Aulas de Direito Penal II Noite

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1.

O Ser Social do Homem


Alguns autores entendem que o Estado é a mais realizada forma de organização social,
que surgiu nos tempos modernos, em virtude de uma discussão que remonta desde a
Antiguidade Clássica até aos nossos dias. E para debelar tal querela, formaram-se duas
correntes doutrinárias: A corrente Naturalista defendida em grande medida por autores da
Antiguidade Clássica e a corrente Contratualista composta em grande parte por autores
mais modernos.

E do ponto de vista de ROCHA et. Al (2004, p.10)

«Diversos autores tentaram explicar a razão de ser da vida do homem em


sociedade. Podemos agrupar essas explicações em dois grandes grupos. O
primeiro é constituído pelos autores Clássicos (Aristóteles, Cícero S. Tomás
de Aquino, Sto. Agostinho), que defendem a origem natural da sociedade. O
segundo grupo é constituído por aqueles autores que consideram que a
origem da sociedade se fundamenta num contrato social (John Locke,
Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rosseau)».
Para a Concepção Naturalista, o homem sempre viveu em sociedade e nunca viveu
isolado dos outros seres, que tenham uma natureza semelhante a sua. Porquanto, esta
Corrente Doutrinária, defende que, o homem enquanto ser humano não nasceu para viver
isolado dos outros.

E nisto, Aristóteles apud, ROCHA, Op. Cit, afirma que:

«O homem é naturalmente um animal político (…) feito para viver em


sociedade (…) se assim não fosse seria (…) uma criatura degradada ou um
ente superior ao Homem (…). Aquele que não pode pôr nada em comum
sociedade, ou que não sente necessidade de nada, não faz parte da cidade,
não pode deixar de ser um bruto ou um deus (…)».

No entanto, entendimento diferente quanto a esta questão, têm os autores da Corrente


Contratualista. Pois, para eles o homem não é por natureza um ser Social. Antes viveu
isolado de tudo e de todos. Porém, este estado de isolamento não lhe permitia satisfazer
em pleno as suas mais elementares necessidades, o que o levou a celebrar um contrato de
sociedade ou contrato social. Para esta corrente de pensamento, o homem antes de viver
em sociedade, terá vivido em um estado pré-social. Isolado dos seus semelhantes e livre
de qualquer vínculo comunitário. Este estado é também conhecido por status naturalis.
Ora, deste estado de natureza, o homem transitou por força de um contrato social para o
Estado de sociedade ou status Civilis. E é neste diapasão que se afirma que o homem
enquanto ser racional, apercebeu-se logo que a vida em estado de natureza (status
naturalis), seria insustentável. Assim, com o objectivo de garantir uma vida individual e
colectiva em paz e segurança julgou mais conveniente estabelecer regras e princípios da
vida em sociedade. E segundo HOBBES, apud Rocha, Op. Cit. (p.13) «Os homens
viviam em estado de natureza (status naturalis). O estado de natureza é uma permanente
ameaça que pesa sobre a sociedade (status Civilis) e pode irromper sempre que a paixão
silenciar a razão e a autoridade fracassar».

4. O ESTADO1

O homem é eminentemente um ser político e social. Assim, é natural que necessite de


uma estrutura organizada. O (Estado) que sendo reconhecida por todos os membros da
comunidade, seja capaz de garantir a vida em sociedade, ditando leis e regras que todos
devem respeitar e seguir com vista a salvaguarda dos interesses da colectividade. Dito de
outro modo, aqui, deve-se imediatamente perceber o homem como um ser gregário, que
desde os primórdios da História, associou-se ao seu semelhante para a satisfação de
interesses comuns, estabeleceu por isso diversos vínculos sociais, através da convivência
com os homens, primeiro os vínculos de parentesco de residência; depois, os vínculos de
afinidade religiosa, de profissão e política. Estes vínculos sociais deram origem a diversas
formas de organização da sociedade: a família, a comunidade de residência (aldeia, vila
ou cidade), a igreja, as associações profissionais, a sociedade política ou o Estado.

E segundo MARTINS et al. (2007, p.26)

«O conceito de Estado é fundamental para entendermos como se organiza


politicamente qualquer sociedade, desde as mais primitivas até às dos dias
de hoje. Existe uma série de características comuns a todos os Estados: Um
território geograficamente delimitado, com um conjunto de cidadãos, e uma
autoridade que se sobrepõe a todos os cidadãos e que é a única legalmente
autorizada a usar a força dentro das suas fronteiras. Não existe nenhuma
autoridade que crie Estados; Estes são fruto de um processo Político e social
que na maioria das vezes exige um certo grau de violência»
Nesta ordem de ideias, entender-se-á por Estado, como uma Comunidade Humana,
constituída por um povo que a fim de garantir a segurança, a justiça e o bem-estar, se

1
A respeito do tema em análise recomenda-se uma leitura mais aprofundada aos manuais de Introdução à
Ciência Política, Teorias Métodos e temáticas do Professor António José Fernandes e Direito Internacional
Público, do Professor Paulino Lukamba.
apropria de um território e nele institui, por autoridade própria, o poder de dirigir os
destinos nacionais e de impor as normas necessárias à vida em sociedade.

E de facto, podemos considerar o Estado como uma comunidade humana dotada de uma
determinada forma de organização do poder político, sendo este exercido num território
e tendo como grande objectivo garantir a segurança, a justiça e o bem-estar de todos os
cidadãos.

E como afirma FERNANDES (2010, P.P 70-72) «O Estado será pois, a organização
político-jurídica de uma sociedade dispondo de órgãos próprios que exercem o poder
sobre um determinado território. (…)» O Estado tem efectivamente muito a ver com o
território, com os cidadãos que nele vivem e com o poder.

Ora, este é o conceito da mais moderna forma de organização das sociedades. No entanto,
no que diz respeito a sua origem há novamente disparidade doutrinária, porquanto autores
há que advogam a origem do Estado, por volta do ano 500 a.C., com o surgimento das
cidades-Estado na antiga Grécia, mormente conhecidas como polis. Este posicionamento,
certamente deve ser analisado quer do ponto de vista da Ciência Política bem como do
ponto de vista Jurídico-Constitucional.

Pelo que ao nosso ver não poderá colher consenso na doutrina jurídica, pois, tratavam-
se de Cidades como Atenas também tida como o berço da Democracia, em que de facto
existia um regime político e uma autoridade estabelecida. Porém, o entendimento que se
tem de Estado, estas estão muito longe de o ser pois não apresentavam uma separação
funcional dos poderes que eram exercidos.

Dito de outro modo, a inexistência de uma separação no exercício do poder político ou


soberania leva a que do ponto de vista Jurídico não se acolha o posicionamento segundo
o qual a origem dos Estados remonta desde a Antiguidade Clássica, mas sim entre os
finais da idade Média e o início da idade Moderna.

E, MARTINS et al. Op. Cit. (p.26) concordam afirmando que:

«Na idade Média já havia certos conceitos básicos de cidadania e um


conjunto de leis que regulavam a vida civil, mas não tinha aparecido o termo
Estado. (…) A origem do Estado moderno remonta desde o século XVI e tem
no pensamento do filósofo italiano Nicolau Maquiavel um importante
promotor. A definição de Estado que este pensador defendia corresponde à
combinação de povo, governo, território.»
Por outro lado, entende-se e é consensual que a criação de um Estado pressupõe o fim de
um estado de natureza ou status naturalis em que cada individuo se vale da sua própria
força para defender-se.

Antes, a existência de um Estado implica necessariamente que alguns indivíduos


decidiram obedecer a outros e reconhecer que passará a caber a essa organização social
denominada Estado, o direito exclusivo de uso da força para fazer cumprir as leis impostas
pelo grupo de indivíduos que lidera.

Em outras palavras, estes cidadãos decidem limitar parte da sua liberdade isto é, vendo
alguns de seus direitos coartados e entregam-nos à tutela desta entidade criada para
protege-los mediante a criação de normas jurídicas. Todavia, o controlo do Estado não se
baseia, simplesmente na força.

A maioria dos Estados deseja que a sua população o reconheça e aceite o direito exclusivo
do uso da força como sendo legítimo apenas ao Estado ou seja, tenta obter uma
legitimidade sobre o monopólio do uso da força.

4.1 Elementos do Estado


1º Povo:

O povo ou a população como mais comumente se designa, é considerado o primeiro


elemento do Estado. Não é possível conceber um Estado sem população. Todavia, nem
toda a população que vive num território sob controlo de um determinado poder soberano
constitui o elemento humano do Estado.

Somente os indivíduos que estão sujeitos às normas gerais definidas pelos órgãos do
poder que fazem parte da população do Estado. Deste modo, o povo de um Estado é o
conjunto dos indivíduos que se constitui em sociedade política, para a prossecução de
interesses comuns, e se rege por leis próprias sob a direcção de um mesmo poder
soberano. Porém, no entender de HELENA e MENDES (2007, p.10) «O povo, ou seja,
um conjunto de pessoas ligadas por laços de nacionalidade».

2º Território:

O território, é pois, o elemento imprescindível do Estado. Tão imprescindível que os


povos têm mantido ao longo da História, lutas sangrentas para conquistar e alargar os
territórios de que necessitam. O território uma vez conquistado, passa a ser o elemento
aglutinador e unificador do povo. Encontrando-se ligado à ideia do Estado, ele exige, a
fim de que a ideia não se desagregue, que o Estado diligencie para aperfeiçoar as relações
entre os indivíduos e o seu quadro geográfico. O território é por fim, o Espaço geográfico
que abrange o solo, o subsolo, o aéreo e em alguns casos o espaço marítimo. Acrescentar
fundamentos do prof. Paulino Lukamba

3º Soberania: Se a existência de um povo e o território por ele ocupado são elementos


necessários à definição do Estado, só eles não bastam para dar origem à ideia do Estado.
É fundamental que à estes dois elementos, se acrescente um poder político, quer dizer,
um poder capaz de impor ao grupo as regras de conduta social, e dotado de poder para se
fazer obedecer. Ademais, acrescenta Bodin apud FERNANDES, op. cit (p. 88) que
soberania é «um poder que não tem igual na ordem interna e nem superior na ordem
externa». Ou ainda, entende-se por soberania o poder político que se manifesta através
das competências que são atribuídas aos seus diferentes órgãos.2

4.2 Funções Tradicionais do Estado 3


Consideram-se funções tradicionais do Estado as seguintes:

1º Legislativa: Que se consubstancia na elaboração das leis que regulam a vida das
comunidades;

2º Executiva: Esta consiste em cumprir e fazer cumprir as leis convista a satisfação das
necessidades colectivas;

3º Judicial: Que se traduz na intervenção que é feita pelo Estado, em matéria de resolução
de litígio.

2
Nota: Ver a este respeito, a realidade angolana, estudando os diferentes órgãos de soberania à luz do artigo
105º da CRA, suas competências e as respectivas funções para melhor contextualizar o texto à nossa
realidade jurídica e política. Por outro lado, muitos aspectos crucias sobre o Estado não foram aqui aflorados
e de forma propositada, de modo a suscitar o espírito investigativo. Pelo que, exorta-se a tomarem contacto
com bibliografia diversa que aflore sobre o tema em estudo.
3
Sobre este ponto de crucial importância para a compreensão do Estado, é fundamental que se consulte
também António José Fernandes, Obra já referenciada, porquanto o mesmo divide estas funções em
políticas e jurídicas.
4.3 Fins do Estado
Criado o Estado e tendo os mecanismos necessários para o exercício das suas funções,
espera-se deste, a prossecução ou a realização de certos fins ou interesses inerentes a
colectividade de pessoas que o legitimaram. Pelo que, aos Estados modernos atribuem-
se-lhes alguns fins a serem preconizados, tais como: Justiça, bem-estar económico, social
e cultural.

1-SEGURANÇA

A segurança é certamente um dos bens fundamentais que o Estado se propõe a alcançar


ou atingir. E aqui, deve ser entendida a segurança do ponto de vista interno e externo. Ou
seja, a segurança deve ser analisada na vertente da protecção dos interesses do cidadão e
das instituições e órgãos criados e eleitos democraticamente em um Estado de direito,
mediante a criação de um sistema de ordem e segurança interna. Por outro lado, entendê-
la-emos como o sistema criado pelo Estado no exterior para garantir a defesa de interesses
nacionais além-fronteiras.

2-JUSTIÇA

É um fim a ser alcançado quer pelo Estado quanto pelo Direito. Pelo que entendemos
serem valores umbilicalmente inseparáveis, pois ambas as realidades têm uma dimensão
e realidades inseparáveis. Ela surge nas relações estabelecidas entre os cidadãos de um
Estado para substituir a vontade ou arbítrio e aplicar um conjunto de regras capaz de
consensualmente estabelecer um novo sentido ou ordem em que todos se sintam
realizados e não defraudados.

No entanto, SOUSA e GALVÃO (2000, p.25) advertem-nos para uma análise mais
profunda e detalhada ao afirmarem que a Justiça:

«Abrange duas realidades distintas: A Justiça comutativa, nos termos da


qual, o Estado deve garantir, nas relações entre cidadãos, a equivalência dos
valores permutados, o que significa que cada qual deve receber, nas relações
recíprocas, de acordo com a prestação que efectuou a certo ou certos
concidadãos. Justiça distributiva, segundo a qual cada cidadão deve receber
proventos da colectividade de acordo o tipo de actividade produtiva de cada
que (…) presta ou a situação social de carência em que se encontra.»
Ora, entende-se assim que a justiça comutativa diz respeito às relações que cada cidadão
estabelece com outro devendo em cada uma delas estando numa situação activa ou
passiva receber apenas os benefícios que lhe cabem ou cumprir com a parte que lhe
corresponde enquanto sujeito da relação jurídica-social.

Por outro lado, encontraremos a Justiça distributiva, que é respeitante a relação que o
Estado tem para com cidadãos no momento da distribuição dos benefícios, recursos u
riquezas para a satisfação das necessidades colectivas.

Esta Justiça distributiva, radica inclusive da tradição Aristotélica correspondendo a


equidade. É a que intervém na distribuição das riquezas e outras vantagens que se
repartem entre os membros da própria sociedade.

Há quem no entanto, levanta a possibilidade da existência de uma Justiça redistributiva


fazendo com que os cidadãos que têm mais riquezas, sejam-lhes atribuídos maiores
encargos fiscais de modo que o Estado arrecade receitas e a redistribua de forma
equitativa.

3-BEM-ESTAR ECONÓMICO, SOCIAL E CULTURAL

O bem-estar, no seu mais amplo sentido ou entendimento, económico-social ou cultural


é certamente um fim que se reveste de singular importância e diz respeito à medidas ou
políticas a serem adoptadas pelo Estado com o exclusivo propósito de fomentar o maior
qualidade de vida ao cidadão quer do ponto de vista económico, social e cultural ou seja,
elevar as condições de vida do cidadão. Dito de outro modo, o Estado deverá criar
condições que deem acesso ao cidadão aos mais elementares serviços para que a
convivência social seja mais serena, pacífica e humanizada sobretudo. Garantindo a
acesso à água potável, sistema de saúde pública e educação eficientes, acesso a serviços
bancários etc. tudo com o exclusivo propósito de elevar a qualidade de vida dos cidadãos.
E nisto Ibdem (p.26) afirma que:

«Finalmente o bem-estar económico-social e cultural consiste na promoção


das condições de vida dos cidadãos em termos de garantir o acesso, (…) a
bens e serviços considerados fundamentais pela colectividade, tais como
bens económicos que permitam a elevação do nível de vida de estratos sociais
cada vez mais amplos, e serviços essenciais (…) educação, a saúde e a
segurança social».
4.4 Funções Económicas do Estado
A análise das funções económicas exercidas pelo Estado, tem variado ao longo dos
tempos. Em períodos de extrema complexidade na vida económica como o nosso,
certamente que a intervenção do Estado na Economia é ainda maior tendo em vista a
satisfação da necessidade colectiva sem no entanto defraudar os interesses dos
particulares.

As economias cada vez mais complexas são afectadas por problemas de natureza diversa
como a inflação, o desemprego, a exclusão social e a pobreza. A ocorrência destas
situações exige que o Estado desempenhe um conjunto de funções económicas e sociais
com o objectivo de garantir a:

1-EFICIÊNCIA
O mercado4 nem sempre constitui a forma mais eficiente de afetação dos recursos,
gerando-se ineficiências ou desperdícios que designam-se por falhas de Mercado e
consideram-se falhas de mercado as seguintes:

a) A externalidade, que se traduz como o impacto que as acções de um agente


económico tem sobre o bem-estar de outros que não participaram para essa acção.
Se o impacto é negativo, trata-se de uma externalidade negativa e se o impacto for
positivo, chamá-la-emos de externalidade positiva.
b) A concorrência imperfeita ora este tipo de falha de mercado é certamente uma
daquelas que leva o Estado a intervir na Economia de modos a não se limitar a
livre concorrência. Assim, a formação de monopólios económicos, obriga o
Estado a tomar uma postura mais musculada eliminando todas as situações que
impeçam ou limitem a concorrência erradicando então a concentração. Nesta
ordem de ideias, o Estado promulga leis antimonopólio ou anti-trust, limitando

4
Entende-se por Mercado, a instituição básica da Economia em que o preço resulta do ajuste entre a oferta
e a procura, e com a finalidade de realizar uma troca de serviços, produtos e capitais. É o lugar de encontro
entre vendedores e compradores. Ora, do ponto de vista económico o mercado não tem limitações nem de
tempo nem de lugar.
assim o poder do monopólio, pois é este último elemento o principal causador da
Concorrência imperfeita.
c) Os bens Públicos são aqueles, de que tiram proveito um número ilimitado de
pessoas sem que se possa impedir alguém de os utilizar. De forma generalizada o
mercado responde às necessidades dos consumidores fornecendo bens e serviços
de que estes necessitam para a satisfação das suas necessidades. Porém, os bens
púbicos dada as características que o identificam não podem ser oferecidos por
entes privados, levando o Estado a intervir na Economia.

2-ESTABILIDADE
A instabilidade é uma das características identificadoras das Economias em que vigora o
princípio da Livre iniciativa e pelo mercado, pois, nelas é comum ocorrerem
desequilíbrios, como a subida de preços, o aumento do desemprego e quebra da produção.
De maneiras a prevenir situações de instabilidade e ou minimizar os seus efeitos sobre a
vida económica e social, o Estado intervêm nestas situações para garantir a estabilidade
adoptando medidas eficientes para o combate ao desemprego e à inflação no mercado.

SILVA e MENDES (Op. cit, p.16) afirmam que

«Podemos observar nas economias reais que existem períodos de forte


crescimento económico, a produção aumenta, há criação de emprego e
melhoria do nível de vida. No entanto, noutros períodos a crise instala-se, há
falência de empresas, despedimentos, desempregos, quebra de produção (…)
os economistas encontram nestas situações razões justificativas para a
intervenção do Estado na vida económica e social».

3-EQUIDADE
A equidade é um dos fins a ser alcançado pelo Estado. Porém, a repartição dos
rendimentos efectuada pelo mercado (Repartição Primária) gera muitas vezes se não
mesmo na maior parte delas, desigualdades económicas e consequentemente
desigualdades sociais. Assim, o Estado, orientado por princípios de justiça social
intervém na repartição dos rendimentos, garantindo subsídios aos mais desfavorecidos e
realizar a redistribuição dos rendimentos.
4.5 Esferas de Intervenção do estado
Para as sociedades mais modernas e com uma governação voltada para a satisfação das
necessidades colectivas e a realização do bem comum, os Estados, apar das funções que
lhes são tradicionalmente atribuídas, vão alargando as suas áreas de intervenção. E para
os Estados actuais distinguem-se três áreas de intervenção:

POLÍTICA
Cabe ao Estado traçar políticas e criar mecanismos para a sua implementação bem como
a fiscalização sobre aplicação das leis, mediante órgãos criados especificamente para a
realização de tal tarefa. Como Assembleia nacional e os tribunais.

SOCIAL
Para as sociedades com uma economia fundamentada no capitalismo é comum encontrar
desigualdades sociais. Pelo que o Estado é chamado a intervir, criando e adoptando
medidas sociais capazes de elevar o nível de bem-estar dos cidadãos mediante atribuição
de subsídios de doença, desemprego, invalidez etc.

ECONÓMICA
Na esfera económica, a intervenção do Estado consubstancia-se na estabilidade e no
regular funcionamento da Economia ou assegurar o crescimento económico e o
desenvolvimento sustentável da sociedade com o apoio ao empresariado nacional, criação
de um ambiente de negócio favorável para atração do investimento privado, garantindo
para o efeito, condições técnicas e jurídicas.
O presente tópico, cinge-se fundamentalmente, em debruçar-se sobre a eventual
destrinça que possa existir entre a infracção penal e o delito ou crime. Assim, presume-se
ser de capital importância, entender a origem da expressão infracção para que a posterior,
se faça uma abordagem sucinta e precisa da infracção criminal, seus pressupostos e
elementos, aflorando o posicionamento da doutrina e de diversos sistemas jurídico-
penais, quanto ao tratamento da questão em estudo. Ademais, verifica-se que o tratamento
dado a presente questão não é unânime sendo a controvérsia doutrinária fundada nas
palavras criminal e penal.

Todavia, a doutrina é convergente em afirmar que quando se trata de infracção


criminal a referência é directa e imediata ao crime, excluindo-se a possibilidade de
inclusão de outras formas de violação da norma jurídico-penal que fazendo recurso aos
critérios doutrinais e a sistematização que cada Estado adopta, poderá incluir-se na
infracção penal outras categorias de violação da norma penal.

Porquanto, em detrimento desses critérios o legislador ordinário da República de


Angola adoptou um critério dicotómico ou bipolar incluindo como categorias exclusivas
da infracção penal, os crimes e as contravenções. Sendo este também o critério acolhido
pelo ordenamento jurídico brasileiro. Todavia, Estados como o da França e a Alemanha
adoptam um sistema divergente deste, que é o tricotômico incluindo como categorias da
infracção penal, o crime, o delito e as contravenções explicando a destrinça que há entre
os três segundo o critério do legislador.
1.INFRACÇÃO PENAL

1.1Etmologia da palavra

A palavra infracção é proveniente da Língua latina “infractione e significa


em português, acto ou efeito de infringir; violação de uma lei ou ordem”5.

1.2 Infracção criminal em sentido técnico-jurídico

Numa vertente técnico-jurídica, entende-se por infracção penal “ A


contrariedade, a oposição de uma conduta humana a uma disposição legal.
Apresenta-se sob a forma de contrariedade à valoração e desobediência ao
imperativo da norma penal”6 Tal contrariedade das normas penais, é
exteriorizada de duas formas: Crime e contravenção dependendo sempre da
sistematização que varia de ordenamento jurídico ou de Estado para Estado.

Assim, infracção criminal é também entendida como “ Expressão que em


Direito significa violação de um Direito ou de uma obrigação. No âmbito penal,
significa o crime7”

Por outro lado, a infracção criminal é entendida como “A falta de


cumprimento ou violação das normas penais. A infracção Penal é essencialmente
conceito jurídico atingindo os mais importantes valores da vida social8 ”

A contrariedade das normas penais por comportamento humano é


executada mediante crime e contravenção. Todavia, há ordenamentos jurídicos
que apar destes dois elementos incluem na infracção criminal os delitos. “ Outros
países, como Alemanha e França adoptaram um sistema tricotômico: Crimes

5
EDITORES, Texto. Dicionário Integral da Língua Portuguesa, p. 870
6
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 57, Luanda, 2003
7
PRATA, Ana, VILALONGA, José. Dicionário Jurídico Direito Penal, editora Almedina, 2ª edição, p.264,
2008
8
FRAGOSO, Heleno Claudio. Lições de Direito Penal: Parte Geral. 5ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 146 e
147
seriam as infracções mais graves, delitos as intermédias e por último as
contravenções penais albergariam as de menor gravidade”9

A infracção criminal é entendida ou vista sob o ponto de vista formal e sob


o ponto de vista material. A primeira já aqui aflorada aos pormenores, vê a
infracção criminal como desobediência aos imperativos da norma penal. Já sob o
ponto de vista material, a infracção é entendida como:

“Um facto lesivo de interesses fundamentais da sociedade, um facto que põe


em perigo as condições de existência, de conservação e desenvolvimento da
sociedade10”

1.2.1 Pressupostos da Infracção criminal

Os pressupostos da infracção criminal são a condicio sine qua non a infracção


criminal existiria. São elementos anteriores e necessários a presença da própria
infracção criminal. “ Elementos sem os quais, nem sequer seria possível, nascer
a infracção. São o sujeito activo, o sujeito passivo e o objecto”11

Com o conceito ora apresentado, afirma-se que tais pressupostos da


infracção criminal, revelam-se ser comuns a todos os crimes e contravenções pois,
para que haja a violação da norma jurídico-penal é de facto necessária a existência
de um sujeito activo, passivo e o objecto. Pois, numa análise de raciocínio lógico,
se se afirmasse que uma norma jurídica penal foi violada, as questões de fórum
objectivo que se colocariam seriam: Quem a violou? A quem pertenciam os
interesses violados? O que é que foi violado? Certamente, com tais indagações
entende-se de forma convergente que para a existência da infracção criminal
necessário é que se verifiquem os pressupostos ou condições ora mencionados e
que definem-se como:

9
MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado Parte Geral, p.171, vol1, 4ª ed., Editora Método,
S.Paulo, 2011.
10
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 58, Luanda, 2003
11
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 58, Luanda, 2003
a)-Sujeito activo: “ é o agente da infracção, é aquele que a comete é o
detentor da voluntas, do elemento psicológico culpa sem o qual é impossível
imputar responsabilidade penal a uma pessoa;

b)-Sujeito passivo: é o que sofre os efeitos da infracção, é o ofendido, o


titular dos interesses lesados, é qualquer pessoa singular ou colectiva.

c)-Objecto: É o valor, o bem jurídico tutelado pela norma jurídico-penal,


que foi violada pela infracção. O objecto jurídico pode ser:

-Imediato: são os valores ou interesses jurídicos tutelados pela norma


penal que a infracção viola.

-Mediato: São as relações sociais que os interesses jurídicos ofendidos


exprimem”12

Ademais, a infracção criminal é também vista numa concepção objectiva e


subjectiva. Por quanto, na concepção objectiva ela “é um facto portador de
perigo social, é um facto socialmente perigoso. Já para a concepção subjectiva a
infracção é um acto de oposição, de contrariedade ou rebelião à norma penal”.

1.2.2 Elementos da infracção Penal

São os requisitos que um facto deve possuir e ser considerado crime ou


contravenção e por este facto a classificação doutrinária e legal se imputa a
responsabilidade ao agente causador do facto lesivo a interesses jurídico-penal.
Assim, do ponto de vista racional, a ciência do Direito Penal ou Dogmática Penal,
afirma que dos seres existentes na natureza o único susceptível de cometer
infracção penal é o homem pois, este é o único com vontade e capacidade de
discernir o certo do errado.

12
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 64, Luanda, 2003
“A infracção penal se revela desde logo como uma conduta, uma acção
material e humana, produtora ou não de um resultado pois não são puníveis os
simples pensamentos”13

Desta forma,, constituem elementos da infracção criminal os seguintes:

a)-Acção

É o primeiro elemento da infracção criminal entendido como “O


comportamento humano exterior voluntário14 e dirigido a um fim proibido pelo
comando penal.

À acção em sentido estrito (facere), equipara-se ao non facere quando sobre


o omitente recai o dever jurídico de agir para evitar que o facto típico, se produza,
dever que pode resultar da lei, negócio jurídico, e segundo a doutrina dominante,
de uma situação de perigo provocada por ele próprio omitente 15” Assim,
necessário é que este comportamento traduzido numa acção ou omissão seja
penalmente relevante, isto é lese interesses tutelados pela norma jurídico-penal.
Do conceito ora apresentado, exime-se a possibilidade da responsabilidade
criminal em detrimento de conduta adoptadas por animais porquanto a acção
resume-se apenas em comportamento humano, dominado ou dominável pela
vontade;

b)-Ilicitude

É um elemento bastante pertinente da infracção criminal, e consiste no


facto da acção praticada pelo agente ser contrária a ordem jurídica. Tal acção,
(facere ou non facere) deve necessariamente lesar interesses, bem jurídicos que a
norma tutela ou coloca-los em perigo de lesão, violando disposições de carácter
preventivo ou a norma penal propriamente dita. Nestes termos, a acção deve

13
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 64, Luanda, 2003
14
Pressupõe dizer que não são penalmente responsabilizados ou relevantes os actos reflexos, as acções
provocadas por estímulos externos ou pela força irresistível ou as que estão fora do domínio da
consciência.
15
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.367, Luanda, 2014
ser “ correspondente ao tipo com todos os seus elementos objectivos e
subjectivos ”16

Dito de outro modo, o comportamento ou a conduta do agente (acção ou


omissão), deve ser contrário a lei e subsumível a um tipo ilícito sob pena de se
violar um princípio fundamental do Direito Penal que é o princípio da
tipicidade;

c)-Tipicidade

A tipicidade é um elemento da infracção criminal e consiste no facto do


comportamento adoptado pelo agente ser correspondente ao tipo descrito na lei
como crime ou contravenção. Assim, a “tipicidade, é a correspondência formal
e externa da acção ao modelo ou descrição legal”17 os elementos que constituem
a tipicidade podem ser objectivos e subjectivos.

“ São objectivos os elementos que correspondem ao quadro exterior do


crime. Dividem-se em descritivos e normativos, os que se entendem por
referência a uma norma. São elementos subjectivos os que definem a consciência
e a vontade de realizar o crime. Este por sua vez é constituído pelo: Dolo que
grosso modo é entendido coma a intenção maléfica do agente que se traduzirá
na lesão a um bem jurídico tutelado. Assim, quanto a forma o dolo pode ser:

a)-Directo ou intencional: Aquele em que o agente representa e quer o


resultado típico;

b)-Indirecto: Aquele em que o agente representa o resultado típico como


consequência necessária da sua conduta;

c)-Eventual: Aquele em que o agente não quer o resultado típico, mas


representa-o como consequência ou efeito possível da sua conduta e conforma-
se com a sua produção.

16
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.368, Luanda, 2014
17
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 66, Luanda, 2003
O dolo é formado pelo elemento intelectual que se traduz na representação pelo
agente dos elementos descritivos e normativos do tipo; E pelo elemento Volitivo
o agente quer realizar o acto ou produzir o resultado típico”18

d)-Culpabilidade

A culpa é um elemento imprescindível da infracção criminal. Entendida


como a intenção de causar dano, elemento de vontade, correspondente a
imprudência ou negligência. Entretanto, a culpa também é “o nexo de relação
psicológica que liga o agente a acção que praticou. O agente pode ter cometido
o crime com vontade ou intenção de o cometer (dolo) ou simplesmente por
descuido ou leviandade (negligência)19”

Por esta razão afirma-se categoricamente que a culpa enquanto elemento


da infracção criminal traduz-se em:

a)-Dolo: conhecimento e vontade de realização do tipo objectivo é a


expressão de uma atitude pessoal de contrariedade ou indiferença e a

b)-Negligência: violação de um dever de cuidado e criação de um risco


não permitido; expressão de uma atitude pessoal de descuido ou leviandade
perante o dever-ser jurídico-penal. E nesta parte eles são elementos
constitutivos respectivamente do tipo de culpa dolosa e do tipo de culpa
negligente”20

Porquanto, a culpabilidade, traduz-se na susceptibilidade do agente ser


censurado pelo facto de ter cometido o facto de ter cometido o facto típico e
ilícito, quando podia muito bem não o fazer. Desta forma, constituem elementos
da culpabilidade os seguintes:

1-A capacidade de culpa ou imputabilidade.

A imputabilidade traduz-se na capacidade que o indivíduo tem para ser


penalmente responsabilizado. Responsabilidade, capacidade da pessoa em

18
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.368, Luanda, 2014
19
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 66, Luanda, 2003
20
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Parte Geral 2ª ed., Coimbra editora, p.280, 2012
entender que o facto é ilícito e de agir de acordo com esse entendimento. “ Não
possuem esta capacidade os menores de 16 anos e os que possuem anomalia
psíquica, por nenhum deles ser capaz de representar o carácter ilícito dos seus
actos e de agir em conformidade”21.

Por esta razão, as pessoas que pertencem a esta categoria são consideradas
inimputáveis isto é o oposto de imputável. Logo, a inimputabilidade “é uma
nomenclatura largamente utilizada em Direito Penal para designar aquele agente
relativamente ao qual, se não verificam, no momento da prática do crime, as
qualidades de entender e querer que definem a capacidade de culpa”22

2-Consciência da ilicitude

Que consiste no “desconhecimento inevitável da proibição. Não existindo


esses elementos, o agente não responde penalmente, não há culpabilidade23.”
Este elemento culpabilidade é de incomensurável importância para imputação
responsabilizar criminalmente um agente pois “ a culpa é o pressuposto e limite
para aplicação da pena”24

e)-Punibilidade

“Com o tipo de ilícito e o tipo de culpa não se esgota o conteúdo do sistema


do facto penal, antes se torna indispensável completa-lo com uma outra
categoria, que bem poderá chamar-se de punibilidade. É a ideia mestra, a luz
do pensamento racional e dá luz a dignidade penal”. Assim, a punibilidade é a
categoria que, depois do que fica dito, deve designar a última pedra do edifício
do conceito do crime 25 Nesta ordem de ideias, a punibilidade como elemento
da infracção criminal que se traduz na possibilidade de se aplicar ao agente que

21
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.369, Luanda, 2014
22
RAMOS, Grandão. Direito Penal, 2ª ed p. 154, Luanda, 1982
23
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.369, Luanda, 2014
24
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Parte Geral 2ª ed., Coimbra editora, p.47, 2012
25
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Parte Geral 2ª ed., Coimbra editora, p.280 e 678, 2012
adopte uma conduta típica, típica, ilícita e culposa um castigo, deve-se sempre
no momento de se punir o agente obedecer os critérios “ da necessidade, da
adequação, e da proporcionalidade de punição em face da dignidade punitiva
do facto”26 Entretanto, nem todos os autores incluem a punibilidade como
elemento da infracção criminal.

3. Infracção penal: Destrinça entre crime e contravenção

Como já foi visto, os autores são convergentes em afirmar que a infracção


penal traduz-se na violação de uma norma jurídico-penal. Entretanto, em
detrimento do presente estudo e análise compreende-se por infracção penal a
adopção de uma conduta que consistirá na violação de uma norma jurídico-
penal lesando, ou colocando em perigo eminente de lesão bens jurídicos ou
interesses tutelados pela norma violada pelo agente.

Assim, o agente ao adoptar um comportamento que lese a norma jurídica


ou interesses tutelados penalmente, é susceptível de cometer um crime ou uma
contravenção.

Referenciou-se que a distinção entre estas duas categorias de infracção


penal, varia de Estado para Estado. Ademais, a classificação a nível da doutrina
também não é unânime.

Ab initio, entende-se por crime todo comportamento humano que seja


típico, ilícito, culposo, e declarado punível pela lei penal. Assim, dispõe o artigo
1º do Código Penal, que “ Crime ou delito é o facto voluntário declarado punível
pela lei penal”. Do mesmo modo dispõe o referido diploma legal, no seu artigo
3º o conceito de contravenção “ facto voluntário punível, que unicamente
consiste na violação, ou na falta de observância das disposições preventivas das
leis e regulamentos independentemente de toda a intenção maléfica 27”

26
PRATA, ANA, VILALONGA, José. Dicionário Jurídico Direito Penal, editora Almedina, 2ª ed., p.425, 2008
27
RAMOS, v. Grandão, RODRIGUES, Orlando, Código Penal e legislação complementar, escolar editora,
p.5, 2013
Esta é a sistematização feita pelo legislador ordinário angolano,
enquadrando na infracção penal apenas duas categorias: o crime ou delito e as
contravenções. Levando-nos a “ identificar crime com a infracção penal ”28

Assim, à luz dessa sistematização angolana a destrinça que existirá entre


o crime e contravenção, consistirá no facto de no crime ou delito, violar-se a
norma que tutela os bens jurídicos. Ao passo que na contravenção violam-se
normas de carácter preventivo ou seja, previnem a violação de um bem jurídico.
Todavia, quer o crime como a contravenção têm como consequência a pena.

Esta classificação é distinta da que acontece no ordenamento jurídico


brasileiro, em que se inclui como categoria da infracção penal o crime ou delito e
a contravenção utilizando o critério quantitativo da pena para distingui-las “ o
Direito penal brasileiro acolheu um sistema dicotómico, ao fraccionar o género
infracção penal em duas espécies: Crime ou delito e a contravenção penal. O
crime tem como consequência a pena de reclusão ou de detenção, isolada,
alternativa ou cumulativamente com a pena de multa. Já a contravenção, tem
como consequência a pena de prisão simples ou multa, isolada, alternativa ou
cumulativamente 29”

Estados como Alemanha, e a França adoptaram um sistema tricotômico


incluindo na infracção penal, as seguintes categorias: “ Crimes seriam as
infracções mais graves, delitos as intermédias e por último as contravenções
penais albergariam as de menor gravidade30” Assim, compreende-se a destrinça
estabelecida “ aos crimes ou delitos são destinadas as penas mais graves, uma
vez que se procura, por intermédio deles, proteger os bens mais importantes e
necessários ao convívio em sociedade; às contravenções penais, ao contrário, são
cominadas penas mais brandas, haja vista que, por meio delas, procura-se

28
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 55, Luanda, 2003
29
MASSON, Cleber, Direito Penal Esquematizado parte Geral, vol1, 4ª ed., editora Método, S.Paulo,
2011
30
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado parte Geral, vol1, 4ª ed., editora Método, S.Paulo,
2011
proteger bens que não possuem a dignidade penal exigida pelos tipos penais que
prevêem os crimes31”

Para além destas destrinças ora apresentadas, que vão variando de


ordenamento jurídico ou de Estado para Estado, a doutrina estabelece critérios
para destrinça do crime da contravenção:

a)-Critério formal: segundo este critério o crime distingue-se da


contravenção pela natureza da pena aplicável; Critérios desta natureza ou índole
puramente quantitativa, pressupõe naturalmente atrás deles critérios
substanciais. Entre os critérios substanciais propostos pela doutrina é uso
distinguir os conceituais e os teleológicos

b)- Critério de Feuerbach: Segundo o qual as contravenções se


traduziriam somente na violação do direito objectivo, enquanto os crimes
significariam a lesão de direitos ou interesses;

c)- Critério Binding: Que via nos crimes uma lesão ou perigo de lesão de
bens jurídicos, e nas contravenções tão só uma mera desobediência ao comando
do legislador;

d)-Critério do elemento subjectivo: Segundo este critério, nos crimes seria


necessária a imputação a título de dolo ou negligência; Ao passo que nas
contravenções, bastaria nuns casos, a mera negligência.

3.1 Destrinça entre infracção criminal e o crime delito

A doutrina apresenta o conceito de infracção criminal e é convergente em


afirmar como sendo a violação de uma norma penal ou ainda a desobediência
de uma norma penal. A violação desta norma penal implica a existência de

31
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal parte Especial, volume II, 6ª ed., editora Impetus p.92, R.
Janeiro 2009
certos pressupostos, e determinados elementos sem os quais a infracção
criminal já mais existiria.

Entretanto, analisado minuciosamente, recorrendo a um raciocínio lógico


o conceito que nos é apresentado pela doutrina, relativamente ao crime ou
delito “Comportamento humano positivo ou negativo (facere ou non facere) que
seja típico, ilícito, culposo tendo como consequência uma pena ”32,
encontraremos de forma expressa os pressupostos e os elementos da infracção
criminal. Isto é, para que uma conduta ou comportamento seja considerado
crime ou delito, necessário é que haja:

a)-Acção;

b)-Típica;

c)-Ilícita;

d)-Culposa;

e)-Punível.

Assim, se a infracção criminal é entendida como a violação de uma norma


penal. E o crime definido como um comportamento adoptado que lese bens
juridicamente tutelados pela norma jurídica penal, logo, não existirá qualquer
diferença entre Crime e infracção criminal. Todavia, a doutrina entende que
quando se fala em infracção criminal está-se em presença do crime. E quando
se diz infracção penal há susceptibilidade de se enquadrar outras categorias de
violação da norma jurídico-penal, dependendo sempre da sistematização ou do
critério que o Estado adoptou que pode ser: dicotómico ou tricotômico.

Ademais, a expressão criminal faz referência exclusiva ao crime. Ao passo


que a expressão penal refere-se as penas e as medidas de segurança que só são
aplicadas quando se tenha cometido um crime ou o agente apresente
periculosidade suficiente para lesar um bem jurídico tutelado pelo Direito

32
TOLEDO, Francisco de Assis, Princípios Básicos de Direito Penal, 5ª ed., editora Saraiva, p.80, S. Paulo
1994
penal. Por este motivo, a doutrina não é convergente quanto designação deste
ramo do direito Público que é o Direito penal. Porquanto, “ o designativo direito
penal surge como demasiado estreito, uma vez que a consequência pena
depende da existência do crime. Porém as medidas de segurança ligam-se a
comportamentos levados a cabo sem culpa assim, não pode também em bom
rigor chamar-se criminal o direito das medidas de segurança33

1. HISTÓRIA DA PENA

Durante a História da humanidade, a pena sempre foi tratada como um


fenómeno constante que vem sofrendo um processo de evolução na
medida da evolução das sociedades e civilizações humanas. As medidas e
conceitos sobre os fins das penas, associam-se as ideias ou necessidades
que surgem em épocas e períodos que um determinado assunto ganha
espaço num contexto social, político e económico próprio. Os historiadores
consideram várias fases da evolução das penas:

1ª VINGANÇA PRIVADA

Nesta fase a reacção a agressão era a regra, no início dessa fase era a reacção
do indivíduo contra o outro indivíduo. Depois passou a ser contra o grupo
do indivíduo e toda a comunidade em que pertencia. A reacção era
puramente pessoal sem intervenção de estranhos, nesta fase, surgiu depois
o castigo arbitrário e o talião.

2ª VINGANÇA DIVINA

Nesta fase surgiu um poder social, que foi capaz de impor aos homens
normas de condutas e castigo. Punia-se com rigor e crueldade, pois, o
castigo deveria estar em medida proporcional ao deus ofendido.

33
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Parte Geral 2ª ed., Coimbra editora, p.3 e 4, 2012
A vingança divina era exercida no âmbito de um Direito penal religioso,
Teocrático e sacerdotal. Tinha como princípio a purificação da alma do
criminoso através do castigo.

3ª VINGANÇA PÚBLICA

A vingança Pública tinha como o objectivo principal a segurança do


príncipe ou soberano, através da aplicação de penas severas e cruéis.

4ª FASE HUMANITÁRIA

Foi caracterizada pela necessidade de modificações e reformas do Direito


repreensivo havia estudiosos que defendiam uma distribuição igual dos
rendimentos ou vantagens da sociedade, defendiam que as penas não
podiam passar dos imperativos da solução pública. Segundo esses
estudiosos, só as leis podiam culminar em penas e somente o legislador
poderia elabora-la.

O PAPEL DA PENA

O papel da pena e o sistema prisional está inteiramente voltado para o


exterior e para o futuro. O mesmo faz com que o crime não aconteça
novamente praticado pelo mesmo autor ou outros. A pena visa uma função
de reeducação do Condenado.

A aplicação da pena implica uma responsabilização criminal do autor de


um crime. Cada sociedade ou Estado de acordo com a sua realidade e de
acordo com os seus princípios constitucionais que regem o Direito penal,
estabelece a sua moldura penal. O modo de cumprimento da pena,
também varia de Estado para Estado. Na actual fase de desenvolvimento
da sociedade humana, a prisão não pode aparecer como a única forma
geral de penalidade, nem como a condição de uma transformação
psicológica à moral do delinquente.

Os recursos da reacção governamental face aos delitos vêm determinados


em números, eficácia selecção e categoria pela actuação Direito penal. O
Estado tem de recorrer as penas para reforçar as proibições, indicar o que
é permitido e mostrar aos cidadãos que a observância aos mandamentos
legais é imperiosamente necessária, para evitar na medida do possível,
acções ou omissões que ataquem as bases da convivência social.

É a dosagem do rigor da pena que desperta na consciência de cada um o


efeito inibidor da norma penal e imperativa. É preciso punir as infracções
penais para desencorajar a comissão de actos Criminosos.

A pena deve ser aplicada a quem cometeu a infracção e deve ser na medida
conveniente; A pena não é um castigo e nem uma retribuição ao acto
injusto.

A PENA DE PRISÃO

A pena de prisão é uma pena aplicável em sede do Direito penal que


consiste na privação da Liberdade em fase de instrução do condenado,
ficando internado em estabelecimento prisional, pelo tempo determinado
pela sentença transitada em julgado.

Foi a partir do Iluminismo que pensadores críticos passam a censurar de


forma explícita as penas cruéis que na época vigoravam; Essas penas não
cumpriam outra função se não a de atormentar as pessoas visadas. Eram
autênticos castigos.

Um dos reformadores que se destacou na reformação das penas aplicáveis


em Direito penal foi César de Becária. Nas suas obras em particular a
intitulada DOS DELITOS E DAS PENAS, defende o princípio da
proporcionalidade da pena e a sua humanização, afirmando que a
prevenção geral se alcançaria com a eficácia da aplicação da pena e não no
tormento.

Entre as penas e na maneira de aplica-la proporcionalmente aos delitos, é


preciso escolher os meios que devem causar no espírito público a
impressão mais eficaz e mais durável, e ao mesmo tempo menos cruel para
o culpado. A pena de prisão no actual ordenamento jurídico angolano vai
até 24 anos de prisão maior.

PREVENÇÃO ESPECIAL NEGATIVA (Intimidação)

O principal fundamento da pena de prisão segundo a doutrina penal, tem


a ver com a prevenção especial positiva. O objectivo da prevenção especial
positiva é evitar que o delinquente volte a praticar actos criminosos ou
delituosos. A pena é destinada especificamente ao condenado.

E nisto DIAS (2004, P.54) é conivente ao afirmar que:

«As doutrinas da prevenção especial ou individual têm por denominador


comum a ideia de que a pena é um instrumento de actuação preventiva sobre
a pessoa do delinquente com o fim de evitar que no futuro ele cometa nos
crimes. Neste sentido, se deve falar de uma finalidade de prevenção da
reincidência (…) Para uns a correcção dos delinquentes seria uma utopia, pelo
que a prevenção especial só poderia dirigir-se à sua intimidação especial»

Ora neste sentido, a pena visaria em definitivo criar um grande temor ao


delinquente até ao ponto em que ele não repetiria no futuro a prática de
crimes. Enquanto para outros, a prevenção especial lograria alcançar um
efeito de pura defesa social traves da separação ou segregação do
delinquente.

FINS DE PREVENÇÃO ESPECIAL POSITIVA (Ressocialização)

Ora, aqui a pena não mais tem a função de intimidar a pessoa do


delinquente. Porém, criar dentro do sistema prisional, condições
necessárias para que o individuo seja reenquadrado na sociedade. Dito de
outro modo, a finalidade preventivo-especial da pena se traduz e se traduz
só na prevenção da reincidência. E Ibdem (P. 54) Afirma que: « (…) todas estas
doutrinas se irmanam, todavia, no propósito de lograr a reinserção social, a ressocialização
ou (talvez melhor: a inserção social, a socialização, porque pode tratar-se de alguém que
desde sempre foi um dessocializado) do delinquente e merecem, nesta medida, que elas se
considerem como doutrinas da prevenção especial positiva ou de socialização».

Segundo alguns estudiosos os grandes expoentes dessa teoria consistem


em proteger bens jurídicos alvos da acção criminal. A prisão exerce três
grandes funções de acordo ao grupo social em que o sujeito se encontrava
antes de ser condenado:

1ª RESSOCIALIZAÇÃO: Para os delinquentes corrigíveis;

2ª INTIMIDAÇÃO: Para os que não precisam de socialização;

3ª INOCOUIZAÇÃO: Para aqueles insusceptíveis de correcção.

Essa doutrina advoga uma pena dirigida ao tratamento do próprio


delinquente, com o propósito de incidir na sua personalidade para que não
volte a cometer crimes. Essa teoria baseia-se nas ideologias de reeducação,
ressocialização, reinserção, responsabilização, reindividualização e
reincorporação. A execução da pena de prisão tem por objectivo, efectivar
o disposto na respectiva sentença judicial. Esse objectivo é útil para a
sociedade, uma vez que permite a redução da taxa de criminalidade
originada por actos que poderiam ser cometidos pelo detento (Recluso).

PREVENÇÃO GERAL NEGATIVA (Intimidação)

Aqui, o principal objectivo da pena de prisão é criar uma intimidação na


generalidade das pessoas, fazendo com que as mesmas não cometam
crimes. Pois se cometerem ser-lhes-á aplicada uma pena, um castigo como
forma de repressão por seu comportamento criminoso.
PREVENÇÃO GERAL POSITIVA (Confiança no sistema Judicial)

Na prevenção geral positiva, o principal objectivo da pena de prisão é criar


uma confiança na generalidade das pessoas dentro da sociedade, sobre a
confiança no real funcionamento do sistema judicial. A confiança de que o
sistema judicial é funcional e apesar de os órgãos que intervêm na
administração da justiça funcionam de forma coordenada e
interdependente apesar da independência dos tribunais.

AS CONSEQUÊNCIAS DA PENA DE PRISÃO PARA O RECLUSO

A prisão que teoricamente, deveria servir como uma instituição


transformadora na qual o preso seria exposto a técnicas de disciplinamento
e de reconstrução moral, nem sempre assim funciona como seria de
esperar. No entanto, a depressão e os mais variados tipos de psicoses, são
consequências comuns verificadas naqueles que permanecem
encarcerados por longos períodos.

A ausência de relações humanas e de ocupações como o próprio Trabalho


e os problemas sexuais dos quais o recluso é acometido dentro da própria
prisão, ao ser libertado ele leva consigo vários factores que impedem o
retorno à uma vida matrimonial e sexual normal, sejam esses problemas
de natureza Psicológica como: Complexo de culpa pelas relações
homossexuais que mantinha na prisão, falta de apetite sexual, dificuldades
para retornar a vida matrimonial sexual; Ou de natureza Biológica como:
A impotência sexual, ejaculação precoce, doenças venéreas e entre outras
patologias das quais estão sujeitos os reclusos.

Cabe finalmente referir, que toda a convivência prisional do sujeito poderá


surgir implicações psicopatológicas diversas tais como:

DEPRESSÃO;

ESQUIZOFRENIA;
PERTURBAÇÕES DE HUMOR;

SÍNDROME DE PÂNICO.

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