Por Dentro Da Hist - Ria, 2
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Professor universitário
CÉLIA CERQUEIRA
História
Manual do Professor
4ª edição • São Paulo • 2016
Página 2
Santiago, Pedro
Por dentro da História, 2 / Pedro Santiago, Célia Cerqueira, Maria Aparecida Pontes. – 4. ed. – São Paulo : Escala Educacional, 2016. – (Coleção Por dentro da História ;
v. 2)
Bibliografia.
ISBN 978-85-377-1727-1 (aluno)
ISBN 978-85-377-1728-8 (professor)
1. História (Ensino médio) I. Cerqueira, Célia. II. Pontes, Maria Aparecida. III. Título. IV. Série.
16-03716
CDD-907
Impressão e acabamento
Oceano Indústria Gráfica e Editora Ltda
Rua Osasco, 644 – Rod. Anhanguera, Km 33
CEP 07750-000 – Cajamar SP
CNP: 67.795.906/0001-10
Tel.: (11) 4446-7000
Em respeito ao meio ambiente, as folhas deste livro foram produzidas com fibras de árvores de florestas
plantadas, com origem certificada.
Diretoria editorial
Gerência editorial
Rita Rodrigues
Coordenação editorial
Edição
Assistência editorial
Copidesque e preparação
Fotografias de capa
Foto principal: Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, RJ, 1906 - Instituto Moreira Salles, SP.
Fotos fundo: Parque Nacional de Hiroshima, Japão, 2005 - AFP/Kazuhino Mogi e Inferior: Tentativa de
desembarque de soldados chilenos no Peru, durante a Guerra do Pacífico (1879-1883) - Coleção Roger-Viollet.
Fotos destaque parte de baixo: Desenho de Thomas Rowlandson, 1807 - A evolução das cidades, p.128 e
Habitantes de Canudos, 1897 - Arquivo Histórico, Museu da República, RJ.
Fernanda Pereti
Cartografia
Mario Yoshida
Tempo Composto
Pesquisa iconográfica
Tempo Composto
Produção gráfica
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
Até pouco tempo atrás, o Ensino Médio era visto quase como um curso preparatório
para ingressar nas universidades. Resultado: o aluno passava três anos recapitulando
o que fora estudado nos anos anteriores, ansioso por decorar mais e mais conteúdos.
Hoje, essa realidade felizmente se encontra em franca transformação.
Cada vez mais, o Ensino Médio está integrado à formação básica. Em outras palavras,
seus objetivos não se resumem a preparar o aluno para uma prova de ingresso, mas
sim para a vida, para o mundo do trabalho, para uma participação ativa e consciente
na sociedade. Com isso, os desafios – tenha certeza! – se multiplicam.
2 Muitas janelas
Ao longo do texto você encontra diferentes boxes: são janelas abertas em permanente diálogo com
o tema central do capítulo. São elas:
• Ao seu redor: traz textos e atividades que estimulam o leitor a aproximar o conteúdo estudado do
seu cotidiano.
• Vestígios do passado: reúne evidências históricas (textos literários, poemas, letras de música,
imagens, documentos oficiais), a fonte básica do historiador.
• Conexão presente: estabelece relações entre o conteúdo histórico e o tempo presente, tornando o
passado instrumento de análise para o mundo em que vivemos. Incentiva assim o leitor a pensar
historicamente.
• História e cultura: a seção analisa como a história é apropriada pelos diversos segmentos sociais,
em diferentes tempos, para legitimar ideias, propostas e projetos.
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3 História em discussão
Ao final de cada capítulo encontra-se um conjunto de seções de atividades, úteis para sistematizar o
conteúdo, ampliar o tema estudado, estabelecer debates e incentivar o trabalho coletivo e a
pesquisa. As seções são estas:
• Mão na massa: é organizada em três blocos – um que aproxima o conteúdo da realidade (Ao seu
redor); um que incentiva a perceber o assunto em perspectiva interdisciplinar (Olhares múltiplos);
e um que estimula a reflexão das diferentes realidades ligadas ao universo do trabalho (Mundo do
trabalho).
• Voltando ao início, fechando hipóteses: trata-se de uma atividade-síntese, que em geral retoma as
hipóteses elaboradas no início do capítulo. Mas essas atividades não são apenas conclusivas: ao
contrário, incentivam a abertura de novas questões e perspectivas.
4 Para encerrar
As unidades são encerradas por atividades interdisciplinares, seguidas de questões do Enem e de
exames vestibulares. As primeiras incentivam o diálogo entre as diversas áreas do conhecimento,
buscando-se valorizar todas as suas dimensões e as diferentes formas de apreensão da realidade.
As questões do Enem e de vestibulares são voltadas a propiciar, desde o Ensino Médio, o contato
com esse tipo de exame, que fará parte da rotina de muitos dos alunos que concluirão o Ensino
Básico.
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SUMÁRIO
UNIDADE I:
A invenção da liberdade 8
Capítulo 1 – Europa: tempo de luz 10
1. A voz dos descontentes 11
2. O mundo da razão 12
3. O pensamento iluminista 13
4. Mudar para não perder o poder 16
BN, Lisboa
Sugestões de leitura284
Bibliografia de referência 285
University of Bielefeld
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CAPÍTULO 1
Exemplos não faltam, como aquele criado por Thomas Morus, em 1516, no livro Utopia. Nele, o
autor criou uma sociedade igualitária, sem dinheiro nem propriedade privada, em que todos viviam
do próprio trabalho, sem luxos nem excessos. Não por acaso, “utopia”, que dá nome ao livro,
tornou- -se sinônimo de projetos ideais. E você, possui ideais? Qual é a sua utopia?
University of Bielefeld
Ilustração de Ambrosius Holbein, feita no início do século XVI, para o livro Utopia, de Thomas Morus.
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Com um grupo de colegas, imaginem uma sociedade ideal, na qual exista equilíbrio entre as
pessoas e o meio ambiente. Descrevam ou representem como seria essa sociedade.
2 Organizem uma exposição na classe sobre as sociedades ideais imaginadas pelos grupos.
3 Estabeleçam uma relação entre o trabalho desenvolvido por vocês e o espírito do Iluminismo.
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Entre as preocupações dos iluministas estavam a transformação das relações sociais e das diversas
formas de ver, interpretar e compreender o mundo. Ao valorizar a razão, em vez da autoridade,
acabaram provocando uma série de mudanças, que atingiram desde a política e a economia até a
vida cotidiana e a maneira de pensar e agir das pessoas.
Tratava-se de uma reação ao Absolutismo, que desde o século XVI marcava a vida política e social
de grande parte dos reinos europeus, com sua estrutura rígida e o poder fortemente centralizado,
justificado como de origem divina. Em uma sociedade estamental, as leis e os costumes tornavam
quase impossível qualquer mudança de condição social. Pessoas pertencentes à nobreza e ao clero
tinham mais direitos do que os artesãos e camponeses. Estes últimos enfrentavam restrições à
circulação individual e à posse e ao uso das terras.
Retrato de um dos cerimoniais mais tradicionais da corte de Luís XIV, rei francês que foi símbolo da
monarquia absolutista na Europa: os súditos observam o rei fazendo sua refeição.
VOCÊ SABIA?
Breve panorama
Na formação dos Estados Modernos, o rei tinha um papel de mediador entre os interesses de
nobres e burgueses. O equilíbrio foi rompido no século XVIII, quando as tensões desse jogo
atingiram o ápice.
Nessa época, o mundo econômico era marcado tanto por características do feudalismo – por
exemplo, muitos dos tributos pagos por camponeses e artesãos – como por novas relações, que
procuravam incentivar a produção e a circulação de mercadorias com práticas que favoreciam o
lucro e o acúmulo de capitais.
A nobreza beneficiava-se das antigas estruturas feudais e dos cargos no governo. O comércio e a
produção de mercadorias eram controlados pela burguesia, enriquecida por atividades econômicas
dinâmicas.
As diferenças entre os dois lados favoreciam o conflito, que aumentava conforme as atividades
burguesas adquiriam maior importância nas economias locais. Foi nesse universo polarizado que o
Iluminismo se fortaleceu e cresceu, dando voz aos diferentes grupos que sonhavam com o poder,
em oposição aos nobres.
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2 O mundo da razão
No século XVII já se observavam aspectos do que viria a ser o Iluminismo. Obras de René Descartes
(1596-1650), John Locke (1632-1704) e Isaac Newton (1642-1727) evidenciavam a luta contra
diferentes formas de tirania – moral, intelectual, religiosa e política.
Eles defendiam a criação de novas instituições e a valorização de uma atitude racional que
conduzisse o ser humano a um caminho de progresso. Assim, criticavam os costumes e as
instituições predominantes na época.
O filósofo inglês John Locke introduziu o racionalismo no mundo da política, formulando ideias que
contrariavam os princípios do Absolutismo. No livro Ensaio sobre o entendimento humano (1690),
defendia a existência de uma bondade natural e afirmava que as pessoas podiam construir sua
felicidade.
Antes, a leitura era feita muitas vezes em lugares públicos. Com o aumento das publicações e do número de
pessoas letradas, o hábito passou para o espaço privado. O rato de biblioteca, de Carl Spitzweg, 1850.
Segundo Locke, todas as pessoas nasciam com determinados direitos naturais, entre eles o direito à
vida e à propriedade. Para preservar esses direitos, as pessoas abandonaram o “estado de natureza”
e constituíram, por meio de um contrato, a sociedade civil e o Estado.
Portanto, o Estado deveria garantir e defender os direitos naturais. O governante que violasse essa
regra deveria ser deposto pelo conjunto da sociedade, a quem cabia o direito de rebelião.
Em outra área do saber, o matemático e físico inglês Isaac Newton, considerado o fundador da
Física clássica, defendia que a compreensão da natureza podia ser expressa por leis que serviriam
para desvendar todo o Universo. Cabia aos cientistas investigar e descobrir essas leis.
Isaac Newton elaborou a teoria da gravidade, também conhecida como lei da gravitação universal,
apresentada em 1666. Anos depois (1687), apresentou a lei do movimento. Assim como os outros
pensadores citados, Newton não negava a existência de Deus, afirmando que este se manifestava
nas leis do Universo.
Consolidando as ideias
Com base na obra dos pensadores do século XVII, os intelectuais iluministas promoveram uma
verdadeira revolução, empenhados em transformar o mundo em que viviam. Eles defendiam a
supremacia da razão, da inteligência e da crítica; e lutavam contra o misticismo, a fé e grande parte
das regras que sustentavam a sociedade absolutista.
Os iluministas opunham-se à ideia da origem divina do poder dos reis. Defendiam uma participação
política mais ampla e a formação de uma nova estrutura de poder, em lugar do regime centralizado
e restrito a determinado grupo social. Atacavam as ideias mercantilistas e a intervenção do Estado
na economia.
O poder da Igreja também era combatido por muitos iluministas. No lugar de uma fé supersti-
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Com essas ideias, os iluministas provocaram uma verdadeira revolução na sociedade. A noção de
livre-iniciativa, por exemplo, ajudou a derrubar os vínculos coloniais, pelos quais as metrópoles
mantinham diversos territórios sob controle exclusivo. A defesa de ideais como liberdade de
expressão e tolerância religiosa ajudou a minimizar as diferenças entre católicos e protestantes.
3 O pensamento iluminista
Foi na França que o Iluminismo ganhou maior destaque, embora não se tratasse de um movimento
homogêneo, uma escola ou um sistema único de ideias. A análise de obras de autores iluministas
como Montesquieu (Charles Secondat, 1689- -1755), Voltaire (François-Marie Arouet, 1694-1778)
e Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) mostra uma grande diversidade de pensamentos.
Montesquieu nutria grande simpatia pelo sistema político inglês, em que o poder do rei obedecia
aos limites impostos pelo Parlamento. Em Cartas persas, obra publicada em 1721, teceu duras
críticas aos abusos cometidos por autoridades da Igreja e do Estado. Já em O espírito das leis
(1748), expôs suas ideias sobre a origem e a natureza das normas sociais.
Voltaire também admirava a estrutura política inglesa e defendia um governo monárquico limitado
por uma Constituição – o que seria mais propício, segundo ele, à liberdade e ao fomento das artes e
do conhecimento. Escreveu várias obras, incluindo muitos contos e romances, como Zadig ou o
destino e Cândido ou o otimismo. Crítico das práticas da Igreja, defendia que o Universo só podia ser
explicado pela existência de um Deus criador. Perseguido por causa de suas ideias, acabou preso em
1729.
Jean-Jacques Rousseau defendia que o ser humano era bom em sua origem, mas acabou corrompido
com o desenvolvimento das sociedades. Acre ditava que era necessário formular uma espécie de
contrato social, no qual cada indivíduo concordaria em se submeter à vontade geral. Assim, a
vontade da sociedade deveria nortear as decisões do Estado.
Museu de Belas -Artes, Dijon
Livraria com cartazes que anunciavam obras de pensadores iluministas. Al’Egide de Minerve, de Leonard
Defrance, 1780.
Mapa e poder
Atualmente, a tecnologia oferece inúmeros recursos, como os satélites e os sofisticados programas
de computador, para a elaboração de mapas cada vez mais precisos. Além disso, ao menos em
grande medida, os territórios dos países estão consolidados.
Antes, porém, não era assim. Ainda no século XVIII, a confecção de mapas era lenta e complexa. Isso
se dava em razão, principalmente, da falta de dados confiáveis e de instrumentos precisos. Ainda
assim, os mapas eram fundamentais. Num cenário repleto de disputas entre as potências europeias
por novos territórios na América, na África e na Ásia, os mapas, à época, eram documentos
diplomáticos de extrema relevância para assegurar a posse dos novos territórios.
Jacques Nicolas Bellin. Carte De L’Amerique Meridionale. Histoire generale de voyages. Paris: Didot, 1754.
Reprodução do mapa da América do Sul (Carte de l´Amerique Méridionale), elaborado e impresso em fins
do século XVIII. Esse mapa foi fundamental para o estabelecimento dos limites territoriais da então América
portuguesa. Durante o século XVIII, as potências europeias, além de guerras, fizeram largo uso da
diplomacia. Nesse contexto, os mapas eram muito usados, por exemplo, nas negociações para a assinatura
de tratados entre as potências europeias.
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A economia e o Iluminismo
O pensamento iluminista pode ser associado às teorias de vários economistas do século XVIII, como
os fisiocratas. Entre seus mais destacados representantes estão François Quesnay (1694-1774),
contrário à intervenção do Estado na economia; Anne Robert Jacques Turgot (1727-1781); e
Vincent de Gournay (1712-1759).
No livro Fisiocracia: o governo da natureza, Quesnay formulou a ideia de que existia uma espécie de
poder natural a agir sobre as sociedades. Quaisquer leis ou regulamentações – fossem formuladas
por Esta dos ou corporações de ofício – seriam inúteis contra esse poder, fadadas ao fracasso. Para
ele, a agricultura constituía a única atividade criadora de riqueza.
Os fisiocratas defendiam que o setor agrário deveria agregar as novas práticas econômicas. Eram
também contrários à existência de taxas sobre circulação de mercadorias e qualquer tipo de
regulamentação. Seu lema foi sintetizado numa frase de Gournay: Laissez faire, laissez passer, le
monde va de lui -même (“Deixai fazer, deixai passar, que o mundo anda por si mesmo”).
O triunfo da livre-iniciativa
O liberalismo, corrente de pensamento econômico de maior destaque no período, teve no escocês
Adam Smith (1723-1790) um de seus maiores expoentes. O autor de Pesquisa sobre a natureza e as
causas da riqueza das nações (1776) criticava as práticas mercantilistas e os fisiocratas, defendia
que o trabalho era a verdadeira fonte de riqueza, valorizava a indústria ao lado da agricultura e
defendia a livre-iniciativa dos indivíduos.
Smith é considerado o fundador da Economia clássica, segundo a qual a justiça social pode ser
alcançada por meio da livre concorrência, da divisão do trabalho e do livre-comércio.
Vários dos princípios liberais continuam presentes até hoje em nossa sociedade, sobretudo no
chamado neoliberalismo (veja boxe ao fim da página).
Entre os cerca de 130 colaboradores, alguns dos mais importantes iluministas escreveram para a
Enciclopédia: os fisiocratas Quesnay e Turgot fizeram o verbete sobre Economia; Voltaire escreveu
sobre Filosofia, Literatura e Religião; Montesquieu elaborou um artigo sobre Estética; e Rousseau,
um sobre Música.
Coleção Roger Viollet
conexão presente
O papel do Estado
Nos dias de hoje, é intenso o debate sobre o papel do Estado na vida econômica e social de uma
sociedade. Os chamados neoliberais acreditam que o Estado deve interferir o menos possível nessas
esferas, cumprindo apenas papel fiscalizador e regulamentador, e atuar somente em áreas
consideradas vitais, como a da segurança pública.
Para os neoliberais, essa política representa um perigo: de tão poderoso, o Estado torna-se
autoritário.
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VESTÍGIOS DO PASSADO
Razão e liberdade
A vasta produção intelectual dos iluministas inclui desde ensaios teóricos até textos literários. É um
importante material para se conhecer as ideias que ajudaram a pôr fim ao Absolutismo e a
construir uma sociedade marcada pelo limite do poder dos governantes, pela ampla participação
política e pela valorização do conhecimento.
Entre essas obras destaca-se a de Rousseau, pautada pela defesa da liberdade. Em seus estudos, ele
procurou desvendar as origens das desigualdades humanas e encontrar caminhos para sua
superação. Leia, a seguir, um fragmento de uma de suas obras.
Concebo na espécie humana dois tipos de desigualdades: uma que chamo de natural ou física, por ser
estabelecida pela natureza e que consiste na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo e das
qualidades do espírito e da alma; a outra, que se pode chamar de desigualdade moral ou política, porque
depende de uma espécie de convenção e que é estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo
consentimento dos homens. Esta consiste nos vários privilégios de que gozam alguns em prejuízo dos
outros, como o de serem mais ricos, mais poderosos e homenageados do que estes, ou ainda por fazerem
-se obedecer por eles. [...] O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo cercado um
terreno, lembrou de dizer isto é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acreditá-lo.
Quantos crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano aquele que,
arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus semelhantes: “Defendei-vos de ouvir
esse impostor; estareis perdidos se esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra não pertence a
ninguém!”
Jean-Jacques Rousseau. Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens. Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/ download/texto/cv000053.pdf>. Acesso em: 13 mar. 2016.
Vários governantes seguiam as tendências de seu tempo. Poetas encontram-se em um café, de John
Eckstein, 1792.
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Estimularam as manufaturas e mantiveram rígido controle sobre os negócios com suas áreas
coloniais, evitando o livre-comércio.
Muitas das medidas reformistas adotadas pelos déspotas esclarecidos contribuíram para abalar as
estruturas dos governos absolutistas e para desencadear as revoluções que tomaram conta da
Europa a partir do fim do século XVIII.
conexão presente
Hoje, existem várias propostas para construir um mundo diferente e superar o atual quadro de
desigualdades sociais. Entre os novos conceitos estão o de comércio justo e o de consumo
sustentável.
O consumo sustentável, por sua vez, pressupõe estar atento para modelos de consumo que
beneficiem a sociedade e a natureza. Significa, portanto, consumir apenas o necessário, cedendo o
menos possível aos apelos da mídia e da publicidade, e optar por produtos que garantam emprego
decente aos trabalhadores e que causem menos impactos no ambiente.
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 A respeito dos pensadores do século XVII, como Descartes, Locke e Newton, explique:
a) por que são considerados precursores do Iluminismo;
3 Explique por que a razão pode ser considerada ponto-chave do pensamento iluminista.
4 No século XVIII desenvolveram-se teorias econômicas que se opunham ao mercantilismo.
Compare o liberalismo ao pensamento fisiocrata, apontando suas semelhanças e diferenças.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Renato Janine Ribeiro destacou-se por seus estudos sobre filosofia política, com grande
conhecimento sobre os pensa dores modernos. No texto a seguir, ele propõe discutir uma nova
prática política, em oposição ao modelo que se consolidou ao longo do século XIX a partir dos ideais
de alguns pensadores iluministas. Esse antigo modelo político, que domina a sociedade até os dias
de hoje, estaria baseado em princípios como o interesse (muitas vezes econômico) e a identidade
(em geral de classe).
1) do ponto de vista dos meios utilizados, são os mais avançados. A informática e, sobretudo, a
internet constituem seus instrumentos por excelência. Mas não se trata de meras técnicas, de
simples meios a serviço de fins que continuariam sendo os mesmos do passado;
2) e isso porque a articulação das pessoas entre si, a formação de seus elos sociais, não está mais
determinada por meios do passado, que se concentravam em torno de uma ideia-chave, a de
interesse, geralmente econômico. Este continua tendo seu peso, mas que diminui cada vez mais;
3) assim, vão perdendo sua importância relativa – embora continuem existindo – as instituições
pesadas, permanentes, sólidas, como partidos, sindicatos, associações de defesa de interesses
precisos, lobbies;
4) e vão crescendo, e aumentando seu peso relativo na cena política, ainda que sem eliminar as
instituições pesadas e sólidas, outros elos sociais, mais leves, até mesmo mais fracos, mais
montados em algo ambíguo, que ainda não sabemos em que medida chamar de ideal, em que
medida chamar de desejo;
5) tudo isso se ligando a uma alteração significativa nas identidades. Até um tempo atrás, cada
pessoa se situava na sociedade a partir de uma identidade principal claramente determinada. Podia
ser sua profissão, no caso de um homem, a condição de dona de casa, no caso da mulher, a religião
ou opção política, em certas situações – mas sempre havia um foco central a identificar cada um.
Hoje, não há mais.
RIBEIRO, Renato Janine. Por uma nova política. São Paulo: Ateliê Editorial, 2003. p. 12.
2. Com base nesses dados, procure estabelecer como seria a nova prática política.
3. Baseado em seu conhecimento, posicione-se neste debate: como você gostaria que fosse o
exercício da política?
Lacaz Ruiz/Fotoarena
O orçamento participativo é um bom exemplo de nova prática política, que reforça o exercício da
democracia. Trata-se de um mecanismo governamental em que os cidadãos influenciam ou decidem a
respeito de orçamentos públicos, por processos de participação comunitária. Na foto, audiência pública do
Planejamento Orçamentário Participativo (POP), São José dos Campos (SP), 2014.
Página 19
A razão já era?
Isso, ainda segundo o psicanalista, nos leva a alguns dos principais problemas da atualidade, como o
fanatismo, a incapacidade humana de aceitar o diferente, o racismo, a xenofobia e a desumanização.
Leia um das ideias de Cassorla:
Não temos a distância suficiente para avaliar o mal-estar contemporâneo, porque fazemos parte da
contemporaneidade. Talvez situações que consideramos como mal-estar estejam escondendo
outras, piores, que somente surgirão com o tempo. A humanidade pré-Hitler não conseguiu
imaginar o que ocorreria no nazismo, ainda que o ovo da serpente estivesse posto. Ninguém
imaginaria que a invasão do Iraque levaria ao recrudescimento do terrorismo. Atualmente o que
mais chama a atenção é a questão do fanatismo, da incapacidade da humanidade aceitar o diferente,
o racismo, a xenofobia, a diversidade sexual, a liberdade de pensamento. Pareceria que todas as
conquistas do iluminismo, da racionalidade, estão caindo por terra. No entanto, essa oscilação,
entre liberdade e opressão, sempre existiu. Outro mal-estar, vinculado com esse, se refere à
desumanização, o ser humano visto como coisa, alguém que somente serve para consumir, e dessa
forma faz “crescer” a economia. A cultura do vazio, do consumismo, onde o que importa é “ter” e
não “ser”.
Diário de Pernambuco. Psicanalista da Unicamp fará conferência no Recife na próxima sexta-feira, 14 mar. 2016. Disponível em:
<http://www.diario depernambuco.com.br/app/noticia/vida-urbana/2016/03/14/interna_vidaurbana,632575/psicanalista-chileno-fara-
conferencia-no-recife-na-pro xima-sexta-feira.shtml>. Acesso em: 21 mar. 2016.
Em grupo
Em grupo
CAPÍTULO 2
Revolução Industrial
Vamos lá!
Há pouco mais de 260 anos, passou a predominar o modelo de produção fabril – e, com ele, o uso
intenso de uma matriz energética baseada em combustíveis fósseis altamente poluentes: primeiro o
carvão e, depois, o petróleo.
Esse problema, entretanto, é apenas um dos muitos que surgiram com o advento da indústria.
Li Wen/Xinhua Press/Corbis/Fotoarena
Moradores de Pequim, capital da China, com máscaras para se proteger da poluição do ar, enquanto
esperam ônibus, 2015. A cidade é uma das que mais enfrenta problemas com a poluição em todo o mundo.
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Faça uma pesquisa para saber quais são os principais problemas ambientais provocados pela
sociedade industrial.
2 Depois, com o restante da classe, discutam: por que o desenvolvimento da indústria trouxe
graves problemas ambientais?
3 Com base na discussão, elaborem um plano alternativo para contornar esses problemas.
Página 21
Esse período de profundas transformações, por sua intensidade e dimensão, foi chamado pelo
historiador inglês Eric Hobsbawm de Era das Revoluções. Dois movimentos podem ser
considerados ponto de partida para essas transformações: a Revolução Industrial (objeto de estudo
deste capítulo) e a Revolução Francesa (assunto do Capítulo 4).
Ao longo do século XIX, esses ideais, entre outros, difundiram-se pelo mundo e transformaram
inúmeras sociedades. As constituições surgiam como a perfeita tradução dos novos tempos, em que
a origem do poder deixava de ser divina para emanar do povo. Até mesmo o Brasil, governado por
um rei de tendência absolutista (dom Pedro I), seria impactado.
A fábrica, lugar de produção intensa de mercadorias, é um dos principais símbolos da primeira fase
da Revolução Industrial. Naquela época, as fábricas eram grandes espaços, com novas técnicas e
máquinas manipuladas por dezenas, centenas e até milhares de trabalhadores.
Nunca as sociedades haviam produzido tanto e de forma tão diversificada. Os povos dos lugares
mais diferentes e distantes do mundo logo foram transformados em consumidores.
O motor da Revolução, porém, não foram as fábricas nem os novos equipamentos. A busca
incessante por lucros e por acúmulo de capital constituiu a força que movia as transformações.
Lucro, acúmulo de capitais, novos equipamentos, inovações na produção, grande oferta de produtos
alteraram os hábitos mais tradicionais. As cidades cresceram como nunca, impulsionadas pela
industrialização. Muitas se tornaram cenários caóticos, habitadas por uma massa de trabalhadores
desprovidos de qualquer meio de sobrevivência que não fosse sua força física e sua capacidade de
trabalho.
Sociedade industrial. Assim muitos especialistas denominam o mundo contemporâneo, marcado pela
intensa produção, circulação e consumo de mercadorias. Embora esse modelo possa trazer consequências
positivas, é um engano deduzir que, quanto mais industrializada é uma sociedade, maior é o bem-estar de
sua população. Na imagem, trabalhador em indústria têxtil, São Paulo (SP), 2015.
Página 22
2 O pioneirismo inglês
O século XVII, para os ingleses, foi marcado pela instabilidade política e por conflitos que ficaram
conhecidos como Revolução Inglesa. Ao término desses movimentos, porém, a Inglaterra estava no
rumo de se tornar a principal potência econômica do continente, tendo a França como rival mais
importante. A condição havia sido alcançada graças a uma preocupação constante com a economia.
A partir das Grandes Navegações, os povos europeus enriqueceram com o comércio, sobretudo o
colonial. No início do século XVIII, os ingleses controlavam um vasto império na América, na África
e na Ásia, e lucravam com diversos acordos mercantis. Na Índia, por exemplo, adquiriam tecidos
que eram revendidos com vultosos lucros na Europa e em outros continentes.
Essa atividade mercantil era amplamente apoiada pelo governo. Os mercadores ingleses contavam
com uma legislação protecionista, uma política de incentivo à construção naval e exércitos prontos
a intervir em defesa de seus interesses. Consolidou-se, assim, a maior frota mercante da Europa,
com ampla inserção no mercado mundial. Esse cenário favoreceu o acúmulo de capitais na
Inglaterra, o que seria fundamental para o início da Revolução Industrial, na segunda metade do
século XVIII.
Até então, a maior parte das terras cultiváveis na Inglaterra era formada pelos chamados campos
abertos ou terras comunais, extensas áreas agrícolas divididas em incontáveis e diminutas partes. O
direito e a tradição garantiam que cada uma dessas partes fosse trabalhada por uma família de
camponeses, que assim garantia sua sobrevivência. Para facilitar, muitas vezes essas partes eram
trabalhadas coletivamente, e o produto final, distribuído conforme a extensão de terras de cada um.
A formação de grandes propriedades por meio dos cercamentos foi acompanhada de novas práticas
agrícolas, como rotação de culturas, descanso do solo entre as safras e maior distância entre as
sementes – técnicas simples que resultaram no aumento da produtividade e em maiores lucros.
Em muitos lugares, o cultivo agrícola foi substituído pela criação de carneiros, que exigia poucos
trabalhadores e fornecia lã para a manufatura de tecidos – na época uma das principais atividades
econômicas da Inglaterra. Essas manufaturas usavam também o algodão, produzido inicialmente
nas colônias da América do Norte e nas Índias Ocidentais e, depois, na própria Inglaterra, em
regiões próximas às fábricas e aos portos, como Bristol, Liverpool e Lancashire.
Whitehall e o jardim privado da casa Richmond, de Giovanni Antonio Canal, 1747. Neste quadro, o artista
retrata a paisagem da cidade de Londres do século XVIII
A matéria-prima
A Revolução Industrial inglesa foi impulsionada pelo acúmulo de capitais, pela grande oferta de
mão de obra e também pela existência de abundantes fontes de energia – sobretudo jazidas de
carvão.
Página 23
Ao longo do século XVIII, ocorreram várias revoltas populares na Inglaterra. Os camponeses se rebelavam,
por exemplo, contra os cercamentos; alegando direito de passagem, derrubavam as cercas dos grandes
latifúndios. Na imagem, membros de uma paróquia do interior da Inglaterra percorrem a região
derrubando os muros, alegando esse direito.
Com o aprimoramento da máquina a vapor, o carvão passou a ser utilizado em larga escala como
combustível para movimentar os meios de transporte, como trens e navios, e as fábricas, que até
essa época utilizavam água como força motriz.
Na Inglaterra, também havia minérios, como ferro, cobre, chumbo e estanho, necessários à
fabricação dos equipamentos que impulsionaram a Revolução Industrial.
• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
O temor da fome
Em 1798, Thomas Malthus publicou o livro Ensaio sobre a população, no qual mostrava
preocupação com o crescimento populacional: o número de pessoas aumentava em ritmo muito
maior que o da produção de alimentos, o que levaria, segundo ele, à fome.
A fim de evitar uma catástrofe, Malthus defendia o aumento da idade legal para que homens e
mulheres se casassem e tivessem filhos, criando uma rigorosa continência sexual entre os
trabalhadores, vítimas do que ele chamava de paixão entre os sexos.
Embora a teoria de Malthus tenha feito relativo sucesso à época de sua publicação, ela foi
duramente contestada. Seus críticos apontam que a falta de alimentos, que ainda nos dias de hoje
atinge milhares de pessoas ao redor do mundo, se dá não em razão de uma superpopulação, mas
sobretudo por conta da má distribuição de riquezas.
3 O sistema de fábricas
Na Europa, ao longo de séculos, os processos de trabalho e as técnicas produtivas sofreram
mudanças radicais: da produção artesanal, na época medieval, passando pelas corporações de
ofício, a partir do século XII, até a produção manufatureira, no século XVI. Em meados do século
XVIII começou a se consolidar o sistema fabril.
Os trabalhadores perderam, então, grande parte do controle que detinham sobre a fabricação de
produtos. Em vez das casas e das oficinas, a produção passou a se concentrar em grandes edifícios.
Rigorosamente supervisionados, os trabalhadores deviam obedecer a regulamentos que
determinavam desde as jornadas de trabalho até a forma de circulação nas fábricas.
Tecendo a Revolução
A Revolução Industrial iniciou-se por volta de 1750 e se estendeu pelas décadas seguintes. Para seu
sucesso, foi fundamental o desenvolvimento de novas técnicas e equipamentos, que possibilitaram
a montagem das fábricas e a produção em massa, assim como maiores lucros e acúmulos de
capitais.
A mecanização da produção
Várias inovações na produção surgiram como resultado do esforço de empreendedores que
buscavam ampliar a capacidade de produção de mercadorias. Essas inovações se consolidaram
primeiro no setor têxtil, um dos mais dinâmicos e tradicionais da economia inglesa.
Em 1764, por exemplo, o tecelão e carpinteiro James Hargreaves inventou a spinningjenny, uma
máquina para pequenas oficinas que permitia a cada trabalhador produzir mais fios. O barbeiro
Richard Arkwright, por sua vez, inventou a walter-frame – outra máquina destinada a fabricar fios –
, que lhe possibilitou construir um dos maiores impérios industriais da Inglaterra.
Outro passo importante para a industrialização do setor têxtil ocorreu com a invenção do tear
mecânico por Edmund Cartwright, em 1785. Aproveitando a intensa produção de fios, o tear
ampliava em cerca de dez vezes a capacidade de produção dos tecidos nas fábricas.
Maps World
Fonte: MONNIER, Jean; JARDIM, André. Histoire. Paris: Fernand Nathan, 1960.
Página 25
Farta matéria-prima
Embora o processo de industrialização inglês tenha se iniciado com o setor têxtil, foram os
progressos nas áreas de mineração e metalurgia que criaram as condições necessárias para a plena
mecanização dos demais setores da economia.
O passo decisivo foi dado com o aperfeiçoamento da máquina a vapor pelo escocês James Watt, em
1769, e com a exploração das minas de carvão mineral, fundamental para a industrialização do
setor metalúrgico.
Na década de 1780, assim, estava aberto o caminho para a produção intensa de ferro e, com isso,
para a fabricação de trilhos e trens, responsáveis por transportar pessoas, matérias-primas e bens
industriais para qualquer canto do mundo. Para muitos estudiosos, foi por meio das ferrovias que
os ingleses conseguiram consolidar a sua presença – e o seu domínio – em diversos países
espalhados pelo mundo.
4 As transformações na sociedade
O advento da indústria provocou inúmeras mudanças sociais e levou ao embate dois grupos: a
burguesia e o proletariado. O primeiro grupo era formado pelos proprietários (empresários,
industriais) dos chamados meios de produção (máquinas, matérias-primas e capitais). O outro era
composto pelos detentores da força de trabalho, ou seja, sobretudo os operários.
Para obter grandes lucros, a burguesia pagava baixos salários e explorava ao máximo o
proletariado. Este buscava melhor remuneração e condições de vida mais dignas. O conflito entre os
dois grupos se intensificou com a crescente organização do proletariado, em especial com a
formulação de teorias propondo a completa mudança da sociedade industrial. Entre essas teorias
estava o comunismo, que defendia a eliminação de toda forma de propriedade privada, considerada
a principal fonte das desigualdades sociais, e a tomada do poder pelos proletários (sobre o assunto,
ver o Capítulo 19).
Vida de operário
Muitos operários trabalhavam mais de 14 horas nas fábricas. Entre eles, estavam mulheres e
crianças, que recebiam salários menores que os dos homens.
Ocorreu ainda o agravamento das condições de saúde dos trabalhadores. As longas jornadas de
trabalho e as péssimas condições ambientais nas fábricas e moradias estavam entre as principais
responsáveis pela situação. Agravaram-se, por exemplo, as moléstias pulmonares, a desnutrição e a
fadiga crônica.
Ocorriam também muitos acidentes nos locais de serviço, envolvendo principalmente crianças, que
resultavam em mutilação e incapacidade para o trabalho.
As populações das áreas industriais aumentaram. Com isso, o tamanho das cidades se multiplicou.
Colaborou para o fato uma intensa explosão demográfica, provocada pela melhoria das condições
materiais: a população inglesa, por exemplo, passou de cerca de 6,5 milhões de pessoas em 1750
para 27,5 milhões de indivíduos em apenas um século.
Bettmann/Corbis/Stock Photos
Entretanto, esse otimismo contrastava com a dura realidade vivida pelos operários das indústrias,
principalmente as crianças e as mulheres, que eram submetidos a jornadas de trabalho extenuantes
e a péssimas condições de vida e de trabalho. Não faltou, na ocasião, quem denunciasse essa
situação e questionasse os benefícios trazidos pela industrialização.
Escritores como o inglês Charles Dickens e o francês Émile Zola, em romances como Oliver Twist e
Germinal, respectivamente, trataram das dificuldades vividas pelos trabalhadores europeus. Os
pensadores Marx e Engels, por sua vez, concluíram que a industrialização potencializou a
exploração da mão de obra assalariada pela burguesia.
Em resumo, discutia-se na época se os avanços trazidos pela Revolução Industrial seriam capazes
de dar forma a uma sociedade ideal ou apenas provocariam o aumento das desigualdades sociais.
Guardadas as devidas proporções, esse parece um debate que perdura até os dias de hoje, com nova
roupagem.
Observe, por exemplo, este cartum de Chico Félix. Nele, o artista parece questionar a amplitude das
mudanças trazidas pela tecnologia nas relações de trabalho.
© Chico Félix
Para refletir...
1. Observe com atenção o cartum de Chico Félix. Compare o primeiro e o segundo quadrinhos e
responda:
a) Para o cartunista, a situação dos trabalhadores sofreu alguma alteração entre o início do século
XIX e o começo do século XXI? Explique.
b) Esse cartum nos autoriza a dizer que o cartunista Chico Félix concorda com a visão otimista de
que o desenvolvimento tecnológico beneficia a humanidade como um todo? Por quê?
• A situação representada no cartum pode acontecer, no Brasil, de maneira legal? Justifique sua
resposta com base nos artigos do Estatuto.
3. Com base nas respostas anteriores, escreva um texto posicionando-se no debate: a tecnologia é
capaz de produzir uma sociedade mais justa e igualitária? Justifique sua opinião.
Página 27
VOCÊ SABIA?
Breves retratos
Os preferidos
No século XVIII, um pai de família tinha dificuldades para conseguir emprego numa fábrica. Já sua
mulher e seus filhos, sobretudo os pequenos, representavam o perfil mais visado pelos industriais.
O principal motivo estava nos salários mais baixos pagos às mulheres e às crianças. E isso porque as
máquinas, devido ao avanço técnico, necessitavam cada vez menos da força física – e muito mais do
jeito!
As máquinas
Não era apenas o perfil do trabalhador que mudava. Ao longo da Revolução, as máquinas foram
substituindo o próprio trabalhador. Por volta de 1830, a mecanização do setor têxtil faria que cerca
de 90% dos trabalhadores fossem demitidos. Os salários, por sua vez, caíram na mesma proporção.
Dura rotina
Acordar por volta das quatro horas da manhã e sair da fábrica por volta das oito horas da noite.
Essa era a rotina dos trabalhadores ingleses. As famílias eram acordadas ao som de um apito e
partiam para o trabalho. A conversa dentro da fábrica era proibida, mas também impossível por
causa do ruído ensurdecedor das máquinas. Ao fim da jornada, os trabalhadores ainda tinham de
limpar tudo antes de partir para casa.
No início da Revolução Industrial, aos operários eram impostas condições de trabalho desumanas.
À época ainda não existiam leis que protegiam os direitos dos trabalhadores, nem mesmo à vida e à
saúde. Muitos literatos trataram da vida desses operários, como Émile Zola.
No romance Germinal, do qual extraímos o excerto abaixo, o escritor retrata as duras condições de
trabalho dos mineiros de carvão na França do século XIX. Etienne, o protagonista do romance, iria
se tornar líder de um movimento operário por melhores condições de trabalho.
(...) Por pouco Etienne não fora esmagado. Seus olhos habituavam-se, já podia ver no ar a corrida dos
cabos, mais de trinta metros de fita de aço que subiam velozes à torre, onde passavam em roldanas para,
em seguida, descer a pique ao poço e prenderem-se nos elevadores de extração. Uma armação de ferro,
igual à dos campanários, sustentava as roldanas. Era como um voo de pássaro, sem ruído, sem choque, a
fuga rápida, o contínuo vaivém de um fio de peso enorme que podia levantar até doze mil quilos com
uma velocidade de dez metros por segundo.
(...) Esse voo, como o perpassar de uma ave gigantesca, aturdia-o. E, tintando devido às correntes de ar,
começou a observar o trabalho dos elevadores, os ouvidos zonzos com o rodar dos vagonetes. Perto do
poço o sinal estava funcionando, um pesado martelo de alavanca que uma corda puxada do fundo fazia
cair sobre uma bigorna. Uma pancada para parar, duas para descer, três para subir; isto sem descanso,
como golpes de clava dominando o tumulto e acompanhados do som claro da campainha; ao mesmo
tempo, o operário que dirigia o trabalho gritava ordens ao maquinista por um megafone, aumentando o
barulho. Os elevadores, no meio de toda essa confusão, apareciam e desapareciam, esvaziavam-se e
enchiam-se sem que Etienne compreendesse nada dessas operações tão complicadas.
Só uma coisa ele compreendia perfeitamente: que o poço engolia magotes de vinte e de trinta homens, e
com tal facilidade que nem parecia senti-los passar pela goela. Desde as quatro horas os operários
começavam a descer; vinham da barraca, descalços, lâmpada na mão, e esperavam em grupos pequenos
até formarem número suficiente. Sem ruído, com um pulo macio de animal noturno, o elevador de ferro
subia do escuro, enganchava-se nas aldravas, com seus quatro andares, cada um contendo dois
vagonetes cheios de carvão. Nos diferentes patamares, os carregadores retiravam os vagonetes,
substituindo-os por outros vazios ou carregados antecipadamente com madeira em toros. E era nesses
carros vazios que se empilhavam os operários, cinco a cinco, até quarenta de uma vez, quando ocupavam
todos os compartimentos. Uma ordem partia do megafone, um tartamudear grosso e indistinto,
enquanto a corda, para dar o sinal embaixo, era puxada quatro vezes, convenção que queria dizer “aí vai
carne” e que avisava da descida desse carregamento de carne humana. Em seguida, depois de um ligeiro
solavanco, o elevador afundava silencioso, caía como uma pedra, deixando atrás de si apenas a fuga
vibrante do cabo. (...)
ZOLA, Émile. O germinal. São Paulo: Martim Claret, 2006. p. 20-21. Coleção A Obra-Prima de Cada Autor.
Página 28
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
3 A respeito das condições que levaram a Revolução Industrial a ter início na Inglaterra, relacione:
a) a política econômica do governo inglês à acumulação de capitais no país durante o século XVIII;
4 Observe o mapa da página 24 e, em seguida, explique a relação entre a localização das principais
regiões industriais e
b) a construção de ferrovias.
5 Releia o boxe “Você sabia? – Breves retratos”, na página anterior, e descreva a vida dos
trabalhadores nas fábricas inglesas durante a Revolução Industrial.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Conhecimento e técnica
Qualquer que tenha sido a razão do avanço britânico, ele não se deveu à superioridade tecnológica e
científica. Nas ciências naturais, os franceses estavam seguramente à frente dos ingleses (...).
Felizmente, poucos refinamentos intelectuais foram necessários para fazer a Revolução Industrial.
Suas invenções técnicas foram bastante modestas, e sob hipótese alguma estavam além dos limites
de artesãos que trabalhavam em suas oficinas ou das capacidades construtivas de carpinteiros,
moleiros e serralheiros: a lançadeira, o tear, a fiadeira automática. Nem mesmo sua máquina
cientificamente mais sofisticada, a máquina a vapor rotativa de James Watt (1784), necessitava de
mais conhecimento de física do que os disponíveis então há quase um século. (...).
HOBSBAWM, Eric J. A era das revoluções. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. p. 45.
Chen dsb/Imaginechina/AFP Image Forum
Atualmente, ocorre, segundo diversos estudiosos, uma verdadeira revolução no setor de produção, em razão
das novas tecnologias. Na foto, operários montam laptop em fábrica na China, 2012.
2. Segundo vários teóricos, vivemos hoje uma nova revolução no setor produtivo, baseada no
desenvolvimento de novas tecnologias, como a microeletrônica. Ela pode ser comparada à
Revolução Industrial, considerando os dados do texto e as informações vistas no capítulo? Justifique
sua resposta, apontando semelhanças e diferenças.
Página 29
A Revolução Industrial se caracteriza por um processo, ainda em curso nos dias atuais, sendo
tradicionalmente dividida em momentos distintos. Em termos gerais, podemos dizer que o
primeiro momento se caracterizou pelo aparecimento das máquinas movidas a carvão; o segundo,
pelo emprego da eletricidade e o surgimento da linha de montagem; o terceiro, pela automação,
com o desenvolvimento da eletrônica e da robótica.
Em grupo
Anualmente, a ONU, por meio do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento),
divulga relatórios que visam promover a reflexão sobre o desenvolvimento humano no mundo.
Muitos desses relatórios focam questões ambientais. Você pode conhecer esses relatórios na
íntegra, e os temas neles destacados, em <http://pnud.org.br/HDR/Relatorios-Desenvolvimento-
Humano-Globais. aspx?indiceAccordion=2&li=li_RDHGlobais>. Acesso em: 13 mar. 2016.
Em grupo
3. Com os dados, elaborem notícias e organizem um pequeno jornal, com o título: Manter a cuca
fresca!
4. Apresentem o resultado para o restante da classe.
Página 30
CAPÍTULO 3
A independencia das
colonias inglesas da
America do Norte
Vamos lá!
Em 1776, um militante político que tivesse como lema a defesa da liberdade provavelmente se
orgulharia do movimento de independência das 13 Colônias Inglesas da América do Norte. Isso
porque o acontecimento representava um golpe aos regimes absolutistas europeus. Mais do que
isso, colocava em prática várias das ideias propagadas pelos iluministas.
Hoje, cerca de 250 anos depois do movimento, inúmeros militantes progressistas não titubeariam
em classificar os Estados Unidos como uma das nações mais conservadoras do mundo. E isso por
vários motivos, sobretudo por impor o seu domínio a outros povos, contrariando os próprios
princípios de liberdade.
Akg-Images/Latinstock
Construção da Estátua da Liberdade, em 1886, nos Estados Unidos. Projetado e construído pelo escultor
francês Frédéric Bartholdi, o monumento foi um presente da França ao país americano em comemoração
ao centenário da assinatura da Declaração da Independência estadunidense, sendo atualmente um de seus
principais símbolos.
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Para relembrar, anote as principais características das colônias inglesas da América do Norte.
2 Assinale ao menos três pontos que poderiam provocar atritos entre a população dessas colônias
e o governo inglês.
3 Por que os ideais iluministas favoreciam os movimentos separatistas das colônias da América do
Norte?
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1 A terra da liberdade
No fim do século XVIII, em seu imenso império colonial, a Inglaterra contabilizava, além dos
territórios conquistados na Guerra dos Sete Anos, 13 possessões na América do Norte. No
continente, elas seriam as primeiras a se transformar em país independente, ainda que
apresentassem muitas diferenças entre si.
A ocupação nas colônias do sul aproximava-se mais do modelo implementado pelos colonizadores
espanhóis e portugueses. Sob rígido controle da metrópole, sua economia estava voltada à
produção de gêneros agrícolas para exportação, em grandes fazendas monocultoras, com uso da
mão de obra escrava de origem africana. Eram as chamadas plantations.
Já nas colônias do norte a ocupação ocorreu de forma mais autônoma. Com uma economia menos
complementar à da metrópole, os colonos pagavam, inclusive, menos impostos. Muitos se
dedicavam ao comércio e à produção de manufaturas. No campo, predominavam as pequenas
propriedades.
A liderança do processo de independência coube justamente a essas colônias do norte. Várias delas,
afinal, formaram-se com base no espírito revolucionário inglês do século XVII. Prezavam, portanto,
a liberdade do indivíduo e opunham-se à opressão dos governos absolutistas.
Esse quadro começou a mudar quando a Inglaterra adotou política colonial mais rígida em meados
do século XVIII. O motivo principal estava na Guerra dos Sete Anos, que alterou as fronteiras
coloniais na América do Norte e obrigou a Inglaterra a buscar mais recursos para pagar as contas
do conflito.
A gravura Cultura de arroz no Ogeeche, perto de Savannah, Georgia, de A. R. Waud, de 1867, retrata o
cultivo de arroz no sul dos Estados Unidos. Observe a presença de latifúndios e do trabalho do africano
escravizado.
VESTÍGIOS DO PASSADO
Americano é aquele que, deixando para trás todos os seus antigos preconceitos e costumes, recebe novos
[ares] do novo modo de vida que adotou, do novo governo a que ele obedece, e da nova posição que
ocupa. Torna-se americano ao ser recebido no vasto regaço de nossa grande Alma Mater. Aqui os
indivíduos de todas as nações são fundidos numa nova raça de homens, cujas labutas e posteridade um
dia provocarão grandes transformações no mundo... O americano é um homem novo que age segundo
princípios novos; precisa, portanto, ter novas ideias e formar opiniões novas. Do ócio involuntário, da
dependência servil, da penúria e trabalho inútil ele passou para tarefas de natureza muito diferente,
recompensadas por uma subsistência farta. Isto é um americano.
CRÈVECOEUR, Jean de. Cartas de um fazendeiro americano. In: TAYLOR, Walter Fuller. A história das letras americanas. Rio de Janeiro/São
Paulo/Lisboa: Fundo de Cultura, 1956. p. 35.
Página 32
2 Cenário de conflito
Entre 1756 e 1763, um conflito envolveu diversos reinos da Europa: de um lado estava a coligação
formada por França, Rússia, Áustria, Suécia e Saxônia; de outro, Prússia e Inglaterra. O estopim para
a guerra foi a intensa rivalidade entre os reinos europeus pelo comércio marítimo.
Disputados por franceses e ingleses, por exemplo, os negócios com a Índia eram um dos mais
rentáveis, e obrigavam os britânicos a se manter em diversas possessões na África apenas para
garantir a rota que conduzia à Ásia. Na América do Norte, por sua vez, as rivalidades ficavam por
conta dos limites entre os núcleos coloniais ingleses e franceses, sobretudo entre o Canadá e as 13
Colônias Inglesas. Em 1761, Espanha e Portugal envolveram-se na guerra.
Em 1763 o conflito chegou ao fim, com um acordo que deu a vitória aos ingleses. Os britânicos
ganharam parte do Canadá, da Louisiana e da Flórida, além do reconhecimento das conquistas
feitas nas Antilhas. Para os espanhóis e portugueses, a guerra ocasionou conflitos na região do rio
da Prata, resolvidos apenas em 1777, com o Tratado de Santo Ildefonso.
Apesar da vitória, os altos custos militares interferiram de forma negativa nas finanças da
Inglaterra. Para resolver a situação, o governo aprovou, entre outras iniciativas, medidas que
alteravam as relações coloniais. Com isso diminuiu a autonomia de várias das 13 Colônias Inglesas,
onde nem sequer eram aplicadas as leis de navegação, que obrigavam o transporte das mercadorias
em navios britânicos.
Aumentam as pressões
Em 1764, os ingleses estabeleceram o Sugar Act (Lei do Açúcar), que proibia a importação de rum e
dos demais derivados da cana-de-açúcar. Estes só poderiam vir das Índias Ocidentais Britânicas
(Jamaica, Tobago, São Vicente e Granadinas, entre outras ilhas do Caribe), e mesmo assim com
elevados impostos.
Em 1765, o governo decretou leis mais restritivas. Pela Lei dos Alojamentos (ou da Hospedagem), os
colonos ficavam obrigados a receber as tropas britânicas em serviço na América, abrigando os
soldados em casa e arcando com os custos da estada. No mesmo ano, o Stamp Act (Lei do Selo)
determinava que jornais, livros e documentos publicados nas colônias deveriam pagar uma taxa,
que seria incorporada ao preço final. O selo assinalava o tributo.
Connecticut Historical Society
As diversas iniciativas britânicas em relação a suas colônias nos Estados Unidos levaram à crescente
insatisfação dos colonos. Em abril de 1775, a Batalha de Lexington e Concord foi o primeiro grande embate
entre os colonos insatisfeitos e o Império britânico. Batalha de Lexington, de Amos Doolittle, 1775.
Página 33
Situação intolerável
Entre as primeiras reações, destaca-se o Congresso da Lei do Selo, ocorrido em Nova York, no qual
os colonos decidiram interromper o comércio com a Inglaterra e suspender o pagamento de
impostos. Alegavam que, por não disporem de representação no Parlamento, o órgão responsável
pela instituição dos tributos, não podiam cumprir suas determinações.
Com a mobilização e o apoio de se tores da sociedade inglesa, os colonos conseguiram revogar a Lei
do Selo em 1766. A questão dos tributos, porém, não estava encerrada. No ano seguinte, novas taxas
se riam impostas.
Em 1773, o governo aprovou a Lei do Chá, que concedia à Companhia das Índias Orientais o
monopólio da venda do produto nas colônias. Revoltados, cerca de 20 comerciantes disfarçaram-se
de nativos, atacaram e destruíram os carregamentos de chá de três navios da Companhia atracados
no porto de Boston. O episódio ficou conhecido como The Boston Tea Party. O incidente elevou a
tensão entre colônia e metrópole.
Em represália, o rei Jorge III editou, em 1774, uma série de medidas chamadas pelos colonos de leis
intoleráveis. Entre elas estava o fechamento do porto de Boston até que a Companhia das Índias
Orientais fosse indenizada. A colônia de Massachusetts perdia também autonomia administrativa e
passava a ser governada por um representante nomeado diretamente pelo governo britânico.
Funcionários ingleses só poderiam ser julgados na metrópole ou em outras colônias.
Os colonos tomaram, então, providências para manter a autonomia. Em setembro de 1774, com
representantes de cada uma das 13 Colônias, ocorreu o Primeiro Congresso da Filadélfia. Começava
a se moldar uma unidade entre os núcleos coloniais. O Congresso decidiu o bloqueio do comércio
com a Inglaterra até que as leis fossem revogadas.
As exigências dos colonos não foram atendidas. Ao contrário, o impasse levou ao início da Guerra de
Independência dos Estados Unidos.
Os colonos, enfim, foram convocados a pegar em armas e lutar contra as tropas inglesas. Com os
combates em andamento, as 13 Colônias proclamaram sua independência e a criação dos Estados
Unidos da América em 4 de julho de 1776. A Declaração de Independência, redigida por Thomas
Jefferson, inspirava-se nos ideais iluministas, como a defesa da liberdade individual e o respeito aos
direitos fundamentais do ser humano.
Gravura de 1776, de autor anônimo, que mostra um representante do governo lendo, para a população, a
Declaração de Independência dos Estados Unidos.
Página 34
O último grande combate pela independência ocorreu em 1781, em Yorktown. Dois anos depois, os
ingleses reconheciam pelo Tratado de Paris a autonomia das ex-colônias e devolviam territórios aos
espanhóis (Flórida) e aos franceses (Senegal, na África, e parte das Antilhas).
Não se pode afirmar que existia um ideal nacionalista entre a população das 13 Colônias. Com
interesses distintos, o que as unia era, sobretudo, um profundo sentimento antibritânico. O
nacionalismo só se mostrou presente ao longo do século XIX, quando a independência já estava
consumada.
VOCÊ SABIA?
[...] Tendo atrás a estátua do presidente Lincoln e à frente o obelisco que homenageia George
Washington, em 28 de agosto de 1963 o pastor Martin Luther King Jr. fez um discurso histórico: “Eu
tenho um sonho”. Combatendo o racismo da sociedade norte-americana, o futuro Prêmio Nobel da Paz
usou uma imagem interessante para definir o episódio da Declaração de Independência dos Estados
Unidos, de 1776: uma espécie de cheque a ser descontado pelas gerações futuras do país.
O líder dos direitos civis explicou que o cheque, levado ao banco por mãos negras, voltou com a marca
“fundos insuficientes”. O discurso foi um protesto contra este estelionato, pois os afrodescendentes ainda
lutavam por seu 4 de julho, 187 anos depois da ruptura com a Inglaterra. Em defesa do voto feminino,
mulheres recorreram a argumentos semelhantes, assim como os conservadores do século XXI do
TeaParty – grupo político republicano conservador – invocam o espírito da Independência ao proclamar
suas ideias e projetos. [...]
KARNAL, Leandro. Sonhando com o inimigo, 3 nov. 2011. Em: Revista de História.com.br. Disponível em:
<http://www.revistadehistoria.com.br/secao/ artigos-revista/especial-independencia-dos-estados-unidos-sonhando-com-o-inimigo>. Acesso
em: 13 mar. 2016.
CNP/Getty Images
Martin Luther King Jr. discursando em Washington D.C., Estados Unidos, 1963.
4 Os Estados Unidos
Ao proclamar a independência, as 13 Colônias formaram uma república presidencialista e
federativa: os Estados Unidos da América. Para elaborar a Constituição, cada estado enviou
representantes à Convenção Constitucional de Filadélfia. Duas correntes políticas se distinguiram:
os republicanos, liderados por Thomas Jefferson; e os federalistas, liderados por Alexander
Hamilton e George Washington.
Os republicanos defendiam um poder central forte, enquanto os demais acreditavam que os estados
deveriam contar com autonomia e poucos limites impostos pelo governo. Editada em 1787, a
Constituição apresentava elementos de ambas as correntes. Incorporava ainda concepções de
iluministas como Locke, Rousseau e Montesquieu. O Estado que se formava resultava de uma
espécie de contrato social, expresso nas leis.
O poder se dividia em três esferas – Executivo, Legislativo e Judiciário – que deveriam agir de forma
independente, sem o predomínio de nenhuma. Apesar de receber várias emendas, essa Constituição
vigora até hoje. Por unanimidade, a Convenção elegeu George Washington presidente do país.
Determinou, ainda, a construção de Washington para ser a capital federal.
Página 35
VESTÍGIOS DO PASSADO
Consideramos como uma das verdades evidentes por si mesmas que todos os homens são criados iguais;
que receberam de seu Criador certos direitos inalienáveis, entre os quais figuram a vida, a liberdade e a
busca da felicidade; que os governos foram estabelecidos precisamente para manter esses direitos, e que
seu legítimo poder deriva do consentimento de seus governados; que cada vez que uma forma de
governo se manifesta inimiga desses princípios, o povo tem o direito de mudá-la ou suprimi-la e
estabelecer um novo governo, baseando-se naqueles princípios e organizando seus poderes segundo
formas mais apropriadas para garantir a segurança e a felicidade. A prudência exige que os governos
estabelecidos desde muito tempo não devem ser modificados por motivos fúteis e passageiros [...]. Mas,
quando uma série de abusos e usurpações convergem invariavelmente para o mesmo fim e demonstram
o objetivo de submeter o povo a um despotismo absoluto, é direito do povo, e até seu dever, rejeitar tal
governo e buscar novas garantias de sua segurança futura. Tal é a situação das colônias agora, e daí a
necessidade que as obriga a mudar seu antigo sistema de governo.
Citado em: GRIMBERG, Carl. História universal. Madri: Daimon, 1981. p. 39.
Bettmann/Corbis/LatinStock
5 As consequências do movimento
A Revolução Americana pode ser considerada um importante acontecimento que abalou os
alicerces do Absolutismo na Europa. Afinal, os Estados Unidos foram os primeiros a romper com os
vínculos coloniais, fonte de renda dos governos absolutistas, e a incentivar os movimentos
baseados nos princípios iluministas.
O processo de independência dos Estados Unidos, porém, guarda várias contradições. Entre seus
ideais estava o direito à liberdade, à felicidade e à prosperidade. Esses princípios, no entanto,
aplicavam-se apenas aos homens adultos e brancos. As mulheres, por sua vez, tinham seus direitos
restritos. Não podiam votar nem ser eleitas. A escravidão também foi mantida – sendo abolida
apenas após uma sangrenta guerra civil em meados do século XIX. E, mesmo assim, até os dias de
hoje, o preconceito racial continua sendo uma triste e marcante característica da sociedade
estadunidense.
conexão presente
Ao longo dessas décadas, os Estados Unidos enviaram suas tropas, por exemplo, para Cuba,
Nicarágua, Vietnã, Indonésia, Iugoslávia, Iraque, entre muitos outros lugares (ver mapa na página
seguinte). Segundo o linguista estadunidense Noam Chomsky, essas ações configuram-se ainda
como uma política para eliminar qualquer oposição ao país, sobretudo as experiências que possam
servir como alternativa ao seu poder, garantindo, assim, a hegemonia dos Estados Unidos.
Página 36
Maps World
Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2002 e HOBSBAWM, E. J. Era dos extremos: o breve século XX (1914 -1991). São
Paulo: Companhia das Letras, 1998.
Além de ações militares, a diplomacia se esforçou para garantir a hegemonia estadunidense. Incentivou,
por exemplo, golpes de Estado em diversos países, como Chile e Brasil. Nesses dois países foram instaladas
sangrentas ditaduras militares.
VOCÊ SABIA?
Contradições
A partir da década de 1960, em meio à Guerra Fria, o governo cubano adotou uma série de medidas
socioeconômicas, como reforma agrária e nacionalização de indústrias, que o aproximou do modelo
socialista, colocando o governo dos Estados Unidos em alerta. Visando minar as forças cubanas e
conter o avanço do socialismo na América, os estadunidenses impuseram à ilha uma série de
restrições. Nada adiantou, a população da ilha resistiu às pressões, ainda que a duros sacrifícios,
mantendo o socialismo até hoje.
Os Estados Unidos recrudesceram, então, por décadas, suas ações contra Cuba. Os discursos de
liberdade e igualdade entre os povos, aclamados pelos Estados Unidos, mais uma vez se mostraram
inválidos para aqueles que contrariam os interesses da grande potência mundial.
Durante o governo Barack Obama (2009-2016) as relações diplomáticas com Cuba foram
retomadas pelos Estados Unidos. Embora os embargos econômicos à ilha ainda permaneçam (para
o seu final é necessário a aprovação do Congresso estadunidense), uma reaproximação entre os
dois países parece de fato uma possibilidade concreta.
Em março de 2016, ao fim de seu segundo mandato como presidente, Obama fez uma viagem
histórica a Cuba: foi a primeira visita ao país, em quase um século, de um presidente estadunidense
em exercício.
Somodevilla/Getty Images
Raúl Castro e Barack Obama durante visita do presidente estadunidense a Cuba, em 2016. Nesta foto,
assistem a um jogo de baseball, na cidade de Havana.
Página 37
De acordo com a Constituição estadunidense, a liberdade dos cidadãos deve ser assegurada,
inclusive no que diz respeito ao porte de armas. Assim, todos são livres para possuir uma arma, mas
estatísticas recentes mostram que tem ocorrido um número crescente de mortes em decorrência de
tiros disparados por civis.
Diante do direito à vida, esse fato vem despertando uma discussão cada vez mais intensa em torno
dessa “liberdade”. No festival foram apresentados três documentários e uma ficção sobre o tema.
Leia as sinopses:
Newtown. Direção: Kim Snyder. Aborda o tiroteio na escola primária de Sandy Hook, em Newtown,
Connecticut, no ano de 2012. Armado com várias pistolas, o atirador matou quase 30 pessoas, a
maioria delas crianças.
Under de gun. Direção: Stephanie Soechtig. O documentário apresenta estatísticas chocantes sobre
o comércio de armas de fogo nos Estados Unidos. Discute ainda a polêmica questão no país,
mostrando aspectos históricos e a visão de grupos a favor e contra a liberação de porte de armas
nos Estados Unidos.
Speaking is difficult. Direção: A. J. Schnack. A cada nova tragédia causada pelo assassinato em
massa nos Estados Unidos, o documentário é atualizado, mostrando o local dos tiroteios depois das
tragédias.
Dark night. Direção: Tim Sutton. Ficção sobre o fato real de um atirador que entrou num cinema
durante a seção de estreia do filme O cavaleiro das trevas ressurge, em Aurora, Colorado, em 2012.
Matou 12 pessoas e deixou mais de 50 feridas.
© Columbia Pictures
Para refletir...
1. Um dos argumentos dos que defendem o porte de armas é que dessa forma os cidadãos
estariam mais protegidos. Você concorda com essa opinião? Justifique.
2. Outro argumento das pessoas pró-armas é que esse direito é garantido pela Contituição
estadunidense, alegando que um cidadão desarmado é incapaz de se defender da sempre possível
opressão dos governantes. Qual é a sua opinião a respeito dessa visão?
3. Avalie os riscos que podem existir numa sociedade em que a compra e o porte de armas não são
controlados pelo Estado.
Página 38
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Com base no capítulo e no boxe “Vestígios do passado – Retrato de uma sociedade” (p. 31),
descreva:
a) a situação dos colonos ingleses da América do Norte até meados do século XVIII;
2 Elabore uma cronologia das medidas do governo inglês que provocaram o movimento
separatista nas colônias inglesas da América do Norte.
3 Após a Guerra dos Sete Anos, a Inglaterra adotou uma postura política e tributária mais rígida
em relação a suas colônias. Explique por que o Sugar Act causou descontentamento entre os
colonos.
5 A Revolução Americana foi liderada por 13 colônias, com estruturas e interesses diferentes.
Explique como, apesar das diferenças, as colônias mantiveram-se unidas durante todo o processo
de independência.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Arguto observador
Ao lado das revoluções Industrial e Francesa, a independência dos Estados Unidos integra uma
série de acontecimentos que mudou a face do mundo ocidental entre os séculos XVIII e XIX. Nessa
época, vários observadores procuraram compreender o que acontecia e quais os rumos daquele
mundo. Entre os mais argutos, encontra-se o francês Alexis de Tocqueville. Em 1831, ele viajou aos
Estados Unidos para conhecer o regime político daquele país. No fundo, desejava encontrar um
mecanismo para aprimorar a democracia, que considerava o futuro de toda a humanidade. Leia, na
próxima página, um trecho do livro que resultou dessa viagem:
Arquivo Charmet / França
Alex de Tocqueville visitou os Estados Unidos com o objetivo de estudar o sistema prisional do país. Acabou
fascinado pelas estruturas políticas, que descreveu em seu livro. Porto de Nova York, 1831.
Página 39
Essa sociedade nova, que procurei retratar e que desejo julgar, acaba apenas de nascer. O tempo de modo
algum lhe fixou a forma; a grande revolução que a criou dura ainda e no que acontece em nossos dias é quase
impossível discernir o que deve passar com a própria revolução e o que deve ficar depois dela. O mundo que
começa a se erguer está ainda pela metade preso aos destroços do mundo que está caindo, e no meio da
imensa confusão que apresentam os negócios humanos, ninguém saberia dizer o que restará de pé das velhas
instituições e dos antigos costumes e o que acabará por desaparecer.
Embora a revolução que se processa no estado social, nas leis e nos sentimentos dos homens esteja ainda longe
de seu término, já não seria possível comparar seus efeitos a nada do que se tenha visto anteriormente no
mundo. Volto atrás de século em século até a antiguidade mais remota e nada encontro que se assemelhe ao
que tenho diante dos olhos. O passado, não mais iluminando o futuro, faz com que o espírito marche nas
trevas.
TOCQUEVILLE, Alexis de. Democracia na América. São Paulo: Nacional, 1969. p. 361.
2. Explique o que existia de novo e de velho naquela sociedade que ele observava.
3. Aos olhos de hoje, qual avaliação podemos fazer da sociedade que surgiu a partir da Revolução
Americana?
No começo do capítulo, vimos que a condição dos Estados Unidos se modificou significativamente
ao longo dos dois últimos séculos. Para compreender essas mudanças, que tal organizar um painel
sobre os Estados Unidos ontem e hoje? Para isso, siga o roteiro.
Em grupo
1. Durante uma semana, leiam e selecionem notícias publicadas sobre os Estados Unidos.
2. Com base nessas notícias, procurem traçar o perfil desse país do ponto de vista geopolítico, ou
seja, de seu papel político na atualidade.
3. Comparem essa análise com o perfil dos Estados Unidos na época da independência, em
especial com os princípios que orientaram o movimento de independência e a organização do novo
país.
4. Organizem esse material para ser apresentado para o restante da classe, durante uma discussão
sobre o papel dos Estados Unidos no mundo atual.
Página 40
CAPÍTULO 4
A Revolução Francesa
Vamos lá!
Na maior parte dos jornais diários encontram-se notícias sobre a França. O país é hoje um dos mais
desenvolvidos do mundo. Mas também enfrenta vários problemas. A presença dos migrantes, por
exemplo, é tema que mobiliza cada vez mais a opinião pública, marcada por uma maioria que não
aceita e discrimina os migrantes e por uma parcela da população que entende a situação de maneira
mais ampla e sob o olhar dos direitos humanos.
Parte significativa da população credita aos migrantes os problemas do país. Alegam que eles
superlotam as cidades e os ser viços públicos, corroendo as finanças do Estado.
Em defesa dos migrantes, a outra parte dos franceses lembra que eles estão ali por causa da política
externa do país nos dois últimos séculos, trabalhando em atividades que os franceses se recusam a
realizar.
Corbis Corporation/Fotoarena
Grupo de manifestantes exige assistência e direitos básicos aos imigrantes africanos, em Paris (França),
2015.
ELABORANDO HIPÓTESES
Em grupo
1 Com um grupo de colegas, façam uma pesquisa para saber qual é a situação atual da França,
sobretudo no que se refere aos problemas sociais.
3 Depois, individualmente, responda: o que foi a Revolução Francesa de 1789? Que problemas
sociais existiam na França do final do século XVIII?
Página 41
O movimento francês não foi o primeiro de seu tempo com essas características. Encontra-se
inserido em um contexto maior, que inclui desde a independência dos Estados Unidos até a luta de
irlandeses e belgas por autonomia política. Obteve, entretanto, a mais estrondosa repercussão. Isso
porque a França era o país mais povoado dos reinos europeus e um dos mais poderosos.
Assim, os ideais revolucionários franceses ecoaram pelo mundo, criando dois grupos: um dos
defensores da liberdade, igualdade e fraternidade – o lema da Revolução –, e outro dos seus
opositores. E tornou-se modelo para muitas das revoluções que ocorreram posteriormente, como a
Conjuração Baiana (sobre o assunto, ver o Capítulo 9).
A Revolução Francesa foi sustentada pelas massas. Pelos campos, nas ruas de Paris e de outras
cidades da França, contou com intensa participação popular. O povo, definitivamente, entrava para
a história.
Grupos populares saqueiam o Palácio dos Inválidos, durante a Revolução Francesa, ilustração de J.B.
Lallemand, 1789.
A população francesa somava, então, cerca de 23 milhões de habitantes – 80% camponeses. Eram
pessoas em grande parte livres, algumas com pequenas propriedades, mas a maioria sem nenhum
pedaço de terra ou outro meio para garantir a sobrevivência, o que as tornava vítimas da pobreza e
da fome.
No lado oposto estava a nobreza, que não representava mais do que 2% da população. Amparada
pela tradição, vivia de antigos privilégios, vários dos tempos medievais, como isenções de impostos
e direito de receber tributos. A crise econômica, porém, corroía seus ganhos. A per da era
compensada arrochando-se os camponeses e, também, com maior controle sobre os cargos
administrativos do Estado.
• AO SEU REDOR •
Durante o absolutismo, a população francesa convivia com uma situação de extrema injustiça social.
Camponeses e muitos dos trabalhadores urbanos viviam na miséria, desejosos de melhor qualidade
de vida. Outra parcela da população, a burguesia, embora desfrutasse de melhores condições de
vida, pleiteava maior participação política.
No Brasil, assim como em outros países da atualidade, a desigualdade social é um dos mais graves
problemas a serem superados pelos governantes e a sociedade em geral.
Em grupo
2. Observando a sociedade ao seu redor, é possível encontrar sinais dessas políticas? Justifiquem a
resposta e apresentem as conclusões para o restante da classe.
3 Começa a Revolução
Durante o governo de Luís XVI, a crise econômica da França agravou-se por causa da participação
francesa em vários conflitos externos, sobretudo a Guerra dos Sete Anos e o movimento de
independência dos Estados Unidos. Os conflitos geraram dívidas, que ampliaram os problemas
sociais. Vários ministros se sucediam para encontrar – sem sucesso – soluções para a crise.
Na década de 1780, três economistas, entre eles Jacques Turgot, ocuparam o cargo de ministro. O
último deles, Charles Alexandre de Calonne, propôs mudanças mais radicais, como o fim da isenção
de impostos para a nobreza e o clero. Ameaçados em seus privilégios, esses segmentos forçaram a
convocação de uma Assembleia de Notáveis. Ninguém esperava, porém, que a ação dos privilegiados
acabasse abrindo espaço para a rebelião dos menos favorecidos.
Com a revolta das elites, o rei substituiu o ministro e convocou os Estados Gerais, uma assembleia
de origem feudal que não se reunia desde 1614. Era controlada pela nobreza e pelo clero, cada
estado tinha direito a um único voto e, por afinidade de interesses, os dois primeiros votavam
sempre juntos. Com isso, clero e nobreza pretendiam manter a isenção de impostos e continuar
recebendo os tributos pagos pelo terceiro estado.
Os representantes do terceiro estado ocuparam, então, a sala do jogo da pela, prometendo resistir
até a elaboração final da Constituição. Diante da pressão, o governo cedeu e admitiu a formação da
Assembleia Nacional Constituinte, com participação de todos os estados e voto por indivíduo. Na
aparência, aceitava a transformação do governo em monarquia constitucional. Na prática,
preparava tropas para retomar o controle da situação.
Os ânimos se acirraram. O conflito era iminente. Em meio à agitação, o terceiro estado criou a
Guarda Nacional, com capitais da burguesia. O objetivo era armar a população para resistir aos
ataques da monarquia. O movimento se avolumou em torno do lema liberdade, igualdade e
fraternidade. Para piorar, o rei nomeou um ministro conservador, causando descontentamento
geral.
Página 43
Neste retrato, Maria Antonieta posa com os filhos, numa tentativa de aludir à imagem da rainha como mãe
da França. De nada adiantou. A Monarquia estava com seus dias contados. Rainha Maria Antonieta e seus
filhos, obra de Élisabeth Vigée-Lebrun, 1787.
VESTÍGIOS DO PASSADO
A literatura da Revolução
Restif de la Bretonne (1734-1806) faz parte do círculo de escritores da França pré-revolucionária.
Ele era contrário ao regime monárquico e ao abuso dos grupos dominantes. No livro Noites
revolucionárias, ele narra suas próprias histórias, assim como aquelas que ouviu contar ou
imaginou terem acontecido. Organizado em forma de diário, o livro mostra o cotidiano dos
franceses antes da tomada da Bastilha. É uma crônica vibrante de um mundo em revolução. Leia um
fragmento do livro:
Convidado por um belo céu, o laborioso habitante da cidade, aproveitando o dia de repouso, fora respirar
ar puro [...]. Ao chegar às fontes sombreadas, o esposo e a companheira sentam-se no gramado para
descansar, enquanto a criança que veio com eles corre em direção a outras crianças, que brincam. Ela se
diverte e faz sua mãe sorrir.
Enquanto isso, no terraço que dá para o rio, alguns estouvados provocam os soldados, ali reunidos
inutilmente. Uma pedra, pelo que se diz, atinge o capacete de Lambesq. Indignado, esse comandante
estremece de raiva. [...]; entra a cavalo no jardim [...] Erguem-se gritos agudos, seguidos dos gritos das
jovens mães. [...] Todos fogem: as mulheres, por medo; os maridos para se livrarem de suas famílias...
BRETONNE, Restif de la. As noites revolucionárias. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 21-22.
Biblioteca da Art Gallery, Paris
Na pintura Passer Payer, de 1803, de Louis-Leopold Boilly, é possível observar alguns aspectos das ruas de
Paris nos anos próximos ao da Revolução Francesa.
Página 44
4 O Absolutismo agoniza
Vários estudiosos consideram a Assembleia Nacional Constituinte, que se estendeu de 1789 a 1791,
como a primeira fase da Revolução Francesa. Nesse momento destacaram-se ações revolucionárias
tanto dos burgueses quanto dos camponeses. Foram os trabalhadores pobres das cidades, os sans-
culottes, com suas manifestações, por exemplo, que garantiram a radicalização do processo
revolucionário.
Enquanto o movimento popular se alastrava, a Assembleia aprovou a abolição de inúmeras leis que
marcavam o Antigo Regime. Em 26 de agosto, foi proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão. Logo no primeiro parágrafo, ficava estabelecida a igualdade dos seres humanos perante
a lei. Tratava-se de princípio radicalmente contrário à antiga sociedade, marcada por privilégios da
nobreza e do clero. No entanto, não atribuía à nova sociedade qualidades democráticas ou
igualitárias.
Nos artigos seguintes, dominavam os ideais burgueses, ao estabelecer, por exemplo, o pleno direito
à propriedade privada. Todos os cidadãos adquiriam o direito de participar da elaboração das leis,
pessoalmente ou por representantes eleitos de acordo com suas posses. O documento estabelecia
ainda o respeito à dignidade dos seres humanos; o direito à resistência contra as arbitrariedades e a
opressão política; e o direito de expressar opiniões livremente.
Os sans-culottes (literalmente, sem culote) eram assim chamados por não usarem roupas típicas dos
nobres: calção curto (culote) e meias brancas até os joelhos. Eles andavam armados e tiveram grande
importância na Revolução Francesa. Obra Saltimbancos e passantes na Pont du Change, Paris (em
tradução livre), cerca de 1970.
Museu Carnavalet, Paris
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, proclamada em 26 de agosto de 1789. Imagem atribuída
a Jean-Jaques François.
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A revolução burguesa
A Constituição estabelecia uma divisão equilibrada entre três poderes: Executivo (exercido pelo rei
sem seus poderes absolutos), Judiciário e Legislativo (exercido por deputados eleitos por voto
censitário). Essas medidas, entre outras, criaram na França um Estado burguês. Os interesses desse
grupo social impunham-se por meio de medidas que limitavam, por exemplo, o voto àqueles que
dispunham de certa renda (voto censitário) e proibiam os movimentos e associações de
trabalhadores. A burguesia se afastava, assim, do restante do terceiro estado.
Temendo as medidas, boa parte da nobreza emigrou para reinos vizinhos – em poucos anos, cerca
de 300 mil nobres deixaram a França. No exterior, angariavam apoio para restaurar o Antigo
Regime, como ficaram conhecidos os tempos de governo absolutista. A tarefa não era difícil: as
notícias da Revolução deixavam em pânico as elites dos países absolutistas. Os governos da Áustria
e da Prússia, por exemplo, assinaram a Declaração de Pillnitz, em que consideravam a possibilidade
de intervir na França para eliminar focos revolucionários e restabelecer a ordem.
Em junho de 1791, a família real francesa tentou fugir para a Áustria, mas acabou presa e
reconduzida a Paris, ao ser reconhecida na fronteira. A economia francesa sofria, então, com a
inflação. Nas ruas, os sans-culottes exigiam mudanças mais significativas. Nesse cenário, um
Exército liderado pelos nobres exilados invadiu a França. Eles foram combatidos por tropas
armadas pelos jacobinos, chamadas Comu na Insurrecional de Paris. A vitória dos revolucionários
veio na batalha de Valmy, próxima a Paris.
Nesse processo, o rei Luís XVI foi deposto, acusado de colaborar com os nobres e de negociar com
reinos estrangeiros a formação de exércitos para restabelecer o Antigo Regime. A república foi
proclamada em 22 de setembro de 1792. No dia seguinte, a Assembleia Legislativa foi transformada
em Convenção Nacional. Tinha início uma nova fase da Revolução.
A revolução radical
Os integrantes da Convenção Nacional dividiam-se em grupos. À direita do plenário sentavam-se os
girondinos. Eles pretendiam, por um lado, evitar que a Revolução se radicalizasse e, por outro,
consolidar as conquistas burguesas. No centro ficavam os representantes da burguesia sem
objetivos claramente definidos. Eram chamados Pântano ou Planície. À esquerda estavam os
membros da Montanha. Eram os jacobinos ligados aos sans-culottes, favoráveis ao avanço das
conquistas revolucionárias.
National Portrait Gallery, Londres, Inglaterra
Sátira de 1791 mostrando o rei Luís XVI e a rainha Maria Antonieta surpreendidos por soldados, que
apontam seus armamentos ao casal de monarcas.
Página 46
Por causa dessa distribuição, até hoje é comum utilizar os termos centro, direita e esquerda para
definir posições políticas. No início dos trabalhos, os girondinos controlavam a Convenção. O
cenário mudou ao se tornar público que Luís XVI fizera acordos com os austríacos para conter a
Revolução. Os jacobinos exigiram, então, o julgamento do rei; condenado, foi decapitado em janeiro
de 1793. A Revolução se radicalizava.
Para governar, os jacobinos criaram o Comitê de Salvação Pública, liderado por Danton, além de
outros órgãos, como o Comitê de Salvação Nacional, responsável pela segurança interna do país, e o
Tri bu nal Revolucionário, que julgava os opositores do regime. Ainda em 1793, Marat, um dos
líderes revolucionários mais populares, foi morto por Charlote Corday, militante girondina.
Tinha início a fase conhecida como Terror, com a execução de várias pessoas na guilhotina, entre
elas a rainha Maria Antonieta. Muitas das vítimas eram acusadas de simpatizar com a monarquia;
outras, porém, pertenciam a grupos de revolucionários ligados tanto aos girondinos quanto aos
jacobinos. Dentre as medidas do período destacaram-se a fixação dos preços dos gêneros básicos; o
congelamento dos salários; a venda dos bens de nobres e do clero; a abolição da escravidão nas
colônias; e a criação do ensino público e gratuito.
O cenário possibilitou a tomada do poder pela alta burguesia girondina. Começava, assim, a
chamada reação termidoriana (1794-1795). Para controlar os sans-culottes, extinguiu-se o poder
do Comitê de Salvação Pública. Muitos foram perseguidos e executados, inclusive Robespierre. Uma
nova Carta constitucional retomava o voto censitário. Criava-se também o governo do Diretório,
formado por cinco membros escolhidos pelos deputados.
Musées Royaux des Beauxs -Arts, Bruxelas
VOCÊ SABIA?
Essa onda trouxe novamente para os armários dos franceses mais abastados as roupas
extravagantes, com joias, babados e cores. A vida social também voltou aos antigos ares.
Restaurantes, casas de jogos e teatros teriam, mais uma vez, seus ambientes lotados.
Para acompanhar o clima, ocorreriam várias tentativas de restaurar o poder monárquico com o rei
Luís XVII. Todas, porém, acabariam frustradas com sua morte, provocada pela tuberculose, aos 10
anos de idade. As esperanças dos monarquistas se voltaram, então, para Luís XVIII. Enquanto isso, a
maioria da população francesa enfrentava um rigoroso inverno, que provocou mais uma vez a falta
de pão. Temendo outra revolução, o governo prendeu só nesse período cerca de 3 mil pessoas.
5 Rumo ao caos
Sob a liderança dos girondinos, o Diretório (1795-1799) sofreu pressões políticas vindas dos
jacobinos e dos realistas. Estes últimos desejavam a restauração da dinastia Bourbon. Para tomar o
poder, por duas vezes os realistas tentaram derrubar os girondinos. Os sans-culottes, alijados do
governo, também buscaram tomar o poder à força na Conspiração dos Iguais, liderada por Graco
Babeuf, em 1796 (ver boxe na página seguinte).
Internamente, a situação política era delicada, instável, com sucessivas trocas de grupos políticos
no poder. Para piorar, os franceses foram obrigados a enfrentar a Segunda Coligação de reinos
europeus, formada em 1799 por Espanha, Holanda, Prússia e vários Estados da península Itálica.
A instabilidade política e econômica provocada por anos de revolução fez crescer a pobreza na França.
Ilustração do final do século XVIII.
Foi então, em meio à repressão aos levantes internos e a lutas contra os ataques estrangeiros, que
surgiu Napoleão Bonaparte. Em 9 de novembro de 1799 – ou dia 18 de Brumário, conforme o novo
calendário revolucionário –, Napoleão liderou um
Página 48
golpe de Estado, acabando com o Diretório e instituindo o Consulado. A Revolução Francesa entrava
em nova fase, como veremos no próximo capítulo.
Mas a Revolução não transformou apenas a França. Criou as bases políticas do mundo
contemporâneo. Como afirmou o historiador Eric Hobsbawm, ela forneceu o combustível, os ideais,
para muitas outras revoluções em todo o mundo. Formou ou deu novos sentidos, por exemplo, a
várias palavras comuns nos dias de hoje, como nacionalismo, cidadania, povo.
VOCÊ SABIA?
Coube a ele organizar um levante – a Conspiração dos Iguais – que foi denunciado, às vésperas, por
um delator. Foi preso junto com outros membros de seu grupo. Humilhado em praça pública, sua
defesa prolongou-se em várias sessões do tribunal e resultou num documento de 300 páginas,
considerado de grande importância, que foi divulgado apenas quase 100 anos depois de sua morte.
Segundo o próprio Babeuf, o que estava em jogo em seu julgamento “não é tanto a questão da
conspiração contra o governo, e sim a difusão de certas ideias consideradas subversivas pela classe
dominante”.
Fonte: WILSON, Edmund. Rumo à Estação Finlândia. São Paulo: Companhia das Letras, 1986. p. 73-74.
conexão presente
Leitura cidadã
A leitura é essencial para a construção de uma sociedade mais igualitária, na qual as diferenças
sejam respeitadas. Para se ter ideia, às vésperas da Revolução Francesa de 1789, a produção
literária cumpria papel fundamental. As páginas dos livros constituíam-se em verdadeiros campos
de batalha, com inúmeras propostas para transformar uma sociedade marcada por desigualdades e
privilégios.
As ideias inseridas nos livros eram devoradas nas casas e nos espaços públicos. Os literatos
esforçavam-se para cativar seu leitor, reinventando as formas de escrever e clamando por
liberdade, pelo direito à palavra e à opinião. Talvez por isso a Revolução Francesa tenha sido uma
das mais importantes de nossa história, responsável por fundar grande parte dos valores
contemporâneos.
O Brasil, no entanto, ainda não pode ser chamado de um país de leitores. Apesar de o problema do
acesso ao livro ter sido superado quase por completo, com o esforço do poder público em instalar
bibliotecas em praticamente todas as cidades do país, os brasileiros leem muito pouco. Segundo a
pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, cerca de apenas metade dos brasileiros tinham lido, em
2011, um livro nos últimos três meses.
Não obstante os desafios, em todos os segmentos da sociedade existe uma intensa e criativa
produção literária. É o caso da literatura de cordel,
Página 49
que faz sucesso sobretudo no Nordeste e em grandes cidades como São Paulo e Rio de Janeiro.
Impressa em pequenos folhetos quase artesanais, ela é escrita na forma de extensos poemas, que
narram histórias do dia a dia. Muitos ainda mencionam – e discutem – os problemas locais e até
mesmo os acontecimentos mais significativos do cenário nacional, na área da cultura, da política e
da economia.
Autor de cordel é, assim, um cronista de sua sociedade, que registra a história, informa e forma,
diverte, aconselha seu leitor. Por meio de sua literatura, explicita sua visão de mundo e seus valores
e difunde a realidade social, sobretudo dos mais pobres e humildes que se espalham por esse
imenso Brasil. (Sobre a origem dos cordéis, ver p. 248.)
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Explique por que o cenário social, político e econômico da França, anterior a 1789, favoreceu a
eclosão da Revolução Francesa.
2 Relacione o descontentamento dos nobres e do alto clero com o governo e o início da Revolução.
b) a época do Terror;
c) a reação girondina.
4 A Assembleia Nacional Constituinte foi marcada pela ação revolucionária da burguesia. Explique
por que esse grupo não manteve a mesma postura durante a Convenção Nacional, o período da
Revolução.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Visão engajada
Albert Soboul é considerado um dos principais estudiosos da Revolução Francesa. Com uma visão
engajada, ele influenciou vários estudos sobre o movimento, sobretudo aqueles que buscavam
recuperar o papel dos grupos menos privilegiados. Leia um trecho de uma de suas obras mais
conhecidas.
Escritores célebres, publicistas, autores anônimos lançam Ensaios, Cartas, Reflexões, Conselhos,
Projetos. Target escreveu uma Lettre aus Etat Généraux, Camille Desmoulin, La France libre,
panfleto veemente em favor de uma França onde não houvesse nem venalidade dos cargos, nem
nobreza transmissível, nem privilégios fiscais:
“Fiat! Fiat! Sim, tudo isso vai-se realizar; sim, esta revolução abençoada, esta regeneração, vai-se
cumprir; poder algum sobre a terra poderá impedi-la. Sublime efeito da filosofia, da liberdade e do
patriotismo! Nós nos tornamos invencíveis.”
Toda essa literatura de propaganda, obra de homens da burguesia, refletia as aspirações da classe
endinheirada, que só pensava em derrubar os privilégios porque eles eram contrários a seus
interesses; a sorte das classes laboriosas, dos camponeses, dos pequenos artesãos, a preocupava
menos.
1. A partir do texto, identifique os dois grupos em conflito durante a Revolução Francesa. Depois,
aponte o papel de cada um deles na Revolução.
2. Com base no texto, explique os elementos que davam à burguesia a confiança da vitória.
A chamada Marcha de Mulheres a Versalhes, retratada abaixo, foi um dos episódios decisivos da
Revolução Francesa: em 5 de outubro de 1789, cerca de 10 mil mulheres saíram em protesto contra
a escassez e os altos preços do pão. Insatisfeitas com o governo absolutista, as manifestantes
uniram-se aos revolucionários, exigindo reformas políticas liberais e uma monarquia constitucional
para a França. A multidão sitiou o palácio, forçando o rei Luís XVI, sua família e os membros da
Apesar dos vários exemplos ao longo do tempo e nas mais diferentes sociedades, a participação
feminina na política é ainda hoje uma questão a ser resolvida: na imensa maioria dos países, poucas
mulheres ocupam cargos eletivos. Apenas cerca de 10% dos países do globo são governados por
mulheres. A mesma participação repete-se nas demais instâncias governamentais e até nos cargos
de gestão das empresas.
As mulheres tiveram participação importante nos episódios da Revolução Francesa. Obra Mulheres
parisienses seguem para Versalhes, 1789.
2. Converse com o professor de Sociologia ou pesquise em livros dessa disciplina sobre o papel
desempenhado pelas mulheres na sociedade brasileira em geral e, especificamente, na política. Ao
final, redija um texto com as conclusões.
VOLTANDO AO INÍCIO, FECHANDO HIPÓTESES
Há mais de duzentos anos, a França tem colaborado na definição dos rumos mundiais, muitas vezes
de forma revolucionária, como foi em 1789 e em 1968. Hoje, como vimos no início do capítulo, o
país encontra-se mergulhado em vários dilemas e intensos debates.
CAPÍTULO 5
Mas foi com Napoleão Bonaparte que o expansionismo dos ideais revolucionários atingiu seu ápice:
em poucos anos, praticamente todo o continente estaria sob o controle dos franceses. E não seriam
apenas os novos ideais que percorreriam o caminho aberto pelas armas. Por ele passariam também
muitas das antigas práticas. Sem respeitar as dinâmicas de cada lugar, por exemplo, Napoleão
alterou governos e submeteu vontades populares.
A reação não tardou, e começava a despertar uma nova ideologia no continente, o nacionalismo,
com a defesa da autodeterminação dos povos.
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Identifique:
a) por que a Revolução Francesa deixou os governos absolutistas em alerta;
2 Com base em seu conhecimento, escreva uma biografia de Napoleão, comentando suas
conquistas, como pensava e quais foram suas ações durante a Revolução Francesa e seu governo.
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1 Filho da Revolução
Em fins de 1799, o general francês Napoleão Bonaparte, aliado a outros líderes, assumiu o governo
da França com um golpe de Estado. O processo revolucionário iniciado em 1789 começava a tomar
novos rumos. O poder burguês consolidava-se não apenas na França, mas em várias regiões da
Europa e do mundo. A política expansionista de Napoleão levou vários países à guerra.
Napoleão Bonaparte nasceu em 1769 em Ajácio, na Córsega, ilha do mar Mediterrâneo. Estudou na
França, em instituições de ensino militar. Como oficial da artilharia, defendeu a monarquia no
processo revolucionário. Em 1791, porém, trocou de lado ao ingressar em um clube jacobino.
Promovido a capitão, participou da retomada de Toulon, cidade ocupada pelos ingleses em 1793,
durante a Primeira Coligação. Com apenas 26 anos de idade, comandou forças francesas contra
exércitos de países que temiam a expansão da revolução para outras regiões da Europa.
Entre 1796 e 1797, como comandante de artilharia, venceu várias batalhas contra a Áustria e a
Sardenha. O jovem oficial tornou-se figura popular na França, sendo aclamado pela população
quando retornou a Paris. Seu prestígio tornou-se ainda maior ao receber o comando de uma
campanha militar no Egito, que tinha por objetivo obstruir as rotas comerciais inglesas com a Índia.
A Batalha das Pirâmides, de Watteau François Louis Joseph, 1798-1799. Na campanha militar no Egito
liderada por Napoleão, embarcou uma missão científica que deveria estudar a sociedade egípcia da
Antiguidade. Os trabalhos resultaram na descoberta de vários vestígios daquele período, como a Pedra de
Roseta, que serviu de base para desvendar as escritas egípcias.
Golpe de 18 de Brumário
Enquanto Napoleão dirigia suas tropas no Egito, o processo revolucionário completava dez anos.
Por toda a França sentia-se o efeito do movimento: instabilidades políticas, problemas econômicos,
crises sociais. Disputas intensas pelo poder deixavam no ar uma ameaça constante de golpe de
Estado. Nesse cenário, para grande parte da população – sobretudo a burguesia –, Napoleão era a
esperança para pôr fim ao caos.
Diante do quadro de instabilidade interna, e sabendo que países inimigos preparavam nova
ofensiva, Napoleão resolveu retornar secretamente à França em 14 de outubro de 1799. Visto como
defensor das conquistas da Revolução e com apoio total do Exército, foi aclamado nas ruas de Paris.
Ganhou, então, o apoio político dos girondinos.
Poucos dias depois, Napoleão liderou o Golpe de 18 de Brumário, com o qual tomou o poder
juntamente com dois aliados. Sua principal promessa era reverter o conturbado quadro vivido na
França, promovendo estabilidade. Nos anos seguintes, porém, ele eliminou várias das liberdades
conquistadas, concentrando poderes.
Ao assumir o poder, Napoleão extinguiu o Diretório e instituiu o Consulado, órgão formado por três
cônsules, entre os quais se incluía. Em 1802, com uma nova Constituição, neutralizou o poder dos
demais cônsules. Dois anos depois, sem uma oposição política significativa, tornou-se cônsul
vitalício; logo depois, recebeu do Senado o título de imperador da França, sendo coroado na
catedral de Notre-Dame com o título de Napoleão I.
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• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
À frente do governo, ambos concentraram poderes cada vez maiores. Júlio César, por exemplo,
limitou o campo de atuação do Senado. Napoleão, por sua vez, desautorizou o Parlamento.
Igualmente, os dois governantes adotaram uma política externa expansionista, para conquistar o
apoio da população e abafar a oposição interna.
2 O governo de Napoleão
Napoleão Bonaparte procurou adotar várias medidas para conquistar a estabilidade.
No plano externo, venceu os austríacos na batalha de Marengo, em 1800, e, dois anos depois,
assinou um acordo de paz com a Inglaterra (Paz de Amiens), neutralizando assim as ameaças
estrangeiras. No plano interno, um plebiscito garantiu amplo apoio popular ao Consulado e uma
nova Constituição, que entrou em vigor em 1800.
Em 1801, firmou uma concordata com o papa Pio VII, resolvendo questões pendentes com a Igreja –
as relações estavam estremecidas desde a promulgação da Constituição Civil do Clero, em julho de
1790.
No âmbito da economia, que se encontrava em total desequilíbrio, criou o Banco da França e lançou
uma nova moeda, o franco – que vigorou até 2001, quando foi substituída pelo euro, a moeda da
União Europeia. Os setores agrícola e industrial receberam financiamentos públicos para que se
recuperassem dos anos de guerra. Além disso, foi restabelecida a escravidão nas colônias – o que
motivou a guerra de independência do Haiti (assunto do Capítulo 10).
Outra medida importante foi a organização do Código Civil, também conhecido como Código
Napoleônico, em 1804. Ele consolidava algumas aspirações burguesas que haviam motivado a
Revolução em 1789, como a igualdade jurídica dos indivíduos, mas proibia os trabalhadores de se
organizarem em associações independentes.
No caminho da guerra
O crescente poder de Napoleão era considerado uma ameaça pelos governos absolutistas da
Europa, como os da Áustria, da Prússia e da Rússia – temia-se que, com a consolidação dos projetos
burgueses, mudanças semelhantes passassem a ser exigidas fora dos limites franceses. Já para a
Inglaterra e a Holanda, a estabilidade econômica da França recolocava o país na disputa pela
hegemonia no continente e por mercados consumidores.
A situação levou ao rompimento do acordo de paz com a Inglaterra, logo no ano seguinte. A partir
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Em terra, os franceses derrotaram prussianos e austríacos em Ulm e Austerlitz. Com isso, o governo
de Napoleão extinguiu o Sacro Império e, em seu lugar, formou a Confederação do Reno, mantida
sob sua influência.
Até 1810, por meio de várias campanhas militares, os exércitos franceses ocuparam boa parte da
Europa continental. Holanda, Espanha e reinos da península Itálica, por exemplo, foram dominados
pelo império napoleônico. Em muitos desses territórios, foram impostos soberanos fiéis ao governo
francês, quando não algum parente direto do imperador: José Bonaparte, em Nápoles, e depois na
Espanha; Mariana Elisa, na Toscana; Luís, na Holanda; Maria Anunciata, em Nápoles; Jerônimo, na
Vestfália.
O quadro representa Napoleão aceitando a rendição de Madrid, óleo sobre tela de Antoine-Jean Gros, 1808-
1810.
3 Em declínio
Em 1806, sem conseguir derrotar a Inglaterra, o governo francês decidiu decretar o Bloqueio
Continental, com o objetivo de enfraquecer a economia inglesa. Com essa medida, toda a Europa
ficava proibida de realizar negócios com os ingleses ou de receber navios britânicos em seus portos,
sob pena de ter seus territórios invadidos.
Em 1807, Napoleão forçou os russos a assinarem o Tratado de Tilsit, pelo qual se comprometiam a
aderir ao bloqueio. Sentindo-se prejudicado, o governo russo rompeu o acordo logo depois, e voltou
a abrir seus portos aos ingleses.
Em 1811, liderados pelo próprio Napoleão, 600 mil homens do Exército francês invadiram a Rússia.
Chegaram com facilidade a Moscou e encontraram a capital abandonada. Tratava-se de uma
estratégia russa para exaurir o inimigo, valendo-se do vasto território e do inverno rigoroso. Sem
suprimentos, os franceses tiveram de bater em retirada em 1812. Com frio e fome, tornaram-se
presas fáceis para os russos: apenas cerca de 60 mil soldados, dos 600 mil que haviam iniciado a
campanha, conseguiram retornar à França. Napoleão, derrotado e humilhado, aproximava-se de seu
fim.
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Maps World
Fonte: SERRYN, Pierre; BLASSELLE, René. Atlas Bordas géographique et historique. Paris: Bordas, 1996.
VOCÊ SABIA?
O equilíbrio português
O Bloqueio Continental teve grandes consequências para a história de Portugal e de suas colônias –
na época, sob o comando do príncipe regente dom João, que procurava manter uma política de
neutralidade no cenário internacional, sem desagradar nem aos franceses nem aos tradicionais
aliados ingleses. No fim de 1807, devido ao constante adiamento português em cumprir os termos
do bloqueio, tropas francesas foram enviadas para ocupar Portugal.
O governo português decidiu, então, colocar em prática o antigo projeto de formar um grande
império Atlântico a partir de sua colônia na América. Assim, toda a família real, acompanhada de
imensa Corte, transferiu-se para o Novo Mundo, sob a proteção dos ingleses (pela primeira vez, um
rei europeu desembarcava em terras da América). Os exércitos napoleônicos, em seguida,
invadiram Lisboa, mas a dominação não se estendeu por muito tempo – foi logo substituída pela
tutela dos ingleses (a Corte real portuguesa na América é assunto do Capítulo 11).
Coleção particular
Representação de tropas inglesas próximas a Lisboa, em 1808. Gravura de Louis Gudin, 1820.
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O fim de Napoleão
Nos territórios sob domínio francês foram implantados vários dos princípios consolidados durante
a Revolução Francesa, sobretudo os pertinentes à ordem burguesa. Muitos governos absolutistas,
assim, acabaram abolidos. A violência do domínio e da ocupação francesa sobre as populações
conquistadas, entretanto, fez surgir movimentos de resistência, principalmente na Espanha e na
Rússia.
O fracasso da campanha militar na Rússia foi decisivo para o declínio da política expansionista de
Napoleão. Os exércitos franceses também se riam derrotados na Batalha de Leipzig, em 1813, por
uma coligação formada por Prússia, Inglaterra, Áustria e Rússia. Paris seria ocupada por tropas
estrangeiras no ano seguinte. Pelo Tratado de Fontainebleau, Napoleão aceitou deixar o governo
francês em troca de uma pensão e do domínio sobre a ilha de Elba, próxima à sua terra de origem,
onde deveria permanecer exilado.
A dinastia dos Bourbon, comandada por Luís XVIII (irmão do rei Luís XVI, guilhotinado em 1793),
foi restaurada no governo francês. O ato não foi bem-aceito pela população, o que provocou grande
instabilidade política. Meses depois, Napoleão abandonou o exílio e retornou à França, aclamado
pela população e com o apoio de seus ex-comandados.
Como outros governantes, Napoleão Bonaparte investiu na construção de sua imagem, contratando
pintores como Jacques-Louis David, que durante a Revolução Francesa chegou a ser deputado. No
auge do período do Terror, entretanto, Jacques-Louis desistiu da política e iniciou a carreira de
artista. Pouco depois, tornaria-se um dos pintores oficiais de Napoleão. Entre seus quadros mais
conhecidos estão A morte de Sócrates e Madame Récamier.
Na abertura deste capítulo, você viu um retrato de Napoleão feito por Jacques-Louis David. A obra
foi encomendada pelo rei da Espanha, que se aproximou de Bonaparte em razão da vitória francesa
na península Itálica e da nomeação do general como primeiro-cônsul da França.
O artista produziu cinco versões daquele quadro e Napoleão interferiu diretamente nesse processo,
definindo como gostaria de ser retratado pelo artista. A obra, assim como outras, serviria de
propaganda aos feitos de Bonaparte.
Outro destacado retratista do imperador francês foi Antoine-Jean Gros. Seguidor de Jacques-Louis
David, acabou por adotar o estilo romântico, de cores e pinceladas mais dramáticas.
1. Observe a maneira como Napoleão foi retratado nas obras reproduzidas neste capítulo.
a) Será que elas correspondem à realidade?
Napoleão estava de volta ao poder, no chamado Governo dos Cem Dias. Foi combatido por uma nova
coligação (a sétima), formada por Rússia, Áustria, Prússia e Inglaterra. Na Batalha de Waterloo, na
atual Bélgica, próximo à cidade de Bruxelas, foi definitivamente derrotado. Preso, foi enviado para o
exílio na ilha inglesa de Santa Helena, no Atlântico Sul, onde morreu, em maio de 1821.
4 Onda conservadora
Com a derrota de Napoleão, os governos vencedores procuraram restabelecer a ordem vigente na
Europa antes da Revolução Francesa.
O marco desse processo foi o Congresso de Viena, realizado na capital do Império Austríaco, com a
participação de representantes de nações como Áustria, Prússia, Rússia, Inglaterra, Espanha,
Portugal, entre outras – incluindo a França, representada pelo ministro Talleyrand. No Congresso,
decidiu-se restaurar as antigas dinastias absolutistas e restabelecer grande parte das fronteiras
existentes antes de 1789.
O antigo Sacro Império deu lugar à Confederação Germânica. A Inglaterra recebeu compensações
territoriais em várias partes do mundo: a ilha de Malta, no Mediterrâneo; a colônia do Cabo, na
África meridional; o Ceilão (atual Sri Lanka), no sul da Índia; a Guiana e algumas ilhas do Caribe, na
América. Holanda e Bélgica foram unificadas, recriando-se os Países Baixos. O mapa da Europa e de
parte do mundo colonial foi redesenhado, assim, conforme os interesses dos países vencedores.
Alguns limites, porém, não foram respeitados. A Áustria, a Prússia e a Rússia, por exemplo,
ocuparam territórios na Polônia e na península Itálica que não lhes pertenciam.
A Espanha procurou usar as forças da Santa Aliança para reprimir os movimentos de emancipação
nas colônias americanas. A Inglaterra, porém, fez prevalecer o princípio de não intervenção, uma
vez que tinha interesse na independência das colônias para ampliar seu mercado consumidor.
Maps World
Fonte: Atlas historique: histoire de l’humanité. Paris: Hachette, 1998; SERRYN, Pierre; BLASSELLE, René. Atlas Bordas géographique et
historique. Paris: Bordas, 1996.
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http://anofranca.blogspot.com.br
Esse cartaz é uma peça publicitária criada por um grupo de alunos de uma faculdade de publicidade
e propaganda de São Paulo. Ele tem como base o quadro Napoleão cruzando os Alpes (ver imagem
na p. 51), do francês Jacques-Louis David, pintor oficial de Bonaparte e entusiasta da Revolução
Francesa, que fez de sua arte um poderoso instrumento de propaganda das ideias revolucionárias.
Depois da ascensão de Napoleão ao governo, David contribuiu para construir e divulgar uma
imagem idealizada do general, fundamental para que este assegurasse o apoio político necessário à
conquista e à manutenção do título de imperador da França.
No blog “Ano da França no Brasil”, os estudantes justificaram a escolha dessa imagem por meio de
uma associação da figura de Napoleão com o poder que ele acumulou ao longo de sua trajetória.
Lançando mão desse recurso, procuraram transmitir a ideia de que, ao adquirir a motocicleta
anunciada, o consumidor incorpora o espírito tenaz e audacioso de Bonaparte, tornando-se capaz
de empreender grandes conquistas e “fazer a diferença”. Assim, a peça de propaganda reforça a
imagem idealizada do herói e enfatiza seus feitos militares, ao mesmo tempo que coloca a história e
Napoleão a serviço dos interesses comerciais do anunciante.
Para refletir...
2. Com um grupo de colegas, pesquisem em livros e em sites pinturas que retratem Napoleão ou
outros líderes da Revolução Francesa.
a) Elejam uma das imagens e criem uma peça publicitária para um produto da escolha de vocês.
Desenhem o anúncio em uma cartolina ou façam uma colagem com recortes de revistas. Se
preferirem, vocês podem fazer o anúncio de forma digital.
b) Escrevam uma justificativa para a escolha da imagem usada na criação da peça publicitária.
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HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Napoleão Bonaparte pode ser considerado filho da Revolução Francesa. Explique essa ideia.
2 Neste capítulo, você viu que a burguesia francesa só conseguiu consolidar muitas de suas
conquistas por meio da ação do regime autoritário de Napoleão Bonaparte. Explique as condições
que favoreceram o golpe de Napoleão para tomar o poder francês.
3 Por meio de medidas como a proibição de greves e o apoio público às indústrias, o governo de
Napoleão ficou marcado pela consolidação da burguesia na França. Relacione esse aspecto do
governo napoleônico aos conflitos externos ocorridos no período.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Sem vencedores
Quando Napoleão foi vencido, seus opositores respiraram aliviados e comemoraram a vitória, entre
uma e outra reunião do Congresso de Viena. Mas, se tivessem uma bola de cristal, descobririam que
se tratava de uma felicidade passageira – em poucos anos, muitos deles também estariam
derrotados. Em outras palavras, ao final do período napoleônico não havia vencedores. O texto a
seguir procura analisar essa situação, mostrando o novo cenário que emergia daqueles conflitos.
Mas, para sorte da coalizão, como escreveu Jean Tulard, Napoleão é um homem do século XVIII,
ainda marcado pelo domínio dos déspotas esclarecidos, e só tardiamente compreende que, desde 1789,
os povos querem construir sua própria liberdade. [...]
É assim que o romantismo restaurador e antifrancês dos primeiros tempos pós- -napoleônicos
termina por encontrar os méritos do sufrágio popular e da ação revolucionária. É preciso
reconhecer que os alemães e os italianos podem escolher entre diversos Estados e regimes o que
melhor levará suas reivindicações nacionais e unitárias. [...]
SANDU, Trajan. 50 anos de bonança para as monarquias. In: Revista História Viva, São Paulo, n. 1, p. 50-53, nov. 2003.
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2. Quais foram as causas tanto da derrota de Napoleão quanto dos governos reunidos no
Congresso de Viena?
Saudosismos
O desmoronamento do Antigo Regime teve seus opositores. Essas vozes, porém, não se
manifestaram apenas no campo político ou na guerra. Elas estiveram presentes também na
literatura, dando forma ao saudosismo dos tempos da Corte, de suas festas e rituais. Parte dessa
produção contribuiu para consolidar o Romantismo.
1. Faça uma pesquisa para conhecer o Romantismo e suas relações com o período.
Vários historiadores consideram o período napoleônico uma espécie de ato final da Revolução
Francesa, ao consolidar e expandir muitos dos valores revolucionários. Vamos, então, estabelecer
uma cronologia para cada um?
CAPÍTULO 6
África: no tempo da
escravidão
Vamos lá!
Louis Marie J. Ohier de Grandpré (1761-1846), oficial da marinha francesa que esteve em Angola
entre 1786 e 1787, fez um relato sobre a escravidão na África. Segundo ele, traficantes africanos
entravam pelo continente para capturar outros africanos, que eram levados até a costa para serem
vendidos como escravos aos europeus. Veja o que, segundo Grandpré, ocorria durante o percurso:
(...) três ou quatro são conduzidos por cerca de vinte traficantes. Cinco ou seis desses traficantes
marcham na dianteira (...) enquanto os demais seguem no final da fila e, como a trilha é muito
estreita, torna-se difícil escapar (...) aqueles que tentam resistir têm os braços firmemente atados às
costas com uma corda (...). Para outros que defendem sua liberdade e resistem aos traficantes, estes
lhes colocam uma forquilha com uma abertura estreita em torno do pescoço para que a cabeça não
passe por ela. A forquilha é trespassada por dois furos, de maneira que um pino de ferro pressione
o pescoço do escravo (...) assim, o menor movimento é suficiente para imobilizá-lo e até mesmo
sufocá-lo (...).
GRANDPRÉ, Louis Marie J. Ohier de. Viagem à costa ocidental da África. Paris: Dentu, 1801. p. 48-49.
Em seus relatos, Grandpré defendeu que seus conterrâneos, em vez de aprisionar e transportar
africanos para trabalhar como escravos nas Antilhas – onde grande parte deles morria –, deveriam
empregá-los no cultivo das terras da África. Na opinião do oficial, a solução para acabar com o
comércio humano seria implantar colônias no próprio continente, dispensando o uso da mão de
obra escrava.
© Nicolas Courbe/Centre des archives d’Outre -Mer
Em Viagem à costa ocidental da África, escrita em 1801, Louis Marie J. Ohier de Grandpré relata sua
experiência na costa oeste africana. Ao lado, uma das gravuras presentes na obra.
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ELABORANDO HIPÓTESES
1 Observe com atenção a gravura da página anterior. Nela, podemos identificar grupos distintos de
africanos. Aponte as características que os diferenciam.
2 Como se pode explicar o fato de alguns africanos terem acesso a armas de fogo?
3 Pela gravura, é possível afirmar que o contato com os europeus alterou o modo de vida
tradicional dos africanos? Por quê?
4 Se a mortalidade dos africanos vendidos como escravos para as Antilhas era tão alta como nos
diz Grandpré, por que o tráfico de cativos não era interrompido?
All Maps
Fonte: Worlds together, worlds apart. Disponível em: <http://www.wwnorton. comcollege/history/worlds2/>. Acesso em: 30 abr. 2016.
No mapa estão indicadas as principais rotas comerciais africanas em funcionamento entre os séculos IV e
XV. Mercadorias provenientes de diferentes regiões da África eram negociadas entre aldeias e cidades, até
chegar aos grandes centros comerciais (muitos deles formavam importantes reinos e impérios), de onde
eram exportadas para outros continentes, sobretudo pelos mercadores muçulmanos.
Com a expansão do Islã no século VII, comerciantes berberes, usando o camelo como animal de
transporte, atravessavam o Saara e atingiam regiões mais ao sul do deserto. Nelas, adquiriam uma
variedade enorme de mercadorias, vindas de todos os cantos do continente por meio de uma
intrincada teia de contatos comerciais. Marfim, peles, tecidos, ouro, resinas e escravos, entre outras
riquezas, atravessavam milhares de quilômetros, passando de mão em mão, até chegar aos
movimentados mercados do Sahel.
Foi também a difusão do islamismo pela África que favoreceu o crescimento dos contatos
comerciais entre os africanos da costa oriental e os povos do Oriente Médio, que, no século XVI,
fundaram colônias nas ilhas próximas à costa.
Esses povos juntaram-se a outros colonizadores, vindos da Pérsia e da Índia. Seus descendentes,
apesar de africanizados, não perderam contato com os povos de seus antepassados, atuando como
intermediários nos negócios entre a África Oriental e os comerciantes originários das terras
banhadas pelo oceano Índico.
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A partir de então, grande parte do interesse de portugueses, franceses e ingleses na costa africana
giraria em torno de um negócio que se mostrava tremendamente lucrativo: o comércio de seres
humanos.
A maioria dos homens jovens escravizados costumava ser vendida para terras distantes, uma vez
que eles apresentavam maior predisposição para fugir ou iniciar uma rebelião. Já as mulheres e
crianças, mais facilmente controláveis, compunham a maior parte dos escravos mantidos para
ajudar nos trabalhos cotidianos e multiplicar o número de dependentes do seu amo, aumentando-
lhe a riqueza. A manutenção de escravos era um dos meios pelos quais um chefe de família ganhava
prestígio e poder, numa sociedade na qual a importância de uma pessoa era medida pelo tamanho
da sua parentela e o número de seus dependentes, e pela riqueza produzida por seu grupo familiar.
Muitos homens, mulheres e crianças aprisionados tinham como destino o mercado de escravos, que
até a chegada dos europeus à costa atlântica foi controlado por árabes ou berberes islamizados.
Além de servirem como importante moeda de troca nas transações comerciais, os escravos –
sobretudo os eunucos e as mulheres jovens e belas – eram valiosos na Índia, na Pérsia e
principalmente na península Arábica, para onde eram exportados.
© Zwecker
Na escravidão tradicional africana, muitas vezes os cativos trabalhavam lado a lado com a família de seu
amo. Eles eram responsáveis pelas tarefas mais pesadas ou degradantes, e ocupavam uma posição inferior
na sociedade. Contudo, entre alguns povos, podiam ser paulatinamente absorvidos pelo grupo, até
desfrutarem de uma situação semelhante à do indivíduo livre. Caso uma escrava se casasse com um homem
livre, a condição servil ia se diluindo por seus descendentes até que estes fossem integrados à sociedade de
seus senhores. Gravura exibida em jornada da descoberta da nascente do Nilo, de John Hanning Speke, Nova
York, 1869.
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A chegada dos europeus à costa ocidental da África fez com que o comércio de escravos deixasse de
ser apenas um negócio entre muitos outros para se tornar uma das atividades econômicas mais
importantes e lucrativas do continente.
Até o século XVI, o interesse dos comerciantes europeus não esteve voltado prioritariamente para a
compra e venda de seres humanos. Ouro, marfim e outros produtos atraíam o interesse dos
mercadores. As mercadorias eram então adquiridas em feitorias instaladas em diversos pontos do
litoral africano.
Assim, no período que se estende de 1450 a 1600, acredita-se que o número de escravos
capturados para alimentar o comércio transatlântico foi pouco superior a 400 mil indivíduos,
provenientes em sua grande maioria da região da Alta Guiné. Essas pessoas escravizadas eram
distribuídas pelo próprio continente africano, pelas ilhas atlânticas e pela Europa, onde eram
utilizadas, sobretudo, no serviço doméstico. Foram também para as colônias espanholas na
América, especialmente para trabalhar nas minas de prata do Peru.
Porém, a partir do século XVII, o tráfico de escravos pelo Atlântico cresceu de maneira vertiginosa:
1.348.000 cativos entre 1601 e 1700, e 6.090.000 no século seguinte, de acordo com estimativas.
No total, acredita-se que mais de 11 milhões de pessoas foram arrancadas de seu lugar de origem
para alimentar o tráfico num período de cerca de 400 anos. Os pontos de venda ampliaram- -se, e o
comércio humano em larga escala passou a ser feito também em Luanda, em Costa da Mina e na
Zambézia. Um número expressivo de pessoas escravizadas foi levado para os portos do litoral da
América portuguesa, principalmente o de Salvador e o do Rio de Janeiro.
All Maps
Fonte: Rutgers Cartography. Disponível em: <http://mapmaker.rutgers.edu/355/AfricanSlaveTrade.png>. Acesso em: 26 mar. 2016.
No continente africano, o comércio de pessoas escravizadas era feito em três níveis: local, entre aldeias e
reinos próximos; regional, no qual as pessoas capturadas no interior do continente eram levadas para
mercados situados, em geral, no norte e nas costas oriental e ocidental da África; e transoceânico,
responsável pelo comércio de cativos para terras de além-mar, como a América, a Índia e a península
Arábica.
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Na era das Grandes Navegações, os portugueses foram os primeiros a estabelecer contato com os
povos africanos da costa ocidental da África. No início, os tratos (como era chamado o comércio)
aconteciam a bordo das naus, onde era realizado o escambo de artigos trazidos de além-mar por
produtos da terra. Com o passar do tempo, foram construídos barracões e feitorias fortificadas em
ilhas próximas à costa ou no litoral, sempre mediante a anuência dos reis ou chefes locais.
No fim do século XVI, franceses e ingleses passaram a disputar o comércio atlântico com Portugal,
buscando também estabelecer pontos de ocupação no litoral da África. Nessa concorrência, na qual
os seres humanos eram a mercadoria mais lucrativa, acabaram por participar das rivalidades
políticas (internas), alterando o equilíbrio de forças nos reinos locais.
A fixação dos estrangeiros no litoral da África dependia de uma série de negociações com os
mandatários locais, que incluía a troca de presentes, a aceitação das regras existentes e o
pagamento de taxas e tributos. Aos europeus era quase sempre vetado o cultivo do solo, e proibido
ou dificultado o avanço para o interior do continente. Por essa razão, o abastecimento daqueles que
viviam nas feitorias dependia da colaboração dos africanos. Caso os nativos ficassem insatisfeitos,
podiam simplesmente interromper a oferta de pessoas escravizadas, ou até mesmo de água e
alimentos, para os estrangeiros. Se decidissem expulsar os europeus das fortificações, eram capazes
de reunir exércitos numerosos e equipados, contra os quais mesmo as poderosas armas de fogo
tinham pouca chance. Assim, os europeus buscaram quase sempre estabelecer contatos amistosos e
alianças políticas e militares com os reis e chefes africanos.
Na gravura de Olfert Dapper, datada de 1686, o governante da África, chamado manicongo, recebe
estrangeiros numa audiência. Note como o europeu flexiona os joelhos e leva o chapéu à mão, num gesto de
respeito e submissão ao rei africano. Este, por sua vez, é representado como um monarca europeu, com
coroa, manto e cetro. À direita do manicongo, vemos religiosos, um deles carregando um crucifixo. Os reis
do Congo haviam se convertido ao catolicismo em 1491.
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O reino do Congo
Começava o ano de 1483 quando o explorador português Diogo Cão atingiu a foz do rio Zaire (hoje
conhecido como rio Congo), onde travou contato com o mandatário local, que, como outros chefes
da região, devia obediência a uma autoridade superior, o manicongo – uma espécie de rei que
liderava uma confederação de aldeias, às quais oferecia proteção e auxílio em troca do pagamento
de tributos e de exércitos para as guerras.
Estima-se que a população do Congo ultrapassava 2 milhões de habitantes no fim do século XV, a
maior parte pertencente a grupos da etnia banto. As principais riquezas eram o cobre e o marfim,
além do nzimbu, espécie de búzio que fazia as vezes de moeda e cuja exploração era monopólio real.
Um comércio intenso de sal, metais, tecidos e produtos de origem animal garantia a prosperidade
do reino e a riqueza de suas principais cidades.
Em 1491, o manicongo Nzinga Nkuvu converteu -se ao cristianismo e foi batizado com o nome do
rei de Portugal, D. João. Seu sucessor, Affonso I, mostrou-se fervoroso cristão e se esforçou por
estreitar os laços com os portugueses, de quem adquiriu muitos hábitos e comportamentos. A
capital do reino, Mbanza Congo, passou a se chamar São Salvador.
O estabelecimento dessa aliança com os portugueses não era, contudo, desinteressada. O que o
manicongo buscava era fortalecer o reino em relação aos vizinhos, apoiado nas contribuições
técnicas e no auxílio militar português.
Todavia, essa aliança tinha um preço: à medida que o tráfico humano se intensificava e o escambo
se ampliava, as elites tornavam-se cada vez mais dependentes daqueles artigos.
Desse modo, com a finalidade de obter maior quantidade de produtos trazidos pelos europeus, os
chefes congoleses, em busca de cativos, passaram a investir continuamente contra reinos vizinhos e
contra os povos que viviam no interior do continente. Não tardou para que encontrassem
mecanismos para reduzir até mesmo seus pares à escravidão.
Os manicongos chegaram até a fazer esforços para conter o avanço da escravização. Contudo,
esbarravam na resistência das elites, que não pretendiam abrir mão dos benefícios obtidos com o
negócio do tráfico, e dos próprios traficantes nativos e europeus. A partir do fim do século XVII, a
autoridade do manicongo decresceu sensivelmente e o poder político fragmentou-se.
Paralelamente, aumentou a influência portuguesa na região, culminando com a ocupação do litoral
e, a seguir, de São Salvador, no século XIX.
All Maps
Mapa da África com a localização de seus principais reinos em diferentes períodos históricos. O reino do
Congo está indicado na região da África centro-ocidental.
All Maps
Luanda era território controlado pelo manicongo, embora estivesse localizada em outro reino, cuja
autoridade máxima cabia ao Ngola – daí ser conhecido como reino de Angola. Nela era explorado o
Nzimbo, usado como moeda no reino do Congo.
Poucos anos depois, os holandeses, que disputavam com os portugueses o controle sobre o
comércio de escravos do porto de Luanda, aliaram-se à rainha Jinga, reacendendo os conflitos na
região. Foi somente em meados do século XVIII que a situação se resolveu, com um novo acordo
entre os portugueses e os governantes do Dongo. Apesar disso, somente no século XIX os
portugueses conseguiram finalmente avançar para o interior de Angola.
VOCÊ SABIA?
A rainha Jinga
Em 1624, com a morte do Ngola, a rainha Nzinga, ou Jinga, assumiu o controle do Dongo.
Inconformada com a submissão do antigo governante aos portugueses, a rainha iniciou uma longa e
insistente luta contra a presença lusitana no reino. Inteligente e perspicaz, expandiu seus domínios
até Matamba, região a nordeste do Dongo. Para se fortalecer na luta contra os portugueses, fez
alianças com os holandeses, que vinham se fixando na foz do rio Congo.
As lutas da rainha Jinga contra a influência lusa se prolongaram até 1648, quando os portugueses
conseguiram expulsar os holandeses do litoral de Angola. Enfraquecida, Jinga acabou firmando um
acordo de paz com os portugueses em 1656.
© Cavazzi da Montecuccoli, Giovanni Antonio
Na gravura, de 1622, a rainha Jinga, sentada nas costas de uma escrava, negocia de igual para igual com
uma autoridade portuguesa.
Página 68
4 Povos escravizados
Entre os séculos XVI e XIX, o tráfico de seres humanos afetou muitos povos que habitavam a África
Subsaariana. Embora fossem todos africanos, esses povos eram muito diferentes entre si. Línguas,
ritos, crenças, costumes e formas de organização política variavam bastante de um lugar para outro.
Entre os povos que foram trazidos para a América portuguesa, predominaram os falantes da língua
bantu (genericamente chamados de bantos) e os iorubas.
Os povos banto
Embora houvesse muitas diferenças entre os vários povos de língua bantu, eles compartilhavam
características comuns. Uma das mais importantes era um tipo de organização social baseada na
unidade familiar, nos laços de parentesco e de solidariedade. Um chefe de família procurava ter
muitas esposas e gerar uma prole numerosa. Os filhos garantiam o amparo na velhice e a
preservação da linhagem. Por essa razão, virilidade e fertilidade eram qualidades desejadas,
respectivamente, nos homens e nas mulheres.
Além da prole, os núcleos familiares bantos contavam com a participação de escravos, geralmente
prisioneiros de guerra. Esses escravos eram preferencialmente mulheres, que, além de multiplicar a
força de trabalho do grupo, contribuíam com seu crescimento ao gerar descendentes.
All Maps
Os bantos dedicavam-se principalmente à agricultura e, entre eles, a terra era um bem coletivo.
Cada chefe de família recebia um lote para ser cultivado e, em troca, pagava ao soba, líder local,
tributos em forma de prestação de trabalhos ou em produtos.
A maioria dos bantos praticava uma religião em que se cultuavam os antepassados e as entidades
associadas às forças naturais. Um traço forte da religião era o uso de imagens e objetos, os inquices,
como suporte das forças sobrenaturais. Feitos por sacerdotes especializados, eles seriam capazes
de colocar o mundo material em contato com o além, de modo que mobilizassem as forças
espirituais a serviço das necessidades e dos desejos humanos. Os rituais bantos incluíam sacrifícios
animais e, em alguns casos, humanos, como em Bissau e na Costa do Ouro.
Neste trabalho, de 1830, realizado durante sua permanência no Brasil, o pintor alemão Johann Moritz
Rugendas retratou indivíduos pertencentes a diferentes grupos bantos. Note como o artista procurou
registrar as diferenças de traços faciais, adornos, penteados e marcas étnicas, muitas vezes sutis, existentes
entre eles.
© Centre des archives d’Outre-mer
Nesta imagem, produzida pelo escocês Olfert Dapper, em 1686, vemos a cidade de Loango, no reino do
Congo. Observe a grandeza da cidade, em suas ruas retas e largas, e nas muralhas que cercam toda a sua
extensão.
Página 70
Os iorubas
O termo ioruba é usado para designar um conjunto de povos com língua e cultura aparentadas que
se estabeleciam no delta do rio Níger. Organizavam-se em cidades populosas, nas quais as
atividades comerciais tinham importância fundamental, mas também praticavam a agricultura. As
cidades, apesar de terem governos autônomos, mantinham vínculos entre si e estavam sob a
influência de Oió e Ifé, esta última considerada cidade sagrada e berço de todas as demais cidades
iorubas.
Em Ifé, havia uma monarquia de caráter religioso, personificada no oni. Ele representava os deuses
e governava um conjunto de aldeias, cujos chefes dependiam de sua aprovação para exercer o
poder. O oni vivia afastado do litoral, num palácio fortificado, cercado por muitas esposas e
auxiliares.
Ifé perdeu importância econômica a partir do século XVI, quando os núcleos urbanos mais
próximos do litoral começaram a prosperar em função dos contatos comerciais com os
portugueses. Todavia, ainda se manteve como importante centro de referência religioso e político
para as demais cidades iorubas nos séculos seguintes.
Entre os iorubas, assim como entre os bantos, os laços de parentesco eram muito importantes e a
família era a base da organização de toda a sociedade. Porém, enquanto entre os bantos a linhagem
era transmitida pela mulher, entre os iorubas a descendência era patrilinear – quer dizer,
transmitida pelo homem.
A religião baseava-se no culto aos orixás, antepassados deificados e divindades criadas por Olorum,
o deus supremo. Esses orixás relacionavam-se a forças específicas da natureza, como o raio e o
trovão, e regiam aspectos determinados da vida na Terra, como a justiça e a saúde. Em suas crenças,
os iorubas davam destaque especial à cabeça (ori), pois acreditavam que nela estava a essência do
indivíduo, sua alma e a ligação com o mundo dos orixás.
Granger Collection, Nova Iorque
Em função da importância que os iorubas dedicavam à cabeça, dedicavam atenção especial aos cuidados
com os cabelos. Diferentes cortes e penteados, alguns elaborados, como o desta imagem, datada do século
XIV, indicavam a posição social do indivíduo, sua função, se era casado ou solteiro etc.
Inquice da região de Loango. No inquice, cada detalhe continha um significado, e no interior dele eram
guardadas substâncias medicinais.
Página 71
Além disso, perseguidos pelos traficantes de escravos, muitos grupos foram obrigados a se deslocar
para lugares distantes daqueles com os quais estavam habituados e onde haviam desenvolvido
técnicas e estratégias de sobrevivência. Isso desorganizou a sociedade e, muitas vezes, colocou seus
membros em situação de enfrentamento com outros povos, com os quais precisaram disputar
territórios.
As incursões dos traficantes também causaram grande desorganização das economias locais.
Já nos Estados africanos que se associaram ao tráfico de escravos, cresceu a desigualdade social.
Graças aos lucros, formaram-se grupos abastados e ligados aos esquemas de captura, transporte e
comercialização de cativos.
A essas elites integraram-se muitos descendentes de europeus que haviam se estabelecido na África
e firmaram laços com chefes locais, geralmente por meio de casamentos. Vivendo entre dois
mundos (o europeu e o africano), esses mestiços eram bastante hábeis como intermediários entre
as autoridades locais e as estrangeiras. Tal papel transformou-os em sujeitos influentes, capazes
tanto de desestabilizar o governo de um chefe ou rei local que tentasse lhes impor limite, quanto de
prejudicar os planos de um Estado europeu que porventura ameaçasse seus negócios.
Biblioteca Nacional, Paris, França
Na época da escravidão, os povos da África não se identificavam como africanos, mas pela etnia, pelo clã,
pela família, pelo reino etc. As sociedades daquele continente possuíam uma identidade cultural bastante
diversa e complexa, que foi drasticamente alterada após a chegada dos europeus. Essa ilustração mostra o
aprisionamento de um africano, para ser comercializado como cativo. Foi feita para um livro de poemas, de
1809, na época em que se intensificava a campanha pelo fim do tráfico de escravos.
Página 72
VOCÊ SABIA?
Francisco Félix não foi um caso isolado. Como ele, muitos outros descendentes de escravos negros
retornaram à África, e não foram poucos os que passaram a intermediar os negócios entre os
traficantes brasileiros e os chefes e governos locais.
Library of Congress, Prints and Photographs Division, Nova Iorque, Estados Unidos
Outro efeito do crescimento do tráfico de escravos foi o desequilíbrio de forças entre os reinos e as
cidades africanas. A concentração de riqueza e poder nos Estados que mantinham contato com o
tráfico fez com que estes desbancassem reinos importantes de outrora. Assim, por alguns séculos,
certos Estados africanos, como o reino de Daomé, transformaram-se em verdadeiras potências no
continente.
Não podemos desprezar ainda o fato de a escravidão ter rompido as redes de parentesco e de
solidariedade que constituíam a base das sociedades africanas. Com essa ruptura, valores e
costumes tradicionais foram profundamente abalados.
6 Herança: preconceito
Várias sociedades antigas conheceram o regime da escravidão. Egípcios, gregos e romanos, entre
outros, fizeram uso do trabalho de cativos. Em todas essas sociedades, o que caracterizou esse
sistema de trabalho foi o fato de o escravo não ser senhor de si. Ou seja, ele era uma propriedade e,
como tal, podia ser vendido, emprestado, alugado ou herdado. Contudo, não existia nenhuma
relação entre cor de pele e escravidão. Escravos podiam ser brancos, negros ou asiáticos. Podiam
ser de qualquer sexo e origem.
Foi somente com a introdução do comércio de cativos na costa atlântica da África, a partir do século
XV, que a escravidão passou a ser associada à cor da pele. O negro se tornaria sinônimo de escravo.
A escravização das populações da África Negra logo seria justificada por diversas teorias,
desenvolvidas por viajantes, religiosos e pensadores europeus. Por mais de três séculos, o comércio
entre a África e a América foi intenso. Como consequência, criou-se um forte vínculo entre os dois
lados do Atlântico, marcado por fluxos constantes de mercadorias, pessoas e, sobretudo, costumes e
tradições culturais.
Diversas famílias de comerciantes espalharam-se pelo litoral e pelas terras dos dois continentes,
muitas vinculadas ao tráfico de escravos. A trajetória de Francisco Félix de Souza (vista no boxe
acima) serve de exemplo dessas relações que uniam as populações espalhadas ao longo do
Atlântico Sul.
Página 73
Mary Evans/Diomedia
Representações do demônio feitas na Europa durante a Idade Média e a Idade Moderna mostravam-no nu e
com a pele negra. Esse estereótipo acabou reforçando as teorias que associavam a cor negra ao mal. Ao
lado, gravura de cerca de 1600.
Uma dessas teorias sustentava que os negros pertenciam a uma espécie humana inferior, próxima à
animalidade, e que por meio da escravização poderiam ser introduzidos no mundo considerado
civilizado. Ou seja, a condição de escravos os tiraria da selvageria em que se encontravam, sendo,
nesse sentido, benéfica.
Dentre as teorias mais difundidas, uma afirmava que os negros seriam descendentes de Cã, que
depois de desonrar o pai foi expulso para terras distantes do sul, onde o sol escaldante teria
deixado a pele de seus descendentes negra.
Estes, amaldiçoados por Noé, estariam condenados a se tornar escravos dos irmãos de Cã e dos
descendentes deles.
Também fundamentada na religião, uma terceira justificativa para a escravização dos negros
apoiava-se na crença de que a pele escura era sinal da alma pecadora e que, por meio do trabalho
forçado, ela se purificaria. Para compor essa imagem, não faltaram descrições da natureza africana
que associavam insistentemente esse continente ao inferno.
Todas essas justificativas, no entanto, foram forjadas para legitimar a crescente demanda por mão
de obra voltada a abastecer as colônias europeias na América e nas ilhas atlânticas. Cientes disso,
alguns indivíduos, quase sempre padres, opuseram-se à escravização dos africanos. Durante
séculos, essas foram vozes isoladas. Somente no fim do século XVIII elas começariam a encontrar
eco, nos primeiros autores influenciados pelo Iluminismo.
History of American Missions to the Heathen
Nesta gravura de 1850, o artista retrata a sede de uma missão episcopal estadunidense na Libéria. A missão
tinha como objetivo cristianizar e civilizar os africanos. Note os campos bem cuidados e produtivos, as casas
espaçosas e os jardins bem tratados e cercados. Tudo tem um ar de organização e prosperidade. Em
primeiro plano, na parte inferior da imagem, vemos um negro no papel que lhe foi reservado nessa nova
sociedade: o de trabalhar nos campos de seus “salvadores”.
Página 74
Contudo, as críticas ao trabalho escravo não poriam fim ao preconceito construído contra os
negros, e as antigas justificativas para a escravização acabariam dando lugar, no século XIX, a uma
ideologia elaborada para permitir a exploração do continente africano pelos países imperialistas
em franca expansão e com suas práticas capitalistas.
De acordo com as novas teorias, os negros seriam como crianças ingênuas, incapazes de tomar
conta de si e de aproveitar de maneira racional os recursos dos quais dispunham. Caberia então aos
povos que se consideravam “civilizados” – e brancos – assumir a missão de tutelar os negros
africanos, bem como de administrar suas riquezas, conduzindo-os à vida dita “civilizada”.
Assim, o século XIX acabou com a escravidão, mas não com o preconceito que ela produziu. Com
nova roupagem, continuou alimentando as justificativas para a exploração de milhões de seres
humanos, espalhados por diferentes partes do globo.
• AO SEU REDOR •
No Brasil, mais da metade da população é negra – resultado de uma escravidão imposta aos
africanos pelos europeus ao longo de quase quatro séculos, que deixou como herança uma terrível
cultura racista. Ainda nos dias de hoje, essa imensa população afrodescendente é obrigada a
encarar uma difícil realidade de carências sociais e o intenso preconceito em relação à sua cor.
O rapper brasileiro Rashid viveu na pele essa realidade. De origem pobre, filho de pai branco com
mãe negra, conviveu desde jovem com o racismo, que hoje expõe em seu trabalho. Na música A
cena, por exemplo, ele conta uma história vivida por ele e seus amigos negros na adolescência,
durante uma abordagem policial.
Ao final da canção, o desabafo: O que fizemos aos senhores, além de nascer com essa cor? E de sorrir
lindamente diante de nossa amiga dor?.
1. No seu dia a dia, você identifica preconceito contra negros? De que maneiras esse preconceito
ocorre?
2. Junte-se a um grupo de colegas e criem um rap para falar de sua realidade em relação ao
preconceito racial. Terminem a canção com um desabafo ou uma sugestão para resolver a questão
do racismo.
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Desde a Antiguidade, povos do norte da África mantinham relações comerciais com populações
de outros continentes. Ao longo do tempo, o comércio estendeu-se para outras áreas do continente
africano, integrando-as a uma extensa rede comercial. Explique a importância dos muçulmanos
nesse processo.
2 Quando os portugueses aportaram na costa ocidental da África, o trabalho escravo já existia na
região. Em que aspecto a escravidão introduzida no continente pelos europeus se diferenciava da
escravidão então praticada na África?
c) Na imagem, alguns detalhes e objetos que compõem a cena contribuem para expressar
determinada ideia. Que detalhes e objetos são esses e que ideia expressam?
d) Explique como eram as relações entre os representantes dos Estados europeus interessados no
tráfico de escravos e os mandatários africanos da costa atlântica do continente.
5 Compare as teorias que justificavam a escravidão após o século XV com aquelas que legitimaram
o imperialismo no continente africano no fim do século XIX e início do século XX.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Pensar o tráfico
(...) O comércio de escravos com os europeus em nada contribuiu para satisfazer as necessidades
básicas da população africana. Todas as mercadorias trocadas por escravos eram bens supérfluos,
como tecidos asiáticos e europeus, vinho, tabaco, aguardente, cutelaria, armas de fogo e pólvora. Os
soberanos usavam esses bens para prestigiar e, ao mesmo tempo, alienar ou pacificar potenciais
concorrentes ao poder. No entanto, essa política nem sempre dava certo. Em 1774, por exemplo,
um golpe de Estado levou um novo soberano ao poder no Império Oió, justamente porque os seus
predecessores haviam abusado dessa política.
Além disso, os europeus não negociavam apenas com Estados centralizados. Sociedades
descentralizadas também participaram do comércio de escravos, a exemplo dos balantas da Guiné-
Bissau, que resistiram à invasão de seus vizinhos por meio do tráfico. Eles vendiam escravos em
troca de metais, que transformavam em ferramentas para expandir suas atividades agrícolas e
garantir sua independência.
Já os efiques, os ibibios e os ibos da baía de Biafra viam no comércio de escravos uma oportunidade
para o enriquecimento. Eles se apoiavam em sociedades secretas para conduzir seus negócios e
tinham ingleses e franceses como seus principais parceiros no tráfico. Portanto, seja para
sobreviver, seja para lucrar, as sociedades descentralizadas da África encontravam espaço
suficiente para participar do tráfico de escravos.
(...)
Nem todo indivíduo escravizado era vendido na costa africana. Um aspecto pouco observado pelos
historiadores é a forma como eram separados os que permaneciam cativos no continente daqueles
que eram vendidos no tráfico. Essa decisão cabia apenas aos africanos, que a tomavam com base
nas concepções culturais acerca da escravidão.
Um exemplo de como os fatores culturais interferiam nessa decisão é a proporção entre homens e
mulheres embarcados nos navios negreiros. A maioria dos que partiam para a América eram
adultos do sexo masculino. Os africanos preferiam mulheres e crianças como escravos, e vendiam
parte dos homens para a costa, exatamente o gênero que os europeus queriam levar para o Novo
Mundo. Isso também permitia que os nativos se livrassem de cativos indesejáveis, como soldados
de outros povos capturados em guerras. (...)
SILVA, Daniel Domingues da. Parceiros no tráfico. História Viva, São Paulo: Duetto, ano VI, n. 66, p. 36 -37.
1. De acordo com o autor do texto, com que objetivos os africanos se envolviam no tráfico de
escravos?
3. De acordo com o texto, pode-se afirmar que a participação das sociedades africanas no tráfico
de escravos ocorreu de maneira irrefletida e apenas como resposta ao estímulo oferecido pelos
comerciantes de além-mar? Justifique.
Página 76
b) Que regiões da América receberam mais escravos? De acordo com as informações do capítulo,
em que atividade esses escravos eram usados?
2. Escolha três portos americanos de grande desembarque de escravos no passado. A seguir, faça
uma pesquisa sobre a porcentagem de afrodescendentes e brancos existentes hoje nessas regiões.
Depois, responda: Existe ainda uma relação entre o tráfico de escravos ocorrido entre os séculos
XVI e XIX e o perfil étnico das populações da América? Elabore sua resposta com base nos dados
coletados.
Volte à abertura do capítulo e leia novamente as críticas do francês Louis Marie J. Ohier de
Grandpré à escravidão na África, e a solução proposta por ele para acabar com aquele degradante
sistema de trabalho. A seguir, leia este outro texto sobre a presença francesa na Argélia, em 1830,
quando Grandpré ainda vivia.
No século XIX, a Argélia foi invadida pela França. Por meio da tática de criar colônias agrícolas
militares que seriam bases de provisões junto às áreas de luta, os franceses procuraram minar a
resistência nativa, destruindo a agricultura árabe em razias com uma violência que não poupava
mulheres nem crianças. Apesar do bombardeio e da pilhagem das aldeias, os berberes, sob a
liderança de Kader, não se renderam, e foram expulsos para o sul. Kader foi preso na fronteira com
Marrocos em 1847, quando franceses apoiados na antiga administração turca defenderam a
participação árabe no governo, iniciando-se uma fase de “respeito” às instituições locais. Em 1845,
embora persistisse a insegurança, 40.000 colonos franceses haviam se estabelecido na Argélia. Em
1850 já era de 110.000 o número de colonos, entre franceses, italianos e espanhóis. O berbere,
então, perdendo a terra, tornou-se o proletário rural, caindo na miséria.
PRAXEDES, Rosângela Rocha. Albert Camus: identidade em crise. In: Revista Espaço Acadêmico. Paraná: Universidade Estadual de Maringá,
ano II, n. 13. jun. 2002.
Em grupo
1. Com base no texto de Grandpré, na seção “Vamos lá!” (início do capítulo), e no texto acima,
discuta com um grupo de colegas: A solução apontada por Grandpré para pôr fim à exploração do
trabalho escravo foi capaz de assegurar liberdade aos africanos? Por quê?
Projeto Interdisciplinar
Mas viver na cidade nem sempre é tão fácil quanto se imagina. A alta concentração demográfica,
somada à falta de planejamento por parte dos governantes, gera imensas desigualdades
econômicas e sociais, que se manifestam de diferentes formas.
Que recursos e serviços espera-se que existam em uma cidade, disponíveis para toda a sua
população? É possível construir uma cidade mais justa e equilibrada social e ambientalmente? Se
sim, quais seriam os critérios utilizados? Para refletir sobre essas questões, observe os documentos
a seguir e, depois, faça as atividades propostas.
Documento 1
A Piazza del popolo (Praça do povo, em português) é uma das mais conhecidas praças de Roma,
principalmente em razão de sua simetria e imponência. Até o século XIV, as cidades medievais
haviam se desenvolvido de maneira desordenada. Porém, devido às influências renascentistas,
surgiram projetos de cidades baseados no racionalismo e na proporção geométrica, como
observamos neste trecho da cidade de Roma. Esse modelo de cidade representava o desejo de
regulamentar a vida dos habitantes, distribuindo os lugares ocupados pelos indivíduos conforme as
funções que exerciam na sociedade.
Yevgenia Gorbulsky/Alamy/Fotoarena
Documento 2
O projeto de cidade industrial desenvolvido por Tony Garnier, em 1901, reflete o que seria uma
cidade ideal. Inspirada nos socialistas utópicos do século XIX, a planta divide a cidade em zonas: de
um lado fábricas, de outro moradias. Interligando esses espaços há ruas e avenidas cortadas por
grandes parques públicos, repletos de áreas verdes, com a função de oferecer lazer aos
trabalhadores. O movimento de especialização dos espaços da cidade surgiu com a necessidade de
separar as áreas industriais do tecido urbano. A cidade pré-Revolução Industrial mesclava
intimamente os alojamentos e as oficinas nas mesmas ruas, em volta dos mesmos pátios. Já as
cidades industriais ofereciam diferenciação dos espaços, ou seja, locais de trabalho não seriam mais
locais de vida doméstica. O projeto de Tony Garnier também faz referência a um novo movimento
na arquitetura: o planejamento urbano. Esse método permitiu uma avaliação mais precisa da
cidade, que passou a ser estudada como resultado de sua própria história. Hoje, urbanistas
defendem que a cidade ideal deve se desenvolver de forma econômica, social e ambientalmente
sustentável. Assim, seria necessária a adoção de medidas práticas, como a diminuição da emissão
de gases do efeito estufa, o descarte eficiente dos resíduos e o planejamento nos serviços de
transporte público.
Imagem da planta da cidade industrial do arquiteto Tony Guarnier – Cité Industrielle, project for an ideal
city, 1904.
Documento 3
yancom
Fonte: IBGE. Censos demográficos 1960, 1970, 1980, 1991, 2000 e 2010. Disponível em: <http://www.censo2010. ibge.gov.br/sinopse/index.
php?dados=9&uf=00>. Acesso em: 10 abr. 2016.
Página 79
Documento 4
Bruna Fava
2. Mostre como essas visões de cidade refletem as discussões e os debates promovidos nos
diferentes momentos históricos em que foram produzidas.
b) relacione os dados do gráfico referente à população urbana e rural no Brasil com as informações
da pirâmide etária.
• a situação dos principais serviços básicos existentes no espaço urbano (com destaque para a
coleta de lixo, tanto de resíduos sólidos como de lixo reciclável, e para o saneamento básico – água
tratada e serviço de esgoto);
• os programas culturais e esportivos existentes e o público (crianças, jovens, adultos, idosos) a que
se destinam.
5. Por meio da análise dos dados pesquisados na atividade anterior, você e seu grupo devem
indicar agora:
d) as ações que o grupo adotaria visando à construção de uma cidade sustentável. Para isso,
considerem os aspectos ambiental, social e econômico.
Página 80
b) As rotas saarianas haviam sido intensificadas com a expansão islâmica e articularam-se ao processo de
expansão comercial que envolveu também as rotas asiáticas de especiarias.
c) As rotas africanas do Saara foram interrompidas como périplo português, que ampliou e acelerou o
escoamento dos produtos do interior do continente.
e) As atividades mercantis africanas dependiam do trânsito de mercadorias de luxo vindas da Ásia, dado que o
continente africano não produzia esse tipo de mercadoria.
I. O pensamento político e econômico dos iluministas correspondia aos anseios da burguesia e ambos se
opunham ao Positivismo.
Estão corretas:
01) A constituição aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte adotou a monarquia constitucional como
forma de governo, aboliu o que restava do feudalismo, ratificou o direito à propriedade privada e instituiu a
liberdade de comércio.
02) A Revolução Francesa pode ser considerada uma antecipação da Primeira Guerra Mundial, pois ela dividiu
vários países europeus: os que defendiam as monarquias nacionais e os que defendiam a República como
forma de governo.
04) Homens guiados pelas ideias iluministas, trabalhadores urbanos e camponeses estavam entre os principais
grupos que participaram do movimento revolucionário.
08) Durante a Revolução, os girondinos (esquerda), conhecidos como Plátano, lutavam para restabelecer a
monarquia, e os jacobinos (direita), denominados Planície, objetivavam garantir a liberdade econômica, a
propriedade senhorial e a escravidão.
16) Com apoio do exército e da alta burguesia, Napoleão Bonaparte derrubou o Diretório e instituiu o
Consulado sob a sua própria liderança.
Era exatamente naquelas atividades – fábricas têxteis e oficinas – em que se impunha rigorosamente a nova
disciplina do tempo que a disputa sobre o tempo se tornava mais intensa. No princípio, os piores mestres
tentavam expropriar os trabalhadores e todo conhecimento sobre o tempo. “Eu trabalhava na fábrica do sr.
Braid”, declarou uma testemunha: “Ali trabalhávamos enquanto ainda podíamos enxergar no verão, e não
saberia dizer a que horas parávamos de trabalhar. Ninguém, a não ser o mestre e o filho do mestre, tinha
relógio, e nunca sabíamos que horas eram. Havia um homem que tinha relógio (...) Foi-lhe tirado e entregue à
custódia do mestre, porque ele informava aos homens a hora do dia (...)”.
THOMPSON, Edward Palmer. Costumes em comum: estudos sobre cultura popular tradicional. São Paulo: Companhia das Letras, 2008. p. 293.
Sobre as relações de trabalho e seus movimentos de resistência ao longo da história, é CORRETO afirmar que:
01) como reflexo das alterações nas relações de trabalho decorrentes da Revolução Industrial, originaram-se
movimentos de resistência como o Ludismo, reconhecido pela destruição das máquinas como forma de
protesto contra as relações de trabalho.
02) a publicação da Carta de Obrigações em 1830, resultante do movimento conhecido como Cartismo, foi uma
reação vitoriosa da burguesia industrial britânica contra os movimentos operários que lutavam por melhores
condições de trabalho.
04) no contexto da Revolução Industrial, os industriais recorriam ao trabalho feminino e à exploração da mão
de obra infantil como opção para não aumentar os custos da produção.
08) nas últimas décadas, o aumento da participação da mulher na força de trabalho em todo o mundo, somado
às lutas feministas, acabou garantindo a paridade salarial com os homens.
16) em 1848, os alemães Karl Marx e Friedrich Engels lançaram o Manifesto Liberal, obra em que sintetizavam
a visão de que a luta de classes era o motor da história e defendiam a organização da burguesia industrial para
redefinir a estrutura social e econômica existente.
32) apesar da abolição da escravatura no Brasil em 1888, diversas denúncias de condições de trabalho
análogas às da escravidão continuam sendo registradas no país.
Página 81
5. (Uerj)
Pompeo Batoni. Kaiser José II e o Grão-Duque Leopoldo da Toscana. Óleo sobre tela, 1769.
Na pintura de Pompeo Batoni, de 1769, estão representados dois imperadores austríacos do Antigo Regime:
José II e seu irmão Leopoldo II. No detalhe, pode-se observar um exemplar em francês do livro O espírito das
leis, de Montesquieu, expoente da Ilustração ou Iluminismo. A presença do livro na pintura não é meramente
decorativa, mas revela modos e práticas de governo adotados por diversos Estados europeus no século XVIII.
Nomeie esse modo de governar. Em seguida, apresente uma ação promovida por monarquias europeias que
empreenderam tais práticas.
6. (Unicamp-SP) O livro Utopia, escrito pelo humanista Thomas More, em 1516, divide-se em duas partes. Na
primeira, More descreveu a situação de seu país, dizendo:
(...) os inumeráveis rebanhos que cobrem hoje toda a Inglaterra são de tal sorte vorazes e ferozes que devoram
mesmo os homens e despovoam os campos, as casas, as aldeias. Onde se recolhe a lã mais fina e mais preciosa,
acorrem, em disputa de terreno, os nobres, os ricos e até santos abades. Eles subtraem vastos terrenos da
agricultura e os convertem em pastagens, enquanto honestos cultivadores são expulsos de suas casas.
Adaptado de Thomas More, Utopia. São Paulo: Nova Cultural, 2000. p. 7 e 29 -30.
Na segunda parte do livro, More concebeu uma ilha imaginária chamada Utopia.
a) Explique o que foi o processo de cercamentos ocorrido na Inglaterra a partir do século XVI.
7. (UFMG) Leia este trecho, em que se faz referência à construção do mundo moderno:
(...) os modernos são os primeiros a demonstrar que o conhecimento verdadeiro só pode nascer do trabalho
interior realizado pela razão, graças a seu próprio esforço, sem aceitar dogmas religiosos, preconceitos sociais,
censuras políticas e os dados imediatos fornecidos pelos sentidos.
(CHAUÍ, Marilena. Primeira filosofia. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 80.)
Com base na leitura desse trecho, é CORRETO afirmar que a formação do mundo moderno se carac teriza por:
a) nova postura com relação ao conhecimento, a qual transforma o modo de entendimento do mundo e do
próprio homem.
Assinale a opção que contém a relação corre ta entre a fundação e a formação dos Estados Unidos.
a) A Revolução Americana de 1776 representou, nos Estados Unidos, a presença dos valores da Revolução
Francesa, mostrando como os americanos estavam sintonizados com a Europa e não queriam se separar da
Inglaterra.
b) A Revolução Americana de 1776 foi o episódio que representou, de forma mais cabal, a presença da
tradição dos primeiros colonos, através do sentido de liberdade e da ideia de “destino manifesto”.
c) A Revolução Americana de 1776 apresentou valores que eram oriundos das culturas indígenas da região
americana e por isso garantiu a expressão radical de liberdade, na revolução.
d) A revolução de 1776 foi um episódio isolado na história dos Estados Unidos, pois fundamentou-se em
valores de unidade que não foram capazes de fazer dos Estados Unidos um país americano.
e) A Revolução Americana de 1776 foi apenas um ensaio do que ocorreria no século XIX nos Estados Unidos,
por isso, podemos pensá-la como um apêndice da Guerra de Secessão, esta sim, vinculada à Revolução
Francesa.
9. (Unifesp) O que queremos dizer com a Revolução? A guerra? Isso não foi parte da Revolução; foi apenas um
efeito e consequência dela. A Revolução estava nas mentes das pessoas e foi levada a cabo de 1760 a 1775, no
curso de quinze anos, antes que uma gota de sangue fosse derramada em Lexington.
O texto:
b) confirma que a guerra entre os Estados Unidos e a Inglaterra foi uma revolução.
d) defende que a criação dos Estados Unidos foi precedida de uma revolução.
10. (Enem) Algumas transformações que antecederam a Revolução Francesa podem ser exemplificadas pela
Página 82
mudança de significado da palavra “restaurante”. Desde o final da Idade Média, a palavra “restaurant”
designava caldos ricos, com carne de aves e de boi, legumes, raízes e ervas. Em 1765 surgiu, em Paris, um local
onde se vendiam esses caldos, usados para restaurar as forças dos trabalhadores. Nos anos que precederam a
Revolução, em 1789, multiplicaram-se diversos “restaurateurs”, que serviam pratos requintados, descritos em
páginas emolduradas e servidos não mais em mesas coletivas e malcuidadas, mas individuais e com toalhas
limpas. Com a Revolução, cozinheiros da corte e da nobreza perderam seus patrões, refugiados no exterior ou
guilhotinados, e abriram seus restaurantes por conta própria. Apenas em 1835, o Dicionário da Academia
Francesa oficializou a utilização da palavra restaurante com o sentido atual.
a) a ascensão das classes populares aos mesmos padrões de vida da burguesia e da nobreza.
d) a consolidação das práticas coletivas e dos ideais revolucionários, cujas origens remontam à Idade Média.
11. (FGV) Entre 1814 -1815, representantes das nações europeias reuniram-se no chamado Congresso de
Viena. As principais discussões desses encontros giraram em torno:
a) da adoção do Código Napoleônico por todos os Estados europeus, como forma de modernizar as
instituições sociais e adequá-las ao desenvolvimento capita lista do período.
12. (UFSCar-SP) (...) os deputados do povo não são, nem podem ser, seus representantes; não passam de seus
comissários, nada podendo concluir definitivamente. É nula toda lei que o povo diretamente não ratificar e, em
absoluto, não é lei. O povo inglês pensa ser livre e muito se engana, pois o é somente durante a eleição dos
membros do parlamento; logo que estes são eleitos, ele é escravo, não é nada. Durante os breves momentos de
sua liberdade, o uso que dela faz mostra que bem merece perdê-la.
b) reflexões sobre a legitimidade de representação do povo inglês no parlamento, feitas por Locke, durante a
fase mais radical da Revolução Francesa.
c) análise do poder, feita por Maquiavel, defendendo a constituição de um Estado forte, fundado na relação de
representação direta do povo diante do poder do príncipe.
d) críticas filosóficas iluministas feitas por Rousseau ao sistema político de representação, com a defesa da
participação direta do povo nas decisões do Estado.
e) estudo crítico socialista de Marx sobre a importância da participação direta do proletariado na organização
do sistema político de representação parlamentar inglês.
13. (Enem) Em 4 de julho de 1776, as 13 colônias que vieram inicialmente a constituir os Estados Unidos da
América (EUA) declaravam sua independência e justificavam a ruptura do Pacto Colonial. Em palavras
profundamente subversivas para a época, afirmavam a igualdade dos homens e apregoavam, como seus
direitos inalienáveis, o direito à vida, à liberdade e à busca da felicidade. Afirmavam que o poder dos
governantes, aos quais cabia a defesa daqueles direitos, derivava dos governados. Esses conceitos
revolucionários que ecoavam o Iluminismo foram retomados com maior vigor e amplitude 13 anos mais tarde,
em 1789, na França.
(COSTA, Emília Vioti da. Apresentação da coleção. In: POMAR, Wladimir. Revolução Chinesa. São Paulo: Unesp, 2003. Com adaptações.)
Considerando o texto acima, acerca da independência dos EUA e da Revolução Francesa, assinale a opção
correta.
a) A independência dos EUA e a Revolução Francesa integravam o mesmo contexto histórico, mas se
baseavam em princípios e ideais opostos.
c) Tanto nos EUA quanto na França, as teses iluministas sustentavam a luta pelo reconhecimento dos direitos
considerados essenciais à dignidade humana.
d) Por ter sido pioneira, a Revolução Francesa exerceu forte influência no desencadeamento da independência
norte-americana.
e) Ao romper o Pacto Colonial, a Revolução Francesa abriu o caminho para as independências das colônias
ibéricas situadas na América.
14. (UFF-RJ) A consolidação da industrialização como característica do mundo moderno não foi tarefa fácil.
Foram os pensadores do século XVIII e do século XIX que forneceram os principais argumentos para legitimar
a combinação entre indústria e modernização.
Uma das alternativas abaixo associa, corretamente, um pensador ao sistema de ideias. Assinale-a:
c) Voltaire / Evolucionismo.
e) Descartes / Existencialismo.
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15. (Unesp) (...) Para [certos autores] (...), a reunião dos trabalhadores na fábrica não se deveu a nenhum
avanço das técnicas de produção. Pelo contrário, o que estava em jogo era justamente um alargamento do
controle e do poder do capitalista sobre o conjunto de trabalhadores que ainda detinham os conhecimentos
técnicos e impunham uma dinâmica do processo produtivo. (...)
Os argumentos apresentados no texto permitem concluir que o espaço da fábrica relaciona-se com:
16. (Enem) (…) Um operário desenrola o arame, o outro o endireita, um terceiro corta, um quarto o afia nas
pontas para a colocação da cabeça do alfinete; para fazer a cabeça do alfinete requerem-se 3 ou 4 operações
diferentes (…)
(SMITH, Adam. A riqueza das nações. Investigação sobre a sua natureza e suas causas. Vol. I. São Paulo: Nova Cultural, 1985.)
© Intercontinental Press
III. Ambos contêm a ideia de que o produto da atividade industrial não depende do conhecimento de todo o
processo por parte do operário.
a) I está correta.
b) II está correta.
d) I e II estão corretas.
Essa revolução industrial, que nasceu na Inglaterra do século XVIII e se propaga, no século XIX, pelo
continente, na França, na Bélgica, a oeste da Alemanha, no Norte da Itália e em alguns pontos da península
Ibérica, repousa no uso de uma nova fonte de energia, o carvão, e nos desenvolvimentos das máquinas, depois
das invenções que modificam as técnicas de fabricação. A conjunção desses dois fatores, a aplicação dessa
energia nova à maquinaria, constitui a origem da Revolução Industrial, cujo símbolo é a máquina a vapor.
(RÉMOND, R. O século XIX: 1815 -1914. Introdução à história de nosso tempo – 2. São Paulo: Cultrix, 1976. p. 103.)
I. Com a Revolução Industrial e o crescimento da nova indústria, surgiu uma classe inteiramente nova de
trabalhadores: os operários assalariados.
II. O crescimento das unidades industriais desde a Revolução Industrial propiciou também o surgimento da
categoria de empresários possuidores de capitais.
III. A Revolução Industrial atingiu mais a população campesina que a urbana, pois esta se constituía em parcela
da sociedade excluída das transformações empreendidas nas cidades.
IV. A Revolução Industrial não solucionou os problemas dos trabalhadores. O número de empregos era menor
que o da mão de obra disponível e, assim, surgiu o chamado “exército de reserva de mão de obra”.
a) I e II.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e IV.
e) I, III e IV.
18. (ESPM-SP) A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão terá grande repercussão no mundo inteiro.
O documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a
favor de uma sociedade democrática e igualitária. A propriedade privada era um direito natural, sagrado,
inalienável e inviolável.
19. (UEL-PR) A Revolução Francesa representou uma ruptura da ordem política (o Antigo Regime), e sua
proposta social desencadeou:
a) a concentração do poder nas mãos da burguesia, que passou a zelar pelo bem-estar das novas ordens
sociais.
b) a formação de uma sociedade fundada nas concepções de direitos dos homens, segundo as quais todos
nascem iguais e sem distinção perante a lei.
c) a formação de uma sociedade igualitária regida pelas comunas, organizadas no campo e nas periferias
urbanas.
d) convulsões sociais, que culminaram com as guerras napoleônicas e com a conquista das Américas.
UNIDADE II
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A conquista da autonomia
• A exploração do ouro
• O período regencial
CAPÍTULO 7
All Maps
Fonte: SIMIELLI, Maria Elena. Atlas geográfico escolar. São Paulo: Ática, 2013. p. 135.
ELABORANDO HIPÓTESES
3 Folheie as próximas páginas e observe os mapas deste capítulo. Depois, escreva um texto sobre a
ocupação do território brasileiro. Para isso, considere:
Expulsos pelos portugueses (1567), retornaram anos depois, desta vez para o litoral do atual
estado do Maranhão (1612), com o plano de formar uma colônia, a França Equinocial. No entanto,
após fundarem o forte de São Luís, foram novamente expulsos pelos portugueses, que se apossaram
em definitivo da região.
A prática da pirataria também foi utilizada pelos ingleses, sobretudo entre os séculos XVI e XVII,
quando tentaram dominar terras da América portuguesa.
Na década de 1590, por exemplo, saquearam cidades como Santos e São Vicente e destruíram
engenhos. O mesmo se repetiu na cidade do
Recife e na capitania do Espírito Santo. As disputas por terras intensificaram-se por causa de
mudanças profundas no cenário político europeu, com a anexação de Portugal pela Espanha, na
chamada União Ibérica (ver item a seguir). Além do aumento da pirataria, esse cenário levou à
ocupação das áreas açucareiras do atual Nordeste pelos holandeses.
Em resumo, ao longo dos séculos XVI e XVII, praticamente não se podia afirmar qual reino europeu
manteria sob controle as terras consideradas portuguesas pelo Tratado de Tordesilhas. A unidade
desse território sob comando lusitano é resultado de um longo processo, marcado por lutas e,
sobretudo, pela ação silenciosa de incontáveis colonos que diversificaram as atividades,
espraiando-se pelo litoral e adentrando as florestas americanas.
sxc.hu
Além de explorar e povoar, os portugueses deviam defender o território colonial. Entre os séculos XVI e
XVIII, o governo da metrópole determinou a construção de uma série de fortes militares em áreas
consideradas estratégicas. Essas fortificações deram origem a muitas das atuais cidades do Brasil. Vários
desses fortes existem até hoje e são pontos turísticos ou abrigam repartições públicas. Acima, foto atual da
Fortaleza de Santa Cruz, na ilha de Anhatomirim, Florianópolis, que começou a ser construída em 1739.
O rei, juntamente com grande parte de seus exércitos, sumiu durante o conflito, e, assim, não deixou
descendentes diretos. O cardeal dom Henrique, tio-avô de dom Sebastião, assumiu o governo
português, mas faleceu logo depois (1580), sem deixar testamento indicando sucessor.
Teve início, então, uma disputa militar e política entre vários pretendentes ao trono português, cuja
decisão definitiva seria dada por uma junta de governadores portugueses.
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Felipe II, rei da Espanha, um dos pretendentes ao trono, não esperou a decisão. Com um exército de
cerca de 20 mil homens, invadiu Portugal e anexou o reino à Espanha, dando início à união das duas
coroas ibéricas. Para os espanhóis, o ato simbolizava a retomada de um antigo território, separado
na época da Reconquista. Para grande parte dos portugueses, significava ultraje e humilhação.
Hábil, Felipe II comprometeu-se em manter uma relativa autonomia do reino português. Ficavam
preservadas, por exemplo, as leis e as estruturas administrativas. As colônias portuguesas seriam
ainda mantidas unidas e submetidas a Portugal.
A unificação, porém, teve inúmeras consequências, a começar pelo fato de Portugal e suas colônias
se verem envolvidos nas disputas que ocorriam entre os Estados absolutistas pela hegemonia no
continente europeu.
Inglaterra, França e Holanda, por exemplo, fi zeram várias tentativas de invasão dos territórios
coloniais sob controle da Espanha, entre eles as ricas áreas produtoras de açúcar na América
portuguesa. Nessa investida, os holandeses destacaram-se, tendo dominado por vários anos as
áreas produtoras de açúcar no atual Nordeste brasileiro.
Nessa época, como vimos, a Holanda integrava os chamados Países Baixos, sob controle do governo
espanhol dos Habsburgos. Em 1581, porém, conquistou autonomia com o auxílio dos ingleses,
formando a República das Províncias Unidas. A situação de conflito com os espanhóis, porém,
permaneceu até 1648, quando a guerra chegou ao fim e os ibéricos reconheceram a autonomia
holandesa.
Mesmo antes de o conflito terminar, a Holanda já era uma das principais potências europeias. Por
meio de companhias privadas de comércio, marcava presença na Ásia, África e América. A capital,
Amsterdã, constituía-se em importante centro comercial e financeiro, no qual muitos lucravam com
as boas relações mantidas com o governo e os comerciantes portugueses.
Para minar esse poderio econômico, o rei espanhol Felipe II determinou que todos os territórios
sob seu domínio, incluindo as colônias portuguesas, interrompessem o comércio com os
holandeses. Estes, ameaçados de perder o lucrativo negócio, reagiram invadindo os territórios
coloniais.
A ocupação
As invasões holandesas deram-se por meio de duas companhias comerciais. A primeira foi a das
Índias Orientais, fundada em 1602. Coube a ela organizar sobretudo ataques às regiões de negócios
com especiarias (Ásia) e tráfico de escravos (litoral da África).
A segunda, criada em 1621, foi a Companhia das Índias Ocidentais. Seu principal objetivo era
controlar o negócio do açúcar, ocupando as áreas de produção, desde a região dos engenhos, na
América, até os portos fornecedores de escravos, na África. Com essa missão, uma esquadra
holandesa invadiu Salvador em 1624.
Sem apoio do governo, que enfrentava o ataque de uma poderosa esquadra espanhola, e
pressionados pelos colonos, que resistiam à invasão, os holandeses foram expulsos no ano seguinte.
Apesar do fracasso, fizeram novo ataque à Bahia (1626) e também invadiram Cuba (1628), obtendo
grandes lucros.
Coleção Particular
A gravura, feita em cobre no século XVII, representa o ataque holandês à cidade do Salvador, na América
portuguesa, em 1624.
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A situação mudou quando Domingos Fernandes Calabar, homem que conhecia bem a região, passou
a fornecer informações sobre os portugueses aos holandeses – que, com essa ajuda, puderam
avançar pelo território, enfraquecendo a resistência comandada por Albuquerque. Abrigados em
terras do atual estado de Alagoas, também sob domínio holandês, os portugueses conseguiram
finalmente prender e enforcar Calabar.
Maps World
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1991.
O território sob domínio holandês na América atingiu sua maior extensão em 1641: abrangia praticamente
a metade das 14 capitanias existentes.
A administração holandesa
Durante a ocupação holandesa, Nassau realizou várias obras, sobretudo na cidade do Recife, como
saneamento, calçamento de ruas, e construção de edifícios, pontes e canais. O novo governo
incentivou ainda estudos de medicina e história natural e promoveu um amplo reconhecimento da
flora e fauna locais.
Para isso, vieram da Europa diversos estudiosos, como os botânicos e naturalistas Georg Marcgraf e
William Piso. A iniciativa resultou em intensa produção cultural, inclusive de pintores convidados
por Nassau, entre eles Frans Post e Albert Eckhout. Parte significativa dessa produção registrava a
paisagem da colônia mesclada à de outras regiões que compunham os vastos domínios coloniais
holandeses, sobretudo na África (ver boxe da p. 90).
Durante o domínio holandês, existiu também relativa liberdade religiosa. A maioria dos novos
ocupantes era protestante calvinista, mas permitia-se que católicos e judeus professassem seus
credos.
O fato de a maioria dos holandeses ser calvinista atraiu protestantes de várias partes da Europa. A
liberdade religiosa estabelecida favoreceu também os judeus. Por volta de 1640, seriam construídas no
Recife as duas primeiras sinagogas da América do Sul, cada uma num lado da cidade, como a retratada em
foto atual, acima. A liberdade religiosa, porém, tinha seus limites: cristãos e judeus, por exemplo, não
podiam se casar oficialmente.
Página 90
VESTÍGIOS DO PASSADO
Albert Eckhout
Entre os artistas holandeses que estiveram na América portuguesa, Albert Eckhout é um dos mais
conhecidos. Viveu no Recife entre 1637 e 1644 e elaborou 26 quadros para serem expostos na
residência de Maurício de Nassau e mais de 400 esboços de desenhos.
Em seu trabalho, buscava representar os habitantes da América holandesa, tanto os nativos como
os europeus e os africanos. Ele pintou também naturezas-mortas e animais. Sua obra, muitas vezes,
é considerada uma das mais significativas representações do empreendimento holandês.
Frans Post
Frans Post esteve na América no mesmo período de Eckhout. Veio por intermédio de seu irmão,
arquiteto particular de Maurício de Nassau. Sua função era retratar a natureza, em especial a
topografia. Devia também pintar a arquitetura militar e civil e cenas de batalhas navais e terrestres.
Ao voltar para a Holanda, em 1644, instalou-se na cidade de Harlem, onde continuou pintando
temas americanos.
Coleção particular
Sua mais importante incumbência foi construir um observatório, que nunca chegou a ficar pronto,
para acompanhar o eclipse de 1640. Saiu do Recife com destino a Luanda, em Angola, para dar
continuidade a suas pesquisas, mas faleceu no ano seguinte.
Coleção particular
Tudo isso causou o descontentamento dos portugueses em relação ao domínio espanhol. Até que,
em 1640, com o apoio da Inglaterra e da Holanda, um movimento liderado pelo duque de Bragança
conseguiu expulsar as forças espanholas.
Ataques derradeiros
Nos primeiros momentos, os colonos não contaram com o auxílio do governo português, impedido
de intervir por causa da Trégua dos Dez Anos. A população então se armou com a colaboração dos
senhores de engenho, intensificando os ataques ao inimigo. As principais batalhas ocorreram entre
1648 e 1654, quando os holandeses se renderam. O movimento ficou conhecido como Insurreição
Pernambucana.
Nesse meio-tempo, na Europa, a Holanda envolveu-se em outros confrontos que reduziram seu
poder. Em 1651, com a decretação do Ato de Navegação pelos ingleses, os comerciantes holandeses
diminuíram sua participação no transporte de mercadorias e, em 1652, foram à guerra contra os
ingleses. Em 1654, saíram derrotados.
As duas vitórias obtidas nas Batalhas dos Guararapes são consideradas importantes para o sucesso da
Insurreição Pernambucana. Este é um dos poucos registros da época. Trata-se de uma peça votiva, do
século XVII, que representa o conflito.
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5 A expansão da colônia
Durante a União Ibérica, a colonização portuguesa na América se interiorizou, sobretudo em
decorrência do relaxamento das fronteiras coloniais entre Portugal e Espanha. Assim, apesar dos
ataques estrangeiros, Portugal conseguiu ampliar seus territórios americanos. Para isso foi
fundamental a ação de inúmeros personagens, como militares, jesuítas, pecuaristas e, sobretudo, os
chamados bandeirantes.
Essas expedições, conhecidas como bandeiras, muitas vezes partiam da vila de São Paulo, no
planalto de Piratininga. Entre seus principais objetivos estava a captura de indígenas, então
chamados negros da terra, para serem comercializados como escravos.
Mario Yoshida
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1991.
Primeiro conhecidos como gentes de São Paulo ou paulistas, só no século XVIII foram chamados de
bandeirantes. As expedições que comandavam eram compostas, em geral, de nativos (transformados em
aliados), escravos e alguns poucos europeus. Todo o efetivo podia reunir desde algumas dezenas de pessoas
até várias centenas. No mapa, algumas das bandeiras mais conhecidas.
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O período da União Ibérica favoreceu o comércio de escravos nativos, pois os portos de trato
africanos estavam sob domínio holandês. Os nativos que permaneciam na vila de São Paulo
trabalhavam nas lavouras locais ou eram destinados ao transporte de mercadorias entre o planalto
e o litoral. Os paulistas negociavam gêneros agrícolas, e produtos como aguar dente, rapadura e
queijo.
Além do apresamento indígena, os bandeirantes buscavam ouro e pedras preciosas. Sob contrato,
punham-se também a serviço dos senhores e funcionários do governo para capturar escravos
fugidos e destruir quilombos. É o caso de Domingos Jorge Velho, que atacou o quilombo dos
Palmares.
As bandeiras que partiam em busca de metais preciosos só obtiveram sucesso no fim do século
XVII, com a descoberta de grandes veios auríferos na atual região de Minas Gerais. Uma das
primeiras descobertas foi feita pelo bandeirante Antônio Rodrigues Arzão, entre 1693 e 1695 (ver
capítulo 8).
Rudes exploradores
Museus, monumentos e livros de história retratam o bandeirante como um forte que desbravou os
sertões e contribuiu para formar o Brasil.
A construção dessa imagem teve início no século XX, na mesma época em que a cidade de São Paulo
crescia e o estado se tornava o de maior poder no país. O bandeirante simbolizava, assim, um
passado tão grandioso quanto o presente.
Percorrendo vários quilômetros a cada dia, durante meses a fio, era comum a comida e a água
escassearem. Para contornar o problema da alimentação, os bandeirantes costumavam fazer
pequenas roças de subsistência ao longo do caminho.
O alimento cultivado era colhido no retorno ou por grupos que vinham depois. Na bagagem, eles
costumavam levar feijão, farinha, toucinho e galinha, mas estes apenas para os doentes.
Percorrendo, em geral, as margens dos rios, muitas das paradas se transformaram em vilas, e de
pois em cidades.
Os bandeirantes eram homens rudes, com muitas histórias de crueldade, sobretudo contra os povos
indígenas. Roubavam, pilhavam. Um de seus alvos preferidos eram as missões, sobretudo na parte
sul do continente, onde os nativos foram acostumados ao trabalho sistemático e também aos
hábitos europeus.
A sociedade formada pelos bandeirantes distinguiu-se das outras sociedades existentes na colônia.
A estreita convivência com os indígenas fez com que adquirissem vários hábitos nativos, que se
misturaram aos costumes europeus (ver boxe abaixo).
• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
As mulheres na colonização
Ao longo do tempo, criou-se a imagem de que, no período colonial, as mulheres permaneciam
reclusas em casa, à espera de bom casamento. Quase sem sair à rua, elas aprendiam tarefas como
costurar, lavar e comandar os escravos domésticos, além de rezar. Passavam assim da tutela do pai
para a do marido, para criar filhos.
A realidade, entretanto, parece um pouco diferente, sobretudo entre as mulheres que não
pertenciam à elite. Nas décadas iniciais da colonização, por exemplo, a maioria das mulheres que
viviam em São Paulo era indígena. Chamadas cunhãs, era com elas que os colonizadores se
casavam, muitas vezes em uniões temporárias e poligâmicas, sem o consentimento da Igreja. Essas
mulheres foram as responsáveis por formar as primeiras famílias paulistanas, mesclando no
interior dos lares hábitos indígenas a europeus.
No século XVII, o universo feminino na vila de São Paulo podia ser dividido em três grupos. Um
deles era formado pelas descendentes das primeiras famílias de colonizadores. Pertencentes à elite
local, estas sim eram guardadas para o casamento. Outro grupo era o das mulheres pobres, que
cuidavam de pequenos roçados. O terceiro era formado pelas índias, muitas delas trazidas pelos
bandeirantes. Elas viviam na condição de aldeadas, sob a responsabilidade dos clérigos, ou como
escravas.
Mas mesmo as mulheres reservadas ao casamento cumpriam papel social importante. Ao casar,
levavam para o novo núcleo familiar um volume maior de
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riquezas do que os homens. Eram terras e escravos com os quais se podia iniciar a nova família.
Elas ainda administravam os negócios familiares nas longas ausências do marido ou do filho mais
velho, cuidando de atividades como a comercialização dos excedentes produzidos na propriedade.
Habitantes da cidade de São Paulo, Jean-Baptiste Debret, séc. XIX. O manto de baeta, tecido grosseiro de lã,
era muito usado pelas mulheres paulistas do período colonial quando saíam às ruas.
Por causa das grandes distâncias e da precariedade dos caminhos, a maior parte dos núcleos
coloniais existentes mantinha contato mais estreito com a Europa ou a África do que com outras
partes da América.
Para navegar, por exemplo, entre a atual região da Amazônia e o litoral do Nordeste era preciso
fazer uma volta pelo Atlântico e passar próximo às ilhas Canárias, quase na Europa. Já quando o
destino era a África, as rotas marítimas eram mais rápidas, seguras e confortáveis, o que facilitava o
tráfico de escravos e o comércio de inúmeras mercadorias entre os dois continentes. A integração
era tamanha que inúmeras famílias de comerciantes se ramificavam pelas principais cidades dos
dois continentes.
Criação de gado
A pecuária se desenvolveu, a princípio, como atividade complementar à produção açucareira. Além
do uso na alimentação, o gado servia como animal de carga e para tração nos engenhos. Com o
crescimento da atividade, porém, as criações começaram a ocupar a área destinada ao cultivo da
cana.
Esta imagem, feita por J. M. Rugendas em 1824, mostra Matosinho, próximo a São João Del Rei, na região
mineradora. Ao fundo, é possível perceber uma criação de gado.
metros entre o litoral e o interior e que compreendia as principais áreas agrícolas, com bom solo e
mais próximas dos portos de embarque para o exterior.
Assim, o sertão nordestino passou a ser ocupado, em especial às margens do rio São Francisco,
onde foram implantadas fazendas de gado, conhecidas como currais. Nas capitanias do Maranhão e
do Ceará, por sua vez, as pastagens começaram a se formar no século XVII.
Os escravos foram pouco utilizados na atividade pecuária. Isso porque ela exigia menor número de
trabalhadores e, além disso, era feita em áreas extensas, o que aumentava a possibilidade de fugas.
Muitas vezes, o trabalho era pago em espécie, com cabeças de rebanho – a cada quatro bezerros
nascidos, um ficava com o peão.
A pecuária seria importante também na ocupação do atual sul do Brasil. Ali, a produção foi
incentivada pelo governo como forma de ocupação do território, então em disputa com a Espanha.
Assim como no nordeste, a pecuária no sul serviu para a produção de carne -seca (ou charque),
utilizada no abastecimento dos núcleos urbanos e das áreas agrícolas, especialmente a partir do
século XVIII, com o advento da mineração.
Exploração da Amazônia
As chamadas drogas do sertão foram as principais responsáveis pelo início da ocupação da
Amazônia. Constituíam-se de uma infinidade de plantas originárias da região ou ali aclimatadas,
como cacau, cravo, castanha, canela e salsaparrilha. Utilizadas como remédio, tintura ou tempero,
tinham grande aceitação dentro e fora do território colonial.
A coleta era controlada, sobretudo, por jesuítas e outras ordens religiosas, que dela auferiam bons
lucros, juntamente com o governo português. Os colonizadores aprenderam com os indígenas
diversos usos das drogas do sertão. Os nativos eram ainda os responsáveis pela coleta das drogas
no interior das densas matas. Abriram assim o caminho para que o colonizador conhecesse,
explorasse e ocupasse a região.
Coleção de Arte ABN Amro Real
Comercializado na África, o fumo era usado principalmente como moeda de troca na compra de
escravos. Na Europa, acreditava-se que ele possuía propriedades medicinais, transformando-o em
artigo de grande procura, sobretudo quando considerado de melhor qualidade, como o fumo
produzido na Bahia.
• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
Território usurpado
A expansão da conquista portuguesa para o interior do território americano foi ainda mais
dramática para os nativos dessas terras. Povos indígenas que viviam em áreas distantes da faixa
costeira ou que para elas migraram fugindo do colonizador passaram a ter de enfrentá-lo. E, nessa
disputa, ficaram em franca desvantagem. Leia o texto.
Salvador, agosto de 1672. Pelas portas da cidade entra um impressionante cortejo. À frente vem um chefe
paulista, Estevão Ribeiro Baião Parente, contratado pelas autoridades coloniais para debelar a ameaça
indígena que acometia as vilas baianas. Em seguida, seus comandados, portando armas de fogo e usando
capacetes ornados com plumas de papagaios e araras. Por fim, o grosso do grupo: 600 índios capturados,
guardados por cabos e capitães da tropa paulista. Os homens índios nus, os corpos pintados de azul, alguns
cobertos por plumas brancas, carregando arcos e flechas. As mulheres com genitálias tapadas com flocos de
ervas, portando aljavas, pequenas mochilas para carregar flechas.
As guerras de conquista de espaços ocupados pelos indígenas para a instalação das frentes pioneiras, que
marcaram o sertão baiano a partir de meados daquele século, foram um dramático capítulo da formação
territorial brasileira.
SANTOS, Márcio Roberto Alves dos. A conquista dos sertões. In: Revista de História, 1º- set. 2015. Disponível em:
<http://www.revistadehistoria.com.br/ secao/artigos-revista/a-conquista-dos-sertoes>. Acesso em: 10 abr. 2016.
Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro
Guerrilhas, gravura de Johann Moritz Rugendas, 1835. Observamos na imagem um confronto entre
indígenas e colonos. Diante do avanço do colonizador, os nativos impuseram dura resistência à ocupação de
suas terras e à ameaça de perda de sua liberdade.
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HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Explique por que, nos séculos XVI e XVII, foram construídas diversas fortificações militares no
litoral da América portuguesa.
Descreva como ocorreu o fim do domínio holandês em Pernambuco, apontando sua relação com a
Restauração portuguesa.
4 Com base no exemplo das bandeiras, explique como ocorreu a expansão da colônia portuguesa.
6 Releia o boxe “O estudo da história – As mulheres na colonização” (p. 93-94) e explique por que
o universo feminino, no período colonial, não estava restrito às mulheres que permaneciam
reclusas em casa, à espera de um bom casamento.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Partindo do litoral, os colonos foram aos poucos incorporando o território da América portuguesa
ao âmbito do Império: mundo sempre em movimento onde as hierarquias sociais se superpunham
com maior flexibilidade e rapidez; onde os limites geográficos foram, até meados do século XVIII,
fluidos e indefinidos; onde os homens inventavam arranjos familiares e relações interpessoais ao
sabor de circunstâncias e contingências; onde aldeias e vilarejos se erguiam de um dia para outro,
nada garantindo que durassem mais do que alguns anos ou que crescessem com a feição e o ritmo
das aglomerações urbanas do além-mar.
Foi nos espaços abertos e nas zonas distantes que se passou boa parte da história da colonização
lusitana na América: longe das igrejas e conventos erguidos nos núcleos administrativos do litoral;
longe dos engenhos de várzea pernambucana e do Recôncavo; longe dos povoados pioneiros, como
a vila de Porto Seguro ou de São Vicente, rústicos mais acessíveis às frotas periódicas que vinham
do Reino, e que, para as construções, traziam pedras lioz; para os engenhos, ferramentas e negros;
para os povoados, filhos segundos da nobreza, aventureiros de passado nem sempre impoluto, réus
da justiça civil ou inquisitorial, órfãs da rainha em busca de marido honrado e ambicioso.
MELLO E SOUZA, Laura. Formas provisórias de existência: a vida cotidiana nos caminhos, nas fronteiras e nas fortificações. In: História da vida
privada: cotidiano e vida privada na América portuguesa. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 42.
1. Compare a vida nos núcleos coloniais tradicionais com aquela nas áreas de fronteira.
2. Para a formação do Brasil, determine a importância das pessoas que viviam nas áreas de
fronteira.
3. E hoje, como podemos analisar a vida das pessoas que vivem em áreas isoladas dos centros
urbanos?
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Escravidão contemporânea
Atualmente, porém, ainda existem trabalhadores em condições análogas às de escravidão pelo país
afora. Embora essa atual modalidade de trabalho não contemple mais a compra e a venda de
pessoas, ela cerceia a liberdade de ir e vir dos trabalhadores e impõe-lhes o serviço forçado sob
ameaças e violências – física e psicológica. É o caso, por exemplo, de trabalhadores que são
obrigados à prestação de serviços a um empregador em decorrência de dívidas, em áreas rurais e
até mesmo em grandes cidades como São Paulo.
2. Troque ideias com os colegas e, juntos, respondam: Quais seriam as soluções para acabar
definitivamente com o trabalho análogo ao de escravidão no Brasil?
A história sobre a expansão territorial pode estar bem perto de cada um de nós. Vamos verificar?
Em grupo
3. Troquem seu texto com o de outro grupo e comparem as informações obtidas por ambos.
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CAPÍTULO 8
America portuguesa:
sociedade do ouro
Vamos lá!
Nascido na Bahia, Gregório de Matos viveu na América portuguesa antes da descoberta do ouro.
Chamado de Boca do Inferno por escrever versos satíricos, acabou degredado para Angola. Leia este
trecho de um de seus poemas.
Notável desaventura
de um povo néscio, e sandeu,
que não sabe, que o perdeu
Negócio, Ambição, Usura.
MATOS, Gregório de. Epílogo. Disponível em: <http://www.releituras.com/gmattos_menu. asp>. Acesso em: 10 abr. 2016.
Acervo Reminiscências
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Com base nos versos de Gregório de Matos, escreva um parágrafo a respeito do comportamento
das pessoas em meio à corrida pelo ouro.
b) Os versos de Gregório de Matos poderiam ser aplicados à região das Minas Gerais? Explique.
Página 100
1 Ouro!
O século XVII aproximava-se do fim quando as primeiras notícias da descoberta de grandes veios
auríferos começavam a surgir na América portuguesa.
A descoberta acontecia num momento em que Portugal e sua colônia atravessavam grave crise
econômica, provocada em grande parte pela União Ibérica. Em 1674, o próprio regente português,
dom Pedro, escreveu a vários bandeirantes oferecendo incentivos para que procurassem metais
preciosos pelos sertões do continente.
A primeira notícia segura do precioso metal surgiu em 1693. Veio pelo paulista Antônio Ruiz de
Arzão, após uma expedição ao interior do atual estado de Minas Gerais, para onde partira em busca
de indígenas. Corroborando a informação, trazia na bagagem 10 gramas do metal.
Dois anos depois, confirmou-se o achado. Em menos de um ano, a região então chamada sertão dos
Cataguases, em alusão aos indígenas que ali viviam, estaria densamente povoada por colonos e
aventureiros. Começava a corrida do ouro na América portuguesa.
Portugal transformou-se, então, no maior produtor mundial do minério. A colônia, por sua vez,
iniciou um rápido processo de transformações. Estima-se que em 20 anos tenham chegado à área
mineradora cerca de 150 mil pessoas, vindas de várias partes da colônia e do reino.
As atuais regiões Sul e Nordeste, por exemplo, forneciam carne e animais de carga. Em
consequência, abriram-se caminhos que interligaram núcleos coloniais antes incomunicáveis. A
colonização se interiorizava. Mas não sem custos.
Com a demanda crescente, os preços dos escravos e até dos gêneros alimentícios tiveram alta
significativa. Para não perder o controle e garantir os impostos, o governo fez diversas
modificações na estrutura colonial. Transferiu, por exemplo, o centro administrativo de Salvador
para o Rio de Janeiro.
Maps World
Fonte: ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: Fename/MEC, 1991.
A mineração concentrou-se sobretudo na então capitania de Minas Gerais e nos atuais estados de Mato
Grosso e Goiás, além de São Paulo e Bahia, áreas menos importantes. Minas Gerais, sem dúvida, foi o maior
produtor. Em consequência, nas duas primeiras décadas do século XVIII, vilas e cidades foram fundadas no
interior da colônia, em torno dos centros mineradores.
Necessitando de poucas sondagens, as jazidas eram exploradas de duas formas. Nas lavras, a
produção era organizada em grande escala, com muitas pessoas e o uso de equipamentos mais
sofisticados. Os faiscadores, por sua vez, realizavam uma extração bastante rudimentar, com o uso
de equipamentos simples, como bateias, carumbés e almocafres.
Graças à facilidade de exploração, marinheiros desertavam nos portos e iam para o interior em
busca do metal; vinham também aventureiros de diversos núcleos coloniais e de Portugal. O fluxo
era tão grande que causou o temor de despovoamento do reino.
Página 101
Entre todas essas pessoas, os paulistas julgavam ter direitos mais amplos. Afinal, eram os mais
antigos exploradores e os descobridores do ouro. Sentiam-se, assim, prejudicados pelas concessões
dadas pelo governo a outros colonos portugueses e pela presença dos demais aventureiros. Não
tardou para que a situação se transformasse em conflito.
Em 1707, dois paulistas foram linchados em Arraial Novo (atual cidade de São João del Rei). O
incidente acirrou as tensões entre os dois lados, dando início à Guerra dos Emboabas. No ano
seguinte, o paulista Manuel Borba Gato, representante do rei na região, expulsou Manuel Nunes
Viana. Este, no entanto, foi aclamado governa dor pelos forasteiros, que assumiram o controle e
passaram a perseguir os paulistas.
Os conflitos tornara-se ainda mais sangrentos. Em 1708, um grupo de paulistas foi atacado e
dizimado após se render, na chamada batalha do Capão da Traição. Com confrontos em diversos
lugares, como Vila Rica e São João del Rei, os paulistas sofreram sua segunda grande derrota em
1709, no rio das Mortes. Derrotados, afastaram-se aos poucos da região.
Tomando as rédeas
Após o conflito, o governo português fez diversas intervenções para recuperar o controle da região.
Em 1709, foi criada a capitania de São Paulo e Minas Gerais, separada do Rio de Janeiro. Poucos
anos depois, a vila de São Paulo seria transformada em cidade.
Para garantir sua parte na exploração do ouro, o governo precisava diminuir a influência dos
paulistas e demais forasteiros na região e, ao mesmo tempo, ampliar o controle da metrópole. Os
exploradores, afinal, procuravam criar uma estrutura que não dependesse de Portugal, controlando
desde o abastecimento local até o domínio das terras. O conflito entre paulistas e emboabas serviu,
assim, como pretexto para a ação da metrópole.
As novas minas situavam-se em regiões de difícil acesso, com caminhos fluviais encachoeirados e
sujeitos a constantes ataques dos povos indígenas. Assim como antes, a descoberta das novas minas
atraiu muita gente. O fato resultou na colonização e no estabelecimento de vilas, contribuindo para
a expansão colonial.
Coleção Brasiliana/Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
A imagem, do século XVIII, mostra a história de um português que fugiu de uma emboscada dos paulistas. É
o único registro visual conhecido da Guerra dos Emboabas.
VOCÊ SABIA?
Formadas por centenas de pessoas, elas percorriam os rios da bacia do rio da Prata em canoas de
cerca de 13 metros, construídas à moda indígena, com um único tronco de árvore.
Os perigos eram inúmeros, como os obstáculos impostos pela natureza e a presença de povos
indígenas hostis. Realizadas até meados do século XIX, várias dessas expedições tinham seus
integrantes ou boa parte deles dizimados.
Página 102
A extração de diamante
Em 1729, uma nova riqueza foi descoberta: os diamantes, em Arraial do Tijuco (atual Diamantina) e
Serro Frio. Poucos anos depois, a região seria se parada da área mineradora, ficando diretamente
subordinada à metrópole, com o nome de Distrito Diamantino. Seriam implantadas, então, regras
mais rígidas para a exploração de diamantes.
A extração das pedras passou a ser feita em regime de monopólio. Em 1739, o governo começou a
arrendar a produção para contratadores particulares. João Fernandes de Oliveira tornou-se o mais
conhecido deles. Em 1772, a extração passou a ser feita diretamente pelo governo, por meio do
órgão denominado Real Extração.
O diamante foi encontrado também fora das Minas Gerais. No atual estado da Bahia, a Chapada
Diamantina obteve uma das maiores produções de diamantes. A cidade de Lençóis, que concentrou
os garimpeiros, cresceu com a atividade e se transformou em uma das mais importantes da Bahia.
Divulgação/AE
Francisca da Silva de Oliveira, a Xica da Silva, nasceu escrava. Sua mãe era de origem africana, e seu pai,
português. Em 1753, quando pertencia a um médico, foi comprada pelo contratador João Fernandes. Nos
anos seguintes, manteve com ele uma relação matrimonial estável. Alforriada, teve 13 filhos e se tornou rica
senhora. Xica da Silva, é uma das personagens mais conhecidas do passado colonial. Sua história é
reproduzida em filmes, romances e novelas, muitas vezes com uma imagem sensual, devassa e cruel. Nada
mais equivocado: ela apenas procurou levar uma vida igual à das mulheres brancas da elite de seu tempo.
3 Nas teias do governo
Para assegurar o controle sobre a exploração do ouro, Portugal assumiu a posse das áreas
mineradoras e passou a conceder lotes – chamados datas – aos interessados. Segundo os critérios
estabelecidos, toda área descoberta deveria ser comunicada ao governo, que a dividiria em partes.
O descobridor tinha o direito de escolher a primeira data. Outra pertencia ao governo, que a
arrendava. As demais eram distribuídas conforme o número de escravos dos pretendentes (o
mínimo exigido era de 12 cativos). O trabalho nas lavras, assim, era realizado principalmente por
escravos de origem africana, o que intensificou o tráfico negreiro.
Implantou-se uma estrutura rígida na região mineradora. Criada em 1702, a Intendência das Minas
era o principal órgão, com a função de distribuir as terras, fiscalizar a produção, julgar pendências
envolvendo a mineração e cobrar os impostos.
Uma das formas de contrabando mais praticadas era a do santo do pau oco. Aproveitava-se o
interior das imagens de santos para colocar o ouro burlado. Ao final da Guerra dos Emboabas, para
coibir a prática, o governo proibiu membros do clero de entrar no território das minas.
Página 103
As formas de desvios, porém, eram muitas e realizadas pelos diferentes grupos sociais. Até mesmo
pessoas escravizadas contrabandeavam o ouro, muitas vezes escondido no cabelo.
A forte coerção era a única maneira considerada eficiente para impedir a prática generalizada do
contrabando. Muitas foram as pessoas que perderam casas e outros bens para pagar seus impostos,
aumentando ainda mais a pobreza da região.
A implantação do sistema de capitação gerou inúmeros conflitos entre o governo e os mineiros. Ela
prejudicava os donos das minas, que eram obrigados a pagar tributos mesmo quando seus
trabalhadores não encontravam ouro. Os escravos, por sua vez, eram obrigados a trabalhar cada
vez mais para tentar encontrar o metal.
Em 1719, o governo criou o sistema das Casas de Fundição, nas quais deveria ser depositado todo o
ouro extraído das jazidas. Ali, após a retirada do quinto, o metal era fundido em barras e recebia o
selo real. A circulação do ouro passou a ser permitida somente nessas barras. O novo sistema não
agradou aos colonos. Em 1720, sob a liderança de Felipe dos Santos, eles se revoltaram.
Trabalhadores na extração de diamantes, vigiados por soldados do governo. Obra de Carlos Julião, século
XVIII.
• AO SEU REDOR •
Os impostos são importantes. Com eles, o Estado custeia a construção de estradas, hospitais, casas
populares, entre outras obras essenciais à sociedade, e paga os salários de médicos, professores,
juízes e outros funcionários necessários ao bem-estar da população. No entanto, é preciso que os
tributos sejam aplicados com competência e em benefício da sociedade, e que não se esvaiam, por
exemplo, em meio a práticas de corrupção.
O debate está lançado: Você acha que os impostos são bem aplicados no Brasil? Qual seria a melhor
maneira de arrecadar tributos e como eles deveriam ser gastos?
2. Apontem mecanismos para que esses recursos sejam aplicados com maior eficiência e menor
desperdício.
Página 104
Portugal também se beneficiou dessa riqueza. Com ela, o governo atenuou a crise econômica
instaurada com a União Ibérica e financiou o luxo da Corte.
A maior parte dos lucros, porém, acumulou-se nos reinos que mantinham relações comerciais com
os portugueses, especialmente a Inglaterra. Em 1661, por exemplo, foi assinado um acordo que
dava aos ingleses o privilégio da distribuição dos produtos coloniais lusos na Europa.
Em 1703, o Tratado de Panos e Vinhos (ou Tratado de Methuen) estabeleceu que os vinhos
portugueses tinham preferência no mercado inglês. Em compensação, as manufaturas inglesas
podiam ser comercializadas em Portugal e em suas colônias com tarifas reduzidas. Nessas
condições, a balança comercial pendia para a Inglaterra, e as finanças portuguesas só se
equilibravam graças ao ouro extraído das minas americanas. Em resumo, todo o ouro acabava nos
cofres ingleses e, num futuro não muito distante, iria colaborar para desenvolver a sociedade
industrial.
A produção escasseia
O ouro fácil e de rápida extração esgotou-se rapidamente. Entre a descoberta, o apogeu e a
diminuição da produção, não se passaram muito mais do que cem anos. E o que sobrava do minério
não podia ser retirado com as técnicas existentes na época.
A região mineradora, entretanto, não perdeu sua importância. Apesar da diminuição do ouro,
continuou sendo uma das mais povoadas da colônia e a que possuía um dos maiores números de
escravos, muitos deles empregados em atividades agrícolas.
Fonte: Adaptado de FRÉDÉRIC, Mauro. Histoire de Brésil. Paris: PUF, 1973. p. 37.
Biblioteca Nacional de Portugal
A construção do convento de Mafra pelo rei dom João V costuma ser apontada como exemplo de
desperdício. Em alguns períodos, a obra chegou a concentrar cerca de 60 mil pessoas, entre operários,
artesãos e muitos outros trabalhadores. Estima-se que a construção tenha consumido o equivalente a cerca
de 120 toneladas de ouro. Convento de Mafra, litografia de 1853.
5 A sociedade mineradora
A sociedade criada em razão da atividade mineradora apresentou algumas características que a
diferenciavam do restante da colônia. A vida social e econômica, por exemplo, estava centrada em
núcleos urbanos, ao contrário do que ocorria nas regiões dos engenhos e da atividade pecuarista.
O governo português tomou várias providências para regulamentar a vida social nos arraiais
mineiros. Os aglomerados urbanos cresceram em terrenos acidentados, sempre próximos de
montanhas ou rios de onde se retirava o ouro. Nessas localidades, as disputas por áreas de
mineração tornavam elevada a criminalidade.
Era grande a presença de autoridades que tinham como objetivo evitar que os conflitos fugissem ao
controle, como também zelar pelo sucesso da cobrança dos impostos metropolitanos. Nem sempre
as medidas alcançavam os resultados esperados; nas palavras do conde de Assumar, um dos
governadores das Minas Gerais, a terra parece que
Página 105
evapora tumultos; a água exala motins; o ouro toca desaforos; destilam liberdades os ares; vomitam
insolências as nuvens; influem desordens os astros; o clima é a tumba da paz e o berço da rebelião.
conexão presente
A febre continua
No começo dos anos 1980, correu pelo país a notícia de que havia sido encontrado ouro em Serra
Pelada, no interior do Pará. Médicos, padres, desempregados, engenheiros, boiadeiros e outros
tipos de trabalhadores partiram para lá, em busca do precioso metal. Por questão de segurança,
proibiu-se a presença de mulheres e crianças e as bebidas foram vetadas no local.
No auge da exploração, Serra Pelada recebeu quase 100 mil mineradores, que tiravam dali uma
tonelada de ouro por dia, vendida exclusivamente para um banco estatal. Apesar das péssimas
condições – o calor e o cheiro eram insuportáveis, as casas não passavam de barracos –, o maior
garimpo a céu aberto do mundo não parava de crescer.
Em 1992, o então presidente da República tombou Serra Pelada como patrimônio cultural. E os
milhares de garimpeiros tiveram de deixar o local. A antiga cratera aberta pela atividade foi
alagada, com toneladas de ouro a cerca de 100 metros de profundidade.
Em 2002, o garimpo voltou a ser permitido na região. Como a extração só podia ser feita com
máquinas, criou-se uma cooperativa entre os antigos garimpeiros, que contrataram uma empresa
canadense especializada para o serviço. Indefinições e denúncias de corrupção, no entanto, levaram
a empreitada ao fracasso. A empresa abandonou o local, declarando falência em 2014. A região hoje
abriga milhares de pessoas que vivem em péssimas condições e continuam a sonhar com a riqueza.
Panorama mineral
Nem só de ouro vive a produção mineral no Brasil. Em 2014, o setor mineral respondeu por 4% do
PIB nacional. O país está entre os principais produtores mundiais de minério de ferro (em 2014,
ficou atrás apenas de China e Austrália) e também entre os maiores exportadores do produto. Além
desse minério, que em 2014 respondia por quase 90% do total de bens exportados pelo setor
mineral, o Brasil destaca-se no cenário mundial como produtor de nióbio, níquel, magnetita e
bauxita, entre outros.
Toda essa produção, porém, tem um alto custo. Ela provoca intenso desgaste ambiental, com largo
consumo de energia, produção de grandes quantidades de resíduos e emissão de poluentes. Na
Amazônia existem ainda problemas em relação às terras indígenas (TI). Sem regulamentação, essas
áreas são ocupadas por garimpos ilegais, gerando vários conflitos, dos quais muitos terminam em
mortes.
Juca Martins/Olhar Imagens
Em um lugar onde a riqueza circulava em grandes volumes, o custo de vida era elevado. Para piorar
a situação, a chegada de um grande número de aventureiros aumentava a demanda por alimentos.
E, como a grande maioria das pessoas se dedicava à lavra, não surgiam novas áreas de cultivo. Os
alimentos tornaram-se insuficientes e os preços subiram significativamente. A fome e a miséria
assolavam a região.
Outra característica da sociedade mineradora foi a existência de uma camada social intermediária,
composta de mascates, pequenos tropeiros, faiscadores, agricultores, artesãos, artistas, entre
outros. Cerca de metade dos lares era comandada
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por mulheres, muitas delas responsáveis pelo sustento da família. Grande parte do comércio de rua
e dos pequenos negócios com comida estava em mãos femininas.
Mobilidade social
Na região mineradora, a atividade econômica não fugia às regras coloniais. Tratava-se de uma
iniciativa voltada à exportação e que utilizava mão de obra escrava de origem africana. Apesar
disso, nessa região, a população livre era maior do que a escrava, ao contrário do que acontecia nas
áreas açucareiras.
Inúmeras pesquisas apontam para a existência de maior mobilidade social na região das Minas – a
começar pelo fato de pequenos lavradores poderem obter riqueza fácil e alcançar lugar de destaque
na sociedade local. Os escravos também conseguiam obter a liberdade mais facilmente. Estudos
recentes mostram que os recursos utilizados pelos cativos eram, muitas vezes, advindos do
contrabando ou do roubo de pepitas e pedras preciosas.
Apesar disso, não se pode esquecer que o trabalho nas lavras era muito mais desgastante do que
aquele realizado nas regiões agrícolas. As sim, os escravos viviam menos, e muitos morriam antes
de conquistar a liberdade.
A lama encobriu e destruiu um distrito inteiro da cidade de Mariana, além de parte de outros,
contaminou as águas de rios, aniquilou a vegetação nativa e matou pessoas e animais. Os danos
desse desastre ambiental, considerado um dos maiores já ocorridos no Brasil, chegaram até o
estado do Espírito Santo. Veja as imagens.
Dudu Macedo / Fotoarena
Vista aérea do distrito de Bento Rodrigues, destruído após rompimento da barragem da mineradora
Samarco. Outros distritos de Mariana e cidades vizinhas foram atingidos. Mariana (MG), 2015.
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c) quais são os benefícios trazidos pelas atividades desempenhadas por essas indústrias para a
população local e para o Brasil em geral.
e) quais são os cuidados socioambientais apresentados por essas empresas para evitar danos.
2. Reunidos em grupos, vocês irão apresentar o resultado de suas pesquisas ao restante dos
colegas e responder à seguinte questão: O que pode ser feito para amenizar os possíveis riscos e os
danos socioambientais efetivamente causados pela atividade extrativa?
6 A produção artística
Artesãos e artistas que viviam nas áreas de mineração criaram aquela que é considerada a primeira
escola artística da colônia, ligada ao barroco. Embora o estilo pudesse ser encontrado em outras
partes do mundo colonial, como Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, foi em Minas Gerais que
adquiriu aspectos peculiares.
As igrejas católicas – construídas e mantidas por irmandades de donos de grandes lavras ou grupos
sociais menos favorecidos, como de escravos e libertos – representam algumas das principais obras
barrocas. Mas existem também pinturas, esculturas e músicas.
Ainda que alguns pintores, construtores e músicos tenham vindo de Portugal, como José Fernandes
Pinto Alpoim e Manuel Francisco Lisboa, muitos nasceram na colônia e adaptaram a arte barroca às
técnicas e aos materiais aqui existentes. Coube a eles mesclar os elementos europeus e coloniais,
suprimir os excessos decorativos e modificar a tradicional sobriedade da arte colonial portuguesa.
Entre os principais artistas, destaca-se Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho.
Nascido por volta de 1738, foi escultor e arquiteto, autor, entre outras obras, do projeto da igreja de
São Francisco de Assis, em Ouro Preto (1766), e da igreja de Bom Jesus de Matosinhos (1796 -
1799), em Congonhas do Campo – onde está o conjunto de esculturas conhecido como Os doze
profetas (1800 -1805), que decora o adro da igreja.
Destacam-se ainda os trabalhos executados por Manuel da Costa Athayde. Pintor, dourador,
entalhador e professor de pintura e arquitetura, ele realizou a pintura de vários tetos de igrejas,
como a de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, e a da Ordem Terceira do Carmo, em Mariana,
além do painel A última ceia para o Colégio do Caraça.
Os músicos, por sua vez, chegaram a formar uma comunidade numerosa e profissionalizada.
Próximos da produção europeia, eles produziam também suas próprias composições, executadas
em festas, missas e saraus.
VOCÊ SABIA?
Festas barrocas
Entre 1733 e 1748, a sociedade mineradora viveu grandes momentos de luxo e opulência. Festas
não faltaram, com ruas cobertas de pétalas de flores e arcos com enfeites de ouro, prata e pedras
preciosas; as janelas das casas recebiam cortinas de seda – tudo para exaltar a riqueza das elites
mineiras.
As festas aconteciam pelos mais diversos motivos: datas religiosas, pessoas com altos cargos
chegando à cidade, casamentos, nascimentos e até mesmo óbitos. A monarquia portuguesa, mesmo
distante, produziu muitas cerimônias regadas a luxo e dramaticidade, como todas as festas
barrocas.
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A morte de dom João V, por exemplo, provocou comoção, em especial entre membros das elites.
Além das missas se estenderem por meses, construiu-se uma espécie de mausoléu para o rei,
enriquecido com ouro e pedras preciosas.
Com luxo e pompa, as festas barrocas acabaram se tornando um símbolo das diferenças. Mas foram
também uma maneira de integrar a população, evitando por alguns momentos os conflitos sociais.
Em outras palavras, as festas produziram, “bem ao gosto barroco, a ilusão de que a realidade dura
era um sonho bom”.
Texto elaborado com base em: MELLO E SOUZA, Laura de. Festas barrocas e a vida cotidiana em Minas Gerais. In: Festa: cultura e
sociabilidade na América portuguesa. São Paulo: Hucitec/Edusp/Fapesp Imprensa Oficial, 2001. v. 1.
Rainha de uma festa realizada por africanas escravizadas, obra de Carlos Julião, século XVIII.
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
c) as reações do governo.
2 A Intendência das Minas foi criada pelo governo português para realizar funções administrativas
ligadas à mineração. Relacione a criação desse órgão à prática do contrabando.
3 As consequências da descoberta do ouro estenderam-se para além da região das Minas. Explique
seus impactos sobre:
a) o restante da colônia;
b) a metrópole;
c) a Inglaterra.
4 A mineração fez surgir novas estruturas sociais na região das Minas. Quais eram as principais
diferenças entre a estrutura da sociedade mineira e a da sociedade açucareira? Destaque na sua
resposta a questão da mobilidade social.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Diferenças
Oliveira Lima (1867 -1928) escreveu vários livros sobre a história do Brasil, muitos deles voltados
a compreender a formação da nacionalidade. Pernambucano, foi um dos mestres de Gilberto
Freyre. Envolveu-se, ainda, em uma polêmica sobre a monarquia, o que lhe rendeu a desconfiança
dos republicanos. No trecho a seguir, ele compara duas áreas da América portuguesa.
O século XVII oferece, aos que tentarem a curiosidade de conhecer o Brasil de outrora, intimamente,
dois pontos interessantes, pelo aspecto particular de cada qual deles e também pelo contraste que
deles resulta. Esses pontos são a Bahia e Minas. Aquele um centro de vida antes ociosa, este um foco
de vida antes ativa. Não quero absolutamente dizer com isso que não houve na Bahia senão
desocupados e em Minas senão trabalha dores. Mas o fato é que a característica geral desses dois
núcleos de civilização assim se apresentou na época indicada.
A Bahia tornou-se bem depressa uma cidade de igrejas e de conventos. Suas celebrações do
Página 109
culto sobrepujaram em brilho as de todo o resto do Brasil, e o povo, de que os negros formam ainda
hoje o complemento mais importante, era um ele mento a mais de desordem pitoresca, que punha
um relevo de originalidade exótica a esse transbordamento de jovialidade religiosa. Os templos da
Bahia merecem sempre ser vistos, por causa da riqueza de seus revestimentos internos de madeira
dourada, de um luxo gritante e um tanto ou quanto bárbaro, que era o do estilo barroco português
desabrochado no Brasil. Os conventos, entretanto, cessaram de ser o que eram então, isto é, círculos
mundanos, onde, nas das monjas, chegava -se a representar a comédia heroica e a divertida farsa,
onde os prazeres das guloseimas e das galanterias se sobrepunham a todas as regras.
(...)
A vida em Minas Gerais tinha um aspecto inteiramente outro. A sensualidade ali não era mais beata:
era fervorosa. As cobiças e os ódios se afirmavam pelos crimes. O ouro inspirava as ações (...).
(...) Mas a capitania mesmo não se enriqueceu absolutamente. A Corte e a metrópole pude ram
permitir -se custosas fantasias. Minas Gerais, de seu lado, assistiu à eclosão no seu seio de um luxo
sem bem-estar. Sua sociedade chegou a cobrir-se de uma camada superficial de cultura que,
refletindo a luz crua dos trópicos, não deixou de deslumbrar. A despeito de tudo isso, seu progresso
não se manifestou, de maneira acentuada, se não após o ouro ter se esgotado e a agricultura ser
forçada a tomar o lugar das escavações de mi nas, para nutrir o mundo de gente que estas haviam
atraído.
LIMA, Oliveira. Formação histórica da nacionalidade brasileira. Rio de Janeiro: Topbooks; São Paulo: Publifolha, 2000. p. 101 -106.
1. Segundo o autor, quais as características principais dos dois núcleos coloniais mais importantes
da colônia no século XVII?
a) a composição social;
b) as atividades econômicas.
Produção literária
Nos séculos XVII e XVIII, tanto na Bahia como em Minas Gerais houve importantes produções
intelectuais.
Em grupo
1. Escolham um dos dois núcleos coloniais para conhecer sua produção literária.
O capítulo foi iniciado com versos de Gregório de Matos sobre a sociedade baiana do século XVII.
CAPÍTULO 9
Os colonos da America
portuguesa em revolta
Vamos lá!
A vida de Tomás Antônio Gonzaga é recheada de aspectos curiosos. Filho de um magistrado nascido
na América portuguesa, ele trabalhou como Ouvidor de Defuntos e Ausentes em Vila Rica, onde
conheceu e se apaixonou por uma jovem de apenas 15 anos. Acredita-se que em sua homenagem
escreveu o poema Marília de Dirceu.
Com casamento marcado, envolveu-se na Inconfidência Mineira. Preso, teve seus bens confiscados
e, como pena definitiva, acabou degredado para a África. Sem a sua Marília, casou-se com a filha de
um rico comerciante de escravos. Em 1810, faleceu em Moçambique.
Enquanto esteve nas Minas Gerais, escreveu um poema satírico, Cartas chilenas, divulgado
anonimamente, no qual faz duras críticas à administração portuguesa.
GONZAGA, Tomás Antônio. Cartas chilenas. In: PROENÇA FILHO, Domício (Org.). A poesia dos inconfidentes. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1996.
p. 856.
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Cartas chilenas é uma obra composta de 13 cartas enviadas por Critilo, que morava no Chile, ao
amigo Doroteu, residente em Madri. Nelas, o autor critica o Fanfarrão Minésio, governador chileno.
Na verdade, trata-se de uma leitura da sociedade mineira, com críticas endereçadas a Luis da Cunha
Meneses, então governador de Minas. Doroteu, acredita-se, seria Cláudio Manoel da Costa, outro
poeta, também envolvido na Inconfidência Mineira. Na ilustração ao lado, Aspecto de Minas Gerais,
de A. Nortini.
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Quem foi Tomás Antônio Gonzaga? Conte tudo o que você sabe a respeito dele. Para isso:
a) recorra a seus conhecimentos prévios;
2 Que críticas ele faz ao governo português nesse trecho de Cartas chilenas?
3 Que tipo de relação entre os colonos e o governo português o poema sugere? Transcreva versos
do poema que justifiquem sua resposta.
1 Colonização e violência
A América portuguesa era fortemente marcada pela diversidade. Por seu imenso território
espalhavam-se vários núcleos coloniais, cada um com características específicas e isolados entre si,
por aspectos tanto geográficos como culturais e econômicos. Muitas vezes, até mesmo a língua
falada era diferente. Na Amazônia, por exemplo, destacava-se o nhengatu, idioma surgido da
mistura da língua tupi com o português.
Apesar da diversidade, existiam várias semelhanças entre os inúmeros núcleos coloniais, a começar
por uma sociedade rigidamente hierarquizada e dividida entre pessoas livres e escravizadas,
brancas e negras. Com raras exceções, a mobilidade social era praticamente impossível. A
escravidão, de africanos ou de indígenas, constituía a base da sociedade colonial.
A violência foi o meio mais eficaz para manter a ordem nas colônias portuguesas. O castigo impelia
a pessoa escravizada ao trabalho. Não devia ser muito cruel – para não despertar revoltas, matar ou
incapacitar – nem brando demais – para não incentivar a desobediência. Aos colonos, a obediência à
metrópole era imposta por meio de vários mecanismos: legislações, punições, obrigações.
Apesar de todo esse controle, tanto escravos quanto colonos encontraram várias formas de se opor
e escapar aos dominadores. Entre os cativos, algumas das principais maneiras foram as fugas e a
formação de quilombos, além de peque nos furtos e revoltas (ver boxe abaixo). Os colonos, por sua
vez, podiam utilizar o contrabando, a desobediência às leis e as mais variadas formas de
transgressão às imposições de Portugal. Nesse cenário de tensões, os colonos também se
revoltaram, ameaçando a ordem instituída.
Ao final do século XVIII, fatores externos, como os ideais iluministas, a independência dos Estados
Unidos e as revoluções na Europa, colocaram em xeque o próprio sistema colonial. As revoltas dos
colonos não se restringiam mais a modificar a estrutura administrativa portuguesa. Buscavam
agora acabar com o próprio domínio colonial.
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VOCÊ SABIA?
Rebeldia escrava
Além dos colonos, os africanos escravizados e seus descendentes também se revoltaram, reagindo à
violência a que estavam submetidos. É o caso dos escravos que viveram na Bahia, no início do
século XIX.
Em 1807, Salvador estava rodeada por quilombos, onde a luta contra os capitães do mato era
constante. Após uma invasão em território quilombola, que deixou centenas de mortos, feridos e
presos, entre eles líderes curandeiros, foi organizado o primeiro grande levante escravo do século
XIX. Apesar de extremamente bem formulado, o plano fracassou ao ser delatado ao governador da
capitania.
Esse levante, porém, influenciou vários outros. Em 1814, após uma grande fuga coletiva, cerca de
250 homens atacaram a cidade de Salvador, onde se aliaram a outros revoltosos. Nas ruas, os
insurgentes clamavam por liberdade. A revolta foi contida pela ação da tropa de cavala ria antes
que chegasse aos engenhos.
Em 1816, após uma festa pública, escravos de Santo Amaro e São Francisco do Conde, ambos na
Bahia, iniciaram um levante, queimando diversos engenhos. A revolta durou quatro dias, até ser
violentamente reprimida.
Pessoas escravizadas conduzindo uma família pelo interior do Brasil, Jean Baptiste Debret, 1818.
2 Contra a Coroa
As revoltas dos colonos originaram-se, muitas vezes, por causa de disputas internas dentro da
própria elite ou contra normas impostas pelo governo, entre elas a cobrança de impostos. Exemplos
desse tipo de movimento são a Revolta de Beckman, no Maranhão (1684), a Guerra dos Mascates,
em Pernambuco (1710-1711), e a Revolta de Vila Rica, em Minas Gerais (1720).
Em 1680, graças à influência dos jesuítas, o governo proibiu a escravização dos indígenas e
determinou que a eles fossem dadas terras para cultivo. Para os colonos, a medida trouxe
problemas para a manutenção da força de trabalho. Visando contornar a situação, fundou-se a
Companhia Geral de Comércio do Estado do Maranhão.
Com monopólio estabelecido por 20 anos, a Companhia também adquiria o controle de todo o
comércio local. Assim, além de comercializar no Maranhão os produtos vindos da Europa,
comprava a produção local. Devia, ainda, fornecer escravos de origem africana aos colonos, em um
número mínimo de 500 por ano.
Um novo governador foi enviado ao Maranhão, com tropas militares para sufocar a revolta. A ação
foi implacável: ao retomar o poder, o novo governo trouxe de volta os jesuítas e enforcou Manuel
Beckman e Jorge Sampaio; Tomás teve melhor sorte e acabou desterrado. Para os colonos, a única
ação positiva resumiu-se à extinção da Companhia.
Apesar da importância que adquiriram naquele cenário, faltava aos mascates o poder político, que
continuava nas mãos dos senhores de engenho de Olinda. Na cidade, por exemplo, ficava a Câmara
Municipal, principal órgão administrativo dos núcleos coloniais.
Em 1709, Recife, antes um povoado, passou à condição de vila, separando-se de Olinda. No ano
seguinte, sentindo-se prejudicados, os senhores de engenho – sob a liderança de Bernardo Vieira de
Melo – armaram uma tropa e invadiram o lugar. Tinha início a Guerra dos Mascates, que durou um
ano. Em 1711, o governo interveio: nomeou Félix José Machado de Mendonça governador e
reprimiu os revoltosos. Além de prender líderes do movimento, estabeleceu a separação definitiva
entre as vilas. Anos depois, todos os revoltosos seriam anistiados pelo governo, enquanto Recife
tornava-se sede da administração pernambucana.
Em 1720, mais de 2 mil donos de lavras insurgiram-se contra a medida. Sem tropas para conter o
movimento, o governador comprometeu-se a atender às exigências. Além de não instalar as casas
de fundição, aboliu vários tributos cobrados sobre mercadorias. O recuo de Assumar, porém, não
passou de estratégia para ganhar tempo. Assim que reuniu um número maior de soldados, reprimiu
o movimento e prendeu vários revoltosos.
Felipe dos Santos, um dos líderes mais pobres do movimento, foi enforcado em praça pública, e seu
corpo esquartejado serviu de exemplo a quem pretendesse questionar as ordens do governo. Ao
final da revolta, o quinto foi mantido, e Minas Gerais tornou-se capitania independente. Com as
medidas, o governo passava a exercer pleno controle sobre a região mineradora.
Museu Guignard
A região das Minas foi um dos principais cenários das revoltas coloniais. Tarde de São João, obra de
Guignard, 1959.
VOCÊ SABIA?
Outras revoltas
Durante toda a história colonial, foram inúmeras as mobilizações de colonos em defesa de seus
direitos e privilégios. Essas rebeliões, várias vezes, eram motivadas por questões do cotidiano,
como aumento de tributação ou problemas de abastecimento, tanto de mão de obra como de
gêneros alimentícios. Em geral, todas elas foram reprimidas com rigor pelas autoridades coloniais.
A Revolta da Cachaça, em 1660, no Rio de Janeiro, é mais um exemplo. Entre seus motivos estavam
o alto índice de mortalidade entre os escravos, epidemias e aumento de impostos. Isso levou
diversos grupos, entre eles fazendeiros, soldados e ex-cativos, a se unirem contra o governador.
Após saquear a cidade, os revoltosos tomaram o poder local. Mas acabaram reprimidos e vários
líderes foram enforcados.
Outra revolta foi a do Maneta, em Salvador, em 1711, motivada pelos impostos cobrados sobre os
escravos trazidos da África. Após ser debelada, vários participantes terminaram açoitados.
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Movimentos influenciados pelo Iluminismo venciam a censura imposta pelo governo (que proibia,
por exemplo, a produção e a circulação de livros) e acrescentavam aos motins a proposta de
reorganizar a sociedade ou mesmo de se separar de Portugal.
Conjuração Mineira
Em Minas Gerais, como em diversas outras partes da colônia, era comum as famílias mais abastadas
enviarem seus filhos à Europa para estudar. Assim, ao longo do século XVIII, muitos desses jovens
conheceram as obras dos pensadores iluministas. Ideais de liberdade e livre comércio, entre outros,
ajudavam a tornar questionáveis os laços que uniam colônia e metrópole, principalmente após a
independência dos Estados Unidos.
Somado a isso, ampliava-se a insatisfação com a administração portuguesa. Em 1785, por exemplo,
a rainha dona Maria I promulgou um alvará que proibia o funcionamento de manufaturas de tecido
na América portuguesa, obrigando os colonos a comprar o que necessitavam de Portugal. Essa
conjuntura criou clima favorável a conspirações contra o poder instituído.
Na região das Minas Gerais, ganhavam desta que os problemas em torno dos tributos e do controle
exercido pela metrópole. Começava a tomar corpo o que as autoridades portuguesas denominaram
Inconfidência Mineira. Ha via décadas que os colonos da região acumulavam enorme dívida com o
fisco real. Com o declínio da produção mineradora, eles não conseguiam pagar o mínimo que havia
sido instituído pelo governo. Nesse caso, segundo a lei, o governo podia decretar a derrama, uma
forma de cobrança forçada dos impostos atrasados.
Embora nunca tenha sido decretada, a derrama foi utilizada com frequência para ameaçar os
colonos. Foi o que fez o visconde de Barbacena, governador da capitania, em 1789. Para a mesma
data, um grupo de colonos marcou o início de uma conjuração. Tomado o poder, eles pretendiam
declarar a capitania independente de Portugal. A sede do governo ficaria em São João del Rei. O
novo país seria uma república, com Constituição semelhante à dos Estados Unidos. A produção
manufatureira e agrícola seria estimulada; o serviço militar passaria a ser obrigatório; haveria
incentivo à natalidade; e seria fundada uma universidade em Vila Rica (até então inexistente na
colônia).
Entre os conjurados não existia a intenção de abolir a escravidão. Isso porque o movimento estava
restrito a grupos da elite e era liderado por senhores de terras e minas. Em sua ampla maioria, eles
pretendiam manter o que consideravam seu patrimônio, boa parte composto de escravos.
Kupferstichkabinett der Akademie der bildenden Künste Wien, Áustria
Vista de Vila Rica, obra de Thomas Ender, início do século XIX. A obra do artista constitui valiosa
documentação da época de transição entre o período colonial e o Império.
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Em meio aos participantes, destacavam-se também alguns intelectuais, como os poe tas Cláudio
Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, além de padres (Carlos Correia de Toledo e Melo e José
de Oliveira Rolim) e militares (Domingos de Abreu e Joaquim Silvério dos Reis).
Todos os líderes eram senhores abastados, com exceção de Joaquim José da Silva Xavier, alferes
(oficial de baixa patente) conhecido como Tiradentes. Dentista prático, ele exercera também as
funções de comerciante e tropeiro. Seu papel no movimento era divulgar as ideias do grupo para a
população e conseguir apoio e armas, inclusive no Rio de Janeiro. Mas a conjuração não chegou
sequer a eclodir; em troca do perdão de suas dívidas, Silvério dos Reis denunciou os planos ao
governador, que cancelou a derrama e prendeu os suspeitos.
Instaurou-se, então, uma devassa, como na época se chamavam os processos judiciais. Julgados
culpados, vários conjurados foram punidos com o degredo. Tiradentes, porém, recebeu a morte na
forca como condenação, seguida de esquartejamento. A sentença foi cumprida no Rio de Janeiro,
três anos depois, em 21 de abril de 1792 (ver boxe).
• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
Criando os mártires
Muitas pesquisas de opinião mostram que Tiradentes é um dos heróis nacionais mais conhecidos.
Sua figura está associada, com frequência, à ideia de um homem que morreu lutando pela
autonomia do Brasil. Até chegar a esse ponto, porém, foi necessário um longo caminho. Tiradentes
só se tornou herói nacional após a Proclamação da República, em 1889. Foi quando grupos de apoio
ao novo regime passaram a enaltecer a figura de alguém que, cerca de um século antes, havia
defendido os ideais republicanos.
Tiradentes acabou, dessa forma, transformado em mártir. Para tanto foram utilizadas diversas
representações, desde imagens até reproduções de sua confissão ou sentença de morte. Para essa
construção, ajudou ainda o fato de ter sido o único homem pobre entre os conjurados e o que mais
fez contato com a população. Favoreceram também as características elitistas do movimento
mineiro: em uma sociedade marcada pela desigualdade, os conjurados visavam manter a
escravidão e todas as riquezas dos senhores, sem propor grandes rupturas sociais.
Apesar de termos sua imagem na memória, até hoje não se sabe qual o verdadeiro rosto de Tiradentes. Na
imagem da esquerda, Tiradentes ante o carrasco, obra de Rafael Falco, 1941. À direita, Tiradentes
esquartejado, pintura de Pedro Américo, 1893.
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Conjuração Baiana
Nas décadas finais do século XVIII, o cenário em Salvador não era muito diferente do restante do
Brasil. Em 1763, a cidade deixou de ser o centro administrativo da colônia, o que representou a
perda de parte de sua importância e riqueza.
Na cidade, conviviam, então, inúmeros grupos sociais, desde uma pequena elite até uma multidão
de pessoas escravizadas e de indivíduos pobres. Havia muito descontentamento com o governo,
ampliado pela circulação de ideias iluministas e de notícias sobre a independência dos Estados
Unidos e, principalmente, a Revolução Francesa de 1789 (sobre o assunto, ver Capítulo 4).
Foi nesse cenário que ocorreu a Conjuração dos Alfaiates. Tratava-se de um movimento de caráter
popular, do qual participaram sapateiros, escravos libertos, soldados e principalmente alfaiates.
Assim como em Minas Gerais, os conspiradores baianos desejavam separar-se de Portugal e
instituir um governo republicano.
Diferentemente dos conjurados mineiros, porém, pretendiam abolir a escravidão e outras formas
de discriminação contra negros e mestiços. O comércio, até então monopolizado pelo governo
português, estaria aberto a outros povos. Esses objetivos foram divulgados por meio de cartazes
fixados em diversos pontos da cidade. O material chamou a atenção das autoridades, que deram
início à repressão. Acusado de ser o autor dos panfletos, o soldado Luiz Gonzaga das Virgens foi
preso.
O fato precipitou a revolta. No dia 25 de agosto de 1798, o grupo tentou agir. A reação do governo
foi implacável. Vários conjurados foram presos, entre eles inúmeros pobres e escravos. O castigo
aplicado pretendia ser exemplar. Além do degredo, quatro líderes foram enforcados e os corpos
expostos em local público: os alfaiates João de Deus Nascimento e Manuel Faustino, e os soldados
Luiz Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas de Amorim.
A devassa instaurada concluiu que entre os revoltosos existia estreita ligação com a pequena elite
intelectual da cidade, como o médico Cipriano Barata, o padre Francisco Gomes, o farmacêutico
João Ladislau de Figueiredo e o professor Francisco Barreto. Em suas bibliotecas foram localizadas
obras de pensadores iluministas proibidos na colônia, como Voltaire. Todas essas pessoas, no
entanto, receberam penas leves.
Maps World
Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de et al. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: Fename/MEC, 1980.
Coleção particular, RJ
VESTÍGIOS DO PASSADO
O condenado
Leia a seguir um trecho da sentença de Luiz Gonzaga das Virgens, considerado um dos líderes da
Conjuração Baiana.
Mostra-se que destes malvados era um dos chefes principais o R. Luiz Gonzaga das Virgens, que
dominado por um espírito fanático e atrabiliário, que se deixa compreender de seus papéis e memórias
[...], não podia suportar em paz a diferença de condições e desigualdade de fortunas de que se compõe a
admirável obra da sociedade civil, compensada por recíprocas vantagens e generalidade de direitos,
atrevendo-se já de longo tempo a apresentar ao governo o audacioso requerimento [...] desenvolvendo
nele os mesmos princípios antissociais de igualdade absoluta que pouco depois o precipitavam na infame
conjuração de que se constituiu cabeça.
Mostra-se que enfurecido o dito R. pela denegação de acesso aos postos militares que pretendia passar
ao absurdo de declamar imprudentemente contra a Santa Religião e ditoso governo em que nascera,
propondo-se espargir entre as pessoas da sua facção a peste dos seus depravados princípios [...] e
sobretudo a fazer gostar aos seus confederados a quimérica doutrina de uma igualdade geral sem
distinção de cores e estudos [...].
Sentenças proferidas pelo Tribunal da Relação da Bahia – sentença de Domingos Lisboa e Luiz Gonzaga das Virgens. In: RUI, Afonso. A
primeira revolução social brasileira: 1798. São Paulo: Nacional; Brasília: INL, 1978. p. 126.
O mundo globalizado
Os ideais iluministas, difundidos a partir da Europa, influenciaram as conjurações Mineira e Baiana,
mas também muitos outros movimentos mundo afora, como a independência dos Estados Unidos. E
isso em uma época (século XVIII) na qual os meios de comunicação e de transportes, se comparados
aos dias atuais, não eram tão eficientes e acessíveis.
No mundo atual, podemos nos conectar e receber notícias de praticamente todos os lugares do
mundo de modo instantâneo. Os deslocamentos entre lugares próximos ou distantes também são
bem mais rápidos. Em razão disso, é comum dizer que, na atualidade, o mundo ficou menor.
Observe a ilustração ao lado, feita com base na obra do geógrafo britânico David Harvey:
Fonte: HARVEY, David. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992. p. 220.
2. Identifique e compare:
a) Como as notícias distantes, mesmo de outros continentes, chegavam até as pessoas que aqui
viviam durante as conjurações Baiana e Mineira?
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 A violência era o meio utilizado pela metrópole para manter a ordem na América portuguesa.
Pode-se afirmar que esse meio de controle foi plenamente eficiente? Justifique sua resposta com
exemplos.
2 Até meados do século XVIII, quais eram as principais reclamações que incentivavam motins e
revoltas dos colonos?
4 No fim do século XVIII, as revoltas coloniais ganharam nova dimensão. Com base na Conjuração
Mineira, explique essa mudança.
5 Uma das medidas das autoridades ao reprimir revoltas na colônia era a execução de líderes dos
movimentos e a exibição dos corpos em praça pública. Qual era o objetivo da metrópole com essa
punição?
6 Explique por que, hoje, a memória nacional valoriza mais o movimento mineiro do que a
Conjuração Baiana.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Festa e política
Existem várias maneiras de se analisar um mesmo assunto. O texto a seguir trata das revoltas
coloniais da perspectiva das manifestações populares, em especial de como elas estavam
relacionadas a outros hábitos do cotidiano, como as festas de carnaval.
Pouco ou quase nada sabemos a respeito das festas de caráter político não oficial que integravam o
cotidiano das Minas na primeira metade do século XVIII. Se para as festas oficiais, organizadas pelo
poder local, como o Triunfo Eucarístico e as Exéquias reais, existem vários estudos, ancorados
numa documentação farta e acessível, raras são as fontes que versam sobre a festa popular, de
cunho não oficial, realizada nas fímbrias da estrutura administrativa, dificultando – senão
inviabilizando – uma análise mais sistemática dos modos mediante os quais a sociedade mineira
lançou mão dos festejos e ritos festivos para expressar suas concepções e valores políticos.
Alguns autores têm abordado as revoltas mineiras com base numa estrutura ritualística, buscando
revelar os padrões de ação que legitimam e justificam a ação popular. Carla Anastácia, por exemplo,
[...] argumenta que os levantes ocorriam segundo princípios de organização muito claros e
definidos, tributários de uma tradição festiva e carnavalesca presente na cultura popular do Antigo
Regime. Em vez da irracionalidade intempestiva e desordenada, ela constata que a rebelião revela
uma ritualística peculiar, ordenada e estruturada em torno de valores políticos consensuais. [...]
Também nas áreas mineradoras, homens encapuzados, ao som de tambores, destruíam as
propriedades de suas vítimas e os documentos oficiais que simbolizavam a sua sujeição;
queimavam seus inimigos políticos em efígie, matando-os simbolicamente. Assim, explicitava-se
uma das importantes características do comportamento da multidão pré-industrial – a preservação,
no mais das vezes, da vida humana, restringindo-se os levantes à destruição da propriedade.
Todos esses elementos estão presentes, por exemplo, na Revolta de Vila Rica, ocorrida em 1720,
como reação à instalação das casas de fundição sob o governo de Conde de Assumar. Mesclando
elementos carnavalescos, como a máscara e a paródia, os revoltosos transformavam a revolta numa
festa popular: o toque de sinos, as correrias, a simulação de aplicação de justiça, a galhofa, a
violência, a exploração do espaço urbano como arena de confronto pertencem a um território
comum tanto ao motim quanto à festa.
ROMERO, Adriana. O enterro satírico de um governador. In: JANCSÓ, István; KANTOR, Íris (Orgs.). Festa: cultura e sociabilidade na América
portuguesa. São Paulo: Edusp, 2001. p. 301-302.
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1. Cite e explique ao menos três formas distintas de manifestar ações e valores políticos.
2. Com base no texto, explique como na prática ocorriam várias das rebeliões coloniais.
3. Hoje, é possível identificar uma ligação entre festa e política? Justifique sua resposta.
• AO SEU REDOR •
Comunidades quilombolas
A formação de quilombos foi uma das principais formas de resistência protagonizadas pelos
trabalhadores escravizados. Até hoje, podemos testemunhar sua existência por imagens e outros
vestígios iconográficos ou escritos, mas também por meio dos remanescentes das comunidades
quilombolas, ou seja, dos descendentes daqueles antigos trabalhadores.
Nos dias atuais, estima-se que existam no Brasil cerca de 3 mil comunidades quilombolas, algumas
delas já demarcadas e tituladas e outras em processo de regularização. O Decreto n°4.873, de 20 de
novembro de 2003, assim define as comunidades quilombolas:
[...] consideram-se remanescentes das comunidades dos quilombos, para os fins deste Decreto, os
grupos étnico-raciais, segundo critérios de autoatribuição, com trajetória histórica própria, dotados
de relações territoriais específicas, com presunção de ancestralidade negra relacionada com a
resistência à opressão histórica sofrida.
Em uma comunidade quilombola, durante a Festa de Cultura Afro, as meninas observam um cartaz com
candidatas a Princesa Africana. Araruama (RJ), 2015.
Em grupo
Assim como Tomás Antonio Gonzaga, várias pessoas manifestam o seu descontentamento com o
governo por meio de textos, músicas e imagens.
Em grupo
1. Façam uma pesquisa para identificar essa arte de protesto nos dias de hoje.
CAPÍTULO 10
Os colonos espanhois
buscam autonomia
Vamos lá!
O escritor peruano Mariano Melgar viveu no período em que os países da América espanhola
conquistavam a autonomia. Considerado um dos primeiros literatos românticos da América, lutou
pela independência do Peru, sendo preso e fuzilado em 1815, durante uma rebelião, antes de
completar 25 anos.
Apesar de ter estudado na Europa, grande parte de sua produção literária é inspirada na cultura
nativa. Além de vários poemas românticos, produziu obras de contestação ao dominador. Leia aqui
um trecho do poema Ode à liberdade.
Cruel despotismo,
hórridos séculos, tenebrosa noite,
vão embora.
Saibam, índios que pranteiam, sábios desprezados, o mundo inteiro,
que o mal não existe mais, e demos
o primeiro passo rumo ao vosso tão almejado fim...
E aqueles que chamaram a minha terra
um país obscuro, vendo-o tão fértil em maravilhas,
agora dizem, ‘Realmente, esse é de fato um novo mundo’
Citado em: MARTIN, Gerald. A literatura, a música e a arte na América Latina da independência a 1870. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da
América Latina: da independência até 1870. São Paulo: Edusp, 2004. p. 835.
Museu Chácara do Céu, RJ
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Identifique as principais ideias do poema. Destaque o trecho em que o autor se refere aos
colonizadores criticando a atitude destes e o novo lugar que estava surgindo.
2 Com base na vida de Mariano Melgar e no poema transcrito acima, explique o contexto
americano no início do século XIX.
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1 No caminho da independência
Ao longo do século XVIII, os países da Europa Ocidental passaram por profundas transformações,
que podem ser sintetizadas em duas grandes revoluções: a Industrial e a Francesa. Todas as áreas
sob o domínio desses países – nas mais diversas regiões do mundo – sentiram diretamente os
efeitos dos novos tempos. Na América, iniciaram-se inúmeros movimentos separatistas, a começar
pela independência das 13 Colônias Inglesas, em 1776.
Eram movimentos incentivados por diversos aspectos. Os ideais iluministas e a agonia dos
governos absolutistas acenderam, em vários grupos sociais da América, o desejo pela formação de
governos autônomos. Lutava-se contra a opressão dos colonizadores, em nome de uma sociedade
regida por uma Constituição. Havia ainda projetos, encabeçados pelas camadas menos favorecidas,
que reivindicavam a distribuição das terras, o fim da escravidão e a participação política.
O ideal de liberdade também estava presente no mundo dos negócios. Enquanto na Europa a
produção de mercadorias parecia ilimitada, consolidavam-se as teorias econômicas que defendiam
o livre-comércio e a formação de amplos mercados consumidores. Na América, esses princípios
seriam traduzidos na batalha contra o fim dos limites impostos pelos vínculos coloniais.
Esse cenário resultaria na formação de inúmeros países em toda a América. No fim do século XVIII,
esse caminho já se mostrava inevitável. As guerras napoleônicas foram, entretanto, decisivas, ao
desorganizar os governos absolutistas, sobretudo na Espanha e em Portugal.
A Espanha passou a ser governada por José Bonaparte, irmão de Napoleão. Enquanto esteve no
trono, o soberano enfrentou tenaz resistência, exercida por meio de guerrilhas, e a formação de
juntas governativas, cujo objetivo era manter a autonomia local na ausência do rei espanhol. Com a
queda de Napoleão e o Congresso de Viena, Fernando VII foi reconduzido ao poder.
Nesta ilustração do atlas de Cláudio Gay, podemos observar a presença europeia na América espanhola
tanto na arquitetura quanto nos hábitos de parte da população. Praça da Independência, em Santiago do
Chile, início do século XIX.
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Assim, o rei teve de enfrentar a oposição de vários setores da sociedade, incluindo um movimento
revolucionário em 1820. Apesar de perseguidos, inclusive com o apoio militar da Santa Aliança, os
revoltosos impuseram ao soberano uma Constituição que limitava seu poder.
Esse quadro conturbado repercutiu de forma decisiva nas colônias espanholas da América. As elites
locais, formadas pelos criollos (descendentes de espanhóis nascidos na América), procuravam
ampliar seus espaços, colocando fim aos vínculos coloniais e conquistando maior autonomia e
crescimento econômico.
Carente de recursos, o governo espanhol tornou-se mais rígido na administração das colônias, com
uma política crescente de centralização do poder e a cobrança de mais impostos. Os colonos, que
participaram ativamente da resistência aos invasores franceses, organizando também no mundo
colonial as juntas governativas, não aceitaram a situação. Desejavam concretizar suas aspirações,
como a liberdade de comércio; o fim de monopólios sobre atividades como a produção de sal e
tabaco; e a remoção de limites para implantar manufaturas.
Essas tensões dariam origem aos movimentos de emancipação nas colônias espanholas da América.
Envolvido nos próprios conflitos, o go ver no espanhol não conseguiu conter de forma eficaz esses
movimentos.
Os aliados
Os movimentos liderados pelos criollos tiveram apoio tanto de ingleses quanto de estadunidenses.
À Inglaterra interessava a ampliação do comércio com a América. Para tanto, era necessário o fim
dos vínculos coloniais. O apoio do governo, dos comerciantes e dos industriais ingleses foi
importante tanto para neutralizar a intenção espanhola de utilizar recursos da Santa Aliança
quanto para obter apoio de outros países europeus contra os movimentos separatistas.
O governo dos Estados Unidos, por sua vez, posicionou-se de forma veemente contra qualquer
tentativa de intervenção nos territórios americanos por parte das potências europeias. Essa política
ficou conhecida como Doutrina Monroe e pode ser resumida no lema a América para os americanos.
Foi traçada no governo de James Monroe, em mensagem enviada ao Congresso em 1823. Seu
objetivo principal era evitar a ingerência europeia nas Américas Central e do Sul, assim como
eliminar a pretensão russa de ocupar o território do Alasca.
Essas propostas, em geral, visavam fortalecer o poder político e econômico dos criollos. No entanto,
estavam longe de provocar rupturas sociais mais intensas. Poucos criollos, por exemplo,
pretendiam abolir a escravidão.
Dentro dessa elite, porém, existiam diferentes propostas de emancipação em relação à Espanha. No
vice-reino do Prata, buscava-se consolidar um processo lento e gradual, em que importava mais a
liberdade econômica do que a in dependência propriamente dita. Em outros lugares, como no vice-
reino de Nova Granada, o desejo de separação era mais evidente.
O ponto comum era a preocupação com a revolta popular, como a que caracterizou a independência
do Haiti (veja texto Caso único: a independência do Haiti, no boxe a seguir). Esse temor marcou o
caminho separatista na América. No Peru, de maioria indígena, movimentos como o liderado por
José Gabriel Tupac Amaru assustavam a elite. Em 1780, dizendo-se descendente do último
imperador inca, ele mobilizou índios e mestiços contra o domínio espanhol. Apesar de sua prisão
meses depois, a revolta pros seguiu por mais três anos, quando foi finalmente reprimida pelo
governo.
VOCÊ SABIA?
A situação social sempre foi explosiva, não apenas pela exploração desalmada de meio milhão de
escravos e da degradação de negros livres, mas também por causa das divisões instaladas no seio
da minoria branca. Nesse cenário, Saint-Domingue era a América colonial num microcosmo. A
Revolução Francesa teve efeitos imediatos, liberando tensões raciais e sociais havia muito
reprimidas.
generais negros e mulatos proclamaram o novo Estado do Haiti, a primeira república negra das
Américas.
Para a América espanhola, o Haiti foi um exemplo e uma advertência, observado com crescente
horror tanto por governantes quanto por governados. Os criollos podiam ver agora qual seria o
resultado de uma possível separação da metrópole, da perda da calma pelas autoridades e da perda
do controle pela classe governante colonial. O Haiti representava não apenas a independência, mas
também a revolução. Não apenas a liberdade, mas também a igualdade.
O novo regime exterminou sistematicamente os brancos que restaram e impediu que qualquer
desses indivíduos voltasse a ter algum tipo de propriedade. Com a adoção dessas políticas sociais e
raciais, o Haiti foi estigmatizado como inimigo de todos os regimes coloniais e escravistas das
Américas, os quais tomaram medidas imediatas para se proteger.
Fonte: LYNCH, John. As origens da independência da América Espanhola. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina: da
independência até 1870. São Paulo: Edusp, 2004. p. 68-69.
conexão presente
Os dilemas do Haiti
Desde a independência, a história do Haiti vem sendo marcada pela pobreza e a instabilidade
política, sobrando fome, miséria e violência às suas populações. Nesse frágil contexto, em 2004, por
causa de uma guerra civil, a ONU enviou ao país tropas de paz, lideradas pelo governo brasileiro. A
ação se intensificou a partir de 2010, por causa de um terremoto devastador no local. No início de
2016, estava prevista a retirada definitiva dessas tropas para outubro daquele mesmo ano.
A situação das populações locais, entretanto, era nada confortável: novos eventos naturais
expunham ainda mais a fragilidade dos haitianos. Em 2015, três anos de seca prolongada,
intensificada pela ação do El Niño, deixaram 3,6 milhões de pessoas, ou um terço da população
local, em situação de insegurança alimentar, segundo estimativas do Programa Mundial de
Alimentos (PMA), da ONU.
Dados da ONU apontam ainda que, em 2013, mais da metade dos haitianos vivia abaixo da linha de
pobreza, em situação extremamente vulnerável. A qualidade de vida da população, em outras
palavras, é muito precária, equiparando-se a países que enfrentam grandes desafios
socioeconômicos, como a Somália, na África, e o Iêmen, na Ásia.
Juan Carlos/Corbis/Fotoarena
A junta de Buenos Aires adotou essa prática, ao abrir os portos da cidade para o comércio com a
Inglaterra. Essas medidas conduziriam a um caminho sem volta. Foi então que em várias partes da
América espanhola ganharam fôlego os movimentos de emancipação. Eles, no entanto, iriam refluir
após a derrota de Napoleão e o retorno das monarquias absolutistas ao poder na Europa.
Porém, com a Revolução Liberal na Espanha (1820), ressurgiu com força a luta para o rompimento
dos vínculos coloniais. Como resultado, surgiram na outrora América espanhola inúmeros novos
países. A seguir, veremos os aspectos mais importantes desses movimentos.
A independência do México
Em 1810, no vice-reino da Nova Espanha surgiram os primeiros movimentos que resultaram na
autonomia da região. Com forte apoio popular, era liderado pelo padre Miguel Hidalgo, que acabou
fuzilado pelas forças espanholas no ano seguinte. As lutas seriam retomadas pouco depois, sob o
comando do padre Morellos e de Vicente Guerrero. Ambos, porém, seriam também derrotados. Os
dois movimentos buscavam implementar várias mudanças sociais, como o fim da escravidão e dos
privilégios da elite, estabelecendo maior igualdade entre os membros da população.
La mantilla, de Emile Lassalle, 1836. Na litografia, em primeiro plano, observam-se membros da elite
mexicana e, ao fundo, dois humildes camponeses.
Apesar da derrota, o clima de sublevação permaneceu. Em 1821, para solucionar os conflitos, o
governo enviou Agustín de Itúrbide à região. Ele, porém, voltou-se contra a metrópole e aliou-se aos
criollos, comandando a elaboração do Plano de Iguala. Na prática uma declaração de independência,
o plano determinava que criollos e chapetones passavam a ter igualdade de direitos; ficavam
Página 127
Itúrbide, entretanto, acabou deposto no ano seguinte, por um levante republicano. A independência
do México seria efetivada em 1824, com a eleição de um presidente, o general Guadalupe Vitória.
O movimento, que começou com forte apoio popular e perspectivas de mudanças sociais, acabou se
concretizando sob o domínio das antigas elites econômicas e militares da colônia. Foram esses
grupos que mantiveram a supremacia no novo governo, sufocando os anseios populares.
Províncias desunidas
Várias localidades aceitaram a incorporação ao México de modo pacífico, outras, porém, acabaram
submetidas à força. Essa anexação, no entanto, durou pouco; em 1823, a região declarou sua
independência, formando a Confederação das Províncias Unidas da América Central. Mas a união
dessas províncias também seria efêmera. A partir de 1838, ela se fragmentou, dando origem aos
atuais países: Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica.
Na América do Sul
Os movimentos de independência das colônias espanholas na América do Sul concentraram-se
entre 1810 e 1828. Dois personagens de destaque nessa luta foram Simón Bolívar e José de San
Martín. As ações do primeiro concentraram-se na região do vice-reino de Nova Granada, ao passo
que o segundo liderou várias lutas nos vice-reinos do Prata e do Peru. Tanto Bolívar quanto San
Martín eram militares, moraram e estudaram por muito tempo na Espanha. Tiveram, assim, contato
com ideias iluministas, fundamentais para cada um formular sua própria concepção de
independência.
Bolívar lutava pela instalação de um governo republicano e federativo. San Martín propunha uma
monarquia constitucional. Em comum, ambos desconsideravam a participação popular no processo
de independência e a possibilidade de se formarem vários países nos territórios coloniais.
Idealizavam uma América unida em uma confederação. Ignoravam, porém, as diferenças entre as
populações coloniais, muitas delas anteriores ao domínio espanhol.
Ao fim das lutas pela independência, seus projetos unificadores não se concretizaram. A América do
Sul de colonização espanhola, assim como a Central, fragmentou-se em diversos países, todos eles
republicanos (exceções feitas ao Brasil e à breve experiência monárquica no México).
Biblioteca Mário de Andrade
No vice-reino do Prata, os conflitos contra a metrópole vinham desde 1806, estimulando o desejo
de emancipação política na elite
Página 128
criolla, sobretudo em Buenos Aires. Em 1810, os colonos proclamaram sua primeira independência.
O movimento, porém, foi frustrado. Em 1816, sob a liderança de San Martín, foi feita nova
proclamação, em um congresso realizado em Tucumán. A independência, porém, não viria de forma
fácil e foi consumada após longos conflitos, que resultaram também na fragmentação do vice- -reino
em vários países.
Maps World
Fonte: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina. São Paulo: Edusp, 2004. v. III.
A região do atual Paraguai, então incorporada ao vice-reino do Prata, usufruía de certa autonomia,
graças à forte influência dos jesuítas que ali administravam as missões. Desde as lutas de 1810, os
líderes locais resistiam a submeter-se aos interesses das elites de Buenos Aires. Mas recusavam
também a dominação espanhola. Assim, em 1811, o Paraguai separou-se do restante do vice-reino
do Prata, proclamando uma república. Esse processo foi liderado pelo criollo José Gaspar Rodriguez
Francia, que se tornou o primeiro governante paraguaio, permanecendo no poder até 1840.
O território do atual Uruguai foi incorporado por Portugal ao Brasil em 1821. A região era
intensamente disputada havia muito tempo por causa de sua posição estratégica, que permitia o
controle do rio da Prata, porta de entrada privilegiada para o interior do continente. O governo
português anexou a região com o nome de Província Cisplatina. Os habitantes locais nunca
aceitaram o domínio, lutando por sua autonomia a partir de 1825. A vi tória, como veremos no
Capítulo 12, viria em 1828.
O movimento se espalha
A situação, porém, não estava resolvida. Em 1809, estouraram conflitos armados entre as tropas
lideradas pelas elites locais e os exércitos coloniais. O movimento alastrou-se para o vice-reino de
Nova Granada. Os rebelados responderam à violenta reação do governo espanhol com a declaração
de independência,
Página 129
em 1811. Na lide rança do movimento estavam Simón Bolívar e Francisco Miranda. Ainda com lutas
intensas, a independência só foi concretizada em 1819.
Para evitar a fragmentação, Bolívar idealizou na região uma confederação, a República da Grande
Colômbia, reunindo territórios que hoje correspondem à Colômbia, à Venezuela, ao Panamá e ao
Equador. A unidade política desses territórios não se firmou, extinguindo-se em 1830.
Mais uma vez Bolívar tentaria unir os governos dos países latino-americanos que haviam
conquistado sua independência. Em julho de 1826, ele convidou representantes de cada um deles
para participar da Conferência Pan-Americana do Panamá. Dela, porém, só participaram México,
Guatemala, Peru e Grande Colômbia, frustrando definitivamente os planos de formação de uma
América unida.
Maps World
Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: Fename/MEC, 1980.
Além do México, a América Latina engloba os países da América Central e do Sul colonizados por Portugal e
Espanha. Hoje, costuma-se falar mesmo em América Latina e Caribe para englobar países colonizados por
outros povos, como ingleses e holandeses. Na atualidade, os países dessa região apresentam alto grau de
dependência externa, assim como um quadro social dramático em vários aspectos. Muito do que hoje
caracteriza a região é herança dos tempos coloniais. E também dos processos de independência. Pessoa em
situação de rua, Buenos Aires, Argentina, 2015.
Comandado pelas elites criollas, o processo de emancipação das colônias espanholas não
representou o fim da exploração econômica por parte de outros países. Ao contrário, as populações
da América Latina acabaram inseridas em uma
Página 130
VOCÊ SABIA?
Outros projetos
Certa vez, o escritor brasileiro Millôr Fernandes disse a seguinte frase: Em todos os momentos da
história ficou provado que um país que precisa de um salvador não merece ser salvo. A história da
independência dos países de língua espanhola da América do Sul é, tradicionalmente, ligada à ação
de dois salvadores da pátria: Simón Bolívar e José de San Martín.
Eles são considerados os grandes construtores da autonomia de países como Argentina, Chile,
Venezuela e Colômbia. Em meio a essas histórias, porém, é preciso destacar que existiram muitos
outros projetos para os povos americanos, vários deles propagados por líderes que se tornaram
porta-vozes da maioria indígena na América. Conheça aqui um pouco mais desses líderes e de seus
projetos.
• Tupac Amaru II (José Gabriel Condorcanqui, 1738-1781): entre 1780 e 1781, Tupac Amaru II, líder
de origem inca, comandou um dos maiores levantes indígenas desde a conquista espanhola. Entre
os objetivos do movimento estavam acabar com a cobrança da mita e colocar fim à escravidão.
Assim, conquistou o apoio de afrodescendentes e mestiços.
• José Martí (1803-1859): nascido entre as elites cubanas, Martí lutava pelo reconhecimento da
diversidade das culturas indígena e africana. Alertava para o perigo da continuidade da
dependência em relação aos Estados Unidos e para o fracasso de uma independência pautada em
ideais estrangeiros. Faleceu na Guerra dos Dez Anos, em 1859.
• Domitila Barrios de Chungara (1937-2012): considerada a “dona de casa das minas”, Domitila
Barrios desde cedo aprendeu com o pai, sindicalista, a importância de lutar por seus direitos.
Feminista, integrante da Central Operária da Bolívia e líder do Comitê das Donas de Casa da Mina
Siglo XX, traçou sua luta contra a fome, contra a discriminação da mulher e a favor dos direitos dos
trabalhadores mineiros bolivianos.
Museo Nacional de Bellas Artes, Havana, Cuba
Produção de açúcar, em Cuba, óleo sobre tela, Victor Patricio Landaluce, 1874. Cuba foi o último país a
conquistar autonomia em relação ao domínio espanhol.
Página 131
Presidente de 1998 até sua morte, Chávez buscou associar sua imagem à figura do Libertador. Ele
também mudou o nome do país para República Bolivariana da Venezuela, referindo-se a seu plano
de reformas como Revolução Bolivariana, e chegou mesmo a reeditar o jornal Correo del Orinoco,
criado por Bolívar em 1818, durante a guerra contra a Coroa espanhola.
Durante o tempo que governou, Chávez dedicou-se a instituir o que definia ser um novo modelo de
socialismo no continente americano, que favoreceria a soberania nacional e diminuiria as
desigualdades sociais, melhorando as condições de vida da população venezuelana.
Para isso, defendeu, entre tantas outras medidas, a integração das nações latino-americanas, a
redefinição do papel das Forças Armadas no país e a criação de mecanismos políticos de
participação direta da população nas decisões do Estado. O plano chavista também calçava-se numa
posição crítica em relação à globalização, ao neoliberalismo e à hegemonia estadunidense no
continente.
Para colocar em prática seu projeto, contudo, Chávez promoveu a centralização do poder político e
a elaboração de uma nova Carta Constitucional. Para alguns setores da população e para os partidos
de oposição, bem como para parte da comunidade internacional, essas medidas representavam a
implantação de uma ditadura na Venezuela.
Juan Barreto/AFP
Em frente a uma imagem de Simón Bolivar, Hugo Chaves discursa em Caracas, Venezuela, 2012.
Para refletir...
1. Releia o subitem “Na América do Sul” (p. 127) deste capítulo. Em que aspectos o projeto
defendido por Hugo Chávez se aproximava do plano de Bolívar para a América do Sul?
2. Aponte pelo menos um aspecto em que o projeto chavista contrariava as posições políticas
defendidas por Bolívar.
3. Observe com atenção a fotografia acima e analise-a, considerando os planos de Chávez para o
continente.
4. Em sua opinião, por que o presidente venezuelano buscava com tanta ênfase associar sua
imagem à de Simón Bolívar?
5. Após a morte de Hugo Chávez, em 2013, Nicolás Maduro assumiu o poder na Venezuela.
Seguidor dos princípios do ex-presidente, ele vinha sofrendo então fortes críticas de amplos setores
da sociedade e ataques acirrados da oposição. Faça uma pesquisa para conhecer a atual situação
política daquele país e troque as informações obtidas com os colegas.
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HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 No início do século XIX, a Espanha, assim como quase toda a Europa, estava envolvida nas
Guerras Napoleônicas. Em 1807, a Espanha foi invadida, e o então rei, Fernando VII, deposto. A
respeito desse tema:
a) explique por que, ao retomar o poder após o fim da dominação napoleônica, Fernando VII se
deparou com um cenário de resistência a suas políticas absolutistas e colonialistas, na Espanha e na
América;
b) aponte as principais consequências da política adotada pelo rei Fernando VII em relação às
colônias espanholas da América.
3 De que forma a independência do Haiti, marcada por seu caráter popular, influenciou as ações
das elites criollas, que lutavam pela emancipação da América espanhola?
4 No período de 1810 a 1824, no México, houve muitos conflitos pela independência do país.
Diferencie os movimentos liderados por Miguel Hidalgo, Morellos e Vicente Guerrero do governo
que seria efetivado no país entre 1823 e 1824.
5 Símon Bolívar e José de San Martín foram os principais líderes dos movimentos de
independência na América do Sul. Compare os projetos que cada um deles possuía para o
continente, apontando suas semelhanças e diferenças.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Outro lado
Nos anos que medeiam 1808 e 1825 estabeleceu-se uma nova relação entre as economias hispano-
americanas e a economia mundial. É possível que, comparadas à sua incorporação mais completa à
economia internacional em expansão, o que teve início mais ou menos na metade do século e se
acentuou ainda mais a partir da década de 1870, as mudanças que se seguiram à conquista da
independência política parecem superficiais e limitadas; constituem, não obstante, um momento
decisivo nas relações entre a América espanhola e o resto do mundo.
O velho sistema comercial do tempo de colônia vinha sofrendo, desde o final do século XVIII, um
processo de desintegração, mas somente depois de 1808 é que a Espanha deixou de ser em
definitivo o intermediário comercial entre a América espanhola e o resto da Europa, sobretudo a
Inglaterra. As circunstâncias especiais que predominavam nessa época tanto na Europa quanto no
conjunto da economia atlântica tiveram importantes consequências para as futuras relações
comerciais da América espanhola. O primeiro objetivo da invasão da península Ibérica pelos
exércitos franceses, que desencadeou a separação das colônias americanas da Espanha e de
Portugal, era terminar de fechar a Europa continental ao comércio britânico. Cada vez mais isolada
de seus mercados europeus, a Inglaterra tentou substituí-los com uma urgência que beirou o
desespero. Assim, a oportunidade de negociar diretamente com o Brasil, proporcionada pela
transferência da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, foi
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recebida a princípio com entusiasmo. E quando a queda da Coroa espanhola em Madri suscitou os
primeiros levantes políticos na América Espanhola, o Rio de Janeiro tornou-se o entreposto para
uma penetração comercial agressiva dos ingleses não só no próprio Brasil mas também na América
espanhola, em especial na região do Prata e na costa sul-americana do Pacífico.
DONGHI, Túlio Halperín. A economia e a sociedade na América espanhola do pós-independência. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da
América Latina: da independência a 1870. São Paulo: Edusp, 2004. p. 277.
2. Com a derrota de Napoleão e a independência das colônias ibéricas, explique como ficou o
cenário europeu.
(...) Tão marcante foi esse processo [de colonização de exploração] que ainda atualmente vários
países da América Latina – como Venezuela, Chile, Peru, Bolívia e Equador – têm as matérias-
primas como produto principal de seu setor exportador. Outros países, como por exemplo a
Argentina, já possuem um setor industrial mais desenvolvido, ainda que suas exportações e sua
produção industrial permaneçam centrados em grande medida em bens primários e de pouco valor
agregado. Segundo dados da Cepal (Comissão Econômica para América Latina), desde 1980 as
exportações da América Latina cresceram cerca de cinco vezes, enquanto o PIB total dobrou, o que
demonstra que o crescimento do setor exportador, exigido pelos organismos multilaterais como
condição para o desenvolvimento e erradicação da pobreza nos países periféricos, que estariam
galgando degraus para chegar ao nível de desenvolvimento das economias centrais, não foi
acompanhado por um crescimento proporcional do PIB (...). Não obstante o aumento significativo
das exportações principalmente durante o século XIX, a dívida externa da América Latina só fez
aumentar, o que ajuda a marcar a relação de dependência e subordinação entre nações
formalmente independentes.
A economia dos países da América Latina se desenvolveu estreitamente ligada à dinâmica do capital
internacional, à medida que o continente – devido às características de sua colonização – passou a
produzir e exportar matérias-primas sem desenvolver inicialmente uma indústria e um mercado
interno abrangente para o consumo de bens manufaturados, que eram importados para o uso por
parcelas seletas da sociedade capitalista então em formação.
AGB. Anais XVI Encontro Nacional dos Geógrafos. Crise, práxis e autonomia: espaços de resistência e de esperanças. Porto Alegre, 2010. p. 1-4.
Em grupo
2. Apresentem seu trabalho aos demais grupos e ouçam o que eles fizeram. Ao final, discutam as
principais ideias, comentando a atual situação dos países americanos colonizados pelos espanhóis.
Em dupla
• Releiam o boxe “Você sabia? – Outros projetos” (p. 130) e elaborem um texto imaginando como
seria a América de língua espanhola hoje, caso tivessem vingado os projetos populares de
autonomia dos países.
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CAPÍTULO 11
Enfim, Brasil!
Vamos lá!
Pedro Américo é o autor da imagem mais conhecida sobre o Sete de Setembro. Trata-se do quadro
Independência ou morte, finalizado em 1888, na cidade de Florença, para atender à encomenda do
governo paulista, que desejava colocar a obra no Monumento do Ipiranga, ainda em projeto.
Para a realização do quadro, Pedro Américo fez intensa pesquisa, desde visita ao local até
entrevistas com pessoas que presenciaram a cena. No texto explicativo da obra, entretanto, o autor
justifica algumas alterações no que constatou, com o objetivo de dar ao momento o “esplendor da
imortalidade”.
A besta que conduzia dom Pedro foi, assim, substituída por um portentoso cavalo; as tropas que o
acompanhavam ganharam uniforme de gala e equinos igualmente imponentes; o futuro imperador,
que na realidade enfrentava uma crise de diarreia, recebeu ares mais dignos de líder; o carroceiro
colocado ao lado serviu para dar um sabor local; e o riacho, por fim, teve de ser desviado, para
acomodar toda a representação.
ELABORANDO HIPÓTESES
Ao longo do século XVIII, o ouro e outras riquezas exploradas na América sustentaram o go verno
português. Por esse motivo, Marquês de Pombal, ministro de maior poder do rei dom José I,
procurou racionalizar a administração colonial e criar condições para o desenvolvimento
econômico, além de dar maior uniformidade à colônia e aproximá-la de Portugal.
Entre outras medidas, transferiu o centro administrativo da colônia de Salvador para o Rio de
Janeiro. Para estimular a produção de açúcar, tabaco e algodão, por exemplo, criou duas
companhias de comércio: a Companhia Geral do Comércio do Grão-Pará e Maranhão e a Companhia
Geral de Pernambuco e Paraíba. Pôs fim às capitanias hereditárias e instituiu o português como
língua oficial e obrigatória, proibindo o uso das diversas línguas gerais nos órgãos da
administração.
Sua medida mais polêmica, porém, foi a expulsão dos jesuítas de Portugal e dos territórios
coloniais. Pretendia, com isso, desvincular governo e Igreja; com enorme poder, os jesuítas
dominavam grandes riquezas e funções. Com a expulsão, todas as escolas, incluindo os aldeamentos
indígenas (missões), passaram para o controle da administração portuguesa.
As medidas do Marquês de Pombal, adepto dos ideais iluministas, não tiveram longa duração.
Sofrendo forte oposição, ele acabou afastado do poder.
O governo de Pombal foi marcado por mudanças em Portugal e em suas colônias. Este é um de seus retratos
mais conhecidos, em que aparece rodeado por símbolos portugueses. Obra de L.M. Vanloo e J. Vernet, 1766.
Breve panorama
Ao desembarcar na colônia, a família real encontrou uma sociedade essencialmente agrícola e
marcada por contradições.
A maior parte da população vivia concentrada na área litorânea, próxima aos portos. Estima-se que
na colônia viviam cerca de 3,5 milhões de pessoas: 30% de origem europeia, e as demais, mestiços,
indígenas e africanos ou descendentes; quase um terço da população era escravizada.
Comparada à dos séculos iniciais da colonização, a sociedade havia se diversificado. Muitas cidades
concentravam desde funcionários do governo até comerciantes e profissionais liberais. Quem
dominava as ruas, porém, eram as pessoas de origem africana. Reunidas aos colonos pobres,
vendiam de tudo, prestavam pequenos serviços, sustentavam a pequena elite de senhores.
Essa terra de escravos e senhores era composta de diversos núcleos coloniais. Estes dificilmente se
integravam, não só pela falta de caminhos, mas também porque cada um desenvolvia uma
economia específica, em geral voltada para o exterior.
A agricultura passava por um período de prosperidade graças a vários fatores, entre eles a
Revolução Industrial, que levou ao aumento da demanda por matéria-prima. Apesar do predomínio
do latifúndio, voltado para a exportação, existiam várias propriedades rurais destinadas a produzir
gêneros de consumo interno, como arroz, milho e mandioca. O ouro, por sua vez, escasseava.
A família real portuguesa, durante os mais de dez anos em que permaneceu no Brasil, tomou
inúmeras medidas para dinamizar a sociedade local. Não conseguiu, porém, concretizar o desejo de
refazer o antigo império. Ao contrário, deu início a um processo que culminou com a independência
do Brasil.
Página 137
VOCÊ SABIA?
As fronteiras da colônia
Ao longo dos séculos XVII e XVIII verificou-se uma grande expansão territorial da colônia, o que
levou o governo português a intensificar suas relações diplomáticas, sobretudo com a Espanha,
para definir as fronteiras de suas possessões.
Um dos primeiros resultados desse esforço foi o Tratado de Madri, de 1750, pelo qual se
determinou que as terras pertenceriam àqueles que de fato as tivessem ocupado. A América
portuguesa, com isso, adquiriu praticamente os mesmos limites territoriais do atual Brasil. Apenas
nas áreas de fronteira do sul esse princípio não foi seguido. Naquela região, a Espanha ficou com a
Colônia do Sacramento, enquanto os portugueses incorporaram o território das Sete Missões, com
inúmeros aldeamentos jesuíticos.
O acordo, entretanto, não colocou fim às disputas. Anulado anos depois, deu lugar ao Tratado de
Santo Ildefonso, em 1777, pelo qual as terras das missões seriam restituídas aos espanhóis. O
governo português nunca se mostrou satisfeito com essa decisão e, nos anos seguintes, fez duas
intervenções militares na região.
Maps World
Fonte: Nossa História. Rio de Janeiro: Vera Cruz, ano 3, n. 25, nov. 2005.
abandonaram o país no dia 29 de novembro de 1807. Trouxeram, ainda, todo o aparato burocrático
necessário para implantar nos trópicos a administração do reino.
Em Lisboa, a fuga motivou a indignação popular e provocou enorme confusão: uma multidão,
ansiosa para escapar das tropas francesas, tentou embarcar à força nos 36 navios.
No início do século XIX, a Bahia era uma das mais ricas regiões da América portuguesa: produzia
açúcar, tabaco, sal, além de praticar a pecuária, e lucrava com o tráfico de escravos (Salvador era
um dos principais portos de desembarque de africanos na colônia). Suas ruas, entretanto, eram
estreitas, sujas e intensamente disputadas por vendedores. Lugar estranho e quente para europeus
recém chegados, foi ali que dom João assinou sua primeira medida importante na América: a
abertura dos portos aos povos amigos; em outras palavras, aos ingleses.
No Rio de Janeiro
A Corte portuguesa não se demorou em Salvador; semanas depois, partiu para o Rio de Janeiro –
cidade, na época, com cerca de 43 mil habitantes, não mais de 46 ruas e poucos edifícios de
destaque. A chegada da família real provocaria mudanças radicais. A população, por exemplo, em
pouco tempo saltaria para mais de 200 mil pessoas.
Tudo teve de ser organizado às pressas. Os prédios do governo passaram por inúmeras reformas.
Várias moradias foram sumariamente desapropriadas para abrigar a Corte. Na porta das escolhidas,
os funcionários reais afixavam as letras P.R., abreviatura de Príncipe Regente. A população, porém,
não tardou a dar novo significado às letras: ponha-se na rua ou prédio roubado.
Ao longo dos anos seguintes, o cotidiano da cidade seria radicalmente alterado, com esforços para
dar às terras tropicais feições mais próximas às da Europa e “dignas” de uma Corte absolutista.
Foram introduzidos vários rituais da monarquia e novos hábitos peculiares a uma grande
população urbana, como festas religiosas e civis, diferentes hábitos alimentares, maneiras de vestir
e de morar. Surgiram diversas instituições culturais e científicas, como a Biblioteca Real, a Imprensa
Régia, o Teatro São João, o Jardim Botânico e, ainda, inéditos cursos de medicina na Bahia e no Rio
de Janeiro. O esforço incluiu, por exemplo, uma missão de artistas vindos da França com o objetivo
de desenvolver na população o gosto pela arte.
Palácio Nacional de Queluz
Sistema colonial: assim se convencionou chamar toda a rede de relações – políticas e econômicas – que
ligavam a metrópole à colônia. Para vários especialistas, a chegada da família real à América é o marco
inicial do rompimento desses vínculos. Na imagem, Alegoria às virtudes de dom João VI, de Domingos
Sequeira, cerca de 1800 – espécie de idealização para um governante que enfrentou enormes dificuldades
durante toda sua administração.
Página 139
VOCÊ SABIA?
As expedições científicas
Com a chegada da família real, pesquisadores, artistas e aventureiros puderam desembarcar na
América portuguesa, o que até então era proibido. Vieram várias missões científicas, provenientes
de diversos países europeus e até mesmo de outras regiões da América, entre elas:
• Expedição do príncipe Maximilian von Wied-Neuwied: realizada entre 1815 e 1817, foi uma
das primeiras expedições germânicas ao Brasil. Seus participantes legaram vários relatos de
viagens. Diferentemente de outras, de cunho mais científico, esta parece ter assumi do um caráter
mais turístico. As gravuras feitas pelos artistas que a integraram parecem mais lembranças de
viagem do que imagens para estudos.
• Missão Artística Francesa: chefiada por Joachim Lebreton, desembarcou no Brasil em 1816;
veio com o apoio do governo português e a tarefa de organizar uma escola de formação artística no
Rio de Janeiro. O trabalho desses artistas – entre os quais se destacaram Jean-Baptiste Debret,
Nicolas-Antoine Taunay, Grandjean de Montigny e Marc Ferrez – marcou a produção artística
brasileira durante décadas.
• Missão Austríaca: expedição científica organizada pelo governo austríaco, chegou a terras
americanas no ano de 1817, junto com a futura princesa Carolina Josefa Leopoldina (arquiduquesa
austríaca que se casaria com o príncipe dom Pedro). Karl Friederich Philipp von Martius e Johann
Baptiste von Spix tornaram-se seus integrantes mais conhecidos.
Retrato do indígena Iuri, publicado no álbum Viagens ao Brasil, de Spix e Martius, em 1823.
Academia de Ciências da Rússia
Palmeiras buriti, quilombo, na chapada, de Aimé-Adrien Taunay, 1827. Na aquarela, o artista retratou a
paisagem da América portuguesa.
Fomentando a economia
Nas áreas política e econômica também foram promovidas intensas mudanças, necessárias para o
pleno funcionamento do governo. Ministérios e tribunais, que antes existiam apenas em Lisboa,
passaram a funcionar no Rio de Janeiro. Várias restrições às atividades econômicas acabaram
removidas, incluindo a proibição à instalação de manufaturas. Foi criado ainda um banco.
Essas medidas, porém, não foram suficientes para promover a economia – as iniciativas eram
dificultadas pela concorrência de produtos estrangeiros, particularmente ingleses. Em 1810, o
governo português concedeu privilégios aos ingleses por meio de dois acordos: o primeiro referia-
se ao comércio e à navegação; o segundo, conhecido como Tratado de Amizade e Aliança,
estabelecia taxas de apenas 15% aos produtos ingleses ao entrarem na colônia – valor mais baixo
que o aplicado aos produtos manufaturados em Portugal, tributados em 16%. Somente em 1816 as
tarifas foram equiparadas.
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Imperial Teatro São João, Largo do Rócio, Loeillot, 1835. A vinda da família real provocou mudanças na
colônia, entre elas o incentivo à produção cultural. Construído naquela época, esse teatro foi destruído duas
vezes por incêndio. Atualmente, remodelado, chama-se Teatro João Caetano.
Mas a estrutura social pouco se transformou na América portuguesa. Fora do Rio de Janeiro, várias
mudanças nem sequer foram sentidas. O poder, antes concentrado em Lisboa, apenas se transferiu
para o Rio de Janeiro; outros lugares pouco usufruíram de maior autonomia. A principal
característica da sociedade permaneceu inalterada: a escravidão de africanos e seus descendentes.
Os vários problemas que motivavam revoltas na colônia, desde o fim do século XVIII,
permaneceram. A situação ainda se agravou com o fim das Guerras Napoleônicas e o
restabelecimento das monarquias absolutistas na Europa.
Nada mais justificava o exílio da Corte portuguesa na América, deixando o poder em Portugal
aberto para possíveis revolucionários movidos por ideais iluministas. Dom João, entretanto, não
mostrava interesse em retornar. A solução encontrada foi elevar o Brasil à condição de Reino Unido
de Portugal e Algarves. Assim, o governo deixava de ficar sediado em terras coloniais: dom João
governava no próprio reino. Foi dessa forma que o Brasil deixou de ser uma colônia, apesar de
manter vínculos com Portugal.
3 A Insurreição Pernambucana
A elevação a Reino Unido pouco mudou a situação na antiga colônia. O estabelecimento da família
real no Rio de Janeiro exigiu a criação de uma estrutura paga por meio de impostos cobrados dos
colonos. Os descontentamentos se multiplicavam; em várias províncias aumentavam as tensões.
Em Pernambuco, o clima de constrangimento ampliou-se a partir de 1816, diante de uma forte crise
econômica provocada pela queda do preço do açúcar e do algodão no mercado mundial. Inspirados
pelos ideais iluministas, a independência das 13 Colônias Inglesas e a Revolução Francesa,
intelectuais, militares e membros da Igreja lideraram um movimento para pôr fim ao domínio
português, chamado Insurreição Pernambucana (1817). Entre os principais líderes estavam
Antonio Carlos Ribeiro de Andrade, Bernardo Luís Ferreira e Gervásio Pires Ferreira.
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A intenção dos revoltosos chegou aos ouvidos do governante da província, que imediatamente
ordenou a prisão dos líderes. Os militares envolvidos no movimento, porém, recusaram-se a
cumprir a ordem. A insubordinação fez o governante abandonar o Recife, mas acabou cercado e
obrigado a se render.
Com o poder nas mãos, os revoltosos constituíram um governo provisório. Além da independência,
pretendiam proclamar a República, elaborar uma Constituição que garantisse a liberdade de
imprensa e de culto religioso e abolir vários impostos. Mas não tomaram nenhuma providência
para extinguir a escravidão. Afinal, vários donos e comerciantes de pessoas escravizadas davam
sustentação ao movimento. O fim da escravidão aparecia apenas como uma medida para o futuro, a
ser realizada de forma lenta e gradual.
Sob o controle das elites, o movimento buscava consolidar as aspirações desse grupo: eliminar as
limitações impostas aos negócios e fortalecer as regras do livre-comércio. Com essas propostas, os
revoltosos pernambucanos conseguiram organizar um governo republicano que resistiu por cerca
de 70 dias.
O movimento estendeu-se também a outros lugares da atual região Nordeste. Na Paraíba, por
exemplo, o Governo Provisório era formado por representantes de diversos grupos da elite. Porém,
ocorreram inúmeras desavenças entre os líderes, incapazes de estabelecer um plano econômico e
político que agradasse a todos. Isso enfraqueceu o movimento e facilitou a repressão por parte do
governo português.
O golpe final viria com a chegada de navios, armas e munições enviados por ordens de dom João.
Em 19 de maio de 1817, os revoltosos foram derrotados, e vários líderes, condenados à morte.
Dezenas de participantes foram presos e degredados; muitos só seriam libertados em 1821, com
uma anistia concedida pelas Cortes de Lisboa. Luiz do Rego, comandante das forças armadas
enviadas pelo governo português, foi nomeado o novo representante do rei em Pernambuco e
recebido com festa pela população contrária à Insurreição.
Em 1820, a situação tornou-se ainda mais tensa com o início, na cidade do Porto, de uma revolução
de caráter antiabsolutista, inspirada nos princípios iluministas. Sob a liderança de grandes
comerciantes, o movimento espalhou-se rapidamente por todo o rei no. Os revolucionários exigiam
o retorno da Corte a Portugal, o afastamento de Beresford do poder e a elaboração de uma
Constituição que limitasse os poderes reais. Para isso, foram convocadas as Cortes de Lisboa, antigo
órgão de representação que tinha a incumbência de auxiliar o rei. Ao longo da Revolução, o órgão
acabou se transformando em Assembleia Constituinte.
Os diferentes projetos
Ao retornar a Portugal, dom João VI deixou no Brasil seu filho, dom Pedro, como príncipe regente,
mantendo assim a condição de reino unido. Porém, o processo de ruptura com Portugal parecia
irreversível. A possibilidade de restabelecer antigos
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Um desses projetos ganhou força. Era liderado por grandes proprietários de escravos e terras, que
viam na figura de dom Pedro a garantia de continuidade das estruturas sociais e econômicas então
vigentes. Isso incluía não apenas a manutenção dos latifúndios e da escravidão, mas também das
conquistas econômicas consolidadas desde 1808.
Essas ideias eram defendidas por um grupo conhecido como Partido Brasileiro, que contava com
nomes como José Bonifácio. A princípio, o grupo achava possível a ideia de formar com Portugal um
grande império luso-brasileiro, reformulando os laços entre os dois países. A formação desse
império atenderia aos interesses comerciais e econômicos da elite, que poderia ampliar seus
negócios de exportação. Com a mudança de cenário, o grupo passou a defender a autonomia do
Brasil.
Oposto a esse projeto, havia o do grupo dos chamados Radicais, liderado por Gonçalves Ledo, Muniz
Barreto, José Clemente Pereira e Martim Francisco. Embora existissem muitas divergências entre
eles, defendiam maior participação popular e liberdade de imprensa. Alguns desejavam instaurar a
república no novo país.
Com a independência, o Brasil tornava-se um país com as marcas dos tempos coloniais: grandes fazendas
monocultoras e movido pelo trabalho escravo. Cativos acorrentados levam o jantar para a cadeia, obra de
Debret, início do século XIX.
VOCÊ SABIA?
Traçando alianças
No fim da década de 1810, dom Pedro, futuro imperador do Brasil, precisava se casar. O pai, então,
enviou emissários à Europa para encontrar uma consorte. A escolhida deveria pertencer a uma casa
monárquica de grande poder no Velho Mundo; naquela época, ao menos entre os nobres,
casamento não era questão de amor, mas de negócios.
Todo o investimento recaiu, então, sobre a casa dos Habsburgo. Dom Pedro casou-se com a filha do
imperador da Áustria, a arquiduquesa Carolina Leopoldina – moça de educação esmerada, bem
superior à do rude príncipe. Para os Habsburgo, o enlace trazia a possibilidade de fincar pé na
América, em especial no imenso território do Brasil, lugar de fartas riquezas. Para os portugueses,
selava uma aliança com o que havia restado de mais significativo dos governos absolutistas na
Europa (a história dos Habsburgo remonta ao século XII).
Laços rompidos
Para impor o projeto de recolonização, as Cortes de Lisboa exigiam também o retorno de dom
Pedro a Portugal. Isso provocou intensa mobilização no Brasil; 8 mil assinaturas foram colhidas
para pedir a permanência do príncipe regente. Ao receber esse documento, em 9 de janeiro de
1822, dom Pedro declarou, em um verdadeiro teatro político, que permaneceria “para o bem de
todos e felicidade geral da nação”. A data ficou conhecida como o Dia do Fico e fortaleceu a
liderança de dom Pedro. A partir de então, reuniram-se em torno de seu nome diversos grupos com
propostas divergentes, incluindo vários dos radicais.
Nos meses seguintes, só aumentaram as tensões entre o governo instalado no Rio de Janeiro e as
Cortes. Estas tomaram várias medidas para desestruturar o poder no Brasil, algumas visando ao
controle das províncias. Por influência de José Bonifácio, um dos principais líderes políticos do mo
mento, dom Pedro decretou que todas as ordens vindas de Lisboa só teriam validade no Brasil após
sua autorização.
Em 7 de setembro de 1822, durante uma viagem à província de São Paulo, o príncipe recebeu uma
mensagem de seu conselho de ministros: Lisboa ordenava seu retorno imediato a Portugal.
Segundo vários relatos, os ministros também o aconselhavam a proclamar a Independência. Dom
Pedro consumou o ato: o Brasil ganhava autonomia. Em 1 de dezembro, o príncipe herdeiro do
o
trono português era aclamado imperador do Brasil, com o título de dom Pedro I.
VESTÍGIOS DO PASSADO
SCHWARCZ, Lilia M.; STALING, Heloisa M. Brasil: uma biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. imagem 58.
Akademie der Bildenden Künste, Viena, Áustria
O poder seguiu nas mãos dos senhores de escravos e de terras. Até mesmo o sistema de go verno
demonstrava continuidade, pois a dinastia portuguesa mantinha-se no poder. Em resumo, a
emancipação foi uma conquista da elite para a elite. Buscando preservar o poder, ela soube
comandar o fim dos vínculos coloniais antes que uma proposta alternativa de independência
ganhasse corpo nas camadas sociais menos favorecidas.
O Sete de Setembro, entretanto, não coroou esse processo de emancipação. Com forte formação
absolutista, o governo de dom Pedro I seria marcado por inúmeras crises, que deixaram em aberto
a disputa pelo poder e pelos destinos do novo país. Seriam necessários mais alguns anos para a
consolidação da independência.
Apesar de sua força, a obra não impediu a monarquia de ruir. Contudo, marcou para sempre o
imaginário político nacional.
Foi embalado pela mesma visão idealizada da história e inspirado pela representação de Pedro
Américo que, em 1972, o cineasta Carlos Coimbra dirigiu o filme Independência ou morte. Apesar de
acompanhar toda a trama política que culmina com a independência do Brasil, o filme dedica
atenção especial ao romance entre dom Pedro e a Marquesa de Santos, interpretados
respectivamente por Tarcísio Meira e Glória Menezes.
Feito com grande rigor técnico e direção impecável, Independência ou morte foi um sucesso de
bilheteria. Entretanto, o país vivia o auge da ditadura militar e, naquele contexto, o filme parecia
endossar o regime, uma vez que vinha ao encontro do discurso patriótico difundido pelo governo,
colaborando para reafirmar a visão oficial da história. Em virtude disso, acabou desprezado pela
crítica e figurando quase como uma mácula na carreira de Carlos Coimbra.
Cartaz do filme Independência ou morte (1972) de Carlos Coimbra © Reprodução
Para refletir...
1. A Independência do Brasil foi tema tanto do quadro de Pedro Américo quanto do filme de
Carlos Coimbra. Nos dois casos, foi representada com base em uma visão idealizada. A que fins essa
visão serviu em cada um dos casos?
2. Em sua opinião, o artista deve se preocupar com o significado político de sua obra ou deve criar
de maneira absolutamente livre, sem dar importância a esse aspecto? Justifique.
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O conde de Buffon – respeitado naturalista francês do século XVIII, autor da História natural do
homem, em 44 volumes – descrevia a anta, um dos animais típicos do Brasil, como uma anomalia,
uma degenerescência do elefante. E utilizava o exemplo para afirmar que a Europa era superior à
América.
Buffon não era o único a pensar dessa maneira. O iluminista Montesquieu acreditava que o clima
influenciava a formação das sociedades, e que em lugares quentes se multiplicavam as barbáries.
Por isso, a monarquia constitucional, formada nos ares temperados da Europa, deveria servir de
modelo para os demais povos do mundo.
Em resumo, o clima dos trópicos provocava anomalias que atingiam desde os animais até a
organização social. Essas ideias ajudavam a formar a opinião sobre o Brasil, tanto aqui quanto na
Europa; para muitos, um lugar de calor infernal, animais peçonhentos e natureza hostil. Esse lugar,
segundo os adeptos da teoria, nunca poderia abrigar uma grande civilização.
Mas não faltavam pessoas de opinião contrária, que lembravam a fertilidade das terras, muito
superior às da Europa, e as dimensões do território, com grande diversidade de paisagens. Alguns
chegavam a afirmar que a exuberância da natureza e o clima ameno faziam lembrar o Éden; fora o
fato de terem sido os indígenas e os africanos que descobriram o ouro e produziram as demais
riquezas do lugar.
No início do século XIX, toda essa discussão tinha uma única razão: colônia de Portugal por mais de
300 anos, o Brasil sonhava em se tornar sede do vasto império português. O projeto não vingou;
cada país acabou por seguir um caminho próprio.
Ainda hoje se discute se o Brasil pode ou não abrigar uma grande civilização, em função de suas
características. Nesse debate, muitos reafirmam preconceitos e menosprezam valores importantes
para todos os brasileiros.
MASP, São Paulo, Brasil
A Manufatura dos Gobelins foi fundada no século XVII, na França, para produzir tapeçaria e mobiliário às
Coroas europeias. Nessa tapeçaria de 1730, feita a partir de pintura de Albert Eckhout, vemos diferentes
espécies animais e vegetais do continente americano, mostrando toda sua exuberância e exotismo que, ao
mesmo tempo, fascinava e aturdia os europeus.
Em grupo
1. Com base no texto, identifique e explique a discussão existente a respeito do Brasil entre fins do
século XVIII e início do XIX.
2. Discuta com seus colegas a respeito da possibilidade de o Brasil abrigar uma sociedade mais
justa e igualitária. Depois, apontem alternativas para construirmos um país menos desigual.
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HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Com base no que foi visto no capítulo, estabeleça uma relação entre a vinda da família real
portuguesa para sua colônia na América e os conflitos entre a Inglaterra e a França napoleônica.
2 No início desse capítulo, afirma-se que, à época em que os integrantes da Coroa portuguesa
desembarcaram na América, encontraram uma terra de “escravos e senhores”. Explique o
significado dessa afirmação.
3 A família real chegou ao Rio de Janeiro acompanhada por cerca de 15 mil pessoas e grande
aparato burocrático. Explique como a cidade se transformou para se tornar a sede da monarquia.
8 Observe a imagem abaixo e responda: Que aspectos da sociedade colonial podem ser
identificados nessa imagem?
Biblioteca Mário de Andrade
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
A biblioteca do rei
A principal biblioteca brasileira encontra-se no Rio de Janeiro: a Biblioteca Nacional. Sua história
serviu para a antropóloga Lilia Moritz Schwarcz tratar do processo de independência do Brasil,
acompanhando desde a sua formação, em Portugal, passando pelo seu traslado para a América
junto com a família real, até sua aquisição pelo novo governo brasileiro, logo após a independência.
No trecho a seguir, ela trata da simbologia dessa e de outras bibliotecas.
E o Brasil nasceu independente e já com sua biblioteca como se fosse um presente – dádiva de um
lado só. Mas o que vem junto com uma biblioteca, e por que se pagou tanto por essa? E, afinal, por
que escrever a história de nossa independência por meio de livros? Na verdade, como uma história
iluminista, esta, que está para acabar, conta com a sina de uma emancipação feita com livros.
Segundo item de uma agenda pesada de requisições, nossa Real Livraria custara caro, mas
simbolizava muito. Era a independência que se fazia portando tradição, ou eram os livros que
carregavam eles próprios sinais de independência cultural e intelectual? Palco para queixas e
reclamações, a biblioteca oscilou em suas representações. Para dentro – e para uso interno –, era
um poço de lamúrias: faltavam funcionários, livros, condições e até leitores. Para fora, porém, era
sempre um trunfo; um cartão-postal que conferia “longevidade”, dava história e reconhecia
continuidade para este país que vivia de seus momentos inaugurais.
Frágil em sua história, nossa Biblioteca seria guardada na memória, como tantas outras que
resistiram a seu destino e vingaram tal qual muralhas. É porque na história das bibliotecas sempre
se impôs esta mesma duplicidade: observadas internamente são frágeis e passageiras; vistas com
maior distanciamento parecem indestrutíveis. Alocadas em grandes edifícios e compostas de
coleções de coleções, de livros milenares e documentos cuja data se perdeu, as bibliotecas
guardaram uma imagem de estabilidade e solidez que, na verdade, pouco combinou com seu
destino. A história mostra como essas livrarias foram e continuam sendo destruídas, seja por
motivos naturais, seja por conta da razão instável dos homens. E, cada vez que uma caía, tombava
com ela uma parte da civilização. Foi assim com Alexandria, que durou apenas um século, e com ela
– com seus 700 mil volumes – desapareceu parte do conhecimento
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disponível sobre a Grécia. Não por acaso os ingleses queimaram a Biblioteca do Congresso em 1814,
e um novo acervo cultural teve de ser construído. Foi assim quando Monte Cassino foi
bombardeada, durante a Segunda Guerra Mundial, e perdeu-se boa parcela do conhecimento sobre
a Europa Medieval. E, não faz muito tempo, a destruição da Biblioteca Nacional do Camboja, pelo
Khmer Vermelho, levou consigo o maior estoque de informações sobre a civilização cambojana. Por
sinal, esse era o objetivo de seus algozes, que pretendiam reduzir o passado a zero e recomeçar do
nada: criar uma memória; inventar de novo uma mesma nação. Não por acaso destruíram 80% dos
livros e mataram 57% dos seus sessenta bibliotecários. Como se vê, a história das bibliotecas é
antiga e feita de destruições, mais ou menos intencionais. Mas a repetição pede atenção, e a
insistência em queimar revela o objetivo de liquidar memórias e de tudo recomeçar.
SCHWARCZ, L. M. A longa viagem da biblioteca dos reis: do terremoto de Lisboa à Independência do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras,
2002. p. 418-419.
2. Por que a aquisição dessa biblioteca era importante para o novo governo brasileiro?
3. Com base nessa discussão, elabore uma avaliação do processo de independência brasileiro,
levando em consideração as tradições criadas para legitimar o acontecimento, as rupturas e as
permanências.
Ao tratar da independência, uma questão se impõe: como estão Brasil e os brasileiros ao longo
desses quase 200 anos que se passaram desde então? Aliás, nesse período, muitos já fizeram isso,
em verso e prosa, como o compositor João de Barro, nesta letra de música cantada por Carmem
Miranda:
1. Com um grupo de colegas, façam as mesmas perguntas da música para várias pessoas.
3. Depois, com esse material, façam um texto sobre o que é o Brasil e quem são os brasileiros.
VOLTANDO AO INÍCIO, FECHANDO HIPÓTESES
No começo do capítulo (na seção “Vamos lá!”, p. 135), vimos como Pedro Américo recriou o Sete de
Setembro com o objetivo de enaltecer o acontecimento. A cena encontra-se centrada na figura de
dom Pedro, apresentado como líder e herói, em um terreno acima de todos os seus seguidores,
colocados de forma solene, em trajes de gala.
Agora, é a sua vez de recriar o acontecimento, dando sua interpretação para o processo de
independência do Brasil. Assim, com base no que sabe sobre o tema, faça uma representação do
Sete de Setembro – pode ser texto, desenho, música, meme de internet etc. Ao final, exponha seu
trabalho para o restante da classe.
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CAPÍTULO 12
O império brasileiro
desagregado
Vamos lá!
O Brasil é um país reconhecidamente musical – tradição vinda dos tempos coloniais, em grande
parte trazida pelos africanos e também pelos europeus. No dia a dia, essas heranças se mesclaram,
nem sempre com a aprovação dos grupos de elite.
O lundu, por exemplo, considerado por vários especialistas como uma das raízes do samba, era um
dos muitos ritmos desenvolvidos pelos africanos e seus descendentes nas terras do Brasil. Assim
como os batuques, jongos, congadas e congos, ele estava presente nas reuniões e festividades dos
africanos escravizados, libertos e colo nos pobres. Ao som de instrumentos como o atabaque e a
cuíca, alegrou muitas noites das famílias mais abastadas.
Aqui está um bom debate, pois: que caminhos fizeram do Brasil um país independente? Foram os
acordos políticos estabelecidos no governo de dom Pedro I ou os vínculos culturais, solidificados no
dia a dia?
ELABORANDO HIPÓTESES
Em grupo
1 Discutam as questões levantadas no texto. Para isso, levem em consideração: a) os eventos que
marcaram o processo de independência, até 1822;
1 Arrumando o país
Em 1821, já se podia notar em todo o Brasil certo ar de euforia, motivado por aspectos até então
inéditos nas terras colonizadas por Portugal. As pessoas, agora, discutiam eleições, votos,
Constituição, participação popular. O motivo era a convocação do pleito para escolher deputados
que iriam representar os brasileiros nas Cortes de Lisboa e elaborar uma Constituição para todo o
império.
Essa euforia permaneceria nos meses seguintes, sobretudo após a declaração de independência. O
movimento, porém, estava longe de provocar rupturas significativas; as principais preocupações
eram consolidar a declaração de autonomia e as estruturas do novo país. Para isso, era necessário
formar um governo reconhecido por todos os brasileiros, evitar a fragmentação do território,
estabelecer um conjunto de leis, manter a regularidade das atividades econômicas e obter o
reconhecimento de outros países.
A busca desses objetivos resultou em um longo processo, concluído apenas na década de 1840.
Nesses mais de 20 anos, diferentes projetos para o Brasil se confrontaram. Coube a dom Pedro I
comandar a primeira fase desse processo. Criado em uma tradição absolutista, o imperador não
tardou a entrar em confronto com aqueles que desejavam mudanças mais significativas. O otimismo
seria substituído pela desconfiança e a revolta.
Divulgar retratos do governante era hábito comum desde o período colonial. Com a independência, o ritual
se manteve. A imagem de dom Pedro I começou a aparecer nos lugares mais inusitados, até mesmo em
objetos de uso cotidiano, como xícaras, jarros, relógios de mesa, leques e paliteiros. Muitas vezes, vinha
acompanhada das cores verde e amarelo, que representavam sua casa imperial e a da imperatriz
Leopoldina, respectivamente. Acima, dom Pedro I com a filha, dona Maria da Glória, 1826.
combate, as tropas leais ao governo brasileiro conseguiram vencer os opositores. Essa data, até
hoje, é comemorada na Bahia como o verdadeiro dia da independência do Brasil.
No Maranhão e no Pará os conflitos se iniciaram em 1823. Neles, a comunicação com Portugal era
mais fácil do que com o Rio de Janeiro. As elites locais recusaram-se a aceitar o novo governador
indicado por dom Pedro I, pois desejavam que o cargo fosse assumido por uma pessoa da região. A
insubordinação foi contida de forma violenta. Mas, mesmo com a expulsão das tropas portuguesas,
as tensões permaneceram por meses.
A nova estrutura
Com os conflitos pela independência em andamento, outra preocupação tomava conta do governo
brasileiro e estabelecer as estruturas da nova sociedade. Uma Assembleia Constituinte havia sido
convocada em julho de 1822, com 90 deputados, a maioria pertencente aos grupos de elite. Mesmo
com essa composição, desde o início, em maio de 1823, os parlamentares entraram em conflito com
o imperador.
Dom Pedro I, logo no começo dos trabalhos legislativos, jurou defender a futura Constituição, caso
fosse digna do Brasil – e dele próprio. Seguia, assim, seus princípios absolutistas, submetendo as
demais instâncias políticas às suas vontades. Tudo se complicou quando a Assembleia demonstrou
intenção de limitar o poder do imperador e garantir vários direi tos individuais, além de não
estender a cidadania brasileira aos portugueses residentes no Brasil após a independência.
Coube a uma comissão de deputados elaborar o primeiro projeto de Constituição. Nele, estava
prevista a autonomia entre os poderes Executivo (exercido pelo imperador e seus ministros),
Legislativo (exercido por senadores e deputados) e Judiciário (composto de juízes e tribunais). O
impera dor ficaria impedido de dissolver a Assembleia Geral e não controlaria as Forças Armadas,
submetidas ao Poder Legislativo.
O projeto instituía também o voto indireto e censitário, que excluía grande parte da população: os
eleitores – todos do sexo masculino – deveriam comprovar renda mínima equivalente a 150
alqueires de mandioca. Por isso, ficou conhecido como Constituição da Mandioca.
Dom Pedro I mostrou-se insatisfeito com todos esses debates. Em novembro de 1823, quando
poucos itens do projeto tinham sido votados, assinou um decreto dissolvendo a Assembleia e
convocando um seleto grupo para elaborar a nova Constituição. Diversos deputados foram presos
ou partiram para o exílio, entre eles os irmãos José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos de
Andrada e Silva.
A primeira Constituição
A comissão nomeada pelo imperador era composta de dez membros, entre os quais José Joaquim
Carneiro de Campos, considerado o principal redator do novo projeto, junto do próprio dom Pedro
I. Em 25 de março de 1824, o texto constitucional foi outorgado (aprovado sem consulta popular) e
remetido a algumas câmaras municipais para avaliação e sugestões – uma tentativa do governo de
dar certa legitimidade ao processo. O Brasil ganhava, assim, sua primeira Constituição e se tornava
uma monarquia constitucional, hereditária e com o Estado organizado em quatro poderes:
• Poder Legislativo (composto de senadores com cargos vitalícios e deputados gerais e provinciais
eleitos por quatro anos): era responsável pela elaboração das leis;
• Poder Judiciário (formado por juízes e tribunais): cuidava do cumprimento da lei, julgava e punia
os infratores;
• Poder Moderador (exercido pelo impera dor): tinha a função de regular os demais poderes.
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O Poder Moderador, único em toda a história das Constituições, dava amplos poderes ao imperador,
cuja figura era definida na Carta como inviolável, sagrada e livre de responsabilidades. O imperador
poderia, por exemplo, nomear ou destituir juízes e até dissolver a Assembleia Geral. Dessa maneira,
dom Pedro I pôde conciliar seus princípios absolutistas com um regime baseado em uma
Constituição, que pouco valia diante de sua vontade.
Do antigo projeto, a nova Constituição herdou o voto indireto e censitário, determinando que os
candidatos deveriam ser homens com, no mínimo, 25 anos de idade. Quanto maior o cargo, maior a
renda exigida. Assim, a participação política no império ficou restrita a poucos.
Sobre a escravidão, nenhuma referência direta foi feita. Indiretamente, mencionava os cativos
apenas ao afirmar que somente as pessoas livres nascidas no país tinham direito à cidadania
brasileira e que ex-escravos não podiam ser eleitores. Os portugueses residentes no Brasil
ganharam cidadania no novo país. O território foi dividido administrativamente em províncias,
cujos limites coincidiam com os das antigas capitanias do período colonial.
O catolicismo permaneceu como religião oficial, com a Igreja subordinada ao Estado. A instituição
controlava várias das atuais atribuições civis, como o registro de nascimentos, óbitos e casamentos.
Para compensar, instituiu-se a liberdade de culto para as demais religiões, desde que em caráter
doméstico e particular.
O reconhecimento externo
O processo de independência estaria ameaçado enquanto o novo país não fosse reconhecido pela
comunidade internacional. O governo português até cogitou mandar tropas ao Brasil, ideia logo
descartada pela distância e pela fragilidade econômica do reino. Mas a consumação da
independência exigiu uma longa negociação, intermediada pela Inglaterra.
Em 1825, o governo brasileiro contraiu em préstimos com os ingleses para pagar ao governo
português uma espécie de indenização pelo reconhecimento da independência em relação à antiga
metrópole. Feito isso, vários outros países reconheceram a autonomia do país, incluindo a
Inglaterra, que não havia oficializado a questão.
2 A oposição em armas
Os primeiros meses do governo de dom Pedro I foram suficientes para baixar o clima de euforia da
época da independência. Os rompantes absolutistas do imperador contribuíram para aumentar os
focos de resistência. Dois acontecimentos tornaram-se decisivos para a mudança de humor da
população: uma revolta iniciada em Pernambuco, que se alastrou para outras províncias
nordestinas, e uma longa guerra na região da Cisplatina.
nA Confederação do Equador
Em Pernambuco, o clima de oposição ao governo central podia ser sentido desde o início do século
XIX. As divergências já haviam provocado a Revolução de 1817. Os atos absolutistas do impera dor
aumentaram ainda mais o descontentamento, e poucos aceitavam os limites que a Constituição
impunha ao poder das províncias. Para complicar o quadro, em 1824 o imperador nomeou novo
governo para Pernambuco, o que não foi aprovado pelas elites locais, que se rebelaram sob o
comando do antigo governante, Manoel de Carvalho Paes de Andrade.
centrada no Recife e em Olinda, a revolta espalhou-se rapidamente para o Rio Grande do Norte e o
Ceará. Aliadas a Pernambuco, essas províncias proclamaram-se independentes e criaram a
Confederação do Equador. Enquanto uma Constituição não ficava pronta, adotaram provisoriamente
a da Colômbia.
Havia várias divergências entre os insurretos. Alguns líderes, por exemplo, defendiam a igualdade
de direitos para a população e pretendiam extinguir o tráfico de escravos – ideias que contrariavam
os interesses e os projetos da elite senhorial. Temendo abrir mão de suas terras e escravos, parte
significativa desse grupo acabou por se afastar do movimento. A resistência das elites não impediu
que os revoltosos contassem com tropas formadas pelas camadas menos favorecidas da população.
Nas décadas iniciais do século XIX, a população pernambucana se rebelou várias vezes contra o governo
central e a tendência de concentração de poderes. Na imagem, Rugendas representa um encontro da Junta
Revolucionária durante a Confederação do Equador, no Recife.
Tomando as rédeas
Entre os principais líderes da Confederação do Equador estavam frei Caneca (Joaquim do Amor
Divino Rebelo), que divulgava ideias republicanas por meio do jornal Tífis Pernambucano, e
Cipriano
Barata (diretor de vários jornais nordestinos, como o Sentinela da Liberdade), que participara do
movimento de 1798 na Bahia. Ambos também estiveram presentes no movimento de 1817 em
Pernambuco. Não tiveram, porém, muito tempo para consolidar seus ideais pois a ação do governo
foi rápida e violenta.
Para combater os rebelados, o governo central enviou cerca de 1 200 homens, além de cinco navios
de guerra contratados do mercenário escocês Lord Cochrane. A ação militar custou aos cofres
imperiais mais de 1 milhão de libras, emprestadas pelo governo britânico. Diante da violenta
repressão por terra e mar, os confederados foram definitivamente derrotados em 17 de setembro
de 1824. O líder Paes de Andrade conseguiu fugir; outros, porém, foram presos e julgados, sendo 16
condenados à morte. Frei Caneca, que deveria ser enforcado, foi fuzilado, pois nenhum dos
carrascos encarregados da execução quis realizá-la, por causa da popularidade dele.
A Guerra da Cisplatina
A Colônia do Sacramento foi fundada pelos portugueses no século XVII, ao sul do continente
americano, área intensamente disputada. Objeto de inúmeros tratados, ela acabou, porém, sob do
mínio espanhol. Em 1816, tropas portuguesas a invadiram, em meio ao processo de independência
da região. Com a autonomia do Brasil, em 1822, a região acabou incorporada ao império, como
província Cisplatina.
Em comparação aos brasileiros, os habitantes da Cisplatina mantinham inúmeras diferenças
culturais, como a língua e os costumes, além de um governo relativamente autônomo. Esses fatores
contribuíram para que os dois territórios nunca estivessem unidos de fato. Até mesmo os
habitantes brasileiros mais próximos da região, como os do Rio Grande do Sul, não consideravam a
Cisplatina parte integrante do império.
pare e pense
Os conflitos que tomaram corpo logo após a declaração de independência evidenciavam diferentes
projetos para o Brasil, vários deles em oposição ao defendido pelo grupo organizado em torno de
dom Pedro I.
Em 1825, eclodiu na Cisplatina um movimento separatista, liderado por João Antônio Lavalleja.
Contava com o apoio do governo da República das Províncias Unidas do Rio da Prata (atual
Argentina), que pretendia reunir novamente a área que antes formara o vice-reino do Rio da Prata.
Imediata mente, o governo brasileiro declarou guerra, não admitindo ceder o território para uma
república.
O conflito estendeu-se até 1828, sob o repúdio da população brasileira, pois a guerra era realizada à
custa de vultosos recursos e por um território com o qual não havia identidade cultural. As partes
assinaram um acordo de paz mediado pelo governo inglês, pelo qual a Cisplatina foi declarada país
in de pendente, recebendo o nome de República Oriental do Uruguai.
As camadas pobres da população eram as mais atingidas, arcando com constantes aumentos de
impostos sobre os gêneros alimentícios, para equilibrar as contas do governo. Eram frequentes os
aumentos de preços dos produtos básicos, gerando uma insatisfação que se voltava,
principalmente, contra os portugueses. Eram eles, afinal, que controlavam o comércio varejista e
compunham o grupo de apoio ao imperador.
O imperador dividido
Política absolutista, repressão aos movimentos de oposição, crise econômica e carestia foram
alguns dos elementos que provocaram o fim da popularidade e do apoio político a dom Pedro I. O
retorno do Brasil à condição de colônia era uma ameaça velada e constante. Com a morte de dom
João VI em 1826, o imperador brasileiro, sob forte pressão, renunciou à sucessão portuguesa em
nome de sua filha, dona Maria da Glória. Selou, ainda, um acordo com o irmão, dom Miguel, outro
pretendente ao trono, pelo qual lhe prometia sua filha em casamento.
Em 1828, porém, dom Miguel rompeu o trato e assumiu o trono de Portugal. A partir de então, dom
Pedro I dedicou-se a reaver o trono para a filha, envolvendo-se cada vez mais nos problemas
internos da ex-metrópole. Isso resultou em um enorme descontentamento entre os brasileiros.
A morte de Líbero Badaró tornou-se símbolo da luta contra o absolutismo de dom Pedro I. Em
fevereiro de 1831, o imperador viajou a Minas Gerais, com o objetivo de ampliar sua popularidade.
Foi, no entanto, recebido com faixas pretas de protesto pela morte do jornalista. Via-se, assim, cada
vez mais afastado dos líderes do partido brasileiro e mais próximo do grupo dos portugueses.
Na volta da frustrada viagem a Minas, o grupo dos portugueses organizou uma grande recepção ao
imperador no Rio de Janeiro. A festa tornou-se pretexto para um violento confronto entre
partidários e adversários do imperador, na noite de 13 de março de 1831, episódio que ficou
conhecido como Noite das Garrafadas. Tudo começou com ataques às casas dos membros do
partido português, que responderam jogando garrafas do alto de suas janelas. Os combates
estenderam-se por dias.
mesmo o apoio dos mais conserva do res. Os opositores reagiram publicamente, exigindo a
nomeação de novos ministros. Em praça pública, mais de 2 mil pessoas reuniram-se em protesto.
Dom Pedro I ainda pensou em reprimir as manifestações, mas os militares não aceitaram a
incumbência. Sem apoio político, popular e militar, o imperador não teve outra saída, abdicou do
trono em favor de seu filho Pedro de Alcântara, na época com 5 anos de idade. Acabava o Primeiro
Império.
Pouco depois, dom Pedro I embarcou para a Europa, onde iria se dedicar à reconquista do trono
português para sua filha. Faleceu em 1834, após vencer o irmão e tornar-se rei de Portugal, com o
título de dom Pedro IV. Enquanto isso, o processo de independência do Brasil entrava em um novo
momento, o das Regências – não menos conturbado, como veremos no próximo capítulo.
BN, Lisboa
De volta a Portugal, dom Pedro esforçou-se para retomar o poder, então nas mãos de seu irmão. Nesta
caricatura, de 1833, um jornal português ironiza a disputa.
• AO SEU REDOR •
Você viu que, durante o Primeiro Império, o voto era censitário. Além dos pobres, estavam
excluídos desse direito outros grupos da população, como as mulheres e os jovens. Atualmente, a
situação é diferente. Todos os brasileiros maiores de 16 anos têm direito ao voto, sendo opcional
para os analfabetos, as pessoas maiores de 70 anos e aquelas entre 16 e 18 anos.
Para estimular a participação dos jovens no processo eleitoral, o governo costuma criar campanhas,
por meio de peças publicitárias divulgadas na televisão, na rádio, em cartazes e na internet.
1. O direito ao voto é garantido pela Constituição brasileira. Você já exerce esse direito? E seus
amigos e colegas?
2. Em grupo, façam uma peça publicitária para estimular jovens como você a participar do
processo eleitoral. Compartilhem as peças publicitárias da classe, promovendo uma grande
campanha em favor do voto.
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Explique as razões para o clima de euforia existente entre a população logo após o Sete de
Setembro.
2 Durante a elaboração da primeira Constituição do Brasil, dom Pedro I, insatisfeito com o projeto
dos parlamentares, dissolveu a Assembleia e outorgou uma Constituição que atendesse a seus
interesses. Explique:
4 Considerando a Constituição de 1824, explique qual era o perfil do país que se consolidava.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Dois momentos
No texto a seguir, a autora traça um paralelo entre a situação de Pedro I em dois momentos
distintos. Leia.
[...] em fins da década de 1820 e começo de 1831, as praças e ruas da cidade do Rio de Janeiro se
inflamaram, abrindo espaço a várias reivindicações, tornando-se palco de tumultos e relembrando
a dissolução da assembleia de eleitores de abril de 1821, quando as tropas invadiram o recinto,
causando mortes e ferimentos. Nessas drásticas ocasiões, a persona de Pedro I não conseguiu
assenhorear-se da situação, encaminhando a solução e obtendo a tranquilidade social. Longe disso,
em 1831, uma revolta de civis e tropas no Campo de Santana deslegitimou, abertamente, a sua
persona. Se, em 26 de fevereiro de 1821, pela primeira vez o príncipe exibira sua eficácia política,
quando domou os conflitos na Praça do Rocio, ocupando o comando das tropas e costurando a
negociação política entre o rei e seu povo, desta feita, do interior do espaço público, emergiu, de
maneira visível e incontornável, a fragilidade de sua sustentação, e sua definitiva destituição.
SOUZA, Iara Lis Carvalho. Pátria coroada: o Brasil como corpo político autônomo (1780-1831). São Paulo: Editora da Unesp, 1999. p. 329-330.
1. Com base no texto, estabeleça a situação de dom Pedro I em 1821 e em 1831. Depois, compare
as duas situações: o que mudou?
A inglesa Maria Graham foi preceptora da filha de dom Pedro. Com base em suas experiências,
escreveu o livro Diário de uma viagem ao Brasil. Leia a seguir um trecho do seu relato e realize as
atividades propostas
Há na cidade [Rio de Janeiro] um ar de pressa e atividade bem agradável aos nossos olhos
europeus. No entanto todos os portugueses fazem a sesta após o jantar. Os negros, tanto livres
quanto escravos parecem alegres e felizes no trabalho. Há tanta procura deles que se encontram em
pleno emprego e têm, naturalmente, boa paga. Lembram aos outros aqui o menos possível a
condição servil, a não ser quando se passa pela rua do Valongo. Então todo o tráfico de escravos
surge com todos os seus horrores perante nossos olhos. De ambos os lados estão armazéns de
escravos novos, chamados aqui peças, e aqui as desgraçadas criaturas ficam sujeitas a todas as
misérias da vida de um negro novo, escassa dieta, exame brutal e açoite.
GRAHAM, Maria Dundas. Diário de uma viagem ao Brasil e de uma estada nesse país durante parte dos anos 1821, 1822, 1823. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1956.
1. Destaque aspectos do relato que revelam como era a sociedade brasileira do Primeiro Império,
em especial no que se refere ao mundo do trabalho.
2. Pesquise outro relato desse período e procure descobrir outros aspectos da sociedade
brasileira no período, em especial referente aos hábitos cotidianos e ao mundo do trabalho.
A consolidação do Brasil como país independente foi um longo processo, que se iniciou entre o fim
do século XVIII e o início do XIX e se estendeu até o governo de dom Pedro II. Foi marcado por
muitas instabilidades e conflitos. Que país surgiu desse processo? Que tal representar esse país em
um programa musical?
Em grupo
1. Pesquisem músicas que possam representar a sociedade brasileira, desde a sua formação até os
dias de hoje.
2. Com esse material, organizem um programa musical para rádio e o apresentem aos colegas.
Página 157
CAPÍTULO 13
Tempo de regência
Vamos lá!
O período regencial ficou marcado como um emaranhado de acontecimentos políticos que resultou
em um intenso sobe e desce de pessoas no comando do país. Também se caracterizou pelas
diversas revoltas que se desenrolaram ao longo daquela década, sobretudo as de origem popular,
como a Cabanagem.
Entretanto, diante das instabilidades dos últimos anos e dos graves riscos de uma insurreição
popular, foi nesse momento que as elites se uniram em torno de um projeto de pacificação do país.
Pacificação entendida como repressão aos diferentes anseios dos grupos dissidentes e implantação
de um regime fortemente centralizado na figura do imperador Pedro II.
Em outras palavras, no período das regências garantiu-se a unidade territorial da antiga colônia
portuguesa, sob o comando das elites agrárias.
Belém do Pará durante a Cabanagem, uma das principais revoltas populares do período regencial. Gravura
de Jean Ferdinand Denis, 1838.
ELABORANDO HIPÓTESES
2 Qual é a importância desse período para a consolidação do Brasil como país autônomo?
3 Para a maior parte da população, qual foi o significado desse desfecho? Em sua resposta, leve em
consideração a parte escravizada da população.
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Foi assim, contra a lógica, que se formou o Brasil. E nisso têm grande importância os nove anos do
período regencial, cruciais para a integridade do território e a união dos diferentes brasis. Quando
dom Pedro I abdicou do trono, em 1831, o país encontrava-se em profunda crise. Nos anos
seguintes, a situação se agravou, com conflitos armados em várias províncias, muitos em
decorrência da intensa disputa entre as elites. Isso criou condições para que grupos sociais menos
privilegiados buscassem, por meio da revolta, melhores condições de vida.
Diante do cenário, a fragmentação parecia inevitável. Para reverter o quadro, os regentes criaram a
Guarda Nacional, uma força militar subordinada aos chefes políticos locais, com a função de manter
as estruturas sociais então existentes e sufocar as aspirações populares. O golpe final foi dado com a
antecipação da maioridade de dom Pedro, que assumiu o trono aos 14 anos; o novo imperador
serviu como símbolo da unidade para os muitos povos do Brasil.
Nesta litografia, um pequeno retrato do Brasil como país independente: marcado pela escravidão e uma
imensa desigualdade social. As diferenças, portanto, não se restringiam a aspectos culturais. O jantar no
Brasil, de Jean-Baptiste Debret, 1834-1839.
2 Os governos regenciais
A abdicação de dom Pedro I acentuou a crise política e institucional vivida no país. Seu sucessor, o
filho Pedro de Alcântara, era ainda uma criança e, conforme a Constituição, não poderia governar.
Nesse caso estava prevista a instituição de uma regência formada por três pessoas, que deveriam
exercer o poder até a maioridade do soberano.
A escolha dos regentes caberia à Assembleia Geral, mas o órgão estava em recesso quando da
abdicação. Os poucos parlamentares presentes no Rio de Janeiro, então, escolheram em caráter
provisório os novos governantes do Brasil.
Os escolhidos – o brigadeiro Francisco de Lima e Silva e os senadores Nicolau Pereira de Campos
Vergueiro e José Joaquim Carneiro de Campos – governaram até junho de 1831. Uma de suas
primeiras medidas foi reempossar o ministério de brasileiros destituído por dom Pedro I. Também
suspenderam, temporariamente, o Poder Moderador.
Com o retorno da Assembleia Geral foram escolhidos os novos regentes, que governaram de junho
de 1831 a outubro de 1835: os deputados João Bráulio Muniz e José da Costa Carvalho e o
brigadeiro Lima e Silva.
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Os grupos políticos
No início do período regencial, o cenário político estava organizado em três grupos: restauradores,
liberais moderados e liberais exaltados, todos com representação na Assembleia Geral.
A maioria dos restauradores eram comerciantes ligados ao antigo comércio colonial, militares
conservadores e altos funcionários do governo. Defendiam o retorno de dom Pedro I ao trono do
país. Entre suas principais instituições estavam a Sociedade Conservadora e o jornal O Caramuru.
José Bonifácio de Andrada e Silva, tutor do jovem imperador, era o nome de maior destaque.
Com o processo de independência, novos políticos ganharam destaque no cenário nacional. Em sua grande
maioria, eram pessoas com fortuna e prestígio local, como o padre Diogo Feijó, aqui representado (sentado)
em uma caricatura de 1836.
O grupo dos liberais moderados era composto de grandes senhores de escravos e de terra.
Defendiam uma monarquia constitucional, com limites ao poder do governante. Lutavam pela
preservação da ordem social vigente, incluindo a escravidão. Como os exaltados, visavam maior
autonomia das províncias. Entre seus principais representantes estavam o padre Diogo Antônio
Feijó, Evaristo da Veiga e Bernardo Pereira de Vasconcelos. Reuniam-se em torno da Sociedade dos
Defensores da Liberdade e publicavam, entre outros jornais, A Aurora Fluminense.
Em 1834, a morte de dom Pedro I, em Portugal, modificou esse quadro político: os restauradores
perderam sua principal razão de existência. Nos anos seguintes, os grupos se mesclaram, formando
duas alas distintas, sobretudo a partir da década de 1840: os conservadores (chamados também de
saquaremas) e os liberais (ou luzias). Seus integrantes, então organizados em partidos, dominaram
a política no Segundo Império.
A primeira regência
A primeira regência permanente foi dominada pelos liberais moderados. Coube a eles a escolha de
um ministério, no qual se destacou o padre Diogo Antônio Feijó, na pasta da Justiça. Sua atuação foi
fundamental para reprimir vários levantes militares e populares contra o governo, alguns deles de
caráter restaurador. Foi essencial para isso a criação da Guarda Nacional, em 1831, inspirada nos
revolucionários franceses; era um mecanismo para reestruturar as forças militares e criar um meio
eficaz de proteger o governo e a ordem social (o Exército, dada a composição popular dos soldados,
não inspirava confiança nas elites).
A Guarda Nacional deveria ser formada em todas as províncias do país, e seu comando cabia a civis
com renda elevada. Na prática, os senhores locais, que recebiam o título de coronéis, ganhavam a
prerrogativa de criar suas próprias milícias – atemorizando pobres, negros, mulatos e os eleitores
de sua região. Enquanto durou, até 1922, essa Guarda foi forte instrumento para coibir as
aspirações populares e perpetuar as elites agrárias no poder.
Nova ordem
Entre todas as mudanças, porém, uma tinha significado especial: a regência deixava de ser trina
para ser exercida por um único regente, com mandato de quatro anos e escolhido por meio de
eleição nacional. Apesar do reduzido número de eleitores, tratava-se de uma breve experiência
democrática, em um país marcado pela tradição absolutista.
A escolha do regente
A restrita eleição para regente terminou com a vitória do padre Diogo Feijó, com 2 826 votos,
contra 2 251 para Holanda Cavalcanti de Albuquerque.
No mundo da política, o período regencial pode ser considerado uma exceção, quando o Legislativo ganhou
poder. Juramento da Regência Trina, obra de Manuel de Araújo Porto-Alegre, meados do século XIX.
Padre Feijó governou de 1835 a 1837, quando mais uma vez renunciou ao poder, isolado com o
desgaste provocado pela instabilidade política. O governo não conseguia pôr fim às revoltas e aos
movimentos separatistas que ocorriam em várias províncias, colocando em risco o poder dos
senhores de terras e a integridade do território.
VOCÊ SABIA?
Cenário econômico
Longe de solucionar os antigos problemas, as regências também foram marcadas pela instabilidade
financeira. As revoltas agravaram a situação; além dos vultosos recursos gastos com a repressão
aos movimentos, o governo imperial ficou sem o controle das alfândegas e dos impostos coletados
nas províncias rebeladas. Para suprir seus gastos, tomou constantes empréstimos externos.
O café tornou-se o principal item de exportação do país. Nas décadas seguintes, o produto seria
responsável por equilibrar as finanças do império e promover surtos de desenvolvimento.
Fonte: BUESCU, Mircea. Evolução econômica do Brasil. São Paulo: Apec, 1979. p. 113.
Com a renúncia do padre Feijó, novas eleições foram realizadas. O vencedor foi o senador
Página 161
pernambucano Pedro de Araújo Lima, do grupo dos conservadores, que governou até 1840. O
governo continuou a se dedicar à repressão das revoltas provinciais e promoveu várias iniciativas
para combater as medidas liberais, centralizando novamente o poder. Para isso foi importante a Lei
de Interpretação do Ato Adicional de 1834, aprovada em 1840.
3 As revoltas regenciais
O processo de independência, iniciado em 1808 com a chegada da família real portuguesa, fez
aflorar diversos projetos de autonomia em todo o território colonial. Como vimos, o Sete de
Setembro não significou a culminância desses projetos; a política conturbada do Primeiro Império,
ao contrário, agravou as divergências. Nos anos 1830, esses embates deram origem a inúmeras
revoltas em diversas províncias.
Vários fatores contribuíram para a eclosão desses movimentos. Em alguns lugares ocorria intensa
disputa pelo poder local, com grupos de elite se confrontando. O acirramento das tensões levou,
muitas vezes, à luta armada. O cenário tornava-se mais dramático com a instabilidade política do
próprio governo imperial, também alvo de intensa disputa; sem condições de se impor em todo o
território nacional, favorecia a contestação do poder central e as lutas armadas nas províncias.
A população mais pobre entrou nessas lutas, muitas vezes, como instrumento de manobra dos
grupos de elite, que procuravam se fortalecer. O quadro social, marcado pela escravidão, não era
nada animador. Como resultado, o conflito entre as elites tornou-se rebelião popular, pessoas
escravizadas, trabalhadores empobrecidos, pequenos comerciantes que viram no desarranjo do
poder uma oportunidade para conquistar melhores condições de vida. Naquele momento, as elites
recuaram, temendo per der terras, escravos e poder.
A repressão comandada pelo governo central foi violenta. O uso das armas e o massacre dos
revoltosos foram legitimados pelo discurso da unidade nacional. Em torno desse propósito uniram-
-se as elites. Ao final de muitas batalhas, o território não se fragmentou em países independentes; o
Brasil continuou sendo gigante, inclusive em sua pobreza e nas desigualdades sociais.
Maps World
Fonte: ALBUQUERQUE, Manuel Maurício de. Atlas histórico escolar. Rio de Janeiro: MEC, 1991.
pare e pense
3. Nesse embate entre diferentes grupos sociais, explique a importância do discurso da unidade
nacional.
Página 162
4 Os primeiros conflitos
Os nove anos das regências foram marcados pelas revoltas. Até o início do governo do padre Diogo
Feijó, em 1835, vários movimentos mobilizaram inúmeras populações urbanas e rurais, sobretudo
as menos favorecidas. Apesar das diferenças, elas apresentavam muitos pontos em comum, como o
desejo de maior participação política e a luta contra a alta dos preços dos gêneros de primeira
necessidade. Neste último caso, a ira se dirigia contra a elite portuguesa, que controlava o comércio
varejista. A seguir, vamos conhecer dois desses primeiros movimentos.
Os cabanos em Pernambuco
A Guerra dos Cabanos recebeu esse nome em razão do tipo de habitação de grande parte de seus
participantes. Como outras revoltas daquele tempo, contou com a participação de diversos grupos
sociais. A maioria, entretanto, era de pessoas escravizadas, libertos, pequenos proprietários de
terras e até mesmo indígenas. Teve início em 1831 num levante planejado pelos restauradores, com
o objetivo de desestabilizar o governo regencial e forçar o retorno de dom Pedro I ao poder.
Usando tática de guerrilha, os revoltosos obtiveram várias vitórias, diante de uma tropa mal
preparada e que desconhecia o agreste e o sertão nordestinos. Ganharam, ainda, o apoio de povos
indígenas do interior de Alagoas, desalojados de sua terra e forçados a trabalhar em condições
semelhantes às de escravos.
Em 1834, com a morte de dom Pedro I em Portugal, o movimento perdeu o apoio dos
restauradores. Manteve-se, por vários meses, em peque nos grupos espalhados pela região, até ser
definitivamente derrotado pelo governo em 1835.
Os malês em Salvador
Em Salvador, a maioria da população era de origem africana, e cerca de 20% compunha-se dos
chamados malês: africanos de várias etnias que receberam forte influência do islamismo. Eles
vinham, em geral, do norte da África, da atual região da Nigéria. Diferenciavam-se dos demais pela
união do grupo e por serem alfabetizados em árabe (a língua do islamismo). Desde o início do
século XIX, as constantes revoltas escravas, que deixavam temerosos os grupos de elite, já eram
tradição na cidade.
Durante as reuniões dos malês, nas quais praticavam sua religião, formou-se a ideia de um levante.
Estava marcado para o dia 25 de janeiro de 1835, mas acabou denunciado por dois ex-escravos fiéis
aos seus antigos donos. A polícia foi acionada e, ao fazer uma busca pelas moradias africanas,
deparou com uma reunião preparatória para a revolta, na casa de Manoel Calafate e Aprígio. A
chegada da polícia fez os insurretos anteciparem seus planos, dando início à revolta.
Era madrugada do dia 24. Acredita-se que entre 400 e 500 africanos foram para as ruas. Para o
historiador João José Reis, naquela realidade, o número era equivalente a 9 mil pessoas nos dias
atuais. O movimento, duramente reprimido pela polícia, durou apenas algumas horas. Cerca de 70
revoltosos foram mortos, muitos outros presos, julgados e condenados.
Acervo do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro
Os malês traziam para a nova terra um amuleto de sorte, como este com o desenho de um navio e uma
mensagem de bênção e salvação.
Página 163
Os malês pretendiam tomar o poder em Salva dor e construir uma sociedade africana regida pelos
preceitos do islamismo. Os integrantes dos grupos de elite seriam mortos, assim como as pessoas
de origem africana que não aderissem ao novo Estado – com sorte seriam transformadas em
escravos.
Apesar de ser controlado rapidamente, o movimento aumentou o temor dos senhores quanto a uma
revolta generalizada dos escravos. A legislação preventiva foi intensificada. Vários africanos
escravizados, considerados perigosos, foram presos e enviados de volta à África, onde formaram
comunidades que existem até hoje, como a dos Agudás, no Benin.
Salvador foi, durante todo o período colonial e imperial, um dos principais portos de entrada de africanos
escravizados na América, o que fez da cidade quase um enclave africano no Novo Mundo. Mercado de
escravos em Salvador, obra de Hippolyte Taunay, 1822.
5 As guerras aumentam
Em 1835, o quadro das rebeliões no Brasil mudou. Os movimentos estenderam-se para outras
áreas, como o sul do país, e tornaram-se mais duradouros, com propostas claras de cisão. O perigo
de fragmentação do território, assim, ficou mais evidente. A ação do governo continuou sendo a
forte repressão.
Os cabanos do Grão-Pará
Na época da regência, a situação social no Grão-Pará não era muito diferente da do restante do país.
Parte significativa da população pobre, principalmente de origem indígena ou africana,
concentrava-se em moradias às margens dos rios da Amazônia. Seus integrantes eram conhecidos
co mo cabanos, nome derivado das precárias cabanas que habitavam. Viviam sob severa dominação
por parte de seus patrões e autoridades do governo. Em 1835, essa população se rebelou.
Em janeiro de 1835, sob a liderança do padre Batista Campos, os cabanos ocuparam a capital,
Belém, e assassinaram autoridades, incluindo o presidente da província, Bernardo Lobo de Souza. O
governo central enviou reforços militares para combater a rebelião; expulsos da capital, os cabanos
espalharam-se pela província. Com táticas de guerrilha e pleno domínio do território, resistiram até
1840, quando foram definitivamente derrotados.
Sem conseguir vencer de forma definitiva os revoltosos, o governo firmou um acordo com os
farroupilhas em 1 o de março de 1845, chamado Paz do Poncho Verde. O acordo, assinado pelo
barão de Caxias, futuro duque de Caxias, e Davi Canabarro, militar de maior destaque entre os
revoltosos, previa a anistia aos participantes, a integração dos oficiais farroupilhas às tropas
imperiais com o mesmo cargo que ocupavam na revolta e a homologação da liberdade dada às
pessoas escravizadas que lutaram na revolta.
Os sabinos na Bahia
Em 1837, teve início na Bahia uma nova revolta, agora com a participação de profissionais liberais –
com destaque para aqueles ligados às atividades intelectuais. O principal líder desse movimento foi
o médico Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira.
Os rebelados pretendiam instalar na província uma república provisória, até que o príncipe dom
Pedro assumisse o trono. Entre suas propostas, porém, não estava prevista nenhuma mudança de
ordem social.
Os balaios do Maranhão
A Balaiada teve início em 1838, na cidade de São Luís, com os conflitos entre grupos da elite por
diferentes projetos políticos: profissionais liberais, conhecidos como bem-te-vis, revoltaram-se
contra senhores rurais de posição política mais conservadora. O movimento cresceu e envolveu
diferentes grupos sociais, como fazendeiros de gado, sertanejos e pessoas escravizadas.
Da capital da província, o movimento espalhou-se pelo interior, liderado por homens como Manuel
dos Anjos Ferreira (artesão que produzia balaios – daí o nome da revolta), Cosme Bento das Chagas
(liberto que comandou mais de 3 mil pessoas escravizadas que tinham fugido das fazendas durante
a revolta) e Raimundo Gomes (vaqueiro que trabalhava em uma fazenda de propriedade de um dos
bem-te-vis).
Museus Castro Maya, RJ
Assim como no restante da ex-colônia portuguesa, a escravidão marcava a sociedade maranhense. Desenho
de Henrique Fleiuss, século XIX.
Página 165
Mesmo desarticulados politicamente e com dificuldade para coordenar suas ações, os revoltosos
conseguiram importantes vitórias, chegando a conquistar Caxias, uma das principais cidades da
província. Como ocorreu em outros movimentos, as elites retiraram seu apoio assim que a
participação popular cresceu. As tropas enviadas pelo governo central conseguiram derrotar os
revoltosos em 1841.
Estima-se que a repressão tenha levado à morte cerca de 12 mil pessoas, na maioria escravos e
sertanejos.
Diante da situação, os liberais propuseram a antecipação da maioridade do jovem Pedro, para que
pudesse assumir o trono antes de completar 18 anos. A proposta rapidamente ganhou apoio
popular; acreditava-se que o imperador seria capaz de unir o país. Ao contrário do pai, havia
nascido e se criado no Brasil. Tratava-se, ainda, de uma alternativa para colocar fim à instabilidade
política dos tempos regenciais.
A Assembleia Geral aprovou a maioridade e, aos 14 anos de idade, dom Pedro assumiu o poder, com
o título de dom Pedro II. Nos anos seguintes, o jovem imperador pouco governou; mantido sob forte
tutela, interferiu pouco nos negócios do Estado. A política regencial seria, então, concretizada com a
repressão final aos movimentos das províncias, a manutenção do imenso território e a garantia do
poder à elite agrária e escravista; o Brasil estava consolidado.
conexão presente
Os vários Brasis
Uma das principais características do período regencial foi a obtenção da unidade territorial
brasileira. Para isso, foram reprimidas diversas rebeliões que buscavam autonomia.
As diferenças culturais e sociais, entretanto, permanecem até os dias de hoje. A partir da análise
desse cenário, o antropólogo Darcy Ribeiro escreveu o livro O povo brasileiro, no qual apresentou
um perfil para cada um desses diferentes Brasis. Escrito há pouco mais de 20 anos, a obra continua
essencial para a compreensão da formação étnica e cultural do Brasil.
• Brasil crioulo: o Brasil crioulo surgiu junto com a economia açucareira. Todos se abrasileiraram
no mesmo ritmo: de um lado, os senhores de engenho; de outro, a pessoa escravizada, africana ou
indígena. O resultado foi uma sociedade de opostos: o grande latifundiário e as pessoas pobres. O
Brasil crioulo foi também sincretista, no sentido religioso e cultural – resultado de uma estratégia
usada por africanos e indígenas para manter suas raízes.
• Brasil caboclo: a região da floresta Amazônica abriga o Brasil caboclo, formado, sobretudo, por
indígenas e europeus, seus descendentes e mestiços. Considerada um obstáculo para a colonização,
o auge de sua ocupação veio com a extração da borracha, entre os séculos XIX e XX. Ainda hoje os
caboclos são expulsos de suas terras com o avanço da ocupação territorial.
• Brasil sertanejo: são os habitantes do sertão do país. A primeira atividade do sertanejo foi o
pastoreio, para fornecimento de couro e carne para as regiões açucareiras. Até hoje, a região sofre
com a atuação dos coronéis, que privilegiam os interesses da elite em detrimento da maioria da
população, uma das mais pobres do país.
do ouro a região chegou à opulência, e hoje é um dos principais centros econômicos do país.
• Brasis sulinos: o Sul do país é ainda hoje marcado pela convivência de diversas culturas. O local
começou a ser habitado com a política expansionista dos caipiras e, mais tarde, com a imigração de
europeus. Os matutos, que ocuparam a faixa litorânea, eram lavradores, enquanto os gaúchos
trabalhavam com o pastoreio; já os estrangeiros, imigrantes e descendentes ocuparam
principalmente o interior da região.
Fonte: RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
Fabio Colombini
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
2 Compare as ações do governo do padre Diogo Feijó ao de Pedro de Araújo Lima em relação à
centralização do poder.
c) principais medidas.
5 Explique as circunstâncias que levaram o jovem Pedro a assumir o poder no Brasil.
6 Retome a tabela da página 160 e responda: o que é possível concluir sobre a economia do Brasil
no período de 1831-1840:
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Tempo de Legislativo
A carta que anunciava ao Império a renúncia do regente Diogo Feijó era um tanto quanto lacônica.
Depois de dois anos e muitos projetos e ideias, o padre eleito em 1835 não havia conseguido pôr em
prática a maioria de seus planos. Em setembro de 1837, anunciava uma triste retirada, apontando
como grande vilão daquele fracasso os legisladores, juntamente com aqueles que faziam parte do
poder judiciário, cuja intransigência havia impedido a implementação das metas do governo. [...]
Como velho moralista [...], padre Diogo Feijó afirmava conhecer “os homens e as cousas” em termos
genéricos. Sua carta de renúncia deixava claro que havia trabalhado para eles e por eles fora
derrubado. Se por um lado faltara “habilidade” para lidar com os “outros poderes” e, mais
diretamente, com a classe política e parlamentar, por outro, as razões de seu fracasso parecem ser
mais amplas. Sua “experiência” já havia lhe prevenido que não lhe cabia “acudir às necessidades
públicas” ou “remediar os males” que afligiam a todos, estando convencido da impossibilidade de
resolver os problemas do Brasil por meio do Legislativo.
RICCI, Magda. Assombrações de um padre regente. Campinas: Editora da Unicamp, 2001. p. 397-398.
b) contexto histórico.
2. Com base no texto e nas informações do capítulo, escreva uma análise sobre o período
regencial, considerando o fortalecimento do Poder Legislativo dentro de uma tradição de
centralização do poder.
3. O texto que você leu trata da conturbada relação entre os poderes no Brasil durante o período
das regências. E hoje, como é essa relação? Pesquise notícias sobre o tema e conte o que descobrir
aos colegas.
Memória ou esquecimento?
O Memorial da Cabanagem, idealizado pelo arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, está localizado em
Belém, Pará, onde ocorreu o movimento. Feito em concreto armado, com 15 metros de altura e 20
de comprimento, consiste numa lâmina que se rompe, elevando-se para o céu.
Anderson Barbosa / Fotoarena
Segundo a concepção do arquiteto, visa representar a luta heroica da Cabanagem, que, apesar de
esmagada
Página 168
pelas forças de reação, permanece na memória do povo do Pará e dos demais brasileiros, levando a
história ao infinito. O monumento compreende, ainda, uma cripta, onde foram guardados os restos
mortais dos principais líderes cabanos.
Em grupo
2. Dividam-se em oito grupos. Cada um será responsável por fazer uma pesquisa sobre um desses
monumentos. Procurem levantar os seguintes aspectos: que acontecimento ou personagem
histórico o monumento homenageia; quando e por quem foi idealizado; onde se localiza; qual seu
estado de preservação atual. Ao final, apresentem aos colegas o que vocês descobriram.
O período regencial foi fundamental para a consolidação do Estado brasileiro no que se refere à
estrutura de poder, centralizada na figura do imperador e sustentada pelas elites agrárias. Mas
como foi criado o “povo brasileiro”, esse conjunto de indivíduos que se identifica e mantém
estreitos laços – de amor e ódio – com o Brasil?
Após a independência, vários intelectuais e artistas se dedicaram a desvendar as raízes do Brasil e dos
brasileiros, resultando em uma intensa produção. Muitos, então, tinham o indígena como elemento central.
Iracema, pintura de José Maria de Medeiros, século XIX.
1. Faça uma pesquisa para conhecer a produção cultural do período, em especial por meio da
Academia Imperial de Belas Artes e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Projeto Interdisciplinar
Pelos rios
Foi por meio do extenso litoral brasileiro que aqui chegaram os europeus e dele saíram as riquezas
destas terras para outros lugares. Se, de um lado, esse imenso litoral proporcionou o contato inicial
com o exterior, de outro, os rios brasileiros se revelariam fundamentais para a ocupação do
interior.
O Brasil possui uma extensa área de rios navegáveis, com aproximadamente 22 mil quilômetros.
Essas vias foram fundamentais no processo de interiorização e ocupação do território no período
colonial. Hoje, no entanto, apesar de o transporte hidroviário ser uma opção mais econômica e
menos onerosa ao meio ambiente, quando comparado aos demais, sua participação é de apenas
13% no transporte total de cargas e passageiros no país.
yancom
Fonte: IBGE. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad). Síntese de indicadores 2014. Disponível em: <http://biblioteca.
ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv94935.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2016.
De maneira geral, o Brasil é um país privilegiado quanto ao volume de recursos hídricos, abrigando
cerca de 12% de toda a água doce do planeta. Porém, a disponibilidade desses recursos não é
uniforme. A Amazônia, por exemplo, abriga, disparadamente, a maior reserva de água doce, mas na
região vive apenas uma pequena parte da população do Brasil. E, ainda, assim, o abastecimento de
água na região é precário (veja o gráfico). Na região Sudeste, 92,1% dos domicílios eram atendidos,
em 2014, por rede de abastecimento de água; já no Norte a porcentagem era de apenas 60,3%. O
Brasil registra também índice de desperdício de água tratada: quase 40%, em média, da água que
deveria chegar à população se perde na distribuição, dependendo das condições de conservação
das redes de abastecimento.
Página 170
Soma-se a esse quadro a baixa oferta de saneamento básico, que afeta diretamente as redes
hidrográficas, produzindo uma série de efeitos em seus cursos d’água, como a diminuição do
oxigênio e a eutrofização dos mananciais. Um parâmetro importante para determinar o grau de
poluição de um curso d’água é o índice da Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO), que mede a
quantidade de oxigênio consumido pelas bactérias aeróbicas na degradação da matéria orgânica. Se
houver muitas matérias orgânicas – por exemplo, os resíduos dos esgotos –, as bactérias se
multiplicarão em demasia e disputarão entre si todo o oxigênio disponível. Acabado o oxigênio, as
águas do rio ou do lago são incapazes de sustentar a vida aeróbia (isto é, a vida de todos os
organismos que necessitam desse gás para viver). É necessário, portanto, estabelecer o limite de
matéria orgânica que pode ser lançada em um corpo d’água, para que o oxigênio existente não se
esgote, levando esse rio ou lago à “morte”.
O tratamento de esgoto é uma forma de reduzir a DBO antes que ele chegue ao curso d´água (mar,
rio, lago), visando preservar seu oxigênio e também, em alguns casos, eliminar matérias orgânicas
vivas transmissoras de doenças para os seres humanos.
1. Muitos povoados coloniais se estabeleceram próximo aos rios, pois eles forneciam água e
alimentos, além de serem usados como meio de transporte e deslocamento em direção ao interior.
Como a sociedade utiliza os rios atualmente?
2. Existem muitos termos relacionados à estrutura de um rio que são importantes para
compreender o seu funcionamento. Elabore, em seu caderno, um esquema ou ilustração indicando
os principais elementos que compõem um rio.
d) Por qual bacia hidrográfica o município onde você vive é abastecido? Há, no município,
problemas de abastecimento de água ou de tratamento de esgoto? Comente.
4. Vimos que os recursos hidrográficos estão sendo cada vez mais contaminados sobretudo por
esgoto, o que causa o aumento expressivo da quantidade de bactérias causadoras de problemas à
saúde humana. Uma das maneiras de avaliar o índice de poluição da água é a Demanda Bioquímica
de Oxigênio (DBO).
a) Como seria a DBO em águas poluídas e não poluídas? Indique o índice de coliformes fecais, o teor
de oxigênio dissolvido e a ocorrência de processos aeróbicos e anaeróbicos.
b) Sabe-se que, nos esgotos não tratados (esgotos domésticos), cada pessoa é responsável (em
média) pelo desaparecimento de 54 gramas diárias de oxigênio existentes nas águas do rio (ou
lago) onde esse esgoto é despejado. Quantos quilos diários de oxigênio seriam retirados das águas
dos rios se não houvesse em sua escola tratamento de esgoto?
c) Pesquise sobre as principais ações voltadas para a redução do desperdício e para o controle da
poluição da água. Depois, confira se em seu município existem ações semelhantes.
Eutrofização: Consiste no aumento de compostos nutrientes em águas superficiais, em particular os nitrogenados e os fosforados, que
contribuem para o crescimento de algas e de outras espécies vegetais aquáticas. À medida que ocorrem a morte e o apodrecimento da flora
aquática, aumenta o consumo do oxigênio dissolvido no corpo de água, o que leva à morte de animais (especialmente peixes, pela falta de
oxigênio) e de plantas (pela falta de oxigênio e também de luz para a fotossíntese). Os fatores responsáveis por esse fenômeno são: despejo
dos esgotos humanos; fezes de animais domésticos, em particular bovinos e suínos; e despejo de fertilizantes provenientes de indústrias.
Página 171
a) significou apenas o deslocamento do imenso aparelho burocrático português sem nenhum desdobramento
no processo de emancipação política brasileira.
b) interrompeu os vínculos entre os grupos estabelecidos em torno da Coroa portuguesa e aqueles dedicados
às diversas atividades econômicas coloniais.
c) deu início à campanha abolicionista, graças à atuação dos letrados portugueses junto aos integrantes da
aristocracia escravista colonial.
d) criou vínculos estreitos entre os grupos dominantes da América espanhola e da América portuguesa, unidos
contra as agressões e usurpações patrocinadas por Napoleão Bonaparte.
e) deu início à chamada “interiorização da metrópole” e permitiu uma aproximação entre os membros da
burocracia imperial e grupos dominantes coloniais.
2. (UFSC) Portugal não deu trégua aos moradores da América. Farejava oportunidade de tributar onde
germinassem riquezas. Os engenhos começavam a moer cana-de-açúcar e já apareciam taxas para as caixas de
açúcar; uma nova taberna abria as portas e os barris de vinho chegavam mais caros. O gado que pisava nos
pastos exigia do seu dono uma contribuição; os carregadores que palmilhavam os caminhos deixavam nas
contagens um pagamento pelos secos e molhados que as tropas levavam [...]. Esse fiscalismo assombrou o
Brasil. Mas assombravam mais ainda as reações da população. Um furacão de revoltas contra os impostos
varreu a colônia. Revoltas, mas também rumores, pasquins, abaixo-assinados, conspirações.
FIGUEIREDO, Luciano. Morte aos impostos! Viva o rei. Revista de História, jul. 2007. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/
secao/capa/morte-aos-impostos-viva-o-rei>. Acesso em: 17 ago. 2015.
01) o estopim que deu início à Conjuração Mineira (1789) foi o Decreto da Derrama, cobrança dos impostos
devidos que mobilizou os mineradores a pegar em armas e efetivar o levante contra a coroa portuguesa.
02) no cenário que desencadeou a Revolta dos Beckman (1684) estavam as altas taxas cobradas pela
Companhia Geral de Comércio do Grão-Pará e Maranhão para o embarque de mercadorias e a falta de
fornecimento de escravos, o que contribuiu para a insatisfação dos colonos.
04) para combater o contrabando e aumentar a arrecadação de impostos, foram instituídas as Casas de
Fundição na região das minas, contra as quais se organizou um levante liderado pelos mineradores com
tumultos em várias vilas da região.
08) os movimentos da Conjuração Mineira (1789) e da Conjuração Baiana (1798) tinham como finalidade criar
uma nação brasileira, pois seus integrantes almejavam a independência de toda a América portuguesa.
16) as mortes por enforcamento de personagens como Filipe dos Santos e Manuel Beckman representam casos
únicos de punição aos revoltosos.
3. (Unesp) A vinda da Corte com o enraizamento do Estado português no Centro-Sul daria início à
transformação da colônia em metrópole interiorizada.
(Maria Odila Leite da Silva Dias. A interiorização da metrópole e outros estudos, 2005.)
Cite e analise duas medidas determinadas pelo Príncipe Regente D. João, nos anos em que ficou no Brasil, que
tenham contribuído para essa interiorização da metrópole e seu gradual enraizamento na colônia.
4. (Unicamp-SP) Eu considero o estado atual da América como quando arruinado o Império Romano. Cada
desmembramento formou um sistema político, conforme os seus interesses e situação. Nós, que apenas
conservamos os vestígios do que em outro tempo fomos, e que, por outra parte, não somos índios, nem
europeus, e sim uma meia espécie entre os legítimos proprietários do país e os usurpadores espanhóis.
Adaptado de Simón Bolívar, Carta da Jamaica de 1815, em “Escritos políticos”. Campinas: Editora da Unicamp, p. 61.
a) Quem foi Bolívar e qual sua importância nos processos de independência das colônias hispano-americanas?
A qual processo político Bolívar se refere?
b) De que maneira Bolívar se refere aos criollos no texto? Qual o papel político dos criollos nas
independências das colônias espanholas?
5. (UFRS) A ocupação napoleônica na Espanha criou condições propícias aos movimentos de libertação
ocorridos na América espanhola. Em relação a esses processos de emancipação, assinale a alternativa correta.
b) As elites da América espanhola desejavam a emancipação para estabelecer monopólios mercantis, pois a
Espanha praticava o livre comércio em suas colônias.
c) Influenciada pelos princípios franceses dos Direitos Universais, a aristocracia criolla pretendia, com o
processo de in de pendência, promover mudanças estruturais, instaurando regimes democráticos e
estendendo o voto ao conjunto da sociedade.
d) Os processos de independência da América espanhola foram incentivados pela Independência ame ri cana,
pela Revolução Francesa e pelo pensamento do Iluminismo.
e) O latifúndio e a escravidão foram abolidos, pois foram considerados prejudiciais à modernização econômica
do continente latino-americano.
6. (Mackenzie-SP) A respeito dos princípios presentes na Constituição de 1824, outorgada por dom Pedro I, é
correto afirmar que:
vam a liberdade econômica, assegurando a participação política desvinculada da necessidade de uma renda
mínima por parte do cidadão.
b) garantiam as liberdades individuais inspiradas na Declaração dos Direitos do Homem, elaborada pelos
revolucionários franceses em 1789.
c) estabeleciam a igualdade de todos perante a lei, estatuto que foi observado com rigor por toda a sociedade
brasileira.
d) estabeleciam o princípio da liberdade religiosa, segundo o qual o Estado permaneceria distante das
questões religiosas.
e) determinavam disposições jurídicas que eram as mais adequadas à realidade nacional da época, não
apresentando, portanto, contradições.
7. (UECE) Atente ao que se diz a respeito dos dois partidos políticos denominados Partido Português e
Partido Brasileiro, considerando os acontecimentos que culminaram com o processo de emancipação política
brasileira de 1822.
I. O Partido Português, composto em sua maioria por comerciantes portugueses, gostaria de ver mantidos os
privilégios a eles proporcionados pela estrutura colonial e desejava o retorno de Dom Pedro a Portugal para
que as medidas recolonizadoras fossem aplicadas.
II. O Partido Brasileiro reunia burocratas, grandes proprietários de terras, advogados e investidores urbanos
nascidos no Brasil. Esse grupo foi privilegiado pela abertura dos portos de 1808 e gostaria que fosse mantida a
elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves.
b) I é falsa e II é verdadeira.
d) I é verdadeira e II é falsa.
I. Acreditavam os conspiradores que a derrama seria o estopim que faria explodir a rebelião contra a
dominação colonial. Em uma de suas reuniões, criaram até a palavra de ordem para começarem a agir. “Tal dia,
faço o batizado” era a senha.
II. Dois envolvidos [...] escaparam às garras da repressão: José Basílio da Gama, que fugiu para Lisboa quando
começaram as prisões, e Manoel Arruda da Câmara, que era sócio correspondente da Sociedade Literária do
Rio de Janeiro, mas vivia no exterior. [...] O fato é que um ano após a prisão dos acusados nada de grave fora
apurado, até porque recorreram ao recurso de negar articulação contra o domínio português. Em geral
admitiram que suas reuniões eram marcadas por discussões filosóficas e científicas.
III. [...] dentre os 33 presos e processados, havia 11 escravos, cinco alfaiates, seis soldados, três oficiais, um
negociante e um cirurgião. [...] Suas ideias principais envolviam o seguinte: a França constituía o modelo a
seguir; o fim da escravidão; a separação entre Igreja e Estado [...]
IV. Criou-se um Governo Provisório [...], integrado por representantes de cinco segmentos da sociedade:
Domingos Teotônio Jorge (militares), Domingos José Martins (comerciantes), Manoel Correia de Araújo
(agricultores), padre João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro (sacerdotes) e doutor José Luís Mendonça
(magistrados). [...] Empenhado em ampliar o movimento anticolonial, o Governo Provisório enviou emissários
a outras capitanias: Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e Bahia.
(AQUINO, Rubim Santos Leão de et alii. Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais.)
c) Revolta de Vila Rica; Conjuração do Rio de Janeiro; Conjuração Baiana; Revolução de 1817.
d) Conjuração Mineira; Conjuração do Rio de Janeiro; Revolução de 1817; Revolta dos Cabanos.
9. (Fuvest) O papel da imprensa, como agente histórico, foi decisivo para a Independência do Brasil na
medida em que significou e ampliou espaços de liberdade de expressão e de debate político, que formaram e
interferiram no quadro da separação de Portugal e de início da edificação da ordem nacional. A palavra
impressa no próprio território do Brasil era então uma novidade que circulava e ajudava a delinear
identidades culturais e políticas e constituiu-se em significativo mecanismo de interferência, com suas
singularidades e interligada a outras dimensões daquela sociedade que aliava permanências e mutações.
Marco Morel, Independência no papel: a imprensa periódica. I. Jancsó (org.). Independência: história e historiografia. Adaptado.
a) Explique por que a imprensa pode ser considerada “uma novidade” no Brasil à época da Independência.
b) O texto se refere a “outras dimensões daquela sociedade que aliava permanências e mutações”. Dê dois
exemplos dessas dimensões, relacionando-as com o “início da edificação da ordem nacional” no Brasil da época
da Independência.
10. (UFG-GO) Leia os fragmentos a seguir. “Não corram tanto ou pensarão que estamos fugindo!”
(Revista de História da Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro, ano 1, n. 1, jul. 2005, p. 24.)
Preferindo abandonar a Europa, dom João procedeu com exato conhecimento de si mesmo. Sabendo-se
incapaz de heroísmo, escolheu a solução pacífica de encabeçar o êxodo e procurar no morno torpor dos
trópicos a tranquilidade ou o ócio para que nasceu.
(MONTEIRO, Tobias. História do Império: a elaboração da Independência. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Edusp, 1981. p. 55. Adaptado.)
O embarque da família real para o Brasil, em 1807, deu origem a contraditórias narrativas. A frase acima,
atribuída à rainha dona Maria I, tornou-se popular, passando a constituir uma versão narrativa ainda vigorosa.
Nos anos de 1920, os estudos sobre a Independência refizeram o percurso do embarque, assegurando uma
Página 173
interpretação republicana sobre esse acontecimento, tal como exemplificado no trecho do jornalista e
historiador Tobias Monteiro. Sobre essa versão narrativa em torno do embarque, pode-se dizer que pretendia:
b) associar a figura do rei ao pragmatismo político, demonstrando que o deslocamento da Corte era um ato de
enfrentamento a Napoleão.
d) culpar a rainha pela decisão do embarque, afirmando- -lhe o estado de demência lamentado por seus
súditos.
e) explicar o financiamento do ócio real por parte da colônia, comprovando que o embarque fora uma
estratégia articulada pelo rei.
11. (Enem) No clima das ideias que se seguiram à revolta de São Domingos, o descobrimento de planos para
um levante armado dos artífices mulatos na Bahia, no ano de 1798, teve impacto muito especial; esses planos
demonstravam aquilo que os brancos conscientes tinham já começado a compreender: as ideias de igualdade
social estavam a propagar-se numa sociedade em que só um terço da população era de brancos e iriam
inevitavelmente ser interpretados em termos raciais.
MAXWELL. K. Condicionalismos da Independência do Brasil. In: SILVA, M.N. (coord.) O Império luso-brasileiro, 1750-1822. Lisboa: Estampa,
1986.
O temor do radicalismo da luta negra no Haiti e das propostas das lideranças populares da Conjuração Baiana
(1798) levaram setores da elite colonial brasileira a novas posturas diante das reivindicações populares. No
período da Independência, parte da elite participou ativamente do processo, no intuito de:
a) instalar um partido nacional, sob sua liderança, garantindo participação controlada dos afrobrasileiros e
inibindo novas rebeliões de negros.
b) atender aos clamores apresentados no movimento baiano, de modo a inviabilizar novas rebeliões,
garantindo o controle da situação.
c) firmar alianças com as lideranças escravas, permitindo a promoção de mudanças exigidas pelo povo sem a
profundidade proposta inicialmente.
d) impedir que o povo conferisse ao movimento um teor libertário, o que terminaria por prejudicar seus
interesses e seu projeto de nação.
12. (Enem) Em 2008 foram comemorados os 200 anos da mudança da família real portuguesa para o Brasil,
onde foi instalada a sede do reino. Uma sequência de eventos importantes ocorreu no período 1808-1821,
durante os 13 anos em que D. João VI e a família real portuguesa permaneceram no Brasil.
– Bahia – 1808: Parada do navio que trazia a família real portuguesa para o Brasil, sob a proteção da marinha
britânica, fugindo de um possível ataque de Napoleão.
– Rio de Janeiro – 1808: desembarque da família real portuguesa na cidade onde residiriam durante sua
permanência no Brasil.
– Salvador – 1810: D. João VI assina a carta régia de abertura dos portos ao comércio de todas as nações
amigas, ato antecipadamente negociado com a Inglaterra em troca da escolta dada à esquadra portuguesa.
– Rio de Janeiro – 1816: D. João VI tona-se rei do Brasil e de Portugal, devido à morte de sua mãe, D. Maria I.
GOMES, L. 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e
do Brasil. São Paulo: Editora Planeta, 2007 (adaptado).
b) o fim do comércio de escravos no Brasil, porque a Inglaterra decretara, em 1806, a proibição do tráfico de
escravos em seus domínios.
c) a conquista da região do rio da Prata em represália à aliança entre a Espanha e França de Napoleão.
d) a abertura de estradas, que permitiu o rompimento do isolamento que vigorava entre as províncias do país,
o que dificultava a comunicação antes de 1808.
e) o grande desenvolvimento econômico de Portugal após a vinda de D. João VI para o Brasil, uma vez que
cessaram as despesas de manutenção do rei e de sua família.
13. (Espcex) No fim do Século XVIII, era grande a insatisfação com a carestia e a opressão colonial. A isso se
somava a simpatia que muitas pessoas demonstravam em relação às lutas pela emancipação do Haiti (1791-
1804) e à Revolução Francesa (1789). Para difundir esta ideia fundou-se a loja maçônica Cavaleiros da Luz.
Em agosto de 1798, alguns conspiradores afixaram em muros e postes da cidade manifestos exortando a
população à revolução. Os panfletos pregavam a proclamação da República, a abolição da escravidão, melhores
soldos para os militares, promoção de oficiais, liberdade de comércio, etc.
Denunciado por um traidor, o movimento foi esfacelado. Alguns participantes foram presos, outros fugiram e
quatro foram condenados à morte: Luís Gonzaga das Virgens, Lucas Dantas de Amorim Torres, João de Deus do
Nascimento e Manuel Faustino dos Santos.
14. (PUC) Quanto aos processos de independência na América hispânica e no Brasil no início do século XIX,
pode-se afirmar que:
a) ambos foram marcados por guerras, mas no pós-independência a América hispânica conservou a unidade
do período colonial, e o Brasil foi dividido politicamente.
b) ambos receberam auxílio francês e inglês, mas no pós-independência o Brasil rompeu os laços com a
Inglaterra, e a América hispânica se aproximou mais da França.
c) ambos foram influenciados pelo pensamento iluminista, mas no pós-independência na América hispânica
predominou a ideia republicana, e o Brasil se tornou uma monarquia.
d) ambos contaram com apoio militar dos Estados Unidos, mas no pós-independência o Brasil se aliou aos
norte-americanos, e a América hispânica entrou em conflito com eles.
e) ambos foram negociados, mas no pós-independência a autonomia da América hispânica foi apenas
provisória, e a brasileira se tornou definitiva.
15. (UFJF-MG) Segundo José Murilo de Carvalho, “a principal característica da independência brasileira foi a
negociação entre a elite nacional, a Coroa portuguesa e a Inglaterra.”
Desta forma, em comparação com os demais países da América Latina, é INCORRETO dizer que:
a) no Brasil, o processo de independência foi relativamente pacífico, com conflitos militares isolados, como no
Maranhão e na Bahia.
d) enquanto no Brasil foi instituída uma monarquia constitucional e mantida a unidade territorial, na América
hispânica o movimento de independência, em geral, resultou na criação de diversas repúblicas.
16. (Enem) É simplesmente espantoso que esses núcleos tão desiguais e tão diferentes se tenham mantido
aglutinados numa só nação. Durante o período colonial, cada um deles teve relação direta com a metrópole.
Ocorreu o extraordinário, fizemos um povo-nação, englobando todas aquelas províncias ecológicas numa só
entidade cívica e política.
RIBEIRO, D. O povo brasileiro: formação e sentido do Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 1988.
Após a conquista da autonomia, a questão primordial do Brasil residia em como garantir sua unidade político-
territorial diante das características e práticas herdadas da colonização. Relacionando o projeto de
independência à construção do Estado nacional brasileiro, a sua particularidade decorreu da
a) ordenação de um pacto que reconheceu os direitos-políticos aos homens, independentemente de cor, sexo
ou religião.
b) estruturação de uma sociedade que adotou os privilégios de nascimento como critério de hierarquização
social.
c) realização de acordos entre as elites regionais, que evitou confrontos armados contrários ao projeto luso-
brasileiro.
d) concessão da autonomia política regional, que atendeu aos interesses socioeconômicos dos grandes
proprietários.
17. (ESPM) ...uma Constituição não é outra coisa que a ata do Pacto Social que fazem entre si os homens,
quando se juntam e associam para viver em reunião ou sociedade.
(Frei Joaquim do Amor Divino Rabelo Caneca. Citado por Adriana Lopez e Carlos Guilherme Mota in História do Brasil: uma interpretação)
As palavras do Frei Caneca foram proferidas a propósito de crítica ao modelo autocrático-imperial de Pedro I.
Assinale a alternativa que apresente a revolução republicana e separatista que eclodiu no nordeste, ocorrida
contra o governo de Pedro I:
b) Sabinada;
c) Cabanagem;
d) Balaiada;
e) Confederação do Equador.
18. (FGV) Iniciados os trabalhos da Constituinte [em maio de 1823], José Bonifácio procurou articular em
torno de si os propósitos dos setores conservadores, além de esvaziar radicais e absolutistas. Na prática, José
Bonifácio [...] procurou imprimir um projeto conciliador entre as pretensões centralizadoras e os anseios das
elites rurais. O papel do imperador deveria ser destacado dentro da organização do novo Estado, já que em
torno de sua figura se construiria a unidade territorial do novo país.
(AQUINO, Rubim Santos Leão de et al. Sociedade brasileira: uma história através dos movimentos sociais.)
No momento em que os trabalhos constituintes eram iniciados, a manutenção da unidade territorial do Brasil
corria riscos em virtude:
a) da ocupação exercida por forças militares portuguesas na Bahia, no Pará e na província Cisplatina.
b) das pressões inglesas para que as regiões próximas da bacia Amazônica fossem separadas do Brasil.
c) da Revolta dos Farrapos, que lutava pela emancipação das províncias do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina.
d) da adesão de Gonçalves Ledo ao partido brasileiro, que defendia ampla autonomia do nordeste brasileiro.
19. (PUCRS) Sobre a situação econômica e financeira do Brasil durante o Primeiro Reinado, é INCORRETO
afirmar que
Página 175
a) o Brasil passava por uma forte crise no comércio de exportação, devido à queda das suas vendas externas
de açúcar no mercado Europeu.
b) a situação brasileira se agravou na medida em que, depois do declínio da produção aurífera colonial, a
Inglaterra perdeu o interesse de ser parceira comercial do Brasil.
c) o imperador D. Pedro I fazia gastos excessivo se não voltados ao desenvolvimento econômico, como o
financiamento da Guerra da Cisplatina, além de existirem problemas na arrecadação de impostos.
d) o café, que seria o grande produto brasileiro de exportação no século XIX, ainda não ocupava espaço
significativo no comércio exterior do país.
e) havia grande carência em transportes que, aliada às dimensões continentais do território brasileiro,
dificultava a integração econômica do novo país e o adequado aproveitamento de suas riquezas naturais.
20. (UEPG) Entre 1822 e 1889, o Brasil viveu sob um regime monárquico chefiado por D. Pedro I (1822-
1831) e por D. Pedro II (1840-1889), intercalados por um período regencial (1831-1840). A respeito desse
particular momento da história política nacional, assinale o que for correto.
01) A partir de meados do século XIX, o sistema de escravidão sofreu seu primeiro grande abalo com o fim do
tráfico negreiro e com a implantação de um conjunto de leis que culminou com a abolição em 1888.
02) Tanto no Primeiro quanto no Segundo Reinado, o Poder Moderador – estabelecido pela Constituição de
1824 – concedeu grande força ao Imperador, correspondendo, na prática, a uma centralização de poder.
04) O processo de modernização do país – com a construção de ferrovias, a montagem de uma tímida estrutura
industrial, um paulatino crescimento urbano e com a integração de um grande contingente de imigrantes
europeus ao mercado de trabalho livre – é um fenômeno vinculado majoritariamente ao II Império.
08) A Guerra do Paraguai (1865-1870) envolveu um grande contingente de soldados e um grande volume de
recursos financeiros. Ao sair como vencedor do conflito, a Monarquia brasileira se fortaleceu e sufocou o
ascendente movimento republicano brasileiro.
16) Uma das maiores revoltas enfrentadas pelo I Império, a Confederação do Equador reuniu lideranças
políticas de províncias do nordeste brasileiro e trazia, entre suas pretensões, o fim da escravidão e a
implantação de uma República no Brasil.
Depois de três séculos de exploração de uma das mais ricas áreas coloniais americanas, Portugal chega ao final
do século XVIII como uma das metrópoles mais atrasadas da Europa.
A propósito disso, o historiador Fernando Novais afirma: “o fato de a metrópole não se desenvolver
paralelamente (à colônia) é que criou condições para os transladamentos dos tesouros. Em outras palavras: os
estímulos da exploração colonial portuguesa iam sendo acumulados por outras potências”.
Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial, Fernando Novais. 1986, p. 236.
I. A incapacidade de Portugal de aproveitar as riquezas que retirava do Brasil para o seu próprio
desenvolvimento deveu-se ao fato de a Coroa Lusitana nunca ter conseguido constituir um estado forte e
centralizado na Metrópole.
II. Dentre os motivos que explicam essa situação, está a formação socioeconômica portuguesa, que privilegiava
as atividades tradicionais voltadas ao cultivo da terra e à produção de vinho em detrimento do investimento
em manufaturas.
III. Um dos fatores que contribuiu para que Portugal continuasse um país eminentemente agrícola, não
desenvolvendo um setor de manufaturas, foi o Tratado de Methuen, assinado com a Inglaterra, em 1703.
IV. Dentre os problemas enfrentados pela Coroa Portuguesa estava a sua incapacidade de controlar tanto o
contrabando de bens manufaturados para a sua colônia americana, quanto a fabricação desses bens no Brasil,
cuja produção foi liberada pelo Marquês de Pombal quando Primeiro Ministro do rei D. José I.
a) I e II.
b) II e III.
c) I, II e III.
d) I, III e IV.
22. (Enem) Em 1881, a Câmara dos Deputados aprovou uma reforma na lei eleitoral brasileira, a fim de
introduzir o voto direto. A grande novidade, porém, ficou por conta da exigência de que os eleitores soubessem
ler e escrever.
Em 1872, havia mais de 1 milhão de votantes, já em 1886, pouco mais de 100 mil cidadãos participaram das
eleições parlamentares. Houve um corte de quase 90 porcento do eleitorado.
CARVALHO, J. M. Cidadania no Brasil: o longo caminho. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2006 (adaptado).
Nas últimas décadas do século XIX, o Império do Brasil passou por transformações como as descritas, que
representaram a
Fonte: Revista Fon Fon / Fundação Casa de Rui Barbosa, RJ, 1922
• O imperialismo
Fonte: Revista Fon Fon / Fundação Casa de Rui Barbosa, RJ, 1922
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CAPÍTULO 14
Europa: os movimentos
liberais e as unificaçoes
Vamos lá!
Assim como no Brasil, as sociedades europeias vivenciaram intensos conflitos a partir dos anos
1830. As situações são distintas, protagonizadas por diferentes sujeitos, em lugares específicos. Mas
uma ajuda a pensar a outra.
Vários dos choques ocorridos na Europa deram-se em razão da intensa disputa pelo poder. É o caso
da França, palco de duas grandes revoluções (1830 e 1848). Ao longo desses conflitos, emergiram
lutas populares, em sua maioria comandadas pelas populações pobres das grandes cidades.
Esses movimentos populares, porém, foram sufocados, assim como no Brasil. Como consequência,
em várias regiões da Europa formaram-se Estados centralizados, como a Alemanha e a Itália, sem as
mudanças esperadas pelo povo.
Nos movimentos de 1830 e 1848, foi intensa a participação popular, levando muitos a acreditar que se
aproximava uma revolução social. A liberdade guiando o povo, de Eugène Delacroix, 1830.
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Estabeleça semelhanças e diferenças entre a situação do Brasil e a da Europa na década de 1830.
1 Desenhando o cenário
Por volta de 1830, várias sociedades europeias estavam novamente envolvidas em revoluções. A
maioria dos conflitos era protagonizada por partidários das antigas práticas absolutistas e
defensores dos ideais burgueses. Tratava-se de uma reação à onda conservadora imposta pelo
Congresso de Viena, ao final das guerras napoleônicas.
Havia novidades, porém. Naquelas últimas décadas, as populações urbanas cresceram como nunca,
graças ao intenso processo de industrialização. Nas cidades, ganhava força um novo grupo social: os
operários ou proletários. Com uma forte consciência da realidade, apresentavam um novo projeto
de sociedade, que faziam ecoar com suas reivindicações e lutas por maior participação política,
regras justas para as relações de trabalho, melhores condições de vida.
A onda revolucionária de 1830 cedeu. Mas voltaria com força maior em 1848. Os regimes
absolutistas davam seu último suspiro. E a burguesia abria caminho definitivo para assumir o poder
e moldar o mundo à sua feição. Sobre tudo porque as fábricas se espalhavam cada vez mais pela
Europa e multiplicavam seus ganhos. Nas revoluções de 1848, a voz dos trabalhadores ecoaria
muito mais forte. Alguns observadores, inclusive, temiam que a hora do proletariado houvesse
chegado. Não à toa, as revoluções de 1848 ficaram conhecidas como Primavera dos Povos.
O proletariado, porém, não tomou o poder. De qualquer forma, estava desenhado o conflito que
dominou o cenário social nos 150 anos seguintes: a luta entre burgueses e proletários. Neste
capítulo, vamos estudar os movimentos burgueses do século XIX, sobretudo as revoluções de 1830
e 1848, e as unificações da Alemanha e da Itália. No próximo capítulo, será a vez de conhecer as
propostas proletárias.
Nas cidades europeias do século XIX, os problemas multiplicavam- -se como falta de moradia e surtos de
doenças. Na obra Misérias de Londres, de Thomas Rowlandson, 1807, vemos um retrato desse cenário
urbano devastador.
• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
Para auxiliar na compreensão desse cenário, aqui está um glossário elementar do século XIX,
composto de apenas quatro verbetes. Mas, segundo vários historiadores, sem eles não é possível
compreender a história desses últimos séculos.
• Nação: até o início do século XIX, o termo era vago. Podia denominar tanto o conjunto da Europa
Página 180
(a nação europeia) quanto um grupo étnico (a nação árabe, por exemplo). Até então, valia mais
pertencer a uma religião do que a um país. A situação só começou a mudar a partir da Revolução
Francesa, com o nacionalismo.
• Liberalismo: conjunto de ideias que se desenvolveu a partir do século XVIII. Defendia, entre
outros aspectos, a liberdade de comércio, a não intervenção do Estado na economia, o limite ao
poder dos governantes por meio de Constituições e a garantia às liberdades individuais, sobretudo
o direito à propriedade. O liberalismo foi um dos principais alicerces do Estado-Nação, orientando a
organização do governo e das políticas econômicas.
2 O mundo capitalista
Segundo o historiador Eric Hobsbawm, a partir da década de 1860 as sociedades construídas
conforme os valores burgueses ganharam um nome: capitalistas. Por esse tempo, industriais,
comerciantes, estadistas disseminavam os ideais do capitalismo – e suas novas formas de
dominação – por todo o mundo, em especial pela África, Ásia e América. Até mesmo a China, o
maior e mais tradicional império do mundo, não conseguiu resistir aos novos conquistadores. E,
com isso, pela primeira vez na história, o Oriente deixava de enviar quantidade maior de
mercadorias ao Ocidente.
A lógica do mundo capitalista eram a obtenção do lucro e o acúmulo de riquezas. Esses valores,
porém, não haviam se consolidado naquele momento. Desde o século XVIII, vários estudiosos
procuravam compreender a lógica dessa nova dinâmica. O conjunto de teorias que construíram
ficou conhecido como liberalismo.
Ufizzi / Bridgeman Art Library, Londres
Na segunda metade do século XIX, surgiu um novo estilo artístico, o impressionismo. Entre seus principais
representantes está o francês Édouard Manet. É dele esta obra, O bar de Folies-Bergère, de 1882,
considerada um de seus trabalhos mais espetaculares. Trata-se de um instante congelado, em que podemos
observar as práticas de diversão, os trabalhadores, os fregueses – todos elementos de um novo tempo, o
tempo da burguesia.
Página 181
O escocês Adam Smith (1723 -1790) é considerado um de seus pioneiros. A economia, segundo ele,
fluía melhor com a livre competição entre empresas, instituições e Estado. Essa liberdade fazia com
que o mercado se autorregulasse, possibilitando maior desenvolvimento da sociedade. O governo,
por isso, deveria intervir o mínimo possível na economia, cobrando inclusive menos impostos para
não dificultar o desempenho das empresas. Esses princípios influenciaram toda a economia
mundial, repercutindo na organização das sociedades capitalistas.
As teorias econômicas
Seguindo Adam Smith, vieram outros pensa dores, entre eles os ingleses Thomas Malthus (1766-
1834) e David Ricardo (1772-1823).
Malthus – autor de Ensaio sobre a população (1798) – mostrava-se pessimista com relação ao
desenvolvimento da humanidade. Para ele, o avanço material proporcionado pela era industrial
seria interrompido pelo limite dos recursos naturais. A população do planeta, por exemplo, crescia
em ritmo mais acelerado que a produção de alimentos. Existiria, assim, um perigo iminente de
fome. A questão só não era pior porque guerras e epidemias afetavam diretamente o crescimento
populacional. Esse excedente de pessoas, porém, desequilibrava a economia, ao criar um círculo
vicioso: quanto maior a oferta de mão de obra, piores os salários. Isso se refletia no crescimento da
pobreza e em salários cada vez menores, aumentando as crises econômicas.
David Ricardo, por sua vez, escreveu Princípios da economia política e tributação (1817). Para ele, o
preço de uma mercadoria resultava, sobretudo, da quantidade de trabalho empregada em sua
produção. Assim, quanto menor a quantidade de trabalho, menor o custo e, portanto, maior o lucro
obtido. Como outros pensadores liberais de sua época, Ricardo acreditava que o desemprego era
um fenômeno limitado dentro do capitalismo.
• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
Liberais e liberais
Como os seres humanos, as palavras mudam de conteúdo segundo o tempo e o lugar. Acompanhar
suas transformações é instrutivo, embora, às vezes, como ocorre com o vocábulo “liberal”,
semelhante averiguação possa nos extraviar em um labirinto de dúvidas. Em Quixote e na literatura
de sua época a palavra aparece várias vezes. O que ela quer dizer ali? Homem de espírito aberto,
bem-educado, tolerante, comunicativo; em suma, uma pessoa com a qual se pode simpatizar. Nela
não há conotações políticas nem religiosas, somente éticas e cívicas no sentido mais amplo de
ambas as palavras.
No final do século XVIII esse vocábulo muda de natureza e adquire matizes que têm a ver com as
ideias sobre a liberdade e o mercado dos pensadores britânicos e franceses do Iluminismo (Stuart
Mill, Locke, Hume, Adam Smith, Voltaire). Os liberais combatem a escravidão e o intervencionismo
do Estado, defendem a liberdade privada, o comércio livre, a concorrência, o individualismo e se
declaram inimigos dos dogmas e do Absolutismo.
No século XIX um liberal é sobretudo um livre-pensador: defende o Estado laico, quer separar a
Igreja do Estado, emancipar a sociedade do obscurantismo religioso. Suas diferenças com os
conservadores e os regimes autoritários geram amiúde guerras civis e revoluções. O liberal de
então é o que chamaríamos um progressista, defensor dos direitos humanos (a partir da Revolução
Francesa foram conhecidos como os Direitos do Homem) e a democracia. [...]
1. O texto menciona dois sentidos diferentes para o termo liberal em momentos distintos da
história. E hoje, que significados esse termo possui? Façam uma pesquisa para compreender o
significado político e econômico de liberal na atualidade.
2. A partir dos resultados obtidos, deem exemplos que ilustram os dados pesquisados. Levem em
consideração o contexto do país.
Página 182
Ocorreram revoltas também na França e na Grécia. Neste último, o conflito assumiu caráter
específico. Dominados pelos turcos desde o século XV, grupos locais iniciaram um movimento por
autonomia. Auxiliados por governos da Rússia, da França e da Inglaterra, saíram vitoriosos oito
anos depois.
A onda revolucionária tomou novo fôlego em 1830, com início na França. Eram constantes os
conflitos entre os que buscavam o retorno do Antigo Regime e os defensores dos ideais liberais. Em
1824, o rei Luís XVIII faleceu e foi substituído pelo irmão, Carlos X, de posição mais conservadora.
Naquela época, menos de 1% da população tinha direito a voto e um número menor ainda podia se
candidatar aos cargos representativos. O cenário político era dominado pela nobreza e pela alta
burguesia.
Uma crise econômica levou Carlos X a aumentar os impostos. A oposição ao rei aumentou, inclusive
no restrito Parlamento. Em julho de 1830, ele dissolveu a Câmara dos Deputados, impôs limites à
imprensa e ampliou as restrições ao voto. A população reagiu imediatamente, saindo às ruas. Paris
foi bloqueada por barricadas.
Três dias depois, os revoltosos tomaram o palácio, colocando o rei em fuga. Temendo a ação
popular, a alta burguesia prontamente apoiou Luís Filipe para o trono. O monarca governou até
1848, criando plenas condições para o desenvolvimento da burguesia, com incentivo à
industrialização e à agricultura, e pregando a obediência à Constituição. Ampliou também o direito
ao voto, mas reprimiu os movimentos populares, sobretudo aqueles de origem trabalhista.
n As revoltas se espalham
O movimento francês de 1830 repercutiu em outras regiões da Europa. Na Bélgica, eclodiu um
movimento pela autonomia do país, anexado à Holanda desde o Congresso de Viena. O movimento
acabou vitorioso em 1831. Na Polônia ocorreram também revoltas contrárias ao domínio russo.
Foram, porém, sufocadas pelo governo daquele país. No norte da península Itálica, houve rebeliões
contra os austríacos, que mantinham a região sob controle.
Em 1830, iniciado na França, um intenso movimento revolucionário se espalhou por diversas partes da
Europa. A Batalha do porto de Saint-Denis, obra de Hippolyte Lecomte, 1830.
Página 183
O que mais chamava a atenção, porém, era seu componente social: os movimentos eram
impulsionados pela massa de trabalhadores pobres (camponeses, operários, marginalizados).
Foram eles que lutaram nos campos de batalha e morreram nos combates. Isso assustou os grupos
da elite e determinou, em grande parte, o fracasso dessas revoluções.
Isolados, os governos instituídos não duraram muito tempo. Pouco mais de seis meses depois,
praticamente todos os antigos regimes estavam restaurados, com o apoio das elites liberais. Para
encerrar, uma forte repressão abateu-se sobre os trabalhadores pobres. O acontecimento, porém,
deixava claro aos governantes conservadores a possibilidade de organização política dos
trabalhadores em torno de interesses comuns. O perigo de uma revolução social era iminente. O
proletariado entrava, em definitivo, para a cena da história.
Novamente, a França
O desencadeador dos movimentos revolucionários de 1848 podia ser percebido na Europa ha via
alguns anos: uma grave crise econômica tornava dramática a situação das populações pobres. Na
França, o fato provocou instabilidade política. Em 1848, um movimento liderado pela elite liberal,
com o apoio de grupos organizados de trabalhadores, destituiu o rei, Luís Filipe, e proclamou a
república. Um governo provisório assumiu o poder e convocou uma Assembleia Constituinte. Não
tardaram, porém, a ficar evidentes as divergências entre os grupos que lideravam o movimento.
O rompimento definitivo veio com a repressão do governo, dominado pelos liberais, aos
movimentos operários. Sob a liderança do general Eugène Cavaignac, cerca de 10 mil trabalhadores
foram massacrados, enquanto outros acabaram presos e exilados. Os liberais consolidavam-se no
poder, mas não conquistavam estabilidade política. Com a promulgação da nova Constituição,
foram realizadas eleições para a presidência. Venceu Luís Napoleão Bonaparte, sobrinho do
imperador francês, com amplo apoio do Exército e das elites liberais. Luís Napoleão deveria
governar até 1851. Pouco antes do fim de seu mandato, porém, articulou um golpe de Estado e
manteve-se no poder. Com amplo apoio popular, realizou um plebiscito pelo qual a república foi
extinta. A monarquia estava de volta à França. Luís Bonaparte assumiu o trono com o título de
Napoleão III. A história parecia repetir-se. Com o apoio da burguesia, temerosa de nova onda
revolucionária, Napoleão III governou até 1870, quando foi derrotado na Guerra Franco-Prussiana.
Biblioteca Nacional da França
Ilustração representando a abdicação do rei Luis Felipe I, na França, 1848. Em baixo da imagem, lê-se: Vá
pendurar-se em outro lugar!
Página 184
VOCÊ SABIA?
Movimento cartista
Na onda dos protestos dos anos 1830 e 1840 que marcaram a Europa, destaca-se o movimento
cartista, na Inglaterra. Por anos seguidos, milhares de operários fabris saíram às ruas para exigir
melhores condições de trabalho, além de maior participação nas eleições, ainda restritas a parcelas
abastadas da população.
Com intensas manifestações populares em todo o país, o governo buscou reprimir duramente o
movimento. No entanto, não conseguiu conter a influência do cartismo para a organização dos
operários tanto na Inglaterra como em outros países. Para muitos historiadores, o cartismo
inaugurou assim um novo momento na história do movimento operário: passavam, agora, a ter
aspirações políticas!
Bettmann
Na Inglaterra, o ano de 1848 foi marcado pelo movimento cartista, com intensas manifestações populares
em todo o país. Manifestação cartista em Londres, 1848.
Conquistada essa condição, as burguesias ita liana e alemã poderiam se posicionar melhor na
acirrada disputa pela hegemonia no continente europeu e no mercado mundial. Para o sucesso das
unificações foram importantes os ideais nacionalistas, capazes de criar um sentimento de união
entre diferentes povos. A imposição de um idioma comum, em detrimento das línguas locais, foi
uma das práticas utilizadas: uma só língua, um só povo, um só governo.
O caso da Itália
Reinos e ducados independentes, territórios da Igreja Católica, vastas áreas sob dominação
estrangeira, esse era o cenário político da península Itálica após o Congresso de Viena (veja o
mapa).
Maps World
Fonte: SERRYN, Pierre e BLASSELLE, René. Atlas Bordas géographique et historique. Paris: Bordas, 1996.
Página 185
Ao longo do século XIX, várias propostas de fendiam a unificação desses inúmeros Estados e povos.
Dentre elas destacava-se a de Giuseppe Mazzini, responsável por organizar uma sociedade secreta,
a Jovem Itália, com o objetivo de promover a unificação por meio de levantes populares. A
organização foi atuante nas revoltas de 1830, mas acabou derrotada. Exilado, Mazzini continuou
sua luta.
Giuseppe Garibaldi foi outro nome de destaque. Liderando vários movimentos na parte sul da
península, pretendia uma Itália republicana e democrática. Coube a ele comandar a ação dos grupos
conhecidos como Camisas Vermelhas. Ao norte da península Itálica, por sua vez, destacava-se um
grupo de monarquistas, organizados no Piemonte-Sardenha, um dos poucos reinos livres do
domínio estrangeiro na península Itálica. Contando com o apoio das elites liberais, o grupo era
liderado pelo conde de Cavour, que divulgava no jornal Risorgimento os ideais de unificação.
Por volta de 1860, as lutas pela unificação ganharam novo fôlego. No norte, Cavour, então primeiro-
ministro do reino do Piemonte-Sardenha, conduzia uma política de fortalecimento da economia
local. Com isso, criou condições para lutar contra o domínio austríaco na região, com o apoio de
prussianos e franceses. Em 1859, após várias batalhas, conseguiu um acordo pelo qual anexava
vários territórios, como Lombardia, Parma e Módena.
Enquanto isso, ao sul, os grupos liderados por Garibaldi conquistavam, em 1860, o Reino das Duas
Sicílias. Contando com forte apoio popular, sob sua liderança ocorriam revoltas camponesas que
engrossavam seus exércitos. Apesar das vitórias, Garibaldi abriu mão de sua proposta de formar
uma república na península Itálica. Evitava assim divisões nos grupos favoráveis à unificação. A
partir de então, o sul passou a ser controlado pela dinastia Savoia, do Piemonte-Sardenha.
Em 1866, seria anexada Veneza, então sob o domínio austríaco. Para a unificação, faltavam apenas
os Estados papais. Estes contavam com a proteção da França. Em 1870, porém, os franceses
estavam enfraquecidos pela guerra contra a Prússia. A situação favoreceu a invasão de Roma,
transformada na capital do reino da Itália. O papa Pio IX reagiu, declarando-se prisioneiro no
Vaticano. Essa situação permaneceu por décadas, até ser finalmente resolvida em 1929, com a
assinatura do Tratado de Latrão, entre o governo de Benito Mussolini e o papa Pio XI. Pelo tratado,
criou-se o Estado do Vaticano, dirigido pela Igreja Católica, com uma área de 0,44 km dentro da
2
cidade de Roma.
A unificação da Itália ocorreu sob liderança do reino do Piemonte, o que resultou na coroação de Vitor
Emanuel II como soberano do novo país. Retrato de Vitor Emanuel, de P. Litta, século XIX.
O caso da Alemanha
A unificação territorial da Alemanha ocorreu praticamente no mesmo período que a italiana, na
região ocupada desde a Idade Média pelo Sacro Império Romano-Germânico. As guerras
napoleônicas, como vimos, desagregaram o império, dando origem à Confederação do Reno. Com a
derrota de Napoleão, porém, o Congresso de Viena organizou a Confederação Germânica, formada
por 39 Estados soberanos, sob a hegemonia da Áustria.
Além do ideal nacionalista, os interesses das elites liberais foram decisivos para a unificação da
Alemanha. Viam na unidade política um instrumento importante para o desenvolvimento
econômico, ampliando o mercado e consolidando áreas ricas em fontes de energia e matérias-
primas.
Página 186
Na liderança desse processo de unificação destacou-se Otto von Bismarck, nomeado primeiro- -
ministro em 1862 pelo rei Guilherme I da Prússia. Para concretizar seus objetivos, Bismarck
propunha o uso da força militar.
A primeira guerra pela unificação alemã foi travada contra a Dinamarca. Até 1864, esse país tinha
influência sobre Schleswig e Holstein (veja o mapa abaixo), cuja maioria da população mantinha
costumes germânicos, além da língua. Prussianos e austríacos foram aliados no conflito. Ao vencer
os dinamarqueses, passaram a administrar em conjunto esses territórios.
Os destinos da guerra entre as forças francesas e prussianas foram decididos em setembro de 1870,
na batalha de Sedan, quando Napoleão III foi aprisionado. No ano seguinte, Paris seria invadida.
Derrotada, a França foi obrigada a ceder a região da Alsácia-Lorena aos alemães e a pagar uma
pesada indenização de guerra. Para completar, a unificação alemã seria consolidada no Palácio de
Versalhes, nos arredores de Paris, com a proclamação do Império Alemão e a coroação do kaiser
Guilherme I como seu primeiro soberano.
Fonte: SERRYN, Pierre; BLASSELLE, René. Atlas Bordas géographique et historique. Paris: Bordas, 1996.
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VESTÍGIOS DO PASSADO
Com apenas um ano de diferença, Jacob (1785-1863) e Wilhelm (1786-1859) nasceram na cidade
de Hanau, na atual Alemanha. Formados em direito, dedicaram-se ao estudo da língua germânica e
à literatura. Organizaram diversas histórias que ouviram de amigos e parentes, lançando o livro
Histórias da criança e do lar.
Entre os contos reunidos na obra estavam Branca de Neve, Rapunzel e João e Maria.
Tradicionalmente, eram histórias voltadas aos adultos. Os irmãos Grimm, porém, preferiram
direcioná-las às crianças, acreditando que as fábulas transmitiam lições morais importantes. Na
versão adulta, os contos nem sempre traziam finais felizes. Ao contrário, buscavam assustar. A
história de Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, não tinha caça dor valente. A avó e a neta morriam
no final, comidas pelo lobo.
Mas nem toda a doçura atual desses contos pode ser creditada aos irmãos Grimm. Essa
característica acentuou-se nas últimas décadas do século XIX. A ver são dos dois irmãos para
Cinderela, por exemplo, tinha muito sangue. Para fazer os pés caberem no sapato (de ouro, e não de
cristal), a irmã mais velha cortava os dedos, e a outra, um pedaço do calcanhar. Além disso, o pai de
Cinderela não morria, e permitia que a filha fosse feita de empregada da casa! Leia, no excerto
abaixo, retirado de uma tradução dos originais dos irmãos Grimm, feita por Monteiro Lobato, o
sentimento nada infantil ou inocente de Cinderela sobre suas irmãs:
(...) Cinderela, depois que virou princesa, podia vingar-se da malvadez da madrasta e de suas filhas.
Mas como fosse muito boa de coração, nada fez. Limitou-se a dizer: - Coitadas! Castigaram-se por
suas próprias mãos. Uma está sem calcanhares; e outra, sem os dois dedos grandes. Agora, em vez
de se casarem com príncipes, devem dar-se por satisfeitas se algum sapateiro tiver dó delas (...)
GRIMM, Jacob e GRIMM, Wilhelm. Contos de Grimm. Tradução de Monteiro Lobato. São Paulo / Rio de Janeiro / Recife /Porto Alegre:
Companhia Editora Nacional, 1942.
Coleção particular
Ilustração Chapeuzinho Vermelho e o Lobo na floresta (1881), utilizada na obra dos irmãos Grimm. Obra
de Carl Larsson, óleo sobre tela Dimensões 37 × 45 cm.
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Reprodução
Em 2008, a banda londrina de rock alternativo Coldplay lançou um CD cuja capa estampa a pintura
A liberdade guiando o povo, do francês Delacroix. Em pinceladas brancas, o título do disco, Viva la
vida, remete a outra obra de arte, a da mexicana Frida Kahlo, que pintou as mesmas palavras na
figura de uma suculenta fatia de melancia.
Na ocasião do lançamento do CD, muita gente ficou intrigada com a escolha das imagens que
ilustraram a capa do disco. Qual seria o seu significado?
A obra de Delacroix está relacionada às revoluções liberais de 1830, que, lideradas pela burguesia e
contando com ampla participação das camadas populares, varreram de boa parte da Europa os
governos absolutistas. Nela, o artista representou, na dianteira da luta, uma determinada
personagem feminina avançando, com passadas largas e determinadas, sobre corpos caídos. Com o
busto desnudo, a mulher carrega a bandeira tremulante da França e uma baioneta, como a nos
lembrar que não há mudança verdadeira sem luta. Ao seu lado, um burguês de cartola e um jovem
popular a acompanham com gestos que sugerem confiança no sucesso do movimento.
Já a obra Viva la vida, de Frida Kahlo, parece provocar o observador, incitando-o a se livrar de
amarras que o impedem de desfrutar dos prazeres que a vida oferece.
Com esse disco de 2008, a banda deixava para trás o estilo melancólico e introspectivo de sua
produção anterior, e buscava um caminho mais experimental, inclusive com o uso de instrumentos
pouco convencionais em composições de rock, como o tambor de latão e o sino de bronze. Além
disso, abriu na internet, para audição gratuita, todas as músicas do disco, antes mesmo de seu
lançamento. A referência à Revolução de 1830 e à obra de Frida Kahlo era, portanto, uma resposta
aos críticos de música que acusavam o Coldplay de não inovar e, ao mesmo tempo, a marca de um
jeito novo de divulgar a música e de se relacionar com a mídia e o público.
Para refletir...
1. Em sua opinião, a reflexão sobre fatos e processos históricos pode colaborar para que o
indivíduo compreenda melhor a si mesmo e dê sentido às suas experiências pessoais? Explique.
2. Reflita sobre os acontecimentos e as transformações mais importantes de sua vida. Com que
passagem histórica – entre as estudadas até o momento – eles têm mais similaridade? Faça uma
pesquisa, em livros e sites da internet, e escolha uma obra de arte que seja representativa do
acontecimento ou período histórico com o qual você se identificou. Escreva um parágrafo
explicando sua escolha.
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HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
a) Quais eram os novos componentes presentes nas revoluções das décadas de 1830 e 1840?
b) A partir dessas revoluções, como se definiram os papéis dos agentes sociais nos anos seguintes?
3 Os movimentos de 1830 podem ser considerados uma reação à onda reacionária existente na
Europa. Defina o que, naquela época, era considerado reacionário e o que era progressista.
4 Em 1848, países europeus muito diferentes entre si – econômica e politicamente – passaram por
movimentos revolucionários semelhantes. Explique o que fazia com que esses movimentos se
assemelhassem.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Atualmente, a ideia de nação é tão forte que, muitas vezes, pode até parecer que países como Brasil,
Alemanha e Itália sempre existiram. Mas, como vimos, a situação é bem diferente. A nação é
resultado de processos históricos recentes, vivenciados ao longo do século XIX. Leia o que afirma o
texto do historiador Eric Hobsbawm.
A característica básica da nação moderna e de tudo o que a ela está ligado é sua modernidade. Isso,
agora, é bem compreendido, embora a suposição oposta – a de que a identificação nacional seja tão
natural, fundamental e permanente a ponto de preceder a história – ainda seja tão amplamente
aceita que talvez seja útil esclarecer a modernidade do vocabulário a respeito do assunto. O
Dicionário da Real Academia Espanhola [...] não usa a terminologia de Estado, nação e língua no
sentido moderno antes de sua edição de 1884. Aí, pela primeira vez, aprendemos que a lengua
nacional é “a língua oficial e literária de um país e, à diferença de dialetos e línguas de outras
nações, é a língua geralmente falada”. [...] Antes de 1884, a palavra nación significava simplesmente
“o agregado de habitantes de uma província, de um país ou de um reino” e também “um
estrangeiro”. Mas agora era dada como “um Estado ou corpo político que reconhece um centro
supremo de go verno comum” e também “o território constituído por esse Estado e seus habitantes,
considerados como um todo” – e, portanto, o elemento de um Esta do comum e supremo é central a
tais definições, pelo menos no mundo ibérico.
HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo (desde 1780). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p. 27.
2. Explique as razões para a nação ser vista, hoje, como algo que sempre existiu, desvinculada de
um processo histórico.
3. Qual é a importância de perceber a nação como algo recente e construído ao longo do tempo?
Página 190
Completando o dicionário
No boxe das páginas 179-180 (O estudo da história) foi elaborado um pequeno glossário auxiliar na
compreensão do século XIX e do mundo contemporâneo. Ali foram colocados apenas quatro
verbetes, considera dos fundamentais para o entendimento desse cenário. Mas a eles, sem dúvida,
podem ser acrescentados outros.
Em grupo
1. Escolham ao menos outros seis verbetes importantes para compreender o século XIX e o mundo
contemporâneo.
3. Depois de pronto, reúnam os trabalhos feitos por todos os grupos, elaborando um dicionário
para toda a classe.
Em 1830, tanto no Brasil quanto na Europa existiam vários conflitos em andamento – reflexo de um
mundo que se transformava rápida e radicalmente.
2. Ainda pensando nas duas revoluções do século XVIII, justifique as unificações da Itália e da
Alemanha.
Página 191
CAPÍTULO 15
A carne
E esse país
Vai deixando todo mundo preto
E o cabelo esticado
Do cóccix até o pescoço, Carlinhos Brown, José Miguel Wisnik, Elza Soares e Marcos Suzano. Maianga Discos, 2002.
ELABORANDO HIPÓTESES
No Segundo Império, o cenário político foi do minado por dois grupos: o Partido Liberal e o Partido
Conservador. Entre eles existiam várias semelhanças, como composição social (elites agrárias e
grandes comerciantes), práticas políticas e defesa da ordem social vigente, com latifúndios e
escravidão. No entanto, apresentavam inúmeras divergências. Os liberais defendiam, por exemplo,
a descentralização política e a menor participação do imperador nos negócios do Estado. Os
conservadores, por sua vez, desejavam a centralização e a intervenção de dom Pedro II por meio do
Poder Moderador.
A estabilidade política no período foi garantida pela alternância dos dois partidos no governo. Isso
funcionava da seguinte forma: uma vez realizadas as eleições para o Legislativo, dom Pedro II
escolhia um membro do grupo vencedor para organizar e presidir o Conselho de Ministros, órgão
que de fato exercia o Poder Executivo. Os membros do gabinete eram, então, apresentados à
Assembleia Geral para que sua composição fosse aprovada pela maioria dos parlamentares.
Quando surgiam divergências insuperáveis ou crises políticas entre as duas instituições, dom Pedro
II – no exercício do Poder Moderador – podia demitir o presidente do Conselho e escolher um novo
ministério; ou dissolver a Assembleia, convocando novas eleições. O processo eleitoral, porém, era
viciado. Baseado no voto censitário, dele ficavam excluídos mulheres, pobres e escravos. Além
disso, havia fraude e coerção. Assim, elegiam-se somente representantes que estives sem de acordo
com a política imperial.
Durante o governo de dom Pedro II foram formados 36 gabinetes, ora liberais, ora conservadores.
Os membros dos dois partidos conquistaram espaço político, obtendo cargos e verbas públicas, e
satisfazendo ambições de poder.
Nesse cenário, não raro as eleições eram transformadas em momentos de violência, como ocorreu
em 1840, no contexto da antecipação da maioridade de dom Pedro. Essas eleições, vencidas pelos
liberais à custa de fraudes e
Página 193
da ação de bandos contratados para intimidar adversários e eleitores, ficaram conhecidas como
eleições do cacete.
Em Pernambuco, a Praieira
A Revolução Praieira, de 1848, pode ser considerada o último dos grandes movimentos provinciais
contra o poder central. Na província, o Partido Conservador era liderado pela família Rego-Barros, e
o Liberal, pela Cavalcanti, ambas representando os interesses da elite açucareira. Diversos setores
da sociedade, entretanto, mostravam-se insatisfeitos com esse cenário, sobretudo grupos
enriquecidos nas últimas décadas com o comércio e a agricultura, além de vários bacharéis.
Coube a esses segmentos fundar o Partido Nacional de Pernambuco, que publicava o jornal de
oposição Diário Novo, localizado na rua da Praia, no Recife. Os praieiros, como eram chamados,
obtiveram um rápido reconhecimento. Vitoriosos nas eleições de 1844, conseguiram no ano
seguinte a nomeação de Antônio Pinto Chichorro da Gama para a presidência da província. No
governo, porém, ele se dedicou à perseguição de seus opositores. Grupos populares revoltavam-se
contra os elevados preços dos alimentos, vendidos por grandes comerciantes portugueses e
ingleses que monopolizavam o comércio.
Durante a Revolução Praieira, estiveram presentes ideais socialistas, que motivavam movimentos na
Europa. Os socialistas, entretanto, recusaram-se a apoiar os revoltosos por divergências ideológicas. Vista
do Recife, século XIX.
Página 194
• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
• 1840-1850 – ocorreu a estabilização da ordem política, com a repressão das rebeliões nas
províncias; consolidou-se o poder dos grandes senhores de terras e escravos. Nessa época, o
imperador, muito jovem, pouco participou das decisões políticas, cumprindo apenas agenda social.
2 O mundo rural
Após a Revolução Praieira, esboçou-se uma espécie de trégua entre as diversas correntes políticas
do país. Símbolo disso foi a composição, em 1853, de um novo ministério, o Gabinete da Conciliação,
que reunia liberais e conservadores.
A estabilidade política favoreceria a remodelação da economia, sem alterar suas principais bases: o
trabalho escravo e o latifúndio com produção voltada à exportação. A principal alteração referia- -
se à diversificação dos produtos agrícolas. Além disso, a produção industrial passava a fazer parte
da economia nacional, ainda que de forma incipiente e limitada.
As áreas de produção de café no vale do Paraíba mantiveram sua importância até a década de 1870.
A partir de então, a região oeste da província pau lista tornou-se a principal área produtora. Entre
os motivos que levaram ao declínio da produção no vale estava o esgotamento do solo, provocado
por uma prática agrícola predatória. Assim, novas áreas de florestas eram abertas para o plantio,
sem recuperação das anteriores (ver boxe Conexão presente).
adquiriam menos importância. O segundo produto mais exportado pelo Brasil era o açúcar. Os
produtores enfrentavam, porém, uma concorrência externa crescente, sobretudo do Caribe e do
açúcar de beterraba produzido na Europa. Diante desse cenário, algumas áreas ocupadas pela cana-
de-açúcar – como a atual região de Campinas, em São Paulo – cederam lugar aos cafezais. Muitos
trabalhadores escravizados também foram transferidos das áreas canavieiras do nordeste para o
sudeste cafeicultor.
Maps World
Fonte: ARRUDA, José Jobson de. Atlas histórico básico. São Paulo: Ática, 1997.
O tabaco, por sua vez, figurou como produto de exportação importante até 1850, e costumava ser
trocado na África por pessoas escravizadas. Com a extinção desse comércio, como veremos adiante,
a cultura de tabaco declinou e só se recuperou mais tarde, graças à fabricação de charutos na
Europa. Os couros e as peles de animais eram importantes no sul do país, embora sofressem forte
concorrência dos exportadores platinos (uruguaios e argentinos), que vendiam produtos similares
a preços mais baixos.
O algodão teve um momento de forte crescimento na década de 1860, quando a Guerra de Secessão
nos Estados Unidos desorganizou a produção naquele país. No Brasil, o Maranhão era a província
que mais concentrava essa cultura. Uma vez encerrado o conflito estadunidense, a produção
maranhense não conseguiu enfrentar a concorrência e perdeu o mercado conquistado.
Museus Castro Maya, Rio de Janeiro
Maps World
Fonte: ISOLA, Leda; CALDINI, Vera. Atlas geográfico Saraiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 40.
Maps World
Fonte: ISOLA, Leda; CALDINI, Vera. Atlas geográfico Saraiva. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2013. p. 40.
Página 197
A planta necessitava de quatro anos para desenvolver-se e dar sua desejada rubiácea, que se
prolongava por um longo tempo. Os cafeicultores, porém, abandonavam suas plantações ao menor
sinal de queda na produtividade. Em vez de tratar a terra, preferiam abrir novas áreas de cultivo.
Como resultado, o café avançou pela Mata Atlântica deixando um cenário de destruição. O fogo
ateado para abrir clareiras em grandes áreas produzia cinzas que chegavam até a cidade do Rio de
Janeiro. Parecia um campo de batalha fumegante e desolado, conforme a descrição feita pelo
historiador Warren Dean.
Atualmente, vemos outros biomas ameaçados no país, como é o caso da Floresta Amazônica.
Plantações de soja, criação de gado, extração de madeira e de minérios, além de empreendimentos
siderúrgicos e metalúrgicos, constituem as principais ameaças a esse bioma, que concentra o maior
número de espécies vegetais e animais, além de microrganismos, do planeta.
Apesar de sua relevância, a Floresta Amazônica passou a ser intensamente desmatada a partir da
década de 1970, durante o governo militar de Emílio Garrastazu Médici, que visava colonizar a
Amazônia. A partir do início do século XXI, com a implantação de vários programas visando a
prevenção e o controle do desflorestamento na Amazônia, os índices de desmatamento
apresentaram sensível redução, apesar de ainda constituírem uma ameaça ao bioma e aos serviços
ambientais por ele prestados.
Além dos prejuízos ambientais, com a ameaça a espécies vegetais e animais e alterações no clima
local e regional, a destruição das florestas brasileiras também reproduz desigualdades sociais. Da
maneira como é feita, concentra renda nas mãos de poucos e retira os meios de sobrevivência de
inúmeras comunidades tradicionais que vivem da floresta, como os índios e os castanheiros.
3 O mundo urbano
No começo do Segundo Império, vários aspectos inibiam a produção industrial, como a falta de
tradição manufatureira, coibida durante a colonização, e os acordos comerciais assinados com a
Inglaterra, que facilitavam a entrada de produtos ingleses no Brasil a preços baixos. Esse cenário,
no entanto, começou a mudar em 1844, quando o governo decretou novas tarifas alfandegárias.
Conhecidas como tarifas Alves Branco, elas impunham taxação de 60% sobre os produtos
importados que tivessem similares nacionais e de 30% para aqueles inexistentes no país. Essas
medidas visavam apenas aumentar a arrecadação do governo, mas acabaram provocando efeito
estimulante na economia como um todo; contribuíram para reduzir os gastos com produtos vindos
do exterior e fizeram que o reduzido setor industrial brasileiro ganhasse discreto dinamismo.
Iconographia
Estaleiro Ponta d’Area, Rio de Janeiro, 1856. Adquirida pelo barão de Mauá em 1846, essa fábrica construiu
mais de 70 navios para a navegação de cabotagem no Brasil.
A atividade industrial beneficiava-se também da existência de uma força de trabalho barata e das
abundantes matérias-primas, como o algodão, base da indústria têxtil. O setor foi o primeiro a
apresentar um surto de crescimento. Destacaram-se, ainda, as áreas de alimentação, química,
madeira, vestuá-
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rio e metalurgia. Outro fator que contribuiu para o desenvolvimento industrial foi a proibição do
tráfico de escravos. Parte do capital outrora in vestido na compra de navios e na aquisição de
produtos de troca usados na África foi destinada às fábricas.
Apesar de surgir como novidade, a atividade industrial guardava as marcas de outrora. As poucas
fábricas que surgiam nos centros urbanos empregavam – ao lado dos trabalhadores livres – muitas
pessoas escravizadas de origem africana. Os cativos seriam, assim, a mão de obra da emergente
indústria; os imigrantes só começaram a ser em pregados quando o patrão percebeu que pagar a
passagem de um estrangeiro custava mais barato do que adquirir um escravo, sobretudo após a
proibição do tráfico, em 1850.
As ferrovias
A indústria não seria o único sinal dos novos tempos. As ferrovias começavam a provocar mudanças
significativas no setor de transportes, especialmente de mercadorias. Facilitavam também a
ocupação e a exploração de vastas áreas do interior.
A primeira estrada de ferro inaugurada no Brasil contava com 14 quilômetros de extensão; quase
30 anos depois, já eram mais de 8 mil quilômetros de estradas. Feitas em grande parte com capital
estrangeiro, elas cortavam, sobretudo, as promissoras áreas agrícolas, como a cafeeira, escoando a
produção para o exterior. Em 1856, foram pavimentados, ainda, os 144 quilômetros da primeira
rodovia brasileira: a União e Indústria, ligando Petrópolis a Juiz de Fora.
Apesar de todas as mudanças, a agricultura continuou sendo o setor mais dinâmico da economia
nacional, gerando os recursos mais vultosos e empregando o maior número de pessoas. No fim do
século XIX, com a falta de uma política industrial definida, o país contava com apenas algumas de
zenas de fábricas, concentradas em cidades co mo São Paulo, Recife e, sobretudo, Rio de Janeiro, a
capital do império.
Irineu Evangelista de Souza, mais tarde visconde e barão de Mauá, estava entre os empresários que se
destacaram no Segundo Império, tendo se associado a outros investidores, principalmente ingleses, e
contado com recursos do governo brasileiro. Entre seus muitos negócios, destaca-se a primeira estrada de
ferro do país, ligando o Rio de Janeiro a Petrópolis, cujo trecho inicial foi inaugurado em 1854. Na imagem,
de Sebastien A. Sisson, inauguração da Estrada de Ferro Mauá, Rio de Janeiro, 1855.
4 Trabalhadores do império: gente
escravizada
Em 1819, o Brasil tinha uma população de cerca de 4,6 milhões de habitantes. Setenta anos depois,
eram mais de 14 milhões. A distribuição dessas pessoas ao longo do território, porém, havia se
alterado. A diminuição das atividades açucareiras no nordeste e o aumento da produção do café no
sudeste forçaram muita gente a migrar, especialmente os escravos de origem africana e seus
descendentes.
Ao longo do século XIX, porém, aumentou a população livre; em 1872, representava cerca de 85%
dos habitantes; desses, 38% eram brancos.
Página 199
Esses dados refletiam dois aspectos: o longo processo que colocou fim à escravidão no país e o
crescimento da imigração europeia.
Com isso, ganhava corpo na opinião pública mundial um discurso humanitário, que levou à
formação de associações abolicionistas e de intensas campanhas contra o tráfico de escravos. Em
nome dessas campanhas, muitas vezes, países como a Inglaterra mobilizaram seus efetivos para
intervir na organização social de outros povos, intensificando a política imperialista.
No Brasil, os ingleses faziam pressão pelo fim do tráfico desde antes da independência. Em 1826, o
governo brasileiro assinou um acordo pelo qual se comprometia a acabar com o comércio de
escravos até 1830. O acordo, porém, só se tornou lei em 1831. Mesmo assim, muitos africanos
escravizados continuaram a ser trazidos por meio de contrabando.
Coleção particular
Negros no porão de um navio negreiro, de Rugendas, 1835. A observação atenta aos detalhes dessa obra
revela as condições subumanas em que essas pessoas eram transportadas para trabalhar como escravas no
Brasil
As pressões externas, porém, não explicam todo o processo que levou ao fim do tráfico.
Internamente, elas também foram impingidas inúmeras vezes contra o governo imperial, como a
resistência constante
Página 200
Depois de promulgada a Lei Eusébio de Queiroz, o debate sobre o fim da escravidão perdeu força.
Em nome do direito à propriedade, muitas pessoas defendiam a não intervenção do governo nessa
questão. Segundo elas, a liberdade dos cativos deveria ser concedida pelo próprio senhor na
medida de suas possibilidades.
A partir de 1865, porém, com o fim da Guerra de Secessão nos Estados Unidos, o tema voltou a ser
debatido, e o movimento abolicionista ganhou força inédita. Na Assembleia Geral, sob forte pressão
da opinião pública, discutia-se a possibilidade de acabar com a escravidão para os novos filhos
nascidos de pessoas escravizadas. O projeto foi aprovado em 28 de setembro de 1871 e ficou
conhecido como Lei do Ventre Livre.
A lei foi aprovada no fim da guerra contra o Paraguai. Durante o conflito, vários pelotões brasileiros
foram formados por ex-escravos, que lutaram lado a lado com os brancos. Existia entre diferentes
setores sociais um clima de reconhecimento das pessoas de origem africana. A Lei do Ventre Livre,
porém, estipulava que as crianças libertas prestassem serviços aos senhores até os 21 anos de
idade.
Às pessoas escravizadas ainda era reconhecida a possibilidade de entrar com uma ação na Justiça e,
mediante a decisão dos juízes, conquistar sua liberdade pagando aos senhores uma indenização,
determinada por um avaliador.
A lei de 1871 representou, assim, uma forma de conquistar a liberdade pelo próprio esforço, sem
depender da ação do senhor ou do governo. Para isso, muitos utilizaram o dinheiro acumulado
durante a vida com pequenos trabalhos ou gratificações ganhas dos senhores; outros contaram com
a solidariedade dos familiares e amigos. O certo é que muitas pessoas conseguiram a liberdade,
mesmo contra a vontade de seus proprietários.
Luiz Ferreira/Coleção George Amakoff
Paço Imperial na assinatura do Decreto da Abolição da Escravidão. Foto de Luiz Ferreira, 1888.
Em 1885, aprovou-se a Lei dos Sexagenários. Com ela, libertavam-se os escravos com mais de 60
anos de idade. Feita para frear o ânimo das agitações abolicionistas que ocorriam nas principais
cidades do império, acabou tendo efeito
Página 201
contrário. Provocou escândalo ao libertar uma ínfima parcela de pessoas escravizadas, já que
poucos chegavam a essa idade. Quando a atingiam, a grande maioria estava inválida para exercer
uma profissão que lhe garantisse o sustento.
Na década de 1880, além dos escravos, outros grupos eram favoráveis à causa abolicionista:
jornalistas, parlamentares, advogados, juristas, militares, entre muitos outros. O movimento
assumia caráter popular. Em alguns momentos, a mobilização alcançou grandes proporções, como
no caso dos caifazes – grupos que se infiltravam nas senzalas do interior de São Paulo para ajudar a
planejar e promover a fuga das pessoas escravizadas. Como resultado, províncias e municípios
começaram a aprovar a abolição, como o Ceará, o Amazonas e cidades do Rio Grande do Sul.
A pressão popular foi, assim, a principal responsável pelo fim da escravidão, levando a princesa
Isabel – filha de dom Pedro II e regente durante sua ausência – a assinar a chamada Lei Áurea, em
13 de maio de 1888, quando o imperador encontrava-se em viagem ao exterior. A lei foi
responsável por libertar os quase 5% da população brasileira que ainda se encontrava em situação
de escravidão.
De certa forma, a lei selou também o destino da monarquia, pois não previa nenhum tipo de
indenização aos donos de escravos. Estes, ao perderem aquilo que consideravam suas
propriedades, aderiram abertamente à oposição ao regime monárquico, como veremos no próximo
capítulo.
VOCÊ SABIA?
A Lei de Terras
Em 1850, foram tomadas três iniciativas que tiveram reflexos em toda a vida política, econômica e
social do Brasil nas décadas seguintes: o Código Comercial, que organizou a atividade comercial no
país; a Lei Eusébio de Queiroz, que pôs fim ao tráfico de escravos; e a chamada Lei de Terras. As duas
últimas, segundo os especialistas, foram elaboradas prevendo-se a abolição gradual da escravidão.
Os colonos arcavam com parte dos custos da viagem para o Brasil. O valor era descontado dos
rendimentos ganhos no trabalho agrícola. Acrescidas de juros, as dívidas transformavam-se em
quantias vultosas, sobretudo porque a elas se somavam valores gastos com comida e ferramentas,
compra das nos armazéns controlados pelos fazendeiros. Para piorar a situação, os imigrantes eram
tratados de modo semelhante aos escravos. Todas essas circunstâncias provocaram revoltas, como
as de 1856 e 1857, e levaram ao fracasso do sistema de parceria.
• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
Histórias da escravidão
A escravidão vigorou no Brasil durante quase 400 anos e até hoje marca nossa sociedade. Ao longo
desse tempo, foram muitas as histórias, que compõem um bom retrato da complexa ordem
escravocrata construída nestas terras. É o que vêm mostrando os novos estudos sobre a escravidão.
Veja alguns exemplos citados pelo historiador Sidney Chalhoub no livro Visões da liberdade.
Trama jurídica: A mãe era livre, e ele, escravizado. E isso porque Pompeu, filho de Lauriana,
nasceu após a mãe receber uma carta de alforria que só lhe dava liberdade depois da morte do
senhor. O caso foi parar na Justiça: Pompeu seria livre ou não? O juiz decidiu que sim.
Escravo de cativo: José Matos conquistou a liberdade e logo tratou de arrumar alguns cativos.
Procurava, então, manter uma imagem de senhor justo e benevolente. Mas a prática era outra.
Como a maioria dos senhores, considerava o escravo um investimento, capaz de garantir a renda da
família. Cada um de seus cativos, assim, devia lhe dar uma quantia diária de 800 mil-réis, obtidos
com a prestação de pequenos serviços para terceiros.
Melhor na cadeia: O negociante de escravos José Moreira Veludo foi fazer curativo em um de seus
cativos e acabou atacado a pauladas. Na polícia, os agressores contaram o ocorrido nos mínimos
detalhes, sem esconder nada. É que desejavam mesmo ir parar na cadeia, onde as condições de vida
eram bem melhores do que as da casa do senhor.
Aqui, os cafeicultores pressionavam o governo, alegando falta de força de trabalho para as lavouras.
A partir de 1870, então, o Brasil passou a subsidiar a imigração de estrangeiros. Pagava os custos da
contratação e do transporte dos trabalhadores europeus, além de interferir na regulamentação das
relações entre fazendeiros e imigrantes, a fim de coibir os abusos.
Por causa do café, cerca de metade dos imigrantes que chegaram ao país fixou-se na província de
São Paulo. Com dificuldades para se tornar pequenos proprietários, muitos acabaram deixando o
campo em direção às cidades. Esses trabalhadores, além de muitos ex-escravos, formaram a massa
urbana que desempenhou importante papel na industrialização e no crescimento das cidades ao
longo do século XX.
Rumo ao sul
Enquanto as fazendas de café abrigavam inúmeros imigrantes, nas primeiras décadas do século XIX
chegavam ao sul do país estrangeiros com a missão de consolidar a ocupação daquela parte do
território e proteger as fronteiras locais. Dispondo de pequenos recursos, essas pessoas tinham
condições de arcar com os custos de ocupação de pequenas propriedades. Muitas delas dedicaram-
se à criação de animais, atividade econômica predominante na região. Outras desenvolveram o
cultivo de frutas e verduras até então inexistentes no país, como a maçã.
Nesse cenário, muitos eram os segmentos da sociedade que se organizavam para lutar por seus
direitos. Entre eles, destacava-se o movimento negro, empenhado no combate à discriminação
racial, na defesa de políticas de afirmação dos afrodescendentes no país e na valorização de uma
história que resgatasse a origem africana de grande parte da população brasileira.
A luta pelos direitos dos afrodescendentes no Brasil ganhava ainda mais ímpeto com o movimento
internacional liderado pela Organização das Nações Unidas contra o apartheid na África do Sul e as
discussões que acompanhavam as comemorações do centenário da Lei Áurea.
Não causa surpresa, portanto, o estrondoso sucesso que tiveram naquele ano os desfiles das escolas
de samba Unidos de Vila Isabel e Estação Primeira de Mangueira, cujos temas eram, justamente, a
abolição da escravidão em 1888 e a situação de marginalização vivida pelos descendentes dos
negros alforriados cem anos depois. O vitorioso samba-enredo “Kizomba, festa da raça”, de Vila
Isabel, tornou-se um marco na história do Carnaval brasileiro e ainda hoje é tocado em eventos
ligados à promoção da consciência negra.
Será...
Que já raiou a liberdade
Ou se foi tudo ilusão
Será...
Que a Lei Áurea tão sonhada
Há tanto tempo assinada
Não foi o fim da escravidão
Hoje dentro da realidade
Onde está a liberdade
Onde está que ninguém viu
Moço
Não se esqueça que o negro também construiu
As riquezas do nosso Brasil
Pergunte ao criador
Quem pintou esta aquarela
Livre do açoite da senzala
Preso na miséria da favela
Sonhei...
Que Zumbi dos Palmares voltou
A tristeza do negro acabou
Foi uma nova redenção
Senhor...
eis a luta do bem contra o mal... contra o mal
que tanto sangue derramou
contra o preconceito racial
Composição de Hélio Turco, Jurandir e Alvinho Mangueira. Disponível em:<https:// www.letras.mus.br/mangueira-rj/478753/>. Acesso em:
20 abr. 2016.
Página 205
Valeu, Zumbi!
O grito forte dos Palmares
Que correu terras, céus e mares
Influenciando a abolição
Zumbi, valeu!
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jongo e maracatu
Que magia
Reza, ajeum e orixás
Tem a força da cultura
Tem a arte e a bravura
E um bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais
E a beleza pura dos
seus rituais
Valeu!
Composição de Jonas, Rodolpho e Luiz Carlos da Vila. Disponível em: <https:// www.letras.mus.br/luiz-carlos-da-vila/924869/>. Acesso em:
20 abr. 2016.
Para refletir...
1. Tendo por base as letras dos sambas-enredos “Cem anos de liberdade, realidade e ilusão” e
“Kizomba, festa da raça”, responda:
Em 2014, de acordo com o IBGE, 53,6% dos brasileiros se autodeclararam “pretos” ou “pardos”, e
45,5% se declararam brancos. Podemos afirmar, portanto, que hoje a maior parte da população
brasileira é composta por afrodescendentes. Observe agora alguns dados socioeconômicos da
população brasileira na atualidade, conforme a cor. Reflita e faça as atividades a seguir.
Fonte: IBGE. Síntese de indicadores sociais 2015. Disponível em: <http://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv95011.pdf>. Acesso em:
20 abr. 2016.
1. A partir desses dados, discuta a seguinte questão com seus colegas: Passados mais de três
séculos do fim da escravidão no Brasil, houve a superação das desigualdades entre brancos e
negros no país?
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Explique como dom Pedro II permaneceu por quase meio século no poder.
2 O que foi a Revolução Praieira? Responda levando em consideração quais eram as principais
causas, os grupos envolvidos, suas reivindicações e como terminou.
3 Durante o Segundo Império, o café tornou-se o principal produto agrícola do país. Explique como
fatores externos ao cenário nacional influenciaram a expansão da cultura cafeeira no Brasil.
4 Retome a imagem e a legenda da página 198. Que elemento retratado na imagem provocou
mudanças no Brasil do Segundo Reinado e que benefícios trouxe para a economia?
5 Em relação à abolição da escravidão no Brasil, relacione a assinatura da Lei Áurea pela princesa
Isabel à crise da monarquia brasileira.
6 No início do século XIX, a vinda de trabalhadores europeus era negociada diretamente entre
imigrantes e proprietários de terra. Explique por que, a partir de 1870, o Estado passou a intervir
nesse processo.
A imagem da africana escravizada é coberta de mitos, que vão desde a figura da escrava Isaura até
aquela da mulher lasciva e sedutora. Essa situação contribui para que elas sejam duplamente
discriminadas, como mulheres e como negras. Neste artigo, sobre o livro Mulheres negras do Brasil,
podemos desvendar um pouco do universo feminino das africanas na época da escravidão.
Anônimas, mas sempre retratadas nas gravuras e nas fotos da época, as quitandeiras (do
quimbundo kitanda, que significa mercado ou feira), vendedeiras ou ganhadeiras, [são] sempre
vistas carregando cestos na cabeça. Se, de início, eram a fonte de renda dos pequenos produtores
dos núcleos urbanos do Brasil escravista, aos poucos elas, por causa de sua liberdade de circulação,
eram um importante e “perigoso” elo de integração, resistência e comunicação entre as várias
populações negras. Também conseguiam, após pagar o seu sinhozinho, guardar um pouco de
dinheiro e tiveram um papel fundamental na compra de sua liberdade, até mesmo, em alguns casos,
alcançando prosperidade econômica. (...)
Coleção Fundação Joaquim Nabuco
Mônica em retrato do século XIX, com Augusto Gomes Leal, menino que amamentou como ama de leite. Foto
de Joaquim Ferreira Vilela, c. 1860-1865.
Página 207
Daí, o destaque das mulheres do sagrado, as mães de santo. “Diversamente do que ocorre em outras
crenças, nas religiões de matriz africana enraizadas no Brasil as mulheres puderam ocupar as mais
importantes posições hierárquicas, elementos vitais na permanência e nas adaptações dos
elementos sagrados e culturais da população negra do país.”
HAAG, Carlos. Uma história das mulheres negras. In: Vozes da África. Revista Biblioteca EntreLivros, n. 6, 2007. p. 83.
2. Compare a imagem mais comum das negras africanas com a apresentada pelo texto.
3. Destaque a importância dos estudos históricos sobre a mulher negra no que se refere ao
combate ao racismo e ao preconceito.
História regional
Até a regência, quem observasse o cenário nacional poderia pôr em dúvida se o território do Brasil
permaneceria com as mesmas dimensões ou seria fragmentado em diversos países. Durante o
Segundo Império, a situação parecia bem distinta, com as rivalidades atenuadas e relativa aceitação
do poder central. Essa imagem corresponde mesmo à realidade? Vamos verificar?
Em grupo
1. Façam uma pesquisa para saber a situação do seu estado na época do Segundo Império no que
se refere à sociedade e à política local.
2. Estabeleçam uma relação entre essa história regional e o que acontecia no âmbito nacional.
Durante quase quatro séculos, a escravidão manteve os africanos e seus descendentes em situação
de exclusão social. Depois da abolição, a situação se manteve, em grande parte graças ao racismo e
ao preconceito. E hoje, qual é a situação do negro?
1. Retome os dados e as discussões do boxe Olhares múltiplos (p. 205) e responda: Qual é a
situação do negro na sociedade brasileira atual?
CAPÍTULO 16
Naquela cidade, não faltavam problemas, como em todo o restante do país. Parcela significativa da
população – formada em grande parte por negros e mestiços – vivia sem liberdade e vulnerável a
diversas epidemias, que provocavam inúmeras mortes entre todos os grupos sociais.
Em razão disso, o Rio de Janeiro, sede do governo e principal porto do país, era visto como uma
espécie de túmulo dos viajantes, onde até mesmo os marinheiros mais experientes tinham receio de
desembarcar.
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Faça uma legenda para a imagem, explicando o seu conteúdo e a época em que foi realizada.
2 Aponte ao menos dois motivos que provocaram a crise do império e a Proclamação da República.
Página 209
A produção cultural também crescia na área da literatura, das artes plásticas, da música. Buscava-se
construir a nacionalidade. Muitos literatos e artistas transformavam o indígena no elemento mais
original de nossa cultura, enquanto o africano era visto com ressalvas. Na área da história,
procurava-se construir um passado comum para os diferentes brasileiros. Toda essa produção fazia
uma pequena parcela da população se sentir mais próxima do chamado mundo civilizado, em
especial da Europa e, sobretudo, dos franceses (cujos hábitos eram os mais valorizados na época).
No Rio de Janeiro, o centro do império, as elites se divertiam na rua do Ouvidor, que concentrava
cafés, livrarias, sedes de jornais e muitas lojas de produtos importados. Ali se reuniam os
intelectuais, os políticos, as ricas senhoras. A mania da cultura francesa podia ser percebida nos
menores detalhes.
Até a proibição definitiva do tráfico, em 1850, o Brasil foi o país que mais recebeu africanos. E isso
era facilmente percebido nas ruas, nos costumes, na fisionomia dos brasileiros. Tamanha influência
era negada apenas pelos grupos de elite, apesar da defesa intransigente que faziam da escravidão,
em nome da propriedade privada e da necessidade de uma força de trabalho para sustentar os
latifúndios monocultores.
A pressão pelo fim da escravidão, como vimos no capítulo anterior, aumentou a partir de 1870. Ao
lado dos abolicionistas, os republicanos ganharam força e conseguiram assumir o poder com um
golpe de Estado, sem nenhuma resistência. Afinal, em meio a tantas mazelas, ninguém mais
defendia o governo de dom Pedro II – nem mesmo os monarquistas mais fiéis.
Fundação Biblioteca Nacional, RJ
Esta caricatura de dom Pedro II – feita por Ângelo Agostini, em 1883, para a Revista Illustrada – ironizava
sua situação no exterior, onde a escravidão era condenada, sobretudo pelos governos dos países
industrializados.
Página 210
VOCÊ SABIA?
Código do bom-tom
Na sociedade do Segundo Império, uma das principais preocupações das elites era se aproximar do
chamado mundo civilizado, sobretudo dos hábitos franceses. Seguiam, assim, um código de
etiquetas inventado pelos nobres franceses, pouco antes da revolução de 1789: uma espécie de
normalização dos mais variados detalhes da vida social, desde como se portar em público até a
maneira correta de se servir à mesa. Dominar esse código significava pertencer ao mundo das
elites, distinguir-se da multidão.
Nas livrarias do Rio de Janeiro encontravam-se manuais dedicados a ensinar essas regras. De
leitura fácil, destacava-se o Código do bom-tom ou Regras da civilidade e de bem viver no século XIX,
escrito em 1845 pelo cônego português J. I. Roquette. Instruía a conter impulsos, medir atos, gestos,
falas. Dos homens, esperava-se uma postura inteligente; das mulheres, atitude modesta e
reservada. Nesses manuais, tudo tinha sua ordem: o jantar, a forma de cumprimentar as pessoas, a
maneira de redigir cartas e bilhetes.
Iconographia
Os frequentadores da rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro, se inspiravam nos hábitos franceses, considerados
os mais civilizados. Foto de Marc Ferrez, feita em c. 1890.
2 Os conflitos externos
A estabilidade política e econômica alcançada nos anos 1850 foi abalada a partir de meados da
década seguinte. Contribuiu para isso a política externa do governo imperial. Surgiram, então,
conflitos com a Inglaterra e, sobretudo, com os países vizinhos da região do rio da Prata.
Com a Inglaterra, os conflitos foram ocasionados pela interferência econômica e política que, no
contexto do imperialismo, o governo daquele país exercia sobre o Brasil.
Com relação aos países platinos, as divergências referiam-se a áreas consideradas estratégicas para
o controle e a hegemonia no continente. Disputava-se, por exemplo, a navegação pelos rios da
região, em especial o Paraguai, o Paraná e o Prata, que faziam a comunicação entre as vastas terras
do interior e o Atlântico. O governo brasileiro, por isso, procurava impedir a formação de um
vizinho poderoso e influente na região.
A pressão dos ingleses sobre o governo brasileiro se intensificou, provocando vários atritos. A
primeira grande questão ocorreu em relação ao tráfico de escravos. Entre a promulgação do Bill
Aberdeen pelo Parlamento inglês, em 1845, e a aprovação da Lei Eusébio de Queiroz, em 1850,
vários navios brasileiros foram aprisionados (alguns negreiros, que operavam na rota entre Brasil e
África, e outros que faziam o comércio entre os portos do império e acabaram suspeitos de realizar
o contrabando de escravos). Essas medidas, consideradas ofensivas à soberania brasileira,
prejudicavam o trans porte de mercadorias no país.
As relações entre Brasil e Inglaterra só se tornaram menos tensas quando o tráfico foi proibido em
definitivo. O governo brasileiro esforçou-se, então, em mostrar que a medida não resultava de uma
imposição inglesa, mas seguia os interesses nacionais.
Outro problema diplomático, porém, voltaria a azedar as relações entre os dois países: a chamada
Questão Christie, em 1861. Naquele ano, a
Página 211
embarcação inglesa Príncipe de Gales, que se dirigia ao Uruguai, naufragou no litoral do Rio Grande
do Sul e suas mercadorias foram roubadas. O em baixa dor inglês, William Dougal Christie, exigiu
que as investigações fossem acompanhadas por um oficial de seu país, além de requisitar o
pagamento de uma indenização de 3.200 libras esterlinas, valor estimado da carga do navio.
Com as investigações do caso em andamento, ocorreu novo incidente com marinheiros ingleses.
Embriagados e vestindo trajes civis, eles se envolveram em brigas nas ruas do Rio de Janeiro e
acabaram presos. Foram soltos quando se descobriu serem militares ingleses. O embaixador
Christie exigiu um pedido oficial de desculpas por parte do governo brasileiro e a demissão dos
responsáveis pela prisão. As exigências não foram atendidas. O embaixador reagiu ordenando que
navios britânicos bloqueassem o porto do Rio de Janeiro e apreendessem cinco embarcações
brasileiras.
Fepasa
Estrada de ferro D. Pedro II, em um quadro de Karl Linde, c.1870. Durante todo o século XIX, a presença
inglesa no Brasil foi intensa, sobretudo com investimentos em infraestrutura, que ofereciam menor risco ao
capital. A estrada de ferro Dom Pedro II, por exemplo, começou a ser construída por empresários ingleses,
para ligar o Rio de Janeiro a São Paulo, em 1855.
No início do século XIX, já com o processo de independência dos países americanos em andamento,
o governo português anexou ao território brasileiro a região do atual Uruguai, com o nome de
província Cisplatina. O domínio se estendeu até 1828, quando a população local conquistou a
autonomia após intenso conflito. Nessa época, Argentina, Paraguai e o próprio Brasil já eram países
independentes. As emancipações, entretanto, não resultaram na estabilidade política da região.
A partir de 1850, as atenções diplomáticas do governo brasileiro voltaram-se, em grande parte,
para essa questão. Com uma política intervencionista, o governo alegava a necessidade de manter a
integridade do território nacional. Afinal, os rios da bacia do Prata – intensamente disputados pelos
países vizinhos – eram as principais vias de comunicação com a província de Mato Grosso.
Mesmo independente, o Uruguai continuou sofrendo a interferência de seus dois maiores vizinhos,
Argentina e Brasil. Essa intervenção se dava até mesmo na política interna. Dois partidos
dominavam a cena política uruguaia: o Blanco e o Colorado.
O primeiro, que recebia apoio do governo argentino, reunia os grandes proprietários de terras e
gado, e tinha como uma de suas principais bandeiras recriar o antigo vice-reino do Rio da Prata,
unindo Argentina, Uruguai e Paraguai. Os colorados, por sua vez, representavam os comerciantes.
Contavam com o apoio do império brasileiro e das províncias argentinas de Corrientes e Entre Ríos,
que se opunham ao governo central daquele país.
As rivalidades entre as duas partes levaram os países da região à guerra, entre 1850 e 1852. A
vitória dos blancos nas eleições uruguaias foi a razão imediata do conflito. O governo brasileiro
sentiu-se ameaçado em seus interesses e ordenou a ocupação
Página 212
Esse quadro se complicou quando o governo brasileiro resolveu intervir militarmente na região, em
1864, alegando reclamações de pecuaristas gaúchos contra o governo uruguaio. Na verdade,
procurava manter sua influência na região e neutralizar a ascendência da Argentina. O governo
paraguaio, porém, sentiu-se afetado pela ação. Sem dispor de uma saída direta para o mar, o
Paraguai dependia da navegação fluvial pelos rios Paraná e da Prata para chegar ao oceano
Atlântico. Seus negócios com o exterior eram realizados, sobretudo, por meio do porto de
Montevidéu. A intervenção brasileira no Uruguai punha em risco toda essa prática e até o
desenvolvimento do país.
Em resposta à intervenção militar, o governo paraguaio, sob o comando de Francisco Solano López,
rompeu relações diplomáticas com o Brasil. Ordenou, ainda, o aprisionamento do navio Mar quês de
Olinda, que levava a bordo o presidente da província de Mato Grosso, Carneiro de Campos. Nos
meses seguintes, tropas paraguaias invadiram a província de Mato Grosso e o norte da Argentina.
Tinha início assim, no fim de 1864, a Guerra do Paraguai, que durou até 1870 e teve inúmeras
consequências para os países envolvidos.
O conflito se estende
Ao assumir o poder, Solano López deu prioridade ao desenvolvimento militar: criou um Exército de
64 mil soldados, mantendo na reserva 28 mil homens. Tratava-se de uma força superior à dos
países vizinhos; o Exército argentino contava com 8 mil soldados armados; o uruguaio, com apenas
mil; e o brasileiro, com 18 mil. Isso despertou a desconfiança de uma política expansionista na
região do rio da Prata, situação que contrariava os interesses dos demais países.
Em resposta à ação do governo paraguaio, Brasil, Uruguai e Argentina formaram, em 1865, uma
força militar conjunta: a Tríplice Aliança. O acordo previa que a guerra só chegaria ao fim com a
deposição de Solano López, o desmantelamento das forças paraguaias na região do Prata e a
definição das fronteiras entre Paraguai, Brasil e Argentina.
Apesar da superioridade militar, uma guerra longa seria desvantajosa para o Paraguai. A Marinha
de guerra da Tríplice Aliança era superior à paraguaia, e muitas das batalhas seriam travadas nos
rios da região. Os combates iniciais fizeram as tropas paraguaias retrocederem para seu território.
Colaboraram para isso a destruição dos navios paraguaios e a tomada do controle do rio da Prata, a
única passagem fluvial do país para o Atlântico.
A ação ofensiva passou, então, para os aliados. A maioria dos combatentes da Tríplice Aliança era
formada por brasileiros. Com um efetivo precário, foi necessário treinar os soldados às pressas, e
passaram a ser formados batalhões conhecidos como Voluntários da Pátria. No início, tomados pelo
patriotismo, os batalhões contaram com diversos voluntários; com a extensão do conflito, porém,
eles desapareceram. Os soldados passaram, então, a ser recrutados à força, pelas ruas das cidades
brasileiras. O fato provocava pânico na população masculina, que evitava até mesmo frequentar
lugares públicos.
• O ESTUDO DA HISTÓRIA •
Com raras exceções, essas figuras femininas foram esquecidas pela história. Suas vidas
dissolveram-se na vida dos homens, os guerreiros armados e seus grandes comandantes, que
ocupam o centro da cena. Às mulheres restam as entrelinhas, um espaço casual nas narrativas das
grandes batalhas. Mas nem tudo se perdeu. Por meio da análise de relatórios de refugiados e de
documentos oficiais, ordens do dia, cartas, memórias, reminiscências e diários (inclusive em língua
francesa, inglesa e espanhola), é possível conhecer, por exemplo, as dificuldades vividas pelas
brasileiras que foram aprisionadas pelo inimigo na região fronteiriça do Mato Grosso. [...]
Revista de História.com.br. Sofrimento invisível, 1°- jun. 2015. Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/sofrimento-
invisi vel>. Acesso em: 20 abr. 2016.
Acervo Reminiscências
Imagem publicada em 1865, na revista Semana Illustrada, mostra mulheres que agiam como vivandeiras
na Guerra do Paraguai. Elas acompanhavam as tropas de infantaria, vendendo alimentos e outros artigos
básicos aos soldados.
Página 214
Em 1866, a vitória mais significativa dos aliados ocorreu na Batalha de Tuiuti. As forças brasileiras
passaram ao comando de Luís Alves de Lima e Silva (então barão e, mais tarde, duque de Caxias),
experiente na repressão às revoltas provinciais. Nos anos seguintes, outras vitórias abriram
caminho para a tomada da cidade Assunção, capital do Paraguai, em janeiro de 1869.
A guerra poderia ter chegado ao fim, mas, seguindo acordo inicial entre os aliados, o imperador
brasileiro decidiu estender o conflito até a deposição completa de Solano López. A essa altura, a
opinião pública, que antes apoiava a guerra, dava claros sinais de descontentamento pelos anos de
combate. O comando militar era, então, exercido pelo conde d’Eu, genro de dom Pedro II. Coube a
ele liderar a chamada Campanha da Cordilheira, no oeste do Paraguai, onde López havia se
refugiado com o que restara de seus exércitos. Com sua morte, em 1870, chegava ao fim a maior
guerra entre países da América do Sul. Parte do território paraguaio foi incorporada por Brasil e
Argentina.
Apesar de não existirem números precisos, acredita-se que parcela significativa dos paraguaios foi
dizimada em algo entre 50% e 75% da população, a maioria homens. A violência, a fome e a
epidemia de cólera foram as principais responsáveis pelas vítimas. As tropas brasileiras perderam
cerca de 40 mil homens, muitos deles ex-escravos. Os principais efeitos da guerra, porém, seriam
sentidos a médio e longo prazos.
As relações entre os países da Tríplice Aliança também se alteraram com o fim da guerra pois, a
harmonia cedeu espaço a antigas rivalidades. Contrariando o acordo inicial, o governo brasileiro
impediu que a Argentina anexasse parte do território paraguaio, além de assinar um acordo em
separado com os vencidos, o que acirrou as rivalidades entre os dois países.
Foto histórica de soldados negros da Guarda de Caxias durante a Guerra do Paraguai (1864-1870) – os
africanos e seus descendentes foram alguns dos principais combatentes no conflito.
Página 215
Maps World
conexão presente
O Mercosul
Em 1991, os países que participaram da Guerra do Paraguai – Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai
– iniciaram o processo de integração regional por meio da assinatura do Tratado de Assunção, que
formava o Mercosul. O acordo inicial priorizava a criação de uma área de livre-comércio entre os
países, com a eliminação das taxas alfandegárias e das restrições de importação de produtos.
Hoje, as pretensões desse bloco econômico vão um pouco além, com a tentativa de estabelecer
diversas políticas em comum (nos âmbitos social, financeiro e econômico). Em 1996, os governos
do Chile e da Bolívia assinaram acordos com o bloco, tornando-se Estados associados; em 2003 e
2004, foi a vez de Peru e Colômbia, respectivamente, passarem a integrar o bloco na mesma
condição. Em 2005, o governo da Venezuela iniciou processo de adesão ao Mercosul como membro
pleno do bloco, o que se efetivou em 2012. Em 2013, Guiana e Suriname foram admitidos como
Estados associados do bloco.
A implementação do Mercosul, porém, não tem sido tranquila. Várias divergências, sobretudo entre
Brasil e Argentina, marcam as relações entre os países do bloco. Grupos de empresários, ora de um
lado, ora de outro, consideram-se prejudicados pelos acordos vigentes. Assim, apesar de ser
considerado vital para as pretensões dos países- -membros, o futuro do bloco permanece como
uma grande incógnita. Especialistas afirmam ser ainda necessário um longo caminho para se obter
uma integração maior entre os países.
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3 O fim da monarquia
A monarquia brasileira foi derrubada por um golpe militar em 15 de novembro de 1889. Bem antes
dessa data, porém, o império já estava muito desgastado, em decorrência, por exemplo, da Guerra
do Paraguai e do longo processo de abolição da escravidão. Ao mesmo tempo que tomava corpo um
movimento republicano, o governo de dom Pedro II perdia apoios importantes, sobretudo das elites
agrárias, da Igreja e dos militares.
O movimento republicano
Em 1870, políticos do Partido Liberal formaram um grupo dissidente. A ideia era transformar o
Brasil em uma república. Lançaram, então, um manifesto, considerado o marco inicial dos partidos
republicanos no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Na província paulistana, o novo partido reunia cafeicultores descontentes com a política do governo
imperial. Na avaliação desses fazendeiros, o poder era centralizado em demasia, sendo necessário
realizar mudanças institucionais para conquistar maior autonomia para as províncias do país.
Segundo eles, isso ocorreria de forma mais adequada por meio de uma república federativa.
Esse projeto ganhou fôlego definitivo com a aliança entre cafeicultores e militares insatisfeitos com
o papel secundário a eles delegado pela monarquia. Com a Guerra do Paraguai, afinal, muitos
líderes acabaram alçados à condição de heróis nacionais sem que isso resultasse em poder político.
Com verbas escassas, o governo imperial mantinha uma política de baixos salários para os
militares, o que gerava grande descontentamento. Assim, boa parte dos oficiais aderiu facilmente
aos movimentos republicano e abolicionista.
Na década de 1880, dois fatos indispuseram ainda mais os militares contra a monarquia: a prisão
do tenente-coronel Antônio de Sena Madureira, por manifestar nos jornais sua opinião a favor da
república e do fim da escravidão, e a denúncia feita pelo coronel Ernesto da Cunha Matos contra o
capitão da tropa no Piauí, Pedro José de Lima, por desvio de material do Exército.
Iconographia
Nesta charge republicana, Silva Jardim, defensor radical do movimento a favor da república, persegue o
conde d’Eu, casado com a herdeira do trono brasileiro. O Mequetrefe, 1889.
Página 217
Em 1864, o papa Pio IX promulgou uma bula na qual reafirmava a supremacia da Igreja em todos os
âmbitos da sociedade e responsabilizava a maçonaria por práticas que enfraqueciam a fé católica. O
objetivo era eliminar o poder que a instituição possuía dentro da Igreja em todo o mundo. Nesse
sentido, a situação no Brasil era peculiar: muitos clérigos e o próprio imperador eram maçons. A
posição papal acabou gerando uma série de incidentes, sobretudo com o bispo de Olinda, dom Vital
Maria Gonçalves de Oliveira. Em 1872, ele proibiu a participação de clérigos na maçonaria,
ameaçando-os de expulsão da hierarquia da Igreja.
Ângelo Agostini, abolicionista e republicano, foi um dos principais críticos da monarquia. Nesta charge,
feita em 1885 para a Revista Illustrada, ele mostra a carruagem da monarquia sendo derrubada por índios
e negros.
pare e pense
Maçonaria
Ninguém sabe ao certo quando teve início a maçonaria. Alguns especialistas apostam que suas
origens estão na Idade Média, entre membros de corporações de ofício. O fato é que no século XVIII
ela funcionava regularmente, chegando ao Brasil em fins dos anos 1700. Aqui, seus membros (entre
eles ministros, regentes, magistrados, intelectuais e mesmo um imperador) desempenharam papel
político importante.
Surgiu, então, um intenso debate em Pernambuco. O jornal A União, criado pelo bispo, defendia a
supremacia da Igreja diante do poder do Estado. Para tentar conter a crise, o imperador ordenou ao
bispo que voltasse atrás em sua proibição. O religioso, assim como o bispo do Pará, recusou-se a
cumprir a ordem. Pela desobediência, os dois acabaram denunciados com base em um artigo do
Código Criminal. Julgados em 1874, foram condenados à pena de trabalhos forçados.
O episódio causou enorme comoção popular. Manifestações de apoio aos bispos foram realizadas, e
um abaixo-assinado, com cerca de 100 mil assinaturas, foi enviado à Câmara. Os religiosos foram
anistiados pelo imperador em 1875, mas o episódio serviu para abalar as relações até então
cordiais entre o Império e a Igreja. As divergências, se não contribuíram diretamente para acabar
com a monarquia, fizeram com que a Igreja Católica não se mobilizasse para ampará-la em sua crise
final.
O golpe republicano
No fim da década de 1880, diante das inúmeras crises políticas, era grande a possibilidade de a
república ser implantada no país. Com o imperador idoso, discutia-se abertamente sua sucessão.
Muitos viam com antipatia a possibilidade de a princesa Isabel governar o Império, sobretudo com
a influência do marido, o conde d’Eu, de origem francesa. Para contornar os impasses, o governo
tentou implementar algumas reformas.
Em 1888, o imperador nomeou o visconde de Ouro Preto como chefe de gabinete com instruções
para elaborar um projeto que incorporasse alguns dos anseios republicanos e, assim, esvaziar o
movimento que crescia dia a dia. A maioria dos parlamentares, porém, não desejava perder seus
privilégios, e as reformas propostas acabaram recusadas. Dom Pedro II determinou, então, a
dissolução do Legislativo e convocou novas eleições, dando sequência a uma prática bastante
comum em todo o seu governo.
A novidade ficou por conta do boato que os republicanos divulgaram: alegando insubordinação, o
governo iria ordenar a prisão de oficiais do Exército – entre eles Deodoro da Fonseca e Benjamin
Constant, bastante populares na tropa. Foi o estopim de que os republicanos precisavam. Na noite
de 14 de novembro de 1889, militares rebelados no Rio de Janeiro iniciaram um movimento que
culminou com uma marcha, na manhã seguinte, em direção ao Paço Imperial.
O marechal Deodoro da Fonseca, monarquista convicto e admirador de dom Pedro II, ia à frente da
marcha – fora convencido a participar do movimento na véspera, ao perceber que a monarquia não
conseguia dar respostas aos anseios militares. O propósito inicial era derrubar o ministério
liderado pelo visconde de Ouro Preto.
VESTÍGIOS DO PASSADO
Surpresa geral
A queda da monarquia foi retratada em muitas obras literárias da época, como Vidas alheias, de
Artur de Azevedo. Nessa obra, o personagem Lima era funcionário em uma repartição pública. Veja
sua reação ao chegar ao trabalho após o 15 de novembro:
Enfermo a 14 de novembro, na segunda-feira o velho Lima voltou ao trabalho, ignorando que no
entretempo caíra o regime. Sentou-se, e viu que tinham tirado da parede a velha litografia representando
D. Pedro de Alcântara. Como na ocasião passasse um contínuo, perguntou-lhe:
– Não dou três anos para que isto seja uma república!
Em: SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 470.
Página 219
O governo imperial caiu seis dias após a realização de um grande baile na Ilha Fiscal, em homenagem ao
governo chileno. Os anfitriões eram dom Pedro II e sua esposa. Ironizado pela imprensa por sua opulência, o
evento – representado neste quadro de Aurélio Figueiredo, de 1905, denominado O último baile da
monarquia – tornou-se um dos símbolos da instituição da república.
• AO SEU REDOR •
Ao longo destes capítulos, você está vendo várias charges que nos ajudam a pensar e compreender
a história do Brasil. De fato, na historiografia as charges assumem papel importante, ao mostrar as
situações cotidianas e denunciar as tensões de determinado período, em especial no mundo da
política. Veja mais um exemplo:
Charge de Angelo Agostini retratando dom Pedro II em 1887, poucos anos antes da proclamação da
República. Sarcástico, o artista representou o imperador como um homem versado e sábio (ao mostrá-lo
rodeado de jornais). No entanto, apresenta-se cansado, cochilando diante do jornal (não por acaso,
chamado O Paiz) que é esquecido, numa crítica à inércia do imperador diante dos eventos que ocorriam no
Brasil.
Em grupo:
1. Escolham determinado assunto político em pauta nos principais jornais do Brasil na atualidade.
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Com base na figura de dom Pedro II, trace a imagem do império brasileiro, mostrando suas
principais contradições.
b) o imperialismo.
b) Observe a fotografia da página 214 e leia sua legenda. Por que os africanos e seus descendentes
foram alguns dos principais combatentes nesse conflito?
5 Desde o início do império, a Igreja Católica manteve boas relações com a monarquia brasileira.
Por que, então, no momento em que entrou em crise, o império não recebeu mais o apoio da Igreja?
6 Sobre a Proclamação da República, explique por que o 15 de Novembro pode ser considerado
um golpe de Estado.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Novos personagens
O texto a seguir analisa uma importante consequência da Guerra do Paraguai pois a emergência de
novos personagens no cenário nacional, tornando a sociedade brasileira mais plural e complexa.
O sistema político não estava preparado para o ingresso dessa massa, intuitivamente
antiaristocrática, nos quadros de um aparelho militar que se tornara muito mais forte, mais
prestigiado e mais aceito socialmente, como o Exército.
BARROS, Edgard Luiz de. Os voluntários paulistas na Guerra do Paraguai. São Paulo: Arquivo do Estado, s/d. p. 29-30.
Página 221
2. Explique como esse cenário anunciava a crise da sociedade brasileira na época do império.
3. Relacione a emergência dos novos grupos sociais com a Proclamação da República. Leve em
consideração que o movimento foi praticamente um golpe de Estado, sem participação popular.
Retorno dos Voluntários da Pátria, desenho de Ângelo Agostini publicado na revista A vida fluminense,
1870.
Machado, historiador
Machado de Assis é considerado um dos principais escritores brasileiros. Autor de vários romances
e crônicas, sua obra é muito utilizada pelos historiadores como fonte de pesquisa para conhecer a
sociedade do século XIX e começo do XX.
2. Escolha uma de suas crônicas e procure destacar nela elementos para compreender a sociedade
brasileira no século XIX.
b) seus significados.
CAPÍTULO 17
Brasil: as oligarquias no
poder
Vamos lá!
Nos primeiros anos da república, não faltaram planos para, na linguagem da época, modernizar o
país, o que em grande parte significava afastar-se de muitas das heranças coloniais, sobretudo dos
sinais deixados por quase quatro séculos de escravidão dos africanos e de seus descendentes.
Assim, naquela sociedade, percebia-se claramente um forte embate entre aquilo que existia e o que
se desejava construir. Até mesmo nas imagens da época essa tensão era notada.
Naquele tempo, a república, por exemplo, costumava ser representada (em cartazes, caricaturas,
pinturas) com a figura de uma mulher – ora envolta por símbolos da modernidade, ora desgastada
pelo cotidiano. Veja alguns exemplos a seguir.
Representações da república: a primeira é uma alegoria de Manuel Lopes Rodrigues, de 1896; a segunda,
uma charge de K. Lixto, publicada na capa da revista Fon-Fon! de 1909; a terceira, um desenho de Di
Cavalcanti, de 1921.
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Faça uma descrição das três imagens, destacando seus principais elementos e suas ideias
centrais.
3 Faça uma legenda para as imagens, comentando como elas representam os primeiros anos da
república no Brasil. Depois, troque de caderno com um colega e leia a legenda que ele escreveu.
Página 223
1 No ritmo da república
A Proclamação da República, em novembro de 1889, deixou no ar uma questão importante: que
rumo a sociedade brasileira tomaria diante dos vá rios projetos republicanos? Os liberais do
Partido Republicano Paulista (PRP) desejavam maior autonomia regional. Os chamados jacobinos,
que ganharam força com a atuação de jovens militares, tinham propostas próximas às expectativas
de setores urbanos, como pequenos comerciantes e funcionários públicos. O quadro se completava
com os positivistas, concentrados nas fileiras do exército.
Vingou uma somatória dessas propostas, ao me nos no início do novo regime. Cafeicultores e
militares, como vimos, aliaram-se para sustentar o governo republicano. As divergências entre os
dois grupos, porém, geraram inúmeros conflitos e instabilidade política – o que já era percebido na
administração do marechal Deodoro da Fonseca.
Nesse tempo, em que ocorreu a promulgação de uma nova Constituição, a intensa disputa política
provocou a renúncia do marechal. Ele foi substituído pelo vice, o também marechal Floriano
Peixoto, mas as instabilidades se mantiveram. O novo governo estendeu-se até 1894, quando tomou
posse o primeiro presidente civil do país, graças a uma articulação das elites agrárias lideradas
pelos cafeicultores, que assim assumiam o poder. Essa oligarquia controlou o país até o fim da
década de 1920, quando um golpe de Estado mudou o cenário político.
VESTÍGIOS DO PASSADO
Relatos literários
As primeiras décadas do regime republicano coincidiram com o aumento da circulação de jornais e
revistas, que contavam com grande tiragem e público, apesar de a população brasileira apresentar
altos índices de analfabetismo. A leitura, muitas vezes, era feita em voz alta nos espaços públicos,
entre amigos. Essa presença da imprensa possibilitou o aumento dos literatos.
Não faltam crônicas desse período, como as escritas por João do Rio (um dos pseudônimos de João
Paulo Emílio Coelho). Nascido no Rio de Janeiro em 1881, ele foi jornalista, teatrólogo, cronista e
redator de alguns dos principais jornais da então capital federal, como O País e A Gazeta de
Notícias. Muitos de seus textos relatavam o cotidiano dos personagens que povoavam as ruas da
capital. Leia um exemplo:
De todas essas pequenas profissões, a mais rara e a mais parisiense é a dos caçadores (...). São os
apanhadores de gatos para matar e levar aos restaurantes, já sem pele, onde passam por coelho. Cada
gato vale dez tostões no máximo. Uma só das costelas que os fregueses rendosos trincam, à noite, nas
salas iluminadas dos hotéis, vale muito mais. As outras profissões são comuns. Os trapeiros existem
desde que nós possuímos fábricas de papel e fábricas de móveis. (...) apanham trapos, todos os trapos
encontrados na rua, remexem o lixo, arrancam da poeira e do esterco os pedaços de pano, que serão em
pouco alvo papel; os outros têm o serviço mais especial de procurar panos limpos, trapos em perfeito
estado, para vender aos lustradores das fábricas de móveis. As grandes casas desse gênero compram em
porção a traparia limpa. A uns não prejudica a intempérie, aos segundos a chuva causa prejuízos
enormes. Imagina essa pobre gente, quando chove, quando não há sol, com o céu aberto em cataratas e,
em cada rua, uma inundação.
RIO, João do. A alma encantadora das ruas: crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 92.
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro-USP
2 Os militares no poder
Embora apoiado pelo grupo dos militares positivistas, o marechal Deodoro da Fonseca não era o
nome preferido dos cafeicultores para ocupar o governo da república. Como seu mandato era
provisório, porém, não enfrentou a oposição dos membros do PRP. As primeiras medidas de seu
governo procuraram dar formato ao novo regime, e incluíram o fim do Poder Moderador, a
separação entre Estado e Igreja e a concessão da cidadania brasileira aos estrangeiros que viviam
no país.
Foram ainda realizadas eleições para compor uma Assembleia Constituinte, cujos membros
trabalharam com base em um projeto elaborado por Rui Barbosa, ministro da Fazenda. Ao ser
promulgada, em 24 de fevereiro de 1891, a primeira Constituição da república alterava a estrutura
do Estado: as antigas províncias, transformadas em estados, passavam a ter o direito de obter
empréstimos no exterior, manter forças armadas e elaborar sua política fiscal, administrativa e
jurídica.
No ritmo da continuidade
A Constituição previa a eleição indireta do primeiro presidente, responsabilidade que cabia aos
membros da Assembleia. O eleito foi o marechal Deodoro da Fonseca – os parlamentares temiam
uma instabilidade política provocada pelos militares caso o escolhido fosse um civil. Floriano
Peixoto tornou-se vice-presidente, apesar de pertencer à chapa de oposição liderada pelo
cafeicultor paulista Prudente de Morais. Naquela época, a legislação permitia a escolha
desvinculada dos ocupantes dos dois cargos.
À frente do governo, marechal Deodoro logo mostrou sua tradição política. Monarquista até a
véspera do golpe de 1889, ele reunia características autoritárias e práticas políticas identificadas
com o regime imperial. Assim, não demorou para entrar em conflito com o Legislativo. As
divergências aumentaram quando convocou o barão de Lucena, conhecido monarquista, para
liderar seu ministério.
Em novembro de 1891, o presidente tentou dissolver o Congresso, como era prática no regime
imperial. Fracassou, e as oposições uniram-se contra ele. Coube a Floriano Peixoto articular os
militares descontentes. Funcionários da Estrada de Ferro Central do Brasil entraram em greve.
Parte dos oficiais da marinha se rebelou, posicionando seus navios na baía de Guanabara e
ameaçando bombardear o Rio de Janeiro, em um movimento que ficou conhecido como Primeira
Revolta da Armada. Isolado, marechal Deodoro renunciou à presidência, poucos meses depois de
ser empossado. Assumiu seu lugar o marechal Floriano Peixoto.
Museu Histórico Nacional, Rio de Janeiro
A instabilidade marcou o primeiro governo republicano sob comando do marechal Deodoro da Fonseca. A
imagem mostra uma artilharia fiel ao governo na ilha de Villegagnon, Rio de Janeiro (RJ), durante a Revolta
da Armada, 1891.
Página 225
Na base da espada
O governo de Floriano Peixoto foi marcado por duros atos contra os opositores, incluindo prisões e
execuções. O Congresso voltou a funcionar, e o governo adotou medidas para beneficiar os setores
médios da sociedade. Algumas delas, porém, tinham cunho nacionalista, desagradando as grandes
potências mundiais. A situação trouxe prejuízo aos cafeicultores, que, juntamente com militares de
alta patente, passaram à oposição.
Em 1893, com o aumento dos descontentes, eclodiram duas revoltas. Em uma delas, conhecida
como Segunda Revolta da Armada, oficiais da marinha voltaram a fazer ameaças de bombardear a
capital. Foram contidos pelo governo, com o apoio do exército e de políticos do PRP. A Revolta
Federalista, por sua vez, teve início com a rivalidade entre os partidos que disputavam a hegemonia
política no Rio Grande do Sul: o Republicano (que contava com o apoio do presidente) e o
Federalista (que reunia fazendeiros gaúchos). A repressão foi dura: cerca de 10 mil pessoas foram
mortas até o fim do movimento, em 1895, durante o go verno de Prudente de Morais.
Soldados das forças fiéis ao governo federal, chamados de pica-paus, durante a Revolução Federalista,
1894.
VESTÍGIOS DO PASSADO
Retrato presidencial
Lima Barreto, um dos principais literatos brasileiros, fez enorme sucesso com o folhetim Triste fim
de Policarpo Quaresma, publicado em 1911. Fazia um retrato preciso dos anos iniciais da república,
incluindo um de seus principais personagens, Floriano Peixoto. Leia um trecho do livro:
Quaresma pôde então ver melhor a fisionomia do homem que ia enfeixar em suas mãos, durante quase
um ano, tão fortes poderes, poderes de Imperador Romano, pairando sobre tudo, limitando tudo, sem
encontrar obstáculo algum aos seus caprichos, às suas fraquezas e vontades, nem nas leis, nem nos
costumes, nem na piedade universal e humana.
Era vulgar e desoladora. O bigode caído; o lábio inferior pendente e mole a que se agarrava uma grande
“mosca”, os traços flácidos e grosseiros; não havia nem o desenho do queixo ou olhar que fosse próprio,
que revelasse algum dote superior. Era um olhar mortiço, redondo, pobre de expressões, a não ser de
tristeza que não lhe era individual, mas nativa, de raça; e todo ele era gelatinoso – parecia não ter nervos.
Não quis o major ver em tais sinais nada que lhe denotasse o caráter, a inteligência e o temperamento.
Essas coisas não vogam, disse ele de si para si.
O seu entusiasmo por aquele ídolo político era forte, sincero e desinteressado. Tinha-o na conta de
enérgico, de fino e supervidente, tenaz e conhecedor das necessidades do país, manhoso talvez um pouco
(...).
Entretanto, não era assim. Com uma ausência total de qualidades intelectuais, havia no caráter do
marechal Floriano uma qualidade predominante: tibieza de ânimo, e no seu temperamento, muita
preguiça. (...)
3 Teia de coronéis
Eleito em 1894, Prudente de Morais tornou-se o primeiro civil a assumir a presidência do país. Os
cafeicultores chegavam efetivamente ao poder – posição que seria solidificada nos anos seguintes.
Durante seu mandato, foram tomadas várias medidas para reorganizar financeiramente o país.
Teve início também a política de valorização do café, como veremos adiante. Alguns dos conflitos
internos foram encerrados, mas outros ganharam amplitude, sobretudo o de Canudos (assunto
tratado no próximo capítulo).
Campos Sales, seu sucessor, deu início à chamada política dos governadores: o presidente apoiaria
as ações dos governos estaduais, que, em troca, garantiriam a eleição apenas de parlamentares
favoráveis à política presidencial. O pacto era garantido pela Comissão Verificadora, órgão do
Legislativo federal que tinha o poder de aprovar ou rejeitar os candidatos eleitos. Assim, políticos
da oposição que fossem eleitos acabavam barrados pela Comissão. Na prática, o acordo tornou as
eleições quase sem efeito. Afinal, a decisão sobre quem exerceria um cargo eletivo não se dava nas
urnas, mas nos acordos de gabinete.
Essa estrutura de poder completava-se com o coronelismo, consolidado nos tempos republicanos,
que acabaram com a centralização da época do império, fragmentando o poder entre as diversas
unidades da federação. O coronel era aquele que, desde a época do império, detinha riqueza e poder
nas diversas regiões do país, controlando a população local, exercendo o chamado mandonismo.
Na república, com o poder dividido, o coronel ganhou importância. Para governar, as elites
nacionais precisavam de seu apoio, que garantia tanto a estabilidade política quanto uma base de
sustentação. Assim, davam-lhe o controle das verbas e dos cargos públicos disponíveis em sua
região, com os quais ele mantinha uma rede de dependentes interessados em emprego, posição
social e riqueza. Nos lugares em que existia mais de um líder local, ocorriam geralmente intensas
disputas, muitas vezes marcadas pela violência.
Os coronéis espalhavam-se por quase todo o território nacional. Dessa forma, criou-se uma enorme
e complexa teia de compromissos, favores e corrupção. Em outras palavras, uma vasta rede de
interesses garantia, para uma pequena oligarquia, o controle do Estado, dos cargos e das verbas
públicas.
Apesar das divergências e dos conflitos, esse arranjo tornou possível a uma reduzida elite agrária
permanecer no poder durante décadas. Expressão maior desse pacto foi o acordo entre os partidos
republicanos de São Paulo (PRP) e Minas Gerais (PRM) para se alternarem no poder. Essa prática,
conhecida como política do café com leite, contou com o apoio de partidos de outros estados, como
o Rio de Janeiro e o Rio Grande do Sul.
Romulo Fialdini/Tempo Composto
As relações entre coronéis e seus eleitores eram baseadas na troca de favores, que iam desde empregos até
doações, vagas em hospitais e escolas, patrocínio de festas, entre tantos outros. Assim, os coronéis
formavam grandes redes, das quais vinham os votos. Nesta foto, o presidente do estado do Ceará visita
Juazeiro do Norte, em 1917. Aqui, estão reunidos vários dos detentores dos poderes locais, entre eles o padre
Cícero.
Página 227
VOCÊ SABIA?
Naquela época, o voto era aberto, ou seja, cada eleitor era obrigado a declarar publicamente seu
voto, possibilitando a qualquer um conhecer o candidato escolhido por ele. Dessa forma, os
coronéis podiam controlar as eleições em sua região. Eles possuíam, por exemplo, grupos armados
(capangas ou jagunços) para impor suas vontades. Durante os pleitos, esses grupos intimidavam os
eleitores a votar em determinados candidatos. Era o chamado voto de cabresto (ver caricatura ao
lado).
Para garantir a vitória, eram também falsificados títulos de eleitor para analfabetos, menores de
idade e até mesmo em nome de pessoas falecidas, além da violação das urnas e das fraudes na
contagem dos votos.
pare e pense
E hoje?
Os jogos da política pressupõem acordos e arranjos que devem ser realizados de acordo com de
princípios morais e éticos estabelecidos pela própria sociedade.
c) O que mudou?
A crise foi provocada pelo descontentamento de grupos regionais não contemplados no arranjo
político das oligarquias. A eleição do gaúcho Hermes da Fonseca, sobrinho do marechal Deodoro, foi
um dos primeiros sinais de que a sociedade brasileira começava a mudar. Havia aumento das
atividades urbanas, fortalecimento de grupos sociais, como a classe média e os operários, e a volta
dos militares à cena política, afastados desde o fim do governo de Floriano Peixoto.
Outra crise surgiu com a eleição de Artur Bernardes. Enquanto o PRP e o PRM se uniram em torno
de sua candidatura, as oligarquias gaúcha, baiana, pernambucana e fluminense lançaram o no me
de Nilo Peçanha, tornando aquela eleição uma das mais disputadas da república oligárquica. A
divergência entre as elites não seria mais superada.
Página 228
A última e definitiva crise de poder das oligarquias ocorreu a partir de 1926, quando foi fundado
em São Paulo o Partido Democrático (PD), uma dissidência do PRP. Seu objetivo era recuperar
aspectos liberais previstos na Constituição de 1891, mas jamais implementados, tais como a
independência dos três poderes. O Partido Democrático buscava formar uma nova força política
entre as elites descontentes com o domínio das oligarquias tradicionais. Essa divisão partidária,
somada aos acontecimentos que se sucederam, levou ao fim da república oligárquica.
Enfrentando o caos
No início da república, o Brasil era um país essencialmente agrícola. Produziam-se café e açúcar,
mas também borracha e cacau, que desde 1890 despontavam como produtos de grande aceitação
no mercado externo.
Ainda assim, o primeiro governo republicano promoveu uma política de incentivo à produção
industrial, conhecida como Encilhamento, implementada por Rui Barbosa, ministro da Fazenda.
Ganhou esse nome graças à semelhança com a agitação que tomou conta da Bolsa de Valores do Rio
de Janeiro e o barulho de torcedores e apostadores no Jóquei Clube, sobretudo onde os cavalos
eram preparados para as corridas, ou seja, encilhados. O nome relacionava, assim, a especulação na
Bolsa às apostas realizadas nos cavalos.
As medidas aprovadas por Rui Barbosa autorizavam os bancos a emitir dinheiro, facilitando o
crédito principalmente para os industriais. Com a emissão sem controle, muito dinheiro foi posto
em circulação, e a inflação disparou. Sentindo-se prejudicados pelas medidas, os cafeicultores
pressionaram o governo, obrigando Rui Barbosa a renunciar ao cargo. A grave situação econômica,
porém, não se alterou, sobretudo diante da instabilidade política. O governo gastava vultosos
recursos para reprimir seus opositores. Durante o governo de Prudente de Morais, o Tesouro
Nacional se quer dispunha de recursos para pagar as dívidas do país.
A situação levou Campos Sales a viajar à Europa antes de assumir o poder, com o objetivo de
renegociar a dívida externa. Em junho de 1898, o governo firmou um acordo com o banco
Rothschild, maior credor do Brasil, estabelecendo uma moratória que duraria até 1911 e um
empréstimo de 10 milhões de libras esterlinas. Em troca, o governo oferecia, entre outras garantias,
a renda da alfândega do Rio de Janeiro.
Com uma política austera – que incluía aumento dos impostos e corte nos gastos públicos –, a
inflação foi contida. Em compensação, as medidas provocaram a quebra de várias empresas e o
desemprego, tornando-se impopulares. Ao término do mandato, Campos Sales deixou as finanças
equilibradas, mas foi vaiado nas ruas do Rio de Janeiro.
Instituto de Estudos Brasileiros, SP
Charge publicada na Revista Illustrada, no final do século XIX, ironizava a política monetária dos bancos,
que emitiam grande quantidade de moeda no começo da república.
Página 229
VOCÊ SABIA?
Os presidentes
No quadro ao lado, estão relacionados os presidentes da república entre 1894 e 1930, época em que
as oligarquias agrárias dominaram o poder no país. O período, por isso, é denominado pelos
historiadores de República Oligárquica ou República do Café com Leite.
(*) Faleceu antes do término do mandato e foi substituído pelo vice-presidente Nilo Peçanha.
(**) Rodrigues Alves fora reeleito. Doente, faleceu antes de tomar posse. Em seu lugar assumiu o vice, Delfim Moreira, que governou por sete
meses, até a convocação de novas eleições.
(***) Nascido no estado do Rio de Janeiro, fez carreira política em São Paulo.
Esses governos, sem recursos para a operação, tomaram empréstimos no exterior e adotaram
medidas para evitar a expansão dos cafezais. A política estabelecida no chamado Convênio de
Taubaté trouxe o equilíbrio aos preços e possibilitou que os cafeicultores plantassem sem risco,
com a garantia do lucro. Mesmo assim, as crises do café marcaram o cenário econômico das
primeiras décadas da república, pelas dificuldades no mercado internacional ou pela
superprodução.
A exploração da borracha favoreceu o crescimento de várias cidades na região da Amazônia, entre elas
Manaus e Belém. Na imagem, vista de Belém, durante a exploração da borracha.
Com grande valor no mercado internacional, graças ao seu uso na fabricação de pneumáticos, o
látex foi fonte de enorme riqueza para o país. As cidades amazônicas,
Página 230
O cacau foi outro produto de destaque no período. Trouxe grande alento para a economia do
Nordeste, onde a atividade açucareira perdia importância. Cultivado principalmente no sul da
Bahia, na região de Ilhéus e Itabuna, o produto teve sua lavoura expandida também por volta de
1890, graças ao crescimento do consumo de chocolate nos Estados Unidos e na Europa Ocidental.
Assim como ocorreu com a borracha, a atividade começou a decair quando mudas de cacau foram
plantadas nas colônias inglesas da África, sobretudo Gana e Costa do Marfim, que passaram a
dominar os mercados abastecidos até então pelos cacaueiros baianos.
Em 1889, havia cerca de 600 fábricas instaladas no país, dando emprego a mais de 50 mil operários.
Já em 1920, com o estímulo à industrialização, mais de 13 mil indústrias empregavam cerca de 275
mil trabalhadores, sem contar as usinas de açúcar e as salinas.
A concentração industrial verificava-se principalmente nos estados de São Paulo (31%), Rio Grande
do Sul (13,3%), Rio de Janeiro (11,5%) e Minas Gerais (9,3%).
Em 1928, pela primeira vez na história do país, a renda industrial superou a gerada pela
agricultura. Com as indústrias, fortaleciam-se os setores médios das populações urbanas e as
organizações operárias – grupos desvinculados dos arranjos políticos dominantes na república
oligárquica. Isso deu espaço a inúmeros movimentos sociais e a conflitos crescentes com o governo
e as elites tradicionais, como veremos no próximo capítulo.
Cinemateca Brasileira, SP
Operárias em São Paulo, década de 1920. Nessa época, o país iniciava de forma mais consistente seu
processo de industrialização.
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5 Novas fronteiras
No início do século XX ocorria intenso movimento populacional em direção a áreas pouco ocupadas
do território brasileiro, como a Amazônia e o Centro-Oeste. Nesses anos, foram definidos muitos
acordos que deram ao território do Brasil seus contornos atuais. Vários desses tratados foram
consumados entre 1902 e 1906, quando José Maria da Silva Paranhos, o barão do Rio Branco,
ocupava o Ministério das Relações Exteriores.
Maps World
A expansão mais recente das nossas fronteiras revela como são tratados os grupos menos privilegiados da
sociedade brasileira. Em várias capitais do Nordeste, por exemplo, grupos de retirantes da seca eram
compulsoriamente enviados a áreas distantes da Amazônia. O mesmo destino era reservado àqueles
considerados marginais nos grandes centros urbanos, como desempregados, sem-tetos, profissionais do
sexo e opositores do governo. Na imagem, trabalhadores da construção da estrada de ferro Madeira-
Mamoré, início do século XX.
conexão presente
Eterna dependência
Com a intensificação das trocas comerciais entre países do mundo todo, entre os quais se
encontram nações ricas, outras em desenvolvimento, e outras tantas, ainda, bastante pobres, surgiu
a necessidade de se criar um organismo internacional para regular essas transações.
Nas reuniões da OMC, reproduz-se o conflito entre as potências mundiais e os países pobres. As
discussões sobre os negócios se dividem em três áreas: produtos agrícolas, bens não agrícolas, e
comércio e serviços.
Aos países ricos, interessa criar mecanismos eficientes para garantir a venda de produtos
industrializados e, sobretudo, proteger os direitos intelectuais e de propriedade controlados por
suas empresas, como patentes de remédios e copyrights de programas de computação.
Os países mais pobres, por sua vez, lutam para conseguir melhores condições para os produtos
agrícolas. Alegam que os países ricos protegem seus mercados contra a entrada de produtos,
sobretudo por meio de subsídios aos fazendeiros. Sem a competição nos maiores mercados, amplia-
se ainda mais o abismo social entre os países do mundo.
A OMC, porém, vem se mostrando incapaz de regular muitas das questões sobre o comércio
internacional, sendo duramente criticada. Uma das críticas diz respeito ao protecionismo que
muitos dos países ricos, especialmente os Estados Unidos e os da União Europeia, oferecem a seus
produtores agropecuários. Como a maior parte das exportações dos países em desenvolvimento é
desse tipo de produto, tais incentivos dificultam ou até mesmo inviabilizam a entrada dessas
mercadorias nos países desenvolvidos, prejudicando as nações mais pobres.
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Ocupando o território
Nas primeiras décadas do século XX, intensificou-se a ocupação das regiões Centro-Oeste e Norte do
país com diversas iniciativas, como a construção de ferrovias e a implantação de linhas telegráficas.
1. Faça uma pesquisa para saber como ocorreu esse processo de ocupação. Para isso, escolha um
dos temas a seguir:
b) a Comissão Rondon;
c) a exploração da borracha;
2. Nas pesquisas, procure descobrir o que ocorreu com os povos indígenas que ocupavam esse
território.
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 Explique por que, apesar de representarem uma nova forma de governo, os primeiros governos
republicanos foram marcados pela continuidade da política imperial.
b) os sujeitos envolvidos.
3 Até os anos 1920, as elites agrárias permaneceram no poder. Relacione a longevidade do poder
dessa oligarquia ao sistema eleitoral brasileiro dos primeiros anos da república.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
Os acontecimentos políticos do início da república têm passado, nos últimos anos, por inúmeras
revisões, que acabam desconstruindo muitos mi tos. É o caso da chamada política do café com leite,
como mostra o texto a seguir.
Análises recentes das sucessões presidenciais na Primeira República (1889-1930) mostram que a
famosa aliança entre Minas Gerais e São Paulo, chamada de política do “café com leite”, não
controlou de forma exclusiva o regime republicano. Havia outros quatro estados, pelo menos, com
acentuada importância no cenário político: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco.
(...)
Diante da contínua fraude eleitoral e do baixo comparecimento às urnas, a disputa pelo voto dos
eleitores perdia importância em relação à escolha prévia do candidato. O estado que conseguisse
lançar uma candidatura aceita pelas bancadas mais proeminentes teria a eleição garantida. E
mesmo quando havia competição eleitoral, o apoio ao escolhido era quase unânime. Como um
candidato poderia obter 97,9% dos votos? Foi o que aconteceu com o mineiro Afonso Pena,
presidente entre 1906 e 1909. (...) O mais difícil, portanto, em uma eleição na República Velha, era
sagrar-se candidato com o apoio das oligarquias dominantes.
Para isso, as negociações tinham de ser longas, e as regras, nunca escritas, mas sempre
compartilhadas, tinham de ser respeitadas. Primeira: o poder dos estados era desigual e
hierarquizado. Segunda: a cada eleição havia uma renovação parcial de poder entre eles, rejeitando-
se, assim, atitudes monopolizadoras. Terceira: a manutenção do regime dependia do cumprimento
dos princípios anteriores.
Com base nessas normas, as alianças foram feitas e desfeitas e em cada sucessão o jogo político era
reiniciado. As regras eram as mesmas, os acordos, porém, mudavam. Daí a conclusão de que a
estabilidade do regime republicano não foi garantida por uma aliança de caráter exclusivista entre
dois de seus maiores estados. Ao contrário, quando se aliaram e excluíram os demais parceiros, nos
anos finais da República Velha, abalaram o modelo político em vigor.
(...)
Mas como explicar a origem da expressão “café com leite” se, de fato, a aliança entre Minas Gerais e
São Paulo teve caráter apenas conjuntural, como as demais? Uma hipótese, ou melhor, uma
especulação: é provável que a expressão tenha sido criada pela imprensa, ao final da década de
1920 – pois não foram encontrados registros anteriores –, numa referência à aliança entre paulistas
e mineiros em torno da indicação de Arthur Bernardes e Washington Luiz. E reforçada pelo longo
go verno Vargas (1930-1945) para desqualificar o processo político da velha república que ele
pretendia superar. (...)
VISCARDI, Cláudia M. R. Aliança “café com política”. Citado em: Nossa História, ano 2, n. 19, maio 2005. p. 45-47.
2. Segundo o texto, como essa política teria se consolidado? Qual era sua intenção?
3. De acordo com a autora, por que a política do café com leite não controlou de forma exclusiva o
regime republicano durante a Primeira República?
Página 235
O coronel e o lobisomem
Em 2005, foi adaptado para o cinema o livro O coronel e o lobisomem, de José Candido de Carvalho.
Escrita em 1964, essa obra é um dos grandes exemplos do realismo fantástico brasileiro. Em
determinado trecho, o personagem Ponciano de Azevedo Furtado, remetendo ao coronelismo, diz:
“Diante do meu charuto, muito doutor de lei ficou menor do que um anão de circo de cavalinho”.
Divulgação
Em grupo
1. Junte-se a um grupo de colegas e definam coronelismo, utilizando a frase escrita por José
Candido de Carvalho em O coronel e o lobisomem, indicada acima.
2. No Brasil, hoje, em diversas localidades, há ainda traços do coronelismo. Com o grupo, aponte
caminhos para superar essa situação.
Em grupo
1. Escolham um episódio tratado no capítulo para representá-lo por meio de uma charge ou
caricatura. Vocês também podem usar recursos digitais. Neste caso, produzam um meme de
internet.
2. Apresentem sua obra ao restante da classe e, depois, organizem uma exposição com o título
Política e humor.
CAPÍTULO 18
A república contestada
Vamos lá!
No início da república, um fato tornou-se rotina: enviar para a floresta Amazônica qualquer tipo de
pessoa considerada desclassificada. Iam para trabalhar na extração da borracha, construir linhas
telegráficas ou estradas de ferro.
No fundo, era apenas uma estratégia arranjada pelos go vernantes para se livrar da situação. Isto é,
uma forma de enviar a pobreza – e todos os problemas dela decorrentes – para bem longe, numa
viagem sem retorno para uma floresta que tudo devorava.
Iconographia
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Curta esperança
A república resultou de um movimento militar articulado em conjunto com uma elite agrária pouco
privilegiada pelo poder imperial. Apesar de não contar com a participação popular, trouxe
esperança de mudanças para vários segmentos da população. Seus defensores, afinal, afirmavam
que, ao contrário da monarquia, a república era um regime de inclusão. Com o passar dos anos,
porém, os anseios populares continuaram sendo tratados com a mesma repressão de antes.
No início do século XX, a sociedade brasileira passava por mudanças significativas. Em algumas
cidades, por exemplo, ocorriam amplas reformas para acomodar novas infraestruturas, como
iluminação elétrica, largas avenidas, serviços de bonde. Os espaços urbanos eram preparados para
receber cada vez mais pessoas, mercadorias, investimentos, automóveis. Os contemporâneos
chamavam a isso de civilizar-se. Na cidade, tudo deveria circular – e bem: sem impedimentos,
doenças, entraves.
O projeto de civilização pertencia às elites. Não levava em conta a cultura – nem sequer os anseios –
da maior parte da população. Ao contrário. Pretendia afastar-se daquilo que era considerado o mais
atrasado na sociedade brasileira, identificado como as marcas deixadas por quase quatro séculos de
escravidão. O que se via, então, era o aumento das teorias raciais, que identificavam os males do
povo brasileiro com a miscigenação ocorrida nas senzalas, nos becos, nas casas pobres. Os
descendentes de africanos eram os mais atingidos em seus hábitos e sua cultura.
Ao lado da abertura de novas avenidas, buscava-se acabar com hábitos arraigados, como reunir-se
em quiosques nas ruas; escarrar no chão; comprar leite na por ta de casa, ordenhado na hora; criar
animais sol tos pelas ruas, como porcos e galinhas; cantar e dançar ritmos africanos. Logo essa
“civilização” entrou em conflito com a tradição de boa parte da população. Como consequência, as
primeiras décadas da república foram marcadas por inúmeros movimentos sociais, conflitos,
guerras, tanto no campo como na cidade.
A abolição não afetou, apenas, a situação do escravo. Ela também afetou a situação do “homem de cor”. Na
verdade, a abolição constitui um episódio decisivo de uma revolução social feita pelo branco e para o branco.
Saído do regime servil sem condições para se adaptar rapidamente ao novo sistema de trabalho, à economia
urbano-comercial e à modernização, o homem de cor viu-se duplamente espoliado. Primeiro, porque o ex- -
agente de trabalho de escravo não recebeu nenhuma indenização, garantia ou assistência; segundo, porque se
viu repentinamente em competição com o branco em ocupações que eram degradadas e repelidas
anteriormente, sem ter meios para enfrentar e repelir essa forma mais sutil de despojamento social. Só com o
tempo é que iria aparelhar-se para isso, mas de modo tão imperfeito que ainda hoje se sente impotente para
disputar “o trabalho livre na Pátria livre”.
FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. São Paulo: Difel, 1971. p. 47.
Monteiro Lobato foi um desses intelectuais. Jornalista e escritor, é reconhecido por seu trabalho
com livros infantis e pela valorização da cultura brasileira. Alguns de seus personagens foram
inspirados em pessoas do campo, em especial as de São Paulo e Minas Gerais. É o caso, por exemplo,
do saci-pererê, que ganhou livro em 1918.
Com uma perna só, gorro vermelho e pito na boca, o saci tem entre seus locais preferidos a mata e
as plantações ribeirinhas. Por meio dele, o leitor podia descobrir um pouco dos costumes de uma
sociedade rural que se urbanizava.
Museu Monteiro Lobato
2 Reação no campo
Nos primeiros anos da república, Canudos, no sertão nordestino, e Contestado, no sul do país, eram
duas das regiões mais pobres do Brasil, marcadas pela concentração de terras. Nesses lugares
ocorreram dois grandes movimentos sociais, os de maior proporção no campo daquele período. Em
ambos os casos, milhares de pessoas reuniram-se em comunidades cujo líder era considerado, ao
mesmo tempo, chefe religioso e ponto de ligação com os poderes instituídos, como o dos coronéis.
Diante da miséria a que estavam submetidas, o que unia essas pessoas era, muitas vezes, a crença
na formação de um mundo divino, mais justo, abundante. A atuação do governo brasileiro diante
dessas comunidades foi repressiva, o que resultou em verdadeiros massacres.
Mas não foram apenas as populações de Canudos e do Contestado que procuraram caminhos para
mudar a própria realidade (ver seção Você sabia?, na página 242). Em outros lugares, as ações
assumiram formas menos organizadas, como no caso dos cangaceiros, grupos armados que
percorreram o sertão entre o fim do século XIX e meados do XX.
Apesar de o sertanejo dominar um conhecimento que o habilita a conviver com esse fenômeno
natural, faltam-lhe recursos materiais, como a terra, para superar as adversidades. E, nas décadas
finais do século XIX, em particular, as secas foram intensas. Entre 1877 e 1879, por exemplo,
acredita-se que a falta de chuvas na região tenha provocado a morte de um número de pessoas
equivalente a 5% da população brasileira, vítimas de fome e de epidemias.
O líder Conselheiro
Pelos caminhos do sertão, era comum a presença de líderes religiosos, muitos deles pregando uma
prática que se afastava dos dogmas da Igreja e assumia características particulares, como a
promessa de uma época de fartura e abundância. Dentre esses líderes destacou-se Antônio Vicente
Mendes Maciel, conhecido como Antônio Conselheiro. Durante anos, ele vagou pelo sertão, reunindo
um número crescente de fiéis.
O massacre
A reunião de tantas pessoas em tão pouco tempo chamou a atenção das elites locais, que temiam
perder o controle da situação. Ocorreram, então, vários confrontos entre tropas das autoridades
locais e a população do arraial.
Tendo sido derrotadas num primeiro confronto, as forças policiais da Bahia passaram a ter
Página 240
o apoio das tropas federais. Uma segunda expedição foi formada, fortemente armada e com cerca de
600 homens. Ainda assim, não conseguiram derrotar os seguidores de Antônio Conselheiro,
numerosos e donos de um grande conhecimento sobre a região. Enquanto os sertanejos resistiam,
no Rio de Janeiro notícias transformavam os habitantes de Canudos em uma espécie de inimigos da
república. Os jornais baseavam-se nas informações de que Conselheiro – como muitas outras
pessoas de sua época – nutria simpatia por dom Pedro II, condenava a separação entre Igreja e
Estado, promovida pelo governo republica no, e o intenso aumento de impostos praticado pelo
novo regime.
Criava-se, assim, o ambiente político necessário para a mobilização de um grande efetivo militar. Na
presidência estava Prudente de Morais. Era a quarta expedição contra Canudos que se organizava,
agora com mais de 10 mil homens fortemente armados. Após três meses de combate, as tropas do
governo venceram em outubro de 1897. As 5 mil casas do arraial foram incendiadas, muitas delas
com seus moradores dentro, e a população, praticamente dizimada. A maioria das pessoas que se
renderam foram degoladas.
VESTÍGIOS DO PASSADO
O sertanejo é antes de tudo um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos
do litoral.
É desgracioso, desengonçado, torto. (...). O andar sem firmeza, sem aprumo, quase gigante e
sinuoso, aparenta a translação de membros desarticulados. (...). A pé, quando parado, recosta-se
invariavelmente no primeiro umbral ou parede que encontra (...). E se na marcha estaca pelo
motivo mais vulgar (...), cai logo – cai é o termo – de cócoras, atravessando longo tempo numa
posição de equilíbrio instável (...), com uma simplicidade a um tempo ridícula e adorável.
Os sertanejos do Contestado
O Contestado correspondia a uma área de fronteira disputada pelos governos dos estados do
Paraná e de Santa Catarina. Nela vivia um grande contingente de pessoas que sobreviviam da coleta
de produtos na floresta de pinheiros ou de plantações de mate.
Em 1908, instalou-se na região uma empresa estrangeira, que ganhou do governo brasileiro a
concessão para construir uma estrada de ferro que ligaria São Paulo ao Rio Grande do Sul.
Coleção particular
Além de expulsar muitas pessoas de suas terras de origem, a empresa instalou madeireiras que
dizimavam as florestas de pinheiros e empregavam trabalha dores em condições semelhantes às de
escravos.
A construção da estrada de ferro acabou suspensa, deixando pela região incontáveis pessoas sem
trabalho. Nesse contexto, ganhou importância a pregação feita por vários líderes religiosos, aos
moldes do que ocorria no Nordeste. Em 1911, um desses beatos, chamado monge João Maria,
iniciou a formação de uma comunidade, a Monarquia Celeste, com cerca de 2 mil pessoas.
Alertadas, as autoridades locais não demoraram a combater a iniciativa. Apesar de João Maria ter
sido morto no primeiro conflito, os membros da comunidade mantiveram forte resistência.
Passaram a ser comandados, então, pelo líder José Maria e conquistaram o controle de uma vasta
área. O governo federal entrou no conflito, organizando uma grande expedição em 1914, que
reduziu os rebelados a pequenos grupos. Pela primeira vez utilizavam-se aviões em combates
militares no país. Os conflitos chegaram ao fim apenas em 1916. Acredita-se que cerca de 20 mil
pessoas perderam a vida no Contestado.
A saga do cangaço
A partir do fim do século XIX, a população do sertão nordestino passou a conviver com os
cangaceiros, grupos armados que atacavam pessoas, fazendas e depósitos da região. Os principais
cangaceiros foram Antônio Silvino e Virgulino Ferreira, mais conhecido como Lampião.
Os estudiosos divergem sobre o cangaço. Para alguns, tratava-se de criminosos comuns, enquanto
para outros apresentava características ligadas aos movimentos sociais. Se, por um lado, vários
cangaceiros gozavam de prestígio entre os sertanejos, graças às boas ações, outros, por sua vez,
acumularam fama de cruéis.
Acervo Reminiscências
A literatura de cordel surgiu no Nordeste. Rapidamente, ganhou adeptos em várias partes do Brasil. Em
geral, o cordel é escrito na forma de poemas que abordam temas variados do cotidiano, da política, da
história do Brasil e do mundo, entre muitos outros. Com uma vasta produção, Lampião é um dos
personagens preferidos dos cordelistas.
Acervo Iconographia
Lampião, por exemplo, era filho de agricultores e criadores de gado. Alfabetizado, tinha habilidade
para a música. Sua família, porém, acabou expulsadas terras que ocupava, acusada injustamente de
roubo. Criou, então, com os irmãos e outros companheiros um grupo para vingar os pais. Pouco
depois, tornou-se cangaceiro. Por quase 20 anos per correu o sertão causando terror, mas também
a admiração de muitos.
Duramente perseguido, Lampião acabou morto em 1938, graças a uma emboscada. Ele e parte de
seu grupo tiveram a cabeça cortada e exposta como exemplo para inibir novos cangaceiros. Seu
lugar foi assumido por Corisco, que logo depois também seria morto. O cangaço então perdeu força
e desapareceu.
VOCÊ SABIA?
Muitos conflitos
Além de Canudos e do Contestado, houve muitos outros acontecimentos que reuniram pessoas
pobres em torno de líderes religiosos. No mapa abaixo, estão alguns deles.
All Maps
3 Reação na cidade
Apesar de apresentarem uma realidade diferente do mundo rural, nas cidades ocorreram vários
movimentos sociais que marcaram as primeiras décadas da república. Colaborou para isso um
processo crescente de urbanização, com o aumento do número de indústrias e de empresas de
serviços. Formava-se, assim, um significativo contingente de grupos sociais marcados pela vida
urbana, como operários, profissionais liberais e funcionários públicos – parte deles formando a
chamada classe média.
Foram esses grupos que patrocinaram alguns dos mais significativos movimentos de oposição ao
poder das oligarquias que controlavam a república. Muitos desses movimentos defendiam antigos
costumes e tradições, ameaçados pelas intensas mudanças ocorridas na sociedade brasileira.
VOCÊ SABIA?
As mulheres lutavam pelo direito de ter uma vida mais pública, ler e discutir livros, pintar e
escrever, frequentar sozinhas restaurantes e cafés. A maioria das mulheres chamadas emancipadas
ou feministas compunha o mundo intelectual, como a zoóloga Bertha Luz.
Hoje, não se pode negar que as mulheres venceram muitas de suas batalhas. Apesar disso, ainda
vivemos em uma sociedade marcada por oportunidades desiguais para homens e mulheres, pela
prática da violência contra a mulher e pela falta de reconhecimento dos trabalhos tradicionais
femininos. Ainda temos muito que caminhar no sentido de uma sociedade que respeite ambos os
sexos.
AllMaps
Fonte: IBGE. Indicadores de desenvolvimento sustentável. Brasil 2015. Disponível em:
<http://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo? view=detalhes&id=294254>. Acesso em: 20 abr. 2016.
Página 244
Revolta da Vacina
No início do século XX, como vimos, várias cidades do Brasil passavam por um processo de reforma,
visando alcançar a chamada modernidade. Tratava-se, entre outras obras, de pôr abaixo cortiços e
implantar redes de saneamento básico. No Rio de Janeiro, em Belém e em São Paulo, por exemplo, a
intenção era tornar os espaços parecidos, sobretudo, com as grandes capitais europeias. Nesse
projeto modernizador, que criava facilidades para o capital se desenvolver, não eram apenas as
ruas e os prédios que deveriam ser alterados, mas também os hábitos da população mais pobre.
E foram justamente esses grupos que mais sofreram com as reformas urbanas. Acabaram, por
exemplo, expulsos de suas moradias para dar espaço a essa nova cidade. Em vários casos, porém, a
situação se transformou em revolta. No Rio de Janeiro, vários cortiços – alguns deles abrigando
milhares de pessoas – foram derrubados, dando lugar a um complexo de avenidas interligando
lugares distantes da cidade. A principal delas era a avenida Central, atual Rio Branco, que saía do
porto em direção ao centro.
Assim, a população mais pobre, formada em grande parte por descendentes de africanos, viu- -se
obrigada a ir morar nas áreas mais afastadas. Muitos deles acabaram indo viver nos morros que
cercavam os bairros centrais, dando origem a algumas das primeiras favelas do Rio de Janeiro.
Para construir ao longo da avenida Central, recém-aberta, era obrigatório apresentar o projeto para
uma comissão especial, que aprovava os edifícios com reconhecido valor arquitetônico.
As reformas buscavam também sanear a cidade, cuja população sofria com sucessivas epidemias de
febre amarela, varíola, peste bubônica – doenças que vitimavam a população e comprometiam a
imagem do país no exterior, dificultando os negócios. As reformas constituíam-se, assim, numa
tentativa de transformar o Rio de Janeiro em uma espécie de cartão-postal para os investidores
estrangeiros interessados em aplicar seu capital.
A pedido do médico sanitarista Oswaldo Cruz, o Congresso aprovou a vacinação obrigatória contra
a varíola em novembro de 1904. Munidos de aparato legal, agentes da saúde invadiam casas
obrigando as pessoas a se vacinar. O ato feria vários costumes da população. Além disso, um serviço
de vacinação já existia desde o império, prestando uma assistência que despertava a desconfiança
popular. A varíola, por fim, estava ligada a rituais de vários povos africanos; era vista como um
caminho para purificar a sociedade, cujo processo não deveria ser interrompido sob pena de
perpetuar os males.
O Rio de Janeiro transformou-se em uma verdadeira praça de guerra, com vários motins,
barricadas, saques, incêndios, ataques contra a polícia e contra os funcionários da saúde. Opositores
do presidente Rodrigues Alves aproveitaram-se da situação para pôr em prática uma tentativa de
golpe de Estado, contida pelas tropas fiéis ao governo. Conhecida como Revolta da Vacina, a
agitação estendeu-se entre os dias 12 e 15 de novembro de 1904. Seus resultados foram 23 mortos,
centenas de presos, vários deles torturados e mandados para o Acre.
Acervo Reminiscências
Bonde tombado no centro do Rio de Janeiro durante a Revolta da Vacina. Foto publicada na Revista da
Semana, 1904.
Página 245
Avenida Central, atual Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro (RJ), 1906.
conexão presente
A lógica da exclusão
Ser cidadão é gozar dos direitos inerentes a todos, sejam eles civis, políticos ou sociais. No Brasil,
porém, assim como em diversos outros países do mundo, ainda é grande a exclusão de parcelas da
população. Essa realidade é percebida, sobretudo, nas cidades, que abrigam a maioria da população.
Um rápido olhar e logo é possível ver milhares de moradores em situação de rua, entre outras
situações de exclusão.
O poder público, em vez de zelar pela dignidade dessa parcela da população, oferecendo recursos,
como saúde, educação e trabalho, para que possam se reerguer e conduzir sua vida, acaba por vezes
acentuando essa situação de exclusão. E isso se dá de inúmeras formas. Uma delas pela arquitetura
da cidade.
Num primeiro momento, pode parecer estranho, mas é incrível a maneira como a arquitetura pode
transmitir a mensagem de exclusão a parcela da população (veja um exemplo na foto da seção).
Muitos prédios, assim, têm perdido suas marquises, para que não sirvam de abrigo às pessoas em
situação de rua. Quando preservadas, são instalados mecanismos que despejam água
periodicamente nas calçadas, inviabilizando as camas improvisadas. Embaixo dos viadutos e
pontes, por sua vez, são construídos muros, rampas ou instalados objetos pontiagudos. Nas
calçadas das ruas comerciais, floreiras, lixeiras e outros adereços tomam os lugares antes ocupados
pelos vendedores ambulantes.
Como podemos perceber, essas atitudes são adotadas tanto pelos governantes como por
particulares. O poder público patrocina iniciativas como a retirada das áreas centrais de
cooperativas de catadores de sucata, albergues, repartições voltadas à assistência social. Dessa
forma, lidera a implantação dessa arquitetura da discriminação aos cidadãos mais desprotegidos de
nossa sociedade. Pior, contraria uma lógica antiga. Ao longo do tempo, a cidade tem se
caracterizado como espaço de todos: dos artistas, dos comerciantes, das crianças, das mulheres, dos
políticos, dos idosos, dos menos favorecidos.
Reduzir a sociabilidade, o uso que as pessoas fazem dos espaços públicos, é eliminar a diversidade
social e criar uma cidade destinada somente aos poucos que podem consumir. Trata-se de uma
lógica perversa, que parece se constituir como uma das mais constantes na história do Brasil.
Douglas Cometti
Estrutura de ferro com dentes pontiagudos para impedir as pessoas de sentarem no degrau do edifício,
localizado em uma área da cidade com muitas pessoas em situação de rua. São Paulo (SP), 2016.
Página 246
Contra a Chibata
Em 1910, seria a vez de os marinheiros liderarem uma revolta. Na corporação, existia um
regulamento disciplinar bastante severo que previa inclusive castigos físicos. Chibatadas, por
exemplo, serviam como punição para as faltas cometidas.
A tradição de revolta na Marinha era antiga, tendo liderado três movimentos durante o império.
Além disso, vários fatos ocorridos no exterior incitavam o clima, como manifestações na Marinha
inglesa (1904-1905) e a revolta de marinheiros russos no encouraçado Potemkin (1905). Os
marinheiros brasileiros mobilizaram-se, então, contra os alojamentos precários, as más condições
de trabalho, os castigos corporais. Com tudo planejado, um fato iria antecipar o movimento: a
punição com 250 chibatadas – número excessivamente alto – dada a um marinheiro do
encouraçado Minas Gerais.
Começava, assim, a chamada Revolta da Chibata, liderada por João Cândido, um marujo negro,
analfabeto e com grande influência no grupo. Ele entrou para a Marinha aos 14 anos de idade, em
um período de recrutamento forçado em razão da falta de voluntários. Como ele, muitos marujos
pertenciam a grupos sociais menos favorecidos, como ex-escravos. Os revoltosos tomaram o
controle do navio, recebendo em poucas horas o apoio de outras embarcações controladas por seus
marinheiros.
Acervo Reminiscências
Em posse desse poderio e com manobras arrojadas, ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro caso o
governo não atendesse suas reivindicações. Sem opção, as autoridades concederam anistia aos
revoltosos e aceitaram as reivindicações feitas, pondo fim ao movimento. Dias depois, porém, os
fuzileiros navais se revoltaram, em uma ação sem nenhuma ligação com a dos marinheiros.
O governo decretou, então, estado de sítio e aproveitou a situação para prender João Cândido e
outros líderes marinheiros, revogando a anistia concedida. Cerca de 600 homens acabaram presos.
Muitos foram mortos; os sobreviventes foram condenados à prisão ou a trabalhos forçados na
Amazônia. João Cândido sobreviveu 18 meses na cadeia, sendo depois encaminhado a um hospital
psiquiátrico. Em 1914 seria anistiado.
Luta operária
Desde 1870, como vimos, começaram a chegar ao Brasil inúmeros imigrantes vindos de várias
partes da Europa. Trabalhando inicialmente nas atividades agrícolas, homens e mulheres
compuseram depois o grosso da força de trabalho empregada nas indústrias e nos serviços
urbanos. Na época, havia muitos problemas, como longas jornadas de trabalho, exploração de
mulheres e crianças, baixos salários. Mas não existia uma legislação ou instância judicial para
mediar as relações trabalhistas e resolver os conflitos entre patrões e empregados.
Com o aumento do número de indústrias, proliferaram as organizações dos trabalha dores. Muitos
operários reuniram-se, então, em associações de ajuda mútua e sindicatos. A liderança política era
exercida, sobretudo, por grupos ligados aos anarquistas. Isso até 1922, quando foi fundado – sob o
impacto da Revolução Russa de 1917 – o Partido Comunista. Organizados, os trabalhadores fabris
lideraram várias manifestações, passeatas e greves em busca de seus direitos.
Entre esses movimentos, o de maior impacto foi a Greve Geral de 1917. Vivia-se, então, sob os
efeitos da carestia provocada pela Primeira Guerra Mundial. O preço dos alimentos subia
vertiginosamente. O feijão chegou a dobrar
Página 247
de valor, enquanto os salários não acompanhavam a inflação. Desde o 1 o de Maio ocorriam intensas
manifestações por melhores condições de trabalho e aumentos sala riais. Em junho, essas
manifestações intensificaram-se. Iniciada em São Paulo, a greve atingiu várias regiões do país, como
o Rio de Janeiro. Na capital paulista, alcançou grandes proporções.
Exigindo aumento de 25% nos salários, os tecelões do Cotonifício Crespi, localizado no bairro
industrial paulista da Mooca, iniciaram uma greve. Foi o estopim para a situação se repetir em
outros estabelecimentos. Fortalecidos, os operários reivindicavam jornada de trabalho de oito
horas; paga mento das horas extras; proibição do trabalho noturno para mulheres e menores de 18
anos; fim do trabalho infantil. A situação tornou-se mais tensa em 10 de julho, quando o operário
Antônio Martinez morreu em um conflito com a polícia.
Estima-se que àquela altura eram mais de 20 mil grevistas. A cidade de São Paulo estava paralisada,
com barricadas em vários bairros. Diante da situação, os patrões e as autoridades do governo
decidiram aceitar diversas reivindicações trabalhistas. No dia 16 de julho, em meio a
comemorações, os operários encerraram a greve. A resposta das elites veio meses depois, com a
prisão e deportação de vários líderes grevistas.
Acervo Reminiscências
VESTÍGIOS DO PASSADO
(...) Fui criada num ambiente de gente muito sensível à injustiça social. Os anarquistas é que faziam
reivindicações operárias, eram imigrantes italianos e espanhóis. Os anarquistas fugiram ou eram presos,
lembro da firmeza de Leuenroth. Lembro o velho Gattai, um dos fundadores da Colônia Cecília. A mãe de
minha Alda era anarquista. Ela conta que uma vez mataram um operário. A mãe dela subiu em uma
cadeira e fez um discurso no Largo do Colégio. Falou pouco porque a polícia debandou o pessoal. Foram
com o operário morto para o Cemitério da Consolação.
Página 248
Onde estão todos eles? Foram esmigalhados pela sociedade de consumo. E a gente se omitindo, faço
parte dessa omissão. Xingar, chorar, não adianta. Os que lutam por um mundo melhor são postos de lado,
não conseguem nada.
Em 1917 teve também barulho por causa das greves dirigidas por anarquistas. Houve um encontro sério
na Praça Antônio Prado, com tiroteio. Eu estava na casa de uma prima porque o marido dela era
delegado de polícia e estava na praça enfrentando os grevistas. A casa dela era na rua Caio Prado, que
fazia fundo para a buraqueira que era a Avenida 9 de Julho. Ouvíamos de lá o tiroteio. Não posso
esquecer minha emoção, com pena dela, mas torcendo pros operários que estavam na luta. Num choque
com a polícia, eu vi espaldeirarem um desgraçado, com a bainha da espada. Meterem nele o chanfalho.
Ficou ensanguentado no chão. Era um protesto contra a sociedade. Os operários gráficos eram
conscientes, tinham um jornal chamado Plebe na rua Rangel Pestana, hoje Avenida Tiradentes.
BOSI, Ecléa. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 291-292.
Quando os portugueses colonizaram a América, introduziram esse tipo de produção literária, que
logo se difundiu. Com o tempo, o cordel se tornou conhecido em várias regiões e desenvolveu
características próprias.
Conhecido também como folheto ou romance, os cordéis brasileiros de hoje, diferentemente dos
portugueses, são, por regra, escritos em verso e nem sempre vendidos expostos em cordões. Em
geral, a capa é ilustrada com xilogravuras, e os temas são bastante variados, indo desde as histórias
fantásticas até notícias de jornais. Bastante comuns, porém, são as histórias de cordel que têm como
protagonistas figuras históricas com passagem marcante pelo Nordeste.
É esse o caso de Lampião, que aparece como principal personagem no cordel Lampião na ONU
defendendo o Terceiro Mundo, do baiano Franklin Maxado e do amigo Raimundo. Com muito humor,
o autor imagina o encontro do cangaceiro brasileiro, morto em 1938, com autoridades políticas
internacionais da década de 1980, como Margaret Thatcher, ex-primeira-ministra britânica, e
Ronald Reagan, ex-presidente dos Estados Unidos. Para tornar o inusitado encontro possível, o
espírito de Lampião “baixa” em um participante anônimo de um encontro das Nações Unidas. No
cordel, é a face subversiva do cangaceiro que é mostrada: defensor dos fracos e oprimidos contra a
opressão dos países ricos. De maneira debochada, Lampião desafia os chefes de Estado das nações
desenvolvidas, sem poupá-los de ofensas e denúncias por agirem na esfera pública movidos por
interesses escusos.
Kino/Fotoarquivo
Para refletir...
1. Faça uma pesquisa sobre a vida de Lampião em livros, revistas e sites da internet. Procure
consultar pelo menos três fontes diferentes e preste atenção em como ele é caracterizado em cada
uma delas. A seguir, responda:
b) Que aspectos da biografia de Lampião podem ter contribuído para torná-lo uma espécie de herói
do Nordeste?
c) Em sua opinião, cabe aos historiadores julgar as personagens históricas que estudam? Por quê?
2. Leia com atenção os trechos do cordel a seguir. Levante uma hipótese sobre a razão que pode
ter levado o autor a eleger Lampião como defensor do Terceiro Mundo numa assembleia das
Nações Unidas.
3. Crie uma nova versão para esse cordel, substituindo as autoridades políticas dos anos 1980 por
personagens atuais. Reflita sobre que líderes você considera mais representativos de nosso tempo e
que desafios receberiam de Lampião.
(...)
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
5 Releia o texto “Conexão presente – A lógica da exclusão” (p. 245). Que semelhanças há entre a
arquitetura da exclusão atual e as reformas urbanas no Rio de Janeiro do início do século XX?
6 Explique os motivos que levaram à eclosão da Revolta da Chibata e a postura do governo diante
dos revoltosos.
7 Com base na greve de 1917, elabore um perfil do movimento operário no início da república.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
O que fizeram os negros após a abolição? Ao menos na historiografia, foram varridos de cena.
Somente agora começam a aparecer alguns estudos sobre o tema. No artigo a seguir, percebemos
que um dos acontecimentos que marcaram essa população foi o intenso deslocamento
populacional, com o abandono do lugar de origem. Era o começo de um fenômeno que marcou todo
o século XX: a migração.
A observação dos dados censitários revela um movimento intenso de migrações internas ao longo
dos anos 1872 a 1900, indicando que, de uma mobilidade tradicional, se passou a deslocamentos
mais amplos, numérica e geograficamente. Localizam-se na região Nordeste as maiores perdas
populacionais: evidência do comércio interno de escravos que despovoou a economia do açúcar e
do álcool e alimentou em parte a do café; flagelados das grandes secas dos finais das décadas de
1870 e 1880 que, para “não perecer à míngua”, se dirigiam para a Amazônia, para a florescente
indústria da borracha e depois para o Centro-Sul. Nas demais regiões, a movimentação das
populações nacionais também esteve presente, embora nem sempre captada pelos censos oficiais:
desmobilizados pela Guerra do Paraguai e, logo após, ex-combatentes, sobreviventes e moradores
dos cenários das guerras de Canudos e do Contestado, da Revolução Federalista no Sul, que
vagavam pelo país muitas vezes sem condições de se fixar. E, é claro, a própria Abolição, cujo
benefício mais imediato foi o usufruto da liberdade de movimento, que era vedada aos escravos. O
crescimento dos grandes centros urbanos e a ampliação da rede ferroviária serviram para
incrementar ainda mais esse processo, uma vez que ofereciam facilidades de deslocamentos e polos
de atração.
cia que se entrelaçava ao mandonismo local e aos recrutamentos forçados, que permitiam que fosse
contornada a posse desigual das terras, dos latifúndios, fugir das intempéries que inviabilizavam o
sobreviver. Eixo sobre o qual se estruturava o modo de vida de largos contingentes, a mobilidade
transparecia na posse exígua de bens, na concepção de roças, na própria maneira de construir as
casas: “Quem anda em terra alheia, pisa no chão devagar”, dizia-se entre as populações pobres do
Recife dos inícios do século XX. (...)
WISSENBACH, Maria Cristina C. Da escravidão à liberdade: dimensões de uma privacidade possível. In: SEVCENKO, Nicolau (Org.). História da
vida privada no Brasil (v. 3). São Paulo: Companhia das Letras, 1998. p. 58-59.
A organização dos operários por melhores condições de vida não se traduzia apenas em greves ou
passeatas. Existia também uma intensa produção cultural, marcada pela edição de jornais,
encenação de peças de teatro, realização de festas, bailes e campeonatos de futebol.
1. Façam uma pesquisa para conhecer a produção cultural realizada pelos operários.
Nas primeiras décadas da república, muitos daqueles que defendiam o projeto de modernização do
país acabavam por desqualificar a cultura dos grupos mais pobres da população. O resultado dessa
prática foi o aumento do preconceito contra todo um universo cultural extremamente rico, que
incluía desde danças, contos, práticas religiosas a hábitos cotidianos. Isso acentuou ainda mais a
exclusão social desses grupos.
Em grupo
1. Com base na realidade atual, elaborem um plano de inclusão social que tenha por pressuposto
valorizar a chamada cultura popular.
2. Apresentem o plano para o restante da classe, mostrando o público-alvo e a estratégia que será
utilizada.
3. Após as apresentações, elaborem uma estratégia única para toda a turma, agregando o que
houver de melhor em todas as propostas.
Página 252
CAPÍTULO 19
Europa: a formaçao da
classe operaria
Vamos lá!
Ao observarmos um calendário, notamos que, entre tantos feriados, um remete a um fato ligado à
luta dos trabalhadores: o Primeiro de Maio. Nesse dia, em várias partes do mundo, acontecem
passeatas, manifestações, atos por melhores condições de vida, o que inclui no mínimo um salário
digno.
Mais do que uma data, o Primeiro de Maio nos lembra que os trabalhadores desempenham papel
central na sociedade, influenciando a política, a economia, as ações do governo.
Fabio Braga/Folhapress
Público durante festa organizada pela Força Sindical, na Praça Campo de Bagatelle, na zona norte da
cidade de São Paulo, 2012.
ELABORANDO HIPÓTESES
c) o papel que eles ocupam na sociedade reflete essa importância? Por quê?
1 Inversão de valores
A história é conhecida de todos os judeus e cristãos. Quando Adão e Eva foram expulsos do paraíso,
cada um saiu com um castigo: a mulher passou a sofrer com as dores do parto, e o homem a ter de
trabalhar para garantir a sobrevivência.
Mas não é apenas a cultura judaico-cristã que concebe o trabalho como algo negativo. Entre os
gregos e romanos, por exemplo, uma das condições essenciais para o exercício da cidadania era não
ter de se preocupar com os meios de sobrevivência. Nessas sociedades, nem sequer existia uma
palavra específica para designar trabalho.
Nos dias de hoje, porém, para muitas pessoas o trabalho adquiriu significado completamente
diferente. Trata-se mesmo de uma das mais fortes identidades sociais. Ao se apresentar, por
exemplo, muitas pessoas mencionam sua profissão. Segundo ditados populares, o trabalho
enobrece, enriquece, traz fortuna, dignidade. A pior das condições é encontrar-se desempregado –
parece desonra!
Paul Lafargue, estudioso do século XIX, alertou, porém, para o fato de que essa era a lógica da
burguesia, um pequeno grupo social detentor de capitais, indústrias e do grande comércio. E que o
trabalho do operário, do lavrador, do carregador de pianos, servia apenas para enriquecer os
burgueses. Lafargue perguntava-se como uma ideologia (a de valorização do trabalho) de um grupo
social específico (a burguesia) se transformara em ideal de toda uma sociedade, principalmente
daqueles que ganhavam tão pouco com seu esforço.
Muitos outros pensadores de seu tempo se preocuparam com temas semelhantes. O conjunto
dessas obras deu origem às diversas teorias comunistas, que marcaram o mundo nos séculos XIX e
XX. Mais do que isso, elas transformaram os trabalhadores em um grupo social específico, com uma
compreensão própria da realidade e donos de um projeto único de construção de uma nova
sociedade. Nascia, assim, a classe operária.
AFP Photo
Tentando compreender como o trabalho se tornara o ideal de toda uma sociedade, Paul Lafargue escreveu
o livro O direito à preguiça, em que defendia o direito ao ócio, em vez do tão proclamado direito ao
trabalho. Na foto, jovens dançando na praia, em Nova York, 1919.
2 A força da tradição
A Revolução Industrial resultou de um longo processo. Sua consolidação provocou profundas
transformações no mundo do trabalho. Na Inglaterra, por exemplo, onde teve início a revolução,
essas transformações começaram ainda no século XVII. Nessa época, intensificava-se a política de
cercamentos, mudando a forma de distribuição e o uso das terras. Isso favoreceu a concentração
fundiária nas mãos dos senhores e provocou a expulsão dos camponeses de seu lugar de origem.
Até então, os camponeses dependiam em grande parte dos senhores, a quem estavam ligados por
uma série de tradições e vínculos legais. Como um grande pai, cada senhor era responsável por
garantir minimamente a sobrevivência dos trabalhadores, cuidar da ordem, resolver os problemas.
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Com a expulsão das terras, os camponeses viram-se desprovidos dessa rede de assistência e
proteção, ao mesmo tempo que vários de seus direitos foram suprimidos. Ao longo dos séculos XVII
e XVIII, assim, ocorreram motins e revoltas populares para a manutenção dessas tradições e
direitos.
Toda essa prática de resistência e defesa das tradições se transferiu para as cidades, à medida que
os trabalhadores migravam do campo. Nos centros urbanos, eles acabavam se transformando em
artesãos, trabalhadores qualificados, donos de pequenos negócios. Muitos, porém, viviam apenas
das próprias mãos e força física. Ao longo do século XIX, com o advento da indústria, grande parte
desses trabalha dores acabou reduzida à condição de operário no interior das fábricas. Antes donos
de um saber, agora eram incorporados como força de trabalho para mover as modernas máquinas
da produção.
Nas fábricas, como vimos, era grande o número de mulheres e crianças. Contratadas por salários
mais baixos que os dos homens, realizavam serviços que exigiam menor esforço físico. As condições
de moradia e saúde nos bairros operários também eram precárias. A habitação típica era o cortiço,
no qual o lugar de moradia resumia-se a um cômodo ou mesmo uma cama. As ruas e os espaços
públicos, por isso, tornavam-se vitais para as pessoas pobres. Neles, se divertiam, garantiam a
sobrevivência, mantinham grande parte de suas relações sociais.
Para esses trabalhadores, segundo o historiador Eric Hobsbawm, existiam três caminhos possíveis:
sonhar em um dia tornar-se rico burguês; aceitar passivamente as duras condições de vida; rebelar-
se. As duas últimas opções foram as mais registradas. Até cerca de 1830, a maioria dos
trabalhadores não era formada por operários. Existiam ainda muitos artesãos, donos de pequenos
negócios, trabalhadores qualificados. Coube a eles, por reunir melhores condições de vida e mais
acesso à informação, a liderança do movimento dos trabalhadores.
Dando a resposta
A antiga tradição de luta dos trabalhadores traduziu-se em movimentos que se multiplicaram após
a Revolução Francesa. Eram greves, associações secretas para conquistar direitos políticos, motins.
Algumas ações mostravam-se bastante violentas.
Um exemplo foi o luddismo, que se difundiu no setor têxtil inglês, por volta de 1810. Segundo os
trabalhadores, o movimento originou-se da ação de um operário, Ned Ludd, que, descontente com o
patrão, quebrou as máquinas da oficina. Esse fato provavelmente nunca ocorreu. O certo é que o
personagem se tornou mítico, orientando a ação de vários grupos organizados. Em cartas assinadas
pelo General Ludd, os patrões eram ameaçados quando mantinham o uso intenso de máquinas ou
em virtude da exploração dos trabalhadores. Caso as exigências dos trabalhadores não fossem
atendidas, à noite grupos de manifestantes invadiam as propriedades e quebravam as máquinas
com martelos e foices. O movimento, rigorosamente planejado e protegido por uma rede de
solidariedade, foi duramente reprimido pelas autoridades, inclusive com a pena de morte.
Além dessas práticas, destacaram-se as trade unions, que reuniam trabalhadores do mesmo ramo,
assim como profissionais de ofícios diferentes. Ganharam importância na Inglaterra do século XIX,
sendo fundamentais na defesa dos interesses operários. Podem ser consideradas as precursoras
dos sindicatos e de suas posteriores federações.
The Bridgeman/Keystone
O ideal comunista não era novo. Já aparecia na Antiguidade, em obras como a de Platão, que
propunha o fim da propriedade para fortalecer o Estado. No século XVI, seria a vez de Thomas
Morus propor, no livro Utopia, uma sociedade igualitária, sem uso do dinheiro e da propriedade
privada. Esses mesmos princípios estariam presentes em várias obras do Iluminismo, sobretudo
nas de Jean-Jacques Rousseau, que via na propriedade privada a origem dos males sociais.
Mas foi no início do século XIX que essas teorias ganharam força. A princípio, os pensadores
apostavam em uma transição pacífica para a sociedade idealizada. As principais armas seriam a
persuasão e a cooperação. Ficaram, por isso, conhecidos como utópicos. Em 1848, porém, com o
lançamento do Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, as teorias socialistas
ganharam outros rumos. Com uma análise objetiva da sociedade, eles propunham a organização
dos trabalhadores para liderar um processo revolucionário, que culminaria com a construção de
uma sociedade sem classes nem propriedade privada. Nela, cada qual participaria com sua
capacidade e receberia conforme sua necessidade.
Os precursores
Vários dos pensadores comunistas foram influenciados pelos pressupostos iluministas, como as
ideias de liberdade, igualdade e supremacia da razão. Entre eles encontram-se as obras de utópicos
como os franceses Claude de Saint-Simon e Charles Fourier e o inglês Robert Owen.
Saint-Simon recebeu forte influência do enciclopedista Jean d’Alembert. De origem nobre, lutou ao
lado dos revolucionários franceses em 1789. Em Cartas de um habitante de Genebra, propôs a
criação de uma sociedade na qual todos deveriam trabalhar, ao contrário do que ocorria no Antigo
Regime. Segundo ele, a sociedade ideal dividia-se em três grupos: os sábios e artistas, os
proprietários e os que não tinham posses. Esses últimos estariam sob a tutela dos sábios e dos
artistas.
The Bridgeman/Keystone
Interior de uma instituição baseada nos ideais de Robert Owen, com incentivo ao cooperativismo.
Instituição do Sr.Owen, New Lanark, gravura de George Hunt, 1825.
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Charles Fourier, por sua vez, revelava em seus escritos a influência de Jean-Jacques Rousseau.
Defendia a criação de falanstérios, espécie de comunidades coletivizadas em que a agricultura e a
indústria estavam associadas. Fourier acreditava que nessas sociedades a desarmonia do
capitalismo seria superada. Procurou pôr em prática seu projeto, sem, no entanto, obter sucesso.
Proprietário de uma indústria têxtil em Manchester, Inglaterra, Robert Owen acreditava que, da
maneira como estava organizada, a sociedade industrial era desumana com os trabalhadores.
Propôs a criação de uma espécie de aldeias de cooperação, para que todos vivessem em condições
mais dignas. Seus projetos, entretanto, acabaram fracassando. Mas as ideias de cooperativismo de
Owen tiveram grande influência na Inglaterra. Com base nelas foram criadas associações e
cooperativas de artesãos, tecelões, carpinteiros, sapateiros, entre outras.
Para Marx e Engels, a sociedade industrial trazia em seu próprio desenvolvimento o germe da
destruição: a luta de classes. Essa sociedade havia se formado como resultado da ação
revolucionária da burguesia. Mas, para continuar a se desenvolver, essa burguesia necessitava
aumentar a exploração sobre os trabalhadores. Isso provocaria a crescente acumulação de riquezas
por parte dos burgueses, enquanto todos os demais grupos sociais – vítimas da exploração – seriam
transformados em proletários. Afinal, a existência da propriedade privada, base do sistema
capitalista, impossibilitava a redistribuição de renda, favorecendo a miséria.
A revolta e a tomada de poder por parte dos trabalhadores seriam, assim, inevitáveis. Ao contrário
de outros momentos da história, porém, essa seria uma revolução definitiva, já que comandada pela
maioria da população. Herdeiros da longa tradição comunista, Marx e Engels afirmavam que a
propriedade privada deveria ser abo lida na nova sociedade. A princípio, para comandar as
mudanças, seria implantada a ditadura do proletariado. O Estado, em poder dos trabalhadores,
assumiria, então, o controle de todos os meios de produção (terra, capital, máquinas).
Coleção particular
Manifestação em Chicago, Estados Unidos, em desenho feito por Thure de Thulstrup a partir de pintura de
H.Jeanneret, 1886. Ao longo do século XIX, com a sociedade industrial, se consolidaria o que Marx e Engels
chamava de proletariado, um novo sujeito político formado, em grande parte, pela massa de trabalhadores
assalariados urbanos.
pare e pense
Único caminho?
Segundo Marx e Engels, a conquista de uma sociedade comunista só poderia vir por meio de uma
revolução. Para eles, de outra forma os burgueses nunca abririam mão de sua condição social.
VESTÍGIOS DO PASSADO
O Manifesto Comunista
Para Marx e Engels, a sociedade industrial, ou capitalista, acabaria reduzida a duas classes sociais: a
burguesia e o proletariado. Então, aconteceria o embate final entre elas, com a vitória da maioria.
Mas, para ser verdadeiramente revolucionário, o proletariado deveria combater os valores da
sociedade burguesa, sobretudo a propriedade privada. Leia o texto a seguir, retirado do Manifesto
Comunista.
De todas as classes que ora enfrentam a burguesia, só o proletariado é uma classe verdadeiramente
revolucionária. As outras classes degeneram e perecem com o desenvolvimento da grande
indústria; o proletariado, pelo contrário, é o seu produto mais autêntico.
[...]
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Ched, 1980. p. 23-24.
Bibliotheque des Arts Decoratifs, Paris
O embate propalado por Marx e Engels no Manifesto Comunista podia ser vislumbrado em qualquer
grande cidade da Europa, em que a população empobrecida aumentava rapidamente. Dudley Street, obra
de Gustave Doré, 1872.
Página 258
O termo anarquia vem do grego e significa sem governo. Tem sido utilizado para designar toda
proposta voltada à construção de uma sociedade livre de qualquer tipo de poder autoritário, na
qual os indivíduos devem se firmar pela própria ação, sem limites impostos por um poder superior,
ideológico, político, econômico ou mesmo jurídico.
Com base nesses princípios, os anarquistas manifestaram-se contra todas as formas de instituição
de governo. Posicionaram-se muitas vezes também contra o sufrágio universal, alegando que
legitimava o Estado burguês. Quanto ao marxismo, divergiam, entre outros pontos, sobre a
necessidade de um governo transitório (a ditadura do proletariado) para o comunismo.
Acreditavam que nenhum governo, partido, agremiação ou instituição, colocando-se como guia ou
orientador dos indivíduos e da sociedade, conseguiria libertar os trabalhadores da opressão.
Stefano Bianchetti/Corbis
VESTÍGIOS DO PASSADO
Contra o Estado
No século XIX, entre os teóricos anarquistas, destacaram-se Pierre-Joseph Proudhon, Mikhail
Bakunin e Piotr Kropotkin. No texto a seguir, Kropotkin expressa sua ideia sobre a propriedade
privada e o Estado.
Quanto às suas concepções econômicas, os anarquistas [...] defendem que o sistema atualmente
reinante de propriedade privada da terra [...] representa um monopólio que entra em choque tanto
com os princípios da justiça como com os ditames da utilidade. Eles constituem o principal
obstáculo a impedir que os bons resultados das técnicas modernas sejam postos a serviço de todos,
de modo a produzir o bem-estar geral. [...]. Mas assinalam também que o Estado foi, e continua
sendo, o principal instrumento para permitir que poucos monopolizem a terra [...]. Em
consequência, ao mesmo tempo em que combatem a atual monopolização da terra, os anarquistas
combatem com a mesma energia o Estado, principal esteio desse sistema. Não esta ou aquela forma
especial, mas todo e qualquer Estado, seja ele uma monarquia ou mesmo uma república governada
por meio do referendo.
KROPOTKIN, Piotr. Anarquismo. In: FADIMAN, Clifton (Ed.). O tesouro da Enciclopédia Britânica. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. p. 159-
161.
Página 259
Ao longo do século XIX, todo esse processo de transformações se consolidou à medida que os
trabalhadores aumentaram o número de suas organizações, elaboraram estratégias de luta e,
sobretudo, estabeleceram objetivos específicos. Na Inglaterra, passo decisivo nesse caminho foi o
cartismo. Surgido em torno da Carta dos Povos, o manifesto de 1838 continha inúmeras
reivindicações dos trabalhadores, como a ampliação dos direitos trabalhistas, a diminuição da
jornada de trabalho e a reforma das estruturas políticas, como a instituição do sufrágio universal
masculino.
Com mais de 1 milhão de assinaturas, a Carta foi transformada em petição ao Parlamento. Para
pressionar sua aprovação, realizaram-se inúmeras manifestações. Alguns grupos, inclusive, de
fendiam o uso da força para impor as mudanças.
Em 1840, ela foi recusada, e o governo reprimiu com violência os opositores. Os conflitos deixavam
no ar a expectativa de uma revolução social. Até 1848, com maior ou menor intensidade, o
movimento cartista se manteve, pressionando por mudanças. Nesse ano, com toda a Europa
convulsionada e no ápice da mobilização, uma violenta repressão do governo pôs fim ao
movimento.
Após 1848, houve grande refluxo da mobilização do proletariado. Essa estagnação só seria rompida
a partir da década de 1860. Nessa época, foi fundada em Londres a Associação Internacional dos
Trabalhadores. Dominada pelos marxistas, seria conhecida mais tarde como Primeira Internacional
Operária. Nela destacaram-se as divergências entre marxistas e anarquistas, que se tornaram ainda
mais evidentes durante a Comuna de Paris (ver boxe na próxima página).
Nas décadas finais do século XIX, uma das principais lutas dos trabalhadores era pela jornada de 8 horas de
trabalho. Cartaz britânico em defesa dessa reivindicação.
Página 260
VESTÍGIOS DO PASSADO
A Internacional
O operário francês Eugéne Pottier participou da Comuna de Paris. Dono de um caderno de poesias,
sua obra chegou às mãos de outro trabalhador, o belga Pierre Degeyter. Coube a ele dar música ao
seu poema A Internacional Socialista. Anos depois, ela se tornou símbolo da luta comunista em todo
o mundo. Leia alguns trechos de sua letra.
VOCÊ SABIA?
Mesmo assim, a população parisiense resolveu manter o domínio sobre a cidade. Sob a liderança de
vários prefeitos de distritos e com o apoio da Guarda Nacional, foi constituído, então, um governo: a
Comuna de Paris. Com bases comunistas, era a revolução proletária que tomava corpo.
Erich Lessing/Álbum Museu Carnavalet, Paris, França
Refugiados em Versalhes, integrantes do governo francês montaram um exército para acabar com a
revolução. Com o apoio dos prussianos, a revolta foi esmagada em maio de 1871. Ao fim do
movimento, estimava-se que cerca de 35 mil revolucionários haviam morrido. Após o conflito,
aproximadamente 40 mil foram aprisionados, e 10 mil, exilados.
Embora o governo da Comuna não tenha conseguido se manter no poder e a revolução não tenha
aba lado as estruturas sociais e econômicas burguesas, ela reforçou a possibilidade de uma
revolução operária. Suas experiências seriam consideradas importantes na implantação do regime
comunista na Rússia, após a Revolução de 1917.
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
3 Analise a formação da classe operária, com base na comparação entre luddismo e cartismo.
4 Compare semelhanças e diferenças nas ideias dos socialistas utópicos, dos marxistas e dos
anarquistas.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
A tradição operária
“Eis a cabeça de um traidor!” Em fevereiro de 1803, o carrasco levantou para a multidão londrina a
cabeça de Edwar Marcus Despard. Ele e seus seis companheiros executados tinham sido declarados
culpados de alta traição (inclusive de planejarem a morte do Rei), e todos morreram com bravura.
Despard sustentou que estava inocente da acusação, mas morreria por ser “um amigo dos pobres e
oprimidos”. A multidão exprimia fúria e compaixão. A imprensa londrina receava que, se as vítimas
tivessem sido levadas pelas ruas e executadas em Tyburn ou Kennington Common [...], poderiam
ocorrer motins e tentativas de resgate dos condenados. Entre os que presenciaram a execução,
estava um
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jovem aprendiz chamado Jeremiah Brandreth. Catorze anos depois, sua própria cabeça é que seria
erguida perante a multidão em frente ao Castelo de Derby: “Eis a cabeça de um traidor!”
Entre Despard e Brandreth estende-se a tradição clandestina. É uma tradição que nunca sairá de
sua obscuridade. [...]
Em 1800 e 1801, estourou em toda a Inglaterra uma irrupção de motins. A maioria, motins por
alimentos, provocados pela escassez e alta dos preços durante o bloqueio continental de Napoleão.
Mas também existem indicações de certa organização incipiente. Vários motins e “greves” de
consumidores foram anunciados antecipadamente por meio de panfletos, numa escala que
demonstra uma organização de comitês com acesso a meios gráficos.
THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987. v. 3, p. 33-34.
3. Qual é a importância de conhecer as formas de organização popular para além dos sindicatos?
Arte engajada
Nos dois últimos séculos, muitos intelectuais, literatos, artistas e pesquisadores dedicaram sua
produção cultural aos projetos e anseios dos trabalhadores, tendo-os como personagens principais.
É o caso, por exemplo, do alemão Bertolt Brecht e do inglês George Orwell.
Os jornais operários têm sido um dos principais instrumentos para mobilizar os trabalhadores e
divulgar seus ideais. Vamos, então, organizar um jornal sobre a situação do sindicalismo hoje no
Brasil.
Em grupo
1. Façam uma pesquisa para saber quais são e como atuam as principais associações de
trabalhadores existentes no Brasil hoje.
2. Procurem saber quais são as principais reivindicações dos trabalhadores. Para isso, é
importante consultar fontes dos próprios trabalhadores, como jornais de sindicatos, sites de
partidos operários etc.
3. Com esse material, organizem um jornal para ser lido por toda a classe.
Iconographia
CAPÍTULO 20
Os povos também intensificaram seus contatos, e uma enorme população pôde se deslocar de um
lugar para o outro, mesmo em diferentes continentes, em grandes fluxos migratórios.
Essa é apenas uma das consequências da sociedade industrial. Nem todas, porém, são tão belas e
positivas assim.
ELABORANDO HIPÓTESES
1 Defina:
a) sociedade industrial;
b) imperialismo.
2 Pensando no século XIX e no início do século XX, elabore um quadro sobre os aspectos que você
considera positivos e os que considera negativos na sociedade industrial.
1 Dominando o mundo
Até 1800, diferentes aventureiros das grandes potências ocidentais estabeleceram contato com
vários povos na América, na África e na Ásia. Em muitos lugares, sobre tudo no chamado Novo
Mundo, o contato resultou em do mínio territorial. Já na África e na Ásia, as relações se
estabeleceram principalmente por intermédio de feitorias, entrepostos comerciais localizados em
geral na área litorânea. O controle das terras ficou reduzido quase sempre a esses espaços.
As relações geralmente eram estabelecidas conforme as regras dos povos locais, que chegavam a
receber tributos dos europeus para liberar o comércio. Isso não significou, porém, uma relação de
domínio mais branda. Ao contrário, quando os interesses dos conquistadores não eram satisfeitos,
não raro se promovia a guerra. O tráfico negreiro deixou marcas profundas no continente africano.
No século XIX, porém, essa relação mudaria substancialmente. Em 1800, as potências ocidentais
controlavam 35% das terras mundiais; 80 anos depois, eram 67%; e, em 1914, 85%. Jamais
ocorrera algo semelhante. A posse do território – com todas as suas riquezas e povos – tornara-se o
grande objeto do desejo daquelas potências. Nações como Inglaterra e França dedicavam-se
exaustivamente a estabelecer conquistas territoriais.
Os governos desses países, assim, conquistavam vastos mercados consumidores, exauriam fontes
de matérias-primas e controlavam imensa força de trabalho. Nessa empreitada, utilizavam mais
que soldados e armas: ideias, imagens, teorias, ideologias assumiam importância central,
convencendo o mundo da supremacia dos europeus diante dos demais povos do mundo.
Pela primeira vez na história, o Ocidente impunha-se ao Oriente, enviando mais mercadorias do que
recebendo. O resultado desse processo consolidou-se no mundo integrado de hoje. Sob o poder dos
grandes impérios, até mesmo os mais diferentes e afastados lugares acabaram uni dos em torno de
um projeto único, graças aos cada vez mais eficientes meios de comunicação e transporte, às
planejadas redes comerciais, aos poderosos sistemas de in formação.
Ao mesmo tempo, surgia a maior miséria de toda a história da humanidade. Nunca, segundo o histo
riador Eric Hobsbawm, o mundo foi tão desigual na distribuição de suas riquezas. O ápice da Era
dos Impérios, como ele denomina esse período, ocorreu nas décadas finais do século XIX e iniciais
do século XX. Mas até hoje sentimos as consequências dessa expansão do capitalismo pelo mundo,
que acirrou conflitos, remodelou sociedades e redesenhou o mapa do planeta.
The Bridgeman/Keystone
Desenho de Le petit journal que mostra a miséria na Índia, sob o olhar dos colonizadores ingleses, 1897.
Colonialismo × imperialismo
Entre o colonialismo do século XV e o imperialismo do século XIX existiram não só diferenças, mas
também semelhanças. Em ambos, o domínio foi imposto por meio das armas e da ideologia.
Enquanto no primeiro momento o cristianismo foi importante para justificar o projeto colonial, no
século XIX afirmava-se a necessidade de levar a civilização e o progresso da técnica e da ciência
para os demais povos do mundo, sob a alegação de que muitos deles viviam em estado de barbárie.
Esses argumentos estavam na raiz das teorias raciais existentes até os dias de hoje.
por qualquer tipo de riqueza, como produtos agrícolas e metais preciosos, mas buscava-se,
sobretudo, petróleo, ferro e carvão. Pretendia-se, ainda, estabelecer o controle de vastos mercados
consumidores de produtos industriais, além de serviços como transportes e bancos (em grande
parte implantados por meio de investimentos feitos com os capitais excedentes).
A princípio, os governos das nações imperialistas julgavam possível conquistar esses objetivos sem
estabelecer o domínio territorial. Sua estratégia era continuar monitorando a distância as
dinâmicas sociais dos demais povos. Não contavam, porém, com a intensa rivalidade entre as
próprias nações imperialistas, o que obrigou ao domínio territorial para preservar a hegemonia
local. Foi assim que vastas áreas da África e da Ásia foram ocupadas e repartidas entre as grandes
potências mundiais.
Os grandes impérios
Ao fim do século XIX, a Inglaterra constituía o maior exemplo de nação imperialista. Em 1815, com a
vitória nas guerras napoleônicas, tornou-se a principal potência europeia. A partir de então,
ampliou seus domínios, sobretudo no período conhecido como Era Vitoriana, no qual governou a
rainha Vitória (1837-1901). Os ingleses procuravam “mascarar” a política de dominação como uma
ação humanitária, voltada a melhorar as condições de vida das populações das demais partes do
planeta.
Os franceses, principais rivais dos ingleses, não ficaram muito atrás. A França era a segunda maior
potência europeia. Suas conquistas na África iam do oceano Atlântico ao Índico, e o país dominava
também territórios na Ásia, como os atuais Vietnã e Camboja.
Sem tradição em conquistas marítimas, a Bélgica, sob o comando de Leopoldo II, dominou a parte
central da África. A Alemanha, recém-unificada, também ampliou seu território com conquistas em
regiões da África e em ilhas do Pacífico.
Os Estados Unidos destacaram-se, sobretudo a partir de seu crescimento econômico nas décadas
finais do século XIX, quando estenderam sua hegemonia para a América Latina e o Caribe. As nações
que haviam participado da expansão marítima do século XVI, como Portugal e Espanha, também
mantiveram áreas coloniais na África e na Ásia. O quadro foi completado pelo Japão, com uma
política expansionista em seu continente.
Christie’s Images/Corbis
2 O progresso dá o tom
Entre 1848 e 1870, as sociedades europeias passaram por um período de crescimento econômico,
resultado em grande parte do aumento da produção industrial em países como Inglaterra, Bélgica,
França, Holanda, Alemanha e Itália (esses dois últimos em processo de unificação). Esse
crescimento chegou, posteriormente, aos Estados Unidos e ao Japão. O volume de riquezas
produzido daria a muitos europeus a sensação de estar inaugurando um momento de progresso
contínuo, que culminaria com a plena felicidade dos seres humanos.
Colaborava para esse quadro o que os historiadores denominaram Segunda Revolução Industrial,
um conjunto de transformações marcado por novos inventos e mudanças na forma de produção,
circulação e consumo de mercadorias. Na área do conhecimento, várias pesquisas resultaram em
uma outra forma de ver e interpretar o mundo. A razão, o método, a elaboração das leis da
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natureza – diretrizes que marcaram o saber desde o Renascimento – começaram a ceder lugar para
campos de investigação como a psicologia e a física quântica.
No século XIX, diversos inventos revolucionariam a comunicação humana. Aparelho de telégrafo, Paris,
1915.
A linha de montagem
As mudanças ocorridas no mundo do trabalho também foram significativas. Iniciava-se uma
racionalização crescente da área produtiva, sempre em busca de maiores lucros e produtividade.
Impunha-se, aos poucos, a especialização do trabalho. No interior das indústrias, o operário deixava
de dominar as inúmeras etapas de fabricação de um produto. Em espaços cada vez mais
mecanizados, ele cumpria apenas uma tarefa específica, executada de forma integrada com os
colegas. A disciplina tornava-se mais rígida, com horários fixos de entrada e saída, de almoço e de
descanso. As máquinas não podiam parar.
Essa dinâmica determinava até mesmo as atividades realizadas fora das indústrias, como acordar,
dormir, divertir-se. O relógio ganhava importância crescente, integrando a vida de milhões de
pessoas nos locais de trabalho, nas ruas das cidades e mesmo no campo.
VOCÊ SABIA?
As exposições universais
Em 1851, realizou-se uma grande exposição universal na cidade de Londres, com diversas atrações
tecnológicas, símbolos de progresso e de prosperidade. Pretendia-se fazer desse evento o melhor
retrato da época. Nas décadas seguintes, as exposições se repetiram em diversos lugares da Europa
e nos Estados Unidos.
A mais famosa aconteceu em Paris, em 1889, para comemorar o centenário da Revolução Francesa.
A cidade, afinal, era símbolo da república, da democracia e, sobretudo, da chamada civilização. A
simbologia era tamanha que vários países com regime monárquico se recusaram a participar. A
exposição recebeu cerca de 32 milhões de visitantes, número surpreendente até para os dias de
hoje. Eles puderam ver peculiaridades de 54 países, incluindo o Brasil. Para o pavilhão francês, foi
construída especialmente a Torre Eiffel, um dos maiores símbolos da cidade.
Collection Mansell
O símbolo maior dessa especialização do trabalho foi a introdução das linhas de montagem na
fábrica de automóveis de Henry Ford, em Detroit. Os operários eram dispostos em ordem, ao longo
de um percurso; cada qual executava sua tarefa e, ao fim da linha, a mercadoria estava pronta. O
trabalhador especializava-se em apenas uma função. A linha de montagem reduzia o tempo gasto
com a fabricação das mercadorias, aumentando a racionalidade da produção e ampliando a
produtividade e os lucros. Tornou-se modelo para as demais indústrias.
Esse controle de grande fatia do mercado era constituído por diversas estratégias. Uma delas era a
formação de trustes: várias empresas de grande porte uniam-se e absorviam firmas menores,
eliminando a concorrência. Outra forma era o estabelecimento de cartéis: reunião de grande
número de empresas de uma mesma área para estabelecer o controle dos preços, tanto das
matérias-primas quanto do produto final, garantindo assim a margem de lucro. Por causa dessas
características, o período é conhecido como capitalismo monopolista.
AEL/Unicamp
Os princípios de racionalização da produção em massa foram definidos por Henry Ford e também por
Frederick Taylor, engenheiro estadunidense que defendia o aumento da produtividade por meio do controle
das máquinas e dos trabalhadores. Isso provocou intensas mudanças no interior das fábricas. Na imagem,
fábrica têxtil no início do século XX.
3 A conquista da África
Entre os séculos XV e XVIII os europeus buscaram na África diversos produtos. O tráfico de escravos
foi, de longe, o negócio que mais mobilizou recursos, desde pessoas até capitais, e o mais rentável.
Ao longo do século XIX, o vil comércio entrou em crise, até perder definitivamente a força. Nessa
mesma época, porém, o comércio entre africanos e europeus seria transformado pelo domínio
territorial.
Nesse contexto, antigos países colonialistas, como Portugal e Espanha, ampliaram suas conquistas
no continente. Mas foram os ingleses que ficaram com o maior quinhão, com sua política colonial
estabelecida pelo primeiro-ministro Benjamin Disraeli. Coube a ele negociar, por exemplo, o
controle do Canal de Suez: construído pelos franceses e inaugurado em 1869, liga os mares
Mediterrâneo e Vermelho, facilitando a comunicação entre Europa, África e Ásia. Outro passo
importante para ampliar a área colonial inglesa no continente africano foi a anexação do Sudão, em
1885.
A Alemanha e a Itália foram os últimos países europeus a formar colônias na África, assim
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que concluíram seus processos de unificação, no início dos anos 1870. Os alemães conquistaram a
região da atual República dos Camarões e do Togo, além de vários territórios na África Central e na
Oriental. Os italianos dominaram o litoral da Líbia, parte da Somália e a Eritreia, mas acabaram
derrotados ao tentar conquistar a Abissínia, atual Etiópia, em 1896. O rei belga Leopoldo II
estabeleceu controle sobre o território do Congo.
Nos últimos anos do século XIX, a Abissínia e a Libéria eram as únicas áreas livres de domínio
estrangeiro na África – menos de 10% do território do continente.
VOCÊ SABIA?
A partilha da África
Evento fundamental para o controle estrangeiro da África foi a Conferência de Berlim, que reuniu
representantes de 14 países entre 1884 e 1885. O objetivo era acabar com os conflitos entre as
potências imperialistas, estabelecendo regras para o reconhecimento da ocupação.
A posse de regiões do continente africano só seria reconhecida, por exemplo, após acordos feitos
com os nativos e por meio de título de ocupação. Entretanto, apesar de definir muitas das áreas
coloniais, a conferência não pôde eliminar os embates, como no caso da Guerra dos Bôeres.
Maps World
Fonte: The Times atlas of world history. Londres: Times Books, 1990.
Os imperialistas em guerra
Vários conflitos ocorreram entre as nações imperialistas, e outros tantos envolveram esses países e
os povos africanos, que em muitos casos
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O conflito de maior proporção foi a Guerra dos Bôeres, entre 1899 e 1902, no sul da África, entre
ingleses e holandeses (conhecidos como bôeres ou africânderes) instalados na região havia muito
tempo. Ali os holandeses criaram as colônias de Orange e do Transvaal. Os ingleses estabeleceram-
se nas áreas do Cabo e de Natal, conquistadas dos franceses no início do século XIX.
A disputa pelas riquezas naturais existentes na África gerava vários conflitos. Na imagem, trabalhadores de
uma mineradora de ouro na África do Sul, 1888.
O controle da Índia
Na época das Grandes Navegações, os portugueses foram os primeiros europeus a chegar à Índia,
em 1498. Pouco depois, em razão de sua riqueza, o lugar seria intensamente disputado. Os ingleses
estabeleceram o controle sobre a região em 1763, após vencer a França na Guerra dos Sete Anos. Os
indianos mantinham relativa autonomia política.
Para os ingleses, o território assumia importância crucial, tanto que o chamavam de joia da Coroa
britânica e mantinham várias possessões na África apenas para proteger a rota que conduzia navios
carregados de produtos indianos, sobretudo de tecidos e especiarias.
Ao longo do século XIX, a dominação inglesa na região acentuou-se. Em 1806, anexaram a Birmânia,
atual Mianmar. Em meados daquele século, vários investimentos foram feitos para otimizar a
produção, como a instalação de estradas de ferro. A ação intensa dos ingleses, inclusive por meio de
missões religiosas, levou a significativas alterações culturais, com a eliminação, por exemplo, de
tradicionais formas de produção artesanal.
A população procurava resistir a essas mudanças por meio de vários movimentos, como a Revolta
dos Cipaios, iniciada em 1857, conflito que se arrastou por mais de um ano e terminou com a
derrota dos rebelados. A revolta serviu de argumento para os ingleses incorporarem, em definitivo,
a Índia ao seu império – a rainha Vitória seria coroada imperatriz da Índia em 1876. O Tibete e o
Afeganistão completavam os territórios coloniais da Inglaterra na Ásia. Na Oceania, o domínio se
estendia à Austrália.
além de um vasto território cobiçado pelas potências imperialistas europeias e pelos japoneses.
Seriam feitas várias tentativas para conquistar esse que era considerado um dos mais poderosos e
antigos impérios do mundo.
O primeiro grande conflito começou em 1841 e ficou conhecido como Guerra do Ópio. Os ingleses
produziam o ópio na Índia, em larga escala. Por provocar dependência, a substância era proibida na
China, assim como na Inglaterra e em boa parte da Europa. Mesmo assim, os ingleses
comercializavam o produto entre os chineses, por meio do contrabando. Em 1839, em Cantão, as
autoridades locais apreenderam e jogaram ao mar 20 mil caixas de ópio. Diante da recusa do
governo chinês em pagar a indenização exigida, os ingleses partiram para o ataque militar.
Derrotado, o governo da China foi obrigado a abrir aos estrangeiros cinco portos para livre
comércio, além de entregar Hong Kong, território que só voltou parcialmente ao controle chinês em
1997.
Em 1860, um novo tratado seria imposto aos chineses, após tropas francesas e inglesas invadirem
Pequim, utilizando como pretexto a morte de um missionário francês. Outros sete portos foram
abertos ao livre comércio, e as missões religiosas e as embaixadas estrangeiras foram aceitas no
país.
A Rússia e o Japão também intervieram na China no fim do século XIX, disputando territórios e
mercados. O Japão entrou em guerra com a China com o objetivo de dominar a Coreia, então parte
do território chinês. A vitória japonesa provocou a intervenção do governo russo, que também
pretendia adquirir privilégios comerciais e territórios na região. Novos conflitos surgiriam em
torno da Manchúria. Todos esses embates foram vencidos pelo Japão, que assim consolidou seu
domínio.
The Bridgeman/Keystone
Interior de uma casa na Indochina, área colonizada pela França. Litografia de Adrien Emmanuel Marie,
1883.
O caso do Japão
Apesar de pequenas interferências, a sociedade japonesa conseguiu permanecer fechada às
influências estrangeiras até o século XIX. Em 1854, o governo local foi forçado a assinar acordos
comerciais com os Estados Unidos e, mais tarde, com outros países. A situação provocou intensas
mudanças, com a centralização do poder na figura do imperador e o início de uma industrialização
que gerou crescimento econômico.
A nova condição do país favoreceu uma política imperialista, voltada em especial contra a China. No
século XX, essa política encontrou a resistência dos estadunidenses, que mantinham vários
interesses na região.
Maps World
Fonte: The Times atlas of world history. Londres: Times Books, 1990.
A política de expansão territorial, porém, havia se iniciado em 1803, quando a Louisiana foi
adquirida dos franceses. Em 1819, a Flórida foi comprada dos espanhóis. Essas aquisições
possibilitaram o acesso às Antilhas, região que aos poucos passou ao domínio estadunidense. Em
1846, negociações diplomáticas levaram o governo dos Estados Unidos a anexar o Oregon, antiga
colônia inglesa às margens do Pacífico. O último território a ser comprado foi o Alasca, dos russos,
em 1867.
Entre 1845 e 1848, uma guerra entre Estados Unidos e México levou à assinatura do Tratado de
Guadalupe-Hidalgo. Dois milhões de quilômetros quadrados do território mexicano foram, então,
entregues aos Estados Unidos – cerca de metade da área do país. Ali se formaram os atuais estados
do Texas, Califórnia, Novo México, Arizona, Colorado, Utah e Nevada. O território sob domínio
estadunidense passava a ocupar uma extensão contínua entre o Atlântico e o Pacífico, abrindo
importante caminho de acesso ao Oriente.
Nesse período não foi apenas o território dos Estados Unidos que se ampliou. Entre 1820 e 1860,
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a população do país saltou de 9,6 milhões para 31,3 milhões de habitantes, graças principalmente à
imigração, sobretudo de europeus atraídos pela relativa facilidade de adquirir terras.
Além de adquirir territórios, era preciso efetivar a ocupação por meio da colonização. O governo
encorajou, então, um grande contingente populacional a se deslocar para o oeste. O deslocamento
foi incentivado com doações de terras aos colonos e intensificou-se com a descoberta de ouro no
atual estado da Califórnia – iniciava-se a chamada corrida do ouro. Essas terras, porém, tinham
dono: eram sobretudo os povos indígenas que habitavam o lugar havia séculos.
Maps World
Fonte: HAYWOOD, John et al. The Cassel atlas of world history. Londres: Cassel, 1997.
Página 273
A corrida do ouro intensificou o conflito com os povos indígenas, ao mesmo tempo que possibilitou
o desenvolvimento econômico e a integração do território por meio de ferrovias que atravessavam
o país de costa a costa. Estima-se que na região viviam cerca de 1 milhão de nativos. Em 1860,
diante do avanço da ocupação, eles estavam reduzidos a não mais que 300 mil indivíduos; seriam,
gradualmente, confinados em reservas criadas pelo governo estadunidense.
Entre os principais povos indígenas que habitavam o oeste encontravam-se os sioux, os apaches e
os navajos.
Os sioux, cerca de 30 mil pessoas, estavam estabelecidos nas proximidades dos Grandes Lagos e das
Montanhas Rochosas. Com uma cultura tradicional, viviam da caça de animais como o bisão. Desde
o século XVII, mantinham contato com as culturas não indígenas, trocando peles por instrumentos
de corte, armas e outros utensílios. Migravam constantemente dentro de um território estabelecido.
O contato mais intenso com os colonizadores, porém, levou à desestabilização gradual de toda essa
cultura.
Os apaches e os navajos, por sua vez, ocupavam a região que hoje corresponde ao Arizona e ao
Novo México. Tinham hábitos migratórios e, até o século XIX, haviam travado pouco contato com as
culturas não indígenas. Entre os dois povos era comum a guerra. Os apaches viviam da caça,
enquanto os navajos criavam gado, deslocando-se quando as pastagens se esgotavam. Ambos eram
agricultores, hábeis artesãos e guerreiros, e combateram a presença dos colonos. Derrotados, os
apaches foram praticamente exterminados; os navajos acabaram confinados em pequenas
propriedades que mal permitiam o sustento de suas famílias.
A Guerra de Secessão
Enquanto o território dos Estados Unidos se expandia, antigas divergências entre o sul e o norte do
país aumentavam. Em cada região, graças ao modelo de colonização, formou-se uma sociedade
específica. No sul, por exemplo, a força de trabalho escravizada constituía a base das atividades
econômicas, sobretudo nos latifúndios monocultores voltados à exportação, como o de algodão. Já
no norte, as pequenas propriedades adquiriam grande importância.
Ao longo do século XIX, iniciou-se no norte do país um forte processo de industrialização. Cada vez
mais os interesses se distanciavam.
conexão presente
Leia o texto a seguir, escrito pela historiadora Gabrielle Tayac, curadora do Museu Nacional do
Índio Americano (NMAI), em Washington, D.C., e neta do cacique Turkey Tayac, curandeiro da tribo
Piscataway.
(...) Como objeto de políticas raciais discriminatórias, os indígenas americanos e os afroamericanos têm muito
em comum. Tanto os nativos americanos como os afroamericanos foram vistos como biológica e culturalmente
inferiores por muitos euroamericanos durante séculos. Havia leis proibindo os brancos de se casarem com
eles, leis que eram mais rigorosamente aplicadas para os afroamericanos. É interessante notar que tanto os
nativos americanos como os africanos compartilhavam estilos de vida indígenas, o que lhes permitia
relacionarem-se uns com os outros a partir do primeiro contato. Na história colonial antiga [dos Estados
Unidos], encontramos um bom número de casamentos entre eles na costa atlântica. Seus esforços de combate
à discriminação também eram vinculados. Estimulados pelo movimento pelos direitos civis dos anos 1960,
muitos indígenas americanos iniciaram seu próprio movimento social com o propósito de reaver direitos. A
identidade indígena americana é talvez um dos tópicos mais comentados entre os próprios índios americanos.
As tensões entre as obrigações para com a comunidade tribal e a vida em uma era de globalização em rápida
mudança fazem muitas pessoas sentir que estão em constante malabarismo entre “dois mundos”. No entanto,
como as políticas e as atitudes sociais sobre o valor das culturas indígenas americanas mudaram, alguns jovens
indígenas estão explorando a ideia de que vivem em um único mundo como todas as outras pessoas, com uma
identidade tribal que pode se adaptar a qualquer circunstância.
Embaixada Americana. Disponível em: <http://www.embaixada-americana.org.br/HTML/ijse0609p/ tayac.htm>. Acesso em: 20 abr. 2016.
Página 274
No sul, defendia-se a escravidão, cujo fim interessava a boa parte da população do norte. As duas
regiões opunham-se ainda quanto às tarifas de importação. Com uma sociedade essencialmente
agrícola, os moradores do sul consumiam largamente produtos industrializados vindos de longe.
Desejavam, por isso, tarifas alfandegárias mais baixas, tornando menor o custo das importações e
estabelecendo relações de troca mais vantajosas com os países para os quais exportavam produtos
agrícolas. Os estados do norte, ao contrário, com uma indústria promissora, defendiam altos
impostos para as importações.
VESTÍGIOS DO PASSADO
Destino Manifesto
A expansão territorial dos Estados Unidos não foi impulsionada apenas pela política do governo ou
pela cobiça dos colonos. Colaborou também a difusão da crença de que se cumpria uma espécie de
missão, o que deu origem a uma doutrina conhecida como Destino Manifesto, segundo a qual os
estadunidenses seriam elementos superiores que deveriam se impor a povos considerados mais
fracos. Esse ideal racista justificava, por exemplo, a guerra imposta aos povos indígenas e aos
mexicanos, assim como toda aquisição territorial. O texto e a imagem apresentados a seguir foram
produzidos com base nessa doutrina.
Christie’s Images
Podemos expandir-nos até incluir o mundo inteiro. O México, a América Central, a do Sul, Cuba, as
Ilhas das Índias Ocidentais e mesmo a Inglaterra e a França, poderemos anexá-los sem
inconveniência ou prejuízo, permitindo que suas legislaturas locais regulem seus negócios à sua
própria maneira. E esta, Senhor, é a missão desta República e seu destino final.
SAVELLE, Max (Org.). Os tempos modernos. Belo Horizonte: Villa Rica, 1990. p. 211.
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Bettmann/Corbis
A Guerra de Secessão foi o primeiro grande conflito a ser fotografado. Publicadas nos jornais, as imagens
mostravam a realidade dos campos de batalha para aqueles que estavam distante. Nesse trabalho, três
fotógrafos destacaram-se: Alexander Gardner, Timothy O’Sullivan e Matthew Brady (a quem pertence a
imagem aqui reproduzida, de 1863).
Os combates
O governo central não aceitou o ato, dando início ao mais violento conflito civil dos Estados Unidos:
a Guerra de Secessão. Estima-se que dela participaram cerca de 2,5 milhões de soldados. Foram
mais de 600 mil vítimas, entre civis e militares. Durante os embates foram utilizadas novas técnicas
bélicas, como as trincheiras, e tecnologias inéditas até então nas guerras, como o telégrafo e as
ferrovias. Em 1865, os nortistas tomaram a capital dos estados confederados, pondo fim ao conflito.
Cinco dias após o fim dos confrontos, o presidente Abraham Lincoln foi assassinado pelo sulista
John Wilkes Booth.
Cerca de 4,5 milhões de africanos e seus descendentes conquistaram a liberdade, mas não a
igualdade de direitos com os brancos. Passaram a sofrer fortes restrições legais, com a
institucionalização de uma política de segregação racial, sobretudo nos estados do sul. Em 1881,
por exemplo, foram decretadas as leis Jim Crow, que, entre outros aspectos, proibiam as crianças
negras de frequentar a mesma escola que as brancas.
Logo após a guerra surgiram grupos radicais contrários à integração racial, como a Ku Klux Klan,
que perseguia violentamente os negros. Embora ilegais, alguns desses grupos persistem até os dias
de hoje no país.
O aparato legal contra os afrodescendentes começou a ser desmontado na década de 1950, em uma
mobilização popular.
No fim do século XIX, nessas regiões, os últimos povos ainda sob domínio espanhol, como Cuba,
lutavam por autonomia. Com interesses próprios, o governo estadunidense apoiava essas
iniciativas.
O movimento cubano iniciou-se em 1895, sob a liderança de José Martí. Havia tempo os Estados
Unidos nutriam interesses pela ilha – grande produtora de açúcar –, chegando a propor aos
espanhóis a sua compra. Em 1898, declararam guerra à Espanha. As batalhas duraram oito meses,
ao fim dos quais os espanhóis reconheceram a autonomia dos cubanos.
A dominação, porém, não chegou ao fim. Em 1901, o governo dos Estados Unidos impôs aos
cubanos a chamada Emenda Platt, pela qual adquiria o poder de intervir nos assuntos internos do
país, além do direito de instalar uma base militar na baía de Guantánamo, que existe até os dias de
hoje. A Emenda Platt só seria abolida após a Revolução Cubana de 1959.
Ampliando o domínio
Em 1903, foi a vez de o atual Panamá experimentar os efeitos da política imperialista dos Estados
Unidos. O governo desse país estimulou uma revolta separatista na região, então parte da Colômbia.
O objetivo era controlar a área, para construir um canal que cortasse a América Central e ligasse o
oceano Atlântico ao Pacífico. A obra facilitaria as comunicações marítimas entre o leste e o oeste do
território estadunidense e as relações comerciais com o Oriente, encurtando as distâncias
percorridas pelos navios cargueiros. Com o Panamá livre, os Estados Unidos conseguiram a posse
da chamada Zona do Canal e concluíram a construção da passagem transoceânica. Apenas em 1999
o Panamá retomou o controle da área.
Maps World
Lançada em 1931, quando a Bélgica ainda dominava territórios na África, Tintim no Congo era
recheada de cenas de violência contra os animais das savanas africanas e de referências ao
colonialismo belga. Refletia o espírito imperialista da época e o desconhecimento de boa parte dos
europeus sobre o continente africano. Há uma passagem, por exemplo, em que o próprio Milu
esbraveja com os congoleses: “Vamos, bando de preguiçosos! Mexam-se!”.
Anos depois, quando o material foi reeditado em cores, o próprio Hergé eliminou do original
algumas passagens consideradas de mau gosto, como a cena em que Tintim explodia um
rinoceronte com dinamite. Na década de 1970, ele voltou a revisar o material, modificando parte de
seu conteúdo. Porém, o tom preconceituoso com que os africanos eram tratados não sofreu
nenhuma alteração significativa.
Recentemente, os álbuns com as aventuras de Tintim foram relançados em vários países do mundo,
por ocasião dos 25 anos da morte de seu criador. Em muitos deles, o relançamento do volume
Tintim no Congo foi cercado de polêmica.
No Reino Unido, a publicação foi duramente criticada pela Comissão pela Igualdade Racial, órgão
público cujo objetivo é combater a discriminação racial no país. Essa ação levou a rede de livrarias
Border a mudar a obra de Hergé de seção: passou da de livros infantojuvenis para a área reservada
a conteúdo adulto. O Movimento contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos, outra instituição
pública, desta vez francesa, solicitou à editora responsável pela publicação da coleção que incluísse
no álbum Tintim no Congo um alerta ao leitor sobre o conteúdo racista do livro. Também na França,
o Conselho Representante das Associações Negras foi mais longe e pediu a retirada do material de
circulação. Na África do Sul e nos Estados Unidos, a publicação do álbum foi cancelada. Na Bélgica,
pátria de Hergé, um estudante universitário de origem congolesa apresentou na Justiça uma queixa
contra o livro, pedindo sua proibição em virtude de seu caráter preconceituoso.
Georges Prosper Remi (1907-1983), mais conhecido por Hergé, nasceu em Etterbeek, na Bélgica. Seus
primeiros desenhos foram publicados quando tinha apenas 14 anos de idade. Tintim foi criado em 1929 e
com ele veio a fama do cartunista. A partir de então, Hergé passaria a se dedicar quase exclusivamente às
histórias de Tintim e dos demais personagens que o acompanhariam em suas aventuras. Diante das críticas
feitas aos álbuns Tintim no país dos sovietes e Tintim no Congo, o desenhista argumentou que se tratava
de obras de sua juventude, quando ainda era ingênuo demais para avaliar de maneira crítica os valores
dominantes da época.
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Para refletir...
1. Em sua opinião, a venda de uma história em quadrinhos com conteúdo semelhante ao de Tintim
no Congo pode contribuir para difundir uma visão preconceituosa dos negros africanos? Justifique.
HISTÓRIA EM DISCUSSÃO
• ROTEIRO DE ESTUDOS •
1 No século XIX, o que mudou na política dos países que detinham impérios coloniais?
4 Com base na diferença das estruturas econômicas dos estados do norte e do sul dos Estados
Unidos, explique o debate em torno da questão da escravidão, no contexto da Guerra de Secessão.
5 Os projetos imperialistas do século XIX eram justificados por ideologias e teorias. Compare a
doutrina do Destino Manifesto dos Estados Unidos e as teorias racistas utilizadas pelos europeus na
colonização da África.
b) os povos latino-americanos.
• DEBATENDO A HISTÓRIA •
A vitória do indivíduo
A Mass Self Communication constitui certamente uma nova forma de comunicação em massa –
porém, produzida, recebida e experienciada individualmente. Ela foi recuperada pelos movimentos
sociais de todo o mundo, mas eles não são os únicos a utilizar essa nova ferramenta
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de mobilização e organização. A mídia tradicional tenta acompanhar esse movimento e, fazendo uso
de seu poder comercial e midiático, passou a se envolver com o maior número possível de blogs.
Falta pouco para que, através da Mass Self Communication, os movimentos sociais e os indivíduos
em rebelião crítica comecem a agir sobre a grande mídia, a controlar as informações, a desmenti-las
e até mesmo a produzi-las.
CASTELLS, Manuel. A era da intercomunicação. Le Monde Diplomatique. Disponível em: <http://diplo.org.br/imprima1379>. Acesso em: 20
abr. 2016.
Exposições universais
As exposições universais, que ganharam destaque na Europa ao longo do século XIX, eram
anunciadas na época com grande entusiasmo. O material oficial de divulgação da exposição de
1889, ocorrida em Paris, dizia: “Jules Verne sonhou com a volta ao mundo em 80 dias. Em 1889, ela
poderá ser realizada, no Campo de Marte, em seis horas”.
Pode-se dizer que a promessa, de fato, foi cumprida, com a exposição de comidas, tipos de
habitações, vegetais e animais de diferentes partes do mundo, especialmente aquelas dominadas
pelos países imperialistas, que tanto mexiam com a imaginação dos europeus daquela época. As
exposições também atraíam grande público para assistir a espetáculos vistos como exóticos e
shows étnicos.
Família Senegalesa exposta na Exposição Universal de Paris, 1889. A exibição de forma exótica dos
africanos levava os europeus a legitimarem as práticas imperialistas.
1. Alguns estudiosos defendem que as exposições universais influenciaram no desenvolvimento
das ideias racistas que perduram até os dias atuais. Você concorda com essa visão? Por quê?
2. Em sua opinião, o trabalho artístico, nas suas diferentes manifestações (obras de arte, shows,
fotografias etc.), pode veicular ideologias de grupos dominantes? Justifique com exemplos atuais.
Existe um jogo muito conhecido que reproduz a batalha entre países pela conquista do mundo.
Nele, para vencer é preciso dominar pontos estratégicos, defender fronteiras, ampliar territórios,
estabelecer alianças e guerrear. Que tal criar um jogo com lógica oposta?
Em grupo
1. Reúna-se com colegas para planejar um jogo cujo objetivo seja estabelecer a paz no mundo.
2. Ao final, troquem o jogo com outro grupo, para que ambos possam se divertir.
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Projeto Interdisciplinar
Documento 1
ARISTÓTELES. Política. In: VAN ACKER, Maria Teresa Vianna. Grécia: a vida cotidiana na cidade-Estado. São Paulo: Atual, 1994. p. 33-34.
Documento 2
Documento 3
No último domingo de eleições, um caso específico chamou a atenção do Recife e vem causando
indignação nas redes sociais: Edilson Silva, do PSOL, foi o terceiro candidato mais votado pelos
recifenses para assumir uma das 39 vagas na Casa de José Mariano, angariando expressivos 13.661
votos, porém, não conseguiu se eleger. Esse estranho fenômeno ocorre porque, no Brasil, para se
“encontrarem” os candidatos eleitos, é preciso considerar o quociente eleitoral do município, que é
um número mínimo de votos que cada partido ou coligação precisa receber para eleger seus
candidatos. O número do quociente é encontrado através de uma divisão dos votos válidos do
município, o que exclui os votos brancos e nulos, pelo número de cadeiras a serem preenchidas na
Casa. De acordo com a técnica do quociente eleitoral, cada partido elegerá tantos representantes
quantas vezes a totalidade de seus votos atingir o quociente. (...)
Disponível em:
<http://jc3.uol.com.br/blogs/blogjamildo/canais/noticias/2012/10/16/quando_a_matematica_eleitoral_supera_a_vontade_popular_140013.
php>. Acesso em: 14 mar. 2013.
Página 281
1. Segundo o filósofo Aristóteles, apesar de o trabalho ser necessário para a cidade, é indigno para
o cidadão. Por quê?
b) relacione a charge com a situação dos brasileiros nos primeiros anos da república.
4. Em grupo, pesquisem as diferenças e semelhanças entre o processo eleitoral nos primeiros anos
da república e o atual regime democrático no Brasil. Expliquem como funciona, de forma geral, o
atual sistema de votação nos âmbitos municipal, estadual e federal.
5. Concluída a pesquisa, você e o grupo devem fazer um mapeamento das últimas eleições
municipais. Para tanto, verifiquem, sobre o seu município:
• se foram feitas coalizões partidárias nas últimas eleições e, em caso positivo, quais foram elas;
Pesquisem se algum candidato de seu município foi eleito pela lógica do Quociente Eleitoral e
comentem as principais consequências dessa matemática para os cidadãos.
6. Vimos que nem sempre o candidato mais votado em uma eleição será eleito. Isso ocorre por
várias razões, entre elas a existência de uma fórmula matemática aparentemente simples, mas de
desdobramentos complexos, que envolve os termos quociente eleitoral e coeficiente eleitoral. Para
definir o Quociente Eleitoral, a quantidade de votos válidos para vereador, por exemplo, é dividida
pela quantidade de vagas. Então, sabe-se a destinação das vagas dividindo o valor resultante da
votação de cada partido ou coligação por esse número. Outro dado importante é o Coeficiente
Eleitoral, que é o número de votos que cada partido ou coligação precisa obter para garantir a vaga.
Ele é obtido dividindo-se o número de votos (do partido ou coligação) pelo quociente eleitoral.
a) Sabendo que o cálculo do quociente eleitoral (QE) é feito dividindo-se o número de votos válidos
pelo número de vagas disputadas, suponha que em sua cidade na última eleição foram apurados
500 mil votos e disputadas 20 vagas. Qual é o valor do QE?
Ao criar o Cap. Rodrigo Cambará, Erico Verissimo deu vida a um herói fundador do Rio Grande do Sul. Esse
herói foi moldado com base na realidade histórica marcada por:
Estão corretas:
a) apenas I e II.
b) apenas I e III.
c) apenas II e III.
d) apenas I e IV.
2. (UFU-MG) A Guerra do Paraguai, encerrada em 1870, foi um acontecimento com profundas implicações
para os Estados que nela se envolveram militarmente. Considerando seus efeitos sobre o Império brasileiro,
podemos afirmar que:
III. o Brasil, com a vitória, conseguiu anexar parte do território do norte do Paraguai, obtendo acesso livre à
navegação dos rios Paraná e Paraguai, fundamental à comunicação com Mato Grosso.
IV. a vitória brasileira não satisfez a Inglaterra, que temia a afirmação do Brasil como uma grande potência
econômica e militar na América do Sul. Assim, os ingleses buscaram atingir o Brasil com uma nova campanha
contra a escravidão, levando à aprovação da “Lei do Ventre Livre”.
d) II e IV são corretas.
I. Entre os fatores que colaboraram para o fracasso do “Sistema de Parceria”, durante o Segundo Reinado, está
a introdução de máquinas modernas e especializadas no cultivo do café, que fez com que grande parte dos
trabalhadores fossem dispensados.
II. O sistema de parceria expandiu-se rapidamente para o oeste paulista; nesse sistema cada família recebia
certo número de pés de café para cuidar, colher, semear, além de um lote de terra para cultivar, dividindo-se,
ao final, a renda do café.
III. Na organização da produção cafeeira utilizou-se, desde o início, a mão de obra livre do imigrante europeu.
a) II.
b) III.
c) I e II.
d) I e III.
e) II e III.
4. (Enem) “O continente africano em seu conjunto apresenta 44% de suas fronteiras apoiadas em meridianos
e paralelos; 30% por linhas retas e arqueadas, e apenas 26% se referem a limites naturais que geralmente
coincidem com os de locais de habitação dos grupos étnicos.”
Diferente do continente americano, onde quase a totalidade das fronteiras obedece a limites naturais, a África
apresenta as características citadas principalmente em virtude:
a) de sua recente demarcação, que contou com técnicas cartográficas antes desconhecidas.
b) dos interesses de países europeus preocupados com a partilha dos seus recursos naturais.
c) das extensas áreas desérticas que dificultam a demarcação dos “limites naturais”.
a) totalitarismo.
b) nacionalismo.
c) imperialismo.
d) conservadorismo.
e) socialismo.
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6. (UFC-CE) A partir das últimas décadas do século XIX, uma nova onda colonialista levou à partilha quase
total da África e da Ásia entre países industrializados. Sobre essa fase imperialista, é correto afirmar que foi
motivada fundamentalmente:
a) pelo interesse de importar bens manufaturados da Índia, da China e da África islâmica e foi estimulada
pelos países industriais emergentes: a Bélgica, a Alemanha e o Japão.
b) pela política religiosa e missionária de difundir o cristianismo no mundo e foi liderada pelos países
católicos europeus, como a França e a Bélgica.
c) pela exigência do conhecimento científico positivista de ocupar os territórios a serem estudados e foi
impulsionada pela Grã-Bretanha.
d) pela necessidade de adquirir facilmente matéria-prima a baixo custo e foi facilitada pela política
imperialista dos Estados Unidos.
e) pelo interesse de continuar a expandir o capitalismo num período de crise e teve à sua frente a França e a
Grã-Bretanha.
a) fragmentação e as grandes distâncias das regiões litorâneas impediram a organização e o crescimento das
comunidades sertanejas.
b) unidade cultural do país é fruto de um longo processo de gestação iniciado com a ocupação do litoral e o
fabrico do açúcar.
d) frágil base política em que se assentava o governo republicano foi incapaz de reconhecer a questão social e
cultural suscitada por Canudos.
e) resistência política dos monarquistas organizados no arraial de Canudos era uma ameaça à ordem
republicana.
8. (UEL-PR) “A tomada de impressões digitais, inventada em Bengala, durante o domínio britânico na Índia,
buscou uma nova maneira segura de identificar os súditos britânicos coloniais. Francis Galton, pai da eugenia
moderna, esperava poder provar que elas revelavam a ‘raça’ de cada indivíduo. Mas em 1892 foi forçado a
admitir o fracasso: não havia diferenças sistemáticas entre as impressões digitais dos grupos.”
a) Os ingleses confirmaram na Índia diferenças biológicas entre as raças com experimentos científicos
realizados no corpo humano.
e) Na Ásia, o colonialismo aliou à busca de novos mercados para o capital a valorização dos atributos raciais
dos povos colonizados.
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SUGESTÕES DE LEITURA
DEL PRIORE, Mary. Família no Brasil Colonial. São Paulo: Moderna, 2000.
DI PAOLO, Pasquale. Cabanagem: a revolução popular na Amazônia. Belém: Edições Cejup, 1990.
GRANT, Neil. O cotidiano europeu no século XVIII. São Paulo: Melhoramentos, 1994.
GRESPAN, Jorge. Revolução Francesa e Iluminismo: repensando a História. São Paulo: Contexto,
2003.
KARNAL, Leandro. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. São Paulo: Contexto,
2007.
MARX, Karl e ENGELS, Friedrich. Manifesto Comunista. São Paulo: Ched, 1980.
FIGUEIREDO, Luciano. Rebeliões no Brasil Colonia. São Paulo: Jorge Zahar, 2005.
MOTA, Carlos Guilherme. 1789-1799: a Revolução Francesa. São Paulo: Perspectiva, 2007.
NASCIMENTO, Milton Meira; NASCIMENTO, Maria das Graças. Iluminismo: a revolução das luzes.
São Paulo: Ática, 1998.
REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do Levante dos Malês em 1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1995.
RIO, João do. A alma encantadora das ruas: crônicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
SCHWARCZ, Lilia Moritz. As barbas do imperador: D. Pedro II, um monarca nos trópicos. São Paulo:
Companhia das Letras, 2004.
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HISTORIA
Ensino Médio
volume 2
Manual do Professor
Página 290
Sumário
1. O LIVRO: TEORIA E METODOLOGIA 292
Caro Professor,
Todas as pessoas envolvidas neste projeto acreditam que a escola não é apenas um
centro de difusão do saber instituído, mas também importante agência de
construção do conhecimento. Como parte dessa dinâmica – regida pelo professor
dentro da sala de aula –, acreditamos que o livro didático ocupa um lugar valioso
na difusão e construção do saber histórico escolar.
Sem esquecer que nenhuma publicação – seja de que tipo for – está isenta de
aprimoramentos e críticas, trilhamos a insistente busca dos nossos objetivos. E
acreditamos que este livro pode servir como fonte valiosa de apoio às aulas, com
conteúdos abertos, críticas, reflexões, indagações de professores e alunos.
Sob sua orientação, caro professor, esperamos que a multiplicidade dos conteúdos
desta obra, expressos na iconografia, nos textos, nos gráficos e nas atividades
pedagógicas, sirvam na exploração de percursos históricos instigantes. Mais ainda,
que esta obra se integre ao grande desafio do professor de História dos dias atuais
e contribua para a construção de um futuro mais justo e solidário, transformando
este mundo marcado por profundas desigualdades sociais.
Sucesso na empreitada!
Nos últimos anos, o Ensino Médio vem passando por grandes transformações no Brasil. Em 2009,
por exemplo, a Emenda Constitucional n°- 59 tornou obrigatória a oferta desse nível de ensino a
todos os jovens do país, o que significa importante conquista para a sociedade brasileira. Soma-se a
isso o fato de essa etapa final da Educação Básica voltar-se, cada vez mais, para a ampla formação
do indivíduo – e não apenas como curso de formação profissional técnica ou de preparo para
exames de acesso às universidades.
Essa busca pela universalização do Ensino Médio, entretanto, tem trazido grandes desafios, como a
necessidade de maiores verbas para a reestruturação das escolas, salários mais adequados aos
professores e investimentos em sua formação. É fundamental ainda a reorganização do currículo
para assegurar um processo de ensino-aprendizagem em sintonia com o mundo em que os jovens
vivem, integrando aspectos como formação geral, profissional e exercício da cidadania.
A formação mais ampla caracteriza-se ainda pela apreensão de diferentes conteúdos e a aquisição
de variadas competências e habilidades, centradas no domínio e no uso de vários tipos de códigos
de linguagens; na capacidade de construção e aplicação de conceitos; na compreensão de
fenômenos naturais, sociais e culturais; na capacitação para enfrentar situações problemas,
selecionando e analisando informações; na construção de argumentação consistente, com base na
manipulação de informações e, por fim, na capacidade de intervenção solidária na sociedade, com
propostas que derivam dos conhecimentos escolares.
Com esse perfil, conforme determinam as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para o Ensino
Médio, essa etapa do ensino se configura de fato como decisiva e derradeira do processo
educacional básico, cuja organização baseia-se em: (I) formação integral do estudante; (II) trabalho
e pesquisa como princípios educativos e pedagógicos, respectivamente; (III) educação em direitos
humanos como princípio nacional norteador; (IV) sustentabilidade ambiental como meta universal;
(V) indissociabilidade entre educação e prática social, considerando-se a historicidade dos
conhecimentos e dos sujeitos do processo educativo, bem como entre teoria e prática no processo
de ensino-aprendizagem; (VI) integração de conhecimentos gerais e, quando for o caso, técnico-
profissionais realizada na perspectiva da interdisciplinaridade e da contextualização; (VII)
reconhecimento e aceitação da diversidade e da realidade concreta dos sujeitos do processo
educativo, das formas de produção, dos processos de trabalho e das culturas a eles subjacentes;
(VIII) integração entre educação e as dimensões do trabalho, da ciência, da tecnologia e da cultura
como base da proposta e do desenvolvimento curricular. 1
Tendo como referência essa organização, foi lançado o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI),
como parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), com o objetivo de redesenhar os
conteúdos, tecer novos currículos e definir plenamente a identidade do Ensino Médio.
A presente coleção tem por objetivo ser um instrumento de apoio para se alcançar esses objetivos e
finalidades do novo Ensino Médio. Ao longo dos livros, no texto principal, nas seções das atividades,
nas imagens e textos complementares apresentados, os alunos terão acesso a um material que
auxiliará sua formação integral, tanto para adentrar ao mundo do trabalho como para o exercício
pleno da cidadania. Dessa forma, esperamos contribuir, ao final de três anos, para a formação de
jovens que atuem de forma propositiva e crítica na sociedade, que se integrem às atividades
produtivas e que possam prosseguir os estudos, caso desejem.
NOSSOS PRESSUPOSTOS
Por muito tempo, o ensino de História priorizou a memorização de datas, acontecimentos e nomes
de pessoas considerados importantes, ou seja, fatos distantes da vida dos alunos, perdidos no
tempo. O estudo do passado tornava-se algo sem sentido, na medida em que não se conectava com
o presente, fazendo que os alunos não percebessem a importância da História para a compreensão
das questões atuais. Assim, aprender História era considerada uma atividade cansativa e tediosa.
Os livros didáticos refletiam essa concepção e, por isso, enfatizavam detalhes personalistas, criando
um culto a heróis que, supostamente movidos por sentimentos elevados, conduziam o destino de
povos e nações. As narrativas históricas quase sempre eram centradas na perspectiva dos
detentores do poder social, econômico, político e cultural e silenciavam a visão dos grupos menos
favorecidos. Acreditava-se que o passado era recuperado pelos historiadores de forma definitiva,
única e categórica.
1MEC / SEB / Secadi / SEPT / CNE / CNEB. Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação Básica. Brasília, MEC, SEB, DICEI,
2013. p. 195.
Página 293
O ensino de História e os livros utilizados para esse fim apresentavam uma concepção que ignorava
a relação com o presente. Contrapondo-se a essa ideia, esta coleção não considera o passado algo
distante, desvinculado do presente e das questões prementes das sociedades atuais. Como escreveu
John Dewey: “(...) se fosse completamente passado, não haveria mais que uma atitude razoável:
deixar que os mortos enterrassem seus mortos. 2
Em outras palavras, esta coleção tem como finalidade desenvolver no aluno uma consciência acerca
do mundo contemporâneo, com base numa reflexão sobre o passado. Nesse sentido, não se
pretende que o aluno aceite passivamente as interpretações aqui reunidas. Espera-se, sim, que ele
utilize esses conteúdos como ponto de partida para sua caminhada, como uma referência a ser
discutida e reorganizada. Só assim a reflexão histórica se transformará em um instrumento a
serviço da construção da cidadania, num processo de inserção e participação do indivíduo na
sociedade em que vive.
ESTRUTURA E METODOLOGIA
Esta obra é composta por três volumes, organizados em unidades e capítulos. Cada um desses
volumes possui uma preocupação central. O volume de 1° ano trata da formação da humanidade e
da chamada sociedade ocidental. O volume de 2° ano aborda, principalmente, a construção das
dinâmicas das sociedades urbanas e industriais. E o volume de 3° ano enfoca o mundo
contemporâneo pelo viés do conflito entre capitalismo e socialismo e do processo de mundialização
da economia, acentuado a partir do fim da década de 1980.
Cada volume divide-se em três unidades, que reúnem os capítulos por eixos temáticos. Desde o
volume de 1° ano, os conteúdos de história do Brasil, da América, da África e de história geral
aparecem integrados, facilitando a percepção da construção das sociedades como resultado de um
permanente diálogo entre diferentes povos, uma gama de sujeitos e múltiplos projetos sociais.
Dessa forma, os estudantes percebem a construção das sociedades humanas ao longo do tempo
como um processo complexo, que envolve uma grande diversidade de organizações
socioeconômicas, políticas e culturais, espalhadas pelos continentes, o que contribui para a
superação de uma visão eurocêntrica, predominante no ensino de História durante décadas. Os
conteúdos que tratam da formação da sociedade brasileira, por exemplo, valorizam vários sujeitos,
como africanos e indígenas, evitando, com isso, a abordagem centrada nos povos europeus.
A coleção se propõe também a trabalhar com a chamada história pública, de domínio geral, como no
boxe História e cultura, em que são apresentadas tirinhas, cenas de filmes, cartazes publicitários,
literatura de cordel, anúncios de jornal, fotografias, quadros históricos, depoimentos, textos
literários, enfim, uma grande variedade de linguagens e suportes, com o objetivo de levar os alunos
a analisar e refletir sobre temas centrais das unidades dos livros, relacionando-os à realidade
presente.
Os demais boxes e seções trabalham com pesquisa, leitura de imagens, produção de texto e análise
de filmes. Estimulam a identificação de rupturas e permanências e semelhanças e diferenças entre
contextos históricos distintos; discutem diferentes pontos de vista sobre os processos históricos; e
incentivam, ainda, a percepção das possibilidades de abordagens interdisciplinares e das conexões
possíveis do tema estudado no capítulo com a realidade local dos alunos.
Além das dimensões políticas e econômicas, o livro aborda também aspectos culturais, como o
direito à memória. Destaca-se, assim, o papel da História para construção e preservação de uma
memória social, constituinte de identidades individuais e coletivas.
O direito à memória faz parte da cidadania cultural e revela a necessidade de debates sobre o conceito de
preservação das obras humanas. A constituição do patrimônio cultural, e sua importância para a formação de
uma memória social e nacional sem exclusões e discriminações, é uma abordagem necessária a
2 DEWEY, John. In: LUZURIAGA, Lourenço. História da educação e da pedagogia. São Paulo: Nacional, 1975. p. 9.
Página 294
ser realizada com os educandos, situando-os nos “lugares de memória” construídos pela sociedade e pelos
poderes constituídos, que estabelecem o que deve ser preservado e relembrado e o que deve ser silenciado e
“esquecido”. 3
Nesse sentido, pode-se destacar, no capítulo introdutório do volume de 1° ano, a atividade da seção
Mão na massa: ao seu redor (p. 16), na qual o aluno deve identificar como nomes de ruas,
monumentos, bibliotecas e museus nos lugares próximos da escola e de sua casa para,
posteriormente, debater sobre a história preservada no entorno desses locais.
Em um mundo cada vez mais dominado pelas imagens, muitas atividades objetivam, ainda, o
desenvolvimento da capacidade de compreensão e interpretação de fotografias, pinturas, filmes,
mapas e gráficos. Assim, as imagens foram escolhidas e inseridas na obra não como meras
ilustrações dos conteúdos, mas para aprofundar a análise dos temas, fatos, processos, conceitos e
das realidades históricas, investigadas no decorrer dos três volumes. Na terceira parte deste
manual, há informações complementares e orientações para desenvolver a leitura de imagens como
importante suporte para o estudo de História. Os comentários e sugestões têm a finalidade de levar
os alunos a perceber de que modo as imagens podem ser lidas como evidências históricas. Essas
orientações procuram oferecer ferramentas para o desenvolvimento do olhar menos crítico do
aluno, inserido na atual sociedade imagética em que vivemos.
Na coleção, procura-se também chamar a atenção dos estudantes para elementos importantes da
elaboração do conhecimento histórico, como o tempo, sujeito histórico, evidências históricas e
escrita da História. As discussões relativas às evidências históricas têm destaque no boxe Vestígios
do passado. A questão da escrita da História aparece, sobretudo, na seção Debatendo a história.
Outro ponto a ressaltar é a possibilidade da análise histórica do local onde se situa a escola. Com
essa intenção foi criado o boxe Ao seu redor, e algumas das seções Mão na massa têm esse
direcionamento. Eles buscam contextualizar o tema de estudo, relacionando-o ao entorno do aluno,
explorando, assim, as conexões possíveis e direcionando o olhar do estudante para sua realidade
local. Por exemplo, no volume de 2° ano (capítulo 15), a atividade da seção Mão na massa: ao seu
redor (p. 205) propõe uma pesquisa sobre a sociedade e política do estado onde reside o estudante,
a partir do conteúdo estudado sobre o Segundo Império no Brasil. Propostas como essas têm a
finalidade de levar o aluno a relacionar a história da sua região à história do Brasil e do mundo.
No que diz respeito à história regional, é importante refletir sobre o conceito de região para
delimitar o objeto de análise. O historiador José D’Assunção Barros, em artigo publicado na revista
acadêmica Varia História, define região da seguinte forma:
Grosso modo, uma região é uma unidade definível no espaço, que se caracteriza por uma relativa
homogeneidade interna com relação a certos critérios. Os elementos internos que dão uma identidade à região
(e que só se tornam perceptíveis quando estabelecemos critérios que favoreçam a sua percepção) não são
necessariamente estáticos. Daí que a região também pode ter sua identidade delimitada e definida com base no
fato de que nela pode ser percebido um certo padrão de inter-relações entre elementos dentro dos seus
limites. Vale dizer, a região também pode ser compreendida como um sistema de movimento interno. Por
outro lado, além de ser uma porção do espaço organizada de acordo com um determinado sistema ou
identificada através de um padrão, a região quase sempre se insere ou pode se ver inserida em um conjunto
mais vasto. 4
O autor adota uma definição ampla de região por acreditar que são os critérios ou os objetos de
estudo que delimitarão a unidade de análise a ser investigada. De acordo com a situação, os
critérios podem ser econômicos,
3 Parâmetros Curriculares Nacionais: ensino médio. Brasília: Ministério da Educação, 1999. p. 305 -306.
4BARROS, José D’Assunção. História, espaço e tempo: interações necessárias. Varia História. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/vh/ v22n36/v22n36a12.pdf>. Acesso em: 4 maio 2016.
Página 295
Nessa perspectiva, a história regional abre um vasto campo de investigação, que pode perpassar
por temas contemporâneos relevantes, tais como a desigualdade social, produção agropecuária e
seus impactos no meio ambiente, expansão territorial e diversidade cultural. Abordagens desse tipo
aparecem na coleção e serão tratadas mais detalhadamente na seção Trabalhando com o livro.
Para isso, o volume, que principia com o estudo dos primórdios da humanidade, estende-se até o
século XVIII. Assim, abrange a expansão marítima europeia – destacando as características
políticas, socioeconômicas e culturais dos povos que viviam na América antes da chegada dos
europeus – e o processo de conquista e colonização desse continente por portugueses, franceses,
holandeses, ingleses e espanhóis.
A segunda unidade trata dos Impérios Bizantino, Islâmico e Carolíngio e aborda o mundo medieval
na Europa Ocidental desde a sua formação até os movimentos que provocaram rupturas estruturais
em sua organização: o Renascimento e a Reforma.
A primeira unidade aborda o Iluminismo, a Revolução Industrial, a formação dos Estados Unidos, a
agonia da sociedade absolutista com a Revolução Francesa, as guerras napoleônicas e as
determinações do Congresso de Viena e tem como desfecho a África no tempo da escravidão.
A segunda unidade retoma o Brasil do século XVIII, abordando as disputas territoriais e o fluxo
migratório, bem como a sociedade da mineração. Mostra, ainda, os movimentos coloniais de
resistência à Coroa portuguesa, o processo de independência das colônias espanholas e
portuguesas na América, o Brasil do Primeiro Império ao período regencial.
Contém 17 capítulos e um texto de encerramento, organizados em três unidades. Esse volume está
centrado nos acontecimentos que mobilizaram grande parte das sociedades pelo mundo, entre o
final do século XIX e o início do século XXI.
A primeira unidade aborda a Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa e o período entreguerras.
Em história do Brasil, trata da crise da república oligárquica e da Era Vargas. Para encerrar, enfoca
a Segunda Guerra Mundial e o estabelecimento da Guerra Fria.
A segunda unidade aborda o cenário mundial e seus conflitos durante a Guerra Fria. Enfoca,
também, a independência das colônias da África e da Ásia, as revoluções e ditaduras na América
Latina. No Brasil, trata de democracia, populismo e ditadura militar.
AS UNIDADES
Cada volume encontra-se dividido em três unidades, que concentram um conjunto específico de
temas, como Tempos burgueses (no volume de 2° ano) ou Em clima da Guerra Fria (no volume de
3° ano). Muitas vezes, as unidades mesclam conteúdos de história do Brasil e geral, com o objetivo
de enfocar a sociedade brasileira em permanente diálogo com outros povos e espaços.
Também faz parte do encerramento das unidades o Projeto Interdisciplinar, cujo objetivo é
aprofundar as abordagens interdisciplinares, estabelecendo o diálogo entre as diversas áreas do
conhecimento com o propósito de valorizar suas diferentes dimensões e formas de apreensão, num
processo voltado à formação global do estudante.
OS CAPÍTULOS
Cada capítulo apresenta estratégias e recursos variados para o ensino de História, como atividades
de sistematização do conteúdo estudado ou de pesquisa sobre determinados temas, entre outras
possibilidades. São estratégias e recursos que podem ser escolhidos conforme os objetivos do curso
e, sobretudo, de acordo com o perfil da turma.
Entretanto, é importante destacar que cada segmento desta coleção foi pensado como um conjunto,
formado por textos básicos, imagens, atividades, mapas, evidências históricas, entre outras partes.
Trata-se de um conjunto que objetiva desenvolver no aluno a percepção e o domínio das noções e
conceitos centrais da área de História.
VAMOS LÁ
Seção localizada na página inicial do capítulo. Na maioria das vezes, reúne um conjunto de recursos
com o objetivo de estabelecer relações entre o presente e o passado, bem como levantar hipóteses
sobre os conteúdos a serem estudados e sistematizar o conhecimento prévio do aluno, motivando -
o para o estudo do capítulo. Conta, em geral, com diversos tipos de textos (poemas, letras de
música, romances) e de imagens (fotografias, pinturas, ilustrações, gráficos, mapas).
TEXTO PRINCIPAL
Destina-se a desenvolver o assunto central do capítulo, e do qual deriva todo o restante do material,
desde a abertura até a seção Voltando ao início, fechando hipóteses. No texto principal, os
acontecimentos históricos são analisados em uma linguagem acessível para o aluno. O conteúdo
está organizado de forma cronológica, mas em permanente diálogo com outras temporalidades e
experiências sociais. Isso se concretiza, sobretudo, por meio de boxes, atividades e imagens. O texto
relaciona, ainda, diferentes esferas sociais, como política, economia, cotidiano e produção cultural.
Página 297
BOXES
Auxiliares no desenvolvimento do assunto central do capítulo, podem ser dos seguintes tipos:
• Você sabia?: reúne informações e temas relacionados ao texto principal do capítulo, ampliando,
muitas vezes, o conteúdo estudado e estabelecendo conexões entre as diferentes esferas da
sociedade (social, política, econômica e cultural).
• Ao seu redor: relaciona o tema tratado no capítulo à realidade próxima do aluno. É composto por
um texto e, muitas vezes, por propostas de atividades.
ATIVIDADES
Nesta coleção, as atividades não são um instrumento exclusivo de sistematização dos conteúdos ou
um mecanismo de preparação para os exames vestibulares. Ao contrário, planejadas para
acrescentar conteúdos, estabelecer debates, incentivar o trabalho coletivo e a pesquisa, elas
pretendem interferir na formação do aluno, tornando-o sujeito ativo e consciente na construção do
conhecimento e na atuação no mundo contemporâneo.
Além da seção inicial Vamos lá!, há, no meio do capítulo, a seção Pare e pense, atividade quase
sempre coletiva, com a função de incentivar o debate, a pesquisa e a reflexão sobre um assunto
importante naquele momento do estudo.
Cada capítulo é encerrado por um conjunto de atividades intitulado História em discussão, dividido
em:
• Roteiro de estudos: reúne uma série de questões, cujo objetivo é auxiliar na sistematização dos
principais conteúdos do capítulo.
• Mão na massa: a partir de um tema importante do capítulo, sugere, muitas vezes, uma atividade
em grupo, que exige pesquisa, relação com temas atuais, reflexões, debates etc. A seção foi
organizada em três eixos: Mão na massa: mundo do trabalho – para conhecer e explorar o mundo
do trabalho em uma perspectiva histórica; Mão na massa: ao seu redor – para trabalhar a realidade
próxima ao aluno e seu lugar de vivência; e Mão na massa: olhares múltiplos – para abordar algum
tema pertinente ao capítulo de maneira interdisciplinar.
Até recentemente, o ensino de História no Brasil refletia um saber histórico com forte tendência
eurocêntrica, mantendo em segundo plano o estudo da África e do papel dos africanos e seus
descendentes na construção da sociedade e da cultura brasileira. A África e os afrodescendentes só
participavam da História ensinada aos estudantes quando submetidos ao poder econômico e
político europeu. Assim, perdia-se uma grande chance de se discutir nas escolas a questão das
origens históricas do preconceito contra os afrodescendentes – vítimas antigas da discriminação,
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por causa da cor, da origem, da ancestralidade escravizada, entre outros aspectos. E negligenciava-
se a participação dos africanos e seus descendentes no processo de construção da sociedade
brasileira.
Os movimentos afro-brasileiros estão ajudando a mudar esse quadro. Entre as suas conquistas
temos a aprovação da Lei Federal n° 10.639/2003, que incluiu no currículo oficial da rede de ensino
a obrigatoriedade da temática “História e cultura afro-brasileira”. Essa legislação foi alterada,
posteriormente, pela Lei Federal n° 11.645/2008, que acrescentou o ensino de história indígena,
passando o texto da lei a tratar da obrigatoriedade da temática “História e cultura afrobrasileira e
indígena” no ensino básico.
O ensino da história que resgata a África, os afro-brasileiros e sua cultura possibilita a reformulação
de nossa memória histórica e identidade nacional, para que pensemos o Brasil, sua cultura,
sociedade e questões atuais com base na grande contribuição da matriz africana. A grande
diversidade de culturas, línguas, tradições, etnias e religiões desse continente atravessou o
Atlântico durante quase quatro séculos na bagagem das pessoas trazidas para cá como cativos. A
cultura brasileira formou-se, portanto, da forte interação com esse universo africano.
Acreditamos que essa coleção muito contribui para essas reformulações, uma vez que em vários
momentos resgata a história e a cultura da África e dos afro-brasileiros. Para isso, o professor deve
sempre direcionar o olhar do aluno para que perceba que a história da África e dos
afrodescendentes não se reduz à escravidão, pobreza ou submissão.
Assim, é extremamente importante enfatizar fatos históricos que apresentem os povos africanos e
seus descendentes em situações políticas, econômicas e sociais diversas. Frisar, por exemplo que os
primeiros seres humanos surgiram no continente africano e que, na Antiguidade, foi na África que
surgiu um dos reinos mais poderosos, criativos e opulentos da época, o Egito, e nele governaram
vários faraós negros. Mencionar outros reinos africanos ricos e poderosos, como o Império Kerma,
situado na região da Núbia. Comentar sobre os reinos do Congo e Dongo, que entraram em contato
com os portugueses, no início da Idade Moderna, e absorveram a cultura europeia, negociaram
escravos e fizeram guerra contra a dominação lusa. Explicar que, no Brasil, foi frequente a
resistência à escravidão, com fugas, revoltas e formação de quilombos.
Dessa forma, esta coleção colabora para a formação de cidadãos com memória histórica e
identidade nacional capazes de conceber um novo lugar social e político para os afrodescendentes.
Assim, ajudaremos a eliminar preconceitos e práticas racistas, construindo uma verdadeira
democracia, fundada no respeito à diversidade étnica e cultural da sociedade brasileira.
Com relação à África, aos africanos e seus descendentes, a coleção reúne várias possibilidades de
abordagens. Entre elas:
A África é tema central de vários capítulos do livro de 1° ano. O capítulo 1 destaca que a
humanidade surgiu no continente e hoje se encontra ali ameaçada.
O capítulo 4 trata das sociedades surgidas no continente durante a Antiguidade, em especial, o Egito
Antigo. Enfoca as relações entre os egípcios e outros povos do continente – tema pouco comum nos
livros didáticos, que normalmente só mencionam as relações entre Egito, Oriente Médio e regiões
próximas ao Mediterrâneo. Apresenta, também, a organização social, política e cultural de povos
africanos vizinhos ao império egípcio, e ainda comenta sobre a riqueza e poder do Império Kerma e
do reino de Punt.
O capítulo 16, que aborda as Grandes Navegações, consiste em outro momento para tratar do
assunto: o continente africano teve papel central nesse processo, pois reunia enormes riquezas e
possibilidades que atraíam os europeus.
Por último, a seção Debatendo a história propõe uma discussão sobre a origem dos afro-brasileiros,
com base na análise de um mapa e uma tabela.
O capítulo 6 trata da África durante a escravidão. Antes, porém, de entrar propriamente no tema,
apresenta uma síntese da história africana desde a Antiguidade. Aborda as redes de comércio
existentes na África antes da chegada dos portugueses, destacando a importância da difusão do
islamismo para a expansão e o crescimento dos contatos comerciais com o sul do Saara e o Oriente
Médio. Esse capítulo também retrata as transformações sofridas pelos reinos africanos diante do
tráfico de escravos, estabelecido pelos europeus, e a resistência de alguns povos e reinos ao avanço
português. Aborda, ainda, os bantos e iorubas, que vieram em grande número para o Brasil e
constituíram importantes matrizes culturais para a formação da sociedade brasileira. Finalmente,
propõe uma reflexão crítica sobre a escravidão, com base na análise das justificativas apresentadas
por teorias racistas do século XIX e por viajantes, religiosos e pensadores europeus da época
moderna.
O capítulo 8 apresenta uma imagem e uma legenda explicativa sobre a figura histórica de Xica da
Silva, escrava alforriada que conseguiu ascender socialmente. Destaca, também, a importância dos
afrodescendentes na sociedade mineira.
O capítulo 9 retrata a situação dos colonos da América portuguesa e destaca as revoltas dos
africanos e seus descendentes durante o período colonial.
Na abertura do capítulo 12, comenta-se sobre o lundu, um dos muitos ritmos desenvolvidos pelos
africanos e seus descendentes no Brasil, considerado por especialistas uma das raízes do samba.
Esse capítulo também aponta, por meio de ilustração e legenda, que a independência do Brasil não
trouxe avanços para a população escravizada.
No capítulo 16, a participação dos africanos e seus descendentes na Guerra do Paraguai aparece em
imagem produzida na época.
A África é tema constante deste volume, que trata, entre outros assuntos, da emergência do
Terceiro Mundo.
O capítulo 9, por exemplo, cujo tema central é o continente africano, aborda a luta dos povos
africanos por sua autodeterminação. Em relação à literatura africana, destaca a obra do angolano
Pepetela, que retrata a luta pela libertação de Angola e o papel do MPLA, e do moçambicano Mia
Couto. Apresenta, também, o conceito de africanidade, propondo uma discussão sobre a influência
da cultura africana transportada e recriada no Brasil.
A própria existência da Lei n o 11.645/2008, que determinou o ensino de “História e cultura afro-
brasileira e indígena”, denuncia que havia uma lacuna na formação dos jovens brasileiros. E, de fato,
os indígenas entravam na história do Brasil como um grupo coeso étnica e culturalmente, visto ora
como selvagem e bárbaro, ora como ingênuo e indefeso. Ocultava-se, assim, a rica diversidade
étnica e cultural dos povos nativos destas terras.
Esta coleção resgata a figura do indígena como sujeito histórico e importante matriz para a
formação da sociedade brasileira. Por meio de mapas e sugestões de sites, fica evidente a
pluralidade étnica e cultural dos grupos indígenas. O professor pode destacar essa diversidade e,
assim, começar a construção de uma nova representação sobre os povos indígenas.
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A coleção aborda desde a origem dos grupos indígenas aqui existentes em 1500 – época da chegada
dos portugueses – até os problemas por eles enfrentados na atualidade. Veja alguns conteúdos:
O capítulo 2 trata dos primeiros povoadores do atual território brasileiro. O boxe O estudo da
história apresenta a periodização referente à ocupação do território, localizando no tempo a
formação dos atuais povos indígenas do Brasil. O boxe Conexão presente aponta a Amazônia como o
berço dos ancestrais dos grupos indígenas. Ainda sobre esses povos ancestrais, o item Ocupando o
litoral ressalta a importância dos sambaquis como vestígios que colaboram para a identificação do
modo de vida desses antepassados.
O capítulo 17 aborda os povos americanos antes de 1500, como os Tupi-Guarani. Entre outros
aspectos da vida dos Tupi -Guarani, o capítulo apresenta a organização social, os modos e as
relações de produção, além de características culturais. O boxe Conexão presente retrata o cenário
atual da população indígena do Brasil, enfocando problemas como a discriminação e a invasão de
suas terras.
No primeiro tópico do capítulo 19, Igual, até hoje, é apresentada a história do povo Xavante. Nos
boxes Você sabia? aparecem as primeiras relações estabelecidas entre as nações indígenas e os
portugueses, com destaque para o papel fundamental exercido pelos nativos na sobrevivência dos
colonizadores.
O capítulo 17 trata dos povos da floresta, como seringueiros, castanheiros e indígenas. No boxe
Você Sabia?: “A luta pela Amazônia” são apresentados os movimentos em defesa das comunidades
tradicionais que vivem na floresta, ressaltando a importância de Chico Mendes.
• CLARO, Regina. Olhar a África: fontes visuais para a sala de aula. São Paulo: Hedra Educação,
2012.
O livro oferece 12 capítulos na forma de oficinas, com o propósito de incentivar o estudo da África
por meio da análise de imagens. Apresenta desde pinturas rupestres até produções artísticas
africanas contemporâneas, compondo uma abordagem dinâmica e criativa para o ensino da história
do continente africano.
• Coleção História Geral da África (8 volumes). Brasília: Unesco, Secad/MEC, UFSCar, 2010.
Disponível gratuitamente na internet, esta obra, organizada pela Unesco, é um grande marco no
processo de reconhecimento do patrimônio cultural da África, pois permite compreender o
desenvolvimento histórico dos povos africanos e sua relação com outras civilizações a partir de
uma visão panorâmica, diacrônica e objetiva, obtida de dentro do continente. A coleção foi
produzida por mais de 350 especialistas das mais variadas áreas do conhecimento, sob a direção de
um Comitê Científico Internacional formado por 39 intelectuais, dos quais dois terços eram
africanos.
• HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à história contemporânea. Rio de Janeiro:
Selo Negro, 2005.
O livro propõe um novo enfoque sobre a África, apresentada como um continente marcado por
inúmeros processos históricos, pela diversidade cultural, por identidades complexas e, muitas
vezes, contraditórias. Trabalha temas importantes como violência, discriminação e arbitrariedades
dos regimes coloniais, que possibilitarão um maior entendimento da história contemporânea
africana.
• NASCIMENTO, Elisa Larkin. O tempo dos povos africanos: suplemento didático da linha do tempo
dos povos africanos. Ipeafro, Secad/MEC, Unesco, 2007.
O livro parte de pesquisas científicas recentes, que identificam na África o berço da humanidade e
demonstram que o continente está no início e no centro da história universal do mundo.
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Com esse intuito a autora elaborou uma linha do tempo dos povos africanos, dividida em períodos
de 500 anos, apresentando imagens, fatos e textos sobre a história africana desde 4 500 a.C. até o
ano 2 000 d.C.
• SILVA, Alberto da Costa e. A enxada e a lança: a África antes dos portugueses. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1996.
O livro faz um panorama da África, dos primórdios do continente ao ano de 1500. Fala de povos e
etnias, técnicas agrícolas e de navegação, expressões religiosas e artísticas, reinos extintos, cidades
desaparecidas, costumes e crenças, línguas e dialetos africanos. Apresenta a origem histórica das
tribos dos escravos que contribuíram para a formação cultural brasileira.
• ___________. A manilha e o limbo: a África e a escravidão de 1500 a 1700. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira/ Fundação Biblioteca Nacional, 2002.
O livro trata da história das sociedades e as estruturas de poder na África, seus conflitos e a
organização do comércio regional, fornecendo pistas sobre as origens dos antepassados africanos.
• FLORENTINO, Manolo Garcia. Em costas negras: uma história do tráfico atlântico de escravos
entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVIII e XIX). São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
Além de fazer uma análise econômica do tráfico de escravos, o livro discute a necessidade de voltar
o olhar para o continente africano, no intuito de entender os processos históricos brasileiros.
O livro trata de revoltas de negros escravizados na América entre o final do século XVIII e início do
XIX. Essa onda de revoltas resultou num clima generalizado de histeria nas colônias. A principal
inovação desse período foi o envio de negros “indesejáveis” de volta à África, para que não
perturbassem a ordem escravista.
O livro analisa documentos da época sob diferentes ângulos, possibilitando uma nova interpretação
dos significados políticos da escravidão. A autora estuda a experiência de homens e mulheres
trazidos da África como cativos, trabalhando as relações de poder, escravidão e cultura no Brasil.
O autor percorre o trajeto feito pelo tráfico de africanos entre Angola e Rio de Janeiro, do final do
século XVIII até meados do século XIX, fazendo uma abordagem com base na história social. Seus
temas abarcam a captura e venda de pessoas na África, as relações sociais dentro dos navios, a
alimentação e as doenças, os primeiros contatos com a nova terra, além de negociações e
intermediários do tráfico.
• SANTOS, Joel Rufino dos. Na rota dos tubarões: o tráfico negreiro e outras viagens. Rio de Janeiro:
Pallas, 2008.
A obra apresenta alguns caminhos e origens do tráfico negreiro. Durante a leitura do livro,
descobrem-se detalhes das viagens, dos grandes navios e das fortunas envolvidas nessa cruel
atividade que perdurou até a metade do século XIX.
Africanos no Brasil
• GONÇALVES, Maria Alice Rezende (Org.). Educação, arte e cultura africana de língua portuguesa.
Rio de Janeiro: Neab/UERJ, 2007. Coleção Sempre Negro.
A obra apresenta um conjunto de textos que os professores poderão introduzir no currículo escolar
em cumprimento à Lei n. 10.639/03. É com esse espírito que os autores dessa coletânea
apresentam suas contribuições para a discussão da questão étnico-racial na escola.
• ___________. Educação, cultura e literatura afro-brasileira. Rio de Janeiro: Neab/UERJ, 2007. Coleção
Sempre Negro.
O livro é composto de um conjunto de textos que abordam uma variedade de temas oferecendo aos
educadores vasto e fundamentado material para abordar a temática em sala de aula.
• REIS, João José. Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos Malês em 1835. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003.
• SOUZA, Marina de Mello e. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006.
O livro trata das sociedades africanas, sua história e cultura antes e depois da escravidão. Reflete,
também, sobre como a importação de cativos por mais de 300 anos influenciou culturalmente a
sociedade brasileira.
• TELLES, Teresa Silva; MELO, Mariana. Meu Brasil africano. São Paulo: Ibep, 2013.
Nesta obra, as autoras identificam e discutem a importância do legado africano em nosso país. Na
primeira parte do livro, apresentam um amplo panorama do continente africano, antes e depois da
chegada dos europeus. Na segunda parte, discutem a matriz africana de nosso país, identificando o
negro como agente da nossa história, que contribuiu para a formação da nossa cultura.
• COHN, Clarice. Culturas em transformação: os índios e a civilização. São Paulo: Perspectiva. 2001.
Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-
88392001000200006&lng=en&tlng= en>. Acesso em: 26 abr. 2016.
• CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras/Fapesp, 1992.
• FREIRE, José Ribamar Bessa. Aldeamentos indígenas do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Eduerj,
2009.
O livro traça um cenário da vida dos primeiros habitantes fluminenses, desde a chegada do
colonizador europeu até o século XX. A obra é ilustrada por desenhos de gravuristas como
Rugendas e Debret e textos extraídos de diários de exploradores e viajantes, tais como Pero
Magalhães Gândavo, além de registros oficiais da época.
• ___________. Stradelli, nheengatu e literatura oral do rio negro (AM-Brasil): língua, memória e
patrimônio. Perugia: Quadernidithule, 2009.
O livro procura discutir as políticas que contribuíram para o destino de centenas de línguas
amazônicas. Destaca-se a função social e a importância do Nheengatu na Amazônia e os estudos do
conde Ermanno Stradelli (1852-1926), que viveu 43 anos na região. Ele elaborou um dicionário
Nheengatu-Português e Português-Nheengatu, coletou e publicou narrativas míticas e inúmeros
textos em jornais e revistas especializadas da Itália e do Brasil.
• KAHN, Marina. Abc dos povos indígenas no Brasil. São Paulo: SM, 2015.
A obra busca mostrar que o Brasil indígena é amplo e diversificado. São 234 povos vivendo de norte
a sul do país, falantes de 180 línguas distintas, sem contar os grupos que permanecem isolados. Um
universo fascinante, que se revela na variedade dos estilos e técnicas de pintura corporal, nos tipos
de festas e cerimônias, como as que envolvem ritos de passagem, no sortimento de artefatos, nas
formas de relacionamento com a natureza.
• MALDI, Denise. De confederados a bárbaros: a representação da territorialidade e da fronteira
indígenas nos séculos XVIII e XIX. Revista de Antropologia, 1997. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid= S0034 -77011997000200006>. Acesso em: 26 abr. 2016.
• MONTEIRO, John Manuel. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São
Paulo: Companhia das Letras, 1994.
O autor analisa a formação da sociedade paulista entre os séculos XVI e XVIII, tendo como atores as
populações indígenas, chamadas de negros da terra, em contato diferenciado com os colonos e
jesuítas.
RECURSOS PEDAGÓGICOS
Para o desenvolvimento do ensino de História, é possível utilizar diversos recursos, dentre eles,
filmes, textos literários e fotografias. A coleção incentiva o uso desses materiais. Por isso, reunimos,
a seguir, algumas considerações, com a intenção de auxiliar no uso desses recursos em sala de aula.
Assim, ao planejar o curso, leve em conta essas dicas, adaptando-as à sua realidade e acrescentando
novas perspectivas.
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Evidências históricas
Os materiais primários de pesquisa utilizados pelo historiador podem receber diversos nomes:
documentos históricos, fontes históricas, evidências históricas. Nesta coleção, optamos pelo último
termo, para nos afastarmos, em parte, dos paradigmas positivistas. Esses materiais – que podem ser
escritos, sonoros ou visuais – apresentam-se sob múltiplas formas, como: inscrições rupestres,
livros, depoimentos jurídicos, anúncios de jornal, relatórios médicos, roupas, utensílios domésticos,
máquinas industriais, fotografias, músicas, poemas. Essa imensa variedade fornece pistas ao
pesquisador para compreender e refletir sobre os acontecimentos do passado e, sobretudo, para
desenvolver suas interpretações. É importante entender, entretanto, que esses materiais não
podem reproduzir a realidade tal como existiu. Na verdade, eles constituem representações de
determinada época e trazem as marcas de seu tempo. Por isso, devem ser analisados com prudência
e senso crítico, buscando-se compreender a relação entre as evidências históricas e o contexto
social em que foram produzidas.
Nessa análise, o pesquisador deve considerar vários aspectos, cumprindo um ritual que contém os
seguintes itens:
É importante adotar os procedimentos acima para qualquer tipo de material primário, imagem ou
texto. Afinal, toda evidência deve ser submetida, e com o mesmo rigor, aos parâmetros que regem
os trabalhos da pesquisa histórica.
Cinema
A partir do século XX, o cinema tornou-se um poderoso meio de comunicação social, que atrai a
atenção de muitos estudiosos, entre eles os historiadores. Sempre houve um grande interesse pela
interpretação histórica dos filmes – sejam eles ficcionais ou documentários –, pois abordam temas
que representam o passado, ou até mesmo a sociedade em que foram produzidos. Como escreveu o
historiador Marc Ferro: “O filme, imagem ou não da realidade, documento ou ficção, intriga
autêntica ou pura invenção, é história.” 5
Durante a análise de determinado filme, o professor e os alunos podem discutir diversas questões,
como:
É possível, também, propor aos alunos que observem a fotografia, o figurino, a maneira como
determinados personagens são retratados, a trilha sonora etc. É importante também que os
estudantes pesquisem sobre o diretor, principais atores, contexto histórico em que o filme foi
produzido e país de origem.
Essas questões, entre outras, podem suscitar a crítica e o debate a respeito do filme. Além disso, é
indispensável que o professor assista ao filme antes da exibição aos alunos, para que verifique a
adequação do tema e das cenas, preparando o trabalho a ser desenvolvido.
Lembre-se de que o filme é elaborado, na maioria das vezes, com a finalidade de entreter pessoas,
por cerca de duas horas, em uma sala escura de projeção. Para isso, os profissionais da área criam
enredos, situações e climas nem sempre condizentes com o rigor da pesquisa histórica.
Alerte os alunos sobre esse aspecto, sobretudo para que não busquem nas telas uma verdade
absoluta. É preciso olhar para o filme como uma produção cultural datada, inserida no seu tempo e
nas relações sociais que a cercam.
5FERRO, Marc. O filme: uma contra-análise da sociedade? In: LE GOFF, Jacques; NORA, Pierre. História: novos objetos. Rio de
Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 203.
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A coleção apresenta várias oportunidades para trabalhar com filmes. Mais adiante, há uma relação
de sugestões de filmes pertinentes aos assuntos estudados nos três volumes. Bem planejados, esses
filmes constituem um interessante recurso didático.
Mapas históricos
Estimule os alunos a perceberem que os mapas históricos correspondem a uma representação, uma
interpretação do real, que pode ser feita de outras maneiras e com base em outros critérios. Nos
mapas históricos, portanto, não está expressa a verdade absoluta.
Sempre que possível, relacione os mapas históricos com a geografia. A cartografia, o conhecimento
do espaço, do clima, relevo, vegetação, entre outros aspectos, ajudam na reflexão acerca das
representações cartográficas.
Arte e literatura
O historiador pode encontrar nas artes plásticas e na literatura importantes fontes de pesquisa e de
estudo sobre as vivências humanas. Alguns dos elementos que podem ser analisados são:
Ao analisar uma obra de arte ou um texto literário, é importante considerar que eles tanto
interferem no meio social em que estão inseridos, quanto são influenciados por ele. Sobre essa
dupla perspectiva, Antonio Candido escreveu: “Percebe-se o movimento dialético que engloba a
arte e a sociedade num vasto sistema solidário de relações recíprocas”. 6
A análise de obras de arte e de literatura permite um rico trabalho interdisciplinar com as áreas de
Língua Portuguesa, Artes, Sociologia e Filosofia.
Imagens
É importante incentivar nos alunos uma observação atenta das imagens para que percebam
aspectos como a disposição dos elementos no espaço, a composição da cena, a construção do
discurso imagético, buscando, assim, educá-los para a análise e o trabalho com esse tipo de
material.
Outro fator importante refere-se a como organizar as observações no trabalho com a imagem.
Primeiro, o aluno deve fazer uma descrição da cena, de cada uma de suas partes, desde os
elementos retratados até o tema abordado. Depois, deve formular perguntas, hipóteses e
interpretações, procurando associar as imagens ao tema estudado no capítulo.
Além disso, é necessário atentar para as condições de produção da imagem, como as técnicas
empregadas, os valores e o contexto social em que foi produzida. Esse tipo de análise favorece a
identificação da imagem como uma evidência histórica, que retrata não apenas o tema
representado, mas também o momento histórico do qual a obra faz parte.
O uso das imagens como recurso didático permite que o aluno desenvolva a capacidade de
observação, aprimore a sistematização de informações, infira dados sobre o contexto em que as
imagens foram produzidas e, principalmente, aprenda a analisar de forma crítica esses elementos
cada vez mais importantes nas sociedades contemporâneas.
Sugerimos que o professor trabalhe com seus alunos o acervo iconográfico desta coleção, que
dialoga com o conteúdo desenvolvido no texto. Nesse sentido, recomendamos considerar, por
exemplo, as imagens de abertura das unidades e dos capítulos, dos boxes e seções de atividades.
Jornais e revistas
O trabalho desenvolvido com base em notícias divulgadas pela imprensa tem a vantagem de
expressar o tempo presente. Entretanto, ao trabalhar com notícias, é preciso esclarecer aos alunos
que elas representam a visão e a versão de quem as publicou, e não uma única verdade.
Diante do poder exercido pela mídia na atualidade, essas reflexões possibilitam o desenvolvimento
de leitores críticos, capazes de desvendar o papel deste ou daquele veículo nas relações sociais.
Deve-se, assim, motivar os alunos a analisarem as notícias e, sempre que possível, solicitar que
tragam outras reportagens e artigos para serem contrapostos aos que leram no livro.
PROCESSO DE AVALIAÇÃO
No processo de avaliação, mais relevante do que atribuir uma nota ou conceito é obter informações
sobre a aprendizagem dos alunos com a finalidade de ajudá-los a avançar e aprender.
O professor Charles Hadji é um dos defensores da denominada avaliação formativa. Segundo ele,
essa avaliação tem três características principais. A primeira característica é o seu caráter
informativo, ou seja, ela fornece dados sobre a condução do processo de ensino e aprendizagem. A
segunda, decorrente da primeira, é a possibilidade, com base nos dados fornecidos, de permitir que
o professor reflita sobre o seu trabalho e o aluno se conscientize de suas dificuldades,
reconhecendo seus possíveis erros. A terceira é a função “corretiva” dessa avaliação, resultado da
existência da variabilidade didática. Sobre a variabilidade didática, Hadji afirma:
(...) o professor, assim como o aluno, deve poder “corrigir” sua ação, modificando, se necessário, seu dispositivo
pedagógico, com o objetivo de obter melhores efeitos por meio de uma maior “variabilidade didática”. A avaliação
formativa implica, por parte do professor, flexibilidade e vontade de adaptação, de ajuste. Este é sem dúvida um
dos únicos indicativos capazes de fazer com que se reconheça de fora uma avaliação formativa: o aumento da
“variabilidade didática”. Uma avaliação que não é seguida por uma modificação das práticas do professor tem
poucas chances de ser formativa! Por outro lado, compreende - se por que se diz frequentemente que a avaliação
formativa é, antes, contínua. A inscrição no centro do ato de formação se traduz, na verdade, por uma melhor
articulação entre a coleta de informações e a ação remediadora. As correções a serem feitas com o objetivo de
melhorar o desempenho do aluno, e que concernem, portanto, tanto à ação de ensino do professor quanto à
atividade de aprendizagem do aluno, são escolhidas em função da análise da situação, tornada possível pela
avaliação formativa. O remédio baseia-se no diagnóstico, o que permite aos atores retificar as modalidades da
ação em andamento. 7
A avaliação formativa, portanto, preocupa-se com o processo de aprendizagem. Esse processo não é
uniforme e depende dos conhecimentos e competências desenvolvidas anteriormente por cada um
dos alunos. Dessa forma, a avaliação pressupõe certo grau de individualização do processo de
aprendizagem. Por isso, para Hadji, o único procedimento que de fato atesta a prática de uma
avaliação formativa é a variabilidade didática, que decorre da obtenção de informação sobre o que e
como o aluno aprende.
Em outras palavras, num processo de avaliação formativa, obtemos informações que podem ser
usadas para ajudar os diferentes alunos a aprenderem. Em consequência disso, é necessário pensar
em propostas diferenciadas. Quando a variabilidade didática não acontece, podemos dizer que o
processo pode ter sido presidido por uma intenção formativa, mas ela não se concretizou de fato.
Uma das formas de viabilizar esse tipo de avaliação é a análise das tarefas propostas aos alunos.
Hadji propõe a decomposição da tarefa em suas etapas primordiais, objetivando a elaboração de
critérios de realização que norteiem os alunos na execução da atividade e o professor na sua
apreciação. Esses critérios também informam sobre as dificuldades e facilidades encontradas pelos
estudantes ao cumprir a tarefa.
Outra questão fundamental para essa reflexão é: Como a avaliação formativa pode ser aplicada no
processo de ensino-aprendizagem de História? Tradicionalmente, a avaliação em História centrava-
se na memorização e na apreensão passiva de ideias e conceitos, e os instrumentos básicos
utilizados eram o questionário e as provas escritas e orais.
Dessas novas experiências surgiram algumas diretrizes para a avaliação em História, como: adotar
práticas avaliativas voltadas para a formação e o desenvolvimento do aluno na sua totalidade;
realizar avaliações diagnósticas para considerar e relacionar os conhecimentos prévios no processo
de avaliação; utilizar ferramentas avaliativas para desenvolver as competências e as habilidades de
organização das informações estudadas por meio de sínteses escritas ou orais; usar instrumentos
diversificados para expressar a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades cognitivas,
como: conceituação, explicação, noções de tempo como duração, sucessão e simultaneidade e
relações de causalidade; estabelecer critérios de avaliação tendo em vista a compreensão do
processo histórico e as relações entre os fatos históricos investigados.
Tendo em vista essas diretrizes, alguns procedimentos passaram a ser valorizados no ensino,
aprendizagem e avaliação no âmbito da disciplina. Por exemplo, a leitura de textos deixou de ser
vista como mera localização de informações para ser trabalhada como atividade de interpretação,
análise e pesquisa sobre fatos, processos e conceitos históricos. E a escrita de textos individuais ou
coletivos possibilitou a organização dos conceitos e conteúdos apreendidos e a elaboração de
argumentos. Nesse sentido, provas com consulta a textos e a registros de informações feitas pelos
alunos mostraram um grande potencial para avaliar a capacidade de pesquisa, interpretação e
desenvolvimento de argumentos pelos estudantes.
Além disso, a avaliação em História adotou procedimentos que permitem verificar se o aluno
adquiriu a capacidade de leitura de linguagens contemporâneas, como o cinema, a fotografia e a
televisão, por meio da observação, análise e interpretação de imagens.
Nesse contexto, alguns desafios são postos ao processo de ensino, aprendizagem e avaliação em
História, como a seleção de conteúdos relevantes, relacionados à realidade dos alunos, e a
elaboração de atividades significativas. Nessa perspectiva, o professor, gradualmente, deixa de ser
mero transmissor de informações e o aluno mero receptor passivo, constituindo-se sujeitos
históricos e produtores de conhecimento.
Nesse processo de avaliação, podem ainda ser considerados outros aspectos, como instrumentos:
• de autoavaliação;
No fechamento de cada etapa do processo avaliativo, seja ela feita por blocos de conteúdos ou
associada a períodos escolares, enfatizamos a importância da autoavaliação, momento em que o
aluno pode fazer um balanço do próprio aproveitamento, contando com o acompanhamento do
professor. Para viabilizar a autoavaliação, devem ser apresentados, no início do trabalho com a
turma, os objetivos mínimos a serem alcançados. Durante a avaliação, os temas estudados naquele
período podem ser retomados, assim como as atividades realizadas e os objetivos preestabelecidos
com os alunos.
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Esses dados servirão de parâmetro para a autoavaliação, que pode ser oral ou escrita. É importante
lembrar que nem todos os alunos se sentem suficientemente seguros para se expor diante do
grupo, e essa característica deve ser respeitada. É fundamental apoiar-se nos resultados do
processo avaliativo para discutir conquistas e dificuldades, a fim de definir as mudanças
necessárias.
Esta coleção pode ser muito útil em todo esse processo avaliativo. A seção Roteiro de estudos, por
exemplo, possibilita ao aluno verificar se compreendeu os conceitos, fatos e processos históricos
estudados. Já a capacidade de síntese pode ser explorada na seção Voltando ao início, fechando
hipóteses, cujas atividades propostas podem ser complementadas, solicitando que o aluno
apresente e explique aquilo que aprendeu. Os textos e as atividades dos diferentes boxes ao longo e
ao final dos capítulos favorecem a avaliação de diferentes habilidades e competências por parte dos
alunos. A seção interdisciplinar ao final das unidades possibilita avaliar uma compreensão mais
global dos conteúdos estudados, já as questões de vestibulares e do Enem podem ser utilizadas ao
longo de todo o estudo dos capítulos.
2. DICAS E SUGESTÕES
FILMES E SITES: MATERIAIS COMPLEMENTARES
A seguir, apresentamos uma lista de filmes e sites indicados para complementar o trabalho com
esta coleção de História. Embora abrangente, é preciso destacar que essas indicações não se
encerram aqui, fazendo-se útil e até mesmo necessária sua constante atualização.
Filmes
Ao utilizar um filme como material de apoio em sala de aula, ou ao indicá-lo aos alunos, lembre-se
de que ele é um vestígio histórico, mas também reflexo de seu tempo. Na verdade, um filme
representa muito mais a época em que foi feito do que o assunto tratado.
Recomendamos novamente ao professor para que assista aos filmes previamente, com o objetivo de
avaliar se possuem cenas inapropriadas, como violência desnecessária. É óbvio que filmes sobre
conflitos e guerras contêm cenas fortes e de violência, mas isso deve ser contextualizado e
trabalhado com os alunos e, se necessário, avisado aos pais e responsáveis antes da exibição do
filme.
• Ágora. Dir.: Alejandro Amenábar. Espanha, Mod Producciones, 2009. 127 min.
• Alexandre. Dir.: Oliver Stone. Estados Unidos, Warner Bros, 2004. 176 min.
• Átila, o huno. Dir.: Richard Lowry. Estados Unidos, 2001. 107 min.
• Êxodo: deuses e reis. Dir.: Ridley Scott. Espanha/Estados Unidos/Reino Unido, 20th Century Fox,
2014. 150 min.
• Os dez mandamentos. Dir.: Cecil B. D. Mille. Estados Unidos, 1956. 229 min.
• Rei David. Dir.: Bruce Beresford. Estados Unidos, 1985. 120 min.
MUNDO MEDIEVAL
• O nome da rosa. Dir.: Jean Jacques Annaud. Alemanha/França/Itália, 1986. 130 min.
• Robin Hood. Dir.: Ridley Scott. Estados Unidos/Reino Unido, 2010, 140 min.
• 1492: a conquista do paraíso. Dir.: Ridley Scott. Espanha/França/Inglaterra, 1992. 150 min.
• Agonia e êxtase. Dir.: Carol Reed. Estados Unidos, 1965. 138 min.
• Aguirre, a cólera dos deuses. Dir.: Werner Herzog. Alemanha, 1972. 95 min.
• Carlota Joaquina, princesa do Brazil. Dir.: Carla Camurati. Brasil, 1995. 100 min.
• Cristóvão Colombo, a aventura do descobrimento. Dir.: John Glen. Estados Unidos, 1992. 92 min.
• Dança com lobos. Dir.: Kevin Costner. Estados Unidos, 1990. 180 min.
• Danton, o processo da revolução. Dir.: Andrzej Wajda. França/Polônia, 1982. 131 min.
• Elizabeth, a era de ouro. Dir.: Shekhar Kapur. Grã -Bretanha/França/Alemanha, 2008. 114 min.
• Maria Antonieta. Dir.: Sofia Coppola. Estados Unidos/França/Japão, 2006. 123 min.
• O novo mundo. Dir.: Terrence Malick. Estados Unidos/Grã -Bretanha, 2005. 135 min.
• Anahy de las misiones. Dir.: Sérgio Silva. Brasil/Argentina, 1997. 107 min.
• O ano em que meus pais saíram de férias. Dir.: Cao Hamburguer. Brasil, 2006. 110 min.
• Baile perfumado. Dir.: Paulo Caldas e Lírio Ferreira. Brasil, 1996. 93 min.
• Boa noite e boa sorte. Dir.: George Clooney. Estados Unidos/Grã -Bretanha/França/Japão, 2005.
93 min.
• Cabra marcado pra morrer. Dir.: Eduardo Coutinho. Brasil, 1984. 120 min.
• Cartas de Iwo Jima. Dir.: Clint Eastwood. Estados Unidos, 2006. 141 min.
• Che, a guerrilha. Dir.: Steven Soderbergh. França/Espanha/Estados Unidos, 2008. 135 min.
• A conquista da honra. Dir.: Clint Eastwood. Estados Unidos, 2006. 132 min.
• Diamante de sangue. Dir.: Edward Zwick. Estados Unidos/Alemanha, 2006. 143 min.
• Doze anos de escravidão. Dir.: Steve MacQueen. Estados Unidos/Reino Unido, 2013. 134 min.
• Fly boys. Dir.: Tony Bill. Grã -Bretanha/Estados Unidos, 2006. 140 min.
• Gaijin, os caminhos da liberdade. Dir.: Tizuka Yamazaki. Brasil, 1980. 112 min.
• Hotel Ruanda. Dir.: Terry George. Grã -Bretanha/Estados Unidos/Itália/África do Sul, 2004. 121
min.
• Lawrence da Arábia. Dir.: David Lean. Grã -Bretanha, 1962. 222 min.
• A lista de Schindler. Dir.: Steven Spielberg. Estados Unidos, 1993. 195 min.
• Mauá, o imperador e o rei. Dir.: Sérgio Resende. Brasil, 1999. 134 min.
• Oliver Twist. Dir. Roman Polanski. França/Itália/Reino Unido/República Checa, 2005. 130 min.
• Ponte dos espiões. Dir.: Steven Spielberg. Estados Unidos, 2015. 141 min.
• Poeira & batom. 50 mulheres na construção de Brasília. Dir.: Mônica Gaspar e Tânia Fontenele.
Brasil, 2010.
• O que é isso, companheiro? Dir.: Bruno Barreto. Brasil, 1997. 105 min.
• A sombra de Goya. Dir.: Milos Forman. Estados Unidos/Espanha, 2006. 113 min.
• O último imperador. Dir.: Bernardo Bertolucci. China/Itália/Grã -Bretanha/França, 1987. 163 min.
• O último rei da Escócia. Dir.: Kevin Macdonald. Grã -Bretanha, 2006. 121min.
• O último samurai. Dir.: Edward Zwick. Estados Unidos, 2003. 154 min.
• Viva Zapata! Dir.: Elia Kazan. Estados Unidos, 1952. 113 min.
Sites
• <http://futuro.usp.br>. Site da Escola do Futuro da Universidade de São Paulo. Conta com textos
de apoio ao professor e ao aluno, além de livros completos que se tornaram de domínio público.
Além das indicações acima, sugerimos a visita a sites de museus, bibliotecas e universidades em
geral. Muitos desses sites possibilitam a visita virtual ao local, disponibilizando também materiais
de pesquisa.
História e historiografia
BLOCH, Marc. Apologia da história ou o ofício de historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BURKE, Peter (Org.). A escrita da história: suas novas perspectivas. São Paulo: Unesp, s.d.
D’ALESSIO, Márcia Mansor. Reflexões sobre o saber histórico. São Paulo: Unesp, 1998.
DOSSE, François. Renascimento do acontecimento. Trad.: MOREL, Constância. São Paulo: Edit. da
Unesp, 2013.
GINZBURG, Carlo. O fio e os rastros; verdadeiro, falso, fictício. São Paulo: Companhia das Letras,
2008.
HOBSBAWM, Eric J. Sobre a história. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
PALLARES-BURKE, Maria Lúcia Garcia. As muitas faces da história. São Paulo: Unesp, 2000.
QUEIROZ, Teresa Aline Pereira. A história do historiador. São Paulo: Humanitas, 1999.
REVEL, Jacques. Proposições: ensaios de história e historiografia. Rio de Janeiro: Editora da Uerj,
2010.
Ensino de história
BITTENCOURT, Circe (Org.). Ensino de história: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2008.
CABRINI, Conceição. Ensino de história: revisão urgente. São Paulo: Brasiliense, 1994.
CARRETERO, M.; ROSA, A.; GONZALES, M. F. Ensino da História e memória coletiva. Porto Alegre:
Artmed, 2007.
CITELLI, Adilson (Coord.). Outras linguagens na escola: publicidade, cinema e TV, rádio, jogos,
informática. São Paulo: Cortez, 2000.
HERNANDEZ, Leila Leite. África na sala de aula: visita à história contemporânea. 2. ed. São Paulo:
Selo Negro, 2008.
Página 311
JESUS, Nauk de (Org.). Ensino de História: trajetórias em movimento. Cáceres (MT): Unemat, 2007.
KARNAL, Leandro (Org.). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo:
Contexto, 2003.
MONTEIRO, Ana Maria Ferreira da Costa. Professores de História: entre saberes e práticas. Rio de
Janeiro: Mauad X, 2007.
NEVES, Maria Aparecida Mamede. Ensinando e aprendendo a história. São Paulo: EPU, s.d.
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ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.
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___________. Grécia primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica. São Paulo: Martins Fontes, 1990. (O
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JAEGER, Werner Wilhelm. Paideia: a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
PINSKY, Jaime. 100 textos de História antiga. São Paulo: Contexto, 1991.
VERNANT, Jean Pierre. Mito e pensamento entre os gregos: estudos de psicologia histórica. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1990.
Idade Média
ARIÉS, P.; DUBY, G. (Org.). História da vida privada: do Império Romano ao ano mil. São Paulo:
Companhia das Letras, 1990. v. 1.
___________. História da vida privada: da Europa feudal à Renascença. São Paulo: Companhia das
Letras, 1990. v. 2.
BELTING, Hans. Semelhança e presença. A história da imagem antes da era da arte. Rio de Janeiro:
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FRANCO JUNIOR, H. A Idade Média: nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 1986. (Tudo é
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___________. SCHMITT, Jean -Claude. Dicionário temático do Ocidente medieval. Bauru: Edusc, 2002. 2
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África e a escravidão
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FLORENTINO, Manolo. Em costas negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Rio
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GURAN, Milton. Agudás: os brasileiros do Benim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira/Gama Filho, 2000.
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VISENTINI, Paulo G. Fagundes & PEREIRA, Analúcia Danilevicz. História do mundo contemporâneo:
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MARSON, Isabel. O império do progresso: a Revolução Praieira. São Paulo: Brasiliense, 1987.
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Sociedade industrial
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Brasil republicano
AMARAL, Aracy A. Artes plásticas na semana de 22. São Paulo: Editora 34, 1998.
ARAUJO, Maria Paula Nascimento. Lutas democráticas contra a ditadura.In: FERREIRA, Jorge e REIS,
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COSTA, Emília Viotti da. Da monarquia à república: momentos decisivos. São Paulo: Unesp, 1999.
FERREIRA, Jorge e REIS, Daniel A. (Orgs.). Nacionalismo e reformismo radical. Rio de Janeiro:
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FICO, Carlos et alli (Orgs.).Ditadura e democracia na América Latina. Rio de Janeiro: Editora FGV,
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MELLO, Maria Tereza. A república consentida. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.
OLIVEIRA, Lucia Lippi. Cultura é patrimônio: um guia. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.
SOUSA, Miliandre. Do teatro militante à música engajada: a experiência do CPC da UNE. São Paulo:
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STEPAN, Alfred. Os militares na política: as mudanças de padrões na vida brasileira. Rio de Janeiro:
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Guerra Fria
ALI, Tariq. Um curso rápido de história do imperialismo americano. Rio de Janeiro: Record, 2002.
HOBSBAWM, E. J. A era dos extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS
Como exemplo, propomos um modelo de planejamento com algumas atividades que poderiam
compor uma sequência didática a respeito da ditadura militar no Brasil (3 o ano). Apesar de
incompleta, a sequência já demonstra o grau de importância de um planejamento desse tipo para a
reflexão da prática docente e a socialização de estratégias, encaminhamentos e atividades.
Esse registro permite construir uma referência comum, contribuindo para a reflexão didático-
pedagógica e viabilizando um trabalho coletivo em torno da discussão das práticas implementadas
em sala de aula.
Os encaminhamentos revelam como as atividades serão realizadas, constituindo uma espécie de
vitrine da sala de aula. As suas justificativas, por sua vez, são pontes para a discussão de um saber
didático-pedagógico construído no ambiente escolar.
A avaliação do que foi planejado, com base na sua concretização na sala de aula, consiste em outra
ferramenta relevante para a reflexão da prática docente. Essa avaliação deve ser pautada na análise
das produções dos alunos.
3. Em relação aos encaminhamentos: o que deu certo? O que não deu certo?
• Sim. Estava adequado às possibilidades de abordagem por parte dos alunos, pois... (justificativa
baseada nas produções dos alunos)
• Não. O objetivo estava aquém das possibilidades; ou foi muito fácil...; ou a grande maioria não teve
dificuldades (remeter à produção dos alunos); ou funcionou como um exercício de familiarização...
• Não. O objetivo estava além das possibilidades dos alunos...; ou a grande maioria teve muita
dificuldade; ou a grande maioria não conseguiu resolver...
• Em termos, pois...
Assim, é possível trabalhar aspectos da prática docente, com base em discussões sobre gestão de
sala de aula e atividades comuns a todas as disciplinas, como: leitura, escrita e instrumentos de
avaliação, favorecendo a construção de um projeto educativo do grupo de professores.
Página 316
Planejamento
A temática deste capítulo é o Iluminismo, movimento literário, político e filosófico que combateu os valores do
Antigo Regime. Os iluministas defendiam governos regidos por leis que protegessem os cidadãos dos abusos
do poder. Acreditavam, também, na razão como motor do progresso da humanidade. Essas novas ideias
minaram as bases do Antigo Regime, que sofreria forte abalo com as revoluções do final do século XVIII.
Há diferentes maneiras de iniciar o estudo deste capítulo. Ao mencionar o livro Utopia, de Thomas Morus, a
seção Vamos lá! (p. 10) oferece uma interessante aproximação com o tema.
Pode-se, também, começar o capítulo com a leitura e a análise de evidências históricas que apresentem ideias
iluministas. Com base na leitura dessas fontes, oriente os alunos para que respondam à pergunta: Quais os
principais ideais defendidos pelos iluministas?
Para esse “aquecimento”, os estudantes poderão ler o texto de Rousseau sobre a origem da desigualdade
social, na seção Vestígios do passado: “Razão e liberdade” (p. 16), além das evidências a seguir.
A autoridade do príncipe é limitada pelas leis da natureza e do Estado (...). O príncipe não pode, portanto, dispor
de seu poder e de seus súditos sem o consentimento da nação e independentemente da escolha estabelecida no
contrato de submissão (...).
É uma experiência eterna, que todo homem que detém o poder é levado a dele abusar; ele vai até onde encontra
limites. Quem diria! Até a virtude tem necessidade de limites.
1. Resposta pessoal. É possível elencar alguns temas como: padrão de consumo sustentável, tratamento do lixo,
reciclagem, tolerância, qualidade de vida etc.
2. Antes da exposição dos trabalhos, um membro do grupo pode relatar aos colegas as características das
sociedades ideais que imaginaram.
Mapa e poder
Em 2012, a historiadora brasileira Júnia Ferreira Furtado lançou uma importante obra em que relaciona
História, Geografia e diplomacia no Século das Luzes, de onde o mapa reproduzido na seção foi retirado. Se
possível, conheça a obra: FURTADO, Júnia Ferreira. Oráculos da geografia iluminista: dom Luís da Cunha e Jean
Baptiste Bourguignon D’Anville na construção da cartografia do Brasil. Belo Horizonte: UFMG. 2012.
2. Os iluministas defendiam os direitos naturais do ser humano, como o direito à propriedade. Esse direito, por
exemplo, acabava com a exclusividade da posse da terra dos grupos mais privilegiados, possibilitando uma
reorganização da sociedade. Apoiavam também uma participação política mais ampla e a formação de uma
nova estrutura de poder, por meio de ideias como a limitação do poder real, o que influenciou a elaboração de
constituições por todo o continente.
3. Para os filósofos iluministas, a razão era vista como uma luz que iluminava o obscurantismo do ser humano,
levando-o ao verdadeiro conhecimento. Os pensadores que levariam essa luz às pessoas eram chamados,
portanto, de iluministas. A crença na razão era uma das bases do Iluminismo.
4. Os princípios tanto das teorias fisiocratas quanto do liberalismo econômico previam a não intervenção do
Estado na economia, defendendo a liberdade de mercado. Porém, se, de um lado, os fisiocratas consideravam a
agricultura como única atividade criadora de riqueza, Adam Smith – um dos principais autores do liberalismo
econômico –, de outro, defendia que o trabalho era a verdadeira fonte de riqueza e colocava a indústria no
mesmo patamar da agricultura.
5. Os déspotas esclarecidos foram governantes que adotaram os princípios iluministas sem, no entanto,
abandonar o Absolutismo. Procuraram racionalizar a administração do Estado e incentivar a educação.
Estimularam a produção de manufaturas e mantiveram rígido controle sobre os negócios coloniais, evitando o
livre comércio. Alguns governantes também combateram a influência da Igreja.
1. a) Os elementos que perdem espaço são: interesse (geralmente econômico), partidos, sindicatos, associações
de defesa de interesses precisos e lobbies. Também perdem força na nova política: uma identidade principal
pautada na profissão, na religião ou na opção política.
b) Os pontos que ganham força são: a informática e a internet. Como instrumentos avançados da nova política,
substituem as instituições pesadas, provocando a construção de outros elos sociais e identidades.
2. Propor uma discussão de algumas questões levantadas pelo texto, como: “Quais seriam os interesses e as
identidades presentes na nova política?”. A ideia é discutir, com base nas características do mundo
contemporâneo, as novas possibilidades para a política. Para apoiar essa discussão, os alunos podem tomar
como exemplo as recentes manifestações populares ocorridas no Brasil, que, muitas delas apartidárias, são
organizadas não por instituições como partidos e sindicatos, mas por pessoas utilizando predominantemente a
internet para convocar os participantes.
3. Resposta pessoal. Durante as discussões, solicite que os alunos apresentem justificativas para seus pontos
de vista e opiniões. Caso eles participem do exercício da política, explore essa atuação com eles, identificando o
que aprovam e o que gostariam que fosse revisto.
A razão já era?
1. Na medida em que ele sobrepõe a atual incapacidade de as pessoas pensarem à preponderância da razão,
marca do Iluminismo.
2. Resposta pessoal. O objetivo é os alunos refletirem sobre posicionamentos moldados, sobretudo, por grupos
dominantes da sociedade e divulgados massivamente pelos meios de comunicação. Entre os exemplos, eles
poderão citar eventos de seu cotidiano mais próximo e também outros de alcance nacional e/ou mundial. No
entanto, espera-se que eles percebam que essa opressão, embora supostamente evidenciada nos dias atuais,
sempre esteve presente na história da humanidade.
A atividade 1 retoma a discussão inicial do capítulo. Peça aos alunos que reescrevam a resposta da atividade 3
do Elaborando hipóteses (p. 10). As demais questões levam os estudantes a analisar a sociedade em que vivem,
utilizando ferramentas baseadas na comparação entre presente e passado. Os alunos também são levados a
identificar os princípios que objetivam a transformação da ordem vigente atual, estabelecendo uma
perspectiva de futuro. Orientações para as atividades:
2. Os alunos devem perceber que muitos desses ideais estão presentes atualmente. Alguns mais enfraquecidos,
como a luta contra o misticismo.
3. Os alunos podem retomar o boxe Conexão presente: “Onde está o novo?” (p. 17) e citar o comércio justo e o
consumo sustentável, por exemplo.
Sugerimos uma atividade de pesquisa em conjunto com as disciplinas de Física, Matemática e Química. Os
alunos devem se reunir em grupos e pesquisar, com os(as) professores(as) dessas matérias, os cientistas
iluministas que contribuíram para a ciência.
Depois disso, cada grupo escolherá um cientista e pesquisará sobre sua vida, sua contribuição para a ciência,
seu engajamento com o Iluminismo e com a política, entre outros tópicos. Ao final, os grupos deverão expor a
pesquisa em um mural na sala, para que toda a comunidade escolar tenha contato com o trabalho.
2. REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
EM SALA DE AULA
Este capítulo trata da construção da sociedade industrial, que tem como ponto de partida a Primeira Revolução
Industrial, ocorrida na Inglaterra, a partir de meados do século XVIII. São temas deste capítulo as
transformações nas relações de produção, circulação e consumo de mercadorias; assim como as novas
relações de trabalho, que polarizaram os conflitos sociais entre duas classes principais: a burguesia e o
proletariado.
A seção Vamos lá! (p. 20) apresenta um texto sobre as consequências da Revolução Industrial, destacando os
problemas ambientais.
2. Com o modelo de produção fabril, passou a predominar o uso intenso de uma matriz energética baseada em
combustíveis fósseis muito poluentes (o carvão, primeiro, e depois o petróleo).
3. Resposta pessoal. Recomenda-se que antes de pensar em soluções, os alunos pesquisem sobre os projetos
ambientais já existentes. Além do site do Greenpeace, eles podem pesquisar, em sua cidade, iniciativas criadas
pela prefeitura, associações ou ONGs.
A seção questiona, por meio do texto ilustrado por tirinhas de Chico Félix, qual seria o verdadeiro fruto da
Revolução Industrial: mais conforto ou o aumento das desigualdades sociais. As tirinhas indicam que, para o
cartunista, as relações de trabalham não mudaram. Orientações para as atividades:
2. De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, crianças menores de 14 anos não podem trabalhar,
salvo na condição de aprendizes, sendo assegurada, até essa idade, uma bolsa de aprendizagem. Assim sendo, a
situação representada pelo quadrinho não pode acontecer legalmente no Brasil. Segundo o artigo 5 do ECA,
“nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
fundamentais”. A situação também fere o artigo 67 do Estatuto, segundo o qual “ao adolescente empregado,
aprendiz, em regime familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em entidade governamental ou não
governamental, é vedado trabalho perigoso, insalubre ou penoso”. Professor(a), há outros artigos que poderão
ser citados. Portanto, avalie se os alunos selecionaram artigos compatíveis com a situação representada.
3. Resposta pessoal. Em seus textos, os alunos deverão justificar sua opinião por meio de argumentos
amparados em dados e fatos estudados e/ou pesquisados. O (A) professor(a) pode complementar a atividade,
sugerindo um debate sobre o tema com a classe.
A seção possibilita a integração de conteúdos de Literatura com o estudo de fatos históricos. Apesar de ficção,
o romance de Émile Zola, assim como de vários outros escritores – por exemplo, o inglês Charles Dickens e o
brasileiro Aluísio Azevedo –, retrata de forma realista as difíceis condições de trabalho e de vida dos operários
das fábricas, no primeiro momento da Revolução Industrial. Comente que a obra Germinal faz parte do
movimento literário chamado
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Naturalismo, caracterizado por apresentar a paisagem e o ambiente social de modo bastante detalhado.
Segundo o crítico literário Antonio Candido, Naturalismo teria significado “a busca de uma explicação
materialista para os fenômenos da vida e do espírito, bem como a redução dos fatos sociais aos seus fatores
externos”.
1. A Revolução Industrial é caracterizada pela busca incessante por lucros e capitais, resultando no
estabelecimento de uma produção em série mecanizada, que colocava no mercado uma enorme quantidade de
produtos manufaturados. A produção ilimitada de mercadorias gerou uma vasta oferta de produtos variados,
levando a modificações nos hábitos de consumo das pessoas: a necessidade passou a ser substituída pelo
desejo como fator determinante para o consumo de certos produtos. Dessa forma começava a se definir a
sociedade – na qual vivemos até hoje – onde o consumo assume papel central, movimentando a economia.
2. É fundamental ressaltar que a substituição da produção artesanal e manufatureira pelo sistema de fábricas
trouxe uma mudança significativa nas relações de produção, com a separação entre o produtor e os meios de
produção. A burguesia passou a ser a detentora das máquinas e matérias-primas, enquanto o trabalhador,
possuindo apenas sua força de trabalho, viu-se obrigado a vendê-la em troca de um salário.
época medieval, sistema desde o século XVII, a produção A partir de meados do século XVIII, a
doméstico, o trabalhador ocorria nas oficinas, o produção ocorre nas fábricas. Separação
era proprietário dos trabalhador era proprietário dos entre o produtor e os meios de produção.
meios de produção. meios de produção. O trabalhador executa apenas uma etapa
específica da produção.
3. a) No início do século XVIII, os ingleses controlavam um amplo império na América, África e Ásia e lucravam
com inúmeros acordos mercantis. Os mercadores ingleses contavam com o apoio do governo por meio de uma
legislação protecionista, uma política de incentivo à construção naval e exércitos prontos a intervir em defesa
de seus interesses, favorecendo, assim, a acumulação de capitais na Inglaterra.
b) A mão de obra tornou-se abundante nas cidades graças ao êxodo rural decorrente dos cercamentos. A lã
inglesa passou a ser um lucrativo produto, com grande aceitação no mercado europeu, o que levou à expansão
da criação de ovelhas. Esse processo resultou em grande concentração de terras e, consequentemente, na
expulsão dos camponeses.
b) As ferrovias eram essenciais para o transporte das matérias-primas, como carvão e ferro, para as fábricas e
de mercadorias para diferentes regiões da Inglaterra dos séculos XVIII e XIX.
5. A jornada de trabalho dos operários chegava a superar catorze horas diárias. Mulheres e crianças também
trabalhavam e constituíam o perfil mais visado pelos industriais. O principal motivo estava nos salários mais
baixos pagos às mulheres e às crianças. E isso porque as máquinas, devido ao avanço técnico, necessitavam
cada vez menos da força física – e muito mais do jeito! As condições nas fábricas eram péssimas. A conversa
dentro da fábrica era proibida, mas também impossível por causa do ruído ensurdecedor das máquinas. Ao fim
da jornada, os trabalhadores ainda tinham de limpar tudo antes de partir para casa. Em decorrência das longas
jornadas e das péssimas condições nas fábricas, os acidentes graves eram frequentes e envolviam
principalmente as crianças. Professor(a), depois de os alunos terem respondido à questão, peça que comparem
as condições de vida dos trabalhadores daquela época com as dos trabalhadores de hoje em dia.
MÃO NA MASSA – MUNDO DO TRABALHO (P. 29)
1. a) O Fórum de Davos foi fundado em 1971 e atualmente congrega mais de 40 chefes de Estado e de Governo
de todas as regiões do mundo. Além deles, empresários e representantes da sociedade civil em geral debatem
temas de interesse mundial.
b) Espera-se que os alunos mencionem uma economia cujo valor central é a informação e na qual predominem
aspectos como uma forte presença de tecnologias digitais, mobilidade e conectividade, levando as diferenças
entre seres humanos e máquinas a praticamente desaparecerem. É provável que muitos dos alunos já
experimentem aspectos da Quarta Revolução Industrial em atividades do dia a dia.
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c) Resposta pessoal. Espera-se que os alunos valorizem a importância da educação e da atualização constantes.
2. Resposta pessoal. Professor(a), nesta fase da educação básica, muitos alunos já vivenciam o mundo do
trabalho, e a grande parte deles está se preparando para essa nova fase da vida. Nesse sentido, a atividade aqui
proposta é de grande relevância para eles.
Conhecimento e técnica
Esta seção apresenta um texto do historiador inglês Eric Hobsbawm, no qual ele discute a preponderância do
desenvolvimento técnico e científico durante a Revolução Industrial (assunto explorado na atividade 1).
A atividade 2 pede que os alunos relacionem passado e presente, analisando o papel das novas tecnologias na
produção industrial atual. A comparação deve apontar semelhanças e diferenças, com base nos dados do texto
da seção.
Seria interessante, para complementar a atividade 2, pedir aos alunos que fizessem uma pesquisa sobre o
chamado toyotismo. Criado no Japão, esse modelo de produção e administração de empresas estendeu-se pelo
mundo capitalista a partir dos anos 1980, tendo como principal fundamento a automatização da produção.
Orientações para as atividades:
1. O historiador afirma que o desenvolvimento técnico e científico não foi fundamental para que ocorresse a
Revolução Industrial. Segundo ele, as invenções técnicas foram bastante modestas e não estavam além dos
limites de artesãos, carpinteiros, moleiros e serralheiros.
2. Em termos tecnológicos e científicos, a atual revolução no setor produtivo é bastante superior à ocorrida em
meados do século XVIII. Entretanto, em relação à alteração das relações de produção e à multiplicação da
fabricação de mercadorias, existem vários pontos em comum.
Para realizar as atividades desta seção, os alunos podem novamente consultar o site do Greenpeace Brasil. Lá,
eles encontrarão artigos que relatam experiências e projetos para reduzir o aquecimento global.
Outra fonte de pesquisa interessante é o artigo “20 anos de Eco-92: uso sustentável da biodiversidade em
pauta”, de Viviane Monteiro, publicado no Jornal da Ciência da SBPC (disponível em:
<http://jcnoticias.jornaldaciencia.org.br/wp-content/uploads/2014/08/JC715.pdf>; acesso em: 13 mar.
2016). Nele, a autora faz um balanço das últimas décadas no que diz respeito aos avanços e desafios em
relação a questões ambientais.
Um texto interessante para discutir com os alunos também nesse momento é “Gastar menos energia é melhor
ação contra aquecimento global”, que traz uma série de reflexões quando da realização da Conferência do
Clima de Paris (COP 21), realizada no final de 2015. Apontando estudos recentes, o texto discute ações menos
e mais efetivas para o atingimento das metas de contenção do aquecimento global. Disponível em:
<http://www.usp.br/agen/?p=225811>. Acesso em: 13 mar. 2016.
A cada unidade, procuramos sugerir algumas atividades que poderão ajudá-lo em seu trabalho, respeitando
sempre sua autonomia de atuação. É importante esclarecer que as condições de trabalho, as características da
comunidade escolar onde o trabalho pedagógico é desenvolvido e a criatividade profissional em sala de aula é
que determinarão seu aproveitamento.
Neste capítulo, aprofundando a discussão sobre aquecimento global, sugerimos estas questões norteadoras
para pesquisa e produção de um texto ao final do trabalho: Qual a relação entre a Revolução Industrial e o
aquecimento global? Quais as responsabilidades dos países desenvolvidos e em desenvolvimento sobre o
controle de gases do efeito estufa? As responsabilidades devem ser diferentes ou não?
O trabalho pode ser realizado com o(a) professor(a) de Geografia, que poderá abordar alguns temas
específicos, por exemplo: O que é COP 21? Quais as resoluções da última Conferência das Nações Unidas sobre
o clima? Essas resoluções apontam para o controle efetivo do aquecimento global?
• <http://www.cop21.com.br/>.
• <http://www.greenpeace.org.br/clima/pdf/cartilha_ clima.pdf>.
O capítulo aborda o processo de independência das colônias inglesas, destacando a intensificação do controle
metropolitano e a difusão dos ideais iluministas como os principais motivos da deflagração do movimento.
Dessa experiência surgiu, porém, uma república elitista, na qual apenas homens adultos e brancos eram
considerados cidadãos.
As atividades da seção Elaborando hipóteses (p. 30) propõem que os alunos relembrem as características das
treze colônias inglesas e façam inferências sobre as causas dos conflitos com a metrópole. A atividade 3
pretende que o aluno
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A análise da evidência histórica reproduzida na seção Vestígios do passado: Declaração Unânime dos Treze
Estados Unidos da América (p. 35) possibilita aos alunos identificarem a influência do pensamento iluminista
nesse documento e de que forma ele justificou a luta pela independência.
1. Existiam dois tipos de colônia: as de povoamento e as de exploração. Nas colônias de exploração, localizadas
ao sul, foi estabelecido o sistema de plantation e um rígido controle da metrópole. Nas colônias do norte, por
sua vez, predominaram as pequenas propriedades e maior liberdade comercial.
3. Ideais iluministas, como o direito natural à liberdade e à rebeldia, inspiraram a luta pela independência,
oferecendo justificativas para o confronto contra o governo metropolitano.
A seção proporciona a ampliação do repertório cultural dos alunos a partir da apresentação do Sundance Film
Festival, que ocorre anualmente em Utah, Estados Unidos. O link com o tema em discussão se faz por meio de
filmes produzidos recentemente que tratam de tragédias ocorridas no país devido, em parte, à liberação do
porte de armas nos Estados Unidos. Como pode ser mais difícil encontrar esses filmes, por não se tratarem de
películas comerciais, o (a) professor(a) pode exibir e analisar com os alunos filmes como Tiros em Columbine,
de Michael Moore (Estados Unidos, 2002, 120 min.), ou Gran Torino (Estados Unidos, 2008, 116 min.), dirigido
por Clint Eastwood, podem enriquecer a discussão proposta. Orientações para as atividades:
1. Resposta pessoal. Essa questão possibilita um bom debate em sala de aula, visto que diz respeito a situações
que envolvem os alunos, bem como toda a sociedade brasileira.
2. Resposta pessoal. O objetivo desta questão é favorecer o debate sobre o porte de armas e estimular uma
reflexão sobre a relação dos cidadãos com o Estado. É importante que os alunos entendam a importância da
resolução dos conflitos dentro dos limites do jogo democrático, percebendo que antes das ações radicais e
violentas, existem alternativas pacíficas, baseadas na argumentação, na negociação e na resistência não
violenta. Além disso, é importante discutir o contexto em que a Constituição estadunidense foi elaborada
(século XVIII) e sua validade nos dias atuais, levando os alunos a perceber a dinamicidade das relações sociais.
3. Há riscos, por exemplo, de as armas serem usadas de maneira arbitrária em situações cotidianas como
brigas de trânsito ou desentendimentos entre colegas de escola.
As atividades desta seção retomam os principais conceitos e informações do capítulo. Depois de respondê-las,
os alunos podem formar pequenos grupos e verificar as respostas com os colegas. Assim, eles próprios são
capazes de apontar equívocos e esclarecer dúvidas. As dúvidas que permanecerem podem ser resolvidas,
coletivamente, com a orientação do(a) professor(a). Orientações para as atividades:
1. a) As colônias do sul sofriam rígido controle da metrópole. Nelas foram estabelecidas o sistema de
plantation: caracterizado pela produção de gêneros agrícolas para exportação em grandes fazendas
monocultoras, com uso de mão de obra escrava de origem africana. As colônias do norte gozavam de mais
liberdade. Sua economia não gerava tanta riqueza à metrópole. Os colonos pagavam menos impostos e se
dedicavam ao comércio e à produção de manufaturas. No campo predominavam as pequenas propriedades.
b) Esse quadro começou a mudar quando a Inglaterra adotou um controle político e econômico mais rígido,
graças à necessidade de obter mais recursos para superar a crise decorrente da Guerra dos Sete Anos.
2. Cronologia:
• 1764: Sugar Act (Lei do Açúcar) – proibia a importação de rum e dos demais derivados de cana-de-açúcar.
• 1765: Lei dos Alojamentos (ou da Hospedagem) – os colonos foram obrigados a receber as tropas britânicas
em serviço na América, abrigando os soldados em casa e arcando com os custos da estada.
• 1765: Stamp Act (Lei do Selo) – determinava o pagamento de uma taxa pela publicação de jornais, livros e
documentos na colônia. Essa taxa deveria ser incorporada ao preço final e o selo assinalava o tributo.
• 1773: Lei do Chá – concedia à Companhia das Índias Orientais o monopólio da venda do produto nas
colônias.
ou em outras colônias; autorização dada ao governo britânico para a punição de envolvidos em distúrbios
políticos; terras a oeste das Treze Colônias passaram para a jurisdição do governador de Quebec.
3. Antes da criação da Lei do Açúcar, colonos da Nova Inglaterra comandavam uma lucrativa rede comercial
em que o melaço – subproduto da cana-de-açúcar – tinha importância central. A limitação da entrada dos
produtos derivados da cana-de-açúcar somada à alta taxação que se impunha através do Sugar Act
impossibilitou a realização desse comércio, causando grande descontentamento entre os colonos que se
beneficiavam dele.
4. A vitória dos colonos foi favorecida pela mobilização popular e pelo envio de tropas francesas e espanholas.
Além disso, o forte sentimento antibritânico uniu as Treze Colônias, e a defesa das ideias iluministas garantiu
uma justificativa ideológica para o movimento.
5. Durante a Guerra de Independência, o forte sentimento antibritânico uniu as Treze Colônias, que se
mantiveram unidas mesmo após a declaração de independência. Essa união se manteve, pois a Constituição foi
elaborada a partir da Convenção Constitucional da Filadélfia, que contou com representantes de todos os
estados e resultou na construção de uma Constituição que abrangia, na medida do possível, os diferentes
interesses dos colonos. Formou-se, então, uma república presidencialista e federativa, em que, apesar da
presença de um forte governo central, os estados possuíam alto grau de autonomia.
Arguto observador
A seção traz um texto de Alexis de Tocqueville sobre a nova sociedade nascida com a Revolução Americana. O
impacto dessa revolução transparece no texto pelo sentido de imprevisibilidade, atribuído, pelo autor, a esse
processo histórico. Orientações para as atividades:
1. Tocqueville considera a Revolução Americana uma “grande revolução” que alterou o estado social, as leis e
os sentimentos dos homens de forma nunca vista antes na história.
3. Hoje, os Estados Unidos são a maior potência do mundo. Condição conquistada, ao longo do século XX,
sobretudo por meio de guerras, acordos econômicos e pela forte influência política e cultural que exercem no
Ocidente. Apesar disso, o preconceito racial continua sendo uma das características marcantes da sociedade
estadunidense, mesmo após a eleição do primeiro presidente afro-americano, Barack Obama, em 2008, e sua
reeleição em 2012.
Para estimular a criatividade dos alunos, o(a) professor(a) pode exibir um trecho do documentário Tiros em
Columbine (Dir.: Michael Moore. Estados Unidos, 2002, 120 min.), no qual é representada a história dos
Estados Unidos desde a colonização. Utilizando os personagens do desenho animado South Park, apresenta-se
uma visão crítica da trajetória histórica dos Estados Unidos. A atividade pode ser enriquecida com a
colaboração dos(as) professores(as) de Arte e Língua Portuguesa.
4. A REVOLUÇÃO FRANCESA
EM SALA DE AULA
O processo revolucionário que arrebatou a França em 1789 é o tema deste capítulo. A partir desse processo,
emergiu uma nova França, sem o regime absolutista, a sociedade estamental e os privilégios feudais, que agora
caminhava para o pleno desenvolvimento capitalista. Outro aspecto central do capítulo é destacar o impacto
dessa revolução na Europa e em outras partes do mundo.
A seção Vamos lá! (p. 40) inicia o capítulo fornecendo algumas informações sobre a França na atualidade. No
Elaborando hipóteses (p. 40), os alunos deverão atualizar e complementar as informações. Na atividade 3, faz-
se uma sondagem a respeito do que os alunos sabem sobre a Revolução Francesa.
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O livro As revoluções burguesas, do historiador Modesto Florenzano (São Paulo: Brasiliense, 1995. Coleção
Tudo é História), apresenta uma perspectiva de análise sobre a Revolução Francesa que pressupõe a existência
de quatro revoluções distintas: uma revolução aristocrática (1787-1789), uma burguesa (1789-1799), uma
camponesa (1789-1793) e uma revolução do proletariado urbano (1792-1794). Se achar necessário, solicite
aos alunos que leiam e analisem alguns trechos dessa obra.
1. A pesquisa pode ser realizada em jornais, revistas e internet. Para tratar do tema dos imigrantes e da vida
nos subúrbios parisienses, o filme O ódio (Dir.: Mathieu Kassovitz. França, 1995, 96 min.) é uma boa fonte de
pesquisa. Outras produções mais recentes também podem ser utilizadas, como O Porto (Dir.: Aki Kaurismaki,
Finlândia/França/Alemanha, 2011) ou Bem-vindo (Dir.: Philippe Lioret, França, 2009).
2. Professor(a), é importante limitar o tempo dos seminários. Essa restrição ajuda os alunos a organizar e a
sintetizar os dados obtidos.
3. Antes de responder à questão, é interessante que os alunos leiam os títulos, subtítulos e imagens do capítulo,
para que possam ter mais elementos para elaborar suas respostas. O objetivo da atividade é mobilizar e
sistematizar os conhecimentos prévios dos alunos a respeito do tema do capítulo.
Os alunos poderão fazer menção a ações locais (dos governos municipal e estadual) ou nacionais (do governo
federal). Proponha que conheçam as ações empreendidas, quais populações visavam alcançar, em que
períodos elas ocorreram e, se possível, quais os resultados efetivamente obtidos.
1. O cenário francês era marcado pela sociedade estamental, pelo absolutismo e mercantilismo. A sociedade
estamental fundamentava-se nos privilégios de nascimento, e estava dividida em: primeiro estado (clero),
segundo estado (nobreza), terceiro estado (povo). Os dois primeiros estados não pagavam impostos, e o
terceiro não possuía direitos políticos e sociais. A França dessa época foi marcada por uma grave crise
financeira e econômica, enfrentada pelo governo, e pela crítica direcionada às bases do Antigo Regime, feita
pelos pensadores iluministas.
2. A nobreza e o alto clero não aceitavam pagar impostos e abrir mão de seus privilégios, por isso forçaram a
convocação dos Estados Gerais, o que abriu espaço para a rebelião dos menos favorecidos. Professor(a), para
complementar a atividade 2, comente, com base no texto do historiador Modesto Florenzano, indicado neste
manual, no tópico “Em sala de aula” (p. 300), que a revolta dos nobres propiciou o início da revolução
burguesa e popular, pois os nobres não reconheceram que a monarquia absolutista representava seus
interesses.
3.
4. No início da Revolução, burgueses, camponeses e trabalhadores pobres concentravam suas ações em torno
de um objetivo comum – derrubar as estruturas sociais e políticas do Antigo Regime. Durante o período da
Assembleia Nacional Constituinte, a burguesia foi beneficiada com a elaboração de uma Constituição que
defendia seus interesses, como a imposição do voto censitário e a proibição dos movimentos de trabalhadores,
afastando-a dos grupos sociais mais pobres e estabelecendo um Estado burguês. Durante a Convenção
Nacional, enquanto as camadas mais pobres da sociedade radicalizavam o movimento revolucionário, a
burguesia tentava evitar essa radicalização para poder consolidar suas conquistas.
Visão engajada
O texto do historiador Albert Soboul aponta para a existência de diferentes interesses de classes durante a
Revolução Francesa. Segundo o historiador Modesto Florenzano, indicado no tópico “Em sala de aula”, deste
manual (p. 300), esses interesses determinaram quatro distintas revoluções. Nesse texto, os alunos poderão
identificar os grupos sociais em conflito – nobreza, burguesia e “classes laboriosas” (camponeses,
trabalhadores urbanos). Orientações para as atividades:
1. Os grupos sociais em conflito citados no texto são a nobreza, a burguesia e as “classes laboriosas”
(camponeses e trabalhadores urbanos). Durante a Revolução Francesa, a nobreza perdeu seus privilégios. A
maioria dos nobres se posicionou contra a Revolução. A burguesia ascendeu ao poder tentando excluir os
trabalhadores da vida política por meio do voto censitário. As classes trabalhadoras participaram dos
momentos mais radicais da Revolução, como o Grande Medo, e apoiaram os jacobinos na Convenção. Elas
buscavam transformações, como maior igualdade social e econômica.
2. A crença nos ideais iluministas, como a supremacia da razão e a defesa da liberdade, bem como o
patriotismo emergente do processo revolucionário eram os elementos que davam à burguesia a confiança de
vitória.
1. Os alunos poderão citar: Alemanha, Argentina, Bangladesh, Brasil, Chile, Coreia do Sul, Croácia, Dinamarca,
Escócia, Jamaica, Kosovo, Letônia, Libéria, Lituânia, Malta, Noruega, Polônia, República Centro-Africana e
Trinidad e Tobago. Professor(a), essa lista foi elaborada no fim de 2015. Se necessário, atualize-a com os
alunos.
2. A atividade fornece um interessante exercício para os alunos refletirem sobre o papel social das mulheres no
Brasil, sobretudo se considerarmos que nossa sociedade, assim como a maioria dos países, foi pautada no
patriarcalismo e no machismo, com o homem ocupando o espaço público e a mulher fadada ao privado.
Interessante eles notarem, no entanto, os avanços conquistados. Do ponto de vista político, nos anos 1930 as
mulheres adquiriram o direito a votar e, no que diz respeito a ocupar cargos eletivos, embora elas sejam
minoria, sua representação vem crescendo ao longo do tempo. Discuta com os alunos a importância da maior
presença feminina em cargos eletivos para o fortalecimento da democracia, uma vez que as mulheres ainda
são vítimas de preconceito, exclusão e violência.
A seção resgata a atividade de abertura de capítulo, aprofundando a reflexão sobre a relação entre a França
revolucionária e a atual. Assim como os trabalhadores rurais e urbanos do fim do século XVIII, os imigrantes
que atualmente ocupam os subúrbios franceses realizam os serviços braçais que os membros das outras
camadas da sociedade se recusam a fazer. Além disso, o preconceito e a pobreza também são denominadores
comuns entre os dois grupos abordados na questão, demonstrando, assim, que, apesar das vitórias da
Revolução, problemas como a desigualdade ainda assombram a sociedade francesa.
LEITURA DE IMAGENS
Neste manual, apresentaremos dois exercícios de leitura de imagens por unidade. Primeiro, é preciso
esclarecer que há múltiplas imagens presentes no livro que podem ser objeto de análise: pinturas, desenhos,
gravuras, fotografias, murais, charges etc. Desse modo, é importante explorar didaticamente esses recursos, a
fim de promover a competência leitora em várias linguagens e a aprendizagem da história.
Além disso, a análise das obras iconográficas deve centrar-se não apenas no tema retratado, na composição da
obra ou no estilo, mas também nas relações entre as condições de produção e o contexto histórico no qual as
imagens foram produzidas. Dessa forma, as imagens são testemunhos de dado momento histórico, portanto
são evidências que auxiliam na investigação histórica.
Para a análise pretendida, sugerimos um roteiro com três momentos distintos, porém interligados, para
orientar a leitura da imagem. O roteiro a seguir está dividido em observação, pesquisa e síntese das ideias
gerais.
I. Observação da imagem
Neste momento, proponha questões para a observação da imagem para que os alunos identifiquem o maior
número de informações possível. Eles devem observar, refletir e expressar o que pensam, sem a preocupação
de serem julgados.
À medida que os alunos forem elaborando hipóteses, instigue-os a estabelecer relações com o que já sabem e a
confrontar as suas inferências.
Questões sugeridas:
1. Identifique autor, título, ano de produção, local, tipo de imagem e temática da obra.
3. Existem detalhes que contribuem para expressar determinada ideia. Que detalhes são esses e quais ideias
expressam?
5. A obra retrata uma ideia, cena ou figuras da própria época do autor ou é uma reconstituição histórica?
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A pesquisa de dados sobre obra, autor e contexto histórico é o objetivo neste momento da análise. Após
realizá-la, os alunos devem confrontar as suas hipóteses iniciais com as informações obtidas e reelaborá-las,
buscando compreender melhor a obra e inseri-la em seu contexto histórico.
Questões sugeridas:
1. Pesquise sobre o autor e os motivos que o levaram a produzir tal obra. Quais os seus propósitos com a obra?
Quais os seus compromissos com o tema? Quais as influências sofridas por ele? Qual é o seu estilo?
e) Qual o seu significado para o autor e para a época em que foi feita?
g) Se a obra for uma reconstituição histórica, que elementos retratam mais a época de produção do que o tema
representado?
A pesquisa deve dirigir-se também para os dados que não foram identificados apenas pela observação.
Nesta fase, o(a) professor(a) deve estimular os alunos a estabelecer relações entre as partes e a totalidade da
obra. O objetivo é que eles sintetizem as ideias gerais da imagem.
Para ajudar os estudantes a organizar essas ideias, solicite que escrevam ao menos um parágrafo sobre a obra
e o autor, reunindo os pontos mais importantes para a interpretação da iconografia.
Neste capítulo, propomos um exercício baseado na obra O assassinato de Jean Paul Marat, de Jacques-Louis
David (p. 46). Seria interessante, para a análise da obra, buscar na internet uma reprodução da tela em
tamanho maior.
I. Observação da imagem
Como já foi indicado, neste momento, os alunos devem identificar os elementos solicitados e responder às
questões, com base na observação e em seus conhecimentos prévios. Por isso, é importante não atribuir certo
ou errado às suas respostas.
1. Identifique título, autor, ano de produção, local, tipo de imagem e temática da obra. Título: O assassinato de
Jean Paul Marat; autor: Jacques-Louis David; ano de produção: 1793; tipo de imagem: pintura a óleo; temática:
assassinato de um dos líderes da Revolução Francesa.
3. Existem detalhes que contribuem para expressar determinada ideia. Que detalhes são esses e quais ideias
expressam?
A cena é construída para representar o assassinato de Marat. São sinais desse fato a faca ensanguentada no
chão, o lençol branco mergulhado em sangue, o braço esquerdo que pende no chão. Na tela não é representado
o ato do homicídio, pois o autor optou por representar o líder revolucionário morto, sem confrontá-lo com o
seu assassino. Os espaços vazios na tela sugerem solidão, vazio, sentimentos e ideias associados à morte.
4. Identifique cores e materiais utilizados na produção da imagem. As cores predominantes são branco, verde e
vermelho. É uma pintura a óleo.
5. A obra retrata uma ideia, cena ou figuras da própria época do autor ou é uma reconstituição histórica? A
obra retrata o assassinato do líder revolucionário Marat, acontecimento contemporâneo ao autor.
1. Pesquise sobre o autor e os motivos que o levaram a produzir tal obra. Quais os seus propósitos com a obra?
Quais os seus compromissos com o tema? Quais as influências sofridas por ele? Qual é o seu estilo?
e) Qual o seu significado para o autor e para a época em que foi feita?
g) Se a obra for uma reconstituição histórica, que elementos retratam mais a época de produção do que o tema
representado?
Professor(a), peça aos alunos que anotem as referências das fontes consultadas e as utilizem nas questões
propostas para orientar o registro e a organização das informações pesquisadas. É possível que eles não
encontrem todos os dados solicitados. A socialização dos resultados e a sua intervenção podem solucionar
essas carências.
Para ajudar os estudantes a organizar essas ideias, solicite que escrevam ao menos um parágrafo sobre a obra
e o autor, reunindo os pontos mais importantes para a interpretação da imagem.
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Professor(a), por meio destes três momentos de análise, pretende-se estabelecer a leitura e a interpretação
das imagens, evidenciando a importância da iconografia para o trabalho do historiador. Neste exercício,
baseado na pesquisa sobre a obra e o autor, o aluno perceberá, por exemplo, que o pintor David procurou
deter-se no momento da morte, e não na violência do assassinato. O pintor também não representou o
tormento, a angústia e a agonia da morte. O Marat da cena parece sereno, pálido e solitário.
David foi um pintor engajado na Revolução Francesa e partidário dos jacobinos. Procurou em suas obras
imortalizar os mártires da revolução, como o fez nessa pintura.
O capítulo apresenta o governo napoleônico até a derrocada final do general francês. Trata, também, da
tentativa de restauração do Antigo Regime pelo Congresso de Viena. Ressalta, ainda, o caráter ambíguo do
governo de Bonaparte. Por um lado, foram difundidos os ideais iluministas adotados pela Revolução Francesa,
contribuindo para derrubar o absolutismo e os privilégios de nascimento. Por outro, restabeleceu a monarquia
na França, proibindo greves e associações livres de trabalhadores, impondo a censura à imprensa.
A seção Vamos lá! (p. 51) discute os conflitos entre os países absolutistas e a França revolucionária,
enfatizando as contraditórias práticas políticas de Napoleão. A atividade 1 do Elaborando hipóteses (p. 51)
pretende que os alunos identifiquem os conflitos e essas contradições. A atividade 2 investiga os
conhecimentos prévios dos alunos sobre quem foi Napoleão, seu modo de agir e principais ações.
Atividade dinâmica para explorar essas ambiguidades das atitudes políticas desse governante é promover um
julgamento de Napoleão Bonaparte, com base na seguinte questão: Napoleão Bonaparte, durante o período em
que governou a França e grande parte da Europa, traiu os ideais iluministas, defendidos pela Revolução
Francesa? O julgamento deve ser realizado após o estudo do capítulo. Assim, os alunos terão condições de
aprofundar os conhecimentos sobre Iluminismo, Revolução Francesa e o período napoleônico, além de
trabalhar os procedimentos de pesquisa e a capacidade de argumentação. A seguir, há sugestões de como
realizar o julgamento.
1. A turma deve ser dividida em três grupos: o de defesa, o de acusação (promotores) e o de jurados e juiz.
2. Além das informações do capítulo, é importante que os alunos busquem novas fontes de pesquisa. O grupo
de defesa pesquisará informações sobre as realizações do governo de Napoleão Bonaparte que comprovem a
fidelidade do general aos ideais iluministas. O grupo de acusação pesquisará informações que comprovem a
traição de Bonaparte a esses ideais.
3. Tanto o grupo de defesa como o de acusação devem escolher um advogado para apresentar um relatório
com os argumentos prós e contras, respectivamente. O grupo de defesa deve escolher duas testemunhas: por
exemplo, um camponês francês que recebeu terras tomadas do clero e um trabalhador pobre, defendendo a
igualdade jurídica, estabelecida pelo Código Napoleônico. O grupo de acusação deve escolher também duas
testemunhas: por exemplo, um escravo das colônias francesas e um trabalhador pobre, reclamando contra a
proibição de greves e de organização dos trabalhadores em associações livres.
4. Os jurados e o juiz devem pesquisar sobre o governo napoleônico, a fim de que possam conhecer tanto os
argumentos favoráveis como os contrários a Bonaparte. Afinal, cabe a esse grupo julgar a atuação dos
advogados e das testemunhas, tanto de ataque quanto de defesa.
5. Os grupos devem se preparar para o dia do julgamento, elaborando um bom relatório e preparando as
testemunhas. O grupo de defesa elabora uma pergunta para cada uma das testemunhas e uma pergunta para
ser feita durante o julgamento para cada uma das testemunhas da acusação. Para poder fazer as perguntas às
testemunhas de acusação, o(a) professor(a) deve informar aos grupos quais foram as testemunhas escolhidas.
6. Os advogados devem ensaiar a apresentação do relatório, pois é uma parte essencial para a apresentação
dos argumentos.
7. No dia do julgamento, o(a) professor(a) e o juiz devem conduzir os trabalhos. Cada um dos jurados deve
anotar o máximo de informações durante as apresentações: por exemplo, se as informações e os argumentos
apresentados tanto pela defesa como pela acusação correspondem aos acontecimentos históricos, e também
anotar quem foi mais convincente, se as testemunhas estão bem preparadas e se confirmam os argumentos da
defesa ou da acusação.
8. Primeiramente, os advogados apresentam os seus relatórios. Deve ser determinado um tempo máximo de
apresentação e pode-se fazer um sorteio para decidir quem apresentará primeiro, se a defesa ou a acusação.
Depois, as testemunhas são interrogadas. Pode-se alternar uma da defesa (os advogados de defesa e acusação
fazem as suas perguntas) e, posteriormente, uma da acusação (os advogados de ambas as partes fazem as suas
perguntas).
9. Após todas as apresentações, se o(a) professor(a) achar pertinente, podem ser concedidos alguns minutos
aos advogados para que eles façam um último pronunciamento antes do julgamento.
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10. Finalmente, o(a) professor(a), o juiz e os jurados reúnem-se para a decisão final. Deve se pontuar cada uma
das apresentações. Quem conseguir maior nota é o vencedor do julgamento. O(A) professor(a), o juiz e os
jurados apresentam, então, sua decisão e os critérios usados para chegar a ela.
Professor(a), lembre-se de que, nesta seção de abertura, o objetivo é mobilizar os conhecimentos prévios dos
alunos. Por isso, os estudantes devem observar, refletir e expressar o que pensam, sem a preocupação de
serem julgados. À medida que os alunos forem elaborando hipóteses, instigue-os a estabelecer relações com o
que já sabem e a confrontar as suas inferências por meio de discussão coletiva ou em duplas. Se considerar
necessário, proponha que validem algumas hipóteses durante a socialização das atividades.
1. a) Os países absolutistas sentiam-se ameaçados pelos ideais defendidos pela Revolução Francesa. Além
disso, estava em jogo o equilíbrio de poder no continente.
b) Napoleão inovou em sua política ao negar os privilégios de nascimento e ao apoiar a burguesia, por
exemplo. Porém, mostrou-se conservador ao implementar uma política de conquistas territoriais e sem levar
em conta as dinâmicas internas e as vontades populares das regiões conquistadas.
2. Resposta pessoal. A atividade pode ser feita em conjunto com o(a) professor(a) de Língua Portuguesa, que
trabalha com os alunos as características do gênero biografia. Ao final do estudo do capítulo, os textos podem
ser revistos pelos alunos, que devem revisá-lo tendo em vista o que aprenderam.
A seção propõe uma reflexão sobre o uso que os governantes fazem de sua imagem. Para isso, parte do caso de
Napoleão Bonaparte. Orientações para as atividades:
1. a) e b) Os alunos devem considerar que havia pintores oficiais dos governantes, como era o caso de Jacques-
Louis David. Dessa forma, eles atendiam a suas encomendas e ordens. Observando como Napoleão foi
retratado nas obras reproduzidas no capítulo, observamos uma nítida intenção em mostrar a altivez e o poder
do general e governante francês, num claro objetivo de enaltecê-lo.
A seção propõe uma reflexão sobre o uso de personalidades e acontecimentos históricos em anúncios
publicitários. Orientações para as atividades:
1. Resposta pessoal. Professor(a), o objetivo da atividade é fomentar uma discussão sobre a força que certos
estereótipos podem exercer sobre as decisões e os valores dos indivíduos. Pretende ainda estimular uma
reflexão sobre a importância do estudo crítico do passado para a formação da consciência histórica.
2. Acompanhe os alunos na escolha da imagem sobre a qual criarão seu anúncio. Auxilie-os na identificação das
personagens e dos acontecimentos representados, e na interpretação da obra escolhida. Ao final, avalie como
mobilizaram as informações pesquisadas e a justificativa do anúncio criado.
1. Quando Napoleão ingressou num clube jacobino e começou a apoiar a Revolução Francesa, teve início uma
brilhante carreira militar, pautada na defesa da França revolucionária contra as potências estrangeiras
inimigas. Os seus feitos militares trouxeram-lhe prestígio popular e político, o que contribuiu para a sua
ascensão ao poder.
2. Diante de um cenário de instabilidade política, problemas econômicos e crises sociais, grande parte da
população, sobretudo a burguesia, acreditava que Napoleão poderia pôr fim ao caos. Dessa forma, Bonaparte
liderou o Golpe de 18 de Brumário e tomou o poder.
3. A consolidação da burguesia francesa e de seus valores foi vista como uma ameaça tanto para governos
absolutistas, como os da Áustria, da Prússia e da Rússia, quanto para Inglaterra e Holanda, onde a burguesia já
exercia papel central na política e na economia. Entre os primeiros, o temor era de que o sucesso dos projetos
burgueses na França influenciasse transformações semelhantes na estrutura de seus governos; já entre os
segundos, criava-se uma disputa com os franceses pela hegemonia econômica no continente e por mercados
consumidores.
4. Por meio do Bloqueio Continental, Napoleão proibiu os países europeus de receber navios britânicos em
seus portos e de manter relações comerciais com os ingleses, ameaçando quem desobedecesse de ter seu
território invadido. A invasão da Rússia diante do não cumprimento do Bloqueio Continental e o consequente
fracasso da campanha francesa foram decisivos para a derrocada do governo napoleônico. Após a campanha
militar na Rússia, os exércitos franceses enfraquecidos foram derrotados na Batalha de Leipzig, em 1813, e
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Napoleão foi forçado a deixar o governo. Houve ainda um breve retorno, conhecido como o Governo dos Cem
Dias, mas Napoleão foi definitivamente derrotado na Batalha de Waterloo, em 1815.
5. a) O Congresso de Viena, realizado em 1815, após a derrota de Napoleão, decidiu pela restauração das
antigas dinastias absolutistas e pelo restabelecimento das fronteiras existentes antes de 1789. Assim, os
governos europeus procuraram restabelecer a ordem vigente na Europa antes da Revolução Francesa.
Sem vencedores
O texto discute uma nova força ideológica e política, nascida do processo revolucionário francês: o
nacionalismo. Trata também do caráter reformista de Napoleão, aproximando-o dos déspotas esclarecidos.
Orientações para as atividades:
1. O texto define Napoleão como um homem do século XVIII, próximo aos déspotas esclarecidos, que ignorou a
vontade popular e o sentimento nacionalista surgido a partir de 1789.
2. Tanto Napoleão como os governos reunidos no Congresso de Viena desprezaram a vontade nacional e,
segundo o texto, essa foi a causa de suas derrotas.
3. Nesta atividade, destacam-se alguns acontecimentos anteriores, nos séculos XVII e XVIII, como: as guerras
religiosas, as disputas coloniais, as Revoluções Inglesas e a independência das colônias inglesas. E
acontecimentos posteriores, como as Revoluções Literais do século XIX.
Saudosismos
A seção solicita uma pesquisa sobre o Romantismo e sua relação com o período histórico estudado. Os alunos
podem pesquisar o assunto em livros de literatura de Ensino Médio, enciclopédias e em sites.
Este trabalho pode ser realizado em conjunto com o(a) professor(a) de Língua Portuguesa. Além de auxiliar na
pesquisa, ele(a) pode escolher e analisar alguns textos românticos, dos quais se destacariam as características
estéticas e as dimensões do contexto histórico dos quais eles fazem parte.
A relação entre história e literatura é um tema interessante para ser tratado por meio de uma abordagem
interdisciplinar. Em conjunto, o olhar do(a) professor(a) de História e o(a) de Literatura resgatam a ideia de
que “todo escritor possui uma espécie de liberdade condicional de criação, uma vez que os seus temas, motivos,
valores, normas ou revoltas são fornecidos ou sugeridos pela sua sociedade e seu tempo – e é destes que eles
falam” (SE- VCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República.
São Paulo: Brasiliense, 1989. p. 29).
Esta seção traça um paralelo entre os principais acontecimentos da Revolução Francesa e os do período
napoleônico e analisa os ideais revolucionários que ficaram enfraquecidos e os que se consolidaram, bem
como o cenário europeu construído por meio desse processo histórico. Se o(a) professor(a) considerar
conveniente, poderá discutir coletivamente essa cronologia.
Orientações para as atividades:
Veja um roteiro com as principais informações sobre a Revolução Francesa e a Era Napoleônica.
Revolução Francesa
• Demissão de Necker
• Juramento do campo de Pela
• Tomada da Bastilha (14 de julho de 1789)
• Grande Medo (agosto de 1789)
• Declaração Universal dos Direitos Humanos (26 de agosto de 1789)
• O rei é levado a Paris – Jornada de Outubro de 1789
• Fim dos privilégios
• Emissão dos assignats – papel-moeda
• Constituição Civil do Clero (1790)
2ª fase: Monarquia constitucional (1791-1792)
A Constituição de 1791
• Monarquia constitucional
• Voto censitário
• Liberdades econômicas
• Defesa da propriedade
• Grupos políticos na Assembleia Legislativa (eleita em 1 de outubro de 1791)
o
Povo descontente
• O povo invade as Tulherias e prende o rei (agosto de 1792)
• Batalha de Walmy (20 de setembro de 1792)
• Proclamação da República (22 de setembro de 1792)
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Março de 1793
• Primeira Coligação contra a França
• Inglaterra, Áustria, Prússia, Holanda, Espanha, Rússia e Sardenha
• Instituído o Tribunal Revolucionário
Período do terror
• Fim da escravidão nas colônias
• Reforma agrária
• Voto universal
• Educação pública e gratuita
• Derrota da coligação antifrancesa
• Luta entre as facções dos jacobinos
• Reação Termidoriana
• Crise econômica
• Situação difícil para o povo
• Conjura dos iguais – Graco Babeufa é guilhotinado (1797)
• 2ª coligação contra a França
• Corrupção no governo
• Golpe de 18 de Brumário (9 de novembro de 1799).
Napoleão Bonaparte derruba o Diretório e assume o governo.
A Era Napoleônica
b) As propostas concretizadas foram: a abolição dos direitos feudais e dos privilégios de nascimento, a
separação entre Estado e Igreja, a defesa da propriedade privada, o fim do absolutismo e a emergência de
governos constitucionais.
c) Surgiu uma Europa burguesa pautada em governos constitucionais, na igualdade jurídica e na defesa da
liberdade, sobretudo a econômica. O capitalismo desenvolveu-se pautado na industrialização e no liberalismo
econômico.
LEITURA DE IMAGENS
Neste capítulo, propomos um segundo exercício de leitura de imagem com base na obra A Batalha de Abukir,
de Antoine-Jean Gros (p. 56). Se possível, o ideal é procurar uma reprodução em tamanho maior na internet.
Seguiremos o roteiro proposto:
I. Observação da imagem
Professor(a), conforme já indicado anteriormente, neste momento da análise os alunos devem identificar os
elementos solicitados e responder às questões propostas com base na observação e em seus conhecimentos
prévios. Por isso, é importante evitar atribuir certo ou errado às respostas dos alunos.
1. Identifique título, autor, ano de produção, local, tipo de imagem e temática da obra iconográfica. Título: A
Batalha de Abukir; autor: Antoine-Jean Gros; ano de produção: 1806; tipo de imagem: pintura a óleo; temática:
a batalha de Abukir, no Egito.
de cadáveres e destruição. Ao fundo, pode-se observar uma aldeia com construções incendiadas. A cena é
dinâmica, dramática.
3. Existem detalhes que contribuem para expressar determinadas ideias. Que detalhes são esses e quais ideias
expressam?
A expressão das personagens, a pilha de mortos e o movimento sugerido na cena dão um tom dramático e
comovente à imagem.
Nesta tela, as cores têm predominância sobre o traço, e a perspectiva orienta o olhar do espectador para todo o
campo de batalha. Os tons escuros são quebrados pelo branco e o vermelho. É uma pintura a óleo sobre tela.
5. A obra retrata uma ideia, cena ou figuras da própria época do autor ou é uma reconstituição histórica?
1. Pesquise sobre o autor e os motivos que o levaram a produzir tal obra. Quais os seus propósitos com a obra?
Quais os seus compromissos com o tema? Quais as influências sofridas por ele? Qual é o seu estilo?
e) Qual o seu significado para o autor e para a época em que foi feita?
g) Se a obra for uma reconstituição histórica, que elementos retratam mais a época de produção do que o tema
representado?
Professor(a), oriente os alunos a anotar as referências das fontes consultadas e a utilizar as questões propostas
para organizar o registro e as informações pesquisadas. É possível que eles não encontrem todos os dados
solicitados. A socialização dos resultados e a sua intervenção podem solucionar essas carências de
informações.
• <http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/aventura-napoleao-terra-faraos-434483.shtml>.
• <http://www.sabercultural.org/template/pintores/ Gros-Jean-Antoine-1.html>.
Para ajudar os estudantes a organizar essas ideias, solicite que escrevam ao menos um parágrafo sobre a obra
e o autor, reunindo os pontos mais importantes para a interpretação da imagem.
Professor(a), por meio destes três momentos de análise, pretende-se estabelecer a leitura e a interpretação
das imagens, evidenciando a importância da iconografia para o trabalho do historiador. Com base na pesquisa,
o aluno perceberá que obra foi feita por um dos pintores oficiais de Napoleão. O general os contratava com o
objetivo de registrar suas grandes conquistas, visando, assim, a realizar uma propaganda positiva de seu
governo.
O capítulo recupera rapidamente a história desse continente e os contatos estabelecidos entre africanos,
asiáticos e europeus desde a Antiguidade. Destaca a diversidade cultural da África e enfoca as regiões mais
afetadas pelo tráfico de escravos, salientando as transformações na estrutura social de reinos e povos
africanos com o incremento desse comércio.
O interessante, neste capítulo, é que ele não enfoca a história africana apenas em função da história europeia,
mas apresenta a organização social, econômica e política dos principais reinos e povos envolvidos no tráfico,
numa perspectiva dos interesses internos presentes na dinâmica das relações sociais. O capítulo discute, ainda,
a resistência dos povos africanos ao domínio português, enfocando, especialmente, os bantos e iorubas, que
compunham as grandes levas de africanos trazidos ao Brasil.
Na seção de abertura do capítulo, Vamos lá! (p. 61), há um trecho e uma gravura do relato Viagem à costa
ocidental da África, de Grandpré. Para aprofundar a análise da gravura, peça aos alunos que respondam
oralmente às seguintes questões:
1. Identifique autor, título, ano de produção, local, tipo de imagem e temática desta obra.
3. Existem detalhes que contribuem para expressar determinada ideia. Que detalhes são esses e quais ideias
expressam?
5. A obra retrata uma ideia, cena ou figuras da própria época do autor ou é uma reconstituição histórica?
Professor(a), lembre-se de que, nesta seção de abertura, o objetivo é mobilizar os conhecimentos prévios dos
alunos. Por isso, peça-lhes que observem, reflitam
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e expressem o que pensam, sem a preocupação de serem avaliados. À medida que forem elaborando hipóteses,
instigue-os para que estabeleçam relações com o que já sabem, confrontando suas inferências por meio de
discussão coletiva ou em duplas. Quando considerar necessário, valide algumas hipóteses durante a
socialização das atividades.
1. Há pessoas que portam armas de fogo, e outras que estão desarmadas, amarradas e sendo conduzidas pelas
primeiras.
2. Para responder a esta questão, os alunos devem relacionar as armas de fogo à tecnologia europeia,
concluindo que a posse delas pelos africanos se deva a um provável contato entre eles e viajantes europeus.
3. Resposta pessoal. Verifique se os alunos foram capazes de avaliar a influência europeia sobre a cultura
africana e se essa avaliação ficou restrita às deduções feitas com base na imagem ou se eles arriscaram ir além.
No caso do que a imagem nos oferece, os alunos poderão inferir que, ao introduzir as armas de fogo, os
europeus fortaleceram determinados grupos em detrimento de outros. Isso rompeu com o equilíbrio de forças
entre os diferentes povos e reinos, e fez que grupos aliados aos europeus pudessem submeter mais facilmente
seus vizinhos, escravizando-os.
4. Espera-se que os alunos concluam que o comércio de escravos era uma atividade extremamente lucrativa,
que envolvia a montagem de um esquema intrincado de captura, armazenamento, transporte e comércio de
seres humanos no qual estavam envolvidos muitas pessoas e interesses. Portanto, o alto índice de mortalidade
não era um grande empecilho.
1. Resposta pessoal. Essa atividade pode ser feita oral e coletivamente, de modo que os alunos apontem
situações vividas diretamente ou não por eles. Essa dinâmica é interessante, pois permite a troca de
experiências e percepções entre aqueles que possivelmente sofrem racismo e outros que não tenham essa
experiência ou até mesmo não perceba essa realidade no Brasil.
2. Para sensibilizar os alunos para a atividade, apresente-lhes a canção A cena, de Rashid. A letra e o clipe da
música podem ser encontrados em diversos sites da internet, como em: <https://www.letras.mus.br/
rashid/a-cena/>. Acesso em: 10 abr. 2016.
1. Os muçulmanos foram responsáveis pela integração comercial entre o norte do continente africano e o
SaHel e, também, pela integração entre a costa índica da África e o Oriente. Eles eram os principais condutores
de caravanas que transportavam mercadorias de diversas partes da África. Os produtos eram distribuídos por
mercadores locais de uma aldeia a outra, por meio de rotas terrestres e marítimas.
Temática: O manicongo – uma espécie de rei que liderava uma confederação de aldeias no reino do Congo –
recebe europeus numa audiência.
b) No centro da gravura estão os europeus que portam lanças, escudos e armas de fogo. Eles trajam roupas
típicas da Europa desse período histórico e alguns têm barba e bigode. À frente dos europeus, há uma espécie
de altar, onde se encontra, ao centro, o manicongo sentado usando uma coroa à cabeça. No altar, ao lado do
manicongo, há religiosos, um deles com um crucifixo e outro com uma cruz estampada em suas vestimentas.
Os africanos são representados seminus, com arcos e flechas e alguns com uma plumagem na cabeça, espécie
de ornamento.
c) São detalhes importantes da cena: o europeu à frente do manicongo flexionar os joelhos em sinal de respeito
e reverência, o que demonstra as alianças entre europeus e mandatários africanos no continente nesse
período; o rei africano ser representado como um monarca europeu com coroa; e a influência da religião cristã
sobre o manicongo, retratada pelos religiosos ao seu lado.
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d) Os europeus buscavam estabelecer relações cordiais com os reinos africanos, pois dependiam de sua
colaboração para obter as mercadorias africanas, inclusive os escravos. Assim, em troca dos produtos
africanos, os europeus ofereciam armas, pólvora, cavalos e artigos de luxo, como contas de vidro venezianas,
tecidos de veludo e chapéus emplumados, além de apoio militar contra reinos e povos rivais. Submetiam-se às
regras dos mandatários locais e pagavam-lhe tributos. Em troca, os reis e chefes africanos davam permissão
para que se estabelecessem em suas terras – embora lhes vetassem cultivar o solo e avançar para o interior –,
garantiam o abastecimento contínuo de cativos e providenciavam os víveres de que necessitassem. Em caso de
ataques inimigos, apoiavam os aliados europeus pelas armas.
4. A escravidão moderna na África fomentou as guerras entre os Estados africanos e favoreceu a ascensão dos
nobres e comerciantes ligados ao tráfico, levando à fragmentação política e ao consequente enfraquecimento
do poder central. Além disso, a economia de diversas regiões africanas perdeu vitalidade, já que muitas
atividades produtivas foram substituídas pelo comércio de escravos. Some-se a isso o aprisionamento de
grandes contingentes populacionais, que causou a desorganização da produção e o desmantelamento das
redes de parentesco e solidariedade, base da sociedade africana.
5. Nas teorias forjadas para justificar a escravidão, os negros eram associados à selvageria e ao pecado,
devendo, por isso, ser submetidos aos brancos, considerados superiores. Por meio do trabalho forçado,
alcançariam a redenção e seriam “domesticados” para servir à prosperidade e ao crescimento das sociedades
brancas. Essa posição de inferioridade dos negros em relação aos brancos era também sustentada pelas teorias
colonialistas; porém, segundo elas, caberia aos brancos o fardo de tutelar os negros, aproximando-os da
civilização e do progresso. Em ambos os casos, as teorias encobriam a exploração imposta pelos brancos às
populações africanas.
Pensar o tráfico
O texto da seção discute o envolvimento das sociedades africanas no tráfico de escravos, ressaltando que os
africanos não foram agentes passivos nesse processo, e que a sua participação nesse comércio foi delineada de
acordo com os interesses e as necessidades específicas dessas sociedades. O texto aborda também as
consequências do tráfico para a organização política das sociedades africanas. Orientações para as atividades:
1. Os africanos se envolviam no tráfico por várias razões: para enriquecer, para conseguir metais (usados na
confecção de ferramentas) e para adquirir artigos de luxo e armas (usados pelos reis para comprar a fidelidade
de seus nobres e neutralizar os inimigos).
2. O tráfico mudou a relação de forças entre as sociedades africanas, representando uma oportunidade de
enriquecimento. Além disso, precipitou a queda de alguns reinos e a ascensão de outros.
3. Não. Segundo o texto, a participação das sociedades africanas no tráfico de escravos foi calculada em função
de suas necessidades e conveniências específicas. Portanto, os africanos não foram agentes passivos do tráfico,
participando ativamente dele.
Esta seção propõe a leitura de dois mapas, nas páginas 64 e 68 do livro do aluno, sobre o tráfico de escravos da
África, principalmente para a América, mas também para outros locais. Sugerimos realizar as atividades com o
auxílio do(a) professor(a) de Geografia, que poderá auxiliar na leitura e análise cartográfica e também em
conceitos demográficos.
1. a) Os escravos enviados para a América foram capturados principalmente no interior da África ocidental e
embarcados na costa atlântica do continente.
b) Um número expressivo de escravos foi enviado para o Brasil e para as Antilhas, onde eram usados,
sobretudo, e nas lavouras e nas minas. Os alunos deverão observar, no entanto, diversos outros destinos na
América, tanto na região do Prata (como Argentina e Uruguai) como na América do Norte (como Nova Orleans
e Nova York).
2. Sim, as regiões americanas que receberam grande número de africanos escravizados concentram uma
população afrodescendente ainda relevante nos dias atuais. No Brasil, em 2014, 53,6% da população se
autodeclararam pretos ou pardos e 45,5% se disseram brancos. Entre as regiões que mais concentravam
afrodescendentes estavam Norte (76,3%) e Nordeste (72,5%), nesta o estado da BA destacava- -se, com 79,3%
de pretos e pardos. Em países como Belize, Costa Rica, Cuba, Nicarágua e Panamá, ainda hoje há uma presença
significativa de afrodescendentes na população. Nesses países também é expressivo o número de mestiços,
sendo que em alguns deles chegam a representar mais de 80% da população. Dados atualizados sobre a
composição étnica brasileira podem ser encontrados nos em relatórios do IBGE (www.ibge.gov.br) como o
Pnad e o Síntese de Indicadores Sociais. Dados de países da América podem ser encontrados no relatório The
World Factbook, da Central Intelligence Agency (CIA): https://www.cia.gov/library/publications/resources/
the-world-factbook/.
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Esta seção retoma o início do capítulo, aprofundando a análise do relato do francês Grandpré que está na seção
Vamos lá! (p. 61). Por meio desta atividade, o(a) professor(a) poderá avaliar a compreensão dos alunos a
respeito dos textos lidos. Orientações para as atividades:
1. Não. É importante que os alunos debatam o conceito de liberdade e percebam que, por trás da fala
aparentemente bem-intencionada de Grandpré e dos princípios humanistas defendidos por ele, se esconde o
desejo de substituir um tipo de exploração, característica dos sistemas coloniais e das políticas mercantilistas,
por outra forma de exploração, mais dinâmica e coerente com a expansão do capitalismo.
2. Resposta pessoal. Caso considere conveniente, o relatório pode ser apresentado oralmente em sala de aula
por um membro do grupo.
PARA ENCERRAR!
Objetivos:
- Utilizar, como procedimentos de pesquisa, recursos de leitura, escrita, observação e registro em diferentes
linguagens.
- Compreender e avaliar processos de organização do espaço da cidade, por meio de pesquisas e entrevistas,
bem como leitura e produção de textos e imagens.
1. A primeira imagem mostra uma cidade ideal, baseada na proporcionalidade e simetria, características
importantes do movimento renascentista. Já a segunda imagem mostra a planta de uma cidade industrial, que
deveria atender às demandas econômicas, políticas e sociais da Revolução Industrial.
2. A primeira imagem apresenta a Praça do Povo em Roma, na Itália, construída no contexto do Renascimento,
movimento cujo pensamento veio a influenciar o Iluminismo. Assim, a imagem em questão destaca as
principais características do pensamento renascentista e iluminista: simetria, proporcionalidade e
racionalismo. Já a segunda imagem é uma planta de uma cidade ideal, produzida no início do século XX; o
objetivo desse projeto era oferecer soluções aos problemas advindos da industrialização – massa operária
vivendo nas cidades sem moradia e fábricas muito próximas dos rios, por exemplo.
3. a) O documento 3 mostra claramente o deslocamento da população brasileira do campo para a cidade, nas
últimas décadas. Já o documento 4 (pirâmide etária) indica que a população brasileira vem sofrendo algumas
alterações em sua forma e estrutura. Os dados relativos à natalidade evidenciam uma redução significativa
desse índice entre os anos 1960 e 2010. Há, ainda, um grande número de pessoas adultas e jovens no país,
principalmente na faixa etária de 10 a 29 anos. Já o número de idosos aumentou significativamente no período
retratado.
b) Analisando os dados da pirâmide, concluímos que a população brasileira é composta, em sua maioria, de
jovens e adultos. Mas ela vem envelhecendo. Enquanto na década de 1960 a expectativa média de vida no país
era de 52 anos, em 2010 ela atingiu 73 anos, o que demonstra alguns avanços na qualidade de vida da
população brasileira. Além disso, observa-se uma redução significativa dos índices de natalidade, decorrente
sobretudo do modo de vida urbano e de um melhor planejamento familiar. Ao relacionar esses dados com os
do gráfico da população urbana e rural, podemos concluir que as cidades brasileiras tendem a oferecer
melhores serviços essenciais à população – saneamento básico, saúde, educação –, favorecendo uma maior
expectativa de vida e uma menor taxa de natalidade da população.
4. Resposta pessoal. Os dados referentes aos municípios podem ser encontrados na página oficial do IBGE.
Além disso, muitas prefeituras brasileiras possuem um site oficial. Caso considere pertinente, sugira ao grupo
de alunos que realizem entrevistas com pessoas da comunidade e recolham as impressões delas sobre esses
serviços. Com base nesses relatos, os alunos poderão avaliar a situação da cidade.
População absoluta
5. a) Densidade demográfica =
Área
Geralmente a densidade demográfica de uma cidade está muito relacionada às atividades econômicas
exercidas nesse espaço. Quando a cidade tem atividades mais rurais, por exemplo, a densidade urbana não é
muito alta, mas quando a cidade apresenta serviços ligados ao comércio ou à indústria a densidade
demográfica é mais alta.
b) Resposta pessoal.
c) Resposta pessoal.
d) A resposta para essa questão está muito vinculada aos problemas identificados pelo grupo no processo de
análise daquele município (questão 4, primeira etapa). No entanto, podem-se destacar algumas ações
sustentáveis:
Página 335
- ações efetivas voltadas para a diminuição da emissão de gases do efeito estufa, visando combater o
aquecimento global;
- planejamento e qualidade nos serviços de transporte público, principalmente utilizando fontes de energia
limpa;
- incentivo e ações de planejamento para o uso de meios de transporte não poluentes como bicicletas;
- destino adequado para o lixo – criação de sistemas eficientes voltados para a reciclagem de lixo e uso de
sistema de aterro sanitário para o lixo que não é reciclável;
O texto “Cidades verdes: O desafio de tornar o espaço urbano equilibrado e sustentável” traz importantes
reflexões sobre ações e práticas sustentáveis na cidade. Caso considere pertinente, realize a leitura do
documento e solicite um debate coletivo a respeito das principais sugestões do autor sobre sustentabilidade e
de como elas podem ser aplicadas em seu município.
O(A) professor(a) encontra esse texto em: (MARIUZZO, Patrícia. Cidades verdes: o desafio de tornar o espaço
urbano equilibrado e sustentável. Ciência e Cultura, São Paulo 2012, v. 64, n. 3, p. 16-18. Disponível em:
<http://cienciaecultura.bvs. br/scielo.php?pid=S0009-67252012000300007&script=sci_ arttext>. Acesso em:
23 maio 2016.
Ao longo do século XVII, não se podia afirmar qual reino manteria sob controle as terras da América
portuguesa, sobretudo durante a União Ibérica, quando ocorreram as invasões holandesas. Essa discussão é
um dos eixos do capítulo. Outro eixo, relacionado ao controle do território pelos portugueses, é a expansão
colonial, empreendida por inúmeros sujeitos históricos e fundamentada em diversas atividades econômicas.
Para iniciar o capítulo, na seção Vamos lá! (p. 86) há um mapa sobre o fluxo migratório no século XX, no Brasil.
O objetivo da atividade é levar o aluno a perceber que o movimento de ocupação territorial ainda ocorre no
país, com algumas características bem semelhantes às do início da colonização – por exemplo, a ocupação de
áreas com densa cobertura florestal e intensa presença de povos indígenas, como
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Para melhor aproveitamento da atividade, é interessante estabelecer essa discussão com todo o grupo,
utilizando um mapa na sala de aula, mostrando o processo de ocupação do território brasileiro, antes restrito
às áreas litorâneas e, agora, estendendo-se pelas áreas do interior mais distante.
b) Nas décadas de 1950 a 1970, as pessoas saíam do Nordeste para o Sudeste e o Norte, principalmente. Já nas
décadas de 1971 a 1990, as pessoas saíam, principalmente, do Nordeste para o Sudeste e do Sul para o Centro -
Oeste e o Norte.
2. As principais consequências são a ocupação de áreas com densa cobertura florestal e intensa presença de
povos indígenas, como é o caso da Amazônia, sem preocupação com o impacto ambiental e social sofrido pelas
regiões ocupadas.
3. Seria interessante que o texto fosse escrito após o estudo do capítulo, como forma de avaliação dos
conteúdos estudados.
1. Nesse período, a ocupação portuguesa de seu território colonial no continente americano ainda não havia se
consolidado. Tornava-se, dessa forma, vulnerável a invasões de embarcações provenientes de outros países
europeus interessados tanto no comércio de pau-brasil quanto em estabelecer-se definitivamente em certas
regiões do território para explorá-las. Para defender-se das ações de ingleses, franceses e holandeses, a
metrópole instalou diversos fortes na costa atlântica da América do Sul.
2. Durante sessenta anos, Portugal esteve sob o domínio espanhol. Nesse período, denominado União Ibérica,
os portugueses e suas colônias foram envolvidos nas disputas que ocorriam entre os Estados europeus pela
hegemonia do continente. Na época da União Ibérica, os holandeses estavam lutando contra a Espanha para
conseguir autonomia política. Por conta disso, o rei espanhol proibiu os holandeses de manterem a
participação no negócio do açúcar. Diante dessa situação, os holandeses resolveram invadir a área produtora
de açúcar na região de Pernambuco, prejudicando a economia portuguesa.
3. Em 1644, após o afastamento de Nassau, a Companhia das Índias Ocidentais mudou a forma de tratar os
senhores de engenho. Ameaçando confiscar os engenhos, os holandeses cobraram impostos e dívidas
atrasadas e exigiram o aumento da produção de açúcar. Dessa forma, um grande descontentamento tomou
conta dos colonos, que começaram a reagir à dominação holandesa, dando início à Insurreição Pernambucana.
Somado a isso, tivemos, num segundo momento da luta, a ajuda de Portugal, que se viu livre do domínio
espanhol, em 1640, e das amarras do acordo da Trégua dos Dez Anos, firmado em 1640 com os holandeses.
4. A expansão da colônia portuguesa se deu em direção a oeste, transpondo os limites territoriais estabelecidos
pelo Tratado de Tordesilhas. Essa expansão teve grande contribuição dos bandeirantes, que, para apresar
indígenas e tentar encontrar ouro, realizaram expedições que seguiam, geralmente, as margens dos rios,
estabelecendo povoados no interior da colônia.
5. Existiram outras atividades econômicas na colônia portuguesa além da produção açucareira. No nordeste e
no sul da colônia ocorreu a criação de gado para a produção de carne-seca; na região amazônica houve a
exploração das drogas do sertão; na Bahia, desenvolveu-se o cultivo de fumo; e na região do sertão nordestino,
a produção de algodão.
6. A historiografia recente vem mostrando o quanto o universo feminino era diverso e que a imagem de
mulheres reclusas em casa, esperando por um bom casamento, não abarca as especificidades da condição
feminina durante o período colonial. São exemplos os diferentes grupos em que o universo feminino se dividia
no século XVII: as pertencentes à elite, estas, sim guardadas ao casamento; as mulheres pobres, que realizavam
atividades como cuidar do roçado; e as que viviam na condição de escravas ou sob a responsabilidade dos
clérigos. Há outros exemplos no texto que também podem ser citados para criticar tal imagem das mulheres na
época colonial.
O texto apresentado nesta seção amplia a visão sobre o cenário colonial, complementando as informações do
capítulo. Orientações para as atividades:
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1. A vida na área de fronteira diferenciava - se do dia a dia dos núcleos coloniais, porque esses sujeitos
históricos, responsáveis pela ampliação territorial da colônia, viviam distantes das regras impostas pelas
instâncias do poder espiritual e temporal, localizadas, sobretudo, nos núcleos coloniais.
2. Essas pessoas foram responsáveis pela expansão territorial e pela incorporação das terras do interior ao
Império português.
3. Professor(a), nesta reflexão é importante lembrar que, em muitos desses lugares, atualmente há meios de
comunicação de massa, como o rádio, a televisão e até mesmo a internet. As notícias e os modos de vida dos
grandes centros urbanos chegam a esses locais graças à existência dessas tecnologias e, de certa forma,
diminuem muito o isolamento dessas pessoas, levando referenciais culturais distintos para os habitantes
dessas regiões mais afastadas. É importante destacar, porém, que nem todas as pessoas, em todos os lugares
do planeta, possuem acesso a esses recursos.
Escravidão contemporânea
1. Resposta pessoal. É provável que os alunos citem diversos casos desse tipo de trabalhado no espaço rural.
Muitas vezes, esses trabalhadores contraem dívidas com o empregador que não conseguem quitar,
submetendo-se a ele, como única forma de sobrevivência. No entanto, é importante destacar que o trabalho
escravo contemporâneo também ocorre nas cidades brasileiras, como é o caso dos imigrantes ilegais,
atualmente com destaque para os latino-americanos, que são submetidos a baixíssimos salários e a cargas
horárias de trabalho extenuantes e sem descanso.
2. O Brasil já é signatário de vários acordos e tratados internacionais contra o trabalho escravo, tendo
incorporado suas determinações à legislação nacional. Isso, apesar de ter gerado avanços, não tem sido
suficiente. Para acabar com o trabalho forçado no país seriam necessários, entre outros, ter uma fiscalização
mais eficiente para detectar os casos de trabalho escravo, regularizar a situação dos imigrantes (muitas vezes
esses trabalhadores se submetem a situações degradantes por medo de serem deportados do país), aplicar
punições mais severas aos empregadores que descumprirem a lei e melhorar as condições sociais no país,
diminuindo assim a vulnerabilidade de milhares de pessoas. Para obter informações sobre a legislação
brasileira e os acordos internacionais de que o país faz parte, assim como os avanços e os desafios no que diz
respeito ao trabalho escravo contemporâneo no Brasil, os alunos poderão pesquisar em sites oficiais, como o
do Ministério do Trabalho (<http://mtps.gov.br/>) e o da Organização Internacional do Trabalho – OIT
(http://www.ilo.org/ brasilia/lang--pt/index.htm). Acessos em: 10 abr. 2016.
Para concluir o estudo do tema, é proposta uma pesquisa sobre a origem do município onde o aluno mora. As
atividades apontam para aspectos discutidos no capítulo (expansão territorial, área de fronteira, pioneiros),
procurando resgatar a história da ocupação do nosso território dando voz a diversos sujeitos históricos.
Orientações para as atividades:
1. Professor(a), oriente os alunos a buscarem fontes para a pesquisa na biblioteca do município e na prefeitura.
Entrevistas com moradores mais antigos da região também podem colaborar para o levantamento dos dados
solicitados.
2. No texto que produzirão, estimule-os a buscar relações com a história nacional, buscando estabelecer pontos
de contato ou de distanciamento ao que já foi estudado sobre a história do país.
3. Se considerar conveniente, no lugar da troca de textos, os grupos podem realizar seminários para comunicar
os resultados da pesquisa. Essa estratégia pode ajudar a ampliar o repertório de informações sobre a história
do município, além de propiciar uma conversa sobre as fontes de pesquisa, utilizadas pelos grupos.
LEITURA DE IMAGENS
Neste capítulo, propomos um segundo exercício de leitura de imagem com base na obra Negra, de Albert
Eckout, reproduzida no boxe Vestígios do passado (p. 89) deste capítulo. Seguiremos o roteiro já proposto
neste manual:
I. Observação da imagem
Professor(a), conforme já indicado, neste momento da análise, os alunos devem identificar os elementos
solicitados e responder às questões propostas com base na observação da imagem e em seus conhecimentos
prévios. Por isso, é importante evitar atribuir certo ou errado às suas respostas.
1. Identifique título da obra, autor, data de produção, local, tipo de imagem e temática.
Título da obra: Negra; autor: Albert Eckout; data: 1641; tipo de imagem: pintura; temática: mulher africana.
Na cena, há uma mulher negra, ricamente adornada com brincos e colares (um de coral e outro de pérolas). Ela
traja uma espécie de saia e traz à cabeça um grande chapéu decorado com penas de pavão. Na mão esquerda,
ela carrega um cesto com frutas tropicais e há uma palmeira à esquerda da mulher. No pé da palmeira, há um
cacto e observa-se, ao fundo, dois coqueiros e uma terceira árvore, identificada por especialistas como um pé
de mamão. À direita da mulher, há uma criança. O menino segura, em uma das mãos, uma espiga de milho, e na
outra, um
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pássaro, identificado por especialistas como uma ave tuim de cabeça vermelha, originária da África.
3. Existem detalhes que contribuem para expressar determinada ideia. Que detalhes são esses e quais ideias
expressam? Os ricos adornos e a vestimenta da mulher sugerem que ela não era uma escrava. A criança, por
ter um aspecto saudável, também não parece ser filho de escravo.
O verde, o dourado, o branco, o preto, o marrom e tons de cinza. A imagem é uma pintura sobre tela de 267 x
178 cm.
5. A obra retrata uma ideia, cena ou figuras da própria época do autor ou é uma reconstituição histórica? A
obra retrata figuras, cenas e paisagens vistas pelo autor em suas viagens à África e ao Brasil.
1. Pesquise sobre o autor e os motivos que o levaram a produzir essa obra. Quais os seus propósitos com a
obra? Quais os compromissos do autor com o tema? Quais as influências sofridas pelo autor? Qual o estilo do
autor?
e) Qual o seu significado para o autor e para a época em que foi feita?
g) Se a obra é uma reconstituição histórica, que elementos retratam mais a época de produção do que o tema
representado?
Professor(a), oriente os alunos a anotar as referências das fontes consultadas e a utilizar as questões propostas
para auxiliar a elaboração do registro escrito e a organização das informações pesquisadas. É possível que eles
não encontrem todos os dados solicitados. A socialização dos resultados e a sua intervenção podem solucionar
essas carências de informações.
Para ajudar os estudantes a organizar essas ideias, solicite que escrevam ao menos um parágrafo sobre a obra
e o autor, reunindo as ideias mais importantes para a interpretação da imagem.
Professor(a), por meio destes três momentos de análise, pretende- se estabelecer a leitura e a interpretação
das imagens, evidenciando a importância da iconografia para o trabalho do historiador. Neste exercício, com
base na pesquisa sobre obra e autor, o aluno encontrará as diferentes hipóteses a respeito da origem e
condição social da negra e da criança retratada. É importante atentar para os indícios que sustentam cada um
dos pontos de vista e como eles revelam a necessidade de investigação sobre a obra e a vida do autor.
Albert Eckhout esteve no Brasil entre 1637 e 1644. Fazia parte da comitiva de Maurício de Nassau e era
responsável por registrar os tipos étnicos, a flora e a fauna do lugar.
8. AMÉRICA PORTUGUESA:
SOCIEDADE DO OURO
EM SALA DE AULA
A descoberta de ouro favoreceu a interiorização da colonização e a consequente expansão colonial. Houve uma
modificação nas teias de relações sociais e econômicas, surgindo um grupo intermediário na sociedade, além
de uma rede de produção de mercadorias diversas voltada para o abastecimento do mercado interno. O
fortalecimento do controle metropolitano sobre a exploração aurífera e a disputa entre os exploradores
acarretaram uma série de conflitos na região das minas. Esses são os temas centrais deste capítulo.
A seção Vamos lá! (p. 99) traz versos de Gregório de Matos que tratam da colônia antes da descoberta do ouro.
As atividades do Elaborando hipóteses (p. 99) solicitam a interpretação do poema e propõem mobilizar os
conhecimentos prévios dos alunos com base na observação das imagens, dos títulos e subtítulos do capítulo.
Ao final do estudo do tema, o aluno retomará suas respostas iniciais, para reescrevê-las de posse de mais
conhecimentos.
A atividade, bem como a produção artística da região mineradora do Brasil colonial, pode ser trabalhada em
conjunto com os professores(as) de Língua Portuguesa e Artes. Aproximando-se dos trovadores da Idade
Média, Gregório de Matos fez ácidas críticas à sociedade baiana de sua época. Essa sua característica o fez ser
reconhecido por suas sátiras, que fugiam em grande medida dos padrões estabelecidos pelo barroco português
e destacavam-se pela originalidade. Segundo alguns estudiosos, a poesia de Gregório de Matos
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representa o início do longo processo, que levaria ainda dezenas de anos, de despertar da consciência crítica
brasileira.
1. Professor(a), os alunos podem escrever um parágrafo com as palavras negócio, ambição e usura.
2. a) Os alunos podem observar a existência de uma disputa pelo ouro, a criação de vilas e cidades no interior
da colônia, uma sociedade diferente na região das Minas.
b) Pela observação das imagens, títulos e subtítulos pode - se concluir que os versos de Gregório de Matos
poderiam ser aplicados à região das Minas Gerais, pois a busca desse metal precioso impulsionou a produção e
o comércio interno e externo da colônia, e trouxe uma desenfreada disputa pelo ouro, movida pela ambição de
colonos e da Coroa portuguesa.
Ao aproximar um dos temas do capítulo – a tributação – à atualidade, a atividade leva os alunos a pensar sobre
sua realidade e como a melhorar. Orientações para a realização da pesquisa.
1. Para auxiliar a execução da atividade, sugira uma consulta ao site do Ministério da Fazenda (<http://www.
fazenda.gov.br>); acesso em: 23 maio 2016). Há um setor de contabilidade orçamentária no site: gestão
orçamentária, financeira e patrimonial, no qual é possível encontrar indicações dos volumes de recursos
arrecadados pelo Estado.
2. Seria interessante discutir as propostas dos diferentes grupos, eleger as mais pertinentes e redigir uma
carta-proposta coletiva.
Caso julgue conveniente, você pode solicitar esta primeira atividade para ser feita em pequenos grupos. O
objetivo é que os alunos conheçam mais a fundo a realidade do lugar onde vivem no que diz respeito à atuação
das empresas extrativas e da importância desse setor na região, bem como pensar e refletir sobre o que deve
ser feito para evitar ou amenizar danos socioambientais. Para isso, um trabalho interdisciplinar com Geografia
e Ciências, no qual se faça um estudo do meio a alguma região mineradora, pode ser bastante enriquecedor.
Para as discussões, é importante os alunos levantarem dados, tanto econômicos, como sociais e ambientais da
atuação das empresas. Aqui, sugere-se avaliar a questão de modo o mais global possível, visando a
sustentabilidade econômica, social e ambiental do setor extrativista.
Pode-se solicitar que os alunos respondam à atividade 1 e leiam a seção Conexão presente: “A febre continua”
(p. 105) como lição de casa. Em sala de aula, o(a) professor(a) pode trabalhar oralmente a atividade 2 desse
roteiro, estabelecendo com os alunos a comparação entre a atual produção mineradora no Brasil e a dos
tempos coloniais. Orientações para as atividades:
1. A ocupação da região das minas se deu de forma muita rápida e intensa. Um ano após as primeiras noticias
da descoberta de ouro, a região já estava densamente povoada. Pessoas de várias partes da colônia e de
Portugal iam para a região das minas, atraídos pelo sonho de riqueza. Os paulistas se sentiram prejudicados,
principalmente após o governo dar concessões a colonos portugueses. Ocorreu então um conflito entre os dois
grupos, pois paulistas se opuseram à presença dos forasteiros, chamados de emboabas. Os paulistas perderam
a disputa e se afastaram aos poucos da região. Após esses confrontos iniciais, a metrópole passa a exercer
maior controle sobre a região e cria as capitanias de São Paulo e de Minas Gerais.
2. Entre as atividades realizadas pela Intendência das Minas estava a cobrança de impostos. Os impostos
cobrados pela Coroa portuguesa sobre a extração de ouro eram muito altos: pelo quinto, cobrava-se 20% do
que era extraído; e, com a capitação, o dono da lavra deveria pagar um determinado valor por escravo
empregado na mineração. As pesadas taxas associadas às condições de pobreza a que estava submetida a
maior parte da população da região das Minas foram determinantes para que se espalhasse a prática do
contrabando: as pessoas utilizavam diversos meios, como o uso do santo do pau oco, para transportar o ouro
sem passar pela taxação.
b) Para Portugal a consequência foi a solução da crise que assolava o país desde o fim da União Ibérica.
c) Para a Inglaterra, a consequência foi um grande acúmulo de capital, graças ao Tratado de Panos e Vinhos.
4. As sociedades mineira e açucareira apresentavam muitas diferenças entre si. Um dos principais fatores que
determinava essa diferenciação era a importância
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central dos núcleos urbanos para a vida econômica e social na região das Minas. Devido a esse aspecto, as
regiões próximas reuniam uma população maior do que a escrava, ao contrário do que acontecia nas áreas de
cultivo de cana. Essa população livre era formada em sua maior parte por uma camada social intermediária,
praticamente inexistente nos engenhos, formada por pequenos tropeiros, agricultores, artesãos, entre outros.
Na sociedade açucareira, toda a vida social ocorria no campo, em torno dos engenhos. A família patriarcal era o
pilar mais importante dela e sustentava todo empreendimento colonial, sendo que os senhores detinham todo
o poder e tomavam as decisões que influenciavam a vida de todos à sua volta.
Nas Minas, apesar da existência de uma elite formada por grandes proprietários de lavras e comerciantes
ligados ao abastecimento local, o Estado português fazia-se efetivamente presente, controlando a vida social e
econômica das cidades. A mobilidade social, que era praticamente impossível na sociedade açucareira devido a
sua rígida estrutura hierárquica, existia na região das Minas. Pequenos lavradores podiam conseguir riqueza
fácil e galgar uma posição de destaque na sociedade local. Escravos podiam, com mais facilidade em relação ao
resto da colônia, comprar sua liberdade com recursos advindos do contrabando e do roubo de pepitas e pedras
preciosas.
Diferenças
É interessante o(a) professor(a) realizar com os alunos um exercício de leitura do texto de Oliveira Lima,
destacando alguns estereótipos do brasileiro, apresentados pelo autor, a fim de criticar esse imaginário que
ainda hoje persiste no país. Orientações para as atividades:
1. O autor refere-se à Bahia e a Minas Gerais. As características apontadas para o núcleo colonial baiano são:
cidade de igrejas e conventos, ressaltando a composição da população baiana, com destaque para a importante
participação dos negros. As características indicadas para o núcleo mineiro são: o ouro inspirava as ações,
lugar de cobiças e ódios, lugar de luxo sem bem-estar e composto de uma camada superficial de cultura; o seu
progresso só se manifestou com o esgotamento do ouro e o desenvolvimento da agricultura.
2. a) Uma característica que diferenciava a composição social mineira da de outros núcleos de colônias, como o
baiano, era a existência de uma camada social intermediária, composta de mascates, pequenos tropeiros,
faiscadores, agricultores, artesãos, artistas, entre outros.
b) A atividade econômica nas minas não fugia às regras coloniais. Estava voltada para a exportação e utilizava
mão de obra escrava de origem africana.
Nas minas, a principal atividade econômica estava centrada na extração de metais preciosos, enquanto no
núcleo baiano voltava-se principalmente para a agricultura e a pecuária.
Produção literária
Relacionado à atividade anterior, os alunos devem escolher um dos núcleos coloniais para investigar sua
produção literária. Os dados devem ser apresentados em forma de seminários e depois, individualmente, os
alunos devem elaborar um texto, comparando as duas produções.
A atividade pode ser aprofundada, somando-se o contexto histórico à análise das características estéticas
dessas produções literárias, com destaque para o barroco brasileiro. Dessa forma, pode - se fazer um trabalho
interdisciplinar interessante com literatura.
Para concluir o estudo do tema, a seção retoma a atividade do início do capítulo, da seção Vamos lá! (p. 99). O
aluno deverá rever as respostas dadas naquele momento e redigir uma segunda versão. A comparação entre
essas duas produções auxilia na avaliação dos trabalhos realizados ao longo do capítulo. Além disso, ao fazer a
adaptação dos versos de Gregório de Matos aos dias atuais, os alunos terão condições de apontar as mudanças
e permanências históricas, ressaltando as particularidades do período colonial.
O capítulo trata das revoltas coloniais nos séculos XVII e XVIII, destacando as contestações ao jugo colonial
ocorridas durante a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana, e ainda chama a atenção para a presença do
ideário iluminista no Brasil, que contribuiu para o questionamento do sistema colonial. Procura, também,
diferenciar o caráter elitista da revolta mineira e o perfil popular do movimento baiano.
Para iniciar o estudo, a seção Vamos lá! (p. 110) propõe a leitura de um poema satírico de Tomás Antônio
Gonzaga que apresenta, de antemão, algumas características do governo português e das suas relações com os
colonos. A atividade 3 do Elaborando hipóteses (p. 111) pede que os alunos, baseados no poema, caracterizem
as relações entre governo e colonos, com o objetivo de levar a turma a delinear alguns traços do cenário das
revoltas contra o poder metropolitano.
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A leitura e a análise dos boxes ao longo do capítulo são uma boa forma de reforço do tema estudado. A seção
Vestígios do passado: “O condenado” (p. 118) trata da visão das classes dominantes a respeito do movimento
revolucionário baiano. É interessante perceber no texto a linguagem da época, já que há uma série de palavras
em desuso atualmente.
1. Professor(a), a atividade é muito mais proveitosa se feita em conjunto com o professor(a) de literatura, que
poderá contextualizar com os alunos o Arcadismo. Tomás Antônio Gonzaga foi um poeta árcade. Participou da
Inconfidência Mineira e foi condenado ao degredo em Moçambique (África), onde faleceu.
2. Neste trecho do poema, o autor critica a cobrança de impostos e a forma como ela é realizada, denunciando
as diferenças em relação à cobrança de impostos dos pobres e dos ricos.
3. O poema sugere uma relação de conflito entre os colonos e o governo português, destacando a cobrança de
impostos como um elemento gerador de tensões. Os alunos poderão fazer referência ao vocativo “Fanfarrão”,
ao tom de cobrança e de “acerto de contas” do poema, bem como citar os seguintes versos, dentre outros: “Não
era menos torpe, e mais prudente, / que os devedores todos se igualassem?”
O mundo globalizado
1. Os alunos deverão fazer referência à compressão espaço e tempo, definida assim por alguns autores, que
intensificou os fluxos (de pessoas, mercadorias, informações e capitais), levando à redução do tempo gasto
para os deslocamentos e acesso às informações. Importante destacar que, apesar dessa realidade global na
atualidade, existe também uma desigualdade de acesso das pessoas nos níveis global, regional e local.
2. Tanto no passado como no presente, os alunos poderão mencionar diferentes meios. No século XVIII, os
principais meios eram cartas, jornais impressos e pessoas que tinham a oportunidade de viajar entre o Brasil e
outros lugares do mundo. Atualmente, além desses meios, destacam-se a televisão e a internet. A principal
diferença entre os dois momentos históricos é a rapidez com que as informações chegam, atualmente isso
ocorre simultaneamente aos acontecimentos, e a diversidade de fontes. O acesso a essas informações a um
maior número de pessoas na atualidade também é maior.
A atividade 1 desta seção pode ser discutida coletivamente. O texto do antropólogo Darcy Ribeiro discutido no
capítulo 19 do volume 1 (na seção Debatendo a história, p. 240) destaca a violência empreendida pela classe
dominante sobre o povo ao longo da nossa história. Seria interessante retomá-lo antes da realização das
atividades. Reproduzimos o texto a seguir.
O povo brasileiro pagou, historicamente, um preço terrivelmente alto em lutas das mais cruentas de que se tem
registro na história, sem conseguir sair, através delas, da situação de dependência e opressão em que vive e peleja.
Nessas lutas, índios foram dizimados e negros foram chacinados aos milhões, sempre vencidos e integrados nos
plantéis de escravos. (...)
Ao contrário do que alega a historiografia oficial, nunca faltou aqui, até excedeu, o apelo à violência pela classe
dominante como arma fundamental da construção da história. O que faltou, sempre, foi espaço para movimentos
sociais capazes de promover a sua reversão. Faltou sempre, e falta ainda, clamorosamente, uma clara
compreensão da história vivida, como necessária nas circunstâncias em que ocorreu, e um claro projeto
alternativo de ordenação social, lucidamente formulado, que seja apoiado e adotado como seu pelas grandes
maiorias.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 25-26.
1. As ações violentas da metrópole sobre os colonos, como mecanismos de subordinação – por meio de
legislações, punições e obrigações –, não eram plenamente eficientes para manter a ordem na colônia. A
própria violência metropolitana gerava uma reação de revolta entre colonos, ameaçando a ordem instituída.
Entre os exemplos que podem ser citados estão os diferentes movimentos tratados no capítulo de
desobediência e transgressão de colonos frente às imposições da Coroa portuguesa.
2. As principais reclamações estavam relacionadas às normas impostas pelo governo metropolitano, entre elas
a cobrança de impostos.
3. As revoltas dos colonos eram motivadas por disputas internas entre a elite ou pelo descontentamento em
relação às normas impostas pela Coroa. As revoltas de escravos buscavam o fim da exploração e a liberdade.
4. No final do século XVIII, as revoltas passaram a questionar o próprio sistema colonial. A Conjuração Mineira
é um exemplo desse fato. Inspirada nos ideais iluministas e tendo como modelo a independência dos Estados
Unidos, defendia a emancipação da colônia. Os revoltosos queriam tornar a capitania independente de
Portugal
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e instaurar uma república, na qual seria implementada uma Constituição semelhante à dos Estados Unidos.
5. Ao executar os revoltosos e exibir seus corpos em praça pública, a metrópole afirmava seu poder frente aos
demais colonos, dando-lhes um exemplo do que aconteceria às pessoas caso se rebelassem contra as ordens da
Coroa.
6. O caráter elitista da Conjuração Mineira, em contraposição ao movimento baiano, de cunho popular, foi
determinante para a exaltação da revolta mineira e o quase esquecimento da baiana. A memória nacional é
construída com base na dinâmica do que deve ser lembrado e do que deve ser esquecido. Às classes
dominantes do nosso país não era oportuno enaltecer uma revolta cujo principal sujeito histórico era o povo.
Festa e política
O texto apresentado na seção analisa as revoltas mineiras, relacionando-as às festas populares. As atividades 1
e 2 requerem que os alunos façam a interpretação do texto. O(A) professor(a) pode perguntar o que os alunos
pensam sobre essa questão e lembrá-los de imagens de passeatas de estudantes ou de trabalhadores de forma
geral, nas quais há uma mistura de reivindicações e festividade. Orientações para as atividades:
1. Podem-se citar: as festas de caráter político oficial organizadas pelo poder local, como O Triunfo Eucarístico
e as Exéquias Reais; as festas populares, que expressavam as concepções e os valores da sociedade; e as
revoltas coloniais, que, segundo o texto, mesclavam elementos vindos de uma tradição festiva e carnavalesca
presente na cultura popular.
2. Várias revoltas coloniais se organizavam em torno de elementos carnavalescos como a máscara, a paródia e
atos simbólicos. Os revoltosos transformavam a revolta numa festa popular. De acordo com Romero, “o toque
de sinos, as correrias, a simulação de aplicação de justiça, a galhofa, a violência, a exploração do espaço urbano
como arena de confronto pertencem a um território comum tanto ao motim quanto à festa”. Enfim, havia uma
relação clara entre as revoltas mineiras e as festas populares.
3. Hoje ainda é possível fazer essa relação. Podemos observar em passeatas de estudantes, professor(a)es e
outros trabalhadores uma “carnavalização” dessas manifestações populares. O uso de máscaras, bonecos,
enterros simbólicos, comuns nesses movimentos, são elementos que atestam uma continuidade histórica, na
qual ainda é possível relacionar festa à política.
Comunidades quilombolas
O objetivo da atividade é fazer os alunos conhecerem mais sobre a existência de comunidades que mantêm
vínculos com o passado da resistência negra à escravidão. É importante também para que entrem em contato
com a realidade atual dos conflitos que essas comunidades têm de enfrentar contra os grandes proprietários
de terras, desta vez pela defesa da propriedade de seus territórios.
Os sites a seguir reúnem informações úteis em relação ao assunto (acessos em: 23 maio 2016):
• ALDÉ, Lorenzo. A nova cor da disputa agrária. Revista de História. Disponível em: <http://
www.revistadehistoria.com.br/secao/ capa / a -nova-cor-da-disputa-agraria>.
1. Para responder à atividade, os alunos podem ler a reportagem “Grafiteiros fazem releituras de cartazes de
maio de 68”, de Lígia Nogueira (disponível em: <http://g1.globo.com/Sites/Especiais/Noticias/0,,
MUL463654-15530,00-GRAFITEIROS+FAZEM+ RELEITURAS+DE+CARTAZES+DE+MAIO+DE. html>; acesso
em: 23 maio 2016).
2. Professor(a), estimule os alunos a criar uma exposição irreverente, que expresse o caráter da arte de
protesto.
LEITURA DE IMAGEM
Neste capítulo, propomos um exercício de leitura de imagem baseado na obra Tiradentes esquartejado, de
Pedro Américo (p. 116). Se possível, busque na internet uma reprodução em tamanho maior para facilitar a
atividade. Seguiremos o roteiro proposto:
I. Observação da imagem
Professor(a), conforme já indicado anteriormente, neste momento, os alunos devem identificar os elementos
solicitados e responder às questões propostas com base na observação e em seus conhecimentos prévios. Por
isso, é importante não atribuir certo ou errado às respostas dos alunos.
1. Identifique título, autor, ano de produção, local, tipo de imagem e temática da obra iconográfica.
Título: Tiradentes esquartejado; autor: Pedro Américo; ano de produção: 1893; tipo de imagem: pintura;
temática: a pena e o suplício de Tiradentes.
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3. Existem detalhes que contribuem para expressar determinadas ideias. Que detalhes são esses e que ideias
expressam?
Os olhos e a boca entreabertos sugerem a dor e o suplício da morte na forca. As áreas com sangue direcionam o
olhar do observador tanto para a cabeça e a perna espetada quanto para as linhas do tronco e da perna
sobreposta, conferindo maior dramaticidade à cena.
As cores predominantes são branco, vermelho, o azul do manto que cobre parte do corpo, e marrom.
5. A obra retrata uma ideia, cena ou figuras da própria época do autor ou é uma reconstituição histórica?
A obra é uma reconstituição histórica. Pedro Américo a produziu baseando-se em vários autores, sobretudo no
livro do historiador Joaquim Norberto de Souza e Silva (1820-1891), História da Conjuração Mineira: estudos
sobre as primeiras tentativas para a independência nacional, de 1873.
1. Pesquise sobre o autor e os motivos que o levaram a produzir tal obra. Quais os seus propósitos? Quais os
seus compromissos com o tema? Quais as influências sofridas por ele? Qual é seu estilo?
e) Qual o seu significado para o autor e para a época em que foi feita?
g) Se a obra é uma reconstituição histórica, que elementos retratam mais a época de produção do que o tema
representado?
Professor(a), oriente os alunos a anotar as referências das fontes consultadas e a utilizar as questões propostas
para organizar o registro e as informações pesquisadas. É possível que eles não encontrem todos os dados
solicitados. A socialização dos resultados e a sua intervenção podem solucionar essas carências de
informações.
Para ajudar os estudantes a organizar essas ideias, solicite que escrevam ao menos um parágrafo sobre a obra
e o autor, reunindo os pontos mais importantes para a interpretação da imagem.
Professor(a), por meio destes três momentos de análise, pretende-se estabelecer a leitura e a interpretação
das imagens, evidenciando a importância da iconografia para o trabalho do historiador. Neste exercício, os
alunos identificarão que essa tela foi a única que restou de uma série sobre a Inconfidência, idealizada por
Pedro Américo, em que Tiradentes não é representado como um homem triunfante e desafiador do poder, e
sim como um herói aos pedaços. Pedro Américo optou, portanto, pela representação realista do
esquartejamento.
Em geral, as obras do período representavam o herói em seu momento máximo, vivo e calmo diante da morte,
ou destacavam a afirmação do ideal de liberdade e esperança. Essas são características presentes, por
exemplo, na tela O martírio de Tiradentes, de Aurélio de Figueiredo (1856-1916).
A ligação entre Conjuração Mineira (1789), Independência (1822) e República (1889) – proposta em outras
obras da época a serviço dos ideais republicanos – não pode ser estabelecida na obra de Pedro Américo. Cabe
lembrar que o artista foi um defensor da Monarquia.
O capítulo trata da independência das colônias espanholas da América, apresentando a conjuntura externa
favorável e a dinâmica política interna colonial. Destaca, ainda, o fato de a emancipação política não ter
resultado em independência econômica. A estrutura agroexportadora permaneceu intacta, os novos países
continuaram a ser exportadores de matérias-primas e importadores de produtos industrializados. Essa
dependência econômica foi apenas deslocada para as grandes potências capitalistas do século XIX.
A seção inicial Vamos lá! (p. 121) apresenta um trecho do poema do escritor peruano Mariano Melgar,
defensor da independência do Peru. As atividades do Elaborando hipóteses (p. 121) consistem na análise do
poema, que retrata a luta dos colonos espanhóis contra o domínio metropolitano.
Professor(a), para fornecer mais elementos sobre o contexto histórico da América espanhola desse período,
sugira que os alunos leiam e analisem a evidência histórica reproduzida a seguir.
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Os exércitos ingleses parecem querer mudar-se todos a este continente. A Europa não poderá ver sem admiração
como de uma potência amiga da Espanha saem os grandes meios que possuem os inimigos para hostilizar suas
possessões. O exército de Bolívar se compõe, em sua maior parte, de soldados ingleses; a Guiana está guarnecida
por ingleses; a Margarita chegaram mais de 1500 indivíduos da mesma nação, e os barcos de guerra, os
numerosos carregamentos de todas as armas, as munições, os vestuários, os víveres, todos os elementos para fazer
e sustentar a independência, têm saído dos portos do rei da Grã-Bretanha.
Carta do General Morillo, 12 de maio de 1819. El ciclo hispánico: el ocaso del imperio español en América.
1. O trecho associado aos colonizadores é: “Cruel despotismo, hórridos séculos, tenebrosa noite(...)”. Dessa
forma, os colonizadores e o processo de colonização são associados ao mal que deve acabar. O novo lugar que
estava surgindo é descrito como um país “fértil em maravilhas”, “Realmente, (...) um novo mundo”.
2. Professor(a), o aluno pode inferir que o contexto desse período histórico corresponde às lutas de
independência e que o poema é uma crítica ao processo de colonização e uma defesa da autonomia desses
territórios.
A seção traz uma importante reflexão sobre o uso político de personalidades ou acontecimentos históricos. O
texto mostra de que forma Hugo Chávez usava e procurava se aproximar da figura idealizada de Simón Bolívar.
Se considerar conveniente, indicamos como leitura complementar o artigo da historiadora Maria Lígia Coelho
Prado, no qual a autora procura desmistificar a figura de Bolívar, contrapondo o personagem histórico ao
idealizado que o governo Chávez usou como modelo e parâmetro para a Revolução Bolivariana.
Há uma imensa distância entre o ícone otimista e antiamericano construído por Hugo Chávez e o Bolívar
histórico, pragmático e ambíguo, que viveu no século XIX.
A figura de Simón Bolívar (1783-1830) tem sido invocada pelo presidente venezuelano, Hugo Chávez, como
legitimadora de seus projetos políticos.
Bolívar é apresentado como inspirador, patrono e protetor do regime chavista e como primordial idealizador da
“nova” América Latina integrada e unida na luta contra o imperialismo norte-americano. Abre-se um diálogo
entre presente e passado, inventando-se um fio condutor que deseja impor uma continuidade histórica.
Bolívar nasceu numa família rica, recebeu educação de inspiração liberal, foi general vitorioso da guerra pela
independência da América do Sul, assumiu altos cargos políticos e morreu tuberculoso, autoexilado, sem fortuna e
poder. Desde o século XIX, construiu-se um verdadeiro culto ao “Libertador”. Ao “maior herói nacional”, foram
sendo incorporados qualificativos, tais como: “caminhante e guia”, “gênio perfeito”, “homem predestinado a
serviço da Providência”, “libertador do continente”, “criador das repúblicas americanas”, “pai dos cidadãos livres”.
Colocada no “altar sagrado da Pátria”, sua memória foi mitificada e penetrou no imaginário social venezuelano.
Bolívar deixou muitos escritos sobre temas políticos diversos, carregados de ideias que variaram conforme os
problemas e as dificuldades do momento histórico. O regime chavista, para efeitos de propaganda, tem se
apropriado de certas frases e excertos de Bolívar, transformando-os em “lemas da liberdade”, enquanto silencia
sobre afirmações mais polêmicas. Por exemplo: a democracia, tema muito discutido no século XIX. Bolívar
defendeu posições contrárias à ampla participação política popular. Na famosa Carta da Jamaica, de 1815, na
qual faz uma lúcida análise da situação de cada uma das regiões da América do Sul, escreve sobre a Venezuela:
“Em Caracas, o espírito de partido teve sua origem nas sociedades, assembleias e eleições populares, e esses
partidos nos levaram à escravidão. Assim como a Venezuela tem sido a república americana que mais tem
aperfeiçoado suas instituições políticas, também tem sido o mais claro exemplo da ineficácia da forma
democrática e federal a nossos nascentes Estados”.
Os traços autoritários dos discursos de Bolívar vão se acentuando na proporção do seu temor ao que chamou de
“anarquia social”. Em 1819, no Congresso de Angostura (na Venezuela), Bolívar entende que o Senado, em vez de
ser eletivo, deveria ser hereditário.
Nesse mesmo discurso, diz que “a liberdade indefinida e a democracia absoluta são os escolhos onde foram
arrebentar-se as esperanças republicanas”. Em 1825, em pronunciamento diante do Congresso Constituinte da
Bolívia, propõe a presidência vitalícia para
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o país. “O presidente da República nomeia o vice-presidente, para que administre o Estado e o suceda. Por essa
providência, evitam-se as eleições, que produzem a grande calamidade das repúblicas, a anarquia, que é o luxo da
tirania e o perigo mais imediato e terrível dos governos populares.” Teria Chávez se inspirado em Bolívar para
tentar passar a lei que permitirá constantes reeleições do presidente?
Entretanto, as posições autoritárias de Bolívar não devem ser tomadas simplesmente como algo “típico” da
América Latina. O “medo do povo” era comum tanto na Europa quanto nas Américas. Bolívar era um liberal e,
como tal, defendia a necessidade da manutenção da ordem como garantidora da segurança social e acreditava
na legitimidade da propriedade privada como base da organização da sociedade.
Não há menção às injustiças das desigualdades sociais ou da dominação dos poderosos sobre os mais fracos e
nenhuma possibilidade de seus escritos carregarem algo de um socialismo “avant la lettre”. Como foram
elaborados num período de grandes mudanças, suas avaliações e propostas variaram conforme o momento. Na já
citada Carta da Jamaica, expressa sua esperança, afirmando desejar que na América do Sul se forme “a maior
nação do mundo, menos por sua extensão e riquezas do que pela sua liberdade e glória”.
Entretanto, no fim da vida em 1830, frustrado, concluía, em uma de suas últimas cartas, que da sua experiência
política tirara “poucos resultados certos”: “a América era ingovernável” e “servir a uma revolução era arar no
mar”.
Por outro lado, Bolívar plantou uma ideia que permanece atual. Lançou a possibilidade de construção de uma
unidade latino-americana e esse “sonho” ganhou novas roupagens com o passar das gerações. Enfim, entre o
Bolívar apresentado por Chávez – otimista, coerente, defensor da liberdade, da democracia e das causas sociais e
precursor do anti-imperialismo – e o Bolívar histórico – pragmático, controverso, ambíguo e até mesmo
contraditório – existe notável distância. Parece-me fundamental ter clareza a respeito do terreno político sobre o
qual Hugo Chávez vem plantando suas “raízes históricas”.
PRADO, Maria Lígia Coelho. Bolívar em várias versões. Folha de S.Paulo, São Paulo, 21 jan. 2007.
1. Chávez, assim como Bolívar, defendia a integração e a soberania das nações latino-americanas. Ambos
elegeram a educação dos cidadãos como uma das mais importantes tarefas do Estado. Chávez investiu em um
projeto amplo de alfabetização e aprimoramento da educação na Venezuela, inspirado no modelo educacional
cubano. Além disso, o governo do presidente venezuelano foi marcado pelo centralismo – como também
ocorreu com Bolívar. Outro ponto em comum é a desconfiança de ambos em relação ao poderio dos Estados
Unidos, embora Chávez fosse muito mais enfático nas críticas feitas ao vizinho do norte.
2. Chávez teve como projeto político implantar um governo socialista na Venezuela, ao passo que Bolívar era
um defensor do liberalismo, corrente econômica e política criticada por Chávez.
3. A imagem de Bolívar se sobressai atrás de Hugo Chávez, que buscava associar sua imagem à do
revolucionário, passando a ideia de comunhão entre os dois.
4. Resposta pessoal. Professor(a), discuta com seus alunos o papel político da figura do herói e a força que a
imagem do líder mitificado exerce sobre o imaginário popular.
5. Oriente os alunos a pesquisarem em diferentes mídias, a fim de obterem o maior número de opiniões e
informações a respeito. Em 2016, Maduro vinha enfrentando oposicionistas no Legislativo, que em 2015
conquistaram a maioria das cadeiras. Essa conquista de poderes da oposição representou uma virada histórica
contra o regime chavista, que vinha se impondo a ele visando manter-se no poder. Estimule a socialização das
pesquisas e a troca de ideias entre os alunos.
1. a) Após a invasão da Espanha pela França, no lugar de Fernando VII assumiu o irmão de Napoleão, José
Bonaparte. Este sofreu dura resistência por meio de guerrilhas e da formação de juntas governativas, inclusive
nas colônias da América, para manter a autonomia local enquanto o rei espanhol estivesse ausente. Mas
mesmo com essas resistências, o governo de Napoleão introduziu novidades tanto para os espanhóis quanto
para os colonos. Aqueles conheceram um governo que impunha limites ao poder do soberano, enquanto estes,
com o apoio da Inglaterra, eliminaram as barreiras comerciais durante o período em que Fernando VII esteve
afastado do trono espanhol.
Com a derrota de Napoleão, o rei Fernando VII retomou o poder e tentou restaurar o Absolutismo. Porém, o rei
teve de enfrentar a oposição de vários setores da sociedade, incluindo um movimento revolucionário em 1820,
que impôs uma Constituição que limitava o poder do soberano. Esse cenário conturbado repercutiu nas
colônias espanholas da América fazendo com que fossem originados os vários movimentos de emancipação.
b) Para suprir a carência de recursos da Coroa espanhola, Fernando VII tornou mais rígida a administração das
colônias, aplicando uma política de centralização do poder e de cobrança de impostos. Os colonos resistiram e
não aceitaram a situação. Essas tensões originaram os vários movimentos de emancipação das colônias
espanholas.
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2. a) Os Estados Unidos, por meio da Doutrina Monroe, posicionaram contra qualquer tentativa de invasão dos
territórios americanos pelas potências europeias. O lema dessa política era a América para os americanos. Foi
traçada no governo de James Monroe, em mensagem enviada ao Congresso em 1823. Seu objetivo principal era
evitar a ingerência europeia nas Américas Central e do Sul, assim como eliminar a pretensão russa de ocupar o
território do Alasca.
b) A ajuda inglesa relacionava-se ao desejo de ampliar o comércio com a América e, por isso, a Inglaterra era a
favor do fim dos vínculos coloniais. O apoio inglês foi importante para neutralizar a intenção espanhola de
utilizar recursos da Santa Aliança e obter o apoio de outros países europeus contra os movimentos
separatistas.
3. Para a América espanhola, a independência do Haiti serviu de exemplo e de advertência, pois as elites locais
temiam que o processo de emancipação resultasse na perda de controle sobre os governados, desencadeando
uma revolução como a ocorrida naquele país. Por isso, as elites criollas procuraram manter a liderança e o
controle sobre os processos de independência em seus países para conquistar a liberdade política e comercial
sem riscos do estabelecimento da igualdade social.
4. Os movimentos liderados por Miguel Hidalgo, Morellos e Vicente Guerrero contavam com forte apoio
popular e propunham mudanças na estrutura social, como o fim da escravidão e dos privilégios da elite, de
forma a estabelecer uma sociedade mais igualitária. Porém, esses movimentos não obtiveram sucesso, e o
governo que mais tarde seria formado no México independente fora erguido a partir de um levante de criollos
contra a metrópole e, por isso, favorecia as antigas elites econômicas e militares da colônia.
5. Influenciados pelo Iluminismo, Bolívar e San Martín lideraram diversos movimentos de independência na
América espanhola. Ambos possuíam um projeto de unificação do continente, mas ignoravam as diferenças
entre as populações coloniais, muitas delas anteriores ao domínio espanhol. A diferença entre os projetos
estava na forma de governo a ser estabelecida, enquanto San Martín defendia a Monarquia constitucional,
Bolívar propunha um governo republicano e federativo
Outro lado
A seção apresenta um texto que analisa a importância das relações econômicas estabelecidas, no início do
século XIX, entre a América espanhola independente e a economia mundial. Orientações para as atividades:
1. O contexto histórico europeu foi marcado pelas guerras napoleônicas e pelos efeitos das Revoluções
Industrial e Francesa sobre as estruturas econômicas, sociais e políticas.
2. Após a derrota de Napoleão ocorreu um processo de restauração política, empreendida pelo Congresso de
Viena. Os novos países independentes foram incorporados ao capitalismo industrial europeu.
3. É interessante destacar que no contexto atual de uma nova globalização há empresas e bancos europeus
espalhados por vários países americanos. Muitos países americanos buscam estabelecer laços comerciais mais
intensos com a União Europeia, com o intuito de ampliar e diversificar seus mercados. A União Europeia, por
sua vez, mantém uma política protecionista em alguns setores econômicos, como o agrícola, o que prejudica
países como o Brasil, cujos produtos perdem competitividade diante dos subsídios agrícolas, recebidos pelos
produtores europeus.
Os alunos deverão perceber que a independência em relação à Espanha não significou o fim da exploração
econômica dos países latino-americanos pelas potências estrangeiras. Atualmente, esses países estão inseridos
numa nova fase de dominação, sendo principalmente fornecedores de matérias-primas e consumidores de
bens industrializados e alta tecnologia.
O conceito de América Latina: uma perspectiva francesa
A expressão “América Latina”, apesar de ser de uso corrente na maior parte dos países do mundo e na
nomenclatura internacional, apresenta uma definição precária. Marcada sobretudo pela diversidade, essa região
aparece muitas vezes de modo indistinto, em função de uma aparente homogeneidade, que é percebida por meio
da herança espanhola e portuguesa. Este estudo tem o objetivo de tentar esclarecer o significado e a história
desse conceito, a partir do seu surgimento no século XIX. Retomarei aqui os trabalhos de Alain Rouquié e de Guy
Martinière [especialistas franceses].
A difícil definição
Como já nos alertou Alain Rouquié (1998, p. 15), o próprio conceito de “América Latina” é problemático. Do ponto
de vista geográfico, o que se entende por América Latina? O conjunto dos países da América do Sul e da América
Central? O México ficaria, portanto, de fora, já que, segundo os geógrafos, pertence à América do Norte. Para
simplificar, poderíamos
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englobar, nessa denominação, os países localizados ao sul do rio Bravo. Seria preciso, então, admitir que a Guiana
Inglesa e Belize, países de língua inglesa, e o Suriname, onde se fala o neerlandês, fazem parte da América Latina.
Entretanto, se considerarmos que se trata de um conceito cultural, a definição reuniria exclusivamente as nações
de cultura latina da América. Mesmo assim, haveria problemas. Com esse raciocínio, a província canadense do
Quebec e Porto Rico – Estado livre associado aos Estados Unidos – seriam incluídos no bloco latino-americano, o
que normalmente não é aceito.
Por outro lado, poder-se-ia pensar em descobrir uma identidade subcontinental forte, ligada por traços de
solidariedade diversos, provenientes de uma cultura comum ou de qualquer outra natureza. Mas a própria
História dessas nações e sua grande diversidade cultural viriam contrariar essa justificativa. Durante mais de um
século de vida independente, essas nações viveram isoladas, pouco se importando umas com as outras, mais
interessadas em suas relações com a Europa e com os Estados Unidos. Além disso, há uma enorme disparidade
entre os países, tanto em relação ao seu tamanho e potencial econômico quanto a seu papel regional. Desse modo,
não houve o surgimento de uma consciência unitária entre eles.(...)
Essas considerações são importantes para destacar que o conceito de América Latina não é totalmente cultural
nem somente geográfico. E, dessa maneira, o termo mostra seus limites e ambiguidades: a América Latina existe,
mas somente por oposição à América Anglo-saxônica.
Alain Rouquié também afirma que os “latino-americanos”, enquanto categoria, não representam nenhuma
realidade tangível além de vagas extrapolações ou generalizações frágeis. Isso significa igualmente que o termo
possui uma dimensão oculta que completa sua acepção. (1998, p. 16).
Dois outros atributos estão ainda ligados à América Latina: a sua situação socioeconômica periférica, em relação
ao “centro” desenvolvido, e o fato de pertencer à cultura ocidental. Nesse sentido, é curiosa a expressão usada por
Riquié: “Extremo Ocidente”, numa clara analogia a “Extremo Oriente”.
Num estudo sobre o conceito de América Latina, importa verificar como, quando e por que surgiu e se afirmou
essa “latinidade” do Novo Mundo.
O nascimento de um conceito
O pesquisador e historiador francês Guy Martinière nos revela o nascimento e o longo caminho percorrido pelo
conceito que ele denominou “latinidade” da América (1982, p. 25-38). No início do século XIX, sob a influência dos
novos Estados Unidos da América e das ideias da Revolução Francesa, surgiram as primeiras nações
independentes, no chamado Novo Mundo. Martinière comenta que, em 1826, Alexander Humboldt escreveu em
seu Essai politique sur l’île de Cuba:
Para evitar circunvoluções fastidiosas, continuo a descrever nesta obra, apesar das mudanças políticas
ocorridas no estado das colônias, os países habitados pelos espanhóis-americanos sob a denominação de
América Espanhola. Nomeio Estados Unidos, sem acrescentar da América setentrional, as terras dos anglo-
americanos, embora outros Estados Unidos tenham se formado na América meridional. É embaraçoso falar de
povos que exercem um grande papel na cena do mundo, e que não têm nomes coletivos. O termo americano
não pode mais ser aplicado somente aos cidadãos dos Estados Unidos da América do Norte, e seria desejável
que essa nomenclatura das nações independentes do Novo Continente pudesse ser fixada de maneira, ao
mesmo tempo, cômoda, harmoniosa e precisa.
Mas foi preciso esperar ainda trinta anos para que essa “maneira cômoda, harmoniosa e precisa” de definir
coletivamente as jovens nações independentes da América colonizada pelos países ibéricos pudesse ser criada.
Essa nova invenção da América nasceu na Europa, mais precisamente na França, sob o Segundo Império. (...)
Data, portanto, do início da segunda metade do século XIX, o surgimento da expressão “América Latina”. Diversas
razões políticas e ideológicas estão na base dessa nomenclatura.
O conceito de América Latina, criado na França durante o império de Napoleão III, nasceu pouco antes da
expedição militar – e científica – francesa – e europeia – ao México. Uma das primeiras obras impressas em Paris,
talvez a primeira, a utilizar o conceito de América Latina foi a de Charles Calvo, obra monumental por sua
dimensão (20 volumes de 400 a 500 páginas cada um), intitulada Recueil Complet des Traités, cujos primeiros
volumes saíram no princípio de 1862.
O autor era latino-americano de origem e possuía grande reputação científica, participando de diversos grupos
científicos franceses, além de virtudes políticas. Ocupava ainda o posto de “Chargé d’Affaires du Paraguay”, junto
às cortes da França e da Inglaterra. Sua obra foi dedicada ao próprio Imperador, com o objetivo, político e
ideológico, bem definido:
Vossa Majestade Imperial é o soberano da Europa que melhor compreendeu toda a importância da América
Latina, e aquele que contribuiu de maneira mais direta ao enorme desenvolvimento do comércio que faz a
França com esse vasto continente. (MARTINIÈRE, 1982, p. 27-28).
Alguns dias depois, o Ministro das Relações Exteriores, Thouvenel, lhe respondia que o Imperador... aceitava com
prazer a dedicatória de um trabalho cuja publicação lhe parecia oferecer, naquela ocasião, um verdadeiro
interesse. Ora, fazia poucos meses que as tropas francesas haviam desembarcado no México para derrubar Juarez,
e perto de seis meses que a intervenção militar comum da Inglaterra, da Espanha e da França tinha sido decidida.
Poderia haver melhor garantia do valor da política de Napoleão III na América Latina do que um texto científico
do eminente diplomata latino-americano? É bem verdade que Charles Calvo se defendia em sua obra – uma
página perdida entre milhares de outras – de ser favorável a uma intervenção
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armada no México. Entretanto, o mais importante ficava: sua definição “latina” do brilho político, cultural e
econômico da França de Napoleão III em relação à América antigamente colonizada pela Espanha e por Portugal
correspondia admiravelmente ao “grande desígnio” do Imperador.
Esse grande desígnio que, aliás, já havia sido refletido e posto em prática, há alguns anos, foi analisado pelo
ideólogo oficial do regime imperial, o senador Michel Chevalier, no livro Le Mexique ancien et moderne, de 1863.
Guy Martinière resume assim a análise de Chevalier:
A França, herdeira das nações católicas europeias, conduz na América e no mundo o facho das raças latinas,
isto é, francesa, italiana, espanhola e portuguesa. Penhor de paz e de civilização, esse facho permite melhor
aclarar a marcha na via do progresso, visto que uma “concórdia efetiva” existe entre Paris e Londres.
Entretanto, se não se usa de precaução, o declínio que afligiu a Itália, Espanha e Portugal, em suma as nações
católicas e latinas da Europa, corre o risco de acentuar-se em benefício das nações cristãs dissidentes – Rússia,
Prússia e Turquia – a não ser que, sob a proteção de Napoleão III, uma nova aliança os regenere. Porque, além
dos mares, do Atlântico ao Pacífico, a escalada das nações protestantes e da raça anglo-saxônica é mais
evidente na América, visto que nem o Brasil nem Cuba sozinhos estão habilitados para contrabalançar a
influência dos Estados Unidos. É, portanto, plenamente tempo de se unir na Europa para ajudar as nações
latinas, irmãs da América, a encontrar essa via do progresso que a França descobriu por si mesma e sustentar,
eficazmente, primeiro o México para conter a expansão dos Estados Unidos. (MARTINIÈRE, 1982, p. 28-29).
Percebe-se, portanto, que essa ideologia latina de Napoleão III, além de interesses próprios, visava a conter o
expansionismo dos Estados Unidos. Martinière afirma que o nome “América Latina” não aparece na obra de
Michel Chevalier nem nas pretensões do Imperador dos franceses. Tratava-se somente das raças latinas da
América. Mas a utilização feita por Charles Calvo da nomenclatura de América Latina, que faltava a Humboldt,
não tardaria a ser amplamente empregada.
Como era de se esperar, as primeiras reações – favoráveis e desfavoráveis – em relação a essa nomenclatura
provocaram longos e violentos debates políticos e ideológicos em torno da estratégia francesa de intervenção em
solo americano.
O apoio “cultural” das nações latinas e católicas da Europa foi muito discreto, tirando os meios favoráveis à
França nas penínsulas mediterrâneas. Para a Espanha, que tinha aversão em reconhecer a independência das
antigas colônias, os Estados da América eram, primeiramente, hispano-americanos antes de ser latino-
americanos. E a noção de hispanidade não tardaria a aparecer em resposta a essa latinidade. Da mesma forma,
Portugal se volta para seu império lusitano da África e da Ásia, considerando o Brasil suficientemente “maior”
para empreender seu próprio voo. Quanto à Itália, os ânimos estavam muito preocupados com a formação da
unidade nacional e com o papel que Napoléon III poderia exercer, nesse contexto, para se interessar pelo
continente latino da América.
A expressão América Latina foi ainda muito contestada na Alemanha, pelos discípulos de Humboldt. Um certo
Wappaens declarou, num jornal de Goettingen, em 1863, que os hispano-americanos, em vez de seguir as teorias
francesas, deveriam voltar-se para a Espanha; e em vez de enviar seus filhos para estudar na França, deveriam
enviá-los às universidades espanholas e se inspirar na literatura espanhola, em vez de tomar suas ideias nos
escritos de Voltaire, Rousseau, Eugène Sue e outros franceses semelhantes.(MARTINIÈRE, 1982, p. 29-30).
Apesar de toda essa polêmica, de fato, foi nos meios intelectuais das jovens nações independentes da América que
a expressão América Latina foi aceita e reivindicada com o maior vigor. Ela permitia, enfim, aos antigos
colonizados sair da tutela da mãe pátria ibérica e obter um estatuto internacional independente. Este seria, pois,
o significado da francofilia entre os latino-americanos: “construir sua autonomia cortando o cordão umbilical
ibérico e identificando-se simbolicamente com o modelo francês, bastante diferente para permitir a ruptura,
bastante semelhante para permitir a identificação simbólica” (RIVAS, 2001, p. 99).
Convém lembrar que a estratégia aventurosa de Napoléon III, com sua expedição militar ao México, quase
comprometeu o impacto cultural da latinidade da América. Mas Guy Martinière afirma que o sucesso definitivo do
conceito de América Latina foi obra ideológica da Terceira República (1982, p. 30-31). A derrota de Sedan, na
Guerra franco-prussiana, marcou o fim do Segundo Império e o início da III República; e o revés lamentável da
expedição ao México tornou-se o presságio da catástrofe militar do Império. Entretanto, os êxitos do período
imperial, sobretudo em matéria econômica, como foi o caso da revolução industrial, foram considerados uma
herança pelos adeptos do novo regime. Dentro do mesmo espírito, a herança do “conceito” de América Latina,
apesar do erro colonial de Napoléon III, foi também reivindicada, procurando reconquistar esse mundo recém-
libertado. Mas, depois da queda do Imperador, o conceito de América Latina foi empregado na França com muita
reserva. Marcado pelo erro napoleônico, não seria mais conveniente bani-lo das memórias, assim como o conjunto
da obra política imperial?
Apesar disso, o sucesso obtido por esse tema na própria América e a política cultural e econômica favorável à
França que o sustentava fez com que a expressão se tornasse, a partir de 1880-1885, de uso cada vez mais
corrente.
Importa esclarecer que, com o passar do tempo, novos significados foram dados a essa latinidade. Primeiro, o
caráter católico da herança latina foi suprimido. Esse desaparecimento coincidiu com a emergência de um
positivismo de
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combate, filosofia que se tornou a ideologia oficial da República laica de Jules Ferry. Ora, a doutrina positivista,
propagada pelos discípulos de Auguste Comte, tinha feito adeptos na América Latina, conquistando o México
rebelde dos herdeiros de Juarez e também o Brasil, que logo depois derrubou o seu governo imperial. As
repúblicas da América se tornaram assim repúblicas latinas, “irmãs” da grande República francesa que guiava o
mundo em direção à Civilização e ao Progresso. Vale lembrar que a divisa de nossa bandeira, “Ordem e
progresso”, é tipicamente positivista.
Os conflitos militares do início do século XX acentuaram essa orientação. Com a Primeira Guerra Mundial, alcança
seu ponto culminante, na visão estratégica ideológico-cultural das classes dominantes francesas e sul-americanas,
essa concepção de uma civilização latina, verdadeiro eixo leste-oeste, símbolo de um prolongamento da Europa
humanista, herdeira do mundo greco-latino, em direção a esse Novo Mundo tão rico de futuro que constituíam as
Repúblicas latinas da América.
Foi tão grande o impacto de sua influência nos Estados Unidos, que chegou a se traduzir numa visão pan-
americana do continente. Mesmo assim, o conceito de América Latina foi admitido e empregado correntemente
pelos estadunidenses. A expansão do pan-americanismo no eixo norte-sul, confrontando-se com as fronteiras do
latino-americanismo, não conseguiu vencer, sobre o plano cultural, o declínio da Europa, nem mesmo depois da
queda da “influência francesa” na América Latina, entre as duas guerras mundiais. Adotando essa nomenclatura
e defendendo-a, as elites crioulas da América, que haviam rejeitado a dominação política dos países ibéricos,
proclamaram assim sua originalidade diante da expansão do imperialismo ianque. O enxerto da latinidade havia
vencido…
Outras terminologias haviam sido utilizadas para definir a originalidade dessa área cultural. América ibérica ou
América espanhola e portuguesa continuaram a ser empregadas; América ameríndia foi também proposta, mas
não foi bem aceita. Afinal, qual foi o papel dos índios na elaboração da consciência nacional que as classes
dominantes crioulas forjaram?(...)
Logo depois da Segunda Grande Guerra, os historiadores franceses começaram pouco a pouco a usar o termo no
plural: Amériques Latines, em vez de América Latina. Guy Martinière nos conta que Fernand Braudel foi o
primeiro a colocar esta questão, a partir de 1948, num artigo de título provocador: “Existe uma América Latina?”.
Esse artigo retomava a obra homônima do autor peruano Luis Alberto Sanchez e sua conclusão era firme: “na
verdade, a América Latina só é uma, nitidamente, vista de fora… Ela é uma por contraste, por oposição, tomada
em sua massa continental, mas com a condição de se opor a ela os outros continentes, sem que isso não a impeça
de ser profundamente dividida” (1982, p. 32) (...)
Dessa maneira, criava-se um novo conceito operatório, logo depois da Segunda Grande Guerra, com base no
conhecimento íntimo das realidades. Depois de muitos anos de estudo e pesquisas efetuadas em vários países da
América Latina, principalmente no Brasil e no México, professores(as) franceses propuseram o novo conceito.
Vinte anos mais tarde, depois de numerosos debates, os primeiros resultados apareciam. E esse período de
efervescência, que foi o ano de 1968, viu reconhecida, enfim, a nova nomenclatura [Américas Latinas].
Entretanto, a realidade está sempre em movimento [e a conjuntura política dos anos 1970 deu ao debate outra
dimensão.] (...)
Com efeito, em 1975, a incursão de Cuba na cena política africana provocou muitas surpresas. Numerosos
observadores de política internacional vincularam rapidamente as ações dos cubanos na África ao expansionismo
soviético: a política africana de Cuba aparecia como o “braço armado” de Moscou.
Entretanto, esse aspecto fundamental da cooperação cubana na África constitui apenas uma faceta dos novos
tipos de relações que se estabeleceram entre Cuba e a África. No domínio cultural, explica Guy Martinière, a
emergência de um novo conceito operatório foi expressa por Fidel Castro em 1975: “Cuba não se apresenta mais
hoje como um país ‘somente’ latino-americano, mas como um país latino-africano” (1982, p. 34). É evidente que
esse novo conceito foi forjado com a finalidade de justificar ideologicamente uma intervenção armada
conjuntural. Mas a emergência de tal conceito de latino-africanidade cubana reflete outras preocupações.
De fato, a descoberta política do continente africano por Cuba não data de 1975, mas é contemporânea da
própria Revolução de 1959. O estabelecimento da cooperação cubana na África está, portanto, ligado
estruturalmente à reavaliação radical da identidade cultural cubana, dessa cubanidad de raízes africanas
fundamentais nascida da Revolução. O modelo socialista instaurado em Cuba não afirma querer estabelecer um
sistema de desenvolvimento voltado, primeiramente, para o povo, e não para as classes dirigentes crioulas?
Tanto em Cuba como em outros países da América Latina, continua Martinière, isso supõe a integração de todos
os excluídos de uma economia de mercado dependente: classes dominadas e raças desprezadas dessa multidão
colorida que forma a população das nações do Novo Mundo enfim reunidas num novo direito à identidade
política.
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A Revolução “socialista” cubana declara transformar a sorte desse povo, procurando acabar com todo traço de
racismo existente na ilha, um racismo que se achava profundamente arraigado pela estratificação social da
colonização espanhola e utilizado pelas classes crioulas em seu proveito. A literatura, a poesia e também as
expressões folclóricas, como a dança (de modo especial a rumba), a música, a cozinha, a mestiçagem, a religião…
são profundamente impregnadas dessas “raízes” africanas. Marginalizadas pela elite social branca, ou que se
dizia branca, essas tradições populares são, a partir de 1959, objeto de um fervor “cultural” revolucionário. Se
não se pode afirmar que as raízes “afro-cubanas” por si só explicam as formas da política de solidariedade de
Cuba em relação à África, como não levá-las em conta numa análise da política africana de Cuba?(...)
Importa lembrar que esse fenômeno da afro-latino-americanidade não se refere somente a Cuba. Integra, de
certa forma, o movimento de revolta da negritude, que, nos anos 1930, restabeleceu os laços culturais entre a
África e a América. São inúmeras as obras que tratam da mestiçagem e da negritude, mostrando a generalização
dessas novas relações em toda a América Latina. Outros países latino-americanos, inclusive o Brasil, traduzem
sua africanidade a seu modo, sobretudo após a emergência do chamado “Terceiro-mundo”, nos anos cinquenta.
E, com a descolonização da África, houve a possibilidade de maior cooperação entre países latino-americanos e
africanos, tanto no domínio diplomático quanto no comercial.[...]
Não se sabe datar exatamente os primeiros indícios de uma tomada de consciência ativa dos interesses comuns
dos países latino-americanos. Mas pode-se observar, atualmente, um esforço de certos países no intuito de
estabelecer uma maior integração com seus vizinhos, principalmente no âmbito das relações comerciais. É o caso
da criação de blocos comerciais, como o Mercosul, por exemplo. Além disso, a globalização do comércio e a recusa
de um mundo unipolar aproximaram também a América Latina de outros atores internacionais.
Entretanto, a continuidade cultural com a Europa se, por um lado, apresenta grande facilidade para as
transferências científicas ou tecnológicas, por outro, pode também representar um atalho que freia o crescimento,
estabelecendo, provavelmente, a forma mais sutil de dependência. Com efeito, o desenvolvimento da América
Latina foi induzido do exterior e as distorções provocadas por esse tipo de crescimento são múltiplas:
vulnerabilidade, dependência exterior, endividamento e ainda heterogeneidade social com o crescimento da
desigualdade. Essa tensão social e mesmo racial se configura ao mesmo tempo como expressão de uma crise e
uma característica essencial do perfil das sociedades latino-americanas, que se encontram na periferia ocidental
do mundo desenvolvido.
DINIZ, Dilma Castelo Branco. O conceito de América Latina: uma perspectiva francesa. Disponível em: <http://
www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/caligrama/article/view/185/137>. Acesso em: 23 maio 2016.
Professor(a), o texto traça um panorama da atual situação econômica dos países latino-americanos,
considerando desde o processo de colonização até os dias atuais, passando pela industrialização nesses países,
marcada pelos interesses da elite e financiada pelo capital estrangeiro. Ao sintetizar as principais ideias do
texto, os alunos têm condições de compreender melhor esse intrincado processo. A atividade pode ser
bastante interessante se feita com a participação dos professor(a)es de Geografia (ao discutir a Divisão
Internacional do Trabalho) e de Língua Portuguesa (ao trabalhar o gênero resumo). Durante a socialização dos
trabalhos e a troca de ideias, oriente a condução, estimulando nos alunos inclusive conteúdos procedimentais
e atitudinais, como respeitar a opinião e o trabalho dos colegas, expor com clareza a própria opinião, saber
justificar seu ponto de vista com a apresentação de argumentos coerentes, dentre outros.
A atividade da seção possibilita imaginar outra América com base nos projetos populares existentes durante
os processos de independência. Para orientar os alunos, seria interessante solicitar que escolhessem um dos
projetos apresentados na seção Você sabia?: “Outros projetos” (p. 130), para servir de base para a produção do
texto. Oriente-os também a incluir no texto como seriam as relações entre indígenas, afrodescendentes,
mestiços e descendentes de espanhóis nessa outra América.
A cada unidade, procuramos apresentar algumas sugestões de atividades que poderão ajudá-lo, respeitando
sempre sua autonomia de atuação. É importante esclarecer que as condições de trabalho, as características da
comunidade escolar onde o trabalho pedagógico é desenvolvido e a criatividade profissional em sala de aula é
que determinarão seu aproveitamento.
Neste capítulo, propomos uma discussão sobre a construção do conceito de América Latina, com base na
leitura e na análise do texto O conceito de América Latina: uma perspectiva francesa, de Dilma Castelo Branco
Diniz. Sugerimos que a análise seja realizada em conjunto com o(a) professor(a) de Geografia, abrangendo as
implicações geográficas do uso do conceito de América Latina abordadas no texto.
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1. Peça que os alunos verifiquem se, pela leitura do título, conseguem ter alguma noção do que será tratado.
Essa é uma estratégia de antecipação do tema, que conduz à formulação de hipóteses e mobiliza os
conhecimentos prévios dos alunos.
3. Comece a análise com uma questão aberta, por exemplo: “O que o texto nos informa sobre o conceito de
América Latina?”.
4. Conforme os alunos forem expondo suas interpretações, peça que eles localizem no texto passagens
relacionadas às suas afirmações. Isso ajuda a desfazer interpretações inadequadas.
5. Observe se houve partes do texto que não foram comentadas, pois geralmente os alunos “pulam” as partes
que não compreenderam. Se houver, procure fazer uma questão sobre elas.
6. Após essa aproximação com o texto, peça aos alunos que selecionem as informações principais de acordo
com o seguinte critério: Quais informações ajudam a explicar o título ou dão sentido a ele? Você pode pedir
que os alunos realizem essa etapa em duplas e registrem as informações no caderno. Ao estipular critérios
para a seleção das informações mais relevantes, estabelece-se um objetivo norteador para a leitura.
7. Ao final da atividade podem reescrever o texto individualmente, elaborando uma síntese com base nas
principais selecionadas.
Este capítulo aborda o processo de independência da América portuguesa, que teve início com a vinda da
família real para a colônia. O Estado português veio para cá transferido, sendo aqui estabelecidas as estruturas
e as instituições metropolitanas. Esse Estado serviria à aristocracia que promoveu a independência. Essa
aristocracia temia a participação popular no processo de luta pela emancipação, pois julgava que isso
promoveria transformações profundas na estrutura política, econômica e social. Queria, portanto, a autonomia
política de Portugal e a manutenção da monocultura, da escravidão e do latifúndio. Daí, a importância de um
aliado político como dom Pedro, que garantia um processo de separação sem grandes rupturas.
A seção Vamos lá! (p. 135) inicia o capítulo apresentando a famosa tela de Pedro Américo, Independência ou
morte, e revela como se deu sua produção e as interferências pessoais do artista. As atividades do Elaborando
hipóteses (p. 135) propõem a leitura e a análise do quadro, que representa o ato oficial de rompimento entre
Brasil e Portugal, realizado pelas mãos do monarca.
Segundo Lilian Moritz Schwarz “o quadro de Pedro Américo não apenas retrata um ato pessoal de dom Pedro I,
bem como recupera o próprio evento de emancipação brasileira como momento heroico: ritual de iniciação de
um império que então se afirmava”.
2. Pedro Américo justificou as alterações dizendo que tinha como objetivo dar ao momento o “esplendor da
imortalidade”. Portanto, a cena histórica foi idealizada em busca de legitimação do poder imperial, instituído
após o ato da independência, e da consolidação de uma memória oficial sobre o evento.
3. A tela não retrata o complexo processo de independência do Brasil nem os diferentes interesses e projetos
dos grupos sociais presentes nesse momento histórico. Ao mesmo tempo, revela o caráter elitista da
independência, processo controlado pela aristocracia brasileira aliada ao príncipe regente.
A seção apresenta um documento histórico de grande valor, que proporciona conhecer como se deram
algumas das poucas tentativas de envolver a participação popular no evento da independência do Brasil.
Auxilie os alunos na leitura do panfleto, se possível num trabalho conjunto com o(a) professor(a) de língua
portuguesa. Numa versão livre, lê-se no panfleto: “Às armas, cidadãos! É tempo, às armas! Nem um momento
mais deveis perder. Se à força da razão os reis não cedem, das armas cederão os reis ao poder.”
Esta seção retoma a discussão sobre a representação da independência do Brasil na tela de Pedro Américo. É
interessante que os alunos revejam suas respostas às questões do Elaborando hipóteses (p. 135) antes de
realizarem as atividades desta seção.
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Esta atividade também faz um paralelo com o filme Independência ou morte (Dir.: Carlos Coimbra, Brasil,
1972, 108 min.). Se possível, exiba algumas cenas desse filme para a turma. Orientações para as atividades:
1. No primeiro, serviu como instrumento de reação às críticas dos republicanos à monarquia, respaldando-a ao
associá-la à fundação da nação, valorizando a figura de dom Pedro I como herói nacional. No segundo
momento, respaldou o discurso ufanista dos militares, reforçando o lema “Ame-o ou deixe-o”.
2. Professor(a), essa discussão costuma ser polêmica e é comum que os alunos defendam a livre criação,
alegando que a expressão artística não deve ter limites. Por isso, é importante exigir que se esforcem para
fundamentar suas opiniões com base em situações concretas. Para instigar a reflexão e o debate, você pode
exibir outros filmes que abordam essa questão. Uma sugestão é Mephisto (Dir.: Istvan Szabo, Alemanha/
Hungria/Áustria, 1981, 144 min.). A obra retrata os dilemas enfrentados por um ambicioso ator que se alia ao
nazismo. Para fazer sua carreira deslanchar, ele interpreta em peças de propaganda nazista para o Reich.
A seção discute a visão europeia sobre o Brasil entre fins do século XVIII e início do século XIX. Espera-se que o
aluno: perceba a construção de um discurso sobre a possibilidade de o Brasil se tornar um país desenvolvido e
civilizado – dentro dos padrões europeus – no passado; e se posicione em relação ao país no presente.
1. O texto apresenta uma discussão sobre a possibilidade de o Brasil tornar-se um país desenvolvido e
civilizado – segundo os padrões europeus. Nesse debate entre fins do século XVIII e início do XIX, destacavam-
se duas visões distintas. A primeira afirmava ser impossível o Brasil abrigar uma grande civilização, baseada
na suposta inferioridade da América diante da Europa. Segundo essa corrente, o clima dos trópicos provocava
anomalias que atingiam desde os animais até a organização social. Opunham-se a essa visão pensadores que
lembravam a fertilidade das terras, muito superior às da Europa, e as dimensões do território, com grande
diversidade de paisagens. Alguns chegavam a afirmar que a exuberância da natureza e o clima ameno faziam
lembrar o Paraíso. Essa discussão ocorria paralelamente ao processo de independência do Brasil em um
momento em que se desenhavam diferentes projetos para o futuro desse território.
2. Resposta pessoal. Professor(a), é importante ficar atento às respostas, sobretudo para combater qualquer
forma de preconceito contra grupos sociais ou contra instituições.
Estas atividades possibilitam que os alunos retomem os principais assuntos do capítulo. A atividade 6 pode
ser respondida coletivamente. Essa questão é ponto central do capítulo, pois possibilita a discussão das
diferentes representações da emancipação política brasileira, além de apresentar um contraponto à concepção
idealizada da obra de Pedro Américo. Durante a discussão, fique atento(a) às reflexões dos alunos sobre as
permanências pós-independência: não ocorreram transformações sociais ou econômicas, a escravidão
permaneceu, a maior parte da população continuou excluída do cenário político; e o poder não saiu das mãos
dos senhores de terra e escravos. Orientações para as atividades:
1. No início do século XIX, Inglaterra e França disputavam a hegemonia econômica da Europa. Por meio do
Bloqueio Continental, Napoleão proibiu os países europeus de receber navios britânicos em seus portos e de
manter relações comerciais com os ingleses, ameaçando quem desobedecesse de ter seu território invadido.
Como a Inglaterra era parceira comercial de Portugal, D. João manteve-se neutro pelo tempo que pôde. Com o
avanço das tropas napoleônicas sobre o território português, a família real, contando com o apoio e a proteção
dos ingleses, decidiu fugir para sua colônia na América, onde estabeleceria a administração do reino. Logo ao
chegar ao território americano, D. João assinou sua primeira medida, a abertura dos portos aos povos amigos,
reestabelecendo, assim, as relações comerciais entre Portugal e Inglaterra, sem que houvesse a interferência
de Napoleão.
2. Quando aqui chegaram, a família real e sua Corte encontram uma sociedade essencialmente agrícola e
marcada por contradições. Cerca de 30% da população da colônia era de origem europeia (os senhores), sendo
o restante formado por indígenas e pessoas escravizadas de origem africana (os escravos).
3. A chegada da família real portuguesa e sua Corte provocou muitas alterações na colônia. O cotidiano da
cidade do Rio de Janeiro foi modificado com a introdução de vários rituais da monarquia, novos hábitos
alimentares, novas maneiras de vestir e morar. Foram criadas diversas instituições culturais e científicas –
Biblioteca Real, Imprensa Régia, Teatro São João, Jardim Botânico – e organizadas expedições científicas e
cursos de medicina. Além disso, diversos ministérios e tribunais passaram a funcionar no Rio de Janeiro para
viabilizar o pleno funcionamento do governo.
4. A ruptura com Portugal não trouxe grandes transformações econômicas e sociais para o Brasil. A escravidão
permaneceu; a maior parte da população
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continuou excluída do cenário político; e o poder não saiu das mãos dos senhores de terra e escravos. No
âmbito externo, os ingleses ampliaram o seu domínio sobre o país. Assim, a emancipação política não resultou
em independência econômica, mas aprofundou a dependência externa.
5. A Insurreição Pernambucana se deu em razão de uma forte crise econômica provocada pela queda do preço
do açúcar e do algodão no mercado mundial. Seus participantes visavam ao fim do domínio português. A
intenção dos revoltosos, no entanto, chegou aos ouvidos do governante da província, que ordenou a prisão dos
líderes. Os militares envolvidos no movimento recusaram-se, porém, a obedecer as ordens do governante, que
fugiu. Os revoltosos constituíram um governo provisório. Além da independência, pretendiam proclamar a
República e elaborar uma Constituição que garantisse liberdade de imprensa e de culto religioso e a abolição
de vários impostos. O movimento estendeu-se para outros lugares da atual região Nordeste antes de ser
derrotado, tendo vários de seus líderes condenados à morte.
6. Um dos projetos era liderado por grandes proprietários de escravos e terras, que viam na figura de dom
Pedro a garantia de continuidade das estruturas sociais e econômicas então vigentes. Esse plano era defendido
por um grupo conhecido como Partido Brasileiro. Outro projeto era o do grupo dos chamados Radicais.
Embora existissem muitas divergências entre eles, defendiam maior participação popular e liberdade de
imprensa. Alguns desejavam, por exemplo, instaurar a república no Brasil.
7. Cronologia:
• Meses seguintes: todas as ordens de Portugal só teriam validade após a autorização de dom Pedro.
A biblioteca do rei
O texto apresentado na seção aborda o papel simbólico da Biblioteca Real, hoje Biblioteca Nacional, no
processo de independência do Brasil. A antropóloga Lilia Moritz Schwarcz oferece vários exemplos da
importância dessa instituição para dar legitimidade, estabilidade e solidez à nova ordem estabelecida e
inventar a nova nação. Orientações para as atividades:
1. As bibliotecas são lugares de memórias e guardam a história das civilizações. São herdeiras de uma
duplicidade; “observadas internamente são frágeis e passageiras; vistas com maior distanciamento parecem
indestrutíveis”; porém, essa última imagem também é enganosa, pois a “história mostra como essas livrarias
foram e continuam sendo destruídas...”
2. O governo procurou legitimar a nova ordem estabelecida e inventar uma nação, por isso a aquisição da
biblioteca era importante, visto que, assim, se ligava o jovem país à civilização europeia e se criava uma
tradição. A biblioteca “dava história e reconhecia continuidade para este país que vivia de seus momentos
inaugurais”. Portanto, principiava-se a criação de uma memória nacional por meio dos livros vindos da Europa
e relacionados à história da dinastia de dom Pedro I.
3. Os alunos poderão destacar, com base nas informações do texto, a continuidade histórica e cultural
pretendida pela elite, e daí a imagem dessa biblioteca como uma instituição que conferia esse status de nação
civilizada dos trópicos e uma tradição “respeitável”. Em relação às rupturas e permanências, cabe ressaltar
novamente que a independência trouxe, sobretudo, uma ruptura política e a continuidade da dependência
econômica e das bases do poder dos senhores de terras e escravos.
Para a atividade proposta nesta seção, é importante retomar discussões e informações obtidas ao longo do
capítulo. Caso julgue adequado, solicite que os alunos ampliem as questões propostas e elaborem um roteiro
para as entrevistas. Uma questão interessante para ser incluída é perguntar ao entrevistado se ele sente
orgulho de ser brasileiro e por quê.
Como conclusão do capítulo, os alunos são solicitados a retomar o tema da seção Vamos lá! (p. 135), que trata
de como Pedro Américo representou o Sete de Setembro. Agora, porém, eles próprios darão sua interpretação
sobre a independência do Brasil. A representação sobre o Sete de Setembro deve sintetizar os aspectos
centrais estudados, oferecendo ao professor(a) uma maneira de avaliar o desenvolvimento dos alunos.
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O principal objetivo da elite brasileira após a concretização da independência era consolidar a autonomia
política e a unidade territorial sem que ocorressem grandes rupturas na economia e na sociedade.
A atividade 2 do Elaborando hipóteses (p. 149) investiga os conhecimentos dos alunos sobre o processo de
construção da nação brasileira. Vale lembrar que, durante o Primeiro Reinado, esse processo foi bastante
incipiente. A partir de 1836, com o lançamento da revista Niterói – um dos marcos do Romantismo brasileiro –
, iniciou-se o processo de criação de uma imagem e identidade brasileiras baseadas na figura do indígena.
No trabalho sobre a construção da identidade brasileira, comente com os alunos a origem de nossa primeira
bandeira nacional. Após a independência, dom Pedro I encomendou a bandeira ao pintor francês Debret,
recomendando-lhe que fossem utilizadas as cores heráldicas da Casa de Bragança e dos Habsburgos (família
da imperatriz) – o verde e o amarelo, respectivamente. O desenho foi baseado nas bandeiras militares da época
da Revolução Francesa e de Napoleão. Nessa bandeira, a faixa branca central foi transformada em um grande
losango, que continha alguns dizeres.
Hoje, o verde e o amarelo representam, respectivamente, nossas matas e riquezas minerais, simbolizando uma
realidade natural que nada tem que ver com a heráldica das famílias reais.
1. a) Os alunos devem destacar a vinda da família real portuguesa como marco desse processo que
transformou a colônia em centro político e administrativo do império português. Outros acontecimentos
relevantes foram: a elevação do Brasil a Reino Unido de Portugal e Algarves, em 1815; a pressão das Cortes
portuguesas pela recolonização do Brasil, a partir de 1820; e os projetos de independência, sobretudo o do
Partido Brasileiro, que reunia grandes proprietários aliados ao príncipe regente dom Pedro.
b) Os alunos podem inferir que foi necessário organizar o novo país do ponto de vista político e administrativo.
Daí, a elaboração da nossa primeira Constituição. Foi também um período de muitos conflitos internos e
externos. Pode-se concluir que o governo de dom Pedro I teve curta duração, pois entrou em uma crise que
culminou com a abdicação do imperador.
2. Resposta pessoal. Estimule os alunos a usarem seus conhecimentos prévios sobre o assunto para criarem
hipóteses e possíveis respostas.
Nesta atividade, os alunos poderão destacar a Confederação do Equador e identificar os grupos que
compuseram esse movimento e seus diferentes projetos. As elites locais lutavam por maior autonomia para as
províncias e opunham-se à centralização do poder; alguns líderes da revolta, apoiados pelas camadas menos
favorecidas, defendiam a instauração de uma república, a extinção do tráfico de cativos e a igualdade de
direitos para a população, portanto um Brasil bem diferente daquele mantido pelos grupos dominantes.
Orientações para as atividades:
1. Professor(a), conforme sugestão dada há pouco, os alunos podem exemplificar esses projetos com base na
Confederação do Equador. Assim, podem destacar o grupo ligado a dom Pedro I, que defendia um Estado
centralizado e autoritário, formado por grandes proprietários e comerciantes. As elites locais nordestinas
lutavam por maior autonomia de suas províncias e opunham-se à centralização do poder. Havia também os
projetos das classes intermediárias e das camadas menos favorecidas da sociedade, que defendiam a
instauração de uma república, a extinção do tráfico de cativos e a igualdade de direitos para a população.
1. Professor(a), promova uma conversa sobre a experiência dos alunos em relação às eleições, fazendo-lhes
perguntas como: Vocês podem votar? Se sim, já exerceram esse direito? Como você acha que uma pessoa deve
se preparar para votar e o que deve fazer depois das eleições? Na sua opinião, qual é a importância da
participação dos jovens nas eleições?
2. Os alunos podem produzir cartazes (escritos ou digitais), vídeos, memes etc. com o objetivo de incentivar
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os jovens a participar do processo eleitoral, seja por meio do voto ou acompanhando o trabalho dos políticos
eleitos. Se possível, divulgue a campanha criada pela turma para o restante da comunidade escolar.
As atividades da seção possibilitam aos alunos fazerem uma revisão dos principais conceitos e informações do
capítulo e podem ser feitas em casa, proporcionando-lhes um tempo de estudo individualizado, no qual
reorganizem os novos conhecimentos. Depois, em sala de aula, é interessante que os alunos socializem as
respostas e eventuais dúvidas com os colegas e o(a) professor(a). Orientações para as atividades:
1. O clima de euforia era fruto da expectativa de maior participação política popular. Aguardava-se a eleição de
deputados para a Assembleia Constituinte, a elaboração da primeira Constituição e o estabelecimento de
estruturas políticas que concedessem mais direitos aos cidadãos.
b) A Constituição aprovada em 1824 atendia aos interesses absolutistas do imperador, pois permitia a
concentração de poderes em suas mãos, por meio da instituição do Poder Moderador. Esse poder, exercido
pelo imperador, tinha a função de regular os outros três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). A
Constituição ainda permitia ao monarca dissolver a Assembleia Geral e nomear ou destituir juízes.
3. As manifestações contrárias à independência se alastravam por algumas províncias fiéis a Portugal, como:
Pará, Maranhão, Piauí, Ceará, Bahia e Cisplatina. Nas províncias da Bahia, Maranhão e Pará os conflitos
assumiram caráter popular e só cessaram em 1823, com a derrota dos grupos contrários a dom Pedro I.
4. A Constituição de 1824 estabeleceu um país marcado pela centralização do poder, pela preponderância do
Executivo sobre o Legislativo, pela exclusão política da maioria da população e pela falta de autonomia dos
poderes Legislativo e Judiciário.
Dois momentos
Esta seção apresenta um trecho do livro Pátria coroada: o Brasil como corpo político autônomo (1780-1831),
no qual a historiadora Iara Lis C. Souza analisa a situação de dom Pedro I em dois momentos distintos.
A atividade 1 solicita que os alunos comparem esses momentos e indiquem as mudanças. Eles poderão
ressaltar a perda de popularidade e a falta de legitimação e sustentação do poder de dom Pedro I. Na atividade
2, os estudantes poderão retomar os argumentos apresentados na resposta da atividade 2 do Roteiro de
estudos (p. 155), complementando-a com as informações do texto desta seção.
2. O caráter absolutista de seu governo, a violenta repressão aos movimentos de oposição, os limites à
participação popular, a Guerra da Cisplatina e o decorrente direcionamento de vultosos recursos e
desequilíbrio financeiro. Além disso, a aproximação com os políticos portugueses e o episódio narrado no texto
atestam a perda de popularidade de dom Pedro I.
1. O relato trata da cidade do Rio de Janeiro, então capital do Brasil, na época do Primeiro Reinado. Mostra
aspectos da vida urbana daquela época, por exemplo, a referência à população que parecia estar sempre
apressada e a uma grande atividade presente nessa cidade. Também revela como os escravos faziam parte
desse cenário, destacando os escravos de ganho e o mercado de escravos e seus horrores.
2. Para dar mais subsídios aos alunos, é interessante indicar leituras para que obtenham informações sobre o
tema. Caso seja possível, procure no livro O Brasil não é longe daqui: o narrador, a viagem (SÜSSEKIND, Flora.
São Paulo: Companhia das Letras, 2000) exemplos de relatos de viajantes que visitaram o Brasil durante o
período imperial.
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A seção retoma o tema da consolidação da independência do Brasil, abordado no início do capítulo. Agora, com
base nos conhecimentos adquiridos ao longo do capítulo, os alunos devem pesquisar músicas que representem
a sociedade brasileira desde a sua formação.
Esta atividade pode ser realizada em conjunto com o professor(a) de Língua Portuguesa, que pode auxiliar na
pesquisa e interpretação de músicas de diferentes gêneros musicais. Seria interessante que os alunos
conseguissem mesclar canções de protesto com outras que exaltam o povo e o país. Se achar conveniente,
solicite a pesquisa também do período no qual a música foi composta. Por exemplo, os alunos podem se basear
na década de 1960, na qual foram produzidas músicas de protesto (Tropicalismo) e outras menos engajadas
(Jovem Guarda).
O foco central do capítulo é a discussão de como foi possível, diante da diversidade de povos e culturas, criar
uma identidade nacional e, sobretudo, impedir a desagregação do território. Essas questões foram
fundamentais para os governos do período regencial.
O período regencial foi marcado por uma série de revoltas provinciais de caráter separatista. Algumas delas
defendiam a república como forma de governo, contando com grande participação popular. Nas revoltas
ocorridas no Pará (Cabanagem) e no Maranhão (Balaiada), as camadas mais pobres da população lutaram
também por melhores condições de vida e pela abolição da escravidão.
O(A) professor(a) pode trabalhar as revoltas regenciais por meio de seminários em grupo. Cada equipe deve
pesquisar e apresentar um movimento ocorrido no período, aprofundando as informações sobre ele. Caso
julgue conveniente, apresente uma lista de tópicos a serem abordados por cada grupo.
2. O pacto entre as elites foi fundamental para a pacificação do país, ou seja, na contenção das revoltas e
manutenção da unidade territorial, que seria efetivada durante o Segundo Reinado com a forte centralização
do poder nas mãos de dom Pedro II.
3. O resultado dessa aliança política foi traduzido numa cidadania restrita aos senhores de terra e de escravos,
e na consequente manutenção da escravidão.
Esta seção tem como objetivo problematizar e levantar os aspectos centrais dos movimentos separatistas.
Orientações para as atividades:
1. São aspectos que possibilitaram a eclosão das revoltas populares: a intensa disputa política entre as elites
pelo poder local; a instabilidade política do poder central; o quadro social precário; a utilização da população
mais pobre como massa de manobra das elites; a luta das camadas pobres para conquistar melhores condições
de vida e a luta dos escravos pelo fim da escravidão.
2. As elites provinciais recuaram e abandonaram os movimentos por causa da ameaça das revoltas populares,
pois temiam a perda de suas terras e seus escravos.
3. A aliança entre as elites em torno da ideia de unidade nacional foi utilizada como justificativa para a violenta
repressão aos movimentos populares.
1. A Guarda Nacional foi um mecanismo utilizado para reestruturar as forças militares e criar um meio eficaz
para proteger o governo e a ordem social. Deveria ser formada em todas as províncias, sob o comando de civis
com renda elevada. Enquanto durou, até 1922, a Guarda Nacional foi um forte instrumento de opressão às
forças populares e de perpetuação das elites agrárias no poder.
2. Durante os períodos em que esteve no governo, o padre Diogo Feijó implantou medidas que objetivavam
descentralizar o poder ao aumentar a autonomia das províncias, como a criação de assembleias provinciais
com poderes para elaborar leis de aplicação local; enquanto o senador Pedro de Araújo Lima, por meio da Lei
de Interpretação do Ato Adicional de 1834 – aprovada em 1840–, combateu as medidas liberais, concentrando
o poder e diminuindo a autonomia das províncias.
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3. Muitas vezes, a população participou das revoltas regenciais como massa de manobra da elite, que
procurava se fortalecer politicamente. As revoltas populares questionavam a ordem estabelecida, propondo o
fim da escravidão, melhores condições de vida e até mesmo a reforma agrária (um dos objetivos da
Cabanagem, no Pará, por exemplo). Os malês em Salvador queriam tomar o poder e construir uma sociedade
africana regida pelos preceitos do islamismo. Os cabanos do Pará, por sua vez, pretendiam extinguir a
escravidão e promover a reforma agrária. Esses movimentos foram fortemente reprimidos pelo governo
central e pelas elites locais.
Regência Trina
Regência Trina Permanente (de 17 Regência Una de Regência Una de
Provisória (de abril a de junho de 1831 a Feijó (1835- Araújo Lima
junho de 1831): 12 de outubro de 1837) (1837-1840)
1835)
Brigadeiro Francisco
Deputado João
de Lima e Silva,
Bráulio Muniz,
senador Nicolau
deputado José da Senador Pedro de
Integrantes Pereira de Campos Padre Diogo Feijó.
Costa Carvalho e Araújo Lima.
Vergueiro e senador
brigadeiro Lima e
José Joaquim Carneiro
Silva.
de Campos.
Pelos poucos
Como foram parlamentares Pela Assembleia Por meio de Por meio de
escolhidos presentes no Rio de Geral. eleição nacional. eleição nacional.
Janeiro.
Criação da Guarda
Nacional em 1831,
Retorno do ministério Ascensão dos
Ato Adicional de Avanço liberal,
brasileiro destituído regressistas ao
Principais 1834 (que criou as com a
por dom Pedro I e poder; Lei
medidas assembleias descentralização
suspensão temporária Interpretativa de
legislativas do poder.
do Poder Moderador. maio de 1840.
provinciais e a
Regência Una).
5. Os liberais, afastados do poder desde a renúncia do padre Feijó, propuseram a antecipação da maioridade de
dom Pedro, para que este pudesse assumir o trono antes de completar 18 anos. A proposta ganhou apoio
popular, pois se acreditava que o jovem imperador poderia unir o país e pôr fim à instabilidade política. A
Assembleia Geral aprovou a maioridade e, aos 14 anos, dom Pedro tornou-se imperador.
6. a) Pode-se concluir que o café passou a ser o principal item de exportação do Brasil.
c) A pecuária também era uma das bases da economia do país, figurando nas exportações com um de seus
subprodutos: o couro.
Tempo de Legislativo
A seção traz uma importante reflexão sobre as relações entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário no
Brasil regencial. Orientações para as atividades:
1. a) Dentre as causas que levaram o padre Feijó a renunciar, estão: intransigência dos poderes Legislativo e
Judiciário (obstáculos, segundo o regente, à implementação das metas do governo), impossibilidade de
resolver os problemas do Brasil por meio do Legislativo.
b) Os alunos poderão mencionar o fato de o governo Feijó não ter sido capaz de conter as revoltas e a ameaça
de fragmentação territorial. Também o fato de as elites dominantes atribuírem às medidas descentralizadoras
desse governo, sobretudo às criadas pelo Ato Adicional de 1834, a responsabilidade pela eclosão dos
movimentos separatistas.
2. Durante o período regencial a Assembleia Geral assumiu papel preponderante, sobretudo nos primeiros
anos desse período. Foram os deputados da Assembleia, responsáveis pela eleição dos membros das regências
trinas e pela suspensão do poder Moderador, símbolo máximo da centralização do poder na época do império.
O poder Legislativo também ganhou força com a criação das assembleias provinciais, fruto das medidas
descentralizadoras do regente Feijó. Enfim, a Regência marcou uma fase de fortalecimento do Legislativo, na
qual as principais decisões sobre como o país seria governado foram determinadas pelos parlamentares.
3. A atividade pode ser feita individualmente ou em grupos. O importante é que os alunos apresentem sua
visão a partir de acordos ou embates entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário nos dias atuais no
Brasil, que podem ser pesquisados em diversas fontes.
Página 358
Memória ou esquecimento?
Se considerar conveniente, assista com os alunos a um documentário sobre a divisão do Brasil proposta por
Darcy Ribeiro. Há uma série de documentários com base em sua obra, intitulada O povo brasileiro (Dir.: Isa
Grinspum Ferraz, Brasil, 2001, 280 min.). Entre os dez programas da série, é interessante destacar A invenção
do Brasil, que apresenta uma síntese sobre os vários brasis presentes na análise do antropólogo.
Os alunos também podem pesquisar no site da TV Cultura (seção Alô Escola), no link O povo brasileiro
(disponível em: <http://cmais.com.br/aloescola/estudosbrasileiros/povobrasileiro/>; acesso em: 20 abr.
2016); há um comentário do autor Darcy Ribeiro sobre sua obra. O material descreve contextos históricos e é
ilustrado com depoimentos mostrando a diversidade social e cultural do Brasil.
Professor(a), a atividade também pode ser feita selecionando-se apenas monumentos históricos do estado ou
da região onde os alunos moram. O objetivo é eles conhecerem melhor a importância dos monumentos
históricos e sua preservação para a memória da população. Essa discussão pode ser iniciada a partir do
Memorial da Cabanagem, propondo- -se aos alunos questões com: Quem conhecia esse monumento? Quem
sabia o que ele homenageava e quem tinha sido seu idealizador? Qual é o atual estado de conservação do
monumento? Para a pesquisa, sugerimos que os alunos pesquisem, dentre outros, o site do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – Iphan: <http://portal.iphan. gov.br/> (acesso em: 20 abr. 2016).
A seção propõe aos alunos uma pesquisa sobre a produção cultural durante o período regencial, tomando por
base a Academia Imperial de Belas Artes e o trabalho do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB).
O IHGB foi criado em 1838. A história, como disciplina, ligou-se à questão nacional, na medida em que se
preocupou em desvendar a gênese da nação. Buscou também estabelecer a homogeneização da visão de Brasil
no interior das elites, que, por sua vez, ganharam o encargo de esclarecer ao restante da sociedade as origens
do país.
Em 1847, o IHGB premiou o texto “Como se deve escrever a história do Brasil”, do alemão Karl Friedrich P. von
Martius, que estabelecia as linhas mestras para a escrita da historiografia brasileira. Segundo o texto, a história
deveria registrar a imagem da nação com base nas seguintes metas:
• Integração dos conhecimentos indígenas à história nacional (como fontes dos mitos da nacionalidade).
• Destaque para o papel do branco na tarefa desbravadora e civilizatória, com a valorização dos bandeirantes e
das ordens religiosas do período colonial.
Já em relação à arte pictórica, é interessante destacar o papel da Academia Imperial de Belas Artes (Aiba),
criada em 1826, na qual predominava a temática histórica.
Os artistas da Academia vinculavam-se a uma postura idealista, não comprometida com a descrição do
ambiente ou do fato histórico. A pintura produzia símbolos do poder imperial, cenas de fundação do país, com
elementos que pudessem compor uma paisagem singular, brasileira.
Portanto, a Academia Imperial de Belas Artes agregava-se ao projeto político de legitimação da monarquia e de
uma elite imperial - por isso, programava-se o esquecimento dos conflitos sociais e políticos. Produtora de
todas as obras artísticas oficiais, selecionou na realidade aquilo que deveria ser representado e consolidado
em uma memória construída, idealizando o índio – quase branco nas telas – e a natureza tropical, excluindo os
negros e a escravidão.
LEITURA DE IMAGENS
Nesta unidade, propomos um segundo exercício de leitura de imagem com base na obra O jantar no Brasil (p.
158), de Jean-Batiste Debret. Seguiremos o roteiro proposto:
I. Observação da imagem
Professor(a), conforme já indicado anteriormente, neste momento os alunos devem identificar os elementos
solicitados e responder às questões baseados na observação e em seus conhecimentos prévios. Por isso, é
importante não atribuir certo ou errado às respostas dos alunos.
1. Identifique título, autor, ano de produção, local, tipo de imagem e temática da obra iconográfica. Título: O
jantar no Brasil; autor: Jean-Batiste Debret; ano de produção: entre 1834 e 1839; tipo de imagem: litografia;
temática: retrata o jantar de uma família abastada no Brasil imperial.
No centro do quadro, há uma mesa retangular e nas pontas senta-se o casal de senhores, acompanhados de
escravos e duas crianças nuas de origem africana. Uma delas está ao pé da mesa comendo e recebendo um
pedaço de carne das mãos da senhora. Há três escravos adultos: uma mulher com colares, tiara e brincos,
trajando um vestido branco, com uma espécie de abano, usado para abanar os seus senhores. No lado direito
da imagem, há um homem com os braços cruzados, trajando camisa branca e com uma espécie de casaco rosa,
parecendo apenas observar a cena. Outro homem se encontra na porta de entrada da sala, como se estivesse
esperando ser chamado pelos senhores.
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3. Existem detalhes que contribuem para expressar determinadas ideias. Que detalhes são esses e quais ideias
expressam?
A mesa farta sugere que o casal de senhores pertence a uma família rica. As roupas dos senhores são mais
suntuosas que as dos escravos, sugerindo as diferenças sociais. Há a ausência de filhos do casal, o que indica
que eles não acompanhavam os pais nas refeições, ou que o casal não tinha filhos. A cena é muito limpa e
organizada, reproduzindo a hierarquia social da época.
As cores predominantes são branco, preto, vermelho, dourado e marrom. A pintura é uma litografia de uma
aquarela.
5. A obra retrata uma ideia, cena ou figuras da própria época do autor ou é uma reconstituição histórica? A
obra foi feita para ilustrar o livro do autor, composto de três volumes (Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil,
publicado em Paris entre 1834 e 1839). A pintura foi elaborada durante a viagem de Debret ao Brasil.
1. Pesquise sobre o autor e os motivos que o levaram a produzir tal obra. Quais os seus propósitos com a obra?
Quais os seus compromissos com o tema? Quais as influências sofridas por ele? Qual é o seu estilo?
e) Qual o seu significado para o autor e para a época em que foi feita?
g) Se a obra for uma reconstituição histórica, que elementos retratam mais a época de produção do que o tema
representado?
Professor(a), peça aos alunos que anotem as referências das fontes consultadas e utilizem as questões
propostas para organizar o registro escrito e as informações pesquisadas. É possível que eles não encontrem
todos os dados solicitados. A socialização dos resultados e a sua intervenção podem solucionar essas carências
de informações.
Para ajudar os estudantes a organizar essas ideias, solicite que escrevam ao menos um parágrafo sobre a obra
e o autor, reunindo os pontos mais importantes para a interpretação da imagem.
Professor(a), por meio destes três momentos de análise, pretende-se estabelecer a leitura e interpretação das
imagens, evidenciando a importância da iconografia para o trabalho do historiador. Neste exercício, com base
na pesquisa sobre a obra e o autor, pode-se constatar que Debret era discípulo de Jacques-Louis David. Ele
acreditava que a miscigenação do povo era o caminho para o progresso e a civilização da sociedade brasileira.
Admirava a força física dos africanos e os retratava ressaltando o seu porte físico. As crianças estão nuas, mas
denotam um aspecto saudável.
Debret considerava que o homem branco tinha a força do intelecto. Portanto, a mistura entre brancos e negros
resultaria num tipo físico ideal para viver nos trópicos, somando a força intelectual e a física. Para o artista, os
indígenas, que só conheceu em representações feitas por terceiros, já estavam num estádio avançado de
civilização. Em sua obra Viagem pitoresca e histórica ao Brasil, ele retrata os índios dentro de uma perspectiva
evolucionista, dos mais primitivos aos mais civilizados.
Na gravura, a proximidade entre negros e brancos é retratada em uma cena cotidiana, que, segundo Debret,
denota harmonia no relacionamento, apesar da hierarquização social.
PARA ENCERRAR!
Objetivos:
- Utilizar, como procedimentos de pesquisa, recursos de leitura, escrita, observação e registro em diferentes
linguagens.
- Compreender e avaliar processos de organização do espaço da cidade por meio de pesquisas, entrevistas e
leitura e produção de textos e imagens.
- Refletir sobre preservação de recursos hídricos, conservação do solo e reconhecimento de bacia hidrográfica.
1. Os rios são responsáveis por fornecer a maior parte da água consumida no Brasil. São também usados como
meio de transporte, apesar de pouco utilizados para esse fim (somente para 13% do total de transporte de
carga). Hoje, infelizmente, diferentes tipos de resíduos são escoados nos cursos d’água diariamente sem
qualquer tratamento, além de terem seus cursos alterados ou canalizados, sobretudo nas maiores cidades do
país. Essa situação prejudica a propagação da vida nos ecossistemas das bacias e a saúde da população.
2. Nascente é o ponto onde se originam as águas do rio. Afluente é o nome dado aos rios menores que
deságuam em rios principais. Confluência consiste na junção de dois ou mais rios em um determinado ponto.
partem da nascente (alto curso) até a foz (baixo curso), onde elas deságuam. Leito consiste no local onde o rio
corre. É a parte do terreno que fica entre as margens por onde as águas do rio escorrem. Portanto, o leito de
um rio é o espaço ocupado pelas águas.
Margens são as laterais do curso do rio, que delimitam sua largura. Foz ou desembocadura é o local onde o rio
deságua, podendo ser outro rio, um grande lago, uma lagoa, um mar ou mesmo o oceano:
Ricardo Martins
3. O gráfico nos permite conhecer os déficits domiciliares de acesso a redes gerais de água e de esgoto em cada
uma das regiões do Brasil no ano de 2014, utilizando, para isso, dados do Pnad, do IBGE. O primeiro aspecto a
ser apontado, com base na análise do gráfico, é a existência de profundos desequilíbrios regionais: por
exemplo, a região Norte apresenta os maiores indicadores de déficit de acesso à rede coletora de esgoto e de
abastecimento de água, enquanto a região Sudeste apresenta os menores nos dois serviços. Os déficits nas
regiões Nordeste e Centro-Oeste também são bastante superiores aos da região Sudeste. Observa-se também
que a pior situação é a da coleta de esgoto: em todas as regiões ela é maior que o déficit de abastecimento de
água.
4. a) Águas poluídas: alta DBO; alto índice de coliformes; pouco ou nada de O dissolvido; processos
2
anaeróbicos. Águas não poluídas: baixo DBO; baixo índice de coliformes; alto teor de O dissolvido; processos
2
aeróbicos.
b) Para realizar o cálculo da quantidade de oxigênio que a sua escola gasta, é necessário conhecer o número
geral de pessoas que trabalham nesse espaço. Vamos supor que o número total de pessoas que circula no
colégio em um dia seja de 300. Se o gasto de uma pessoa equivale a 54 gramas diários de oxigênio, o gasto de
trezentas pessoas seria em média 16.200 gramas (300 × 54 = 16.200 gramas). Agora é necessário transformar
esse valor em quilos.
X= 16,2 kg diários
c) Para reduzir o desperdício de água podemos adotar uma série de medidas e ações. Em primeiro lugar, é
importante diminuir o desperdício de água. Isso pode ocorrer realizando o controle dos volumes de água que
saem dos canos (conferir se há vazamentos nos encanamentos ou ainda se as torneiras estão bem fechadas).
Também podemos repensar o consumo doméstico de água por meio da incorporação do conceito de consumo
sustentável. Para tanto, é necessário promover e incentivar mudanças em hábitos como: banhos demorados
com o chuveiro ligado; costume de escovar os dentes com a torneira aberta; uso de mangueira para lavar casas
e carros; etc. Para reduzir a poluição das águas, é importante apoiar iniciativas que visem a implantação de
sistemas de tratamento de esgotos como forma de reduzir a contaminação da água. Também é possível exigir
que o município faça o tratamento adequado dos resíduos, propondo, por exemplo: sistemas de coleta seletiva
e de reciclagem de resíduos sólidos; aterros sanitários; estações de recebimento de produtos tóxicos agrícolas
e domiciliares, como restos de tinta, solventes e petróleo. Finalmente, é importante se organizar para cobrar
dos órgãos públicos transparência no processo de distribuição e tratamento de água no município.
Consumidores organizados também podem pressionar as empresas para que produzam materiais que causem
menos impacto ambiental. Para saber se há iniciativas como essa em seu município, acesse o site oficial da
prefeitura ou dos órgãos públicos de abastecimento e tratamento de esgoto de seu estado. Geralmente esses
sites apresentam ações e medidas para conter a poluição dos rios. Caso os alunos não encontrem
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esses dados, é possível sugerir, como atividade complementar (coletiva ou individual), que a classe elabore
uma carta ao prefeito sugerindo medidas que poderiam ser tomadas para reverter os índices de poluição dos
rios.
1. b 2. 02+04 =06 3. Podemos citar: a abertura dos portos às nações amigas, rompendo o Pacto Colonial; a
elevação do Brasil à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves; a abertura de escolas de ensino superior; a
criação da Imprensa Régia; a criação da Casa da Moeda; a abertura do Banco do Brasil; dentre outros. 4. a)
Simón Bolívar foi o líder que atuou na organização de exércitos e nas lutas do processo de emancipação de
várias colônias hispânicas, em amplas regiões que se estendiam da atual Venezuela até os Andes, na atual
Bolívia. É considerado símbolo da independência por ter sido defensor da unidade entre as antigas colônias
espanholas, propondo a formação de um grande Estado americano. b) No texto, Bolívar refere-se aos criollos
como “meia-espécie”, isto é, um grupo situado entre os espanhóis e os indígenas, que não são considerados
europeus, tampouco os “legítimos” proprietários do país. As elites “criollas” tiveram um importante papel na
liderança da luta contra a metrópole espanhola. 5. d 6. e 7. b 8. b 9. a) Porque a imprensa só foi introduzida
no Brasil com a chegada da família real, em 1808, quando dom João VI fundou a Imprensa Régia e A Gazeta do
Rio de Janeiro; b) Permanências: escravidão, economia agrário-exportadora, predomínio político da elite
fundiária; mudanças: inserção na economia mundial derivada da abertura dos portos e resistência às
tentativas de recolonização por parte das cortes portuguesas. Essas mudanças e permanências formaram a
Ordem Nacional brasileira. 10. b 11. d 12. c 13.a 14. c 15. c 16. e 17. e 18. a 19. b 20. 01 + 02 + 04 + 16 =
23 21. b 22. b.
Este capítulo enfoca o conjunto das revoluções liberais burguesas da primeira metade do século XIX e o
processo de unificação da Itália e da Alemanha.
A seção Vamos lá! (p. 178) traça um paralelo entre a conjuntura política do Brasil regencial e a da Europa de
1830 a 1848. É uma atividade importante para que os alunos utilizem os conhecimentos estudados no capítulo
anterior, agora no contexto da história europeia.
Ao longo do capítulo, propõe-se o trabalho com alguns conceitos fundamentais para a compreensão do século
em estudo e também dos dias atuais. A seção O estudo da história: “Para compreender o século XIX – e o mundo
contemporâneo” (p. 179) apresenta quatro desses conceitos: nação, nacionalismo, liberalismo e comunismo. É
interessante o(a) professor(a) realizar uma leitura compartilhada do texto com os alunos, para se certificar da
compreensão correta dos conceitos. No final do capítulo, o assunto será retomado por meio do estudo de
novos conceitos, essenciais para a compreensão do século XIX e do mundo contemporâneo.
Lembre-se de que o objetivo nesta seção é mobilizar os conhecimentos prévios dos alunos. Por isso, os
estudantes devem observar, refletir e expressar o que pensam, sem a preocupação de serem avaliados. À
medida que os alunos forem elaborando as hipóteses, instigue-os a estabelecer relações com o que já sabem e
confrontar as suas inferências, por meio de discussão coletiva ou em duplas. Se necessário, proponha que
validem algumas hipóteses durante a socialização das atividades.
ELABORANDO HIPÓTESES (P. 178)
1. Semelhanças: a instabilidade política, a disputa pelo poder, a emergência de lutas populares e a violenta
repressão a elas. Diferenças: a distinta composição social dos movimentos populares (no Brasil, camponeses,
escravos, ex-escravos e trabalhadores em geral; na Europa, população pobre das cidades, sobretudo os
operários).
2. Os grupos populares lutavam por melhores condições de vida, enquanto a elite disputava entre si o controle
sobre o Estado, apoiando a violenta repressão às revoltas populares.
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3. No Brasil, surgiu um Estado fortemente centralizado, controlado por uma elite composta, na sua maioria, de
senhores de escravos e terras. Na Europa, surgiram Estados liberais que ainda não estavam consolidados.
Havia uma disputa entre tendências restauradoras e liberais, que se enfrentaram novamente nas revoluções
de 1848.
Liberais e liberais
Os alunos deverão perceber que os termos “liberal” e “liberalismo” nos dias atuais podem adquirir diferentes –
e por vezes contraditórios – significados, conforme a intenção de quem os utiliza. Podem trazer, como
exemplos, os regimes ditatoriais como os de Pinochet no Chile e de Fujimori no Peru, que por vezes foram
chamados de “liberais” ou “neoliberais” em razão de ações econômicas, como a privatização de algumas
empresas e a abertura de mercados; os governos conservadores do estadunidense Ronald Reagan e da
britânica Margaret Thatcher, que implantaram reformas socioeconômicas de cunho liberal; os governos
socialistas do espanhol Felipe González e do uruguaio José Mujica, que, na esfera dos direitos humanos,
fizeram seus países progredirem reduzindo injustiças e criando oportunidades para os cidadãos de renda mais
baixa.
Professor(a), o texto da seção possibilita uma rica discussão acerca dos usos de expressões cunhadas em
determinado período histórico e que vão adquirindo novas conotações ao longo do tempo. Para um maior
aprofundamento, sugerimos que o texto de Mario Vargas Llosa, publicado no periódico El País, seja lida na
íntegra. Disponível em: <http://brasil. elpais.com/ brasil/2014/01/25/opinion/1390689717_754195. html>,
acesso em: 20 abr. 2016.
A revolução de cada um
A seção discute o uso de fatos e processos históricos pela banda britânica de rock Coldplay, que, em 2008,
lançou o CD Viva la vida, cuja capa estampa a pintura Liberdade guiando o povo e faz uma referência a uma
obra de Frida Kahlo. As atividades desta seção buscam relacionar passagens da história pessoal dos alunos a
acontecimentos históricos, a fim de criar uma identificação entre eles e o conhecimento histórico. Orientações
para as atividades:
1. Resposta pessoal. Professor(a), esta atividade tem como objetivo favorecer uma aproximação entre os
jovens e o estudo da história. O adolescente tende a voltar-se muito para si mesmo e para suas angústias
pessoais e com frequência não vê sentido naquilo que ocorre à sua volta. É importante, portanto, que ele
encontre oportunidade para expressar seus sentimentos, percebendo que pode resolvê-los melhor se os
compreender com base num contexto mais amplo.
2. Resposta pessoal. Esta atividade pode ter uma conotação mais individual, podendo ser compartilhada, com
o(a) professor(a) e os colegas, apenas se os alunos se sentirem à vontade para isso.
1. a) Nas revoluções de 1830 e 1840, os trabalhadores urbanos ganharam força. Eles reivindicavam maior
participação política, regras justas para as relações de trabalho e melhores condições de vida.
b) O proletariado não tomou o poder após esses movimentos, mas o conflito social fundamental do mundo
capitalista estava posto: a luta entre burgueses e proletários.
2. Segundo o liberalismo, a economia funciona melhor com a livre competição. Essa liberdade permitiria que o
mercado se autorregulasse, possibilitando maior desenvolvimento da sociedade. E, para essa liberdade ser
possível, seria necessário que a economia sofresse o mínimo de intervenção estatal, incluindo uma menor
cobrança de impostos.
Essas condições são incompatíveis com o Estado absolutista, uma vez que este exerce forte controle sobre
todas as esferas da sociedade, inclusive a econômica. Por isso, revoltas liberais vitoriosas, como na península
Ibérica e na França, conquistaram Constituições que limitavam os poderes dos monarcas.
4. Em 1848, uma onda revolucionária de forte conotação social desestruturou os governos de vários países da
Europa. Eram países muito diferentes entre si, mas a revolução atingiu a todos, indistintamente. O que fazia
com que esses movimentos se assemelhassem era o fato de que todos eles foram impulsionados pela massa de
trabalhadores pobres – camponeses, operários, marginalizados – desses países. Esse período ficou conhecido
como a Primavera dos Povos.
5. Entre os pontos comuns, é importante destacar a aliança política entre nobreza e burguesia liberal, a
ideologia nacionalista desses movimentos e a implementação de uma monarquia constitucional.
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A seção traz um texto de Eric Hobsbawm que discute o conceito de nação. A atividade 2 destaca o caráter
ideológico e atemporal por trás da ideia de nação, discutindo a busca pelo mito fundador de um povo. A
atividade 3 ajuda na desconstrução desse discurso, sublinhando o caráter histórico do conceito de nação.
Orientações para as atividades:
1. a) Antes de meados do século XIX, a palavra nação significava “o agregado de habitantes de uma província,
de um país ou de um reino” e também “um estrangeiro”.
b) Depois de meados do século XIX, passou a significar “um Estado ou corpo político que reconhece um centro
supremo de governo comum” e também “o território constituído por esse Estado e seus habitantes,
considerados como um todo”.
2. É importante frisar que a naturalização da ideia de nação faz parte de uma construção ideológica que busca
criar uma identidade entre os povos com base numa tradição e história comum, vinculada às “origens” de
determinada comunidade de pessoas. Essa identidade nacional está muitas vezes a serviço da legitimação do
Estado-nação.
3. Perceber a nação como uma construção histórica recente, relacionada a um processo de formação do Estado,
ajuda a desconstruir a concepção de uma identidade nacional existente desde sempre, ou seja, algo natural.
Dessa forma, é possível desconstruir a ideologia empreendida pelos Estados-nações.
Completando o dicionário
Para a elaboração do dicionário, é interessante retomar o texto da seção O estudo da história: “Para
compreender o século XIX – e o mundo contemporâneo” (p. 179).
Esse trabalho pode ser feito em conjunto com o professor de Língua Portuguesa, que poderá explicar as
características do gênero verbete. Se possível, oriente os alunos a elaborar os verbetes no computador, usando,
de preferência, um mesmo programa. Isso facilitará a montagem do dicionário.
1. Outros conceitos importantes para compreender o século XIX e o mundo contemporâneo são: capitalismo,
proletariado, fábrica, classe média, greve, indústria.
2. Definições:
Capitalismo: sistema social e econômico que se baseia na influência ou no predomínio do capital; os meios de
produção foram dominados pela burguesia.
Proletariado: é a classe social dentro do capitalismo que trabalha com os instrumentos de outra pessoa, isto
é, não é proprietária dos meios de produção. Os proletários vendem sua força de trabalho em troca de um
salário.
Fábrica: uma fábrica é um edifício industrial onde trabalhadores produzem bens ou supervisionam o
funcionamento de máquinas que processam matérias-primas, transformando-as em produtos manufaturados.
Classe média: é uma classe social presente no capitalismo moderno que se convencionou tratar como
possuidora de um poder aquisitivo e de um padrão de vida e de consumo razoáveis, de forma a não apenas
suprir suas necessidades de sobrevivência como também a permitir-se formas variadas de lazer e cultura.
Greve: é a interrupção coletiva e voluntária do trabalho realizada por trabalhadores com o propósito de obter
benefícios, como aumento de salário, melhoria de condições de trabalho ou direitos trabalhistas, ou para evitar
a perda de benefícios.
Indústria: é toda atividade humana que, por meio do trabalho, transforma matéria-prima em outros produtos,
que em seguida podem ou não ser comercializados. De acordo com a tecnologia empregada na produção e a
quantidade de capital necessária, a atividade industrial pode ser artesanal, manufatureira ou fabril.
3. Nesta etapa do trabalho, é importante os alunos observarem os verbetes repetidos e as definições dadas
pelos diferentes grupos. A partir daí, eles devem aprimorar o verbete que entrará na versão final e completa do
dicionário.
Nesta seção final, retoma-se a atividade inicial do capítulo, pedindo aos alunos que estabeleçam relações entre
o cenário do conflito presente no Brasil e na Europa de 1830 e as Revoluções Industrial e Francesa.
Orientações para as atividades:
1. O contexto histórico no qual esses conflitos se inseriram no Brasil e na Europa é o da crise do Antigo Regime
e a afirmação do capitalismo industrial, cenário que corresponde à formação do Estado burguês.
O capítulo aborda o Segundo Reinado, destacando o acordo político firmado entre as elites, realizado para
“pacificar” o país. Esse acordo resulta na estabilidade política e na centralização do poder na figura de dom
Pedro II.
A seção Vamos lá! (p. 191) inicia o tema propondo a leitura da letra da música “A carne”, que retrata a exclusão
social dos negros. A ideia é que o aluno relacione a canção com um processo histórico de longa duração, que é a
trajetória dos africanos e afrodescendentes no Brasil. Vale lembrar que apesar dos quase quatrocentos anos de
escravidão e de uma abolição que não levou à inclusão social, os negros foram esquecidos pela historiografia
tradicional.
2. A historiografia tradicional trata a substituição do trabalhador escravo pelo livre como uma mudança
significativa e positiva em nossa sociedade e economia. Essa historiografia tende a valorizar o imigrante
europeu e negligenciar o papel do afrodescendente.
3. De acordo com a letra da música, as consequências são a exclusão social, o subemprego e salários mais
baixos para grande número de afrodescendentes.
Fim do racismo?
Esta seção traz a análise de duas letras de sambas-enredos, lançados no carnaval de 1988, no Rio de Janeiro. O
tema das canções é a abolição da escravidão e guardam em comum o fato de não mencionarem a princesa
Isabel e de ambas se referirem a Zumbi dos Palmares.
Uma sugestão de trabalho com as canções é contrapor essas interpretações à visão da historiografia
tradicional, que valoriza o papel da princesa Isabel e menospreza a luta dos negros e abolicionistas para a
conquista do fim da escravidão. Orientações para as atividades:
1. a) Porque a abolição da escravidão não foi acompanhada pela integração do negro à sociedade brasileira.
Apesar de livre, a população afrodescendente continuou marginalizada, relegada aos piores empregos e sem
acesso à educação, à saúde e à moradia digna.
b) Associar a abolição da escravatura a uma decisão pessoal da princesa Isabel reforça a ideia de que os
afrodescendentes foram sujeitos passivos da sua própria história e sua liberdade decorreu de um gesto
bondoso das autoridades brancas. Ao contrário, ao eleger Zumbi de Palmares como figura representativa da
luta contra a escravidão, os negros passam a ser apresentados como responsáveis pela sua emancipação e
encorajados a dar continuidade à conquista de seus direitos como cidadãos.
2. Resposta pessoal. Professor(a), discuta com os alunos a importância da pressão da opinião pública nas
decisões tomadas pelo Congresso Nacional.
Os alunos devem observar que as condições de vida da população afrodescendente, em geral, permaneçam
inferiores às da população branca. No entanto, é preciso destacar que os indicadores sociais apontam para
uma melhoria ao longo das últimas décadas. O(A) professor(a) de Geografia pode auxiliar nesta reflexão, assim
como em pesquisas complementares sobre indicadores socioeconômicos em diferentes regiões do país (áreas
com um maior número de afrodescendentes, com menos desigualdade social, ou com mais desigualdade etc.).
Ele(a) pode sugerir dados mais específicos, como a inserção da mulher negra no mercado de trabalho e a
quantidade de afrodescendentes que ocupam cargos de chefia.
A atividade 1 pode ser discutida coletivamente, pois é fundamental para a compreensão do projeto político do
Segundo Reinado: manter a unidade territorial e regrar os conflitos ocorridos dentro da elite. Esse projeto foi
executado com base na aliança entre os grupos dominantes, configurada na alternância de poder entre os dois
principais partidos do período – o Liberal e o Conservador. O poder Moderador foi restabelecido,
concentrando poder nas mãos do imperador, e a cidadania se manteve restrita aos senhores de terra e de
escravos. Esse quadro começou a sofrer alterações a partir de 1870, quando as bases dessa estrutura política
começaram a ser minadas.
Na atividade 7, comente que, no mesmo período da elaboração da Lei de Terras, nos Estados Unidos,
regulamentava-se a posse e a propriedade da terra. Lá, porém,
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a propriedade não se dava exclusivamente pela compra, mas também pela ocupação efetiva da terra, o que
aqui era proibido. Orientações para as atividades: 1. O acordo entre as elites para pôr fim às revoltas regenciais
e garantir a unidade territorial foi a base de sustentação do governo de dom Pedro II. A aliança entre esses
grupos traduzia-se na alternância de poder entre os principais partidos do período – o Liberal e o
Conservador. O poder Moderador também desempenhou papel importante na manutenção do governo.
Quando surgiam divergências ou crises entre o Conselho de Ministros e a Assembleia Geral, era dom Pedro II
quem resolvia a questão: demitia o presidente do Conselho e escolhia um novo ministério ou dissolvia a
Assembleia.
2. Essa revolta pode ser considerada o último dos grandes movimentos provinciais contra o poder central.
Ocorrida em Pernambuco, foi fruto do descontentamento de alguns grupos sociais pernambucanos,
concentrados em torno do jornal de oposição Diário do Povo, localizado na rua da Praia, daí o nome “praieiros”
dado aos revoltosos. O movimento contou com a liderança dos praieiros e a participação de setores populares.
Entre as reivindicações estavam: liberdade de imprensa, ampliação do direito de voto, maior autonomia para a
província e a extinção do poder Moderador. Em 1850, o movimento foi derrotado pelas tropas do governo
imperial.
3. O café era cultivado nas colônias francesas do Haiti e da Guiana e vendido na Europa como artigo de luxo.
Com a Revolução Francesa no fim do século XVIII, a produção colonial do país entrou em crise. Assim, os
fazendeiros brasileiros tiveram a oportunidade de iniciar seus investimentos na plantação de café. Além disso,
a concorrência que o açúcar brasileiro passou a sofrer com a produção no Caribe e o uso do açúcar de
beterraba na Europa fizeram com que muitas áreas antes ocupadas pelo plantio de cana-de-açúcar cedessem
espaço para os cafezais, ampliando, assim, a produção de café do Brasil.
4. O elemento retratado são as ferrovias, que provocaram mudanças significativas no setor de transportes,
especialmente de mercadorias. Facilitavam também a ocupação e a exploração de vastas áreas do interior,
além do escoamento da produção para o exterior. Dessa forma, favoreciam o desenvolvimento da economia,
que nesse momento ainda era prioritariamente agroexportadora.
5. Após um longo período de pressões internas e externas, a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 1888,
determinou o fim da escravidão no Brasil. Porém, a lei não previa nenhum tipo de indenização a ser paga aos
donos de escravos, dentre os quais estavam os membros da aristocracia rural do país, que, sentindo-se lesados
por perderem aquilo que consideravam ser seu patrimônio sem qualquer contrapartida, se colocaram como
oposição ao regime monárquico, agravando, assim, a crise que conduziria ao fim da monarquia brasileira.
6. Os fazendeiros brasileiros exploravam os imigrantes. Estes pagavam parte dos custos de suas viagens para o
Brasil e eram obrigados a comprar alimentos e ferramentas em armazéns controlados pelos próprios
fazendeiros. Assim, os imigrantes contraíam enormes dívidas acrescidas de juros. Além disso, recebiam
tratamento semelhante ao dispensado aos escravos. Como resultado, ocorreram revoltas que levaram ao
fracasso do sistema de parceria. Em meio a essa situação, a partir de 1870, o governo passou a subsidiar a
imigração estrangeira. Pagava os custos de contratação e do transporte dos trabalhadores europeus, além de
interferir na regulamentação das relações entre fazendeiros e imigrantes, a fim de coibir os abusos.
7. A Lei de Terras de 1850 foi criada dentro de um contexto de fim do tráfico negreiro e das primeiras
experiências de imigração europeia. Ela restringiu o acesso à terra, que só podia ser obtida pela compra. Por
causa de sua valorização, ex-escravos ou imigrantes pobres não conseguiriam adquiri-la.
Mulheres negras
O texto apresentado nesta seção desvenda um pouco do universo das mulheres negras durante a época da
escravidão. Trata das quitandeiras, que, nos núcleos urbanos do Brasil imperial, representavam um elo
importante de integração e resistência entre as populações negras e de manutenção da cultura africana. Essas
mulheres engrossavam as fileiras dos libertos, pois muitas compravam a sua liberdade com os próprios
recursos. O texto procura desmistificar a figura da mulher negra, identificada na literatura, nas artes e na
historiografia tradicional como lasciva e sedutora, mostrando sua importância e o quanto eram diversificados
seus papéis.
b) Essas mulheres representaram um importante elo de integração, resistência e comunicação entre várias
populações negras graças à liberdade de locomoção que possuíam. Elas também foram fundamentais nas
comunidades quilombolas, sendo responsáveis pelo abastecimento de provisões, confecções de roupas e
utensílios.
c) As mulheres auxiliaram na preservação de valores culturais e religiosos. Eram elas que estabeleciam elos
com as divindades que protegiam o espírito combativo dos mocambeiros, por exemplo. Nas crenças e religiões
africanas, as mulheres ocupavam lugar de destaque, adaptando os elementos sagrados e culturais da
população negra ao país.
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2. Em geral, a literatura, as artes e a historiografia tradicional mostram a afrodescendente como uma mulher
lasciva e sedutora. O texto, porém, ressalta sua importância econômica, política, cultural e religiosa naquele
período.
História regional
O objetivo da atividade é estabelecer um paralelo entre as informações obtidas pelos alunos sobre os seus
estados e as apresentadas neste capítulo, no que diz respeito à política e à sociedade do Segundo Reinado.
Orientações para as atividades:
1. A pesquisa pode ser realizada na internet e também em bibliotecas e museus do município ou estado.
2. Professor(a), a ideia é que os alunos destaquem conflitos políticos e sociais em contraposição à relativa
estabilidade política e social do Segundo Império, sobretudo no período de 1850 a 1870, quando ocorreu a
conciliação política entre as elites imperiais.
3. O resultado da pesquisa pode fornecer dados interessantes para a discussão. A elaboração de um quadro
com as informações levantadas pelos grupos pode favorecer a síntese dos dados pesquisados, facilitando a
discussão proposta.
A atividade procura chamar a atenção dos alunos para a permanência da exclusão social dos negros no Brasil
atualmente. Professor(a), incentive-os a discutir sobre os princípios que regem as ações afirmativas, entre elas
a polêmica política de cotas para os afrodescendentes. Orientações para as atividades:
1. Os alunos devem retomar a discussão realizada anteriormente e aprofundá-la nesta atividade. Embora as
condições de vida dos afrodescendentes permaneçam inferiores às do restante da população, os indicadores
sociais têm apontado uma melhoria de qualidade de vida nos últimos anos.
2. Os alunos podem apontar o longo período no qual o africano foi escravizado e comentar que o modelo de
abolição adotado não garantiu nenhum direito ou sistema de inclusão social, e o racismo também persistiu na
sociedade.
3. Resposta pessoal. Professor(a), se achar conveniente, auxilie os alunos com uma discussão. Eles podem citar
leis que punam severamente qualquer maneira de preconceito e exclusão. Uma educação mais positiva, desde
a tenra infância, que mostre o afrodescendente como indivíduos ativos historicamente, sem os diferenciar do
restante da sociedade, também é uma proposta válida. Incentive os alunos a pensar sob a perspectiva dos
direitos humanos e da necessidade de erradicar, em definitivo, com as diferenças sociais contra negros, além
de minorias como mulheres, indígenas, deficientes físicos etc.
LEITURA DE IMAGEM
Neste capítulo, propomos um exercício de leitura de imagem baseado na obra Negros no porão de um navio
negreiro, de Johann Moritz Rugendas (p. 199). Seguiremos o roteiro proposto:
I. Observação da imagem
Professor(a), conforme já indicado anteriormente, neste momento da análise, os alunos devem identificar os
elementos solicitados e responder às questões propostas com base na observação e em seus conhecimentos
prévios. Por isso, é importante não atribuir certo ou errado às respostas dos alunos.
1. Título: Negros no porão de um navio negreiro; autor: Johann Moritz Rugendas; ano de produção: 1835; tipo
de imagem: litografia; temática: o interior de um navio negreiro.
2. Foram retratados negros cativos em um porão de navio. Na cena, eles aparecem nus ou seminus, a maioria
sentada ou deitada. Há apenas um negro em pé, que parece pegar uma cuia com água da mão de um branco
que está fora do porão. Outros homens brancos, provavelmente traficantes de escravos, estão de pé, vestidos, e
carregam o corpo de um africano morto. Há poucas crianças africanas na cena.
3. Um dos traficantes carrega uma lamparina e parece iluminar o rosto do africano morto como se o
examinasse. A imagem também dá a impressão de que ele está examinando os demais cativos. Há, no canto
direito, uma mulher ajoelhada que leva as mãos ao rosto como se estivesse chorando pelo morto. Também no
canto direito, há outra mulher que estende a mão, como se estivesse pedindo algo. Há cativos que foram
retratados com a cabeça baixa. Esses detalhes dão dramaticidade à cena.
4. As cores predominantes são preto, branco e marrom. A obra é uma litografia colorida à mão.
5. A obra faz parte de um conjunto de litografias feitas pelo autor durante suas viagens pela América.
1. Pesquise sobre o autor e os motivos que o levaram a produzir essa obra. Quais os seus propósitos com a
obra? Quais os seus compromissos com o tema? Quais as influências sofridas por ele? Qual é o seu estilo?
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e) Qual o seu significado para o autor e para a época em que foi feita?
g) Se a obra for uma reconstituição histórica, que elementos retratam mais a época de produção do que o tema
representado?
Professor(a), peça aos alunos que anotem as referências das fontes consultadas e que utilizem as questões
propostas para orientar o registro escrito e a organização das informações pesquisadas. É possível que eles
não encontrem todos os dados solicitados. A socialização dos resultados e a sua intervenção podem solucionar
essas carências de informações.
Para ajudar os estudantes a organizar essas ideias, solicite que escrevam ao menos um parágrafo sobre a obra
e o autor, reunindo os pontos mais importantes para a interpretação da imagem.
Professor(a), por meio destes três momentos de análise, pretendem-se estabelecer a leitura e a interpretação
das imagens, evidenciando a importância da iconografia para o trabalho do historiador. Neste exercício,
baseado na pesquisa e no estudo sobre a obra, é possível perceber que a litografia retrata uma cena idealizada,
apesar de expressar dor e sofrimento. Prova disso é que não há um número excessivo de negros no porão, o
ambiente é limpo e ordenado, o que se contrapõe a outras descrições de navios negreiros, que mostram os
porões superlotados, cativos amontoados, o ambiente infectado por fezes, urina e vômitos. O que vai ao
encontro da afirmação de que são “nas cenas da vida cotidiana da população brasileira da época e nos retratos
etnográficos que percebemos o artista empenhado em criar imagens idealizadas, mais programáticas do que
reais. Os corpos de negros e índios são representados em estilo clássico, os traços suavizados e europeizados, bem
como é amenizada a situação dos escravos (o trabalho é mostrado como atividade quase lúdica em pranchas
como Preparação da raiz de mandioca e Colheita de café, por exemplo)”.Enciclopédia Itaú Cultural de Artes
Visuais. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/ pessoa707/rugendas>. Acesso em: 23 maio
2016.
O capítulo destaca a queda dos alicerces que sustentavam a monarquia, sobretudo a escravidão, a aristocracia
agrária e a relação Igreja-Estado. Além disso, a emergência de grupos sociais – militares, classe média urbana e
cafeicultores – configuraram um novo cenário político e social que não cabia nas estreitas estruturas imperiais.
A seção Vamos lá! (p. 208) inicia o capítulo destacando os problemas na cidade do Rio de Janeiro, então capital
do Brasil. Para abordar o tema, propõe aos alunos que analisem o desenho de Ângelo Agostini, uma caricatura
dessa cidade, produzida em 1876, e expliquem seu conteúdo por meio da elaboração de uma legenda. Para que
os alunos possam ter mais subsídios para responder à atividade 2, o(a) professor(a) pode orientá-los a folhear
o capítulo, lendo seus títulos, subtítulos, imagens e legendas.
1. Os alunos devem inferir que a caricatura retrata a cidade do Rio de Janeiro sendo tomada pela morte. Ela
está relacionada às várias epidemias que assolaram a cidade nas últimas décadas do século XIX.
2. Por meio da leitura dos títulos e subtítulos, o aluno pode citar, por exemplo, os conflitos com a Igreja
Católica e a ascensão dos miltares.
Maçonaria
Durante a realização das atividades, resgate com os alunos a chamada questão religiosa, ver texto do subtítulo
“Conflitos com a Igreja Católica” (p. 217), um dos focos da crise do Segundo Reinado, que abalou a relação
entre a Coroa e a Igreja e está relacionada à condenação da maçonaria pelo papa Pio IX.
Para auxiliar na pesquisa, o aluno pode consultar no site Historianet o seguinte título: Brasil Império: a
maçonaria no Brasil (disponível em: <http://www.historianet.com.br/ conteudo/default.aspx?codigo=247>;
acesso em: 23 maio 2016). Orientações para as atividades:
1. a) A maçonaria é uma associação secreta. Seus membros se reúnem, segundo eles, com o objetivo de
defender os princípios de liberdade, democracia, igualdade e fraternidade. Os maçons estruturam-se e
reúnem-se em células autônomas, chamadas de oficinas, ateliês ou lojas.
b) Apesar de a maçonaria estar presente no Brasil desde o final do século XVIII, a primeira loja maçônica
brasileira surgiu filiada ao Grande Oriente
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da França, sendo instalada em 1801, no contexto da Conjuração Baiana. A partir de 1809, foram fundadas
várias lojas no Rio de Janeiro e em Pernambuco; e em 1813, foi criado o primeiro Grande Oriente Brasileiro,
sob a direção de Antonio Carlos Ribeiro de Andrada e Silva. Como em toda a América Latina, no Brasil a
maçonaria também se constituiu num importante veículo de divulgação dos ideais de independência: em maio
de 1822 se instalou, no Rio de Janeiro, o Grande Oriente Brasiliano ou Grande Oriente do Brasil, que nomeou
José Bonifácio de Andrada e Silva o primeiro grão-mestre da maçonaria do país. Em 1831, ocorreu a primeira
cisão na maçonaria brasileira, quando o senador Vergueiro fundou o Grande Oriente Brasileiro do Passeio,
nome referente à rua do Passeio, no Rio de Janeiro. No Brasil do século XIX, muitos clérigos e o próprio
imperador dom Pedro II eram maçons.
c) O principal acontecimento foi o conflito entre a maçonaria e a Igreja Católica, motivado pela bula do papa
Pio IX, que queria eliminar a influência da instituição dentro da Igreja em todo o mundo. Esse conflito gerou o
embate entre o imperador e os bispos de Olinda e do Pará, que, em cumprimento às ordens do papa, proibiram
a participação dos clérigos nas lojas maçônicas. Esses bispos, por ordem do governo imperial, chegaram a ser
presos e libertados, depois de grande comoção popular e manifestações de apoio.
2. Professor(a), oriente os alunos a escrever o texto, utilizando os itens da atividade 1 como roteiro.
Professor(a), oriente os alunos na socialização das charges escolhidas e na apresentação dos motivos que os
levaram a elegê-las para representar determinado fato político da atualidade. O uso da charge caracteriza-se
como excelente recurso pedagógico para ser explorado com os alunos em sala de aula. Elas costumam instigar
bastante a participação dos estudantes em razão de seu humor, linguagem e proximidade com o cotidiano.
Além disso, permitem ensinar aos alunos a imagem como discurso, atribuindo-lhe sentidos sociais e
ideológicos.
Na atividade 1, é interessante destacar que o projeto elitista do Segundo Império consistia em formar um
Brasil branco, cujo padrão cultural era a Europa. A realidade, no entanto, era bem distinta. O país era formado
por uma maioria de mestiços e negros. Portanto, havia grande diversidade cultural.
Para facilitar a resolução da atividade 3, se julgar necessário, solicite aos alunos que façam antes um esquema
explicativo. A seguir, há alguns pontos a serem destacados:
Paraguai – Esse país destoava do conjunto dos países latino-americanos, pois alcançou certo progresso
econômico, erradicando o analfabetismo e melhorando o nível de vida da população em geral. Fábricas,
estradas de ferro e um eficiente sistema de telégrafo haviam sido implantados no país. A escravidão e o
latifúndio haviam sido abolidos e foi desenvolvida uma economia independente. Assim, o Paraguai era um
“péssimo” exemplo para os países latino-americanos. A expansão econômica paraguaia também prejudicava os
interesses ingleses na região.
Governo de Solano López (1862-1870) – Marcado por uma política militar expansionista, visava a obter
acesso ao Atlântico, tido como imprescindível para a continuação do progresso econômico do país.
A Guerra (1864-1870) – Em novembro de 1864, López rompeu relações diplomáticas com o Brasil,
aprisionando um de seus navios. Começou então o conflito. Em 1865 foi formada a Tríplice Aliança (Brasil,
Argentina e Uruguai) contra o Paraguai. A guerra foi financiada pela Inglaterra, que forneceu material bélico e
empréstimos à Tríplice Aliança. O conflito prolongou-se até 1870, devastando o território paraguaio: cerca de
75% da população paraguaia morreu durante a guerra (aproximadamente 99% da população masculina com
mais de 20 anos) e a economia paraguaia foi totalmente desestruturada.
Orientações para as atividades:
1. No exterior, o imperador dom Pedro II procurava divulgar uma imagem de homem culto, civilizado e
integrado às novidades do mundo contemporâneo. Essa imagem devia associar-se ao Brasil, que constituiria
uma civilização nos trópicos nos moldes europeus. Porém, a realidade era outra, e a escravidão conferia ao
Brasil um status de país atrasado e descivilizado. Essa era a principal contradição de imagem do Império
brasileiro.
2. a) O intervencionismo brasileiro ocorria com o objetivo de controlar a região platina. Os países da região
passavam por um processo de consolidação de seus territórios e de disputas de poder entre as elites locais. O
Brasil adotou uma política na qual procurava se aliar a essas elites conforme sua conveniência. Isso ocorreu,
por exemplo, no caso do Uruguai, quando o Brasil apoiou o partido Colorado, representante dos comerciantes.
da escravidão e da proibição do tráfico negreiro até problemas diplomáticos como a Questão Christie, em
1861.
3. a) O que motivou Brasil, Argentina e Uruguai a formarem uma aliança militar contra o Paraguai foi a política
militar expansionista do governante paraguaio Francisco Solano López, que visava a obter acesso ao Atlântico.
Essa medida era vista como imprescindível pelo governante para a continuação do progresso econômico do
país, porém, contrariava os interesses dos demais países da região do rio da Prata.
b) No início da guerra, o Exército brasileiro contava com o reforço de batalhões de voluntários, os chamados
Voluntários da Pátria. Porém, com a extensão do conflito, o interesse pelo voluntariado despencou e o Exército
passou a sofrer com a falta de soldados. Esse cenário forçou o governo a tomar atitudes como a criação do
decreto que concedia liberdade aos escravos que se oferecessem para lutar no Paraguai. Dessa forma, a
participação dos africanos e seus descendentes no conflito cresceu bastante, e as tropas brasileiras passaram a
contar com um grande contingente de combatentes negros.
4. Com verbas escassas, o governo mantinha uma política de baixos salários para os militares, gerando grande
descontentamento. Além disso, ao final da Guerra do Paraguai, o Exército havia adquirido grande
representatividade social, mas as estruturas restritivas do império limitavam a participação dos militares no
cenário político. Daí, boa parte dos oficiais aderiu facilmente ao movimento republicano.
5. O bom relacionamento entre a Igreja Católica e a monarquia brasileira começou a se desfazer a partir de
uma determinação do papa Pio IX na qual reafirmava a supremacia da Igreja em todos os âmbitos da sociedade
e responsabilizava a maçonaria por práticas que enfraqueciam a fé católica. Essa determinação acabou
gerando confrontos entre o poder imperial do Brasil e os bispos de Olinda e do Pará, que proibiram a
participação de clérigos na maçonaria, defendendo a supremacia da Igreja diante do poder do Estado. O
episódio abalou as relações entre o império e a Igreja, que não se mobilizou para amparar o regime
monárquico em sua crise final.
6. Pode-se considerar como um golpe, pois a monarquia chegou ao fim por meio de um movimento liderado
por militares, com a participação de republicanos que tomaram o poder sem a participação popular. Esse
grupo proclamou a República, mas não tinha a pretensão de romper com as estruturas sociais e econômicas
estabelecidas. Mudava-se o regime político, porém permanecia o poder dos grandes proprietários de terras.
Novos personagens
A seção apresenta um texto que analisa uma importante consequência da Guerra do Paraguai na política e na
sociedade brasileira. Os militares ascenderam socialmente e passaram a exigir ampliação da participação no
espaço público, onde eram decididos os rumos do país. A origem social dos militares dividia-se entre membros
das classes médias emergentes, o oficialato e ex-escravos, que se tornaram combatentes na guerra e
conquistaram a liberdade. O fortalecimento do Exército nacional trouxe um impasse para o império, que
deveria abrir brechas no poder e não o fez. Assim, sem espaço para a participação política, muitos militares
passaram a defender uma mudança na forma de governo, engrossando as fileiras do Partido Republicano.
Orientações para as atividades:
1. Os militares ascenderam socialmente após a Guerra do Paraguai. A origem social dos militares dividia-se
entre membros das classes médias emergentes, o oficialato, e ex-escravos.
2. Esses grupos sociais ganhavam representatividade social, mas não representatividade política, pois a
estrutura do Estado imperial não oferecia espaço para os setores emergentes da sociedade.
3. A pouca flexibilidade do Estado imperial para atender aos interesses e às reivindicações dos militares fez
que muitos militares passassem a defender uma mudança na forma de governo, engrossando as fileiras do
Partido Republicano.
Machado, historiador
Dica (trabalho interdisciplinar)
A seção possibilita o trabalho interdisciplinar com a Literatura. Caso o(a) professor(a) queira, também é
possível analisar a peça O tipo brasileiro, de José Joaquim da França Júnior (dramaturgo e cronista
contemporâneo de Machado de Assis). Apesar de pouco conhecidas, suas obras apresentam muitos elementos
que ajudam a compreender a sociedade brasileira no século XIX.
A comédia desmistifica o discurso romântico brasileiro, trazendo à tona contradições e ambiguidades do seu
nacionalismo. Nela, o inglês Mr. John Read, que viaja pelo país, descreve a exuberância da nossa natureza, as
comidas típicas, os costumes exóticos e destaca alguns interesses comerciais, como a borracha que encontra
no Pará e que leva para Liverpool, revelando, assim, o olhar do estrangeiro. Teodoro, brasileiro
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tomado pelo estrangeirismo, fala do Brasil como um país atrasado e deseja a civilização europeia. Henrique,
outro brasileiro, apesar de ressaltar a necessidade do amor à pátria, muitas vezes refere-se ao Brasil como o
país da febre amarela, da cólera, da indústria nacional que definha diante dos rótulos estrangeiros. As cenas
trazem uma realidade desconcertante, pois a “lição” a Teodoro, amante de tudo o que vem de fora, só é dada
por um brasileiro travestido de estrangeiro (Henrique, disfarçado de francês). Mas o nacionalismo de
Henrique acaba caindo na visão estrangeira do país, no exotismo da “terra das bananas e palmeiras, onde canta
o sabiá”. Dessa forma, não se resolve satisfatoriamente a tensão criada em torno do nacionalismo, persistindo
em nossos pensamentos, ao final da leitura da peça, uma fala de Teodoro: “Discursos! Discursos!”.
A peça pode ser encontrada na obra de: FRANÇA JÚ- NIOR, Joaquim José de. Teatro de França Júnior I e II. Rio
de Janeiro: MEC/Senac/Funarte/SNT, 1980. (Coleção Clássicos do Teatro Brasileiro). A obra também está
disponível na internet no site <http://www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em 20 abr. 2016.
2. No site citado, há também alguns textos e obras digitalizados de Machado de Assis, o que favorece a
realização da atividade.
3. Professor(a), se considerar conveniente, peça aos alunos que apresentem os trabalhos por meio de
seminários.
a) O seminário deve relacionar a obra analisada ao conteúdo estudado e ao contexto histórico de sua produção.
A atividade final do capítulo possibilita ao (à) professor(a) realizar uma boa avaliação do aprendizado dos
alunos sobre o Brasil nos tempos do império. Orientações para as atividades:
• 1831-1840: Período regencial, marcado por grande instabilidade política e por revoltas separatistas.
3. Uma opção é organizar duplas em que um dos alunos apresente dificuldades no aprendizado de história e o
outro tenha um bom conhecimento da disciplina. Essa estratégia favorecerá a atividade de ambos os alunos,
pois quem souber mais precisará reorganizar o seu conhecimento para apresentá-lo ao colega que tiver mais
dificuldades de aprendizado.
A cada unidade, procuramos apresentar algumas sugestões de atividades que poderão ajudá-lo em seu
trabalho diário, respeitando sempre sua autonomia de atuação. É importante esclarecer que as condições de
trabalho, as características da comunidade escolar na qual o trabalho pedagógico é desenvolvido e a
criatividade profissional em sala de aula é que determinarão seu aproveitamento.
Neste capítulo, propomos a leitura e análise do conto O alienista, de Machado de Assis. A ideia é que seja
realizada uma atividade conjunta com Língua Portuguesa por meio de roteiros de leitura. Em História,
propomos uma leitura compartilhada do conto.
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1) Por que o dr. Simão Bacamarte não permaneceu em Portugal após terminar seus estudos?
4) Explique os dois significados da frase “Quem diria nunca que meia dúzia de lunáticos...”, no Capítulo 3.
6) Que deslizes cometeram Costa e sua prima para serem recolhidos à Casa Verde? E Martim Brito? (Capítulo
5.)
Capítulos 7 a 13
7) Explique algumas relações estabelecidas pelo autor entre a Revolução Francesa e a rebelião dos Canjicas,
liderada pelo barbeiro Porfírio. Explicite o papel dos personagens e instituições na rebelião (Capítulos 6 a 8).
8) Explique os motivos da mudança na teoria de Simão Bacamarte, registrada no final do quarto parágrafo
(Capítulos 11 e 12).
9) Relacione o final do conto à intenção empirista (radicalizada pelo positivismo) de separar o sujeito e o
objeto da pesquisa científica (Capítulo 13).
10) Relacione o conto (1881) aos fatos históricos contemporâneos à sua produção (o republicanismo no
Brasil: 1870-1889).
11) Explique o que significam as expressões “más doutrinas francesas” e “sacrossantos interesses de Sua
Majestade” no primeiro parágrafo do Capítulo 10.
As informações a seguir podem ser utilizadas pelo(a) professor(a) no sentido de realizar ponderações durante
a socialização das hipóteses formuladas pelos alunos:
1. A primeira imagem, feita em fins do século XIX, fazia parte da propaganda empreendida pelas elites que
apoiavam a república. Assim, visavam a instaurar no imaginário da população uma ideia de segurança e
estabilidade. Ao mesmo tempo que a roupa branca pode remeter à paz, o braço direito apoiado sobre uma
espada evoca a luta pela implantação da república. Na segunda imagem, pode-se observar uma mulher idosa,
maltrapilha, que estende a mão para uma mulher elegante que passa pela calçada. A mulher idosa representa a
monarquia em estado de decadência. Apesar da representação decadente da monarquia e da eloquência e
modernidade da república, aquela faz uma cobrança a esta, dizendo que esperava mais do novo
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regime político. Na terceira imagem, vê-se uma mulher jovem com trajes finos, que representa a república. A
mulher tem uma das mãos e a cabeça estendidas para o alto. A cena sugere leveza e movimento. Há poucas
cores, predominando o preto, o branco e o amarelo. Nela, a república é identificada com o novo e o moderno.
2. Pode-se apontar como semelhanças a representação da república de modo positivo e por meio da figura
feminina; diferença, pode-se destacar que, na primeira imagem, prevalece uma visão positiva da república,
inspirando confiança e força; na segunda, apesar de a visão também ser positiva, há um tom de crítica à
república que não se vê nas demais; na terceira imagem, prevalece uma visão positiva sobre a república,
enaltecida como um elemento de modernidade.
3. Resposta pessoal. Professor(a), oriente os alunos a observar o período em que as representações foram
feitas, identificando o momento político do Brasil. Na primeira imagem, a república não havia sido instalada, e
havia uma verdadeira propaganda à sua aceitação por alguns setores da sociedade; na segunda, já em vigor, a
república não proporciona grande parte das mudanças desejadas, vindo daí a crítica da charge; a terceira
relaciona-se ao movimento modernista que ganharia força no Brasil a partir de 1922.
E hoje?
Durante a realização dessa atividade, fique atento para que a discussão não caia em conclusões simplistas
como: “todo político é corrupto” ou “nada mudou no Brasil; continua tudo igual”. Para isso, pontue com os
alunos os avanços já conquistados e o que ainda é preciso fazer para superarmos as continuidades históricas.
Um exemplo que pode ser mencionado são os resquícios na política atual das práticas do coronelismo e da
política dos governadores. No entanto, hoje as eleições são totalmente diferentes e podem ser uma das formas
de controle sobre a atuação dos políticos. Aqui, podem ser resgatados os textos e as discussões sobre a
participação política e a democracia, trabalhados no volume 1 da coleção. Para resgatá-los, retome no Capítulo
5 do volume anterior, “A Grécia Antiga”. Orientações para as atividades:
1. a) Pode-se ressaltar que hoje há alianças políticas entre partidos políticos nos períodos eleitorais, no
Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras Municipais. Há acordos e arranjos políticos
entre o poder Executivo e o Legislativo e entre os governos estaduais e o federal.
b) Ainda há acordos e arranjos políticos em troca de dinheiro, cargos ou verbas públicas. Exemplos recentes
foram o caso do Mensalão no Congresso Nacional em 2005, no qual parlamentares de partidos aliados
recebiam dinheiro para votar nos projetos de interesse do Governo Federal, e denúncias ocorridas durante as
investigações da Operação Lava a Jato, iniciada em 2014, e o processo de impeachment da presidenta Dilma
Rousseff, em 2016.
c) O sistema eleitoral é bem mais confiável, houve redução drástica das fraudes e quase não se escuta mais
sobre compra de votos. As eleições podem, dessa maneira, ser um mecanismo de controle das práticas
políticas vigentes no país.
d) Seria importante que os acordos e os arranjos políticos fossem pautados em programas políticos e
partidários, e que fossem transparentes e voltados para o interesse público, buscando-se, assim, eliminar a
troca de favores.
2. Na socialização da atividade, pode-se fazer uma síntese coletiva sobre os principais pontos levantados.
Ocupando o território
Esta atividade pode ser feita em conjunto com o(a) professor(a) de Geografia, que poderá auxiliar os alunos
nas pesquisas. Durante a apresentação dos seminários, sugerimos que o(a) professor(a) avalie, além dos
conteúdos conceituais, os procedimentais, como: saber consultar fontes de pesquisa confiáveis e coerentes
com o tema, selecionar e organizar os dados pesquisados, ser capaz de apresentar a pesquisa de forma clara e
objetiva, dentre outros.
História em discussão (p. 233)
1. Apesar de os governos militares dos primeiros anos da república terem desenvolvido uma política
econômica voltada para os interesses de uma classe média e uma incipiente burguesia industrial, no que diz
respeito às práticas políticas houve uma continuidade histórica. O presidente Deodoro da Fonseca, por
exemplo, preso à tradição política imperial, ao entrar em conflito com o Legislativo, tentou dissolver esse
poder. Seu sucessor, o marechal Floriano Peixoto, conhecido como o Marechal de Ferro, teve um governo
marcado pela dura repressão a seus opositores.
2. a) O poder local dos fazendeiros, os chamados coronéis, ganhou importância diante da necessidade de as
elites nacionais obterem sustentação política. Os coronéis passaram a controlar verbas e cargos públicos nas
regiões onde viviam, estabelecendo uma rede de dependentes. Assim, o coronelismo se consolidou com a
república.
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b) O coronel era aquele que, desde a época do império, detinha poder e riqueza nas diversas regiões do país,
controlando a população local. As elites nacionais, outro sujeito envolvido nesse arranjo político,
beneficiavam-se com o poder do coronel sobre a população das distintas regiões do país, pois eram
beneficiadas com a estabilidade e a sustentação do regime oligárquico.
3. As eleições eram decididas por meio de acordos feitos em gabinetes e estavam permeadas de fraudes e
corrupção. O voto aberto facilitava a prática do voto de cabresto, pelo qual o coronel impunha a sua vontade
aos eleitores da região sob o seu domínio. Dessa forma, as eleições não tinham força para alterar o jogo político
comandado pelas elites locais e nacionais. Elas serviam para dar continuidade ao poder das oligarquias no
país.
4. a) Por meio da política de valorização do café, os fazendeiros foram incentivados a ampliar suas produções.
Contudo, o aumento da produção do café gerou um excesso do produto no mercado, fazendo os preços caírem.
A crise gerada pela queda nos preços levou os governadores dos estados a se reunirem com os cafeicultores no
chamado Convênio de Taubaté, no qual se definiu que os governos estaduais se comprometiam a comprar os
excedentes de café por um preço fixo (armazenando-os para comercializá-los em momentos de alta nos
preços) e adotavam medidas para evitar a expansão dos cafezais.
b) A eclosão da Primeira Guerra Mundial afetou o comércio de mercadorias industrializadas com o exterior.
Para substituir os produtos importados, o governo brasileiro estimulou o processo de industrialização do país.
5. A borracha gerou enormes riquezas para o país e as cidades amazônicas: Manaus e Belém desenvolveram-se
rapidamente. A mão de obra para a exploração da borracha vinha em grande medida do Nordeste, que sofria
com as secas e a crise da produção açucareira. O cacau proporcionou grande alento para a economia do
Nordeste, onde a atividade açucareira perdia importância.
O texto apresentado na seção desconstrói um dos mitos da Primeira República, a política do café com leite.
Orientações para as atividades:
1. A política do café com leite foi um acordo entre os partidos republicanos de São Paulo e de Minas Gerais para
se alternarem no governo central.
2. A política do café com leite se consolidou por meio de um pacto entre as oligarquias dominantes, com a
intenção de manter o poder político restrito aos grandes fazendeiros dos principais estados brasileiros.
3. Segundo o texto, restringir a política da nossa Primeira República à ideia de um pacto exclusivo entre as
elites cafeeiras dos estados de São Paulo e Minas Gerais é diminuir muito a complexidade dos acordos e
arranjos políticos do período. A autora aponta que as negociações políticas eram pautadas em três regras
básicas e, além de São Paulo e Minas Gerais, pelo menos mais quatro estados tinham acentuada importância na
definição dessas negociações: Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Assim, a estabilidade
política do regime republicano não foi definida por um acordo exclusivista entre dois de seus maiores estados.
O coronel e o lobisomem
Os alunos deverão justificar suas respostas de acordo com seus conhecimentos, experiências de vida e
realidade do lugar onde vivem. Espera-se que eles percebam que ainda hoje ocorre a compra de votos em troca
de benefícios. Deverão, portanto, mencionar permanências, como, por exemplo, a influência de alguns
políticos, sobretudo – mas não exclusivamente – nos locais mais pobres, que oferecem empregos, perdão de
dívidas de imposto, entre outros, em troca de apoio político e votos. Além disso, deverão também perceber
mudanças, ocorrida em função do momento histórico atual.
Dica
Caso o (a) professor(a) deseje ler mais sobre as relações entre história e representação cômica, é interessante
consultar o livro de SALIBA, Elias Thomé. Raízes do riso: a representação humorística na história brasileira –
da Belle Époque aos primeiros tempos do rádio. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
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1. Professor(a), caso julgue necessário, trabalhe com os alunos, previamente, as principais características do
gênero charge, a partir de exemplos mostrados no livro. Você também pode mostrar aos alunos alguns
exemplos de memes da internet.
2. A exposição, seja ela física ou compartilhada pela internet, pode ser feita entre os alunos da classe ou entre
todas as turmas do Ensino Médio.
3. Antes da exposição, pode-se fazer uma prévia para que os alunos apresentem os textos explicativos e você e
a turma façam considerações para uma revisão dos textos.
Na Primeira República, apesar de todo o arranjo político construído para garantir o poder de uma oligarquia
agrária, sem deixar espaços para a participação popular, ocorreram inúmeras contestações. O capítulo visa à
compreensão de como elas se deram naquele período.
A seção Vamos lá! (p. 236) apresenta um exemplo de como os governantes da república lidavam com a
questão social. Para ilustrar a postura desses governantes, pode-se lembrar a famosa frase do presidente
Washington Luís: “questão social é caso de polícia”. Na atividade 2 do Elaborando hipóteses (p. 236), os alunos
devem fazer inferências sobre as consequências dessa postura. Uma passagem de olhos por título, subtítulos,
imagens e legendas do capítulo pode ajudá-los na elaboração dessas hipóteses.
1. Professor(a), o texto da seção indica que uma das formas de o governo lidar com a questão social era enviar
para a Floresta Amazônica qualquer pessoa considerada “desclassificada”. Como indicado antes, pode-se
comentar que era comum considerar a questão social como caso de polícia, lembrando da famosa frase do
presidente Washington Luís.
2. As consequências diretas são a repressão violenta aos movimentos sociais e às camadas empobrecidas da
sociedade.
A seção traz uma discussão sobre a literatura de cordel, apontando sua origem, seu desenvolvimento no Brasil
e os temas tratados. Depois, apresenta como exemplo o cordel Lampião na ONU defendendo o Terceiro Mundo.
As atividades giram em torno da leitura e da análise desse cordel. Orientações para as atividades:
1. a) A resposta depende da análise do material pesquisado. Professor(a), há uma rica bibliografia relacionada
à figura de Lampião. Muitas das discussões sobre o papel que ele desempenhou no sertão nordestino são
motivadas pela ambiguidade de suas ações, ora se aliando a poderosos coronéis e recebendo favores deles, ora
aterrorizando aqueles que se negavam a lhe oferecer proteção; da mesma forma, podia tanto patrocinar festas
e dar esmolas à população pobre, quanto semear o horror quando contrariado. Fato é que sua imagem foi, por
várias vezes, colocada a serviço de análises ideologicamente orientadas, o que em grande medida contribuiu
para sua mitificação.
b) A sua origem pobre no sertão de Pernambuco e o assassinato de seu pai por um policial, quando Lampião
ainda era criança; o terror que impunha a muitos fazendeiros do Nordeste, obrigando-os a se sujeitarem às
suas regras, invertendo a relação dominador/dominado; sua legendária capacidade de despistar os policiais
que tentavam capturá-lo, desafiando as autoridades e provando que o homem comum era capaz de desafiar os
poderes instituídos.
c) Não, pois o papel do historiador é entender as personagens que estuda dentro do contexto em que viveram.
Assim, precisa ponderar as motivações, as alternativas e os valores próprios do tempo e do meio social,
político e cultural delas, a fim de compreender suas atitudes e decisões.
2. Resposta pessoal. Professor(a), considere se os alunos apoiaram suas hipóteses na pesquisa feita. Uma
hipótese para explicar a escolha de Lampião no cordel é sua identificação com uma figura capaz de subverter a
ordem e de enfrentar poderes e instituições estabelecidos.
3. A atividade permite avaliar o grau de interesse e informação de seus alunos pelos grandes temas políticos da
atualidade e analisar a visão que têm dos problemas contemporâneos. Aproveite o momento da apresentação
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dos cordéis criados por eles para discutir o penúltimo verso do cordel de Franklin Maxado, em que ele instiga
o leitor a abandonar a alienação.
• Movimento messiânico
• Descontentamento da população
• Reivindicações: fim da chibata, melhores condições de trabalho, aumento dos soldos e anistia
• Resolução do conflito: o governo aceita as condições dos marinheiros, porém, dias depois desrespeita a
anistia concedida, atacando os rebelados
Presidência de Wenceslau Brás (1914-1918)
b) Greve de 1917
• Liderança anarquista
• Reivindicações: aumento salarial, jornada de oito horas de trabalho, proibição do trabalho a menores de 14
anos, entre outras
1. As consequências desse modelo de modernização para a população mais pobre foram negativas: via-se um
aumento das teorias raciais, que identificavam os males do povo brasileiro com a miscigenação ocorrida nas
senzalas, nos becos e nas casas pobres. Os descendentes de africanos eram os mais atingidos nos seus hábitos e
na sua cultura. Houve uma série de proibições de hábitos já arraigados na população, por exemplo: proibia-se a
reunião em quiosques nas ruas; escarrar no chão; comprar leite na porta de casa, ordenhado na hora; cantar; e
dançar ritmos africanos e outros.
2. Perante as dificuldades de vencer a resistência dos sertanejos, os jornais do Rio de Janeiro, com base em
informações de que o líder do movimento – Antônio Conselheiro – assumia posições contrárias às
determinações da república (por exemplo: condenava a separação entre Igreja e Estado e o intenso aumento
de impostos praticado pelo novo regime), divulgavam notícias que transformavam os habitantes de Canudos
em inimigos da república. Dessa forma, estabeleceu-se o ambiente político necessário para que o Governo
Federal mobilizasse um grande efetivo militar, com mais de 10 mil homens armados, que, após 3 meses de
combate, venceriam o conflito, acabando com o arraial.
3. Os dois movimentos reuniram pessoas pobres, que viviam no campo, em torno de líderes religiosos. Foram
fortemente reprimidos pelas elites locais e por tropas do governo federal, o que provocou muitas mortes entre
os rebelados.
4. a) As reformas pretendiam sanear a cidade, cuja população sofria com sucessivas epidemias de febre
amarela, varíola e peste bubônica, doenças que matavam a população e comprometiam a imagem do país no
exterior, dificultando os negócios.
b) Essas reformas muitas vezes iam contra os costumes da população. Em 1904, a vacinação obrigatória contra
a varíola, por exemplo, contrariava atos rituais de vários povos africanos, que viam a doença como um
caminho para purificar a sociedade, cujo processo não deveria ser interrompido sob pena de perpetuar os
males.
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5. Tanto em São Paulo, como no Rio de Janeiro, as intervenções no espaço urbano resultaram na expulsão de
populações pobres das áreas centrais das cidades. Nas reformas urbanas do Rio de Janeiro, vários cortiços
onde viviam milhares de famílias pobres foram derrubados para a construção de um complexo de avenidas.
Essas famílias, por sua vez, deslocaram-se para os morros, formando as primeiras favelas da cidade. No caso
atual de São Paulo, obras como a retirada das marquises de prédios e a instalação de objetos pontiagudos sob
viadutos têm como objetivo afastar desses espaços aqueles que dependem do espaço público para morar ou
garantir a sobrevivência, como vendedores ambulantes e pessoas em situação de rua.
6. Em 1910, marinheiros brasileiros se mobilizaram contra as más condições de trabalho e os castigos físicos
(chibata). As principais reivindicações dos rebelados eram o fim da chibata, melhores condições de trabalho,
aumento dos soldos e anistia. Os marinheiros ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro. Sem opção, o governo
aceitou as condições dos marinheiros, porém, dias depois desrespeitou a anistia concedida, atacando os
rebelados. Muitos foram mortos, e os sobreviventes foram condenados à prisão ou a trabalhos forçados na
Amazônia.
O texto trata do grande deslocamento populacional ocorrido no Brasil entre 1872 e 1900. Podem-se destacar
como acontecimentos que impulsionaram esse intenso movimento migratório: o comércio interno de escravos,
os flagelados das grandes secas, o fim da Guerra do Paraguai, a derrota dos movimentos de Canudos e do
Contestado e a abolição dos escravos. Orientações para as atividades:
1. O texto aponta como causas das migrações das populações pobres nesse período o comércio interno de
escravos, os flagelados das grandes secas, o fim da Guerra do Paraguai, a derrota dos movimentos de Canudos,
Contestado, a Revolução Federalista no Sul e a abolição dos escravos.
2. Essas populações queriam escapar da pobreza e da fome, da violência empreendida pelos coronéis e pelos
recrutamentos forçados, da concentração das terras nas mãos de poucos e das condições naturais adversas
que inviabilizavam a sobrevivência.
3. A abolição não foi acompanhada por uma indenização aos ex-escravos nem por uma política governamental
de inclusão social. Como o próprio texto aponta, o “benefício mais imediato foi o usufruto da liberdade de
movimento que era vedado aos escravos”. Assim, após a abolição, um grande número de ex-escravos desloca-
se, sobretudo, para os grandes centros urbanos.
Cultura operária
Pensando no período estudado nesse capítulo, peça aos alunos que pesquisem sobre a produção cultural das
organizações anarquistas. Esse movimento era preponderante no meio operário, liderando os movimentos de
resistência e as greves dos trabalhadores no Brasil da Primeira República. Orientações para as atividades:
1. Fontes de pesquisa:
2. Professor(a), o texto a ser produzido dependerá em grande medida das fontes de pesquisa adotadas e da
análise feita das informações selecionadas. Talvez seja uma boa estratégia indicar as fontes a serem
consultadas para que existam critérios mais precisos para a avaliação dos textos.
Para a realização da atividade proposta na seção, peça aos alunos que visitem o site do Sesc de seu estado.
Assim, antes de elaborar o plano de inclusão social solicitado, eles poderão conhecer os projetos de difusão da
cultura popular no lugar onde vivem. Para ter acesso às atividades desenvolvidas por essa instituição, é
possível acessar o site <http://www.sesc. com.br>. Orientações para as atividades:
1. Professor(a), os alunos devem definir, primeiro, o público-alvo (por exemplo, migrantes de outras regiões
do país e afrodescendentes). Esse é um critério importante para a elaboração do plano.
2. Os alunos devem usar algum suporte para a apresentação dos planos: por exemplo, power point, cartazes ou
mesmo a lousa.
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3. Professor(a), para viabilizar a atividade, talvez seja melhor que os alunos elaborem uma estratégia única
para toda a turma, que deve ser dividida em pequenos grupos. Depois, os alunos devem socializar as respostas
e votar na melhor.
Este capítulo mostra a formação da classe operária em decorrência do desenvolvimento industrial, enfatizando
as péssimas condições de vida e de trabalho do proletariado. Apresenta, também, as primeiras formas de
contestação e resistência do proletariado, e o advento das teorias socialistas e comunistas, que colocavam em
cheque o modo de produção capitalista.
Na seção Vamos lá! (p. 252), o aluno encontra um texto sobre o Primeiro de Maio e é convidado a refletir sobre
quem são os trabalhadores, sua importância e o papel desempenhado por eles na sociedade atual.
Para complementar a atividade, o(a) professor(a) pode resgatar com os alunos a história do Primeiro de Maio.
A comemoração desse dia surgiu em memória aos trabalhadores da cidade de Chicago, Estados Unidos, que em
1886 foram confrontados por policiais durante uma reivindicação por melhores condições de trabalho. Nesse
episódio, muitos manifestantes foram presos e mortos pela polícia, tornando-se símbolos de luta para todos os
trabalhadores.
1. a) Os trabalhadores são aqueles que vendem sua força de trabalho em troca de um salário.
b) Eles são responsáveis pela maior parte da produção de riquezas nas sociedades atuais, além de trabalharem
em atividades de prestação de serviços. Porém, muitas vezes recebem salários baixos (que não condizem com
a riqueza que produzem direta e indiretamente) e não são valorizados socialmente.
c) Não, apesar da importância das atividades realizadas pelos trabalhadores para o bom funcionamento das
sociedades atuais, a posição social deles não é condizente com o papel desempenhado na sociedade.
2. Professor(a), procure identificar as opiniões divergentes para formar os grupos para o debate.
3. Ao final do capítulo, é interessante retomar esse registro para complementá-lo com as informações
estudadas.
Único caminho?
A atividade propõe uma reflexão sobre as teorias de Marx e Engels a respeito da conquista da sociedade
comunista por meio da revolução. É interessante que os alunos retomem suas respostas ao final do capítulo,
depois de conhecerem um pouco sobre os seguintes assuntos: anarquismo, organização dos trabalhadores
antes do advento dos sindicatos, arte engajada e a situação do sindicalismo hoje. Assim, podem rever suas
posições ou complementá-las. Orientações para as atividades:
1. Resposta pessoal. Professor(a), é importante verificar se os alunos conseguem fundamentar suas posições
com argumentos consistentes e coerentes.
2. Resposta pessoal. Como indicado acima, ao final do capítulo é importante retomar as respostas,
acrescentando mais informações a respeito do anarquismo, das formas de organização dos trabalhadores,
entre outras.
Para a atividade 1, o professor(a) pode mencionar aos alunos a afirmação do historiador Eric Hobsbawm de
que as palavras são importantes para a escrita da história e o fato de que a historicidade destas revela muito
das estruturas sociais, políticas e econômicas dos contextos nos quais foram criadas, moldadas e modificadas.
Sobre as concepções a respeito do termo trabalho, o historiador explica que elas variaram. Durante a
Antiguidade Clássica, por exemplo, predominaram as concepções negativas. Com o desenvolvimento do
capitalismo e a crescente acumulação de capitais, o trabalho passou a ser visto de maneira positiva. Nesse
contexto, poderíamos perguntar: “O trabalho é positivo para quem?”. A resposta poderia ser: “O trabalho é
plenamente positivo para aqueles que exploram essa mão de obra e acumulam lucros e conseguiram difundir
essa ideia para o restante da sociedade”. Orientações para as atividades:
1. Na cultura judaico-cristã e entre gregos e romanos da Antiguidade, o trabalho era visto como algo negativo.
Depois do desenvolvimento do capitalismo, o trabalho
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passou a ter uma conotação positiva, compondo uma das mais importantes identidades sociais. A Reforma
Protestante, principalmente a doutrina calvinista, teve papel importante para a transformação do sentido do
trabalho. Os calvinistas viam o trabalho como algo sagrado, e o ato de acumular riquezas e enriquecer era um
sinal de predestinação.
2. Com o advento das fábricas, frutos da Revolução Industrial, grande parte dos artesãos, trabalhadores
qualificados e donos de pequenos negócios foram reduzidos à condição de operários nesses estabelecimentos.
Antes donos de um saber, agora eram incorporados como força de trabalho para mover as modernas máquinas
da produção.
3. No movimento ludita, a classe operária não tinha consciência de sua condição social. Dessa forma, o
descontentamento dos operários era canalizado para a destruição das máquinas. Não havia a elaboração de
uma pauta de reivindicações ou uma conscientização em torno de interesses ou objetivos comuns. No
cartismo, já se percebe uma considerável organização dos trabalhadores, uma consciência de classe, uma
estratégia de luta e objetivos específicos, como a diminuição da jornada de trabalho. Foi um movimento de
caráter reformista que exigiu mudanças na estrutura política, com o ingresso dos trabalhadores no palco
político, defendendo o sufrágio universal masculino.
4. Podemos apontar como semelhanças entre essas três teorias: o propósito de construir uma sociedade mais
justa, mais igualitária e o questionamento da ordem vigente. As diferenças são muitas. Os socialistas utópicos
acreditavam que era possível construir esse tipo de sociedade sem uma ruptura drástica, isto é, sem uma
revolução. Já marxistas e anarquistas acreditavam que o caminho para o comunismo passava pela revolução.
Enquanto os marxistas pregavam a ditadura do proletariado como um governo transitório ao comunismo, os
anarquistas acreditavam que nenhum governo, partido, nenhuma agremiação ou instituição, colocando-se
como guia ou orientador dos indivíduos e da sociedade, conseguiria libertar os trabalhadores da opressão.
5. Entre os valores das teorias comunistas presentes na letra de “A Internacional Socialista” estão: a luta de
classes (Cortai o mal bem pelo fundo!/De pé, de pé, não mais senhores!/(...) Bem unidos façamos,/Nesta luta
final,/Uma terra sem amos/A Internacional) e o combate à propriedade privada (Sejamos nós quem
conquistemos A Terra-Mãe livre e comum!). Em relação às condições de vida da classe operária, a letra faz
menção à fome pela qual muitos trabalhadores passavam (De pé, ó vítimas da fome!/De pé, famélicos da terra!).
A tradição operária
A seção apresenta um texto do historiador E. P. Thompson. Segundo ele, a organização proletária não começou
com os sindicatos no século XIX. Orientações para as atividades:
1. O texto se refere a uma erupção de motins na Inglaterra dos anos 1800 e 1801. Esses movimentos foram
provocados pela escassez de alimentos e pela alta de preços, além de tentativas de resgate de condenados.
2. O texto comenta a existência de certa organização incipiente na realização dos motins. Vários deles foram
anunciados antecipadamente por meio de panfletos, “numa escala que demonstra uma organização de comitês
com acesso a meios gráficos”.
3. A importância está no fato de poder ampliar os focos de análise sobre o movimento operário e não reduzir a
organização dos trabalhadores ao modelo sindical. Resgata-se, assim, toda a riqueza e a diversidade da
experiência operária, além das várias dimensões da resistência dos trabalhadores ao mundo da fábrica.
Arte engajada
Caso prefira, o(a) professor(a) pode encaminhar a atividade escolhendo uma peça de Brecht, propondo aos
alunos que a analisem, identificando elementos da representação do mundo do trabalho, bem como a defesa da
causa operária. Há a possibilidade de se pensar em uma encenação, organizada como uma atividade
extraclasse. Nesse caso, é interessante fazer um trabalho em conjunto com os(as) professores(as) de literatura
e artes.
Orientações para as atividades:
1. Um site interessante para consultar sobre Bertold Brecht é o E-biografias (disponível em: <http://www.e-
biografias.net/bertolt_brecht/>, acesso em: 23 maio 2016. Sobre a peça de Brecht A ópera dos três vinténs, pode-
se consultar o site <http://enciclopedia.itaucultural.org. br/evento404597/a-opera-dos-tres-vintens>; quanto
a George Orwell, sugere-se consultar o site <http:// www.espacoacademico.com.br/026/26pol_orwell. htm>.
Acessos em: 23 maio 2016.
2. Professor(a), para deixar os seminários mais interessantes, peça aos alunos que apresentem, depois dos
dados biográficos, a análise ou o comentário sobre a obra determinada.
A fim de contribuir para a reflexão sobre o sindicalismo brasileiro nos dias de hoje, proponha a leitura da
entrevista com o professor de Ciência Política da Unicamp Armando
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1. Levante com os alunos o nome de algumas associações, antes das pesquisas. Por exemplo, identifique as
grandes centrais sindicais existentes no Brasil, como: Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical,
União Geral dos Trabalhadores (UGT), Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Central Geral dos
Trabalhadores do Brasil (CGTB), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB).
2. Todas as centrais sindicais têm sites e jornais on-line, que podem ser consultados.
3. Durante a consulta é importante levantar com os alunos as características dos jornais pesquisados, para que
sirvam de modelo para o periódico que será elaborado pela turma.
O capítulo trata do imperialismo do século XIX, produto de uma era de grande crescimento industrial e de
intensa concorrência econômica entre os países industrializados. As grandes potências saíram em busca de
matérias-primas, mercados consumidores, mão de obra barata e novos investimentos. Por causa disso, a África
e parte significativa da Ásia foram colonizadas, sendo imposto a essas regiões o conceito de civilização,
progresso e superioridade racial dos europeus. Os países da América Latina também foram atingidos nesse
processo, porém, sem serem recolonizados.
A seção Vamos lá! (p. 263) inicia o capítulo apontando os avanços nos meios de transporte e discutindo os
aspectos positivos e negativos da sociedade industrial. A atividade 1 do Elaborando hipóteses (p. 263) pede as
definições de sociedade industrial e imperialismo. A respeito da sociedade industrial, oriente os alunos para
retomarem os capítulos anteriores, sobretudo os referentes à Revolução Industrial (Capítulo 2) e à formação
da classe operária (Capítulo 19). Para formular a definição de imperialismo, o aluno pode recorrer ao título,
aos subtítulos, às imagens e às legendas deste capítulo, além dos textos sugeridos nos boxes a seguir.
As evidências históricas seguintes podem ser analisadas com o objetivo de ajudar o aluno a definir
imperialismo e identificar suas principais características.
Foi essa consciência de nossa superioridade inata que nos permitiu conquistar a Índia. Por mais educado e
inteligente que seja um nativo, por mais valente que ele se mostre e seja qual for a posição que possamos atribuir-
lhe, penso que jamais ele será igual a um oficial inglês.
Não faltará quem lhes pergunte por que gastamos nosso dinheiro no estabelecimento de um governo no México.
No estado atual da civilização, a prosperidade da América não pode ser indiferente para a Europa, porque é ela
que alimenta nossas manufaturas (fábricas) e dá vida ao comércio.
Napoleão III, imperador da França de 1852 a 1870, por ocasião da conquista de uma parte do México pelos franceses.
Eu estava ontem no East End (bairro operário de Londres) e assisti a uma reunião de desempregados. Ouvi
discursos exaltados. Era um grito só: “Pão! Pão!”. Revivendo toda a cena ao voltar à casa, senti-me ainda mais
convencido do que antes da importância do imperialismo (...). A ideia que considero mais importante é a solução
do problema social, a saber: para salvar os quarenta milhões de habitantes do Reino Unido de uma guerra civil
destruidora, nós, os colonizadores, devemos conquistar novas terras a fim de nelas instalarmos o excedente de
nossa população, de nelas encontrarmos novos mercados para os produtos de nossas fábricas e de nossas minas.
O Império, sempre repeti, é uma questão de sobrevivência. Se vós quiserdes evitar a guerra civil, cumpre que vos
torneis imperialistas.
1. a) A sociedade industrial teve início no final do século XVIII e caracterizou-se, primeiramente, pelo
antagonismo de classes, sobretudo, entre burguesia e proletariado. A burguesia era o grupo que detinha os
bens de produção, tornando-se o grupo dominante, enquanto o proletariado era o que, desprovido dos bens de
produção, vendia sua mão de obra em troca de um pagamento para seu sustento.
b) Tomando como referência as análises marxistas, o imperialismo foi o processo de acumulação capitalista
em escala mundial na fase do capitalismo monopolista. O imperialismo foi a fase superior do capitalismo, no
qual as potências capitalistas dividiram o mundo em esferas de influência culturais, políticas e econômicas.
2. Resposta pessoal. Os alunos podem levantar uma diversidade de pontos positivos e negativos. Nesta
atividade, o importante é saber o que eles consideram como pontos positivos e negativos e confrontar as
respostas para identificar divergências e convergências.
3. Resposta pessoal. A legenda dependerá dos dados levantados no quadro solicitado. O importante é que haja
coerência entre o texto e as informações do quadro.
A seção traz a análise de uma história em quadrinhos da coleção As aventuras de Tintim, do cartunista Hergé.
Além disso, com base na uma leitura crítica de Tintim no Congo, procura desvendar características do
imperialismo por meio da representação de congoleses e colonizadores. Orientações para as atividades:
Professor(a), o objetivo desta discussão é refletir sobre os critérios e os limites da censura. É importante que
os alunos sejam estimulados a pensar sobre a quem cabe o papel de decidir o que deve ou não ser publicado.
Outra questão é como o leitor deve aproximar-se de obras como Tintim no Congo. Se tiver acesso a um
exemplar da obra, mostre aos alunos a nota publicada logo acima das indicações bibliográficas da obra.
1. A grande mudança foi em relação ao aumento do domínio territorial, sobretudo no continente africano e no
asiático. A posse do território com todas as suas riquezas e povos tornou-se o grande objetivo das potências
imperialistas. Inglaterra e França, por exemplo, dedicaram-se com grande empenho a estabelecer essas
conquistas territoriais.
2. O colonialismo entre os séculos XV e XVIII estava voltado aos interesses do capitalismo comercial e
objetivava a obtenção de especiarias e metais preciosos. O Estado era o principal impulsionador e beneficiário
da atividade econômica e, com exceção da América, limitou-se a estabelecer feitorias na África e na Ásia. A sua
principal justificativa era a difusão do cristianismo. Já o imperialismo do século XIX estava voltado aos
interesses do capitalismo industrial e visava à obtenção de matérias-primas, aos mercados consumidores e à
exportação de excedentes de capitais. Suas principais justificativas eram a defesa da superioridade racial e a
ideia de progresso e civilização.
3. A disputa pelo domínio territorial e o controle da oferta de matérias-primas na África acirrou os confrontos
entre as potências imperialistas. Esse clima de tensão levou essas nações a definirem, na Conferência de
Berlim, a divisão do continente. Apesar do acordo em torno da partilha da África, houve conflitos, como no
caso da Guerra dos Bôeres, na qual ingleses e holandeses se enfrentaram no sul da África.
4. A Guerra de Secessão foi deflagrada por divergências políticas e, principalmente, econômicas entre o sul e o
norte dos Estados Unidos. Um dos principais pontos de discórdia era a questão da escravidão. Os estados do
sul defendiam a manutenção da escravidão, uma vez que sua base econômica era constituída por latifúndios
monocultores exportadores que se utilizavam da mão de obra cativa. Já os estados do norte se interessavam
pela abolição do trabalho escravo, visto que a região passava por um forte processo de industrialização que
demandava oferta de mão de obra livre e grande mercado consumidor, condições dificultadas em uma
sociedade escravista.
5. Assim como as teorias racistas dos europeus que pregavam a supremacia destes sobre os demais povos, a
doutrina do Destino Manifesto também colocava os norte-americanos como superiores. No caso europeu, o
argumento a favor da colonização era de que os povos africanos viviam em “estado de barbárie” e seria
necessário levar a eles a “civilização” e o “progresso”. Já a doutrina do Destino Manifesto pregava que os norte-
americanos deveriam impor-se aos povos considerados mais fracos. Essa era uma espécie de missão superior
que deveriam cumprir.
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Esse ideal racista justificava, por exemplo, a guerra imposta aos povos indígenas e aos mexicanos, assim como
ocorria em toda aquisição territorial.
6. a) A expansão dos norte-americanos para o oeste representou para os indígenas a expropriação de suas
terras e a redução drástica de suas populações.
b) Para os povos latino-americanos, a expansão dos Estados Unidos representou domínio político, muitas
vezes garantido com intervenções diretas, e dependência econômica.
A vitória do indivíduo
O texto apresentado na seção discute o que o autor chama de mass self communication (intercomunicação
individual). Segundo ele, vivemos um momento de explosão de novas formas de comunicação, que constituem
meios de comunicação de massa e, ao mesmo tempo, individuais. O autor afirma que os movimentos sociais, e
os indivíduos críticos de todo o mundo, lançam mão dessas novas tecnologias na área de comunicação e que
falta pouco para que comecem “a agir sobre a grande mídia, a controlar as informações, a desmenti-las e até
mesmo a produzi-las”. Assim, a tecnologia é vista como ferramenta de libertação, e não de dominação das
pessoas e dos povos. Orientações para as atividades:
1. a) Apesar da afirmação de não confiança em relação aos governos, dirigentes e partidos políticos, segundo o
texto, a maioria da população ainda acredita que pode influenciar os seus representantes.
b) A tecnologia permitiu o surgimento de novas formas de comunicação, que, de acordo com o texto,
constituem meios de comunicação de massa e individuais ao mesmo tempo (mass self communication). A
intercomunicação individual foi ampliada e acelerada, e pode vir a ser um instrumento de expressão política e
fiscalização dos poderes constituídos pelos movimentos sociais e pelos indivíduos.
2. O texto afirma que os movimentos sociais e os indivíduos de todo o mundo usam essas novas tecnologias de
comunicação como ferramentas de mobilização e organização e que falta pouco para utilizarem esses
instrumentos como forma de controle de informações, veiculadas pela grande mídia. Assim, a tecnologia é
vista como ferramenta de libertação, e não de dominação das pessoas e dos povos.
Exposições universais
1. Para subsidiar a discussão, sugira aos alunos que façam uma pesquisa sobre o tema. Na internet, há vários
sites interessantes que podem ser acessados, como os indicados a seguir (acessos em: 23 maio 2016):
• <http://www.diplomatique.org.br/acervo. php?id=186>.
• <http://www.museudeimagens.com.br/zoologicoshumanos/>.
• <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1 /anos20/CentenarioIndependencia/Exposicoes
Universais>.
2. Resposta pessoal. Essa discussão pode ser bastante enriquecida se feita em conjunto com o(a) professor(a)
de artes.
A atividade propõe um contraponto ao tema tratado no capítulo, visto que a dominação dos países pelas
grandes potências industriais muitas vezes foi realizada à custa de guerras.
LEITURA DE IMAGEM
Neste capítulo, propomos um segundo exercício de leitura de imagem baseado na obra Navio de emigrantes, de
Lasar Segall (ver seção Vamos lá!, p. 263). Seguiremos o roteiro proposto:
I. Observação da imagem
Professor(a), conforme já indicado anteriormente, nesse momento da análise os alunos devem identificar os
elementos solicitados e responder às questões propostas com base na observação e em seus conhecimentos
prévios. Por isso, é importante evitar atribuir certo ou errado às suas respostas.
1. Identifique título, autor, ano de produção, local, tipo de imagem e temática da obra iconográfica. Título:
Navio de emigrantes; autor: Lasar Segall; ano de produção: 1941; tipo de imagem: pintura a óleo; temática:
alegoria da emigração.
2. Identifique e descreva as figuras e os objetos retratados na imagem. A imagem mostra a proa de um navio
que rompe o mar. Em seu interior, há muitas pessoas distribuídas por toda a proa, misturando-se aos aparatos
do navio. A imensidão do navio contrasta com a pequenez das figuras humanas. Há pessoas que se encontram
encostadas às bordas do navio, olhando o mar, quase misturadas às bordas.
3. Existem detalhes que contribuem para expressar determinadas ideias. Que detalhes são esses e que ideias
expressam?
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Há nos rostos uma expressão de desolação, reforçada pelas cabeças que pendem aos ombros, ou que se
erguem ao céu, perdendo o olhar no infinito, ou ainda na figura que leva a mão ao rosto. A grandiosidade do
navio em comparação à pequena dimensão dos seres humanos dá a impressão de algo que foge ao controle dos
homens, que parecem conduzidos à viagem. A mistura entre pessoas e aparatos dos navios dá a sensação de
desordem e de “coisificação” das pessoas.
4. Identifique cores e materiais utilizados para a produção da imagem. As cores predominantes são tons de
verde, cinza e ocre. É uma pintura a óleo sobre tela.
5. A obra retrata uma ideia, cena ou figuras da própria época do autor ou é uma reconstituição histórica? A
obra é uma representação figurativa dos fluxos de pessoas pelo mundo, muitas vezes impulsionados por
razões contrárias ao desejo delas. Como a pintura foi feita em 1941, durante a Segunda Guerra Mundial, entre
outras referências, pode-se pensar na emigração forçada de muitas pessoas que fugiram dos horrores da
guerra e da perseguição nazista.
1. Pesquise sobre o autor e os motivos que o levaram a produzir essa obra. Quais os seus propósitos com a
obra? Quais os seus compromissos com o tema? Quais as influências sofridas por ele? Qual é o seu estilo?
e) Qual o seu significado para o autor e para a época em que foi feita?
g) Se a obra for uma reconstituição histórica, que elementos retratam mais a época de produção do que o tema
representado?
Professor(a), solicite aos alunos que anotem as referências das fontes consultadas e que utilizem as questões
propostas para orientar o registro escrito e a organização das informações pesquisadas. É possível que eles
não encontrem todos os dados solicitados. A socialização dos resultados e a sua intervenção podem solucionar
essas carências de informações.
Veja, a seguir, sugestões de sites para a pesquisa (acessos em: 23 maio 2016):
• <http://www.museusegall.org.br>.
• <http://www.itaucultural.org.br>.
• <http://www.mac.usp.br>.
Para ajudar os estudantes a organizar essas ideias, solicite que escrevam ao menos um parágrafo sobre a obra
e o autor, reunindo os pontos mais importantes para a interpretação da imagem.
Professor(a), por meio destes três momentos de análise, pretende-se estabelecer a leitura e a interpretação
das imagens, evidenciando a importância da iconografia para o trabalho do historiador. Neste exercício,
baseado na pesquisa sobre a obra e o autor, podem-se destacar o tom trágico da obra e a convicção de Lasar
Segall, “que acreditava que a obra devia ser despida de requintes estilísticos se quisesse expressar o
sofrimento humano de maneira profunda”. Pintor modernista, dispensava cores vibrantes e adotava
representações mais figurativas dos seres humanos.
Segundo Mário Pedrosa, Segall “sob muitos aspectos, nos trouxe mais do que uma pintura dita brasileira. Deu-
nos um testemunho profundo de toda uma época do drama contemporâneo. Mais do que isto ainda: sua obra
foi um solo original e tocante, com a rouca e quente sonoridade de uma flauta rústica, dentro da cacofonia
universal. Ele tinha predileção pelos tons em menor, e por isso, mesmo quando abordava os grandes temas
épicos – Navio de emigrantes, Progrom – acabava transformando-os num lamento”. (PEDROSA, Mário.
Antologia Lasar Segall. Rio de Janeiro: Funarte, 1982).
Objetivos:
- Utilizar, como procedimentos de pesquisa, recursos da leitura, escrita, observação e registro em diferentes
linguagens.
- Compreender e avaliar as permanências e rupturas no processo democrático no Brasil por meio de pesquisas,
leitura e produção de textos.
1. Para Aristóteles, o trabalho é considerado uma atividade desprezível e incompatível com as qualidades
morais, importantes para o exercício da cidadania.
2. Segundo Aristóteles, os cidadãos não devem viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios, pois esses
tipos de vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades morais; também não devem ser agricultores,
pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das qualidades morais e à prática das atividades políticas.
Atualmente, no Brasil, possuímos uma Carta Magna – a Constituição de 1988 – que define quem é cidadão.
Segundo esse documento, ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade e à igualdade perante a
lei. É também participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos. Os direitos civis e
políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, os quais garantem a participação do indivíduo
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na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho justo, à saúde, a uma velhice tranquila.
3. a) O documento lido pelo casal da charge é a Constituição de 1988. A família que lê o texto aparenta ser
bastante pobre, ou seja, está distante de todas as garantias definidas na nossa Constituição. Para eles, o texto é
bonito, mas não representa a realidade da qual fazem parte.
b) Nos primeiros anos da República, grande parte da população era excluída de participar das decisões
políticas. A Constituição daquela época determinava que mulheres e analfabetos não podiam votar. Tal
situação foi superada e hoje a Constituição do Brasil oferece, inclusive, importantes direitos para a população
brasileira. No entanto, esses direitos não são garantidos, de fato, toda a população brasileira, especialmente a
mais pobre. A charge, portanto, denuncia tal situação.
4. A proposta da atividade é incentivar o aluno a conhecer melhor o sistema político brasileiro. Nos primeiros
anos da República, a cidadania foi dada a cerca de 3% da sociedade brasileira. A Constituição excluía do
processo político a maioria dos brasileiros, já que mulheres e analfabetos compunham ¾ dos brasileiros em
idade adulta e sem direitos políticos. Deve-se considerar, ainda, toda a sistemática política organizada para
preservar o poder das oligarquias. Àquela época o voto era aberto, ou seja, cada eleitor era obrigado a declarar
publicamente seu voto. Dessa forma, muitos coroneis, donos das fazendas, podiam controlar as eleições em sua
região; eles possuíam até grupos armados (capangas ou jagunços) para impor suas vontades. Durante as
eleições esses grupos intimidavam os eleitores, para que votassem em determinados candidatos – tal situação,
como vimos, depois foi chamada de voto de cabresto. Além disso, títulos de eleitores eram falsificados para
analfabetos e menores de idade votar. Hoje a democracia brasileira se baseia na participação irrestrita da
população, sem distinção de raça, gênero ou renda. Segundo o artigo 14 da Constituição, o voto é facultativo a
analfabetos, a maiores de 70 anos e, ainda, a maiores de 16 anos que sejam menores de 18 anos. Ele é
obrigatório para cidadãos entre 18 e 65 anos, sendo necessário justificar em caso de ausência, em qualquer
seção eleitoral e no dia da eleição, sob pena de multa. A democracia brasileira é representativa, ou indireta,
pois as decisões são tomadas por representantes eleitos pelo povo para essa função. As eleições para as três
esferas de poder, tanto no âmbito do Executivo – prefeito, governador e presidente – quanto no Legislativo –
vereadores, deputados estaduais e federais e senadores –, ocorrem a cada quatro anos, em pleito direto e
secreto. Qualquer indivíduo pode se candidatar para esses cargos, mas deve ser filiado a um dos partidos
políticos do país, que recebem recursos do fundo partidário, acesso aos meios de comunicação (rádio e TV) e
direito ao horário eleitoral durante as campanhas. O processo eleitoral é organizado pela Justiça Eleitoral,
composta pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e pelos Tribunais Regionais Eleitorais (TER), sendo um em
cada estado, território ou Distrito. O Código Eleitoral estabelece as competências de cada órgão.
5. Caso considere pertinente, peça aos alunos para pesquisarem nos sites oficiais dos Tribunais Eleitorais –
federal, do seu estado e do seu município.
6. a) Basta dividir o número de votos válidos pelo número de vagas disputadas. O QE seria igual a 25.000. É
possível, ainda, pedir que os alunos calculem o QE de sua própria cidade, visto que eles já realizam a pesquisa.
b) Resposta pessoal. Os textos podem ser escritos em pequenos grupos e, depois, compartilhados entre todos
os alunos. A turma, então, pode elaborar uma versão final do texto, que – caso julguem relevante – deve ser
encaminhada aos órgãos competentes do município, estado ou país. Esse tipo de atividade é importante, pois
leva os alunos a pensarem sua realidade de modo crítico e proativo.
1. b 2. c 3. a 4. b 5. b 6. e 7. d 8. d
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