Aulas de Direito Penal II Noite
Aulas de Direito Penal II Noite
Aulas de Direito Penal II Noite
4. O ESTADO1
1
A respeito do tema em análise recomenda-se uma leitura mais aprofundada aos manuais de Introdução à
Ciência Política, Teorias Métodos e temáticas do Professor António José Fernandes e Direito Internacional
Público, do Professor Paulino Lukamba.
apropria de um território e nele institui, por autoridade própria, o poder de dirigir os
destinos nacionais e de impor as normas necessárias à vida em sociedade.
E de facto, podemos considerar o Estado como uma comunidade humana dotada de uma
determinada forma de organização do poder político, sendo este exercido num território
e tendo como grande objectivo garantir a segurança, a justiça e o bem-estar de todos os
cidadãos.
E como afirma FERNANDES (2010, P.P 70-72) «O Estado será pois, a organização
político-jurídica de uma sociedade dispondo de órgãos próprios que exercem o poder
sobre um determinado território. (…)» O Estado tem efectivamente muito a ver com o
território, com os cidadãos que nele vivem e com o poder.
Ora, este é o conceito da mais moderna forma de organização das sociedades. No entanto,
no que diz respeito a sua origem há novamente disparidade doutrinária, porquanto autores
há que advogam a origem do Estado, por volta do ano 500 a.C., com o surgimento das
cidades-Estado na antiga Grécia, mormente conhecidas como polis. Este posicionamento,
certamente deve ser analisado quer do ponto de vista da Ciência Política bem como do
ponto de vista Jurídico-Constitucional.
Pelo que ao nosso ver não poderá colher consenso na doutrina jurídica, pois, tratavam-
se de Cidades como Atenas também tida como o berço da Democracia, em que de facto
existia um regime político e uma autoridade estabelecida. Porém, o entendimento que se
tem de Estado, estas estão muito longe de o ser pois não apresentavam uma separação
funcional dos poderes que eram exercidos.
Em outras palavras, estes cidadãos decidem limitar parte da sua liberdade isto é, vendo
alguns de seus direitos coartados e entregam-nos à tutela desta entidade criada para
protege-los mediante a criação de normas jurídicas. Todavia, o controlo do Estado não se
baseia, simplesmente na força.
A maioria dos Estados deseja que a sua população o reconheça e aceite o direito exclusivo
do uso da força como sendo legítimo apenas ao Estado ou seja, tenta obter uma
legitimidade sobre o monopólio do uso da força.
Somente os indivíduos que estão sujeitos às normas gerais definidas pelos órgãos do
poder que fazem parte da população do Estado. Deste modo, o povo de um Estado é o
conjunto dos indivíduos que se constitui em sociedade política, para a prossecução de
interesses comuns, e se rege por leis próprias sob a direcção de um mesmo poder
soberano. Porém, no entender de HELENA e MENDES (2007, p.10) «O povo, ou seja,
um conjunto de pessoas ligadas por laços de nacionalidade».
2º Território:
1º Legislativa: Que se consubstancia na elaboração das leis que regulam a vida das
comunidades;
2º Executiva: Esta consiste em cumprir e fazer cumprir as leis convista a satisfação das
necessidades colectivas;
3º Judicial: Que se traduz na intervenção que é feita pelo Estado, em matéria de resolução
de litígio.
2
Nota: Ver a este respeito, a realidade angolana, estudando os diferentes órgãos de soberania à luz do artigo
105º da CRA, suas competências e as respectivas funções para melhor contextualizar o texto à nossa
realidade jurídica e política. Por outro lado, muitos aspectos crucias sobre o Estado não foram aqui aflorados
e de forma propositada, de modo a suscitar o espírito investigativo. Pelo que, exorta-se a tomarem contacto
com bibliografia diversa que aflore sobre o tema em estudo.
3
Sobre este ponto de crucial importância para a compreensão do Estado, é fundamental que se consulte
também António José Fernandes, Obra já referenciada, porquanto o mesmo divide estas funções em
políticas e jurídicas.
4.3 Fins do Estado
Criado o Estado e tendo os mecanismos necessários para o exercício das suas funções,
espera-se deste, a prossecução ou a realização de certos fins ou interesses inerentes a
colectividade de pessoas que o legitimaram. Pelo que, aos Estados modernos atribuem-
se-lhes alguns fins a serem preconizados, tais como: Justiça, bem-estar económico, social
e cultural.
1-SEGURANÇA
2-JUSTIÇA
É um fim a ser alcançado quer pelo Estado quanto pelo Direito. Pelo que entendemos
serem valores umbilicalmente inseparáveis, pois ambas as realidades têm uma dimensão
e realidades inseparáveis. Ela surge nas relações estabelecidas entre os cidadãos de um
Estado para substituir a vontade ou arbítrio e aplicar um conjunto de regras capaz de
consensualmente estabelecer um novo sentido ou ordem em que todos se sintam
realizados e não defraudados.
No entanto, SOUSA e GALVÃO (2000, p.25) advertem-nos para uma análise mais
profunda e detalhada ao afirmarem que a Justiça:
Por outro lado, encontraremos a Justiça distributiva, que é respeitante a relação que o
Estado tem para com cidadãos no momento da distribuição dos benefícios, recursos u
riquezas para a satisfação das necessidades colectivas.
As economias cada vez mais complexas são afectadas por problemas de natureza diversa
como a inflação, o desemprego, a exclusão social e a pobreza. A ocorrência destas
situações exige que o Estado desempenhe um conjunto de funções económicas e sociais
com o objectivo de garantir a:
1-EFICIÊNCIA
O mercado4 nem sempre constitui a forma mais eficiente de afetação dos recursos,
gerando-se ineficiências ou desperdícios que designam-se por falhas de Mercado e
consideram-se falhas de mercado as seguintes:
4
Entende-se por Mercado, a instituição básica da Economia em que o preço resulta do ajuste entre a oferta
e a procura, e com a finalidade de realizar uma troca de serviços, produtos e capitais. É o lugar de encontro
entre vendedores e compradores. Ora, do ponto de vista económico o mercado não tem limitações nem de
tempo nem de lugar.
assim o poder do monopólio, pois é este último elemento o principal causador da
Concorrência imperfeita.
c) Os bens Públicos são aqueles, de que tiram proveito um número ilimitado de
pessoas sem que se possa impedir alguém de os utilizar. De forma generalizada o
mercado responde às necessidades dos consumidores fornecendo bens e serviços
de que estes necessitam para a satisfação das suas necessidades. Porém, os bens
púbicos dada as características que o identificam não podem ser oferecidos por
entes privados, levando o Estado a intervir na Economia.
2-ESTABILIDADE
A instabilidade é uma das características identificadoras das Economias em que vigora o
princípio da Livre iniciativa e pelo mercado, pois, nelas é comum ocorrerem
desequilíbrios, como a subida de preços, o aumento do desemprego e quebra da produção.
De maneiras a prevenir situações de instabilidade e ou minimizar os seus efeitos sobre a
vida económica e social, o Estado intervêm nestas situações para garantir a estabilidade
adoptando medidas eficientes para o combate ao desemprego e à inflação no mercado.
3-EQUIDADE
A equidade é um dos fins a ser alcançado pelo Estado. Porém, a repartição dos
rendimentos efectuada pelo mercado (Repartição Primária) gera muitas vezes se não
mesmo na maior parte delas, desigualdades económicas e consequentemente
desigualdades sociais. Assim, o Estado, orientado por princípios de justiça social
intervém na repartição dos rendimentos, garantindo subsídios aos mais desfavorecidos e
realizar a redistribuição dos rendimentos.
4.5 Esferas de Intervenção do estado
Para as sociedades mais modernas e com uma governação voltada para a satisfação das
necessidades colectivas e a realização do bem comum, os Estados, apar das funções que
lhes são tradicionalmente atribuídas, vão alargando as suas áreas de intervenção. E para
os Estados actuais distinguem-se três áreas de intervenção:
POLÍTICA
Cabe ao Estado traçar políticas e criar mecanismos para a sua implementação bem como
a fiscalização sobre aplicação das leis, mediante órgãos criados especificamente para a
realização de tal tarefa. Como Assembleia nacional e os tribunais.
SOCIAL
Para as sociedades com uma economia fundamentada no capitalismo é comum encontrar
desigualdades sociais. Pelo que o Estado é chamado a intervir, criando e adoptando
medidas sociais capazes de elevar o nível de bem-estar dos cidadãos mediante atribuição
de subsídios de doença, desemprego, invalidez etc.
ECONÓMICA
Na esfera económica, a intervenção do Estado consubstancia-se na estabilidade e no
regular funcionamento da Economia ou assegurar o crescimento económico e o
desenvolvimento sustentável da sociedade com o apoio ao empresariado nacional, criação
de um ambiente de negócio favorável para atração do investimento privado, garantindo
para o efeito, condições técnicas e jurídicas.
O presente tópico, cinge-se fundamentalmente, em debruçar-se sobre a eventual
destrinça que possa existir entre a infracção penal e o delito ou crime. Assim, presume-se
ser de capital importância, entender a origem da expressão infracção para que a posterior,
se faça uma abordagem sucinta e precisa da infracção criminal, seus pressupostos e
elementos, aflorando o posicionamento da doutrina e de diversos sistemas jurídico-
penais, quanto ao tratamento da questão em estudo. Ademais, verifica-se que o tratamento
dado a presente questão não é unânime sendo a controvérsia doutrinária fundada nas
palavras criminal e penal.
1.1Etmologia da palavra
5
EDITORES, Texto. Dicionário Integral da Língua Portuguesa, p. 870
6
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 57, Luanda, 2003
7
PRATA, Ana, VILALONGA, José. Dicionário Jurídico Direito Penal, editora Almedina, 2ª edição, p.264,
2008
8
FRAGOSO, Heleno Claudio. Lições de Direito Penal: Parte Geral. 5ª ed., Rio de Janeiro: Forense, p. 146 e
147
seriam as infracções mais graves, delitos as intermédias e por último as
contravenções penais albergariam as de menor gravidade”9
9
MASSON, Cleber. Direito Penal esquematizado Parte Geral, p.171, vol1, 4ª ed., Editora Método,
S.Paulo, 2011.
10
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 58, Luanda, 2003
11
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 58, Luanda, 2003
a)-Sujeito activo: “ é o agente da infracção, é aquele que a comete é o
detentor da voluntas, do elemento psicológico culpa sem o qual é impossível
imputar responsabilidade penal a uma pessoa;
12
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 64, Luanda, 2003
“A infracção penal se revela desde logo como uma conduta, uma acção
material e humana, produtora ou não de um resultado pois não são puníveis os
simples pensamentos”13
a)-Acção
b)-Ilicitude
13
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 64, Luanda, 2003
14
Pressupõe dizer que não são penalmente responsabilizados ou relevantes os actos reflexos, as acções
provocadas por estímulos externos ou pela força irresistível ou as que estão fora do domínio da
consciência.
15
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.367, Luanda, 2014
ser “ correspondente ao tipo com todos os seus elementos objectivos e
subjectivos ”16
c)-Tipicidade
16
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.368, Luanda, 2014
17
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 66, Luanda, 2003
O dolo é formado pelo elemento intelectual que se traduz na representação pelo
agente dos elementos descritivos e normativos do tipo; E pelo elemento Volitivo
o agente quer realizar o acto ou produzir o resultado típico”18
d)-Culpabilidade
18
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.368, Luanda, 2014
19
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 66, Luanda, 2003
20
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Parte Geral 2ª ed., Coimbra editora, p.280, 2012
entender que o facto é ilícito e de agir de acordo com esse entendimento. “ Não
possuem esta capacidade os menores de 16 anos e os que possuem anomalia
psíquica, por nenhum deles ser capaz de representar o carácter ilícito dos seus
actos e de agir em conformidade”21.
Por esta razão, as pessoas que pertencem a esta categoria são consideradas
inimputáveis isto é o oposto de imputável. Logo, a inimputabilidade “é uma
nomenclatura largamente utilizada em Direito Penal para designar aquele agente
relativamente ao qual, se não verificam, no momento da prática do crime, as
qualidades de entender e querer que definem a capacidade de culpa”22
2-Consciência da ilicitude
e)-Punibilidade
21
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.369, Luanda, 2014
22
RAMOS, Grandão. Direito Penal, 2ª ed p. 154, Luanda, 1982
23
NUNES, Elisa Rangel e GOUVEIA, Jorge Bacelar, Direito de Angola, 2ª ed., p.369, Luanda, 2014
24
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Parte Geral 2ª ed., Coimbra editora, p.47, 2012
25
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Parte Geral 2ª ed., Coimbra editora, p.280 e 678, 2012
adopte uma conduta típica, típica, ilícita e culposa um castigo, deve-se sempre
no momento de se punir o agente obedecer os critérios “ da necessidade, da
adequação, e da proporcionalidade de punição em face da dignidade punitiva
do facto”26 Entretanto, nem todos os autores incluem a punibilidade como
elemento da infracção criminal.
26
PRATA, ANA, VILALONGA, José. Dicionário Jurídico Direito Penal, editora Almedina, 2ª ed., p.425, 2008
27
RAMOS, v. Grandão, RODRIGUES, Orlando, Código Penal e legislação complementar, escolar editora,
p.5, 2013
Esta é a sistematização feita pelo legislador ordinário angolano,
enquadrando na infracção penal apenas duas categorias: o crime ou delito e as
contravenções. Levando-nos a “ identificar crime com a infracção penal ”28
28
RAMOS, Grandão. Direito Penal, p. 55, Luanda, 2003
29
MASSON, Cleber, Direito Penal Esquematizado parte Geral, vol1, 4ª ed., editora Método, S.Paulo,
2011
30
MASSON, Cleber. Direito Penal Esquematizado parte Geral, vol1, 4ª ed., editora Método, S.Paulo,
2011
proteger bens que não possuem a dignidade penal exigida pelos tipos penais que
prevêem os crimes31”
c)- Critério Binding: Que via nos crimes uma lesão ou perigo de lesão de
bens jurídicos, e nas contravenções tão só uma mera desobediência ao comando
do legislador;
31
GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal parte Especial, volume II, 6ª ed., editora Impetus p.92, R.
Janeiro 2009
certos pressupostos, e determinados elementos sem os quais a infracção
criminal já mais existiria.
a)-Acção;
b)-Típica;
c)-Ilícita;
d)-Culposa;
e)-Punível.
32
TOLEDO, Francisco de Assis, Princípios Básicos de Direito Penal, 5ª ed., editora Saraiva, p.80, S. Paulo
1994
penal. Por este motivo, a doutrina não é convergente quanto designação deste
ramo do direito Público que é o Direito penal. Porquanto, “ o designativo direito
penal surge como demasiado estreito, uma vez que a consequência pena
depende da existência do crime. Porém as medidas de segurança ligam-se a
comportamentos levados a cabo sem culpa assim, não pode também em bom
rigor chamar-se criminal o direito das medidas de segurança33
1. HISTÓRIA DA PENA
1ª VINGANÇA PRIVADA
Nesta fase a reacção a agressão era a regra, no início dessa fase era a reacção
do indivíduo contra o outro indivíduo. Depois passou a ser contra o grupo
do indivíduo e toda a comunidade em que pertencia. A reacção era
puramente pessoal sem intervenção de estranhos, nesta fase, surgiu depois
o castigo arbitrário e o talião.
2ª VINGANÇA DIVINA
Nesta fase surgiu um poder social, que foi capaz de impor aos homens
normas de condutas e castigo. Punia-se com rigor e crueldade, pois, o
castigo deveria estar em medida proporcional ao deus ofendido.
33
DIAS, Jorge de Figueiredo, Direito Penal Parte Geral 2ª ed., Coimbra editora, p.3 e 4, 2012
A vingança divina era exercida no âmbito de um Direito penal religioso,
Teocrático e sacerdotal. Tinha como princípio a purificação da alma do
criminoso através do castigo.
3ª VINGANÇA PÚBLICA
4ª FASE HUMANITÁRIA
O PAPEL DA PENA
A pena deve ser aplicada a quem cometeu a infracção e deve ser na medida
conveniente; A pena não é um castigo e nem uma retribuição ao acto
injusto.
A PENA DE PRISÃO
DEPRESSÃO;
ESQUIZOFRENIA;
PERTURBAÇÕES DE HUMOR;
SÍNDROME DE PÂNICO.