Fv073 n0 See Ac Prof Mediador Versao Digital 1
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SEE-AC
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO E ESPORTES
PROFESSOR
MEDIADOR P1
CONTEÚDO
- Língua Portuguesa
GRÁTIS
- História e Geografia do Acre
CONTEÚDO ONLINE
- Legislação da Educação Inclusiva
Conhecimentos Específicos Português
- Acentuação Gráfica
e Ortografia
Matemática
- Números Naturais
Inteiros e Racionais
Interpretação de Texto
- Tipologia Textual
e Tipos de Discurso
Secretaria de Estado de Educação e Esportes do Estado do Acre
SEE-AC
Professor Mediador P1
FV073-N0
Todos os direitos autorais desta obra são protegidos pela Lei nº 9.610, de 19/12/1998.
Proibida a reprodução, total ou parcialmente, sem autorização prévia expressa por escrito da editora e do autor. Se você
conhece algum caso de “pirataria” de nossos materiais, denuncie pelo [email protected].
OBRA
Professor Mediador P1
AUTORES
Língua Portuguesa - Profª Zenaide Auxiliadora Pachegas Branco
História e Geografia do Acre - Profª Silvana Guimarães
Legislação da Educação Inclusiva - Profº Ricardo Razaboni e Bruna Pinotti
Conhecimentos Específicos - Profª Ana Maria B. Quiqueto
PRODUÇÃO EDITORIAL/REVISÃO
Aline Mesquita
Josiane Santo
DIAGRAMAÇÃO
Dayverson Ramon
Willian Lopes
CAPA
Joel Ferreira dos Santos
www.novaconcursos.com.br
[email protected]
APRESENTAÇÃO
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SUMÁRIO
LÍNGUA PORTUGUESA
Leitura e Interpretação de texto literário e não literário, (compreensão geral do texto; ponto de vista ou
ideia central defendida pelo autor; argumentação; elementos de coesão; inferências; estrutura e organiza-
ção do texto e dos parágrafos)............................................................................................................................................................. 01
Tipologia e gêneros textuais.................................................................................................................................................................. 11
Figuras de linguagem................................................................................................................................................................................ 12
Coerência e coesão textual..................................................................................................................................................................... 16
Relações semânticas estabelecidas entre orações, períodos ou parágrafos (oposição/contraste, conclusão, concessão,
causalidade, adição, alternância etc.). O sentido das palavras – adequação vocabular, denotação, conotação, polisse-
mia e ambiguidade. Homonímia, sinonímia, antonímia e paronímia. Valor semântico e emprego dos conectivos................ 22
Sintaxe da oração (período simples; termos fundamentais e acessórios da oração; tipos de predicado) e do
período (período composto por coordenação e por subordinação)..................................................................................... 36
Acentuação gráfica..................................................................................................................................................................................... 36
Ortografia....................................................................................................................................................................................................... 39
Emprego dos sinais de pontuação e suas funções no texto...................................................................................................... 44
Concordâncias verbal e nominal........................................................................................................................................................... 47
Regências verbal e nominal.................................................................................................................................................................... 55
Emprego de tempos e modos verbais. Locuções verbais (perífrases verbais).................................................................... 62
Paralelismo sintático e paralelismo semântico................................................................................................................................ 62
Emprego das classes gramaticais......................................................................................................................................................... 64
Estrutura e formação de palavras......................................................................................................................................................... 103
LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, Disponível em, http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Livro I - Parte Geral - Título I – Disposições Preliminares - Capítulo
I – Disposições Gerais, do artigo 1° até o 3°................................................................................................................................................ 01
Título I – Capítulo II – Da Igualdade e da Não discriminação, do artigo 4° até o 8°.................................................................... 02
TÍTULO II - DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS - CAPÍTULO IV - DO DIREITO À EDUCAÇÃO, do artigo 27° até o 30°....... 03
Título III – da acessibilidade – Capítulo I – Disposições Gerais, do artigo 53° até 62°................................................................ 04
RESOLUÇÃO CEE/AC Nº 277/2017, disponível em http://diario.ac.gov.br/..................................................................................... 05
Lei Estadual nº 2.976, de 22 de julho de 2015, disponível no site http://www.al.ac.leg.br........................................................ 05
Lei Federal nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Disponível em http://www.planalto.gov.br........................................... 09
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
LÍNGUA PORTUGUESA
Leitura e Interpretação de texto literário e não literário, (compreensão geral do texto; ponto de vista ou
ideia central defendida pelo autor; argumentação; elementos de coesão; inferências; estrutura e organiza-
ção do texto e dos parágrafos)............................................................................................................................................................. 01
Tipologia e gêneros textuais.................................................................................................................................................................. 11
Figuras de linguagem................................................................................................................................................................................ 12
Coerência e coesão textual..................................................................................................................................................................... 16
Relações semânticas estabelecidas entre orações, períodos ou parágrafos (oposição/contraste, conclusão, concessão,
causalidade, adição, alternância etc.). O sentido das palavras – adequação vocabular, denotação, conotação, polisse-
mia e ambiguidade. Homonímia, sinonímia, antonímia e paronímia. Valor semântico e emprego dos conectivos................ 22
Sintaxe da oração (período simples; termos fundamentais e acessórios da oração; tipos de predicado) e do
período (período composto por coordenação e por subordinação)..................................................................................... 36
Acentuação gráfica..................................................................................................................................................................................... 36
Ortografia....................................................................................................................................................................................................... 39
Emprego dos sinais de pontuação e suas funções no texto...................................................................................................... 44
Concordâncias verbal e nominal........................................................................................................................................................... 47
Regências verbal e nominal.................................................................................................................................................................... 55
Emprego de tempos e modos verbais. Locuções verbais (perífrases verbais).................................................................... 62
Paralelismo sintático e paralelismo semântico................................................................................................................................ 62
Emprego das classes gramaticais......................................................................................................................................................... 64
Estrutura e formação de palavras......................................................................................................................................................... 103
Interpretar/Compreender
LEITURA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO LITERÁ-
RIO E NÃO LITERÁRIO, (COMPREENSÃO GERAL Interpretar significa:
DO TEXTO; PONTO DE VISTA OU IDEIA CEN- Explicar, comentar, julgar, tirar conclusões, deduzir.
TRAL DEFENDIDA PELO AUTOR; ARGUMENTA- Através do texto, infere-se que...
ÇÃO; ELEMENTOS DE COESÃO; INFERÊNCIAS; É possível deduzir que...
ESTRUTURA E ORGANIZAÇÃO DO TEXTO E O autor permite concluir que...
DOS PARÁGRAFOS) Qual é a intenção do autor ao afirmar que...
Compreender significa
INTERPRETAÇÃO TEXTUAL Entendimento, atenção ao que realmente está escrito.
O texto diz que...
Texto – é um conjunto de ideias organizadas e rela- É sugerido pelo autor que...
cionadas entre si, formando um todo significativo capaz De acordo com o texto, é correta ou errada a afirma-
de produzir interação comunicativa (capacidade de codi- ção...
ficar e decodificar). O narrador afirma...
1
do assunto. Se ele for longo, não desista! Há muitos éramos
candidatos na disputa, portanto, quanto mais in- IVAN MARTINS
formação você absorver com a leitura, mais chan-
ces terá de resolver as questões. Sei que a palavra da moda é precocidade, mas eu
• Se encontrar palavras desconhecidas, não interrom- acredito em conquistas tardias. Elas têm na minha vida
pa a leitura. um gosto especial.
• Leia o texto, pelo menos, duas vezes – ou quantas Quando aprendi a guiar, aos 34 anos, tudo se trans-
forem necessárias. formou. De repente, ganhei mobilidade e autonomia. A
• Procure fazer inferências, deduções (chegar a uma cidade, minha cidade, mudou de tamanho e de fisiono-
conclusão). mia. Descer a Avenida Rebouças num táxi, de madruga-
• Volte ao texto quantas vezes precisar. da, era diferente – e pior – do que descer a mesma ave-
• Não permita que prevaleçam suas ideias sobre as nida com as mãos ao volante, ouvindo rock and roll no
do autor. rádio. Pegar a estrada com os filhos pequenos revelou-se
• Fragmente o texto (parágrafos, partes) para melhor uma delícia insuspeitada.
Talvez porque eu tenha começado tarde, guiar me
compreensão.
parece, ainda hoje, uma experiência incomum. É um ato
• Verifique, com atenção e cuidado, o enunciado de
que, mesmo repetido de forma diária, nunca se banalizou
cada questão.
inteiramente.
• O autor defende ideias e você deve percebê-las.
Na véspera do Ano Novo, em Ubatuba, eu fiz outra
• Observe as relações interparágrafos. Um parágra- descoberta temporã.
fo geralmente mantém com outro uma relação de Depois de décadas de tentativas inúteis e frustran-
continuação, conclusão ou falsa oposição. Identifi- tes, num final de tarde ensolarado eu conquistei o dom
que muito bem essas relações. da flutuação. Nas águas cálidas e translúcidas da praia
• Sublinhe, em cada parágrafo, o tópico frasal, ou seja, Brava, sob o olhar risonho da minha mulher, finalmente
a ideia mais importante. consegui boiar.
• Nos enunciados, grife palavras como “correto” ou Não riam, por favor. Vocês que fazem isso desde os
“incorreto”, evitando, assim, uma confusão na hora oito anos, vocês que já enjoaram da ausência de peso
da resposta – o que vale não somente para Inter- e esforço, vocês que não mais se surpreendem com a
pretação de Texto, mas para todas as demais ques- sensação de balançar ao ritmo da água – sinto dizer, mas
tões! vocês se esqueceram de como tudo isso é bom.
• Se o foco do enunciado for o tema ou a ideia prin- Nadar é uma forma de sobrepujar a água e impor-se
cipal, leia com atenção a introdução e/ou a con- a ela. Boiar é fazer parte dela – assim como do sol e das
clusão. montanhas ao redor, dos sons que chegam filtrados ao
• Olhe com especial atenção os pronomes relativos, ouvido submerso, do vento que ergue a onda e lança
pronomes pessoais, pronomes demonstrativos, água em nosso rosto. Boiar é ser feliz sem fazer força, e
etc., chamados vocábulos relatores, porque reme- isso, curiosamente, não é fácil.
tem a outros vocábulos do texto. Essa experiência me sugeriu algumas considerações
sobre a vida em geral.
SITES Uma delas, óbvia, é que a gente nunca para de apren-
der ou de avançar. Intelectualmente e emocionalmente,
Disponível em: <http://www.tudosobreconcursos. de um jeito prático ou subjetivo, estamos sempre incor-
com/materiais/portugues/como-interpretar-textos> porando novidades que nos transformam. Somos gene-
Disponível em: <http://portuguesemfoco.com/pf/ ticamente elaborados para lidar com o novo, mas não
só. Também somos profundamente modificados por ele.
09-dicas-para-melhorar-a-interpretacao-de-textos-em-
A cada momento da vida, quando achamos que tudo já
-provas>
aconteceu, novas capacidades irrompem e fazem de nós
Disponível em: <http://www.portuguesnarede.
uma pessoa diferente do que éramos. Uma pessoa capaz
com/2014/03/dicas-para-voce-interpretar-melhor-um.
de boiar é diferente daquelas que afundam como pedras.
html> Suspeito que isso tenha importância também para os
Disponível em: <http://vestibular.uol.com.br/cursi- relacionamentos.
nho/questoes/questao-117-portugues.htm> Se a gente não congela ou enferruja – e tem gente
que já está assim aos 30 anos – nosso repertório íntimo
tende a se ampliar, a cada ano que passa e a cada nova
EXERCÍCIOS COMENTADOS relação. Penso em aprender a escutar e a falar, em olhar
LÍNGUA PORTUGUESA
2
Assim como boiar, essas coisas são simples, mas precisam ser aprendidas.
Estar no interior de uma relação verdadeira é como estar na água do mar. Às vezes você nada, outras vezes você
boia, de vez em quando, morto de medo, sente que pode afundar. É uma experiência que exige, ao mesmo tempo, rela-
xamento e atenção, e nem sempre essas coisas se combinam. Se a gente se põe muito tenso e cerebral, a relação perde
a espontaneidade. Afunda. Mas, largada apenas ao sabor das ondas, sem atenção ao equilíbrio, a relação também
naufraga. Há uma ciência sem cálculos que tem de ser assimilada a cada novo amor, por cada um de nós. Ela fornece
a combinação exata de atenção e relaxamento que permite boiar. Quer dizer, viver de forma relaxada e consciente um
grande amor.
Na minha experiência, esse aprendizado não se fez rapidamente. Demorou anos e ainda se faz. Talvez porque eu
seja homem, talvez porque seja obtuso para as coisas do afeto. Provavelmente, porque sofro das limitações emocionais
que muitos sofrem e que tornam as relações afetivas mais tensas e trabalhosas do que deveriam ser.
Sabemos nadar, mas nos custa relaxar e ser felizes nas águas do amor e do sexo. Nos custa boiar.
A boa notícia, que eu redescobri na praia, é que tudo se aprende, mesmo as coisas simples que pareciam impossí-
veis.
Enquanto se está vivo e relação existe, há chance de melhorar. Mesmo se ela acabou, é certo que haverá outra no
futuro, no qual faremos melhor: com mais calma, com mais prazer, com mais intensidade e menos medo.
O verão, afinal, está apenas começando. Todos os dias se pode tentar boiar.
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2014/01/overao-em-que-aprendi-boiar.html
De acordo com o texto, quando o autor afirma que “Todos os dias se pode tentar boiar.”, ele refere-se ao fato de
a) haver sempre tempo para aprender, para tentar relaxar e ser feliz nas águas do amor, agindo com mais calma, com
mais prazer, com mais intensidade e menos medo.
b) ser necessário agir com mais cautela nos relacionamentos amorosos para que eles não se desfaçam.
c) haver sempre tempo para aprender a ser mais criterioso com seus relacionamentos, a fim de que eles sejam vividos
intensamente.
d) haver sempre tempo para aprender coisas novas, inclusive agir com o raciocínio nas relações amorosas.
e) ser necessário aprender nos relacionamentos, porém sempre estando alerta para aquilo de ruim que pode acontecer.
Resposta: Letra A
Ao texto: (...) tudo se aprende, mesmo as coisas simples que pareciam impossíveis. / Enquanto se está vivo e relação
existe, há chance de melhorar = sempre há tempo para boiar (aprender).
Em “a”: haver sempre tempo para aprender, para tentar relaxar e ser feliz nas águas do amor, agindo com mais cal-
ma, com mais prazer, com mais intensidade e menos medo = correta.
Em “b”: ser necessário agir com mais cautela nos relacionamentos amorosos para que eles não se desfaçam = incor-
reta – o autor propõe viver intensamente.
Em “c”: haver sempre tempo para aprender a ser mais criterioso com seus relacionamentos, a fim de que eles sejam
vividos intensamente = incorreta – ser menos objetivo nos relacionamentos.
Em “d”: haver sempre tempo para aprender coisas novas, inclusive agir com o raciocínio nas relações amorosas =
incorreta – ser mais emoção.
Em “e”: ser necessário aprender nos relacionamentos, porém sempre estando alerta para aquilo de ruim que pode
acontecer = incorreta – estar sempre cuidando, não pensando em algo ruim.
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a) ter alcançado o céu após sua morte; dinheiro tomei.
b) mostrar determinação no combate à doença; Assim, o sistema monetário atual funciona com uma
c) ser comparado a cientistas famosos; moeda que é ao mesmo tempo escassa e abundante. Es-
d) ser reconhecido como uma mente brilhante; cassa porque só banqueiros podem criá-la, e abundante
e) localizar seus interesses nos estudos de Física. porque é gerada pela simples manipulação de bancos de
dados. O resultado é uma acumulação de riqueza e po-
Resposta: Letra D der sem precedentes: um mundo onde o patrimônio de
Em “a”: ter alcançado o céu após sua morte; = incor- 80 pessoas é maior do que o de 3,6 bilhões, e onde o 1%
reto mais rico tem mais do que os outros 99% juntos.
Em “b”: mostrar determinação no combate à doença; [...]
= incorreto Disponível em https://fagulha.org/artigos/inventando-
Em “c”: ser comparado a cientistas famosos; = incor- -dinheiro/
reto Acessado em 20/03/2018
Em “d”: ser reconhecido como uma mente brilhante;
Em “e”: localizar seus interesses nos estudos de Física. De acordo com o autor do texto Lastro e o sistema bancá-
= incorreto rio, a reserva fracional foi criada com o objetivo de
Usemos a fala de Einstein: “a mente brilhante que es-
távamos esperando”. a) tornar ilimitada a produção de dinheiro.
b) proteger os bens dos clientes de bancos.
3. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018) c) impedir que os bancos fossem à falência.
d) permitir o empréstimo de mais dinheiro
Lastro e o Sistema Bancário e) preservar as economias das pessoas.
[...]
Até os anos 60, o papel-moeda e o dinheiro deposi- Resposta: Letra D
tado nos bancos deviam estar ligados a uma quantidade Ao texto: (...) Com o tempo, os banqueiros se deram
de ouro num sistema chamado lastro-ouro. Como esse conta de que ninguém estava interessado em trocar
metal é limitado, isso garantia que a produção de dinhei- dinheiro por ouro e criaram manobras, como a reserva
ro fosse também limitada. Com o tempo, os banqueiros fracional, para emprestar muito mais dinheiro do que
se deram conta de que ninguém estava interessado em realmente tinham em ouro nos cofres.
trocar dinheiro por ouro e criaram manobras, como a re- Em “a”, tornar ilimitada a produção de dinheiro = in-
serva fracional, para emprestar muito mais dinheiro do correta
que realmente tinham em ouro nos cofres. Nas crises, Em “b”, proteger os bens dos clientes de bancos = in-
como em 1929, todos queriam sacar dinheiro para pagar correta
suas contas e os bancos quebravam por falta de fundos, Em “c”, impedir que os bancos fossem à falência =
deixando sem nada as pessoas que acreditavam ter suas
incorreta
economias seguramente guardadas.
Em “d”, permitir o empréstimo de mais dinheiro =
Em 1971, o presidente dos EUA acabou com o pa-
correta
drão-ouro. Desde então, o dinheiro, na forma de cédu-
Em “e”, preservar as economias das pessoas = incor-
las e principalmente de valores em contas bancárias, já
não tendo nenhuma riqueza material para representar, é reta
criado a partir de empréstimos. Quando alguém vai até
o banco e recebe um empréstimo, o valor colocado em 4. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018)
sua conta é gerado naquele instante, criado a partir de A leitura do texto permite a compreensão de que
uma decisão administrativa, e assim entra na economia.
Essa explicação permaneceu controversa e escondida a) as dívidas dos clientes são o que sustenta os bancos.
por muito tempo, mas hoje está clara em um relatório do b) todo o dinheiro que os bancos emprestam é imagi-
Bank of England de 2014. nário.
Praticamente todo o dinheiro que existe no mundo é c) quem pede um empréstimo deve a outros clientes.
criado assim, inventado em canetaços a partir da conces- d) o pagamento de dívidas depende do “livre-mercado”.
são de empréstimos. O que torna tudo mais estranho e e) os bancos confiscam os bens dos clientes endividados.
perverso é que, sobre esse empréstimo, é cobrada uma
dívida. Então, se eu peço dinheiro ao banco, ele inventa Resposta: Letra A
números em uma tabela com meu nome e pede que eu Em “a”, as dívidas dos clientes são o que sustenta os
devolva uma quantidade maior do que essa. Para pagar bancos = correta
LÍNGUA PORTUGUESA
a dívida, preciso ir até o dito “livre-mercado” e trabalhar, Em “b”, todo o dinheiro que os bancos emprestam é
lutar, talvez trapacear, para conseguir o dinheiro que o imaginário = nem todo
banco inventou na conta de outras pessoas. Esse é o di- Em “c”, quem pede um empréstimo deve a outros
nheiro que vai ser usado para pagar a dívida, já que a clientes = deve ao banco, este paga/empresta a ou-
única fonte de moeda é o empréstimo bancário. No fim, tros clientes
os bancos acabam com todo o dinheiro que foi inventa- Em “d”, o pagamento de dívidas depende do “livre-
do e ainda confiscam os bens da pessoa endividada cujo -mercado” = não só: (...) preciso ir até o dito “livre-
4
-mercado” e trabalhar, lutar, talvez trapacear. 6. (TJ-AL – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FGV-2018) Observe
Em “e”, os bancos confiscam os bens dos clientes endi- a charge abaixo.
vidados = desde que não paguem a dívida
NÃO pode ser inferida da imagem e das frases a se- a) Presa por mensagem racista na internet;
guinte informação: b) Vinte pessoas são vítimas da ditadura venezuelana;
Em “a”, a classe social mais alta está envolvida nos cri- c) Apanhou de policiais por destruir caixa eletrônico;
mes cometidos no Rio = inferência correta d) Homossexuais são perseguidos e presos na Rússia;
Em “b”, a tarefa da investigação criminal não está sen- e) Quatro funcionários ficaram livres do trabalho escravo.
do bem-feita = inferência correta
Em “c”, a linguagem do personagem mostra intimida- Resposta: Letra C
LÍNGUA PORTUGUESA
de com o interlocutor = inferência correta Em “a”: Presa por mensagem racista na internet =
Em “d”, a presença do orelhão indica o atraso do local como a repressão política, familiar ou de gênero
da charge = incorreta Em “b”: Vinte pessoas são vítimas da ditadura vene-
Em “e”, as imagens dos tanques de guerra denunciam zuelana = como a repressão política, familiar ou de gê-
a presença do Exército = inferência correta nero
Em “c”: Apanhou de policiais por destruir caixa eletrô-
nico = não consta na Manchete acima
Em “d”: Homossexuais são perseguidos e presos na
5
Rússia = como a repressão política, familiar ou de gê- Ao texto: (...) há sempre o risco de excessos, a serem
nero devidamente contidos e seus responsáveis, punidos,
Em “e”: Quatro funcionários ficaram livres do trabalho conforme estabelecido na legislação. / É o que precisa
escravo = o desgaste causado pelas condições de tra- acontecer... = precisa acontecer a punição dos exces-
balho sos.
Numa democracia, é livre a expressão, estão garanti- A paz não pode ser garantida apenas pelos acordos
dos o direito de reunião e de greve, entre outros, obe- políticos, econômicos ou militares. Cada um de nós, in-
decidas leis e regras, lastreadas na Constituição. Em um dependentemente de idade, sexo, estrato social, crença
regime de liberdades, há sempre o risco de excessos, a religiosa etc. é chamado à criação de um mundo pacifica-
serem devidamente contidos e seus responsáveis, puni- do, um mundo sob a égide de uma cultura da paz.
dos, conforme estabelecido na legislação. Mas, o que significa “cultura da paz”?
É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos Construir uma cultura da paz envolve dotar as crianças
caminhoneiros, concluídas as investigações, por exem- e os adultos da compreensão de princípios como liber-
plo, da ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessa- dade, justiça, democracia, direitos humanos, tolerância,
dos em se beneficiar do barateamento do combustível. igualdade e solidariedade. Implica uma rejeição, indivi-
Sempre há, também, o oportunismo político-ideoló- dual e coletiva, da violência que tem sido percebida na
gico para se aproveitar da crise. Inclusive, neste ano de sociedade, em seus mais variados contextos. A cultura da
eleição, com o objetivo de obter apoio a candidatos. Não paz tem de procurar soluções que advenham de dentro
faltam, também, os arautos do quanto pior, melhor, para da(s) sociedade(s), que não sejam impostas do exterior.
desgastar governantes e reforçar seus projetos de po- Cabe ressaltar que o conceito de paz pode ser abor-
der, por mais delirantes que sejam. Também aqui vale o dado em sentido negativo, quando se traduz em um es-
que está delimitado pelo estado democrático de direito, tado de não guerra, em ausência de conflito, em pas-
defendido pelos diversos instrumentos institucionais de sividade e permissividade, sem dinamismo próprio; em
que conta o Estado – Polícia, Justiça, Ministério Público, síntese, condenada a um vazio, a uma não existência
Forças Armadas etc. palpável, difícil de se concretizar e de se precisar. Em sua
A greve atravessou vários sinais ao estrangular as vias concepção positiva, a paz não é o contrário da guerra,
de suprimento que mantêm o sistema produtivo funcio- mas a prática da não violência para resolver conflitos, a
nando, do qual depende a sobrevivência física da popu- prática do diálogo na relação entre pessoas, a postura
lação. Isso não pode ser esquecido e serve de alerta para democrática frente à vida, que pressupõe a dinâmica da
que as autoridades desenvolvam planos de contingência. cooperação planejada e o movimento constante da ins-
O Globo, 31/05/2018. talação de justiça.
Uma cultura de paz exige esforço para modificar o
“É o que precisa acontecer no rescaldo da greve dos ca- pensamento e a ação das pessoas para que se promova
minhoneiros, concluídas as investigações, por exemplo, a paz. Falar de violência e de como ela nos assola deixa
da ajuda ilegal de patrões ao movimento, interessados de ser, então, a temática principal. Não que ela vá ser
em se beneficiar do barateamento do combustível.” Se- esquecida ou abafada; ela pertence ao nosso dia a dia e
gundo esse parágrafo do texto, o que “precisa acontecer” temos consciência disso. Porém, o sentido do discurso, a
é ideologia que o alimenta, precisa impregná-lo de pala-
vras e conceitos que anunciem os valores humanos que
a) manter-se o direito de livre expressão do pensamento. decantam a paz, que lhe proclamam e promovem. A vio-
b) garantir-se o direito de reunião e de greve. lência já é bastante denunciada, e quanto mais falamos
dela, mais lembramos de sua existência em nosso meio
c) lastrear leis e regras na Constituição.
social. É hora de começarmos a convocar a presença da
d) punirem-se os responsáveis por excessos.
paz em nós, entre nós, entre nações, entre povos.
e) concluírem-se as investigações sobre a greve.
Um dos primeiros passos nesse sentido refere-se à
gestão de conflitos. Ou seja, prevenir os conflitos poten-
Resposta: Letra D cialmente violentos e reconstruir a paz e a confiança en-
Em “a”: manter-se o direito de livre expressão do pensa- tre pessoas originárias de situação de guerra é um dos
mento. = incorreto
LÍNGUA PORTUGUESA
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dade de expressão, preservando a diversidade cultural e O humor da tira é conseguido através de uma quebra de
o ambiente. expectativa, que é:
É, então, no entrelaçamento “paz — desenvolvimento —
direitos humanos — democracia” que podemos vislum- a) o fato de um adulto colecionar figurinhas;
brar a educação para a paz. b) as figurinhas serem de temas sociais e não esportivos;
Leila Dupret. Cultura de paz e ações sócio-educativas: c) a falta de muitas figurinhas no álbum;
desafios para a escola contemporânea. In: Psicol. Esc. d) a reclamação ser apresentada pelo pai e não pelo filho;
Educ. (Impr.) v. 6, n.º 1. Campinas, jun./2002 (com adap- e) uma criança ajudar a um adulto e não o contrário.
tações).
Resposta: Letra B
De acordo com o texto CG1A1AAA, os elementos “gestão Em “a”: o fato de um adulto colecionar figurinhas; =
de conflitos” e “erradicar a pobreza” devem ser concebi- incorreto
dos como Em “b”: as figurinhas serem de temas sociais e não
esportivos;
a) obstáculos para a construção da cultura da paz. Em “c”: a falta de muitas figurinhas no álbum; = incor-
b) dispensáveis para a construção da cultura da paz. reto
c) irrelevantes na construção da cultura da paz. Em “d”: a reclamação ser apresentada pelo pai e não
d) etapas para a construção da cultura da paz. pelo filho; = incorreto
e) consequências da construção da cultura da paz. Em “e”: uma criança ajudar a um adulto e não o con-
trário. = incorreto
Resposta: Letra D O humor está no fato de o álbum ser sobre um tema
Em “a”: obstáculos para a construção da cultura da paz. incomum: assuntos sociais.
= incorreto
Em “b”: dispensáveis para a construção da cultura da 11. (PM-SP - SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR – VU-
paz. = incorreto NESP-2015) Leia a tira.
Em “c”: irrelevantes na construção da cultura da paz.
= incorreto
Em “d”: etapas para a construção da cultura da paz.
Em “e”: consequências da construção da cultura da paz.
= incorreto
Ao texto: Um dos primeiros passos nesse sentido refe-
re-se à gestão de conflitos. (...) Outro passo é tentar er-
radicar a pobreza e reduzir as desigualdades = etapas
para construção da paz. (Folha de S.Paulo, 02.10.2015. Adaptado)
10. (TJ-AL – ANALISTA JUDICIÁRIO – OFICIAL DE JUS- Com sua fala, a personagem revela que
TIÇA AVALIADOR – FGV-2018) a) a violência era comum no passado.
b) as pessoas lutam contra a violência.
c) a violência está banalizada.
d) o preço que pagou pela violência foi alto.
Resposta: Letra C
Em “a”: a violência era comum no passado. = incorreto
Em “b”: as pessoas lutam contra a violência. = incor-
reto
Em “c”: a violência está banalizada.
Em “d”: o preço que pagou pela violência foi alto. =
incorreto
Infelizmente, a personagem revela que a violência está
banalizada, nem há mais “punições” para os agressi-
vos.
LÍNGUA PORTUGUESA
7
12. (PM-SP - ASPIRANTE DA POLÍCIA MILITAR [INTE- boatos sobre quadrilhas de roubo de figurinha espalha-
RIOR] – VUNESP-2017) Leia a charge. dos por mensagens de celular.
Gilberto Porcidônio – O Globo, 12/04/2018 uma entrevista, uma reportagem no jornal escrito ou tele-
visionado, um bilhete? = Linguagem verbal!
A febre do troca-troca de figurinhas pode estar atingindo Agora: o semáforo, o apito do juiz numa partida de
uma temperatura muito alta. Preocupados que os mais futebol, o cartão vermelho, o cartão amarelo, uma dança,
afoitos pelos cromos possam até roubá-los, muitos jor- o aviso de “não fume” ou de “silêncio”, o bocejo, a identi-
naleiros estão levando seus estoques para casa quando ficação de “feminino” e “masculino” através de figuras na
termina o expediente. Pode parecer piada, mas há até porta do banheiro, as placas de trânsito? = Linguagem
8
não verbal! do texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre
para atualizar, reafirmar os sentidos ou alguns sentidos
A linguagem pode ser ainda verbal e não verbal ao do texto citado. É dizer com outras palavras o que já foi
mesmo tempo, como nos casos das charges, cartoons e dito. Temos um exemplo citado por Affonso Romano
anúncios publicitários. Sant’Anna em seu livro “Paródia, paráfrase & Cia” (p. 23):
Alguns exemplos:
Cartão vermelho – denúncia de falta grave no futebol. Texto Original
Placas de trânsito.
Imagem indicativa de “silêncio”. Minha terra tem palmeiras
Semáforo com sinal amarelo advertindo “atenção”. Onde canta o sabiá,
As aves que aqui gorjeiam
SITE Não gorjeiam como lá.
(Gonçalves Dias, “Canção do exílio”).
Disponível em: http://www.brasilescola.com/redacao/
linguagem.htm Paráfrase
9
Minha terra tem palmares para a conclusão. As conclusões são fundamentadas a
onde gorjeia o mar partir daqui.
os passarinhos daqui Para que o desenvolvimento cumpra seu objetivo, o
não cantam como os de lá. escritor já deve ter uma ideia clara de como será a con-
(Oswald de Andrade, “Canto de regresso à pátria”). clusão. Daí a importância em planejar o texto.
Em média, o desenvolvimento ocupa 3/5 do texto, no
O nome Palmares, escrito com letra minúscula, subs- mínimo. Já nos textos mais longos, pode estar inserido
titui a palavra palmeiras, há um contexto histórico, social em capítulos ou trechos destacados por subtítulos. Apre-
e racial neste texto, Palmares é o quilombo liderado por sentar-se-á no formato de parágrafos medianos e curtos.
Zumbi, foi dizimado em 1695, há uma inversão do sen- Os principais erros cometidos no desenvolvimento
tido do texto primitivo que foi substituído pela crítica à são o desvio e a desconexão da argumentação. O primei-
escravidão existente no Brasil. ro está relacionado ao autor tomar um argumento se-
cundário que se distancia da discussão inicial, ou quando
ESTRUTURA TEXTUAL se concentra em apenas um aspecto do tema e esquece
o seu todo. O segundo caso acontece quando quem re-
Primeiramente, o que nos faz produzir um texto é a dige tem muitas ideias ou informações sobre o que está
capacidade que temos de pensar. Por meio do pensa- sendo discutido, não conseguindo estruturá-las. Surge
mento, elaboramos todas as informações que recebemos também a dificuldade de organizar seus pensamentos e
e orientamos as ações que interferem na realidade e or- definir uma linha lógica de raciocínio.
ganização de nossos escritos. O que lemos é produto de
um pensamento transformado em texto. Conclusão
Logo, como cada um de nós tem seu modo de pen-
sar, quando escrevemos sempre procuramos uma ma- Considerada como a parte mais importante do texto,
neira organizada do leitor compreender as nossas ideias. é o ponto de chegada de todas as argumentações ela-
A finalidade da escrita é direcionar totalmente o que boradas. As ideias e os dados utilizados convergem para
você quer dizer, por meio da comunicação. essa parte, em que a exposição ou discussão se fecha.
Para isso, os elementos que compõem o texto se sub- Em uma estrutura normal, ela não deve deixar uma
dividem em: introdução, desenvolvimento e conclusão. brecha para uma possível continuidade do assunto; ou
Todos eles devem ser organizados de maneira equilibra- seja, possui atributos de síntese. A discussão não deve
da. ser encerrada com argumentos repetitivos, como por
exemplo: “Portanto, como já dissemos antes...”, “Con-
Introdução cluindo...”, “Em conclusão...”.
Sua proporção em relação à totalidade do texto deve
Caracterizada pela entrada no assunto e a argumen- ser equivalente ao da introdução: de 1/5. Essa é uma das
tação inicial. A ideia central do texto é apresentada nessa características de textos bem redigidos.
etapa. Essa apresentação deve ser direta, sem rodeios. Os seguintes erros aparecem quando as conclusões
O seu tamanho raramente excede a 1/5 de todo o tex- ficam muito longas:
to. Porém, em textos mais curtos, essa proporção não é
equivalente. Neles, a introdução pode ser o próprio tí- • O problema aparece quando não ocorre uma ex-
tulo. Já nos textos mais longos, em que o assunto é ex- ploração devida do desenvolvimento, o que gera
posto em várias páginas, ela pode ter o tamanho de um uma invasão das ideias de desenvolvimento na
capítulo ou de uma parte precedida por subtítulo. Nessa conclusão.
situação, pode ter vários parágrafos. Em redações mais • Outro fator consequente da insuficiência de funda-
comuns, que em média têm de 25 a 80 linhas, a introdu- mentação do desenvolvimento está na conclusão
ção será o primeiro parágrafo. precisar de maiores explicações, ficando bastante
vazia.
Desenvolvimento • Enrolar e “encher linguiça” são muito comuns no
texto em que o autor fica girando em torno de
A maior parte do texto está inserida no desenvolvi- ideias redundantes ou paralelas.
mento, que é responsável por estabelecer uma ligação • Uso de frases vazias que, por vezes, são perfeita-
entre a introdução e a conclusão. É nessa etapa que são mente dispensáveis.
elaboradas as ideias, os dados e os argumentos que sus- • Quando não tem clareza de qual é a melhor conclu-
tentam e dão base às explicações e posições do autor. são, o autor acaba se perdendo na argumentação
LÍNGUA PORTUGUESA
10
mas polêmicos, o autor deixa a conclusão em aber- ação demarcados no tempo do universo narrado,
to. como também de advérbios, como é o caso de an-
• Para estimular o leitor a ler uma possível continui- tes, agora, depois, entre outros: Ela entrava em seu
dade do texto, o autor não fecha a discussão de carro quando ele apareceu. Depois de muita conver-
propósito. sa, resolveram...
• Por apenas apresentar dados e informações sobre o B) Textos descritivos – como o próprio nome indica,
tema a ser desenvolvido, o autor não deseja con- descrevem características tanto físicas quanto psi-
cluir o assunto. cológicas acerca de um determinado indivíduo ou
• Para que o leitor tire suas próprias conclusões, o au- objeto. Os tempos verbais aparecem demarcados
tor enumera algumas perguntas no final do texto. no presente ou no pretérito imperfeito: “Tinha os
cabelos mais negros como a asa da graúna...”
A maioria dessas falhas pode ser evitada se antes o C) Textos expositivos – Têm por finalidade explicar
autor fizer um esboço de todas as suas ideias. Essa técni- um assunto ou uma determinada situação que se
ca é um roteiro, em que estão presentes os planejamen- almeje desenvolvê-la, enfatizando acerca das ra-
tos. Naquele devem estar indicadas as melhores sequên- zões de ela acontecer, como em: O cadastramento
cias a serem utilizadas na redação; ele deve ser o mais irá se prorrogar até o dia 02 de dezembro, portan-
enxuto possível. to, não se esqueça de fazê-lo, sob pena de perder o
benefício.
SITE D) Textos injuntivos (instrucional) – Trata-se de
uma modalidade na qual as ações são prescritas de
Disponível em: forma sequencial, utilizando-se de verbos expres-
<http://producao-de-textos.info/mos/view/Carac- sos no imperativo, infinitivo ou futuro do presente:
ter%C3%ADsticas_e_Estruturas_do_Texto/> Misture todos os ingrediente e bata no liquidificador
até criar uma massa homogênea.
E) Textos argumentativos (dissertativo) – Demar-
TIPOLOGIA E GÊNEROS TEXTUAIS cam-se pelo predomínio de operadores argumen-
tativos, revelados por uma carga ideológica cons-
tituída de argumentos e contra-argumentos que
justificam a posição assumida acerca de um deter-
TIPOLOGIA E GÊNERO TEXTUAL
minado assunto: A mulher do mundo contemporâ-
neo luta cada vez mais para conquistar seu espaço
A todo o momento nos deparamos com vários tex-
no mercado de trabalho, o que significa que os gê-
tos, sejam eles verbais ou não verbais. Em todos há a
neros estão em complementação, não em disputa.
presença do discurso, isto é, a ideia intrínseca, a essência
daquilo que está sendo transmitido entre os interlocuto-
Gêneros Textuais
res. Estes interlocutores são as peças principais em um
diálogo ou em um texto escrito.
São os textos materializados que encontramos em
É de fundamental importância sabermos classificar os
nosso cotidiano; tais textos apresentam características
textos com os quais travamos convivência no nosso dia
sócio-comunicativas definidas por seu estilo, função,
a dia. Para isso, precisamos saber que existem tipos tex-
composição, conteúdo e canal. Como exemplos, temos:
tuais e gêneros textuais.
receita culinária, e-mail, reportagem, monografia, poema,
Comumente relatamos sobre um acontecimento, um
editorial, piada, debate, agenda, inquérito policial, fórum,
fato presenciado ou ocorrido conosco, expomos nossa
blog, etc.
opinião sobre determinado assunto, descrevemos algum
A escolha de um determinado gênero discursivo de-
lugar que visitamos, fazemos um retrato verbal sobre al-
pende, em grande parte, da situação de produção, ou
guém que acabamos de conhecer ou ver. É exatamente
seja, a finalidade do texto a ser produzido, quem são os
nessas situações corriqueiras que classificamos os nossos
locutores e os interlocutores, o meio disponível para vei-
textos naquela tradicional tipologia: Narração, Descri-
cular o texto, etc.
ção e Dissertação.
Os gêneros discursivos geralmente estão ligados a
esferas de circulação. Assim, na esfera jornalística, por
As tipologias textuais se caracterizam pelos aspec-
exemplo, são comuns gêneros como notícias, reporta-
tos de ordem linguística
gens, editoriais, entrevistas e outros; na esfera de divul-
gação científica são comuns gêneros como verbete de
LÍNGUA PORTUGUESA
11
– São Paulo: Saraiva, 2010.
CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa. Disponível em: <http://www.terapiadapalavra.com.
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática – br/figuras-de-linguagem-na-escrita-literaria/> Acesso
volume único – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. abr, 2018.
Observação:
FIGURAS DE LINGUAGEM Toda metáfora é uma espécie de comparação implíci-
ta, em que o elemento comparativo não aparece.
Seus olhos são como luzes brilhantes.
FIGURA DE LINGUAGEM, PENSAMENTO E CONS- O exemplo acima mostra uma comparação evidente,
TRUÇÃO através do emprego da palavra como.
12
Outros exemplos: Catacrese
“Meu pensamento é um rio subterrâneo.” (Fernando
Pessoa) Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contí-
Neste caso, a metáfora é possível na medida em que nuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando,
o poeta estabelece relações de semelhança entre um rio por falta de um termo específico para designar um con-
subterrâneo e seu pensamento (pode estar relacionando ceito, toma-se outro “emprestado”. Assim, passamos a
a fluidez, a profundidade, a inatingibilidade, etc.). empregar algumas palavras fora de seu sentido original.
Exemplos: “asa da xícara”, “batata da perna”, “maçã do
Minha alma é uma estrada de terra que leva a lugar rosto”, “pé da mesa”, “braço da cadeira”, “coroa do aba-
algum. caxi”.
Uma estrada de terra que leva a lugar algum é, na fra-
se acima, uma metáfora. Por trás do uso dessa expressão Perífrase ou Antonomásia
que indica uma alma rústica e abandonada (e angustia-
damente inútil), há uma comparação subentendida: Mi- Trata-se de uma expressão que designa um ser atra-
nha alma é tão rústica, abandonada (e inútil) quanto uma vés de alguma de suas características ou atributos, ou de
estrada de terra que leva a lugar algum. um fato que o celebrizou. É a substituição de um nome
por outro ou por uma expressão que facilmente o iden-
A Amazônia é o pulmão do mundo. tifique:
Em sua mente povoa só inveja. A Cidade Maravilhosa (= Rio de Janeiro) continua
atraindo visitantes do mundo todo.
Metonímia (ou sinédoque) A Cidade-Luz (=Paris)
O rei das selvas (=o leão)
É a substituição de um nome por outro, em virtude de
existir entre eles algum relacionamento. Tal substituição Observação:
pode acontecer dos seguintes modos:
Quando a perífrase indica uma pessoa, recebe o
Autor pela obra: Gosto de ler Machado de Assis. (= nome de antonomásia. Exemplos:
Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis).
Inventor pelo invento: Édson ilumina o mundo. (= O Divino Mestre (= Jesus Cristo) passou a vida prati-
As lâmpadas iluminam o mundo). cando o bem.
Símbolo pelo objeto simbolizado: Não te afastes da O Poeta dos Escravos (= Castro Alves) morreu muito
cruz. (= Não te afastes da religião). jovem.
Lugar pelo produto do lugar: Fumei um saboroso O Poeta da Vila (= Noel Rosa) compôs lindas canções.
Havana. (= Fumei um saboroso charuto).
Efeito pela causa: Sócrates bebeu a morte. (= Sócra- Sinestesia
tes tomou veneno).
Causa pelo efeito: Moro no campo e como do meu Consiste em mesclar, numa mesma expressão, as sen-
trabalho. (= Moro no campo e como o alimento
sações percebidas por diferentes órgãos do sentido. É o
que produzo).
cruzamento de sensações distintas.
Continente pelo conteúdo: Bebeu o cálice todo. (=
Um grito áspero revelava tudo o que sentia. (grito =
Bebeu todo o líquido que estava no cálice).
auditivo; áspero = tátil)
Instrumento pela pessoa que utiliza: Os microfones
foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram No silêncio escuro do seu quarto, aguardava os aconte-
atrás dos jogadores). cimentos. (silêncio = auditivo; escuro = visual)
Parte pelo todo: Várias pernas passavam apressada- Tosse gorda. (sensação auditiva X sensação tátil)
mente. (= Várias pessoas passavam apressadamen-
te). Antítese
Gênero pela espécie: Os mortais pensam e sofrem
nesse mundo. (= Os homens pensam e sofrem nes- Consiste no emprego de palavras que se opõem
se mundo). quanto ao sentido. O contraste que se estabelece serve,
Singular pelo plural: A mulher foi chamada para ir às essencialmente, para dar uma ênfase aos conceitos en-
ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram volvidos que não se conseguiria com a exposição isolada
chamadas, não apenas uma mulher). dos mesmos. Observe os exemplos:
Marca pelo produto: Minha filha adora danone. (= “O mito é o nada que é tudo.” (Fernando Pessoa)
LÍNGUA PORTUGUESA
Minha filha adora o iogurte que é da marca Da- O corpo é grande e a alma é pequena.
none). “Quando um muro separa, uma ponte une.”
Espécie pelo indivíduo: O homem foi à Lua. (= Al- Não há gosto sem desgosto.
guns astronautas foram à Lua).
Símbolo pela coisa simbolizada: A balança penderá Paradoxo ou oximoro
para teu lado. (= A justiça ficará do teu lado).
É a associação de ideias, além de contrastantes, con-
13
traditórias. Seria a antítese ao extremo. Moça, que fazes aí parada?
Era dor, sim, mas uma dor deliciosa. “Pai Nosso, que estais no céu”
Ouvimos as vozes do silêncio. Deus, ó Deus! Onde estás?
É o emprego de uma expressão mais suave, mais no- Apresentação de ideias por meio de palavras, sinôni-
bre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa mas ou não, em ordem ascendente (clímax) ou descen-
áspera, desagradável ou chocante. dente (anticlímax). Observe este exemplo:
Depois de muito sofrimento, entregou a alma ao Se- Havia o céu, havia a terra, muita gente e mais Joana
nhor. (= morreu) com seus olhos claros e brincalhões...
O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
Fernando faltou com a verdade. (= mentiu) O objetivo do narrador é mostrar a expressividade
Faltar à verdade. (= mentir) dos olhos de Joana. Para chegar a este detalhe, ele se
refere ao céu, à terra, às pessoas e, finalmente, a Joana e
Ironia seus olhos. Nota-se que o pensamento foi expresso em
ordem decrescente de intensidade. Outros exemplos:
É sugerir, pela entoação e contexto, o contrário do “Vive só para mim, só para a minha vida, só para meu
que as palavras ou frases expressam, geralmente apre- amor”. (Olavo Bilac)
sentando intenção sarcástica. A ironia deve ser muito “O trigo... nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, co-
bem construída para que cumpra a sua finalidade; mal lheu-se.” (Padre Antônio Vieira)
construída, pode passar uma ideia exatamente oposta à
desejada pelo emissor. Elipse
Como você foi bem na prova! Não tirou nem a nota
mínima. Consiste na omissão de um ou mais termos numa
Parece um anjinho aquele menino, briga com todos oração e que podem ser facilmente identificados, tanto
que estão por perto. por elementos gramaticais presentes na própria oração,
O governador foi sutil como um elefante. quanto pelo contexto.
A catedral da Sé. (a igreja catedral)
Hipérbole Domingo irei ao estádio. (no domingo eu irei ao es-
tádio)
É a expressão intencionalmente exagerada com o in-
tuito de realçar uma ideia. Zeugma
Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
“Rios te correrão dos olhos, se chorares.” (Olavo Bilac) Zeugma é uma forma de elipse. Ocorre quando é feita
O concurseiro quase morre de tanto estudar! a omissão de um termo já mencionado anteriormente.
Ele gosta de geografia; eu, de português. (eu gosto de
Prosopopeia ou Personificação português)
É a atribuição de ações ou qualidades de seres ani- Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só
mados a seres inanimados, ou características humanas a modernos. (só havia móveis)
seres não humanos. Observe os exemplos: Ela gosta de natação; eu, de vôlei. (gosto de)
As pedras andam vagarosamente.
O livro é um mudo que fala, um surdo que ouve, um Silepse
cego que guia.
A floresta gesticulava nervosamente diante da serra. A silepse é a concordância que se faz com o termo
Chora, violão. que não está expresso no texto, mas, sim, subentendido.
É uma concordância anormal, psicológica, porque se faz
Figuras de Construção ou de Sintaxe com um termo oculto, facilmente identificado. Há três ti-
pos de silepse: de gênero, número e pessoa.
Apóstrofe
Silepse de Gênero - Os gêneros são masculino e fe-
Consiste na “invocação” de alguém ou de alguma coi- minino. Ocorre a silepse de gênero quando a concordân-
sa personificada, de acordo com o objetivo do discurso, cia se faz com a ideia que o termo comporta. Exemplos:
LÍNGUA PORTUGUESA
14
B) Vossa Excelência está preocupado. Pleonasmo
O adjetivo preocupado concorda com o sexo da pes- Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as
soa, que nesse caso é masculino, e não com o ter- mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é
mo Vossa Excelência. realçar a ideia, torná-la mais expressiva.
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo.
Silepse de Número - Os números são singular e Nesta oração, os termos “o problema da violência”
plural. A silepse de número ocorre quando o verbo da e “lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto.
oração não concorda gramaticalmente com o sujeito da Assim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o
oração, mas com a ideia que nele está contida. Exemplos: pronome “lo” classificado como objeto direto pleonástico.
A procissão saiu. Andaram por todas as ruas da cidade Outro exemplo:
de Salvador. Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.
O povo corria por todos os lados e gritavam muito alto. Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto
Note que nos exemplos acima, os verbos andaram e Neste caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o
gritavam não concordam gramaticalmente com os sujei- pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleo-
tos das orações (que se encontram no singular, procissão nástico.
e povo, respectivamente), mas com a ideia que neles está
contida. Procissão e povo dão a ideia de muita gente, por Observação:
isso que os verbos estão no plural. O pleonasmo só tem razão de ser quando confere
mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um pleonas-
Silepse de Pessoa - Três são as pessoas gramaticais: mo vicioso:
eu, tu e ele (as três pessoas do singular); nós, vós, eles Vi aquela cena com meus próprios olhos.
(as três do plural). A silepse de pessoa ocorre quando há Vamos subir para cima.
um desvio de concordância. O verbo, mais uma vez, não Ele desceu pra baixo.
concorda com o sujeito da oração, mas sim com a pessoa
que está inscrita no sujeito. Exemplos: Anáfora
O que não compreendo é como os brasileiros persista-
mos em aceitar essa situação. É a repetição de uma ou mais palavras no início de
Os agricultores temos orgulho de nosso trabalho. várias frases, criando, assim, um efeito de reforço e de
“Dizem que os cariocas somos poucos dados aos jar- coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em cau-
dins públicos.” (Machado de Assis) sa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar
determinado elemento textual. Os termos anafóricos po-
Observe que os verbos persistamos, temos e somos dem muitas vezes ser substituídos por pronomes.
não concordam gramaticalmente com os seus sujeitos Encontrei um amigo ontem. Ele me disse que te co-
(brasileiros, agricultores e cariocas, que estão na terceira nhecia.
pessoa), mas com a ideia que neles está contida (nós, os “Tudo cura o tempo, tudo gasta, tudo digere, tudo aca-
brasileiros, os agricultores e os cariocas). ba.” (Padre Vieira)
Para estudarmos as duas figuras de construção é ne- Consiste na mudança da construção sintática no meio
cessário recordar um conceito estudado em sintaxe sobre da frase, ficando alguns termos desligados do resto do
período composto. No período composto por coordena- período. É a quebra da estrutura normal da frase para a
ção, podemos ter orações sindéticas ou assindéticas. A introdução de uma palavra ou expressão sem nenhuma
oração coordenada ligada por uma conjunção (conecti- ligação sintática com as demais.
vo) é sindética; a oração que não apresenta conectivo é Esses alunos da escola, não se pode duvidar deles.
assindética. Recordado esse conceito, podemos definir as Morrer, todo haveremos de morrer.
duas figuras de construção: Aquele garoto, você não disse que ele chegaria logo?
A) Polissíndeto - É uma figura caracterizada pela re- A expressão “esses alunos da escola”, por exemplo,
petição enfática dos conectivos. Observe o exem- deveria exercer a função de sujeito. No entanto, há uma
plo: O menino resmunga, e chora, e grita, e nin- interrupção da frase e esta expressão fica à parte, não
guém faz nada. exercendo nenhuma função sintática. O anacoluto tam-
LÍNGUA PORTUGUESA
B) Assíndeto - É uma figura caracterizada pela au- bém é chamado de “frase quebrada”, pois corresponde
sência, pela omissão das conjunções coordenati- a uma interrupção na sequência lógica do pensamento.
vas, resultando no uso de orações coordenadas
assindéticas. Exemplos: Observação:
Tens casa, tens roupa, tens amor, tens família. O anacoluto deve ser usado com finalidade expressi-
“Vim, vi, venci.” (Júlio César) va em casos muito especiais. Em geral, evite-o.
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Hipérbato / Inversão humanas a seres inanimados é a figura de pensamen-
to da Personificação – também conhecida por Proso-
É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da popeia.
ordem direta dos termos da oração, fazendo com que o 2. (PRF – POLICIAL RODOVIÁRIO FEDERAL – FUNRIO
sujeito venha depois do predicado: – 2009) O hino do América F.C., composto por Lamartine
Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O Babo, diz: “Hei de torcer, torcer, torcer... Hei de torcer até
amor venceu ao ódio) morrer, morrer, morrer... Pois a torcida americana é toda
Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: assim, a começar por mim.” O recurso linguístico que en-
Eu cuido dos meus problemas) fatiza o compromisso entoado pelo hino é
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unidade formal. priedade de fazer referência ao contexto situacional ou
Nas palavras do mestre Evanildo Bechara, “o enun- ao próprio discurso. Exercem, por excelência, essa fun-
ciado não se constrói com um amontoado de palavras e ção de progressão textual, dada sua característica: são
orações. Elas se organizam segundo princípios gerais de elementos que não significam, apenas indicam, remetem
dependência e independência sintática e semântica, reco- aos componentes da situação comunicativa.
bertos por unidades melódicas e rítmicas que sedimentam Já os componentes concentram em si a significação.
estes princípios”. Elisa Guimarães ensina-nos a esse respeito:
Não se deve escrever frases ou textos desconexos – “Os pronomes pessoais e as desinências verbais in-
é imprescindível que haja uma unidade, ou seja, que as dicam os participantes do ato do discurso. Os pronomes
frases estejam coesas e coerentes formando o texto. Re- demonstrativos, certas locuções prepositivas e adverbiais,
lembre-se de que, por coesão, entende-se ligação, rela- bem como os advérbios de tempo, referenciam o momento
ção, nexo entre os elementos que compõem a estrutura da enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterio-
textual.
ridade ou posterioridade. Assim: este, agora, hoje, neste
momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem,
Formas de se garantir a coesão entre os elementos
há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante,
de uma frase ou de um texto:
no próximo ano, depois de (futuro).”
• Substituição de palavras com o emprego de sinô-
A coerência de um texto está ligada:
nimos - palavras ou expressões do mesmo campo
associativo.
1. à sua organização como um todo, em que devem
• Nominalização – emprego alternativo entre um ver-
estar assegurados o início, o meio e o fim;
bo, o substantivo ou o adjetivo correspondente
2. à adequação da linguagem ao tipo de texto. Um
(desgastar / desgaste / desgastante).
texto técnico, por exemplo, tem a sua coerência
• Emprego adequado de tempos e modos verbais:
fundamentada em comprovações, apresentação
Embora não gostassem de estudar, participaram da
de estatísticas, relato de experiências; um texto
aula.
informativo apresenta coerência se trabalhar com
• Emprego adequado de pronomes, conjunções, pre-
linguagem objetiva, denotativa; textos poéticos,
posições, artigos:
por outro lado, trabalham com a linguagem figura-
da, livre associação de ideias, palavras conotativas.
O papa Francisco visitou o Brasil. Na capital brasileira,
Sua Santidade participou de uma reunião com a Presiden-
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
te Dilma. Ao passar pelas ruas, o papa cumprimentava as
pessoas. Estas tiveram a certeza de que ele guarda respeito
CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa.
por elas.
Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática –
volume único – 3.ª ed. – São Paulo: Saraiva, 2002.
• Uso de hipônimos – relação que se estabelece com
base na maior especificidade do significado de um
SITE
deles. Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel
(mais genérico).
Disponível em: <http://www.mundovestibular.com.
• Emprego de hiperônimos - relações de um termo
br/articles/2586/1/COESAO-E-COERENCIA-TEXTUAL/
de sentido mais amplo com outros de sentido mais
Paacutegina1.html>
específico. Por exemplo, felino está numa relação
de hiperonímia com gato.
• Substitutos universais, como os verbos vicários.
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Verbo vicário é aquele que substitui outro já utilizado
no período, evitando repetições. Geralmente é o verbo 1. (BANESTES – ANALISTA ECONÔMICO FINANCEIRO
fazer e ser. Exemplo: Não gosto de estudar. Faço porque GESTÃO CONTÁBIL – FGV-2018)
preciso. O “faço” foi empregado no lugar de “estudo”,
evitando repetição desnecessária. Texto 2
A coesão apoiada na gramática se dá no uso de co-
nectivos, como pronomes, advérbios e expressões ad- “A prefeitura da capital italiana anunciou que vai banir a
verbiais, conjunções, elipses, entre outros. A elipse jus- circulação de carros a diesel no centro a partir de 2024. O
LÍNGUA PORTUGUESA
tifica-se quando, ao remeter a um enunciado anterior, objetivo é reduzir a poluição, que contribui para a erosão
a palavra elidida é facilmente identificável (Exemplo.: O dos monumentos”. (Veja, 7/3/2018)
jovem recolheu-se cedo. Sabia que ia necessitar de todas
as suas forças. O termo o jovem deixa de ser repetido e, A ordem cronológica dos fatos citados no texto 2 é:
assim, estabelece a relação entre as duas orações).
a) redução da poluição / banimento da circulação de car-
Dêiticos são elementos linguísticos que têm a pro- ros / erosão dos monumentos;
17
b) banimento da circulação de carros / erosão dos monu- 3. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES-
mentos / redução da poluição; GRANRIO-2018-ADAPTADA)
c) erosão dos monumentos / redução da poluição / bani-
mento da circulação de carros; O vício da tecnologia
d) redução da poluição / erosão dos monumentos / ba-
nimento da circulação de carros; Entusiastas de tecnologia passaram a semana com os
e) erosão dos monumentos / banimento da circulação de olhos voltados para uma exposição de novidades eletrô-
carros / redução da poluição. nicas realizada recentemente nos Estados Unidos. Entre
as inovações, estavam produtos relacionados a experiên-
Resposta: Letra E cias de realidade virtual e à utilização de inteligência ar-
“A prefeitura da capital italiana anunciou que vai banir tificial — que hoje é um dos temas que mais desperta
a circulação de carros a diesel no centro a partir de interesse em profissionais da área, tendo em vista a am-
2024. O objetivo é reduzir a poluição, que contribui pliação do uso desse tipo de tecnologia nos mais diver-
para a erosão dos monumentos”. sos segmentos.
Primeiro ocorreu a erosão dos monumentos (=1) de- Mais do que prestar atenção às novidades lançadas
no evento, vale refletir sobre o motivo que nos leva a
vido à poluição; optou-se pelo banimento da circula-
uma ansiedade tão grande para consumir produtos que
ção dos carros (=2) para que a poluição diminua (=3),
prometem inovação tecnológica. Por que tanta gente se
o que preservará os monumentos.
dispõe a dormir em filas gigantescas só para ser um dos
primeiros a comprar um novo modelo de smartphone?
2. (BANCO DA AMAZÔNIA – TÉCNICO BANCÁRIO – Por que nos dispomos a pagar cifras astronômicas para
CESGRANRIO-2018) A ideia a que o pronome destaca- comprar aparelhos que não temos sequer certeza de que
do se refere está adequadamente explicitada entre col- serão realmente úteis em nossas rotinas?
chetes em: A teoria de um neurocientista da Universidade de
Oxford (Inglaterra) ajuda a explicar essa “corrida desen-
a) “Ela é produzida de forma descentralizada por mi- freada” por novos gadgets. De modo geral, em nosso
lhares de computadores, mantidos por pessoas que processo evolutivo como seres humanos, nosso cérebro
‘emprestam’ a capacidade de suas máquinas para criar aprendeu a suprir necessidades básicas para a sobrevi-
bitcoins” [computadores] vência e a perpetuação da espécie, tais como sexo, segu-
b) “No processo de nascimento de uma bitcoin, que é rança e status social.
chamado de ´mineração´, os computadores conecta- Nesse sentido, a compra de uma novidade tecnoló-
dos à rede competem entre si” [bitcoin] gica atende a essa última necessidade citada: nós nos
c) “O nível de dificuldade dos desafios é ajustado pela sentimos melhores e superiores, ainda que momenta-
rede, para que a moeda cresça dentro de uma faixa neamente, quando surgimos em nossos círculos sociais
limitada, que é de até 21 milhões de unidades” [rede] com um produto que quase ninguém ainda possui.
d) “Elas são guardadas em uma espécie de carteira, que Foi realizado um estudo de mapeamento cerebral
é criada quando o usuário se cadastra no software.” que mostrou que imagens de produtos tecnológicos ati-
[espécie ] vavam partes do nosso cérebro idênticas às que são ati-
e) “Críticos afirmam que a moeda vive uma bolha que em vadas quando uma pessoa muito religiosa se depara com
algum momento deve estourar.” [bolha] um objeto sagrado. Ou seja, não seria exagero dizer que
o vício em novidades tecnológicas é quase uma religião
Resposta: Letra E para os mais entusiastas.
Em “a”: “Ela é produzida de forma descentralizada por O ato de seguir esse impulso cerebral e comprar o
milhares de computadores, mantidos por pessoas que mais novo lançamento tecnológico dispara em nosso cé-
rebro a liberação de um hormônio chamado dopamina,
(= as quais – retoma o termo “pessoas”)
responsável por nos causar sensações de prazer. Ele é
Em “b”: “No processo de nascimento de uma bitcoin,
liberado quando nosso cérebro identifica algo que repre-
que é chamado de ‘mineração’ (= o qual - retoma o
sente uma recompensa.
termo “processo de nascimento”)
O grande problema é que a busca excessiva por re-
Em “c”: “O nível de dificuldade dos desafios é ajustado compensas pode resultar em comportamentos impul-
pela rede, para que a moeda cresça dentro de uma sivos, que incluem vícios em jogos, apego excessivo a
faixa limitada, que é de até 21 milhões de unidades” = redes sociais e até mesmo alcoolismo. No caso do consu-
retoma o termo “faixa limitada” mo, podemos observar a situação problematizada aqui:
Em “d”: “Elas são guardadas em uma espécie de cartei- gasto excessivo de dinheiro em aparelhos eletrônicos
ra, que é criada (= a qual – retoma “carteira”)
LÍNGUA PORTUGUESA
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conter os impulsos na hora de comprar um novo smart- dopamina” [mapeamento cerebral]
phone ou alguma novidade de mercado: compare o efei- (...) vício em novidades tecnológicas é quase uma re-
to momentâneo da dopamina com o impacto de imagi- ligião para os mais entusiastas. / O ato de seguir esse
nar como ficarão as faturas do seu cartão de crédito com impulso cerebral e comprar
a nova compra.
O choque ao constatar o rombo em seu orçamento pode Em “e”: “Ele é liberado quando nosso cérebro identi-
ser suficiente para que você decida pensar duas vezes a fica algo que represente uma recompensa.” [impulso
respeito da aquisição. cerebral]
DANA, S. O Globo. Economia. Rio de Janeiro, 16 jan. (...) a liberação de um hormônio chamado dopamina,
2018. Adaptado. responsável por nos causar sensações de prazer. Ele é
liberado = dopamina
A ideia a que a expressão destacada se refere está expli-
citada adequadamente entre colchetes em: 4. (PETROBRAS – ENGENHEIRO(A) DE MEIO AMBIEN-
TE JÚNIOR – CESGRANRIO-2018)
a) “relacionados a experiências de realidade virtual e à
utilização de inteligência artificial — que hoje é um Texto I
dos temas que mais desperta interesse em profissio-
nais da área” [experiências de realidade virtual] Portugueses no Rio de Janeiro
b) “tendo em vista a ampliação do uso desse tipo de tec-
nologia nos mais diversos segmentos” [inteligência O Rio de Janeiro é o grande centro da imigração por-
artificial] tuguesa até meados dos anos cinquenta do século pas-
c) “a compra de uma novidade tecnológica atende a essa sado, quando chega a ser a “terceira cidade portuguesa
última necessidade citada” [segurança] do mundo”, possuindo 196 mil portugueses — um déci-
d) “O ato de seguir esse impulso cerebral e comprar o mo de sua população urbana. Ali, os portugueses dedi-
mais novo lançamento tecnológico dispara em nosso cam-se ao comércio, sobretudo na área dos comestíveis,
cérebro a liberação de um hormônio chamado dopa- como os cafés, as panificações, as leitarias, os talhos,
mina” [mapeamento cerebral] além de outros ramos, como os das papelarias e lojas
e) “Ele é liberado quando nosso cérebro identifica algo de vestuários. Fora do comércio, podem exercer as mais
que represente uma recompensa.” [impulso cerebral] variadas profissões, como atividades domésticas ou as de
barbeiros e alfaiates. Há, de igual forma, entre os mais
afortunados, aqueles ligados à indústria, voltados para
Resposta: Letra B
construção civil, o mobiliário, a ourivesaria e o fabrico de
Ao texto:
bebidas.
Em “a”: “relacionados a experiências de realidade vir-
A sua distribuição pela cidade, apesar da não forma-
tual e à utilização de inteligência artificial — que hoje
ção de guetos, denota uma tendência para a sua concen-
é um dos temas que mais desperta interesse em pro- tração em determinados bairros, escolhidos, muitas das
fissionais da área” [experiências de realidade virtual] vezes, pela proximidade da zona de trabalho. No Centro
Nesse caso, a resposta se encontra na alternativa: in- da cidade, próximo ao grande comércio, temos um grupo
teligência artificial significativo de patrícios e algumas associações de por-
te, como o Real Gabinete Português de Leitura e o Liceu
Em “b”: “tendo em vista a ampliação do uso desse tipo Literário Português. Nos bairros da Cidade Nova, Estácio
de tecnologia nos mais diversos segmentos” [inteli- de Sá, Catumbi e Tijuca, outro ponto de concentração
gência artificial] da colônia, se localizam outras associações portuguesas,
Texto: Entre as inovações, estavam produtos relaciona- como a Casa de Portugal e um grande número de casas
dos a experiências de realidade virtual e à utilização de regionais. Há, ainda, pequenas concentrações nos bairros
inteligência artificial — que hoje é um dos temas que periféricos da cidade, como Jacarepaguá, originalmente
mais desperta interesse em profissionais da área, tendo formado por quintas de pequenos lavradores; nos subúr-
em vista a ampliação do uso desse tipo de tecnologia bios, como Méier e Engenho Novo; e nas zonas mais pri-
nos mais diversos segmentos.= correta vilegiadas, como Botafogo e restante da zona sul carioca,
área nobre da cidade a partir da década de cinquenta,
Em “c”: “a compra de uma novidade tecnológica aten- preferida pelos mais abastados.
de a essa última necessidade citada” [segurança] PAULO, Heloísa. Portugueses no Rio de Janeiro: sa-
Texto: (...) suprir necessidades básicas para a sobrevi- lazaristas e opositores em manifestação na cidade. In:
vência e a perpetuação da espécie, tais como sexo, se- ALVES, Ida et alii. 450 Anos de Portugueses no Rio de
LÍNGUA PORTUGUESA
gurança e status social. / Nesse sentido, a compra de Janeiro. Rio de Janeiro: Ofi cina Raquel, 2017, pp. 260-1.
uma novidade tecnológica atende a essa última neces- Adaptado.
sidade citada... = status social
“No Centro da cidade, próximo ao grande comércio,
Em “d”: “O ato de seguir esse impulso cerebral e com- temos um grupo significativo de patrícios e algumas as-
sociações de porte”. No trecho acima, a autora usou em
prar o mais novo lançamento tecnológico dispara em
itálico a palavra destacada para fazer referência aos
nosso cérebro a liberação de um hormônio chamado
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havia outras pessoas na fila, ela não poderia levar só o
a) luso-brasileiros que consumiria de imediato?
b) patriotas da cidade “Não, estou pagando e cheguei primeiro”, foi a resposta.
c) habitantes da cidade Compras exageradas nos supermercados, estoques do-
d) imigrantes portugueses mésticos, filas nervosas nos postos de combustível – teve
e) compatriotas brasileiros muito comportamento na base de cada um por si.
Cabem nessa categoria as greves e manifestações opor-
Resposta: Letra D tunistas. Governo, cedendo, também vou buscar o meu
Ainda hoje é o utilizado o termo “patrício” para se re- – tal foi o comportamento de muita gente.
ferir aos portugueses. “Patrício” significa “da mesma Carlos A. Sardenberg, in O Globo, 31/05/2018.
pátria”.
“A crise não trouxe apenas danos sociais e econômicos.
5. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) To- Mostrou também danos morais”. A palavra ou expressão
das as frases abaixo apresentam elementos sublinhados do primeiro período que leva à produção do segundo
que estabelecem coesão com elementos anteriores (aná- período é
fora); a frase em que o elemento sublinhado se refere a
um elemento futuro do texto (catáfora) é: a) a crise.
b) não trouxe.
a) “A civilização converteu a solidão num dos bens mais c) apenas.
preciosos que a alma humana pode desejar”; d) danos sociais.
b) “Todo o problema da vida é este: como romper a pró- e) (danos) econômicos.
pria solidão”;
c) “É sobretudo na solidão que se sente a vantagem de Resposta: Letra C
viver com alguém que saiba pensar”; 1.º período: A crise não trouxe apenas danos sociais e
d) “O homem ama a companhia, mesmo que seja apenas econômicos.
a de uma vela que queima”; 2.º período: Mostrou também danos morais.
e) “As pessoas que nunca têm tempo são aquelas que A expressão que nos dá a ideia de que haverá mais
produzem menos”. informações que complementarão a primeira “tese”
apresentada é “apenas”.
Resposta: Letra B
Em “a”: “A civilização converteu a solidão num dos 7. (IBGE – RECENSEADOR – FGV-2017)
bens mais preciosos que a alma humana pode dese-
jar” = retoma “bens preciosos” Texto 3 – “Silva, Oliveira, Faria, Ferreira... Todo mundo
Em “b”: “Todo o problema da vida é este: como romper tem um sobrenome e temos de agradecer aos romanos
a própria solidão” = o pronome se refere ao período por isso. Foi esse povo, que há mais de dois mil anos
que virá (= catáfora) ergueu um império com a conquista de boa parte das
Em “c”: “É sobretudo na solidão que se sente a vanta- terras banhadas pelo Mediterrâneo, o inventor da moda.
gem de viver com alguém que saiba pensar” = retoma Eles tiveram a ideia de juntar ao nome comum, ou pre-
“solidão” nome, um nome.
Em “d”: “O homem ama a companhia, mesmo que seja Por quê? Porque o império romano crescia e eles preci-
apenas a de uma vela que queima” = retoma “com- savam indicar o clã a que a pessoa pertencia ou o lugar
panhia” onde tinha nascido”.
Em “e”: “As pessoas que nunca têm tempo são aque- (Ciência Hoje, março de 2014)
las que produzem menos” = retoma “pessoas”
“Todo mundo tem um sobrenome e temos de agradecer
6. (MPE-AL - TÉCNICO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – aos romanos por isso”. (texto 3) O pronome “isso”, nesse
FGV-2018) segmento do texto, se refere a(à):
20
8. (MPU – ANALISTA – ANTROPOLOGIA – CESPE-2010) “todo homem que tem poder tende a abusar dele; ele vai
Inovar é recriar de modo a agregar valor e incremen- até onde encontra limites. Para que não se possa abusar
tar a eficiência, a produtividade e a competitividade nos do poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o
processos gerenciais e nos produtos e serviços das orga- poder limite o poder”.
nizações. Ou seja, é o fermento do crescimento econô- Até Montesquieu, não eram identificadas com clareza
mico e social de um país. Para isso, é preciso criatividade, as esferas de abrangência dos poderes políticos: “só se
capacidade de inventar e coragem para sair dos esque- concebia sua união nas mãos de um só ou, então, sua
mas tradicionais. Inovador é o indivíduo que procura res- separação; ninguém se arriscava a apresentar, sob a for-
postas originais e pertinentes em situações com as quais ma de sistema coerente, as consequências de conceitos
ele se defronta. É preciso uma atitude de abertura para diversos”. Pensador francês do século XVIII, Montesquieu
as coisas novas, pois a novidade é catastrófica para os situa-se entre o racionalismo cartesiano e o empirismo
mais céticos. Pode-se dizer que o caminho da inovação é de origem baconiana, não abandonando o rigor das
um percurso de difícil travessia para a maioria das insti- certezas matemáticas em suas certezas morais. Porém,
tuições. Inovar significa transformar os pontos frágeis de refugindo às especulações metafísicas que, no plano da
um empreendimento em uma realidade duradoura e lu- idealidade, serviram aos filósofos do pacto social para a
crativa. A inovação estimula a comercialização de produ- explicação dos fundamentos do Estado ou da sociedade
tos ou serviços e também permite avanços importantes civil, ele procurou ingressar no terreno dos fatos.
para toda a sociedade. Porém, a inovação é verdadeira Fernanda Leão de Almeida. A garantia institucional do
somente quando está fundamentada no conhecimento. Ministério Público em função da proteção dos direitos
A capacidade de inovação depende da pesquisa, da ge- humanos.
ração de conhecimento. É necessário investir em pesqui- Tese de doutorado. São Paulo: USP, 2010, p. 18-9.
sa para devolver resultados satisfatórios à sociedade. No Internet: <www.teses.usp.br> (com adaptações).
entanto, os resultados desse tipo de investimento não
são necessariamente recursos financeiros ou valores eco- No trecho “controle recíproco entre”, o pronome “eles” faz
nômicos, podem ser também a qualidade de vida com referência a “ramos diversos”.
justiça social.
Luís Afonso Bermúdez. O fermento tecnológico. In: Dar- ( ) CERTO ( ) ERRADO
cy. Revista de jornalismo científico e cultural da Univer-
sidade de Brasília, novembro e dezembro de 2009, p. 37 Resposta: Certo
(com adaptações). Ao período: (...) reclama a distribuição do poder em
ramos diversos, com a disposição de meios que asse-
Subentende-se da argumentação do texto que o pro- gurem o controle recíproco entre eles para o advento
nome demonstrativo, no trecho “desse tipo de investi- de um cenário de equilíbrio e harmonia.
mento”, refere-se à ideia de “fermento do crescimento
econômico e social de um país”. 10. (PC-PI – AGENTE DE POLÍCIA CIVIL – 3.ª CLASSE –
NUCEPE-2018 - ADAPTADA) Alguém apaixonado sem-
( ) CERTO ( ) ERRADO pre atrai novas oportunidades, se destaca do grupo, é
promovido primeiro, é celebrado quando volta de férias,
Resposta: Errado é convidado para ser padrinho ou madrinha e para ser
Ao trecho: (...) É necessário investir em pesquisa para companhia em momentos prazerosos. Quanto melhor vi-
devolver resultados satisfatórios à sociedade. No en- vemos, mais motivos surgem para vivermos bem. A pros-
tanto, os resultados desse tipo de investimento = in- peridade é um ciclo que se retroalimenta. O importante é
vestir em pesquisa / desse tipo de investimento. decidir fazer parte dele.
Em: O importante é decidir fazer parte dele, a palavra
9. (MPU – ANALISTA DO MPU – CESPE-2015) Dele retoma, textualmente,
Texto I a) ciclo.
b) Alguém.
Na organização do poder político no Estado moder- c) padrinho.
no, à luz da tradição iluminista, o direito tem por função d) grupo.
a preservação da liberdade humana, de maneira a coibir e) apaixonado.
a desordem do estado de natureza, que, em virtude do
risco da dominação dos mais fracos pelos mais fortes, Resposta: Letra A
exige a existência de um poder institucional. Mas a con-
LÍNGUA PORTUGUESA
Voltemos ao período:
quista da liberdade humana também reclama a distri-
A prosperidade é um ciclo que se retroalimenta. O im-
buição do poder em ramos diversos, com a disposição
portante é decidir fazer parte dele.
de meios que assegurem o controle recíproco entre eles
para o advento de um cenário de equilíbrio e harmonia
nas sociedades estatais. A concentração do poder em um
só órgão ou pessoa viria sempre em detrimento do exer-
cício da liberdade. É que, como observou Montesquieu,
21
(subst.); jogo (subst.) e jogo (verbo); denúncia (subst.) e
RELAÇÕES SEMÂNTICAS ESTABELECIDAS ENTRE denuncia (verbo); providência (subst.) e providencia (ver-
ORAÇÕES, PERÍODOS OU PARÁGRAFOS (OPO- bo).
SIÇÃO/CONTRASTE, CONCLUSÃO, CONCESSÃO,
CAUSALIDADE, ADIÇÃO, ALTERNÂNCIA ETC.). O B) Homófonas: são palavras iguais na pronúncia e
SENTIDO DAS PALAVRAS – ADEQUAÇÃO VOCA- diferentes na escrita:
BULAR, DENOTAÇÃO, CONOTAÇÃO, POLISSEMIA acender (atear) e ascender (subir); concertar (harmo-
E AMBIGUIDADE. HOMONÍMIA, SINONÍMIA, AN- nizar) e consertar (reparar); cela (compartimento) e sela
TONÍMIA E PARONÍMIA. VALOR SEMÂNTICO E (arreio); censo (recenseamento) e senso (juízo); paço (pa-
EMPREGO DOS CONECTIVOS lácio) e passo (andar).
22
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. terpretação. Esta ambiguidade pode ocorrer devido à
XIMENES, Sérgio. Minidicionário Ediouro da Lìngua colocação específica de uma palavra (por exemplo, um
Portuguesa – 2.ª ed. reform. – São Paulo: Ediouro, 2000. advérbio) em uma frase. Vejamos a seguinte frase:
Pessoas que têm uma alimentação equilibrada fre-
SITE quentemente são felizes.
Neste caso podem existir duas interpretações dife-
Disponível em: <http://www.coladaweb.com/portu- rentes:
gues/sinonimos,-antonimos,-homonimos-e-paronimos> As pessoas têm alimentação equilibrada porque são
felizes ou são felizes porque têm uma alimentação equi-
Polissemia librada.
De igual forma, quando uma palavra é polissêmica,
Polissemia é a propriedade de uma palavra adquirir ela pode induzir uma pessoa a fazer mais do que uma
multiplicidade de sentidos, que só se explicam dentro de interpretação. Para fazer a interpretação correta é muito
um contexto. Trata-se, realmente, de uma única palavra, importante saber qual o contexto em que a frase é pro-
mas que abarca um grande número de significados den- ferida.
tro de seu próprio campo semântico. Muitas vezes, a disposição das palavras na construção
Reportando-nos ao conceito de Polissemia, logo per- do enunciado pode gerar ambiguidade ou, até mesmo,
cebemos que o prefixo “poli” significa multiplicidade de comicidade. Repare na figura abaixo:
algo. Possibilidades de várias interpretações levando-
-se em consideração as situações de aplicabilidade. Há
uma infinidade de exemplos em que podemos verificar a
ocorrência da polissemia:
O rapaz é um tremendo gato.
O gato do vizinho é peralta.
Precisei fazer um gato para que a energia voltasse.
Pedro costuma fazer alguns “bicos” para garantir sua
sobrevivência
O passarinho foi atingido no bico.
Polissemia e ambiguidade têm um grande impacto Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido
na interpretação. Na língua portuguesa, um enunciado literal)
pode ser ambíguo, ou seja, apresentar mais de uma in- Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
23
figurado) Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado) Português linguagens: volume 1 / Wiliam Roberto Ce-
reja, Thereza Cochar Magalhães. – 7.ª ed. Reform. – São
As variações nos significados das palavras ocasionam Paulo: Saraiva, 2010.
o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo
(conotação) das palavras. SITE
A) Denotação http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denota-
cao/
Uma palavra é usada no sentido denotativo quando
apresenta seu significado original, independentemente
do contexto em que aparece. Refere-se ao seu significa- EXERCÍCIOS COMENTADOS
do mais objetivo e comum, aquele imediatamente reco-
nhecido e muitas vezes associado ao primeiro significado
que aparece nos dicionários, sendo o significado mais li- 1. (BANESTES – TÉCNICO BANCÁRIO – FGV-2018) Um
teral da palavra. ex-governador do estado do Amazonas disse o seguinte:
A denotação tem como finalidade informar o recep- “Defenda a ecologia, mas não encha o saco”. (Gilberto
tor da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo Mestrinho) O vocábulo sublinhado, composto do radi-
um caráter prático. É utilizada em textos informativos, cal-logia (“estudo”), se refere aos estudos de defesa do
como jornais, regulamentos, manuais de instrução, bu- meio ambiente; o vocábulo abaixo, com esse mesmo ra-
las de medicamentos, textos científicos, entre outros. A dical, que tem seu significado corretamente indicado é:
palavra “pau”, por exemplo, em seu sentido denotativo é
apenas um pedaço de madeira. Outros exemplos: a) Antropologia: estudo do homem como representante
O elefante é um mamífero. do sexo masculino;
As estrelas deixam o céu mais bonito! b) Etimologia: estudo das raças humanas;
c) Meteorologia: estudo dos impactos de meteoros sobre
B) Conotação a Terra;
d) Ginecologia: estudo das doenças privativas das mu-
Uma palavra é usada no sentido conotativo quando lheres;
apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes e) Fisiologia: estudo das forças atuantes na natureza.
interpretações, dependendo do contexto em que esteja
inserida, referindo-se a sentidos, associações e ideias que Resposta: Letra D
vão além do sentido original da palavra, ampliando sua Em “a”: Antropologia: Ciência que se dedica ao estudo
significação mediante a circunstância em que a mesma do homem (espécie humana) em sua totalidade
é utilizada, assumindo um sentido figurado e simbólico. Em “b”: Etimologia: Ciência que investiga a origem das
Como no exemplo da palavra “pau”: em seu sentido co- palavras procurando determinar as causas e circuns-
notativo ela pode significar castigo (dar-lhe um pau), re- tâncias de seu processo evolutivo
provação (tomei pau no concurso). Em “c”: Meteorologia: Estudo dos fenômenos atmosfé-
A conotação tem como finalidade provocar sentimen- ricos e das suas leis, principalmente com a intenção de
tos no receptor da mensagem, através da expressividade prever as variações do tempo.
e afetividade que transmite. É utilizada principalmente Em “d”: Ginecologia: estudo das doenças privativas das
numa linguagem poética e na literatura, mas também mulheres = correta
ocorre em conversas cotidianas, em letras de música, em Em “e”: Fisiologia: Ciência que trata das funções orgâ-
anúncios publicitários, entre outros. Exemplos: nicas pelas quais a vida se manifesta
Você é o meu sol!
Minha vida é um mar de tristezas. 2. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LEGIS-
Você tem um coração de pedra! LATIVO MUNICIPAL – FGV-2018) “Na verdade, todos os
anos a imprensa nacional destaca os inaceitáveis números
da violência no país”. O vocábulo “inaceitáveis” equivale
#FicaDica ao “que não se aceita”. A equivalência correta abaixo in-
dicada é:
Procure associar Denotação com Dicionário:
trata-se de definição literal, quando o termo a) tinta indelével / que não se apaga;
LÍNGUA PORTUGUESA
é utilizado com o sentido que consta no b) ação impossível / que não se possui;
dicionário. c) trabalho inexequível / que não se exemplifica;
d) carro invisível / que não tem vistoria;
e) voz inaudível / que não possui audiência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Resposta: Letra A
Em “a”: tinta indelével / que não se apaga = correta
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Em “b”: ação impossível = que não é possível
24
Em “c”: trabalho inexequível = que não se executa
Em “d”: carro invisível = que não se vê A palavra “sonegado” está sendo empregada com o sen-
Em “e”: voz inaudível = que não se ouve tido de reduzido, diminuído.
nhadas ao foro devido, os tribunais. formula uma pergunta: Que dia é hoje?
O alegado “direito à privacidade” é argumento frágil para B) frases imperativas = o emissor dá uma ordem ou
justificar o veto a que a historiografia do país seja enri- faz um pedido: Dê-me uma luz!
quecida, como se não bastasse o fato de o poder de cen- C) frases exclamativas = o emissor exterioriza um es-
sura concedido a biografados e herdeiros ser um atenta- tado afetivo: Que dia abençoado!
do à Constituição. D) frases declarativas = o emissor constata um fato: A
O Globo, 23/9/2013 (com adaptações). prova será amanhã.
25
tantivo)
Quanto à estrutura da frase, as que possuem verbo Um sim é suave e sugestivo. (sim é advérbio; no exem-
(oração) são estruturadas por dois elementos essenciais: plo: substantivo)
sujeito e predicado. Os sujeitos são classificados a partir de dois elemen-
O sujeito é o termo da frase que concorda com o ver- tos: o de determinação ou indeterminação e o de núcleo
bo em número e pessoa. É o “ser de quem se declara do sujeito.
algo”, “o tema do que se vai comunicar”; o predicado é a
parte da frase que contém “a informação nova para o ou- Um sujeito é determinado quando é facilmente
vinte”, é o que “se fala do sujeito”. Ele se refere ao tema, identificado pela concordância verbal. O sujeito determi-
constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito. nado pode ser simples ou composto.
Quando o núcleo da declaração está no verbo (que
indique ação ou fenômeno da natureza, seja um verbo A indeterminação do sujeito ocorre quando não é
significativo), temos o predicado verbal. Mas, se o núcleo possível identificar claramente a que se refere a concor-
estiver em um nome (geralmente um adjetivo), teremos dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não
um predicado nominal (os verbos deste tipo de predica- interessa indicar precisamente o sujeito de uma oração.
do são os que indicam estado, conhecidos como verbos Estão gritando seu nome lá fora.
de ligação): Trabalha-se demais neste lugar.
O menino limpou a sala. = “limpou” é verbo de ação
(predicado verbal) O sujeito simples é o sujeito determinado que apre-
A prova foi fácil. – “foi” é verbo de ligação (ser); o nú- senta um único núcleo, que pode estar no singular ou no
cleo é “fácil” (predicado nominal) plural; pode também ser um pronome indefinido. Abai-
Quanto ao período, ele denomina a frase constituída xo, sublinhei os núcleos dos sujeitos:
por uma ou mais orações, formando um todo, com sen- Nós estudaremso juntos.
tido completo. O período pode ser simples ou composto. A humanidade é frágil.
Ninguém se move.
Período simples é aquele constituído por apenas O amar faz bem. (“amar” é verbo, mas aqui houve uma
uma oração, que recebe o nome de oração absoluta. derivação imprópria, tranformando-o em substantivo)
Chove. As crianças precisam de alimentos saudáveis.
A existência é frágil.
Amanhã, à tarde, faremos a prova do concurso. O sujeito composto é o sujeito determinado que
apresenta mais de um núcleo.
Período composto é aquele constituído por duas ou Alimentos e roupas custam caro.
mais orações: Ela e eu sabemos o conteúdo.
Cantei, dancei e depois dormi. O amar e o odiar são duas faces da mesma moeda.
Quero que você estude mais.
Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
Termos da Oração referência ao sujeito implícito na desinência verbal (o
“antigo” sujeito oculto [ou elíptico]), isto é, ao núcleo
Termos essenciais do sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido
pela desinência verbal ou pelo contexto.
O sujeito e o predicado são considerados termos Abolimos todas as regras. = (nós)
essenciais da oração, ou seja, são termos indispensáveis Falaste o recado à sala? = (tu)
para a formação das orações. No entanto, existem ora-
ções formadas exclusivamente pelo predicado. O que Os verbos deste tipo de sujeito estão sempre na pri-
define a oração é a presença do verbo. O sujeito é o ter- meira pessoa do singular (eu) ou plural (nós) ou na se-
mo que estabelece concordância com o verbo. gunda do singular (tu) ou do plural (vós), desde que os
O candidato está preparado. pronomes não estejam explícitos.
Os candidatos estão preparados. Iremos à feira juntos? (= nós iremos) – sujeito implíci-
to na desinência verbal “-mos”
Na primeira frase, o sujeito é “o candidato”. “Candida- Cantais bem! (= vós cantais) - sujeito implícito na de-
to” é a principal palavra do sujeito, sendo, por isso, deno- sinência verbal “-ais”
minada núcleo do sujeito. Este se relaciona com o verbo,
estabelecendo a concordância (núcleo no singular, verbo Mas:
LÍNGUA PORTUGUESA
no singular: candidato = está). Nós iremos à festa juntos? = sujeito simples: nós
A função do sujeito é basicamente desempenhada Vós cantais bem! = sujeito simples: vós
por substantivos, o que a torna uma função substantiva
da oração. Pronomes, substantivos, numerais e quais- O sujeito indeterminado surge quando não se quer -
quer outras palavras substantivadas (derivação impró- ou não se pode - identificar a que o predicado da oração
pria) também podem exercer a função de sujeito. refere-se. Existe uma referência imprecisa ao sujeito, caso
Os dois sumiram. (dois é numeral; no exemplo, subs- contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
26
Na língua portuguesa, o sujeito pode ser indetermi- Predicado = estavam fáceis
nado de duas maneiras:
Passou-me uma ideia estranha pelo pensamento.
A) com verbo na terceira pessoa do plural, desde que Sujeito = uma ideia estranha
o sujeito não tenha sido identificado anteriormen- Predicado = passou-me pelo pensamento
te:
Bateram à porta; Para o estudo do predicado, é necessário verificar
Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi- se seu núcleo é um nome (então teremos um predicado
nistro. nominal) ou um verbo (predicado verbal). Deve-se con-
siderar também se as palavras que formam o predicado
Se o sujeito estiver identificado, poderá ser simples referem-se apenas ao verbo ou também ao sujeito da
ou composto: oração.
Os meninos bateram à porta. (simples)
Os meninos e as meninas bateram à porta. (composto) Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres
de opinião.
B) com o verbo na terceira pessoa do singular, acres- Predicado
cido do pronome “se”. Esta é uma construção típi-
ca dos verbos que não apresentam complemento O predicado acima apresenta apenas uma palavra
direto: que se refere ao sujeito: pedem. As demais palavras se
Precisa-se de mentes criativas. ligam direta ou indiretamente ao verbo.
Vivia-se bem naqueles tempos. A cidade está deserta.
Trata-se de casos delicados.
Sempre se está sujeito a erros. O nome “deserta”, por intermédio do verbo, refere-
-se ao sujeito da oração (cidade). O verbo atua como
O pronome “se”, nestes casos, funciona como índice elemento de ligação (por isso verbo de ligação) entre o
de indeterminação do sujeito. sujeito e a palavra a ele relacionada (no caso: deserta =
predicativo do sujeito).
As orações sem sujeito, formadas apenas pelo pre-
dicado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A O predicado verbal é aquele que tem como núcleo
mensagem está centrada no processo verbal. Os princi- significativo um verbo:
pais casos de orações sem sujeito com: Chove muito nesta época do ano.
Estudei muito hoje!
• os verbos que indicam fenômenos da natureza: Compraste a apostila?
Amanheceu.
Está trovejando. Os verbos acima são significativos, isto é, não servem
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam
• os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam processos.
fenômenos meteorológicos ou se relacionam ao
tempo em geral: O predicado nominal é aquele que tem como nú-
Está tarde. cleo significativo um nome; este atribui uma qualidade
Já são dez horas. ou estado ao sujeito, por isso é chamado de predicativo
Faz frio nesta época do ano. do sujeito. O predicativo é um nome que se liga a ou-
Há muitos concursos com inscrições abertas. tro nome da oração por meio de um verbo (o verbo de
ligação).
Predicado é o conjunto de enunciados que contém a Nos predicados nominais, o verbo não é significativo,
informação sobre o sujeito – ou nova para o ouvinte. Nas isto é, não indica um processo, mas une o sujeito ao pre-
orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia dicativo, indicando circunstâncias referentes ao estado
um fato qualquer. Nas orações com sujeito, o predicado do sujeito: Os dados parecem corretos.
é aquilo que se declara a respeito deste sujeito. Com ex- O verbo parecer poderia ser substituído por estar,
ceção do vocativo - que é um termo à parte - tudo o que andar, ficar, ser, permanecer ou continuar, atuando como
difere do sujeito numa oração é o seu predicado. elemento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele
Chove muito nesta época do ano. relacionadas.
Houve problemas na reunião. A função de predicativo é exercida, normalmente, por
LÍNGUA PORTUGUESA
um adjetivo ou substantivo.
Em ambas as orações não há sujeito, apenas predi-
cado. Na segunda oração, “problemas” funciona como O predicado verbo-nominal é aquele que apresen-
objeto direto. ta dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No
predicado verbo-nominal, o predicativo pode se referir
As questões estavam fáceis! ao sujeito ou ao complemento verbal (objeto).
Sujeito simples = as questões O verbo do predicado verbo-nominal é sempre sig-
27
nificativo, indicando processos. É também sempre por ele é repetido através de um pronome oblíquo. É à repe-
intermédio do verbo que o predicativo se relaciona com tição que se dá o nome de objeto pleonástico.
o termo a que se refere.
O dia amanheceu ensolarado; “Aos fracos, não os posso proteger, jamais.” (Gonçal-
As mulheres julgam os homens inconstantes. ves Dias)
No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta objeto pleonástico
duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de
ligação. Este predicado poderia ser desdobrado em dois:
um verbal e outro nominal.
O dia amanheceu. / O dia estava ensolarado. Ao traidor, nada lhe devemos.
No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona O termo que integra o sentido de um nome chama-se
o complemento homens com o predicativo “inconstan- complemento nominal, que se liga ao nome que com-
tes”. pleta por intermédio de preposição:
A arte é necessária à vida. = relaciona-se com a pala-
Termos integrantes da oração vra “necessária”
Temos medo de barata. = ligada à palavra “medo”
Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
complemento nominal são chamados termos integrantes Termos acessórios da oração e vocativo
da oração.
Os complementos verbais integram o sentido dos Os termos acessórios recebem este nome por serem
verbos transitivos, com eles formando unidades signifi- explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o ad-
cativas. Estes verbos podem se relacionar com seus com- junto adverbial, o adjunto adnominal, o aposto e o voca-
plementos diretamente, sem a presença de preposição, tivo – este, sem relação sintática com outros temos da
ou indiretamente, por intermédio de preposição. oração.
O objeto direto é o complemento que se liga direta- O adjunto adverbial é o termo da oração que indi-
mente ao verbo. ca uma circunstância do processo verbal ou intensifica o
Houve muita confusão na partida final. sentido de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função
Queremos sua ajuda. adverbial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais
exercerem o papel de adjunto adverbial: Amanhã voltarei
O objeto direto preposicionado ocorre principal- a pé àquela velha praça.
mente:
O adjunto adnominal é o termo acessório que de-
A) com nomes próprios de pessoas ou nomes co- termina, especifica ou explica um substantivo. É uma fun-
muns referentes a pessoas: ção adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas
Amar a Deus; Adorar a Xangô; Estimar aos pais. que exercem o papel de adjunto adnominal na oração.
(o objeto é direto, mas como há preposição, denomi- Também atuam como adjuntos adnominais os artigos, os
na-se: objeto direto preposicionado) numerais e os pronomes adjetivos.
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu
B) com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes amigo de infância.
de tratamento: Não excluo a ninguém; Não quero
cansar a Vossa Senhoria. O adjunto adnominal se liga diretamente ao subs-
tantivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o
C) para evitar ambiguidade: Ao povo prejudica a cri- predicativo do objeto se liga ao objeto por meio de um
se. (sem preposição, o sentido seria outro: O povo verbo.
prejudica a crise) O poeta português deixou uma obra originalíssima.
O poeta deixou-a.
O objeto indireto é o complemento que se liga indi- (originalíssima não precisou ser repetida, portanto:
retamente ao verbo, ou seja, através de uma preposição. adjunto adnominal)
Gosto de música popular brasileira.
Necessito de ajuda. O poeta português deixou uma obra inacabada.
LÍNGUA PORTUGUESA
28
O aposto é um termo acessório que permite ampliar, por Coordenação.
explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida em um Quanto à classificação das orações coordenadas, te-
termo que exerça qualquer função sintática: Ontem, se- mos dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas
gunda-feira, passei o dia mal-humorado. Sindéticas.
Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tem-
po “ontem”. O aposto é sintaticamente equivalente ao A) Coordenadas Assindéticas
termo que se relaciona porque poderia substituí-lo: Se- São orações coordenadas entre si e que não são li-
gunda-feira passei o dia mal-humorado. gadas através de nenhum conectivo. Estão apenas jus-
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu tapostas.
valor na oração, em: Entrei na sala, deitei-me no sofá, adormeci.
O vocativo é um termo que serve para chamar, in- • Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas
vocar ou interpelar um ouvinte real ou hipotético, não principais conjunções são: e, nem, não só... mas
mantendo relação sintática com outro termo da oração. também, não só... como, assim... como.
A função de vocativo é substantiva, cabendo a substan- Nem comprei o protetor solar nem fui à praia.
tivos, pronomes substantivos, numerais e palavras subs- Comprei o protetor solar e fui à praia.
tantivadas esse papel na linguagem.
João, venha comigo! • Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas:
Traga-me doces, minha menina! suas principais conjunções são: mas, contudo, to-
davia, entretanto, porém, no entanto, ainda, assim,
Períodos Compostos senão.
Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante.
Período Composto por Coordenação Li tudo, porém não entendi!
O período composto se caracteriza por possuir mais • Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas:
de uma oração em sua composição. Sendo assim: suas principais conjunções são: ou... ou; ora...ora;
Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma quer...quer; seja...seja.
oração) Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador.
Estou comprando um protetor solar, depois irei à
praia. (Período Composto =locução verbal + verbo, duas • Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas:
orações) suas principais conjunções são: logo, portanto, por
Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um fim, por conseguinte, consequentemente, pois (pos-
protetor solar. (Período Composto = três verbos, três ora- posto ao verbo).
ções). Passei no concurso, portanto comemorarei!
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer A situação é delicada; devemos, pois, agir.
entre as orações de um período composto: uma relação
de coordenação ou uma relação de subordinação. • Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas:
Duas orações são coordenadas quando estão juntas suas principais conjunções são: isto é, ou seja, a sa-
em um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco ber, na verdade, pois (anteposto ao verbo).
de informações, marcado pela pontuação final), mas têm, Não fui à praia, pois queria descansar durante o Do-
ambas, estruturas individuais, como é o exemplo de: mingo.
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. Maria chorou porque seus olhos estão vermelhos.
(Período Composto)
LÍNGUA PORTUGUESA
Separando as duas, vemos que elas são independen- Observe que na oração subordinada temos o verbo
tes. Tal período é classificado como Período Composto “seja”, que está conjugado na terceira pessoa do singu-
29
lar do presente do subjuntivo, além de ser introduzida
por conjunção. As orações subordinadas que apresentam É fundamental que você compareça à reunião.
verbo em qualquer dos tempos finitos (tempos do modo Oração Principal Oração Subordinada Substan-
do indicativo, subjuntivo e imperativo) e são iniciadas tiva Subjetiva
por conjunção, chamam-se orações desenvolvidas ou
explícitas.
FIQUE ATENTO!
Podemos modificar o período acima. Veja: Observe que a oração subordinada
substantiva pode ser substituída pelo
Quero ser aprovado. pronome “isso”. Assim, temos um período
Oração Principal Oração Subordinada simples:
É fundamental isso ou Isso é
A análise das orações continua sendo a mesma: “Que- fundamental.
ro” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração
subordinada “ser aprovado”. Observe que a oração su- Desta forma, a oração correspondente a
bordinada apresenta agora verbo no infinitivo (ser). Além “isso” exercerá a função de sujeito.
disso, a conjunção “que”, conectivo que unia as duas ora-
ções, desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo
Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na ora-
surge numa das formas nominais (infinitivo, gerúndio ou
ção principal:
particípio) são chamadas de orações reduzidas ou implí-
citas (como no exemplo acima).
• Verbos de ligação + predicativo, em construções
do tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece
Observação:
certo - É claro - Está evidente - Está comprovado
As orações reduzidas não são introduzidas por con-
É bom que você compareça à minha festa.
junções nem pronomes relativos. Podem ser, eventual-
mente, introduzidas por preposição.
• Expressões na voz passiva, como: Sabe-se, Sou-
be-se, Conta-se, Diz-se, Comenta-se, É sabido, Foi
A) Orações Subordinadas Substantivas
anunciado, Ficou provado.
A oração subordinada substantiva tem valor de subs-
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro.
tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção in-
tegrante (que, se).
• Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar -
importar - ocorrer - acontecer
Não sei se sairemos hoje.
Convém que não se atrase na entrevista.
Oração Subordinada Substantiva
Observação:
Temos medo de que não sejamos aprovados.
Quando a oração subordinada substantiva é subjeti-
Oração Subordinada Substantiva
va, o verbo da oração principal está sempre na 3.ª pessoa
do singular.
Os pronomes interrogativos (que, quem, qual) tam-
bém introduzem as orações subordinadas substantivas,
2. Objetiva Direta = exerce função de objeto direto
bem como os advérbios interrogativos (por que, quando,
do verbo da oração principal:
onde, como).
Todos querem sua aprovação no concurso.
O garoto perguntou qual seu nome.
Objeto Direto
Oração Subordinada Substantiva
Todos querem que você seja aprovado. (Todos
Não sabemos quando ele virá.
querem isso)
Oração Subordinada Substantiva
Oração Principal Oração Subordinada Substan-
Classificação das Orações Subordinadas Substan- tiva Objetiva Direta
tivas
As orações subordinadas substantivas objetivas dire-
Conforme a função que exerce no período, a oração tas (desenvolvidas) são iniciadas por:
LÍNGUA PORTUGUESA
subordinada substantiva pode ser: • Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e
“se”: A professora verificou se os alunos estavam
1. Subjetiva - exerce a função sintática de sujeito do presentes.
verbo da oração principal: • Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às
vezes regidos de preposição), nas interrogações
É fundamental o seu comparecimento à reunião. indiretas: O pessoal queria saber quem era o dono
Sujeito do carro importado.
30
• Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às Oração subordinada
vezes regidos de preposição), nas interrogações substantiva apositiva reduzida de infinitivo
indiretas: Eu não sei por que ela fez isso.
(Fernanda tinha um grande sonho: isso)
3. Objetiva Indireta = atua como objeto indireto do
verbo da oração principal. Vem precedida de pre- Dica: geralmente há a presença dos dois pontos! ( : )
posição.
B) Orações Subordinadas Adjetivas
Meu pai insiste em meu estudo. Uma oração subordinada adjetiva é aquela que pos-
Objeto Indireto sui valor e função de adjetivo, ou seja, que a ele equiva-
le. As orações vêm introduzidas por pronome relativo e
Meu pai insiste em que eu estude. (= Meu pai insiste exercem a função de adjunto adnominal do antecedente.
nisso)
Oração Subordinada Substantiva Ob- Esta foi uma redação bem-sucedida.
jetiva Indireta Substantivo Adjetivo (Adjunto Adnominal)
5. Predicativa = exerce papel de predicativo do su- Forma das Orações Subordinadas Adjetivas
jeito do verbo da oração principal e vem sempre
depois do verbo ser. Quando são introduzidas por um pronome relativo e
Nosso desejo era sua desistência. apresentam verbo no modo indicativo ou subjuntivo, as
Predicativo do Sujeito orações subordinadas adjetivas são chamadas desenvol-
Nosso desejo era que ele desistisse. (= Nosso vidas. Além delas, existem as orações subordinadas ad-
desejo era isso) jetivas reduzidas, que não são introduzidas por pronome
Oração Subordinada Substan- relativo (podem ser introduzidas por preposição) e apre-
tiva Predicativa sentam o verbo numa das formas nominais (infinitivo,
LÍNGUA PORTUGUESA
gerúndio ou particípio).
6. Apositiva = exerce função de aposto de algum ter- Ele foi o primeiro aluno que se apresentou.
mo da oração principal. Ele foi o primeiro aluno a se apresentar.
Fernanda tinha um grande sonho: a felicidade!
Aposto No primeiro período, há uma oração subordinada ad-
jetiva desenvolvida, já que é introduzida pelo pronome
Fernanda tinha um grande sonho: ser feliz! relativo “que” e apresenta verbo conjugado no pretérito
31
perfeito do indicativo. No segundo, há uma oração su- Durante a madrugada, eu olhei você dormindo.
bordinada adjetiva reduzida de infinitivo: não há prono- Oração Subordinada Adverbial
me relativo e seu verbo está no infinitivo.
A oração em destaque agrega uma circunstância de
Classificação das Orações Subordinadas Adjetivas tempo. É, portanto, chamada de oração subordinada
adverbial temporal. Os adjuntos adverbiais são termos
Na relação que estabelecem com o termo que carac- acessórios que indicam uma circunstância referente, via
terizam, as orações subordinadas adjetivas podem atuar de regra, a um verbo. A classificação do adjunto adver-
de duas maneiras diferentes. Há aquelas que restringem bial depende da exata compreensão da circunstância que
ou especificam o sentido do termo a que se referem, in- exprime.
dividualizando-o. Nestas orações não há marcação de Naquele momento, senti uma das maiores emoções de
pausa, sendo chamadas subordinadas adjetivas restriti- minha vida.
vas. Existem também orações que realçam um detalhe ou Quando vi o mar, senti uma das maiores emoções de
amplificam dados sobre o antecedente, que já se encon- minha vida.
tra suficientemente definido. Estas orações denominam-
-se subordinadas adjetivas explicativas. No primeiro período, “naquele momento” é um ad-
junto adverbial de tempo, que modifica a forma verbal
Exemplo 1: “senti”. No segundo período, este papel é exercido pela
oração “Quando vi o mar”, que é, portanto, uma oração
Jamais teria chegado aqui, não fosse um homem que subordinada adverbial temporal. Esta oração é desenvol-
passava naquele momento. vida, pois é introduzida por uma conjunção subordina-
Oração Subordinada Adjetiva Restritiva tiva (quando) e apresenta uma forma verbal do modo
indicativo (“vi”, do pretérito perfeito do indicativo). Seria
No período acima, observe que a oração em desta- possível reduzi-la, obtendo-se:
que restringe e particulariza o sentido da palavra “ho- Ao ver o mar, senti uma das maiores emoções de mi-
mem”: trata-se de um homem específico, único. A oração nha vida.
limita o universo de homens, isto é, não se refere a todos
os homens, mas sim àquele que estava passando naque- A oração em destaque é reduzida, apresentando uma
le momento. das formas nominais do verbo (“ver” no infinitivo) e não
é introduzida por conjunção subordinativa, mas sim por
Exemplo 2: uma preposição (“a”, combinada com o artigo “o”).
po, modo, fim, causa, condição, hipótese, etc. Quando sindética explicativa é que esta “explica” o fato que acon-
desenvolvida, vem introduzida por uma das conjunções teceu na oração com a qual ela se relaciona; aquela apre-
subordinativas (com exclusão das integrantes, que intro- senta a “causa” do acontecimento expresso na oração à
duzem orações subordinadas substantivas). Classifica-se qual ela se subordina. Repare:
de acordo com a conjunção ou locução conjuntiva que
a introduz (assim como acontece com as coordenadas 1. Faltei à aula porque estava doente.
sindéticas). 2. Melissa chorou, porque seus olhos estão vermelhos.
32
com a ação indicada pelo verbo da oração princi-
Em 1, a oração destacada aconteceu primeiro (causa) pal. Principal conjunção subordinativa comparati-
que o fato expresso na oração anterior, ou seja, o fato de va: como.
estar doente impediu-me de ir à aula. No exemplo 2, a Ele dorme como um urso. (como um urso dorme)
oração sublinhada relata um fato que aconteceu depois, Você age como criança. (age como uma criança age)
já que primeiro ela chorou, depois seus olhos ficaram
vermelhos. • geralmente há omissão do verbo.
33
sença do conectivo) 2. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LEGIS-
LATIVO MUNICIPAL – FGV-2018) “Ou seja, foi usada
Para classificá-las, precisamos imaginar como seriam para criar uma desigualdade social...”; se modificarmos a
“desenvolvidas” – como no exemplo acima. oração reduzida de infinitivo por uma oração desenvolvi-
É preciso estudar = oração subordinada substantiva da, a forma adequada seria:
subjetiva reduzida de infinitivo
É preciso que se estude = oração subordinada subs- a) para a criação de uma desigualdade social;
tantiva subjetiva b) para que se criasse uma desigualdade social;
c) para que se crie uma desigualdade social;
Orações Intercaladas d) para a criatividade de uma desigualdade social;
e) para criarem uma desigualdade social.
São orações independentes encaixadas na sequência
do período, utilizadas para um esclarecimento, um apar- Resposta: Letra B
te, uma citação. Elas vêm separadas por vírgulas ou tra- Em “b”: para que se criasse uma desigualdade social;
vessões. Em “c”: para que se crie uma desigualdade social;
Nós – continuava o relator – já abordamos este as- Desenvolvida = tem conjunção. Ambas têm. A dife-
sunto. rença é o tempo verbal. A ação aconteceu (foi usada
para criar): Ou seja, foi usada para que se criasse uma
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA desigualdade social.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa 3. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. – FGV-2017) Uma manchete do Estado de São Paulo,
CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura, 10/04/2017, dizia o seguinte: “Atentados contra cristãos
Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira matam 44 no Egito e país decreta emergência”. As duas
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição – orações desse período mantêm entre si a seguinte rela-
São Paulo: Saraiva, 2002. ção lógica:
(o verbo nos dá uma hipótese – talvez seja bom relem- Em “b”: a fim de que a abstenção fosse evitada;
brar). Portanto, a forma correta é: Talvez um dia seja Em “c”: para que se evite a abstenção;
bom que relembremos este dia. Desenvolvida tem conjunção. O período traz “para evi-
tar a abstenção” = hipótese. A forma correta é: “com as
novas medidas para que se evite a abstenção”.
34
5. (MPE-AL – ANALISTA DO MINISTÉRIO PÚBLICO – Resposta: Letra B
ÁREA JURÍDICA – FGV-2018) Assinale a opção em que A expressão destacada exerce a função de aposto –
o termo sublinhado funciona como sujeito. uma informação a mais sobre o termo citado anterior-
mente (no caso, Minas Gerais). É um termo acessório,
a) “Em um regime de liberdades, há sempre o risco de podendo ser retirado do período sem prejudicar a
excessos”. coerência.
b) “Sempre há, também, o oportunismo político-ideoló-
gico para se aproveitar da crise”. 8. (TRF-1.ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – INFOR-
c) “Não faltam, também, os arautos do quanto pior, me- MÁTICA – FCC-2014)
lhor, ...”. Em 1980, um gigabyte de dados armazenados ocupava
d) “A greve atravessou vários sinais ao estrangular as vias uma sala...
de suprimento que mantêm o sistema produtivo fun- O verbo que exige complemento tal como o sublinhado
cionando”. acima está em:
e) “Numa democracia, é livre a expressão”.
a) A capacidade de computação duplicou a cada 18 me-
Resposta: Letra C ses nos últimos 20 anos ...
Em “a”: há sempre o risco de excessos = objeto direto b) ... que deriva da informação.
Em “b”: “Sempre há, também, o oportunismo político- c) ... que reduz as barreiras ao acesso.
-ideológico = objeto direto d) ... do que era nos anos 70.
Em “c”: “Não faltam, também, os arautos do quanto e) ... atualmente, 200 gigabytes cabem no bolso de uma
pior, melhor = sujeito camisa.
Em “d”: que mantêm o sistema produtivo funcionando
= objeto direto Resposta: Letra C
Em “e”: é livre a expressão = predicativo do sujeito “Ocupava uma sala” = transitivo direto
Em “a”: A capacidade de computação duplicou = ver-
6. (TJ-PE – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FUNÇÃO JUDI- bo intransitivo
CIÁRIA – IBFC-2017 - ADAPTADA) “A resposta que lhe Em “b”: que deriva da informação = transitivo indireto
daria seria: ‘Essa estória não aconteceu nunca para que Em “c”: que reduz as barreiras = transitivo direto
aconteça sempre... ’” O pronome destacado cumpre papel Em “d”: do que era nos anos 70 = verbo de ligação
coesivo, mas também sintático na oração. Assim, sintati- Em “e”: atualmente, 200 gigabytes cabem = verbo in-
camente, ele deve ser classificado como: transitivo
c) exerce função de aposto e não pode ser excluída da substituídos por “a qual”, portanto são pronomes re-
oração por tratar-se de um termo essencial. lativos (pertencem à mesma classe gramatical); o 1.º
d) exerce função de adjunto adnominal, portanto é um inicia uma oração subordinada adjetiva explicativa; o
termo acessório. 2.º, adjetiva restritiva.
e) exerce função de adjunto adverbial, portanto é um ter-
mo acessório.
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10. (TRE-RJ – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINIS-
TRATIVA – CONSULPLAN-2017) Analise as afirmações ACENTUAÇÃO GRÁFICA
apresentadas a seguir.
I. Em “Existe alguma hora que não seja de relógio?”, a
oração sublinhada é uma oração subordinada adjetiva
explicativa. ACENTUAÇÃO
II. Em “[...] tem surgido, cada vez mais frequente, o dimi-
nutivo do gerúndio.”, a expressão destacada atua como Quanto à acentuação, observamos que algumas pa-
sujeito da locução verbal “ter surgido”. lavras têm acento gráfico e outras não; na pronúncia, ora
III. “Não pense que para por aí [...]”, a oração sublinhada se dá maior intensidade sonora a uma sílaba, ora a outra.
é uma oração subordinada substantiva objetiva direta. Por isso, vamos às regras!
IV. Em “[...] se te chamarem de ‘queridinho’, querem é
que você exploda.”, a oração destacada é uma oração Regras básicas
subordinada adverbial causal.
A acentuação tônica está relacionada à intensida-
Estão corretas apenas as afirmativas de com que são pronunciadas as sílabas das palavras.
Aquela que se dá de forma mais acentuada, conceitua-se
a) I e II. como sílaba tônica. As demais, como são pronunciadas
b) II e III. com menos intensidade, são denominadas de átonas.
c) III e IV. De acordo com a tonicidade, as palavras são classifi-
d) I, II e IV. cadas como:
Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre
Resposta: Letra B a última sílaba: café – coração – Belém – atum – caju –
Em “I” - “Existe alguma hora que não seja de reló- papel
gio?”, a oração sublinhada é uma oração subordinada Paroxítonas – a sílaba tônica recai na penúltima síla-
adjetiva explicativa = substituindo “que” por “a qual”, ba: útil – tórax – táxi – leque – sapato – passível
continua com sentido, então é pronome relativo – pre- Proparoxítonas - a sílaba tônica está na antepenúlti-
sente nas adjetivas, mas no período em questão te- ma sílaba: lâmpada – câmara – tímpano – médico – ônibus
mos uma restritiva = incorreta
Em “II” - tem surgido, cada vez mais frequente, o di- Há vocábulos que possuem uma sílaba somente: são
minutivo do gerúndio.”, a expressão destacada atua os chamados monossílabos. Estes são acentuados quan-
como sujeito da locução verbal “ter surgido” = correta do tônicos e terminados em “a”, “e” ou “o”: vá – fé – pó
Em “III” - “Não pense que para por aí [...]”, a oração - ré.
sublinhada é uma oração subordinada substantiva ob-
jetiva direta = correta Os acentos
Em “IV” - se te chamarem de ‘queridinho’, a oração
destacada é uma oração subordinada adverbial causal A) acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a”
= adverbial condicional (“se”) = incorreta e “i”, “u” e “e” do grupo “em” - indica que estas
letras representam as vogais tônicas de palavras
Prezado candidato, para completar seus estudos como pá, caí, público. Sobre as letras “e” e “o” indi-
sobre “Valor semântico e emprego dos conectivos”, ca, além da tonicidade, timbre aberto: herói – céu
veja o materiAL ABORDADO EM Emprego das classes (ditongos abertos).
gramaticais B) acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras
“a”, “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre
fechado: tâmara – Atlântico – pêsames – supôs .
SINTAXE DA ORAÇÃO (PERÍODO SIMPLES; C) acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a”
TERMOS FUNDAMENTAIS E ACESSÓRIOS com artigos e pronomes: à – às – àquelas – àqueles
DA ORAÇÃO; TIPOS DE PREDICADO) E D) trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi to-
DO PERÍODO (PERÍODO COMPOSTO POR
talmente abolido das palavras. Há uma exceção: é
COORDENAÇÃO E POR SUBORDINAÇÃO)
utilizado em palavras derivadas de nomes próprios
estrangeiros: mülleriano (de Müller)
E) til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam
Prezado candidato, este material já foi abordado
anteriormente. vogais nasais: oração – melão – órgão – ímã
LÍNGUA PORTUGUESA
Regras fundamentais
36
Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, vras e/ou tempos verbais. Por exemplo: Pôr (verbo) X por
seguidos ou não de “s”: pá – pé – dó – há (preposição) / pôde (pretérito perfeito do Indicativo do
Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, verbo “poder”) X pode (presente do Indicativo do mesmo
seguidas de lo, la, los, las: respeitá-lo, recebê-lo, compô-lo verbo).
Se analisarmos o “pôr” - pela regra das monossílabas:
B) Paroxítonas: acentuam-se as palavras paroxítonas terminada em “o” seguida de “r” não deve ser acentuada,
terminadas em: mas nesse caso, devido ao acento diferencial, acentua-se,
i, is: táxi – lápis – júri para que saibamos se se trata de um verbo ou preposi-
us, um, uns: vírus – álbuns – fórum ção.
l, n, r, x, ps: automóvel – elétron - cadáver – tórax – Os demais casos de acento diferencial não são mais
fórceps utilizados: para (verbo), para (preposição), pelo (substanti-
ã, ãs, ão, ãos: ímã – ímãs – órfão – órgãos vo), pelo (preposição). Seus significados e classes grama-
ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou ticais são definidos pelo contexto.
não de “s”: água – pônei – mágoa – memória Polícia para o trânsito para que se realize a operação
planejada. = o primeiro “para” é verbo; o segundo, con-
junção (com relação de finalidade).
#FicaDica
Memorize a palavra LINURXÃO. Repare que #FicaDica
esta palavra apresenta as terminações das
paroxítonas que são acentuadas: L, I N, U Quando, na frase, der para substituir o “por”
(aqui inclua UM = fórum), R, X, Ã, ÃO. por “colocar”, estaremos trabalhando com
Assim ficará mais fácil a memorização! um verbo, portanto: “pôr”; nos demais casos,
“por” é preposição: Faço isso por você. /
Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
C) Proparoxítona: a palavra é proparoxítona quan-
do a sua antepenúltima sílaba é tônica (mais forte).
Quanto à regra de acentuação: todas as proparoxí- Regra do Hiato
tonas são acentuadas, independentemente de sua
terminação: árvore, paralelepípedo, cárcere. Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, segun-
da vogal do hiato, acompanhado ou não de “s”, haverá
Regras especiais acento: saída – faísca – baú – país – Luís
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato
Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” (ditongos quando seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z:
abertos), que antes eram acentuados, perderam o acento Ra-ul, Lu-iz, sa-ir, ju-iz
de acordo com a nova regra, mas desde que estejam em Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se es-
palavras paroxítonas. tiverem seguidas do dígrafo nh: ra-i-nha, ven-to-i-nha.
Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vie-
rem precedidas de vogal idêntica: xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, forman-
FIQUE ATENTO! do hiato quando vierem depois de ditongo (nas paroxí-
Se os ditongos abertos estiverem em uma tonas):
palavra oxítona (herói) ou monossílaba
(céu) ainda são acentuados: dói, escarcéu.
Antes Agora
bocaiúva bocaiuva
Antes Agora feiúra feiura
assembléia assembleia Sauípe Sauipe
idéia ideia
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi
geléia geleia abolido:
jibóia jiboia
apóia (verbo apoiar) apoia Antes Agora
LÍNGUA PORTUGUESA
37
Resposta: Letra B
#FicaDica “Bíblia” = esta é acentuada por ser uma paroxítona
terminada em ditongo.
Memorize a palavra CREDELEVÊ. São os
Em “a”, íris = paroxítona terminada em i(s)
verbos que, no plural, dobram o “e”, mas
Em “b”, estórias = paroxítona terminada em ditongo
que não recebem mais acento como antes:
Em “c”, queríamos = proparoxítona
CRER, DAR, LER e VER.
Em “d”, aí = regra do hiato
Repare:
O menino crê em você. / Os meninos creem Em “e”, páginas = proparoxítona
em você.
Elza lê bem! / Todas leem bem! 2. (BANPARÁ – TÉCNICO BANCÁRIO – FADESP-2018)
Espero que ele dê o recado à sala. / Esperamos A sequência de palavras cujos acentos são empregados
que os garotos deem o recado! pelo mesmo motivo é
Rubens vê tudo! / Eles veem tudo!
Cuidado! Há o verbo vir: Ele vem à tarde! / a) público, função, dói.
Eles vêm à tarde! b) burocráticos, próximo, século.
c) será, aí, é, está.
d) glória, exercício, publicação.
As formas verbais que possuíam o acento tônico na e) hábito, bancário, poética.
raiz, com “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de
“e” ou “i” não serão mais acentuadas: Resposta: Letra B
Em “a”, público = proparoxítona / função = o til tem
função de nasalizar (indicar som fechado) / dói = mo-
Antes Agora
nossílabo formado por ditongo aberto
apazigúe (apaziguar) apazigue Em “b”, burocráticos = proparoxítona / próximo = pro-
averigúe (averiguar) averigue paroxítona / século = proparoxítona
argúi (arguir) argui Em “c”, será = oxítona terminada em ‘a” / aí = regra do
hiato / é = (verbo) monossílabo tônico terminado em
“e” / está = (verbo) oxítona terminada em “a”
Acentuam-se os verbos pertencentes a terceira pes-
Em “d”, glória = paroxítona terminada em ditongo /
soa do plural de: ele tem – eles têm / ele vem – eles vêm
exercício = paroxítona terminada em ditongo / publi-
(verbo vir). A regra prevalece também para os verbos
cação = o til indica nasalização (som fechado)
conter, obter, reter, deter, abster: ele contém – eles contêm,
Em “e”, hábito = (substantivo) proparoxítona / ban-
ele obtém – eles obtêm, ele retém – eles retêm, ele convém
cário = paroxítona terminada em ditongo / poética =
– eles convêm.
proparoxítona
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
3. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – NÍVEL SUPERIOR
– CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE-2014) O em-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
prego do acento gráfico nas palavras “metálica”, “acú-
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
mulo” e “imóveis” justifica-se com base na mesma regra
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
de acentuação.
char - Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010.
( ) CERTO ( ) ERRADO
SITE
Resposta: Errado
O emprego do acento gráfico nas palavras “metálica”,
Disponível em: <http://www.brasilescola.com/grama-
“acúmulo” e “imóveis” justifica-se com base na mesma
tica/acentuacao.htm>
regra de acentuação.
metálica = proparoxítona / acúmulo = proparoxítona /
imóveis = paroxítona terminada em ditongo
EXERCÍCIOS COMENTADOS
4. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO – CES-
1. (BANPARÁ – TÉCNICO BANCÁRIO – EXATUS-2015) GRANRIO-2018) A palavra que precisa ser acentuada
Assinale a alternativa em que a palavra é acentuada pela graficamente para estar correta quanto às normas em
LÍNGUA PORTUGUESA
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com temas políticos. a) Ele se esqueceu de que?
d) Para decorar o texto antes de gravar, cada ator rele b) Era tão ruím aquele texto, que não deu para distribui-
sua fala várias vezes. -lo entre os presentes.
e) Alguns atores de novela constroem seus personagens c) Embora devessemos, não fomos excessivos nas críti-
fazendo pesquisa. cas.
d) O juíz nunca negou-se a atender às reivindicações dos
Resposta: Letra D funcionários.
Em “a”: Todo escritor de novela tem = singular (não e) Não sei por que ele mereceria minha consideração.
acentuado)
Em “b”: Os telespectadores veem = correta - plural do- Resposta: Letra E
bra o “e” (perdeu o acento com o Acordo) Em “a”: Ele se esqueceu de que? = quê?
Em “c”: Alguns novelistas gostam de superpor = cor- Em “b”: Era tão ruím (ruim) aquele texto, que não deu
reta para distribui-lo (distribuí-lo) entre os presentes.
Em “d”: Para decorar o texto antes de gravar, cada ator Em “c”: Embora devêssemos (devêssemos), não fomos
rele = relê (oxítona) excessivos nas críticas.
Em “e”: Alguns atores de novela constroem = correta Em “d”: O juíz (juiz) nunca (se) negou a atender às rei-
vindicações dos funcionários.
5. (TJ-SP - ANALISTA EM COMUNICAÇÃO E PROCES- Em “e”: Não sei por que ele mereceria minha consi-
SAMENTO DE DADOS JUDICIÁRIO – VUNESP/2012) deração.
Seguem a mesma regra de acentuação gráfica relativa às
palavras paroxítonas:
ORTOGRAFIA
a) probatório; condenatório; crédito.
b) máquina; denúncia; ilícita.
c) denúncia; funcionário; improcedência.
ORTOGRAFIA
d) máquina; improcedência; probatório.
e) condenatório; funcionário; frágil.
A ortografia é a parte da Fonologia que trata da cor-
reta grafia das palavras. É ela quem ordena qual som
Resposta: Letra C
devem ter as letras do alfabeto. Os vocábulos de uma
Vamos a elas:
língua são grafados segundo acordos ortográficos.
Em “a”: probatório = paroxítona terminada em ditongo
A maneira mais simples, prática e objetiva de apren-
/ condenatório = paroxítona terminada em ditongo /
der ortografia é realizar muitos exercícios, ver as palavras,
crédito = proparoxítona.
familiarizando-se com elas. O conhecimento das regras
Em “b”: máquina = proparoxítona / denúncia = paro-
é necessário, mas não basta, pois há inúmeras exceções
xítona terminada em ditongo / ilícita = proparoxítona.
e, em alguns casos, há necessidade de conhecimento de
Em “c”: Denúncia = paroxítona terminada em diton-
etimologia (origem da palavra).
go / funcionário = paroxítona terminada em ditongo
/ improcedência = paroxítona terminada em ditongo
Regras ortográficas
Em “d”: máquina = proparoxítona / improcedência =
paroxítona terminada em ditongo / probatório = pa-
A) O fonema S
roxítona terminada em ditongo
Em “e”: condenatório = paroxítona terminada em di-
São escritas com S e não C/Ç
tongo / funcionário = = paroxítona terminada em di-
• Palavras substantivadas derivadas de verbos com
tongo / Frágil = paroxítona terminada em “l”
radicais em nd, rg, rt, pel, corr e sent: pretender
- pretensão / expandir - expansão / ascender - as-
6. (TJ-AC – TÉCNICO EM MICROINFORMÁTICA - CES-
censão / inverter - inversão / aspergir - aspersão /
PE/2012) As palavras “conteúdo”, “calúnia” e “injúria”
submergir - submersão / divertir - diversão / im-
são acentuadas de acordo com a mesma regra de acen-
pelir - impulsivo / compelir - compulsório / repelir
tuação gráfica.
- repulsa / recorrer - recurso / discorrer - discurso /
sentir - sensível / consentir – consensual.
( ) CERTO ( ) ERRADO
São escritos com SS e não C e Ç
Resposta: Errado
LÍNGUA PORTUGUESA
39
• Quando o prefixo termina com vogal que se junta bege, foge.
com a palavra iniciada por “s”. Exemplos: a + simé-
trico - assimétrico / re + surgir – ressurgir. Exceção: pajem.
• No pretérito imperfeito simples do subjuntivo.
Exemplos: ficasse, falasse. • Terminações: ágio, égio, ígio, ógio, ugio: sortilégio,
litígio, relógio, refúgio.
São escritos com C ou Ç e não S e SS • Verbos terminados em ger/gir: emergir, eleger, fugir,
• Vocábulos de origem árabe: cetim, açucena, açúcar. mugir.
• Vocábulos de origem tupi, africana ou exótica: cipó, • Depois da letra “r” com poucas exceções: emergir,
Juçara, caçula, cachaça, cacique. surgir.
• Sufixos aça, aço, ação, çar, ecer, iça, nça, uça, uçu, • Depois da letra “a”, desde que não seja radical ter-
uço: barcaça, ricaço, aguçar, empalidecer, carniça, minado com j: ágil, agente.
caniço, esperança, carapuça, dentuço.
• Nomes derivados do verbo ter: abster - abstenção / São escritas com J e não G
deter - detenção / ater - atenção / reter – retenção. • Palavras de origem latinas: jeito, majestade, hoje.
• Após ditongos: foice, coice, traição. • Palavras de origem árabe, africana ou exótica: jiboia,
• Palavras derivadas de outras terminadas em -te, manjerona.
to(r): marte - marciano / infrator - infração / ab- • Palavras terminadas com aje: ultraje.
sorto – absorção.
D) O fonema ch
B) O fonema z
São escritas com X e não CH
São escritos com S e não Z • Palavras de origem tupi, africana ou exótica: abacaxi,
• Sufixos: ês, esa, esia, e isa, quando o radical é subs- xucro.
tantivo, ou em gentílicos e títulos nobiliárquicos: • Palavras de origem inglesa e espanhola: xampu, la-
freguês, freguesa, freguesia, poetisa, baronesa, prin- gartixa.
cesa. • Depois de ditongo: frouxo, feixe.
• Sufixos gregos: ase, ese, ise e ose: catequese, me- • Depois de “en”: enxurrada, enxada, enxoval.
tamorfose. Exceção: quando a palavra de origem não derive de
• Formas verbais pôr e querer: pôs, pus, quisera, quis, outra iniciada com ch - Cheio - (enchente)
quiseste.
• Nomes derivados de verbos com radicais termina- São escritas com CH e não X
dos em “d”: aludir - alusão / decidir - decisão / em-
preender - empresa / difundir – difusão. Palavras de origem estrangeira: chave, chumbo,
• Diminutivos cujos radicais terminam com “s”: Luís - chassi, mochila, espadachim, chope, sanduíche, salsicha.
Luisinho / Rosa - Rosinha / lápis – lapisinho.
• Após ditongos: coisa, pausa, pouso, causa. E) As letras “e” e “i”
• Verbos derivados de nomes cujo radical termina
com “s”: anális(e) + ar - analisar / pesquis(a) + ar • Ditongos nasais são escritos com “e”: mãe, põem.
– pesquisar. Com “i”, só o ditongo interno cãibra.
• Verbos que apresentam infinitivo em -oar, -uar são
São escritos com Z e não S escritos com “e”: caçoe, perdoe, tumultue. Escreve-
• Sufixos “ez” e “eza” das palavras derivadas de adje- mos com “i”, os verbos com infinitivo em -air, -oer
tivo: macio - maciez / rico – riqueza / belo – beleza. e -uir: trai, dói, possui, contribui.
• Sufixos “izar” (desde que o radical da palavra de
origem não termine com s): final - finalizar / con- Há palavras que mudam de sentido quando substituí-
creto – concretizar. mos a grafia “e” pela grafia “i”: área (superfície), ária (me-
• Consoante de ligação se o radical não terminar com lodia) / delatar (denunciar), dilatar (expandir) / emergir
“s”: pé + inho - pezinho / café + al - cafezal (vir à tona), imergir (mergulhar) / peão (de estância, que
Exceção: lápis + inho – lapisinho. anda a pé), pião (brinquedo).
Se o dicionário ainda deixar dúvida quanto à orto-
C) O fonema j grafia de uma palavra, há a possibilidade de consultar
o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP),
LÍNGUA PORTUGUESA
São escritas com G e não J elaborado pela Academia Brasileira de Letras. É uma obra
• Palavras de origem grega ou árabe: tigela, girafa, de referência até mesmo para a criação de dicionários,
gesso. pois traz a grafia atualizada das palavras (sem o signifi-
• Estrangeirismo, cuja letra G é originária: sargento, cado). Na Internet, o endereço é www.academia.org.br.
gim.
• Terminações: agem, igem, ugem, ege, oge (com
poucas exceções): imagem, vertigem, penugem,
40
Informações importantes 1. como substantivo, com o sentido de “causa”, “ra-
zão” ou “motivo”, admitindo pluralização (por-
Formas variantes são as que admitem grafias ou pro- quês). Geralmente é precedido por artigo = Não
núncias diferentes para palavras com a mesma significa- sei o porquê da discussão. É uma pessoa cheia de
ção: aluguel/aluguer, assobiar/assoviar, catorze/quatorze, porquês.
dependurar/pendurar, flecha/frecha, germe/gérmen, in-
farto/enfarte, louro/loiro, percentagem/porcentagem, re- ONDE / AONDE
lampejar/relampear/relampar/relampadar.
Os símbolos das unidades de medida são escritos Onde = empregado com verbos que não expressam
sem ponto, com letra minúscula e sem “s” para indicar a ideia de movimento = Onde você está?
plural, sem espaço entre o algarismo e o símbolo: 2kg,
20km, 120km/h. Aonde = equivale a “para onde”. É usado com verbos
Exceção para litro (L): 2 L, 150 L. que expressam movimento = Aonde você vai?
Usos: Hífen
1. como conjunção coordenativa explicativa (equivale
a “pois”, “porquanto”), precedida de pausa na escri- O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado
ta (pode ser vírgula, ponto-e-vírgula e até ponto para ligar os elementos de palavras compostas (como
final) = Compre agora, porque há poucas peças. ex-presidente, por exemplo) e para unir pronomes áto-
LÍNGUA PORTUGUESA
2. como conjunção subordinativa causal, substituível nos a verbos (ofereceram-me; vê-lo-ei). Serve igualmente
por “pela causa”, “razão de que” = Você perdeu por- para fazer a translineação de palavras, isto é, no fim de
que se antecipou. uma linha, separar uma palavra em duas partes (ca-/sa;
compa-/nheiro).
PORQUÊ (uma só palavra, com acento gráfico)
Usos:
41
A) Uso do hífen que continua depois da Reforma B) Não se emprega o hífen:
Ortográfica:
1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefi-
1. Em palavras compostas por justaposição que for- xo termina em vogal e o segundo termo inicia-se
mam uma unidade semântica, ou seja, nos termos em “r” ou “s”. Nesse caso, passa-se a duplicar estas
que se unem para formam um novo significado: consoantes: antirreligioso, contrarregra, infrassom,
tio-avô, porto-alegrense, luso-brasileiro, tenente- microssistema, minissaia, microrradiografia, etc.
-coronel, segunda-feira, conta-gotas, guarda-chuva, 2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudopre-
arco-íris, primeiro-ministro, azul-escuro. fixo termina em vogal e o segundo termo inicia-se
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e com vogal diferente: antiaéreo, extraescolar, coedu-
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, cação, autoestrada, autoaprendizagem, hidroelétri-
abóbora-menina, erva-doce, feijão-verde. co, plurianual, autoescola, infraestrutura, etc.
3. Nos compostos com elementos além, aquém, re- 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos
cém e sem: além-mar, recém-nascido, sem-núme- “dês” e “in” e o segundo elemento perdeu o “h”
ro, recém-casado. inicial: desumano, inábil, desabilitar, etc.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas al- 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando
gumas exceções continuam por já estarem con- o segundo elemento começar com “o”: coopera-
sagradas pelo uso: cor-de-rosa, arco-da-velha, ção, coobrigação, coordenar, coocupante, coautor,
mais-que-perfeito, pé-de-meia, água-de-colônia, coedição, coexistir, etc.
queima-roupa, deus-dará. 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram no-
5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte ção de composição: pontapé, girassol, paraquedas,
Rio-Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas paraquedista, etc.
combinações históricas ou ocasionais: Áustria- 6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: ben-
-Hungria, Angola-Brasil, etc. feito, benquerer, benquerido, etc.
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e su-
per- quando associados com outro termo que é Os prefixos pós, pré e pró, em suas formas correspon-
iniciado por “r”: hiper-resistente, inter-racial, super- dentes átonas, aglutinam-se com o elemento seguinte,
-racional, etc. não havendo hífen: pospor, predeterminar, predetermina-
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-di- do, pressuposto, propor.
retor, ex-presidente, vice-governador, vice-prefeito. Escreveremos com hífen: anti-horário, anti-infeccio-
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: so, auto-observação, contra-ataque, semi-interno, sobre-
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, -humano, super-realista, alto-mar.
etc. Escreveremos sem hífen: pôr do sol, antirreforma,
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, antisséptico, antissocial, contrarreforma, minirrestaurante,
abraça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. ultrassom, antiaderente, anteprojeto, anticaspa, antivírus,
10. Nas formações em que o prefixo tem como se- autoajuda, autoelogio, autoestima, radiotáxi.
gundo termo uma palavra iniciada por “h”: sub-he-
pático, geo-história, neo-helênico, extra-humano, REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
semi-hospitalar, super-homem.
11. Nas formações em que o prefixo ou pseudopre- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
fixo termina com a mesma vogal do segundo ele- Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
mento: micro-ondas, eletro-ótica, semi-interno, au-
to-observação, etc. SITE
O hífen é suprimido quando para formar outros ter- Disponível em: <http://www.pciconcursos.com.br/au-
mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar. las/portugues/ortografia>
#FicaDica
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Ao separar palavras na translineação
(mudança de linha), caso a última palavra a 1. (EBSERH – TÉCNICO EM FARMÁCIA- AOCP-2015)
ser escrita seja formada por hífen, repita-o Assinale a alternativa em que as palavras estão grafadas
LÍNGUA PORTUGUESA
42
Resposta: Letra D ração
Em “a”: Extrovertido / extroverção = extroversão Em “c”: consessão = concessão / extresse = estresse /
Em “b”: Disponível / disponibilisar = disponibilizar enxaqueca
Em “c”: Determinado / determinassão = determinação Em “d”: banalisação = banalização / reexame / desen-
Em “d”: Existir / existência = corretas lace
Em “e”: Característica / caracterizasão = caracterização Em “e”: desorganisação = desorganização / abstração
/ cassação
2. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
I – CESGRANRIO-2018) O termo destacado está grafado 4. (MPU – ANALISTA – ÁREA ADMINISTRATIVA – ESA-
de acordo com as exigências da norma-padrão da língua F-2004-ADAPTADA) Na questão abaixo, baseada em
portuguesa em: Manuel Bandeira, escolha o segmento do texto que não
está isento de erros gramaticais e de ortografia, conside-
a) O estagiário foi mal treinado, por isso não desempe- rando-se a ortodoxia gramatical.
nhava satisfatoriamente as tarefas solicitadas pelos
seus superiores. a) Descoberta a conspiração, enquanto os outros não
b) O time não jogou mau no último campeonato, apesar procuravam outra coisa se não salvar-se, ele revelou
de enfrentar alguns problemas com jogadores des- a mais heróica força de ânimo, chamando a si toda a
controlados. culpa.
c) O menino não era mal aluno, somente tinha dificul- b) Antes de alistar-se na tropa paga, vivera da profissão
dade em assimilar conceitos mais complexos sobre os que lhe valera o apelido.
temas expostos. c) Não obstante, foi ele talvez o único a demonstrar fé,
d) Os funcionários perceberam que o chefe estava de entusiasmo e coragem na aventura de 89.
mal humor porque tinha sofrido um acidente de carro d) A verdade é que Gonzaga, Cláudio Manuel da Cos-
na véspera. ta, Alvarenga eram homens requintados, letrados, a
e) Os participantes compreendiam mau o que estava quem a vida corria fácil, ao passo que o alferes sempre
sendo discutido, por isso não conseguiam formular lutara pela subsistência.
perguntas. e) Com coragem, serenidade e lucidez, até o fim, enfren-
tou a pena última.
Resposta: Letra A
Mal = advérbio (antônimo de “bem”) / mau = adjetivo Resposta: Letra A
(antônimo de “bom”). Para saber quando utilizar um Em “a”: Descoberta a conspiração, enquanto os outros
ou outro, a dica é substituir por seu antônimo. Se a não procuravam outra coisa se não salvar-se (senão se
frase ficar coerente, saberemos qual dos dois deve ser salvar) , ele revelou a mais heróica (heroica) força de
utilizado. Por exemplo: Cigarro faz mal/mau à saúde ânimo, chamando a si toda a culpa.
= Cigarro faz bem à saúde. A frase ficou coerente – Em “b”: Antes de alistar-se na tropa paga, vivera da
embora errada em termos de saúde! Então, a maneira profissão que lhe valera o apelido = correta
correta é “Cigarro faz mal à saúde”. Em “c”: Não obstante, foi ele talvez o único a demons-
Vamos aos itens: trar fé, entusiasmo e coragem na aventura de 89 =
Em “a”: O estagiário foi mal (bem) treinado = correta correta
Em “b”: O time não jogou mau (bem)no último cam- Em “d”: A verdade é que Gonzaga, Cláudio Manuel da
peonato = mal Costa, Alvarenga eram homens requintados, letrados,
Em “c”: O menino não era mal (bom) aluno = mau a quem a vida corria fácil, ao passo que o alferes sem-
Em “d”: Os funcionários perceberam que o chefe esta- pre lutara pela subsistência = correta
va de mal (bom) humor = mau Em “e”: Com coragem, serenidade e lucidez, até o fim,
Em “e”: Os participantes compreendiam mau (bem) o enfrentou a pena última = correta
que estava sendo discutido = mal
5. (TJ-MG – OFICIAL JUDICIÁRIO – COMISSÁRIO DA
3. (TRANSPETRO – TÉCNICO AMBIENTAL JÚNIOR – INFÂNCIA E DA JUVENTUDE – CONSULPLAN-2017)
CESGRANRIO-2018) Obedecem às regras ortográficas Estabeleça a associação correta entre a 1.ª coluna e a 2.ª
da língua portuguesa as palavras considerando o emprego do por que / porque.
(1) “Muitas pessoas se perguntam por que há tão poucas
a) admissão, paralisação, impasse mulheres [...].”
b) bambusal, autorização, inspiração (2) “Misoginia é o ódio contra as mulheres apenas porque
LÍNGUA PORTUGUESA
43
A sequência está correta em: depende, em certos momentos, da intenção do autor do
a) 1, 1, 1, 2 discurso. Assim, os sinais de pontuação estão diretamen-
b) 1, 2, 1, 2 te relacionados ao contexto e ao interlocutor.
c) 2, 1, 1, 2
d) 2, 2, 2, 1 Principais funções dos sinais de pontuação
PONTUAÇÃO
chuva pela manhã, frio à tarde e calor à noite.
• Antes de uma explicação ou esclarecimento: Lá es-
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que
tava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo
servem para compor a coesão e a coerência textual, além
a rotina de sempre.
de ressaltar especificidades semânticas e pragmáticas.
Um texto escrito adquire diferentes significados quando
• Em frases de estilo direto
pontuado de formas diversificadas. O uso da pontuação
Maria perguntou:
44
- Por que você não toma uma decisão? pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma.
C) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de
D) Ponto de Exclamação (!) maio de 1982.
• Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, 3. Para separar entre si elementos coordenados
susto, súplica, etc.: Sim! Claro que eu quero me ca- (dispostos em enumeração):
sar com você! Era um garoto de 15 anos, alto, magro.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e ani-
• Depois de interjeições ou vocativos mais.
Ai! Que susto!
João! Há quanto tempo! 4. Para marcar elipse (omissão) do verbo: Nós que-
remos comer pizza; e vocês, churrasco.
E) Ponto de Interrogação (?)
5. Para isolar:
• Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres. A) o aposto: São Paulo, considerada a metrópole bra-
“- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Aze- sileira, possui um trânsito caótico.
vedo) B) o vocativo: Ora, Thiago, não diga bobagem.
é, não querem abrir mão dos lucros altos. Disponível em: <http://www.brasilescola.com/grama-
tica/uso-da-virgula.htm>
2. Para marcar inversão:
A) do adjunto adverbial (colocado no início da ora-
ção): Depois das sete horas, todo o comércio está de
portas fechadas.
B) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos
45
futuro das aposentadorias”. (adaptado)
EXERCÍCIOS COMENTADOS No texto 1, os termos inseridos nos parênteses – na Ale-
manha imperial de Bismarck e na Itália fascista de Musso-
1. (BANPARÁ – ASSISTENTE SOCIAL – FADESP-2018) lini – têm a finalidade textual de:
O enunciado em que a vírgula foi empregada em desa-
cordo com as regras de pontuação é a) enumerar os sistemas políticos fechados do passado;
b) destacar os sistemas onde se originaram os regimes
a) Como esse metal é limitado, isso garantia que a pro- trabalhista e previdenciário;
dução de dinheiro fosse também limitada. c) criticar o atraso político de alguns sistemas da História;
b) Em 1971, o presidente dos EUA acabou com o padrão- d) condenar nossos regimes trabalhista e previdenciário
-ouro. por serem muito antigos;
c) Praticamente todo o dinheiro que existe no mundo é e) exemplificar alguns dos nossos erros do passado.
criado assim, inventado em canetaços a partir da con-
cessão de empréstimos. Resposta: Letra B
d) Assim, o sistema monetário atual funciona com uma Arquitetados de início em sistemas políticos fechados
moeda que é ao mesmo tempo escassa e abundante. (na Alemanha imperial de Bismarck e na Itália fascis-
e) Escassa porque só banqueiros podem criá-la, e abun- ta de Mussolini) = os termos entre parênteses servem
dante porque é gerada pela simples manipulação de para se referir aos sistemas políticos fechados, exem-
bancos de dados. plificando-os.
Em “a”, enumerar os sistemas políticos fechados do
Resposta: Letra E passado = incorreta
O enunciado pede a alternativa em desacordo: Em “b”, destacar os sistemas onde se originaram os
Em “a”, Como esse metal é limitado, isso garantia que regimes trabalhista e previdenciário = correta
a produção de dinheiro fosse também limitada = cor- Em “c”, criticar o atraso político de alguns sistemas da
reta História = incorreta
Em “b”, Em 1971, o presidente dos EUA acabou com o Em “d”, condenar nossos regimes trabalhista e previ-
padrão-ouro = correta denciário por serem muito antigos = incorreta
Em “c”, Praticamente todo o dinheiro que existe no Em “e”, exemplificar alguns dos nossos erros do pas-
mundo é criado assim, inventado em canetaços a par- sado = incorreta
tir da concessão de empréstimos = correta
Em “d”, Assim, o sistema monetário atual funciona 3. (BADESC – ANALISTA DE SISTEMA – BANCO DE DA-
com uma moeda que é ao mesmo tempo escassa e DOS – FGV-2010) Assinale a alternativa em que a vírgula
abundante = correta está corretamente empregada.
Em “e”, Escassa porque só banqueiros podem criá-la,
(X) e abundante porque é gerada pela simples mani- a) O jeitinho, essa instituição tipicamente brasileira pode
pulação de bancos de dados = incorreta - a vírgula ser considerado, sem dúvida, um desvio de caráter.
pode ser utilizada antes da conjunção “e”, desde que b) Apareciam novos problemas, e o funcionário embora
haja mudança de sujeito, por exemplo (o que não competente, nem sempre conseguia resolvê-los.
acontece na questão) c) Ainda que os níveis de educação estivessem avançan-
do, o sentimento geral, às vezes, era de frustração.
2. (BANESTES – ANALISTA ECONÔMICO FINANCEIRO d) É claro, que se fôssemos levar a lei ao pé da letra, mui-
GESTÃO CONTÁBIL – FGV-2018) tos sofreriam sanções diariamente.
e) O tempo não para as transformações sociais são ur-
Texto 1 gentes mas há quem não perceba esse fato, que é
evidente.
Em artigo publicado no jornal carioca O Globo, 19/3/2018,
com o nome Erros do passado, o articulista Paulo Gue- Resposta: Letra C
des escreve o seguinte: “Os regimes trabalhista e pre- Indiquei com (X) os lugares inadequados e acrescentei
videnciário brasileiros são politicamente anacrônicos, a pontuação que faltou:
economicamente desastrosos e socialmente perversos. Em “a”, O jeitinho, essa instituição tipicamente brasi-
Arquitetados de início em sistemas políticos fechados leira , pode ser considerado, sem dúvida, um desvio
(na Alemanha imperial de Bismarck e na Itália fascista de de caráter.
LÍNGUA PORTUGUESA
Mussolini), e desde então cultivados por obsoletos pro- Em “b”, Apareciam novos problemas , (X) e o funcio-
gramas socialdemocratas, são hoje armas de destruição nário , embora competente, nem sempre conseguia
em massa de empregos locais em meio à competição resolvê-los.
global. Reduzem a competitividade das empresas, fabri- Em “c”, Ainda que os níveis de educação estivessem
cam desigualdades sociais, dissipam em consumo cor- avançando, o sentimento geral, às vezes, era de frus-
rente a poupança compulsória dos encargos recolhidos, tração.= correta
derrubam o crescimento da economia e solapam o valor Em “d”, É claro , (X) que se fôssemos levar a lei ao pé da
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letra, muitos sofreriam sanções diariamente. De acordo com a norma-padrão, no primeiro quadrinho,
Em “e”, O tempo não para , as transformações sociais na fala de Hagar, deve ser utilizada uma vírgula, obriga-
são urgentes , mas há quem não perceba esse fato, toriamente,
que é evidente.
a) antes da palavra “olho”.
4. (BANCO DO BRASIL – ESCRITURÁRIO – CESGRAN- b) antes da palavra “e”.
RIO-2018) De acordo com a norma-padrão da língua c) depois da palavra “evitar”.
portuguesa, a pontuação está corretamente empregada d) antes da palavra “evitar”.
em: e) depois da palavra “e”.
47
número e gênero se correspondem. A correspondência artigo, o verbo deve ficar no singular; com artigo
de flexão entre dois termos é a concordância, que pode no plural, o verbo deve ficar o plural.
ser verbal ou nominal. Os Estados Unidos possuem grandes universidades.
Estados Unidos possui grandes universidades.
Concordância Verbal Alagoas impressiona pela beleza das praias.
As Minas Gerais são inesquecíveis.
É a flexão que se faz para que o verbo concorde com Minas Gerais produz queijo e poesia de primeira.
seu sujeito.
D) Quando o sujeito é um pronome interrogativo ou
Sujeito Simples - Regra Geral indefinido plural (quais, quantos, alguns, poucos,
muitos, quaisquer, vários) seguido por “de nós” ou
O sujeito, sendo simples, com ele concordará o verbo “de vós”, o verbo pode concordar com o primeiro
em número e pessoa. Veja os exemplos: pronome (na terceira pessoa do plural) ou com o
pronome pessoal.
A prova para ambos os cargos será aplicada às 13h. Quais de nós são / somos capazes?
3.ª p. Singular 3.ª p. Singular Alguns de vós sabiam / sabíeis do caso?
Vários de nós propuseram / propusemos sugestões ino-
Os candidatos à vaga chegarão às 12h. vadoras.
3.ª p. Plural 3.ª p. Plural
Observação:
Casos Particulares Veja que a opção por uma ou outra forma indica a
inclusão ou a exclusão do emissor. Quando alguém diz
A) Quando o sujeito é formado por uma expressão ou escreve “Alguns de nós sabíamos de tudo e nada fize-
partitiva (parte de, uma porção de, o grosso de, mos”, ele está se incluindo no grupo dos omissos. Isso
metade de, a maioria de, a maior parte de, grande não ocorre ao dizer ou escrever “Alguns de nós sabiam de
parte de...) seguida de um substantivo ou pronome tudo e nada fizeram”, frase que soa como uma denúncia.
no plural, o verbo pode ficar no singular ou no Nos casos em que o interrogativo ou indefinido esti-
plural. ver no singular, o verbo ficará no singular.
A maioria dos jornalistas aprovou / aprovaram a ideia. Qual de nós é capaz?
Metade dos candidatos não apresentou / apresenta- Algum de vós fez isso.
ram proposta.
E) Quando o sujeito é formado por uma expressão
Esse mesmo procedimento pode se aplicar aos casos que indica porcentagem seguida de substantivo, o
dos coletivos, quando especificados: Um bando de vân- verbo deve concordar com o substantivo.
dalos destruiu / destruíram o monumento. 25% do orçamento do país será destinado à Educação.
85% dos entrevistados não aprovam a administração
Observação: do prefeito.
Nesses casos, o uso do verbo no singular enfatiza a 1% do eleitorado aceita a mudança.
unidade do conjunto; já a forma plural confere destaque 1% dos alunos faltaram à prova.
aos elementos que formam esse conjunto.
• Quando a expressão que indica porcentagem não
B) Quando o sujeito é formado por expressão que é seguida de substantivo, o verbo deve concordar
indica quantidade aproximada (cerca de, mais de, com o número.
menos de, perto de...) seguida de numeral e subs- 25% querem a mudança.
tantivo, o verbo concorda com o substantivo. 1% conhece o assunto.
Cerca de mil pessoas participaram do concurso.
Perto de quinhentos alunos compareceram à solenida- • Se o número percentual estiver determinado por ar-
de. tigo ou pronome adjetivo, a concordância far-se-á
Mais de um atleta estabeleceu novo recorde nas últi- com eles:
mas Olimpíadas. Os 30% da produção de soja serão exportados.
Esses 2% da prova serão questionados.
Observação:
Quando a expressão “mais de um” se associar a ver- F) O pronome “que” não interfere na concordância;
LÍNGUA PORTUGUESA
bos que exprimem reciprocidade, o plural é obrigatório: já o “quem” exige que o verbo fique na 3.ª pessoa
Mais de um colega se ofenderam na discussão. (ofende- do singular.
ram um ao outro) Fui eu que paguei a conta.
Fomos nós que pintamos o muro.
C) Quando se trata de nomes que só existem no És tu que me fazes ver o sentido da vida.
plural, a concordância deve ser feita levando-se Sou eu quem faz a prova.
em conta a ausência ou presença de artigo. Sem Não serão eles quem será aprovado.
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G) Com a expressão “um dos que”, o verbo deve as- B) Nos sujeitos compostos formados por pessoas
sumir a forma plural. gramaticais diferentes, a concordância ocorre da
Ademir da Guia foi um dos jogadores que mais encan- seguinte maneira: a primeira pessoa do plural (nós)
taram os poetas. prevalece sobre a segunda pessoa (vós) que, por
Este candidato é um dos que mais estudaram! sua vez, prevalece sobre a terceira (eles). Veja:
Teus irmãos, tu e eu tomaremos a decisão.
• Se a expressão for de sentido contrário – nenhum Primeira Pessoa do Plural (Nós)
dos que, nem um dos que -, não aceita o verbo no
singular: Tu e teus irmãos tomareis a decisão.
Nenhum dos que foram aprovados assumirá a vaga. Segunda Pessoa do Plural (Vós)
Nem uma das que me escreveram mora aqui.
Pais e filhos precisam respeitar-se.
• Quando “um dos que” vem entremeada de substan- Terceira Pessoa do Plural (Eles)
tivo, o verbo pode:
1. ficar no singular – O Tietê é um dos rios que atraves- Observação:
sa o Estado de São Paulo. (já que não há outro rio Quando o sujeito é composto, formado por um ele-
que faça o mesmo). mento da segunda pessoa (tu) e um da terceira (ele), é
2. ir para o plural – O Tietê é um dos rios que estão po- possível empregar o verbo na terceira pessoa do plural
luídos (noção de que existem outros rios na mesma (eles): “Tu e teus irmãos tomarão a decisão.” – no lugar
condição). de “tomaríeis”.
Pais e filhos devem conversar com frequência. Em ambas as orações, as conjunções dão ideia de
Sujeito “adição”. Já em:
Juca ou Pedro será contratado.
Roma ou Buenos Aires será a sede da próxima Olim-
49
píada. na vida das pessoas.
• Com “um e outro”, o verbo pode ficar no plural ou Quando índice de indeterminação do sujeito, o “se”
no singular: Um e outro farão/fará a prova. acompanha os verbos intransitivos, transitivos indiretos
e de ligação, que obrigatoriamente são conjugados na
• Quando os núcleos do sujeito são unidos por “com”, terceira pessoa do singular:
o verbo fica no plural. Nesse caso, os núcleos re- Precisa-se de funcionários.
cebem um mesmo grau de importância e a palavra Confia-se em teses absurdas.
“com” tem sentido muito próximo ao de “e”.
O pai com o filho montaram o brinquedo. Quando pronome apassivador, o “se” acompanha
O governador com o secretariado traçaram os planos verbos transitivos diretos (VTD) e transitivos diretos e in-
para o próximo semestre. diretos (VTDI) na formação da voz passiva sintética. Nes-
O professor com o aluno questionaram as regras. se caso, o verbo deve concordar com o sujeito da oração.
Exemplos:
Nesse mesmo caso, o verbo pode ficar no singular, se Construiu-se um posto de saúde.
a ideia é enfatizar o primeiro elemento. Construíram-se novos postos de saúde.
O pai com o filho montou o brinquedo. Aqui não se cometem equívocos
O governador com o secretariado traçou os planos Alugam-se casas.
para o próximo semestre.
O professor com o aluno questionou as regras.
#FicaDica
Com o verbo no singular, não se pode falar em sujeito Para saber se o “se” é partícula apassivadora
composto. O sujeito é simples, uma vez que as expres- ou índice de indeterminação do sujeito, ten-
sões “com o filho” e “com o secretariado” são adjuntos te transformar a frase para a voz passiva. Se
adverbiais de companhia. Na verdade, é como se hou- a frase construída for “compreensível”, esta-
vesse uma inversão da ordem. Veja: remos diante de uma partícula apassivadora;
“O pai montou o brinquedo com o filho.” se não, o “se” será índice de indeterminação.
“O governador traçou os planos para o próximo semes- Veja:
tre com o secretariado.” Precisa-se de funcionários qualificados.
“O professor questionou as regras com o aluno.” Tentemos a voz passiva:
Funcionários qualificados são precisados (ou
Casos em que se usa o verbo no singular: precisos)? Não há lógica. Portanto, o “se”
destacado é índice de indeterminação do
Café com leite é uma delícia! sujeito.
O frango com quiabo foi receita da vovó. Agora:
Vendem-se casas.
Quando os núcleos do sujeito são unidos por ex- Voz passiva: Casas são vendidas. Constru-
pressões correlativas como: “não só... mas ainda”, “não ção correta! Então, aqui, o “se” é partícula
somente”..., “não apenas... mas também”, “tanto...quanto”, apassivadora. (Dá para eu passar para a voz
o verbo ficará no plural. passiva. Repare em meu destaque. Percebeu
Não só a seca, mas também o pouco caso castigam o semelhança? Agora é só memorizar!).
Nordeste.
Tanto a mãe quanto o filho ficaram surpresos com a
notícia. O Verbo “Ser”
LÍNGUA PORTUGUESA
Quando os elementos de um sujeito composto são A concordância verbal dá-se sempre entre o verbo e o
resumidos por um aposto recapitulativo, a concordância sujeito da oração. No caso do verbo ser, essa concordân-
é feita com esse termo resumidor. cia pode ocorrer também entre o verbo e o predicativo
Filmes, novelas, boas conversas, nada o tirava da apa- do sujeito.
tia.
Trabalho, diversão, descanso, tudo é muito importante
50
Quando o sujeito ou o predicativo for: • Ocorre variação do verbo PARECER e não se flexiona
o infinitivo: As crianças parecem gostar do desenho.
A) Nome de pessoa ou pronome pessoal – o verbo
SER concorda com a pessoa gramatical: • A variação do verbo parecer não ocorre e o infinitivo
Ele é forte, mas não é dois. sofre flexão:
Fernando Pessoa era vários poetas. As crianças parece gostarem do desenho.
A esperança dos pais são eles, os filhos. (essa frase equivale a: Parece gostarem do desenho
aas crianças)
B) nome de coisa e um estiver no singular e o outro
no plural, o verbo SER concordará, preferencial- Com orações desenvolvidas, o verbo PARECER fica no
mente, com o que estiver no plural: singular. Por exemplo: As paredes parece que têm ouvidos.
Os livros são minha paixão! (Parece que as paredes têm ouvidos = oração subordina-
Minha paixão são os livros! da substantiva subjetiva).
• horas e distâncias, concordará com a expressão nu- A concordância nominal se baseia na relação entre
mérica: nomes (substantivo, pronome) e as palavras que a eles se
É uma hora. ligam para caracterizá-los (artigos, adjetivos, pronomes
São quatro horas. adjetivos, numerais adjetivos e particípios). Lembre-se:
Daqui até a escola é um quilômetro / são dois quilô- normalmente, o substantivo funciona como núcleo de
metros. um termo da oração, e o adjetivo, como adjunto adno-
minal.
• datas, concordará com a palavra dia(s), que pode A concordância do adjetivo ocorre de acordo com as
estar expressa ou subentendida: seguintes regras gerais:
Hoje é dia 26 de agosto.
Hoje são 26 de agosto. A) O adjetivo concorda em gênero e número quando
se refere a um único substantivo: As mãos trêmulas
• Quando o sujeito indicar peso, medida, quantida- denunciavam o que sentia.
de e for seguido de palavras ou expressões como B) Quando o adjetivo refere-se a vários substantivos,
pouco, muito, menos de, mais de, etc., o verbo SER a concordância pode variar. Podemos sistematizar
fica no singular: essa flexão nos seguintes casos:
Cinco quilos de açúcar é mais do que preciso.
Três metros de tecido é pouco para fazer seu vestido. • Adjetivo anteposto aos substantivos:
Duas semanas de férias é muito para mim. O adjetivo concorda em gênero e número com o
substantivo mais próximo.
• Quando um dos elementos (sujeito ou predicativo) Encontramos caídas as roupas e os prendedores.
for pronome pessoal do caso reto, com este con- Encontramos caída a roupa e os prendedores.
cordará o verbo. Encontramos caído o prendedor e a roupa.
No meu setor, eu sou a única mulher.
Aqui os adultos somos nós. Caso os substantivos sejam nomes próprios ou de
parentesco, o adjetivo deve sempre concordar no plural.
Observação: As adoráveis Fernanda e Cláudia vieram me visitar.
Sendo ambos os termos (sujeito e predicativo) repre- Encontrei os divertidos primos e primas na festa.
sentados por pronomes pessoais, o verbo concorda com
o pronome sujeito. • Adjetivo posposto aos substantivos:
Eu não sou ela. O adjetivo concorda com o substantivo mais próximo
Ela não é eu. ou com todos eles (assumindo a forma masculina plural
se houver substantivo feminino e masculino).
• Quando o sujeito for uma expressão de sentido par- A indústria oferece localização e atendimento perfeito.
titivo ou coletivo e o predicativo estiver no plural, o A indústria oferece atendimento e localização perfeita.
verbo SER concordará com o predicativo. A indústria oferece localização e atendimento perfei-
A grande maioria no protesto eram jovens. tos.
LÍNGUA PORTUGUESA
51
no plural masculino, que é o gênero predominante quan- antes do adjetivo: Admiro as culturas espanhola e
do há substantivos de gêneros diferentes. portuguesa.
Se os substantivos possuírem o mesmo gênero, o ad-
jetivo fica no singular ou plural. Casos Particulares
A beleza e a inteligência feminina(s).
O carro e o iate novo(s). É proibido - É necessário - É bom - É preciso - É per-
mitido
C) Expressões formadas pelo verbo SER + adjetivo:
O adjetivo fica no masculino singular, se o substanti- • Estas expressões, formadas por um verbo mais um
vo não for acompanhado de nenhum modificador: Água adjetivo, ficam invariáveis se o substantivo a que se
é bom para saúde. referem possuir sentido genérico (não vier prece-
O adjetivo concorda com o substantivo, se este for dido de artigo).
modificado por um artigo ou qualquer outro determina- É proibido entrada de crianças.
tivo: Esta água é boa para saúde. Em certos momentos, é necessário atenção.
No verão, melancia é bom.
D) O adjetivo concorda em gênero e número com os É preciso cidadania.
pronomes pessoais a que se refere: Juliana encon- Não é permitido saída pelas portas laterais.
trou-as muito felizes.
• Quando o sujeito destas expressões estiver determi-
E) Nas expressões formadas por pronome indefinido nado por artigos, pronomes ou adjetivos, tanto o
neutro (nada, algo, muito, tanto, etc.) + preposição verbo como o adjetivo concordam com ele.
DE + adjetivo, este último geralmente é usado no É proibida a entrada de crianças.
masculino singular: Os jovens tinham algo de mis- Esta salada é ótima.
terioso. A educação é necessária.
São precisas várias medidas na educação.
F) A palavra “só”, quando equivale a “sozinho”, tem
função adjetiva e concorda normalmente com o Anexo - Obrigado - Mesmo - Próprio - Incluso -
nome a que se refere: Quite
Cristina saiu só.
Cristina e Débora saíram sós. Estas palavras adjetivas concordam em gênero e nú-
mero com o substantivo ou pronome a que se referem.
Observação: Seguem anexas as documentações requeridas.
Quando a palavra “só” equivale a “somente” ou “ape- A menina agradeceu: - Muito obrigada.
nas”, tem função adverbial, ficando, portanto, invariável: Muito obrigadas, disseram as senhoras.
Eles só desejam ganhar presentes. Seguem inclusos os papéis solicitados.
Estamos quites com nossos credores.
#FicaDica Bastante - Caro - Barato - Longe
Substitua o “só” por “apenas” ou “sozinho”. Estas palavras são invariáveis quando funcionam
Se a frase ficar coerente com o primeiro, como advérbios. Concordam com o nome a que se refe-
trata-se de advérbio, portanto, invariável; se rem quando funcionam como adjetivos, pronomes adje-
houver coerência com o segundo, função de tivos, ou numerais.
adjetivo, então varia: As jogadoras estavam bastante cansadas. (advérbio)
Ela está só. (ela está sozinha) – adjetivo Há bastantes pessoas insatisfeitas com o trabalho.
Ele está só descansando. (apenas (pronome adjetivo)
descansando) - advérbio Nunca pensei que o estudo fosse tão caro. (advérbio)
As casas estão caras. (adjetivo)
Achei barato este casaco. (advérbio)
Mas cuidado! Se colocarmos uma vírgula depois de Hoje as frutas estão baratas. (adjetivo)
“só”, haverá, novamente, um adjetivo:
Ele está só, descansando. (ele está sozinho e descan- Meio - Meia
sando) A palavra “meio”, quando empregada como adjetivo,
concorda normalmente com o nome a que se refere: Pedi
LÍNGUA PORTUGUESA
52
moedas reais pelas virtuais. = correta
#FicaDica Em “d”: De acordo com as regras do mercado finan-
ceiro, criaram-se apenas 21 milhões de bitcoins nos
Dá para eu substituir por “um pouco”, assim
últimos anos.
saberei que se trata de um advérbio, não
Em “e”: O valor dos produtos comercializados seria
de adjetivo: “A candidata está um pouco
determinado por uma moeda virtual se a real fosse
nervosa”.
abolida.
53
d) É preciso educar as novas gerações para que se redu- dependente = apenas a “jornalismo”
za os comportamentos compulsivos relacionados ao Em “b”: os adjetivos da frase (1) deveriam estar no plu-
uso das novas tecnologias. ral por referirem-se a dois substantivos;
e) Nos países mais industrializados, comprovou-se os A democracia reclama um jornalismo vigoroso e inde-
danos psicológicos e o consumismo exagerado causa- pendente = a um substantivo (jornalismo)
dos pelo vício da tecnologia. Em “c”: na frase (2), a forma de particípio ‘determina-
da’ se refere a ‘imprensa’;
Resposta: Letra B A agenda pública é determinada pela imprensa tra-
Em “a”: Com a corrida desenfreada pelas versões mais dicional = refere-se ao termo “agenda pública”
atuais dos smartphones, evidenciou-se (evidencia- Em “d”: na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ está
ram-se) atitudes agressivas e violentas por parte dos corretamente no plural por referir-se a ‘empresas’;
usuários. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de con-
Em “b”: Devido à utilização de estratégias de marke- teúdo independentes = correta
ting, desenvolveu-se, entre os jovens, a ideia de que Em “e”: na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ deveria
a posse de novos aparelhos eletrônicos é garantia de estar no singular por referir-se ao substantivo ‘conteú-
sucesso = correta do’ = incorreta (refere-se a “empresas”)
Em “c”: É necessário que se envie (enviem) a todas as
escolas do país vídeos educacionais que permitam es- 5. (MPU – ANALISTA DO MPU – CESPE-2015)
clarecer os jovens sobre o vício da tecnologia.
Em “d”: É preciso educar as novas gerações para que Texto I
se reduza (reduzam) os comportamentos compulsivos
relacionados ao uso das novas tecnologias. Na organização do poder político no Estado moder-
Em “e”: Nos países mais industrializados, comprovou- no, à luz da tradição iluminista, o direito tem por função
-se (comprovaram-se) os danos psicológicos e o con- a preservação da liberdade humana, de maneira a coibir
sumismo exagerado causados pelo vício da tecnolo- a desordem do estado de natureza, que, em virtude do
gia. risco da dominação dos mais fracos pelos mais fortes,
exige a existência de um poder institucional. Mas a con-
4. (IBGE – AGENTE CENSITÁRIO – ADMINISTRATIVO – quista da liberdade humana também reclama a distri-
FGV-2017) Observe os seguintes casos de concordância buição do poder em ramos diversos, com a disposição
nominal retirados do texto 1: de meios que assegurem o controle recíproco entre eles
para o advento de um cenário de equilíbrio e harmonia
1. A democracia reclama um jornalismo vigoroso e inde-
nas sociedades estatais. A concentração do poder em um
pendente.
só órgão ou pessoa viria sempre em detrimento do exer-
2. A agenda pública é determinada pela imprensa tradi-
cício da liberdade. É que, como observou Montesquieu,
cional.
“todo homem que tem poder tende a abusar dele; ele vai
3. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de conteú- até onde encontra limites. Para que não se possa abusar
do independentes. do poder, é preciso que, pela disposição das coisas, o
poder limite o poder”.
A afirmação correta sobre essas concordâncias é: Até Montesquieu, não eram identificadas com clareza
as esferas de abrangência dos poderes políticos: “só se
a) os dois adjetivos da frase (1) referem-se, respectiva- concebia sua união nas mãos de um só ou, então, sua
mente a ‘democracia’ e ‘jornalismo’; separação; ninguém se arriscava a apresentar, sob a for-
b) os adjetivos da frase (1) deveriam estar no plural por ma de sistema coerente, as consequências de conceitos
referirem-se a dois substantivos; diversos”. Pensador francês do século XVIII, Montesquieu
c) na frase (2), a forma de particípio ‘determinada’ se re- situa-se entre o racionalismo cartesiano e o empirismo
fere a ‘imprensa’; de origem baconiana, não abandonando o rigor das
d) na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ está correta- certezas matemáticas em suas certezas morais. Porém,
mente no plural por referir-se a ‘empresas’; refugindo às especulações metafísicas que, no plano da
e) na frase (3), o adjetivo ‘independentes’ deveria estar idealidade, serviram aos filósofos do pacto social para a
no singular por referir-se ao substantivo ‘conteúdo’. explicação dos fundamentos do Estado ou da sociedade
civil, ele procurou ingressar no terreno dos fatos.
Resposta: Letra D Fernanda Leão de Almeida. A garantia institucional do
1. A democracia reclama um jornalismo vigoroso e in- Ministério Público em função da proteção dos direitos
dependente. humanos. Tese de doutorado. São Paulo: USP, 2010, p.
LÍNGUA PORTUGUESA
2. A agenda pública é determinada pela imprensa tra- 18-9. Internet: <www.teses.usp.br> (com adaptações).
dicional.
3. Mas o pontapé inicial é sempre das empresas de con- A flexão plural em “eram identificadas” decorre da con-
teúdo independentes. cordância com o sujeito dessa forma verbal: “as esferas
Em “a”: os dois adjetivos da frase (1) referem-se, res- de abrangência dos poderes políticos”.
pectivamente a ‘democracia’ e ‘jornalismo’;
A democracia reclama um jornalismo vigoroso e in- ( ) CERTO ( ) ERRADO
54
Resposta: Certo Regência Verbal = Termo Regente: VERBO
(...) Até Montesquieu, não eram identificadas com cla-
reza as esferas de abrangência dos poderes políticos A regência verbal estuda a relação que se estabele-
= passando o período para a ordem direta (sujeito + ce entre os verbos e os termos que os complementam
verbo), temos: Até Montesquieu, as esferas de abran- (objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (ad-
gência dos poderes políticos não eram identificadas juntos adverbiais). Há verbos que admitem mais de uma
com clareza. regência, o que corresponde à diversidade de significa-
dos que estes verbos podem adquirir dependendo do
6. (PC-RS – ESCRIVÃO e Inspetor de Polícia – Funda- contexto em que forem empregados.
tec-2018 - adaptada) Sobre a frase “Esses alunos que
são usuários constantes de redes sociais têm um risco 27% A mãe agrada o filho = agradar significa acariciar,
maior de desenvolver depressão”, avalie as assertivas que contentar.
seguem, assinalando V, se verdadeiras, ou F, se falsas. A mãe agrada ao filho = agradar significa “causar
( ) Caso os termos ‘Esses alunos’ fosse passado para o agrado ou prazer”, satisfazer.
singular, outras quatro palavras deveriam sofrer ajustes
para fins de concordância. Conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
( ) Mais da metade dos alunos que usam redes sociais “agradar a alguém”.
podem ficar deprimidos.
( ) O risco de alunos usuários de redes sociais desenvol- O conhecimento do uso adequado das preposições
verem depressão constante extrapola o índice dos 27%. é um dos aspectos fundamentais do estudo da regência
verbal (e também nominal). As preposições são capazes
A ordem correta de preenchimento dos parênteses, de de modificar completamente o sentido daquilo que está
cima para baixo, é: sendo dito.
a) V – V – V. Cheguei ao metrô.
b) F – V – F. Cheguei no metrô.
c) V – F – F.
d) F – F – V. No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no
e) F – F – F. segundo caso, é o meio de transporte por mim utilizado.
Fui ao teatro.
REGÊNCIA VERBAL E NOMINAL
Adjunto Adverbial de Lugar
Dá-se o nome de regência à relação de subordina-
Ricardo foi para a Espanha.
ção que ocorre entre um verbo (regência verbal) ou um
Adjunto Adverbial de Lugar
nome (regência nominal) e seus complementos.
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Comparecer Obedecer e Desobedecer - Possuem seus comple-
mentos introduzidos pela preposição “a”:
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais.
por em ou a. Eles desobedeceram às leis do trânsito.
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o
último jogo. Responder - Tem complemento introduzido pela
preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para in-
B) Verbos Transitivos Diretos dicar “a quem” ou “ao que” se responde.
Os verbos transitivos diretos são complementados Respondi ao meu patrão.
por objetos diretos. Isso significa que não exigem prepo- Respondemos às perguntas.
sição para o estabelecimento da relação de regência. Ao Respondeu-lhe à altura.
empregar esses verbos, lembre-se de que os pronomes
oblíquos o, a, os, as atuam como objetos diretos. Esses Observação:
pronomes podem assumir as formas lo, los, la, las (após O verbo responder, apesar de transitivo indireto quan-
formas verbais terminadas em -r, -s ou -z) ou no, na, nos, do exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva
nas (após formas verbais terminadas em sons nasais), analítica:
enquanto lhe e lhes são, quando complementos verbais, O questionário foi respondido corretamente.
objetos indiretos. Todas as perguntas foram respondidas satisfatoria-
São verbos transitivos diretos, dentre outros: aban- mente.
donar, abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar,
admirar, adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, au- Simpatizar e Antipatizar - Possuem seus comple-
xiliar, castigar, condenar, conhecer, conservar, convidar, mentos introduzidos pela preposição “com”.
defender, eleger, estimar, humilhar, namorar, ouvir, pre- Antipatizo com aquela apresentadora.
judicar, prezar, proteger, respeitar, socorrer, suportar, ver, Simpatizo com os que condenam os políticos que go-
visitar. vernam para uma minoria privilegiada.
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente
como o verbo amar: D) Verbos Transitivos Diretos e Indiretos
Amo aquele rapaz. / Amo-o.
Amo aquela moça. / Amo-a. Os verbos transitivos diretos e indiretos são acom-
Amam aquele rapaz. / Amam-no. panhados de um objeto direto e um indireto. Merecem
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. destaque, nesse grupo: agradecer, perdoar e pagar. São
verbos que apresentam objeto direto relacionado a coi-
Observação: sas e objeto indireto relacionado a pessoas.
Os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos
para indicar posse (caso em que atuam como adjuntos Agradeço aos ouvintes a audiência.
adnominais): Objeto Indireto Objeto Direto
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto)
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua car- Paguei o débito ao cobrador.
reira) Objeto Direto Objeto Indireto
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau hu-
mor) O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito
com particular cuidado:
C) Verbos Transitivos Indiretos Agradeci o presente. / Agradeci-o.
Os verbos transitivos indiretos são complementados Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
por objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exi- Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
gem uma preposição para o estabelecimento da relação Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
de regência. Os pronomes pessoais do caso oblíquo de Paguei minhas contas. / Paguei-as.
terceira pessoa que podem atuar como objetos indire- Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
tos são o “lhe”, o “lhes”, para substituir pessoas. Não se
utilizam os pronomes o, os, a, as como complementos Informar
de verbos transitivos indiretos. Com os objetos indiretos
que não representam pessoas, usam-se pronomes oblí- Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
quos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
LÍNGUA PORTUGUESA
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ços. possibilidades expressivas a quem fala ou escreve. Den-
Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou tre os principais, estão:
sobre eles)
Agradar
Observação:
A mesma regência do verbo informar é usada para os Agradar é transitivo direto no sentido de fazer cari-
seguintes: avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir. nhos, acariciar, fazer as vontades de.
Sempre agrada o filho quando.
Comparar Aquele comerciante agrada os clientes.
Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite Agradar é transitivo indireto no sentido de causar
as preposições “a” ou “com” para introduzir o comple- agrado a, satisfazer, ser agradável a. Rege complemento
mento indireto: Comparei seu comportamento ao (ou com introduzido pela preposição “a”.
o) de uma criança. O cantor não agradou aos presentes.
O cantor não lhes agradou.
Pedir
O antônimo “desagradar” é sempre transitivo indire-
Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente to: O cantor desagradou à plateia.
na forma de oração subordinada substantiva) e indireto
de pessoa. Aspirar
Pedi-lhe que se mantivesse em silêncio. Aspirar é transitivo indireto no sentido de desejar, ter
Objeto Indireto Oração Subordinada Substan- como ambição: Aspirávamos a um emprego melhor. (As-
tiva Objetiva Direta pirávamos a ele)
A construção “pedir para”, muito comum na lingua- Como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pes-
gem cotidiana, deve ter emprego muito limitado na lín- soa, as formas pronominais átonas “lhe” e “lhes” não são
gua culta. No entanto, é considerada correta quando a utilizadas, mas, sim, as formas tônicas “a ele(s)”, “a ela(s)”.
palavra licença estiver subentendida. Veja o exemplo: Aspiravam a uma existência melhor. (=
Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em Aspiravam a ela)
casa.
Assistir
Observe que, nesse caso, a preposição “para” intro-
duz uma oração subordinada adverbial final reduzida de Assistir é transitivo direto no sentido de ajudar, pres-
infinitivo (para ir entregar-lhe os catálogos em casa). tar assistência a, auxiliar.
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos.
Preferir As empresas de saúde negam-se a assisti-los.
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presen-
indireto introduzido pela preposição “a”: ciar, estar presente, caber, pertencer.
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais. Assistimos ao documentário.
Prefiro trem a ônibus. Não assisti às últimas sessões.
Essa lei assiste ao inquilino.
Observação:
Na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem No sentido de morar, residir, o verbo “assistir” é in-
termos intensificadores, tais como: muito, antes, mil ve- transitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de
zes, um milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo lugar introduzido pela preposição “em”: Assistimos numa
prefixo existente no próprio verbo (pre). conturbada cidade.
cado
Chamar é transitivo direto no sentido de convocar, so-
Há verbos que, de acordo com a mudança de transi- licitar a atenção ou a presença de.
tividade, apresentam mudança de significado. O conhe- Por gentileza, vá chamar a polícia. / Por favor, vá cha-
cimento das diferentes regências desses verbos é um re- má-la.
curso linguístico muito importante, pois além de permitir Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes.
a correta interpretação de passagens escritas, oferece
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Chamar no sentido de denominar, apelidar pode Quando o objeto é “coisa”, não se utiliza “lhe” nem
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere pre- “lhes”: As leis são essas, mas todos desobedecem a elas.
dicativo preposicionado ou não.
A torcida chamou o jogador mercenário. Proceder
A torcida chamou ao jogador mercenário.
A torcida chamou o jogador de mercenário. Proceder é intransitivo no sentido de ser decisivo, ter
A torcida chamou ao jogador de mercenário. cabimento, ter fundamento ou comportar-se, agir. Nessa
segunda acepção, vem sempre acompanhado de adjunto
Chamar com o sentido de ter por nome é pronominal: adverbial de modo.
Como você se chama? Eu me chamo Zenaide. As afirmações da testemunha procediam, não havia
como refutá-las.
Custar Você procede muito mal.
Custar é intransitivo no sentido de ter determinado Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a prepo-
valor ou preço, sendo acompanhado de adjunto adver- sição “de”) e fazer, executar (rege complemento introdu-
bial: Frutas e verduras não deveriam custar muito. zido pela preposição “a”) é transitivo indireto.
O avião procede de Maceió.
No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransiti- Procedeu-se aos exames.
vo ou transitivo indireto, tendo como sujeito uma oração O delegado procederá ao inquérito.
reduzida de infinitivo.
Querer
Muito custa viver tão longe da família.
Verbo Intransitivo Oração Subordinada Querer é transitivo direto no sentido de desejar, ter
Substantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo vontade de, cobiçar.
Querem melhor atendimento.
Custou-me (a mim) crer nisso. Queremos um país melhor.
Objeto Indireto Oração Subordinada Subs-
tantiva Subjetiva Reduzida de Infinitivo Querer é transitivo indireto no sentido de ter afeição,
estimar, amar: Quero muito aos meus amigos.
A Gramática Normativa condena as construções que
atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por Visar
pessoa: Custei para entender o problema.
= Forma correta: Custou-me entender o problema. Como transitivo direto, apresenta os sentidos de mi-
rar, fazer pontaria e de pôr visto, rubricar.
Implicar O homem visou o alvo.
O gerente não quis visar o cheque.
Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
No sentido de ter em vista, ter como meta, ter como
A) dar a entender, fazer supor, pressupor: Suas atitudes objetivo é transitivo indireto e rege a preposição “a”.
implicavam um firme propósito. O ensino deve sempre visar ao progresso social.
B) ter como consequência, trazer como consequência, Prometeram tomar medidas que visassem ao bem-es-
acarretar, provocar: Uma ação implica reação. tar público.
58
brada passa a funcionar como sujeito e o verbo sofre leve alteração de sentido. É uma construção muito rara na língua
contemporânea, porém, é fácil encontrá-la em textos clássicos tanto brasileiros como portugueses. Machado de Assis,
por exemplo, fez uso dessa construção várias vezes.
Esqueceu-me a tragédia. (cair no esquecimento)
Lembrou-me a festa. (vir à lembrança)
Não lhe lembram os bons momentos da infância? (= momentos é sujeito)
Simpatizar - Antipatizar
Importante:
A norma culta exige que os verbos e expressões que dão ideia de movimento sejam usados com a preposição “a”:
Chegamos a São Paulo e fomos direto ao hotel.
Cláudia desceu ao segundo andar.
Hoje, com esta chuva, ninguém sairá à rua.
Regência Nominal
É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse
nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em
conta que vários nomes apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de
um verbo significa, nesses casos, conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os
nomes correspondentes: todos regem complementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.
Se uma oração completar o sentido de um nome, ou seja, exercer a função de complemento nominal, ela será com-
pletiva nominal (subordinada substantiva).
Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
LÍNGUA PORTUGUESA
59
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de
Advérbios
Longe de Perto de
Observação:
Os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; pa-
ralelamente a; relativa a; relativamente a.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar - Português linguagens: volume 3. – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
SITE
EXERCÍCIOS COMENTADOS
O ano da esperança
O ano de 2017 foi difícil. Avalio pelo número de amigos desempregados. E pedidos de empréstimos. Um atrás
do outro. Nunca fui de botar dinheiro nas relações de amizade. Como afirmou Shakespeare, perde-se o dinheiro e
o amigo. Nos primeiros pedidos, eu ajudava, com a consciência de que era uma doação. A situação foi piorando. Os
argumentos também. No início era para pagar a escola do filho. Depois vieram as mães e avós doentes. Lamentavel-
mente, aprendi a não ser generoso. Ajudava um rapaz, que não conheço pessoalmente. Mas que sofreu um acidente
e não tinha como pagar a fisioterapia. Comecei pagando a físio. Vieram sucessivas internações, remédios. A situação
piorando, eu já estava encomendando missa de sétimo dia. Falei com um amigo médico, no Rio de Janeiro. Ele aceitou
tratar o caso gratuitamente. Surpresa! O doente não aparecia para a consulta. Até que o coloquei contra a parede. Ou
se consultava ou eu não ajudava mais.
Cheio de saúde, ele foi ao consultório. Pediu uma receita de suplementos para ficar com o corpo atlético. Nunca co-
nheci o sujeito, repito. Eu me senti um idiota por ter caído na história. Só que esse rapaz havia perdido o emprego após
o suposto acidente. Foi por isso que me deixei enganar. Mas, ao perder salário, muita gente perde também a vergonha.
Pior ainda. A violência aumenta. As pessoas buscam vagas nos mercados em expansão. Se a indústria automobilística
vai bem, é lá que vão trabalhar.
Podemos esperar por um futuro melhor ou o que nos aguarda é mais descrédito? Novos candidatos vão surgir.
Serão novos? Ou os antigos? Ou novos com cabeça de velhos? Todos pedem que a gente tenha uma nova consciência
para votar. Como? Num mundo em que as notícias são plantadas pela internet, em que muitos sites servem a qualquer
mentira. Digo por mim. Já contaram cada história a meu respeito que nem sei o que dizer. Já inventaram casos de
amor, tramas nas novelas que escrevo. Pior. Depois todo mundo me pergunta por que isso ou aquilo não aconteceu na
LÍNGUA PORTUGUESA
novela. Se mudei a trama. Respondo: — Nunca foi para acontecer. Era mentira da internet.
Duvidam. Acham que estou mentindo.
CARRASCO, W. O ano da esperança. Época, 25 dez. 2017, p.97. Adaptado.
Considere o trecho “Podemos esperar por um futuro melhor”. Respeitando-se as regras da norma-padrão e conservan-
do-se o conteúdo informacional, o trecho acima está corretamente reescrito em:
60
a) Podemos esperar para um futuro melhor levam as pessoas a se sentirem recompensadas.
b) Podemos esperar com um futuro melhor Em “e”: As pessoas, na maioria das vezes, gastam mui-
c) Podemos esperar um futuro melhor to mais do que o seu orçamento permite em apare-
d) Podemos esperar porquanto um futuro melhor lhos de que (= das quais) elas não necessitam.
e) Podemos esperar todavia um futuro melhor
3. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010)
Resposta: Letra C A pobreza é um dos fatores mais comumente respon-
Em “a”: Podemos esperar para um futuro melhor = po- sáveis pelo baixo nível de desenvolvimento humano
demos esperar o quê? e pela origem de uma série de mazelas, algumas das
Em “b”: Podemos esperar com um futuro melhor = po- quais proibidas por lei ou consideradas crimes. É o caso
demos esperar o quê? do trabalho infantil. A chaga encontra terreno fértil nas
Em “c”: Podemos esperar um futuro melhor = correta sociedades subdesenvolvidas, mas também viceja onde
Em “d”: Podemos esperar porquanto um futuro me- o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem, obriga
lhor = sentido de “porque” crianças e adolescentes a participarem do processo de
Em “e”: Podemos esperar todavia um futuro melhor = produção. Foi assim na Revolução Industrial de ontem
conjunção adversativa (ideia contrária à apresentada e nas economias ditas avançadas. E ainda é, nos dias de
anteriormente) hoje, nas manufaturas da Ásia ou em diversas regiões do
A única frase correta – e coerente - é podemos esperar Brasil. Enquanto, entre as nações ricas, o trabalho infantil
um futuro melhor. foi minimizado, já que nunca se pode dizer erradicado,
ele continua sendo grave problema nos países mais po-
2. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES- bres.
GRANRIO-2018) Considere a seguinte frase: “Os lança- Jornal do Brasil, Editorial, 1.º/7/2010 (com adaptações).
mentos tecnológicos a que o autor se refere podem re-
sultar em comportamentos impulsivos nos consumidores O emprego de preposição em “a participarem” é exigido
desses produtos”. A utilização da preposição destacada pela regência da forma verbal “obriga”.
a é obrigatória para atender às exigências da regência
do verbo “referir-se”, de acordo com a norma-padrão da ( ) CERTO ( ) ERRADO
língua portuguesa. É também obrigatório o uso de uma
preposição antecedendo o pronome que destacado em: Resposta: Certo
(...) o capitalismo, em seu ambiente mais selvagem,
a) Os consumidores, ao adquirirem um produto que qua- obriga crianças e adolescentes a participarem =
se ninguém possui, recém-lançado no mercado, pas- quem obriga, obriga alguém (crianças e adolescentes –
sam a ter uma sensação de superioridade. objeto direto) a algo (a participarem – objeto indireto:
b) Muitos aparelhos difundidos no mercado nem sempre com preposição – no caso, uma oração com a função
trazem novidades que justifiquem seu preço elevado de objeto indireto).
em relação ao modelo anterior.
c) O estudo de mapeamento cerebral que o pesquisador 4. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2013)
realizou foi importante para mostrar que o vício em Considerando as regras de regência verbal, assinale a al-
novidades tecnológicas cresce cada vez mais. ternativa correta.
d) O hormônio chamado dopamina é responsável por
causar sensações de prazer que levam as pessoas a se a) Ao ver a quantidade excessiva de prateleiras, o amigo
sentirem recompensadas. comentou de que o livro estava acabando.
e) As pessoas, na maioria das vezes, gastam muito mais b) Enquanto seu amigo continua encomendando livros
do que o seu orçamento permite em aparelhos que de papel, o autor aderiu o livro digital.
elas não necessitam. c) Álvaro convenceu-se de que o melhor a fazer seria sair
para jantar.
Resposta: Letra E d) As estantes que o autor aludiu foram projetadas para
Em “a”: Os consumidores, ao adquirirem um produto armazenar livros e CDs.
que (= o qual) quase ninguém possui, recém-lançado e) O único detalhe do apartamento que o amigo se ateve
no mercado, passam a ter uma sensação de superio- foi o número de estantes.
ridade.
Em “b”: Muitos aparelhos difundidos no mercado nem Resposta: Letra C
sempre trazem novidades que (= as quais) justifiquem Em “a”: Ao ver a quantidade excessiva de prateleiras, o
LÍNGUA PORTUGUESA
seu preço elevado em relação ao modelo anterior. amigo comentou de (X) que = comentou que
Em “c”: O estudo de mapeamento cerebral que (= o Em “b”: Enquanto seu amigo continua encomendando
qual) o pesquisador realizou foi importante para mos- livros de papel, o autor aderiu o = aderiu ao
trar que o vício em novidades tecnológicas cresce Em “c”: Álvaro convenceu-se de que o melhor a fazer
cada vez mais. seria sair para jantar = correta
Em “d”: O hormônio chamado dopamina é responsá- Em “d”: As estantes que o autor aludiu = às quais/a
vel por causar sensações de prazer que (= as quais) que
61
Em “e”: O único detalhe do apartamento que o amigo ceptores das nossas mensagens. Observe:
se ateve = ao qual/ a que 1. A desemprego globalização no Brasil e no na está
Latina América causando.
5. (TJ-SP – ADVOGADO - VUNESP/2013 - ADAPTADA) 2. A globalização está causando desemprego no Brasil
Na passagem – ... e ausência de candidatos para preen- e na América Latina.
chê-las. –, substituindo-se o verbo preencher por concor-
rer e atendendo-se à norma-padrão, obtém-se: Ora, no item 1 não temos uma ideia, pois não há uma
frase, as palavras estão amontoadas sem a realização
a) … e ausência de candidatos para concorrer a elas. de “uma sintaxe”, não há um contexto linguístico nem
b) … e ausência de candidatos para concorrer à elas. relação inteligível com a realidade; no caso 2, a sintaxe
c) … e ausência de candidatos para concorrer-lhes. ocorreu de maneira perfeita e o sentido está claro para
d) … e ausência de candidatos para concorrê-las. receptores de língua portuguesa inteirados da situação
e) … e ausência de candidatos para lhes concorrer. econômica e cultural do mundo atual.
frases. Para tanto, é necessário ter alguma noção de sin- todas contêm todos estes elementos, portanto cabem
taxe. “Sintaxe”, conforme o dicionário Aurélio, é a “parte algumas observações:
da gramática que estuda a disposição das palavras na
frase e a das frases no discurso, bem como a relação ló- A) As circunstâncias (de tempo, espaço, modo, etc.)
gica das frases entre si”; ou em outras palavras, sintaxe normalmente são representadas por adjuntos ad-
quer dizer “mistura”, isto é, saber misturar as palavras de verbiais de tempo, lugar, etc. Note que, no mais
maneira a produzirem um sentido evidente para os re- das vezes, quando queremos recordar algo ou
62
narrar uma história, existe a tendência a colocar os a regra básica n.º 2 para a colocação da vírgula. Dito em
adjuntos nos começos das frases: outras palavras: quando intercalamos expressões e frases
“No Brasil e na América…” “Nos dias de hoje…” “Nas entre os termos da oração, devemos isolar os mesmos
minhas férias…”, “No Brasil…”. e logo depois os verbos com vírgulas. Vejamos:
e outros elementos: “Nas minhas férias fui…”; “No Brasil A globalização, fenômeno econômico deste fim de sé-
existe…” culo XX, causa desemprego no Brasil.
Aqui um aposto à globalização foi intercalado entre o
Observações: sujeito e o verbo.
Tais construções não estão erradas, mas rompem com
a ordem direta; Outros exemplos:
É preciso notar que em Língua Portuguesa, há mui- A globalização, que é um fenômeno econômico e cul-
tas frases que não têm sujeito, somente predicado. Por tural, está causando desemprego no Brasil e na América
exemplo: Está chovendo em Porto Alegre. Faz frio em Fri- Latina.
burgo. São quatro horas agora; Neste caso, há uma oração adjetiva intercalada.
Outras frases são construídas com verbos intransiti- As orações adjetivas explicativas desempenham fre-
vos, que não têm complemento: quentemente um papel semelhante ao do aposto expli-
O menino morreu na Alemanha. (sujeito +verbo+ ad- cativo, por isto são também isoladas por vírgula.
junto adverbial) A globalização causa, caro leitor, desemprego no Bra-
A globalização nasceu no século XX. (idem) sil…
Há ainda frases nominais que não possuem verbos: Neste outro caso, há um vocativo entre o verbo e o
cada macaco no seu galho. Nestes tipos de frase, a or- seu complemento.
dem direta faz-se naturalmente. Usam-se apenas os ter-
mos existentes nelas. A globalização causa desemprego, e isto é lamentável,
no Brasil…
Levando em consideração a ordem direta, podemos Aqui, há uma oração intercalada (note que ela não
estabelecer três regras básicas para o uso da vírgula: pertence ao assunto: globalização, da frase principal, tal
Se os termos estão colocados na ordem direta não oração é apenas um comentário à parte entre o comple-
haverá a necessidade de vírgulas. A frase 2 é um exem- mento verbal e os adjuntos).
plo disto:
A globalização está causando desemprego no Brasil e Observação:
na América Latina. A simples negação em uma frase não exige vírgula: A
globalização não causou desemprego no Brasil e na Amé-
Todavia, ao repetir qualquer um dos termos da ora- rica Latina.
ção por três vezes ou mais, então é necessário usar a vír-
gula, mesmo que estejamos usando a ordem direta. Esta C) Quando “quebramos” a ordem direta, invertendo-
é a regra básica n.º1 para a colocação da vírgula. Veja: -a, tal quebra torna a vírgula necessária. Esta é a regra n.º
A globalização, a tecnologia e a “ciranda financeira” 3 da colocação da vírgula.
causam desemprego… No Brasil e na América Latina, a globalização está cau-
(três núcleos do sujeito) sando desemprego…
No fim do século XX, a globalização causou desempre-
A globalização causa desemprego no Brasil, na Améri- go no Brasil…
ca Latina e na África.
(três adjuntos adverbiais) Nota-se que a quebra da ordem direta frequente-
mente se dá com a colocação das circunstâncias antes
A globalização está causando desemprego, insatisfa- do sujeito. Trata-se da ordem inversa. Estas circunstân-
ção e sucateamento industrial no Brasil e na América Lati- cias, em gramática, são representadas pelos adjuntos ad-
na. (três complementos verbais) verbiais. Muitas vezes, elas são colocadas em orações
chamadas adverbiais que têm uma função semelhante
B) Em princípio, não devemos, na ordem direta, se- a dos adjuntos adverbiais, isto é, denotam tempo, lugar,
parar com vírgula o sujeito e o verbo, nem o verbo etc. Exemplos:
e o seu complemento, nem o complemento e as Quando o século XX estava terminando, a globalização
circunstâncias, ou seja, não devemos separar com começou a causar desemprego.
vírgula os termos da oração. Veja exemplos de tal Enquanto os países portadores de alta tecnologia de-
LÍNGUA PORTUGUESA
63
um exemplo muito comum cobrado em provas é o enun- de ferro férreo
ciado trazer uma frase no singular e pedir a passagem
para o plural, mantendo o sentido. Outro exemplo é a de fogo ígneo
mudança de tempos verbais. de garganta gutural
de gelo glacial
SITE
de guerra bélico
Disponível em: <http://ricardovigna.wordpress. de homem viril ou humano
com/2009/02/02/estudos-de-linguagem-1-estrutura- de ilha insular
-frasal-e-pontuacao/>
de inverno hibernal ou invernal
de lago lacustre
EMPREGO DAS CLASSES GRAMATICAIS. de leão leonino
de lebre leporino
de lua lunar ou selênico
CLASSES DE PALAVRAS
de madeira lígneo
1. ADJETIVO de mestre magistral
de ouro áureo
É a palavra que expressa uma qualidade ou caracte-
de paixão passional
rística do ser e se relaciona com o substantivo, concor-
dando com este em gênero e número. de pâncreas pancreático
As praias brasileiras estão poluídas. de porco suíno ou porcino
Praias = substantivo; brasileiras/poluídas = adjetivos
dos quadris ciático
(plural e feminino, pois concordam com “praias”).
de rio fluvial
Locução adjetiva de sonho onírico
de velho senil
Locução = reunião de palavras. Sempre que são ne-
cessárias duas ou mais palavras para falar sobre a mes- de vento eólico
ma coisa, tem-se locução. Às vezes, uma preposição + de vidro vítreo ou hialino
substantivo tem o mesmo valor de um adjetivo: é a Lo- de virilha inguinal
cução Adjetiva (expressão que equivale a um adjetivo).
Por exemplo: aves da noite (aves noturnas), paixão sem de visão óptico ou ótico
freio (paixão desenfreada).
Observação:
Observe outros exemplos: Nem toda locução adjetiva possui um adjetivo corres-
pondente, com o mesmo significado: Vi as alunas da 5ª
série. / O muro de tijolos caiu.
de águia aquilino
de aluno discente Morfossintaxe do Adjetivo (Função Sintática):
de anjo angelical
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função
de ano anual dentro de uma oração) relativas aos substantivos, atuan-
de aranha aracnídeo do como adjunto adnominal ou como predicativo (do
de boi bovino sujeito ou do objeto).
de cabelo capilar
Adjetivo Pátrio (ou gentílico)
de cabra caprino
de campo campestre ou rural Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser.
Observe alguns deles:
de chuva pluvial
de criança pueril Estados e cidades brasileiras:
LÍNGUA PORTUGUESA
de dedo digital
de estômago estomacal ou gástrico Alagoas alagoano
de falcão falconídeo Amapá amapaense
de farinha farináceo Aracaju aracajuano ou aracajuense
de fera ferino Amazonas amazonense ou baré
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Belo Horizonte belo-horizontino Número dos Adjetivos
A) Comparativo
LÍNGUA PORTUGUESA
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comparação é introduzido pelas palavras como, quanto de um ser é intensificada em relação a um conjunto de
ou quão. seres. Essa relação pode ser:
Sou mais alto (do) que você. = Comparativo de Supe- • De Superioridade: Essa matéria é a mais fácil de
rioridade todas.
• De Inferioridade: Essa matéria é a menos fácil de
Sílvia é menos alta que Tiago. = Comparativo de In- todas.
ferioridade
O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente,
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. São antepostos ao adjetivo.
eles: bom /melhor, pequeno/menor, mau/pior, alto/supe- O superlativo absoluto sintético se apresenta sob
rior, grande/maior, baixo/inferior. duas formas: uma erudita - de origem latina – e outra
popular - de origem vernácula. A forma erudita é cons-
Observe que: tituída pelo radical do adjetivo latino + um dos sufixos
• As formas menor e pior são comparativos de supe- -íssimo, -imo ou érrimo: fidelíssimo, facílimo, paupérrimo;
rioridade, pois equivalem a mais pequeno e mais a popular é constituída do radical do adjetivo português
mau, respectivamente. + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
• Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas Os adjetivos terminados em –io fazem o superlativo
(melhor, pior, maior e menor), porém, em compa- com dois “ii”: frio – friíssimo, sério – seriíssimo; os termi-
rações feitas entre duas qualidades de um mesmo nados em –eio, com apenas um “i”: feio - feíssimo, cheio
elemento, deve-se usar as formas analíticas mais – cheíssimo.
bom, mais mau,mais grande e mais pequeno. Por
exemplo: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Pedro é maior do que Paulo - Comparação de dois
elementos. CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
Pedro é mais grande que pequeno - comparação de char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
duas qualidades de um mesmo elemento. – São Paulo: Saraiva, 2010.
Sou menos alto (do) que você. = Comparativo de In- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
ferioridade Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Sou menos passivo (do) que tolerante. Português: novas palavras: literatura, gramática, reda-
ção / Emília Amaral... [et al.]. – São Paulo: FTD, 2000.
B) Superlativo
O superlativo expressa qualidades num grau muito SITE
elevado ou em grau máximo. Pode ser absoluto ou rela-
tivo e apresenta as seguintes modalidades: Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
coes/morf/morf32.php>
B.1 Superlativo Absoluto: ocorre quando a quali-
dade de um ser é intensificada, sem relação com outros 2. ADVÉRBIO
seres. Apresenta-se nas formas:
• Analítica: a intensificação é feita com o auxílio de Compare estes exemplos:
palavras que dão ideia de intensidade (advérbios). O ônibus chegou.
Por exemplo: O concurseiro é muito esforçado. O ônibus chegou ontem.
• Sintética: nessa, há o acréscimo de sufixos. Por
exemplo: O concurseiro é esforçadíssimo. Advérbio é uma palavra invariável que modifica o
sentido do verbo (acrescentando-lhe circunstâncias de
Observe alguns superlativos sintéticos: tempo, de modo, de lugar, de intensidade), do adjetivo e
do próprio advérbio.
benéfico beneficentíssimo Estudei bastante. = modificando o verbo estudei
Ele canta muito bem! = intensificando outro advérbio
bom boníssimo ou ótimo
(bem)
comum comuníssimo Ela tem os olhos muito claros. = relação com um ad-
jetivo (claros)
LÍNGUA PORTUGUESA
cruel crudelíssimo
difícil dificílimo
Quando modifica um verbo, o advérbio pode acres-
doce dulcíssimo centar ideia de:
fácil facílimo Tempo: Ela chegou tarde.
fiel fidelíssimo Lugar: Ele mora aqui.
Modo: Eles agiram mal.
B.2 Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade Negação: Ela não saiu de casa.
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Dúvida: Talvez ele volte. pressa, acinte, debalde, devagar, às pressas, às cla-
ras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos
Flexão do Advérbio poucos, desse jeito, desse modo, dessa maneira, em
geral, frente a frente, lado a lado, a pé, de cor, em
Os advérbios são palavras invariáveis, isto é, não apre- vão e a maior parte dos que terminam em “-men-
sentam variação em gênero e número. Alguns advérbios, te”: calmamente, tristemente, propositadamente,
porém, admitem a variação em grau. Observe: pacientemente, amorosamente, docemente, escan-
dalosamente, bondosamente, generosamente.
A) Grau Comparativo D) Afirmação: sim, certamente, realmente, decerto,
Forma-se o comparativo do advérbio do mesmo efetivamente, certo, decididamente, deveras, indu-
modo que o comparativo do adjetivo: bitavelmente.
• de igualdade: tão + advérbio + quanto (como): Re- E) Negação: não, nem, nunca, jamais, de modo algum,
nato fala tão alto quanto João. de forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum.
• de inferioridade: menos + advérbio + que (do F) Dúvida: acaso, porventura, possivelmente, pro-
que): Renato fala menos alto do que João. vavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo,
• de superioridade: quem sabe.
G) Intensidade: muito, demais, pouco, tão, em ex-
A.1 Analítico: mais + advérbio + que (do que): Renato cesso, bastante, mais, menos, demasiado, quanto,
fala mais alto do que João. quão, tanto, assaz, que (equivale a quão), tudo,
A.2 Sintético: melhor ou pior que (do que): Renato nada, todo, quase, de todo, de muito, por completo,
fala melhor que João. extremamente, intensamente, grandemente, bem
(quando aplicado a propriedades graduáveis).
B) Grau Superlativo H) Exclusão: apenas, exclusivamente, salvo, senão, so-
O superlativo pode ser analítico ou sintético: mente, simplesmente, só, unicamente. Por exemplo:
B.1 Analítico: acompanhado de outro advérbio: Re- Brando, o vento apenas move a copa das árvores.
nato fala muito alto. I) Inclusão: ainda, até, mesmo, inclusivamente, tam-
muito = advérbio de intensidade / alto = advérbio bém. Por exemplo: O indivíduo também amadurece
de modo durante a adolescência.
B.2 Sintético: formado com sufixos: Renato fala al- J) Ordem: depois, primeiramente, ultimamente. Por
tíssimo. exemplo: Primeiramente, eu gostaria de agradecer
aos meus amigos por comparecerem à festa.
Observação:
As formas diminutivas (cedinho, pertinho, etc.) são Saiba que:
comuns na língua popular. Para se exprimir o limite de possibilidade, antepõe-se
Maria mora pertinho daqui. (muito perto) ao advérbio “o mais” ou “o menos”. Por exemplo: Ficarei
A criança levantou cedinho. (muito cedo) o mais longe que puder daquele garoto. Voltarei o menos
tarde possível.
Classificação dos Advérbios Quando ocorrem dois ou mais advérbios em -mente,
em geral sufixamos apenas o último: O aluno respondeu
De acordo com a circunstância que exprime, o advér- calma e respeitosamente.
bio pode ser de:
Distinção entre Advérbio e Pronome Indefinido
A) Lugar: aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, aco-
lá, atrás, além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, Há palavras como muito, bastante, que podem apare-
perto, aí, abaixo, aonde, longe, debaixo, algures, de- cer como advérbio e como pronome indefinido.
fronte, nenhures, adentro, afora, alhures, nenhures, Advérbio: refere-se a um verbo, adjetivo, ou a outro
aquém, embaixo, externamente, a distância, à dis- advérbio e não sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muito.
tância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à Pronome Indefinido: relaciona-se a um substantivo
esquerda, ao lado, em volta. e sofre flexões. Por exemplo: Eu corri muitos quilômetros.
B) Tempo: hoje, logo, primeiro, ontem, tarde, outrora,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente,
antes, doravante, nunca, então, ora, jamais, agora,
sempre, já, enfim, afinal, amiúde, breve, constan-
LÍNGUA PORTUGUESA
67
Quanto a sua função sintática: o advérbio e a locução
#FicaDica adverbial desempenham na oração a função de adjunto
adverbial, classificando-se de acordo com as circunstân-
Como saber se a palavra bastante é
cias que acrescentam ao verbo, ao adjetivo ou ao advér-
advérbio (não varia, não se flexiona) ou
bio. Exemplo:
pronome indefinido (varia, sofre flexão)? Se
Meio cansada, a candidata saiu da sala. = adjunto ad-
der, na frase, para substituir o “bastante” por
verbial de intensidade (ligado ao adjetivo “cansada”)
“muito”, estamos diante de um advérbio; se
der para substituir por “muitos” (ou muitas), Trovejou muito ontem. = adjunto adverbial de intensi-
é um pronome. Veja: dade e de tempo, respectivamente.
1. Estudei bastante para o concurso. (estudei
muito, pois “muitos” não dá!) = advérbio REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
2. Estudei bastantes capítulos para o concurso. CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
(estudei muitos capítulos) = pronome char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
indefinido – São Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
Advérbios Interrogativos SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
São as palavras: onde? aonde? donde? quando? como?
por quê? nas interrogações diretas ou indiretas, referen- SITE
tes às circunstâncias de lugar, tempo, modo e causa. Veja: Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
coes/morf/morf75.php>
Interrogação Direta Interrogação Indireta
3. ARTIGO
Como aprendeu? Perguntei como aprendeu
Onde mora? Indaguei onde morava O artigo integra as dez classes gramaticais, definindo-
-se como o termo variável que serve para individualizar
Por que choras? Não sei por que choras
ou generalizar o substantivo, indicando, também, o gê-
Aonde vai? Perguntei aonde ia nero (masculino/feminino) e o número (singular/plural).
Donde vens? Pergunto donde vens Os artigos se subdividem em definidos (“o” e as va-
Quando voltas? Pergunto quando voltas riações “a”[as] e [os]) e indefinidos (“um” e as variações
“uma”[s] e “uns]).
Locução Adverbial
A) Artigos definidos – São usados para indicar seres
Quando há duas ou mais palavras que exercem fun- determinados, expressos de forma individual: O
ção de advérbio, temos a locução adverbial, que pode concurseiro estuda muito. Os concurseiros estudam
expressar as mesmas noções dos advérbios. Iniciam ordi- muito.
nariamente por uma preposição. Veja: B) Artigos indefinidos – usados para indicar seres de
modo vago, impreciso: Uma candidata foi aprova-
A) lugar: à esquerda, à direita, de longe, de perto, da! Umas candidatas foram aprovadas!
para dentro, por aqui, etc.
B) afirmação: por certo, sem dúvida, etc.
C) modo: às pressas, passo a passo, de cor, em vão, Circunstâncias em que os artigos se manifestam:
em geral, frente a frente, etc.
D) tempo: de noite, de dia, de vez em quando, à tarde, Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do
hoje em dia, nunca mais, etc. numeral “ambos”: Ambos os concursos cobrarão tal con-
teúdo.
A locução adverbial e o advérbio modificam o verbo, Nomes próprios indicativos de lugar (ou topônimos)
o adjetivo e outro advérbio: admitem o uso do artigo, outros não: São Paulo, O Rio de
Chegou muito cedo. (advérbio) Janeiro, Veneza, A Bahia...
Joana é muito bela. (adjetivo) Quando indicado no singular, o artigo definido pode
De repente correram para a rua. (verbo) indicar toda uma espécie: O trabalho dignifica o homem.
No caso de nomes próprios personativos, denotando
LÍNGUA PORTUGUESA
Usam-se, de preferência, as formas mais bem e mais a ideia de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso
mal antes de adjetivos ou de verbos no particípio: do artigo: Marcela é a mais extrovertida das irmãs. / O
Essa matéria é mais bem interessante que aquela. Pedro é o xodó da família.
Nosso aluno foi o mais bem colocado no concurso! No caso de os nomes próprios personativos estarem
O numeral “primeiro”, ao modificar o verbo, é advér- no plural, são determinados pelo uso do artigo: Os Maias,
bio: Cheguei primeiro. os Incas, Os Astecas...
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Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) Morfossintaxe da Conjunção
para conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (do
artigo), o pronome assume a noção de “qualquer”. As conjunções, a exemplo das preposições, não exer-
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) cem propriamente uma função sintática: são conectivos.
Toda classe possui alunos interessados e desinteressa-
dos. (qualquer classe) Classificação da Conjunção
Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é fa- De acordo com o tipo de relação que estabelecem,
cultativo: Preparei o meu curso. Preparei meu curso. as conjunções podem ser classificadas em coordenati-
A utilização do artigo indefinido pode indicar uma vas e subordinativas. No primeiro caso, os elementos
ideia de aproximação numérica: O máximo que ele deve ligados pela conjunção podem ser isolados um do outro.
ter é uns vinte anos. Esse isolamento, no entanto, não acarreta perda da uni-
O artigo também é usado para substantivar palavras dade de sentido que cada um dos elementos possui. Já
pertencentes a outras classes gramaticais: Não sei o por- no segundo caso, cada um dos elementos ligados pela
quê de tudo isso. / O bem vence o mal. conjunção depende da existência do outro. Veja:
Estudei muito, mas ainda não compreendi o conteúdo.
Há casos em que o artigo definido não pode ser Podemos separá-las por ponto:
usado: Estudei muito. Ainda não compreendi o conteúdo.
Antes de nomes de cidade (topônimo) e de pessoas Temos acima um exemplo de conjunção (e, conse-
conhecidas: O professor visitará Roma. quentemente, orações coordenadas) coordenativa –
Mas, se o nome apresentar um caracterizador, a pre- “mas”. Já em:
sença do artigo será obrigatória: O professor visitará a Espero que eu seja aprovada no concurso!
bela Roma.
Não conseguimos separar uma oração da outra, pois
Antes de pronomes de tratamento: Vossa Senhoria a segunda “completa” o sentido da primeira (da oração
sairá agora? principal): Espero o quê? Ser aprovada. Nesse período te-
Exceção: O senhor vai à festa? mos uma oração subordinada substantiva objetiva direta
(ela exerce a função de objeto direto do verbo da oração
Após o pronome relativo “cujo” e suas variações: Esse principal).
é o concurso cujas provas foram anuladas?/ Este é o can-
didato cuja nota foi a mais alta. Conjunções Coordenativas
Além da preposição, há outra palavra também inva- ou... ou, ora... ora, já... já, quer... quer, seja... seja, tal-
riável que, na frase, é usada como elemento de ligação: vez... talvez.
a conjunção. Ela serve para ligar duas orações ou duas Ou escolho agora, ou fico sem presente de aniversário.
palavras de mesma função em uma oração:
O concurso será realizado nas cidades de Campinas e D) Conclusivas: ligam a oração anterior a uma oração
São Paulo. que expressa ideia de conclusão ou consequência.
A prova não será fácil, por isso estou estudando muito. São elas: logo, pois (depois do verbo), portanto, por
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conseguinte, por isso, assim.
Marta estava bem preparada para o teste, portanto #FicaDica
não ficou nervosa.
Você deve ter percebido que a conjunção
Você nos ajudou muito; terá, pois, nossa gratidão.
condicional “se” também é conjunção
integrante. A diferença é clara ao ler as
E) Explicativas: ligam a oração anterior a uma oração
orações que são introduzidas por ela. Acima,
que a explica, que justifica a ideia nela contida. São
ela nos dá a ideia da condição para que
elas: que, porque, pois (antes do verbo), porquanto. recebamos um telefonema (se for preciso
Não demore, que o filme já vai começar. ajuda). Já na oração: Não sei se farei o
Falei muito, pois não gosto do silêncio! concurso. = Não há ideia de condição
alguma, há? Outra coisa: o verbo da oração
Conjunções Subordinativas principal (sei) pede complemento (objeto
direto, já que “quem não sabe, não sabe
São aquelas que ligam duas orações, sendo uma de- algo”). Portanto, a oração em destaque
las dependente da outra. A oração dependente, intro- exerce a função de objeto direto da oração
duzida pelas conjunções subordinativas, recebe o nome principal, sendo classificada como oração
de oração subordinada. Veja o exemplo: O baile já tinha subordinada substantiva objetiva direta.
começado quando ela chegou.
O baile já tinha começado: oração principal
quando: conjunção subordinativa (adverbial tempo- D) Conformativas: introduzem uma oração que ex-
ral) prime a conformidade de um fato com outro. São
ela chegou: oração subordinada elas: conforme, como (= conforme), segundo, con-
soante, etc.
As conjunções subordinativas subdividem-se em in- O passeio ocorreu como havíamos planejado.
tegrantes e adverbiais:
E) Finais: introduzem uma oração que expressa a fi-
Integrantes - Indicam que a oração subordinada por nalidade ou o objetivo com que se realiza a oração
elas introduzida completa ou integra o sentido da prin- principal. São elas: para que, a fim de que, que, por-
cipal. Introduzem orações que equivalem a substantivos, que (= para que), que, etc.
ou seja, as orações subordinadas substantivas. São elas: Toque o sinal para que todos entrem no salão.
que, se.
Quero que você volte. (Quero sua volta) F) Proporcionais: introduzem uma oração que ex-
pressa um fato relacionado proporcionalmente à
Adverbiais - Indicam que a oração subordinada exer- ocorrência do expresso na principal. São elas: à
ce a função de adjunto adverbial da principal. De acordo medida que, à proporção que, ao passo que e as
com a circunstância que expressam, classificam-se em: combinações quanto mais... (mais), quanto menos...
(menos), quanto menos... (mais), quanto menos...
A) Causais: introduzem uma oração que é causa da (menos), etc.
ocorrência da oração principal. São elas: porque, O preço fica mais caro à medida que os produtos es-
que, como (= porque, no início da frase), pois que, casseiam.
visto que, uma vez que, porquanto, já que, desde
que, etc. Observação:
Ele não fez a pesquisa porque não dispunha de meios. São incorretas as locuções proporcionais à medida
em que, na medida que e na medida em que.
B) Concessivas: introduzem uma oração que expres-
sa ideia contrária à da principal, sem, no entanto, G) Temporais: introduzem uma oração que acrescen-
impedir sua realização. São elas: embora, ainda ta uma circunstância de tempo ao fato expresso na
que, apesar de que, se bem que, mesmo que, por oração principal. São elas: quando, enquanto, antes
mais que, posto que, conquanto, etc. que, depois que, logo que, todas as vezes que, desde
Embora fosse tarde, fomos visitá-lo. que, sempre que, assim que, agora que, mal (= as-
sim que), etc.
C) Condicionais: introduzem uma oração que indica A briga começou assim que saímos da festa.
a hipótese ou a condição para ocorrência da prin-
LÍNGUA PORTUGUESA
cipal. São elas: se, caso, contanto que, salvo se, a H) Comparativas: introduzem uma oração que ex-
não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc. pressa ideia de comparação com referência à ora-
Se precisar de minha ajuda, telefone-me. ção principal. São elas: como, assim como, tal como,
como se, (tão)... como, tanto como, tanto quanto, do
que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (com-
binado com menos ou mais), etc.
O jogo de hoje será mais difícil que o de ontem.
70
I) Consecutivas: introduzem uma oração que expres- cio!”
sa a consequência da principal. São elas: de sorte
que, de modo que, sem que (= que não), de forma Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio!
que, de jeito que, que (tendo como antecedente na puxa: interjeição; tom da fala: euforia
oração principal uma palavra como tal, tão, cada,
tanto, tamanho), etc. Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte!
Estudou tanto durante a noite que dormiu na hora do puxa: interjeição; tom da fala: decepção
exame.
As interjeições cumprem, normalmente, duas funções:
A) Sintetizar uma frase exclamativa, exprimindo ale-
FIQUE ATENTO! gria, tristeza, dor, etc.: Ah, deve ser muito interes-
Muitas conjunções não têm classificação sante!
única, imutável, devendo, portanto, ser B) Sintetizar uma frase apelativa: Cuidado! Saia da
classificadas de acordo com o sentido que minha frente.
apresentam no contexto (destaque da Zê!).
As interjeições podem ser formadas por:
• simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS • palavras: Oba! Olá! Claro!
• grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Deus! Ora bolas!
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- Classificação das Interjeições
char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010. Comumente, as interjeições expressam sentido de:
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000. A) Advertência: Cuidado! Devagar! Calma! Sentido!
Atenção! Olha! Alerta!
SITE B) Afugentamento: Fora! Passa! Rua!
C) Alegria ou Satisfação: Oh! Ah! Eh! Oba! Viva!
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se- D) Alívio: Arre! Uf! Ufa! Ah!
coes/morf/morf84.php> E) Animação ou Estímulo: Vamos! Força! Coragem!
Ânimo! Adiante!
5. INTERJEIÇÃO F) Aplauso ou Aprovação: Bravo! Bis! Apoiado! Viva!
G) Concordância: Claro! Sim! Pois não! Tá!
Interjeição é a palavra invariável que exprime emo- H) Repulsa ou Desaprovação: Credo! Ih! Francamen-
ções, sensações, estados de espírito. É um recurso da lin- te! Essa não! Chega! Basta!
guagem afetiva, em que não há uma ideia organizada de I) Desejo ou Intenção: Pudera! Tomara! Oxalá! Quei-
maneira lógica, como são as sentenças da língua, mas ra Deus!
sim a manifestação de um suspiro, um estado da alma J) Desculpa: Perdão!
decorrente de uma situação particular, um momento ou K) Dor ou Tristeza: Ai! Ui! Ai de mim! Que pena!
um contexto específico. Exemplos: L) Dúvida ou Incredulidade: Que nada! Qual o quê!
Ah, como eu queria voltar a ser criança! M) Espanto ou Admiração: Oh! Ah! Uai! Puxa! Céus!
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição Quê! Caramba! Opa! Nossa! Hein? Cruz! Putz!
Hum! Esse pudim estava maravilhoso! N) Impaciência ou Contrariedade: Hum! Raios!
hum: expressão de um pensamento súbito = inter- Puxa! Pô! Ora!
jeição O) Pedido de Auxílio: Socorro! Aqui! Piedade!
P) Saudação, Chamamento ou Invocação: Salve!
O significado das interjeições está vinculado à ma- Viva! Olá! Alô! Tchau! Psiu! Socorro! Valha-me,
neira como elas são proferidas. O tom da fala é que dita Deus!
o sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto Q) Silêncio: Psiu! Silêncio!
em que for utilizada. Exemplos: R) Terror ou Medo: Credo! Cruzes! Minha nossa!
contexto: alguém pronunciando esta expressão na As interjeições são palavras invariáveis, isto é, não so-
rua ; significado da interjeição (sugestão): “Estou te cha- frem variação em gênero, número e grau como os no-
mando! Ei, espere!” mes, nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e
voz como os verbos. No entanto, em uso específico, al-
Psiu! gumas interjeições sofrem variação em grau. Não se trata
contexto: alguém pronunciando em um hospital; sig- de um processo natural desta classe de palavra, mas tão
nificado da interjeição (sugestão): “Por favor, faça silên- só uma variação que a linguagem afetiva permite. Exem-
71
plos: oizinho, bravíssimo, até loguinho. década, dúzia, par, ambos(as), novena.
Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma A) Cardinais: indicam quantidade exata ou determi-
expressão com sentido de interjeição: Ora bolas!, Virgem nada de seres: um, dois, cem mil, etc. Alguns car-
Maria!, Meu Deus!, Ó de casa!, Ai de mim!, Graças a Deus! dinais têm sentido coletivo, como por exemplo:
Toda frase mais ou menos breve dita em tom excla- século, par, dúzia, década, bimestre.
mativo torna-se uma locução interjetiva, dispensando B) Ordinais: indicam a ordem, a posição que alguém
análise dos termos que a compõem: Macacos me mor- ou alguma coisa ocupa numa determinada se-
dam!, Valha-me Deus!, Quem me dera! quência: primeiro, segundo, centésimo, etc.
1. As interjeições são como frases resumidas, sinté- As palavras anterior, posterior, último, antepenúltimo,
ticas. Por exemplo: Ué! (= Eu não esperava por final e penúltimo também indicam posição dos seres,
essa!) / Perdão! (= Peço-lhe que me desculpe) mas são classificadas como adjetivos, não ordinais.
2. Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é
o seu tom exclamativo; por isso, palavras de outras C) Fracionários: indicam parte de uma quantidade,
classes gramaticais podem aparecer como inter- ou seja, uma divisão dos seres: meio, terço, dois
jeições. Por exemplo: Viva! Basta! (Verbos) / Fora! quintos, etc.
Francamente! (Advérbios) D) Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação
3. A interjeição pode ser considerada uma “palavra- dos seres, indicando quantas vezes a quantidade
-frase” porque sozinha pode constituir uma men- foi aumentada: dobro, triplo, quíntuplo, etc.
sagem. Por exemplo: Socorro! Ajudem-me! Silêncio!
Fique quieto! Flexão dos numerais
4. Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imi-
tativas, que exprimem ruídos e vozes. Por exemplo: Os numerais cardinais que variam em gênero são um/
Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof! Catapimba! Tique-ta- uma, dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/
que! Quá-quá-quá!, etc. duzentas em diante: trezentos/trezentas, quatrocentos/
5. Não se deve confundir a interjeição de apelo «ó» quatrocentas, etc. Cardinais como milhão, bilhão, trilhão,
com a sua homônima «oh!», que exprime admira- variam em número: milhões, bilhões, trilhões. Os demais
ção, alegria, tristeza, etc. Faz-se uma pausa depois cardinais são invariáveis.
do «oh!» exclamativo e não a fazemos depois do
«ó» vocativo. Por exemplo: “Ó natureza! ó mãe pie- Os numerais ordinais variam em gênero e número:
dosa e pura!” (Olavo Bilac)
primeiro segundo milésimo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa primeira segunda milésima
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. primeiros segundos milésimos
CAMPEDELLI, Samira Yousseff, SOUZA, Jésus Barbosa primeiras segundas milésimas
- Português – Literatura, Produção de Textos & Gramática
– volume único – 3.ª Ed. – São Paulo: Saraiva, 2002. Os numerais multiplicativos são invariáveis quando
atuam em funções substantivas: Fizeram o dobro do es-
SITE forço e conseguiram o triplo de produção.
Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se- Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
coes/morf/morf89.php> flexionam-se em gênero e número: Teve de tomar doses
triplas do medicamento.
6. NUMERAL Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e
número. Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/
Numeral é a palavra variável que indica quantidade duas terças partes.
numérica ou ordem; expressa a quantidade exata de pes- Os numerais coletivos flexionam-se em número: uma
soas ou coisas ou o lugar que elas ocupam numa deter- dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
minada sequência. É comum na linguagem coloquial a indicação de grau
Os numerais traduzem, em palavras, o que os núme-
LÍNGUA PORTUGUESA
72
Os numerais são escritos em conjunto de três algarismos, contados da direita para a esquerda, em forma de cente-
nas, dezenas e unidades, tendo cada conjunto uma separação através de ponto ou espaço correspondente a um ponto:
8.234.456 ou 8 234 456.
Em sentido figurado, usa-se o numeral para indicar exagero intencional, constituindo a figura de linguagem conhe-
cida como hipérbole: Já li esse texto mil vezes.
No português contemporâneo, não se usa a conjunção “e” após “mil”, seguido de centena: Nasci em mil novecentos
e noventa e dois.
Seu salário será de mil quinhentos e cinquenta reais.
Mas, se a centena começa por “zero” ou termina por dois zeros, usa-se o “e”: Seu salário será de mil e quinhentos
reais. (R$1.500,00)
Gastamos mil e quarenta reais. (R$1.040,00)
Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até
décimo e, a partir daí, os cardinais, desde que o numeral venha depois do substantivo;
Ordinais Cardinais
João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
Se o numeral aparece antes do substantivo, será lido como ordinal: XXX Feira do Bordado. (trigésima)
#FicaDica
Ordinal lembra ordem. Memorize assim, por
associação. Ficará mais fácil!
Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal até nono e o cardinal de dez em diante:
Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
Ambos/ambas = numeral dual, porque sempre se refere a dois seres. Significam “um e outro”, “os dois” (ou “uma
e outra”, “as duas”) e são largamente empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez referência. Sua uti-
lização exige a presença do artigo posposto: Ambos os concursos realizarão suas provas no mesmo dia. O artigo só é
dispensado caso haja um pronome demonstrativo: Ambos esses ministros falarão à imprensa.
73
Onze Décimo Primeiro - Onze Avos
Doze Décimo Segundo - Doze Avos
Treze Décimo Terceiro - Treze Avos
Catorze Décimo Quarto - Catorze Avos
Quinze Décimo Quinto - Quinze Avos
Dezesseis Décimo Sexto - Dezesseis Avos
Dezessete Décimo Sétimo - Dezessete Avos
Dezoito Décimo Oitavo - Dezoito Avos
Dezenove Décimo Nono - Dezenove Avos
Vinte Vigésimo - Vinte Avos
Trinta Trigésimo - Trinta Avos
Quarenta Quadragésimo - Quarenta Avos
Cinqüenta Quinquagésimo - Cinquenta Avos
Sessenta Sexagésimo - Sessenta Avos
Setenta Septuagésimo - Setenta Avos
Oitenta Octogésimo - Oitenta Avos
Noventa Nonagésimo - Noventa Avos
Cem Centésimo Cêntuplo Centésimo
Duzentos Ducentésimo - Ducentésimo
Trezentos Trecentésimo - Trecentésimo
Quatrocentos Quadringentésimo - Quadringentésimo
Quinhentos Quingentésimo - Quingentésimo
Seiscentos Sexcentésimo - Sexcentésimo
Setecentos Septingentésimo Septingentésimo
Oitocentos Octingentésimo Octingentésimo
Nongentésimo ou
Novecentos Nongentésimo
Noningentésimo
Mil Milésimo Milésimo
Milhão Milionésimo Milionésimo
Milhão Bilionésimo Bilionésimo
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform. – São
Paulo: Saraiva, 2010.
AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras: literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
SITE
7. PREPOSIÇÃO
LÍNGUA PORTUGUESA
Preposição é uma palavra invariável que serve para ligar termos ou orações. Quando esta ligação acontece, nor-
malmente há uma subordinação do segundo termo em relação ao primeiro. As preposições são muito importantes na
estrutura da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores semânticos indispensáveis para a compreen-
são do texto.
74
Tipos de Preposição Assunto = Falemos sobre futebol.
Tempo = Chegarei em instantes.
A) Preposições essenciais: palavras que atuam ex- Causa = Chorei de saudade.
clusivamente como preposições: a, ante, perante, Fim ou finalidade = Vim para ficar.
após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, Instrumento = Escreveu a lápis.
por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para Posse = Vi as roupas da mamãe.
com. Autoria = livro de Machado de Assis
B) Preposições acidentais: palavras de outras classes Companhia = Estarei com ele amanhã.
gramaticais que podem atuar como preposições, Matéria = copo de cristal.
ou seja, formadas por uma derivação imprópria: Meio = passeio de barco.
como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segun- Origem = Nós somos do Nordeste.
do, senão, visto. Conteúdo = frascos de perfume.
C) Locuções prepositivas: duas ou mais palavras va- Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
lendo como uma preposição, sendo que a última Preço = Essa roupa sai por cinquenta reais.
palavra é uma (preposição): abaixo de, acerca de,
acima de, ao lado de, a respeito de, de acordo com, Quanto à preposição “trás”: não se usa senão nas
em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de, locuções adverbiais (para trás ou por trás) e na locução
graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por prepositiva por trás de.
cima de, por trás de.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
A preposição é invariável, no entanto pode unir-se
a outras palavras e, assim, estabelecer concordância em SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
gênero ou em número. Exemplo: por + o = pelo / por + Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
a = pela. CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
Essa concordância não é característica da preposição, char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
mas das palavras às quais ela se une. – São Paulo: Saraiva, 2010.
Esse processo de junção de uma preposição com ou- AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
tra palavra pode se dar a partir dos processos de: literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
75
[tua/tu: pronomes de 2.ª pessoa = aquele a quem se -me até aqui”.
fala]
A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada. Frequentemente observamos a omissão do pronome
[dela/ela: pronomes de 3.ª pessoa = aquele de quem reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias
se fala] formas verbais marcam, através de suas desinências, as
pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto: Fizemos
Em termos morfológicos, os pronomes são palavras boa viagem. (Nós)
variáveis em gênero (masculino ou feminino) e em nú-
mero (singular ou plural). Assim, espera-se que a refe- B) Pronome Oblíquo
rência através do pronome seja coerente em termos de Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na
gênero e número (fenômeno da concordância) com o sentença, exerce a função de complemento verbal
seu objeto, mesmo quando este se apresenta ausente no (objeto direto ou indireto): Ofertaram-nos flores. (ob-
enunciado. jeto indireto)
Fala-se de Roberta. Ele quer participar do desfile da
nossa escola neste ano. Observação:
[nossa: pronome que qualifica “escola” = concordân- O pronome oblíquo é uma forma variante do prono-
cia adequada] me pessoal do caso reto. Essa variação indica a função
[neste: pronome que determina “ano” = concordân- diversa que eles desempenham na oração: pronome reto
cia adequada] marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = con- complemento da oração. Os pronomes oblíquos sofrem
cordância inadequada] variação de acordo com a acentuação tônica que pos-
suem, podendo ser átonos ou tônicos.
Existem seis tipos de pronomes: pessoais, possessivos,
demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos. B.1 Pronome Oblíquo Átono
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não
Pronomes Pessoais são precedidos de preposição. Possuem acentuação tô-
nica fraca: Ele me deu um presente.
São aqueles que substituem os substantivos, indican- Lista dos pronomes oblíquos átonos
do diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou 1.ª pessoa do singular (eu): me
escreve assume os pronomes “eu” ou “nós”; usa-se os 2.ª pessoa do singular (tu): te
pronomes “tu”, “vós”, “você” ou “vocês” para designar a 3.ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe
quem se dirige, e “ele”, “ela”, “eles” ou “elas” para fazer 1.ª pessoa do plural (nós): nos
referência à pessoa ou às pessoas de quem se fala. 2.ª pessoa do plural (vós): vos
Os pronomes pessoais variam de acordo com as fun- 3.ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes
ções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto
ou do caso oblíquo.
FIQUE ATENTO!
A) Pronome Reto Os pronomes o, os, a, as assumem formas
Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sen- especiais depois de certas terminações
tença, exerce a função de sujeito: Nós lhe ofertamos verbais:
flores.
Os pronomes retos apresentam flexão de número, 1. Quando o verbo termina em -z, -s ou
gênero (apenas na 3.ª pessoa) e pessoa, sendo essa úl- -r, o pronome assume a forma lo, los, la
tima a principal flexão, uma vez que marca a pessoa do ou las, ao mesmo tempo que a terminação
discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é verbal é suprimida. Por exemplo:
assim configurado: fiz + o = fi-lo
fazeis + o = fazei-lo
1.ª pessoa do singular: eu
dizer + a = dizê-la
2.ª pessoa do singular: tu
3.ª pessoa do singular: ele, ela
2. Quando o verbo termina em som nasal,
1.ª pessoa do plural: nós o pronome assume as formas no, nos, na,
2.ª pessoa do plural: vós nas. Por exemplo:
3.ª pessoa do plural: eles, elas viram + o: viram-no
LÍNGUA PORTUGUESA
repõe + os = repõe-nos
Esses pronomes não costumam ser usados como retém + a: retém-na
complementos verbais na língua-padrão. Frases como tem + as = tem-nas
“Vi ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu
até aqui”- comuns na língua oral cotidiana - devem ser
evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua for- B.2 Pronome Oblíquo Tônico
mal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspon- Os pronomes oblíquos tônicos são sempre precedi-
dentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a na praça”, “Trouxeram- dos por preposições, em geral as preposições a, para, de
76
e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a sujeito da oração. Indicam que o sujeito pratica e recebe
função de objeto indireto da oração. Possuem acentua- a ação expressa pelo verbo.
ção tônica forte.
Lista dos pronomes oblíquos tônicos: Lista dos pronomes reflexivos:
1.ª pessoa do singular (eu): mim, comigo 1.ª pessoa do singular (eu): me, mim = Eu não me
2.ª pessoa do singular (tu): ti, contigo lembro disso.
3.ª pessoa do singular (ele, ela): si, consigo, ele, ela 2.ª pessoa do singular (tu): te, ti = Conhece a ti mesmo.
1.ª pessoa do plural (nós): nós, conosco 3.ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo = Gui-
2.ª pessoa do plural (vós): vós, convosco lherme já se preparou.
3.ª pessoa do plural (eles, elas): si, consigo, eles, elas Ela deu a si um presente.
Antônio conversou consigo mesmo.
Observe que as únicas formas próprias do pronome
tônico são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa 1.ª pessoa do plural (nós): nos = Lavamo-nos no rio.
(ti). As demais repetem a forma do pronome pessoal do 2.ª pessoa do plural (vós): vos = Vós vos beneficiastes
caso reto. com esta conquista.
3.ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo = Eles se
As preposições essenciais introduzem sempre prono-
conheceram. / Elas deram a si um dia de folga.
mes pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso
reto. Nos contextos interlocutivos que exigem o uso da
língua formal, os pronomes costumam ser usados desta #FicaDica
forma:
Não há mais nada entre mim e ti. O pronome é reflexivo quando se refere
Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela. à mesma pessoa do pronome subjetivo
Não há nenhuma acusação contra mim. (sujeito): Eu me arrumei e saí.
Não vá sem mim. É pronome recíproco quando indica
reciprocidade de ação: Nós nos amamos. /
Há construções em que a preposição, apesar de sur- Olhamo-nos calados.
gir anteposta a um pronome, serve para introduzir uma O “se” pode ser usado como palavra
oração cujo verbo está no infinitivo. Nesses casos, o ver- expletiva ou partícula de realce, sem ser
bo pode ter sujeito expresso; se esse sujeito for um pro- rigorosamente necessária e sem função
sintática: Os exploradores riam-se de suas
nome, deverá ser do caso reto.
tentativas. / Será que eles se foram?
Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
Não vá sem eu mandar.
C) Pronomes de Tratamento
A frase: “Foi fácil para mim resolver aquela questão!”
São pronomes utilizados no tratamento formal, ceri-
está correta, já que “para mim” é complemento de “fá-
monioso. Apesar de indicarem nosso interlocutor (por-
cil”. A ordem direta seria: Resolver aquela questão foi fácil
tanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na terceira
para mim!
pessoa. Alguns exemplos:
Vossa Alteza (V. A.) = príncipes, duques
A combinação da preposição “com” e alguns prono-
Vossa Eminência (V. E.ma) = cardeais
mes originou as formas especiais comigo, contigo, consi-
Vossa Reverendíssima (V. Ver.ma) = sacerdotes e reli-
go, conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
giosos em geral
frequentemente exercem a função de adjunto adverbial
Vossa Excelência (V. Ex.ª) = oficiais de patente supe-
de companhia: Ele carregava o documento consigo.
rior à de coronel, senadores, deputados, embaixadores,
A preposição “até” exige as formas oblíquas tônicas:
professores de curso superior, ministros de Estado e de
Ela veio até mim, mas nada falou.
Tribunais, governadores, secretários de Estado, presiden-
Mas, se “até” for palavra denotativa (com o sentido de
te da República (sempre por extenso)
inclusão), usaremos as formas retas: Todos foram bem na
Vossa Magnificência (V. Mag.ª) = reitores de univer-
prova, até eu! (= inclusive eu)
sidades
As formas “conosco” e “convosco” são substituídas
Vossa Majestade (V. M.) = reis, rainhas e imperadores
por “com nós” e “com vós” quando os pronomes pes-
Vossa Senhoria (V. S.a) = comerciantes em geral, ofi-
soais são reforçados por palavras como outros, mesmos,
ciais até a patente de coronel, chefes de seção e funcio-
próprios, todos, ambos ou algum numeral.
nários de igual categoria
Você terá de viajar com nós todos.
LÍNGUA PORTUGUESA
77
nhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são em- Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1.ª pessoa do
pregados no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, singular)
no tratamento familiar. Você e vocês são largamente em-
pregados no português do Brasil; em algumas regiões, a Número Pessoa Pronome
forma tu é de uso frequente; em outras, pouco emprega-
da. Já a forma vós tem uso restrito à linguagem litúrgica, Singular Primeira Meu(s), minha(s)
ultraformal ou literária. Singular Segunda Teu(s), tua(s)
Singular Terceira Seu(s), sua(s)
Observações:
Plural Primeira Nosso(s), nossa(s)
1. Vossa Excelência X Sua Excelência: os pronomes de Plural Segunda Vosso(s), vossa(s)
tratamento que possuem “Vossa(s)” são emprega- Plural Terceira Seu(s), sua(s)
dos em relação à pessoa com quem falamos: Es-
pero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este Note que:
encontro. A forma do possessivo depende da pessoa gramatical
a que se refere; o gênero e o número concordam com o
2. Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito objeto possuído: Ele trouxe seu apoio e sua contribuição
da pessoa: Todos os membros da C.P.I. afirmaram naquele momento difícil.
que Sua Excelência, o Senhor Presidente da Repúbli-
ca, agiu com propriedade. Observações:
3. Os pronomes de tratamento representam uma for- 1. A forma “seu” não é um possessivo quando resul-
ma indireta de nos dirigirmos aos nossos interlo- tar da alteração fonética da palavra senhor: Muito
cutores. Ao tratarmos um deputado por Vossa Ex- obrigado, seu José.
celência, por exemplo, estamos nos endereçando à
excelência que esse deputado supostamente tem 2. Os pronomes possessivos nem sempre indicam
para poder ocupar o cargo que ocupa. posse. Podem ter outros empregos, como:
A) indicar afetividade: Não faça isso, minha filha.
4. Embora os pronomes de tratamento dirijam-se à B) indicar cálculo aproximado: Ele já deve ter seus 40
2.ª pessoa, toda a concordância deve ser feita anos.
com a 3.ª pessoa. Assim, os verbos, os pronomes C) atribuir valor indefinido ao substantivo: Marisa tem
possessivos e os pronomes oblíquos empregados lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
em relação a eles devem ficar na 3.ª pessoa.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas pro- 3. Em frases onde se usam pronomes de tratamento,
messas, para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos. o pronome possessivo fica na 3.ª pessoa: Vossa Ex-
celência trouxe sua mensagem?
5. Uniformidade de Tratamento: quando escrevemos
ou nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, 4. Referindo-se a mais de um substantivo, o possessi-
ao longo do texto, a pessoa do tratamento esco- vo concorda com o mais próximo: Trouxe-me seus
lhida inicialmente. Assim, por exemplo, se começa- livros e anotações.
mos a chamar alguém de “você”, não poderemos
usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, ver- 5. Em algumas construções, os pronomes pessoais
bo na terceira pessoa. oblíquos átonos assumem valor de possessivo: Vou
seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos)
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos
teus cabelos. (errado) 6. O adjetivo “respectivo” equivale a “devido, seu, pró-
prio”, por isso não se deve usar “seus” ao utilizá-lo,
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos para que não ocorra redundância: Coloque tudo
seus cabelos. (correto) = terceira pessoa do singular nos respectivos lugares.
ou Pronomes Demonstrativos
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Esse(s), essa(s) e isso = indicam o que está perto da • o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e
pessoa com quem se fala: puderem ser substituídos por aquele(s), aquela(s),
Esse material em sua carteira é seu? aquilo.
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disses-
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam o que está te.)
distante tanto da pessoa que fala como da pessoa com Essa rua não é a que te indiquei. (não é aquela que te
quem se fala: indiquei.)
Aquele material não é nosso.
Vejam aquele prédio! • mesmo(s), mesma(s), próprio(s), própria(s): va-
riam em gênero quando têm caráter reforçativo:
B) Em relação ao tempo: Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
Este(s), esta(s) e isto = indicam o tempo presente em Eu mesma refiz os exercícios.
relação à pessoa que fala: Elas mesmas fizeram isso.
Esta manhã farei a prova do concurso! Eles próprios cozinharam.
Os próprios alunos resolveram o problema.
Esse(s), essa(s) e isso = indicam o tempo passado, po-
rém relativamente próximo à época em que se situa a • semelhante(s): Não tenha semelhante atitude.
pessoa que fala:
Essa noite dormi mal; só pensava no concurso! • tal, tais: Tal absurdo eu não cometeria.
Aquele(s), aquela(s) e aquilo = indicam um afastamen- 1. Em frases como: O referido deputado e o Dr. Alcides
to no tempo, referido de modo vago ou como tempo eram amigos íntimos; aquele casado, solteiro este.
remoto: (ou então: este solteiro, aquele casado) - este se re-
Naquele tempo, os professores eram valorizados. fere à pessoa mencionada em último lugar; aquele,
à mencionada em primeiro lugar.
C) Em relação ao falado ou escrito (ou ao que se falará 2. O pronome demonstrativo tal pode ter conotação
ou escreverá): irônica: A menina foi a tal que ameaçou o professor?
Este(s), esta(s) e isto = empregados quando se quer 3. Pode ocorrer a contração das preposições a, de,
fazer referência a alguma coisa sobre a qual ainda se fa- em com pronome demonstrativo: àquele, àquela,
lará: deste, desta, disso, nisso, no, etc: Não acreditei no
Serão estes os conteúdos da prova: análise sintática, que estava vendo. (no = naquilo)
ortografia, concordância.
Pronomes Indefinidos
Esse(s), essa(s) e isso = utilizados quando se pretende
fazer referência a alguma coisa sobre a qual já se falou: São palavras que se referem à 3.ª pessoa do discur-
Sua aprovação no concurso, isso é o que mais deseja- so, dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando
mos! quantidade indeterminada.
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém-
Este e aquele são empregados quando se quer fazer -plantadas.
referência a termos já mencionados; aquele se refere ao
termo referido em primeiro lugar e este para o referido Não é difícil perceber que “alguém” indica uma pes-
por último: soa de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de
forma imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar
Domingo, no Pacaembu, jogarão Palmeiras e São Pau- um ser humano que seguramente existe, mas cuja iden-
lo; este está mais bem colocado que aquele. (= este [São tidade é desconhecida ou não se quer revelar. Classifi-
Paulo], aquele [Palmeiras]) cam-se em:
79
Note que: Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem
Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora pro- expresso.
nomes indefinidos adjetivos: Quem casa, quer casa.
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, mui-
tos), demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, ne- Observe:
nhuns, nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os
qualquer, quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, quais, cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas,
tais, tanto(s), tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), quantas.
vários, várias. Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.
Menos palavras e mais ações.
Alguns se contentam pouco. Note que:
O pronome “que” é o relativo de mais largo empre-
Os pronomes indefinidos podem ser divididos em va- go, sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser
riáveis e invariáveis. Observe: substituído por o qual, a qual, os quais, as quais, quando
seu antecedente for um substantivo.
• Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vá- O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual)
rio, tanto, outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (=
muita, pouca, vária, tanta, outra, quanta, qualquer, a qual)
quaisquer*, alguns, nenhuns, todos, muitos, poucos, Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os
vários, tantos, outros, quantos, algumas, nenhumas, quais)
todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quan- As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (=
tas. as quais)
• Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada,
algo, cada. O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente
pronomes relativos, por isso são utilizados didaticamen-
*Qualquer é composto de qual + quer (do verbo que- te para verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde”
rer), por isso seu plural é quaisquer (única palavra cujo (que podem ter várias classificações) são pronomes rela-
plural é feito em seu interior). tivos. Todos eles são usados com referência à pessoa ou
coisa por motivo de clareza ou depois de determinadas
Todo e toda no singular e junto de artigo significa in- preposições: Regressando de São Paulo, visitei o sítio de
teiro; sem artigo, equivale a qualquer ou a todas as: minha tia, o qual me deixou encantado. O uso de “que”,
Toda a cidade está enfeitada. (= a cidade inteira) neste caso, geraria ambiguidade. Veja: Regressando de
Toda cidade está enfeitada. (= todas as cidades) São Paulo, visitei o sítio de minha tia, que me deixou en-
Trabalho todo o dia. (= o dia inteiro) cantado (quem me deixou encantado: o sítio ou minha
Trabalho todo dia. (= todos os dias) tia?).
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas
São locuções pronominais indefinidas: cada qual, dúvidas? (com preposições de duas ou mais sílabas utili-
cada um, qualquer um, quantos quer (que), quem quer za-se o qual / a qual)
(que), seja quem for, seja qual for, todo aquele (que), tal O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que,
qual (= certo), tal e qual, tal ou qual, um ou outro, uma e se refere a uma oração: Não chegou a ser padre, mas
ou outra, etc. deixou de ser poeta, que era a sua vocação natural.
Cada um escolheu o vinho desejado. O pronome “cujo”: exprime posse; não concorda com
o seu antecedente (o ser possuidor), mas com o conse-
Pronomes Relativos quente (o ser possuído, com o qual concorda em gêne-
ro e número); não se usa artigo depois deste pronome;
São aqueles que representam nomes já mencionados “cujo” equivale a do qual, da qual, dos quais, das quais.
anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem
as orações subordinadas adjetivas. Existem pessoas cujas ações são nobres.
O racismo é um sistema que afirma a superioridade de (antecedente) (consequente)
um grupo racial sobre outros.
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre ou- Se o verbo exigir preposição, esta virá antes do pro-
tros = oração subordinada adjetiva). nome: O autor, a cujo livro você se referiu, está aqui! (re-
feriu-se a)
LÍNGUA PORTUGUESA
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Ele fez tudo quanto havia falado. caso reto. Já na segunda oração, o pronome “lhe” exerce
(antecedente) função de complemento (objeto), ou seja, caso oblíquo.
Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discur-
O pronome “quem” se refere a pessoas e vem sempre so. O pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta
precedido de preposição. para a segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não
É um professor a quem muito devemos. sabia se devia ajudar... Ajudar quem? Você (lhe).
(preposição)
Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou
“Onde”, como pronome relativo, sempre possui ante- tônicos: os primeiros não são precedidos de preposição,
cedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar: A diferentemente dos segundos, que são sempre precedi-
casa onde morava foi assaltada. dos de preposição.
Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou A) Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o
em que: Sinto saudades da época em que (quando) morá- que eu estava fazendo.
vamos no exterior. B) Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para
mim o que eu estava fazendo.
Podem ser utilizadas como pronomes relativos as pa-
lavras: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• como (= pelo qual) – desde que precedida das pa- SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
lavras modo, maneira ou forma: Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
Não me parece correto o modo como você agiu sema- CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
na passada. char - Português linguagens: volume 2 – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010.
• quando (= em que) – desde que tenha como ante- AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
cedente um nome que dê ideia de tempo: literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
Bons eram os tempos quando podíamos jogar video- CAMPEDELLI, Samira Yousseff. Português – Literatura,
game. Produção de Texto & Gramática – Volume único / Samira
Yousseff Campedelli, Jésus Barbosa Souza. – 3.ª edição –
Os pronomes relativos permitem reunir duas orações São Paulo: Saraiva, 2002.
numa só frase.
O futebol é um esporte. / O povo gosta muito deste SITE
esporte.
= O futebol é um esporte de que o povo gosta muito. Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
coes/morf/morf42.php>
Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
ocorrer a elipse do relativo “que”: A sala estava cheia de Colocação Pronominal
gente que conversava, (que) ria, observava.
Colocação Pronominal trata da correta colocação dos
Pronomes Interrogativos pronomes oblíquos átonos na frase.
81
jamais, etc.: Não se desespere! Eu me tenho deliciado com a leitura!
B) Advérbios: Agora se negam a depor. • Não convém usar hífen nos tempos compostos e
C) Conjunções subordinativas: Espero que me expli- nas locuções verbais:
quem tudo! Vamos nos unir!
D) Pronomes relativos: Venceu o concurseiro que se Iremos nos manifestar.
esforçou. • Quando há um fator para próclise nos tempos com-
E) Pronomes indefinidos: Poucos te deram a oportu- postos ou locuções verbais: opção pelo uso do
nidade. pronome oblíquo “solto” entre os verbos = Não
F) Pronomes demonstrativos: Isso me magoa muito. vamos nos preocupar (e não: “não nos vamos preo-
cupar”).
• Orações iniciadas por palavras interrogativas: Quem
lhe disse isso? Emprego de o, a, os, as
• Orações iniciadas por palavras exclamativas: Quanto
se ofendem! • Em verbos terminados em vogal ou ditongo oral, os
• Orações que exprimem desejo (orações optativas): pronomes: o, a, os, as não se alteram.
Que Deus o ajude. Chame-o agora.
• A próclise é obrigatória quando se utiliza o prono- Deixei-a mais tranquila.
me reto ou sujeito expresso: Eu lhe entregarei o • Em verbos terminados em r, s ou z, estas consoantes
material amanhã. / Tu sabes cantar? finais alteram-se para lo, la, los, las. Exemplos:
(Encontrar) Encontrá-lo é o meu maior sonho.
Mesóclise = É a colocação pronominal no meio do (Fiz) Fi-lo porque não tinha alternativa.
verbo. A mesóclise é usada: • Em verbos terminados em ditongos nasais (am, em,
ão, õe), os pronomes o, a, os, as alteram-se para
Quando o verbo estiver no futuro do presente ou fu- no, na, nos, nas.
turo do pretérito, contanto que esses verbos não estejam Chamem-no agora.
precedidos de palavras que exijam a próclise. Exemplos: Põe-na sobre a mesa.
Realizar-se-á, na próxima semana, um grande evento em
prol da paz no mundo.
Repare que o pronome está “no meio” do verbo “rea- #FicaDica
lizará”: realizar – SE – á. Se houvesse na oração alguma Próclise – pró lembra pré; pré é prefixo que
palavra que justificasse o uso da próclise, esta prevalece- significa “antes”! Pronome antes do verbo!
ria. Veja: Não se realizará... Ênclise – “en” lembra, pelo “som”, /Ənd/
Não fossem os meus compromissos, acompanhar-te-ia (end, em Inglês – que significa “fim, final!).
nessa viagem. Pronome depois do verbo!
(com presença de palavra que justifique o uso de pró- Mesóclise – pronome oblíquo no Meio do
clise: Não fossem os meus compromissos, EU te acompa- verbo
nharia nessa viagem).
82
• qualidades: honestidade, sinceridade Os substantivos abstratos designam estados, quali-
• ações: corrida, pescaria dades, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem
ser abstraídos, e sem os quais não podem existir: vida
Morfossintaxe do substantivo (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade
(sentimento).
Nas orações, geralmente o substantivo exerce fun-
ções diretamente relacionadas com o verbo: atua como • Substantivos Coletivos
núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto di- Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha,
reto ou indireto) e do agente da passiva, podendo, ainda, outra abelha, mais outra abelha.
funcionar como núcleo do complemento nominal ou do Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas.
aposto, como núcleo do predicativo do sujeito, do obje- Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
to ou como núcleo do vocativo. Também encontramos
substantivos como núcleos de adjuntos adnominais e de Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi ne-
adjuntos adverbiais - quando essas funções são desem- cessário repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha,
penhadas por grupos de palavras. mais outra abelha. No segundo caso, utilizaram-se duas
palavras no plural. No terceiro, empregou-se um subs-
Classificação dos Substantivos tantivo no singular (enxame) para designar um conjunto
de seres da mesma espécie (abelhas).
A) Substantivos Comuns e Próprios O substantivo enxame é um substantivo coletivo.
Substantivo Coletivo: é o substantivo comum que,
Observe a definição: mesmo estando no singular, designa um conjunto de se-
res da mesma espécie.
Cidade: s.f. 1. Povoação maior que vila, com muitas
casas e edifícios, dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, Substantivo coletivo Conjunto de:
toda a sede de município é cidade). 2. O centro de uma
cidade (em oposição aos bairros). assembleia pessoas reunidas
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas alcateia lobos
e edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada acervo livros
cidade. Isso significa que a palavra cidade é um substan-
trechos literários
tivo comum. antologia
selecionados
Substantivo Comum é aquele que designa os seres
de uma mesma espécie de forma genérica: cidade, meni- arquipélago ilhas
no, homem, mulher, país, cachorro. banda músicos
Estamos voando para Barcelona.
desordeiros ou
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da bando
malfeitores
espécie cidade. Barcelona é um substantivo próprio –
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de banca examinadores
forma particular: Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil. batalhão soldados
cardume peixes
B) Substantivos Concretos e Abstratos
B.1 Substantivo Concreto: é aquele que designa o caravana viajantes peregrinos
ser que existe, independentemente de outros se- cacho frutas
res. cancioneiro canções, poesias líricas
colmeia abelhas
Observação:
Os substantivos concretos designam seres do mundo concílio bispos
real e do mundo imaginário. congresso parlamentares, cientistas
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra,
atores de uma peça ou
Brasília. elenco
filme
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantas-
ma. esquadra navios de guerra
enxoval roupas
B.2 Substantivo Abstrato: é aquele que designa se-
LÍNGUA PORTUGUESA
83
horda bandidos, invasores tuguesa. O substantivo limoeiro, por exemplo, é
derivado, pois se originou a partir da palavra limão.
médicos, bois, credores,
junta
examinadores B.2 Substantivo Derivado: é aquele que se origina
júri jurados de outra palavra.
legião soldados, anjos, demônios
Flexão dos substantivos
leva presos, recrutas
malfeitores ou O substantivo é uma classe variável. A palavra é variá-
malta
desordeiros vel quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por
manada búfalos, bois, elefantes, exemplo, pode sofrer variações para indicar:
Plural: meninos / Feminino: menina / Aumentativo:
matilha cães de raça
meninão / Diminutivo: menininho
molho chaves, verduras
multidão pessoas em geral A) Flexão de Gênero
insetos (gafanhotos, Gênero é um princípio puramente linguístico, não de-
nuvem vendo ser confundido com “sexo”. O gênero diz respeito
mosquitos, etc.)
a todos os substantivos de nossa língua, quer se refiram
penca bananas, chaves a seres animais providos de sexo, quer designem apenas
pinacoteca pinturas, quadros “coisas”: o gato/a gata; o banco, a casa.
quadrilha ladrões, bandidos Na língua portuguesa, há dois gêneros: masculino e
feminino. Pertencem ao gênero masculino os substanti-
ramalhete flores vos que podem vir precedidos dos artigos o, os, um, uns.
rebanho ovelhas Veja estes títulos de filmes:
peças teatrais, obras O velho e o mar
repertório Um Natal inesquecível
musicais
Os reis da praia
réstia alhos ou cebolas
romanceiro poesias narrativas Pertencem ao gênero feminino os substantivos que
revoada pássaros podem vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
sínodo párocos A história sem fim
Uma cidade sem passado
talha lenha As tartarugas ninjas
tropa muares, soldados
turma estudantes, trabalhadores Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
vara porcos 1. Substantivos Biformes (= duas formas): apresen-
tam uma forma para cada gênero: gato – gata, ho-
Formação dos Substantivos mem – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
2. Substantivos Uniformes: apresentam uma única
A) Substantivos Simples e Compostos forma, que serve tanto para o masculino quanto
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a para o feminino. Classificam-se em:
terra.
O substantivo chuva é formado por um único ele- A) Epicenos: referentes a animais. A distinção de sexo
mento ou radical. É um substantivo simples. se faz mediante a utilização das palavras “macho”
e “fêmea”: a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré
A.1 Substantivo Simples: é aquele formado por um macho e o jacaré fêmea.
único elemento. B) Sobrecomuns: substantivos uniformes referentes
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja a pessoas de ambos os sexos: a criança, a teste-
agora: O substantivo guarda-chuva é formado por dois munha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo, o in-
elementos (guarda + chuva). Esse substantivo é compos- divíduo.
to. C) Comuns de Dois ou Comum de Dois Gêneros:
A.2 Substantivo Composto: é aquele formado por indicam o sexo das pessoas por meio do artigo: o
LÍNGUA PORTUGUESA
dois ou mais elementos. Outros exemplos: beija- colega e a colega, o doente e a doente, o artista e
-flor, passatempo. a artista.
B) Substantivos Primitivos e Derivados Substantivos de origem grega terminados em ema
ou oma são masculinos: o fonema, o poema, o sistema, o
B.1 Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva sintoma, o teorema.
de nenhuma outra palavra da própria língua por-
84
• Existem certos substantivos que, variando de gêne- A palavra crianças se refere tanto a seres do sexo
ro, variam em seu significado: masculino, quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso,
o águia (vigarista) e a águia (ave; perspicaz); o cabeça nem o artigo nem um possível adjetivo permitem identi-
(líder) e a cabeça (parte do corpo); o capital (dinheiro) e ficar o sexo dos seres a que se refere a palavra. Veja:
a capital (cidade); o coma (sono mórbido) e a coma (ca- A criança chorona chamava-se João.
beleira, juba); o lente (professor) e a lente (vidro de au- A criança chorona chamava-se Maria.
mento); o moral (estado de espírito) e a moral (ética; con-
clusão); o praça (soldado raso) e a praça (área pública); Outros substantivos sobrecomuns:
o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora). a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma
boa criatura.
Formação do Feminino dos Substantivos Biformes o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O cônjuge de
Marcela faleceu
Regra geral: troca-se a terminação -o por –a: aluno
- aluna. Comuns de Dois Gêneros:
• Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
ao masculino: freguês - freguesa
• Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher?
de três formas: É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma
1. troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa vez que a palavra motorista é um substantivo uniforme.
2. troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã A distinção de gênero pode ser feita através da análi-
3. troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona se do artigo ou adjetivo, quando acompanharem o subs-
Exceções: barão – baronesa, ladrão - ladra, sultão - tantivo: o colega - a colega; o imigrante - a imigrante;
sultana um jovem - uma jovem; artista famoso - artista famosa;
repórter francês - repórter francesa
• Substantivos terminados em -or:
acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora A palavra personagem é usada indistintamente nos
troca-se -or por -triz: = imperador – imperatriz dois gêneros. Entre os escritores modernos nota-se
acentuada preferência pelo masculino: O menino desco-
• Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: côn- briu nas nuvens os personagens dos contos de carochinha.
sul - consulesa / abade - abadessa / poeta - poetisa Com referência à mulher, deve-se preferir o feminino:
/ duque - duquesa / conde - condessa / profeta - O problema está nas mulheres de mais idade, que não
profetisa aceitam a personagem.
• Substantivos que formam o feminino trocando o -e
final por -a: elefante - elefanta Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
• Substantivos que têm radicais diferentes no mascu- fotográfico Ana Belmonte.
lino e no feminino: bode – cabra / boi - vaca
• Substantivos que formam o feminino de maneira Masculinos: o tapa, o eclipse, o lança-perfume, o dó
especial, isto é, não seguem nenhuma das regras (pena), o sanduíche, o clarinete, o champanha, o sósia, o
anteriores: czar – czarina, réu - ré maracajá, o clã, o herpes, o pijama, o suéter, o soprano, o
proclama, o pernoite, o púbis.
Formação do Feminino dos Substantivos Unifor-
mes Femininos: a dinamite, a derme, a hélice, a omoplata,
a cataplasma, a pane, a mascote, a gênese, a entorse, a
Epicenos: libido, a cal, a faringe, a cólera (doença), a ubá (canoa).
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros.
São geralmente masculinos os substantivos de ori-
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. gem grega terminados em -ma: o grama (peso), o quilo-
Isso ocorre porque o substantivo jacaré tem apenas uma grama, o plasma, o apostema, o diagrama, o epigrama, o
forma para indicar o masculino e o feminino. telefonema, o estratagema, o dilema, o teorema, o trema,
Alguns nomes de animais apresentam uma só for- o eczema, o edema, o magma, o estigma, o axioma, o tra-
ma para designar os dois sexos. Esses substantivos são coma, o hematoma.
chamados de epicenos. No caso dos epicenos, quando Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
houver a necessidade de especificar o sexo, utilizam-se
LÍNGUA PORTUGUESA
palavras macho e fêmea. Gênero dos Nomes de Cidades - Com raras exce-
A cobra macho picou o marinheiro. ções, nomes de cidades são femininos: A histórica Ouro
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. Preto. / A dinâmica São Paulo. / A acolhedora Porto Ale-
gre. / Uma Londres imensa e triste.
Sobrecomuns: Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre.
Entregue as crianças à natureza.
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Gênero e Significação Observação:
A palavra réptil pode formar seu plural de duas ma-
Muitos substantivos têm uma significação no mascu- neiras: répteis ou reptis (pouco usada).
lino e outra no feminino. Observe:
o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai duas maneiras:
à frente de um bloco carnavalesco, manejando um bas- 1. Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o
tão), a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou acréscimo de “es”: ás – ases / retrós - retroses
proibição de trânsito), o cabeça (chefe), a cabeça (parte do 2. Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam in-
corpo), o cisma (separação religiosa, dissidência), a cisma variáveis: o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
(ato de cismar, desconfiança), o cinza (a cor cinzenta), a
cinza (resíduos de combustão), o capital (dinheiro), a ca- Os substantivos terminados em “ão” fazem o plural
pital (cidade), o coma (perda dos sentidos), a coma (ca- de três maneiras.
beleira), o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro), 1. substituindo o -ão por -ões: ação - ações
a coral (cobra venenosa), o crisma (óleo sagrado, usado 2. substituindo o -ão por -ães: cão - cães
na administração da crisma e de outros sacramentos), a 3. substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
crisma (sacramento da confirmação), o cura (pároco), a
cura (ato de curar), o estepe (pneu sobressalente), a estepe Observação:
(vasta planície de vegetação), o guia (pessoa que guia ou- Muitos substantivos terminados em “ão” apresentam
tras), a guia (documento, pena grande das asas das aves), dois – e até três – plurais:
o grama (unidade de peso), a grama (relva), o caixa (fun- aldeão – aldeões/aldeães/aldeãos ancião – an-
cionário da caixa), a caixa (recipiente, setor de pagamen- ciões/anciães/anciãos
tos), o lente (professor), a lente (vidro de aumento), o mo- charlatão – charlatões/charlatães corrimão –
ral (ânimo), a moral (honestidade, bons costumes, ética), corrimãos/corrimões
o nascente (lado onde nasce o Sol), a nascente (a fonte), guardião – guardiões/guardiães vilão – vilãos/
o maria-fumaça (trem como locomotiva a vapor), maria- vilões/vilães
-fumaça (locomotiva movida a vapor), o pala (poncho), a
pala (parte anterior do boné ou quepe, anteparo), o rádio Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis:
(aparelho receptor), a rádio (emissora), o voga (remador), o látex - os látex.
a voga (moda).
Plural dos Substantivos Compostos
B) Flexão de Número do Substantivo
Em português, há dois números gramaticais: o singu- A formação do plural dos substantivos compostos
lar, que indica um ser ou um grupo de seres, e o plural, depende da forma como são grafados, do tipo de pa-
que indica mais de um ser ou grupo de seres. A caracte- lavras que formam o composto e da relação que esta-
rística do plural é o “s” final. belecem entre si. Aqueles que são grafados sem hífen
comportam-se como os substantivos simples: aguar-
Plural dos Substantivos Simples dente/aguardentes, girassol/girassóis, pontapé/pontapés,
malmequer/malmequeres.
Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e O plural dos substantivos compostos cujos elementos
“n” fazem o plural pelo acréscimo de “s”: pai – pais; ímã – são ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas
ímãs; hífen - hifens (sem acento, no plural). e discussões. Algumas orientações são dadas a seguir:
Exceção: cânon - cânones.
A) Flexionam-se os dois elementos, quando forma-
Os substantivos terminados em “m” fazem o plural dos de:
em “ns”: homem - homens. substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-per-
pelo acréscimo de “es”: revólver – revólveres; raiz - raízes. feitos
adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-ho-
Atenção: mens
O plural de caráter é caracteres. numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam- B) Flexiona-se somente o segundo elemento,
LÍNGUA PORTUGUESA
-se no plural, trocando o “l” por “is”: quintal - quintais; quando formados de:
caracol – caracóis; hotel - hotéis. Exceções: mal e males, verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
cônsul e cônsules. palavra invariável + palavra variável = alto-falante e
Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de alto-falantes
duas maneiras: palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-
1. Quando oxítonos, em “is”: canil - canis -recos
2. Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
86
C) Flexiona-se somente o primeiro elemento, funi(s) + zinhos = funizinhos
quando formados de:
substantivo + preposição clara + substantivo = água- túnei(s) + zinhos = tuneizinhos
-de-colônia e águas-de-colônia pai(s) + zinhos = paizinhos
substantivo + preposição oculta + substantivo = ca- pé(s) + zinhos = pezinhos
valo-vapor e cavalos-vapor
substantivo + substantivo que funciona como deter- pé(s) + zitos = pezitos
minante do primeiro, ou seja, especifica a função ou o
tipo do termo anterior: palavra-chave - palavras-chave, Plural dos Nomes Próprios Personativos
bomba-relógio - bombas-relógio, homem-rã - homens-rã,
peixe-espada - peixes-espada. Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas
sempre que a terminação preste-se à flexão.
D) Permanecem invariáveis, quando formados de: Os Napoleões também são derrotados.
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora As Raquéis e Esteres.
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os
saca-rolhas Plural dos Substantivos Estrangeiros
87
molho (ó) = feixe (molho de lenha).
Do ponto de vista estrutural, o verbo pode apresentar
Há substantivos que só se usam no singular: o sul, o os seguintes elementos:
norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
Outros só no plural: as núpcias, os víveres, os pêsames, A) Radical: é a parte invariável, que expressa o signi-
as espadas/os paus (naipes de baralho), as fezes. ficado essencial do verbo. Por exemplo: fal-ei; fal-
Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do -ava; fal-am. (radical fal-)
singular: bem (virtude) e bens (riquezas), honra (probida-
de, bom nome) e honras (homenagem, títulos). B) Tema: é o radical seguido da vogal temática que
Usamos, às vezes, os substantivos no singular, mas indica a conjugação a que pertence o verbo. Por
com sentido de plural: Aqui morreu muito negro. exemplo: fala-r. São três as conjugações:
Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas 1.ª - Vogal Temática - A - (falar), 2.ª - Vogal Temática
improvisadas. - E - (vender), 3.ª - Vogal Temática - I - (partir).
tempo e modo. A estes tipos de flexão verbal dá-se o idênticas às de todos os verbos regulares da mes-
nome de conjugação (por isso também se diz que verbo ma conjugação. Por exemplo: comparemos os ver-
é a palavra que pode ser conjugada). Pode indicar, entre bos “cantar” e “falar”, conjugados no presente do
outros processos: ação (amarrar), estado (sou), fenôme- Modo Indicativo:
no (choverá); ocorrência (nascer); desejo (querer).
88
Canto Falo conjugação completa.
Amanheci cansado. (Sujeito desinencial: eu)
Cantas Falas Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos)
Canta Falas Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
Cantamos Falamos
4. O verbo passar (seguido de preposição), indicando
Cantais Falais tempo: Já passa das seis.
C) Defectivos: são aqueles que não apresentam con- Os verbos unipessoais podem ser usados como ver-
jugação completa. Os principais são adequar, pre- bos pessoais na linguagem figurada:
caver, computar, reaver, abolir, falir. Teu irmão amadureceu bastante.
D) Impessoais: são os verbos que não têm sujeito O que é que aquela garota está cacarejando?
e, normalmente, são usados na terceira pessoa do
singular. Os principais verbos impessoais são: Principais verbos unipessoais:
1. Haver, quando sinônimo de existir, acontecer, reali- • Cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer,
zar-se ou fazer (em orações temporais). ser (preciso, necessário):
Havia muitos candidatos no dia da prova. (Havia = Cumpre estudarmos bastante. (Sujeito: estudarmos
Existiam) bastante)
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Acontece- Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover)
ram) É preciso que chova. (Sujeito: que chova)
Haverá debates hoje. (Haverá = Realizar-se-ão)
Viajei a Madri há muitos anos. (há = faz) • Fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, se-
guidos da conjunção que.
2. Fazer, ser e estar (quando indicam tempo) Faz dez anos que viajei à Europa. (Sujeito: que viajei
Faz invernos rigorosos na Europa. à Europa)
Era primavera quando o conheci. Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não a
Estava frio naquele dia. vejo. (Sujeito: que não a vejo)
LÍNGUA PORTUGUESA
3. Todos os verbos que indicam fenômenos da natu- F) Abundantes: são aqueles que possuem duas ou
reza são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, tro- mais formas equivalentes, geralmente no particí-
vejar, amanhecer, escurecer, etc. Quando, porém, pio, em que, além das formas regulares terminadas
se constrói, “Amanheci cansado”, usa-se o verbo em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas cur-
“amanhecer” em sentido figurado. Qualquer verbo tas (particípio irregular).
impessoal, empregado em sentido figurado, dei- O particípio regular (terminado em “–do”) é utilizado
xa de ser impessoal para ser pessoal, ou seja, terá na voz ativa, ou seja, com os verbos ter e haver; o irregu-
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lar é empregado na voz passiva, ou seja, com os verbos ser, ficar e estar. Observe:
Particípio Particípio
Infinitivo
Regular Irregular
Aceitar Aceitado Aceito
Acender Acendido Aceso
Anexar Anexado Anexo
Benzer Benzido Bento
Corrigir Corrigido Correto
Dispersar Dispersado Disperso
Eleger Elegido Eleito
Envolver Envolvido Envolto
Imprimir Imprimido Impresso
Inserir Inserido Inserto
Limpar Limpado Limpo
Matar Matado Morto
Misturar Misturado Misto
Morrer Morrido Morto
Murchar Murchado Murcho
Pegar Pegado Pego
Romper Rompido Roto
Soltar Soltado Solto
Suspender Suspendido Suspenso
Tingir Tingido Tinto
Vagar Vagado Vago
Estes verbos e seus derivados possuem, apenas, o particípio irregular: abrir/aberto, cobrir/coberto, dizer/dito, escre-
ver/escrito, pôr/posto, ver/visto, vir/vindo.
G) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical em sua conjugação. Existem apenas dois: ser (sou, sois,
fui) e ir (fui, ia, vades).
H) Auxiliares: São aqueles que entram na formação dos tempos compostos e das locuções verbais. O verbo prin-
cipal (aquele que exprime a ideia fundamental, mais importante), quando acompanhado de verbo auxiliar, é
expresso numa das formas nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio.
Observação:
Os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e haver.
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És Foste Eras Foras Serás Serias
É Foi Era Fora Será Seria
Somos Fomos Éramos Fôramos Seremos Seríamos
Sois Fostes Éreis Fôreis Sereis Seríeis
São Foram Eram Foram Serão Seriam
Afirmativo Negativo
sê tu não sejas tu
seja você não seja você
sejamos nós não sejamos nós
sede vós não sejais vós
sejam vocês não sejam vocês
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esteja estivesse estiver
estejas estivesses estiveres está estejas
esteja estivesse estiver esteja esteja
estejamos estivéssemos estivermos estejamos estejamos
estejais estivésseis estiverdes estai estejais
estejam estivessem estiverem estejam estejam
havermos
haverdes
haverem
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TER - Modo Indicativo
I) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na
mesma pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais acidentais) ou apenas reforçando a ideia já
implícita no próprio sentido do verbo (pronominais essenciais). Veja:
• Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos:
abster-se, ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos verbos pronominais essenciais a refle-
xibilidade já está implícita no radical do verbo. Por exemplo: Arrependi-me de ter estado lá.
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela
mesma, pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o pronome oblíquo átono é apenas uma partícula
integrante do verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz-se que o pronome apenas serve de reforço
da ideia reflexiva expressa pelo radical do próprio verbo. Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e respec-
tivos pronomes):
Eu me arrependo, Tu te arrependes, Ele se arrepende, Nós nos arrependemos, Vós vos arrependeis, Eles se arrependem
• Acidentais: são aqueles verbos transitivos diretos em que a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto repre-
sentado por pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito faz uma ação que recai sobre ele
mesmo. Em geral, os verbos transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser conjugados com os
pronomes mencionados, formando o que se chama voz reflexiva. Por exemplo: A garota se penteava.
A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode ser exercida também sobre outra pessoa: A garota penteou-
-me.
Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
sintática.
Há verbos que também são acompanhados de pronomes oblíquos átonos, mas que não são essencialmente prono-
minais - são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à
do sujeito, exercem funções sintáticas. Por exemplo:
Eu me feri. = Eu (sujeito) – 1.ª pessoa do singular; me (objeto direto) – 1.ª pessoa do singular
LÍNGUA PORTUGUESA
Modos Verbais
Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo verbo na expressão de um fato certo, real, verdadeiro.
Existem três modos:
A) Indicativo - indica uma certeza, uma realidade: Eu estudo para o concurso.
B) Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade: Talvez eu estude amanhã.
C) Imperativo - indica uma ordem, um pedido: Estude, colega!
93
Formas Nominais Quando o particípio exprime somente estado, sem
nenhuma relação temporal, assume verdadeiramente a
Além desses três modos, o verbo apresenta ainda for- função de adjetivo. Por exemplo: Ela é a aluna escolhida
mas que podem exercer funções de nomes (substantivo, pela turma.
adjetivo, advérbio), sendo por isso denominadas formas
nominais. Observe:
A) Infinitivo
A.1 Impessoal: exprime a significação do verbo de
modo vago e indefinido, podendo ter valor e fun-
ção de substantivo. Por exemplo:
Viver é lutar. (= vida é luta) (Zi-
É indispensável combater a corrupção. (= combate à) raldo)
O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presen- Tempos Verbais
te (forma simples) ou no passado (forma composta). Por
exemplo: Tomando-se como referência o momento em que se
É preciso ler este livro. fala, a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diver-
Era preciso ter lido este livro. sos tempos.
A.2 Infinitivo Pessoal: é o infinitivo relacionado às A) Tempos do Modo Indicativo
três pessoas do discurso. Na 1.ª e 3.ª pessoas do
singular, não apresenta desinências, assumindo a Presente - Expressa um fato atual: Eu estudo neste
mesma forma do impessoal; nas demais, flexiona- colégio.
-se da seguinte maneira: Pretérito Imperfeito - Expressa um fato ocorrido
2.ª pessoa do singular: Radical + ES = teres (tu) num momento anterior ao atual, mas que não foi
1.ª pessoa do plural: Radical + MOS = termos (nós) completamente terminado: Ele estudava as lições
2.ª pessoa do plural: Radical + DES = terdes (vós) quando foi interrompido.
3.ª pessoa do plural: Radical + EM = terem (eles) Pretérito Perfeito - Expressa um fato ocorrido num
Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação. momento anterior ao atual e que foi totalmente
terminado: Ele estudou as lições ontem à noite.
B) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adje- Pretérito-mais-que-perfeito - Expressa um fato
tivo ou advérbio. Por exemplo: ocorrido antes de outro fato já terminado: Ele já
Saindo de casa, encontrei alguns amigos. (função de estudara as lições quando os amigos chegaram.
advérbio) (forma simples).
Água fervendo, pele ardendo. (função de adjetivo) Futuro do Presente - Enuncia um fato que deve
ocorrer num tempo vindouro com relação ao mo-
Na forma simples (1), o gerúndio expressa uma ação mento atual: Ele estudará as lições amanhã.
em curso; na forma composta (2), uma ação concluída: Futuro do Pretérito - Enuncia um fato que pode
Trabalhando (1), aprenderás o valor do dinheiro. ocorrer posteriormente a um determinado fato
Tendo trabalhado (2), aprendeu o valor do dinheiro. passado: Se ele pudesse, estudaria um pouco mais.
94
FIQUE ATENTO!
Há casos em que formas verbais de um determinado tempo podem ser utilizadas para indicar outro.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral descobre o Brasil.
descobre = forma do presente indicando passado ( = descobrira/descobriu)
No próximo final de semana, faço a prova!
faço = forma do presente indicando futuro ( = farei)
Modo Indicativo
Presente do Indicativo
Pretérito mais-que-perfeito
3.ª conjugação
1.ª conjugação 2.ª conjugação Des. temporal Desinência pessoal
1.ª/2.ª e 3.ª conj
CANTAR VENDER PARTIR
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
LÍNGUA PORTUGUESA
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Pretérito Imperfeito do Indicativo
Presente do Subjuntivo
Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1.ª conjugação) ou pela desinência -A (nos verbos de 2.ª e 3.ª conjugação).
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Pretérito Imperfeito do Subjuntivo
Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de
número e pessoa correspondente.
Des.temporal
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíSSEMOS SSE MOS
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSEM vendeSSEM partiSSEM SSE M
Futuro do Subjuntivo
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência -STE da 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito,
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a desinência temporal -R mais a desinência de
número e pessoa correspondente.
Des.temporal
1.ª conjugação 2.ª conjugação 3.ª conjugação Desin. pessoal
1.ª /2.ª e 3.ª conj.
CANTAR VENDER PARTIR
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES
cantaR vendeR partiR R Ø
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES
cantaREM vendeREM partiREM R EM
C) Modo Imperativo
Imperativo Afirmativo
Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente do indicativo a 2.ª pessoa do singular (tu) e a segunda
pessoa do plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, sem alteração, do presente do subjuntivo.
Veja:
Imperativo Negativo
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a negação às formas do presente do subjuntivo.
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Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo Vozes do Verbo
• O verbo parecer admite duas construções: A voz passiva pode ser formada por dois processos:
Elas parecem gostar de você. (forma uma locução ver- analítico e sintético.
bal)
Elas parece gostarem de você. (verbo com sujeito ora- A) Voz Passiva Analítica = Constrói-se da seguinte
cional, correspondendo à construção: parece gostarem de maneira:
você). Verbo SER + particípio do verbo principal. Por exem-
plo:
• O verbo pegar possui dois particípios (regular e ir- A escola será pintada pelos alunos. (na ativa teríamos:
regular): os alunos pintarão a escola)
Elvis tinha pegado minhas apostilas. O trabalho é feito por ele. (na ativa: ele faz o trabalho)
Minhas apostilas foram pegas.
Observações:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
• O agente da passiva geralmente é acompanhado
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa da preposição por, mas pode ocorrer a construção
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010. com a preposição de. Por exemplo: A casa ficou cer-
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- cada de soldados.
char - Português linguagens: volume 2. – 7.ª ed. Reform.
– São Paulo: Saraiva, 2010. • Pode acontecer de o agente da passiva não estar
AMARAL, Emília... [et al.] - Português: novas palavras: explícito na frase: A exposição será aberta amanhã.
literatura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000.
LÍNGUA PORTUGUESA
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ativa) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Ele faz o trabalho. (presente do indicativo) SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa
O trabalho é feito por ele. (ser no presente do indica- Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
tivo) CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co-
char - Português linguagens: volume 2. – 7.ª ed. Reform.
Ele fará o trabalho. (futuro do presente) – São Paulo: Saraiva, 2010.
O trabalho será feito por ele. (futuro do presente) AMARAL, Emília... [et al.]. Português: novas palavras:
literatura, gramática, redação – São Paulo: FTD, 2000.
• Nas frases com locuções verbais, o verbo SER as-
sume o mesmo tempo e modo do verbo principal SITE
da voz ativa. Observe a transformação da frase se-
guinte: Disponível em: <http://www.soportugues.com.br/se-
O vento ia levando as folhas. (gerúndio) coes/morf/morf54.php>
As folhas iam sendo levadas pelo vento. (gerúndio)
99
Respondo: — Nunca foi para acontecer. Era mentira da mais eficaz para que adote-se = que se adote
internet.
Duvidam. Acham que estou mentindo. 3. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – ARQUI-
CARRASCO, W. O ano da esperança. Época, 25 dez. TETURA – FGV-2017-ADAPTADA) Se substituíssemos
2017, p.97. Adaptado. os complementos dos verbos abaixo por pronomes pes-
soais oblíquos enclíticos, a única forma INADEQUADA
No trecho “perde-se o dinheiro e o amigo”, a colocação seria:
do pronome átono em destaque está de acordo com a
norma-padrão da língua portuguesa. O mesmo ocorre a) impregna a vida cotidiana / impregna-a;
em: b) entender os debates / entendê-los;
c) ganha destaque / ganha-o;
a) Não se perde nem o dinheiro nem o amigo. d) supõe um conhecimento / supõe-lo;
b) Perderia-se o dinheiro e o amigo. e) marcaram sua história / marcaram-na.
c) O dinheiro e o amigo tinham perdido-se.
d) Se perdeu o dinheiro, mas não o amigo. Resposta: Letra D
e) Se o amigo que perdeu-se voltasse, ficaria feliz. Em “a”: impregna a vida cotidiana / impregna-a = cor-
reta
Resposta: Letra A Em “b”: entender os debates / entendê-los = correta
Em “a”: Não se perde = correta (advérbio atrai o pro- Em “c”: ganha destaque / ganha-o = correta
nome = próclise) Em “d”: supõe um conhecimento / supõe-lo = supõe-
Em “b”: Perderia-se = verbo no futuro do pretérito: -no
perder-se-ia (mesóclise) Em “e”: marcaram sua história / marcaram-na = cor-
Em “c”: O dinheiro e o amigo tinham perdido-se = ti- reta
nham se perdido
Em “d”: Se perdeu = não se inicia período com prono- 4. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL –
me oblíquo/partícula apassivadora (Perdeu-se) VUNESP-2014) Considerando-se o uso do pronome e
Em “e”: Se o amigo que perdeu-se = o “que” atrai o a colocação pronominal, a expressão em destaque no
pronome (próclise): que se perdeu trecho – ... que cercam o sentido da existência huma-
na... – está corretamente substituída pelo pronome, de
2. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES- acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, na
GRANRIO-2018) Segundo as exigências da norma-pa- alternativa:
drão da língua portuguesa, o pronome destacado foi
utilizado na posição correta em: a) ... que cercam-lo...
b) ... que cercam-no...
a) Os jornais noticiaram que alguns países mobilizam-se c)... que o cercam...
para combater a disseminação de notícias falsas nas d) ... que lhe cercam...
redes sociais. e) ... que cercam-lhe...
b) Para criar leis eficientes no combate aos boatos, sem-
pre deve-se ter em mente que o problema de divulga- Resposta: Letra C
ção de notícias falsas é grave e muito atual. Correções à frente:
c) Entre os numerosos usuários da internet, constata-se Em “a”: que cercam-lo = o “que” atrai o pronome (que
um sentimento generalizado de reprovação à prática o cercam)
de divulgação de inverdades. Em “b”: que cercam-no = que o cercam (“no” está cor-
d) Uma nova lei contra as fake news promulgada na Ale- reta – caso não tivéssemos o “que”, pois, devido a sua
manha não aplica-se aos sites e redes sociais com me- presença, teremos próclise, não ênclise)
nos de 2 milhões de membros. Em “c”: que o cercam = correta
e) Uma vultosa multa é, muitas vezes, o estímulo mais Em “d”: que lhe cercam = a posição está correta, mas
eficaz para que adote-se a conduta correta em relação o pronome está errado (“lhe” é para objeto indireto =
à reputação das celebridades. a ele/ela)
Em “e”: que cercam-lhe = que o cercam
Resposta: Letra C
Em “a”: Os jornais noticiaram que alguns países mobi- 5. (PC-SP - ESCRIVÃO DE POLÍCIA – VUNESP-2014)
lizam-se = se mobilizam Considerando apenas as regras de regência e de coloca-
LÍNGUA PORTUGUESA
Em “b”: Para criar leis eficientes no combate aos boa- ção pronominal da norma-padrão da língua portuguesa,
tos, sempre deve-se = sempre se deve a expressão destacada em – Ainda assim, 60% afirmam
Em “c”: Entre os numerosos usuários da internet, cons- que raramente ou nunca têm informações sobre o im-
tata-se um sentimento = correta pacto ambiental do produto ou do comportamento da
Em “d”: Uma nova lei contra as fake news promulgada empresa. – pode ser corretamente substituída por
na Alemanha não aplica-se = não se aplica
Em “e”: Uma vultosa multa é, muitas vezes, o estímulo a) ... nunca informam-se sob o impacto...
100
b)... nunca se informam o impacto... a) Dizia-se um “vedor de cinema”...
c) ... nunca informam-se ao impacto... b) Porque não seria certo ficar pregando moscas no es-
d) ... nunca se informam do impacto... paço...
e)... nunca informam-se no impacto... c) Na juventude, apaixonou-se por Arthur Rimbaud e
Charles Baudelaire.
Resposta: Letra D d) Quase meio século separa a estreia de Manoel de Bar-
Por eliminação: o advérbio “nunca” atrai o pronome, ros na literatura...
teremos próclise (nunca se). Ficamos com B e D. Agora e) ... para depois casá-las...
vamos ao verbo: quem se informa, informa-se sobre
algo = precisa de preposição. A alternativa que tem Resposta: Letra A
preposição presente é a D (do = de+o). Teremos: nun- “Era” = verbo “ser” no pretérito imperfeito do Indicati-
ca se informam do impacto. vo. Procuremos nos itens:
Em “a”, Dizia-se = pretérito imperfeito do Indicativo
6. (PC-SP - ATENDENTE DE NECROTÉRIO POLICIAL – Em “b”, Porque não seria = futuro do pretérito do In-
VUNESP-2013) Considerando a substituição da expres- dicativo
são em destaque por um pronome e as normas da co- Em “c”, Na juventude, apaixonou-se = pretérito perfei-
locação pronominal, a oração – … que abrem a cabeça to do Indicativo
… – equivale, na norma-padrão da língua, a: Em “d”, Quase meio século separa = presente do Indi-
a) que abrem-a. cativo
b) que abrem-na. Em “e”, para depois casá-las = Infinitivo pessoal (casar
c) que a abrem. elas)
d) que lhe abrem.
e) que abrem-lhe. 9. (TRT 20.ª REGIÃO-SE - TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC-
2016)
Resposta: Letra C Precisamos de um treinador que nos ajude a comer...
Primeiramente: o “que” atrai o pronome oblíquo, en- O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o
tão teremos que + pronome. Resta-nos identificar se sublinhado acima está também sublinhado em:
o pronome é objeto direto (a) ou indireto (lhe). Vol-
temos ao verbo: abrir. Quem abre, abre algo... abre o a) ... assim que conseguissem se virar sem as mães ou as
quê? Sem preposição! Portanto: objeto direto = que amas...
a abrem. b) Não é por acaso que proliferaram os coaches.
c) ... país que transformou a infância numa bilionária in-
7. (TST - ANALISTA JUDICIÁRIO - ÁREA APOIO ESPE- dústria de consumo...
CIALIZADO - ESPECIALIDADE MEDICINA DO TRABA- d) E, mesmo que se esforcem muito...
LHO – FCC/2012) Aos poucos, contudo, fui chegando à e) Hoje há algo novo nesse cenário.
constatação de que todo perfil de rede social é um retrato
ideal de nós mesmos. Resposta: Letra D
Mantendo-se a correção e a lógica, sem que outra al- que nos ajude = presente do Subjuntivo
teração seja feita na frase, o elemento grifado pode ser Em “a”, que conseguissem = pretérito do Subjuntivo
substituído por: Em “b”, que proliferaram = pretérito perfeito (e tam-
bém mais-que-perfeito) do Indicativo
a) ademais. Em “c”, que transformou = pretérito perfeito do Indi-
b) conquanto. cativo
c) porquanto. Em “d”, que se esforcem = presente do Subjuntivo
d) entretanto. Em “e”, há algo novo nesse cenário = presente do In-
e) apesar. dicativo
8. (TRT 23.ª REGIÃO-MT - ANALISTA JUDICIÁRIO - b) Os documentos com assinatura digital disporam de
ÁREA ADMINISTRATIVA- FCC-2016) algoritmos de criptografia que os protegeram.
... para quem Manoel de Barros era comparável a São c) Arquivados eletronicamente, os documentos poderam
Francisco de Assis... contar com a proteção de uma assinatura digital.
d) Quem se propor a alterar um documento criptografa-
O verbo flexionado nos mesmos tempo e modo que o da do deve saber que comprometerá sua integridade.
frase acima está em: e) Não é possível fazer as alterações que convierem sem
101
comprometer a integridade dos documentos. tanásia...
b)... o médico ou alguém causa ativamente a morte...
Resposta: Letra E c) prolonga o processo de morrer procurando distanciar
Em “a”, Para que se mantesse (mantivesse) sua auten- a morte.
ticidade, o documento não poderia receber qualquer d) Ela é proibida por lei no Brasil,...
tipo de retificação. e) E como seria a verdadeira boa morte?
Em “b”, Os documentos com assinatura digital dispo-
ram (dispuseram) de algoritmos de criptografia que os Resposta: Letra E
protegeram. Em “a”, Existe grande confusão = substantivo
Em “c”, Arquivados eletronicamente, os documentos Em “b”, o médico ou alguém causa ativamente a mor-
poderam (puderam) contar com a proteção de uma te = pronome
assinatura digital. Em “c”, prolonga o processo de morrer procurando
Em “d”, Quem se propor (propuser) a alterar um docu- distanciar a morte = substantivo
mento criptografado deve saber que comprometerá Em “d”, Ela é proibida por lei no Brasil = substantivo
sua integridade. Em “e”, E como seria a verdadeira boa morte? = ad-
Em “e”, Não é possível fazer as alterações que convie- jetivo
rem sem comprometer a integridade dos documentos
= correta 13. (PROCESSO SELETIVO INTERNO DA SECRETARIA
DE DEFESA SOCIAL DO ESTADO DE PERNAMBUCO-PE
11. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE SÃO PAULO - – SARGENTO DA POLÍCIA MILITAR - FM-2010)
SOLDADO PM 2.ª CLASSE – VUNESP/2017) Considere
as seguintes frases:
Primeiro, associe suas memórias com objetos físicos.
Segundo, não memorize apenas por repetição.
Terceiro, rabisque!
102
que indica o singular: garoto/garotos; garota/ga-
ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS rotas; menino/meninos; menina/meninas. No caso
dos nomes terminados em –r e –z, a desinência de
plural assume a forma -es: mar/mares; revólver/re-
vólveres; cruz/cruzes.
ESTRUTURA DAS PALAVRAS
C.2 Desinências verbais: em nossa língua, as desi-
As palavras podem ser analisadas sob o ponto de vis- nências verbais pertencem a dois tipos distintos.
ta de sua estrutura significativa. Para isso, nós as dividi- Há desinências que indicam o modo e o tempo
mos em seus menores elementos (partes) possuidores de (desinências modo-temporais) e outras que indi-
sentido. A palavra inexplicável, por exemplo, é constituí- cam o número e a pessoa dos verbos (desinência
da por três elementos significativos: número-pessoais):
In = elemento indicador de negação
Explic – elemento que contém o significado básico da cant-á-va-mos:
palavra cant: radical / -á-: vogal temática / -va-: desinência
Ável = elemento indicador de possibilidade modo-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do in-
dicativo) / -mos: desinência número-pessoal (caracteriza a
Estes elementos formadores da palavra recebem o primeira pessoa do plural)
nome de morfemas. Através da união das informações
contidas nos três morfemas de inexplicável, pode-se en- cant-á-sse-is:
tender o significado pleno dessa palavra: “aquilo que não cant: radical / -á-: vogal temática / -sse-:desinência
tem possibilidade de ser explicado, que não é possível tor- modo-temporal (caracteriza o pretérito imperfeito do
nar claro”. subjuntivo) / -is: desinência número-pessoal (caracteriza
Morfemas = são as menores unidades significativas a segunda pessoa do plural)
que, reunidas, formam as palavras, dando-lhes sentido.
D) Vogal temática
Classificação dos morfemas Entre o radical cant- e as desinências verbais, surge
sempre o morfema –a. Este morfema, que liga o
A) Radical, lexema ou semantema – é o elemento radical às desinências, é chamado de vogal temá-
portador de significado. É através do radical que tica. Sua função é ligar-se ao radical, constituindo
podemos formar outras palavras comuns a um o chamado tema. É ao tema (radical + vogal temá-
grupo de palavras da mesma família. Exemplo: tica) que se acrescentam as desinências. Tanto os
pequeno, pequenininho, pequenez. O conjunto de verbos como os nomes apresentam vogais temá-
palavras que se agrupam em torno de um mesmo ticas. No caso dos verbos, a vogal temática indica
radical denomina-se família de palavras. as conjugações: -a (da 1.ª conjugação = cantar), -e
(da 2.ª conjugação = escrever) e –i (3.ª conjugação
B) Afixos – elementos que se juntam ao radical antes = partir).
(os prefixos) ou depois (sufixos) dele. Exemplo:
beleza (sufixo), prever (prefixo), infiel (prefixo). D.1 Vogais temáticas nominais: São -a, -e, e -o,
quando átonas finais, como em mesa, artista, per-
C) Desinências - Quando se conjuga o verbo amar, da, escola, base, combate. Nestes casos, não pode-
obtêm-se formas como amava, amavas, amava, ríamos pensar que essas terminações são desinên-
amávamos, amáveis, amavam. Estas modificações cias indicadoras de gênero, pois mesa e escola, por
ocorrem à medida que o verbo vai sendo flexio- exemplo, não sofrem esse tipo de flexão. É a estas
nado em número (singular e plural) e pessoa (pri- vogais temáticas que se liga a desinência indica-
meira, segunda ou terceira). Também ocorrem se dora de plural: mesa-s, escola-s, perda-s. Os nomes
modificarmos o tempo e o modo do verbo (ama- terminados em vogais tônicas (sofá, café, cipó, ca-
va, amara, amasse, por exemplo). Assim, podemos qui, por exemplo) não apresentam vogal temática.
concluir que existem morfemas que indicam as fle-
xões das palavras. Estes morfemas sempre surgem D.2 Vogais temáticas verbais: São -a, -e e -i, que
no fim das palavras variáveis e recebem o nome de caracterizam três grupos de verbos a que se dá o
desinências. Há desinências nominais e desinên- nome de conjugações. Assim, os verbos cuja vogal
cias verbais. temática é -a pertencem à primeira conjugação;
LÍNGUA PORTUGUESA
103
mo possibilitar a leitura de uma determinada palavra. Por Derivação
exemplo:
Vogais: frutífero, gasômetro, carnívoro. • Derivação regressiva: a palavra nova é obtida por
Consoantes: cafezal, sonolento, friorento. redução da palavra primitiva. Ocorre, sobretudo,
na formação de substantivos derivados de verbos.
Formação das Palavras janta (substantivo) - deriva de jantar (verbo) / pesca
(substantivo) – deriva de pescar (verbo)
Há em Português palavras primitivas, palavras deriva-
das, palavras simples, palavras compostas. • Derivação imprópria: a palavra nova (derivada) é
A) Palavras primitivas: aquelas que, na língua por- obtida pela mudança de categoria gramatical da
tuguesa, não provêm de outra palavra: pedra, flor. palavra primitiva. Não ocorre, pois, alteração na
B) Palavras derivadas: aquelas que, na língua por- forma, mas somente na classe gramatical.
tuguesa, provêm de outra palavra: pedreiro, flori- Não entendi o porquê da briga. (o substantivo “por-
cultura. quê” deriva da conjunção porque)
C) Palavras simples: aquelas que possuem um só ra- Seu olhar me fascina! (olhar aqui é substantivo, deriva
dical: azeite, cavalo. do verbo olhar).
D) Palavras compostas: aquelas que possuem mais
de um radical: couve-flor, planalto.
#FicaDica
As palavras compostas podem ou não ter seus ele- A derivação regressiva “mexe” na estrutura
mentos ligados por hífen. da palavra, geralmente transforma verbos
em substantivos: caça = deriva de caçar,
Processos de Formação de Palavras saque = deriva de sacar
A) Prefixal (ou prefixação): a palavra nova é obtida Haverá composição quando se juntarem dois ou mais
por acréscimo de prefixo. radicais para formar uma nova palavra. Há dois tipos de
composição: justaposição e aglutinação.
In feliz / des leal
Prefixo radical prefixo radical A) Justaposição: ocorre quando os elementos que
formam o composto são postos lado a lado, ou
B) Sufixal (ou sufixação): a palavra nova é obtida seja, justapostos: para-raios, corre-corre, guarda-
por acréscimo de sufixo. -roupa, segunda-feira, girassol.
B) Composição por aglutinação: ocorre quando os
Feliz mente / leal dade elementos que formam o composto aglutinam-se
Radical sufixo radical sufixo e pelo menos um deles perde sua integridade so-
nora: aguardente (água + ardente), planalto (plano
C) Parassintética: a palavra nova é obtida pelo acrés- + alto), pernalta (perna + alta), vinagre (vinho +
cimo simultâneo de prefixo e sufixo. Por parassíntese acre).
formam-se principalmente verbos.
Onomatopeia – é a palavra que procura reproduzir
En trist ecer certos sons ou ruídos: reco-reco, tique-taque, fom-fom.
Prefixo radical sufixo
LÍNGUA PORTUGUESA
104
iniciais (são as siglas puras) ou sílabas iniciais (siglas im-
puras), que se grafam de duas formas: IBGE, MEC (siglas
puras); DETRAN ou Detran, PETROBRAS ou Petrobras (si-
HORA DE PRATICAR!
glas impuras).
1. (CAMAR - CURSO DE ADAPTAÇÃO DE MÉDICOS DA
Hibridismo: é a palavra formada com elementos AERONÁUTICA PARA O ANO DE 2016) “Os astrônomos
oriundos de línguas diferentes: automóvel (auto: grego; eram formidáveis. Eu, pobre de mim, não desvendaria os
móvel: latim); sociologia (socio: latim; logia: grego); sam- segredos do céu. Preso à terra, sensibilizar-me-ia com his-
bódromo (samba: dialeto africano; dromo: grego). tórias tristes [...]”. Nas alternativas a seguir, os vocábulos
acentuados do trecho anterior foram colocados em pares
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS com palavras também acentuadas graficamente. Dentre
os pares formados, indique o que apresenta igual justifi-
SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática completa cativa para tal evento.
Sacconi. 30.ª ed. Rev. São Paulo: Nova Geração, 2010.
CEREJA, Wiliam Roberto, MAGALHÃES, Thereza Co- a) céu / avô
char. Português linguagens: volume 1 – 7.ª ed. Reform. b) astrônomos / álibi
– São Paulo: Saraiva, 2010. c) histórias / balaústre
AMARAL, Emília... [et al.] Português: novas palavras: li- d) formidáveis / ínterim
teratura, gramática, redação. – São Paulo: FTD, 2000.
2. (MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERO-
SITE NÁUTICA ESCOLA DE ESPECIALISTAS DE AERONÁU-
TICA EXAME DE ADMISSÃO AO CFS-B 1-2/2014) Rela-
Disponível em: http://www.brasilescola.com/gramati- cione as colunas quanto às regras de acentuação gráfica,
ca/estrutura-e-formacao-de-palavras-i.htm sabendo que haverá repetição de números. Em seguida,
assinale a alternativa com a sequência correta.
( ) íris
( ) saída
( ) compraríamos
( ) vendê-lo
( ) bônus
( ) viúvo
( ) bisavôs
a) 2 – 1 – 3 – 4 – 2 – 1 – 4
b) 1 – 2 – 3 – 4 – 1 – 1 – 4
c) 4 – 1 – 1 – 2 – 2 – 3 – 2
d) 2 – 2 – 3 – 4 – 2 – 1 – 3
105
abaixo, retiradas dos textos 1 e 2, aquela que só existe pela imprensa tradicional. Não há um único assunto rele-
com acento gráfico é: vante que não tenha nascido numa pauta do jornalismo
de qualidade. Alguns formadores de opinião utilizam as
a) história; redes sociais para reverberar, multiplicar e cumprem as-
b) evidência; sim relevante papel mobilizador. Mas o pontapé inicial é
c) até; sempre das empresas de conteúdo independentes”.
d) país; (O Estado de São Paulo, 10/04/2017)
e) humanitárias.
O texto 1, do Estado de São Paulo, mostra um conjunto
5. (CAMAR - CURSO DE ADAPTAÇÃO DE MÉDICOS de adjetivos sublinhados que poderiam ser substituídos
DA AERONÁUTICA PARA O ANO DE 2016) De acordo por locuções; a substituição abaixo que está adequada é:
com seu significado, o conjunto de características for-
mais e sua posição estrutural no interior da oração, as a) independente = com dependência;
palavras podem pertencer à mesma classe de palavras b) pública = de publicidade;
ou não. Estabeleça a relação correta entre as colunas a c) relevante = de relevância;
seguir considerando tais aspectos (considere as palavras d) sociais = de associados;
em destaque). e) mobilizador = de motivação.
106
a) No mundo moderno, conferem-se às grandes metró-
12. (CAIXA ECONÔMICA FEDERAL – NÍVEL SUPERIOR poles importante papel no desenvolvimento da eco-
– CONHECIMENTOS BÁSICOS – CESPE-2014-ADAP- nomia e da geopolítica mundiais, por estarem no topo
TADA) da hierarquia urbana.
b) Conforme o grau de influência e importância interna-
A busca de uma convenção para medir riquezas e trocar cional, classificou-se as 50 maiores cidades em três
mercadorias é quase tão antiga quanto a vida em so- diferentes classes, a maior parte delas na Europa.
ciedade. Ao longo da história, os mais diversos artigos c) Há quase duzentos anos, atribuem-se às cidades a
foram usados com essa finalidade, como o chocolate, responsabilidade de motor propulsor do desenvolvi-
entre os astecas, e o bacalhau seco, entre os noruegue- mento e a condição de lugar privilegiado para os ne-
ses, tendo cabido aos gregos do século VII a.C. a criação gócios e a cultura.
de uma moeda metálica com um valor padronizado pelo d) Em centros com grandes aglomerações populacionais,
Estado. “Foi uma invenção revolucionária. Ela facilitou o realiza-se negócios nacionais e internacionais, além
acesso das camadas mais pobres às riquezas, o acúmulo de um atendimento bastante diversificado, como jor-
de dinheiro e a coleta de impostos – coisas muito difíceis nais, teatros, cinemas, entre outros.
de fazer quando os valores eram contados em bois ou e) Em todos os estudos geopolíticos, considera-se as cida-
imóveis”, afirma a arqueóloga Maria Beatriz Florenzano, des globais como verdadeiros polos de influência inter-
da Universidade de São Paulo. A segunda grande revo- nacional, devido à presença de sedes de grandes empre-
lução na história do dinheiro, o papel-moeda, teve uma sas transnacionais e importantes centros de pesquisas.
origem mais confusa. Existiam cédulas na China do ano
960, mas elas não se espalharam para outros lugares e 15. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
caíram em desuso no fim do século XIV. I – CESGRANRIO-2018) A palavra destacada atende às
As notas só apareceram na Europa – e daí para o mundo exigências de concordância da norma-padrão da língua
– em 1661, na Suécia. Há quem acredite que cartões de portuguesa em:
crédito e caixas eletrônicos em rede já representam uma
terceira revolução monetária. “Com a informática, o di- a) Atualmente, causa impacto nas eleições de vários paí-
nheiro se transformou em impulsos eletrônicos invisíveis, ses as notícias falsas.
livres do espaço, do tempo e do controle de governos e b) A recomendação de testar a veracidade das notícias
corporações”, afirma o antropólogo Jack Weatherford, da precisam ser seguidas, para não prejudicar as pessoas.
Faculdade Macalester, nos Estados Unidos da América. c) O propósito de conferir grandes volumes de dados re-
Internet: <http://super.abril.com.br> (com adaptações). sultaram na criação de serviços especializados.
d) Os boatos causam efeito mais forte do que as notícias
A expressão “essa finalidade” refere-se ao trecho “para reais porque vem acompanhados de títulos chamativos.
medir riquezas e trocar mercadorias”. e) Os resultados de pesquisas recentes mostram que
67% das pessoas consultam os jornais diariamente.
( ) CERTO ( ) ERRADO 16. (PETROBRAS – ENGENHEIRO(A) DE MEIO AM-
BIENTE JÚNIOR – CESGRANRIO-2018)
13. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LE-
GISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018) “Por outro lado, Texto I
nas sociedades complexas, a violência deixou de ser uma
ferramenta de sobrevivência e passou a ser um instrumen- Portugueses no Rio de Janeiro
to da organização da vida comunitária. Ou seja, foi usada
para criar uma desigualdade social sem a qual, acreditam O Rio de Janeiro é o grande centro da imigração portu-
alguns teóricos, a sociedade não se desenvolveria nem se guesa até meados dos anos cinquenta do século passa-
complexificaria”. A utilização do termo “ou seja” introduz: do, quando chega a ser a “terceira cidade portuguesa do
mundo”, possuindo 196 mil portugueses — um décimo
a) uma informação sobre o significado de um termo an- de sua população urbana. Ali, os portugueses dedicam-se
teriormente empregado; ao comércio, sobretudo na área dos comestíveis, como
b) a explicação de uma expressão de difícil entendimento; os cafés, as panificações, as leitarias, os talhos, além de
c) uma outra maneira de dizer-se rigorosamente a mes- outros ramos, como os das papelarias e lojas de vestuá-
ma coisa; rios. Fora do comércio, podem exercer as mais variadas
d) acréscimo de um esclarecimento sobre o que foi dito profissões, como atividades domésticas ou as de barbei-
antes; ros e alfaiates. Há, de igual forma, entre os mais afortuna-
LÍNGUA PORTUGUESA
e) a ênfase de algo que parece importante para o texto. dos, aqueles ligados à indústria, voltados para construção
civil, o mobiliário, a ourivesaria e o fabrico de bebidas.
14. (BANCO DO BRASIL – ESCRITURÁRIO – CESGRAN- A sua distribuição pela cidade, apesar da não formação
RIO-2018) De acordo com as exigências da norma-pa- de guetos, denota uma tendência para a sua concentra-
drão da língua portuguesa, o verbo destacado está cor- ção em determinados bairros, escolhidos, muitas das ve-
retamente empregado em: zes, pela proximidade da zona de trabalho. No Centro da
cidade, próximo ao grande comércio, temos um grupo
107
significativo de patrícios e algumas associações de por- b) Se às crônicas de Rubem Braga viessem a faltar sua
te, como o Real Gabinete Português de Leitura e o Liceu marca autoral inconfundível, elas terão deixado de
Literário Português. Nos bairros da Cidade Nova, Estácio constituir textos clássicos desse gênero.
de Sá, Catumbi e Tijuca, outro ponto de concentração c) Caso um dia venham a surgir, simultaneamente, ta-
da colônia, se localizam outras associações portuguesas, lentos à altura de um Rubem Braga, esse gênero terá
como a Casa de Portugal e um grande número de casas alcançado uma relevância jamais vista.
regionais. Há, ainda, pequenas concentrações nos bairros d) Não seria fácil, de fato, que venha a se equilibrar, na
periféricos da cidade, como Jacarepaguá, originalmente cabeça de um jovem cronista de hoje, os valores de
formado por quintas de pequenos lavradores; nos subúr- sua experiência pessoal com os de sua comunidade.
bios, como Méier e Engenho Novo; e nas zonas mais pri- e) Tanto uma padaria como um banheiro poderiam ofe-
vilegiadas, como Botafogo e restante da zona sul carioca, recer matéria para uma boa crônica, desde que não
área nobre da cidade a partir da década de cinquenta, falte ao cronista recursos de grande imaginação.
preferida pelos mais abastados.
PAULO, Heloísa. Portugueses no Rio de Janeiro: salaza-
19. (PC-BA – DELEGADO DE POLÍCIA – VUNESP-2018)
ristas e opositores em manifestação na cidade. In: ALVES,
A concordância está em conformidade com a norma-pa-
Ida et alii. 450 Anos de Portugueses no Rio de Janeiro. Rio
de Janeiro: Ofi cina Raquel, 2017, pp. 260-1. Adaptado. drão na seguinte frase:
O texto emprega duas vezes o verbo “haver”. Ambos es- a) São comuns que a adaptação de livros para o cinema
tão na 3.ª pessoa do singular, pois são impessoais. Esse suscitem reações negativas nos fãs do texto escrito.
papel gramatical está repetido corretamente em: b) Cabem aos leitores completar, com a imaginação, as
lacunas que fazem parte da estrutura significativa do
a) Ninguém disse que os portugueses havia de saírem texto literário.
da cidade. c) Aos esforços envolvidos na leitura soma-se a imagina-
b) Se houvessem mais oportunidades, os imigrantes fi- ção, a que a linguagem literária apela constantemente.
cariam ricos. d) Algumas pessoas mantém o hábito de só assistirem à
c) Haveriam de haver imigrantes de outras procedências adaptação de uma obra depois de as terem lido, para
na cidade. não ser influenciadas.
d) Os imigrantes vieram de Lisboa porque lá não haviam e) Há livros que dispõe de uma infinidade de adaptações
empregos. para o cinema, as quais tende a compor seu repertório
e) Os portugueses gostariam de que houvesse mais ofer- de leituras.
tas de trabalho.
20. (FUNDASUS-MG – ANALISTA EM SERVIÇO PÚBLI-
17. (TRANSPETRO – TÉCNICO AMBIENTAL JÚNIOR CO DE SAÚDE - ANALISTA DE SISTEMA – AOCP-2015)
– CESGRANRIO-2018) A concordância da forma verbal Observe o excerto: “Entre os fatores ligados à relação do
destacada foi realizada de acordo com as exigências da aluno com a instituição e com os colegas, gostar de ir à
norma-padrão da língua portuguesa em: escola (...)” e assinale a alternativa correta com relação
ao emprego do acento utilizado nos termos destacados.
a) Com o crescimento da espionagem virtual, é necessá-
rio que se promova novos estudos sobre mecanismos a) Trata-se do acento grave, empregado para indicar a su-
de proteção mais eficazes.
pressão do advérbio “a” com o pronome feminino “a”
b) O rastreamento permanente das invasões cibernéticas
que acompanha os substantivos “relação” e “escola”.
de grande porte permite que se suspeitem dos hac-
b) Trata-se do acento agudo, empregado para indicar a
kers responsáveis.
nasalidade da vogal “a” que acompanha os substanti-
c) Para atender às demandas dos usuários de celulares, é
preciso que se destinem à pesquisa tecnológica mui- vos “relação” e “escola”.
tos milhões de dólares. c) Trata-se do acento circunflexo, empregado para assi-
d) Para detectar as consequências mais prejudiciais da nalar a vogal aberta “a” que acompanha os substanti-
guerra virtual pela informação, necessitam-se de es- vos “relação” e “escola”.
tudos mais aprofundados. d) Trata-se do acento agudo, empregado para indicar a
e) Se o crescimento das redes sociais assumir uma pro- supressão da preposição “a” com o artigo feminino “a”
porção incontrolável, é aconselhável que se estabele- que acompanha os substantivos “relação” e “escola”.
ça novas restrições de utilização pelos jovens. e) Trata-se do acento grave, empregado para indicar a
junção da preposição “a” com o artigo feminino “a”
18. (PC-AP – DELEGADO DE POLÍCIA – FCC-2017) As que acompanha os substantivos “relação” e “escola”.
LÍNGUA PORTUGUESA
108
Assinale a alternativa em que o acento indicativo de cra- 25. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES-
se está corretamente empregado. GRANRIO-2018) De acordo com a norma- -padrão
da língua portuguesa, o acento grave indicativo da crase
a) O memorando refere-se à documentos enviados na deve ser empregado na palavra destacada em:
semana passada.
b) Dirijo-me à Vossa Senhoria para solicitar uma audiên- a) Os novos lançamentos de smartphones apresentam,
cia urgente. em geral, pequena variação de funções quando com-
c) Prefiro montar uma equipe de novatos à trabalhar com parados a versões anteriores.
pessoas já desestimuladas. b) Estudantes do ensino médio fizeram uma pesquisa
d) O antropólogo falará apenas àquele aluno cujo nome junto a crianças do ensino fundamental para ver como
consta na lista. elas se comportam no ambiente virtual.
c) O acesso dos jovens a redes sociais tem causado enor-
e) Quanto à meus funcionários, afirmo que têm horário
mes prejuízos ao seu desempenho escolar, conforme
flexível e são responsáveis.
o depoimento de professores.
d) Os consumidores compulsivos sujeitam-se a ficar ho-
22. (BADESC – TÉCNICO DE FOMENTO A – FGV-2010)
ras na fila para serem os primeiros que comprarão os
De acordo com as regras gramaticais, no trecho “a exor- novos lançamentos.
bitante carga tributária a que estão submetidas as empre- e) As pessoas precisam ficar atentas a fatura do cartão de cré-
sas”, não se deve empregar acento indicativo de crase, dito para não serem surpreendidas com valores muito altos.
devendo ocorrer o mesmo na frase:
26. (PC-SP - INVESTIGADOR DE POLÍCIA – VU-
a) Entregue o currículo as assistentes do diretor. NESP-2014)
b) Recorra a esta empresa sempre que precisar. A cada ano, ocorrem cerca de 40 mil mortes; segundo
c) Avise aquela colega que chegou sua correspondência. especialistas, quase metade delas está associada _____
d) Refira-se positivamente a proposta filosófica da companhia. bebidas alcoólicas. Isso revela a necessidade de um com-
e) Transmita confiança aqueles que observam seu desempe- bate efetivo _____ embriaguez ao volante.
nho. As lacunas do trecho devem ser preenchidas, correta e
respectivamente, com:
23. (BANCO DA AMAZÔNIA – TÉCNICO BANCÁRIO –
CESGRANRIO-2018) De acordo com a norma-padrão da a) às … a
língua portuguesa, o sinal grave indicativo da crase deve b) as … à
ser empregado na palavra destacada em: c) à … à
a) A intenção da entrevista com o diretor estava relacio- d) às … à
nada a programação que a empresa pretende desen- e) à … a
volver.
b) As ações destinadas a atrair um número maior de 27. (PC-SP - AGENTE DE POLÍCIA – VUNESP-2013) De
acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, o acen-
clientes são importantes para garantir a saúde finan-
to indicativo de crase está corretamente empregado em:
ceira das instituições.
c) As instituições financeiras deveriam oferecer condi-
a) A população, de um modo geral, está à espera de que,
ções mais favoráveis de empréstimo a quem está fora
com o novo texto, a lei seca possa coibir os acidentes.
do mercado formal de trabalho. b) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repensa-
d) As pessoas interessadas em ampliar suas reservas fi- rem a sua postura.
nanceiras consideram que vale a pena investir na nova c) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à puni-
moeda virtual. ções muito mais severas.
e) Os participantes do seminário sobre mercado financei- d) À ninguém é dado o direito de colocar em risco a vida
ro foram convidados a comparar as importações e as dos demais motoristas e de pedestres.
exportações em 2017. e) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumprimento da
nova lei para que ela possa funcionar.
24. (LIQUIGÁS – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO –
CESGRANRIO-2018) O emprego do acento indicativo 28. (CÂMARA DE SALVADOR-BA – ASSISTENTE LE-
de crase está de acordo com a norma-padrão em: GISLATIVO MUNICIPAL – FGV-2018)
LÍNGUA PORTUGUESA
a) O escritor de novelas não escolhe seus personagens à esmo. Texto 1 – Guerra civil
b) A audiência de uma novela se constrói no dia à dia. Renato Casagrande, O Globo, 23/11/2017
c) Uma boa história pode ser escrita imediatamente ou à prazo.
d) Devido à interferências do público, pode haver mu- O 11.º Relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pú-
danças na trama. blica, mostrando o crescimento das mortes violentas no
e) O novelista ficou aliviado quando entregou a sinopse Brasil em 2016, mais uma vez assustou a todos. Foram
à emissora. 61.619 pessoas que perderam a vida devido à violência.
109
Outro dado relevante é o crescimento da violência em O Ministério Público é fruto do desenvolvimento do es-
alguns estados do Sul e do Sudeste. tado brasileiro e da democracia. A sua história é marcada
Na verdade, todos os anos a imprensa nacional destaca por processos que culminaram na sua formalização insti-
os inaceitáveis números da violência no país. Todos se tucional e na ampliação de sua área de atuação.
assustam, o tempo passa, e pouca ação ocorre de fato. No período colonial, o Brasil foi orientado pelo direito lu-
Tem sido assim com o governo federal e boa parte das sitano. Não havia o Ministério Público como instituição.
demais unidades da Federação. Agora, com a crise, o ar- Mas as Ordenações Manuelinas de 1521 e as Ordenações
gumento é a incapacidade de investimento, mas, mesmo Filipinas de 1603 já faziam menção aos promotores de
em períodos de economia mais forte, pouco se viu da im- justiça, atribuindo a eles o papel de fiscalizar a lei e de
plementação de programas estruturantes com o objetivo promover a acusação criminal. Existiam os cargos de pro-
de enfrentar o crime. Contratação de policiais, aquisição curador dos feitos da Coroa (defensor da Coroa) e de pro-
de equipamentos, viaturas e novas tecnologias são medi- curador da Fazenda (defensor do fisco).
das essenciais, mas é preciso ir muito além. Definir metas A Constituição de 1988 faz referência expressa ao Mi-
e alcançá-las, utilizando um bom método de trabalho, nistério Público no capítulo Das Funções Essenciais à
deve ser parte de um programa bem articulado, que per- Justiça. Define as funções institucionais, as garantias e as
mita o acompanhamento das ações e que incentive o vedações de seus membros. Isso deu evidência à institui-
trabalho integrado entre as forças policiais do estado, da ção, tornando-a uma espécie de ouvidoria da sociedade
União e das guardas municipais. brasileira.
Internet: <www.mpu.mp.br> (com adaptações).
O segmento do texto 1 em que a conjunção E tem valor
No período “A sua história é marcada por processos que
adversativo (oposição) e NÃO aditivo (adição) é:
culminaram”, o termo “que” introduz oração de natureza
restritiva.
a) “...crescimento da violência em alguns estados do Sul
e do Sudeste”;
( ) CERTO ( ) ERRADO
b) “Todos se assustam, o tempo passa, e pouca ação de-
corre de fato”;
(TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉDIO
c) “Tem sido assim com o governo federal e boa parte - VUNESP – 2017 - ADAPTADA) Leia o texto, para res-
das demais unidades da Federação”; ponder às questões a seguir:
d) “...viaturas e novas tecnologias”;
e) “Definir metas e alcançá-las...”. Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos execu-
tivos no setor de tecnologia já tinham feito – ele transfe-
29. (ALERJ-RJ – ESPECIALISTA LEGISLATIVO – AR- riu sua equipe para um chamado escritório aberto, sem
QUITETURA – FGV-2017) “... implica poder decifrar as paredes e divisórias.
referências cristãs...”; a forma reduzida sublinhada fica Os funcionários, até então, trabalhavam de casa, mas
convenientemente substituída por uma oração em forma ele queria que todos estivessem juntos, para se conec-
desenvolvida na seguinte opção: tarem e colaborarem mais facilmente. Mas em pouco
tempo ficou claro que Nagele tinha cometido um grande
a) a possibilidade de decifrar as referências cristãs; erro. Todos estavam distraídos, a produtividade caiu, e
b) a possibilidade de decifração das referências cristãs; os nove empregados estavam insatisfeitos, sem falar do
c) que se pudessem decifrar as referências cristãs; próprio chefe.
d) que possamos decifrar as referências cristãs; Em abril de 2015, quase três anos após a mudança
e) a possibilidade de que decifrássemos as referências cristãs. para o escritório aberto, Nagele transferiu a empresa
para um espaço de 900 m² onde hoje todos têm seu pró-
30. (COMPESA-PE – ANALISTA DE GESTÃO – ADMI- prio espaço, com portas e tudo.
NISTRADOR – FGV-2018) “... mas já conhecem a brutal Inúmeras empresas adotaram o conceito de escritório
realidade dos desaventurados cuja sina é cruzar fronteiras aberto – cerca de 70% dos escritórios nos Estados Unidos
para sobreviver.” A forma reduzida de “para sobreviver” são assim – e até onde se sabe poucos retornaram ao
pode ser nominalizada de forma conveniente na seguin- modelo de espaços tradicionais com salas e portas.
te alternativa: Pesquisas, contudo, mostram que podemos perder até
15% da produtividade, desenvolver problemas graves de
a) para que sobrevivam. concentração e até ter o dobro de chances de ficar doentes
em espaços de trabalho abertos – fatores que estão contri-
LÍNGUA PORTUGUESA
110
É improvável que o conceito de escritório aberto caia c) temporal ao dia em que Nagele decidiu seguir o exem-
em desuso, mas algumas firmas estão seguindo o exem- plo de outros executivos, e espacial ao tipo de escri-
plo de Nagele e voltando aos espaços privados. tório que adotou.
Há uma boa razão que explica por que todos ado- d) espacial ao caso de sucesso de outros executivos do
ram um espaço com quatro paredes e uma porta: foco. setor de tecnologia que aboliram paredes e divisórias.
A verdade é que não conseguimos cumprir várias tarefas e) espacial ao novo tipo de ambiente de trabalho, e tem-
ao mesmo tempo, e pequenas distrações podem desviar poral às mudanças favoráveis à integração.
nosso foco por até 20 minutos.
Retemos mais informações quando nos sentamos em 35. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
um local fixo, afirma Sally Augustin, psicóloga ambiental DIO - VUNESP – 2017) É correto afirmar que a expressão
e design de interiores. – contudo –, destacada no quinto parágrafo, estabelece
(Bryan Borzykowski, “Por que escritórios abertos uma relação de sentido com o parágrafo
podem ser ruins para funcionários.” Disponível em:<w-
ww1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 04.04.2017. Adaptado) a) anterior, confirmando com estatísticas o sucesso das em-
presas que adotaram o modelo de escritórios abertos.
32. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- b) posterior, expondo argumentos favoráveis à adoção
DIO - VUNESP – 2017) Segundo o texto, são aspectos des- do modelo de escritórios abertos.
favoráveis ao trabalho em espaços abertos compartilhados c) anterior, atestando a eficiência do modelo aberto com
base em resultados de pesquisas.
a) a impossibilidade de cumprir várias tarefas e a restri- d) anterior, introduzindo informações que se contra-
ção à criatividade. põem à visão positiva acerca dos escritórios abertos.
b) a dificuldade de propor soluções tecnológicas e a e) posterior, contestando com dados estatísticos o for-
transferência de atividades para o lar. mato tradicional de escritório fechado.
c) a dispersão e a menor capacidade de conservar con-
teúdos. 36. (EBSERH – ANALISTA ADMINISTRATIVO – ESTA-
d) a distração e a possibilidade de haver colaboração de TÍSTICA – AOCP-2015) Assinale a alternativa correta em
colegas e chefes. relação à ortografia dos pares.
e) o isolamento na realização das tarefas e a vigilância
constante dos chefes. a) Atenção – atenciozo.
b) Aprender – aprendizajem.
33. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ- c) Simples – simplissidade.
DIO - VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que a d) Fúria – furiozo.
nova redação dada ao seguinte trecho do primeiro pará- e) Sensação – sensacional.
grafo apresenta concordância de acordo com a norma-
-padrão: Há quatro anos, Chris Nagele fez o que muitos 37. (BADESC – TÉCNICO DE FOMENTO A – FGV-2010)
executivos no setor de tecnologia já tinham feito. As palavras jeitinho, pesquisa e intrínseco apresentam
diferentes graus de dificuldade ortográfica e estão corre-
a) Muitos executivos já havia transferido suas equipes para o tamente grafadas. Assinale a alternativa em que a grafia
chamado escritório aberto, como feito por Chris Nagele. da palavra sublinhada está igualmente correta.
b) Mais de um executivo já tinham transferido suas equi-
pes para escritórios abertos, o que só aconteceu com a) Talvez ele seje um caso de sucesso empresarial.
Chris Nagele fazem mais de quatro anos. b) A paralização da equipe técnica demorou bastante.
c) O que muitos executivos fizeram, transferindo suas c) O funcionário reinvindicou suas horas extras.
equipes para escritórios abertos, também foi feito por d) Deve-se expor com clareza a pretenção salarial.
Chris Nagele, faz cerca de quatro anos. e) O assessor de imprensa recebeu o jornalista.
d) Devem fazer uns quatro anos que Chris Nagele trans-
feriu sua equipe para escritórios abertos, tais como foi 38. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
transferido por muitos executivos. I – CESGRANRIO-2018) O grupo em que todas as pala-
e) Faz exatamente quatro anos que Chris Nagele fez o que vras estão grafadas de acordo com a norma-padrão da
já tinham sido feitos por outros executivos do setor. língua portuguesa é:
111
um só vocábulo, a forma adequada será c) Depois de chegarem às telas dos computadores e celula-
res, as notícias estarão disponíveis em voos internacionais.
a) sociais-econômicos. d) Os últimos dados mostram que, muitas economias
b) social-econômicos. apresentam crescimento e inflação baixa, fazendo
c) sociais-econômico. com que os juros cresçam pouco.
d) socioeconômicos. e) Pode ser que haja uma grande procura de carros im-
e) socioseconômicos. portados, mas as montadoras vão fazer os cálculos e
ver, se a importação vale a pena.
40. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL
43. (MPU – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE-2010)
I – CESGRANRIO-2018) O sinal de dois-pontos (:) está
Para a maioria das pessoas, os assaltantes, assassinos e
empregado de acordo com a norma-padrão da língua traficantes que possam ser encontrados em uma rua es-
portuguesa em: cura da cidade são o cerne do problema criminal. Mas os
danos que tais criminosos causam são minúsculos quan-
a) A diferença entre notícias falsas e verdadeiras é maior do comparados com os de criminosos respeitáveis, que
no campo da política: é menor nas publicações rela- vestem colarinho branco e trabalham para as organiza-
cionadas às catástrofes naturais. ções mais poderosas. Estima-se que as perdas provoca-
b) A explicação para a difusão de notícias falsas é que das por violações das leis antitrust — apenas um item de
os usuários compartilham informações com as quais uma longa lista dos principais crimes do colarinho bran-
concordam: pois não verificam as fontes antes. co — sejam maiores que todas as perdas causadas pelos
c) As informações enganosas são mais difundidas do que crimes notificados à polícia em mais de uma década, e
as verdadeiras: de acordo com estudo recente feito as relativas a danos e mortes provocadas por esse crime
por um instituto de pesquisa. apresentam índices ainda maiores. A ocultação, pela in-
d) As notícias falsas podem ser desmascaradas com o dústria do asbesto (amianto), dos perigos representados
uso do bom senso: mas esperar isso de todo mundo é por seus produtos provavelmente custou tantas vidas
quase impossível. quanto as destruídas por todos os assassinatos ocorridos
nos Estados Unidos da América durante uma década in-
e) As revistas especializadas dão alguns conselhos: não
teira; e outros produtos perigosos, como o cigarro, tam-
entre em sites desconhecidos e não compartilhe notí-
bém provocam, a cada ano, mais mortes do que essas.
cias sem fonte confiável. James William Coleman. A elite do crime. 5.ª ed., São
Paulo: Manole, 2005, p. 1 (com adaptações).
41. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL Não haveria prejuízo para o sentido original do texto
I – CESGRANRIO-2018) A vírgula está empregada cor- nem para a correção gramatical caso a expressão “a cada
retamente em: ano” fosse deslocada, com as vírgulas que a isolam, para
imediatamente depois de “e”.
a) A divulgação de histórias falsas pode ter consequên-
cias reais desastrosas: prejuízos, financeiros e cons- ( ) CERTO ( ) ERRADO
trangimentos às empresas.
b) As novas tecnologias, criaram um abismo ao separar 44. (TJ-SP - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – MÉ-
quem está conectado de quem não faz parte do mun- DIO - VUNESP – 2017) Assinale a alternativa em que
do digital. a substituição dos trechos destacados na passagem – O
c) As pessoas tendem a aceitar apenas as declarações que paulistano, contudo, não é de jogar a toalha – prefere es-
confirmam aquilo que corresponde, às suas crenças. tendê-la e se deitar em cima, caso lhe concedam dois
metros quadrados de chão. – está de acordo com a nor-
d) Os jornalistas devem verificar as fontes citadas, cruzar
ma-padrão de crase, regência e conjugação verbal.
dados e checar se as informações refletem a realidade.
e) Os consumidores de notícias não agem como cientis-
a) prefere mais estendê-la do que desistir – põe à disposição.
tas porque não estão preocupados em conferir, pon- b) prefere estendê-la à desistir – ponham a disposição.
tos de vista alternativos. c) prefere estendê-la a desistir – põe a disposição.
d) prefere estendê-la do que desistir – põem a disposição.
42. (PETROBRAS – ADMINISTRADOR JÚNIOR – CES- e) prefere estendê-la a desistir – ponham à disposição.
GRANRIO-2018) A vírgula foi plenamente empregada
de acordo com as exigências da norma-padrão da língua 45. (PREFEITURA DE SERTÃOZINHO - SP – FARMA-
portuguesa em: CÊUTICO - SUPERIOR - VUNESP – 2017 - adaptada)
LÍNGUA PORTUGUESA
Leia as frases.
a) A conexão é feita por meio de uma plataforma especí- As previsões alusivas ............. aumento da depressão são
fica, e os conteúdos, podem ser acessados pelos dis- alarmantes.
positivos móveis dos passageiros. Os sentimentos de tédio ou de tristeza são inadequada-
b) O mercado brasileiro de automóveis, ainda é muito mente convertidos .......... estados depressivos.
grande, porém não é capaz de absorver uma presença Qualquer situação que possa ser um obstáculo ............ feli-
maior de produtos vindos do exterior. cidade é considerada doença.
112
Para que haja coerência com a regência nominal estabe- — Vivemos inundados por notícias e muitas vezes
lecida pela norma-padrão, as lacunas das frases devem as pessoas não têm tempo nem condições para verificar
ser preenchidas, respectivamente, por: se elas são verdadeiras — afirma um dos pesquisado-
res. Isso não quer dizer que as pessoas são estúpidas. As
a) ao … com … na redes sociais colocam todas as informações no mesmo
b) ao … em … à nível, o que torna difícil diferenciar o verdadeiro do falso,
uma fonte confiável de uma não confiável.
c) do … com … na
BAIMA, Cesar. Na internet, mentiras têm pernas lon-
d) com o … em … para gas. O Globo. Sociedade. 09 mar. 2018. Adaptado.
e) com o … para … à
No trecho “independentemente do tema geral que os ru-
46. (TRE/MS - ESTÁGIO – JORNALISMO - TRE/MS – mores abordassem”, a palavra que pode substituir rumo-
2014) Assinale a assertiva cuja regência verbal está correta: res, por ter sentido equivalente, é:
a) É preferível um inimigo declarado do que um amigo falso. a) A arte é a mais bela das mentiras;
b) As meninas têm aversão de verduras. b) O importante na obra de arte é o espanto;
c) Aquele cachorro é hostil para com desconhecidos. c) A forma segue a emoção;
d) O sentimento de liberdade é inerente do ser humano. d) A obra de arte: uma interrupção do tempo;
e) Construiremos portos acessíveis de qualquer navio. e) Na arte não existe passado nem futuro.
50. (MPU – TÉCNICO – SEGURANÇA INSTITUCIONAL
48. (LIQUIGÁS – MOTORISTA DE CAMINHÃO GRANEL E TRANSPORTE – CESPE-2015)
I – CESGRANRIO-2018)
TEXTO II
Na internet, mentiras têm pernas longas A partir de uma ação do Ministério Público Federal
(MPF), o Tribunal Regional Federal da 2.ª Região (TRF2)
Diz o velho ditado que “a mentira tem pernas curtas”, determinou que a Google Brasil retirasse, em até 72 ho-
mas nestes tempos de internet parece que a situação se ras, 15 vídeos do YouTube que disseminam o preconcei-
inverteu, pelo menos no mundo digital. Pesquisadores to, a intolerância e a discriminação a religiões de matriz
mostram que rumores falsos “viajam” mais rápido e mais africana, e fixou multa diária de R$ 50.000,00 em caso de
“longe”, com mais compartilhamentos e alcançando um descumprimento da ordem judicial. Na ação civil pública,
maior número de pessoas, nas redes sociais, do que in- a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC/
formações verdadeiras. RJ) alegou que a Constituição garante aos cidadãos não
Foram reunidos todos os rumores nas redes sociais apenas a obrigação do Estado em respeitar as liberdades,
mas também a obrigação de zelar para que elas sejam
- falsos, verdadeiros ou “mistos”. Esses rumores foram
respeitadas pelas pessoas em suas relações recíprocas.
acompanhados, chegando a um total de mais de 4,5 mi- Para a PRDC/RJ, somente a imediata exclusão dos ví-
lhões de postagens feitas por cerca de 3 milhões de pes- deos da Internet restauraria a dignidade de tratamento,
soas, formando “cascatas” de compartilhamento. que, nesse caso, foi negada às religiões de matrizes afri-
Ao compararem os padrões de compartilhamento canas. Corroborando a visão do MPF, o TRF2 entendeu
dessas milhares de “cascatas”, os pesquisadores obser- que a veiculação de vídeos potencialmente ofensivos e
varam que os rumores “falsos” se espalharam com mais fomentadores do ódio, da discriminação e da intolerância
rapidez, aumentando o número de “degraus” da casca- contra religiões de matrizes africanas não corresponde
ta - e com maior abrangência do que os considerados ao legítimo exercício do direito à liberdade de expressão.
verdadeiros. O tribunal considerou que a liberdade de expressão não
A tendência também se manteve, independentemen- se pode traduzir em desrespeito às diferentes manifesta-
ções dessa mesma liberdade, pois ela encontra limites no
te do tema geral que os rumores abordassem, mas foi
LÍNGUA PORTUGUESA
113
ANOTAÇÕES
GABARITO
1 B ________________________________________________
2 A
_________________________________________________
3 B
4 E _________________________________________________
5 A
_________________________________________________
6 E
7 A _________________________________________________
8 C
_________________________________________________
9 A
10 A _________________________________________________
11 D
_________________________________________________
12 CERTO
13 D _________________________________________________
14 C
_________________________________________________
15 E
16 E _________________________________________________
17 C
_________________________________________________
18 C
19 C _________________________________________________
20 E
_________________________________________________
21 D
22 B _________________________________________________
23 A
_________________________________________________
24 E
25 E _________________________________________________
26 D
_________________________________________________
27 A
28 B _________________________________________________
29 D
_________________________________________________
30 E
31 CERTO _________________________________________________
32 C
_________________________________________________
33 C
34 A _________________________________________________
35 D
_________________________________________________
36 E
37 E _________________________________________________
38 A
_________________________________________________
39 D
40 E _________________________________________________
41 D
42 C _________________________________________________
43 CERTO _________________________________________________
44 E
LÍNGUA PORTUGUESA
45 B _________________________________________________
46 B _________________________________________________
47 C
48 B _________________________________________________
49 C _________________________________________________
50 CERTO
_________________________________________________
114
ÍNDICE
Tratado de Petrópolis
Composto de 10 artigos, o Tratado contou com a permuta de alguns territórios entre os países, ou seja, para o Brasil
ficou declarado que o Acre inferior (142.000 km²) e o Acre superior (48.000 km²) seria anexado ao território, enquanto
que a Bolívia ficaria com parte da região do estado do Mato Grosso, numa área correspondente a 3.164 km.
O ciclo da borracha (seringueiras) foi um dos principais fatores de desenvolvimento de parte da região norte do
país, sobretudo do estado do Acre, na Floresta Amazônica. Em finais do século XIX a borracha tornou-se um dos
principais produtos de exportação, o que levou a exploração e povoação da região pelos brasileiros, principalmente
nordestinos os quais se deslocavam a fim de melhores condições de vida e trabalho.
Embora fosse uma região pertencente à Bolívia, os bolivianos não se preocuparam muito em povoar o espaço, o
que levou ao maior interesse do governo brasileiro.
Esse evento de anexação territorial, ocorreu na cidade serrana do estado do Rio de Janeiro, Petrópolis, no início do
século XX e reuniu figuras dos dois governos, a saber: José Maria da Silva Paranhos do Rio Branco (Barão do Rio Bran-
co), Ministro das Relações Exteriores e Joaquim Francisco de Assis Brasil, ex-governador do Rio Grande do Sul; por sua
vez, do lado Boliviano estavam presentes o Presidente da República Fernando E. Guachalla e o Senador Claudio Pinilla.
Com isso, o Brasil avançou nas obras de infraestrutura a fim de facilitar o transporte bem como a exploração da
região, declarado no Artigo VII: “Os Estados Unidos do Brasil obrigam-se a construir em território brasileiro, por si ou
por empresa particular, uma ferrovia desde o porto de Santo Antônio, no Rio Madeira, até Guajará-Mirim, no Mamoré,
com um ramal que, passando por Vila Murtinho ou outro ponto próximo (Estado de Mato Grosso), chegue a Vila Bela
(Bolívia), na confluência do Beni e do Mamoré. Dessa ferrovia, que o Brasil se esforçará por concluir no prazo de quatro
anos, usarão ambos os países com direito às mesmas franquezas e tarifas. ”
Assim, devemos ressaltar que ambas as partes obtiveram vantagens com o Tratado de Petrópolis, que além de
estreitar os laços entre os dois países facilitou as relações exteriores, comerciais, políticas, exemplificado no Artigo III:
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
“Por não haver equivalência nas áreas dos territórios permutados entre as duas Nações, os Estados Unidos do Brasil
pagarão uma indenização de £ 2.000.000 (dois milhões de libras esterlinas), que a República da Bolívia aceita com o
propósito de a aplicar principalmente na construção de caminhos de ferro ou em outras obras tendentes a melhorar as
comunicações e desenvolver o comércio entre os dois países.”
Importante destacar que esse acordo estabeleceu relações amistosas entre os países, e ainda evitou um conflito bé-
lico entre as partes. Nesse sentido, a Bolívia enviou missões militares, as quais foram malsucedidas visto que o território
já estava, em grande parte, ocupado pelos brasileiros.
Outras foram as tentativas de conquista do território, que perdurou entre 1899 (quando se iniciaram os conflitos)
até 1903, período conhecido como “Revolução Acreana” (Guerra del Acre), que culminou num acordo de paz e de in-
teresses de ambos. Assim, após o Tratado de Petrópolis, as partes territoriais anexadas ao Brasil foram ocupadas pelas
famílias de cerca de 60 mil seringueiros, responsáveis pelo trabalho de extração da borracha (látex).
1
O processo de ocupação das terras acreanas, a Essas “entradas” permaneceram limitadas, subindo
ocupação indígena, a imigração nordestina e a pro- os rios apenas parcialmente, mas inauguraram uma série
dução da borracha e a insurreição de explorações da região durante as décadas de 1850
Indígenas e 1860. Entre essas expedições destaca-se a viagem, a
À semelhança do Brasil, o Acre compõe-se de uma mando da Royal Geographical Society de Londres, do
grande diversidade de povos indígenas cujas situações geógrafo inglês William Chandless que subiu o Purus
frente à sociedade nacional também são muito variadas. em 1864/65 e o Juruá em 1867. Todavia, a historiografia
Enquanto a grande maioria dos grupos se encontrarem regional consagrou os nomes de Manoel Urbano, explo-
em contato permanente ou regular com a população re- rador do Purus em 1858, e João da Cunha Corrêa, que
gional (mestiça ou branca), alguns ainda são classificados percorreu o Juruá em 1861, como os primeiros “desbra-
como “isolados” pelo órgão indigenista. vadores” e “descobridores” das terras acreanas.
Segundo Valle de Aquino e Iglesias (2000: 565), o Acre A partir da década de 1870, a situação mudou pau-
contaria com doze grupos indígenas identificados que latinamente com a chegada maciça de seringueiros de
representariam um total de cerca de 9 300 índios, ou seja, origem nordestina, vindos principalmente do Ceará. Com
1,4 % da população do Estado (2). A maior parte desse uma densidade elevada de hévea brasiliensis, a história
contingente é composta pelos Kaxinawá que represen- do Acre foi profundamente marcada pela economia ex-
tam cerca da metade da população indígena acreana, os trativista da borracha. Em 1899, a região acreana produ-
outros grupos tendo geralmente uma população inferior
zia cerca de 60% da borracha amazonense, ou seja, mais
a mil indivíduos cada um. As sociedades indígenas acrea-
de 12 mil toneladas (Costa [1973] 1998: 40). A ocupação
nas dividem-se de maneira desigual em duas grandes
da bacia do Purus, de acesso mais fácil a Manaus e Be-
famílias linguísticas: Pano e Arawak. Alguns desses povos
lém, precedeu de alguns anos à exploração de seringa no
encontram-se também nas regiões peruanas e bolivianas
fronteiriças ao Acre. Do ponto de vista da antropologia, o A lto Juruá. Segundo Oliveira (1992: 50), João Gabriel de
conhecimento sobre as sociedades indígenas do Estado Carvalho e Melo foi o primeiro colono a se estabelecer,
é muito desigual. Se alguns povos, como os Kaxinawá em 1857, nas margens do Purus com 40 famílias e o fun-
ou os Ashaninka, atraíram o interesse de vários pesqui- dador, em 1869, do primeiro seringal estável da região.
sadores, as informações etnográficas disponíveis sobre O ritmo da colonização do Acre se acelerou a partir
a maior parte dos povos indígenas acreanos ainda são de 1877 em consequência das grandes secas do Nordes-
muito incipientes. te. A imigração de milhares de seringueiros, em busca
Os povos indígenas ocuparam um lugar marginal na de melhores condições de vida, organiza -se a partir das
histografia do Acre. Como no resto da Amazônia, o ima- casas aviadoras de Manaus e Belém apoiadas pelo capi-
ginário ocidental sobre a natureza e a alteridade humana tal internacional e é geralmente apresentada pelos his-
projetou seus fantasmas na região acreana e nos seus toriadores, como Euclides da Cunha ([1909] 1998: 92) ou
primeiros habitantes indígenas. A “conquista do deserto Ferreira Reis (1931: 216), como um movimento “fortuito”,
ocidental” (Costa [1973] 1998) e a incorporação do Acre “espontâneo” e sem “iniciativa oficial”.
à nação revelam alguns mitos fundadores do pensamen- A chegada dos seringueiros constitui, para usar a ex-
to ocidental e brasileiro sobre a Amazônia e os povos pressão de Ricoeur (1978: 40), o “evento fundador” da
indígenas. história oficial acreana. O Acre nasce com os seringueiros
Focalizando o lugar do índio na história acreana, este e a epopeia da borracha. A história da região na última
artigo mostra as mudanças ocorridas na situação das po- década do século XIX e no início do século XX é comple-
pulações nativas, desde a chegada dos seringueiros nor- xa e movimentada. A “conquista do deserto ocidental” é
destinos na região, na segunda metade do século XIX, apresentada ao leitor como um exemplo de patriotismo,
até a afirmação étnico-política do movimento indígena um ímpeto de brasilidade e de orgulho nacional. Juntos
contemporâneo. com as figuras emblemáticas de Plácido de Castro e o
A “invenção” do Acre como exemplo de brasilidade Barão do Rio Branco, os seringueiros nordestinos, foram
A história da colonização do Acre está estreitamente os pilares da incorporação da região ao Estado-nação
ligada ao extrativismo da seringa. Até metade do século brasileiro. Através da análise da historiografia regional,
XIX, o atual Estado do Acre ainda era pouco conhecido podemos desvendar alguns mitos que participam tanto
e as populações indígenas da região viviam num relativo da ideologia nacional brasileira, como da “invenção da
isolamento do mundo moderno. Organizadas em torno Amazônia” (Gondim 1994).
da coleta de drogas do sertão (cacau, salsaparrilha, etc.), Preocupado em destacar alguns desses mitos funda
as raras e tímidas penetrações brancas na região acreana dores da história oficial acreana, opto aqui por não des-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
durante o século XVIII não estabeleceram nenhum nú- crever os eventos e as disputas entre o Brasil e os países
cleo de povoamento. fronteiriços para a demarcação das fronteiras internacio-
Viajando pelas bocas dos rios Juruá e Purus no iní-
nais e a incorporação do Acre ao território nacional. Os
cio do século XIX, os naturalistas alemães Spix e Martius
conflitos do Brasil com a Bolívia e o Peru, as insurreições
([1823-31] 1981) notaram em seus diários a presença de
dos seringueiros, a formação do Estado independente do
“índios selvagens” e a falta de “civilização” que, segundo
Acre dirigido por Galvez, a epopeia militar comandada
os autores, caracterizava a região. Além da exploração
da região e de suas riquezas naturais, as primeiras expe- por Plácido de Castro, as negociações diplomáticas lide-
dições oficiais ao Purus e ao Juruá, lideradas respectiva- radas pelo Barão do Rio Branco que levaram progres-
mente por João Rodrigues Cametá e Romão José de Oli- sivamente a definição das fronteiras atuais, são alguns
veira, em meados do século XIX, tinham como objetivo a dos principais marcos da fascinante história do Acre cuja
atração e a pacificação dos índios. exposição seria fastidiosa e ultrapassaria os limites deste
2
artigo. Como antropólogo e não historiador, o meu in- região. O consórcio capitalista dispunha da plena autori-
teresse é discutir o lugar atribuído aos povos indígenas dade sobre o comércio da borracha e de direitos políticos
pela historiografia oficial da região, desvendando alguns e judiciais essenciais. Ele usufruía do direito de compra e
mitos fundadores da “invenção” do Acre. venda dos seringais, do direito de navegar e controlar os
Na historiografia brasileira, a integração do Acre à rios através de uma polícia própria, de estabelecer as leis
nação é apresentada como um exemplo de patriotismo e exercer a justiça, etc. Em contrapartida, a Bolívia recebia
e de nacionalismo. Apesar das diferenças de interpreta- 60% da arrecadação realizada pela companhia. A criação
ções, os historiadores acreanos concentram, geralmente, do Bolivian Syndicate foi um dos momentos-chaves do
suas análises em torno da participação do povo serin- conflito acreano, um “critical event” (Das 1996) que le-
gueiro e dos grandes heróis da conquista: Plácido de vou à incorporação do Acre ao Brasil. Para os seringuei-
Castro e o Barão do Rio Branco. ros brasileiros, o Bolivian Syndicate aparecia como uma
Encarregado dos trabalhos de fixação da nova fron- espécie de companhia colonial que controlava, não só a
teira através da “Comissão mista brasileira-peruana de terra, mas toda a organização do trabalho extrativista da
reconhecimento do Alto Purus”, no início do século borracha.
XX, Euclides da Cunha ([1909] 1998), por exemplo, em Essa situação revoltou a população acreana que
seus escritos sobre a Amazônia, salientou a coragem e conseguiu superar suas divisões internas e se organizar
o patriotismo dos seringueiros nordestinos. Vivendo contra o inimigo comum. O sentimento do povo acrea-
em condições sub-humanas, prisioneiros do sistema do no espalhou-se além das bacias do Purus e do Juruá e
aviamento e da hostilidade da floresta, os seringueiros comoveu o país que deu um apoio decisivo à luta dos
são, na visão do autor, um exemplo de miscigenação e seringueiros. A formação do Bolivian Syndicate criou um
os bastidores do novo caráter nacional. Encarregados de fervor nacionalista e patriótico que cimentou a nação
domesticar a natureza e de integrar a Amazônia, “terra contra os inimigos do Brasil. Manifestações contra os
sem história”, à Pátria, os anônimos seringueiros concen- americanos e bolivianos se organizaram em Manaus, Be-
tram as virtudes do povo brasileiro e expressam através lém e Rio de Janeiro. Orgulho da Nação, a Amazônia era
de uma luta cotidiana os grandes desafios da nação. novamente cobiçada pelo capital estrangeiro. Depois do
A utilização do patriotismo e do nacionalismo apare- roubo das sementes da hévea que levará à crise da bor-
ce também na construção mítica dos heróis da história racha amazônica a partir de 1910, a ameaça estrangeira
do Acre. À imagem da República que elegeu Tiradentes sobre o território continuava com claras tentativas de se
como símbolo nacional brasileiro (Carvalho 1990), a epo- apropriar das riquezas do Brasil e impedir seu almejado
peia acreana construiu seus venerandos heróis: Plácido progresso.
de Castro e o Barão do Rio Branco. O clima decorrente da criação do Bolivian Syndicate
Ardentes defensores das ideias positivistas, os mili- motivou a decisão do Presidente Rodrigues Alves de en-
tares tiveram um papel importante na proclamação da viar tropas do exército para o Acre. Espelho das hesita-
República no Brasil e na ocupação do território nacional. ções da política oficial, as ordens dos militares brasileiros
Na história acreana, Plácido de Castro expressa esses va- eram confusas e contraditórias: garantir a paz com os
lores positivistas e patrióticos do “espírito militar” que o bolivianos e apoiar a luta dos seringueiros, defendendo
“libertador do Acre” soube transmitir ao povo seringuei- os interesses da nação contra o imperialismo internacio-
ro e que foram decisivos para a incorporação da região nal. Ao mesmo tempo que causou a intervenção militar
à nação. Todavia, a dimensão militar nunca substituiu os brasileira no Acre, onde se destacaram as façanhas de
esforços da diplomacia. Na versão da história oficial da Plácido de Castro, a criação do Bolivian Syndicate tam-
conquista do Acre, o Brasil sempre valorizou uma resolu- bém é usada na historiografia oficial para expressar o gê-
ção pacífica do conflito com a Bolívia e o Peru. nio diplomático do Barão do Rio Branco que propôs uma
Nesse contexto, o Barão do Rio Branco, chefe da di- indenização financeira à Bolívia e aos americanos para
plomacia brasileira, aparece como um negociador excep- evitar a extensão do conflito.
cional. Ao mesmo tempo defensor do Brasil e respeitoso É interessante notar que nessa campanha nacional em
dos países vizinhos, Rio Branco alcançou um estatuto defesa dos interesses da Pátria, a imprensa teve um papel
mítico, além dos interesses egoístas que caracterizam a essencial. Formador da opinião pública e do sentimento
condição humana. Na apresentação de sua atuação, des- nacional, o “print capitalism” (Anderson 1996) contribuiu
vendam-se algumas imagens do “homem cordial”, outro para assegurar a vitória dos seringueiros acreanos. Antes
símbolo poderoso de brasilidade (Buarque de Holanda da criação do Bolivian Syndicate, a imprensa amazonense
[1936] 1989). já havia atuado de maneira notável na defesa dos inte-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
3
uma questão de honra nacional. O “amazonismo” ou o Não consideramos que estas pessoas que se encon-
lugar dos povos indígenas na historiografia acreana Além travam nessa área no final do século XVII, tenham vin-
de reproduzir e participar da construção dos sentimentos do de um processo migratório e sim de deslocamentos
patrióticos e nacionalistas que permitiram a “invenção do isolados e com objetivos específicos. Segundo SOUZA
Acre” e sua incorporação ao Brasil, a historiografia oficial (1978), há migração quando grupos envolvidos no pro-
veiculou e continua veiculando vários mitos sobre a re- cesso migratório fixam residência em outro município
gião amazônica e seus primeiros habitantes. diferente daquele de nascimento. Ainda SOUZA, (op. cit.
A natureza e os povos indígenas que a habitam con- 48):
tinuam servindo de palco de projeção para os mitos oci- Migração interna é um processo social resultante de
dentais sobre a Amazônia e sua alteridade humana. Esses mudanças estruturais de um determinado país que pro-
mitos são bem conhecidos na literatura antropológica e vocam o deslocamento de grupos sociais, pertencentes
foram sistematizados no trabalho de Gondim (1994). O às diversas classes sociais, os quais, por motivos diversos,
objetivo, aqui, não é detalhar a concepção ocidental so- deixam o seu município de origem e vão fixar residência
bre a Amazônia e as populações indígenas, mas apenas noutro.
expor algumas de suas características, mostrando como Partindo deste princípio, discutiremos duas correntes
elas aparecem na história regional e nos ajudam a pensar migratórias para Amazônia, que ocorreram em dois mo-
o lugar atribuído aos povos indígenas pela historiografia mentos da nossa história e que vão ter fortes influências
acreana. na produção do espaço desta região: a primeira refere-
Como o “orientalismo” de Said (1996), poderíamos -se à nordestinos que migraram no final do século XIX, e
definir o “amazonismo” como um conjunto de ideias e que tinha como principal característica ser uma migração
de discursos, produzidos pelo imaginário ocidental sobre familiar e sertaneja. A segunda analisada será a que ocor-
a Amazônia e as populações nativas, destinado a viabili- reu no período de 1943 a 1945 motivada pela “Batalha
zar seus interesses políticos e econômicos. Como espaço da Borracha”. A PRIMEIRA CORRENTE MIGRATÓRIA: As
imaginado pelo Ocidente, o “amazonismo” partilha mui- migrações nordestinas para Amazônia sempre estiveram
tas características com o “orientalismo”. Todavia, enquan- ligadas às questões de conflitos no campo, coincidindo
to Said nos apresenta um Oriente construído de maneira com os períodos de seca, e os pequenos agricultores são
negativa por um Ocidente hegemônico, o “amazonismo” os que primeiro sentem os efeitos da mesma. Além de
constitui um campo ambíguo, catalisador de imagens e serem a maioria da população rural sertaneja, eles não
de discursos contraditórios, que podem ser mobilizados tinham alternativa a não ser migrar.
para servir interesses muito divergentes. A concepção Boa parte da bibliografia existente sobre o tema en-
ocidental da alteridade enraíza-se na Grécia Antiga, mo- fatiza que os nordestinos, principalmente os sertanejos,
mento onde se estabeleceu uma dicotomia inicial entre migram para outras regiões ou até mesmo para a capital
o “civilizado” e o “bárbaro” que serviu de modelo para a em função das secas que assolam o sertão do Nordeste.
apreensão do “Outro” nos séculos seguintes. O fenômeno da seca é usado como fator de entendimen-
Primeiras testemunhas da Amazônia e de seus habi- to da migração, e, com isso, esconde-se a questão funda-
tantes, os relatos de Carvajal ([1542] 1941) e de Acuña mental, que é a estrutura fundiária nordestina, que vem
([1641] 1941) combinaram o fantástico e o exótico e edi- ao longo de todos esses anos propiciando a expulsão de
ficaram as bases do “amazonismo”: mito das Amazonas, milhares de pessoas para outras regiões do País.
inferno verde, Eldorado, seres canibais, nobre selvagem, Segundo MEDEIROS FILHO; SOUZA (1984), a migra-
etc. A Amazônia e seus primeiros habitantes concentra- ção em direção ao Norte deu seus primeiros passos na
ram e continuam concentrando todos os sentimentos e grande seca de 1877-1879. O surgimento do ciclo da
as fantasias ocidentais. Símbolo de riqueza e miséria, de borracha transformou-se em grande polo de atração
medo e esperanças, de sonhos e pesadelos, de futuro e para as populações rurais do Nordeste. Migrar para a
passado, de inferno e paraíso, a alteridade é o espelho Amazônia nos anos de seca já se tornara constante na
invertido do Ocidente e é manipulada conforme os in- história nordestina, principalmente, no Estado do Ceará.
teresses em jogo. Essas imagens contraditórias acompa- Formaram-se, então, as correntes migratórias para os
nharam e informaram a conquista da América e o encon- Estados da Amazônia incentivadas pelo governo (SOU-
tro com as populações indígenas. Além de legitimarem ZA; 1978). Também alguns donos de seringais se deslo-
a ocupação e exploração econômica, os mitos também cavam até o Nordeste, principalmente para o Ceará, com
serviram a sustentar os interesses políticos e ideológicos o objetivo de recrutar trabalhadores para os seringais,
da Europa. propagando serem elevadas as quantias pagas a eles
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
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Já na seca de 1904, o Brasil estava no auge de dois produção anual para 45 mil toneladas em 1942, 60 mil em
momentos econômicos: o da borracha na Amazônia, e 1943 e 100 mil em 1944, como era o desejo dos estaduni-
o do café no Centro-Sul, havendo inclusive incentivo denses, seria necessário, pelo menos, quintuplicar o núme-
do governo em forma de passagens gratuitas para que ro de extratores, (MARTINELLO; 1985), e por isso o governo
os migrantes pudessem se deslocar para essas regiões. brasileiro criou a “batalha da borracha”.
Mesmo aqueles que não queriam sair do nordeste eram Para a viabilização desses milhares de extratores que
compelidos, pois o governo utilizava-se da força poli- seriam convocados para a “batalha”, foram criados pe-
cial para obrigá-los a migrar (MEDEIROS FILHO; SOUZA, los governos brasileiros e estadunidenses, vários órgãos
1984:59): e instituições que se encarregariam do financiamento,
A dramaticidade destes embarques ficou gravada na recrutamento, transporte, alojamento, assistência médi-
memória do povo (...). Houve casos de embarques rea- ca e sanitária e alimentação para os que lutariam nessa
lizados à força em que o marido foi para o Norte e a batalha. Para MARTINELLO (op. cit.), as pessoas que es-
mulher foi para o Sul. tavam à frente destes órgãos e instituições nem sempre
A SEGUNDA CORRENTE MIGRATÓRIA: Em decorrên- cumpriam satisfatoriamente as atividades, e muitas con-
cia do envolvimento do Brasil na II Guerra Mundial em tribuíam para o insucesso da “batalha da borracha”. Entre
1942, o governo brasileiro forneceu contingentes mili- as instituições que foram criadas destacamos:
tares para as frentes de combate e firmou convênio com -Banco de Crédito da Borracha - BCB, encarregado
a Rubber Reserve Company, assinando também os cha- de realizar operação de crédito, fomentar a pro-
mados Acordos de Washington, objetivando desenvolver dução, financiar a empresa extrativista, bem como
a produção da borracha na Amazônia. Nestes Acordos exercer o monopólio final da compra e venda da
ficavam estabelecidos os seguintes compromissos: borracha, tanto interna como externa, criado atra-
I- O Brasil concordava em vender a Rubber Reserve vés do Decreto-lei n°4.841, de 17 de outubro de
Company toda a borracha excedente às necessidades do 1942; -Departamento Nacional de Imigração - DNI
consumo interno; tinha como finalidade recrutar e encaminhar traba-
II- O preço teto fixado para a borracha era de 39 con- lhadores para a Amazônia, como também fiscalizar
tos por libra para a qualidade fino-lavada (borracha de outros órgãos envolvidos na mobilização; -Co-
melhor qualidade, sem impurezas); missão de Controle dos Acordos de Washington -
III- A Rubber Reserve Company concedia um prêmio CCAW, coordenando e auxiliando as atividades de
de 2,5 contos, por libra-peso, para toda a borracha ex- grupos brasileiros e estadunidenses que atuariam
portada que excedesse a 5.000 toneladas; ultrapassando na operacionalização da “batalha da borracha”,
este limite, o prêmio seria elevado para 5 contos por li- criada através do Decreto Lei n°4.523, de 25 de
bra-peso; julho de 1942; -Superintendência para o Abaste-
IV- O produto destes prêmios seria aplicado, con- cimento do Vale Amazônico - SAVA, tendo como
juntamente com o crédito de cinco milhões de dólares finalidade abastecer com gêneros alimentícios o
concedido ao Brasil, no imediato desenvolvimento da Vale Amazônico, e ainda coordenar as medidas a
produção, considerando-se não somente a melhoria de serem tomadas com os Estados da região visan-
sua qualidade, como as condições gerais da região e do do o abastecimento e incremento da produção de
trabalhador, através de um plano de sistematização; alimentos, providenciando a aquisição das merca-
V- O Brasil tudo faria para aumentar a produção e, dorias, dentro e fora do país, e seu transporte para
tendo em vista as necessidades dos Estados Unidos, ven- a Amazônia, formando estoques, criada através do
deria também a produção de borracha manufaturada ex- Decreto-lei n°5.044, de 04 de dezembro de 1942;
cedente ao consumo interno; -Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores
VI- O Brasil designaria uma única agência de compra para a Amazônia - SEMTA, depois substituído pela
e venda para adquirir no interior e colocar no exterior e Comissão Administrativa de Encaminhamento de
nas fábricas nacionais toda a produção de borracha; Trabalhadores para Amazônia - CAETA, cujo obje-
VII- Os Acordos tinham a duração de cinco anos, tivo era recrutar, encaminhar e colocar trabalha-
com direito a reajustamento periódico de preços duran- dores nos seringais, transportando-os até Belém;
te os três últimos anos, levando-se em consideração as -Serviço Especial de Saúde Pública - SESP, encarre-
gado de prestar assistência médica e sanitária aos
circunstâncias que, porventura, viessem a afetar o custo
“soldados da borracha”;
da produção. Em decorrência da ocupação japonesa nos
- Serviço de Navegação e Administração do Porto do
seringais da Malásia, os países aliados, impossibilitados
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
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-Banco de Crédito da Borracha - BCB, encarregado de familiar e que voluntariamente se destinou ao corte da
realizar operação de crédito, fomentar a produção, seringa; são os chamados “seringueiros voluntários”.
financiar a empresa extrativista, bem como exercer Nesta etapa, após a criação da “batalha da borracha”,
o monopólio final da compra e venda da borra- em 1943, entra em ação, com o objetivo de selecionar,
cha, tanto interna como externa, criado através do transportar e localizar os trabalhadores nos seringais da
Decreto-lei n°4.841, de 17 de outubro de 1942; Amazônia, o SEMTA, visto que o empenho do DNI não
- Departamento Nacional de Imigração - DNI tinha era suficiente para agilizar o novo surto da borracha. Pe-
como finalidade recrutar e encaminhar trabalha- las precariedades de recursos materiais disponíveis para
dores para a Amazônia, como também fiscalizar transporte e alojamento, era quase impossível naquele
outros órgãos envolvidos na mobilização; momento recrutar milhares de pessoas, como queriam
- Comissão de Controle dos Acordos de Washington - os altos escalões do governo estadunidense. O SEMTA
CCAW, coordenando e auxiliando as atividades de tinha como meta recrutar e transportar para Amazônia
grupos brasileiros e estadunidenses que atuariam mais de 50.000 trabalhadores solteiros. Os esforços para
na operacionalização da “batalha da borracha”, atraí-los estavam estampados nas propagandas não só
criada através do Decreto lei n°4.523, de 25 de ju- no Nordeste, mas também em outras regiões, com pro-
lho de 1942; messas de auxílios aos familiares que iriam ficar nos lu-
- Superintendência para o Abastecimento do Vale gares de origem.
Amazônico - SAVA, tendo como finalidade abaste- Mas no ano de 1943 sabia-se da situação de penúria
cer com gêneros alimentícios o Vale Amazônico, e que se encontravam os dependentes dos “soldados da
ainda coordenar as medidas a serem tomadas com borracha” recrutados pelo SEMTA. Por isso, e por acordos
os Estados da região visando o abastecimento e que não foram cumpridos entre os governos do Brasil e
incremento da produção de alimentos, providen- dos Estados Unidos, esse serviço teria pouco meses de
ciando a aquisição das mercadorias, dentro e fora existência.
do país, e seu transporte para a Amazônia, forman- Esse segundo momento migratório promovido pelo
do estoques, criada através do Decreto-lei n°5.044, SEMTA se diferencia do primeiro, promovido pelo DNI e
de 04 de dezembro de 1942; RDC, que tinham como motivação a seca, e foram migra-
- Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores ções espontâneas e familiares. Este segundo, por sua vez,
para a Amazônia - SEMTA, depois substituído pela acena com vantagens diversas, como veremos a seguir,
Comissão Administrativa de Encaminhamento de contemplando o deslocamento de pessoas dos diver-
Trabalhadores para Amazônia - CAETA, cujo obje- sos pontos do País, inclusive dos centros urbanos, como
tivo era recrutar, encaminhar e colocar trabalhado- mostra MARTINELLO (1985):
res nos seringais, transportando-os até Belém; Enquanto o primeiro movimento migratório havia
- Serviço Especial de Saúde Pública - SESP, encarre- sido organizado, de início, à maneira tradicional com os
gado de prestar assistência médica e sanitária aos sertanejos (...) este novo contingente ampliou-se e “enri-
“soldados da borracha”; queceu-se” com outros elementos regionais desconheci-
- Serviço de Navegação e Administração do Porto dos e estranhos ao próprio meio e à história econômica
do Pará - SNAPP, encarregado de transportar os e demográfica da Amazônia, cariocas do morro e da ci-
“soldados da borracha” dos portos de Belém para dade, fluminenses de Niterói e do interior do Rio, capixa-
Manaus, Porto Velho e Acre. bas de Vitória do Espírito Santo, baianos de Ilhéus e de
Salvador, pernambucanos de Recife, mineiros da capital e
A partir de 1942 algumas entidades estadunidenses das serras. De todas as classes, cores, profissões e idades.
vinham trabalhando em conjunto com entidades brasi- Ferreiros, carpinteiros, engraxates, choferes de caminhão,
leiras no sentido de prover o aumento da mão-de-obra operários de fábricas e usinas, cansados das máquinas
necessária às novas exigências do aumento da produção e seduzidos pela oportunidade de conhecer, à custa do
para a indústria bélica aliada, importando inclusive mão- governo, terras e paisagens distantes; trabalhadores bra-
-de-obra de outros países como Porto Rico. O governo çais e agricultores, cujo sedentarismo não podia vencer
brasileiro, no entanto, recusou esta proposta, optando a emoção psicológica da aventura há muito recalcada
por transladar a mão-de-obra necessária de outras re- e comprimida, eis a grande “arca de Noé” que formava
giões do País. esta segunda leva de “soldados da borracha”.
Coincidindo com esta necessidade premente de nova Neste momento da migração o SEMTA encaminhou
e abundante força de trabalho para a região, a seca nor- para Amazônia apenas homens solteiros, (mais ou me-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
destina de 1942 veio reunir cerca de 20 a 30 mil flage- nos 11.000) que foram arrebanhados de outras regiões
lados em Fortaleza, ensejando mão-de-obra farta para do País, inclusive de cadeias públicas, principalmente in-
os seringais (MARTINELLO; 1985). Essa primeira fase en- fluenciadas pelas propagandas. Destes, apenas novecen-
volvia o Departamento Nacional de Imigração (DNI) e a tos foram colocados nos seringais, e os demais ficaram
Rubber Development Corporation (RDC), conseguindo em Belém e em Manaus. Conforme entrevistas e revisão
trazer para Amazônia cerca de 15.000 pessoas no ano de bibliográfica que realizamos, estes migrantes viviam pro-
1942 e início de 1943. movendo “arruaças e bagunças”, dando má fama à ima-
Este contingente de flagelados nordestinos era cons- gem do migrante nordestino, pois a partir destes even-
tituído de sertanejos vindos do Ceará, Paraíba e Rio Gran- tos todos os “soldados da borracha” passaram a causar
de do Norte, homens que deslocavam-se com as famílias medo nos moradores das cidades como ilustra as cita-
para a capital, no intuito de emigrar. Era uma migração ções abaixo:
6
Quando na segunda migração do encaminhamento (ciclo de corte do látex, que ocorre no período não chu-
do SEMTA, que é o Serviço de Encaminhamento de Tra- voso). Neste, a responsabilidade era do SEMTA e CAETA
balhadores para Amazônia, foi um órgão criado durante que não obedeciam ao calendário do corte da seringa e
a guerra em 42. Esses encaminharam só pessoas soltei- encaminhavam os trabalhadores em qualquer época, e a
ras, onze mil solteiros que foram arrebanhados do sul consequência eram as constantes revoltas nos acampa-
do país, eles vieram pra Belém e Manaus, eles fizeram a mentos de Belém, Manaus e Porto Velho.
maior revolta do mundo dentro dos campos (...) Porque Em setembro de 1943 foi criado, pelo Decreto Lei n°
eles eram solteiros e viviam de arruaça. Eles gostavam 5.813, a Comissão Administrativa de Encaminhamento
mais de sair dos campos pra beber, pra farrear. (Entre- de Trabalhadores para a Amazônia - CAETA, substituin-
vista com o Pesquisador Pedro Martinello - Rio Branco- do as agências responsáveis pelo recrutamento da mão-
-Acre, 1995) -de-obra para a Amazônia, sob a jurisdição da Comissão
Enquanto isso, a outra corrente, a partir de 1943, via- de Controle dos Acordos de Washington - CCAW. Esta
jando mais ao sabor da aventura, constituídos de bra- adota uma política seletiva para o encaminhamento de
sileiros cosmopolitas e urbanizados, já sem vínculos re- trabalhadores para a empresa extrativista. A preferência
gionais, desenraizados, sem afeição à sua “querência”, passou a ser dada a nordestinos recrutados com a família
viria criar sérios problemas de adaptação e integração ao nas áreas atingidas pela seca.
novo ambiente, a partir de suas cheganças. A sua psico- Entre 1943 e 1945, o SEMTA e a CAETA levaram, apro-
logia e intenção era mais de “chegar-ver-e-voltar-logo- ximadamente, cinquenta mil trabalhadores, a maioria
-que possível”. Já a da outra era “chegar-enricar-e-vol- deles motivada pelas propagandas que, por sinal, eram
tar-se-Deus-permitir”. Na impossibilidade do regresso, bem-feitas e atraentes. Nelas o “leite” era farto, o preço
essas novas levas de imigrantes, mal chegados, fugiam era bom e, pelas garantias dos contratos, o “soldado da
das hospedarias, e dos albergues de recepção (...). Muitos borracha” passaria apenas dois anos na Amazônia. Eram
se marginalizavam logo, outros desafogavam o desespe- contratos assinados na agência de recrutamento, que
ro no crime, na valentia e na cachaça (...). Ficavam amon- por sua vez responsabilizava-se pelo deslocamento, as-
toados e ociosos nos acampamentos à espera inquieta segurando passagens e todas as demais despesas do tra-
do verão que não chegava para o início do fábrico. (...) jeto, com uma pequena remuneração. Destacamos aqui
a atitude desse novo tipo de imigrante, mesmo aventu- o Termo de Compromisso entre o SEMTA e o “Soldado da
reiro, preferia ficar na cidade ao léu, com seu uniforme Borracha” recrutado:
típico de “soldado da borracha”: calça de mescla, cha- Os benefícios concedidos e as obrigações assumidas
péu de palha virado, blusa larga de algodão, mochila às pelo trabalhador são as seguintes:
costas, alpercata de rabicho, barba grande, a peixeira à a) O DNI fornecerá gratuitamente ao trabalhador:
ilharga. Andavam aos bandos a procura de emprego, da 1- Meios de transporte para ele e para seu equipa-
birosca para comer sua gororoba, do boteco para beber mento de viagem, dos pontos de recrutamento e
e esquecer os malditos, e das festas e dos arrasta-pés dos concentração aos de locação nos seringais;
bairros pobres, onde iam à procura de diversão; não raro, 2- Alojamento nas hospedarias durante a viagem;
transformavam-nas em cenas de bebedeiras, de valentia 3- Assistência médica e sanitária nos locais indicados
e de pega-pracapar, BENCHIMOL (1992:229). no item 2;
O resultado desta “desordem” era o medo e o pre- 4- Equipamento de viagem, que ficará sendo de pro-
conceito da população local. Os nordestinos recebiam a priedade do trabalhador, composto de vestuário:
culpa pela ação praticada por todos os outros, fossem duas calças e um blusão, um par de alpercatas ou
estes nordestinos ou não. Entretanto, poucos tinham co- equivalente, uma rede, uma mochila, uma caneca,
nhecimento da situação de tensão que vivia os migrantes um prato fundo e talher;
nos acampamentos, devido ao longo período de espera
para serem levados aos seringais, uma vez que muitos Novo vestuário se, decorridos três meses do forneci-
aguardavam seis meses ou mais. Isso porque os órgãos mento do equipamento inicial, não estiver ainda o traba-
responsáveis em instalá-los não tinham agilidade nesta lhador colocado no seringal
operação, porque o trabalho destes órgãos era interli- 6- Alimentação adequada, durante a vigência deste
gado, e, se um deles não cumprisse com sua atividade, termo de compromisso.
os demais ficavam prejudicados e era, normalmente, o b) O DNI, a título de auxilio, efetuará os seguintes pa-
que acontecia. Algumas vezes esses migrantes ficavam gamentos ao trabalhador: R$ 20$ (vinte contos de
impossibilitados de locomoção devido às grandes estia- réis) quando assinar o presente contrato, R$ 20$
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
gens que baixam consideravelmente o nível das águas de (vinte contos de réis) quando chegar a Belém e R$
rios e igarapés, impedindo o transporte de embarcações 200 $ (duzentos contos de réis) na ocasião da assi-
de médio e grande calado, como era o caso das embar- natura do contrato de Trabalho
cações do SNAPP. Os seringalistas, por sua vez, preferiam c) O DNI proporcionará, ao trabalhador e sua família,
não arcar com despesas para manter os seringueiros na a necessária e indispensável assistência religiosa;
sede sem destiná-los de imediato para as colocações. d) O trabalhador, durante a vigência deste termo de
Outras vezes faltava alimentação para garantia dos mes- compromisso, se obriga a prestar, a critério da ad-
mos nas zonas produtoras do látex, ou seja, a SAVA não ministração do DNI, qualquer trabalho previsto
tinha estoque de alimentos como previsto no contrato. pela legislação trabalhista, recebendo o salário di-
Outro motivo que causava a longa espera nos acampa- ário de 4 $ (quatro contos de réis) sem prejuízo do
mentos era o aguardo do início do período do “fábrico” auxílio constante da letra “b”
7
e) O trabalhador obriga-se a observar os regulamen- empreendemos para derrotar os soldados tiranos, e as
tos dos acampamentos e das companhias de nave- batalhas que travamos nos campos, fábricas, mares, céus,
gação, quando embarcado; escolas, lares, templos de fé e etc., estão a exigir de to-
f) Se por motivo relevante e justo, durante a vigência dos nós- soldados da liberdade - uma contribuição maior
deste termo de compromisso, não convier ou não e melhor pela vitória do Brasil e dos aliados. Todas as
foi possível o aproveitamento do trabalhador, será nossas atenções e preocupações devem estar voltadas
ele conduzido para o ponto onde foi recrutado. neste momento grave de nacionalidade para a voz de
Ficam ressalvados os casos de comprovada força comando do chefe nacional Getúlio Vargas obedecendo
maior e os decorrentes de justa causa para rescisão com energia e boa vontade, afim de que mais tarde, vi-
dos contratos de trabalho especificados no artigo toriosos, olhemos com orgulho o passado de cabeça er-
482, da Consolidação das Leis de Trabalho; e guida, entreguemos a nossos filhos e legado dos nossos
g) Se o trabalhador, durante a vigência deste, solici- maiores: A Pátria estremecida, com sua história acrescida
tar peças do equipamento de que trata a letra “a”, do nosso exercício e do amor ao Brasil.” (Jornal - O Acre
antes de decorridos três meses do fornecimento n. 742, 30.05.43, Rio Branco - Acre.)
inicial, ou der lugar a prejuízos de qualquer nature- Desta forma, mobilizou-se verdadeiro exército de ex-
za, fica acordado ser lícito o desconto das impor- tratores, como se fossem realmente soldados indo para
tâncias correspondentes aos causados, da quantia os campos de batalha em defesa da pátria, procedendo-
de 200$ (duzentos contos de réis), referida na letra -se o alistamento e até a concessão de uniformes para
“b”. (Este Termo de Compromisso elaborado pelo aqueles que seriam os soldados que lutariam nas selvas
SEMTA, consta do Dossiê elaborado pelo Ministé- da Amazônia.
rio Público para efeito de aposentadoria dos Sol- Além dos sentimentos patrióticos, outros subterfú-
dados da Borracha) gios foram usados. A propaganda enganosa apresentava
a Amazônia como paraíso e eldorado, oferecendo gran-
O outro contrato era assinado, quando da chegada des possibilidades de enriquecimento para aqueles que
do trabalhador no seringal, com o próprio patrão, no entrassem no “exército”.
qual eram assegurados direitos, constando inclusive a Nos postos de “aliciamento” eram colocados cartazes
participação nos lucros da venda da borracha produzida. onde apareciam seringueiros em meio a uma vasta flo-
A PROPAGANDA: Com a implantação da “Batalha da resta de seringueiras colhendo látex em grandes tambo-
Borracha”, a participação do governo federal foi ativa, e res carregados por caminhões e jeeps, como se fossem
o próprio presidente Getúlio Vargas desencadeou vasta seringais da Amazônia. Os migrantes não se davam conta
propaganda no sentido de sensibilizar a população brasi- de que isto era apenas mais um engodo para atraí-los,
leira para que se engajasse nesta “batalha” em “defesa da pois os cartazes retratavam não os seringais nativos, mas
pátria ameaçada”, como bem mostra a mensagem abai- sim, os seringais cultivados da Malásia, ou seja, realidade
xo aos “soldados da borracha”: bem diferente daquela que iriam enfrentar na Amazônia.
Seringueiros: Dediquei todas as energias à batalha Havia nos folhetos do SEMTA propagandas como esta: O
da borracha. Precisamos de mais borracha, pois é sobre Brasil insultado na sua honra e compreendendo o dever
ela que se encontra a guerra moderna, pois são grandes de lutar pela liberdade do mundo, na guerra de vida ou
os equipamentos que necessitam da goma elástica, pro- morte que ora se trava (...). É a nossa própria dignidade
duzidos sem repouso, colhendo o látex abundante das que está em jogo (...). Mas não só pelas armas podemos e
seringueiras do Vale Amazônico. Nas guerras modernas devemos concorrer para o triunfo completo da liberdade
não fazem parte somente os soldados que estão nos humana (...). Assim, tanto é soldado o que se alista no
campos de batalha, mas, toda a nação: homens e mulhe- quartel, como o que se oferece para trabalhar nos serin-
res, velhos e crianças. A vós desbravadores da Amazônia gais da Amazônia: um é o soldado da caverna, o aviador,
sois os mais importantes soldados. Unidos veremos sibi- o marinheiro; o outro é Soldado da Borracha, herói da
lar a bandeira do Brasil. (Jornal O Acre n. 742 de 20.05.43- Amazônia. Ambos estão em igualdade de condições pe-
Rio Branco-Acre.) rante a Pátria... (FERREIRA, 1991:02)
Apelos como este foram divulgados maciçamente no Os nordestinos optavam pela Amazônia, alistando-se
Nordeste. Levavam a crer que o governo, visando sanar no exército da borracha, pois acreditavam que correriam
problemas de carência de mão-de-obra nos seringais, menos riscos de vida e ainda contavam com a possibili-
considerava a região, que nos tempos áureos da pro- dade de enriquecimento, produzindo borracha no esfor-
dução da borracha amazônica tinha sido a fornecedora ço de guerra para os aliados, para então retornarem a
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
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as folhas desenhadas como se fossem notas de dinheiro. Nesse período, cerca de 40% de toda a exportação
É claro que as propagandas foram exercidas sem limites, brasileira era proveniente da Amazônia, paga em libra
sempre mostrando que os “Soldados” ficariam ricos com esterlina (£), a moeda do Reino Unido.
facilidade além de “servir a pátria”. Todos esses engodos Como consequência deste “boom”, muitas vilas e po-
usados como atrativos, pelo governo e seus representantes, voados ribeirinhos surgiram e as cidades que já existiam
contribuíram para arrastar milhares de migrantes viajando prosperaram e cresceram, desenvolvendo desde infraes-
em condições perigosas. truturas básicas, como escolas e hospitais, até as mais
A viagem era longa e cansativa, em navios superlota-
suntuosas, como hotéis de luxo e teatros.
dos, sem o mínimo conforto, onde viajavam mais de mil
pessoas, homens, mulheres e crianças, gerando caos e Além do desenvolvimento socioeconômico, centenas
tumulto num moderno navio negreiro. A alimentação era de milhares de trabalhadores, sobretudo do nordeste,
de péssima qualidade. Ao chegarem a Belém e a Manaus migraram para a região, resolvendo em partes o proble-
a situação piorava. Muitos chegavam doentes, outros ma de povoamento.
adoeciam nas pousadas onde eram jogados. Segundo
os depoimentos dos “soldados da borracha”, eles eram Contexto Histórico
“amontoados como animais, sofrendo fome e humilha- Em 1495, Cristóvão Colombo já anunciava a borracha
ções”. Nas pousadas ficavam esperando dias ou meses brasileira; contudo, a economia regional da colônia para
até chegarem aos seringais. Neste “exército da borracha” Amazônia ficou restrita ao extrativismo das “Drogas do
morreram mais “soldados” do que no exército da Força Sertão”.
Expedicionária Brasileira que lutava nos campos da Itá- Somente em 1743, quando o naturalista francês Char-
lia, para onde foram enviados nos períodos de junho de les Marie la Condamine descreveu o processo de extra-
1944 a fevereiro de 1945 um total de 25.334, pessoas. ção e fabricação da goma de látex é que a borracha des-
Destes, apenas 15.059 constituíam o grupo de artilharia
pertou interesses comerciais.
e 10.265 era o pessoal de apoio como o grupo de depó-
sito e das várias divisões dentro dos escalões. Segundo Portanto, em 1763, químicos franceses descobrem
CABRAL (1982), este exército lutou durante 239 dias e como dissolver borracha com terebintina e éter e, em
retornou ao País. Fora os mortos e os que foram captura- 1770, Joseph Priestley cria a borracha para apagar grafite.
dos como prisioneiros pelo inimigo, desembarcaram no A partir do início do século XIX, a exploração da bor-
total 23.811 pessoas. racha já era uma realidade: em 1803, na cidade de Paris,
Nas trincheiras da “Batalha da Borracha” milhares de era fundada a primeira fábrica de produtos de borracha;
“soldados” foram exterminados pelas doenças que os em 1823, o inglês Thomas Hancock cria o elástico e, em
debilitava sem terem o mínimo de assistência, abando- 1839, Charles Goodyear desenvolve o processo de vulca-
nados pelos “comandantes” no meio desta “batalha”, nização, tornando o látex um material viável para utiliza-
vítimas do descaso do governo e seus representantes, ção industrial.
além de lutarem praticamente a vida toda.
Primeiro Ciclo da Borracha
Produção borracha Em 1877, mais de 70 mil sementes de seringueiras
O Ciclo da Borracha corresponde ao período da his-
do Pará são contrabandeadas para Inglaterra, num es-
tória brasileira em que a extração e comercialização de
látex para produção da borracha foram atividades basi- candaloso caso de biopirataria. Este fato marca o início
lares da economia. deste primeiro ciclo.
De fato, ocorreram na região central da floresta ama- Em 1903, o governo brasileiro, em negociação com
zônica, entre os anos de 1879 e 1912, revigorando-se por o governo boliviano, adquire oficialmente o controle
pouco tempo entre 1942 e 1945. do Estado do Acre, mediante o pagamento de 2 milhões
Neste período, conhecido como “Belle Époque Ama- de libras esterlinas, da entrega de territórios do Mato
zônica” que vai de 1890 a 1920, cidades como Manaus, Grosso e da construção de uma ferrovia para escoar os
Porto Velho e Belém, tornaram-se as capitais brasileiras produtos da Amazônia.
mais desenvolvidas, com eletricidade, sistema de água Assim, as obras para construção da ferrovia tiveram
encanada e esgotos, museus e cinemas, construídos sob início em 1907 e foram concluídas em 1912, resolvendo
influência europeia. o problema de navegação do rio Mamoré, com mais de
Contudo, os dois períodos de “ciclos da borracha” vinte cachoeiras.
acabaram de maneira repentina, o que se agravou pela Contudo, a estrada de ferro Madeira-Mamoré entrou
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
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Segundo Ciclo da Borracha Os bolivianos mais uma vez tentaram reagir, novas
Por sua vez, o “segundo Ciclo Da Borracha” ocorreu tropas foram enviadas pelo general Pando. Todavia, a
entre os anos de 1942 a 1945, durante o contexto da Se- diplomacia brasileira não permitiu que combates signifi-
gunda Guerra Mundial. Em 1941, o governo brasileiro fez cativos acontecessem nesta ocasião. Antes das batalhas,
um acordo com o governo norte americano para extra- representantes dos governos do Brasil e da Bolívia se
ção de látex na Amazônia. reuniram para assinar no dia 21 de março de 1903 um
Desse modo, quando os japoneses invadiram a Malá- tratado de paz inicial. Ao final do mesmo ano, em 17 de
sia em 1942, tomando o controle dos seringais, os EUA, novembro, o tratado definitivo foi assinado.
por meio de seu Departamento de Guerra, repassou mais O Tratado de Petrópolis estabeleceu o fim do con-
de 100 milhões de dólares ao Brasil em troca de artigos fronto entre brasileiros e bolivianos pelo território do
necessários à defesa nacional, dentre eles, a borracha.
Acre. A negociação de paz foi muito bem conduzida pelo
A comoção foi tanta, que foi preciso a criação de um
ministro Barão do Rio Branco e resultou na concessão,
Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a
Amazônia, instituído em 1943 para o alistamento com- por parte da Bolívia, da região acreana. Em troca, o Brasil
pulsório, especialmente de nordestinos que sofriam com cedeu parcela do território do Mato Grosso e ainda pa-
a seca. Este evento ficou conhecido como a “Batalha da gou dois milhões de libras esterlinas. A Bolívia ainda re-
Borracha”, a qual mobiliza mais de 100 mil “Soldados da quisitou a construção da ferrovia Madeira-Mamoré para
Borracha”. permitir o escoamento da produção, especialmente mar-
Por fim, a borracha sintética produzida após a Segun- cada pela borracha.
da Guerra, destroem qualquer pretensão comercial da No ano de 1904 o Tratado de Petrópolis foi regula-
borracha amazônica, a qual irá definhar até 1960. Atual- mentado por lei federal e o Acre passou a fazer parte ofi-
mente, São Paulo é o maior produtor brasileiro de bor- cialmente do território brasileiro, mas somente em 1962
racha natural. que o Acre foi considerado estado brasileiro.
Já em 1902, Silvério Néri enviou um militar gaú- fatos, sobretudo aqueles que evocam fatos do período
cho, José Plácido de Castro, para reconquistar o território
revolucionário do Acre e do anseio pela sua emancipação
do Acre. A investida das tropas lideradas pelo gaúcho
política.
caracteriza especialmente a chamada Revolução Acrea-
na. A nova expedição obteve grande sucesso e conquis- Dentre os tipos de crônicas, as humorísticas e satí-
tou rapidamente toda a região. Em 1903 foi declarada ricas, parecem oferecer material mais precioso para o
pela terceira vez a República do Acre, mas dessa vez dois assunto proposto, pois ocorrem mais intensamente em
importantes indivíduos declararam apoio à independên- 1913, momento das reformas políticas, administrativas
cia, o presidente Rodrigues Alves e o Ministro do Exte- e judiciárias do Território do Acre, as quais não atendem
rior Barão do Rio Branco. O Acre foi ocupado então por às reivindicações locais porque os representantes polí-
um governo militar sob comando do general Olímpio da ticos continuam sendo nomeados pelo governo federal.
Silveira. Há uma notória insatisfação popular por causa dessa
10
situação e por conviverem com outras cenas desagra- diferentes localidades, brasileiros e estrangeiros que dis-
dáveis, como a chacota que fazem a alguns seringalistas putavam a dominação do Acre, com a desculpa de torná-
sem instrução que cometem gafes, mas que se acham -lo autônomo, incorporando-o ao Brasil, mas liberto do
superior aos outros só porque tem dinheiro e o poder governo boliviano.
do “ouro negro”. Nesses grupos havia todo tipo de intelectual – en-
As questões municipais, as intendências do Acre, os genheiros, arquitetos, médicos, advogados e professores
impostos, a administração pública e as relações entre se- – que, juntos, construíram a memória escrita do período
ringueiros e seus representantes, também são tratados fundador do Acre. Entre eles havia civis, militares, cléri-
com ironia e humor pelos cronistas. gos, artistas, leigos, membros da maçonaria, instituição
Já as cartas mais significativas têm função crítica. E que esteve nos movimentos políticos e culturais, usando
mostram o caráter dos representantes do povo, outras a imprensa como seu principal difusor de ideias.
tratam da anexação do Acre ao Brasil, dos revolucio- Vale a pena registrar que todos os escritos nesses pri-
nários de Plácido pelo reconhecimento da autonomia meiros anos, foram impressos na gráfica da maçonaria na
acreana pelo governo Federal. Os missivistas, mascara- qual também foram impressos outros jornais, depois de
dos em pseudônimos, manifestam o sentimento de trai- O Acre de 1907. Segundo informações, os maçons parti-
ção mediante as injustiças cometidas pelos agentes fede- ciparam da revolução e também de vários feitos da vida
administrativa do Acre. Um deles, o cearense Francisco
rais, contra os revolucionários e autonomistas. É também
Oliveira Conde, foi tenente coronel, promotor de justiça
um recurso de proteção para livrarem-se das possíveis
e governador do território. Outros maçons conhecidos
retaliações dos que detinham o poder, pois criticavam
como, por exemplo, Rui Barbosa e o Barão do Rio Branco
e satirizavam algumas autoridades xapurienses. Alguns
defendiam a questão do Acre.
atacam as vaidades, o mau caráter de alguns e os des- Os periódicos, quase sempre estavam a serviço dos
mandos locais. Denunciam falcatruas de funcionários da mandatários, representantes do poder aquisitivo ou do
intendência e até de juízes. coronel da borracha, ou do poder político e também sob
Os editoriais registram a tendência política dos jor- a tutela do governo brasileiro talvez por isso a não iden-
nais e seu engajamento com os problemas sociais. São tificação dos cronistas.
os veículos de comunicação, portanto os jornais, que têm O grupo que defendeu a autonomia imediata do Acre
o poder nas mãos, mas como são de propriedade, nor- – comerciantes, donos de casas aviadoras, banqueiros e
malmente, de grandes seringalistas ou comerciantes, sua seringalistas – todos defendiam sua causa pela força bé-
linha editorial tem que estar de acordo com o posicio- lica; do outro lado, os representantes do governo federal,
namento político do patrão, que é quem paga as con- militar nomeados para funções administrativas e judiciá-
tas. Os jornalistas ou escritores dos textos são pessoas rias, também estavam munidos pela força bélica.
da comunidade pertencentes ou simpatizantes do grupo Entre esses dois grupos estavam os que faziam jor-
de amigos do proprietário. Por isso a temática dos tex- nalismo amador, mais opinativo que informativo. Eram
tos publicados deve sempre estar em consonância com estes que movimentavam a cultura letrada por meio dos
a postura desse grupo. Além disso, são escritores que periódicos para seus privilegiados consumidores.
exercem cargos na cidade e, muitas vezes, escondem-se Em 1901, segundo informações, já circulava o jornal El
atrás de pseudônimos com medo de serem identificados. Acre em Puerto Alonso, cidade estratégica para o domí-
Essa era uma prática comum, tanto é que, em muitos ca- nio boliviano. Seu primeiro exemplar data de 20/10/1901.
sos, não se conseguiu, identificar o nome verdadeiro de Aqui tinha um posto aduaneiro para arrecadar impostos
quem escreveu o texto, como estava previsto na investi- dos brasileiros, mas o Amazonas e o Pará reivindicavam
gação. as terras do Acre através de grupos poderosos que que-
Na verdade os grupos dominantes disputavam o po- riam a apropriação da região em virtude da riqueza pre-
der econômico e aquele que detinha também o poder vista com a produção da borracha.
comunicativo na mão sentia-se mais poderoso, pois não Após a revolução acreana, o movimento dos autono-
só poderia angariar mais simpatizantes como podia des- mistas tinha como liderança Plácido de Castro e Simplício
truir ou afastar certas pretensões de seus concorrentes, Costa, vice-presidente da Associação Comercial de Xapu-
atacando-os com as armas linguísticas, o poder das pa- ri, também do coronel Antônio Antunes Alencar, que era
lavras de que fala Foucault. Essas práticas só atingiam os dono de grande seringal, do jornal Acreano e prefeito
moradores dos vilarejos e cidades onde pessoas instruí- interino do Departamento do Alto Acre, grupo mantene-
das prestavam serviços por indicação do governo federal dor desse jornal que o tornou forte em função do próprio
porque os agricultores e seringueiros não são menciona- grupo. Assim os assuntos desse periódico eram, a “ex-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
dos e participam de outro sistema de organização. pressão das ideias e aspirações desse grupo que dispu-
tava com outro a posse e o mando na região” (MENDES,
Essas relações de poder e subserviência dos empre-
2008, p.35).
gados não eram claras, mas eram demonstradas pelas
A reinvindicação dos autonomistas, segundo alguns
estratégias criadas pela publicação dos textos, por meio
historiadores, centra-se nos aspectos econômicos e po-
do anonimato, do jogo de palavras, pelas sutilezas da lin-
líticos. No primeiro caso, destaca-se o potencial de auto
guagem empregada pelos sujeitos dos discursos. sustentação do Acre, pois, sua receita era maior que a
Ressalta-se que os serviços da imprensa, ou perió- de dezesseis (16) estados brasileiros; no segundo, havia
dicos, começaram no contexto turbulento da revolução necessidade de uma base política com voto do povo para
acreana, logo nos primeiros anos do século XX quando dar autonomia, mas os acreanos não votavam porque
havia dois grupos opostos, de orientação religiosa e po- seus governantes eram indicados pelo governo federal,
lítica diversificada, com titulação ou não, oriundos de causando uma exclusão no cenário nacional.
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Por fim, as crônicas mostram como eram as relações sua dissertação de mestrado intitulada As dobras do Si-
sociais e como se organizavam os vilarejos ou a cida- lêncio: um romance de Miguel Ferrante. Com base nesse
de sempre tendo alguém que mandava e os subalternos estudo do romance O silêncio, escrito em 1973 e só publi-
que obedeciam. Pela leitura delas constatou-se que a cado em 1979, tento mostrar as práticas organizacionais
formação social se deu pela conquista do território para da obra que refletem na sociedade da época em que o
fins exploratórios e lucrativos, segundo Alzenir Mendes romance se situa.
(p. 14). Essa narrativa afasta-se da ficção de temática dos se-
E a circulação dos periódicos dependia dos seus do- ringais e dos habitantes ribeirinhos e apresenta um en-
nos e das relações com quem escrevia, como ocorria redo diferenciado de outras obras sobre o Acre que se
em outras partes do Brasil. Normalmente eram criados fixaram, nas primeiras décadas do século XX, na temá-
e mantidos para divulgar as ideias oficiais ou do grupo tica dos seringais, não apenas relatando o sofrimento, a
dominante. Daí a estratégia dos jornalistas com o uso de solidão e a vida sem perspectiva do seringueiro, mas a
pseudônimos, como era comum no final do século XIX exuberância da floresta e o sentimento de nela estar apri-
com os escritos de alguns famosos escritores como Ma- sionado, com seus rios caudalosos ou com sua floresta
chado de Assis quando o tema era polêmico e de tom fechada, cheia de insetos, animais ferozes e doenças. Era
humorístico ou satírico Machado de Assis, por exemplo, um mundo solitário e silencioso capaz de transformar o
homem, tornando-o rude e animalizado. É a Amazônia
foi Dr. Semana, Souza Barrados e Malvólio.
apresentada pelos viajantes desde o século XVI e com
Nas crônicas supõe-se que os pseudônimos deixa-
novas dimensões com os contos e romances do inicio do
vam os cronistas mais livres para expor suas ideias opi-
século XX – Inferno verde e Paraíso perdido.
nando ou criticando. Sub-repticiamente havia o receio da
Inicialmente devo discorrer um pouco sobre os ro-
descoberta e retaliação pelo poder político e controlador mances de temática da borracha como tópicos impor-
e as críticas do público conservador. Estas refletem as re- tantes para a compreensão do sistema de organização
lações sociais entre os mandatários e seus subordinados do Acre antigo. As relações no seringal entre seringueiro
em várias instâncias, sobretudo na política, por isso a sua e patrão eram compreendidas como relações de troca.
produção era cuidadosa no sentido de não desagradar O seringueiro dependia do patrão para adquirir material
os donos dos jornais e não lhes causar obstáculos algum. para extrair o látex e produtos básicos para seu susten-
A presença efetiva de movimentos sociais ocorreu to já que não podia dedicar-se à agricultura. Como não
apenas no final da década de 1970, início da década de circulava dinheiro em moeda, não havia banco por perto,
1980, no final da ditadura militar quando eclodiram mui- tudo que produzia era para pagar o que tinha comprado
tos movimentos populares, organizados na busca pelos a crédito no mês anterior e renovar a dívida com novos
seus direitos e melhores condições de vida, apoiados produtos para o mês em curso, não sobrava nada.
pela organização das comunidades eclesiais de base, as- Mas os regatões (sírios, libaneses e judeus) funciona-
sociações e sindicatos. vam como os atuais atravessadores, normalmente tenta-
Na imprensa local esses movimentos são marcados vam transpor a vigilância do barracão e vendiam algum
por estratégias de manipulação e de resistência. A im- produto para os seringueiros a troco de borracha. Quan-
prensa oficial apresentava os movimentos como subver- do isso acontecia, o seringueiro se endividava mais no
sivos, construindo uma imagem negativa e preconceituo- barracão e a dívida crescia, diminuindo a esperança de
sa aos trabalhadores, já a imprensa alternativa investia alguns de voltar para sua terra natal.
na construção positiva dos movimentos e servia como Nessas relações de poder entre o seringalista e o se-
veículo de suas reinvindicações. ringueiro, ou entre o patrão e o “empregado” as relações
Era uma estrutura de poder coercitivo muito forte, comerciais se configuravam como relações de trocas, o
mas os grupos tentavam caminhar na contramão do patrão fornece os instrumentos de trabalho e os produ-
discurso oficial. Essa articulação dos trabalhadores em tos de primeira necessidade para o seringueiro, a cré-
movimento foi um aprendizado para todos na vivencia dito e este lhe paga com peles de borracha no final do
prática de se unir, organizar, participar, negociar, lutar e mês. O guarda-livros faz as contas e informa ao serin-
na aquisição de uma consciência de defesa de seus inte- gueiro e este já faz o seu “aviamento” para o próximo
resses e apreensão crítica de seu mundo, suas práticas e mês. De modo geral, muito poucos têm saldo e assim
representações sociais. endividados vão vivendo, trabalhando apenas para so-
No tocante ao estudo da ficção, contos e romances breviver sem esperança de voltarem para sua terra de
escolhi desenvolver algo mais amiúde a partir do roman- origem. São pessoas humildes, normalmente analfabe-
ce, pois os contos coletados à época eram mais tradu- tas que não questionam os preços e nem as contas. Por
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ções e adaptações de autores conhecidos, mas os de te- conta dessa situação, provavelmente, motivou Euclides
da Cunha (1967) a considerar o seringueiro como escravo
mática regional relatam a invasão do homem branco no
de si mesmo.
habitat indígena acreano causando sua destruição.
Assim mesmo eram as relações dos seringalistas
Outros textos ficcionais e mesmo poéticos abordam
ou gerentes de seringais com as casas aviadoras que
mais a temática da saudade, do isolamento, do dregredo
compram a borracha com o preço que determinavam.
em que viviam os migrantes, os quais apelavam à “pátria Abatem a dívida do seringalista e fornecem novamen-
adotiva” que os restituísse à família. te todos os produtos que os seringalistas precisam, os
O romance escolhido é de um autor acreano, pouco quais continuam lhes devendo. Essas casas transferem as
conhecido, mas bem interessante e serviu de objeto de borrachas para as casas exportadoras pelos preços de-
estudo para a professora Edmara, minha ex-orientanda de terminados por estas as quais repassam para os países
investigação científica e mestrado, quando desenvolveu compradores do produto.
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Essa prática de organização permitia aos seringalistas São relações autoritárias sem qualquer questionamento.
e seus grupos políticos, na época das eleições, direcio- Há um silenciamento total. Essa forma autoritária implan-
narem a maioria dos votos desses seringueiros para os tou-se no Acre desde a presença de militares no governo
seus candidatos, não apenas porque obedeciam ao pa- e em outros cargos da administração pública municipal e
trão, mas como analfabetos acreditavam que se o patrão territorial. E mais recentemente com a atual administra-
indicava devia ser bom para eles. Entretanto, alguns não ção que controla os meios de comunicação e monitora a
aceitavam e tinham a sua autonomia no voto, mesmo em atitude de muitos.
silêncio. Na verdade bem no início da extração do látex, O personagem que representa a autoridade maior é
os seringalistas ostentavam todo o poder e centraliza- o Barão Alexandre de Almeida Argolo, “sujeito autoritário
vam o governo da região fazendo suas próprias leis. e manipulador” que busca obter o que quer de qualquer
Essas práticas se estenderam às pequenas cidades in- jeito. O titulo de Barão foi adotado por ele para simboli-
terioranas e em algumas ainda perduram até hoje, princi- zar sua autoridade, embora tenha surgido ironicamente.
palmente no interior e na periferia das cidades, inclusive A pequena e pacata cidade imaginária fundada por ele
em Rio Branco. começa a se agitar com a morte da professora Fernan-
Em substituição ao guarda-livros dos seringais e ca- da, encontrada morta dentro da própria casa. Não havia
sas aviadoras, vieram o livro de notas do dono ou em- testemunhas, por isso e para resolver logo o problema o
presário que controla o que vende fiado para ser pago Barão sugeriu ao delegado Josias que encontrasse “um
no final do mês quando o pagamento sair. O comprador culpado para o crime”. Essa pressa deixa pistas quanto
sequer procura saber o preço da mercadoria. Quando o ao verdadeiro assassino da professora, provavelmen-
dinheiro não dá, paga com alguma coisa da casa, saldan- te algum amigo do Barão ou ele próprio. Logo o negro
do sua dívida. O patrão aqui adquire outra noção, não é Simplício foi preso como culpado, embora negasse e ju-
mais aquele que oprime, que controla, mas aquele que, rasse inocência. Com essa prisão a sociedade ficou calma
embora visando o lucro, facilita a vida de muitos sem achando que o assassino estava preso.
condição financeira. O Barão e seu sucessor Serapião usavam de artima-
No romance O silêncio, as práticas organizacionais nhas para controlar os moradores através de punição aos
são entrevistas pela ressignifição do silêncio na pequena que se opunham aos abusos de poder. Agiam de modo a
cidade por meio do medo e da opressão do próprio ho- engrandecer seus nomes aos olhos da comunidade.
mem. Fundada por um “Barão”, autoridade maior a quem Mesmo os dois grupos políticos “Gogós-de-sola” e
todos deviam obediência, o silêncio é redimensionado “Corocas” também foram silenciados pelo Barão e seus
porque está em todas as formas de relações sociais do comparsas. O primeiro era chefiado pelo personagem
lugar. Entre os personagens que representam as mino- Jeremias Lobo, sujeito decidido a lutar contra as irregula-
rias e os mais fracos ou excluídos, quanto entre aqueles ridades do sistema de governo da pequena cidade. Este
que representam o poder dominante, naturalmente por responde às afrontas do grupo favorável ao governo com
razões diferentes. “linguagem virulenta”. Entretanto esse grupo opositor foi
É uma obra publicada em plena ditadura militar o que silenciado pelo poder do intendente Serapião e regulado
por si só justifica os cuidados com a linguagem, com as pelo delegado e tenente da cidade, tomando armas e
formas de relações sociais e com as estratégias do dis- impedindo-o de publicar suas cartas porque o único jor-
curso dos sujeitos. nal que havia fora comprado pelo governo e nele só saia
O estudo dessa obra certamente oportunizou a verifi- matérias autorizadas. (ANDRADE, 2011).
cação de como as sociedades se configuram a partir dos Com a morte do Barão, Serapião age pior que ele, é
silenciamentos das minorias, nos discursos ditos e não mais cruel.
ditos que produzem sentidos a partir de uma versão crí- Fica claro na fala dos personagens que para alguém
tica, podendo-se revelar os sentidos ocultos em relação se impor precisa de um título ou patente, fato comum
à exclusão e apagamento das minorias das sociedades. na ficção amazônica, quando não é coronel é tenente,
Uma reflexão dos discursos que fundam a cidade capitão ou tem título de nobreza.
interiorana do romance e seu dialogismo parecem mar- Percebe-se a preocupação do escritor com as mi-
cados pelo silêncio em diferentes formas. Eni Orlandi norias quando se refere aos negros, aos conflitos entre
(2007) citado por Edmara, explicita as formas de silencia- brancos e índios e ao silenciamento dos oprimidos.
mento, deixando claro os aspectos do silêncio fundador O silêncio, portanto, é o tema central nesse roman-
e das políticas de silêncios utilizadas para apagar o outro. ce ressignificado em cada circunstância: o significado
Nesse percurso, na tentativa de silenciar as formas de si- causado pela morte; o silêncio dos humildes que não
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lêncio, produzem significação – os sentidos do silêncio. reagem, aceitam tudo; o silêncio das pessoas frente as
Portanto, no romance O silêncio, a prática organiza- injustiças cometidas contra inocentes e o silêncio com-
cional representa o senso comum da sociedade brasileira placente com os abusos do governo.
de modo geral, que se cala e se omite diante dos fatos e, As práticas de organização da sociedade ficcional da
de modo particular, aquela menor, interiorana, mais pró- obra refletem as práticas da realidade vivencial aqui no
xima de nós cujos fatos ocorrem à vista de todos o que Acre. É retrato da sociedade feudal com seu suserano e
resulta numa sociedade omissa que não se expõe com vassalos.
medo normalmente de punições. Hoje essa prática se repete incluindo os meios de co-
A autoridade máxima local, o governador impõe as municação que alcançam maior número de pessoas. São
práticas organizacionais aos que estão hierarquicamen- formadores de opinião muitas vezes tendenciosos, atin-
te abaixo dele, assessores, prefeitos e seus comandados. gindo e seduzindo os jovens e a população que ainda não
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sabe distinguir o joio do trigo. A imprensa falada ou escri- Com efeito, desse desenvolvimento excludente ge-
ta fica sempre sob o jugo do poder mais forte dominan- rou-se um bolsão de miséria nas cidades, acrescentou-se
te. Tanto que os acontecimentos mais importantes como a marginalidade, a prostituição, o desemprego e outras
descobertas que os pesquisadores fazem não recebem, de mazelas.
modo geral, qualquer menção da imprensa local. Sobre Até hoje se questiona este projeto do pioneirismo
a cultura, o silêncio é total, a não ser que seja de algum agropecuário, pois não foi positivo, ainda que se pese o
político da situação. A mordaça não se extinguiu com a fato dos seringueiros não terem outra forma subsistên-
ditadura, ela permanece e parece eternizar-se no meio cia, mas tinham muito bem a visão do que estava acon-
político. tecendo.
Atualmente no interior não se tem mais as casas avia- Muitas dessas causas é apoiada de forma distorcida
doras ou o barracão, mas as mercearias que suprem as pelo governo atual que continua acreditando o melhor
necessidades urgentes e básicas da população carente desenvolvimento por meio de economia centralizadora
que compra fiado para pagar quando receber ou daquele de renda, como de dar o chamado incentivo ao “boi-ver-
segmento que usa cartão de crédito para se endividar e ir de”, como meio de buscar o que não tem jeito, ou seja, a
pagando juros e mais juros até ter seu nome no Serasa. harmonia entre os deserdados de suas terras, os autên-
Essa cultura transplantada dos seringais cada vez se ticos e não indenizados povos da floresta com o povo
fortalece com o aumento da pobreza e da violência dos emergente de uma economia fraca comercial urbana,
grupos organizados que, como os cangaceiros do Nor- com os usurpadores, hoje “os povos da Floresta bovina”.
deste de antigamente, saqueiam, roubam, matam para A devastação das matas para o plantio do braquiária,
manter o padrão de vida e o poder em suas mãos. E a do brizantão e outros tipos de capins provocou modi-
população subjugada, humilhada, silenciada, com medo ficações significativas nos ecossistemas existentes, pois
de morrer. a partir de sementes geneticamente modificadas, essas
Assim, as manifestações literárias dos primeiros anos espécies invasoras passavam a dominar os espaços onde
do século XX, portanto no nascimento do Acre, subscre- eram aplicadas, não permitindo o crescimento de outros
vem o processo de colonização no Brasil e na Amazônia, vegetais. Os imensos desmatamentos levados a cabo pe-
com a implantação da cultura estrangeira como forma de los novos adquirentes das terras, denominados na região
dominação, pelo poder econômico, intelectual, político como “paulistas”, viraram padrão de beleza e argumen-
e religioso. Com esses valores, a sociedade foi-se orga- to para reforço das teses desenvolvimentistas, ou seja,
nizando em dois grupos: os colonizadores, classe mais quanto mais desmatado, quanto mais capim plantado,
abastada dos trabalhadores intelectuais e classe mais po- maiores as exaltações de beleza e maiores os índices de
bre dos trabalhadores braçais ou dos serviços manuais e progresso eram anunciados pelos governantes.
gerais. A modernização proposta era predatória, não respei-
Esse é o embrião de organização que permanece ain- tava o ambiente, o ecossistema, muito menos as popu-
da hoje. lações que, remanescentes dos seringais, tinham desen-
volvido suas formas de vida naqueles territórios. Essas
A chegada dos “paulistas” nas terras acreanas a populações que nos dois surtos da borracha haviam sido
partir dos anos 1970 do século passado: êxodo rural, fundamentais para a economia brasileira, quando a bor-
conflitos pela terra e invasões do espaço urbano racha acreana tinha importância internacional e servia de
O pioneirismo agropecuário no Acre a partir da déca- padrão mundial (Acre-fina), nesse processo de “desen-
da de 70 em diante que coincidiu com desmantelamento volvimento/modernização” foram simplesmente tratadas
da economia gumífera, trazendo como resultado a ex- como redundantes, populações excedentes, atrasadas e
pulsão e conflito com seringueiros e posseiros, e conse- que atravancavam o progresso.
quentemente analisar novo fazer do seringueiro em sua Porém, essas mudanças organizadas pelas autorida-
luta por moradia, emprego e manutenção da vida nas des do Estado e empresários de outras regiões propicia-
cidades dos principais municípios do Acre. ram, paradoxalmente, a entrada em cena desses novos
A chegada dos paulistas ou também chamados su- agentes na história do Estado, os seringueiros/extrati-
listas inovou com a vinda altamente concentradora de vistas (também denominados mais tarde como “povos
renda. Por outro lado, houve uma “voz” imperativa de da floresta”, incluindo os indígenas). A contestação ao
expulsão daqueles que estavam na terra, gerando sérios novo modelo, interposta pelos extrativistas, denominada
conflitos e mortes. Grande parte dessas terras compra- Empates, não foi fruto de um planejamento com sentido
das por meio de mapas, ou por sobrevoo determinou ecológico, preservacionista ou conservacionista, 6 nem
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
a nova economia e os novos mandantes. Saem os ricos mesmo oposição política ao regime, foi antes uma luta
seringalistas e as casas aviadoras e entram os poderosos pela sobrevivência, uma manifestação de que ali naquele
agropecuaristas, como projeto desenvolvimentista do espaço havia vidas.
Governo Militar. Os Empates aparecem com o intuito de garantir a
Porém, houve baluartes e figuras do povo, como Chi- permanência na terra e a preservação do modo de vida
co Mendes, que viam além a ofensa a natureza e aos po- ali praticado. Outras funções serão atribuídas e incor-
vos nascidos na terra. Figuras como a do líder sindicalista poradas ao e pelo movimento, em seu curso e nas fases
que morreu pela causa e outros. Eram os movimentos posteriores. Focaremos a partir dos dados disponíveis
sociais de 70 e 80, impulsionados pelas Comunidades alguns dos rearranjos que se entrecruzam no desen-
Eclesiásticas de Base e pela resistência e luta própria de volvimento desse movimento e seus desdobramentos,
quem vivia na floresta em contato com a natureza. principalmente as apreensões dos que veem de fora os
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acontecimentos que permitiram o surgimento dos Sin- tecidos, remédios, armas, munição, sal, tabaco (cigarros)
dicatos de Trabalhadores Rurais (STR’s), do Conselho e uma série de outras mercadorias que eram repassadas
Nacional dos Seringueiros (CNS) e, posteriormente, das pelas casas aviadoras e que através do Barracão chega-
Associações de Moradores das Reservas Extrativistas vam aos seringueiros, tornando-os produtores/consumi-
(Amorex), além da nova configuração da posse da terra dores dentro da estrutura de comércio global.
neste espaço regional. A crise no preço da borracha nativa após o restabe-
A importância dada por segmentos acadêmicos a lecimento do acesso ao produto dos seringais de culti-
esses movimentos e as repercussões locais, regionais, vo asiático, pelo mercado estadunidense e europeu, no
nacionais e internacionais, que ficaram registradas nas pós-Segunda Guerra, gerou também uma crise de abas-
ações que seguiram as fases mais agudas dos conflitos tecimento nos seringais amazônicos, promovendo um
gerados pelas forças litigantes nas disputas por terras, afrouxamento do poder do patrão sobre o seringueiro
modos de vida e questões ambientais nessa região, pro- e um retorno deste a um sistema de abastecimento de
jetaram disputas de concepções entre os que veem o subsistência, que segundo Wolff (1999, p.107) nos colo-
capitalismo, o socialismo e o ambientalismo, colocados ca: [...] diante de um caso de transformação, em menos
como modalidades políticas que influenciaram os rumos de um século, de uma população grandemente inserida
dos acontecimentos pós década de setenta no Acre. no mercado, tanto mediante a produção de uma merca-
doria, a borracha, como mediante o consumo de merca-
Outro fato destacado no estudo desse movimento é o
dorias industrializadas, em uma população com modo de
de ser por um lado uma história de pessoas redundantes,
vida grandemente voltada à subsistência. De uma popu-
que de forma muito rápida ganham representação polí-
lação adventícia, vinda de regiões bastante diferenciadas,
tica e, principalmente, ecológico-ambiental, projetando
que se torna conhecedora da “natureza e seus ciclos” e
indivíduos para estruturas de poder antes inimaginadas, dependente de um território que reconhece como “seu”,
tais como governos estaduais, prefeituras, ministérios, a floresta.
organismos multilaterais internacionais, Organizações Dessa forma se modela o que Diegues (1996, p.87-
Não Governamentais (ONG’s), adquirindo importância 88), chama de População Tradicional, dessa parte da
e imprimindo a esses temas o status de políticas públi- Amazônia Ocidental, compreendendo que entre moder-
cas amplamente debatidas nas mais distintas estruturas nidade e tradição não há uma incompatibilidade exclu-
sociais, bem como transferindo parte desse poder para dente, mas sim uma convivência tensa e dialética. Para
indivíduos que passaram, nos espaços urbanos, a repre- Diegues (1996, p.87-88), as culturas e sociedades tradi-
sentá-los. cionais caracterizam-se pela:
a) Dependência e até simbiose com a natureza, os
Os significados dos “Empates” ciclos naturais e os recursos naturais renováveis a
Para entendermos os Empates, devemos buscar an- partir dos quais se constrói um modo de vida;
tes, como se formou o conjunto populacional que lhe b) Conhecimento aprofundado da natureza e de seus
deu corpo. Segundo dados da FIBGE, a população do ciclos, que reflete na elaboração de estratégias de
Acre em 1970 era de 215.299 habitantes, sendo que uso e de manejo dos recursos naturais. Esse co-
59.307 (27,54%) viviam nas cidades e, 155.992 habitantes nhecimento é transferido de geração em geração
(72,46%), viviam na zona rural, ou seja, um pouco mais em geral por via oral;
de 2/3 da população vivia no que se considera, pelos pa- c) Noção de território ou espaço onde o grupo social
drões referenciais brasileiros, zona rural. Já no ano 2000 se reproduz econômica e socialmente;
os números apontam para uma percentagem de 66,35% d) Moradia e ocupação desse território por várias
dos habitantes vivendo na zona urbana e 33,65%, vi- gerações, ainda que alguns membros individuais
vendo na zona rural, numa população total de 557.337 possam ter se deslocado para os centros urbanos e
habitantes. Esses números ajudam a perceber que aqui voltado para as terras de seus antepassados;
também se registrou o fenômeno do êxodo rural, como e) Importância das atividades de subsistência, ainda
em quase todo o Brasil, mas também demonstram que que a produção de mercadorias possa estar mais
mesmo com os grandes conflitos pela posse da terra e os ou menos desenvolvida, o que implica uma relação
desmatamentos para construção das fazendas de gado, com o mercado;
permaneceu significativa a população rural no Estado. f) Reduzida acumulação de capital;
Porém, a história da formação do grupo social que g) Importância dada à unidade familiar, doméstica
atuará de maneira diferenciada nesse contexto, surgirá ou comunal e as relações de parentesco ou com-
após a segunda falência dos seringais nativos, no pós- padrio para o exercício de atividades econômicas,
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
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Contudo, foram esses homens e mulheres que ante- da riqueza agrícola e do trabalho escravo uma variedade
riormente tinham uma ligação, mesmo que indireta, com de funções sociais e econômicas. Inclusive, como já insi-
o mercado global que imergiram nesse novo modo de nuamos, a do mando político: o oligarquismo ou nepotis-
vida. Um modo de vida quase autônomo, pois a nova mo que, aqui madrugou”. Mas a rigor, como bem percebeu
conjuntura mundial os havia descartado de seu processo Roberto DaMatta (1997, p. 24), fica difícil compreender o
produtivo. Poderíamos até dizer que as distâncias e as funcionamento da sociedade no Brasil, se não levar em
dificuldades de acesso às cidades ditavam o isolamento conta que ela se processa [...] por meio de códigos sociais
que os relegou a situação de “esquecidos”, ou redundan- complementares e até certo ponto diferenciados: o códi-
tes pelo poder público, mas como sabemos, antes eles go da casa (fundado na família, na amizade, na lealdade,
estavam incorporados, isto é, quando o produto do seu na pessoa e no compadrio) e o código da rua (baseado em
trabalho como extrativista era necessário ao mercado in- leis universais, numa burocracia antiga e profundamente
ternacional, havia meios bem elaborados de encontrá-los ancorada entre nós, e num formalismo jurídico-legal que
e comandá-los, agora, porém, a conceituação de redun- chega as raias do absurdo). Quer dizer: a precisão com
dantes de Bauman (2005, p.20), mesmo considerando que os vários intérpretes tomam a “casa” ou a “rua” como
que ela foi aplicada a trabalhadores europeus, parece ponto focal de suas análises não é somente uma questão
bastante significativa para ilustrar esse tipo de situação, de gosto ou de posicionamento político [...], mas é tam-
pois para ele: bém um problema da própria operação da sociedade que
Ser “redundante” significa ser extranumerário, des- funciona acionando tanto o código das relações pessoais
necessário, sem uso – quaisquer que sejam os usos e quanto às leis da economia política [...] no caso brasileiro,
necessidades responsáveis pelo estabelecimento dos a sociedade sintetizou de modo singular o seu lado tra-
padrões de utilidade e de indispensabilidade. Os outros dicional (simbolizado no paradigma da casa; ou melhor:
não necessitam de você. Podem passar muito bem, e até da casa como um modelo para a sociedade) e o seu lado
melhor, sem você. Não há uma razão auto evidente para “moderno” (representado por um conjunto de leis que de-
você existir nem qualquer justificativa óbvia para que veriam tornar o país uma sociedade contemporânea).
você reivindique o direito à existência. Ser declarado re- Enfim, o que pretendemos trazer à tona com o expos-
dundante significa ter sido dispensado pelo fato de ser to é a ideia de que não faz sentido buscar no Acre sin-
dispensável – tal como a garrafa de plástico vazia e não gularidades políticas distintivas das características gerais
retornável, ou a seringa usada, uma mercadoria despro- da formação social brasileira. A sua especificidade deve
vida de atração e de compradores, ou um produto abaixo ser buscada na investigação do modo como se operam
do padrão, ou manchado, sem utilidade, retirado da linha essas conexões entre as relações pessoais e a esfera pú-
de montagem pelos inspetores de qualidade. “Redun- blica. Nesse sentido, tão importante quanto identificar as
dância” compartilha o espaço semântico de “rejeitos”, rupturas desencadeadas pelo processo de “moderniza-
“dejetos”, “restos”, “lixo” – com refugo. O destino dos de- ção”, é observar as permanências, as continuidades que
sempregados, do “exército de reserva da mão-de-obra”, definem os seus contornos.
era serem chamados de volta ao serviço ativo. O destino Analisando o caso das transferências de terras dos
do refugo é o depósito de dejetos, o monte de lixo. seringalistas para os fazendeiros “paulistas”, Silva (1998,
A conceituação de “redundância” de Bauman parece p.28) conclui que:
ser muito dura quando pensamos que ele está mesmo [...] o processo de transferência das terras do Acre aos
descrevendo situações reais, de seres humanos que são compradores do Centro-Sul teve como resultado mais vi-
jogados para fora do curso do desenvolvimento capita- ciado a manutenção da estrutura fundiária concentrada,
lista, mas, nessa nova fase, para as populações remanes- excluindo milhares de trabalhadores do acesso à terra,
centes dos antigos seringais, a articulação com o meio por meio da concentração da propriedade da terra, pro-
era fundamental para a sobrevivência, pois com a des- priamente, ou mediado por violentos métodos de expul-
truição do sistema de aviamento, foi bloqueada a via de são de posseiros e seringueiros.
acesso aos produtos do mundo urbano. A partir dessa Foi assim, então, que a orquestração do Governo do
desarticulação eles estavam ainda mais distantes dos Estado, para modernizar, desenvolver, trazer o progresso,
remédios produzidos em laboratórios, dos alimentos in- relacionando-se com a chegada dos “paulistas”, promo-
dustrializados e outros mantimentos que lhes chegavam ve o reaparecimento dos trabalhadores extrativistas na
anteriormente vindos do Barracão. Agora deviam pro- cena social do Estado. Só que esse reaparecimento coin-
duzir eles mesmos seus remédios e outros suprimentos cide com o período onde estava em processo um forte
alimentares. Para isso, tiveram que reestruturar seu rela- debate sobre o conceito de desenvolvimento, combinado
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
cionamento com a natureza, para articular algum tipo de com a luta ambientalista. As grandes nuvens de fumaça
prática agrícola, pois a economia extrativista organizada oriundas das queimadas chamaram atenção dos ambien-
pelos seringalistas havia inibido essa atividade. talistas no mundo inteiro e, através das Organizações Não
Porém, esse novo modo de vida não ficaria muito Governamentais (ONGs) e de setores da Igreja Católica,
tempo sem ser atravessado pelo ordenamento caracterís- iniciou-se um movimento de denúncia contra o desmata-
tico da sociedade brasileira, como bem caracterizado nas mento e a violência contra os trabalhadores extrativistas.
obras de autores diversos passando por Oliveira Viana e Então, no âmbito da questão ambiental e do combate à
indo até Gilberto Freyre, onde para eles o domínio polí- violência começou-se a dar visibilidade aos trabalhadores
tico das famílias, dos potentados rurais, determina a ação que organizavam os “Empates”. Mas, a questão não era
do aparelho governamental. De acordo com Freyre (1942, só ambiental. A violência dos capangas dos fazendeiros,
p.120), “a família colonial reuniu sobre a base econômica a truculência policial, as mortes e ameaças, perturbavam
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a vida desses trabalhadores extrativistas. É neste contexto Nesse caso, contudo, o conceito de população tradi-
que aparecem os outros agentes que vindos de fora do cional de Diegues e o de invenção de tradição de Hobs-
mundo construído pelos “povos da floresta”, se somaram bawm, se conjugam para podermos entender esse con-
para organizar a contestação do projeto social, econômico junto populacional que, mesmo vivendo num território
e político, bem como para organizar a resistência de forma onde se apresentam fortes barreiras para o deslocamen-
mais eficiente, ou diferente. to e a comunicação, conseguia manter vínculos familia-
Os novos parceiros dos trabalhadores extrativistas, res, compadrio e outras atitudes cooperativistas (adjutó-
além dos ativistas ambientais ligados as ONGs, eram: al- rio/vizinhança), objetivando sua subsistência.
guns militantes políticos de esquerda; setores da Igreja No processo de articulação desse novo modo de vida
Católica com afinidades com a Teologia da Libertação; essas populações remanescentes dos seringais não tive-
a Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (CON- ram facilidade para ocupar as terras, pelo contrário, mes-
mo que estivessem “desocupadas” e improdutivas, essas
TAG) e; alguns dirigentes estudantis da Universidade
terras eram reivindicadas pelos antigos seringalistas e ti-
Federal do Acre, todos agindo com muita cautela para
das como suas pelas estruturas do poder, portanto, já ha-
não serem identificados pelos serviços de informação do
via um certo conflito na ocupação, pois os antigos donos
governo, mesmo que no início da década de oitenta, os insistiam na cobrança de “renda” (espécie de pagamento
ventos da abertura política já tivessem começado a so- pela ocupação da terra), situação esta que foi agravada
prar. De qualquer maneira serão esses segmentos que com a venda e nova destinação dadas a elas, já que os
irão se posicionar ao lado dos trabalhadores para, pela novos proprietários tinham planos de plena ocupação,
primeira vez, falarem de seus direitos, já que as forças portanto, seriam proprietários e posseiros.
do Estado sempre estavam ao lado dos “legítimos” pro- Porém, mesmo a questão fundiária, de propriedade
prietários. e posse também tem significados diferentes nesses es-
Dessa conjunção de agentes emergirá uma espécie paços nessa fase de transição. Os antigos seringalistas
de tradição. Uma tradição que podemos considerar in- empobrecidos reivindicavam a propriedade da terra, mas
ventada, similar a que descreve Hobsbawm (1997, p.9), para eles era interessante que os antigos seringueiros
quando ele diz que: “Muitas vezes, “tradições” que pare- continuassem morando nelas, embora não detivessem a
cem ou são consideradas antigas são bastante recentes, condição de posseiro, pois só assim eles vislumbravam
quando não são inventadas”. Mas, o fato que será pos- algum tipo de lucro com elas. O conflito que havia en-
teriormente distinto nos processos conflituosos da mu- tre eles era a respeito da cobrança da “renda”, pois mui-
dança na estrutura produtiva no Estado do Acre como tos seringueiros se negavam a pagá-la, por identificá-la
tradição desses trabalhadores, não residirá na luta pela como injusta. Já no período posterior, quando as terras
terra, mas sim, no seu caráter de “guardião da floresta” foram adquiridas pelos “paulistas”, os antigos moradores
(ESTEVES, 1999). A defesa desses trabalhadores não foi eram vistos como entrave que necessariamente tinham
construída exclusivamente sob o argumento da “terra que ser removidos, pois a destinação das terras para a
para quem nela vive e trabalha” da Cartilha da Pastoral pecuária não se compatibilizava com a presença deles,
da Terra, foi antes, reforçada por toda uma construção que dependiam da floresta para sobreviver e mais, seus
produtos não interessavam aos novos proprietários, mui-
de cunho ambientalista e devidamente lubrificada pelo
to menos lhes interessava a floresta que era tida como
conceito de Desenvolvimento Sustentável, do Equilíbrio
um obstáculo à construção dos campos.
Ambiental e do Respeito à Pluralidade Social.
É nesse ambiente de articulação do Estado com os
A tradição inventada a que me refiro é a tradição eco- grandes proprietários, onde não havia afagos para as rei-
lógico-ambiental, que após a Conferência da Biodiversi- vindicações dos trabalhadores, que surgiram essas ou-
dade, realizada em Estocolmo, Suécia em 1972, difundiu tras forças que atravessaram essas relações, movimen-
pelo mundo os princípios ambíguos do preservacionis- tando instrumentos que até então, não compartilhavam
mo e do conservacionismo ambientais. o cenário daqueles conflitos. As ações da Pastoral da
A consciência ambiental que existia entre os extrati- Terra (CPT) e das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs);
vistas era elementar. Quando viram os desmatamentos e a chegada da Confederação dos Trabalhadores na Agri-
a ação dos novos donos das terras para expulsá-los, rea- cultura (CONTAG), que ajudou a fundar os Sindicatos de
giram conforme suas condições: muitos ajudaram a dar Trabalhadores Rurais (STRs); a presença de políticos de
número as estatísticas do êxodo rural, mudando-se para esquerda, principalmente comunistas, perseguidos pela
a periferia das cidades; outros atravessaram a fronteira ditadura militar que haviam chegado fugindo daquela; e,
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
para a Bolívia e; os que não optaram por uma ou outra ainda a chegada de Organizações Não Governamentais
dessas alternativas, organizaram a luta pela permanência (ONGs), que através de suas articulações internacionais,
e contra a ação (desmatamento) que os impediriam de tornaram possíveis as denúncias acerca da violência e
manter-se naqueles lugares. Portanto, percebemos que o dos desmatamentos cometidos no Acre, formaram esse
estilo de vida das populações que vão se destacar na or- laboratório de onde se originou as reconfigurações ter-
ganização dos Empates não era, definitivamente, muito ritoriais, econômicas, sociais e políticas ainda em curso.
antigo, já que eram remanescentes dos seringais e nem A introdução das temáticas ambientalistas e das teses
sequer tinha um conjunto formal de procedimentos que do Desenvolvimento Sustentável, da necessidade de um
pudesse ser suscitado como tal. Sua articulação mais per- outro modelo de Reforma Agrária, aliadas as denúncias
acerca da violência e dos desmatamentos e queimadas,
ceptível era mesmo a questão fundiária que já se colo-
articuladas por setores da Igreja Católica e das ONGs,
cava como problema anterior à chegada dos “paulistas”.
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tanto em níveis local e nacional, como internacional, Os estudos realizados têm priorizado a história oral, em
serão os componentes novos incorporados na vida dos que pese o fato de alguns conflitos terem registros poli-
trabalhadores extrativistas. Todas essas novas questões ciais e ações judiciais disponíveis. Em princípio, os envol-
passaram a fazer parte do quotidiano desses trabalhado- vidos nos Empates eram pessoas comuns, desconhecidas
res, pautando os debates e discussões de seus encontros pelas populações urbanas, até o momento em que foram
sindicais e, mesmo dos encontros festivos e religiosos fustigadas para abandonar as terras em que viviam. Após
que os juntavam. esses acontecimentos e a organização da resistência e
A partir dessa convergência de setores variados, mes- suas repercussões alguns ganharam notoriedade regio-
mo considerando as divergências políticas entre eles, nal, nacional e até mesmo internacional e são esses, os
passou-se a construir uma visão do “self made man” flo- que ganharam mais notoriedade os que, prioritariamen-
restal, ou seja, passou-se a construir uma espécie de mito te, tem sido portadores das memórias pesquisadas e di-
sobre essas populações: o de que eles eram os guardiões vulgadas como a história dos Empates.
da floresta, que haviam constituído um modo de vida Nos espaços urbanos o Bispo D. Moacyr Grechi, os
para além dos conceitos urbanos do moderno. Uma es- padres Manoel Pacífico, Heitor Turrine e Leôncio Asfury;
pécie de mito de origem, assim como José Murilo de Car- os ex-dirigentes estudantis Marina Silva, Marcos Afonso,
valho (1990 p. 13/14) o descreve: Francisco Afonso (Carioca), Júlia Feitosa; os sindicalistas
Em situações de confrontos sociais e disputas de pro- Pascoal Torres, Sérgio Taboada, Moisés Diniz, Edivaldo
jetos políticos, os grupos envolvidos buscam um mito de Magalhães; os membros de ONGs Jorge Viana, Gumer-
origem, com frequência disfarçado de historiografia, ou cindo Rodrigues, Manuel Estébio, Arnóbio Marques; o re-
talvez indissoluvelmente nela enredado. O mito, ao pro- presentante da CONTAG João Maia, bem como os repre-
curar estabelecer uma versão dos fatos real ou imagina- sentantes oriundos da floresta, como Ivair Higino, Wilson
da, visa ser um instrumento de dotação de sentido e legi- Pinheiro, Osmar Facundo, Chico Mendes, Raimundo Bar-
timidade às forças em disputa. No caso de uma solução, ros, Elias Rozendo, José Mathias, Osmarino Amâncio, Jú-
mesmo que temporária, para o conflito, o mito estabele- lio Barbosa, Dercy Teles, dentre outros (as), tem sido os
cerá a verdade dos vencedores contra as forças do pas- mais entrevistados e os que mais tem emitido opinião
sado ou da oposição. Se não são abertamente distorci- sobre os acontecimentos que cercam as transformações
dos, os fatos adquirirão, na versão mitificada, dimensões econômicas, políticas, sociais e culturais que o Acre vem
apropriadas à transmissão da ideia de desejabilidade e atravessando desde a década de setenta.
de superioridade da nova situação. A mesma distorção Nesta diversidade de segmentos sociais que se envol-
sofrerão as personagens envolvidas, sendo relegadas a veram nos conflitos com os fazendeiros e com as forças
um plano secundário ou ao esquecimento ou, ainda, à repressoras do Estado, a contabilidade de perdas provo-
categoria de heróis, constituindo um novo panteão. cadas por mortes atingiu principalmente o segmento dos
Se não foi erguido imediatamente um novo panteão trabalhadores extrativistas. Os assassinatos de Ivair Higi-
e se não foi resolvido o problema fundiário, muitas mu- no, Wilson Pinheiro e Chico Mendes foram, sem dúvidas
danças se processaram a partir da convergência desses os mais sentidos, pois eles estavam na linha de frente da
setores urbanos para dentro da floresta. A resistência contestação, dirigindo os sindicatos de Xapuri e Brasiléia.
dos trabalhadores extrativistas encontrou nessa aliança Porém, as ações de prisões arbitrárias, ameaças, torturas,
outras formas de expressão. A vitimização dos trabalha- e mortes atingiram uma quantidade significativa desses
dores extrativistas, as denúncias de depredação ambien- agentes, onde nem mesmo os padres e bispos estavam
tal, instituíram o contraponto ao projeto governamental imunes.
e desviou ligeiramente a questão meramente fundiária, Orientando a ação de cada um desses segmentos,
onde o direito determinava a propriedade e posse, pas- contudo, havia representações políticas que algumas ve-
sando ao largo das questões sociais, Sant’Ana Júnior zes funcionavam como elemento de ligação, outras como
(2004, p.187) diz que: elemento de desagregação. Obviamente, o que os unia
Pode-se reconhecer na reação destes grupos às era a luta contra a ditadura militar no plano geral e a luta
“ofensivas de modernização” implementadas pelo go- contra a repressão no plano local, mas, as orientações
verno, grupos empresariais e fazendeiros, portanto, “vin- para a direção do movimento eram bem díspares. PC do
das de cima”, um conjunto de iniciativas típicas de uma B e PRC, eram os dois partidos (ambos clandestinos) que
“ofensiva de modernização vinda de baixo”, pois se ca- mais tinham militantes e queriam revestir o movimento
racterizam por resistir aos constrangimentos e exclusões com características revolucionárias, vendo nos seringuei-
efetivados pelos “agentes modernizadores”. ros os representantes de classe que fariam a revolução.
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Hobsbawm (1998, p. 218) indica que a história das Francisco Afonso Nepomuceno, o Carioca, dirigente es-
pessoas comuns como campo específico de estudos é tudantil que militava no PRC, diz que:
recente: “Começa com a dos movimentos de massa do O PRC fez uma leitura de que no Acre teria que ter
século XVIII, mas atualmente tem repercutido e influen- uma relação direta com a classe trabalhadora, aquilo que
ciado na boa perspectiva de exploração de dimensões se vinculava diretamente com a economia do Acre, o ex-
desconhecidas do passado”. Apoiada nesta compreen- trativismo e os seringueiros. Tinha, portanto, uma relação
são, a história dos empates pode ser entendida como direta com a intelectualidade acadêmica, via movimen-
boa representação dessa concepção, pois irá revelar um to estudantil, e o outro pé estava fincado na base. Por
modo de vida que não era considerado nos espaços ur- isso, foi eleito (o município de) Xapuri que começava ter
banos. Contudo, a história dos empates até o presente, uma resistência, através dos empates, ao modelo pecuá-
tem sido apresentada na forma de memórias gravadas. rio-madeireiro implementado a partir da década de 70.
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Assim, o movimento estudantil, via PRC, mantinha essa também teve contato com Mary Allegrety, Mauro Almei-
relação porque o partido estava organizado nos dois da, intelectuais que colaboraram na construção do novo
setores. As atitudes dos militantes do PRC era presidida conceito de reserva extrativista. Este conceito nasceu em
pela utopia da luta de classes e os seringueiros vistos uma reunião com índios na qual se comparou a reserva
como a classe revolucionária, pois questionavam o status indígena com a reforma agrária diferenciada desejada
quo, através da disputa pela terra, dos empates, do en- pelos seringueiros e alguém sugeriu que fosse chamada
frentamento com o Estado e dos setores que representa- de Reserva Extrativista. A partir da primeira conferência
va o Capital (Entrevista realizada em 24/11/2000. Apud. do Conselho Nacional dos Seringueiros, em 85, passou
Sant’Ana Júnior, 2004, p.206-207). a ser a grande bandeira, que ganhou adesão de todos
O Partido dos Trabalhadores (PT), que estava em pro- (Apud. Sant’Ana Júnior, 2004 p. 225-226).
cesso de fundação no final da década de setenta e se As três falas acima, apontando segmentos de algumas
organizava no Estado com base nos trabalhadores extra- correntes que estavam envolvidas nos acontecimentos
tivistas, tinha sua estrutura quase que totalmente vincu- que cercavam os empates, servem apenas para ilustrar
lada as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja o grau diferenciado de perspectivas que atravessavam o
Católica, constituirá outra força política que exerceria movimento de resistência dos trabalhadores extrativistas.
influência nos rumos do movimento dos trabalhadores A influência e importância política, adquiridas pelos
extrativistas. Osmarino Amâncio, sindicalista rural assim que militaram junto aos trabalhadores extrativistas, pos-
comenta esse período: teriormente, vão demonstrar que as correntes ligadas a
Realmente aqui a gente começava a reunião do PT Igreja Católica e aos ambientalistas foram às vencedoras.
e terminava com as orações dos fiéis, o Pai Nosso era o As propostas de radicalização da luta, com viés classista,
que fechava. Isso tem um sentido, porque disso. Primeiro encabeçadas pelos militantes do PC do B e do PRC, foram
que a Igreja aqui deu muito apoio a certos líderes que aos poucos sendo afastadas pelos dirigentes sindicais e
militavam na clandestinidade e quando surgiu o PT, aqui líderes dos trabalhadores extrativistas, impondo um des-
o berço do PT foi a Igreja Católica. Foi através dos soció- locamento dos militantes partidários para os espaços ur-
logos da Igreja ligada às Comunidades de Base, através banos, onde mantiveram até o final da década de noven-
dos teólogos, dos padres e freiras. E devido aos confli- ta o domínio do movimento estudantil na Universidade
tos, porque estava todo mundo envolvido nos conflitos. Federal do Acre e nos sindicatos ligados ao serviço pú-
Então, tanto fazia ser do PT, como ser do sindicato, na blico, especialmente os da saúde, da educação, bancários
hora de discutir estavam ali as mesmas pessoas. Então, e urbanitários.
quando fazia uma reunião, para não perder tempo, fa- Por outro lado, no final da década de setenta os seg-
zia logo as reuniões do sindicato, do partido e da Igreja. mentos ligados à Igreja católica e aos ambientalistas das
Pegava um domingo, que era o dia das reuniões, e que ONGs, se juntaram no esforço de fundação do Partido dos
vinha todo mundo. Para não perder muito tempo, fazia a Trabalhadores, que atrairia também alguns militantes e ex-
reunião das Comunidades de Base da Igreja, depois fazia -militantes do PC do B e agasalharia os militantes do PRC
a discussão do sindicato e fechava com a discussão do como uma corrente desse novo partido em formação.
PT. No final dava o sermão, rezava o Pai Nosso e ia todo A partir do início da década de oitenta, esses grupos
mundo pra casa. E cada um pegava aquilo na mente que começaram a participar ativamente dos embates eleito-
mais lhe interessava, porque alguns ficavam para assistir rais, com o PT lançando candidatos próprios aos cargos
a reunião do PT, outros ficavam para assistir a reunião das majoritários e legislativos e o PC do B, dentro da Tendên-
comunidades de base e outros ficavam porque estavam cia Popular do Movimento Democrático Brasileiro (MDB),
interessados na discussão sindical. (Entrevista realizada lançando candidatos a cargos legislativos, ambos tiveram
em 04/08/1999 – Apud. Sant’Ana Júnior, 2004, p.204). pouco êxito para os cargos majoritários, mas consegui-
Do ponto de vista ambientalista as proposições eram ram eleger alguns vereadores e dois deputados esta-
mais voltadas para fortalecer alianças que permitissem a duais, um pelo PC do B (na legenda do MDB que ganhou
ampliação dos novos objetivos traçados, Arnóbio Mar- o governo) e um pelo PT, nas eleições de 1982.
ques (ex-militante do PRC), representante da ONG, Cen- Essas forças políticas viveriam situações de conflitos
tro de Trabalhadores da Amazônia (CTA), comenta: abertos até 1989, quando, após a reabertura política o
[...] pela originalidade, pelas características do Acre, Partido dos Trabalhadores e o PC do B, já de volta à lega-
pelo apelo da Amazônia e pelo grau de violência dos lidade, juntamente com o PSB, formaram a Frente Brasil
conflitos pela terra registrados nos jornais do Centro-Sul, Popular para apoiar a candidatura de Lula à presidência da
vários intelectuais foram despertados a passarem pelo República. A partir daí, com poucos momentos de rompi-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Acre, a fazerem teses sobre o assunto. O Chico (Mendes) mento geral esses três partidos entram definitivamente no
era muito procurado por essas pessoas e aprendia muito cenário político acreano, fincando uma cunha no bipar-
com elas. Ele sacou o potencial do movimento se fosse tidarismo que vigorava no Estado desde o Golpe Militar
vinculado às lutas ambientalistas. Sacou que movimentos de 1964. Disputando as eleições em todos os campos e
de protesto teriam pouco resultado se não carregassem mantendo fortes ligações com os sindicatos de traba-
bandeiras propositivas. Começou a perceber que o Esta- lhadores rurais, com setores da Igreja Católica e com os
do não é um bloco monolítico e passou a ter a adesão movimentos ambientalistas, especialmente os ligados as
de vários técnicos do aparelho de Estado (INCRA, IBAMA, ONGs. Suas bandeiras políticas foram ao longo dos anos
DA EMATER – onde tinham vários militantes do PRC) e se diferenciando das outras duas forças remanescentes do
que muita coisa poderia ser conseguida de forma pro- período de bipartidarismo, por defender as teses do de-
positiva e até com projetos governamentais. O Chico senvolvimento sustentável, das alianças formadas com os
19
trabalhadores rurais e urbanos, principalmente os que se organizavam em sindicatos e, com os movimentos de estudan-
tes secundaristas e universitários que, de uma forma ou de outra, atavam suas teses classistas com reivindicações mais
localizadas, como meia passagem nos transportes coletivos, meia-entrada nas casas de espetáculos e praças esportivas,
moradia estudantil, etc.
A força desse movimento no sentido de influenciar as políticas públicas e mudar, inclusive o conceito de reforma
agrária que vigia no país, foi substantiva para a criação das Reservas Extrativistas e para o reconhecimento das coloca-
ções como medida agrária na região, bem como para ganhar eleições que permitiram esse conjunto heterogêneo ga-
nhar o Governo do Estado, manter maioria na Assembleia Legislativa e ocupar várias Prefeituras e Câmaras Municipais.
Após ganhar a primeira eleição para o Governo do Estado, em 1998, esse grupo adotou o slogan “Acre: Governo da
Floresta”, que tem como símbolo uma árvore que representa uma castanheira e passou a se posicionar como represen-
tante dos “povos da floresta”.
Porém, a heterogeneidade do grupo que catapultou essa força política para os cargos de direção do Estado, cons-
tituiu também sua força de oposição. Observando o crescente poder dos setores ligados a Igreja Católica e aos am-
bientalistas nos cargos de primeiro escalão e, consequentemente, implementando a operacionalização de políticas que
representavam suas posições políticas, os grupos classistas começaram a denunciar a despolitização das questões mais
agudas que eles vislumbravam como do interesse dos trabalhadores, que estariam sendo substituídas por políticas
conciliadoras, que acobertavam intervenções imperialistas e que tangenciavam a resolução dos problemas agrários e
de infraestrutura, ou mesmo, questionavam o papel do Estado na resolução de problemas canônicos que atormenta-
vam esses trabalhadores, como a não concessão de títulos de propriedades que lhes garantissem a permanência na
terra. Paula (2003, p.60), argumenta:
Sustentamos que face à ação do Estado nos conflitos fundiários – particularmente a atuação do INCRA nas desa-
propriações para fins de assentamento – a luta pela terra perdeu sua centralidade, cedendo lugar a reivindicações vol-
tadas para a dotação de infraestrutura social e produtiva nas áreas reformadas, bem como a busca de “alternativas de
desenvolvimento” referenciadas na esfera do mercado. O MSTR (Movimento dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais)
tornou-se menos representativo e em seu lugar surgiram novos mediadores, que passaram a concorrer com o sindicato
na mediação com instituições governamentais, organismos multilaterais (como o Banco Mundial e BID), Agências Não
Governamentais – ANGs, etc.
Esse novo rearranjo engendrado pelo governo estadual está em acordo com o que Paula (2002) entende como
desmontagem dos sindicatos classistas, bem como encontra eco nas análises de Chossudovscky (1999), onde para ele
nos lugares em que houve predominância do pensamento das ONGs,
[...] a análise crítica é fortemente desestimulada; a realidade social e econômica deve ser vista através de um único
conjunto de relações econômicas fictícias, cuja finalidade é dissimular as manipulações do sistema econômico global.
Esse dogma neoliberal “oficial” também cria seu próprio “contra-paradigma”, incorporando um discurso altamente
moral e ético, que se concentra no “desenvolvimento sustentável” e na “diminuição da pobreza”, ao mesmo tempo que
distorce e “disfarça” as questões políticas referentes à pobreza, à proteção do meio ambiente e aos direitos sociais das
mulheres, das crianças, etc. Essa contra ideologia raramente desafia as prescrições da política liberal. Ela se desenvolve
paralelamente e em harmonia com o dogma neoliberal oficial, e não em oposição a ele (CHOSSUDOVSCKY, 1999, p.34).
Nessa mesma linha, James Petras (1999), considera que:
Os políticos neoliberais começaram a financiar e promover uma estratégia paralela “de baixo”, a promoção de
organizações “comunitárias de base” (“grass roots”) com uma ideologia antiestatal para intervir nas classes poten-
cialmente conflitivas, para criar um “amortecedor social”. Tais organizações dependiam financeiramente das fontes
neoliberais e disputavam diretamente com movimentos sóciopolíticos pelo engajamento e fidelidade dos líderes lo-
cais e das comunidades militantes. Na década de noventa havia milhares dessas organizações descritas como sendo
“não governamentais”, as quais recebiam por volta de 4 bilhões de dólares de todo o mundo. As ONGs tornaram-se
a “face da comunidade” do neoliberalismo, intimamente relacionadas aqueles no topo e complementando o seu tra-
balho nocivo aos projetos locais. Efetivamente, os neoliberais organizaram uma operação “pinça” ou uma estratégia
dupla. Infelizmente, muitos da esquerda concentraram-se somente no “Neoliberalismo” de cima e de fora (FMI, Banco
Mundial) ao invés de se concentrarem no neoliberalismo de baixo (ONGs, microempresas). Uma das principais razões
para que esse fato tenha sido passado por alto foi a conversão de diversos ex-marxistas à fórmula e prática das ONGs.
O pós-marxismo foi o passe ideológico da política de classe para o “desenvolvimento comunitário”, do Marxismo às
ONGs. (PETRAS, 1999, p.44/45/46).
Comemorações cívicas
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Nacionais
20
Nossa Senhora Aparecida 12 de outubro Padroeira do Brasil
Finados 2 de novembro Dia de memória aos mortos
Proclamação da República 15 de novembro Transformação do Império em República
Natal 25 de dezembro Celebração tradicional natalina
Carnaval Feriado móvel Tradicional festa popular que precede a Qua-
resma católica; embora não seja um feriado
nacional, é rara a sua não utilização na prática. O
carnaval brasileiro, também formalmente conhe-
cido como entrudo, é celebrado na terça-feira
anterior à quarta-feira de cinzas. Em alguns mu-
nicípios não há trabalho na segunda-feira ante-
rior também, formando assim 4 dias de carnaval.
Sexta-feira santa Feriado móvel Data cristã na qual a morte de Cristo é
lembrada. Assim como o carnaval, não é um
feriado nacional, mas é feriado em vários
municípios, sendo marcado pela recriação da
Via-Sacra em diversas localidades
Corpus Christi Feriado móvel Data em que a Igreja Católica comemora com
Procissão Solene o Sacramento da Eucaristia,
devido à impossibilidade de fazê-lo no dia de
sua instituição, a Quinta-Feira Santa, uma vez
que na Semana Santa não se recomendam ma-
nifestações de júbilo. É um feriado comum insti-
tuído em vários municípios do Brasil, apesar de
não ser um feriado nacional.
Acre1
Data Feriado Observação/Legislação
23 de janeiro Dia do evangélico Lei Estadual nº 1.538/2004
08 de março Alusivo ao Dia Internacional da Mu- Lei Estadual nº 1.411/2001
lher
15 de junho Aniversário do estado Lei Estadual nº 14/1964
5 de setembro Dia da Amazônia Lei Estadual nº 1.526/2004
17 de novembro Assinatura do Tratado de Petrópolis Ponto facultativo; Lei estadual nº
57/1965
EXERCÍCIO COMENTADO
01. (Ano: 2019 Banca: IBFC Órgão: SESACRE) Em relação à história e formação do território do estado do Acre, dê
valores Verdadeiro (V) ou Falso (F).
a) V, V, F, V
b) V, V, F, F
c) F, V, V, F
d) F, F, F, V
1 Fonte: wwww.ensinarhistoriajoelza.com.br/www.todamateria.com.br/www.ambienteacreano.blogspot.
com /www.revistapresenca.unir.br/www.todamateria.com.br/www.infoescola.com/www.rbeo.emnuvens.com.br/
www.keltongshistoria.blogspot.com/www.revistas2.uepg.br/www.pt.wikipedia.org
21
Resposta: “B”
O Tratado de Petropolis contou com a permuta de alguns territórios entre os países, ou seja, para o Brasil ficou declara-
do que o Acre inferior (142.000 km²) e o Acre superior (48.000 km²) seria anexado ao território, enquanto que a Bolívia
ficaria com parte da região do estado do Mato Grosso, numa área correspondente a 3.164 km.
Indicadores Socioeconômicos
O Estado do Acre possui uma superfície de 153.149 km², o que representa 1,79% da área do país, e apresenta uma
vocação estritamente florestal. Situado na Amazônia Legal, sua vegetação natural é composta basicamente por floresta
tropical aberta e floresta tropical densa. O potencial econômico da flora estadual é imensurável, tanto do ponto de vista
madeireiro, da abundância e variedades de espécies produtoras de frutos para a alimentação e uso industrial, quanto
da existência de plantas medicinais e ornamentais.
Ao longo de sua história, a ocupação do território e a organização de atividades econômicas no Acre, respaldadas
por políticas e projetos governamentais, não viabilizaram um modelo de desenvolvimento duradouro e sustentável.
A partir dos anos 70, a expansão da fronteira agropecuária e madeireira no Acre (ainda que de forma menos intensa
do que em outros estados, como Pará, Mato Grosso e Rondônia) foi acompanhada por problemas graves, tais como:
conflitos sociais sobre o acesso à terra e outros recursos naturais, exploração predatória de recursos naturais, altas taxas
de desistência nos projetos de assentamento, crescimento desordenado de cidades como Rio Branco. O extrativismo
vegetal, que tradicionalmente sustentou a economia acreana não tem recebido o apoio e o incentivo necessários para
uma melhor performance. Os preços pagos pela borracha são incapazes de reanimar a produção e a madeira tem sido
explorada de forma seletiva, sem nenhum tipo de manejo.
Recentemente, o Estado tem realizado, esforços para promover o desenvolvimento sustentável, atendendo às ne-
cessidades do presente sem comprometer uso dos recursos naturais no futuro. Para tanto, tem utilizado como instru-
mento o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE), organizando o processo de ocupação socioeconômica por meio da
identificação do potencial de cada região e da orientação dos investimentos para o desenvolvimento do extrativismo,
da agroindústria e da agropecuária, buscando a preservação da biodiversidade.
A malha rodoviária do Acre está concentrada na região da capital. O Estado possui duas rodovias federais, a BR-364
que faz a ligação com a cidade de Porto Velho, em Rondônia, e corta o Estado de Leste a Oeste, no sentido Rio Branco/
Cruzeiro do Sul, findando a capa asfáltica em Sena Madureira; e a BR-317, que corta o Vale do Acre de Norte a Sul e que
tem asfaltamento parcial no trecho Rio Branco/Xapuri/Brasiléia. Rodovias estaduais asfaltadas fazem a ligação de Rio
Branco com os municípios de Senador Guiomard, Plácido de Castro, Porto Acre e Bujari, enquanto a ligação terrestre
com os demais municípios ocorre apenas durante 4 meses do ano, no período de estiagem. Nos meses chuvosos, com
duração de 8 meses, a ligação aérea, mesmo considerando os custos elevados, ocupa lugar de destaque, apresentan-
do-se como principal meio de transporte para maioria das localidades do interior do Estado. O transporte fluvial de Rio
Branco é bastante irregular no período da seca (maio/outubro), navegando apenas pequenas embarcações.
Economia
Destacam-se no Estado, como atividades econômicas mais significativas, a exploração da borracha e da madeira.
Os ciclos da borracha no Brasil atraíram para o Estado do Acre, desde o século passado, um contingente populacional
formado principalmente por nordestinos. A queda do preço do produto no mercado internacional fez com que muitos
seringais fossem desativados e a produção de borracha decresceu acentuadamente no Acre. O seringueiro passou
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
então a diversificar suas atividades, estando hoje as florestas acreanas permeadas de comunidades extrativistas. O
gerenciamento direto da floresta pela população que nela habita, tornando-se o agente responsável por si e pelo que
pode significar a preservação da floresta é o recomendável.
A Floresta Estadual do Antimary, que abrange 66.168 hectares, no centro-leste do Estado, foi escolhida como área
de estudo de modelos de utilização da floresta tropical. A população local é formada predominantemente por serin-
gueiros, e as principais fontes de renda das famílias são a exploração da castanha e da borracha. O Plano de Manejo
de Uso Múltiplo da Floresta do Antimary é financiado pela International Tropical Timber Organization (ITTO), com
contrapartida do governo brasileiro.
O ponto de partida para a interpretação das tipologias florestais foi o mapa confeccionado a partir de imagens de
satélite. Optou-se pela determinação de regiões de manejo, nas quais poderiam ser agrupados mais de um estrato,
desde que não houvesse grande diferenciação entre as espécies potenciais. Definiram-se então três tipologias básicas:
Floresta Densa; Floresta Densa de Várzea; e Floresta Aberta com Bambu.
22
Segundo levantamento socioeconômico na Floresta Vamos às contas: há várias maneiras de calcular o PIB.
do Antimary, estima-se uma produção anual potencial A maneira mais fácil e intuitiva de estimá-lo é pela cha-
de 200 toneladas de borracha natural e 44 toneladas de mada ótica da produção: devemos somar o valor de to-
castanha do Brasil “in natura”. A borracha representa o dos os produtos e serviços finais que foram produzidos
produto mais importante da economia de extrativismo, numa economia. Isso é, devemos computar o valor de to-
havendo no Antimary um total de 544 estradas de serin- das as vendas que foram feitas para o consumidor final.
ga (114 árvores de seringueira em média por estrada) nas Por “finais” entendemos aqueles produtos que não serão
colocações. A castanha do Brasil é o segundo produto do utilizados durante o processo de produção: os bens in-
extrativismo da Floresta do Antimary, sendo coletada no termediários. Em outras palavras: as matérias-primas. Se
período da entressafra da borracha, que ocorre de de- somássemos as matérias primas, estaríamos fazendo du-
zembro a fevereiro. pla contagem. Agora sabemos, portanto, de onde vem o
Das 1.244 espécies de plantas registradas, 674 foram “P” do “PIB”.
designadas como tendo potencial de uso pelo extrativis- Já o “I” vem de “interno“: o PIB está relacionado aos
mo. Estes usos estão divididos em categorias, entre as bens e produtos vendidos dentro da área que estamos
quais destacam-se: para a nutrição humana (frutas de ár- analisando. Por isso, consideramos tanto a produção de
vores, arbustos, palmeiras e cipós); para a construção ci- empresas locais quanto a de multinacionais que operam
vil, que inclui aquelas espécies que os extrativistas usam lá. Se os cálculos não levassem em conta o território, mas
na construção de suas casas (cumaru ferro, itauba etc.); apenas a nacionalidade, estaríamos tratando do Produto
madeira para botes — espécies utilizadas na construção Nacional Bruto (PNB). O PNB, em contraste com o PIB,
de canoa, (arapari, itaúba, maçaranduba etc.); para fazer leva em conta a produção vendida por empresas nacio-
ferramentas para caça e pesca — incluem-se espécies nais que operam fora do país, e desconsidera a atuação
adequadas a caniços e armadilhas; para utensílios varia- de empresas estrangeiras dentro do país.
dos — incluem-se espécies adequadas para a fabricação Outra maneira de definir o PIB é pela ótica da ren-
de facas, utensílios para a extração do látex etc.; remé- da, já que todo o produto ou serviço que foi adquiri-
dios (como barba de paca, que é usada como coagulante do corresponde a uma remuneração às pessoas que, de
do sangue, para uso externo); lenha e carvão — várias uma forma ou de outra, contribuíram para o produto. A
espécies arbóreas são incluídas nesta categoria, como essa relação os economistas chamam de identidade do
ingá ferradura e o louro. As estradas de seringa estão produto e renda. Por exemplo: ao comprar um pãozi-
sendo utilizadas como limites para facilitar o processo de nho, estamos pagando pelo serviço e lucro do padeiro,
determinação da área a ser manejada. De acordo com as pelo custo dos equipamentos da padaria e, claro, pela
condições de ocorrência de espécies comerciais, topo- farinha de trigo. Quando o padeiro pagou pela farinha,
grafia, distância das margens, mão-de-obra disponível e estava remunerando os insumos do produtor de farinha:
área total, foram determinados os compartimentos onde o trabalho dos operários, o lucro do dono e o custo do
serão realizadas anualmente as atividades do projeto. trigo. O produtor de trigo, por sua vez, também recebeu
O bambu é um dos produtos a ser explorado no Acre. um montante que remunerou seu trabalho e os insumos
Em todo o mundo, existem mais de mil espécies de bam- que usou para produzir o grão. No fim das contas, como
bus herbáceos e gigantes, distribuídos em cerca de 50 ilustrado no gráfico abaixo, o valor do pãozinho é equi-
gêneros. No Brasil, as espécies de ocorrência da região valente à soma da renda de todas as pessoas envolvidas
amazônica recebem vulgarmente o nome de taboca ou na sua produção: o padeiro, o dono e os operários na
taquarussu. No Acre, como na Amazônia de maneira ge- indústria de farinha e o produtor de trigo.
ral, o bambu nativo é pouco utilizado. Em certas regiões Porém, repare: não estamos considerando o valor
é usado pelo seringueiro apenas como tigela para coleta da depreciação dos equipamentos da padaria. Deprecia-
do látex ou como ponte sobre pequenos igarapés. Na ção é o custo do desgaste físico dos bens imóveis, como
biodiversidade das florestas acreanas, destaca-se, entre casas, máquinas, computadores etc. O curioso é que a
outras espécies, o bambu nativo, encontrado em grande depreciação não é, em si, um custo monetário, mas so-
quantidade em todo o território do Acre. mente o efeito do tempo: é a tinta da parede de casa
descascando, o óleo do motor envelhecendo, a mesa
PIB enferrujando, o computador ficando obsoleto… enfim,
O Produto Interno Bruto (ou apenas “PIB”) é a soma
todos os problemas que nos levam a, de vez em quan-
de todos os bens e serviços produzidos em uma econo-
do, gastar dinheiro com reparos, reposições ou reformas.
mia durante um certo período. Portanto, o PIB nos ajuda
Apesar de ser um componente do custo que todos co-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
23
preços da economia (seja inflação ou deflação), causan- vamos perceber que os juros do banco e o aluguel do
do uma distorção no cálculo da quantidade de bens e ponto comercial, por exemplo, também contribuem para
serviços produzida. É por isso que economistas preferem a formação do preço do pãozinho. A maneira com a qual
calcular o PIB real, em que é escolhido um ano-base para esse valor é distribuído, em forma de renda, às diversas
calcular a variação da produção (por exemplo: para cal- pessoas que colaboraram com a sua produção, é o que
cular a produção de 2015, toma-se o ano de 2014), des- se denomina distribuição de renda. Um indicador célebre
considerando a inflação do período. para analisá-la é o índice de Gini.
Recessão: é um período de crescimento econômico
Como o PIB está relacionado com o crescimento eco- negativo. Em níveis moderados, a recessão é usualmente
nômico chamada de estagnação. Por outro lado, uma longa fase
De maneira geral, quando os analistas se referem de crescimento negativo é caracterizada como uma de-
a crescimento econômico, estão falando da variação per- pressão. Para identificar uma recessão, o critério técnico
centual do PIB de um ano em relação a outro. E por que mais usado é o de dois trimestres em crescimento nega-
se preocupar com o crescimento da economia? Em pri- tivo. As recessões têm como consequências o aumento
meiro lugar porque, via de regra, a renda é proporcional do desemprego e a redução do nível de investimentos
à qualidade de vida. Populações com maior renda têm privados.
acesso a melhores serviços de saúde, educação e lazer. O Estagflação: é uma recessão (ou estagnação) conjuga-
crescimento da renda, portanto, é fundamental para que da com aumento do nível de preços, ou seja, inflação. A
cada vez mais pessoas tenham melhores condições de estagflação é um dos piores tipos de crise: o desemprego
vida. Esse aspecto é o mais relevante quando tratamos fica alto e o poder de compra dos salários é corroído pela
de países mais pobres. inflação, afetando duplamente o nível de bem-estar da
Não devemos, entretanto, concluir que a renda é o população.
único fator que importa para determinar a qualidade de E o PIB brasileiro?
vida. Há muitas críticas em relação ao uso do PIB como Todos os anos, o Instituto Brasileiro de Geografia e
indicador de bem-estar, pois ele nada diz sobre a distri-
Estatística (IBGE) publica o resultado do Produto Interno
buição de renda, a degradação do meio ambiente ou os
Bruto brasileiro e a variação desse resultado em relação
outros efeitos negativos do modelo de vida consumis-
ao ano anterior. Em 2016, segundo o IBGE, o PIB dimi-
ta geralmente associados com o crescimento da econo-
nuiu 3,6% no Brasil. É o segundo ano seguido que regis-
mia.
tramos recessão (diminuição do nosso produto), o que
De modo bastante relacionado com a melhora do
não acontecia desde o biênio 1930-1931 (auge da crise
bem-estar, o crescimento do PIB também é um indicador
da geração de empregos. Em uma economia que cresce, econômica mundial iniciada em 1929). Em 2015, já havía-
a demanda por trabalho tende a se acelerar, o que é um mos registrado um recuo de 3,8%. Em valores absolutos,
outro modo de enxergar a relação entre PIB e qualidade o Brasil possui um PIB de R$ 6,266 trilhões. Já o PIB per
de vida. capita está em R$ 30.407.
Por fim, o crescimento da renda permite que as pou- PIB do Acre
panças e investimentos sejam maiores. Isso é benéfico Mesmo com um crescimento de somente 0,2% em
por vários motivos: dá mais segurança financeira para os 2017, o Produto Interno Bruto (PIB) do Acre, no perío-
trabalhadores, ajuda empreendedores a criar novas em- do de 2002/2017, cresceu a uma taxa média de 3,9% ao
presas, aumenta o saldo disponível para que os bancos ano, ocupando a 6ª posição dentre os nove Estados que
e o governo financiem mais investimentos e, dessa for- conseguiram fazer o PIB crescer no período. Na soma, o
ma, impulsionem a economia e contribua para um ciclo PIB acreano cresceu 77,2% em quinze anos, período que
virtuoso de crescimento – mas esta é uma história com- coincide com os governos da extinta Frente Popular do
plexa e foge do nosso escopo aqui. Acre no Estado.
“No Brasil, após dois anos consecutivos de queda,
Outros conceitos relacionados 2015 (-3,5%) e 2016 (-3,3%), o PIB voltou a crescer em
Além de entender o que é PIB, vale também descobrir volume: 1,3% em 2017 na comparação com 2016. Já no
algumas expressões que têm tudo a ver com ele. Veja a período 2002/2017 a variação em volume acumulada do
seguir alguns deles: Brasil foi de 42,5%, com uma média anual de 2,4% ao
PIB per capita: como sabemos, a população mundial ano”, informa o economista Orlando Sabino, do Fórum
deve continuar crescendo nas próximas décadas. Por Permanente de Desenvolvimento do Acre.
isso, o crescimento da renda deve ser suficiente para que Os dados foram publicados nesta quinta-feira (14)
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
essas pessoas que estão chegando ao mundo tenham pelo IBGE estão sendo avaliados pela equipe técnica do
um padrão de vida ao menos tão bom quanto o da nos- Observatório do Fórum Permanente de Desenvolvimento
sa geração. Para avaliar se a economia está indo nessa do Acre.
direção, analistas olham para o PIB per capita, que nada O IBGE estima em R$14. 271.000.000,00 o PIB do Acre,
mais é do que o PIB dividido pela população. Se o PIB au- 23º no ranking de valor nominal. Os salários têm gran-
menta menos do que o crescimento população, o PIB per de peso na composição da riqueza acreana. No Norte,
capita cai, implicando que, na média, a renda por pessoa a participação da remuneração de empregados também
está menor. foi mais expressiva em Roraima (60,3%); Acre (54,5%); e
Distribuição de renda: no nosso exemplo da padaria, Amapá (55,1%), estados caracterizados pela baixa parti-
vimos que o valor do produto remunera o trabalho do pa- cipação no PIB nacional e pelo peso relativamente alto
deiro, o lucro do dono da fábrica e do produtor de trigo. da atividade de Administração, defesa, educação e saúde
À medida que aproximamos esse exemplo da realidade, públicas e seguridade social em suas economias.
24
O Nordeste, que ao longo da série detinha o maior
peso da remuneração dos empregados no PIB, saiu de
47,3% em 2016 para 46,8% em 2017, foi superado pelo
Centro-Oeste (47,0%). No Piauí, Paraíba e Sergipe, o valor
relativo da remuneração de empregados foi superior a
50%, o que se justifica em grande medida pelo peso da
administração pública nestes estados.
25
acesso à água tratada e 34,8%, à rede de esgoto. A taxa
de mortalidade infantil é de 29 para cada mil nascidos
vivos e o analfabetismo atinge 15,4% dos habitantes.
Assim como nos outros estados brasileiros, a maioria res. Em (re)construção e (re)invenção permanente, essa
dos habitantes do Acre reside em áreas urbanas (72,6%); história oficial se autocelebra periodicamente por meios
a população rural responde por 27,4% do total. De acor- manifestações discursivas e simbólicas, cultua seus he-
do com o sexo, 50,2% são homens e 49,8%, mulheres. A róis, hinos, bandeiras, monumentos etc. Nessa história, a
população indígena, que tem forte influência na cultura “questão indígena” ocupa um lugar curioso e instigante.
local, totaliza cerca de 14,3 mil pessoas. Embora mencionados por alguns historiadores, os povos
No âmbito social, o Acre ocupa o 17° lugar do ranking indígenas do Acre ocuparam um papel marginal no mo-
nacional de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), mento da conquista desse território e desaparecem da
estando à frente de Roraima e de todos os estados da história regional durante a maior parte do século XX para
Região Nordeste. O déficit nos serviços de saneamento reapareceram na década de 1970 e passarem a desem-
é um dos grandes problemas – 56,4% das pessoas têm penhar um papel central no discurso oficial dos últimos
15 anos.
26
A análise privilegiará o imaginário construído durante reuniu sob a expressão de “invenção da Amazônia”. O
a “invenção do Acre” e a ideologia contemporânea do amazonismo retoma basicamente essa ideia. No entanto,
que Morais (2008) chamou de acreanidade. Esses dois prefiro o termo à expressão de Gondim para enfatizar
momentos expressam com nitidez duas formas contras- sua unidade ou a estrutura que lhe dá sustentação. O
tantes de se pensar os índios e seu lugar na história re- amazonismo tem sua origem nas primeiras descrições da
gional. A “invenção do Acre” enfatiza a conquista desse alteridade amazônica e de seus primeiros habitantes fei-
território e sua incorporação ao Brasil durante o auge tas pelos viajantes do século XVI, mas o imaginário que
da economia extrativista da borracha na virada do sécu- esse edifício de ideias e ações mobiliza possui raízes mais
lo XIX para o século XX. Ela geralmente exclui os povos profundas. Creio ser importante relembrar rapidamente
indígenas, apagando sua participação na construção da essa estrutura e algumas características desse imaginário.
história regional, ou se limita a mencioná-los para enal- Como mostraram, entre outros, Pagden (1982), Bar-
tecer as façanhas dos colonizadores. Cem anos depois, a tra (1994) ou Woortmann (2004), a concepção ocidental
ideologia da acreanidade, promovida pelo governo re- da alteridade tem suas raízes na Grécia Antiga, momen-
gional a partir de 1999, procede a um movimento inver- to onde se estabeleceu uma dicotomia fundante entre o
so. Ela (re)inventa um discurso identitário que não só (re) “civilizado” e o “bárbaro” ou “selvagem”. Essa oposição
introduz os povos indígenas na história regional, mas faz binária está implícita na ordem simbólica que criou o
dessas populações, junto com os seringueiros, persona- Ocidente como construção ideológica e serviu de mode-
gens centrais dessa mesma história. lo para a apreensão da alteridade nos séculos seguintes.
Assim, a noção de “selvageria” ou “barbárie” para quali-
O AMAZONISMO: IMAGINÁRIO COLONIAL E ficar uma ausência de “civilização” e muitas vezes de hu-
POVOS INDÍGENAS manidade foi utilizada pelos gregos para falar dos Citas,
À imagem do orientalismo de Said (1996) podemos pelos romanos para descrever os germanos, e na Idade
definir o amazonismo como um conjunto de ideias, dis- Média pelos europeus para se referir aos irlandeses, os
cursos e práticas produzidos pelo imaginário ocidental habitantes da borda da Europa.
sobre a Amazônia e os povos indígenas, seus primeiros Na história europeia, o Renascimento foi uma época-
habitantes. Como artefato conceitual e prático sobre a -chave, um período de transição entre o mundo medieval
alteridade amazônica, o amazonismo se caracteriza por e a modernidade. O sistema copernicano e a chegada
uma desigualdade de poder e apresenta geralmente a ao “Novo Mundo” questionaram profundamente a cos-
Amazônia e suas populações nativas como o espelho in- mografia e a cosmologia até então vigentes. A visão de
vertido do Ocidente. Embora partilhe muitas caracterís- um mundo tradicional, fixado e ordenado pela escolás-
ticas com o “orientalismo” de Said, o amazonismo não é tica medieval, ela mesma informada pelo texto bíblico,
um discurso unívoco produzido por um Ocidente unifor- começava lentamente a ser abalada sem, no entanto,
me sobre uma alteridade passiva. Pelo menos enquanto ser substituída por novas verdades (Woortmann 2004).
ideologia, ele é caracterizado por ideias estereotipadas, Nesse contexto de incertezas e temores, aberto às mais
negativas, mas também positivas, cujas manifestações ousadas especulações, as primeiras informações sobre a
diferem e variam em intensidade em função dos atores Amazônia e seus habitantes indígenas apareceram como
e das épocas. Em seu conjunto, essas ideias acabam por a transposição de velhas imagens sobre a alteridade,
formar um campo ideológico profundamente ambíguo. atualizadas e aplicadas à nova realidade, e como uma
Historicamente movido por interesse dos mais variados, fonte de inspiração para velhas e novas utopias.
o amazonismo é alimentado em permanência por uma Assim, desde os primórdios da colonização europeia,
grande diversidade de atores, inclusive pelos próprios a Amazônia e os povos indígenas da região serviram de
povos indígenas que, nas últimas décadas, passaram a palco de projeção para os mais diversos mitos e fantasias
participar de sua construção enquanto sujeitos e não ocidentais. A nova alteridade tornou-se um objeto-pre-
apenas como objetos. Assim, o amazonismo seria mais texto para falar de si e de seu próprio mundo. A Amazô-
bem definido como um campo ambíguo caracterizado nia e seus primeiros habitantes concentraram todos os
por um caleidoscópio de imagens multifacetadas sobre sentimentos e ilusões. À imagem do Janus de duas faces,
a Amazônia e seus primeiros habitantes ou um conjunto a região e os índios foram construídos pelo Ocidente
de discursos e de ações múltiplas e contraditórias que como seu espelho invertido.
podem ser mobilizados, em função das circunstâncias, Primeiras testemunhas ocidentais da Amazônia e de
para servir os mais diversos interesses. Mais do que um seus habitantes, os relatos de Carvajal (1941) e de Acuña
“orientalismo amazônico”, o amazonismo, tal como o (1941) combinaram o fantástico e o exótico e edificaram
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
concebo aqui, é uma versão do indigenismo no sentido as bases do amazonismo. Até o século XIX, pelo menos,
dado por Ramos (1998: 5-7). É um indigenismo geografi- nas descrições sobre a Amazônica, encontramos relatos
camente localizado onde homens e natureza se confun- de homens sem cabeça ou com cauda, cinocéfalos, gigan-
dem ou, melhor dizendo, no qual os homens são geral- tes e anões, canibais selvagens e outras criaturas estra-
mente associados à natureza porque são considerados nhas. Situadas num liminar entre natureza e cultura, essas
parte integrante dela. imagens negativas dos nativos da Amazônia se misturam
Os discursos que sustentam o amazonismo enquanto com descrições da terra, da fauna e da flora. São também
concepção ocidental sobre a Amazônia e os povos indí- complementadas por versões positivas da alteridade que
genas são bem conhecidos dos antropólogos e já foram relatavam a existência, por exemplo, de homens puros e
objeto de uma vasta literatura. Gondim (1994), por exem- inocentes vivendo no Paraíso. Assim, as figuras ocidentais
plo, fez uma síntese desse imaginário de ideias que ela sobre a alteridade amazônica alimentaram as mais diversas
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utopias: mito das Amazonas, inferno verde, Eldorado, seres território. Embora não sejam totalmente invisíveis, os po-
canibais, “Nobre Selvagem” etc. Sistematizando todos os vos indígenas ocuparam, inicialmente, um espaço muito
paradoxos, a Amazônia e os povos indígenas podem ser marginal na história do Acre e praticamente desaparecem
ao mesmo tempo símbolos de riqueza e miséria, medos e até a década de 1970. No entanto, a marginalidade e o
esperanças, sonhos e pesadelos, futuro e passado, Inferno desaparecimento simbólico dos índios do Acre não sig-
e Paraíso, etc. Manipuladas sem limites, essas imagens con- nifica que as imagens do amazonismo estivessem ausen-
traditórias informaram a conquista do território e o encon- tes. Como no resto da Amazônia, o imaginário ocidental
tro dos Europeus com os povos indígenas. Elas serviram aos projetou seus fantasmas sobre as futuras terras acreanas
mais diversos atores e interesses. Além de legitimarem a e seus primeiros habitantes. No final do século XIX e iní-
colonização da região e de seus primeiros habitantes, os cio do século XX, a “conquista do deserto ocidental” Costa
mitos do amazonismo também tiveram repercussões não (1998) é exemplar de alguns mitos do amazonismo. Para
previstas na Europa, onde foram mobilizados para sustentar parafrasear Gondim (1994), podemos dizer que a “inven-
interesses políticos e ideológicos. ção do Acre” foi uma modalidade particular da “invenção
O edifício ideológico construído pelo Ocidente para da Amazônia”.
representar a Amazônia e os povos indígenas conheceu Embora não possa ser datada com precisão, a emer-
várias alterações nos últimos dois séculos. Libertou-se, gência do acreanismo é anterior à chegada dos serin-
progressivamente, do imaginário fantástico da cosmolo- gueiros à região. O atual território do Acre foi imaginado
gia antiga e medieval. As imagens contemporâneas do antes de ser conquistado. Ainda inexplorados, os rios Pu-
“selvagem”, incarnadas nos índios da Amazônia, aban- rus e Juruá cativaram o imaginário europeu nos primeiros
donaram as figuras antropozoomórficas do passado que séculos da colonização. A capital do Império Inca, Cuzco,
também nunca foram uma exclusividade do Ocidente. era considerada a fonte desses dois grandes rios opulen-
No entanto, o amazonismo continua se reproduzindo tos de riquezas, principalmente ouro. Em 1639, Cristobal
em uma paleta diversificada de fantasias. Não cabe aqui de Acuña, por exemplo, se referia ao rio Juruá como “rio
explorar essas facetas que continuam sendo reproduzi-
Cuzco”. As margens do Juruá e Purus eram consideradas
das por viajantes, escritores, filósofos, militares, políticos,
o habitat natural de tribos fantásticas e temidas que pro-
jornalistas, antropólogos, entre muitos outros. Aprisiona-
dos no discurso binário e estereotipado sobre o “outro”, tegiam ferozmente seus tesouros:
que Trouillot (1991) chamou de savage slot, os índios e a “Rios enigmáticos, envoltos nas malhas da lenda, im-
Amazônia continuam sendo manipulados para servir os penetráveis ao homem branco temerosos da ferocidade
mais diversos interesses e utopias ocidentais. dos silvícolas, habitantes e guardiãs de suas margens. É
Essa persistência do amazonismo ao longo dos sécu- que a tradição da crônica regional, desde época bastante
los se explica se consideramos que sua ideologia remete remota, os apontava como o reino de índios bárbaros e
a uma dicotomia mais profunda, ou seja, à distinção civi- de tesouros salomônicos. No Purus, diz a lenda, havia ín-
lização / barbárie que é somente uma outra maneira de dios gigantes que se enfeitavam com folhas de ouro, ou-
representar a distinção natureza / cultura, tema clássico tros que penduravam argolas desse metal no nariz e nas
da reflexão antropológica. Nesse concepção binária, a orelhas. A primitiva geografia do Purus e Juruá foi uma
Amazônia e os povos indígenas ocupam geralmente o geografia de mitos: no primeiro a nação dos gigantes,
polo da natureza. O espaço geográfico e humano se con- no segundo o país dos anões e dos homens caudados”
fundem. Assim, no discurso do “mau selvagem”, os ín- (Tocantins 1979: 105).
dios da Amazônia pertencem ao reino da natureza e sua Ora, até meados do século XIX, a região do atual es-
incorporação ao domínio da cultura passava pela “obra tado do Acre era praticamente desconhecida do mun-
civilizadora”. Embora dominante, esse discurso também do ocidental e tudo o que se falava sobre esse território
era acompanhado por seu oposto que fazia desses povos não passava de especulações. As primeiras expedições
um ideal de humanidade justamente por viverem numa oficiais aos rios Purus e Juruá foram realizadas em 1852 a
natureza bondosa e ignorarem os males da civilização. mando de João Batista de Figueiredo Terneiro de Aranha,
A história do Acre apresenta essas duas versões do
então presidente da Província do Amazonas. Lideradas
indigenismo amazônico ou amazonismo. No sudoeste
respectivamente por João Rodrigues Cametá e Romão
da Amazônia, seus dois polos opostos caracterizam dois
momentos históricos. A primeira versão foi dominante José de Oliveira, elas já tinham como objetivo, além do
durante a “invenção do Acre” até os índios da região se- conhecimento geográfico da região, a atração e a pa-
rem supostamente “civilizados” e desaparecerem da his- cificação dos índios. Todavia, a historiografia ocidental
tória oficial. No início do século XXI, a segunda versão consagrou os nomes de Manoel Urbano, explorador do
substitui a primeira. Como o amazonismo, o discurso que Purus em 1858, e João da Cunha Corrêa, que percorreu
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
a história oficial do estado do Acre nos conta e celebra o Juruá em 1861, como os primeiros “desbravadores” e
há mais de cem anos é um monólogo que usa os povos “descobridores” das terras acreanas. Apesar dessas expe-
indígenas para falar basicamente de si e projetar nessas dições pioneiras, o Acre só começa realmente a existir a
populações os estereótipos ocidentais do “mau” e do partir do final da década de 1870 com a chegada maciça
“bom selvagem”. Por comodidade, chamarei essa versão de seringueiros. O imaginado e cobiçado ouro incaico,
acreana do amazonismo de acreanismo. que se imaginava cobrir os corpos antropozoomórficos
dos índios da região, materializou-se no “ouro negro”,
O acreanismo na “invenção do Acre”: índios mortos e o leite vegetal, no final do século XIX. Os seringueiros8
índios “civilizados” criaram o Acre, inventando-o.
Durante o período de “invenção do Acre”, o “outro” é Na historiografia acreana, a diversidade nativa se
essencialmente o boliviano, ou seja, o estrangeiro contra o confunde, geralmente, com a natureza a ser explorada
qual os seringueiros brasileiros lutavam pela conquista do e conquistada ou, na melhor das hipóteses, é apresenta-
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da como um estado primitivo de humanidade. Antes da 1985: 15). Embora possam dar uma ideia da magnitude
epopeia da borracha e da chegada dos seringueiros, a do genocídio, essas estimativas devem ser consideradas
região acreana é tida como não tendo história. Essa ideia com extrema cautela já que os autores não informam
é expressada claramente no título escolhido por Cravei- como chegaram a esses números. Se qualquer estimativa
ro Costa, um dos principais historiadores da região, para da população indígena dessa região da Amazônia sul-o-
qualificar sua obra principal: “A conquista do deserto oci- cidental no período pré-colonial ainda continua temerá-
dental” (Costa 1998). Até recentemente, para a história ria, a etnologia indígena contemporânea, os estudos de
oficial, o povo acreano era formado somente pelos serin- etinohistória e os achados recentes da arqueologia for-
gueiros, cuja façanha histórica foi domesticar a natureza necem uma boa crítica aos mitos do acreanismo e pistas
e os índios que faziam parte dela. Durante praticamente interessantes que poderão participar da construção de
todo o século XX, várias estratégias retóricas foram uti- uma história menos etnocêntrica. Assim, contrariamente
lizadas para minimizar e até negar a presença de índios as imagens de “deserto” ou “terra vazia’ promovidas pela
na região acreana que é geralmente apresentada como história oficial, vários trabalhos apontam para uma ocu-
uma “terra virgem”, “vazia” ou um “deserto” onde o ima- pação milenar dessa região e para a existência de uma
ginário do inferno verde se mistura às esperanças do população etnicamente diversificada e numericamente
Eldorado; a “última página, ainda a escrever-se, do Gê- importante antes da chegada dos seringueiros.
nese” nas palavras de Euclides da Cunha (1998). O Acre Chamados regionalmente de “correrias”, os massa-
foi obra dos seringueiros, heróis anônimos, desespera- cres de indígenas eram organizados por seringueiros e
damente instalados numa região hostil, mas promissora.
seringalistas brasileiros, mas foram sistematicamente su-
Com audácia e bravura, o admirável nordestino penetrou
bestimados ou vergonhosamente ocultados pelos pro-
laboriosamente a selva, desafiando a natureza e as fle-
motores da história oficial acreana que preferem atribuir
chas envenenadas dos “índios selvagens” para conquis-
o assassinato dos nativos à violência, não menos cruel
tar palmo a palmo o território e integrá-lo à nação. Como
e condenável, de caucheiros bolivianos e peruanos ou
o bandeirante, o seringueiro deflorou a floresta e domou
a outros fatores. Mesmo Castelo Branco (1950), um dos
a natureza virgem.
“A terra é, naturalmente, desgraciosa e triste, porque raros autores a mostrar certo interesse pela diversidade
é nova. Está em ser. Faltam-lhe à vestimenta das matas indígena, procurou minimizar a presença dos índios e
os recortes artísticos do trabalho (…). Há alguma coisa atribuiu o desaparecimento desses povos aos massacres
extraterrestre naquela natureza anfíbia, misto de águas e perpetrados pelo estrangeiro boliviano, aos conflitos in-
de terras, que se oculta, completamente nivelada, na sua tertribais ou ao sarampo.
própria grandeza. E sente- -se bem que ela permaneceria Os índios nunca atuaram como sujeitos históricos na
para sempre impenetrável se não se desentranhasse em “invenção do Acre”. Mesmo quando considerados hu-
preciosos produtos adquiridos de pronto sem a constân- manos, continuavam fazendo parte da natureza. Com a
cia e a continuidade das culturas. As gentes que a po- chegada dos seringueiros, os povos “sem história”, quan-
voam talham-se-lhe pela braveza. Não a cultivam, afor- do não simplesmente invisibilizados, tornaram-se obje-
moseando-a: domam-na. O cearense, o paraibano, os tos de retórica da uma história etnocêntrica e colonial
sertanejos nortistas, em geral, ali estacionam, cumprindo, que se constrói sem eles e sobre eles, nunca com eles.
sem o saberem, uma das maiores empresas destes tem- Se alguns índios encontraram refúgio nas cabeceiras dos
pos. Estão amansando o deserto. E as suas almas simples, rios, em áreas menos cobiçadas onde não existia seringa,
a um tempo ingênuas e heroicas, disciplinadas pelos re- de modo geral, o destino dos povos indígenas do Acre
veses, garantem-lhe, mais que os organismos robustos, durante a colonização da região foi o extermínio ou, na
o triunfo na campanha formidável” (Cunha 1998: 88-89). melhor das hipóteses, a “civilização”.
Para amansar e cultivar o “deserto”, o seringueiro ex- Assim, uma dicotomia se estabeleceu rapidamente no
terminou a maioria dos índios. Vários esforços narrativos Acre entre os índios “brabos”, por um lado, e os índios
foram feitos para esconder esses massacres, episódios “civilizados” ou “mansos”, por outro. Uma dualidade que
pouco gloriosos da “invenção do Acre”. O seringueiro atualizava a oposição “selvagem” / “civilizado”, exempli-
patriótico, enaltecido pela história oficial, é na realidade ficando, mais uma vez, a versão acreana do amazonis-
um assassino de índios. Quando não os matou delibera- mo. Após serem massacrados e perderem suas terras, os
damente procurou civilizá-los. Como bem apontou Car- “brabos” só são lembrados para reforçar a grandeza e
neiro (2014: 260), “a genealogia do Acre começa quando o heroísmo dos colonizadores. Integrados à cultura lo-
a história de inúmeros povos indígenas termina”. No mo- cal como folclore, tornaram-se símbolos das glorias do
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
mento da conquista, as populações indígenas da região passado, ou seja, da conquista da cultura sobre a natu-
são vistas como um obstáculo à exploração da borracha. reza.10 Os “civilizados” ou “mansos”, por sua vez, inte-
A presença nativa é considerada um freio ao avanço ine- graram progressivamente a economia do seringal como
vitável e benfeitor do “progresso” e da “civilização”. A mateiros, caçadores, pequenos agricultores, etc. Esses
“invenção do Acre” começou com um genocídio delibe- sobreviventes tornaram-se, sobretudo, seringueiros e
radamente ocultado. passaram a conviver com seus algozes históricos com os
Ainda sabemos muito pouco sobre a dimensão des- quais partilharam um destino funesto durante a maior
se genocídio. Alguns autores afirmaram que cinquenta parte do século XX, muitas vezes na condição de mão de
povos indígenas representando uma população de cerca obra servil no sistema escravista e paternalista do barra-
de 60 mil indivíduos habitavam as bacias dos rios Purus
cão, principalmente na região do Alto Juruá. Ao genocí-
e Juruá durante os séculos XVI, XVII e XVIII (Calixto et al.
dio sucedeu o etinocídio.
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Como em outra regiões da Amazônia, a civilização (1964-1985). A exploração da Amazônia continuou ser
pelo trabalho produziu a categoria genérica de “cabo- vista como uma solução milagrosa para resolver os pro-
clo”; uma nova fantasia do amazonismo colonial. Embo- blemas econômicos e sociais do país. A construção do
ra se diferencie do “brabo”, ou seja, o índio “selvagem” “Brasil Grande” e o futuro próspero da nação passavam
com traços animalescos, o “caboclo” acreano continuou pelo desenvolvimento dessa vasta região e sua integração
a representar uma sub-humanidade situada no limiar da definitiva à economia capitalista mundial. Nesse contex-
natureza e da cultura. Caracterizado por um conjunto de to, a ideologia desenvolvimentista e integracionista das
atributos negativos (ladrão, preguiçoso, traidor etc.), o décadas de 1970 e 80, com suas imagens ambivalentes e
“caboclo” é um índio “civilizado” que se olha no espe- contraditórias, reproduziram as mesmas estruturas cogni-
lho do branco (Cardoso de Oliveira 1976: 14-20, Aquino tivas que informaram o mito do amazonismo nos séculos
1977). Para sobreviver no cativeiro, os índios do Acre ti- anteriores. Popularizadas por slogans como “uma terra
veram que deixar de serem índios durante décadas. Os sem homens para homens sem terra” ou “integrar para
“caboclos” reprimiram sua identidade étnica para fugir não entregar”, todas as políticas para a Amazônia do pe-
dos preconceitos da sociedade colonial. “Civilizados” ou ríodo militar se apoiaram nos paradoxos do amazonismo.
massacrados, os povos indígenas desapareceram da his- Tinham, por exemplo, como objetivo, o povoamento de
tória oficial do Acre durante a maior parte do século XX. um espaço ainda visto como natural e vazio, mas habitado
Até meados da década de 1970, instituições governa- por povos indígenas, além de uma numerosa população
mentais e importantes segmentos da sociedade acreana produto das fases de colonização anteriores e da miscige-
desconheciam a existência de populações indígenas no nação; a valorização econômica de uma região considera-
Estado (Aquino & Iglesias 1999: 6). Não existiam “índios”, da improdutiva, mas que dissimulava opulentes riquezas;
somente “caboclos”. Símbolo dessa invisibilidade, a FU- a integração à nação de um território visto como marginal,
NAI só começou realmente a atuar na região em 1975, mas ao mesmo tempo primordial, etc.
quando foi criada uma representação regional no estado. No Acre, a nova fase de colonização se caracterizou
Até essa data, as raras viagens de funcionários do SPI pela economia agropecuária. Beneficiando-se da crise da
legitimaram os patrões seringalistas e alguns políticos borracha e de estímulos do governo estadual, ela se in-
locais como representantes do órgão. tensificou na região a partir da década de 1970. Os “pau-
O genocídio e etnocídio dos índios do Acre só come- listas”, termo pelo qual os novos colonos originários do
çou a adquirir uma certa visibilidade a partir da década centro-sul e do sul do Brasil e seus representantes pas-
de 1980 quando a voz dos índios se fez mais audível. No saram a ser chamados pelos acreanos, apresentavam-se
entanto, o passado continua sendo glorificado com mui- como os novos “civilizadores” do Acre, vindos para de-
ta soberba pela história oficial, cujo narcisismo exagera- senvolver e integrar a região ao resto do país, trazendo
do talvez esteja intimamente relacionado ao tamanho do progresso e prosperidade para essas terras ainda con-
morticínio que ela produziu e ainda busca dissimular. No sideradas “selvagens”. Para tanto, compraram os serin-
fundo, como indica numa passagem contundente Eduar- gais em falência, desmataram a floresta, criaram pastos e
do de Araújo Carneiro, um dos raros intelectuais a procu- procuraram transformar seringueiros e índios em peões
rar descontruir os mitos da história oficial, os povos indí- (Aquino 1977).
genas, mesmo massacrados, subjugados ou esquecidos, As primeiras reivindicações indígenas no Acre surgi-
continuam um elemento essencial da “invenção do Acre”. ram em decorrência dos conflitos pela terra que caracte-
“Em resumo, a versão epopeica da história do Acre rizaram essa nova fase de colonização, mas a emergência
parece ter sido uma necessidade social para acobertar, e a consolidação do movimento indígena acreano tam-
dentre outras desgraças, o massacre de inúmeros povos bém devem ser situadas no contexto político mais amplo
indígenas. A narrativa epopeica fez de tudo para inocen- da afirmação étnico- -política da indianidade que carac-
tar os “heróis acreanos” desse grande flagelo. As corre- terizou as Américas a partir da década de 1970. Nesse
rias fizeram do território acreano um sepulcro aberto que fenômeno global, atores não indígenas tiveram um papel
exala odores fúnebres até os dias de hoje. Assim sendo, fundamental. No caso do Acre, é importante mencionar a
todas as datas festivas ligadas à fundação do Acre são regional da Amazônia Ocidental do Conselho Indigenista
memoriais da intolerância e do etnocentrismo.” (Carneiro Missionário (CIMI), a Comissão Pró- -Índio do Acre (CPI-
2014: 267-268). -Acre), uma ONG indigenista, e o antropólogo Terri Valle
de Aquino. Esses atores foram os primeiros porta-vozes
ENTRANDO NA HISTÓRIA DOS BRANCOS: O da causa indígena.
MOVIMENTO INDÍGENA NO ACRE Aos poucos, com esse apoio externo, lideranças indí-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Os povos indígenas só apareceram como atores na genas começaram a emergir no campo interétnico. Elas
história do Acre a partir de meados da década de 1970 expõem os problemas de suas comunidades, denunciam
quando começaram, paulatinamente, a se organizar no as situações de dependência diante dos brancos, o racis-
campo interétnico para defender seus direitos, princi- mo, os desmatamentos, a colonização de seus territórios,
palmente territoriais. Essa afirmação política se deu em etc. A partir de 1982, assembleias indígenas regionais
reação a uma nova frente de colonização da região esti- começaram a ser organizadas periodicamente em Rio
mulada pelas políticas da ditadura militar para o desen- Branco. Rejeitando a identidade negativa de “caboclo”,
volvimento da Amazônia. os povos indígenas do Acre afirmam positivamente sua
Durante o século XX, os mitos do amazonismo con- indianidade e etnicidade e passam a reivindicar junto ao
tinuaram a orientar as políticas oficiais para a Amazônia governo federal a demarcação de suas terras. Essa orga-
que recebeu uma atenção especial durante a ditadura nização política dos índios do Acre se fortaleceu em 1986
30
quando lideranças de diferentes povos, reunidas em Rio Sua influência política é, no entanto, extremamente re-
Branco durante a terceira assembleia indígena do Acre e duzida e outras associações adquiriram uma visibilidade
do Sul-Amazonas, decidiram pela criação de uma orga- muito maior. Como em outras regiões da Amazônia (Al-
nização indígena regional: a União das Nações Indígenas bert 2000), as organizações indígenas no Acre são ge-
do Acre e do Sul-Amazonas- UNI/Norte. ralmente fundamentadas numa base étnica, pan-étnica
Em meados da década de 1980 e início dos anos 90, ou numa identidade socioprofissional. Podem, por exem-
o movimento indígena do Acre também encontrou nos plo, representar os interesses de uma única comunidade,
seringueiros, inimigos históricos, importantes aliados de uma terra indígena específica, de uma microrregião,
contra a frente colonial dos “paulistas”. Reunidos em sin- como um conjunto de povos de uma bacia hidrográfica,
dicatos de trabalhadores rurais desde a década de 1970, ou ainda uma categoria profissional, como é o caso dos
os seringueiros do Acre fundaram, em 1985, o Conselho professores e dos agentes agroflorestais. Em agosto de
Nacional dos Seringueiros (CNS). Com sua liderança em- 2000, realizei um primeiro levantamento das organiza-
blemática, Chico Mendes, lutavam contra os novos co- ções indígenas do Acre que serviu para complementar o
lonos que ameaçavam seu modo de vida e defendiam a recenseamento das organizações indígenas da Amazônia
criação de reservas extrativistas – uma figura jurídica até publicado em Albert (2000). Naquela ocasião, existiam 20
então inexistente que reinterpretava o conceito de “terra organizações indígenas, todas elas na bacia do Juruá, às
indígena” para adaptá-lo a uma população não indígena, quais se juntavam duas organizações sediadas em Rio
mas que habitava tradicionalmente a floresta e usufruía Branco: a UNI/Acre e o Movimento dos Estudantes Indí-
de seus recursos de uma forma não predatória. genas do Acre e do Sul do Amazonas – MEIACSAM (op.
Num cenário internacional marcado por uma preo- cit.: 206). Em 2006, Iglesias e Aquino (2006: 582) levan-
cupação crescente com as questões ambientais, índios taram 34 organizações indígenas formalmente legali-
e seringueiros do Acre conquistaram uma visibilidade zadas, sendo 23 associações, duas cooperativas, quatro
política inédita no final da década de 1980 e início dos organizações regionais, duas de categorias profissionais
anos 1990. Após o assassinato de Chico Mendes, ocorri- (agentes agroflorestais e professores), duas de mulheres
do em dezembro de 1988, eles criaram uma plataforma e uma de estudantes. As 23 associações representavam
de reivindicações comuns e construíram uma aliança in- 11 povos diferentes e 19 delas, ou seja 83%, estavam lo-
terétnica. A Aliança dos Povos da Floresta, como ficou calizadas no vale do Juruá. As outras quatro foram cria-
conhecida, foi um marco importante do movimento indí- das em 2004 e representavam terras indígenas do vale
gena e seringueiro no Acre, principalmente na região do do Purus (op. cit.).
Alto Juruá. Alimentada pela retórica ambientalista inter- Apesar da permanência de inúmeras dificuldades no
nacional, ela deve ser considerada, sobretudo, como um âmbito da saúde, educação ou economia, entre outros,
instrumento político para lutar contra um adversário co- os povos indígenas do Acre superaram provavelmente a
mum e alcançar objetivos pragmáticos: criação de terras fase mais dramática do contato com o mundo ocidental.
indígenas, reservas extrativistas, parques nacionais, etc. A partir da década de 1970, eles deixaram de ser sim-
(Pimenta 2004a). Articulando conflitos locais com lutas plesmente objetos da história dos brancos para também
globais numa rede diversificada de atores, a Aliança dos se tornarem atores de sua própria história. A questão
Povos da Floresta também questionava a política amazô- territorial, primeira bandeira do movimento indígena
nica do governo brasileiro e o modelo econômico domi- regional, testemunha de algumas das conquistas mais
nante que já vinha sendo objeto de críticas e reformula- significativas realizadas nas últimas décadas. Assim, até
ções no âmbito da ONU com a emergência progressiva 1970 não existia nenhum território indígena. Hoje, o Acre
da ideologia do “desenvolvimento sustentável”. conta com 35 terras indígenas distribuídas em metade
A “Aliança dos Povos da Floresta” nunca chegou a se dos 22 municípios do estado, principalmente situadas no
materializar numa organização conjunta e deixou pro- vale do rio Juruá e seus afluentes, com uma concentra-
gressivamente de existir a partir de meados da década de ção maior na região de fronteira com o Peru. Essas terras
1990, quando lideranças indígenas e seringueiras opta- indígenas representam hoje cerca de 16% da superfície
ram por continuar suas lutas de modo independente. No do estado.
entanto, no Acre, ela constitui um momento importante
do indigenismo regional e seus resultados foram particu- Terras indígenas, cooperativas e borracha: 1980-
larmente importantes com a criação de várias terras in- 1995
dígenas, das primeiras reservas extrativistas e do Parque A situação de dominação, que caracterizou a inserção
Nacional da Serra do Divisor. dos povos indígenas na empresa seringalista desde início
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Nas últimas duas décadas, o movimento indígena do século passado, começou a mudar em fins dos anos
acreano passou por profundas transformações, mas con- 1970, quando a FUNAI tomou as primeiras providências
tinuou mostrando uma notável dinâmica. Embora várias para o reconhecimento e a regularização de terras indí-
terras indígenas e alguns povos ainda não tenham uma genas no Acre. Na maioria dos casos, estas terras vieram
representação formalizada, organizações indígenas de a se moldar ao formato dos seringais, onde as maiores
diversos tipos se multiplicaram nas últimas duas décadas concentrações de famílias indígenas vinham trabalhan-
no estado. Criada em 2005, a Organização dos Povos In- do atrelados a patrões seringalistas. Os limites da grande
dígenas do Acre, Sul do Amazonas e Noroeste de Rondô- maioria dessas terras foram estabelecidos pelas terras da
nia (OPIN) atua hoje como representante de uma indiani- divisão, limites naturais, de forma a manter a integridade
dade regional e substituiu a UNI/Norte, extinta em 2004 das colocações e estradas dos seringais distribuídas em
em decorrência de escândalos envolvendo seus gestores. bacias hidrográficas.
31
A partir do início dos anos 1980, a luta pela conquista traram-se na regularização das terras, no financiamento
e a ocupação produtiva das terras indígenas reconhe- das cooperativas, assim como na capacitação de recur-
cidas pela FUNAI esteve relacionada com o aproveita- sos humanos das próprias comunidades para dar início a
mento dos seringais nelas existentes, tendo sido a or- trabalhos de educação e saúde. Face a estas demandas,
ganização e a comercialização coletiva da produção de os cursos de formação de professores promovidos pela
borracha o principal eixo das mobilizações promovidas CPI-Acre a partir de 1983, estiveram direcionados para
localmente pelas lideranças e chefes de família. Após as uma alfabetização dos jovens “monitores de educação”
experiências pioneiras postas em prática pelos Kaxina- em língua portuguesa e o aprendizado das operações
wá dos rios Jordão e Humaitá’, as cooperativas, criadas e aritméticas básicas. Além de alfabetizar as crianças, essa
gerenciadas pelas próprias lideranças, fortaleceram, até instrumentalização almejava melhorar a administração
meados da década de 1980, os processos de luta para a do movimento contábil e gerencial das cooperativas e
garantia das terras identificadas e a retirada dos patrões permitir relações mais favoráveis com os comerciantes
e seringueiros regionais. das cidades.
As cooperativas foram de fundamental importância Em meados de 1980, as políticas do governo federal
no processo de reorganização política e social dos povos para a economia da borracha passaram por uma série
indígenas nesse novo momento histórico: o “tempo dos de transformações, rompendo com um padrão de inter-
direitos”. A elaboração de projetos políticos e econômi- venção que remontava ao pós-guerra e favorecera os
cos, com base em aspirações e mobilizações próprias, comerciantes e os patrões com recursos destinados ao
caminhou junto com a legitimação de antigas lideranças financiamento das safras de borracha. Os efeitos destas
e o surgimento de outras. A construção de alianças entre transformações foram. sentidos de forma acentuada no
os grupos familiares resultou na definição de renovados Acre. Mesmo com o crescente desaquecimento na eco-
padrões de relacionamento político e econômico. Em nomia da borracha, as cooperativas indígenas consegui-
cada terra indígena, a criação de uma rede de cantinas e ram se manter em funcionamento em função de recursos
depósitos da cooperativa resultou na gradual atribuição canalizados nos anos de 1986-1988 por meio de con-
dos espaços que cada família extensa ocuparia, em ter- vênios firmados pela CPI-Acre, a FUNAI e a Sudhevea.
mos territoriais, políticos e na esfera da comercialização. Desta forma, as cooperativas continuaram a possibilitar a
As principais lideranças, responsáveis pela organização organização da produção e a venda coletiva da borracha,
coletiva da produção de borracha, passaram a exercer a bem como a comercialização de mercadorias através das
comercialização e a representação de suas comunidades cantinas existentes nas terras indígenas. No âmbito des-
face aos comerciantes citadinos. Passaram, ainda, a par- ses convênios, os povos indígenas cujas terras acabavam
ticipar de reuniões e assembleias organizadas, em Rio de ser identificadas receberam recursos pela primeira
Branco, pelas entidades indigenistas e o nascente movi- vez e também criaram suas próprias cooperativas, abrin-
mento indígena. do alternativas para a desarticulação da sujeição até há
A implantação e o funcionamento das cooperativas, pouco vivida nas mãos dos patrões.
administradas pelas lideranças locais e viabilizadas com Ao longo dos anos 1980, portanto, avanços políticos
recursos intermediados pelas entidades indigenistas, significativos foram logrados pelos povos indígenas no
principalmente pela CPI-Acre, resultou, em nível local, Acre a reboque da criação e regularização de suas terras,
na desarticulação do quase secular regime de barracão da estruturação das cooperativas, de processos próprios
engendrado pelos patrões, na chegada de famílias indí- de reordenamento econômico, social e cultural, bem
genas que viviam espalhadas por seringais e colônias, na como da efetiva garantia e gestão dos territórios. A exis-
definitiva retirada dos patrões e de seus fregueses, na tência de um mercado para a borracha, apesar das fre-
abolição da renda das estradas de seringa, na conquista quentes oscilações dos preços do produto, assim como
de maior autonomia para, nas cidades, vender as pro- a internalização de recursos de projetos, foram funda-
duções de borracha e gêneros agrícolas e comprar mer- mentais nesses processos. Se os ganhos políticos foram
cadorias, bem como na aquisição dos primeiros barcos inegáveis, a sustentabilidade e a autonomia econômica,
motorizados para o transporte fluvial. uma exigência recorrente das agências doadoras, não foi
Nesse período inicial, houve progressivo aumento alcançada, dada a própria fragilidade do produto do qual
da borracha produzida pelos povos e famílias indígenas, todo esse movimento social dependia, a borracha.
como fruto da ocupação produtiva das colocações e es- Nesse período, vários problemas estruturais foram
tradas de seringa e da disponibilidade de mercadorias enfrentados pelos povos indígenas na busca de uma in-
nas cantinas das cooperativas. Houve ‘aumento também serção mais autônoma na economia dos municípios, den-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
do número, do tamanho e da diversidade dos roçados tre os quais: os baixos preços da borracha, os crescentes
de terra firme e de praia. Essas práticas agrícolas eram preços dos produtos industrializados, as grandes distân-
bastante prejudicadas no tempo dos patrões, devido às cias dos centros urbanos, o alto custo dos combustíveis
invasões do gado e às ameaças de expulsão a que esta- e das peças para a manutenção dos motores, a pouca
vam sujeitas as famílias indígenas. capacidade administrativa dos responsáveis pelo geren-
Com a implantação das cooperativas, as lideranças se ciamento das cooperativas, bem como a inserção destas
defrontaram com problemas práticos de toda a ordem, em relações de aviamento controladas por comerciantes,
dado que não tinham qualquer experiência na admi- regatões e outros grupos econômicos citadinos.
nistração de movimentos comerciais. A partir de 1982, Nos anos 1990, a política do governo federal para o
nas primeiras assembleias indígenas realizadas em Rio setor da borracha teve efeitos perversos para a economia
Branco, as principais reivindicações das lideranças cen- dos municípios e as populações que tradicionalmente
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dependiam do extrativismo da borracha para a aquisição Nesse período também houve um aumento signifi-
das mercadorias necessárias à vida na floresta. O apro- cativo das caçadas e pescarias com fins comerciais, pa-
fundamento da crise na economia regional, com a acen- trocinadas por moradores das cidades e das sedes dos
tuada queda do preço da borracha, o fechamento das novos municípios. Em longas expedições de caça, inva-
usinas de beneficiamento que funcionavam em vários diam seringais e terras indigenas, caçavam com cachor-
municípios e a relutância dos comerciantes em continuar ros e salgavam carne de caça para, junto com os jabutis,
absorvendo a produção oriunda da floresta, combinou, comercializá-las clandestinamente nos portos da cidade.
na grande maioria das terras indígenas, com uma con- Alegando a falta de outras alternativas mais imediatas de
juntura marcada pela escassez de recursos advindos de sustento, muitos moradores da floresta, dentre os quais
projetos, o que acabou por redundar na desarticulação indígenas, passaram a se dedicar a esse comércio, “fa-
das redes comerciais antes atualizadas por meio das coo- zendo meio de vida” com a venda de carne. Compravam
perativas. mercadorias necessárias à subsistência de suas famílias
Muitas famílias que moravam em colocações de cen- “a troco de carne”, de caças grandes abatidas em suas
tro, priorizando estratégias econômicas que incluíam a colocações e nos fundos dos seringais e terras indígenas.
produção de borracha, optaram por migrar para novos Os regatões incentivavam essa prática, aviando munição
locais de moradia situados na beira dos rios. Nessas no- e mercadorias a troco de carne salgada, depois reven-
vas aldeias, intensificaram os cultivos agrícolas de terra
dida a moradores das sedes das sedes municipais. A
firme e a criação de animais domésticos, inclusive peque-
intensificação das caçadas com fins comerciais resultou
nos rebanhos bovinos, buscando garantir uma subsistên-
na rarefação das “caças grandes” em partes de algumas
cia mais farta e obter novos produtos para venda junto a
terras indígenas, em “questões” entre vizinhos que não
regatões e pequenos comerciantes dos centros urbanos.
Na beira dos rios, os regatões, aproveitando a falta de concordavam com as caçadas com cachorro nas florestas
outras oportunidades de comércio em nível local, pas- de uso comum e em seguidos conflitos com caçadores
saram a cobrar altos preços pelas mercadorias e a pagar profissionais vindos das cidades.
preços borracha bastante inferiores aos estabelecidos A pesca predatória também cresceu bastante com a
pelo governo federal. crise na economia da borracha. Pescadores profissionais
A crise na economia da borracha levou, na primei- oriundos das cidades intensificaram a invasão de lagos,
ra metade dos anos 1990, os proprietários de seringais, paranãs e igarapés em várias terras indígenas. Nessas
fazendeiros e comerciantes a mobilizar atividades de invasões, usavam técnicas predatórias, tais como ma-
extração, beneficiamento e venda de madeira. Alguns lhadeiras finas, arrastões, explosivos e envenenamento,
daqueles que ainda estavam capitalizados aproveitaram e capturavam peixes de forma não seletiva. Vendiam
os baixos preços de seringais oferecidos por proprietá- grandes quantidades de peixe, salgado ou congelado,
rios em dificuldades financeiras, comprando-os com o nos portos das cidades. Esses pescadores tampouco res-
principal objetivo de extrair madeiras. Outros preferiram peitam o período de defeso em que a pesca era proibida
mobilizar mão-de-obra dos próprios moradores para pelo IBAMA.
prancheamento de madeira tirada de suas colocações, Estes processos resultaram em consequências adver-
bem como para seu transporte até a cidade. Fruto des- sas para a vida de muitas famílias indígenas e motivaram
sas atividades, muitos chefes de família adquiriram suas invasões, conflitos e a dilapidação dos recursos naturais
próprias motosserras, pagando-as a troco de pranchas em muitas terras indígenas›. Na maioria delas, essa situa-
de madeira. Ao se tornar donos de maquinário próprio, ção levou as lideranças e chefes das principais famílias
continuaram explorando madeira dos arredores de suas a tomar decisões coletivas de empatar essas atividades,
colocações, para vende-la a regatões ou aos mesmos coibir a entrada de caçadores e pescadores profissionais
comerciantes, a troco de mercadorias e outros bens de e realizar a vigilância dos limites de suas terras, medidas
consumo duráveis. que, nos últimos anos, vieram a ser reforçadas pela em-
Na primeira metade dos anos 1990, foram as ativi- penhada atuação dos agentes agroflorestais indígenas
dades relacionadas à retirada, ao beneficiamento e à (AAFis).
comercialização de madeira de lei que movimentaram a
floresta e os portos das sedes dos municípios no interior, Disputas
diferentemente de em décadas anteriores quando a bor- Na década de 1970, as atividades econômicas no
racha era o motor dessas economias. Nesta nova conjun- campo e nas cidades foram impulsionadas pelo “mila-
tura, era comum observar frequentes chegadas de balsas gre”, e uma fronteira reconhecidamente rica, disputada
de madeira advindas dos altos rios. Os descarregadores há séculos, teria de ser aberta à exploração econômica.
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
retiravam as pranchas d’água e dos batelões para levá-la Os governos militares criaram os grandes projetos para a
às casas comerciais, que se encarregavam de embarcá-
Amazônia, com enfoque em três vieses: o econômico, o
-las em balsas metálicas para Manaus, Belém e até para
“social” (promover a paz no campo) e a segurança nacio-
o porto de Paranaguá.
nal. Guerra fria em alta, o perigo iminente com Allende
Essa conjuntura de crise na economia da borracha re-
no Chile, Che Guevara rondando pela Bolívia, Peru ins-
sultou na retirada predatória de madeira em várias terras
indígenas. Dente estas, podem ser citadas as Terras Indí- tável politicamente, Golbery do Couto e Silva vaticina-
genas Kaxinawá da Praia do Carapanã e Kampa do Iga- va a nova geopolítica. Instrumento para a abertura das
rapé Primavera, no Município de Tarauacá, então recém veias para o avanço e a expansão capitalista, o modelo
identificadas pela FUNAI2, bem como a TI Kaxinawá do visava à ocupação dos “vazios demográficos” nas regiões
Rio Humaitá, no rio Murú, e a TI Arara do Igarapé Hwnai- de fronteira entre nações soberanas e as nações indíge-
tá, em Porto Walter. nas, vide Raposa Serra do Sol, representavam um estorvo
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para os interesses econômicos onde minérios, madeira e -Porto Velho, e em seguida com o Serviço de Proteção ao
pedras preciosas foram explorada sem deixar recompen- Índio (SPI), de 1909 a 1914, pereceram 90% dos Ariken.
sa alguma para Rondônia. As terras das seringueiras, cas- Mulheres e crianças foram roubadas para servir de es-
tanheiras, essências e óleos, deram lugar ao pé de café e cravas, prostitutas e esposas de seringueiros. Hoje, resta
pastagem para criar gado. apenas a Cidade de Ariquemes às margens do Rio Jama-
ri, “homenageando” essa nação de gente dócil, afeita às
Primeira ocupação amizades, que por isso mesmo não resistiu ao primeiro
Os “estrangeiros” chegaram aos milhares nas ter- ciclo da borracha.
ras (hoje) rondonienses na segunda metade do século Os conflitos entre índios e seringueiros, garimpeiros,
18 para edificar o Real Forte Príncipe da Beira, iniciado mineradoras, madeireiros e grileiros acontecem até hoje
em 1776, fruto da política “pombalina”, no Rio Guaporé, nessa grande região que compõe o arco da exploração
fronteira com a Bolívia. Centenas de escravos, presos e predatória da BR-421. Onze homicídios sem esclareci-
militares povoaram o rio em toda a sua extensão nave- mento de 2001 a 2009, dezoito áreas de conflitos e ne-
gável, de Guajará-Mirim (RO) a Vila Bela da Santíssima nhuma vontade política de resolvê-los.
Trindade (MT). “Misturados” aos índios, adensaram a Ainda existem dezessete nações indígenas em Ron-
população ribeirinha. Tornaram-se os povos tradicionais dônia, segundo a Funai, além das fusões de troncos ét-
de hoje (caboclos ribeirinhos), que ainda sofrem com os nicos de várias tribos que ocupavam áreas distintas ou
efeitos da colonização e o modelo de produção forte- nômades, resistindo a muita pressão em Rondônia. A
mente introduzido no sul de Rondônia e oeste de Mato tensão é constante em todos os segmentos da econo-
Grosso. Muitas áreas indígenas foram invadidas por fa- mia em operação no campo. A população indígena vem
zendas, madeireiros e usina hidrelétrica. Sete localida- crescendo, mas o ceticismo da Funai e do Conselho In-
des tradicionais e quilombolas estão em conflito com digenista Missionário (Cimi) é grande quanto ao fim dos
os “invasores”. Não assimilaram a invasão cultural que já conflitos. Ambas as instituições acreditam na existência
se reflete na centenária manifestação cultural dos povos de índios não contatados em pelo menos duas regiões,
tradicionais brasileiros e bolivianos, que é a festa do Di- sul e no norte do estado – inclusive na região da Hidrelé-
vino Espírito Santo no Guaporé. Pouco ou quase nada foi trica de Jirau, em construção.
feito em termos de políticas afirmativas para estancar os
efeitos perversos da colonização. Os conflitos culturais e Trabalho forçado e exploração dos recursos naturais
de terras se multiplicam ao longo do rio. O povoamento do Auati-Paraná e do Rio Jutaí é de-
Outra leva de “estrangeiros” aportou na segunda me- corrente, dentre vários aspectos, dos deslocamentos de
tade do século 19 e início do século 20, fruto do tratado indígenas oriundos do território peruano e de não in-
de Ayacucho (tratado de amizade Brasil-Bolívia), quando dígenas provenientes da região Nordeste. Essa região
a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré foi da grande rede de comércio e trabalhos forçados nos
acertada entre os dois países. A partir de 1905, milhares seringais, que interligava os rios Purus, Madeira, Juruá,
de operários de diversas nacionalidades afluíram a San- Jutaí, Auati-Paraná e Japurá, desde o final do século XIX.
to Antônio, hoje Porto Velho, para trabalhar na ferrovia, A trajetória dos peruanos seringalistas e de indígenas se-
muitos até a morte, vítimas de malária, tifo, febre amarela, ringueiros que se fixaram no Auati-Paraná no início do
picadas de cobras, acidentes. Os primeiros operários da século XX é uma lembrança constante entre os interlo-
história de Rondônia protagonizam também os primei- cutores da pesquisa que venho realizando desde 2007.
ros conflitos sangrentos entre índios e brancos, amarelos As correrias podem ser caracterizadas como práti-
e negros, trabalhadores e seguranças do empreendimen- cas de deslocamento forçado frequentes na Amazônia.
to capitalista E.F.M.M. Railway Co., em Rondônia, para a Iglesias (2010) descreve alguns destes episódios sobre
construção da ferrovia. Em seguida, os seringalistas com- as experiências de seringal no Acre: Matanças, violências
pletaram o trabalho de dizimação de nações indígenas contra feridos e capturados, mortos a tiros e golpes de
no primeiro e no segundo ciclo da borracha, do início do faca, e da captura de mulheres e crianças, a queima das
século 20 até a Segunda Guerra Mundial. malocas e a destruição de roçados e paióis foram, as-
sim, práticas empregadas de forma recorrente, visando
Seringueiros x índios o extermínio de grande número de indígenas e a reti-
O látex espalhou seringueiros nordestinos, princi- rada forçada dos sobreviventes de seus territórios e das
palmente cearenses, nas margens dos rios de Rondônia, proximidades das colocações. Grupos desfigurados e
desde o Cabixi, afluente do Mamoré que faz divisa de divididos, famílias extensas espalhadas, pesarosas das
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Rondônia com Mato Grosso e Bolívia, principais “estra- perdas de seus membros, sem chance de dar destinação
das” para Guajará-Mirim. O Rio Machado, que faz divisa adequada a seus mortos, temerosos de novas “correrias”,
de Rondônia com Mato Grosso e Amazonas, os “fundos” fugas muitas vezes sem rumo definido e sem acesso a
de Rondônia à época, hoje faz parte do hall de entrada qualquer fonte regular de alimentação marcaram o início
para o estado. Rios coletores da borracha para Calama, de consideráveis deslocamentos em busca de locais dis-
Porto Velho e Humaitá no Amazonas, além do Vale do tantes, ou situados nos fundos dos seringais já ocupados.
Rio Jamari. Para ilustrar o desastre que representou para Além do elevado número de mortes nas “correrias”, das
as nações indígenas o contato com seringueiros e serin- migrações, da perda de sementes nativas dos legumes e
galistas, citamos dois povos extintos: os Ariken e Jarus. da frequente dificuldade em se estabelecer em lugares e
Em cinco anos de aproximação e contato com a Comis- no tempo adequado para retomar o cultivo dos roçados,
são Rondon, que implantou o serviço telegráfico Cuiabá- a introdução da gripe, do catarro, da varíola e de outras
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doenças então desconhecidas, frente às quais os índios formação de uma espécie de “milícia”, conhecidos como
não tinham qualquer imunidade, implicou, de imediato e muchachos de confianza, que protegiam os interesses
nos anos seguintes, em perdas populacionais significa- dos patrões da borracha.
tivas entre os sobreviventes. (IGLESIAS, 2010, p. 88-89). Apartados de sua própria gente, a quem perseguiam
Essas expedições armadas promovidas pelos patrões e traíam e em quem muitas vezes inspiravam inveja e
seringalistas tinham o objetivo de capturar os indíge- ódio, agora classificados como semicivilizados, depen-
nas que resistiam ao trabalho nos seringais e, por este dentes dos brancos no que dizia respeito à comida, ar-
motivo, eram considerados pelos patrões seringalistas mas e mercadorias, os muchachos tipificavam tudo aqui-
e caucheiros como selvagens. As imagens de selvageria lo que era selvagem na mitologia colonial da selvageria,
criada pelos colonizadores para categorizar os indígenas pois se encontravam no espaço perfeito, mítico e social,
também se constituíram como uma violência simbólica, para agir assim. Não somente eles embelezavam ficções
cujo fim desencadeava na violência física e no extermínio que atiçavam o fogo da paranoia dos brancos como
de grupos indígenas. também corporificavam a brutalidade que os brancos te-
Outra lembrança recorrente nos relatos dos indíge- miam, criavam e tentavam atrelar a seus próprios fins. Os
nas Cocama sobre sua chegada dos seus antepassados muchachos barganhavam sua identidade colonialmente
no Auati-Paraná é ameaça de sequestro de suas crian- criada de selvagens com seu novo status colonial de ín-
ças e as fugas decorrentes de uma estrat égia estatal de dios e guardas civilizados. (TAUSSIG, 1993, p. 127-8).
controle do território e da população. Caracterizo como Essa questão da conquista extrema é uma das carac-
estratégia estatal porque o Estado era representado pe- terísticas do espaço da morte, conforme, Taussig. Para o
los patrões seringalistas, respaldados pelo poder de po- autor trata-se de um espaço de transformação importan-
lícia que os guarnecia em suas atividades de conquista. te para a construção das consciências na dicotomia entre
No caso dos seringais brasileiros, por exemplo, Roberto conquistador e conquistado. Para além dessa dualidade,
Santos (1980) apud Dias (2007), descreve o modo como nesse processo de exploração de recursos naturais co-
os seringueiros indígenas e não indígenas eram espolia- merciantes peruanos e patrões seringalistas também re-
dos e suas tentativas de fuga do regime de seringal eram crutavam trabalhadores para os seringais tanto no Brasil
frustradas ao serem capturados pela polícia, que traba- quanto no Peru. O padre Tastevin (2008a), da congrega-
lhava para esses patrões: “a segurança da espoliação era ção espiritana8 , descreve o encontro com esses comer-
garantida pelo regime policial dos seringais, onde sen- ciantes, dando-nos uma dimensão das dinâmicas sociais
tinelas armadas montavam guarda para impedir a fuga nos afluentes do rio Solimões:
dos seringueiros ‘em débito’, sendo que a polícia da ci- Os trabalhadores passam o inverno em Badajós e nos
dade colaborava com sua cobertura, remetendo de volta barracões das margens do lago e do paraná. Alguns de-
para os seringais aqueles que, conseguindo escapar do les, somente os homens, acabavam de subir os rios, para
interior, fossem capturados em Manaus” (SANTOS, 1980 preparar a coleta da borracha. Eu não tinha, portanto,
apud DIAS, 2007, p. 57). nada a fazer lá. Encontrei aí um peruano que conduzia
A prática do sequestro de crianças era muito utili- alguns índios do Huallaga, vindos do Purus, onde tinham
zada nos seringais conquistados tanto no Brasil quanto ficado arruinados na exploração do caucho (castilloa
no Peru, com o objetivo de adquirir uma mão de obra elástica). Eles ainda tinham suas pirogas características,
específica a ser forjada de forma violenta nesses locais. simples troncos escavados sem nenhum acabamento,
Uribe (2013) chama atenção para essa prática na região excelentes para navegar nos pequenos rios e nos furos,
do Putumayo, na qual os brasileiros são lembrados como porém muito inferiores às canoas amazônicas quando se
comerciantes de crianças indígenas em troca de merca- tratava do transporte de mercadorias e do conforto das
dorias: “Los niños ‘adquiridos’ son desarraigados para viagens nos grandes rios. Mais abaixo, encontrei sírios
siempre de sus familias, su comunidad y su tierra, y lle- que armavam jangadas de cedro para as serrarias de Ma-
vados a las vastas zonas caucheras de Brasil e inclusive naus (TASTEVIN, 2008a, p. 53).
Bolivia en donde laboran como mano de obra esclava A rota comercial entre Brasil e Peru, no início do sé-
de por vida” (URIBE, 2013, p. 37). Há casos de crianças culo XX, era intensa e transitavam mercadorias, produtos
retiradas de suas famílias para trabalharem como servi- agrícolas e pessoas. As pessoas eram praticamente ven-
doras domésticas das casas dos patrões, como observou didas para os proprietários dos seringais, segundo Ven-
Wasserstrom (2017). Infelizmente esse “costume” ainda tura Arantes. Os indígenas trabalhavam em troca apenas
é disseminado nos interiores e nas capitais da Amazônia de vestimenta e alimentação. Ao desembarcar no Auati-
brasileira, ocorrendo com frequência com meninas, que Paraná, os indígenas encontraram diversos parentes ao
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
são obrigadas a deixar suas famílias pra “estudar” nas longo do rio, trabalhando como fregueses dos grandes
grandes cidades em troca do trabalho doméstico. comerciantes locais, cujos negócios se estendiam por
Dentre as experiências de violência vividas por in- uma grande rede comercial de Nauta à Manaus.
dígenas em situação de seringal destaca-se a força da Em meados do início do século XX, Manuel Arantes,
imposição do terror pela Casa Arana no Rio Putumayo. indígena Cocama e parente de Ventura Arantes, traba-
Um lugar considerado por Taussig (1993) como uma lhou no corte de seringa e de caucho no Peru. Conforme
fronteira instável e conflituosa, “lugar sem Estado”, “ter- relatos de Francisco e Alexandre Arantes (seus netos),
ra de ninguém”, onde a violência e suas tecnologias são Manuel acordava às 4 horas da manhã e partia para o
canalizadas ou se manifestam por meio do poder das ca- trabalho, amanhecendo o dia na mata. Havia muitos indí-
sas comerciais. Uma dessas tecnologias desenvolvidas no genas Ticuna no seringal onde trabalhava e eles não que-
Putumayo foi o sequestro de crianças indígenas para a riam contato com outras pessoas, refugiando-se mata
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adentro quando se defrontavam com os não indígenas. naturais (borracha, castanha, pirarucu, ovos de tartaruga,
Dentre os diversos seringais onde Manuel foi recrutado, entre outros) e pela exploração da força de trabalho de
ficou registrado na memória dos seus descendentes o indígenas e não indígenas. Enquanto a “vocação” do Rio
trabalho desenvolvido na Ilha de Ronda, onde viveu por Jutaí era a exploração massiva da seringueira e do cau-
um tempo com sua família. cho, no Auati-Paraná a principal produção era, e ainda é,
Ronda, ou Rodinha como chamam os interlocutores, a pesqueira, com destaque para a captura de pirarucu.
está localizada a poucos quilômetros de Letícia, cidade Os seringais estavam localizados em áreas distantes, no
colombiana na fronteira com o Brasil. Em Ronda havia Auati-Paraná e Fonte Boa à dentro (considerando o que
a hacienda La Victoria, propriedade do peruano Enrique hoje é o município de Jutaí), nas regiões de terra-firme,
Vigil, senador e médico do exército, que recrutava o tra- obrigando os seringueiros, nos primórdios dessa explo-
balho de indígenas Cocama, entre outros, para o traba- ração, a passarem os meses da seca isolados na floresta
lho no corte do e nas plantações de cana de açúcar. Toda trabalhando na coleta do látex.
a produção de La Victoria era enviada para a Inglaterra. A atividade econômica se concentrava, no início do
A maioria dos indígenas recrutados para o trabalho era século XX, ao logo dos rios, que representavam a co-
da etnia Cocama, que contavam cerca de 400 pessoas municação na região e com o resto do mundo. Tastevin
em 1930, ou seja, nas vésperas da guerra entre Peru e (2008b) destacava a presença de comerciantes regulan-
Colômbia pelo território do chamado “trapézio Amazô- do a vida econômica no rio Solimões e de barcos a vapor
nico”, formada atualmente pelas cidades de Tabatinga que apanhavam os principais produtos de exportação da
(Brasil), Santa Rosa (Peru) e Letícia (Colômbia). Conforme época nos portos de Tefé, Caiçara (atual Alvarães) e Coari,
Uribe (2013), El 1º de septiembre de 1932, 49 ciudadanos municípios que centralizavam praticamente toda a pesca
iquiteños y pucallpinos al mando del ingeniero Óscar Or- do “delta do Japurá”. Fonte Boa já contava com uma es-
dóñez y del alférez Juan La Rosa se toman a Leticia, azu- cola estadual e uma municipal, uma agência de correios
zados por el peruano Enrique A. Vigil Chopitea y, detrás e uma instalação pluviométrica, subordinada ao observa-
de bambalinas, por el mismo Julio C. Arana, y declaran tório do Rio de Janeiro. Contava ainda com o comércio
su incorporación al Perú. Enrique Vigil es descendiente de secos e molhados, com destaque para os regatões10
presunto de uno de los fundadores de Leticia, de mismo de comerciantes judeus; diversos botequins espalhados
nombre, y dueño del vasto ingenio azucarero La Victoria, pelos seus distritos (Uará, Auati-Paraná, Foz do Jutahy,
establecido en el llamado Trapecio Amazónico colombia- Sacambu, Sapó, Copatana e Porto Antunes); engenhos
no a escasos veinte kilómetros de la ciudad. (URIBE, 2013, de açúcar (Procellos, São Vicente do Tupé e Uaiá) e fá-
p. 42) brica de aguardente, fornecida para a região; fábrica de
Alexandre Arantes, em entrevista, chamou atenção sabão; fábrica de conservas; a sede da “Empreza Jutahy”;
para os efeitos sociais desta guerra entre os indígenas exportadores de lenha e madeira; e fábrica de vassouras.
Cocama. “Descer o Rio Solimões” foi um dos movimentos (ALMANAK LAEMMERT, 1931) A partir da compreensão
necessário para a sobrevivência desses indígenas que es- de uma região considerada entreposto comercial na rota
tavam na linha de frente da guerra, já que a maior parte de Nauta (Peru) a Belém e o exterior do país, é impor-
dos trabalhadores da fazenda de Vigil era composta por tante ressaltar que esse processo de ocupação territorial
indígenas Cocama, que já viviam em situação de vulne- não se encerra num “ciclo da borracha”, pois O desen-
rabilidade ou “a duras penas” por conta das relações de volvimento de outros tipos de produção (inclusive de
patronagem estabelecidas com a dominação dos territó- subsistência) dentro da própria empresa seringalista, a
rios ricos em seringueira (hevea brasiliensis). multiplicidade de papeis econômicos existentes dentro
Após a guerra Vigil abandonou a fronteira, e os Co- do seringal, as várias modalidades de remuneração aufe-
cama se dispersaram. Alguns foram para o Peru e outros ridas pelo patrão, as diferentes técnicas de trabalho em-
para o Brasil (NAVIA, 1994 apud PETESCH, 2003). Essa pregadas em áreas diversas. (OLIVEIRA FILHO, 1979, p.
dispersão, contudo, não significava uma libertação. Ma- 104) A crítica feita por Oliveira Filho (1979) a esta noção
nuel e sua família, por exemplo, continuaram a descer considerada equivocada reflete essas informações que
no Rio Solimões e se fixaram por um tempo em Cabal- venho apreendendo durante a pesquisa. Para o autor,
lococha, onde Manuel trabalhou no roçado do campo, o esquema explicativo de “ciclo da borracha” se impõe
em construção e carregando lenha e madeira até partir como um modelo de organização hegemônico e tende
novamente em função de outro recrutamento para o tra- a excluir ou desvalorizar outras produções que foram es-
balho em seringais e pesca no Auati-Paraná. senciais para a sobrevivência.
Ao estabelecer moradia no Auati-Paraná, Manuel fi- A configuração fundiária na região começa a se mo-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
cou muito conhecido entre os peruanos que desciam dificar a partir de 1870, com um movimento de busca
o rio, tanto pelas famílias de indígenas que fugiam dos por seringueira e caucho. Em geral, as localidades com
seringais quanto por comerciantes. No período da estia- ocorrência de hevea brasiliensis eram habitadas por in-
gem ele ia à remo todos os dias ao seringal na localidade dígenas, que resistiam ao domínio dos exploradores ex-
do Castelo (acima da comunidade Itaboca) para cortar ternos. Conforme as terras eram ocupadas à força, eram
seringa. No Castelo estava localizado o barracão9 de Bo- executados os trabalhos de demarcação e requerimento
nifácio Sevalho, um dos patrões de Manuel, para quem do título de propriedade, baseado na Lei n° 1.114, de 27
fornecia a produção no seringal e banha de peixe-boi. de setembro de 1860. Segundo Teixeira (2009), A Lei n°
Até 1955, Fonte Boa e Jutaí eram um só município e 1.114, de 27 de setembro de 1860, procurou com efeito
que faziam parte de uma região caracterizada por dispu- fixar o limite de propriedade tendo em conta as condi-
tas político-administrativas, por exploração dos recursos ções peculiares da Amazônia. Tal lei estabelecia que esse
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limite devia ser de “meia légua de frente e ouros tendo No Juruá e, consequentemente, espalhando-se por
de fundo”, uma dimensão, aliás, que se mostrara incom- Fonte Boa e Jutaí, os empreendimentos de ocupação se
patível com a natureza da atividade extrativa. Pois, ten- expandiram da Foz do Mineruá (localizada atualmente
do-se em conta que o interesse aí não é propriamente em Fonte Boa) até o Lago do Serrado, com a empresa
pela terra, o que os requerentes procuravam de fato era dos irmãos Cristóvão Coelho e Antônio ou José Coelho e
estabelecer seus domínios sobre áreas que fossem ricas com os irmãos Sebastião e Lourenço Sevalho, comercian-
em seringueiras e outros bens. A legislação, assim, não tes vindos do departamento de Loreto, Peru, já estabele-
estava de acordo com um tipo de economia cuja base cidos desde 1825 em Tefé, Uarini e Parintins. Os Sevalho
produtiva caracterizava-se pela dispersão natural das es- organizaram-se em associação mercantil cirando a firma
pécies. Assim, cada seringal terminava abrangendo uma Sebayo & Hermanos, bem como a família Coelho na fir-
superfície imensa, geralmente maior do que previa a le- ma Coelho e Irmão, ambas as firmas assumindo o comér-
gislação (TEIXEIRA, 2009, p. 33) cio do óleo de copaíba e dos ovos de tracajá (REIS, 1953).
As disputas por território de exploração ocorriam a No Auati-Paraná permanece a lembrança do barracão de
partir do reconhecimento desses locais propícios para o Bonifácio Sevalho, considerado pelos Cocama mais ve-
enriquecimento de comerciantes e políticos. Apesar do lhos com quem conversei, como o primeiro “dono” dos
pouco conhecimento que se tinha sobre o Rio Jutaí, na lagos e seringais do Auati-Paraná e adjacências.
segunda metade do século XIX, havia suspeitas de seu
A Foz do Jutahy, segundo distrito de Fonte Boa, era
potencial de exploração. A viagem de reconhecimento
considerada a maior fonte de riqueza do município. Lá se
oficial do Rio Jutaí ocorreu em 1875, capitaneada por C.
desenvolvia a agricultura, a criação de gado, suínos, car-
Barrington Brown, por ordem do Comendador Manoel
neiros; além do estabelecimento de engenhos de cana
Antônio Pimenta Bueno, gerente da Companhia do Ama-
zonas, empresa criada por Visconde de Mauá. para a fabricação de cachaça. A partir de 1910, a firma J.
Brown (1886) observou que em ambas as margens G. Araújo se estabeleceu em Fonte Boa a partir da cria-
do rio havia grande quantidade de seringais de boa qua- ção da Empresa Jutahy S. A11. A Empresa fazia parte da
lidade, além da abundância de outros produtos como grande rede de estabelecimentos comerciais e industriais
salsaparrilha, copaíba, peixe, tartaruga e peixe-boi. Bro- mantida por J. G. Araújo, que se estendia do Rio Solimões
wn identificou doze pessoas trabalhando no ramo da ex- e Jutaí, passando por Manaus, Santa Isabel do Rio Negro,
tração do látex, cada uma ocupando uma estrada com Rio Madeira, Manacapuru, Parintins, Jauaperi, Boa Vista,
cem árvores, totalizando 480 arrobas. Ele encontrou um Boa Vista do Rio Negro, Porto Velho e Sena Madureira.
fazendeiro-seringueiro, com família, e indígenas Marawá, (SOUZA, 2011).
Cataquina e Bauá. Eles falavam a língua geral, eram “em A rede de exploração de recursos naturais formada
parte civilizados” e trabalhavam para os seringalistas lo- pelos “patrões” era extensa e a necessidade de recruta-
cais. A expressão colocada entre aspas remete ao proces- mento de trabalhadores para sustentar o comércio da
so de apagamento arbitrário e deliberado da presença borracha e do pescado era urgente. Desde o seu estabe-
indígena e a justificativa de colonização. De maio a ou- lecimento até 1936, o responsável pela administração lo-
tubro, estação da seca, os seringueiros deixavam Fonte cal da “Empresa Jutahy”, era o coronel Manoel Nunes da
Boa e subiam o rio para a produção da borracha. A con- Silva, patrão seringalista que abandonou seus seringais e
figuração de um seringal antes da expansão massiva da fregueses no Alto Jutaí após a queda do preço da borra-
economia gomífera se caracterizava pela exploração das cha, em 1926. A Empresa, estabelecida na localidade Foz
estradas de seringa por pequenos grupos familiares. do Jutahy, organizava o recrutamento de nordestinos
Conforme a procura pela borracha foi crescendo, a para o trabalho nos seringais.
pressão sobre a mão-de-obra indígena também aumen- A exploração do látex e o comércio de outros pro-
tou. Essa exploração somente diminuiu a partir dos anos dutos já citados – mesmo impondo uma relação de do-
de 1880, com a introdução da mão de obra nordestina, minação e terror aos indígenas e não indígenas e apre-
o que não significou o desaparecimento total da ex- sentando um potencial de destruição da natureza – foi
ploração da mão-de-obra indígena (TEIXEIRA, 2009). A considerada pela administração estatal como um gran-
chegada de exploradores peruanos na segunda metade de feito na conquista do espaço amazônico, como por
do século XIX para a exploração massiva do caucho e da exemplo, a incorporação do território do Acre ao Estado
borracha no Jutaí determinou uma mudança na confi- Brasileiro. Este sistema “consistiu, evidentemente, um
guração territorial, da exploração de pequenos grupos empreendimento político e econômico da maior impor-
familiares para o monopólio dos patrões. tância. Realizada, num ambiente agressivo, por brasilei-
Conforme relatos e relatórios da equipe da Prelazia ros, representou uma das melhores demonstrações da
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
de Tefé, até 1910, o Alto Rio Jutaí esteve arrendado e capacidade nacional”. (REIS, 1953, p. 35).
ocupado por peruanos, que escravizavam os índios (bra-
Neste mesmo sentido, Djalma Batista (1976) destaca
sileiros e peruanos) no trabalho de extração do caucho.
pontos positivos no desenvolvimento da economia go-
Durante este período, o peruano Dom Abelinário, que
mífera em três planos: internacional, nacional e Pan-Ama-
saiu de Iquitos e se estabeleceu em Foz do Jutahy, era o
zônico. No primeiro foi possível a abertura da expansão
responsável pela a administração da área comandando
os negócios na extensão do Rio Jutaí. Ele abriu falência de produtos industriais pelo mundo; no segundo, o autor
e abandonou o local por volta de 1909, devido a uma destaca o aumento da receita nacional, a incorporação do
queda no preço da borracha. Alguns seringueiros se re- estado do Acre ao território nacional, o desenvolvimento
tiraram do local e se deslocaram para o Rio Juruá e o rio das cidades de Manaus e Belém; no terceiro, a cidade de
Iça (Putumayo), enquanto essas localidades eram arren- Iquitos, capital do departamento de Loreto, apresentou
dadas por aviados de J. G. Araújo. importante crescimento. As três cidades em conjunto –
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Iquitos, Manaus e Belém – eram consideradas pelo autor de orientação familiar na extração e a formação de coo-
como a manifestação de uma cadeia civilizatória decor- perativas são de grande valia para melhorar a vida dos
rente da economia da borracha e, como consequência, a ribeirinhos, além dos mesmos contribuírem na preserva-
incorporação de um estado amazônico ao resto do país ção, tendo em vista que a floresta é que fornece o seu
e da instituição de um processo civilizador numa região sustento.
considerada atrasada e desconhecida. Entre todas as atividades econômicas realizadas na
Enquanto Arthur Reis e Djalma Batista pensavam no Amazônia, a mineração talvez tenha a imagem mais ne-
“progresso da nação”, ouvi em relatos dos Cocama e de gativa. Supera até a agricultura, pois embora as áreas
não indígenas e observei nos documentos, narrativas so- desmatadas para este fim sejam extensas e as queimadas
bre o sofrimento de indígenas, sobre como a violência possam ser vistas por satélites o pasto é verde, a soja é
é levada às últimas consequências e cria limites no coti- verde. Já a mineração deixa crateras permanentes na pele
diano, cria marcas na vida, no corpo e alma das pessoas. da floresta.
E nesse sentido, é importante discutir como a violência Nesta péssima imagem, além de crateras, as fotos
– enquanto uma construção histórica e cultural – está de jornais, revistas e os telejornais deixaram gravados
imbrincada nas diversas modalidades de gestão de terri- na memória coletiva, formigueiros humanos escavando,
tórios e populações. freneticamente, a terra em busca do ouro, deixando rios
de lama, árvores tombadas, e o sorriso desdentado da
Atividades econômicas miséria. Do outro lado, o da riqueza, tem-se a imagem
Atividade econômica na Amazônia: as principais ati- hollywoodiana de empresas transplanetárias, com seus
vidades econômicas são o extrativismo vegetal e mineral, avatares e arma pesadas a subjugarem os povos tradicio-
a indústria, a pesca e agricultura. O extrativismo vegetal nais e destruírem seu modo de vida, para retirar um pre-
orienta-se para a exploração da castanha-do-pará e da cioso metal. Assim corações e mentes não podem resistir.
borracha. Já no setor de mineração, os principais produ- Claro, a mineração como toda atividade humana mo-
tos são o calcário e o estanho. difica e transforma a paisagem, a superfície da Terra não
é a mesma de quando evoluímos, há 10.000 anos, para
Extrativismo vegetal e mineral criar a agricultura, as pontes e as cidades, marco principal
A coleta de frutos e raízes constitui uma das mais da civilização. É para manter as cidades, com suas luzes,
primitivas maneiras de extração dos meios de subsistên- seus edifícios, veículos, aparelhos domésticos, comida
cia do homem. No entanto, essa atividade, chamada de pronta, hospitais e escolas, e toda a complexidade de
extrativismo vegetal, ainda é praticada. Corresponde à uma colônia de seres vivos interdependentes, que existe
coleta de produtos retirados da natureza. o empreendimento mineral.
Na região Norte, essa atividade foi por tempo a úni- Ao observar a distribuição das minas no planeta no-
ca fonte de renda. Hoje, outras atividades são pratica- ta-se uma enorme concentração na América do Norte,
das, como a mineração, a agricultura e a pecuária. Mas região mais rica do globo, consumidora e produtora de
ainda assim a extração vegetal é realizada, podemos uma enorme gama de bens minerais. No Brasil esta dis-
destacar os principais tipos de extração: tribuição acompanha a marcha colonizadora do país, do
- Extração de madeira: que são utilizadas especial- litoral para o interior, com suas grandes cidades à mar-
mente na fabricação de móveis, produção de car- gem do Atlântico. Neste aspecto a Amazônia é um bran-
vão e na construção civil. As madeiras mais explo- co, marcado por pontos esparsos de mineração.
radas são cedro, mogno e cerejeira. A mineração na Amazônia brasileira remonta aos
- Cupuaçu: fruta usada na fabricação de sucos, cre- bandeirantes, com a busca e extração de ouro no Mato
mes, geleias, doces, sorvetes, entre muitas outras Grosso, em Cuiabá, no Tocantins, em Dianópolis e no
aplicações. Maranhão, em Gurupi. Devido a sua formação geológi-
- Açaí: fruta apreciada em diversas partes do Brasil, ca, de uma grande bacia sedimentar que se estende de
usada na fabricação de sucos, cremes, concentra- leste a oeste, do Atlântico aos Andes, cercada, a norte e
dos, polpas, entre outros. sul, por terrenos cristalinos dos escudos das Guianas e
- Quina, jaborandi e copaíba: são vegetais com pro- Brasil, os metais preciosos, principalmente a prata, eram
priedades medicinais usados na fabricação de re- encontrados na cordilheira andina, mas não em territó-
médios e produtos de beleza. rio amazônico. Soma-se a isto a dificuldade em penetrar
- Látex: substância extraída de uma árvore denominada na densa floresta, a partir dos grandes rios navegáveis,
de seringueira, é usada na fabricação da borracha. para atingir as áreas dos terrenos cristalinos, hospedeiros
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
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Mas a mineração, não só na Amazônia, depende dos estado e 12% para a União. Além de uma concentração
ciclos de expansão da economia, que faz aumentar a de- da renda para o município, não há vinculação da apli-
manda de bens minerais e, por consequência, seus pre- cação do recurso em políticas públicas que promovam
ços, incentivando a busca por novas jazidas. atividades sustentáveis e estruturantes, como educação
Com a primeira crise do petróleo, em 1973, a busca e meio ambiente.
pela autossuficiência brasileira neste recurso vital catali- O acidente trágico do rompimento da barragem de
sou a descoberta do campo de óleo e gás de Urucu (AM), rejeitos de uma mineradora em Mariana (MG) atingiu não
na década de 1980, mas esta crise global, valorizou ativos apenas o município, mas todos aqueles localizados no rio
como o ouro, o que levou a uma massa de brasileiros a Doce, em uma extensão de mais de 400 km e dezenas de
buscarem a fortuna em garimpos como Serra Pelada e cidades afetadas pela lama que escorreu da barragem.
Tapajós, no Pará, rio Madeira, em Rondônia, Serra Parima, Se o impacto ambiental é regional, por que a distribuição
em Roraima, e Serra Traíra, no Amazonas -estes últimos da CFEM moneyslot não poderia ser estendida para os
em terras indígenas e palco de conflitos sangrentos. O municípios da bacia hidrográfica.
que nos traz à narrativa do início. Na inclusão social é preciso melhorar as políticas pú-
Se há tantas necessidades e benefícios suportados blicas que promovam a legalização da atividade garim-
pela mineração, por que sua imagem coletiva é tão ruim? peira, tão presente na Amazônia, em cooperativas que
utilizam boas práticas ambientais. Inclusive regulamen-
Há bons exemplos de mineração e sustentabilidade
tando e promovendo a mineração por cooperativas in-
ambiental, social e econômica na Amazônia. Como: a
dígenas.
produção de óleo e gás de Urucu, com mínimo impac-
A Amazônia é também urbana e suas cidades, além
to sobre a floresta e grande efeito positivo na economia
de consumirem os bens minerais, podem se transformar
do município de Coari e do estado do Amazonas. Outro em polos de beneficiamento e transformação mineral,
caso é do de Carajás, que conteve o desmatamento na com a verticalização da produção e agregação de valor.
região e promoveu a economia dos municípios e estados Na Amazônia do século XXI, não cabe apenas o modelo
do Pará e Maranhão, que orbitam ao redor do complexo exportador de commodities, é preciso fomentar empre-
mina – ferrovia – porto. sas que possam beneficiar o recurso mineral e transfor-
Mas para os corações e mentes que defendem a má-los em produtos para a indústria.
Amazônia, como ecossistema único e abrigo dos povos
tradicionais remanescentes, não há esta percepção, e, Indústria
sim, a das crateras, da exploração vil de mão de obra e da Até a década de 1970, a indústria da Região Norte era
degradação ambiental. É preciso reconhecer que, por ve- pouco expressiva e estava ligada ao beneficiamento dos
zes, isto é um fato e ocorre à margem das leis e na clan- produtos extrativos vegetais (borracha, castanha-do-pa-
destinidade, que as dimensões amazônicas favorecem. rá, madeira) e aos ramos tradicionais de bens de con-
O discurso e a prática simplista de que a mineração sumo (alimentos, bebidas, vestuário). A instalação de in-
como atividade econômica, em si só, leva ao desenvol- dústrias é um processo recente e deve-se principalmente
vimento regional, e, associado a boas práticas de mar- a uma política praticada pelo Governo Federal para inte-
keting ambiental tem se mostrado incapaz de reverter o grar a Amazônia ao restante do Território Brasileiro. Um
imaginário coletivo da negação da atividade na Amazô- dos objetivos da criação da Sudam foi exatamente insta-
nia. Esta se materializa no consentimento da criação de lar indústrias na Região.
áreas de preservação, sem que se conheça previamente a Para que a indústria pudesse desenvolver-se, foram
riqueza mineral sob ela, em prejuízo de toda uma popu- feitos grandes investimentos. Era necessário melhorar
lação que poderia se beneficiar deste recurso. o abastecimento de energia, o sistema de transportes e
Da mesma forma, apenas o impedimento legal da ati- de comunicações, os portos e os aeroportos, etc. Além
vidade mineral, sob o tapete verde das unidades de pre- disso, o governo dispensou empresas de pagarem im-
servação e terras indígenas, não impede a extração e o postos, doou terrenos e criou várias formas de estímulo
descaminho de recursos minerais e florestais, e fomenta para atrair indústrias de outras partes do País, sobretudo
uma rede clandestina de poucos beneficiários e muitos do Sudeste.
excluídos da partilha desta riqueza. Zona Franca de Manaus – A primeira experiência de
Talvez, seja exatamente esta face assimétrica de con- industrialização da Região ocorreu por meio da criação
centração da riqueza e exclusão social, ainda que não da Zona Franca de Manaus em 1967. Trata-se de uma
verdadeira, a enxergada pela população contrária à mi- área de livre comércio em que não são cobrados impos-
neração na Amazônia. tos de importação sobre os produtos comprados do ex-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
O setor mineral, composto de prospectores, empre- terior. Estão instaladas aí mais de quinhentas indústrias,
sendo trezentas de grande porte. Em sua maioria, são
sas de bens e serviços, entes federados e comunidades
apenas montadoras de produtos obtidos com tecnologia
afetadas, é importante para o país, pode gerar o desen-
estrangeira como relógios, material elétrico e de comuni-
volvimento regional, com pouco impacto ambiental, mas
cações e outros bens de tecnologia avançada, com des-
deve avançar no sentido de partilhar seus recursos.
taque para automóveis e computadores.
A CFEM (Compensação Financeira pela Extração Mi- Indústrias em torno de Carajás – Outro importante
neral), royalty arrecadado do produto da lavra de um pólo industrial na Região articula-se em torno do Pro-
bem mineral poderia ter sua base ampliada, bem como jeto Grande Carajás. Desde sua instalação, na década de
sua distribuição. Hoje a CFEM é destinada prioritaria- 1980, todo o minério extraído era praticamente exporta-
mente ao município de onde é extraído o minério, em do em estado bruto, o que não levou à criação de outras
um percentual de 65%, sendo o restante, 23% para o atividades econômicas na Região.
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No fim da década de 1980, estimulou-se a trans- do consumo de pescado, cerca de 550 g/per capita.dia
ferência de usinas de ferro-gusa do Sudeste, especial- na Amazônia Central fornece uma ideia da importância
mente mineiras, para a área em torno da estrada de fer- social dessa pescaria, que pode representar até 60% de
ro Carajás-Itaqui. Também foi incentivada a instalação todo o pescado capturado anualmente na região. O ape-
de indústrias de madeira. Apesar disso, não ocorreu um trecho de pesca predominante é a malhadeira, em face
desenvolvimento industrial significativo na região de da facilidade de uso por uma única pessoa e pela possi-
Carajás, que ainda se baseia numa economia essencial- bilidade de desenvolver outras atividades como a agri-
mente extrativa. cultura, enquanto a rede permanece armada.
Indústrias em Belém – Outro centro industrial do Nor- Explora uma grande diversidade de espécies, com
te está em Belém, que tem uma grande concentração de predominância de espécies que habitam os lagos de vár-
indústrias produtoras de bens de consumo não só para zea. A diversidade das capturas é maior nas épocas de
a população do Pará, mas também para São Paulo e Rio cheia e vazante do que nas épocas de seca e enchente,
de Janeiro. Destacam-se as indústrias de alimentos, de provavelmente devido a maior disponibilidade de hábi-
fumo, de bebidas, de produtos farmacêuticos, de couro, tats para os peixes que passam a explorar as matas ala-
de perfumaria, etc. gadas, além da área aberta do lago. A profunda interação
Outros centros industriais de menor porte são encon- dos ribeirinhos com o ecossistema aquático amazônico
trados em Santarém, no Pará, e nas capitais, como Ma- é refletida no processo de exploração dos recursos pes-
capá e Porto Velho. queiros, sendo possível identificar padrões sazonais em
seu uso, na exploração de ambientes e na escolha dos
Pesca apetrechos de pesca.
A complexidade da pesca amazônica é muito alta. O
predomínio de procedimentos artesanais na detecção A pesca comercial multiespecífica
dos cardumes e nas operações de captura é refletido na Essa pesca explota principalmente estoques de Cha-
variedade de apetrechos e estratégias de pesca. Ao mes- raciformes migradores como jaraquis Semaprochilo-
dus insignis e S. taenirus, matrinxã Brycon amazonicus,
mo tempo, fatores ambientais e mercadológicos propi-
pacus Myleus sp., Methynis sp. e Mylossoma sp, tamba-
ciam oferta e demanda para uma elevada diversidade de
qui Colossoma macropomum e curimatã Prochilodus ni-
espécies, incomum em pescarias comerciais. Um fator
gricans. Os desembarques são bastante influenciados
adicional de complexidade na pesca dessa região são
pelo ciclo hidrológico, principal força reguladora de todo
os diferentes tipos de usuários dos recursos pesqueiros,
o ecossistema, que influencia diretamente no sucesso
com diferentes estratégias de pesca e diferentes com- das capturas e resulta em picos sazonais nos desembar-
portamentos frente aos recursos e ao ambiente. ques de pescado em Manaus e nos outros centros urba-
Coexistem seis modalidades de pesca na bacia ama- nos da região. Um pico de produção ocorre no primeiro
zônica: uma pesca predominantemente de subsistência, semestre do ano, geralmente entre os meses de abril e
praticada por grupos familiares, pequenas comunidades, junho, período de enchente-cheia, coincidente com a
subestruturas étnicas e outras estruturas de pequeno migração de algumas espécies de Characiformes, como
porte que buscam a sobrevivência física; uma pescaria jaraquis, matrinxã, pacus e curimatã. O segundo aumento
comercial multiespecífica, destinada ao abastecimen- nos desembarques coincide com o período de vazante,
to dos centros urbanos regionais e praticada, em geral, no segundo semestre, e decorre do aumento da produti-
por pescadores residentes nesses centros; uma pescaria vidade das pescarias nos lagos.
comercial monoespecífica, voltada para a exportação e A maior parte do pescado é capturado no rio Soli-
dirigida principalmente à captura de bagres como a pira- mões e em seus tributários, com destaque para o rio Pu-
mutaba Brachyplatystoma vailantii e o surubim Pseudo- rus. De 1976 a 1998, a participação deste rio nos desem-
platystoma filamentosum; uma pesca em reservatórios, barques em Manaus, capital do estado do Amazonas,
resultante da construção de grandes represas para gera- triplicou, passando de 15,7% para 49,3% (10)
ção de energia elétrica, como Tucuruí e Balbina, que vem Estudos de avaliação dos estoques indicam que ape-
sendo desenvolvida por uma nova categoria de pesca- nas o tambaqui encontra-se em regime de sobre-pesca.
dores denominados “barrageiros”; uma pesca esportiva, Entretanto, considerando-se a elevada intensidade de
que tem como espécie alvo o tucunaré Cichla sp. e vem explotação dos jaraquis e da curimatã recomenda-se a
sendo praticada principalmente em rios de águas pre- manutenção de um contínuo monitoramento do estado
tas; e, uma pescaria de espécies ornamentais destinadas, dos estoques dessas espécies e, provavelmente, de estra-
principalmente, à exportação e realizada predominante- tégias pró-ativas de manejo pesqueiro. Possivelmente, as
mente no rio Negro e em seus afluentes. características de estrategistas dessas espécies, com ciclo
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Neste artigo, fazemos uma breve revisão das moda- de vida curto, vêm compensando a forte explotação, mas
lidades de pesca que ocorrem na bacia amazônica, re- é impossível determinar seu limite sustentável.
latando os principais recursos explotados em cada uma
delas e uma análise preliminar do estado de sustentabili- A pesca comercial multiespecífica
dade do processo de explotação. Ao final, tecemos algu- As espécies-alvo dessa pescaria são Siluriformes
mas considerações sobre estratégias de manejo, as quais de médio e grande porte como piramutama Bra-
consideramos promissoras para a pesca amazônica. chyplatystoma vailantii, dourada B. rousseauxii, piraíba
B. filamentousum, surubim Pseudoplatystoma fasciatum,
A pesca de subsistência caparari P. tigrinum, pirarara Phractocephalus hemilipte-
Essa modalidade de pesca é uma atividade difusa, rus e mapará Hypophthalmus marginatus. A maior parte
praticada pelas populações ribeirinhas de toda a Ama- da captura é exportada para outros estados brasileiros
zônia, sem local específico para desembarque. O eleva- e para o exterior.
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A pesca das espécies desse grupo assume caracterís- É uma atividade com grande potencial de crescimen-
ticas industriais na foz do rio Amazonas e artesanais no to e os pacotes vendidos no exterior para um período de
interior da bacia hidrográfica, principalmente ao longo sete dias oscilam em torno de US$ 3 mil durante a tem-
do eixo Solimões-Amazonas. Estudos realizados suge- porada, que se estende, em geral, de outubro a março,
rem que a piramutaba e a dourada realizam longas mi- coincidindo com o nível baixo das águas. A modalidade
grações, mais de 3 mil km, para completar seu ciclo de predominante é a pesca-e-solta.
vida. O processo reprodutivo ocorre nas cabeceiras de Novos conflitos pelo uso dos recursos pesqueiros
vários afluentes dos rios Solimões-Amazonas. As larvas surgiram com o crescimento dessa modalidade de pesca.
planctônicas descem o rio até o estuário, que é a área de Em rios de águas pretas, como o Negro, operadores de
alimentação e desenvolvimento dos juvenis. Em algum pesca esportiva estabeleceram uma situação de conflito
momento, entre o estágio de juvenil e adulto, os peixes com pescadores de subsistência, pescadores de espécies
migram rio acima e continuam sua fase de crescimento ornamentais e, principalmente, pescadores comerciais.
na Amazônia Central. Finalmente, no momento da repro- O conflito entre os pescadores de subsistência e os de
dução, os peixes tornam a migrar em direção às cabecei- peixes ornamentais, nativos da região, é de menor in-
ras dos afluentes de origem para completar o ciclo. tensidade e decorre, na maioria das vezes, da sobreposi-
Um crescente problema nessa pescaria é a exporta- ção espacial das atividades. Vem sendo minimizado pelo
ção ilegal para os países da fronteira oeste do estado envolvimento dos pescadores nativos em atividades de
do Amazonas, em particular para Colômbia e Peru. As pesca esportiva, na forma de guias e pilotos de botes. O
capturas realizadas nos trechos médio e superior do rio conflito com os pescadores comerciais é causado pela
Solimões são comercializadas com pequenos frigoríficos forma diferenciada que os dois grupos de pescadores
flutuantes, denominados bodegas, que remetem a pro- compreendem a espécie-alvo, o tucunaré Cichla sp. Os
dução para cidades fronteiriças colombianas e peruanas. pescadores esportivos vêem um tucunaré de dez quilos
Um estudo recente mostrou que os pescadores amazo- como um troféu a ser fotografado e devolvido ao rio,
nenses dos municípios do alto Solimões dependem dos pelo qual estão dispostos a pagar até US$ 3, mil por um
proprietários de frigoríficos colombianos para a obten- pacote de uma semana. Por outro lado, os pescadores
ção de insumos, como gelo e combustível. comerciais consideram o mesmo peixe apenas pelo seu
valor de venda no mercado consumidor mais próximo, a
A pesca de reservatórios um preço variável entre R$ 1,50 e R$ 2,50 o quilo.
Essa modalidade de pesca surge na Amazônia a partir
da formação de grandes reservatórios para geração de A pesca de espécies ornamentais
hidroeletricidade, em particular os reservatórios de Tucu- É uma modalidade de pesca voltada para a captura
ruí, no rio Tocantins, e Balbina, no rio Uatumã. Entretanto, de pequenos peixes usados em aquariofilia. As espécies
a sustentabilidade dessas pescarias vem sendo discutida, mais capturadas são: cardinal Paracheirodon axelroldi,
uma vez que a alta produtividade dos anos imediatamen- néon tetra Paracheirodon innesi, rosacéu Hyphesso-
te após a formação da barragem é, em geral, substituída brycon erythrostigma, rodóstomo Hemigramus blehery,
por valores situados em um patamar inferior ao observa- borboleta Carnegiella strigata e coridora Corydoras
do antes do fechamento da represa. A redução nos de- adolfoi, além de algumas arraias da família Potamotry-
sembarques da pesca comercial e o crescimento de uma gonidae. Os municípios de Barcelos e Santa Isabel do
indústria de pesca esportiva têm levado os pescadores Rio Negro, localizados ao longo da bacia do rio Negro,
do reservatório da UHE Balbina, na Amazônia Central, a são considerados os principais postos de comércio de
considerar a opção de passarem de pescadores a guias peixes ornamentais. Para ilustrar a importância dessa
de pescadores esportivos, hipótese que foi analisada em atividade na região basta citar que, somente no municí-
pesquisa realizada em 2003. pio de Barcelos, a pesca ornamental contribui com mais
No reservatório de Tucuruí, as pescarias no trecho de 60% na renda da cidade.
lótico, situado acima do reservatório, aumentaram após A pesca ornamental é de caráter artesanal, sendo de-
o fechamento da barragem, sendo que a curimatã (Pro- senvolvida a partir do profundo conhecimento empírico
chilodus scrofa) era a principal espécie capturada. No in- dos pescadores, localmente denominados de piabeiros.
terior do reservatório, as pescarias de tucunaré (Cichla A explotação destes peixes de pequeno porte é realiza-
sp.) e pescada (Plagiosciom sp.) eram as mais produtivas,
da nos afluentes do rio Negro, predominantemente em
contribuindo com 57% e 21%, respectivamente, de toda
pequenos igarapés e igapós. Os principais apetrechos da
a biomassa desembarcada de outubro de 1987 a setem-
pesca ornamental são o rapiché, o cacurí e a armadilha,
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
bro de 1988.
sendo que o primeiro é utilizado com maior frequência
pelos piabeiros. Em geral, estes pescadores instalam seus
A pesca esportiva
acampamentos nos arredores desses igarapés ou igapós,
O crescimento dessa atividade está diretamente re-
onde constroem pequenos tanques-redes feitos de tela
lacionado à presença de grandes exemplares de tu-
de náilon, esquadrejada numa balsa de cortiça, fixados
cunarés Cichla sp. em rios de águas pretas da bacia. O
na praia mais próxima. Esse é o local usado para arma-
comportamento agressivo das espécies desse grupo
zenamento provisório dos peixes capturados, onde serão
vem atraindo aficionados pela pesca esportiva de todo o
alimentados e separados por categoria. A alimentação
mundo. Atualmente, o principal local de exploração é a
pode ser: pedaços de peixe, ovos cozidos e ralados ou
região que abrange o médio rio Negro e seus afluentes,
ração fornecida pelas firmas exportadoras. O tempo de
com destaque para os rios Jurubaxi, Aracá, Demeni, Cuiu-
permanência nesse local varia de 7 a 21 dias.
ni, Caurés, Paduairi e Unini.
41
Manejo da pesca e dos recursos pesqueiros possibilidades, porém, levam em conta a utilização de
Algumas considerações especiais devem ser levadas instrumentos mistos compostos por mecanismos do
em conta no manejo de pescarias fluviais, particularmen- tipo comando-e-controle e econômicos. Uma possibi-
te porque: lidade seria a implantação de quotas negociáveis de
1. As assembleias de peixes são bastante complexas, pesca em que o Estado permanece como proprietário
sendo o número de espécies fortemente correla- e as cede por períodos pré-estabelecidos, tornando
cionado com a área da bacia seu comércio direto uma prática inviável.
2. As pescarias são bastante complexas, envolvendo
uma grande diversidade de apetrechos e de estra- Agricultura
tégias Por ser uma região já conhecida em grandes áreas
3. As populações de peixes flutuam amplamente em desmatadas a Amazônia sofre grandes implicações em
resposta às variações anuais de precipitação e sua agricultura, principalmente no que diz respeito ao
inundação. abastecimento da população local. Atividade de extre-
ma importância para a sobrevivência das comunidades,
Desenvolver estratégias visando assegurar a susten- a agricultura chega a ser 80% da fonte de economia pro-
tabilidade dos recursos pesqueiros amazônicos e das duzida.
próprias pescarias, que envolvem um grande número de Os pequenos e médios agricultores usufruem do
pessoas, revestindo-se de enorme importância social e clima amazônico para cultivo essencialmente do milho,
econômica, tem sido um objetivo de cientistas e gerentes trigo, arroz, mandioca, feijão, algodão e frutas, que são
de recursos nas últimas décadas. fonte de alimentação na região; essas mesmas ativida-
Existem, preliminarmente, quatro estratégias de ma- des ainda problema devido à usura do espaço da floresta
nejo possíveis: (i) proibir permanentemente a pesca co- para suas plantações.
mercial; (ii) manejar visando à manutenção da diversida- Os problemas ambientais e a não resolução dos
de da captura atual; (iii) gerenciar a pesca tendo como mesmos é parte de intensas discussões ecológicas que
objetivo prioritário a maximização da produção pesquei- cercam hoje o território amazônico. A principal questão
ra; e, (iv) manter o status quo. Alguns autores ressaltam a está na preservação da área em quase 90%, deixando mí-
necessidade de estratégias de manejo determinadas pe- nimos espaços para o setor agrícola, muito importante
las características ecológicas do grupo de espécies-alvo para a manutenção de comunidades locais, às vezes até
de cada pescaria. Segundo esses autores, o manejo da pertencentes a lugares muito distantes, dificultando a
pesca de espécies sedentárias, que habitam os lagos e as chegada de alimentos, roupas, etc.
áreas sazonalmente alagadas dos rios de águas brancas A reprovação de muitos bancos e financiadoras con-
e pretas deve ter como principal objetivo a minimização tribuem ainda mais para a diminuição da prática agrícola,
dos conflitos entre os diferentes tipos de usuários, uma cercando-os os pequenos agricultores a estabelecerem
vez que esses estoques constituem a principal fonte de até atividades clandestinas para seu próprio sustento e
proteína animal da população ribeirinha. Por outro lado, da família; fazendo mais uma questão problema a ser in-
a estratégia de manejo da pesca das espécies migradoras serida na região amazônica.
deve compreender uma complexa combinação de restri- A região da Amazônia não conta atualmente com
ções que conciliem a explotação dos estoques com os tecnologias e suportes agrícolas para uma boa prática.
movimentos migratórios, reconhecendo a importância A maioria dos agricultores mantém-se aptos ao cultivo
destes no ciclo de vida dessas espécies. e preparação a nível manual da terra, ou seja, são total-
Alguns resultados positivos de estratégias de co-ma- mente voltados a uma agricultura de base ainda remota,
nejo pesqueiro, através da transferência de responsabi- apenas para sustentabilidade.
lidade pela elaboração, implementação e fiscalização do Dados com esse mostram a realidade de falta de me-
poder público para a sociedade civil, principalmente na canização nos campos do Amazonas, especialmente no
forma de acordos de pesca, nos levam a acreditar que cultivo de algodão, no qual o uso de máquinas colhe-
esse é um caminho promissor. Em particular por reco- doras facilitaria ainda mais a elevação da economia de
nhecer que a pesca amazônica requer estratégias de um estado tão pouco estável no mercado financeiro. Fato
manejo com múltiplos objetivos, que atuem simultanea- esse é segundo especialistas e engenheiros florestais
mais um problema para a elevação do desmatamento;
mente ao nível do recurso e da própria pesca. Além do
contudo até mesmo os agricultores visam essa economia
que, permite o desenvolvimento de estratégias em nível
mais tecnológica, para também maior produção. Para
local, reconhecendo a heterogeneidade ambiental, das
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
42
Após esses alimentos já tradicionais, tem-se uma grande preservação com o cultivo das castanhas, do guaraná,
arroz, milho, algodão, madeira e borracha; essa última uma agricultura manual feita a partir da retirada do látex, pro-
duzido pelas seringueiras.2
EXERCÍCIO COMENTADO
1 - Analise as afirmativas sobre a população e a economia do Acre e indique qual esta incorreta.
a) Com cerca de 733,5 mil habitantes, o Acre é o estado menos populoso do Brasil.
b) O extrativismo vegetal é uma atividade de grande importância para a economia estadual.
c) A atividade agrícola está em constante expansão, com destaque para os cultivos de mandioca, milho e arroz.
d) Rio Branco, capital estadual, é a cidade mais populosa do Acre.
Resposta: “A”
Em “a”, errado - o Acre é o terceiro estado menos populoso do Norte.
Em “b”, certo - o extrativismo vegetal é uma atividade de fundamental importância para a economia do Acre, com
destaque para a extração do látex.
Em “c”, certo – a atividade agrícola está crescendo no Acre, em especial a produção de milho, arroz, mandioca, cana-
-de-açúcar, frutas, entre outros.
Em “d”, certo - com mais de 335 mil habitantes, Rio Branco é a cidade mais populosa do Acre, abrigando quase metade
da população estadual.
contagem populacional realizada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), sua população total
é de 733.559 habitantes.
Possui uma área de 152.581,388 quilômetros quadrados, divididos em 22 municípios. Sua Capital é Rio Branco, ou-
tras cidades de grande importância do Estado são: Cruzeiro do Sul, Sena Madureira, Feijó e Tarauacá.
O relevo da região é caracterizado por depressão, na maior parte do território; e planície estreita ao norte. O clima
é equatorial. Os principais rios são: Acre, Envira, Juruá, Purus e Tarauacá. A Floresta Amazônica é a vegetação predomi-
nante no Estado.
O setor de serviços é o principal responsável pela economia do Estado, com aproximadamente 74% das atividades
econômicas; a indústria corresponde a 22% da economia local. A madeira é o principal produto de exportação.
2 Fonte: www.portal.mec.gov.br/www.ac24horas.com/www.politize.com.br/www.alunosonline.uol.com.br/www.cpiacre.org.br/www.
historianet.com.br/www.acervo.socioambiental.org/www.teoriaedebate.org.br/www.uel.br/www.meioambiente.culturamix.com/www.sesi-
naamazonia.blogspot.com/www.brasilescola.uol.com.br/www.amazoniareal.com.br/www.colegioweb.com.br/www.cienciaecultura.bvs.br
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O Acre apresenta muitos problemas no âmbito social, Destaca-se
a mortalidade infantil é a maior da Região Norte, 28,9 A principal característica da vegetação desse bioma é
crianças - a cada mil nascidas vivas - morrem antes de a presença de uma floresta densa com árvores de grande
completar um ano de vida. Outro problema é que 60% porte classificada em três categorias:
dos domicílios são desprovidos dos serviços de sanea-
mento ambiental. Esse tipo de vegetação pode
ser encontrado em regiões
Aspectos geográficos e ecológicos da Amazônia e de elevadas altitudes. Sendo
do Acre Mata de terra firme assim, não se inundam, man-
O bioma Amazônia é um conjunto de unidades bioló- tendo-se seca durante todo o
gicas caracterizado por aspectos climáticos, tipo de solo, ano. Caracterizada pela pre-
vegetação, hidrografia, entre outros. Esse bioma constitui sença de árvores de grande
a maior bacia hidrográfica do mundo, bem como a maior porte.
floresta tropical do planeta, sendo considerada a região
Esse tipo de vegetação pode
de maior biodiversidade da Terra.
ser encontrado em regiões de
Esse bioma é o maior do Brasil, contudo não é exclu-
baixas altitudes. Sendo assim,
sivo do país, podendo ser encontrado na Bolívia, Colôm-
Mata de igapó encontra-se alagada quase
bia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e
todo o tempo. Caracterizada
Venezuela. Abrange, no Brasil, segundo o IBGE, uma área
pela presença de arbustos e
de aproximadamente 4,196.943 milhões de km2, cerca de
musgos, bem como vitória-
40% do território nacional.
-régia.
As unidades federativas compreendidas por esse
bioma são: Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Ron- Esse tipo de vegetação pode
dônia, Mato Grosso, Maranhão e Tocantins, que se dis- ser encontrado em regiões de
tribuem por regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do altitudes intermediárias. Sendo
país. Mata de várzea assim, encontra-se inundada
Na área ocupada pelo bioma, há aproximadamente durante um período do ano.
33 milhões de habitantes, incluindo cerca 1,6 milhões de Caracterizada pela presença
indígenas. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a de espécies de árvores com
região compreendida por esse bioma é considerada a até 40 metros de altura.
maior reserva de madeira tropical do mundo e possui
grandes reservas de borracha, castanha e minérios. A flora da Amazônia possui alto poder medicinal e
potencial econômico. A Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) divulgou uma pesquisa com
as principais plantas medicinais brasileiras, inclusive da
Amazônia. Espécies como o jaborandi (Pilocarpus micro-
phyllus) contêm pilocarpina em suas folhas, sendo utili-
zada para o tratamento de glaucomas primários, e a cra-
jirú (Arrabidaea chica) uma planta trepadeira cujas folhas
são utilizadas com anti-inflamatório.
Fauna
O bioma Amazônia possui uma fauna extremamente
diversificada e rica. Segundo a Embrapa, há nesse bio-
ma cerca de 30 milhões de espécies de animais, contudo
nem todas foram encontradas, estudadas e catalogadas
por estudiosos.
Destacam-se animais como os macacos, onça-pinta-
da, tamanduás, peixe-boi, jacarés, serpentes, rãs, diversas
espécies de peixes, entre outros. Há também mais de mil
espécies de aves na região, como tucanos e araras.
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Clima
Vegetação e flora A região do bioma Amazônia é caracterizada pela
A vegetação do bioma Amazônia é caracterizada, elevada umidade do ar que pode chegar a 80%, pelos
especialmente, pela presença da maior floresta tropical extensos períodos de chuva, cujo índice pluviométrico
do mundo, a Floresta Amazônica. Essa floresta abrange varia entre 1.500mm a 3.600 mm ao ano. O clima pre-
uma área que ultrapassa os 5 milhões de km2. A floresta dominante é o equatorial úmido, com temperaturas que
abriga cerca de 2.500 espécies de árvores e de 30 mil variam entre 22ºC e 28ºC.
espécies de plantas de um total aproximado de 100 mil
Hidrografia
espécies na América Latina, segundo o Fundo Mundial
A Amazônia é uma região rica em recursos natu-
para a Natureza (WWF Brasil). rais, como a água. Compreende a área da maior bacia
hidrográfica do mundo, a Bacia do Rio Amazonas, que,
44
segundo o Ministério do Meio Ambiente, possui cerca de foi a exploração dos produtos regionais denominados de
6 milhões de km2 e mais de 1.100 afluentes. O principal “drogas do sertão”, a caça e o apresamento dos indíge-
rio dessa bacia é o Rio Amazonas, que lança ao mar apro- nas para escravizá-los.
ximadamente 175 milhões de litros d›água por segundo. Com a descoberta do cacau, a introdução da cana-
Outros rios importantes nesse bioma são: o Rio Ne- -de-açúcar, café e algodão, no século XVIII, iniciou-se um
gro, considerado o maior afluente à margem esquerda pequeno desenvolvimento agrícola. A partir de 1870, a
do Rio Amazonas; Rio Tapajós, deságua à margem direita borracha passa a ser o principal produto da região – por
do Rio Amazonas; Rio Madeira, que nasce na Cordilheira influência do desenvolvimento industrial europeu e nor-
dos Andes na Bolívia. te-americano, com o uso ampliado de derivados da bor-
Os rios possuem características distintas em relação à racha –, bem como o fator determinante da ocupação da
cor da água. Existem, nessa região, rios mais turvos e bar- porção sul e sudoeste da Amazônia, nos vales dos Rios
rentos, devido à alta concentração de nutrientes, como Juruá, Purus e Madeira.
o Rio Amazonas; rios de águas claras devido à falta de Após estudos e pesquisas sobre o uso da goma elás-
nutrientes, como o Rio Xingu; e rios de águas pretas com tica extraída da seringueira (Hevea brasiliensis), árvore
alta concentração de húmus, como o Rio Negro. endêmica da Amazônia, amostras foram levadas para a
Europa. A impermeabilização e vulcanização desse lá-
Solo tex ampliaram a produção de bens derivados da borra-
O solo característico do bioma Amazônia é geralmen- cha, como molas para portas, espartilhos, cintos, bolas,
te arenoso. Devido à presença de uma densa vegetação, botas, recipientes para transportes de líquidos, suspen-
cria-se no solo uma camada fina de nutrientes prove- sórios, além de pneus para a indústria automobilística,
nientes da decomposição de folhas e animais. atraindo para a Amazônia uma enorme migração de nor-
Contudo, nem todo o solo da região é considerado destinos, sobretudo cearenses, entre 1877 a 1879, fugin-
fértil, visto que, em regiões sem cobertura vegetal, o es- do da seca e buscando oportunidades.
coamento superficial das águas acaba “lavando” o solo e Teriam migrado para a região, nesse período, cerca
retirando seus nutrientes (processo conhecido como lixi-
de 65.000 nordestinos, para trabalhar nos seringais como
viação). O que permite a existência dessa densa floresta e
mão de obra nas regiões dos rios Juruá e Purus, com a
uma vegetação rica em espécies é, portanto, a existência
ocupação de uma grande área da Bolívia. Isso influenciou
dessa camada de matéria orgânica que se acumula no
a incorporação dessa área ao Brasil, pelo Tratado de Pe-
solo.
trópolis, em 1903, criando o atual estado do Acre.
A definição dos limites e fronteiras estaduais foram
Devastação do bioma Amazônia
Apesar de ser considerado um dos biomas mais pre- processos que amadureceram a partir de embates diver-
servados do país, a Amazônia vem sofrendo com a de- sos. A fixação das bases que solidificaram o território es-
vastação. Questões como o desmatamento, queimadas, teve articulada com o uso e instrumentalização das con-
o garimpo ilegal e a agropecuária têm provocado diver- dições naturais pelos processos humanos de ocupação,
sos problemas ambientais. impondo formas de apropriação do espaço da Amazônia
Cerca de 17% do bioma já foi devastado nos últimos acreana. Assim, ao produzir espaço sobre as riquezas
50 anos, segundo uma pesquisa realizada pelo pesqui- apossadas e as populações nativas dizimadas, deu-se a
sador norte-americano Thomas Lovejoy (professor da base para a formação da fronteira política e social na re-
George Mason University) e o brasileiro Carlos Nobre gião.
(coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecno- Os primeiros departamentos e municípios nascem
logia para Mudanças Climáticas). com limites e traçados muito próximos ao que são pos-
De acordo com os pesquisadores, o limite máximo tos pelos rios em suas bacias hidrográficas e divisores de
de devastação seria 20%. Isso significa que ultrapassan- águas. Isso se deu pelas facilidades que seus traçados
do esse limite as consequências seriam irreversíveis ao naturais proporcionavam para produzir, escoar produção
bioma, colocando em risco a biodiversidade, alterando o e efetivar comunicação com outros lugares.
clima e o ciclo hidrológico. Nos anos 1970, as estradas e a agropecuária introdu-
zem novas condições de ocupação e produção do espa-
Curiosidades ço no estado. As cidades começam a ser formadas dis-
1.No bioma pode ser encontrado o maior peixe de tantes dos rios. A dinamização do espaço produzido seria
água doce do mundo: o pirarucu. feita agora por outros meios de circulação. Assim nascem
2. A vitória-régia é um dos símbolos da Amazônia, municípios como Acrelândia, Bujari, Senador Guiomard e
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
podendo medir até 2 metros de diâmetro. Capixaba. A estrada passa a ditar as ações socioeconômi-
3. A sucuri, uma espécie de serpente da Amazônia, cas e o desenvolvimento da região amazônico-acreana.
pode atingir até 10 metros de comprimento. Isso não excluiu o rio, mas minimizou seu papel centrali-
4. O boto pode ser encontrado na Amazônia. É co- zador da circulação do que era produzido.
nhecido como golfinho de água doce. Os processos introduzidos com a fronteira agrope-
5. São encontrados nos rios do bioma Amazônia cer- cuária, implementaram mudanças profundas na produ-
ca de 85% dos peixes de toda a América do Sul. ção e uso rural do solo, onde a floresta era vista como
empecilho. Como consequência, as atividades agrope-
Formação econômica do Acre cuárias, que até a década de 1960 eram pouco conside-
Em meio à busca por grandes riquezas por parte de ráveis naquelas terras, ganharam espaço, chegando a ser
colonizadores e aventureiros, o que se tornou de grande um dos segmentos produtivos de maior peso na econo-
valor econômico na região amazônica, já no século XVII, mia do estado atualmente.
45
Nos anos seguintes, acreditou-se que, sendo a flores- tropas (oficiais e paramilitares) de brasileiros contrapos-
ta desprovida de possibilidade de produzir economica- tos ao exército boliviano nas fluídas fronteiras entre Bolí-
mente, exceto pela exploração madeireira predatória, e via e Brasil. E em decorrência das tensões bélicas e nego-
à pouca viabilidade de atividades agrícolas mecanizadas, ciações diplomáticas foi assinado em 17 de novembro de
a vocação da Amazônia seria a pecuária. Porém, há hoje 1903 o Tratado de Petrópolis, pelo qual o Acre passava a
muitos pontos a se considerar para fazer um contrapon- ser oficialmente parte constitutiva do território do Brasil,
to, como os problemas oriundos dos desmatamentos graças ao pagamento de indenização financeira, permuta
desenfreados, a concentração de terras e expropriação de terras, permissão de livre trânsito em águas brasileiras
camponesa), o fracasso regional de muitos projetos de embarcações bolivianas, bem como do compromisso
agropecuários, a geração de alternativas produtivas na de construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
floresta, entre outros. Desde o episódio, que ficou conhecido nos periódi-
Dentre as alternativas produtivas estão novos produ- cos brasileiros como “Questão do Acre”, nem tudo na
tos que aparecem nas práticas extrativistas, como: fitote- historiografia local gira em torno desta anexação. De lá
rápicos, óleos, sementes, folhas, cipós, entre outros. Ain- para cá, os olhares se deslocaram e passearam sobre as
da assim, os principais produtos extrativistas da região, relações de produção da borracha, perpassaram os de-
no início do século XXI, eram: castanha, fruto do açaí, bates acerca dos movimentos e conflitos decorrentes da
madeira em tora, carvão vegetal, lenha, além da borracha expansão de fronteira agropecuária, chegando aos diálo-
natural bruta. gos e propostas sobre a sustentabilidade acreana.
Resumidamente, o modelo de desenvolvimento eco- Contudo, o incidente de nacionalização se tornou
nômico acreano é baseado no extrativismo, com des- marco inaugural do Acre em termos de História do Brasil.
taque para extração de madeira por meio de manejo E a partir disto, em nosso país costumeiramente ao se
florestal que, em teoria, permite o uso econômico sus- estudar a anexação do Acre temos dupla perspectiva do-
tentável da floresta. minante. Uma dentro do campo macronacional e outra
Historicamente, a economia acreana baseia-se no ex- no que poderíamos denominar (malquerença de muitos
trativismo vegetal, sobretudo na exploração da borracha, historiadores) História Regional. Em caráter interno ao
que foi responsável pelo povoamento da região. Atual- Brasil, quer nos livros didáticos ou mesmo nos estudos
mente, a madeira é o principal produto de exportação do sobre fronteiras, a “Questão do Acre” aparece como con-
estado, que também é grande produtor de castanha-do- flito solucionado no período de Rio Branco a frente do
-pará, fruto do açaí e óleo da copaíba. Itamaraty e se insere no contexto de consolidação dos
Os cultivos de mandioca, milho, arroz, feijão, frutas limites da república face a criação de um novo ente fede-
e cana-de-açúcar são a base da agricultura. A indústria, rativo imprevisto na Constituição de 1891 (contrariando
por sua vez, atua nos seguintes segmentos: alimentício, expectativas e investimentos do estado amazonense).
madeireiro, cerâmica, mobiliário e têxtil. Enquanto em âmbito pouco mais particular, na ina-
O Acre apresenta dois grandes polos econômicos: o propriada nomenclatura de História Regional (a nosso
vale do rio Juruá, que tem a cidade de Cruzeiro do Sul ver reunião da História do Amazonas e Acre) por longo
como principal núcleo urbano; e o vale do rio Acre, que é tempo vigorou a interpretação clássica de Tocantins, que
mais industrializado, possui maior grau de mecanização gerou partidários da ideia de que o conflito acreano teria
e modernização no campo, apresenta maior potencial se configurado em função dos desejos dos sujeitos ali
nas atividades agrícolas, grande produtor de borracha e instalados afim de tornar brasileira a região, ou seja, de
alimentos (mandioca, arroz, milho, frutas, etc.), além de um sentimento de brasilidade vigoroso anterior à oficia-
abrigar a capital estadual, Rio Branco. lização de efetiva nacionalidade e que teria motivado a
• Exportações e Importações do Acre: “Revolução Acreana”, ao qual se somaram-fatores eco-
• Exportações: 21,9 milhões de reais. nômicos decorrentes da produção de borracha circuns-
• Madeira compensada e perfilada: 49%. crita aquela área.
• Madeira serrada ou em folha: 27%. Sem perder de vista estas perspectivas, entende-se
• Frutas: 21%. que o cerne da discussão historiográfica acreana tem
• Outros: 3%. sido sempre as formas e tentativas de integração do Acre
• Importações: 1,1 milhão de reais. ao Brasil. Mas, que de modo equivocado tem sido desco-
• Aviões: 35%. nectado de uma trajetória histórica constituída desde o
• Peças para motor: 23%. colonialismo ibérico na América do Sul, em que se aceita
• Manivelas: 14%. pensar a “Questão do Acre” como algo emergente ape-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
46
Amazônia nos quadros territoriais brasileiros contempo- porque no começo do XVIII, em função das bandeiras,
râneos – e por conseguinte o Acre - decorre das trans- pecuária, fortificações militares e mineração os limites
formações no Império Colonial Português ad vindas da territoriais brasileiros já se assemelhavam bastante aos
crise sucessória do trono português em 1580. Isto por- atuais, mas:
que, naquele ano, com a morte do Rei e Cardeal Dom Restava fazer reconhecer de direito as novas frontei-
Henrique, se iniciou a União Ibérica, que perdurou até ras, uma questão a ser resolvida principalmente com a
1640 e correspondeu ao momento quando os reinos da Espanha. Isso ocorreu com o Tratado de Madri, firmado
península estiveram sob o controle da Dinastia Filipina. entre as Coroas portuguesa e espanhola, que reconhe-
Graças a este período foram temporariamente esqueci- ceu o princípio de posse para quem fosse ocupante efe-
das as fronteiras demarcadas pelo Tratado de Tordesilhas tivo de uma área. [...]
(1494), que se ainda hoje vigorassem levariam o Brasil a Apesar do acordo, as controvérsias a respeito das
ter apenas metade do seu espaço territorial atual.
fronteiras do Sul não cessaram. Um novo acordo, data-
Não obstante a reunião de Portugal e Espanha, a
do de 1761, anulou o Tratado de Madri. Em sequência, o
Amazônia somente ganha atenção mais intensa nos anos
Tratado de Santo Ildefonso (1777) restituiu aos espanhóis
de mil e seiscentos com vistas as preocupações ibéricas
de garantir sua propriedade e posse. E assim se incitava as Sete Missões. Os portugueses mantiveram suas pre-
a transposições da linha divisória entre o Brasil portu- tensões à Colônia do Sacramento, base estratégica para
guês e o espanhol, levando-se então a desconsiderar o o contrabando da prata trazida da Bolívia e do Peru pelo
freio limitador de Tordesilhas, gerando a edificação de Rio Paraná. Durante a presença de Dom João VI no Brasil,
fortes em locais estratégicos a fim de barrar possíveis in- em duas oportunidades as tropas portuguesas intervie-
vasões estrangeiras (a exemplo da França Equinocial que ram na região. Mas, de um modo geral, as fronteiras bra-
gerou a fundação de São Luís). No entanto, para além de sileiras estavam definidas. (FAUSTO, 1995, p.85)
fortalezas estimularam-se o estabelecimento de ordens Desta forma, Portugal no século XVIII ao fazer uso do
religiosas com aldeamentos, missões fixas e volantes, a uti possidetis (princípio de Direito Internacional que as-
fim de estabelecer vínculos de povoamento e catequese. severa ser a terra de quem a ocupa independente de sua
E a medida em que a atuação religiosa era justificadora propriedade) lançou as bases para negociações futuras
para expansão fronteiriça, traçava também os pilares das sobre os limites do Brasil. Então, ao mesmo tempo em
relações entre colonizadores e nativos, pois conforme se que Portugal garantiu a propriedade de parte da Amazô-
lê em (GUZMAN, 2008) [...] a formação de uma política nia, criou o marco fundante histórico-jurídico da configu-
indigenista na região amazônica na segunda metade do ração territorial brasileira.
século XVII, teve por base fundamentalmente a ação das No século XIX, por força das independências das co-
ordens religiosas missionárias (franciscanos e jesuítas). lônias ibéricas na América e da exploração da borracha,
A legislação indigenista do século XVII distinguia duas o sistema de controle territorial na Amazônia e as ten-
categorias de índios. De um lado, sociedades indígenas tativas de integrá-la levaram a uma reorganização, pois:
que colaboravam com os portugueses, sendo reconheci- Embora a região do rio Amazonas e de seus afluentes
das como vassalos do Rei de Portugal; de outro, aquelas fizesse parte oficialmente do conjunto da América portu-
consideradas arredias e que resistiam ao contato e inte-
guesa, desde o século XVIII, foi somente durante o século
gração à sociedade colonial.
XIX que ocorreu sua efetiva incorporação política e eco-
Conjuntamente a isto se configuravam os “núcleos de
nômica ao Império brasileiro. Nesse processo, os esfor-
apossamento” dando início a uma conquista territorial
assentada no “comércio de drogas do sertão”, “aldea- ços da Corte do Rio de Janeiro para que a província do
mento” e “fortalezas” (TAVARES, 2011, p. 110). Este tripé Grão-Pará se unisse às demais, declarando oficialmente
se manteve até que as influências do iluminismo atin- sua ruptura política com Portugal– o que logrou alcançar
gissem a corte portuguesa, somente se alterando com somente em 1823 –, tiveram grande importância, mas de
Sebastião José de Carvalho e Melo no comando da Se- forma alguma garantiram a essa região inserção favorá-
cretaria de Estado do Reino. vel no contexto do recém-criado Estado. Sua situação de
Decorrentes das reformas pombalinas, se implemen- quase absoluto despovoamento, conjugada com o fato
tou um novo sistema de controle territorial na Amazônia de que os principais centros políticos e econômicos do
(que então compreendia o Estado do Maranhão e Grão- Império estavam localizados a milhares de quilômetros
-Pará) pautado ainda por fortalezas, mas, acrescida do de Belém, a principal cidade amazônica na época, torna-
“povoamento nuclear” e a transformação de aldeamen- va necessária a formulação e a adoção de medidas que
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
tos em vilas. Ao qual se acrescentaria o “conhecimento fortalecessem a influência do novo regime na região. En-
geográfico” (TAVARES, 2011, p. 111) da região e formação tre essas medidas, a introdução da navegação a vapor no
de unidades administrativas vinculadas aos estímulos à rio Amazonas e nos principais afluentes surgia como uma
agricultura e em desfavor das ordens religiosas, sobretu- das mais importantes, por impulsionar, simultaneamen-
do dos jesuítas (expulsos das colônias portuguesas). te, tanto o povoamento quanto o desenvolvimento eco-
Concomitante a gestão do Marques de Pombal, nômico de todo o território localizado às suas margens.
transcorreram em terras europeias e na América do Sul (GREGÓRIO, 2009, p. 186)
conflitos entre Portugal e Espanha, dos quais resultara As preocupações em (re)forçar a autoridade imperial
as assinaturas dos Tratados de Madri, de El Pardo e de não foram exclusividade amazônica, porquanto que não
Santo Ildefonso (1777)5 cujos termos repercutiram na
tivesse ocorrido adesão interna unanime ao novo país,
conformação das fronteiras da nação independente. Isto
sobretudo no que concernia:
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[...] as quatro províncias do Norte – Pará, Maranhão, plenamente ao longo de todos os debates, acabou surgin-
Piauí e Ceará -, junto com a Cisplatina e [...] a Bahia, man- do na prática durante o período de quatorze anos, que vai
tiveram-se fiéis às cortes de Lisboa. desde o início das atividades da Companhia de Navegação
No plano internacional, as nações também se divi- e Comércio do Rio Amazonas, em1853, até a fundação de
diam. Os vizinhos latino-americanos, num primeiro mo- suas primeiras concorrentes nacionais, em meados da dé-
mento, recusaram-se a aceitar a nova situação, e colo- cada de 1860. Posteriormente, voltaria a se fazer presente
caram sob suspeição esse país que, negando a voga das com a Amazon Steamship Company, de capital inglês, res-
emancipações, optava por manter a monarquia e, ade- ponsável única pelas linhas amazônicas desde a década
mais, por um imperador português como chefe do novo de 1870 até a segunda década do século XX. Na prática, a
Estado. Os Estados Unidos, que já começavam a atuar livre concorrência, tão defendida por vários deputados e
como uma força hegemônica no continente americano, senadores ao longo de todas as discussões, não foi capaz
reconheceram em maio de 1824 a emancipação brasilei- de se estabelecer eficazmente na região amazônica du-
ra. (STARLING; SCHWARCZ, 2015, p. 229) rante todo o Império, o que não impediu, entretanto, que,
A independência brasileira somente foi reconhecida graças ao boom da borracha, o comércio internacional
por Portugal em 1825, com mediação direta da Inglaterra amazônico atingisse patamares nunca antes alcançados a
e diante de compensações financeiras à metrópole. Em partir da década de 1870. (GREGÓRIO, 2009, p. 209)
caráter sul americano as relações com os países vizinhos Como se percebe, a pauta de conexão da Amazô-
foram delicadas, visto as desconfianças quanto a forma nia ao Brasil Imperial estava vinculada às limitações de
de governo adotada (único Império em meio as repúbli- acesso e financiamento governamental para o desenvol-
cas) e sobretudo ao dirigente do Brasil (ambiguamente vimento econômico e social da região. Neste sentido, a
herdeiro do trono metropolitano e líder da independên- demanda por novos capitais colidia com as discussões
cia colonial). A formação do Império também repercutiu sobre soberania e os receios de esbulho possessório. Tais
na criação do Uruguai como nação com papel inicial de preocupações se expandiam conforme crescia a impor-
“estado tampão” entre Brasil e Argentina. tância da economia amazônica na balança comercial bra-
Em âmbito nacional, as diferenças e dificuldades de sileira, fazendo com que durante a chamada terceira fase
convívio político se manifestaram já na dissolução da As- da economia da Amazônia6 (PRADO, CAPELATO, 2006, p.
sembleia Constituinte e outorga da Carta Constitucional 315) se desse o reordenamento de gente e dos espaços
de 1824. Mas, em outros momentos também foram visí- então “escassos” para a extração do látex, pois:
veis as divergências, especialmente acerca da compreen- Com o desenvolvimento da borracha essa mão de
são entre Deputados e Senadores sobre os projetos de obra local tornou-se insuficiente. Os Governos da Re-
integração para Amazônia, conforme se verificam nos re- gião Amazônica, interessados no aumento da produção,
latos a respeito da criação de linhas regulares de vapores foram obrigados a mobilizar populações e concederam
para os rios amazônicos: subsídios para os gastos de transportes e adiantamen-
A incorporação da região amazônica ao conjunto do to de dinheiros para as primeiras necessidades. [...] Os
Estado nacional brasileiro não se resolve com a adesão nordestinos – calcula-se que em número de cem mil –
das elites do Grão-Pará à independência em 1823. Essa penetraram no território onde as fronteiras do Brasil com
escolha em momento algum pode ser entendida como a Bolívia e o Peru ainda não haviam sido definitivamente
definitiva, e, durante todo o século XIX, os responsáveis estabelecidas. Foram eles os responsáveis pela anexação
pela administração imperial tiveram de formular, median- ao Brasil da região que passou a denominar-se Território
te debate, políticas capazes de desenvolver economica- do Acre, mediante a indenização de dois milhões de li-
mente todo o Norte do País, garantindo, assim, sua plena bras à Bolívia e o compromisso de construir a estrada de
soberania sobre aquele território. O processo decisório ferro Madeira-Mamoré. (PRADO, CAPELATO, 2006, 317-
que decorreu dessa necessidade não foi simples nem 318)
uniforme. Ao longo de todo o período que vai de 1826, Em que pesem as críticas (Klein, 2014, pp. 24-25)
data da primeira tentativa de introdução da navegação a quanto a estimativa do volume de migrantes nordesti-
vapor no rio Amazonas, até 1871, quando a companhia nos para a região amazônica entre meados do XIX e as
fundada por Irineu Evangelista de Souza em 1852 passa duas primeiras décadas do XX, a presença de brasileiros
definitivamente para o capital inglês, várias ideias foram na parte mais ocidental é reafirmada (tanto em textos
formuladas, adotadas e posteriormente abandonadas, de História do Brasil, quanto do Amazonas e Acre) como
em um processo decisório que caminhou pari passu com fator determinante a incorporação das terras acreanas,
a consolidação do Estado nacional brasileiro. contudo:
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Nesse sentido, a aversão à presença de capitais estran- O Brasil de forma sorrateira firmou com a Bolívia o
geiros na atividade de navegação, fortemente presente Tratado de Ayacucho em 1867. Aproveitou que as fron-
em todas as discussões da primeira metade do século, e teiras amazônicas entre a Bolívia e o Peru ainda não es-
responsável pelo malogro de várias tentativas de introdu- tavam plenamente regulamentadas, para acirrar a discór-
ção de linhas regulares de vapores nos rios amazônicos, dia entre os dois países. A Bolívia abria mão dos limites
caiu no debate parlamentar de 1864, não sem resistência estabelecidos pelo Tratado de Santo Ildefonso (1777) – a
de alguns deputados. O temor de perder a posse sobre linha Javari-Madeira – e o Brasil, em compensação, con-
tão grande território cedeu ante a necessidade de con- firmava à Bolívia todas as terras abaixo da linha que ia
solidar e aumentar os ganhos conseguidos após anos de da confluência do rio Beni com o rio Mamoré, onde co-
navegação subvencionada pelos cofres gerais. A ideia da meçava o rio Madeira, à altura da latitude 10º 20’, até a
existência de um privilégio de exclusividade, nunca aceito nascente do rio Javari. (CARNEIRO, 2016, p. 133)
48
Embora a “definição das fronteiras brasileira” nos fins Assim, se por um lado o Acre não sendo brasileiro foi
do período colonial conforme afirmou Fausto, devemos pauta de dissimulação durante a política continental in-
recordar que a ideia não se aplicava no extremo oeste ternacional do Império Brasileiro, no alvorecer da Repú-
amazônico, já que a posse destas terras era reivindica- blica se tornaram latentes os interesses do governo es-
da por brasileiros. Não tendo a contestação possessória tadual amazonense apesar das tergiversações brasileiras
se dado de modo manso e pacífico, já que decorreu de (que ocorreram até 1902 com a chegada de Rio Branco
estratagemas diplomáticos e jurídicos. Neste sentido, é ao Ministério das Relações Exteriores).
preciso compreender que o Tratado de Ayacucho foi mais Clareza disto se evidencia não só dos registros de se-
do que tratativa limítrofe, representou garantia de não ringais acreanos como se fossem parte constitutiva do
aliança entre Bolívia e Paraguai contra o Brasil na Guerra município amazonense de Floriano Peixoto, mas, princi-
da Tríplice Aliança. A fluidez e os conflitos fronteiriços
palmente a partir de 1899 com as manifestações de re-
entre países sul americanos mais ocidentais causavam a
sistência às tentativas de implementação da soberania
ausência de regras claras e específicas acerca dos limites
territoriais entre peruanos e bolivianos. Circunstâncias boliviana na região. Situações demonstradas em ações
que levaram o Brasil a fazer negociações em separado, reativas tanto a cobrança de tributações bolivianas sobre
tanto no Tratado de Ayacucho (1867), quanto no Tratado os habitantes do Acre, quanto à arrendação firmada pela
de Petrópolis (1903) e no Tratado Brasil–Peru (1909) para Bolívia com o Bolivian Syndicate.
solucionar a contenda. Junto aos seringalistas brasileiros no Acre e apoiados
Apesar do Tratado de Ayacucho afirmar o perten- por autoridades do governo amazonense tais circunstân-
cimento do Acre a Bolívia, o fluxo de brasileiros para a cias desencadearam levantes chefiados por José Carva-
região persistiu até o começo do XX. Apesar das idas e lho com a “Junta Revolucionária” (1899), desemborcaram
vindas diplomáticas, a exploração da borracha crescia no “Estado Independente do Acre” (1899) sob o controle
e exigia investimentos, que repercutiram nas relações de Galvez e financiamento do governador José Cardoso
dentro de sua cadeia produtiva. Assim, a criação de uma Ramalho Júnior, na malfadada “Expedição dos Poetas”
unidade fabricante de borracha, ou seja, de um seringal, (1900), bem como na “Revolução Acreana” (1902-1903)
demandava não apenas o desbravamento territorial, mas comandada por Plácido de Castro com a adesão dos se-
também a formação de uma estrutura, que obtinha re- ringalistas locais.
cursos junto a estabelecimentos comerciais situados em E assim como o sentimento de nacionalismo difundi-
Belém e Manaus. do nas sublevações ocorridas em terras acreanas, tam-
Tais casas aviadoras eram responsáveis pelo forneci- bém o Bolivian Syndicate foi utilizado como instrumento
mento de recursos para abertura dos seringais, financia- de contraponto ao exercício de soberania boliviana e no-
mento do transporte de trabalhadores até a região dos toriedade à “Questão do Acre” em periódicos brasileiros.
seringais, além do contínuo envio de víveres e equipa-
Se o desdobramento das “comissões demarcatórias mis-
mentos. Em contrapartida, os seringalistas enviam a bor-
tas” (VERGARA, 2012) pouco impacto gerou na mídia, as
racha como forma de pagamento e para comercialização
por estas firmas, que as vendiam no mercado interna- atenções aumentaram com a denúncia do arrendamento
cional. divulgada em 1899 em A Província do Para por Galvez,
Descrevendo esta vinculação eis que “numa cadeia de no entanto maior destaque na imprensa nacional se deu
dependências, a falta de capitais obrigou a casa aviadora com o ingresso aberto e direto do Itamaraty para reso-
a subordinar-se ao capital estrangeiro, o seringalista a lução da causa.
tornar-se devedor da casa aviadora e, num elo mais forte, O grau de complexidade da “Questão do Acre” decor-
o seringueiro a sujeitar-se ao seringalista.” (PRADO, CA- re da conjuntura internacional da ascensão dos Estados
PELATO, 2006, p. 325) Unidos sobre as nações americanas e mutação do ca-
Contudo, a obtenção do capital inicial dentre outros ráter defensivo ao expansivo da Doutrina Monroe, bem
aspectos exigia a regularização da existência do seringal. como da Guerra do Pacífico (1879 a 1883) que resultou
Com o advento do Brasil República as atuações brasilei- na perda boliviana de sua ligação com o Oceano Pacífico.
ras na região do Acre se tornaram mais ostensivas e bus- Ao passo que o neocolonialismo da virada do XIX ao XX
caram um caráter legalista, que se confirma com a leitura impelia a busca e crescimentos de áreas de influência (e
das edições do Diário Official do governo do Amazonas domínio) das grandes potências europeias. Eram tempos
entre os anos da década de 1890, isto porque a partir nos quais se vivenciava a partilha da África pelas metró-
de 1893, o reconhecimento dos seringais passou a ser poles coloniais que adotavam o modelo das chamadas
feito em conformidade com o Regulamento do Registro chartered companies.
de Terras do Amazonas, conduzindo a formação de cor- Este conjunto de fatores em parte ajuda a entender
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
po administrativo e jurisdição pelo governo amazonense desconexão da “Questão do Acre” aos seus anteceden-
nas terras e águas bolivianas. Era a ilegalidade de ocupa-
tes históricos. Isto porque as “companhias de cartas”
ção do território alheio sendo regrada e criando compro-
ou “companhias majestáticas” ou “companhias privile-
vação ao serviço diplomático brasileiro que:
[...] soube explorar bem essa inexatidão da redação giadas” consistiam em modalidades de arrendação ter-
dos tratados para defender o uti possidetis como prin- ritorial, feitas entre as metrópoles coloniais (então au-
cípio regulador das fronteiras. [...] Obviamente que essa todeclaradas “donas” das áreas coloniais submetidas) a
proposta se mostrou muito mais vantajosa ao Brasil, visto empresas ou grupos de acionistas por períodos de dé-
que a maior parte dos territórios disputados já estavam cadas. Estes grupamentos poderiam fazer exploração e
plenamente ocupadas por brasileiros, como são os casos lotear os territórios em comento para diversas atividades
das regiões do Juruá e do Purus. (CARNEIRO, 2016, p. econômicas – em geral de extrativismo vegetal e mine-
134) ral, agricultura e pecuária -, com poder de polícia tanto
49
para cobrança de tributação, quanto para coerção física, de que a migração ao Acre após o Tratado de Petrópolis
política e social. As chartared companies funcionavam a fosse exclusivamente espontânea, visto que para lá tam-
revel de vontades e interesses das populações das áreas bém foram destinados os elementos “indesejados” pelo
arrendadas. governo da capital federal.” (ALBUQUERQUE, pp. 87-88)
Assim, diante da ameaça configurada na criação do Diante do exposto, observa-se que a incorporação do
Bolivian Syndicate porquanto lhe fosse atribuído o cará- Acre ao território brasileiro foi produto de uma constru-
ter de chartared company, torna-se compreensível en- ção histórica com origens no período colonial na Améri-
tender como entrou para a hemerografia e historiografia ca do Sul, que perpassou as emancipações políticas das
brasileira representando a tentativa de instituição de um ex-colônias ibéricas, desemborcando na amarração das
enclave em área habitada por nacionais e as margens de fronteiras tri-nacionais (Brasil, Bolívia e Peru). Processo
nossas fronteiras. Neste sentido, corroboram as análises que em âmbito macronacional, assim como regional se
de Tocantins e Rio Branco que caracterizaram o Bolivian reinterpreta, recorta e permeia em benefício da criação
Syndicate, dando àquele grupo semelhanças de um esta- de projetos identitários e interesses políticos. De tal sorte
do nacional. Esta tese difundiu-se vez que: que para além da “Questão do Acre” ou da “Revolução
[...] dentro do documento justificador do Tratado de Acreana” existem lacunas sobre o antes com os indíge-
Petrópolis sagrou-se o argumento da ameaça ao Brasil nas que habitavam a região, ou mesmo acerca do olhar
com a instalação de chartered company em sua fronteira, dos vencidos na Guerra do Acre. Ainda há muito o que se
ao mesmo tempo em que se nega a plena soberania do fazer, falar e escrever.
Sindicato. Dentro deste contexto, se fortaleceu o discur-
so do risco a soberania face ao Bolivian Syndicate, que O território do Acre, municípios e populações do
passou a ser repetido posteriormente por Leandro To- Acre: população e localização
cantins e outros autores. (ALBUQUERQUE, 2015, p. 67) Localiza-se no sudoeste da Região Norte, fazendo
E assim, verifica-se a ideia contraposta de naciona- divisa com duas unidades federativas: Amazonas ao nor-
lismo em defesa da soberania ameaçada. Entretanto, a te e Rondônia a leste; e faz fronteira com dois países:
assinatura do Tratado de Petrópolis em 1903 ainda que a Bolívia a sudeste e o Peru ao sul e a oeste. Sua área
respondesse a estes apelos não foi uma resolução unâni- é de 164 123,040 km², que equivale aproximadamen-
me, ou totalmente bem aceita. Isto porque não atendeu te ao Nepal. Essa área responde inferiormente a 2% de
plenamente as pretensões do governo amazonense, já todo o país. De acordo com os geógrafos, se trata de
que teria sido praticada “a violência contra o Amazonas” um dos estados com menor densidade demográfica do
em decorrência do “atentado a Constituição Federal”. Brasil e foi o mais recente que os brasileiros povoaram de
Pois a aquiescência no Congresso Nacional de criar a fi- maneira efetiva. Nele localiza-se a extremidade ociden-
gura de território federal como forma de ordenamento tal do Brasil. A cidade onde estão sediados os poderes
administrativo para o Acre estaria “tirando-o do Amazo- executivo, legislativo e judiciário estaduais é a capital Rio
nas” (REIS, 1937, p. 25). Branco. Outros municípios com população superior a
Disto resultou ação indenizatória impetrada em 1904 trinta mil habitantes são: Cruzeiro do Sul, Feijó, Sena Ma-
no Supremo Tribunal Federal contra União. O processo, dureira e Tarauacá.
que teve inicialmente como advogado Rui Barbosa, ficou A altitude média de 200 metros, sendo uma forma de
paralisado por anos, mas, com a Revolução de 1930 fez- relevo com definição de planalto é o relevo dominante
-se comissão de arbitramento entre a União e o governo da maioria do território acreano. Juruá, Purus, Taraua-
amazonense “tendo por fim avaliar os direitos inerentes cá, Muru, Envira e Xapuri são os rios de maior importância
ao Amazonas por motivo do Acre” (REIS, 1937, p. 28). do estado. As principais atividades econômicas do esta-
Tendo se encerrado o conflito com o acordo de retirada do são o trabalho de extrair borracha e castanha, a pe-
da ação junto ao STF, mediante compromisso de paga- cuária e a agricultura. Com duas horas anteriores ao fuso
mento de indenização ao Amazonas. O que nos faz ques- horário de Brasília (DF), nele está localizada a última lo-
tionar o discurso do nacionalismo e defesa da soberania calidade brasileira a ter visão do sol nascente, na serra
brasileira. Então, se a “Questão do Acre” durante muito da Moa, na fronteira com a República do Peru. A intensi-
tempo reverberou tais argumentações: dade do extrativismo vegetal, que tem atingido o ponto
[...] a historiografia recente tem apresentado outras mais alto no século XX, constituiu-se em atração para os
interpretações ao fazer-se do Acre brasileiro. Neste sen- brasileiros que, vindos de uma variedade de regiões, che-
tido e face às elaborações de versões da incorporação garam ao estado. Misturando tradições vindas da Região
territorial pautada em personalidades heroicas ao gos- Sul do Brasil, de São Paulo, da Região Nordeste do Bra-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
to da causa, narrador e público, nos cabe ainda recordar sil e dos grupos étnicos indígenas, deu-se o surgimento
Francisco Bento da Silva, que rompe com os comentários de uma culinária com muitas diversidades, que põe jun-
assentados nos aspectos diplomáticos, militares ou apo- to a carne-de-sol com o pirarucu, peixe característico da
logéticos, ao equiparar o Acre a “Sibéria Tropical”, graças região, pratos que acompanham-se com tucupi, molho
aos desterros entre os anos de 1904 e 1910. cujo ingrediente é a mandioca. O transporte fluvial, que
Apesar de Silva não se ocupar propriamente do pe- se concentra nos rios Juruá e Moa, no oeste do estado,
ríodo de passagem do Acre boliviano ao Brasil, dedicou e Tarauacá e Envira, no noroeste, é um dos mais impor-
sua análise aquilo que seguiu a este processo, ao dis- tantes meios de transporte, junto à BR-364, ligando de
corres sobre a composição da sociedade acreana para Rio Branco até Cruzeiro do Sul e que o governo brasileiro
além dos migrantes voluntários que ansiavam pela fuga a recentemente asfaltou e construiu as pontes onde anti-
seca ou a riqueza da borracha. Silva desconstruiu a ideia gamente era preciso atravessar por meio de balsas.
50
O Acre é o estado situado mais a oeste da região Nor- De 1991 a 2010, o crescimento demográfico experi-
te, sua extensão territorial é de 164.122,280 quilômetros mentado pelo Acre foi considerado muito alto, atingindo
quadrados. Conforme contagem populacional realizada 3,3% ao ano, acima da média nacional. Em 1991, foram
em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísti- contados 417.165 habitantes. 48% da população do esta-
ca (IBGE), o estado totaliza 733.559 habitantes, distribuí- do vive na capital. No interior, a população vive dispersa
dos em cinco microrregiões (Basileia, Cruzeiro do Sul, Rio ao longo dos rios, ocupada na extração de borracha, cas-
Branco, Sena Madureira e Tarauacá), onde estão localiza- tanha e madeiras.
dos 22 municípios. As densidades demográficas, em 2006, mostravam-
Sua população é composta por vários imigrantes, en- -se bastante homogêneas. Na região mais povoada, a do
tre eles destacam-se: nordestinos, sulistas e paulistas. A baixo Acre, havia 17,2 hab./km² e, na menos povoada, a
população indígena totaliza 14.318 pessoas. do alto Purus, 1,1 hab./km².
O aumento populacional do Acre é significativo, pois Na formação da população acreana entraram, além
em menos de 70 anos sua população passou de 79.768 dos índios, os nordestinos - principalmente cearenses -
para 733.559 habitantes. Acompanhe a evolução demo- que aí chegaram maciçamente durante o período áureo
gráfica do estado. da borracha (1880-1913) e os sulistas, que chegaram ma-
• 1940 – 79.768 habitantes ciçamente durante a década de 70 em diante.
• 1950 – 114.755 habitantes Houve também imigrações de árabes (principalmente
• 1960 – 158.852 habitantes sírio-libaneses) e italianos (sendo ambas as maiores na
• 1970 – 215.299 habitantes Região Norte), além de japoneses, alemães e eslavos (es-
• 1980 – 301.276 habitantes ses em pequena escala)
• 1991 – 417.718 habitantes Principais centros urbanos
• 2000 – 557.526 habitantes - Rio Branco, capital e centro administrativo, econô-
• 2009 – 691.132 habitantes mico e cultural, e também o mais populoso município,
• 2010 – 733.559 habitantes. com 370 550 habitantes, quase metade da população
estadual.
O crescimento demográfico acreano é de 2,8% ao - Cruzeiro do Sul é a segunda maior cidade acreana e
ano, com densidade demográfica caracterizada baixa, um porto do rio Juruá, sendo também a mais de-
aproximadamente 4,4 habitantes por quilômetro qua- senvolvida da mesorregião que recebe o mesmo
drado. A maioria da população reside em áreas urbanas nome.
(72,6%), já os moradores das áreas rurais somam 27,4%.
A divisão populacional conforme o sexo é a seguinte: ho- Outros municípios mais populosos são
mens 50,2%, mulheres 49,8%. (IBGE 2015): Sena Madureira, com 41 750 habitantes; Ta-
Rio Branco, capital do Acre, é a cidade mais populo- rauacá, com 38 819 habitantes; Feijó com 32 385 habitan-
sa do estado, totaliza 336.038 habitantes, ou seja, quase tes e Brasileia, com 23 849 habitantes.
metade do contingente populacional acreano. Outras Existem no Acre, 34 terras indígenas ocupadas por
cidades populosas são: Cruzeiro do Sul (78.507), Sena mais de 12.000 índios, que representam 2% da população
Madureira (38.029), Tarauacá (35.590), Feijó (32.412), Bra- total do Estado. Esse contingente populacional pertence
sileia (21.398). a 14 diferentes etnias, de línguas Pano, Aruak e Arawá:
Menos de 40% da população tem acesso a água tra- (Yaminawa, Manchineri, Kaxinawá, Ashaninka, Shanena-
tada, o acesso a rede de esgoto também é bastante res- wa, Katukina, Arara, Nukini, Poyanawa, Nawa, Jaminawa-
trito, beneficiando apenas 34,8% dos habitantes. A taxa -Arara e Isolados). As etnias isoladas, sem contato com
de analfabetismo é de 15,4% e a taxa de mortalidade a sociedade, têm o seu território tradicional ao longo da
infantil é de aproximadamente 28,9 óbitos a cada mil fronteira internacional Brasil-Peru.
nascidos vivos, refletida na expectativa de vida do acrea-
no, que é de 71 anos. Todos esses fatores são responsá- Municípios
veis pela média do Índice de Desenvolvimento Humano Os municípios do Acre são as subdivisões oficiais
(IDH), que, atualmente é de 0,751, fazendo com que o do estado brasileiro do Acre, localizado na região Nor-
Acre ocupe a 17° posição no ranking nacional, sendo o te do país. De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de
penúltimo entre os estados nortistas, à frente apenas de Geografia e Estatística), o estado possui 22 municípios,
Roraima. desde última alteração feita pela Lei № 1 034, de 28 de
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
De acordo com o Censo brasileiro de 2010, o Acre abril de 1992, criando a cidade de Jordão. Sendo assim,
era habitado por 733.559 habitantes, sendo que haviam o Acre é o terceiro estado brasileiro com o menor nú-
532.279 habitantes em área urbana e 201.280 habitan- mero de municípios, perdendo para Roraima (com 15)
tes em área rural. Quanto à questão de gênero, haviam e Amapá (com 16) e sendo seguido por Rondônia com
368.324 homens e 365.235 Mulheres. Foram identifica- 52. É ainda a terceira a unidade federativa menos po-
dos 221.108 domicílios, sendo que apenas 191.169 de- pulosa do Brasil, com 691.132 habitantes. Perde apenas
les eram ocupados, gerando um déficit habitacional de para o Amapá, com 626 609, e Roraima, com 421.499
29 939 domicílios. A média de habitantes por domicílio habitantes. O estado é oficialmente subdividido ainda
era de 3,82 pessoas. A capital, Rio Branco, é a maior e em cinco microrregiões (Brasileia, Cruzeiro do Sul, Rio
mais populosa cidade do estado, com quase 350 mil ha- Branco, Sena Madureira e Tarauacá) e duas mesorre-
bitantes, sendo a sexta maior cidade na Região Norte. giões (Vale do Acre e Vale do Juruá).
51
A área total do estado é de 164 122,280 km², sendo posto a contrariar interesses arraigados no antigo fazer
o 16º maior do país, com extensão comparável a países político. Por conseguinte, o Acre ainda deveria esperar
como o Nepal. O município com a maior área é Feijó, lo- mais de uma década para eleger novamente, pelo voto,
calizado na Mesorregião do Vale do Acre e Microrregião seu governador.
de Tarauacá, com 27.975,427 km² de extensão. O menor Note-se que, a despeito das medidas já enunciadas,
é Acrelândia, com 1 574,55 km², localizado na mesorre- as discussões sobre os limites geográficos do Estado do
gião e microrregião Vale do Acre e Rio Branco, respecti- Acre continuaram a arrebatar os ânimos dos moradores
vamente. O estado faz fronteiras com o Peru (oeste), Bo- daquela parte da região amazônica. Para buscar uma
lívia (norte) além do Amazonas (leste) e Rondônia (leste). solução consensual que colocasse fim às divergências
quanto às linhas limítrofes da citada unidade federativa,
Nova configuração do mapa representantes dos Estados do Acre, do Amazonas e de
A história da fixação do povo acreano na Amazônia Rondônia reuniram-se na Delegacia do Instituto Brasilei-
brasileira impõe-se na solução do problema de linhas de ro de Geografia e Estatística (IBGE), em Manaus, no dia 16
fronteiras e revitaliza um antigo princípio jurídico, o do de outubro de 1984.
utis possidetis post facto. Em 19 de fevereiro de 1986, as partes referidas firma-
Há cem anos, o Governo brasileiro reconhecia a im- ram o Convênio no 26/86, conforme consta do Processo
no 7.346/ 82/IBGE. Esse documento criava uma comissão
possibilidade do Estado do Amazonas de arcar com a
tripartite, integrada pelos estados supramencionados,
responsabilidade de garantir a paz e a efetiva ocupação
com o fito de fixar os limites territoriais entre si. Cabia
nas terras recém-incorporadas ao mapa do Brasil. Te-
ao IBGE — que, à época, funcionava apenas como um
mendo o vigor dos habitantes da região e sua avidez por
órgão técnico — a execução dos trabalhos geodésicos e
fixar raízes, ele resolveu criar uma espécie nova de unida- cartográficos.
de federada — o Território Federal do Acre —, à revelia Persistia, porém, o conflito entre os estados do Ama-
da consulta à vontade popular. zonas e do Acre, pois o primeiro alegava que o traçado
De todo modo, em 1920, unificaram-se os três de- da linha divisória deveria adotar como marcos a Foz do
partamentos, contrariando as previsões do Barão de Rio Igarapé Remanso e do Estirão Eliezer, o que implicaria
Branco, feitas na Exposição de Motivos do Tratado de 8 manter quase inalterada a linha Beni-Javari (também de-
de setembro de 1909, quando comentava as novas fron- nominada de poligonal Cunha Gomes) e faria com que
teiras do Acre: “os nossos territórios do Médio Juruá, do importantes cidades acreanas ficassem em território
Médio Purus e do Alto Acre terão, portanto, extensões amazonense.
bastantes para que introduzidos neles os necessários Encerrados os trabalhos da comissão tripartite, foi re-
melhoramentos, e suficientemente povoados, possam, jeitada a proposta amazonense que fixava os marcos no
em futuro próximo, constituir mais dois ou três Estados rio Envira (Cruzeiro do Sul), perto da Vila Jurapari (Feijó).
da União Brasileira”. Tampouco foi aceita a sugestão do IBGE, que se limitou a
Por conseguinte, centralizou-se a administração nas apresentar os seguintes marcos geodésicos divisores dos
mãos de um governador. Esse, ainda nomeado segundo dois estados amazônicos:
critérios federais, privava os bravos habitantes da região Convém recordar que o IBGE, dada a natureza de suas
de qualquer possibilidade de participação política, com- atribuições, não era órgão competente para dirimir os
prometendo os seus anseios de desenvolvimento econô- conflitos entre as Partes, nem para impor uma solução
mico. Os destinos do Acre estavam, então, sob a tutela obrigatória.
de governantes nomeados pelo Presidente da República, Sua sugestão, entretanto, recebeu o endosso dos par-
à sua conveniência. Essas pessoas eram escolhidas entre lamentares que participaram da elaboração da Constitui-
militares, magistrados e políticos, sem forte vínculo ou ção de 1988, que traz — no Ato das Disposições Cons-
conhecimento necessário de uma realidade tão particu- titucionais Transitórias (ADCT) — o seguinte dispositivo:
lar. Art. 12......... § 5o Ficam reconhecidos e homologa-
Satisfeito o interesse do Amazonas — pelo menos dos os atuais limites do Estado do Acre com os Estados
parcialmente — em fins da década de 50, com o pa- do Amazonas e de Rondônia, conforme levantamentos
gamento do valor arbitrado a título de indenização, o cartográficos e geodésicos realizados pela Comissão Tri-
Presidente João Goulart sancionou a Lei n o 4.070, de partite integrada por representantes dos Estados e dos
15 de junho de 1962, que elevou o Território do Acre à serviços técnico-especializados do Instituto Brasileiro de
categoria de Estado. O projeto que deu origem a esse di- Geografia e Estatística.
ploma legal era de autoria do Deputado José Guiomard Além desse desdobramento, o acordo firmado em
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
dos Santos, figura proeminente do vitorioso movimento Petrópolis no início do século XX daria também ensejo
à propositura de uma ação judicial em 1990. O Acre —
autonomista. Essa campanha, que tinha por bordão “O
com o argumento de que as fronteiras tinham sido esta-
Acre para os acreanos”, materializava o sonho de Plácido
belecidas de direito, mas não de fato, uma vez que não
de Castro e de seus comandados.
figuravam nem nos mapas nem no solo — moveu a Ação
Em outubro de 1962, José Augusto de Araújo — na-
Cível Originária (ACO) no 415, de cunho demarcatório,
tural do município de Cruzeiro do Sul — seria eleito o perante o Supremo Tribunal Federal. Pretendia, assim, ver
primeiro governador daquele Estado, com 7.184 votos, fixada sua divisa material com os Estados do Amazonas
deixando o povo acreano exultante com as perspectivas e de Rondônia, tomando por base limites naturais, como
existentes no cenário político. Essas, entretanto, foram o rio Madeira, o Igarapé dos Ferreira e a Serra do Divi-
frustradas em 1964, com o apoio inconteste do regime sor. Buscava, pois, explicitar a sua interpretação quanto à
militar, que acabou por depor aquele jovem idealista dis- “vontade constitucional”.
52
Essa pretensão foi rechaçada pelo parecer da Procu- A renitente omissão das autoridades federais faz com
radoria-Geral da República no processo, que chega à se- que hoje a solução para a demarcação da divisa entre o
guinte conclusão: Acre e o Amazonas tenha que se pautar, prioritariamen-
Em suma, se, diante de tudo o que se afirmou, a te, pelo interesse do cidadão que habita as áreas limí-
pretensão do Estado do Acre em relação ao Estado do trofes. A pretensão do Estado do Acre relativamente ao
Amazonas não parece justificável, tampouco merece Amazonas não parece justificável, mas tampouco merece
acolhimento a pretensão deste último quanto à simples acolhimento a pretensão deste quanto à simples adoção
adoção da “linha Cunha Gomes” original. O constituinte, da linha “Cunha Gomes” original. Afinal, isso importaria
se não pretendeu chancelar as pretensões expansionis- na absurda situação de submeter ao domínio amazonen-
tas do Estado do Acre, do mesmo modo não parece ter se — por força do disposto em algum documento de
pretendido estabelecer que várias das cidades tradicio- páginas amareladas — várias cidades que há décadas se
nalmente consideradas acreanas passassem a integrar o reconhecem acreanas.
território do Amazonas [...]. Vale lembrar que, ao longo da Constituição de 1988,
Tal parecer obteve o endosso do Ministro Néri da é explícita a preocupação em garantir amplos direitos so-
Silveira, relator da matéria no Supremo, firmando-se o ciais a todo cidadão brasileiro, e um deles, sem dúvida,
entendimento de que os limites do Acre e do Amazonas é o respeito à cultura do indivíduo, ao sentimento que o
devem ser aqueles apontados nos relatórios e nas notas une à terra natal. Ora, o cidadão tem o direito de conhe-
dos serviços técnico-especializados do IBGE, com base cer o nome correto da municipalidade onde mora, vive,
em levantamentos cartográficos e geodésicos, e con- estuda, trabalha e, talvez, morrerá. Ademais, o estabe-
substanciados no relatório final da Comissão Tripartite. lecimento de divisas afeta diretamente o patrimônio, as
Isso porque foram esses os limites reconhecidos e homo- heranças, as questões trabalhistas, entre outras, e define
logados pelo § 5 o do art. 12 do ADCT da Constituição a jurisdição competente. Trata-se, portanto, de um pro-
de 1988, observando-se a necessidade de emprestar à blema de fundo, não de forma.
linha geodésica do limite madeira-javari, quando loca- As autoridades federais parecem menosprezar a ins-
da no terreno, traçado que garanta a jurisdição acreana tabilidade social que a falta da demarcação de divisas
sobre cidades tradicionalmente sob sua jurisdição, como produz, sobretudo para as pessoas diretamente envolvi-
Cruzeiro do Sul, Tarauacá, Feijó, Sena Madureira e Ma- das. Afinal, quando o Estado do Amazonas, por exemplo,
nuel Urbano. recorre à Justiça contra a publicação do mapa do Bra-
O IBGE executou os trabalhos técnicos indispensáveis sil — alegando que a simples notícia do seu lançamento
à execução do julgado, mas o Amazonas — inconforma- “já gerou conflitos quanto às propriedades imobiliárias e
do com os pontos limítrofes definidos pelo órgão técni- desapropriações na jurisdição de Guajará, [...] não sendo
co (91.004 para Cruzeiro do Sul e 91.005 para Feijó), por menor a apreensão do Poder Público de cada Município,
atingirem parcialmente a cidade de Guajará, um de seus eis que a estes cabe garantir a paz social” — comprome-
municípios — decidiu propor, junto ao STF, a Reclamação te, em certa medida, o conteúdo das aulas de Geografia
Constitucional no 1421, em fevereiro de 2000, contra o ministrado a todos os alunos brasileiros.
Presidente do IBGE. Alegou que este não dera cumpri- O Tratado de Petrópolis completou cem anos com
mento ao julgado da ACO no 415, segundo o qual, no pompas e honrarias, prestígio a que decerto também
seu entender, deveriam ser adotados os marcos divisó- fará jus, em 2009, o Tratado firmado com o Peru. Ambos
rios de Estirão do Eliezer e Remanso, como sempre havia são referência para a política externa brasileira, nascida
apregoado. sob o signo da cordialidade e da busca pelo estreitamen-
A Reclamação Constitucional em apreço foi distribuí- to dos laços de amizade com as demais nações da co-
da ao Ministro Gilmar Ferreira Mendes, em 21 de junho munidade mundial. O Brasil é um país reconhecidamente
de 2002, e ainda carece ser apreciada por aquela egrégia afeito à negociação e ao entendimento na defesa de seus
Corte. Entretanto, a Procuradoria-Geral da República, à interesses.
época representada pelo jurista Geraldo Brindeiro, já se O Acre e o Amazonas perdem com a indefinição so-
manifestou no sentido da improcedência do pedido. bre suas divisas. Ela prejudica a boa convivência na re-
Apesar do caráter não-vinculante dos pareceres que gião e pode vir a comprometer futuras parcerias, tão im-
instruem a ação, tudo leva a crer que os argumentos ar- portantes para o fortalecimento do empresariado local.
rolados até o momento pelos magistrados que se pro- O que foi estabelecido e votado, democraticamente,
nunciaram nos autos venham a sustentar, em alguma pelos Constituintes, entre eles amazonenses e acreanos,
medida, a decisão final, conduzindo ao fiel cumprimento deve pôr fim à longa disputa por demarcação de terras.
do disposto no § 5o do art. 12 do ADCT. Dar cumprimento ao § 5o do art. 12 do ADCT, aquiescer
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
O Estado do Acre, até bem pouco tempo, vivia a sina aos relatórios e notas dos serviços técnico-especializados
de Estado periférico. Sua maturidade política foi conquis- do IBGE, fundamentados em cuidadosos levantamentos
tada sob a égide da hipertrofia da Federação e do poder cartográficos e geodésicos, aplacará a angústia de milha-
discricionário dos estados do Sul e Sudeste. res de brasileiros e poderá fazer com que esse desfecho
Entretanto, a Amazônia brasileira goza, hoje, do sta- passe às páginas de nossa história como uma demons-
tus de patrimônio nacional, e conflitos de interesse na tração da sensibilidade e do espírito público das autori-
região não podem ser tratados como questões menores. dades estaduais da Amazônia brasileira.
O interesse internacional pelas reservas hidrominerais e Se não for essa a solução consensual, urge que os di-
extrativistas e pela enorme biodiversidade ali existente rigentes dessas unidades federativas debrucem-se sobre
vem engendrando a revisão conceitual sobre o grau, a a matéria, atualizem a discussão e encontrem uma saída
forma e a substância do pacto federativo brasileiro, ainda condizente com o propósito de vir a fazer da região a
em curso. grande dinamizadora da economia nacional.
53
b) A Microrregião de Rio Branco - Abrange áreas
centro-leste do Vale do Acre, sendo drenados por
rios da Bacia Hidrográfica do Purus (rio Acre e seus
afluentes) e da Bacia Hidrográfica do Madeira (rio
Abunã e seus afluentes). Forma-se pelos municí-
pios de Rio Branco, Porto Acre, Bujari, Capixaba,
Senador Guiomard, Plácido de Castro e Acrelândia.
É a microrregião mais populosa; economicamente,
a mais importante e é também, localização da sede
do poder político estadual em a capital do Estado.
Por estas condições, centraliza a principal praça co-
mercial e as poucas indústrias locais. No conjunto,
isto se materializa com uma enorme disparidade
no padrão de desenvolvimento econômico e nos
serviços prestados, entre a capital e os municípios
Microrregiões vizinhos. Ademais, é nesta região que alguns mu-
No Acre, podemos dizer que com a identificação das nicípios apresentam os maiores índices de áreas
microrregiões geográficas, tentou- se apreender tais desmatadas (como Acrelândia com 27,73%, Plá-
especificidades. Porém, as dificuldades operacionais fi- cido de Castro com 41,45% e Senador Guiomard
zeram que o processo social produtor de especificida- com 51,41%, conforme dados da Fundação de Tec-
des, ainda não fosse apreendido em sua forma integral nologia do Acre FUNTAC em 1999, citado in: ACRE,
manifestada. Com estes termos, do ponto de vista de 2000). Disto provém ser esta região área de grande
operacionalização, os limites políticos dos territórios mu- expansão das atividades agrícolas e pecuárias no
nicipais, ainda são as bases concretas para definir as mi- Estado. Partindo das situações constatadas, pode-
crorregiões. Todavia, é inegável que isso já significou um mos afirmar que nesta microrregião, sob o ponto
avanço na tentativa de captar as diversidades regionais de vista dos processos sociais que a reproduz, já
acreanas. há uma diferenciação regional consolidada inter-
namente. Se tivermos a regionalização como um
Plano microrregional, no Vale do Acre: processo de busca de eficiência aos programas e
a) A Microrregião de Brasiléia - Localizada no Sul do políticas de desenvolvimento, é necessário iniciar
Estado, abrange os municípios de Brasiléia, Epita- esta discussão com vista a possibilidade de uma
ciolância, Xapuri e Assis Brasil. No tocante ao aglo- divisão microrregional. Possivelmente, seja mais
merado urbano, Brasiléia junto com Epitaciolân- viável retornaremos mais adiante.
dia e a cidade boliviana de Cobija, forma âmbito c) A Microrregião de Sena Madureira - Situa em áreas
macrorregional, caracteriza-se como a segunda
centrais território acreano, sendo que suas terras
área com maior expressividade da vida urbana na
estendem de norte a sul do Estado, corresponden-
Amazônia-acreana. Isto reflete na tendência da fir-
do aos municípios de Sena Madureira, Manoel Ur-
mação, aí, de um centro comercial em territórios
bano e Santa Rosa do Purus. São drenados pelos
binacionais, de que a cidade pelo Rio Acre em tre-
rios Purus e seu afluente Iaco, que constituem nas
chos de seu médio e alto curso e, com exceção de
principais vias de transportes por extensas áreas da
Xapuri, os demais são áreas de limites internacio-
nais com as repúblicas da Bolívia e do Peru. Sob o microrregião. Os municípios de Sena Madureira e
ponto de vista natural, caracteriza-se por floresta Manoel Urbano, em sua porção norte, é cortando
densa, onde sobressai uma flora diversificada mui- pela BR-364 (sentido leste/oeste), de onde partem
ta valiosa em espécies. Isto fez desses territórios, diversas estradas vicinais em áreas de colonização
áreas densamente povoadas por seringueiros, e fazendas de criação de gado bovino. O predo-
desde a ocupação inicial do Acre pela frente pio- mínio majoritário de áreas florestais faz do traba-
neira extrativista no final do século XIX. Dado essa lhador florestal o seringueiro, um sujeito social de
situação com o avanço da frente pioneira agro- grande expressão no ambiente rural, junto aos co-
pecuária recente, tornaram-se áreas de intensos lonos, ribeirinhos e fazendeiros. Há também vários
conflitos e luta pela terra. Isto reflete na realidade grupos indígenas que habitam áreas dos altos rios,
recente da questão agrária acreana com a implan- sendo que a maioria já produz numa economia de
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
tação grandes fazendas de criação bovina, áreas de subsistência, baseada na agricultura e até na cria-
colonização e áreas de unidades de conservação ção de poucos animais bovinos (sem, contudo, ter
de uso direto e indireto. Dentre as unidades de deixado a caça e a pesca), os quais regionalmente
conservação de uso direto, a Reserva Extrativista são denominados de “cablocos”.
Chico Mendes é também uma expressão da luta
dos trabalhadores extrativistas na conquista de seu Mesorregião Geográfica do Juruá temos:
território de vivência. Aliado a isso a participação a) A Microrregião de Cruzeiro do Sul - Corresponde a
política e efetiva dos trabalhadores em sindicatos parte mais ocidental do Acre em que se localizam
rurais, cooperativas e associações, demonstra uma os municípios de Cruzeiro do Sul, Mâncio Lima,
região bastante suscetível a projetos alternativos Rodrigues Alves, Porto Walter e Marechal Thau-
de desenvolvimentos. maturgo. Trata-se de uma área fronteiriça com a
54
República do Peru, na costa oeste, sendo que suas população indígena é bastante numerosa em tri-
terras estendem de norte a sul do Estado. São áre- bos que habitam áreas na divisa com a República
as drenadas pelo Rio Juruá e seus afluentes, desta- do Peru. Aí, domínio dos rios como via de acessibi-
cando como principal o Rio Moa. As características lidade é marcante, juntamente com a floresta que
geomorfológicas irregulares demonstram um rele- cobre, em alguns casos, praticante quase a totali-
vo que estende de planícies às áreas serranas (na dade do território municipal, como é a situação de
Serra do Divisor, que já é formação pré-andina). Aí Jordão. Jordão é a cidade mais isolada da microrre-
a floresta é dominante, sendo que os municípios gião, localizada no alto curso do Rio Tarauacá. No
com maiores percentuais de seus territórios des- plano de sua localização e das formas de produção
matados são: Rodrigues Alves com 7,30% e Cruzei- social estabelecidas, vemos uma maior proximida-
ro do Sul com 4,21%. Com essas especificidades, de com os municípios de Marechal Taumaturgo e
teve-se em áreas dessa microrregião a instalação Porto Walter, de que com os municípios de Feijó e
do Parque Nacional da Serra do Divisor (Criado em Tarauacá. Aí, como já mencionamos, vemos uma
16/06/1986 pelo Decreto Federal n° 97 839) que é identidade regional que se forja.
a maior Unidade de Conservação de Uso Indireto
no Acre; e, a Reserva Extrativista do Alto Juruá (RE- São estes os pontos básicos possíveis de captar dessa
SEX Alto Juruá) que foi a segunda Unidade de Con- configuração regional elaborada e aplicada após 1989.
servação de Uso Direto criada no Estado, já na dé- Praticamente, o emprego dessa regionalização em
cada de 1990. As áreas desmatadas correspondem nível de direcionamento a aplicação de políticas públicas
a: antigas localidades ribeirinhas, proximidades das de desenvolvimento pouco fora utilizado. Somente no fi-
cidades e vilas e margens das estradas existentes; nal da década de 1990, essa divisão regional seria base
aí se localizam áreas de colonização e fazendas de territorial mapeada, para a (re)nominação das microrre-
criação de gado bovino. Dados essas característi- giões como “regionais de desenvolvimento”, embora a
cas em áreas florestais, a medida que se afasta dos concepção de região aí fosse diferente da concepção de
núcleos urbanos, as figuras sociais que sobressai “região geográfica”. Esta “nova regionalização” se deu
é a do seringueiro e colono ribeirinho, em antigos no plano da gestão territorial que a equipe que governa
seringais e áreas da atual RESEX do Alto Juruá, e de o Acre (no momento em que estamos produzindo esta
indígenas (extratores, coletores e agricultores de análise), implantou para a efetivação de suas ações polí-
diversas nações), em áreas de reservas. A cidade ticas em territórios definidos.
de Cruzeiro do Sul, com uma população pouco su-
perior a quarenta mil habitantes (a segunda cidade Atuais municípios
do Estado em população), exerce a condição de nú-
cleo central em nível microrregional, o que confere
certa liderança sobre os demais municípios. Toda- Município Mesorregião Microrregião
via, entendemos que aí, dado a situações atuais,
inclusive com a implantação de novos municípios Acrelândia Vale do Acre Rio Branco
(Rodrigues Alves, Porto Walter e Mal. Thaumaturgo Assis Brasil Vale do Acre Brasileia
em 1991/92), a distância física e as características
Brasileia Vale do Acre Brasileia
dos processos produtivos a que submete cada lu-
gar, já se fazem necessário rediscutir as possibili- Bujari Vale do Acre Rio Branco
dades de outra divisão microrregional, juntamente Capixaba Vale do Acre Rio Branco
com a microrregião de Tarauacá.
Cruzeiro do Sul Vale do Juruá Cruzeiro do Sul
b) A Microrregião de Tarauacá - Localiza-se em áre-
as centrais do Estado, em recorte territorial que se Epitaciolândia Vale do Acre Brasileia
estende de norte a sul. Corresponde aos municí- Feijó Vale do Juruá Tarauacá
pios de Tarauacá, Jordão e Feijó em áreas drena-
das pelos rios Tarauacá e Envira respectivamente Jordão Vale do Juruá Tarauacá
(afluentes do Juruá). Na parte norte dos territórios Manoel Urbano Vale do Acre Sena Madureira
dos municípios de Feijó e Tarauacá, a BR-364 faz Marechal Thau- Vale do Juruá Cruzeiro do Sul
a ligação por terra entre as duas cidades e de for- maturgo
ma precária, dessas com Rio Branco e Cruzeiro do
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Sul. São nesses trechos da Rodovia que se localiza Mâncio Lima Vale do Juruá Cruzeiro do Sul
as principais áreas de colonização e fazendas de Plácido de Castro Vale do Acre Rio Branco
criação bovinas (o que também ocorre em áreas ri- Porto Acre Vale do Acre Rio Branco
beirinhas, porém com menor frequência), mas com
menos representação que noutras microrregiões. Porto Walter Vale do Juruá Cruzeiro do Sul
Nas áreas florestais a população seringueira é pre- Rio Branco Vale do Acre Rio Branco
dominante e, sejam em terras firmes (áreas centrais Rodrigues Alves Vale do Juruá Cruzeiro do Sul
distantes dos rios) ou ribeirinhas (às margens), aí
praticam atividades diversas que vai desde a tra- Santa Rosa do Vale do Acre Sena Madureira
dicional coleta extrativa, até práticas de pequenas Purus
lavouras e de criação de gado bovino. Também a
55
Serena Madureira Vale do Acre Sena Madureira Tais usos aparentemente conflitantes com a lei atual,
indicam a necessidade de ajustes da legislação, que
Senador Guio- Vale do Acre Rio Branco levem em conta o conhecimento da geomorfologia e
mard das características dos solos, que podem contribuir para
Tarauacá Vale do Juruá Tarauacá um melhor uso, tendo como unidade de planejamento
a bacia hidrográfica. Um caminho mais adequado seria
Xapuri Vale do Acre Brasileia
uma regionalização da legislação, que deve ser espe-
cífica e adequada a cada bacia hidrográfica, devido às
Relevo, vegetação e suas características, clima,
peculiaridades do ambiente e dos usos tradicionais.
solo, hidrografia, fluxo migratório, extrativismo e
Guerra (1955) relata que o Acre não possui tantas ex-
Zoneamento Ecológico do Acre
tensões de várzeas como as que ocorrem no baixo Ama-
Relevo
zonas. Entretanto, os rios de maior volume, como Juruá,
Principais formações geológicas do Estado do Acre
Tarauacá, Chandless e Purus, possuem extensas várzeas
As principais formações geológicas identificadas no
que são utilizadas frequentemente com cultivos agrícolas
Acre, encontram-se no Quadro 1. Neste subitem, tentar-
de grande importância à subsistência tais como o milho,
-se-á descrever desde a beira do rio (Aluviões Holocêni-
a melancia, o feijão, hortaliças, entre outros. Tais ambien-
cos) até o topo da paisagem onde foram identificadas
tes são absolutamente essenciais para os povos ali resi-
a Formação Solimões e a Cobertura Detrítica-Laterítica
dentes, e seu cultivo remonta há mais de um século de
Pleistocênica.
agricultura dos ribeirinhos tradicionais na região.
Aluviões Holocênicos
Coluviões Holocênicos
Este material ocorre às margens dos rios e igarapés.
Os Coluviões Holocênicos são originados a partir de
São sedimentos recentes e formam as praias. Grande
sedimentos oriundos da erosão lenta e gradual que in-
parte do material terroso tem a sua possível origem no
cide nas encostas e topos dos morros adjacentes. Este
desbarrancamento dos rios (solapamento). A granulo-
material que se desloca lentamente ao longo das verten-
metria do material depositado às margens dos rios de-
tes, e se deposita nos sopés do morro, é denominado de
pende da energia da água dos cursos d’água. Onde são
colúvio. Sua idade é do Holoceno, e são portanto recen-
mais enérgicas (maior correnteza) ocorrem sedimentos
tes (dos últimos 10.000 anos ou 10 Ka). Quanto à classe
mais grosseiros (areia), e nas mais calmas depositam-se
de solos predominam os Argissolos e Latossolos, além
materiais mais finos (argila e silte).
de Plintossolos.
Apesar da extensa cobertura vegetal, os rios do Acre
são muito barrentos e carreiam grande quantidade
Terraços Holocênicos
de sedimentos finos. Supõe-se, pela extensa cobertu-
O conceito geológico de Terraço é a de uma super-
ra vegetal, que a erosão laminar não seja tão intensa.
fície plana ou levemente inclinada, em geral com frente
É possível que a argila suspensa seja proveniente do
escarpada de beira do rio, que já foi inundado (aluvião).
encaixamento atual da drenagem erodindo as bordas
Atualmente, em razão do aprofundamento do talvegue
dos terraços antigos, ou ainda à erosão dos solos mui-
(do rio), as cheias afetam esses níveis apenas eventual-
to intensa durante as primeiras chuvas. Pesquisas para
mente (grandes cheias) (Figura 16), ocasionando graves
identificar a origem desses sedimentos e da verdadeira
problemas urbanos, como no caso de Rio Branco e seus
causa da elevada turbidez da maioria das águas super-
bairros centrais (CARMO, 2007).
ficiais (barrentas), devem ser implementadas. Rios que
drenam áreas geologicamente mais antigas e arenosas,
Terraços Pleistocênicos
como o rio Moa, não possuem tal carga sedimentar ar-
São mais antigos que 10.000 anos, mas em geral não
gilosa. Outra causa possível é o próprio fluxo lateral de
devem ultrapassar 100.000 – 150.000 anos. Semelhante
argilas (translocação de argilas) devido ao proceso de
ao anterior quanto ao relevo e também com relação à
podzolização dos solos do Acre, além do desbarranca-
localização, diferindo apenas no maior tempo de forma-
mento dos terraços.
ção. Por serem mais antigos, estão normalmente mais
Os Aluviões, sedimentos próximo às margens mais
distantes da calha dos rios, acima do Terraço Holocênico
baixas dos rios, estão sujeitos ao encharcamento tem-
subatual. São menos suscetíveis às cheias dos rios. Nes-
porário nos períodos de cheia dos rios. Nestes locais
tas áreas, está situada a maioria das cidades e comuni-
formam-se Gleissolos e Neossolos Flúvicos. A depender
dades ribeirinhas, principalmente nas regiões de relevo
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
56
(BRASIL, 1976). Corresponde a parte superior da paisa- Horizonte transicional: imediatamente abaixo do ho-
gem onde atualmente encontram-se os solos mais evo- rizonte argiloso e contato direto com a Formação Soli-
luídos pedogeneticamente como os Latossolos (topo da mões, caracteriza-se pela coloração mais clara do que a
paisagem – mais planos, Argissolos (terço médio) e Plin- da Formação Solimões.
tossolos (terço inferior). Geologicamente a FSin é forma- Observam-se também na região stone lines (linhas
da de rochas sedimentares, dominantemente pelíticas, de pedras) nos perfis, em corpos argilosos entre a zona
altamente fossilíferas, sob a forma de argilitos (argila) de esferólitos e o solos pedobioturbado. Tais estrutu-
com intercalações de siltitos (silte), arenitos finos, calcá- ras constituem-se de fragmentos de lateritos em matriz
rios e material carbonoso (linhito), micáceos. Ambiente argilo-arenosa. Costa (1991) associa essas estruturas
redutor, a época a deposição; predominantemente lacus- à dissecação do relevo regional durante o Terciário e o
tre, localmente fluvial e flúvio-marinho, com estratifica- Quaternário. Tais linhas são de dimensões métricas e de
ções paralelas e cruzadas tabulares e acanaladas. espessura centimétricas. O diâmetro dos grânulos varia
Embora esta seja a definição geológica da Formação, de unidades de milímetros a de centímetros e são deriva-
dos dos lateritos imaturos (horizonte ferruginoso), sobre
em algumas regiões, como Capixaba, devido à intensa
os quais se assentam. As coberturas detrito-lateríticas
pedogênese os solos são intensamente intemperizados
apresentam na cobertura latossólica areno-argilosa.
e os fósseis, se existentes, já foram destruídos. Isto não
Alguns depósitos de “piçarras” equivalem aos stone
impede que haja no horizonte C e no sedimento (rocha)
lines, outros são de fato os próprios horizontes concre-
onde são mais preservados. Semelhantemente os calcá- cionários dos lateritos imaturos. Na área em questão, a
rios já foram muito intemperizados no climatropical úmi- definição da origem dessas estruturas é prejudicada pela
do atual. falta de continuidade dos perfis.
A parte superior, fortemente microestruturada, de-
Coberturas Detrito-lateríticas Neopleistocênicas pende da atividade pedobiológica para sua formação, e
Dispõe-se sobre os sedimentos da Formação Solimões os remanescentes de petroplintita em processo de de-
e restringem-se a parte sudeste do Estado. Compõem-se gradação são feições comuns em todos os perfis de La-
de sedimentos argilo-arenosos de cor amarelada, cau- tossolos. Segundo C. Schaefer, (informação pessoal) os
liníticos, parcial a totalmente pedogeneizados. Costa Latossolos Vermelhos da região seriam basicamente pro-
(1991) reconheceu dois principais eventos de laterização dutos do intemperismo da canga, e a hematita, herdada
durante o Cenozóico (últimos 65 Ma): um primeiro, no da petroplintita.
Eoceno-Oligoceno, formador das lateritas maduras ricas
em caulinita e outro mais bem recente, no Pleistoceno, Vegetação e suas características
formador das lateritas imaturas com alto teor de ferro. A Foram identificadas no estado, onze tipologias flo-
cobertura detritolaterítica neopleistocênica é, portanto, restais: Floresta Aberta com Palmeira das Áreas Aluviais
similar. A laterita é também conhecida como canga ou (5,48%), Floresta Aberta com Palmeiras (7,77%), Floresta
concreções ferruginosas. Elas são utilizadas em constru- Aberta com Palmeiras e Floresta Densa (12,12%), Floresta
ções e em especial em leitos de estradas. Densa e Floresta Aberta com Palmeiras (7,20%). Floresta
Horizonte ferruginoso (petroplintita): ocorre na por- Densa (0,53%), Floresta Densa Submontana (0,47%). O
ção superior do perfil e exibe nódulos, concreções, es- bambu (ou “tabocal”) ocorre em cinco tipologias: Flores-
ferólitos e fragmentos compostos de oxihidróxidos de ta Aberta com Bambu Dominante (9,40%), Floresta Aber-
ferro em matriz argilosa e terrosa. Outra feição obser- ta com Bambu e Floresta Aberta com Palmeira (26,20%),
vada é uma crosta formada de oxi-hidróxido de ferro Floresta Aberta com Palmeira e Floresta Aberta com
entrelaçando porções argilosas amareladas. A tonalidade Bambu (21,02%), Floresta Aberta com Bambu em Áreas
dominante desse horizonte é marrom-avermelhada com Aluviais (2,04%), Floresta com Bambu e Floresta Densa
matriz/cimento (quando presente), branco-amarelada. (0,36%).
O Acre é o quarto estado, na Amazônia Legal, com a
As estruturas dominantes desse horizonte são os nódu-
maior preservação da cobertura florestal, com 11,3% de
los, concreções e plasmas (micro a criptocristalino), em
seu território desflorestado. Esta taxa global é muito in-
seguida há os canais em forma de raízes e colunas cen-
ferior à taxa da região, que atingiu 16,3%. Em relação aos
timétricas, aquelas resultantes de lixiviação, como caver-
estados da região, o Acre somente fica atrás de Rorai-
nosas são mais restritas. ma, que tem grande parte de seu território ocupado por
Horizonte argiloso: ocorre logo abaixo do ferrugino- Reservas indígenas; do Amapá, cuja população é basica-
so. É constituído dominantemente por argilominerais. A
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
57
Os totais pluviométricos anuais variam entre 1600 mm para esses teores. Contudo, tais teores, na solução do
e 2750 mm, e tendem a aumentar no sentido Sudeste- solo, podem não ocorrer na natureza, sendo um artefato
-Noroeste. As precipitações, na maior parte do estado, criado pela metodologia analítica utilizada. A sua fitoxi-
são abundantes e sem uma estação seca nítida. Os meses cidade pode também ser reduzida pelos elevados teores
de junho, julho e agosto são os menos chuvosos. de cálcio e magnésio nesses solos (GAMA; KIEHL, 1999),
A temperatura média anual fica em torno de 24,5 °C, sendo também provável que parte do alumínio em so-
mas a máxima pode ficar em torno de 32 °C. A tempera- lução seja consumida para a neoformação de caulinita
tura mínima varia de local para local em função da maior (MARTINS, 1993). As estimativas das recomendações de
ou menor exposição aos sistemas extratropicais. correção da acidez nesses solos devem ser feitas utilizan-
do o critério de elevação da saturação por base e não os
Solo teores de alumínio trocável (WADT, 2002).
Os dados de campo coletados pelo projeto, aos quais A generalização da aptidão agrícola dos Argissolos
foram agregadas informações disponibilizadas por tra- é difícil, devido à variabilidade de profundidade efetiva,
balhos anteriores, tornaram possível a identificação das gradiente textural, fertilidade e limitações de drenagem,
principais classes de solo do estado do Acre, descritas a associados à sua ocorrência em diversas fases de relevo.
seguir. Contudo, aqueles que ocorrem em relevo plano e suave
ondulado, sem limitações de caráter físico, com corre-
Argissolos ção de acidez e bom manejo de fertilizantes apresentam
Essa classe compreende solos minerais, não hidro- boas condições ao uso agrícola intensivo. A vegetação
mórficos, que apresentam horizonte B textural (Bt) com original predominante sobre esses solos é Floresta Om-
perfis bem desenvolvidos, profundos a medianamente brófila Densa e Floresta Ombrófila Aberta com Palmeiras
profundos. Trata-se de um horizonte mineral subsuperfi- (ACRE, 2006).
cial com textura franco arenosa ou mais fina, onde houve
incremento de argila. Em geral, apresentam elevado gra- Cambissolos
diente textural ou pouca expressão do gradiente, desde Essa classe compreende solos minerais não hidrmór-
que o horizonte B seja bem estruturado e manifeste forte ficos, com estágio intermediário de formação, se com-
cerosidade na superfície de seus agregados estruturais. parados a Argissolos ou Latossolos, predominando no
Distinguem-se dos Latossolos pelo aumento acentuado centro e no oeste do estado e na região dos rios Purus e
dos teores de argila entre os horizontes superficiais (A) Tarauacá-Envira.
esubsuperficiais (Bt) (EMBRAPA, 2013). São solos rasos e imperfeitamente drenados, em sua
Os Argissolos predominam nos dois extremos do es- maioria, muito férteis, desenvolvidos dos sedimentos da
tado, sendo menos frequentes na área central. Apresen- Formação Solimões e caraterizados por elevados teores
tam caráter predominante distrófico (baixa fertilidade) de areia fina e silte, predominando nas classes texturais
na parte ocidental e caráter alítico ou alumínico na par- francossiltosa e arenosa. Em geral, os perfis de Cambis-
te oriental. Devido à ocorrência de textura mais arenosa solos descritos no Acre são eutróficos e álicos, alguns
no horizonte superficial e, muitas vezes, uma drenagem com elevados teores de fosforo em subsuperfície (AN-
restrita no horizonte subsuperficial, os Argissolos são JOS et al., 2013).
suscetíveis a processos de erosão hídrica, principalmente Esses solos apresentam mineralogia distinta, com ar-
quando ocorrem em relevo ondulado ou forte ondulado gilas de atividade alta (Ta), principalmente os minerais ti-
.Muitos Argissolos da região do Baixo Acre apresen- pos 2:1 e 2:2 (esmectita, ilita, entre outros) e ausência de
tam horizonte ou caráter plíntico em estado avançado de gibsita e reduzidos teores de óxidos de ferro (BERNINIet
destruição das petroplintitas, que, muitas vezes, são re- al., 2013; MARTINS, 1993; MÖLLER; KITAGAWA, 1982).
siduais, sendo essa expressão um relicto de um período Quando secos, apresentam consistência dura ou ex-
mais úmido no passado. tremamente dura, alguns com fendas (caráter vértico);
Os Argissolos das regiões dos rios Juruá e Taraua- quando úmidos e molhados, são muito plásticos e pe-
cá--Envira também apresentam elevada capacidade de gajosos, o que dificulta seu uso e manejo. A presença
troca de cátions (CTC) e, muitas vezes, elevados teores de argilas de atividade alta (Ta) condiciona uma drena-
de cálcio e magnésio associados a elevados teores de gem restrita; por outro lado, quando as argilas são de
alumínio trocável. A ocorrência de Argissolos, Luvissolos atividade baixa (Tb), a drenagem varia de moderada a
e Cambissolos com teores muito elevados de alumínio bem drenada (AMARAL et al, 2013; BARDALES, 2005;
(MARTINS, 1993; VOLKOFF; MELFI; CERRI, 1989) é fre- BRASIL, 1977).Quanto ao potencial agrícola e utilização,
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
quente em solos cujo material de origem são sedimentos apesar de férteis, quando ocorrem em relevo ondulado
da Formação Solimões tanto no Acre quanto no Amazo- ou forte ondulado apresentam elevada suscetibilidade à
nas (COELHO et al., 2005; MACEDO et al.,2008; MARQUES erosão e a deslizamentos (Figura 4.10).
et al., 2002). Tais teores, aparentemente, não são tóxicos As ocorrências na região oeste do estado, quando
para a maioria das plantas (GAMA; KIEHL,1999). A presen- apresentam reduzida profundidade efetiva e restrições
ça de minerais de argila (montmorilonita, ilita, vermiculi- dedrenagem interna do solo, também apresentam limi-
ta e esmectita) com alumínio interestratificado (MÖLLER; tações a diversos cultivos sensíveis à hipóxia (AMARAL et
KITAGAWA, 1982; VOLKOFF; MELFI; CERRI, 1989) extraível al., 2013).
pelo extrator (KCl 1N) utilizado nas análises químicas para A vegetação original predominante nesses solos é
determinação do alumínio trocável em solos (BERNINI et Floresta Ombrófila de Terras Baixas com Bambus e Pal-
al., 2013; MARQUES et al., 2002) é uma das explicações meiras (ACRE, 2006).
58
Luvissolos Uma limitação à sua mecanização é a presença de ar-
A classe de Luvissolos compreende solos minerais, gila de atividade alta, que confere a esses solos elevada
não hidromórficos, com horizonte B textural (Bt), argi- plasticidade e pegajosidade. Entretanto, sua maior limi-
la de atividade alta (Ta) e saturação por bases acima de tação ao uso agrícola associa-se a má drenagem e risco
50%. A transição entre os horizontes A e Bt é clara ou de alagamento em determinadas épocas do ano.
abrupta(EMBRAPA, 2013). Ocorrem associados a Neossolos Flúvicos e são uti-
No âmbito do estado do Acre, os Luvissolos predo- lizados na chamada “agricultura de vazante”. São solos
minam em grandes áreas na região de Tarauacá-Envira, formados sob vegetação hidrófila ou higrófila herbácea,
estando presentes também nas proximidades de Porto arbustiva ou arbórea, formações vegetais que foram clas-
sificadas no Acre como Floresta Ombrófila Aberta Aluvial
Acre, Rio Branco, na região do baixo Acre.
com Palmeiras, Floresta Ombrófila Densa Aluvial Dossel
Ocorrem associados a Cambissolos em áreas de rele-
Uniforme, Formações Pioneiras com Influência Fluvial,
vo movimentado e a Gleissolos em fundos de vales – to- sendo também o ambiente onde ocorrem os buritizais,
dos solos férteis. Em sua maioria, são pouco profundos, áreas endêmicas do buritizeiro (Mauritia flexuosa) (ACRE,
localizados em relevo movimentado (Figura 4.13), com 2006).
presença de argilas ativas e drenagem deficiente (AMA-
RAL et al., 2013). Latossolos
Sua aptidão agrícola, apesar da elevada fertilidade, A classe dos Latossolos compreende solos minerais
é limitada por elevada suscetibilidade à erosão, ao fen- não hidromórficos, caracterizados, normalmente, por
dilhamento, devido à presença de argilas expansivas e, uma sequência de horizontes A, Bw (latossólico) e C, com
para algumas culturas, pela má drenagem (AMARAL et pouca diferenciação entre os horizontes; em geral, apre-
al.,2006). A vegetação original predominante nesses so- sentam transição plana e difusa entre os horizontes(EM-
los é Floresta Ombrófila de Terras Baixas com Bambus e BRAPA, 2013).
Palmeiras(ACRE, 2006). O horizonte B latossólico constitui um horizonte mi-
neral bastante intemperizado, evidenciado por completa
Gleissolos ou quase completa ausência (>4%) de minerais primários
Compreendem solos hidromórficos, constituídos por facilmente intemperizáveis. Exibe estrutura forte muito
material mineral; apresentam horizonte glei. Trata-se de pequena ou pequena granular, ou em blocos subangu-
um horizonte mineral subsuperficial ou eventualmente lares; Apresenta textura franco arenosa ou mais fina e
reduzidos teores de silte.
superficial, caracterizado por cores neutras ou mosquea-
Os Latossolos ocorrem na região do baixo Acre, prin-
das que refletem a prevalência de processos de redução,
cipalmente nos municípios de Acrelândia, Plácido de
com ou sem segregação de ferro, em decorrência de sa-
Castro e Senador Guiomard, estando presentes também
turação por água durante algum período ou o ano todo. em Cruzeiro de Sul e Mâncio Lima, na região ocidental do
São solos mal ou muito mal drenados em condições estado. São profundos (BRASIL, 1976; RODRIGUES,2003a,
naturais, tendo cores acinzentadas e teores variáveis de b), constituídos, predominantemente, pela fração argila
carbono orgânico (EMBRAPA, 2013).Em sua maioria, os (cauliníticos), sendo classificados, em sua maioria, como
gleissolos identificados no estado do Acre estão localiza- argilosos ou muito argilosos. Nos horizontes subsuperfi-
dos às margens de rios e igarapés,tendo se desenvolvido ciais, as argilas se encontram quase que em sua totalida-
a partir de sedimentos colúvio-aluviais quaternários. A de floculadas.
maioria das ocorrências desses solos no estado do Acre Os Latossolos são encontrados, predominantemen-
apresenta encharcamento durante longos períodos do te, em relevo plano ou suave ondulado, embora tenham
ano, resultando em condições anaeróbicas e consequen- sido observados em áreas de relevo movimentado, com
te redução do íon férrico para o íon ferroso no processo boa a excelente drenagem, mesmo quando apresentam
denominado gleização, que se caracteriza pela presença textura muito argilosa.
de cores acinzentadas ou azuladas, devido à solubiliza- Caracterizam-se por baixa fertilidade natural,
ção do ferro, que se transloca e reprecipita, formando um com teores muito reduzidos de bases trocáveis e fósforo
mosqueado de cores. e elevada saturação por alumínio; têm, contudo, grande
No estado do Acre, a maioria dos Gleissolos potencial de uso para agricultura intensiva e pecuária,
apresenta elevada fertilidade natural (AMARAL et al., face às boas propriedades físicas e quando associados a
relevo plano e suave ondulado, o que facilita o manejo
2013). A natureza do material de origem, a posição na
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
59
Plintossolos Neossolos Flúvicos
Os Plintossolos são solos minerais formados em am- Essa classe de solo compreende solos minerais pou-
bientes de reduzida drenagem, apresentando horizon- co desenvolvidos, com pequena expressão dos proces-
teplíntico, petroplíntico ou litoplíntico (EMBRAPA, 2013). sos pedogenéticos em consequência de características
O horizonte plíntico constitui um horizonte mineral do próprio material de origem, desde maior resistência
de espessura igual ou maior que 15 cm, caracterizado ao intemperismo à composição química com materiais
pela presença de plintita em quantidade igual ou supe- mais resistentes. Sua posição na paisagem e o relevo ge-
rior a15% por volume de solo. A plintita se refere a um ralmente aplainado contribuem para redução dos pro-
corpo distinto de material rico em óxidos de ferro ou de cessos de intemperismo (EMBRAPA, 2013). Os Neosso-
ferroe alumínio, com a propriedade de endurecer irrever- los Flúvicos estão associados, principalmente, ao dique
sivelmente (petroplintita) sob o efeito de ciclos alterna- aluvial, às partes mais elevadas do interior da várzea e
dos de umedecimento e secagem. às áreas planas próximas aos rios denominadas praias.
A característica mais marcante dessa classe é a pre- Os Gleissolos que, geralmente, ocorrem associados, de-
sença de manchas (mosqueados) de cores contrastantes senvolvem-se na parte mais interior e mais rebaixada da
(tons de amarelo e vermelho) com a matriz, geralmente, várzea.
esbranquiçada. Quando apresentam concreções endure- Na classe de Neossolos Flúvicos estão incluídos os so-
cidas (petroplintitas), são denominados Plintossolos pe- los que foram anteriormente classificados, principalmen-
troplínticos. te, como Solos Aluviais (BRASIL, 1976, 1977). Os Neosso-
Os Plintossolos, frequentemente, são encontrados em los Flúvicos doestado do Acre ocorrem, principalmente,
áreas deprimidas, planícies aluvionares e terços inferiores às margens de rios como Purus e Juruá, bem como às
de encosta, situações que implicam reduzida drenagem. margens de lagos associados aos maiores rios acreanos.
No estado do Acre predominam Plintossolos distróficos Os solos que apresentam caráter eutrófico estão asso-
ou álicos. Na divisa dos municípios de Rio Branco e Sena ciados ao processo de colmatagem de sedimentos ricos,
Madureira, próximo ao igarapé Jaguarão, foi identifica- principalmente do rio Juruá, onde a quantidade de se-
da uma área com predomínio desses solos (ACRE, 2006), dimentos é grande e há teores elevados de bases, em
observando-se, ainda, outras ocorrências localizadas na geral, cálcio e potássio, cujas fontes são minerais de ar-
região do baixo Acre, próximo ao curso dos rios. gila, esmectita, ilita e feldspatos potássicos (MARTINS et
Em geral, são imperfeitamente drenados, à exceção al., 2009). Em sua maioria, os Neossolos Flúvicos, assim
daqueles que se apresentam com horizonte petroplín- como os Gleissolos, são férteis e desempenham impor-
tico, que, em sua maioria, são moderadamente ou mal tante papel na produção agrícola familiar da região. São
drenados. Os Plintossolos Pétricos, geralmente, são en- intensamente utilizados pelos agricultores ribeirinhos
contrados em relevo suave ondulado e ondulado. Por durante o período de vazante, quando se formam as
outro lado, os Plintossolos Háplicos, apesar de ocorrerem praias.
em relevo plano e suave ondulado, propícios à mecaniza- Os principais cultivos são hortaliças, feijão-caupi –
ção, apresentam limitações devido à reduzida drenagem também denominado feijão de praia (Vigna unguiculata)
e baixa fertilidade (AMARAL et al., 2013). –, milho (Sitophilus zeamais) e melancia (Citrullus lana-
Na Amazônia e, particularmente, no estado do Acre, tus). A potencialidade agrícola é aumentada em função
ocorre a mortalidade de pastagens da espécie Brachiaria de sua posição geográfica próxima aos rios, o que, teo-
brizantha, que parece estar associada a áreas de má dre- ricamente, facilita o escoamento por via fluvial. Entretan-
nagem. Valentim, Amaral e Melo (2000) realizaram um to, essas áreas apresentam sérias restrições para culturas
zoneamento de risco dessa anomalia de causa desco- perenes e silvicultura, devido a permanecerem alagadas
nhecida, devendo ser evitadas as áreas com problemas durante parte do ano. Nas áreas de ocorrência de Neos-
de drenagem, assim como os terrenos com Plintossolos solos Flúvicos e Gleissolos, ocorre, frequentemente, o
Háplicos que ocorrem próximos às áreas de drenagem e/ desbarrancamento das margens no leito do rio, fenôme-
ou Plintossolos Pétricos com restrição de drenagem ou no conhecido localmente como “terras caídas”.
ainda solos com caráter petroplíntico. Trata-se de solos formados sob vegetação hidrófila
Em solos dessa classe, em épocas de intensa preci- ou higrófila herbácea, arbustiva ou arbórea. No Acre, es-
pitação, pode ocorrer acúmulo de água e redução de sas formações vegetais foram classificadas como Floresta
oxigênio, como também redução de ferro para formas
Ombrófila Aberta Aluvial com Palmeiras, Floresta Ombró-
mais solúveis e tóxicas, que pode ser a causa da morte do
fila Densa Aluvial Dossel Uniforme, Formações Pioneiras
braquiarão (Brachiaria brizantha), à semelhança do hipo-
com Influência Fluvial, sendo também o ambiente onde
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
60
A coloração é bastante variável, podendo apresentar Quando secos, esses solos apresentam grandes fen-
tonalidades acinzentadas, amareladas ou avermelhadas, das (>1 cm de largura) (EMBRAPA, 2013) (Figura4.27). No
em função de óxidos de ferro. São, normalmente, bem a Acre, as ocorrências mostram uma textura predominante
excessivamente drenados e sua capacidade de retenção muito argilosa, com cores acinzentadas e amarronzadas.
de água é muito reduzida. Apesar de boa fertilidade, têm limitações de uso pela
A fertilidade natural é muito baixa, com carência ge- movimentação, devido à expansão e contração, pela pre-
neralizada de nutrientes. Considerando tais característi- sença de fendas e consistência muito dura nos períodos
cas, esses solos apresentam restrições para uso e neces- secos. A baixa permeabilidade os torna suscetíveis ao
sitam de grande aporte de corretivos e fertilizantes para processo erosivo (AMARAL et al., 2013, BARDALES, 2005).
se tornarem produtivos, razão pela qual, geralmente, não
apresentam viabilidade econômica.
Hidrografia
Espodossolos Os rios acreanos, possuem grande importância para a
Os Espodossolos são predominantemente arenosos, navegação, transporte de mercadorias e pessoas e para
com acúmulo de matéria orgânica e compostos de fer- a fixação das populações ribeirinhas. Os principais rios
roe/ou alumínio em profundidade, denominados hori- do Acre são: Uma pequena parte do Rio Negro, Rio Moa,
zonte diagnóstico subsuperficial B espódico (Bh). Trata- Breu, Tarauacá, Envira, Alto Purus, Purus, Iaco, Acre, Tejo,
-se de um horizonte mineral subsuperficial que apresenta Rio Abunã e Rio Juruá.
acumulação iluvial de matéria orgânica e compostos de
alumínio, com presença ou não de ferro iluvial. Em ge-
Fluxo migratório
ral, a estrutura do horizonte B espódico é maciça e pode
O processo histórico da Região Norte apresenta-se,
se apresentar sob forma consolidada e de consistência
grosso modo, subdividido em três grandes períodos de
extremamente dura, sendo denominado, nesse caso, ors-
ocupação demográfica e econômica.
tein. Ao horizonte A, de cor cinza-escuro ou preta, se-
A primeira fase, iniciada com a descoberta do terri-
gue-se um horizonte E esbranquiçado, que, por sua vez, tório amazônico por parte dos colonizadores portugue-
é normalmente seguido por um horizonte de coloração ses, desenvolveu-se até a expulsão completa dos demais
preto-amarronzada (Bh) ou preto-amarelada (Bsh) (EM- grupos europeus que tentavam se estabelecer na Região.
BRAPA, 2013). A ocupação teve como características principais a distri-
No Acre, geralmente são profundos, com acentua- buição e a dispersão da população ao longo dos rios e
do contraste de cor entre os horizontes, sendo, por isso, principais afluentes. A partir do momento que os por-
facilmente distinguíveis no campo. Em algumas ocor- tugueses tiveram a posse definitiva da região, a mesma
rências, devido à limitada drenagem do horizonte es- passou a ser considerada apenas como reservatório de
pódico, há encharcamento temporário nos períodos de produtos florestais e das drogas do sertão” A segunda
maiores precipitações (AMARALet al., 2013). Paradoxal- fase corresponde ao período imperial e cuja economia
mente, esses solos, por sua textura arenosa e estrutura baseou-se, principalmente, na coleta de espécies flo-
em grãos soltos, apresentam reduzida capacidade de restais, passando do ciclo das “drogas do sertão” para
armazenamento de água; a vegetação, nesses locais, so- o ciclo da borracha. Na segunda metade do século XIX
fre períodos de estresse por deficiência hídrica durante até 1920, a região alcançou um crescimento econômico
a estiagem. Nesse ambiente predominam as formações considerável com base na exploração da borracha, o que
vegetais conhecidas como Campinaranas e Floresta Om- provocou uma intensa demanda de mão-de-obra e, por
brófila Densa de Terras Baixas (ACRE, 2006). sua vez, uma grande migração de nordestinos expulsos
Esses solos apresentam sérias restrições ao uso agrí- pelas secas. Surgiu, então, um grande número de novos
cola, condicionado por textura are-nosa, fertilidade na- povoados, vilas e cidades com o intuito de comercializar
tural muito baixa, reduzida capacidade de reter água e a produção gomífera e fornecer alimentos aos extratores.
nutrientes. No caso do horizonte espódico cimentado Assim, Belém e Manaus tomaram-se os principais centros
(orstein), há restrições pelo excesso de água devido à de distribuição e comercialização da produção que era
drenagem deficiente do horizonte espódico. enviada para os mercados externos (europeu e ameri-
Esses solos, muitas vezes, são objeto de extração de cano). Com o colapso da borracha, vieram, então, outras
areia, de ampla utilização na construção civil; entretanto, atividades extrativas (como, por exemplo, a castanha),
pela fragilidade desse ambiente, sua exploração deve ser porém mais localizadas quanto aos seus efeitos demo-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
61
É a partir dessa década que irão acontecer profundas essa problemática social fosse instituída, de fato, como
modificações na dinâmica demográfica da Região Norte. ação política, com objetivo de buscar apoio do governo
A população, que estava próxima a 1,9 milhão, em 1960, federal.
passou, em 1980, para quase 6 milhões de habitantes. “Verificando essa situação, o governo do Estado, por
Delinearam-se, de forma mais nítida, novas tendências meio da nossa secretaria, decidiu buscar parceria com
demográficas na Região, com a migração de nordestinos outros órgãos para que pudéssemos começar a buscar
e sulistas em busca de «novas fronteiras» para explorar, soluções para essa situação e criar um protocolo com
e a maior urbanização que surge com a impossibilidade todas as diretrizes sobre o acolhimento de migrantes e
de fixação da crescente população nas zonas rurais. Prin- refugiados do Acre”, garante a secretária de Direitos Hu-
cipalmente na década de 70, verifica-se o impacto dos manos.
programas governamentais sobre a dinâmica demográ- Até agora, já foram realizadas duas reuniões para tra-
fica da Amazônia. tar o assunto. Na primeira delas, a convite da SEASDHM,
Com base nas décadas de 70 e 80, pretende-se fazer veio uma representante do Alto Comissariado das Na-
um estudo sobre as migrações interestaduais ocorridas ções Unidas, além de representantes do Ministério Pú-
na Região Norte, levando-se em consideração os com- blico Estadual (MPE), do Ministério Público do Trabalho
ponentes intra-regional e interregional. (MPT), Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pú-
blica da União (DPU), Defensoria Pública do Estado (DPE),
Atualmente acadêmicos e sociedade civil.
Nos últimos anos, o Acre tem acompanhado a cres-
Novo acordo com a União
cente no número de migrantes passando pelo estado.
Conforme a diretoria no Acre, alguns encaminhamen-
Sem nenhuma pesquisa aprofundada, percebe-se que
tos levantados durantes as reuniões recentes, fez com
a presença de pessoas de diversas nacionalidades che-
que a secretaria tivesse conhecimento de uma Ação Civil
gando ao estado através da fronteira é cada vez maior.
Pública ajuizada pelo MPT em 2015, chamando a União
Mais recentemente, os venezuelanos foram notados com
para financiar essa política no estado. A Ação chegou a
maior presença. Estes, devido ao cenário de crise em que
vive o país – política, econômica e social. um acordo, mas que não fora cumprido.
Mesmo a porta de entrada dos venezuelanos para o “Por isso, nós junto com o MPT vamos cobrar o cum-
Brasil sendo o estado de Roraima, que faz fronteira com primento do acordo e quem sabe até propor um novo
a Venezuela, o Acre tem sido o lugar onde eles têm pas- acordo, com a nossa atual realidade com relação às mi-
sado na tentativa de se refugiar da fome e da falta de grações. Por esse motivo, já há uma audiência agendada
oportunidades. Ultimamente, já passaram mais de 40 com a União para o dia 6 de novembro, na sede do MPT
venezuelanos pelo Acre, fora os que não procuram a se- aqui no Acre”, detalha Francisca Brito.
cretaria de Estado de Assistência Social, dos Direitos Hu- Simultaneamente, ainda há trabalhos voltados ao
manos e de Políticas para Mulheres (SEASDHM). Protocolo de Atendimento a Migrantes e Refugiados,
Assis Brasil é a cidade por onde mais passam mi- que está sendo desenhado no estado. Ocorre que para
grantes, em virtude da fronteira com o país vizinho Peru. efetivação dessas ações, o Acre precisa de apoio finan-
“Devem ter passado muitos mais, já que muitos não nos ceiro do governo federal. “E o governo [do Acre] está
procuram e seguem sua viagem”, salienta a diretora de fazendo todo possível para que isso seja resolvido o mais
Direitos Humanos da SEASDHM, Francisca Brito. Para breve possível”, diz Brito.
acompanhar essa nova fase pela qual o Acre e tantos
outros estados brasileiros têm vivido, o governo agora Ações paliativas
busca alternativas que se encaixem no artigo 120 da Lei Na tentativa de atenuar os problemas causados pelo
Federal n. 13.445/2017, que trata sobre a nova Lei de Mi- aumento significativo de migrantes tendo o Acre como
gração no país. rota, a SEASDHM afirma que tem buscado acompanhar
“A política de migração será implementada pelo Po- os migrantes os nos procuram para a regularização da
der Executivo Federal em regime de cooperação com os documentação junto à Polícia Federal (PF). “A Prefeitura
Estados e Municípios. A grande dificuldade em imple- de Rio Branco tem aberto o Centro Pop para que eles
mentar e articular essa política está no aporte econômi- [migrantes] possam fazer sua higiene. O Acre é rota de
co, que como já vimos é o mesmo problema dos outros passagem, a maioria não quer ficar por aqui, mas seguir
estados do Brasil que tem recebido migrantes”, diz Brito. para outros Estados”, explica a diretora.
Conforme os números colhidos pela secretaria de O Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) é a
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Assistência Social, tem entrado pelas fronteiras acreanas comissão interministerial, sob o âmbito do Ministério da
uma quantidade grande de pessoas de outros países, fu- Justiça, responsável por receber as solicitações de refú-
gindo de crises econômicas em seus países, catástrofes gio, e determinar se os solicitantes reúnem as condições
ambientes, ou perseguições políticas. Francisca ressalta necessárias para serem reconhecidos como refugiados,
que os motivos são vários e que “apesar de todas as di- por isso, o estado não possui com exatidão o número de
ficuldades o Brasil tem tentado dar um acolhimento hu- migrantes que já passaram pelo Acre este ano.
manitário para essas pessoas”. Para ter o reconhecimento do pedido de refúgio,
O Acre passou a ser rota desse fluxo migratório há que é analisado pelo CONARE, é preciso que o migrante
pouco tempo, desde 2010. No entanto, segundo repre- preencha os requisitos necessários, pois há obrigações
sentantes da atual secretaria, ainda não havia sido co-
específicas voltadas aos refugiados nos termos do direito
locada em prática nenhuma política estadual para que
internacional.
62
Migrantes X Refugiados encontrar uma resposta à questão. Como conferir um ca-
Brito confirma que nos últimos meses tem, sim, cres- ráter sustentável a uma Reserva marcada pelo descaso e
cido a presença de migrantes venezuelanos no Acre. necessidade de diversificação da produção?
“Desde 2010 já passaram pelo Acre migrantes de mais Vale ressaltar ainda que esse artigo é resultado da
de 20 nacionalidades”, assegura. Ela ainda aponta para análise de várias obras, que abordam diversos aspectos
a importância de diferenciar a situação de migrantes e referentes a problemática em questão; a compreensão
refugiados. Segundo a diretora, é preciso entender que de distintas abordagens, conferindo importância a dife-
nem todo migrante é refugiado ou solicitante de refúgio. rentes aspectos, deu margem para a afluência de infor-
“Refugiadas são pessoas que estão fora de seus paí- mações necessárias a abordagem que será apresentada.
ses de origem por fundados temores de perseguição, Mudança no padrão de organização do espaço Ama-
conflito, violência ou outras circunstâncias que pertur- zônico
bam seriamente a ordem pública e que, como resultado, Até meados de 1960, a Amazônia brasileira, estava ar-
necessitam de “proteção internacional”. ticulada, em termos de produção e circulação de produ-
Enquanto que migrantes são indivíduos que se deslo- tos e pessoas, por meio dos rios, pois eles correspondiam
cam dentro de um espaço geográfico, de forma tempo- às vias de acesso aos lugares dentro de toda a Amazônia,
rária ou permanente, para áreas onde o sistema produ- o que os conferia importância significativa, principalmen-
tivo concentra uma maior ou uma melhor oportunidade te por serem responsáveis pelo transporte da borracha,
de trabalho. dos lugares mais longínquos do interior da Amazônia,
Os refugiados e solicitantes de refúgio possuem ne- as casas aviadoras de Belém e Manaus. Todo o proces-
cessidades específicas e direitos que são protegidos por so produtivo da Amazônia do final do século XVII até o
uma estrutura legal específica. No caso do que vem ocor- início do século XX se dava em função da borracha, a mi-
rendo no Acre, Brito destaca que o ideal é referir-se a gração intensiva dos nordestinos em 1860, principalmen-
esses grupos mistos em deslocamentos como “migrantes te vindos do Ceará e do Rio Grande do Norte, para traba-
e refugiados”, e não apenas como “refugiados”. lhar nos seringais amazônicos, conferem essa afirmação.
O que se quer mostrar na verdade é que a Amazônia até
Extrativismo 1960 era condicionada pelos rios, (GONÇALVES, 2008
A desativação dos seringais e a implantação da pe- p.79), mas isso não significa que as estradas nesse perío-
cuária extensiva de corte no final da década de 60 no do não existissem, ou não tivessem importância, todavia
Acre trouxeram mudanças profundas no modo de vida pode-se afirmar que o rio correspondia o eixo principal
da população local, no entanto, a maioria desses traba- de ligação entre os lugares.
lhadores rurais permaneceram nos seringais, muitos de- A intensificação das estradas e dos grandes projetos,
les tornando-se seringueiros autônomos em relação aos propostos pelos militares no início de 1960, como es-
seringalistas ou arrendatários. Pode-se observar ainda tratégia de dominação dos lugares, confiou a Amazônia
que a luta pela permanência do trabalhador na mata, ou mudanças significativas, já que o escoamento produtivo
seja, pela posse do meio de sobrevivência, a terra, passa passou a se intensificar pelas estradas. O surgimento das
a se combinar com um movimento mais geral e de ca- estradas propiciou o acesso a diversos lugares da região,
ráter ecológico. Dessa combinação – luta pela sobrevi- lugares antes inexplorados, que ao serem desvendados
vência e defesa ecológica – resultou o apoio de diversas passaram a dar visibilidade às riquezas presentes na re-
entidades do movimento ambientalista internacional, e gião, fato que fez com que novos agentes produtivos, e
mesmo nacional, dada a resistência dos seringueiros no novas práticas econômicas adentrassem o território ama-
Acre. Mas vale lembrar que a criação das Reversas Extra- zônico.
tivistas não cessou o processo de luta desses trabalhado- Quando uma nova geografia social se engendra mu-
res rurais. As dificuldades atualmente encontradas pelas dam, como não poderia deixar de ser, as relações dos
famílias residentes na Reserva Alto Juruá refletem essas lugares entre si e dos espaços entre eles e, assim, mudam
questões, e pode-se dizer com isso, que as justificativas as hierarquias, as escalas. É a ordem social que muda.
para essa investigação advêm da preocupação com a Nessa nova geografia que se engendra no Brasil a partir
ausência de uma política de planejamento que realmen- dos anos cinquenta o próprio sentido da territorialidade
te esteja interessada em viabilizar o caráter ecológico e brasileira estará se redesenhando, posto que novos su-
sustentável, que caracterizam uma Reserva Extrativista, já jeitos se insinuam instituindo novas territorialidades. Não
que o Plano de Utilização proposto para assegurar a auto só passamos a ter novos meios de transportes, mas tam-
sustentabilidade da Reserva, possui muitas fragilidades. bém novos portadores que se fazem através dos media-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
Portanto inicialmente será abordado o processo de dores, eles mesmos transportadores de práticas sociais
mudança no padrão de organização do espaço Amazô- possíveis pelos novos significados dos lugares nas novas
nico, e seus embates com as antigas atividades extrativis- relações societárias que se estão engendrando (GON-
tas, em seguida será dado ênfase ao processo de forma- ÇALVES, 1999. p 77).
ção das reservas extrativistas no Acre, e suas implicações Pode-se afirmar também, que o novo padrão de or-
para os agentes envolvidos; posteriormente serão enfati- ganização do espaço, fundamentado nas estradas, trou-
zadas, dentro de um contexto atual, as condições socioe- xe mudanças políticas para a Amazônia, novos agentes
conômicas da população residente na reserva Alto Juruá, socioeconômicos vieram atuar na região, causando a
tal como seu modo de vida e as atividades econômicas marginalização da antiga elite tradicional representada
por elas realizadas, e de que maneira elas se posicionam pelos seringalistas e os chamados barões da borracha.
como atividades sustentáveis. O objetivo aqui sucede em Esse novo padrão trouxe a pecuária como atividade
63
predominante para território acreano, causando a rei- passaram a comercializar outros produtos, associando-se
vindicação dos seringueiros pelos seus direitos, já que o a comerciantes locais, ou mesmo aos novos protagonis-
seu modo de vida foi totalmente alterado. tas da ocupação do espaço regional, os pecuaristas.
Com isso investimentos maciços para energizar a vin- A Amazônia passa a ser inserida então, na nova divi-
culação da Amazônia ao resto do Brasil passaram a fazer são nacional/internacional do trabalho como exportado-
parte da estratégia de dominação dos militares. O pri- ra de matéria-prima, todavia não mais da produção do
meiro momento da nova organização do espaço foi o de látex e sim como exportadora de minerais e da produção
atrair mão-de-obra para a construção das grandes obras madeireira. Nesse contexto, o Estado do Acre, como se já
de infraestrutura, tais como: estradas, energia, comunica- não bastasse o seu histórico de lutas pela independência
ção, etc. para instalação de possíveis indústrias na região. do território, passa a ser palco de novas problemáticas
Neste momento, grandes estradas foram construídas na de lutas entre o extrativismo, dos seringais falidos e a
Amazônia, como, por exemplo: a Belém-Brasília, a Bra- pecuária com suas respectivas classes produtoras e ca-
sília-Cuiabá-Santarém, a Brasília Cuiabá-Porto Velho-Rio pitais de interesses divergentes, alimentados pelas mais
Branco, além da Transamazônica. No mapa abaixo pode- diferentes razões (SEVÁ, 2002, p. 14).
mos observar algumas dessas rodovias, que auxiliaram a A pecuária extensiva de corte dá margem ao sur-
Amazônia no chamado processo de integração nacional. gimento de novas problemáticas socioambientais de-
Através desse processo de integração a Amazônia apa- correntes da modificação do modo de vida tradicional,
receu no cenário internacional como fonte de riquezas, devido ao surgimento dos latifúndios e da utilização pre-
fato que gerou forte interesse econômico por parte de datória dos recursos naturais. É a partir daí, com a inicia-
outras regiões brasileiras, e a intensificação de novas prá- tiva e articulação de grupos de resistência ao desmata-
ticas produtivas, em detrimento dos antigos seringais. mento e de defesa da terra e do modo de vida tradicional
A crise gerada pelo petróleo, na década de 70, afe- é que vão surgir novas ideias baseadas na defesa e re-
tou diretamente os países importadores como o Brasil, sistência a imposição do grande capital intensivo, ideias
e trouxe mais uma vez mudanças políticas e econômicas essas que vão desencadear no surgimento das reservas
para a região amazônica, já que com a crise do petróleo extrativistas no Acre.
as empresas que controlavam o mercado mundial do se- A luta pela terra, e a institucionalização das reservas
tor aumentaram significativamente o preço do combustí- extrativistas
vel, fato que contribuiu gradativamente para o aumento Como se pode observar, a história da proposta das
da dívida externa brasileira, já que os cofres brasileiros Reservas Extrativistas no Acre nos remete ao movimen-
teriam que desembolsar valores altíssimos para obter o to organizado de trabalhadores - extrativistas principal-
produto. Com isso grande parte dos investimentos que mente seringueiros - em vários estados da Amazônia,
inicialmente seriam voltados para as obras de infraestru- num contexto de chegada de grupos econômicos do Sul
tura na Amazônia passam a ser direcionados para sub- na década de 70 e de crise da borracha, com os antigos
sidiar usineiros do setor canavieiro, pois eles estavam proprietários abandonando os seringais e mudando de
enfrentando uma grave crise econômica. É a partir desse atividade. Há um deslocamento para atividades como a
momento, que a Amazônia passa a ser observada como madeireira, a criação de gado e o gerenciamento de lo-
nova fonte de riqueza para o país, devido ao seu forte jas e armazéns comerciais nos núcleos urbanos e cidades
potencial mineral e agropecuário. próximas.
Diante dessa crise, atividades como a pecuária exten- A entrada dessas novas atividades econômicas fez
siva se mostram como mais viáveis para a região, devido com que as populações dessas áreas de floresta come-
aos preços mais baixos de suas terras, afinal são áreas çassem a ter sua reprodução social e econômica amea-
de fronteira mais afastadas dos grandes centros econô- çada, em função dessas mudanças. Nos primeiros anos
micos; vale lembrar que a criação de bovinos no Estado da década de 1980 os seringueiros começaram a realizar
do Acre sempre foi uma atividade secundária, tendo em vários encontros, tendo em vista discutir a situação em
vista que na época em que a borracha estava no auge de questão e possíveis soluções, ficando claro que eles não
suas atividades na Amazônia, os seringalistas proibiam queriam sair dos seringais onde tradicionalmente viviam
qualquer outra atividade que tirasse o foco da extração com suas famílias. Nesse contexto há uma percepção por
da borracha, tanto que nesse período a carne bovina era parte dos seringueiros, de que a luta pela preservação de
sua forma de organização socioeconômica ganharia for-
importada da Bolívia para suprir a demanda local. Além
ça através da articulação com a conservação ambiental,
da pecuária, a mineração e a atividade madeireira são
pois as condições de vida das populações agroextrati-
implantadas na Amazônia e impostas como principal al-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
64
Já como parte da preparação do 1° Encontro Nacional a gestão das Reservas Extrativistas é de responsabilidade
dos Seringueiros em 1985 ocorre uma série de Encontros do governo federal e da entidade de representação dos
Regionais onde são debatidas e aprovadas uma série de seus moradores, de preferência uma associação, porque
ideias (teses) que, depois, em Brasília serão apreciadas e no caso dos sindicatos geralmente suas bases territoriais,
aprovadas em um documento final onde os seringueiros, que são municipais, são maiores que as das Reservas.
por si mesmos, através de suas entidades próprias, ma- Não podemos esquecer o caráter ambientalista das
nifestam suas demandas. Assim em Ariquemes, Rondô- Reservas Extrativistas, que conferiu ao IBAMA - Institu-
nia, nos dias 31 de agosto e 1° de setembro de 1985, os to Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais
seringueiros explicitaram a relação de seu modo de vida Renováveis - a função de fiscalização sobre os recursos
com o dos índios e declararam que: Da mesma maneira naturais da floresta; ocorrência que gerou conflito com
como os índios tem uma reserva indígena, seria interes- os representantes das Reservas, uma vez que a tomada
sante que se tivesse também uma reserva para os serin- das decisões por parte do IBAMA podiam não ser com-
gueiros... (Gonçalves, 2003 p. 556) patíveis á vontade dos representantes das Reservas, além
A Reserva Extrativista é assim uma invenção no campo disso, os moradores tinham dúvidas em quem procurar
do direito, que expressa uma territorialidade construída em caso de pequenas confusões ou de problemas com
no terreno movediço da história com e contra diferentes extrema urgência. A fim de resolver essas questões, for-
protagonistas (Gonçalves, 2003 p. 555). Territorialidade malizou-se um conjunto de leis para reger o uso dos re-
construída por uma demanda de trabalhadores com cursos naturais na Reserva Extrativista pelos moradores,
componentes de justiça social, que tentam assegurar de o Plano de Utilização, que consiste na formalização das
todas as formas, a manutenção de um modo de vida, regras e deveres que devem ser assumidos pelos mora-
que não se construiu por acaso, e que estava sendo visto dores da reserva; ao Plano de Utilização caberia: registrar
como um retrocesso diante do novo padrão de organiza- por escrito as formas costumeiras e já implementadas
ção socioeconômico na Amazônia. de manejo dos recursos naturais, que se haviam mos-
Após o 1° Encontro Nacional dos Seringueiros, em trado eficazes no passado para manter a floresta em pé
1985, as pressões de movimentos sociais e ambientalis- e conservar as seringueiras e a caça, de modo a fixar os
tas foram intensificadas a favor da criação das Reservas costumes já estabelecidos pelas populações tradicionais
Extrativistas. Fato que se ativou após o assassinato de (ALMEIDA & FRANCO, 2000 p. 3).
Chico Mendes, visto que, ainda em vida, ele foi responsá-
vel pela repercussão internacional das políticas ditas de
desenvolvimento para a região amazônica. Com isso, em Zoneamento Ecológico do Acre
1990, foi criada a primeira reserva extrativista no Estado Criado em 2007, o Zoneamento Ecológico Econômi-
do Acre, a reserva Alto Juruá, resultado de várias lutas e co do Acre (ZEE) foi concebido com a proposta de ser o
embates, como bem já foi ressaltado. instrumento estratégico de planejamento e gestão ter-
A história de criação da Reserva passou por momen- ritorial, cujas diretrizes e critérios passam a nortear as
tos diversos, iniciando-se na migração de nordestinos políticas públicas estaduais voltadas ao desenvolvimento
para a Amazônia ocidental, passando pelo sistema de sócio-econômico-sustentável e à promoção do bem-es-
produção e trabalho dos seringais, pela luta do movi- tar da população.
mento sindical no Vale do Juruá, pela inclusão das causas A lei de sua criação diz que o ZEE tem como objeti-
ambientais na luta dos seringueiros e, por fim, chegou-se vo geral orientar o planejamento, a gestão, as atividades
à proposta de Reserva Extrativista, um modelo diferen- e as decisões do poder público, do setor privado e da
ciado de ocupação do território e utilização dos recursos sociedade em geral, relacionadas ao uso e ocupação do
naturais. (REZENDE, 2010 p. 3) território, considerando as potencialidades e limitações
Com isso podemos dizer que uma Reserva Extrativista do meio físico, biótico e socioeconômico, visando a im-
caracteriza-se por respeitar a forma de ocupação e uso plementação prática do desenvolvimento sustentável.
dos recursos tradicionais, comandados por uma deman- A proposta de revisão do ZEE se baseia no Diário
da de trabalhadores com componentes de justiça social Oficial de que é preciso atualizar o zoneamento com as
e de conservação ambiental, dentro de um modelo de experiências acumuladas e transformações sociais, am-
propriedade bastante diferenciado. As Reservas Extrati- bientais e econômicas ocorridas desde sua implantação.
Para que isso aconteça o governo instituiu a Comis-
vistas se apresentam assim, como um laboratório vivo,
são Estadual do Zoneamento Ecológico- -Econômico
para a busca de um modelo de desenvolvimento que se
(CEZEE), vinculada à Secretaria de Estado da Casa Civil,
faça com e a partir de populações que tem um saber efe-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
65
O Programa Zoneamento Socioeconômico-Ecológi- Ações Previstas no PPA 2020-2023 para este projeto:
co do Acre expressa uma visão estratégica do governo - Ação 1: Elaboração de Ordenamento Territorial Lo-
e da sociedade no planejamento regional e gestão do cal – OTL.
território acreano, bem como a formulação de políticas - Ação 2: Revisão de Ordenamento Territorial Local
públicas com a utilização do Mapa de Gestão na escala – OTL.
1:250.000.
E o projeto de revisão e atualização do ZEE-Acre, O documento de 2007 traz que:
mostra-se uma iniciativa fundamental para a demarcação
das zonas econômicas e ambientais do território acrea-
Dos Princípios, Diretrizes e Objetivos
no, visando garantir o desenvolvimento sustentável do
Estado, em consonância com a Lei Nacional de Florestas, Art. 2° O Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado
que propicia a inserção de novas áreas ao processo pro- do Acre, doravante denominado ZEE, tem como obje-
dutivo. tivo geral orientar o planejamento, a gestão, as ativi-
Pensar um Acre próspero, desenvolvido socioeco- dades e as decisões do poder público, do setor privado
nômico e ambientalmente necessita de um ZEE técnico, e da sociedade em geral, relacionadas ao uso e ocu-
preciso e eficiente, que funcione como indutor de polí- pação do território, considerando as potencialidades
ticas públicas, de forma participativa com aqueles que e limitações do meio físico, biótico e socioeconômico,
diretamente são impactados pelas políticas geradas. visando a implementação prática do desenvolvimento
Não restam dúvidas quanto a eficiência do ZEE e de sustentável.
seu potencial para o desenvolvimento do Estado, mas
é necessário atualizá-lo, pois a última versão foi finali- Art. 3º O ZEE será implementado com base em zonas
zada em 2006 e transformada em Lei em 2007 (Lei nº e subzonas definidas a partir de unidades territoriais
1904/2007).
com características afins relacionadas ao meio biofísi-
Por isso, o Governo do Estado do Acre, respaldado
co, padrões de ocupação e uso dos recursos naturais.
pelo Decreto Federal nº 4.297/2002, reorganiza a Comis-
são de Zoneamento Ecológico-Econômico – CEZEE, atra- Parágrafo único. As indicações e recomendações cons-
vés do Decreto Estadual nº 4.673, de 14 de novembro de tantes do ZEE vinculam todas as políticas, programas,
2019, para fins de Revisão e Atualização do Zoneamento projetos e investimentos, públicos ou privados, a se-
Ecológico-Econômico do Estado do Acre. rem realizados no Estado do Acre.
Os estudos e seus resultados servirão de subsídio
para Governo Gladson Cameli alavancar o desenvolvi- Art. 4º Para fins de ordenamento territorial a área do
mento sustentável do Estado. Estado do Acre fica dividida em quatro zonas, assim
Ações Previstas no PPA 2020-2023 para este projeto: distribuídas:
- Ação 1: Revisão do Mapa de gestão do ZEE; I – Zona 1: consolidação de sistemas de produção sus-
- Ação 2: Elaboração do Resumo Executivo do ZEE; tentáveis;
- Ação 3: Elaboração dos estudos temáticos relativos II – Zona 2: uso sustentável dos recursos naturais e
ao Zoneamento edafoclimático e Zoneamento de proteção ambiental;
risco climático;
III – Zona 3: áreas prioritárias para o ordenamento
- Ação 4: Implementação, monitoramento e avaliação
territorial; e IV – Zona 4: cidades do Acre.
do ZEE – Fase III.
Parágrafo único. Cada zona se dividirá em subzonas,
Projeto: Ordenamento Territorial Local – OTL com diretrizes específicas para o uso do território.
A construção de Ordenamento Territorial Local – OTL
mostra que o planejamento para a elaboração de instru- Art. 5° As subzonas são partes componentes de uma
mentos de gestão territorial e ambiental é uma das for- zona, constituídas por unidades homogêneas, base do
mas de se evitar a ocupação desordenada do território. planejamento do uso sustentável e subdivididas, em
No Acre, os principais desafios estão relacionados alguns casos, em unidades de manejo.
com a regularização fundiária e a resolução do passivo
ambiental florestal. A Lei nº 1.904, de 5 de junho de 2007 que institui o
O Ordenamento Territorial, em escala municipal, sur- Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado do Acre –
ge como importante ferramenta de planejamento para ZEE, está disponível em:
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
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Caraterísticas e Importância da Bacia Amazônica De tal maneira, os rios possuem dois períodos: um de
cheia e outro menor, de seca (estiagem). Com frequência,
a mata do local é inundada sazonalmente pelos rios que
a compõem, o qual passa a ser denominado de Mata de
Igapó.
Rios
A região hidrográfica da Amazônica é formada por
córregos, restingas, praias, igarapés, matas inundadas,
lagos de várzea, dentre outros. Assim, muitos rios cau-
dalosos formam a Bacia Amazônica sendo os principais:
- Rio Amazonas
- Rio Negro
- Rio Solimões
- Rio Madeira
- Rio Trombetas
- Rio Purus
- Rio Tapajós
- Rio Branco
- Rio Javari
- Rio Juruá
- Rio Xingu
- Rio Japurá
A Bacia Amazônica possui 7 milhões de Km2 de ex- - Rio Iça
tensão aproximadamente, no qual cerca de 4 milhões
de Km2 estão no território brasileiro (que corresponde a Principais rios do Acre
42% do território nacional). No Acre, a drenagem é feita por extensos rios de
Além do Brasil, ela abrange diversos países da Amé- direção Sudoeste-Nordeste e, todos pertencem à rede
rica Latina: Peru, Bolívia, Colômbia, Equador, Venezuela, hidrográfica do Rio Amazonas. Os rios apresentam pa-
Guiana e Suriname. ralelismo e mudanças de direções dos seus cursos, uma
característica bastante comum resultante das falhas e
Está localizada em grande parte no norte do país e
fraturas geológicas.
uma porção do centro-oeste, nos estados do Amazonas,
Os rios Juruá, Purus, Acre, Tarauacá, Iaco, Envira e
Pará, Amapá, Acre, Roraima, Rondônia e Mato Grosso. Xapuri são os mais importantes do estado.
Por ser a maior bacia hidrográfica do Brasil e do mun- Na parte central do estado, os principais cursos
do, a Bacia Amazônica possui grande importância am- d’água são o Rio Tarauacá, o Purus com seus principais
biental uma vez que detém uma das maiores quantida- afluentes pela margem direita, o Chandless e seu tribu-
des de água doce do planeta. tário Iaco com seu afluente pela margem esquerda, o Rio
A região abriga a maior Floresta Tropical do mundo, Macauã e o Rio Acre com seu subsidiário, o Antimari.
a Floresta Amazônia, a qual apresenta uma rica biodiver- A noroeste encontramos os rios Gregório, Tarauacá,
sidade da fauna e da flora. Possui a maior diversidade de Muru, Envira e Jurupari. A oeste do estado estão presen-
peixes do mundo, com cerca de 3.000 espécies. tes o Rio Juruá e seus principais afluentes Moa, Juruá Mi-
rim, Paraná dos Moura, Ouro Preto, pela margem esquer-
O Rio Amazonas é o segundo rio mais extenso do
da, o Valparaíso, Humaitá e Tejo, pela margem direita.
mundo (cerca de 7 mil km de extensão) e o maior em vo-
As duas principais bacias do estado são a do Acre-Pu-
lume de água. É um rio de planície com baixo declividade rus e a do Juruá.
que possui grande potencial de navegação. O local apre- Bacia do Acre-Purus: o Rio Purus nasce no Peru e en-
senta mais de 20 mil quilômetros de vias fluviais nave- tra no Brasil com a direção Sudoeste-Nordeste, é o se-
gáveis e ainda, o maior potencial de geração de energia gundo maior representante da drenagem do estado. À
hidrelétrica do Brasil. altura do paralelo de 09000’S, inflete de Oeste-Sul-Oeste
A navegação no rio é feita por barcos de pequeno, para Leste-Norte-Leste, mantendo esta direção até rece-
médio e grande porte. Considerada uma atividade eco- ber o Rio Acre. Posterior a este ponto, retoma a direção
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
nômica essencial da região (transporte de produtos agrí- anterior Sudoeste para Nordeste até penetrar no estado
colas, por exemplo), esse fator auxilia na vida das diver- do Amazonas. Apresenta um curso extremamente sinuo-
so e meândrico estendendo-se pelas extensa e contínuas
sas populações ribeirinhas que lá vivem.
faixas de planícies.
Dessa forma, as hidrovias correspondem ao meio de Bacia do Juruá: O Rio Juruá drena uma área de 25.000
transporte mais importante de deslocamento e comuni- km² dentro do estado. Nasce no Peru com o nome de
cação entre as cidades da região. Paxiúba a 453 m de altitude, unindo-se depois com o
A região Amazônica apresenta um relevo relativa- Salambô e formando então o Juruá. Ele atravessa a parte
mente plano e o clima equatorial (uma vez que está pró- noroeste do estado, sentido S-N, entra no Amazonas e
ximo da Linha Equador), com elevadas temperaturas e despeja suas águas no Rio Solimões. O Juruá é um rio
alto índice pluviométrico, de forma que apresenta chuvas de planície, com todas as características de correntes de
em quase todos os meses do ano. pequeno declive.
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Lista de rios do Acre: numa rede hierárquica viviam o “poder de mando e con-
• Rio Acre trole” do seringal, ou seja, o seringalista, o gerente, os
• Rio Acuriá guarda-livros (responsáveis pela escritura e contabilida-
• Rio Acurauá de do armazém), os caçadores e canoeiros (encarregados
• Rio Amônea do complemento para a alimentação).
• Rio Aparição O hoje Estado do Acre, naquela época, pertencia à
• Rio Breu Bolívia e Peru e era uma grande área fornecedora de bor-
• Rio Caeté racha. A mesma foi, pouco a pouco sendo ocupada por
• Rio Caipora seringueiros e seringalistas brasileiros, o que gerou uma
• Rio Chandless “fronteira móvel” entre Brasil, Peru e Bolívia (MACHADO,
• Rio Envira 1989). Em 1903 a fronteira-limite com a Bolívia fora de-
• Rio Embirá finida com a assinatura do Tratado de Petrópolis e em
• Rio Gregório 1909 um outro Tratado define a fronteira-limite com o
• Rio Grajaú Peru. Após a assinatura do Tratado de Petrópolis foi cria-
• Rio Humaitá do o Território do Acre e instituída a sua primeira divi-
• Rio Iaco são política-administrativa, da qual fora fundada os setes
• Rio Jurupari (07) primeiros núcleos de povoamento do Território, dos
• Rio Juruá quais três nasceram como cidades e quatro como vilas.
• Rio Juruá-Mirim Nesta divisão política-administrativa, o Acre fora divi-
• Rio Ouro Preto dido em três (03) departamentos (Alto Acre, Alto Purus e
• Rio das Minas Alto Juruá) e instituída/implantada as cidades-sedes dos
• Rio Moa Departamentos: Empresa (atualmente Rio Branco), Sena
• Rio Muru Madureira e Cruzeiro do Sul, e também as vilas de Bra-
• Rio Natal sília (atualmente Brasiléia), Xapuri, Seabra (atualmente
• Rio Paraná da Viúva Tarauacá) e Feijó.
• Rio Paratari Estas cidades e vilas não foram fundadas como
• Rio Purus consequência da evolução natural de povoados e, sim
• Rio São Luís “pela necessidade de assegurar o Território que política
• Rio São João e diplomaticamente havia sido conquistado da Bolívia”
• Rio Tarauacá (RANCY, 1992). Estes núcleos escolhidos para serem ci-
• Rio Tejo dades e vilas o foram por serem estratégicos do ponto
• Rio Valparaíso de vista econômico, uma vez que estavam localizados na
• Rio Xapuri confluência dos rios, em pontos terminais da navegação
permanente e em ponto de convergência da produção.
Modos de vida no campo e na cidade Naquele momento as cidades eram base para a cir-
Os primeiros núcleos de povoamento-urbanos do culação de produtos extrativos e alimentares e sedes do
Estado do Acre são consequência da frente de expan- poder público. As mesmas estavam articuladas pela rede
são da borracha, empreendida na Amazônia brasileira fluvial, numa cadeia comercial de exportação da borracha
a partir do final do século XIX. Os membros desta fren- in natura e importação de bens de consumo necessários
te de expansão foram os migrantes nordestinos. Estes, à (re)produção da atividade extrativa. Já a vida urbana,
“expulsos” de uma estrutura agrária excludente na sua acompanhava a sazonalidade da extração da borracha, o
região de origem, assolados pela seca e “atraídos”- in- movimento de entrada e saída de embarcações no por-
centivados pela valorização da borracha no mercado in- to e das festas dos moradores; o que as caracterizavam
ternacional, foram penetrando o vale do rio Amazonas como proto-urbanas (MACHADO, 1989).
e seus afluentes, apropriando-se das terras onde havia
árvores gumíferas. As políticas dos militares e o processo de urbanização
Este povoamento, decorrente da extração do leite da no Acre
seringueira (Hevea brasiliensis), processou-se de forma O padrão dentrítico da rede urbana perdurou até o
linear-misto, localizado quase sempre às margens dos final dos anos 60. A partir de então os centros urbanos
rios. A forma física deste, compreendia o seringal (uni- deixam de articular-se pela margem do rio e passam a ar-
dade produtiva) que era composto pelas casas do bar- ticular-se pela margem da estrada, isto é, acompanhan-
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
racão (casa do proprietário - o seringalista - e dos seus do a ‘malha programada’ pelo Estado e as novas relações
ajudantes imediatos); as colocações (local de trabalho do que se estabeleceram (CORREIA, 1989 e RIBEIRO, 1998).
seringueiro); as estradas de seringa e o tapiri (casa do Isto na mesoregião do Vale do Rio Acre, no Vale do Juruá
seringueiro). ainda hoje as cidades e vilas estão articuladas pela rede
O mesmo era disperso nas colocações e nucleado fluvial (principalmente na estação chuvosa).
junto ao barracão. O caráter dispersivo era devido à com- A situação urbana, ou seja, o modo de vida urbano
posição de várias colocações, com várias estradas de se- só acontece na Amazônia no momento em que o país
ringa e poucos seringueiros na colocação. E era nucleado é unificado pelos transportes, comunicações e mercado.
porque em torno do barracão existia uma concentração O que vem ocorrer com o advento das políticas públicas
de casas que deu origem, mais tarde, às cidades e vilas dos militares. Estes vão ser responsável pela substituição
(RANCY, 1992). Nestas casas, em torno do barracão, e do extrativismo vegetal pela agropecuária, pelos grandes
68
projetos minerais, hidrelétricos e redes técnicas; o que A partir destas políticas grandes quantidades de ter-
vai desencadear o surgimento de novas cidades e cresci- ras foram compradas por empresários do Centro-Sul
mento populacional das já existentes. do país, vastas áreas foram desmatadas no vale do rio
A criação de municípios na década de 70 no Acre é Acre, abrangendo os municípios de Rio Branco, Brasiléia
um aspecto relevante das políticas públicas. Isto é em e Xapuri, e proliferaram os conflitos entre posseiros e no-
1976 foram instalados cinco (05) novos municípios, que vos proprietários, que resultaram em lutas e assassinatos.
se somaram aos sete (07) já existentes. A derrubada de grandes extensões de floresta e a
Os novos municípios foram: Assis Brasil, nas margens venda de antigos seringais precipitaram o êxodo rural,
do Rio Acre, na fronteira com o Peru e Bolívia; Plácido de que tomou duas direções: a das famílias que migraram
Castro, nas margens do Rio Abunã, na fronteira com a para a Bolívia, onde continuaram trabalhando na extra-
Bolívia; Senador Guiomard, nas margens da BR 317; Mân- ção da seringa, e as outras que buscaram a periferia das
cio Lima, nas margens do Rio Môa - na bacia do rio Juruá cidades, especialmente Rio Branco, capital do Estado (ver
e Manoel Urbano, nas margens do Rio Purus (ver figura gráfico 01) (OLIVEIRA, 1985; O. BECKER, 1990).
03). Estes municípios fora a concretização da Doutrina
de Segurança Nacional dos militares, onde se fazia ne-
cessário marcar mais efetivamente a presença brasileira
na fronteira.
Ainda com relação a fragmentação territorial, em
1992 ocorre a última divisão política-administrativa do
Acre. Nesta data, acompanhando uma tendência nacio-
nal, foram emancipados mais dez (10) municípios, que
representam 45,45% dos municípios de todo o estado.
Os novos municípios foram: a - em torno das rodovias
e projetos de colonização: Acrelândia (área do projeto
Redenção), localizada às margens da BR 364 no trecho
que liga Rio Branco à Porto Velho; Capixaba – às margens
da BR 317 no trecho que liga Senador Guiomard à Brasi-
léia; Bujari – localizada às margens da BR 364, que liga Rio
A BR 364 é a mais importante do Estado, ligando Rio
Branco a Sena Madureira; Epitaciolândia, nas margens do
Branco ao Centro-Sul. Por esta rodovia chegaram os no-
Rio Acre e da BR 317, em área de colônia agrícola e na
vos migrantes, principalmente os pequenos e médios
fronteira com a Bolívia; Porto Acre, às margens do Rio
proprietários e os trabalhadores rurais sem-terra.
Acre e, b - na fronteira com o Peru: Santa Rosa do Purus,
Na rede de transporte rodoviário do Acre temos ou-
nas margens do Rio Santa Rosa, em antigo local de caça;
tras vias que foram importantes no processo migratório
Jordão, nas margens do Rio Tarauacá; Marechal Thauma-
campo-cidade. A Ac-010 ligando Rio Branco ao municí-
turgo, nas margens do Rio Juruá; Porto Walter em áreas
pio de Porto Acre, a Ac-40 ligando Rio Branco à Plácido
de antigo seringal, localizados nas margens do Rio Juruá;
de Castro e a Br-317 ligando Assis Brasil, no sudoeste
e Rodrigues Alves, antiga colônia agrícola, também nas
acreano, à cidade amazonense de Boca do Acre.
margens do Rio Juruá.
A abertura das rodovias de penetração concomi-
A justificativa para a criação destes novos municípios
tantemente aos projetos de colonização do INCRA e
foram, além de “marcar mais efetivamente a presença
do governo estadual, foram responsáveis também pelo
brasileira na fronteira” a possibilidade de uma melhor
revigoramento e surgimento de vilas e povoados, e/ou
distribuição de renda no Estado do Acre (SILVA, 1999).
surgimento da cidade pioneira.
Isto é, as forças locais dos antigos distritos, que econo-
micamente estavam estagnados, viam na criação de um
A cidade pioneira
governo local a chance de dinamizar a economia da área,
As cidades pioneiras, segundo COY (1995), são aque-
seja pela instalação da estrutura administrativa, seja pelo
las localidades de caráter urbano, que surgiram de forma
fluxo de repasse de verbas do governo estadual e federal.
planejada ou espontânea, paralelamente ao processo de
Isto é concretizado pelo repasse do Fundo de Participa-
ocupação da fronteira agrícola nos últimos 30 anos.
ção dos Municípios que representa cerca de 80% dos re-
No Acre podemos elencar como cidades pioneiras,
cursos disponíveis para os municípios do Acre (MORAIS,
Acrelândia, Capixaba e Bujari e os povoados e/ou nú-
2.000).
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
69
também emancipado em 1992, originou do povoado de
uma fazenda e mais tardiamente de um Núcleo de Apoio
Rural Integrado (NARI) (MORAIS, 2.000).
Com relação aos núcleos rurais, a microrregião geo-
gráfica de Rio Branco é a que apresenta o maior número
de núcleos. Isto pode ser explicado pela presença maciça
de projetos de colonização, como também pela presença
das rodovias e por ser a porta de entrada do Acre.
São núcleos rurais atualmente no Acre, os locais sede
de seringais, principalmente ao longo dos rios - Juruá,
Tarauacá, Acre, Iaco, Envira, Purus; os núcleos das aldeias
indígenas e os núcleos rurais. Os dois primeiros, ao longo
das margens dos rios e o último as margens das rodo-
vias e estradas vicinais, dos projetos de colonização (ver
gráfico).
Podemos destacar como vilas rurais, as seguintes: no
município de Acrelândia: Campinas, Orion (projeto de
colonização), e São João Balanceio (projeto de coloniza-
ção); no município de Rio Branco: Vila do Projeto Casulo
Hélio Pimenta, do Projeto Vista Alegre, do Projeto Bai- Atualmente vinte (20) das vinte e duas (22) cidades do
xa Verde e Vila Custódio Freire; no município de Porto Acre abrigam populações ligadas à exploração agrícola,
Acre: Vila do projeto Humaitá; no município de Plácido apenas em Rio Branco e Cruzeiro do Sul sobressai ativi-
de Castro: Vila do projeto de Assentamento Triunfo; no dades ligadas ao comércio, indústria e serviços.3
município de Senador Guiomard: Vila do Projeto Pedro
Peixoto; e no município de Brasiléia: Vila do Projeto Qui-
xadá. O número de habitantes destes núcleos variam de
800 a 4.000 pessoas
70
5. (Ano: 2019 Banca: ADM&TEC Órgão: Prefeitura de
Teotônio Vilela – AL) eia as afirmativas a seguir:
HORA DE PRATICAR! I. O clima tropical é o termo utilizado para designar os cli-
mas das regiões intertropicais caracterizados por serem
1 (Ano: 2019 Banca: IBADE Órgão: SEE-AC) O Trata- megatérmicos, com temperatura média do ar em todos
do de Petrópolis completou em novembro de 2018, 115 os meses do ano superior a 31º C; terem estação inver-
anos. A assinatura do documento que colocou fim a Re- nosa; terem precipitação anual superior à evapotranspi-
volução Acreana e tornou oficial a anexação do Acre ao ração potencial anual. O clima tropical não está presente
Brasil é um acordo diplomático com o (a): no território brasileiro, pois caracteriza-se pelas tempe-
raturas altas. II. O clima tropical é predominante nas regi-
a) Peru. ões polares, caracteriza-se por apresentar florestas com
b) Estado do Amazonas. ampla diversidade de fauna e flora, além de uma taxa de
c) Bolívia. umidade uniforme em qualquer local onde está presente.
d) Paraguai. Marque a alternativa CORRETA:
e) Colômbia.
a) As duas afirmativas são verdadeiras.
2. (Ano: 2018 Banca: FEPESE Órgão: Companhia Águas b) A afirmativa I é verdadeira, e a II é falsa.
c) A afirmativa II é verdadeira, e a I é falsa.
de Joinville) A Região Norte corresponde a quase meta-
d) As duas afirmativas são falsas.
de do território brasileiro. Acerca da Região Norte:
1. Os Estados do Amazonas, Amapá, Acre, Rondônia, Ro-
6. (Ano: 2018 Banca: UERR Órgão: IPERON – RO) A
raima e Pará formam a Região Norte.
história da Amazônia Meridional se confunde com o
2. A Amazônia ultrapassa os limites desses estados e até processo de ocupação a partir da construção da ferro-
as fronteiras nacionais. via Madeira-Mamoré. Assinale a alternativa que melhor
3. O termo Amazônia designa uma imensa região natu- apresenta uma característica da construção da ferrovia.
ral da América do Sul, coberta predominantemente pela
Floresta Amazônica, denominada Amazônia Continental, a) A ferrovia conectava as cidades de Cruzeiro do Sul no
também conhecida como Pan-Amazônia ou Amazônia Acre a Campo Grande no Mato Grosso do Sul.
Internacional. b) Uma empresa japonesa realizou o planejamento e ini-
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas cor- ciou a construção, mas uma empresa chinesa concluiu
retas. a obra.
a) É correta apenas a afirmativa 1. c) Construída ao longo do século XVII. a ferrovia foi inau-
b) É correta apenas a afirmativa 2. gurada em 1808 com a chegada da família Real.
c) São corretas apenas as afirmativas 1 e 2. d) Um dos piores problemas durante a construção, foi o
d) São corretas apenas as afirmativas 2 e 3. enorme número de trabalhadores vítimas de doenças
e) São corretas as afirmativas 1, 2 e 3. tropicais.
e) A construção da ferrovia é considerada, ainda hoje, o
maior desastre ambiental da Floresta Amazônica.
3. (Ano: 2019 Banca: IBADE Órgão: SEE-AC) O atual
estado do Acre foi anexado oficialmente ao Brasil graças 7. (Ano: 2019 Banca: IBADE Órgão: SEE-Ac) Em 1988,
as negociações realizadas pelo Barão do Rio Branco. O aos 44 anos, Chico Mendes, seringueiro e sindicalista, foi
Tratado de Petrópolis, efetivando a posse brasileira do assassinado no Acre a mando do fazendeiro Darly Alves.
Acre, foi assinado no ano de: O motivo do crime foi à atuação de Mendes na defesa
do Seringal Cachoeira que Alves desejava destruir. Chico
a) 1930. Mendes não foi o único a ser morto porque defendia a
b) 1830. Amazônia, mas se tornou um símbolo da luta social e
c) 1889. da defesa ecológica. Dois anos depois do crime, o sin-
dicalista foi homenageado com a criação da Reserva Ex-
d) 1703.
trativista Chico Mendes, com mais de 930 mil hectares
e) 1903. abrangendo os municípios de Rio Branco, Capixaba, Assis
Brasil, Brasileia, Epitaciolândia, Xapuri e Sena Madureira,
4. (Ano: 2019 Banca: IBADE Órgão: SEE-AC) Quando todos no Acre. Destinada à exploração autossustentável
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
são citadas características naturais da região Amazônica e conservação dos recursos naturais renováveis, por po-
e do Acre, inúmeras são as possibilidades nos quesitos: pulações tradicionais, a Reserva Extrativista torna possí-
clima, relevo, hidrografia, vegetação, entre outros: uma vel o desenvolvimento sustentável que, segundo a ONU
das características da região onde localiza-se o estado (Organização das Nações Unidas), significa?
do Acre é de baixa(s):
a) O desenvolvimento que encontra as necessidades atu-
ais sem comprometer a habilidade das futuras gera-
a) amplitude térmica anual comparada ao restante do Brasil. ções de atender suas próprias necessidades.
b) biodiversidade das espécies, sendo um ecossistema pobre. b) Uma forma de proteger os ambientes naturais atingi-
c) irrigação, pois não existem grandes bacias hidrográficas. dos pela seca.
d) pluviosidade ao longo de todos os doze meses do ano. c) Modelo de desenvolvimento que tanta conter a violên-
e) temperaturas ao longo de todos os meses do ano. cia no espaço rural.
71
d) Uma tentativa de salvar o que resta dos recursos hídri-
cos do mundo.
e) O modelo de desenvolvimento socioeconômico que GABARITO
visa proteger somente as reservas indígenas.
a) Arco de Desmatamento.
b) Amazônia Legal.
c) Região Norte.
d) Macrorregião Amazônica.
e) Amazônia Internacional.
HISTÓRIA E GEOGRAFIA DO ACRE
72
ÍNDICE
LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015, Disponível em, http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm. Livro I - Parte Geral - Título I – Disposições Preliminares - Capítulo
I – Disposições Gerais, do artigo 1° até o 3°................................................................................................................................................ 01
Título I – Capítulo II – Da Igualdade e da Não discriminação, do artigo 4° até o 8°.................................................................... 02
TÍTULO II - DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS - CAPÍTULO IV - DO DIREITO À EDUCAÇÃO, do artigo 27° até o 30°....... 03
Título III – da acessibilidade – Capítulo I – Disposições Gerais, do artigo 53° até 62°................................................................ 04
RESOLUÇÃO CEE/AC Nº 277/2017, disponível em http://diario.ac.gov.br/..................................................................................... 05
Lei Estadual nº 2.976, de 22 de julho de 2015, disponível no site http://www.al.ac.leg.br........................................................ 05
Lei Federal nº 12.764, de 27 de dezembro de 2012. Disponível em http://www.planalto.gov.br........................................... 09
transportes, informação e comunicação, inclusive seus
sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e
LEI BRASILEIRA DE INCLUSÃO. LEI Nº instalações abertos ao público, de uso público ou pri-
13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015, DISPO- vados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na
NÍVEL EM, HTTP://WWW.PLANALTO.GOV. rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade
BR/CCIVIL_03/_ATO2015-2018/2015/LEI/ reduzida;
L13146.HTM. II - desenho universal: concepção de produtos, am-
LIVRO I - PARTE GERAL - TÍTULO I – DISPO- bientes, programas e serviços a serem usados por to-
SIÇÕES PRELIMINARES - CAPÍTULO I – DIS- das as pessoas, sem necessidade de adaptação ou de
POSIÇÕES GERAIS, DO ARTIGO 1° ATÉ O 3°. projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia
assistiva;
III - tecnologia assistiva ou ajuda técnica: produtos,
equipamentos, dispositivos, recursos, metodologias,
LEI Nº 13.146, DE 6 DE JULHO DE 2015. estratégias, práticas e serviços que objetivem promo-
ver a funcionalidade, relacionada à atividade e à par-
Institui a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com De- ticipação da pessoa com deficiência ou com mobilida-
ficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). de reduzida, visando à sua autonomia, independência,
A PRESIDENTA DA REPÚBLICA Faço saber que o qualidade de vida e inclusão social;
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: IV - barreiras: qualquer entrave, obstáculo, atitude ou
comportamento que limite ou impeça a participação
LIVRO I social da pessoa, bem como o gozo, a fruição e o exer-
PARTE GERAL cício de seus direitos à acessibilidade, à liberdade de
TÍTULO I movimento e de expressão, à comunicação, ao acesso
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES à informação, à compreensão, à circulação com segu-
CAPÍTULO I rança, entre outros, classificadas em:
DISPOSIÇÕES GERAIS a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias e nos
espaços públicos e privados abertos ao público ou de
Art. 1o É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pes- uso coletivo;
soa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiên- b) barreiras arquitetônicas: as existentes nos edifícios
cia), destinada a assegurar e a promover, em condições públicos e privados;
de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades c) barreiras nos transportes: as existentes nos sistemas
fundamentais por pessoa com deficiência, visando à e meios de transportes;
sua inclusão social e cidadania. d) barreiras nas comunicações e na informação: qual-
Parágrafo único. Esta Lei tem como base a Convenção quer entrave, obstáculo, atitude ou comportamento
sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebi-
Protocolo Facultativo, ratificados pelo Congresso Na- mento de mensagens e de informações por intermé-
cional por meio do Decreto Legislativo no 186, de 9 de dio de sistemas de comunicação e de tecnologia da
julho de 2008, em conformidade com o procedimento informação;
previsto no § 3o do art. 5o da Constituição da Repú- e) barreiras atitudinais: atitudes ou comportamentos
blica Federativa do Brasil, em vigor para o Brasil, no que impeçam ou prejudiquem a participação social da
plano jurídico externo, desde 31 de agosto de 2008, e pessoa com deficiência em igualdade de condições e
promulgados peloDecreto no 6.949, de 25 de agosto de oportunidades com as demais pessoas;
2009, data de início de sua vigência no plano interno. f) barreiras tecnológicas: as que dificultam ou impedem
Art. 2o Considera-se pessoa com deficiência aquela o acesso da pessoa com deficiência às tecnologias;
que tem impedimento de longo prazo de natureza fí- V - comunicação: forma de interação dos cidadãos
sica, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em inte- que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive
ração com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
participação plena e efetiva na sociedade em igualda- textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de comu-
de de condições com as demais pessoas. nicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos
§ 1o A avaliação da deficiência, quando necessária, multimídia, assim como a linguagem simples, escrita
será biopsicossocial, realizada por equipe multiprofis-
e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digita-
sional e interdisciplinar e considerará: (Vigência)
lizados e os modos, meios e formatos aumentativos e
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do
alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias
corpo;
da informação e das comunicações;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
VI - adaptações razoáveis: adaptações, modificações
III - a limitação no desempenho de atividades; e
e ajustes necessários e adequados que não acarretem
IV - a restrição de participação.
ônus desproporcional e indevido, quando requeridos
§ 2o O Poder Executivo criará instrumentos para ava-
liação da deficiência. em cada caso, a fim de assegurar que a pessoa com
Art. 3o Para fins de aplicação desta Lei, consideram-se: deficiência possa gozar ou exercer, em igualdade de
I - acessibilidade: possibilidade e condição de alcance condições e oportunidades com as demais pessoas, to-
para utilização, com segurança e autonomia, de espa- dos os direitos e liberdades fundamentais;
ços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações,
1
VII - elemento de urbanização: quaisquer componen-
tes de obras de urbanização, tais como os referentes a TÍTULO I – CAPÍTULO II – DA IGUALDADE E
pavimentação, saneamento, encanamento para esgo-
DA NÃO DISCRIMINAÇÃO, DO ARTIGO 4°
tos, distribuição de energia elétrica e de gás, ilumina-
ATÉ O 8°
ção pública, serviços de comunicação, abastecimento
e distribuição de água, paisagismo e os que materiali-
zam as indicações do planejamento urbanístico;
VIII - mobiliário urbano: conjunto de objetos existentes CAPÍTULO II
nas vias e nos espaços públicos, superpostos ou adicio- DA IGUALDADE E DA NÃO DISCRIMINAÇÃO
nados aos elementos de urbanização ou de edificação,
de forma que sua modificação ou seu traslado não Art. 4o Toda pessoa com deficiência tem direito à
provoque alterações substanciais nesses elementos, igualdade de oportunidades com as demais pessoas e
tais como semáforos, postes de sinalização e similares, não sofrerá nenhuma espécie de discriminação.
terminais e pontos de acesso coletivo às telecomunica- § 1o Considera-se discriminação em razão da defi-
ções, fontes de água, lixeiras, toldos, marquises, bancos, ciência toda forma de distinção, restrição ou exclusão,
quiosques e quaisquer outros de natureza análoga; por ação ou omissão, que tenha o propósito ou o efei-
IX - pessoa com mobilidade reduzida: aquela que te- to de prejudicar, impedir ou anular o reconhecimento
nha, por qualquer motivo, dificuldade de movimenta- ou o exercício dos direitos e das liberdades fundamen-
ção, permanente ou temporária, gerando redução efe- tais de pessoa com deficiência, incluindo a recusa de
tiva da mobilidade, da flexibilidade, da coordenação adaptações razoáveis e de fornecimento de tecnolo-
motora ou da percepção, incluindo idoso, gestante, gias assistivas.
lactante, pessoa com criança de colo e obeso; § 2o A pessoa com deficiência não está obrigada à
X - residências inclusivas: unidades de oferta do Ser- fruição de benefícios decorrentes de ação afirmativa.
viço de Acolhimento do Sistema Único de Assistência Art. 5o A pessoa com deficiência será protegida de
Social (Suas) localizadas em áreas residenciais da co- toda forma de negligência, discriminação, exploração,
munidade, com estruturas adequadas, que possam violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento
contar com apoio psicossocial para o atendimento das desumano ou degradante.
necessidades da pessoa acolhida, destinadas a jovens Parágrafo único. Para os fins da proteção menciona-
e adultos com deficiência, em situação de dependên- da no caput deste artigo, são considerados especial-
cia, que não dispõem de condições de autossusten- mente vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher
tabilidade e com vínculos familiares fragilizados ou e o idoso, com deficiência.
rompidos; Art. 6o A deficiência não afeta a plena capacidade civil
da pessoa, inclusive para:
XI - moradia para a vida independente da pessoa I - casar-se e constituir união estável;
com deficiência: moradia com estruturas adequadas II - exercer direitos sexuais e reprodutivos;
capazes de proporcionar serviços de apoio coletivos e III - exercer o direito de decidir sobre o número de fi-
individualizados que respeitem e ampliem o grau de lhos e de ter acesso a informações adequadas sobre
autonomia de jovens e adultos com deficiência; reprodução e planejamento familiar;
XII - atendente pessoal: pessoa, membro ou não da fa- IV - conservar sua fertilidade, sendo vedada a esterili-
mília, que, com ou sem remuneração, assiste ou presta zação compulsória;
cuidados básicos e essenciais à pessoa com deficiência V - exercer o direito à família e à convivência familiar
no exercício de suas atividades diárias, excluídas as e comunitária; e
técnicas ou os procedimentos identificados com pro- VI - exercer o direito à guarda, à tutela, à curatela e
fissões legalmente estabelecidas; à adoção, como adotante ou adotando, em igualdade
XIII - profissional de apoio escolar: pessoa que exerce de oportunidades com as demais pessoas.
atividades de alimentação, higiene e locomoção do es- Art. 7o É dever de todos comunicar à autoridade com-
tudante com deficiência e atua em todas as atividades petente qualquer forma de ameaça ou de violação aos
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
escolares nas quais se fizer necessária, em todos os ní- direitos da pessoa com deficiência.
veis e modalidades de ensino, em instituições públicas Parágrafo único. Se, no exercício de suas funções, os
e privadas, excluídas as técnicas ou os procedimentos juízes e os tribunais tiverem conhecimento de fatos
identificados com profissões legalmente estabelecidas; que caracterizem as violações previstas nesta Lei, de-
XIV - acompanhante: aquele que acompanha a pes- vem remeter peças ao Ministério Público para as pro-
soa com deficiência, podendo ou não desempenhar as vidências cabíveis.
funções de atendente pessoal. Art. 8o É dever do Estado, da sociedade e da família
assegurar à pessoa com deficiência, com prioridade,
a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde,
à sexualidade, à paternidade e à maternidade, à ali-
mentação, à habitação, à educação, à profissionaliza-
ção, ao trabalho, à previdência social, à habilitação e
à reabilitação, ao transporte, à acessibilidade, à cultu-
ra, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à informação, à
comunicação, aos avanços científicos e tecnológicos,
2
à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência de e de disponibilização e usabilidade pedagógica de
familiar e comunitária, entre outros decorrentes da recursos de tecnologia assistiva;
Constituição Federal, da Convenção sobre os Direitos VIII - participação dos estudantes com deficiência e
das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Faculta- de suas famílias nas diversas instâncias de atuação da
tivo e das leis e de outras normas que garantam seu comunidade escolar;
bem-estar pessoal, social e econômico. IX - adoção de medidas de apoio que favoreçam o
desenvolvimento dos aspectos linguísticos, culturais,
vocacionais e profissionais, levando-se em conta o ta-
lento, a criatividade, as habilidades e os interesses do
TÍTULO II - DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS estudante com deficiência;
- CAPÍTULO IV - DO DIREITO À EDUCAÇÃO, X - adoção de práticas pedagógicas inclusivas pelos
DO ARTIGO 27° ATÉ O 30° programas de formação inicial e continuada de pro-
fessores e oferta de formação continuada para o aten-
dimento educacional especializado;
XI - formação e disponibilização de professores para o
CAPÍTULO IV atendimento educacional especializado, de tradutores
DO DIREITO À EDUCAÇÃO e intérpretes da Libras, de guias intérpretes e de pro-
fissionais de apoio;
Art. 27. A educação constitui direito da pessoa com XII - oferta de ensino da Libras, do Sistema Braille e
deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo de uso de recursos de tecnologia assistiva, de forma
em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a a ampliar habilidades funcionais dos estudantes, pro-
vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento movendo sua autonomia e participação;
possível de seus talentos e habilidades físicas, senso- XIII - acesso à educação superior e à educação profis-
riais, intelectuais e sociais, segundo suas característi- sional e tecnológica em igualdade de oportunidades e
cas, interesses e necessidades de aprendizagem. condições com as demais pessoas;
Parágrafo único. É dever do Estado, da família, da co- XIV - inclusão em conteúdos curriculares, em cursos
munidade escolar e da sociedade assegurar educação de de nível superior e de educação profissional técnica e
qualidade à pessoa com deficiência, colocando-a a salvo tecnológica, de temas relacionados à pessoa com defi-
de toda forma de violência, negligência e discriminação. ciência nos respectivos campos de conhecimento;
Art. 28. Incumbe ao poder público assegurar, criar, desen- XV - acesso da pessoa com deficiência, em igualdade
volver, implementar, incentivar, acompanhar e avaliar: de condições, a jogos e a atividades recreativas, espor-
I - sistema educacional inclusivo em todos os níveis e tivas e de lazer, no sistema escolar;
modalidades, bem como o aprendizado ao longo de XVI - acessibilidade para todos os estudantes, traba-
toda a vida; lhadores da educação e demais integrantes da comu-
II - aprimoramento dos sistemas educacionais, vi- nidade escolar às edificações, aos ambientes e às ati-
sando a garantir condições de acesso, permanência, vidades concernentes a todas as modalidades, etapas
participação e aprendizagem, por meio da oferta de e níveis de ensino;
serviços e de recursos de acessibilidade que eliminem XVII - oferta de profissionais de apoio escolar;
as barreiras e promovam a inclusão plena; XVIII - articulação intersetorial na implementação de
III - projeto pedagógico que institucionalize o aten- políticas públicas.
dimento educacional especializado, assim como os § 1o Às instituições privadas, de qualquer nível e mo-
demais serviços e adaptações razoáveis, para atender dalidade de ensino, aplica-se obrigatoriamente o dis-
às características dos estudantes com deficiência e ga- posto nos incisos I, II, III, V, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII,
rantir o seu pleno acesso ao currículo em condições de XIV, XV, XVI, XVII e XVIII do caput deste artigo, sendo
igualdade, promovendo a conquista e o exercício de vedada a cobrança de valores adicionais de qualquer
sua autonomia; natureza em suas mensalidades, anuidades e matrícu-
IV - oferta de educação bilíngue, em Libras como pri- las no cumprimento dessas determinações.
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
meira língua e na modalidade escrita da língua por- § 2o Na disponibilização de tradutores e intérpretes da
tuguesa como segunda língua, em escolas e classes Libras a que se refere o inciso XI do caput deste artigo,
bilíngues e em escolas inclusivas; deve-se observar o seguinte:
V - adoção de medidas individualizadas e coletivas
em ambientes que maximizem o desenvolvimento I - os tradutores e intérpretes da Libras atuantes na
acadêmico e social dos estudantes com deficiência, fa- educação básica devem, no mínimo, possuir ensino
vorecendo o acesso, a permanência, a participação e a médio completo e certificado de proficiência na Li-
aprendizagem em instituições de ensino; bras; (Vigência)
VI - pesquisas voltadas para o desenvolvimento de II - os tradutores e intérpretes da Libras, quando dire-
novos métodos e técnicas pedagógicas, de materiais cionados à tarefa de interpretar nas salas de aula dos
didáticos, de equipamentos e de recursos de tecnolo- cursos de graduação e pós-graduação, devem possuir
gia assistiva; nível superior, com habilitação, prioritariamente, em
VII - planejamento de estudo de caso, de elaboração Tradução e Interpretação em Libras. (Vigência)
de plano de atendimento educacional especializado, Art. 29. (VETADO).
de organização de recursos e serviços de acessibilida-
3
Art. 30. Nos processos seletivos para ingresso e per- IV - a concessão de aval da União para obtenção de
manência nos cursos oferecidos pelas instituições de empréstimo e de financiamento internacionais por en-
ensino superior e de educação profissional e tecnoló- tes públicos ou privados.
gica, públicas e privadas, devem ser adotadas as se- Art. 55. A concepção e a implantação de projetos que
guintes medidas: tratem do meio físico, de transporte, de informação
I - atendimento preferencial à pessoa com deficiência e comunicação, inclusive de sistemas e tecnologias
nas dependências das Instituições de Ensino Superior da informação e comunicação, e de outros serviços,
(IES) e nos serviços; equipamentos e instalações abertos ao público, de uso
II - disponibilização de formulário de inscrição de exa- público ou privado de uso coletivo, tanto na zona ur-
mes com campos específicos para que o candidato com bana como na rural, devem atender aos princípios do
deficiência informe os recursos de acessibilidade e de desenho universal, tendo como referência as normas
tecnologia assistiva necessários para sua participação; de acessibilidade.
§ 1o O desenho universal será sempre tomado como
III - disponibilização de provas em formatos acessíveis
regra de caráter geral.
para atendimento às necessidades específicas do can-
§ 2o Nas hipóteses em que comprovadamente o de-
didato com deficiência;
senho universal não possa ser empreendido, deve ser
IV - disponibilização de recursos de acessibilidade e de adotada adaptação razoável.
tecnologia assistiva adequados, previamente solicita- § 3o Caberá ao poder público promover a inclusão de
dos e escolhidos pelo candidato com deficiência; conteúdos temáticos referentes ao desenho universal
V - dilação de tempo, conforme demanda apresentada nas diretrizes curriculares da educação profissional e
pelo candidato com deficiência, tanto na realização tecnológica e do ensino superior e na formação das
de exame para seleção quanto nas atividades acadê- carreiras de Estado.
micas, mediante prévia solicitação e comprovação da § 4o Os programas, os projetos e as linhas de pesqui-
necessidade; sa a serem desenvolvidos com o apoio de organismos
VI - adoção de critérios de avaliação das provas escri- públicos de auxílio à pesquisa e de agências de fo-
tas, discursivas ou de redação que considerem a sin- mento deverão incluir temas voltados para o desenho
gularidade linguística da pessoa com deficiência, no universal.
domínio da modalidade escrita da língua portuguesa; § 5o Desde a etapa de concepção, as políticas públicas
VII - tradução completa do edital e de suas retificações deverão considerar a adoção do desenho universal.
em Libras. Art. 56. A construção, a reforma, a ampliação ou a
mudança de uso de edificações abertas ao público, de
uso público ou privadas de uso coletivo deverão ser
executadas de modo a serem acessíveis.
TÍTULO III – DA ACESSIBILIDADE – CAPÍTU- § 1o As entidades de fiscalização profissional das ati-
vidades de Engenharia, de Arquitetura e correlatas, ao
LO I – DISPOSIÇÕES GERAIS, DO ARTIGO anotarem a responsabilidade técnica de projetos, de-
53° ATÉ 62°. vem exigir a responsabilidade profissional declarada
de atendimento às regras de acessibilidade previstas
em legislação e em normas técnicas pertinentes.
TÍTULO III § 2o Para a aprovação, o licenciamento ou a emis-
DA ACESSIBILIDADE são de certificado de projeto executivo arquitetônico,
CAPÍTULO I urbanístico e de instalações e equipamentos tempo-
DISPOSIÇÕES GERAIS rários ou permanentes e para o licenciamento ou a
emissão de certificado de conclusão de obra ou de
Art. 53. A acessibilidade é direito que garante à pes- serviço, deve ser atestado o atendimento às regras de
soa com deficiência ou com mobilidade reduzida viver acessibilidade.
de forma independente e exercer seus direitos de cida- § 3o O poder público, após certificar a acessibilidade
dania e de participação social. de edificação ou de serviço, determinará a colocação,
em espaços ou em locais de ampla visibilidade, do
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
4
§ 2o É vedada a cobrança de valores adicionais para a
aquisição de unidades internamente acessíveis a que LEI ESTADUAL Nº 2.976, DE 22 DE JULHO DE
se refere o § 1o deste artigo.
2015, DISPONÍVEL NO SITE HTTP://WWW.
Art. 59. Em qualquer intervenção nas vias e nos es-
AL.AC.LEG.BR
paços públicos, o poder público e as empresas conces-
sionárias responsáveis pela execução das obras e dos
serviços devem garantir, de forma segura, a fluidez do
trânsito e a livre circulação e acessibilidade das pes- LEI N. 2.976, DE 22 DE JULHO DE 2015 “Institui a po-
soas, durante e após sua execução. lítica estadual de proteção dos direitos da pessoa com
Art. 60. Orientam-se, no que couber, pelas regras de Transtorno do Espectro Autista – TEA e estabelece diretri-
acessibilidade previstas em legislação e em normas zes para sua consecução”. O GOVERNADOR DO ESTADO
técnicas, observado o disposto na Lei no 10.098, de 19 DO ACRE FAÇO SABER que a Assembleia Legislativa do
de dezembro de 2000, no 10.257, de 10 de julho de Estado do Acre decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
2001, e no12.587, de 3 de janeiro de 2012:
I - os planos diretores municipais, os planos diretores Art. 1º Esta lei institui a política estadual de proteção dos
de transporte e trânsito, os planos de mobilidade ur- direitos da pessoa com Transtorno do Espectro Autista -
bana e os planos de preservação de sítios históricos TEA, e estabelece diretrizes para sua consecução.
elaborados ou atualizados a partir da publicação des-
ta Lei; § 1° A pessoa com TEA é considerada pessoa com de-
II - os códigos de obras, os códigos de postura, as leis ficiência para todos os efeitos legais.
de uso e ocupação do solo e as leis do sistema viário;
III - os estudos prévios de impacto de vizinhança; § 2° A temática do autismo deverá ser incluída em
IV - as atividades de fiscalização e a imposição de san- todas as ações e políticas públicas desenvolvidas e
ções; e implementadas pelo Estado, voltadas para as pessoas
V - a legislação referente à prevenção contra incêndio com deficiência.
e pânico.
§ 1o A concessão e a renovação de alvará de funcio- § 3° A expressão TEA será adotada como nomenclatura
namento para qualquer atividade são condicionadas à oficial para designar a síndrome do autismo em todas as
observação e à certificação das regras de acessibilidade. ações e políticas públicas desenvolvidas e implementa-
das pelo Estado, voltadas para este segmento.
§ 2o A emissão de carta de habite-se ou de habilitação
equivalente e sua renovação, quando esta tiver sido CAPÍTULO I Dos Princípios e Diretrizes da Política
emitida anteriormente às exigências de acessibilidade, Estadual de Proteção dos Direitos da Pessoa com TEA
é condicionada à observação e à certificação das re-
gras de acessibilidade. Art. 2° São diretrizes da Política Estadual de Proteção
Art. 61. A formulação, a implementação e a manu- dos Direitos da Pessoa com TEA:
tenção das ações de acessibilidade atenderão às se- I - a intersetorialidade no desenvolvimento das ações
guintes premissas básicas: e das políticas e no atendimento à pessoa com TEA;
I - eleição de prioridades, elaboração de cronograma e
reserva de recursos para implementação das ações; e II - a participação da comunidade na formulação de
II - planejamento contínuo e articulado entre os seto- políticas públicas voltadas para as pessoas com TEA
res envolvidos. e o controle social da sua implantação, acompanha-
Art. 62. É assegurado à pessoa com deficiência, me- mento e avaliação; 2
diante solicitação, o recebimento de contas, boletos,
recibos, extratos e cobranças de tributos em formato III - a atenção integral às necessidades de saúde da
acessível. pessoa com TEA, objetivando o diagnóstico precoce,
o atendimento multiprofissional e interdisciplinar e o
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
5
VI - o estímulo à inclusão da pessoa com TEA no mer- e interdisciplinar, o acesso a medicamentos, nutrientes
cado de trabalho, com respeito às suas particularidades; e à terapia nutricional conforme Lei n. 12.764, de 27
de dezembro de 2012, art. 2°, inciso III e art. 3°, inciso
VII- a responsabilidade do poder público pela ampla divul- III, é dever do Estado:
gação de informações acerca do TEA e suas implicações;
I - disponibilizar unidades de saúde de referência para
VIII - a promoção de formação e qualificação de pro- o diagnóstico e tratamento de pessoas com TEA;
fissionais especializados no atendimento à pessoa com
TEA, bem como a capacitação de pais e responsáveis II - criar núcleo de qualificação destinado aos profis-
para seu cuidado e assistência; sionais das unidades da rede de atenção à saúde, vi-
sando o adequado referenciamento e encaminhamen-
IX - o estímulo à pesquisa científica relativa ao TEA to de pessoas com TEA;
no Estado; e
III - articular, junto aos municípios, a disponibilização
X - o suporte psicossocial necessário às famílias e aos de atendimento especializado no âmbito das redes
responsáveis pelo cuidado às pessoas com TEA. municipais de saúde, para os casos referidos na pre-
sente lei;
Art. 3° É dever do Estado promover regularmente a
difusão de informação pública sobre o TEA e suas im- IV - estabelecer prazos e metas progressivas para a
plicações por meio de: criação de centros integrados de atendimento multi-
profissional e interdisciplinar especializados no trata-
I - campanhas de esclarecimento sobre as especifici- mento de pessoas com TEA; e
dades do TEA utilizando-se de veículos de comunica-
ção públicos e privados, materiais informativos tais V - acesso universalizado a medicamentos e nutrien-
como cartazes, panfletos, cartilhas, DVDs e outros tes prescritos para minimizar os sintomas do TEA, a
congêneres; serem disponibilizados pelo SUS, sem interrupção do
fluxo, observadas as atribuições e competências de
II - disseminação de informações que auxiliem no cada ente federativo.
diagnóstico e tratamento do TEA em todas as unida-
des de saúde, da rede de atenção básica, especializada § 1° Os centros referidos no inciso IV serão implanta-
e hospitalar, e da rede de atendimento psicossocial; e dos de forma gradativa, iniciando-se pelos municípios
com maior incidência do TEA. 4
III - monitoramento epidemiológico permanente com
propósito de dimensionar a magnitude e as caracterís- § 2º O Estado dotará a unidade de saúde de referên-
ticas do TEA no Estado. cia, bem como os centros integrados de atendimento
com equipes multiprofissionais e interdisciplinares es-
§ 1° No dia mundial de conscientização do autismo, 2 pecializadas no tratamento de pessoas com TEA, cuja
de abril, o Estado fará, a cada ano, ampla divulgação composição mínima será definida em decreto.
a cerca do TEA e suas implicações, por meio de:
§ 3° O atendimento multiprofissional e interdiscipli-
3 I - eventos alusivos ao tema; II - campanhas de es- nar seguirá projeto terapêutico que respeite as espe-
clarecimento e conscientização; e III - distribuição de cificidades da pessoa com TEA e utilizará abordagens
material informativo. terapêuticas que tenham sua eficácia cientificamente
comprovada no seu tratamento.
§ 2º Será criado um cadastro único de pessoas com
TEA no Estado, gerenciado pela Secretária de Estado § 4° Os profissionais referidos neste artigo, deverão
de Saúde - SESACRE, integrado às informações das obrigatoriamente receber qualificação técnica e for-
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
áreas de educação e assistência social e construído a mação continuada para o atendimento especializado
partir da notificação obrigatória dos casos de TEA. de pessoas com TEA.
§ 3° O cadastro único referido no parágrafo anterior § 5° Os pais, responsáveis e cuidadores terão direito a
será parte de um programa de mapeamento epide- informações que auxiliem no diagnóstico e no trata-
miológico do TEA em todo o Estado e servirá como mento bem como orientações sobre cuidados e assis-
base para criação de políticas públicas voltadas para tência de pessoas com TEA.
este segmento.
Art. 5° É obrigatória a adoção de protocolos médicos
CAPÍTULO II Do Atendimento no Serviço Público ou operacionais específicos para atendimento de pes-
de Saúde às Pessoas Com TEA soas com TEA nas seguintes situações especiais:
Art. 4° A fim de assegurar a atenção integral às neces- I - em situações envolvendo operadores de segurança
sidades de saúde da pessoa com TEA, objetivando o pública, tais como polícia militar, corpo de bombeiros
diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e polícia civil;
6
II - situações que envolvam os serviços móveis de ur- exercício da função de mediador de aprendizagem,
gência e emergência; e III - situações que envolvam o conforme a demanda, com formação mínima de ma-
atendimento de urgência e emergência em unidades gistério ou nível superior sem prejuízo de outras for-
hospitalares, inclusive psiquiátricas. mações específicas exigidas em legislação federal. 6
§ 1° O disposto no caput e nos incisos de I a III tem § 5° A Secretaria Estadual de Educação - SEE priorizará,
por finalidade assegurar à pessoa com TEA o direito à sempre que possível, a continuidade do acompanha-
vida digna, à segurança, o respeito a sua integridade mento por mediador de aprendizagem ao estudante
física e moral bem como impedir que seja submetida com TEA, prestado pelo mesmo profissional, em anos
a tratamento desumano ou degradante ou venha a ser letivos sucessivos, visando sua melhor adaptabilidade
discriminada por motivo da deficiência. e rendimento escolar.
§ 2° O Estado manterá programas de qualificação pro- Art. 7° É dever das escolas privadas estabelecidas no
fissional e formação continuada para os operadores Estado disponibilizar atendimento educacional espe-
de segurança pública e profissionais em saúde, a fim cializado por meio de: I - mediadores de aprendiza-
de capacitá-los para o cumprimento do disposto neste gem para estudantes com TEA; e II - salas de recursos
artigo. multifuncionais para atendimento em contra turno de
estudantes com TEA. Parágrafo único. É vedada a co-
CAPÍTULO III Do Atendimento no Serviço Público brança de valores adicionais pela prestação dos servi-
de Educação as Pessoas Com TEA ços referidos nos incisos I e II.
Art. 6° Será dever do sistema público de educação e CAPÍTULO IV Da Assistência Social às Pessoas Com TEA
de sua respectiva rede de escolas públicas do Estado:
Art. 8º As pessoas com TEA e seus familiares serão
I - promover qualificação profissional e formação incluídas na política estadual de assistência social,
continuada para os professores do atendimento edu- sendo-lhes assegurado:
cacional especializado e do ensino regular a fim de
qualificá-los para a inclusão dos estudantes com TEA I - acesso aos programas governamentais de habi-
nas classes comuns e no atendimento educacional do- tação;
miciliar;
II - acesso aos programas governamentais de inserção
II - incluir informações sobre o TEA nos programas de no mercado de trabalho; e III - apoio social e psicoló-
formação continuada para servidores administrativos gico às famílias de pessoas com TEA.
em todas as escolas da rede pública estadual;
Art. 9° São garantidos as pessoas com TEA e seus fa-
III - assegurar a todos os estudantes com TEA o direi- miliares Programas de Suporte Comunitário constitu-
to a currículo, métodos, técnicas, recursos educativos ídos de:
e organização específicos, para atender às suas ne-
cessidades, nas unidades escolares ou no atendimen- I - centros de convivência;
to educacional domiciliar; e IV - garantir o acesso à
educação por meio do atendimento educacional espe- II - oficinas de trabalho assistidas; e III - grupos de
cializado para pessoas com TEA em idade adulta não autoajuda e de defesa dos direitos da pessoa com TEA.
alfabetizadas. Parágrafo único. Os programas de Suporte Comunitá-
rios referidos neste artigo serão oferecidos às pessoas
§ 1° Em caso de comprovada necessidade, a pessoa com TEA em conjunto com as demais pessoas de sua
com TEA incluída nas classes comuns de ensino regu- comunidade, de forma a que lhes propiciem oportuni-
lar terá direito a acompanhamento por mediador de dades de integração social. 7
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
aprendizagem.
Art. 10. São instituídas alternativas residenciais para
§ 2º A comprovação de que trata o §1° será feita por as pessoas com TEA que tenham perdido sua referên-
médico psiquiatra, psicólogo ou psicopedagogo. cia familiar, por motivo de abandono ou falecimento
dos pais ou responsáveis e que não tenham capaci-
§ 3° Os mediadores de aprendizagem referidos no § dade para a vida autônoma e independente, a saber:
1° deste artigo farão parte do AEE e receberão qua-
lificação profissional e formação continuada a fim de I - programas de adoção de pessoas com TEA, com
exercer suas atribuições de apoio às atividades educa- apoio, acompanhamento e fiscalização do Estado; e
tivas e às necessidades relacionadas à comunicação, II - residências assistidas.
interação social, locomoção, alimentação e cuidados
pessoais de estudantes com TEA, no contexto escolar. Parágrafo único. A pessoa com TEA somente será
encaminhada às alternativas residenciais depois de
§ 4° Será assegurada a contratação excepcional, nos serem esgotadas as possibilidades de identificação e
termos da legislação vigente, de profissionais para o localização de seus familiares.
7
CAPÍTULO V Das Disposições Gerais § 2° Em caso de descumprimento do disposto no caput
ou no § 1°deste artigo, será aplicado multa de três a
Art. 11. Será assegurado às pessoas com TEA o direito vinte salários mínimos.
de prestar concursos públicos utilizando-se de recur-
sos de acessibilidade mais adequados à sua condição. § 3° Em caso de reincidência de servidor ou agente
público, apurada por processo administrativo, assegu-
Art. 12. É assegurado aos servidores públicos do Estado rado o contraditório e a ampla defesa, será aplicado o
que tenham sob seus cuidados pessoa com TEA de sua disposto no art. 7º, § 1° da Lei n. 12.764/2012.
família ou sob sua guarda legal, tutela ou curatela:
§ 4° Os valores arrecadados com a aplicação das mul-
I - direito à remoção, ainda que em estágio probató- tas previstas no § 2° serão revertidas para as entidades
rio, para localidade onde seja proporcionada assistên- representativas de pessoas com TEA, conforme o caso.
cia em saúde especializada; 9
II - redução de carga horária conforme prevista na Lei
Art. 16. Para cumprimento das diretrizes e demais
n. 982, de 4 de julho de 1991, e suas alterações.
determinações de que trata esta Lei, o Estado pode-
§ 1° Em caso de não cumprimento dos prazos previstos rá firmar termos de parceria e acordos de cooperação
nos §§ 1º e 2° do art. 1º da Lei n. 982/1991, o órgão técnica, financeira e institucional mediante contrato
público onde o servidor está lotado processará de ofício de direito público ou convênio com pessoas jurídicas
a concessão da licença referida no inciso II, em caráter de direito privado.
provisório, até a realização da perícia médica oficial.
Art. 17. Cabe ao Poder Executivo, através de regula-
§ 2º A junta médica oficial do Estado emitirá laudo mentação, definir e editar normas complementares
pericial definitivo nos casos em que se comprovar ne- necessárias à execução da presente lei. Art. 18. Esta Lei
cessidade de assistência de pessoas com TEA, situação entra em vigor na data de sua publicação. Rio Bran-
em que não será exigida a renovação semestral da re- co, 22 de julho de 2015, 127º da República, 113º do
ferida licença conforme previsto no § 3º do art. 1° da Tratado de Petrópolis e 54º do Estado do Acre. TIÃO
Lei n. 982/1991. 8 VIANA Governador do Estado do Acre
8
do espectro autista e o controle social da sua implanta-
LEI FEDERAL Nº 12.764, DE 27 DE DEZEM- ção, acompanhamento e avaliação;
III - a atenção integral às necessidades de saúde da pes-
BRO DE 2012. DISPONÍVEL EM HTTP://
soa com transtorno do espectro autista, objetivando o
WWW.PLANALTO.GOV.B diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e
o acesso a medicamentos e nutrientes;
IV - (VETADO);
A Lei nº 12.764, de 27 dezembro de 2012, institui a V - o estímulo à inserção da pessoa com transtorno do
Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com espectro autista no mercado de trabalho, observadas as
Transtorno do Espectro Autista. Com efeito, a legislação peculiaridades da deficiência e as disposições da Lei no
aborda conceitos a respeito do que se considera espec- 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
tro autista e traz diretrizes a serem adotadas pela política Adolescente);
de proteção à pessoa que o possui, inclusive no que se VI - a responsabilidade do poder público quanto à infor-
refere a direitos que envolvem o tratamento digno de mação pública relativa ao transtorno e suas implicações;
saúde, educação e de forma geral. VII - o incentivo à formação e à capacitação de profissio-
nais especializados no atendimento à pessoa com trans-
Abaixo, seguem os dispositivos da lei com comentá- torno do espectro autista, bem como a pais e responsáveis;
rios e destaques: VIII - o estímulo à pesquisa científica, com prioridade
para estudos epidemiológicos tendentes a dimensionar
Art. 1º Esta Lei institui a Política Nacional de Proteção a magnitude e as características do problema relativo
dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro ao transtorno do espectro autista no País.
Autista e estabelece diretrizes para sua consecução. Parágrafo único. Para cumprimento das diretrizes de
§ 1º Para os efeitos desta Lei, é considerada pessoa que trata este artigo, o poder público poderá firmar con-
com transtorno do espectro autista aquela portadora trato de direito público ou convênio com pessoas jurídi-
de síndrome clínica caracterizada na forma dos se- cas de direito privado.
guintes incisos I ou II:
I - deficiência persistente e clinicamente significativa São diretrizes da Política Nacional de Proteção dos Di-
da comunicação e da interação sociais, manifestada reitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista,
por deficiência marcada de comunicação verbal e não isto é, ações que o poder público deve fomentar, esti-
verbal usada para interação social; ausência de reci- mular, desenvolver:
procidade social; falência em desenvolver e manter - vários setores devem interagir para encontrar saídas
relações apropriadas ao seu nível de desenvolvimento; adequadas a uma política voltada à pessoa autista;
II - padrões restritivos e repetitivos de comportamen- - a comunidade deve participar na elaboração, imple-
tos, interesses e atividades, manifestados por compor- mentação e controle destas políticas;
tamentos motores ou verbais estereotipados ou por - a pessoa com espectro autista deve receber atendi-
comportamentos sensoriais incomuns; excessiva ade- mento de saúde especializado, buscando-se o diagnós-
rência a rotinas e padrões de comportamento rituali- tico precoce da condição;
zados; interesses restritos e fixos. - o poder público deve se estimular a inserção da pessoa
§ 2º A pessoa com transtorno do espectro autista é autista no mercado de trabalho;
considerada pessoa com deficiência, para todos os - a informação pública deve ser prestada com responsa-
efeitos legais. bilidade pelo Estado;
O transtorno do espectro autista se caracteriza pela - o poder público deve incentivar a formação e a ca-
deficiência persistente e clinicamente significativa da pacitação de profissionais aptos a tratar a pessoa com
comunicação e da interação sociais; ausência de re- espectro autista;
ciprocidade social; falência em desenvolver e manter - deve ser estimulada a pesquisa científica sobre a mag-
relações; padrões restritivos e repetitivos de compor- nitude e as características do espectro autista.
tamentos, interesses e atividades; excessiva aderência
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
a rotinas e padrões de comportamento ritualizados; Art. 3o São direitos da pessoa com transtorno do espectro
interesses restritos e fixos. autista:
O texto da lei colaciona os principais sintomas do I - a vida digna, a integridade física e moral, o livre de-
autismo, que afeta tanto a relação da pessoa com o senvolvimento da personalidade, a segurança e o lazer;
mundo e com os demais, quando o seu próprio modo II - a proteção contra qualquer forma de abuso e exploração;
de enxergar o mundo e viver conforme certo padrão III - o acesso a ações e serviços de saúde, com vistas à
de comportamento sistemático. atenção integral às suas necessidades de saúde, incluindo:
a) o diagnóstico precoce, ainda que não definitivo;
Art. 2º São diretrizes da Política Nacional de Proteção dos b) o atendimento multiprofissional;
Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista: c) a nutrição adequada e a terapia nutricional;
I - a intersetorialidade no desenvolvimento das ações e d) os medicamentos;
das políticas e no atendimento à pessoa com transtorno e) informações que auxiliem no diagnóstico e no
do espectro autista; tratamento;
II - a participação da comunidade na formulação de po- IV - o acesso:
líticas públicas voltadas para as pessoas com transtorno a) à educação e ao ensino profissionalizante;
9
b) à moradia, inclusive à residência protegida;
c) ao mercado de trabalho; #FicaDica
d) à previdência social e à assistência social.
Parágrafo único. Em casos de comprovada necessida- Aplica-se à pessoa com transtorno do espec-
de, a pessoa com transtorno do espectro autista inclu- tro autista o disposto no Estatuto da Pessoa
ída nas classes comuns de ensino regular, nos termos com Deficiência – Lei nº 13.146/2015 – e na
do inciso IV do art. 2º, terá direito a acompanhante Convenção Internacional sobre os Direitos da
especializado. Pessoa com Deficiência e Protocolo Facultati-
A pessoa autista deve ter assegurados todos os di- vo – Decreto nº 6.949/2009.
reitos inerentes à sua dignidade: vida digna, integridade
física e moral, livre desenvolvimento da personalidade,
segurança, lazer, proteção contra abuso e exploração,
saúde com tratamento especializado, educação com EXERCÍCIO COMENTADO
acompanhante especializado nos casos necessários, mo-
radia, trabalho, previdência e assistência social.
1. (Prefeitura de Alumínio/SP - Procurador Jurídico - VU-
Art. 4º A pessoa com transtorno do espectro autista NESP/2016) A respeito da Lei Federal n 12.764/2012, que
institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa
não será submetida a tratamento desumano ou de-
com Transtorno do Espectro Autista, cabe asseverar que:
gradante, não será privada de sua liberdade ou do
convívio familiar nem sofrerá discriminação por mo-
a) a pessoa com transtorno do espectro autista não será
tivo da deficiência.
submetida a tratamento desumano ou degradante, não
será privada de sua liberdade ou do convívio familiar
Parágrafo único. Nos casos de necessidade de inter-
nem sofrerá discriminação por motivo da deficiência.
nação médica em unidades especializadas, observar-
b) à pessoa com transtorno do espectro autista preexis-
-se-á o que dispõe o art. 4o da Lei nº 10.216, de 6 de tente poderá ser negada a participação em planos pri-
abril de 2001. vados de assistência à saúde, garantido, porém, o am-
A pessoa autista não deve ser submetida a tratamen- plo e irrestrito acesso a qualquer unidade de saúde da
to desumano ou degradante, não pode ser privada de rede pública.
sua liberdade e do convívio familiar, não pode sofrer dis- c) o gestor escolar, ou autoridade competente, que recusar
criminação em razão de sua deficiência. a matrícula de aluno com transtorno do espectro autis-
ta, ou qualquer outro tipo de deficiência, será punido
Art. 5º A pessoa com transtorno do espectro autista com multa de 2 (dois) a 20 (vinte) salários-mínimos.
não será impedida de participar de planos privados d) a pessoa com transtorno do espectro autista, incluída
de assistência à saúde em razão de sua condição de nas classes comuns de ensino regular, terá direito a
pessoa com deficiência, conforme dispõe o art. 14 da acompanhante especializado.
Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998. e) para cumprimento das diretrizes da Política Nacional de
A condição do autismo não pode justificar o impe- Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Es-
dimento da pessoa ser inserida num plano de saúde pectro Autista, o poder público poderá firmar convênio
privado. com pessoas jurídicas de direito privado, desde que de
caráter associativo.
Art. 6o (VETADO).
Resposta: Letra A. Disciplina o artigo 4o, Lei nº
Art. 7º O gestor escolar, ou autoridade competente, 12.764/2012: “A pessoa com transtorno do espectro
que recusar a matrícula de aluno com transtorno do autista não será submetida a tratamento desumano ou
espectro autista, ou qualquer outro tipo de deficiên- degradante, não será privada de sua liberdade ou do
cia, será punido com multa de 3 (três) a 20 (vinte) convívio familiar nem sofrerá discriminação por moti-
salários-mínimos. vo da deficiência”.
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
§ 1º Em caso de reincidência, apurada por processo B. Incorreto, nos termos do artigo 5o, Lei nº
administrativo, assegurado o contraditório e a ampla 12.764/2012, “a pessoa com transtorno do espectro
defesa, haverá a perda do cargo. autista não será impedida de participar de planos pri-
§ 2º (VETADO). vados de assistência à saúde em razão de sua condi-
O gestor escolar não pode recusar a matrícula de um ção de pessoa com deficiência, conforme dispõe o art.
aluno em decorrência da condição do autismo, sob 14 da Lei nº 9.656, de 3 de junho de 1998”.
pena de multa de 3 a 20 salários-mínimos. C. Incorreto, a multa é de 3 (três) a 20 (vinte) salários-
-mínimos, conforme artigo 7o, Lei nº 12.764/2012.
Art. 8º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. D. Incorreto, o direito existe apenas em caso de com-
provada necessidade, conforme artigo 3o, parágrafo
Brasília, 27 de dezembro de 2012; 191º da Indepen- único, Lei nº 12.764/2012.
dência e 124º da República. E. Incorreto, não é determinante que a pessoa jurídica
de direito privado com a qual se firme convênio tenha
caráter associativo, considerando o teor do artigo 2o,
parágrafo único, Lei nº 12.764/2012.
10
5. (2015 Banca: IESAP Órgão: EPT - Maricá Provas: IE-
HORA DE PRATICAR SAP - 2015 - EPT - Maricá - Assistente Administrativo)
Com base na Lei Orgânica de Maricá, responda a questão.
1. Julgue como Certo ou Errado após ler a sentença abaixo
Conforme a inteligência do Art. 266 “Compete ao Mu-
“ A ação disciplinar prescreverá: I - Em 05 (cinco) anos,
nicípio organizar e prestar diretamente ou sob o regime
quando as inflações puníveis com demissão, cassação de
de concessão ou permissão, os serviços públicos de in-
disponibilidade e destituição do cargo em comissão; II
teresse local”. Neste contexto, indique o serviço que é
- Em 02 (dois) anos, quando a suspensão; e III - Em 180
considerado de caráter essencial, como define o inciso V
(cento e oitenta) dias, quando a repreensão. Parágrafo 1º
do artigo 30 da Constituição Federal, e passível de con-
- O prazo de prescrição começa da data em que o lícito
cessão:
foi praticado. Parágrafo 2º - Os prazos de prescrição pre-
vistos na Lei Penal aplicam-se as infrações disciplinares
a) Guarda municipal
capituladas também como crime. Parágrafo 3º - A aber-
b) Transporte coletivo
tura de sindicância ou a instauração de processo discipli-
c) Cobrança de tributos
nar interrompe a prescrição. Parágrafo 4º - Interrompido
d) Varrição de rua
o curso da prescrição, este recomeçará a correr, pelo pra-
zo restante a partir do dia em que cessar a interrupção.”
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
( ) CERTO ( ) ERRADO
4. (Ano: 2018 Banca: COSEAC Órgão: Prefeitura de
CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
11
GABARITO
ANOTAÇÕES
1 CERTO _________________________________________________
2 CERTO
_________________________________________________
3 CERTO
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4 E
5 B _________________________________________________
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CONHECIMENTOS DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA
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12
ÍNDICE
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
por meio da educação o indivíduo acolha e respeite as cia a venda de uma casa, por exemplo, com um familiar
diferenças, pois “sob a aparente diferença há uma mes- (comunidade) e com um desconhecido (sociedade). Lo-
ma humanidade” gicamente, as relações irão ser bastante distintas entre os
Assim, por meio de um conjunto de relações esta- dois negócios: no negócio com um familiar irão preva-
belecidas nas diferentes formas de se adquirir, transmi- lecer as relações emotivas e de exclusividade; enquanto
tir e produzir conhecimentos busca-se a construção de que na negociação com um desconhecido, que irá valer
uma sociedade. Isso envolve questões filosóficas como é o uso da razão.
valores, questões histórico-sociais, questões econômicas,
teóricas e pedagógicas que estão na base do processo
educativo.
1
Nas comunidades, as normas de convivência e de Promover a família nas ações dos projetos pedagógi-
conduta de seus membros estão interligadas à tradição, cos significa enfatizar ações em seu favor e lutar para que
religião, consenso e respeito mútuo. Na sociedade, é to- possa dar vida as leis.
talmente diferente. Não há o estabelecimento de rela-
ções pessoais e na maioria das vezes, não há tamanha Referência:
preocupação com o outro indivíduo, fato que marca a BERG, G. D. A. O Estudo dos Fundamentos da Edu-
comunidade. Por isso, é fundamental haver um aparato cação e sua Influência na Relação entre Comunidade e
de leis e normas para regular a conduta dos indivíduos Escola.
que vivem em sociedade, tendo no Estado, um forte apa- GALVÃO, A. S. C. Fundamentos da Educação. In: Con-
rato burocrático, decisivo e central nesse sentido. Comu- cepções da Educação no Mundo Contemporâneo. Cap.
nidade e sociedade são as uniões de grupos sociais mais I, 2010.
comuns dentro da Sociologia. Sabemos que ninguém
consegue viver sozinho e que todas as pessoas precisam PARADIGMAS E CONCEITOS HISTÓRICOS
umas das outras para viver. Essa convivência caracteriza DA EDUCAÇÃO ESPECIAL E DAS PROPOSTAS
os grupos sociais, e dependendo do tipo de relações es- DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA. EDUCAÇÃO
tabelecidas entre as pessoas, esses grupos poderão se ESPECIAL NO BRASIL
distinguir. Comunidade e Escola, a parceria entre escola e
comunidade é indispensável para uma Educação de qua-
lidade e dependem de uma boa relação entre familiares, A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido
gestores, professores, funcionários e estudantes. muito distorcido e um movimento muito polemizado pe-
Pensar em educação hoje de qualidade é preciso ter los mais diferentes segmentos educacionais e sociais. No
em mente que a família esteja presente na vida escolar entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, per-
de todos os alunos e em todos os sentidos. Ou seja, é manentes ou temporários, mais graves ou menos severos
preciso uma interação entre escola e família. Nesse sen- no ensino regular nada mais é do que garantir o direito
tido, escola e família possuem uma grande tarefa, pois de todos à educação - e assim diz a Constituição!
nelas é que se formam os primeiros grupos sociais de Inovar não tem necessariamente o sentido do inusita-
uma criança. Envolver os familiares na elaboração da pro- do. As grandes inovações estão, muitas vezes na concre-
posta pedagógica pode ser meta da escola que pretende tização do óbvio, do simples, do que é possível fazer, mas
ter um equilíbrio no que diz respeito à disciplina de seus que precisa ser desvelado, para que possa ser compreen-
educandos. A sociedade moderna vive uma crise nos va- dido por todos e aceito sem outras resistências, senão
lores éticos e morais sem precedentes. Essa escola deve aquelas que dão brilho e vigor ao debate das novidades.
utilizar todas as oportunidades de contatos com os pais, O objetivo de nossa participação neste evento é cla-
para passar informações relevantes sobre seus objetivos, rear o sentido da inclusão, como inovação, tornando-o
recursos, problemas e também sobre as questões peda- compreensível, aos que se interessam pela educação
gógicas. Só assim a família irá se sentir comprometida como um direito de todos, que precisa ser respeitado.
com a melhoria da qualidade escolar e com o desenvol- Pretendemos, também demonstrar a viabilidade da inclu-
vimento escolar e com o desenvolvimento como ser hu- são pela transformação geral das escolas, visando a aten-
mano do seu filho. der aos princípios deste novo paradigma educacional.
Quando se fala em vida escolar e sociedade, não há Para descrever o nosso caminho na direção das es-
como não falar em Paulo Freire (1999), quando diz que “ colas inclusivas vamos focalizar nossas experiências, no
a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela cenário educacional brasileiro sob três ângulos: o dos
tampouco a sociedade muda. desafios provocados por essa inovação, o das ações no
Se opção é progressista, se não está a favor da vida e sentido de efetivá-la nas turmas escolares, incluindo o
não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito trabalho de formação de professores e, finalmente o das
e não do arbítrio, da convivência como diferente e não perspectivas que se abrem à educação escolar, a partir de
de sua negação, não se tem outro caminho se não viver sua implementação.
a opção que se escolheu. “Encarná-la, diminuindo, assim,
a distância entre o que diz e o que faz.” Uma educação para todos
Essa visão certamente, contribui para que tenha uma
maior clareza do que se pode fazer no enfrentamento O princípio democrático da educação para todos só
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
das questões sócio educativas no conjunto do movimen- se evidencia nos sistemas educacionais que se especiali-
to social. zam em todos os alunos, não apenas em alguns deles, os
Nesse sentido importante que o projeto inicial se faça alunos com deficiência. A inclusão, como consequência
levando em conta os grandes e sérios problemas sociais de um ensino de qualidade para todos os alunos provo-
tanto da escola como da família. ca e exige da escola brasileira novos posicionamentos e
No parágrafo IV do Eca (BRASIL,1990), encontramos é um motivo a mais para que o ensino se modernize e
que é direito dos pais ou responsáveis ter ciência do pro- para que os professores aperfeiçoem as suas práticas. É
cesso pedagógico, bem como participar das definições uma inovação que implica num esforço de atualização e
das propostas educacionais, ou seja trazer as famílias reestruturação das condições atuais da maioria de nossas
para o ambiente escolar. escolas de nível básico.
2
O motivo que sustenta a luta pela inclusão como uma As escolas que não estão atendendo alunos com
nova perspectiva para as pessoas com deficiência é, sem deficiência em suas turmas regulares se justificam, na
dúvida, a qualidade de ensino nas escolas públicas e pri- maioria das vezes pelo despreparo dos seus professores
vadas, de modo que se tornem aptas para responder às para esse fim. Existem também as que não acreditam nos
necessidades de cada um de seus alunos, de acordo com benefícios que esses alunos poderão tirar da nova situa-
suas especificidades, sem cair nas teias da educação es- ção, especialmente os casos mais graves, pois não teriam
pecial e suas modalidades de exclusão. condições de acompanhar os avanços dos demais cole-
O sucesso da inclusão de alunos com deficiência na gas e seriam ainda mais marginalizados e discriminados
escola regular decorre, portanto, das possibilidades de do que nas classes e escolas especiais.
se conseguir progressos significativos desses alunos na Em ambas as circunstâncias, o que fica evidenciado é
escolaridade, por meio da adequação das práticas peda- a necessidade de se redefinir e de se colocar em ação no-
gógicas à diversidade dos aprendizes. E só se consegue vas alternativas e práticas pedagógicas, que favoreçam a
atingir esse sucesso, quando a escola regular assume que
todos os alunos, o que, implica na atualização e desen-
as dificuldades de alguns alunos não são apenas deles,
volvimento de conceitos e em aplicações educacionais
mas resultam em grande parte do modo como o ensi-
compatíveis com esse grande desafio.
no é ministrado, a aprendizagem é concebida e avaliada.
Muda então a escola ou mudam os alunos, para se
Pois não apenas as deficientes são excluídas, mas tam-
bém as que são pobres, as que não vão às aulas porque ajustarem às suas velhas exigências? Ensino especiali-
trabalham, as que pertencem a grupos discriminados, as zado em todas as crianças ou ensino especial para de-
que de tanto repetir desistiram de estudar. ficientes? Professores que se aperfeiçoam para exercer
suas funções, atendendo às peculiaridades de todos os
Os desafios alunos, ou professores especializados para ensinar aos
Toda criança precisa da escola para aprender e não que não aprendem e aos que não sabem ensinar?
para marcar passo ou ser segregada em classes especiais
e atendimentos à parte. A trajetória escolar não pode
ser comparada a um rio perigoso e ameaçador, em cujas POLÍTICAS PÚBLICAS DE EDUCAÇÃO NO
águas os alunos podem afundar. Mas há sistemas orga- CENÁRIO INTERNACIONAL E NACIONAL
nizacionais de ensino que tornam esse percurso muito
difícil de ser vencido, uma verdadeira competição entre a
correnteza do rio e a força dos que querem se manter no POLÍTICA NACIONAL DE EDUCAÇÃO ESPECIAL NA
seu curso principal. PERSPECTIVA DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Um desses sistemas, que muito apropriadamente se
denomina “de cascata”, prevê a exclusão de algumas I – Introdução
crianças, que têm déficits temporários ou permanentes
e em função dos quais apresentam dificuldades para O movimento mundial pela educação inclusiva é uma
aprender. Esse sistema contrapõe-se à melhoria do en- ação política, cultural, social e pedagógica, desencadea-
sino nas escolas, pois mantém ativo, o ensino especial, da em defesa do direito de todos os alunos de estarem
que atende aos alunos que caíram na cascata, por não juntos, aprendendo e participando, sem nenhum tipo de
conseguirem corresponder às exigências e expectativas discriminação. A educação inclusiva constitui um para-
da escola regular. Para se evitar a queda na cascata, na digma educacional fundamentado na concepção de di-
maioria das vezes sem volta, é preciso remar contra a reitos humanos, que conjuga igualdade e diferença como
correnteza, ou seja, enfrentar os desafios da inclusão: o valores indissociáveis, e que avança em relação à ideia de
ensino de baixa qualidade e o subsistema de ensino es- equidade formal ao contextualizar as circunstâncias his-
pecial, desvinculada e justaposto ao regular. tóricas da produção da exclusão dentro e fora da escola.
Priorizar a qualidade do ensino regular é, pois, um de- Ao reconhecer que as dificuldades enfrentadas nos sis-
safio que precisa ser assumido por todos os educadores. temas de ensino evidenciam a necessidade de confrontar
É um compromisso inadiável das escolas, pois a educa- as práticas discriminatórias e criar alternativas para superá-
ção básica é um dos fatores do desenvolvimento eco- -las, a educação inclusiva assume espaço central no debate
nômico e social. Trata-se de uma tarefa possível de ser
acerca da sociedade contemporânea e do papel da escola
realizada, mas é impossível de se efetivar por meio dos
na superação da lógica da exclusão. A partir dos referen-
modelos tradicionais de organização do sistema escolar.
ciais para a construção de sistemas educacionais inclusivos,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
3
II – Marcos históricos e normativos Em 1973, o MEC cria o Centro Nacional de Educação
A escola historicamente se caracterizou pela visão da Especial – CENESP, responsável pela gerência da educa-
educação que delimita a escolarização como privilégio ção especial no Brasil, que, sob a égide integracionista,
de um grupo, uma exclusão que foi legitimada nas políti- impulsionou ações educacionais voltadas às pessoas
cas e práticas educacionais reprodutoras da ordem social. com deficiência e às pessoas com superdotação, mas
A partir do processo de democratização da escola, eviden- ainda configuradas por campanhas assistenciais e inicia-
cia-se o paradoxo inclusão/exclusão quando os sistemas tivas isoladas do Estado.
de ensino universalizam o acesso, mas continuam excluin- Nesse período, não se efetiva uma política pública de
do indivíduos e grupos considerados fora dos padrões acesso universal à educação, permanecendo a concep-
homogeneizadores da escola. Assim, sob formas distintas, ção de “políticas especiais” para tratar da educação de
a exclusão tem apresentado características comuns nos alunos com deficiência. No que se refere aos alunos com
processos de segregação e integração, que pressupõem a superdotação, apesar do acesso ao ensino regular, não é
seleção, naturalizando o fracasso escolar.
organizado um atendimento especializado que conside-
A partir da visão dos direitos humanos e do concei-
re as suas singularidades de aprendizagem.
to de cidadania fundamentado no reconhecimento das
A Constituição Federal de 1988 traz como um dos
diferenças e na participação dos sujeitos, decorre uma
seus objetivos fundamentais “promover o bem de to-
identificação dos mecanismos e processos de hierarqui-
zação que operam na regulação e produção das desi- dos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
gualdades. Essa problematização explicita os processos quaisquer outras formas de discriminação” (art.3º, inciso
normativos de distinção dos alunos em razão de carac- IV). Define, no artigo 205, a educação como um direito de
terísticas intelectuais, físicas, culturais, sociais e linguísti- todos, garantindo o pleno desenvolvimento da pessoa, o
cas, entre outras, estruturantes do modelo tradicional de exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho.
educação escolar. No seu artigo 206, inciso I, estabelece a “igualdade de
A educação especial se organizou tradicionalmente condições de acesso e permanência na escola” como um
como atendimento educacional especializado substitu- dos princípios para o ensino e garante, como dever do
tivo ao ensino comum, evidenciando diferentes com- Estado, a oferta do atendimento educacional especiali-
preensões, terminologias e modalidades que levaram à zado, preferencialmente na rede regular de ensino (art.
criação de instituições especializadas, escolas especiais 208).
e classes especiais. Essa organização, fundamentada no O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, Lei
conceito de normalidade/anormalidade, determina for- nº 8.069/90, no artigo 55, reforça os dispositivos legais
mas de atendimento clínico-terapêuticos fortemente supracitados ao determinar que “os pais ou responsáveis
ancorados nos testes psicométricos que, por meio de têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na
diagnósticos, definem as práticas escolares para os alu- rede regular de ensino”. Também nessa década, docu-
nos com deficiência. mentos como a Declaração Mundial de Educação para
No Brasil, o atendimento às pessoas com deficiência Todos (1990) e a Declaração de Salamanca (1994) passam
teve início na época do Império, com a criação de duas a influenciar a formulação das políticas públicas da edu-
instituições: o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, em cação inclusiva.
1854, atual Instituto Benjamin Constant – IBC, e o Ins- Em 1994, é publicada a Política Nacional de Educa-
tituto dos Surdos Mudos, em 1857, hoje denominado ção Especial, orientando o processo de “integração ins-
Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES, am- trucional” que condiciona o acesso às classes comuns
bos no Rio de Janeiro. No início do século XX é funda- do ensino regular àqueles que “(...) possuem condições
do o Instituto Pestalozzi (1926), instituição especializada
de acompanhar e desenvolver as atividades curriculares
no atendimento às pessoas com deficiência mental; em
programadas do ensino comum, no mesmo ritmo que
1954, é fundada a primeira Associação de Pais e Amigos
os alunos ditos normais” (p.19). Ao reafirmar os pressu-
dos Excepcionais – APAE; e, em 1945, é criado o primeiro
postos construídos a partir de padrões homogêneos de
atendimento educacional especializado às pessoas com
superdotação na Sociedade Pestalozzi, por Helena Anti- participação e aprendizagem, a Política não provoca uma
poff. reformulação das práticas educacionais de maneira que
Em 1961, o atendimento educacional às pessoas sejam valorizados os diferentes potenciais de aprendiza-
com deficiência passa a ser fundamentado pelas dispo- gem no ensino comum, mas mantendo a responsabilida-
sições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- de da educação desses alunos exclusivamente no âmbito
da educação especial.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
4
educação básica, a “possibilidade de avanço nos cursos e A Lei nº 10.436/02 reconhece a Língua Brasileira de Si-
nas séries mediante verificação do aprendizado” (art. 24, nais – Libras como meio legal de comunicação e expressão,
inciso V) e “[...] oportunidades educacionais apropriadas, determinando que sejam garantidas formas institucionali-
consideradas as características do alunado, seus interes- zadas de apoiar seu uso e difusão, bem como a inclusão da
ses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e disciplina de Libras como parte integrante do currículo nos
exames” (art. 37). cursos de formação de professores e de fonoaudiologia.
Em 1999, o Decreto nº 3.298, que regulamenta a Lei nº A Portaria nº 2.678/02 do MEC aprova diretrizes e
7.853/89, ao dispor sobre a Política Nacional para a Inte- normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão
gração da Pessoa Portadora de Deficiência, define a edu- do sistema Braille em todas as modalidades de ensino,
cação especial como uma modalidade transversal a todos compreendendo o projeto da Grafia Braille para a Língua
os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atuação Portuguesa e a recomendação para o seu uso em todo o
complementar da educação especial ao ensino regular. território nacional.
Acompanhando o processo de mudança, as Diretrizes Em 2003, é implementado pelo MEC o Programa Edu-
Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, cação Inclusiva: direito à diversidade, com vistas a apoiar
Resolução CNE/CEB nº 2/2001, no artigo 2º, determinam a transformação dos sistemas de ensino em sistemas
que: educacionais inclusivos, promovendo um amplo proces-
“Os sistemas de ensino devem matricular todos os so de formação de gestores e educadores nos municípios
alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o aten- brasileiros para a garantia do direito de acesso de todos
dimento aos educandos com necessidades educacionais à escolarização, à oferta do atendimento educacional es-
especiais, assegurando as condições necessárias para pecializado e à garantia da acessibilidade.
uma educação de qualidade para todos. (MEC/SEESP, Em 2004, o Ministério Público Federal publica o docu-
2001).” mento O Acesso de Alunos com Deficiência às Escolas e
As Diretrizes ampliam o caráter da educação especial Classes Comuns da Rede Regular, com o objetivo de dis-
para realizar o atendimento educacional especializado seminar os conceitos e diretrizes mundiais para a inclu-
complementar ou suplementar à escolarização, porém, são, reafirmando o direito e os benefícios da escolariza-
ao admitir a possibilidade de substituir o ensino regular, ção de alunos com e sem deficiência nas turmas comuns
não potencializam a adoção de uma política de educa- do ensino regular.
ção inclusiva na rede pública de ensino, prevista no seu Impulsionando a inclusão educacional e social, o De-
artigo 2º. creto nº 5.296/04 regulamentou as Leis nº 10.048/00 e nº
O Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.098/00, estabelecendo normas e critérios para a pro-
10.172/2001, destaca que “o grande avanço que a déca- moção da acessibilidade às pessoas com deficiência ou
da da educação deveria produzir seria a construção de com mobilidade reduzida. Nesse contexto, o Programa
uma escola inclusiva que garanta o atendimento à diver- Brasil Acessível, do Ministério das Cidades, é desenvolvi-
sidade humana”. Ao estabelecer objetivos e metas para do com o objetivo de promover a acessibilidade urbana
que os sistemas de ensino favoreçam o atendimento às e apoiar ações que garantam o acesso universal aos es-
necessidades educacionais especiais dos alunos, aponta paços públicos.
um déficit referente à oferta de matrículas para alunos O Decreto nº 5.626/05, que regulamenta a Lei nº
com deficiência nas classes comuns do ensino regular, 10.436/2002, visando ao acesso à escola dos alunos sur-
à formação docente, à acessibilidade física e ao atendi- dos, dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina
mento educacional especializado. curricular, a formação e a certificação de professor, ins-
A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no trutor e tradutor/intérprete de Libras, o ensino da Língua
Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que as pes- Portuguesa como segunda língua para alunos surdos e
soas com deficiência têm os mesmos direitos humanos a organização da educação bilíngue no ensino regular.
e liberdades fundamentais que as demais pessoas, defi- Em 2005, com a implantação dos Núcleos de Ativi-
nindo como discriminação com base na deficiência toda dades de Altas Habilidades/Superdotação – NAAH/S em
diferenciação ou exclusão que possa impedir ou anular todos os estados e no Distrito Federal, são organizados
o exercício dos direitos humanos e de suas liberdades centros de referência na área das altas habilidades/su-
fundamentais. Este Decreto tem importante repercussão perdotação para o atendimento educacional especializa-
na educação, exigindo uma reinterpretação da educação do, para a orientação às famílias e a formação continuada
especial, compreendida no contexto da diferenciação, dos professores, constituindo a organização da política
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
adotado para promover a eliminação das barreiras que de educação inclusiva de forma a garantir esse atendi-
impedem o acesso à escolarização. mento aos alunos da rede pública de ensino.
Na perspectiva da educação inclusiva, a Resolução A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com De-
CNE/CP nº 1/2002, que estabelece as Diretrizes Cur- ficiência, aprovada pela ONU em 2006 e da qual o Brasil
riculares Nacionais para a Formação de Professores da é signatário, estabelece que os Estados-Partes devem as-
Educação Básica, define que as instituições de ensino su- segurar um sistema de educação inclusiva em todos os
perior devem prever, em sua organização curricular, for- níveis de ensino, em ambientes que maximizem o desen-
mação docente voltada para a atenção à diversidade e volvimento acadêmico e social compatível com a meta
que contemple conhecimentos sobre as especificidades da plena participação e inclusão, adotando medidas para
dos alunos com necessidades educacionais especiais. garantir que:
5
a) As pessoas com deficiência não sejam excluídas Para compor esses indicadores no âmbito da educa-
do sistema educacional geral sob alegação de ção especial, o Censo Escolar/MEC/INEP coleta dados re-
deficiência e que as crianças com deficiência não ferentes ao número geral de matrículas; à oferta da ma-
sejam excluídas do ensino fundamental gratuito e trícula nas escolas públicas, escolas privadas e privadas
compulsório, sob alegação de deficiência; sem fins lucrativos; às matrículas em classes especiais,
b) As pessoas com deficiência possam ter acesso ao escola especial e classes comuns de ensino regular; ao
ensino fundamental inclusivo, de qualidade e gra- número de alunos do ensino regular com atendimento
tuito, em igualdade de condições com as demais educacional especializado; às matrículas, conforme tipos
pessoas na comunidade em que vivem (Art.24). de deficiência, transtornos do desenvolvimento e altas
habilidades/superdotação; à infraestrutura das escolas
Neste mesmo ano, a Secretaria Especial dos Direi- quanto à acessibilidade arquitetônica, à sala de recursos
tos Humanos, os Ministérios da Educação e da Justiça, ou aos equipamentos específicos; e à formação dos pro-
juntamente com a Organização das Nações Unidas para fessores que atuam no atendimento educacional espe-
a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO, lançam o cializado.
Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, que A partir de 2004, são efetivadas mudanças no instru-
objetiva, dentre as suas ações, contemplar, no currículo mento de pesquisa do Censo, que passa a registrar a sé-
da educação básica, temáticas relativas às pessoas com rie ou ciclo escolar dos alunos identificados no campo da
deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibili- educação especial, possibilitando monitorar o percurso
tem acesso e permanência na educação superior. escolar. Em 2007, o formulário impresso do Censo Escolar
Em 2007, é lançado o Plano de Desenvolvimento da foi transformado em um sistema de informações on-line,
Educação – PDE, reafirmado pela Agenda Social, tendo o Censo Web, que qualifica o processo de manipulação e
como eixos a formação de professores para a educação tratamento das informações, permite atualização dos da-
especial, a implantação de salas de recursos multifuncio- dos dentro do mesmo ano escolar, bem como possibilita
nais, a acessibilidade arquitetônica dos prédios escolares, o cruzamento com outros bancos de dados, tais como
acesso e a permanência das pessoas com deficiência na os das áreas de saúde, assistência e previdência social.
educação superior e o monitoramento do acesso à es- Também são realizadas alterações que ampliam o univer-
cola dos favorecidos pelo Benefício de Prestação Conti- so da pesquisa, agregando informações individualizadas
nuada – BPC. dos alunos, das turmas, dos professores e da escola.
No documento do MEC, Plano de Desenvolvimento Com relação aos dados da educação especial, o Censo
da Educação: razões, princípios e programas é reafirma- Escolar registra uma evolução nas matrículas, de 337.326
da a visão que busca superar a oposição entre educação em 1998 para 700.624 em 2006, expressando um cresci-
regular e educação especial. mento de 107%. No que se refere ao ingresso em classes
Contrariando a concepção sistêmica da transversali- comuns do ensino regular, verifica-se um crescimento de
dade da educação especial nos diferentes níveis, etapas e 640%, passando de 43.923 alunos em 1998 para 325.316
modalidades de ensino, a educação não se estruturou na em 2006, conforme demonstra o gráfico a seguir:
perspectiva da inclusão e do atendimento às necessida-
des educacionais especiais, limitando, o cumprimento do
princípio constitucional que prevê a igualdade de con-
dições para o acesso e permanência na escola e a conti-
nuidade nos níveis mais elevados de ensino (2007, p. 09).
Para a implementação do PDE é publicado o Decreto
nº 6.094/2007, que estabelece nas diretrizes do Compro-
misso Todos pela Educação, a garantia do acesso e per-
manência no ensino regular e o atendimento às neces-
sidades educacionais especiais dos alunos, fortalecendo
seu ingresso nas escolas públicas.
6
Com o desenvolvimento das ações e políticas de edu- Com relação à formação inicial dos professores que
cação inclusiva nesse período, evidencia-se um cresci- atuam na educação especial, o Censo de 1998, indica
mento de 146% das matrículas nas escolas públicas, que que 3,2% possui ensino fundamental, 51% ensino médio
alcançaram 441.155 (63%) alunos em 2006, conforme e 45,7% ensino superior. Em 2006, dos 54.625 professo-
demonstra o gráfico: res nessa função, 0,62% registram ensino fundamental,
24% ensino médio e 75,2% ensino superior. Nesse mes-
mo ano, 77,8% desses professores, declararam ter curso
específico nessa área de conhecimento.
7
O conceito de necessidades educacionais especiais, VI – Diretrizes da Política Nacional de Educação
que passa a ser amplamente disseminado a partir dessa Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva
Declaração, ressalta a interação das características indi-
viduais dos alunos com o ambiente educacional e social. A educação especial é uma modalidade de ensino que
No entanto, mesmo com uma perspectiva conceitual que perpassa todos os níveis, etapas e modalidades, realiza o
aponte para a organização de sistemas educacionais in- atendimento educacional especializado, disponibiliza os
clusivos, que garanta o acesso de todos os alunos e os recursos e serviços e orienta quanto a sua utilização no
apoios necessários para sua participação e aprendiza- processo de ensino e aprendizagem nas turmas comuns
gem, as políticas implementadas pelos sistemas de ensi- do ensino regular.
no não alcançaram esse objetivo. O atendimento educacional especializado tem como
Na perspectiva da educação inclusiva, a educação es- função identificar, elaborar e organizar recursos pedagó-
pecial passa a integrar a proposta pedagógica da esco- gicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para
la regular, promovendo o atendimento às necessidades a plena participação dos alunos, considerando suas ne-
educacionais especiais de alunos com deficiência, trans- cessidades específicas. As atividades desenvolvidas no
tornos globais de desenvolvimento e altas habilidades/ atendimento educacional especializado diferenciam-se
superdotação. Nestes casos e outros, que implicam em daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo
transtornos funcionais específicos, a educação especial substitutivas à escolarização. Esse atendimento comple-
atua de forma articulada com o ensino comum, orien- menta e/ou suplementa a formação dos alunos com vis-
tando para o atendimento às necessidades educacionais tas à autonomia e independência na escola e fora dela.
especiais desses alunos. Dentre as atividades de atendimento educacional
A educação especial direciona suas ações para o especializado são disponibilizados programas de enri-
atendimento às especificidades desses alunos no proces- quecimento curricular, o ensino de linguagens e códigos
so educacional e, no âmbito de uma atuação mais ampla específicos de comunicação e sinalização e tecnologia
na escola, orienta a organização de redes de apoio, a for- assistiva. Ao longo de todo o processo de escolarização
mação continuada, a identificação de recursos, serviços e esse atendimento deve estar articulado com a proposta
o desenvolvimento de práticas colaborativas. pedagógica do ensino comum. O atendimento educa-
Os estudos mais recentes no campo da educação es- cional especializado é acompanhado por meio de instru-
pecial enfatizam que as definições e uso de classificações mentos que possibilitem monitoramento e avaliação da
devem ser contextualizados, não se esgotando na mera oferta realizada nas escolas da rede pública e nos centros
especificação ou categorização atribuída a um quadro de de atendimento educacional especializados públicos ou
deficiência, transtorno, distúrbio, síndrome ou aptidão. conveniados.
Considera-se que as pessoas se modificam continua- O acesso à educação tem início na educação infan-
mente, transformando o contexto no qual se inserem. til, na qual se desenvolvem as bases necessárias para a
Esse dinamismo exige uma atuação pedagógica voltada construção do conhecimento e desenvolvimento global
para alterar a situação de exclusão, reforçando a impor- do aluno. Nessa etapa, o lúdico, o acesso às formas di-
tância dos ambientes heterogêneos para a promoção da ferenciadas de comunicação, a riqueza de estímulos nos
aprendizagem de todos os alunos. aspectos físicos, emocionais, cognitivos, psicomotores e
A partir dessa conceituação, considera-se pessoa com sociais e a convivência com as diferenças favorecem as
deficiência aquela que tem impedimentos de longo pra- relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança.
zo, de natureza física, mental ou sensorial que, em inte- Do nascimento aos três anos, o atendimento educacio-
ração com diversas barreiras, podem ter restringida sua nal especializado se expressa por meio de serviços de es-
participação plena e efetiva na escola e na sociedade. timulação precoce, que objetivam otimizar o processo de
Os alunos com transtornos globais do desenvolvimento desenvolvimento e aprendizagem em interface com os ser-
são aqueles que apresentam alterações qualitativas das viços de saúde e assistência social. Em todas as etapas e mo-
interações sociais recíprocas e na comunicação, um re- dalidades da educação básica, o atendimento educacional
pertório de interesses e atividades restrito, estereotipado especializado é organizado para apoiar o desenvolvimento
e repetitivo. Incluem-se nesse grupo alunos com autis- dos alunos, constituindo oferta obrigatória dos sistemas de
mo, síndromes do espectro do autismo e psicose infantil. ensino. Deve ser realizado no turno inverso ao da classe co-
Alunos com altas habilidades/superdotação demonstram mum, na própria escola ou centro especializado que realize
potencial elevado em qualquer uma das seguintes áreas, esse serviço educacional.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
isoladas ou combinadas: intelectual, acadêmica, lideran- Desse modo, na modalidade de educação de jovens
ça, psicomotricidade e artes, além de apresentar grande e adultos e educação profissional, as ações da educação
criatividade, envolvimento na aprendizagem e realização especial possibilitam a ampliação de oportunidades de
de tarefas em áreas de seu interesse. escolarização, formação para ingresso no mundo do tra-
balho e efetiva participação social.
A interface da educação especial na educação indíge-
na, do campo e quilombola deve assegurar que os recur-
sos, serviços e atendimento educacional especializado
estejam presentes nos projetos pedagógicos construídos
com base nas diferenças socioculturais desses grupos.
8
Na educação superior, a educação especial se efetiva atuação nas salas comuns do ensino regular, nas salas de
por meio de ações que promovam o acesso, a perma- recursos, nos centros de atendimento educacional espe-
nência e a participação dos alunos. Estas ações envolvem cializado, nos núcleos de acessibilidade das instituições
o planejamento e a organização de recursos e serviços de educação superior, nas classes hospitalares e nos am-
para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas co- bientes domiciliares, para a oferta dos serviços e recursos
municações, nos sistemas de informação, nos materiais de educação especial.
didáticos e pedagógicos, que devem ser disponibilizados Para assegurar a intersetorialidade na implementação
nos processos seletivos e no desenvolvimento de todas das políticas públicas a formação deve contemplar co-
as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a ex- nhecimentos de gestão de sistema educacional inclusivo,
tensão. tendo em vista o desenvolvimento de projetos em par-
Para o ingresso dos alunos surdos nas escolas co- ceria com outras áreas, visando à acessibilidade arquite-
muns, a educação bilíngue – Língua Portuguesa/Libras tônica, aos atendimentos de saúde, à promoção de ações
desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na de assistência social, trabalho e justiça.
língua de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como Os sistemas de ensino devem organizar as condições
segunda língua na modalidade escrita para alunos sur- de acesso aos espaços, aos recursos pedagógicos e à co-
dos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua municação que favoreçam a promoção da aprendizagem
Portuguesa e o ensino da Libras para os demais alunos e a valorização das diferenças, de forma a atender as
da escola. O atendimento educacional especializado para necessidades educacionais de todos os alunos. A acessi-
esses alunos é ofertado tanto na modalidade oral e es- bilidade deve ser assegurada mediante a eliminação de
crita quanto na língua de sinais. Devido à diferença lin- barreiras arquitetônicas, urbanísticas, na edificação – in-
guística, orienta-se que o aluno surdo esteja com outros cluindo instalações, equipamentos e mobiliários – e nos
surdos em turmas comuns na escola regular. transportes escolares, bem como as barreiras nas comu-
O atendimento educacional especializado é realizado nicações e informações.
mediante a atuação de profissionais com conhecimentos
específicos no ensino da Língua Brasileira de Sinais, da
Língua Portuguesa na modalidade escrita como segunda LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NA-
língua, do sistema Braille, do Soroban, da orientação e CIONAL Nº 9394/96 (ATUALIZADA ATÉ A LEI Nº
mobilidade, das atividades de vida autônoma, da comu- 13.796/2019).
nicação alternativa, do desenvolvimento dos processos
mentais superiores, dos programas de enriquecimento A lei estudada neste tópico “estabelece as diretrizes
curricular, da adequação e produção de materiais didá- e bases da educação nacional”. Data de 20 de dezembro
ticos e pedagógicos, da utilização de recursos ópticos e de 1996, tendo sido promulgada pelo ex-presidente Fer-
não ópticos, da tecnologia assistiva e outros. nando Henrique Cardoso, mas já passou por inúmeras
A avaliação pedagógica como processo dinâmico alterações desde então. Partamos para o comentário em
considera tanto o conhecimento prévio e o nível atual bloco de seus dispositivos:
de desenvolvimento do aluno quanto às possibilidades
de aprendizagem futura, configurando uma ação peda- TÍTULO I
gógica processual e formativa que analisa o desempe- DA EDUCAÇÃO
nho do aluno em relação ao seu progresso individual,
prevalecendo na avaliação os aspectos qualitativos que Art. 1º A educação abrange os processos formativos
indiquem as intervenções pedagógicas do professor. que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
No processo de avaliação, o professor deve criar estra- humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pes-
tégias considerando que alguns alunos podem deman- quisa, nos movimentos sociais e organizações da so-
dar ampliação do tempo para a realização dos trabalhos ciedade civil e nas manifestações culturais.
e o uso da língua de sinais, de textos em Braille, de in- § 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se de-
formática ou de tecnologia assistiva como uma prática senvolve, predominantemente, por meio do ensino,
cotidiana. em instituições próprias.
Cabe aos sistemas de ensino, ao organizar a educa- § 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo
ção especial na perspectiva da educação inclusiva, dis- do trabalho e à prática social.
ponibilizar as funções de instrutor, tradutor/intérprete O primeiro artigo da LDB estabelece que a educação
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
de Libras e guia- intérprete, bem como de monitor ou é um processo que não se dá exclusivamente nas esco-
cuidador dos alunos com necessidade de apoio nas ati- las. Trata-se da clássica distinção entre educação formal
vidades de higiene, alimentação, locomoção, entre ou- e não formal ou informal: “A educação formal é aquela
tras, que exijam auxílio constante no cotidiano escolar. desenvolvida nas escolas, com conteúdos previamente
Para atuar na educação especial, o professor deve ter demarcados; a informal como aquela que os indivíduos
como base da sua formação, inicial e continuada, conhe- aprendem durante seu processo de socialização - na fa-
cimentos gerais para o exercício da docência e conhe- mília, bairro, clube, amigos, etc., carregada de valores e
cimentos específicos da área. Essa formação possibilita cultura própria, de pertencimento e sentimentos herda-
a sua atuação no atendimento educacional especializa- dos; e a educação não formal é aquela que se aprende ‘no
do, aprofunda o caráter interativo e interdisciplinar da mundo da vida’, via os processos de compartilhamento
9
de experiências, principalmente em espaços e ações co-
letivas cotidianas”1. A LDB disciplina apenas a educação #FicaDica
escolar, ou seja, a educação formal, que não exclui o
papel das famílias e das comunidades na educação in- A educação é dever da família e do Estado.
formal.
TÍTULO III
#FicaDica DO DIREITO À EDUCAÇÃO E DO DEVER DE EDUCAR
Educação formal – escolar Art. 4º O dever do Estado com educação escolar públi-
Educação informal – comunitária, familiar, ca será efetivado mediante a garantia de:
religiosa. I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (qua-
tro) aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da
seguinte forma:
TÍTULO II a) pré-escola;
DOS PRINCÍPIOS E FINS DA EDUCAÇÃO NACIONAL b) ensino fundamental;
c) ensino médio;
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, ins- II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cin-
pirada nos princípios de liberdade e nos ideais de soli- co) anos de idade;
dariedade humana, tem por finalidade o pleno desen- III - atendimento educacional especializado gratuito
volvimento do educando, seu preparo para o exercício aos educandos com deficiência, transtornos globais do
da cidadania e sua qualificação para o trabalho. desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguin- preferencialmente na rede regular de ensino;
tes princípios: IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental
I - igualdade de condições para o acesso e permanên- e médio para todos os que não os concluíram na idade
cia na escola; própria;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pes-
a cultura, o pensamento, a arte e o saber; quisa e da criação artística, segundo a capacidade de
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas; cada um;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância; VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
V - coexistência de instituições públicas e privadas de condições do educando;
ensino; VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimen- adultos, com características e modalidades adequadas
tos oficiais; às suas necessidades e disponibilidades, garantindo-se
aos que forem trabalhadores as condições de acesso e
VII - valorização do profissional da educação escolar;
permanência na escola;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas
desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
da educação básica, por meio de programas suple-
IX - garantia de padrão de qualidade;
mentares de material didático-escolar, transporte, ali-
X - valorização da experiência extraescolar; mentação e assistência à saúde;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, defi-
as práticas sociais; nidos como a variedade e quantidade mínimas, por
XII - consideração com a diversidade étnico-racial; aluno, de insumos indispensáveis ao desenvolvimento
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem do processo de ensino-aprendizagem.
ao longo da vida. X - vaga na escola pública de educação infantil ou de
ensino fundamental mais próxima de sua residência a
A educação escolar deve permitir a formação do toda criança a partir do dia em que completar 4 (qua-
cidadão e do trabalhador: uma pessoa que consiga se tro) anos de idade.
inserir no mercado de trabalho e ter noções adequadas Art. 4º-A. É assegurado atendimento educacional, du-
de cidadania e solidariedade no convívio social. Entre rante o período de internação, ao aluno da educação
os princípios, trabalha-se com o direito de acesso à básica internado para tratamento de saúde em regime
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
educação de qualidade (gratuita nos estabelecimentos hospitalar ou domiciliar por tempo prolongado, con-
públicos), a liberdade nas atividades de ensino em geral forme dispuser o Poder Público em regulamento, na
(tanto para o educador quanto para o educado), a valo- esfera de sua competência federativa.
rização do professor, o incentivo à educação informal e
o respeito às diversidades de ideias, gêneros, raça e cor. Art. 5º O acesso à educação básica obrigatória é direi-
to público subjetivo, podendo qualquer cidadão, gru-
po de cidadãos, associação comunitária, organização
1 GOHN, Maria da Glória. Educação não-formal, participação da sindical, entidade de classe ou outra legalmente cons-
sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio: aval. tituída e, ainda, o Ministério Público, acionar o poder
pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n. 50, p. 27-38, jan./mar. público para exigi-lo.
2006.
10
§ 1º O poder público, na esfera de sua competência § 2º O cumprimento das formas de prestação alter-
federativa, deverá: nativa de que trata este artigo substituirá a obrigação
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes original para todos os efeitos, inclusive regularização
em idade escolar, bem como os jovens e adultos que do registro de frequência.
não concluíram a educação básica; § 3º As instituições de ensino implementarão progres-
II - fazer-lhes a chamada pública; sivamente, no prazo de 2 (dois) anos, as providências e
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequên- adaptações necessárias à adequação de seu funciona-
cia à escola. mento às medidas previstas neste artigo.
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Pú- § 4º O disposto neste artigo não se aplica ao ensino
blico assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino militar a que se refere o art. 83 desta Lei.
obrigatório, nos termos deste artigo, contemplando
em seguida os demais níveis e modalidades de ensino, Conforme se percebe pelo artigo 4º, divide-se em
conforme as prioridades constitucionais e legais. etapas a formação escolar, nos seguintes termos:
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste - A educação básica é obrigatória e gratuita. Envol-
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judi- ve a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino
ciário, na hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição médio. A educação infantil deve ser garantida pró-
Federal, sendo gratuita e de rito sumário a ação judi- xima à residência. Com efeito, existe a garantia do
cial correspondente. direito à creche gratuita. No mais, pessoas fora da
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade compe- idade escolar que queiram completar seus estudos
tente para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, têm direito ao ensino fundamental e médio.
poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade. - A educação superior envolve os níveis mais eleva-
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade dos do ensino, da pesquisa e da criação artística,
de ensino, o Poder Público criará formas alternativas devendo ser acessível conforme a capacidade de
de acesso aos diferentes níveis de ensino, independen- cada um.
temente da escolarização anterior. - Neste contexto, devem ser assegurados programas
Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a ma- suplementares de material didático-escolar, trans-
trícula das crianças na educação básica a partir dos 4 porte, alimentação e assistência à saúde.
(quatro) anos de idade.
O artigo 5º reitera a gratuidade e obrigatoriedade
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas do ensino básico e assegura a possibilidade de se bus-
as seguintes condições: car judicialmente a garantia deste direito em caso de
I - cumprimento das normas gerais da educação na- negativa pelo poder público. Será possível fazê-lo por
cional e do respectivo sistema de ensino; meio de mandado de segurança ou ação civil pública.
II - autorização de funcionamento e avaliação de qua- Além da judicialização para fazer valer o direito na es-
lidade pelo Poder Público; fera cível, cabe em caso de negligência o acionamento
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o na esfera penal, buscando-se a punição por crime de
previsto no art. 213 da Constituição Federal. responsabilidade.
Adiante, coloca-se o dever dos pais ou responsáveis
Art. 7º-A Ao aluno regularmente matriculado em efetuar a matrícula da criança.
instituição de ensino pública ou privada, de qualquer Por fim, o artigo 7º estabelece a possibilidade do en-
nível, é assegurado, no exercício da liberdade de cons- sino particular, desde que sejam respeitadas as normas
ciência e de crença, o direito de, mediante prévio e da educação nacional, autorizado o funcionamento pelo
motivado requerimento, ausentar-se de prova ou de poder público e que tenha possibilidade de se manter
aula marcada para dia em que, segundo os preceitos independentemente de auxílio estatal, embora exista
de sua religião, seja vedado o exercício de tais ativida- previsão de tais auxílios em circunstâncias determinadas
des, devendo-se-lhe atribuir, a critério da instituição e descritas no artigo 213, CF.
sem custos para o aluno, uma das seguintes presta- Já o artigo 7o-A, passando a valer em 03 de março
ções alternativas, nos termos do inciso VIII do caput do de 2019, disciplina o direito do aluno de, por motivo
art. 5º da Constituição Federal: religioso, faltar à aula ou à prova, devendo ser aplicada
I - prova ou aula de reposição, conforme o caso, a ser atividade ou aula substitutiva para eventual reposição.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
11
TÍTULO IV § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
DA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
mantenham instituições de educação superior.
Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
nicípios organizarão, em regime de colaboração, os Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
respectivos sistemas de ensino. I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
§ 1º Caberá à União a coordenação da política na- tuições oficiais dos seus sistemas de ensino;
cional de educação, articulando os diferentes níveis e II - definir, com os Municípios, formas de colaboração
sistemas e exercendo função normativa, redistributiva na oferta do ensino fundamental, as quais devem as-
e supletiva em relação às demais instâncias educa- segurar a distribuição proporcional das responsabili-
cionais. dades, de acordo com a população a ser atendida e os
§ 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organi- recursos financeiros disponíveis em cada uma dessas
zação nos termos desta Lei. esferas do Poder Público;
Art. 9º A União incumbir-se-á de: III - elaborar e executar políticas e planos educacio-
I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em cola- nais, em consonância com as diretrizes e planos na-
boração com os Estados, o Distrito Federal e os Mu- cionais de educação, integrando e coordenando as
nicípios; suas ações e as dos seus Municípios;
II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e ins- IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
tituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
Territórios; educação superior e os estabelecimentos do seu siste-
III - prestar assistência técnica e financeira aos Esta- ma de ensino;
dos, ao Distrito Federal e aos Municípios para o desen-
volvimento de seus sistemas de ensino e o atendimen- V - baixar normas complementares para o seu sistema
to prioritário à escolaridade obrigatória, exercendo de ensino;
sua função redistributiva e supletiva; VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o prioridade, o ensino médio a todos que o demanda-
Distrito Federal e os Municípios, competências e dire- rem, respeitado o disposto no art. 38 desta Lei;
trizes para a educação infantil, o ensino fundamental VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede
e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus estadual.
conteúdos mínimos, de modo a assegurar formação Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as
básica comum; competências referentes aos Estados e aos Municípios.
IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedi- Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de:
mentos para identificação, cadastramento e atendi- I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e insti-
mento, na educação básica e na educação superior, de tuições oficiais dos seus sistemas de ensino, integran-
alunos com altas habilidades ou superdotação; do-os às políticas e planos educacionais da União e
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a dos Estados;
educação; II - exercer ação redistributiva em relação às suas es-
VI - assegurar processo nacional de avaliação do colas;
rendimento escolar no ensino fundamental, médio e III - baixar normas complementares para o seu siste-
superior, em colaboração com os sistemas de ensino, ma de ensino;
objetivando a definição de prioridades e a melhoria da IV - autorizar, credenciar e supervisionar os estabele-
qualidade do ensino; cimentos do seu sistema de ensino;
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação V - oferecer a educação infantil em creches e pré-es-
e pós-graduação; colas, e, com prioridade, o ensino fundamental, per-
VIII - assegurar processo nacional de avaliação das mitida a atuação em outros níveis de ensino somente
instituições de educação superior, com a cooperação quando estiverem atendidas plenamente as neces-
dos sistemas que tiverem responsabilidade sobre este sidades de sua área de competência e com recursos
nível de ensino; acima dos percentuais mínimos vinculados pela Cons-
IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e tituição Federal à manutenção e desenvolvimento do
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
12
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; I - as instituições de ensino mantidas pela União;
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais II - as instituições de educação superior mantidas pela
e financeiros; iniciativa privada;
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas- III - os órgãos federais de educação.
-aula estabelecidas;
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
cada docente; Federal compreendem:
V - prover meios para a recuperação dos alunos de I - as instituições de ensino mantidas, respectivamen-
menor rendimento; te, pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, II - as instituições de educação superior mantidas pelo
criando processos de integração da sociedade com a Poder Público municipal;
escola; III - as instituições de ensino fundamental e médio
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus criadas e mantidas pela iniciativa privada;
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Fe-
frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre deral, respectivamente.
a execução da proposta pedagógica da escola; Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município a re- educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa
lação dos alunos que apresentem quantidade de faltas privada, integram seu sistema de ensino.
acima de 30% (trinta por cento) do percentual permi-
tido em lei; Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
IX - promover medidas de conscientização, de preven- I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
ção e de combate a todos os tipos de violência, es- educação infantil mantidas pelo Poder Público muni-
pecialmente a intimidação sistemática (bullying), no cipal;
âmbito das escolas; II - as instituições de educação infantil criadas e man-
X - estabelecer ações destinadas a promover a cultura tidas pela iniciativa privada;
de paz nas escolas. III - os órgãos municipais de educação.
XI - promover ambiente escolar seguro, adotando estra-
tégias de prevenção e enfrentamento ao uso ou depen- Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
dência de drogas.(Incluído pela Lei nº 13.840, de 2019) classificam-se nas seguintes categorias administrati-
vas:
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorpo-
I - participar da elaboração da proposta pedagógica radas, mantidas e administradas pelo Poder Público;
do estabelecimento de ensino; II - privadas, assim entendidas as mantidas e admi-
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a nistradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; privado.
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; III - comunitárias, na forma da lei.
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os § 1º As instituições de ensino a que se referem os in-
alunos de menor rendimento; cisos II e III do caput deste artigo podem qualificar-se
V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabeleci- como confessionais, atendidas a orientação confessio-
dos, além de participar integralmente dos períodos nal e a ideologia específicas.
dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desen- § 2º As instituições de ensino a que se referem os inci-
volvimento profissional; sos II e III do caput deste artigo podem ser certificadas
VI - colaborar com as atividades de articulação da es- como filantrópicas, na forma da lei.
cola com as famílias e a comunidade.
Art. 20. (Revogado pela Lei nº 13.868, de 2019)
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da A LDB estabelece um regime de colaboração entre
gestão democrática do ensino público na educação as entidades de ensino nas esferas federativas diversas,
básica, de acordo com as suas peculiaridades e con- no entanto, coloca competência à União de encabeçar e
forme os seguintes princípios: coordenar os sistemas de ensino. Tal papel de liderança,
I - participação dos profissionais da educação na ela- descrito no artigo 9º, envolve poderes de regulação e de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
13
Quanto às questões pedagógicas e de gestão dos es- Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e
tabelecimentos de ensino, incumbe a eles próprios, em médio, será organizada de acordo com as seguintes
integração com seus docentes. Este processo de intera- regras comuns:
ção entre instituição e docente, bem como destes com I - a carga horária mínima anual será de oitocentas
a comunidade local, é conhecido como gestão demo- horas para o ensino fundamental e para o ensino mé-
crática. dio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de
efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado
aos exames finais, quando houver; ;
#FicaDica
II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto
O regime de colaboração impõe que a a primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
União, os Estados, o DF e os Municípios a) por promoção, para alunos que cursaram, com
partilhem do dever de fornecer educação aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria
à população, cada um em sua esfera de escola;
competência, mas de forma colaborativa, b) por transferência, para candidatos procedentes de
compartilhando vivência e redistribuindo outras escolas;
recursos humanos e materiais. c) independentemente de escolarização anterior, me-
diante avaliação feita pela escola, que defina o grau de
desenvolvimento e experiência do candidato e permita
sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme
TÍTULO V
regulamentação do respectivo sistema de ensino;
DOS NÍVEIS E DAS MODALIDADES DE EDUCAÇÃO
III - nos estabelecimentos que adotam a progressão
E ENSINO
regular por série, o regimento escolar pode admitir
formas de progressão parcial, desde que preservada a
CAPÍTULO I
sequência do currículo, observadas as normas do res-
DA COMPOSIÇÃO DOS NÍVEIS ESCOLARES
pectivo sistema de ensino;
IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com
Art. 21. A educação escolar compõe-se de:
alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de
I - educação básica, formada pela educação infantil,
adiantamento na matéria, para o ensino de línguas es-
ensino fundamental e ensino médio;
trangeiras, artes, ou outros componentes curriculares;
II - educação superior.
V - a verificação do rendimento escolar observará os
seguintes critérios:
a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho
CAPÍTULO II
do aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos
DA EDUCAÇÃO BÁSICA
sobre os quantitativos e dos resultados ao longo do
período sobre os de eventuais provas finais;
SEÇÃO I
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
com atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries me-
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desen-
diante verificação do aprendizado;
volver o educando, assegurar-lhe a formação comum
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
indispensável para o exercício da cidadania e forne-
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de pre-
cer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos
ferência paralelos ao período letivo, para os casos de
posteriores.
baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas
instituições de ensino em seus regimentos;
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em
VI - o controle de frequência fica a cargo da escola,
séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância
conforme o disposto no seu regimento e nas normas
regular de períodos de estudos, grupos não-seriados,
do respectivo sistema de ensino, exigida a frequência
com base na idade, na competência e em outros cri-
mínima de setenta e cinco por cento do total de horas
térios, ou por forma diversa de organização, sempre
letivas para aprovação;
que o interesse do processo de aprendizagem assim o
VII - cabe a cada instituição de ensino expedir his-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
recomendar.
tóricos escolares, declarações de conclusão de série e
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusi-
diplomas ou certificados de conclusão de cursos, com
ve quando se tratar de transferências entre estabele-
as especificações cabíveis.
cimentos situados no País e no exterior, tendo como
§ 1º A carga horária mínima anual de que trata o in-
base as normas curriculares gerais.
ciso I do caput deverá ser ampliada de forma progres-
§ 2º O calendário escolar deverá adequar-se às pecu-
siva, no ensino médio, para mil e quatrocentas horas,
liaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
devendo os sistemas de ensino oferecer, no prazo má-
critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso
ximo de cinco anos, pelo menos mil horas anuais de
reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei.
carga horária, a partir de 2 de março de 2017.
14
§ 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de § 8º A exibição de filmes de produção nacional consti-
educação de jovens e adultos e de ensino noturno re- tuirá componente curricular complementar integrado
gular, adequado às condições do educando, conforme à proposta pedagógica da escola, sendo a sua exibição
o inciso VI do art. 4º. obrigatória por, no mínimo, 2 (duas) horas mensais.
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à
Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades res- prevenção de todas as formas de violência contra
ponsáveis alcançar relação adequada entre o número a criança e o adolescente serão incluídos, como te-
de alunos e o professor, a carga horária e as condições mas transversais, nos currículos escolares de que
materiais do estabelecimento. trata o caput deste artigo, tendo como diretriz a Lei
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de en- no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e
sino, à vista das condições disponíveis e das caracte- do Adolescente), observada a produção e distribuição
rísticas regionais e locais, estabelecer parâmetro para de material didático adequado.
atendimento do disposto neste artigo. § 9º-A. A educação alimentar e nutricional será incluí-
da entre os temas transversais de que trata o caput.
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino § 10. A inclusão de novos componentes curriculares
fundamental e do ensino médio devem ter base nacio- de caráter obrigatório na Base Nacional Comum Cur-
nal comum, a ser complementada, em cada sistema ricular dependerá de aprovação do Conselho Nacional
de ensino e em cada estabelecimento escolar, por uma de Educação e de homologação pelo Ministro de Esta-
parte diversificada, exigida pelas características regio- do da Educação.
nais e locais da sociedade, da cultura, da economia e
dos educandos. Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamen-
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem tal e de ensino médio, públicos e privados, torna-se
abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portu- obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasi-
guesa e da matemática, o conhecimento do mundo fí- leira e indígena.
sico e natural e da realidade social e política, especial- § 1o O conteúdo programático a que se refere este ar-
mente da República Federativa do Brasil, observado, tigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura
na educação infantil, o disposto no art. 31, no ensino que caracterizam a formação da população brasileira,
fundamental, o disposto no art. 32, e no ensino médio, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo
o disposto no art. 36. da história da África e dos africanos, a luta dos negros
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expres- e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e in-
sões regionais, constituirá componente curricular obri- dígena brasileira e o negro e o índio na formação da
gatório da educação básica. sociedade nacional, resgatando as suas contribuições
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagó- nas áreas social, econômica e política, pertinentes à
gica da escola, é componente curricular obrigatório da história do Brasil.
educação infantil e do ensino fundamental, sendo sua § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
prática facultativa ao aluno: -brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão mi-
I - que cumpra jornada de trabalho igual ou superior nistrados no âmbito de todo o currículo escolar, em
a seis horas; especial nas áreas de educação artística e de literatura
II - maior de trinta anos de idade; e história brasileiras.
III - que estiver prestando serviço militar inicial ou que,
em situação similar, estiver obrigado à prática da edu- Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
cação física; observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
IV - amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de ou- I - a difusão de valores fundamentais ao interesse so-
tubro de 1969; cial, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao
V - (VETADO); bem comum e à ordem democrática;
VI - que tenha prole. II - consideração das condições de escolaridade dos
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as alunos em cada estabelecimento;
contribuições das diferentes culturas e etnias para a III - orientação para o trabalho;
formação do povo brasileiro, especialmente das ma- IV - promoção do desporto educacional e apoio às
trizes indígena, africana e europeia. práticas desportivas não-formais.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
§ 5o No currículo do ensino fundamental, a partir do Art. 28. Na oferta de educação básica para a popula-
sexto ano, será ofertada a língua inglesa. ção rural, os sistemas de ensino promoverão as adap-
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são tações necessárias à sua adequação às peculiaridades
as linguagens que constituirão o componente curricu- da vida rural e de cada região, especialmente:
lar de que trata o § 2o deste artigo. I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a cri- às reais necessidades e interesses dos alunos da zona
tério dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas en- rural;
volvendo os temas transversais de que trata o caput. II - organização escolar própria, incluindo adequação
do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às
condições climáticas;
15
III - adequação à natureza do trabalho na zona rural. IV - controle de frequência pela instituição de educa-
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo, ção pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60%
indígenas e quilombolas será precedido de manifes- (sessenta por cento) do total de horas;
tação do órgão normativo do respectivo sistema de V - expedição de documentação que permita atestar
ensino, que considerará a justificativa apresentada os processos de desenvolvimento e aprendizagem da
pela Secretaria de Educação, a análise do diagnóstico criança.
do impacto da ação e a manifestação da comunidade A educação infantil é ministrada em creches até os
escolar. 3 anos de idade e em pré-escolas dos 3 aos 5 anos de
A educação básica tem por papel a formação da base idade.
do educado.
Os critérios para mudança de série podem ser pro- SEÇÃO III
moção (aprovação em etapa anterior), transferência DO ENSINO FUNDAMENTAL
(candidatos de outras escolas) e avaliação (análise da
experiência e desenvolvimento do candidato). O ensino Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com dura-
poderá ser acelerado caso necessário. Nas situações de ção de 9 (nove) anos, gratuito na escola pública, ini-
alunos que não acompanhem seu ritmo, deverá ser ga- ciando-se aos 6 (seis) anos de idade, terá por objetivo
rantida recuperação. a formação básica do cidadão, mediante:
Exige-se, além do desempenho, a frequência de 75%, I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, ten-
no mínimo, para aprovação. do como meios básicos o pleno domínio da leitura, da
O currículo da educação básica segue uma base na- escrita e do cálculo;
cional comum. Devem abranger língua portuguesa e da II - a compreensão do ambiente natural e social, do
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural sistema político, da tecnologia, das artes e dos valores
e da realidade social e política. A educação física deve em que se fundamenta a sociedade;
ser oferecida obrigatoriamente, mas é facultativa ao alu- III - o desenvolvimento da capacidade de aprendiza-
no em certas situações, como de trabalho, serviço mili- gem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e
tar, idade superior a 30 anos. Em respeito ao pluralismo, habilidades e a formação de atitudes e valores;
deve considerar as matrizes indígena, africana e europeia IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços
como temas transversais. Ainda em tal condição, cabe de solidariedade humana e de tolerância recíproca em
o aprendizado de Conteúdos relativos aos direitos hu- que se assenta a vida social.
manos e à prevenção de todas as formas de violência § 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o
contra a criança e o adolescente. É obrigatório o estudo ensino fundamental em ciclos.
da história e cultura afro-brasileira e indígena. Ainda, a § 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão re-
educação deve considerar as peculiaridades da zona ru- gular por série podem adotar no ensino fundamental
ral quando nela for ministrada. o regime de progressão continuada, sem prejuízo da
avaliação do processo de ensino-aprendizagem, ob-
SEÇÃO II servadas as normas do respectivo sistema de ensino.
DA EDUCAÇÃO INFANTIL § 3º O ensino fundamental regular será ministrado em
língua portuguesa, assegurada às comunidades indí-
Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da edu- genas a utilização de suas línguas maternas e proces-
cação básica, tem como finalidade o desenvolvimento sos próprios de aprendizagem.
integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus as- § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o
pectos físico, psicológico, intelectual e social, comple- ensino a distância utilizado como complementação da
mentando a ação da família e da comunidade. aprendizagem ou em situações emergenciais.
Art. 30. A educação infantil será oferecida em: § 5º O currículo do ensino fundamental incluirá, obri-
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças gatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das
de até três anos de idade; crianças e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei
II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cin- nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que institui o Estatu-
co) anos de idade. to da Criança e do Adolescente, observada a produção
e distribuição de material didático adequado.
Art. 31. A educação infantil será organizada de acor- § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluí-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
do com as seguintes regras comuns: do como tema transversal nos currículos do ensino
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do fundamental.
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de pro-
moção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa,
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) é parte integrante da formação básica do cidadão e
horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) constitui disciplina dos horários normais das escolas
dias de trabalho educacional; públicas de ensino fundamental, assegurado o respei-
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) to à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas
horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas quaisquer formas de proselitismo.
para a jornada integral;
16
§ 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os proce- § 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao
dimentos para a definição dos conteúdos do ensino ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e prá-
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação ticas de educação física, arte, sociologia e filosofia.
e admissão dos professores. § 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática
§ 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, será obrigatório nos três anos do ensino médio, asse-
constituída pelas diferentes denominações religiosas, gurada às comunidades indígenas, também, a utiliza-
para a definição dos conteúdos do ensino religioso. ção das respectivas línguas maternas.
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, obriga-
Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental in- toriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofer-
cluirá pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em tar outras línguas estrangeiras, em caráter optativo,
sala de aula, sendo progressivamente ampliado o pe- preferencialmente o espanhol, de acordo com a dispo-
ríodo de permanência na escola. nibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos
§ 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das sistemas de ensino.
formas alternativas de organização autorizadas nesta § 5º A carga horária destinada ao cumprimento da
Lei. Base Nacional Comum Curricular não poderá ser su-
§ 2º O ensino fundamental será ministrado progres- perior a mil e oitocentas horas do total da carga ho-
sivamente em tempo integral, a critério dos sistemas rária do ensino médio, de acordo com a definição dos
de ensino. sistemas de ensino.
O ensino fundamental inicia-se aos 6 anos de idade § 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho
e tem duração de 9 anos. Além de objetivar a alfabe- esperados para o ensino médio, que serão referência
tização, também incentiva a formação do cidadão, da nos processos nacionais de avaliação, a partir da Base
pessoa em contato com o mundo que o cerca estabe- Nacional Comum Curricular.
lecendo vínculos de solidariedade e amizade. O ensino § 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar
fundamental deve ser presencial, em regra. O ensino a formação integral do aluno, de maneira a adotar um
religioso é facultativo. A carga horária diária é de no trabalho voltado para a construção de seu projeto de
mínimo 4 horas. vida e para sua formação nos aspectos físicos, cogniti-
vos e socioemocionais.
SEÇÃO IV § 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de
DO ENSINO MÉDIO avaliação processual e formativa serão organizados
nas redes de ensino por meio de atividades teóricas e
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação bá- práticas, provas orais e escritas, seminários, projetos e
sica, com duração mínima de três anos, terá como fi- atividades on-line, de tal forma que ao final do ensino
nalidades: médio o educando demonstre:
I - a consolidação e o aprofundamento dos conheci- I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos
mentos adquiridos no ensino fundamental, possibili- que presidem a produção moderna;
tando o prosseguimento de estudos; II - conhecimento das formas contemporâneas de lin-
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania guagem.
do educando, para continuar aprendendo, de modo a
ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas con- Art. 36. O currículo do ensino médio será composto
dições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; pela Base Nacional Comum Curricular e por itinerá-
III - o aprimoramento do educando como pessoa hu- rios formativos, que deverão ser organizados por meio
mana, incluindo a formação ética e o desenvolvimen- da oferta de diferentes arranjos curriculares, conforme
to da autonomia intelectual e do pensamento crítico; a relevância para o contexto local e a possibilidade
IV - a compreensão dos fundamentos científico-tecno- dos sistemas de ensino, a saber:
lógicos dos processos produtivos, relacionando a teo- I - linguagens e suas tecnologias;
ria com a prática, no ensino de cada disciplina. II - matemática e suas tecnologias;
III - ciências da natureza e suas tecnologias;
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular defi- IV - ciências humanas e sociais aplicadas;
nirá direitos e objetivos de aprendizagem do ensino V - formação técnica e profissional.
médio, conforme diretrizes do Conselho Nacional de § 1º A organização das áreas de que trata o caput e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Educação, nas seguintes áreas do conhecimento: das respectivas competências e habilidades será feita
I - linguagens e suas tecnologias; de acordo com critérios estabelecidos em cada sistema
II - matemática e suas tecnologias; de ensino.
III - ciências da natureza e suas tecnologias; § 2º (Revogado)
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser com-
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata posto itinerário formativo integrado, que se traduz
o caput do art. 26, definida em cada sistema de en- na composição de componentes curriculares da Base
sino, deverá estar harmonizada à Base Nacional Co- Nacional Comum Curricular - BNCC e dos itinerários
mum Curricular e ser articulada a partir do contexto formativos, considerando os incisos I a V do caput.
histórico, econômico, social, ambiental e cultural. § 4º (Revogado)
17
§ 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade A etapa final do ensino médio tem a duração de três
de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte anos e busca fornecer a consolidação e o aprofunda-
do ensino médio cursar mais um itinerário formativo mento dos conhecimentos transmitidos no ensino fun-
de que trata o caput. damental, com a devida atenção a conhecimentos que
§ 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de for- permitam o ingresso do aluno no ensino universitário e
mação com ênfase técnica e profissional considerará: na carreira de trabalho. Neste ponto, a LDB sofreu al-
I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no se- terações recentes pela Medida Provisória nº 746/2016,
tor produtivo ou em ambientes de simulação, esta- convertida na Lei nº 13.415, de 2017, que foi alvo de inú-
belecendo parcerias e fazendo uso, quando aplicável, meras críticas, notadamente por estabelecer como facul-
de instrumentos estabelecidos pela legislação sobre tativos conhecimentos que antes eram tidos como obri-
aprendizagem profissional; gatórios. Para entender melhor esta questão, percebe-se
II - a possibilidade de concessão de certificados inter- que na verdade a proposta é a especificação de matrizes
ainda durante o ensino médio: o aluno poderá escolher
mediários de qualificação para o trabalho, quando
em quais áreas de conhecimento pretende se concentrar.
a formação for estruturada e organizada em etapas
Por exemplo, um aluno que não queira se especializar em
com terminalidade.
ciências humanas, não teria a obrigação de cursar maté-
§ 7º A oferta de formações experimentais relaciona-
rias como história e geografia. Um aluno que não tenha
das ao inciso V do caput, em áreas que não constem interesse em ir para a universidade e já queira ingres-
do Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, depende- sar no mercado de trabalho, terá aulas concentradas em
rá, para sua continuidade, do reconhecimento pelo formação técnica e profissional, aprendendo marcenaria,
respectivo Conselho Estadual de Educação, no prazo mecânica, administração, entre outras questões. As áreas
de três anos, e da inserção no Catálogo Nacional dos que podem ser optadas são as seguintes: linguagens e
Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos, contados da suas tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciên-
data de oferta inicial da formação. cias da natureza e suas tecnologias; ciências humanas
§ 8º A oferta de formação técnica e profissional a que e sociais aplicadas; formação técnica e profissional. As
se refere o inciso V do caput, realizada na própria ins- únicas matérias estabelecidas como obrigatórias são:
tituição ou em parceria com outras instituições, deve- português, matemática, artes, educação física, filosofia e
rá ser aprovada previamente pelo Conselho Estadual sociologia – estas quatro últimas inicialmente seriam fa-
de Educação, homologada pelo Secretário Estadual de cultativas, mas devido a pressões sociais foram colocadas
Educação e certificada pelos sistemas de ensino. como obrigatórias. Ainda é cedo para dizer se realmente
§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com este será o rumo conferido pela reforma, eis que a Base
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensi- Nacional Comum Curricular que detalhará estas ques-
no médio ao prosseguimento dos estudos em nível su- tões ainda está em discussão.
perior ou em outros cursos ou formações para os quais
a conclusão do ensino médio seja etapa obrigatória. SEÇÃO IV-A
§ 10. Além das formas de organização previstas no art. DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL TÉCNICA DE NÍVEL
23, o ensino médio poderá ser organizado em módu- MÉDIO
los e adotar o sistema de créditos com terminalidade
específica. Art. 36-A. Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências cur- Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral
riculares do ensino médio, os sistemas de ensino po- do educando, poderá prepará-lo para o exercício de
derão reconhecer competências e firmar convênios profissões técnicas.
com instituições de educação a distância com notó- Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho
rio reconhecimento, mediante as seguintes formas de e, facultativamente, a habilitação profissional pode-
comprovação: rão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos
I - demonstração prática; de ensino médio ou em cooperação com instituições
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra especializadas em educação profissional.
experiência adquirida fora do ambiente escolar; Art. 36-B. A educação profissional técnica de nível
III - atividades de educação técnica oferecidas em ou- médio será desenvolvida nas seguintes formas:
tras instituições de ensino credenciadas; I - articulada com o ensino médio;
IV - cursos oferecidos por centros ou programas ocu- II - subsequente, em cursos destinados a quem já te-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
18
Art. 36-C. A educação profissional técnica de nível § 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-
médio articulada, prevista no inciso I do caput do art. -se, preferencialmente, com a educação profissional,
36-B desta Lei, será desenvolvida de forma: na forma do regulamento.
I - integrada, oferecida somente a quem já tenha con-
cluído o ensino fundamental, sendo o curso planejado Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exa-
de modo a conduzir o aluno à habilitação profissional mes supletivos, que compreenderão a base nacional
técnica de nível médio, na mesma instituição de en- comum do currículo, habilitando ao prosseguimento
sino, efetuando-se matrícula única para cada aluno; de estudos em caráter regular.
II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino § 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-
médio ou já o esteja cursando, efetuando-se matrícu- -se-ão:
las distintas para cada curso, e podendo ocorrer: I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para
a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as os maiores de quinze anos;
oportunidades educacionais disponíveis; II - no nível de conclusão do ensino médio, para os
b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se maiores de dezoito anos.
as oportunidades educacionais disponíveis; § 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos
c) em instituições de ensino distintas, mediante con- educandos por meios informais serão aferidos e reco-
vênios de intercomplementaridade, visando ao plane- nhecidos mediante exames.
jamento e ao desenvolvimento de projeto pedagógico A educação de jovens e adultos objetiva permitir a
unificado. conclusão do ensino fundamental e médio para aqueles
que já ultrapassaram a idade regular em que isso deve-
Art. 36-D. Os diplomas de cursos de educação pro- ria ter acontecido.
fissional técnica de nível médio, quando registrados,
terão validade nacional e habilitarão ao prossegui-
mento de estudos na educação superior. #FicaDica
Parágrafo único. Os cursos de educação profissional Educação básica:
técnica de nível médio, nas formas articulada conco- - Ensino infantil – creche e pré-escola;
mitante e subsequente, quando estruturados e orga- - Ensino fundamental;
nizados em etapas com terminalidade, possibilitarão - Ensino médio (colegial) – pode também
a obtenção de certificados de qualificação para o abranger o ensino técnico.
trabalho após a conclusão, com aproveitamento, de Educação básica tardia – EJA – educação de
cada etapa que caracterize uma qualificação para o jovens e adultos.
trabalho.
A educação profissional e técnica pode se dar durante
o Ensino Médio, notadamente se o estudante fizer a op- CAPÍTULO III
ção por esta categoria de ensino (o ensino médio pode DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
ser voltado à formação técnico-profissional, preparando
o jovem para o ingresso no mercado de trabalho inde- Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no
pendentemente de ensino universitário), quanto após o cumprimento dos objetivos da educação nacional, in-
Ensino Médio, em instituições próprias de ensino técni- tegra-se aos diferentes níveis e modalidades de edu-
co-profissionalizante (neste sentido, há cursos técnicos- cação e às dimensões do trabalho, da ciência e da
-profissionais com menor duração que os cursos de ensi- tecnologia.
no superior e que são equiparados a este). § 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, pos-
SEÇÃO V sibilitando a construção de diferentes itinerários for-
DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS mativos, observadas as normas do respectivo sistema
e nível de ensino.
Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada § 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá
àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de os seguintes cursos:
estudos nos ensinos fundamental e médio na idade I – de formação inicial e continuada ou qualificação
própria e constituirá instrumento para a educação e a profissional;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
19
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em VIII - atuar em favor da universalização e do aprimo-
articulação com o ensino regular ou por diferentes ramento da educação básica, mediante a formação e
estratégias de educação continuada, em instituições a capacitação de profissionais, a realização de pesqui-
especializadas ou no ambiente de trabalho. sas pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de
extensão que aproximem os dois níveis escolares.
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação pro-
fissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes
ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação cursos e programas:
para prosseguimento ou conclusão de estudos. I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferen-
tes níveis de abrangência, abertos a candidatos que
Art. 42. As instituições de educação profissional e tec- atendam aos requisitos estabelecidos pelas institui-
nológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão ções de ensino, desde que tenham concluído o ensino
cursos especiais, abertos à comunidade, condicionada médio ou equivalente;
a matrícula à capacidade de aproveitamento e não II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
necessariamente ao nível de escolaridade. concluído o ensino médio ou equivalente e tenham
A educação profissional e tecnológica pode se dar sido classificados em processo seletivo;
não apenas no ensino médio, mas também em institui- III - de pós-graduação, compreendendo programas
ções próprias, que podem conferir inclusive diploma de de mestrado e doutorado, cursos de especialização,
formação em nível superior. Exemplos: FATEC, SENAI, aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos di-
entre outros. O acesso a este tipo de ensino não neces- plomados em cursos de graduação e que atendam às
sariamente exige conclusão dos níveis prévios de edu- exigências das instituições de ensino;
cação, eis que seu principal objetivo não é o ensino de IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam
conteúdos típicos, mas sim a capacitação profissional. aos requisitos estabelecidos em cada caso pelas insti-
tuições de ensino.
CAPÍTULO IV § 1º O resultado do processo seletivo referido no inciso
DA EDUCAÇÃO SUPERIOR II do caput deste artigo será tornado público pela insti-
tuição de ensino superior, sendo obrigatórios a divulga-
Art. 43. A educação superior tem por finalidade: ção da relação nominal dos classificados, a respectiva
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do ordem de classificação e o cronograma das chamadas
espírito científico e do pensamento reflexivo; para matrícula, de acordo com os critérios para preen-
II - formar diplomados nas diferentes áreas de co- chimento das vagas constantes do edital, assegurado o
nhecimento, aptos para a inserção em setores pro- direito do candidato, classificado ou não, a ter acesso a
fissionais e para a participação no desenvolvimento suas notas ou indicadores de desempenho em provas,
da sociedade brasileira, e colaborar na sua formação exames e demais atividades da seleção e a sua posição
contínua; na ordem de classificação de todos os candidatos.
III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação § 2º No caso de empate no processo seletivo, as ins-
científica, visando o desenvolvimento da ciência e da tituições públicas de ensino superior darão prioridade
tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse de matrícula ao candidato que comprove ter renda fa-
modo, desenvolver o entendimento do homem e do miliar inferior a dez salários mínimos, ou ao de menor
meio em que vive; renda familiar, quando mais de um candidato preen-
IV - promover a divulgação de conhecimentos cultu- cher o critério inicial.
rais, científicos e técnicos que constituem patrimônio § 3º O processo seletivo referido no inciso II considera-
da humanidade e comunicar o saber através do en- rá as competências e as habilidades definidas na Base
sino, de publicações ou de outras formas de comuni- Nacional Comum Curricular.
cação;
V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento Art. 45. A educação superior será ministrada em insti-
cultural e profissional e possibilitar a correspondente tuições de ensino superior, públicas ou privadas, com
concretização, integrando os conhecimentos que vão variados graus de abrangência ou especialização.
sendo adquiridos numa estrutura intelectual sistema-
tizadora do conhecimento de cada geração; Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
VI - estimular o conhecimento dos problemas do mun- bem como o credenciamento de instituições de educa-
do presente, em particular os nacionais e regionais, ção superior, terão prazos limitados, sendo renovados,
prestar serviços especializados à comunidade e esta- periodicamente, após processo regular de avaliação.
belecer com esta uma relação de reciprocidade; § 1º Após um prazo para saneamento de deficiências
VII - promover a extensão, aberta à participação da eventualmente identificadas pela avaliação a que se
população, visando à difusão das conquistas e benefí- refere este artigo, haverá reavaliação, que poderá re-
cios resultantes da criação cultural e da pesquisa cien- sultar, conforme o caso, em desativação de cursos e
tífica e tecnológica geradas na instituição. habilitações, em intervenção na instituição, em sus-
pensão temporária de prerrogativas da autonomia, ou
em descredenciamento.
20
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
responsável por sua manutenção acompanhará o pro- docente até o início das aulas, os alunos devem ser
cesso de saneamento e fornecerá recursos adicionais, comunicados sobre as alterações;
se necessários, para a superação das deficiências. V - deve conter as seguintes informações:
§ 3o No caso de instituição privada, além das sanções a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição
previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavalia- de ensino superior;
ção poderá resultar em redução de vagas autorizadas b) a lista das disciplinas que compõem a grade curri-
e em suspensão temporária de novos ingressos e de cular de cada curso e as respectivas cargas horárias;
oferta de cursos. c) a identificação dos docentes que ministrarão as
§ 4o É facultado ao Ministério da Educação, mediante aulas em cada curso, as disciplinas que efetivamen-
procedimento específico e com aquiescência da insti- te ministrará naquele curso ou cursos, sua titulação,
tuição de ensino, com vistas a resguardar os interesses abrangendo a qualificação profissional do docente e
dos estudantes, comutar as penalidades previstas nos o tempo de casa do docente, de forma total, contínua
§§ 1o e 3o deste artigo por outras medidas, desde que ou intermitente.
adequadas para superação das deficiências e irregula- § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveita-
ridades constatadas. mento nos estudos, demonstrado por meio de provas
§ 5o Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Fe- e outros instrumentos de avaliação específicos, apli-
deral deverão adotar os critérios definidos pela União cados por banca examinadora especial, poderão ter
para autorização de funcionamento de curso de gra- abreviada a duração dos seus cursos, de acordo com
duação em Medicina. as normas dos sistemas de ensino.
§ 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, salvo nos programas de educação a distância.
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos § 4º As instituições de educação superior oferecerão,
dias de trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo no período noturno, cursos de graduação nos mesmos
reservado aos exames finais, quando houver. padrões de qualidade mantidos no período diurno,
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes sendo obrigatória a oferta noturna nas instituições
de cada período letivo, os programas dos cursos e de- públicas, garantida a necessária previsão orçamentá-
mais componentes curriculares, sua duração, requisi- ria.
tos, qualificação dos professores, recursos disponíveis e
critérios de avaliação, obrigando-se a cumprir as res- Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhe-
pectivas condições, e a publicação deve ser feita, sen- cidos, quando registrados, terão validade nacional
do as 3 (três) primeiras formas concomitantemente: como prova da formação recebida por seu titular.
I - em página específica na internet no sítio eletrônico § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o por elas próprias registrados, e aqueles conferidos por
seguinte: instituições não-universitárias serão registrados em
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter universidades indicadas pelo Conselho Nacional de
como título “Grade e Corpo Docente”; Educação.
b) a página principal da instituição de ensino supe- § 2º Os diplomas de graduação expedidos por univer-
rior, bem como a página da oferta de seus cursos aos sidades estrangeiras serão revalidados por universida-
ingressantes sob a forma de vestibulares, processo se- des públicas que tenham curso do mesmo nível e área
letivo e outras com a mesma finalidade, deve conter ou equivalente, respeitando-se os acordos internacio-
a ligação desta com a página específica prevista neste nais de reciprocidade ou equiparação.
inciso; § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expe-
c) caso a instituição de ensino superior não possua sí- didos por universidades estrangeiras só poderão ser
tio eletrônico, deve criar página específica para divul- reconhecidos por universidades que possuam cursos
gação das informações de que trata esta Lei; de pós-graduação reconhecidos e avaliados, na mes-
d) a página específica deve conter a data completa de ma área de conhecimento e em nível equivalente ou
sua última atualização; superior.
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de
ensino superior, por meio de ligação para a página Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
21
Art. 51. As instituições de educação superior creden- V - contratação e dispensa de professores;
ciadas como universidades, ao deliberar sobre critérios VI - planos de carreira docente.
e normas de seleção e admissão de estudantes, leva- § 2o As doações, inclusive monetárias, podem ser diri-
rão em conta os efeitos desses critérios sobre a orien- gidas a setores ou projetos específicos, conforme acor-
tação do ensino médio, articulando-se com os órgãos do entre doadores e universidades.
normativos dos sistemas de ensino. § 3o No caso das universidades públicas, os recursos
das doações devem ser dirigidos ao caixa único da
Art. 52. As universidades são instituições pluridiscipli- instituição, com destinação garantida às unidades a
nares de formação dos quadros profissionais de nível serem beneficiadas.
superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cul- Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público
tivo do saber humano, que se caracterizam por: gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial
I - produção intelectual institucionalizada mediante o para atender às peculiaridades de sua estrutura, or-
estudo sistemático dos temas e problemas mais rele- ganização e financiamento pelo Poder Público, assim
vantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, como dos seus planos de carreira e do regime jurídico
quanto regional e nacional; do seu pessoal.
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titula- § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribui-
ção acadêmica de mestrado ou doutorado; ções asseguradas pelo artigo anterior, as universida-
III - um terço do corpo docente em regime de tempo des públicas poderão:
integral. I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico
Parágrafo único. É facultada a criação de universida- e administrativo, assim como um plano de cargos e
des especializadas por campo do saber. salários, atendidas as normas gerais pertinentes e os
recursos disponíveis;
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são assegu- II - elaborar o regulamento de seu pessoal em confor-
radas às universidades, sem prejuízo de outras, as se- midade com as normas gerais concernentes;
guintes atribuições: III - aprovar e executar planos, programas e projetos
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e de investimentos referentes a obras, serviços e aqui-
programas de educação superior previstos nesta Lei, sições em geral, de acordo com os recursos alocados
obedecendo às normas gerais da União e, quando for pelo respectivo Poder mantenedor;
o caso, do respectivo sistema de ensino; IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às
observadas as diretrizes gerais pertinentes; suas peculiaridades de organização e funcionamento;
III - estabelecer planos, programas e projetos de pes- VI - realizar operações de crédito ou de financiamen-
quisa científica, produção artística e atividades de ex- to, com aprovação do Poder competente, para aquisi-
tensão; ção de bens imóveis, instalações e equipamentos;
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capaci- VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
dade institucional e as exigências do seu meio; providências de ordem orçamentária, financeira e pa-
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos trimonial necessárias ao seu bom desempenho.
em consonância com as normas gerais atinentes; § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; ser estendidas a instituições que comprovem alta qua-
VII - firmar contratos, acordos e convênios; lificação para o ensino ou para a pesquisa, com base
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos em avaliação realizada pelo Poder Público.
de investimentos referentes a obras, serviços e aqui-
sições em geral, bem como administrar rendimentos Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em
conforme dispositivos institucionais; seu Orçamento Geral, recursos suficientes para manu-
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na for- tenção e desenvolvimento das instituições de educa-
ma prevista no ato de constituição, nas leis e nos res- ção superior por ela mantidas.
pectivos estatutos;
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e Art. 56. As instituições públicas de educação superior
cooperação financeira resultante de convênios com obedecerão ao princípio da gestão democrática, asse-
entidades públicas e privadas. gurada a existência de órgãos colegiados deliberati-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
§ 1º Para garantir a autonomia didático-científica das vos, de que participarão os segmentos da comunidade
universidades, caberá aos seus colegiados de ensino institucional, local e regional.
e pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocu-
disponíveis, sobre: parão setenta por cento dos assentos em cada órgão
I - criação, expansão, modificação e extinção de cur- colegiado e comissão, inclusive nos que tratarem da
sos; elaboração e modificações estatutárias e regimentais,
II - ampliação e diminuição de vagas; bem como da escolha de dirigentes.
III - elaboração da programação dos cursos; Art. 57. Nas instituições públicas de educação supe-
IV - programação das pesquisas e das atividades de rior, o professor ficará obrigado ao mínimo de oito ho-
extensão; ras semanais de aulas.
22
A educação superior se funda no tripé: ensino, pes- CAPÍTULO V
quisa e extensão. No viés do ensino, objetiva-se propi- DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
ciar o acesso ao conhecimento técnico e científico, tanto
dentro do ambiente acadêmico quanto fora dele; no as- Art. 58. Entende-se por educação especial, para os
pecto pesquisa, busca-se desenvolver os conhecimentos efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar
já existentes; no aspecto extensão, pretende-se atingir a oferecida preferencialmente na rede regular de ensi-
comunidade por meio de atividades que possam ir além no, para educandos com deficiência, transtornos glo-
dos ambientes acadêmicos, inserindo-se no cotidiano bais do desenvolvimento e altas habilidades ou super-
da vida social. dotação.
Classicamente, a educação superior se dá nos níveis § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio es-
de graduação, cujo acesso se dá por meio dos vestibu- pecializado, na escola regular, para atender às pecu-
lares, e pós-graduação, cujo acesso também se dá por liaridades da clientela de educação especial.
processos seletivos próprios, funcionando como com- § 2º O atendimento educacional será feito em clas-
plementação ao ensino superior. Entretanto, o ensino ses, escolas ou serviços especializados, sempre que,
em função das condições específicas dos alunos, não
superior também pode se dar em cursos sequenciais e
for possível a sua integração nas classes comuns de
em cursos de extensão, de menor duração e complexi-
ensino regular.
dade.
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do
O ensino superior pode ser ministrado em insti-
caput deste artigo, tem início na educação infantil e
tuições públicas ou privadas. Independentemente da estende-se ao longo da vida, observados o inciso III do
natureza da instituição, é necessário respeitar as regras art. 4º e o parágrafo único do art. 60 desta Lei.
mínimas sobre duração do ano letivo, programas de Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos edu-
curso, componentes curriculares, etc. candos com deficiência, transtornos globais do desen-
O diploma faz prova da formação. volvimento e altas habilidades ou superdotação:
É possível a transferência entre instituições. A trans- I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e
ferência a pedido está condicionada a número de vagas organização específicos, para atender às suas neces-
e a processo seletivo. As transferências de ofício se su- sidades;
jeitam a critérios próprios. Um exemplo de transferência II - terminalidade específica para aqueles que não
de ofício se dá no caso de remoção de servidor público puderem atingir o nível exigido para a conclusão do
de ofício no interesse da Administração (caso o servidor ensino fundamental, em virtude de suas deficiências,
ou seu dependente estude em instituição pública na e aceleração para concluir em menor tempo o progra-
cidade onde estava lotado, tem o direito de ser transfe- ma escolar para os superdotados;
rido para a instituição pública da nova lotação). III - professores com especialização adequada em ní-
É possível que uma pessoa assista aulas nas insti- vel médio ou superior, para atendimento especializa-
tuições públicas independentemente de vínculo com o do, bem como professores do ensino regular capaci-
curso, desde que haja vagas disponíveis. tados para a integração desses educandos nas classes
Para propiciar o desenvolvimento institucional, comuns;
exige-se que pelo menos 1/3 do corpo docente da IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
instituição possua mestrado ou doutorado, bem como efetiva integração na vida em sociedade, inclusive
que 1/3 do corpo docente se dedique exclusivamente à condições adequadas para os que não revelarem ca-
docência. pacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante
Em que pesem as regras mínimas acerca do ensino articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para
superior, as instituições de ensino superior são dotadas aqueles que apresentam uma habilidade superior nas
áreas artística, intelectual ou psicomotora;
de autonomia para se organizarem.
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas
As universidades públicas gozam de estatuto jurídico
sociais suplementares disponíveis para o respectivo
especial.
nível do ensino regular.
As instituições públicas devem obedecer ao princípio
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro
da gestão democrática, assegurado pela existência de nacional de alunos com altas habilidades ou superdo-
órgãos colegiados deliberativos que mesclem membros tação matriculados na educação básica e na educação
da comunidade, do corpo docente e do corpo discente. superior, a fim de fomentar a execução de políticas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
23
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino V - profissionais graduados que tenham feito comple-
estabelecerão critérios de caracterização das institui- mentação pedagógica, conforme disposto pelo Conse-
ções privadas sem fins lucrativos, especializadas e com lho Nacional de Educação.
atuação exclusiva em educação especial, para fins de
apoio técnico e financeiro pelo Poder Público. Art. 62. A formação de docentes para atuar na edu-
Parágrafo único. O poder público adotará, como al- cação básica far-se-á em nível superior, em curso de
ternativa preferencial, a ampliação do atendimento licenciatura plena, admitida, como formação mínima
aos educandos com deficiência, transtornos globais do para o exercício do magistério na educação infantil
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação e nos cinco primeiros anos do ensino fundamental, a
na própria rede pública regular de ensino, indepen- oferecida em nível médio, na modalidade normal.
dentemente do apoio às instituições previstas neste § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
artigo. cípios, em regime de colaboração, deverão promover
A educação especial volta-se a educandos com defi- a formação inicial, a continuada e a capacitação dos
ciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas profissionais de magistério.
habilidades ou superdotação. Para que ela seja efetivada, § 2º A formação continuada e a capacitação dos pro-
exige-se a especialização das instituições de ensino e de fissionais de magistério poderão utilizar recursos e
seus profissionais. tecnologias de educação a distância.
§ 3º A formação inicial de profissionais de magisté-
TÍTULO VI rio dará preferência ao ensino presencial, subsidiaria-
DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO mente fazendo uso de recursos e tecnologias de edu-
cação a distância.
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação es- § 4º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Muni-
colar básica os que, nela estando em efetivo exercício cípios adotarão mecanismos facilitadores de acesso e
e tendo sido formados em cursos reconhecidos, são: permanência em cursos de formação de docentes em
I – professores habilitados em nível médio ou superior nível superior para atuar na educação básica pública.
para a docência na educação infantil e nos ensinos § 5º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Mu-
fundamental e médio; nicípios incentivarão a formação de profissionais do
II – trabalhadores em educação portadores de diplo- magistério para atuar na educação básica pública
ma de pedagogia, com habilitação em administração, mediante programa institucional de bolsa de inicia-
planejamento, supervisão, inspeção e orientação edu- ção à docência a estudantes matriculados em cursos
cacional, bem como com títulos de mestrado ou dou- de licenciatura, de graduação plena, nas instituições
torado nas mesmas áreas; de educação superior.
III - trabalhadores em educação, portadores de diplo- § 6º O Ministério da Educação poderá estabelecer
ma de curso técnico ou superior em área pedagógica nota mínima em exame nacional aplicado aos con-
ou afim; e cluintes do ensino médio como pré-requisito para o
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos ingresso em cursos de graduação para formação de
respectivos sistemas de ensino para ministrar conteú- docentes, ouvido o Conselho Nacional de Educação -
dos de áreas afins à sua formação para atender o dis- CNE.
posto no inciso V do caput do art. 36. § 7º (VETADO).
Parágrafo único. A formação dos profissionais da § 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes
educação, de modo a atender às especificidades do terão por referência a Base Nacional Comum Curri-
exercício de suas atividades, bem como aos objetivos cular.
das diferentes etapas e modalidades da educação bá-
sica, terá como fundamentos: Art. 62-A. A formação dos profissionais a que se re-
I – a presença de sólida formação básica, que propicie fere o inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos
o conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de conteúdo técnico-pedagógico, em nível médio ou
de suas competências de trabalho; superior, incluindo habilitações tecnológicas.
II – a associação entre teorias e práticas, mediante es- Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada
tágios supervisionados e capacitação em serviço; para os profissionais a que se refere o caput, no local
III – o aproveitamento da formação e experiências an- de trabalho ou em instituições de educação básica e
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
teriores, em instituições de ensino e em outras ativi- superior, incluindo cursos de educação profissional,
dades. cursos superiores de graduação plena ou tecnológicos
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos e de pós-graduação.
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteú-
dos de áreas afins à sua formação ou experiência pro- Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas
fissional, atestados por titulação específica ou prática de educação básica a cursos superiores de pedagogia
de ensino em unidades educacionais da rede pública e licenciatura será efetivado por meio de processo se-
ou privada ou das corporações privadas em que te- letivo diferenciado.
nham atuado, exclusivamente para atender ao inciso
V do caput do art. 36;
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§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no V - período reservado a estudos, planejamento e ava-
caput deste artigo os professores das redes públicas liação, incluído na carga de trabalho;
municipais, estaduais e federal que ingressaram por VI - condições adequadas de trabalho.
concurso público, tenham pelo menos três anos de § 1º A experiência docente é pré-requisito para o exer-
exercício da profissão e não sejam portadores de di- cício profissional de quaisquer outras funções de ma-
ploma de graduação. gistério, nos termos das normas de cada sistema de
§ 2o As instituições de ensino responsáveis pela oferta ensino.
de cursos de pedagogia e outras licenciaturas defini- § 2º Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no
rão critérios adicionais de seleção sempre que acorre- § 8º do art. 201 da Constituição Federal, são conside-
rem aos certames interessados em número superior radas funções de magistério as exercidas por profes-
ao de vagas disponíveis para os respectivos cursos. sores e especialistas em educação no desempenho de
§ 3o Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem de- atividades educativas, quando exercidas em estabele-
finidos em regulamento pelas universidades, terão cimento de educação básica em seus diversos níveis e
prioridade de ingresso os professores que optarem por modalidades, incluídas, além do exercício da docência,
cursos de licenciatura em matemática, física, química, as de direção de unidade escolar e as de coordenação
biologia e língua portuguesa. e assessoramento pedagógico.
§ 3º A União prestará assistência técnica aos Estados,
Art. 63. Os institutos superiores de educação mante- ao Distrito Federal e aos Municípios na elaboração
rão: de concursos públicos para provimento de cargos dos
I - cursos formadores de profissionais para a educação profissionais da educação.
básica, inclusive o curso normal superior, destinado à Os profissionais da educação devem possuir forma-
formação de docentes para a educação infantil e para ção específica, notadamente possuir habilitação para a
as primeiras séries do ensino fundamental; docência, que pode se dar pelas licenciaturas e magisté-
II - programas de formação pedagógica para portado- rios em geral, bem como pela pedagogia, ou ainda por
res de diplomas de educação superior que queiram se formação e área afim que habilite para o ensino de ma-
dedicar à educação básica; térias específicas (ex.: profissional do Direito pode lecio-
III - programas de educação continuada para os pro- nar português, filosofia e sociologia). Além disso, devem
fissionais de educação dos diversos níveis. possuir experiência em atividades de ensino. Quanto ao
ensino superior, exige-se pós-graduação, que pode ser
Art. 64. A formação de profissionais de educação para uma simples especialização, embora deva preferencial-
administração, planejamento, inspeção, supervisão e mente se possuir mestrado ou doutorado. No âmbito
orientação educacional para a educação básica, será do ensino público, exige-se valorização do profissional,
feita em cursos de graduação em pedagogia ou em criando-se plano de carreira e aperfeiçoando-se as con-
nível de pós-graduação, a critério da instituição de dições de trabalho.
ensino, garantida, nesta formação, a base comum na-
cional. TÍTULO VII
DOS RECURSOS FINANCEIROS
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, tre- Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação
zentas horas. os originários de:
I - receita de impostos próprios da União, dos Estados,
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério do Distrito Federal e dos Municípios;
superior far-se-á em nível de pós-graduação, priori- II - receita de transferências constitucionais e outras
tariamente em programas de mestrado e doutorado. transferências;
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por uni- III - receita do salário-educação e de outras contribui-
versidade com curso de doutorado em área afim, po- ções sociais;
derá suprir a exigência de título acadêmico. IV - receita de incentivos fiscais;
V - outros recursos previstos em lei.
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valoriza- Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos
ção dos profissionais da educação, assegurando-lhes, de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Mu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
inclusive nos termos dos estatutos e dos planos de car- nicípios, vinte e cinco por cento, ou o que consta nas
reira do magistério público: respectivas Constituições ou Leis Orgânicas, da receita
I - ingresso exclusivamente por concurso público de resultante de impostos, compreendidas as transferên-
provas e títulos; cias constitucionais, na manutenção e desenvolvimen-
II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive to do ensino público.
com licenciamento periódico remunerado para esse § 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida
fim; pela União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Mu-
III - piso salarial profissional; nicípios, ou pelos Estados aos respectivos Municípios,
IV - progressão funcional baseada na titulação ou ha- não será considerada, para efeito do cálculo previsto
bilitação, e na avaliação do desempenho; neste artigo, receita do governo que a transferir.
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§ 2º Serão consideradas excluídas das receitas de II - subvenção a instituições públicas ou privadas de
impostos mencionadas neste artigo as operações de caráter assistencial, desportivo ou cultural;
crédito por antecipação de receita orçamentária de III - formação de quadros especiais para a adminis-
impostos. tração pública, sejam militares ou civis, inclusive di-
§ 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes plomáticos;
aos mínimos estatuídos neste artigo, será considerada IV - programas suplementares de alimentação, assis-
a receita estimada na lei do orçamento anual, ajusta- tência médico-odontológica, farmacêutica e psicológi-
da, quando for o caso, por lei que autorizar a abertura ca, e outras formas de assistência social;
de créditos adicionais, com base no eventual excesso V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para
de arrecadação. beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar;
§ 4º As diferenças entre a receita e a despesa previs- VI - pessoal docente e demais trabalhadores da edu-
tas e as efetivamente realizadas, que resultem no não cação, quando em desvio de função ou em atividade
atendimento dos percentuais mínimos obrigatórios, alheia à manutenção e desenvolvimento do ensino.
serão apuradas e corrigidas a cada trimestre do exer-
cício financeiro. Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e de-
§ 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do senvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas
caixa da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos nos balanços do Poder Público, assim como nos rela-
Municípios ocorrerá imediatamente ao órgão respon- tórios a que se refere o § 3º do art. 165 da Constituição
sável pela educação, observados os seguintes prazos: Federal.
I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, priorita-
cada mês, até o vigésimo dia; riamente, na prestação de contas de recursos públicos,
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigé- o cumprimento do disposto no art. 212 da Constitui-
simo dia de cada mês, até o trigésimo dia; ção Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Consti-
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao tucionais Transitórias e na legislação concernente.
final de cada mês, até o décimo dia do mês subse- Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o
quente. Distrito Federal e os Municípios, estabelecerá padrão
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a cor- mínimo de oportunidades educacionais para o ensino
reção monetária e à responsabilização civil e criminal fundamental, baseado no cálculo do custo mínimo por
das autoridades competentes. aluno, capaz de assegurar ensino de qualidade.
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e de- Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este ar-
senvolvimento do ensino as despesas realizadas com tigo será calculado pela União ao final de cada ano,
vistas à consecução dos objetivos básicos das institui- com validade para o ano subsequente, considerando
ções educacionais de todos os níveis, compreendendo variações regionais no custo dos insumos e as diversas
as que se destinam a: modalidades de ensino.
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docen- Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e
te e demais profissionais da educação; dos Estados será exercida de modo a corrigir, progres-
II - aquisição, manutenção, construção e conservação sivamente, as disparidades de acesso e garantir o pa-
de instalações e equipamentos necessários ao ensino; drão mínimo de qualidade de ensino.
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a
ao ensino; fórmula de domínio público que inclua a capacidade
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas de atendimento e a medida do esforço fiscal do res-
visando precipuamente ao aprimoramento da quali- pectivo Estado, do Distrito Federal ou do Município em
dade e à expansão do ensino; favor da manutenção e do desenvolvimento do ensino.
V - realização de atividades-meio necessárias ao fun- § 2º A capacidade de atendimento de cada governo
cionamento dos sistemas de ensino; será definida pela razão entre os recursos de uso cons-
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas titucionalmente obrigatório na manutenção e desen-
públicas e privadas; volvimento do ensino e o custo anual do aluno, relati-
VII - amortização e custeio de operações de crédito vo ao padrão mínimo de qualidade.
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste ar- § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e
tigo; 2º, a União poderá fazer a transferência direta de re-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
VIII - aquisição de material didático-escolar e manu- cursos a cada estabelecimento de ensino, considerado
tenção de programas de transporte escolar. o número de alunos que efetivamente frequentam a
escola.
Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de dos Municípios se estes oferecerem vagas, na área de
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de en- ensino de sua responsabilidade, conforme o inciso VI
sino, que não vise, precipuamente, ao aprimoramento do art. 10 e o inciso V do art. 11 desta Lei, em número
de sua qualidade ou à sua expansão; inferior à sua capacidade de atendimento.
26
Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente
artigo anterior ficará condicionada ao efetivo cumpri- os sistemas de ensino no provimento da educação in-
mento pelos Estados, Distrito Federal e Municípios do tercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo
disposto nesta Lei, sem prejuízo de outras prescrições programas integrados de ensino e pesquisa.
legais. § 1º Os programas serão planejados com audiência
das comunidades indígenas.
Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às esco- § 2º Os programas a que se refere este artigo, incluí-
las públicas, podendo ser dirigidos a escolas comuni- dos nos Planos Nacionais de Educação, terão os se-
tárias, confessionais ou filantrópicas que: guintes objetivos:
I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distri- I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua ma-
buam resultados, dividendos, bonificações, participa- terna de cada comunidade indígena;
ções ou parcela de seu patrimônio sob nenhuma for- II - manter programas de formação de pessoal espe-
ma ou pretexto; cializado, destinado à educação escolar nas comuni-
II - apliquem seus excedentes financeiros em educa- dades indígenas;
ção; III - desenvolver currículos e programas específicos,
III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra neles incluindo os conteúdos culturais corresponden-
escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao tes às respectivas comunidades;
Poder Público, no caso de encerramento de suas ati- IV - elaborar e publicar sistematicamente material di-
vidades; dático específico e diferenciado.
IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos re- § 3º No que se refere à educação superior, sem pre-
cebidos. juízo de outras ações, o atendimento aos povos indí-
§ 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser genas efetivar-se-á, nas universidades públicas e pri-
destinados a bolsas de estudo para a educação básica, vadas, mediante a oferta de ensino e de assistência
na forma da lei, para os que demonstrarem insuficiên- estudantil, assim como de estímulo à pesquisa e de-
cia de recursos, quando houver falta de vagas e cursos senvolvimento de programas especiais.
regulares da rede pública de domicílio do educando, Art. 79-A. (VETADO).
ficando o Poder Público obrigado a investir priorita- Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de
riamente na expansão da sua rede local. novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’.
§ 2º As atividades universitárias de pesquisa e exten-
são poderão receber apoio financeiro do Poder Públi- Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimen-
co, inclusive mediante bolsas de estudo. to e a veiculação de programas de ensino a distância,
No aspecto orçamentário, merece destaque a exi- em todos os níveis e modalidades de ensino, e de edu-
gência de dedicação de parcela mínima dos impostos da cação continuada.
União (18%) e dos Estados e Distrito Federal (25%) vol- § 1º A educação a distância, organizada com abertura
tada à educação. Ainda, coloca-se o papel de suplemen- e regime especiais, será oferecida por instituições es-
tação e redistribuição da União em relação aos Estados pecificamente credenciadas pela União.
e Municípios e dos Estados com relação aos Municípios, § 2º A União regulamentará os requisitos para a rea-
repassando-se verbas para permitir que estas unidades lização de exames e registro de diploma relativos a
federativas consigam lograr êxito em oferecer parâmetro cursos de educação a distância.
mínimo de qualidade no ensino que é de sua incumbên- § 3º As normas para produção, controle e avaliação
cia. de programas de educação a distância e a autoriza-
ção para sua implementação, caberão aos respectivos
TÍTULO VIII sistemas de ensino, podendo haver cooperação e inte-
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS gração entre os diferentes sistemas.
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento di-
Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colabo- ferenciado, que incluirá:
ração das agências federais de fomento à cultura e de I - custos de transmissão reduzidos em canais comer-
assistência aos índios, desenvolverá programas inte- ciais de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em
grados de ensino e pesquisa, para oferta de educação outros meios de comunicação que sejam explorados
escolar bilíngue e intercultural aos povos indígenas, mediante autorização, concessão ou permissão do po-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
27
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as nor- Art. 87-A. (VETADO).
mas de realização de estágio em sua jurisdição, obser- Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
vada a lei federal sobre a matéria. Municípios adaptarão sua legislação educacional e de
ensino às disposições desta Lei no prazo máximo de
Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica, um ano, a partir da data de sua publicação.
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as § 1º As instituições educacionais adaptarão seus es-
normas fixadas pelos sistemas de ensino. tatutos e regimentos aos dispositivos desta Lei e às
normas dos respectivos sistemas de ensino, nos prazos
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão por estes estabelecidos.
ser aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas § 2º O prazo para que as universidades cumpram o
respectivas instituições, exercendo funções de moni- disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.
toria, de acordo com seu rendimento e seu plano de Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que ve-
estudos. nham a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a
Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação contar da publicação desta Lei, integrar-se ao respec-
própria poderá exigir a abertura de concurso públi- tivo sistema de ensino.
co de provas e títulos para cargo de docente de ins-
tituição pública de ensino que estiver sendo ocupado Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o
por professor não concursado, por mais de seis anos, regime anterior e o que se institui nesta Lei serão re-
ressalvados os direitos assegurados pelos arts. 41 solvidas pelo Conselho Nacional de Educação ou, me-
da Constituição Federal e 19 do Ato das Disposições diante delegação deste, pelos órgãos normativos dos
Constitucionais Transitórias. sistemas de ensino, preservada a autonomia univer-
Art. 86. As instituições de educação superior constituí- sitária.
das como universidades integrar-se-ão, também, na
sua condição de instituições de pesquisa, ao Sistema Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publi-
Nacional de Ciência e Tecnologia, nos termos da le- cação.
gislação específica.
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024,
TÍTULO IX de 20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novem-
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS bro de 1968, não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24
de novembro de 1995 e 9.192, de 21 de dezembro de
Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se 1995 e, ainda, as Leis nºs 5.692, de 11 de agosto de
um ano a partir da publicação desta Lei. 1971 e 7.044, de 18 de outubro de 1982, e as demais
§ 1º A União, no prazo de um ano a partir da publi- leis e decretos-lei que as modificaram e quaisquer ou-
cação desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, tras disposições em contrário.
o Plano Nacional de Educação, com diretrizes e metas
para os dez anos seguintes, em sintonia com a Decla-
ração Mundial sobre Educação para Todos.
§ 2º (Revogado). EXERCÍCIOS COMENTADOS
§ 3º O Distrito Federal, cada Estado e Município, e,
supletivamente, a União, devem:
I - (Revogado). 1. (UFPA - Assistente de Aluno - CEPS-UFPA/2015) A
II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens Lei nº 9.394/1996 estabelece que:
e adultos insuficientemente escolarizados;
III - realizar programas de capacitação para todos a) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
os professores em exercício, utilizando também, para organizarão, em regime de colaboração, os respecti-
isto, os recursos da educação a distância; vos sistemas de esportes nacionais.
IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino b) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
fundamental do seu território ao sistema nacional de organizarão, em regime de colaboração, a merenda
avaliação do rendimento escolar. escolar, o transporte escolar, os livros didáticos, a ma-
§ 4º (Revogado). nutenção de veículos públicos e particulares.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
§ 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando c) os municípios devem garantir a todos os alunos o en-
a progressão das redes escolares públicas urbanas de sino médio primeiramente e depois o ensino funda-
ensino fundamental para o regime de escolas de tem- mental.
po integral. d) os Estados devem assegurar primeiramente o ensino
§ 6º A assistência financeira da União aos Estados, médio, a educação de jovens e adultos, a educação
ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos quilombola e a educação especial.
Estados aos seus Municípios, ficam condicionadas ao e) a União, os Estados, o Distrito Federal e os municípios
cumprimento do art. 212 da Constituição Federal e organizarão, em regime de colaboração, os respecti-
dispositivos legais pertinentes pelos governos benefi- vos sistemas de ensino.
ciados.
28
Resposta: Letra E. É o teor do artigo 8º da Lei nº 3. Atuação da equipe pedagógica – coordenação
9.394/1996: “A União, os Estados, o Distrito Federal e
os Municípios organizarão, em regime de colabora- A política de atuação da equipe pedagógica é de
ção, os respectivos sistemas de ensino”. suma importância para a elevação da qualidade de en-
A, B, C, D. Incorretas, por exclusão, devido ao teor do sino na escola, existe a necessidade urgente de que os
artigo 8o, Lei nº 9.394/1996. coordenadores pedagógicos não restrinjam suas atri-
buições somente à parte técnica, burocrática, elaborar
PROCESSOS EDUCATIVOS NA ESCOLA DE horários de aulas e ainda ficarem nos corredores da
EDUCAÇÃO INCLUSIVA: EXPERIÊNCIAS EM escola procurando conter a indisciplina dos alunos que
ÂMBITO ESCOLAR E NÃO ESCOLAR saem das salas durante as aulas, enquanto os professo-
res ficam necessitados de acompanhamento. A equipe
de suporte pedagógico tem papel determinante no de-
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA E COMPROMISSO sempenho dos professores, pois dependendo de como
SOCIAL DO EDUCADOR for a política de trabalho do coordenador o professor se
sentirá apoiado, incentivado. Esse deve ser o trabalho do
1. O papel da escola / função social da escola coordenador: incentivar, reconhecer, e elogiar os avan-
A sociedade tem avançado em vários aspectos, e mais ços e conquistas, em fim o sucesso alcançado no dia a
do que nunca é imprescindível que a escola acompanhe dia da escola e consequentemente o desenvolvimento
essas evoluções, que ela esteja conectada a essas trans- do aluno em todos os âmbitos.
formações, falando a mesma língua, favorecendo o aces-
so ao conhecimento que é o assunto crucial a ser tratado 4. Compromisso social do educador
neste trabalho.
É importante refletirmos sobre que tipo de trabalho Ao educador compete a promoção de condições que
temos desenvolvido em nossas escolas e qual o efeito, favoreçam o aprendizado do aluno, no sentido do mes-
que resultados temos alcançado. Qual é na verdade a mo compreender o que está sendo ministrado, quando o
função social da escola? A escola está realmente cum- professor adota o método dialético; isso se torna mais fá-
prindo ou procurando cumprir sua função, como agente cil, e essa precisa ser a preocupação do mesmo: facilitar a
de intervenção na sociedade? Eis alguns pressupostos a aprendizagem do aluno, aguçar seu poder de argumen-
serem explicitados nesse texto. tação, conduzir ás aulas de modo questionador, onde o
aluno- sujeito ativo estará também exercendo seu papel
de sujeito pensante; que dá ótica construtivista constrói
#FicaDica
seu aprendizado, através de hipóteses que vão sendo
Para se conquistar o sucesso se faz necessá- testadas, interagindo com o professor, argumentando,
rio que se entenda ou e que tenha clareza questionando em fim trocando ideias que produzem in-
do que se quer alcançar, a escola precisa ter ferências.
objetivos bem definidos, para que possa de- O planejamento é imprescindível para o sucesso cog-
sempenhar bem o seu papel social, onde a nitivo do aluno e êxito no desenvolvimento do trabalho
maior preocupação – o alvo deve ser o cres- do professor, é como uma bússola que orienta a direção
cimento intelectual, emocional, espiritual do a ser seguida, pois quando o professor não planeja o alu-
aluno, e para que esse avanço venha fluir é no é o primeiro a perceber que algo ficou a desejar, por
necessário que o canal (escola) esteja deso- mais experiente que seja o docente, e esse é um dos fa-
bstruído. tores que contribuem para a indisciplina e o desinteresse
na sala de aula. É importante que o planejar aconteça de
2. A Escola no Passado forma sistematizada e contextualizado com o cotidiano
do aluno – fator que desperta seu interesse e participa-
A escola é um lugar que oportuniza, ou deveria pos- ção ativa.
sibilitar as pessoas à convivência com seus semelhantes Um planejamento contextualizado com as especifici-
(socialização). As melhores e mais conceituadas escolas dades e vivências do educando, o resultado será aulas
pertenciam à rede particular, atendendo um grupo eli- dinâmicas e prazerosas, ao contrário de uma prática em
que o professor cita somente o número da página e alu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
29
De acordo com Libâneo (2005), características orga- dificuldades em promover ações que tragam a família
nizacionais positivas eficazes para o bom funcionamento para ser aliadas e não rivais, a família por sua vez ainda
de uma escola: professores preparados, com clareza de não concebeu a ideia de que precisa estar incluída no
seus objetivos e conteúdos, que planejem as aulas, cati- processo de ensino e aprendizagem independente de
vem os alunos. seu nível de escolaridade, de acordo com Libâneo (2005),
Um bom clima de trabalho, em que a direção con- “o grande desafio é o de incluir, nos padrões de vida dig-
tribua para conseguir o empenho de todos, em que os na, os milhões de indivíduos excluídos e sem condições
professores aceitem aprender com a experiência dos co- básicas para se constituírem cidadãos participantes de
legas. uma sociedade em permanente mutação”.
Clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógi- Políticas que fortaleçam laços entre comunidade e
co-curricular que vá de encontro às reais necessidades escola é uma medida, um caminho que necessita ser tri-
da escola, primando por sanar problemas como: falta de lhado, para assim alcançar melhores resultados. O aluno
professores, cumprimento de horário e atitudes que as- é parte da escola, é sujeito que aprende que constrói seu
segurem a seriedade, o compromisso com o trabalho de saber, que direciona seu projeto de vida, assim sendo a
ensino e aprendizagem, com relação a alunos e funcio- escola lida com pessoas, valores, tradições, crenças, op-
nários. ções e precisa estar preparada para enfrentar tudo isso.
Quando o gestor, com seu profissionalismo conquista Informar e formar precisa estar entre os objetivos ex-
o respeito e admiração da maioria de seus funcionários e plícitos da escola; desenvolver as potencialidades físicas,
alunos, há um clima de harmonia que predispõe a reali- cognitivas e afetivas dos alunos, e isso por meio da apren-
zação de um trabalho, onde, apesar das dificuldades, os dizagem dos conteúdos (conhecimentos, habilidades,
professores terão prazer em ensinar e alunos prazer em procedimentos, atitudes e valores), fará com que se tor-
aprender. nem cidadãos participantes na sociedade em que vivem.
Uma escola voltada para o pleno desenvolvimento do
6. Função Social da Escola educando valoriza a transmissão de conhecimento, mas
também enfatiza outros aspectos: as formas de convi-
A escola é uma instituição social com objetivo explí- vência entre as pessoas, o respeito às diferenças, a cultu-
cito: o desenvolvimento das potencialidades físicas, cog- ra escolar. (Progestão 2001).
nitivas e afetivas dos alunos, por meio da aprendizagem Ao ouvir depoimentos de alunos que afirmaram que
dos conteúdos (conhecimentos, habilidades, procedi- a maioria das aulas são totalmente sem atrativos, pro-
mentos, atitudes, e valores) que, aliás, deve acontecer de fessores chegam à sala cansados, desmotivados, não há
maneira contextualiazada desenvolvendo nos discentes nada que os atraem a participarem, que os desafiem a
a capacidade de tornarem-se cidadãos participativos na querer aprender. É importante ressaltar a importância da
sociedade em que vivem. unidade de propostas e objetivos entre os coordenado-
Eis o grande desafio da escola, fazer do ambiente es- res e o gestor, pois as duas partes falando a mesma lin-
colar um meio que favoreça o aprendizado, onde a esco- guagem o resultado será muito positivo que terá como
la deixe de ser apenas um ponto de encontro e passe a fruto a elevação da qualidade de ensino.
ser, além disso, encontro com o saber com descobertas Contudo, partindo do pressuposto de que a escola
de forma prazerosa e funcional, conforme Libâneo (2005) visa explicitamente à socialização do sujeito é necessário
devemos inferir, portanto, que a educação de qualidade que se adote uma prática docente lúdica, uma vez que
é aquela mediante a qual a escola promove, para todos, ela precisa estar em sintonia com o mundo, a mídia que
o domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de oferece: informatização e dinamismo.
capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao aten- Considerando a leitura, a pesquisa e o planejamento
dimento de necessidades individuais e sociais dos alunos. ferramentas básicas para o desenvolvimento de um tra-
A escola deve oferecer situações que favoreçam o balho eficaz, e ainda fazendo uso do método dialético, o
aprendizado, onde haja sede em aprender e também ra- professor valoriza as teses dos alunos, cultivando neles
zão, entendimento da importância desse aprendizado no a autonomia e autoestima o que consequentemente os
futuro do aluno. Se ele compreender que, muito mais im- fará ter interesse pelas aulas e o espaço escolar então
portante do que possuir bens materiais, é ter uma fonte deixará de ser apenas ponto de encontro para ser tam-
de segurança que garanta seu espaço no mercado com- bém lugar de crescimento intelectual e pessoal.
petitivo, ele buscará conhecer e aprender sempre mais. Para que a escola exerça sua função como local de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
30
O fato de a escola ser um elemento de grande im- Saviani avalia esses processos, explicando que ambos
portância na formação das comunidades torna o desen- são prejudiciais ao desenvolvimento da sociedade, tra-
volvimento das atribuições do gestor um componente zendo inúmeros problemas, muitas vezes de difícil so-
crucial, é necessário que possua tendência crítico-social, lução, e conclui que a harmonia e a integração entre os
com visão de empreendimento, para que a escola esteja envolvidos na educação – esferas política, social e admi-
acompanhando as inovações, conciliando o conhecimen- nistração da escola podem evitar a marginalidade, inten-
to técnico à arte de disseminar ideias, de bons relacio- sificando os esforços educativos em prol da melhoria de
namentos interpessoais, sobretudo sendo ético e demo- vida no âmbito individual e coletivo.
crático. Os coordenadores por sua vez precisam assumir Através da interação do professor e da participação
sua responsabilidade pela qualidade do ensino, atuan- ativa do aluno a escola deve possibilitar a aquisição de
do como formadores do corpo docente, promovendo conteúdos – trabalhar a realidade do aluno em sala de
momentos de trocas de experiências e reflexão sobre a aula, para que ele tenha discernimento e poder de ana-
prática pedagógica, o que trará bons resultados na reso-
lisar sua realidade de uma maneira crítica -, e a socia-
lução de problemas cotidianos, e ainda fortalece a qua-
lização do educando para que tenha uma participação
lidade de ensino, contribui para o resgate da autoestima
organizada na democratização da sociedade, mas Saviani
do professor, pois o mesmo precisa se libertar de práticas
alerta para a responsabilidade do poder público, repre-
não funcionais, e para isso a contribuição do coordena-
dor será imprescindível, o que resultará no crescimento sentante da política na localidade, que é a responsável
intelectual dos alunos. pela criação e avaliação de projetos no âmbito das esco-
las do estado e município, uma vez que este é o respon-
7. A função da educação sável pelas políticas públicas para melhoria do ensino,
A função da Educação é possibilitar condições para visando a integração entre o aluno e a escola. A escola
a atualização e uso pleno das potencialidades pessoais é valorizada como instrumento de apropriação do saber
em direção ao autoconhecimento e auto-realização pes- e pode contribuir para eliminar a seletividade e exclusão
soal. A Educação não deve destruir o homem concreto social, e é este fator que deve ser levado em considera-
e sim apoiar-se neste ser concreto. Não deve ir contra o ção, a fim de erradicar as gritantes disparidades de níveis
homem para formar o homem. A Educação deve realizar- escolares, evasão escolar e marginalização.
-se a partir da própria vida e experiência do educando, De fato, a escola é o local que prepara a criança, futu-
apoiar-se nas necessidades e interesses naturais, expec- ro cidadão, para a vida, e deve transmitir valores éticos e
tativas do educando, e contribuir para seu desenvolvi- morais aos estudantes, e para que cumpra com seu papel
mento pessoal. Os três princípios básicos da Educação deve acolher os alunos com empenho para, verdadeira-
liberalista: liberdade, subjetividade, atividade. mente transformar suas vidas.
CONCEPÇÕES DE EDUCAÇÃO
EXERCÍCIOS COMENTADOS
Concepção Tradicionalista da Educação
1. (SEE-DF – Professor de Educação Básica – Superior – l. ORIGEM HISTÓRICA - Desde o poder aristocrático
CESPE/2017) O compromisso social e ético do profissio- antigo e feudal. Buscou inspiração nas tradições
nal da educação está relacionado ao domínio do conteú- pedagógicas antigas e cristãs. Predominou até fins
do e ao subsídio dado ao aluno para que ele se adapte do século XIX. Foi elitista, pois apenas o clero e a
aos valores e normas vigentes da sociedade por meio do nobreza tinham acesso aos estudos.
desenvolvimento individual e da conquista do sucesso. 2. CONCEITO DE HOMEM - O homem é um ser origi-
nalmente corrompido (pecado original). O homem
( ) CERTO ( ) ERRADO deve submeter-se aos valores e aos dogmas uni-
versais e eternos. As regras de vida para o homem
Resposta: Errado. O professor compromissado social já foram estabelecidas definitivamente (num mun-
e eticamente adota uma perspectiva de transformação do “superior”, externo ao homem).
e não de adaptação. 3. IDEAL DE HOMEM - É o homem sábio (= instruído,
que detém o saber, o conhecimento geral, apre-
senta correção no falar e escrever, e fluência na
CONCEPÇÕES DE ESCOLA oratória) e o homem virtuoso (= disciplinado). A
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
31
5. DISCIPLINA - Significa domínio de si mesmo, con- 6. A FUNÇÃO DA EDUCAÇÃO - A função da Educação
trole emocional e corporal. Predominam os incen- é possibilitar condições para a atualização e uso
tivos extrínsecos: prêmios e castigos. A Escola é pleno das potencialidades pessoais em direção ao
um meio fechado que prepara o educando. auto-conhecimento e auto-realização pessoal. A
6. EDUCADOR - É aquele que já se disciplinou, conse- Educação não deve destruir o homem concreto, e
guiu corrigir sua natureza corrompida e já detém o sim apoiar-se neste ser concreto. Não deve ir con-
saber. Tem seu saber reconhecido e sua autoridade tra o homem para formar o homem. A Educação
garantida. Ele é o centro da decisão do processo deve realizar-se a partir da própria vida e expe-
riência do educando, apoiar-se nas necessidades
educativo.
e interesses naturais, expectativas do educando, e
7. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL. - A disposi-
contribuir para seu desenvolvimento pessoal. Os
ção na sala de aula, um atrás do outro, reduz ao
três princípios básicos da Educação liberalista: li-
mínimo as possibilidades de comunicação direta berdade, subjetividade, atividade.
entre as pessoas. É cada um só com o mestre. A re- 7. EDUCADOR - Deve abster-se de intervir no pro-
lação professor-aluno é de obediência ao mestre. cesso do desenvolvimento do educando. Deve ser
Incentiva a competição. É preciso ser o melhor. O elemento facilitador desse desenvolvimento. Essa
outro é um concorrente. concepção enfatiza as atividades do mestre: com-
8. O CONTEÚDO - Ênfase no passado, ao já feito, aos preensão, empatia (perceber o ponto de refe-
conteúdos prontos, ao saber já instituído. O futuro rência interno do outro), carinho, atenção, acei-
é reprodução do passado. O saber é enciclopédico tação, permissividade, autenticidade, confiança
e é preciso conhecer e praticar as leis morais. no ser humano.
9. PROCEDIMENTOS PEDAGÓGICOS - O conteúdo é 8. DISCIPLINA - As regras disciplinares são discutidas
apresentado de forma acabada, há ênfase na quan- por todos os educandos e assumidas por eles com
tidade de informação dada e memorizada. O aluno liberdade e responsabilidade. Essas regras são o
ouve informações gerais nas situações particulares. limite real para o clima de permissividade. O traba-
lho ativo e interessado substitui a disciplina rígida.
CONCEPÇÃO LIBERALISTA DA EDUCAÇÃO 9. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL - A relação
privilegiada é do grupo de educandos que coo-
peram, decidem, se expressam. Enfatiza as re-
1. ORIGEM HISTÓRICA - A concepção liberalista da
lações inter-pessoais, busca dar espaço para as
Educação foi se constituindo ao longo da Histó-
emoções, sentimentos, afetos, fatos imprevistos
ria em reação à concepção Tradicionalista, seus emergentes no aqui-agora do encontro grupal.
primeiros indícios podem se reportar ao Renas- Permite o pensamento divergente, a pluralida-
cimento( séc. XV - XVI); prosseguindo com a ins- de de opções, respostas mais personalizadas. É
talação do poder burguês liberalista (séc. XVIII) e centrada no estudante.
culminando com a emergência da chamada Ëscola 10. ESCOLA - É um meio fechado, se possível espe-
Nova”(início do séc. XX) e com a divulgação dos cialmente distanciado da vida social para pro-
pressupostos da Psicologia Humanista (1950). teger o educando. A escola torna-se uma mini-
2. PRESSUPOSTO BÁSICO. da concepção liberalista -sociedade ideal onde o educando pode agir com
da Educação. Referências para vida do homem liberdade, espontaneidade, alegria.
não podem ser os valores pré-dados por fontes 11. CONTEÚDO - As crianças podem ordenar o co-
supra-humanas, exteriores ao homem. A Educa- nhecimento conforme os seus interesses. Evita-se
ção (como toda a vida social) deve se basear nos mostrar o mundo “mau”aos educandos. O mundo
próprios homens, como eles são concretamente. O é apresentado de modo idealizado, bonito, “co-
homem pode buscar em si próprio o sentido da lorido”.
sua vida e as normas para a sua vida. 12. PROCEDIMENTO Pedagógico - Enfatiza a técnica
de descoberta, o método indutivo (do particu-
3. CONCEPÇÃO DE HOMEM - O homem é natural-
lar ao geral). Defende técnicas globalizantes que
mente bom, mas ele pode ser corrompido na vida
garantam o sentido, a compreensão, a inter-rela-
social. O homem é um ser livre, capaz de decidir,
ção e sequenciação do conteúdo. Utiliza técnicas
escolher com responsabilidade e buscar seu cres- variadas: música, dança, expressão corporal,
cimento pessoal. dramatização, pesquisa, solução de probleas,
4. CONCEITO DE INFÂNCIA - A criança é inocente. A
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
32
13. RELAÇÃO EDUCACÃO-SOCIEDADE - A concepção 5. ESCOLA - Deve ser uma comunidade harmoniosa.
liberalista de Educação é coerente com o moderno Todo problema deve ser resolvido administrativa-
capitalismo que propõe a livre iniciativa individual, mente. O administrativo e o pedagógico são de-
adaptação dos trabalhadores a situações mutáveis, partamentos separados.
concepção de Educação é conivente com o siste- 6. EDUCADOR - É um especialista, já possui o saber.
ma capitalista de sociedade porque: Quem possui saber são os cientistas, os especialis-
tas. Esses produzem a cultura. Esses é que deverão
1.Contribui com a manutenção da estrutura de clas- comandar os demais homens. Eles produziram a
teoria e é esta que vai dirigir a prática. Os espe-
ses sociais, quando realiza a elitização do saber, de
cialistas é que devem planejar, decidir e levar os
dois modos:
demais a cumprirem as ordens, e executar o fazer
a) organizando o ensino de modo a desfavorecer o
pedagógico. A equipe de comando técnico deve
prosseguimento da escolarização dos mais po- fiscalizar o cumprimento das ordens.
bres: o mundo da escola é o mundo burguês no 7. RELAÇÃO INTER-PESSOAL - Valoriza a hierarquia,
visual, na linguagem, nos meios, nos fins. A escola ordem, a impessoalidade, as normas fixas e pre-
vai selecionando os mais “capazes”. Os outros vão cisas, o pensamento convergente, a uniformi-
sutilmente se mantendo nas baixas camadas de es- dade, a harmonia.
colaridade. A pirâmide escolar também contribui, 8. CONTEÚDO - Supervaloriza o conhecimento téc-
portanto, com a reprodução contínua da pirâmide nico-profissional, enfatiza o saber pronto pro-
social. vindo das fontes culturais estrangeiros, super
b) 2. Inculca a concepção burguesa de mundo, de desenvolvidas.
modo predominante, divulgando sua ideologia 9. PROCEDIMENTO Pedagógico - Enfatiza a técnica,
através do discurso explícito e implícito (na fala o saber-fazer sem discutir a questão dos valores
das autoridades, nos textos de leitura, nas atitu- envolvidos. Privilegia o saber técnico, os métodos
des manifestas). Veicula conteúdos idealizadores individualizantes na obtenção do conhecimen-
da realidade, omitindo questionamentos críticos to. Enfatiza a objetividade, mensuração rigorosa
desveladores do social real. dos resultados, a eficiência dos meios para alcan-
çar o resultado final previsto. Tudo é previsto, or-
3. Seu projeto de mudança social é reformista e
ganizado, controlado pela equipe de comando.
acredita na mudança social sem conflito, não le-
10. DISCIPLINA - A indisciplina deve ser corrigida
vando em consideração as contradições reais
utilizando reforçamentos de preferência positivos
geradas pelo poder burguês. Quando fala em (recompensas, prêmios, promoções profissionais).
mudança social, acredita que esta se processa das 11. RELAÇÃO EDUCAÇÃO-SOCIEDADE - Nesta con-
partes para o todo: mudam as pessoas - as ins- cepção de Educação predomina a função repro-
tituições - a sociedade. dutiva do modelo social. As relações capitalistas
se manifestam no trabalho pedagógico de modos
14. CONTRADIÇÃO BÁSICA - da concepção liberalista diversos e complementares:
de Educação: Ao contestar o autoritarismo, a opres- a) pela expropriação do saber do professor pelos
são e ressaltar a livre expressão e os direitos do ser “planejadores” ou pelo programas e máquinas
humano, a Educação Liberalista abre espaço para importadas.
que seja possível inclusive a ultrapassagem de si b) pela crescente proletarização do professor arrocho
própria em sua nova pedagogia que rejeita os seus salarial para manutenção dos lucros.
pressupostos ideológicos e construa outros pressu- c) pela contenção de despesas e de investimento na
postos com nova concepção de mundo, de socie- qualidade de ensino e na formação do educador,
dade, de homem. O liberalismo pedagógico torna buscando mínimos gastos e máximos lucros para
possível esta ultrapassagem, mas não a realiza. os proprietários da instituição.
d) pela preocupação exclusiva com a formação técni-
co-profissional necessária à preparação da mão-
Concepção Técnico-Burocrática Da Educação
-de-obra coerente com as exigências do mercado
de trabalho.
1. ORIGEM HISTORICA - Esta concepção é também e) pelo uso da tecnologia à serviço do capital : redu-
conhecida como concepção TECNICISTA. Penetrou ção da mão-de-obra remunerada.
nos meios educacionais a partir dos meados do
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
33
CONCEPÇÃO DIALÉTICA DE EDUCAÇÃO 4. IDEAL DE HOMEM. A educação dialética visa a cons-
trução do homem histórico, compromissado com
1. CONCEITO DE DIALÉTICA. A dialética é uma Filo- as tarefas do seu tempo: participar do projeto de
sofia porque implica uma concepção do homem, construção de uma nova realidade social. Busca a
da sociedade e da relação homem-mundo. É realização plena de todos os homens e acredita que
também um método de conhecimento. Na Gré- isto não será possível dentro do modelo capitalista
cia antiga a dialética signficava “arte do diálogo”. de sociedade. Sendo assim, se coloca numa pers-
Desde suas origens mais antigas a dialética estava pectiva transformadora da realidade. O homem
relacionada com as discussões sobre a questão do dessa outra realidade não será mais o homem uni-
movimento, da transformação das coisas. A dialé- lateral, excluído dos bens sociais, explorado no tra-
tica percebe o mundo como uma realidade em balho, mas será um homem novo, o homem total”:
contínua transformação. Em tudo o que existe há “É o chegar histórico do homem a uma totalidade
uma contradição interna. (Por exemplo, numa so- de capacidade, a uma totalidade de possibilidade
ciedade há forças conservadoras interessadas em de consumo e gozo, podendo usufruir bens espiri-
manter o sistema social vigente, e há forças eman- tuais e materiais” (Moacir Gadotti).
cipadoras). Essas forças são inter-dependentes e 5. EDUCAÇÃO - Numa sociedade de classes, a educa-
estão em luta. Essa luta força o movimento, a ção tem uma função política de criar as condições
transformação de ambos os termos contrários necessárias à hegemonia da classe trabalhadora.
em um terceiro termo. No terceiro termo há su- Hegemonia implica o direito de todos participa-
peração do estar-sendo anterior. rem efetivamente da condução da sociedade, po-
2. CONDIÇÕES HISTÓRICAS. A dialética é muito an- der decidir sobre sua vida social; supõe direção
tiga, podendo ser reportada a sete séculos antes cultural, política ideológica. As condições para
de Cristo. Sócrates (469-399 A.C.) é considerado hegemonia dos trabalhadores passam pela apro-
o maior dialético grego. No séc. XIX, Hegel e Karl priação da capacidade de direção. A Educação é
Marx revivem a dialética e a partir deles novos projeto e processo. Seu projeto histórico é ex-
autores têm retomado e ampliado a questão da plícito: criação de uma nova hegemonia, a da
dialética. A dialética como fundamentação filosó- classe trabalhadora. O ato educativo, cotidiano
fica e metodológica da Educação existiu desde os não é um ato isolado, mas integrado num pro-
tempos antigos, mas não como concepção domi- jeto social e global de luta da classe trabalhado-
nante. Prevaleceu ao longo da História uma con- ra. A educação dialética é processo de formação
cepção tradicionalista e metafísica de Educação. e capacitação: apropriação das capacidades de
(Metafísica: teoria abstrata, desvinculada da rea- organização e direção, fortalecimento da cons-
lidade concreta, com uma visão estática de mun- ciência de classe para intervir de modo criativo,
do). Essa concepção tradicional correspondia ao de modo organizado, na transformação estrutural
interesse das classes dominantes, clero e nobreza, da sociedade. ”Essa educação é libertadora na me-
de impedir transformações. Como as transforma- dida em que tiver como objetivo a ação e reflexão
ções radicais da sociedade só interessam às clas- consciente e criadora das classes oprimidas sobre
ses desprivilegiadas, compete a essas a retomada seu próprio processo de libertação.”(Paulo Freire).
da dialética. Assim é que o projeto pedagógico da
classe trabalhadora foi elaborado por ocasião de CONCEPÇÃO METODOLOGICA BÁSICA : Prática -
revolta dos trabalhadores na França (“Comuna de Teoria - Prática
Paris”, 1871), assumida rapidamente pelo poder
burguês. O projeto pedagógico da classe trabalha- 1o. Partir da prática concreta: Perguntar, problema-
dora é hoje revivido na luta dos trabalhadores em tizar a prática. São as necessidades práticas que
vários pontos do mundo. A concepção dialética de motivam a busca do conhecimento elaborado. Es-
Educação supõe, pois, a luta pelo direito da classe sas necessidades constituem o problema: aquilo
trabalhadora à Educação, e esige ainda, a partici- que é necessário solucionar. É preciso, pois, iden-
pação na luta pela mudança radical das suas con- tificar fatos e situações significativas da realidade
dições de existência. A concepção dialética sempre imediata.
foi reprimida pelo poder dominante, mas resistindo 2o. Teorizar sobre a prática: ir além das aparências
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
aos obstáculos, ela vai conquistando espaço. Ainda imediatas. Refletir, discutir, buscar conhecer melhor
não está estruturada, está se fazendo. A todo edu- o tem problematizado, estudar criativamente.
cador progresista-dialético uma tarefa se coloca: a 3o. Voltar à prática para transformá-la : voltar à
de contribuir com essa construção: sistematizar a prática com referenciais teóricos mais elaborados e
teoria e a prática dialética de educação. agir de modo mais competente. A prática é o crité-
3. CONCEITO DE HOMEM - O homem é sujeito, agen- rio de avaliação da teoria. Ao colocar em prática o
te do processo histórico. “A História nos faz, refaz e conhecimento mais elaborado surgem novas per-
é feito por nós continuamente”. (Paulo Freire). guntas que requerem novo processo de teorização
abrindo-nos ao movimento espiralado da busca
contínua do conhecimento.
34
7. CONTEÚDO E PROCEDIMENTO Pedagógico : A edu- TENDÊNCIAS
cação dialética luta pela escola pública e gratuita.
Uma escola de qualidade para o povo. Para assumir O ofício de professor deve consagrar temas como a
a hegemonia, a classe trabalhadora precisa munir- prática educativa, a profissionalização docente, o traba-
-se de instrumentais: apropriação de conhecimen- lho em equipe, projetos, autonomia e responsabilidades
tos, métodos e técnicas, hoje restritos à classe do- crescentes, pedagogias diferenciadas, e propostas con-
minante. Implica a apropriação crítica e sistemática
cretas. O autor toma como referencial de competência
de teorias, tecnicas profissionais, o ler, escrever e
adotado em Genebra, 1996, para uma formação contí-
contar com eficiência e mais ainda, apropriar-se
de métodos de aquisição, produção e divulga- nua. O professor deve dominar saberes a serem ensina-
ção do conhecimento: pesquisar, discutir, deba- dos, ser capaz de dar aulas, de administrar uma turma e
ter com argumentações precisas, utilizar os mais de avaliar. Ressalta a urgência de novas competências,
variados meios de expressão, comunicação e arte. devido às transformações sociais existentes. As tecnolo-
A Educação dialética enfatiza técnicas que pro- gias mudam o trabalho, a comunicação, a vida cotidiana
priciem o fazer coletivo, a capacidade de orga- e mesmo o pensamento. A prática docência tem que re-
nização grupal, que permitem a reflexão crítica, fletir sobre o mundo. Os professores são os intelectuais
que permitem ao educando posicionar-se como e mediadores, intérpretes ativos da cultura, dos valores e
sujeito do conhecimento. Busca partir da realida- do saber em transformação. Se não se perceberem como
de dos educandos, suas condições de “partida”e depositários da tradição ou percursos do futuro, não
interferir para superar esse momento inicial. Avalia serão desempenhar esse papel por si mesmos. O currí-
continuamente a prática global, não apenas os con- culo deve ser orientado para se designar competências,
teúdos memorizados. O aluno é também sujeito da
a capacidade de mobilizar diversos recursos cognitivos
avaliação. A avaliação serve para disgnosticar, evi-
denciar o que deve ser mudado. (saberes, capacidades, informações, etc.) para enfrentar,
8. A ESCOLA - É lugar de contradição numa socie- solucionar uma série de situações. Dez domínios de com-
dade de classes. Há forças contrárias em luta. Para petências reconhecidas como prioritárias na formação
a educação dialética a escola não deve ser uma contínua das professoras e dos professores do ensino
sociedade ideal em miniatura. Ela não esconde o fundamental.
conflito social. O conflito deve ser pedagogi-
camente codificado (não cair nas “leis da selva”), 1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem.
deve ser evidenciado para ser enfrentado e su- - Conhecer, para determinada disciplina, os conteú-
perado. A escola deve preparar, ao mesmo tempo, dos a serem ensinados e sua tradução em obje-
para a cooperação e para a luta. tivos de aprendizagem: nos estágios de planeja-
9. O EDUCADOR - O professor dialético assume a di- mento didático, da análise posterior e da avaliação.
retividade, a intervenção. O professor deve ser me- - Trabalhar a partir das representações dos alunos:
diador do diálogo do aluno com o conhecimento
considerando o conhecimento do aluno, colocan-
e não o seu obstáculo. O professor não se faz um
igual ao aluno, assume a diferença, a assimetria do-se no lugar do aprendiz, utilizando se de uma
inicial. O trabalho educativo caminha na direção competência didática para dialogar com ele e fazer
da diminuição gradativa dessa diferença. Dirigir é com que suas concepções se aproxime dos conhe-
ter uma proposta clara do trabalho pedagógico. É cimentos científicos;
propor, não impor. - Trabalhar a partir dos erros e dos obstáculos à
10. RELACIONAMENTO INTER-PESSOAL E DISCIPLINA. aprendizagem: usando de uma situação-proble-
A educação dialética valoriza a seriedade na busca ma ara transposição didática, considerando o erro,
do conhecimento, a disciplina intelectual, o esforço. como ferramenta para o ensino.
Questiona reduzir a aprendizagem ao que é apenas - Construir e planejar dispositivos e sequências di-
“gostoso”, prazeiroso em si mesmo. Busca resgatar o dáticas;
lúdico: trabalho com prazer, momento de plenitude. - Envolver os alunos em atividades de pesquisa, em
Valoriza o rigor científico que não é incompatível projetos de conhecimento.
com os procedimentos democráticos. Um não ex-
clui o outro. Nega o autoritarismo e espontaneismo.
2. Administrar a progressão das aprendizagens.
Reconhece que o uso legítimo da autoridade do edu-
cador se faz em sintonia com a expressividade e es- - Conceber e administrar situações-problema ajus-
tadas ao nível e as possibilidades dos alunos: em
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
35
- Estabelecer laços com as teorias subjacentes às ati- 7. Informar e envolver os pais.
vidades de aprendizagens; - Dirigir reuniões de informação e de debate;
- Observar e avaliar os alunos em situações de - Fazer entrevistas;
aprendizagens; - Envolver os pais na construção dos saberes.
- Fazer balanços periódicos de competências e to-
mar decisões de progressão; 8. Utilizar novas tecnologias.
- Rumar a ciclos de aprendizagem: interagir grupos As novas tecnologias da informação e da comunica-
de alunos e dispositivos de ensino-aprendizagem. ção transformam as maneiras de se comunicar, de traba-
lhar, de decidir e de pensar. O professor predica usar edi-
3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de dife- tores de textos, explorando didáticas e programas com
renciação. objetivos educacionais.
- Administrar a heterogeneidade no âmbito de uma - Discutir a questão da informática na escola;
turma, com o propósito de grupos de necessida- - Utilizar editores de texto;
des, de projetos e não de homogeneidade; - Explorar as potencialidades didáticas dos progra-
- Abrir, ampliar a gestão de classe para um espaço mas em relação aos objetivos do ensino;
mais vasto, organizar para facilitar a cooperação e - Comunicar-se à distância por meio da telemática;
a geração de grupos utilidades; - Utilizar as ferramentas multimídia no ensino.
- Fornecer apoio integrado, trabalhar com alunos
portadores de grandes dificuldades, sem todavia Assim, quanto à oitava competência de Perrenoud,
transforma-se num psicoterapeuta; que trabalho nessa pesquisa, a Informática na Educação,
- Desenvolver a cooperação entre os alunos e cer- nos fez perceber que cada vez mais precisamos do com-
tas formas simples de ensino mútuo, provocando putador, porque estamos na era da informatização e por
aprendizagens através de ações coletivas, criando isso é primordial que nós profissionais da educação es-
uma cultura de cooperação através de atitudes e tejamos modernizados e acompanhando essa tendência,
da reflexão sobre a experiência. visto que assim como um simples pagamento no ban-
co, utilizamos o computador, para estarmos atualizados
4. Envolver os alunos em sua aprendizagem e em necessitamos obter mais esta competência para se fazer
seu trabalho. uma docência de qualidade.
- Suscitar o desejo de aprender, explicitar a relação
com o saber, o sentido do trabalho escolar e de- 9. Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da pro-
senvolver na criança a capacidade de auto avalia- fissão.
ção. O professor deve ter em mente o que é en- - Prevenir a violência na escola e fora dela;
sinar, reforçar a decisão de aprender, estimular o - Lutar contra os preconceitos e as discriminações
desejo de saber, instituindo um conselho de alu- sexuais, étnicas e sociais;
nos e negociar regras e contratos; - Participar da criação de regras de vida comum re-
- Oferecer atividades opcionais de formação, à la ferente á disciplina na escola, às sanções e à apre-
carte; ciação da conduta;
- Favorecer a definição de um projeto pessoal do - Analisar a relação pedagógica, a autoridade, a co-
aluno, valorizando-os e reforçando-os a incitar o municação em aula;
aluno a realizar projetos pessoais, sem retornar - Desenvolver o senso de responsabilidade, a solida-
isso um pré-requisito. riedade e o sentimento de justiça.
36
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio- Portanto, saber gramática, teoria gramatical, é a garan-
nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes tia de se chegar ao domínio da língua oral ou escrita.
concepções de homem e de sociedade e, consequente- Assim, predomina, nessa tendência tradicional, o ensi-
mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e no da gramática pela gramática, com ênfase nos exercícios
da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente repetitivos e de recapitulação da matéria, exigindo uma
estudo, tendo em vista que o modo como os professores atitude receptiva e mecânica do aluno. Os conteúdos são
realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses organizados pelo professor, numa sequência lógica, e a
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente. avaliação é realizada através de provas escritas e exercícios
O objetivo deste artigo é verificar os pressupostos de
de casa.
aprendizagem empregados pelas diferentes tendências
pedagógicas na prática escolar brasileira, numa tentativa
Tendência Liberal Renovada Progressivista
de contribuir, teoricamente, para a formação continuada
de professores.
Sabe-se que a prática escolar está sujeita a condicio- Segundo essa perspectiva teórica de Libâneo, a ten-
nantes de ordem sociopolítica que implicam diferentes dência liberal renovada (ou pragmatista) acentua o sen-
concepções de homem e de sociedade e, consequente- tido da cultura como desenvolvimento das aptidões in-
mente, diferentes pressupostos sobre o papel da escola e dividuais.
da aprendizagem, inter alia. Assim, justifica-se o presente A escola continua, dessa forma, a preparar o aluno
estudo, tendo em vista que o modo como os professores para assumir seu papel na sociedade, adaptando as ne-
realizam o seu trabalho na escola tem a ver com esses cessidades do educando ao meio social, por isso ela deve
pressupostos teóricos, explícita ou implicitamente. imitar a vida. Se, na tendência liberal tradicional, a ativi-
dade pedagógica estava centrada no professor, na escola
Tendências Pedagógicas Liberais renovada progressivista, defende-se a ideia de “aprender
fazendo”, portanto centrada no aluno, valorizando as ten-
Segundo LIBÂNEO (1990), a pedagogia liberal sus- tativas experimentais, a pesquisa, a descoberta, o estudo
tenta a ideia de que a escola tem por função preparar do meio natural e social, etc, levando em conta os inte-
os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de resses do aluno.
acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o
Como pressupostos de aprendizagem, aprender se
indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigen-
torna uma atividade de descoberta, é uma autoaprendi-
tes na sociedade de classe, através do desenvolvimento
zagem, sendo o ambiente apenas um meio estimulador.
da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto
cultural, as diferenças entre as classes sociais não são Só é retido aquilo que se incorpora à atividade do aluno,
consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a através da descoberta pessoal; o que é incorporado pas-
ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta sa a compor a estrutura cognitiva para ser empregado
a desigualdade de condições. em novas situações. É a tomada de consciência, segundo
Piaget.
Tendência Liberal Tradicional No ensino da língua, essas ideias escolanovistas não
trouxeram maiores consequências, pois esbarraram na
Segundo esse quadro teórico, a tendência liberal tra- prática da tendência liberal tradicional.
dicional se caracteriza por acentuar o ensino humanístico,
de cultura geral. De acordo com essa escola tradicional, Tendência Liberal Renovada Não-Diretiva
o aluno é educado para atingir sua plena realização atra-
vés de seu próprio esforço. Sendo assim, as diferenças de Acentua-se, nessa tendência, o papel da escola na for-
classe social não são consideradas e toda a prática esco- mação de atitudes, razão pela qual deve estar mais preo-
lar não tem nenhuma relação com o cotidiano do aluno. cupada com os problemas psicológicos do que com os
Quanto aos pressupostos de aprendizagem, a ideia pedagógicos ou sociais. Todo o esforço deve visar a uma
de que o ensino consiste em repassar os conhecimentos
mudança dentro do indivíduo, ou seja, a uma adequação
para o espírito da criança é acompanhada de outra: a de
pessoal às solicitações do ambiente.
que a capacidade de assimilação da criança é idêntica à
do adulto, sem levar em conta as características próprias
de cada idade. A criança é vista, assim, como um adulto Aprender é modificar suas próprias percepções. Ape-
em miniatura, apenas menos desenvolvida. nas se aprende o que estiver significativamente relacio-
nado com essas percepções. A retenção se dá pela rele-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
37
Tendência Liberal Tecnicista insiste que o conhecimento não é suficiente se, ao lado e
junto deste, não se elabora uma nova teoria do conheci-
A escola liberal tecnicista atua no aperfeiçoamento mento e se os oprimidos não podem adquirir uma nova
da ordem social vigente (o sistema capitalista), articulan- estrutura do conhecimento que lhes permita reelaborar
do-se diretamente com o sistema produtivo; para tanto, e reordenar seus próprios conhecimentos e apropriar-se
emprega a ciência da mudança de comportamento, ou de outros.
seja, a tecnologia comportamental. Seu interesse princi- Assim, para Paulo Freire, no contexto da luta de clas-
pal é, portanto, produzir indivíduos “competentes” para ses, o saber mais importante para o oprimido é a desco-
o mercado de trabalho, não se preocupando com as mu- berta da sua situação de oprimido, a condição para se
danças sociais. libertar da exploração política e econômica, através da
Conforme MATUI (1988), a escola tecnicista, baseada elaboração da consciência crítica passo a passo com sua
na teoria de aprendizagem S-R, vê o aluno como depo- organização de classe. Por isso, a pedagogia libertadora
ultrapassa os limites da pedagogia, situando-se também
sitário passivo dos conhecimentos, que devem ser acu-
no campo da economia, da política e das ciências sociais,
mulados na mente através de associações. Skinner foi o
conforme Gadotti.
expoente principal dessa corrente psicológica, também
Como pressuposto de aprendizagem, a força moti-
conhecida como behaviorista. Segundo RICHTER (2000),
vadora deve decorrer da codificação de uma situação-
a visão behaviorista acredita que adquirimos uma língua -problema que será analisada criticamente, envolvendo o
por meio de imitação e formação de hábitos, por isso a exercício da abstração, pelo qual se procura alcançar, por
ênfase na repetição, nos drills, na instrução programada, meio de representações da realidade concreta, a razão
para que o aluno forme “hábitos” do uso correto da lin- de ser dos fatos. Assim, como afirma Libâneo, aprender
guagem. é um ato de conhecimento da realidade concreta, isto é,
A partir da Reforma do Ensino, com a Lei 5.692/71, da situação real vivida pelo educando, e só tem sentido
que implantou a escola tecnicista no Brasil, preponde- se resulta de uma aproximação crítica dessa realidade.
raram as influências do estruturalismo linguístico e a Portanto o conhecimento que o educando transfere re-
concepção de linguagem como instrumento de comu- presenta uma resposta à situação de opressão a que se
nicação. A língua – como diz TRAVAGLIA (1998) – é vista chega pelo processo de compreensão, reflexão e crítica.
como um código, ou seja, um conjunto de signos que se No ensino da Leitura, Paulo Freire, numa entrevista,
combinam segundo regras e que é capaz de transmitir sintetiza sua ideia de dialogismo: “Eu vou ao texto cari-
uma mensagem, informações de um emissor a um re- nhosamente. De modo geral, simbolicamente, eu puxo
ceptor. Portanto, para os estruturalistas, saber a língua é, uma cadeira e convido o autor, não importa qual, a travar
sobretudo, dominar o código. um diálogo comigo”.
No ensino da Língua Portuguesa, segundo essa con-
cepção de linguagem, o trabalho com as estruturas lin- Tendência Progressista Libertária
guísticas, separadas do homem no seu contexto social,
é visto como possibilidade de desenvolver a expressão A escola progressista libertária parte do pressuposto
oral e escrita. A tendência tecnicista é, de certa forma, de que somente o vivido pelo educando é incorporado e
uma modernização da escola tradicional e, apesar das utilizado em situações novas, por isso o saber sistemati-
contribuições teóricas do estruturalismo, não conseguiu zado só terá relevância se for possível seu uso prático. A
superar os equívocos apresentados pelo ensino da lín- ênfase na aprendizagem informal via grupo, e a negação
gua centrado na gramática normativa. Em parte, esses de toda forma de repressão, visam a favorecer o desen-
volvimento de pessoas mais livres. No ensino da língua,
problemas ocorreram devido às dificuldades de o pro-
procura valorizar o texto produzido pelo aluno, além da
fessor assimilar as novas teorias sobre o ensino da língua
negociação de sentidos na leitura.
materna.
Tendência Progressista Crítico-Social Dos Conteúdos
Tendências Pedagógicas Progressistas
Conforme Libâneo, a tendência progressista crítico-
Segundo Libâneo, a pedagogia progressista designa -social dos conteúdos, diferentemente da libertadora e
as tendências que, partindo de uma análise crítica das libertária, acentua a primazia dos conteúdos no seu con-
realidades sociais, sustentam implicitamente as finalida- fronto com as realidades sociais. A atuação da escola
des sociopolíticas da educação.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
38
Tendências Pedagógicas Pós-LDB 9.394/96 Tendências Pedagógicas Brasileiras
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional As tendências pedagógicas brasileiras foram muito
de n.º 9.394/96, revalorizam-se as ideias de Piaget, Vy- influenciadas pelo momento cultural e político da socie-
gotsky e Wallon. Um dos pontos em comum entre esses dade, pois foram levadas à luz graças aos movimentos
psicólogos é o fato de serem interacionistas, porque con- sociais e filosóficos. Essas formaram a prática pedagógica
cebem o conhecimento como resultado da ação que se do país.
passa entre o sujeito e um objeto. De acordo com Aranha Os professores Saviani (1997) e Libâneo (1990) pro-
(1998), o conhecimento não está, então, no sujeito, como põem a reflexão sobre as tendências pedagógicas. Mos-
queriam os inatistas, nem no objeto, como diziam os em- trando que as principais tendências pedagógicas usadas
piristas, mas resulta da interação entre ambos. na educação brasileira se dividem em duas grandes li-
nhas de pensamento pedagógico. Elas são: Tendências
Para citar um exemplo no ensino da língua, segundo Liberais e Tendências Progressistas.
essa perspectiva interacionista, a leitura como processo Os professores devem estudar e se apropriar dessas
permite a possibilidade de negociação de sentidos em tendências, que servem de apoio para a sua prática peda-
sala de aula. O processo de leitura, portanto, não é cen- gógica. Não se deve usar uma delas de forma isolada em
trado no texto, ascendente, bottom-up, como queriam toda a sua docência. Mas, deve-se procurar analisar cada
os empiristas, nem no receptor, descendente, top-down, uma e ver a que melhor convém ao seu desempenho
segundo os inatistas, mas ascendente/descendente, ou acadêmico, com maior eficiência e qualidade de atuação.
seja, a partir de uma negociação de sentido entre enun- De acordo com cada nova situação que surge, usa-se a
ciador e receptor. Assim, nessa abordagem interacionis- tendência mais adequada. E observa-se que hoje, na prá-
ta, o receptor é retirado da sua condição de mero objeto tica docente, há uma mistura dessas tendências.
do sentido do texto, de alguém que estava ali para deci- Deste modo, seguem as explicações das caracterís-
frá-lo, decodificá-lo, como ocorria, tradicionalmente, no ticas de cada uma dessas formas de ensino. Porém, ao
ensino da leitura. analisá-las, deve-se ter em mente que uma tendência
As ideias desses psicólogos interacionistas vêm ao não substitui totalmente a anterior, mas ambas convive-
encontro da concepção que considera a linguagem ram e convivem com a prática escolar.
como forma de atuação sobre o homem e o mundo e
das modernas teorias sobre os estudos do texto, como Tendências Liberais - Liberal não tem a ver com algo
a Linguística Textual, a Análise do Discurso, a Semântica aberto ou democrático, mas com uma instigação da so-
Argumentativa e a Pragmática, entre outros. ciedade capitalista ou sociedade de classes, que sustenta
De acordo com esse quadro teórico de José Carlos Li- a ideia de que o aluno deve ser preparado para papéis
bâneo, deduz-se que as tendências pedagógicas liberais, sociais de acordo com as suas aptidões, aprendendo a
ou seja, a tradicional, a renovada e a tecnicista, por se viver em harmonia com as normas desse tipo de socie-
declararem neutras, nunca assumiram compromisso com dade, tendo uma cultura individual.
as transformações da sociedade, embora, na prática, pro- Tradicional - Foi a primeira a ser instituída no Brasil
curassem legitimar a ordem econômica e social do sis- por motivos históricos. Nesta tendência o professor é a
tema capitalista. No ensino da língua, predominaram os figura central e o aluno é um receptor passivo dos co-
métodos de base ora empirista, ora inatista, com ensino nhecimentos considerados como verdades absolutas. Há
da gramática tradicional, ou sob algumas as influências repetição de exercícios com exigência de memorização.
teóricas do estruturalismo e do gerativismo, a partir da Renovadora Progressiva - Por razões de recomposi-
Lei 5.692/71, da Reforma do Ensino. ção da hegemonia da burguesia, esta foi a próxima ten-
Já as tendências pedagógicas progressistas, em opo- dência a aparecer no cenário da educação brasileira. Ca-
sição às liberais, têm em comum a análise crítica do sis- racteriza-se por centralizar no aluno, considerado como
tema capitalista. De base empirista (Paulo Freire se pro- ser ativo e curioso. Dispõe da ideia que ele “só irá apren-
clamava um deles) e marxista (com as ideias de Gramsci), der fazendo”, valorizam-se as tentativas experimentais,
essas tendências, no ensino da língua, valorizam o texto a pesquisa, a descoberta, o estudo do meio natural e
produzido pelo aluno, a partir do seu conhecimento de social. Aprender se torna uma atividade de descoberta,
mundo, assim como a possibilidade de negociação de é uma autoaprendizagem. O professor é um facilitador.
sentido na leitura. Renovadora não diretiva (Escola Nova) – Anísio Tei-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
39
O professor é quem deposita os conhecimentos, pois Essa é a função das tendências pedagógicas no uni-
ele é visto como um especialista na aplicação de manuais; verso educacional. O que se pretende neste trabalho é
sendo sua prática extremamente controlada. Articula-se justamente trazer à tona essa questão, erguendo a ban-
diretamente com o sistema produtivo, com o objetivo de deira das tendências pedagógicas contemporâneas, bus-
aperfeiçoar a ordem social vigente, que é o capitalismo, cando, assim, contribuir para uma melhor assimilação de-
formando mão de obra especializada para o mercado de las por parte de alguns professores de escolas públicas.
trabalho.
A relação entre as tendências pedagógicas e a prá-
Tendências Progressistas - Partem de uma análise tica docente
crítica das realidades sociais, sustentam implicitamente
as finalidades sociopolíticas da educação e é uma ten- As tendências pedagógicas são de extrema relevância
dência que condiz com as ideias implantadas pelo capi- para a Educação, principalmente as mais recentes, pois
talismo. O desenvolvimento e popularização da análise
contribuem para a condução de um trabalho docente
marxista da sociedade possibilitou o desenvolvimento da
mais consciente, baseado nas demandas atuais da cliente-
tendência progressista, que se ramifica em três correntes:
la em questão. O conhecimento dessas tendências e pers-
pectivas de ensino por parte dos professores é fundamen-
Libertadora – Também conhecida como a pedagogia
de Paulo Freire, essa tendência vincula a educação à luta tal para a realização de uma prática docente realmente
e organização de classe do oprimido. Onde, para esse, o significativa, que tenha algum sentido para o aluno, pois
saber mais importante é a de que ele é oprimido, ou seja, tais tendências objetivam nortear o trabalho do educador,
ter uma consciência da realidade em que vive. Além da ajudando-o a responder a questões sobre as quais deve
busca pela transformação social, a condição de se libertar se estruturar todo o processo de ensino, tais como: o que
através da elaboração da consciência crítica passo a pas- ensinar? Para quem? Como? Para quê? Por quê?
so com sua organização de classe. Centraliza-se na dis- E para que a prática pedagógica em sala de aula al-
cussão de temas sociais e políticos; o professor coordena cance seus objetivos, o professor deve ter as respostas
atividades e atua juntamente com os alunos. para essas questões, pois, como defende Luckesi (1994),
Libertária – Procura a transformação da personali- “a Pedagogia não pode ser bem entendida e praticada na
dade num sentido libertário e autogestionário. Parte do escola sem que se tenha alguma clareza do seu significa-
pressuposto de que somente o vivido pelo educando é do. Isso nada mais é do que buscar o sentido da prática
incorporado e utilizado em situações novas, por isso o docente”.
saber sistematizado só terá relevância se for possível seu Essas tendências pedagógicas, formuladas ao longo
uso prático. Enfoca a livre expressão, o contexto cultural, dos tempos por diversos teóricos que se debruçaram
a educação estética. Os conteúdos, apesar de disponibili- sobre o tema, foram concebidas com base nas visões
zados, não são exigidos pelos alunos e o professor é tido desses pensadores em relação ao contexto histórico das
como um conselheiro à disposição do aluno. sociedades em que estavam inseridos, além de suas con-
cepções de homem e de mundo, tendo como principal
“Crítico-social dos conteúdos” ou “Histórico-Críti- objetivo nortear o trabalho docente, modelando-o a
ca” - Tendência que apareceu no Brasil nos fins dos anos partir das necessidades de ensino observadas no âmbito
70, acentua a prioridade de focar os conteúdos no seu social em que viviam.
confronto com as realidades sociais, é necessário enfa- Sendo assim, o conhecimento dessas correntes pe-
tizar o conhecimento histórico. Prepara o aluno para o dagógicas por parte dos professores, principalmente as
mundo adulto, com participação organizada e ativa na
mais recentes, torna-se de extrema relevância, visto que
democratização da sociedade; por meio da aquisição de
possibilitam ao educador um aprofundamento maior
conteúdos e da socialização. É o mediador entre conteú-
sobre os pressupostos e variáveis do processo de ensi-
dos e alunos. O ensino/aprendizagem tem como centro
no-aprendizagem, abrindo-lhe um leque de possibilida-
o aluno. Os conhecimentos são construídos pela expe-
riência pessoal e subjetiva. des de direcionamento do seu trabalho a partir de suas
Após a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional convicções pessoais, profissionais, políticas e sociais,
(LDB 9.394/96), ideias como de Piaget, Vygotsky e Wallon contribuindo para a produção de uma prática docente
foram muito difundidas, tendo uma perspectiva sócio- estruturada, significativa, esclarecedora e, principalmen-
-histórica e são interacionistas, isto é, acreditam que o te, interessante para os educandos.
A escola precisa ser reencantada, precisa encontrar
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
40
Desse modo, creio que seja essencial que todos os PENSADORES
professores tenham um conhecimento mais aprofunda-
do das tendências pedagógicas, pois elas foram conce- Neste texto objetiva-se sistematizar as características
bidas para nortear as práticas pedagógicas. O educador do pensamento pedagógico de diferentes autores sobre
deve conhecê-las, principalmente as mais recentes, ainda a contextualização dos ambientes educativos de onde
que seja para negá-las, mas de forma crítica e consciente, emergem a compreensão de homem, mundo e socieda-
ou, quem sabe, para utilizar os pontos positivos observa- de; compreender o papel do professor, do aluno, da es-
dos em cada uma delas para construir uma base pedagó- cola e dos elementos que compõem o ambiente escolar;
gica própria, mas com coerência e propriedade. estabelecer relação entre as tendências pedagógicas e
Afinal, como já defendia Snyders (1974), é possível a prática docente que os professores adotam na sala de
“pensar que se pode abrir um caminho a uma pedago- aula. Além disso, busca-se verificar os pressupostos de
gia atual; que venha fazer a síntese do tradicional e do aprendizagem empregados pelas diferentes tendências
moderno: síntese e não confusão”. O importante é que pedagógicas na prática escolar brasileira, numa tentativa
se busque tirar a venda dos olhos para enxergar, literal- de contribuir, teoricamente, para a formação continuada
mente, o alunado e assim poder dar um sentido político de professores.
e social ao trabalho que está sendo realizado, pois, como As tendências pedagógicas definem o papel do ho-
afirma Libâneo, aprender é um ato de conhecimento da mem e da educação no mundo, na sociedade e na es-
realidade concreta, isto é, da situação real vivida pelo cola, o que repercute na prática docente em sala de aula
educando, e só tem sentido se resulta de uma aproxima- graças a elementos constitutivos que envolvem o ato de
ção crítica dessa realidade, o que está em consonância ensinar e de aprender.
com o que diz Saviani (1991): a Pedagogia Crítica implica A seguir, serão apresentados, os pensamentos peda-
a clareza dos determinantes sociais da educação, a com- gógicos dos estudiosos Paulo Freire, José Carlos Libâneo,
preensão do grau em que as contradições da socieda- Fernando Becker e Maria das Graças Nicoletti Mizukami.
de marcam a educação e, consequentemente, como é
preciso se posicionar diante dessas contradições e de- a) Paulo Freire: Educação Bancária e Problemati-
senredar a educação das visões ambíguas para perceber zadora
claramente qual é a direção que cabe imprimir à questão Abordar o pensamento pedagógico de Paulo Freire
educacional. não significa enquadrá-lo em um campo teórico determi-
Para Luckesi (1994), a “Pedagogia se delineia a partir nado nem testar a validade científica da sua pedagogia.
de uma posição filosófica definida”. Em seu livro Filosofia Todavia, é de fundamental importância para a formação
da Educação, o autor discorre sobre a relação existen- de qualquer profissional de Educação que se faça uma
te entre a Pedagogia e a Filosofia e busca clarificar as leitura e reflexão sobre sua obra, buscando estabelecer
perspectivas das relações entre educação e sociedade. uma vivência teórico-prática durante toda a nossa ação
No seu trabalho, Luckesi apresenta três tendências fi- docente. A esse respeito, o próprio Freire sempre chama-
losóficas responsáveis por interpretar a função da edu- va a atenção para um novo conhecimento que é gerado
cação na sociedade: a Educação Redentora, a Educação e produzido na tensão entre a prática e a teoria.
Reprodutora e a Educação Transformadora da socieda- A história de Paulo Freire nos deixa uma grande
de. A primeira é otimista, acredita que a educação pode herança: a sua práxis político-pedagógica e a luta pela
exercer domínio sobre a sociedade (pedagogias liberais). construção de um projeto de sociedade inclusiva. Discu-
A segunda é pessimista, percebe a educação como sen- tir a sua pedagogia é um compromisso de todos nós que
do apenas reprodutora de um modelo social vigente, en- lutamos por inclusão social, por ética, por liberdade, por
quanto a terceira tendência assume uma postura crítica autonomia, pela recuperação da memória coletiva e pela
com relação às duas anteriores, indo de encontro tanto construção de um projeto para uma escola cidadã.
ao “otimismo ilusório” quanto ao “pessimismo imobiliza- Em Pedagogia do Oprimido (1982), Paulo Freire fala
dor” (Pedagogias Progressivistas). sobre a prática docente sob a forma de Educação Bancá-
Em consonância com estas leituras filosóficas sobre ria e Educação Problematizadora – também chamada de
as relações entre educação e sociedade, Libâneo (1985), Libertadora, pois se propõe a conscientizar o educando
ao realizar uma abordagem das tendências pedagógicas, de sua realidade social. Para Freire, há duas concepções
organiza as diferentes pedagogias em dois grupos: Pe- de educação: uma bancária, que serve à dominação e
dagogia Liberal e Pedagogia Progressivista. A Pedagogia outra, problematizadora, que serve à libertação. Nesse
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Liberal é apresentada nas formas Tradicional; Renovada sentido, faz uma opção pela educação problematizadora
Progressivista; Renovada Não diretiva; e Tecnicista. A Pe- que desde o início busca a superação educador-educan-
dagogia Progressivista é subdividida em Libertadora; Li- do. Isso nos leva a compreender um novo termo: educa-
bertária; e Crítico-social dos Conteúdos.4 dor-educando com educando-educador.
41
Quadro-síntese da concepção da Educação Bancária e Educação Problematizadora de Paulo Freire (1982).
A partir desse quadro-síntese constata-se que a Educação Bancária fundamenta-se numa prática narradora, sem
diálogo, para a transmissão e avaliação de conhecimento numa relação vertical – o saber é fornecido de cima para
baixo – e autoritária, pois manda aquele que sabe.
O método da concepção bancária é a opressão, o antidiálogo. Configura-se então a educação exercida como uma
prática da dominação, “em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos,
guardá-los e arquivá-los. Margem para serem colecionadores ou fichadores das coisas que arquivam”.
Na educação problematizadora, o conhecimento deve vir do contato do homem com o seu mundo, que é dinâmico,
e não como um ato de doação. Supera-se, pois a relação vertical e se estabelece a relação dialógica, que supõe uma
troca de conhecimento.
Freire (1982) destaca que o “educador já não é o que apenas educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em
diálogo com o educando que, ao ser educado, também educa”. Para o autor a dialogicidade é a essência da Educação
Libertadora. Além disso, outras características são necessárias para que ela se concretize tais como: colaboração, união,
organização e síntese cultural.
Ao desenvolver uma epistemologia do conhecimento, Freire parte de uma reflexão acerca de uma experiência con-
creta para desenvolver sua metodologia dialética: ação-reflexão- ação. Metodologia que parte da problematização da
prática concreta, vai à teoria estudando-a e reelaborando-a criticamente e retorna à prática para transformá-la. Nesta
concepção, o diálogo se apresenta como condição fundamental para sua concretização.
Ele nos apresenta sua teoria metodológica a partir da sua prática refletida na alfabetização de jovens e adultos,
iniciada na década de 1960. O trabalho, que foi denominado como “método Paulo Freire”, ou “método de conscienti-
zação” foi desenvolvido, a partir de uma leitura de mundo, em cinco fases: levantamento do universo vocabular, temas
geradores e escolha de palavras geradoras, criação de situações existenciais típicas do grupo, elaboração de fichas-ro-
teiro e leitura de fichas com a decomposição das famílias fonêmicas. Apesar do reconhecimento da qualidade eman-
cipatória do processo de alfabetização divulgada e experienciada em vários países, Freire insistiu que as experiências
não podem ser transplantadas, mas reinventadas. Nesse sentido, o da reinvenção, é que acreditamos nas possibilidades
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
42
b) José Carlos Libâneo: Pedagogia Liberal e Peda- interrogados pelo professor ou através das provas. Para
gogia Progressista isso, é importante que o aluno “preste atenção” para que
Libâneo classifica as tendências pedagógicas, segun- possa registrar mais facilmente, na memória, o que é
do a posição que adotam em relação aos condicionantes transmitido.
sociopolíticos da escola, em Pedagogia Liberal – subdi- Desse modo, o aluno é um recebedor do conteúdo,
vidida em tradicional, renovada progressivista, renovada cabendo-lhe a obrigação de memorizá-lo. Os objetivos
não-diretiva e tecnicista – e Pedagogia Progressista – que das aulas, explícitos ou não no planejamento dos pro-
se subdivide em libertadora, libertária e críticossocial dos fessores, referem-se à formação de um aluno ideal, des-
conteúdos. vinculado da sua realidade concreta. O professor tende
Segundo LIBÂNEO (1994), a pedagogia liberal sus- a encaixar os alunos num modelo idealizado de homem
tenta a ideia de que a escola tem por função preparar que nada tem a ver com a vida presente e futura.
os indivíduos para o desempenho de papéis sociais, de O conteúdo a ser ensinado é tratado isoladamente,
acordo com as aptidões individuais. Isso pressupõe que o isto é, desvinculado dos interesses dos alunos e dos pro-
indivíduo precisa adaptar-se aos valores e normas vigen- blemas reais da sociedade e da vida. O método de ensino
tes na sociedade de classe, através do desenvolvimento é dado pela lógica e sequência do assunto, modo pelo
da cultura individual. Devido a essa ênfase no aspecto qual o professor se apoia para comunicar-se desconsi-
cultural, as diferenças entre as classes sociais não são derando o processo cognitivo desenvolvido pelos alunos
consideradas, pois, embora a escola passe a difundir a para aprender. Todavia, alguns 5 métodos intuitivos fo-
ideia de igualdade de oportunidades, não leva em conta ram incorporados ao ensino tradicional, baseando-se na
a desigualdade de condições. apresentação de dados ligados à sensibilidade dos alu-
As Tendências Pedagógicas Liberais tiveram seu início nos de modo que eles pudessem observá-los e, a partir
no século XIX, tendo recebido as influências do ideário daí, formar imagens mentais. Muitos professores ainda
da Revolução Francesa (1789), de “igualdade, liberdade, acham que “partir do concreto” constitui-se na chave do
fraternidade”, que foi, também, determinante do libera- ensino atualizado. Essa ideia, entretanto, já fazia parte da
lismo no mundo ocidental e do sistema capitalista, onde Pedagogia Tradicional porque o concreto (mostrar ob-
estabeleceu uma forma de organização social baseada jetos, ilustrações, gravuras, entre outros) serve apenas
na propriedade privada dos meios de produção, o que para que o aluno grave na mente o que é captado pelos
se denominou como sociedade de classes. Sua preocu- sentidos. O material concreto é mostrado, demonstrado,
pação básica é o cultivo dos interesses individuais e não- manipulado, mas o aluno não lida mentalmente com ele,
-sociais. Para essa tendência educacional, o saber já pro- não o repensa, não o reelabora com o seu próprio pensa-
duzido (conteúdos de ensino) é muito mais importante mento. A aprendizagem é, portanto, receptiva, automáti-
que a experiência do sujeito e o processo pelo qual ele ca, não mobilizando a atividade mental do aluno e o de-
aprende, mantendo o instrumento de poder entre domi- senvolvimento de suas capacidades intelectuais, embora
nador e dominado. tenham surgido nos últimos anos inúmeras propostas de
Na Tendência Liberal Tradicional, é tarefa do educa- renovação das abordagens do processo ensinoaprendi-
dor fazer com que o educando atinja a realização pes- zagem, como as sugestões presentes nos atuais Parâme-
soal através de seu próprio esforço. O cultivo do intelec- tros Curriculares Nacionais.
to é descontextualizado da realidade social, com ênfase A Pedagogia Renovada, por outro lado, retoma aspec-
para o estudo dos clássicos e das biografias dos grandes tos referentes às perspectivas progressivistas baseadas
mestres. A transmissão é feita a partir dos conteúdos em John Dewey, bem como a não-diretiva inspirada em
acumulados historicamente pelo homem, num proces- Carl Rogers, a culturalista, a piagetiana, a montessoriana
so cumulativo, sem reconstrução ou questionamento. A e outras. Todavia, o que caracteriza fortemente os conhe-
aprendizagem se dá de forma receptiva, automática, sem cimentos e a experiência da Didática brasileira vem, em
que seja necessário acionar as habilidades mentais do sua maioria, do movimento da Escola Nova (entendida
educando além da memorização. como “direção da aprendizagem” e que considera o alu-
Seu método enfatiza a transmissão de conteúdos e a no como sujeito da aprendizagem). Nessa concepção pe-
assimilação passiva. É ainda intuitivo, baseado na estimu- dagógica, o professor deve deixar o aluno em condições
lação dos sentidos e na observação. Através da memo- mais adequadas possíveis para que possa partir das suas
rização, da repetição e da exposição verbal, o educador necessidades e ser estimulado pelo ambiente para viven-
chega a um interrogatório (tipo socrático), estimulando o ciar experiências e buscar por si mesmo o conhecimento.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
individualismo e a competição. Envolve cinco passos que, Segundo Libâneo (1994), essa tendência, no Brasil,
segundo Friedrich Herbart, são os seguintes: preparação, segue duas versões distintas: a Renovada Progressivista
recordação, associação, generalização e aplicação. (que se refere a processos internos de desenvolvimen-
Libâneo (1994) afirma ainda que o ensino é centrado to do indivíduo; não confundir com progressista, que se
no professor que expõe e interpreta o conhecimento. Às refere a processos sociais) ou Pragmatista, inspirada nos
vezes, o conteúdo de ensino é apresentado com auxí- Pioneiros da Escola Nova, e a Tendência Renovada não-
lio de objetos, ilustrações ou exemplos, embora o meio -Diretiva, inspirada em Carl Rogers e A. S. Neill, que se
principal seja a palavra, a exposição oral. Supõe-se que volta muito mais para os objetivos de desenvolvimento
ouvindo e fazendo exercícios repetitivos, os alunos “gra- pessoal e relações interpessoais (sendo que este último
vam” o assunto para depois reproduzi-lo quando forem não chegou a desenvolver um sistema a respeito dos
43
métodos da educação). Seu método de ensino é o ativo, Atendendo os interesses da sociedade capitalista,
que inicialmente se caracteriza pelo método “aprender inspirada especialmente na teoria behaviorista, corrente
fazendo” e, após a junção dos cinco passos propostos comportamentalista organizada por Skinner e na abor-
por Dewey (experiência, problema, pesquisa, ajuda dis- dagem sistêmica de ensino, traz como verdade absoluta
creta do professor, estudo do meio natural e social), de- a neutralidade científica e a transposição dos aconteci-
senvolve o “aprender a aprender”, que, privilegiando os mentos naturais à sociedade.
estudos independentes e também os estudos em grupo, Negando os determinantes sociais, o tecnicismo tinha
seleciona uma situação vivida pelo educando que seja como princípios a racionalidade, a eficiência, a produtivi-
desafiante e que careça de uma solução para um proble- dade e a neutralidade científica, produzindo, no âmbito
ma prático. Para Saviani, por estes motivos e outros de educacional, uma enorme distância entre o planejamen-
ordem política, a Escola Nova, seguidora dessas verten- to - preparado por especialistas e não por educadores,
tes, acaba por aprimorar o ensino das elites e rebaixar o seus meros executores - e a prática educativa.
das classes populares. Mas, mesmo recebendo esse tipo
Nesse período, a educação passa a ter seu trabalho
de crítica, podemos considerá-la como o mais forte mo-
parcelado, fragmentado, a fim de produzir determinados
vimento “renovador” da educação brasileira.
produtos desejáveis pela sociedade capitalista e indus-
Para a tendência renovada, o papel da educação é
trial. Muitas propostas surgem como enfoque sistêmico,
o de atender as diferenças individuais, as necessidades
e interesses dos educandos, enfatizando os processos o microensino, o tele-ensino, a instrução programada,
mentais e 6 habilidades cognitivas necessárias à adapta- entre outras. Subordina a educação à sociedade, tendo
ção do homem ao meio social. O educando é, portanto, como função principal a produção de indivíduos compe-
o centro e sujeito do conhecimento. tentes, ou seja, a preparação da mão-de-obra especiali-
Nessa perspectiva, Libâneo (1994) afirma que o aluno zada para o mercado de trabalho a ser consolidado. Nes-
aprende melhor tudo o que faz por si próprio. Não se tra- te contexto, a pedagogia tecnicista termina contribuindo
ta apenas de aprender fazendo, no sentido de trabalho ainda mais para o caos no campo educativo, gerando,
manual, de ações de manipulação de objetos. Trata-se assim, a inviabilidade do trabalho pedagógico.
de colocar o aluno frente a situações que mobilizem suas Seu método é o da transmissão e recepção de infor-
habilidades intelectuais de criação, de expressão verbal, mações. Nele, o educando é submetido a um processo
escrita, plástica, entre outras formas de exercício cogniti- de controle do comportamento, a fim de que os objeti-
vo. O centro da atividade escolar, portanto, não é o pro- vos operacionais previamente estabelecidos possam ser
fessor nem a matéria, mas o aluno em seu caráter ativo e atingidos. Trata-se do “aprender fazendo”.
investigador. O professor incentiva, orienta, organiza as Trata-se de uma tendência pedagógica que ganhou
situações de aprendizagem, adequando-as às capacida- certa autonomia quando se constituiu especificamen-
des de características individuais dos alunos. te como tendência independente, inspirada na teoria
Assim, essa didática ativa valoriza métodos e técnicas behaviorista da aprendizagem. De acordo com Libâneo
como o trabalho em grupo, as atividades cooperativas, (1994), essa orientação acabou sendo imposta às escolas
o estudo individual, as pesquisas, os projetos, as expe- pelos organismos oficiais ao longo de boa parte das dé-
rimentações, dentre outros, bem como os métodos de cadas que constituíram o regime militar de governo, por
reflexão e método científico de descobrir conhecimen- ser compatível com a orientação econômica, política e
tos. Tanto na organização das experiências de aprendiza- ideológica desse regime político, então vigente.
gem como na seleção de métodos, importa o processo Atualmente, ainda percebemos a predominância des-
de aprendizagem e não diretamente o ensino. O melhor sas características tecnicistas em alguns cursos de forma-
método é aquele que atende às exigências psicológicas
ção de professores, principalmente das áreas de Ciências
do aprender.
e Matemática, com relação ao uso de manuais didáticos
Em síntese, a tendência dessa escola é deixar os co-
com essas características (tecnicistas), especificamente
nhecimentos sistematizados em segundo plano, valori-
instrumentais. Essa tendência didática tem como objeti-
zando mais o processo de aprendizagem e os fatores que
possibilitam o desenvolvimento das capacidades e habi- vo a racionalização do ensino, o uso de meios e técnicas
lidades intelectuais de quem aprende. Desse modo, os mais eficazes, cujo sistema de instrução é composto de:
adeptos dessa tendência didática acreditam que o pro- - Especificação de objetivos instrucionais a serem
fessor não ensina, mas orienta o aluno durante o proces- operacionalizados;
so de aprendizagem, sugerindo assim uma didática não - Avaliação prévia dos alunos para estabelecer pré-
-requisitos visando alcançar os objetivos;
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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objetivos. De acordo com essa tendência, os livros didá- por uma educação de qualidade para todos. A partici-
ticos usados nas escolas eram, e ainda são, elaborados, pação em grupos e movimentos sociais na sociedade,
em sua maioria, com base na tecnologia da instrução, além dos muros escolares, é incentivada e ampliada, tra-
ou seja, sob a forma de atividades dirigidas nas quais os zendo para dentro dela a necessidade de concretizar a
alunos seguem etapas sequenciadas que os levem ao al- democracia, através de eleições para conselhos, direção
cance dos objetivos previamente estabelecidos, sem que da escola, grêmios estudantis e outras formas de gestão
possam exercitar a sua criatividade cognitiva. participativa.
Se, nas Tendências Liberais, a escola possuía uma fun- No Brasil, os libertários recebem a influência do pen-
ção equalizadora, nas Tendências Progressistas, derivada samento de Celestin Freinet e suas técnicas nas quais os
das teorias críticas, ela passa a ser analisada como re- próprios alunos organizavam os seus planos de trabalho.
produtora das desigualdades de classe e reforçadora do O método de ensino é a própria autogestão, tornando o
modo de produção capitalista. interesse pedagógico dependente de suas necessidades
Tendo surgido na França a partir de 1968 e no Brasil ou do próprio grupo.
com a Revolução Cultural, nas Tendências Progressistas, Para Libâneo (1994), na didática centrada na Peda-
a escola passa a ser vista não mais como redentora, mas gogia Libertadora, o professor busca desenvolver o pro-
como reprodutora da classe dominante. Snyders (1994) cesso educativo como tarefa que se dá no interior dos
foi o primeiro a usar o termo “Pedagogia Progressista”, grupos sociais e, por isso, ele é o coordenador ou o
partindo de uma análise crítica da realidade social, sus- animador das atividades que se organizam sempre pela
tentando, implicitamente, as finalidades sociais e políti- ação conjunta dele e dos alunos. Não há, portanto, uma
cas da educação. proposta explícita de Didática e muitos dos seus segui-
Nessa perspectiva, Libâneo (1994), designa à Pedago- dores, entendendo que toda didática resumir-se-ia ao
gia Progressista três tendências: seu caráter tecnicista, instrumental, meramente prescri-
A Pedagogia Progressista Libertadora que, partindo tivo, até recusam admitir o papel dessa disciplina na for-
de uma análise crítica das realidades sociais, sustenta os mação dos professores.
fins sociopolíticos da educação. Teve seu início com Pau- Há, nessa perspectiva pedagógica, uma didática im-
lo Freire, nos anos 60, rebelando-se contra toda forma de plícita na orientação das atividades escolares de modo
autoritarismo e dominação, defendendo a conscientiza- que o professor se coloque diante de sua classe como um
ção como processo a ser conquistado pelo homem, atra- orientador da aprendizagem dos seus alunos. Entretanto,
vés da problematização de sua própria realidade. Sendo essas atividades estão centradas na discussão de temas
revolucionária, ela preconizava a transformação da so- sociais e políticos, ou seja, o foco do ensino é a realidade
ciedade e acreditava que a educação, por si só, não faria social, em que o professor e os alunos estão envolvidos.
tal revolução, embora fosse uma ferramenta importante Assim, eles analisam os problemas da realidade do con-
e fundamental nesse processo. texto socioeconômico e cultural da sua comunidade com
A teoria educacional freireana é utópica, em seu sen- seus recursos e necessidades, visando ao desenvolvimen-
tido de vir-a-ser, de inédito viável, expressões usadas por to de ações coletivas para a busca de descrição, análise e
Freire, e esperançosa, porque deposita na transformação soluções para os problemas extraídos da realidade.
do homem a ideia de que mudar é possível e de que As atividades escolares não se constituem meramen-
não estamos necessariamente imobilizados por estarmos te da exploração dos conteúdos de ensino, já sistemati-
submetidos a papéis pré-determinados em uma socie- zados nos livros didáticos ou previstos pelos programas
dade de classes. Segundo ele, apesar de os seguidores oficiais, mas sim em um processo de participação ativa
dessa tendência não terem tido a preocupação com uma nas discussões e nas ações práticas sobre as questões da
proposta pedagógica explícita, havia uma didática implí- realidade social de todos os envolvidos. Nesse processo,
cita em seus “círculos de cultura”, sendo cerne da ativida- a discussão, os relatos da experiência vivida, a socializa-
de pedagógica a discussão de temas sociais e políticos, ção das informações, a pesquisa participante, o trabalho
que a nós parece ser claro o método dialógico, usado de grupo, entre outros atos educativo-reflexivos, fazem
para o despertar da consciência política. emergir temas geradores que podem ser sistematizados
A Pedagogia Progressista Libertária tem como ideia de modo a consolidar o conhecimento pelo aluno, com
básica modificações institucionais, que, a partir dos níveis as orientações do professor.
subalternos, vão “contaminando” todo o sistema, sem A tendência libertadora tem sido a perspectiva didá-
modelos e recusando-se a considerar qualquer forma de tica mais praticada com muito êxito em vários setores
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
45
A Pedagogia Progressista Críticossocial dos Conteú- Pedagogia Não-Diretiva
dos, tendo sido fortalecida a princípio na Europa e de- O professor torna-se um facilitador da aprendizagem,
pois no Brasil, a partir da década de 80, foi considerada um auxiliar do aluno. O educando já traz um saber e é
como sinônimo de pedagogia dialética, no sentido da preciso apenas organizá-lo ou recheá-lo de conteúdo. O
“dialógica”. Firmando-se como teoria que busca captar o professor deve interagir o mínimo possível, pois acredita
movimento objetivo do processo histórico, uma vez que que o aluno aprende por si mesmo. A epistemologia que
concebe o homem através do materialismo histórico- fundamenta essa postura pedagógica é apriorista: 11
-marxista, trata-se de uma síntese superadora do que há
de significado na Pedagogia Tradicional e na Escola Nova, S O
direcionando o ensino para a superação dos problemas
cotidianos da prática social e, ao mesmo tempo, buscan- Apriorismo vem de a priori, o que significa que aqui-
do a emancipação intelectual do educando, 10 conside- lo que é posto antes vem como condição do que vem
rado um ser concreto, inserido num contexto de relações depois. Essa epistemologia sustenta a ideia de que o ser
sociais. Da articulação entre a escola e a assimilação dos humano nasce com o conhecimento já programado na
conteúdos por parte deste aluno concreto é que resulta sua herança genética, bastando o mínimo de interferên-
o saber criticamente elaborado (Libâneo, 1990). cia do meio físico ou social para o seu desenvolvimento.
Essa tendência prioriza o domínio dos conteúdos Segundo Becker (2001), o professor que segue essa
científicos, os métodos de estudo, habilidades e hábitos epistemologia apriorista renuncia àquilo que seria a ca-
de raciocínio científico, como modo de formar a cons- racterística fundamental da ação docente: a intervenção
ciência crítica face à realidade social, instrumentalizando no processo de aprendizagem do aluno.
o educando como sujeito da história, apto a transformar
a sociedade e a si próprio. Seu método de ensino parte A P
da prática social, constituindo tanto o ponto de partida
como o ponto de chegada, porém, melhor elaborado
Pedagogia Relacional
teoricamente.
O professor admite que tudo que o aluno construiu
até hoje em sua vida serve de patamar para construir
c) Fernando Becker: Pedagogia Diretiva, Pedago-
novos conhecimentos. Para esse professor, o aluno tem
gia Não-Diretiva e Pedagogia Relacional
uma história de conhecimento percorrida e é capaz de
Fernando Becker (2001) desenvolveu a ideia de mo-
aprender sempre. A disciplina rígida e a postura autori-
delos pedagógicos e modelos epistemológicos para ex-
tária do professor são superadas através da construção
plicar os pressupostos pelos quais cada professor atua.
de uma disciplina intelectual e regras de convivência que
Apresenta, então, três modelos: Pedagogia Diretiva, Pe- permitam criar um ambiente favorável à aprendizagem.
dagogia Não-Diretiva e Pedagogia Relacional. O professor acredita que o aluno aprenderá novos
conhecimentos se ele agir e problematizar sua ação. Para
Pedagogia Diretiva que isso aconteça, torna-se necessário que o aluno aja
Na Pedagogia Diretiva o professor acredita que o co- (assimilação) sobre o material que o professor traz para a
nhecimento é transmitido para o aluno. Este por sua vez, sala de aula e considera significativo para sua aprendiza-
não tem nenhum saber, não o tinha no nascimento e não gem que o aluno responda para si mesmo às perturbações
o tem a cada novo conteúdo. O professor, com essa prá- (acomodação) provocadas pela assimilação do material.
tica, fundamenta-se numa epistemologia pela qual o su-
jeito é o elemento conhecedor, totalmente determinado S O
pelo mundo do objeto ou pelos meios físicos e sociais.
Essa epistemologia é representada da seguinte forma: O sujeito constrói seu conhecimento nas dimensões
do conteúdo e da forma ou estrutura como condição
S O prévia de assimilação. Nessa tendência, o professor além
de ensinar, passa a aprender e o aluno, além de aprender,
O professor representa esse mundo na sala de aula, passa a ensinar.
entendendo que somente ele, o professor, é o detentor
do saber e pode produzir algum conhecimento novo ao A P
aluno. Cabe ao aluno ouvir, prestar atenção, permanecer
quieto e em silêncio e repetir, quantas vezes forem ne- d) Maria da Graça Nicoletti Mizukami: tendên-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
cessárias, escrevendo, lendo, até aderir ao que o profes- cias pedagógicas e processo de ensino e aprendizagem
sor deu como conteúdo. Mizukami (1986) classifica o processo de ensino nas se-
guintes abordagens:
Traduzindo o modelo epistemológico em modelo pe-
Abordagem tradicional A abordagem tradicional
dagógico temos:
trata-se de uma concepção e uma prática educacional
que persiste no tempo, em suas diferentes formas, e que
A P
passaram a fornecer um quadro diferencial para todas as
demais abordagens que a ela se seguiram. Na concepção
Assim, o professor ensina e o aluno aprende. Nesse
tradicional, o ensino é centrado no professor. O aluno
modelo, nada de novo acontece na sala de aula, e se ca- apenas executa prescrições que lhe são fixadas por auto-
racteriza por ser reprodução de ideologia e repetição. ridades exteriores.
46
A construção do conhecimento parte do pressuposto Nessa abordagem, se incluem tanto a aplicação da
de que a inteligência seja uma faculdade capaz de acu- tecnologia educacional e estratégias de ensino, quanto
mular/armazenar informações. Aos alunos são apresen- estratégias de reforço no relacionamento professor-aluno.
tados somente os resultados desse processo, para que
sejam armazenados. Evidencia-se o caráter cumulativo Abordagem Humanista
do conhecimento humano, adquirido pelo indivíduo por Nesta abordagem é dada a ênfase no papel do sujei-
meio de transmissão, de onde se supõe o papel impor- to como principal elaborador do conhecimento humano.
tante da educação formal e da instituição escola. Atribui- Da ênfase ao crescimento que dela se resulta, centrado
-se ao sujeito um papel insignificante na elaboração e
no desenvolvimento da personalidade do indivíduo na
aquisição do conhecimento. Ao indivíduo que está “ad-
sua capacidade de atuar como uma pessoa integrada.
quirindo” conhecimento compete memorizar definições,
O professor em si não transmite o conteúdo, dá as-
anunciando leis, sínteses e resumos que lhes são ofereci-
dos no processo de educação formal. sistência sendo facilitador da aprendizagem. O conteúdo
A educação é entendida como instrução, caracterizada advém das próprias experiências do aluno o professor
como transmissão de conhecimentos e restrita à ação da não ensina: apenas cria condições para que os alunos
escola. Às vezes, coloca-se que, para que o aluno possa aprendam.
chegar, e em condições favoráveis, há uma confrontação Trata-se da educação centrada na pessoa, já que nes-
com o modelo, é indispensável uma intervenção do pro- sa abordagem o ensino será centrado no aluno. A educa-
fessor, uma orientação do mestre. Trata-se, pois, da trans- ção tem como finalidade primeira a criação de condições
missão de ideias selecionadas e organizadas logicamente. que facilitam a aprendizagem de forma que seja possí-
No processo de ensino-aprendizagem a ênfase é vel seu desenvolvimento tanto intelectual como emo-
dada às situações de sala de aula, onde os alunos são cional seria a criação de condições nas quais os alunos
“instruídos” e “ensinados” pelo professor. Os conteúdos pudessem tornar-se pessoas de iniciativas, de responsa-
e as informações têm de ser adquiridos, os modelos imi- bilidade, autodeterminação que soubessem aplicar-se a
tados. Seus elementos fundamentais são imagens estáti- aprendizagem no que lhe servirão de solução para seus
cas que progressivamente serão “impressas” nos alunos, problemas servindo-se da própria existência. Nesse pro-
cópias de modelos do exterior que serão gravadas nas cesso os motivos de aprender deverão ser do próprio
mentes individuais. Uma das decorrências do ensino tra-
aluno. Autodescoberta e autodeterminação são caracte-
dicional, já que a aprendizagem consiste em aquisição
rísticas desse processo.
de informações e demonstrações transmitidas, é a que
Cada professor desenvolverá seu próprio repertório
propicia a formação de reações estereotipadas, de au-
tomatismos denominados hábitos, geralmente isolados de uma forma única, decorrente da base percentual de
uns dos outros e aplicáveis, quase sempre, somente às seu comportamento. O processo de ensino irá depender
situações idênticas em que foram adquiridos. O aluno do caráter individual do professor, como ele se relaciona
que adquiriu o hábito ou que “aprendeu” apresenta, com com o caráter pessoal do aluno. Assume a função de fa-
frequência, compreensão apenas parcial. Ignoram-se as cilitador da aprendizagem e nesse clima entrará em con-
diferenças individuais. tato com problemas vitais que tenham repercussão na
A relação professor-aluno é vertical, sendo que (o existência do estudante.
professor) detém o poder decisório quanto a metodolo- Isso implica que o professor deva aceitar o aluno tal
gia, conteúdo, avaliação, forma de interação na aula etc. como é e compreender os sentimentos que ele possui. O
O professor detém os meios coletivos de expressão. A aluno deve responsabilizar-se pelos objetivos referentes
maior parte dos exercícios de controle e dos de exames a aprendizagem que tem significado para eles. As quali-
se orienta para a reiteração dos dados e informações an- dades do professor podem ser sintetizadas em autenti-
teriormente fornecidos pelos manuais. cidade compreensão empática, aceitação e confiança no
A metodologia se baseia na aula expositiva e nas de- aluno.
monstrações do professor a classe, tomada quase como Não se enfatiza técnica ou método para facilitar a
auditório. O professor já traz o conteúdo pronto e o alu-
aprendizagem. Cada educador eficiente deve elaborar a
no se limita exclusivamente a escutá-lo.
sua forma de facilitar a aprendizagem no que se refere ao
que ocorre em sala de aula é a ênfase atribuída a relação
Abordagem comportamentalista
O conhecimento é uma “descoberta” e é nova para pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento
o indivíduo que a faz. O que foi descoberto, porém, já das pessoas que possibilite liberdade para aprender.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
47
O processo educacional, consoante a teoria de de-
senvolvimento e conhecimento, tem um papel importan- EXERCÍCIOS COMENTADOS
te, ao provocar situações que sejam desequilibradoras
para o aluno, desequilíbrios esses adequados ao nível
1. (MPE/RO - ANALISTA JUDICIÁRIO – PEDAGOGIA
de desenvolvimento em que a criança vive intensamente
(intelectual e afetivamente) cada etapa de seu desenvol- – FUNCAB/2017) As práticas do cotidiano escolar têm
vimento. vários condicionantes políticos e sociais que configuram
Segundo Piaget, a escola deveria começar ensinando diferentes concepções de homem e sociedade e, em
a criança a observar. A verdadeira causa dos fracassos consequência, diferentes concepções de escola, aprendi-
da educação formal, diz, decorre essencialmente do fato zagem, relação professor/a– aluno/a, técnicas pedagógi-
de se principiar pela linguagem (acompanhada de dese- cas, entre outras. Conforme Libâneo (1992), as tendências
nhos, de ações fictícias, narradas etc.) ao invés do fazer pedagógicas classificam-se em duas grandes vertentes:
pela ação real e material.
Nesta abordagem, o ensino procura desenvolver a in- a) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada não diretiva
teligência priorizando as atividades do sujeito, conside- e tecnicista) e Pedagogia Emancipatória (libertadora,
rando-o inserido numa situação social. Caberá ao profes- renovada progressista, libertária e crítico-social dos
sor criar situações, propiciando condições onde possam conteúdos).
se estabelecer reciprocidade intelectual e cooperação ao b) Pedagogia Liberal (libertadora, libertária e crítico-so-
mesmo tempo moral e racional. cial dos conteúdos) e Pedagogia Progressista (tradi-
cional, renovada progressista, renovada não diretiva
Uma das implicações fundamentais para o ensino é e tecnicista).
a de que a inteligência se constrói a partir da troca do c) Pedagogia Liberal (tradicional, renovada progressista,
organismo como o meio, por meio das ações do indi- renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia Pro-
víduo. A ação do indivíduo, pois, é centro do processo gressista (libertadora, libertária e críticosocial dos con-
e o fator social ou educativo constitui uma condição de teúdos).
desenvolvimento. d) Pedagogia Autoritária (tradicional, renovada progres-
sista, renovada não diretiva e tecnicista) e Pedagogia
Abordagem Sociocultural Capitalista (libertadora, libertária e críticosocial dos
conteúdos).
Podemos situar Paulo Freire com sua obra, enfati-
zando aspectos sócio-político-cultural, havendo uma
Resposta: Letra C. A pedagogia liberal acredita que
grande preocupação com a cultura popular, sendo que
a escola tem a função de preparar os indivíduos para
tal preocupação vem desde a II Guerra Mundial com um
desempenhar papéis sociais, baseadas nas aptidões
aumento crescente até nossos dias. Toda ação educativa,
para que seja válida, deve, necessariamente, ser precedi- individuais. Dessa forma, o indivíduo deve adaptar-se
da tanto de uma reflexão sobre o homem como de uma aos valores e normas da sociedade de classe, desen-
análise do meio de vida desse homem concreto, a quem volvendo sua cultura individual. Com isso as diferen-
se quer ajudar para que se eduque. ças entre as classes sociais não são consideradas, já
Logo, a escola deve ser um local onde seja possível o que, a escola não leva em consideração as desigualda-
crescimento mútuo, do professor e dos alunos, no pro- des sociais. Já as tendências pedagógicas progressis-
cesso de conscientização o que indica uma escola dife- tas analisam de forma critica as realidades sociais, cuja
rente de que se tem atualmente, coma seus currículos educação possibilita a compreensão da realidade his-
e prioridades. A situação de ensino-aprendizagem deve- tórico-social, explicando o papel do sujeito como um
rá procurar a superação da relação opressor-oprimido. ser que constrói sua realidade. Ela assume um caráter
A estrutura de pensar do oprimido está condicionada pedagógico e político ao mesmo tempo.
pela contradição vivida na situação concreta, existencial
em que o oprimido se forma. Nesta situação, a relação 2. (SEDUC/RJ - PROFESSOR – MATEMÁTICA – CE-
professor-aluno é horizontal, sendo que o professor se PERJ/2017) Luckesi analisa diversas tendências pedagó-
empenhará numa prática transformadora que procurará gicas e as características da prática escolar a elas cor-
desmitificar e questionar, junto com o aluno. respondentes. Nesse contexto, considere as observações
abaixo, todas relativas a uma determinada tendência pe-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
REFERÊNCIAS dagógica.
- Seu interesse imediato é o de produzir indivíduos
BECKER, Fernando. Educação e construção do conhe- “competentes” para o mercado de trabalho, transmitindo
cimento. Porto Alegre: Artmed, 2001. informações precisas, objetivas e rápidas.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. São Paulo: - Os conteúdos de ensino são as informações, princípios
Vozes, 1982. científicos, etc, estabelecidos e ordenados por especialis-
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez,
tas numa sequência lógica e psicológica.
1994.
- A tarefa inicial do professor é modelar respostas apro-
MIZUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as abor-
priadas aos objetivos instrucionais.
dagens do processo. São Paulo: EPU, 1986.
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- O professor é apenas um elo entre a verdade científi- Neste trabalho será dada ênfase ao sujeito com de-
ca e o aluno, devendo empregar o sistema instrucional ficiência intelectual que constitui em âmbito escolar, o
previsto. maior grupo entre as deficiências atendidas nas escolas
- Foi efetivamente introduzida no Brasil no final da déca- especiais e nas redes regulares de ensino. Estatísticas re-
da de 1960, com o objetivo de adequar o sistema educa- centes do Ministério da Educação (BRASIL, 2007) indicam
cional à orientação político-econômica do regime militar que das 700.824 matrículas efetuadas na Educação Espe-
então vigente. cial, em suas possibilidades de classes e ou escolas es-
peciais ou escolas comuns em 2006, 330.794 eram com-
Essas características permitem identificar que o autor se postas de alunos identificados com deficiência mentale
refere à: Síndrome de Down, o que representa praticamente 50%
do universo total de matrículas. Este artigo está organi-
a) tendência progressista libertadora zado em três momentos distintos, porém interligados
b) tendência liberal tradicional entre si. No primeiro, contextualizam-se os aspectos his-
c) tendência progressista libertária tóricos da inclusão. No segundo momento apresenta-se,
d) tendência liberal tecnicista de forma sucinta, o processo de ensino aprendizagem
de crianças com deficiência mental. No terceiro, serão
Resposta: Letra D. Para essa tendência liberal tecni- colocadas algumas considerações na busca da melhoria
cista, a escola tem um papel fundamental na forma- da qualidade das respostas educativas para uma escola
ção de indivíduos que se integrem à “máquina social”. inclusiva, sendo elas: Professor: Acolhedor, Capacitado
Para isso, a escola deve moldar o comportamento, e Apoiado, Adaptação Curricular e Avaliação para uma
organizar o processo de aquisição de habilidades e escola inclusiva. E finalmente, é apresentada a conclusão
conhecimentos já historicamente descobertos. Desco- da pesquisa.
brir o conhecimento é função da educação, mas isso Para apresentar o Tema “ A inclusão do aluno defi-
cabe aos especialistas, o papel da escola é repassá-lo ciente intelectual no ensino regular” decidiu-se pelo mé-
e aplicá-lo. Dessa forma, percebe-se a divisão entre todo dialético, por possibilitar a análise do fenômeno da
trabalho intelectual e manual. Portanto, os conteúdos inclusão escolar em seu contexto mais abundante, levan-
a serem ensinados já estão muito bem explicitados do-se em conta as contradições deste fenômeno social.
nos manuais, nos livros didáticos, nas apostilas, entre É de suma importância destacar que a Dialética fun-
outros. Cabe ao professor buscar a melhor forma de damenta-se em três grandes princípios: a unidade dos
controlar as condições ambientais que assegurem a opostos, quantidade e qualidade e negação da negação.
transmissão/recepção de informações. A relação pro- Quanto aos fins, a pesquisa foi realizada de forma
fessor-aluno passa a ser estruturada e objetiva, caben- descritiva, bibliográfica e qualitativa.
do ao professor transmitir a matéria e ao aluno rece-
ber, aprender e fixar. Desenvolvimento Aspectos históricos da inclusão
escolar
49
O estímulo original desse debate teria sido o ques- que conquistaram o reconhecimento do direito das pes-
tionamento de uma visão tradicional e profundamente soas com deficiência à plena participação social. Essa
arraigada na sociedade, que percebia a necessidade de conquista tomou forma nos instrumentos internacionais
integração como uma responsabilidade a ser assumida, que passaram a orientar a reformulação dos marcos le-
fundamentalmente, pela pessoa com deficiência dispen- gais de todos os países, inclusive o Brasil.
sando, consequentemente, a sociedade de participar Na década de 90 todos esses princípios são reforça-
desse processo. É precisamente esta concepção que vai dos e explicitados, com maior clareza, nos textos subse-
perder força. As ideias relativas à normalização e integra- quentes, inspirados em documentos internacionais como
ção, antes predominantes, foram paulatinamente substi- a proposta de Educação para Todos Jomtien – Tailândia
tuídas pelo princípio do combate sistemático a qualquer em 1990 e a Declaração de Salamanca Espanha ,1994.
tipo de exclusão. Nessa conferência, foi elaborado o documento “Declara-
No ano de 1986 é proposto por Madeleine Will, atra- ção de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades
vés do “Regular Education Iniciative”, que a educação das Educativas Especiais”, que “inspirada na igualdade de va-
pessoas com deficiência venha a tornar-se responsabili- lor entre as pessoas, propõe ações a serem assumidas
dade das estruturas de educação regular, encorajando, pelos governos em atenção às diferenças individuais”(-
inclusive, os programas de educação especial a desen- CARVALHO, 1998, p. 146).
volver uma parceria com a Educação Regular (Stainback De acordo com a Declaração de Salamanca (BRASIL,
e Stainback, 1999, p. 40). 1994), o conceito de inclusão é um desafio para a educa-
Seus pressupostos de inclusão estão resumidos nos ção, uma vez que estabelece que o direito à educação é
seguintes pontos (Cf. Mendes 1999): para todos e não só para aqueles que apresentam neces-
a) a rotulação é prejudicial; sidades educacionais especiais, como podemos observar
b) os serviços de ensino especializado são ineficazes; no trecho abaixo:
c) os deficientes sofrem discriminações e As escolas devem acolher todas as crianças, inde-
d) a ética tem que preceder o empirismo. pendentemente de suas condições físicas, intelectuais,
sociais, emocionais, linguísticas ou outras. Devem aco-
Contudo, esta nova percepção no campo educacional lher crianças com deficiência e crianças bem dotadas;
restringiu-se, em sua praxis original, à inserção de alu- crianças que vivem nas ruas e que trabalham; crianças
nos com algum tipo de deficiência no espaço físico das de populações distantes ou nômades; crianças de mino-
escolas comuns, o que, posteriormente, seria avaliado rias linguísticas, étnicas ou culturais e crianças de outros
como insuficiente, uma vez que o desafio não se restrin- grupos ou zonas desfavorecidas ou marginalizadas .(Sa-
gia à necessidade de incluir o deficiente na escola e na lamanca,1994).
sociedade. Era (e continua sendo) necessário adaptar as A Declaração de Salamanca defendia a ideia de que
próprias instituições de ensino às demandas dos alunos todos os alunos, sempre que possível, devem aprender
especiais, exigência que pode ser aplicada inteiramente juntos, independentemente de suas capacidades. Ao
ao Brasil contemporâneo. mesmo tempo, ela apontava a escolarização de crian-
Em meados da década de 1990, no Brasil, começaram ças em escolas especiais, nos casos em que a educação
as discussões em torno do novo modelo de atendimento regular não pode satisfazer às necessidades educativas
escolar, denominado inclusão escolar. Esse novo para- ou sociais do aluno. No entanto a Declaração de Sala-
digma surgiu como uma reação contrária ao processo de manca trouxe um avanço importante ao chamar aten-
integração, e sua efetivação prática tem gerado muitas ção dos governantes para a necessidade de aplicar todo
controvérsias e polêmicas. O conceito de inclusão passou o investimento possível para o redimensionamento das
a ser trabalhado na educação especial de forma diferente escolas, para que possam atender, com qualidade, a to-
do conceito de integração, no entanto, eles têm a mesma das as crianças, a despeito de suas diferenças e /ou difi-
proposta, que é inserir os alunos que apresentam neces- culdades. Não podemos ser ingênuos a ponto de julgar
sidades educacionais especiais no ensino regular. Pode- que a inclusão é um processo fácil e que uma mudança
mos declarar que a integração passa a ideia de que a significativa nas possibilidades educacionais das pessoas
pessoa, para ser inserido na escola regular, deve estar em que apresentam deficiência já está se dando, como afir-
condições para isso, ou em condições de corresponder mam os documentos oficiais (FERREIRA e FERREIRA, 2004
às solicitações feitas pela escola. Nesse sentido, não se apud OLIVIERA e MIRANDA, 2006).
questiona sobre o papel e a função da escola, pois é ela
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
quem dita o modelo que o aluno deve seguir. A inclusão O processo de ensino-aprendizagem de alunos
considera a inserção de alunos por meio de outro ângu- com deficiência intelectual
lo, isto é, aquele que reconhece a existência de inúmeras
diferenças (pessoais, linguísticas, culturais, sociais etc.), e, As pessoas com deficiência intelectual passaram a
ao reconhecê-las, mostra a necessidade de mudança do ser consideradas passíveis de serem educadas somente
sistema educacional que, na realidade, não se encontra no século XIX, graças ao trabalho do médico Jean Itard
preparado para atender a essa clientela (BUENO, 1999). (1774-1838) — considerado o primeiro teórico de Edu-
As duas últimas décadas foram marcadas por mo- cação Especial — com o menino Victor de Aveyron, co-
vimentos sociais importantes, organizados por pessoas nhecido como “menino selvagem”. O trabalho de Itard se
com deficiência e por militantes dos direitos humanos, baseava na teoria empirista do conhecimento.
50
Contudo, a importância atribuída aos fatores biológi- critérios como deficiente (p. 07). Portanto, não se pode
cos em detrimento dos fatores socioambientais perdurou pensar a questão da deficiência sem se analisar o tipo de
até os anos cinquenta, quando a noção de “irrecupera- relação que as pessoas, de modo geral, estabelecem com
bilidade e constitucionalidade da condição de deficiente os indivíduos deficientes mentais. Como a sociedade não
mental” começou a inserir em suas proposições aspec- está preparada para lidar com as diferenças manifestadas
tos sócioeducacionais, inicialmente publicadas na quinta pelas pessoas com deficiência mental, de uma maneira
edição do manual da Associação Americana de Retardo geral, passa a culpá-las por suas próprias impossibilida-
Mental (American Association on Mental Retardation – des e limitações.
AAMR) (p.34). Atentar apenas para os aspectos orgânicos da defi-
Recordando a história a respeito da deficiência in- ciência mental é desconsiderar os aspectos sociais e isen-
telectual, observamos que ela tem sido entendida, para tar a sociedade de sua responsabilidade na constituição
efeitos educacionais, como aquela deficiência em que da deficiência mental.
o desenvolvimento dos indivíduos que a apresentam Ao direcionar a intervenção para as habilidades defi-
é mais lento e mais comprometido do que os que não citárias, os professores podem atribuir ao deficiente
a manifestam. Não podemos negar a existência de di- mental mais incapacidades do que ele realmente ma-
ficuldades individuais geradas por limitações de ordem nifesta e, consequentemente, agir de acordo com essas
neurológica e intelectual, inerentes ao próprio indivíduo, expectativas negativas, podendo, assim, prejudicar o de-
que exigem mediações especiais para sua constituição sempenho desses indivíduos. Ao interpretar a deficiência
como na condição de aprendizes. Essa limitação afeta como um fenômeno centrado no indivíduo, inúmeras
de maneira acentuada a sua capacidade para resolver distorções de sentido ocorrem. Os atendimentos educa-
problemas frente às exigências a que são submetidos no cionais e terapêuticos são encaminhados para uma linha
seu dia-a-dia. À escola cabe, porém, dispor de recursos de ação que acentua as condições patológicas do aluno
e procedimentos não uniformes para que os alunos te- e subestima, entre outros aspectos, as condições defici-
nham possibilidades de caminhar além de seus limites. tárias de ensino (FERREIRA, 1995).
Essas dificuldades que o deficiente mental apresenta têm Não estamos afirmando com isso que não exista a
levado os educadores a proporem atividades curriculares deficiência, mas o professor precisa modificar o seu olhar
de menor complexidade, mais pragmáticas etc. Assim, sobre ela. As deficiências dos alunos devem ser consi-
os alunos que apresentam deficiência mental sentem- deradas como condições a que a escola precisa atender.
-se mais incapazes, porque essas práticas não propiciam Assim, sem negar a etiologia orgânica que uma consi-
seu desenvolvimento cognitivo, o que faz com que eles derável parcela de deficientes carregam, Pessotti (1984)
desenvolvam baixas expectativas quanto a sua aprendi- alerta para os radicalismos nas considerações sobre a
zagem. Deste modo, podemos afirmar que a criança se deficiência, no sentido de evitar uma postura totalmente
sente excluída de seu contexto social e escolar. organicista e unitária, lembrando que o conceito de de-
É importante ponderar que as pessoas não devem ficiência mental, seu diagnóstico e classificação devem
ser rotuladas de deficientes mentais pelo simples fato de considerar o homem dentro de uma visão integrativa e
apresentarem um comportamento adaptativo prejudica- global.
do, pois existem vários outros fatores que podem levar a Segundo Mantoan (1997), o processo de inclusão
um desenvolvimento maturacional lento como um pro- exige da escola novos recursos de ensino e aprendiza-
cesso escolar sem qualidade ou um ajustamento social gem, concebidos a partir de uma mudança de atitudes
e ocupacional inadequado. (TELFORD e SAWREY, 1988). dos professores e da própria instituição, reduzindo todo
De acordo com Tessaro (2005), acredita-se que as o conservadorismo de suas práticas, em direção de uma
limitações maiores na deficiência mental não estão re- educação verdadeiramente interessada em atender às
lacionadas com a deficiência em si, mas com a credibili- necessidades de todos os alunos.
dade e as oportunidades que são oferecidas às pessoas No texto “Acerca dos processos compensatórios no
com deficiência mental. Para a autora, a vida de uma pes- desenvolvimento da criança mentalmente atrasada”, Vy-
soa deficiente passa a girar em torno de sua limitação ou gotsky (1931) comenta a tendência de aproximação da
incapacidade, quando as suas potencialidades e aptidões escola especial para a escola comum:
não são levadas em conta. Ainda que as crianças mentalmente atrasadas estu-
Estudos demonstram que os problemas enfrentados dem mais prolongadamente, ainda que aprendam me-
pelo indivíduo que apresenta deficiência mental são mais nos que as crianças normais e ainda que, por fim, se lhes
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
de limitações e deficiências da sociedade e do meio do ensine de outro modo, aplicando métodos e procedi-
que do próprio organismo deficiente (OMOTE, 1994). Nas mentos especiais, adaptados às características específicas
palavras de Omote (1994) O nome deficiente se refere a de seu estado, devem estudar o mesmo que as demais
um status adquirido por essas pessoas. Nesse modo de crianças, receber a mesma preparação para a vida futura,
encarar a deficiência, uma variável crítica é a audiência, para que depois participem dela em certa medida, como
porque é ela que, em última instância vai determinar se os demais (Vygotsky, 1931ª, p.149 apud SILVA 2007).
uma pessoa é deficiente ou não. Significa que ninguém A meta da inclusão é, desde o início, não deixar nin-
é deficiente apenas pelas qualidades que possui ou que guém fora do sistema escolar, que deverá adaptar-se às
deixa de possuir. Uma pessoa só podeser deficiente particularidades de todos os alunos (... ) à medida que as
perante uma audiência que a considera, segundo seus práticas educacionais excludentes do passado vão dando
51
espaço e oportunidade à unificação das modalidades de voltada apenas para questões pontuais (tipo receita de
educação, regular e especial, em um sistema único de bolo) e sim proporcionar aprofundamento teórico-meto-
ensino, caminha-se em direção a uma reforma educa- dológico” (que a maioria dos professores tanto do ensino
cional mais ampla, em que todos os alunos começam a regular quanto especial, não tem) “que lhe permita se
ter suas necessidades educacionais satisfeitas dentro da transformar em um “professor que possa refletir e resig-
educação regular (MANTOAN, 1997, s/p). nificar sua pratica pedagógica para atender à diversidade
do seu alunado”.
Atualmente, em todos os documentos referentes à A seguir Carvalho (2007) comenta sobre a Formação
educação dos indivíduos com deficiência, o princípio da de educadores:
inclusão é o eixo norteador, e o atendimento segregado “Devemos nos questionar se estamos realmente pre-
é visto como alternativa que deve ser evitada. Apesar do parados para o desempenho de nossos papéis político
predomínio de orientações inclusivistas, fica a preocupa- pedagógicos em relação a qualquer aluno? Criticar nos-
ção do quanto o eixo norteador pode se tornar realidade, sos cursos de formação e constatar as inúmeras lacunas
pois sabemos que, ainda que os alunos sejam matricula- existentes têm sido um lugar comum que, infelizmente,
dos em escolas regulares, esse fato, por si só, não altera mais nos tem imobilizado e “engessado” em discursos
a qualidade de sua escolarização. sobre a incompetência, do que nos levado a produzir
Carvalho (1997) salienta que a inclusão é um “proces- mudanças necessárias. Mas reconhecer que necessita-
so” e, como tal, “deve ser paulatinamente conquistada”. mos de atualização, já é o início de um processo que nos
Trata-se de uma mudança de paradigma, numa cultura tira do imobilismo e da acomodação e que, por nos in-
que não está acostumada a conviver com o seu membro quietar, gera movimentos de busca e de renovação.
“diferente”, e, realmente, qualquer mudança precisa ser Pode ser sofrido e custoso, mas, convenhamos, a vi-
conquistada gradativamente. vência da inquietação é que nos faz avançar.
Embora o foco principal da pesquisa ora desenvolvi- A formação continuada é uma das estratégias que
da não seja, propriamente, a formação de professores, nos permite desalojar o estatuído, substituindo-o por
entendo que uma pequena lembrança sobre o assunto novas teorias e novas práticas alicerçadas em outra lei-
é de fundamental importância, pois não se pode discutir tura de mundo e, principalmente, nas crenças da infinita
sobre o tema inclusão sem discutir a formação do pro- riqueza de potencialidades humanas (as nossas e de nos-
fessor. sos alunos)!
Sob esse aspecto, considera-se que “estamos na si- Convém trazer para a discussão o sentido e o signi-
tuação de resolver reformar o avião em pleno vôo”, pois ficado da formação continuada que não coloca apenas,
não se podem fechar as escolas para capacitar os profes- restrita aos cursos oferecidos aos professores para se
sores, mas “os alunos com deficiências estão chegando atualizarem. Reconheço que eles são necessários, que
hoje na sala regular, e a maioria esmagadora dos pro- trazem muitas informações e novas teorias, mas a ex-
fessores não sabe o que fazer com eles”. (Glat,Rosana. periência mostra que se tornam insuficientes se houver,
Adaptação Curricular,OLIVEIRA Eloiza da S. Gomes 2007). como rotina das escolas, encontros de estudos e de dis-
cussão sobre o fazer pedagógico, envolvendo a comuni-
Professor: Acolhedor, Capacitado e Apoiado dade escolar.
O dia-a-dia da sala de aula, desde que submetido a
É possível observar, por parte dos professores e de uma avaliação crítica e compartilhada, pode ser mais útil
profissionais da educação, grande resistência em acei- ao professor do que um conjunto de livros ou de apon-
tar o desafio colocado pelo processo de construção tamentos que acabam no fundo de uma gaveta ou das
da escola inclusiva, o que consideramos perfeitamente prateleiras. Penso que a questão é valorizar espaços de
compreensível, dada à ausência de sua formação para discussão, estabelecendo-os nas escolas com uma das
enfrentar esse desafio. Tal resistência surge, entre outros atividades sistemáticas previstas no projeto político-pe-
diversos determinantes, em decorrência da não proble- dagógico.
matização do assunto, tendo em vista que, raramente, Creio que cabe uma ressalva em relação à importân-
este é contemplado nos momentos de formação inicial cia que atribuo à teoria e à prática: sempre entendi que
e/ ou continuada, o que conduz a formas inadequadas existe uma circularidade entre teoria e prática, pois na
de entendimento. prática da teoria nós a estamos experimentando e re-
Para que a inclusão escolar seja real o professor da criando. Estamos construindo teoria para, a seguir, prati-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
classe regular deve estar sensibilizado e capacitado (tan- cá-la e assim por diante.
to psicológica quanto intelectualmente) para “mudar sua O que lamentavelmente nos falta é o espírito de pes-
forma de ensinar e adaptar o que vai ensinar” – (Glat, Ro- quisadores. Deixamos de observar mais atentamente e
sana. Adaptação Curricular,OLIVEIRA Eloiza da S. Gomes de registrar, sistematicamente, nossos erros e acertos,
2007 ) para atender às necessidades de todos os alunos, nossos “jeitinhos” para remover barreiras para a apren-
inclusive de alguns que tenham maiores dificuldades. dizagem e para a participação dos aprendizes, na escola”.
Os cursos ou programas de formação e capacitação
docente ao mesmo tempo em que precisam dar condi-
ções efetivas para que o professor trabalhe de imedia-
to com seus alunos, “não podem ser uma capacitação
52
Adaptação Curricular Qual é o tipo de ser humano desejável para um deter-
Com a implantação da atual Lei de Diretrizes e Bases minado tipo de sociedade? A cada um desses “modelos”
e a clara intenção do princípio inclusivo que fundamenta, de ser humano corresponderá um tipo de conhecimento,
a adoção e a implementação de currículos abertos e fle- um tipo de currículo, SILVA (2007).
xíveis, que atendam à diversidade do alunado presente Até recentemente, somente alunos rotulados de pes-
na escola, passou a ser objeto de discussão nas diretrizes soas excepcionais, pessoas deficientes, pessoas portado-
curriculares e nos cursos de formação continuada dos ras de deficiência, pessoas com deficiência eram consi-
sistemas de ensino o conceito da Escola Inclusiva. derados alunos que necessitavam de uma ajuda especial,
Conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para geralmente oferecida no contexto de uma modalidade
Educação Especial (MEC / SEESP,1998), ...Implica uma educacional denominada Educação Especial, a qual, por
nova postura da escola comum, que propõe no projeto inúmeras razões históricas que não cabe agora retomar,
político pedagógico, no currículo, na metodologia de en- era entendida como um processo que se devia oferecer
em espaço segregado e diferenciado do sistema educa-
sino, na avaliação e na atitude dos educandos, ações que
cional como um todo.
favoreçam a integração social e sua opção por práticas
Estes mesmos alunos, entretanto, podem apresentar
heterogenias.
uma experiência de aprendizagem diferenciada, depen-
A escola capacita seus professores, prepara-se, orga-
dendo do contexto educativo no qual esteja inserida, o
niza-se e adapta-se para oferecer educação de qualidade que nos remete a considerar que também a escola preci-
para todos, inclusive, para os educandos com necessi- sa ser analisada, ao se estudar as dificuldades que ocor-
dades especiais... Inclusão, portanto, não significa sim- rem no processo de ensino e de aprendizagem de cada
plesmente matricular os educandos com necessidades aluno.
especiais na classe comum, ignorando suas necessidades
especificas, mas significa dar ao professor e a escola o Que tipo de respostas educativas está sendo ofereci-
suporte necessário à sua ação pedagógica. do aos alunos, em geral, e a cada um, em particular?
Sendo assim, a Educação Especial já não é mais con- Será que a escola está identificando as necessidades
cebida como um sistema educacional paralelo ou se- educacionais particulares, de cada aluno, bem como as
gregado, mas como um conjunto de medidas que a es- necessidades educacionais especiais presentes no aluna-
cola regular põe ao serviço de uma resposta adaptada do, e a elas respondendo diferencialmente, com a quali-
à diversidade dos alunos. Neste contexto, a instituição dade necessária para favorecer o processo de apreensão
escolar passa a ser alvo de questionamentos e de con- do conhecimento?
flitos, provavelmente, por expor a diversidade e o com- No contexto das ideias acima expostas, não se pode
partilhamento de interesses, contradições, expectativas e mais aceitar que o professor ensine a todos como se fos-
identidades. Muitas são as ansiedades que movimentam se um só, já que se explicita claramente a necessidade da
as transformações em busca do que se julga ser o ideal, individualização do ensino.
correspondendo às necessidades específicas de todos. Temos ainda constatado que, por razões burocráticas,
Neste contexto, a instituição escolar passa a ser alvo o Plano de Ensino do professor brasileiro é elaborado
de questionamentos e de conflitos, provavelmente, por num período anterior ao do início das aulas, e ao do con-
expor a diversidade e o compartilhamento de interesses, tato do professor com seus alunos. Esta prática, de uma
contradições, expectativas e identidades. Muitas são as certa forma, determina que se considere um imaginário
ansiedades que movimentam as transformações em bus- “aluno médio”, conceito que é enganoso e inexistente, já
ca do que se julga ser o ideal, correspondendo às neces- que cada um é peculiar em suas características de funcio-
namento e de necessidades.
sidades específicas de todos.
Respostas pedagógicas rígidas e homogeneizadas
Foi neste parâmetro que no Brasil, a necessidade de
vão, na realidade, construindo a exclusão dos alunos “mal
se pensar um currículo para a escola inclusiva foi oficiali-
atendidos” em suas necessidades educacionais especiais,
zada a partir das medidas desenvolvidas junto à Secreta-
como se estes fossem os responsáveis pelos problemas
ria de Educação Especial do Ministério da Educação com de aprendizagem que enfrentam.
a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais. Neste Conforme já apontado anteriormente, cada aluno
documento explicita-se o conceito de adaptações curri- apresenta necessidades educacionais particulares, e al-
culares, consideradas como: guns alunos podem apresentar necessidades educacio-
..... estratégias e critérios de situação docente, admi- nais especiais, temporária ou permanentemente. Manter
tindo decisões que oportunizam adequar a ação educa-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
53
Para incluir (inserir, colocar em) um aluno com carac- de aprendizagem dos alunos. No entanto, identificar es-
terísticas diferenciadas numa turma dita comum, há ne- sas “necessidades” requer que os sistemas educacionais
cessidade de se criarem mecanismos que permitam, com modifiquem não apenas as suas atitudes e expectativas
sucesso, que ele se integre educacional, social e emo- em relação a esses alunos, mas que se organizem para
cionalmente com seus colegas e professores e com os construir uma real escola para todos, que dê conta des-
objetos do conhecimento e da cultura. Tarefa complexa, sas especificidades.
sem dúvida, mas necessária e possível! Ou podemos de- De acordo com Carvalho (2007) “... entendo que as
finir as adaptações curriculares como modificações que adequações curriculares são necessárias e não represen-
é necessário realizar em diversos elementos do currícu- tam um outro currículo, ignorando-se o projeto curricular
lo básico para adequar as diferentes situações, grupos e oferecido aos alunos em geral. Também não as considero
pessoas para as quais se aplica. As adaptações curricu- como uma versão empobrecida do currículo adotado e,
lares são intrínsecas ao novo conceito de currículo. De muito menos, que se destinem só e apenas a portadores
fato, um currículo inclusivo deve contar com adaptações de deficiência.
para atender à diversidade das salas de aula, dos alunos A Educação Inclusiva, entendida sob a dimensão cur-
(LANDÍVAR, 1999, P.53) ricular, significa que o aluno com necessidades especiais
Quando se fala de adaptações curriculares está se fa- deve fazer parte da classe regular, aprendendo as mes-
lando, sobretudo e, em primeiro lugar, de uma estratégia mas coisas que os outros – mesmo que de modos dife-
de planejamento e de atuação docente e, nesse sentido, rentes – cabendo ao professor fazer as necessárias adap-
de um processo para tratar de responder às necessidades tações (UNESCO, s/ d ). Essa proposta difere das práticas
de aprendizagem de cada aluno (...) fundamentado em tradicionais da Educação “Especial” que, ao enfatizar o
uma série de critérios para guiar a tomada de decisões déficit do aluno, acarretam a construção de um currículo
com respeito ao que é, ao que o aluno ou aluna deve empobrecido, desvinculado da realidade afetivo-social
aprender, como e quando e qual é a melhor forma de do aluno e da sua idade cronológica, com planejamen-
organizar o ensino para que todos saiam beneficiados to difuso e um sistema de avaliação precário e indefi-
(MEC, 1992 apud MANJÓN, 1995, p. 82). nido. Portanto a inclusão de alunos com necessidades
Ao refletir sobre tudo isso, enxergamos com clareza especiais na classe regular implica o desenvolvimento de
que cada aluno tem peculiaridades específicas e espe- ações adaptativas, visando à flexibilização do currículo,
ciais, e que para atendê-las às vezes temos que fazer as para que ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva
adaptações no currículo regularmente proposto para os em sala de aula, e atender as necessidades individuais de
diferentes níveis de escolaridade, de forma a garantir as todos os alunos.
condições que lhes são necessárias para acessar o co- De acordo com o MEC/ SEESP/ SEB (1998) apud Se-
nhecimento disponível como qualquer um de seus de- cretaria Municipal de Educação do Estado de são Paulo,
mais colegas. 2007 essas adaptações curriculares realizam-se em três
Sabemos que tais ações são essenciais para a cons- níveis:
trução de um sistema educacional inclusivo, ou seja, -Adaptações no nível do projeto pedagógico (currí-
uma escola que esteja aberta e preparada para respon- culo escolar) que devem focalizar, principalmente,
der educacionalmente a todos. Como ensinar ao aluno a organização escolar e os serviços de apoio, pro-
com deficiência junto com os demais é o grande nó e piciando condições estruturais que possam ocorrer
desafio da Educação Inclusiva”, pois é neste aspecto que no nível de sala de aula e no nível individual.
a inclusão deixa de ser uma filosofia, uma ideologia ou -Adaptações relativas ao currículo da classe, que se
uma política, e se torna ação concreta em situações reais referem, principalmente, à programação das ativi-
envolvendo indivíduos com dificuldades e necessidades dades elaboradas para sala de aula.
específicas. Pois, pelo menos em nosso país, a inclusão -Adaptações individualizadas do currículo, que focali-
que se almeja ocorrerá em um contexto de uma esco- zam a atuação do professor na avaliação e no aten-
la deficitária e em muitos casos “falida” (as estatísticas dimento a cada aluno.
de repetência, fracasso e evasão escolar mostram que o
problema não atinge apenas os chamados alunos com As decisões quanto às Adaptações Curriculares que
necessidades especiais), um professor que não foi forma- deverão ser implementadas, bem como quanto aos
do para lidar com a diversidade, e alunos com grandes apoios (suportes) a serem providenciados, deverão con-
dificuldades de aprendizagem devido a deficiências reais siderar as características individuais do aluno, as áreas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
sensoriais, intelectuais, psicológicas e/ ou motoras, sem prioritárias a serem apoiadas, quais os tipos de apoio
contar as sócio-econômicas e culturais. mais eficientes para responder às necessidades do aluno,
Um currículo que leve em conta a diversidade deve em quais situações o apoio deve ser disponibilizado, e
ser, antes de tudo, flexível, e passível de adaptações, sem como proceder em relação a isto, que profissionais dele
perda de conteúdo. Deve ser desenhado tendo como participarão, bem como quais as funções e responsabili-
objetivo geral a “redução de barreiras atitudinais e con- dades que caberão a cada um.
ceituais”, e se pautar em uma “resignificação do processo Em síntese, as Adaptações Curriculares são providên-
de aprendizagem na sua relação com o desenvolvimento cias políticas, administrativas, técnicas e tecnológicas que
humano”. A realização de adaptações curriculares é o ca- devem ser implementadas para atender às necessidades
minho para o atendimento às necessidades específicas educacionais de cada aluno, inclusive às necessidades
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educacionais especiais, de forma a favorecer-lhes o aces- educando “esteja sempre pronto”, daí as provas serem
so ao conhecimento e seu uso funcional, na administra- pontuais, como vimos anteriormente. Um projeto pe-
ção de sua própria vida, e no processo de transformação dagógico que sustente uma prática de avaliação tem na
da sociedade. sua base a crença de que o ser humano é um ser em
desenvolvimento, um ser em construção permanente. A
Avaliação para uma escola inclusiva avaliação é um ato subsidiário da obtenção de resulta-
dos os mais satisfatórios possíveis, portanto subsidiária
Analisar a avaliação como princípio da educação de um processo, de um movimento construtivo. É um
inclusiva requer a definição dos principais aspectos do instrumento de busca de construção, por isso funciona
seu caráter formativo que se contraponha aos processos articulado com um projeto pedagógico que se assume,
usuais da escola de definir o lugar do aluno pela sua clas- que se crê e se efetua construtivamente.
sificação e seriação. A seguir abordaremos alguns trechos do “Referencial
De acordo com Carvalho (2007)... Trata-se, sem dúvi- sobre avaliação da Aprendizagem de alunos com neces-
da de um processo indispensável, que oferece subsídios sidades Especiais da Secretaria Municipal de Educação
para analisar as práticas e as políticas adotadas nas esco- do Estado de São Paulo –2007 :
las, com vistas à ressignificá-las em benefício do sucesso A avaliação educacional enquanto procedimento sis-
na aprendizagem e na participação de todos. temático pode auxiliar significativamente na compreen-
Não mais fica o aluno como sujeito solitário da avalia- são dos fatores que favorecem ou não a inclusão de
ção como se, isoladamente, ele pudesse ser o responsá- todos os educandos no espaço escolar. Para que a avalia-
vel pelo seu sucesso ou fracasso... Tão pouco entende-se ção ilumine a compreensão da escola na perspectiva da
hoje, que as práticas avaliativas devam ser da exclusivi- inclusão torna-se necessário conhecer o conjunto de re-
dade de especialistas que se valem de instrumentos que lações e interrelações que ali se estabelecem, bem como
oferecem os resultados que, após examinados permitem identificar as suas regras, rituais e práticas pedagógicas.
encontrar os “desvios” que os alunos apresentam, consi- Por avaliação da aprendizagem compreende-se a
derados como explicativos de suas dificuldades. verificação do aprendizado efetivamente realizado pelo
A avaliação de um aluno com necessidades educacio- aluno, pois ao mesmo tempo em que fornece subsídios
nais especiais é muito importante, pois a partir da análise ao trabalho docente, possibilita a tomada de decisão e
dos resultados, focando seu desempenho nas diversas a melhoria da qualidade de ensino, bem como expressa
áreas curriculares, no processo que utiliza para aprender, informações sobre as ações em desenvolvimento e a ne-
se mantém ou generaliza as aprendizagens, poderá ser cessidade de regulações constantes.
definido um plano de atuação que possa além de tor- No entanto, o atendimento desses alunos em clas-
nar possível sua participação, possibilitar seu desenvol- se comum pode representar sua exclusão sempre que a
vimento. avaliação, uma entre as variáveis que interferem no seu
Se a finalidade fundamental do ensino, nos alerta Za- processo de escolarização, não for usada para promover
bala (in Coll, 1999), é a formação integral da pessoa, a a aprendizagem e partir das condições próprias de cada
avaliação deve sempre ser formativa, de maneira que o aluno (Hoffman, 2005).
processo avaliador permita conhecer a situação de parti- A avaliação inicial do repertório dos alunos com ne-
da, em função de objetivos gerais (avaliação inicial), um cessidades educacionais especiais e a avaliação proces-
planejamento da intervenção fundamentado e ao mes- sual de sua aprendizagem é fundamental para assegurar
mo tempo flexível, entendido como uma hipótese de sua escolarização, por isso a sua não realização significa-
intervenção; uma atuação na aula em que as atividades ria subestimar as suas possibilidades.
e o conteúdo se adequarão constantemente (avaliação Segundo a Declaração de Salamanca de 1994 (BRA-
reguladora) às necessidades que vão se apresentando SIL, 1997), o “principio fundamental da escola inclusiva é
para chegar a determinados resultados (avaliação final o de que todas as crianças devem aprender juntas, sem-
) e a uma compreensão e valorização sobre o processo pre que possível, independentemente de quaisquer difi-
seguido que permita estabelecer novas propostas de in- culdades ou diferenças que elas possam ter. Escolas in-
tervenção (avaliação integradora). clusivas devem reconhecer e responder às necessidades
Ao analisar uma escola em seus procedimentos ava- diversas de seus alunos, acomodando ambos os estilos e
liativos, podem-se permitir diferentes olhares e, sem que ritmos de aprendizagem e assegurando uma educação
se dê conta de todo o universo realizado, podemos nos de qualidade a todos através de um currículo apropriado,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
ater a alguns aspectos dessa múltipla realidade em que arranjos organizacionais, estratégias de ensino, uso de
os adultos querem ensinar e as crianças tentam aprender recurso e parceria com as comunidades. Contudo, se o
e no processo de avaliação se deixam as marcas dessa professor alega que o aluno não está aprendendo, antes
relação de sucesso ou fracasso escolar. de ele ser rotulado e / ou excluído, devem ser respondi-
Segundo Luckesi 2005 “Importa observar, em primei- das, pelo menos, três perguntas: O que se está esperan-
ro lugar, que a questão central da prática da avaliação do que ele aprenda, ou seja, quais objetivos estão pre-
na escola não está nos instrumentos, mas sim na postura vistos no seu processo de escolarização? O que lhe está
pedagógica e consequentemente na prática da avalia- sendo ensinado e para que, portanto, quais conteúdos
ção. Por exemplo, é impossível praticar avaliação dentro estão compondo o planejamento do professor?
de um projeto pedagógico tradicional, que espera que o
55
Como está se realizando seu ensino, ou seja, que me- Neste sentido uma avaliação inclusiva é aquela que
todologia e quais procedimentos são administrados e é um instrumento para o ensino adaptativo, isto é, uma
que materiais e equipamentos estão à disposição?”. avaliação que facilita e promove a diversificação e a flexi-
A aprendizagem não deve ser considerada como re- bilização das formas de ajuda educativa que os distintos
sultado que depende única e exclusivamente do aluno, alunos recebem ao longo de seu processo de aprendiza-
mas deve estar sendo construída dia-a-dia, pois quando gem (Coll e Onrubia, 1999).
o professor identifica que o aluno começa a encontrar Desta forma, parece ser um consenso internacional
obstáculos na realização das atividades ou percebe que que a avaliação que se quer praticar é:
delas não participa, torna-se necessária a rápida inter- a) um requisito básico para a melhoria da qualidade
venção desse profissional e da equipe escolar, pois ele de ensino, à medida que serve de feedback, tanto
pode precisar de mais tempo para realizar a atividade; para professores quanto para alunos;
requerer material introdutório mais simples ou mais con- b) para os professores é uma oportunidade para re-
creto; demandar a provisão de meios especiais de acesso fletir sobre o ensino auto avaliando-se;
ao currículo. c) poder dar novos rumos ao curso e
Retomando, o atendimento escolar de alunos com d) reorientando a aprendizagem.
necessidades educacionais especiais na perspectiva da
educação inclusiva requer que a avaliação da aprendiza- Assim entendida, uma avaliação inclusiva é caracte-
gem tenha como princípios básicos e norteadores que: rizada por agir essencialmente, como instrumento regu-
a) a avaliação é um processo compartilhado, a ser lador dos processos de ensino e de aprendizagem, am-
desenvolvido, preferencialmente, na escola, en- pliando e superando claramente os níveis de rendimento
volvendo os professores, coordenador pedagógi- alcançados pelos alunos, somente como notas.
co, diretor, professor especializado e família. Tem Quanto ao ensino, uma avaliação inclusiva tem o ob-
como finalidade conhecer para intervir, de modo jetivo de facilitar para o professor, a adoção de decisões
preventivo e /ou remediativo, sobre as variáveis fundamentadas de adaptação do ensino, tanto no seu
identificadas como barreiras para a aprendizagem planejamento, quanto no seu desenvolvimento (modifi-
e a participação social, contribuindo para o desen- cando-se e ajustando-se de acordo com o andamento da
volvimento global do aluno e para o aprimora- avaliação inicial em função do que os alunos vão fazendo
mento das instituições de ensino; e aprendendo). Em relação à aprendizagem, uma avalia-
b) avaliação constitui-se em processo contínuo e per- ção inclusiva tem como objetivo que os alunos sejam ca-
manente de análise das variáveis que interferem pazes de responder com autonomia e responsabilidade
no processo de ensino e de aprendizagem, obje- sobre os seus processos de aprendizagem.
tivando identificar potencialidades e necessidades Uma avaliação inclusiva é caracterizada também pelo
educacionais dos alunos e das condições da escola fato de que as decisões de ordem social (habilitação,
e da família (BRASIL, MEC / SEESP, 2006, p. 9). O aprovação, titulação), que são tomadas a partir dos resul-
acesso aos estudos teóricos sobre avaliação, por si tados da avaliação, mantenha a maior coerência possível
só, não é suficiente para a construção de uma ava- com a função predominantemente pedagógica que deve
liação na perspectiva da inclusão escolar desse alu- cumprir. Isso pressupõe que essas decisões sejam toma-
nado, é preciso que o professor edifique análises das a partir de um processo de coleta de informações e
e reflexões, individual e coletivamente, sobre sua de critérios de avaliação coerentes com os princípios de
própria prática na escola. A questão principal não é um ensino adaptativo.
a mudança de técnica, mas a mudança de paradig- Concordamos com Carvalho (2000), quando afirma
ma, ou seja, de intencionalidade. Mudança daquilo que mudanças são necessárias para se garantir êxito em
que se espera do aluno e / ou da educação. propostas inclusivas. Há necessidade de mapear a situa-
ção real da população com necessidades educacionais
A implementação da Educação Inclusiva não é tarefa especiais, para poder traçar metas a curto, médio e longo
fácil, pois o professor terá que garantir o aprendizado prazo.
de alunos com necessidades educacionais diversas dos No âmbito interno da escola consideramos que algu-
demais, no contexto de suas atividades rotineiras e do mas ações favoreceriam o sucesso da aprendizagem de
planejamento para a turma com um todo. Transversaliza todos os alunos. As ações que apresentam sucessos em
este documento, portanto, a ideia de uma educação in- sistemas inclusivos mostram que é imprescindível alte-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
clusiva plena, que não entre na escola às escondidas, em ração em suas práticas passando desde diminuição do
função da resistência encontrada por parte dos educa- número de alunos por classe, aprendizado cooperativo,
dores. Ela será facilmente compreendida no conceito de elaboração de projeto pedagógico, plano individual de
currículo, nas experiências relatadas e no grande desafio ensino, melhoria da formação profissional, valorização
encontrado nas instituições educativas: a avaliação. do magistério, apoios centrados na classe comum e não
A prática da avaliação da aprendizagem no cotidiano via suplementação, com uma pedagogia centrada na
escolar, deve apontar para a busca do melhor para cada criança baseada em suas habilidades e não em suas defi-
educando, por isso deve ser diagnóstica, e não voltada ciências, e que incorpore conceitos como interdisciplina-
para a seleção de uns poucos, como ainda se apresenta ridade, individualização, colaboração e, conscientização/
em diversos sistema escolares. sensibilização.
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Stainback e Stainback (1999) enfatizam as seguintes professores, sobre os modelos pedagógicos vigentes e
ações para se criar uma comunidade de aprendizes: con- procedimentos de avaliação, sobre a adequação das es-
trato social, estabelecimento de um clima de aprendiza- colas e também, sobre as responsabilidades das famílias
gem positiva; transmitir/ comunicar que a sala de aula nesse processo. Assim, não se trata apenas de uma ques-
é um ambiente seguro e pacífico; propiciar ambiente tão legal, que é real, mas que se amplia pelas malhas da
voltado para objetivos acadêmicos, utilizando várias es- rede educacional, nas distintas áreas do conhecimento.
tratégias de ensino; tomar decisões quanto a alocação e Se por um lado o acesso dos portadores de necessidades
gerenciamento do tempo e ritmo da atividade. educativas especiais às escolas de ensino regular cresce
O importante é que o resultado do estudo possibilite a cada dia, por outro ainda são precárias as instalações
uma reflexão da realidade atual visando futuras transfor- físicas, a oferta de material didático-pedagógico ade-
mações. As palavras de Vasquez (1977) ilustram tal si- quado e a capacitação de professores, para efetivar uma
tuação: “ a teoria em si não transforma o mundo. Pode educação inclusiva de qualidade. Ao avaliar o processo
contribuir para sua transformação, mas para isto tem da educação inclusiva estas questões devem ser consi-
que sair de si mesma. Entre a teoria e a atividade prática deradas, juntamente com a formação de professores e
transformadora se insere um trabalho de educação das propostas curriculares.
consciências, de organização de meios materiais e planos Vygotsky, expoente do sócio-Interacionismo postula
concretos de ação: tudo isso como passagem indispen- que o professor deve ser um mediador entre o sujeito
sável para desenvolver ações reais e efetivas. Nesse sen- que aprende e o conhecimento. “Mediar consiste nas
tido, uma teoria é prática na medida em que materializa, ações de um agente intermediário em uma relação” (VY-
através de uma série de mediações, o que antes só existia GOTSKY, 1987, p. 96). O autor trabalha com a noção de
idealmente, como conhecimento da realidade ou anteci- que a relação homem-mundo não é uma relação direta,
pação ideal de sua transformação” (p.206-207). mas fundamentalmente mediada.
Para se aproximar de ideários inclusivos há que se ter Nessa perspectiva não há espaço para a transmissão
políticas educacionais que impliquem em tomadas de de conhecimentos sem a presença dos signos, dos sím-
decisões, em todos os níveis (político, governamental, bolos e da cultura, considerados como agentes media-
social, comunitário, individual) que reflitam em um siste- dores e ferramentas úteis no processo de aquisição do
ma menos excludente. conhecimento. “Os signos passam a ser compartilhado
As políticas públicas deveriam adotar um conceito de pelos membros do grupo social, permitindo a comunica-
educação inclusiva que garantisse o acesso ao conheci- ção entre os indivíduos e a interação social” (VYGOTSKY,
mento, ao desempenho escolar através de um melhor 1984, p. 102). Compete ao professor conhecer essa ques-
rendimento, e não apenas a socialização. tão, para adequar posturas e métodos a um modelo que
No entanto, a política de inclusão de alunos que apre- coincide com práticas educativas atualizadas.
sentam necessidades educativas especiais baseia-se em
fatores mais abrangentes do que somente os legislativos. Com a educação inclusiva, a mediação adquire um
Uma das questões centrais reside em como tornar caráter de grande importância, uma vez que abrange três
compatível esta realidade heterogênea com os esque- questões imprescindíveis ao processo de construção do
mas, as tradições e as inércias profissionais de alguns conhecimento: “o aluno, como o sujeito que se aprende;
professores, que ainda fundamentam suas práticas em o professor como mediador; a cultura, os signos como
modelos que não estão preparados para trabalhar a di- ferramentas a serem empregadas. O princípio que regula
versidade e a diferença. Tentam manter propostas de en- a dinâmica implícita nessa trama conceitual é a interação
sino a partir da perspectiva de homogeneização. É então social” (VYGOTSKY, 1987, p. 161). Trata-se de um modelo
um desafio, que muito passa pela estrutura curricular, pertinente em tempos de educação inclusiva, onde a in-
incluindo métodos e técnicas de ensino, bem como a teração é um processo essencial.
questão da avaliação. Desse modo, crianças com necessidades educativas
Uma das questões que se apresenta é: como proce- especiais necessitam de ações mediadas, dos agentes
der quanto à avaliação neste processo de inclusão? Em mediadores, da postura de mediação do professor, sem-
sequência, pode-se perguntar: deve-se avaliar, e como pre em interação com crianças sem necessidades edu-
proceder, para fugir dos rótulos, das evoluções nos diag- cativas especiais. Na medida em que esse processo se
nósticos já padronizados, promovendo uma análise com- consolida, alunos sem necessidades educativas especiais
plexa e reflexiva desse procedimento escolar? Trata-se de tornam-se também mediadores para seus colegas com
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
57
devem ser claramente explicitadas. Os critérios que serão desenvolvimento em uma determinada direção. “Não
adotados deverão coincidir com um projeto, ou progra- uma direção de mão única, mas que contemple possibi-
ma de ensino e que, no caso da educação inclusiva deve lidades de construção, desconstrução e reconstrução tal
ser coerente com essa proposta. Não se pode confundir como ocorre na arte, mas sempre em interação social”
avaliação com medida. Podem ser utilizados alguns cri- (VYGOTSKY, 2003, p. 201). Uma das questões centrais que
térios como sendo indicadores da produção dos alunos, determina mudanças nada mais é do que a evidência do
mas essa não pode adquirir uma dimensão comparativa, surgimento de novas luzes no bojo do desenvolvimento
nem deve excluir os alunos com necessidades educati- da humanidade, impregnada pela inclusão do tempo, da
vas especiais Em educação inclusiva, um dos princípios história e do sujeito como ator e construtor, precipitando
que deve nortear a avaliação é a adaptação, sempre vi- crises conceituais. Trata-se de criticar sistemas de deter-
sualizando a interação social como marco de referência. minação, teorias e, pela própria impotência em satisfazer
Adequar formas de avaliação supõe diversificá-las, e isso a realidade, o estabelecimento de caminhadas em dire-
significa também colocar à disposição dos alunos um ção a novas propostas, novas perspectivas.
conjunto amplo de ajuda e de apoio. Supõe a flexibiliza- O processo de desenvolvimento dos seres humanos
ção dessas formas de apoio, de acordo com o momento segue a aprendizagem, mas vai além dela, ativando po-
em que os alunos possam receber o que necessitam. O tenciais humanos. “A aprendizagem e o desenvolvimen-
ensino adaptativo que atende à inclusão deve aplicar o to, ainda que diretamente ligados não se processam si-
princípio de adaptação em um duplo sentido: de diversi- metricamente.
ficação e de flexibilização, tanto no que se refere aos as- O desenvolvimento não é estanque, nem acompanha
pectos curriculares, quanto aos aspectos organizadores a aprendizagem como uma sombra acompanha o objeto
envolvidos na ação educacional, convertendo-os no eixo que a projeta” (VYGOTSKY, 1984,p. 79).
das ações da avaliação para o conjunto dos alunos (COLL; Existe uma dependência recíproca, complexa e dinâ-
MARTIN; ONRUBIA, 2004). mica, que não pode ser explicada por uma única fórmula
A avaliação é uma questão político-pedagógico, e especulativa, nem apriorística. Para Vygotsky (1984;1987;
deve contemplar as concepções filosóficas de ser huma- 2003) a interação social é fundamental no desenvol-
no, de educação, de sociedade, o que implica em uma re- vimento humano e na aprendizagem. Com base nessa
flexão crítica e contínua da prática pedagógica da escola afirmativa, a avaliação não pode ser definida de modo
e de sua função social. Avaliar é acolher o aluno integral- estanque, a priori,fechada em si mesma. A avaliação está
mente e, a partir daí decidir o que fazer, e como fazer. A integrada ao currículo e não pode ser dissociada do pro-
ação avaliadora oferece subsídios para o educador refle- jeto educativo em sua totalidade, incluindo as políticas
tir sobre sua práxis. (VASCONCELOS, 1994). públicas, os projetos escolares, as propostas implícitas e
Nessa perspectiva, cabe aos pesquisadores e estu- a diversidade sócio-educacional. Fonte:
diosos da educação questionar se o sistema tem tenta-
do discutir a questão do outro nas políticas inclusivas, Referência
ou se o que preocupa é a obsessão pelo outro. Aqui, a http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/
avaliação deve buscar uma análise sobre a adaptação na arquivos/2216-8.pdf
escola, sobre as interações sociais que se processam no
cotidiano escolar. Não parece um exagero afirmar que a PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO (METODOLOGIA
escola atual ainda não se preocupa genuinamente com o DE ELABORAÇÃO, IMPLEMENTAÇÃO, ACOMPA-
outro, mas tem se tornado muitas vezes, obsessiva diante NHAMENTO E AVALIAÇÃO)
de cada fragmento da diferença em relação à mesmice.
A inclusão se concilia com uma educação para to- Para Veiga e colegas, o projeto político-pedagógico
dos e com um ensino especializado ao aluno, mas não tem sido objeto de estudos para professores, pesquisa-
se consegue implantar essa opção de inserção sem en- dores e instituições educacionais em níveis nacional, es-
frentar um desafio ainda maior: o que recai sobre o fator tadual e municipal, em busca da melhoria da qualidade
humano. Os recursos físicos e os meios materiais para a do ensino.
efetivação de um processo inclusivo escolar de qualida- O presente estudo tem a intenção de refletir acerca
de cedem um espaço de prioridade para o desenvolvi- da construção do projeto político-pedagógico, entendi-
mento de novas atitudes e formas de interação na esco- do como a própria organização do trabalho pedagógico
la, exigindo uma nova postura diante da aceitação das de toda a escola.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
58
dimensão política se cumpre na medida em que ela se
#FicaDica realiza enquanto prática especificamente pedagógica”.
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da efe-
A escola é o lugar de concepção, realização
tivação da intencionalidade da escola, que é a formação
e avaliação de seu projeto educativo, uma
do cidadão participativo, responsável, compromissado,
vez que necessita organizar seu trabalho pe-
crítico e criativo. É pedagógico no sentido de definir as
dagógico com base em seus alunos. Nessa
ações educativas e as características necessárias às esco-
perspectiva, é fundamental que ela assuma
suas responsabilidades, sem esperar que as las para cumprir seus propósitos e sua intencionalidade.
esferas administrativas superiores tomem Político e pedagógico têm, assim, uma significação
essa iniciativa, mas que lhe deem as condi- indissociável. Nesse sentido é que se deve considerar o
ções necessárias para levá-la adiante. Para projeto político-pedagógico como um processo perma-
tanto, é importante que se fortaleçam as re- nente de reflexão e discussão dos problemas da esco-
lações entre escola e sistema de ensino. la, na busca de alternativas viáveis à efetivação de sua
intencionalidade, que “não é descritiva ou constatativa,
mas é constitutiva”. Por outro lado, propicia a vivência
democrática necessária para a participação de todos os
Para isso, começaremos conceituando projeto políti- membros da comunidade escolar e o exercício da cida-
co-pedagógico. Em seguida, trataremos de trazer nossas dania. Pode parecer complicado, mas se trata de uma re-
reflexões para a análise dos princípios norteadores. Fi- lação recíproca entre a dimensão política e a dimensão
nalizaremos discutindo os elementos básicos da organi- pedagógica da escola.
zação do trabalho pedagógico, necessários à construção O projeto político-pedagógico, ao se constituir em
do projeto político-pedagógico. processo democrático de decisões, preocupa-se em ins-
taurar uma forma de organização do trabalho pedagógi-
O QUE É PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO? co que supere os conflitos, buscando eliminar as relações
competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com
No sentido etimológico, o termo projeto vem do la- a rotina do mando impessoal e racionalizado da burocra-
tim projectu, participio passado do verbo projicere, que cia que permeia as relações no interior da escola, dimi-
significa lançar para diante. Plano, intento, designio. Em- nuindo os efeitos fragmentários da divisão do trabalho
presa, empreendimento. Redação provisoria de lei. Plano que reforça as diferenças e hierarquiza os poderes de
geral de edificação. decisão.
Ao construirmos os projetos de nossas escolas, plane- Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a
jamos o que temos intenção de fazer, de realizar. Lança- ver com a organização do trabalho pedagógico em dois
mo-nos para diante, com base no que temos, buscando níveis: como organização de toda a escola e como or-
o possível. É antever um futuro diferente do presente. ganização da sala de aula, incluindo sua relação com o
Nas palavras de Gadotti: Todo projeto supõe rupturas contexto social imediato, procurando preservar a visão
com o presente e promessas para o futuro. Projetar sig- de totalidade. Nesta caminhada será importante ressaltar
nifica tentar quebrar um estado confortável para arris- que o projeto político-pedagógico busca a organização
car-se, atravessar um período de instabilidade e buscar do trabalho pedagógico da escola na sua globalidade.
uma nova estabilidade em função da promessa que cada A principal possibilidade de construção do proje-
projeto contém de estado melhor do que o presente. Um to político-pedagógico passa pela relativa autonomia
projeto educativo pode ser tomado como promessa frente da escola, de sua capacidade de delinear sua própria
a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os identidade. Isso significa resgatar a escola como espa-
campos de ação possível, comprometendo seus atores e ço público, como lugar de debate, do diálogo fundado
autores. na reflexão coletiva. Portanto, é preciso entender que o
Nessa perspectiva, o projeto político-pedagógico vai projeto político pedagógico da escola dará indicações
além de um simples agrupamento de planos de ensi- necessárias à organização do trabalho pedagógico que
no e de atividades diversas. O projeto não é algo que é inclui o trabalho do professor na dinâmica interna da sala
construído e em seguida arquivado ou encaminhado às de aula, ressaltado anteriormente.
autoridades educacionais como prova do cumprimento Buscar uma nova organização para a escola constitui
de tarefas burocráticas. Ele é construído e vivenciado em uma ousadia para educadores, pais, alunos e funcioná-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
todos os momentos, por todos os envolvidos com o pro- rios. Para enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de
cesso educativo da escola. um referencial que fundamente a construção do projeto
O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação político-pedagógico. A questão é, pois, saber a qual refe-
intencional, com um sentido explícito, com um compro- rencial temos que recorrer para a compreensão de nossa
misso definido coletivamente. Por isso, todo projeto pe- prática pedagógica. Nesse sentido, temos que nos alicer-
dagógico da escola é, também, um projeto político por çar nos pressupostos de uma teoria pedagógica crítica
estar intimamente articulado ao compromisso sociopo- viável, que parta da prática social e esteja compromissa-
lítico com os interesses reais e coletivos da população da em solucionar os problemas da educação e do ensino
majoritária. E político no sentido de compromisso com de nossa escola; uma teoria que subsidie o projeto políti-
a formação do cidadão para um tipo de sociedade. “A co-pedagógico. Por sua vez, a prática pedagógica que ali
59
se processa deve estar ligada aos interesses da maioria é possível considerar o processo educativo em seu
da população. Faz-se necessário, também, o domínio das conjunto sob a condição de se distinguir a demo-
bases teóricometodológicas indispensáveis à concretiza- cracia como possibilidade no ponto de partida e
ção das concepções assumidas coletivamente. Mais do democracia como realidade no ponto de chegada”.
que isso, afirma Freitas, (...) as novas formas têm que ser
pensadas em um contexto de luta, de correlações de for- Igualdade de oportunidades requer, portanto, mais
ça - às vezes favoráveis, às vezes desfavoráveis. Terão que que a expansão quantitativa de ofertas; requer ampliação
nascer no próprio “chão da escola”, com apoio dos pro- do atendimento com simultânea manutenção de quali-
fessores e pesquisadores. Não poderão ser inventadas dade.
por alguém, longe da escola e da luta da escola.
Isso significa uma enorme mudança na concepção b) Qualidade que não pode ser privilégio de minorias
do projeto político-pedagógico e na própria postura da econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao
administração central. Se a escola se nutre da vivência projeto político-pedagógico da escola é o de pro-
cotidiana de cada um de seus membros, coparticipantes piciar uma qualidade para todos.
de sua organização do trabalho pedagógico à adminis-
tração central, seja o Ministério da Educação, a Secretaria A qualidade que se busca implica duas dimensões in-
de Educação Estadual ou Municipal, não compete a eles dissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não
definir um modelo pronto e acabado, mas sim estimular está subordinada à outra; cada uma delas tem perspec-
inovações e coordenar as ações pedagógicas planejadas tivas próprias.
e organizadas pela própria escola. Em outras palavras, as A primeira enfatiza os instrumentos e os métodos,
escolas necessitam receber assistência técnica e financei- a técnica. A qualidade formal não está afeita, necessa-
ra decidida em conjunto com as instâncias superiores do riamente, a conteúdos determinados. Demo afirma que
sistema de ensino. a qualidade formal “significa a habilidade de manejar
Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógi- meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos
ca de organização das instâncias superiores, implicando diante dos desafios do desenvolvimento”.
uma mudança substancial na sua prática. A qualidade política é condição imprescindível da
Para que a construção do projeto político-pedagógi- participação. Está voltada para os fins, valores e conteú-
co seja possível não é necessário convencer os professo- dos. Quer dizer “a competência humana do sujeito em
res, a equipe escolar e os funcionários a trabalhar mais, termos de se fazer e de fazer história, diante dos fins his-
ou mobilizá-los de forma espontânea, mas propiciar si- tóricos da sociedade humana”.
tuações que lhes permitam aprender a pensar e a realizar Nessa perspectiva, o autor chama atenção para o fato
o fazer pedagógico de forma coerente. de que a qualidade se centra no desafio de manejar os
O ponto que nos interessa reforçar é que a escola não instrumentos adequados para fazer a história humana. A
tem mais possibilidade de ser dirigida de cima para baixo qualidade formal está relacionada com a qualidade polí-
e na ótica do poder centralizador que dita as normas e tica e esta depende da competência dos meios.
exerce o controle técnico burocrático. A luta da escola é A escola de qualidade tem obrigação de evitar de to-
para a descentralização em busca de sua autonomia e das as maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que
qualidade. garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de
Do exposto, o projeto político-pedagógico não visa todos. Qualidade para todos, portanto, vai além da meta
simplesmente a um rearranjo formal da escola, mas a quantitativa de acesso global, no sentido de que as crian-
uma qualidade em todo o processo vivido. Vale acres- ças em idade escolar entrem na escola. É preciso garantir
centar, ainda, que a organização do trabalho pedagógi- a permanência dos que nela ingressarem. Em síntese, qua-
co da escola tem a ver com a organização da sociedade. lidade “implica consciência crítica e capacidade de ação,
A escola nessa perspectiva é vista como uma instituição saber e mudar”.
social, inserida na sociedade capitalista, que reflete no O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em
seu interior as determinações e contradições dessa so- que exige de educadores, funcionários, alunos e pais a
ciedade. definição clara do tipo de escola que intentam, requer a
definição de fins. Assim, todos deverão definir o tipo de
1. Princípios norteadores do projeto político-pe- sociedade e o tipo de cidadão que pretendem formar. As
dagógico ações específicas para a obtenção desses fins são meios.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
60
marginalização das classes populares. Esse com- Heller afirma que:
promisso implica a construção coletiva de um pro-
jeto político-pedagógico ligado à educação das A liberdade é sempre liberdade para algo e não apenas
classes populares. liberdade de algo. Se interpretarmos a liberdade apenas
como o fato de sermos livres de alguma coisa, encontra-
A gestão democrática exige a compreensão em pro- mo-nos no estado de arbítrio, definimo-nos de modo ne-
fundidade dos problemas postos pela prática pedagógi- gativo. A liberdade é uma relação e, como tal, deve ser
ca. Ela visa romper com a separação entre concepção e continuamente ampliada. O próprio conceito de liberdade
contém o conceito de regra, de reconhecimento, de inter-
execução, entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática.
venção recíproca. Com efeito, ninguém pode ser livre se,
Busca resgatar o controle do processo e do produto do
em volta dele, há outros que não o são!
trabalho pelos educadores.
Por isso, a liberdade deve ser considerada, também,
A gestão democrática implica principalmente o re- como liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e di-
pensar da estrutura de poder da escola, tendo em vista vulgar a arte e o saber direcionados para uma intencio-
sua socialização. A socialização do poder propicia a práti- nalidade definida coletivamente.
ca da participação coletiva, que atenua o individualismo; e) Valorização do magistério é um princípio central na
da reciprocidade, que elimina a exploração; da solidarie- discussão do projeto político-pedagógico.
dade, que supera a opressão; da autonomia, que anula a
dependência de órgãos intermediários que elaboram po- A qualidade do ensino ministrado na escola e seu su-
líticas educacionais das quais a escola é mera executora. cesso na tarefa de formar cidadãos capazes de participar
A busca da gestão democrática inclui, necessariamen- da vida socioeconómica, política e cultural do país rela-
te, a ampla participação dos representantes dos diferen- cionam-se estreitamente a formação (inicial e continua-
tes segmentos da escola nas decisões/ações adminis- da), condições de trabalho (recursos didáticos, recursos
trativo-pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de físicos e materiais, dedicação integral à escola, redução
Marques: “A participação ampla assegura a transparência do número de alunos na sala de aula etc), remuneração,
das decisões, fortalece as pressões para que sejam elas elementos esses indispensáveis à profissionalização do
legítimas, garante o controle sobre os acordos estabe- magistério.
A melhoria da qualidade da formação profissional e a
lecidos e, sobretudo, contribui para que sejam contem-
valorização do trabalho pedagógico requerem a articu-
pladas questões que de outra forma não entrariam em
lação entre instituições formadoras, no caso as institui-
cogitação”.
ções de ensino superior e a Escola Normal, e as agências
Nesse sentido, fica claro entender que a gestão de- empregadoras, ou seja, a própria rede de ensino. A for-
mocrática, no interior da escola, não é um princípio fácil mação profissional implica, também, a indissociabilidade
de ser consolidado, pois se trata da participação crítica entre a formação inicial e a formação continuada.
na construção do projeto político-pedagógico e na sua O reforço à valorização dos profissionais da educa-
gestão. ção, garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento pro-
d) Liberdade é outro princípio constitucional. O prin- fissional permanente, significa “valorizar a experiência e
cípio da liberdade está sempre associado à ideia o conhecimento que os professores têm a partir de sua
de autonomia. O que é necessário, portanto, como prática pedagógica”.
ponto de partida, é o resgate do sentido dos con- A formação continuada é um direito de todos os pro-
ceitos de autonomia e liberdade. A autonomia e a fissionais que trabalham na escola, uma vez que ela não
liberdade fazem parte da própria natureza do ato só possibilita a progressão funcional baseada na titula-
pedagógico. O significado de autonomia remete- ção, na qualificação e na competência dos profissionais,
-nos para regras e orientações criadas pelos pró- mas também propicia, fundamentalmente, o desenvol-
prios sujeitos da ação educativa, sem imposições vimento profissional dos professores articulado com as
externas. escolas e seus projetos.
A formação continuada deve estar centrada na esco-
la e fazer parte do projeto político-pedagógico. Assim,
Para Rios, a escola tem uma autonomia relativa e a
compete à escola: a) proceder ao levantamento de ne-
liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é
cessidades de formação continuada de seus profissionais;
uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, b) elaborar seu programa de formação, contando com a
a liberdade é uma experiência de educadores e constrói- participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido
-se na vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
61
Veiga e Carvalho afirmam que “o grande desafio da A construção do projeto político-pedagógico, para
escola, ao construir sua autonomia, deixando de lado seu gestar uma nova organização do trabalho pedagógico,
papel de mera ‘repetidora’ de programas de ‘treinamen- passa pela reflexão anteriormente feita sobre os princí-
to’, é ousar assumir o papel predominante na formação pios. Acreditamos que a análise dos elementos constitu-
dos profissionais”. tivos da organização trará contribuições relevantes para
Inicialmente, convém alertar para o fato de que essa a construção do projeto político-pedagógico.
tomada de consciência dos princípios norteadores do Pelo menos sete elementos básicos podem ser apon-
projeto político-pedagógico não pode ter o sentido es- tados:
pontaneísta de cruzar os braços diante da atual organiza- a) as finalidades da escola;
ção da escola, inibidora da participação de educadores, b) a estrutura organizacional;
funcionários e alunos no processo de gestão. c) o currículo;
É preciso ter consciência de que a dominação no d) o tempo escolar;
interior da escola efetiva-se por meio das relações de e) o processo de decisão;
poder que se expressam nas práticas autoritárias e con- f) as relações de trabalho;
servadoras dos diferentes profissionais, distribuídos g) a avaliação.
hierarquicamente, bem como por meio das formas de
controle existentes no interior da organização escolar. a) As finalidades da escola
Como resultante dessa organização, a escola pode ser A escola persegue finalidades. É importante ressaltar
descaracterizada como instituição histórica e socialmen- que os educadores precisam ter clareza das finalidades
te determinada, instância privilegiada da produção e da de sua escola. Para tanto, há necessidade de refletir sobre
apropriação do saber. As instituições escolares represen- a ação educativa que a escola desenvolve com base nas
tam «armas de contestação e luta entre grupos culturais finalidades e nos objetivos que ela define. As finalidades
e econômicos que têm diferentes graus de poder». Por da escola referem-se aos efeitos intencionalmente pre-
outro lado, a escola é local de desenvolvimento da cons- tendidos e almejados.
ciência crítica da realidade. - Das finalidades estabelecidas na legislação em vi-
Acreditamos que os princípios analisados e o apro- gor, o que a escola persegue, com maior ou menor
fundamento dos estudos sobre a organização do traba- ênfase?
lho pedagógico trarão contribuições relevantes para a - Como é perseguida sua finalidade cultural, ou seja, a
compreensão dos limites e das possibilidades dos proje- de preparar culturalmente os indivíduos para uma
tos político-pedagógicos voltados para os interesses das melhor compreensão da sociedade em que vivem?
camadas menos favorecidas. - Como a escola procura atingir sua finalidade política
Veiga acrescenta, ainda, que “a importância desses e social, ao formar o indivíduo para a participação
princípios está em garantir sua operacionalização nas política que implica direitos e deveres da cidada-
estruturas escolares, pois uma coisa é estar no papel, na nia?
legislação, na proposta, no currículo, e outra é estar ocor- - Como a escola atinge sua finalidade de formação
rendo na dinâmica interna da escola, no real, no concreto”. profissional, ou melhor, como ela possibilita a
compreensão do papel do trabalho na formação
2. Construindo o projeto político-pedagógico profissional do aluno?
- Como a escola analisa sua finalidade humanística,
O projeto político-pedagógico é entendido, neste ao procurar promover o desenvolvimento integral
estudo, como a própria organização do trabalho peda- da pessoa?
gógico da escola. A construção do projeto político-pe- As questões levantadas geram respostas e novas in-
dagógico parte dos princípios de igualdade, qualidade, dagações por parte da direção, de professores, funcio-
liberdade, gestão democrática e valorização do magis- nários, alunos e pais. O esforço analítico de todos pos-
tério. A escola é concebida como espaço social marcado sibilitará a identificação de quais finalidades precisam
pela manifestação de práticas contraditórias, que apon- ser reforçadas, quais as que estão relegadas e como elas
tam para a luta e/ou acomodação de todos os envolvidos poderão ser detalhadas de acordo com as áreas do co-
na organização do trabalho pedagógico. nhecimento, das diferentes disciplinas curriculares, do
O que pretendemos enfatizar é que devemos anali- conteúdo programático.
sar e compreender a organização do trabalho pedagó- É necessário decidir, coletivamente, o que se quer re-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
gico, no sentido de gestar uma nova organização que forçar dentro da escola e como detalhar as finalidades
reduza os efeitos de sua divisão do trabalho, de sua para atingir a almejada cidadania.
fragmentação e do controle hierárquico. Nessa perspec- Alves afirma que é preciso saber se a escola dispõe
tiva, a construção do projeto político-pedagógico é um de alguma autonomia na determinação das finalidades
instrumento de luta, é uma forma de contrapor-se à frag- e dos objetivos específicos. O autor enfatiza: “Interessará
mentação do trabalho pedagógico e sua rotinização, à reter se as finalidades são impostas por entidades exte-
dependência e aos efeitos negativos do poder autoritário riores ou se são definidas no interior do ‘território social’
e centralizador dos órgãos da administração central. e se são definidas por consenso ou por conflito ou até
se são matéria ambígua, imprecisa ou marginal” (p. 19).
62
Essa colocação está sustentada na ideia de que a es- Avaliar a estrutura organizacional significa questionar
cola deve assumir, como uma de suas principais tarefas, os pressupostos que embasam a estrutura burocrática
o trabalho de refletir sobre sua intencionalidade educati- da escola que inviabiliza a formação de cidadãos aptos
va. Nesse sentido, ela procura alicerçar o conceito de au- a criar ou a modificar a realidade social. Para poderem
tonomia, enfatizando a responsabilidade de todos, sem realizar um ensino de qualidade e cumprir suas finalida-
deixar de lado os outros níveis da esfera administrativa des, as escolas têm que romper com a atual forma de
educacional. Nóvoa nos diz que a autonomia é impor- organização burocrática que regula o trabalho pedagógi-
tante para “a criação de uma identidade da escola, de um co - pela conformidade às regras fixadas, pela obediência
ethos científico e diferenciador, que facilite a adesão dos a leis e diretrizes emanadas do poder central e pela cisão
diversos atores e a elaboração de um projeto próprio” entre os que pensam e executam -, que conduz à frag-
(1992, p. 26). mentação e ao consequente controle hierárquico que en-
A ideia de autonomia está ligada à concepção eman- fatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a ordem
cipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não e a disciplina.
pode depender dos órgãos centrais e intermediários que Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional,
definem a política da qual ela não passa de executora. ao avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstácu-
Ela concebe seu projeto político-pedagógico e tem au- los e vislumbrar as possibilidades, os educadores vão des-
tonomia para executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova velando a realidade escolar, estabelecendo relações, de-
atitude de liderança, no sentido de refletir sobre suas fi- finindo finalidades comuns e configurando novas formas
nalidades sociopolíticas e culturais. de organizar as estruturas administrativas e pedagógicas
para a melhoria do trabalho de toda a escola na direção
b) A estrutura organizacional do que se pretende. Assim, considerando o contexto, os
A escola, de forma geral, dispõe basicamente de duas limites, os recursos disponíveis (humanos, materiais e fi-
estruturas: as administrativas e as pedagógicas. As pri- nanceiros) e a realidade escolar, cada instituição educa-
meiras asseguram, praticamente, a locação e a gestão tiva assume sua marca, tecendo, no coletivo, seu projeto
de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem parte, político-pedagógico, propiciando consequentemente a
ainda, das estruturas administrativas todos os elemen- construção de uma nova forma de organização.
tos que têm uma forma material, como, por exemplo,
a arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele c) O currículo
se apresenta do ponto de vista de sua imagem: equipa- Currículo é um importante elemento constitutivo da
mentos e materiais didáticos, mobiliário, distribuição das organização escolar. Currículo implica, necessariamente,
dependências escolares e espaços livres, cores, limpeza e a interação entre sujeitos que têm um mesmo objetivo e
saneamento básico (água, esgoto, lixo e energia elétrica). a opção por um referencial teórico que o sustente.
As pedagógicas, que, teoricamente, determinam a Currículo é uma construção social do conhecimento,
ação das administrativas, “organizam as funções educa- pressupondo a sistematização dos meios para que essa
tivas para que a escola atinja de forma eficiente e eficaz construção se efetive; é a transmissão dos conhecimen-
as suas finalidades”. tos historicamente produzidos e as formas de assimilá-
As estruturas pedagógicas referem-se, fundamental- -los; portanto, produção, transmissão e assimilação são
mente, às interações políticas, às questões de ensino e processos que compõem uma metodologia de constru-
aprendizagem e às de currículo. Nas estruturas pedagó- ção coletiva do conhecimento escolar, ou seja, o currícu-
gicas incluem-se todos os setores necessários ao desen- lo propriamente dito. Nesse sentido, o currículo refere-se
volvimento do trabalho pedagógico. à organização do conhecimento escolar.
A análise da estrutura organizacional da escola visa O conhecimento escolar é dinâmico e não uma mera
identificar quais estruturas são valorizadas e por quem, simplificação do conhecimento científico, que se ade-
verificando as relações funcionais entre elas. É preciso fi- quaria à faixa etária e aos interesses dos alunos. Daí a ne-
car claro que a escola é uma organização orientada por cessidade de promover, na escola, uma reflexão aprofun-
finalidades, controlada e permeada pelas questões do dada sobre o processo de produção do conhecimento
poder. escolar, uma vez que ele é, ao mesmo tempo, processo e
A análise e a compreensão da estrutura organizacio- produto. A análise e a compreensão do processo de pro-
nal da escola significam indagar sobre suas característi- dução do conhecimento escolar ampliam a compreensão
cas, seus polos de poder, seus conflitos - O que sabemos sobre as questões curriculares.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
da estrutura pedagógica? Que tipo de gestão está sen- Na organização curricular é preciso considerar alguns
do praticada? O que queremos e precisamos mudar na pontos básicos. O primeiro é o de que o currículo não
nossa escola? Qual é o organograma previsto? Quem o é um instrumento neutro. O currículo passa ideologia, e
constitui e qual é a lógica interna? Quais as funções edu- a escola precisa identificar e desvelar os componentes
cativas predominantes? Como são vistas a constituição e ideológicos do conhecimento escolar que a classe do-
a distribuição do poder? Quais os fundamentos regimen- minante utiliza para a manutenção de privilégios. A de-
tais? -, enfim, caracterizar do modo mais preciso possível terminação do conhecimento escolar, portanto, implica
a estrutura organizacional da escola e os problemas que uma análise interpretativa e crítica, tanto da cultura do-
afetam o processo de ensino e aprendizagem, de modo minante, quanto da cultura popular. O currículo expressa
a favorecer a tomada de decisões realistas e exequíveis. uma cultura.
63
O segundo ponto é o de que o currículo não pode ser Orientar a organização curricular para fins emancipa-
separado do contexto social, uma vez que ele é historica- tórios implica, inicialmente, desvelar as visões simplifica-
mente situado e culturalmente determinado. das de sociedade, concebida como um todo homogê-
O terceiro ponto diz respeito ao tipo de organização neo, e de ser humano, como alguém que tende a aceitar
curricular que a escola deve adotar. Em geral, nossas papéis necessários à sua adaptação ao contexto em que
instituições têm sido orientadas para a organização hie- vive. Controle social, na visão crítica, é uma contribuição
rárquica e fragmentada do conhecimento escolar. Com e uma ajuda para a contestação e a resistência à ideo-
base em Bernstein (1989), chamo a atenção para o fato logia veiculada por intermédio dos currículos escolares.
de que a escola deve buscar novas formas de organiza-
ção curricular, em que o conhecimento escolar (conteú- d) O tempo escolar
do) estabeleça uma relação aberta e inter-relacione-se O tempo é um dos elementos constitutivos da organi-
em torno de uma ideia integradora. Esse tipo de orga- zação do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena
nização curricular, o autor denomina de currículo-inte- o tempo: determina o início e o fim do ano, prevendo os
gração. O currículo integração, portanto, visa reduzir o dias letivos, as férias, os períodos escolares em que o ano se
isolamento entre as diferentes disciplinas curriculares, divide, os feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas
procurando agrupá-las num todo mais amplo. à avaliação, os períodos para reuniões técnicas, cursos etc.
Como alertaram Domingos et al., “cada conteúdo dei- O horário escolar, que fixa o número de horas por se-
xa de ter significado por si só, para assumir uma impor- mana e que varia em razão das disciplinas constantes na
tância relativa e passar a ter uma função bem determina- grade curricular, estipula também o número de aulas por
da e explícita dentro do todo de que faz parte”. professor. Tal como afirma Enguita: “Às matérias tornam-
O quarto ponto refere-se à questão do controle so- -se equivalentes porque ocupam o mesmo número de
cial, já que o currículo formal (conteúdos curriculares, horas por semana, e são vistas como tendo menor prestí-
metodologia e recursos de ensino, avaliação e relação gio se ocupam menos tempo que as demais”.
pedagógica) implica controle. Por outro lado, o controle A organização do tempo do conhecimento escolar é
social é instrumentalizado pelo currículo oculto, enten- marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é,
dido este como as “mensagens transmitidas pela sala de consequentemente, organizado em períodos fixos de tem-
aula e pelo ambiente escolar”. Assim, toda a gama de po para disciplinas supostamente separadas. O controle
visões do mundo, as normas e os valores dominantes são hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desper-
passados aos alunos no ambiente escolar, no material di- diçado e controlado pela administração e pelo professor.
dático e mais especificamente por intermédio dos livros Em resumo, quanto mais compartimentado for o
didáticos, na relação pedagógica, nas rotinas escolares. tempo, mais hierarquizadas e ritualizadas serão as rela-
Os resultados do currículo oculto “estimulam a conformi- ções sociais, reduzindo, também, as possibilidades de se
dade a ideais nacionais e convenções sociais ao mesmo institucionalizar o currículo-integração que conduz a um
tempo que mantêm desigualdades socioeconómicas e ensino em extensão.
culturais”. Enguita, ao discutir a questão de como a escola con-
Moreira (1992), ao examinar as teorias de controle so- tribui para a inculcação da precisão temporal nas ativida-
cial que têm permeado as principais tendências do pen- des escolares, assim se expressa:
samento curricular, procurou defender o ponto de vista A sucessão de períodos muito breves - sempre de
de que controle social não envolve, necessariamente, menos de uma hora -dedicados a matérias muito dife-
orientações conservadoras, coercitivas e de conformida- rentes entre si, sem necessidade de sequência lógica en-
de comportamental. De acordo com o autor, subjacente tre elas, sem atender à melhor ou à pior adequação de
ao discurso curricular crítico, encontra-se uma noção de seu conteúdo a períodos mais longos ou mais curtos e
controle social orientada para a emancipação. Faz senti- sem prestar nenhuma atenção à cadência do interesse
do, então, falar em controle social comprometido com e do trabalho dos estudantes; em suma, a organização
fins de liberdade que deem ao estudante uma voz ativa habitual do horário escolar ensina ao estudante que o
e crítica. importante não é a qualidade precisa de seu trabalho,
Com base em Aronowitz e Giroux (1985), o autor a que o dedica, mas sua duração. A escola é o primeiro
chama a atenção para o fato de que a noção crítica de cenário em que a criança e o jovem presenciam, aceitam
controle social não pode deixar de discutir “o contexto e sofrem a redução de seu trabalho a trabalho abstrato.
apropriado ao desenvolvimento de práticas curriculares Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico tor-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
que favoreçam o bom rendimento e a autonomia dos na-se necessário que a escola reformule seu tempo, es-
estudantes e, em particular, que reduzam os elevados ín- tabelecendo períodos de estudo e reflexão de equipes
dices de evasão e repetência de nossa escola de primeiro de educadores, fortalecendo a escola como instância de
grau”. educação continuada.
A noção de controle social na teoria curricular críti- É preciso tempo para que os educadores aprofundem
ca é mais um instrumento de contestação e resistência à seu conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
ideologia veiculada por intermédio dos currículos, tanto aprendendo. E preciso tempo para acompanhar e avaliar
do formal quanto do oculto. o projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo
para os estudantes se organizarem e criarem seus espa-
ços para além da sala de aula.
64
e) O processo de decisão Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão
Na organização formal de nossa escola, o fluxo das global analisam o projeto político-pedagógico não
tarefas, das ações e principalmente das decisões é orien- como algo estanque, desvinculado dos aspectos políti-
tado por procedimentos formalizados, prevalecendo as cos e sociais; não rejeitam as contradições e os conflitos.
relações hierárquicas de mando e submissão, de poder A avaliação tem um compromisso mais amplo do que a
autoritário e centralizador. mera eficiência e eficácia das propostas conservadoras.
Uma estrutura administrativa da escola, adequada à Portanto, acompanhar e avaliar o projeto político-peda-
realização de objetivos educacionais, de acordo com os gógico é avaliar os resultados da própria organização do
interesses da população, deve prever mecanismos que trabalho pedagógico.
estimulem a participação de todos no processo de de- Considerando a avaliação dessa forma, é possível
cisão. Isso requer uma revisão das atribuições específi- salientar dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação
cas e gerais, bem como da distribuição do poder e da é um ato dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao
descentralização do processo de decisão. Para que isso projeto político-pedagógico. Segundo, ela imprime uma
seja possível é necessário que se instalem mecanismos direção às ações dos educadores e dos educandos.
institucionais visando à participação política de todos O processo de avaliação envolve três momentos: a
os envolvidos com o processo educativo da escola. Paro descrição e a problematização da realidade escolar, a
(1993, p. 34) sugere a instalação de processos eletivos compreensão crítica da realidade descrita e problema-
de escolha de dirigentes, colegiados com representação tizada e a proposição de alternativas de ação, momento
de alunos, pais, associação de pais e professores, grêmio de criação coletiva.
estudantil, processos coletivos de avaliação continuada A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser
dos serviços escolares etc. instrumento de exclusão dos alunos provenientes das
classes trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática,
f) As relações de trabalho deve favorecer o desenvolvimento da capacidade do alu-
E importante reiterar que, quando se busca uma nova no de apropriar-se de conhecimentos científicos, sociais
organização do trabalho pedagógico, está se conside- e tecnológicos produzidos historicamente e deve ser re-
rando que as relações de trabalho, no interior da escola, sultante de um processo coletivo de avaliação diagnos-
deverão estar calcadas nas atitudes de solidariedade, de tica.
reciprocidade e de participação coletiva, em contraposi-
ção à organização regida pelos princípios da divisão do 3. Gestão educacional decorrente da concepção
trabalho, da fragmentação e do controle hierárquico. É do projeto político-pedagógico
nesse movimento que se verifica o confronto de interes-
ses no interior da escola. Por isso, todo esforço de gestar A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho,
uma nova organização deve levar em conta as condições de sua fragmentação e do controle hierárquico, precisa
concretas presentes na escola. Há uma correlação de for- criar condições para gerar uma outra forma de organiza-
ças e é nesse embate que se originam os conflitos, as ção do trabalho pedagógico.
tensões, as rupturas, propiciando a construção de novas A reorganização da escola deverá ser buscada de
formas de relações de trabalho, com espaços abertos à dentro para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa
reflexão coletiva que favoreçam o diálogo, a comunica- será o empenho coletivo na construção de um projeto
ção horizontal entre os diferentes segmentos envolvidos político-pedagógico, e isso implica fazer rupturas com o
com o processo educativo, a descentralização do poder. existente para avançar.
A esse respeito, Machado assume a seguinte posição: “O É preciso entender o projeto político-pedagógico da
processo de luta é visto como uma forma de contrapor- escola como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto,
-se à dominação, o que pode contribuir para a articula- ela precisa de um tempo razoável de reflexão e ação ne-
ção de práticas emancipatórias”. cessário à consolidação de sua proposta.
A partir disso, novas relações de poder poderão ser A construção do projeto político-pedagógico requer
construídas na dinâmica interna da sala de aula e da es- continuidade das ações, descentralização, democratiza-
cola. ção do processo de tomada de decisões e instalação de
um processo coletivo de avaliação de cunho emancipa-
g) A avaliação tório.
Acompanhar e avaliar as atividades leva-nos à refle- Finalmente, é importante destacar que o movimento
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
xão, com base em dados concretos sobre como a escola de luta e resistência dos educadores é indispensável para
se organiza para colocar em ação seu projeto político-pe- ampliar as possibilidades e apressar as mudanças que se
dagógico. A avaliação do projeto político-pedagógico, fazem necessárias dentro e fora dos muros da escola.
numa visão crítica, parte da necessidade de conhecer a
realidade escolar, busca explicar e compreender critica- Referência:
mente as causas da existência de problemas, bem como VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (Org.) Projeto políti-
suas relações, suas mudanças e se esforça para propor co-pedagógico da escola: uma construção possível. Pa-
ações alternativas (criação coletiva). Esse caráter criador pirus, 2002.
é conferido pela autocrítica.
65
cidade se situa exatamente no processo relacional entre
sujeito e mundo, que procede da sua existência concreta
EXERCÍCIO COMENTADO
de sentir, pensar, agir, sonhar, imaginar, desejar, seduzir.
Por isso, podemos questionar a ideia de fazer ciência
1. (Pref. Gramado/RS - Supervisor Pedagógico – Su- apenas com o intuito de identificar as regularidades dos
perior – FUNDATEC/2015) Sobre o Projeto Político fenômenos e elaborar equações que as expressem como
Pedagógico, de acordo com Veiga, analise as seguintes se fôssemos descrever o mundo a partir de uma única
assertivas: visão, de uma única linguagem.
Balandier reconhece que nem mesmo “a natureza é
I. É preciso entendê-lo como uma reflexão sobre o coti- linear, que o caos não é apenas o enigma que precisa ser
diano da escola. decifrado”.
II. O que ele visa é simplesmente um rearranjo da escola. Assim, inferimos que todo ser está em constante or-
III. A sua construção, entre outras coisas, requer continui- ganização, numa incessante turbulência em que se entre-
dade das ações, descentralização e democratização do cruzam a ordem e a desordem. Isso deveria implicar novas
processo de tomada de decisões. Quais estão corretas? representações acerca do conhecimento e das ciências em
geral.
a) Apenas I. As abordagens compreensivas, como as que reme-
b) Apenas I e II. tem ao imaginário social, vêm oferecendo aos pesqui-
c) Apenas I e III. sadores e cientistas sociais uma opção para entender os
d) Apenas II e III. processos que regulam a vida em estudos das sociedades
e) I, II e III. modernas, tornando-se necessárias à investigação do in-
visível que existe na realidade social. Nessa perspectiva,
Resposta: Letra C. Em “c”: Certo – Na Assertiva I con- os acontecimentos são vistos como algo em construção,
forme Veiga “não é possível que o projeto político pe- que foge à percepção imediata do pesquisador. Segundo
dagógico seja aceito pela comunidade escolar como Teves (2002), a partir dessas concepções, teóricos como
um simples documento, como ampliação da burocra- Castoriadis, Morin, Balandier, Durand, Bathers, Lefebvre e
cia escolar ou como se estivesse desligado do cotidia- outros trazem a importância dos estudos do imaginário
no escolar e tampouco é aceitável que os gestores ig- social para as ciências sociais.
norem a importância e a relevância do projeto político Teves (2002) afirma que, para os grupos sociais, o
pedagógico para a organização e democratização da imaginário representa verdades e, na busca do conhe-
escola.” Na assertiva III - conforme afirma Veiga (2003, cimento, muitas vezes o real aparece como mentiroso,
p. 277), “a legitimidade de um projeto político-peda- ilegítimo e até odioso. Dessa forma, o imaginário, por sua
gógico está estreitamente ligada ao grau e ao tipo de própria lógica, tudo pode justificar – afinal, ele serve de
participação de todos os envolvidos com o processo alívio à opressão e à violência do real. De acordo com a
educativo, o que requer continuidade de ações”. autora, nem sempre o imaginário social é a aproximação
dos quereres coletivos. Por ser um sistema simbólico, ele
reflete e integra as práticas sociais nas quais há um en-
Diversidade cultural na escola: existe equidade contro entre ideias diversas e entendimento, crença e ri-
sem respeito às diferenças? tualização diferentes. Assim, conforme comportamentos,
identificação e distribuição de papéis, esse imaginário
Durante algum tempo, fazer ciência significava qua- passa a existir como algo que transforma e representa o
lificar dados da realidade e garantir a generalidade e a que significa ser verdadeiro para o grupo. Dessa manei-
objetividade do conhecimento. Nesse processo, com a ra, as relações hierárquicas da sociedade são concebidas
preocupação voltada ao saber científico – do cognoscível por intermédio dos cotidianos ritualizados e, por sua vez,
como representação do real –, esqueciam-se o sujeito do fazem-nos acreditar que tais relações se estabeleçam de
conhecimento, sua subjetividade, seus condicionamen- modo natural. Por causa do imaginário social, as relações
tos histórico-sociais. A ideia de unidade das ciências, de poder acabam sendo protegidas contra aqueles que
naturais e sociais (já que elas partilham da mesma fun- pensam o contrário.
damentação lógica e metodológica), foi um esforço que Para Lefebvre (1991), as organizações modernas se
não resultou em acordos, uma vez que o cientificismo concretizam sem o uso necessário de coerção física, gra-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
não leva em conta que tanto o processo de percepção ças a essas “imposições” sociais. Como produção discur-
quanto o pensamento têm seus próprios mecanismos de siva, o imaginário social se expressa mediante gestos de
produção. linguagem enunciativos, sonoros e pictóricos, e suas falas
É óbvio que o sujeito do conhecimento é, também, podem assumir dimensão religiosa, filosófica, política, ar-
um ser da natureza e, como tal, possui um corpo do- quitetônica.
tado de estrutura biológica programada geneticamente,
de maneira a continuar a espécie. No entanto, segundo
Nilda Teves (2002), esse corpo não é uma máquina, um
instrumento que registra as informações do mundo exte-
rior na forma de um decalque. Ao contrário, sua especifi-
66
Para Castoriadis (1982), “imaginário é criação inces- Diferentemente, Woodward (2008) define cultu-
sante e essencialmente indeterminada (social – histórica ra como os sistemas de significados partilhados entre
e psíquica) de figuras, de formas, de imagens, a partir membros de uma sociedade e enfatiza o aspecto imate-
das quais somente é possível falar-se de alguma coisa” rial da cultura: o significado, a interpretação. Para a au-
(Castoriadis, 1982). tora, cada cultura classifica o mundo de forma distinta e,
Os violentos processos de segregação, infelizmen- a partir dessa classificação, propicia possibilidades de es-
te ainda tão comuns em nossa sociedade e geradores tabelecer significados e sentidos aos respectivos mundos
de inúmeros conflitos, legitimam a luta por relações de sociais. Tendo como objetivo manter alguma ordem so-
equidade nas diversas instâncias sociais. Dessa forma, o cial, os membros de uma sociedade compartilham certo
sentido de equidade abriga, neste trabalho, os conceitos grau de consenso, e esses sistemas de significados par-
de igualdade e de diferença. zassociadas às interfaces da tilhados são, na verdade, o que se entende por cultura.
diversidade e sobre as possibilidades de trabalhá-la na Nessa concepção, a cultura estabelece um forte vínculo
escola. social, uma vez que aproxima aqueles que compartilham
Refletir sobre cultura, multiculturalismo, diversida- as mesmas representações do mundo.
de cultural e diferença é uma tarefa complexa, uma vez Tanto a definição centrada nas realizações humanas
que, ao adentrarmos o campo semântico, encontraremos como a que enfatiza o aspecto imaterial acabam por pre-
múltiplos significados para cada uma dessas palavras – terir a diversidade ao considerar que cada cultura cons-
alguns ambíguos, outros inclusive contraditórios –, atri- titui-se em um todo homogêneo, isto é, que todos os
buídos ao longo do tempo e em diferentes contextos. sujeitos inseridos em determinado espaço social e/ou
Acreditamos, como Castaño, Moyano & Del Castillo geográfico possuem o mesmo discurso, os mesmos valo-
(1997), que a concepção que temos de cultura origine e res, a mesma cultura. Em outros termos, desconsideram
norteie as ações a serem desenvolvidas na escola; conse- que o discurso predominante é estabelecido por deter-
quentemente, antes de elaborarmos tais ações, é preciso minados grupos que se constituem maioria ou que estão
pensar de forma crítica nas acepções de cultura. Nesse no poder e menosprezam a existência de outros grupos
sentido, refletir sobre o conceito de cultura é imprescin- inseridos nesse contexto que não compactuam com o dis-
dível. A palavra cultura é polissêmica, teve, ao longo do curso hegemônico.
tempo, diferentes acepções e pode ser empregada com Para Castaño, Moyano & Del Castillo (1997), os sis-
diferentes intenções, até mesmo para desencadear ati- temas de significados partilhados definem a identidade
tudes preconceituosas e discriminatórias. Para ilustrar, de uma cultura, e não a cultura em si, pois esses autores
apontamosaa concepção derivada do senso comum, que consideram que o significado e a realidade de uma cul-
relaciona cultura aos processos de educação com a fi- tura são algo mais complexos que a sua identidade. É in-
nalidade de rotular os sujeitos: cultos, aqueles que “têm teressante notar que, quando nos definimos aos outros,
cultura”, e incultos, aqueles que “não têm cultura”. àqueles que não pertencem ao nosso grupo, utilizamos
Os diferentes conceitos de cultura nos fazem imagi- uma série de referências que nos assemelham aos indiví-
nar se seja possível conceber a ideia de cultura como algo duos do grupo ao qual pertencemos. Por meio de um dis-
perfeitamente definido. Todavia, como veremos adiante curso homogeneizado, selecionamos determinadas caracte-
e de acordo com Castaño, Moyano & Del Castillo (1997), rísticas pertinentes à formação de “um genérico ‘nós social’”.
o fato é que a observação de práticas culturais cotidianas Provavelmente, não utilizaríamos essas mesmas referências
nos mostra as dificuldades, a quase impossibilidade de para nos definir como indivíduos.
definir claramente uma cultura.
A palavra cultura é latina e se origina do verbo colo, Em contrapartida, se empregássemos as mesmas re-
que significa cultivo do solo. Segundo Vila Nova (2000), ferências que nos descrevem como indivíduos para nos
na linguagem própria da sociologia, “cultura é tudo o definir como membros de um grupo, os outros membros
que resulta da criação humana. A cultura, portanto, tanto do grupo fariam objeções, uma vez que não se sentiriam
compreende ideias quanto artefatos”. Esse conceito, por representados por essas referências de caráter pessoal.
ser abrangente, abarca inclusive alguns dos significados
atribuídos ao termo cultura pelo senso comum: um vasto Por isso, ao nos definirmos como um grupo perante
conhecimento erudito e/ou as realizações no campo da outro, “não invocamos as diferenças que existem dentro
arte, ciência e filosofia. de ‘nós’ [do nosso grupo] que geram diversidade dentro
Nessa acepção, a cultura é considerada pertencente dele, mas, pelo contrário, nós invocamos as semelhanças
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
67
Contudo, se considerarmos a cultura como o resulta- Como no filme, os encontros dos nossos ancestrais
do de diferentes traços culturais – porque cada indivíduo eram marcados pela curiosidade e podiam culminar em
integrante do grupo possui uma trajetória histórica par- “comércio, colaboração, festa, alegria, união, aculturação,
ticular –, teremos consciência de que os sujeitos, mesmo criação de comunidade, assimilação, prevenção, violência
sendo “continuadores de ‘outros’”, podem ser semelhan- e negociação”. Em outras palavras, as interações entre os
tes a nós. primeiros grupos humanos geravam novas culturas.
Seria possível projetar determinada cultura – no sen- Nessa perspectiva, pensar que um indivíduo poderia
tido de um único universo de representações legitimadas pertencer exclusivamente a uma única cultura ou que um
pelo consenso e tidas como modelo – em cada um dos grupo socialmente constituído poderia ser monocultural
indivíduos que, formalmente, pertencem a ela? Será que acaba sendo discutível, pois, sem dúvida alguma, todos
reconheceríamos, nos comportamentos, ações ou ativi- nós estamos vinculados a vários grupos culturais de ma-
dades nas quais esses indivíduos realizam uma reprodu- neira simultânea.
ção de tal cultura? Essa seria uma tarefa impossível, pois O multiculturalismo e as estratégias multiculturais
cada indivíduo elabora, a sua maneira, a cultura à qual O assunto multiculturalismo é um universo complexo e
pertence, manifestando essa versão individual por meio pode ser visto por diversos ângulos. Segundo Gonçalves
de comportamentos e manifestações específicas, que & Silva (1998), opositores e defensores do multicultu-
podem divergir do que foi dado como certo no discurso ralismo assumem diversas posições a seu respeito, não
homogeneizado. havendo consenso nem mesmo entre aqueles que estão
Dessa forma, cada indivíduo possui sua versão pes- contra o movimento ou a favor dele. Dos que se opõem,
soal e subjetiva da cultura que lhe é atribuída, e essa uns consideram a proposta política “ingênua e leviana
versão é diferente daquela constituída pelos outros que porque parte de uma falsa consciência acerca dos reais
compõem o seu grupo. problemas culturais”; outros temem que o movimento
Para Castaño, Moyano & Del Castillo (1997), é impos- incite a fragmentação social, o que resultaria na desinte-
sível delimitar onde começa ou termina cada cultura, por gração nacional.
isso afirmam que “é necessário insistir em um conceito Da mesma forma, não existe acordo entre os que de-
de cultura como algo difuso, inacabado e em constante fendem o movimento. Há um grupo que compreende o
movimento”. multiculturalismo como estratégia política de integração
Os membros de um grupo cultural têm uma identi- social e que valoriza a pluralidade, mas seus integrantes
dade, mas que não corresponde à cultura desse grupo, se dividem ao divergirem quanto à necessidade ou não
pois apenas descreve a versão e a visão que comparti- de manter, em âmbito nacional, um núcleo comum de
lham. O processo de constituição da identidade de um valores.
grupo realiza-se, principalmente, perante o outro: a par- Outro grupo que defende o multiculturalismo o con-
tir de enfrentamentos e tensões, ela é forjada, mantida e sidera “uma espécie de corpo teórico”, que deve nortear
transformada constantemente. os diversos tipos de produção do conhecimento, gera-
As sociedades modernas são compostas da diversi- dos e transmitidos tanto pelas instituições organizadoras
dade, e esse é um dos motivos pelos quais a educação da cultura (escolas, universidades, museus, entre outras)
multicultural é um enorme desafio para educadores e quanto pelos veículos de comunicação de massa. Candau
educadoras, já que discussões e reflexões sobre esse as- (2008) reforça essa premissa, explicando que “uma das
sunto são imprescindíveis. características fundamentais das questões multiculturais
Entretanto, será que essa pluralidade cultural é ca- é exatamente o fato de estarem atravessadas pelo aca-
racterística exclusiva das sociedades modernas? Se anali- dêmico e pelo social, pela produção de conhecimentos,
sarmos a história da espécie humana desde a sua adap- pela militância e pelas políticas públicas”.
tação ao mundo natural, observaremos que a pluralidade
é historicamente construída. Vários sistemas de cultura Com o intuito de sistematizar essas diferentes visões,
foram criados pelos ancestrais nômades dos seres huma- diversos autores, dos quais destacamos McLaren (1997),
nos, em virtude da necessidade que tinham de se adap- Hall (2003) e Candau (2008), classificam e definem al-
tar a novos ambientes. Esses diferentes grupos humanos guns tipos de multiculturalismo. De acordo com McLa-
reagiam de diversas e intrincadas formas ao se encontrar ren (1997), existem quatro formas de multiculturalismo:
enquanto viajavam. o conservador, o liberal, o liberal de esquerda e o crítico
de resistência.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Dissertar sobre o tema nos trouxe à memória as ima- Embora essas formas se misturem na realidade so-
gens do filme A guerra do fogo (1981), que acreditamos cial, o autor transcodificou e mapeou tais multicultura-
serem oportunas para ilustrar os encontros dos primiti- lismos com o objetivo de auxiliar no estudo das “múlti-
vos ancestrais humanos. O primeiro clã exibido no filme, plas maneiras pelas quais a diferença é tanto construída
após ter a sua fonte de fogo extinta por não dominar quanto engajada”.
a técnica de produzi-lo, envia três de seus integrantes O multiculturalismo conservador, também denominado
em busca de nova fonte. A viagem leva-os a encontrar empresarial, é aquele cuja visão colonialista descende direta-
bandos e tribos com diferentes conhecimentos, os quais mente da herança de doutrinas da supremacia branca.
acabaram sendo assimilados.
68
Nessa visão, a África é retratada como um continen- O que difere essa concepção daquela conservadora
te selvagem e bárbaro, habitado por criaturas inferiores, é que, como a desigualdade está centrada nas condições
privadas das graças redentoras da civilização ocidental. econômicas e socioculturais, e não na etnia, tais condi-
Essa postura pode ser visualizada nas teorias evolu- ções podem ser alteradas e reformadas com a finalidade
cionistas que apoiam o ideário estadunidense do “destino de obterem uma igualdade relativa. McLaren (1997) tece
manifesto” – crença de que o expansionismo americano uma crítica à visão liberal ao considerar que essa visão
seja o cumprimento de vontade divina –, da benevolência resulta, frequentemente, em um humanismo etnocên-
imperial e do expansionismo cristão. As representações trico e opressivamente universalista, no qual as normas
que pactuam com essa visão são aquelas estereotipadas, legitimadoras que governam a substância da cidadania
que retratam os africanos como escravos/as ou serviçais. são identificadas mais fortemente com as comunidades
McLaren (1997) ainda esclarece: político-culturais anglo-americanas.
Mesmo que se distanciem das ideologias racistas, os O multiculturalismo humanista liberal de esquerda
multiculturalistas conservadores disfarçam falsamente a enfatiza que a diferença cultural não deve ser ignorada e
igualdade cognitiva de todas as raças e acusam as mino- enaltece a importância da diferença dos “comportamen-
rias malsucedidas de terem ‘bagagens culturais inferiores’ tos, valores, atitudes, estilos cognitivos e práticas sociais”
e ‘carência de fortes valores de orientação familiar’. que se originam da diversidade cultural.
Essa posição ‘ambientalista’ ainda aceita a inferio- No entanto, o autor aponta dois problemas com re-
ridade cognitiva negra com relação aos brancos como lação à visão liberal de esquerda. O primeiro diz respei-
uma premissa geral e oferece aos multiculturalistas con- to à tendência daqueles que apoiam essa perspectiva a
servadores um meio de racionalizarem o fato pelo qual essencializar as diferenças culturais e, ao ter as diferen-
alguns grupos minoritários são bem-sucedidos enquan- ças como uma questão de “essência”, a desconsiderar as
to outros não. condições históricas, sociais, culturais e também aquelas
McLaren (1997) explicita diversas razões pelas quais referentes às relações de poder. O segundo diz respeito
esse tipo de multiculturalismo deve ser rejeitado, das à formação da identidade política, pois, na concepção
quais destacamos duas: a utilização da cultura branca humanista liberal de esquerda, aspectos pessoais, classe,
como medida de referência (invisível) – por meio da qual etnia, gênero e experiências são considerados mais im-
todas as outras etnias são julgadas – e o emprego do portantes que a teoria, como se fossem suficientes para
termo diversidade para esconder a ideologia de assimi- conferir legitimidade aos argumentos.
lação, que consiste em “acrescentar” os grupos étnicos à As experiências são relevantes na formação da iden-
cultura dominante, mediante a condição de eles, primei- tidade política, mas McLaren (1997) ressalta que a auto-
ramente, assimilarem e aceitarem as normas da cultura ridade acadêmica “tem sido substituída por um elitismo
hegemônica. populista baseado nos papéis de identidade da pessoa
Nesse sentido, McLaren (1997) ainda destaca que al- que está realizando o trabalho”.
guns programas educacionais estadunidenses os quais O multiculturalismo crítico e de resistência, segundo
apoiam diretrizes que têm como base o multiculturalis- McLaren (1997), é fundamentado a partir da perspecti-
mo conservador: va de uma abordagem de significado pós-estruturalista
a) exigem, de todos os jovens, padrões de desempe- de resistência, na qual se enfatiza o papel que a língua
nho pertencentes ao capital cultural da elite anglo- e a representação desempenham na construção do sig-
-americana; nificado e da identidade. O insight pós-estruturalista no
b) são a favor da adoção da língua inglesa como úni- qual o autor está embasado estabelece-se em um con-
ca língua oficial dos Estados Unidos; texto mais amplo da teoria pós-moderna, qual seja:
c) fazem oposição a programas educacionais bilín- [...] arquipélago de disciplinas que está disperso no
gues; oceano da teoria social – que afirma que signos e signifi-
d) priorizam o conhecimento elitizado, que é valoriza- cações são essencialmente instáveis e em deslocamento,
do pela classe média branca norte-americana; podendo apenas ser[em] temporariamente fixados, de-
e) não questionam o discurso e as práticas culturais e pendendo de como estão articulados dentro das lutas
sociais dos regimes dominantes, que, vinculados à discursivas e históricas particulares.
dominação global, difundem ideias racistas, clas- O multiculturalismo crítico e de resistência, defendi-
sistas, sexistas e homofóbicas. do por McLaren, também denominado pós-modernizado
ou pós-colonial, não apenas focaliza a diversidade cultu-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O multiculturalismo humanista liberal fundamenta- ral e de identidade nem só os discursos pelos quais as
-se na igualdade intelectual, na equivalência cognitiva identidades e as próprias diferenças são formadas, mas
dos seres humanos – independentemente da etnia. As- também pretende afirmar a diversidade dentro de uma
sim, aqueles que corroboram a visão liberal não consi- política de crítica e compromisso com a justiça social, de
deram que exista igualdade de oportunidades sociais e modo que as relações sociais, culturais e institucionais
educacionais brancos, afro-americanos, latinos, asiáticos sejam transformadas.
e de outras etnias, o que as impede de competir em con- Do ponto de vista de Hall (2003), o termo multicultu-
dições de igualdade no mercado capitalista. ralismo pode tanto ter uma significação plural – quando
utilizado para se referir às diferentes estratégias e po-
líticas adotadas para gerir problemas de diversidade e
69
multiplicidade advindos das sociedades multiculturais – O multiculturalismo interativo ou interculturalidade é
quanto ser utilizado no singular, para significar “a filoso- uma proposta mais aberta, que considera tanto a impor-
fia específica ou a doutrina que sustenta as estratégias tância das políticas de igualdade como a das de identida-
multiculturais”. de. Nesse sentido, esse tipo de multiculturalismo é mais
Hall (2003) classifica os multiculturalismos, a partir de apropriado para o desenvolvimento de sociedades de-
Goldberg, em conservador, liberal, pluralista, comercial, mocráticas e inclusivas. Essa perspectiva diverge da po-
corporativo (público ou privado) e crítico ou “revolucio- sição diferencialista ao considerar que os diferentes gru-
nário”, explicando que o multiculturalismo conservador pos de determinado contexto devem, deliberadamente,
[...] insiste na assimilação da diferença às tradições e cos- inter-relacionar-se, rompendo, desse modo, com a visão
tumes da maioria. O multiculturalismo liberal busca inte- essencialista das culturas e das identidades culturais.
grar os diferentes grupos culturais o mais rápido possível Nessa concepção, as raízes das culturas são tidas
ao mainstream, ou sociedade majoritária, baseado em como históricas, mas também dinâmicas, não estáticas
uma cidadania individual universal [...]. O multiculturalis- e, portanto, em contínua elaboração, construção e re-
mo pluralista, por sua vez, avaliza diferenças grupais em construção. Os que apoiam tal perspectiva sustentam o
termos culturais e concede direitos de grupo distintos a conceito de que não existem culturas puras, partindo do
diferentes comunidades dentro de uma ordem política pressuposto de que os intensos processos de hibridiza-
comunitária ou mais comunal. O multiculturalismo co- ção cultural vivenciados na atualidade (século XXI) pro-
mercial pressupõe que, se a diversidade dos indivíduos piciam a formação de identidades abertas, permanente-
de distintas comunidades for publicamente reconhecida, mente em construção.
então os problemas de diferença cultural serão resolvi- De acordo com Candau (2008), a educação nes-
dos (e dissolvidos) no consumo privado, sem nenhuma sa perspectiva promove o reconhecimento do outro, o
necessidade de redistribuição do poder e dos recursos. O diálogo entre os diferentes grupos sociais e culturais e a
multiculturalismo corporativo (público ou privado) busca negociação cultural para “favorecer a construção de um
‘administrar’ as diferenças culturais da minoria, visando projeto comum, pelo qual as diferenças sejam dialetica-
aos interesses do centro. O multiculturalismo crítico ou mente integradas”.
‘revolucionário’ enfoca o poder, o privilégio, a hierarquia Ao tratarmos do multiculturalismo, em qualquer ins-
das opressões e os movimentos de resistência [...] (Hall, tância (acadêmica, social ou política), é imprescindível
2003, p. 53, grifos nossos). explicitar o sentido que estamos dando ao termo, que,
Para Candau (2008), o multiculturalismo pode ser como vimos, é polissêmico e passível de muitas interpre-
abordado a partir de três perspectivas: a assimilacionista, tações, razão pela qual é inclusive adjetivado.
a diferencialista ou plural e a interativa, também denomi- No âmbito escolar, ao planejar ações que serão de-
nada intercultural. As duas primeiras são mais frequente- senvolvidas, é preciso examinar o nosso ponto de parti-
mente encontradas nas sociedades do século XXI. da, isto é, questionar: como estão sendo direcionados e
O ponto de partida do multiculturalismo assimila- resolvidos os atuais problemas relacionados à diversida-
cionista são a sociedade multicultural e seus problemas, de na escola?
entre eles a privação que alguns grupos minoritários so- Somente depois desse diagnóstico e a partir da de-
frem ao não terem acesso a determinados bens, serviços finição da perspectiva que se pretende assumir – que, a
e direitos básicos. Uma política na perspectiva assimila- nosso entender, deve ser feita dialógica e coletivamente
cionista pretende integrar todos os diferentes grupos na – é que se começa a planejar ações e políticas que serão
sociedade e incorporá-los à cultura hegemônica. pautadas pela visão do multiculturalismo eleito.
Segundo Candau (2008), uma educação pautada Escola, diversidade cultural e multiculturalismo Con-
por essa perspectiva promove a universalização da es- forme Ballengee-Morris, Daniel & Stuhr (2005), educação
colarização, mas não questiona “o caráter monocultu- multicultural é um conceito, uma filosofia e um processo
ral presente na sua dinâmica”, portanto as escolas não que se originou das lutas dos movimentos sociais nos Es-
questionam seus valores, conteúdos ou estratégias, ape- tados Unidos, na década de 1960 – mais especificamente,
nas permitem a inclusão daqueles que ainda não tinham o movimento dos negros, que exigiam o reconhecimento
acesso a elas. dos direitos civis de todas as pessoas, e o movimento
O multiculturalismo diferencialista ou monocultura- estudantil, marcado por reivindicações que almejavam o
lismo plural alegam que qualquer política de assimilação fim do tratamento desigual gerador de mecanismos de
acaba negando ou ocultando as diferenças, por isso pro- exclusão. A essa época, acrescentam-se ainda as ques-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
põem que elas, em determinado contexto, sejam enfati- tões advindas da intensa migração de trabalhadores à
zadas de modo que as expressões das distintas identida- procura de melhores condições de vida.
des reconheçam-se e manifestem-se. A educação multicultural foi, na época, e continua
Nessa abordagem, privilegia-se o desenvolvimento sendo um processo educacional que propõe reformas
de comunidades culturais homogêneas – bairros, esco- com a finalidade de criar oportunidades igualitárias para
las, igrejas e outras – organizadas de forma particular. que todos e todas, independentemente da identidade
Candau (2008) adverte, porém, que, “na prática, em mui- cultural – grupo social, etnia, identidade de gênero, cul-
tas sociedades atuais, terminou-se por favorecer a cria- tura, crença religiosa, orientação sexual –, possam obter
ção de verdadeiros apartheids socioculturais”. sucesso escolar.
70
Segundo Candau (2005), cabe à escola a difícil tare- Político-pedagógico (PPP) e o Conselho Escolar (CE), as-
fa de trabalhar a negação da padronização, ao mesmo segurando “progressivos graus de autonomia pedagógi-
tempo que luta contra todas as formas de desigualda- ca e administrativa e de gestão financeira” (Brasil, 1996,
de e discriminação presentes na sociedade. A igualdade p. 56) às escolas públicas.
que se pretende trabalhar na escola não está alicerçada Boufleuer (1998) entende que “a ação educativa es-
apenas no reconhecimento dos direitos básicos de todos colar não é um fazer por fazer, mas um fazer intencional”,
e todas, mas também no das diferenças, pois, como as portanto trata-se da intencionalidade de um coletivo de
pessoas não são idênticas, precisam ter suas diferenças sujeitos. Ao concordar com essa afirmativa, sabe-se que
reconhecidas e consideradas inclusive no decorrer do a ação educativa não se reduz a apenas um componente
processo de conquista da igualdade. curricular mas deve ser responsável também por conduzir
Certamente, uma das funções da escola é a transmis- as questões diretamente pertinentes ao universo escolar
são dos conteúdos culturais, e, por conseguinte, ela se e à realidade do entorno. É daí que surgem as condições
torna um instrumento de reprodução social. No entanto, para a construção da democracia no âmbito escolar. Tais
esse papel pode ser desempenhado em uma perspectiva ações intencionais precisam acontecer em espaços que
dialógica, de modo que a difusão cultural possa promo- caracterizem a vida escolar, como a construção coletiva
ver a compreensão de como se dão as relações de poder do projeto político-pedagógico, das ações democráticas
e de como elas se reproduzem na sociedade. dentro do conselho escolar, entre outros.
Embora, em muitas ocasiões, a realidade pareça in- Uma instituição escolar permite que estudantes se
transponível e imutável, é inegável que sua reprodução apropriem do patrimônio cultural da humanidade pela
se dá por meio dos próprios indivíduos. Em outras pala- transmissão de conteúdos e por exemplos práticos ado-
vras, o sistema ao qual somos submetidos foi e continua tados na solução das distintas situações que se projetam
sendo criado e reproduzido por homens e mulheres, e, no dia a dia.
para que haja a transformação desse sistema, é preciso Assim, esses alunos, muitas vezes, aprendem e
que cada um compreenda de que forma tem colaborado apreendem mais vivenciando exemplos concretos de ati-
para sua reprodução. tudes democráticas do que lendo textos teóricos a res-
É nesse aspecto que a escola pode contribuir para peito da democracia.
a transformação da sociedade, cooperando para que os Paulo Freire (1994) também propõe uma aprendiza-
sujeitos se tornem, gradativamente, mais conscientes da gem da democracia por meio do seu exercício e da sua
realidade e das possibilidades de mudança. Logo, a esco- própria existência, “aprendendo democracia pela prática
la – lócus do ensino e da aprendizagem – deve promover da participação” (Freire, 1994) – uma pedagogia demo-
encontros em uma perspectiva multicultural e, gradual e crática, de educação para e pela democracia, através de
pacificamente, desconstruir as desigualdades, injustiças, práticas dialógicas e do exercício da participação, contra
abandonos, estratégias e procedimentos homogeneiza- a passividade e com tomada de decisão voltada para a
dores. Como instância social, a escola é dinâmica e múl- responsabilidade social e política (Freire, 1967).
tipla e, por ser espaço de confluências, também histórica, Compreende-se que o Projeto Políticopedagógico
capaz, então, de contribuir para a formação de uma so- (PPP) consiste nos atos de planejar e pensar o que vai ser
ciedade mais rica e complexa em termos culturais, com realizado com antecedência, de acordo com as intenções
mais possibilidades de promover os ideais de igualdade e possibilidades de seus elaboradores. A dimensão polí-
(sem homogeneizar), de respeito e de solidariedade. tica refere-se às finalidades da escola. As dimensões polí-
Diversidade cultural e os espaços democráticos na es- tica e pedagógica são indissociáveis, porque é na prática
cola Quando escola e sociedade caminham rumo à de- pedagógica que se efetua o caráter político da escola. Se
mocracia, há que buscar a equidade como um denomi- o PPP for elaborado só por especialistas, ele não repre-
nador comum nas relações de poder. Um dos riscos na sentará as aspirações e objetivos da comunidade escolar,
busca desse objetivo é a tendência homogeneizante, já por isso ele deve ser entendido como um processo no
explicitada neste texto. Subverter essa tendência reco- qual são discutidos os objetivos, as prioridades e os pro-
nhecendo e acolhendo as diferenças entre as individuali- blemas a serem superados pelo coletivo.
dades presentes no espaço escolar tem sido um desafio Assim, a participação e a busca da autonomia têm
cotidiano às equipes escolares. de ser garantidas em todos os espaços e tempos escola-
res: salas de aula, reuniões e formações de professores,
Um primeiro passo nessa caminhada são o reconhe- secretaria e reuniões com os pais, daí a centralidade dos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
cimento e a valorização da comunidade pela equipe es- colegiados. Grêmio estudantil, Associação de Pais e Mes-
colar, para que, unidas, equipe e comunidade possam, de tres (APM) e Conselho Escolar (CE) são instâncias privi-
maneira efetiva, colaborar para que a escola venha a ser legiadas do fomento tanto da participação quanto da
um local de encontro e construção de culturas, de desen- autonomia. Segundo esse pressuposto, o conselho esco-
volvimento global do ser humano e, consequentemente, lar tem se constituído como o principal espaço e tempo
de pleno exercício da democracia. escolar no processo de elaboração, acompanhamento e
Na perspectiva de uma gestão democrática, a Lei avaliação do PPP.
de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), no 9.394, de Para tornar exequível um projeto de democratiza-
20 de dezembro de 1996, estabelece duas formas re- ção no ambiente escolar, é necessário que se visuali-
levantes na organização do trabalho escolar: o Projeto zem instrumentos para a construção de alternativas que
71
fortaleçam um modelo cultural democrático na escola. Educação Inclusiva: A fundamentação filosófica
Neste capítulo, optou-se pelo conselho escolar como fer-
ramenta para essa finalidade. A existência humana impli- A Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)
ca a conjugação de verbos como compreender, aprender uniu os povos do mundo todo, no reconhecimento de
e apreender, raciocinar, atuar, contemplar, transcender que “todos os seres humanos nascem livres e iguais em
etc., e é para dar conta desse conjunto de ações que a es- dignidade e em direitos. Dotados de razão e de cons-
cola, enquanto condutora dos atos intencionais, educa e ciência, devem agir uns para com os outros em espírito
ensina os seres humanos durante certo período da vida. de fraternidade” (Art. 1°).
A possibilidade de construir, por meio do diálogo, A concepção contemporânea de Direitos Humanos,
um espaço em que sujeitos sejam capazes de falar e introduzida pela Declaração Universal dos Direitos Hu-
agir no ambiente escolar torna o conselho escolar um manos (1948), se fundamenta no reconhecimento da
colegiado que pode atingir o ideal de uma construção dignidade de todas as pessoas e na universalidade e in-
efetivamente democrática, com o objetivo de solucionar divisibilidade desses direitos; universalidade, porque a
questões pertinentes ao universo escolar e a sua realida- condição de pessoa é requisito único para a titularidade
de de entorno. Um modelo de ação que adote o diálogo de direitos e indivisibilidade, porque os direitos civis e
e a construção coletiva como instrumento de democra- políticos são conjugados aos direitos econômicos, sociais
tização poderá atender à necessidade de uma educação e culturais.
verdadeiramente democrática. O conselho escolar é um A Declaração conjuga o valor de liberdade ao valor
aliado fundamental para a construção da democracia de igualdade, já que assume que não há liberdade sem
no país de forma ampla e no âmbito escolar de forma igualdade, nem tampouco igualdade sem liberdade.
específica. Assim como também é certo que a simples Neste contexto, o valor da diversidade se impõe como
elaboração de dispositivos legais não é suficiente para condição para o alcance da universalidade e a indivisibi-
tornar um conselho de escola ativo e operante, como é lidade dos Direitos Humanos. Num primeiro momento,
necessário. a atenção aos Direitos Humanos foi marcada pela tônica
da proteção geral e abstrata, com base na igualdade for-
Considerações finais mal; mais recentemente, passou-se a explicitar a pessoa
Na tentativa de responder ao questionamento gera- como sujeito de direito, respeitado em suas peculiarida-
dor deste texto, referente à possibilidade de existência des e particularidades.
da equidade sem respeito às diferenças, após a discus- O respeito à diversidade, efetivado no respeito às di-
são teórica levada a efeito pode-se responder negativa- ferenças, impulsiona ações de cidadania voltadas ao re-
mente: a equidade só é possível pelo e no respeito às conhecimento de sujeitos de direitos, simplesmente por
diferenças. E mais, a equidade – que não significa igua- serem seres humanos. Suas especificidades não devem
lar a todos, mas atender todos dentro dos princípios da ser elemento para a construção de desigualdades, discri-
igualdade e da diferença – não pode ser promovida sem minações ou exclusões, mas sim, devem ser norteadoras
que, na escola, seja desenvolvida uma perspectiva multi- de políticas afirmativas de respeito à diversidade, volta-
cultural, abrigando a diversidade. Trata-se de uma tarefa das para a construção de contextos sociais inclusivos.
hercúlea, mas factível, a ser engendrada nos âmbitos do
conselho escolar e do projeto político-pedagógico. Princípios
Espera-se, assim, que, com este trabalho, tenha sido
possível contribuir para a escola nessa tarefa, por meio A ideia de uma sociedade inclusiva se fundamenta
de uma discussão conceitual sobre igualdade, diferen- numa filosofia que reconhece e valoriza a diversidade,
ça, multiculturalismo e diversidade cultural. Tal discussão como característica inerente à constituição de qualquer
deve, ainda, possibilitar a pesquisadores, professores e sociedade. Partindo desse princípio e tendo como ho-
gestores novasperspectivas acerca de como o conselho rizonte o cenário ético dos Direitos Humanos, sinaliza a
escolar constitui-se em um espaço de defesa dos inte- necessidade de se garantir o acesso e a participação de
resses coletivos ampla e humanamente, em um exercício todos, a todas as oportunidades, independentemente
de alteridade, fazendo que cada sujeito seja visto como das peculiaridades de cada indivíduo e/ou grupo social.
um ser único e, portanto, com direito a sua própria iden-
tidade. A identidade pessoal e social e a Construção da
Referência: igualdade na diversidade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
72
uma identidade própria e do reconhecimento da iden- A atenção às pessoas com necessidades educacio-
tidade do outro traduz-se no direito à igualdade e no nais especiais
respeito às diferenças, assegurando oportunidades dife-
renciadas (equidade), tantas quantas forem necessárias, A atenção educacional aos alunos com necessidades
com vistas à busca da igualdade.” (MEC/SEESP, 2001). especiais associadas ou não a deficiência tem se modifi-
A Constituição Federal do Brasil assume o princípio da cado ao longo de processos históricos de transformação
igualdade como pilar fundamental de uma sociedade social, tendo caracterizado diferentes paradigmas nas re-
democrática e justa, quando reza no caput do seu Art. lações das sociedades com esse segmento populacional.
5° que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de A deficiência foi, inicialmente, considerada um fenômeno
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos metafísico, determinado pela possessão demoníaca, ou
estrangeiros, residentes no país, a inviolabilidade do di- pela escolha divina da pessoa para purgação dos peca-
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à dos de seus semelhantes. Séculos da Inquisição Católica
propriedade” (CF - Brasil, 1988).
e posteriormente, de rigidez moral e ética, da Reforma
Para que a igualdade seja real, ela tem que ser re-
Protestante, contribuíram para que as pessoas com de-
lativa. Isto significa que as pessoas são diferentes, têm
ficiência fossem tratadas como a personificação do mal
necessidades diversas e o cumprimento da lei exige que
e, portanto, passíveis de castigos, torturas e mesmo de
a elas sejam garantidas as condições apropriadas de
atendimento às peculiaridades individuais, de forma que morte. À medida que conhecimentos na área da Medi-
todos possam usufruir as oportunidades existentes. Há cina foram sendo construídos, e acumulados, na história
que se enfatizar aqui, que tratamento diferenciado não da humanidade, a deficiência passou a ser vista como
se refere à instituição de privilégios, e sim, a disponibili- doença, de natureza incurável, gradação de menor am-
zação das condições exigidas, na garantia da igualdade. plitude da doença mental.
Tais ideias determinaram a caracterização das primei-
A escola inclusiva é espaço de construção de ci- ras práticas sociais formais de atenção à pessoa com de-
dadania ficiência, quais sejam, as de segregá-las em instituições
A família é o primeiro espaço social da criança, no fosse para cuidado e proteção, fosse para tratamento
qual ela constrói referências e valores e a comunidade é médico. A esse conjunto de ideias e de práticas sociais
o espaço mais amplo, onde novas referências e valores se denominou-se Paradigma da Institucionalização, o qual
desenvolvem. A participação da família e da comunidade vigorou, aproximadamente por oito séculos. No Brasil, as
traz para a escola informações, críticas, sugestões, soli- primeiras informações sobre a atenção às pessoas com
citações, desvelando necessidades e sinalizando rumos. deficiência remontam à época do Império. Seguindo
Este processo, ressignifica os agentes e a prática edu- o ideário e o modelo ainda vigente na Europa, de ins-
cacional, aproximando a escola da realidade social na titucionalização, foram criadas as primeiras instituições
qual seus alunos vivem. A escola é um dos principais es- totais, para a educação de pessoas cegas e de pessoas
paços de convivência social do ser humano, durante as surdas. O Paradigma da Institucionalização ainda perma-
primeiras fases de seu desenvolvimento. Ela tem papel neceu como modelo de atenção às pessoas com defi-
primordial no desenvolvimento da consciência de cida- ciência até meados da década de 50, no século XX, mo-
dania e de direitos, já que é na escola que a criança e ao mento de grande importância histórica, no que se refere
adolescente começam a conviver num coletivo diversifi- a movimentos sociais, no mundo ocidental. Fortemente
cado, fora do contexto familiar. afetados pelas consequências das Grandes Guerras Mun-
diais, os países participantes da Organização das Nações
Exercício da cidadania e a promoção da paz
Unidas, em Assembleia Geral, em 1948, elaboraram a
O conceito de cidadania em sua plena abrangência
Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento
engloba direitos políticos, civis, econômicos, culturais e
que desde então tem norteado os movimentos de defi-
sociais. A exclusão ou limitação em qualquer uma dessas
nição de políticas públicas, na maioria desses países. O
esferas fragiliza a cidadania, não promove a justiça social
e impõe situações de opressão e violência. intenso movimento mundial de defesa dos direitos das
Exercer a cidadania é conhecer direitos e deveres no minorias, que caracterizou a década de 60, associado a
exercício da convivência coletiva, realizar a análise crítica críticas contundentes ao Paradigma da Institucionaliza-
da realidade, reconhecer as dinâmicas sociais, participar ção de pessoas com doença mental e de pessoas com
do debate permanente sobre causas coletivas e mani- deficiência, determinou novos rumos às relações das
sociedades com esses segmentos populacionais. Co-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
73
podiam ser normalizadas, ou seja, capacitadas para a O compromisso com a construção de sistemas
vida no espaço comum da sociedade. Este modelo carac- educacionais inclusivos documentos orientadores no
terizou-se, gradativamente, pela desinstitucionalização âmbito internacional
dessas pessoas e pela oferta de serviços de avaliação e
de reabilitação globalizada, em instituições não residen- A Assembleia Geral da Organização das Nações Uni-
ciais, embora ainda segregadoras. das produziu vários documentos norteadores para o
Da segregação total, passou-se a buscar a integração desenvolvimento de políticas públicas de seus países
das pessoas com deficiência, após capacitadas, habili- membros. O Brasil, enquanto país membro da ONU e
tadas ou reabilitadas. A esta concepção-modelo deno- signatário desses documentos, reconhece seus conteú-
minou-se Paradigma de Serviços. Da década de 80 em dos e os tem respeitado, na elaboração das políticas pú-
diante, o mundo volta a experimentar novas transforma- blicas internas.
ções. Avanços na Medicina, o desenvolvimento de novos
conhecimentos na área da Educação e principalmente Declaração universal dos direitos humanos (1948)
a criação da via eletrônica como meio de comunicação
em tempo real, com qualquer parte do mundo, vieram A Assembleia Geral das Nações Unidas, em 1948, pro-
determinar novas transformações sociais. Por um lado, clamou a Declaração Universal dos Direitos Humanos, na
maior sofisticação técnico-científica permitia a manuten- qual reconhece que “Todos os seres humanos nascem
ção da vida e o maior desenvolvimento de pessoas que,
livres e iguais, em dignidade e direitos... (Art. 1°.), ...sem
em épocas anteriores, não podiam sobreviver. Por outro
distinção alguma, nomeadamente de raça, de cor, de
lado, a quebra da barreira geográfica, na comunicação
sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra,
e no intercâmbio de ideias e de transações, plantava as
de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento
sementes da “aldeia global”, que rapidamente foram
germinando e definindo novos rumos nas relações entre ou de qualquer outra situação” (Art. 2°.). Em seu Artigo
países e sociedades diferentes. Nesse contexto, mais do 7°. Proclama que “todos são iguais perante a lei e, sem
que nunca se evidenciou a diversidade como característi- distinção, têm direito a igual proteção da lei...”. No Artigo
ca constituinte das diferentes sociedades e da população, 26°, proclama, no item 1, que “toda a pessoa tem direito
em uma mesma sociedade. Na década de 90, ainda à luz à educação. A educação deve ser gratuita, pelo menos
da defesa dos direitos humanos, pôde-se constatar que a correspondente ao ensino elementar fundamental. O
a diversidade enriquece e humaniza a sociedade, quando ensino elementar é obrigatório. O ensino técnico e pro-
reconhecida, respeitada e atendida em suas peculiarida- fissional deve ser generalizado.”; no item 2, estabelece
des. Passou, então, a ficar cada vez mais evidente que que “educação deve visar à plena expansão da perso-
a manutenção de segmentos populacionais minoritários nalidade humana e ao reforço dos direitos do Homem
em estado de segregação social, ainda que em proces- e das liberdades fundamentais e deve favorecer a com-
so de atenção educacional ou terapêutica, não condizia preensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações
com o respeito aos seus direitos de acesso e participação e todos os grupos raciais ou religiosos...” O Artigo 27°
regular no espaço comum da vida em sociedade, como proclama, no item 1, que “toda a pessoa tem o direito de
também impedia a sociedade de aprender a administrar tomar parte livremente na vida cultural da comunidade,
a convivência respeitosa e enriquecedora, com a diversi- de usufruir as artes e de participar no progresso científico
dade de peculiaridades que a constituem. e nos benefícios que deste resultam”. De maneira geral,
Começou, então, a ser delineada a ideia da necessida- esta Declaração assegura às pessoas com deficiência os
de de construção de espaços sociais inclusivos, ou seja, mesmos direitos à liberdade, a uma vida digna, à educa-
espaços sociais organizados para atender ao conjunto ção fundamental, ao desenvolvimento pessoal e social e
de características e necessidades de todos os cidadãos, à livre participação na vida da comunidade.
inclusive daqueles que apresentam necessidades educa-
cionais especiais. Estavam aí postas as bases de um novo Declaração de Jomtien (1990)
modelo, denominado Paradigma de Suportes. Este pa-
radigma associou a ideia da diversidade como fator de
Em março de 1990, o Brasil participou da Conferência
enriquecimento social e o respeito às necessidades de
Mundial sobre Educação para Todos, em Jomtien, Tailân-
todos os cidadãos como pilar central de uma nova prá-
dia, na qual foi proclamada a Declaração de Jomtien. Nes-
tica social: a construção de espaços inclusivos em todas
ta Declaração, os países relembram que “a educação é
as instâncias da vida na sociedade, de forma a garantir
um direito fundamental de todos, mulheres e homens, de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
74
erradicar o analfabetismo e universalizar o ensino funda- Nações Unidas sobre a Criança, analisou a situação
mental no país. Para cumprir com este compromisso, o mundial da criança e estabeleceu metas a serem
Brasil tem criado instrumentos norteadores para a ação alcançadas. Entendendo que a educação é um di-
educacional e documentos legais para apoiar a constru- reito humano e um fator fundamental para reduzir
ção de sistemas educacionais inclusivos, nas diferentes a pobreza e o trabalho infantil e promover a de-
esferas públicas: municipal, estadual e federal. mocracia, a paz, a tolerância e o desenvolvimento,
deu alta prioridade à tarefa de garantir que, até o
Declaração de salamanca (1994) ano de 2015, todas as crianças tenham acesso a
um ensino primário de boa qualidade, gratuito e
A Conferência Mundial sobre Necessidades Educati- obrigatório e que terminem seus estudos. Ao as-
vas Especiais: Acesso e Qualidade, realizada pela UNES- sinar esta Declaração, o Brasil comprometeu-se
CO, em Salamanca (Espanha), em junho de 1994, teve, com o alcance dos objetivos propostos, que visam
a transformação dos sistemas de educação em sis-
como objeto específico de discussão, a atenção educa-
temas educacionais inclusivos.
cional aos alunos com necessidades educacionais espe-
ciais.
Convenção da Guatemala (1999)
Nela, os países signatários, dos quais o Brasil faz par-
A partir da Convenção Interamericana para a Elimi-
te, declararam:
nação de Todas as Formas de Discriminação contra as
- Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito
fundamental à educação e que a elas deve ser Pessoas Portadores de Deficiência os Estados Partes rea-
dada a oportunidade de obter e manter um nível firmaram que “as pessoas portadoras de deficiência têm
aceitável de conhecimentos; os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais
- Cada criança tem características, interesses, capa- que outras pessoas e que estes direitos, inclusive o de não
cidades e necessidades de aprendizagem que lhe ser submetido a discriminação com base na deficiência,
são próprios; emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes
- Os sistemas educativos devem ser projetados e os a todo ser humano”. No seu artigo I, a Convenção defi-
programas aplicados de modo que tenham em vis- ne que o termo deficiência “significa uma restrição física,
ta toda a gama dessas diferentes características e mental ou sensorial, de natureza permanente ou transi-
necessidades; tória, que limita a capacidade de exercer uma ou mais
- As pessoas com necessidades educacionais espe- atividades essenciais da vida diária causada ou agravada
ciais devem ter acesso às escolas comuns, que de- pelo ambiente econômico e social”. Para os efeitos des-
verão integrá-las numa pedagogia centralizada na ta Convenção, o termo discriminação contra as pessoas
criança, capaz de atender a essas necessidades; com deficiência “significa toda a diferenciação, exclusão
- As escolas comuns, com essa orientação integrado- ou restrição baseada em deficiência (...) que tenham efei-
ra, representam o meio mais eficaz de combater to ou propósito de impedir ou anular o reconhecimento,
atitudes discriminatórias, de criar comunidades gozo ou exercício por parte das pessoas portadoras de
acolhedoras, construir uma sociedade integradora deficiência de seus direitos humanos e suas liberdades
e dar educação para todos; A Declaração se dirige fundamentais”.
a todos os governos, incitando-os a: Também define que não constitui discriminação “a
- Dar a mais alta prioridade política e orçamentária diferenciação ou preferência adotada pelo Estado Parte
à melhoria de seus sistemas educativos, para que para promover a integração social ou desenvolvimento
possam abranger todas as crianças, independen- pessoal dos portadores de deficiência desde que a dife-
temente de suas diferenças ou dificuldades indi-
renciação ou preferência não limite em si mesmo o di-
viduais;
reito a igualdade dessas pessoas e que elas não sejam
- Adotar, com força de lei ou como política, o princí-
obrigadas a aceitar tal diferenciação”.
pio da educação integrada, que permita a matrícu-
la de todas as crianças em escolas comuns, a me-
nos que haja razões convincentes para o contrário; Legislação brasileira - marcos legais
- Criar mecanismos descentralizados e participativos,
de planejamento, supervisão e avaliação do ensino A sociedade brasileira tem elaborado dispositivos le-
de crianças e adultos com necessidades educacio- gais que, tanto explicitam sua opção política pela cons-
nais especiais; trução de uma sociedade para todos, como orientam as
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
- Promover e facilitar a participação de pais, comuni- políticas públicas e sua prática social.
dades e organizações de pessoas com deficiência,
no planejamento e no processo de tomada de de- Constituição federal (1988)
cisões, para atender a alunos e alunas com neces-
sidades educacionais especiais; A Constituição da República Federativa do Brasil de
- Assegurar que, num contexto de mudança sistemá- 1988 assumiu, formalmente, os mesmos princípios pos-
tica, os programas de formação do professorado, tos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Além
tanto inicial como contínua, estejam voltados para disso, introduziu, no país, uma nova prática administrati-
atender às necessidades educacionais especiais, va, representada pela descentralização do poder. A partir
nas escolas integradoras. A Assembleia Geral das da promulgação desta Constituição, os municípios foram
75
contemplados com autonomia política para tomar as de- Política nacional para a integração da pessoa por-
cisões e implantar os recursos e processos necessários tadora de deficiência - decreto n° 3.298 (1999)
para garantir a melhor qualidade de vida para os cida-
dãos que neles residem. Cabe ao município, mapear as A política nacional para a integração da pessoa por-
necessidades de seus cidadãos, planejar e implementar tadora de deficiência prevista no Decreto 3298/99 adota
os recursos e serviços que se revelam necessários para os seguintes princípios:
atender ao conjunto de suas necessidades, em todas as I.II Desenvolvimento de ação conjunta do Estado e da
áreas da atenção pública. sociedade civil, de modo a assegurar a plena integra-
ção da pessoa portadora de deficiência no contexto
Estatuto da criança e do adolescente (1990) socioeconômico e cultural;
II.I Estabelecimento de mecanismos e instrumentos le-
O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n° 8.069, gais e operacionais que assegurem às pessoas porta-
promulgada em 13 de julho de 1990, dispõe, em seu Art. doras de deficiência o pleno exercício de seus direitos
3°, que “a criança e ao adolescente gozam de todos os básicos que, decorrentes da Constituição e das leis, pro-
direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem piciam o seu bem-estar pessoal, social e econômico;
prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, asse- III. Respeito às pessoas portadoras de deficiência, que
gurando-lhes por lei, todas as oportunidades e facilida- devem receber igualdade de oportunidades na socie-
des, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, men- dade, por reconhecimento dos direitos que lhes são
tal, moral, espiritual e social, em condições de liberdade assegurados, sem privilégios ou paternalismos. No
e de dignidade.” Afirma, também, que “é dever da famí- que se refere especificamente à educação, o Decreto
lia, da comunidade, da sociedade em geral e do poder estabelece a matrícula compulsória de pessoas com
público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação deficiência, em cursos regulares, a consideração da
dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação especial como modalidade de educação es-
educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à colar que permeia transversalmente todos os níveis e
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convi- modalidades de ensino, a oferta obrigatória e gratuita
vência familiar e comunitária.” (Art.4°). No que se refe- da educação especial em estabelecimentos públicos
re à educação, o ECA estabelece, em seu Art. 53, que “a de ensino, dentre outras medidas (Art. 24, I, II, IV).
criança e o adolescente têm direito à educação, visando
ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para Plano nacional de educação (2001)
o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”,
assegurando: I.II Igualdade de condições para o acesso e A Lei n° 10.172/01, aprova o Plano Nacional de Edu-
permanência na escola; II.I Direito de ser respeitado por cação e dá outras providências. O Plano Nacional de
seus educadores; III. Acesso à escola pública e gratuita Educação estabelece objetivos e metas para a educação
próxima de sua residência. O Art. 54 diz que “é dever do das pessoas com necessidades educacionais especiais,
Estado assegurar à criança e ao adolescente”: I.II ensi- que dentre eles, destacam-se os que tratam:
no fundamental obrigatório e gratuito, inclusive para os - do desenvolvimento de programas educacionais em
que a ele não tiveram acesso na idade própria; II.I atendi- todos os municípios, e em parceria com as áreas de
mento educacional especializado aos portadores de de- saúde e assistência social, visando à ampliação da
ficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; III. oferta de atendimento da educação infantil;
Atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero - dos padrões mínimos de infraestrutura das escolas
a seis anos de idade; IV. Atendimento no ensino funda- para atendimento de alunos com necessidades
mental, através de programas suplementares de material educacionais especiais;
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à - da formação inicial e continuada dos professores
saúde. Em seu Art. 55 dispõe que “os pais ou responsável para atendimento às necessidades dos alunos;
têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na - da disponibilização de recursos didáticos especiali-
rede regular de ensino.” zados de apoio à aprendizagem nas áreas visual e
auditiva;
Lei de diretrizes e bases da educação nacional - da articulação das ações de educação especial com
(1996) a política de educação para o trabalho;
- do incentivo à realização de estudos e pesquisas nas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Os municípios brasileiros receberam, a partir da Lei de diversas áreas relacionadas com as necessidades
Diretrizes e Bases Nacionais, Lei no. 9.394, de 20.12.1996, educacionais dos alunos;
a responsabilidade da universalização do ensino para os - do sistema de informações sobre a população a ser
cidadãos de 0 a 14 anos de idade, ou seja, da oferta de atendida pela educação especial.
Educação Infantil e Fundamental para todas as crianças
e jovens que neles residem. Assim, passou a ser respon-
sabilidade do município formalizar a decisão política e
desenvolver os passos necessários para implementar, em
sua realidade sócio-geográfica, a educação inclusiva, no
âmbito da Educação Infantil e Fundamental.
76
Convenção interamericana para eliminação de to- Documentos norteadores da prática educacional
das as formas de discriminação contra as pessoas com para alunos com necessidades educacionais especiais
deficiência (2001)
Em consonância com os instrumentos legais acima
Em 08 de outubro de 2001, o Brasil através do Decre- mencionados, o Brasil elaborou documentos norteado-
to 3.956, promulgou a Convenção Interamericana para a res para a prática educacional, visando especialmente
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra superar a tradição segregatória da atenção ao segmento
as Pessoas Portadoras de Deficiência. Ao instituir esse populacional constituído de crianças, jovens e adultos
Decreto, o Brasil comprometeu-se a: Tomar as medidas com necessidades educacionais especiais.
de caráter legislativo, social, educacional, trabalhista ou
de qualquer outra natureza, que sejam necessárias para Saberes e práticas da inclusão
eliminar a discriminação contra as pessoas portadoras de
deficiência e proporcionar a sua plena integração à so- O documento “Saberes e Práticas da Inclusão na Edu-
ciedade (...): a) medidas das autoridades governamentais cação Infantil”, publicado em 2003, aponta para a ne-
e/ou entidades privadas para eliminar progressivamente cessidade de apoiar as creches e as escolas de educação
a discriminação e promover a integração na prestação ou infantil, a fim de garantir, a essa população, condições de
fornecimento de bens, serviços, instalações, programas acessibilidade física e de acessibilidade a recursos mate-
e atividades, tais como o emprego, o transporte, as co- riais e técnicos apropriados para responder a suas neces-
municações, a habitação, o lazer, a educação, o esporte, sidades educacionais especiais.
o acesso à justiça e aos serviços policiais e às atividades Para tanto, o documento se refere à necessidade de
políticas e de administração; 2. Trabalhar prioritariamente “disponibilizar recursos humanos capacitados em educação
nas seguintes áreas: especial/ educação infantil para dar suporte e apoio ao do-
a) prevenção de todas as formas de deficiência; cente das creches e pré-escolas, ou centros de educação
b) detecção e intervenção precoce, tratamento, reabi- infantil, assim como possibilitar sua capacitação e educação
litação, educação, formação ocupacional e presta- continuada, por intermédio da oferta de cursos ou estágios
ção de serviços completos para garantir o melhor em instituições comprometidas com o movimento da inclu-
nível de independência e qualidade de vida para as são”; Orienta, ainda, sobre a necessidade de divulgação “da
pessoas portadoras de deficiência; visão de educação infantil, na perspectiva da inclusão”, para
c) sensibilização da população, por meio de campa- as famílias, a comunidade escolar e a sociedade em geral,
nhas de educação, destinadas a eliminar precon- bem como do estabelecimento de parcerias com a área
ceitos, estereótipos e outras atitudes que atentam da Saúde e da Assistência Social, de forma que “possam
contra o direito das pessoas a serem iguais, permi- constituir-se em recursos de apoio, cooperação e suporte”,
tindo desta forma o respeito e a convivência com no processo de desenvolvimento da criança. O documento
as pessoas portadoras de deficiência. “Saberes e Práticas da Inclusão no Ensino Fundamental” pu-
blicado em 2003 reconhece que:
Diretrizes nacionais para a educação especial na - Toda pessoa tem direito à educação, independen-
educação básica (2001) temente de gênero, etnia, deficiência, idade, classe
social ou qualquer outra condição;
A Resolução CNE/CEB n° 02/2001, instituiu as Dire- - O acesso à escola extrapola o ato da matrícula, impli-
trizes Nacionais para a Educação Especial na Educação cando na apropriação do saber, da aprendizagem
Básica, que manifesta o compromisso do país com “o de- e na formação do cidadão crítico e participativo;
safio de construir coletivamente as condições para aten- - A população escolar é constituída de grande diversi-
der bem à diversidade de seus alunos”. Esta Resolução dade e a ação educativa deve atender às maneiras
representa um avanço na perspectiva da universalização peculiares dos alunos aprenderem.
do ensino e um marco da atenção à diversidade, na edu-
cação brasileira, quando ratifica a obrigatoriedade da Educação profissional
matrícula de todos os alunos e assim declara:
“Os sistemas de ensino devem matricular todos os O documento “Educação Profissional - Indicações
alunos, cabendo às escolas organizarem-se para o aten- para a ação: a interface educação profissional/educação
dimento aos educandos com necessidades educacionais especial” visa estimular o desenvolvimento de ações edu-
especiais, assegurando as condições necessárias para cacionais que permitam alcançar a qualidade na gestão
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
uma educação de qualidade para todos.” Dessa forma, das escolas, removendo barreiras atitudinais, arquitetô-
não é o aluno que tem que se adaptar à escola, mas é nicas e educacionais para a aprendizagem, assegurando
ela que, consciente da sua função, coloca-se à disposição uma melhor formação inicial e continuada aos professo-
do aluno, tornando-se um espaço inclusivo. A educação res, com a finalidade de lhes propiciar uma ligação indis-
especial é concebida para possibilitar que o aluno com pensável entre teoria e prática.
necessidades educacionais especiais atinja os objetivos Destaca ainda, a importância da articulação e parceria
propostos para sua educação. A proposição da política entre as instituições de ensino, trabalho e setores em-
expressa nas Diretrizes, traduz o conceito de escola in- presariais para o desenvolvimento do Programa de Edu-
clusiva, pois centra seu foco na discussão sobre a função cação Profissional. O documento enfatiza as seguintes
social da escola e no seu projeto pedagógico. temáticas:
77
- A relação educação e trabalho no Brasil e a emer- - Lei 10172/2001 - Aprova o Plano Nacional de Edu-
gência da nova legislação da Educação Profissio- cação e dá outras providências.
nal; - Lei 10216/2001 - Dispõe sobre a proteção e os di-
- Balizamentos e marcos normativos da Educação reitos das pessoas portadoras de transtornos men-
Profissional; tais e redireciona o modelo assistencial em saúde
- Educação Profissional/Educação Especial: faces e mental.
formas; - Lei 10436/02 - Dispõe sobre a Língua Brasileira de
- Desdobramentos possíveis no âmbito de uma agen- Sinais - Libras e dá outras providências.
da de capacitação docente; - Lei 10845/2004 - Institui o Programa de Comple-
- Desafios para implementação de uma política de mentação ao Atendimento Educacional Especia-
Educação Profissional para o aluno da Educação lizado às pessoas portadoras de deficiência, e dá
Especial. outras providências - PAED. Decretos
- Decreto 2.264/97 - Regulamenta a Lei 9424/96 -
Direito à educação FUNDEF, no âmbito federal, e determina outras
providências.
O documento “Direito à Educação - Subsídios para a - Decreto 3.298/99 - Regulamenta a Lei no 7.853, de
Gestão do Sistema Educacional Inclusivo, apresenta um 24 de outubro de 1989, que dispõe sobre a Política
conjunto de textos que tratam da política educacional Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
no âmbito da Educação Especial - subsídios legais que Deficiência, consolida as normas de proteção e dá
devem embasar a construção de sistemas educacionais outras providências.
inclusivos. O documento é constituído de duas partes: - Decreto 3030/99 - Dá nova redação ao art.2º do De-
Orientações Gerais creto 1.680/95 que dispõe sobre a competência, a
- A política educacional no âmbito da Educação Es- composição e o funcionamento do Conselho Con-
pecial; sultivo da Coordenadoria Nacional para Integração
- Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na da Pessoa Portadora de Deficiência. (CORDE)
Educação Básica - Parecer 17/2001; - Decreto 3076/99 - Cria no âmbito do Ministério da
- Fontes de Recursos e Mecanismos de Financiamen- Justiça o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa
tos da Educação Especial; Portadora de Deficiência. (CONADE).
- Evolução Estatística da Educação Especial. Marcos - Decreto 3631/00 - Regulamenta a Lei 8899/94, que
Legais Trata do Ordenamento Jurídico, contendo dispõe sobre o transporte de pessoas portadoras
as leis que regem a educação nacional e os direitos de deficiência no sistema de transporte coletivo
das pessoas com deficiência, constituindo impor- interestadual.
tantes subsídios para embasamento legal a gestão - Decreto 3.952/01 - Dispõe sobre o Conselho Nacio-
dos sistemas de ensino. nal de Combate à Discriminação (CNCD).
Inclui a seguinte legislação: - Decreto 3956/01 -Promulga a Convenção Intera-
- Constituição da República Federativa do Brasil /88 mericana para a Eliminação de Todas as Formas
- Lei 7853/89 - Dispõe sobre o apoio às pessoas por- de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de
tadoras de deficiência, sua integração social, sobre Deficiência. (Convenção da Guatemala) Portarias -
a Coordenadoria Nacional para Integração da Pes- MEC
soa Portadora de Deficiência - CORDE, institui a tu- - Portaria 1793/94 -Recomenda a inclusão da disci-
tela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos plina Aspectos Ético - Político - Educacionais na
dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério normalização e integração da pessoa portadora de
Público, define crimes e dá outra providências. (Al- necessidades especiais, prioritariamente, nos cur-
terada pela Lei 8.028/90) sos de Pedagogia, Psicologia e em todas as Licen-
- Lei 8069/90 - Dispõe sobre o Estatuto da Criança e ciaturas.
do Adolescente e dá outras providências - ECA - Portaria 319/99 - Institui no Ministério da Educa-
- Lei 8859/94 - Modifica dispositivos da Lei nº 6.494, ção, vinculada à Secretaria de Educação Especial/
de 07 de dezembro de 1977, estendendo aos alu- SEESP a Comissão Brasileira do Braille, de caráter
nos de ensino especial o direito à participação em permanente.
atividades de estágio. - Portaria 554/00 - Aprova o Regulamento Interno da
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
78
regularmente matriculados e que venham frequen- Educar crianças menores de 6 anos implica o envolvi-
tando, efetivamente, cursos de educação superior, mento com certas tarefas que são mais específicas dessa
de ensino médio, de educação profissional de nível faixa etária, como os cuidados com segurança, higiene,
médio ou de educação especial, vinculados à es- saúde, alimentação, repouso e recreação. Além disso,
trutura do ensino público e particular. Resoluções os educadores da infância não podem se descuidar dos
- Resolução 09/78 - Conselho Federal de Educação - aspectos do desenvolvimento que precisam ser estimu-
Autoriza, excepcionalmente, a matrícula do aluno lados, como o cognitivo, o socioemocional, o físico-mo-
classificado como superdotado nos cursos supe- tor e a linguagem. Essas tarefas devem ser executadas
riores sem que tenha concluído o curso de 2º grau. tendo em vista o principal objetivo da educação, que é
- Resolução 02/81 - Conselho Federal de Educação desenvolver o processo ensino-aprendizagem e demais
- Autoriza a concessão de dilatação de prazo de experiências educacionais, de modo a formar o cidadão
conclusão do curso de graduação aos alunos por- crítico e participativo, o que nessa etapa envolve, dentre
tadores de deficiência física, afecções congênitas
outros, o trabalho com as áreas do conhecimento.
ou adquiridas.
Conforme apresentado no Referencial Curricular Na-
- Resolução 02/01 - Conselho Nacional de Educação
cional para a Educação Infantil (1998),1 a Educação In-
- Institui Diretrizes Nacionais para a Educação Es-
fantil deve possibilitar que as crianças tenham experiên-
pecial na Educação Básica.
- Resolução 01 e 02/02 - Conselho Nacional de Edu- cias que contribuam para o seu processo de formação
cação - Diretrizes Nacionais para a Formação de pessoal e social, a ampliação de seu conhecimento de
Professores da Educação Básica, em nível superior, mundo, a construção de sua identidade e autonomia, a
graduação plena. aquisição de diferentes linguagens e o estabelecimento
- Resolução 01/04 - Conselho Nacional de Educação de relações com os objetos de conhecimento (movimen-
- Estabelece Diretrizes Nacionais para organização to, música, arte, linguagem oral e escrita, natureza e so-
e realização de Estágio de alunos do Ensino Profis- ciedade e matemática). É com base nessas premissas que
sionalizante e Ensino Médio, inclusive nas modali- os três volumes que compõem o Referencial estão estru-
dades de Ensino Especial e Educação de Jovens e turados, tendo em vista os objetivos da Educação Infantil
Adultos. Aviso Circular expressos nesse documento.
- Aviso Circular nº 277/ 96 - Dirigido aos Reitores das O brincar é a atividade privilegiada no trabalho com
IES solicitando a execução adequada de uma polí- crianças pequenas, possibilitando, dentre outras coisas,
tica educacional dirigida aos portadores de neces- a construção do eu e das relações pessoais, o desenvol-
sidades especiais. Parecer vimento do pensamento e da linguagem, o ingresso no
- Parecer Nº 17/01 DO CNE / Câmara de Educação Bá- mundo simbólico por meio da fantasia e do faz-de-conta
sica - Diretrizes Nacionais para Educação Especial e a expressão de ideias, sentimentos e emoções. O edu-
na Educação Básica. cador deve incentivar as interações sociais e o brincar na
criança, reconhecendo nessas atividades seu valor para a
Fonte aprendizagem, considerando que, numa perspectiva so-
Disponível em ciointeracionista, as crianças constroem o conhecimento
http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_ a partir das interações que estabelecem com as outras
content&view=article&id=12646:serie-educacao-inclu- pessoas e com o meio em que vivem. O conhecimento
siva-referencias-para-construcao-dos-sistemas-educa- não se constitui em cópia da realidade, mas sim, fruto
cionais-inclusivos&catid=192:seesp-esducacao-especial de um intenso trabalho de criação, significação e ressig-
nificação.
Estratégias de aprendizagem voltadas a atender às Compreender, conhecer e reconhecer o jeito particu-
necessidades educacionais especiais. lar das crianças serem e estarem no mundo é o gran-
A criança deficiente nas instituições de Educação In- de desafio da educação infantil e de seus profissionais.
fantil (BRASIL, 1998, p. 22). Em uma instituição que desenvolva
uma proposta inclusiva, a Educação Infantil deve, ainda,
O trabalho com crianças deficientes nas instituições respeitar o princípio da Educação para Todos, que é o de
de Educação Infantil requer o enfrentamento de muitos educar, sem distinção, todas as crianças, garantindo-lhes
desafios por parte dos profissionais envolvidos nessa ta- uma educação de qualidade, que atenda a suas neces-
refa, desde a mudança de concepção e de postura pe- sidades e especificidades. Isso pressupõe fazer modifi-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
rante esse sujeito até a própria capacitação para traba- cações na estrutura organizacional e na proposta peda-
lhar com elas. Ademais, há que se considerar que essa gógica da instituição, além de requerer um investimento
atuação ocorrerá em um campo da educação que vem nos recursos humanos, buscando eliminar preconceitos
sofrendo várias alterações nos últimos tempos, tanto na e barreiras, conscientizar pais, alunos e professores e in-
sua forma de conceber a criança e de gerir políticas vol- vestir na formação de profissionais da educação.
tadas para seu atendimento quanto nas questões que A seguir, destacamos os principais fatores que podem
envolvem o fazer pedagógico. facilitar a inclusão das crianças na Educação Infantil, al-
guns deles já mencionados, discutindo-os do ponto de
vista pedagógico.
79
O acolhimento Nessa etapa, a criança deficiente precisa de aconche-
go, de afeto, de sentir-se acolhida, aceita naquele am-
Em primeiro lugar, é preciso conhecer melhor essa biente, sem restrições nem discriminações. Essa não é
criança e sua deficiência, buscando informações com uma tarefa fácil, já que, na maioria das vezes, o ingresso
pais, profissionais e observando mais atentamente a da criança deficiente na escola não se dá de modo fácil e
conduta dela na creche ou na escola. Essa atitude possi- natural, mas é precedido de atitudes negativas por parte
bilitará maior compreensão de alguns comportamentos das pessoas da escola e dos pais dos outros alunos e até
e melhor avaliação de seu potencial de aprendizagem, mesmo da própria criança, que ficam apreensivos quanto
sem que isso implique previsões fatalistas ou equivoca-
à capacidade de adaptação de todos os envolvidos no
das quanto às habilidades que ela irá desenvolver, aos
processo de inclusão, podendo demonstrar medo diante
conhecimentos que será capaz de construir e ao nível
do desconhecido e do diferente, que levam aos senti-
acadêmico que irá atingir. As informações a respeito da
realidade da criança, as características de sua deficiência, mentos de recusa, rejeição e discriminação.
suas condições sociofamiliares, as relações que estabe-
lece com os que estão à sua volta, os atendimentos que As alternativas de comunicação
lhe foram destinados e sua trajetória escolar percorrida Na educação de crianças deficientes, devem ser con-
antes do seu ingresso na instituição ajudarão o professor sideradas as diversas formas de essa criança comunicar-
e a escola a estabelecer um plano de trabalho realista -se, suas múltiplas linguagens e o uso que faz de siste-
e coerente com as necessidades dessa criança, conside- mas simbólicos alternativos. É preciso que essa criança
rando suas limitações, mas, sobretudo, valorizando suas tenha acesso à informação e à comunicação, conforme
potencialidades. previsto nas leis que tratam da acessibilidade, que visam
Outro aspecto a ser observado pelos educadores assegurar o pleno exercício dos direitos individuais e so-
no ingresso de uma criança deficiente na instituição de ciais das pessoas deficientes e favorecer sua inclusão na
Educação Infantil, diz respeito à forma como vai se dar sociedade.
o acolhimento e o acompanhamento dessa criança em A linguagem é um instrumento que permite o aces-
sua fase de adaptação. Sabemos que esse acolhimento so aos bens sociais e culturais, por isso a acessibilidade
é imprescindível nessa etapa da vida em que as crian- à comunicação e à informação deve ser garantida a to-
ças ainda necessitam bastante dos cuidados e do su-
dos. Acessibilidade é definida no artigo 8º do Decreto n.
porte emocional fornecidos pelos pais ou responsáveis.
5.296, de 2 de dezembro de 2004, como a condição para
Em alguns casos de deficiência, existe um grau maior de
utilização, com segurança e autonomia, total ou assis-
dependência da criança em relação aos adultos, e a ida
à escola pode ser vivida por ela como uma separação, tida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos,
gerando-lhe medo e angústia. das edificações, dos serviços de transporte e dos dispo-
É importante, para a adaptação da criança deficiente sitivos, sistemas e meios de comunicação e informação,
ao novo ambiente, que lhe sejam apresentados e à famí- por pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade
lia dela o espaço físico da instituição, os materiais dispo- reduzida. (BRASIL, 2004)
níveis para o uso da criança e as pessoas que trabalham A criança pequena está em pleno desenvolvendo de
na escola. Os pais devem ser informados, ainda, sobre a sua linguagem, e esse processo pode ser dificultado pelo
proposta político-pedagógica, a rotina da instituição e tipo de deficiência que possui. Por isso, todas as barrei-
as possibilidades que ela oferece para facilitar a inclusão ras que possam impedir sua comunicação devem ser su-
da criança e atender às suas necessidades específicas. Os primidas, e ela deve ser, desde que nasce, estimulada a
pais devem ser convidados a colaborar com alternativas desenvolver a forma de comunicação mais adequada à
para melhor adequação da escola às demandas do filho, sua condição: o Braille, para crianças cegas; a Linguagem
pois ninguém melhor do que eles conhecem suas neces- Brasileira de Sinais (Libras), para a criança surda; os siste-
sidades e as maneiras de supri-las. mas de comunicação suplementar e alternativo, para as
Ao ingressar em outro ambiente provedor de cui- crianças com disfunção neuromotora (paralisia cerebral).
dados e educação, agora destinados a um grupo maior
O § 2° da Resolução CNE/CEB n. 2/01 assegura-lhes essa
de crianças, seja creche, seja pré-escola ou centro de
condição, ao fazer a seguinte determinação:
Educação Infantil, a criança deficiente pode sentir-se in-
Deve ser assegurada, no processo educativo de alu-
segura ou abandonada. Pode precisar de um tempo para
perceber que sua educação e cuidados estão sendo ago- nos que apresentam dificuldades de comunicação e sina-
ra compartilhados com pessoas estranhas ao seu conví- lização diferenciadas dos demais educandos, a acessibi-
lidade aos conteúdos curriculares, mediante a utilização
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
80
professores e pedagogos não dominam esses códigos, constituir como pessoa, socializar, adquirir autonomia e
linguagens ou sistemas comunicacionais e, às vezes, de- lidar com atividades práticas do dia-a-dia, muito enfa-
monstram restrições a alguns deles. Por isso, deve-se tizados nos programas das escolas especiais. É preciso
considerar que a criança ainda está desenvolvendo suas garantir-lhes o acesso às conquistas culturais postas a
competências linguísticas e que, muitas vezes, será ne- serviço das crianças em geral, como o aprendizado da
cessário que ela domine mais que um código linguístico escrita, do cálculo, de noções básicas acerca do mundo e
para se comunicar. Por isso, não adianta exigir dela des- de outras habilidades envolvidas em funções cognitivas
treza e habilidade nesse aspecto na fase inicial de esco- variadas. (OLIVEIRA, 2002).
larização, muito menos querer alfabetizá-la sem que ela Assim como os outros alunos, o deficiente não vai
se aproprie do código linguístico mais adequado para à escola simplesmente para socializar (para isso, talvez,
sua comunicação. Por outro lado, o professor e os pais fosse melhor que ele frequentasse um centro esporti-
precisam também conhecer essa outra língua ou forma vo ou passeasse em lugares públicos). Ele, como todas
de comunicação e sinalização e dominá-las pelo menos o as crianças, gostaria de aprender algo, mesmo que no
suficiente para se comunicar com essa criança. seu ritmo, e respeitando suas condições e limitações. A
frustração dos pais dessas crianças quando seus filhos,
A capacitação dos profissionais passados anos de escolarização, nada aprendem de sig-
nificativo para a vida delas é legítima. Por outro lado, po-
As crianças deficientes ou com necessidades especiais demos constatar a felicidade e orgulho que sente uma
que frequentam a Educação Infantil precisam de profis- criança deficiente quando supera suas dificuldades ou
sionais capacitados, atentos para seus aspectos peculia- aprende algo novo.
res, capazes de promover a integração social e a aprendi- Desse modo, acredita-se que somente quando os
zagem delas. O provimento desse tipo de formação está professores compreenderem seu papel diante das novas
garantido em várias legislações que tratam da educação demandas colocadas pelos alunos especiais e se com-
especial, e em geral se voltam para os professores, aos prometerem com seu processo de aprendizagem serão
quais se credita a maior responsabilidade pelo processo garantidos os seus direitos por meio do oferecimento de
de inclusão na escola. uma educação inclusiva de qualidade tanto para as crian-
Os professores e demais profissionais da escola são, ças deficientes como para as outras crianças.
entretanto, os que geralmente demonstram maior re- A organização do trabalho educativo
sistência à inclusão escolar de alunos especiais, seja por
não acreditarem em suas possibilidades de adaptação e Para que a educação de qualidade se realize nas esco-
aprendizagem, seja por não se julgarem pessoalmente las onde existem alunos deficientes, é necessário que se
preparados ou profissionalmente capacitados para lidar façam modificações estruturais em sua forma de organi-
com essa criança em uma situação pedagógica. Às vezes, zação e em sua materialidade. Isso requer mudanças na
escondem seus sentimentos verdadeiros e cedem apenas estrutura física da escola, de modo a promover a acessi-
para não serem malvistos pelos colegas ou pela direção, bilidade e a mobilidade dessas pessoas com segurança; a
ou porque temem sofrer sanções por não cumprirem a aquisição de materiais específicos, provendo-lhe adapta-
lei no que tange aos direitos das pessoas deficientes, ou ções didáticas, ajudas técnicas e apoios comunicacionais;
até mesmo por questões humanitárias, ligadas a convic- e a alteração do currículo e da proposta pedagógica da
ções morais ou religiosas (“Tenho pena dele, coitadinho”; instituição. Essas modificações estão previstas na LDBEN,
“Ele também é gente”; “É pecado rejeitar essas pessoas”). que determina, em seu artigo 59, que os sistemas de en-
Essa questão merece atenção especial, porque tais sen- sino devem assegurar aos educando com necessidades
timentos acabam refletindo nas atitudes dos professores especiais, dentre outras condições, “currículos, métodos,
e demais profissionais da escola em relação à criança de- técnicas, recursos educativos e organização específicos,
ficiente, deixando-a numa situação ainda mais difícil do para atender às suas necessidades” (BRASIL, 1996, p. 23).
que a que ela já se encontra pelo fato de ser criança pe- Conforme mencionado neste artigo, a proposta de
quena e depender dos adultos. Soma-se a isso, também, Educação Infantil é organizada em torno do brincar. Nes-
o fato de considerar a criança deficiente, de carregar re- se sentido, Vasconcellos (1998) compartilha as ideias de
presentações negativas, colocando-a numa condição su- que são necessárias algumas modificações no ambiente
balterna, frágil e incapacitante. A capacitação oferecida a para que as crianças descubram, inventem e inaugurem
esses profissionais deve, entretanto, provocar mudanças lugares para brincar, conduzindo as atividades de jogo,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
de concepções e atitudes e ser sustentada pela garantia segundo objetivos por elas definidos; (II) os adultos or-
de condições concretas para a efetivação de um projeto ganizam o ambiente de acordo com seus objetivos pes-
de inclusão, fortalecida por uma política que garanta a soais e pedagógicos e esse planejamento é baseado em
todos – educadores, alunos deficientes e não deficientes seus conhecimentos anteriores a respeito das habilida-
– uma educação inclusiva de qualidade. des da criança diante de seu grupo etário.
Educação inclusiva de qualidade implica, dentre ou- O papel do adulto em uma proposta de Educação
tros, a garantia de acesso aos conhecimentos escolares Infantil voltada para a abordagem socioconstrutivista é
básicos, que não se confundem com os conhecimentos mediar as interações da criança com outras crianças e
alcançados por meio das experiências adquiridas nos com o meio físico e simbólico da instituição. O adulto,
ambientes formais e informais e que a ajudarão a se de certa forma, “apresenta” o mundo para a criança, um
81
mundo predefinido, carregado de significações e que - Articular o trabalho realizado nas creches e pré-
precisa ser compreendido e decifrado por ela. Na esco- -escolas com aqueles realizados pelos setores es-
la, a situação é a mesma: como toda instituição, carrega pecializados de atendimento e com os recursos
seus rituais, códigos, crenças e rotinas que nem sempre oferecidos pela comunidade, ampliando a rede
são imediatamente identificados, reconhecidos e legiti- de apoio oferecida a esta criança e à sua família.
mados pelos que nela estão inseridos. É preciso que os (OLIVEIRA, 2002). A participação da comunidade
adultos que trabalham nas instituições de Educação In- é de especial relevância na gestão e no apoio às
fantil – desde os funcionários até a direção – tenham cla- iniciativas da escola inclusiva e conferem aos currí-
reza desse papel de mediadores e estejam dispostos a in-
culos uma identidade cultural e social. (MANTOAN,
serir a criança nesse novo ambiente. Como mediadores,
2001). (Texto adaptado de VEIGA, M. M.).
devem atentar para os seguintes aspectos em relação à
criança deficiente:
- “Rever os paradigmas que têm pautado sua atuação Subsídios para ação pedagógica no cotidiano es-
na área e fazer uma avaliação dos resultados efe- colar inclusivo
tivos do trabalho educacional realizado de acordo A educação na perspectiva escolar é uma questão de
com eles”, adotando uma metodologia “mais esti- direitos humanos, e os indivíduos com deficiências de-
mulante e mediadora de avanços mais significati- vem fazer parte das escolas, as quais devem modificar
vos”. (OLIVEIRA, 2002) seu funcionamento para incluir todos os alunos. Esta é a
- Repensar os espaços físicos existentes, eliminando mensagem que foi claramente transmitida pela Declara-
barreiras arquitetônicas, oferecendo oportunida- ção de Salamanca/Espanha (1994, Conferência Mundial
des diversificadas para a criança explorá-lo e des- Sobre Educação Especial, UNESCO) em defesa de uma
cobrir formas de se apropriar dele. sociedade para todos partindo do princípio fundamental
- Auxiliar as crianças no estabelecimento de metas de que todas as pessoas devem aprender juntos, inde-
gradativas de desenvolvimento compatíveis com pendente de quaisquer dificuldades ou diferenças que
suas características peculiares, respeitando seu rit- possam ter.
mo e suas capacidades. A política de inclusão dos alunos na rede regular de
- Buscar novas formas de composição de grupos in- ensino que apresentam necessidades educacionais espe-
fantis, possibilitando a convivência com pessoas
ciais, não consiste somente na permanência física desses
diferentes e semelhantes a ela, relacionamentos in-
alunos, mas o propósito de rever concepções e para-
terpessoais ricos variados, até mesmo com pessoas
de faixas etárias diferentes, pautados nas relações digmas, respeitando e valorizando a diversidade desses
de estímulo, confiança e respeito mútuo, acredi- alunos, exigindo assim que a escola defina a responsabi-
tando que todos podem crescer no convívio com lidade criando espaço inclusivos. Dessa forma, a inclusão
a diferença. significa que não é o aluno que se molda ou se adapta à
- Criar formas de acolher com naturalidade possibi- escola, mas a escola consciente de sua função, coloca-se
lidades trazidas por essas crianças (aprendizado a disposição do aluno.
diferenciado, utilização de diferentes canais e sis- As escolas inclusivas devem reconhecer e responder
temas de comunicação e outro sentido de localiza- às diversas dificuldades de seus alunos, acomodando os
ção espacial). diferentes estilos e ritmos de aprendizagem e assegu-
- Avaliar as crianças de modo realista, evitando com- rando uma educação de qualidade para todos median-
parações e nivelamentos com o restante do grupo, te currículos apropriados, modificações organizacionais,
mas considerando o nível alcançado em diversos estratégias de ensino, recursos e parcerias com suas co-
momentos de seu próprio processo de aprendiza- munidades. A inclusão, na perspectiva de um ensino
gem, valorizando aspectos qualitativos presentes de qualidade para todos, exige da escola brasileira novos
nesse processo, como o esforço despendido, as posicionamentos que implica num esforço de atualiza-
habilidades e competências desenvolvidas, o in- ção e reestruturação das condições atuais, para que o
teresse e a participação atuante como sujeito de
ensino se modernize e para que os professores se aper-
conhecimento.
feiçoem, adequando as ações pedagógicas à diversidade
- Rever a proposta pedagógica da escola, construin-
do um currículo que considere as diferenças e que dos aprendizes.
contemple todos os alunos, sem restrições. O que A escola inclusiva é aquela que acomoda todos os
se tem visto ocorrer nessa área são apenas peque- alunos independentemente de suas condições físicas,
nos arremedos à proposta pedagógica existente, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas ou outras,
sendo o principal desafio desenvolver uma pedagogia
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
82
Portanto, este artigo pretende apresentar subsídios - Um plano abrangente, condizente e contínuo de
para uma a ação pedagógica no cotidiano escolar inclu- formação em serviço;
sivo, pois percebi que a inclusão tem causado um certo - Oportunidades para educadores que apoiam os
impacto no meio escolar e com isso surgem muitas dú- alunos a reunirem-se para tratarem de questões
vidas quanto as ações pedagógicas inclusivas. Abordarei comuns e assim ajudarem-se mutuamente no de-
primeiramente, os elementos necessários para que um senvolvimento criativo de novas formas de apren-
sistema escolar seja inclusivo e depois apresentarei o dizagens;
suporte necessário para a ação pedagógica inclusiva do - Oportunidades para os professores aumentarem e
professor, as adaptações curriculares. aperfeiçoarem suas habilidades, observando, conver-
sando e moldando suas práticas com colegas com
Sistema escolar inclusivo mais experiência no apoio aos alunos no regular;
“As escolas inclusivas propõem um modo de se cons- - Oportunidades para educadores novos em práticas
tituir o sistema educacional que considera as necessida- inclusivas de visitarem outras escolas e distritos,
des de todos os alunos e que é estruturado em função que tenham experiências e implementação novas
dessas necessidades. A inclusão causa uma mudança na na educação inclusiva em conjunto com esforços
perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar so- de reformas da escola.
mente os alunos que apresentam dificuldades na escola, 7. Os educadores devem desenvolver a dimensão da
mas apoia a todos: professores, alunos, pessoal adminis- flexibilidade para responderem aos desafios de apoiarem
trativo, para que obtenham sucesso na corrente educa- os alunos com dificuldades para aprender na participa-
tiva geral.” ção das atividades da escola, com o compromisso de fa-
O desenvolvimento das escolas inclusivas, capazes de zer o ensino inclusivo acontecer, com espontaneidade e
sustentar recursos educativos com sucesso para todos a coragem de assumirem os riscos, trabalhando em equi-
os alunos, passa necessariamente pela definição de uma pes, desenvolvendo novas habilidades e promovendo
ação educativa diferenciada dos mais variados contex- uma educação de qualidade a todos os alunos;
tos. E para que uma gestão seja diferenciada, com ações 8. Examinar e adotar várias abordagens de ensino,
pedagógicas inclusivas é preciso que a escola estabele- para trabalhar com alunos com diferentes níveis de de-
ça uma filosofia baseada nos princípios democráticos e sempenho, reavaliando as práticas e determinando as
igualitários de inclusão, de inserção e a provisão de uma melhores maneiras possíveis de promover a aprendiza-
educação de qualidade para todos os alunos. gem ativa para os resultados educacionais desejáveis;
Para uma escola ser Inclusiva significa primeiramen- 9. Comemorar os sucessos e aprender com os desa-
te, acreditar no princípio de que todas as crianças po- fios, sendo importante que os sistemas escolares cultivem
dem aprender e o diretor deverá proporcionar a todas as a capacidade dos membros do seu pessoal de pensar
crianças acesso igualitário a um currículo básico, rico e criativamente, pois assim respondem aos desafios que
uma instrução de qualidade. Seguem-se algumas estra- inevitavelmente surgem quando as novas oportunidades
tégias para inclusão no cotidiano escolar: de aprendizagem e desenvolvimento apresentam-se;
1. Promover objetivando práticas mais cooperativas e 10. Os educadores estarem dispostos a romperem
menos competitivas nas sala de aulas e na escola; paradigmas e manterem-se em constante mudanças
2. Estabelecer rotinas na sala de aula e na escola em educacionais progressivas criando escolas inclusivas e
que todos recebam apoio necessário para participarem com qualidades.
de forma igual e plena; O sistema escolar para construir uma comunidades
3. Garantir que toda as atividades da sala de aula escolar inclusiva é preciso o planejamento e o desenvol-
tenham acomodações e a participação de todos ativa- vimento do currículo que conduza aos resultados espe-
mente, inclusive daqueles que apresentam necessidades rados pelo Estado e pelos setores educacionais. Preparar
educacionais especiais; equipe para trabalhar de maneira cooperativa e compar-
4. Infundir valores positivos no sistema escolar de res- tilhar conhecimentos para melhorias para um progresso
peito, solidariedade, cooperação etc. contínuo. Investimento em tecnologia para dar apoio,
5. É preciso desenvolver rede de apoio, sendo um servindo como um importante dispositivo da comunica-
grupo de pessoas que reúnem-se para debater, podendo ção para conectar a escola à comunidade e o ensino dos
ser constituída por alunos, diretores, pais, professores, resultados esperados, além de grupos de professores
psicólogos, terapeutas e supervisores para resolverem atuando como planejadores, instrutores e avaliadores de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
problemas, trocarem ideias, métodos, técnicas e ativida- programas que conduzam a uma ação pedagógica in-
des, com a finalidade de ajudar não somente aos alunos, clusiva.
mas aos professores para que possam ser bem sucedidos A realização das ações pedagógicas inclusivas requer
em seus papéis. uma percepção do sistema escolar como um todo uni-
6. Desenvolver uma assistência técnica organizada e
ficado, em vez de estruturas paralelas, separadas como
contínua que deve incluir:
uma para alunos regulares e outra para alunos com de-
- os funcionários especializados para atuarem como
ficiência ou necessidades especiais. Os comportamentos
consultores e facilitadores;
inclusivos dentro da escola requer comprometimento e
- Uma biblioteca prontamente acessível com materiais
ações inclusivas, por isso partiremos para uma breve re-
atualizados, recursos em vídeo e áudio que enfoquem a
flexão sobre essas práticas:
reforma da escola e as práticas educativas inclusivas;
83
- A escola parte da premissa de que cada aluno tem - À sequenciação pormenorizada de conteúdos que
o direito a frequentar à sala de aula independente requeiram processos gradativos de à maior com-
de sua deficiência; plexidade da tarefas, atendendo à sequência de
- Está plenamente comprometida em desenvolver passos, à ordenação da aprendizagem etc.
uma comunidade que se preocupe em fomentar - Ao reforço da aprendizagem e à retomada de deter-
o respeito mútuo e o apoio em equipe escolar, os minados conteúdos para garantir o seu domínio e
pai e os alunos; a sua consolidação;
- A diretoria cria um ambiente de trabalho no qual os - À eliminação de conteúdos menos relevantes, se-
professores são apoiados; cundários para dar enfoque mais intensivo e es-
- Os alunos com necessidades educacionais especiais senciais no currículo.
são estimulados a participarem plenamente da es- As adaptações avaliativas dizem respeito:
cola, inclusive da atividades extracurriculares; - À seleção de técnicas e instrumentos utilizados para
- Está preparada para modificar os sistemas de apoio avaliar o aluno, modificando-os de modo a consi-
para os alunos à medida que as suas necessidades derar, na consecução, a capacidade do aluno em
mudem; relação ao proposto para os demais colegas;
- Considera os pais uma parte plena da comunidade - Não abandonar os objetivos definidos para o grupo,
escolar, aceitando sugestões e a sua participação; mas acrescentar aqueles objetivos complementa-
- Proporciona aos alunos com necessidades educa- res curriculares especificas que minimizam as difi-
cionais especiais um currículo escolar pleno e flexí- culdades concernentes à deficiência do aluno.
vel sujeito a mudanças caso seja necessário. As adaptações nos procedimentos didáticos e nas
atividades de ensino-aprendizagem referem-se ao como
Suporte para ação pedagógica do professor: ensinar os componentes curriculares. Dizem respeito a:
- Situar os alunos nos grupos com os quais possa tra-
- Adaptações curriculares balhar melhor;
- Propiciar o apoio físico, visual, verbal e gestual ao
As adaptações curriculares constituem as possibi- aluno impedido, temporária ou permanentemen-
lidades educacionais de atuar frente às dificuldades de te, de modo a facilitar as atividades escolares e o
aprendizagem dos alunos e tem como objetivo subsidiar processo avaliativo. O apoio pode ser oferecido
a ação dos professores. Constituem num conjunto de pelo professor regente, pelo professor de sala de
modificações que se realizam nos objetivos, conteúdos, recursos, pelo professor itinerante ou pelos pró-
critérios, procedimentos de avaliações, atividades, meto- prios colegas.
dologias para atender as diferenças individuais dos alu- Algumas características curriculares facilitam o aten-
nos. dimento às necessidades educacionais especiais dos alu-
Essas adaptações visa promover o desenvolvimento nos, dentre elas:
e a aprendizagem dos alunos que apresentam necessi- - Atinjam o mesmo grau de abstração ou de conheci-
dades educacionais especiais, tendo como referência a mento, num tempo determinado;
elaboração do projeto pedagógico e a implementação - Desenvolvidas pelos demais colegas, embora não
de práticas inclusivas no sistema escolar e essas adapta- o façam com a mesma intensidade, em necessa-
ções pressupõem-se que se realize quando necessário, riamente de igual modo ou com a mesma ação e
para torná-lo apropriado às peculiaridades dos alunos grau de abstração.
com necessidades especiais. Nessas circunstâncias, as As adaptações curriculares não devem ser entendidas
adaptações curriculares implicam a planificação pedagó- como exclusivamente individual ou uma decisão que en-
gica e a ações docentes fundamentadas em critérios que volve apenas o professor e o aluno, pois realizam-se em
definem: três níveis:
- Como e quando aprender; - No âmbito do projeto pedagógico (currículo esco-
- que o aluno deve aprender; lar);
- Que formas de organização do ensino são mais efi- - No currículo desenvolvido na sala de aula;
cientes para o processo de aprendizagem; - No nível individual.
- Como e quando avaliar o aluno. Para que os alunos com necessidades educacionais
As adaptações relativas aos objetivos e conteúdos di- especiais possam participar integralmente em um am-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
84
a) à chegada de alunos com seis anos no Ensino Funda-
mental.
EXERCÍCIO COMENTADO b) à nova organização em ciclos do Ensino Fundamental.
c) à organização das turmas segundo determinado crité-
1. (PREF. AGUAÍ-SP – PROFESSOR DE APOIO – INS- rio comum a todos.
TITUTO EXCELÊNCIA – 2016) A Declaração de Sala- d) aos desafios de construção de uma escola para todos.
manca (1994) apresenta políticas, princípios e práticas e) ao dever do Estado em garantir vaga aos alunos com
para a inclusão de alunos com necessidades educacio- necessidades especiais.
nais especiais no ensino regular. Atribua verdadeiro ou
falso para as afirmativas: RESPOSTA: Letra D
( ) As escolas devem estar preparadas para atender as Em “d”: Certo – Alternativa correta. As escolas para to-
necessidades educacionais de cada aluno. Sendo assim, dos são escolas inclusivas, em que todos os alunos es-
ela deve ter vários estímulos e ritmos de aprendizagem. tudam juntos, em salas de aulas do ensino regular. Es-
( ) No processo de inclusão é indispensável que os pro- ses ambientes educativos desafiam as possibilidades
fessores e os demais alunos tenham um sentimento de de aprendizagem de todos os alunos, e as estratégias
comoção e compaixão com os educandos que possuem de trabalho pedagógico são adequadas às habilidades
necessidades educacionais, pois assim todos ajudarão na e às necessidades de todos.
inclusão. http://www.lite.fe.unicamp.br/cursos/nt/ta1.13.htm
( ) O currículo escolar deve estar adaptado as necessi- Em “d”: Errado – Alternativa incorreta.
dades educacionais de cada criança. Portanto o apoio
instrucional é por meio de um currículo diferente do cur-
rículo regular.
( ) O professor deve ser o responsável pelo fracasso ou Na palavra “avaliação” estão contidos os termos “va-
sucesso de cada estudante incluso, pois ele é o respon- lor” e “ação”, circunstância que sugere a imprescindi-
sável pela aprendizagem e desenvolvimento desses edu- bilidade da concepção valorativa da ação educacional.
candos. CASALI (2007, p.10) a define como “um saber situar co-
tidianamente, numa certa ordem hierárquica, o valor de
a) V, F, F, F algo enquanto meio (mediação) para a realização da vida
b) V, F, V, F do(s) sujeitos(s) em questão, no contexto dos valores cul-
c) V, V, V, F turais e, no limite, dos valores universais.”
d) Nenhuma das alternativas Nesse fanaite, avaliar é reconhecer ou atribuir um va-
lor. Em se tratando de educação, tal atividade se tradu-
RESPOSTA: Letra A.
ziria no esforço de se adotar uma postura radicalmente
Em “a”: Certo – A alternativa está correta.
ética e epistemológica no processo de ensino e (ad)mi-
O princípio fundamental das escolas inclusivas con-
nistração do saber.
siste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre
Tal como os valores, os processos avaliativos na educa-
que possível, independentemente das dificuldades e
ção são histórica e culturalmente construídos e se prestam
das diferenças que apresentem. Estas escolas devem
não como fins em si mesmo, mas como referências me-
reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos
diadoras de ações concretas, isto é, como meios (recursos,
seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos
instrumentos) de valoração dos resultados obtidos.
de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível
Existem três âmbitos de alcance dos valores, logo,
de educação para todos, através de currículos adequa-
das avaliações: “há valores para um sujeito, há valores
dos, de uma boa organização escolar, de estratégias
para uma cultura, há valores para a humanidade” (CA-
pedagógicas, de utilização de recursos e de uma coo-
SALI, 2007). Dito de outro modo: o singular, o parcial, o
peração com as respectivas comunidades. É preciso,
universal. A avaliação se perfaz, portanto, como medida e
portanto, um conjunto de apoios e de serviços para
referência de valor para um, dois, ou para os três âmbitos
satis fazer o conjunto de necessidades especiais den-
de reflexão científica (CASALI, 2007, p. 13). Ela se refere à
tro da escola.
determinação do mérito ou do valor de um dado proces-
Em “b”: Errado – Só a primeira afirmativa está correta.
so ou do que dele resultou, seja no âmbito do sujeito, da
Em “c”: Errado – Não corresponde às alternativas cor-
cultura, ou de toda a humanidade.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
retas.
No campo da educação, os processos avaliativos dos
Em “d”: Errado – A primeira afirmativa está correta,
resultados esperados de determinados sujeitos (alunos),
não são
de uma determinada cultura ou de toda uma comuni-
dade de pessoas se torna ainda mais complexa porque
2. (Pref. Itápolis/SP - Agente Educacional - Médio
obviamente não pode se contentar na aferição de meros
VUNESP/2016) A educação inclusiva supõe, sobretudo,
rendimentos escolares ou institucionais, mas deve alme-
uma mudança em nós, em nosso trabalho, nas estraté-
jar acima de tudo a formação integral do ser pela apre-
gias que utilizamos no dia a dia, no modo como orga-
ciação de todos os elementos que permeiam o processo
nizamos o espaço e nas relações que estabelecemos. É
ensino-aprendizagem, ou seja, a toda a realidade educa-
correto afirmar que o pressuposto diz respeito
tiva (BRANDALISE, 2010).
85
FIGARI (1996) afirma que, nessa acepção mais alar- A avaliação institucional numa perspectiva crítica é
gada de avaliação educacional há a noção de estrutura aquela que consegue captar o movimento institucional
que define realidades diferentes: as macroestruturas (os presente nas relações da instituição. Toda instituição é
sistemas educacionais), as mesoestruturas (as escolas) e constituída por dois princípios em permanente tensão:
as microestruturas (as salas de aulas). o instituído e o instituinte. CASTORIADES (1975) explica
No espaço da macro e da mesoestrutura, a avaliação que o instituído é o conjunto de forças sedimentadas,
geralmente consiste no processo de observação e inter- consolidadas, que buscam a conservação e reprodução
pretação dos resultados da aprendizagem que objetiva do quadro institucional vigente. O instituído é a forma. Já
orientar as decisões necessárias ao bom funcionamento o conjunto de forças em constante estado de tensão, de
da escola, dos sistemas educacionais e também subsidiar mudança, de transformação, de recriação é o instituinte.
a formulação de políticas públicas. O instituinte é o campo de forças.
Na mesma linha de raciocínio, Almerindo Afonso A avaliação institucional é formalmente a avaliação
(2003) analisa a avaliação educacional numa perspectiva
desse instituído e instituinte. Ela tem que identificar as-
sociológica, nos seguintes níveis: micro, meso, macro e
pectos concretos, formais e informais, explícitos ou não,
mega. A perspectiva de avaliação defendida pelo autor
internos e externos, que viabilizam a realização dos ob-
entende que a “escola é confrontada com dimensões
jetivos e fins educacionais propostos num projeto insti-
éticas, simbólicas, políticas, sociais e pedagógicas que
devem ser consideradas como um todo por quem tem tucional. Há, portanto, que se considerar toda a dinâmica
especiais responsabilidades na administração da educa- institucional para captar o espírito da instituição avaliada.
ção quer em nível do Estado, quer em nível municipal e Nesta perspectiva, a avaliação institucional tem um cará-
local, quer em nível da própria unidade escolar”. (AFON- ter formativo, está voltada para a compreensão e promo-
SO, 2003, p. 49). ção da autoconsciência da instituição escolar.
O nível microssociológico da avaliação ocorre no âm- Nos debates contemporâneos sobre a educação há
bito da sala de aula, é a avaliação da aprendizagem, de uma exigência cada vez maior com o desempenho da
responsabilidade do docente. Ela deve ter caráter forte- escola, porque ela é considerada uma instituição social
mente formativo, ser contínua e baseada na reflexão do imprescindível à sociedade atual, à formação humana,
processo ensino-aprendizagem. ainda que essa exigência se exprima de modos variados
O nível mesossociológico da avaliação é aquele que e contraditórios.
envolve a análise de uma instituição escolar na sua to-
talidade, ou seja, engloba todos os componentes do
processo educacional: gestão e organização da escola, TRABALHO PEDAGÓGICO COM OS
processo ensino-aprendizagem, currículo, qualificação DIFERENTES PERFIS DE APRENDIZES.
docente, infraestrutura escolar, resultados educacionais,
QUESTÕES DE CURRÍCULO E GESTÃO
perfil socioeconômico dos alunos, ação da escola com a
ESCOLAR
sociedade, participação dos pais, entre outros aspectos
da escola.
O nível macrossociológico da avaliação é aquele de- PERSPECTIVAS DA GESTÃO
senvolvido em âmbito nacional, por organismos externos ESCOLAR E IMPLICAÇÕES QUANTO À FORMAÇÃO
à escola, e tem como objetivo verificar a qualidade do DE SEUS GESTORES
ensino e da educação no país. No Brasil há o INEP – Ins- Heloísa Lück
tituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, que
coordena os processos de avaliação externa às escolas.
São exemplos desse tipo de avaliação a Prova Brasil, o FIQUE ATENTO!
SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica, o ENEM São objeto deste artigo a mudança de con-
– Exame Nacional do Ensino Médio. cepção de escola e implicações quanto à ges-
O nível megassociológico da avaliação é aquele de- tão, as limitações do modelo estático de esco-
senvolvido por organismos internacionais que buscam fi- la e de sua direção; a transição de um modelo
xar padrões de desempenho, de referência para a criação estático para um paradigma dinâmico; a des-
de metas e diretrizes para os sistemas educacionais de centralização, a democratização da gestão es-
diferentes países, em nível global. Tem-se como exemplo colar e a construção da autonomia da escola,
o PISA – Programa Internacional de Avaliação de Alunos, e a formação de gestores escolares.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
86
No geral, em toda a sociedade, observa-se o desen- que ocorre nos estabelecimentos de ensino. Não apenas
volvimento da consciência de que o autoritarismo, a cen- exige que a escola seja competente e demonstre ao pú-
tralização, a fragmentação, o conservadorismo e a ótica blico essa competência, com bons resultados de apren-
do dividir para conquistar, do perde-ganha, estão ultra- dizagem pelos seus alunos e bom uso de seus recursos,
passados, por conduzirem ao desperdício, ao imobilis- como também começa a se dispor a contribuir para a
mo, ao ativismo inconsequente, à desresponsabilização realização desse processo, assim como a decidir sobre
por atos e seus resultados e, em última instância, à estag- os mesmos. São inúmeros os exemplos de parcerias já
nação social e ao fracasso de suas instituições. existentes no contexto nacional entre organizações não-
Essa mudança de paradigma é marcada por uma forte -governamentais e empresas, com a escola, assim como
tendência à adoção de concepções e práticas interativas, o bom funcionamento de Associações de Pais e Mestres.
participativas e democráticas, caracterizadas por movi- Todo esse movimento, alterando o sentido e concep-
mentos dinâmicos e globais, com os quais, para determi- ção de educação, de escola e da relação escola/socieda-
nar as características de produtos e serviços, interagem de, tem envolvido um esforço especial de gestão, isto é,
dirigentes, funcionários e “clientes” ou “usuários”, esta- de organização da escola, assim como de articulação de
belecendo alianças, redes e parcerias, na busca de solu- seu talento, competência e energia humana, de recursos
ções de problemas e alargamento de horizontes. e processos, com vistas à promoção de experiências de
Em meio a essa mudança, não apenas a escola desen- formação de seus alunos, capazes de transformá-los em
volve essa consciência, como a própria sociedade cobra cidadãos participativos da sociedade. Trata-se de uma
que o faça. Assim é que a escola se encontra, hoje, no experiência nova, sem parâmetros anteriores para a qual
centro de atenções da sociedade. Isto porque se reco- devemos desenvolver sensibilidade, compreensão e ha-
nhece que a educação, na sociedade globalizada e eco- bilidades especiais, novos e abertos. Isso porque tudo
nomia centrada no conhecimento, constitui grande valor que dava certo antes está fadado ao fracasso na nova
estratégico para o desenvolvimento de qualquer socie- conjuntura (Drucker, 1992).
dade, assim como condição importante para a qualida-
de de vida das pessoas. Embora esse enfoque não seja As limitações do modelo estático de escola e de
plenamente adotado e, quando levado em consideração, sua direção
seja orientado, ainda, por um velho e já enfraquecido Até bem pouco tempo, o modelo de direção da es-
paradigma orientador da cobrança, em vez de participa- cola, que se observava como hegemônico, era o de di-
ção, ele tem grande impacto sobre o que acontece na retor tutelado dos órgãos centrais, sem voz própria,
escola, que é hoje, mais do que nunca, bombardeada por em seu estabelecimento do ensino, para determinar os
demandas sociais das mais diversas ordens. Observa-se, seus destinos e, em consequência, desresponsabilizado
também, o interesse de grupos e organizações, no sen- dos resultados de suas ações e respectivos resultados.
tido de colaborarem com a escola, constituindo-se essa Seu papel, nesse contexto, era o de guardião e geren-
área, um campo fértil para a realização de parcerias em te de operações estabelecidas em órgãos centrais. Seu
prol da educação, para o desenvolvimento da sociedade, trabalho constituía-se, sobretudo, repassar informações,
e, por conseguinte, um grande desafio para os gestores controlar, supervisionar, dirigir o fazer escolar, de acor-
escolares, por exigirem deles novas atenções, conheci- do com as normas propostas pelo sistema de ensino ou
mentos e habilidades. pela mantenedora. Era considerado bom diretor quem
São demandadas mudanças urgentes na escola, a fim cumpria essas obrigações plenamente, de modo a garan-
de que garanta formação competente de seus alunos, tir que a escola não fugisse ao estabelecido em âmbito
de modo que sejam capazes de enfrentar criativamen- central ou em hierarquia superior. Cabe lembrar que esse
te, com empreendedorismo e espírito crítico, os proble- procedimento era possível, uma vez que a clientela esco-
mas cada vez mais complexos da sociedade, conforme lar era mais homogênea, ante a elitização da educação,
indicado na apresentação deste Em Aberto. A educação, em vista do que, quem não se adequasse ao sistema, era
no contexto escolar, se complexifica e exige esforços re- dele banido. A expulsão explícita ou sutil de alunos da
dobrados e maior organização do trabalho educacional, escola foi uma prática aceita como natural. O entendi-
assim como participação da comunidade na realização mento que sustentava essa homogeneidade era o de que
desse empreendimento, a fim de que possa ser efetiva, já o participante da escola deve estar disposto a aceitar os
que não basta ao estabelecimento de ensino apenas pre- modelos de organização estabelecidos e a agir de acor-
parar o aluno para níveis mais elevados de escolaridade, do com eles. Portanto, tensões, contradições e conflitos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
uma vez que o que ele precisa é de aprender para com- eram eliminados ou abafados. Os elevadíssimos índices
preender a vida, a si mesmo e a sociedade, como condi- de evasão escolar que marcaram a escola brasileira po-
ções para ações competentes na prática da cidadania. E dem ser também explicados por um esforço no sentido
o ambiente escolar como um todo deve oferecer-lhe esta de manter a homogeneidade da clientela escolar.
experiência. Essa situação está associada ao entendimento limita-
Educação, portanto, dada sua complexidade e cres- do de que a escola é responsabilidade do governo, visto
cente ampliação, já não é vista como responsabilidade este como uma entidade superior e externa à socieda-
exclusiva da escola. A própria sociedade, embora mui- de, uma supre entidade, ao mesmo tempo autoritária e
tas vezes não tenha bem claro de que tipo de educação paternalista. A leitura, ao pé da letra da determinação
seus jovens necessitam, já não está mais indiferente ao constitucional de que educação é dever do Estado, é
87
comumente associada a este entendimento. Segundo - A objetividade garante bons resultados, sendo a
ela, portanto, educação é apenas direito da sociedade. técnica o elemento fundamental para a melhoria
Essa dissociação entre direitos de uns e deveres de ou- do trabalho.
tros, ao perpassar a sociedade como um todo, produz - Estratégias e modelos de administração que deram
na educação, diretores que não lideram, professores que certo não devem ser mudados, como forma de ga-
não ensinam, alunos que não aprendem, todos esperan- rantir a continuidade do sucesso.
do que o outro faça alguma coisa, para resolver os pro- - Os profissionais e usuários das organizações como
blemas ou dificuldades, inclusive os ocupantes de posi- é o caso do professor e dos alunos são conside-
ções no sistema de ensino. rados como participantes cativos das mesmas, em
Segundo essa concepção, adotou-se uma fundamen- vista do que aceitariam facilmente as normas im-
tação teórica de caráter mais normativo, determinada postas, bastando para isso serem cooptados.
pelo princípio de certo-errado, completo-incompleto, - A contrapartida a essa cooptação é o protecionismo
perfeito-imperfeito. Adotou-se o método de adminis- a esses participantes, mediante ações paternalistas
tração científica, orientado pelos princípios da racionali- e condescendentes.
dade limitada, da linearidade, da influência estabelecida Mediante a orientação por tais pressupostos, resul-
de fora para dentro, do emprego mecanicista de pessoas tou uma hierarquização e verticalização dos sistemas de
e recursos para realizar os objetivos organizacionais, da ensino e das escolas, uma desconsideração aos proces-
fragmentação e redução dos processos educacionais a sos sociais neles vigentes, a burocratização dos proces-
tarefas exercidas sem vida e sem espírito “nem mesmo, sos, a fragmentação de ações e sua individualização e,
muitas vezes, o pedagógico, como é o caso de “corrigir como consequência, a desresponsabilização de pessoas
provas”, “dar nota”, dentre outros. Também associada a em qualquer nível de ação, pelos resultados finais. A eles
esta concepção é o entendimento de que o importante está associada a administração por comando e controle,
é fazer o máximo (preocupação com a dimensão quan- centrada na autoridade e distanciada da implementação
titativa) e não o de fazer o melhor e o diferente (preocu- de ações, construindo-se, dessa forma, uma cultura de
pação qualitativa). Com esse enfoque, administrar cor- determinismo e dependência.
responderia a comandar e controlar, mediante uma visão Dada, no entanto, a crescente complexidade das or-
objetiva de quem atua sobre a unidade e nela intervém ganizações e dos processos sociais nelas ocorrentes, ca-
de maneira distanciada, até mesmo para manter essa ob- racterizada pela diversificação e pluralidade de interesses
jetividade e a própria autoridade, centrada na figura do que envolvem, e a dinâmica das interações no embate
diretor. Cabral Neto e Almeida, em artigo neste Em Aber- desses interesses, não se pode conceber sejam elas ge-
to também analisam esta questão. ridas pelo enfoque limitado da administração científica,
Estes são alguns pressupostos que emergem desse pelo qual, tanto a organização, como as pessoas atuando
enfoque sobre a realidade: em seu interior, eram consideradas como componentes
- A realidade é regular, estável e permanente, sendo de uma máquina a ser manejada e controlada de fora
dada em caráter absoluto, em vista do que os sis- para dentro. Também segundo esse enfoque, os proble-
temas de ensino e as organizações escolares não mas recorrentes seriam sobretudo encarados como ca-
se diferenciam significativamente entre si, caben- rência de insumos, em desconsideração à falta de orien-
do a todos a mesma forma de atuação em suas tação de seu processo e dinamização da energia social
comunidades. necessária para promovê-lo.
- O ambiente de trabalho e comportamento huma-
no são previsíveis, podendo ser, em consequência, A transição de um modelo estático para um para-
controláveis por normas e regulamentos, que ga- digma dinâmico
rantiriam uniformidade de ação. Os sistemas educacionais, como um todo, e os es-
- Incerteza, ambiguidade, tensão, conflito e crise são tabelecimentos de ensino, como unidades sociais espe-
encarados como disfunções e como problemas a ciais, são organismos vivos e dinâmicos, fazendo parte
serem evitados e reprimidos, e não como oportu- de um contexto socioeconômico cultural marcado não
nidades de crescimento e transformação. só pela pluralidade, como pela controvérsia que vêm,
- Os sucessos, uma vez alcançados, acumulam-se também, a se manifestar na escola; portanto, com tais
aos anteriores e mantêm-se por si mesmos, não características devem ser também as escolas entendidas.
demandando esforços especiais de manutenção e Ao serem vistas como organizações vivas, caracterizadas
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
88
É possível afirmar que, tendo em vista o momento de - A busca de realização e sucesso corresponde a um pro-
transição entre esses dois enfoques, a escola se defronta cesso e não a uma meta. Não tem limites e gera no-
muitas vezes, ainda, com um sistema contraditório em vos sucessos e realizações que devem, no entanto, ser
que as forças de tutela ainda se fazem presentes, ao mes- continuamente buscados pela ação empreendedora.
mo tempo em que os espaços de abertura são criados, e - A responsabilidade maior do dirigente é a articu-
a escola é instigada a assumir ações para as quais ainda lação sinérgica do talento, competência e energia
não desenvolveu a competência necessária. Portanto, a humana, pela mobilização contínua para promover
escola e seus dirigentes se defrontam com a necessida- uma cultura organizacional orientada para resulta-
de de desenvolver novos conhecimentos, habilidades e dos e desenvolvimento.
atitudes para o que não dispõem mais de modelos e sim - Boas experiências realizadas em outros contextos
de concepções. servem apenas como referência e não como mode-
Um novo paradigma emerge e se desenvolve sobre a los, não podendo ser transferidas, tendo em vista
educação, a escola e sua gestão como, aliás, em todas a peculiaridade de cada ambiente organizacional.
as áreas de atuação humana: não existe nada mais forte - As organizações têm vida, desenvolvendo e reali-
do que uma ideia cujo tempo chegou, em vista do que zando seus objetivos, apenas mediante a partici-
se trata de um movimento consistente e sem retorno. E pação conjunta de seus profissionais e usuários, de
a ideia que perpassa todos os segmentos da sociedade modo sinérgico.
é a que demanda espaços de participação (Lück, 1999) - A melhor maneira de realizar a gestão de uma or-
associados aos quais estão, inevitavelmente, os esforços ganização é a de estabelecer a sinergia, mediante
de responsabilidade. Há de se dar conta, no contexto a formação de equipe atuante, levando em consi-
da escola, da multiculturalidade de nossa sociedade, da deração o seu ambiente cultural.
importância e riqueza dessa diversidade, associados à - O talento e energia humanos associados são os me-
emergência do poder local e reivindicação de esforços lhores e mais poderosos recursos para mover uma
de participação. organização e transformá-la.
Em decorrência da situação exposta, muda a funda-
mentação teórico-metodológica necessária para a orien- A partir de tais pressupostos, emerge o entendimen-
tação e compreensão do trabalho da direção da escola, to de que professores, equipe técnico-pedagógica, fun-
que passa a ser entendido como um processo de equipe, cionários, alunos, pais, comunidade, todos, não apenas
associado a uma ampla demanda social por participação. fazem parte do ambiente cultural, mas o formam e cons-
Esse paradigma é marcado, sobretudo, por uma mu- troem, pelo seu modo de agir, em vista do que, de sua
dança de consciência a respeito da realidade e da relação interação dependem a identidade da escola na comu-
das pessoas na mesma se assim não fosse, seria apenas nidade, o seu papel na mesma e os seus resultados. A
uma mudança de modelos. Essa mudança de consciên- mudança de consciência implica o reconhecimento des-
cia está associada à substituição do enfoque de adminis- se fator pelos participantes do processo escolar, de sua
tração, pelo de gestão. Cabe ressaltar que não se trata compreensão ao seu papel em relação ao todo, uma vez
de simples mudança terminológica e sim de uma fun- que, como lembra Peter Senge (1993, p. 29), quando os
damental alteração de atitude e orientação conceitual. membros de uma organização se concentram apenas em
Portanto, sua prática é promotora de transformações de sua função, eles não se sentem responsáveis pelos resul-
relações de poder, de práticas e da organização escolar tados. E essa percepção setorizada tem sido a responsá-
em si, e não de inovações, como costumava acontecer vel pelo fracionamento e dissociação das ações escolares
com a administração científica. e consequente diluição do seu trabalho e dos seus efei-
Esse novo paradigma é fundamentado pelos seguin- tos. Todos estão lembrados dos esforços despendidos
tes pressupostos: por inúmeros sistemas de ensino, no sentido de definir e
- A realidade é global, sendo que tudo está relaciona- delimitar papéis e funções de profissionais da escola, em
do a tudo, direta ou indiretamente, estabelecendo vez de descrever suas responsabilidades por resultados.
uma rede de fatos, circunstâncias e situações, inti- Segundo este novo paradigma, entende-se que os
mamente interligadas. problemas são globais e complexos, em vista do que
- A realidade é dinâmica, sendo construída social- ações locais e tópicas, em desconsideração ao conjun-
mente, pela forma como as pessoas pensam, agem to de que fazem parte, são ações inconsequentes, no
e interagem. sentido de transformar a escola e mover sua prática so-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
- O ambiente social e comportamento humano são di- cial voltada para o desenvolvimento. Em decorrência, a
nâmicos e por isso imprevisíveis, podendo ser coor- qualidade da educação não poderia mais ser promovida
denados e orientados e não plenamente controla- pelo enfoque administrativo, pelo qual se garantiriam
dos. O controle cerceia, a orientação impulsiona. recursos e se promoveriam ações concentradas em de-
- Incerteza, ambiguidade, contradições, tensão, con- terminados focos prioritários e isolados, na expectativa
flito e crise são vistos como elementos naturais de que viessem a repercutir no conjunto. Portanto, tal
de qualquer processo social e como condições e entendimento implicaria a realização de ações conjuntas,
oportunidades de crescimento e transformação. para as quais todos os participantes do contexto escolar
deveriam concorrer (Lück, 1996).
89
Em acordo com esses pressupostos, um diretor de estabelecimento de ensino e sem descentralizar poder
escola é um gestor da dinâmica social, um mobilizador para a mesma. Ou que pensam em construir sua autono-
e orquestrador de atores, um articulador da diversidade mia, sem agir no sentido de criar mecanismos sólidos de
para dar-lhe unidade e consistência, na construção do sua democratização, em vista do que, paradoxalmente,
ambiente educacional e promoção segura da formação se pode criar a autonomia do autoritarismo local. Por ou-
de seus alunos. Para tanto, em seu trabalho, presta aten- tro lado, ainda, observa-se o esforço de alguns sistemas
ção a cada evento, circunstância e ato, como parte de um de ensino, no sentido de desenvolver nas escolas os con-
conjunto de eventos, circunstâncias e atos, consideran- ceitos de democratização e autonomia, de modo cen-
do-os globalmente, de modo interativo e dinâmico. Tal tralizado, o que implica uma contradição paradigmática
atitude garante a possibilidade de que pense grande e muito comum, que faz com que os esforços se anulem.
aja no pequeno (Klink, 1993), isto é, que em suas ações Isso porque é comum a prática de se incentivar a promo-
localizadas tenha em mente o conjunto todo da escola e ção de mudanças de cima para baixo, na hierarquia fun-
seu papel educacional, não apenas imediato, mas de re- cional, de modo que a mudança pretendida é proposta
percussão no futuro, em acordo com visão estratégica e para a escola, não sendo absorvida e praticada por quem
com amplas políticas educacionais. Implica ter uma visão a propõe. Em vista disso, sendo implantada linearmente
da escola inserida em sua comunidade, a médio e longo e contrariamente ao seu espírito e propósitos estabele-
prazo, com horizontes largos. cidos (Lück, 1985).
É no contexto desse entendimento, que emerge o Em consequência, é possível identificar certa diversi-
conceito de gestão escolar, que ultrapassa o de admi- dade de orientações e expressões que manifestam graus
nistração escolar, por abranger uma série de concepções de intensidade diferentes em relação ao seguimento dos
não abarcadas por este outro, podendo-se citar a demo- paradigmas. Isso porque o grau de maturidade de di-
cratização do processo de construção social da escola e ferentes grupos e segmentos varia. É em função disso
realização de seu trabalho, mediante a organização de que podemos afirmar que vivemos em uma condição de
seu projeto político-pedagógico, o compartilhamento do transição entre um paradigma e outro, de que resultam
poder realizado pela tomada de decisões de forma cole- algumas tensões e contradições próprias do processo. O
tiva, a compreensão da questão dinâmica e conflitiva e processo de descentralização
contraditória das relações interpessoais da organização, Por que hoje há tendência à descentralização? Con-
o entendimento dessa organização como uma entidade forme Ana Luiza Machado (1999, p. 86), é porque o mun-
viva e dinâmica, demandando uma atuação especial de do passa por mudanças muito rápidas. Na verdade, a
liderança e articulação, a compreensão de que a mu- globalização coloca cada dia um dado novo, cada dia,
dança de processos educacionais envolve mudanças nas uma coisa nova. Há necessidade de adaptação e de cons-
relações sociais praticadas na escola e nos sistemas de tante revisão do que está acontecendo. Então, isso gera a
ensino. necessidade de que o poder decisório esteja exatamente
É a partir dessas questões que conceitos como des- onde a coisa acontece. Porque, até que ele chegue aonde
centralização, democratização e autonomia da escola se é necessário, já houve a mudança, as coisas estão dife-
tornam não apenas importantes, mas imprescindíveis. rentes, e aí aquela decisão já não tem mais sentido.
Cabe, portanto, estudá-los e compreendê-los. No artigo O movimento de descentralização em educação é in-
de Cabral Neto e Almeida, neste Em Aberto, a questão da ternacional (Bullock, Thomas, 1997; Fiske, 1996a, 1996b)
descentralização é analisada no contexto de reforma do e está relacionado com o entendimento de que apenas
Estado, assim como em sua aplicação no Rio Grande do localmente é possível promover a gestão da escola e do
Norte. O que se apresenta a seguir é, portanto, um outro processo educacional pelo qual é responsável, tendo em
desdobramento sobre a questão. vista que, sendo a escola uma organização social e o
processo educacional que promove, altamente dinâmico,
A descentralização, a democratização da gestão qualquer esforço centralizado e distante estaria fadado
escolar e a construção da sua autonomia da escola ao fracasso, como de fato, tem-se verificado. Também,
Como paradigma, é uma visão de mundo que per- é sobretudo como reconhecimento da força dos movi-
meia todas as dimensões da ação humana, não se cir- mentos democráticos, como condição de transformação
cunscreve a esta ou àquela área, a este ou àquele nível de e desenvolvimento social.
operação. A realidade atua como um conjunto de peças É preciso reconhecer que a descentralização tem sido
de dominó colocadas em pé, lado a lado: ao se empur- praticada tendo como pano de fundo não apenas essa
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
rar uma, todas as demais irão caindo subsequentemente. perspectiva de democratização da sociedade, mas tam-
Essa situação ilustra a compreensão da realidade como bém a de promover melhor gestão de processos e re-
um sistema, daí por que todos os conceitos seriam inter- cursos e, ainda, como condição de aliviar os organismos
-relacionados. Mais do que isso ocorre, uma vez que um centrais que se tornam sobrecarregados com o cresci-
conceito está, de fato, inserido no outro. mento exponencial do sistema educativo e a complexi-
Muito embora as concepções de descentralização, dade das situações geradas, que inviabilizam o controle
democratização da gestão escolar e autonomia da escola central (Barroso, 1997).
sejam parte de um mesmo corolário, encontramos certos Quando se observa que alguns sistemas de ensino
sistemas que buscam o desenvolvimento da democrati- descentralizam, centralizando, isto é, dando um espa-
zação da gestão escolar, sem pensar na autonomia do ço com uma mão, ao mesmo tempo que tirando outro
90
espaço, com outra, pode-se concluir que o princípio que por tratar-se de um País continente, com diversidades
adotam não é o da democratização, mas o de maior ra- regionais muito grandes, com distâncias imensas que
cionalidade no emprego de recursos e o de busca de caracterizam, também, grande dificuldade de comunica-
maior rapidez na solução dos problemas. Nesse caso, ção, apesar de vivermos na era da comunicação mundial
não se pretende o estabelecimento de mudanças sig- em tempo real. Em vista disso, só se pode pensá-la em
nificativas nas relações entre sistema e escola, escola e termos graduais e processuais, mediante conquistas su-
comunidade, dirigentes e professores, professores e alu- cessivas. Cabe aqui aplicar os princípios da participação
nos mudanças estas que deveriam estar voltadas para propostos por Pedro Demo (1988), no sentido de que
o compartilhamento de decisões (Fiske, 1996a). Nesse participação é conquista.
caso, pretende-se, tão-somente, estabelecer maior con- Desse modo, “a descentralização educacional não é
trole sobre a escola, ao mesmo tempo sobrecarregando- um processo homogêneo e praticado com uma única di-
-a com mais trabalho e maior responsabilidade. reção. Ela responde à lógica da organização federativa”
(Parente, Lück, 1999, p. 7). Como se trata de um processo
Coordenadores estaduais da Rede Nacional de Re-
que se refere à transferência de competências para ou-
ferência em Gestão Educacional, do Conselho Nacional
tros níveis de governo e de gestão, do poder de decisão
de Secretários de Educação (Renageste/Consed), reu-
sobre os seus próprios processos sociais e os recursos
nidos em Brasília, em setembro de 1997, identificaram
necessários para sua efetivação, implica existência ou
que, para ser plena, a democratização da escola deve- construção de competência para tanto, daí porque a im-
ria passar pela democratização da educação, isto é, do possibilidade da homogeneidade apontada. O nível de
sistema de ensino como um todo, envolvendo os níveis maturidade associada à competência dos grupos sociais
superiores de gestão, que deveriam, também, sofrer o é fator substancial na determinação da amplitude do
processo de gestão democrática, mediante a partici- processo.
pação da comunidade e de representantes das escolas É em decorrência de tal situação que, em muitos ca-
na determinação das decisões que são tomadas nesse sos, pratica-se muito mais a desconcentração, do que
âmbito. Somente mediante uma tal prática é que seria propriamente a descentralização, isto é, realiza-se a dele-
possível realizar a verdadeira descentralização proposta. gação regulamentada da autoridade, tutelada ainda pelo
Em pesquisa realizada no Paraná, sobre a implantação de poder central, mediante o estabelecimento de diretrizes
políticas educacionais e implicações quanto a sua gestão e normas centrais, controle na prestação de contas e a
(Lück, Schneckenberg, Durli, 1999) foi identificado o an- subordinação administrativa das unidades escolares aos
seio de diferentes grupos de interesse, na determinação poderes centrais, em vez de delegação de poderes de au-
dessas políticas, e a sua frustração por falta desse espa- to-gestão e autodeterminação na gestão dos processos
ço. Essa prática implica redefinição dos papéis do Estado, necessários para a realização das políticas educacionais.
em associação com os da escola e da comunidade, em Segundo Florestal e Cooper (1997, p. 32), “desconcen-
relação a esta instituição e seu trabalho educacional, me- tração é ato de conferir autoridade a um agente situado
diante o estabelecimento do princípio de corresponsabi- em um nível inferior na mesma hierarquia e localizado
lidade pelo mesmo. Essa redefinição seria acompanhada mais próximo dos usuários do serviço, com o entendi-
de um movimento de desburocratização, uma vez que a mento de que esses agentes se mantêm sob o controle
existência ou fortalecimento da burocracia estão associa- hierárquico do governo central”. Nesse caso, não ocor-
dos à centralização. rem a reorganização e redefinição funcional do aparelho
De qualquer modo, esse processo, como todo mo- de Estado, conforme indicado por Barroso (1997), nem a
vimento social, é sujeito a contradições. A contradição delegação de poderes de autogestão e autodetermina-
ção, na gestão dos processos necessários para realização
evidenciada na educação brasileira não invalida, portan-
das políticas educacionais estas, determinadas no centro,
to, o movimento, apenas registra um aspecto natural do
mas mesmo assim, ouvindo a sociedade e com participa-
mesmo. Conforme indicado por Bullock e Thomas (1997),
ção de seus vários segmentos.
em seu estudo sobre descentralização, esta se processa
A desconcentração, pois, parece ser mais o caso pra-
simultaneamente com um movimento de centralização, ticado no Brasil, em nome da descentralização, estando,
isto é, enquanto se descentralizam certas coisas, centra- no entanto, esse movimento se conduzindo para uma
lizam-se outras. É importante registrar que o que comu- descentralização mais plena.
mente se descentralizam são recursos e espaços para a Conforme, ainda, apontado por Parente e Lück (1999,
tomada de decisão, mas que, como a cultura escolar não p. 13), o que vem ocorrendo na prática educacional brasi-
está criada e estabelecida para fazê-lo, adequadamente,
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
91
A municipalização do ensino e a escolarização da É necessário, no entanto, que se reflita sobre o con-
merenda são práticas bem-sucedidas, nesse sentido. A ceito de autonomia escolar e se explore o seu significado
descentralização é, pois, um processo que se delineia, à e suas repercussões, uma vez que concepções conflitan-
medida que vai sendo praticado, constituindo, portan- tes estão sendo expressas, gerando desentendimento e
to, uma ação dinâmica de implantação de política social, confusão sobre a questão, que, na prática, promovem
visando estabelecer, conforme indicado por Malpica desarticulação de ações e de propósitos. As duas situa-
(1994), mudanças nas relações entre o sistema central, ções abaixo registradas apontam esse fato.
pela redistribuição de poder, passando, em consequên- De um lado, observa-se que, em muitos programas de
cia, as ações centrais, de comando e controle, para coor- sistemas educacionais, a autonomia é entendida como o
denação e orientação (descentralização política); pela resultado de transferência financeira. Conforme se pro-
abertura à autodeterminação no estabelecimento de nunciou um dirigente educacional, dando notoriedade a
processos e mecanismos de gestão do cotidiano escolar, essa proposta: A autonomia é financeira, ou não existe”.
de seus recursos e de suas relações com a comunida- Porém, transferência de recursos por si não garante au-
de (gestão administrativa e financeira). Ainda, conforme tonomia, uma vez que esta, como processo complexo,
apontado por Parente e Lück (1999), conduz a escola à depende de uma série de características, e está relacio-
construção de sua identidade institucional, constituída nada com outras áreas como se verá mais adiante. Por
pela formação da capacidade organizacional para elabo- outro lado, para muitos diretores, a autonomia é a capa-
rar seu projeto educacional (descentralização pedagógi- cidade de agir independentemente do sistema. A expres-
ca), mediante a gestão compartilhada e a gestão direta são desse entendimento foi observada pela autora em
de recursos necessários à manutenção do ensino. Por- ocasiões diversas em que diretores escolares negavam
tanto, construindo sua autonomia. a autoridade de seu secretário de Educação sobre várias
questões, como por exemplo, de solicitar a prestação de
A autonomia da escola contas de resultados de certas ações ou do direito de
Em associação à descentralização, a autonomia da convocá-los para uma reunião na Secretaria de Educação
iriam consultar as bases para decidir se deveriam ou não
escola é dos conceitos mais mencionados nos progra-
comparecer.
mas de gestão promovidos pelos sistemas estaduais de
Por parte dos sistemas educacionais, os mesmos ór-
ensino, como também em programas do Ministério de
gãos que preconizam a autonomia da escola, decretan-
Educação, uma vez que neles está presente, como condi-
do a eleição do diretor da escola, concedendo as verbas
ção para realizar o princípio constitucional de democra-
para a autogestão escolar, cerceiam a prática dessa au-
tização da gestão escolar. Isto porque a autonomia de
tonomia com normas e regulamentos frequentes sobre
gestão da escola, a existência de recursos sob controle
operações e não sobre os princípios da qualidade do
local, junto com a liderança pelo diretor e participação da
ensino e seus resultados. O hábito da interferência no
comunidade, são considerados os quatro pilares sobre os
cotidiano da escola e do controle sobre a mesma con-
quais se assentam a eficácia escolar. tinua vigendo. Em muitos casos, a interferência opera-
O conceito de autonomia da escola está relaciona- cional do sistema sobre a escola é tanta que inviabiliza
do com tendências mundiais de globalização e mudan- a sua orientação para implementar seu próprio projeto
ça de paradigma que têm repercussões significativas político-pedagógico, o qual é abandonado, na expectati-
nas concepções de gestão educacional e nas ações dela va das determinações superiores. Por vezes, até mesmo,
decorrentes. Descentralização do poder, democratiza- chegam à escola, de diferentes áreas de ação da Secre-
ção do ensino, instituição de parcerias, flexibilização de taria de Educação, comunicações e demandas conflitan-
experiências, mobilização social pela educação, sistema tes que confundem e desestimulam a realização de seu
de cooperativas, interdisciplinaridade na solução de pro- projeto de desenvolvimento, promovendo, dessa forma,
blemas são estes alguns dos conceitos relacionados com a imobilização da escola. Tais situações indicam a falta
essa mudança. Entende-se, nesse conjunto de concep- de entendimento do que é autonomia e das implicações
ções, como fundamental, a mobilização de massa crítica para sua realização como uma política do sistema.
para se promover a transformação e sedimentação de O que é a autonomia? Qual o seu âmbito e abrangên-
novos referenciais de gestão educacional para que a es- cia? Corresponderia ao total e absoluto desligamento de
cola e os sistemas educacionais atendam às novas neces- um poder central? Vamos examinar essa questão.
sidades de formação social a que a escola deve respon- Por certo, trata-se a autonomia de um conceito
der, conforme anteriormente apontado. complexo, com múltiplas nuances e significados, tantos
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A autonomia é uma necessidade, quando a socieda- quantos esforços existem para expressá-la na realidade
de pressiona as instituições para que realizem mudanças escolar. Algumas vezes, porém, ela é muito mais uma
urgentes e consistentes, para que respondam com eficá- prática de discurso do que uma expressão concreta em
cia e rapidamente às necessidades locais e da sociedade ações objetivas: em outras, representa o discurso utili-
globalizada, em vista do que, aqueles responsáveis pelas zado para justificar práticas individualistas e dissociadas
ações devem tomar decisões rápidas, de modo que as do contexto. Mas é fundamental que se desenvolva um
mudanças ocorram no momento certo, a fim de não se entendimento comum sobre o mesmo, uma vez que, a
perder o momentum de transformação e da realização partir dele, são organizados programas de ação que in-
de objetivos. E esse momentum é sobretudo dependente fluenciam, explicam e legitimam ações de repercussão
de comprometimento coletivo. social muito grande.
92
O verbete autonomia, conforme propõe o Dicionário conceito que se realiza dinamicamente, num continuum
Básico da Língua Portuguesa (Ferreira, 1995), é a capaci- fluido, conforme as manifestações de participação local,
dade de resolver seus próprios problemas. Tal conceito no entrechoque com a determinação externa. O mesmo
apresenta uma série de implicações, sendo a mais forte, abrange a mudança de um princípio de uniformidade,
a de que quem resolve seus próprios problemas não ne- ditada por regras e regulamentos, para o princípio de
cessita de outrem para ajudar-lhe a fazê-lo. Corresponde, unidade, orientada por princípios e diretrizes.
portanto, esse significado, a uma autonomia plena e total A autonomia não se resume, portanto, à questão fi-
desligamento de outros setores. Nesse caso, a escola não nanceira, nem é mais significativa nessa dimensão, e sim
necessitaria do governo, nem da comunidade para reali- na política, isto é, no que se refere à capacidade de to-
zar seu trabalho: seria autossuficiente. Ora, tal condição é mar decisões compartilhadas e comprometidas e usar
inadequada, em todos os seus aspectos. A escola é uma o talento e a competência coletivamente organizada e
organização social, instituída pela sociedade e organiza- articulada, para a resolução dos problemas e desafios
da para prestar-lhe um serviço que deve ser, portanto, educacionais, assumindo a responsabilidade pelos re-
coordenado e orientado por organismos sociais que de- sultados dessas ações, vale dizer, apropriando-se de seu
têm esse estatuto, ao mesmo tempo em que se articula significado e de sua autoria. Portanto, a descentralização
com sua comunidade local, de modo a desempenhar sua é um meio e não um fim, na construção da autonomia,
missão adequadamente. Possivelmente em decorrência assim como esta é, também, um meio para a formação
desse entendimento é que se receia, na escola, que a sua democrática dos alunos.
autonomia venha a resultar em seu abandono pelo go- Sustenta esse posicionamento a compreensão de que
verno central. todos os problemas relacionados com a educação são
Poder-se-ia afirmar, portanto, que a escola se situa problemas da coletividade, não são problemas exclusi-
entre dois contextos de articulação: um central e outro vamente de governo. Em consequência, as soluções para
local, sendo interdependente em relação a ambos. Tan- os mesmos devem ser buscadas em conjunto, levando
to em relação à sua instituição, como ao funcionamento em conta a reflexão coletiva sobre a realidade e a ne-
e aos resultados de seu trabalho, a escola, mesmo a de cessidade de negociação e o convencimento local para
caráter privado, deve à sociedade ampla, representada sua efetivação, o que só pode ser praticado, mediante o
pelo governo, e a local, representada pela comunidade, espaço de autonomia. Cabe lembrar aqui, que tomada
prestar contas de sua responsabilidade (definida aliás, de decisão, antes e acima de tudo, corresponde ao es-
socialmente), como deles receber orientações e, no caso tabelecimento de um firme e resoluto compromisso de
da escola pública, recursos compatíveis com suas neces- ação, sem o qual o que se necessita e espera-se, não se
sidades de bom funcionamento. Portanto, a escola existe converte em realidade; não é, portanto, uma formaliza-
e vive em condição de interdependência com os organis- ção de intenções ou de expectativas (Lück, 1999). Vale
mos centrais e locais, necessitando articular-se com os dizer que, associada a essa tomada de decisão, devem
mesmos para garantir sua própria identidade social. No estar presentes o empreendedorismo e a proatividade,
entre jogo desses âmbitos é que a escola constrói a sua uma vez que na sua ausência nada se realiza.
autonomia, sendo esta caracterizada, portanto, pela flui- Para a prática da autonomia escolar, alguns mecanis-
dez, em acordo com as tendências e forças do momento. mos são explicitados: existência de estrutura de gestão
Como um conceito que explica situações complexas e colegiada, que garante a gestão compartilhada; a eleição
de múltiplas facetas, autonomia não pode ser explicada de diretores e a ação em torno de um projeto político-
simplesmente pelo senso comum do dicionário. Precisa -pedagógico.
ser articulado de modo especial, para explicar um pro- Quanto à estrutura de gestão colegiada, o próprio
cesso que se pretende construir na escola. Conceituar e Ministério da Educação (MEC) orientou a organização
explicar os múltiplos e complexos desdobramentos de dessas estruturas, com o objetivo de sistematizar e orde-
seu significado implica, pois, delinear o que se pretende nar a formação desses mecanismos de gestão, denomi-
promover e se promove na escola, que identidade essa nando-os genericamente como Unidade Executora, cuja
instituição constrói e pretende construir, que tipo de re- responsabilidade precípua seria a de receber, executar e
lação existe entre a mesma, sua comunidade e os órgãos gerir recursos financeiros da unidade escolar:
centrais. Os desdobramentos políticos e sociológicos do A Unidade Executora é uma denominação genérica,
conceito são, portanto, múltiplos. adotada para referir-se às diversas nomenclaturas, en-
Estabelece-se, neste documento, que autonomia, no contradas em todo território nacional para designar en-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
contexto da educação, consiste na ampliação do espaço tidade de direito privado, sem fins lucrativos, vinculados
de decisão, voltada para o fortalecimento da escola como à escola, tendo como objetivo a gestão dos recursos fi-
organização social comprometida reciprocamente com a nanceiros, transferidos para a manutenção e desenvol-
sociedade, tendo como objetivo a melhoria da qualidade vimento do ensino. Não importa qual a denominação
do ensino. Autonomia é a característica de um proces- que a unidade escolar e a comunidade escolham para
so de gestão participativa que se expressa, quando se a Unidade Executora, seja ela Associação, Caixa Escolar,
assume com competência a responsabilidade social de Círculo de Pais e outras. O princípio básico é a busca da
promover a formação de jovens adequada às demandas promoção da autonomia da escola e participação da co-
de uma sociedade democrática em desenvolvimento, munidade, em todas as suas dimensões: pedagógica, ad-
mediante aprendizagens significativas. Trata-se de um ministrativa e financeira (Brasil, 1997).
93
Mediante a existência dessa unidade, a escola estaria Trata-se, portanto, de uma área de atuação sobre a
apta a receber, diretamente do MEC, recursos financei- qual muito temos a aprender: como eleger o melhor e
ros para suas necessidades cotidianas. Também muitos mais competente profissional disponível para o cargo,
Estados repassam recursos diretamente para suas es- como superar os interesses individuais e de grupos isola-
colas. O Estado de Tocantins criou o Programa Escola dos, na busca do bem social e da qualidade da educação,
Autônoma, pelo qual a Secretaria de Educação repassa como manter o compromisso coletivo e a mobilização
mensalmente, via convênio com as associações de apoio social em torno da escola, para além da ocasião das elei-
às escolas públicas, com as cooperativas educacionais e ções.
com as entidades filantrópicas e religiosas, recursos fi- A decisão pelo judiciário, de apontar a inconstitucio-
nanceiros para a aquisição de materiais, equipamentos e nalidade da realização de eleição para o provimento do
para a manutenção do ensino, de forma geral. O critério cargo de diretores de escola, tem promovido uma retra-
para o valor dos repasses tem como base o número de ção na expansão dessa prática (Paro, 1996) e fortaleci-
alunos matriculados e que frequentam cada unidade es-
do uma tendência de, sem perder de vista os esforços
colar (Gestão em Rede, 1999). Observa-se, nessas inicia-
pela democratização da escola e de sua gestão, promo-
tivas, a acentuação à dimensão financeira para promover
ver critérios de seleção de diretores que passem pela
a autonomia, e não a mudança das relações recíprocas,
demonstração de competências para o exercício desse
de modo a construir a mutualidade de compromissos.
O artigo de Parente e Lück, neste Em Aberto analisa a trabalho (critérios técnicos). Este é o caso de sete Esta-
distribuição dessas estruturas de gestão colegiada no dos brasileiros, onde são realizados concursos, provas,
contexto nacional. exames de competência profissional, associados ou não,
A respeito dos mecanismos de eleição de diretor, o à participação em cursos de capacitação. A adoção des-
movimento de descentralização e construção da auto- ses critérios, que não são incompatíveis com a eleição,
nomia da escola passou, no Brasil, pela adoção de meca- estaria de acordo com a necessidade de a escola, para se
nismos diferenciados de provimento do cargo de diretor tornar efetivamente autônoma, ser dirigida com compe-
da escola, em contrapartida à prática tradicional de indi- tência e demonstrar sua efetividade. É necessário, por-
cação por políticos, filtrada e referendada pelos órgãos tanto, cuidar para que não se perca, com essa medida, o
centrais. Assim é que a escolha do diretor escolar, pela movimento de mobilização em torno da escola, que se
via da eleição direta e com a participação da comunida- desenvolve, ainda que de forma incipiente.
de, vem se constituindo e ampliando-se como mecanis- Muitas escolas elegeram seus diretores, receberam
mo de seleção diretamente ligado à democratização da dinheiro para cobrir seus gastos cotidianos e, nem por
educação e da escola pública, visando assegurar, tam- isso, tornaram-se autônomas. Tais mecanismos não são,
bém, a participação das famílias no processo de gestão portanto, em si, garantias de prática autônoma, conforme
da educação de seus filhos (Parente, Lück, 1999, p. 37). anteriormente já apontado. Para tanto, é necessário von-
Essa eleição teve início no Estado do Paraná, em 1984, tade política das bases em assumir, com competência,
sendo praticada em 17 Estados brasileiros. Não há, no as responsabilidades correspondentes. Muitas escolas se
entanto, resultados gerais e consistentes que demons- queixam de não terem espaço ou não se considerarem
trem a efetividade desse mecanismo na prática efetiva de à vontade para tomarem decisões e agirem autonoma-
gestão democrática, tendo sido até mesmo identificada mente para resolver seus problemas. No entanto, bus-
a intensificação do autoritarismo da gestão escolar por cam normas e regulamentos da hierarquia superior para
diretores eleitos, em certos casos. Cabe lembrar que não realizar, com maior segurança, o trabalho de gestão. É
é a eleição em si que democratiza, mas sim o que ela importante ressaltar que autonomia não se constrói com
representaria como parte de um processo participativo
normas e regulamentos e sim com princípios e estraté-
global, do qual ela seria apenas um momento significa-
gias, que estabelecem uma concepção e uma direção que
tivo. Ao se promover a eleição de dirigentes, estar-se-ia
delimitam e qualificam as ações, ficando as operações e
delineando uma proposta de escola, de estilo de gestão
procedimentos abertos às circunstâncias específicas do
e firmando compromissos coletivos para levá-los a efei-
to. Esse entendimento, no entanto, não se tem manifes- momento e do contexto. Quando tudo deve ser regula-
tado no conjunto das escolas, como em geral não se ma- do e normatizado, cerceia-se o espaço da iniciativa, da
nifesta em nossa prática de escolha de nossos dirigentes criatividade, do discernimento necessários para o aten-
e legisladores: os elegemos e nos descompromissamos dimento da dinâmica social que o processo educacional
de qualquer participação, mesmo a de acompanhamento envolve, o que demanda, por sua vez, abertura ao novo,
ao inesperado, até mesmo ao risco. Não há modelos para
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
94
o reconhecimento da importância de abrir a escola para Por outro lado, cabe ressaltar que, sem responsabili-
a comunidade, e de outro lado, o receio de assumir res- zação, instala-se a anarquia em nome da autonomia. A
ponsabilidades e o medo de que o Estado a deixe sozi- sua construção pressupõe a obediência e o seguimento
nha e o temor de perder o controle sobre seu processo. a políticas nacionais, estaduais e locais de desenvolvi-
A prática da autonomia demanda, por parte dos ges- mento da educação, a fim de que se possa estabelecer
tores da escola e de sua comunidade, assim como dos unidade e direção coordenada nos respectivos sistemas.
responsáveis e agentes do sistema de ensino, um ama-
durecimento caracterizado pela confiança recíproca, pela Dimensões da autonomia
abertura, pela transparência, pela ética e pela transcen- A autonomia tem várias dimensões, podendo-se evi-
dência de vontades e interesses setorizados, em nome denciar, de modo especial, a financeira, a política, a ad-
de um valor maior, que é a educação de qualidade para ministrativa e a pedagógica. Trata-se de quatro eixos que
os alunos. Tal prática é o antídoto para vencer os medos devem ser desenvolvidos concomitantemente, de modo
e receios. E as escolas e os sistemas que se iniciam nesse interdependente e a se reforçarem reciprocamente. Essa
processo tomam iniciativas e constroem sua autonomia, autonomia se constrói com autoridade, isto é, com o sen-
dessa forma, construindo sua credibilidade e desenvol- tido de autoria competente. Trata-se de uma autoridade
vendo sua competência pedagógica e social. intelectual (conceitual e técnica), política (capacidade de
O Prêmio Nacional de Referência em Gestão Escolar, repartir poder), social (capacidade de liderar) e técnica
instituído em 1998 pelo Consed, identificou, dentre os (capacidade de produzir resultados e monitorá-los). As-
seus 98 casos premiados nesse primeiro ano do Prêmio, sim como uma cadeira de quatro pernas, sem uma delas
esforços realizados no sentido de, pela gestão compar- perderia sua função, do mesmo modo, a falta de equilí-
tilhada, pela busca criativa de resolução de problemas e brio no desenvolvimento desses quatro eixos desarticu-
realização dos propósitos educacionais da escola, pelo laria o desenvolvimento da autonomia da escola, preju-
desenvolvimento do seu projeto pedagógico, em parce- dicando a realização de sua função.
ria com a comunidade, que a construção da autonomia
escolar seja um processo em franco desenvolvimento Características da construção da autonomia
nas escolas brasileiras e que a qualidade do ensino este- A efetivação da autonomia escolar está associada a
ja em íntima relação com esse processo. A continuidade uma série de características, umas ocorrendo como des-
do Prêmio, centrado na gestão democrática, promoverá,
dobramento de outras, tal como num mosaico que só
concomitantemente, a estimulação a essa prática, assim
faz sentido visto pelo conjunto. Dentre essas caracterís-
como o seu registro e a sua divulgação.
ticas ressaltam, como significativas em seu processo, as
seguintes:
O que não é a autonomia
Como um conceito complexo, a autonomia deman-
Autonomia é construção
da, conforme anteriormente indicado, um conjunto de
A autonomia é um processo que se constrói no dia-a-
fatores concomitantes para que seja caracterizada como
-dia, mediante ação coletiva competente e responsável,
um movimento dirigido para a tomada de decisão e as-
realizada mediante a superação de naturais ambiguida-
sunção de responsabilidades pela escola e sua comuni-
dade. Por conseguinte, esforços no sentido de realizar des, contradições e conflitos. Para orientá-la, portanto,
um aspecto e não outro deixam de caracterizar um mo- bastam diretrizes, princípios e estratégias, sendo normas
vimento dirigido à construção da autonomia escolar. Por e regulamentos inócuos e até mesmo contraproducen-
exemplo, não é construção da autonomia, quando são tes, uma vez que limitam a participação e a criativida-
considerados isoladamente: de necessárias para a construção social. Trata-se de uma
- a transferência de responsabilidade do sistema de construção processual, sem planta pré-traçada.
ensino para a escola, o que corresponderia à des-
responsabilização do sistema quanto aos destinos Autonomia é ampliação das bases do processo de-
da escola e suas condições de atuação; cisório
- a pulverização do sistema de ensino, pela crescente Ao se construir a autonomia da escola, amplia-se, até
diferenciação entre as escolas, em decorrência de mesmo para fora do estabelecimento de ensino, o po-
sua ação autônoma, o que inviabilizaria a unidade der de decisão sobre o seu trabalho. Esse processo de
do sistema e, portanto, o princípio de equidade, decisão torna-se, desse modo, mais amplo e complexo,
por levar em consideração múltiplos aspectos que cons-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
95
educação a escola deve promover e de como todos, em Autonomia é expressão de cidadania
conjunto, vão agir para realizá-la. Não se trata, portanto, A consciência de que, vivendo em um contexto, te-
de um processo de repartir responsabilidades, mas de mos em relação a ele, direitos que se justificam pelos
desdobrá-las, ampliando-as e compartilhando-as. deveres assumidos, é pré-condição para a efetivação da
autonomia, daí por que é uma expressão de cidadania.
Autonomia e heteronomia se complementam Quando a escola se propõe a promover a cidadania críti-
Autonomia da escola não significa total e absoluta ca e competente em seus alunos, emerge como condição
capacidade e direito de condução de seus próprios des- natural para a realização desse objetivo, a construção de
tinos, em desconsideração ao contexto de que a escola sua autonomia, processo por si só pedagógico, em cuja
faz parte. Tal situação seria irreal na dimensão social. A expressão se articulam direitos e deveres. Quando, e à
interdependência é a regra geral que rege todas as orga- medida que se constrói a autonomia da escola, os alunos
nizações sociais. Por conseguinte, a heteronomia, isto é, aprendem, vivendo nesse ambiente, o espírito da cida-
a determinação externa dos seus destinos, sempre estará dania.
legitimamente presente na gestão da escola, tanto pú-
blica, quanto privada, estabelecendo, com a autonomia, Autonomia é um processo de articulação entre os
um equilíbrio dinâmico nos sistemas de ensino e suas
âmbitos macro e micro
escolas. Isso porque, a autonomia é o resultado do equi-
Autonomia não é um processo interno à escola, mas
líbrio de forças numa determinada escola, entre os diver-
sim, um princípio que deve permear todo o sistema e até
sos detentores de influência (externa e interna)” (Barroso,
mesmo a sociedade. É por isso que não se realiza auto-
1996, p. 186).
nomia por decreto, nem se delega condições de autono-
Autonomia pressupõe um processo de mediação mia. Para ser plena, necessita de que no âmbito macro de
Dados os conflitos, as contradições e as tensões de- gestão, que tanta influência exerce sobre a escola, não
correntes do próprio processo de aprender a trabalhar apenas por suas regulamentações e determinações, mas
de forma compartilhada, o exercício da prática de au- por seu modo de ser e de fazer, adote-se a prática da
tonomia implica a necessidade da prática de mediação construção de sua própria autonomia, que implica sua
que envolve saber equilibrar interesses diversos, sem responsabilização pelo todo.
desconsiderá-los. A mediação implica um processo de Autonomia implica gestão democrática
ganha-ganha, em que todos os segmentos envolvidos Autonomia é um processo coletivo e participativo de
têm suas necessidades mais importantes reconhecidas e compartilhamento de responsabilidades, emergentes
atendidas, assim como contribuem, com sua competên- do estabelecimento conjunto de decisões. Não se trata,
cia, para a efetivação da educação. na efetivação desse processo, de a escola ser autônoma
para alguém, para algum grupo, mas de ser autônoma
Autonomia é um processo contraditório com todos, em nome da sociedade, desse modo caracte-
Como a liberdade e a flexibilidade são componentes rizando-se como gestão democrática, isto é, uma gestão
imprescindíveis para a construção da autonomia, que compartilhada e participativa.
se processa mediante o envolvimento de grupos que A gestão democrática implica a participação de todos
expressam diferentes interesses, é natural que seja um os segmentos da unidade escolar, a elaboração e execu-
processo acompanhado de manifestações contraditórias. ção do plano de desenvolvimento da escola, de forma
Estas, fazem parte do processo e saber utilizar a sua ener- articulada, para realizar uma proposta educacional com-
gia e reconhecer as suas tendências é condição para o patível com as amplas necessidades sociais.
bom encaminhamento do processo.
A democratização da gestão escolar
Autonomia implica responsabilização A autonomia e a descentralização constituem-se um
Não ocorre autonomia quando não existe a capaci-
binômio construído reciprocamente, mediante processos
dade de assumir responsabilidades, isto é, de responder
de democratização, isto é, tendo a prática democrática
por suas ações, de prestar contas de seus atos, de realizar
como centro. Portanto, tudo que foi até agora descrito
seus compromissos e de estar comprometido com eles,
em relação àqueles processos, refere-se, por tabela, à
de modo a enfrentar reveses e dificuldades. Consequen-
temente, a intensidade da autonomia está diretamente gestão democrática. Cabe, no entanto, evidenciar alguns
relacionada com a intensidade dessa responsabilização, aspectos.
Conforme Kosik (1976, p. 18) evidenciou, a realidade
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
96
A participação, em seu sentido pleno, caracteriza- As idéias não têm valor por si próprias, mas por sua
-se por uma força de atuação consistente pela qual os capacidade de impulsionar a ação para promover resul-
membros da escola reconhecem e assumem seu poder tados desejados. E estas devem ser monitoradas e avalia-
de exercer influência na dinâmica dessa unidade social, das, a fim de que se possa evidenciar ao público os seus
de sua cultura e dos seus resultados. Esse poder seria resultados e se ter parâmetros para o prosseguimento
resultante de sua competência e vontade de compreen- das ações.
der, decidir e agir em torno de questões que lhe dizem O desenvolvimento da escola e a realização de seu
respeito (Lück, 1998). trabalho têm um rumo, propõem a realização de objeti-
A criação de ambientes participativos é, pois, uma vos e, para tanto, há a necessidade de definição clara e
condição básica da gestão democrática. Deles fazem par- objetiva de seus resultados finais e intermediários, que
te a criação de uma visão de conjunto da escola e de sua devem ser acompanhados e avaliados, visando à neces-
responsabilidade social; o estabelecimento de associa- sária correção, quando for o caso; o cuidado com o ritmo
ções internas e externas; a valorização e maximização de de trabalho, que deve se manter constante; a identifica-
aptidões e competências múltiplas e diversificadas dos ção de problemas a serem contornados; o uso adequado
participantes; o desenvolvimento de processo de comu- de recursos; o estabelecimento da relação custo-benefí-
nicação aberta, ética e transparente. cio e a identificação de novas perspectivas de ação.
Esse ambiente participativo dá às pessoas a oportuni- Em consequência, o monitoramento e a autoavaliação
dade de controlar o próprio trabalho, ao mesmo tempo se constituem responsabilidade pública da gestão demo-
que se sentem parte orgânica de uma realidade e não crática. É ela que estabelece a credibilidade da escola e
apenas apêndice da mesma ou um mero instrumento da educação, que tanto carecem de reconhecimento pú-
para a realização dos seus objetivos institucionais. blico para sua revitalização. Aliás, a própria legitimidade
Orientação para resultados, monitoramento e avalia- da escola depende desse processo (Gadotti, 1997).
ção: uma condição para a autonomia e a democratização É com esse enfoque em mente que o Consed promo-
da escola veu o Prêmio Nacional de Referência em Gestão Esco-
lar, que objetiva oferecer às escolas um estímulo e uma
As questões da gestão democrática, da descentrali- orientação para a realização de sua autoavaliação, como
zação e da autonomia da escola estão presentes, sobre- um processo participativo e, portanto, por si só, pedagó-
tudo, na literatura dirigida à escola pública. É relativa- gico. Há de se reconhecer que a avaliação é um impor-
mente grande a produção sobre a gestão democrática tante e imprescindível instrumento de gestão. Proces-
e a participação. A ênfase é a de subsidiar a escola para so de avaliação é uma oportunidade de aprendizado e
uma mudança de mentalidade e atitude, sem a qual essa evolução. Ele é, antes de tudo, um processo pedagógico.
organização não poderia ser efetiva em seu papel social. Seus resultados devem servir de referência para a adoção
Essa literatura tende, no entanto, a ignorar e algumas ve- de práticas para a melhoria de processos e resultados da
zes até mesmo a rejeitar um outro enfoque da gestão, escola (Conselho Nacional de Secretários de Educação,
que parece dirigir-se à escola particular: o enfoque sobre 1999, p. 15).
a melhoria do ensino, a qualidade e o controle dos re- Essa autoavaliação abrange cinco categorias de aná-
sultados pelo monitoramento e avaliação. Um grupo da lise, sendo quatro delas voltadas para processos e uma
literatura enfoca os processos políticos e outro, os resul- delas, voltada para resultados, que legitimariam os pro-
tados, de maneira dissociada e como aspectos estanques cessos. Estes são os de gestão participativa; gestão peda-
e isolados entre si. Há até mesmo o entendimento de gógica; gestão de pessoas; gestão de serviços de apoio;
que a preocupação com estes aspectos estaria em opo- recursos físicos e financeiros, todos eles interdependen-
sição aos anteriores, uma vez que os mesmos serviriam a tes na realidade, separados apenas para fins de avaliação.
uma política neoliberal de governo, que expropriaria as A autoavaliação de resultados no contexto do Prêmio
unidades sociais de sua produção e do seu saber. envolve a identificação da medida em que são alcança-
É importante ressaltar que a articulação dessas duas dos pela escola os objetivos e metas definidos no seu
dimensões é fundamental para que a escola possa reali- projeto pedagógico; o acompanhamento e gerencia-
zar o seu papel social. Isso porque de nada adiantariam mento de índices de acesso, permanência, aprovação e
seus processos sociais de participação voltados para si aproveitamento escolar de seus alunos; a verificação de
próprios e obtidos a qualquer custo, mas sim pelos re- avanços nos indicadores de eficiência e eficácia relativos
sultados que possam promover em termos educacionais. ao uso e aplicação de seus recursos financeiros; o uso de
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
Propõe-se que a gestão da escola seja democrática por- referências e indicadores de outras escolas para compa-
que se entende que a escola assim o seja para que possa ração com os próprios.
promover a formação para a cidadania. E essa formação Portanto, o que se evidencia como importante é uma
é plena não apenas mediante uma nova mentalidade e prática democrática orientada pela eficácia e eficiência,
atitudes; ela necessita, para sua expressão, de conheci- continuamente monitoradas e avaliadas. Como a demo-
mentos e habilidades, que tornam as pessoas capazes de cratização da gestão escolar é uma proposta de mudança
agir com proficiência. Isso porque de nada valem as boas cultural, conforme indicado por Ghanem (1998, p. 154),
idéias sem que sejam traduzidas em ações competentes é importante ter em mente que não deve ser lenta e sim
e consequentes. É a ação que transforma a realidade e consistente: O tempo que ela durar depende diretamen-
não a contemplação. te do que fizermos para que ela aconteça.
97
A formação de gestores escolares Os resultados da ineficácia dessa ação são tão sérios
O movimento pelo aumento da competência da es- em termos individuais, organizacionais e sociais, que não
cola exige maior competência de sua gestão, em vista do se pode continuar com essa prática. A responsabilidade
que, a formação de gestores escolares passa a ser uma educacional exige profissionalismo.
necessidade e um desafio para os sistemas de ensino. O trabalho de gestão escolar exige, pois, o exercício
Sabe-se que, em geral, a formação básica dos dirigentes de múltiplas competências específicas e dos mais varia-
escolares não se assenta sobre essa área específica de dos matizes. O artigo de Castro, neste Em Aberto, que
atuação e que, mesmo quando estes profissionais a têm, relata uma pesquisa em sistemas municipais de ensino,
ela tende a ser livresca e conceitual, uma vez que esta é, apresenta, de maneira viva e contundente, as demandas
em geral, a característica dos cursos superiores na área diversas de competência a ser apresentada pelo diretor.
social. A sua diversidade é um desafio para os gestores, caben-
A formação inicial, em nível superior, de gestores es- do também aos sistemas, organizar experiências capazes
colares esteve, desde a reforma do curso de Pedagogia, de orientá-los nesse processo.
afeta a esse âmbito de formação, mediante a oferta da Considerando-se, de um lado, essa multiplicidade de
habilitação em Administração Escolar. O MEC propunha, competências, e de outro, a dinâmica constante das si-
na década de 70, que todos os cargos de diretor de es- tuações, que impõe novos desdobramentos e novos de-
cola viessem a ser ocupados por profissionais formados safios ao gestor, não se pode deixar de considerar como
neste curso. No entanto, com a abertura política na dé- fundamental para a formação de gestores, um processo
cada de 80 e a introdução da prática de eleição para esse de formação continuada, em serviço, além de programas
cargo, diminuiu acentuadamente a procura desses cursos específicos e concentrados, como é o caso da formação
que, por falta de alunos, tornaram-se inviáveis. Houve, no em cursos de Pedagogia e em cursos de pós-graduação,
entanto, um movimento no sentido de ofertar cursos de assim como os frequentes cursos de extensão oferecidos
especialização em gestão educacional, muito procurado e/ou patrocinados pelos sistemas de ensino.
por profissionais já no exercício dessas funções, porém, O artigo citado, ao demonstrar as pressões e tensões
cotidianas por que passa um diretor escolar, torna claro
com um número relativamente pequeno de vagas.
que, sem competências específicas, de acordo com um
No contexto das instituições de ensino superior,
modelo de gestão que articule todas as demandas, o di-
portanto, o que se observa é uma oferta insuficiente de
retor age conforme as pressões, podendo ser dominado
oportunidades para a formação inicial de gestores esco-
por elas, em vez de agir sobre elas para fazer avançar,
lares.
com unidade, a organização escolar.
Recaem, portanto, sobre os sistemas de ensino a ta-
Como de nada valem as boas idéias, se não forem co-
refa e a responsabilidade de promover, organizar e até
locadas em ação, os programas de formação, para serem
mesmo, como acontece em muitos casos, realizar cursos
eficazes, deverão ser realizados de modo a articular teo-
de capacitação para a preparação de diretores escolares.
ria e prática, constituindo-se uma verdadeira práxis, tal
Essa responsabilidade se torna mais marcante quando se como indicado por Machado, em artigo sobre formação
evidencia a necessidade de formação contínua, comple- de gestores neste Em Aberto. Tem-se verificado que, em
mentarmente à formação inicial (Machado, 1999), como geral, são baixos os retornos de programa de capacita-
condição para acentuar o processo de profissionalização ção em termos de transformação da realidade. É preciso
de gestores, de modo que enfrentem os novos desafios que estes cursos superem uma série de limitações co-
a que estão sujeitas as escolas e os sistemas de ensino. mumente detectadas em relação a cursos de formação
É evidente que nenhum sistema de ensino, nenhuma profissional na área da educação, analisadas conforme
escola pode ser melhor que a habilidade de seus dirigen- a seguir.
tes. De pouco adiantam a melhoria do currículo formal, a
introdução de métodos e técnicas inovadores, por exem- Programas pautados em generalizações
plo, caso os mesmos não sejam acompanhados de um Verifica-se que os programas de capacitação profis-
esforço de capacitação dos dirigentes nesses processos. sional são, via de regra, organizados por órgãos centrais,
Essa capacitação, aliás, constitui-se um processo aberto, cuja tendência, dada a sua concepção macrossistêmica
de formação continuada e permanente. e seu distanciamento do dia-a-dia das escolas, é a de
Não se pode esperar mais que os dirigentes escolares considerar a problemática educacional em seu caráter
aprendam em serviço, pelo ensaio e erro, sobre como re- genérico e amplo, do que resulta um conteúdo abstra-
solver conflitos e atuar convenientemente em situações to e desligado da realidade. Sabe-se que generalizações
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
de tensão, como desenvolver trabalho em equipe, como explicam o todo, mas não necessariamente cada caso es-
monitorar resultados, como planejar e implementar o pecífico que compõe esse todo.
projeto político pedagógico da escola, como promover A esse respeito, mediante a realização de ampla pes-
a integração escola-comunidade, como criar novas al- quisa sobre programas de capacitação de profissionais
ternativas de gestão, como realizar negociações, como da educação, Sarason, citado por Lück (1985) indica que,
mobilizar e manter mobilizados atores na realização das nos cursos de preparação e reciclagem de profissionais
ações educacionais, como manter um processo de co- para a educação, não se levam em consideração as fun-
municação e diálogo abertos, como estabelecer unidade ções específicas que o profissional deve desempenhar e,
na diversidade, como planejar e coordenar reuniões efi- consequentemente, o desenvolvimento de capacidades
cazes, como articular interesses diferentes, etc. para assumi-las com segurança.
98
O drama de tocar a escola tal como um diretor qua- Diante de tal situação, é muito difícil manter o inte-
lificou seu trabalho, exige, conforme indicado pelo mes- resse, a motivação e o envolvimento dos cursistas no de-
mo, o entendimento de seus aspectos específicos e pro- senvolvimento das aulas. Quando eles não se vêem em
cessuais, para o que generalidades de pouco adiantam. relação ao objeto do curso, não vêem a realidade concre-
Ilustrações extraordinárias sobre essa questão são apre- ta e objetiva de sua atuação e não conseguem construir
sentadas no artigo de Castro, neste número do Em Aber- imagens em relação às questões tratadas, desligam-se
to, dos quais emerge o entendimento de que a especifi- de acompanhar as aulas e, portanto, de aprender.
cidade do trabalho do diretor demanda atenção especial
e para a qual não dispomos ainda de literatura descritiva Enfoque no indivíduo
de estudos de caso, capazes de iluminar tais questões Os cursos tendem a partir do pressuposto de que
e de possibilitar o estudo objetivo sobre elas. Registra- as pessoas atuam individualmente e que irão transferir
mos, como caso raro, a publicação do Centro de Estudos para a sua prática os conteúdos tratados. Tal pressuposto
e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária tem-se demonstrado como falso, uma vez que não leva
(1995). Distanciamento entre teoria e prática em consideração o fato de que, para promover alguma
Esse distanciamento está associado a uma separação mudança no contexto escolar, é necessário haver muita
entre pensar e fazer, entre teoria e prática, que se ex- liderança e habilidade de mobilização de equipe, o que,
pressa nos programas de capacitação, em vista do que em geral, não é desenvolvido nos cursos realizados. Estes
as idéias e concepções são consideradas como belos tendem a considerar alunos como indivíduos e quando
discursos, mas impossíveis de se colocar em prática. É procuram desenvolver neles habilidades, são habilidades
comum, em programas de capacitação, ouvir-se algum individuais. Conforme Katz e Kahn (1975) apontam, fa-
participante expressar que na prática, a teoria é outra. lham por confundir mudanças individuais com modifica-
Tal entendimento se explica justamente pelo caráter teo- ções organizacionais, que são as preconizadas pela ges-
rizante, conteudista e livresco dos programas de forma- tão escolar. É importante ressaltar que gestão é processo
ção, sem o cuidado de evidenciar, por meio de situações compartilhado, de equipe, em vista do que a equipe de-
que sejam simuladas, por dramatizações, ou estudos de
veria ser capacitada em conjunto.
caso e outros exercícios, a aplicação e a expressão na
É identificado que quem, após a frequência a um cur-
realidade, das concepções teóricas tratadas.
so de formação, procura introduzir mudanças aprendi-
O distanciamento ocorre, no entanto, quando os cur-
das, em sua escola, tende a desistir rapidamente de dar
sos focalizam conhecimentos, centram-se em conteúdos
continuidade a seu esforço, mesmo que dotado de for-
formais, deixando de lado os componentes necessários
tes características pessoais de liderança, de um grande
para o desempenho profissional que são as habilidades o
empenho e convicção, em relação às novas idéias, e até
saber fazer e as atitudes o predispor-se a fazer. Por con-
mesmo de uma preparação adequada para lidar com as
seguinte, cursos assim organizados são orientados mais
reações naturais de resistência apresentada pelos cole-
para a cognição e menos para a competência. Segundo
esse enfoque, o que é considerado importante é que as gas (Lück, 1985). A formação em equipe seria a solução
idéias tratadas tenham consistência interna, isto é, sejam a este problema.
logicamente encadeadas entre si e não que tenham con-
sistência externa, isto é, que sejam consistentes e ade- Métodos de transmissão de conhecimentos
quadas para explicar e orientar a ação na escola. Os cursos de capacitação, em geral, empregam a me-
É preciso que não se perca a compreensão de que a todologia conteudista, voltada para a apropriação e reifi-
teoria é a descrição e explicação da prática, em vista do cação do discurso, em vista do que adotam como foco a
que os seus atores não só podem, como devem realizar transmissão de informações e conhecimentos e não a re-
teorizações sobre sua atuação. Os programas de capa- solução de problemas. Tal metodologia é contrária à di-
citação, ao associar teoria e prática, deveriam focalizar nâmica social de qualquer escola. Apenas a metodologia
o desenvolvimento de habilidades, pelo diretor, para se voltada para a construção do conhecimento seria capaz
tornar sujeito nesse processo, um construtor de conhe- de promover, junto aos gestores, a orientação necessá-
cimentos sobre o seu fazer no contexto da escola e sua ria de sensibilidade aos desdobramentos às situações, a
comunidade. Dever-se-ia, portanto, considerar a relação orientação para sua compreensão, como condição para
teoria e prática em uma forma recíproca. adequadamente agir em relação a elas.
99
e concretas de trabalho de gestão da escola. O artigo A intenção é propiciar novas aproximações, novos
de Castro, neste Em Aberto, que descreve uma pesquisa enfoques e articulações, no sentido sempre de decifrar
sobre o trabalho de diretores escolares aponta situações a tão complexa, fascinante e extremamente necessária
críticas que, para serem enfrentadas, demandam muita atividade educativa, bem como de buscar alternativas, e
competência específica, portanto, muito mais que boa assim colaborar com o avanço da prática no interior da
vontade de professores ao assumirem o papel de dire- sala de aula e da escola, na perspectiva de uma gestão
tor de escola. O desenvolvimento de competências deve, democrática e libertadora.
pois, ser o foco de organização dos programas de forma-
ção de gestores. O PROFESSOR COORDENADOR PEDAGÓGICO
Sobretudo, além das questões teórico-metodológicas COMO MEDIADOR DO PROCESSO DE CONSTRU-
dessa formação, que deve estar de acordo com a con- ÇÃO DO QUADRO DE SABERES NECESSÁRIOS
cepção de gestão democrática preconizada, é necessário Prof. Celso dos S. Vasconcellos
ressaltar a necessidade de os sistemas de ensino adota-
rem uma política de formação continuada de gestores, O Professor Coordenador Pedagógico (PCP) é o in-
de modo a estabelecer unidade e direcionamento aos telectual orgânico do grupo, qual seja, aquele que está
seus programas e cursos. Um fator limitador desse inves- atento à realidade, que é competente para localizar os
timento seria a periodicidade frequente de troca de diri- temas geradores (questões, contradições, necessidades,
gentes, tal como atualmente ocorre. Portanto, é necessá- desejos) do grupo, organizá-los e devolvê-los como um
rio articular política de formação com política de gestão. desafio para o coletivo, ajudando na tomada de cons-
ciência e na busca conjunta de formas de enfrentamen-
Fonte to. O intelectual orgânico é aquele que tem um projeto
EM ABERTO: Gestão escolar e formação de gestores. assumido conscientemente e, pautado nele, é capaz de
Brasília: INEP, v. 17, n. 72, abr./jun. 2000. 1º artigo despertar, de mobilizar as pessoas para a mudança e fa-
zer junto o percurso. Em grandes linhas cabe ao coorde-
COORDENAÇÃO DO TRABALHO PEDAGÓGICO: DO nador fazer com sua “classe” (os seus professores) a mes-
PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO AO COTIDIANO ma linha de mediação que os professores devem fazer
DA SALA DE AULA em sala: Acolher, Provocar, Subsidiar e Interagir.
Cabe ao coordenador desenvolver a sensibilidade
para com o outro, buscar, investigar a realidade em que
#FicaDica se encontra, conhecer e respeitar a cultura do grupo, suas
histórias, seus valores e crenças. Esta prática se aproxima
O eixo reflexivo desta obra é a questão da do conceito psicanalítico de maternagem: engendra-
Coordenação do Trabalho Pedagógico. Tra- mento do outro, acolher, metaforicamente, dar colo, ser
balho pedagógico é o âmago das institui- o útero protetor. Por outro lado, ao PCP cabe também o
ções de ensino, na medida em que o seu desafiar, o provocar, o subsidiar, o trazer ideias e visões
núcleo é o trabalho com o conhecimento, novas, questionar o estabelecido, desinstalar, estranhar
que, por sua vez, é a especificidade da es- as práticas incorporadas (para isto, exige-se sua capaci-
cola, constituindo-se como a grande finali- tação: estudo, pesquisa, reflexão crítica sobre a prática).
dade da práxis educativa. Esta postura se aproxima do conceito psicanalítico de pa-
ternagem: ser firme, porto seguro, mobilizar certa dose
de agressividade, lutar por suas ideias, trazer a tradição,
A atividade de Coordenação do Trabalho Pedagógico a norma, a cultura. O coordenador, como todo educador,
não se reduz absolutamente aos coordenadores pedagó- vive esta eterna tensão entre a necessidade de dirigir,
gicos ou supervisores. Muito pelo contrário, a Coordena- orientar, decidir, limitar, e a necessidade de abrir, possi-
ção do Trabalho Pedagógico, no seu autêntico sentido, bilitar, deixar correr, ouvir, acatar, modificar-se. Todavia,
tem a ver com todos os sujeitos e com todas as instâncias o dirigir, o orientar, mais do que o sentido restritivo, tem
formativas no interior da escola, e consequentemente o objetivo de provocar, despertar para a caminhada, para
em todas deve se dar, desde a prática mais singular em a travessia, para abandonar o aconchego do já sabido,
sala de aula, até a efetivação do currículo em suas várias do já vivido.
dimensões. Sua função é ajudar a concretizar o Projeto Políti-
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
O livro aborda temas importantes para o educador: co-Pedagógico da instituição no campo Pedagógico
Projeto Político-Pedagógico, Avaliação Institucional, Pa- (integrado com o Administrativo e o Comunitário), or-
pel da Equipe Dirigente, Contribuições da Orientação ganizando a reflexão, a participação e os meios para a
Educacional, Papel da Supervisão Educacional/Coorde- concretização do mesmo, de tal forma que a escola cum-
nação Pedagógica, Trabalho Coletivo, Reuniões Pedagó- pra sua função social de propiciar a todos os alunos a:
gicas, Currículo, Ciclos de Formação, Planejamento de - Aprendizagem Efetiva
Sala de Aula, Trabalho com o Conhecimento, Metodolo- - Desenvolvimento Humano pleno
gia de Sala de Aula, Relação Professor-Aluno, Gestão de - Alegria Crítica (Docta Gaudium)
Sala de Aula, (In)Disciplina, Avaliação da Aprendizagem, Partindo do pressuposto de que todos têm direito e
Vestibular, etc. são capazes de aprender.
100
Cabe ao PCP coordenar a elaboração e a realização quem se expressa; depois, tem a ver também com um as-
interativa do Projeto Político-Pedagógico da Escola; ela- pecto bastante sutil que é polaridade desta energia, qual
borar o seu plano setorial, qual seja, o Projeto de Traba- seja, se é construtiva (desejo sincero e crítico de ajudar o
lho da Coordenação Pedagógica; colaborar com os pro- outro a crescer) ou destrutiva (vaidade, preconceito, in-
fessores na construção e realização interativa do Projeto veja, ciúme). Muitas vezes, o que fere, como sabemos,
de Ensino-Aprendizagem/Plano de Ensino, assim como não é tanto o que se fala, mas o como se fala.
dos planos de unidade, sequências didáticas, projetos de - Diante dos conflitos de opinião, lembrar dos funda-
trabalho, semanários, planos de aula; coordenar as re- mentos, das concepções subjacentes (isto ajuda a tirar a
uniões pedagógicas semanais (Hora-Atividade, Horário discussão do plano pessoal).
de Trabalho Pedagógico Coletivo); o acompanhamento - O conflito cognitivo, o embate das ideias, é uma das
individual dos professores (supervisão não com senti- bases para o avanço do conhecimento, da ciência, da fi-
do de controle autoritário, mas de “outra”-visão); puxar losofia. Portanto, é uma prática muito saudável. Todavia,
para o todo (superando o foco muito localizado de cada não pode ser confundido com conflito pessoal (como
professor); participar da educação da Mantenedora e da aquelas brincadeiras infantis de “Ficar de mal”). Nada
Comunidade, etc. mais natural que, depois de uma acalorada discussão, os
Um dispositivo institucional fundamental para favore- professores saiam juntos para tomar café.
cer a concretização do PPP e a atividade da coordenação - Neste momento, insistimos, estamos construindo o
é o trabalho coletivo constante, a Hora-Atividade, o tem- QSN. A forma de trabalhar com ele, o tratamento meto-
po coletivo dos educadores na escola, com a presença da dológico, a prática concreta, caberá, posteriormente, a
direção, coordenação orientação e professores. Fica mui- cada escola decidir, nos seus momentos de planejamen-
to difícil o trabalho da coordenação quando não há este to e trabalho coletivo.
espaço coletivo constante, pois é aqui que as coisas são - Lembrar que nossa referência maior não são os pro-
amarradas, as avaliações feitas, as metas estabelecidas fessores, nem os gestores, os funcionários, a Secretaria
(ex.: alfabetização, diminuição da evasão, do insucesso de Educação, o Sindicato ou o Partido, mas as crianças,
ao fim do Ciclo, etc.) monitoradas, as intervenções pen- os jovens e adultos, nossos alunos, no horizonte de um
sadas coletivamente. Para mudar a escola —e a socie- projeto libertador.
dade— precisamos de pessoas e estruturas, estruturas e Algumas Técnicas de Trabalho
pessoas. Não pode haver dicotomia. O PPP e o trabalho
coletivo constante são instrumentos que ajudam as pes- - Para não polarizar a discussão, procurar não se po-
soas na tão necessária luta pela melhoria da qualidade sicionar inicialmente. Favorecer o circular da palavra no
da prática pedagógica. Sem este espaço, o coordenador grupo. Prestar atenção nas pessoas, para ver reações
corre um sério risco de virar “bombeiro”, “quebra-galho”, diante da fala de colegas. Incentivar que pessoas se ex-
“burocrata”, tendo uma ação fragmentada. pressem (ajudar a romper inércia, medo ou omissão dos
colegas professores).
Observações sobre o Processo e o Papel do CPP na - Por respeito ao grupo, ao invés de dizer “Entende-
construção do Quadro de Saberes Necessários (QSN) ram?”, perguntar “Fui claro?”, trazendo para si a respon-
- Ter claro que a tarefa é de todo o grupo da escola e sabilidade da clareza na exposição das ideias.
não só do PCP. - Quando alguém do grupo fizer uma pergunta, ao
- O PCP não tem obrigação de dominar todos os sa- invés de se aproximar, afastar-se da pessoa, levando-a
beres. a fazer a colocação de maneira que se dirija a todos (e
- O processo de construção coletiva é muito mais não só para o coordenador, o que poderia dispersar os
complexo do que a elaboração por um grupinho. Toda- outros).
via, seu valor é muito maior, pois o próprio processo de - Para não ficar sobrecarregado e poder dedicar-se
construção já é uma formação para quem dele participa. mais intensamente à tarefa de mediação, solicitar a ajuda
- Ter clareza do objetivo do encontro: concluir esta de alguém do grupo para controlar o tempo (orientando,
etapa do processo na escola. Para não dispersar (e levar no entanto, para não cair num formalismo que esteriliza
à frustração), ficar firme no objetivo, ter o foco na tarefa: a participação).
modificação, exclusão, dúvida ou inclusão de saberes. - Solicitar também ajuda de uma ou duas pessoas no
- Para isto, é decisivo que os participantes saibam registro das participações do grupo (podendo até ter uso
com bastante antecedência o objetivo do encontro (con- de gravador, se os participantes assim concordarem).
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
cluir esta etapa de discussão do QSN na escola). Desta - Se a discussão de algum item ficar muito forte, o
forma, poderão também se preparar para ele de forma PCP pode sugerir que se faça um rápido cochicho ou um
coerente. pequeno grupo, para que as pessoas possam se manifes-
- Não ser dogmático, não generalizar. Lembrar sem- tar mais intensamente e assim ganhar-se clareza para a
pre das diferenças, da diversidade. definição. A participação no grande grupo normalmente
- Toda fala tem pelo menos as dimensões cognitiva e não é de todos.
afetiva. O aspecto cognitivo tem a ver com a lógica, com - Uma estratégia interessante na condução dos tra-
a articulação e fundamentação das ideias, com a força do balhos, quando há um mínimo de clima de liberdade, é a
argumento. O aspecto afetivo tem a ver, primeiro com a busca do consenso, ao invés da votação. Aparentemente,
energética, com o ânimo, com o grau de entusiasmo de a votação é mais democrática, mas pode não ser bem
101
assim. É certo que é uma forma mais rápida de se resolver impasses, porém há o risco de empobrecer o debate, além
de criar divisões no grupo (os que venceram versus os que perderam). Se a decisão vai ser tomada por votação, quando
o outro está falando, minha tendência é prestar atenção aos pontos falhos de seu discurso para explorá-los quando
assumir a palavra. Se a decisão for por consenso, enquanto o outro fala, estou prestando atenção naquilo que pode ser
aproveitado do discurso dele, naquilo que ele se aproxima de minhas convicções a fim de chegarmos a pontos comuns.
Por isto, a votação é recomendada apenas em último caso.
- Nas justificativas das alterações, cuidado com “chavões” (“construtivismo”, “letramento”, etc.). Corre-se o risco de,
ao quererem dizer tudo, nada comunicarem em termos mais substanciais. Orientar no sentido de dizer o que entende
por aquilo, se usar um termo mais técnico ou específico.
- Não “comprar brigas” secundárias. Estar atento ao que é essencial. Não brigar por palavras, por termos, mas pelas
ideias, pelas concepções subjacentes.
- Durante as discussões, podemos nos envolver a ponto de ter um impulso agressivo, do qual depois teremos de nos
desculpar com o grupo e, em especial, com o colega em questão. Há situações em que nós mesmos não entendemos
nossos atos. Isto nos remete àquelas reflexões sobre nossas dimensões sim-bólica/dia-bólica (Boff), sapiens/demens
(Morin). Poderíamos tentar explicar nossas preocupações naquele momento (outro colega estava sendo colocado em
situação difícil, busca de clareza metodológica, ou ainda a questão do tempo, já que a reunião tinha se estendido mais
do que o previsto, etc.), mas nada pode justificar. Para tentar reverter o constrangimento de uma pessoa, constrange-
mos outra... Se buscamos um referencial humanista, democrático, não podemos, em nome de deixar clara uma ideia,
“atropelar” uma pessoa; isto é uma contradição com o próprio pressuposto humanista da educação.
- No processo de interação com os professores, procurar ter um olhar de compreensão, e não de acusação, de
condenação: antes de estabelecer um juízo de valor, dialogar, procurar entender as razões de determinada prática
ou atitude (afinal, não é isto que desejamos que façam com os alunos também?). Muitas vezes, por exemplo, o PCP
se indispõe com o professor a partir do julgamento imediato da contradição entre aquilo que ele fala e o que ele faz.
Frequentemente, este descompasso não advém de um problema moral, de falsidade (dizer uma coisa e consciente-
mente fazer outra), mas epistemológico (níveis de consciência: a desejada superficial versus a equivocada enraizada). O
desafio que se coloca aqui é duplo: desconstruir a concepção equivocada enraizada e internalizar a concepção emanci-
patória desejada; Cabe lembrar que construção/desconstrução de concepções não é um exercício meramente teórico,
reflexivo. Envolve, evidentemente, a reflexão, mas passa pela sensibilidade, pelo afeto, pelo desejo, pelas práticas, pelos
recursos, pelas estruturas.
A perspectiva de processo é muito importante (“ninguém chega lá partindo de lá”): aproximações sucessivas, co-
meçar a mudar aos poucos; valorizar os passos pequenos, porém concretos e coletivos na nova direção. Avançar mais
onde for possível. Ao mesmo tempo, não se acomodar ao que já se alcançou. Impaciente paciência histórica. Aprender
com os próprios erros. O coordenador que queremos ser, ainda não somos (plenamente). Estamos sempre nos fazendo,
à medida que incorporamos o mote socrático conhece-te a ti mesmo, (ou torna-te quem tu és), a autocrítica.
Bibliografia
VASCONCELLOS, Celso dos S. Sobre o Papel da Supervisão Educacional/Coordenação Pedagógica. In: Coordenação
do Trabalho Pedagógico: do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula, 11a ed. São Paulo: Libertad, 2013.
EXERCÍCIO COMENTADO
1. (ENADE – Pedagogia)
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
102
Muitas vezes, os próprios educadores, por incrível que ativo do conhecimento. Trata-se de um sujeito sub-
pareça, também vítimas de uma formação alienante, não metido a condicionantes sociais que acrescentam ao
sabem o porquê daquilo que dão, não sabem o signifi- conhecimento uma visão da realidade socialmente
cado daquilo que ensinam e quando interrogados dão transmitida.
respostas evasivas: “é pré-requisito para as séries seguin- Cada vez há mais estudos que demonstram que o co-
tes”, “cai no vestibular”, “hoje você não entende, mas nhecimento é construído socialmente. Para tanto, é
daqui a dez anos vai entender”. Muitos alunos acabam preciso superar a dimensão restrita, mecânica, repe-
acreditando que aquilo que se aprende na escola não é titiva e superficial da forma como o conhecimento é
para entender mesmo, que só entenderão quando forem tratado na prática pedagógica e propiciar um saber di-
adultos, ou seja, acabam se conformando com o ensino nâmico, relacionado à vida, prazeroso e com sentido.
desprovido de sentido. A capacidade de construir significados no processo de
VASCONCELLOS, C. S. Construção do conhecimento em aprendizagem depende da possibilidade de o aluno
sala de aula. 13. ed. estabelecer relações entre o que aprende e aquilo que
São Paulo: Libertad, 2002, p. 27-8. já conhece. Trata-se de uma abordagem histórico-so-
cial que considera a relação pedagógica como media-
Correlacionando a tirinha de Mafalda e o texto de Vas- ção da formação social e política. Através do processo
concellos, avalie as afirmações a seguir. educativo o aluno desenvolve suas próprias capacida-
I. O processo de conhecimento deve ser refletido e en- des de aprender, possibilitando a sua inserção crítica e
caminhado a partir da perspectiva de uma prática social. participativa na sociedade em função da formação da
II. Saber qual conhecimento deve ser ensinado nas esco- cidadania, com vistas a transformar o mundo natural e
las continua sendo uma questão nuclear para o processo social para fazer dele um mundo humano.
pedagógico. As afirmações IV e V são incorretas.
III. O processo de conhecimento deve possibilitar com- I. A escola deve ensinar os conteúdos previstos na ma-
preender, usufruir e transformar a realidade. triz curricular, mesmo que sejam desprovidos de signi-
IV. A escola deve ensinar os conteúdos previstos na ma- ficado e sentido para professores e alunos.
triz curricular, mesmo que sejam desprovidos de signifi- II. Os projetos curriculares devem desconsiderar a in-
cado e sentido para professores e alunos. fluência do currículo oculto que ocorre na escola com
V. Os projetos curriculares devem desconsiderar a in- caráter informal e sem planejamento.
fluência do currículo oculto que ocorre na escola com O processo de aprendizagem não pode ser visto de
caráter informal e sem planejamento. uma forma mecânica e linear, em que alunos adqui-
rem algumas informações que lhes chegam a partir da
É correto apenas o que se afirma em determinação de uma matriz curricular.
Para conhecer é preciso tratar as informações, arti-
a) I e III. culando-as entre si, imputando significado a elas. E a
b) I e IV. aprendizagem que se limita a um processo puramente
c) II e IV. mnemônico não favorece o surgimento de indivíduos
d) I, II e III. capazes de tomar decisões satisfatórias diante de si-
e) II, III e IV. tuações não previstas. Além disso, a possibilidade da
aprendizagem destituída da construção ativa de sig-
Resposta: Letra D nificados, por parte do aprendiz, corresponde a um
As afirmações I, II e III são corretas e correspondem à modelo de aprendizagem não mais valorizado nos
alternativa de letra D. dias de hoje. Ao contrário, concebe-se que a apren-
I. O processo de conhecimento deve ser refletido e dizagem é um processo ativo em que a aquisição de
encaminhado a partir da perspectiva de uma prática conteúdos envolve um processo de atribuição de sig-
social. nificado ao que é aprendido.
II. Saber qual conhecimento deve ser ensinado nas Para além dos currículos oficiais, o ambiente escolar
escolas continua sendo uma questão nuclear para o circunstancia processos e condições que denotam um
processo pedagógico. currículo oculto, fonte de inumeráveis aprendizagens
III. O processo de conhecimento deve possibilitar para o aluno. Gimeno Sacristán (1998) define o cur-
compreender, usufruir e transformar a realidade. rículo oculto como sendo tudo aquilo que contribui
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
A aprendizagem é uma experiência profunda de na- para a aquisição de saberes, competências, valores,
tureza social. Cabe à escola resgatar o conhecimento sentimentos, sem constar nos programas previamente
histórico e socialmente produzido, como base do co- elaborados. E destaca: “a acepção do currículo como
nhecimento escolar. Os processos historicamente per- conjunto de experiências planejadas é insuficiente,
corridos precisam ser trazidos como parte integrante pois os efeitos produzidos nos alunos por um tra-
dos desafios das novas descobertas, em sintonia com tamento pedagógico ou currículo planejado e suas
a realidade vivida, pois as atividades educativas ne- consequências são tão reais e efetivos quanto podem
cessitam ser significativas para o aluno. De um lado se ser os efeitos provenientes das experiências vividas
coloca o professor como provedor do conhecimento na realidade da escola sem tê-las planejado, às vezes
organizado. De outro lado, há o aluno como sujeito nem sequer ser conscientes de sua existência. É o que
103
se conhece como currículo oculto” (SACRISTÁN, 1998).
Assim, para Gimeno Sacristán (2000), os projetos cur-
HORA DE PRATICAR!
riculares devem considerar a influência do currículo
oculto. Compreende que o currículo depende de mar-
cos variáveis e os conceitos estão direcionados para 1. (VUNESP/2015) Considere as ideias-chave de Piaget
diferentes aspectos: aos resultados escolares observá- sobre como as crianças aprendem e crescem intelectual-
veis e pretendidos, à práxis, ao aluno e suas experiên- mente.
cias, o que é expresso e visível e o que está na lin-
guagem e é invisível, nexo ou veículo de comunicação I. As crianças têm estruturas mentais diferentes das dos
entre professor-aluno, escola-sociedade, representa- adultos. Não são adultos em miniatura; elas têm seus
próprios caminhos distintos, para determinara realidade
ção cultural, dentre outros.
e para vero mundo.
O currículo nos dá uma visão de cultura apresenta-
II. O desenvolvimento mental infantil progride através de
da na escola, um projeto ou processo historicamente
estágios definidos. Estes estágios ocorrem em uma se-
construído no tempo e lugar históricos, portanto, pela
quência fixa - uma sequência que é a mesma para todas
sociedade, e se construído é culturalmente elaborado; as crianças.
expressa ideologias, ideias, ao mesmo tempo em que III. Embora os estágios do desenvolvimento mental ocor-
é manifestação prática. ram em uma ordem fixa, crianças diferentes passam de
um estágio para o outro em idades diferentes. Além dis-
so, uma criança pode estar em um determinado estágio
para algumas coisas, e em outro estágio para outras.
FUNDAMENTOS E RECURSOS IV. O desenvolvimento mental é influenciado pela cor-
PEDAGÓGICOS PARA INCLUSÃO: rente inatista. Portanto, a criança tem aptidões e talentos
ACESSIBILIDADE, TECNOLOGIA ASSISTIVA, que são herdados de seus familiares.
DESENHO UNIVERSAL
Estão corretas apenas as afirmativas:
1. Maturação
2. Experiência
3. Interação Social
4. Equilibração
A sequência correta é:
a) 1,2,4,3
b) 4, 3, 2,1
c) 2,1,3,4
d) 4,2,1,3
e) 3,4,1,2
104
3. (VUNESP /2015) A corrente epistemológica que con- A busca de fórmulas para obter isso é uma urgência re-
cebe a criança como sujeito social criador e recriador de clamada pela função democrática da escolarização co-
cultura está fundamentada pela teoria: mum para todos, tanto mais urgente quanto mais espe-
cializado é o conhecimento que se produz. Esse tem sido
a) construtivista. um desafio no pensamento pedagógico de todo esse
b) behaviorista. século. (SACRISTÁN, 1998).
c) sociointeracionista.
d) empirista. A história do pensamento e a da prática pedagógica ofe-
e) escola-novista., recem constantes exemplos de tentativas de resposta à
necessidade de integrar cultura e conhecimento. Uma
4. (VUNESP/2015) As práticas pedagógicas que com- dessas tentativas consiste em:
põem a proposta curricular da Educação Infantil devem
ter como eixos norteadores: a) aproximar conteúdos em grandes áreas de saber e de
experiência por meio do plano geral do currículo.
a) alimentação e brincadeiras. b) fidelizar fontes de informação para evitar divergências
b) intervenções e aprendizagens. desnecessárias à construção do currículo.
c) intervenções e brincadeiras. c) formar e selecionar professores em áreas cada vez
d) interações e alimentação. mais especializadas, permitindo que a prática docente
e) interações e brincadeiras. reflita sua própria perspectiva.
d) realizar projetos de trabalho, para que um aspecto da
5. (VUNESP/2015) A proposta pedagógica das institui- realidade possa ser desmembrado para ser analisado
ções de Educação Infantil deve garantir que elas cum- pelas diferentes áreas do conhecimento.
pram plenamente sua função sociopolítica e pedagógica,
oferecendo: 8. (FEPESE/2016) O ensino fundamental, no Brasil, pas-
sou a ter nove anos de duração e inclui as crianças de seis
a) policiamento local para que as famílias se sintam aco- anos de idade. Pesquisadores defendem que os direitos
lhidas e seguras. sociais precisam ser assegurados e que o trabalho peda-
b) oportunidade de trabalho entre crianças de diferentes gógico precisa levar em conta:
classes sociais objetivando enriquecimento cultural e
curricular. a) As necessidades exclusivas dos professores na realiza-
c) aulas, passeios, excursões e lazer para as crianças e ção do trabalho docente.
famílias. b) A singularidade das ações infantis e o direito à brinca-
d) condições e recursos para que as crianças usufruam deira, à produção cultural.
seus direitos civis, humanos e sociais. c) Que o currículo escolar deve explorar somente a di-
e) assistência médica, pediátrica e odontológica para as mensão cognitiva.
crianças. d) Que as crianças precisam ser ensinadas e disciplinadas
com rigor.
6. (VUNESP/2015) Na visão de Piaget, a escola deve e) Que no ensino fundamental as crianças devem ser
centrar o ensino no: concebidas apenas como estudantes.
a) conteúdo, pois ele é o sujeito ativo no processo de 9. (IFRO/ 2016) Para Vygotsky (1998), não basta delimi-
ensino e aprendizagem. tar o nível de desenvolvimento alcançado por um indiví-
b) aluno, pois ele é o sujeito ativo no processo de ensino duo. Dessa forma, ele demarca dois níveis de desenvol-
e aprendizagem. vimento:
c) projeto, pois ele é o sujeito ativo no processo de ensi-
no e aprendizagem. a) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções
d) método, pois ele é o sujeito ativo no processo de en- mentais da criança já estão completadas e NDP (Nível
sino e aprendizagem. de Desenvolvimento Pessoal) onde a criança conse-
e) professor, pois ele é o sujeito ativo no processo de gue realizar tarefas com a ajuda de adultos ou colegas
ensino e aprendizagem. mais próximos.
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
105
d) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as fun- 12. (PREFEITURA MUNICIPAL DE GOIÂNIA - UFG/CS)
ções mentais da criança ainda não estão completadas Analisando a complexa relação entre o professor e a pes-
e NDP (Nível de Desenvolvimento Processual) onde a quisa, Lüdke (In: ANDRÉ, 2001) reúne um conjunto de in-
criança não consegue realizar tarefas com a ajuda de formações sobre a prática da pesquisa na escola básica.
adultos ou colegas mais avançados. Segundo a autora,
e) NDR (Nível de Desenvolvimento Real) onde as funções
mentais da criança ainda não estão completadas e a) a reflexão pode conter o risco de reduzir a autonomia
ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal) que define do professor aos limites da sala de aula, portanto é
funções ainda não amadurecidas, mas em processo de preciso reivindicar um conteúdo crítico para o proces-
maturação. so de reflexão, que sintonize com as necessidades da
realidade mais ampla da escola, em uma perspectiva
10. (UFG/CS/2016) De acordo com a Lei n. 9394, de 20 transformadora.
de dezembro de 1996, que estabelece as Diretrizes e Ba- b) o professor reflexivo é pesquisador e o professor pes-
ses da Educação Nacional e disciplina a educação esco- quisador é reflexivo, pois há uma identificação entre
lar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do reflexão e pesquisa, que constituem elementos essen-
ensino em instituições próprias, ciais e indispensáveis ao trabalho e à formação dos
professores.
a) a organização, na educação básica, dar-se-á em séries c) o conceito de pesquisa acadêmica serve naturalmente
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regu- à prática docente e foi facilmente incorporado pelo
lar de períodos de estudos, grupos não seriados, com professor no seu trabalho cotidiano, pois a represen-
base na idade, na competência e em outros critérios, tação que esse profissional possui sobre a pesquisa
ou forma diversa de organização, sempre que o in- é fortemente marcada pela conotação acadêmica de
teresse do processo de aprendizagem assim o reco- pesquisa.
mendar. d) a pesquisa feita na escola básica, por sua especificida-
b) o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo de, merece uma classificação exclusiva, pois não pode
como meio básico o pleno domínio da leitura, da es- ser reconhecida como “científica”, esse termo é desti-
crita e do cálculo é um entre os diversos objetivos do nado à pesquisa realizada na universidade.
ensino médio.
c) a educação especial, a modalidade de educação esco- 13. (UFG/CS/2016) O Desafio de saber ensinar, destaca
lar oferecida na rede regular de ensino para educan- aspectos importantes acerca da aprendizagem por com-
dos portadores de necessidades especiais e a oferta preensão, capazes de propiciar uma aprendizagem real e
de educação especial, dever constitucional do Estado, plena de sentido. De acordo com a concepção defendida
têm início na faixa etária de seis a dez anos, na primei- pela autora,
ra etapa do ensino fundamental.
d) a formação de docentes para atuar em todos os níveis a) os conhecimentos devem ser transmitidos de forma
da educação básica far-se-á em nível médio ou supe- a privilegiar a aprendizagem automática, linear e de
rior, em curso de licenciatura de graduação plena, em forte apelo mnemônico para valorizar a escolarização,
universidades e institutos superiores de educação. a instrução e a informação.
b) a aprendizagem realiza-se em torno de conceitos e
11. (UFG/CS/2016) De acordo com a Lei n. 9394/96, definições; a um conceito segue-se outro, que se arti-
artigo 24, inciso V, a verificação do rendimento escolar cula a um terceiro e assim por diante. Desse modo, um
observará os seguintes critérios: conceito novo se forma pela interação de associações,
prescindindo de uma operação intelectual específica.
a) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de prefe- c) o conhecimento espontâneo só é elaborado em fun-
rência posteriores ao período letivo, para os casos de ção de uma intencionalidade, isto é, pressupõe uma
baixo rendimento escolar, a serem disciplinados pelas relação consciente e consentida entre o sujeito e o
instituições de ensino em seus regimentos. objeto do conhecimento e exige sistematização e arti-
b) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries inde- culação, para que a apreensão se dê plenamente.
pendente da verificação do aprendizado, consideran- d) o aluno precisa considerar relevante e significativo o
do a faixa etária. assunto relativo ao novo conhecimento, pois só assim
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
106
a) o direito à educação para todos é garantido com o d) o êxito e o fracasso escolar são realidades ou aprecia-
cumprimento e a aplicação da lei, sumariamente, às ções objetivas de competências do estudante e não o
situações discriminadoras. resultado de como se entende e como se apreciam o
b) a inclusão prevê a desigualdade de tratamento como processo e os resultados da aprendizagem.
forma de restituir uma igualdade que foi rompida por
formas segregadoras do ensino especial e regular. 18. (UFG/CS/2017) “O Projeto de Ensino-Aprendizagem
c) a condição de igualdade nas escolas requer a concep- é o planejamento mais próximo da prática do professor e
ção de que todos os alunos sejam iguais em todas as da sala de aula. Diz respeito mais estritamente ao aspec-
situações. to didático” (VASCONCELLOS, 2006, p. 96). O Projeto de
d) as escolas especiais substituem a escola comum, pois Ensino-Aprendizagem está atrelado a uma concepção de
oferecem atendimento educacional especializado e educação e será tanto melhor quanto mais estiver articu-
não são organizadas por níveis e seriações. lado à realidade dos educandos, à essência significativa
15. (UFG/CS/2016) O desenvolvimento filogenético e da área de saber, aos outros educadores e à realidade
ontogenético do ser humano está mediado pela cultura social mais geral. A parte do Projeto de Ensino-Aprendi-
e somente a impregnação social e cultural do psiquismo zagem que contém a formulação dos objetivos, segundo
provocou a diferenciação humana ao longo da história. A Vasconcellos (2006), é chamada de
humanidade é o que é porque cria, assimila e reconstrói
a cultura formada por elementos materiais e simbólicos. a) projeção de finalidades.
Essa é uma afirmação congruente com o pensamento de b) análise da realidade.
c) forma de mediação.
a) Skinner e Thordike. d) análise dos recursos.
b) Lippit e White.
c) Pavlov e Piaget.
d) Bruner e Vygotsky.
a) avaliação externa.
b) autoavaliação.
c) heteroavaliação.
d) avaliação classificatória.
107
GABARITO
ANOTAÇÕES
1 E ____________________________________________________________
2 E
____________________________________________________________
3 A
____________________________________________________________
4 C
5 A ___________________________________________________________
6 D ___________________________________________________________
7 A
____________________________________________________________
8 B
9 C ____________________________________________________________
10 A ____________________________________________________________
11 C ____________________________________________________________
12 A
____________________________________________________________
13 D
14 B ____________________________________________________________
15 D ____________________________________________________________
16 C
____________________________________________________________
17 B
____________________________________________________________
18 A
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
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___________________________________________________________
___________________________________________________________
CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS
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____________________________________________________________
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