Relatorioprimavera 2022
Relatorioprimavera 2022
Relatorioprimavera 2022
OBSERVATÓRIO PORTUGUÊS DO
DOSISTEMAS
SISTEMASDEDE
SAÚDE
SAÚDE
E AGORA?
Relatório de Primavera 2022
ÍNDICE
NOTA INTRODUTÓRIA 7
CAPÍTULO 1
O QUE A PANDEMIA NOS FEZ 11
A CIÊNCIA 12
OS SERVIÇOS DE SAÚDE 12
AS POPULAÇÕES MAIS VULNERÁVEIS 14
O QUE A EPIDEMIA NOS FEZ 15
CAPÍTULO 2
PANDEMIA COVID-19
IMPACTO NA UTILIZAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE,
NECESSIDADES NÃO SATISFEITAS EM SAÚDE E TELESSAÚDE
INTRODUÇÃO 16
IMPACTO NA UTILIZAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE 17
Cuidados de Saúde Primários 18
Cuidados de Saúde Hospitalares 21
Consultas Médicas Hospitalares 23
Intervenções Cirúrgicas 24
Urgências 25
Internamento 27
Atividade de Telemedicina 27
Meios Complementares de Diagnóstico e Terapêutica 29
NECESSIDADES NÃO SATISFEITAS EM SAÚDE 30
TENDÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DA TELESSAÚDE 33
CONCLUSÕES 35
CAPÍTULO 3
RECURSOS HUMANOS E CONCORRÊNCIA PÚBLICO/PRIVADO
ÍNDICE
CAPÍTULO 4
CUIDAR EM CASA
CAPÍTULO 5
A SAÚDE DIGITAL EM PORTUGAL
ENQUADRAMENTO 58
ÍNDICE
SAÚDE DIGITAL E POLÍTICAS DE SAÚDE
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
CAPÍTULO 6
MEDICAMENTOS E COVID 80
CAPÍTULO 7
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES 112
LISTA DE REVISORES:
ÍNDICE DE TABELAS
Tabela 1. Evolução das consultas médicas e dos contactos de enfermagem
nos CSP 2019-2021
Tabela 2 Evolução da atividade hospitalar 2019-2021
Tabela 3 Evolução dos exames convencionados por área MCDTs
(atos aceites) 2019-2021
Tabela 4 Evolução do número total de profissionais do SNS,
e das categorias mais numerosas.
Tabela 5 Direitos e deveres do cuidador informal
Tabela 6 Dificuldades e necessidades sentidas e relatadas
pelos cuidadores informais
Tabela 7 Lugares de ECCI
Tabela 8 Número de lugares de ECCI (2019) por cada 100 pessoas
Tabela 9 Taxa de ocupação das ECCI
Tabela 10 Capacidade do Serviço de Apoio Domiciliário (ano 2020)
Tabela 11 As diferentes abordagens da telessaúde (alguns exemplos)
Tabela 12 Serviços de telessaúde: alguns conceitos
Tabela 13 Resultados no acesso ao medicamento e comodidade
Tabela 14 Resultados nos encargos com a deslocação e no absentismo laboral
Tabela 15 Resultados na satisfação e adesão à terapêutica
ÍNDICE
ÍNDICE DE FIGURAS
NOTA INTRODUTÓRIA
Ana Escoval1,7, Filipa Duarte-Ramos2,3,4, Henrique de Barros3,5, João Gonçalves4, Julian Perelman6,7,
Manuel Lopes7,8, Paulo Sousa6,7, Pedro Lopes Ferreira9,10, Vítor Raposo9,10.
1 Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar;
2 Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa;
3 EPIUnit–Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP);
4 iMed.ULisboa, Faculdade de Farmácia, Universidade de Lisboa.
5 Faculdade de Medicina, Universidade do Porto.
6 Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa.
7 Comprehensive Health Research Center.
8 Escola de Enfermagem São João de Deus, Universidade de Évora.
9 Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra,
Universidade de Coimbra.
10 Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
O Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), cumpre, de novo, o compromisso de
apresentar anualmente um documento sobre a governação do sistema de saúde português,
o Relatório de Primavera (RP), este ano intitulado “E agora”?
Este trabalho é apresentado num momento muito particular da vida do país, da europa e, do
mundo.
Nos piores momentos da pandemia, um amigo do OPSS, médico de saúde pública, sugeriu que se
deveria aproveitar este momento para repensar de forma aprofundada como reconstruir o SNS
e o sistema de saúde no período pós-covid. Dava como exemplo o Serviço Nacional de Saúde
inglês (NHS), imaginado e concebido durante a segunda guerra mundial. Foi de facto sob as
bombas, com milhares de soldados a morrer e uma população privada de tudo, que foi sonhado
um serviço público de saúde, que oferecesse a todos os cidadãos cobertura universal, gratuita
e de qualidade. Consta que é de facto nas piores alturas, quando tudo parece desmoronar-
se, que visualizamos melhor o que nos falta, e em que tipo de sociedade gostaríamos de viver.
Ora, de acordo com o que sabemos, este trabalho de refundar o SNS e o sistema de saúde
não foi realizado. Não o foi nem pelo Governo, nem pelo Ministério de Saúde, nem pelos atores
do SNS, nem por nós, OPSS, que podíamos ter aproveitado esta altura para lançar a nossa
proposta (nossa culpa). Talvez a altura fosse de demasiado barulho, de excessiva solicitação,
de necessidade de respostas ao mais premente e imediato, sem tempo para pensar. Talvez os
alicerces para esta resposta já devessem ter sido criados antes, em altura mais bem tranquilas.
Não significa que alguns não tenham pensado sobre o assunto, nomeadamente no âmbito
dos partidos políticos, dando continuidade a propostas antigas. Mas as propostas mais visíveis
e divulgadas foram sem dúvida as mais ideológicas ou interesseiras, com pouca adesão à
realidade política, económica e social, sejam as propostas de o SNS tomar conta de todos os
cuidados de saúde sem espaço para outros parceiros, sejam as propostas de privatização total.
Por isso, findos dois anos de pandemia e restrições, fica a pergunta que já deveria estar
resolvida: e agora?
OS DESAFIOS
Os grandes desafios não faltam, que já existiam em 2019, mas que a pandemia agudizou e,
de certo modo, “destapou” tornando-os visíveis a luz do dia. Citemos os três que nos parecem
fundamentais.
O desafio do acesso. As famílias portuguesas pagam em média, por ano, 600 euros diretamente
do seu bolso em despesas de saúde. Mais de 26% dos 20% de portugueses mais pobres
declaram não ter acesso aos cuidados de saúde por razões financeiras. E não será a medida
do fim das taxas moderadoras (em média, 10 euros por ano) que resolverá o problema,
por ser pouco efetiva em termos financeiros e de moderação de comportamentos. E se os
portugueses gastam tanto apesar de um SNS universal e gratuito, é porque o SNS universal e
gratuito ainda não dá a resposta necessária.
O desafio dos recursos humanos. O número de profissionais no SNS aumentou de 120.000 para
148.000 entre 2015 e 2021, mas os relatos de falta de profissionais é permanente – até porque as
necessidades aumentaram -, as saídas para o estrangeiro e para o setor privado continuam,
e o descontentamento é patente, com consequências no acesso aos cuidados. As saídas
massivas para o setor privado desviam os profissionais das necessidades mais prementes da
população, e obrigam o SNS a pagar serviços aos privados criando problemas de eficiência
e sustentabilidade.
O desafio da saúde pública. Os portugueses têm longevidade, mas, comparando com outros
países, vivem muitos anos com má saúde e limitações de atividade. Temos taxas elevadas de
multimorbilidade, obesidade e tabagismo, a alimentação tem tido tendência para piorar, e nem
falemos da alta prevalência de depressão e ansiedade. Também, a pandemia tem ilustrado de
forma dramática a forma como as desigualdades sociais se traduzem em fortes desigualdades
em saúde. E falta saber qual a preparação da saúde pública para futuras pandemias.
TENTATIVAS DE RESPOSTA
Embora não se vislumbre uma reestruturação de fundo, foram, no entanto, definidas estratégias
específicas, inclusive muitas delas traduzidas em leis e despachos. No entanto, ficamos na
expectativa sobre a sua implementação, e da capacidade de resposta destas propostas aos
grandes desafios colocados.
A digitalização dos dados da saúde, que esperamos ser um instrumento de melhoria da eficiência
e de mudança de práticas, e não uma mera compra de equipamentos, como já aconteceu há anos.
A digitalização implica alterações nas formas de trabalhar, sendo o exemplo mais visível
o desenvolvimento da telemedicina, prática que exige acompanhamento e gestão, para uma
verdadeira alteração e melhoria nas práticas diárias dos profissionais.
sem uma reforma profunda dos cuidados de saúde primários que permita atrair, reter e motivar
os profissionais de saúde.
Noutro registo, a nova Lei de Bases da Saúde, grande avanço civilizacional face à anterior,
e sobretudo a proposta do novo Estatuto do SNS, traçam algumas linhas para o futuro.
Aqui também gostaríamos de destacar três pontos que nos parecem centrais, mas sobre os
quais existem sobretudo interrogações.
Em primeiro lugar, foi definida a criação de uma Direção Executiva do SNS. Vemos com bons olhos
uma reformulação da governação do SNS, que permita maior colaboração entre as diferentes
entidades gestoras ou reguladoras (ARS, INFARMED, DGS, ACSS, SPMS), com capacidade para
gerir no dia a dia os problemas correntes que se colocam nas instituições prestadoras de
cuidados, e com capacidade de implementar no terreno as estratégias e programas de saúde
de forma transversal. Resta saber qual será o mandato desta nova entidade, e qual a sua
verdadeira força política e capacidade de atuação, sendo que se espera de uma entidade
com estas funções que possa recrutar os melhores gestores e dar-lhes os meios para as suas
ações e, sobretudo eliminando sobreposições.
Em segundo lugar, também acolhemos com agrado a criação da dedicação plena, que pode
constituir uma resposta adequada à dificuldade em reter e motivar os profissionais do SNS.
Mais uma vez, no entanto, questionam-se os meios para implementar esta política e o seu
desenho concreto, que implica capacidade de acompanhamento dos profissionais e da sua
atividade.
Finalmente, a criação dos Sistemas Locais de Saúde é uma iniciativa notável, pelas
colaborações que impulsiona entre diferentes entidades do SNS e fora SNS ao nível local
e comunitário. Resultado de uma ideia anterior, parece poder agora germinar, poderá ser
uma iniciativa para responder melhor às necessidades locais, pelo maior conhecimento das
carências e a articulação entre as diferentes respostas, sendo que a saúde é multifatorial
e não depende apenas dos cuidados de saúde. Resta saber, também, qual a capacidade de
criação destes Sistemas, quais as garantias do seu bom funcionamento, e como evitar que
se criem mais desigualdades regionais além das que já existem. A reticência das autarquias
em aceitar competências na saúde, por razões financeiras, envia um sinal negativo quanto
à exequibilidade desta iniciativa.
E faltará sempre saber, no que é essencial, qual a estratégia para uma população mais
saudável e com maior bem-estar, independentemente do estatuto económico e social.
E AGORA?
E AGORA?
Relatório de
Primavera 2022
O Relatório de Primavera 2022 irá debater estes temas, e outros também relevantes que
decorrem das questões que acabamos de identificar.
Os três primeiros capítulos foram dedicados aos efeitos da pandemia, e ao que aprendemos
durante este período tão complicado, desde março 2020, focando as nossas três prioridades:
acesso, recursos humanos e saúde pública.
O primeiro capítulo propõe uma reflexão sobre a questão central do planeamento, com as
necessidades que a pandemia deixou a descoberto, em particular nos recursos humanos e na
saúde pública, e também na ciência que é o instrumento essencial de apoio à decisão.
O terceiro capítulo aprofunda o tema dos recursos humanos, também com várias informações
quantificadas, apontando para dificuldades bem anteriores à pandemia, nas quais a
concorrência entre setores público e privado tem um papel essencial.
Os três capítulos seguintes, como é hábito nos Relatórios de Primavera nos seus 21 anos de
existência, abordam questões mais específicas, embora todas elas relacionadas com os
nossos três desafios centrais.
O quarto capítulo discute o tema do “cuidar em casa”. Este tema também se tornou central
durante a pandemia, como forma de colmatar as dificuldades em assegurar internamentos
nos hospitais e nos cuidados continuados, e garantir uma nova forma de cuidados acessível
e de qualidade. O capítulo aponta para problemas que existiam no pré-pandemia, como a
questão dos cuidadores informais e da integração de cuidados.
Capítulo 1
O QUE A PANDEMIA NOS FEZ
(Uma leitura impressiva)
Henrique Barros1,2
1
EPIUnit–Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP);
2
Faculdade de Medicina, Universidade do Porto
Ao contrário do que ensina Alice (e talvez porque o mundo seja outro, fora do país das
maravilhas) será melhor começar, senão pelo fim, pelo menos contra um fim que por aí se
quer insinuar antes do seu tempo. E prosseguir então para o começo. Talvez desse modo nos
ajudemos a compreender o que vivemos e porque o vivemos assim, sejamos capazes de
guardar memórias úteis e sabedoria que nos proteja individualmente, mas sobretudo enquanto
comunidade. Olhando para trás percebemos melhor que a pandemia de COVID-19 não acabou
e permanece mais global que nunca – ou seja, não chegamos ainda ao fim deste encontro, em
certa medida inesperado, com um vírus emergente – o SARS-CoV-2, que se vem transformando
numa infeção endémica e talvez até numa doença crónica. Eis uma das consequências da
pandemia: obrigou-nos a rever a organização da vida, perspetivar o futuro, tendo em atenção
determinantes que desconhecíamos; a pandemia trouxe a contingência e a consciência do
jogo das probabilidades para o nosso quotidiano. Provavelmente para ficar, ou pelo menos
permanecer enquanto a memória do medo inicial perdurar.
Por tudo isto, de onde virá então esta espécie de alívio que faz desesperadamente parecer
desinteressante a vigilância e a preparação para responder ao que vamos ainda vivendo?
E porque não se consegue implementar um plano de ação capaz de antecipar medidas que
evitem ou pelo menos mitiguem os efeitos da circulação das variantes atuais ou daquelas que
por certo aí virão?
Quais as medidas para as contornar, se não formos capazes de as remover de forma sustentada,
como seria ideal?
As respostas a estas perguntas irão por certo evolver com o conhecimento que se adquira,
mas, como sempre em saúde, com as opções feitas pelas estruturas responsáveis por gerir
a informação, os mais próximos emissores. E se é verdade que muito se joga (e não jogou como
devia...) na definição de uma hierarquia transparente e respeitada, e no reconhecimento de
interlocutores bem identificados para fazer compreender as escolhas e propor a partilha
das soluções, também é essencial ter a montante um sistema eficiente de recolha, análise
e produção de informação, transformável em conhecimento que alimente a comunicação
e tranquilize as pessoas, mesmo na superior certeza da incerteza. O que, neste aspecto,
a epidemia fez foi deixar a descoberto uma conhecida insuficiência. Não tínhamos tradição de
juntar as partes interessadas, conciliar saberes e pontos de vista. Dar voz às pessoas evitando
as armadilhas da tecnocracia. A ideia da saúde centrada nas pessoas pouco mais vai sendo
que um lema sem ancoragem na realidade ou então uma meta, sincera talvez, que fica longe.
No início foi preciso contrariar a ideia de que a pandemia – por uma vez – não escolhia estratos
sociais ou condições de vida, atingia a todos igualmente. Este óbvio equívoco rapidamente
desvaneceu, mas foi responsável por medidas sem sentido de precisão, hipoteticamente
universais e também por isso geradoras de sofrimento e desigualdades adicionais. Em termos
simples: nem todos poderiam confinar “fugindo” ao vírus e por isso alguns viveram a pandemia
com especial gravidade. Mas como se percebeu rapidamente que era impossível em muitas
circunstâncias evitar a infeção e que necessitávamos desesperadamente de soluções novas,
a pandemia pôs à prova a crença na eficácia das soluções tecnológicas e na resposta dos
profissionais de saúde, sobretudo na perspetiva da sua organização e preparação para
responder a crises de grande dimensão.
Assim, atentemos na ciência, nos serviços de saúde e nas populações com mais vulnerabilidades.
Podemos considerá-los três domínios que a epidemia pareceu tocar particularmente e que
também desse modo se tornaram mais relevantes, mais presentes e, portanto, mais exigindo
que se visitem, ainda que de forma impressiva e, naturalmente por agora, navegando-lhes
a superfície.
A CIÊNCIA
Durante estes anos de pandemia deificou-se a ciência – mas sejamos claros, sobretudo
a ciência que outros faziam e que emocionalmente apropriávamos ou, como numa corrente
de água, tentávamos dirigir para o nosso lado. Como é bem conhecido na nossa tradição
de lentes, havia muitos a ler, mas verdadeiramente poucos a apresentar propostas arrojadas,
servindo as decisões que em situações de emergência têm que ser percebidas como o que
é na verdade o risco: decidir sem ver para lá da linha do horizonte. Por isso, sempre se esperou
muito pelo que se fazia “lá fora” e nos perdemos agora que a última “variante” quase começou
por aqui e não há para onde olhar.
Acima de tudo louvou-se a ciência (como todos sabíamos fazer sem que isso na prática se
manifestasse em atitudes visíveis) como uma expiação, como um fogo sagrado a que se recorre
no medo, e não como uma atividade acarinhada, financiada, continuada, criativa, racional
a que nós em Portugal verdadeiramente nos dedicássemos em continuidade e à qual
pudéssemos em hora de aperto ir em busca de soluções. Pulularam por isso os mágicos da
previsão, no retorno de antiquíssimos leitores de entranhas, especialistas desconhecidos
a somarem-se, diga-se em abono da verdade, a um restritíssimo número de pessoas com
alguma decência na sua formação, mas sem verdadeira especialização. Aprendemos,
espera-se, para lá da necessidade de planear serviços e recursos em saúde – como foram os
ventiladores -, que é fundamental ter profissionais preparados e um conjunto de competências
previstas em todas as suas fases de formação. Olhamos para a resposta à COVID-19 à nossa
maneira: curativa! E se obviamente essa dimensão era em muitos momentos central, como nos
é próprio não cuidamos da rede de proteção – a saúde pública. Discutiram-se nos espaços de
comunicação social soluções de saúde pública como se se tratasse de um confronto de opiniões
todas igualmente respeitáveis. Com isso revelou-se mais vezes ignorância que a convicção do
melhor conhecimento e das melhores práticas. Por vezes, simplesmente se traficavam subtis
picardias políticas à boleia de pseudo-escolhas técnicas, e com isso se alimentava a infodemia
e a ansiedade. No entanto, o mais importante que a epidemia fez (e que se espera que nos
deixe ensinamentos duradouros e investimentos inequívocos) foi revelar como é insuficiente
a nossa planificação da força de trabalho nesta área, antiquada a sua organização profissional,
e evidente a falta de uma carreira que estimule os talentos. E, claro, ficou por demais óbvio
como foi ignorante não ter há muito (e continuar assim...) uma licenciatura em saúde pública
como base de um “exército” essencial na resposta às rotinas e quando necessário às crises
sanitárias.
OS SERVIÇOS DE SAÚDE
Os anos da pandemia mostraram internacionalmente a centralidade da força de trabalho
em saúde, a necessidade de uma formação adequada e de uma distribuição equitativa
e inteligente dos recursos humanos pelo espaço geográfico. A última Assembleia Mundial
da Saúde deu especial ênfase à proteção e ao investimento em profissionais de saúde
e cuidados, particularmente atendendo à mobilidade destes profissionais e às desigualdades
daí resultantes. A epidemia fez-nos perceber que a interdependência era uma dimensão
fundamental da prevenção e que por isso as soluções terão que ser globais também na
Quando em Portugal a epidemia foi finalmente identificada, em março de 2020, arrancou uma
nova interação entre as pessoas e os serviços de saúde: por um lado era fundamental a ajuda
profissional, em muitos aspetos obrigando a pôr hipóteses à prova, experimentando; por outro,
surgiu o medo de recorrer aos cuidados de saúde quando os problemas fossem outros, trazendo
à luz dos dias a preocupação de os hospitais e outras instituições de saúde poderem ser eles
próprios determinantes da doença. Com isso perderam-se momentos essenciais de intervenção,
protelaram-se desnecessariamente atitudes preventivas e curativas que poderão ter reflexo na
morbilidade futura. Importa perceber em que medida os cuidados não se acomodaram a esse
medo, que resultou em falta de procura, no limite disrupção dos cuidados. Terão naturalmente
os profissionais que avaliar as atitudes para com elas aprender e rever protocolos de atuação
futura perante as epidemias que virão ou simplesmente os agravamentos no número de casos
que com a COVID-19 possam ocorrer.
E, diga-se também, que não valerá a pena insistir na inaceitável ideia das falsas urgências:
se o recado pode ser aceitável para quem desenha os serviços e o acesso a eles – embora
também por aí algo injusto, pois não se pode imaginar que é possível uma mudança radical
num curto espaço de tempo – o que se exige é não culpar a vítima. Espera-se antes a evidência
de um caminho que progressivamente racionalize o acesso aos cuidados e no qual as
telecomunicações podem ter um papel essencial.
Infelizmente, ficou evidente com a pandemia que não terá sido muita a vontade de fazer
funcionar toda a potencialidade das tecnologias de informação, sobretudo dando aos
cidadãos centralidade e papel na gestão do risco: milhões de portugueses propuseram-se
usar uma aplicação nos seus telemóveis para informar sobre contactos e desgraçadamente
a resposta dos profissionais foi nula. Não vale a pena dizer que havia problemas de eficácia,
de proteção de dados, de equidade social – tudo isso era verdade mas não foi o motivo do
insucesso. Até porque não se usando nem sequer foi possível saber onde nos poderia ter
levado ou como seria se fosse sendo melhorada. Mas fica o exemplo de um caminho novo que
certamente com o tempo irá ajudar a tirar a vigilância epidemiológica do quadro mental de há
séculos, em que ainda vive.
E na interação entre as pessoas, os serviços de saúde e o contexto das suas profissões, até
para evitar as tais “falsas urgências”, vale sobretudo a confiança. As sociedades mais eficazes
na gestão dos seus recursos, mais ricas e mais felizes, mas também mais participativas
e em que as decisões partilhadas são as mais postas em prática, são aquelas em que o grau
de confiança entre os cidadãos e deles com as instituições é mais alta (“trust”). Acreditar,
confiar nas pessoas, quebrar definitivamente o ciclo de miséria que nos faz crer que ninguém
é confiável, é por certo a melhor solução e retira o desespero de procurar durante horas um
serviço público que ateste aquilo que pode ser uma simples declaração responsável: “estou
doente”! E isolando-se ajudar a conter a infeção.
A restrição dos movimentos, o que se chamou o confinamento, foi inicialmente uma decisão
individual, das pessoas e das famílias, uma fuga protetora e pelos vistos mais que tudo uma
opção pelo esconderijo como forma primitiva e ingénua de crença em ludibriar a ameaça.
Que haveria de passar e assim se evitaria. O facto de a infeção ter um curso inicial muito limitado,
levou a uma clara dissociação entre muito medo e aparentemente poucos casos, que em
contrapartida se viveu revertido dois anos depois com pouco medo e muitíssimos casos. Assim
se mostrou como as respostas mais emotivas eram inapropriadas e exigiam um enquadramento
racional que deveria vir do conhecimento técnico mas também do esclarecimento político.
Desde muito cedo na infeção, para talvez fornecer uma dimensão de racionalidade
e conhecimento, mesmo quando não existisse, procurou-se identificar situações e contextos
de maior risco de transmissão para depois atuar sobre eles (fechando-os, por exemplo, como
aconteceu com os restaurantes ou os cinemas, ou tornando obrigatórias certas práticas,
como o uso de máscaras em transportes públicos). Na generalidade dos casos, as medidas
e o apontar de possíveis exposições de maior risco não passaram de formas subtis de promover
algum grau de confinamento sem o explicitar. Foram exemplo disso os horários de restaurantes
diferenciados com os dias da semana, as limitações na movimentação entre concelhos mas,
sobretudo pelas suas especiais repercussões, o fecho das escolas.
Se de facto Portugal foi na União Europeia um dos países com a maior limitação ao trabalho
letivo presencial ou que mais tarde retirou as máscaras das escolas, e se isso merecerá no futuro
um acompanhamento próximo para reconhecer a presença de eventuais efeitos indesejáveis
na aprendizagem, na sociabilização e por essas vias também na saúde em geral (trabalho
que ainda não se viu proposto ou discutido, infelizmente), o que importa por agora reconhecer
é como este facto da pandemia deixou a descoberto a real ausência de uma estratégia de
saúde escolar e planos não avulsos de intervenção nas escolas, abandonando as atividades
anedóticas do tipo “hit and run” que vêm caraterizando a presença da saúde nas escolas.
E com isso, claro, ajudar a ultrapassar mais uma iniquidade social pois estabelecimentos
públicos e privados tendem a oferecer, a este nível, condições muito distintas embora, deve
dizer-se, muito limitados e essencialmente curativos na oferta privada.
Finalmente, assinale-se a mortalidade nas residências para pessoas idosas. A pandemia fez
uma enorme pressão sobre as estruturas assistenciais e as instituições que acolhem pessoas
mais velhas. A pergunta é óbvia: porque não se evitou aquilo que aconteceu? A resposta
tende também a recorrer ao que aparenta ser mais compreensível: a falta de preparação
dos cuidadores, a fragilidade e a idade extrema de muitos dos utentes, a dificuldade em
encontrar equipamentos e estratégias de proteção que minimizassem o sofrimento e a solidão,
e finalmente o trânsito de pessoas entre o interior e o exterior das instituições.
Todas estas questões correspondem a hipóteses legítimas. Mas não deixa de ser estranho
como não foram nunca verdadeiramente postas à prova para apreciar o seu real contributo.
Sem isso, como vamos proceder no futuro imediato? É costume dizer-se, como regra geral,
que as mesmas circunstâncias conduzem aos mesmos efeitos. O que podemos então mudar?
Não é exagero dizer que não sabemos bem e isso porque não quantificamos o contributo
das possíveis causas nem a proporção que lhes podíamos atribuir nas conseqências. Muito
do que mudou no prognóstico das pessoas vivendo em residências para idosos ou, em geral,
institucionalizadas, deveu-se à política de vacinação e é essencial estarmos preparados tanto
para assegurar em tempo útil o reforço vacinal como sobretudo dispor de ações alternativas
perante qualquer eventual diminuição da proteção vacinal.
Capítulo 2
PANDEMIA COVID-19
IMPACTO NA UTILIZAÇÃO DE CUIDADOS DE SAÚDE,
NECESSIDADES NÃO SATISFEITAS EM SAÚDE E TELESSAÚDE
Vítor Raposo1,2
1
Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra,
Universidade de Coimbra
2
Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra
INTRODUÇÃO
A pandemia COVID-19, para além de ter gerado custos humanos, sociais e económicos
bastante elevados (Kaye et al., 2021), revelou também muitas das fragilidades subjacentes
aos diversos sistemas de saúde devido à imensa pressão colocada sobre os serviços, muitas
vezes já sobrecarregados antes da pandemia (OECD, 2021). A pandemia representou um
grande desafio para as sociedades e para os governos que, para além da crise ligada às
questões socioeconómicas ou da saúde, tiveram de lidar com a crise de governança, testando
a resiliência dos sistemas de governo implementados e das instituições do setor público para
se adaptar, funcionar e inovar na prestação de serviços públicos, mas também expondo as
vulnerabilidades existentes (Mazzucato et al., 2021).
1
Capacidade do sistema de saúde se preparar, gerir e aprender a partir de uma perturbação súbita e extrema
(Sagan et al., 2021).
Nos pontos seguintes vamos analisar com mais detalhe os impactos da COVID-19 na utilização
dos cuidados de saúde, nas necessidades não satisfeitas em saúde e nas tendências da
utilização da telessaúde. Para o efeito, começaremos por olhar para relatórios e artigos
científicos que foquem o contexto internacional, e de seguida para a situação portuguesa
recorrendo a dados públicos, nomeadamente do Portal da Transparência SNS, relatórios
nacionais de diversas instituições (ACSS, DGS, ERS, Tribunal de Contas, etc.), bem como a artigos
científicos que foquem exclusivamente a realidade nacional. Terminamos com uma série de
questões que devem ser ponderadas pelos decisores políticos na definição das estratégias de
saúde a adotar no futuro.
Em muitos casos, o recurso à telessaúde foi a solução encontrada para mitigar o impacto da
redução verificada e proteger de infeções quer os doentes, quer os profissionais de saúde. Esta
tendência de interrupção na prestação de serviços públicos, incluindo cuidados essenciais de
saúde, triagem preventiva e saúde mental e o consequente recurso às variantes da telessaúde,
já tinha sido apontada por relatórios anteriores (Eurofound, 2021; OECD, 2021), bem como em
diversas publicações científicas (Mansfield et al., 2021; Michalowsky et al., 2021; Moynihan et al.,
2021).
Uma revisão sistemática realizada por Moynihan et al. (2021) identificou 81 estudos onde são
reportadas 143 estimativas de mudanças na utilização de cuidados de saúde entre o período
pandémico e pré-pandémico. Em 136 delas (95,1%) constatou-se uma redução de utilização
média de 37,2% nos serviços em geral, compreendendo reduções medianas para visitas
(42,3%), admissões (28,4%), diagnósticos (31,4%) e para terapêutica (29,6%). Em 35 estudos foram
identificadas 60 estimativas, com 27 (45%) a mencionar maiores reduções na utilização entre
pessoas com um espetro mais leve da doença e 33 (55%) a mencionar nenhuma diferença.
Os autores concluem que a utilização de serviços de saúde diminuiu cerca de um terço durante
a pandemia, com variação considerável e com maiores reduções entre pessoas com doenças
menos graves. É ainda sustentado que esta redução global é um argumento convincente para
priorizar os esforços que atendem às necessidades não satisfeitas das pessoas com doenças
não relacionadas com a COVID-19. Por outro lado, dada a crescente evidência de cuidados
desnecessários antes da pandemia, poderá ser mais benéfico para as populações, e para os
respetivos sistemas de saúde, que as taxas de utilização de alguns serviços não retornem aos
níveis anteriores à pandemia.
Outro estudo de Mansfield et al. (2021), realizado no Reino Unido, menciona o cancelamento
de cirurgias não urgentes assim como de outras atividades relativas ao rastreio de cancro
e outros serviços como saúde mental, cuidados paliativos e reabilitação. Os autores salientam
que os contactos nos cuidados de saúde primários para quase todas as condições também
caíram consideravelmente após a introdução de restrições relacionadas com a COVID-19.
Por seu turno, o relatório “State of Health in the EU - Companion Report 2021” (European
Commission, 2022) menciona que o volume de cirurgias eletivas foi reduzido em mais de 20% em
2020 em comparação com 2019, piorando os longos tempos de espera existentes. É realçado
que enquanto o número de consultas presenciais caiu acentuadamente durante a primeira
onda, o crescente uso de teleconsultas ajudou a amortecer o impacto da COVID-19 no acesso
aos cuidados ao longo de 2020.[
Quando analisamos os dados mais recentes disponíveis para Portugal relativos ao setor público,
encontramos um padrão semelhante quando comparamos os períodos pré-pandemia com
a pós-pandemia. Para realizar esta análise vamos utilizar os dados do Portal da Transparência
SNS, para os períodos 2019, 2020 e 2021, focando os cuidados de saúde primários (CSP), os
cuidados de saúde hospitalares e os meios complementares de diagnóstico e terapêutica
(MCDTs). Na análise desenvolvida, procura-se compreender o impacto tendo em conta os
períodos pré-pandemia e pós-pandemia e os potenciais sinais de recuperação existentes nos
diferentes níveis de cuidados. Fora desta análise ficam os impactos provocados pela redução
da resposta da atividade do setor privado (convenções e outros tipos de contratos existentes)
que se verificou efetivamente (Barros, 2020; Entidade Reguladora da Saúde, 2020), com quebras
sem precedentes (INE, 2021a)2, e que afetaram o setor público devido à sua dependência dessa
prestação de serviços (por exemplo, meios complementares de diagnóstico e terapêutica,
rastreio do cancro da mama e do cancro colorretal, etc.).
2
Na informação à comunicação social, que analisa as quebras verificadas no setor público e no setor privado, o INE mencio-
na que essas quedas são notórias nos internamentos, nas urgências, nas consultas externas e nos atos complementares de
diagnóstico e/ou terapêutica. A atividade dos hospitais privados sofreu quebras acentuadas nos atos complementares de
diagnóstico e/ou terapêutica (-20,6 %) e nas consultas externas (-18,3 %) sendo mais expressiva do que a verificada no setor
público (-9,2 % e -9,3 %, respetivamente).
3
Disponível em https://is.gd/scmt9y.
4
Disponível em https://is.gd/B3s2Sr.
Tabela 1. Evolução das consultas médicas e dos contactos de enfermagem nos CSP 2019-2021
Não Presenciais
9.241.338 18.518.947 20.150.173 100,4% 8,8% 118%
ou Inespecíficas
Contactos de enfermagem
Figura 1. Evolução das consultas médicas nos CSP (excluindo os domicílios) 2019-2021
20.150.173
(8,8% ↑)
18.518.947
20.715.472 (100,4% ↑)
14.557.006
9.241.338 12.732.253 (14,3% ↑)
(38,5% ↓)
Conforme se pode verificar na Figura 1, que apenas analisa as consultas presenciais e não
presenciais, o aumento das consultas não presenciais ou inespecíficas aumentou 118% no
período 2019/2020. Embora o tipo de contacto aqui incluído possa ser diverso (apresentação
de exames, pedido de receituário, e-mail, teleconsulta, etc.) a leitura destes valores, com os
devidos cuidados, parece indiciar que os CSP procuraram formas alternativas de dar resposta
aos seus utilizadores. Quando analisamos o total de consultas por ano, a tendência, apesar da
pandemia, é de crescimento, como seria de esperar uma vez que o acompanhamento médico
dos doentes COVID-19 recaiu inteiramente sobre os médicos de família.
27.326.552
(64,2% ↑)
20.230.518
16.664.324
(17,6% ↓)
2.193.680 1.448.231
(60,6% ↑) (34,0% ↓)
1.365.556
Em todo este processo é importante salientar que os CSP, apesar de algumas quebras
verificadas, evidenciaram um esforço notável na procura de formas alternativas de resposta
aos seus utilizadores, a par com o seguimento de doentes com COVID-19 e de todo o trabalho
que foi necessário desenvolver no processo de vacinação. De facto, os CSP tiveram um papel
preponderante em todo o processo de vacinação tendo Portugal evidenciado uma das mais
elevadas taxas de população vacinada do mundo. Os dados do Our World in Data5 mostravam
que em Março de 2022 Portugal ocupava o segundo lugar com 92,57% da população totalmente
vacinada e 95,02% dos cidadãos com pelo menos uma dose da vacina.
5
Disponível em https://ourworldindata.org/covid-vaccinations
Os principais resultados para estas diferentes linhas de atividade estão resumidos na Tabela 2.
As células assinaladas a vermelho e texto amarelo identificam diminuição, enquanto as células
assinaladas a verde identificam acréscimos na atividade verificada.
Cirurgias
6 9
Disponível em https://is.gd/JfmabC. Disponível em https://is.gd/4IdYs9.
7 10
Disponível em https://is.gd/WyPDhZ. Disponível em https://is.gd/SivSFU.
8 11
Disponível em https://is.gd/ROon8Z. Disponível em https://is.gd/GRVpHI.
Internamento
Internamento
As consultas subsequentes, tal como as anteriores, apresentam uma redução de 8,1% no período
2019/2020 e uma recuperação de 9,4% no período de 2020/2021, que retomou e ultrapassou
a atividade pré-pandemia (0,6%).
Intervenções Cirúrgicas
Por último, as cirurgias urgentes15, apresentam uma quebra de 10,7% entre 2019/2020 e apesar do
aumento de 5,3% em 2020/2021 ainda não estão próximas do nível pré-pandémico (menos 6%
entre 2019/2021).
12
Decorrente de admissão programada.
13
Programadas, efetuadas em regime de internamento.
14
Programadas, efetuadas em regime de admissão e alta num período inferior a 24 horas.
15
Decorrente de admissão urgente ou de situação de saúde percecionada como critica, no âmbito de internamento.
Urgências
Quando olhamos para as urgências sem triagem de Manchester16 também verificamos uma
tendência de diminuição nos vários períodos considerados. As maiores reduções verificadas
foram nas cores amarela (29,9%), verde (28,9%) e laranja (22,8%). A análise da cor azul, não
urgente, não deixa de ser curiosa, uma vez que teve sempre uma tendência de subida nos
vários períodos comparados.
Tendo em conta as queixas dos hospitais relativamente ao excesso de procura nas urgências
antes da pandemia, sugerindo que os problemas poderiam e deveriam ser resolvidos noutras
áreas de cuidados, nomeadamente nos CSP, esta tendência, com o devido cuidado de análise,
pode ser considerada positiva. As urgências consideradas pouco urgentes (verde) diminuíram
28,9% em 2019/2020 e, apesar do aumento de 23,5% no período 2020/2021, ainda estão abaixo dos
valores da pré-pandemia (diminuição de 12,2% no período 2019/2020).
Figura 5. Evolução dos atendimentos por tipo de urgência 2019-2021 (não inclui a psiquiatria)
16
Vermelho – emergente, laranja – muito urgente, amarela – urgente, verde – pouco urgente, e azul – não urgente
Figura 6. Evolução dos atendimentos nas urgências por cor da Triagem de Manchester
2019-2021
Figura 7. Evolução dos atendimentos nas urgências com e sem Triagem de Manchester
2019-2021
Internamento
Assim, os internamentos tiveram uma diminuição de 14,3% no período 2019/2020, com um aumento
de 7,4% no período 2020/2021, ainda assim não suficiente para recuperar os valores anteriores à
pandemia (redução de 7,9% no período 2019/2021).
Doentes saídos
Atividade de Telemedicina
A resposta inicial no período 2019/2020, apesar de ser positiva (aumento), é mais ténue quando
comparamos com o período 2020/2021, onde identificamos um aumento substancial (ainda
maior quando comparamos 2019/2020). Estes números sugerem que os hospitais procuraram
compensar as suas quebras de atividade utilizando como recurso a telemedicina para dar
resposta às necessidades dos doentes num contexto epidemiológico adverso.
Evidentemente que se coloca a questão de saber se esta resposta se irá manter no futuro,
garantindo as condições técnicas e humanas para o efeito, bem como se os investimentos
necessários serão concretizados. Outra questão de futuro é avaliar se este tipo de resposta
corresponde às necessidades da procura que se verificaram noutras linhas de atividade. Esta
evolução, tal como a verificada nos CSP (consultas não presenciais ou inespecíficas), aponta
para a importância cada vez maior da telessaúde17.
17
Aconselhamos a leitura do ponto “Tendências da utilização da telessaúde” neste capítulo e também o ponto
“A dimensão da saúde digital em Portugal” no capítulo 3.
No período 2020/2021, assiste-se a um aumento total de 39% dos atos aceites de MCDTs.
O aumento é generalizado em praticamente todas as áreas com exceção da neurofisiologia
(redução de 29,7%).
Tabela 3. Evolução dos exames convencionados por área MCDTs (atos aceites) 2019-2021
Endoscopia
1.296.895 910.662 1.332.065 -29,8 % 46,3 % 2,7 %
Gastro-enterológica
Especialidades
18.959 15.540 16.316 -18 % 5% -13,9 %
Médico-Cirúrgicas
Exames não 17.081 589 9.407 -96,6 % 1497,1 % -44,9 %
Comparticipados
Medicina Física
44.614.099 30.989.851 44.821.948 -30,5 % 44,6 % 0,5 %
e de Reabilitação
Em 2021, o relatório “Health at Glance 2021” (OECD, 2021) foca sobretudo o acesso aos serviços
de saúde e a interrupção que ocorreu globalmente na prestação, nomeadamente na área
da saúde mental. Utilizando dados do Eurofound para o período 2020/2021, de acordo com
este relatório, em 2020 a crise da COVID‑19 limitou o acesso aos serviços de saúde na maioria
dos países da OCDE, sendo que nos 23 países da OCDE que possuem dados comparáveis, em
média mais de uma em cada cinco pessoas mencionou ter renunciado a exames médicos
ou a tratamentos necessários durante os primeiros 12 meses da pandemia. Portugal, Hungria
e Letónia foram os países onde os valores relatados foram maiores (com mais de um terço da
população a reportar ter abdicado de exames médicos ou tratamentos necessários durante
a primeira onda da pandemia), enquanto a Dinamarca, Áustria e Alemanha foram os países
onde esses valores se apresentavam mais baixos (menos de 15%). De acordo com este relatório,
a adoção de serviços de telessaúde foi um dos ajustes nas políticas de saúde que permitiu
mitigar o impacto da redução verificada.
Também em 2021, o Eurofound atualiza o seu relatório “Living, working and COVID-19” (Eurofound,
2021) focando as interrupções nos serviços essenciais de saúde e as necessidades não
satisfeitas em saúde. Este relatório menciona que, apesar da recuperação verificada nas várias
áreas de cuidados, existem ainda problemas no acesso aos cuidados de saúde em alguns
países da Europa. Verificou-se que mais de um quinto (21%) dos inquiridos faltou a um exame
ou tratamento médico durante a pandemia; no entanto, registou-se um aumento em vários
países e uma diminuição em outros (Figura 10) de necessidades de saúde não satisfeitas entre
o verão de 2020 e a Primavera de 2021. Em 2021, as necessidades não satisfeitas de cuidados
de saúde foram maiores na Hungria, Portugal (35,9% no Verão de 2020 e 34,2% na Primavera de
2021) e Letónia.
18
Existem pelo menos cinco inquéritos que abordam esta temática: o European Union Statistics on Income and
Living Conditions (EU-SILC, mais informação em https://ec.europa.eu/eurostat/web/microdata/european-
union-statistics-on-income-and-living-conditions) , o European Health Interview Survey, o Commonwealth
Fund International Health Policy Survey (mais informação em https://ec.europa.eu/eurostat/web/microdata/
european-health-interview-survey), o Survey of Health, Ageing and Retirement in Europe (SHARE, mais informação
em http://www.share-project.org) tendo sido criada uma versão específica, SHARE COVID-19, para refletir o
contexto da pandemia e a procura de cuidados médicos, e o Eurofound Living, Working and COVID‑19 Survey
(mais informação em https://www.eurofound.europa.eu/data/covid-19).
19
Foram recolhidas várias ondas: A primeira onda foi iniciada a 9 de abril de 2020, quando a maioria dos Estados-
Membros estava no primeiro confinamento; a segunda onda foi iniciada a 2 de julho de 2020, quando as economias
e as sociedades foram reabrindo gradualmente; a terceira onda foi lançada em Março de 2021, quase um ano
depois, quando os países ainda estavam a lidar com diferentes níveis de confinamento; a quarta onda foi lançada
em Outubro/Novembro de 2021, contactando novamente apenas os entrevistados do painel para possibilitar
o acompanhamento dos desenvolvimentos observados desde o início da pandemia; a última onda, a quinta, foi
lançada de 29 de Março a 2 de Maio de 2022, procurando analisar como a vida mudou na Europa nos últimos dois
anos.
20
Na componente da saúde perguntou-se às pessoas nos 22 países da OCDE se, desde o início da pandemia,
precisaram de um exame médico ou tratamento que não receberam e procurou-se também perceber quais os tipos
de necessidade por tipo de cuidados.
Figura 10. Necessidade não satisfeitas de cuidados de saúde durante a pandemia por país,
UE27 e OCDE 22 (%) [Adaptado de Eurofound (2021) e (OECD, 2021)]
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
DINAMARCA
ÁUSTRIA
ALEMANHA
MALTA
HOLANDA
SUÉCIA
RÉPUBLICA CHECA
FRANÇA
ESTÓNIA
FINLÂNDIA
BÉLGICA
ESLOVÁQUIA
ITÁLIA
ESLOVÉNIA
GRÉCIA
CROÁCIA
ESPANHA
BULGÁRIA
LITUÂNIA
IRLANDA
POLÓNIA
LETÓNIA
ROMÉNIA
PORTUGAL
HUNGRIA
CHIPRE
LUXEMBURGO
UE27
OCDE22
Figura 11. Necessidades não satisfeitas de cuidados de saúde por tipo de cuidados de saúde,
Primavera de 2021, UE27 e situação portuguesa (%) [Adaptado de Eurofound (2021)]
21
Os dados apenas estão disponíveis para a Primavera de 2021, uma vez que não foram recolhidos nos períodos
anteriores
Por último, o relatório “State of Health in the EU - Companion Report 2021” (European Commission,
2022) menciona que a pandemia interrompeu o acesso a cuidados de saúde não-COVID para
muitos pacientes uma vez que as medidas para aumentar a resposta aos casos de COVID-19
foram acompanhadas por uma desaceleração ou suspensão temporária de cuidados
hospitalares não urgentes e não-COVID-19, que se estendeu a outras atividades, quer dos
hospitais (ambulatório, internamentos, consultas externas, etc.), quer dos cuidados de saúde
primários, identificando tempos de espera mais elevados nos diversos países. Para o caso de
Portugal, o relatório menciona que mais de um terço (34%) dos portugueses relataram algumas
necessidades de saúde não satisfeitas durante os primeiros 12 meses da crise pandémica, valor
muito superior à média da UE de cerca de 21%.
Também Tavares (2022), recorrendo aos mesmos dados do SHARE COVID-19, analisa
a experiência dos idosos europeus com 50 ou mais anos com cuidados de saúde não atendidos
(procura de cuidados médicos) durante a pandemia de COVID-19. De acordo com o estudo,
a percentagem de pessoas na UE com mais de 50 anos a relatar cuidados de saúde não
atendidos durante a pandemia varia muito de país para país. Portugal é o quarto país com
a maior percentagem relatada (32%). As razões (desistência, adiamento, recusa) para o registo
de cuidados de saúde não satisfeitos nos países da UE também são diferentes e não existe um
padrão único. Para a razão de adiamento pelo prestador, Portugal apresenta o segundo valor
mais elevado (25,67%). Um resultado interessante do estudo é que, em países caracterizados
por altos níveis de necessidades de saúde não atendidas, as pessoas com mais de 65 anos,
no ano imediatamente anterior ao da pandemia (2019), e após o controlo de um conjunto de
variáveis individuais e agregadas, reportam uma menor falta de cuidados médicos do que
nos países que em 2019 se caracterizaram por menores níveis de necessidades em saúde não
satisfeitas. Tendo em conta que Portugal apresenta sistematicamente valores mais elevados
de necessidades não satisfeitas, este resultado de Tavares (2022) pode indicar que o potencial
aumento de necessidades em saúde não satisfeitas verificado em Portugal pode não ter
sido tão grande quando comparado com países que apresentam valores mais baixos de
necessidades em saúde não satisfeitas.
O Plano Nacional de Saúde 2021-2030 (DGS, 2021) expressa também a preocupação com
as necessidades não satisfeitas de cuidados médicos. Recorrendo a relatórios já aqui
apresentados, é mencionado que durante os primeiros 12 meses da pandemia de COVID-19
a proporção de necessidades não satisfeitas de cuidados médicos terá aumentado em
Portugal, estimando-se que, para os primeiros 12 meses da pandemia, cerca de 34% das pessoas
inquiridas reportou falta destes cuidados, valor este superior à média da OCDE (22%). Também
é salientado que os estudos disponíveis sobre a proporção de necessidades não satisfeitas
de cuidados médicos por rendimento mostram o elevado desfasamento entre os resultados
declarados pela população de baixo e de elevado rendimento, sendo superior nas pessoas
incluídas no quintil de rendimentos mais baixo.
Também o Instituto Nacional de Estatística (INE), na análise provisória dos dados do Inquérito
às Condições de Vida e Rendimento em Portugal (INE, 2021b), indica o aumento da proporção
de necessidades não satisfeitas de consultas médicas em 2020, contrariando a tendência
decrescente dos cinco anos anteriores. Todas estas tendências devem ser objeto de análise
por parte dos decisores políticos.
Por seu turno, Kaye et al. (2021), analisando o impacto económico da pandemia COVID-19
nas instalações e nos sistemas de saúde, concluem que estratégias alternativas, como
a telemedicina, rapidamente se estabeleceram em instalações de saúde em todo o mundo.
Tal como os autores anteriores, também aferem que a telemedicina é uma solução cuja
aplicação será crescente no pós-pandemia.
Por último, Berenson et al. (2020), numa perspetiva de financiamento, fazem uma revisão
dos diferentes métodos de pagamento, mas também uma reflexão sobre as alterações
organizacionais relacionadas com novas formas de comunicação entre os utilizadores e as
unidades de saúde cujo desenvolvimento e implementação se acentuou com a pandemia
COVID-19. As chamadas telefónicas, visitas virtuais face a face, a revisão e avaliação de exames
submetidos através de e-mail, os portais para os doentes, a monitorização remota de dados
através de dispositivos médicos conectados e a partilha de dados de saúde na consulta com
profissionais de saúde remotamente são algumas das mudanças organizacionais, que serão
mantidas e incentivadas, mas que trazem consigo desafios no que se refere aos modelos de
pagamento.
De igual forma, diversos relatórios internacionais (Eurofound, 2021; European Commission, 2022;
OECD, 2021) acentuam a importância crescente da telessaúde para mitigar a desaceleração
ou suspensão temporária de cuidados hospitalares não urgentes e não-COVID-19, bem como
dos cuidados de saúde primários e para proteger doentes e trabalhadores de infeções.
De acordo com esses relatórios, os países introduziram novas políticas para apoiar e incentivar
a rápida adoção de ferramentas digitais de saúde durante a pandemia de COVID-19 (European
Commission, 2022).
Em Portugal, de acordo com várias instituições portuguesas, o recurso à telessaúde foi também
relevante para conter a redução da atividade presencial e uma forma de adaptação ao novo
contexto por parte dos prestadores de cuidados.
Por seu turno, o Tribunal de Contas (2020), comparando os períodos homólogos entre Março
e Maio de cada ano, menciona que o recurso à teleconsulta, entre 2019 e 2020, foi relevante
para contrapor a redução da atividade presencial nos cuidados de saúde primários, embora
nos cuidados de saúde hospitalares a realização deste tipo de consultas se tenha mantido
residual. É também mencionado que os efeitos da redução da atividade programada na saúde
da população foram mitigados, em certa medida, com medidas como o incentivo à utilização
da telemedicina para a triagem inicial dos utentes e para a realização de consultas.
A ACSS (2021), comparando 2019 com 2020, menciona as alterações nas rotinas do trabalho
dos profissionais e a adoção de novas formas de interação e de prestação de cuidados de
saúde, nomeadamente através da utilização de tecnologias de informação e comunicação.
Nos cuidados de saúde primários, parte da atividade programada foi realizada através de
consultas não-presenciais, tendo as mesmas duplicado no período em análise.
A análise dos dados mais recentes do Portal da Transparência SNS, conforme discutido
anteriormente nos ponto relativos aos CSP (Quadro 1 e Figura 1) e aos hospitais (Quadro 2
e Figura 9), está alinhada com as conclusões dos estudos internacionais e os relatórios
nacionais e consolida ainda mais a tendência detetada anteriormente. De facto, o recurso
à telemedicina, e outras variantes da telessaúde, foi uma das alternativas encontradas para
responder à necessidade de respostas à prestação de cuidados de saúde fora do espaço
hospitalar e de prestação de cuidados a fim de travar as linhas de transmissão e contágio do
vírus SARS-CoV-2.
Tal como mencionado, coloca-se a questão de saber i) se esta resposta se irá manter no
futuro, garantindo as condições técnicas e humanas para o efeito, bem como o desenho de
incentivos que promovam estas práticas, e ii) se este tipo de resposta responde integralmente
às necessidades de cuidados de saúde nos diversos níveis e tipologias de cuidados.
CONCLUSÕES
Os impactos da pandemia COVID-19 tiveram profundos reflexos sociais e económicos. Ao nível
da utilização de cuidados de saúde, a evidência é unânime quanto à redução da prestação de
cuidados de saúde em diversas linhas de atividade, nomeadamente nos cuidados de saúde
primários e nos cuidados hospitalares. Em Portugal, à semelhança do que aconteceu noutros
países, a necessidade de dar resposta à pandemia COVID-19 levou à adoção de medidas que
condicionaram a realização da atividade programada o que colocou diversos desafios às
organizações de saúde. Estes desafios sentidos, quer de organização, quer de prestação de
cuidados, emergiram sobretudo pela necessidade de reduzir a circulação e concentração de
pessoas no mesmo espaço físico. Evidência estatística comprova as quebras nas consultas
presenciais (CSP e hospitalares), urgências, consultas externas, cirurgias, e internamentos.
A importância das TIC e da telessaúde foi identificada como uma resposta eficaz na mitigação
dos impactos identificados.
Os dados públicos analisados para Portugal nos diversos períodos confirmam essa redução
no período 2019/2020 e a recuperação em algumas linhas de atividade no período 2020/2021.
Contudo, quando comparado o período 2019/2021, pré-pandemia e pós-pandemia com
alguma recuperação, constata-se que os níveis da pré-pandemia ainda não foram repostos.
Existem algumas exceções, com especial destaque nas consultas dos cuidados de saúde
primários (consultas médicas não presenciais ou inespecíficas) e nas consultas hospitalares
por telemedicina. A evidência mostrou que o crescente uso da telessaúde, nas suas diversas
variantes, ajudou a amortecer o impacto da COVID-19 no acesso aos cuidados ao longo de
2020 e de 2021.
Quanto aos níveis de atividade nas diversas linhas de atividade em Portugal, uma questão
que deve ser ponderada é se no pós-pandemia se pretende repor em todas as linhas os
níveis verificados na pré-pandemia. Por exemplo, tendo em conta as queixas dos hospitais
relativamente ao excesso de procura nas urgências antes da pandemia, sugerindo que os
problemas poderiam e deveriam ser resolvidos noutras áreas de cuidados, nomeadamente
nos CSP, esta reposição poderá ser equacionada e estendida a outras áreas de cuidados.
A telessaúde, nas suas múltiplas variantes, foi uma das respostas adotadas cuja utilização
crescente é evidenciada em vários estudos e trabalhos analisados. Os países introduziram novas
políticas para apoiar e incentivar a rápida adoção de ferramentas digitais de saúde durante
a pandemia de COVID-19. A sua utilização foi maximizada para mitigar os impactos económicos
e financeiros e os riscos e consequências da doença, tendo sido amplamente utilizada devido
à sua usabilidade e segurança na prestação de serviços de saúde. De acordo com os diversos
autores, essa tendência irá provavelmente acentuar-se ainda mais no futuro sendo a validação
das tecnologias de telessaúde um dos próximos passos destinados a melhorar a sua utilidade
e a completa implementação nos sistemas. As mudanças organizacionais introduzidas, que
fará sentido manter e até incentivar, trazem consigo desafios no que se refere aos modelos de
pagamento que também devem ser equacionados.
Capítulo 3
RECURSOS HUMANOS E CONCORRÊNCIA
PÚBLICO/PRIVADO
Julian Perelman1,2
1
Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa
2
Comprehensive Health Research Center
Tabela 4. Evolução do número total de profissionais do SNS, e das categorias mais numerosas.
Este aumento tem sido a principal fonte de crescimento da despesa do SNS. Entre 2016 e 2021,
as despesas têm aumentado de 9.130 para 12.386 milhões de euros, sendo que 42% têm sido
causados pelo aumento da despesa com recursos humanos (1.353 milhões), proporção muito
superior àquela devida à aquisição de medicamentos e dispositivos (733 milhões, 23%).
Além do aumento dos profissionais, outras alterações legislativas têm provocado o aumento
da despesa, como a recuperação dos valores pagos pelas horas extraordinárias, que tinham
sido cortados durante a Grande Recessão e o período de austeridade subsequente (os anos
da “Troika”), a recuperação salarial depois dos cortes ocorridos no mesmo período, e o lento
descongelamento das carreiras.
Por outro lado, outras medidas têm levado à necessidade de contratação de profissionais,
como a passagem para as 35 horas no caso dos enfermeiros, ou a limitação das horas de
urgência dos médicos com mais de 55 anos.
Fizemos um exercício simples, até um pouco simplista, para tentar perceber melhor este
fenómeno. Com base nos dados do Portal da Transparência do SNS, calculámos o número
total de serviços prestados, nomeadamente as consultas de cuidados de saúde primários e
hospitalares, internamentos (incluindo hospital de dia) e urgências, e dividimos este valor pelo
número total de profissionais do SNS, para cada ano desde 2016. Noutros termos, calculámos,
com os dados disponíveis publicamente, o valor da produtividade, nomeadamente, o número
médio de serviços produzidos anualmente por cada profissional do SNS. De seguida, calculámos
o custo médio por serviço, dividindo a despesa total do SNS pelo número total de serviços
produzidos. Estas contas têm muitas aproximações, pelo que a interpretação dos valores deve
ser cautelosa; já voltaremos ao assunto. No entanto, o retrato destes dois indicadores parece
ilustrar uma certa tendência, com diminuição contínua da produtividade e aumento contínuo
do custo médio (ver Figura 12). Noutros termos, parece que o aumento de profissionais não se
tem traduzido num aumento proporcional dos serviços prestados, aumentando em paralelo
os custos dos mesmos. E se a situação se deteriorou mais durante a pandemia, a tendência
negativa já era observada anteriormente.
Figura 12. Evolução da produtividade (serviços por profissional) e do custo médio por serviço,
no SNS.
450 120
110
400
100
350 90
80
300
70
250 60
50
200
40
150
30
100 20
(35 horas, 40 horas, etc.). Como este relatório não foi publicado para os anos 2019 a 2021, assumimos
que a distribuição de profissionais por tipo de horário era igual à de 2018. Acrescentámos, a esse
número de horas, o número de horas extraordinárias prestadas. Assim, conseguimos estimar
a produtividade/hora, ou seja, o total médio de serviços prestado por hora, por profissional.
Os resultados, na Figura 13, confirmam a tendência de diminuição, desde 2016. Noutros termos,
o aumento do número de horas também não se traduziu num aumento proporcional da
atividade.
0.350
0.300
0.2 50
0.200
0.150
0.100
0.050
0.000
2016 2017 2018 2019 2020 2021
De notar o aumento substancial das horas extraordinárias durante este período, que passou
de 11,2 milhões para 21,9 milhões entre 2016 e 2021, com um aumento particularmente acentuado
de mais de 4 milhões de horas em 2021.
Assim, com mais confiança na validade deste retrato, procurámos explicações para este
fenómeno.
Convém destacar, em primeiro lugar, que a erosão da produtividade já se notava antes de 2020.
Em 2020 e 2021, como foi abundantemente comentado, a produtividade diminuiu porque as
equipas centraram-se no tratamento dos doentes COVID, adiando ou cancelando uma série de
atividades previstas, nomeadamente consultas e cirurgias. As necessidades de rever espaços
e percursos para garantir o isolamento, e a forte pressão em determinados períodos devido ao
aumento de casos COVID, poderá explicar este fenómeno; as consultas hospitalares diminuíram
de 10% em 2020, e as cirurgias programadas de 19%. De notar, no entanto, que o fenómeno não
foi uniforme entre todos os hospitais públicos, com alguns deles, e não necessariamente os
mais pequenos, a conseguir manter em níveis elevados a sua atividade programada.
Tentemos então interpretar agora o período antes da COVID, que mostra que os problemas
eram anteriores à pandemia, que apenas agudizou as dificuldades existentes. Uma primeira
explicação é a disrupção das equipas. Se a passagem para as 35 horas obriga a contratar
novos profissionais, não é de esperar que a substituição seja perfeita, e que todas as atividades
possam continuar ao mesmo ritmo e com a mesma qualidade, como se nada tivesse acontecido.
O mais provável é que tenham sido contratados novos profissionais mais jovens e menos
experientes, que tiveram que aprender e se adaptar para conseguir o mesmo desempenho
que os profissionais que vieram substituir. Esta transição pode não ter sido simples, obrigando
a um período de transição mais ou menos longo, com consequências negativas na prestação
de serviços.
Uma segunda explicação é o aumento do absentismo. Entre 2015 e 2019, a taxa de absentismo
aumentou de 11,2 para 12,4% e, durante a pandemia, chegou a aumentar mais de 20% (em
2020). Um exemplo simples permite compreender melhor a dimensão do fenómeno. O Centro
Hospitalar Universitário de Lisboa Norte, que junta o Hospital de Santa Maria e o Hospital Pulido
Valente, contava em março de 2022 mais de 6.600 profissionais. Uma taxa de 12% de absentismo
significa que, cada dia, faltam ao trabalho aproximadamente 800 profissionais. A disrupção
dos serviços, mencionada no parágrafo anterior, pode assim atingir proporções dramáticas.
Resta perceber quais as causas de um absentismo de tamanha dimensão, e aqui as causas
possíveis abundam. Se alguns argumentam a falta de controlo da assiduidade, ou a falta de
incentivos para ela (durante a Troika foram suprimidos estes incentivos), outros apontam o nível
elevado de desgaste dos profissionais, esgotados pelas horas extraordinárias e as condições
de trabalho pouco satisfatórias. Um estudo publicado em 2016 apontava para níveis de burnout
elevados, com 21,% dos profissionais entrevistados a trabalhar no SNS com burnout moderado,
e 47,8% com burnout elevado(2).
22
https://24.sapo.pt/atualidade/artigos/mais-de-2500-profissionais-de-saude-sairam-do-sns-nos-anos-de-pandemia
23
Os números foram retirados da plataforma do Instituto Nacional de Estatística. O ano de 2019 é o mais recente
disponível, pelo que não permite observar um eventual efeito da pandemia.
Figura 14. Evolução das consultas e cirurgias, por setor (público ou privado).
Camas Médicos
25.000
20.000
20.000
15.000
15.000
10.000
10.000
5.000
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Público Privado
Enfermeiros Consultas
40.000
30.000
10.000.000
20.000
10.000 6.000.000
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019
Cirurgias
700.000
500.000
300.000
Público Privado
Por outro lado, o privado tem-se centrado prioritariamente, embora cada vez menos
exclusivamente, em intervenções que são relativamente pouco complexas, oferecidas a uma
população mais saudável e com maior capacidade para pagar, por preços fixados também
de forma muito flexível num setor relativamente pouco concorrencial. Noutros termos, o setor
privado tem conseguido oferecer condições de trabalho mais favoráveis por tratar uma
população menos complexa e com maior literacia, e pelas condições financeiras que lhe têm
permitido inovar em termos de equipamentos e outros meios de tratamento.
Este modelo, no entanto, não poderá atingir os benefícios esperados sem uma verdadeira
reforma profunda da governação do SNS. De facto, o sucesso da dedicação plena depende
da capacidade de definir, assumir e monitorizar compromissos. É necessário que cada
hospital possa definir, em negociação com cada profissional, as metas de desempenho
a atingir. É necessário que as metas sejam realistas, exequíveis, monitorizáveis, e adaptadas às
necessidades locais. É necessário poder avaliar o cumprimento das metas e, eventualmente,
retirar a dedicação plena a quem não as conseguir cumprir. É necessário, finalmente, que
os valores pagos possam enfrentar a concorrência do setor privado. Por um lado, em áreas
mais remotas poderá ser necessário pagar melhor para atrair mais profissionais. Por outro
lado, em grandes centros urbanos, poderá ser necessário pagar mais para fazer face à maior
concorrência do setor privado. E, last but not least, de nada servirá um modelo de remuneração
inovador e atrativo se não foram melhoradas as condições de emprego, como a flexibilidade
nos contratos em termos de horas, e de trabalho, como sendo a possibilidade de investigar
e estudar, de progredir na carreira, e de ser reconhecido pelas chefias.
Não será possível ter sucesso num sistema centralizado, onde as decisões são meramente
tomadas através de despachos, sem autonomia de gestão nem responsabilização dos
gestores, sem um acompanhamento benevolente e exigente dos mesmos, e sem um esforço
para contratar gestores com base no seu mérito.
Há quem acredite que esta revolução na governação é impossível, pelo que será melhor
entregar o SNS ao setor privado e contentar-se em regular e comprar serviços. Este processo,
embora nunca anunciado politicamente, está a acontecer na prática, com os hospitais públicos
a colmatar a falta de profissionais através da compra de serviços aos privados. Nada impede
de pensar nesta opção, exceto que, por um lado, os custos da mudança seriam exorbitantes e,
por outro, que não se vislumbra porque um Estado incapaz de monitorizar, regular e incentivar
hospitais públicos, seria capaz de o fazer com hospitais privados. Além disso, um tal modelo
apenas poderá funcionar se houver concorrência no setor privado, o que está longe de ser
o caso num setor que é dominado por três ou quatro grandes grupos, e que deixaria de conviver
com a concorrência do SNS. Seria uma solução mais complexa e pior do que tentar reformar
o SNS. Fica a mensagem que, sem este tipo de reforma estrutural da governação, nenhum
modelo remuneratório dos profissionais, antigo ou inovador, poderá ter sucesso na retenção
dos profissionais no SNS.
Capítulo 4
CUIDAR EM CASA
Manuel Lopes,1,2 ,Pedro Lopes Ferreira3, César Fonseca1,2, Lara Pinho1,2
1
Escola de Enfermagem São João de Deus, Universidade de Évora
2
Comprehensive Health Research Center
3
Centro de Estudos e Investigação em Saúde da Universidade de Coimbra, Universidade de Coimbra
Assim, e como forma de enquadramento, começamos por definir o que se entende por cuidados
domiciliários. Pela análise efetuada constatamos que não existe uma consolidação definitiva
deste conceito. Em alguns casos, na concetualização, aparece uma distinção entre dois níveis
de cuidados: um que oferece cuidados ditos “básicos” e que são dirigidos às atividades de
vida diária; e outro que oferece cuidados ditos “profissionais”, os quais, por norma, envolvem
profissionais de saúde. Apesar de considerarmos esta divisão arbitrária e acima de tudo
indutora de clivagens, referimo-la porque, de algum modo, está subjacente ao modelo vigente
em Portugal.
Podemos assim dizer que os cuidados domiciliários deslocalizam os cuidados das instituições
para a casa das pessoas, exigindo por isso que se repense o processo de cuidados
nomeadamente no que concerne ao papel de cada cuidador, com particular destaque para
o papel do doente e do cuidador informal (Lopes, 2021).
Com base num trabalho de revisão sistemática feito em diversos países europeus com
o objetivo de descrever sistematicamente o que tem sido relatado sobre cuidados domiciliários
na Europa na literatura científica ao longo da última década, interessa considerar as seguintes
dimensões e subdimensões (Genet et al., 2011):
I. Política & Regulação
• cuidados domiciliários como prioridade;
• a divisão entre responsabilidades locais, regionais e nacionais;
• política de cuidados de saúde versus política de cuidados sociais;
• regulação dos benefícios dos cuidados domiciliários;
• regulação da qualidade dos serviços;
• aumento da escolha dos utentes;
• concorrência e co-governação;
• regulação do sector dos cuidados domiciliários privados; e descrição de tarefas dos
profissionais de cuidados domiciliários.
II. Financiamento
• as fontes de financiamento;
• co-pagamentos;
• atribuição de orçamentos aos prestadores;
• dinheiro para programas de cuidados e nível de despesas com os cuidados domiciliários.
III. Organização e prestação de serviços
• o tipo de prestadores de cuidados domiciliários
• integração de cuidados ao domicílio com outros tipos de serviços
• acessibilidade dos cuidados domiciliários
• monitorização das necessidades de cuidados
• qualidade dos cuidados ao domicílio
• condições de trabalho dos trabalhadores dos cuidados domiciliários
• aumentar a capacidade de autocuidado
IV. Pessoa dependente e prestadores de cuidados informais
• as pessoas idosas abrangidas pelos cuidados domiciliários
• características dos beneficiários dos cuidados domiciliários
• relação entre cuidados informais e formais
• a disponibilidade de cuidados de descanso do cuidador
Numa sociedade com profundas alterações na sua estrutura demográfica, com o crescente
envelhecimento da população, e com uma maior prevalência de doenças crónicas,
incapacitantes e progressivas, é cada vez maior o número de pessoas cuja capacidade de
independência e/ou autonomia se apresenta comprometida e que demonstram necessidades
de cuidados de longa duração.
Em Portugal, segundo a OCDE (OECD, 2021), a parte da população com 65 ou mais anos de idade
deverá, em 2050, exceder um terço, com uma em cada oito pessoas com mais de 80 anos. Em
termos de esperança de vida, segundo a mesma fonte, em 2019, no nosso país, as mulheres com
65 anos podiam esperar em média viver mais 22,3 anos e os homens, com a mesma idade, mais
18,5 anos. No entanto, quando analisamos a esperança de vida saudável, isto é, sem limitações
na atividade, as mulheres sofrem uma redução de 69% e os homens de 57%. A percentagem de
adultos com 65 anos ou mais com alguma limitação de atividade corresponde em Portugal
a 44,6%, sendo de 18,7% a percentagem correspondente aos que possuem limitações severas.
Um caso particular no contexto dos cuidados em casa são os cuidados prestados pelos
denominados cuidadores informais, cuja definição não tem conseguido encontrar um consenso
suficientemente alargado. De facto, por exemplo, a OCDE define cuidadores informais “aqueles
que prestam cuidados a amigos ou familiares, podendo fazê-lo como parte de um trabalho
voluntário não contratual” (OECD, 2018). Também a EUROCARERS, uma associação europeia de
organizações de cuidadores informais, encara o cuidador informal como “uma pessoa que
presta cuidados geralmente não remunerados a alguém com uma doença crónica, deficiência
ou outra necessidade de saúde ou cuidados duradouros, não sendo profissional de saúde”
(EUROCARERS, 2020).
parceiros, outros membros do agregado familiar e outros familiares, amigos, vizinhos e outras
pessoas, que normalmente, mas não necessariamente, já têm uma relação social com a pessoa
a quem prestam cuidados” (MISSOC, 2022).
Com se pode ver, esta definição exclui do estatuto de cuidador informal quem não seja cônjuge,
parente ou unido de facto. Assim, não poderá ser considerado, por exemplo, um vizinho ou um
amigo, mesmo que viva em economia comum com a pessoa cuidada. Além disto, define que
o cuidador informal pode ter benefícios fiscais, embora não especifique quais estes benefícios.
Esta lei regula também os direitos e os deveres do cuidador e da pessoa cuidada.
Mais concretamente, nos artigos 5.º e 6.º são definidos os direitos e os deveres do cuidador
informal reconhecido, tal como se pode constatar na Tabela 5.
No entanto, num estudo organizado pelo Movimento ‘Cuidar dos Cuidadores Informais’
no primeiro trimestre de 2021, obteve-se a informação que 59,1% dos cuidadores informais
desconhecia a existência do Estatuto do Cuidador informal.
Por outro lado, a percentagem do PIB que o nosso país dedica aos cuidados de longa duração,
em ambas as vertentes saúde e social, é apenas de 0,93 %, um valor baixo quando comparado
com outros países como os Países Baixos, a Noruega, a Dinamarca e a Suécia que dedicam,
respetivamente, 4,1%, 3,7%, 3,6% e 3,4% do seu PIB para este tipo de cuidados. De acordo com este
investimento, e apesar de se tratar de funções muito intensas, há menos de um (0,8) profissional
por 100 indivíduos com 65 ou mais anos de idade. Além disto, estimativas do Eurostat indicam
que, em Portugal, o trabalho realizado pelos cuidadores informais é equivalente a 2% do PIB
nacional (European Commission & Directorate-Generale for Employment, 2021).
Enquanto que a prevalência dos cuidados informais na população adulta europeia atinge os
17 % (Comissão Europeia et al., 2018), este valor chega aos 25,6% para os cuidadores com 50 ou
mais anos de idade (Roll & Litwin, 2013). Em Portugal, o Inquérito Nacional de Saúde informa-
nos que 11,1% prestam cuidados ou assistência informal pelo menos uma vez por semana, 85,2%
são familiares da pessoa dependente, e 27% prestam cuidados informais pelo menos durante
20 horas semanais (INE, 2020). Num relatório mais recente da Comissão Europeia, a última
estimativa da percentagem da população portuguesa a prestar cuidados informais era de
14,6% para as mulheres e 9,6% para os homens, sendo de 30,6% a percentagem de cuidados
informais que ultrapassam as 20 horas semanais, a maior a nível europeu (European Commission
& Directorate-Generale for Employment, 2021).
Relativamente aos cuidados informais, o mais recente relatório Health at a Glance da OCDE
(OECD, 2021) refere que cerca de 13% dos cidadãos dos países da OCDE com 50 ou mais anos de
idade declararam em 2019 prestar cuidados informais pelo menos semanalmente, sendo em
Portugal esta percentagem inferior a 10%. Portugal é também o país da OCDE em que é maior a
percentagem de mulheres a desempenharem funções de cuidador informal.
DIFICULDADES NECESSIDADES
É sempre importante também chamar a atenção para o facto de a prestação destes cuidados
pelos cuidadores informais poder ser muito desgastante, comprometendo necessariamente
a sua qualidade de vida, sendo normalmente acompanhada por ansiedade e depressão,
exaustão, isolamento, risco de pobreza e, como atrás referido, dificuldade em manter-se no
mercado laboral.
São normalmente cuidados prestados diariamente por indivíduos, quase sempre sem
preparação prévia para as tarefas que desempenham. Ainda assim, cuidar de uma pessoa
dependente não implica somente o aparecimento de repercussões negativas, pois para alguns
cuidadores a tarefa que desempenham pode ser emocionalmente gratificante e suscitar um
impacto favorável a nível pessoal, familiar ou mesmo social.
sobrecarga intensa, 23,3% uma sobrecarga ligeira e 68,9% necessitam de apoio parcial ou total
para a tomada de decisões.
Por fim, podemos afirmar que nos últimos anos tem-se vindo a reconhecer cada vez mais o
papel importante dos prestadores de cuidados informais e a necessidade de apoiar o seu
papel de prestadores de cuidados de longa duração. Isto está, em certa medida, ligado ao
crescente interesse e debate sobre as disposições para aumentar a escolha e a flexibilidade
dos cuidados a longo prazo (MISSOC SECRETARIAT, 2009).
Em relação aos CSP, são realizados cuidados domiciliários de enfermagem e/ou médicos a
utentes pertencentes às Unidades de Saúde Familiar (USF) ou às Unidades de Cuidados Saúde
Personalizados (UCSP). Estes cuidados são realizados pontualmente a pessoas que estão
impossibilitadas de se deslocar às unidades de saúde por alterações na mobilidade, aquando
de uma situação aguda de doença e/ou necessidade de cuidados de enfermagem, como por
exemplo, procedimentos técnicos (algaliação, entubação nasogástrica), tratamento de feridas
e/ou educação para a saúde. Em alguns casos, são também efetuadas consultas de vigilância
de hipertensão e diabetes ao domicílio, embora não seja prática de todas as unidades. Não
existem, no entanto, dados públicos sobre o tipo de cuidados domiciliários prestados em
cada visita domiciliária nem um modelo que desenvolva este tipo de cuidados em todas as
unidades de saúde. Assim sendo, temos equipas de saúde familiar que apenas fazem visitas
domiciliárias médicas em caso de doença aguda, e outras que realizam consultas de vigilância
de doenças crónicas no domicílio. O mesmo se verifica no que concerne à enfermagem, alguns
enfermeiros limitam-se a realizar cuidados ao domicílio apenas em situações de tratamento
de feridas e outros procedimentos técnicos necessários, e outros que prestam cuidados de
vigilância de doenças crónicas, educação dos cuidadores, entre outros. São ainda realizados
cuidados domiciliários a recém-nascidos e à puérpera em algumas unidades, não havendo,
também neste caso, um modelo de cuidados previsto. Assim, fica ao critério de cada equipa
ou até mesmo de cada profissional o tipo de cuidados a prestar ao domicílio. O único dado
que conseguimos obter em relação a este ponto é o número de consultas médicas ao domicílio
(Figura 15), não se conseguindo perceber o motivo da consulta. Como se pode verificar pela
figura 1 há uma grande variabilidade do número de consultas médicas ao domicílio em cada
mês, não se conseguindo entender o motivo. Não se conseguem visualizar dados relativos aos
cuidados domiciliários prestados por outros profissionais.
40K 800
30K 600
20K 400
10K 200
0 0
2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Já as ECCI, que integram igualmente os Cuidados de Saúde Primários e que fazem parte da
carteira de serviços das Unidades de Cuidados na Comunidade (UCC), dão resposta a situações
que necessitam de cuidados prolongados de saúde no domicílio, seja de carácter temporário
ou permanente. Estas equipas estão integradas na Rede Nacional de Cuidados Continuados
Integrados (RNCCI) e têm como propósito a prestação de cuidados de saúde a pessoas em
situação de dependência funcional, que sofrem de doença terminal ou se encontrem em
processo de convalescença; que não necessitam de internamento mas que não se podem
deslocar; e prestar apoio aos seus cuidadores e famílias. Estas Equipas têm como referência o
modelo de cuidados definido para a RNCCI e estão enquadradas por legislação própria onde
estão previstos, por exemplo, os critérios de referenciação que são os seguintes:
a) necessidade de cuidados de saúde com frequência superior a uma vez por dia, ou,
prestação de cuidados de saúde superior a 1h e 30 minutos por dia, no mínimo três dias
por semana;
b) cuidados além do horário normal de funcionamento da equipa de saúde familiar, incluindo
fins de semana e feriados;
c) complexidade de cuidados que requeiram um grau de diferenciação, ao nível da
reabilitação;
d) necessidades de suporte e capacitação ao cuidador familiar/informal.
Como critérios de exclusão deste tipo de resposta a legislação prevê: pessoas com elevado grau
de dependência sem cuidador de referência; pessoas com doença aguda com necessidade
de hospitalização e pessoas com necessidade exclusiva de apoio social.
Enquanto nos “domicílios” realizados pelas equipas de família são apenas os médicos ou os
enfermeiros a prestarem cuidados de saúde, nas ECCI os cuidados de saúde são prestados
por uma equipa interdisciplinar, de acordo com as necessidades da pessoa ou cuidador,
fazendo parte das equipas enfermeiros generalistas e especialistas, médicos, psicólogos,
nutricionistas, terapeutas ocupacionais, fisioterapeutas, terapeutas da fala, assistentes sociais
e assistentes operacionais. É, todavia, de realçar que nem todas as ECCI têm todos estes perfis
profissionais. Daqui resulta a constatação de diferentes níveis de investimento nestas equipas
e, consequentemente, diferentes níveis de acesso aos cuidados nas diferentes regiões.
As ECCI devem dispor de espaço físico próprio, integrado nas instalações da Unidade de
Cuidados na Comunidade, com o respetivo equipamento informático. Deve ser disponibilizada
adequada capacidade de mobilidade e de comunicação. Para além disso, é também
indispensável que a equipa disponha de material necessário à prestação de cuidados.
A Tabela 7 demonstra a evolução dos lugares da ECCI de 2016 a 2019 por região (últimos dados
disponíveis ao público). Como se pode constatar, todas as regiões tiveram um decréscimo
de lugares ao longo do tempo. Estes dados devem ser interpretados tendo como referência
o aumento continuado da taxa de envelhecimento, mas também os indicadores de esperança
de vida saudável aos 65 anos e a prevalência de multimorbilidade e incapacidade (INE, 2022).
Por sua vez, os dados relativos à multimorbilidade24 mostram-nos que Portugal se situa acima
da média Europeia (Figura 17). A sua prevalência é-nos demonstrada através de um estudo feito
com base nos dados do Inquérito Nacional de Saúde com Exame Físico onde se constata que
38,3% das pessoas referem multimorbilidade. A prevalência varia em função do sexo (Mulheres
43,4%, Homens 32,7%) e da idade. Relativamente a esta, damos relevância à faixa etária dos 65
aos 74 anos, onde se constata uma prevalência de multimorbilidade de 82,3% para as mulheres
e de 65,5% para os homens. Se olharmos para as regiões verificamos que a prevalência mais
elevada é no Alentejo, Lisboa e Vale do Tejo e Algarve (Quinaz Romana et al., 2019).
Figura 17. Multimorbilidade auto-reportada pelo grupo populacional com 65 e mais anos de
idade.
Belgica Portugal EU
Outra dimensão que interessa considerar tem a ver com a equidade na distribuição das
respostas de cuidados em função das necessidades.
24
Coexistência de duas ou mais doenças, mas sem nenhuma delas ter precedência sobre as demais (Lefèvre et al.,
2014).
Outro dado que merece um olhar atento é a taxa de ocupação das ECCI (Tabela 9). Nas regiões
Norte e Centro tem havido um aumento da taxa de ocupação. Lisboa e Vale do Tejo mantem-
se entre os 69% e os 71%, no Alentejo e Algarve diminuiu a taxa de ocupação de 2016 para 2019.
Este é um dado preocupante, dado que houve um decréscimo das vagas disponíveis e mesmo
assim a taxa de ocupação mantém-se entre os 64% e os 70%, à exceção do Norte, que é de 83%.
Norte 68 % 69 % 75 % 75 %
Centro 52 % 58 % 62 % 62 %
LVT 69 % 69 % 71 % 71 %
Alentejo 70 % 64 % 65 % 65 %
Algarve 67 % 66 % 71 % 71 %
Se o índice de envelhecimento tem vindo a aumentar, se Portugal é dos países com níveis mais
baixos de esperança de vida com saúde e apresenta taxas elevadas de multimorbilidade
e dependência, questionamos:
• Por que razões o planeamento de respostas não tem em consideração os indicadores?
• Como é que as respostas de cuidados de saúde domiciliários têm taxas de ocupação
tão baixas? Será por falta de referenciação por parte das equipas de saúde?
Em relação à articulação de cuidados, a Norma da DGS n.º 020/2018 define que, caso não haja
necessidade de continuidade de cuidados, é enviado um email para o ACES e entregue carta de
alta ao utente. Quando há necessidade de continuidade de cuidados, além do procedimento
anterior deve ser realizado um contacto telefónico com a USF/UCSP/ECSCP/ECCI/ERPI da área
de residência, para agendamento de dia e hora para programação do plano de cuidados em
regime comunitário.
Sobre esta tipologia de resposta, a qual consideramos de elevado potencial, não tivemos
acesso a dados que nos permitam compreender:
• em quantos hospitais já se encontra a funcionar;
• quantas pessoas usufruíram deste tipo de resposta;
• quais os indicadores de processo, estrutura e resultado.
Com base na literatura científica internacional fica claro que os modelos de domiciliação, em
regra, recolhem elevados níveis de satisfação por parte dos doentes. No entanto, os resultados
em saúde, bem como os indicadores económicos, são variáveis, carecendo por isso não apenas
de modelos bem definidos, mas principalmente de serem monitorizados e avaliados.
Respostas Sociais
Como facilmente se depreende, um dos focos principais destas respostas serão as pessoas
com multimorbilidade e dependência, sendo, portanto, comum ao das respostas de saúde.
Apesar disso, é conhecida e histórica a inexistência de qualquer articulação entre estes dois
tipos de resposta. Exceção para as respostas da RNCCI, as quais têm a dupla tutela (Saúde
e Segurança Social), o que não significa que este nível de cuidados se articule com as restantes
respostas sociais.
O Serviço de Apoio Domiciliário é uma resposta social que não inclui cuidados de saúde, mas
cuidados de higiene, alimentação, limpeza da casa e de roupas, prestados por pessoas não
diferenciadas a quem deles necessita, desde que solicitado.
A capacidade dos SAD está descrita na Tabela 10. Verificamos que a região do Alentejo é a que
apresenta uma maior capacidade de resposta destes serviços por cada 100 pessoas com 65 ou
mais anos, seguida das regiões Centro, Norte, Lisboa e Vale do Tejo e Algarve.
CONCLUSÕES POSSÍVEIS
Tal como já foi referido, a domiciliação de cuidados (cuidar em casa) tem potencial para
incrementar a satisfação com os cuidados, promover o envelhecimento em contexto familiar e,
por esta via, contribuir para melhores indicadores de qualidade de vida e de saúde. Tem ainda
potencial, de acordo com alguns estudos, para reduzir os gastos em saúde, principalmente,
se usufruir das vantagens das tecnologias de informação e comunicação, devidamente
integradas num modelo de cuidados. Todavia, para isso precisamos dispor, não apenas de
uma visão política estratégica que defina e regule o processo sob múltiplas perspetivas, mas
também um modelo de cuidados que garanta que os mesmos são centrados na pessoa e sua
família, são integrados e contínuos.
Pelos dados apresentados relativos a Portugal, concluímos que existe a necessidade de:
1. Uma orientação política estratégica explícita e integrada para a domiciliação de
cuidados. A única que conhecemos é relativa à hospitalização domiciliar, deixando
também esta por definir um conjunto considerável de dimensões, nomeadamente
as que concernem ao modelo de cuidados, participação do doente e cuidador no
processo, integração e continuidade (as soluções de continuidade propostas não são
próprias da era das tecnologias da informação e comunicação);
2. Corrigir e superar a sobreposição e a desarticulação entre os diferentes tipos de
resposta de diferentes níveis de cuidados e de diferentes sectores. Note-se que nos
CSP temos respostas domiciliárias dadas por diferentes equipas que até podem
coabitar o mesmo espaço, mas que não fazem intervenção coordenada. A ausência
de integração de cuidados entre a saúde e as respostas sociais é mais um exemplo de
falta de orientação estratégica com claros prejuízos para os utentes;
3. Delinear um sistema de monitorização e de avaliação das respostas de domiciliação
de cuidados existentes. Consequentemente, será necessário definir e construir
indicadores de resultados e de custos destes cuidados que permitam aferir
e acompanhar continuamente a relação custo-benefício;
4. Definir normas de qualidade em saúde, sendo certo que as existentes para a prestação
de cuidados noutros contextos não são replicáveis no domicílio uma vez que, quer
o contexto, quer o processo, são diferentes;
5. Corrigir a desigual distribuição de respostas, a qual tem mais a ver com a capacidade
das organizações do que com a necessidade das pessoas. Resulta daqui evidente
iniquidade no acesso aos cuidados;
Capítulo 5
A SAÚDE DIGITAL EM PORTUGAL
Teresa Magalhães (coord.)1,2, Julian Perelman1,2; João Cordeiro1,2;
Ana Rita Pedro1,2; Carlos Sousa3; Joana China1; Joana Gonçalves1;
Joana Seringa1
1
Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa
2
Comprehensive Health Research Center (CHRC), Universidade Nova de Lisboa
3
HL7 Portugal
ENQUADRAMENTO
Os sistemas de saúde enfrentam novos desafios, com a necessidade de adaptação à transição
epidemiológica e às consequências de uma população cada vez mais envelhecida, assim
como o aumento dos gastos com saúde e a baixa produtividade dos serviços (Panch et al.,
2018). Neste contexto, a transformação digital é fundamental para o desempenho dos sistemas
de saúde, podendo ter grandes consequências para o futuro da prestação de cuidados de
saúde.
A saúde digital impacta diretamente na redução do peso da doença crónica através de uma
melhor gestão da doença, apostando na prevenção da doença, na promoção da saúde e na
literacia em saúde.
Alguns dos desafios que se colocam estão relacionados com (Delloite, 2021; Magalhães, 2021):
• Governança de saúde digital
• Equidade e outros desafios éticos, legais e sociais da saúde digital
• Literacia em saúde e digital para capacitação de cidadãos, doentes e profissionais
A governança para a saúde digital pode ser definida como o exercício da autoridade
política, administrativa e técnica para gerir os sistemas de informação em saúde, envolvendo
a participação ativa da sociedade (Carnicero & Serra, 2020). A governança da saúde digital
direciona os sistemas de saúde no sentido da melhoria da qualidade, eficiência e a efetividade,
para tal é necessário uma estratégia, um plano de financiamento e a garantia dos direitos de
todos os intervenientes no sistema da saúde (Carnicero & Serra, 2020).
As soluções de saúde digital devem constituir parte de uma estratégia integrada nas
prioridades de saúde, devendo beneficiar a população de forma ética, segura, equitativa
e sustentável. Para tal, a governança de saúde digital deve ser orientada por princípios de
transparência, acessibilidade, replicabilidade, interoperabilidade, privacidade, segurança
e confidencialidade (Carnicero & Serra, 2020).
Cabe ao poder político capacitar as agências centrais (AMA, ACSS, ERS, DGS, INFARMED,
IGAS), no sentido de regulamentarem em favor da adoção de normas a implementar entre
as organizações de saúde. Só assim poderemos ter um mercado competitivo, inovador,
verdadeiramente aberto e justo.
Constatando o que vem sendo desenvolvido pela União Europeia (EU) ou Estados Unidos,
sublinha-se o impulso dado a projetos agregadores e transversais, que estimulem e acelerem
a adoção destas práticas, entre a indústria e as organizações de saúde.
A título de exemplo, destaca-se o caso austríaco (Duftschmid et al., 2009) que desde cedo
(Sabutsch, 2013) definiu uma arquitetura para a sua infraestrutura de saúde no digital (ELGA)
(Brandstätter, 2020).
Sublinha-se que o bem-estar dos profissionais de saúde e o combate à fadiga (burnout), está
também relacionado com a facilidade na utilização (Veloso et al., 2021) das ferramentas digitais
(ex. processo clínico eletrónico) e na simplicidade com que pode consultar um registo clínico
sem necessidade de fluir entre distintas aplicações ou portais (internos ou externos).
A saúde digital não existe sem uma cultura de segurança. A aplicação de medidas de proteção
de dados tem sido um fator desafiante, dado o aumento de ciberataques (por exemplo, os
recentes ataques ao Hospital Garcia de Orta ou aos Laboratórios Germano de Sousa), as
diferentes tipologias de sistemas de informação e a diversidade de medidas de proteção não-
generalizadas (Khan & Hoque, 2016).
É imperativo existir uma cultura de segurança entre os Profissionais das Instituições de Saúde e
para isso é preciso formar tanto lideranças como operacionais e por outro uma estratégia de
cibersegurança dos sistemas em que todos os hospitais estejam no mesmo nível de segurança.
Estes fatores, aliados à crescente preocupação do grande público em relação ao uso
generalizado de dados pessoais, levam à necessidade da criação de medidas de segurança
aplicadas sob políticas explícitas e bem articuladas (Khan & Hoque, 2016; Vayena et al., 2018).
Estas assentam sobretudo na adaptação de standards de gestão de governação nacional e
internacional de dados (Vayena et al., 2018). Assim, sabendo que a produção de data continuará
a crescer exponencial e heterogeneamente, sob a alçada das mais variadas aplicações
digitais e tecnológicas, as políticas de proteção de dados requerem uma reformulação na
área da defesa de dados pessoais contra ataques direcionados, implementação de métodos
transparentes e devidamente comunicados aos seus utilizadores, e, por fim, criação de medidas
que impliquem as responsáveis pela violação do sigilo clínico e pessoal (Khan & Hoque, 2016;
Vayena et al., 2018).
A OMS no seu documento Global strategy on digital health 2020-2025 enquadra como objetivo
estratégico o reforço da governança para a saúde digital a nível nacional e internacional
com um meio para a atingir cobertura universal de saúde e os Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável relativos à saúde (WHO, 2021).
Para responder a este desafio tornam-se necessárias novas metodologias que promovam
a integração da equidade enquanto fator fundamental aos vários níveis de desenvolvimento
e aplicação de novos meios tecnológicos e digitais, tal como, por exemplo, preconizado na
Digital Health Equity Framework (Crawford & Serhal, 2020). Por exemplo, estas novas metodologias
podem resultar no desenvolvimento de tecnologias e estudos sobre inteligência artificial no
âmbito da transparência ética (Trocin et al., 2021) e integração das comunidades no processo
de desenvolvimento de novas soluções digitais (Brewer et al., 2020).
No entanto, esta solução deve ser alargada a todo o país e não se concentrar apenas na
região norte do país.Por outro lado, verificou-se que com o início da pandemia um dos serviços
do SNS24 de marcação de consultas reduziu-se drasticamente (Figura 18), aumentando os
problemas de acesso.
Apesar dos diferentes canais de interação do cidadão com o sistema permanecem inúmeras
dificuldades no acesso: o telefone dos cuidados de saúde primários não é atendido,
a funcionalidade de marcação de consulta no portal do cidadão não está disponível, entre
outras. Urge, portanto, ser pensada uma solução transparente e de fácil acesso que possa
orientar o utilizador no sistema com o número mínimo de portas de entrada. Destaca-se
o cuidado dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) sobre o tema da equidade
no acesso no ponto 5, Acesso dos Segmentos em risco de exclusão, plasmado no Plano
Operacional 2021-2022 do PENTS (SPMS & CNTS, 2021).
Figura 18. Marcação de consultas SNS24: serviço administrativo – com sucesso (2020)
3 000
2 644
2 500
2 121
2 000
1 500
1 000
772
741 687 696 707
557 582
500
279 291
55
0
jan20 fev20 mar20 abr20 mai20 jun20 jul20 ago20 set20 out20 nov20 dez20
Fonte: Original SPMS. (Ministério da Saúde. Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), 2020b)
Por outro lado, outros desafios éticos, legais e sociais da saúde digital merecem atenção, tais
como questões de privacidade, confidencialidade e proteção de dados de saúde; a avaliação
e validação da segurança e qualidade das inovações na área da saúde digital; a identificação
e mitigação de obstáculos a uma justa distribuição dos riscos, custos e benefícios de produtos
e serviços; a promoção da transparência dos processos; a deteção e correção de enviesamentos
de algoritmos em contextos de saúde; o respeito pela autonomia e das tomadas de decisão
livres e esclarecidas; a aferição do risco de desumanização dos cuidados de saúde, ou, de
forma mais ampla, a definição de regras de responsabilidade por danos em saúde prestados
em ambiente digital. A estes desafios, deve responder-se com determinação, envolvimento,
debate alargado, tolerância, empatia e consciência, garantindo o maior respeito possível
pelos princípios éticos fundamentais e normas jurídicas aplicáveis e a desenvolver (Cordeiro,
2021; Victorino et al., 2021).
A existência de líderes e profissionais preparados e que estejam já hoje a preparar este futuro
é fundamental. Dois dos motores para a transformação digital na área da saúde são, por um
lado, o aumento da esperança média de vida, com a consequente necessidade de acesso
a cuidados de saúde, e por outro, a crescente necessidade de adequação na formação de
profissionais de saúde, além da necessidade de melhoria da eficiência das próprias instituições
e sistema de saúde (Pinto & Magalhães, 2021). Na reflexão de Pinto & Magalhães (2021) e, de
acordo com dados do Pordata, “a proporção da população em Portugal que não teve acesso
a cuidados de saúde por motivos financeiros, devido às listas de espera ou à distância, subiu
de 1,1% em 2008 para 1,7% em 2019, com uma variação mais acentuada nas mulheres”. Mais
referem que, apesar do aumento dos profissionais de saúde no SNS (+12% em 2019, nos hospitais)
na última década, não são suficientes para a crescente necessidade de cuidados de saúde.
A pandemia de COVID-19 veio agravar ainda mais este problema com a saída de profissionais
de saúde do SNS quer para instituições privadas, quer para outras áreas fora da saúde, não só
em Portugal, mas um pouco por todo o mundo (Pinto & Magalhães, 2021).
Como poderemos então ultrapassar este fenómeno para continuar a garantir cuidados
de saúde a toda a população? Como preparar os profissionais de saúde para uma era de
escassez de profissionais, mas com um auxiliar poderoso que é a tecnologia? Ainda segundo
os mesmos autores, e de acordo com o relatório do Topol Review (2019), dentro de vinte anos,
90% de todos os empregos no SNS inglês exigirão algum elemento de competências digitais.
Este mesmo relatório prepara o futuro com a definição de uma estratégia de formação de
digital para os diferentes profissionais de saúde do SNS inglês. Este facto é reconhecido por
diversas entidades internacionais: tanto a OMS como a Comissão Europeia identificaram
a capacitação digital dos profissionais de saúde como uma prioridade (Council of the European
Union, 2021; WHO, 2021).
Temos, pois, de preparar a nossa força de trabalho para uma nova era nos cuidados de saúde,
tanto na formação pré-graduada como na pós-graduada e ao longo da vida. Se tivermos
profissionais bem formados também temos capacidade de melhor informar e envolver os
doentes na literacia digital. O trabalho com as universidades e ordens profissionais irá ser
fundamental nesta geração de competências em digital.
PRINCIPAIS CONCEITOS
O conceito de saúde digital tem evoluído rapidamente, desde que foi introduzido pela primeira
vez em 2000, por Seth Frank, englobando aplicações de internet e media com o intuito de
melhorar o conhecimento médico, o mercado da saúde e a conectividade (Frank, 2000). Ao
longo dos anos, o termo saúde digital foi se expandindo para abranger um conjunto mais
amplo de tecnologias e inovações, incluindo a genómica, a inteligência artificial, data science,
wearables, mHealth, a telessaúde e a medicina personalizada ou de precisão (Mathews et al.,
2019). Atualmente a saúde digital abrange áreas profissionais como a medicina, saúde pública,
engenharia, ciência de informação, bioinformática, epidemiologia, biomedicina, ética, entre
várias outras.
Podemos ter por exemplo, uma teleconsulta no âmbito de telemedicina, que diz respeito
à prestação remota de cuidados de saúde através de ferramentas tecnológicas mas podemos
ter também uma teleconsulta no âmbito da telefarmácia, ou seja, realizada por farmacêuticos
à distância usando tecnologia.
SERVIÇOS DE TELESAÚDE
Alguns estudos já evidenciam isto mesmo. Num estudo de Ekman (2018) evidenciou-se a diferença
de custos entre uma consulta tradicional e uma teleconsulta, tanto ao nível do prestador como
do doente, trazendo claros benefícios com a teleconsulta com aproximadamente metade do
custo (Ekman, 2018).
Em Portugal, a promoção da literacia em saúde dos cidadãos tem sido, nas últimas décadas,
identificada como o caminho para a melhoria dos cuidados de saúde e assumida como uma
preocupação na definição de políticas de saúde. Esta dimensão surge como consequência
do entendimento do facto de indivíduos com baixa literacia em saúde apresentarem menor
capacidade de: (i) compreender informação escrita e oral fornecida pelos técnicos de saúde;
(ii) ser capazes de navegar pelo sistema de saúde para obter os serviços necessários, (iii) realizar
os procedimentos necessários e (iv) seguir indicações prescritas.
Contudo, os efeitos de inadequados níveis de literacia em saúde podem ser atenuados através
de estratégias de apoio e intervenção social ou pelas características do próprio sistema de
saúde (Lee et al., 2009).
Dados relativos a 2016 (HLS-EU-PT) revelaram que em Portugal cerca de 61% da população
inquirida apresentava um nível de literacia em saúde problemático ou inadequado - situando-
se a média dos outros nove países estudados em 49,2% - observando-se uma tendência
decrescente quando cruzados com os grupos etários (à medida que a idade aumentava
o nível de literacia em saúde diminuía), e uma tendência inversa quando substituída a idade
pelo nível de escolaridade da população (à medida que o nível de escolaridade aumenta, os
níveis de literacia em saúde tendem a ser superiores) (Pedro et al., 2016).
Podemos identificar como fatores preditores dos níveis de literacia em saúde a privação
financeira (pessoas com baixos rendimentos e com dificuldades em pagar as contas tendem
a ter níveis de literacia em saúde mais baixos), a condição socioeconómica (grupos mais
vulneráveis, com uma condição socioeconómica mais baixa, tendem a ter níveis de literacia
em saúde inferiores), a escolaridade (quanto mais elevado o grau académico, maior o nível de
literacia em saúde) e a idade (quando à medida que a idade aumenta, o nível de literacia em
saúde tende a diminuir) (Arriaga et al., 2022; Pedro et al., 2016).
Ainda de acordo com Arriaga et al. (2022), e porque este estudo explorou também a dimensão
de literacia em saúde digital e a sua relação com o nível de literacia em saúde, encontrando
uma correlação estatisticamente significativa, destacou-se que 47.3% da população inquirida
tem níveis adequados de literacia em saúde digital. No entanto, é de destacar que a proporção
de pessoas com o nível mais baixo de literacia reportado, o nível Inadequado, é muito superior
no domínio da literacia em saúde digital (27.7%) do que na literacia em saúde (8%).
Recorda-se que, de acordo com o HLS-EU, aproximadamente 50% da população não possui
literacia em saúde suficiente na Europa (Sørensen et al., 2015), com base nesse resultado,
a literacia em saúde torna-se uma questão política, que não pode ser negligenciada, e os
decisores políticos da UE começam a focar-se mais nesta. No entanto, destaca-se que
a evidência publicada na Europa é ainda insuficiente, dado que apenas 15% dos autores de
artigos científicos publicados sobre literacia em saúde são europeus (Quaglio et al., 2017).
De acordo com Aldoory (2017) existem atualmente três lacunas de investigação no que diz
respeito à literacia em saúde: (i) a ausência de desenvolvimento teórico e de teste encontrado
no corpo de conhecimento sobre literacia em saúde; (ii) a ausência de investigação em literacia
em saúde baseada na comunidade; a lacuna de investigação que explore a literacia em saúde
interativa e crítica (Aldoory, 2017).
A TELESSAÚDE EM PORTUGAL
Nos pontos seguintes vamos passar por algumas áreas da telessaúde fazendo um panorama
da situação atual em Portugal, permitindo-nos refletir sobre as mesmas.
Tem-se visto o crescimento do uso da telemedicina ao longo dos últimos dez anos, verificando-
se um crescimento exponencial face à atual situação pandémica de Covid-19 e a necessidade
de distanciamento social que esta última impôs (Chuo et al., 2020; Lurie & Carr, 2018).
Se olharmos para a evolução do número de consultas nos cuidados de saúde primários neste
período pandémico, percebemos que, em 2020, o número de consultas presenciais sofreu um
decréscimo de 38,5% face a 2019. No entanto, foi possível ultrapassar os constrangimentos
relacionados com a pandemia, com recurso às teleconsultas, que registaram um aumento
superior a 100%, tendo sido efetuadas mais de 32,5 milhões de consultas médicas, um acréscimo
de 3,1% em relação a 2019 (Ministério da Saúde. ACSS, 2020b).
Na perspetiva dos profissionais, num estudo em Portugal que decorreu durante julho e setembro
de 2020, foram inquiridos mais de 2000 médicos, tendo sido registada uma elevada satisfação
com as consultas não presenciais (CNP) com significativa associação à ideia de que a CNP
providencia cuidados de saúde de qualidade equivalentes à consulta presencial e adesão
à realização de CNP após a pandemia. Dos inquiridos 93,8% realizaram CNP no período, dos
quais 99,0% utilizou o telefone como forma de comunicação e apenas 8,0% a videochamada
(O’Neill et al., 2022). Apesar destes meios terem sido disponibilizados não foram efetivamente
utilizados.
Também a telemonitorização nas suas diferentes áreas é uma das tecnologias que mais futuro
apresenta na revolução dos cuidados e com já resultados evidentes da sua eficácia com
redução efetiva da mortalidade (Nunes-Ferreira et al., 2020).
Várias outras soluções digitais demonstraram ser importantes no controlo e gestão das diferentes
fases pandémicas, tais como ferramentas de mapeamento (Surveillance and Outbreak
Response Management and Analysis System - SORMAS e HealthMap) e de estratificação de
risco (BlueDot) usadas para vigilância epidemiológica; métodos de machine learning para
harmonização de guidelines; procedimentos de data linkage e big data para o rastreio de
viajantes; plataformas de telesssaúde ou chatbots (Buoy Health e Lark Health) para triagem
clínica; modelos de deep learning de diagnóstico imagiológico de COVID-19; monitorização
digital sintomas de casos confirmados de COVID-19 ou contactos de alto risco; aplicações
de smartphone (tecnologias Bluetooth ou GPS) de contact tracing (TraceTogether) (Alwashmi,
2020); ferramenta para o planeamento de necessidades adotada pela OMS (ADAPTT Surge
Planning Support Tool), desenvolvida pela Glintt, Associação Portuguesa de Administradores
Hospitalares (APAH) e OMS (Glintt, 2020).
A pandemia de COVID-19 mostrou como as soluções de saúde digital permitem o uso de dados
em tempo real para a prevenção e o controlo de epidemias, protegendo a saúde pública.
A utilidade e reatividade demonstrada dos produtos digitais deverá motivar a integração dos
mesmos nos sistemas de saúde, a longo prazo (Fagherazzi et al., 2020). Contudo, este processo
de implementação apresenta obstáculos como a ausência de uniformidade nas intervenções
digitais e falta de recursos na área da saúde. Perante as dificuldades, será necessária uma ação
concertada dos vários stakeholders que promova uma política de saúde digital responsável,
transparente e universal (Alwashmi, 2020).
Em 2018, uma em cada seis pessoas na europa apresentava um problema de saúde mental
(OECD, 2018). Evidenciando-se, em 2020, taxas mais altas de stress, ansiedade e depressão
(OECD & European Union, 2020).
No estudo do Global Burden Disease (GBD), Portugal apresenta a maior taxa de DALYS (que
é equivalente a um ano de vida saudável perdido) a nível europeu, no qual o nosso país
apresenta, juntamente com a Austrália e Canadá uma taxa mais elevada que os restantes
países. Este mesmo estudo, no ano de 2020, estimou um aumento de 25,6% de transtornos de
ansiedade a nível mundial (IHME. Measuring what matters, 2021).
No estudo World Mental Health Survey Initiative (WMHSI) da Universidade de Harvard e OMS,
Portugal apresenta uma taxa de prevalência de 42,7% relativamente ao aparecimento de uma
perturbação psiquiátrica, pelo menos, uma vez durante a vida de uma pessoa, sendo apenas
ultrapassado pelos EUA com uma taxa de 47,4%. Os restantes países da europa apresentam
taxas mais baixas nomeadamente a Itália com 18,1% (Mendes-Santos et al., 2020).
8 500
8 000
7 649
7 500
7 007 6 984
7 000
6 602 6 684
6 500
6 500
5 887
4 500
4 000
abr20 mai20 jun20 jul20 ago20 set20 out20 nov20 dez20
É curioso notar que o pico das consultas de telemedicina foi atingido em outubro de 2020 tal
como o pico das chamadas do serviço de aconselhamento psicológico do SNS24 constatadas
no Gráfico 3. Com efeito, verificou-se um aumento de 12% do ano 2021 para o ano de 2022 e de
56% de 2020 para 2021 nas consultas de telemedicina do CHPL.
25
As consultas não se encontram discriminadas por especialidade, pelo que se optou por analisar apenas os dados
do Centro Hospitalar Psiquiátrico de Lisboa.
Apesar de haver um aumento das consultas de telemedicina ao longo dos anos, na verdade
quando analisamos o número destas consultas com o número de consultas médicas
hospitalares na especialidade de psiquiatria, o número é relativamente baixo, não chegando
o rácio entre os dois, a 20% em nenhum dos meses.
Jun-20
Mar-20
Aug-20
May-20
Sep-20
Dec-20
Jan-21
Apr-21
Jun-21
Jul-21
Aug-21
Oct-21
Mar-21
May-21
Sep-21
Dec-21
Jan-22
Jul-20
Oct-20
Nov-20
Nov-21
Consultas de telemedicina Consultas médicas hospitalares
Fonte: Elaboração própria com base nos dados do Portal da Transparência disponível em:
https://www.sns.gov.pt/transparencia/
Apesar de em Portugal as tecnologias digitais serem ainda pouco utilizadas na área da saúde
mental, soluções como a formação dos profissionais da área com o uso das tecnologias,
a realização de webinars, a existência de uma estratégia nacional para a aplicação da saúde
mental digital, bem como a abordagem destas temáticas nos planos curriculares de estágios
profissionais ou mesmo nas licenciaturas, poderiam fomentar o uso da telessaúde, privilegiando
o acesso dos doentes, reduzindo distâncias e melhorando a prestação de cuidados de saúde.
Apesar dos esforços que têm sido realizados no sentido do desenvolvimento de modelos de
cuidados integrados, as estruturas sociais e de saúde na Europa são, ainda, predominantemente
assentes em modelos e organizações construídos em torno de silos de especialização, voltados
para a resposta a episódios de doença aguda, sem considerar o utente em todas as suas
dimensões e o sistema de oferta de cuidados como um todo (Albreht et al., 2016).
Neste contexto, é apresentada de seguida uma breve reflexão sobre a influência da saúde
digital na promoção da integração de cuidados e, consequentemente, na melhoria da
qualidade e eficiência dos mesmos.
A integração de cuidados pode ser analisada de diferentes perspetivas, tais como o nível em
que ocorre, o processo em que se concretiza e o seu grau ou intensidade (Goodwin, 2016). Para
além disso, a integração de cuidados assume diferentes formas sendo as mais conhecidas a
integração estrutural (horizontal ou vertical), a integração funcional (clínica, de informação,
financeira e administrativa), a integração normativa e a integração sistémica (Santana & Costa,
2008).
A nível macro, um exemplo que permitiu contribuir para a integração de cuidados e para a
redução de custos, é a Rede Dinamarquesa de Dados em Saúde que ao possibilitar a rápida e
eficiente comunicação entre utentes, médicos e profissionais do setor social contribui para a
redução de $120 milhões por ano (European Commission, 2012).
Apesar das reconhecidas potencialidades da saúde digital esta é confrontada com inúmeras
barreiras à sua implementação, das quais de destaca a falta de interoperabilidade técnica. Os
sistemas de registo ao não terem sido projetados para funcionar em rede, tornam necessária
a utilização de diferentes fontes de informação para acesso a dados de saúde dos indivíduos
(Alkhaldi et al., 2014), contribuindo para maior consumo de tempo e redundâncias.
Pihir e colegas (2018) identificaram cinco determinantes para a transformação digital de forma
a ultrapassar as barreiras identificadas e implementar um ecossistema digital de saúde
integrado (Pihir et al., 2018):
Orientação estratégica – visão, gestão, liderança (inclui o envolvimento e a partilha da
visão da proposta de valor do digital);
Centralidade no cliente (utente) – monitorização da experiência dos utentes e previsão
das suas necessidades (na área da saúde este ponto pode ser promovido através da
utilização de medidas de resultados e experiências relatados pelo utente, bem como o seu
Estes determinantes apesar de não serem exclusivos à área da saúde são enquadráveis no seu
ecossistema. Alguns exemplos em Portugal são de destacar como o projeto de teledermatologia
que facilitou a integração de cuidados entre os cuidados de saúde primários (CSP) e a redução
das listas de espera para consultas de especialidade nos hospitais; a implementação do AlertP1
que veio facilitar a articulação entre os CSP e os Hospitais; ou o projeto de telecardiologia do
CHUC (Jordanova & Lievens, 2022; Maria et al., 2022).
Por outro lado, a digitalização dos cuidados de saúde de uma forma global tem tido uma
tendência crescente. Refletirmos onde estamos é essencial para percebermos para onde vamos.
E efetivamente se nos compararmos com o que melhor se faz na Europa, temos soluções muito
boas mas ainda muito atrás de países como a Estónia, a Finlândia ou a Dinamarca (Taylor et
al., 2020). Estamos em diferentes velocidades. Por exemplo temos uma desmaterialização quase
total das receitas com 98,5% de desmaterialização em abril de 2022 (SPMS, 2022) mas depois
estamos atrás em outras áreas como o open data, a interoperabilidade, a desmaterialização
de processos como o agendamento de consultas onde estamos na cauda da Europa (Figura
21) sendo um suporte essencial à integração de cuidados.
Figura 21. % utentes que usaram um website para agendamento de uma consulta
53%
40% 38%
36%
34% 33%
30%
28% 27%
25% 24% 23% 23%
21%
19% 18% 18% 17%
Filândia
Espanha
Dinamarca
Bélgica
Países Baixos
Noroega
Lituânia
Suécia
Turquia
Eslovénia
Luxemburgo
Estónia
Hungria
UE 27
Croácia
Alemanha
Lituânia
Portugal
Um dos modelos assistenciais que tem surgido no sentido de prestar cuidados mais centrados
no utente, com benefício custo-efetivo é a hospitalização domiciliária. O princípio base da
hospitalização domiciliária é o tratamento de utentes com doença em fase aguda ou crónica
agudizada que requerem cuidados de nível hospitalar, mas que reúnem condições para
ser tratados no seu domicílio. Este modelo é recomendado pela Organização Mundial de
Saúde, apresentando-se como uma oportunidade para o desenvolvimento de respostas que
promovem a integração, a continuidade de cuidados e a obtenção de melhores resultados em
saúde. (Ministério da Saúde. ACSS, 2020a).
A integração da saúde digital contribui para potenciar os benefícios deste modelo ao promover
uma maior proximidade entre o utente e a equipa de saúde, maior vigilância e maior fluidez
na comunicação e transferência de informação. Este projeto expressa a confluência entre
a saúde digital e a humanização e integração de cuidados, contribuindo para a prestação de
cuidados mais personalizados e de maior qualidade.
Por outro lado, no que respeita à área da saúde, a Food and Drug Administration (FDA),
Health Canada e o United Kingdom’s Medicines and Healthcare products Regulatory Agency
(MHRA) identificaram conjuntamente dez princípios orientadores para o desenvolvimento de
boas práticas de aprendizagem automática, no final de 2021. Estes princípios orientadores
pretendem promover dispositivos médicos seguros, eficazes e de alta qualidade que utilizam
inteligência artificial e machine learning (IA/ML) (U.S. Food and Drug Administration (FDA) et
al., 2021). É também objetivo deste grupo começar a disciplinar o mercado e capacitar as
partes interessadas a promover inovações responsáveis para uma futura regulação efetiva
e certificada neste domínio.
É com agrado que vemos os Serviços Partilhados do Ministério da Saúde (SPMS) no Plano
Operacional 2021-2022 do Plano Estratégico Nacional para a Telessaúde 2019-2022, a adotar um
“posicionamento gradual como regulador em telessaúde e definição de requisitos de soluções
de telessaúde, designadamente partilha de reforço das orientações da interoperabilidade
como interesse nacional, dados no Registo de Saúde Eletrónico com o objetivo de aumentar a
segurança e o valor das soluções de telessaúde” (SPMS & CNTS, 2021).
É nesta medida que percebemos que há muito ainda por fazer quer seja na emissão de
normas e princípios orientadores, quer seja na sensibilização e na formação de empresas que
desenvolvem nestas áreas e também dos profissionais de saúde.
Contudo, apesar dos avanços, a confiança e receção dos principais stakeholders (doentes,
profissionais de saúde, administradores e reguladores) à integração das soluções de saúde
digital na prática médica, tem-se mantido baixa. Um dos fatores que sustenta esta dinâmica
é a ausência de objetos de avaliação objetiva e transparente dos produtos de saúde
digital. Sem a adoção alargada de mecanismos de validação padronizada, o valor, impacto
e qualidade destes produtos não são garantidos.
Esta temática de processos de validação da Saúde Digital, tem sido explorada por vários
autores, existindo um consenso sobre a necessidade de criação de uma estrutura comum de
avaliação das intervenções de saúde digital, que permita gerar as evidências necessárias
para integração das tecnologias nos sistemas de saúde, de forma abrangente. Neste âmbito,
várias metodologias têm sido apresentadas (Mathews et al., 2019; WHO, 2016).
As avaliações das soluções de Saúde Digital apresentam desafios especiais, dado estarem
na interseção da investigação biomédica, comportamental, computacional e de engenharia.
Qualquer possível ganho de efetividade, acessibilidade e segurança com estes produtos
depende do estabelecimento prévio de bases de evidência cumulativa. A ampliação do
portfólio de questões de investigação e métodos de avaliação ajudará no desenvolvimento
de conhecimento necessário para identificar as intervenções mais eficazes, custo-efetivas
e seguras para a saúde individual e da população (Murray et al., 2016).
Nenhuma destas avaliações pode ser desligada das outras. Uma intervenção promissora
do ponto de vista clínico não deve ser implementada se não houver adesão por parte dos
utentes e profissionais, seja, por exemplo, pela dificuldade da utilização ou de acesso, seja
porque é percebida como ineficaz ou inadequada. Também não deverá ser implementada
se impor custos insustentáveis para os serviços de saúde, custos estes não proporcionais aos
ganhos obtidos. Ou, pelo contrário, não fará sentido uma intervenção que poupe recursos em
detrimento da qualidade dos cuidados e do bem-estar dos utentes. Por isso, e não apenas
para a saúde digital, mas também para qualquer tipo de intervenção em saúde, a avaliação
económica não pode ser realizada se não houver, em primeiro lugar, uma avaliação robusta
do impacto clínico.
Focando mais especificamente a eficiência económica, a saúde digital tem sido vista como
uma área muito promissora. Pode evitar consultas, que são realizadas à distância; pode evitar
internamentos hospitalares, através da monitorização do utente na sua casa; pode reduzir
o tempo entre sintomas e diagnóstico através, mais uma vez, de sistemas de monitorização
à distância; pode promover estilos de vida saudáveis, através de aplicações simples e sem
intervenção direta dos profissionais; pode, finalmente, reduzir tempos e evitar desperdícios
porque facilita a comunicação entre profissionais. Por sua vez, estas melhorias, caso se
confirmem, poupam recursos em deslocações para o utente e o profissional; aumentam
a qualidade dos cuidados pela maior rapidez de intervenção; aumentam a qualidade de vida
se permitem manter o utente no seu local de vida; e aumentam a produtividade no trabalho se
evitam perdas de tempo evitáveis.
Ora, estes ganhos têm sido apontados de um ponto de vista teórico, com experiências de
avaliação ainda escassas e relativamente incipientes do ponto de vista metodológico.
Uma revisão da literatura de estudos de avaliação económica, realizada em 2017, encontrou
39 estudos, dos quais apenas 12 foram considerados com qualidade suficiente para integrar
a revisão (isto apesar da pesquisa ser muito alargada, sem restrição nem de doenças nem
de tipo de intervenção). Destes 12 estudos, apenas 5 apresentavam resultados em termos
de “euros por quality-adjusted life years”, ou seja, valor a pagar para obter um ano de vida
adicional com qualidade, a medida padrão mais utilizada na área e que portante permite
comparações entre áreas e tratamentos muito diversos. Poucos estudos, também, consistiam
numa avaliação de ganhos e custos no longo prazo, essencial quando se avaliam dispositivos
médicos cuja utilização geralmente melhora com o tempo (ver texto abaixo). Finalmente, poucos
estudos apresentavam evidência robusta dos ganhos clínicos, baseados em ensaios clínicos
randomizados ou estudos observacionais adequadamente controlados.
Por um lado, é expectável que haja ainda pouco estudos numa área ainda relativamente
nova, com uma implementação relativamente limitada até há dois anos, antes do grande
desenvolvimento causado pela pandemia. Por outro lado, a avaliação económica de
intervenções de saúde digital confronta-se com dificuldades metodológicas importantes,
ainda para resolver, e que poderão explicar a escassa produção nesta área.
As dificuldades para avaliar dispositivos de saúde digital são as mesmas que genericamente são
apontadas para os dispositivos médicos, por isso utilizámos os problemas identificados para os
dispositivos como base para este texto (Tarricone et al., 2017). Em primeiro lugar, a implementação
da intervenção, e do seu sucesso, depende da capacidade dos profissionais em aderir e utilizá-
la, incluindo a seleção dos utentes mais suscetíveis de beneficiar. Esta dimensão difere muito
do que acontece com os medicamentos, onde os resumos clínicos definem de forma muito
precisa a forma de utilização. Em segundo lugar, no caso dos dispositivos, existe uma dimensão
de aprendizagem da utilização, por parte de profissionais e utentes. Tal como na primeira
dificuldade, as avaliações podem subestimar a mais-valia a longo prazo, quando a tecnologia
é perfeitamente dominada por todos os intervenientes. Em terceiro lugar, os dispositivos podem
ser melhorados de forma constante, em função da observação continua das dificuldades.
Ou seja, a avaliação económica realizada num ponto no tempo pode ficar obsoleta muito
rapidamente. Em quarto lugar, os preços evoluem de forma rápida, devido à entrada constante
de produtos concorrentes e da evolução da tecnologia. Mais uma vez, a avaliação económica
baseada num determinado preço pode rapidamente ficar obsoleta. Finalmente, a saúde digital
implica mudanças organizacionais, incluindo o treino dos profissionais e utentes, cujos custos
e consequências vão muito além dos custos e consequências estritos da intervenção. Por sua
vez, todas estas dimensões dependem do contexto dos cuidados de saúde, entre outros, do
nível de motivação dos profissionais e utentes, da abertura dos decisores para este tipo de
inovações, e da dimensão dos problemas que a nova tecnologia pretende resolver.
Se olharmos para as propostas para a saúde no Orçamento Geral do Estado 2022, constatamos
que a saúde digital tem um papel destacado. Noutros termos, o governo aponta a saúde digital
como um objetivo em si, ao mesmo título, por exemplo, que o desenvolvimento dos cuidados de
saúde primários, a reforma da saúde mental, ou o reforço da rede de cuidados continuados.
Por isso, a transição digital na saúde é vista como uma meta a atingir, e não como mero
instrumento de apoio a outras políticas. Este ponto também já tinha ficado claro no Plano de
Recuperação e Resiliência, ao qual o Orçamento Geral do Estado se refere.
Resta saber, como já indicamos, se a saúde digital irá cumprir as suas promessas. Considerando a
escassa avaliação, trata-se de uma mera aposta por parte do governo. Resta saber, também, se
o impulso à economia irá realmente favorecer as empresas nacionais, promovendo o consumo
local e empregos qualificados em Portugal, ou se se traduzirá meramente em importações de
países onde a tecnologia é um setor económico muito desenvolvido há longos anos.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
Foram abordados ao longo deste capítulo os principais desafios relacionados com a saúde
digital. Procurou-se, sempre que possível recorrer a dados para evidenciar tanto o panorama
nacional como internacional.
Podemos afirmar que os sistemas de saúde procuram fornecer cuidados de saúde custo-
efetivos, de maior qualidade e que respondam à crescente complexidade das necessidades dos
cidadãos e do ecossistema da saúde. A integração de cuidados tem o potencial para promover
a concretização destes objetivos, através da sua abordagem centrada na coordenação dos
diferentes stakeholders para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida dos indivíduos.
Quanto ao financiamento:
• Financiamento dos cuidados de saúde no SNS acompanhar a inovação na prestação de
cuidados, já que existe evidência de menores custos associados;
• Existência de uma agenda nacional para o desenvolvimento da saúde mental digital;
• As soluções de saúde digital devem constituir parte de uma estratégia integrada nas
prioridades de saúde, devendo beneficiar a população de forma ética, segura, equitativa
e sustentável.
Quanto à interoperabilidade:
• Criar um “Selo de Interoperabilidade”, para as aplicações em saúde, que leve em
consideração os mecanismos e standards de interoperabilidade técnica e semântica
adotados nos produtos ao dispor no mercado;
• Assegurar um vocabulário médico controlado e o recurso a catálogos nacionais, como
parte de um programa de interoperabilidade, que garanta que as aplicações atuais
e futuras interajam da forma desejada, sem propagar erros.
Recomendações quanto a medicina de precisão, tal como definidas em (APAH et al., 2019):
• Promover o acesso a diagnósticos e tratamentos inovadores;
• Capacitar centros para darem resposta a tratamentos inovadores;
• Estabelecer uma política nacional de dados em saúde;
• Investir numa plataforma integradora de dados e ferramentas de apoio à decisão clínica;
• Investir na caracterização molecular focada em subgrupos da população;
• Criar estratégia e coordenação para atrair investimento em infraestrutura;
• Fomentar colaboração nacional e internacional;
• Promover a literacia em saúde e medicina personalizada.
No que diz respeito a respostas aos desafios técnico-científicos, éticos, legais e sociais
da saúde digital, cumpre salientar que as mesmas devem ser encontradas promovendo
ambientes colaborativos e participativos, tendo em vista a equidade das soluções
encontradas. Por outro lado, as necessidades das populações mais vulneráveis e com menor
poder de representatividade devem ser consideradas na definição das políticas de saúde
e na sua implementação, em particular ao nível do tratamento de dados de saúde. As políticas
e respetivas intervenções devem ser objeto de avaliação/auditoria periódica, adaptando
e corrigindo estratégias, sempre que necessário (Chen et al., 2021; Cordeiro, 2021).
Capítulo 6
MEDICAMENTOS E COVID
ACESSO À INOVAÇÃO FARMACOTERAPÊUTICAS
DURANTE O PERÍODO COVID
Filipa Duarte-Ramos1,2,3, Fernanda S. Tonin4,5,6, João Gonçalves1,2
1
Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Portugal
2
EPIUnit – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), Portugal
3
iMed.ULisboa – Instituto de Investigação do Medicamento, Faculdade de Farmácia,
Universidade de Lisboa, Portugal
4
eEpiHealth – Formação e Consultoria em Saúde, Portugal
5
Health Technology Research Center, Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa (ESTeSL),
Instituto Politécnico de Lisboa, Portugal
6
Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas, Universidade Federal do Paraná, Brasil
O acesso a medicamentos inovadores para a COVID também foi coadjuvado por adaptações
regulamentares por parte de agências reguladoras e órgãos competentes, face aos desafios
colocados pela pandemia por COVID-19. Registou-se um aumento considerável de aprovações
rápidas (fast track) e condicionais de medicamentos, por agências reguladoras como a Food
and Drug Administration (FDA), nos Estados Unidos, e a EMA, na Europa, durante este período.
De acordo com a legislação farmacêutica na União Europeia, o prazo padrão para a avaliação
de um medicamento pelas comissões responsáveis (Comissão de Avaliação de Tecnologias
de Saúde – CATS, em Portugal) é de, no máximo, 210 dias úteis. No entanto, em situações de
emergência de saúde pública, a EMA trata os pedidos de autorização de comercialização de
produtos de maneira acelerada, reduzindo os prazos dos procedimentos para menos de 150
dias. Um esquema comparativo dos tempos dos processos I&D e aprovação de tecnologias
(medicamentos, vacinas) convencionais versus aquelas em fast track (como as vacinas para
COVID-19) está ilustrado na Figura 22.
Figura 22. Esquema comparativo dos tempos dos processos de desenvolvimento e aprovação
de tecnologias convencionais (em azul) versus para situações de emergência em saúde, como
a pandemia por COVID-19 (em rosa)
Para alcançar este objetivo, sem prejuízo da segurança, são utilizadas ferramentas regulatórias
de revisão contínua (as chamadas rolling reviews) para avaliação de vacinas ou medicamentos
promissores.
A Figura 23 ilustra o processo de rolling reviews, considerando o caso das vacinas contra
COVID-19.
Figura 23. Processo de avaliação padrão pela EMA em comparação com a revisão contínua
(rolling review) das vacinas para COVID-19
O reposicionamento de fármacos (drug repurposing) foi outra estratégia que teve alterações
consideráveis desde 2019, registando um aumento exponencial do número de artigos publicados
no PubMed – assumidos por nós como proxy de investigação na área – com a equação de
pesquisa (“drug repositioning” or “drug repurposing”), como se pode observar na Figura 24.
COVID 19
1500
1373
Figura 24.
Número de referências 1250
bibliográficas obtidas
após pesquisa PubMed 961
1160
1000
com os descritores (“drug
repositioning” or “drug
repurposing” ) referente 750
ao período 2015-2022 (este
último ano baseia-se numa
500 458
estimativa calculada pelos
334
autores = [nº refs a 31 maio
250 181 232
2022 x 2])
119
0
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
Fonte: elaborado pelos autores, com base no modelo de Gonçalves et al. (2019) e pesquisa PubMed.
Para além das inovações farmacoterapêuticas, importa referir que durante a pandemia se
verificaram ainda aperfeiçoamentos significativos dos sistemas de TI em saúde para lidar
com a elevada quantidade de informação/dados dos doentes; adaptação dos processos
remotos de certificação e registo de óbitos; adaptação dos processos de cuidado à distância
(telemedicina, atendimentos telefónicos, E-Health), bem como alterações de infraestruturas de
hospitais e unidades de saúde, entre outros, de maneira a dar resposta aos desafios em saúde,
minimizando os riscos de contágio (Agarwal & Gaule, 2022).
O indicador Patients W.A.I.T. (Waiting to Access Innovative Therapies) 2021, publicado em abril de
2022, o maior estudo europeu sobre o acesso a medicamentos inovadores, contando atualmente
com dados de 39 países (27 da União Europeia), avaliou informação sobre 160 medicamentos
com AIM centralizada (2017-2020), evidenciando marcadas assimetrias entre países. Os tempos
médios de disponibilidade entre a AIM e o acesso à tecnologia por parte dos doentes chegam
a registar diferenças de até 700% − podendo variar entre 4-6 meses (em países do norte e oeste
da Europa como Alemanha, Dinamarca, Suíça) a até 28-30 meses (em países do sul e leste
europeus como Bulgária, Polônia e Roménia). Portugal encontra-se no 21.º lugar no conjunto
dos países da União Europeia, atrás da Hungria, Estónia, Eslovénia e Letónia, com tempo médio
entre AIM e acesso a medicamentos inovadores por parte dos doentes de, aproximadamente,
22,5 meses, variando entre <6 meses até >50 meses. Observa-se ainda, dentro da União
Europeia, que apesar de as taxas de disponibilidade de medicamentos oncológicos serem
cerca de 9% mais elevadas, quando comparadas a outros medicamentos (não-oncológicos,
medicamentos órfãos, terapias combinadas), os tempos médios para o acesso a estes produtos
são aproximadamente um mês mais lentos (variando entre 3-31 meses no total). Por outro lado,
a disponibilidade de medicamentos para doenças raras é menor, quando comparada a outros
produtos (-9%) e apresenta ainda um atraso de comercialização de 3,5 meses até 3,6 anos. Em
Portugal, até 1 de janeiro de 2022, um total de 29 fármacos oncológicos inovadores e outros 29
para doenças raras estavam disponíveis, parte deles com uso limitado (Newton, 2022).
Neste contexto, tem-se reforçado o papel das avaliações de tecnologias em saúde (ATS), como
fica bem patente no recente Regulamento (UE) 2021/2282, aprovado e em vigor desde 15 de
dezembro de 2021. Neste documento, é identificado que o desenvolvimento das tecnologias
da saúde é um “motor fundamental do crescimento económico e de inovação na União e é
essencial para alcançar o elevado nível de proteção da saúde que as políticas de saúde devem
garantir em benefício de todos” (Parlamento Europeu e Conselho da União Europeia, 2021).
Atendendo ao elevado peso económico e social das tecnologias da saúde, que constituem
um sector económico inovador e que, no mercado global de despesas de saúde, representam
cerca de 10 % do produto interno bruto da União, “a avaliação das tecnologias da saúde (ATS)
é um processo baseado em evidência científica que permite às autoridades competentes
determinar a eficácia relativa das tecnologias da saúde novas ou já existentes. A ATS centra-
se especificamente no valor acrescentado de uma tecnologia da saúde em comparação com
outras tecnologias da saúde, novas ou já existentes”. (Parlamento Europeu e Conselho da União
Europeia, 2021).
De acordo com a OMS, a ATS é uma abordagem sistemática das propriedades e efeitos clínicos,
económicos e humanísticos de uma tecnologia, para determinar o seu valor em diferentes fases
do seu ciclo de vida. O objetivo da ATS é informar os decisores em saúde e dar fundamento a
tomadas de decisões mais assertivas, especialmente sobre a melhor forma de alocar recursos
limitados. Em Portugal, a Comissão de Avaliação de Tecnologias de Saúde (CATS) é a comissão
especializada da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (INFARMED),
à qual compete, genericamente, emitir pareceres e recomendações, apreciar estudos de
avaliação económica e propor medidas adequadas aos interesses da saúde pública e do SNS,
relativamente a tecnologias de saúde (Infarmed, 2016). No entanto, um dos maiores desafios
atuais refere-se à definição e atribuição de ‘valor terapêutico acrescentado’(VTA) a uma
determinada tecnologia (O’Rourke, 2020; World Health Organization - WHO, 2021). A maioria dos
sistemas de ATS avalia características ‘estáticas’ da inovação no que se refere ao impacto
de uma tecnologia sob a perspetiva dos doentes (benefício terapêutico, segurança) e dos
pagadores (custos) (Claxton, 2007). No entanto, esses indicadores são variáveis nas diferentes
regiões e sistemas de saúde. De acordo com uma revisão sistemática recente sobre como
a inovação pode ser definida, avaliada e recompensada em ATS, os autores destacam que países
como França, Japão e Itália utilizam características sobre gravidade da doença ou condição de
saúde, necessidade não atendida e valor terapêutico agregado, como indicadores do grau de
inovação de uma tecnologia, enquanto Inglaterra e Espanha consideram o grau de inovação
como um critério separado e adicional ao restante. Espanha coloca ainda como indicadores
importantes de inovação a ‘conveniência’, a ‘força da evidência’ e o ‘impacto na I&D futuros’
(Rejon-Parrilla et al., 2022). Em Portugal, a APIFARMA reconhece no processo de ATS um modelo
de quantificação e qualificação holístico do valor da inovação com base em indicadores sobre
medidas terapêuticas, clínicas, qualidade de vida e de benefício socioeconómico em contexto
de mundo real (Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica - APIFARMA, 2018).
• É possível e desejável ter acesso a tecnologias de saúde inovadoras, de forma mais célere
e acessível, garantindo maior equidade a nível europeu;
• É necessário manter os incentivos para a I&D da inovação, sobretudo nas áreas de saúde
ainda sem resposta;
• É importante reconhecer o papel dos agentes económicos da saúde na recuperação
económica da Europa no período pós-COVID;
ENTREVISTAS
Em maio de 2022 foi realizado um estudo transversal qualitativo para melhor ilustrar a situação,
através da resposta e análise da perceção de diferentes peritos (stakeholders) envolvidos no
acesso à inovação terapêutica em Portugal, em especial durante a pandemia por COVID-19.
O convite de resposta à entrevista foi enviado por email, após contacto telefónico a 41 peritos
das seguintes áreas: associações de doentes, médicos, farmacêuticos, indústria farmacêutica
e reguladores. Obteve-se a resposta de 14 (34 %) profissionais (indústria farmacêutica, médicos
e farmacêuticos) que colaboraram com respostas às questões:
1. Considera que durante o período da pandemia (2020/2021) houve alterações no acesso
à inovação terapêutica, em Portugal? Se sim, quais as que identifica e em que sentido se
traduziram num diferente acesso à inovação (facilitaram/dificultaram)?
2. Quais são os principais determinantes que identifica para as mencionadas alterações?
3. Que propostas identifica para ultrapassar as alterações ao acesso à inovação que
ainda não se encontram resolvidas?
4. De uma forma geral, quais considera serem os principais obstáculos no acesso à
inovação terapêutica em Portugal e que medidas sugere para mitigar as dificuldades,
caso considere que estas últimas existem?
A maior parte dos participantes (n=12/14; 86 %) referiram que ocorreram alterações consideráveis
no acesso à inovação terapêutica em Portugal durante o período da pandemia, a diferentes
níveis.
Durante a pandemia, observou-se uma disrupção também nas atividades assistenciais dos
cuidados de saúde primários e secundários e na sua articulação (provavelmente devida
à reorientação de recursos humanos, técnicos e de investigação, como referido pelos médicos
e farmacêuticos entrevistados), o que pode ter impactado negativamente nos rastreios
e diagnósticos de diferentes outras doenças e no acesso atempado aos melhores tratamentos
(farmacológicos, cirúrgicos ou paliativos).
Parte dos entrevistados assinalou que, quase 80% dos medicamentos inovadores aprovados
em Portugal se destinam ao mercado hospitalar, o que significa que o nível de inovação
no mercado ambulatório (farmácia comunitária) é extremamente baixo no país. Foi ainda
salientado que não está garantido o acesso à inovação de forma equitativa, uma vez que
o processo dependerá, em última análise, da decisão de cada hospital. De acordo com o estudo
Índex Nacional de Acesso ao Medicamento Hospitalar, promovido pela Associação Portuguesa
de Administradores Hospitalares (Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, Ordem
do Farmacêuticos), “87% dos hospitais do SNS têm acesso a medicamentos antes da decisão
de financiamento, através do mecanismo de Autorização de Utilização Especial (AUE), com ou
sem Autorização de Introdução no Mercado (AIM), garantindo assim, na globalidade, o acesso
à inovação terapêutica, embora com níveis de acesso diferentes entre si, gerando assim
desigualdades neste acesso.” .
Por outro lado, os participantes (indústria farmacêutica, farmacêuticos) referiram que houve
uma resposta efetiva em relação ao acesso dos cidadãos aos medicamentos, mesmo durante
a pandemia, com uma redução considerável entre 2020/2021 no número de medicamentos em
falta no país (stock) face aos anos anteriores:
Outro aspeto positivo referido em relação ao período COVID, foi a criação de medidas de
exceção no âmbito da prescrição e dispensa de medicamentos nas farmácias comunitárias
e da renovação automática das prescrições de maneira gratuita e confidencial, para
salvaguardar a continuidade do acesso aos medicamentos, especialmente nos casos de
doenças crónicas e, mais uma vez, com objetivo de evitar as deslocações às unidades de saúde
e suprir a indisponibilidade dos médicos de família para atendimento presencial (no caso dos
cuidados de saúde primários, muitos deles inteiramente dedicados à COVID). Outra medida
que mereceu destaque foi a dispensa de medicamentos de regime ambulatório hospitalar em
farmácia comunitária, essencial para garantir a continuidade do acesso à terapêutica. Essa
estratégia já havia sido desenvolvida e implementada em experiências-piloto (projetos TARV
e Farma2Care) que demonstraram segurança, preferência e satisfação dos doentes:
Além disso, diferentes ‘inovações’ chegaram ao mercado neste período, como é o caso de
novos medicamentos, novas dosagens, vias de administração e indicações, pertencentes
a diferentes áreas terapêuticas.
Assim, no que se refere aos principais determinantes para a identificada redução no acesso
à inovação em Portugal, em súmula, os entrevistados destacaram:
• Alteração de prioridades nos cuidados em saúde face à pandemia;
• Restrições orçamentais;
• Redução de recursos disponíveis (humanos, técnicos, tempo);
• Barreiras e atrasos nos processos de aprovação e financiamento da inovação;
• Processos de ATS (health technology assessment – HTA) pouco flexíveis e,
• Redução da comunicação/diálogo entre atores (stakeholders)
Figura 25. Nuvem de palavras referentes aos principais desafios de acesso à inovação em
Portugal na perceção dos entrevistados (n=14)
Tabela 13. Propostas e exemplos de medidas para mitigar as barreiras de acesso à inovação
terapêutica em Portugal, de acordo com as respostas dos entrevistados (n=14)
MÉDICOS E
FARMACÊUTICOS
Desenvolver propostas • Regularizar o estatuto de dispensa
operacionais e legislativas de medicamentos em proximidade,
para regulamentar a dispensa através da dispensa em farmácia
em proximidade comunitária
ENQUADRAMENTO
O XXI Governo Constitucional recupera e materializa este tema em 2016 (Ministério da Saúde,
2016), assumindo como uma das suas metas na Estratégia Nacional do Medicamento
e Produtos de Saúde 2016-2020 (Presidência do Conselho de Ministros, 2016) o “Desenvolvimento
de programas que permitam a dispensa de medicamentos até agora apenas dispensados em
farmácia hospitalar, através da farmácia comunitária. Estes programas contribuirão para um
melhor acesso do doente ao medicamento de forma controlada e segura.”
COMPARAÇÃO INTERNACIONAL
Ao longo dos últimos anos, foram implementadas iniciativas de proximidade em vários hospitais
do SNS, com o objetivo de responder às necessidades dos doentes. O grupo de trabalho da
dispensa de proximidade (Ministério da Saúde, 2020d) mapeou os seguintes projetos-piloto
pré-pandemia:
• TARV1/TARV2, do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Central (CHULC);
• PEMproxi, do Centro Hospitalar Universitário de Coimbra (CHUC) e do Centro Hospitalar
Tondela Viseu;
• Farma2Care, do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ);
• Pharmaccess, do Hospital Garcia de Orta (HGO);
• Medicamento Próximo, do Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa;
• Novo projeto, do IPO de Lisboa;
com mais de 5.600 doentes com acesso à sua medicação hospitalar na farmácia comunitária
de proximidade.
Figura 27. Distribuição dos utentes dos hospitais pelos regimes previstos de dispensa de
proximidade
0,5 0,6
4,9 em farmácia hospitalar
em farmácia comunitária
9,4 (inclui opração luz verde)
ao domicílio
De acordo com as conclusões do inquérito, a maioria dos hospitais adoptou mais do que um
regime, em função das necessidades dos doentes, tendo sido identificadas novas oportunidades
de cooperação com outras estruturas.
Por fim, o relatório final do grupo de trabalho de proximidade (Ministério da Saúde, 2021) inclui um
conjunto de recomendações, que visam centrar o processo nas necessidades e preferências
da pessoa com doença, salvaguardando e assegurando a sua segurança, o sucesso da
intervenção farmacológica e a sustentabilidade do processo, e das quais destacamos:
• que a implementação de sistemas de dispensa em proximidade contemple dois eixos
de ação distintos e complementares: a transferência de medicamentos para farmácia
comunitária e a dispensa de proximidade.
• que determinados medicamentos passem em definitivo a ser dispensados em farmácia
comunitária, continuando a garantir a segurança e o acesso sem custos para o doente.
• [...]
• que todos os modelos de dispensa em proximidade assentem nos seguintes aspetos:
acompanhamento pelo farmacêutico hospitalar, com dispensa exclusivamente
farmacêutica, proteção de dados pessoais, boas práticas de distribuição e dispensa
de medicamentos, rastreabilidade e segurança do circuito, sistemas de informação e
monitorização e sustentabilidade.
• que os modelos de dispensa em proximidade sejam monitorizados e avaliados de modo
transparente, com base em indicadores de resultados em saúde, qualidade de vida,
satisfação dos intervenientes e custos associados. A identificação e definição destes
indicadores deverá ser um processo participativo.
• que as instituições de saúde sejam financeiramente compensadas pelo serviço prestado
por estas novas intervenções no sistema de saúde, através de um mecanismo de
financiamento, inscrito como linha de atividade a contratar nos Contratos-Programa das
instituições do SNS, resultante de uma avaliação robusta, a realizar pela ACSS.
I.ESTUDO TARV
A avaliação prevista do projeto TARV I, pelo Imperial College of London, foi cancelada, mas da
análise dos dados da TARV II, realizada pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), não se
verificaram diferenças estatisticamente significativas em relação à carga viral, em qualquer
momento do estudo e em termos cumulativos. Acresce que, do acompanhamento que foi
feito do projeto por parte do CHULC, do INFARMED, I.P. e das associações de farmácias, não
foram detetados problemas, quer de acesso à medicação, quer de falta de adesão ou idas às
consultas (Ministério da Saúde, 2020d). Um estudo, desenvolvido pelo Consórcio de Investigação
entre o Centro de Estudos e Medicina Baseada na Evidência (CEMBE), o Centro de Estudos
Aplicados (CEA) da Universidade Católica Portuguesa (UCP) e o Centro de Estudos e Avaliação
em Saúde (CEFAR) da Associação Nacional das Farmácias (ANF), seguiu 43 pessoas deste
projeto (Borges, 2018) com dispensa através das farmácias comunitárias de cinco concelhos do
distrito de Lisboa. Os resultados do estudo revelaram aumentos substanciais e estatisticamente
significativos (p<0,05) na satisfação das pessoas, relativamente ao atendimento em geral, às
condições de privacidade, horário de atendimento e tempo de espera na farmácia comunitária,
comparativamente com a farmácia hospitalar.
Por sua vez, as pessoas mantiveram-se clinicamente estáveis, sem alterações na qualidade
de vida, e não se verificou alteração da adesão à terapêutica (aumento não estatisticamente
significativo).
Os resultados devem ser, contudo, interpretados com cautela, devido à reduzida dimensão
amostral deste estudo, que dificulta a avaliação da significância estatística das diferenças
encontradas, e ao recrutamento em contexto urbano, que pode contribuir para a subavaliação
de algumas dimensões, nomeadamente em termos de impactos no acesso e na conveniência.
Esta foi a primeira peça de evidência de dispensa em proximidade através da farmácia
comunitária gerada em Portugal.
O projeto Farma2Care teve início no dia 1 de dezembro de 2019, com dispensa de terapêutica
antirretrovírica às pessoas que vivem com VIH/SIDA, seguidas no Centro Hospitalar Universitário
de São João (CHUSJ), através da farmácia comunitária (Ministério da Saúde, 2020d). Um ano após
o seu início, o projeto foi alargado às áreas terapêuticas da EM e oncologia, particularmente
do cancro da mama, e a decorrer em farmácias de sete distritos da região Norte do país.
Foi realizado um estudo longitudinal prospetivo (Correia, 2021), tendo sido recrutados 268
participantes, com seguimento após primeiro mês de dispensa na farmácia comunitária e três
meses depois.
Os resultados do estudo mostram uma melhoria da experiência das pessoas, com aumento
estatisticamente significativo (p<0,05) de 83% para 90,1% na satisfação global com a transferência
da dispensa. Esta melhoria nos níveis de satisfação foi também verificada nas várias dimensões
avaliadas, nomeadamente no tempo de espera, horário de atendimento, condições de
privacidade, com o farmacêutico que lhe dispensou a medicação, com disponibilidade dos
profissionais e clareza da linguagem que o farmacêutico usou.
Esta alteração refletiu-se nos custos, com poupança estatisticamente significativa (p<0,001) na
deslocação, com encargo mediano de 5€ por ida e volta ao hospital, face a aproximadamente
0€ na farmácia comunitária. Observou-se, também, uma redução muito elevada (p<0,001) no
absentismo laboral.
No contexto da pandemia COVID-19, o Governo deu “luz verde” (Ministério da Saúde, 2020a;
INFARMED, 2020; Ministério da Saúde, 2020b) a uma iniciativa de diversos parceiros do setor
da saúde, que se mobilizaram para que a população tivesse acesso aos medicamentos
hospitalares, em proximidade, sem restrição por área terapêutica, e em todo o território
nacional, incluindo as regiões autónomas.
A Operação Luz Verde (OLV) surgiu a 23 de março de 2020 (Ministério da Saúde, 2020d), resultado
do esforço articulado entre profissionais da saúde (farmacêuticos, médicos e administradores
hospitalares), hospitais, distribuidores farmacêuticos e farmácias, com o apoio institucional das
Ordens dos Farmacêuticos e dos Médicos, e de associações de doentes, para uma resposta de
proximidade que assegurasse a continuidade do tratamento e reduzisse as deslocações das
pessoas que vivem com doença, seus cuidadores ou familiares. A segunda fase desta iniciativa
foi mantida através do Serviço da Assistência Farmacêutica (SAFE), em articulação com os
hospitais que manifestaram a intenção de manter o serviço.
Desde o seu início, em março de 2020, e até 31 de dezembro de 2021, foram realizadas quase
100.000 dispensas a cerca de 17.000 pessoas que vivem com doença, através de mais de 2.400
farmácias comunitárias (CEFAR, 2022), que prestaram este serviço de forma voluntária e gratuita,
assegurando a confidencialidade e liberdade de escolha.
A maioria dos participantes do estudo, num total de 603, era constituída por pessoas que viviam
com doença (84,6%), sendo os restantes cuidadores. As áreas terapêuticas mais prevalentes
foram o VIH e a doença oncológica, abrangendo aproximadamente 25,2% e 20,6% das pessoas,
respetivamente.
Fonte: adaptado dos estudos (Murteira, 2022; Borges, 2018; Correia, 2021)
DISCUSSÃO
Em Portugal, as despesas privadas com medicamentos, pagas diretamente do bolso dos
utentes, são bastante elevadas quando comparadas com outros países europeus (OECD,
2021). O tema do acesso equitativo à saúde, e em particular ao medicamento, começa com
as barreiras financeiras presentes, que motivam a necessidade de repensar o sistema de
financiamento no nosso país. Contudo, a discussão da acessibilidade deve incluir também
preocupações que abrangem outras barreiras, nomeadamente regulamentares, de literacia e,
não menos importantes, as barreiras geográficas existentes.
Um ano mais tarde, os investigadores do OPSS (OPSS, 2018) retomaram este tema, no âmbito
da terapêutica Antineoplásica Oral, reforçando que o farmacêutico comunitário tem um
posicionamento privilegiado para fazer a ponte entre esses doentes e as equipas hospitalares,
e que futuras alterações deveriam basear-se na premissa da integração de níveis de cuidados
de saúde no seguimento do doente oncológico.
Neste contexto, e no rescaldo de uma pandemia, aguarda-se que um tema como este, debatido
ao longo das últimas duas décadas e com evidência gerada, seja estratégica e plenamente
concretizado, maximizando os resultados, com salvaguarda da saúde pública e centralidade
na pessoa.
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
No final de 2019 foi identificado um novo coronavírus, o SARS-CoV-2, responsável pela síndrome
respiratória aguda grave COVID-19 (Helmy, Fawzy, & Elaswad, 2020).
Estávamos perante uma infeção, aparentemente com uma taxa de transmissão e de letalidade
bastante elevadas, que provocava doença grave, com necessidade de hospitalização e muitas
vezes de internamento, em Unidades de Cuidados Intensivos. Foi preciso adequar os hospitais
a este novo perfil de doentes, com a criação de serviços de enfermaria e cuidados intensivos
dedicados (Auerbach, O´Leary, Greysen, & et al, 2020).
Surgem várias teorias, nomeadamente sobre uma potencial exacerbação da infeção pelo SARS-
CoV2 por medicamentos contendo antagonistas dos recetores AT1 da angiotensina II (ARAs),
inibidores da enzima de conversão da angiotensina (IECAS) e anti-inflamatórios não esteroides
(AINES). Questionou-se sobre se estas classes terapêuticas poderiam ser uma das causas do
agravamento da situação clínica de muitos dos doentes infetados, o que condicionou, por
parte do INFARMED, a realização de uma conferência sobre o tema. Na base desta discussão
esteve, entre outros, o artigo publicado por Yang et al em Fevereiro de 2020 (Yang, Yu, Xu, & et
al, 2020).
Também em Março de 2020, o INFARMED, com base na informação disponibilizada pela Agência
Europeia do Medicamento (EMA), ECDC, OMS e outras fontes, emite Orientações de Acesso
a Terapêuticas Experimentais no tratamento da COVID-19. Este documento informa sobre as
potenciais terapêuticas experimentais ou vacinas para a doença pelo novo Coronavirus 2019
e o potencial acesso às mesmas; refere ainda que, não existindo à data medicamentos
autorizados para o tratamento de COVID-19, nem estando autorizadas quaisquer vacinas,
existiriam várias moléculas apontadas como possíveis candidatos terapêuticos. O RDV
é considerado uma molécula promissora, tendo em conta o seu largo espetro antiviral,
a informação in vitro e in vivo disponível para os coronavírus, assim como a extensiva base
de dados de segurança clínica (proveniente de ensaio clínico do vírus Ébola e no contexto
do Monitored Emergency Use of Unregistered and Investigational Interventions –MEURI2).
Adicionalmente, foram também considerados os dados preliminares, publicados na Nature
Communications, de dois ensaios clínicos na China e três ensaios clínicos nos EUA, por iniciativa
do NIH, em fase de recrutamento. Muitas outras moléculas foram apresentadas como possíveis
candidatos terapêuticos (INFARMED, 2020).
Numa primeira fase, o acesso ao medicamento remdesivir (análogo nucleótido com largo
espetro de atividade antiviral), ainda em fase experimental, faz-se através de procedimento
regulamentar específico, de carácter excecional, na medida em que o medicamento não se
encontrava autorizado em nenhum país, nem tinham sido demonstradas a sua eficácia e a sua
segurança. Assim, de acordo com informação prestada pelo Departamento Médico da Gilead
a 12/03/2020, os pedidos de acesso para utilização excecional deste medicamento experimental
deveriam ser submetidos à Gilead, através de um portal criado para o efeito, pelo médico
que segue o doente e em estreita articulação com o INFARMED, a quem deveria ser enviado
um formulário de pedido de autorização. Para além da aprovação da Gilead, é necessário
obter autorização de utilização excecional (AUE) pelo INFARMED. Através do programa de
uso compassivo, são considerados pedidos individuais de acesso para utilização excecional
deste medicamento experimental em mulheres grávidas e crianças com idade inferior
a 18 anos, com COVID-19 confirmada e manifestações graves da doença. A 23 de Março, a Gilead
informa que está a alterar o mecanismo através do qual é possível passar a solicitar o acesso
a RDV através de um protocolo de acesso alargado, o GS-US-540-5821, que tem como objetivo
secundário avaliar a segurança do fármaco, através da análise da incidência e tratamento de
eventos adversos (U.S. National Library of Medicine ClinicalTrials.gov). De acordo com a mesma
fonte, através de um programa de uso compassivo, foram tratados mais de 1700 doentes em
estado crítico em todo o mundo e a implementação do Programa de Acesso Precoce (PAP) a
nível global teve em conta a evolução epidemiológica e geográfica da pandemia, pelo que
foram prioritários os países em que o impacto da COVID-19 era maior. Utilizando igual critério,
a seleção dos centros em Portugal recaiu na Unidade de Cuidados Intensivos / Serviço de
Medicina Intensiva do Centro Hospitalar de São João, do Centro Hospitalar e Universitário do
Porto e do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central - Hospital Curry Cabral.
A 30 de Abril a European Medicines Agency (EMA) inicia avaliação contínua (rolling review) do
medicamento, processo que permite acelerar a avaliação de um medicamento experimental
promissor durante uma emergência de saúde pública, como a pandemia em curso. Deste
modo, os dados são analisados à medida que ficam disponíveis, enquanto, em circunstâncias
normais, todos os dados de apoio a um pedido de autorização de introdução no mercado
devem ser apresentados no início do procedimento de avaliação (European Medicines Agency,
2020). Deste modo, a COVID-19 representou uma oportunidade para integrar dados de Real
World Data (RWD) e Real World Evidence (RWE) nas decisões da entidade reguladora (Concato
& Corrigan-Curay, 2022).
Na mesma altura, a 23 de Abril, a EMA alerta para os eventos adversos associados à utilização
de cloroquina e hidroxicloroquina, particularmente quando em altas doses, ou em associação
a outros medicamentos com efeitos semelhantes, como a azitromicina. Recomenda que
sejam utilizados apenas no âmbito de ensaio clínico, e que sejam reportadas, às autoridades
competentes de cada país, as possíveis reações adversas medicamentosas identificadas
(RAM) (European Medicines Agency).
Em maio, outros autores chamam a atenção para o risco da utilização off label, não controlada,
de fármacos como cloroquina/hidroxicloroquina, azitromicina e lopinavir-ritonavir, com
efeitos secundários importantes, como prolongamento do intervalo QT, hepatite, pancreatite
aguda, neutropenia e anafilaxia. Referem que a maioria dos doentes que, à época, morreu
de COVID-19, eram idosos, com comorbilidades cardiovasculares, podendo o tratamento
condicionar o aumento do risco de morte cardíaca. Também a disfunção hepática e da
medula óssea associada a esta terapêutica poderia contribuir para incrementar o risco de
hepatite e neutropenia, manifestações clínicas da COVID-19. Salientam que embora muitos
fármacos tenham atividade in vitro contra diferentes coronavírus, nenhuma evidência clínica
suportava, em termos de eficácia e segurança, a sua utilização na infeção por coronavírus
em humanos, incluindo o SARS-CoV-2, uma vez que a atividade in vitro não pode ser traduzida
automaticamente em atividade clínica. Apenas os melhores cuidados de suporte eram
inquestionáveis na abordagem destes doentes, pelo que deveriam constituir o grupo controlo
em ensaios clínicos com novas abordagens terapêuticas (Kalil, 2020).
Um estudo observacional que decorreu entre Março e Agosto de 2020, com 149 doentes, para
avaliar reações adversas a medicamentos em doentes com COVID-19 tratados com remdesivir
ou hidroxicloroquina (com ou sem azitromicina ou lopinavir/ ritonavir), permitiu identificar uma
maior incidência de RAM no grupo tratado com hidroxicloroquina (47.5 % vs 12.5 %; p<0.001). As
manifestações mais comuns foram de natureza hepatobiliar, seguidas das gastrointestinais,
renais e cardíacas (Falcão, Viegas, Carmo, & et al, 2021).
A Food and Drug Adminstration (FDA), a 1 de Maio, com base nos resultados de 3 ensaios
clínicos e, considerando que a diminuição no tempo de recuperação e alta hospitalar, mesmo
sem redução na mortalidade intra-hospitalar, é importante, tanto para doentes como para
os sistemas de saúde, muito sobrecarregados à data, emite uma primeira autorização de
emergência para o RDV (Rubin D, 2020).
A 11 de novembro de 2020, com base nos resultados do ensaio clínico, randomizado, duplamente
cego e controlado por placebo ACTT-2 promovido pelo National Institute of Allergy and Infectious
Diseases (NIAID) a FDA atribui autorização especial à utilização da associação de remdesivir
com baricitinib (Food and Drug Administration , 2020).
Considerando que as vacinas seriam, para a maioria das pessoas, o método mais efetivo na
proteção contra a COVID-19, a comunidade científica centrou a sua capacidade de pesquisa,
desenvolvimento e produção na obtenção de vacinas seguras e eficazes. Tradicionalmente,
a produção de vacinas pode demorar anos ou mesmo décadas, mas a reunião de esforços,
sem precedentes (Singh, Sharma, Lee, & Yadav, 2022), conduziu a uma primeira aprovação em
dezembro de 2020. Assim, no dia 21 é aprovada a primeira vacina contra a COVID-19 (COMIRNATY),
à qual se vão juntar mais 3, até Abril de 2021 (Spikevax, Vaxzevria e COVID-19 Janssen), permitindo
passar de uma abordagem da doença em que todos os esforços se encontravam concentrados
na diminuição da propagação e no tratamento, para um novo objetivo: dotar a população da
imunidade adequada.
Capítulo 7
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
É referido na Introdução a este RP que as grandes crises, por norma, revelam as nossas maiores
fragilidades e por isso devem ser, essencialmente, grandes desafios aos quais precisamos
responder com inteligência para sairmos das mesmas com maior capacidade de resiliência.
Tendo isso em consideração enunciam-se, brevemente, os três grandes desafios do SNS: (i)
o acesso aos cuidados de saúde; (ii) os recursos humanos; e (iii) a saúde pública. Enunciam-
se, paralelamente as “tentativas de resposta”: a reforma da saúde mental; a digitalização da
saúde; a Lei de Bases da Saúde e o Estatuto do SNS; a dedicação plena apenas para alguns
profissionais; e a criação dos Sistemas Locais de Saúde.
Enuncia-se ao mesmo tempo o esforço que foi feito para incrementar a capacidade de resposta
através do recurso a estratégias da telessaúde. Mas também se destacam as limitações desta
estratégia quer pela ausência de um modelo de cuidados que a estruture, quer pela própria
limitação dos recursos tecnológicos disponíveis, quer também pela falta de preparação dos
profissionais na utilização de recursos que exigem competências próprias, nomeadamente de
criação de novas formas de interação e relacionamento com os utentes; quer por último, pela
limitada literacia tecnológica dos utilizadores mais frequentes dos cuidados, ou seja, pessoas
idosas com multimorbilidade e dependência.
Neste contexto, é pertinente a reflexão com que começámos este capítulo, tal como o é
perguntar: fala-se em retoma da atividade do SNS próximos dos níveis pré pandémicos, mas
apenas queremos retomar os níveis ou queremos aumentar a capacidade de resposta, mas
com base em modelos de cuidados novos resultantes do que aprendemos com a pandemia?
O segundo capítulo deste Relatório aborda a problemática dos recursos humanos e a
concorrência público/privada. Tal como afirmamos na introdução, esta é uma das áreas onde
se colocam alguns dos desafios mais estruturais do SNS. Dito por outras palavras, não há SNS
sem um corpo de profissionais dedicado. Isto não é sinónimo, tal como é demonstrado neste RP,
de apenas contratar mais profissionais. Demonstra-se, com recurso aos dados publicamente
acessíveis, que a um forte incremento na contratação de profissionais de saúde não tem
correspondido um incremento na produtividade. Demonstra-se ainda que para isso contribuirão
muitos fatores, desde os modelos de cuidados, aos modelos remuneratórios, passando pelas
taxas de absentismo, pelas condições estruturais de exercício e pela concorrência do setor
privado, todas elas contribuindo de forma mais ou menos acentuada para elevados níveis de
burnout, entrando-se assim num círculo vicioso do qual dificilmente sairemos.
A resposta ensaiada passa por uma proposta de dedicação plena. Todavia, mais uma vez
surgem múltiplas questões às quais urge responder.
• Esse modelo é para todos os profissionais? Apenas para alguns? Quais e porquê?
• Esse modelo exige que se estabeleça um contrato com base em compromissos de
produtividade. Que indicadores de produtividade serão adotados?
• Recorreremos de novo à produtividade ao ato (número de consultas e de cirurgias) e ao
modelo biomédico? De que modo estes indicadores demonstram resultados em saúde?
• De que modo os compromissos referidos serão feitos com base num modelo de cuidados
que tenha em conta a atual realidade epidemiológica?
Tal como é afirmado, esta é uma reforma incontornável e essencial para o SNS porque “nenhum
modelo remuneratório dos profissionais, antigo ou inovador, poderá ter sucesso na retenção
dos profissionais no SNS”.
O terceiro capítulo do RP é dedicado aos cuidados em casa. A justificação do mesmo reside nos
factos de assistirmos a uma crescente discussão internacional acerca deste tipo de resposta, e
de, quase diariamente, termos notícias de novas respostas de cuidados domiciliários no nosso
país.
Mais uma vez afirmamos que não faz sentido apenas aumentarmos o número de respostas
sem previamente definirmos uma estratégia construída com base nos princípios já referidos
(cuidados centrados na pessoa/família, integrados e que garantam continuidade). Por tal
razão, começamos por um breve enquadramento concetual, onde se aborda a necessidade
da definição de um modelo de cuidados domiciliários.
Sobre o cuidador informal antecipam-se uma maior procura deste tipo de cuidados, decisões
públicas no sentido de melhorar o acesso, grandes alterações no estatuto do cuidador informal,
para além de uma necessária articulação entre a vida profissional destes cuidadores e as
funções que desempenham em casa da pessoa dependente, assim como a criação de uma
carteira de benefícios, incluindo uma redução nos impostos.
Dado o seu caráter estrutural e, ao mesmo tempo, a sua promessa de futuro, dedicamos
um capítulo à inovação tecnológica e terapêutica. De facto, a inovação, de forma ampla, e
a digitalização em particular são-nos sistematicamente apresentadas como um contributo
inquestionável para o incremento da capacidade de resposta do SNS aos desafios com que se
confronta. Porque tal como se afirma a “saúde digital, ao permitir armazenar, analisar e partilhar
informação relevante, promove o estabelecimento de uma rede de partilha e colaboração,
fundamental na implementação de projetos de integração de cuidados, contribuindo para
a prestação de cuidados mais centrados no cidadão, atendendo às suas necessidades
específicas, e para a melhoria da efetividade, eficiência e qualidade dos cuidados”. Porém,
sendo isto verdade, também precisamos apelar à história e recordar o que correu menos bem
com a primeira vaga de digitalização da saúde e que ainda persistem. Referimo-nos a um
sistema de informação em saúde com proliferação de aplicativos e evidentes lacunas de
interoperabilidade entre níveis de cuidados e que, em boa verdade, pouco contribui para a
integração e continuidade de cuidados.
tendo em vista evitar a erosão desta relação fundamental à qualidade dos cuidados;
• Promover mecanismos tendentes à justa distribuição de riscos, benefícios e custos do
progresso científico e tecnológico e suas aplicações na área da saúde digital;
• Investimento na especificação de deveres e responsabilidades profissionais quando a
atividade profissional em saúde é exercida em ambiente digital;
• Otimização da proteção de dados de saúde gerados pelos cidadãos e da sua utilização
para fins de investigação e prestação de cuidados de saúde;
• Garantir a contínua avaliação da validade, utilidade e qualidade dos produtos, serviços,
estratégias e intervenções digitais;
• Promover estratégias para que o doente assuma uma participação ativa na co-criação
de soluções que sejam verdadeiramente úteis (atendendo às suas necessidades
específicas), na sua relação com o sistema de saúde através do digital;
• Redobrar a atenção na cibersegurança em saúde;
• Promover a participação e sensibilização do público quanto aos principais desafios da
saúde digital;
• Promover a contínua atualização e adequação dos currículos académicos das profissões
de saúde;
Criar as condições nas instituições de espaços dedicados tanto físicos como de agendas
para a prática da teleconsulta. Incluindo os aspetos relacionados com a remuneração dos
profissionais de saúde no uso de ferramentas digitais. Atualmente, a telemedicina surge como
uma dimensão associada à esfera de atuação dos agrupamentos de centros de saúde,
proposta pela ACSS na operacionalização da contratualização nos CSP.
Quanto ao financiamento:
• Financiamento dos cuidados de saúde no SNS acompanhar a inovação na prestação de
cuidados, já que existe evidência de menores custos associados;
• Existência de uma agenda nacional para o desenvolvimento da saúde mental digital;
• As soluções de saúde digital devem constituir parte de uma estratégia integrada nas
prioridades de saúde, devendo beneficiar a população de forma ética, segura, equitativa
e sustentável.
Quanto à interoperabilidade:
• Criar um “Selo de Interoperabilidade”, para as aplicações em saúde, que leve em
consideração os mecanismos e standards de interoperabilidade técnica e semântica
adotados nos produtos ao dispor no mercado;
• Assegurar um vocabulário médico controlado e o recurso a catálogos nacionais, como
parte de um programa de interoperabilidade, que garanta que as aplicações atuais e
futuras interajam da forma desejada, sem propagar erros.
Por fim, recentemente, no início de maio último, a OMS visitou Portugal no âmbito da iniciativa
piloto do Universal Health and Preparedness Review. Desta visita resultou um relatório breve que,
apesar de ter sido divulgado após o encerramento do período normal de análise dos Relatórios
de Primavera, incluímos aqui pela relevância do seu conteúdo. De facto, reconhecendo a
escassez de recursos humanos e a falta de um plano de resposta a emergências de saúde
pública, a OMS realça o compromisso político do Governo, e a colaboração entre os vários
setores da sociedade, assim como a capacidade de dedicação dos profissionais de saúde. Foi
também recomendado o aumento em inovação e na tecnologia digital.
REVISORES
Aida Tavares
Ana Rita Maria
Bruno Heleno
José Aranda da Silva
Margarida Caramona
Paulo Sousa
Rui Santana
Vítor Ramos
REFERÊNCIAS
CAPÍTULO 1
O QUE A EPIDEMIA FEZ?
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CAPÍTULO 2
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CAPÍTULO 3
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CAPÍTULO 4
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de saúde, e pelas especificidades da população que servem, as farmácias devem ainda adotar uma serie
de medidas que visem proteger os seus colaboradores e cidadãos, bem como contribuir para impedir a
propagação da COVID-19, onde se inclui a cedência de medicação de dispensa exclusiva hospitalar.
https://www.infarmed.pt/documents/15786/3584301/
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projecto de diploma, visando regulamentar os termos e as condições em que se poderá processar a
dispensa por parte das farmácias de oficina de determinados medicamentos. https://dre.pt/dre/detalhe/
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pedido do utente, através da dispensa em farmácia comunitária ou da entrega dos medicamentos no
domicílio. https://dre.pt/dre/detalhe/despacho/4270-c-2020-131246680.
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ambulatório podem, excecionalmente, a pedido do utente, ser dispensados nas farmácias comunitárias
por si indicadas, ou no seu domicílio, enquanto a situação epidemiológica do País assim o justifique.
https://dre.pt/dre/detalhe/despacho/5315-2020-133226623.
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com a missão de: a) Avaliar as várias experiências em curso nos diferentes hospitais do SNS, em termos
de resultados obtidos, benefícios para o utente e custos associados; b) Desenvolver modelos de
circuito de prescrição, gestão e dispensa a adotar pelas instituições do SNS a nível nacional, centrado
nas preferências do doente relativamente ao local de dispensa, garantindo proximidade, segurança,
efetividade e terapêutica ao melhor custo; c) Apresentar propostas, incluindo, se necessário, alterações
legislativas, a respeito da transferência da dispensa em farmácia hospitalar para dispensa em farmácia
comunitária de determinados medicamentos e da dispensa descentralizada de outros. https://dre.pt/dre/
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