Lingua Portuguesa Un1
Lingua Portuguesa Un1
Lingua Portuguesa Un1
Material Teórico
O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
• Introdução;
• Língua, Linguagem, Cognição e Sociedade;
• Texto e Contexto: O Uso Situado da Língua;
• O Novo Acordo Ortográfico.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Apreender os conceitos de Língua e Linguagem Verbal em contextos de uso e os conceitos-
-chave que respaldam os estudos da língua materna na disciplina: modalidades, variações
linguísticas, texto e gênero; contexto; produtor e leitor, situação comunicativa;
• Aprimorar conhecimentos a respeito do Novo Acordo Ortográfico, e sua contextualização,
além de apreender as mudanças gráficas e as novas regras acentuação.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
Introdução
Nesta unidade, vamos tratar sobre o uso da língua portuguesa, em diferentes
contextos, evidenciando seu caráter e vocação dinâmicos, portanto, passível de
mudanças e transformações.
Vamos nos orientar pela concepção de língua não como um código estático e, sim,
como uma atividade social e cognitiva, sempre situada historicamente e construída inte-
rativamente. Ficou muito complicado? Então, prossiga na leitura deste material teórico
que retomaremos e explicaremos essa concepção. Pode manter a tranquilidade, ok?
Para transformar essa “crença” e abalar algumas convicções bem arraigadas, que
vêm do senso comum e de teorias e de práticas mais descontextualizadas, no intuito de
ampliar conhecimentos, propomos aqui algumas reflexões e algumas práticas, abordan-
do conceitos que acreditamos ser essenciais para o estudo da língua, respaldados em
fundamentos teóricos dos estudos do âmbito da língua e da linguística contemporâneos.
Assim, essa ficha vai servir como uma referência teórica que, com certeza, vai
lhe ajudar na leitura das outras unidades, combinado?
8
Língua, Linguagem, Cognição e Sociedade
“O uso da Linguagem permite ao homem constituir comunidades em
torno de um desejo de viver juntos e institui-se como um poder, talvez
o primeiro poder do homem.” (CHARAUDEAU, 2014)
A linguagem humana é o que nos distingue como ser vivo, que pensa e que se
comunica para viver em sociedade. Inseparável do homem, ela está presente em to-
dos os seus atos. É o que nos permite elaborar e expressar pensamentos, sentimen-
tos, emoções, desejos, atitudes. Ao lançarmos mão da linguagem, influenciamos e
somos influenciados, educamos e somos educados, transformamo-nos e também
transformamos o meio em que vivemos.
Além disso, vale lembrar das atividades relacionadas à cognição que precisamos
realizar para efetivar essa ação comunicativa. Mas o que entendemos por cognição?
De acordo com Marcuschi (2007), a cognição diz respeito ao conhecimento, suas
formas de produção e processamento, da qual se ocupa a Ciência Cognitiva. Nessa
área, estuda-se a natureza e os tipos de operações mentais que realizamos no ato
de conhecer ou de dar a conhecer. De acordo com o autor, no nosso caso, trata-se
dos meios de produzir e transmitir o conhecimento linguisticamente (MARCUSCHI,
2007, p.330).
9
9
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
Assim, amplia-se bem a noção de língua, não é mesmo? Dessa perspectiva fica
muito difícil confundi-la com a gramática normativa, concorda? Dispomos, a seguir,
de algumas definições de estudiosos brasileiros da língua que são convergentes com
o que aqui propomos:
• Língua é um produto cultural, histórico, constituída como unidade ideal, reco-
nhecida pelos falantes nativos ou por falantes de outras línguas, e praticada por
todas as comunidades integrantes desse domínio linguístico (no nosso caso, os
países que compõem a comunidade lusófona) (BECHARA, 2004, p.37);
• A língua é uma entidade complexa: é mais que um sistema em potencial, em
disponibilidade. É uma atividade interativa, direcionada para a comunicação
social (ANTUNES, 2007 p. 40);
• A língua é “heterogênea, social, histórica, cognitiva, indeterminada, variável,
interativa e situada” (MARCUSCHI, 2008, p. 65).
10
Enfim, dessa perspectiva, podemos depreender que há muitas possibilidades do
uso da língua portuguesa e diferentes falares, que dependem de fatores socioculturais
e históricos além de aspectos cognitivos, comunicacionais e situacionais. No emprego
da língua, há, pois, diferenças geográficas (falares locais e variações regionais), socio-
culturais (nível culto, nível coloquial ou popular; registros, formal e informal; e, mo-
dalidades (fala e escrita) que conferem peculiaridades e marcas de expressão próprias
dos sujeitos usuários em diferentes situações comunicativas e contextos.
A Língua em Uso
Conceber a língua como heterogênea, social, histórica, cognitiva, indeterminada,
variável, interativa e situada (MARCUSCHI, 2008) é determinar que estamos abordan-
do a língua em uso, em uma situação comunicativa específica, em diferentes contextos.
Observe o uso que Jackson Five faz da Língua Portuguesa, refletindo sobre as
seguintes questões:
Você costuma usar alguma expressão utilizada por ele? Você considera que Jackson
Five usa um “Português errado”?
Assista ao vídeo e, depois, leia o material teórico para continuar a sua reflexão sobre o uso da
Explor
11
11
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
O nível culto, mais utilizado em ocasiões formais, é também aquele que mais
obedece às regras gramaticais. Já o nível coloquial ou popular é utilizado na
conversação diária, em situações informais, descontraídas. Há, nesse nível de lin-
guagem, o registro informal da língua, ou seja, uma utilização mais espontânea das
formas linguísticas e mais livre em relação às regras da gramática normativa.
Gíria: consiste em um uso específico da língua; são palavras criadas, inventadas por determi-
Explor
nado grupo social com o objetivo de distinguir seus usuários dos demais falantes da língua.
As gírias se renovam com o tempo e são determinadas por fatores socioculturais e históricos.
Elas renovam a língua e revelam a criatividade dos falantes em seu uso.
Vamos ver, ainda nesta unidade, outros exemplos de variação linguística, para
compreender melhor como ela pode ocorrer na língua em uso e que fatores predis-
põem a diferentes variações da língua.
Em geral, os falantes acreditam que usar a língua no nível culto é de fato a única
variação válida, é o ideal, ocorrendo o nível coloquial como uma deturpação desse
nível. Muitos falantes creditam apenas àqueles que “não sabem a língua” o nível
coloquial, o que acontece em decorrência de sua falta de instrução (PRETI, 2003;
ANTUNES, 2007).
12
Ressaltamos, então, que quem pratica a língua em nível coloquial não fala de
forma errada, apenas fala de acordo com o meio em que vive ou com a situação
comunicativa em que se encontra. O importante é usar a língua de forma adequada
ao interlocutor, à intenção e aos objetivos do produtor, enfim, ao contexto em que
está inserido. Vamos, então, transformar a ideia de certo e errado, quanto ao uso
da língua, para adequado e não adequado, concorda?
13
13
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
Sendo assim, não é válido dizer que a fala sempre faz uso da língua no nível
coloquial e no registro informal e a escrita opera no nível culto e no registro formal.
Vamos ver isso melhor?
Por outro lado, podemos pensar na utilização do nível culto e do registro formal,
na fala dos noticiários da TV, nas conferências e mesmo na fala de professores em
sala de aula. Nessas práticas comunicativas ocorre uma mescla de fala e da escrita,
pois se trata de eventos orais que têm por trás um texto escrito. Além disso, são
falas que ocorrem em situações formais de comunicação.
Koch (2003) ainda aponta para algumas diferenças que podem ocorrer entre
fala e escrita em seu processo de produção e elaboração: a fala não é planejada, é
mais fragmentada e incompleta, às vezes, pouco elaborada e possui a predominân-
cia de frases curtas e simples; a escrita já é mais planejada, não é fragmentada e
apresenta-se mais completa, às vezes mais elaborada e possui a predominância de
frases mais complexas, entre outras características.
Fávero, Andrade e Aquino (2002, apud Mac-May, 2000) observam que as gra-
máticas, ao adotarem como parâmetro a escrita e associarem a fala a um dos seus
registros de realização – o informal –, fortalecem o enfoque que polariza as duas
modalidades por não incluir a possibilidade da existência de níveis de formalidade.
As autoras sinalizam para o fato de que, “na verdade, tanto a fala como a escrita
abarcam um continuum que vai do registro mais informal ao mais formal, passando
por graus intermediários”. As autoras afirmam, ainda, que essa variação depende das
condições de produção do texto (Fávero, Andrade e Aquino, 2002, p.273).
14
Tais condições estão em estreita relação com o contexto, com as condições de
interação, com os interlocutores e com o tipo de processamento da informação.
Assim, na língua falada, há entre falante e ouvinte um intercâmbio direto, o que
não ocorre com a língua escrita, na qual a comunicação se faz geralmente na
ausência de um dos participantes; na fala, as marcas de planejamento do texto
não aparecem, porque a produção e a execução se dão de forma simultânea,
por isso o texto oral é pontilhado de pausas, interrupções, retomadas, correções
etc.; o que não se observa na escrita, porque o texto se apresenta acabado, tendo
existido um tempo para a sua elaboração, revisão e reescrita.
Destacamos, na tabela a seguir, a título de ilustração e orientação, algumas espe-
cificidades quanto ao uso da língua em relação às modalidades da fala e da escrita,
reafirmando sempre que ambas atuam num contínuo e que não há uma separação
uma fronteira absolutamente clara entre uma e outra.
Tabela 1
A Fala
· Mais espontaneidade e fluidez;
· Apoio da situação física, do contexto, do conhecimento do interlocutor, das expressões faciais, dos gestos,
das pausas, das modulações da voz, das referências do ambiente;
· Repetição de informações para explicar ou resolver dúvidas do interlocutor;
· Uso de frases mais simples e diretas, períodos curtos com orações coordenadas;
· Expressão das ideias com mais truncamentos, cortes, repetições, titubeios e problemas de concordância;
A Escrita
· Planejamento cuidadoso do texto para assegurar que o leitor compreenda;
· Sem o apoio imediato e direto do contexto, ou seja, não é possível resolver dúvidas imediatamente;
· Sem o auxílio de recursos como gestos, voz, expressões faciais;
· Revisão para avaliar o texto e evitar repetições desnecessárias de palavras, truncamentos, problemas de
concordância, regência, colocação pronominal, pontuação, ortografia;
· Utilização de sintaxe (organização da frase) mais complexa;
· Observação da exatidão e clareza do pensamento;
· Orações subordinadas mais frequentes na escrita que na fala;
· Utilização de um vocabulário mais exato e preciso, pois temos tempo de procurar a palavra adequada;
· Não recomendável o uso de gírias e expressões coloquiais, principalmente a situação comunicativa é formal.
Destacamos ainda, como afirma Marcuschi (2010, p.35) que assim como a fala
não apresenta propriedades intrínsecas negativas, também a escrita não possui
propriedades intrínsecas positivas. Para o autor, seria equivocado pensar em algum
tipo de supremacia ou superioridade de uma das modalidades em relação a outra.
Se a escrita é vista como mais prestigiosa do que a fala, não devemos atribuir
esse prestígio a algum critério intrínseco ou a parâmetros linguísticos e, sim, a
uma postura ideológica e a um valor sociocultural. Vale lembrar, que há culturas
em que a fala tem mais prestígio do que a escrita, como na Índia em que a for-
ma oral é sagrada e a escrita não inspira confiança (MARCUSCHI, 2007 apud
OLSON, 1997).
15
15
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
16
africanos, imigrantes europeus e asiáticos. Todas essas influências contribuíram
para uma natural diversidade da língua que utilizamos atualmente.
Além disso, nenhuma língua é homogênea e, em seu uso, denota características
que estão relacionadas a diversos fatores como espaço geográfico, condições socio-
culturais (nível de escolarização, idade, atuação profissional) entre outros.
Sendo assim, encontramos, no uso da língua portuguesa que se fala no Brasil,
uma gama de variações de uma mesma língua, variações estas influenciadas pela
extensão geográfica do Brasil; pelas diferentes culturas regionais; pela diversidade
de colonização; pela acentuada diferença socioeconômica; entre outros.
Vamos conhecer algumas delas?
Basta conversar um pouco com algumas pessoas que começamos a perceber
uma diferença em seus falares. Erres mais puxados, o som do “s” que parece um
“x”, uma entonação e um ritmo diferentes no encadeamento das frases, concorda?
Não demora e já estamos perguntando: “Você é daqui mesmo? De que lugar do
Brasil você vem?” Essa é a variação que denominamos de regional.
A variação regional é determinada pela localização dos falantes de um certo
espaço geográfico, onde moram, onde nasceram. É possível fazer a relação en-
tre a região de origem de um falante e marcas específicas que utiliza quando se
expressa na língua. No Brasil, reconhecemos facilmente se estamos falando com
um mineiro, um carioca, um nordestino pela pronúncia que faz de alguns sons da
língua, pela entonação que dá às frases, pelo vocabulário que usa, pela sintaxe que
emprega na construção das frases. Os falares regionais brasileiros são riquíssimos
em suas diferenças, não é mesmo?
Às vezes a diferença linguística é tão grande que as variações regionais parecem ser uma
Explor
17
17
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
O Poeta da Roça
18
outro tipo de variação a que denominamos variação situacional, pois depende da
situação de comunicação e de todos os elementos que a compõem: contexto mais
formal ou informal, interlocutor conhecido, íntimo, hierarquicamente posicionado,
das intenções de comunicação (contrapor-se, agradecer, dar ordens, aconselhar
etc.), entre outros.
Observe no link a seguir como alguns adolescentes, em uma gravação bem simples no Youtube
Explor
ilustram cenas de variação situacional, ou seja, em que alguns interlocutores observam a ade-
quação no uso da linguagem em situações mais formais e outros não; ou ainda, não observam a
adequação ao usar a linguagem para falar com um bebê, por exemplo. Vai ficar fácil de enten-
der. Disponível em: https://youtu.be/xy77IRV9cmE
Isso mostra como é importante adequar o uso da língua às práticas sociais dife-
rentes, concorda?
Todas essas variações comprovam que o uso da língua portuguesa no Brasil é
diverso e de uma riqueza muito grande. No entanto, além dessas variações, temos
um uso que segue mais as normas da gramática, que teima em ser reconhecido
como o uso mais correto da língua, a que nomeamos “Norma urbana de prestí-
gio” ou “norma padrão”.
Os princípios que regulam as propriedades dessa variação extrapolam critérios
puramente linguísticos. Na maioria das vezes, o que a determina se relaciona à clas-
se social de prestígio e ao grau relativamente alto de educação formal dos falantes.
As outras variações, geralmente, desviam desses parâmetros.
Assim, a Norma urbana de prestígio ou Norma padrão, está associada ao
nível culto da língua. De acordo com Irandé Antunes (2007), essa Norma é “um
projeto da sociedade letrada que pretende garantir, para a comunidade nacional,
certa uniformidade linguística; uniformidade aqui entendida como o cuidado por
criar uma língua comum, estandardizada, com ênfase no geral, e não em particula-
ridades regionais, locais ou setoriais.” Percebe-se, portanto, que a ideia subjacente
ao conceito de norma urbana de prestígio é a unificação linguística, na tentativa de
facilitar a interação pública, neutralizando certos usos.
Em Faraco (2002), encontramos a seguinte definição de norma urbana de prestí-
gio: “Norma linguística praticada em determinadas situações (aquelas que envolvem
certo grau de formalidade) por aqueles grupos sociais mais diretamente relaciona-
dos com a cultura escrita, em especial aquela legitimada pelos grupos que contro-
lam o poder social” (FARACO, 2002, p.40).
A norma urbana de prestígio é, pois, aquela que segue as regras da gramática
normativa, ou seja, a gramática que tem como função não só descrever a língua
e seus fatos, mas sobretudo de prescrever o que se deve usar e o que não se deve
usar na língua.
Sendo assim, em sua concepção, retomam-se os parâmetros definidos por uma
classe social de prestígio e por certos órgãos oficiais que sistematizam o que se
costuma chamar de “o melhor uso da língua”, e tudo o que foge a esse padrão é
19
19
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
inferiorizado, desprestigiado e faz parte das variações não padrão (aquelas que
vimos um pouco antes no texto), que estão associadas ao nível coloquial ou popular
da língua. Daí, decorre a ideia do falar certo e falar errado que circula socialmente
e costuma ser tão bem aceita, não é?
No entanto, vale ressaltar que é exatamente esse nível, o coloquial e popular,
que assimila as mudanças provocadas pelo próprio fluxo natural da língua, ao in-
corporar novos usos, mas que são vistas como decadência, degeneração ou “erros”.
Segundo Irandé Antunes (2007), o problema é que o movimento da língua ficou
inexoravelmente destinado a ser do melhor para o pior. Para a autora, no entanto,
toda mudança na língua tem sua lógica e sua motivação, o que possibilita que um
padrão possa ser substituído por outros. É o que o texto do Millôr, que vimos ante-
riormente nesta unidade, dizia: nenhuma língua sobreviveu sem o povo.
Precisamos pensar, entretanto, conforme pondera Preti (2003), que a noção de
norma urbana de prestígio serve diretamente às intenções do ensino, no sentido de
padronização da língua, criando condições ideais de comunicação entre as várias
áreas geográficas e também propiciando aos estudantes as condições para a leitura
e compreensão dos textos literários e científicos, que se expressam nessa variação.
Vale lembrar, ainda, que é a norma urbana de prestígio a variação adotada pelos
meios de comunicação (emissoras de rádio e televisão, jornais, revistas, internet etc.),
o que permite a divulgação dos mesmos textos e informações para todos os brasilei-
ros. Só é preciso ficar atento para que essa padronização no uso da língua não sirva
a discriminações, a preconceitos linguísticos e à supremacia de uma só classe social.
Importante! Importante!
Dominar a norma urbana de prestígio é essencial para que possamos nos desenvolver e
ter mais desenvoltura nos meios acadêmicos e profissionais. Por isso, aproveite a disci-
plina para ampliar e atualizar seus conhecimentos da língua portuguesa, sobretudo, os
relativos à norma urbana de prestígio!
Em síntese, este estudo sobre as variações linguísticas não pretende que você
apenas saiba identificá-las, avaliar sua adequação à situação comunicativa e ao con-
texto, mas também que, ao compreendê-las, você possa posicionar-se frente a todo
e qualquer preconceito linguístico.
Além disso, é preciso ter em mente que, em seus textos acadêmicos, em suas
redações para concursos, em textos e relatórios que colocar em circulação no
âmbito profissional, é a norma urbana de prestígio que precisa prevalecer. Em
textos escritos, em apresentações orais no âmbito acadêmico e profissional, portanto,
é necessário evitar gírias, regionalismos, repetições desnecessárias, cacoetes, abre-
viações, clichês e todos os elementos típicos do uso da língua em nível coloquial.
20
Texto e Contexto: O Uso Situado da Língua
Agora que nos apropriamos da noção de língua e de suas variações, vale lembrar
que estamos sempre interagindo socialmente por meio de textos, que pertencem a
determinados gêneros, em situações comunicativas específicas, que ocorrem em di-
ferentes contextos. Ficou difícil de entender? Tranquilize-se! Esses são os conceitos
que abordaremos nas próximas seções. Vamos lá?
Concepção de Texto
Para apresentar a concepção de texto, partimos da ideia essencial que “ninguém
interage verbalmente a não ser por meio de textos” (Antunes, 2005, p.40). Mas...
o que vem a ser essa entidade, “o texto”? É o que pretendemos responder nessa
seção, já ressaltando que esse é um conceito bastante complexo, pois o texto é ob-
jeto de pesquisa das ciências da linguagem há muitas décadas, e sua concepção se
transformou e se transforma a partir da perspectiva teórica pela qual o abordamos.
Nessa disciplina, tomaremos o texto como “um evento comunicativo para o qual
convergem ações linguísticas, culturais, sociais e cognitivas” (BEAUGRANDE, 1997,
p.10). Veja que, por essa definição, ficou distante a ideia de texto apenas como uma
sequência de frases, organizadas em períodos e agrupadas em parágrafos, não é
mesmo? Da forma como concebemos o texto, nele estão imbricados aspectos que
não são apenas linguísticos, embora esses últimos também sejam elementos que
constituem os textos, responsáveis por sua materialidade. Além disso, essa concep-
ção aponta para o caráter dinâmico do texto, em que o entendemos como um pro-
cesso, do qual participam o produtor e o leitor, e não mais um produto acabado, que
depende apenas de ser produzido e colocado para recepção de um interlocutor.
Dessa perspectiva, podemos admitir, então, que “um conjunto aleatório de pa-
lavras ou de frases não constitui um texto” (ANTUNES, 2010, p.30). Todo usuário
da língua tem esse discernimento, mesmo que intuitivamente, pois como nos afir-
ma Antunes (2010, p.30), “não é muito difícil não tê-lo, até porque não andamos
por aí esbarrando em ‘não textos’”. Vale lembrar, ainda, que em todas as situações
comunicativas, o que falamos e o que escrevemos, mesmo que não seja totalmente
adequado para os padrões mais formais, são textos.
Precisamos, então, delimitar alguns aspectos que são imprescindíveis para que
possamos nos apropriar, efetivamente, da concepção de texto que apresentamos
aqui. Em primeiro lugar, recorremos a um texto quando queremos nos comunicar
e buscamos expressar esse desejo de comunicação. Assim, todo texto tem uma in-
tenção, um ou mais objetivos, que precisam ser identificados pelo interlocutor para
que a nossa atuação comunicativa seja bem-sucedida.
21
21
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
Além desses dois primeiros, o terceiro aspecto relevante para a noção de texto
que apresentamos é que todo texto “é caracterizado por uma orientação temática;
quer dizer, o texto se constrói a partir de um tema [...], de uma ideia central, que lhe
dá continuidade e unidade” (ANTUNES, 2010, p.32).
Vamos entender melhor esses três aspectos essenciais para nos apropriarmos da
noção de texto? Observe o trecho a seguir:
Religiosidade
Monstro planos sexo cantor pela denúncia paguei fazer sobre pretendem enfermeira
menino milhões presente viva-voz telefone estar risco com mercado o.
Computador completo ficar frontal você veloz se para esperar doméstico brincando
mamífero moda.
Relógios cartas sobre expectativa inteiro promoção empregadas sabatina campa-
nha novo queijo compra Brasil meninos.
Então? Deu para perceber nesse trecho uma intenção comunicativa do produ-
tor? É possível perceber nele uma função comunicativa, um tema sobre o qual ele
se constrói? Podemos dizer que esse apanhando de palavras, que parece um texto,
possui uma continuidade e constitui uma unidade? Claro que não, concorda? Esbar-
ramos aqui, pois, com um não-texto.
Mas, nos resta então saber quais são os critérios que nos permitem reconhecer
um texto. Na literatura linguística, Beaugrande (1997) apresenta sete princípios de
textualidade que orientam nossa análise para identificar uma sequência de palavras
como texto ou não, além de eles servirem como parâmetros para nos certificar,
como produtores, se estamos elaborando algo que será identificado como um texto
e que tem chances de ser bem-sucedido em seu propósito comunicativo.
Vale saber, entretanto, que os princípios da coesão e da coerência, que dizem res-
peito à continuidade e à unidade temática no texto, serão trabalhadas especificamente
em outra unidade. Quanto aos outros, apresentamos, a seguir, uma breve definição:
• Intencionalidade e a aceitabilidade: remetem para a disponibilidade de coo-
peração dos interlocutores envolvidos na interação verbal: o produtor, de dizer
somente o que tem sentido; e o ouvinte ou leitor, de fazer o esforço necessário
para processar os sentidos e as intenções expressas pelo produtor;
• Situacionalidade: é uma condição para que o texto aconteça, pois todo texto
ocorre em uma determinada situação comunicativa. Nenhum texto ocorre no
vazio, mas em um determinado contexto sociocultural. Se pensarmos em uma
palestra, ela faz parte de uma programação de um evento e será determinada
por ela em seus detalhes: tema, duração, público a quem se dirige etc;
22
• Informatividade: diz respeito ao grau de novidade e de imprevisibilidade que o
texto traz dentro de uma dada situação comunicativa ou contexto. Tanto uma
como outra podem estar relacionadas à forma ou ao conteúdo do texto, por
exemplo: se na época de natal uma empresa divulga seus produtos em anúncio
de revista que se apresenta como cartas ao Papai Noel, escritas por produtores
de diferentes estilos e idades, há um grau de novidade quanto à forma, pois não é
esperado que o texto de uma propaganda venha na forma de uma carta, e ainda
mais dirigida ao Papai Noel! Podemos dizer, então, que o texto possui um alto
grau de informatividade, pois traz novidade e imprevisibilidade quanto à forma e
ao conteúdo. Ficou mais fácil de entender esse princípio? Em geral, encontramos
em textos criativos e surpreendentes um alto grau de informatividade!;
• Intertextualidade: diz respeito à inserção, em um determinado texto, de outro(s)
texto(s) já existente(s), já em circulação. Fazemos isso diretamente em citações
teóricas, por exemplo em monografias, textos didáticos ou dissertações; também
podemos fazê-lo de maneira mais indireta quando inserimos em um texto, um
trecho, uma frase que remete a outro texto. Observe:
Queridíssima,
Há muito tempo que não te escrevo. Notícias, poucas. Aqui na terra estão jogando
futebol. O seu Corinthians, olha, nem te conto. [...]
O trecho acima faz parte de uma crônica do escritor Ivan Ângelo na revista Veja.
A frase destacada foi retirada da letra de uma canção de Chico Buarque de Holanda
e Francis Hime, “Meu Caro Amigo”, observe:
Fonte: http://bit.ly/337uZk5
23
23
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
Na crônica, o autor, Ivan Ângelo, utiliza a mesma frase com a mesma intenção,
em um mesmo contexto. No caso, ele escreve uma crônica em forma de carta, assim
como os compositores fizeram uma música em forma de carta. Além disso, Ivan Ân-
gelo, logo após inseri-la em seu texto, vai falar do time da amiga (“Corinthians”) que
não anda bem e, na sequência da crônica, também mostra que não é só o futebol que
não está dando certo no Brasil. Ao fazer um texto remeter a outro, estamos muitas
vezes reforçando os nossos objetivos com aquele texto, de forma que o nosso leitor
possa percebê-los com mais facilidade. Para isso preciso contar com os conhecimen-
tos do meu interlocutor, não é mesmo? É necessário, ainda, que o leitor da revista
conheça a música de Chico Buarque para atribuir sentidos à crônica e perceber os
objetivos do autor.
Essa noção de interação verbal nos leva a perceber que tanto produtor quanto
leitor são sujeitos do fazer textual. Esse fato torna-os sujeitos complexos, determi-
nados e mobilizados do ponto de vista sociocultural para atuar por meio da lingua-
gem. Podemos definir esses interlocutores, pois, como atores sociais. Assim como
as práticas comunicativas são situadas, isto é, estão relacionadas a um determinado
contexto, produtor e leitor trazem para a interação verbal suas experiências, vivên-
cias, conhecimentos, crenças e valores. Não produzimos textos, não lemos textos e
não falamos de maneira isenta. Sempre trazemos para a interação verbal quem so-
mos, o que sabemos, como vivemos. Por isso, dizemos que os processos de leitura
e de escrita não dependem apenas do domínio das palavras, do material linguístico.
24
Circuito Fechado
Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma,
creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água
quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias,
sapatos, telefone, agenda, copo com lápis, caneta, blocos de notas, espátula, pastas,
caixa de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis, cigarro, fósforo. Bande-
ja, xícara pequena. Cigarro e fósforo. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vales,
cheques, memorandos, bilhetes, telefone, papéis. Relógio. Mesa, cavalete, cinzeiros,
cadeiras, esboços de anúncios, fotos, cigarro, fósforo, bloco de papel, caneta, projetos
de filmes, xícara, cartaz, lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia,
água. Táxi. Mesa, toalha, cadeiras, copos, pratos, talheres, garrafa, guardanapo. Xícara.
Maço de cigarros, caixa de fósforos. Escova de dentes, pasta, água. Mesa e poltrona, pa-
péis, telefone, revista, copo de papel, cigarro, fósforo, telefone interno, gravata, paletó.
Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio, maço de cigarros, caixa
de fósforos. Jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos.
Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, ex-
terno, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo,
papel e caneta, telefone, caneta e papel, telefone, papéis, folheto, xícara, jornal, cigar-
ro, fósforo, papel e caneta. Carro. Maço de cigarros, caixa de fósforos. Paletó, gravata.
Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesa, cadeiras, pratos, talheres, copos, guardanapos.
Xícaras, cigarro e fósforo. Poltrona, livro. Cigarro e fósforo. Televisor, poltrona. Cigarro
e fósforo. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça, cueca, pijama, espuma, água.
Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
O texto de Ricardo Ramos é uma crônica, texto que tem o objetivo de relatar um
fato, contar uma história e também de fazer uma reflexão sobre aquilo que relata
ou conta.
Nesse caso, o autor faz isso usando apenas substantivos e a pontuação. Esse
fato mostra um alto grau de informatividade, pela novidade e imprevisibilidade que
traz. Em geral, usam-se verbos, adjetivos, advérbios, enfim, frases completas, para
elaborar um relato e contar uma história.
25
25
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
Quanto à coesão e à coerência, observe que embora não haja frases completas,
conjunções que ligam orações nem mesmo marcadores temporais que mostrem
que as ações acontecem num tempo cronológico, a própria seleção de palavras,
que remete a diferentes momentos do cotidiano de um personagem, realiza esse
encadeamento de ações e compõe uma unidade no texto.
Gostou? Então veja como estudantes criaram novos textos, baseados em outras situações,
Explor
Contexto
A partir da noção que estabelecemos de texto, em que estão imbricados aspec-
tos culturais, sociais e cognitivos, podemos compreender melhor a noção de con-
texto e sua importância para a produção de sentidos.
Se, como vimos, o sentido não está somente nas palavras, mas é construído na
interação entre locutor-texto-interlocutor, então, estamos dizendo que em toda a
situação de interação os sujeitos orientam as suas ações (linguísticas e não linguís-
ticas) levando em conta o contexto.
Vejamos alguns exemplos: quando fazemos uma visita a um professor, não agi-
mos da mesma maneira quando visitamos amigos e parentes; ou uma mensagem
no WhatsApp que enviamos para o namorado é bem diferente daquela que escre-
vemos para um chefe ou outra pessoa do trabalho, concorda?
Podemos dizer, então, que, em toda situação de interação, temos de levar em conta
os interlocutores, os conhecimentos que compartilhamos, o propósito da comunicação,
o lugar e o tempo em que nos encontramos, os papéis sociais que assumimos e os
aspectos históricos e culturais que estão aí implicados.
26
• as relações dos participantes (médico/paciente; patrão/empregado);
• os objetivos/propósitos comunicativos (transferir ou buscar conhecimentos;
provocar o riso; aconselhar; orientar).
O contexto é, enfim, tudo aquilo que de alguma forma contribui para/ou deter-
mina a construção do sentido (KOCH e ELIAS, 2006). É importante perceber que
o contexto não é apenas o entorno, o que está em volta do texto, mas todos os
elementos, internos e externos ao texto em si, que contribuem para a realização
desse evento comunicativo.
Seguindo adiante na apresentação dos conceitos que estão presentes nas dife-
rentes unidades desta disciplina, veremos que, ao interagir verbalmente por meio
de textos, estamos, na verdade, nos referindo aos gêneros textuais que circulam
socialmente. Vamos entender melhor isso?
Sendo assim, formamos intuitivamente a noção de gêneros, que nada mais são
do que os textos materializados com que nos deparamos no nosso dia a dia. Pa-
lestra, e-mail, carta, horóscopo, monografia, artigo científico, entrevista, notícias,
reportagem, editorial, conto, romance, receita culinária, manual de instrução, bula
de remédio, conferência, videoaula etc., são exemplos de gêneros com os quais
lidamos de maneira mais ou menos cotidiana.
A lista dos gêneros que circulam socialmente é muito extensa e não caberia aqui
tentar apresentá-la integralmente. O importante é apreender que esse conceito está
diretamente relacionado às esferas de atividade humana, ou seja, esferas de comu-
nicação verbal, como a jurídica, jornalística, religiosa, acadêmica, profissional entre
tantas outras.
Essas esferas de atividade são regidas por leis próprias, as quais determinam a
posição, os poderes, os deveres, os valores dos indivíduos que nelas atuam. Em
todos os campos de atuação humana, vamos encontrar gêneros específicos que
correspondem às práticas sociais comunicativas que lhes são próprias, por exem-
plo: na esfera de atividade jornalística, vamos encontrar gêneros como a notícia, a
reportagem, o editorial, a carta do leitor, a entrevista etc.; já na esfera acadêmica
vamos encontrar a monografia, a dissertação, o artigo científico, o resumo, a rese-
nha, entre outros. Ficou mais clara essa relação entre gêneros e esfera de atividade?
27
27
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
Vamos, então, completar a noção intuitiva que temos de gêneros: são textos ma-
terializados que encontramos em nossa vida diária, que estão relacionados a deter-
minadas esferas de atividade, “que apresentam características sociocomunicativas
definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição específicos”
(MARCUSCHI, 2010, p.25).
Um advogado e sua sogra estão em um edifício em chamas. Você só tem tempo pra
salvar um dos dois. O que você faz? Você vai almoçar ou vai ao cinema?
O gênero em questão é uma piada, que circula em uma esfera de atividade pes-
soal, pública ou privada, ou seja, a piada ocorre em ambientes em que estamos em
um círculo de amigos ou de colegas de trabalho, ou nas redes sociais etc. Este gê-
nero, como todos os outros, apresenta algumas características sociocomunicativas
pelas quais pode ser identificado: tem como função (propriedades funcionais)
provocar o riso; é um texto para divertir; sua temática traz dois elementos bastante
presentes e comuns ao gênero: a sogra e os advogados, os quais, em geral, como ti-
pos sociais, desagradam as pessoas; o estilo e a composição são bem específicos
e identificáveis: texto curto, uma narrativa, que apresenta uma situação problema e
que surpreende na solução, sempre com a intenção de fazer graça. Além disso, a
linguagem em geral é utilizada em nível coloquial e em forma de diálogos ou per-
guntas que se dirigem diretamente ao interlocutor.
Esses são alguns pontos aos quais devemos estar atentos em nossa vida aca-
dêmica e profissional ao interagir verbalmente, na fala e na escrita. Com certeza,
apreender a noção de gêneros vai nos auxiliar a lidar com os textos que circulam
socialmente, nas diferentes esferas em que atuamos pela linguagem. Lembrando
que dominar um gênero não é apenas dominar uma forma linguística e, sim, uma
forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais parti-
culares (MARCUSCHI, 2010, p.31).
28
Acreditamos que, nesta unidade, ampliamos nosso olhar sobre a língua que usa-
mos e sobre as atividades de linguagem relativas aos processos de leitura e de escrita
que teremos como desafio tanto na formação acadêmica quanto na vida profissional.
Relembramos que você deve elaborar uma ficha de estudos que contemple as noções
aqui apresentadas, que com certeza vai auxiliá-lo(a) no acompanhamento da disciplina.
Você está a par das mudanças que esse Acordo propõe? Na seção seguinte,
informe-se sobre o que muda e o que permanece no uso da língua em relação à sua
ortografia a partir desse Acordo. Bom trabalho!
Há muita gente que rechaçou a unificação, dizendo que havia coisas mais importantes a
Explor
fazer em relação à língua portuguesa. Quem defendeu, argumentou, por exemplo, que o
português está entre as línguas mais faladas no mundo, sendo a única que ainda não estava
unificada. Para entender melhor os prós e os contras, leia a reportagem com o professor
Evanildo Bechara, disponível em: http://bit.ly/2TEmLvi
A seguir, apresentamos uma síntese das principais mudanças que o Novo Acor-
do Ortográfico propõe. Leia com atenção para que possa aplicar essas mudanças
na produção escrita em suas esferas de atividades acadêmica e profissional.
29
29
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
30
» Depois: Averigue, apazigue, ele argui, enxague você.
Tabela 2
Prefixos Usa-se hífen Não se usa hífen
Quando a palavra seguinte começa Em todos os demais casos:
com h ou com vogal igual à última autorretrato, autossustentável,
Agro, ante, anti, arqui,
do prefixo: autoanálise,
auto, contra, extra, infra,
auto-hipnose, auto-observação, autocontrole, antirracista,
intra, macro, mega, micro,
anti-higiênico antissocial,
maxi, mini, semi, sobre,
anti-herói, anti-imperalista, antivírus, minidicionário,
supra, tele, ultra...
micro-ondas, mini-hotel minissaia,
minirreforma, ultrassom
Quando a palavra seguinte Em todos os demais casos:
Hiper, inter, super começa com h ou com r: hiperinflação, hipermercado,
super-homem, inter-regional supersônico
Quando a palavra seguinte
Em todos os demais casos:
Sub começa com b, h ou r:
subsecretário, subeditor
sub-base, sub-reino, sub-humano
Vice Sempre: vice-rei, vice-presidente
Quando a palavra seguinte Em todos os demais casos:
Pan, circum começa com h, m, n ou vogais: pansexual, circuncisão
pan-americano, circum-hospitalar
Fonte: G1
E para consultas rápidas, para que você não erre em relação às mudanças do Novo Acordo Orto-
Explor
31
31
UNIDADE O Uso da Língua Portuguesa em Diferentes Contextos
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Guia Prático da Nova Ortografia
Guia Prático da Nova Ortografia, de Maurício Silva e Elenice Alves da Costa. São
Paulo: Contexto, 2012.
Vídeos
Língua - Vidas em Português
Para ampliar seus conhecimentos sobre a língua portuguesa que se fala nos mais diferentes
países que compõem a comunidade lusófona e perceber os seus diferentes usos e falares,
assista ao filme, Língua: Vidas em Português.
https://youtu.be/JBmLzbjmhhg
Fala e Escrita – Parte 01
Sobre a fala e a escrita assista ao professor Marcuschi, que traz alguns elementos e
aspectos interessantes sobre essas duas modalidades.
https://youtu.be/XOzoVHyiDew
Fala e Escrita – Parte 02
https://youtu.be/6y9xK-9bbcw
Fala e Escrita – Parte 03
https://youtu.be/UqSfGyR1ERA
32
Referências
ANTUNES, I. Lutar com palavras: coesão e coerência. São Paulo: Parábola, 2005.
33
33