageiros anexa.
ZEPELINS (RIO DE
JANEIRO, RJ)
PALÁCIO DE CRISTAL Em 1884, com o fim de abrigar melhor as exposições hortícolas, foi importado e montado um pavilhão, o Palácio de Cristal. O Palácio de Cristal foi
E PRAÇA DA construído nas oficinas de St. Sauver-les-Arras, na França, por encomenda do Conde D’Eu, então Presidente da “Sociedade Agrícola de Petrópolis”. Sua
CONFLUÊNCIA finalidade seria a de servir como pavilhão para as exposições de flores e produtos agrícolas que aquela Sociedade já vinha promovendo desde 1875. Em
1879, mais precisamente no dia 2 de fevereiro, sua pedra fundamental foi lançada, cabendo ao Engenheiro Eduardo Bonjean a tarefa de acompanhar a
montagem do Palácio de Cristal na Praça Koblenz (ou Praça da Confluência), em Petrópolis. Sua inauguração foi realizada no dia 2 de fevereiro de 1884, com
um grandioso baile, que contou, inclusive, com a presença maciça de toda a Corte Imperial brasileira. Em Exemplo típico de arquitetura dita “das grandes
exposições”, surgidas com a Revolução Industrial, no século passado, o Palácio de Cristal consiste em pré-moldado em estrutura metálica, formando cruz
com braços retangulares nas laterais e em hemiciclo na frente e nos fundos com vãos preenchidos por vidros transparentes (originalmente, consistiam em
cristais “bisotados” importados da Bélgica).
317
318
O Lugar do Patrimônio Industrial

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
ESTAÇÃO DOM Companhia Estrada de Ferro D. Pedro II, foi inaugurada em 29 de março de 1858, com trecho inicial de 47,21 km, da Estação da Corte a Queimados, no
PEDRO II, TAMBÉM Rio de Janeiro. Esta ferrovia se constituiu em uma das mais importantes obras da engenharia ferroviária do País, na ultrapassagem dos 412 metros de altura
DENOMINADA da Serra do Mar, com a realização de colossais cortes, aterros e perfurações de túneis, entre os quais, o Túnel Grande com 2.236 m de extensão, na época,
CENTRAL DO BRASIL o maior do Brasil, aberto em 1864. A Estrada de Ferro D. Pedro II, através do trabalho dinâmico de seus operários e técnicos, transformou-se, mais tarde
(1889) na Estrada de Ferro Central do Brasil, um dos principais eixos de desenvolvimento do país. Na Central do Brasil, foi tombado o edifício que começou
a ser construído em 1936 e foi inaugurado em 1943, um exemplo significativo da modernidade técnica do Estado brasileiro da época

JARDIM BOTÂNICO Com a transferência da Corte Portuguesa para o Brasil, uma das providências de Dom João VI, foi a criação de uma Fábrica de Pólvora, tendo em vista
que o fornecimento de suprimentos bélicos, para os territórios de ultramar, encontrava-se interrompido pelo cerco napoleônico a Portugal. O decreto
de 13 de maio de 1808 criou, então, no Brasil a Real Fábrica de Pólvora, bastante assemelhada a que existia em solo português; as orientações técnicas
para sua instalação foram ditadas pelo Brigadeiro Carlos Antônio Napion que foi primeiro diretor. Em curto espaço de tempo a fábrica já era responsável
pela produção do explosivo que abastecia o mercado brasileiro. Casa dos Pilões, ficou sendo a denominação, mais simples, para a “Oficina do Moinho dos
Pilões”, na realidade, um dos setores da Real Fábrica de Pólvora, e local onde se realizava a compactação da mistura de salitre, enxofre e carvão, em grandes
almofarizes de madeira. Em 1826, a Fábrica de Pólvora foi desativada e transferida para a Vila Inhomirim, na Raiz da Serra, e inaugurada em 1831.
RIO GRANDE CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
4
DO NORTE BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos
0
0
14 BENS BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 9
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
PATR.INDUSTRIAL: 01 BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 14

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados Caicó Imagens (02 objetos): Santana e Nossa Senhora do Rosário 23/08/1962
2 Objetos e bens integrados Canguaretama Imagens (16 objetos): representando a morte de Nossa Senhora
3 Objetos e bens integrados Natal Imagens (13 objetos): N.Senhora das Candeias (02), Santos Reis Magos (02 conjuntos), 23/08/1962
Senhor Morto (02), Nossa Senhora das Dores e Nossa Senhora da Conceição (02)
4 Objetos e bens integrados São José de Mipibu Imagens (8 objetos): N.Sra das Dores, S.Pedro, Santana Mestra, São Joaquim, N. Sra da
Conceição, Jesus ressuscitado, N.Sra do Rosário com menino Jesus, S.Sebastião e lavabo
5 Edificação Touros Marco Quinhentista 23/08/1962
6 Edificação Natal Casa à Rua da Conceição, 601 10/01/1963
7 Edificação Acari Casa de Câmara e Cadeia 16/06/1964
8 Edificação Vila Flor Casa de Câmara e Cadeia: ruínas 16/06/1964
9 Edificação Natal Forte dos Reis Magos 13/05/1949
10 Edificação Acari Igreja de Nossa Senhora do Rosário 16/06/1964
11 Edificação S.Gonçalo do Igreja de São Gonçalo 16/06/1964
Amarante
12 Edificação Natal Palácio do Governo 11/06/1965
13 Edificação Arês Portão do Cemitério de Arês 23/08/1962
Anexo II - bens tombados pelo iphan

14 Ruína Canguaretama Engenho do Cunhau: ruínas da capela 16/06/1964

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
ENGENHO DO Localizada no Engenho de Cunhaú. Segundo o capitão-mor de Pernambuco, Alexandre de Moura, e o desembargador Manuel Pinto da Rocha, o engenho
CUNHAU: RUÍNAS DA estava em funcionamento em 1614, bem como cultivadas a maioria das terras ao seu redor. Confiscado e vendido em 1637, Cunhaú passou às mãos do
CAPELA capitão Jorris Gartsmann. Em 1645, o conselheiro Jacob Rabbi e a tribo dos Janduís devastaram a região. Em 1835, a posse do local passa a André Cavalcanti
de Albuquerque Maranhão Arco-Verde. Da capela do Engenho de Cunhaú, construída com tijolos cozidos, batentes e cornijas de pedra lavada, restaram as
paredes laterais, a parede de fundo. As paredes laterais da capela-mor possuem seteiras. Na parede do retábulo resta o nicho em arco.
319
320
RONDÔNIA
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 0
02 BENS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 0
PATR.INDUSTRIAL: 01 BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 2
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 2

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Edificação Costa Marques Forte Príncipe da Beira 07/08/1950
2 Edificação Porto Velho Pátio Ferroviário da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, Bens Móveis e Integrados 07/01/2008 07/01/2008

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
PÁTIO FERROVIÁRIO A ferrovia Madeira-Mamoré, com 366 km, ligava Porto Velho a Guajará Mirim, em Rondônia, foi inaugurada em 1912, durante o ciclo da borracha, e
DA ESTRADA DE desativada em 1972. A Ferrovia Madeira-Mamoré é um dos maiores, e também mais desastrosos, projetos já implantados na Amazônia. Durante sua
FERRO MADEIRA construção, devido a doenças tropicais e falta de cuidados médicos, mais de seis mil operários morreram, o que levou o empreendimento a ficar conhecido
MAMORÉ, como “ferrovia do diabo”, espalhando-se a lenda de que, para cada dormente da ferrovia, havia morrido um homem. A construção começou em 1907, em
BENS MÓVEIS E Porto Velho, e terminou em 1912, quando a ferrovia chegou à divisa com a Bolívia, em Guajará-Mirim. A ideia da obra era servir para o escoamento da
INTEGRADOS borracha produzida na região. Como o Rio Madeira tem muitas cachoeiras nesse trecho de Rondônia, a ferrovia levaria a borracha até um ponto em que os
barcos pudessem navegar. A conclusão da estrada-de-ferro não coincidiu com o bom preço da borracha. O ano em que a obra terminou foi o último em
que o Brasil produziu mais borracha do que o resto do mundo. Já na década de 1930, com a crise econômica mundial, o tráfego na ferrovia foi parcialmente
interrompido.
Hardman ao investigar a construção da ferrovia Madeira-Mamoré em plena floresta amazônica profere alguns comentários sobre o que significou o
fenômeno ferroviário universal neste tempo:
A indústria das estradas de ferro representou uma empresa de grande porte e sua rápida internalização, durante a segunda metade do século XIX, foi
um dos fatores básicos para que se articulasse de modo pleno o mercado mundial. (...) Por toda a parte, de forma simultânea, batalhões ambulantes de
operários foram incorporados para criar novas paisagens, para traçar novo mapa-múndi, decisivo à circulação de mercadorias dali em diante. À enorme
concentração dessa força de trabalho seguiu-se depois, inelutavelmente, sua dispersão. Grande movimento de terras e de homens: a implantação das
vias permanentes das estradas de ferro é um capítulo privilegiado do nascimento e morte de cidade, da dizimação de populações nativas, de processos
migratórios e de colonização significativos na Ásia, África, Américas e Oceania. (...) É como se um mesmo enredo se passasse, ao mesmo tempo, em
diferentes cenários (HARDMAN, 1988, p. 127-128). HARDMAN, F. F. Trem fantasma: a modernidade na selva. São Paulo: Companhia das Letras, 1988,
RIO GRANDE CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
1
DO SUL BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos
2
3
38 BENS BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 24
PATR.INDUSTRIAL: 00 BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 2
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 5
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 38

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados São Luiz Gonzaga Imagens Missioneiras (13 objetos) 20/02/1984 20/02/1984
2 Coleções e acervos Santa Maria Museu da União dos Caixeiros Viajantes: acervo 25/03/1938
3 Coleções e acervos Tramandaí Coleção de armas e apetrechos militares do Museu de Armas General Osório 15/06/1942 15/06/1942
4 Conjunto urbano Antônio Prado Antônio Prado, RS: conjunto arquitetônico e urbanístico 10/01/1990 10/01/1990
5 Conjunto Urbano General Câmara Conjunto histórico da Vila de Santo Amaro 03/07/2006
6 Conjunto urbano Porto Alegre Praças da Matriz e da Alfândega: sítio histórico 24/04/2003
7 Edificação Porto Alegre Cais do Porto: pórtico central e armazéns 19/05/1983
8 Edificação Pelotas Caixa d'água 19/07/1984
9 Edificação Entre-Ijuís Casa construída com material missioneiro 20/04/1938
10 Edificação Rio Grande Casa da Alfândega 04/09/1967
11 Edificação Antônio Prado Casa da Neni 30/09/1985
12 Edificação Santana do Livramento Casa de Davi Canabarro 25/05/1953
Anexo II - bens tombados pelo iphan

13 Edificação Piratini Casa de Garibaldi 03/10/1941


14 Edificação Porto Alegre Casa do Visconde de Pelotas 20/08/1963
15 Edificação Triunfo Casa natal de Bento Gonçalves 08/06/1940
16 Edificação Novo Hamburgo Casa Presser 30/09/1985 08/09/1986 08/09/1986
17 Edificação Pelotas Casas à Praça Coronel Pedro Osório, 2, 6 e 8 15/12/1977 15/12/1977
18 Edificação Caçapava do Sul Forte de Caçapava 16/05/1938
19 Edificação Viamão Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Viamão 20/07/1938
20 Edificação Porto Alegre Igreja de Nossa Senhora das Dores 20/07/1938
21 Edificação Rio Grande Igreja Matriz de São Pedro e Capela da Ordem Terceira de São Francisco 17/05/1938
22 Edificação Bagé Igreja Matriz de São Sebastião 17/01/1955
23 Edificação Pelotas Obelisco Republicano 14/12/1955
24 Edificação Porto Alegre Palacete Argentina 14/03/1990
321
322
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


25 Edificação Piratini Palácio Farroupilha 05/02/1941
26 Edificação Porto Alegre Prédio à Praça Barão do Rio Branco 29/01/1981 29/01/1981
27 Edificação Piratini Quartel General Farroupilha 05/09/1952
28 Edificação São Gabriel Sobrado à Praça Doutor Fernando Abott 23/09/1974
29 Edificação Pelotas Teatro Sete de Abril 11/07/1972 11/07/1972
30 Edificação Porto Alegre Conjunto arquitetônico do Campus da Universidade Federal do Rio Grande do Sul 19/06/2000
31 Equip.urb.e infra-estrut. Rio Pardo Calçamento de pedra da Rua da Ladeira 16/03/1955
32 Equip.urb.e infra-estrut. Ivoti Ponte do Imperador 13/06/1988
33 Ruína Entre-ijuís Povo de São João: ruínas e remanescentes do Povoado 22/01/1970
34 Ruína São Luiz Gonzaga Povo de São Lourenço das Missôes: ruínas e remanescentes do povoado 18/03/1970
35 Ruína S.Miguel das Missões Povo de São Miguel: remanescentes e ruínas da Igreja de São Miguel 16/05/1938
36 Ruína São Nicolau Povo de São Nicolau: ruínas e remanescentes 22/01/1970
37 Ruína Bagé Forte de Santa Tecla: fundações 26/11/1970
38 Coleções e acervos Porto Alegre Col. arqueol., etnográfica, histórica e artística do Museu Júlio de Castilhos 16/05/1938
arqueológicos

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL

CAIS DO PORTO: O Pórtico central e os dois armazéns laterais (a sua direita e a sua esquerda) possuem estruturas metálicas, encomendadas à Casa Costa Daydée, de Paris. Sua
PÓRTICO CENTRAL E montagem foi iniciada sob orientação do engenheiro francês, Henri Hauser, e concluída, em 1922, pelo engenheiro brasileiro Trajano Ribeiro. Os panos de vidro
ARMAZÉNS da fachada foram executados pela vidraçaria De Lucca, de Porto Alegre. Sua construção insere-se no contexto de introdução e desenvolvimento no Brasil
da arquitetura de estruturas metálicas indrustrializadas, importadas da Europa. Apreciada pelo baixo custo do material e pela facilidade de montagem, essa
modalidade de construção foi praticada no Brasil sobretudo entre 1870 e 1920, restando, nos dias de hoje, poucos exemplares.
SANTA CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
1
CATARINA BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos
0
2
22 BENS BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 15
PATR.INDUSTRIAL: 01 BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 1
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 1
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 1
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 1
TOTAL 22

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados Florianópolis Pintura " Vista da Baía Sul" / Victor Meirelles 16/04/1986
2 Conjunto urbano Laguna Laguna, SC: centro histórico 23/12/1985 25/04/1985
3 Conjunto urbano S.Francisco do Sul São Francisco do Sul, SC: centro histórico e paisagístico 16/10/1987 16/10/1987
4 Edificação Biguaçu Vila de São Miguel: conjunto arquitetônico e paisagístico 14/11/1969
5 Edificação Joinville Cemitério Protestante 09/11/1962 09/11/1962
6 Edificação Florianópolis Alfândega 10/03/1975 10/03/1975
7 Edificação Laguna Casa à Praça da Bandeira 05/03/1954
8 Edificação Florianópolis Casa de Vitor Meirelles 30/01/1950
9 Edificação Rio dos Cedros Escola Rural e Casa do Professor 30/09/1985 08/09/1986 08/09/1986
10 Edificação Florianópolis Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição de Araçatuba 08/04/1980 08/04/1980
11 Edificação Gov.Celso Ramos Fortaleza de Santa Cruz de Anhatomirim 24/05/1938 24/05/1938
12 Edificação Florianópolis Fortaleza de Santana 24/05/1938 24/05/1938
13 Edificação Florianópolis Fortaleza de Santo Antônio 24/05/1938 24/05/1938
14 Edificação Florianópolis Casa Rural na Costeira da Ribeira da Ilha. 14/07/2004
15 Edificação Florianópolis Fortaleza de São José da Ponta Grossa 24/05/1938 24/05/1938
16 Edificação Florianópolis Forte de Santa Bárbara 29/05/1984
17 Edificação Joinville Palácio dos Príncipes de Joinville 04/12/1939 04/12/1939
18 Edificação Biguaçu Sobradão 17/12/1969
Anexo II - bens tombados pelo iphan

19 Equip.urb.e infra-estrut. Florianópolis Ponte Hercílio Luz 05/08/1998


20 Jardins hist. e parques Joinville Parque à Rua Marechal Deodoro, 365 13/04/1965
21 Col e acervos arqueológicos Florianópolis Col. arqueol. João Alfredo Rohr 18/04/1986
22 Sítio arqueológico tombado Florianópolis Ilha do Campeche: sítio arqueológico e paisagístico 31/10/2001

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
PONTE HERCÍLIO A Ponte Hercílio Luz é uma das mais importantes pontes pênseis do mundo e a maior do Brasil. O comprimento total é de 821,005 metros, sendo formada
LUZ pelos viadutos de acesso do Continente, com 222,504 metros, da ilha, com 259,080 metros, e pelo vão central pênsil com extensão de 339,471 metros,
composta por 28 vãos no total, 2 torres principais e 12 torres secundárias.A estrutura de aço tem o peso aproximado de cinco mil toneladas, e os alicerces e
pilares consumiram aproximadamente 14.250 m³ de concreto. As duas torres medem cerca de 75 metros, a partir do nível do mar, e o vão central tem altura
aproximada de 30 metros. A Ponte Hercílio Luz foi construída na década de 1920 - entre novembro de 1922 e maio de 1926 - pelas firmas associadas Byington
& Sundstrom. Foi projetada pelo Eng.º David Barnard Steinman, das firmas associadas Robinson & Steinman, U.S.A. Consulting Engineers, tendo sido concluída e
inaugurada em 13 de maio de 1926.
323
324
SERGIPE
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO QUANTIDADE
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados 0
25 BENS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 2
PATR.INDUSTRIAL: 00 BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 23
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 25

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Conjunto urbano Laranjeiras Laranjeiras, SE: conjunto arquitetônico e paisagístico 18/06/1996 18/06/1996 18/06/1996
2 Conjunto urbano São Cristovão São Cristovão, SE: conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico 23/01/1967
3 Edificação Estância Casa à Praça Rio Branco, 35 27/07/1962
4 Edificação Itaporanga d'Ajuda Casa de Tejupeba e Capela do Colégio 21/05/1943
5 Edificação São Cristovão Convento e Igreja de Santa Cruz 29/12/1941 29/12/1941
6 Edificação São Cristovão Convento e Igreja do Carmo 02/04/1943 02/04/1943
7 Edificação S.Amaro das Brotas Engenho Caieira: capela de Nossa Senhora da Conceição 14/01/1944 14/01/1944
8 Edificação Laranjeiras Engenho Jesus, Maria, José: capela 23/03/1943 23/03/1943
9 Edificação Riachuelo Engenho Nossa Senhora da Penha: capela 23/03/1943 23/03/1943
10 Edificação São Cristovão Engenho Poxim: capela de Nossa Senhora da Conceição 21/09/1943 21/09/1943
11 Edificação Laranjeiras Engenho Retiro: casa e Capela de Santo Antônio 14/01/1944 14/01/1944
12 Edificação São Cristovão Igreja da Ordem Terceira do Carmo 14/04/1943 14/04/1943
13 Edificação Laranjeiras Igreja de Comandaroba 23/03/1943 23/03/1943
14 Edificação São Cristovão Igreja de Nossa Senhora do Amparo 09/05/1962
15 Edificação São Cristovão Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos 20/03/1943 20/03/1943
16 Edificação Tomar do Geru Igreja de Nossa Senhora do Socorro 20/03/1943 20/03/1943
17 Edificação São Cristovão Igreja e Casa da Misericórdia 14/01/1944 14/01/1944
18 Edificação São Cristóvão Igreja Matriz de Nossa Senhora das Vitórias 20/03/1943 20/03/1943
19 Edificação Divina Pastora Igreja Matriz de Nossa Senhora Divina Pastora 20/03/1943 20/03/1943
20 Edificação N.Sra do Socorro Igreja Matriz de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro 20/03/1943 20/03/1943
21 Edificação S.Amaro das Brotas Igreja Matriz de Santo Amaro 20/03/1943 20/03/1943
22 Edificação Laranjeiras Igreja Matriz do Coração de Jesus 20/03/1943 20/03/1943
23 Edificação São Cristovão Sobrado à Rua Castro Alves, 2 21/09/1943 21/09/1943
24 Edificação São Cristovão Sobrado à Rua das Flores 21/09/1943 21/09/1943
25 Edificação São Cristovão Sobrado com balcão corrido 21/09/1943 21/09/1943
SÃO PAULO CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
9
77 BENS BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 6
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 4
PATR.INDUSTRIAL: 07 BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 55
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 2
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 1
TOTAL 77

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Objetos e bens integrados Barueri Imagem de Nossa Senhora da Escada 28/04/1980 28/04/1980
2 Objetos e bens integrados Batatais Pinturas, (14 objetos) Portinari 23/09/1974
3 Objetos e bens integrados Itu Painéis, (8 objetos) Padre Jesuíno do Monte Carmelo 17/05/1999 17/05/1999
4 Objetos e bens integrados Santos Retábulo da Capela da Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência 05/05/2003
5 Objetos e bens integrados São Paulo Imagem de Nossa Senhora da Purificação / [Frei Agostinho de Jesus] 22/12/1969
6 Objetos e bens integrados São Paulo Imagem de Nossa Senhora das Dores / Aleijadinho 14/11/1969
7 Objetos e bens integrados São Paulo Imagem de Nossa Senhora do Rosário 05/02/2003
8 Objetos e bens integrados São Paulo Imagem de São José / Aleijadinho 14/11/1969
9 Objetos e bens integrados São Roque Sitio Querubim: forro da capela 15/02/1950
10 Coleções e acervos São Paulo Coleção de Arte Sacra da Curia Metropolitana de São Paulo 11/12/1969
11 Coleções e acervos São Paulo Coleção Mário de Andrade do acervo do IEB-USP 26/09/1996 26/09/1996 26/09/1996
12 Coleções e acervos São Paulo Coleções arqueológicas, etnográficas, artísticas e históricas do Museu Paulista da 15/04/1938
Universidade de São Paulo
13 Coleções e acervos São Paulo Museu de Arte Contemporânea: acervo 08/07/1980 08/07/1980
14 Coleções e acervos São Paulo Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand: acervo 04/12/1969
Anexo II - bens tombados pelo iphan

15 Coleções e acervos São Paulo Acervo Histórico da Discoteca Oneyda Alvarenga, acautelado no Centro Cultural São 14/02/2008 14/02/2008
Paulo
16 Conjunto Urbano Jundiaí Conjunto de edificações da Companhia Paulista de Estrada de Ferro. 14/07/2004
17 Conjunto urbano São Paulo Conjunto do Ipiranga: Museu Paulista, Monumento à Independência, Casa do Grito e 26/06/1998 26/06/1998 26/06/1998
Parque da Independência
18 Conjunto urbano Santo André Vila Ferroviária de Paranapiacaba 30/09/2008
19 Conjunto urbano Carapicuíba Aldeia de Carapicuíba, SP: conjunto arquitetônico e urbanístico 13/05/2001
20 Edificação Mairinque Estação Ferroviária de Mayrink. 08/07/2004
21 Edificação S.José do Rio Pardo Barraca de Euclides da Cunha 30/08/1939
22 Edificação São Paulo Capela da Venerável Ordem Terceira do Carmo 17/05/1999 17/05/1999
23 Edificação Santana de Parnaíba Capela de Nossa Senhora da Conceição 19/02/1941 19/02/1941
24 Edificação Taubaté Capela de Nossa Senhora do Pilar 26/10/1944 26/10/1944
325
326
O Lugar do Patrimônio Industrial

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


25 Edificação Carapicuíba Capela de São João Batista 25/01/1941 25/01/1941
26 Edificação Santana de Parnaíba Casa à Praça da Matriz, 19 e 25 08/08/1958
27 Edificação Santana de Parnaíba Casa à Praça da Matriz, 9 02/12/1958
28 Edificação Itu Casa à Rua Barão de Itaim 27/04/1967
29 Edificação Santos Casa com frontaria azulejada 03/05/1973
30 Edificação São Sebastião Casa com teto pintado 15/04/1955
31 Edificação Atibaia Casa de Câmara e Cadeia 23/08/1955
32 Edificação Santos Casa de Câmara e Cadeia 12/05/1959
33 Edificação Brodowski Casa de Cândido Portinari 09/12/1968 09/12/1968
34 Edificação Taubaté Casa de Monteiro Lobato 23/07/1962
35 Edificação Guaratinguetá Casa de Rodrigues Alves 02/12/1969
36 Edificação São Paulo Casa de Warchavchik na Rua Bahia 14/08/1986
37 Edificação São Paulo Casa de Warchavchik na Rua Itápolis 14/08/1986
38 Edificação Piracicaba Casa do Presidente Prudente de Moraes 25/04/2003
39 Edificação Cotia Casa do Sítio do Mandú 12/01/1961
40 Edificação São Paulo Casa do Sítio dos Morrinhos 07/02/1948
41 Edificação São Paulo Casa do Sítio Mirim 06/03/1973
42 Edificação São Paulo Casa do Tatuapé 22/10/1951 22/10/1951
43 Edificação Santos Casa do Trem 19/02/1940 19/02/1940
44 Edificação São Paulo Casa modernista de Warchavchik na Rua Santa Cruz 14/10/1986 14/08/1986
45 Edificação S.Luís do Paraitinga Casa natal de Oswaldo Cruz 20/09/1956
46 Edificação Moji das Cruzes Casarão do Chá 30/09/1985 14/08/1986 14/08/1986
47 Edificação Moji das Cruzes Convento e Igreja da Ordem Primeira do Carmo e Igreja da Ordem Terceira do Carmo 04/09/1967
48 Edificação Itu Convento e Igreja de Nossa Senhora do Carmo 21/06/1967
49 Edificação Itanhaém Convento e Igreja Franciscanos de Nossa Senhora da Conceição 07/03/1941 07/03/1941
50 Edificação Santos Engenho dos Erasmos: ruínas 02/07/1963
51 Edificação São Paulo Estação da Luz 10/10/1996 10/10/1996
52 Edificação Paraibuna Fazenda da Conceição: casa 22/11/1974
53 Edificação Ilhabela Fazenda do Engenho d' Água: casa 22/10/1951 22/10/1951
54 Edificação São José do Barreiro Fazenda do Pau d'Alho: casa 19/02/1968
55 Edificação São Carlos Fazenda do Pinhal 14/10/1987 14/10/1987 14/10/1987
56 Edificação Redenção da Serra Fazenda Ponte Alta: casa 06/02/1976
57 Edificação Bananal Fazenda Resgate: casa 28/05/1969
58 Edificação Guarujá Fortaleza da Barra Grande, Fortim da Praia do Góis e Portão Espanhol 23/04/1964
59 Edificação Bertioga Fortaleza de São Tiago 19/02/1940 19/02/1940
60 Edificação Guarujá Forte de São Felipe 31/03/1965
61 Edificação Santos Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo 24/03/1941 24/03/1941
CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.
62 Edificação Guararema Igreja de Nossa Senhora da Escada e residência 25/01/1941 25/01/1941
63 Edificação Embu Igreja de Nossa Senhora do Rosário e residência anexa 21/10/1938 21/10/1938
64 Edificação São Paulo Igreja de São Miguel Paulista 21/10/1938 21/10/1938
65 Edificação Itu Igreja Matriz de Nossa Senhora da Candelária 26/12/1938 26/12/1938
66 Edificação Itanhaém Igreja Matriz de Santana 07/03/1941 07/03/1941
67 Edificação São Paulo Mosteiro da Luz 16/08/1943 16/08/1943
68 Edificação Santos Mosteiro e Igreja de São Bento 18/03/1948
69 Edificação Campinas Palácio dos Azulejos 20/12/1967
70 Edificação São Roque Sítio de Santo Antônio: casa e capela 22/01/1941
71 Edificação Cotia Sítio do Padre Inácio: casa 08/10/1951 08/10/1951
72 Edificação Ubatuba Sobradão do Porto 03/03/1959
73 Edificação Rio Claro Sobrado do Barão de Dourados 18/12/1963
74 Edificação São Paulo Edifício do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand e do Acervo Móvel 14/08/2008 14/082008
constituído pelos Cavaletes de Concreto e Cristal
75 Ruína Iperó Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema: remanescentes 24/09/1964
76 Ruína São Vicente Vila Colonial de São Vicente, SP: remanescentes 17/01/1955
77 Sítio arqueológico tombado Cananéia Sambaqui na Barra do Rio Itapitangui 17/06/1955

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
CONJUNTO DE O conjunto, na época da construção, estava entre os maiores e mais bem equipados do país. Distribuía-se em vários setores, contando com oficinas de
EDIFICAÇÕES reparação de carros e vagões, de pintura de carros e vagões, de carpintaria, mecânica, além de compartimento para máquina fixa, depósito de materiais,
DA COMPANHIA depósito para madeira serrada, oficinas de fundição, etc. O conjunto das oficinas ocupa atualmente cerca de 30 mil metros quadrados de área construída
PAULISTA DE em um terreno de 145 mil metros quadrados onde, além de oficinas, casas de força, pátios de manobra, escritórios, existiam também moradias para os
ESTRADA DE FERRO trabalhadores. (KÜHL, 2010, 10-11)
Anexo II - bens tombados pelo iphan

VILA FERROVIÁRIA DE Este complexo foi planejado, empreendido, construído e mantido pela “São Paulo Railway Co. Ltd.”, uma “single-enterprise” ferroviária, no período que vai de
PARANAPIACABA 1860 até 1946. Neste período, Alto da Serra foi um modelo de vila operária que nasceu e sempre viveu em função de uma única atividade e onde imperou
uma relação de paternalismo entre os trabalhadores e a empresa. Historicamente, Alto da Serra é composta pela junção de três partes: a Vila Velha, que é o
núcleo original; a Vila Martin Smith, a parte projetada e; a Parte Alta ou a Vila dos Aposentados.
ESTAÇÃO A estação ferroviária de Mairinque, cumprindo com a função articuladora, apresenta características próprias; em primeiro lugar, por estar localizada em
FERROVIÁRIA DE aterro elevado, no qual se configura o conjunto ferroviário como um todo, formado por oficinas, por armazéns e pela própria estação e, em segundo lugar,
MAYRINK. por estar implantada entre duas linhas férreas – Estradas de Ferro Sorocabana e Ituana –, constituindo, portanto, uma estação-ilha, sendo esta a tipologia
explorada pelo arquiteto Victor Dubugras e pouco encontrada na malha ferroviária do Estado de São Paulo
CASARÃO DO CHÁ Edifício representativo da imigração japonesa no Brasil foi projetado por Kazuo Hanaoka, em 1942, para abrigar uma fábrica de chá. Utilizando elementos
construtivos ocidentais - telhas marselha, esquadrias, taipa de mão - e soluções formais inspiradas na arquitetura dos castelos e templos do Japão obtém
resultado de grande plasticidade, identificado com a cultura japonesa no Brasil.
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328
O Lugar do Patrimônio Industrial

PATRIMÔNIO DESCRIÇÃO
INDUSTRIAL
ENGENHO DOS Datando da primeira metade do século XVI, é o único exemplar conhecido da primeira tentativa oficial de exploração açucareira no Brasil. Montado
ERASMOS: RUÍNAS por Martim Afonso de Souza, foi posteriormente vendido a um comerciante flamengo, Erasmo Schetz, de onde advém a denominação que passou a ser
chamado. Sofreu obras de consolidação e limpeza em 1965, durante as quais foram desenterradas várias formas de pão-de-açúcar em meio a uma camada
de cinzas e entulho que, presume-se, seja resultado de incêndio que nele terá ocorrido em 1603. Espera ainda por obras complementares e parqueamento
de sua área envoltória, bem como estrutura de atendimento ao público. O edifício foi doado à Universidade de São Paulo.
ESTAÇÃO DA LUZ Em 1860, inicia-se a construção da estrada de ferro The São Paulo Railway Company que ligaria a próspera região de produção de café do interior de São
Paulo ao principal porto exportador, Santos. Em 1865, inaugura-se a primeira estação em São Paulo, substituída, em 1900, pela Estação da Luz, monumental
edifício em ferro e tijolos, projetado na Inglaterra, com área de 7.520 metros quadrados, que se tornou referência obrigatória em todos os guias e relatos de
viajantes, reorientando o crescimento da cidade. Ainda hoje funciona como importante entroncamento do sistema metropolitano de transporte.
REAL FÁBRICA DE Remanescentes de arqueologia industrial do primeiro complexo funcionante para exploração e fabricação do ferro no Brasil. Os esforços para a implantação
FERRO SÃO JOÃO de uma siderurgia, concentraram-se em Ipanema, a partir de 1818, com a vinda de artesãos e mestres europeus, entre os quais Varnhagem, cujo o filho,
DO IPANEMA: importante historiador, ali nasceu. Estas instalações funcionaram até o final do século XIX, produzindo grades, equipamento agrícola e armas brancas
REMANESCENTES
TOCANTINS CLASSIFICAÇÃO
BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Objetos e bens integrados
QUANTIDADE
0
01 BEM BENS MÓVEIS E INTEGRADOS - Coleções e acervos de bens móveis 0
BENS IMÓVEIS - Sítios urbanos 1
PATR.INDUSTRIAL: 00
BENS IMÓVEIS - Edificações (inclusive os Terreiros) 0
BENS IMÓVEIS - Equipamentos urbanos e infra-estrutura 0
BENS IMÓVEIS - Jardins Históricos e Parques 0
BENS IMÓVEIS - Paisagens Naturais 0
BENS IMÓVEIS - Ruínas 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Coleções e acervos arqueológicos 0
BENS ARQUEOLÓGICOS - Sítios Arqueológicos 0
TOTAL 1

CLASSIFICAÇÃO MUNICÍPIO NOME ATRIBUÍDO BELAS ARTES HISTÓRICO ARQUEOLÓG. ART.APLIC.


1 Conjunto urbano Natividade Natividade, TO: conjunto arquitetônico, urbanístico e paisagístico 16/10/1987 16/10/1987 16/10/1987
Anexo II - bens tombados pelo iphan

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