Efficiency and Milk Production Systems: The Case of The Programa de Desenvolvimento Da Pecuária Leiteira (PDPL)
Efficiency and Milk Production Systems: The Case of The Programa de Desenvolvimento Da Pecuária Leiteira (PDPL)
Efficiency and Milk Production Systems: The Case of The Programa de Desenvolvimento Da Pecuária Leiteira (PDPL)
Resumo
O objetivo do trabalho foi avaliar o desempenho técnico e econômico, bem como calcular medidas de eficiência
na produção de leite, considerando dois sistemas intensivos de produção leiteira: semiconfinado e confinado. Para
isso, foi utilizada uma amostra de produtores de leite que receberam assistência técnica e gerencial do Programa
de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira (PDPL), em 2021. Com base na comparação entre diferentes indicadores
de desempenho técnico e econômico e utilizando a técnica de Análise Envoltória de Dados (DEA) para calcular
as medidas de eficiência, constatou-se que as propriedades rurais mais intensivas em confinamento apresentaram
melhores resultados técnicos, econômicos e de eficiência. Apesar da identificação de melhores resultados para o
sistema confinado, não foi objeto do estudo identificar o melhor sistema, mas sim compará-los, de forma a
identificar as oportunidades tecnológicas e seus possíveis resultados. A escolha de qual sistema de produção
utilizar deve levar em consideração diversos fatores, como aptidão regional e, principalmente, a disponibilidade
de recursos. Nesse contexto, deve-se garantir a difusão de informações quanto às práticas de financiamento e de
seguro em atividades agropecuárias, facilitando a tomada de crédito para melhorias no sistema de produção
leiteiro.
Palavras-chave: Produção de leite; Eficiência; Sistemas de produção; Programas de assistência técnica.
Abstract
The objective to paper was to evaluate the technical and economic performance, as well as calculate measures of
efficiency in milk production, considering two intensive dairy production systems: semi-confined and confined.
For this, it was used a sample of milk producers who received technical and managerial assistance from the
Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira, in 2021. Based on the comparison between different
technical and economic performance indicators and using the technique of Data Envelopment Analysis (DEA) to
calculate the efficiency measures, it was found that the most intensive farms in confinement presented better
technical, economic and efficiency results. Despite the identification of better results for the confined system, it
was not the object of the study to identify the best system, but to compare them, to identify technological
opportunities and their possible results. The choice of which production system to use must consider several
factors, such as regional aptitude and, mainly, the availability of resources. In this context, it is necessary to
guarantee the dissemination of information regarding financing and insurance practices in agricultural activities,
facilitating the taking of credit for improvements in the dairy production system.
Keywords: Dairy farming; Efficiency; Production systems; Technical assistance programs.
O dinamismo dos mercados globais faz com que os processos produtivos sejam cada
vez mais eficientes, de forma a garantir os bens e serviços na qualidade, quantidade e preços
desejados. Diante disso, a inovação e a tecnologia tornaram-se essenciais para a permanência
no mercado, mesmo em setores considerados mais tradicionais, como a pecuária leiteira. Nessa
perspectiva, de forma a se manterem operantes na atividade, é fundamental que os produtores
rurais busquem permanentemente ferramentas tecnológicas que possibilitem aumentos na
produção e na produtividade e, consequentemente, maior lucratividade (PILATTI, 2017).
As características da pecuária leiteira brasileira fazem com que o setor seja um
importante objeto de estudo para análises de eficiência e da dinâmica tecnológica.
Primeiramente, deve-se destacar a abrangência territorial da produção de leite, bem como seu
papel central na geração de emprego e renda. Dotada de produção de 34,84 bilhões de litros de
leite, em 2019 (EMBRAPA, 2021), a atividade leiteira no Brasil se distribui por 552 das 558
microrregiões brasileiras, empregando quatro milhões de trabalhadores, sendo 1,3 milhão de
produtores (EMBRAPA, 2019). Por outro lado, a produção de leite não apresenta um padrão
produtivo, existindo desde propriedades familiares até grandes produtores, com diferentes
níveis de tecnificação e produção.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO, 2019), em 2017, o Brasil foi responsável por 4,74% da produção mundial, sendo o quarto
maior produtor. Contudo, neste mesmo ano, a produtividade brasileira foi de apenas 5,38 litros
diários por vaca, fazendo com que o país ocupasse somente a 84ª posição no ranking mundial.
Nessa conjuntura produtiva, existem produtores que alcançam índices compatíveis com os
melhores indicadores internacionais, enquanto muitos outros produtores apresentam baixos
níveis tecnológicos, pequeno volume de produção e indicadores de desempenho técnico e
econômico abaixo dos adequados para a manutenção da sustentabilidade produtiva.
Nesse contexto, observa-se a necessidade de diferentes sistemas produtivos, que devem
atender às realidades de cada propriedade rural, dadas as questões regionais, raças, manejo
alimentar, entre outras especificidades. Assim, os produtores de leite podem desenvolver e
implementar diferentes tecnologias de manejo do gado e produção de leite, adotando desde o
sistema pastoril, até os diferentes sistemas de criação semiconfinado e em confinamento
(ZANIN et al., 2015).
Nesse sentido, o presente trabalho busca analisar a eficiência técnica de produtores
rurais segundo os diferentes sistemas de produção de leite, com destaque para os sistemas
tecnológicos semiconfinado e confinado. Para isso, serão calculadas medidas de eficiência para
um grupo de produtores selecionados que fazem parte do Programa de Desenvolvimento da
Pecuária Leiteira (PDPL), buscando identificar e tipificar aqueles que mais se destacam. Parte-
se da hipótese que sistemas de produção mais tecnificados, como o sistema confinado, geram
maiores indicadores de eficiência, técnicos e econômicos.
Apesar da literatura apresentar trabalhos que buscam comparar os sistemas produtivos
leiteiros (LOPES et al., 2004; LOPES, SANTOS e CARVALHO, 2012; LOPES e SANTOS,
2012; DOMENICO et al., 2015; ZANIN et al., 2015; DALCHIAVON et al., 2017; TASSO,
2017; TRINDADE, 2018; HUPPES et al., 2020; ZULPO e CARVALHO, 2020; MEINL e
VIEIRA, 2022), este estudo avança ao utilizar propriedades que são assistidas tecnicamente e
já possuem indicadores técnicos e econômicos acima da média nacional, o que possibilita
comparar estruturas homogêneas quanto à assistência técnica, mas com sistemas produtivos
distintos. Ademais, as 27 propriedades estudadas estão localizadas em Minas Gerais, estado
com maior produção nacional de leite (27,11% da produção nacional), mais especificamente na
Zona da Mata mineira, nona região geográfica brasileira em produção, com 2,36% da produção
A produção leiteira no Brasil é realizada por diferentes sistemas produtivos, que podem
apresentar vantagens e desvantagens dependendo de fatores como manejo nutricional,
disponibilidade de alimento, genética dos animais e a disponibilidade financeira do produtor
rural. A Figura 1 apresenta os diferentes sistemas de produção de leite, com destaque para os
sistemas intensivos confinado e semiconfinado que serão o foco do presente estudo.
Segundo Assis et al. (2005) e Milanez et al. (2018), os sistemas de produção de leite
representados podem ser assim definidos:
(i) Sistema extensivo a pasto (campo): consiste no uso de pasto durante todo o ano,
geralmente sem uso de adubação. Normalmente, nesse sistema há baixa capacidade de
3. Metodologia
𝑀𝐴𝑋φ,λ 𝜑,
𝑠𝑢𝑗𝑒𝑖𝑡𝑜 𝑎:
−𝜑𝑦𝑖 + 𝑌𝜆 − 𝑆 + = 0
𝑥𝑖 − 𝑋𝜆 − 𝑆 − = 0 (1)
𝜆≥0
𝑆+ ≥ 0
𝑆− ≥ 0
4. Resultados e discussão
Tabela 1: Descrição dos produtores assistidos pelo PDPL segundo os recursos disponíveis e o
volume de produção
Sistema de produção
Especificação Unidade PDPL
Semi Confinado
1. Recursos disponíveis
Vacas em lactação Cabeça 43,40 109,51 72,78
Total de vacas Cabeça 52,06 128,63 86,09
Mão de obra Pessoa 3,25 5,41 4,21
Área para o gado Hectare 48,46 86,25 65,25
Capital investido R$ mil 1.530,47 3.919,59 2.592,30
- Capital em benfeitorias % 14,95 19,29 16,88
- Capital em máquinas % 9,60 12,84 11,04
- Capital em animais % 29,47 36,42 32,56
- Capital em terra % 45,97 31,44 39,52
2. Produção de leite Litro/dia 682,30 2.406,09 1.448,43
Fonte: Resultados da pesquisa.
A produção média das propriedades atendidas pelo PDPL, em 2021, foi de,
aproximadamente, 1.450 litros/dia, com um plantel em torno de 86 vacas (cerca de 73 em
lactação) e uso de 65 hectares de terra para a produção de leite. Além disso, foram utilizados
cerca de quatro trabalhadores por propriedade e empatados em torno de R$ 2,6 milhões na
atividade leiteira.
Analisando o uso dos recursos nos dois sistemas, percebe-se que os valores médios são
substancialmente maiores no sistema confinado. Exceto mão de obra e terra, de modo geral, os
sistemas confinados utilizam mais que o dobro dos outros recursos. Mesmo os fatores terra e
trabalho também são maiores, embora em magnitudes menores que os demais. Certamente, é
de se esperar que a produção de leite também seja substancialmente maior, cerca de 3,5 vezes
superior.
Vale destacar que esses valores são significativamente superiores às médias regional,
estadual e nacional, isto é, um produtor típico do PDPL não representa a realidade da maioria
dos produtores nacionais. Segundo dados do último Censo Agropecuário (IBGE, 2017), em
2017 foram produzidos cerca de 30,16 bilhões de litros de leite em 1.176.295 estabelecimentos
agropecuários, o que representa uma média de 70,24 litros diários/propriedade. Em Minas
Gerais, a produção diária foi superior à média nacional, em torno de 110,70 litros/propriedade.
Significa que a produção média da amostra de produtores do PDPL é cerca de 13 vezes
a média do estado e 20 vezes a média nacional. Nesse sentido, não se está querendo no presente
trabalho analisar sistemas de produção típicos do Brasil, mas sim utilizar uma amostra de
produtores que recebe assistência técnica intensiva e contínua, produzindo substancialmente
mais leite que um produtor médio. Além disso, os produtores da amostra se concentram em
apenas dois tipos de sistemas de produção, semiconfinado e confinado, o que também não
representam os mais utilizados pelos produtores brasileiros.
São sistemas de produção em que se encontram os maiores volumes de produção
nacionais, mas não os maiores números de produtores. De fato, o levantamento da MilkPoint
(2022) identificou que, no ano de 2022, entre os 100 maiores produtores de leite nacionais, 48%
utilizam o free-stall, 29% o compost barn e 13% utilizam mais de um tipo de alojamento,
Sistema de produção
Especificação Unidade PDPL
Semi Confinado
Produtividades parciais
- Vacas em lactação L/cabeça/dia 16,81 22,08 19,15
- Terra L/hectare/ano 7.894,80 14.435,39 10.801,73
- Mão de obra L/homem/dia 199,52 402,65 289,80
- Capital investido L/R$/ano 0,18 0,25 0,21
Fonte: Resultados da pesquisa.
Sistema de produção
Especificação Unidade PDPL
Semi Confinado
Renda bruta R$/ano 633.893 2.209.818 1.334.304
Custo operacional efetivo R$/ano 447.502 1.519.746 924.055
Custo operacional total R$/ano 509.249 1.692.443 1.035.113
Custo total R$/ano 556.740 1.849.045 1.131.098
Margem bruta R$/ano 186.392 690.071 410.249
Margem líquida R$/ano 124.644 517.375 299.191
Lucro R$/ano 77.153 360.773 203.206
Taxa de retorno do capital1 % ao ano 20,10 23,05 21,58
Taxa de retorno do capital2 % ao ano 10,56 15,65 13,10
1
Taxa de remuneração do capital investido sem considerar a terra; 2 Taxa de remuneração do capital investido
considerando a terra
Fonte: Resultados da pesquisa.
Sistema de produção
Especificação PDPL
Semi Confinado
Eficiência técnica global (Retornos
0,8055 0,9153 0,8543
constantes)
Pura eficiência técnica (Retornos
0,8739 0,9358 0,9014
variáveis)
Eficiência de escala 0,9279 0,9764 0,9494
Fonte: Resultados da pesquisa.
Decrescente Crescente
20% 17%
Decrescente
50%
Crescente Constante
80% 33%
5. Considerações finais
O objetivo do artigo foi avaliar o desempenho técnico e econômico, bem como calcular
medidas de eficiência na produção de leite. Para isso, foi utilizada uma amostra de produtores
de leite que recebem assistência técnica e gerencial do Programa de Desenvolvimento da
Pecuária Leiteira (PDPL).
Os produtores analisados foram separados em dois sistemas de produção de leite:
semiconfinado e confinado. Ambos os sistemas são considerados intensivos e mais
tecnificados, relativamente aos tradicionais sistemas de produção extensivos e a pasto. Sobre
esse ponto, é importante destacar que todos os produtores são consideravelmente mais
tecnificados e produtivos, relativamente às médias regional e nacional. São produtores que
recebem assistência técnica e gerencial de forma intensiva. Em outras palavras, são produtores
diferenciados, porém com sistemas de produção distintos, o que possibilita a comparação e a
reflexão dos resultados.
Verificou-se que a produção e o uso de fatores são substancialmente maiores nos
sistemas de confinamento mais intensivo. Contudo, a produção é relativamente maior, o que
garante maiores índices de produtividades parciais dos fatores.
Um ponto de destaque é a magnitude e composição do capital investido nos dois
sistemas. Enquanto nos semiconfinados a maior parte do capital é investida em terras, no
confinamento há a necessidade de animais mais produtivos, com padrão genético melhor e, por
consequência, mais caros. Além disso, há maior necessidade de investimentos em máquinas e
benfeitorias.
Embora tais características sejam largamente conhecidas, chamou a atenção a diferença
entre os resultados técnicos e, principalmente, econômicos, alcançados pelos grupos de
produtores. Mesmo havendo necessidade de maiores investimentos, os produtores com sistema
confinado conseguem indicadores substancialmente melhores, o que pode estar justificando a
magnitude do investimento necessário.
Evoluindo nas comparações entre os grupos de produtores, as medidas de eficiência,
tanto técnicas quanto de escala, foram maiores para os produtores no sistema confinado. Essa
constatação reforça a questão da melhor relação entre uso de insumos e produção nesse sistema.
Vale ressaltar que não foi objeto do estudo identificar o melhor sistema, mas sim
comparar os indicadores de eficiência e de desempenho técnico e econômico. A escolha de qual
sistema de produção utilizar deve levar em consideração diversos fatores, como disponibilidade
de recursos e aptidão regional.
Dentre a disponibilidade de recursos está a existência de capital necessário para migrar
de um sistema para outro. Certamente que sistemas mais intensivos, com maior grau de
confinamento, exigem maior volume de capital. O ponto chave é se o maior investimento será
mais do que compensado em termos de rentabilidade, elevando a produção a um patamar
Referências
ASSIS, A. G.; STOCK, L. A.; CAMPOS, O. F.; GOMES, A. T.; ZOCCAL, R.; SILVA, M. T.
Sistemas de produção de leite no Brasil. Circular Técnica, n. 85. Juiz de Fora: Embrapa Gado
de Leite, 2005.
BANKER, R. D.; CHARNES, A.; COOPER, W. W. Some models for estimating technical and
scale inefficiencies in data envelopment analysis. Management Science, v. 30, n. 9, p. 1078-
1092, 1984. DOI: 10.1287/mnsc.30.9.1078
CHARNES, A.; COOPER, W. W.; RHODES, E. Measuring the efficiency of decision making
units. European Journal of Operational Research, v. 2, n. 6, p. 429-444, 1978. DOI:
10.1016/0377-2217(78)90138-8
COOPER, W.W.; SEIFORD, L. M.; ZHU, J. Handbook on Data Envelopment Analysis. In:
International Series in Operations Research & Management Science. Cham: Springer,
2011. 524 p. DOI: 10.1007/978-1-4419-6151-8
DOMENICO, D. D.; MAZZIONI, S.; KRUGER, S. D.; BÖCK, J. G. Comparativo dos custos
de manejo da produção leiteira: sistema de pastoreio e sistema free stall. In: XXII Congresso
Brasileiro de Custos, Foz do Iguaçu-PR, novembro de 2015. Anais. São Leopoldo: ABC, 2015.
GOMES, A. P.; ERVILHA, G. T.; FREITAS, L. F.; NASCIF, C. Assistência técnica, eficiência
e rentabilidade na produção de leite. Revista de Política Agrícola, v. 27, n. 2, p. 79-94, 2018.
LOPES, M. A.; LIMA, A. L. R.; CARVALHO, F. M.; REIS, R. P.; SANTOS, Í. C.; SARAIVA,
F. H. Efeito do tipo de sistema de criação nos resultados econômicos de sistemas de produção
de leite na região de Lavras (MG). Ciência e Agrotecnologia, v. 28, n. 5, p. 1177-1189, 2004.
DOI: 10.1590/S1413-70542004000500028
MILANEZ, A. Y.; GUIMARÃES, D. D.; MAIA, G. B. S.; MARTINS, P. C.; LIMA, G. S.;
OLIVEIRA, S. J. M.; NASCIF, C.; FREITAS, V. M. F. Desafios para a exportação brasileira
de leite. BNDES Setorial, v. 24, n. 48, p. 45-114, 2018.
MILKPOINT. Levantamento Top 100 2022 - Os 100 maiores produtores de leite do Brasil.
Disponível em https://www.milkpoint.com.br/top100/2022/. Acesso em 07 abr. 2022.
ZANIN, A.; FAVRETTO, J.; POSSA, A.; MAZZIONI, S.; ZONATTO, V. C. S. Apuração de
Custos e resultado econômico no manejo da produção leiteira: uma análise comparativa entre
o sistema tradicional e o sistema freestall. Organizações Rurais & Agroindustriais, v. 17, n.
4, p. 431-444, 2015.