Saneamento Do Processo A Decisao de Sane

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CAMILA VICTORAZZI MARTTA

SANEAMENTO DO
PROCESSO
A DECISÃO DE SANEAMENTO E SUA
FUNCIONALIDADE NO PROCESSO CIVIL
BRASILEIRO

Livro também disponível na plataforma


www.bookandwriters.com

Londrina/PR
2020
© Direitos de Publicação Editora Thoth. Londrina/PR.
www.editorathoth.com.br
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Diagramação e Capa: Editora Thoth
Revisão: os autores. Editor chefe: Bruno Fuga
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Martta, Camila Victorazzi. Saneamento do processo: a decisão de saneamento


e sua funcionalidade no processo civil brasileiro / Camila Victorazzi Martta. –
Londrina, PR: Thoth, 2020.
191 p.

Bibliografias: 171 - 184


ISBN 978-65-86300-29-1

1. Saneamento do processo. 2. Processo civil. 3. Direito. 4. Título. I. Martta,


Camila Victorazzi.

CDD 341.46

Índices para catálogo sistemático


1. Direito processual Civil 341.46

Proibida a reprodução parcial ou total desta obra sem autorização.


Todos os direitos desta edição reservardos pela Editora Thoth. A Editora Thoth não se
responsabiliza pelas opiniões emitidas nesta obra por seu autor.
SOBRE A AUTORA

CAMILA VICTORAZZI MARTTA


Mestre em Direito na área de concentração Teoria Geral da Jurisdição e
do Processo pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
– PUCRS (2019). Especialista em Direito Civil, com ênfase em Direito de
Família e Sucessões. Especialista em Direito da Economia e da Empresa
(FGV-RJ). Professora convidada nos cursos de especialização (PUCRS,
FMP, FADERGS). Diretora Executiva do Instituto Brasileiro de Direito
de Família - IBDFAM/RS. Membro do Instituto Brasileiro de Direito
Processual – IBDP. Membro da Associação dos Advogados de São Paulo
– AASP. Advogada.
Aos Advogados que militam com ética e batalham
arduamente por um processo adequado,
organizado, equilibrado e justo.
“O bem resultante da sentença padece, portanto,
do desgaste, do déficit provenientes de despesas
de obtenção e prejuízos causados pelo tempo de
não uso, ou pelo menos, não uso pacífico, por
parte de seu titular. Dessa contingência o processo,
atividade humana, não se livra. Jamais logrará
realizar justiça perfeita, isentando o resultado de um
passivo material, e também moral – pelas energias
gastas, esperanças despeitas, paixões incontidas.
Diminuir esse passivo, sem prejudicar o acerto
da decisão, será tender para o ideal de justiça”.
Galeno Lacerda
APRESENTAÇÃO

Com um sentimento mesclado de saudosismo, alegria e honra, venho


apresentar a obra intitulada Saneamento do processo - a decisão de saneamento e sua
funcionalidade no processo civil brasileiro, de autoria de Camila Victorazzi Martta, a
quem tive o privilégio de orientar em seu trabalho de dissertação no Curso de
Mestrado junto ao Programa de Pós-Graduação em Direito da PUC/RS.
Explico. Por que o saudosismo? Ao longo de uma carreira de magistratura,
dividida em termos temporais e de empenho profissional com o magistério no
Direito, sempre compreendi o momento ou fase processual do saneamento
como um de seus pontos alto, só superável pela sentença. O saneamento
do processo – à exceção por óbvio das hipóteses de extinção ou julgamento
antecipado, o que por si só implica em importante juízo de valor – exige do
magistrado – e agora, pelo Código de Processo Civil de 2015, também das
partes – uma atenção diferenciada, técnica e sensitiva. É preciso definir, com
clareza, quais e porquê os passos futuros de um processo que necessariamente
depende de dilação probatória e que para tanto tem que ser organizado. Exige
compreensão da lide posta e de seus limites. Reclama atenção para quais os
fatos efetivamente relevantes e carentes de prova para a adequada solução da
controvérsia e quais os espaços em que há de se administrar, se for o caso,
a participação das partes, em atenção à norma fundamental do processo
contemplada no art. 3º e seus parágrafos do CPC/2015: a busca de uma
solução consensual. Lamentavelmente, vi ao longo de minha vida profissional
crescer um sentimento de descaso para o saneamento do processo. E, mesmo
com o advento do novo CPC, ainda assim, um certo abandono do tema pelos
pesquisadores jurídicos. Não foi o que aconteceu na obra que ora se apresenta,
cuja pesquisa retoma a importância do saneamento e vai além, analisando-o à
luz da constitucionalização do processo.
Por que a alegria? Acompanhar, desde os primeiros passos, o
desenvolvimento da obra, com afinco, dedicação e inteligência ímpares, que
qualificaram a atuação da autora durante toda a empreitada, superando os
naturais óbices que um trabalho desta envergadura impõe, alegra o coração de
sua orientadora. Trabalho e sentimentos devem sempre andar juntos, porque
humanizam a vida.
Honra, sim, muita honra em ver os frutos que a pesquisa produziu,
hoje transformada em livro à disposição dos estudantes, dos operadores e
dos pesquisadores em Direito. A biblioteca jurídica se reforça.
Falar da autora ou de sua obra é sempre uma escolha de Sofia. Opto,
nesta oportunidade, por falar da obra, pois esta retrata também sua autora
e sua qualificação como jovem jurista.
O trabalho gira em torno de três grandes temas: no primeiro,
intitulado Origem e positivação da decisão de saneamento e organização
do processo no direito processual brasileiro, trabalha com o passado e o
presente do instituto do saneamento do processo, a partir de suas origens
históricas, com o indispensável destaque para a obra de Galeno Lacerda
que, como nenhum outro jurista, decifrou o saneamento no processo civil.
Destaca o viés que tradicionalmente inspirou o saneamento, muito mais
comprometido com superações de questões processuais e definição da fase
probatória que se impunha, para vislumbrar, nas regras do novo código o
seu comprometimento com a organização do processo.
É exatamente estas novas luzes a revisitar o instituto do saneamento
que passam a ser objeto de debate científico do segundo tema, isto é, a
ideologia do Código de Processo Civil de 2015, ajustando-o a um processo
civil constitucionalizado, do qual, por certo, o saneamento e suas novas
versões – in natura, homologado, compartilhado – não poderiam se afastar.
Por derradeiro, o terceiro e último tema, responde pelo que mais caro
é ao processo civil contemporâneo: a sua função. Jurisdição civil é agir e agir
em prol da composição dos conflitos, pacificando a vida em sociedade. No
caso, a funcionalidade da decisão saneadora e organizadora do processo,
inevitavelmente atrelada ao respeito às garantias constitucionais da duração
razoável do processo e à responsabilização do Estado pela dilação indevida
do processo como consequência da omissão de sanear e, registre-se, de
sanear adequadamente, com aderência às peculiaridades do caso concreto
sub judice. Isso porque o Estado assumiu como dever-poder seu a solução
dos conflitos, o que o torna responsável frente aos jurisdicionados pelo
produto ofertado, responsabilidade que pode e deve ser cobrada quando o
agir jurisdicional vem ao desencontro de suas ínsitas funções.
Tais temas, de difícil enfrentamento, foram tratados com linguagem
técnica, mas acessível, como manda o figurino de trabalhos científicos
autênticos, mesclando pesquisas doutrinárias de escol e jurisprudência
apropriada, navegando entre a doutrina e a prática com excelência. Trata-se,
portanto, uma obra que atende a dinâmica que a ciência do Direito se propõe:
ciência social aplicada. Os fatos da vida, transformados em fatos jurídicos
postos no processo, são apresentados com clareza frente à necessidade ou
não de saneamento, facilitando o aprendizado e a compreensão tanto dos
estudantes como dos operadores do Direito, agraciados com sua leitura.
A doutrina processual civil se enriquece com o livro que, ora, se
apresenta aos queridos leitores, razão de ser de todo trabalho científico.

Elaine Harzheim Macedo


PREFÁCIO

É sabido que o Rio Grande do Sul contribuiu com o debate para que
ao longo do século XX e alvorecer do Século XXI o processo civil brasileiro
pudesse chegar ao ponto que hoje se encontra, de buscar, incessantemente,
a busca pela tutela do direito, de forma adequada, tempestiva e eficiente.
No transcorrer de todas essas décadas, muitos foram os processualistas que,
pensando em determinada época, obraram em iluminar o caminho para o
futuro, sendo um deles o professor Galeno Lacerda.
Foi por meio de sua tese, com a qual conquistou sua cátedra, em banca
presidida por Eduardo J. Couture, sobre o despacho saneador, que seu nome
foi alçado entre os principais processualistas do Brasil como lembrou Paulo
Brossard, tendo, inclusive, em 1999, sido agraciado com o título de Doutor
Honoris Causa pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Em
seu trabalho, que orienta gerações, Galeno trabalhou com temas voltados
à organização do processo, nulidades, economia, efetividade, todos ainda
discutidos em pleno ano de 2020, e que precisavam de uma revisitação.
Para esse retorno ao tema, à obra e ao autor, os astros conspiraram
para que a sorte estivesse ao lado da ciência do processo, tendo sido feita
a pesquisa em sede de monografia jurídica, no caso uma dissertação de
mestrado, num dos melhores programas de Pós-graduação do Brasil (da
PUCRS), sob orientação de exímia processualista Profa. Elaine Harzheim
Macedo e com uma pesquisadora que, já algum tempo, vem chamando
atenção para sua forma de pensar, dialogar, escrever e lecionar, Camila
Victorazzi Martta.
Por todos esses atributos, alguns históricos, outros dogmáticos e
outros pessoais, é que me sinto mais do que honrado em escrever algumas
palavras iniciais, poucas, mas sinceras, sobre a obra Saneamento do processo - a
decisão de saneamento e sua funcionalidade no processo civil brasileiro, assim como
sua autora, que nesse momento, deixando a linguagem mais acadêmica um
pouco de lado, passo a chamar de Camila.
Camila foi mestranda exemplar em nosso Programa de Pós-graduação
stricto sensu em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul, na linha de pesquisa Teoria Geral da Jurisdição e do Processo, tendo
se dedicado, incrivelmente, ao longo dos dois anos do curso, contribuindo,
de maneira ímpar, para que o ambiente acadêmico fosse também um
alargamento de sua casa. Trouxe consigo sua simpatia, suas angústias, seu
cansaço, sua alegria e conhecimento, que a todos cativou. Trabalhou de
forma dura, com tema de alta complexidade, ainda mais o revisitado, para
dar ares de contemporaneidade ao tema alinhado ao novo processo que
estava sendo anunciado pela legislação processual de 2015. Fez tudo isso
com maestria, tendo sido aprovada por banca presidida por sua orientadora
Elaine Harzheim Macedo, e pelos professores José Tadeu Neves Xavier
(da Fundação do Ministério Público), Alessandra Mizzuta (da Ulbra-RS) e
por mim, nesse momento prefaciador, que realizei a banca como membro
interno da PUCRS.
Sobre a obra, não se furtou de enfrentar, corajosamente, uma releitura
da obra de Galeno Lacerda, demonstrando, nos dias atuais, qual é a função
do despacho saneador no modelo de processo civil constitucionalizado,
desenvolvendo sua pesquisa a partir de referências teóricas complexas e
necessárias ao desenvolvimento do que se propôs a fazer desde seu projeto
de acesso ao mestrado em Direito. Também foi cuidadosa, ao ouvir os
membros da banca de qualificação para o resultado final de seu escrito. É
uma obra que nasce da história do processo e pretende vir para ficar nessa
mesma história. Dificilmente se poderá escrever sobre despacho saneador
sem citar, concordando ou criticando, a autora nos próximos trabalhos
acadêmicos sobre o tema.
O tema é desenvolvido em três capítulos, destinando o primeiro
aos aspectos mais históricos do saneamento até a codificação de 1973,
adentrando no atual CPC/2015 no capítulo segundo para entender a
ideologia com a qual se trabalhou nessa codificação e, em especial, no
que toca ao saneamento e a organização do processo para, no capítulo
final, abordar o tema da funcionalidade da decisão de saneamento e de
organização do processo, sendo, pois, uma obra completa. No entremeio
desses três itens, outros tantos são abordados com maestria por Camila,
sendo que aqui se faz referência ao subitem destinado à indenização pela
intempestiva tutela jurisdicional pela omissão do saneamento, tema muito
caro ao prefaciador.
Assim, nunca é demais parabenizar a autora Camila, ao PPGD da
PUCRS, aos professores que estiveram na combativa banca de defesa,
à segura orientação, assim como à Editora Thoth por estar apostando
fortemente na publicação de trabalhos acadêmicos e ao Bruno Fuga por
estar à frente dessas escolhas.
Deixo de ingressar em demais temas para que os leitores possam
acessar, o quanto antes, o texto, desejando a eles uma excelente leitura.

Marco Félix Jobim


Professor Adjunto da Escola de Direito da PUCRS.
SUMÁRIO

SOBRE A AUTORA ..................................................................... 5


APRESENTAÇÃO ...................................................................... 11
PREFÁCIO ................................................................................... 15

INTRODUÇÃO ........................................................................... 21

CAPÍTULO 1
ORIGEM E POSITIVAÇÃO DA DECISÃO DE
SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO NO
DIREITO PROCESSUAL BRASILEIRO ............................. 25
1.1 Vida e obra de Galeno Lacerda e o saneamento revela-
do ................................................................................................. 26
1.2 Conceito da decisão de saneamento ................................ 30
1.3 Fontes históricas do despacho saneador .......................... 34
1.4 Do regulamento 737 de 1890 ao Código de Processo Civil
de 1939 ......................................................................................... 43
1.5 O Saneamento processual do Código de Processo Civil de
1973 .............................................................................................. 62

CAPÍTULO 2
O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015, O
SANEAMENTO E A ORGANIZAÇÃO DO
PROCESSO ................................................................................... 73
2.1 A ideologia do Código de Processo Civil de 2015 ........ 77
2.2 O saneamento em sentido estrito do artigo 352 do Código
de Processo Civil de 2015 ........................................................ 93
2.2.1 Dos pressupostos processuais no Código de Processo
Civil de 2015 ............................................................................ 101
2.2.2 Das condições da ação no Código de Processo Civil de
2015 ................................................................................................103
2.3 A decisão de saneamento e organização do artigo 357 do
Código de Processo Civil de 2015 ...............................................106
2.3.1 A decisão de saneamento in natura ...................................113
2.3.2 A decisão de saneamento homologada ..........................125
2.3.3 A decisão de saneamento compartilhada ........................136
2.4 Considerações finais parciais sobre a decisão de saneamento
e organização do processo ............................................................141

CAPÍTULO 3
A FUNCIONALIDADE DA DECISÃO DE SANEAMENTO
E A ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO CIVIL .....................147
3.1 O direito à duração razoável do processo e sua relação com a
decisão de saneamento e organização do processo ..................150
3.2 A responsabilização do Estado pela dilação indevida do
processo em razão da omissão de sanear ...................................159

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................169

REFERÊNCIAS ...............................................................................173

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA ......................................................187


INTRODUÇÃO

A pesquisa que ora se apresenta às comunidades acadêmica e


jurídica visa mostrar a importância e a função da decisão de saneamento
e organização do processo. Desde o seu surgimento, no início do século
XX, quando era denominado de “despacho saneador” até os dias atuais,
a decisão de saneamento é na realidade um instrumento processual capaz
de auxiliar não apenas as partes, mas também os juízes na otimização de
tempo para o desenvolvimento dos processos. É importante ressaltar que,
nos processos que demandam instrução probatória e, ainda, diante da
natureza dos debates, faz-se necessário que o processo esteja íntegro tanto
no aspecto formal, quanto no material. A relação processual deve estar
perfeita. A partir dessa integralidade, pode-se nortear os temas do debate,
os quais deverão ser objeto de prova. Além disso, deve declarar ainda a
quem incumbe e o tipo de prova a ser produzida. E tudo isso deve ocorrer,
preferencialmente, na decisão de saneamento.
Tem-se um elo entre a fase postulatória do processo (compreende a
petição inicial e a contestação (reconvenção, se for o caso) e a fase probatória.
De forma ampla, esses serão os temas a serem abordados em sede
de decisão de saneamento e organização do processo. Assim, busca-se
demonstrar que um processo bem saneado e organizado não desperdiça o
tempo, obedece ao direito fundamental de duração razoável do processo e
viabiliza um julgamento mais adequado, equilibrado e justo.
E para que essa organização procedimental aconteça, é primordial que
haja a colaboração e a participação de todos os sujeitos do processo. As partes
agindo em colaboração com o juiz, e este para com aquelas, possibilitam
que se evolua na chance de se ter melhor prestação jurisdicional e uma
efetiva atuação do Poder Judiciário, conforme os valores constitucionais.
Para desenvolver os propósitos acima elencados, dividiu-se dividiu o
presente trabalho em três capítulos.
O primeiro capítulo preocupou-se em fazer um resgate histórico tanto
do instituto de saneamento do processo como do jurista gaúcho Galeno
Lacerda, cuja obra “Despacho Saneador” serviu de referencial teórico para
22 SANEAMENTO DO PROCESSO
a decisão de saneamento e sua funcionalidade no processo civil brasileiro

o desenvolvimento desta pesquisa. O referido livro levou o próprio título


do instituto de processo e é um marco da doutrina processualista brasileira.
No capítulo, abordam-se um pouco da vida e da obra de Galeno
Lacerda e os ideais de processo pretendidos à época, metade do século XX.
O embasamento teórico de sua clássica doutrina foi determinante para a
compreensão do estudo da origem, surgimento e estabilização da decisão
de saneamento no processo civil. O histórico do instituto, desde o seu
nascedouro no Direito romano até o denominado despacho ordenador em
Portugal, e mais tarde o despacho saneador, em solo brasileiro, representam
passos importantes para a sua compreensão na contemporaneidade.
Nesse fio, a evolução da decisão de saneamento pelo Código de
Processo Civil de 1939 até o seu inquietante e quase completo desuso
na vigência do Código de Processo Civil de 1973, com suas constantes
alterações e reformas legislativas, também integram o primeiro capítulo,
representando um fechamento parcial da pesquisa.
O segundo capítulo aborda a ideologia do Código de Processo Civil
de 2015, o seu comprometimento com um processo constitucionalizado
e a tentativa de respostas à dúvida levantada por alguns operadores do
Direito no sentido de saber se ainda existe a decisão de saneamento no
processo civil brasileiro.
Pretende-se revelar, portanto, que com a aprovação e sanção
presidencial do novo Código de Processo Civil de 2015 viu-se que o
instituto segue firme no texto da lei, mas a dúvida permanece quando
se trata da prática forense. Será que em razão do número excessivo de
processos judiciais os juízes se empenharão para fazer o saneamento dos
processos, ou o exame dos pressupostos processuais e das condições da
ação ainda será remetido à sentença? E mais, será objeto de prova fatos que
já foram demonstrados ou sequer contestados? Ou será possível que os
sujeitos do processo se organizem e, de forma colaborativa, em conjunto
com o juiz, ou este de forma solipsista, determine o que deve ser provado
e de que forma?
Nesse passo, procura-se demonstrar que há uma fase saneadora do
processo, que une as fases postulatória e probatória, em que é possível o
exercício efetivo da colaboração processual (partes para com o juiz e este
para com aquelas) na formatação da decisão de saneamento. Por se tratar
de uma fase, o saneamento do processo poderá ocorrer em duas etapas.
A primeira etapa de cunho mandamental, de análise pormenorizada, de
exame atencioso do juiz acerca das matérias de ordem pública atinentes
aos pressupostos processuais e condições da ação. A decisão por ventura
que se exaure nessa primeira etapa traz uma visão pretérita do processo, ou
seja, desde a formação da relação processual até aquele momento.
Introdução 23

Ultrapassada essa primeira etapa da fase de saneamento, e estando o


processo hígido para seguir em frente, é preciso que se organize e se declare
como será a fase probatória. Nessa segunda etapa da fase de saneamento,
a decisão terá natureza declaratória, pois promoverá como se dará a fase
probatória do processo. Dito de outra forma, é uma decisão que olha para
o futuro da marcha processual, o que será provado, de que forma e de quem
será a incumbência dessa prova. Num nítido exercício de gerenciamento
do processo, a fim de otimizá-lo valorizando não só o devido processo
legal, como também o direito fundamental à duração razoável do processo
e demais consectários de normas fundamentais de processo.
Nessa segunda etapa da fase de saneamento, as partes poderão
atuar em conjunto com o juiz. O Código de Processo Civil autoriza que o
saneamento seja feito em gabinete ou em audiência. Se feito em audiência,
é possível que seja realizado de forma compartilhada com o auxílio das
partes, claro exemplo de exercício efetivo de colaboração processual e
procedimental.
O terceiro e último capítulo desenvolve a função da decisão de
saneamento relacionada ao direito fundamental de duração razoável do
processo e a responsabilidade do Estado pela dilação indevida do processo.
É evidente que um processo organizado e orientado tende a evitar dilações
temporárias desnecessárias, tornando-se determinante para o alcance da
norma fundamental do art. 4º do Código de Processo Civil de 2015.
Pretende-se demonstrar, ainda, sem dados empíricos, já que a
pesquisa não se propôs a isso, mas sem desprezar a vivência prática de
mais de dez anos de advocacia, a importância em termos de efetividade
processual que a decisão de saneamento pode dar ao processo. A prática
forense abalroada de processos, no mais das vezes, desvirtuados, demonstra
a real necessidade de se trabalhar num processo saneado e organizado, sob
pena de violação do devido processo legal, do direito à duração razoável do
processo e demais princípios e garantias constitucionais. Por consequência,
o próprio direito da parte.
A par disso, também se busca demonstrar que omissão judicial de
não sanear o processo, ainda mais quando requerido pelas partes, também
viola o princípio do devido processo legal, já que a atividade saneadora do
processo faz parte da prestação jurisdicional. Justiça tardia não é justiça,
como frisam as eternas palavras de Rui Barbosa. Por isso, diante de uma
dilação processual indevida, clara está a má prestação jurisdicional podendo
causar a perda do direito à parte. Logicamente que o suporte fático capaz
de ensejar a responsabilidade civil do Estado fica latente, sendo assim,
parece perfeitamente possível buscar a responsabilização estatal, com a
consequente indenização diante do prejuízo sofrido.
24 SANEAMENTO DO PROCESSO
a decisão de saneamento e sua funcionalidade no processo civil brasileiro

Por óbvio que a presente pesquisa não esgota o tema. Fez-se, ante
a necessidade de limitações, um corte epistemológico, a fim de melhor
trabalhar o próprio instituto processual do saneamento e seus reflexos
sobre a questão do tempo do processo e a responsabilidade estatal frente
à violação do princípio do devido processo legal ocasionado pela má
prestação jurisdicional.
Acredita-se piamente que a decisão de saneamento é um forte
instituto capaz de auxiliar os advogados, juízes e todos que militam na
prática forense a terem seus processos menos emperrados e mais efetivos.
Todavia, ele precisa ser utilizado. Tem-se em mente que tudo na vida que é
organizado tende a poupar tempo e ser mais eficiente. No entanto, e com o
processo? Por certo, acredita-se que acontecerá o mesmo.
CAPÍTULO 1

Origem e positivação da
decisão de saneamento e
organização do processo1 no
direito processual brasileiro

O procedimento comum do Código de Processo Civil de 2015 é


dividido em fases. Da petição inicial até o trânsito em julgado da sentença, é
preciso passar por todas elas, sob pena de violar-se o devido processo legal,
o que poderia ocasionar uma nulidade processual, em face da desobediência
ao princípio constitucional processual integrante da dogmática processual
civil brasileira.
A fase postulatória caracteriza-se, como o próprio nome já revela,
uma fase petitória, em que as partes pedem e contestam o bem da vida
violado. Eventualmente, ainda em sede postulatória, é possível a existência
de uma reconvenção, formulada pelo réu, na própria contestação, situação
que dará ensejo ao autor de contestar o referido pedido.
Há debates processuais que são embasados puramente no
descumprimento da lei. Diz-se, portanto, que são debates de direito, de
aplicação ou não do direito postulado. Nessas situações, normalmente não
se tem instrução probatória porque não há fatos a serem retratados. O
debate se restringe em saber se o Direito deve ou não ser aplicado ao caso
concreto. Nessas situações, via de regra, ocorre a extinção prematura do
processo, pois o juiz julgará antecipadamente o mérito, nos moldes do que
dispõe o artigo 355 do Código de Processo Civil de 2015.
Naqueles processos que demandam instrução probatória, porque
envolvem questões fáticas além de apenas a aplicação do Direito, surge a
necessidade de se organizar o que deve ser provado (quais fatos), o ônus da

1. Considerando que o Código de Processo Civil de 2015 denominou o antigo “Despacho


Saneador” de Decisão de Saneamento, em alguns pontos do presente trabalho estará expresso
o termo antigo, a fim de melhor espelhar a realidade da época, mas a ideia central desta
pesquisa está fundada na decisão de saneamento atualmente em vigência.
26 SANEAMENTO DO PROCESSO
a decisão de saneamento e sua funcionalidade no processo civil brasileiro

prova de cada parte, ocasionalmente se for o caso de inversão desse ônus,


o tipo de prova que se pretende utilizar para provar determinado fato ou
ato e, assim, toda a matéria envolvendo a fase instrutória do processo deve
ser observada na fase de saneamento, objeto da presente pesquisa. Por isso
a sua importância e necessidade de ocorrência no processo. É a partir da
decisão de saneamento que a fase instrutória irá se desenvolver.
A fase instrutória do processo comum é o momento em que as partes
demonstram, por meio das provas lícitas constitucionalmente permitidas,
a verdade possível de seus argumentos e contra-argumentos. É com base
no resultado da prova produzida no processo que o juiz terá argumentos e
fundamentos para motivar sua decisão final que encerrará o processo, pelo
menos no primeiro grau de jurisdição.
A sentença judicial é a decisão que julga o mérito do processo.
Caracteriza, portanto, a fase decisória do processo civil. Nesse passo, resta
evidente que, para se ter uma sentença adequada, equilibrada, justa e eficaz,
fica demonstrada a real importância de se organizar o processo, que muitas
vezes, na ânsia dos pedidos iniciais, acaba por não identificar quais os fatos
realmente deveriam ter sido provados e quais independiam de provas, por
exemplo. Nota-se, portanto, que a decisão de saneamento é muito importante
no processo civil, pois ela vai expurgar o que já está demonstrado e indicar
o que ainda precisa ser provado, enxugando e direcionando o processo de
forma reta à fase instrutória e dando a chance de se ter uma sentença mais
justa e adequada.
Quando realizada, ao longo deste estudo, a decisão de saneamento
e organização no Código de Processo Civil de 2015, encontra-se, como
referencial teórico, a obra de Galeno Lacerda. Dessa maneira, constatou-se
que, antes de prosseguir com a pesquisa aqui intencionada, faz-se necessário
aludir à vida de Galeno Lacerda, com vista a situar o leitor sobre as suas
contribuições para a ciência do Processo Civil.

1.1 VIDA E OBRA DE GALENO LACERDA E O SANEAMENTO


REVELADO

Ao pesquisar a decisão de saneamento e organização do processo no


Código de Processo Civil de 2015, tendo como referencial teórico a obra
de Galeno Lacerda, torna-se mais que necessária a alusão a sua vida e obra
como uma forma de situar o leitor acerca das suas obras e contribuições
para a ciência do Processo Civil.
Dizia ele que, para atingir a “solução da lide (os fins do processo),
devia-se obedecer a um modus faciendi, um método de ação das partes,
Origem e positivação da decisão de saneamento e organização do processo 27
no direito processual brasileiro

terceiros e juiz, a terminar na sentença, que é norma de conduta às partes


desavindas”2.
Afirmava ainda Galeno Lacerda que “o processo implica ritos
e formas exteriores (...) e o juiz é o representante do grupo social, que
imprimirá naturalmente na sentença o mandamento da vontade geral, que
é a lei”3.
Pode-se observar que, para Galeno Lacerda, o processo era, em
amplo sentido, instrumento de definição e realização do Direito, assumido
pela autoridade do Estado4. Era o juiz, aliado a total instrumentalidade,
quem geria o processo.
Nesse sentido, o instrumentalista Galeno Lacerda não chegou a
fazer uma escola de processo5 no Rio Grande do Sul, teve apenas alguns
seguidores, a exemplo de Adroaldo Furtado Fabrício e, momentaneamente,
Carlos Alberto Alvaro de Oliveira, que até defender seu doutorado em SP
seguia a corrente instrumental e formalista.
Foi com a obra Despacho Saneador que Galeno Lacerda, aos trinta
e dois anos de idade, conquistou a cátedra de Processo Civil na então
Faculdade de Direito de Porto Alegre, que mais tarde se transformou na
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Naquela época não havia
cursos de pós-graduação, mestrado ou doutorado. Mas se fazia a banca de
cátedra, a fim de se obter o título de Professor Catedrático de determinada
disciplina.
Assim, a banca de cátedra de Galeno Lacerda foi presidida por
Eduardo J. Couture, cujo brilho consagrou Galeno Lacerda como um dos
juristas mais importantes do Brasil à época. Trabalhou questões relativas às
nulidades do processo, efetividade do processo, economia processual, temas
que mais tarde ingressaram no texto do Código de Processo Civil de 1973,
positivação que enriqueceu a construção de um processo civil moderno.
Da leitura de suas obras, resta evidente seu apego à instrumentalidade
do processo civil, pois defendia que por meio do processo se realizava o
direito material e, por conseguinte, alcançava-se a paz social. Dedicou-se ao

2. LACERDA, Galeno Vellinho de. Teoria Geral do Processo. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p.
3.
3. LACERDA, Galeno Vellinho de. Teoria Geral do Processo. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 4.
4. LACERDA, Galeno Vellinho de. O Código como Sistema Legal de Adequação do Processo.
In: FABRÍCIO, Adroaldo Furtado; CARNEIRO, Paulo César Pinheiro et al. (coord). Meios de
Impugnação ao Julgado Civil. Estudos em homenagem a José Carlos Barbosa Moreira. 2. ed. Rio
de Janeiro, 2008. p. 251.
5. A noção de Escola no sentido de formação e fortalecimento de uma unidade de pensamento.
JOBIM, Marco Félix. Cultura, Escolas e Fases Metodológicas do Processo. 4. ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2018. p. 82.
28 SANEAMENTO DO PROCESSO
a decisão de saneamento e sua funcionalidade no processo civil brasileiro

estudo da teoria eclética da ação, sendo que naquela época já sustentava que
a legitimação e a possibilidade jurídica não eram meras condições da ação.
Importante destacar que Galeno Lacerda escreveu inúmeros trabalhos:
Pareceres (Porto Alegre, 1952) obra que mostra sua visão publicista do
processo; um ensaio com o título de Uma Teoria Eclética da Ação6; Remédios
Processuais da Administração e Contra a Administração7; Processo e Cultura8, sempre
sustentando que o processo é meio de realização do Direito.
Seguindo com o tema da instrumentalidade do processo, no artigo
O código como sistema de adequação legal do Processo9 com enfoque objetivo,
subjetivo e teleológico, ele assim se posiciona:
O código representa, na verdade, o sistema legal de
adequação do processo, como instrumento, aos sujeitos
que o acionam, ao objeto sobre o qual atua, e ao fim da
respectiva função judiciária, polarizado sempre para a
declaração e realização do direito em concreto.
Com sua obra, contribuiu ainda com o artigo Mandado e Sentenças
Liminares10, na Revista da Faculdade de Direito de Porto Alegre, 1972;
Revista Forense e Arquivos do Ministério da Justiça.
Como retratado por Carlos Alberto Alvaro de Oliveira11, Galeno
Lacerda sempre oportunizou em suas obras o aspecto histórico dos
institutos, o que reaparece no texto Apelação no Processo Penal Brasileiro, das
Interlocutórias que causam dano irreparável12, Revista do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, 1968.
A Revista da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul também
publicou importantes artigos da lavra de Galeno Lacerda, por exemplo,
A Correção Monetária e Discrição dos Tribunais13, 1975; A Ação Rescisória e

6. LACERDA, Galeno Vellinho de. Ensaio de Uma Teoria Eclética da Ação. Revista da Faculdade
de Direito de Porto Alegre, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 89-94, 1958.
7. LACERDA, Galeno Vellinho de. Remédios Processuais da Administração e Contra a
Administração. Revista de Direito Processual Civil, São Paulo, v. 2, p. 21-34, 1960.
8. LACERDA, Galeno Vellinho de. Processo e Cultura. Revista de Direito Processual Civil, São
Paulo, v. 3, p. 74-86, 1962.
9. LACERDA, Galeno Vellinho de. O código como sistema de adequação legal do Processo.
Revista do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, p. 161-170, 1976.
10. LACERDA, Galeno Vellinho de. Mandado e Sentenças Liminares. Revista da Faculdade de Direito
de Porto Alegre, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 77-96, 1972.
11. OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de (org.). O Saneamento do Processo Estudos em Homenagem ao
Prof. Galeno Lacerda. Porto Alegre: Fabris, 1989. p. 7-13.
12. LACERDA, Galeno Vellinho de. Apelação no Processo Penal Brasileiro, das Interlocutórias
que causam dano irreparável. Revista do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v.
9, p. 9-18, 1968.
13. LACERDA, Galeno Vellinho de. A Correção Monetária e Discrição dos Tribunais. Revista da
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 4, p. 57-102, 1975.
Origem e positivação da decisão de saneamento e organização do processo 29
no direito processual brasileiro

Homologação de Transação14, 1978; Couture, o Rio Grande e a ética profissional15,


1981; Execução de Título Extrajudicial e Segurança do Juízo16, 1981; Dos Juizados
de Pequenas Causas17, 1983.
Em conferência proferida em julho de 1983, em Porto Alegre, Galeno
Lacerda falou sobre O Código e o Formalismo Processual18, no Congresso
Brasileiro de Direito Processual Civil.
Mais adiante, em 1988, escreveu sobre a Ação Civil Pública e o Meio
Ambiente19, tema que também foi objeto de palestra proferida no Seminário
Internacional de Direito Ambiental, realizado em São Paulo, no mês de
maio daquele ano.
Na vigência do Código de Processo Civil de 1973, lançou a obra O
Novo Direito Processual Civil e os Feitos Pendentes20, pela editora Forense, em
1974, ocasião em que trabalhou as questões polêmicas do direito transitório
processual21. Também se ocupou de comentar os artigos 796 a 812, contidos
no Volume VIII, tomo I dos Comentários ao Código de Processo Civil22, da
editora Forense, em 1980.
A maturidade foi coroada com a obra Teoria Geral do Processo23 e,
ainda, com os Comentários ao Código de Processo Civil24, Vol. VIII, Tomo
II, no qual se debruçou sobre os artigos 813 a 899 do CPC de 1973, em
1988.
Ou seja, não restam dúvidas de quão magnífica foi a contribuição
de Galeno Lacerda ao Processo Civil, que também se ocupou de não
apenas ensinar o Processo Civil, mas de “inspirar o verdadeiro gosto pela
14. LACERDA, Galeno Vellinho de. A Ação Rescisória e Homologação de Transação. Revista da
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 14, p. 29-43, 1978.
15. LACERDA, Galeno Vellinho de. Couture, o Rio Grande e a ética profissional. Revista da
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 22, p. 117-120, 1981.
16. LACERDA, Galeno Vellinho de. Execução de Título Extrajudicial e Segurança do Juízo.
Revista da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 23, p. 7-15, 1981.
17. LACERDA, Galeno Vellinho de. Dos Juizados de Pequenas Causas. Revista da Associação dos
Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 27, p. 7-10, 1983.
18. LACERDA, Galeno Vellinho de. O código e formalismo processual. Revista da Associação dos
Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 10, n. 28, p. 7-14, 1983.
19. LACERDA, Galeno Vellinho de. Ação Civil Pública e o Meio Ambiente. Revista da Associação
dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 15, n. 43, p. 7-17, 1988.
20. LACERDA, Galeno Vellinho de. O Novo Direito Processual Civil e os Feitos Pendentes. Rio de
Janeiro: Forense, 1974.
21. OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de (org.). O Saneamento do Processo Estudos em Homenagem ao
Prof. Galeno Lacerda. Porto Alegre: Fabris, 1989. p. 7-13
22. LACERDA, Galeno Vellinho de. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 796 a 812 do Código
de Processo Civil. t. 1, v. 8. Rio de Janeiro: Forense, 1980.
23. LACERDA, Galeno Vellinho de. Teoria Geral do Processo. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
24. LACERDA, Galeno Vellinho de. Comentários ao Código de Processo Civil: arts. 813 a 899 do Código
de Processo Civil de 1973. t. 2, v. 8. Rio de Janeiro: Forense, 1988.
30 SANEAMENTO DO PROCESSO
a decisão de saneamento e sua funcionalidade no processo civil brasileiro

investigação científica, incutir honestidade intelectual, estimular ideias


originais.”25
Nesse sentido, a prova é que, mesmo em 2018, o tema atinente à
decisão de saneamento do processo ainda é de alta importância na ciência
do Processo Civil, e os ensinamentos de Galeno Lacerda seguem sendo
referencial teórico às novas pesquisas, especialmente a que ora se apresenta,
o que será enfrentado na sequência deste trabalho.

1.2 CONCEITO DA DECISÃO DE SANEAMENTO

“O processo sempre implicará ônus às partes”. Assim, Galeno


Lacerda inicia sua obra sobre o Despacho Saneador, em outras palavras,
ninguém ingressa em juízo por mero deleite. Logo, o processo não deveria
ser mais um martírio às partes. Dessa maneira, se o autor não provar suas
alegações, corre o risco de nunca obter o bem da vida pretendido, o que,
também, poderá ocorrer ao réu caso este deixe de exercer a sua defesa
dentro do processo. Notadamente se pode depreender que Processo Civil
não é uma aventura, é um serviço estatal e jurisdicional que demanda, na
maioria das vezes, questões de vida do próprio jurisdicionado. É preciso,
portanto, buscar sempre o melhor na prestação jurisdicional, refletindo-se
no processo.
A atividade jurisdicional sempre irá trabalhar com uma pretensão
resistida em um determinado período de tempo a partir de custo econômico-
financeiro, atrelado a expectativas, ansiedades e prejuízos. Parafraseando
Galeno Lacerda26, “jamais logrará realizar justiça perfeita, isentando o
resultado de um passivo, material, e também moral – pelas energias gastas,
esperanças desfeitas, paixões incontidas”.
Dito de outra forma, não basta os advogados, juízes, promotores de
justiça e as partes buscarem soluções mágicas no processo, por exemplo
diminuir fases, pular etapas processuais, restringir recursos, impor a
obrigatoriedade dos precedentes, entre outras tantas medidas, é preciso que
todos os sujeitos do processo tomem seus lugares e, assim, desincumbam-
se de suas obrigações processuais, a fim de se obter um resultado mais
eficiente e eficaz – a aplicação do Direito ao caso concreto.
Nesse sentido, Galeno Lacerda ascende ainda mais a sede de justiça
ao ensinar que:
A função da economia no processo transcende, assim
a mera preocupação individualista de poupar trabalho a

25. OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de (org.). O Saneamento do Processo Estudos em Homenagem ao
Prof. Galeno Lacerda. Porto Alegre: Fabris, 1989. p. 7-13.
26. LACERDA, Galeno. Despacho Saneador. 3. ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1990. p. 5.

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