Aulá Enfermagem
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Esta etapa traz uma breve abordagem sobre a psiquiatria com o objetivo
de sensibilizar o leitor sobre a temática. Traz algumas condições clínicas com
repercussão no comportamento do indivíduo para fundamentação de exclusão
diagnóstica. A seguir, sugere alguns pontos a serem avaliados pelo enfermeiro
durante a consulta de enfermagem.
Para melhor embasamento, serão abordados temas que envolvem
diretamente a saúde mental e sua avaliação específica, como enfrentamento de
crise, funções mentais básicas e a discussão de alterações comuns, finalizando
com alguns transtornos que podem ocorrer dentro de ambiente de trabalho, como
a depressão, o suicídio e os transtornos alimentares, que são temas mais
extensos e serão abordados à parte, na sequência.
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As pessoas em sofrimento psíquico, quando buscam atendimento nos
serviços de saúde, não devem ser absorvidas pelo “carimbo da loucura”, pois
podem ter infecções, ser ou se tornarem hipertensos, diabéticos, ter função renal
ou hepática alteradas, da mesma forma e risco (ou até mais) que os indivíduos
atendidos rotineiramente dentro de outros programas de saúde.
O ambiente de trabalho deve estar preparado para identificar e acolher a
pessoa que sofre, pois a história explicou como o conceito da loucura foi
construído, na maioria das vezes, segregatório e carregado de preconceitos. A
preocupação em ser julgado como insano, taxado de incapaz ou até de ser
reconhecido como profissional que “inventa para não trabalhar” dificulta o
processo de atendimento dentro de instituições e empresas.
Estamos em um momento de transição histórica, de sensibilização e
ampliação de conhecimentos. E, sendo a enfermagem a maior força operacional
na maioria dos serviços de saúde, naturalmente disseminadora de
conhecimentos, esperamos que essa realidade mude. Desta forma, destacamos
que, mesmo na evidência de um sintoma ou doença mental, o profissional de
enfermagem não deve excluir seus conhecimentos e instrumentos de investigação
de outras condições clínicas durante seu atendimento.
Algumas alterações psíquicas podem apresentar-se sem necessariamente
estarem associadas a uma doença mental instalada. Na presença da informação
de que uma pessoa apresenta a primeira crise: acenda os faróis, ligue as sirenes
do conhecimento e investigue a possibilidade da vigência de um quadro clínico.
São inúmeras as condições que levam o indivíduo a apresentar uma crise
com alteração de comportamento sem ter como causa uma doença mental. As
que ocorrem com maior frequência são as intoxicações exógenas (mercúrio,
chumbo, manganês, arsênico, cloro, brometo); as deficiências nutricionais (nia-
cina, tiamina, cobalamina); os distúrbios endócrinos (tireoide, paratireoide, adre-
nais, hipófise); as doenças metabólicas (cetoacidose diabética, encefalopatias);
as doenças infecciosas (encefalite por herpes simples, neurossífilis, doença de
Lyme); as doenças desmielinizantes (esclerose múltipla, esclerose lateral amio-
trófica); os tumores ou traumas cerebrais e as infecções (Kaplan, 2007).
É importante considerar, em uma avaliação de enfermagem, o tipo de labor
do indivíduo, o contato com substâncias químicas, uso adequado de Equipamento
de Proteção Individual (EPI) e até se a atividade permite adequada qualidade do
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sono, pois a privação ou qualidade de sono prejudicada pode levar ao desenvol-
vimento de quadros psiquiátricos. Exemplo disto são o fumicultores.
Mais de 150 mil famílias estiveram envolvidas com a safra de fumo nos
estados do sul do Brasil entre 2014 e 2015, sendo colhidas aproximadamente
874.000 toneladas de folhas. No estado do Paraná, dos 399 municípios, 143 plan-
tam o fumo. Esse estado está entre os três maiores consumidores de agrotóxicos
do Brasil e, das 80 variedades de agrotóxicos que podem ser utilizadas nas plan-
tações para o cultivo do fumo, 56% delas são reconhecidas como extremamente
ou altamente tóxicas (Murakami et al, 2017).
A prática de atendimento em pontos de atenção em saúde mental/psiquia-
tria demonstra que, além da exposição aos agrotóxicos usados, as cargas pró-
prias relacionadas ao cultivo, como a secagem (que é lenta e ocorre nas 24 horas
do dia com manipulação constante) e a manipulação para seleção das folhas de
fumo, podem causar, além de sintomas clínicos, confusão mental e tremores.
O enfermeiro também deve considerar o uso de medicações e seus efeitos
colaterais, a porta de entrada da psiquiatria é a clínica.
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psíquico, podendo interferir positivamente na manutenção da autonomia e
capacidade de labor dos indivíduos.
TEMA 3 – CRISE
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• Começar frequência na escola
• Graduação ou pós-graduação
• Nascimento de irmãos
• Puberdade
• Casamento
• Gestação ou chegada de um filho, aborto
• Traição, divórcio
• Morte de um filho, outro familiar ou pessoa próxima
• Acidentes ou crimes violentos
• Perda de emprego ou problemas relacionados ao trabalho, dívidas
• Dificuldades sexuais
• Necessidade de importante decisão relacionada ao futuro etc.
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TEMA 4 – PRINCIPAIS FUNÇÕES MENTAIS E ALTERAÇÕES MAIS COMUNS
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Os transtornos do conteúdo do pensamento incluem delírios, preocupações
(que podem envolver a doença), obsessões, compulsões, fobias, planos e inten-
ções.
A alteração de conteúdo do pensamento é chamada delírio, que trata de
crenças fixas e falsas, em desacordo com a base cultural do indivíduo. Portanto,
o indivíduo não “acha” algo, tem “certeza”, podendo ou não causar sofrimento psí-
quico intenso. Os delírios mais comuns são: de grandeza, de ruína, de ciúmes,
místicos/religiosos, eróticos, de culpa, de perseguição.
Desta forma, colocando-se no lugar da pessoa delirante, a “certeza” de
acreditar que se é uma pessoa com poderes mágicos, ou que detenha todo o
dinheiro do mundo pode causar problemas de convivência social, mas talvez não
causem sofrimento. Entretanto, se essa pessoa tem a “certeza” que estão vindo
matá-lo, que em seu cérebro tem um cartão de memória que pode ser rastreado
por aqueles que querem torturar seus filhos antes de matá-los, obviamente, o so-
frimento é intenso, e essa pessoa pode agir de forma agressiva como forma de
defesa.
No ambiente de trabalho, pode ser difícil a abordagem com um colaborador
que descreva perseguição porque pode envolver questões de assédio ou agres-
sões psicológicas, pois podem ser sensações percebidas, que envolvem questões
de entendimento e análise situacional, ou ações reais, que envolvem questões
para fora do campo da saúde.
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• Julgamento: é a capacidade de avaliar corretamente uma situação e de
agir de forma adequada em relação a ela. Pode ser um (1) julgamento crí-
tico: capacidade de perceber, analisar e escolher entre várias opções em
uma determinada situação; (2) julgamento automático: ação realizada
como um reflexo e (3) julgamento limitado: capacidade reduzida de enten-
der corretamente uma situação e de agir de forma adequada.
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5.2 Transtorno somatoforme
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5.4 Transtorno de estresse pós-traumático
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dos elementos que envolvem a chegada do bebê, desejo e planejamento da
gestação.
Abordar essa temática em ambiente de trabalho pode ser muito produtivo
não somente em ambientes predominantemente femininos, mas também
masculinos; considerando que o homem deva também ser responsável por
questões de planejamento familiar, avaliado no seu desejo de pai e ter orientações
sobre as possíveis mudanças e desejos da mulher em relação à
gestação/maternidade.
O retorno ao trabalho após licença maternidade traz vários sentimentos e cargas
que podem interferir diretamente no rendimento da trabalhadora, tais como
sentimento de angústia, medo, insegurança e tristeza. Ela pode se sentir culpada
por deixar seu bebê aos cuidados de terceiros, por chegar em casa cansada e
não dar conta da atenção que acredita necessária ao filho/marido/casa, pode
sofrer por ser a única responsável pelos cuidados com a criança e casa, sendo o
homem a figura somente de apoio que é acionada quando necessário.
Desta forma, para proporcionar a saúde emocional de mulheres e suas
famílias, todos os agentes sociais envolvidos, como empresas e família, devem
considerar que o momento de retorno ao trabalho exige adaptação, a fim de
possibilitar recursos que permitam à mulher trabalhadora vivenciar esse momento
da maneira mais funcional possível.
5.7 Esquizofrenias
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em que cada voz pode se pronunciar, mas uma de cada vez e com tempo de
ocorrência e intervalo “entre as sessões”.
Seus sinais e sintomas surgem, em geral, durante a transição da
adolescência para a fase adulta. A crise pode apresentar-se com sintomas
positivos: normalmente, observam-se alucinações, delírios e desorganização do
pensamento, ou sintomas negativos, tais como: dificuldade de expressão das
emoções, apatia, isolamento social e um sentimento profundo de desesperança.
O portador de esquizofrenia, dependendo do período de início dos sintomas
e de tratamento, pode apresentar ainda problemas cognitivos, tais como
dificuldade de abstração, déficit de memória, comprometimento da linguagem e
falhas no aprendizado. A combinação desses sintomas afeta diretamente as
relações familiares, a vida profissional e demais relações sociais que o indivíduo
estabeleceu ou poderia estabelecer ao longo da vida.
Quanto mais tarde ocorra o surgimento dos sintomas melhor o prognóstico,
porque o indivíduo já pode ter desenvolvido uma rede social de apoio, como
família, laços de amizade e desenvolvimento de carreira. A apresentação de
sintomas precocemente, aliada ao estigma da doença, pode condenar o doente à
convivência restrita ao seio familiar e pessoas relacionadas aos pontos de atenção
em saúde mental.
Por mais que seja uma doença deteriorante, o enfermeiro deve motivar,
orientar, supervisionar, organizar e avaliar atividades que possam ser
desempenhadas por um portador de esquizofrenia ou outra doença incapacitante.
Desde cuidados básicos de vida até atividades laborais. Muitas pessoas
desenvolvem sintomas psicóticos e nem por isto deixam de trabalhar.
A aparência da pessoa com esquizofrenia pode variar desde
completamente desleixada, aos gritos e agitada até alguém obsessivamente
arrumado, silencioso e imóvel. Entre esses dois extremos, podem ser falantes ou
exibir posturas bizarras. Seu comportamento pode tornar-se agitado ou violento
sem motivo aparente, mas isso costuma ocorrer em resposta a uma alucinação.
Lembre-se em pesquisar o conteúdo das alucinações.
Na abordagem inicial, é muito importante a apresentação: dizer nome,
função e o que se pretende. Lembre-se que a pessoa pode estar se sentindo
perseguida ou estar vendo pessoas que o ameaçam e a identificação pelo
profissional pode proporcionar vínculo de confiança. Descreva o que a pessoa
informa e o quê você observa, separando o subjetivo do objetivo.
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Pensando no cuidado preventivo, o profissional de saúde habilitado pode
identificar fatores de risco para o transtorno mental, tais como qualidade do sono
insatisfatória, dificuldade de enfrentamento de crises, muitos fatores de crise
concomitantes, rede sociofamiliar inconsistente, família desestruturada, doença
mental na família, história pessoal de abuso, falta de energia, entre outros;
intervindo de maneira acolhedora, com escuta qualificada e realizando nos
devidos encaminhamentos para profissionais especializados e realizando o
acompanhamento. Testes e escalas podem ser utilizados para embasar
estratégias de intervenção.
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REFERÊNCIAS
BACKER, P. A voz interior: um guia prático para e sobre as pessoas que ouvem
vozes. Tradução de Raimundo da Costa Moura. 1. ed. Belém:
UFPA/IFCHQ/PPGP/NUFEN, 2019. 200 p.
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