2 - Portugal Medieval (Séculos Xii-Xv)
2 - Portugal Medieval (Séculos Xii-Xv)
2 - Portugal Medieval (Séculos Xii-Xv)
Política e Guerra
D. Afonso I (1139-1185)
Quando o conde D. Henrique faleceu, em 1112, o governo do condado Portucalense foi
entregue à viúva, D. Teresa. D. Afonso Henriques passaria a exercer o poder apenas em
1127, quando atingiu a maioridade. Nesse mesmo ano, com o apoio dos nobres
portucalenses, D. Afonso derrotou a mãe e os seus apoiantes galegos na batalha de S.
Mamede, junto a Guimarães. A partir de então, tornou-se livre para governar sem
interferências.
Partindo do Minho, e de forma a afastar-se das influências dos nobres de Portucale, D.
Afonso Henriques avançou para sul e instalou-se em Coimbra, para, a partir dessa
cidade, dilatar as fronteiras do condado. Foi assim que, em 1139, venceu a batalha de
Ourique. Pouco se sabe sobre esta batalha (nem sequer é certo que tenha ocorrido junto
a Ourique, no Alentejo), mas não restam dúvidas de que foi importante, pois foi a partir
daquela vitória que D. Afonso Henriques passou a intitular-se rei.
Nos anos que se seguiram à vitória na batalha de Ourique, D. Afonso Henriques
conduziu novas campanhas militares: para sul, contra os Mouros, e mesmo para norte e
oeste, contra a Galiza e o reino de Leão. Foi numa destas campanhas, ocorrida em 1147,
que o rei conquistou Santarém e Lisboa aos Mouros. Para a conquista de Lisboa teve
mesmo a ajuda de uma armada de cruzados oriundos do norte da europa.
D. Afonso Henriques continuou a expandir o reino até 1169, ano em que foi derrotado
quando tentava conquistar Badajoz. Foi mesmo ferido numa perna durante os combates
e acabou por ficar incapaz de montar a cavalo para o resto da vida.
Em 1179, Portugal foi reconhecido pelo Papa como um reino in- dependente, através do
lançamento da bula Manifestis Probatum. Já em 1143, em Zamora, o rei de Leão e
Castela tinha reconhecido D. Afonso Henriques como rei, embora não lhe garantisse
ainda a independência, que acabou por ser assegurada através do posterior
reconhecimento papal.
D. Sancho I (1185-1211)
Em 1185, D. Sancho i sucedeu no trono ao pai, D. Afonso Henriques. Ainda enquanto
infante, D. Sancho tinha demonstrado qualidades governativas e militares. Por um lado,
começou a auxiliar o pai no governo do reino desde que o progenitor fora ferido na
perna, em 1169. Por outro, deu continuidade à guerra contra os Mouros, defendendo,
em 1184, Santarém de um duro cerco.
Ao longo do seu reinado, procurou dar continuidade à Reconquista, expandindo o reino
em direção a sul. Foi assim que, em 1189, conquistou Silves e Alvor, novamente com a
ajuda de uma armada de cruzados. Ambas as vilas foram perdidas pouco depois, uma
vez que se encontravam isoladas em território inimigo, já que toda a área entre Silves e
Évora era ainda controlada pelos Mouros. A ofensiva muçulmana de 1190-1191,
comandada pela dinastia dos Almóadas marroquinos, conquistou todas as terras a sul do
Tejo, com exceção de Évora.
De forma a estabilizar e fortificar a fronteira, D. Sancho i concedeu cartas de foral a
várias vilas, como Almada (o Tejo era então a fronteira entre o reino de Portugal e os
Mouros). Além disso, concedeu castelos às Ordens Militares, para que aquelas
vigiassem as zonas de fronteira. O pai, D. Afonso Henriques, tinha tido uma política
semelhante.
D. Afonso II (1211-1223)
D. Afonso II sucedeu ao pai, D. Sancho i, em 1211. Ao longo do seu reinado, manteve
uma política de fortalecimento e centralização do poder régio. Através da introdução de
leis escritas, apoiadas no direito Romano, conseguiu afirmar a superioridade do poder
do rei face à nobreza e ao clero. Contudo, tal política levou a que existissem graves
problemas de relacionamento entre o monarca e vários membros da nobreza e do clero.
As inquirições Gerais, lançadas pelo rei, consistiam em inquéritos feitos no terreno
pelos oficiais da coroa e tinham como objetivo limitar as usurpações de terras levadas a
cabo pela nobreza e pelo clero. Uma outra lei, a das confirmações, garantia que o rei
tinha o direito de decidir se os nobres podiam manter as terras que tinham recebido da
coroa. Este processo de centralização e aumento do poder da coroa foi prosseguido, de
forma mais ou menos contínua, pelos reis que se seguiram ao longo dos séculos
subsequentes.
D. Afonso II foi um rei doente – crê-se que sofria de lepra – e, portanto, incapaz de
comandar exércitos em batalha. Mas mesmo sem poder ser um conquistador, como o
pai ou o avô, no reinado de D. Afonso II a Reconquista continuou. Foi levada a cabo
sobre- tudo pelas Ordens Militares e o feito mais significativo foi a conquista de Alcácer
do Sal, ocorrida em 1217. Já antes, em 1212, forças portuguesas tinham participado na
batalha de navas de Tolosa, lado a lado com castelhanos e aragoneses. Esta importante
vitória cristã assinalou o declínio do poderio militar Almóada na Península ibérica e, em
1223, os muçulmanos voltariam a dividir-se em pequenos reinos taifa, permitindo novos
avanços na Reconquista.
D. Sancho II (1223-1248)
Com a morte de D. Afonso II, ocorrida em 1223, subiu ao trono D. Sancho II. O novo
rei começou por pôr fim à disputa que as tias tinham mantido com o seu pai. Cancelou
também algumas das leis de fortalecimento do poder da coroa passadas por D. Afonso
II, de forma a agradar ao clero e à nobreza. Contudo, o rei revelou-se incapaz de
governar de forma capaz e de manter a ordem. Bandos de cavaleiros andavam pelo
reino a saquear igrejas e mosteiros, e o rei, que tinha por obrigação garantir a justiça,
nada fazia.
A Reconquista, entretanto, foi seguindo o seu rumo. Nas décadas de 1220, 1230 e 1240,
o avanço português fez-se pelo Alentejo e Algarve, tendo sido conquistadas vilas como
Elvas, Serpa e Tavira. As Ordens Militares de Santiago e do Hospital foram decisivas
no avanço das conquistas, já que o rei enfrentava problemas em mobilizar o apoio da
nobreza.
Os problemas sociais e políticos no reino acabaram por ser superiores aos sucessos
militares e D. Sancho II foi deposto. Os bispos portugueses, descontentes com a atuação
do rei perante a igreja, apelaram ao Papa que, em março de 1245, depôs D. Sancho II
através da emissão de uma bula papal. Uma nova bula, emitida em julho do mesmo ano,
ordenava ao clero, nobreza e concelhos de Portugal que obedecessem ao infante D.
Afonso, irmão do rei, pois daí em diante seria ele a governar.
O infante D. Afonso era, à época, conde de Bolonha, vila do norte de França, por ter
casado com a condessa Matilde. Em 1245, em Paris, perante bispos portugueses e
emissários do Papa, jurou respeitar a igreja e todos os seus privilégios. Assim, após a
deposição do rei, irmão do infante, o Papa concedeu-lhe o governo de Portugal.
Quando, no verão desse ano, aportou em Lisboa, encontrou o reino dividido entre os
seus partidários e os apoiantes de D. Sancho II. A guerra entre os dois irmãos durou até
1248, altura em que D. Sancho II faleceu, pouco depois de ter partido para o exílio em
Castela.
D. Dinis (1279-1325)
Alçado ao trono em 1279, D. Dinis procurou, desde cedo, deixar uma marca pessoal no
reino, reorganizando-o por completo em praticamente todas as áreas. Em 1289, com a
assinatura da concordata dos Quarenta Artigos, D. Dinis pôs fim ao conflito que opunha
Portugal ao Papado. Embora tenham existido fricções com o clero português, D. Dinis
conseguiu várias decisões favoráveis por parte do Papa. Exemplo disso foi a permissão,
concedida em 1319, para a transferência dos bens da extinta Ordem do Templo para a
recém-criada, e exclusivamente portuguesa, Ordem de cristo.
D. Dinis preocupou-se em consolidar e defender as fronteiras do rei- no, uma vez que
não as podia alargar. A sul nada mais havia a conquistar, a leste, Castela era um vizinho
demasiado poderoso. Em 1297, após um curta guerra contra Castela, foi assinado o
Tratado de Alcanizes, que garantiu a estabilização de toda a fronteira leste do reino.
Em todo o caso, e de forma a garantir a defesa do reino, D. Dinis mandou construir ou
reparar centenas de castelos por todo o território, em particular nas regiões de fronteira.
Tomou ainda outras decisões de cariz militar, como a criação dos besteiros do conto,
uma milícia de homens dos concelhos armados com bestas. Ou ainda a criação de uma
marinha de guerra, para proteger a costa e o comércio marítimo dos ataques dos piratas
muçulmanos do norte de África e do reino de Granada.
D. Dinis também se preocupou em reforçar e centralizar o poder da coroa. Por isso, para
combater os abusos da nobreza e do clero, lançou várias inquirições Gerais, entre 1283 e
1307. Também se preocupou, desde o início do reinado, em acabar com o poder de D.
Afonso, seu irmão, que tinha construído um poderoso senhorio no Alto Alentejo.
Assim, o rei atacou o infante em 1281, 1287 e 1299, acabando por o vencer e obrigar a
exilar-se em Castela.
A política seguida pelo rei gerou um grande descontentamento entre várias partes da
nobreza, o que acabou por conduzir a uma guerra civil. Esta durou entre 1319 e 1324, e
opôs o rei às forças da nobreza comandadas pelo seu filho mais velho, o infante D.
Afonso. A guerra correu mal a D. Dinis, que foi obrigado a admitir a der- rota e a fazer
várias concessões. Morreu praticamente isolado, em janeiro de 1325.
D. Afonso IV (1325-1357)
Ao contrário do que seria esperado de um infante que se revoltou contra um rei
centralizador, D. Afonso IV seguiu de perto os passos do pai. Cedo começou a limitar
os poderes senhoriais da nobreza que antes tinha ajudado a defender. Atacou e derrotou
os irmãos bastardos que se lhe tinham oposto durante a guerra civil, demonstrando,
assim, que não queria ter rivais no reino.
Criou novos tipos de funcionários régios para poder exercer um maior controlo sobre os
concelhos: os juízes de fora, representantes da justiça do rei com mais autoridade do que
os juízes locais; e os vereadores, que intervinham em assuntos económicos em nome do
rei. Regulou ainda a ação dos corregedores, funcionários que circulavam pelo reino
corrigindo – daí o nome – os erros da justiça local. O controlo sobre o reino ia
crescendo e, em 1334, D. Afonso IV chegou ao ponto de ordenar que todos os
detentores de terras no reino se apre- sentassem na corte. O rei queria, desta forma,
confirmar a legitimidade das jurisdições detidas pela nobreza, clero e Ordens Militares.
Ao mesmo tempo que o rei aumentava o seu poder, começavam a surgir numerosos
sinais de crise económica e social. Os motivos da crise foram, desde o reinado de D.
Dinis, os maus anos agrícolas e, mais tarde, a Peste negra (1348-1352).
Em 1340, D. Afonso IV comandou o exército português que, ao lado dos exércitos
castelhanos e aragonês, derrotou um numeroso exército muçulmano na batalha do
Salado, no sul da Andaluzia. A aliança entre os reinos cristãos foi patrocinada pelo
Papa, e acabou por resultar na derrota da última invasão islâmica da Península ibérica.
D. Afonso IV não hesitou mesmo em aliar-se ao rei de Castela, seu genro, com quem
tinha estado em guerra entre 1336 e 1339.
Foi também durante o reinado de D. Afonso IV que se deram os primeiros passos, ainda
hesitantes, na expansão portuguesa. O rei enviou, nas décadas de 1330 e 1340, várias
armadas às ilhas Canárias. O Papa, no entanto, não reconheceu a D. Afonso IV a posse
das ilhas. Apesar destes primeiros passos, a expansão além-mar só começaria no reinado
de D. João i, com a conquista de Ceuta, em 1415. No final do seu reinado, D. Afonso IV
debateu-se com uma questão que colocava o reino em risco: a relação entre o infante
D. Pedro e D. Inês de castro. A família dos Castro, que tantos problemas políticos dava
ao rei de Castela, tentava, assim, alcançar uma posição favorável junto do futuro rei de
Portugal. Percebendo a ameaça, e apoiado pela nobreza, que temia, num futuro
próximo, perder os cargos em favor dos Castro, D. Afonso IV mandou matar D. Inês de
castro, em 1355. Seguiu-se a revolta de D. Pedro que culminou numa guerra civil contra
o pai.
D. Pedro I (1357-1367)
Assim que subiu ao trono, D. Pedro i procurou de imediato vingar-se dos assassinos de
D. Inês de castro, tendo conseguido matar dois dos três responsáveis. A morte de D.
Inês tinha, no entanto, impedido os Castro de influenciarem a política portuguesa. Ao
que tudo indica, o casal nunca chegou a casar, pelo que os filhos eram todos ilegítimos.
Este pormenor será importante no final do reinado de D. Fernando.
Em 10 anos de reinado, D. Pedro i percorreu todo o reino e preocupou-se sobremaneira
com a justiça e a forma como era aplicada no território. Contudo, não parece ter tido o
mesmo desejo de alguns dos reis que o antecederam, desde logo o pai e o avô, de refrear
os com- portamentos da nobreza, pelo que não lançou quaisquer inquirições.
Ainda assim, a alta nobreza temia-o – mais não fosse pela vingança sangrenta que
exerceu contra os assassinos de D. Inês de castro – e o reino, no geral, respeitava-o
enquanto rei. No entanto, a crise social que teve origem nas dificuldades económicas e
na Peste negra ainda se fazia sentir com intensidade no reino.
Enquanto rei, D. Pedro I soube manter a neutralidade portuguesa face aos conflitos
internos castelhanos, embora, por várias vezes, tenha sido chamado a intervir. Do seu
casamento com D. Constança Manoel – ocorrido anos antes do romance com D. Inês de
Castro – nasceu o único filho legítimo e herdeiro, D. Fernando. Entre os vários filhos
ilegítimos contava-se D. João, feito Mestre da Ordem de Avis logo aos 7 anos de idade.
Era o futuro D. João i.
D. Fernando (1367-1383)
D. Fernando beneficiou, logo no início do reinado, da boa administração dos bens da
coroa operada pelos antecessores, em particular D. Afonso IV (1325-1357) e D. Pedro I
(1357-1367), que tinham deixado os cofres régios cheios de metais preciosos. No
entanto, quando faleceu, em 1383, D. Fernando deixou o reino mergulhado numa forte
crise económica, social e político-militar.
As três guerras que mantiveram contra Castela (1369-1371, 1372-1373 e 1381-1382),
conhecidas como Guerras Fernandinas, deram origem a uma grande devastação um
pouco por todo o reino, já que este foi várias vezes atacado e invadido. Lisboa chegou
mesmo a ser alvo de um apertado cerco em 1373.
Após o fim da última das guerras, foi assinado, em 1383, o Tratado de Salvaterra de
Magos, que estabelecia a paz entre Portugal e Castela, ao casar a filha de D. Fernando,
D. Beatriz, com o rei de Castela, D. Juan I. Este tratado colocava o reino em perigo de
perder a independência, pois D. Fernando não tinha um filho homem que lhe pudesse
suceder no trono.
Pouco depois, em outubro de 1383, D. Fernando faleceu, e o rei- no passou a ser
governado pela viúva, D. Leonor Teles. A rainha era uma mulher impopular e não
tardou até que se revoltassem contra ela. Anos antes, quando casou com D. Fernando, já
tinham acontecido revoltas populares semelhantes. A revolta mais importante ocorreu
em Lisboa em 1383, e obrigou mesmo a rainha a fugir para Santarém, de onde pediu
ajuda ao genro, o rei Juan i de Castela.
D. João I (1385-1433)
Em Lisboa, o líder da revolta popular cedo se revelou ser D. João, Mestre da Ordem
Militar de Avis e filho bastardo do rei D. Pedro I. Ao assassinar o conde Andeiro, um
dos maiores apoiantes de D. Leonor Teles e seu suposto amante, o Mestre obrigou a
rainha a fugir. Tomou então o controlo da cidade e preparou-a para o combate. Durante
todo o ano de 1384 aguentou um duro cerco imposto pelo rei de Castela.
Nuno Álvares Pereira foi, ainda antes do cerco de Lisboa, envia- do para sul, para
defender a fronteira alentejana. Era já então um dos mais importantes apoiantes de D.
João. Foi junto à vila de Fronteira que, em abril de 1384, venceu a batalha dos Atoleiros
contra um exército castelhano.
O cerco de Lisboa acabou por correr mal ao rei de Castela, que se viu obrigado a retirar
depois de o seu exército ter sido atacado pela peste. A partir de então, D. João e D. nuno
Álvares Pereira iniciaram uma campanha para subjugar as vilas e castelos que apoiavam
o rei castelhano, como era o caso de Torres Vedras.
No início de 1385, tiveram lugar cortes em Coimbra. Foi a primeira vez que numa
reunião do género foi eleito um rei de Portugal. O Mestre foi escolhido como rei, e
passou a ser D. João i. A sua causa deveu muito ao apoio armado de D. nuno Álvares
Pereira e aos argumentos legais do doutor João das Regras.
Nesse mesmo ano de 1385, o rei de Castela comandou nova in- vasão contra Portugal,
tendo entrado no reino a partir da Beira. Parte do seu exército foi derrotado em
Trancoso pelos fidalgos beirões, mas a maior parte continuou a seguir para sul, rumo a
Lisboa. O novo rei, D. João i, e o seu novo condestável, D. nuno Álvares Pereira,
decidiram sair-lhe ao caminho nas proximidades de Leiria. Deu-se então, a 14 de agosto
de 1385, a batalha de Aljubarrota.
Após a vitória, D. João i passou à ofensiva, atacando o reino de Castela para obrigar D.
Juan i a assinar a paz. Foi aí que, junto a Badajoz, em outubro de 1385, D. nuno Álvares
Pereira venceu a batalha de Valverde.
A aliança entre Portugal e a Inglaterra foi estabelecida pelo Tratado de Windsor, em
1386. No ano seguinte, D. João i casou com D. Filipa de Lencastre, prima do rei inglês.
A partir de então, D. João i pôde contar com um apoio inglês mais forte quando tinha de
enfrentar Castela.
A paz definitiva entre Portugal e Castela só foi alcançada com a assinatura do Tratado
de Medina del Campo, em 1431. No entanto, depois da chamada Paz de Ayllon, de
1411, não houve mais com- bates entre os dois reinos. Foi este tratado de 1411 que
permitiu a
D. João i atacar e conquistar Ceuta, dando assim o primeiro passo da expansão
portuguesa. Quando faleceu, em 1433, D. João I deixou um reino muito diferente
daquele que tinha recebido.
D. Duarte (1433-1438)
D. Duarte seguiu, em boa medida, o trabalho iniciado pelo pai.
D. João i tinha sido obrigado, no início do reinado, a dar muitas das terras da coroa à
nobreza, em troca de apoio militar. Com a guerra a chegar ao fim, o rei passou a tentar
comprar de volta essas terras, embora a nobreza não o quisesse aceitar. D. Duarte deu
continuidade a esse processo, de forma a fortalecer, uma vez mais, o seu próprio
património. Para tal, instaurou a Lei Mental, uma lei que regia a forma como as terras
que a nobreza detinha em nome do rei podiam ser herdadas.
Ainda enquanto infante, D. Duarte tinha começado a auxiliar o pai nas tarefas de
governo do reino. D. João i, nos seus derradeiros anos de vida, preferia caçar a assinar
documentos. Por isso, quando chegou ao trono, D. Duarte era já um homem maduro e
experimentado. Embora só tenha reinado durante cinco anos, foi ele quem governou
Portugal praticamente sozinho entre 1411 e 1433.
D. Duarte foi ainda responsável pela criação de uma série de outras leis, apelidadas de
Ordenações de D. Duarte, que facilitavam a aplicação da justiça e controlavam a ação
dos funcionários régios. Essas leis seriam, mais tarde, ampliadas pelo filho, D. Afonso
V, com a publicação das Ordenações Afonsinas.
O principal acontecimento do reinado de D. Duarte foi a expedição fracassada contra
Tânger, ocorrida em 1437, que iremos abordar no capítulo seguinte. Diga-se, no
entanto, que quando D. Duarte morreu, em 1438, vítima de peste, muitos dos problemas
causadas pela expedição ficaram por resolver.
D. Afonso V (1438-1481)
D. Afonso V subiu ao trono após a morte inesperada do pai, o rei D. Duarte. Tiveram
então início lutas pelo governo do rei- no, já que o pequeno rei tinha apenas 5 anos de
idade. A mãe,
D. Leonor de Aragão, e o tio paterno, o infante D. Pedro, lutaram pelo poder entre 1438
e 1440. D. Pedro acabou por vencer, e D. Leonor exilou-se em Castela. D. Pedro
governou o reino em nome do sobrinho até 1448, altura em que o rei, maior de idade
desde 1446, afastou o infante da corte. O exílio deveu-se às in- trigas urdidas pelos
rivais de D. Pedro.
O infante era acusado de ser demasiado ambicioso. Como prova, era apresentado o facto
de ter casado a filha, D. isabel, com o jovem rei. D. Pedro acabou por morrer na batalha
de Alfarrobeira, em 1449. Combateu contra as forças do rei, que então era apoiado pelos
rivais do infante, como D. Afonso, filho bastardo de D. João i e primeiro duque de
Bragança.
Durante os primeiros anos do seu reinado autónomo, a partir de 1449, D. Afonso V
perseguiu os apoiantes do tio e sogro, D. Pedro iria perdoá-los anos mais tarde, mas até
esse momento tirou-lhes os bens e deu-os a antigos apoiantes da sua mãe, D. Leonor,
que, entretanto, tinha falecido no exílio, em Castela. O rei recusou-se, no entanto, a
afastar a rainha, o que era pedido por antigos rivais de D. Pedro. D. Isabel acabaria por
falecer em 1455, após dar à luz o príncipe D. João, futuro D. João II.
D. Afonso V foi um rei que teve interesse nos descobrimentos. Apoiou sempre as
atividades do infante D. Henrique e, quando este morreu, em 1460, assumiu o controlo
da navegação na costa ocidental africana. Também teve interesse na luta contra os
muçulmanos em Marrocos. Por isso, em 1458 conquistou Alcácer Ceguer e, em 1471,
Arzila e Tânger. Pelo meio ficava uma campanha fracassada contra Tânger, em 1463-
1464.
Na década de 1450, D. Afonso V começou a ganhar interesse no trono de Castela.
Assim, ao longo dos anos seguintes, foi angariando apoios para se poder tornar rei de
Castela e Portugal em simultâneo. Em 1475, casou com D. Joana, filha do falecido rei
Henrique IV de Castela, e reclamou para si a coroa daquele reino. Entrou em guerra
contra D. isabel de Castela, meia-irmã do falecido rei, e o seu marido, D. Fernando de
Aragão. A guerra não correu bem e, em 1479, no Tratado das Alcáçovas-Toledo, D.
Afonso V desistiu do trono castelhano. Faleceu em 1481, desapontado pelo insucesso.
Economia e Sociedade
A Igreja Medieval
Ainda antes da queda do império Romano do Ocidente, ocorrida em 476, tinham-se
estabelecido vários reinos germânicos pagãos na europa Ocidental. Na Hispânia
estabeleceram-se, como vimos no capítulo anterior, os reinos dos Suevos e dos
Visigodos.
A igreja, com o Papa à cabeça, conseguiu sobreviver à queda do império Romano do
Ocidente. Foi mesmo a única instituição que, ao sobreviver, conseguiu preservar
elementos da cultura romana, como o Latim ou o direito Romano. Foi a igreja que
começou a cristianizar os novos reinos germânicos. Como vimos antes, o rei visigodo,
Recaredo, converteu-se, em 589, ao cristianismo.
Durante séculos, os clérigos desempenharam um duplo papel. Por um lado, só eles
podiam garantir ao Ser Humano a salvação da alma num período em que a morte estava
muito mais presente do que hoje. Podia ocorrer a qualquer momento e acontecer a qual-
quer um, particularmente às crianças.
Por outro lado, os clérigos eram os únicos que sabiam ler e escrever, e, portanto,
tornavam-se muito úteis para os reis, que precisavam de governar reinos cada vez
maiores e mais complexos. Reis como D. Afonso II (1211-1223) nunca poderiam ter
lançado as inquirições Gerais se não tivessem funcionários que lessem, escrevessem e
conhecessem a lei, ou seja, o direito Romano.
O poder do Papa e da igreja foi muito importante ao longo da idade Média, e ajudou a
moldar a vida dos europeus. Como vimos antes, o poder do Papa era tal que podia depor
reis que ofendiam os bens da igreja. Foi o que aconteceu a D. Sancho II (1223-1248).
Cultura e Artes