Antiinflamatório Não Esterioidais
Antiinflamatório Não Esterioidais
Antiinflamatório Não Esterioidais
http://revistarebis.rebis.com.br/index.php/rebis
29
Rev Bras Interdiscip Saúde [Internet]. 2021; 3(2):29-35.
Introdução nível hepático e gastrointestinal. Outros fármacos que se
destacam pela sua potência, toxicidade e duração, são os
Em todo o mundo, os medicamentos que são derivados do ácido propiónico, do qual o ibuprofeno é o
utilizados com maior frequência são os anti- composto mais utilizado para tratar dor leve a moderada.
inflamatórios não esteroides (AINEs). São receitados Sendo potentes inibidores das COXs, os derivados do
frequentemente para enfermidades musculoesqueléticas indol e indeno, têm uma ação anti-inflamatória relevante
reumáticas e também repetidas vezes são tomados sem e se envolvem em inúmeros eventos bioquímicos da
prescrição no caso de queixas menos graves [1]. O resposta inflamatória. A indometacina representa grande
aumento da venda de AINEs nos últimos anos pode risco de efeitos adversos, sobretudo digestivos, de
caracterizar uma realidade assustadora no Brasil, que é maneira oposta a acemetacina e o sulindac mesmo em
a automedicação [2]. uso prolongado, pode ser uma opção interessante [6].
Os anti-inflamatórios são divididos em duas classes, Os oxicans são fármacos que inibem a síntese das
os esteroides e os não esteroides. Os esteroides simulam prostaglandinas (PGs) e a formação de radicais livres,
a ação do cortisol, um hormônio que é sintetizado pela também demostram ação anti-inflamatória significativa.
suprarrenal, que diminui os sinais protetores da resposta O uso do meloxicam é bem aceito durante períodos
inflamatória, porém suas ações acometem inúmeros prolongados. A nimesulida destaca-se por ter um caráter
efeitos adversos graves, e é justamente essa alta taxa de mínimo de acidez, por isso supõem-se menos reações
efeitos adversos que fez a indústria farmacêutica buscar gastrointestinais. Derivados sulfanilamídicos, como a
por fármacos mais seletivos, que são os anti- nimesulida, influem na síntese dos leucotrienos,
inflamatórios não esteroides ou AINEs [3]. tornando-se uma boa escolha para pacientes alérgicos ao
A resposta do organismo a algum fenômeno nocivo ácido acetilsalicílico e também a outros AINEs [4-6].
caracteriza o processo inflamatório, que pode ser Evento adverso ou efeito adverso é definido pela
causado por qualquer agente agressor. O ácido Organização Mundial de Saúde (OMS) como “uma
araquidônico é produzido pela fosfolipase A2 presente resposta a um medicamento que é nocivo e não
na membrana celular, que através das enzimas ciclo- intencional e que ocorre em doses normalmente
oxigenases (COX1, COX2 e COX3) dá origem às utilizadas nos seres humanos para profilaxia,
prostaglandinas (PGs), responsáveis pelos cinco sinais diagnóstica ou terapêutica das doenças, ou para
característicos da inflamação: dor, edema, calor, rubor e modificação de funções fisiológicas”. Os efeitos
perda de função. E o AINE inibe as enzimas ciclo- adversos associados aos AINEs são: insuficiência renal,
oxigenases, bloqueando a ação das prostaglandinas no o grau varia com a dose e frequência, problemas
organismo [1]. cardiovasculares, hematológicos, gastrointestinais e
As características básicas para que o medicamento hipertensão arterial [7,8].
seja considerado um anti-inflamatório não esteroide é ter A principal motivação para sustentar o presente
efeito analgésico, antipirético e anti-inflamatório. A sua trabalho reside na importância que o tema possui para a
comercialização pode ser feita sem a obrigatoriedade da sociedade, sendo considerado atemporal. Desta maneira,
receita médica, e ocorrem com muita frequência reações espera-se contribuir com o tema apontando para o risco
adversas [4]. que se assume ao tomar AINEs sem prescrição médica,
O ácido acetilsalicílico (AAS), nimesulida, podendo causar inúmeros efeitos adversos. Diante do
ibuprofeno, cetoprofeno, naproxeno, piroxicam, exposto, o trabalho objetivou apontar os anti-
meloxicam e diclofenaco são os AINEs mais utilizados inflamatórios não esteroides mais vendidos em
no Brasil. Vendidos apenas com retenção da receita, os farmácias comunitárias.
coxibes, são fármacos altamente seletivos e apresentam
efeitos adversos mais graves, como infarto agudo do Materiais e métodos
miocárdio. Pode-se lembrar também os AINEs atípicos,
como paracetamol e dipirona, que são analgésicos e Trata-se de um estudo de caráter exploratório, na
antipiréticos comuns, mas com baixo potencial de forma de revisão de literatura. A pesquisa exploratória
redução de inflamação [5]. tem por propósito prestar mais conhecimento sobre o
Derivados do ácido salicílico, os salicilatos, são assunto que está sendo estudado, facilitando a definição
muito eficazes no tratamento da dor relacionada a do tema, orientando a fixação dos objetivos e nas
processos inflamatórios. A ciclo-oxigenase 1(COX1) e formulações das hipóteses. A pesquisa bibliográfica é
ciclo-oxigenase 2(COX2) são inibidos feita a partir de publicações já realizadas, sendo
irreversivelmente por eles, porém são mais seletivos constituída principalmente por: livros, revistas, artigos
para COX1, sendo o seu representante mais importante científicos, jornais, boletins, monografias, dissertações e
o AAS e se usados de forma excessiva, pode levar a teses [9].
graves problemas de saúde, como lesões gástricas [1,6]. Para compor o referencial teórico foram
Os derivados do ácido acético inibem a síntese das selecionados trabalhos publicados nos bancos de dados
prostaglandinas por meio da inibição reversível das Scientific Eletronic Library Online (SciELO) e Google
COXs e tem como representante o diclofenaco e o Acadêmico entre 2010 e 2020. A busca do material
cetorolaco, que são eficazes no controle da dor no pós- ocorreu entre agosto de 2019 e junho de 2020, utilizando
operatório. Seus efeitos adversos estão relacionados ao os descritores: Anti-inflamatórios, automedicação,
30
Rev Bras Interdiscip Saúde [Internet]. 2021; 3(2):29-35.
efeitos adversos, inibidores de ciclo-oxigenase e Em indivíduos anteriormente saudáveis, que não
toxicologia. utilizaram os AINEs abusiva e irracionalmente, é
Após seleção criteriosa dos trabalhos, foi realizada a incomum haver danos renais ao usar esses
análise minuciosa de 34 estudos sobre a temática, dentre medicamentos. Seletivamente ou não, a cascata do ácido
os quais 25 artigos científicos, 4 livros, 3 monografias e araquidônico será inibida por quem usar os AINEs,
2 dissertações. Os trabalhos foram lidos e sintetizados, impedindo a síntese das PGs. Nos rins as PGs atuam
organizados quanto ao assunto, título, ano de como vasodilatadoras, aumentando a perfusão do órgão
publicação, objetivos, resultados e conclusão. E por e ampliando a distribuição sanguínea do córtex renal
fim, foram classificados quanto a sua abordagem, para os néfrons. Para compensar o fluxo de maneira
sempre buscando o foco da pesquisa e questão adequada, a vasodilatação atua na contra-regulação dos
norteadora. mecanismos do órgão, como no sistema renina-
Foram incluídos neste trabalho estudos que tinham angiotensina-aldosterona. Ao utilizar os AINEs esse
relação direta com o tema abordado e publicações entre mecanismo é inibido, podendo causar vasoconstrição
2010 e 2020. E excluídos trabalhos considerados não aguda e isquemia medular, levando a lesão renal aguda
significativos para a construção do mesmo e também [13].
publicados anteriormente a 2010. Na mucosa gastrointestinal, os AINEs não seletivos
da COX causam a inibição das prostaglandinas,
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) podendo gerar desconforto e dor abdominal. Mesmo as
pessoas que não manifestam sintomas podem elevar o
Um dos primeiros compostos isolados de fontes risco de sofrer sérios problemas, como úlcera gástrica,
naturais para fins terapêuticos foi a salicina. O gastroduodenite ou até mesmo sangramento digestivo.
farmacêutico Henri Leroux foi o primeiro a registrar a Os mais seguros são os inibidores seletivos da COX2,
obtenção da salicina a partir da conhecida popularmente provocam menos reações adversas gastrointestinais, por
como casca do salgueiro, o químico italiano Raffaele outro lado, elevam o risco de complicações
Piria isolou o ácido salicílico da salicina em 1838 e em cardiovasculares [4].
1844 o químico Frances Cahours, através do óleo de
gautéria, isolou o ácido salicílico [10]. Farmacologia
A salicina obtida da Salix Alba deve ter sido o maior
evento relacionado a produtos naturais de plantas, na A COX1 está presente em quase todos os tecidos
qual o reverendo Edwarde Stome ao provar a casca de para promover ações fisiológicas importantes, por isso é
sabor amargo, o relacionou ao extrato de cinchona. conhecida como enzima constitutiva. A COX2 é
Depois de seis anos desta descoberta os resultados de chamada de enzima indutiva, e está associada aos
sua observação clínica foi anunciado à sociedade, processos inflamatórios. Já a COX3, possui ação como
apresentado através do extrato da planta seus efeitos a COX1, porém ainda se sabe muito pouco sobre sua
farmacológicos, a analgesia. Em 1898, Felix Hofmann atuação. O córtex cerebral e a medula espinhal são os
pesquisava possíveis estruturas baseadas no núcleo locais onde a COX3 existe em maior quantidade [14].
salicilato, sua intenção era obter um derivado com Os AINEs não seletivos podem causar diversos
propriedade igual ou superior na eficácia e com efeitos efeitos adversos, pois bloqueiam tanto a ação das PGs
adversos menores. Foi obtido então o ácido decorrentes das enzimas indutivas (COX2) quanto das
acetilsalicílico, cujas características farmacológicas enzimas constitutivas (COX1). É um desafio para a
foram analgésicas, antipiréticas e anti-inflamatórias, indústria farmacêutica buscar por fármacos anti-
sendo utilizada para tratar artrite reumática, inibição da inflamatórios mais seletivos, inibindo apenas a ação da
agregação plaquetária, controle da febre, crise de gotas COX2, sem causar reações graves [15].
entre outros [11].
O tromboxano A2(TXA2) eleva a aglutinação das Idosos e os AINEs
plaquetas, enquanto as prostaglandinas E2(PGE2)
reduzem. No caso do AAS, mesmo em doses baixas, O envelhecimento do corpo traz problemas de saúde
pode ocorrer a inibição irreversível da síntese de TXA2, e isso leva a utilização de medicamentos contínuos [16].
por ocorrência da acetilação da COX. Como as O envelhecimento da população também tem mostrado
plaquetas não possuem núcleo, elas ficam uma mudança no padrão das doenças, que vêm afligindo
impossibilitadas de sintetizar novas enzimas, levando a o povo, no qual se predominam as doenças crônicas e se
falta do TXA2 até o fim da vida das plaquetas. destacam as cardiovasculares, que é a principal causa de
Consequentemente ocorre a diminuição da aglutinação morte no mundo [17].
plaquetária, por causa da queda de TXA2, provocando O ato de envelhecer é um processo fisiológico
um efeito antiplaquetário, aumentando o tempo de observado durante o ciclo da vida e o indivíduo está
sangramento [12]. Estudos clínicos e experimentais sujeito a sofrer inúmeras alterações motoras e
relatam após o desuso do AAS tromboembolismo metabólicas. Modificações no bom funcionamento do
rebote, podendo levar a ataques isquêmicos transitórios, corpo, relacionadas a algum fator, hereditário ou
infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral ambiental, no qual desencadeiam nos idosos
em pessoas vulneráveis [8]. manifestações clínicas de difícil tratamento e com isso a
31
Rev Bras Interdiscip Saúde [Internet]. 2021; 3(2):29-35.
prescrição de inúmeros medicamentos para promover oftalmológico e os AINEs mais prescritos são
uma melhor qualidade de vida [18]. Quase sempre o que nimesulida, etoricoxibe, celecoxibe, dipirona,
está na lista de medicamentos dos idosos são AINEs cetoprofeno, diclofenaco, paracetamol e muitos outros
[16]. [25].
Por estar relacionada a altas taxas de toxicidade, a Na pesquisa sobre o uso indiscriminado de anti-
terapia com AINEs em idosos deve ser evitada [19]. inflamatório, os analgésicos e AINEs são usados
Tanto a prescrição médica quanto a automedicação de aleatoriamente por cerca de 40% da população, sendo o
AINEs oferece ao idoso um risco a ser tomado. Como diclofenaco mais vendido seguido por nimesulida,
são de fácil acesso, isso favorece a automedicação, que piroxicam e ibuprofeno [26]. Em contrapartida,
somado a politerapia, tornam os idosos mais suscetíveis constatou-se que 75% dos entrevistados raramente usam
aos problemas relacionados ao uso de AINEs [20]. AINEs, 14% diariamente e 11% não usam [27].
Os idosos na sua maioria são pacientes com Resultados assim ocorrem supostamente pelo fato de
problemas de saúde crônicos, utilizando assim a que os AINEs são de venda livre nas mais diversas
polifarmácia. A automedicação é adotada formulações, facilitando o acesso à população [1].
frequentemente por essa população. Suas principais A pesquisa identificou que 29% dos entrevistados
alternativas são o uso de plantas medicinais e utilizam para dores musculares os AINEs [27].
medicamentos de venda livre para tratar sintomas como Concordando com o estudo realizado os AINEs
a dor [21]. mostraram eficácia para o tratamento da dor
É papel essencial do profissional farmacêutico, musculoesquelética, a qual 858 indivíduos utilizaram
orientar os pacientes, de forma verbal ou mesmo escrito, esses medicamentos e cerca de 562 (54%) tiveram
a maneira correta da utilização dos fármacos, bem como resultados positivos de eficácia [28].
seus prováveis efeitos adversos, de como agir caso Foi identificado nas últimas três décadas, que a
esqueça alguma dose e também orientá-los sobre o quão classe dos AINEs vem sendo utilizada na profilaxia em
é arriscado a automedicação e sobre a interrupção do atletas, para aumentar o desempenho nos treinos de
tratamento sem o médico estar ciente. Mesmo sabendo força. Porém este estudo não verificou diferenças no
que muitos medicamentos não precisam de receita para desempenho do treino de força com a utilização do
adquiri-los, eles não estão isentos de causar reações placebo ou AINEs, reforçando a preocupação do seu uso
adversas, por isso, em momentos como esse que a irracional [29].
assistência farmacêutica presta essencial fonte de Os fármacos mais vendidos no mundo são os AINEs.
informação e cuidado [22]. Por serem indicados na terapêutica para o alívio da dor,
Indivíduos adultos, jovens e saudáveis comparados febre e inflamação, devem ter efeitos analgésico,
com idosos não apresentam tanta alteração nas funções antipirético e anti-inflamátório. O estudo afirma que na
das prostaglandinas [23]. Naturalmente o organismo dos maioria das vezes os AINEs são vendidos sem
idosos têm quedas em algumas funções fisiológicas, prescrição médica, favorecendo o aumento nos casos de
dentre elas a diminuição da filtração glomerular, da reações adversas, onde os idosos são as pessoas mais
produção de suco gástrico e do fluxo sanguíneo. Essas atingidas [4]. Outro resultado parecido diz que os AINEs
deficiências observadas como naturais, com o passar do estavam entre os medicamentos mais vendidos em sua
tempo podem se agravar com terapia de AINEs, pesquisa e correspondia 89,7% do total de vendas das
ocasionando problemas como ulcerações graves, farmácias comunitárias envolvidas no estudo [30].
insuficiência renal grave e hipertensão arterial [16]. Destacam-se entre os medicamentos mais vendidos
O uso dos AINEs associados à diminuição dos níveis a nimesulida, diclofenaco potássico/sódico, naproxeno,
das PGs no idoso provocam a redução do pH gástrico, piroxicam, ibuprofeno e cetoprofeno. Confirmando esse
podendo ocasionar problemas gastrointestinais graves resultado, estes mesmos medicamentos estão entre os
dentre úlceras pépticas e sangramento intestinal. Já nos AINEs mais vendidos, na qual o diclofenaco teve venda
rins essa baixa concentração das PGs causada pelos de 37,3%, seguido por nimesulida 27,3%, ibuprofeno
AINEs afeta a filtração glomerular, podendo ocasionar 10,9%, ácido acetilsalicílico 9,1%, meloxicam 7,3%,
insuficiência renal [15]. cetoprofeno 6,3% e piroxicam 1,8% [31].
No mesmo sentido relata que os anti-inflamatórios
Resultados mais utilizados na automedicação foram ibuprofeno
com 23%, dipirona 22%, diclofenaco sódico 17%,
A Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou nimesulida 14%, torsilax 5%, piroxicam 5%, meloxicam
que em 2020 o Brasil pudesse alcançar uma população 2%, ácido acetilsalicílico 2%, confirmando a existência
idosa de cerca de 15 milhões de indivíduos com idade de um consenso unânime entre os AINEs mais vendidos
de 60 anos ou mais. Mesmo com a melhora da qualidade em farmácias comunitárias [2].
de vida, a suscetibilidade do corpo do idoso trará Muitos países como Estados Unidos, Canadá e
aumento no uso dos fármacos. A incidência de doenças Inglaterra, suspenderam o uso da dipirona, mesmo assim
crônicas é a responsável por provocar o aumento este medicamento é frequentemente usado no Brasil.
razoável no uso dos medicamentos [24]. Os motivos Quadros de anemia aplástica e agranulocitose foram às
para a prescrição dos AINEs nos idosos são dores na importantes justificativas apresentadas para proibir ou
coluna, artrite, dor muscular, fraturas e pós-operatório restringir o uso da dipirona. Porém, diversos estudos
32
Rev Bras Interdiscip Saúde [Internet]. 2021; 3(2):29-35.
equidistantes e referências do fabricante, exibem Conclusão
resultados duvidosos referido a esse efeito [32].
Os resultados de outra pesquisa mostra que a Em virtude dos fatos mencionados, verificou-se que
dipirona foi a mais dispensada com cerca de 45,9%, em os anti-inflamatórios não esteroides são os
seguida o ácido mefenâmico com 20,9%, o paracetamol medicamentos mais vendidos em farmácias
obteve dispensação de 11,3% e o diclofenaco 8,9%. O comunitárias. Esse cenário é pertinente em todo o Brasil,
diclofenaco foi o quarto medicamento mais vendido e o isso devido ao fácil acesso e desinformação daquele que
mesmo apresenta várias formas farmacêuticas, na qual faz seu uso. O diclofenaco e a nimesulida foram os
estão presentes adjuvantes como potássio, sódio, fármacos mais dispensados e o que preocupa é que as
dietilamônio, resinato e colestiramina. Contudo, pessoas fazem o uso sem entender o real perigo que
apresentam o mesmo mecanismo de ação, sendo o estão correndo. Foi identificado que a população idosa
potássico indicado para pacientes hipertensos e o sódico é a mais vulnerável quanto ao uso dos AINEs, visto que
não indicado para esse tipo de paciente. E seguindo, o com o envelhecimento do corpo ocorrem alterações nas
diclofenaco dietilamônio é de uso tópico, o resinato tem prostaglandinas, enzima responsável por funções
apresentação em gotas e é utilizado mais por crianças, já importantes no organismo, o que pode propiciar o
o diclofenaco colestiramina tem ação mais rápido, surgimento de efeitos adversos mais facilmente. Em se
porém ele pode ter interação com medicamentos orais, tratando de números, o mercado dos AINEs
como a digoxina e varfarina, das classes cardiotônico e movimentou um volume de 20 bilhões de reais entre
anticoagulante [32,33]. 2014 a 2017, um valor significativo para o setor de
Entre as apresentações associadas a analgésicos o serviços, gerando emprego e renda para milhares de
medicamento mais dispensado foi o diclofenaco brasileiros.
combinado à cafeína, carisoprodol e paracetamol, sendo Por outro lado, quando se fala de saúde pública pode-
representado pelo torsilax. Nos dias atuais é notório que se considerar os AINEs um inimigo minimizado, pois
o diclofenaco é o medicamento de primeira escolha para quem o utiliza ignora os riscos ou mesmo não sabe dos
tratar inflamações, principalmente aquelas associadas à problemas relacionados a essa classe. O grande desafio
garganta e articulações, e também várias formas de do profissional farmacêutico está voltado à orientação e
lesões musculares, maiormente utilizados por educação quanto o uso dos AINEs bem como a todos os
indivíduos que não têm entendimento sobre medicamentos existentes. O caminho é árduo, mas o
medicamentos, levando o diclofenaco repetidamente a farmacêutico deve insistir nessa tecla para mudar
ser empregado na automedicação [30,32]. paradigmas e costumes que prejudicam a saúde da
O mercado de anti-inflamatórios não esteroides no sociedade.
período de 2014 a 2017, movimentou mais de 5 bilhões É preciso descobrir no campo científico, novas
de reais anualmente. O seu mercado total é representado drogas com eficácia e segurança garantidas, que
por 54 composições, desde moléculas simples as mostrem melhores benefícios e que possam garantir uma
combinadas com outros princípios ativos. Quando se boa recuperação com menos efeitos adversos, por isso
fala sobre unidades vendidas, no período analisado, deve-se sempre buscar estar atualizado para poder dar
nota-se que o mercado dos AINEs tem apontado um bom cuidado farmacêutico a quem vier procurar
constante expansão. Tendo em média um crescimento atendimento.
de 6,5% em vendas (unidades) do mercado total,
percebe-se que a venda dos medicamentos similares Referências
fornece maior lucro e a impulsão do crescimento do
mercado em si é alavancada pelo MIP [34]. [1] Rang HP, Ritter JM, Flower RJ, Henderson G.
Ao analisar inúmeros artigos sobre o assunto, pôde- Farmacologia. 8a. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.
se perceber similaridades nas listas dos AINEs mais [2] Silva FA. Estudo sobre automedicação no uso de
vendidos, sendo os mais apontados: nimesulida, anti-inflamatórios não esteroidais na cidade de
diclofenacos, ibuprofeno, paracetamol, naproxeno e Valparaíso de Goiás. Rev Saúde Desenvolv. 2016;
piroxicam. O que varia entre um estudo e outro é a 9(5):142-53.
ordem desses medicamentos, sendo que houveram [3] Pedroso CR, Batista FL. Uso indiscriminado de anti-
resultados onde a nimesulida foi a mais comercializada, inflamatório não esteroidais. Rev Acad Instit Cienc
já em outros casos o diclofenaco e ibuprofeno foram os Saúde. 2017; 3(1):48-69.
mais vendidos [2,3,11]. Diante disso, os AINEs estão [4] Lima TAM, Furini AAC, Atique TSC, Done P,
sendo dispensados nos balcões das farmácias brasileiras Machado RLD, Godoy MF. Análise de potenciais
sem a devida preocupação que se deve ter, mesmo com interações medicamentosas e reações adversas a
o passar dos anos a população continua com esse hábito anti-inflamatórios não esteroides em idosos. Rev
inadequado de se automedicar. Desde os estudos mais Bras Geriatr Gerontol. 2016; 19(3):533-44.
longevos até o mais recente, todos mostram a mesma [5] Pinheiro RM, Wannmacher L. Uso racional de anti-
realidadade no Brasil e o desafio continua sendo o inflamatórios não esteroides. In: Ministério da Saúde
mesmo, fazer a população entender que medicamentos é (BR), Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
coisa séria e seu uso inadequado ou desnecessário pode Estratégicos. Uso racional de medicamentos: Temas
trazer graves complicações [25-27]. selecionados. Brasília/DF; 2012.
33
Rev Bras Interdiscip Saúde [Internet]. 2021; 3(2):29-35.
[6] Fernandes MH, Gomes P. Medicina Dentária [19] Ely LS, Engroff P, Guiselli SR, Cardoso GC,
Simposium Terapêutico. CMP Medica. Portugal; Morrone FB, Carli GA. Uso de anti-inflamatórios
2010. e analgésicos por uma população de idosos
[7] Batlouni M. Anti-inflamatórios não esteroides: atendida na Estratégia Saúde da Família. Rev Bras
efeitos cardiovasculares, cérebro-vasculares e Geriatr Gerontol. 2015; 18(3):475-85.
renais. Arq Bras Cardiol. 2010; 94(4):556-63. [20] Castel-Branco MM, Santos AT, Carvalho RM,
[8] Teixeira MZ. Efeito rebote dos fármacos modernos: Caramona MM, Santiago LM, Fernandez-Llimos
evento adverso grave desconhecido pelos F, Figueiredo IV. As bases farmacológicas dos
profissionais da saúde. Rev Assoc Méd Bras. 2013; cuidados farmacêuticos: o caso dos AINEs. Acta
59(6):629-38. Farm Port. 2013; 2(2):79-87.
[9] Prodanov CC, Freitas CE. Metodologia do trabalho [21] Ferreira LS, Teodoro EIS, Silva TP, Teston APM,
científico: métodos e técnicas da pesquisa e do Mello JCP, Araújo DCM. Automedicação: prática
trabalho acadêmico. 2a. ed. Rio Grande do Sul: comum por idosos de um município do norte do
Feevale; 2013. Paraná. Braz J Develop. 2020; 6(4):22404-13.
[10] Carvalho WA. Anti-inflamatórios não esteroides, [22] Soterio KA. A automedicação no Brasil e a
analgésicos, antipiréticos e drogas utilizadas no importância do farmacêutico na orientação do uso
tratamento da gota. 8a. ed. Rio de Janeiro: racional de medicamentos de venda livre: uma
Guanabara Koogan; 2010. revisão. Rev Gradu Rio Grande do Sul. 2016;
[11] Furst DE, Ulrich RW. Farmacologia Básica e 9(2):1-15.
Clínica. Fármacos antiinflamatórios não [23] Duarte LR, Gianini RJ, Ferreira LR, Camargo
esteroides, fármacos anti-reumáticos MAS, Galhardo SD. Hábitos de consumo de
modificadores da doença, analgésicos não- medicamentos entre idosos usuários do SUS e de
opióides e fármacos usados. 10a. ed. São Paulo: plano de saúde. Cad Saúde Colet. 2012; 20(1):64-
AMGH; 2010. 71.
[12] Ferreira AL, Rocha CP, Vieira LM, Dusse LMS, [24] Gonçalves KAM, Kamimura QP, Silva JLG, Silva
Junqueira DRG, Carvalho MG. Alterações MG. A população idosa no Brasil: caracterização
hematológicas induzidas por medicamentos do uso de medicamentos. Rev Fasem Ciênc. 2013;
convencionais e alternativos. Rev Bras Farm. 4(2):67-76.
2013; 94(2):94-101. [25] Mota PM, Lima ALZ, Coelho E, Paula EMX,
[13] Lucas GNC, Leitão ACC, Alencar RL, Xavier Furini AAC. Estudo sobre a utilização de anti-
RMF, Daher EF, Silva Junior GB. Aspectos inflamatórios não esteroidais prescritos em receitas
fisiopatológicos da nefropatia por anti- para idosos da região Noroeste Paulista. Rev Ciênc
inflamatórios não esteroidais. J Bras Nefrol. 2018; Farm Básica e Apl. 2010; 31(2):157-63.
41(1):124-30. [26] Lourenço EE, Silva MG. Uso indiscriminado de
[14] Breganó JW, Barbosa DS, El Kadri MZ, Rodrigues anti-inflamatórios em Goiânia - GO e Bela Vista -
MA, Cecchini R, Dichi I, et al. Comparison of GO. Rev Cient ITPAC. 2014; 7(4):1-12.
selective and non selective cyclo-oxygenase 2 [27] Rankel SAO, Sato MO, Santiago RM. Uso
inhibitors in experimental colitis exacerbation: role irracional dos anti-inflamatórios não esteroidais no
of leukotriene B4 and superoxide dismutase. Arq município de Tijucas do Sul, Paraná, Brasil. Rev
Gastroenterol. 2014; 51(3):226-34. Visão Academ. 2016; 17(4):4-12.
[15] Vedasca ACRS. Utilização dos anti-inflamatórios [28] José FF. O papel dos anti-inflamatórios não
não esteróides (AINES) em medicina dentária: hormonais no tratamento da dor
indicações, contra-indicações e efeitos adversos musculoesquelética. J Bras Med. 2014; 102(5):24-
[dissertação]. Universidade do Porto. Porto/PT; 6.
2015. [29] Correa CS, Cadore EL, Baroni BM, Silva ER,
[16] Bandeira VAC, Pai CTD, Oliveira KR. Uso de anti- Bijoldo JM, Pinto RS, et al. Efeito do uso
inflamatórios não esteroides por idosos atendidos profilático do anti-inflamatório não-esteroide
em uma Unidade de Estratégia de Saúde da Família ibuprofeno sobre o desempenho em uma sessão de
do município de Ijuí (RS). Rev Bras Ciênc Env treino de força. Rev Bras Med Esporte. 2013;
Humano. 2013; 10(2):181-92. 19(2):116-9.
[17] Bloom DE, Cafiero ET, Jané-Llopis E, Abrahams- [30] Dantas KDO. Perfil de vendas de medicamentos
Gessel S, Bloom LR, Fathima S, et al. The Global anti-inflamatórios em farmácias comunitárias no
Economic Burden of Noncommunicable Diseases. município de Caicó-RN [monografia].
Geneva: World Economic Forum; 2011. Universidade Federal de Campina Grande/PB;
[18] Campolina AG, Adami F, Santos JLF, Lebrão ML. 2019.
A transição de saúde e as mudanças na expectativa [31] Sales KH. A utilização de anti-inflamatórios não
de vida saudável da população idosa: possíveis esteroidais (AINEs) por idosos clientes em duas
impactos da prevenção de doenças crônicas. Cad drogarias privadas de municípios de Minas Gerais
Saúde Pública. 2013; 29(6):1217-29. [monografia]. Faculdade Ciências da Vida. Sete
Lagoas/MG; 2016.
34
Rev Bras Interdiscip Saúde [Internet]. 2021; 3(2):29-35.
[32] Silva AF, Silva AD. Fármacos anti-inflamatórios
não esteroidais mais dispensados em uma farmácia
comercial do município de Itaocara, estado do Rio
de Janeiro, Brasil. Acta Biomed Bras. 2013;
4(2):1-14.
[33] Ferreira TR. Analgésicos, antipiréticos e anti-
inflamatórios não esteroides em prescrições
pediátricas [dissertação]. Universidade de
Sorocaba. São Paulo/SP; 2010.
[34] Ko LYA. A evolução do mercado de anti-
inflamatórios não esteroidais (AINES) e o papel do
farmacêutico frente à automedicação
[monografia]. Universidade de São Paulo, São
Paulo/SP; 2018.
35
Rev Bras Interdiscip Saúde [Internet]. 2021; 3(2):29-35.