Sacrificios de Animais Religiosos em Territorio de Umbanda

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Recurso extraordinário nº 494.

601- Rio Grande do Sul

Relator: Ministro Marco Aurélio

Requerente: Ministério público do Rio Grande do Sul

Resumo dos fatos: Ministério público recebeu denúncias de que estavam ocorrendo
sacrifícios de animais em determinada localidade do Rio Grande do Sul para fins
religiosos, e tipificou tal conduta como crime, conforme lei 11.915/2003. Os fatos
chegaram a conhecimento mediante ao tribunal da 1ª instância do Rio Grande do sul, o
juiz de primeiro grau interpretou que os sacrifícios de animais em território religioso é
uma exceção a aplicação do código de proteção aos animais, visto a sua finalidade
religiosa. O ministério publico deste estado recorreu para 2ª instância deste tribunal, os
desembargadores seguram a mesma linha de raciocínio da 1º instancia, e negaram o
recurso impetrado pelo ministério público, por fim, este recorreu ao Supremo Tribunal
Federal.

Ementa: Trata-se de análise da lei 11.915/2003 (Código de proteção aos animais) e os


sacrifícios de animais para fins religiosos em território de Umbanda, referida lei de
competência estadual concorrente institui o código de proteção aos animais sem dispor
de hipóteses de exclusão de crime, visto que a prática e os rituais relacionados aos
sacrifícios de animais em prol ao divino, possui patrimônio cultural imaterial e
constituem os modos de criar, fazer e viver de diversas comunidades religiosas,
particularmente das que vivenciam a liberdade religiosa a partir de práticas não
institucionais. A dimensão comunitária da liberdade religiosa é digna de proteção
constitucional e não atenta contra o princípio da laicidade. O sentido de laicidade
empregado no texto constitucional destina-se a afastar a invocação de motivos
religiosos no espaço público como justificativa para a imposição de obrigações. A
validade de justificações públicas não é compatível com dogmas religiosos. A proteção
específica dos cultos de religiões de matriz africana é compatível com o princípio da
igualdade, uma vez que sua estigmatização, fruto de um preconceito estrutural, está a
merecer especial atenção do Estado.
RELATÓRIO

Para fins de entendimento dos fundamentos que levaram às decisões proferidas


tanto pelo TJRS quanto pelo plenário do STF pela constitucionalidade da Lei do Rio
Grande do Sul nº 12.131/2004, necessária se faz a análise dos principais
direitos fundamentais correlacionados ao objeto de ambas as decisões. Para tanto,
buscou-se a demonstração de dados quantitativos e qualitativos referentes às
religiões de matriz africana no Brasil e suas práticas, especialmente no tocante aos
significados conferidos aos rituais de sacrifício de animais e sua relação com o direito
constitucional à liberdade de cultos religiosos. Nessa ordem de ideias, analisou-se os
direitos dos animais no que compete à proteção conferida pela legislação brasileira, bem
como os fundamentos utilizados por alguns ministros do STF para justificar a
inconstitucionalidade da lei ora em estudo, cujos votos foram vencidos.

Sabe-se que a religião e a participação em cultos religiosos são comuns em terras


brasileiras e mundiais. Trata-se de direito fundamental que toca na dignidade da pessoa
humana, no seu sentimento de pertencimento a determinado grupo cujas crenças lhe são
próprias. Nesse entendimento, o constituinte brasileiro resolveu, no artigo 5º, inciso VI
da Constituição Federal, assegurar o livre exercício dos cultos religiosos, protegendo
tanto os locais de sua realização quanto as liturgias. Essa liberdade de consciência e de
crença invioláveis tornou o Brasil um Estado laico, sendo proibidas pelo ordenamento
jurídico pátrio quaisquer práticas de discriminação e/ou ofensa relacionadas à opção de
crença, fé ou religião. Tanto é que o artigo 5º, inciso VIII da Constituição Federal
assegura que “ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de
convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a
todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
O que se considera, no entanto, é a possível inexistência de vida digna, ou seja,
existiria apenas sobrevivência se também não houvesse a garantia de outros princípios e
direitos fundamentais como a própria dignidade da pessoa humana, as liberdades,
inclusive as de cultos religiosos e o meio ambiente ecologicamente equilibrado,
incluindo aí os direitos dos animais, primados da Constituição Federal.

“2. O fato de o parágrafo único do


artigo 2º da Lei gaúcha haver excluído da
infração administrativa, de forma expressa,
somente o sacrifício ritual nos cultos de matriz
africana, sem referência a outros credos, não
chega a criar discriminação negativa em
relação às demais religiões. Tratando-se a
liberdade do exercício de culto religioso de
direito fundamental, há de prevalecer a
exegese do dispositivo que proporcione seu
meio alcance, uma vez que seria um
contrassenso atribuir-lhe aplicação que
restrinja o próprio objeto da tutela jurídica.
A mera supressão total do dispositivo
questionado como pretendido terá o efeito
perverso de deixar sob suspeita o exercício de
culto de natureza sacrificial,
independentemente de sua matriz, relegando-
se à boa ou escassa vontade da autoridade
administrativa o exame, caso a caso, de tratar-
se, ou não, de violência crônica ou de abuso
avulso, de morte indulgente ou cruel.
Liberdade de culto censurada. Inexistência de
ofensa ao princípio isonômico (art. 5º da CF).”

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