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1.

1 A METAFÍSICA DE CHRISTIAN WOLFF

O primeiro pressuposto para compreender o projeto filosófico de Immanuel Kant


é a metafísica de Christian Wolff, pois, o filósofo alemão quando emprega o uso da
metafísica, ele se refere à metafísica de Wolff1, que divide a metafísica em duas partes:
a metafisica geral (que estuda o ser enquanto ser) e a metafisica especial (que estuda
matérias especifica, a saber: a alma, existência de Deus e existência dos corpos).

O problema de comercio entre alma e corpo e harmonia pré-estabelecida:

possui três hipóteses que buscam responder o problema: 1) o ocasionalismo de


Marembanch, 2) a teoria do influxo físico (a alma realmente ocasiona mudanças no
corpo e encontra uma maneira de colocar o corpo em movimento) e 3) a Metafisica de
Worff. O problema entre corpo e alma começou com Descartes (res cogita e res
extensa). Descartes ao separar o corpo e a alma, reduzindo a essência a alma, cria
dificuldades para explicar como a alma age no corpo, por exemplo, como acontece o ato
de levantar a mão. Malebranche oferece como hipótese o ocasionalismo para solucionar
o problema, ou seja, o braço mexe por que Deus o mexe e, desse modo, cada ação do
mundo é ocasionada por Deus. A teoria da harmonia pré-estabelecida é outra tentativa
de explicar esse problema: ela diz que o corpo e a alma são duas realidades distintas
(como afirmava Descartes), entretanto, são como dois relógios que Deus colocou em
funcionamento e em perfeita sincronia. Desse modo, quando a alma deseja mover a mão
o corpo move a mão (essa harmonia foi estabelecida por Deus) 2. Para Wollf, a distinção
quantitativa sobre o conhecimento sensível e sobre o conhecimento intelectual acontece
somente em graus de clareza e distinção, ou seja, o conhecimento intelectual (razão) é
mais claro e distinto e o sensível (sentidos) menos claro, mais obscuro e, por isso Wolf
o considera como inferior. São o mesmo conhecimento em um nível inferior e sem a
devida distinção. Não se tratam de fontes diferentes de conhecimento3. Para Wollf, O

1
Wolff contribui para a Alemanha ao traduzir termos latinos para a língua vernácula e assim ele criou
novos neologismos, isto é, palavras para explicar termos filosóficos, criando condições para que a
filosofia alemã desenvolve-se.
2
Essa hipótese apresenta como problema a questão da liberdade humana, pois não seriamos livres para
executar tais ações.
3
Depois, em sua maturidade, Kant discorda, pois percebe que os sentidos nos oferece algo que as razões
não são capazes de fazer sozinhos e vice-versa. Não existe conhecimento apenas pela razão ou só pelos
sentidos, mais pela soma desses dois.
principio de contradição4 é o fundamento das verdades da razão e o principio da razão
suficiente (versão alemã do principio de causalidade, que diz que tudo que existe tem
uma razão para existir) fundamenta nossa experiência. Segundo Wolff, o princípio de
causalidade pode ser deduzido pelo principio de não contradição, ou seja, pode-se
deduzir a existência de algo ao pensá-lo através do ponto de vista logico5, pode-se fazer
a passagem do lógico para o real: por exemplo, penso na existência de um ser perfeito,
logo ele tem que existir. Essa passagem do pensamento para a existência é criticada
através da distinção entre o possível e o impossível: o contrário de impossível é uma
contradição6.

1.2 O CONCEITO ARISTOTÉLICO DE CIÊNCIA

O segundo pressuposto para entender a filosofia de Kant é o “conceito clássico


de ciência”, isto é, o conceito aristotélico: o conhecimento universal e necessário ou
conhecimento a priori

Toda proposição matemática é universal e necessária, ao negar essa premissa


ocorre-se em um absurdo e contradição, desse modo, é necessário e universal porque é a
mesma coisa em todos os tempos e lugares. O padrão que é encontrado na matemática
era acreditado que se podia aplicar em todos os outros ramos do saber, como foi
tentando na filosofia. Kant busca esse ideal de ciência clássica 7 com a ciência
newtoniana. A ciência newtoniana (um conhecimento descritivo de leis que regem os
fenômenos e assim sou capaz de reproduz esses fenômenos ao reproduz as leis que o
regem no laboratório).
Kant busca com esse conhecimento de ciência como conhecimento universal e
necessário com a ciência newtoniana. Conhecimento a priori é um conhecimento
universal e necessário que só pode advir da razão como a matemática e assim distingue

4
Uma coisa não pode ser algo e não-ser ao mesmo tempo e sobre o mesmo aspecto.
5
Wolf não conhece a critica de Hume.
6
Essa distinção é vista também em Hume quando fala sobre o principio de causalidade e do principio de
contradição, Hume diz que o contrario da uma experiência explicada pela causalidade é um possível e o
contrario de uma verdade da razão é uma contradição. Essa distinção que Wollf estava tentando fazer,
sem conhecer a crítica Hume, mas sem a separação entre experiência e razão que encontramos Hume.
7
Kant não usa o conceito de ciência como usamos hoje, isto é, como um conhecimento falseável, ou seja,
um cientista apresenta uma teoria que explica um determinado fenômeno e percebem que ela pode ter
razão, mas depois caso alguém chega e apresente uma nova teoria e esta tudo bem, um conhecimento que
pode ser reformulada, questionada e contradita.
do conhecimento a posteriori que advém da experiência, porém esse conhecimento não
é universal e necessário.

1.3 A FÍSICA NEWTONIANA

O terceiro pressuposto é a Física Newtoniana: A filosofia de Kant é uma


justificação epistemológica da física newtoniana. A física de Newton precisa de
justificação, pois, se baseia no principio de causalidade e Kant tomou contato com a
critica do principio de causalidade.
Se tomamos a crítica de Hume e, também, vemos que a física funciona e se
baseia no principio de causalidade, deve-se resolver esse problema.

1.4 A CRITICA AO PRINCÍPIO DE CAUSALIDADE

O quarto pressuposto é a critica ao princípio de causalidade: Kant não usa a


palavra principio de causalidade, ele utiliza a palavra fundamento, pois os alemães
chama razão como sinônimo de fundamento e causa, então quando Kant fala do
conceito de fundamento ele esta falando do princípio de causa e efeito.
A critica de Kant é que quando usamos o principio de causalidade a um
fenômeno nós não apenas afirmamos que quando A ocorre B também ocorre, mas
afirmamos que essa relação entre os dois é universal e necessária, ou seja, toda vez que
ocorre A, o B também tem que ocorrer, porém o principio de causalidade se fundamenta
na experiência (a posteriori) e ela não oferece nada que é universal e necessário, mas
regular. Os principio universais e necessário são principio da razão (por exemplo,
princípios matemáticos) e não da experiência, que só pode ser regular.

1.5 A IMPORTÂNCIA DA ÉTICA

O quinto pressuposto é a importância da ética: Kant tomou contato com três


matrizes éticas: a ética racionalista de Wollf (ponto de partida de Kant) e depois Kant
tomou contato com a filosofia do sentimento moral8 e com Rousseau que sustentava
uma filosofia moral parecida com a filosofia do sentimento moral.

8
Senso especial que é o sentido moral que nos permite discernir o bem do mal e assim aprovamos ou
desaprovamos ações
No fim das contas Kant apresenta uma ética que não precisa de metafisica, pelo
contrario é a ética que serve de base para provar a existência de Deus, a imortalidade da
alma e a liberdade do homem. Kant vira isso de cabeça para baixo, antes se fazia uma
metafisica para provar a existência de Deus, a imortalidade da alma e depois criava uma
ética. Kant vai fazer uma ética que não precisa de metafisica e depois vai chagar a
conclusões metafisica através de sua ética.

2 PERÍODO PRÉ-CRÍTICO

Em sua primeira fase, Kant tenta conciliar a física newtoniana com a metafisica
de Leibniz e Wollf. A segunda fase é uma fase critica em relação à metafisica que vai
desembocar em uma crise pessoal, nessa segunda fase percebemos um tom critica a
metafisica e a sua convicção de que ela não é necessária (quando Kant vai apresentar o
único argumento sobre a prova de Deus ele diz que ela não existe, pois caso contrario os
ignorantes não se salvariam). Mostramos duas fases do período pré-crítico: uma fase em
que Kant se mostra conciliador, tanta mostrar que metafisica e ciência não são
incompatíveis e depois uma fase de uma critica. Crise metafisica e vimos, com a
dissertação de 177, uma fase de transição para a filosofia.
Caminho feito até chegar à Crítica da Razão Pura, 1781, a filosofia teorética.
Primeira obra: os Pensamentos sobre a verdadeira estimação das forças vivas, de 1747.

2.1 A PRIMEIRA FASE: TENTATIVAS DE CONCILIAÇÃO ENTRE METAFÍSICA


E CIÊNCIA (1755-1756).

3 livros: Nova Dilucidatio (1755). Na História natural e teoria do céu (1755). Kant, na
Monadologia física (1756).

O ponto de partida de Kant é a filosofia de Wolff. No começo Kant não conhecia


bem a física newtoniana. Conhece um pouso sobre a física de Descartes e também a
física de Leibniz. Na obra Crítica da Razão Pura, Kant apresenta uma solução de
compromisso, isto é, diz que Descartes e Leibniz estão certos. O importante é saber que
Kant tinha a pretensão de conhecer tudo e conciliar, como iluminista Kant tinha fé na
unicidade da razão, ou seja, se duas pessoas dizer algo diferentes com base na razão
deve-se achar o fio que liga essas duas ideias. A primeira fase: tentativa de conciliação
entre metafisica e ciência (1755-1756). Kant lê e compreende Newton e vê que Newton
e metafisica têm pontos de discordância e tenta nesse primeiro momento ligar os dois,
por que ele acredita que se trata da mesma razão e desse modo devem possuir um fio de
ligação.
Três tentativas de conciliação: Monadologia é o estudo da mônoda e isso é uma
versão moderna da teoria dos átomos de Demócrito, quem propôs essa teoria da monoda
foi Leibniz e Wolf reproduziu isso para o alemão. Segundo essa teoria a realidade, os
corpos matérias são compostos por entes indivisíveis chamados de mônodas. Leibniz
acreditava que se fosse dividindo a matéria chegaria a um momento que não seria
indivisível e esse elemento indivisível Leibniz chamou de mônoda. A matemática e a
física diziam que não, que do ponto de vista lógico você pode dividir algo infinitamente,
a dificuldade é ter um instrumento para dividi-lo, mas ele é possivel de ser divisível
infinitamente. Kant nessa obra (monadoliga física) tenta conciliar essas duas teorias.
Nova Dilucidatio (1755), Kant exigente com a metafisica. Kant quer apresentar
os princípios do conhecimento metafisica. O primeiro principio é o principio logico de
identidade. Considera o principio de identidade (a = a, ou B= B) mais anterior do que o
principio de contradição. O segundo principio é o da razão determinante que nada mais
é do que o principio da razão suficiente de Leibniz e Wolf mas Kant prefere razão
determinante por causa da língua alemã. Tudo o que existe, existe uma causa para
existir: principio da razão determinante. O principio de causalidade, o principio de
sucessão (as coisas estão conectadas um nas outras e por isso existe a mudança, pois se
algo existisse isolado no universo ele não teria mudança) e o principio de coexistência
(todas as coisas estão interligadas por um único principio). Portanto a preocupação da
Nova Dilucidatio e mostrar os quatro princípios fundamentais da metafisica. Esses
princípios ganharam nova roupagem na Critica da Razão Pura.
Monadologia física (1756), Kant tentou casar física e metafisica, na Nova
Dilucidatio, Kant estudar a metafisica e agora na historia natural e teoria do céu, Kant
vai estudar a física. Aplicou a física newtoniana a um problema cosmológico: qual é a
origem do universo. Kant apresentou como hipótese que o universo é formado por uma
nebulosa primitiva e aplicando as leis da mecânica newtoniana ele mostrou como
acontece a origem do universo. Essa hipótese ficou conhecida como Kant-Laplace9
9
Essa teoria leva o nome de Laplace, pois Kant publicou essa hipótese em uma editora que faliu e
Laplace sem conhecer a obra de Kant, de forma independente publicou um livro com a mesma hipótese.
Nessa primeira frase, duas coisas mais importantes são: compreender a física
newtoniana (Kant na primeira frase via se apropriando da física newtoniana) e o espirito
conciliador de Kant (tentativa de conciliar metafisica e física, conciliar coisas através da
fé na razão).

2.2 A SEGUNDA FASE: A CRISE METAFÍSICA E OS ESCRITOS DE 1762 A 1766.

4 livors: Em O único argumento possível para uma demonstração da existência de


Deus (1763). No Ensaio para introduzir em filosofia o conceito de grandezas negativas
(1763). Na Investigação sobre a evidência dos princípios da teologia natural e da
moral (1762/1764). Os sonhos de um visionário explicados pelos sonhos da metafísica
(1766).

Segunda fase: a crise metafísica e os escritos de 1762 a 1766. Kant ama a


metafisica e ao mesmo tempo não consegue conciliar com a física newtoniana. Na
época de Kant era importante estudar metafisica e muitos outros filósofos a estudavam
porque é uma tentativa de falar de Deus pela via da razão e sendo através do dado da
razão não existe discordância, pois a razão é verdadeira, ao provar a existência de Deus,
prova-se também a moral e assim a imortalidade da alma e a liberdade do homem. Na
fase anterior Kant coloca o principio de causalidade (principio da razão determinante)
como um dos principio do conhecimento metafisico. De repente Hume faz uma critica
ao principio de causalidade e Kant vê uma crise na metafisica. Exemplo: na obra O
único argumento possível para a demonstração da existência de Deus. Kant apresenta
um único argumento que ele acredita que sobrou depois da critica de Hume a
causalidade. Não se precisa de metafisica para provar a existência de Deus, pois se fosse
assim o ignorante não seria salvo e isso se deve também ao contato com Rousseau.
Pensar em um Ser perfeito e ele deve ter todas as qualidades possíveis e dentre
elas a qualidade da existência e, portanto ele existe. Kant diz que a existência não é um
predicado que você acrescente a um sujeito do ponto de vista logico, por exemplo,
pode-se descrever um nota de cinquenta reais (tamanho, o que se pode comprar etc.)
mas se você acrescentar o predicado da existência na nota não muda em nada. Pode-se
pensar em algo, mas isso não significa dizer que ele existe, o que mostra sua existência

Para Kant o fato de que o universo é regido por leis é sinal de que ele foi criado por uma inteligência
superior. Ao contrario do Laplace que dispensa Deus.
é a experiência. Com isso Kant destrói uma prova da existência de Deus formulada por
Santo Anselmo, usada por Santo Tomas de Aquino, Descartes e Espinosa, etc... Para
Kant a única forma de mostrar a existência de Deus é através do ens realissimum, a
partir do conceito de necessidade (deve ter um ser necessário para ser o fundamento de
todo contingente).
No Ensaio para introduzir em filosofia o conceito de grandezas negativas
(1763), critica o ideal da modernidade de aplicar o método da matemática e geometria
para a filosofia (o sonho de Descartes era uma filosofia que usa-se o método da
geometria). Kant diz não ser possível aplicar o método matemático e geometria para a
filosofia que surge através da teoria da monadologia de Leibniz e isso faz Kant perceber
que a metafisica não pode usar do método da matemática. Kant nessa obra introduz um
conceito de grandeza negativa, exemplo: na matemática -5 é uma grandeza negativa, na
física uma força oposta que anula um outra força. Desse modo Kant cria uma distinção
entre oposição logica (acontece quando se uni duas coisas contraditórias e assim se
forma um absurdo, por exemplo, um quadrado redondo) e oposição real (duas realidades
opostas que se anulam: exemplo +5 e -5 ou na física força A contraria a força B estando
na mesma intensidade, mas isso não produz um absurdo). Isso abala a prova da
existência de Deus, pois alguns pesadores que se você puder pensar duas qualidades em
Deus e elas não forem contraditórias então é possível que Deus tenha essas qualidades
exemplo: onisciente e liberdade, do ponto de vista logico não existe oposição, entretanto
Kant diz que do ponto de vista da oposição real, por exemplo, a onisciência pode anula
a liberdade assim como na física uma força anula uma força contraria de igual
proporção. Nesse ensaio Kant também fala do problema da conexão necessária do
diverso (princípio de causalidade), ou seja, sempre que algo acontece como efeito outra
coisa deve estar lá como causa, mas como é possível a conexão necessária na
experiência, sendo que ela é particular, não é universal mais regularidade? Com isso
Kant “destrói” a metafisica.
Na Investigação sobre a evidência dos princípios da teologia natural e da moral
(1762/1764), ate esse momento Kant não tinha conseguido a vaga de professor na
universidade. A academia prussiana de ciência publica um concurso e quem vencesse o
concurso ganhava dinheiro e esse concurso propunha a questão de que se é possível
chegar ao grau de evidencia da matemática nos princípios da metafisica, ou seja, se seria
possível o mesmo grau de certeza dos princípios matemáticos e dos princípios da
metafisica. Kant nega essa questão, mas como esta em um concurso ele elabora com
mais rigor o motivo pelo qual o método matemático não pode ser utilizado na
metafisica. A matemática constrói seus próprios conceitos e por isso pode partir de
definições dadas a eles e já a metafísica parte da realidade existente e passa
gradualmente de conceitos confusos da experiência comum aos conceitos filosóficos o
que não permite uma definição precisa. A metafisica não pode usar do método da
matemática porque na matemática nós definimos os conceitos e deduzimos
consequências sobre eles e na metafisica não pode fazemos fazer isso, nos partimos da
realidade existente e tentamos refina-los em conceitos filosóficos. Não é possível a
mesma certeza da matemática na metafisica. O grau de certeza que podemos atribuir na
metafisica é a suficiente para à persuasão.
Os sonhos de um visionário explicados pelos sonhos da metafísica (1766).
Contexto histórico: uma mulher rica leu algumas obras de um místico sueco e vai ao
encontro de Kant e pergunta a ele o que acha disso, qual a opinião dele a respeito dessa
questão. Kant (provavelmente ganhando um dinheiro para isso) escreve sua opinião
sobre um místico que fala sobre a metafisica. Para Kant quando se trata de metafisica
cada filosofo tem um mundo seu, Descartes apresentou uma metafísica, Espinosa outra,
Leibniz e Wolf outra, etc. Enquanto os pensadores da metafisica estavam sonhando, ou
seja, imaginando um modo seu, os cientistas estavam acordados, ou seja, os
matemáticos e físicos estavam falando em uma linguagem comum.

2.3 A TRANSIÇÃO: A DISSERTAÇÃO DE 1770 E A DÉCADA SILENCIOSA

Momento de transição: a Dissertação de 1770 e a década silenciosa. Em 1770,


Dissertação Sobre a forma e princípios do mundo sensível e do mundo inteligível. Kant
queria a cátedra de logica e metafisica na Universidade de Konigsberg e o seu antigo
professor que era o possuidor da cátedra morreu e assim surgiu a oportunidade de Kant
escrever um dissertação para concorrer a vaga da cátedra, ele passou e foi admitido
como professor. Kant teve pouco tempo para fazer sua dissertação. Ele esta elaborando
a filosofia critica, desse modo, essa dissertação trás elementos novos e tradicionais. Três
teses que Kant apresentou em sua dissertação:

2.3.1 Primeira tese: distinção especifica entre sensibilidade e entendimento


Quando falamos dos pressupostos do pensamento filosófico de Kant, nos
falamos que para Wollf a diferença entre conhecimento inteligível e conhecimento
sensível é apenas uma diferença de grau, ou seja, é o mesmo conhecimento só que em
um caso é mais confuso e em outro é mais distinto. Kant nega essa tese em favor de
uma tese platônica: sensibilidade e intelecto são fontes distintas do nosso conhecimento,
ou seja, a sensibilidade não é um conhecimento intelectivo inferior, ela é um
conhecimento próprio. Aquilo que a sensibilidade oferece o intelecto não pode oferecer
e vice versa. O conhecimento não é apenas intelectivo, é fruto da união entre
sensibilidade e entendimento. Duas fontes distintas e independentes de conhecimento.
A sensibilidade (cinco sentidos, isto é, visão, audição, tato, paladar e olfato) é
receptividade, ao passivo, algo que recebemos as impressões. Pelos sentidos recebem-se
dados sensíveis. A inteligência, ao contrario, elabora conceitos, é uma faculdade ativa.
Representa conceitos. Objeto da inteligência é o inteligível. Distinção entre fenômeno e
numeno. Fenômeno é a realidade como ela aparece para nos, como nos a capitamos
através dos sentidos. Numeno seria a realidade em si mesma, para a além da aparência
(sendo conhecida apenas pelo intelecto e não pelos sentidos).

2.3.2 Segunda tese: o intelecto conhece as coisas em si

Essa distinção entre numeno (coisa em si) e fenômeno. Aquilo que nos
percebemos é diferente daqui que a realidade é em si mesma. Uma coisa é a realidade
tal como aparece para mim, se deixa perceber pelos sentidos que tenho. Outra coisa é a
realidade em si mesma, independentemente da minha estrutura de percepção. Nessa
primeira fase (momento de transição) Kant diz que nos podemos conhecer também
realidade em si através e unicamente exclusivamente do intelecto, dos conceitos
abstratos e através dos sentidos conhecemos apenas o fenômeno, ou seja, a aparência
das coisas, mas passado alguns anos, na critica da razão pura Kant diz que só
conhecemos o fenômeno, que somos incapazes de conhecer a realidade em si.

2.3.3 Terceira tese: o espaço e tempo são formas a priori da sensibilidade

As duas teses anteriores não são inéditas, mas essa terceira é nova e será mantida
na Critica da Razão Pura. Para compreender é necessário lembrar daquilo que Newton
falava sobre espaço e tempo e da critica de Leibniz fazia a Newton.
Newton tem uma tese de que existe um espaço absoluto e um tempo absoluto, ou
seja, quando estou cronometrado a corrida de uma pessoa e digo que ela deu uma volta
em um tempo de 20 minutos para correr 1km, esse tempo é relativo a distancia
percorrida pelo atleta e o tempo que usamos (tempo do relógio) que é um tempo
derivado do tempo da terra, de rotação e translação, ou seja, dizer que o dia tem 24h
significa dizer a terra se movimento em torno do seu eixo e leva esse tempo para
comprimir esse movimento, esse tempo é relativo. Nos movimentos dependendo do
objeto que estamos relacionados. O que pode ser movimento em relação a algo pode ser
repouso em relação à outra e por isso Newton postulou como exigência a existência de
um espaço absoluto e de um tempo absoluto para falar de repouso absoluto e
movimento absoluto. Newton dizia que tempo e espaço são absolutos, isso quer dizer
que eles são substancia que existem, mas existem aonde? Leibniz como crítico dessa
ideia diz que espaço e tempo são abstrações, ou seja, não existem em si mesmos. Nós
abstraímos das relações que fazemos entre as coisas. O conceito de espaço nos
abstraímos das relações entre coisas externas e o conceito de tempo nos atraímos da
relação entre coisas sucessivas, ou seja, espaço e tempo são conceitos e nos abstraímos
esses conceitos das relações entre as coisas. Da relação entre as coisas externas nos
abstraímos o conceito de espaço, estabelece relações sobre aquilo que é externo a mim e
cria uma ideia sobre o espaço em que vejo. O tempo também é assim, se faz relação
entre eles chamando-as de passado, presente e futuro. Desse modo o tempo é uma
abstração, um conceito criado a partir da relação entre coisas que acontecem
sucessivamente.
Kant leu Newton e Leibniz e percebe que é complicado falar com Newton sobre
espaço e empo absoluto, no sentido de imagina-los como substancias ou como coisas
existentes, mas por outro lado Kant considera a visão de Leibniz mais danosa à ciência,
pois abstrair para Kant é separa um elemento de um conjunto (exemplo: separa a cor
vermelha de uma maça) para Kant abstrair um elemento de um conjunto não significa
tronar aquele elemento universal, ou seja, o vermelho da maça é apenas um elemento
que eu separei do conjunto, não é um elemento universal como Leibniz dizia. Para Kant
não se extrai conceito universal por abstração. A abstração apenas separa um elemento
de outro, mas não o torna universal. A critica de Kant a Leibniz é dizer que ao dizer que
espaço e tempo são abstrações, significa dizer que eles não são conceitos universais e
desse modo não podemos derivar deles proposições universais e assim não existe
ciência de espaço e tempo e, portanto não há matemática e física. O segundo ponto da
critica de Kant a Leibniz é o circulo vicioso, ou seja, quando se admite como conclusão
uma premissa que você deveria provar, por exemplo, deve-se acreditar que Deus existe
porque esta na bíblia e deve-se acreditar na bíblia porque foi criada por Deus. Kant diz
que Leibniz comete a falácia do circulo, pois a relação externa e relação sucessiva são
termos que supõem espaço e tempo ao invés de prová-los, ou seja, como saber se as
coisas do meu quarto são externas a mim? Eu sei através do conceito que já tenho de
espaço e do mesmo modo sobre as coisas que acontece agora são sucessivas em relação
as coisas que já aconteceram? Por causa de um conceito que já possuo de tempo. Para
Kant, Leibniz inverteu as coisas usou relação externa e relação sucessiva para provar
que espaço e tempo são conceitos que construímos por abstração, mas na verdade
externo e sucessivo já supõe espaço e tempo.
Kant apresenta como solução para esse problema que espaço e tempo são
absolutos, mas não no sentido objetivo, isto é, de que eles existem como substancia no
universo, mas sim no sentido subjetivo, espaço e tempo são formas de nossa
sensibilidade, formas através das quais nos percebemos as coisas sensíveis, quer dizer
que nossa sensibilidade possui uma estrutura. Espaço e tempo são formas da nossa
sensibilidade e são formas a priori, pois não são apreendidas pela experiência como
Leibniz falava, nos já nascemos com essas formas a priori da sensibilidade e por serem
a priori elas são universais e necessárias e assim garantem as ciências como a
matemática e a física (Kant unindo Newton rejeitando alguns pontos fracos de Leibniz).
Para Kant o conhecimento é um constructo, ou seja, um encontro entre o dado da
sensibilidade e a estrutura que eu tenho o aparelho que sou eu. Isso salva a ciência
porque Kant apresenta uma resposta que não é Newton nem Leibniz. Não é Newton
porque Kant não diz que espaço e tempo existem como substancia, mas ao mesmo
tempo é Newton porque Kant diz que espaço e tempo são universais e necessários, mas
o são, pois fazem parte da nossa estrutura, são formas a priori da nossa sensibilidade e
com isso Kant salva a ciência, pois a ciência se fundamente nos conceitos de espaço e
tempo e eles são estruturas a priori da nossa sensibilidade e, portanto são universais e
necessários.
O fundamento para a construção filosófica é a metafísica e as paredes desta casa
são a lógica, ética e física. Segundo Kant, a elaboração de uma ética é necessária
fundamentar ela na metafisica, isto é, precisa provar a existência de Deus, a liberdade
do homem e a imortalidade da alma. Portanto, a ética se fundamenta na metafisica,
assim também acontece com a logica e a física.

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