Sei - Anvisa 1168587 Nota Tecnica Ozonio Ghcos
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Processo nº 25351.920692/2020-15
1. INTRODUÇÃO
Com o advento da pandemia causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), muitos equipamentos e disposi vos têm alegado eficiência
na desinfecção de super cies, e até de pessoas, sem comprovação cien fica adequada.1
Alguns dos projetos recebidos pela Anvisa incluem equipamentos liberadores de ozônio, que preconizam, por exemplo, o uso de
ozônio solubilizado em microgotas de água, em concentração de 1,5ppm. O ozônio gerado é criado por equipamento que quebra a molécula do
oxigênio do ar ambiente e, na sequência, forma o gás ozônio. Este gás é solubilizado em água e não gera gás ozônio livre no ambiente, para evitar
que ocorra aspiração do gás pelas vias aéreas, ainda que nessa baixíssima concentração. Outro projeto propôs o uso de câmara de
descontaminação por ozônio a seco.
O ozônio é u lizado há anos como desinfetante de água para consumo humano, principalmente na Europa, embora seu uso agora
esteja sendo disseminado para outros países.18 O gás é incolor, de odor caracterís co e explosivo, podendo também ser encontrado na forma
líquida. Sua função básica na atmosfera terrestre é proteger os seres humanos dos efeitos nocivos da radiação UV.
A ozonização é uma tecnologia mais complexa que as demais u lizadas com fins de desinfecção. O ozônio é muito rea vo e corrosivo,
portanto, requer material resistente à corrosão, como aço inoxidável. Ademais, o composto é extremamente irritante e tóxico, de forma que os
gases devem ser destruídos para impedir a exposição do trabalhador.8
O composto consiste em O2 associado a um terceiro átomo de oxigênio frouxamente ligado, que está prontamente disponível para
anexar e oxidar outras moléculas. Esse átomo de oxigênio adicional faz do ozônio um oxidante poderoso que destrói microrganismos, mas que é
altamente instável.
O ozônio produzido se decompõe rapidamente, dada a sua instabilidade e meia-vida rela vamente curta (22 a 40 minutos a
temperatura ambiente). A meia-vida do ozônio na água é muito menor que no ar.
Nesta nota técnica, apresenta-se uma revisão sobre o uso do ozônio como desinfetante, baseada em fontes nacionais, de organismos
internacionais de saúde, agências reguladoras externas e ar gos cien ficos.
2. MODO DE AÇÃO
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS)18, o mecanismo pelo qual o ozônio ina va microrganismos no tratamento de
água de consumo humano não é bem conhecido. O ozônio em solução aquosa pode reagir com microrganismos, seja por reação direta do ozônio
molecular ou por reação indireta com as espécies radicais formadas quando o ozônio se decompõe.
É provável, portanto, que os microrganismos se ina vem por meio da ação do ozônio na membrana citoplasmá ca, na estrutura
proteica de um capsídeo do vírus ou nos ácidos nucleicos.19
De acordo com a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA)9, o ozônio é um oxidante forte, e os mecanismos de
desinfecção incluem:
• oxidação e destruição direta da parede celular com vazamento de cons tuintes celulares fora da célula;
• reações com subprodutos radicais da decomposição de ozônio; e
• danos aos cons tuintes dos ácidos nucleicos (purinas e pirimidinas).
A eficácia da desinfecção depende da susce bilidade dos organismos-alvo, o tempo de contato e a concentração do ozônio. Os
componentes de um sistema de desinfecção por ozônio incluem preparação da alimentação do gás, geração de ozônio, contato com o ozônio
e destruição do mesmo.9
diminuição da função pulmonar, com reduções no volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1);
tosse;
irritação na garganta;
dor, queimação ou desconforto no peito ao respirar fundo;
aperto no peito, chiado; e
dispneia.
b. Além desses efeitos, evidências de estudos observacionais indicam fortemente que maiores concentrações diárias de ozônio estão associadas
ao aumento de ataques de asma, de internações hospitalares, da mortalidade diária e outros marcadores de morbidade.
c. Como resultado da exposição a curto prazo, o ozônio e/ou seus intermediários rea vos causam lesões nas células epiteliais das vias aéreas.
d. Outros efeitos documentados induzidos pelo ozônio que podem estar relacionados à lesão subjacente e à resposta inflamatória são:
A diminuição da integridade epitelial tem o potencial de permi r o aumento do movimento de substâncias inaladas (por exemplo, alérgenos ou
poluição atmosférica par culada) das vias aéreas para o inters cio ou o sangue e pode modificar os efeitos conhecidos do alérgeno inalado na
asma.
e. O ozônio é um gás que pode ser usado como desinfetante. No entanto, para que seja eficaz na destruição de bactérias nocivas, ele deve
estar presente em uma concentração acima dos níveis considerados seguros para os seres humanos.
5. SITUAÇÃO INTERNACIONAL
Code Of Federal Regula ons (CFR), TITLE 21 – Food and Drug Adminisra on - Department of Health and Human Services – Subchapter H –
Medical Devices, dos Estados Unidos de América (EUA)8
A EPA recomenda que não se use geradores de ozônio em espaços ocupados, pois quando usado em concentrações que não
excedem os padrões de saúde pública, o ozônio aplicado ao ar interno não remove eficazmente vírus, bactérias, fungos ou outros poluentes
biológicos.
Os fornecedores de equipamentos de ozônio reivindicaram seu registro na EPA, ao considerar a alegação biocida: "o ozônio
mata/ina va microrganismos, fungos, bolores, algas, etc.”. Considerando que os pes cidas são produtos químicos des nados a prevenir, destruir,
repelir ou mi gar qualquer praga, a EPA declarou que o ozônio não se enquadra nessa categoria de produto.
Desde 2015, a Agência Europeia de Substâncias Químicas autorizou o uso do ozônio para desinfecção de água para consumo
humano.
PubChem14
Fornece os limites de tolerância do ozônio (LT) = 0.10 ppm (8h/d), considerando a exposição a 5 ppm altamente letal.
6. SITUAÇÃO NO BRASIL
O ozônio consta do anexo n° 11 da Norma Regulamentadora (NR) n° 15 do an go Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), que trata
de agentes químicos cuja insalubridade é caracterizada pelo Limite de Tolerância (LT) e inspeção no local de trabalho. O LT para o ozônio é de 0.08
ppm ou 0.16 mg/m3 para exposição até 48 horas/semana.
O uso de ozônio para tratamento an microbiano (redução da carga microbiológica) na indústria alimen cia, não necessita receber
“Autorização de Uso” conforme regulação do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
A Anvisa concedeu registro a equipamento gerador de ozônio para uso na odontologia2.
Até o momento, não foi registrado produto desinfetante a base de ozônio na área de saneantes da Anvisa.
Conforme NOTA TÉCNICA n° 51/2020/SEI/COSAN/GHCOS/DIRE3/ANVISA1, não há, atualmente, produto aprovado pela Anvisa para
“desinfecção de pessoas”, na modalidade de túneis ou câmaras, no combate à Covid-19. Também não foram iden ficadas recomendações por parte
de órgãos como a Organização Mundial da Saúde (OMS), Food and Drug Administra on dos EUA (FDA) ou Center for Disease Control and
Preven on dos EUA (CDC), European Chemicals Agency (ECHA) sobre o assunto, incluindo o uso do ozônio nessa modalidade.
Com base nas disposições legais e norma vas vigentes, equipamentos ou estruturas que u lizam ozônio para desinfecção de
ambientes públicos e de super cies em geral, não são considerados produtos saneantes, portanto, não estão sujeitos à regularização junto à Anvisa.
Contudo, destaca-se o entendimento de que o ozônio produzido "in loco" com alegação de ação an microbiana, passa a ser de interesse à saúde
humana, razão pela qual é de responsabilidade das empresas a comprovação de eficácia e segurança da substância produzida pelos equipamentos,
conforme orientações de uso, devendo ficar disponíveis os ensaios comprobatórios para fins de fiscalização.
Os ensaios para comprovação da ação an microbiana devem ser realizados com o produto final gerado (ozônio) nas condições de uso
indicadas pelo fabricante.
Os microrganismos para avaliação de a vidade an microbiana são os que seguem:
Em relação às metodologias dos ensaios, para fins de comprovação da ação an microbiana, os ensaios devem ser efetuados de
acordo com as especificações publicadas pelas seguintes ins tuições:
Para comprovação da ação an microbiana, os ensaios devem ser efetuados de acordo com as especificações publicadas pela:
Organização Mundial da Saúde (OMS),
Programa Internacional de Segurança de Substâncias Químicas (IPCS),
Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC/OMS),
Centro Pan-Americano de Ecologia Humana e Saúde (ECO/OPS),
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO),
Registro Internacional de Substâncias Potencialmente Tóxicas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (IRPT/UNEP),
Organização para a Cooperação Econômica de Desenvolvimento da Comunidade Econômica Européia (OECD/CEE) ou
Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos da América (EPA).
Na ausência de métodos disponíveis das ins tuições supracitadas, poderão ser realizados ensaios com outras metodologias, desde
que sejam validadas, que sigam as prá cas de laboratório adequadas e que u lizem metodologias internacionalmente reconhecidas. Destaca-se,
ainda, a necessidade de que seja feita comprovação da ação an microbiana residual pelo período de tempo apregoado.
A comprovação de segurança é muito importante, pois de acordo às fontes consultadas, para que o ozônio seja eficaz contra
microrganismos, a concentração de ozônio excede os limites considerados seguros para a saúde humana.
Apesar do assunto não estar regulamentado, caso seja iden ficado risco iminente à saúde, a Anvisa poderá proibir a fabricação e
comercialização de qualquer equipamento liberador de ozônio, nos termos da Lei 9.782/1999. Outrossim, é importante ressaltar que o Código de
Defesa do Consumidor prevê que o fabricante, o importador e o comerciante respondem pela reparação dos danos causados aos consumidores por
defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua u lização e riscos.
O tema de regularização de equipamentos ou estruturas que u lizam ozônio para desinfecção de ambientes públicos e de super cie
em geral, deve ser desenvolvido em processo regulatório específico, no âmbito da Agenda Regulatória 2021/2024 da Anvisa, a fim de que a Agência
avalie a necessidade de editar norma com requisitos específicos para a regularização desses produtos.
7. CONCLUSÕES
Com base na revisão realizada, conclui-se que:
I) não foram apresentadas à Anvisa evidências cien ficas sobre a eficácia desinfetante do ozônio contra o Sars-CoV-2 ;
II) o ozônio tem ação desinfetante na água de consumo humano e é u lizado no mundo, principalmente, na Europa;
III) apesar de possuir ação desinfetante, o uso do ozônio tem potencial para causar danos agudos e crônicos, caracterizadas por lesões dérmicas,
respiratórias, oculares e alérgicas, que devem ser considerados quando de seu uso, para proteção dos trabalhadores;
IV) de acordo com os marcos legais e regulatórios vigentes, equipamentos ou estruturas que u lizam ozônio para desinfecção de ambientes
públicos e de super cies em geral não estão sujeitos à regularização junto à Anvisa, contudo, os ensaios de comprovação de eficácia e segurança da
substância produzida por tais equipamentos devem ser realizados e man dos pelas empresas, para fins de fiscalização.
Estas informações poderão ser alteradas a qualquer momento considerando possíveis atualizações sobre o assunto.
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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03/05/2020. Disponível
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Documento assinado eletronicamente por Mirtha Susana Yamada Tanaka, Especialista em Regulação e Vigilância Sanitária, em 27/10/2020, às
16:57, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015
h p://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm.
Documento assinado eletronicamente por Webert Goncalves de Santana, Coordenador de Saneantes, em 27/10/2020, às 18:04, conforme horário
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Documento assinado eletronicamente por Itamar de Falco Junior, Gerente de Produtos de Higiene, Perfumes, Cosmé cos e Saneantes, em
28/10/2020, às 14:24, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no art. 6º, § 1º, do Decreto nº 8.539, de 8 de outubro de 2015
h p://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2015/Decreto/D8539.htm.
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