Conselhos Evangelicos 1
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Formação Permanente
2018 Jovens, fé, vocação
8. Conselhos evangélicos.
Um fascínio e desafio para a juventude
2018
CONSELHOS EVANGÉLICOS.
UM FASCÍNIO E DESAFIO PARA A JUVENTUDE
CARTA AO LEITOR
Caro leitor, a paz!
Antes de qualquer explanação ou construção de hipótese, como promotores
vocacionais, a partir da experiência do encontro com os jovens e com os nossos
religiosos, devemos afirmar fortemente que “Deus é fiel e segue chamando a muitos
para o seguimento de Jesus Cristo”. Se olharmos para nossos seminários e vemos
um grande vazio é porque há alguma lacuna entre nós e os jovens que deve ser
preenchida. O seguimento vivido pela prática dos conselhos evangélicos continua
sendo um fascínio formidável, transfigurador e apaixonante para os que se colocam
em atitude de escuta, mas também é um desafio, já que vivemos numa sociedade
onde tudo é muito rápido, descartável, relativo e insustentável.
Tenhamos muito claro que quando falamos de juventude devemos entender que
são muitas as realidades que a compõem. Daí que, se queremos criar e manter um
diálogo, é preciso entender que são muitas expressões que formam essa etapa da
vida. Por isso é importante compreendermos que quando falamos de juventude,
devemos entender por juventudes que possuem características próprias e que
definem cada grupo, tribo, geração. Mas algo é comum a todos os jovens de ontem
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e de hoje: o fascínio por aquilo que foge de uma sociedade individualista, barulhenta
e presa aos ditames do consumismo. A interioridade e a vida em comum é o que os
jovens querem. A interioridade e a vida em comum é o que temos, a partir de nossa
identidade carismática, para oferecer.
NOVOS PARADIGMAS
O terceiro milênio é marcado por suas diversas mudanças assim como pela
sobrecarga de informações às quais estamos expostos e muitas vezes estamos
impossibilitados de acompanhar. Devido à rapidez com que as mudanças
acontecem e se impõem na sociedade vemos surgir novos paradigmas na forma de
ser e estar das pessoas, sobretudo dos jovens que estão em nossos colégios,
pastorais, ministérios. Dentre eles destacamos os seguintes fenômenos centrais
desse processo:
Partimos de um novo cenário mundial que vem sendo apresentado na sociedade, a saber: uma
profunda secularização, que consiste no propósito de organizar a vida pessoal e social sem
referência a Deus ou à transcendência. O estilo secularizado de vida tem permeado a vida
inclusive das comunidades cristãs e até mesmo a vida consagrada. Ao carecer de uma referência
absoluta se introduz, como conseqüência, o relativismo em torno à verdade, em referência ao
bem e ao respeito da beleza. Este estado da cultura faz com que as pessoas sofram o vazio de
sentido, que reclama uma nova proposta do Evangelho, como referência transcendente da
existência e como fundamento da verdade e do bem1.
O fenômeno migratório tanto das zonas rurais para as urbanas, como do país de
origem para outro de adoção transitória ou permanente, por razões econômicas ou
políticas, vem completar o quadro do novo cenário em que estamos. Este fenômeno
migratório provoca o encontro e mescla de culturas, e tem como conseqüência o
desmoronamento das referências fundamentais, dos valores morais, dos vínculos
identificadores. O resultado é o clima de uma extrema fluidez, dentro do qual se
reduz o espaço às grandes tradições, inclusive as religiosas, que têm como uma de
suas funções estruturar, de modo objetivo, o sentido da história e da identidade das
pessoas2.
Outro fenômeno que podemos apontar é o desenvolvimento dos meios de
comunicação, que é a base sobre qual se estrutura o fenômeno da globalização.
Junto aos inúmeros benefícios desta inter-conexão, pelo intercâmbio de
conhecimentos, de solidariedade e de bens materiais e culturais, se produz também
uma erosão das perspectivas das culturas locais, perde-se a capacidade das relações
1 Sínodo dos Bispos, XIII Assembleia Geral Ordinária. A Nova Evangelização para a
transmissão da fé cristã. Lineamenta, 6:
http://www.vatican.va/roman_curia/synod/documents/rc_synod_doc_20120619_instrumentum-
xiii_po.html. Pesquisado em: 20 de março de 2018.
2 Cf. Ibid.
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interpessoais reais a favor das relações virtuais, a vida é vivida e assumida como
espetáculo para ser exibido. “É importante nunca esquecer que o contato virtual não
pode, nem deve substituir o contato humano direto com as pessoas, em todos os
níveis da nossa vida” –afirmou Bento XVI na mensagem para o 45º Dia Mundial
das Comunicações de 2011.
O seguimento de Jesus é a resposta à fidelidade de Deus em Jesus Cristo e
convite para prosseguir em comunhão de fé e de amor a obra que ele realiza e inspira
em seu Espírito e atualiza em seu povo. O seguimento é vinculo e comunhão com
Cristo; e é caminhar nele, com ele e por ele, pelo caminho que ele próprio percorreu
em obediência ao Pai.
A resposta a esse seguimento é o próprio estilo de vida que se assumi; fidelidade
que precisa ser interpretada e construída todos os dias em comunhão com os outros,
em espírito de missão, em abertura ao futuro e em sintonia com o eterno.
O caminho dos que o seguem é orientado pela vocação e passa pela resposta às
provocações da história. Para caminhar é preciso discernir os sinais dos tempos,
cultivar na oração as realizações e verificar as etapas em contínua conversão, pois
Jesus continua sempre chamando.
O estado da vida consagrada aparece, portanto, como uma das maneiras de
conhecer uma consagração “mais íntima”, que se radica no batismo e se dedica
totalmente a Deus. Na vida consagrada, os fiéis de Cristo se propõem, sob a moção
do Espírito Santo, seguir a Cristo mais de perto, doar-se a Deus amado acima de
tudo e, procurando alcançar a perfeição da caridade a serviço do Reino, significar e
anunciar na Igreja a glória do mundo futuro3.
A JUVENTUDE
No atual momento histórico, a juventude se encontra imersa em uma rápida
mudança social e cultural. Grandes setores da juventude vivem no presente sem ter
uma consciência de seu passado nem do seu futuro, buscam experiências e
realizações pessoais imediatas; não entendem de compromissos definitivos. Muitos
se encontram em uma adolescência prolongada que gera um mal-estar, frustração,
agressividade, dependência. Sentem grande sede de transcendência, mas a negam
ou a relativizam4.
Por outro lado, é certo que há jovens que se sentem frustrados pela falta de
autenticidade de alguns de seus líderes ou se sentem cansados por uma civilização
de consumo. Outros pelo contrário, em resposta às múltiplas formas de egoísmo,
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6.
12 Cf. Bento XVI, Mensagem às jovens religiosas em mosteiro da Espanha. Boletim da Santa Sé,
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13 Cf. Ibid.
14 J. B. de Aviz, “Escuta e diálogo… 15.
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15 Cf. C. P. de Genover, Teologia do batismo e vida religiosa renovada, Loyola, São Paulo 1985,
178.
16 CIVCSVA, A vida religiosa: elementos da Doutrina da Igreja aplicados aos Institutos
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Daí que, pelo processo formativo contínuo, a oração dos consagrados, por ser
oração no Espírito de Jesus, é oração da Igreja e por isso, é oração da comunidade19.
O que aconteceu a Paulo é o que a comunidade formadora deve fomentar em cada um de
seus membros. Não um olhar para Cristo; não um imitar a Cristo; mas um transformar-se em
Cristo, para continuar sua encarnação. Eu vivo, mas não sou eu, é Cristo que vive em mim20.
A Igreja ensina que a vida religiosa somente pode ser sustentada por uma vida
de profunda e intensa oração individual, comunitária e litúrgica, onde os religiosos
são impelidos a conhecerem o Senhor ressuscitado de maneira pessoal e viva.
Nesse diálogo de amor, a iniciativa cabe a Deus (1Jo 4,10). É Ele quem vem ao nosso
encontro e se torna palavra viva em todas as coisas, a fim de convidar-nos à amizade. Ele “vem
saltando pelos montes, correndo pelas colinas... Colocado atrás de nossa casa, espia pelas
janelas, espreita pelas venezianas” à procura de sua amada (Ct 2,8-9)21.
Segundo Lourenço Kearns, na formação inicial recebe-se alguma orientação
sobre o ser e o agir da vida consagrada, porém com algumas lacunas que devem ser
aprofundadas na formação permanente, de uma forma mais realística, ou seja, com
os pés no chão22. Ele aponta a tentativa de muitas congregações e da CRB23 de
promover uma formação permanente que responda às exigências do hoje. Ainda
falta, contudo, por parte dos religiosos aceitar a necessidade de uma formação
permanente; afirmando que “a formação inicial, sem uma formação contínua em
todos os campos de nossa vida religiosa, não foi suficiente para enfrentar os novos
desafios da vida consagrada na pós-modernidade”24.
Enquanto que a formação inicial estava ordenada à aquisição pela pessoa de uma suficiente
autonomia para viver na fidelidade aos seus compromissos religiosos, a formação continuada
ajuda o religioso a integrar a criatividade na fidelidade. Pois a vocação cristã e religiosa reclama
um crescimento dinâmico e uma fidelidade nas circunstâncias concretas de existência, o que
exige uma formação espiritual interiormente unificante, porém flexível e atenta aos
acontecimentos cotidianos da vida pessoal e da vida do mundo. “Seguir a Cristo” significa pôr-
se sempre em marcha, evitar a esclerosação e a paralisação espiritual, para ser capaz de dar um
testemunho vivo e verdadeiro do Reino de Deus neste mundo25.
Há muitos fatores que contribuem para certa resistência à formação permanente
como fruto de intimidade com o Espírito Santo no seio da Igreja. O orgulho
intelectual, o medo de confrontos, o medo do auto-conhecimento, a estafa na vida
consagrada e o ativismo são predominantes e agentes contrários à participação dos
religiosos na vida da Igreja. Em contrapartida uma formação holística, com uma
19 Cf. S. Mª. Alonso, A vida consagrada, Ave Maria, São Paulo 1991, 455.
20 L. A. Castro, Deixar que o outro seja: o equilíbrio na formação, Paulinas, São Paulo 1983, 74.
21 C. P. de Genover, Teologia do batismo e vida religiosa renovada… 79.
22 Cf. L. Kearns, A teologia da vida consagrada, Santuário, Aparecida 1999, 210.
23 Conferência dos religiosos do Brasil, “No dia 11 de fevereiro de 1954, os superiores e superioras
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Freitas, Formação para a vida religiosa hoje, Conferência dos Religiosos do Brasil, Rio de Janeiro
1982, 98.
35 Cf. X. Pikaza, Esquema teológico da vida religiosa, Paulinas, São Paulo 1982, 78.
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Seria difícil descrever e até mesmo simplesmente enumerar as múltiplas maneiras diferentes
pelas quais as pessoas consagradas põe em prática, mediante o apostolado para com a Igreja.
[...] Tal dom divino corresponde às diversas necessidades da Igreja e do mundo, em cada época
da história; e, seguidamente, prolonga-se e consolida-se na vida das comunidades religiosas
como um dos elementos perduráveis da vida e do apostolado da mesma Igreja36.
Aqueles que abraçaram a vida religiosa, especialmente os fundadores e
fundadoras, tiveram a consciência de participar na missão da Igreja e de exercer, no
mais profundo de seu seio, funções insubstituíveis, intransferíveis, pois é chamada
a ressaltar certos aspectos da missão da Igreja, de acordo com a própria identidade
carismática. A missão, sem qualquer sombra de dúvida, e com a indispensável
distinção de tarefa, é dimensão essencial do carisma da vida religiosa, pois como
toda a vida cristã, é missionária desde sua origem37.
A missão situa-se mais na ordem do ser como radical ser-enviado, na ordem do carisma, da
graça originária; a tarefa é uma expressão histórica, transitória, operacional de viver esse ser-
enviado num determinado contexto histórico. As tarefas podem e devem, portanto, ser
relativizadas e submetidas à crítica constante do Evangelho: para que não se tornem
“absolutos” e porque nem sempre são meios e sinais que deixam transparecer o evangelho38.
Na dinâmica do Reino de Deus a vida religiosa se apresenta como sinal da vida
futura, mas também é antecipação gozosa do dom de salvação que já encontra
significado, pregado e parcialmente realizado ao longo do tempo da Igreja. Esta
dimensão de sinal do Reino para o mundo é particularmente acentuada durante a
formação humana e espiritual da vida religiosa, que desperta um novo fascínio por
ela e buscam super os desafios que surgem em nossas sociedades.
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REFÊRENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Fontes
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em: 23 de março de 2018.
• BENTO XVI. Mensagem às jovens religiosas em mosteiro da Espanha.
Boletim da Santa Sé, Madrid, 19 ago. 2011. Disponível em:
http://noticias.cancaonova.com/noticia.php? id=283126. Acesso em: 22
fev. 2018.
• CONFERÊNCIA DOS RELIGIOSOS DO BRASIL, “No dia 11 de
fevereiro de 1954, os superiores e superioras maiores de ordens e
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• CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO
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• CIVCSVA, A vida religiosa: elementos da Doutrina da Igreja aplicados
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• JOÃO PAULO II. La Vida Consagrada, Paulinas, Bogotá 2002.
• JOÃO PAULO II. Redemptionis donum, Salesiana Dom Bosco, São Paulo
1984.
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Ordem dos Agostinianos Recoletos
Istituto de Espiritualidade e Historia