Reservatório
Reservatório
Reservatório
ARMADO
APLICADO EM
PILARES, VIGAS
PAREDE E
RESERVATÓRIOS
Reservatórios
Igor José Santos Ribeiro
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
No contexto dos sistemas de distribuição de água do Brasil, reservatórios para
armazenamento de água são imprescindíveis para garantir o abastecimento dos
usuários finais, bem como a reserva em caso de incêndio. O concreto armado é
o material mais utilizado no Brasil para esse fim devido à sua fácil adequação
a distintas formas, ao bom desempenho perante as solicitações e também por
conta da permeabilidade adequada, o que acontece desde que a relação água/
cimento seja escolhida da forma certa com tecnologias aplicadas corretamente
(NEVILLE, 2013). Ao mesmo tempo, o projetista deve estar apto a identificar as cargas
atuantes e gerar um modelo estrutural coerente com a realidade de aplicação.
As normas e as literaturas disponíveis devem, portanto, ser observadas para que
o dimensionamento seja claro, com detalhamentos adequados, de modo a garantir
a durabilidade da estrutura.
Neste capítulo, você irá estudar sobre os tipos de reservatórios e quais as
diferenças entre eles, verá como utilizar o método de cálculo das lajes isoladas
e suas aplicações práticas no projeto de reservatórios elevados e apoiados.
2 Reservatórios
Stand pipe: caracterizado pela sua geometria cilíndrica, trata-se de uma solu-
ção comumente utilizada em condomínios residências e em polos industriais.
Aterro
≥ 1/3
Caso elevado
Na engenharia civil, é importante estar sempre preparado para a pior hipótese
de carregamento ou para a influência dos esforços. Para esse caso, adotou-se
a condição do reservatório completamente cheio. O método é simplificado,
pois considera as paredes, a tampa e o fundo como lajes isoladas e porque
4 Reservatórios
Carregamentos
■■ laje do fundo
–– carga da tampa;
–– carga das paredes;
–– laje da tampa;
–– peso próprio;
–– sobrecarga;
–– revestimento;
–– laje das paredes;
empuxo d’água.
Caso enterrado
Você deve sempre estar preparado para a pior hipótese de carregamento
ou para a influência dos esforços na Engenharia Civil, sendo assim, é preciso
adotar a condição do reservatório vazio internamente para que nas paredes
haja apenas a ação externa proveniente do solo e a condição do reservatório
completamente cheio, desprezando as influências externas do solo nas pare-
des. A seguir estão os carregamentos que você deverá levar em consideração.
Carregamentos
■■ laje do fundo
–– carga da tampa;
–– carga das paredes;
–– laje da tampa;
–– peso próprio;
–– sobrecarga;
–– revestimento;
–– laje das paredes;
–– empuxo de terra (considerando tanque vazio);
–– empuxo d’água (considerando tanque cheio).
Reservatórios 5
-4,73 -4,73
3,03 3,03
6,04
4,73 4,72 4,73
-6,04
-3,03
-3,03
2,32 -1,16 2,65 -1,16 2,32
-3,33
-3,33
-5,14
-3,33 5,14 -3,33 3,33
3,33
Modelo de cálculo
Conforme Vasconcelos (1998), o projeto de estruturas envolve a concepção
de um modelo idealizado, fruto do conhecimento e de habilidades do estru-
turalista para que o sistema forneça boa predictibilidade e indicativos de
uma boa representação da realidade física do problema em análise. Devido
às dificuldades geradas na execução de outros formatos, a maioria dos reser-
vatórios tem formato cúbico. Entre os distintos métodos analíticos disponíveis
na literatura, você aprenderá, a seguir, um dos mais utilizados por fornecer
bons resultados e de modo bem simples: o método das lajes isoladas. Para
aplicá-lo, dividiremos o reservatório em tampa (uma laje), paredes (quatro
lajes) e fundo (uma laje). Devemos observar, inicialmente, as cargas atuantes
em cada uma dessas partes para então calcular as lajes, corrigir os momentos
negativos nos bordos, ajustar os momentos positivos na laje de fundo e, por
fim, verificar a abertura de fissuras, conforme indica a NBR 6118 (ABNT, 2014).
Reservatórios 7
1. Cargas na tampa
a) peso próprio = 25ht, onde ht é a espessura da tampa em metros;
b) revestimento calculado de acordo com a espessura, tendo usualmente
o valor de 1,0 kN/m²;
c) acidental = 0,5 kN/m2.
2. Cargas no fundo
a) peso próprio = 25hf, onde hf é a espessura da laje do fundo em metros;
b) revestimento similar ao item 1b;
c) pressão hidrostática γ w × hw = 10hw kN/m2, onde hw é a altura de água
e γ w é o peso específico da água.
3. Carga na parede
a) empuxo na parede, como carga distribuída triangular de máxima or-
denada igual à pressão hidrostática (item 2c).
Cálculo de lajes
No cálculo das lajes, são avaliados diversos esforços no centro destas e nos
bordos. Nesse modelo, uma laje se apoia na vizinha e consequentemente as
reações de apoio são transferidas para as lajes vizinhas como solicitações.
Explicando de uma forma simplificada, é comum separar as lajes de acordo
com os vínculos como engastadas ou simplesmente apoiadas em suas bordas,
calculando-as de forma isolada. Quando as placas de duas lajes têm uma ten-
8 Reservatórios
Composição de momentos
Uma vez que as lajes foram calculadas separadamente, você pode se per-
guntar: se as cargas são diferentes na parede, na tampa e no fundo e se as
dimensões também podem ser diferentes, para uma mesma borda não seriam
gerados momentos distintos no engaste? Nesse caso, qual devo conside-
rar? A resposta é sim, os momentos são distintos. Para o dimensionamento,
o momento negativo do engaste real pode ser obtido levando em conta a
rigidez de cada placa, porém, uma vez que estes sejam próximos aos obtidos
Reservatórios 9
pela média dos momentos negativos entre as placas, seguimos esse proce-
dimento por simplicidade. Logo, você utilizará os momentos negativos dados
pelas equações apresentadas a seguir.
Ligação entre as lajes fundo × parede 1 e 2:
( + 1 ) (1)
=
2
( + 2) (2)
=
2
( 1 + 2 ) (3)
=
2
Uma vez que os momentos negativos são corrigidos nos engastes, a laje
do fundo terá seus momentos positivos alterados. Segundo Araújo (2014a), ao
admitir uma variação senoidal ao longo das bordas, aplica-se a tabela a seguir
e então é calculado o aumento de momento por meio das equações (4) e (5):
lx
ly γ x1 γ y1 γ x2 γ y2
3
1 = × ×
12,5 1
2 =
12,5 1
× ×
( 4
+ 45
)
onde ϕi é o diâmetro da barra em análise (mm), η1 é o coeficiente de aderência,
σsi (kN/cm²) é a tensão de tração do concreto fissurado, Esi é o módulo de
elasticidade do aço (kN/cm²), ρri é a taxa geométrica de armadura, e fctm é a
resistência média à tração do concreto em análise.
Tendo em vista que, para os concretos usuais, você usará barras nervuradas
CA-50, os valores Esi = 210 GPa e η1 = 2,25 são considerados. É importante estar
ciente que, para essa verificação, σsi deverá ser calculada para combinação
em serviço. O cálculo de ρri deve ser feito por meio da equação:
,
=
onde As,ef é a área de aço adotada. Em seguida, você pode determinar a área
de envolvimento da armadura (Acr) traçando retângulos de abcissa 15ϕ por
altura a partir do centro da armadura de 7,5ϕ, conforme mostra a Figura 6.
12 Reservatórios
Projeto de reservatório
Agora iremos calcular os momentos atuantes em cada placa do reservató-
rio a partir da Teoria das Grelhas. Para isso, adotaremos como exemplo o
reservatório em concreto armado elevado, sendo apresentados, na Figura 7,
a planta baixa e o corte vertical (transversal).
Reservatórios 13
Dados extras:
Carga na tampa:
Carga no fundo:
( )4
= 0,001 ( flecha no centro da laje)
ℎ3
= 2)
12 (1 −
∗ ( )4
= 0,001 ∗ ∗
Mx = 0,001 * mx * p * (ly)2
My = 0,001 * my * p * (ly)2
Rx = 0,001 * rx * p * (ly)2
Ry = 0,001 * ry * p * (ly)2
Reservatórios 15
Tampa:
Paredes 1 e 2:
Paredes 3 e 4:
Fundo:
Paredes Paredes
Parâmetro Tampa 1e2 3e4 Fundo
P (kN/m2) 4 24 24 28,75
Paredes Paredes
Parâmetro Tampa 1e2 3e4 Fundo
P (kN/m2) 4 24 24 28,75
Paredes Paredes
Parâmetro Tampa 1e2 3e4 Fundo
1 + 2 4,78 + 5,71
= = = 5,25
2 2
+ 1 13,59 + 5,28
= = = 9,44
2 2
+ 2 18,96 + 6,23
= = = 12,60
2 2
as áreas de aço das lajes serão calculadas supondo que sejam capazes
de resistir a um esforço de flexo-tração;
classe de agressividade ambiental II;
cobrimento nominal = 2,5 cm;
resistência à compressão do concreto → fck = 25 Mpa;
armaduras de aço da tampa = CA-60;
armaduras de aço do fundo/paredes = CA-50;
dimensões da tampa → b = 100 cm, h = 10 cm, d = 7 cm;
dimensões do fundo/paredes → b = 100 cm, h = 15 cm, d = 12 cm.
Área mínima:
As,mín = ρmín × Ac
Área principal:
= × × ×
Após obter os dois valores de área, adota-se o maior deles com o intuito
de estar em favor da segurança e, em algumas situações, facilitar o posi-
cionamento da armadura no interior da peça antes da concretagem. Por
fim, obtém-se a tabela final com os diâmetros de cada barra de aço e seus
respectivos espaçamentos (Quadro 4).
Quadro 4. Armaduras do reservatório
Direção Local Mk (kN·m/m) Nk (kN/m) A s,min (cm²/m) A s (cm²/m) A s adotada (cm²/m) Detalhamento
parede 3 e 4
19
20 Reservatórios
20xφ6,3c.13-70 cm
20xφ6,3c.13-210 cm
Referências
ABNT. ABNT NBR 5626: sistemas prediais de água fria e água quente: projeto, execução,
operação e manutenção, Rio de Janeiro: ABNT, 2020.
ABNT. ABNT NBR 6118: projeto de estruturas de concreto: procedimento. Rio de Janeiro:
ABNT, 2014.
ARAÚJO, J. M. Curso de concreto armado: volume 2. 4. ed. Rio Grande: DUNAS, 2014a.
Disponível em: http://www.editoradunas.com.br/dunas/V2.pdf. Acesso em: 27 jan. 2021.
ARAÚJO, J. M. Curso de concreto armado: volume 4. 4. ed. Rio Grande: DUNAS, 2014b.
Disponível em: http://www.editoradunas.com.br/dunas/V4.pdf. Acesso em: 27 jan. 2021.
ARAÚJO, J. M. Projeto estrutural de edifício de concreto armado. 3. ed. Rio Grande:
DUNAS, 2014c. Disponível em: http://www.editoradunas.com.br/dunas/V5.pdf. Acesso
em: 27 jan. 2021.
BAZANT, Z. P. et al. Dependence of fracture size effect and projectile penetration on
fiber content of FRC. In: CONFERENCE SERIES MATERIALS SCIENCE AND ENGINEERING, 11.,
2019, High Tatras. Annais [...]. High Tatras: IOP Publishing, 2019. Disponível em: https://
www.researchgate.net/publication/335191302_Dependence_of_fracture_size_effect_
and_projectile_penetration_on_fiber_content_of_FRC. Acesso em: 28 jan. 2021.
NEVILLE, A. M. Propriedades do concreto. 5. ed. Porto Alegre: Bookman, 2016.
NEVILLE, A. M. Tecnologia do concreto. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2013.
22 Reservatórios
Leituras recomendadas
ABNT. ABNT NBR 6120: ações para o cálculo de estruturas de edificações. Rio de Janeiro:
ABNT, 2019.
CARVALHO, R. C; FIGUEIREDO FILHO, J. R. Cálculo e detalhamento de estruturas usuais
de concreto armado: segundo a NBR 6118:2003. 4. ed. São Carlos: EdUFSCar, 2014.
PORTO, T. B.; FERNANDES, D. S. G. Curso básico de concreto armado: conforme NBR
6118/2014. São Paulo: Oficina de Textos, 2015.