Fundaçoes 4

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ESTRUTURAS

EM CONCRETO
ARMADO

Priscila Correa
Revisão técnica:

André Luís Abitante


Engenheiro Civil
Mestre em Engenharia e Ciência dos Materiais,
ênfase em Controle de Processos

Shanna Trichês Lucchesi


Mestre em Engenharia de Produção
Professora do curso de Engenharia Civil

NOTA
As Normas ABNT são protegidas pelos direitos autorais por força da legislação
nacional e dos acordos, convenções e tratados em vigor, não podendo ser
reproduzidas no todo ou em parte sem a autorização prévia da ABNT –
Associação Brasileira de Normas Técnicas. As Normas ABNT citadas nesta
obra foram reproduzidas mediante autorização especial da ABNT.

C825e Correa, Priscila Marques.


Estruturas em concreto armado / Priscila Marques Correa ;
[revisão técnica : André Luís Abitante, Shanna Trichês
Lucchesi]. – Porto Alegre : SAGAH, 2018.
160 p. : il. ; 22,5 cm

ISBN 978-85-9502-301-7

1. Engenharia civil. 2. Concreto armado. I. Título.

CDU 624.012.45

Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB-10/2147


U N I D A D E 2
Dimensionamento
de blocos e sapatas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Identificar blocos de fundações sob efeitos de flexão, de cisalhamento


e de punção de um pilar.
„„ Diferenciar blocos de fundação para uma ou várias estacas.
„„ Resolver problemas sobre sapatas.

Introdução
Neste capítulo, vamos estudar como se dimensionam blocos de con-
creto de uma, duas e três estacas. Para isso, você deverá entender como
funciona o método de bielas e tirantes, que simula internamente, nos
elementos, os caminhos que as tensões vão percorrer.
Após compreender bem esse método, é necessário estimar os cami-
nhos e as decomposições de forças em blocos para uma, duas, três ou
mais estacas. Além disso, deve-se avaliar as alturas e distâncias mínimas
e, por fim, calcular a armadura.
No decorrer deste texto, você também vai entender como se faz o
detalhamento de sapatas armadas em concreto armado, bem como a
relação entre os lados e a armadura de arranque para pilares.

Blocos de fundação sob efeitos de flexão,


de cisalhamento e de punção de pilar
Blocos de fundação podem ser flexíveis ou rígidos. Os blocos rígidos são
dimensionados para efeitos de flexão nas duas direções, e as forças são transmi-
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tidas para as estacas por bielas de compressão. Nestes, o cisalhamento também


deve ser calculado nas duas direções e, nesse caso, não são as diagonais que
rompem por tração, e sim as bielas que rompem por compressão. Nos blocos
flexíveis, a análise deve ser mais completa, pois é preciso avaliar a punção e
os esforços nas estacas dos tirantes de tração.
Esse modelo de bielas e tirantes é recomendado para o cálculo dos blocos
considerados rígidos e consiste em uma representação de comportamentos:
a armadura é representada pelos tirantes, e o concreto comprimido é repre-
sentado pelas bielas. Nesse procedimento, deve-se estimar a dimensão das
bielas comprimidas. A utilização desse método é recomendável tanto quando
as estacas estiverem igualmente espaçadas do pilar, como quando houver
excentricidade. Pode-se ver o bloco de uma estaca na Figura 1.

Figura 1. Bloco de uma estaca.


Fonte: Bastos (2017).

A seguir, você verá como resolver problemas quando o centro da estaca


está alinhado com o centro do pilar.
Dimensionamento de blocos e sapatas 69

Em edifícios, a dimensão A do bloco deve ser A = ϕe + 2 × 10 cm ou


A = ϕe + 2 × 15 cm. A altura d do bloco deve ter entre d = ϕe e d = 1,2 ϕe.
Para dimensionar o bloco, deve-se saber que ap é a dimensão do pilar e ϕe é
a dimensão da estaca. O bloco deve ter de 10 cm a 15 cm de dimensão a mais
que a estaca, e a altura do bloco deve ser 1,0 ϕ a 1,2 ϕ. Ainda, tem-se T como
a força de tração, que é calculada de acordo com a Equação 1.

Onde:
ϕe = diâmetro da estaca;
ap = aresta do pilar.
A força de tração Td , especificada a partir da decomposição das forças,
pode ser calculada com a Equação 2. Essa força está no sentido horizontal e
representa 25% da força normal Pd.

Onde:
Td = força de tração;
Pd = força normal do pilar.
A quantidade de aço para os tirantes tracionados pode ser calculada por
meio da Equação 3.

Onde:
As = área de aço;
fyd = resistência de projeto do aço.
Para dimensionar um bloco de duas estacas, são utilizados alguns preceitos:
ap é a dimensão do pilar, ϕe é a dimensão da estaca, α é a inclinação de biela
comprimida (Figura 2).
70 Dimensionamento de blocos e sapatas

Figura 2. Distribuição das forças no bloco


de duas estacas.
Fonte: Bastos (2017).

Primeiramente, deve-se encontrar Re,max, que é máxima normal que ocorre


em cada estaca. Para isso, utiliza-se a Equação 4.

Onde:
Nk = esforço normal do pilar;
My = momento fletor na base do pilar;
e = distância entre as duas estacas.
Assim, pode-se calcular a inclinação das bielas, de acordo com a Equação 5.

Onde:
N = normal do pilar;
Rs = componente horizontal que traciona o bloco.
Isolando-se apenas uma parte do bloco, pode-se ver, na Figura 3, as bielas
e a decomposição.
Dimensionamento de blocos e sapatas 71

Figura 3. Bloco de uma estaca.


Fonte: Bastos (2017).

Utilizando-se alguns recursos da trigonometria e um pouco de álgebra, é


possível isolar o ângulo α. Dessa forma, obtém-se a Equação 6.

Onde:
e = distância entre as estacas;
ap = arestas de pilares.
A força de tração Rs pode ser calculada de acordo com a Equação 7.

A força de compressão pode ser calculada de acordo com a Equação 8.

As bielas comprimidas do concreto devem estar entre 40º ≤ α ≤ 55º, pois


dessa forma não existe o risco de ruptura por punção. Assim, pode-se isolar
72 Dimensionamento de blocos e sapatas

a Equação 6 em função dos ângulos pré-estabelecidos e estimar as alturas


dmin e dmax (Equações 9 e 10).

Deve-se ancorar a armadura de arranque dos pilares, e o bloco deve ter


a capacidade de ancorar a armadura longitudinal do pilar. Assim, deve-se
obedecer a seguinte equação:

Onde lb,ϕ,pil é o comprimento de ancoragem da armadura do pilar. A altura


do bloco deve ser h = d + d’, observando-se que d’ indica que a estaca se
encontra dentro do bloco de fundação. O valor de h deve ser o maior valor
entre 5 cm e aest, que é o lado de uma seção quadrada com a mesma área de
seção circular.

Para a verificação das bielas, deve-se verificar a seção junto ao pilar, de


acordo com a Figura 4.

Figura 4. Caminhos das bielas comprimidas.


Fonte: Bastos (2017).
Dimensionamento de blocos e sapatas 73

Onde:
Ab = área da biela comprimida;
Ae = área da estaca;
Ap = área do pilar.
Assim, pode-se fazer relações entre a área da biela, a área da estaca e a
área do pilar.
No pilar, estabelece-se a relação de acordo com a Equação 11.

Na estaca, a relação se estabelece de acordo com a Equação 12.

Onde:
Ab = área da biela comprimida;
Ae = área da estaca.
A partir de conceitos básicos da resistência dos materiais, estabelece-se
a Equação 13.

Onde:
Rcd = força na biela comprimida.
Assim, após alguns cálculos, chega-se à equação que considera a tensão
de compressão na biela relativa ao pilar: a Equação 14.

Onde:
σcd, b, pil = tensão de compressão na biela relativa ao pilar.
74 Dimensionamento de blocos e sapatas

A tensão de compressão na biela relativa à estaca está demonstrada na


Equação 15.

Onde:
σcd, b, est = força de compressão em relação à estaca.
Para verificar se a força que se desenvolve na biela comprimida está dentro
dos limites aceitáveis, deve-se utilizar a Equação 16.

Onde:
σcd, b, lim, pil = tensão resistiva no concreto.
Para calcular a armadura principal, deve-se encontrar primeiramente o Rs,
de acordo com a Equação 17.

Assim, encontra-se a área de aço As, de acordo com a Equação 18.

A armadura superior é estimada como uma parcela de 20% da armadura.


Assim, tem-se a Equação 19.

Onde:
As,sup = armadura superior.
A armadura de pele pode ser calculada de acordo com a Equação 20.
Dimensionamento de blocos e sapatas 75

Onde:

= taxa de armadura por metro.


A largura B do bloco pode ser calculada de acordo com a Equação 21.

O espaçamento dos estribos é calculado conforme a Equação 22.

O comprimento de ancoragem básico deve ser calculado de acordo com


a Equação 23.

Nos blocos de três estacas (Figura 5), supõe-se que a distribuição de forças
é similar à do bloco de duas estacas. Nesse caso, a distribuição das forças
é espacial, com distribuição de componentes que tracionam e componentes
que comprimem. Criam-se bielas da mesma forma como nos blocos com
duas estacas.

Figura 5. Bloco de três estacas.


76 Dimensionamento de blocos e sapatas

No esquema da Figura 6, as forças são divididas por 3, pelas medianas do


triângulo para cada estaca. Dessa forma, tem-se um ângulo de inclinação da
biela α de 40° a 55°.

Figura 6. Bloco de três estacas: distribuição das forças.


Fonte: Bastos (2017).

Para calcular o ângulo α das bielas, utiliza-se a Equação 24.

A componente Rs da força pode ser calculada de acordo com a Equação 25.

Já a componente de compressão da biela comprimida está apresentada na


Equação 26.

Para que as bielas estejam dentro dos valores propostos anteriormente,


deve-se ter uma altura máxima e mínima, de acordo com a Equação 27.
Dimensionamento de blocos e sapatas 77

De acordo com a Equação 28, tem-se:

A tensão que se desenvolve na biela comprimida na região do pilar está


apresentada na Equação 29.

Já a tensão que se desenvolve na estaca está apresentada na Equação 30.

Existem blocos com mais de três estacas, que não foram apresentados
neste capítulo. Contudo, seu funcionamento é similar aos blocos de uma,
duas ou três estacas.

O método de bielas e tirantes pode ser utilizado para resolver diversas estru-
turas, como blocos, vigas paredes, elementos com furos e consoles de pilares
pré-moldados.

Detalhamento de blocos de fundação


com uma ou várias estacas
O detalhamento de blocos com uma ou várias estacas deve ser realizado de
acordo com a quantidade de aço encontrada, pois as armaduras e os detalhes
construtivos são de suma importância para o desempenho ideal do bloco na
78 Dimensionamento de blocos e sapatas

função de transmissão de esforços. A Figura 7 apresenta um detalhe de uma


armadura de arranque.

Figura 7. Detalhe da armadura de


arranque dos pilares.
Fonte: Bastos (2017).

Para o detalhamento do bloco de duas estacas, deve-se observar alguns


preceitos básicos, como a localização da armadura principal, dos estribos
horizontais e das barras negativas, conforme a Figura 8.
Dimensionamento de blocos e sapatas 79

Figura 8. Detalhe da armadura do bloco de duas estacas.


Fonte: Bastos (2017).

Nos blocos de três estacas, existem diversas formas de se colocar a


armadura principal, mas uma das principais é colocar as barras paralelas
aos lados. Além disso, deve-se colocar uma armadura positiva adicional,
de acordo com a Figura 9.
80 Dimensionamento de blocos e sapatas

Figura 9. Bloco de três estacas.


Fonte: Bastos (2017).

Características das sapatas


As sapatas, como já estudado anteriormente, são fundações rasas, que mere-
cem cuidados especiais na hora de sua execução. Por exemplo, antes de sua
execução, deve-se executar um lastro de concreto como um colchão, a fim de
poder assentar a sapata, conforme a Figura 10.

Figura 10. Lastro para assentamento de sapatas.


Fonte: Alva (2007).
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O detalhamento da armadura está apresentado na Figura 11.

Figura 11. Detalhamento da armadura de sapatas.


Fonte: Alva (2007).

1. A principal função do bloco de o bloco não necessita de


fundação é absorver as forças armadura, uma vez que os
que não estão alinhadas no esforços são centralizados.
sentido da estaca. Em relação d) As componentes que devem
a isso, a resposta correta é: ser decompostas no bloco
a) Entre os diversos métodos de duas estacas são três, pois
existentes, o método de bielas deve-se considerar os efeitos
e tirantes é o mais utilizado para no eixo x, no eixo y e no eixo z.
dimensionamento dos blocos. e) Em um bloco de três estacas,
b) No método de bielas e tirantes, são três componentes para
as bielas são responsáveis pelas dimensionamento.
forças de tração, enquanto 2. A altura útil do bloco deve ser
os tirantes são responsáveis relacionada com a transmissão de
pelas forças de compressão. esforços para a fundação. Em relação
c) Quando se tem uma estaca,
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a esse caminho, a resposta correta é: não é uniforme, mas, por motivo


a) As tensões são transferidas de simplificação de cálculo,
através de caminhos e, pode-se considerar plana.
para entender como esses 4. Em relação a um bloco de duas
caminhos são percorridos, estacas, pode-se afirmar que:
existem diversos métodos, a) Na verificação das bielas, não se
como o de bielas e tirantes. utiliza coeficiente de segurança
b) Os blocos de fundações são para calcular a tensão limite.
elementos que servem para b) Na verificação da tensão atuante
descarregar a carga proveniente junto às estacas, deve-se utilizar
dos pilares para o solo. a área do pilar no cálculo.
c) As tensões nas estacas serão c) Na verificação da tensão atuante
sempre divididas igualmente, junto ao pilar, deve-se utilizar
depois de dissipadas no a área da estaca no cálculo.
bloco de fundação. d) Quando se calcula a armadura
d) Um bloco com duas estacas principal da estaca, deve-se
deverá resistir apenas a considerar a distância
esforços de compressão. entre as duas estacas.
e) Um bloco com três estacas terá e) Para a armadura complementar,
apenas esforços de tração. deve-se utilizar 50% da área
3. Existem diversos tipos de da armadura principal.
fundações superficiais, com 5. Em relação a um bloco com três
propriedades e características estacas, a resposta correta é:
específicas. Em relação a uma a) Na reação da biela
sapata, a resposta correta é: comprimida Rc, utiliza-se a
a) As sapatas são elementos normal dividida por 4.
apenas flexíveis, que suportam b) Na reação da biela
as tensões dos pilares e as comprimida Rc, utiliza-se a
descarregam no solo. normal dividida por 3.
b) As sapatas são elementos c) A componente Rs aponta para o
apenas rígidos, que suportam centro de gravidade da estaca.
as tensões dos pilares e as d) Quando se calcula a inclinação da
descarregam no solo. biela comprimida, deve-se dividir
c) Nas sapatas rígidas, a a distância das estacas por 2.
distribuição real de tensões e) Quando se calcula o
no solo é uniforme. comprimento de ancoragem
d) Nas sapatas flexíveis, a necessário lbnec, deve-se
distribuição real de tensões utilizar a relação entre a área
no solo não é uniforme. do pilar e a área da estaca.
e) A distribuição de tensões no solo
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ALVA, G. M. S. Projeto estrutural de sapatas. 2007. Disponível em: <http://coral.ufsm.br/


decc/ECC1008/Downloads/Sapatas.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2018.
BASTOS, P. S. dos S. Blocos de fundação. 2017. Disponível em: <http://wwwp.feb.unesp.
br/pbastos/concreto3/Blocos.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2018.

Leitura recomendada
PACHECO, A. Traçado de diagramas de solicitações internas. [200-?]. Disponível em:
<https://chasqueweb.ufrgs.br/~apacheco/ENG01140/NotasDeAula/ENG01140_05%20
Diagramas.pdf>. Acesso em: 11 jan. 2018.
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da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
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