11 - Nacionalismos Africano e Asiatico

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NACIONALISMO AFRICANO E ASIÁTICO

HABILIDADE A SER ALCANÇADA: Um importante pensador do pan-


africanismo foi o jamaicano Marcus Garvey (1887-
1940). Ele dizia que a África, berço de grandes
• (EF09HI14) Caracterizar e discutir as civilizações, era uma “pátria livre”, pronta para
dinâmicas do colonialismo no continente receber seus filhos. E, como considerava a situação
africano e asiático e as lógicas de resistência do negro na América e na Europa ruim, propunha
das populações locais diante das questões o “retorno à África”. Considerando-se um
internacionais. predestinado, ele próprio criou um organismo para
promover a volta dos negros da Jamaica para a
• (EF09HI31) Descrever e avaliar os processos Libéria, considerada a nação-mãe dos negros de
de descolonização na África e na Ásia. todo o mundo. Seu objetivo maior era recuperar “a 1
África para os africanos”.

DESCOLONIZAÇÃO A negritude, movimento político-literário


nascido no final dos anos 1930, também contribuiu
com ideias que alimentaram as independências
Vimos que no século XIX os europeus se africanas. A negritude teve entre seus principais
apossaram de grandes porções da Ásia e da África representantes o senegalês Léopold Senghor,
e submeteram seus povos. A dominação europeia primeiro presidente do Senegal (1960-1980), e
nesses continentes caracterizou-se pela violência e, Aimé Césaire (natural da Martinica), ambos
por vezes, pela irracionalidade; foram comuns escritores e poetas. Eles defendiam a valorização
práticas como o confisco de terras, o uso de das culturas negras e rejeitavam radicalmente a
trabalho forçado, a cobrança de impostos abusivos dominação colonialista. A ideia central desse
e o racismo, que oprimia os africanos e os asiáticos movimento era que os africanos e seus
em sua própria terra. Esses fatores ajudam a descendentes tinham um patrimônio cultural
explicar a resistência africana e asiática à comum, daí a necessidade de estreitamento e trocas
dominação europeia. Nos trinta anos que se culturais entre eles e de busca por uma vida melhor
seguiram ao final da Segunda Guerra (1945), a e independente.
imensa maioria dos povos daqueles continentes A revista Présence Africaine, fundada em
conquistou sua independência. Paris, em 1947, pelo filósofo senegalês Alioune
Os principais fatores da independência dos Diop, teve um papel importante na difusão da
povos africanos e asiáticos foram: a luta dos história africana, da negritude e do pan-africanismo
próprios africanos e dos asiáticos pela na Europa.
independência de seus países; o enfraquecimento
das potências colonialistas europeias devido às
perdas sofridas durante a Segunda Guerra, já que, DESCOLONIZAÇÃO DA ÁFRICA
no imediato pós-guerra, os europeus passaram a
canalizar seus esforços para a reconstrução de seus
países, o que facilitou a ação da resistência africana Em 1945, o número de países africanos
e asiática ao colonialismo europeu; a força de independentes era muito reduzido. Nos trinta anos
movimentos como o pan-africanismo e a negritude. seguintes, a maior parte da África tinha
conquistado sua independência.
O pan-africanismo foi um movimento
político-ideológico surgido na América Central e Com um território oitenta vezes maior do
nos Estados Unidos no início do século XX, que que o da Bélgica e situado no coração da África, o
visava transformar a situação de todos os africanos Congo foi inicialmente propriedade particular do
e seus descendentes, chamados à época de “raça rei belga Leopoldo II (1865-1909); depois, passou
negra”. A intenção dos líderes do movimento era à administração da Bélgica. Rico em cobre, zinco,
libertá-los da pobreza e da opressão. Mas a noção manganês, urânio e diamante, o Congo atraiu
de raça dos líderes do pan-africanismo não era a poderosas companhias internacionais, como a
mesma que a dos europeus: para eles, raça era um Unilever e a Companhia Mineira do Alto Katanga,
fator capaz de unir e conferir identidade aos que exploravam suas riquezas em troca de
diversos povos negros da África na luta contra os baixíssimos salários pagos aos congoleses.
dominadores.
A administração belga era autoritária e Em Lisboa (Portugal), em 1951, um grupo
racista; os congoleses não tinham liberdade de de universitários vindos da África fundou o Centro
expressão, nem de representação, e só podiam de Estudos Africanos. Entre esses jovens estavam
frequentar a escola por quatro anos. Para lutar Amílcar Cabral (Guiné-Bissau), Agostinho Neto e
contra a opressão e a discriminação racial, os Mário Pinto de Andrade (Angola), Francisco
congoleses criaram em 1956 a Abako, Associação Tenreiro (São Tomé e Príncipe) e Noémia de Sousa
do Baixo Congo, chefiada por J. Kasavubu e, no (Moçambique). Essa geração de militantes
ano seguinte, o Movimento Nacional Congolês africanos – conhecida como “geração de 50” – usou
(MNC), liderado por Patrice Lumumba. Sob a a poesia como arma de combate ao colonialismo.
liderança de Lumumba, os congoleses organizaram
Muitos deles continuaram a luta por seus
uma série de manifestações de rua e greves pela
ideais nos movimentos de libertação que se
independência. Pressionados pela resistência
formaram em seus países. Entre esses movimentos
congolesa, os belgas se retiraram e, em 30 de junho
estavam o MPLA (Movimento Popular para a
de 1960, o Congo tornou-se independente; o 2
Libertação de Angola), liderado por Agostinho
primeiro chefe de governo foi o próprio Patrice
Neto (1922-1979), a Frelimo (Frente para a
Lumumba.
Libertação de Moçambique), dirigida mais tarde
Mas o projeto de Lumumba de unir os por Samora Machel (1933-1986), e o PAIGC
congoleses em torno de um Estado nacional não (Partido Africano para a Independência da Guiné e
prosperou. Com o apoio dos Estados Unidos, a rica de Cabo Verde), sob a liderança de Amílcar Cabral
província de Katanga moveu uma guerra (1924-1973). Durante anos, o governo salazarista
separatista contra as forças de Lumumba, que, por enviou milhares de soldados armados com
sua vez, recebiam ajuda da União Soviética. A metralhadoras e aviões para reprimir os
guerra civil terminou com a vitória do coronel movimentos africanos pela independência; o que
Joseph-Desiré Mobutu, aliado dos estadunidenses, adiou, mas não impediu a vitória desses
que assumiu o poder em 1961; Lumumba foi preso movimentos.
e assassinado em circunstâncias misteriosas, o que
Em Portugal, os gastos com a guerra na
levou a ONU a intervir no país para assegurar a
África (cerca de 40% do orçamento nacional) e a
independência.
morte de milhares de jovens soldados portugueses
Na África sob domínio português, a vida geraram forte descontentamento, o que contribuiu
dos africanos também era marcada por intensa para a eclosão da Revolução dos Cravos (25 de
exploração. Os angolanos, por exemplo, abril de 1974). Liderada por jovens oficiais das
trabalhavam para os portugueses nas plantações (de Forças Armadas portuguesas e contando com
cana-de-açúcar, milho, café, amendoim), nas minas amplo apoio popular, a Revolução dos Cravos
(de diamantes) e nas cidades, em troca basicamente derrubou a ditadura salazarista, que vigorava em
de roupa e comida, já que os melhores empregos Portugal havia 42 anos.
eram reservados aos portugueses vindos da
Vitorioso, o novo governo português
metrópole. Em 1930, angolanos pressionaram o
adotou o seguinte lema: “Democracia em nosso
governo português por melhores condições de
país, descolonização na África”. E, depois de
trabalho e obtiveram uma conquista: o sistema de
dissolver a polícia política portuguesa, encaminhou
contrato. Por meio dele, o governo português
o reconhecimento das independências africanas.
prometia pagar um salário aos trabalhadores
Moçambique teve a independência reconhecida em
africanos e respeitar seus costumes e valores. Mas,
25 de junho de 1974, sob a presidência de Samora
no interior, isso pouco adiantou, pois a autoridade
Machel; Angola, em 11 de novembro de 1975, sob
eram os próprios colonos portugueses. Além disso,
a presidência de Agostinho Neto.
a Pide, polícia política do governo português,
liderado pelo ditador António de Oliveira Salazar, Em alguns países africanos independentes,
reprimia à bala toda e qualquer manifestação os nativos tiveram de lutar contra a opressão de
popular angolana. A violência do governo regimes segregacionistas como o da Rodésia e o da
português provocou um aumento da consciência África do Sul.
política e da resistência africana, dentro e fora da
África.
No começo do século XX, a África do Sul, ÍNDIA
país rico em recursos minerais, era habitada por
povos negros, como os bosquímanos, os xosas e os
zulus, e por descendentes de holandeses e ingleses Na Ásia, vamos acompanhar o movimento
(cerca de 15% da população). Essa minoria impôs pela independência na Índia.
à maioria negra uma série de leis segregacionistas,
em 1911. Diante disso, os negros, liderados por No século XIX, a Índia era conhecida
Pixley Ka, fundaram, no ano seguinte, um partido como a joia mais preciosa da Coroa Britânica, tal a
político para lutar por seus direitos, o Congresso grandeza do lucro obtido pelos britânicos no país.
Nacional Africano (CNA). No início do século XX, a resistência indiana à
dominação britânica passou a contar com a
Em 1948, a minoria branca decidiu liderança de Mohandas Gandhi (1869-1948), mais
oficializar o apartheid: regime segregacionista que conhecido como Mahatma (Grande Alma).
obrigava os negros a morar em lugares separados
Para enfrentar a dominação inglesa, 3
dos brancos, a frequentar escolas, praias e
banheiros só para negros e a andar constantemente Gandhi propôs e liderou a resistência pacífica,
com um passe, de modo que a polícia pudesse tática baseada na não violência e na desobediência
controlar seu deslocamento. Eram proibidos civil. Ou seja, os indianos eram incentivados a não
também de possuírem terras em 87% do território usar e nem comprar produtos ingleses, a
nacional, apesar de serem muito mais numerosos desobedecer às leis que os discriminavam dentro da
do que os brancos. própria Índia e a não pagar impostos como, por
exemplo, o imposto sobre o sal.
Reagindo a essa situação, o Congresso
Nacional Africano (CNA) promoveu várias Nos anos 1930, o movimento de resistência
manifestações contra o governo racista de seu país. pacífica alcançou grande popularidade e
Numa delas, em 1964, o governo prendeu oito reconhecimento internacional. Internamente,
líderes do CNA, entre eles Nelson Mandela, que foi Gandhi empenhou-se de várias formas (praticou
condenado à prisão perpétua. Nas décadas inclusive a greve de fome) para unir hindus e
seguintes, as lutas pelo fim do racismo se muçulmanos (24% da população na Índia), em
intensificaram. Em junho de 1976, milhares de torno da luta pela independência.
estudantes negros foram às ruas de Johanesburgo, Pressionado pela resistência indiana e
a maior cidade do país, em protesto contra a abalado pela crise decorrente das perdas sofridas
imposição da língua africâner nas escolas. A com a Segunda Guerra, o governo britânico aceitou
polícia atirou contra as crianças e os jovens que negociar a independência com os indianos. Mas
marchavam vestidos com seus uniformes escolares. optou pela divisão da Índia em dois países:
Cento e setenta crianças foram mortas no episódio, República da Índia, de maioria hindu; República
que ficou conhecido como Massacre de Soweto. do Paquistão, oriental e ocidental, de maioria
O fato chocou a opinião pública mundial: muçulmana.
alguns países passaram a boicotar economicamente Em 1971, o Paquistão Oriental constituiu
a África do Sul, e a ONU determinou a proibição um país separado, de nome Bangladesh. Observe
da venda de armas ao país. Sob forte pressão o mapa.
interna e externa, o governo sul-africano anulou as
leis do apartheid em 1990; Nelson Mandela foi
libertado da prisão, o CNA recuperou a legalidade
e os negros passaram a ter os mesmos direitos civis
e políticos dos brancos.
Em 1994, ocorreram as primeiras eleições
com a participação dos negros na África do Sul.
Mandela foi eleito presidente da República e, com
o apoio da maioria no Parlamento, conseguiu mais
uma conquista: aprovou a Lei de Direitos sobre a
Terra, que restituiu às famílias negras as terras que
lhes tinham sido usurpadas havia décadas.
SURGIMENTO DO TERCEIRO MUNDO

As lutas pela independência da África e da


Ásia também contaram com a solidariedade dos
países recém-libertos. Na Conferência de
Bandung, realizada na cidade de Bandung, na
Indonésia, em 1955, 29 países independentes se
autodenominaram Terceiro Mundo, declararam-se
não alinhados, ou seja, neutros na Guerra Fria entre
Estados Unidos e União Soviética, e prometeram
apoiar as independências na África e na Ásia.
Terceiro Mundo: expressão criada em 4
1952 pelo estudioso francês Alfred Sauvy, que
definia os países pobres independentes em
contraste com as nações do Primeiro Mundo,
lideradas pelos Estados Unidos, e as do Segundo
Mundo, lideradas pela União Soviética.

(Extraído e adaptado de: BOULOS JÚNIOR, Alfredo.


História sociedade & cidadania: 9º ano: ensino
fundamental: anos finais. 4. ed. São Paulo: FTD,
2018. p. 164-173.)

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