O Concerto Eterno Ej Waggoner Sem Marcacoes

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O Concerto Eterno:

As Promessas de Deus

Prefácio

Com a idade de 27 anos, o jovem médico E. J. Waggoner teve uma experiência que
descreveu mais tarde como o ponto crucial de sua vida.

Enquanto se achava em uma tenda, escutando a pregação do evangelho em uma


reunião campal, repentinamente começou a brilhar uma grande luz em torno de si, e
a tenda parecia iluminar-se como se o sol estivesse ali dentro. Ele mesmo descreveu
assim ocorrido:

“Vi a Cristo crucificado por mim, e pela primeira vez em minha vida me veio o
pensamento, semelhante a uma corrente transbordante, que Deus me amava, e que
Cristo Se deu pessoalmente por mim. Tudo foi por mim”. A luz que aquele dia brilhou
sobre ele, vinda da cruz de Cristo, se converteu no guia de todo o seu estudo da
Bíblia. Decidiu dedicar o resto de sua vida a descobrir a mensagem do amor de Deus
ao pecador individual, tal como a Escritura o expõe, e a esclarecer esta mensagem a
outros.

Após cerca de vinte anos de estudo, Waggoner escreveu: “Tenho visto a Cristo sendo
apresentado como o poder de Deus para a salvação das pessoas, e isto é tudo o que
tenho encontrado. A Bíblia não foi escrita com outro propósito senão o de mostrar o
caminho da vida. Contém história e biografia, mas são partes da mensagem do
evangelho. Nem sequer uma linha foi escrita que não fosse para revelar a Cristo;
aquele que a lê com um propósito que não seja encontrar nela o caminho para a
salvação do pecado, a lê em vão. Quando estudada à luz do Calvário, é uma delícia, e
assuntos que de outra maneira seriam obscuros, se tornam claros como o meio-dia...

Um assunto aparece em toda a Bíblia: o eterno concerto de Deus. Ao pé da cruz, uma


pessoa pode ver a obra do eterno propósito de Deus, que Ele propôs ‘em Cristo Jesus
antes dos tempos dos séculos’ (II Timóteo 1:9). É apresentada a história panorâmica
desde o Éden perdido até o Éden restaurado”.

‘O Concerto Eterno: As promessas de Deus’ é o resultado de anos de estudo de


Waggoner sobre o assunto do concerto. Foi apresentado primeiramente como um
embrião, na forma de artigos semanais em uma revista religiosa, e mais tarde foi
desenvolvido em algumas conferências dadas a uma assembléia ministerial, no outono
de 1888. Na primavera de 1890 ocorreram encontros ministeriais para tratar
especificamente do assunto dos concertos, o que levou Waggoner a escrever o
manuscrito que foi o precursor deste livro.

Pouco tempo depois de chegar na Inglaterra, na primavera de 1892, enquanto


desenvolvia sua atividade como evangelista, pastor, editor e publicador, Waggoner se
dedicou ainda mais ao estudo e escrita de ‘O Concerto Eterno’. O terminou em maio
de 1896, mas devido à falta de recursos para publicá-lo em formato de livro,
Waggoner o foi oferecendo como artigos semanais na revista inglesa Present Truth (A
Verdade Presente).

Um século depois, volta a estar disponível em forma de livro, formado pelos artigos
que foi publicando semanalmente durante um ano. Se Waggoner estivesse vivo hoje,
sem dúvida voltaria a repetir suas palavras:

“A páginas a seguir têm por objetivo ajudar a todos aqueles que desejam estudar os
mandamentos e promessas da Bíblia em seu verdadeiro contexto... O autor seria o
último a pensar que este livro tenha a última e decisiva palavra sobre o assunto
principal, ou sobre qualquer uma de suas partes. Isto jamais pode ocorrer neste
mundo. O relato do amor de Deus é inesgotável: é tão infinito como o próprio Deus.

Estas páginas têm por objetivo levar a um estudo mais profundo do assunto, mas isto
não significa que eu tenha dúvidas quanto à veracidade do que apresento aqui. Longe
disto. O estudo posterior a respeito do assunto não poderá invalidar os princípios
estabelecidos aqui, mas é certo que aprofundará seguindo esta mesma linha de
raciocínio. Não escrevo isto com espírito de pompa ou orgulho, mas porque sei em
quem tenho crido, e tenho confiança em meu Mestre.

Não há nada de original, nem sequer procuro alguma originalidade: somente copio
algumas poucas riquezas do caráter de Cristo. Se o leitor obtiver a metade da bênção
que obteve quem o escreveu, terá valido a pena” (E.J. Waggoner).
1. A mensagem do evangelho
The Present Truth, 7 de maio de 1896

Os humildes pastores que cuidavam dos seus rebanhos durante a noite nas planícies de Belém, ficaram
assustados pelo repentino resplendor da glória do Senhor que os envolvia. Os seus temores desapareceram
pela voz do anjo, que lhes disse: "Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será
para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor" (Lucas 2:10 e
11).

A palavra "novas" vem do grego, e em outras passagens é traduzida como "evangelho"; portanto nós
poderíamos ler assim a mensagem do anjo: ‘Eis aqui vos trago o evangelho de grande alegria, que será para
todo o povo’. Portanto, podemos aprender várias coisas importantes com este anúncio feito aos pastores.

1. Que o evangelho é uma mensagem que traz alegria. "O reino de Deus... é... justiça, e paz e alegria no
Espírito Santo" (Romanos 14:17). Cristo foi ungido com "óleo de alegria" (Hebreus 1:9), e Ele proporciona
"óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado" (Isaías 61:3).

2. É uma mensagem de salvação do pecado. O mesmo anjo tinha anunciado antes a José o nascimento deste
menino, e lhe indicou: "Chamarás o Seu nome Jesus; porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados"
(Mateus 1:21).

3. Se trata de algo que afeta a cada ser humano: "que será para todo o povo". "Porque Deus amou o mundo
de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito, para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a
vida eterna" (João 3:16).

Isto é uma garantia suficiente para todos, mas querendo enfatizar o fato de que os pobres têm no evangelho
os mesmos direitos que os ricos, o primeiro anúncio do nascimento de Cristo foi feito a homens que
andavam pelos recantos mais humildes da vida. Não foi aos principais sacerdotes nem aos escribas, nem
tampouco aos nobres, mas a pastores de ovelhas a quem foram dadas as alegres novas. Assim, o evangelho
não está fora do alcance de quem não recebeu uma educação formal. O próprio Cristo nasceu e cresceu em
meio da maior pobreza; Ele pregou o evangelho aos pobres, e "a grande multidão O ouvia de boa vontade"
(Marcos 12:37). Visto que o apresentou desta forma às pessoas comuns, que constituem a maioria da
população do mundo, não há dúvida alguma de que se trata de uma mensagem mundial em seu alcance.

"O Desejado de todas as nações"

Mas embora o evangelho seja primeiramente para os pobres, não é algo miserável ou que não possua
nobreza. Cristo Se fez pobre a fim de que pudéssemos enriquecer (II Coríntios 8:9). O grande apóstolo que
foi escolhido para dar a mensagem a reis e aos grandes homens da terra, desejando muito visitar a capital do
mundo, disse: "Não me envergonho do evangelho de Cristo, porque é o poder de Deus para salvação de todo
aquele que crê" (Romanos 1:16). O poder é aquilo que todo mundo procura. Alguns o buscam através da
riqueza, outros pela política, outros através da cultura, e outros de outras formas; mas em toda atividade
realizada pelo homem, o objetivo é o mesmo: adquirir poder de qualquer maneira. Há uma inquietação no
coração de cada homem, um desejo insatisfeito posto ali pelo próprio Deus. A louca ambição que leva
alguns a oprimir a seus semelhantes, a incessante procura de riqueza e a implacável busca de prazer em que
tantos se afundam não são mais que esforços vãos por satisfazer este desejo.

Não é que Deus tenha posto no coração humano o desejo de alguma destas coisas ruins; a busca delas é uma
perversão do desejo que Ele implantou no interior do homem. Deus deseja que o homem tenha o poder de
Deus; mas nenhuma das coisas que o homem procura normalmente traz o poder de Deus. Os homens
imaginam um limite ou quantidade de riqueza que desejam possuir, porque pensam que uma vez alcançada
esta meta ficarão satisfeitos; mas se eles obtém o esperado, ficam tão insatisfeitos como sempre; e assim
continuam procurando a satisfação através do acúmulo de riqueza, não se dando conta de que o desejo do
coração jamais pode ser satisfeito desta maneira.

Aquele que implantou o desejo é o único que pode satisfazê-lo. Deus Se manifesta em Cristo, e Cristo é
verdadeiramente "o Desejado de todas as nações" (Ageu 2:7, Almeida Revista e Corrigida), embora tão
poucos reconheçam que só nEle se acha o perfeito repouso e satisfação. A tudo mortal insatisfeito se faz o
convite, "Provai, e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nEle confia. Temei ao Senhor,
vós, os Seu santos, pois nada falta aos que O temem" (Salmo 34:8 e 9). "Quão preciosa é, ó Deus, a Tua
benignidade, pelo que os filhos dos homens se abrigam à sombra das Tuas asas. Eles se fartarão gordura da
Tua casa, e os farás beber da corrente das Tuas delícias" (Salmo 36: 7 e 8).

Poder é o que os homens desejam neste mundo, e poder é o que o Senhor deseja que tenham. Mas o tipo de
poder que eles procuram significaria a sua ruína, enquanto que o poder que Ele deseja lhes dar é poder que
irá salvá-los. O evangelho traz este poder a cada ser humano, e não se trata de nada inferior ao poder de
Deus. É para todos os que o aceitam. Vamos estudar brevemente a natureza deste poder, já que uma vez o
tenhamos descoberto, teremos perante nós a plenitude do evangelho.

O poder do evangelho

Na visão que o discípulo amado teve do tempo que iria anteceder imediatamente o retorno do Senhor, a
mensagem do evangelho que prepara aos homens para este evento é descrita assim:

"E vi outro anjo voar pelo meio do céu, e tinha o evangelho eterno, para o proclamar aos que habitam sobre
a terra, e a toda a nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo com grande voz: Temei a Deus, e dai-Lhe glória;
porque é vinda a hora do Seu juízo. E adorai Aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas"
(Apocalipse 14:6 e 7).

Aqui temos claramente perante nós o fato de que a pregação do evangelho consiste em pregar a Deus como
a Criador de todas as coisas, e em chamar os homens a que O adorem como tal. Isto corresponde ao que
lemos na epístola aos romanos: que o evangelho "é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê".
Aprendemos algo mais a respeito da natureza do poder de Deus quando o apóstolo, se referindo aos pagãos,
diz: "O que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as Suas
coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o Seu eterno poder, como a Sua divindade" (Romanos
1:19 e 20). Ou seja, desde a criação do mundo, os homens foram capacitados para ver o poder de Deus, se é
que empregam os seus sentidos, já que Ele pode ser reconhecido claramente nas coisas que criou.

A criação mostra o poder de Deus. Assim, o poder de Deus é um poder criador. E visto que o evangelho é o
poder de Deus para a salvação, fica demonstrado que o evangelho é a manifestação do poder criador para
salvar ao homem do pecado. Mas vimos que o evangelho são as boas novas da salvação em Cristo. O
evangelho consiste na pregação de Cristo, e Cristo crucificado. Disse o apóstolo: "Porque Cristo enviou-me,
não para batizar, mas para evangelizar; não em sabedoria de palavras, para que a cruz de Cristo se não faça
vã. Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de
Deus " (I Coríntios 1:17 e 18).

E também: "Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os
gregos. Mas para os que são chamados, tanto judeus como gregos, lhes pregamos a Cristo, poder de Deus, e
sabedoria de Deus" (I Coríntios 1:23 e 24). É por isso que o apóstolo disse: " E eu, irmãos, quando fui ter
convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria.
Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e Este crucificado" (I Coríntios 2:1 e 2).
A pregação de Cristo, e de Cristo crucificado, é a pregação do poder de Deus; portanto, é a pregação do
evangelho, já que o evangelho é o poder de Deus. E isto está em perfeita harmonia com a conclusão de que a
pregação do evangelho consiste em apresentar a Deus como a Criador, visto que o poder de Deus é um
poder criador, e Cristo é Aquele por quem foram criadas todas as coisas. Ninguém pode pregar a Cristo, se
não o apresentar como o Criador. Todos devem honrar ao Filho da mesma forma em que honram ao Pai.
Toda pregação que subestime a importância do fato de que Cristo é o Criador de todas as coisas, não é a
pregação do evangelho.

Criação e redenção

"No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... Todas as coisas foram feitas por
Ele, e sem Ele nada do que foi feito se fez... E o Verbo Se fez carne, e habitou entre nós... cheio de graça e
de verdade" (João 1:1-14). "NEle foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e
invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por Ele e
para Ele. E Ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele" (Colossenses 1:16 e 17).

Prestemos mais atenção ao último texto, e vejamos como se acham em Cristo tanto a criação como a
redenção. Nos versículos 13 e 14 lemos que Deus "nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o
reino do Filho do Seu amor; em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a saber, a remissão dos pecados".
E depois de um parêntese onde a identidade de Cristo é destacada, o apóstolo nos diz de que forma temos a
redenção pelo Seu sangue. Esta é a razão: "porque nEle foram criadas todas as coisas... E Ele é antes de
todas as coisas, e todas as coisas subsistem por Ele".

Portanto, a pregação do evangelho eterno é a pregação de Cristo, o poder criador de Deus, o único através de
quem recebemos a salvação. E o poder com que Cristo salva aos homens do pecado é o poder pelo qual
criou os mundos. Temos a redenção por meio do Seu sangue; a pregação da cruz é a pregação do poder de
Deus; e o poder de Deus é o poder que cria; portanto, a cruz de Cristo leva nela mesma o poder criador. Este
poder é suficiente para todos. Não é surpreendente que o apóstolo exclamasse: "Longe esteja de mim
gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo" (Gálatas 6:14).

O mistério de Deus

Para alguns pode ser uma idéia nova o fato de que a criação e a redenção representam o mesmo poder; na
verdade, isto é um mistério para todos é, sempre será. O próprio evangelho é um mistério. O apóstolo Paulo
desejava as orações dos irmãos, a fim de que fosse dada palavra "para fazer notório o mistério do evangelho"
(Efésios 6:19). Em outra passagem ele afirma que tinha sido ordenado ministro do evangelho, segundo o
dom da graça de Deus que lhe foi dado pela eficaz obra do poder divino, a fim de que pudesse "anunciar
entre os gentios, por meio do evangelho, as riquezas incompreensíveis de Cristo, e demonstrar a todos qual
seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto em Deus, que tudo criou por meio de
Jesus Cristo" (Efésios 3:8 e 9). Vemos aqui mais uma vez o mistério do evangelho como sendo o mistério da
criação.

Este mistério se tornou conhecido pelo apóstolo através de uma revelação. Em sua epístola aos gálatas
vemos como isto aconteceu: "Faço-vos saber, irmãos, que o evangelho que por mim foi anunciado não é
segundo os homens. Porque não o recebi, nem aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus
Cristo". Ele nos dá ainda mais informações em suas palavras: "Quando aprouve a Deus, que desde o ventre
de minha mãe me separou, e me chamou pela Sua graça, revelar Seu Filho em mim, para que O pregasse
entre os gentios, não consultei a carne nem o sangue" (Gálatas 1:11, 12, 15 e 16).

Resumimos os últimos pontos: 1. O evangelho é um mistério. 2. É um mistério que se tornou conhecido pela
revelação de Jesus Cristo. 3. Não foi simplesmente que Jesus Cristo Se revelou a Paulo, mas que lhe deu a
conhecer o mistério através da revelação de Jesus Cristo nele. Paulo teve que conhecer o evangelho antes de
poder pregá-lo a outros; e a única forma em que pôde conhecê-lo foi através da revelação de Jesus Cristo
nele. A conclusão, portanto, é que o evangelho é a revelação de Jesus Cristo nos homens.

O apóstolo expressou esta conclusão claramente em outra passagem lugar, ao afirmar que foi feito ministro
"segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; o
mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos
Seus santos; aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os
gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória" (Colossenses 1:25-27).

Assim, temos plena certeza de que o evangelho consiste em se dar a conhecer Cristo nos homens. Ou mais
exatamente, o evangelho é Cristo nos homens, e a pregação do mesmo consiste em fazer com que os homens
homens saibam que é possível que Cristo more neles. Isto concorda com a indicação do anjo a respeito de
que o nome de Jesus deveria ser Emanuel, "que traduzido é: Deus conosco" (Mateus 1:23); e concorda
também com o momento em que o apóstolo afirma que o mistério de Deus é Deus manifestado em carne (I
Timóteo 3:16).

Quando o anjo tornou conhecido aos pastores o nascimento de Jesus, consistiu no anúncio de que Deus tinha
vindo aos homens em carne; e quando o anjo disse que estas seriam boas novas para todos, estava se
referindo à revelação de que o fato de Deus estar morando em carne humana deveria ser proclamado a cada
ser humano, e este mesmo fato iria repetir-se em todos os que cressem nEle.

Vamos fazer um breve resumo do que aprendemos até aqui:

1. O evangelho é o poder de Deus para a salvação. A salvação vem somente pelo poder de Deus, e ali onde
há o poder de Deus, há salvação.

2. Cristo é o poder de Deus.

3. Mas a salvação de Cristo vem através da cruz; portanto, a cruz de Cristo é o poder de Deus.

4. Assim, a pregação de Cristo e Cristo crucificado é a pregação do evangelho.

5. O poder de Deus é o poder que cria todas as coisas. Portanto a pregação de Cristo e Ele crucificado, como
o poder de Deus, é a pregação do poder criador de Deus posto em ação para a salvação do homem.

6. Isso é assim, visto que Cristo é o Criador de todas as coisas.

7. Não somente isto, mas nEle foram criadas todas as coisas. Ele é "o primogênito de toda a criação"
(Colossenes 1:15); quando foi "gerado", nos "tempos antigos", "nos dias da eternidade" (Miquéias 5:2),
todas as coisas foram virtualmente criadas, já que toda criação subsiste nEle. A substância de toda a criação,
e o poder pelo qual todas as coisas vieram à existência, estava em Cristo. Esta é simplesmente uma
declaração do mistério que só a mente de Cristo pode compreender.

8. O mistério do evangelho é Deus manifestado em carne humana. Cristo na terra é "Deus conosco". Assim,
Cristo morando nos corações dos homens pela fé, é a plenitude de Deus neles.

9. E isto significa a energia criadora de Deus operando no homem através de Jesus Cristo, para sua salvação.
"Se algum está em Cristo, nova criatura é" (II Coríntios 5:17). "Somos feitura Sua, criados em Cristo Jesus
para as boas obras" (Efésios 2:10).

O apóstolo expressou tudo isto quando declarou que pregar as incompreensíveis riquezas de Cristo consiste
em fazer que todos compreendam "qual seja a dispensação do mistério, que desde os séculos esteve oculto
em Deus, que tudo criou" (Efésios 3:8 e 9).
Resumo

No texto que segue abaixo encontramos enumerados os detalhes deste mistério:

"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais
nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para que
fôssemos santos e irrepreensíveis diante dEle em amor; e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus
Cristo, para Si mesmo, segundo o beneplácito de Sua vontade, para louvor e glória da Sua graça, pela qual
nos fez agradáveis a Si no Amado, em quem temos a redenção pelo Seu sangue, a remissão das ofensas,
segundo as riquezas da Sua graça, que Ele fez abundar para conosco em toda a sabedoria e prudência;
descobrindo-nos o mistério da Sua vontade, segundo o Seu beneplácito, que propusera em Si mesmo, de
tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos
céus como as que estão na terra; nEle, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido
predestinados, conforme o propósito dAquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade;
com o fim de sermos para louvor da Sua glória, nós os que primeiro esperamos em Cristo; em quem também
vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nEle também
crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. O qual é o penhor da nossa herança, para redenção
da possessão adquirida, para louvor da Sua glória. Por isso, ouvindo eu também a fé que entre vós há no
Senhor Jesus, e o vosso amor para com todos os santos, não cesso de dar graças a Deus por vós, lembrando-
me de vós nas minhas orações: Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu
conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação; tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para
que saibais qual seja a esperança da sua vocação, e quais as riquezas da glória da Sua herança nos santos; e
qual a sobreexcelente grandeza do Seu poder sobre nós, os que cremos, segundo a operação da força do Seu
poder, que manifestou em Cristo, ressuscitando-O dentre os mortos, e pondo-O à Sua direita nos céus"
(Efésios 1:3-20).

Agora iremos destacar diversos pontos desta declaração.

1. Todas as bênçãos são dadas a nós em Cristo. "Aquele que nem mesmo a Seu próprio Filho poupou, antes
O entregou por todos nós, como nos não dará também com Ele todas as coisas?" (Romanos 8:32).

2. Esta dádiva todas as coisas em Cristo concorda com o fato de que nos escolheu desde a criação do mundo,
a fim de que nEle pudéssemos obter santidade. "Deus não nos destinou para a ira, mas para a aquisição da
salvação, por nosso Senhor Jesus Cristo" (I Tessalonicenses 5:9).

3. Nesta eleição, o destino escolhido para nós é que fôssemos filhos.

4. De acordo com isso, Ele nos aceitou no Amado.

5. No Amado temos redenção pelo Seu sangue.

6. Todo isto é a forma em que nos é possível conhecer o mistério: no cumprimento dos tempos reuniria todas
as coisas em Jesus Cristo, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra.

7. Sendo este o firme propósito de Deus, se deduz que em Cristo já obtivemos uma herança, visto que Deus
faz que todas as coisas se realizem segundo o propósito da Sua vontade.

8. Todos os que crêem em Cristo são selados com o Espírito Santo, que é chamado de "Espírito Santo da
promessa" por ser a certeza da herança prometida.

9. Este selo do Espírito Santo é o penhor da nossa herança até a redenção da possessão adquirida. "Não
entristeçais o Espírito Santo de Deus, no qual estais selados para o dia da redenção" (Efésios 4:30).
10. Os que têm o selo do Espírito sabem quais são as riquezas da glória da Sua herança. Significa que a
glória da herança futura é sua agora mesmo através do Espírito.

Nisto vemos que o evangelho contém uma herança. De fato, o mistério de Deus é a possessão da herança, já
que nEle recebemos uma herança. Vejamos agora a forma em que Romanos 8 resume isto. Não iremos citar
todo o texto da Escritura, mas somente alguns trechos dela.

Os que têm o Espírito Santo da promessa, são filhos de Deus; "Todos os que são guiados pelo Espírito de
Deus, esses são filhos de Deus" (Romanos 8:14). Mas ao ser filhos, somos necessariamente herdeiros;
herdeiros de Deus, visto que somos Seus filhos. E se formos herdeiros de Deus, somos herdeiros juntamente
com Jesus Cristo. Cristo está desejoso de que saibamos, mais do que qualquer outra coisa, que o Pai nos ama
tanto como ama a Cristo.

Mas do que somos herdeiros junto com Cristo? De toda a criação, visto que o Pai o "constituiu herdeiro de
tudo" (Hebreus 1:2), e prometeu que "quem vencer, herdará todas as coisas" (Apocalipse 21:7). Isto é
demonstrado pelo seguinte, segundo o capítulo oito de Romanos: Agora somos filhos de Deus, mas ainda
não parecemos possuir a glória que é própria de um filho de Deus. Cristo foi o Filho de Deus, entretanto o
mundo não O reconheceu como tal, "por isso o mundo não nos conhece; porque não O conhece a Ele" (I
João 3:1). Ao possuir o Espírito, possuímos "as riquezas da glória da Sua herança", e esta glória será
revelada em nós no seu devido tempo, em uma medida que irá ultrapassar em muito a magnitude dos
sofrimentos atuais.

"Porque a ardente expectação da criatura [ou melhor, criação] espera a manifestação dos filhos de Deus.
Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança
de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos
filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E
não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos,
esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo". (Romanos 8:19-23).

O homem se tornou filho de Deus por criação; mas pelo pecado veio a ser filho da ira, filho de Satanás, a
quem prestou obediência em lugar de a render a Deus. Mediante a graça de Deus em Cristo aqueles que
crêem se tornam filhos de Deus, e recebem o Espírito Santo. Assim são selados como herdeiros, até a
redenção da possessão adquirida -toda a criação-, a qual espera a sua redenção, quando a glória dos filhos de
Deus for revelada.

Continuaremos com o estudo do evangelho, dedicando uma atenção especial a respeito do que está incluído
na "possessão adquirida".

E. J. Waggonner
2. O Primeiro Domínio
The Present Truth, 14 de maio de 1896

A PROPRIEDADE ADQUIRIDA

Redimir significa comprar outra vez. O que é que deveria ser comprado de volta?
Evidentemente aquilo que foi perdido, é isto que o Senhor veio Salvar. E o que foi
perdido? O homem. “Porque assim diz o SENHOR: Por nada fostes vendidos; e sem
dinheiro sereis resgatados”. (Isaías 53:3). E o que mais foi perdido? Necessariamente,
tudo o que o homem possuía. Em que consistia? “Também disse Deus: Façamos o
homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a
terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à
sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os
abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a;
dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que
rasteja pela terra”. (Gênesis. 1:26-28).

O salmista disse do homem: “Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que os


anjos e de glória e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras da tua mão
e sob seus pés tudo lhe puseste: ovelhas e bois, todos, e também os animais do
campo; as aves do céu, e os peixes do mar, e tudo o que percorre as sendas dos
mares”. (Salmo. 8:5-8).

Tal era o primeiro domínio do homem, porém não durou muito tempo. Na epístola
aos Hebreus encontramos mencionadas as palavras do salmista:

“Pois não foi a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos
falando; antes, alguém, em certo lugar, deu pleno testemunho, dizendo: Que é o
homem, que dele te lembres? Ou o filho do homem, que o visites? Fizeste-o, por um
pouco, menor que os anjos, de glória e de honra o coroaste e o constituíste sobre as
obras das tuas mãos. Todas as coisas sujeitaste debaixo dos seus pés. Ora, desde que
lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou fora do seu domínio. Agora, porém, ainda
não vemos todas as coisas a ele sujeitas; vemos, todavia, aquele que, por um pouco,
tendo sido feito menor que os anjos, Jesus, por causa do sofrimento da morte, foi
coroado de glória e de honra, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por
todo homem”. (Hebreus. 2:5-9).

Estas palavras apresentam diante de nós um maravilhoso cenário. Deus colocou a


terra, com tudo o que lhe pertence, debaixo do governo do homem. No entanto, não
é isso que vemos agora. “Agora, porém, ainda não vemos todas as coisas a ele
sujeitas”. Por que não? Porque o homem perdeu tudo ao cair. Porém, vemos a Jesus,
“tendo sido feito menor que os anjos”, isto é, foi feito homem, a fim de que possa
ser restaurada a herança perdida a todo aquele que crer. Portanto, a herança perdida
será restaurada aos redimidos tão certamente como Jesus morreu e ressuscitou, e tão
certamente como serão salvos por sua morte e ressurreição aqueles que crêem nele.
Assim indicam as primeiras palavras do texto citado no livro de Hebreus: “Pois não foi
a anjos que sujeitou o mundo que há de vir, sobre o qual estamos falando”. Ele o
sujeitou ao homem? Sim, considerando que o sujeitou ao homem ao criar a terra, e
que Cristo tomou o estado caído do homem a fim de redimir ambos, o homem e sua
propriedade perdida, sendo que veio salvar o que se havia perdido; e visto que nele
ganhamos uma herança, é evidente que em Cristo sujeitamos o mundo que há de vir,
o que corresponde a dizer a terra renovada, exatamente como foi antes da queda.

As palavras do profeta Isaías mostram igualmente: “Envergonhar-se-ão e serão


confundidos todos eles; cairão, à uma, em ignomínia os que fabricam ídolos. Israel,
porém, será salvo pelo SENHOR com salvação eterna; não sereis envergonhados, nem
confundidos em toda a eternidade. Porque assim diz o SENHOR, que criou os céus, o
Deus que formou a terra, que a fez e a estabeleceu; que não a criou para ser um caos,
mas para ser habitada: Eu sou o SENHOR, e não há outro. Não falei em segredo, nem
em lugar algum de trevas da terra; não disse à descendência de Jacó: Buscai-me em
vão; eu, o SENHOR, falo a verdade e proclamo o que é direito”. (Isaías 45:16-19).

O Senhor formou a terra, para que fosse habitada, e sendo que ele faz todas as coisas
segundo o conselho de sua vontade, podemos estar seguros de que seu plano será
levado a bom termo. Entretanto, quando fez a terra, o mar e todas as coisas que
existem neles, e o homem na terra, “Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito
bom”. (Gênesis 1:31). Sendo que o plano de Deus vai cumprir-se, torna-se evidente
que a terra ainda tem que ser habitada por seres humanos que sejam inteiramente
santos, e isso implicará, quando acontecer, uma condição perfeita.

Quando Deus fez o homem, o coroou “de glória e de honra”, dando-lhe domínio sobre
“as obras de suas mãos”. Portanto, era rei, e como sua coroa indica, seu reino era um
reino de glória. Porém, por causa do pecado ele perdeu o reino e a glória, “pois todos
pecaram e destituídos estão da glória de Deus”. (Romanos 3:23).

Jesus desceu então até seu lugar, e por meio da morte, que ele experimentou por
todos resultou “coroado de glória e de honra”. Foi “Jesus Cristo homem” (I Timóteo
2:5), quem recuperou com ele o domínio perdido pelo primeiro homem - Adão. Ele
fez assim com o objetivo de “levar a muitos filhos até a glória”. Nele temos obtido
uma herança; e sendo que é “Jesus Cristo homem” quem subiu ao “mesmo céu, para
agora comparecer, por nós, perante a face de Deus”. (Hebreus 9:24), é evidente que
o mundo que há de vir, que é a nova terra – o “primeiro domínio” -, é a porção do
homem.

Os seguintes textos o fazem igualmente importante: “Assim também Cristo,


oferecendo-se uma vez, para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem
pecado, aos que o esperam para a salvação”. (Hebreus 9:28). Quando foi oferecido,
levou a maldição a fim de poder quitá-la. “Cristo nos resgatou da maldição da lei,
fazendo-se maldição por nós, porque está escrito: Maldito todo aquele que for
pendurado no madeiro”. (Gálatas 3:13). Porém, quando a maldição da lei veio sobre
o homem, veio também sobre a terra, visto que o Senhor disse a Adão: “E a Adão
disse: Porquanto deste ouvidos à voz de tua mulher e comeste da árvore de que te
ordenei, dizendo: Não comerás dela, maldita é a terra por causa de ti; com dor
comerás dela todos os dias da tua vida. Espinhos e cardos também te produzirão; e
comerás a erva do campo”. (Gênesis 3:17 e 18). Quando Cristo foi traiçoeiramente
entregue nas mãos dos homens pecadores, “tecendo uma coroa de espinhos,
puseram-na na cabeça e, em sua mão direita, uma cana; e, ajoelhando diante dele, o
escarneciam, dizendo: Salve, Rei dos judeus!” (Mateus 27:29). Assim, pois, quando
Cristo levou a maldição do homem, ao mesmo tempo levou a maldição da terra.
Portanto, quando vier salvar aos que aceitaram seu sacrifício, vem também renovar a
terra.

OS TEMPOS DA RESTAURAÇÃO

Disse o apóstolo Pedro: “E que envie ele o Cristo, que já vos foi designado, Jesus, ao
qual é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as coisas,
de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade” (Atos 3:20
e 21). E assim, temos as palavras do próprio Cristo: “E, quando o Filho do Homem
vier em sua glória, e todos os santos anjos, com ele, então, se assentará no trono da
sua glória; e todas as nações serão reunidas diante dele, e apartará uns dos outros,
como o pastor aparta dos bodes as ovelhas. E porá as ovelhas à sua direita, mas os
bodes à esquerda. Então, dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos
de meu Pai, possuí por herança o Reino que vos está preparado desde a fundação do
mundo” (Mateus 24: 31-34). Isso será a consumação da obra do evangelho.

Volvamos agora às palavras do apóstolo no primeiro capítulo de Efésios. Lemos ali


que em Cristo estamos predestinados a sermos adotados como filhos; e tal como
vimos em outro lugar, se somos filhos somos herdeiros de Deus, e co-herdeiros com
Jesus Cristo. Portanto, em Cristo temos recebido uma herança, já que ele conquistou
a vitória, e está sentado à direita do Pai, aguardando o tempo em que seus inimigos
sejam postos por estrado de seus pés, e todas as coisas lhe sejam sujeitas. Isto é tão
certo como ele mesmo venceu. Como dádiva dessa herança que temos nele, nos é
dado o Espírito Santo. É da mesma natureza que a herança, fazendo assim que
conheçamos quais sãos as riquezas da glória desta herança. Dito de outra maneira, a
comunhão com o Espírito dá a conhecer a comunhão do mistério.

O Espírito é o representante de Cristo. Por isso, o Espírito morando no homem é


Cristo no homem, a esperança da glória (Colossenses 1:27). E Cristo no homem é o
poder criador no homem, fazendo dele uma nova criatura. O Espírito é dado
“conforme as riquezas de sua glória”, e essa é a medida do poder por meio do qual
somos fortalecidos. Assim, as riquezas de glória da herança, dadas a conhecer pelo
Espírito, não é outra coisa que o poder por meio do qual Deus criará de novo todas as
coisas mediante Jesus Cristo, como no princípio, e por meio do qual criará de novo o
homem, de forma que se corresponda com a herança gloriosa. É assim que, ao ser-
lhes concedido o Espírito em sua plenitude, aqueles que o recebem, “provaram a boa
palavra de Deus e os poderes do mundo vindouro”. (Hebreus 6:5)

Portanto, o evangelho não é algo que pertença exclusivamente ao futuro. É algo


presente e pessoal. É o poder de Deus para salvação de todo aquele que creu, ou que
está crendo. Visto que cremos temos o poder, e esse poder é o poder pelo qual o
mundo que há de vir há de ser preparado para nós, tal como foi no princípio. Logo,
ao estudar aa promessa da herança estamos simplesmente estudando o poder do
evangelho para salvar-nos de presente mundo mal.

QUEM SÃO OS HERDEIROS?

“E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a


promessa”. (Gálatas 3:29).

De quem somos herdeiros, ao ser descendentes de Abraão? Evidentemente da


promessa feita a Abraão. Porém se somos de Cristo, somos herdeiros com ele, já que
os que têm o Espírito são de Cristo (Romanos 8:9), e os que têm o Espírito são
herdeiros de Deus e co-herdeiros juntamente com Cristo. Assim, ser co-herdeiro com
Cristo é ser herdeiro de Abraão.

“Herdeiros segundo a promessa”. Que promessa? A promessa feita a Abraão,


logicamente. Qual foi a promessa? Leiamos a resposta em Romanos 4:13: “A promessa
de que seria herdeiro do mundo, não foi dada a Abraão e a sua descendência pela lei,
e sim mediante a justiça da fé”. Portanto, os que são de Cristo são herdeiros do
mundo. Podemos comprovar já previamente a partir de muitos textos, porém agora o
vemos em definida relação com a promessa feita a Abraão.

Temos considerado também que a herança há de ser outorgada na vinda do Senhor,


já que é ao vir em sua glória quando dirá aos justos: “Vinde, benditos de meu Pai!
Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mateus
25:34). O mundo foi criado para ser a habitação do homem, e foi dado a ele. No
entanto, esse domínio foi perdido. É certo que o homem vive hoje na terra, porém
não está gozando da herança que Deus lhe deu originalmente. Esta consistia na
possessão de uma criação perfeita, por parte de seres perfeitos. Entretanto hoje,
nem sequer a possui, visto que “Geração vai e geração vem; mas a terra permanece
para sempre” (Eclesiastes 1:4). Enquanto que a terra permanece para sempre, “como
a sombra são os nossos dias sobre a terra, e não temos permanência”. (I Crônicas
29:15).

Ninguém possui de fato nada neste mundo. Os homens lutam e se esforçam para
adquirir riqueza, e então “deixam a outros as suas riquezas”. (Salmo 49:10). Porém
Deus fez todas suas obras segundo o conselho de sua vontade; nem um só de seus
propósitos deixará de cumprir-se; e assim, tão certo como o homem pecou e perdeu
sua herança, foi prometida a ele a restauração por meio de Cristo, nestas palavras:
“Porei inimizade entre ti e a mulher, entre o teu descendente e o seu descendente,
este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar”. (Gênesis 3:15). Nessas palavras
foram preditas a destruição de Satanás e toda sua obra. Foi predita a “tão grande
salvação” que havia sido “anunciada primeiramente pelo Senhor” (Hebreus 2:3).
Desta forma, “o primeiro domínio” (Miquéias 4:8), “O reino, e o domínio, e a
majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do
Altíssimo; o seu reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe
obedecerão”. (Daniel 7:27). Esta será uma possessão real, visto que será nova.
A PROMESSA DE SUA VINDA

Porém, tudo o que é anterior será consumado quando o Senhor vier em sua glória, a
quem “é necessário que o céu receba até aos tempos da restauração de todas as
coisas, de que Deus falou por boca dos seus santos profetas desde a antiguidade”.
(Atos 3:21). Portanto, a vinda do Senhor para restaurar todas as coisas, tem sido a
grande esperança posta diante da igreja desde a mesma queda do homem. Os fiéis
têm esperado sempre esse evento, e ainda que o tempo pareça prolongar-se, e a
maioria do povo duvide da promessa, ela é tão segura como a palavra do Senhor. A
seguinte porção da Escritura descreve vividamente a promessa, as dúvidas dos
incrédulos, e a certeza do cumprimento da promessa:

“Amados, esta é, agora, a segunda epístola que vos escrevo; em ambas, procuro
despertar com lembranças a vossa mente esclarecida, para que vos recordeis das
palavras que, anteriormente, foram ditas pelos santos profetas, bem como do
mandamento do Senhor e Salvador, ensinado pelos vossos apóstolos, tendo em conta,
antes de tudo, que, nos últimos dias, virão escarnecedores com os seus escárnios,
andando segundo as próprias paixões e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda?
Porque, desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o
princípio da criação. Porque, deliberadamente, esquecem que, de longo tempo,
houve céus bem como terra, a qual surgiu da água e através da água pela palavra de
Deus, pela qual veio a perecer o mundo daquele tempo, afogado em água. Ora, os
céus que agora existem e a terra, pela mesma palavra, têm sido entesourados para
fogo, estando reservados para o Dia do Juízo e destruição dos homens ímpios. Há,
todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é
como mil anos, e mil anos, como um dia. Não retarda o Senhor a sua promessa, como
alguns a julgam demorada; pelo contrário, ele é longânimo para convosco, não
querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao arrependimento. Virá,
entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso
estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela
existem serão atingidas. Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas,
deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e
apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão
desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua
promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça” (II Pedro 3:1-
13).

Leiamos agora novamente a passagem, e observemos os seguintes pontos: Os que se


esquivam da promessa do retorno do Senhor o fazem ignorando voluntariamente
alguns dos eventos mais importantes e mais claramente expostos na Bíblia, como são
a criação e o dilúvio. A palavra do Senhor criou os céus e a terra no princípio. “Pela
palavra do SENHOR foram feitos os céus; e todo o exército deles, pelo espírito da sua
boca” (Salmo 33:6). Pela mesma palavra a terra ficou coberta pela água, de modo
que a água que a terra armazenava contribuiu para sua destruição. Foi destruída pela
água. A terra, tal como hoje a conhecemos, conserva apenas uma pálida semelhança
com a que foi antes do dilúvio. A mesma palavra que criou e destruiu a terra, é a que
a sustem hoje, até o tempo da destruição dos homens ímpios, quando se converter
em um lago de fogo em lugar de um lago de água. “Porém, segundo a sua promessa,
esperamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça”. A mesma palavra é a
que realiza todas estas coisas.

O GRANDE CLÍMAX

Assim, fica evidente que a vinda do Senhor é o grande evento que têm assinalado
todas as coisas, desde a própria queda. “A promessa de sua vinda” é a mesma
promessa de um novo céu e uma nova terra. Esta foi a promessa feita aos “pais”. Os
que se desviam dela não podem negar que a Bíblia contem essa promessa, porém,
posto que não tem ocorrido nenhuma mudança aparente desde que os pais dormiram,
pensam que não há possibilidade alguma de que se realize. Ignoram o fato de que as
coisas têm mudado muito desde o princípio da criação; e têm se esquecido que a
palavra do Senhor permanece para sempre. “O Senhor não demora em cumprir a sua
promessa”. Observa-se que está no singular, não fala de promessas, mas sim de
promessa. É um fato que Deus não esquece nenhuma de suas promessas, porém o
apóstolo Pedro está se referindo aqui a uma promessa definida, que é a segunda
vinda do Senhor e a restauração da terra. Tratar-se-á de uma “nova terra”, visto que
será restaurada à condição em que estava quando foi criada no princípio.

Embora tenha passado muito tempo – segundo o homem vê as coisas – desde que se
fez a promessa, “o Senhor não demora em cumprir sua promessa”, visto que ele
possui todo o tempo. Mil anos para ele são como um dia. Portanto, têm-se
transcorrido quase uma semana desde que se fez a promessa pela primeira vez, no
tempo da queda. Só tem passado a metade de uma semana desde que “os pais
dormiram”. O passar de uns poucos mil anos em nada tem diminuído a promessa de
Deus. É tão certa como quando foi feita pela primeira vez. Deus não a tem esquecido.
O único motivo porque se tem estendido tanto é porque “ele é longânimo para
convosco, não querendo que nenhum pereça, senão que todos cheguem ao
arrependimento”. Portanto, “e tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor”
(Pedro 3:15), e deveria ser objeto de gratidão pelo grande favor outorgado, em lugar
de considerar sua misericordiosa demora como evidência de falta de fidelidade de
sua parte.

Não se deve esquecer que, se mil anos são como um dia para o Senhor, também um
dia é para ele como mil anos. O que significa isso? Simplesmente, que o Senhor pode
esperar um tempo prolongado – na compreensão do homem –, antes de levar a cabo
seus planos, isso nunca deveria tomar-se como evidência de que em qualquer
momento do processo, uma quantidade determinada de trabalho irá precisar
necessariamente da mesma quantidade de tempo que tomou no passado. Para o
Senhor é tão conveniente um dia como mil anos, se é que sua vontade decidiu que a
obra de mil anos se realize em um dia. E isso certamente vai acontecer, “Porque o
Senhor executará a sua palavra sobre a terra, completando-a e abreviando-a”.
(Romanos 9:28). Um dia será suficiente para a obra de mil anos. No dia de
Pentecostes no foi senão uma amostra do poder com o qual o evangelho há de
avançar no futuro.
Fez-se conveniente fazer um resumo do que realmente representa o evangelho do
reino, e nos referir a promessa feita aos pais como fundamento de nossa fé,
passaremos a estudar mais detidamente a promessa, começando com Abraão, de
quem devemos ser filhos, se é que somos co-herdeiros com Cristo.

Tradução: Marcelo Gomes


3. O Chamado de Abraão
The Present Truth, 21 de maio de 1896

A PROMESSA FEITA A ABRAÃO

Ao estudar esta promessa devemos ter sempre presentes duas porções da Escritura. A
primeira são as palavras de Jesus: “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a
vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim”. “Porque, se, de fato,
crêsseis em Moisés, também creríeis em mim; porquanto ele escreveu a meu respeito.
Se, porém, não credes nos seus escritos, como crereis nas minhas palavras?” (João
5:39, 46 e 47).

As únicas Escrituras existentes nos dias de Cristo eram os livros que hoje conhecemos
como Antigo Testamento. Pois bem: dão testemunho dEle. Não foram escritas com
um propósito diferente deste. O Apóstolo Paulo afirmou que elas são capazes de
fazer o homem sábio para a salvação, pela fé em Cristo (II Timóteo 3:15); e entre
esses escritos, o Senhor assinalou especialmente os livros de Moisés como revelando a
Ele. Aquele que lê os escritos de Moisés, e todo o Antigo Testamento, com qualquer
outra expectativa diferente de encontrar a Cristo, e por meio dEle o caminho da vida,
os lêem em vão e fracassará totalmente em compreendê-los.

O outro texto é II Coríntios 1:19 e 20: “Porque o Filho de Deus, Jesus Cristo, que
entre vós foi pregado por nós, isto é, por mim, e Silvano, e Timóteo, não foi sim e
não; mas nele houve sim. Porque todas quantas promessas há de Deus são nele sim; e
por ele o Amém, para glória de Deus, por nós”. Deus não tem feito nenhuma
promessa ao homem, que não seja por meio de Cristo. A fé pessoal em Cristo é
necessária a fim de receber qualquer coisa que Deus haja prometido. Deus não faz
acepção de pessoas. Oferece gratuitamente suas riquezas a qualquer pessoa; porém
ninguém pode ter parte alguma nelas sem aceitar a Cristo. Isso é perfeitamente justo,
visto que Cristo é dado a Todos, se é que O querem ter.

Tendo em vista esses princípios, lemos o primeiro relato da promessa de Deus a


Abraão: “Ora, disse o SENHOR a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa
de teu pai e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te
abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção! Abençoarei os que te
abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as
famílias da terra” (Gênesis 12:1-3).

Podemos ver pelo mesmo princípio que esta promessa feita a Abraão era uma
promessa em Cristo. O apóstolo Paulo escreveu: “Ora, tendo a Escritura previsto que
Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão
abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente
Abraão”. (Gálatas 3:8 e 9). Isso nos mostra que quando Deus disse que em Abraão
seriam benditas todas as famílias da terra, lhe estava pregando o evangelho. A
benção que haveria de chegar a todo ser humano na terra por meio dele, chegaria
somente a aqueles que tivessem fé.
ABRAÃO E A CRUZ

A pregação do Evangelho é a pregação da cruz de Cristo. Assim, o apóstolo Paulo


afirmou que havia sido enviado para pregar o evangelho, porém não em sabedoria de
palavras, para que não se anulasse a cruz de Cristo. Adicionou que a pregação da cruz
é o poder de Deus para os que se salvam (I Coríntios 1:17 e 18). E isso não é mais que
outra forma de dizer que se trata do evangelho, já que o evangelho é o poder de
Deus para salvação (Romanos 1:16). Portanto, visto que a pregação do evangelho é a
pregação da cruz de Cristo (e não existe salvação por nenhum outro meio), e sendo
que Deus pregou o evangelho a Abraão quando lhe disse: “Em ti serão benditas todas
as famílias da terra”, é evidente que nessa promessa tornou conhecido a Abraão a
cruz de Cristo, e que somente por meio da cruz a promessa poderia ser cumprida.

No terceiro capítulo de Gálatas isso se torna totalmente claro. Na continuação da


afirmação que a promessa da benção é para todas as nações da terra mediante
Abraão, e que os que são da fé são benditos com o crente Abraão, o apóstolo
continua assim: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio
maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado
em madeiro), para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a
fim de que recebêssemos, pela fé, o Espírito prometido”. (Gálatas 3:13 e 14). Aqui se
afirma de forma mais clara que a benção de Abrão, que haveria de vir a todas as
famílias da terra, seria feita exclusivamente mediante a cruz de Cristo.

Esse é um ponto que deve ficar bem fixado na mente desde o início. Toda a confusão
relativa às promessas de Deus a Abraão e à sua semente, provém de não reconhecer
nelas o evangelho da cruz de Cristo. Se recordarem continuamente que todas as
promessas de Deus são em Cristo, que só por meio de sua cruz são alcançadas, e que
por conseqüência são de natureza espiritual e eterna, não haveria dificuldade, e o
estudo da promessa aos pais seria uma delícia e uma benção.

Lemos que Abraão, obedecendo ao chamado do Senhor, saiu da casa de seu pai e de
sua terra natal. “Levou Abrão consigo a Sarai, sua mulher, e a Ló, filho de seu irmão,
e todos os bens que haviam adquirido, e as pessoas que lhes acresceram em Harã.
Partiram para a terra de Canaã; e lá chegaram. Atravessou Abrão a terra até Siquém,
até ao carvalho de Moré. Nesse tempo os cananeus habitavam essa terra. Apareceu o
SENHOR a Abrão e lhe disse: Darei à tua descendência esta terra. Ali edificou Abrão
um altar ao SENHOR, que lhe aparecera. Passando dali para o monte ao oriente de
Betel, armou a sua tenda, ficando Betel ao ocidente e Ai ao oriente; ali edificou um
altar ao SENHOR e invocou o nome do SENHOR”. (Gênesis 12:5-8).

É extremamente necessário que entendamos desde o início que o significado real das
promessas de Deus, e seu trato com Abraão. Isto tornará mais fácil nossa leitura
subseqüente, visto que consistirá na aplicação desses princípios. Nesta última
passagem da Escritura se introduzem uns poucos assuntos que ocupam um lugar muito
importante neste estudo, e vamos destacá-los aqui.

Em primeiro lugar:
A SEMENTE

O Senhor Disse a Abraão, depois que chegou à terra de Canaã: “À tua descendência
darei esta terra”. Se nos apegássemos às Escrituras não teríamos dificuldade alguma
em saber quem é a semente: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu
descendente. Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como
de um só: E ao teu descendente, que é Cristo” (Gálatas 3:16). Isso deveria retirar
para sempre toda dúvida a esse respeito. A semente de Abraão, a quem foi feita a
promessa, é Cristo. Ele é o herdeiro.

Pois nós também podemos ser co-herdeiros com Cristo. “Porque todos quantos fostes
batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Nisto, não pode haver judeu nem grego;
nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em
Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros
segundo a promessa”. (Gálatas 3:27-29).

Os que têm sido batizados em Cristo estão revestidos dEle, portanto estão incluídos
nEle. Assim, ao dizer que Cristo é a semente de Abraão, a quem as promessas foram
feitas, são incluídos todos os que estão em Cristo. Porém a promessa não inclui nada
que esteja fora de Cristo. Pretender que a herança prometida à semente de Abraão
possa ser possuída por qualquer um, exceto pelos que são de Cristo – mediante a fé
nEle - , é ignorar o evangelho e negar a palavra de Deus. “Se alguém está em Cristo,
é nova criatura” (II Coríntios 5:17).

Portanto, visto que a promessa da possessão da terra foi feita a Abraão e a sua
semente, que é Cristo e todos os que estão nEle por meio do batismo, e que portanto,
são novas criaturas, conclui-se que a promessa da terra se referia somente a quem
foram feitas novas criaturas em Cristo, - filhos de Deus pela fé em Cristo. Isso é uma
evidência adicional de que todas as promessas de Deus são feitas em Cristo, e de que
as promessas feitas a Abraão podem ser obtidas somente através da cruz de Cristo.
Não esqueçamos, pois, esse princípio nem por um momento ao ler sobre Abraão e a
promessa que foi feita a ele e a sua semente: o princípio de que a semente é Cristo e
todos os que estão nEle. E ninguém mais.

A TERRA

Abraão se encontrava na terra de Canaã quando Deus lhe disse: “O Deus da glória
apareceu a Abraão, nosso pai, quando estava na Mesopotâmia, antes de habitar em
Harã, e lhe disse: Sai da tua terra e da tua parentela e vem para a terra que eu te
mostrarei. Então, saiu da terra dos caldeus e foi habitar em Harã. E dali, com a
morte de seu pai, Deus o trouxe para esta terra em que vós agora habitais”. (Atos
7:2-4).

Isso não é mais que uma repetição do que temos lido já no capítulo 12 de Gênesis.
Leiamos agora o versículo seguinte: “Nela, não lhe deu herança, nem sequer o espaço
de um pé; mas prometeu dar-lhe a posse dela e, depois dele, à sua descendência,
não tendo ele filho” (Atos 7:5).
Isso nos mostra que, ainda em outras ocasiões se declara simplesmente: “à tua
descendência darei esta terra”, o próprio Abraão está incluído na promessa. Isto se
torna mais evidente nas repetições da promessa que se encontram no livro de Gênesis.

No entanto nos mostra ainda mais: que Abraão não recebeu nenhuma terra como
herança. Nem se quer a porção necessária para colocar um pé sobre ela; ainda que
Deus havia prometido a ele e sua semente depois dele. Que diremos disso? Que a
promessa de Deus falhou? De modo algum. Deus não mente (Tito 1:2), Ele permanece
Fiel (II Tim. 2:13). Abraão morreu sem haver recebido a herança prometida; ainda
que, morreu na fé. Portanto, devemos nele aprender a lição que o Espírito Santo
queria que os judeus aprendessem: que a herança prometida só poderia ser obtida
somente por meio de Jesus e a ressurreição. As palavras do apóstolo Pedro deixam
isso igualmente bastante claro:

“Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez com nossos pais, dizendo a
Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. Ressuscitando
Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, e vos
desviasse, a cada um, das vossas maldades” (Atos 3:25 e 26).

A benção de Abraão, tal como já a temos visto, vem sobre os gentios – todas as
famílias da terra –, mediante Jesus Cristo e sua cruz; porém a benção de Abraão está
relacionada com a promessa que se refere à terra de Canaã. Também essa terra
haveria de ser possuída somente mediante Cristo e a ressurreição. Se fosse de outro
modo, Abraão teria sido desapontado, em lugar de morrer na plena fé da promessa,
como aconteceu. Porém, isso se tornará mais evidente ao avançarmos em nosso
Estudo.

Tradução: Marcelo Gomes


4. O Chamado de Abraão - 2
The Present Truth, 28 maio, 1896

UM ALTAR

Por onde Abraão andava, edificava um altar ao Senhor. É preciso recordar que a promessa de
que todas as nações haveriam de ser abençoadas em Abraão, especificava a inclusão das
famílias. A religião de Abraão era uma religião da família. Nunca se descuidou do altar familiar.
Não se trata de uma vazia linguagem figurada, mas sim a prática real dos pais a quem foi feita a
promessa; promessa , promessa que compartilhamos se temos a fé e prática que eles tiveram.

UM EXEMPLO PARA OS PAIS

Deus disse a Abraão: “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele,
a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo; para que o SENHOR
faça vir sobre Abraão o que tem falado a seu respeito”. (Gênesis 18:19).

Observe as palavras: “ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o
caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo”. Não ordenaria simplesmente que o
fizessem assim, deixando logo o assunto esquecido, senão que, depois de haver dado
mandamento, o resultado seria que guardariam o caminho do Senhor. Isto é, seu ensinamento se
tornaria eficaz.

Podemos estar seguros que os mandamentos que Abraão deu a seus filhos e a sua família não
eram rigorosos nem arbitrários. Os compreendemos melhor ao considerar a natureza dos
mandamentos de Deus. “Seus mandamentos não são pesados” (I João 5:3). “Seu mandamento é
a vida eterna” (João 12:50). Quem deseja seguir o exemplo de Abraão dirigindo a sua família
por meio de regras duras e arbitrárias, e atuando como um juiz severo ou como um tirano,
ameaçando o que irá acontecer se suas ordens não são obedecidas e executadas suas decisões,
não segundo o espírito de Amor – por que são corretas –, mas sim por ser mais forte que seus
filhos e porque estão debaixo do seu poder, tem muito que aprender do Deus de Abraão. “E vós,
pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na admoestação do Senhor”
(Efésios 6:4).

Ao mesmo tempo podemos estar seguros de que seus mandamentos não eram como os de Eli,
débeis e queixosas repreensões a seus ímpios e miseráveis filhos: E disse-lhes: “Por que fazeis
tais coisas? Pois de todo este povo ouço constantemente falar do vosso mau procedimento. Não,
filhos meus, porque não é boa fama esta que ouço” (I Samuel 2:23 e 24). Foi pronunciado juízo
contra ele e sua casa, “Porque já lhe disse que julgarei a sua casa para sempre, pela iniqüidade
que ele bem conhecia, porque seus filhos se fizeram execráveis, e ele os não repreendeu” (I
Samuel 3:13). Em contraste, Abraão transmitiu a benção por toda a eternidade, devido a que os
mandamentos que deu a seus filhos tiveram poder para impedir o mal.

Abraão haveria de ser uma bênção para todas as famílias. Por onde ele andava, era uma benção.
Porém esta benção começou em sua família. Ali esteve o centro. A influencia do céu chegou a
seus vizinhos a partir do círculo da família. E agora bem podemos prestar atenção particular a
afirmação de que quando Abraão edificou um altar, “e invocou o nome do SENHOR” (Gênesis
12:8, 13:4). Young traduz assim: “Pregou em nome de Jeová”. Se prestar atenção aos vários
lugares onde aparece a mesma expressão, notará que a terminologia em hebraico é idêntica a
de Êxodo 35:5, onde lemos que o Senhor desceu na nuvem, permaneceu ao lado de Moisés,
“proclamou o nome de Jeová”. Portanto, podemos compreender que quando Abraão edificou o
altar da família, não estava simplesmente instruindo a sua família imediata, mas que
“proclamou o nome de Jeová” a todo o mundo a seu redor. Do mesmo modo que Noé, Abraão foi
um pregoeiro de justiça (II Pedro 2:5). Deus pregou o evangelho a Abraão, e este o pregou a
outros.

ABRAÃO E LÓ

“Era Abrão muito rico; possuía gado, prata e ouro”. “Ló, que ia com Abrão, também tinha
rebanhos, gado e tendas. E a terra não podia sustentá-los, para que habitassem juntos, porque
eram muitos os seus bens; de sorte que não podiam habitar um na companhia do outro. Houve
contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló. Nesse tempo os
cananeus e os ferezeus habitavam essa terra. Disse Abrão a Ló: Não haja contenda entre mim e
ti e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos parentes chegados”. (Gênesis 13:2,
5-8).

Quando compreendemos a natureza da promessa de Deus a Abraão podemos compreender o


segredo de sua generosidade. Suponhamos que Ló tivesse escolhido a melhor parte do país; isso
não faria nenhuma diferença com respeito a herança de Abraão: Tendo a Cristo, teria todas as
coisas. Sua preocupação não estava centralizada em suas possessões na vida presente, mas na
vida porvir. Aceitaria com gratidão a prosperidade que o Senhor quisesse lhe enviar; porém se
suas riquezas nesta vida fossem extinguidas, isso em nada diminuiria a herança que lhe foi
prometida.

Não há nada como a presença e benção de Cristo para por fim a toda disputa, ou para evitá-la.
Na ação de Abrão encontramos um verdadeiro exemplo cristão. Como o de mais idade, poderia
ter invocado sua dignidade e exigido seus “direitos”. Entretanto, não poderia fazer assim pelo
fato de ser um cristão. O Amor “não busca o que é seu”. Abraão manifestou o verdadeiro
espírito de Cristo. Quando os professos cristãos são sedentos em reclamar as coisas deste mundo,
e temem diante da expectativa de serem privados de alguns de seus direitos, demonstram
indiferença para com a herança eterna que Cristo oferece.

A PROMESSA REPETIDA

A cortesia cristã de Abraão, que era o resultado de sua fé na promessa mediante Cristo, não
passou desapercebida diante do Senhor. Lemos:

“Disse o SENHOR a Abrão, depois que Ló se separou dele: Ergue os olhos e olha desde onde estás
para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente; porque toda essa terra que vês, eu ta
darei, a ti e à tua descendência, para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra; de
maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua
descendência. Levanta-te, percorre essa terra no seu comprimento e na sua largura; porque eu
ta darei” (Gênesis 13:14-17).

Não esqueçamos que “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz: E
aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente,
que é Cristo”. (Gálatas 3:16). Não existe outra descendência de Abraão fora de Cristo e os que
são dEle. Portanto, essa incontável prosperidade que prometeu a Abraão é idêntica à referida
nesta outra passagem da Escritura:

“Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as
nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de
vestiduras brancas, com palmas nas mãos; e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus,
que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação”. “Um dos anciãos tomou a palavra,
dizendo: Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram? Respondi-lhe:
meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação,
lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7:9 e 10, 13 e 14).

Já temos visto que a benção de Abraão vem a todas as nações por meio da cruz de Cristo, de
forma que na declaração de que esta imensa multidão lavou suas vestes e as alvejou no sangue
do Cordeiro, vemos o cumprimento da promessa feita a Abraão com o propósito de uma
descendência impossível de ser contada. “E, se sois de Cristo, também sois descendentes de
Abraão e herdeiros segundo a promessa”. (Gálatas 3:29).

É preciso observar que a repetição da promessa, no capítulo 13 de Gênesis, a terra tem um


lugar muito importante. O vimos em nosso estudo anterior, e voltaremos a encontrá-lo como
característica fundamental da promessa, ali onde esta apareça.

ABRAÃO E MELQUISEDEQUE

A breve história de Melquisedeque é a cadeia que une nosso tempo com o de Abraão e os seus, e
que mostra que a assim chamada “dispensação cristã”, existia nos dias de Abraão tanto como
agora. O capítulo 14 de Gênesis nos diz tudo o que sabemos sobre Melquisedeque. O capítulo 7
de Hebreus repete a história, e faz alguns comentários sobre ela. Há também referências a
Melquisedeque no capítulo 6, no Salmo 110:4.

Esta é a história: Abraão estava regressando de uma expedição contra os inimigos que haviam
tomado Ló como prisioneiro, quando Melquisedeque lhe saiu ao encontro, trazendo pão e vinho.
Melquisedeque era rei de Salém, e sacerdote do Deus Altíssimo. Nesta qualidade abençoou
Abraão, e este lhe deu o dízimo do despojo recuperado. Esta é a história, porém a partir dela
aprendemos lições de grande importância.

Em primeiro lugar vemos que Melquisedeque tinha uma posição superior a Abraão já que
“Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior”, e
também porque Abraão lhe deu o dízimo.

Era um tipo de Cristo; era “a semelhança do filho de Deus” (Hebreus 7:3). Era uma figura de
Cristo por ser ao mesmo tempo rei e sacerdote. Seu nome significa “Rei de justiça”, e Salém, da
qual era rei, significa “paz”; por tanto, não era apenas sacerdote, mas rei de justiça e rei de
paz. De Cristo está escrito: “Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que
eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés. O SENHOR jurou e não se arrependerá: Tu és
sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”. (Salmo 110:1, 4). E o nome com o
qual ele será chamado é “Senhor justiça nossa” (Jeremias 23:6).

As Escrituras se referem nestas palavras sobre a realeza do sacerdócio de Cristo: “E dize-lhe:


Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Eis aqui o homem cujo nome é Renovo; ele brotará do seu
lugar e edificará o templo do SENHOR. Ele mesmo edificará o templo do SENHOR e será
revestido de glória; assentar-se-á no seu trono, e dominará, e será sacerdote no seu trono; e
reinará perfeita união entre ambos os ofícios” (Zacarias 6:12 e 13). O poder que por ele Cristo,
como sacerdote, faz reconciliação pelos pecados do povo, é o poder do trono de Deus sobre o
qual se senta.

Porém o ponto principal, em referência a Melquisedeque, é que Abraão viveu na mesma


“dispensação” que nós vivemos. O sacerdócio era então da mesma ordem que agora. Não é
somente que sejamos os filhos de Abraão, se somos da fé; além disso, nosso Sumo Sacerdote -
que subiu aos céus -, foi feito pelo juramento de Deus Sumo Sacerdote para sempre “segundo a
ordem de Melquisedeque”. Assim em um duplo sentido, está claro que “Se sois de Cristo,
certamente sois descendentes de Abraão, e herdeiros segundo a promessa”. “Abraão, vosso pai,
alegrou-se por ver o meu dia, viu-o e regozijou-se” (João 8:56).

Abraão, portanto, era cristão como os que viveram após a crucifixão de Cristo. “Em Antioquia,
foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos” (Atos 11:26). Porém, os discípulos
não eram diferentes depois de os chamarem cristãos, do que foram antes disso. Quando eram
conhecidos simplesmente como judeus, eram tão cristãos quanto depois de serem chamados
dessa maneira. O nome não significa muito. Foram chamados de cristãos por serem seguidores
de Cristo; no entanto, seguiam a Cristo antes que lhe chamassem cristãos, tanto quanto o
seguiram depois. Abraão, centenas de anos antes dos dias de Jesus de Nazaré, foi precisamente
o que seria cada discípulo em Antioquia a quem chamaram-no cristão: um seguidor de Cristo.
Por tanto, em sentido mais pleno da palavra, foi um cristão. Todos os cristãos, e ninguém mais
que eles, são os filhos de Abraão.

Observe que o sétimo capítulo de Hebreus nos mostra o caso de Abraão e Melquisedeque como
prova de que ele pagou dos dízimos não é uma ordenança levítica. Muito antes do nascimento de
Levi, Abraão pagou os dízimos. E os pagou a Melquisedeque cujo sacerdócio era um sacerdócio
cristão. Por tanto, os que estão em Cristo, e por tanto são filhos de Abraão, darão também o
dízimo de tudo.

Devemos notar que o dízimo era algo bem conhecido nos dias de Abraão. Este deu os dízimos ao
sacerdote de Deus como algo natural. Reconheceu o fato de que a décima parte é do Senhor. O
registro de Levítico não é a origem do sistema do dízimo, mas uma simples constatação do fato.
Até a própria ordem levítica pagou os dízimos em Abraão (Hebreus 7:9). Não se diz acerca de
quando foi dada essa instituição ao homem pela primeira vez, porém vemos que era bem
conhecida nos dias de Abraão. No livro de Malaquias, que está especialmente dirigido àqueles
que vivem justamente “antes que venha o grande e terrível dia do Senhor” (Malaquias 4:5), nos
diz que aqueles que retém os dízimos estão roubando ao Senhor.

O argumento é simples: Abraão deu o dízimo a Melquisedeque; o sacerdócio de Melquisedeque é


o sacerdócio pelo qual vem a justiça e a paz, o sacerdócio que por ele somos salvos. Abraão deu
o dízimo a Melquisedeque por que Melquisedeque era o representante do Deus Altíssimo, e o
dízimo é do Senhor. Se somos de Cristo, somos filhos de Abraão; e se não somos filhos de Abraão,
então não somos de Cristo. Entretanto, se somos filhos de Abraão temos de fazer as obras de
Abraão. De quem somos?

Existe ainda outro ponto a destacar. Se você é observador lhe chamará a atenção o fato de que
Melquisedeque, que foi feito rei de justiça e paz, e sacerdote do Deus Altíssimo, trouxe a
Abraão pão e vinho: são os emblemas do corpo e o sangue de nosso Senhor. Pode-se concluir que
o pão e o vinho tinham por objetivo o sustento físico de Abraão e seus acompanhantes. No
entanto, isso em nada diminui o significado do fato. Melquisedeque saiu em sua qualidade de rei
e sacerdote, e Abraão o reconheceu como tal. Observe a relação em Gênesis 14:18 e 19:
“Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; abençoou
ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra”. É
evidente que o pão e o vinho que Melquisedeque ofereceu adquiriu significado especial pelo fato
de que era sacerdote do Deus Altíssimo. Os judeus do tempo de Cristo se enganaram a respeito
de sua afirmação de que Abraão se alegrou por ver o dia de Cristo. Não podiam ver evidência
alguma deste fato. Podemos nós ver nessa transação uma evidência de que Abraão viu o dia de
Cristo, que é o dia da salvação?

Tradução: Marcelo Gomes


5. O Chamado de Abraão - 3
The Present Truth, 4 de junho de 1896

O PACTO

O capítulo 15 de Gênesis contem o primeiro relato do pacto feito com Abraão.


“Depois destes acontecimentos, veio a palavra do SENHOR a Abrão, numa visão, e
disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo
grande”. Observe: Deus afirmou que ele mesmo era a recompensa [galardão] de
Abraão. Se somos de Cristo, somos semente de Abraão, e conforme a promessa,
herdeiros. Herdeiros de que? – “herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo”
(Romanos 8:17). O salmista se referiu à mesma herança: “O SENHOR é a porção da
minha herança” (Salmo 16:5). Temos, pois, aqui, outro argumento que relaciona a
todo o povo de Deus com Abraão. Sua esperança não é outra, mas sim, a promessa de
Deus feita a Abraão.

A promessa que Deus fez a Abraão não se referia somente a ele, mas também à sua
semente. De forma que Abraão disse ao Senhor: “SENHOR Deus, que me haverás de
dar, se continuo sem filhos e o herdeiro da minha casa é o damasceno Eliézer? Disse
mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha
casa será o meu herdeiro” (Gênesis 15:2 e 3). Abraão não conhecia o plano do Senhor.
Conhecia e cria na promessa, porém, sendo que envelhecia e não tinha filhos, supôs
que a semente que lhe fora prometida viria através de seu servo. Entretanto, esse
não era o plano de Deus. Abraão não haveria de ser o progenitor de uma raça de
servos, mas sim de homens livres.

Então o Senhor lhe disse: “Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado
de ti será o teu herdeiro. Então, conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e
conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade. Ele
creu no SENHOR, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gênesis 15:4-6).

“E Abraão creu no Senhor”. A raiz do verbo traduzido como “creu” é a palavra


“Amém”. A idéia é de firmeza, de um fundamento. Quando Deus pronunciou a
promessa, Abraão disse “Amém”, isto é, edificou em Deus, tomando a palavra de
Deus como fundamento seguro. Relacionado com Mateus 7:24 e 25.

Deus prometeu a Abraão uma grande casa. No entanto, essa casa deveria ser
edificada no Senhor, e assim o compreendeu Abraão, que começou a edificar sem
demora. Jesus Cristo é o fundamento, já que “ninguém pode lançar outro
fundamento, além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” I Coríntios 3:11. A casa de
Abrão é a casa de Deus, edificada “sobre o fundamento dos apóstolos e profetas,
sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Efésios 2:20). “Chegando-vos para
ele, a pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e
preciosa, também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa
espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais
agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo. Pois isso está na Escritura: Eis que
ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de
modo algum, envergonhado” (I Pedro 2:4-6)

“E Abraão creu no Senhor, e isso lhe foi imputado como justiça”. Porque? Porque fé
significa edificar sobre Deus e sua palavra, e isso significa receber a vida de Deus e
Sua Palavra. Preste atenção nos versículos citados pelo apóstolo Pedro, que o
fundamento sobre o qual se edifica a casa é uma pedra viva. O fundamento é um
fundamento vivo, de quem recebem vida os que vêm a Ele, de forma que, a casa que
é edificada é uma casa viva. Cresce a partir da vida de seu fundamento. Porém, o
fundamento é reto: “para anunciar que o SENHOR é reto... nele não há injustiça”
(Salmo 92:15). Por tanto, visto que fé significa edificar em Deus e sua santa palavra,
torna-se evidente que a fé há de ser justiça para quem a possui e a exercite.

Jesus Cristo é a origem de toda fé. A fé tem nEle o seu princípio e o seu fim. Não
pode haver fé real que não tenha seu centro em Cristo. Por tanto, quando Abrão creu
no Senhor, creu no Senhor Jesus Cristo. Deus jamais se tem revelado ao homem,
exceto por meio de Cristo (João 1:18). Que a crença de Abraão foi fé pessoal no
Senhor Jesus Cristo, fica também evidenciado pelo fato de que isso lhe foi imputado
por justiça. E não há justiça, exceto pela fé de Jesus Cristo, “o qual se nos tornou, da
parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (I Coríntios 1:30).
Nenhuma justiça terá o menor valor quando o Senhor aparecer, exceto “a que é
mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus, baseada na fé” (Filipenses
3:9). Porém, visto que Deus mesmo considerou a fé de Abraão como justiça, fica
claro que a fé de Abraão estava centralizada unicamente em Cristo, de quem
procedia sua justiça.

Isso demonstra que a promessa de Deus a Abraão foi unicamente mediante Cristo. A
semente ou descendência seria exclusivamente a que é pela fé de Cristo, já que
Cristo mesmo é a semente. A posteridade de Abraão, que haveria de ser tão
incontável como as estrelas, será composta pela hoste inumerável que lavou suas
vestes no sangue do Cordeiro. As nações, que haveriam de proceder dele, serão “as
nações que foram salvas” (Apocalipse 21:24). Ver Mateus 8:11. “Porque quantas são
as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém”
(II Coríntios 1:20).

“Naquele mesmo dia, fez o SENHOR aliança com Abrão, dizendo: À tua descendência
dei esta terra”, etc (Gênesis 15:18). Nos versículos anteriores encontramos o
estabelecimento desse pacto. Temos primeiramente a promessa de uma posteridade
incontável, e também da terra. Deus disse: “Disse-lhe mais: Eu sou o SENHOR que te
tirei de Ur dos caldeus, para dar-te por herança esta terra” (verso 7). É necessário
recordar esse versículo ao ler o verso 18, porque, neste caso, poderíamos ter a
impressão errada de que houve algo [a terra] que foi prometida somente aos
descendentes de Abraão, excluindo o próprio Abraão. “Ora, as promessas foram
feitas a Abraão e à sua descendência” (Gálatas 3:16). À sua descendência não lhe foi
prometida nada que não foi prometida também a ele.
Abrão creu no Senhor. Apesar disso, disse: “Perguntou-lhe Abrão: SENHOR Deus, como
saberei que hei de possuí-la?” (Gênesis 15:8). Segue a continuação o relato da
partilha ao meio do novilho, da cabra e o cordeiro. Refere-se a ele em Jeremias
34:18-20, quando Deus reprovou o povo por transgredir o pacto.

“Ao pôr-do-sol, caiu profundo sono sobre Abrão, e grande pavor e cerradas trevas o
acometeram; então, lhe foi dito: Sabe, com certeza, que a tua posteridade será
peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por
quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e
depois sairão com grandes riquezas. E tu irás para os teus pais em paz; serás
sepultado em ditosa velhice. Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se
encheu ainda a medida da iniqüidade dos amorreus” (Gênesis 15:12-16).

Temos visto que esse pacto era um pacto de justiça pela fé, visto que a descendência
e a terra se obteriam pela fé na palavra de Deus; fé que a Abraão lhe foi considerada
como justiça [Romanos 4:20-22]. Vejamos agora o que mais podemos aprender dos
textos citados anteriormente.

Fica claro que Abraão haveria de morrer antes que lhe fosse dada a possessão.
Morreria bem avançado em idade, e sua descendência seria estrangeira em terra
alheia durante quatrocentos anos.

Não é somente que Abraão morreria, mas também seus descendentes imediatos, ante
que a semente possuísse a terra que se lhes havia prometido. De fato, sabemos que
Isaac morreu antes que os filhos de Israel fossem ao Egito, e que Jacó e todos seus
filhos morreram na terra do Egito.

“A Abraão foram feitas as promessas, e à sua descendência”. O capítulo que estamos


estudando nos diz o mesmo. É evidente que uma promessa feita à semente de Abraão
não pode cumprir-se dando-se o prometido somente a uma parte dela; e o que foi
prometido a Abraão e sua semente não pode chegar ao cumprimento a menos que
Abrão participe, tanto como sua semente.

O que demonstra o texto anterior? – Simplesmente isto, que promessa do capítulo 15


de Gênesis segundo a qual Abraão e sua semente possuiriam a terra, se referia à
ressurreição dos mortos, e nada menos que isso. O anterior segue sendo correto,
ainda se excluíssemos o próprio Abraão do pacto que ali se enuncia; posto que, como
já temos visto, é indiscutível que muitos dos descendentes imediatos de Abraão
estariam já mortos no tempo do cumprimento da promessa; e sabemos que Isaac,
Jacó e os doze patriarcas morreram muito antes desse momento.

Ainda que deixando Abraão fora, permanece o fato de que a promessa à semente tem
de incluir a semente inteira, e não somente a uma parte dela. Porém, não podemos
excluir da promessa a Abraão. Por tanto, temos positiva evidência de que neste
capítulo encontramos o registro de como foi pregado a Abraão a respeito de Jesus e a
ressurreição.

O CUMPRIMENTO DA PROMESSA TRAZ A RESSURREIÇÃO


Isto nos capacita a compreender melhor por que Estêvão, quando teve que enfrentar
o tribunal por pregar a Jesus, começou seu discurso com uma referência a estas
mesmas palavras. Falando da permanência de Abraão na terra de Canaã, afirmou que
Deus “não lhe deu herança, nem sequer o espaço de um pé; mas prometeu dar-lhe a
posse dela e, depois dele, à sua descendência, não tendo ele filho” (Atos 7:5). Em
sua referência e essa promessa, que era bem conhecida por todos os judeus, Estevão
lhes mostrou de forma indiscutível que só poderia haver cumprimento pela
ressurreição dos mortos, por meio de Jesus.

“E tu irás para os teus pais em paz; serás sepultado em ditosa velhice. Na quarta
geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniqüidade dos
amorreus”. Isto nos permite conhecer a razão pela qual Abraão morreu na fé, apesar
de não haver recebido a promessa. Se ele tivesse esperado recebê-la nesta vida atual,
terminaria decepcionado ao chegar à sua morte sem vê-la cumprida. Porém, Deus lhe
disse claramente que haveria de morrer antes de ver seu cumprimento. Por tanto,
visto que Abraão creu em Deus, está claro que compreendeu o cumprimento da
promessa como relativo à ressurreição, e que creu nela. A ressurreição dos mortos,
como veremos esteve sempre no centro da esperança de todo verdadeiro filho de
Abraão.

Porém, aprendemos algo mais. Na quarta geração, ou depois dos quatrocentos anos,
sua descendência haveria de ser liberada da escravidão, na terra prometida. Porque
não haveria de possuir a terra de uma vez? – Por que a maldade dos amorreus não
havia chegado à sua plenitude. Isso mostra que Deus daria ao amorreus tempo para
arrepender-se, e em seu defeito, tempo para que cumprissem a medida de sua
maldade, demonstrando assim sua desqualificação para possuir a terra.

E isto acentua uma vez mais que a terra que Deus prometeu a Abraão e à sua
semente pode se possuída por um povo justo. Deus não expulsaria da terra aqueles
em que houvesse a mínima possibilidade de chegarem a ser justos. Porém, o fato de
que o povo que haveria de ser destruído de diante dos filhos de Abraão devido à sua
maldade, mostra que se espera que os possuidores da terra sejam justos. Por tanto,
vemos que a descendência de Abraão, a quem foi prometida a terra, haveria de ser
um povo justo. Isto já ficou demonstrado pelo fato de que a Abraão foi prometida
descendência somente por meio da justiça da fé.

Tradução: Marcelo Gomes

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