Saneamento Do Processo A Decisao de Sane
Saneamento Do Processo A Decisao de Sane
Saneamento Do Processo A Decisao de Sane
SANEAMENTO DO
PROCESSO
A DECISÃO DE SANEAMENTO E SUA
FUNCIONALIDADE NO PROCESSO CIVIL
BRASILEIRO
Londrina/PR
2020
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CDD 341.46
É sabido que o Rio Grande do Sul contribuiu com o debate para que
ao longo do século XX e alvorecer do Século XXI o processo civil brasileiro
pudesse chegar ao ponto que hoje se encontra, de buscar, incessantemente,
a busca pela tutela do direito, de forma adequada, tempestiva e eficiente.
No transcorrer de todas essas décadas, muitos foram os processualistas que,
pensando em determinada época, obraram em iluminar o caminho para o
futuro, sendo um deles o professor Galeno Lacerda.
Foi por meio de sua tese, com a qual conquistou sua cátedra, em banca
presidida por Eduardo J. Couture, sobre o despacho saneador, que seu nome
foi alçado entre os principais processualistas do Brasil como lembrou Paulo
Brossard, tendo, inclusive, em 1999, sido agraciado com o título de Doutor
Honoris Causa pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra. Em
seu trabalho, que orienta gerações, Galeno trabalhou com temas voltados
à organização do processo, nulidades, economia, efetividade, todos ainda
discutidos em pleno ano de 2020, e que precisavam de uma revisitação.
Para esse retorno ao tema, à obra e ao autor, os astros conspiraram
para que a sorte estivesse ao lado da ciência do processo, tendo sido feita
a pesquisa em sede de monografia jurídica, no caso uma dissertação de
mestrado, num dos melhores programas de Pós-graduação do Brasil (da
PUCRS), sob orientação de exímia processualista Profa. Elaine Harzheim
Macedo e com uma pesquisadora que, já algum tempo, vem chamando
atenção para sua forma de pensar, dialogar, escrever e lecionar, Camila
Victorazzi Martta.
Por todos esses atributos, alguns históricos, outros dogmáticos e
outros pessoais, é que me sinto mais do que honrado em escrever algumas
palavras iniciais, poucas, mas sinceras, sobre a obra Saneamento do processo - a
decisão de saneamento e sua funcionalidade no processo civil brasileiro, assim como
sua autora, que nesse momento, deixando a linguagem mais acadêmica um
pouco de lado, passo a chamar de Camila.
Camila foi mestranda exemplar em nosso Programa de Pós-graduação
stricto sensu em Direito da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul, na linha de pesquisa Teoria Geral da Jurisdição e do Processo, tendo
se dedicado, incrivelmente, ao longo dos dois anos do curso, contribuindo,
de maneira ímpar, para que o ambiente acadêmico fosse também um
alargamento de sua casa. Trouxe consigo sua simpatia, suas angústias, seu
cansaço, sua alegria e conhecimento, que a todos cativou. Trabalhou de
forma dura, com tema de alta complexidade, ainda mais o revisitado, para
dar ares de contemporaneidade ao tema alinhado ao novo processo que
estava sendo anunciado pela legislação processual de 2015. Fez tudo isso
com maestria, tendo sido aprovada por banca presidida por sua orientadora
Elaine Harzheim Macedo, e pelos professores José Tadeu Neves Xavier
(da Fundação do Ministério Público), Alessandra Mizzuta (da Ulbra-RS) e
por mim, nesse momento prefaciador, que realizei a banca como membro
interno da PUCRS.
Sobre a obra, não se furtou de enfrentar, corajosamente, uma releitura
da obra de Galeno Lacerda, demonstrando, nos dias atuais, qual é a função
do despacho saneador no modelo de processo civil constitucionalizado,
desenvolvendo sua pesquisa a partir de referências teóricas complexas e
necessárias ao desenvolvimento do que se propôs a fazer desde seu projeto
de acesso ao mestrado em Direito. Também foi cuidadosa, ao ouvir os
membros da banca de qualificação para o resultado final de seu escrito. É
uma obra que nasce da história do processo e pretende vir para ficar nessa
mesma história. Dificilmente se poderá escrever sobre despacho saneador
sem citar, concordando ou criticando, a autora nos próximos trabalhos
acadêmicos sobre o tema.
O tema é desenvolvido em três capítulos, destinando o primeiro
aos aspectos mais históricos do saneamento até a codificação de 1973,
adentrando no atual CPC/2015 no capítulo segundo para entender a
ideologia com a qual se trabalhou nessa codificação e, em especial, no
que toca ao saneamento e a organização do processo para, no capítulo
final, abordar o tema da funcionalidade da decisão de saneamento e de
organização do processo, sendo, pois, uma obra completa. No entremeio
desses três itens, outros tantos são abordados com maestria por Camila,
sendo que aqui se faz referência ao subitem destinado à indenização pela
intempestiva tutela jurisdicional pela omissão do saneamento, tema muito
caro ao prefaciador.
Assim, nunca é demais parabenizar a autora Camila, ao PPGD da
PUCRS, aos professores que estiveram na combativa banca de defesa,
à segura orientação, assim como à Editora Thoth por estar apostando
fortemente na publicação de trabalhos acadêmicos e ao Bruno Fuga por
estar à frente dessas escolhas.
Deixo de ingressar em demais temas para que os leitores possam
acessar, o quanto antes, o texto, desejando a eles uma excelente leitura.
INTRODUÇÃO ........................................................................... 21
CAPÍTULO 1
ORIGEM E POSITIVAÇÃO DA DECISÃO DE
SANEAMENTO E ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO NO
DIREITO PROCESSUAL BRASILEIRO ............................. 25
1.1 Vida e obra de Galeno Lacerda e o saneamento revela-
do ................................................................................................. 26
1.2 Conceito da decisão de saneamento ................................ 30
1.3 Fontes históricas do despacho saneador .......................... 34
1.4 Do regulamento 737 de 1890 ao Código de Processo Civil
de 1939 ......................................................................................... 43
1.5 O Saneamento processual do Código de Processo Civil de
1973 .............................................................................................. 62
CAPÍTULO 2
O CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015, O
SANEAMENTO E A ORGANIZAÇÃO DO
PROCESSO ................................................................................... 73
2.1 A ideologia do Código de Processo Civil de 2015 ........ 77
2.2 O saneamento em sentido estrito do artigo 352 do Código
de Processo Civil de 2015 ........................................................ 93
2.2.1 Dos pressupostos processuais no Código de Processo
Civil de 2015 ............................................................................ 101
2.2.2 Das condições da ação no Código de Processo Civil de
2015 ................................................................................................103
2.3 A decisão de saneamento e organização do artigo 357 do
Código de Processo Civil de 2015 ...............................................106
2.3.1 A decisão de saneamento in natura ...................................113
2.3.2 A decisão de saneamento homologada ..........................125
2.3.3 A decisão de saneamento compartilhada ........................136
2.4 Considerações finais parciais sobre a decisão de saneamento
e organização do processo ............................................................141
CAPÍTULO 3
A FUNCIONALIDADE DA DECISÃO DE SANEAMENTO
E A ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO CIVIL .....................147
3.1 O direito à duração razoável do processo e sua relação com a
decisão de saneamento e organização do processo ..................150
3.2 A responsabilização do Estado pela dilação indevida do
processo em razão da omissão de sanear ...................................159
REFERÊNCIAS ...............................................................................173
Por óbvio que a presente pesquisa não esgota o tema. Fez-se, ante
a necessidade de limitações, um corte epistemológico, a fim de melhor
trabalhar o próprio instituto processual do saneamento e seus reflexos
sobre a questão do tempo do processo e a responsabilidade estatal frente
à violação do princípio do devido processo legal ocasionado pela má
prestação jurisdicional.
Acredita-se piamente que a decisão de saneamento é um forte
instituto capaz de auxiliar os advogados, juízes e todos que militam na
prática forense a terem seus processos menos emperrados e mais efetivos.
Todavia, ele precisa ser utilizado. Tem-se em mente que tudo na vida que é
organizado tende a poupar tempo e ser mais eficiente. No entanto, e com o
processo? Por certo, acredita-se que acontecerá o mesmo.
CAPÍTULO 1
Origem e positivação da
decisão de saneamento e
organização do processo1 no
direito processual brasileiro
2. LACERDA, Galeno Vellinho de. Teoria Geral do Processo. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p.
3.
3. LACERDA, Galeno Vellinho de. Teoria Geral do Processo. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 4.
4. LACERDA, Galeno Vellinho de. O Código como Sistema Legal de Adequação do Processo.
In: FABRÍCIO, Adroaldo Furtado; CARNEIRO, Paulo César Pinheiro et al. (coord). Meios de
Impugnação ao Julgado Civil. Estudos em homenagem a José Carlos Barbosa Moreira. 2. ed. Rio
de Janeiro, 2008. p. 251.
5. A noção de Escola no sentido de formação e fortalecimento de uma unidade de pensamento.
JOBIM, Marco Félix. Cultura, Escolas e Fases Metodológicas do Processo. 4. ed. Porto Alegre: Livraria
do Advogado, 2018. p. 82.
28 SANEAMENTO DO PROCESSO
a decisão de saneamento e sua funcionalidade no processo civil brasileiro
estudo da teoria eclética da ação, sendo que naquela época já sustentava que
a legitimação e a possibilidade jurídica não eram meras condições da ação.
Importante destacar que Galeno Lacerda escreveu inúmeros trabalhos:
Pareceres (Porto Alegre, 1952) obra que mostra sua visão publicista do
processo; um ensaio com o título de Uma Teoria Eclética da Ação6; Remédios
Processuais da Administração e Contra a Administração7; Processo e Cultura8, sempre
sustentando que o processo é meio de realização do Direito.
Seguindo com o tema da instrumentalidade do processo, no artigo
O código como sistema de adequação legal do Processo9 com enfoque objetivo,
subjetivo e teleológico, ele assim se posiciona:
O código representa, na verdade, o sistema legal de
adequação do processo, como instrumento, aos sujeitos
que o acionam, ao objeto sobre o qual atua, e ao fim da
respectiva função judiciária, polarizado sempre para a
declaração e realização do direito em concreto.
Com sua obra, contribuiu ainda com o artigo Mandado e Sentenças
Liminares10, na Revista da Faculdade de Direito de Porto Alegre, 1972;
Revista Forense e Arquivos do Ministério da Justiça.
Como retratado por Carlos Alberto Alvaro de Oliveira11, Galeno
Lacerda sempre oportunizou em suas obras o aspecto histórico dos
institutos, o que reaparece no texto Apelação no Processo Penal Brasileiro, das
Interlocutórias que causam dano irreparável12, Revista do Tribunal de Justiça do
Rio Grande do Sul, 1968.
A Revista da Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul também
publicou importantes artigos da lavra de Galeno Lacerda, por exemplo,
A Correção Monetária e Discrição dos Tribunais13, 1975; A Ação Rescisória e
6. LACERDA, Galeno Vellinho de. Ensaio de Uma Teoria Eclética da Ação. Revista da Faculdade
de Direito de Porto Alegre, Porto Alegre, v. 4, n. 1, p. 89-94, 1958.
7. LACERDA, Galeno Vellinho de. Remédios Processuais da Administração e Contra a
Administração. Revista de Direito Processual Civil, São Paulo, v. 2, p. 21-34, 1960.
8. LACERDA, Galeno Vellinho de. Processo e Cultura. Revista de Direito Processual Civil, São
Paulo, v. 3, p. 74-86, 1962.
9. LACERDA, Galeno Vellinho de. O código como sistema de adequação legal do Processo.
Revista do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, p. 161-170, 1976.
10. LACERDA, Galeno Vellinho de. Mandado e Sentenças Liminares. Revista da Faculdade de Direito
de Porto Alegre, Porto Alegre, v. 6, n. 1, p. 77-96, 1972.
11. OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de (org.). O Saneamento do Processo Estudos em Homenagem ao
Prof. Galeno Lacerda. Porto Alegre: Fabris, 1989. p. 7-13.
12. LACERDA, Galeno Vellinho de. Apelação no Processo Penal Brasileiro, das Interlocutórias
que causam dano irreparável. Revista do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v.
9, p. 9-18, 1968.
13. LACERDA, Galeno Vellinho de. A Correção Monetária e Discrição dos Tribunais. Revista da
Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, v. 4, p. 57-102, 1975.
Origem e positivação da decisão de saneamento e organização do processo 29
no direito processual brasileiro
25. OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de (org.). O Saneamento do Processo Estudos em Homenagem ao
Prof. Galeno Lacerda. Porto Alegre: Fabris, 1989. p. 7-13.
26. LACERDA, Galeno. Despacho Saneador. 3. ed. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 1990. p. 5.