Farsa de Ines Pereira Roteiro
Farsa de Ines Pereira Roteiro
Farsa de Ines Pereira Roteiro
PORTUGUESA
Inês é filha de uma mulher simples. Muito fantasiosa, finge que trabalha em
casa. Sua mãe foi à missa. A jovem entra cantando esta cantiga:
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• Inês: sim.
• Pero: tenho que ir, antes que a noite chegue.
• Inês: Que homem insistente! Podes ir embora, não o quero!
• Pero: ...certo, não te perturbareis mais. Só casarei contigo quando quiser...
• Pero (para si mesmo): Assim são as mulheres... Tentamos agrada-las, e elas pisam
em nós...
• Latão: Ó de casa!
• Mãe: Quem é?
• Vidal: Em nome de Deus! Somos nós!
• Latão: Não sabe o quanto andamos!
• Vidal: até por uma caganeira passamos...
• Latão: bom, procuramos seu pretendente...
• Vidal: E achamos!
• Latão: Cale-se!
• Vidal: Não quer que eu diga!
• Latão: Deixa-me falar!
• Vidal: certo...
• Latão: Achamos seu...
• Vidal: pretendente! Não queria um homem que tocasse viola?
• Latão: Não Vidal, ela não é louca de escolher marido por seu bom-senso, por
seu querer...
• Vidal: Posso falar!
• Latão: Pode...
• Vidal: não foi fácil acha-lo...
• Latão: o procuramos por toda parte...
• Vidal: eu falo ou você fala!
• Inês: Meu Deus! Algum de vocês falará! Já estou perdendo os modos!
• Mãe: Olhe a educação que lhe dei Inês!
• Inês: enfim, trouxeram novidades?
• Vidal: Seu pertencente, só achamos na corte, e ainda assim tivemos muitas dificuldades.
• Inês: Não conseguiram nada?
• Vidal: Tenha paciência! Achamos um escudeiro, que fala muito bem, como fala! E toca
violão lindamente! Muito galante o rapaz!
O escudeiro vem, com seu moço, que segura um violão, e diz, falando com ele mesmo:
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• Escudeiro: Se esta senhora é assim como os judeus me descreveram, foi feita por anjos!
Bela donzela, basta observar se é honesta e formosa.
• Mãe (Para Inês): Se tal escudeiro vier aqui, tens que passar boa impressão. Não falar
muito, não rir, não olhar demais, nem se mexer, para que te julguem moça calada, que
é soia mais querida!
• Escudeiro (para criado): vou ver com qual dama me casarei, fique calado!
• Moço (para si mesmo): Como na frente de um rei! Ai de mim!
• Escudeiro: e se eu olhar para ti com estranheza, faça reverência a mim!
• Moço (para si mesmo): Quanta demência!
• Escudeiro: e se eu mentir, elogiando-me excessivamente, ou fique quieto, ou vá lá fora
para rir, para não estragar meu plano! Por favor!
• Moço: Porém, senhor, com estes calçados, hei de estragar seu plano!
• Escudeiro: conseguirei um logo, e mais roupas novas! Prometo!
• Moço (para si mesmo): que homem estranho! Coitada desta moça!
Chega o escudeiro onde Inês se encontra, e todos lhe fazem as honras, e ele
diz:
• Escudeiro: Antes que algo fale, Deus lhe salve, linda rosa; bela,graciosa, formosa; és
minha metade da laranja, aquela; que admiro e chamo de minha donzela. De nada
me muito... Importa; Se... Sem dote... Não tiver se está é a condição. Seria eu, um...
Calhorda, de não obedecer... Meu... Pobre coração!
• Latão: Como fala
• Vidal: e a moça só escuta!
• Latão: acho que este será o marido, pelo que se decorre!
• Escudeiro: bem, eu... Moço, o que está fazendo?
• Moço: o que mandas, senhor?
• Escudeiro: venha aqui, já!
• Moço: Para quê?
• Escudeiro: Ora! Para servir minhas ordens!
• Moço: Ah sim, claro...
• Moço (para si mesmo): o diabo me pregou uma prenda! Deixei de servir a um
homem de bem, para servir a um imprudente!
• Escudeiro: Fui dispensar um bom rapaz para contratar esse tolo!Moço!
• Moço: Sim, meu senhor
• Escudeiro: traga minha viola!
• Moço (ao escudeiro): Aqui meu senhor, já está afinada, não precisa se preocupar!
• Mãe: até imagino, Inês, que entrarás no paraíso!
• Inês: qual o problema?
• Vidal: Moça, não deixe esta oportunidade fugir de tuas mãos! Escudeiro, músico,
conhecedor das coisas, galante, ao seu dispor, pronto para te amar.
• Mãe: Quero rir, com toda a tristeza, Destes seus casamenteiros, dois sem-
vergonha, trambiqueiros.
• Latão: Senhora, cale-se! Cuidado! Ninguém poderá conter o que for determinado
por Deus!
• Mãe: Inês, não seja tola! Quer um escudeiro sem posses?
• Inês: Em nome de todos os Santos! Chega de se meter nos meus assuntos!
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• Escudeiro: Dê essa mão, minha senhora. É de sua vontade?
• Inês: é sim, não é Mãe?!
• Escudeiro: Muito bem! Recebo você, quem olhar além! Em nome de Deus, assim seja!
Eu, Brás da Mata, escudeiro, Aceito sua mão, Inês Pereira, Por esposa e por parceira,
Como dita a Santa Igreja.
• Inês: Eu aqui, diante de Deus, Inês Pereira, aceito você... Brás da... Mata, certo?
Como manda a Santa Igreja.
• Os judeus casamenteiros juntos dizem: Pelo Deus de Abraão, Isaac e Jacó, está
cumprido este matrimônio!
• Vidal: agora, nos paguem o combinado.
• Mãe: Valha-me Deus! Amanhã! Que desespero!
• Escudeiro: Ora! Estou... Casado
• Inês: arrependeu-se?
• Escudeiro: nem me fale, que casar é um cativeiro.
• Mãe: Fica com Deus minha filha! A minha benção já tem. E o senhor, cuide dela como
eu sempre fiz!
A mãe de Inês sai, e fica Inês e o escudeiro. Ao cuidar da casa, Inês canta:
• Inês: Vida de Inês é difícil... É difícil ser Inês... Mas agora, casada...
• O escudeiro, vendo Inês cantando, a repreende bruscamente:
• Escudeiro: Você cantou, Inês? Espero que tenha sido a primeira e a última vez! Seu eu
a ouvi-la cantar novamente, nem assobiar você conseguirá!
• Inês: Por quê ficaste tão bravo, marido?
• Escudeiro: ainda perguntas? Mulher minha tem que ficar calada! Não vai falar com
ninguém, não poderás ir a igreja, nem ir a janela. Ficará trancada e isolada nessa
casa!
• Inês: Qual foi o meu pecado, marido?
• Escudeiro: não há outro jeito se não esse minha querida!
• Escudeiro (para o moço): Vou para guerra na África, vou promovido a cavaleiro, cuide
para que Inês não saia daqui.
• Moço: E o que hei de comer?
• Escudeiro: e o que lhe dei? Não basta?
• Moço: e depois que acabar o dinheiro?
• Escudeiro: Aqui por perto tem umas figueiras, esfomeado, mata tua fome!
• Moço: Ah, sim!
• Inês: Quem bem tem e mal escolhe, por mais mal que venha, não se encolhe.
• Inês: Fui escolher demais, e deu nisso! Espero que os mouros o matem! Sei hei de
ficar solteira, saberei escolher desta vez!
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• Moço: esta carta vem da África, deve ser de meu senhor.
• Inês: me dê essa carta, se for de meu marido, saberei agora.
Sai Lianor Vaz atrás de Pero Marques. E Inês fica sozinha, logo dizendo:
• Inês: se é para ser Pero Marques, que seja! Marido bondoso e inocente, que faça
minhas vontades. Antes lebre que leão...
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• Inês: Escutes marido, irei para onde EU quiser, certo?
• Pero: Mais é claro! Vá onde quiser, volte quando quiser... Com o que me preocuparei?
• Ermitão: Senhores, por caridade, dê uma esmola a um pobre e por amor ferido,
Ermitão de Cupido, desde sempre só! Os que vão bem de amores dão esmola àquele
sem esperança, que habita a escuridão com suas dores, e rezarei com grande devoção
e fé, que Deus os livre do engano; Pois, por isso sou o Ermitão, E por todo o sempre eu
serei. Pois você, que sabe quem é, sabe do meu triste sonho.
• Inês: Escuta marido, por caridade, deixe-me dar esmola á um ermitão!
• Pero: Pode ir mulher, não tenho nada a fazer lá.
• Inês: tome esta... Esmola, por caridade.
• Ermitão: Seja pelo amor de mim, sua boa caridade tenha graças, minha bela
senhora, sua esmola mata o pecado; Deve saber, senhora, o que me fez fazer, tornei-
me um Ermitão, faltando pedaços do coração, com o que você deixou de dizer.
• Inês: Meu Deus, é você! Aquele que um dia foi meu namorado, que me mandou
uma florzinha, quando era pequenina!
• Ermitão: Tanto quis teu bem, bela donzela, e comigo, nada quisestes, porém, ainda
lhe amo!
• Inês: Eu o entendo! Não se aborreças que irei lhe fazer uma... Visita.
• Ermitão: E quando será isso?
• Inês: não muito tarde, agora vá!
• Inês (para si mesma): Aquele ermitão... É um anjinho!
• Pero: Como és bondosa, minha esposa!
• Inês: Sabe o que desejo marido?
• Pero: O que?
• Inês: Que fossemos andando até o templo onde encontra-se o Ermitão!
• Pero: Claro, não vejo empecilho!
• Inês: Muito bem, passemos primeiro pelo rio. Tire seus sapatos.
• Pero: como?
• Inês: Vai me carregar nas costas, para não sentir a água fria em meus pés!
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• Inês: Bem sabe você, meu marido, quanto eu a ti... Quero; Sempre foi percebido, a
ser um manso e chifrudo cervo. Além disso, tornou-se o burro que me carrega.
Levando a mim e dois pedaços de pedra.
• Pero: Pois assim acontecem as coisas.
Gil Vicente: e assim termina esse auto. Com mote “Mas vale um burro que me
carregue do que um cavalo que me derrube”. P-E-R-F-E-I-T-O, já é meia noite e meia
escrevi durante a noite toda, mas escrever vale a pena. Ahh [beijando o livro] Boa noite.
Fonte: http://literaturaemacaoifbapa.blogspot.com.br/2013/09/adaptacao-do-texto-farsa-de-ines.html