Diário de Pesquisa

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09/06/21

1º ENCONTRO GRUPO DE PESQUISA GEPELID

Empolgação total com esse encontro. Ainda não iniciei o mestrado. Não sei ainda o resultado,
mas a Flávia Mota me convidou para o grupo de Pesquisa da UFRRJ e isso, pra mim, já é um
prêmio. Hoje conheci os outros integrantes do grupo que é diversificado. Tem graduandos,
mestrandos e doutorandos. Pela primeira vez ouvi sobre Michael Bahkitin e pela sugestão da
colega Janete vou iniciar lendo a Introdução de Fiorim. Meu pré-projeto de mestrado é “Novos
desafios na educação infantil: Possibilidades e impossibilidades em tempos de Pandemia”. Vou
pesquisar sobre o uso das tecnologias digitais na educação infantil, prática educacional
explorada nesse momento, por consequência deste novo cenário educacional imposto pela
pandemia de COVID-19. Muitos questionamentos me provocam, entre eles, Que implicações o
contexto de pandemia nos aponta para discutir o uso de TDIC na Educação Infantil considerando
os princípios e as especificidades dessa etapa da educação básica? como realizar, o ensino
remoto e o funcionamento das atividades não presenciais ou híbridas nas Instituições de
educação infantil numa realidade educacional repleta de desafios?

20/09/21

MATRÍCULA MESTRADO
Nem preciso dizer o tamanho de minha felicidade!!!

23/09/21 – PRÁTICAS DO COTIDIANO

“Muitas práticas cotidianas (falar, ler, fazer compras ou preparar as


refeições, etc ) são do tipo tática. [...]as táticas apresentam continuidades e
permanências”
(CERTEAU, 1998, p.47)

Hoje, as manipuladoras de alimentos estavam licenciadas. São duas no


EDI nesse período de Pandemia. As aulas estão em horário reduzido e em
sistema de rodízio, como a frequência é baixa, a empresa não disponibiliza
mais que isso. Porém as funcionárias estão afastadas por consequência da
Pandemia de COVID-19. A empresa responsável pelas funcionárias só
mandou uma Backup para a substituição. Conclusão: fui lá ajudar na cozinha.
Foi um verdadeiro desvio de função, porém não estou aqui fazendo uma reclamação. Este momento
resultou em uma reflexão sobre o que tenho aprendido com Michel Certeu e as “maneiras de fazer”

Preciso dizer que meu primeiro contato com Certeau ocorreu após minha qualificação, no
Mestrado Acadêmico em Educação, (Educação, Contextos Contemporâneos e demandas Populares),
considerando as trocas realizadas no grupo de pesquisa e por sugestão da minha orientadora Prof. Drª.
Flávia Miller. Na verdade, considero que as reflexões trazidas pelo grupo, marcam um ponto de inflexão
na minha pesquisa e no meu pré-projeto, ou seja, houve um movimento de inversão de perspectiva, um
deslocamento da atenção do meu pré-projeto para um “não lugar”, aquele da criação anônima, nascida
do no uso dos produtos concebidos. Tal movimento ofereceu as condições de possibilidade para que eu
atentasse para o cotidiano da escola na qual é o meu espaço de pesquisa.

27/09/21

1ª aula _ EDUAÇÃO BRASILEIRA NA CONTEMPORANIDADE

A Prof.ª Dr.ª FLAVIA MILLER NAETHE MOTTA reuniu os mestrandos em uma turma única e para a
disciplina, criou uma dinâmica na qual trabalharemos em vários momentos em subgrupos.

A imagem acima registra o nosso primeiro encontro. O encontro tem um caráter dialógico, e, no sentido
atribuído por Bakhtin (1997), é construído na relação com o outro, numa alternância de posições e de
“vozes”, onde um lado que enuncia já pressupõe o outro do discurso.

A professora Flávia deu espaço para que todos pudessem se apresentar, falar de sua trajetória, sua
pesquisa, e o espaço se configurou como um momento de escuta de histórias trazidas pelos alunos para
os alunos; um momento privilegiado de encontro de “vozes”.

Lembrei-me de Mikhail Bakthin:

“A unidade do mundo é polifônica e ela acontece na interação entre sujeitos e no ato de constituição dos
enunciados” (BAKTHIN, 1997).

Bakthin, considera dois tipos de discursos: o primário (simples) e o secundário (complexo). O que muda é
o grau de complexidade da circunstância da interação social e a forma com que os discursos são
apresentados. O gênero primário se caracteriza por sua relação imediata com a realidade existente e com
a realidade dos enunciados alheios (como um encontro em teleconferência, representado nessa imagem).
Os gêneros primários podem ser inseridos em outros gêneros mais complexos e evoluídos. Isso significa
que os gêneros secundários “absorvem e transmutam” os gêneros primários que se constituíram em uma
interação verbal espontânea.
A partir dessa inter-relação entre gêneros primários e secundários e o processo histórico da formação dos
gêneros secundários,

compreendi a natureza do enunciado. Para Bakthin (1997) o enunciado é visto como uma unidade de
interação discursiva.

Através desse encontro na primeira aula no mestrado e revisitando a teoria Bakhtiniana intensifico o
entendimento sobre a correlação entre língua, ideologias e visões de mundo.

08/10/21

Reunião de responsáveis no EDI Cidade de Lídice. Conversei com alguns pais sobre a minha pesquisa de
Mestrado. Irei pesquisar o material produzido pela comunidade escolar de um Espaço de Educação
Infantil no Município do Rio de Janeiro no período de educação on-line. Ou seja, as atividades dos
professores que foram publicadas em uma rede social, os registros das crianças e as devolutivas
imagéticas das famílias nos anos de 2020 e 2021. Este material foi produzido como forma de registrar a
educação on-line no período pandêmico. Os familiares e responsáveis passaram a ser os mediadores das
rotinas diárias das tarefas escolares participando de forma ativa na educação da criança enviando as
devolutivas. As devolutivas das atividades, foram realizadas por meio de fotografias, gerando um registro
imagético de parte de um trabalho realizado durante a pandemia. Foi uma boa surpresa a aceitação da
participação da família. Estou agora iniciando o TLC e demais documento de autorização.

29/10/21 – Analisando o meu


material de estudo no computador da
escola, me deparei com essas
imagens antagônicas:

Troquei um breve diálogo com a


professora Kelly Cipriani, sobre as atividades que foram propostas pela professora da imagem 1 e a
atividade proposta pela família na imagem 2. De imediato a professora Kelly me surpreendeu com sua
fala:

“Eles (as famílias) estão parados no que aprenderam na educação de sua infância e tendem a valorizar ese
tipo de aprendizado”

Percebi, através da fala da professora que, esse tipo de questionamento no que se refere ao cotidiano das
práticas educativas, especialmente no período pandêmico, se faz necessário em discuti-lo. Pois nesse
período, pude observar através das devolutivas imagéticas das famílias, que tanto professores como os
responsáveis das crianças possuem diferentes modos de pensar sobre os processos curriculares da
educação infantil.
Retorno às aulas:
O segundo volume versa sobre o âmbito
“Conhecimento Pessoal e Social”, e:
No dia 23/02/2021 a Coordenadoria da
Primeira Infância, junto às suas gerências, sugere às
“refere-se às experiências que
Unidades Escolares do município do Rio de Janeiro, fornecem, prioritariamente, a construção
possibilidades para o trabalho presencial com as do sujeito. Está organizado de forma a
crianças da Creche e Pré-escola da Rede. O EDI explicitar as complexas questões que
Cidade de Lídice, seguindo a Resolução SME Nº 250, envolvem o desenvolvimento de
de 11 de fevereiro de 2021 que regulamenta o capacidade de natureza global e afetiva
retorno das aulas presenciais, adota estratégias das crianças, seus esquemas corporais
pedagógicas incorporando elementos ao espaço que simbólicos de interação com os outros e
sinalizam o distanciamento correto nas mesas com o meio, assim como a relação consigo
mesmas.”
coletivas quando forem necessárias, prevendo a
(RNCEI, 1998. P. 46)
disposição dos alunos com distanciamento de 1.5 m,
de forma que o contato entre as crianças da mesma
Já o 3º volume, do Rcnei trata do âmbito
mesa não seja frontal e sim em linha diagonal
“Conhecimento de Mundo”. Esse âmbito busca
conforme recomendação sanitária.
trabalhar com as crianças alguns aspectos
culturais como os movimentos.

Diante dessas informações abordarei


alguns dos objetivos gerais da educação infantil
iniciando pelo eixo movimento e apontando a
sua extrema importância para o
desenvolvimento da criança.

Desde o ventre, a criança movimenta-se;


após o nascimento ela continua com o
movimento cada vez mais controlado na
medida do seu crescimento. Pelo movimento a
criança conhece mais sobre si mesma e sobre o
outro, aprendendo a se relacionar.

Diante do exposto, percebemos o valor


do movimento como parte integrante da
Conforme as orientações, disponibilizamos construção da autonomia e identidade, uma vez
uma criança por mesa e por consequência, limitando que contribui para o desenvolvimento físico,
7 crianças na sala, de forma a garantir o cognitivo, social e psicológico da criança.
distanciamento necessário para evitar a propagação
Porém, mesmo que as professoras do EDI
do vírus transmissor da COVID-19.
soubessem da importância das atividades
Pensando na organização didático-pedagógica
da educação infantil, me reporto ao Referencial lúdicas, que envolvessem jogos, brinquedos e
Curricular Nacional para a Educação Infantil (Rcnei), brincadeiras com o seu colega, nesse momento
que é o primeiro e único documento elaborado para não foi possível oferecer às crianças por causa
servir de parâmetro e apesar de ser um referencial, das medidas de distanciamento.
ele não é obrigatório.
Em seu primeiro volume, no capítulo dos
Objetivos Gerais da Educação Infantil, são
apresentadas oito diferentes capacidades que as
crianças devem desenvolver a partir da prática da
educação infantil e entre elas está o observar e
explorar o ambiente com atitude de curiosidade
(participante).
30/10/21:

O motivou a chegar (...) A leitura do mundo precede sempre a leitura da


o meu tema de palavra e a leitura dessa implica a continuidade da
leitura daquele. (...) este movimento do mundo à
pesquisa? palavra e da palavra ao mundo está sempre presente.
De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e
Hoje, conversando com
dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida
minha orientadora, ela pela leitura do mundo mas por uma certa forma de
me sugeriu escrever “escrevê-lo” ou de “reescrevê-lo”, quer dizer, de
sobre minhas motivações transformá-lo através de nossas prática consciente
até chegar ao mestrado. FREIRE, 1989
No início, não soube o
que dizer, ou pensar. Fui
Paulo Freire afirma que a “leitura do mundo precede a
pega pelo inesperado da
leitura da palavra” (FREIRE, 1989). Com as realidades
pergunta inquietante.
vividas, temos a base para qualquer construção de
Passei a manha desta conhecimento. Mediante a esta afirmação, houve uma
segundamotivação
me para revisitar bibliografias, sobre o tema leitura do mundo e leitura da palavra em
questionando.
Paulo Freire.
Eu sempre fui muito, mas
muito curiosa. Desde
menina. Então, o
mestrado era algo que
estava em meus planos,
porém não acreditava ser
possível. Existem tantas
variáveis que devemos
levar em consideração ao
tentar o ingresso
acadêmico que nem
sempre pode ser possível
de realização. Mas o
desejo? Esse sempre
esteve presente.

Outro fator: Eu gosto de


crianças. E trabalho com o
que gosto. Me instiga o
modo que elas 08/11/21:
compreendem o mundo e
o desejo de compreende-
las, é real.
Desde a monografia na
graduação, eu já pesquisava
crianças. O meu TCC foi sobre a
inclusão de criança autista no
espaço de educação infantil. E já
nessa pesquisa, me inquietou as
referências sobre infâncias
enquanto eu estudava o assunto.

“EU SOU PORQUE NÓS SOMOS”:


Reflexões sobre a filosofia Ubuntu

O que é ubuntu? 
A palavra surgiu no idioma Zulu e pode ser
traduzida como “Eu sou porque nós
somos”. Uma ideia que leva à percepção
de que nos humanizamos por meio dos
demais. O termo transmite um significado
muito importante, de que todos os
seres humanos formam uma parte
inseparável do tecido que forma a
humanidade. Ou seja, o que cada um faz, ou
que deixa de fazer, tem consequências
na vida dos demais.
Bakhtin (1997) enfatiza o papel ativo do sujeito como autor em todas as instâncias do
processo de cria
-
ção. O ato de criação é composto a partir da interação entre o conteúdo (relação com o
mundo), a forma
(intervenção do autor) e o material (estética). A forma não pode ser compreendida
independentemente
do conteúdo e do material e de seus procedimentos. Os procedimentos condicionados pelo
material não
podem ser reduzidos a um processo de elaboração do material, pois pode ser superado.
Segundo Bakhtin (1997, p. 27),
O trabalho de criação é vivido, mas trata-se de uma vivência que não é
capaz de ver ou de apreender a si mesma a não ser no produto ou no
objeto que está sendo criado e para o qual tende. Por isso o autor nada
tem a dizer sobre o processo de seu ato criador, ele está por inteiro no
produto criado e só pode nos remeter à sua obra; e é, de fato, apenas
nela que vamos procurá-la.
Bakthin, considera dois tipos de discursos: o primário (simples) e o secundário (complexo). O que
muda é o grau de complexidade da circunstância da interação social e a forma com que os
discursos são apresentados. O gênero primário se caracteriza por sua relação imediata com a
realidade existente e com a realidade dos enunciados alheios (como um encontro em
teleconferência, um e-mail, um chat e por que não um diário?). Os gêneros primários podem ser
inseridos em outros gêneros mais complexos e evoluídos. Isso significa que os gêneros
secundários “absorvem e transmutam” os gêneros primários que se constituíram em uma
interação verbal espontânea. Assim, no processo de formação, os gêneros secundários do
discurso (novelas, os discursos resultantes das pesquisa científica, os grandes gêneros de
exposição de ideias, etc) surgem mais evoluídos com relação aos gêneros que lhe deram origem.

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