334 BJD
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ISSN: 2525-8761
RESUMO
A Lei de Execução Penal 7.210 de 11/07/84 (BRASIL, 2018), declara que é dever do
Estado a assistência ao preso ou ao internado (Art. 10), objetivando prevenir o crime ou
contribuir quanto ao seu retorno ao convívio na sociedade; esta então surge com o intuito
de humanizar a pena por meio do Tratamento Penal. Para a individualização da pena,
deve ser observado o delito cometido, antecedentes criminais e comportamentos sociais.
A assistência educacional é ofertada àqueles que necessitam de instrução escolar (da
alfabetização ao ensino médio). Segundo a LEP é dever do Estado oferecer condições
necessárias para a efetivação desta assistência, fazendo menção a implantação de
bibliotecas nas unidades penais do país. Estudiosos como Charleaux (2016), Gomes
(2016), Julião (2007), Onofre (2007), Oliveira (2013), Teixeira (2010) entre outros,
reiteram a importância e direito do encarcerado as assistências necessárias a fim de
propiciar a reintegração social, salientando que garantir o acesso à educação é o caminho
que oportunizará reflexões e a saída deste do sistema penitenciário com melhores
condições para enfrentar os desafios que irão se apresentar na sua nova fase de vida. Esta
pesquisa tem por objetivo contribuir quanto a reflexão acerca do direito a educação pelos
apenados ou custodiados do país.
ABSTRACT
The Law of Criminal Enforcement 7.210 of 11/07/84 (BRASIL, 2018), states that it is the
duty of the State to assist the prisoner or internee (Art. 10), aiming to prevent crime or
contribute to their return to society; this then arises in order to humanize the penalty
through the Criminal Treatment. For the individualization of the penalty, the offense
committed, criminal record and social behavior must be observed. Educational assistance
is offered to those who need schooling (from literacy to high school). According to LEP,
it is the State's duty to provide the necessary conditions for this assistance, mentioning
the implementation of libraries in the country's correctional facilities. Scholars such as
Charleaux (2016), Gomes (2016), Julião (2007), Onofre (2007), Oliveira (2013), Teixeira
(2010) among others, reiterate the importance and the right of the incarcerated to the
necessary assistance in order to provide social reintegration, stressing that ensuring access
to education is the path that will provide opportunities for reflection and the exit of this
prison system with better conditions to face the challenges that will present themselves
in their new phase of life. This research aims to contribute to the reflection about the right
to education by the apenados or custodians of the country.
1 INTRODUÇÃO
as informações disponibilizadas constataram-se que 64% são pessoas negras e 51% não
concluíram o ensino fundamental.
Conforme dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), divulgado pelo jornal O
Globo (Online, 2022) durante a Pandemia Covid 19, o Brasil chegou a marca de 919.651
presos, com isto, o Brasil se mantém no terceiro lugar no ranking dos países que mais
prendem no mundo, atrás da China e dos Estados Unidos. Conforme Abbud (Jornal O
Globo online,2022) fome e desemprego são considerados um dos principais motivos dos
delitos cometidos, no decorrer da Pandemia Covid 19 no país.
A Constituição Federal de 1988 trata em seus artigos sobre o âmbito educacional
e asseguram a todos os brasileiros o direito a este acesso, neste sentido, portanto, esta lei
possibilita ao cidadão que se torne um ser atuante nesta sociedade, conhecedor dos seus
direitos mais amplos. Este direito educacional, entretanto, não é garantido apenas às
crianças ou aos jovens, mas o Estado deve também garantir o direito a educação aos
adultos e idosos, os quais não tiveram acesso ao ensino formal na idade apropriada.
A Lei de Execução Penal 7.210 de 11/07/84 (BRASIL, 2018), declara que é dever
do Estado a assistência ao preso ou ao internado (Art. 10), objetivando prevenir o crime
ou contribuir quanto ao seu retorno ao convívio na sociedade; esta então surge com o
intuito de humanizar a pena por meio do Tratamento Penal. Para a individualização da
pena, deve ser observado o delito cometido, antecedentes criminais e comportamentos
sociais. A assistência educacional é ofertada àqueles que necessitam de instrução escolar
(da alfabetização ao ensino médio) e a formação profissional. Segundo a LEP é dever do
Estado oferecer condições necessárias para a efetivação desta assistência, fazendo
menção a implantação de bibliotecas nas unidades penais do país.
O Parecer CNE/CEB nº 4/2010, vem fortalecer as Diretrizes Nacionais para a
oferta de educação para jovens e adultos em situação de privação de liberdade nos
estabelecimentos penais, orientando ações que garantam esta modalidade de ensino, por
meio de programas educacionais sob a responsabilidade do Ministério da Educação em
articulação com o Ministério da Justiça, com a possibilidade de realizar convênios com
Estados, Distrito Federal e Municípios; cujos recursos devem atender o provimento de
materiais didáticos e escolares, apoio pedagógico, alimentação e saúde dos estudantes
2 DESENVOLVIMENTO
Assim como nas instituições fora do sistema penitenciário, a Educação de Jovens
e Adultos – EJA é destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos
Segundo as Diretrizes da EJA (2008, p. 33) “das razões pelas quais o educando da
EJA retorna para a escola destaca-se o desejo da elevação de escolaridade para atender às
exigências do mundo do trabalho”, já para o aluno recluso há vários fatores que o levam
a retornar para as carteiras escolares, Onofre (2007) relata que em alguns há o desejo de
aprender, de resgatar a cidadania perdida e prosseguir desejando concluir a fase de ensino
em que abandonou os estudos ou até mesmo em cursar o ensino superior, outros de buscar
um passatempo, ou desejam apenas sair da cela e veem o lanche da escola como uma
oportunidade de comer algo diferente, outros desejam um parecer positivo nos exames
criminológicos.
Este exame foi estabelecido pela LEP (Lei de Execução Penal) em seu artigo 8º,
é realizado em detentos do regime fechado com o objetivo de avaliar/classificar o detento
quanto ao grau de periculosidade, eventual arrependimento ou possibilidades de cometer
novos crimes, seu objetivo ainda é para individualização da pena (JUSBRASIL, 2018).
Conforme Teixeira (2007) “o princípio fundamental que deve ser enfatizado e
exigido é que a educação no sistema penitenciário não pode ser entendida como
privilégio, benefício ou, muito menos, recompensa oferecida em troca de um bom
comportamento”. Entende-se que a educação é um direito previsto constitucionalmente.
Entretanto, Oliveira (2013, p. 961) alerta por meio de pesquisa de campo, realizada na
prisão de Uberlândia (MG) que nem sempre este direito é respeitado já que para o acesso
1
Os dados se referem às pessoas privadas de liberdade no sistema penal adulto - maiores de 18 anos. Dos
presos matriculados em atividades formais de educação no Brasil, 51% estão no ensino fundamental.
Link para matéria: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/11/08/O-acesso-dos-presos-%C3%A0-
educa%C3%A7%C3%A3o-nas-cadeias-brasileiras.
Tô estudando tem três anos aqui. [...] Tô na quarta série agora, porque no meu
bloco não tem a quinta série que foi a que eu parei. Mas eu sei que é meu direito
fazer essa série que parei lá fora, mas não tem como (OLIVEIRA, 2013, p.
961).
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A educação é um direito de todos legalmente constituído, portanto, é dever do
Estado disponibilizar este acesso. No sistema prisional, este acesso educacional não poder
ser barganhado ou conquistado, em troca de bom comportamento, deve ser respeitado e
cumprido. O Estado não pode criar barreiras para que o direito a educação seja usufruído
pelos detentos no país.
O papel da escola na sociedade atual, vai muito além de se oportunizar o ensino
formal, pois ela é um mecanismo que se deve propiciar aos alunos da EJA, debates a fim
de compreenderem que eles são protagonistas da sociedade que todos almejam. No
sistema penitenciário, conforme relata Julião (2007) a escola ainda que localizada em um
espaço repressor, é o único local que possibilita e estimula processos educativos,
contribuindo na reconstrução da sua identidade e na sua reintegração social.
Uma sociedade cujo índice de criminalidade aumenta a cada década e precisa
investir em mais presídios do que em escolas, apresenta traços de enfermidade social. E
se as políticas públicas não forem trabalhadas de acordo como se propõe na lei, poderá
ocorrer do detento no seu egresso a sociedade, apresentar comportamento
institucionalizado ao vivido no ambiente prisional, ou seja, reproduzir hábitos e
ensinamentos adquiridos por meio de convívio com detentos, os quais possuem alto grau
de periculosidade, abrindo ou aprofundando o abismo no espaço sociofamiliar e o
fracasso poderá ser percebido através das reincidências criminais.
Reincidências trazem prejuízos ao ser humano enquanto ser individual, social e
financeiro, a educação por sua vez, não possui um poder mágico, mas quando o professor
observa um detento retomar a trajetória escolar e ultrapassar vivências negativas e
influências desastrosas ocorridas ao longo da vida marginalizada, é possível então
vislumbrar um futuro melhor e pensar que todo esforço e dedicação valeu a pena.
REFERÊNCIAS
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presos. Jorna O Globo, Brasília, online. Postado em 05/06/22. Disponível em:
https://oglobo.globo.com/brasil/noticia/2022/06/pandemia-pode-ter-levado-brasil-a-ter-
recorde-historico-de-951651-presos.ghtml Acesso em 17/09/2022.
CHARLEAUX, João Paulo. O acesso dos presos à educação nas cadeias brasileiras. Nexo
Jornal on-line. 08 nov. 2016. Disponível em:
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2016/11/08/O-acesso-dos-presos-à-educação-
nas-cadeias-brasileiras>. Acesso em: 26 fev. 2019.
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