Efficiency and Milk Production Systems: The Case of The Programa de Desenvolvimento Da Pecuária Leiteira (PDPL)

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EFICIÊNCIA E SISTEMAS DE PRODUÇÃO DE LEITE: O CASO DO PROGRAMA

DE DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA LEITEIRA (PDPL)

EFFICIENCY AND MILK PRODUCTION SYSTEMS: THE CASE OF THE


PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO DA PECUÁRIA LEITEIRA (PDPL)

Adriano Provezano Gomes


Universidade Federal de Viçosa
E-mail: [email protected]

Gabriel Teixeira Ervilha


Universidade Federal de Viçosa
E-mail: [email protected]

Tomaz de Paula Melo


Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira
E-mail: [email protected]

Grupo de Trabalho (GT): GT08. Pesquisa, inovação e extensão rural

Resumo
O objetivo do trabalho foi avaliar o desempenho técnico e econômico, bem como calcular medidas de eficiência
na produção de leite, considerando dois sistemas intensivos de produção leiteira: semiconfinado e confinado. Para
isso, foi utilizada uma amostra de produtores de leite que receberam assistência técnica e gerencial do Programa
de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL), em 2021. Com base na comparação entre diferentes indicadores
de desempenho técnico e econômico e utilizando a técnica de Análise Envoltória de Dados (DEA) para calcular
as medidas de eficiência, constatou-se que as propriedades rurais mais intensivas em confinamento apresentaram
melhores resultados técnicos, econômicos e de eficiência. Apesar da identificação de melhores resultados para o
sistema confinado, não foi objeto do estudo identificar o melhor sistema, mas sim compará-los, de forma a
identificar as oportunidades tecnológicas e seus possíveis resultados. A escolha de qual sistema de produção
utilizar deve levar em consideração diversos fatores, como aptidão regional e, principalmente, a disponibilidade
de recursos. Nesse contexto, deve-se garantir a difusão de informações quanto às práticas de financiamento e de
seguro em atividades agropecuárias, facilitando a tomada de crédito para melhorias no sistema de produção
leiteiro.
Palavras-chave: Produção de leite; Eficiência; Sistemas de produção; Programas de assistência técnica.

Abstract
The objective to paper was to evaluate the technical and economic performance, as well as calculate measures of
efficiency in milk production, considering two intensive dairy production systems: semi-confined and confined.
For this, it was used a sample of milk producers who received technical and managerial assistance from the
Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira, in 2021. Based on the comparison between different
technical and economic performance indicators and using the technique of Data Envelopment Analysis (DEA) to
calculate the efficiency measures, it was found that the most intensive farms in confinement presented better
technical, economic and efficiency results. Despite the identification of better results for the confined system, it
was not the object of the study to identify the best system, but to compare them, to identify technological
opportunities and their possible results. The choice of which production system to use must consider several
factors, such as regional aptitude and, mainly, the availability of resources. In this context, it is necessary to
guarantee the dissemination of information regarding financing and insurance practices in agricultural activities,
facilitating the taking of credit for improvements in the dairy production system.
Keywords: Dairy farming; Efficiency; Production systems; Technical assistance programs.

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1. Introdução

O dinamismo dos mercados globais faz com que os processos produtivos sejam cada
vez mais eficientes, de forma a garantir os bens e serviços na qualidade, quantidade e preços
desejados. Diante disso, a inovação e a tecnologia tornaram-se essenciais para a permanência
no mercado, mesmo em setores considerados mais tradicionais, como a pecuária leiteira. Nessa
perspectiva, de forma a se manterem operantes na atividade, é fundamental que os produtores
rurais busquem permanentemente ferramentas tecnológicas que possibilitem aumentos na
produção e na produtividade e, consequentemente, maior lucratividade (PILATTI, 2017).
As características da pecuária leiteira brasileira fazem com que o setor seja um
importante objeto de estudo para análises de eficiência e da dinâmica tecnológica.
Primeiramente, deve-se destacar a abrangência territorial da produção de leite, bem como seu
papel central na geração de emprego e renda. Dotada de produção de 34,84 bilhões de litros de
leite, em 2019 (EMBRAPA, 2021), a atividade leiteira no Brasil se distribui por 552 das 558
microrregiões brasileiras, empregando quatro milhões de trabalhadores, sendo 1,3 milhão de
produtores (EMBRAPA, 2019). Por outro lado, a produção de leite não apresenta um padrão
produtivo, existindo desde propriedades familiares até grandes produtores, com diferentes
níveis de tecnificação e produção.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO, 2019), em 2017, o Brasil foi responsável por 4,74% da produção mundial, sendo o quarto
maior produtor. Contudo, neste mesmo ano, a produtividade brasileira foi de apenas 5,38 litros
diários por vaca, fazendo com que o país ocupasse somente a 84ª posição no ranking mundial.
Nessa conjuntura produtiva, existem produtores que alcançam índices compatíveis com os
melhores indicadores internacionais, enquanto muitos outros produtores apresentam baixos
níveis tecnológicos, pequeno volume de produção e indicadores de desempenho técnico e
econômico abaixo dos adequados para a manutenção da sustentabilidade produtiva.
Nesse contexto, observa-se a necessidade de diferentes sistemas produtivos, que devem
atender às realidades de cada propriedade rural, dadas as questões regionais, raças, manejo
alimentar, entre outras especificidades. Assim, os produtores de leite podem desenvolver e
implementar diferentes tecnologias de manejo do gado e produção de leite, adotando desde o
sistema pastoril, até os diferentes sistemas de criação semiconfinado e em confinamento
(ZANIN et al., 2015).
Nesse sentido, o presente trabalho busca analisar a eficiência técnica de produtores
rurais segundo os diferentes sistemas de produção de leite, com destaque para os sistemas
tecnológicos semiconfinado e confinado. Para isso, serão calculadas medidas de eficiência para
um grupo de produtores selecionados que fazem parte do Programa de Desenvolvimento da
Pecuária Leiteira (PDPL), buscando identificar e tipificar aqueles que mais se destacam. Parte-
se da hipótese que sistemas de produção mais tecnificados, como o sistema confinado, geram
maiores indicadores de eficiência, técnicos e econômicos.
Apesar da literatura apresentar trabalhos que buscam comparar os sistemas produtivos
leiteiros (LOPES et al., 2004; LOPES, SANTOS e CARVALHO, 2012; LOPES e SANTOS,
2012; DOMENICO et al., 2015; ZANIN et al., 2015; DALCHIAVON et al., 2017; TASSO,
2017; TRINDADE, 2018; HUPPES et al., 2020; ZULPO e CARVALHO, 2020; MEINL e
VIEIRA, 2022), este estudo avança ao utilizar propriedades que são assistidas tecnicamente e
já possuem indicadores técnicos e econômicos acima da média nacional, o que possibilita
comparar estruturas homogêneas quanto à assistência técnica, mas com sistemas produtivos
distintos. Ademais, as 27 propriedades estudadas estão localizadas em Minas Gerais, estado
com maior produção nacional de leite (27,11% da produção nacional), mais especificamente na
Zona da Mata mineira, nona região geográfica brasileira em produção, com 2,36% da produção

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nacional de leite (EMBRAPA, 2021), tornando a questão geográfica também um ponto
homogêneo.
Espera-se com essa pesquisa, comparar os diferentes sistemas produtivos de leite, de
forma a possibilitar a identificação de novas oportunidades produtivas para os produtores de
leite, bem como fornecer respaldo para a análise de viabilidade de investimentos em estruturas
produtivas de confinamento.

O artigo encontra-se organizado em cinco seções, incluindo esta introdução. A seção 2


apresenta uma breve descrição dos sistemas de produção na pecuária leiteira. Na seção 3
encontram-se os procedimentos metodológicos e os dados utilizados e, na seção 4, a
apresentação e discussão dos resultados obtidos. Por fim, na seção 5, são feitas as considerações
finais.

2. Sistemas de produção na pecuária leiteira

A produção leiteira no Brasil é realizada por diferentes sistemas produtivos, que podem
apresentar vantagens e desvantagens dependendo de fatores como manejo nutricional,
disponibilidade de alimento, genética dos animais e a disponibilidade financeira do produtor
rural. A Figura 1 apresenta os diferentes sistemas de produção de leite, com destaque para os
sistemas intensivos confinado e semiconfinado que serão o foco do presente estudo.

Figura 1: Sistemas de produção de leite


Fonte: Trindade (2018).

Segundo Assis et al. (2005) e Milanez et al. (2018), os sistemas de produção de leite
representados podem ser assim definidos:
(i) Sistema extensivo a pasto (campo): consiste no uso de pasto durante todo o ano,
geralmente sem uso de adubação. Normalmente, nesse sistema há baixa capacidade de

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suporte, baixa produção por vaca e, consequentemente, baixa produtividade por área.
As instalações são basicamente o curral, para manejo e ordenha dos animais.
(ii) Sistema intensivo a pasto (campo): caracteriza-se pela alimentação animal à base de
pasto, com gramíneas de alta capacidade de suporte, otimizando o uso da área para a
pecuária leiteira e gerando maior potencial produtivo se comparado ao sistema extensivo
a pasto. O uso de concentrado varia de acordo com o nível de produção do rebanho e as
instalações são simples, com sala de ordenha e resfriamento de leite.
(iii) Sistema semiconfinado: sistema no qual os animais permanecem presos por mais
de seis horas por dia, mas são soltos por um período com acesso a pastagem.
Caracteriza-se pelo uso de suplementação com concentrado e mineral e com parte da
necessidade de volumoso fornecido no cocho. Há variação entre tempo de cocho e pasto
de acordo com os períodos de seca e chuva.
(iv) Sistema de confinamento: sistema no qual os animais permanecem presos durante
todo o dia, em algum tipo de instalação, recebendo toda a alimentação no cocho. As
instalações são compostas de salas de ordenha e resfriamento de leite, podendo ou não
ter galpões para instalação dos animais. O sistema de confinamento pode ser dividido
em três subsistemas:
1. Confinamento em estrutura simples: não possui estrutura para confinamento
dos animais.
2. Confinamento em free-stall: confinamento dos animais em um galpão que
possui camas individuais para os animais e corredores livres para acessar cochos
e bebedouros. Busca-se com o free-stall economizar a energia dos animais,
reduzindo a locomoção destes para que possam aumentar sua produção.
3. Confinamento em compost barn: confinamento dos animais em um galpão
com piso coberto por cama sobreposta de serragem ou outra fonte de carbono
que junto a excreta das vacas gerará um composto vivo. Busca-se proporcionar
maior conforto para os animais na expectativa de gerar maior produtividade.

Especificamente para os ambientes confinados, as principais vantagens consistem na


redução nos problemas físicos dos animais, melhores índices reprodutivos, melhorias na
qualidade do leite e no manejo de dejetos. Em contraponto, as desvantagens estão no alto custo
de manutenção e implementação, na necessidade de uma genética de qualidade e no manejo
adequado e sistêmico.
Não há um padrão na definição do melhor sistema de produção de leite, sendo que o
produtor deve considerar diversos fatores disponíveis, como os recursos físicos, animais,
vegetais e econômicos. A assistência técnica também é fundamental nessa escolha, garantindo
uma tomada de decisão que gere indicadores técnicos e econômicos que proporcionem a
sustentabilidade econômica da propriedade rural.

3. Metodologia

3.1. Obtenção das medidas de eficiência: análise envoltória de dados

Desenvolvida por Charnes, Cooper e Rhodes (1978), a técnica da análise envoltória de


dados (data envelopment analysis - DEA) é uma abordagem não paramétrica, envolvendo
programação matemática, para a análise da eficiência relativa de unidades produtoras,
conhecidas como DMUs (decision making unit). Por DMU entende-se qualquer sistema que
transforme insumos em produtos, que no presente trabalho são os produtores de leite.

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A base para as estimativas de modelos DEA é relativa a problemas de programação
linear. Diferentemente dos métodos econométricos, que analisam uma unidade produtora em
relação a uma unidade produtora média, o objetivo da DEA é construir um conjunto de
referência convexo a partir dos próprios dados das DMUs, e então classificá-las em eficientes
ou ineficientes, tendo como referencial essa superfície formada. Assim, a análise envoltória de
dados visa encontrar a melhor unidade produtora, ou seja, aquela que combina os recursos de
maneira mais eficiente, de modo que atinja o nível ótimo de produção (Ótimo de Pareto). Esta
análise pressupõe que, se uma dada propriedade produtora de leite puder produzir α unidades
do produto, outras propriedades também poderão, caso passem a operar eficientemente.
A pressuposição inicial da abordagem é que a medida de eficiência requer um conjunto
comum de pesos que será aplicado em todas as DMUs. Entretanto, existe certa dificuldade em
obter um conjunto comum de pesos para determinar a eficiência relativa de cada DMU, pois as
DMUs podem estabelecer valores para os insumos e produtos de modos diferentes, e então
adotarem diferentes pesos. É necessário, então, estabelecer um problema que permita que cada
DMU possa adotar o conjunto de pesos que for mais favorável, em termos comparativos com
as outras unidades. Para selecionar os pesos ótimos, especifica-se um problema de programação
matemática para a i-ésima DMU, que após linearizado, aplicada a dualidade em programação
linear e pressupondo retornos constantes à escala, é dado por:

𝑀𝐴𝑋φ,λ 𝜑,
𝑠𝑢𝑗𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑎:
−𝜑𝑦𝑖 + 𝑌𝜆 − 𝑆 + = 0
𝑥𝑖 − 𝑋𝜆 − 𝑆 − = 0 (1)
𝜆≥0
𝑆+ ≥ 0
𝑆− ≥ 0

em que 1≤𝜑˂∞ corresponde ao aumento proporcional no produto considerado, mantendo-se


constante a utilização dos insumos em questão; yi é um vetor (m x 1) de quantidades de produtos
da DMU que está sendo analisada; xi é um vetor (k x 1) de quantidades de insumo da DMU
analisada; Y é uma matriz (n x m) de produtos das n DMUs; X é uma matriz (n x k) de insumos
das n DMUs; S+ é um vetor de folgas nos produtos; e S– é um vetor de folgas nos insumos. O
parâmetro 𝜆 é um vetor (n x 1), cujos valores são calculados de forma a obter a solução ótima.
Para uma DMU eficiente, todos os valores de 𝜆 serão zero, enquanto para uma DMU ineficiente,
os valores serão os pesos utilizados na combinação linear de outras DMUs eficientes, que
influenciam a projeção da ineficiente sobre a fronteira calculada. Para obter a medida de
eficiência basta considerar o inverso 𝜑, ou seja, 1/φ.
Caso todas as DMUs estejam operando em escala ótima, a hipótese de retornos
constantes à escala é bastante apropriada, contudo, o modelo de retornos variáveis (BCC),
proposto por Banker, Charnes e Cooper em 1984, sugere uma nova metodologia de fronteira
de eficiência que admite retornos variáveis de escala, ou seja, substitui o axioma da
proporcionalidade entre inputs e outputs pela máxima da convexidade. Estabelecendo a
convexidade da fronteira, ele permite que DMUs que operam com baixos valores de inputs
tenham retornos crescentes de escala e as que operam com altos valores tenham retornos
decrescentes de escala. Dessa forma, o problema de programação linear com retornos
constantes pode ser modificado para atender à pressuposição de retornos variáveis,
adicionando-se a restrição de convexidade, N1’λ=1, em que N1 é um vetor (n x 1) de algarismos
unitários.

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O modelo escolhido para esse estudo foi o de retornos variáveis à escala, uma vez que
este permite a separação dos resultados em relação a pura eficiência técnica e a eficiência de
escala. Além disso, foi utilizada a orientação a produto, em que as propriedades da atividade
leiteira buscam maximizar o produto, mantendo os insumos constantes.
Existem vários outros modelos e pressuposições que podem ser incorporados na
formulação dos problemas de programação utilizados pela DEA. Para descrições mais
detalhadas da metodologia recomenda-se a consulta de livros textos como, por exemplo, Coelli
et al. (2007), Cooper, Seiford e Zhu (2011) e Ferreira e Gomes (2020).

3.2. Dados utilizados

Para calcular as medidas de eficiência, foram utilizados dados primários referentes a 27


produtores que fazem parte do Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL). O
PDPL é um projeto de extensão rural conduzido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV),
voltado para o treinamento de mão de obra especializada em gado leiteiro e a transferência de
tecnologias para produtores de leite. O Programa funciona em regime de parceria público-
privada com grandes empresas ligadas ao setor agropecuário brasileiro.
A missão do PDPL é oferecer aos acadêmicos oportunidades de convivência com
situações reais de trabalho profissional, com treinamento integrado em diversos níveis
tecnológicos e operacionais, além da transferência sistemática de tecnologia aos produtores de
leite. Desde sua criação, em 1988, mais de 2.300 estudantes já realizaram treinamento no PDPL
e mais de 300 produtores foram diretamente beneficiados pela assistência técnica gratuita e de
qualidade.
Para calcular as medidas de eficiência, foram utilizados um produto e três insumos.
Todos os dados referem-se ao ano de 2021. São eles:
a) Produto (output)
− Renda bruta da atividade, medida em R$/ano. A renda bruta é composta pela soma das
receitas provenientes da venda e do autoconsumo de leite e de animais. Optou-se por
medir o produto em termos de valor da produção ao invés da produção física, uma vez
que o valor unitário de venda dos produtos difere muito. Com isso, a utilização de
quantidades físicas pode distorcer a realidade dos sistemas de produção, quando o
objetivo é compará-los.
b) Insumos (inputs)
− Área utilizada pelo rebanho, medida em hectares.
− Número de vacas da propriedade, medido em cabeças.
− Custo operacional total da atividade leiteira (COT). Medido em R$/ano, o COT é
composto por todas as despesas diretas na produção de leite, ou seja, mede todos os
desembolsos realizados pelo produtor ao longo de um ano de atividade, acrescidos do
valor da mão de obra familiar e das depreciações de máquinas, benfeitorias, animais de
serviço e forrageiras não anuais.

4. Resultados e discussão

4.1. Descrição da amostra de produtores de leite

Inicialmente será realizada uma caracterização dos grupos de produtores de leite


estratificados segundo o sistema de produção utilizado (semiconfinado ou confinado). Os dados

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apresentados na Tabela 1 referem-se aos valores médios dos recursos disponíveis e da produção
de leite nas propriedades.

Tabela 1: Descrição dos produtores assistidos pelo PDPL segundo os recursos disponíveis e o
volume de produção

Sistema de produção
Especificação Unidade PDPL
Semi Confinado
1. Recursos disponíveis
Vacas em lactação Cabeça 43,40 109,51 72,78
Total de vacas Cabeça 52,06 128,63 86,09
Mão de obra Pessoa 3,25 5,41 4,21
Área para o gado Hectare 48,46 86,25 65,25
Capital investido R$ mil 1.530,47 3.919,59 2.592,30
- Capital em benfeitorias % 14,95 19,29 16,88
- Capital em máquinas % 9,60 12,84 11,04
- Capital em animais % 29,47 36,42 32,56
- Capital em terra % 45,97 31,44 39,52
2. Produção de leite Litro/dia 682,30 2.406,09 1.448,43
Fonte: Resultados da pesquisa.

A produção média das propriedades atendidas pelo PDPL, em 2021, foi de,
aproximadamente, 1.450 litros/dia, com um plantel em torno de 86 vacas (cerca de 73 em
lactação) e uso de 65 hectares de terra para a produção de leite. Além disso, foram utilizados
cerca de quatro trabalhadores por propriedade e empatados em torno de R$ 2,6 milhões na
atividade leiteira.
Analisando o uso dos recursos nos dois sistemas, percebe-se que os valores médios são
substancialmente maiores no sistema confinado. Exceto mão de obra e terra, de modo geral, os
sistemas confinados utilizam mais que o dobro dos outros recursos. Mesmo os fatores terra e
trabalho também são maiores, embora em magnitudes menores que os demais. Certamente, é
de se esperar que a produção de leite também seja substancialmente maior, cerca de 3,5 vezes
superior.
Vale destacar que esses valores são significativamente superiores às médias regional,
estadual e nacional, isto é, um produtor típico do PDPL não representa a realidade da maioria
dos produtores nacionais. Segundo dados do último Censo Agropecuário (IBGE, 2017), em
2017 foram produzidos cerca de 30,16 bilhões de litros de leite em 1.176.295 estabelecimentos
agropecuários, o que representa uma média de 70,24 litros diários/propriedade. Em Minas
Gerais, a produção diária foi superior à média nacional, em torno de 110,70 litros/propriedade.
Significa que a produção média da amostra de produtores do PDPL é cerca de 13 vezes
a média do estado e 20 vezes a média nacional. Nesse sentido, não se está querendo no presente
trabalho analisar sistemas de produção típicos do Brasil, mas sim utilizar uma amostra de
produtores que recebe assistência técnica intensiva e contínua, produzindo substancialmente
mais leite que um produtor médio. Além disso, os produtores da amostra se concentram em
apenas dois tipos de sistemas de produção, semiconfinado e confinado, o que também não
representam os mais utilizados pelos produtores brasileiros.
São sistemas de produção em que se encontram os maiores volumes de produção
nacionais, mas não os maiores números de produtores. De fato, o levantamento da MilkPoint
(2022) identificou que, no ano de 2022, entre os 100 maiores produtores de leite nacionais, 48%
utilizam o free-stall, 29% o compost barn e 13% utilizam mais de um tipo de alojamento,

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demonstrando a relação existente entre sistemas com maior grau de confinamento e volume de
produção de leite.
É de se esperar que os sistemas de produção semiconfinados e confinados sejam mais
exigentes em investimentos de capital. Essa exigência, contudo, difere quando se analisam as
composições desses investimentos, conforme dados apresentados na Tabela 1. Pelo próprio
formato de como se dá a produção, na medida em que os sistemas se tornam mais intensivos,
com maior grau de confinamento, há proporcionalmente menor exigência de investimentos em
terras. Porém, há a necessidade de mais máquinas e benfeitorias, além de animais de melhor
qualidade e aptidão para a produção de leite.

4.2. Indicadores de desempenho técnico e econômico

Para comparar os grupos de produtores assistidos pelo PDPL, segundo o sistema de


produção, foram utilizados indicadores de desempenhos técnico e econômico. Os indicadores
técnicos referem-se às produtividades parciais dos fatores, enquanto os indicadores econômicos
estão relacionados aos custos e margens da atividade leiteira. Na Tabela 2 encontram-se os
valores médios das produtividades parciais dos recursos utilizados na produção de leite.

Tabela 2: Produtividades parciais dos recursos utilizados na atividade leiteira de produtores


assistidos pelo PDPL

Sistema de produção
Especificação Unidade PDPL
Semi Confinado
Produtividades parciais
- Vacas em lactação L/cabeça/dia 16,81 22,08 19,15
- Terra L/hectare/ano 7.894,80 14.435,39 10.801,73
- Mão de obra L/homem/dia 199,52 402,65 289,80
- Capital investido L/R$/ano 0,18 0,25 0,21
Fonte: Resultados da pesquisa.

Apesar de utilizarem substancialmente mais recursos, a produção média do sistema de


produção confinado é relativamente maior, o que garante maiores índices de produtividades
parciais. Destaques para as produtividades da terra e, principalmente, da mão de obra. Outro
ponto de destaque são as produtividades médias dos animais em lactação. Tanto para o grupo
semiconfinado (16,8 litros/cabeça/dia) quanto para o confinado (22,1 litros/cabeça/dia), as
produtividades registradas de suas vacas são substancialmente maiores que as médias regionais.
Para se ter uma ideia, a produtividade média do rebanho nacional está em torno de 8 litros
diários por vaca ordenhada.
A produtividade da terra é um indicador de suma importância na produção agropecuária
e, em especial, na produção de leite. Isso porque a produção de leite compete por áreas com
outras atividades. Isso significa que, quanto maior a produtividade da terra, maior é custo de
oportunidade deste recurso. Em outras palavras, uma atividade que gera um retorno maior por
unidade de área utilizada, tende a ser mais atrativa que outras. Essa ideia está na base da tomada
de decisão pelo investimento em uma pecuária mais tecnificada, que utiliza proporcionalmente
menos terra e mais capital.
De modo geral, considera-se que, para uma produção de leite lucrativa, a produtividade
da terra deve estar em torno de 8.000 litros/hectare/ano. Note que, enquanto a média do sistema
semiconfinado está próxima a esse indicador, no sistema confinado os valores são muito
superiores.

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Esse raciocínio pode ser exemplificado considerando-se a rentabilidade de um hectare
de terra utilizado na atividade leiteira. Para o grupo de produtores analisados, o preço médio do
litro de leite vendido em 2021 foi de R$ 2,32. Assim, a renda média por hectare de terra auferida
pelo grupo semiconfinado está em torno de R$ 18,5 mil/hectare/ano, enquanto no sistema
confinado supera os R$ 30 mil. Conforme mencionado, a tomada de decisão de intensificar ou
não o sistema de confinamento necessariamente passa pelo ganho possível em termos de
produtividade da terra.
A escassez de mão de obra qualificada tem imposto dificuldades à produção de leite.
Nesse sentido, a utilização de sistemas de produção mais tecnificados pode aliviar a necessidade
quantitativa de mão de obra, mas, por outro lado, exige maior qualificação dos trabalhadores.
A recomendação para sistemas de produção com maior grau de confinamento é de que a
produtividade da mão de obra seja em torno de 500 litros diários por trabalhador empregado.
Isso significa que para produzir mil litros diários, seriam necessários somente dois
trabalhadores.
Certamente a obtenção de produtividades nesse patamar representa um dos grandes
desafios para a pecuária leiteira brasileira no futuro. Atualmente, mesmo em fazendas com
sistema confinado, é difícil obter esse nível de produtividade. Isso significa que ainda há espaço
para melhorar os sistemas de produção de leite no Brasil, visando adaptá-los à disponibilidade
de recursos.
Os indicadores de desempenho econômico apresentados na Tabela 3 identificam
algumas relações entre receita e custo de produção. Antes de analisá-los, serão apresentadas
suas definições, visando facilitar o entendimento, conforme realizado por Gomes et al. (2018;
2020).

Tabela 3: Indicadores de desempenho econômico na atividade leiteira de produtores assistidos


pelo PDPL

Sistema de produção
Especificação Unidade PDPL
Semi Confinado
Renda bruta R$/ano 633.893 2.209.818 1.334.304
Custo operacional efetivo R$/ano 447.502 1.519.746 924.055
Custo operacional total R$/ano 509.249 1.692.443 1.035.113
Custo total R$/ano 556.740 1.849.045 1.131.098
Margem bruta R$/ano 186.392 690.071 410.249
Margem líquida R$/ano 124.644 517.375 299.191
Lucro R$/ano 77.153 360.773 203.206
Taxa de retorno do capital1 % ao ano 20,10 23,05 21,58
Taxa de retorno do capital2 % ao ano 10,56 15,65 13,10
1
Taxa de remuneração do capital investido sem considerar a terra; 2 Taxa de remuneração do capital investido
considerando a terra
Fonte: Resultados da pesquisa.

A renda bruta do produtor de leite é composta, além da venda e do autoconsumo de leite


e derivados lácteos, da venda e do autoconsumo de animais e da variação do inventário animal
de um ano para o outro. A variação do inventário animal, por sua vez, pode ocorrer devido a
diferenças entre o valor dos animais no início e no final do período analisado, adicionando-se
o valor das compras de animais ao longo do período.
O custo operacional efetivo (COE) refere-se aos gastos diretos, tais como mão de obra
contratada, concentrados, minerais, fertilizantes, sementes, medicamentos, energia e
combustível, inseminação artificial, serviços mecânicos e outros dessa natureza. São gastos de

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custeio da atividade leiteira. O custo operacional total (COT) é composto do custo operacional
efetivo mais os valores correspondentes à mão de obra familiar (custo de oportunidade) e à
depreciação de máquinas, benfeitorias, animais de serviço e forrageiras não anuais. Para se
obter o custo total (CT), basta acrescentar ao custo operacional total a remuneração sobre o
capital investido.
A margem bruta, refere-se à diferença entre a renda bruta e o custo operacional efetivo,
fornecendo uma ideia do fluxo de caixa da empresa, ou seja, receita menos despesa. Já a
margem líquida é igual à renda bruta menos o custo operacional total. A margem líquida
corresponde a um “resíduo” utilizado para remunerar o capital investido na atividade. Por sua
vez, o lucro engloba a diferença entre a renda bruta e o custo total.
A taxa de retorno sobre o capital investido, expressa em porcentagem ao ano, é calculada
pela razão entre a margem líquida e o capital investido. Ela fornece a ideia de como o capital
investido está sendo remunerado. Em razão da dificuldade de mensurar o verdadeiro custo de
oportunidade da terra, optou-se por calcular a taxa de retorno sobre o capital investido de duas
formas: sem considerar o capital investido em terras e considerando este capital.
De modo geral, tanto a renda bruta quanto os custos são significativamente maiores para
os produtores com sistema de produção do tipo confinamento. Esses resultados refletem a
magnitude da produção desse grupo de produtores, relativamente aos do sistema
semiconfinado, ou seja, para se produzir mais e obter mais renda é preciso gastar mais.
Entretanto, o que interessa ao produtor é a diferença entre receita e custos. Nesse caso,
o que se percebe são margens maiores para o grupo de produtores do sistema confinado. Depois
de pagar todas as despesas de custeio, ainda sobram para esses produtores, em média, cerca de
R$ 690 mil, enquanto para os produtores no sistema semiconfinado a margem bruta média é de
R$ 186 mil, ou seja, quase quatro vezes menor.
Quando se comparam as margens líquidas médias, a diferença entre os dois grupos de
produtores aumenta. Mesmo considerando a maior quantidade de capital investido pelos
produtores do sistema confinado, quando se descontam as depreciações e o custo de
oportunidade da mão de obra familiar, ainda assim a margem líquida desse grupo de produtores
cresce relativamente aos demais. O mesmo raciocínio pode ser feito com o lucro, ou seja, a
diferença entre o obtido no grupo dos produtores com sistema confinado volta a crescer sobre
o grupo semiconfinado.
Em outras palavras, a renda bruta média é, conforme esperado, substancialmente maior
no grupo dos produtores com sistema confinado. Além disso, na medida em que se incorpora
itens ao cálculo do custo de produção, a tendência é de que as margens e o lucro se tornem
maiores, conforme aumenta o grau de confinamento dos animais.
Por fim, a análise da taxa de retorno do capital investido permite maior profundidade na
análise financeira dos sistemas de produção. Isso porque maior taxa de retorno do capital indica
que a atividade é mais atrativa para o empresário, devendo ser comparada com alternativas de
investimento de mercado.
É de se esperar que elevadas taxas de retorno sirvam como estímulo para o produtor, no
sentido de tornar seu investimento cada vez mais rentável. Nesse sentido, nota-se que, em
média, o capital investido em sistemas confinados traz proporcionalmente mais retorno, embora
exija um volume de investimento muito maior. Este talvez seja o ponto mais importante do
trabalho, isto é, demonstrar que os maiores investimentos em sistemas de produção de leite do
tipo confinamento podem gerar taxas de retorno também maiores, ou seja, gasta-se mais, porém
fatura-se proporcionalmente mais. Resta saber como se comporta a eficiência nesses sistemas
de produção, conforme será visto a seguir.

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4.3. Medidas de eficiência na produção de leite

Esta subseção dos resultados busca avançar na questão envolvendo os sistemas de


produção semiconfinado e confinado e a eficiência na produção de leite. Como já discutido, os
produtores que utilizam o sistema de produção confinado apresentaram maior volume médio
de leite produzido, bem como maiores produtividades parciais dos fatores e indicadores de
desempenho econômico. Neste ponto do trabalho, o que se pretende é verificar se os produtores
do PDPL que produzem leite no sistema em confinamento tendem a ser mais eficientes que os
produtores com sistema semiconfinado.
Conforme já mencionado, pode-se analisar a eficiência de uma unidade produtiva
utilizando-se três indicadores básicos: eficiência pura, eficiência de escala e eficiência global.
Para obter essas medidas isoladamente, inicialmente utilizou-se o modelo pressupondo-se
retornos constantes à escala. Em seguida, a pressuposição de retornos constantes foi retirada,
adicionando-se uma restrição de convexidade, a qual possibilitou a obtenção das medidas de
eficiência no paradigma de retornos variáveis. Com essas duas medidas, foi possível calcular a
eficiência de escala de cada produtor. Os dados apresentados na Tabela 4 sintetizam os
resultados obtidos.

Tabela 4: Valores médios das medidas de eficiência dos grupos de produtores

Sistema de produção
Especificação PDPL
Semi Confinado
Eficiência técnica global (Retornos
0,8055 0,9153 0,8543
constantes)
Pura eficiência técnica (Retornos
0,8739 0,9358 0,9014
variáveis)
Eficiência de escala 0,9279 0,9764 0,9494
Fonte: Resultados da pesquisa.

A eficiência média, considerando retornos constantes, no uso dos insumos das 27


propriedades assistidas pelo PDPL foi de 85,43%, sendo de 80,55% para o grupo semiconfinado
e 91,53% para o confinado. Esse resultado demonstra que, apesar de eficiências consideradas
altas, as propriedades leiteiras analisadas apresentam potencial para gerar maior quantidade de
produto em relação ao que está sendo produzido. Em média, pode-se trabalhar com a
possibilidade de aumentar a renda bruta das fazendas em até 17,05% (ou 1/0,8543), sem a
necessidade de incorporação de novos insumos.
Quando se fala em ganhos potenciais de eficiência, é preciso separar os possíveis ganhos
que podem ser obtidos pela correção de desperdícios daqueles decorrentes da escala incorreta
de produção. Para eliminar o efeito “escala incorreta” da eficiência técnica total, é preciso
considerar as medidas de eficiência pressupondo-se retornos variáveis. A medida de eficiência
nesse tipo de modelo é conhecida como “pura eficiência técnica”, uma vez que só considera o
uso inadequado de insumos, isto é, não leva em consideração a escala incorreta de operação.
Considerando a média de todos os produtores do PDPL, os possíveis ganhos decorrentes da
eliminação da pura ineficiência são da ordem de 10,94% (ou 1/0,9014) na expansão da renda
bruta, sem necessidade de incorporação de mais insumos.
Observando os resultados, percebe-se que todas as médias das medidas de eficiência são
superiores quando consideradas as propriedades com sistema de produção confinado, sendo que
praticamente não existem problemas de escala incorreta de operação neste grupo de produtores.

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Esse resultado reforça a discussão anterior, indicando que as propriedades que utilizam o
sistema de confinamento alocam mais eficientemente os insumos, proporcionando maior
produto (renda). Uma renda maior possibilita novos investimentos no sistema de produção mais
eficiente, gerando um ciclo virtuoso para a propriedade que utiliza o confinamento intensivo,
principalmente pela existência do processo contínuo de assistência técnica.
Os modelos DEA permitem identificar, ainda, o tipo de retorno à escala com que cada
produtor da amostra está operando. Embora os problemas de escala incorreta sejam menos
importantes do que aqueles relacionados à pura ineficiência técnica, conhecer o tipo de retorno
à escala é de fundamental importância.
De modo geral, se as eficiências obtidas dos modelos com retornos constantes e
variáveis forem iguais, isto é, a razão entre elas for igual a um, o produtor opera na escala ótima.
Caso contrário, se for menor que um, será tecnicamente ineficiente, pois não opera na escala
ótima. Considera-se escala ótima a operação com retornos constantes à escala. O fato de um
produtor operar fora da escala ótima implica em dizer que o aumento da produção se dará a
custos médios decrescentes (no caso de retornos crescentes) ou crescentes (no caso de retornos
decrescentes). A Figura 2 mostra as distribuições dos produtores com sistemas produtivos
distintos, semiconfinado e confinado, segundo o tipo de retorno à escala.

Decrescente Crescente
20% 17%

Decrescente
50%
Crescente Constante
80% 33%

Sistema semiconfinado Sistema confinado

Figura 2: Distribuição percentual dos produtores segundo o tipo de retorno à escala


Fonte: Resultados da pesquisa.

As distribuições dos produtores segundo o tipo de retorno à escala reforçam os


resultados já apresentados. A redução do número de produtores operando com retornos
crescentes nas propriedades com sistema confinado, a presença de um terço dessas propriedades
com eficiência de escala e o aumento da proporção de retornos decrescentes com o uso do
confinamento refletem a relação direta entre volume de produção e a intensidade de
confinamento na pecuária de leite.
Dessa forma, constata-se que a implementação de técnicas mais produtivas, como o
sistema confinado, aliadas aos investimentos necessários e a assistência técnica de qualidade,
tendem naturalmente a gerar um volume de produção maior, ou seja, tais propriedades passam
a produzir com retornos constantes ou decrescentes.
O fato de a metade das propriedades operar com retornos decrescentes também sinaliza
que alguns sistemas de produção podem estar em situações limitantes. Muitas vezes tais limites
são impostos pela própria indisponibilidade de recursos, principalmente terra. O fato de operar

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com retornos decrescentes, embora de forma eficiente, deve ser avaliado com cuidado, uma vez
que novas expansões na produção dessas propriedades deverão ocorrer a custos médios
crescentes. Nesses casos, é necessária a revisão periódica dos objetivos e metas traçados para o
produtor, papel também executado pela assessoria técnica prestada pelo PDPL.
Em síntese, os resultados encontrados permitiram identificar e quantificar importantes
relações entre os sistemas intensivos de produção na pecuária leiteira, a eficiência e os
diferentes indicadores econômicos e de produtividade. Dessa forma, deve-se sempre considerar
a promoção de novos investimentos em sistemas de produção e manejo em confinamento, com
a devida assistência técnica, para a busca de maior rentabilidade na atividade leiteira.

5. Considerações finais

O objetivo do artigo foi avaliar o desempenho técnico e econômico, bem como calcular
medidas de eficiência na produção de leite. Para isso, foi utilizada uma amostra de produtores
de leite que recebem assistência técnica e gerencial do Programa de Desenvolvimento da
Pecuária Leiteira (PDPL).
Os produtores analisados foram separados em dois sistemas de produção de leite:
semiconfinado e confinado. Ambos os sistemas são considerados intensivos e mais
tecnificados, relativamente aos tradicionais sistemas de produção extensivos e a pasto. Sobre
esse ponto, é importante destacar que todos os produtores são consideravelmente mais
tecnificados e produtivos, relativamente às médias regional e nacional. São produtores que
recebem assistência técnica e gerencial de forma intensiva. Em outras palavras, são produtores
diferenciados, porém com sistemas de produção distintos, o que possibilita a comparação e a
reflexão dos resultados.
Verificou-se que a produção e o uso de fatores são substancialmente maiores nos
sistemas de confinamento mais intensivo. Contudo, a produção é relativamente maior, o que
garante maiores índices de produtividades parciais dos fatores.
Um ponto de destaque é a magnitude e composição do capital investido nos dois
sistemas. Enquanto nos semiconfinados a maior parte do capital é investida em terras, no
confinamento há a necessidade de animais mais produtivos, com padrão genético melhor e, por
consequência, mais caros. Além disso, há maior necessidade de investimentos em máquinas e
benfeitorias.
Embora tais características sejam largamente conhecidas, chamou a atenção a diferença
entre os resultados técnicos e, principalmente, econômicos, alcançados pelos grupos de
produtores. Mesmo havendo necessidade de maiores investimentos, os produtores com sistema
confinado conseguem indicadores substancialmente melhores, o que pode estar justificando a
magnitude do investimento necessário.
Evoluindo nas comparações entre os grupos de produtores, as medidas de eficiência,
tanto técnicas quanto de escala, foram maiores para os produtores no sistema confinado. Essa
constatação reforça a questão da melhor relação entre uso de insumos e produção nesse sistema.
Vale ressaltar que não foi objeto do estudo identificar o melhor sistema, mas sim
comparar os indicadores de eficiência e de desempenho técnico e econômico. A escolha de qual
sistema de produção utilizar deve levar em consideração diversos fatores, como disponibilidade
de recursos e aptidão regional.
Dentre a disponibilidade de recursos está a existência de capital necessário para migrar
de um sistema para outro. Certamente que sistemas mais intensivos, com maior grau de
confinamento, exigem maior volume de capital. O ponto chave é se o maior investimento será
mais do que compensado em termos de rentabilidade, elevando a produção a um patamar

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superior, tanto em termos de retorno financeiro quanto em relação ao aumento do custo de
oportunidade daquela produção.
É preciso destacar, ainda, que existem disparidades nas informações entre os diversos
tipos de produtores de leite. Enquanto alguns produtores conhecem as práticas de financiamento
e de seguro em atividades agropecuárias, a maioria é muito avessa ao risco, impedindo a tomada
de crédito para melhorias no sistema de produção.
Outro ponto que também dificulta é a falta de informação dos próprios técnicos que
assistem às propriedades. São raras as exceções de técnicos que conseguem discutir com os
produtores sobre estratégias de melhoria nos sistemas de produção. Planejamento estratégico,
simulações de financiamento e linhas de crédito são assuntos que normalmente nem produtores
e nem técnicos dominam.

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