MORFOLOGIA

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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANS -NCH

DEPARTAMENTO DE LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS - DLIBRAS

RAYSE BRITO DE QUEIROZ CONCEIÇÃO – 20192007367

TRABALHO DE ESTUDOS DE MORFOLOGIA – RESUMO

PORTO VELHO - RO

2021
Ao abordar sobre Morfologia, deve-se citar certos questionamentos, gerais feitos no
estudo da morfologia, que por sua vez são úteis para a contextualização dos estudos
sobre a morfologia da língua de sinais brasileira.
a) Tradição decorrente do estudo das línguas orais – Primeira dificuldade, peso da
tradição, que dificulta a revisão e a adoção de novas posições.
b) Omissão – o que não há condições de investigar pela abrangência, de aspectos a
serem analisados pela carência de evidencias empíricas e teóricas.
c) Pesquisa – A pesquisa não pode ser controlada por questões relacionadas ao uso
da língua.
d) Nomenclatura – As gramáticas das línguas orais usam determinada
nomenclatura nas abordagens apresentadas.

Morfologia é o estudo da estrutura interna das palavras ou dos sinais, bem como
das regras que determinam a formação das palavras. Os morfemas são as
unidades mínimas de significado.

Alguns morfemas sozinhos constituem palavras, outros constituem apenas partes


das palavras, sendo dessa forma, sufixos e prefixos, que não podem ocorrer
isoladamente, e os morfemas livres que constituem palavras.
Ao formar palavras de outras palavras, é necessário reconhecer que as palavras
podem ser unidades complexas. Isso não significa que não existam palavras
indivisíveis, exemplos no português, boi, sal, mar, etc. Outras palavras são
constituídas de inúmeros elementos, como por exemplo no adjetivo infeliz,
constituído de dois elementos, o prefixo negativo IN e o adjetivo feliz.
Os usuários de uma língua conhecem milhares de palavras, igualmente os
usuários da língua de sinais, conhecem milhares de sinais.
Os sinais fazem parte das categorias lexicais ou a classes de palavras como
nome, verbo, nome, adjetivo, advérbio, etc. As línguas de sinais se diferenciam
das línguas orais no processo combinatório que cria palavras morfologicamente
complexa. Na língua oral, palavras complexas são muitas vezes formadas pela
adição de sufixo ou prefixo, enquanto na língua de sinais uma raiz é enriquecida
com movimentos e contornos no espaço da sinalização.

O Léxico da língua de sinais brasileira


A estrutura dos sinais da língua de sinais brasileira é complexa, apresentando
algumas propriedades presentes nas línguas de sinais, que não são encontradas
nas línguas orais.
Palavras do português podem ser emprestadas à língua brasileira de sinais, via
soletração manual. Por exemplo, o sinal AZL ou AL, é derivado da soletração
manual A-Z-U-L.
De um modo geral, todas as línguas, sendo orais ou de sinais, incorporam em
seu vocabulário palavras estrangeiras, como um empréstimo linguístico.
Na língua brasileira de sinais, a sequencia de configurações de mão N-U-N-C-A
viola a restrição de boa-formação dos sinais, pois envolve grupos de dedos
selecionados e mudanças na sequencia de CM de aberto para fechado,
conformando-se às restrições nas sequencias de CM encontradas em sinais
nativos do núcleo do léxico. Outros sinais que originam-se da soletração manual
podem violar as restrições da mudança de CMs, mas aderem a outras restrições,
tais como o numero permiti do de mudanças na orientação de mão. Por exemplo,
o empréstimo do sinal SOL viola a restrição na mudança de CM, pois a
sequencia de configuração de mão “S” para “L” envolve dois distintos grupos de
dedos selecionados, mas essa sequencia contem apenas uma simples mudança na
orientação, como acontece com os sinais nativos. Observa-se também que
mudanças ocorrem através dos tempos no tipo de sequencia de configuração ou
orientação de mão, em que os sinais ajusta-se às restrições de boa formação do
sistema linguístico das línguas de sinais.
A análise dos sinais soletrados manualmente ilustra a similaridade entre as
línguas orais e as línguas de sinais com respeito ao modo de organização dos
empréstimos linguísticos no léxico da língua em questão. O que é único na
língua de sinais é que o vocabulário estrangeiro entra na língua via um sistema
que representa a ortografia de uma língua estrangeira. As formas soletradas
manualmente não são completamente independentes dos sinais nativos da língua
de sinais brasileira.
Os sinais que utilizam classificadores , considerados como léxico nativo, forma
um outro componente no léxico das línguas de sinais, pois essas formas também
podem violar restrições formacionais do núcleo lexical. Os classificadores têm
distintas propriedades morfológicas, são formas complexas em que a
configuração de mão, o movimento e a locação da mão, podem especificar o
movimento e a posição de objetos e pessoas ou para descrever o tamanho e a
forma de objetos.
O processo de formação das palavras
A morfologia tradicional apresenta basicamente duas áreas de investigação: a
derivaconal e a flexional. A primeira refere-se ao estudo da formação de diferentes
palavras com uma mesma base lexical, por exemplo, no português ‘sonhado’ é derivada
de ‘sonhar’. A segunda refere-se ao estudo dos processos que acrescenta onformação
gramatical à palavra que já existe. As categorias gramaticais que podem ser parte de
uma palavra através da flexão são: gênero, número, tempo, pessoaa, caso e aspecto.
Derivação nas línguas de sinais
Na língua de sinais americana, a repetição e a combinação de morfemas é
frequentemente utilizada para investigar questões e referir a idéias de que todas as
formas linguísticas fazem parte da lista de itens leis de um sinalizador nativo,
constituindo o léxico mental, seja morfema, seja lexema, afixo, desinência, ect.
Derivando nomes e verbos
Uma das principais funções da morfologia é a mudança de classe, isto é, a utilização da
ideia de uma palavra em outra classe gramatical. Forma-se um novo sinal para se
utilizar o significado de um sinal já existente num contexto que requer uma classe
gramatical diferente.
Sob influencia da ASL, nota-se que a língua brasileira de sinais pode derivar nomes de
verbos pela mudança no tipo de movimento. O movimento dos nomes repete e encurta o
movimento dos verbos.
Os verbos presentes em uma língua são usados para criasr nomes. Tal processo é
denominado de nominalização. Entretanto, por nomilização entende-se a criação de um
substantivo a partir de qualquer categoria que não seja substantivo. O conceito de
produto é importante no entendimento da morfologia e da língua brasileira de sinais. A
língua de sinais brasileira também apresenta um padrão regular para distinção entre
nomes e verbos.
Formação de compostos
A composição é um processo autônomo em que se juntam duas bases preexistentes na
língua para criar um novo vocábulo, dito ou composto.
Com a utilização de estrutura sintáticas para fins lexicais, os processos de composição
permitem a nomeação ou caracterização de seres pela junção de dois elementos
semânticos, de existência independente no léxico, em apenas um elemento lexical.
A composição utiliza a estrutura sintática para fins de criação lexical; constitui-se num
processo de função semântica e tem por objetivo fundamental a denominação, na qual
se revela nitidamente a importância da função metafórica na engrenagem da criação.
Regras morfológicas são aplicadas especificamente para criar novas unidades com
significados (compostos). Três regras morfológicas são usadas para criar compostos na
ASL: (1) a regra do contato; (2) a regra da sequência única e (3) a regra da antecipação
da mão não-dominante. Será observada a
aplicação de tais regras na língua de sinais brasileira.
Regra do contato: Frequentemente um sinal inclui algum tipo de contato, seja no corpo,
seja na mão passiva. Em compostos, o primeiro, o segundo ou o único contato é
mantido. Isto significa que se dois sinais ocorrem juntos para formar um composto e o
primeiro sinal apresenta contato, este contato tende a permanecer. Se o primeiro sinal
não apresenta contato, mas o segundo sinal sim este contato permanece na composição.
É importante observar que se um sinal composto apresenta contato no primeiro ou no
segundo sinal. o contato pode permanecer nos dois sinais que formam o composto ou
em apenas um deles. Como exemplos da aplicação dessa regra na língua de sinais
brasileira têm-se ACREDITAR (saber + estudar) e ESCOLA ( casa +estudar).
Regra da sequencia única: quando compostos são formados na lingua de sinais
brasileira, o movimento interno ou a repetição do movimento é eliminada. Isto é
chamado de regra de sequência única. Os sinais PAI e MÃE (isoladamente) apresentam
movimento repetido. No entanto, se os sinais PAI+ MÃE ocorrem juntos formando um
sinal composto, denotando PAIS, a repetição ou o movimento interno do dedo é
eliminado.
Regra da antecipação da mão não-dominante: Quando dois sinais são combinados para
formar um composto, frequentemente acontece que a mão passiva do sinalizador
antecipa o segundo sinal no processo de composição. Por exemplo, no sinal composto
BOA+ NOITE, observa-se que a mão rão-dominante aparece no espaço neutro em
frente ao sinalizador com uma configuração de mão que envolve sinal composto. Isto
pode ser visto também nos sinais ACREDITAR (saber+estudar) e ACIDENT􀁂
(carro+bater).
Assim, tanto no português quanto na língua de sinais brasileira, o distanciamento entre o
significado do todo e o significado das partes é normal nas formas compostas pela
própria função da nomeação; esse distanciamento ' é especialmente acentuado no caso
das formações compostas metafóricas.
Em síntese, o português e a língua de sinais brasileira apresentam processos regidos por
regras na formação de compostos. A língua de sinais brasileira apresenta regras
morfológicas e fonológicas na criação de novos sinais, e , quando dois sinais aparecem
juntos pata formar um composto, mudanças predicáveis na estrutura do sinal se
manifestam.
Incorporação de numeral
Pode-se dizer que o sinal DOIS-MESES tem duas partes com significado. Uma delas
significa MÊS e é a parte que inclui a locação orientação e expressões não manuais. A
outra parte é a configuração de mão, que carrega o significado de um numeral
especifico. Quando as duas partes são produzidas simultaneamente, o significado do
sinal é DOIS MESES, se a configuração de mão apresentar o numeral três ou quatro
respectivamente.
Os morfemas neste exemplo são presos, isto é, devem ocorrer com outro morfema. Por
exemplo, a configuração de mão não pode ocorrer isoladamente mas deve ocorrer em
uma estrutura segmenta], com uma locação, uma entonação e possivelmente uma
expressão não-manual. Morfemas presos são diferentes de morfemas livres, que podem
ocorrer isoladamente.
Incorporação de negação
Há também outro processo produtivo na língua de sinais brasileira que é a incorporação
da negação. Há alguns sinais que podem incorporar a negação confo1me identificado
por Ferreira-Brito (1995). A autora menciona que "através de vários processos, o item a
ser negado sofre alteração em um dos parâmetros, especialmente o parâmetro
Movimento, acarretando, assim, o aparecimento um item de estrutura 'fonético-
fonológico' diferente daquele que é a sua base, ou seja, o aparecimento de contraparte
negativa"
Dividio em três partes, a primeira parte fala sobre aspectos descritivos da LIBRAS.
Subdivida em nove capítulos, cujos quais discorrem sobre dois níveis linguísticos que a
gramática da LIBRAS abrange, sendo a Morfofonologia e a Sintaxe. A referida primeira
parte também discorre sobre aspectos linguísticos da LIIRAS como: a Negação, os
pronomes e os classificadores em LIBRAS. A parte dois, subdividida em três capítulos,
apresenta Metodologias de Pesquisa das Línguas de sinais
considerando a especificidade da LIBRAS como objeto de pesquisa e a necessidade do
registro dos dados por meio de vídeo.

a autora esclarece que a LIBRAS é uma língua natural com toda a complexidade que os
sistemas linguísticos que servem à comunicação e de suporte de pensamento às pessoas
dotadas da faculdade de linguagem possuem. Trata-se de uma língua natural visuoes-
pacial surgida entre os surdos brasileiros da mesma forma que o Português e as demais
surgiram ou se derivaram de outras línguas para servir aos propósitos linguísticos de
seus usuários.

Segundo a autora, a linguística não pode ignorar as línguas de sinais em sua


investigação, pois ao reconhecer essa faculdade de linguagem poderá encontrar os
verdadeiros universais linguísticos e compará-los com especificidades acidentais de
cada língua e com restrições devidas à modalidade de língua.
A obra aponta que um estudo de uma modalidade visual espacial de língua pode afetar
as teorias linguísticas no que concerne: aos preceitos teóricos
que definem a linguagem ou capacidade linguística; à concepção atual de gramática de
uma língua revendo a noção de arbitrariedade, substituindo-a por convecionalidade; a
simultaneidade como possibilidade de combinação (opositiva, constrastiva) das
unidades distintivas e de significado; a rever a noção do que seja central em uma
gramática ou língua; à reunião dos universais linguísticos no tratamento das línguas de
sinais enquanto manifestação de capacidade linguística do homem; e à mudança de
atitude do linguista frente à pesquisa linguística. A autora explica que a primazia desse
trabalho foi a de salientar a importância dos estudos sobre as línguas de sinais, tanto
para as comunidades surdas como para diferentes áreas do conhecimento, seja do ponto
de vista teórico ou prático.
Na parte I – Aspectos Descritivos da Língua Brasileira de Sinais – o capítulo I
esclarece que a descrição aborda aspectos de vários níveis linguísticos da LIBRAS,
como: o fonológico, o morfológico, o semântico e o pragmático. Segundo a autora, a
descrição é mais para despertar o interesse científico pela estrutura da LIBRAS,
documentá-la como riqueza cultural, resgatá-la como língua natural e apresentar
reflexões sobre a filosofia educacional mais adequada à educação do surdo e menos
para aprofundar na descrição linguística dessa língua. A autora ratifica que a LIBRAS
tem estrutura própria e que é regida por princípios universais.
Sobre Empréstimos linguísticos em LIBRAS, a obra inventaria que são vários os tipos,
tais como: Lexical (alfabeto manual – mão representando letras do alfabeto da Língua
Portuguesa); Inicialização (o sinal é realizado com a mão configurada na primeira letra
da palavra representativa em português)

Quanto aos Aspectos Estruturais, a obra define que a estrutura sublexical da LIBRAS,
como todas as demais línguas é constituída a partir de parâmetros que se combinam,
principalmente com base na simultaneidade. São eles: Configuração de mão (CM);
Movimento (M) e Ponto de Articulação (PA). A autora ressalta que a Orientação (O)
pode ser um quarto parâmetro, mas não havia acordo sobre essa questão até 1995. Os
parâmetros podem ser alterados obtendo aspectos modulados, incorporação de
informações gramaticais, lexicais, quantificação, negação e tempo. Os aspectos pontual,
continuativo, durativo e iterativo são obtidos pela alteração do Movimento e/ou da
configuração de Mão.

No que se refere à “Morfofonologia e sintaxe da LIBRAS”, apontada pelo capítulo 2, a


autora discute se as línguas são línguas verdadeiras ou apenas sistemas de comunicação
sem gramática, mas já parte do pressuposto de que as línguas espaço-visuais são tão
completas, complexas e abstratas quanto as línguas orais-auditivas como o Português, o
Francês, o Inglês, etc. Para isso, são descritos alguns aspectos morfossintáticos da
LIBRAS, começando pela “Estrutura Interna dos Sinais”. Nesse tópico, defende-se que
as línguas de sinais exibem dupla articulação como as línguas orais e possuem unidades
significativas (morfemas), constituídas a partir de unidades arbitrárias e sem significado
(fonemas). A diferença básica das duas modalidades está na organização fonológica: a
linearidade (línguas orais) e a simultaneidade (línguas de sinais). A fonologia considera
como parâmetros primários: a Configuração de Mãos, o Ponto de Articulação e o
Movimento e como parâmetros secundários a Região de Contato, a Orientação das
Mãos e a Disposição das Mãos.
A obra aclara ainda sobre os “Componentes Não-manuais” – expressão facial e corporal
- muito importantes, já que a expressão facial ou o movimento do corpo pode também
ser considerado parâmetros. Quanto aos “Aspectos Morfológicos”, estes são baseados
na simultaneidade sendo que a modificação na duração e extensão do Movimento de
alguns sinais pode acrescentar a ideia de grau e os verbos multidirecionais apresentam
flexão para pessoa e número através da direção de Movimento. Quanto ao Gênero, na
LIBRAS os nomes não apresentam flexão de gênero, sendo que deve-se indicar o sexo
pospondo-se o sinal HOMEM/MULHER, indistintamente para pessoas e animais ou
pode ainda haver sinais diferentes para um e outro como PAI/MÃE (RJ). No que se
refere ao Número e Quantificação, a LIBRAS manifesta o número através dos valores
singular, dual e plural.

Quanto à “Negação em LIBRAS”, apontada pelo capítulo 3, a autora considera o


modelo proposto por Stokoe et al. (1965), Klima e Bellugi (1979) com base nos
parâmetros M, CM, PA, O, EF (expressão facial). Assim, a negação pode ser
classificada em: negação proposicional (PARECER PAULO NÃO VIR), negação
performativa (NÃO PROMETER VIR REUNIÃO) e negação modal (NÃO ACHAR
ELE VIR REUNIÃO). No entanto, a autora considera a negação em seu sentido amplo
para verificar a produtividade de paradigmas que eram obtidos através de processos
morfológicos de derivação, cujos sufixos carregam um significado relacionado com a
oposição ou inversão e com a rejeição. A obra apresenta três tipos básicos de negação
em LIBRAS. São eles: Negação através do uso do NÃO entreposto ou posposto ao item
negado (ACHAR NÃO); Negação de suprassegmental ocorre simultaneamente ao item
negado (balançando a cabeça negativamente).

Na obra, o capítulo 4 apresenta uma análise dos pronomes pessoais da língua de


sinais americana (ASL) e da Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS), tomando-os por
pronomes verdadeiros e não como formas com loci referenciais associados. A autora
apresenta a leitura do trabalho de Lyons (1981) que classifica três classes principais de
expressões referentes aos pronomes sendo: nomes próprios, sintagmas nominais, tendo
por núcleo substantivos comuns e pronomes com função básica indexical ou dêitica, ou
seja, os pronomes devem ser definidos como a dêixis em termos de localização espaço-
temporal no contexto de enunciação.
Os pronomes são uma das principais subclasses das expressões referentes (LYONS,
1981) e a referência é a relação mantida entre as expressões linguísticas e o que elas
significam no discurso. Há traços formantes dos pronomes pessoais em ASL e em
LIBRAS, assim, no que ser refere à Orientação temos três eixos, a saber: acima/abaixo;
à frente/atrás; à esquerda/à direita. A autora esclarece que é o eixo à frente/atrás o que
parece ser a base dos sistemas pronominais da LIBRAS e da ASL, no entanto apesar de
os pronomes pessoais serem expressões referenciais, já que contém apenas informação
contextual, eles não são simples localizações. Eles possuem papeis de identificação
conversacional do enunciador e do destinatário, ou seja, as duas pessoas do discurso que
são realmente pessoas.
Realizando uma análise tripartida da localização, a autora diferencia três níveis
espaciais sendo: a localização como um componente interno da estrutura de um sinal; a
localização como parte do espaço de enunciação usado como a estrutura linguística para
os pronomes; e a localização real dos participantes conversacionais e dos referentes da
terceira pessoa. Para a autora, os dois primeiros níveis são linguísticos e convencionais,
já o terceiro, não. A autora ainda considera que a localização surge como um
componente interno da estrutura de um sinal tanto para a LIBRAS quanto para a ASL.
Isso porque o parâmetro localização para as forma canônicas de todas as três pessoas é o
espaço neutro (área à frente do corpo do usuário, à altura do tórax). No entanto, para os
pronomes de primeira pessoa, o parâmetro pode ser o espaço neutro como o centro do
tórax, ou seja, pode-se variar dentro de uma determinada faixa no espaço físico.
Segundo a autora, isso se dá pelo fato de que o espaço neutro, sendo uma unidade
componente de um sinal, é definido em relação ao corpo do emissor, que assinala o
espaço de enunciação como uma estrutura linguística para os pronomes. Há ainda a
localização real dos participantes conversacionais e dos referentes de terceira pessoa,
sendo que a localização real do referente de primeira pessoa coocorre com a sua
localização como parte do espaço de enunciação, pois o espaço de enunciação é
ancorado no enunciador.
Um grande destaque da obra, apresentado no capítulo 5, é o estudo sobre os
classificadores da LIBRAS. A autora, ao considerar morfema cada Configuração de
Mão utilizada como Classificador, define que os Classificadores – Cls são morfemas
que existem em línguas orais e línguas de sinais. Nesse caso, as línguas de sinais, por
serem espaço-visuais, usam os Cls frequentemente explorando morfologicamente o
espaço multidimensional em que se realizam os sinais. A autora cita Allan (1977) que
afirma que um Classificador é concatenado com um quantificador, demonstrativo ou
predicativo para forma um elo que não pode ser interrompido por um nome que ele
classifica. Nessa direção, o classificador tem significado sempre, pois denota
características percebidas ou imputadas da entidade à qual o nome associado se refere.
Enfim, o Classificador é um morfema afixado a um item lexical, atribuindo-lhe a
propriedade de pertencer à determinada classe e pode funcionar como nome, adjetivo,
advérbio de modo, ou locativo, mas se incorporam especialmente no verbo ou no
adjetivo, apresentando-se no sintagma verbal ou predicado.
Outro aspecto analisado na obra, apontado pelo capítulo 6, é a Correferência em
LIBRAS. Segundo a autora, a Referência em LIBRAS funciona de maneira similar
àquela das línguas orais, como o português, por exemplo, já a Correferência é um
fenômeno realizado por meio do uso de pronomes pessoais, demonstrativos e
possessivos, mas também por meio do termo comparativo, da mudança de posição do
corpo, do uso de classificadores e até, mesmo, do uso de olhadelas. Ressalta-se que na
LIBRAS há três formas
de elementos anafóricos. Já os pronomes Correferênciais constituem-se do uso de
diferentes configurações de mãos e de contato ou não de olhos, assim como de rápidas
olhadelas – EU, VOCÊ, MEU, ESTE, etc. Há ainda o uso Correferêncial de
Classificadores em que há substituição do nome pelo classificador, ou substitui o
Classificador pelo sinal do objeto. Sobre a ambiguidade de Correferência em LIBRAS,
a autora ressalta que, por ser uma língua espaço-visual, a LIBRAS dificilmente
apresenta ambiguidade de correferência, já que o uso do espaço é sistemático.
O capítulo 7 apresenta um estudo sobre os atos de fala, buscando relacionar as
funções dêiticas e instrumental da linguagem a outros fenômenos. Para a autora, a
função instrumental dos modais deodônticos (conceito de obrigação em contraste com
proibição) relata primordialmente a manifestação atitudinal dos sujeitos de enunciados
com atos diretivos, tais como ordens e pedidos, sendo que esses dois grupos de modais
(ordem/ pedido) expressam diferentes graus de subjetividade, sendo que os modais
deodônticos são essencialmente instrumentais. A LIBRAS possui sinais equivalentes
para todas as noções modais (necessidade, impossibilidade, obrigação, proibição, etc.)
das línguas orais, pois as construções modais verbais e adjetivas são mais comuns do
que as construções substantivas e adverbiais. Os verbos modais da LIBRAS situam-se,
em geral, no início do enunciado. A obra aponta sobre os modais aléticos em LIBRAS,
ou seja, modalidades de necessidade e possibilidade. Esses modais podem ter função de
adjetivo ou verbo, mas, em algumas situações, podem ser usados epistêmica ou
deodonticamente, pois são polissêmicos (vários sentidos). Os termos: IMPOSSÍVEL,
NÃO-PODER, ÓBVIO, PRECISAR são alguns dos modais aléticos em LIBRAS. Na
sequência, a autora traça algumas construções modais por meio de esquemas,
demonstrando por meio de estruturas sintático-semânticas subjacentes, um estudo sobre
os adjetivos modais do Português.
O capítulo 8 apresenta o resultado de uma pesquisa ligada à investigação sobre as cores,
consistindo num sistema de comparação dos sistemas dos termos básicos para as cores
da LIBRAS e da LSKB, ambas, Línguas de modalidade espaço-visual. Para o Capítulo
9, a autora apresenta um estudo pragmático dos pedidos em LIBRAS, relacionados aos
atos de fala, considerando o pedido e as estratégias de polidez em LIBRAS. A autora
fecha a primeira parte, reconhecendo que a metodologia usada nesse último capítulo
precisa ser aperfeiçoada no sentido de se obter dados mais naturaise espontâneos,
contudo representa u m primeiro passo em direção ao estudo das estratégias de polidez e
dos atos de fala em uma língua de sinais.
A parte II dessa obra foi reservada para tratar sobre a metodologia de pesquisa de
Língua de Sinais, sendo que os curtos capítulos 10 e 11 versam sobre a pesquisa de
campo, destacando a obrigatoriedade de se registrar os dados das pesquisas envolvendo
as Línguas de Sinais em vídeo e realizar a transcrição de sinais e de unidades
linguísticas maiores como enunciados e narrativas baseados nos sistemas de transcrição,
utilizado na Europa e Estados Unidos de modo adaptado. A autora ainda descreve as
características
dos informantes, além de apontar a relevância de preparar os surdos para a pesquisa
linguística, inserindo-os na equipe de pesquisadores. Na sequência, a autora enumera 10
passos para realização da transcrição de enunciados maiores em Línguas de Sinais,
usando o sistema de notação. Já o capítulo 12 traz mais um modelo de transcrição das
Línguas de Sinais. Trata-se do sistema Ferreira Brito-Langevin de transcrição de sinais
que foi criado por Ferreira em parceria com Langevin. A autora assevera que os
parâmetros considerados clássicos na descrição dos sinais são: 1) configuração de mão;
2)ponto de articulação; 3) movimento; 4) orientação. Nesse caso, para que haja
movimento, é preciso haver um objeto e um espaço. Há o setting ou espaço de
realização dos sinais com três eixos que correspondem aos três graus de liberdade de
movimento no espaço. Em relação à mão, foram identificados movimentos internos,
podendo ser identificado onde está o movimento, sua velocidade, para tanto foi criada
uma fórmula envolvendo velocidade, limite, tempo, comprimento, vetor, etc. Foram
feitas ainda algumas considerações matemáticas a marcação da reduplicação, simetrias e
repetições no espaço usado de formas diferentes pelas línguas de sinais. Finalmente a
parte III, composta apenas pelo capítulo 13, aponta considerações sobre a pesquisa
comparativa de Língua de Sinais considerandoos sinais para tempo e espaço em Língua
Brasileira de Sinais (LIBRAS) e em Língua de Sinais Kaapor Brasileira (LSKB). Para a
autora, esse trabalho sugere que a linguagem proporciona a forma como os usuários da
língua
vêm o mundo, já que sua estrutura é moldada pelas pessoas que criam e por sua cultura,
a qual, por sua vez, é influenciada pelo ambiente. A autora termina a obra concluindo
que a linguagem é uma interação entre língua, povo, cultura e meio ambiente, e não de
um determinismo da estrutura linguística sobre a visão de mundo dos usuários. Por ter
sido escrito de modo claro e consistente, por apresentar bibliografia bastante atualizada
na área da Língua de Sinais, por criar sistemas de notações léxicas, por aplicar os
pressupostos teóricos da Linguística e descrever de modo original e pioneiro a língua de
sinais brasileira, passa a ser livro de leitura obrigatória a todos aqueles – iniciantes ou
iniciados – que se dedicam ao estudo das Línguas de Sinais. Discutindo pontos
fundamentais no estudo da Língua de Sinais Brasileira – LIBRAS, com concentração
nos aspectos linguísticos, formação e composição dos sinais, o livro tem ainda o mérito
de colocar à disposição do leitor diferentes posições sobre os vários temas abordados,
envolvendo língua, linguagem, sistemas linguísticos, outras línguas de sinais, cultura,o
que permite que iniciados e iniciantes na área tenham uma visão abrangente das
estruturas da língua de sinais brasileira, mas que, especialmente, percebam a LIBRAS
como uma língua natural com toda a complexidade que os sistemas linguísticos
possuem.

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