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Solicitou a Câmara Municipal de ... parecer jurídico a esta Comissão de Coordenação e Desenvolvimento
Regional sobre a seguinte questão:
Esta autarquia pretende esclarecer-se sobre a possibilidade de dois trabalhadores do Município, na carreira e
categoria de assistente operacional, transitarem em regime de mobilidade intercarreiras, para a carreira especial
de fiscalização, visto serem detentores de todos os requisitos para ingresso à exceção do curso de formação
previsto no artigo 7º do DL 114/2019. A questão concreta é saber se podem transitar em mobilidade para a
carreira especial de fiscalização, e efetuarem a formação profissional nos primeiros meses da mobilidade até à
consolidação.
1. A Mobilidade é o mecanismo jurídico que permite ao trabalhador desempenhar funções, a título transitório, no
mesmo ou em diferente órgão ou serviço, na mesma ou em carreira e categoria diversa, sem necessidade de ser
submetido a processo de recrutamento.
A mobilidade traduz-se numa modificação transitória da situação funcional do trabalhador, dentro do mesmo
órgão ou serviço, ou entre órgãos ou serviços diferentes, fundada em razões de interesse público, tendo em vista
elevar a eficácia dos serviços através de um aproveitamento racional e de uma valorização dos recursos
humanos da Administração Pública.
Para isso é necessário que haja conveniência para o interesse público, designadamente por razões de economia,
de eficácia e de eficiência dos órgãos ou serviços - vide artigo 92º nº 1, do anexo à Lei nº 35/2014; seja
fundamentada - cfr. artigo 92º nº 2, do mesmo diploma - o trabalhador detenha habilitação adequada no caso da
mobilidade intercarreiras ou intercategorias, e não modificar substancialmente a posição de origem do trabalhador
conforme prevê o artigo 93º, nº 4 da LTFP.
Todos os trabalhadores com vínculo de emprego público que desempenhem funções em órgão ou serviço
abrangido pelo âmbito de aplicação da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas (LTFP) aprovada e publicada
em anexo à Lei nº 35/2014 de 20 de junho, podem desempenhar funções em regime de mobilidade.
. Mobilidade na categoria, para o exercício de funções inerentes à categoria de que o/a trabalhador/a é titular, na
mesma atividade ou em diferente atividade para que detenha habilitação adequada;
. Mobilidade intercarreiras, para o exercício de funções inerentes a carreira cujo grau de complexidade é igual,
superior ou inferior à carreira na qual o/a trabalhador/a está inserido/a;
. Mobilidade intercategorias, para o exercício de funções inerentes a categoria superior ou inferior da carreira de
que o/a trabalhador/a é titular.
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2. As habilitações exigidas para a mobilidade são as mesmas para ingresso na carreira e categoria por
procedimento de recrutamento, pelo que para o esclarecimento da questão há que trazer à colação o disposto no
DL 114/2019 de 20 de agosto, sobre essa matéria.
O DL 114/2019 criou a carreira especial de fiscalização e estabeleceu o respetivo regime jurídico, procedendo à
revisão, por extinção, das carreiras de fiscal municipal, de fiscal técnico de obras, de fiscal técnico de obras
públicas e de todas as carreiras de fiscal técnico adjetivadas, determinando a transição dos trabalhadores nelas
integrados. Determinou ainda, nos termos do artigo 106º da Lei nº 12-A/2008, de 27 de fevereiro, a subsistência
das seguintes carreiras e categorias: Fiscal de obras, Fiscal de obras públicas, Fiscal de leituras e cobranças,
Fiscal de serviços de água e saneamento e Fiscal de serviços de higiene e limpeza.
De acordo com este diploma o recrutamento faz-se por procedimento concursal, constando os requisitos para
ingresso nesta carreira do artigo que a seguir se transcreve:
Artigo 3º
Requisitos
A constituição de vínculo de emprego público dos trabalhadores a integrar na carreira especial de fiscalização
depende cumulativamente de:
a) Observância dos requisitos gerais previstos no artigo 17º da Lei Geral do Trabalho em Funções Públicas
(LTFP), aprovada em anexo à Lei nº 35/2014, de 20 de junho, na sua redação atual (1).
Por outro lado, o artigo 7º, que a seguir também se transcreve, vem referir ainda a necessidade dos trabalhadores
frequentarem com aproveitamento determinado curso:
Artigo 7º
Curso de formação específico
3 - A frequência do curso de formação tem lugar durante o período experimental, cuja duração corresponde à
duração do curso de formação específica caso esta seja superior.
4 - A aprovação no curso de formação específica depende de uma classificação final não inferior a 14 valores,
numa escala de 0 a 20 valores.
5 - Os trabalhadores que, à data da entrada em vigor da portaria referida no nº 1, estejam a frequentar ou tenham
frequentado curso de formação específico, estão dispensados da frequência do curso a que se refere o presente
artigo, sempre que se candidatem a procedimento concursal para recrutamento de trabalhadores a integrar na
carreira especial de fiscalização.
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Daqui resulta que para ingresso na carreira especial de fiscalização não é exigida a titularidade do curso de
formação específico, mas apenas os requisitos plasmados no artigo 3º. Ou seja, no caso do ingresso o curso de
formação específico pode ser realizado durante o período experimental, que como se sabe é o período
corresponde ao tempo inicial de execução das funções do trabalhador, nas modalidades de contrato de trabalho
em funções públicas e de nomeação, destinando-se a comprovar se o trabalhador possui as competências
exigidas para o posto de trabalho que vai ocupar, regressando o trabalhador à situação jurídico-funcional que
detinha anteriormente, ou até cessando o contrato sem direito a qualquer indemnização ou compensação, no
caso do trabalhador não ser detentor de vínculo de emprego público - cfr. artigo 45º da LTFP - no caso de ser
considerado que não possui as competências para o lugar. O que naturalmente acontecerá se o trabalhador não
realizar a formação ou se a avaliação for inferior a 14 valores.
Isto significa que o legislador permite que a formação específica de ingresso nesta carreira seja feita já no
decurso do contrato, se bem que ainda numa fase transitória da relação jurídica, apenas exigindo que a
classificação final do trabalhador na avaliação não seja inferior a 14 valores.
Nestes termos, somos de parecer que deve ser seguido idêntico raciocínio para a mobilidade de trabalhadores
para esta carreira, ou seja, estando presentes todos os restantes requisitos para se operar a mobilidade, o facto
dos trabalhadores não serem detentores da formação específica não obsta à mobilidade para a carreira, devendo
a formação específica ser realizada logo na primeira parte da mobilidade, à semelhança do que foi referido para o
contrato.
Contudo, a omissão desta formação, ou o aproveitamento com nota inferior a 14 valores obsta à consolidação da
mobilidade, à semelhança do que sucede com o contrato, sendo a formação realizada durante o período
experimental, sendo exigido pela lei a avaliação com classificação não inferior a 14 valores.
Pelo que somos a concluir, salvo melhor entendimento, relativamente ao caso concreto que os trabalhadores
apesar de ainda não deterem a formação específica, desde que possuam os restantes requisitos referidos na
legislação, podem através do mecanismo da mobilidade transitar para a carreira especial de fiscalização, e
realizarem a formação específica antes da consolidação da mobilidade.
______________________________
1 - Além de outros requisitos especiais que a lei preveja, a constituição do vínculo de emprego público depende
da reunião, pelo trabalhador, dos seguintes requisitos:
a) Nacionalidade portuguesa, quando não dispensada pela Constituição, por convenção internacional ou por lei
especial;
b) 18 anos de idade completos;
c) Não inibição do exercício de funções públicas ou não interdição para o exercício daquelas que se propõe
desempenhar;
d) Robustez física e perfil psíquico indispensáveis ao exercício das funções;
e) Cumprimento das leis de vacinação obrigatória.
2 - A nacionalidade portuguesa para o desempenho de funções públicas só pode ser exigida nas situações
previstas no nº 2 do artigo 15º da Constituição.
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