Fichamento Nietzsche

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FICHAMENTO

Dayane Evangelista Silvestre 16.1.3806

Friedrich Wilhelm Nietzsche -II Consideração Extemporânea

“Um fenômeno histórico, conhecido pura e completamente e resolvido em um


fenômeno de conhecimento, é, para aquele que o conhece, morte: pois ele conheceu nele a
ilusão, a injustiça, a paixão cega, e em geral todo o horizonte sombrio e terrestre desse
fenômeno e ao mesmo tempo conheceu precisamente nisso, sua potência histórica. Agora,
essa potência tornou-se para ele, o que sabe, impotente? Talvez ainda não para ele, o que
vive.” (NIETZSCHE, 1874, P.275). Nietzsche dirige sua critica ao excesso de “cultura
histórica”, nesse caso, ao historicismo: “A história pensada como ciência pura e tornada
soberana seria uma espécie de encerramento e balanço da vida para a humanidade. A
cultura história, pelo contrário, só é algo salutar e que promete futuro em decorrência de um
fluxo de vida por exemplo, de uma civilização vindo a ser, portanto somente quando é
dominada e conduzida por uma força superior e não é ela mesma que domina e conduz.
(NIETZSCHE, 1874, P.275)
Para Nietzsche, falar de cultura histórica era falar em excesso, em exagero de
conhecimento sobre o passado. Tal exagero tanto tinha sido construído pela filosofia da
história hegeliana quanto pela pretensão de se elevar a história ao patamar de uma
disciplina científica exata, tal como era tratada a Física e a Matemática. “A história, na
medida em que está a serviço da vida, está a serviço de uma potência a-histórica e por isso
nunca, nessa subordinação, poderá e deverá tornar-se viência pura, como digamos, a
matemática. Mas a questão: até que grau precisa em geral do serviço da história, é uma das
questões e cuidados mais altos no tocante à saúde de um homem, de um povo, de uma
civilização. Pois, no caso de uma certa desmedida de história, a vida desmorona e
desgenera, e por fim, com essa degeneração, degenera também a própria história.”
(NIETZSCHE, 1874, P.276)
Segundo Nietzsche, se a história do mundo tivesse que alcançar um
determinado fim, se houvesse um estágio final para a história da humanidade conforme
preconizava o hegelianismo, este fim já teria sido alcançado. Sobre isto, diz: “Chamou-se,
com escárnio, esta história compreendida hegelianamente o caminhar de Deus sobre a terra;
mas um Deus criado por sua vez através da história. Todavia este Deus se tornou
transparente e compreensível para si mesmo nointerior da caixa craniana de Hegel e galgou
todos os degraus dialeticamente possíveis de seu vir a ser até a sua auto-revelação: de modo
que, para Hegel, o ponto culminante e o ponto final do processo do mundo se confundiriam
com a su a própria existência berlinense. (NIETZSCHE, 1874, p. 283)
Segundo o autor, o sentido histórico torna seus servidodes passivos e
retrospectivos; e quase que somente por esquecimento momentâneo, precisamente na
intermitência desse sentido o doente de febre histórica se torna ativo, para tão logo a ação
tenha passado, dissecar seu ato, impedir por meio da consideração analítica a continuação
de seu efeito e, finalmente, ressequi-lo em ''história''. (NIETZSCHE, 1874, p. 283)
Nietzsche conclui que, a história é sempre ainda uma teologia embuçada: como, do mesmo
modo, o terror sagrado herdado do clero. Aquilo que se dava outrora à Igreja, dá-se agora,
embora com mais parcimônia, à ciência: mas se se dá, isso foi obra da igreja em outros
tempos e não, somente agora, obra do espírito moderno, que, pelo contrário, ao lado de suas
outras boas qualidades, tem sabidamente algo de avareza e desconhece a nobre arte da
generosidade. (NIETZSCHE, 1874, p. 283) Segundo ele, o cristianismo acabou por
desprezar a vida colocando o homem a espera de uma esperança futura, tirou dele o gosto
pela vida e as forças para lutar por ela. A meta do homem passou a ser salvação de sua
alma. A angústia e o sofrimento passaram a ser aceitáveis, pois trazia redenção.
A maneira como a história era compreendida em sua época não tinha para ele
qualquer sentido que fizesse nascer uma nova cultura, estava morta, desfigurada. Sobre o
homem de sua época, Nietzsche faz a seguinte observação:
“Como poderíamos nós, após tais visões, e com tal voracidade de ciência e consciência,
satisfazermos-nos com o homem atual? É muito mal, porém inevitável, que olhemos as
suas mais dignas metas e esperanças com seriedade a custo mantida, e talvez se quer a
olhemos mais.” (NIETZSCHE, 1874, p. 284)
Para Nietzsche, a ideia de equiparar a história às ciências da natureza faz do
historiador um advogado modesto dos fatos, faz o passado chegar imparcialmente ao
presente. Porém, assim é ignorado a ação do tempo presente no “modus operandi” do
historiador. É desconsiderado que neste caso o passado é um aspecto do presente e somente
pode ser reconstitupido a partir dos valores vigentes em nossa época. Por isso, Nietzsche
afirma que somente aquele que constrói o futuro a partir do pensamento presente tem o
direito de julgar o passado. (NITZSCHE, 1874, p.284) Manter-se imparcial é negligenciar a
visão de mundo presente e, assim, também é negligenciada a atividade criadora do homem.
Não há como avaliar o passado sem fazer uso do presente.
O questionameto de Nietzsche sobre a historiografia, gira em torno da
pretensão em descrever os fatos em sua mais completa exatidão, atribuindo a eles um
critério irrevogável de verdade e na suposta imparcialidade do historiado na pesquisa.
Assim, a história nunca vai estar a serviço da vida, pois seu propósito estará voltado para
trás. Dessa maneira, a história só tende a pensar o passado e o homem do presente fica
preso ao passado sem criar e agir.

REFERÊNCIAS:
NIETZSCHE, Friedrich. Considerações Extemporâneas. São Paulo: Editora Nova
Cultural, 1999.

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