Humanas 03 - A360

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HUMANAS

3
SISTEMA
DE ENSINO
CIÊNCIAS HUMANAS
Volume 3 - 1ª Edição

Goiânia
AP360° EDUCACIONAL
2019
SUMÁRIO

MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA O ENEM


EIXOS COGNITIVOS.............................................................................................................................................10

CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS..........................................................................................10

OBJETOS DE CONHECIMENTO ASSOCIADOS......................................................................................... 13

FRENTE A
PRIMEIRA REPÚBLICA (1889 – 1930)........................................................................................................... 15

REPÚBLICA DA ESPADA: OS MILITARES NO PODER........................................................................... 15

REPÚBLICA OLIGÁRQUICA: OS CORONÉIS NO PODER....................................................................18

RESISTÊNCIA NA REPÚBLICA OLIGÁRQUICA.......................................................................................20

Exercícios Resolvidos.................................................................................................................................... 25

Exercícios de Fixação.................................................................................................................................... 27

Enem e Vestibulares.......................................................................................................................................28

ERA VARGAS: O “PAI DOS POBRES” ENTRA EM CENA.................................................................... 33

GOVERNO CONSTITUCIONAL (1934 - 1937): A PREPARAÇÃO PARA O GOLPE DE 1937................36

Exercícios Resolvidos....................................................................................................................................38

Exercícios de Fixação.................................................................................................................................... 39

Enem e Vestibulares........................................................................................................................................41

ERA DEMOCRÁTICA............................................................................................................................................44

GOVERNO JK (1956 – 1960): OS ANOS DE OURO................................................................................48

BREVE GOVERNO DE JÂNIO QUADROS (1961).....................................................................................50

O GOVERNO JANGO.......................................................................................................................................... 53

Exercícios Resolvidos....................................................................................................................................56

Exercícios de Fixação....................................................................................................................................58

Enem e Vestibulares.......................................................................................................................................59
DITADURA MILITAR NO BRASIL: A OBSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA NO PAÍS.......................64

Exercícios Resolvidos....................................................................................................................................70

Exercícios de Fixação.................................................................................................................................... 72

Enem e Vestibulares....................................................................................................................................... 72

GOVERNO SARNEY (1985 – 1989)................................................................................................................ 76

O BRASIL E A NOVA DEMOCRACIA............................................................................................................. 79

GOVERNO LUIZ INÁCIO “LULA” DA SILVA(2002-2008)...................................................................88

Exercícios Resolvidos....................................................................................................................................93

Exercícios de Fixação....................................................................................................................................94

Enem e Vestibulares.......................................................................................................................................94

FRENTE B
HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA.......................................................................................................................98

A REVOLUÇÃO FRANCESA (1789)...............................................................................................................99

Exercícios Resolvidos................................................................................................................................... 115

Exercícios de Fixação....................................................................................................................................117

Enem e Vestibulares...................................................................................................................................... 118

PROJETOS POLÍTICOS E DOUTRINAS SOCIAIS NO SÉCULO XIX............................................... 124

O NACIONALISMO............................................................................................................................................. 130

Exercícios Resolvidos.................................................................................................................................. 139

Exercícios de Fixação................................................................................................................................... 141

Enem e Vestibulares..................................................................................................................................... 142

A EUROPA NO SÉCULO XIX........................................................................................................................... 147

Exercícios Resolvidos...................................................................................................................................157

Exercícios de Fixação.................................................................................................................................. 159

Enem e Vestibulares.....................................................................................................................................160
SUMÁRIO

IMPERIALISMO.................................................................................................................................................... 165

Exercícios Resolvidos...................................................................................................................................176

Exercícios de Fixação...................................................................................................................................177

Enem e Vestibulares......................................................................................................................................178

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (1914 – 1918)...................................................................................... 183

Exercícios Resolvidos................................................................................................................................... 191

Exercícios de Fixação.................................................................................................................................. 192

Enem e Vestibulares..................................................................................................................................... 194

REVOLUÇÃO RUSSA - 1917............................................................................................................................ 198

Exercícios Resolvidos................................................................................................................................. 204

Exercícios de Fixação................................................................................................................................. 205

Enem e Vestibulares....................................................................................................................................206

A CRISE DE 1929 E O NAZIFASCISMO......................................................................................................209

A CRISE DE 1929 E A GRANDE DEPRESSÃO........................................................................................209

O NAZIFASCISMO................................................................................................................................................212

Exercícios Resolvidos..................................................................................................................................223

Exercícios de Fixação..................................................................................................................................224

Enem e Vestibulares.....................................................................................................................................226

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – (1939 – 1945)................................................................................232

A DERROTA DO EIXO E O FIM DA GUERRA...........................................................................................237

Exercícios Resolvidos..................................................................................................................................245

Exercícios de Fixação................................................................................................................................. 246

Enem e Vestibulares.................................................................................................................................... 248


FRENTE C
HIDROGRAFIA.....................................................................................................................................................252

Exercícios Resolvidos................................................................................................................................. 260

Exercícios de Fixação.................................................................................................................................. 261

Enem e Vestibulares.................................................................................................................................... 264

FRENTE D
POPULAÇÃO........................................................................................................................................................ 270

Exercícios Resolvidos..................................................................................................................................275

Exercícios de Fixação.................................................................................................................................. 277

Enem e Vestibulares.....................................................................................................................................279

FRENTE E
FITOGEOGRAFIA................................................................................................................................................287

Exercícios Resolvidos................................................................................................................................. 299

Exercícios de Fixação.................................................................................................................................300

Enem e Vestibulares.................................................................................................................................... 302

FRENTE F
GLOBALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO....................................................................................................308

Exercícios Resolvidos...................................................................................................................................315

Exercícios de Fixação.................................................................................................................................. 316

Enem e Vestibulares..................................................................................................................................... 318

GABARITOS...........................................................................................................................................................324
MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA O ENEM

EIXOS COGNITIVOS (comuns a todas as áreas de conhecimento)


dominar a norma culta da Língua Portugue-
sa e fazer uso das linguagens matemática,
I. Dominar linguagens (DL) artística e científica e das línguas espanhola e
inglesa.

construir e aplicar conceitos das várias


áreas do conhecimento para a compreensão
II. Compreender fenômenos (CF) de fenômenos naturais, de processos histó-
rico-geográficos, da produção tecnológica e
das manifestações artísticas.

selecionar, organizar, relacionar, interpretar


dados e informações representados de dife-
III. Enfrentar situações-problema (SP) rentes formas, para tomar decisões e enfren-
tar situações-problema.

relacionar informações, representadas em di-


ferentes formas, e conhecimentos disponíveis
IV. Construir argumentação (CA) em situações concretas, para construir argu-
mentação consistente.

recorrer aos conhecimentos desenvolvidos na


escola para elaboração de propostas de inter-
V. Elaborar propostas (EP) venção solidária na realidade, respeitando os
valores humanos e considerando a diversida-
de sociocultural.

CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS


Competência de área 1

Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.

Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de as-


H1
pectos da cultura.

H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.

H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos.

8
Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto
H4
da cultura.

Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e


H5
artístico em diferentes sociedades.

Competência de área 2

Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômi-
cas e culturais de poder.

H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.

H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais
H8
e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.

Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas


H9
em escala local, regional ou mundial.

Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participa-


H10
ção da coletividade na transformação da realidade histórico-geográfica.

Competência de área 3

Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas,


associando-as aos diferentes grupos, conflitos e movimentos sociais.

H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.

H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.

Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou ruptu-
H13
ras em processos de disputa pelo poder.

Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos,


H14 sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca das instituições so-
ciais, políticas e econômicas.

Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao


H15
longo da história.

9
MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA O ENEM

Competência de área 4
Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no de-
senvolvimento do conhecimento e na vida social.
Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou
H16
da vida social.
Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização
H17
da produção.
Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações so-
H18
cioespaciais.
Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de
H19
uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecno-
H20
logias à vida social e ao mundo do trabalho.

Competência de área 5
Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da
democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações
H22
ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.

H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.

H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

Competência de área 6
Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos histó-
ricos e geográficos.
Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida hu-
H26
mana com a paisagem.
Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração
H27
aspectos históricos e/ou geográficos.
Relacionar o uso das tecnologias com os impactos socioambientais em diferentes contextos histó-
H28
rico-geográficos.
Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os
H29
com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.

10
OBJETOS DE CONHECIMENTO ASSOCIADOS À MATRIZ DE REFERÊNCIA
Cultura material e imaterial; patrimônio e
diversidade cultural no Brasil. A conquista da
América. Conflitos entre europeus e indígenas
na América colonial. A escravidão e formas
de resistência indígena e africana na América.
Diversidade cultural, conflitos e
História cultural dos povos africanos. A luta
vida em sociedade dos negros no Brasil e o negro na formação
da sociedade brasileira. História dos povos
indígenas e a formação sociocultural brasilei-
ra. Movimentos culturais no mundo ocidental
e seus impactos na vida política e social.

Cidadania e democracia na Antiguidade; Es-


tado e direitos do cidadão a partir da Idade
Moderna; democracia direta, indireta e repre-
sentativa. Revoluções sociais e políticas na
Europa Moderna. Formação territorial brasi-
leira; as regiões brasileiras; políticas de reor-
denamento territorial. As lutas pela conquista
da independência política das colônias da
América. Grupos sociais em conflito no Brasil
imperial e a construção da nação. O desenvol-
vimento do pensamento liberal na sociedade
capitalista e seus críticos nos séculos XIX e
XX. Políticas de colonização, migração, imigra-
ção e emigração no Brasil nos séculos XIX e
XX. A atuação dos grupos sociais e os grandes
Formas de organização social, processos revolucionários do século XX: Revo-
movimentos sociais, pensamento lução Bolchevique, Revolução Chinesa, Revo-
político e ação do Estado lução Cubana. Geopolítica e conflitos entre
os séculos XIX e XX: Imperialismo, a ocupação
da Ásia e da África, as Guerras Mundiais e a
Guerra Fria. Os sistemas totalitários na Eu-
ropa do século XX: nazi-fascista, franquismo,
salazarismo e stalinismo. Ditaduras políticas
na América Latina: Estado Novo no Brasil e
ditaduras na América. Conflitos político-cul-
turais pós-Guerra Fria, reorganização política
internacional e os organismos multilaterais
nos séculos XX e XXI. A luta pela conquista de
direitos pelos cidadãos: direitos civis, huma-
nos, políticos e sociais. Direitos sociais nas
constituições brasileiras. Políticas afirmativas.
Vida urbana: redes e hierarquia nas cidades,
pobreza e segregação espacial.

11
MATRIZ DE REFERÊNCIA PARA O ENEM

Diferentes formas de organização da produ-


ção: escravismo antigo, feudalismo, capitalis-
mo, socialismo e suas diferentes experiências.
Economia agroexportadora brasileira: complexo
açucareiro; a mineração no período colonial; a
economia cafeeira; a borracha na Amazônia. Re-
volução Industrial: criação do sistema de fábrica
na Europa e transformações no processo de pro-
dução. Formação do espaço urbano-industrial.
Transformações na estrutura produtiva no século
Características e transformações
XX: o fordismo, o toyotismo, as novas técnicas
das estruturas produtivas de produção e seus impactos. A industrialização
brasileira, a urbanização e as transformações
sociais e trabalhistas. A globalização e as novas
tecnologias de telecomunicação e suas consequ-
ências econômicas, políticas e sociais. Produção
e transformação dos espaços agrários. Moderni-
zação da agricultura e estruturas agrárias tra-
dicionais. O agronegócio, a agricultura familiar,
os assalariados do campo e as lutas sociais no
campo. A relação campo-cidade.

Relação homem-natureza, a apropriação dos


recursos naturais pelas sociedades ao longo do
tempo. Impacto ambiental das atividades eco-
nômicas no Brasil. Recursos minerais e energé-
ticos: exploração e impactos. Recursos hídricos;
bacias hidrográficas e seus aproveitamentos. As
questões ambientais contemporâneas: mudan-
ça climática, ilhas de calor, efeito estufa, chuva
ácida, a destruição da camada de ozônio. A
nova ordem ambiental internacional; políticas
Os domínios naturais e a relação
territoriais ambientais; uso e conservação dos
do ser humano com o ambiente recursos naturais, unidades de conservação,
corredores ecológicos, zoneamento ecológico
e econômico. Origem e evolução do conceito
de sustentabilidade. Estrutura interna da terra.
Estruturas do solo e do relevo; agentes inter-
nos e externos modeladores do relevo. Situação
geral da atmosfera e classificação climática. As
características climáticas do território brasileiro.
Os grandes domínios da vegetação no Brasil e
no mundo.

Projeções cartográficas; leitura de mapas temá-


Representação espacial ticos, físicos e políticos; tecnologias modernas
aplicadas à cartografia.
Disponível em: http://portal.mec.gov.br. Acesso em : 28 jul. 2014.

12
HISTÓRIA DO BRASIL
A
PRIMEIRA REPÚBLICA (1889 – 1930)
FASES DA PRIMEIRA REPÚBLICA
O período denominado Primeira República – chamado também de República Velha – vai de 1889, ano da proclamação,
até 1930, ano da Revolução liderada por Getúlio Vargas. Esse período é dividido pela historiografia em duas fases, sendo elas:
 República da Espada (1889-1894): Período marcado pelos governos militares dos Marechais Deodoro da Fonseca e
Floriano Peixoto, os quais consolidaram o re-
gime republicano. Quanto ao termo “espada”,
é uma referência a um dos principais símbolos
do exército, já que ambos se tornaram mare-
chais de tal força armada durante a participa-
ção na Guerra do Paraguai.
 República Oligárquica (1894-1930): Essa foi
uma fase mais extensa, em que governos de
presidentes civis, ligados às oligarquias rurais,
exerceram a hegemonia do poder político de
então – em especial, os estados de São Paulo e
Minas Gerais.
A seguir, abordaremos cada uma desses períodos
em suas especificidades e características gerais, de
modo a compreendermos os primeiros anos republi- Figura 1- Ver em: http://pessoas.hsw.uol.com.br/proclamacao-da-republica.htm
canos em nosso país. Essa análise é fundamental para Confecção da bandeira republicana. Como diria Aristides Lobo, o povo assistiu
entendermos a realidade política e social atual. bestializado aos eventos de 1889.

REPÚBLICA DA ESPADA: OS MILITARES NO PODER


GOVERNO PROVISÓRIO (1889 - 1891)
Na noite do dia 15 de novembro de 1889, caía a Monarquia e nascia a República. Liderados pelo Marechal Deodoro da
Fonseca, os republicanos instauraram uma nova forma de governo, porém sem fazer alterações sociais, ou seja, a proclamação
da república foi uma transformação com forte apelo militar e elitista, não caracterizadora de um processo revolucionário.
A primeira atitude, ainda na noite do dia 15 de novembro, foi formar um governo provisório, tendo como articulador o
Marechal Deodoro da Fonseca. As primeiras medidas tomadas pelo governo provisório foram as seguintes:
 Separação entre Igreja e Estado: essa separação representou o fim do padroado régio e do beneplácito, ou seja, o
Estado não controlaria mais a Igreja Católica.
 Federalismo: no período imperial, o país era dividido
em províncias, as quais foram transformadas em es-
tados, passando a ter mais autonomia administrativa
em relação ao Governo Federal. O Rio de Janeiro foi
definido como o Distrito Federal, sendo que a cidade
não perdeu seu posto de capital.
 Assembleia Constituinte: foi convocada uma Assem-
bleia Nacional Constituinte para elaborar a primeira
Constituição republicana, que seria promulgada em
1891.
 Naturalização: os estrangeiros que residiam no Brasil pu-
deram ser legalmente considerados cidadãos brasileiros.
 Criação de uma nova bandeira: a bandeira imperial Figura 2- ver em: http://identidade85.blogspot.com.br/2012/11/dia-da-
foi substituída por uma nova bandeira, marcada pelo -republica-republica-de-quem.html
lema positivista “Ordem e Progresso”. O jornal Correio do Povo, do Rio de Janeiro, saúda a República, 15/11/1889.

13
SISTEMA DE ENSINO A360°

A POLÍTICA DO ENCILHAMENTO
No campo econômico, a primeira atitude de peso do governo provisório foi uma reforma financeira proposta em 1889, por
Rui Barbosa, então Ministro da Fazenda. Essa reforma ficou conhecida como Encilhamento, termo que representa os prepara-
tivos para uma corrida de cavalos, estabelecendo, pois, a ideia de um país disparando ao progresso.
Vale ressaltar que o principal objetivo de Rui Barbosa com essa política econômica era desenvolver a Indústria. Com isso,
permitiu aos bancos a emissão em grande quantidade de papel moeda (dinheiro), visando à concessão de crédito para o de-
senvolvimento do setor.
Entretanto, essa emissão de papel moeda foi exagerada, não compatível com a produção real da economia e com o que se
tinha em dólares nos cofres públicos, fazendo com que o dinheiro perdesse seu lastro.

Dinheiro sem lastro é aquele emitido sem que haja algo que o garanta, como reservas de
ouro, recursos em caixa como dólares e outras moedas fortes, bens duradouros produzidos e
bens de consumo disponíveis, produtos agrícolas como cereais, etc.

O resultado de tal medida foi a alta inflação e o consequente aumento de preços dos produtos disponíveis no mercado.
Muitas empresas fantasmas foram criadas apenas com o intuito de receber crédito nos bancos, o que foi causando uma espe-
culação financeira e consequentemente uma forte desorganização econômica. Diante da crise e da forte oposição à reforma,
principalmente por parte dos cafeicultores que eram contra o investimento em indústrias – e não no café –, Rui Barbosa demi-
tiu-se do cargo em 1891.

A PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA - 1891


A primeira Constituição brasileira, intitulada de Constituição do Império (1824), foi outorgada, possuindo um caráter an-
tiliberal e antidemocrático. Já em 1891, foi promulgada a segunda Constituição brasileira, sendo a primeira do período repu-
blicano.
Dentre as principais medidas criadas e alteradas por essa Carta Magna, podemos mencionar as seguintes:
 O país adotou como forma de governo a república e como sistema de governo o presidencialismo, deixando, assim,
para trás a monarquia e o parlamentarismo.
 O federalismo foi constituído, marcado pela autonomia que os estados possuem diante da esfera federal.
 Houve a tripartição dos poderes, com a instituição dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, os quais deveriam
atuar de modo harmônico e independente entre si.
 Foi extinguido o voto censitário, que marcou o período imperial, e garantido o direito de voto aos brasileiros maiores
de 21 anos, com exceção dos analfabetos, mendigos, soldados, religiosos e mulheres. Optou –se pelo voto aberto, no qual o
eleitor era obrigado a mostrar publicamente em quem votou, facilitando, desta forma, o poder dos coronéis.
 Houve a consagração do Estado Laico, que é marcado pela separação entre as funções de Estado e Igreja.

A assinatura do projeto da primeira constituição republicana, em 1890. Presentes o marechal


Deodoro, sua esposa e ministros - Enciclopédia Delta
Figura 3- Disponível em: http://static.hsw.com.br/gif/proclamacao-da-republica-1.jpg

14
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
O GOVERNO CONSTITUCIONAL DE DEODO-
RO DA FONSECA (1891)
Nas eleições de 1891, o voto para os cargos de presidente e
vice-presidente aconteceram de forma separada, ou seja, vota-
va-se para presidente e se votava em um vice, podendo eles ser
eleitos por chapas diferentes. Diante disso, venceu Deodoro da
Fonseca para presidente e, para vice, o candidato da oposição,
Floriano Peixoto.
Devido à crise causada pelo Encilhamento, na qual também
se atribuiu culpa a Deodoro, devido a suas posições autoritárias,
o Marechal encontrou forte oposição da elite agrária cafeicultora
e dos florianistas que atuavam politicamente, limitando os pode-
res presidenciais. A par dessa situação, Deodoro se viu obrigado
a dissolver o Congresso Nacional, o que fortaleceu a oposição ao
seu governo. A Marinha ameaçou bombardear a cidade do Rio
de Janeiro, então sede do Governo Federal, caso o Presidente
não renunciasse. Esse episódio ficou conhecido como Primeira
Revolta da Armada (1891).
Sem saída e isolado politicamente, o Presidente decidiu re-
nunciar, afirmando que preferia deixar o poder ao seu vice do Figura 4- Ver em: http://identidade85.blogspot.com.br/2012/11/
dia-da-republica-republica-de-quem.html
que causar uma guerra civil. Era o fim da rápida passagem de Deodoro da Fonseca.
Deodoro pelo gabinete presidencial. Imagem do acervo da Biblioteca Nacional

FLORIANO PEIXOTO (O MARECHAL DE FERRO) ASSUME O PODER (1891 – 1894)


O governo de Floriano Peixoto foi marcado pela tentativa de conciliar as forças políticas no Brasil e, para isso, convocou
membros do Partido Republicano Paulista (PRP) para compor ministérios e realizou medidas populares como a redução de
aluguéis e o tabelamento do preço do pão, do feijão e da batata.
Apesar dessas medidas, enfrentou muitos inimigos que organizaram uma campanha antiflorianista, exigindo novas eleições
presidenciais. Baseados no artigo 42 da Constituição, os oficiais do Exército assinaram o Manifesto dos Treze Generais, exigin-
do a renúncia de Floriano, pois esse artigo determinava que, se o presidente ou seu vice deixasse o cargo antes de decorridos
dois anos de mandato, deveria haver uma nova eleição. Já que Deodoro havia ficado no poder apenas nove meses, segundo
o mencionado artigo constitucional, novas eleições deveriam ser realizadas, o que de fato não ocorreu na transição do poder
para Floriano.

A REVOLTA DA ARMADA E A REVOLUÇÃO FEDERALISTA


Floriano decidiu enfrentar seus oposicionistas, tanto civis quanto militares e, além disso, envolveu-se em confrontos mili-
tares para garantir seu poder. Devido a essa postura de pronto enfrentamento, ele ficou conhecido como “Marechal de Ferro”.
Entre os conflitos enfrentados por ele, ressaltamos a Segunda Revolta da Armada e a Revolução Federalista.
A Segunda Revolta da Armada (1893) ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, quando a Marinha liderada pelo oficial Cus-
tódio de Melo começou a bombardear a cidade, exigindo a renúncia imediata de Floriano e a convocação de novas eleições.
Ao mesmo tempo, ocorria uma guerra civil marcada pela disputa do poder no Rio Grande do Sul, a qual ficou conhecida como
Revolução Federalista (1893). Esse conflito ficou marcado pelo confronto entre os seguidores do republicano Júlio de Castilhos,
chamados de “pica-paus”, que defendiam o presidencialismo, contra os adeptos de Gaspar Silveira Martins, apelidados de “ma-
ragatos”, os quais defendiam a implantação do pacto federativo amplo e menos centralista.
Floriano Peixoto entrou na guerra civil apoiando os “pica-paus”; a Marinha, por sua vez, ferrenha adversária do então pre-
sidente, entrou no conflito gaúcho apoiando os “maragatos”. Todo esse cenário de guerra intensificou as divergências políticas
e, ao final, levou à morte de milhares de pessoas.
A repressão de Floriano foi decisiva para o fim da Revolta da Armada com a prisão e posterior liberação do Almirante Cus-
tódio de Melo, bem como a repressão militar efetivada pelos castilhistas, em relação aos gasparistas. O conflito só terminou em
1895, quando Floriano já tinha deixado o poder e tinha sido eleito presidente o civil Prudente de Morais.

15
SISTEMA DE ENSINO A360°

REPÚBLICA OLIGÁRQUICA: OS CORONÉIS NO PODER


O DOMÍNIO DAS OLIGARQUIAS
Quando Floriano Peixoto deixou o poder em 1894 e Prudente de Morais assumiu a presidência, marcou-se o fim da Repú-
blica da Espada e o início da República Oligárquica, caracterizado por governos predominantemente civis. O estudo do período
exige a análise do conceito de Oligarquia, já que ela foi determinante no cenário político e econômico da época.
O termo tem origem na palavra grega “oligarkhía”, cujo significado literal é “governo de poucos” e designa um sistema po-
lítico no qual o poder está concentrado em um pequeno grupo pertencente a uma mesma família, um mesmo partido político
ou grupo econômico. Nesse caso, oligarquia compreende um pequeno grupo que controla as políticas sociais e econômicas em
benefício de interesses próprios.
Essas oligarquias exerciam sua dominação
por meio de um esquema político-eleitoral mar-
cado pelo coronelismo. De forma sintética, po-
demos definir o coronelismo como sendo um
fenômeno sociopolítico caracterizado pela hege-
monia dos grandes proprietários rurais, denomi-
nados coronéis, os quais controlavam o voto dos
eleitores – prática intitulada de voto de cabresto,
garantindo a manutenção de seus interesses.
Enquanto chefes políticos locais, os coronéis
manipulavam os eleitores para votarem nos can-
didatos indicados por eles e, como o voto era
“aberto”, isso facilitava o processo de intimida-
ção que ocorria mediante a “troca de favores”.
No dia da votação, os coronéis ofereciam benefí-
cios como alimentos, empregos, remédios, entre
outras benfeitorias, em troca de que votassem
Figura 5- Ver em: http://mestresdahistoria.blogspot.com.br/2014_05_01_archive.html
em seus candidatos que, na maioria das vezes, A charge representa de modo irônico a prática do voto durante a Primeira República no
pertenciam a sua própria família. Brasil (1889-1930).

POLÍTICA DOS GOVERNADORES E POLÍTICA DO CAFÉ COM LEITE


A Política dos Governadores foi marcada, como no contexto do voto de cabresto, pelas trocas de favores e corrupção elei-
toral, só que desta vez entre os presidentes de estado, cargo equivalente hoje ao de governador, e o Presidente da República.
Essa prática foi iniciada e concebida pelo presidente Campos Sales (1898-1902), o segundo presidente civil, na qual os
“governadores” aliados às oligarquias estaduais ajudavam a eleger deputados e senadores favoráveis ao Presidente e, em troca
desse “favor”, recebiam verbas, empregos, apoio político, entre outros benefícios. Verifica-se, nesse processo, que as oligar-
quias se mantinham no poder por meio de alianças e benefícios recíprocos que mantinham o pacto político entre municípios,
estados e o Governo Federal.
A Política do Café-com-leite, na esfera federal, esteve marcada pela alternância política no poder entre paulistas e minei-
ros. As oligarquias agrárias desses estados se organizaram em torno de dois grandes partidos, o PRP (Partido Republicano Pau-
lista) e PRM (Partido Republicano Mineiro), que, por meio de uma aliança com as oligarquias de outros estados, controlaram o
poder político durante toda República Oligárquica.
De modo geral, a alternância na presidência da República entre candidatos do estado de São Paulo e de Minas Gerais, os
dois principais colégios eleitorais e maiores produtores de café do país, exerceram a hegemonia política nacional conhecida
como Política do Café-com-leite.

A SITUAÇÃO ECONÔMICA
Ao longo da República Oligárquica não houve mudanças significativas, se compararmos a situação econômica desse perío-
do à economia do Império. A economia continuava baseada na extração de matérias-primas e gêneros tropicais destinados à
exportação.

16
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Entre os principais produtos econômicos que marcaram as
exportações desse período, vem em primeiro lugar o café, se-
guido pela borracha, cacau, cana-de-açúcar e algodão. O café
representou mais de 50% de todas as exportações no país, que
atendia, além do mercado consumidor interno, dois terços do
consumo mundial do produto, situação favorecida pela inexis-
tência de concorrentes no mercado mundial.
É importante salientar que, além das condições naturais
favoráveis ao plantio do café, a utilização da mão-de-obra imi-
grante assalariada, principalmente dos italianos, contribuiu ain-
da mais para a crescente produção nacional.
Depois de um período de pleno crescimento da produção e
da comercialização do café, o Brasil chegou a ofertar o produto Figura 6- Ver em: http://i.ytimg.com/vi/Xf4ifEA3zsc/hqdefault.jpg
além do consumo. Buscando uma solução, os cafeicultores junto
às autoridades políticas decidiram fazer uma reunião para tentar colocar fim à grave crise que se formava. Esse episódio ficou
conhecido como Convênio de Taubaté (1906), no qual os grandes produtores de café e os governadores dos estados de São
Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, principais representantes da produção cafeeira nacional, reuniram-se na cidade paulista
de Taubaté, visando encontrar meios para a crise de superprodução.
A sugestão dos cafeicultores foi que o governo se comprometesse a comprar o excedente da produção e estocasse o pro-
duto até que os preços se normalizassem no mercado mundial. A sugestão foi aceita pelos participantes do Convênio, pois, com
o governo comprando o excedente da produção, os cafeicultores continuariam produzindo e não teriam prejuízos, além de
manterem estável o valor do café no mercado mundial. Entretanto, as crises cíclicas do capitalismo liberal se agravaram e, com
isso, a política proposta pelo Convênio alcançou patamares elevados. O Estado se endividou e, com a Crise de 1929, a situação
econômica tornou-se insustentável, afetando frontalmente a economia brasileira.

BORRACHA: O SURTO PRODUTIVO NA AMAZÔNIA


Ao final do século XIX, a Amazônia possuía a
maior reserva mundial de seringueiras, árvores das
quais se extraía o látex, matéria-prima fundamental
à produção da borracha, que se tornou um dos prin-
cipais produtos de exportação brasileira, perdendo
apenas para o café. Tal fenômeno é explicado pelo
fato de o mercado industrial internacional ter mui-
ta demanda para o produto mediante o aprofunda-
mento da Segunda Revolução Industrial.
A borracha brasileira passou a atender o mer-
cado mundial, escoando o produto pelos portos de
Manaus e Belém fazendo com que a região amazô-
nica passasse por uma fase de esplendor e riqueza.
Todavia, essa fase foi passageira, já que esse “boom”
durou 12 anos, de 1898 a 1910.
Alguns motivos explicam esse surto produtivo
da borracha. Primeiramente, o fato de a produção
ainda ser rudimentar devido à dificuldade de pene-
tração na mata em busca de seringais – isso encare-
cia os custos de transporte e o valor final do produ-
to. Outro motivo se deve à concorrência da borracha
produzida pela Inglaterra e Holanda, que cultivaram
seringais em suas áreas de dominação colonial e
vendiam a um preço inferior ao do mercado amazô-
nico. Por isso, no final da década de 1910, a borra-
cha brasileira já não tinha mais espaço no mercado
internacional. Figura 7- Extração de látex para a produção de borracha

17
SISTEMA DE ENSINO A360°

RESISTÊNCIA NA REPÚBLICA OLIGÁRQUICA: A RESPOSTA DO POVO À


MISÉRIA E À VIOLÊNCIA
Diversas foram as manifestações do povo durante os primeiros anos da República, protestando e fazendo rebeliões sociais
contra a situação de exclusão política, violência, fraude eleitoral, opressão e miséria que viviam.

AS REVOLTAS MESSIÂNICAS
Os movimentos sociais da população sertaneja levaram à fundação de importantes comunidades comandadas por líderes
religiosos; daí os movimentos serem conhecidos por revoltas messiânicas. O emprego do termo tem sua origem no fato de se
atribuir àqueles líderes qualidades como a de fazer milagres e realizar curas pessoais. Ao longo da República Oligárquica, os
principais exemplos de messianismo foram os movimentos de Canudos e Contestado.

REVOLTA DE CANUDOS (1893-1897)


Povoado do sertão baiano, Canudos foi formado por sertanejos
pobres e religiosos, os quais fugiam dos abusos dos coronéis, da
miséria e do desemprego. Liderados pelo beato cearense Antônio
Conselheiro, que tinha por característica sua forte religiosidade, Ca-
nudos se tornou uma grande comunidade, na qual predominava a
tradição do comunitarismo. Nele, cada indivíduo tinha responsabi-
lidade pela sobrevivência do grupo.
O crescimento do povoado começou a incomodar as oligarquias
da região e Antônio Conselheiro passou a ser visto como um fanáti-
co religioso, perigoso e monarquista. O fato de se recusar a pagar os
impostos republicanos fez com a comunidade fosse intitulada mo-
narquista, o que deixava o governo e os latifundiários insatisfeitos.
A reação do governo republicano foi imediata, enviando, segui-
damente, três expedições para destruir o povoado, as quais acaba-
ram derrotadas pelos sertanejos de Canudos, fato que repercutiu
nacionalmente, aumentando ainda mais o ódio do governo, que
passou a ver o povoado e Conselheiro como inimigos da ordem re-
publicana.
Em 1897, o presidente Prudente de Morais autorizou a orga-
nização de uma quarta expedição sob o comando do general Artur
Oscar, essa mais numerosa e bem armada que as anteriores. Cerca
de 6 mil homens, canhões e dinamites foram utilizados na expedi-
ção que, ao final, massacrou o arraial de Canudos, contabilizando a
morte de milhares de pessoas – entre elas, o líder Antônio Conse- Figura 8- ver em: http://infernosobrenatural.blogspot.com.
br/2012/09/baixar-filme-guerra-de-canudos-nacional.html
lheiro.

GUERRA DO CONTESTADO (1912-1916)


Assim como Canudos, Contestado foi um movimento de sertanejos pobres e religiosos. O nome do movimento tem sua
origem no fato de ter ocorrido na divisa entre Paraná e Santa Catarina, região onde se formou o povoado e que era disputada
ou contestada pelos dois estados.
Os principais motivos que levaram ao surgimento do povoado foram: os grandes fazendeiros locais terem invadido e toma-
do à força as terras de índios e posseiros (pequenos proprietários rurais) para ampliar suas propriedades; e a exploração das
empresas norte-americana Brazil Railway Company e Lumber, as quais foram contratadas pelo presidente Afonso Pena para
construir uma estrada de ferro e lotear terrenos às margens da ferrovia e vendê-los para imigrantes europeus.
Espoliados de suas terras e revoltados com a situação de opressão e exploração, os sertanejos da região passaram a seguir
o “monge” José Maria, cujo nome real era Miguel Lucena Boaventura, beato que com seu discurso religioso atraiu inúmeros
seguidores. Os sertanejos liderados por José Maria formaram um povoado no atual município de Irani, área em Santa Catarina
e que era pretendida pelo Paraná.

18
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Tropas paranaenses com 100 soldados foram enviadas. Os sertanejos resistiram, mas José Maria morreu durante o confron-
to. Os seguidores do “monge” passaram a afirmar que ele ressuscitaria e voltaria para a terra, liderando um exército místico
com São Sebastião, para fazer justiça. Essas ideias se espalharam e, junto com elas, o movimento fez surgir milhares de adeptos
e diversas “vilas santas” que passaram a lutar em nome de José Maria. O Presidente da República Hermes da Fonseca enviou
para o Contestado uma expedição com mais de 6 mil homens muito bem equipados, os quais arrasaram e incendiaram todo o
povoado.
Mato Grosso
do Sul

A
IN
NT
GE
AR

URUGUAI A Guerra do Contestado (1912-1916)


Região disputada entre Paraná e Santa Catarina
Região da Guerra do Contestado
Estrada de ferro São Paulo-Porto Alegre

Figura 9 - Ver em: http://ahistorianaodivulgada.blogspot.com.br/2010/12/


guerra-do-contestado.html

O CANGAÇO
O cangaço pode ser caracterizado como uma forma de
banditismo que se desenvolveu nas áreas da caatinga, no
sertão nordestino e, enquanto movimento independente,
predominou de 1896 a 1940. Esses bandos armados com-
postos por cangaceiros sobreviviam de assaltos e saques de
vilas e fazendas. Nesse período, vários líderes se destacaram,
sendo alguns deles Jesuíno Brilhante, Antônio Silvino e Vir-
gulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião.
Lampião ficou conhecido como o “rei do cangaço” e
tal fama se deve à sua ousadia na luta contra a polícia, à
organização de seu bando, à extensão da área do Nordeste
em que atuou e ao tempo que levou para ser preso.
Ele e seus seguidores cobravam uma espécie de “im-
posto” dos fazendeiros e comerciantes, além de saquear
pobres, ricos e humilhar autoridades. Seu bando gerou Figura 11- Fotografia de Lampião e sua esposa Maria Bonita.
muito medo e ao mesmo tempo revolta dos governantes, ver em: http://www.eunapolis.ifba.edu.br/informatica/Sites_Historia_EI_31/canga-
co/Site/imagens/mb4.jpg
que ofereceram recompensa por sua captura. Depois de
muitos anos fugindo e vencendo a polícia nordestina em confrontos, em 1938, após delatado por um de seus seguidores, Lam-
pião, sua esposa Maria Bonita e mais nove companheiros foram mortos e decapitados. Como exemplo para a sociedade, suas
cabeças foram levadas para Salvador e expostas como troféus. Sua morte marcou o declínio do cangaço que, a partir de 1940,
praticamente deixou de existir.

19
SISTEMA DE ENSINO A360°

REVOLTA DA VACINA: O POVO SAIU À LUTA


A Revolta da Vacina (1904) foi um movimento de caráter popular que ocorreu em 1904, na cidade do Rio de Janeiro, o qual
exprimiu o descontentamento popular mediante a política de modernização conservadora simbolizada pela reforma urbana
empreendida pelo prefeito Pereira Passos durante a presidência de Rodrigues Alves. Tal processo de reurbanização, inspi-
rado no modelo europeu da belle epoque, trouxe ao Rio de Janeiro uma situação extremamente excludente em relação às
camadas marginais que habitavam a zona sul. O deslocamento dessa população marginal urbana para as zonas mais afastadas
e de morros gerou um descontentamento em relação às medidas sanitaristas empreendidas pelo governo a partir da atuação
do Ministro da Saúde Oswaldo Cruz.
Entre os principais motivos que marcam esse episódio, dois se destacaram. O primeiro foi a obrigatoriedade da vacina con-
tra a varíola proposta por Oswaldo Cruz, o qual foi um dos defensores da aprovação da lei de obrigatoriedade. Tal lei permitiu
que funcionários da saúde vacinassem todos os brasileiros com mais de seis meses de idade contra a varíola, e quem se negasse
era ameaçado com pesadas multas.
O outro motivo foi a reforma promovida por Pereira Passos, que
pretendia urbanizar e higienizar a capital federal, o Rio de Janeiro. Em
menos de um ano, foram demolidos centenas de casarões, também
conhecidos como cortiços, que eram habitados pela população mais
humilde no centro da cidade. Cerca de 14 mil pessoas foram expulsas
de suas residências e, com isso, teve início o processo de migração para
áreas impróprias à construção, como os morros e mangues. Surgia o
processo de favelização do Rio de Janeiro.
A obrigatoriedade da vacina e as demolições fizeram estourar a
revolta popular conhecida como Revolta da Vacina. Armados com
Figura 12- Charge retratando a revolta do povo contra a vaci-
paus e pedras, os populares partiram para o conflito contra a polícia, na obrigatória. Ao centro o médico sanitarista Oswaldo Cruz.
incendiando bondes e lojas. A cidade se tornou um imenso campo ver em: http://republicacidadaniaguillen.blogspot.com.
de batalha. br/2010/05/charges-sobre-revolta-da-vacina.html

Apesar das perdas, das mortes e da prisão de dezenas de pessoas, a revolta teve como ponto positivo aos manifestantes a
revogação da obrigatoriedade da vacina.

A REVOLTA DA CHIBATA
A Revolta da Chibata (1910) ocorreu às margens da cidade do Rio de janeiro, durante o governo do presidente Hermes da
Fonseca. Promovida pela baixa oficialidade da marinha, que em sua maioria era composta por marinheiros afrodescendentes,
lutou contra a violência imposta sobre os marinheiros. Tal agressão foi simbolizada pela chibata utilizada nos castigos corporais
empreendidos aos marinheiros de baixa patente pelos oficiais da Marinha – estes eram, em grande parte, membros de famílias
ricas e poderosas.
De modo geral, a revolta dos marinheiros teve como principais causas:
 o código disciplinar da marinha: muito violento e preconceituoso, esse documento estabelecia que as faltas leves
teriam como punição a prisão por três dias na solitária,
e a falta grave, 25 chibatadas;
 os baixos soldos (salários).
O estopim da revolta ocorreu no dia 16 de novembro de
1910, quando um marinheiro recebeu como punição 250 chiba-
tadas, sendo que o limite pelo código seriam 25. Revoltados, os
marinheiros, liderados por João Cândido, tomaram dois navios
e ameaçaram bombardear o Rio de Janeiro, caso o Governo não
colocasse fim aos castigos corporais.
Imediatamente, o Governo concordou com a proibição de
tais castigos e a garantia de anistia aos amotinados. A primeira
parte do acordo foi cumprida, ou seja, colocaram fim à chibata, Figura 13- Ver em: http://chibatas.blogspot.com.br/p/imagens.html
mas a segunda parte não, pois os líderes foram presos, demiti- João Cândido e marinheiros recebem jornalista à bordo do Minas
dos da marinha e perseguidos. Gerais

20
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
O MOVIMENTO OPERÁRIO E A GREVE GERAL DE 1917
As primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo crescente número de operários nas fábricas dos estados de São
Paulo e Rio de Janeiro. Juntamente a esse fato, aumentavam a exploração e a violência sobre essa parcela da classe de traba-
lhadores.
Diante dessa situação, os trabalhadores uniram-se na luta por melhores condições de trabalho e pela organização dos sin-
dicatos, fazendo dos congressos e greves mecanismos de mobilização. Os principais motivos que desencadearam o movimento
operário foram:
 Jornada diária de trabalho com média de 12 a 16 horas, inclusive aos sábados e domingos;
 Ambiente de trabalho insalubre;
 Baixos salários e ausência de direitos trabalhistas, como férias e aposentadoria;
 Influência de ideias socialistas e anarquistas.
Em 1906, estouraram várias greves dos operários nas regiões mais industrializadas do país e, entre elas, destacou-se a
grande participação de operários estrangeiros. Aproximadamente 51% do operariado das fábricas paulistas e 35 % no Rio de
Janeiro eram imigrantes. Grande parte desses imigrantes eram oriundos da Itália, Portugal e Espanha. Ainda naquele ano, foi
organizado, na região Sudeste, o Primeiro Congresso Operário Brasileiro, que exigiu a redução da jornada de trabalho para 8
horas diárias, a regulamentação do trabalho feminino e a abolição das multas aplicadas aos operários.
Em reação ao movimento dos operários, o então Presidente da República, Afonso Pena (1906-1909), reprimiu e mandou
prender vários trabalhadores. Ciente que a maioria deles eram imigrantes, ele também aprovou a Lei Adolfo Gordo, que per-
mitia a expulsão do país de qualquer imigrante que participasse de movimentos grevistas.
Diante dessa lei repressiva, os anos seguintes foram marcados por um certo marasmo dos movimentos, em razão da de-
sarticulação estrategicamente pensada pelo Governo. Entretanto, no final da década de 1910, cansados daquela situação de
exploração e opressão, os operários deram início, em São Paulo, à maior greve realizada na República Velha: a Greve Geral
de 1917. O resultado foi a paralisação generalizada das fábricas da cidade. Em represália, o Governo autorizou a invasão dos
estabelecimentos fabris pela polícia e a repressão violenta dos manifestantes. Durante os confrontos, um operário anarquista
chamado Antônio Martinez foi baleado e morreu. O enterro desse ope-
rário foi o estopim para o início da greve geral.
O movimento atingiu tal proporção que se espalhou para os es-
tados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul.
Seus líderes exigiam de imediato que o Governo reduzisse a jornada de
trabalho para 8 horas, o aumento dos salários, a libertação dos grevis-
tas presos, a redução dos aluguéis e o fim do trabalho noturno para as
mulheres.
Pressionado pelo movimento, o Governo e os patrões concorda-
ram em atender as exigências dos trabalhadores, porém, logo que a
greve geral chegou ao fim, o Governo e os industriais, revelando a Figura 14- Greve geral de 1917 em São Paulo. Esta foto é do
livro Revoluções, organizado por Michael Löwy, da editora
ambiguidade do discurso e as falsas promessas, iniciaram a persegui- Boitempo.
ção e demissão dos líderes grevistas, assim como a expulsão de alguns ver em: http://www.pontodevista.jor.br/blog/wp-content/
deles do país. uploads/greve.jpg

TENENTISMO: A BUSCA PELA MORALIZAÇÃO POLÍTICA


O Tenentismo pode ser caracterizado como um movimento contestatório promovido pela jovem oficialidade do exército
(tenentes) e que objetivava, sobretudo, a moralização da vida política brasileira, através da via armada. Esse evento tem sua
origem no início da década de 1920, devido ao forte descontentamento social diante do tradicional sistema oligárquico que
dominava o cenário político brasileiro.
As populações dos centros urbanos, as quais não estavam subordinadas aos mandos e desmandos dos coronéis, foram
as protagonistas desse descontentamento que atingiu fortemente as forças armadas. Os tenentes exigiam o fim do voto de
cabresto e a criação de uma justiça eleitoral mais eficiente e honesta, mesmo que fosse necessário pegar em armas para impor
sua vontade.

21
SISTEMA DE ENSINO A360°

Esse movimento foi marcado por diversas revoltas, sendo elas:


 Revolta do Forte de Copacabana (1922): essa foi a primeira revolta tenentista e ocorreu na cidade do Rio de janeiro,
onde 17 tenentes e 1 civil organizaram um motim e marcharam em direção ao Palácio do Governo, objetivando impe-
dir a posse do presidente eleito Artur Bernardes. Pegaram em armas e saíram à luta no corpo a corpo com as tropas
oficiais. Devido a sua inferioridade quanto ao número de integrantes, a revolta foi massacrada, sobrevivendo apenas
dois rebeldes. Pelo fato de envolver 18 manifestantes, a revolta ficou conhecida como Os 18 do Forte de Copacabana.
 Revolta de 1924: dois anos após a derrota em Copacabana, A Marcha da Coluna
RR AP
teve início, em São Paulo, uma nova revolta tenentista. Exi- de dezembro de 1925 a 1927

giam fundamentalmente o voto secreto e o respeito às leis. Ceará, Rio Grande do


Organizaram uma tropa com mais de 1000 homens e toma- Norte e Paraíba
AM MA
ram pontos estratégicos da cidade de São Paulo, o que fez o PA 4 CE RN
governo paulista fugir da capital para tentar organizar uma PI PB
PE
reação aos rebeldes. Com o apoio de militares do Rio de Ja- AL
neiro, o governo paulista atacou de forma ostensiva e violen- Mato Grosso e Bolívia
BA
SE
GO
ta a revolta, levando os rebeldes a recuarem. Fora da cidade, 5

os rebeldes constituíram a Coluna Paulista, na tentativa de MT


levar a revolução para outros estados da Federação. BOLÍVIA 6 3 MG
Minas e Bahia
 Coluna Prestes: a Coluna Prestes foi a junção da Coluna Paulis- ES
SP
ta, que partiu rumo ao sul do país, com a Coluna Gaúcha, que PARAGUAI RJ
tinha como líder o jovem capitão do exército Luís Carlos Pres- Junção com a
2
PR
tes. Com cerca de 1800 homens, essa Coluna percorreu mais de Coluna Paulista
SC
20 mil quilômetros, atravessando 12 Estados e percorrendo o 1
RS
Início da
interior do país na busca do apoio do povo contra o Governo e N marcha
as oligarquias. Assim como a Revolta do Forte de Copacabana e 0 570 km

a Revolução de 1924, a Coluna Prestes não atingiu seu objetivo Figura 15- Ver em: http://www.diarioliberdade.org/archivos/
de imediato, ou seja, o de desarticular o Governo e as oligar- Colaboradores_avanzados/manu/2012-05/290512_coluna-
prestes.jpg
quias; contudo, todas essas revoltas conseguiram deixar acesa a
chama da luta contra o poder dos coronéis.

TEXTO COMPLEMENTAR
O MOVIMENTO MESSIÂNICO DE “SANTA DICA” EM GOIÁS
(1923-1925) 1
Na década de 1920, após a suposta ressurreição de uma adolescente de pouco mais de 15 anos de idade, surgiu, no
interior de Goiás, em uma pequena fazenda chamada “Monzodó”, próxima à cidade de Pirenópolis, o mais importante
movimento religioso de caráter messiânico do estado. “Santa Dica”, como ficou conhecida Benedicta Cypriano Gomes
– a menina que ressuscitara –, dizia conferenciar com anjos, através dos quais curava, profetizava, abençoava, batizava
e até mesmo casava aqueles que a procuravam em seu reduto. Seus ritos, embora muito confundidos com práticas do
espiritismo, deram-se de maneira híbrida, uma vez que mesclaram tanto características do catolicismo, quanto do próprio
espiritismo.
De acordo com as fontes disponíveis (jornais, processos criminais, dentre outras), foi somente a partir de 1923, com a
chegada de algumas importantes personagens no reduto, que o movimento propriamente dito teve seu início, com ritos
e organização próprios. Em cerca de dois anos, a pequena fazenda Monzodó se tornou um vilarejo conhecido por “Lagoa”,
“Reduto dos Anjos”, “Calamita dos Anjos” e, mais tarde, “Lagolândia”2, onde a “santa”, segundo relatos, reuniu cerca de
500 seguidores/habitantes, e onde até 70 mil pessoas a teriam visitado em romaria entre 1923 e 1925.
Em face do caráter não somente religioso, mas político e social do movimento, uma união informal entre estado,
coronéis locais e Igreja Católica teve como desfecho a abertura de um processo criminal que culminaria em uma invasão
policial no reduto onde o movimento ocorria. Tal intervenção se deu em 14 de outubro de 1925 (o “Dia do fogo”), haven-
do mortos e feridos.

1 Texto retirado do artigo: GOMES FILHO, Robson. Santa Dica de Goiás: o germinar de um movimento messiânico (1923-1925).
Revista de História da UEG. Anápolis, vol. 3, n. 2, p. 128-146, jul./dez/, 2014.
2 Atualmente, Lagolândia é distrito da cidade de Pirenópolis, em Goiás.

22
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A

Dada a pouca quantidade de baixas na invasão (16 mortos e 5 gravemente feridos), os relatos dos moradores descre-
vem tal quantidade de mortos no conflito como comprovação dos poderes sobrenaturais de Dica, uma vez que ela não foi
morta, ou mesmo capturada pelas forças policiais. Além disso, há relatos na tradição oral de que as balas que chegavam à
“santa” eram presas por seus cabelos, ou caíam a seus pés em forma de grãos de milho, entre outros inúmeros relatos que
atribuem ao evento cenas miraculosas de heroísmo e santidade por parte de Dica. Além das supostas ações miraculosas
da taumaturga, os mesmos moradores sobreviventes entrevistados por Lauro de Vasconcellos (1991) asseguraram que
os anjos protegiam o local, uma vez que as balas atiradas pelas tropas do governo seriam “desviadas” pelos seres divinos,
atingindo somente a copa das árvores e telhados das casas.
Com o fim do conflito, que durou cerca de 30 minutos, foi efetuada, sob forte resistência, a prisão de Alfredo dos
Santos e Jacinto Cipriano Gomes. Dica, seu pai, seu tio Gustavo e alguns de seus seguidores fugiram. Dos indiciados, no
entanto, apenas Manuel José de Torres (Cacheado) não foi encontrado.
Segundo consta no Processo 651 (1925, p. 76), Dica foi encontrada e presa em Raizama (hoje município de Alto
Paraíso), no dia 20 de outubro de 1925, participando, a partir de então, do restante do Processo Crime, que duraria até
meados de 1926. Em primeira instância, Dica foi condenada a cumprir a pena de um ano de prisão na Capital, com multa
de 200$000 réis. Também foram condenados os demais acusados3, com exceção de Jacinto Cipriano Gomes, uma vez que
foi tido como inocente das acusações de estupro4 e de auxiliar Dica no movimento. Todavia, em 13 de julho de 1926, o
Superior Tribunal de Justiça de Goiás declarou serem improcedentes as denúncias contra os acusados, ordenando que se
lavrasse o alvará de soltura deles.
Após a soltura, no entanto, Dica foi proibida pelas autoridades goianas de retornar ao reduto. No mesmo ano, a
convite da Federação Espírita do Brasil, mudou-se, com alguns seguidores, para o Rio de Janeiro, onde realizou testes de
mediunidade, através dos quais passou a ser conhecida em várias partes do Rio e São Paulo, chegando a ponto de receber
destaque nas imprensas locais.
Após cerca de um ano depois da invasão do reduto, todavia, Dica retornou à Lagoa, casada com um jornalista poti-
guar de nome Mário Mendes, com quem permaneceu em matrimônio até final da década de 1940, quando seu marido
(mergulhado em dívidas) a teria vendido a um sócio, com quem permaneceu casada até sua morte em 1970. Até essa
data, Dica obteve grande influência política na região de Pirenópolis, todavia sem a força religiosa que antes exercia5. De
“santa Dica”, Benedita Cipriano Gomes, ao longo dos seus 45 anos restantes de vida, tornou-se apenas “madrinha Dica”,
exercendo fundamentalmente (até onde oficialmente se conhece) funções religiosas de benzedura.
GOMES FILHO, Robson. Carisma, legitimidade, dominação religiosa: santa Dica e a congregação redentorista em Goiás. Anápolis: Editora da UEG, 2015.

3 Os acusados no processo criminal em questão foram: Benedita Cipriano Gomes (santa Dica), Benedito Cipriano Gomes, Gus-
tavo Cipriano Gomes, Jacinto Cipriano Gomes, Alfredo dos Santos e Manuel José de Torres (conhecido por “Cacheado”).
4 Sobre o assunto, ver: Gomes Filho (2015).
5 Mário Mendes, primeiro marido da taumaturga, chegou a ser eleito prefeito de Pirenópolis sob influência da esposa. Além
disso, em 1932, sob convite do governador de Goiás, Pedro Ludovico Teixeira, a quem Dica auxiliou na tomada do poder em
1930, Dica comandou uma tropa de soldados no combate à Revolução Constitucionalista de 1932, a partir da qual criou-se
uma série de relatos miraculosos sobre sua atuação como liderança militar.

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UFRN Em julho de 1917, uma greve geral de trabalhado- atraíram e empregavam crescente contingente de ope-
res paralisou a cidade de São Paulo. Naquela conjuntura, rários. Todavia a precariedade e exploração dos traba-
o bairro do Brás, onde mais se concentravam trabalha- lhadores os motivou à manifestações, e quanto mais
dores imigrantes, foi palco de violentos tiroteios entre repressiva e truculenta era a reação das autoridades,
grevistas e policiais. mais crescia a necessidade de articulação política dos
proletários entre si.
Cite e analise duas circunstâncias da situação nacional
e duas circunstâncias da conjuntura internacional que No contexto internacional, a Primeira Guerra Mundial
possibilitaram a eclosão desse movimento. consumia o que o Brasil produzia, sendo este um dos
fatores do crescimento da indústria nacional. Por ou-
Resolução:
tro lado, eclodia a Revolução Russa, que exerceu forte
No contexto nacional, pode-se pensar a respeito do influência sobre o proletariado, quanto ao seu cunho
crescimento das indústrias de bens de consumo, que ideológico.

23
SISTEMA DE ENSINO A360°

02| UFJF A citação, a seguir, é uma crítica à atitude dos cafei- preços verificada na época. Ao contrário, o que ocorreu
cultores e das elites políticas brasileiras durante a Repú- foi uma valorização artificial do café, em atendimento
blica Oligárquica. aos interesses dos cafeicultores, que tinham grande
“É isto...Queres sempre ser a abelha mestra... Já viram os peso político no período. Isso fez com que os produtores
grandes fazerem esses sacrifícios?...Vê lá se fazem! Histó- continuassem investindo nessa lavoura ao invés de in-
vestir em produtos ainda pouco cultivados no país.
rias...Metem-se no café que tem todas as proteções...
(BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.)
03| UNESP As grandes noites do teatro Amazonas chega-
O quadro, a seguir, apresenta a pauta de exportações do vam ao fim.
Brasil entre 1889 e 1913. […] Manaus despediu-se definitivamente do antigo es-
plendor no carnaval de 1915. No mesmo ano, o pre-
Principais produtos de exportação (em %) ço da borracha caiu verticalmente. Em 1916 já não
Períodos 1889 – 1897 1898 – 1910 1911 – 1913 houve carnaval.
[…] [Manaus e Belém] começaram a entrar num maras-
Café 67,6 52,7 61,7
mo típico dos centros urbanos que viveram um luxo
Açúcar 6,5 1,9 0,3 artificial.
(Márcio Souza, A Belle-Époque amazônica chega ao fim.)
Cacau 1,5 2,7 2,3
Considerando o texto, responda.
Mate 1,1 2,7 3,1
A Por que “o preço da borracha caiu verticalmente” a
Fumo 1,2 2,8 1,9 partir de 1915?
Algodão 2,9 2,1 2,1 B Por que a crise da economia da borracha produziu
estagnação econômica na região amazônica, en-
Borracha 11,8 25,7 20,2 quanto no sul do país a crise da economia cafeei-
Couros e ra não levou a semelhante marasmo econômico?
2,4 4,2 4,2 Apresente uma razão desta diferença.
pele
Outros 4,8 5,2 4,4 Resolução:
Fonte: VILELA A.; SUZIGAN, W. Política do governo A Devido à concorrência da produção da borracha no
e crescimento da economia brasileira.
Sudeste Asiático e, posteriormente, ao desenvolvi-
Com base nesses dados e em seus conhecimentos, res- mento da produção da borracha sintética.
ponda às questões abaixo a respeito do Convênio de
Taubaté (1906) e seus efeitos. B A economia da borracha, florescente na região Norte
do país entre o final do século XIX e início do XX, gerou
A Qual foi a principal política adotada sob impacto do
um enorme excedente econômico, cuja utilização não-
Convênio de Taubaté?
-produtiva foi uma das suas marcas características (vide
B É correto afirmar que essa política contribuiu para a própria suntuosidade do Teatro de Manaus citada no
que não se verificasse uma elevação significativa da texto). Já na economia cafeeira paulista evidenciou-se a
participação de outros produtos (além do café) na utilização de grande parte dos lucros dos fazendeiros do
pauta exportadora do Brasil no período? Justifique café, seja de forma direta (isto é, os próprios fazendeiros
sua resposta. como investidores), ou indireta (bancos, casas comer-
ciais, etc.) em atividades industriais diversas (especial-
Resolução: mente bens de consumo não duráveis), bem como em
A Política de valorização do café que se traduzia na infra-estrutura (ferrovias, usinas elétricas, etc.). Deve-se
compra pelo governo dos excedentes do produto, salientar também que o ciclo da borracha foi mais curto
mediante o recurso a capitais obtidos por emprésti- do que o cafeeiro, fato este agravante da estagnação
mos no estrangeiro. A amortização e os juros desses econômica no Norte do país após 1915. Além disso, faz-
empréstimos seriam efetuados mediante um novo -se fundamental citar o caráter tipicamente extrativista
imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café ex- da cultura da borracha – tal como foi, durante o Brasil
portado. Com isso, os preços do produto eram manti- Colônia, os casos do pau-brasil e da mineração –, o que
não demandava inversões consideráveis em meios de
dos artificialmente altos, garantindo-se os lucros dos
produção para a obtenção do bem citado; já o caso
cafeicultores, que, ao invés de diminuírem a produção
do café foi diferente, pois a sua criação dependia de
de café, continuaram produzindo-o em larga escala, uma mínima estrutura “industrial” para cultivá-lo e
obrigando o governo a contrair mais empréstimos vendê-lo no mercado (beneficiamento do café, saca-
para continuar adquirindo esses excedentes. ria, etc.), bem como de serviços em geral. Por último,
B A política de valorização artificial do café desestimulou no plano institucional, deve-se ressaltar que o nível de
a diversificação da pauta de exportações brasileiras, renda dos cafeicultores foi mantido graças à política
que poderia ser feita por meio de subsídios, aliviando a de valorização do café. Os empresários da borracha
pressão da oferta interna sobre a tendência da queda de não contaram com semelhantes incentivos.

24
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UFRN Analisando a modernização da sociedade brasi- comunitário da economia de Canudos. Deixou claro que
leira, os historiadores Antônio Paulo Rezende e Maria o movimento não era isolado, revelando a revolta de-
Thereza Didier afirmam: sesperada das populações miseráveis ignoradas por um
sistema sociopolítico que lhes exigia fidelidade sem lhes
A década de 1920 foi muito importante, porque repre-
dar nada em troca. (NADAI; NEVES, 1995, p. 271).
sentou um momento significativo de reflexão sobre
nosso passado e nossa identidade histórica. Apesar do Os movimentos messiânicos — expressões dos desequi-
autoritarismo, o povo não assistiu passivamente à ação líbrios socioeconômicos entre o litoral e o interior do
de seus governantes; não se entregou a uma apatia des- Brasil no final do século XIX — ocorreram, sobretudo,
mobilizante nem se submeteu à vontade quase imperial em contextos rurais, dentre os quais o arraial de Canu-
dos coronéis. dos representa uma das mais importantes experiências.
REZENDE, Antônio Paulo; DIDIER, Maria Thereza. Rumos
Com base nessas considerações e no conteúdo do texto,
da história. São Paulo: Atual, 2005. p. 495.
cite uma forma de sobrevivência econômica e uma prá-
A partir desse fragmento textual, tica espiritual da população referida.
A cite e explique três elementos que caracterizam o 04| UNESP O número dos bandos de cangaceiros assume
poder político vigente, no Brasil, na década de 1920; às vezes proporções assombrosas, mui especialmente
B cite e explique duas manifestações sociais contrárias quando se destinam à tomada duma vila ou cidade. Cen-
ao poder político vigente ocorridas nesse período. tenas de criminosos apoderaram-se do Crato, no Ceará,
e de Alagoa do Monteiro, na Paraíba. Duzentos homens
02| UFF “O coronelismo é um sistema político, uma comple- atacaram Tamboril, no sertão cearense. Quinhentos ban-
xa rede de relações que vai desde o coronel até o presi- didos saquearam a cidade paraibana de Patos. Trezentos
dente da República, envolvendo compromissos recípro- incendiaram a cidade cearense de Aurora. Quatrocentos
cos. O coronelismo, além disso, é datado historicamente. derrotaram a polícia da Paraíba em Carrapateira, Ampa-
Na visão de Vitor Nunes Leal ele surge na confluência de ro e Monteiro, ameaçando tocar fogo na vila do Teixeira,
um fato político com uma conjuntura econômica. violar as mulheres e sangrar os homens. (...)
(Gustavo Barroso, 1917 apud Gregg Narber, Entre a Cruz e a Espada: violência e misti-
O fato político é o federalismo implantado na República cismo no Brasil rural)

(...) A conjuntura econômica era a decadência econômi- Analise as condições históricas que intensificaram o fenô-
ca dos fazendeiros” meno do Cangaço, nas primeiras décadas do século XX.
(Adaptado de CARVALHO, José Murilo de. Mandonismo, coronelismo

e clientelismo: uma discussão conceitual. In: ______. Pontos e Bordados. Belo 05| UFRRJ “A esperança de um belo dia sagrando uma bela
Horizonte: UFMG, 1998, p.131-32). data e uma bela obra desfez-se, infelizmente, o sol não
veio, e foi sob um aguaceiro impenitente e odioso, fino e
Com base no texto acima:
pulverizado a começo, grosso e encharcante depois, que
A indique o período da História do Brasil em que o Co- se foi ontem à inauguração da formosa avenida (...)”.
ronelismo teve o seu auge; (O País, 16/11/1905 – “15 de Novembro”).

B levando-se em conta as transformações políticas Está completando um século a inauguração festiva da


verificadas no Brasil, sobretudo após a implantação Avenida Central, hoje Rio Branco, no centro da cidade
da ditadura do Estado Novo em 1937, compare os do Rio de Janeiro, obra maior do prefeito Pereira Passos.
regimes políticos baseados no Coronelismo e no Au- Para sua construção centenas de imóveis foram derru-
toritarismo. bados. O conjunto das intervenções urbanas realizadas
na época, sob a argumentação da modernização, embe-
03| UFBA O episódio de Canudos resultou em um dos clás- lezamento e higienização, dividiu a imprensa e a popu-
sicos da literatura brasileira: Os sertões. Euclides da lação durante todo o período do governo do Presidente
Cunha, seu autor, na época era jornalista e acompanhou Rodrigues Alves (1902/1906).
a luta no próprio local como correspondente do jornal O A Apresente dois argumentos, sendo um contrário e
Estado de S. Paulo. Apesar de demonstrar preconceitos um favorável, utilizados naquele momento em rela-
de “civilizado” falando de “incultos” e apesar de dar ên- ção às reformas no Rio de Janeiro.
fase exagerada às condições geográficas e étnicas, con-
figurando um determinismo geográfico e racial nas suas B Cite a revolta popular ocorrida naquele período con-
explicações, Euclides da Cunha deu atenção ao caráter tra a ação “higienizadora” das autoridades.

25
SISTEMA DE ENSINO A360°

T ENEM E VESTIBULARES
01| ESCS No Brasil, o final do século XIX também significou E corroborou a busca pela modernização política do
a derrocada do regime monárquico. A implantação da Brasil e mostrou-se decisivo para a elaboração de
República não alterou substancialmente as estruturas vi- políticas governamentais de inserção dos ex-escra-
gentes no país, marcadas pela exclusão e por uma histó- vos no mercado de trabalho livre.
rica desigualdade. Essas características acompanharam
toda a trajetória da Primeira República, sacudida pelas 03| UEG Leia o excerto abaixo.
sucessivas crises da década de 1920, que prepararam o
cenário da Revolução de 1930, a qual propiciou o adven- O almirante, também, tinha grande confiança nos talen-
to da Era Vargas (1930–1945). Em relação a esse período tos guerreiros e de estadista de Floriano. A sua causa
da história brasileira, assinale a opção correta. não ia lá muito bem. Perdera-a em primeira instância,
estava gastando muito dinheiro... O governo precisava
A A frase de Aristides Lobo — “o povo a tudo assistiu de oficiais de Marinha, quase todos estavam na revolta.
bestializado” — sintetiza o caráter golpista da pro-
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma.
clamação da República no Brasil, ocorrida pratica- Rio de Janeiro: Record, 2009. p. 152.
mente sem a participação da sociedade.
O trecho citado tem como pano de fundo um importan-
B Vitorioso pelo voto popular nas eleições de 1930, te episódio da História do Brasil, conhecido como:
Vargas assumiu a presidência da República em meio
a um contexto econômico de prosperidade, o que A Revolta da Armada, quando oficiais da Marinha Bra-
facilitou seu plano de permanência no poder. sileira deram ordem para que o Rio de Janeiro fosse
alvejado com tiros de canhões de navios de guerra.
C As “sucessivas crises da década de 1920” tiveram
como protagonistas os tenentes, leais defensores B Revolta da Chibata, quando marinheiros, lidera-
do poder constituído, comprometidos com a manu- dos pelo Almirante Negro, se revoltaram contra os
tenção da ordem e das estruturas vigentes no país. maus- tratos sofridos dentro dos navios.
D Embora dominada pelas oligarquias estaduais, sim- C Revolta de Canudos, quando a recém-fundada Re-
bolizadas nos denominados coronéis, a Primeira pública brasileira teve de enfrentar os sertanejos
República ampliou consideravelmente o número de liderados por Antônio Conselheiro.
eleitores no país e instituiu o voto secreto.
D Revolta do Contestado, quando o Exército Brasilei-
02| MACK “A partir de hoje, 15 de novembro de 1889, o ro usou o recém-inventado avião para enfrentar os
Brasil entra em nova fase, pois pode-se considerar fin- camponeses da região de fronteira entre Santa Ca-
da a Monarquia, passando o regime francamente de- tarina e Paraná.
mocrático com todas as consequências da Liberdade”
Assim se referiu a manchete do jornal carioca Gazeta 04| ACAFE As culturas da cana-de-açúcar e do café ilustram
da Tarde, anunciando a Proclamação da República no muito bem alguns aspectos da economia brasileira des-
Brasil. Pode-se dizer que tal ato de a colônia até o período republicano.

A reforçou as posições conservadoras dos positivistas Acerca das mesmas e de suas correlações internas e ex-
brasileiros, o que facilitou a ascensão do exército, ternas é correto afirmar, exceto:
como liderança do movimento, e auxiliou na decreta- A Os acordos de Taubaté em 1920 definiram claramen-
ção de um Estado em bases religiosas e federalistas. te espaços e zonas de produção açucareira e cafeeira
B resultou da conjugação de variados fatores, desta- no Brasil. Dessa forma, evitava-se a superprodução e
cando as insatisfações de grupos militares, cama- a baixa do preço no mercado internacional.
das médias urbanas e setores latifundiários com os B Há uma clara correlação entre esses dois produtos e
rumos políticos e sociais do Império no Brasil. o processo de inserção brasileira na economia mun-
C colocou fim à longa crise do Segundo Reinado, con- dial. De forma geral o Brasil (colônia e depois inde-
tribuindo para a emergência do populismo enquanto pendente) tornou-se exportador de bens primários.
prática política manipuladora, voltada para a satisfa- Manufatura e indústria foram atividades secundá-
ção dos anseios de camadas trabalhadoras urbanas. rias em boa parte da História econômica brasileira.

D rompeu com a legalidade da sucessão ao trono, C O autoritarismo e a escravidão foram visíveis aspec-
uma vez que impediu a ascensão da princesa Isabel, tos da conformação política e social do Brasil nessas
como governante, causando, por sua vez, revoltas duas atividades agrícolas. As grandes lavouras ex-
populares por todo o país. portadoras usavam de trabalho escravo e qualquer

26
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
rebelião ou contestação era reprimida com muita A charge satiriza uma prática eleitoral presente no Brasil
violência. da chamada “Primeira República”. Tal prática revelava a
D Em clara correlação com o perfil produtivo açucarei- A ignorância, por parte dos eleitores, dos rumos po-
ro e cafeeiro, o latifúndio marcou a conformação da líticos do país, tornando esses eleitores adeptos de
propriedade no Brasil. ideologias políticas nazifascistas.
B ausência de autonomia dos eleitores e sua fidelida-
05| FGV Somente a partir de 1850 vai se observar um maior
de forçada a alguns políticos, as quais limitavam o
dinamismo no desenvolvimento econômico do país em
direito de escolha e demonstravam a fragilidade das
geral e de suas manufaturas, em particular. O crescimen-
instituições republicanas.
to do número de empresas industriais se faria com rela-
tiva rapidez. C restrição provocada pelo voto censitário, que limi-
tava o direito de participação política àqueles que
Mas o que provocaria essas mudanças?
possuíam um certo número de animais.
(Sonia Mendonça, A industrialização brasileira. p. 12)
D facilidade de acesso à informação e propaganda
É correto responder à indagação afirmando que
política, permitindo, aos eleitores, a rápida identi-
A a Câmara dos Deputados aprovou medidas restritivas ficação dos candidatos que defendiam a soberania
às importações, como a proibição da entrada de mer- nacional frente às ameaças estrangeiras.
cadorias similares às já produzidas no país, e também
E ampliação do direito de voto trazida pela República,
criou a primeira política industrial brasileira.
que passou a incluir os analfabetos e facilitou sua
B houve a importante contribuição do fim do tráfico manipulação por políticos inescrupulosos.
de escravos para o Brasil, que possibilitou a disponi-
bilidade de capitais, além dos efeitos duradouros da 07| PUCCAMP Os ciclos econômicos que ocorreram em
agricultura, especialmente do café. nossa história (do ouro, do açúcar, do café, do cacau,
da borracha e outros), em suas causas, fastígio e deca-
C a nacionalização do subsolo brasileiro, presente na
dência, podem ser reconhecidos nos eventos centrais ou
Constituição imperial, impulsionou os investimen-
na periferia das tramas e imagens da nossa literatura.
tos privados na exploração mineral, conjuntamente
Há que se reconhecer nossa dívida para com escritores
com os incentivos governamentais na criação de es-
como José Lins do Rego e Jorge Amado, por exemplo,
taleiros.
que tramaram belas narrativas imbricadas nos antigos
D ocorreu uma rápida modernização dos grandes en- engenhos de açúcar ou nos cacaueiros baianos. O valor
genhos de açúcar do Nordeste em função dos finan- artístico da linguagem literária não está, obviamente,
ciamentos ingleses e, em 1851, fundou-se um banco em documentar fenômenos econômicos ou eventos his-
estatal de desenvolvimento. tóricos de qualquer natureza, mas na capacidade de po-
tenciá-los inventivamente por meio de uma perspectiva
E acertou-se com a Inglaterra a renovação dos Trata-
autoral. Realização estética e realidade transfigurada
dos de 1827, que ofereciam tarifas privilegiadas aos
encontram-se no caminho e instigam o leitor a avaliá-las
ingleses e estes, em contrapartida, proporcionavam
nessa precisa convergência.
transferência de tecnologia industrial.
(Bernardim Quintanilha, inédito)

06| FUVEST SP A exploração da seringueira, para a fabricação da bor-


racha, na região amazônica brasileira teve seu período
mais produtivo no final do século XIX e início do século
XX. O sucesso econômico que essa atividade obteve nes-
sas décadas deveu-se
A à utilização clandestina de mão de obra escrava, a
despeito da abolição já ter acontecido, uma vez que
não havia fiscalização do trabalho dos seringueiros
nos rincões da Amazônia.
B ao grande subsídio estatal concedido pelo governo
republicano aos produtores, que resultou no enri-
quecimento da cidade de Manaus, visível nos vestí-
Stori. Careta, 19/02/1927. Apud: Renato Lemos (org.). gios de sua Belle Époque presentes em seu patrimô-
Uma história do Brasil através da caricatura. 1840 - 2006.
Rio de janeiro: bom Texto, 2006, p. 35, Adaptado. nio arquitetônico.

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SISTEMA DE ENSINO A360°

C à fase de expansão da indústria automobilística, que 10| UDESC Sobre a Revolta da Chibata (1910) assinale a al-
gerou uma grande demanda pelo látex, matéria pri- ternativa correta.
ma essencial na fabricação de pneus e existente em A Movimento revoltoso desenvolvido entre facções
abundância nos seringais, nativos da Amazônia. políticas rivais encontradas no governo do Rio Gran-
D à instalação, pelo empresário Henry Ford, da For- de do Sul, que acabou alcançando também os Esta-
dlândia, um enorme polo agroindustrial de explora- dos de Santa Catarina e Paraná.
ção de látex no Pará, que transformou o Brasil no B Ficou assim conhecido o movimento de rebelião
principal exportador de borracha em escala mun- promovido por marinheiros contra o governo do
dial. marechal Floriano Peixoto.
E ao menor preço da borracha brasileira no mercado C Ficou assim conhecido o protesto de marinheiros
internacional, comparado ao da borracha produzida dos couraçados Minas Gerais e São Paulo. Eles pro-
pelos ingleses na Ásia, dado que favoreceu a vitória testavam sobre a sua dura rotina de trabalho, baixos
sobre a concorrência e a expansão dessa cultura. salários e castigos físicos a que eram submetidos
os membros de baixa patente sempre vez que não
08| FAC. DIREITO DE SOROCABA Durante a Primeira Re- cumpriam uma ordem estabelecida.
pública, os movimentos de Canudos e do Contestado, o D Conhecida como uma das primeiras manifestações
cangaço, as revoltas da Vacina e da Chibata expressaram do movimento tenentista, foi uma das mais signifi-
A a necessidade de democratizar as instituições, que cativas demonstrações de crise da hegemonia oli-
ainda refletiam o caráter religioso e censitário do gárquica na República Velha.
Estado. E Revolta em que negros e índios se insurgiram contra
B a exclusão política, social e econômica da maioria da a elite política e tomaram o poder no Pará (Brasil).
população, que estava submetida às oligarquias. Entre as causas da revolta encontra-se a extrema
pobreza das populações.
C o processo de modernização das cidades, que ex-
cluiu as camadas médias e gerou esses conflitos ar- 11| UNIRG Leia o texto a seguir.
mados.
Entendendo que o foco da epidemia existe nessas ca-
D a influência das ideologias de esquerda, que tam- sas, propus a disseminação forçada dos indivíduos que
bém orientavam as greves operárias e o tenentismo. aí vivem, como o único meio possível de debelar, senão
E a insatisfação das massas camponesas, que não totalmente, ao menos em grande parte, a epidemia que
tinham acesso à terra produtiva nem o direito de parece tomar grandes proporções. […] Se em um quar-
voto. to, o ar é somente suficiente para duas pessoas, deve-se
remover as 18 ou 20 que entretanto aí vivem.
09| FMJ José Domingos estava detido numa prisão do Rio de GOMENSORO, Ataliba. Pronunciamento na Academia Imperial de Medicina em 1873. In:
JANOTTI, Maria de Lourdes Mônaco. Coletânea de documentos históricos para o 1o grau. São
Janeiro, em 1905, quando escreveu a letra de uma can- Paulo: Secretaria de Estado da Educação, 1985. p. 38. (Adaptado).

ção para violão e cavaquinho. Em uma de suas quadras, O pronunciamento médico revela as preocupações sa-
o compositor escreveu: nitaristas que levaram à reforma da cidade do Rio de
As pobres mães choravam Janeiro no final do século XIX. Da análise desse pronun-
ciamento, conclui-se que tal reforma teve como conse-
E gritavam por Jesus; quências
O culpado disso tudo A a demolição de cortiços e o deslocamento forçado
dos trabalhadores pobres para áreas afastadas, ini-
É o Doutor Oswaldo Cruz! ciando a ocupação de morros.
(Apud João do Rio. Gazeta de Notícias, 01.09.1905.)
B o melhoramento das estalagens e a construção de
Os versos fazem referência largas avenidas para o estabelecimento adequado
das camadas médias.
A ao Movimento Tenentista.
C a revitalização da área dos portos e o controle da
B à Revolta da Vacina. influenza, cujo contágio ocorre por vias respiratórias
C à Revolta da Armada. em ambiente úmidos e populosos.
D o isolamento da área central e a reacomodação das
D à Revolta da Chibata.
famílias em bairros planejados de acordo com o pa-
E à primeira greve geral no Brasil. drão urbanístico europeu em voga na capital.

28
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
12| UEG O arraial, assim como outras comunidades funda- D A Revolução de Trinta difundiu o trabalhismo tanto
das em princípios messiânicos, surgiu da associação de pelas cidades quanto pelo campo, gerando empre-
diferentes fatores, tanto socioeconômicos quanto reli- go a muitas pessoas que, antes, dedicavam- -se ao
giosos e culturais [...]. Do ponto de vista cultural, a reli- banditismo social. O fim de grupos como o de Lam-
giosidade popular, a tradição de trabalho comunitário e pião era uma questão de tempo, mesmo que ele
a mobilidade espacial contribuíram para a formação de tenha sido morto pela polícia no fim da década de
1930.
Canudos a partir das pregações de Antônio Conselheiro.
SILVA, Kalina V. 5 de outubro de 1897 – Destruição de
Canudos. In: BITTENCOURT, Circe (Org.). Dicionário de datas da 14| UNESP A Coluna Prestes, que percorreu cerca de 25 mil
História do Brasil. São Paulo: Contexto, 2007. p. 234. quilômetros no interior do Brasil entre 1924 e 1927, as-
As sucessivas campanhas militares do Exército brasileiro socia-se
que acabaram por destruir o arraial de Canudos são his- A ao florianismo, do qual se originou, e ao repúdio às
toricamente atribuídas a diversos fatores, dentre eles a fraudes eleitorais da Primeira República.
pregação de Antônio Conselheiro em prol do
B à tentativa de implantação de um poder popular, ex-
A Sebastianismo, que consistia na crença popular de pressa na defesa de pressupostos marxistas.
que um rei místico, identificado aqui com a figura de
C ao movimento tenentista, do qual foi oriunda, e à
D. Pedro II, voltaria para salvar o Brasil. tentativa de derrubar o presidente Artur Bernardes.
B Tenentismo, movimento organizado por oficiais re- D à crítica ao caráter oligárquico da Primeira Repúbli-
beldes de baixa patente, descontentes com os ru- ca e ao apoio à candidatura presidencial de Getúlio
mos tomados pela República no Brasil. Vargas.
C Positivismo, que consistia na noção de que a “or- E ao esforço de implantação de um regime militar e à
dem” conduz ao “progresso”, lema estampado na primeira mobilização política de massas na história
bandeira do Brasil. brasileira.
D Ultramontanismo, movimento da ortodoxia católica
15| UEM A Revolução de 1930, movimento de ruptura da
que pregava a moralização do clero e da sociedade
hegemonia política dos cafeicultores paulistas e minei-
brasileira.
ros, foi um marco relevante em uma série de transfor-
mações sociais, políticas e econômicas no Brasil. A res-
13| PUC O cangaço foi um movimento de banditismo social
peito desse tema, assinale o que for correto.
politicamente ambíguo. Sob certos aspectos, era um
protesto contra as injustiças, contra os latifúndios e as 01. A nova legislação trabalhista fez emergir um mo-
violências praticadas cotidianamente no mundo serta- delo de cidadania regulada, que condicionava di-
nejo; porém, cometia, igualmente, violências e podia reitos importantes ao exercício de uma profissão
estar a serviço de coronéis. Acerca desse tema, pode-se regulamentada pelo Estado e devidamente repre-
sentada por organizações sindicais reconhecidas
afirmar que:
oficialmente.
A O golpe de Getúlio Vargas, que instituiu o Estado 02. Com a ação revolucionária inicia-se um processo de
Novo, em 1937, aproveitou-se do medo gerado pe- crescente centralização administrativa nas mãos da
los cangaceiros para implantar uma ditatura centra- União, em detrimento das demais entidades federa-
lizada, criar a censura da imprensa e decretar estado tivas.
de sítio para os estados nordestinos.
04. No terreno dos direitos políticos, ocorre a ampliação
B O combate ao cangaço fazia parte da implantação do direito ao voto para todos os brasileiros maiores
da ideologia do trabalhismo, base dos governos de de 18 anos, sendo excluídos analfabetos, mendigos,
Getúlio Vargas, já que os cangaceiros ganhavam a integrantes das forças armadas das patentes mais
vida sem trabalhar e, ainda, ajudavam famílias po- baixas e aqueles considerados sem direitos políticos
bres a conseguir rendas indevidas. por decisão judicial.
C A perseguição aos grupos de cangaceiros, a exem- 08. Na economia, o novo governo implementou políti-
plo do liderado por Lampião, simbolizava o projeto cas de incentivo à importação de produtos destina-
de modernização implementado pela Revolução de dos ao mercado consumidor interno, em expansão.
Trinta e maior controle sobre o poder dos coronéis, 16. Para afastar definitivamente as oligarquias cafeeiras
mesmo que o regime altamente desigual de distri- do poder, o novo governo adotou medidas restriti-
buição de terras continuasse vigente. vas ao cultivo e à comercialização do café.

29
SISTEMA DE ENSINO A360°

16| IFGO Os fatos tratados no texto devem ser relacionados ao se-


guinte episódio:
A o presidente Washington Luís pretendia alterar a
Constituição para continuar no governo e exercer
um segundo mandato e por isso foi destituído pelos
militares;
B derrotado na eleição de 1930, o presidente Washin-
gton Luís se recusava a deixar o governo, tendo en-
tão sido derrubado pelo exército;
C os militares derrubaram o presidente Washington
Luís e estabeleceram uma ditadura militar, que du-
Bandeira do Estado da Paraíba. Atlas Geográfico Brasileiro. rou 15 anos, conhecida como Estado Novo;
A bandeira do Estado da Paraíba, adotada oficialmente D o candidato apoiado por Washington Luís, o paulista
em 1965, ilustra elementos importantes da Revolução Júlio Prestes, venceu a eleição de 1930, porém não
de 30. Sobre este momento histórico brasileiro, assinale tomou posse, pois a revolução de 1930 impediu a
a alternativa incorreta. sucessão;
A A bandeira foi adotada por membros da Aliança Li- E com a revolução de 1930, o candidato da Aliança Li-
beral, que lançou a chapa Getúlio Vargas e João Pes- beral, Getúlio Vargas, foi vitorioso; para garantir sua
soa na eleição que substituiria o Presidente Washin- posse os militares prenderam Washington Luís.
gton Luís.
18| UEA AM
B A palavra NEGO relaciona-se ao ato de negar a can-
didatura de Júlio Prestes à presidência, apoiado pelo O poder constituído na República Velha (1889-1930) foi
então presidente Washington Luís, e que desenca- duramente criticado e combatido nos anos 1920 pelos
deou a quebra do pacto conhecido como ”Café com jovens oficiais do exército brasileiro. No governo do pre-
Leite”. sidente Artur Bernardes (1922-1926) ocorreram revoltas
militares que
C O governador do Estado da Paraíba, João Pessoa, foi
assassinado em 26 de julho de 1930. Esse fato, re- A procuravam imitar os governos fascistas de países
presentado na faixa preta de luto da bandeira, pro- da Europa, organizando partidos políticos naciona-
vocou uma grande comoção contra a situação e as listas e disciplinados.
eleições. B projetavam implantar no Brasil um Estado mais em-
penhado na defesa dos valores cristãos do que no
D “Façamos a Revolução antes que o povo a faça.” é
progresso social.
uma frase atribuída ao político mineiro Antonio Car-
los e mostra a tentativa das elites de permanecer C foram influenciadas pelos movimentos anarquistas
no controle e evitar um movimento revolucionário europeus e pelas transformações sociais e econômi-
popular. cas por que passava a União Soviética.

E Em 24 de outubro de 1930, temendo um golpe ci- D tomaram o poder e estabeleceram um regime auto-
vil e militar, o presidente empossado, Júlio Prestes, ritário, que endividou o Estado brasileiro e promo-
nomeou Getúlio Vargas como Presidente interino. veu o desenvolvimento econômico.
Inicia-se, então, a Era Vargas. E criticavam o monopólio do poder pela oligarquia e
insurgiram-se contra ela de armas na mão em cida-
17| ESPM No Rio de Janeiro, no Distrito Federal, já vitorioso des como Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus.
o movimento revolucionário em todo o país, um gru-
po de oficiais generais, liderados pelo general Augusto 19| UFAL
Tasso Fragoso, exigiu a renúncia do presidente através A crise da oligarquia no Brasil, na década de 1920, refletiu as
de documento encaminhado ao cardeal Dom Sebastião transformações que ocorriam na sociedade brasileira e
Leme, que transmitiu o ultimatum ao Ministro das Rela- que se manifestavam:
ções Exteriores, Otávio Mangabeira. No dia 24 de outu-
bro foi o desenlace. Ante a negativa de Washington Luís A no descontentamento dos militares, que exigiam
de renunciar, os militares cercaram o Palácio Guanabara maior participação no poder político da República e
e determinaram a prisão do presidente. eram aliados dos pequenos proprietários de terra, e
(Paulo Sérgio Pinheiro. Estratégias da Ilusão: a Revolução Mundial e o Brasil (1922-1935). no crescimento urbano-industrial do país.

30
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
B no esgotamento da hegemonia da cafeicultura, na que estabelecessem jornada diária de trabalho de 8 ho-
ascensão da classe média, no descontentamento da ras e a proibição do trabalho de menores de 14 anos,
jovem oficialidade militar e das oligarquias menores entre outras solicitações.
com o predomínio dos latifundiários de Minas e São
A liderança desse movimento coube
Paulo.
A ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), fundado em
C na insatisfação política das oligarquias estaduais em
1889, quando da proclamação da República, por
vista das propostas de reforma agrária apresentadas
ex-escravos (libertos no ano anterior, pela Lei Áu-
pelos proprietários das grandes fazendas de café do
rea de 1888).
Sul do pais, e no crescimento urbano-industrial.
B ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) fundado por
D na introdução da mão de obra assalariada de mi-
trabalhadores brasileiros que ora defendiam o capi-
grantes estrangeiros em substituição ao trabalho
talismo, ora o socialismo.
escravo nas fazendas de café, na insatisfação política
das oligarquias estaduais. C aos anarquistas italianos, que haviam trazido essa
E na insatisfação política das oligarquias estaduais em ideologia da Europa e divulgavam suas ideias em
vista das propostas de mudança nas políticas agrí- jornais; contavam com uma forte simpatia dos anar-
colas apresentadas pelos proprietários das grandes cossindicalistas.
fazendas de café do Sul do pais e no crescimento D aos liberais, que desde o século XVIII lutavam pela
urbano-industrial. liberdade e pela igualdade civil. No século XX, os li-
berais abraçaram a causa operária.
20| IFSP A greve geral dos operários, em julho de 1917, em
São Paulo, foi a primeira impressionante manifestação E à imprensa livre, que sempre sofreu forte repressão
política urbana da Primeira República. Tendo a partici- dos governos oligárquicos existentes durante as pri-
pação de milhares de operários, o movimento exigia leis meiras décadas do Brasil Republicano.

ERA VARGAS: O “PAI DOS POBRES” ENTRA EM CENA


ANTECEDENTES: DA CRISE DO CAFÉ À REVOLUÇÃO DE 1930
A CRISE DO CAFÉ
O ano de 1929 foi catastrófico para a economia mundial e, consequentemente, para a economia brasileira. A superpro-
dução de mercadorias nos Estados Unidos, que superou a demanda do mercado consumidor internacional, gerou a quebra
da bolsa de valores de Nova York naquele ano e, com isso, desencadeou um “efeito cascata”, causador de uma grave crise na
economia de vários outros países.
Naquele momento, os Estados Unidos já representavam a maior potência capitalista do planeta, mas, com o início da crise,
deixaram de vender e também de consumir mercadorias de outros países. O Brasil foi uma das vítimas desse processo, pois os
norte-americanos eram os principais consumidores do café brasileiro, produto que sustentava a economia nacional.
Das 21 milhões de sacas de café produzidas em 1929, apenas 14 milhões foram exportadas e, na tentativa desesperada de
conter o valor do produto no mercado internacional, o Governo mandou queimar milhares de sacas de café. Tal medida não
surtiu resultado; ao contrário, causou um desastre na economia nacional e abalou as estruturas da conservadora e oligárquica
Primeira República.

A REVOLUÇÃO DE 1930: O FIM DA POLÍTICA DO CAFÉ-COM-LEITE


Diante da crise econômica, as oligarquias cafeeiras se enfraqueceram e, nesse contexto, surgiam desentendimentos no ce-
nário político marcado, até então, pelo revezamento das oligarquias paulista e mineira no poder. O acordo selado com a política
do café-com-leite foi rompido durante as eleições de 1930. O então Presidente da República, o paulista Washington Luís, de-
veria indicar para sua sucessão o mineiro Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, do Partido Republicano Mineiro (PRM). Porém,
o indicado e apoiado pelos paulistas foi o candidato, também paulista, Júlio Prestes, do Partido Republicano Paulista (PRP).
Esse fato representou o fim da política do café-com-leite, o que acarretou fortes mudanças na estrutura político-econômica
do país. Com a ruptura, formaram-se duas grandes chapas que se enfrentaram na corrida presidencial. De um lado, a Aliança
Liberal, constituída pelos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, a qual lançou como candidato à presidência o
governador gaúcho Getúlio Dorneles Vargas e como vice o então governador paraibano João Pessoa. Do outro lado, represen-
tando a maioria dos estados brasileiros e sob a liderança de São Paulo, estava o candidato Júlio Prestes.

31
SISTEMA DE ENSINO A360°

Segundo a contagem dos votos, lembrando que nesse período as elei-


ções estavam marcadas por fraudes e compra de votos, o vitorioso foi o pau-
lista Júlio Prestes. A Aliança Liberal aceitou a derrota, apesar do grande clima
de insatisfação que foi potencializado pelo fato a seguir.
O estopim para o início da Revolução foi o assassinato do paraibano João
Pessoas que, segundo as investigações, foi morto por motivos pessoais e po-
líticos, relacionados a disputas oligárquicas locais. As forças de oposição se
uniram e, em outubro de 1930, iniciaram os conflitos armados no Rio Grande
do sul que, logo, se espalharam para Minas Gerais, Paraíba e Pernambuco.
Os revoltosos exigiam a renúncia imediata de Washington Luís para im-
pedir a posse de Júlio Prestes. Percebendo a força do movimento e na tentati-
va de não gerar um guerra civil pelo país, os generais do Rio de Janeiro, então
capital federal, Mena Barreto e Tasso Fragoso, decidiram depor Washington
Luís e entregar o poder a Getúlio Vargas, chefe político da Revolução de 1930.
Era o fim da Primeira República e o início de Era Vargas.
A Era Vargas foi marcada pela permanência contínua no poder de Getúlio
Vargas durante 15 anos. Nesse período, houve um expressivo crescimento ur-
bano e industrial, o que contribuiu para o fortalecimento da burguesia urba-
na em detrimento dos interesses das oligarquias rurais, ou seja, os coronéis
perderam seu lugar cativo no poder nacional.
Vargas buscou defender os interesses dos trabalhadores (a exemplo dos di- Figura 16- Fotografia de Getúlio Dornelles Vargas.
reitos trabalhistas), porém, atendeu muito mais aos interesses da elite brasilei- Ver em: http://files.jornalbp20102a.webnode.com.
ra. Por isso é destinada a ele a seguinte frase: “Pai dos pobres e mãe dos ricos”. br/200000006-356bf35b5e/Getulio%20Vargas.jpg

O período getulista (1930-1945) é dividido em três fases: Governo Provisório (1930-1934), Governo Constitucional (1934-
1937) e pelo Estado Novo (1937-1945). Analisaremos a seguir cada uma dessas fases em seus pormenores.

GOVERNO PROVISÓRIO: INSTABILIDADE NO PODER


Populismo e nacionalismo em voga
Para iniciarmos a discussão envolvendo tal período, devemos destacar os conceitos de populismo e nacionalismo, os quais
são a base para seu entendimento. Falar de Getúlio Vargas é falar de um líder populista e nacionalista; portanto, a característica
fundamental dele, concordando ou não com suas ações, foi a de um grande estadista brasileiro.
Em seu sentido lato, o populismo é caracterizado como uma forma de governar em que se tem a integração das massas
populares no cenário político, prevalecendo a sensação de que o líder político é carismático. O objetivo é fazer com que o povo
acredite que está efetivamente participando da vida política e que possui um defensor para atender aos seus interesses, qual
seja, o próprio Presidente da República1.
Já o nacionalismo esteve marcado pela soberania estatal. O Estado possuía total controle da sociedade e decidia os rumos
a serem tomados. Vargas foi a grande referência da política brasileira nesse sentido, o que podemos verificar desde suas primei-
ras ações quando buscou o fortalecimento do Estado brasileiro e de sua própria imagem, centralizando a tomada de decisões.
Ao longo deste capítulo, perceberemos essas características intrínsecas às atitudes do analisado estadista.

REVOLUÇÃO CONSTITUCIONALISTA (1932): DO ESTOPIM AO SEU FIM


Na busca de centralizar o poder e enfraquecer as oligarquias estaduais, Vargas dissolveu o Congresso Nacional e demitiu os
governadores dos Estados e, em seus lugares, nomeou os interventores de sua confiança. Era essa a mesma função dos gover-
nadores, mas tendo apenas uma mudança terminológica e, claro, sendo subordinados às decisões do Presidente.

1 O populismo foi um regime político em que o líder carismático, geralmente ligado às elites, concede benefícios e privilégios às
diversas camadas sociais, visando à obtenção de apoio político. Tal regime foi observado em países latino-americanos a exemplo
de Brasil, México e Argentina em um período em que se notava um intenso processo de urbanização combinado ao exôdo rural.
Esse fato impulsionou o crescimento das massas populares urbanas e fomentou o interesse dos governos em criar mecanismos
políticos trabalhistas e sociais de aproximação com essas massas, visando à despolitização e desestruturação de sindicatos livres
e participativos.

32
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Como interventor do Estado de São Paulo, Vargas nomeou o pernambu-
cano João Alberto, o que gerou um forte descontentamento da elite paulista
que era contra a nomeação de um não paulista para assumir o cargo. Diante
do impasse, os paulistas politizados formaram a Frente Única Paulista (FUP),
que objetivava constitucionalizar o país e instituir como interventor do Esta-
do um paulista e civil.
Estouraram na capital paulista várias manifestações antigetulistas e, em
uma delas, ocorreu uma tragédia: os estudantes Martins, Miragaia, Dráusio
e Camargo (MMDC) foram mortos a tiros pela polícia e as iniciais de seus
nomes ficaram imortalizadas como símbolo do movimento liderado pela elite
paulista.
Sob forte influência da mídia, representada principalmente pelo jornal O
Estado de São Paulo, que defendia a constitucionalização do país – lembran-
do que Vargas assumiu o poder através de um golpe em 1930 e, portanto,
não foi eleito constitucionalmente –, estourou em São Paulo, em julho de
1932, o movimento armado que ficou conhecido como Revolução Constitu-
cionalista.
Tal movimento foi liderado pelo general Isidoro Dias Lopes e pelo civil
Pedro de Toledo, os quais conseguiram em poucos dias formar um grande
exército. Atendendo ao apelo do movimento, milhares de voluntários, funda-
mentalmente jovens da classe média, alistaram-se como soldados em defesa
dos ideais constitucionalistas. Os industriais paulistas colaboraram produzin- Figura 17- Charge criticando o governo inconstitucio-
nal de Vargas.
do armas, munições, veículos blindados e aviões. Ver em: http://s433.photobucket.com/user/
RICKY_1972/media/BLOG%20II/CARTAZ11_zps-
Com relação ao apoio dos outros Estados da Federação, dos 20 daquele 136d7f92.jpg.html
período, apenas Mato Grosso colaborou enviando armas e soldados. Pen-
sando de forma estratégia, o Governo Federal mandou fechar o porto de Santos, deixando os rebeldes isolados do restante do
país. Diante da superioridade em armamentos e soldados das tropas oficiais, os paulistas assinaram sua rendição em outubro
de 1932.
Mesmo vitorioso, o Governo Vargas nomeou o paulista Armando de Salles de Oliveira como interventor de São Paulo e
deu início ao processo de constitucionalização do país, aprovando o Código Eleitoral de 1932, o qual concedia o direito de voto
às mulheres.

PROMULGAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1934


O movimento constitucionalista paulista não atingiu seu objetivo, entretanto, indiretamente o atingiu em 1934. Quase dois
anos depois da derrota paulista, Vargas convocou uma Assembleia Constituinte que aprovou e promulgou, em julho de 1934,
uma nova Constituição para o país. Assim como a primeira Constituição Republicana de 1891, a de 1934 definia o Brasil como
República Federativa, dividida em três poderes e com eleições diretas. Entre as principais inovações, cabe destacar:
 Jornada de trabalho de 8 horas diárias;
 Férias anuais remuneradas;
 Estabilidade à gestante;
 Voto secreto;
 Voto feminino;
 Nacionalização de minas e jazidas de minerais.

Ficou estabelecido, também, pela nova Constituição, que a próxima eleição seria de forma indireta, ou seja, sem participa-
ção popular. E diante da resolução, em 1934, Getúlio Vargas foi eleito constitucionalmente.

33
SISTEMA DE ENSINO A360°

GOVERNO CONSTITUCIONAL (1934 - 1937): A PREPARAÇÃO PARA O


GOLPE DE 1937
A POLARIZAÇÃO IDEOLÓGICA: AIB X ANL
Assim que Vargas assumiu o poder de forma constitucional, dois grupos de ideologias e perspectivas políticas totalmente
diferentes se destacaram no cenário político brasileiro: de um lado, os integralistas e, do outro, os aliancistas.
Liderados pelo escritor e jornalista Plínio Salgado e outros intelectuais, os integralistas criaram a Ação Integralista Brasilei-
ra (AIB), organização baseada nas ideias nazifascistas e que logo conquistou vários adeptos no país, principalmente empresá-
rios, parte do clero, das forças armadas e da classe média.
Tinham como objetivo o combate ao comunismo e a defesa do nacionalismo exacerbado, ou seja, a soberania estatal. Seus
integrantes seguiam uma rígida disciplina e se vestiam com uniformes verdes, gritando a todo o momento a saudação indígena
Anauê!.
Em oposição aos integralistas, foi criada a Aliança Nacional Libertadora (ANL) formada por grupos de tendência democrá-
tica, socialistas, comunistas e anarquistas. Destacou-se o grupo comunista que, em 1935, colocou como presidente de honra
dos aliancistas Luís Carlos Prestes. Entre as diversas propostas revolucionárias que defendiam, podemos mencionar: reforma
agrária, nacionalização das empresas estrangeiras, não pagamento da dívida externa brasileira, dentre outras.

INTENTONA COMUNISTA: A TENTATIVA DE UMA REVOLUÇÃO SOCIALISTA


O Governo Varguista possuía tendência fascista e, portanto, foi sumaria-
mente contra as ideias dos aliancistas. Temendo o avanço do movimento, o
então Presidente da República mandou fechar, em 1935, a sede da ANL. Esse
foi o estopim para o início de um conflito armado que ocorreu em vários es-
tados. Tal conflito ficou conhecido como Intentona Comunista (1935), que foi
a reação dos membros da ANL às atitudes ditatoriais e repressivas do governo
varguista o qual, na tentativa de promover uma revolução socialista e tomar o
poder, fez represálias nos quartéis – contudo, essas represálias, de prontidão,
foram reprimidas pelas tropas oficiais.
Luís Carlos Prestes e sua esposa Olga Benário – alemã, judia e comunista
– eram os alicerces do movimento e, por isso, foram perseguidos pela polícia
varguista. Prestes ficou preso no país e Olga foi extraditada de volta para a
Alemanha nazista, e como judia e comunista, teve seu destino traçado na
Alemanha de Hitler: foi morta em um dos campos de concentração de exter-
mínio de judeus.
A Intentona serviu de pretexto para o Governo se tornar ainda mais auto-
ritário. Afirmando lutar contra a “ameaça comunista”, mandou prender pes-
soas de diversos segmentos sociais como intelectuais, militares, sindicalistas
e também decretou Estado de sítio.

ESTADO NOVO: A DITADURA VARGUISTA Figura 18- O fracasso da Intentona Comunista.


Ver em: http://3.bp.blogspot.com/-12ZiiFSU4BE/
O GOLPE E A OUTORGA DA CONSTITUIÇÃO UiUyzRIHpYI/AAAAAAAAAmc/WKIXhXP8zXI/s1600/
aaa.jpg
Em 1934, Getúlio Vargas foi eleito Presidente indiretamente e, segundo
a Constituição Federal, seu mandato deveria perdurar até 1938. A questão é que ele pretendia ficar mais no poder e, nesse
sentido, decidiu dar outro golpe de Estado em 1937 – em 1930, havia sido seu primeiro golpe.
Para executar tal golpe, Vargas e seus aliados militares inventaram que os comunistas liderados por um fictício Cohen
queriam provocar greves e matar o Presidente; entretanto, isso foi apenas uma desculpa para que ele assumisse o poder no-
vamente. Utilizando-se do mentiroso Plano Cohen e assim recebendo apoio da população, Vargas instaurou o Estado Novo,
ou seja, sua ditadura. Para oficializá-la, ele outorgou (impôs) a Constituição de 1937, demonstrando seu caráter autoritário e
antidemocrático.

34
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Esse período foi marcado pelos plenos poderes do então Presidente que, através da Constituição que ele mesmo impôs,
poderia mandar prender qualquer pessoa e extinguiu os partidos políticos. Uma polícia política foi criada para perseguir, tortu-
rar e prender cidadãos. Os estados do país perderam autonomia, ficando subordinados aos ditames do Governo Federal.

A POLÍTICA ECONÔMICA E SOCIAL NO ESTADO NOVO


No que tange aos aspectos econômicos nessa fase ditatorial
do Governo Vargas, deve-se destacar que houve uma valorização
do café e um grande investimento na industrialização, fundamen-
talmente nas indústrias de base, as quais eram o foco do Governo
Federal.
Seguindo a política econômica nacionalista, Vargas defendia
a intervenção do Estado na economia e demonstrou sua posição
criando indústrias de base como a Companhia Siderúrgica nacio-
nal (CSN) e a Vale do Rio Doce (hoje umas das maiores minerado-
ras do mundo), aumentando impostos de importação, elevando os
preços dos produtos estrangeiros e diminuindo os impostos sobre
os produtos nacionais. Seu objetivo era substituir as importações
de produtos estrangeiros por artigos de fabricação nacional. Figura 19- Imagem atual da CSN, na cidade de Volta Redonda-RJ.
Ver em: http://4.bp.blogspot.com/-q4UY1pd0cLw/TfjjkaIUUEI/
Voltando-se à política social, não podemos deixar de destacar AAAAAAAAAIY/d08nidb9MO0/s1600/csn.jpg
a criação de leis trabalhistas, fundamentais à garantia de direitos
imprescindíveis aos trabalhadores do país. Vale lembrar que essa política trabalhista de Vargas foi inspirada na Carta Del La-
voro (carta do trabalho) criada pelo fascismo italiano e tinha dois objetivos: conquistar a simpatia da massa de trabalhadores
(era o “pai dos pobres” agindo) e garantir o domínio sobre eles, com o controle dos sindicatos que os representava.
Nesse contexto, houve, em 1943, a criação da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) que reuniu diversas leis que tinham
sido criadas em benefício dos trabalhadores, sendo algumas delas: criação do salário mínimo, jornada diária de trabalho de no
máximo oito horas, férias remuneradas, proteção à mulher no trabalho (como o direito à licença maternidade), entre outras
medidas. Aqui fica claro o caráter populista de Vargas. Por um lado, ele se dizia representante dos interesses dos trabalhadores,
intermediando os conflitos entre operariado e empresários, tornando-se, dessa forma, um líder carismático. Por outro lado, tais
medidas proporcionaram o controle sobre a massa de assalariados, garantindo a ordem pública e a estabilidade social, o que
tanto interessava – e até hoje interessa – a elite capitalista.

VARGAS E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


Entre 1939 a 1945, o mundo passou por
um conflito de extrema violência, a Segunda
Guerra Mundial. Nesse contexto de posicio-
namentos ideológicos e de garantias de inte-
resses econômicos, devemos saber qual foi a
participação do Brasil no processo.
Assim que começaram os conflitos em
1939, Getúlio Vargas se manteve neutro, na
tentativa de se beneficiar economicamente.
Todavia, devido à pressão internacional, logo
teve que mostrar de qual lado estava na guer-
ra. Em 1941, o país se posicionou ao lado dos
Aliados que, além da pressão política, teve Figura 20 - Soldados da FAB na Itália.
um outro fator fundamental para apoiá-los: o Ver em: https://tokdehistoria.files.wordpress.com/2013/09/09_feb_segunda_guer-
ra_mundial_13-11.jpg
financiamento dos Estados Unidos para a cons-
trução da Usina de Volta Redonda, obra de grande relevância no processo de industrialização instaurado.
Em reação à cooperação do Brasil aos aliados, a Alemanha, líder do Eixo, bombardeou com seus submarinos nove navios
brasileiros, matando mais de 600 pessoas. Em 1942, diante da indignação nacional com os ataques alemães, Vargas declarou
guerra às forças do Eixo. Foram enviados, em 1944, cerca de 25 mil soldados brasileiros da Força Expedicionária Brasileira
(FAB), os quais participaram de várias batalhas na Itália, como as de Monte Castelo, Castelnuovo e Fornovo.

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SISTEMA DE ENSINO A360°

REDEMOCRATIZAÇÃO: O FIM DA ERA VARGAS


Os militares que foram para a guerra e lutaram contra a ditadura nazifascista perceberam que estavam combatendo e
lutando contra um regime semelhante àquele implantado por Vargas no Brasil. Assim, parte das forças armadas se posicionou
contra a ditadura do Estado Novo, fazendo crescer a oposição ao governo. Militares e civis, estes últimos representados pela
UDN, foram os protagonistas do processo que levou ao fim da Ditadura Varguista.
Percebendo que crescia uma onda liberal no país, Vargas procurou liderar a abertura democrática. Nesse sentido, foram
criados diversos partidos políticos, como: União Democrática Nacional (UDN); Partido Social Democrático (PSD); Partido Tra-
balhista Brasileiro (PTB). Foi permitida, também, a legalização do Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Nas eleições de 1945, dos três candidatos que concorriam, Vargas apoiou o general Eurico Gaspar Dutra. Entretanto, surgiu
nesse contexto eleitoral um movimento que ficou conhecido como queremismo – pelo fato de o povo gritar nas ruas “Quere-
mos Getúlio”. Às escondidas, Vargas estimulou o movimento que o apoiava, demonstrando que não pretendia deixar o poder.
Isso deixou claro que o apoio a Dutra era apenas um apoio formal e pretensioso.
Temendo um novo golpe de Vargas, os militares se uniram aos setores de oposição ao Governo para tirá-lo do poder. Em
29 de outubro de 1945, tropas do exército lideradas pelos generais Góis Monteiro e Eurico Gaspar Dutra invadiram a sede do
governo (Palácio do Catete) e obrigaram Vargas a renunciar. Era o fim do Estado Novo. Nas eleições, o candidato Eurico Gaspar
Dutra venceu a corrida presidencial. Era o início da Era Democrática.

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UNICAMP Na Lei Orgânica do Ensino Secundário de 9 quele ano de 1937. A pátria começava a calçar as chutei-
de abril de 1942, podemos ler: 1. É recomendável que ras para não tirá-las nunca mais. Desde o início de 1938,
a educação secundária das mulheres se faça em estabe- três meses antes do início da terceira Copa do Mundo,
lecimentos de ensino de exclusiva presença feminina. 2. na França, a expectativa que envolvia a participação bra-
Incluir-se-á nas terceira e quarta séries do curso ginasial sileira era enorme. Mediado pelos jornais e, sobretudo,
e em todas as séries dos cursos clássico e científico a pelo rádio, o encontro da popularidade do futebol com
disciplina de economia doméstica. 3. A orientação me- os ideais do Estado Novo contagiava e unia todo o país.
todológica dos programas terá em mira a natureza da Os jogadores eram vistos como nossos embaixadores
personalidade feminina, bem como a missão da mulher na Europa, e deles se esperava o mesmo que então se
dentro do lar. exigia de cada cidadão comum: coragem, disciplina e pa-
triotismo acima de tudo. Eram esses os ingredientes que
(Adaptado de Carla Bassanezi Pinsky e Joana Maria Pedro (orgs.),
Nova História das Mulheres. São Paulo: Contexto, 2012, p. 337.) alimentavam o sonho de fazer do Brasil tanto uma gran-
de nação quanto campeão mundial de futebol. Constan-
A Cite duas mudanças na legislação que afetaram a
tes referências a Getúlio e aos altos interesses do país
condição feminina no Brasil nas décadas de 1930 e
legitimavam o caráter oficial da delegação, reforçado
1940.
ainda pela escolha da filha do presidente, Alzira Vargas,
B Qual o papel desejado para a mulher durante o Esta- como madrinha da equipe. Tamanha mobilização fez do
do Novo (1937-1945)? embarque da seleção rumo à França uma apoteose pa-
triótica.
Resolução:
FRANZINI, Fábio. Quando a pátria calçou chuteiras. In: Revista de
A A condição da mulher, nessas décadas, foi afetada História da Biblioteca Nacional, 30 jun. 2009. Disponível em:
<http://www.revistadehistoria.com.br>. Acesso em: abr. 2014. (Adaptado).
pela lei que estabeleceu seu direito ao voto e pela re-
gulamentação do trabalho, com direitos específicos O texto apresentado se refere ao contexto histórico e
previstos nas leis trabalhistas do período. político do Brasil que envolveu a participação da sele-
ção brasileira de futebol na Copa do Mundo de 1938, na
B O enunciado apresenta a ambiguidade do Estado França. De acordo com esse parágrafo e o contexto ao
Novo ao desejar um perfil conservador para a mu- qual ele remete,
lher (organizadora do lar, cuidadora da família e da
economia doméstica) em contradição com a amplia- A identifique o ideal, destacado reiteradamente no
ção dos seus direitos no período. texto, que deveria ser seguido pelos jogadores bra-
sileiros, segundo a propaganda do Estado Novo.
02| UFG Leia o texto a seguir.
B explique os propósitos do Estado Novo varguista ao
A bola não demorou a entrar no clima nacionalista do propagar a identidade entre o povo brasileiro, o fu-
Estado Novo, durante a ditadura instalada por Vargas na- tebol e a nação.

36
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Resolução: 03| UERJ
A Segundo a propaganda do Estado Novo, o principal
ideal a ser seguido pelos jogadores na Copa do Mun-
do de Futebol de 1938 era o sentimento patriótico
ou nacionalista, conforme atestam as seguintes pas-
sagens no texto: 1) “...deles [jogadores] se esperava
o mesmo que se exigia de cada cidadão comum: […]
patriotismo acima de tudo”; 2) “Tamanha mobiliza-
ção fez do embarque da seleção rumo à França uma
apoteose patriótica”; 3) “A pátria começava a calçar
as chuteiras...”; 4) “A bola não demorou a entrar no
clima nacionalista do Estado Novo”; 5) “Eram esses
os ingredientes que alimentavam o sonho de fazer
do Brasil […] uma grande nação...”.
B Como o Estado Novo implantado em novembro de cpdoc.fgv.br

1937 foi resultado de um golpe de Estado, a ditadu-


Os cartazes acima foram produzidos para atrair apoio
ra de Getúlio Vargas aproveitou-se do caráter mobi-
popular para um movimento de oposição ao governo
lizador e popular do futebol para utilizá-lo política e
provisório de Getúlio Vargas (1930-1934). Esse movi-
ideologicamente como um instrumento privilegiado
de busca de legitimidade e popularidade. As vitórias mento colocou do mesmo lado o Partido Republicano
brasileiras no futebol eram apresentadas, por meio Paulista e o Partido Democrático, tradicionais adversá-
de uma propaganda massiva no rádio e nos jornais, rios políticos no estado de São Paulo.
como conquistas da nação e de todo o povo brasileiro, Nomeie esse movimento e indique uma justificativa
servindo para alimentar o orgulho cívico e o clima de apresentada pelos paulistas para considerar o governo
ufanismo patriótico, logo sendo identificadas como provisório de Vargas “uma ditadura”.
símbolos do próprio governo de Vargas. Ou seja, ao
difundir a identidade entre o povo brasileiro, o futebol Resolução:
e a nação, o objetivo da propaganda político-ideoló- Revolução Constitucionalista de 1932
gica varguista era associá-los todos ao novo regime,
mediante a realização do sonho do “encontro da po- Uma das justificativas:
pularidade do futebol com os ideais do Estado Novo”.
 governar por meio de decretos-leis
Assim, o discurso ideológico de legitimação do Estado
Novo, apropriando-se dos símbolos pátrios – como é  adiar a convocação da Assembleia Constituinte
o caso do futebol –, buscava construir e difundir um  nomear interventores para os governos estaduais
novo projeto de identidade nacional que fosse capaz
de unir todo o povo brasileiro sob um mesmo signo e  dissolver o Congresso Nacional e os legislativos esta-
sob um sentimento comum de pertencimento. duais e municipais

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UNESP Getúlio Vargas paira entre palavras e imagens. 02| UNICAMP Em janeiro de 1932, o aniversário de São Pau-
Em um dos quadros, sorridente, ladeado de escolares lo foi comemorado com enorme comício na Praça da Sé.
também sorridentes, Getúlio toca o rosto de uma meni- A multidão empunhava bandeiras do Estado, além de
na; ao seu lado, um menino empunha a bandeira nacio- cartazes com palavras de ordem como “Tudo pelo Bra-
nal. Os textos são todos conclamativos e supõem sempre sil! Tudo por São Paulo!”, “Abaixo a ditadura!”, ou ainda
uma voz a comandar o leitor infantil e a incitá-lo para “Constituição é Ordem e Justiça!”.
a ação. A mesma getulização dos textos escolares se faz (Ilka Stern Cohen, “Quando perder é vencer”. Revista de História da Biblioteca Nacio-
nal, Rio de Janeiro, jul. 2012.
presente na ampla literatura encomendada pelo DIP [...]. http://www.revistadehistoria.com.br/secao/dossie-imigracao-italiana/quando-per-
der-e-vencer. Acessado em 05/10/2012.)
(Alcir Lenharo. Sacralização da política, 1986.)
A Aponte dois aspectos que contribuíram para a ten-
Explique o que o autor chama de “getulização dos tex- são entre o governo Vargas e o Estado de São Paulo,
tos escolares” e analise o papel do DIP (Departamen- em 1932.
to de Imprensa e Propaganda) durante o Estado Novo B Explique por que a Constituinte era uma reivindica-
(1937-1945). ção dos paulistas.

37
SISTEMA DE ENSINO A360°

03| UEG Observe a charge a seguir. A partir do que estabelece o texto, indique dois exem-
plos de realizações econômicas decorrentes das no-
vas diretrizes impressas na política brasileira, no perí-
odo denominado “Era Vargas”, explicando-os.

05| FGV O texto abaixo é o relato do então presidente Ge-


túlio Vargas a respeito da reunião ministerial de 27
de janeiro de 1941, quando o governo brasileiro rom-
peu suas relações diplomáticas com os países do Eixo.
Leia-o com atenção e depois responda às questões
propostas.
“Hoje deve realizar-se a reunião do Ministério para
decidir sobre a ruptura das relações com os países do
Eixo.
Sabendo que o ministro da Guerra pretendia exone-
rar-se, promovi (...) uma reunião (...) do general Góis
e do ministro da Guerra (...).
Às 15 e meia, instalou-se a reunião do Ministério. Fiz
uma exposição da situação criada pelos acontecimen-
tos, do instante apelo que o governo americano fazia
ao Brasil, das conveniências em atendê-lo, das des-
vantagens de qualquer procrastinação e das consequ-
ências que poderia ter uma atitude negativa.
Getúlio espalha cascas de banana para Dei a palavra depois a cada um dos ministros, que jus-
seus adversários escorregaram. (Charge tificaram seus votos pelo rompimento. Quando che-
gou a vez do ministro da Guerra, este justificou sua
de J. Carlos, 1937.)
atitude, alegando nossa falta de preparação militar
Charge de J. Carlos, 1937. In. SCHMIDT, Mario. Nova História Crítica do Brasil. para a guerra, a culpa dos americanos não nos aten-
São Paulo: Nova Geração, 1997. p. 272.
dendo, o receio de que tal atitude não se modificasse,
Na charge de J. Carlos, produzida no ano de 1937, Getú- a conveniência de um adiamento, mas terminando
lio Vargas espalha cascas de banana para fazer os seus pela sua solidariedade para comigo. (...)
adversários escorregarem. Qual a pertinência da charge
para analisar as estratégias de Getúlio Vargas para de- Ao encerrar essas linhas, devo confessar que me inva-
cretar o Estado Novo? de uma certa tristeza. Grande parte desses elementos
que aplaudem essa atitude, alguns poucos que até
04| UFBA A intervenção do Estado na vida econômica do me caluniam, são adversários do regime que fundei,
país estava coerente com as concepções sobre o papel e chego a duvidar que possa consolidá-lo para passar
do Estado e com as afirmações do nacionalismo; os prin- tranquilamente o governo ao meu substituto.”
cípios do liberalismo (livre-concorrência, iniciativa pri- VARGAS, Getúlio. Diário, volume II (1937-1942). Rio de Janeiro: Siciliano/FGV
vada) eram considerados superados ou inadequados à Editora, 1995, p. 457

realidade brasileira, e, por isso, não se concebia mais o A Quais foram as características da política externa
seu corolário: o estado “democrático”, que se restringia brasileira de 1939 a 1942?
a regulamentar as relações econômicas e intervir apenas
como mediador nos casos de divergências ou prestando B Aponte três características do regime brasileiro
socorro aos setores privados nas épocas de dificuldades nesse período.
e crises. C Ao final do texto, Vargas revela uma certa triste-
O Estado, segundo as concepções que passaram a nor- za porque adversários do Regime por ele funda-
tear a política econômica, deveria chamar para si a res- do estariam de acordo com o rompimento com o
ponsabilidade das iniciativas no plano econômico. Eixo. Há relações entre a participação do Brasil na
(NADAI; NEVES, 1993, p. 224). Segunda Guerra e o fim desse regime? Justifique.

38
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A

T ENEM E VESTIBULARES
01| FAMECA Um dos aspectos mais coerentes do governo 03| FMJ Art. 1.º Este regulamento dispõe sobre a entrada
Vargas foi a política trabalhista. Entre 1930 e 1945 ela e a permanência de estrangeiros no território nacional,
passou por várias fases, mas desde logo se apresentou sua distribuição e assimilação e o fomento do trabalho
como inovadora com relação ao período anterior. agrícola. Em sua aplicação ter-se-á em vista preservar a
(Boris Fausto. História concisa do Brasil, 2001.) constituição étnica do Brasil, suas formas políticas e seus
interesses econômicos e culturais.
Essa política foi “inovadora com relação ao período an-
terior” porque Art. 2.º O número de estrangeiros de qualquer naciona-
lidade admitidos anualmente no Brasil em caráter per-
A estabeleceu uma legislação específica para o traba-
manente não poderá exceder a quota fixada neste regu-
lho e atrelou o aparato sindical ao Estado.
lamento.
B buscou o apoio das organizações dos trabalhadores
Art. 3.º A quota a que se refere o artigo anterior corres-
e tratou a questão social como “caso de polícia”.
ponde a dois por cento (2%) do número de estrangeiros
C proibiu a sindicalização dos trabalhadores urbanos e da mesma nacionalidade que entrarem no país, com o
decretou as leis do salário mínimo e das férias. mesmo caráter, no período de 1.º de janeiro de 1884 a
D expulsou os líderes sindicais estrangeiros e privile- 31 de dezembro de 1933.
giou a regulamentação do trabalho no campo. (Decreto-lei nº 3.010, de 20 de agosto de 1938. www.camara.leg.br.)

E criou o sistema nacional de previdência social e esti- Analisando-se a legislação, pode-se considerar que
mulou os movimentos proletários de esquerda. A a política imigratória do Estado Novo teve caracte-
rísticas nacionalistas.
02| FATEC
B a intenção governamental era levar estrangeiros
para as regiões despovoadas.
C a lei abria o território à entrada descontrolada de
imigrantes.
D o objetivo governamental era fechar o país à entra-
da de estrangeiros.
E a verdadeira intenção do governo era evitar a entra-
da de portugueses.

04| IFPE Durante a campanha para a reeleição em 2006, Luiz


Inácio Lula da Silva utilizou o jingle de campanha que
explanava “Lula de novo, nos braços do povo”. Segun-
Observe a fotografia, que retrata uma manifestação po- do pesquisadores, quem primeiro voltou “nos braços do
pular no Rio de Janeiro em 1945. povo” ao poder foi Getúlio Vargas, em 1950.
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0207200610.htm> Acesso em:
Considerando o conteúdo dos cartazes e o período em 28ago.2013

que a manifestação ocorreu, é correto afirmar que se


O período do governo varguista de 1930 a 1945 é me-
tratava de
lhor representado apenas na alternativa:
A uma greve de trabalhadores rurais, exigindo o fim
A O motivo alegado para Vargas decretar a ditadura
da República do Café-com-Leite.
do Estado Novo foi a certeza da explosão da II Guer-
B uma manifestação do Queremismo, que defendia a ra Mundial.
continuidade de Vargas no poder.
B Em 1930, Vargas mandou ao Congresso Nacional o
C um comício do Partido Comunista, exigindo que Var- projeto de lei que se transformaria na Consolidação
gas revogasse as leis trabalhistas. das Leis do Trabalho.
D um protesto integralista, que criticava Getúlio Var- C Entre 1930 e 1934, houve um período de muita
gas pela convocação da Constituinte. abertura política na Ditadura de Getúlio Vargas, uma
E um comício do candidato Vargas, que concorria pela vez que se permitiram eleições nesta etapa de seu
UDN às eleições para presidente. governo.

39
SISTEMA DE ENSINO A360°

D A Revolução de 1930 põe fim à hegemonia dos pro- Quem me dera acreditar
dutores de café e, apesar de não banir o produto, Que não acontece nada de tanto brincar com fogo,
inicia no País a fase da indústria de substituição das Que venha o fogo então.
importações.
Esse ar deixou minha vista cansada,
E A partir de 1937, iniciou-se uma nova relação en- Nada demais.
tre o governo varguista e os intelectuais, os quais, LEGIÃO URBANA. Fábrica. Disponível em:
sem exceção, passaram a trabalhar juntos a partir <http://letras.mus.br/legiao-urbana/22506/>. Acesso em: 25 out. 2013.

da fundação do Departamento de Imprensa e Pro-


O processo de industrialização, descrito nos versos,
paganda (DIP).
pode ser relacionado, no Brasil, com a
05| UEA O sistema partidário que surgiu após o fim do Esta- A revogação do Alvará de 1785, na chegada da corte
do Novo (1937 – 1945) e se estendeu, de maneira geral, joanina, em 1808, que possibilitou a instalação de
até o regime militar implantado em 1964, era formado fábricas e indústrias, contribuindo para a indepen-
por diversas agremiações. Três partidos, porém, desta- dência econômica do Brasil em relação à importa-
cavam-se: a União Democrática Nacional (UDN), o Parti- ção de bens de consumo.
do Social Democrático (PSD) e o Partido Trabalhista Bra-
B adoção da Tarifa Alves Branco (1844), que baixou o
sileiro (PTB). É correto afirmar que esses três partidos
preço dos equipamentos, fato que favoreceu a im-
políticos
plantação e o desenvolvimento da siderurgia, em
A defenderam o retorno à política de desenvolvimen- províncias do Sudeste e do Nordeste.
to econômico do Estado Novo.
C acumulação de capitais, favorecida pelo contexto da
B manipularam os sindicatos operários organizados Primeira Guerra Mundial, que obrigou os países de-
no período getulista. pendentes a extinguir as práticas da monocultura,
substituindo-as pelas da policultura, com o objetivo de
C constituíram-se, também, por sua relação com o ge-
abastecer de grãos os países europeus beligerantes.
tulismo, rejeitando ou aceitando suas políticas.
D política governamental iniciada pelo governo de Ge-
D combateram a presença econômica dos Estados
túlio Vargas, conduzida pela intervenção do Estado
Unidos na América Latina.
na economia, em substituição ao liberalismo, com
E conspiraram contra a vigência da democracia repre- vistas ao enfrentamento dos desdobramentos da
sentativa no Brasil. Crise de 1929.
E privatização das empresas estatais, praticada pelo
06| UEFS
governo ditatorial militar, como base da atração do
Fábrica capital estrangeiro, aspecto estruturante do “ mila-
Nosso dia vai chegar, gre brasileiro”.
Teremos nossa vez.
07| UNICAMP Em 1942, os estúdios Disney produziram o
Não é pedir demais: desenho “Alô Amigos”, que apresenta a personagem Zé
Quero justiça, Carioca. Dois anos depois surgiu uma nova animação:
Quero trabalhar em paz. The Three Caballeros, conhecida no Brasil como “Você já
Não é muito o que lhe peço foi à Bahia?”. Nos desenhos citados, o Brasil e a América
Eu quero um trabalho honesto Latina são mostrados de forma simpática, através de es-
Em vez de escravidão. tereótipos. Para entender esses desenhos e o esforço de
Deve haver algum lugar Walt Disney, devemos considerar o seguinte contexto:
Onde o mais forte A a Segunda Guerra Mundial e a política de boa vizi-
Não consegue escravizar nhança.
Quem não tem chance. B o avanço da Guerra Fria e o episódio da Crise dos
De onde vem a indiferença Mísseis de Cuba.
Temperada a ferro e fogo? C a política do “Big Stick” e os resultados da diploma-
Quem guarda os portões da fábrica? cia do dólar.
O céu já foi azul, mas agora é cinza D o avanço do populismo e a tentativa de Truman de
O que era verde aqui já não existe mais. barrar esta influência.

40
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
08| FAC. CULTURA INGLESA A Revolução de 1930, no Bra- D do interesse brasileiro em reduzir sua venda de café
sil, aboliu a Primeira República e levou Getúlio Vargas à e algodão para as grandes potências europeias e
presidência do país. Em 10 de novembro de 1937, Ge- ampliar sua parceria comercial com a Alemanha.
túlio Vargas, por meio de um golpe político, instituiu o
Estado Novo, o qual E da identidade ideológica de Getúlio Vargas com as
ideias liberais, propagadas pelos Estados Unidos, e
A estabeleceu o sufrágio universal masculino, conce-
de seu interesse em obter recursos com o aluguel de
deu o direito de voto aos analfabetos e reprimiu a
bases militares em território brasileiro.
Revolta da Armada.
B reduziu os direitos sociais dos trabalhadores urba- 10| UEM Sobre as políticas trabalhistas e econômicas do Es-
nos, realizou uma reforma agrária e privatizou em- tado brasileiro, assinale o que for correto.
presas estatais.
01. Com a implantação do plano Salte, instituído duran-
C fortaleceu os poderes políticos das oligarquias, nos te o governo militar, o Brasil se tornou um país atra-
estados, incentivou a expansão da economia cafe- ente aos investimentos estrangeiros, isso fez que
eira e impediu a participação do Brasil na Segunda crescesse, conforme o slogan da época, “50 anos
Guerra Mundial. em 5”.
D aboliu o federalismo, substituiu os governadores
02. O plano cruzado, implantado durante o quarto ano
por interventores do governo central e exerceu se-
do governo de Fernando Collor de Melo, promoveu
vero controle sobre a imprensa falada e escrita.
a elevação da taxa de juros no mercado brasileiro, o
E legalizou o Partido Comunista, favoreceu o cresci- que levou à cassação de Collor no seu último ano de
mento do Partido Integralista e foi favorável à Itália governo.
e à Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.
04. Apesar da abertura do mercado brasileiro, principal-
09| FAC. DIREITO DE FRANCA “O Brasil de Vargas, que em mente à importação de bens de consumo, no início
1939 resistira às pressões norte-americanas, mantendo da década de 1970, as indústrias nacionais se for-
a neutralidade [diante da Segunda Guerra Mundial], taleceram e, com isso, a taxa de desemprego caiu
acabou se inclinando a favor dos EUA em 1941. (...) O abruptamente, devido aos investimentos nas indús-
Brasil se declarou formalmente em guerra em meados trias de bens não duráveis.
de 1942, poucos meses depois de sua ruptura com o
08. Nas últimas três décadas, o parque industrial bra-
Eixo. Cedeu a base militar de Natal aos EUA e, em 1944,
sileiro vem-se desconcentrando e, atualmente,
enviou uma força expedicionária para lutar na Itália.
apresenta maior dispersão espacial dos estabeleci-
É evidente que aopção de Vargas revelava, ao mesmo
mentos industriais em regiões que eram, historica-
tempo, sua estratégia não-ideológica e seu faro políti-
co, pois o alinhamento aos Aliados se deu quando o Eixo mente, marginalizadas.
ainda era vitorioso no terreno militar.” 16. Com a promulgação da Constituição de 1934, no go-
Boris Fausto e Fernando J. Devoto. Brasil e Argentina. verno de Getúlio Vargas, regulamentaram-se as re-
Um ensaio de história comparada (1850-2002).
São Paulo: Editora 34, 2004, p. 272-273. lações de trabalho. Entre as principais medidas que
beneficiaram o trabalhador, figuravam a criação do
A partir do texto e de seus conhecimentos, podemos afir-
salário mínimo, as férias anuais e o descanso sema-
mar que a adesão brasileira ao bloco dos Aliados, na Se-
nal remunerado.
gunda Guerra Mundial, resultou, entre outros motivos,
A do oportunismo do governo brasileiro, que perce- 11| UNIFOR Getúlio Vargas governou o Brasil por quase
beu que os países do Eixo caminhavam em direção 20 anos (1930-1945 e 1950-1954). Chegou ao poder
à derrota militar e, por isso, aliou-se aos prováveis através da Revolução de 1930, abrindo um período de
vitoriosos na guerra. modernidade voltada para os aspectos políticos, eco-
nômicos e sociais brasileiros, até então nunca traba-
B da simpatia política e ideológica do regime ditatorial
lhados. Considerando o período 1930-1945, a afirmati-
do Estado Novo em relação aos regimes autoritá-
va que não se enquadra nas características do governo
rios, de caráter nazifascista, da Alemanha e da Itália.
Vargas é:
C de uma jogada política de Getúlio Vargas, que as-
sim garantiu maior proximidade política e comercial A Forte concentração de poder no Executivo federal.
com os Estados Unidos, principal comprador do café B Fechamento do Congresso Nacional, assim como as
brasileiro. Assembleias Legislativas e as Câmaras Municipais.

41
SISTEMA DE ENSINO A360°

C Estabelecimento de uma série de leis trabalhistas, A no anseio de estabelecer um governo proletário,


culminando com a edição da Consolidação das Leis capaz de frear a ascensão da burguesia e de patro-
do Trabalho, em 1943. cinar amplas reformas sociais e políticas.
D Criação do Departamento de Imprensa e Propagan- B na aceitação da luta de classes como princípio das
da (DIP) que promovia a liberdade de imprensa. relações sociais e na valorização da reforma admi-
nistrativa como forma de eliminar os problemas
E Início da industrialização com base no processo de
substituição de importações com a participação dire- políticos.
ta do Estado na criação das indústrias de base, den- C no esforço de valorizar a identidade nacional, úni-
tre as quais estão a Companhia Siderúrgica Nacional co traço capaz de impedir a luta de classes e asse-
(1940) e a Companhia Vale do Rio Doce (1942). gurar a formação de um governo socialista.

12| PUC Assim como os nazistas e os fascistas, os integralis- D na rejeição da ideia de que a sociedade seja movi-
tas pregavam a substituição da luta de classes pela as- da pela luta de classes e na defesa de que o poder
censão dos melhores, para renovar as camadas dirigen- seja exercido por um grupo limitado e privilegiado
tes e continuar estrutural e funcionalmente o seu papel de pessoas.
na sociedade. E na busca de uma revolução proletária internacio-
Antonio Candido. Teresina etc Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980, p. 129. Adaptado.
nal e no reconhecimento do papel central que o
O texto compara nazismo, fascismo e integralismo, iden- governo deve exercer na harmonização das rela-
tificando-os ções sociais.

ERA DEMOCRÁTICA
A Era Democrática (1946-1964) foi marcada pelos Governos de cinco presidentes, sendo, respectivamente: o de Eurico
Gaspar Dutra (1946-1950); o segundo Governo Vargas (1951-1954); o de Juscelino Kubitschek (1956-1960); o de Jânio Qua-
dros (1961) e o de João Goulart (1961-1964). Tal período é assim denominado pelo fato de todos esses presidentes terem sido
eleitos democraticamente, ou seja, através de voto direto e secreto.

GOVERNO DUTRA (1946 – 1950)


O Presidente Dutra assumiu o poder em 1946, o que coincidiu
com o início da Guerra Fria. Sabe-se que esse foi um contexto mar-
cado pela bipolarização ideológica, em que se tinha, de um lado,
o bloco capitalista liderado pelos norte-americanos e, do outro, o
bloco socialista liderado pela URSS. O governo Dutra, de imediato,
rompeu relações com a URSS e se aliou aos Estados Unidos, do
então presidente Harry Truman.
No início de seu mandato, foi promulgada a Constituição de
1946, sendo a quinta Constituição brasileira. De caráter liberal, as
principais medidas desta Carta podemos foram:
 Garantia de liberdade de expressão e pensamento;
 Ampla autonomia aos três poderes;
Figura 21 - Dutra (a direita) recebendo o presidente Truman: o
 Direito de voto a todos os brasileiros alfabetizados, maio- alinhamento do Brasil aos interesses dos EUA.
res de 18 anos, de ambos os sexos; Ver em: http://www.mundoeducacao.com/historiadobrasil/gover-
no-dutra.htm
 Garantia do direito de greve (mesmo sendo limitado).
No que tange à política econômica adotada por Dutra, foi marcada por um caráter liberal, facilitando a livre importação
de mercadorias. Fica clara a influência do liberalismo econômico, que teve como precursor o britânico Adam Smith. Entre as
principais mercadorias importadas nesse período, vale destacar o cigarro, perfumes, carros, geladeiras e televisores.
No campo cultural, como fato de maior relevância, houve a estreia da televisão no Brasil. Em 1950, foi criada a TV Tupi,
primeira emissora brasileira, fundada por Assis Chateaubriand. No século XXI, é algo banal ter um televisor em casa; contudo,

42
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
na década de 1950, só as pessoas mais ricas podiam ter um apare-
lho como esse. Ter uma televisão em casa era um luxo e ao mesmo
tempo uma atração. Era a “caixa mágica”!

Vieram as eleições de 1950, marcadas pela volta de Vargas


como candidato. Os principais concorrentes foram os seguintes
candidatos: Eduardo Gomes, da UDN, contra Getúlio Vargas, re-
presentando a aliança entre PTB e PSD (Partido Social Democrata).
Prometendo defender os interesses do povo, desenvolver a indus-
trialização e ampliar as leis trabalhistas, Getúlio Vargas venceu as
eleições e voltou ao poder. Nesse momento, pela primeira vez, foi
Figura 22 - Multidão se aglomera para assistir a inauguração da
eleito democraticamente e de forma direta, ou seja, com a partici- TV Tupi, em 1950.
Ver em: https://br.groups.yahoo.com/neo/groups/Cidad3_Impren-
pação popular. saLivre/conversations/messages/80113

A VOLTA DE GETÚLIO À PRESIDÊNCIA (1951 – 1954)


Diante dos resultados negativos e da insatisfação popular com o
Governo Dutra, novas eleições presidenciais foram realizadas no ano de
1950. Com mais de 48% do total de votos, representando a grande maio-
ria, o candidato do partido PTB Getúlio Vargas saiu vitorioso, reassumin-
do a presidência do país em 1951.
O retorno de Getúlio ao poder significou a retomada do estadismo
e do nacionalismo econômico, duas principais características de seu
primeiro Governo. Além disso, buscando maior apoio popular, deu ên-
fase à política de amparo aos trabalhadores urbanos.

NACIONALISMO
No poder, Getúlio tratou de explorar o conceito de nacionalismo,
buscando o desenvolvimento do país sob a égide do Estado, o que pro-
vocou a ira do Governo dos Estados Unidos, do capital estrangeiro, dos
Comício em Curitiba na campanha eleitoral presidencial de
1950. Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/ empresários e industriais brasileiros que defendiam uma descentraliza-
fichaTecnicaAula.html?aula=31770 ção econômica.

Nesse momento de tensão política, havia no cenário brasilei-


ro duas formas de enfrentamento: os nacionalistas, que apoiavam
Getúlio, e os liberais, formados pela grande elite brasileira que
queria a abertura econômica como mecanismo de mordenização
do Estado.
Os principais motivos para a eclosão desse cenário de tensão
e intensos debates foram a criação do Banco Nacional de Desen-
volvimento Econômico (BNDE), a instauração de uma política eco-
nômica que limitava em 10% o envio de remessas dos lucros das
empresas estrangeiras para o exterior, além da criação da Petro-
brás, uma empresa estatal voltada para a exploração e extração
do petróleo.
Os nacionalistas defendiam a exploração do petróleo por em-
presas brasileiras. Já os liberais defendiam a exploração do petró-
leo brasileiro por empresas estrangeiras. Sem ceder às pressões e
contando com o apoio popular que ganhara nas ruas das grandes Cartaz com o slogan da campanha getulista “o petróleo é nosso”
da década de 1950, visando à criação e à defesa de empresas
cidades brasileiras, Getúlio criou, em 1953, a Petrobrás, com o slo- estatais para a extração do petróleo brasileiro.
gan “O petróleo é nosso”, garantindo o monopólio da extração, da Disponível em: http://memoria.petrobras.com.br/depoentes/ma-
ria-augusta-de-toledo-tibiria-miranda/continua-luta-pelo-mo-
distribuição e do refino do petróleo por parte do Estado. nopolio#.VOtGD_nF8dQ

43
SISTEMA DE ENSINO A360°

A CLASSE DOS TRABALHADORES E A CRISE POLÍTICA


Apesar de o Governo de Getúlio ser de cunho popular, o cus-
to de vida continuava aumentando, a inflação engolindo os sa-
lários da classe média e dos trabalhadores e as greves tomavam
conta das empresas do Sudeste do país.
Em 1953, uma série de greves eclodiram, principalmente
em São Paulo, onde cerca de 300 mil trabalhadores aderiam a
elas e paralisaram suas atividades. Com o objetivo de alcançar
ainda mais as camadas populares e amenizar os ânimos dos tra-
balhadores que pediam por greve, Vargas nomeou a Ministro
do Trabalho o jovem João Goulart – conhecido também como
Jango – que era ligado aos movimentos e às lideranças sindicais,
porém, mal visto pelas lideranças de direita que o consideravam Charge disponível em: http://www.planobrazil.com/plano-brasil-
-documentario-getulio-do-brasil/
um radical de esquerda.
Alarmando as classes conservadoras, em 1º de maio de 1954, Getúlio, apoiado por João Goulart, aumentou em 100% o
salário mínimo dos trabalhadores, buscando repor as perdas com a crescente inflação que assolava o país naquela época.
Getúlio queria a reaproximação da classe trabalhadora ao construir a ideia de que, além de direitos políticos, os trabalha-
dores teriam o direito à cidadania, ou seja, direito de desfrutar do “progresso brasileiro”, fruto também do trabalho árduo
desses cidadãos. Além disso, durante a Guerra da Coréia, Getúlio recusou-se a enviar tropas brasileiras para a região de
conflito, mantendo-se neutro, gerando atritos entre os setores das Forças Armadas e com o próprio governo dos Estados
Unidos.

O SUICÍDIO DE VARGAS
Um dos principais opositores de Vargas era o deputado da
UDN, Carlos Lacerda, dono do jornal oposicionista Tribuna da
Imprensa, que acusava freneticamente o presidente de corrup-
to e defendia a sua destituição do poder.
Em 5 de agosto de 1954, Carlos Lacerda sofreu um aten-
tado no qual ocorreu a morte de seu segurança, o Major da
Aeronáutica Rubens Vaz. As investigações que se seguiram ao
fato apontaram para o nome de Gregório Fortunato, chefe da
guarda de segurança de Getúlio.
O Governo entra, então, em uma profunda crise e a oposi-
ção começa a se articular, principalmente às Forças Armadas,
pedindo a renúncia do presidente Getúlio Vargas, sendo apoia-
dos inclusive pelo vice-presidente Café Filho, que se aliara à
oposição.
Getúlio sentia-se pressionado e sem o apoio de que antes
dispunha. Convicto de que não iria renunciar, suicidou-se com
um tiro no coração na manhã do dia 24 de agosto de 1954. A
morte de Getúlio Vargas ocasionou uma comoção nacional que
levou centenas de milhares de pessoas às ruas e agravou ainda
mais a crise política que assolava a nação – impedindo, assim,
qualquer golpe ou tomada de poder pelas forças conservado-
ras. A presidência foi assumida pelo vice-presidente, Café Filho.
Antes de cometer suicídio, Getúlio Vargas escreveu uma
carta-testamento como uma espécie de manifesto, na qual jus-
tificava o seu ato, anunciando seu “sacrifício” em prol da nação,
sendo amplamente divulgada pelos jornais e meios de comuni- Cortejo fúnebre do presidente Getúlio Vargas na praia do Flamengo
na cidade do Rio de Janeiro, em 25 de agosto de 1954. Disponível em:
cação da época. http://www.alerj.rj.gov.br/livro/pag_113.htm

44
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A

TEXTO COMPLEMENTAR

CARTA-TESTAMENTO DE GETÚLIO VARGAS


Mais uma vez, as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim.
Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha
voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os
humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros
internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade
social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais
aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi
detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade na-
cional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação
se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.

Não querem que o povo seja independente. Assumi o


Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os va-
lores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras al-
cançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do
que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de
100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valo-
rizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu
preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa
economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistin-


do a uma pressão constante, incessante, tudo suportando
em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo,
para defender o povo, que agora se queda desamparado.
Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves
de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar
sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a mi-
nha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando


vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso Primeira página de jornal informando a morte de Vargas.
Disponível em: http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTec-
lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso nicaAula.html?aula=51405
peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando
vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será
a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração
sagrada para a resistência. Ao ódio, respondo com o perdão.

E aos que pensam que me derrotaram, respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para
a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre
em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação
do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha
vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente, dou o primeiro passo no caminho da eternidade e
saio da vida para entrar na História.
Getúlio Vargas,
Carta-Testamento, 24 de agosto de 1954.

45
SISTEMA DE ENSINO A360°

GOVERNO JK (1956 – 1960): OS ANOS DE OURO


Os dezesseis meses que sucederam a morte de Getúlio Vargas foram bem turbulentos. Para se ter uma ideia, durante esse
curto período, o Brasil foi comandado por três presidentes, agravando, ainda mais, a crise política que tomava conta do país.
O primeiro deles foi o vice-presidente Café Filho, que assumiu o poder logo após o suicídio de Vargas. Em outubro de 1955,
novas eleições para presidente foram realizadas, conforme estava estipulado na Constituição Federal. O vencedor dessa corrida
eleitoral foi o ex-governador do estado de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek, popularmente conhecido como JK, tendo como
vice-presidente o ex-Ministro do Trabalho da Era Vargas, João Goulart. A posse de JK estava marcada para janeiro de 1956.
Nesse meio tempo, em novembro de 1955, Café Filho adoece e se vê obrigado a passar o cargo ao Presidente da Câmara
dos Deputados, Carlos Luz. A UDN e a ala radical das Forças Armadas planejavam um golpe para impedir a posse de JK à presi-
dência, já que ele pertencia ao PSD, partido de origem getulista.
O então presidente, Carlos Luz, apoiava essa ideia. No entanto, o Ministro da Guerra, o general Henrique Teixeira Lott, de
tendência legalista, cujo ideal seria o cumprimento das leis instituídas pela Constituição, desarticulou essa conspiração ao des-
tituir do cargo o presidente interino. A presidência foi ocupada, assim, pelo presidente do Senado, Nereu Ramos, que garantiria
a posse de Juscelino.

CINQUENTA ANOS EM CINCO


Juscelino Kubitschek tinha como meta governa-
mental políticas desenvolvimentistas de modernida-
de e progresso. Seu lema era, durante seu mandato,
fazer com que o Brasil crescesse “cinquenta anos em
cinco”, seja pela iniciativa privada, seja pelas mãos do
Estado.
Para realizar tal feito, JK lançou, já no primeiro
ano de mandato, seu plano nacional de desenvolvi-
mento, conhecido como Plano de Metas: um conjun-
to de medidas que priorizavam as obras de infraestru-
tura e o apoio à industrialização, promovendo, dessa
forma, o desenvolvimento da economia brasileira. O
Plano de Metas propunha a aplicação de somas eleva-
das de recursos nas áreas de transporte, indústria de Presidente Juscelino Kubitschek em frente ao Palácio da Alvorada em Brasília,
base e energia, tendo como objetivo a superação do novo Distrito Federal brasileiro. Disponível em: http://www.projetomemoria.art.br/
JK/cronologia/crono03.html
subdesenvolvimento.
Em meio a essas metas traçadas, JK promoveu várias realizações como a construção das usinas hidrelétricas de Furnas e a
de Três Marias, situadas no estado de Minas Gerais, bem como a siderúrgica Usiminas. Estimulou a entrada de investimentos
nas indústrias automobilísticas (produzindo mais de 300 mil veículos por ano), nas indústrias farmacêuticas, de eletrodomés-
ticos e a petroquímica. Procurou também desenvolver o interior do país, construindo cerca de 20 mil quilômetros de rodovias,
ligando as regiões mais distantes – entre elas, a Belém-Brasília.

CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA
Buscando o desenvolvimento do interior e a maior ligação entre os
Estados brasileiros, JK construiu, em meio ao Planalto Central, a nova
capital federal, a cidade de Brasília. Até então, a economia brasileira
concentrava-se principalmente na região Sudeste e nas cidades ao longo
do litoral. A mudança da capital para o interior do país promoveria uma
maior integração nacional.
Concebida e projetada pelo urbanista Lúcio Costa e pelo arquiteto
Oscar Niemeyer, o plano piloto lembra as asas de um avião, com ruas e Cerca de 100 mil trabalhadores nordestinos, chamados
de candangos, ajudaram a construir a nova capital fede-
avenidas largas, propícias para o trânsito intenso e rápido de veículos. ral. Disponível em: http://conhecendodf.blogspot.com.
br/2012/06/na-praca-dos-tres-poderes-esta-o.html

46
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
A inauguração de Brasília teria que ocorrer ainda no Governo de Juscelino. Construída em tempo recorde, a nova capital
federal foi erguida principalmente pelas mãos de trabalhadores nordestinos que migraram para região. Esses migrantes fica-
ram conhecidos como candangos. Assim, depois de três anos, Brasília foi inaugurada em 21 de abril de 1960.

MODERNIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO PARA QUEM?


A política desenvolvimentista e o Plano de Metas do governo JK apresentaram elevados índices de crescimento. O cresci-
mento do PIB era em média de 7% ao ano. A classe média se fortalecia devido ao aumento do seu poder aquisitivo, possibili-
tando um consumo diversificado de novos produtos.
Esse período de prosperidade econômica que vinha servindo, principalmente, à classe média ficou conhecido como anos
dourados. Nele, as maiores empresas multinacionais se instalaram no país, controlando os mais importantes setores da econo-
mia brasileira como os industriais, o automobilístico, o petroquímico, o farmacêutico e o de eletrodomésticos.
Para as realizações dessas grandes obras, foi necessário obter empréstimos no exterior e, com isso, a dívida externa cresceu
estratosfericamente, ocasionando o aumento da inflação e o congelamento dos salários que já eram baixos, gerando déficit nas
contas públicas. A política desenvolvimentista teve seu preço para a maioria da população que era pobre e miserável. Os custos
sociais foram pesados demais para a nação.
O Plano de Metas beneficiou principalmente as indústrias, que se instalaram em sua maioria na região Sudeste. Atraídos
pelo desenvolvimento industrial que se concentrava nessa região, milhões de nordestinos, vindos principalmente do campo,
migraram em massa para as cidades paulistas, cario-
cas e mineiras, em busca de emprego nas indústrias e
no setor de serviços, o que elevou o índice da popula-
ção urbana em detrimento da do campo.
O êxodo rural desordenado e intenso provocou o
crescimento das mazelas sociais nas grandes cidades.
As favelas aumentavam cada vez mais e o surgimento
de bairros periféricos também. Essas novas moradias
eram caracterizadas pela falta de infraestrutura e de
serviços essenciais, como água encanada. A falta de
investimentos nos setores de moradia, educação e
alimentação ajudaram a formar esse cenário de desi-
gualdade social extrema.
A insatisfação tomava conta da população. Isso
refletiu nas urnas, já que o candidato apoiado por
Juscelino, o marechal Henrique Teixeira Lott, perdeu A construção de Brasília também gerou contraste e desigualdade social. Disponí-
a eleição presidencial para o ex-governador de São vel em: http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/galeria/2010-04-21/galeria-de-
-fotos-da-construcao-de-brasilia
Paulo, Jânio Quadros, lançado pela UDN.

TEXTO COMPLEMENTAR
NOS “ANOS DOURADOS” DE JK, O BRASIL GANHA NA SUÉCIA.
Em 1958, o Brasil vivia os “anos dourados”, como ficou conhecido o período do governo desenvolvimentista de Jus-
celino Kubitschek (1956-1961). Naquele momento histórico, uma nova capital – Brasília – estava sendo construída, e o
projeto arquitetônico/urbanístico de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa não deixava dúvida sobre os ideais utópicos que ins-
piravam a monumental obra. Ainda havia conflitos, claro, como indica a notícia de greves naquele mês de dezembro em
São Paulo – greve geral contra a carestia e greve nos transportes coletivos. Mas o plano de metas de JK prometia “50 anos
de progresso em 5 anos de governo” e tinha respaldo popular e apoio do empresariado, dos militares e até de sindicatos
operários. O preço daquele progresso, hoje sabemos, era a porta que se abria à entrada das multinacionais no país, com
crescimento da dependência econômica, da dívida externa etc.(...)
(...) Em 1958, o Brasil conquistava a Copa da Suécia, tornando-se campeão mundial pela primeira vez. Fortes emo-
ções e euforia dos torcedores vinham junto com a estreia de Pelé – com apenas 17 anos e já marcando seis gols naquele
campeonato. O rei do futebol jogava ao lado de Garrincha e Didi, que eram heróis nacionais. O Brasil ganhava fama de o
país do futebol.

47
SISTEMA DE ENSINO A360°

(...) A frase é famosa: “Nós vamos vencer, vamos jogar com a cor do manto de Nossa Senhora Aparecida”, teria dito
o supersticioso dirigente da delegação brasileira, Paulo Machado de Carvalho, ao saber que, no sorteio, os suecos fica-
ram com o uniforme amarelo, restando aos canarinhos se vestir de azul, no jogo que decidiria a Copa de 58, no estádio
Råsunda.
(...) Pena que nem a cor das camisas, nem os dribles desse campeonato seriam exibidos na televisão brasileira, a exemplo
do que aconteceu em 1954. Restava aos brasileiros ouvir pelo rádio e ver depois as fotos dos jogos e dos craques em revistas
e jornais. Mas uma boa novidade tecnológica ‘salvaria a pátria’ em 1958: os kinescópios, filmagens em 16 mm produzidas
pelos europeus, que foram adquiridas pela extinta TV Tupi e transformadas mais tarde em videoteipe (o recurso seria usado
no Brasil ainda a partir de 1958). Quanto ao público europeu, mais uma vez veria os jogos pela televisão, só que com a inova-
ção da trasmissão via satélite. Essa possibilidade deveu-se ao satélite soviético Sputnik, que era lançado em segunda versão
naquele ano. Por falar em TV, no Brasil, o seu uso crescia aceleradamente e já alcançava cerca de um milhão e meio de teles-
pectadores em todo o território. Em São Paulo (os números são de 1956), as três emissoras de TV arrecadavam mais que as
treze emissoras de rádio existentes.
(...) A indústria crescendo, vinha o apelo da
moda e do consumo, que mais e mais sedu-
zia os brasileiros. Em 1958, começava a ser
produzido no Brasil o Fusca, por exemplo.
Bem, o lançamento oficial seria um pouco
depois, em 3 de janeiro de 1959. E em 18 de
novembro de 1959, a Volkswagen inaugurou
oficialmente a fábrica Anchieta, em São Ber-
nardo do Campo, no Grande ABC paulista.
(...) Já entre os mais jovens, a febre do
momento era a lambreta, uma motoneta
do tipo “vespa” que aportava aqui, vinda
da Itália, em 1958. O modelo completo era:
chiclete, blusões de couro a lá Elvis Presley e
lambreta. Mas se engana quem pensa que
a vida da juventude era fácil naquela épo-
ca. Pouco antes, em 1957, o prefeito de São Volta Olímpica dos jogadores da seleção brasileira, vencedores da Copa do Mundo
Paulo, Jânio Quadros, mostrando seu estilo de 1958, na Suécia. Disponível em: http://placar.abril.com.br/materia/enfim-o-ca-
neco-e-nosso-brasil-conquista-o-titulo-mundial-de-1958/
quadradão, proibia – pasmem! – o rock and
roll nos bailes!
A mesma onda de otimismo e modernidade dos anos JK contagiava a música popular, que se renovava com o surgi-
mento da Bossa Nova. Em julho/agosto de 1958, saía o disco (78 rotações, da Odeon) que ficaria para a história como
marco do movimento: o compacto simples de João Gilberto, com a canção Chega de Saudade, composta por Tom Jobim e
Vinicius de Moraes. Antes disso, em maio, a batida revolucionária do violão de João já podia ser apreciada no álbum Can-
ção do Amor Demais, com interpretações da cantora Elizeth Cardoso, que marcava a estreia da dupla Tom e Vinicius. (...)
Trechos do texto de Regina Rocha, disponível em http://www.portal2014.org.br/noticias/1820/NOS+ANOS+DOURADOS+DE+JK+O+BRASIL+GANHA+NA+SUECIA.html Acesso em 13/02/2015

BREVE GOVERNO DE JÂNIO QUADROS (1961)


Jânio da Silva Quadros, formado em Direito, professor de língua portuguesa e político mato-grossense, teve uma carreira
política meteórica. Ainda na juventude, radicou-se em São Paulo, ingressando na vida política e conseguindo sucesso nesse
meio: foi eleito vereador em 1947, deputado estadual em 1950 e, posteriormente, prefeito da cidade de São Paulo no ano de
1953. Dois anos depois, em 1955, conseguiu se eleger governador do estado de São Paulo e, em 1958, deputado federal, pou-
cas vezes cumprindo um mandato até o final.
Jânio Quadros era um político sem grandes vínculos partidários e suas atitudes políticas geravam controvérsia. Preocupado
em transparecer uma imagem de um “homem do povo”, Jânio procurava mostrar em suas aparições públicas hábitos simples,
alimentando-se nos mercados populares, aparecendo quase sempre com ternos amassados e cabelos despenteados e com
caspas nos paletós. Preocupava-se em manter uma imagem moralista e de um homem trabalhador. Prometeu acabar com a
corrupção que assolava a máquina pública, “varrendo” a sujeira da política e dos órgãos públicos, tendo uma vassoura como
símbolo de sua campanha.

48
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Sabendo explorar as denúncias de corrupção do
governo JK, Jânio Quadros se lançou à presidência
em 1960, apoiado pela UDN e por outras forças an-
tigetulistas. Foi eleito presidente, assumindo o car-
go em janeiro de 1961, já na nova capital, Brasília,
com o maior número de votos da história política do
Brasil – 48% da preferência do eleitorado. No entan-
to, não conseguiu eleger seu vice-presidente, sendo
eleito para ocupar tal cargo novamente o gaúcho
João Goulart, de outro partido, já que, nessa época,
o cargo para presidente e vice-presidente era vota-
do separadamente.

UMA GESTÃO BREVE


Na presidência, Jânio causou estranhamento,
pois se preocupou muitas vezes com assuntos banais
a sua função, sem importância real para o país, que
estava carente de uma força transformadora. Jânio Jânio Quadros em campanha eleitoral para a presidência em 1960, seguran-
do uma vassoura, símbolo de sua campanha, prometendo varrer a sujeira da
escrevia para parlamentares, assessores e secretários administração pública. Disponível em: http://www.brasilescola.com/historiab/
por meio de “bilhetinhos”, caracterizando seu gover- janio-quadros.htm

no populista. Dava ordens por meio desses bilhetes


escritos à mão, como a proibição de brigas de galo, do
uso de lança-perfumes no Carnaval, das corridas de
cavalo em dias de semana e do uso de maiôs cavados
nos desfiles de beleza.
A base de seu governo era o combate à corrup-
ção e pretendia reestruturar a economia brasileira,
dando início às reformas econômicas. Essas reformas
geraram recessão e congelamento dos salários, o que
desagradava a classe trabalhadora. A dívida externa
aumentava e a inflação subia. Na política externa,
causou uma grave crise política ao reestabelecer re-
lações diplomáticas com a União Soviética e a China
comunista, desagradando também os grupos conser-
vadores.
Em 1961, Jânio Quadros recebe o ex-gerrilheiro Ernesto “Che” Guevara em Brasília,
Ainda nesse momento de crise, Jânio Quadros condecorando-o com a medalha mais importante: a Ordem do Cruzeiro do Sul.
Disponível em: http://memoria.oglobo.globo.com/jornalismo/primeiras-paginas/
enviou em missão oficial o vice-presidente João Gou- comunismo-tropical-8903362
lart para a China comunista e condenou a política
estadunidense em relação a Cuba de Fidel Castro. Em agosto de 1961, convidou para uma visita ao Brasil um dos líderes da
Revolução Cubana de 1959, Ernesto “Che” Guevara, que foi recebido em Brasília com honrarias e condecorado com a Ordem
Nacional do Cruzeiro do Sul, a mais importante condecoração nacional. Esse gesto gerou duras críticas da classe conservado-
ra e principalmente das Forças Armadas, deixando as elites capitalistas tanto nacionais quanto estrangeiras profundamente
insatisfeitas.

RENÚNCIA AO PODER
As atitudes e medidas tomadas por Jânio Quadros contrariaram tanto a classe popular quanto a conservadora, isolando seu
governo. Diante disso, a UDN, liderada por Carlos Lacerda, rompeu com o Presidente, acusando-o publicamente de comunista
e de que estaria planejando um golpe de Estado.

49
SISTEMA DE ENSINO A360°

Devido a sua política personalista, o Presidente não contava com apoio sufi-
ciente para sustentar-se no poder. Contava com uma ampla oposição no Congres-
so Nacional que impedia a aprovação de seus projetos. Assim, surpreendendo
a todos, em 25 de agosto de 1961, com apenas sete meses de mandato, Jânio
Quadros enviou uma carta estilo bilhete ao Congresso Nacional, na qual dizia
renunciar à presidência da República, justificando sua renúncia devido às “forças
ocultas terríveis” que se levantaram contra ele.
Alguns historiadores e fontes próximas a ele especulam que a expectativa de
Jânio era que o Congresso não aceitasse a renúncia. Ele queria gerar uma mobili-
zação principalmente militar contra a sua renúncia e a favor da sua continuidade
no poder, pois acreditava que as Forças Armadas, juntamente com a elite conser-
vadora, jamais aceitariam a posse do vice-presidente João Goulart, notadamente
um represente da esquerda e ligado aos sindicatos. Dessa forma, achava que
sairia mais fortalecido e com amplos poderes para governar e implementar suas
medidas com maior facilidade.
Todavia, não foi isso o que aconteceu. O Congresso aceitou imediatamente
seu pedido de renúncia. De acordo com a Constituição, a presidência deveria
Segundo a charge de Appe para o jornal O Cru-
ser ocupada pelo vice-presidente João Goulart, mas este estava em visita ofi- zeiro, a renúncia de Jânio Quadros ao poder foi
cial a China. Apoiado pelo Congresso, Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos como um suicídio político. Nota-se que o presi-
dente pula de um prédio e embaixo a multidão
Deputados, tomou posse interinamente, isto é, governaria até a volta de João corre para os lados, largando a rede que poderia
salvá-lo da queda. (O Cruzeiro, 7 de outubro de
Goulart ao Brasil. 1961, nº52, ano XXXIII).

TEXTO COMPLEMENTAR

O GESTO QUE ANTECIPOU A DITADURA MILITAR


Sete anos depois do suicídio de Getúlio Vargas e sete meses depois da posse, o presidente Jânio Quadros precipitou,
com sete linhas manuscritas, a sequência de crises que conduziriam, sete anos mais tarde, o Ato Institucional n° 5 — e
a instauração da ditadura sem camuflagens. Na manhã de 25 de agosto de 1961, a democracia, ainda em sua infância,
viu-se forçada a renunciar à maturidade, que só seria alcançada caso fossem cumpridos integralmente dois mandatos
consecutivos. O Brasil civilizado pareceu mais distante do que nunca no dia em que o presidente sumiu.
Abrupto e inesperado, o último ato foi um desfecho coerente para a ópera do absurdo composta desde o primeiro dia
de gestão. “Ele foi a UDN de porre no governo”, resumiu Afonso Arinos de Mello Franco, ministro das Relações Exteriores.
“Faltou alguém trancá-lo no banheiro”, lastimou.
Só se fosse para sempre, sabe-se hoje. Algumas horas de cárcere privado só adiariam a tentativa de instituir o presi-
dencialismo autoritário que o deixaria livre para agir.
Na carta da renúncia, o signatário informou que deixara com o ministro da Justiça as razões do seu gesto. O segundo
texto, confiado a Oscar Pedroso Horta, é um amontoado de queixas difusas, alusões a “forças terríveis”, declarações de
amor ao Brasil e juras de apreço ao Povo (com maiúscula). Ele só contou a verdade alguns meses antes de morrer, em 16
de fevereiro de 1992, numa conversa com Jânio John Quadros Mulcahy, o único filho homem de Tutu Quadros.
Em 25 de agosto de 1991, 30 anos depois da renúncia, o paciente internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo,
foi acometido de um surto de sinceridade provocado pela curiosidade do neto.
“O vice João Goulart era uma espécie de Lula, completamente inaceitável para a elite”, comparou. “Eu o mandei para
a China para que estivesse longe de Brasília no dia da renúncia, sem condições de reivindicar o cargo e fazer articulações
políticas. Achei que iriam implorar-me para que ficasse.”
O intuitivo genial só se esqueceu de combinar com os adversários, com os militares e com o povo. “Fiquei com a faixa
presidencial até o dia 26”, contou ao neto. “Deu tudo errado. E o país pagou um preço muito alto.” Jango acabou engolido
pelos quartéis, mas seria expelido três anos mais tarde. A tentativa de implantação de uma ditadura civil resultou no ad-
vento de uma ditadura militar ortodoxa.

50
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A

Como o país, Jânio pagou caro pela


renúncia ao mandato conferido por mais
de 5,6 milhões de eleitores. Transforma-
do numa caricatura de si próprio, tentou a
ressurreição impossível antes e depois da
cassação,  em 1964. Fracassou em 1962 e
em 1982, na tentativa de voltar ao governo
paulista, e elegeu-se prefeito da capital em
1985. Aos 75 anos, morreu pensando na pre-
sidência. Aparentemente, a frustração pela
morte política não foi compensada pela for-
tuna depositada num banco suíço.
Cinquenta anos depois da renúncia, o
Brasil parece bem menos primitivo, a demo-
cracia tem solidez e Jânio figura  na galeria
presidencial como outro ponto fora da cur-
va.  Mas tampouco parece suficientemente
moderno para considerar-se livre de reprises Primeira capa de jornal da época, a renúncia de Jânio não surtiu o efeito desejado
por ele. Disponível em: http://jniodasilvaquadros-opresidente.blogspot.com.
da farsa. Países exauridos pela corrupção br/2011/08/entenda-renuncia-de-janio-da-silva.html
endêmica serão sempre vulneráveis a aven-
tureiros que, com um discurso sedutoramente agressivo, prometam varrer a bandalheira.
Texto de Augusto Nunes para revista Veja em 20/08/2011. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/o-gesto-que-antecipou-a-ditadura-militar

O GOVERNO JANGO
A renúncia de Jânio Quadros serviu aos interesses da UDN e dos demais grupos que lhe faziam oposição. No entanto, a
posse de Jango na presidência seria um obstáculo à realização desses interesses, já que ele era tido como um político de es-
querda, provocando uma séria crise na política brasileira. Formaram-se, então, duas frentes: um grupo contrário e outro grupo
favorável à posse de Jango.
Sob a alegação de que Jango teria ligações com o comunismo e que, portanto, seria uma ameaça à economia e a sociedade
brasileira, comandantes militares, a UDN e a elite capitalista defendiam o veto à posse de João Goulart, tentando impedi-lo de
assumir o poder.
Nesse momento, as Forças Armadas estavam di-
vididas. Muitos oficiais defendiam o cumprimento do
que dizia a Constituição Federal, defendendo o res-
peito à legalidade, ou seja, a posse de Jango. Dentre
esses oficiais, estava mais uma vez o general Lott.
Esse grupo que lutava pela legalidade ganhou mais
força com a adesão do general Machado Lopes, co-
mandante do Exército do Rio Grande do Sul. Para re-
presentar esse grupo, foi criada a Rede da Legalidade
pelo cunhado de Jango e governador do Estado do Rio
Grande do Sul, Leonel Brizola. Defensora radical da
posse de Jango à presidência, essa frente da legalida-
Jango em comício em 1962. Disponível em: http://www.pautandominas.com.br/
de ameaçou usar a força através de uma resistência en/May2013/brasil/197/Corpo-do-ex-presidente-Jo%C3%A3o-Goulart-%C3%A-
armada, o que poderia levar o país a uma guerra civil. 9-exumado.htm

O BREVE PARLAMENTARISMO NO BRASIL


Para evitar que uma guerra civil tomasse conta do país, foi negociada uma solução para esse impasse: a posse à presidên-
cia pelo vice-presidente João Goulart seria garantida, desde que ele aceitasse o sistema parlamentarista. Jango aceitou esse
sistema, instituído no Brasil por uma Emenda Constitucional em setembro de 1961, tendo seus poderes limitados, ou seja, ele
assumiria o Governo, mas o poder de fato estaria nas mãos de um primeiro-ministro escolhido pelo Congresso. Assim, Jango
desembarcou no Brasil e, no dia 7 de setembro de 1961, assumiu a presidência.

51
SISTEMA DE ENSINO A360°

O Parlamentarismo no Brasil teve a chefia do Poder Executivo exercido por três primeiros-ministros: o político mineiro
Tancredo Neves, que governou por nove meses, Brochado da Rocha, que governou por pouco mais de dois meses, e Hermes
Lima, que governou até um plebiscito realizado no inicio de 1963, com mais de 9 milhões de votos contra o parlamentarismo,
voltar a instituir o sistema presidencialista no país.

O PLANO TRIENAL E AS REFORMAS DE BASE


Em meio a um período de graves problemas eco-
nômicos e sociais, João Goulart começou a traçar suas
metas para reestruturação do país. Com o regime pre-
sidencialista já reestabelecido, Jango insistiu em man-
ter uma linha reformista e nacionalista, causando-lhe
vários problemas.
Sua estratégia foi lançar, em março de 1963, o
Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e So-
cial organizado pelo economista Celso Furtado, que
na época ocupava o cargo de Ministro do Planeja-
mento. O Plano Trienal tinha como principais objeti-
vos reduzir os índices de inflação, promover reformas
sociais com uma melhor distribuição das riquezas na-
cionais sem comprometer o crescimento econômico
e reduzir a dívida externa. Em seu governo, foi apro-
Milhares de pessoas compareceram ao comício de Jango na Central do Brasil no
vado o Estatuto do Trabalhador Rural, que estendia Rio de Janeiro em defesa das Reformas de Base, em 13 de março de 1964. Dispo-
aos trabalhadores do campo os mesmos direitos dos nível em: http://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/20966-comicio-da-central-
-do-brasil
trabalhadores urbanos. No entanto, a inflação e o
custo de vida não paravam de subir.
O Plano Trienal foi acompanhado de reformas estruturais mais
profundas. Em meados de 1963, procurando sanar as dificuldades
do país, Jango realizou um conjunto de reformas que seriam adota-
das pelo Governo, chamadas por Jango de Reformas de Base. Essas
reformas formavam um conjunto de medidas que previam grandes
transformações nas áreas carentes de investimentos da máquina pú-
blica, como as áreas administrativa, agrária, educacional, tributária,
urbana, eleitoral e financeira. Ainda nesse ano, foi aprovada uma
lei chamada de Lei de Remessas de Lucros que limitava as remessas
de dólares das multinacionais para o exterior. As reformas instituídas
por Jango desagradaram vários grupos elitistas, como os latifundiá-
rios, os representantes das empresas estrangeiras e os políticos de
oposição.
A agitação política começou a tomar conta do país. A elite e seus
representantes entendiam que, caso as Reformas de Base fossem
implantadas, iriam alterar significativamente a sociedade brasileira,
diminuindo seu poder. Assim, setores conservadores opuseram-se
veementemente contra as reformas propostas por Jango. Havia um
temor na elite dominante de que o presidente iria implantar o socia-
lismo no país.
Acuado, Jango procurou o apoio das camadas populares, a fim
de pressionar o Congresso a aprovar as reformas. Participou de várias
passeatas e manifestações. Em 1964, na presença de mais de 300
mil pessoas, João Goulart falou em um comício em frente à estação
ferroviária Central do Brasil na cidade do Rio de Janeiro. Na presença
Marcha da Família com Deus pela Liberdade percorre o Via-
duto do Chá, no centro de São Paulo. Disponível em: http://
do povo, Jango disse que realizaria a tão sonhada reforma agrária e
operamundi.uol.com.br/conteudo/reportagens/34445/golpe+- urbana, além de prometer mudar a cobrança de impostos, taxando
de+64+marcha+da+familia+com+deus+pela+liberdade+com- os mais ricos. Paralelamente, a oposição composta pela classe média,
pleta+50+anos+saiba+quem+a+financiou+e+dirigiu.shtml

52
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
autoridades civis e militares, empresários e setores conservadores da Igreja Católica realizava passeatas contra as reformas de
base. Em São Paulo, a Marcha da Família com Deus pela Liberdade reuniu cerca de 800 mil pessoas que protestavam contra o
governo e suas medidas.
Os militares ficaram mais temerosos ainda quando ocorreu, dentro das Forças Armadas, a Revolta dos Marinheiros no
Rio de Janeiro. Eles exigiam melhores condições de trabalho e que as Reformas de Base acontecessem. A Marinha prendeu
os líderes, mas Jango os anistiou, o que para os militares representava um desrespeito com a hierarquia militar. O orgulho e a
disciplina nas Forças Armadas estavam em jogo. Acusavam o governo de estimular a desordem no país.

O GOLPE MILITAR
Com os acontecimentos que se seguiram à Revolta dos Marinheiros, o comando militar decidiu apoiar a conspiração contra
o Presidente. O general Castelo Branco, contando com o apoio dos Estados Unidos e de alguns governadores, como Carlos
Lacerda, colocou-se à frente de um golpe militar que mais tarde tiraria Jango do poder.
Em 31 de março de 1964, explodiu a rebelião das Forças Armadas contra o Governo. O movimento teve início no estado de
Minas Gerais e foi liderado pelo general Olympio de Mourão Filho (o mesmo que no governo de Getúlio Vargas, em 1937, criara
o Plano Cohen), que iniciou uma marcha para o Rio de Janeiro, onde estava João Goulart. Posteriormente, comandos militares
de todo o Brasil aderiram ao movimento. O golpe militar contou também com o apoio da classe média, da Igreja Católica e dos
setores mais conservadores da sociedade.
Na tentativa de controlar a situação, Jango partiu para Brasília, mas chegando lá percebeu que não contava com nenhum
apoio. Em 1º de abril de 1964, sem condições de resistir ao golpe militar, Jango deixou a capital rumo ao estado do Rio Grande
do Sul e de lá seguiu viagem até o Uruguai, onde permaneceu como exilado político.
No dia do golpe, os principais líderes sindicais e os que eram contra os militares foram detidos, dificultando uma organi-
zação de resistência. Tanques de guerra e caminhões repletos de soldados tomaram as ruas das principais cidades brasileiras,
dando início a um período de repressão e violência. Estava instaurada a Ditadura Militar no Brasil.

TEXTO COMPLEMENTAR

O COMÍCIO QUE MUDOU O DESTINO DO PAÍS


Há 50 anos, em 13 de março de 1964, o presidente João Goulart reuniu 300 mil pessoas no Comício da Central do
Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, em prol das chamadas reformas de base de seu governo. Carlos Lacerda, governador
da Guanabara e um dos principais opositores de Jango, teve a ideia de decretar feriado no dia 13 de março, acreditando
que, com isso, os trabalhadores não iriam ao comício. A tentativa não deu resultado.
Organizado por uma comissão de líderes sindicais, o comício mostrou aos opositores o apoio popular às reformas
propostas pelo governo, que pretendiam modernizar a estrutura do país em vários setores como o agrário, bancário,
urbano, administrativo e eleitoral.
Goulart discursou por quase uma hora. No início, atacou os “democratas” e sua “democracia anti-povo e anti-re-
forma”. Jango os acusou de defender “uma democracia dos monopólios nacionais e internacionais”. Mais adiante, ele
propôs a revisão da Constituição de 1946, “que legaliza uma estrutura socioeconômica já superada” e a necessidade de
“colocar fim aos privilégios de uma minoria”. Jango defendeu também a extensão do direito de voto aos analfabetos,
soldados, marinheiros e cabos, assim como a elegibilidade para todos os eleitores.
Quinze oradores precederam o presidente da República. O mais aplaudido foi Leonel Brizola, ex-governador do Rio
Grande do Sul e deputado federal pelo PTB carioca, que exortou o presidente a “abandonar a política de conciliação” e
instalar “uma Assembleia Constituinte com vistas à criação de um Congresso popular, composto de camponeses, operá-
rios, sargentos, oficiais nacionalistas e homens autenticamente populares”.
As propostas de Jango mexiam em interesses poderosos e arraigados há séculos no país. Entre elas, o presidente
pretendia desapropriar terras com mais de 600 hectares, além de áreas que ladeavam rodovias e ferrovias nacionais.
Para realizar uma reforma educacional, o governo utilizaria 15% da renda produzida no Brasil. Entre os projetos nessa
área, constava uma ampla reforma de erradicação do analfabetismo, baseada nas experiências pioneiras do educador
Paulo Freire.

53
SISTEMA DE ENSINO A360°

Na economia, Jango propunha um controle da remessa de


lucros das empresas multinacionais para o exterior e o impos-
to de renda seria proporcional ao lucro pessoal. Com relação à
Petrobrás, afirmou que assinara pouco antes o decreto de en-
campação de todas as refinarias particulares, que passavam a
pertencer ao patrimônio nacional.
“A reforma agrária é também uma imposição progressista do
mercado interno, que necessita aumentar a sua produção para so-
breviver. Os tecidos e os sapatos sobram nas prateleiras das lojas
e as nossas fábricas estão produzindo muito abaixo de sua capa-
cidade. Ao mesmo tempo em que isso acontece, as nossas popu-
lações mais pobres vestem farrapos e andam descalças , porque
não têm dinheiro para comprar… (A reforma agrária) interessa,
por isso, também a todos os industriais e comerciantes. A reforma
agrária é necessária, enfim, à nossa vida social e econômica, para
que o país possa progredir, em sua indústria e no bem-estar do seu
povo”. (trecho do discurso de Jango)
O livro Jango, a vida e a morte no exílio, do professor Juremir
Machado da Silva, descreve a entrega pessoal de Jango ao co-
mício: “Saí exausto. Quase desmaiei no carro, para desespero de
Maria Thereza. Ao chegar ao palácio, amassado e sem os botões Jango ao lado da esposa Maria Tereza, discursa no Comício
da camisa, o velho Braguinha pergunta: — Que foi que aconte- da Central do Brasil. Disponível em: http://www.fafich.
ufmg.br/pae/cronologia_republica.htm
ceu, presidente, o senhor parece que está vindo de uma guerra.
Está mesmo. Chega vitorioso. Acaba de travar a sua mais franca
batalha, de peito aberto, corpo exposto aos inimigos. Essa vitória terá o seu preço. A conta chegará logo”.
Pelo que já se sabe, a ofensiva dos setores conservadores do país não demorou a acontecer. Em 19 de março, dia de
São José, considerado o padroeiro da família, milhares de paulistanos saíram às ruas na Marcha da Família com Deus
pela Liberdade. O pânico incutido por quase toda a mídia (a exceção mais conhecida era o Última Hora, jornal de Samuel
Wainer) na classe média contra a “ameaça vermelha” levou, duas semanas depois, ao golpe militar.
Texto do jornalista Fernando do Valle de 13/03/2014. Disponível em:
http://zonacurva.com.br/o-comicio-que-mudou-o-destino-do-pais/

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| PUC RJ Desenvolvimento e integração nacional foram objetivos
de vários governos republicanos brasileiros. O presiden-
te Juscelino Kubitschek (1956-1960) considerava a cons-
trução de Brasília um dos objetivos do seu projeto de
governo.

A Qual a importância da construção de Brasília para


as ações desenvolvimentistas propostas no Plano de
Metas.

B Assim como JK, os governos militares (1964-1985)


também buscaram implementar ações para a in-
tegração nacional. Identifique duas dessas ações
utilizando a concepção de integração presente na
Posição de Brasília no Planalto Central brasileiro e as distâncias a que se
acha das capitais e territórios. Revista Brasília, jan. 1957. imagem apresentada.

54
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Resolução: operárias e lideranças populares deste país. (...) O caminho
das reformas é o caminho do progresso pela paz social. Re-
A Brasília constituiu-se como meta síntese do Plano
de Metas. A interiorização da capital possibilitaria formar é solucionar pacificamente as contradições de uma
a efetivação de uma maior integração, entendida ordem econômica e jurídica superada pelas realidades do
como condição para o desenvolvimento nacional. tempo em que vivemos. (...) Sei das reações que nos espe-
Em complementação às outras metas, a construção ram, mas estou tranquilo, acima de tudo porque sei que o
de Brasília estimularia a indústria automobilística, povo brasileiro já está amadurecido (...) e não faltará com
assim como a produção de matérias primas e a ge- seu apoio às medidas de sentido popular e nacionalista.
ração de energia. Discurso do Presidente João Goulart no Comício da Central do Brasil,
Rio de Janeiro, 13 de março de 1964.
B Os governos militares deram continuidade à cons-
trução de grandes rodovias, cujos exemplos mais ex- O governo de João Goulart (1961-1964) demarcou um
pressivos foram a finalização da Belém-Brasília e a momento de mudanças na história brasileira contem-
Transamazônica. Outra ação de porte foi a constitui- porânea. O discurso acima, pronunciado no polêmico
ção de um sistema nacional de comunicações com a Comício da Central do Brasil, apresenta algumas das
criação da Embratel (1965), a associação ao sistema idéias e propostas desse governante, alvos de intensa
internacional de satélites e criação do Ministério das crítica por parte dos grupos de oposição. Tendo-o como
Comunicações (1967). referência:

02| UFSCAR Esta charge, que faz referência ao presidente A Caracterize duas propostas do programa político de
Jânio Quadros, foi publicada no jornal Última Hora, no Goulart.
Rio de Janeiro, no ano de 1961. B Identifique dois grupos opositores à implementação
desse programa.
Resolução:
A O candidato poderia identificar:
- a defesa da implementação das Reformas de Base
(Agrária, Administrativa, Universitária, Tributária).
Destacou–se, pela polêmica então causada, o deba-
te parlamentar sobre o projeto de Reforma Agrária
proposto pelo governo e a adoção de algumas medi-
das associadas ao referido projeto;
- a aplicação de medidas econômicas de orientação
nacionalista, como a lei de controle sobre a remessa
de lucros, e a criação da Eletrobrás;
- a decretação de anistia para marinheiros e sargen-
A Qual o contexto histórico a que a charge se refere?
tos envolvidos nas revoltas e sublevações então pro-
B Qual a crítica feita pelo autor na charge? movidas, em 1963 e 1964;
Resolução: - a orientação trabalhista valorizadora da aproxima-
ção e do diálogo entre lideranças sindicais e o gover-
A Renúncia à Presidência do Brasil por Jânio Quadros.
no federal.
B Às atitudes politiqueiras de Jânio Quadros juntos à
B Entre os grupos opositores ao governo de João Gou-
oposição brasileira, na tentativa de assegurar sua
lart, o candidato poderia identificar:
popularidade, através dos possíveis efeitos causa-
dos por suas cartas renúncias, tanto no contexto das - Segmentos do alto escalão das Forças Armadas,
eleições, quanto no início do seu mandato. Havendo com destaque para facções da cúpula dirigente do
porém efeitos contrários, já que durante as eleições Exército;
sua renúncia foi questionada, enquanto durante seu
- Facções da burguesia industrial e comercial, contrá-
mandato foi aceita.
rias às medidas de natureza nacionalista;
03| PUC Aqui estão os meus amigos trabalhadores, vencendo - Lideranças político-partidárias contrárias ao traba-
uma campanha de terror ideológico e sabotagem, cuida- lhismo, ao varguismo e ao nacionalismo, destacan-
dosamente organizada para impedir ou perturbar a reali- do-se grupos da UDN e do PSD;
zação deste memorável encontro entre o povo e seu pre- - Setores da classe média urbana descontentes com a
sidente, na presença das mais significativas organizações escalada inflacionária.

55
SISTEMA DE ENSINO A360°

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UNICAMP A Identifique dois elementos de continuidade do perí-
odo de 1946-1964 em relação ao período de Estado
Na foto abaixo reproduzida, o presidente Jânio Quadros con-
Novo, 1937-1945.
decora o líder da Revolução Cubana, Ernesto Che Gue-
vara. B Indique os três maiores partidos políticos da Repú-
blica brasileira de 1946 até o Golpe civil-militar de
1964, e analise uma característica de cada um dos
três partidos.

04| UFF Tendo subido ao poder de Estado em outubro de


1930, Getulio Vargas aí permaneceria como chefe de um
governo provisório, presidente eleito pelo voto indireto
e depois ditador, por um período de quinze anos. Re-
tornando à presidência pelo voto popular em 1950, não
completaria, entretanto, seu mandato, devido a seu sui-
cídio em 1954.
Com relação a esta longa trajetória, o historiador brasi-
leiro Boris Fausto afirma que “o incentivo à industrializa-
(Fonte: http://bloghistoriacritica.blogspot.com.br. Acessado em 3/01/2013.) ção [durante o Estado Novo] foi muitas vezes associado
ao nacionalismo, mas Getúlio evitou mobilizar a nação
A Como essa condecoração pode ser explicada no na cruzada nacionalista.”
contexto das propostas do governo Jânio Quadros
(Boris Fausto. História Concisa do Brasil)
para as relações externas do Brasil?
Com base nessas informações:
B Quais grupos, no Brasil, criticaram esse aconteci-
mento? A indique e analise uma característica do Estado Novo
e outra do 2º Governo Vargas;
02| UNESP
B compare ambos os períodos da gestão de Vargas,
analisando um elemento de continuidade e um de
ruptura existentes entre eles.

05| UFU
No princípio era o ermo
Eram antigas solidões sem mágoa.
O altiplano, o infinito descampado.
No princípio era o agreste:

(Augusto Bandeira. Correio da Manhã, 08.07.1962. In: Rodrigo Patto Sá Motta. O céu azul, a terra vermelho-pungente
Jango e o golpe de 1964 na caricatura, 2006. Adaptado.)
E o verde triste do cerrado.
A charge representa João Goulart e Juscelino Kubits-
[...]
chek. A que episódio político a imagem se refere? Qual é
o contexto político interno em que tal episódio se inse- Era finalmente, e definitivamente, o Homem
re? Justifique sua resposta.
Viera para ficar. Tinha nos olhos
03| UFF No período de 1946 a 1964, assistimos ao pleno A força de um propósito: permanecer, vencer as solidões
desenvolvimento do pacto populista, que não pode
E os horizontes, desbravar e criar, fundar
ser identificado apenas como manipulação das mas-
sas trabalhadoras. O funcionamento do regime nesse E erguer. Suas mãos
período pressupõe elementos de continuidade do pe-
Já não traziam outras armas
ríodo estado novista e a criação de novos mecanismos
de dominação. Que as do trabalho em paz. Sim,

56
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Era finalmente o Homem: o Fundador. Trazia no rosto em 1958, dois anos antes da fundação da cidade. Divi-
dida em cinco partes, ela seria apresentada durante os
A antiga determinação dos bandeirantes [...]
festejos da inauguração do novo Distrito Federal. Mas
Tratava-se agora de construir: e construir um ritmo novo. o trabalho dos artistas só veio a público 26 anos mais
tarde.
Para tanto, era necessário convocar todas as forças vi-
vas da Nação, todos os homens que, com vontade de A partir do trecho acima, faça o que se pede.
trabalhar e confiança no futuro, pudessem erguer, num A Qual é o sentido atribuído à construção de Brasília
tempo novo, um novo Tempo. nos versos em que a sinfonia resgata a imagem do
MORAES, Vinícius de; JOBIM, Antônio Carlos. ―Brasília, Sinfonia da Alvorada‖. Disponível em bandeirante?
http://letras.mus.br/vinicius-de-moraes/87259/ Acessado em 18 mar.2014 ( adaptado).
B Aponte dois motivos pelos quais Juscelino Kubits-
A “Sinfonia de Brasília’”, como mais tarde passou a ser chek chamou Brasília de ―meta síntese‖ do Plano
chamada, foi encomendada por Juscelino Kubitschek de Metas de seu governo.

T ENEM E VESTIBULARES
01| FGV Leia esta notícia veiculada pela imprensa em 13 de da sua fundação e interrompida, pela primeira vez,
agosto de 2013. em 1947.
A Câmara dos Deputados devolveu hoje, simbolicamen- E A cassação levou ao fim do PCB e à fundação do PC
te, o mandato parlamentar a 14 deputados, do antigo do B, que teve seus direitos imediatamente reco-
Partido Comunista Brasileiro (PCB), que foram cassados nhecidos, e à formação de diversos outros peque-
em 1948. Os mandatos foram cassados pelo então Supe- nos partidos, que se dedicaram à luta armada.
rior Tribunal Eleitoral (STE), que cancelou o registro do
partido em 7 de maio de 1947, quase três anos após os 02| UFPE A presidência do Brasil pelo General Eurico Gaspar
deputados terem sido eleitos. Dutra (1946-1951), que sucedeu o Estado Novo:
No início da sessão, o presidente da Câmara, deputado 00. caracterizou-se pelo alinhamento do Brasil com os
Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), prestou sua home- Estados Unidos, no contexto da Questão Guerra
nagem aos deputados cassados. “Hoje, ao prestar esta Fria.
homenagem, resgatamos a dignidade do Parlamento 01. rompeu relações do Brasil com a União Soviética e
brasileiro frente a um episódio que fez o partido sangrar colocou o Partido Comunista Brasileiro na ilegalidade.
e deixou importante parcela da população sem repre-
sentação política”, disse. 02. definiu para a classe trabalhadora uma política de
arrocho salarial e de pressão sobre os sindicatos.
http://www.ebc.com.br/noticias/politica/2013/08/ camara-devolve
simbolicamente-mandato-a-14-deputados-do-pcb-cassados-em. Acesso em 02 de setembro
de 2013. 03. estabeleceu o direito de voto para os analfabetos,
que constou da Constituição promulgada em seu
Com base nessa notícia, é correto afirmar: governo.
A A cassação dos parlamentares ocorreu devido à 04. criou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econô-
descoberta de um projeto de tomada do poder pelo mico e Social (BNDES) e a Petrobras, visando estimu-
PCB, que teria como base a formação de uma guer- lar a industrialização.
rilha rural estabelecida no interior do Brasil.
B A cassação dos parlamentares revela os limites da 03| PUC No combate à inflação, o governo de Eurico Gaspar
democracia brasileira entre 1945 e 1964, impedindo Dutra (1946-1951) buscou direcionar os gastos públicos
a livre organização partidária no país, no contexto em investimentos nos setores considerados prioritários.
da Guerra Fria. Nasceu, então, o plano SALTE, destinado a investir em
saúde, alimentação, transporte e energia. Mas o desen-
C A cassação dos parlamentares ocorreu devido à de- volvimento brasileiro, especialmente da indústria, ficou
núncia do deputado comunista Jorge Amado de que abaixo das aspirações dos industriais brasileiros. Isso
o PCB havia conspirado com Getúlio Vargas visando ocorreu em razão
à manutenção do Estado Novo.
A de políticas econômicas que regulavam os preços
D A cassação interrompeu uma longa jornada de fun- dos produtos essenciais, para proteger a indústria
cionamento legal do PCB, iniciada em 1922, quando nacional.

57
SISTEMA DE ENSINO A360°

B das facilidades à exportação de bens duráveis, pro- Esse período de grande otimismo vivenciado no Brasil
movidas pelas políticas econômicas do governo. na segunda metade dos anos de 1950, apresentado no
C da abertura do mercado brasileiro à importação de fragmento de texto acima, está relacionado
bens supérfluos.
A ao fechamento da economia para os investimentos
D de políticas econômicas voltadas para a seleção das e capitais estrangeiros, buscando restringir a con-
importações, priorizando os bens duráveis. corrência e incentivar a indústria nacional.
E da captação de recursos a partir da construção das
B à diminuição da dívida externa e ao controle da in-
indústrias de base e da política econômica naciona-
lista do governo. flação, resultado dos empréstimos acertados com
o Fundo Monetário Internacional.
04| ACAFE A 60 anos atrás, em agosto de 1954, morria Ge-
C à conquista de resultados expressivos na econo-
túlio Vargas. Contestado e amado por muitos, a figura de
Vargas ainda desperta o interesse da historiografia brasi- mia, com avanços no PIB e crescimento importante
leira, atestado pelos constantes livros que estudam seus do setor industrial e de serviços.
governos.
D aos incentivos federais para a ampliação da malha
Acerca do seu governo de 1951 a 1954 é correto afirmar, Ferroviária, em detrimento da rodoviária, dimi-
exceto: nuindo assim os gastos com transporte e logística.
A O conhecido atentado da rua Toneleros e o envolvi-
mento de Gregório Fortunato resultou numa grande 06| MACK
articulação contra o governo de Vargas, especial-
[…] a herança do tempo de Vargas se materializou em
mente dentro das Forças Armadas, que exigia a re-
núncia do presidente. instituições e projetos que extrapolam o contexto em
que emergiram e continuaram a influenciar nossa his-
B Fazendo parte de um projeto nacionalista, Vargas
tória social depois do trágico suicídio. O suicida conti-
mobilizou uma significativa parte da imprensa e da
nuou presente, como referência positiva ou negativa,
população para, em 1953, criar a Petrobrás, que
passou a deter o monopólio da prospecção e refina- para os homens que pretendiam fazer o futuro, e que
mento do petróleo no Brasil. consideravam que o passado que herdavam era marca-
do sobretudo pela figura do estadista”.
C Ao nomear João Goulart (Jango) para Ministro do
Pedro Paulo Zahluth Bastos e Pedro Cezer Dutra Fonseca (orgs).
Trabalho, Vargas obteve o apoio de Carlos Lacerda “Apresentação”. In: A Era Vargas: Desenvolvimento,
e da UDN (União Democrática Nacional). Este apoio Economia e Sociedade. São Paulo:

foi decisivo para a implantação da CLT (Consolidação Editora UNESP, 2012, p.08

das Leis do Trabalho). Podemos citar, como herança do tempo de Vargas,


D A notícia da morte de Getúlio Vargas desencadeou A o populismo, pois é um dos motivos pelas críticas
uma intensa reação popular em várias capitais do internacionais feitas aos governos recentes do Bra-
país. As instituições (jornais, rádios e sede de parti-
sil, habituados ao mandonismo local e à censura.
dos) que lembravam a oposição ao presidente Var-
gas foram atacadas. B a política trabalhista, uma vez que praticamente
toda a legislação atualmente em vigor foi elabora-
05| UFU Em comparação com o governo de Vargas e os me- da durante a Era Vargas.
ses que se seguiram ao suicídio do presidente, os anos
JK podem ser considerados de estabilidade política e de C o poder coercitivo sobre a população, já que tanto
relativa democracia. Mais do que isso, foram anos de naquela época quanto atualmente os presidentes
otimismo, embalados por altos índices de crescimen- são oriundos de grupos latifundiários autoritários.
to econômico, pelo sonho realizado da construção de
D a manipulação e censura à imprensa, prática de raí-
Brasília. Os “cinquenta anos em cinco” da propaganda
zes históricas e de difícil superação no Brasil, em fun-
oficial, com seu ambicioso Programa de Metas, abran-
gendo várias áreas da economia nacional, incentivando ção do controle estatal dos meios de comunicação.
a construção de grandes obras públicas, que repercuti- E a política industrial, pois o intervencionismo é o
ram positivamente em amplas camadas da população. aspecto mais marcante tanto da Era Vargas quanto
FAUSTO, Boris. História do Brasil.
São Paulo: Edusp, 1998, p. 422. (Adaptado)
dos governos pós-Regime Militar.

58
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
07| UNESP Analise o cartaz da campanha presidencial do A No século XX, o país teve a sua capital transferida
Marechal Henrique Teixeira Lott. por duas vezes: no primeiro momento, de Salvador
para o Rio de Janeiro e, no segundo, para Brasília.
Nas duas ocasiões, isso ocorreu como resultado de
movimentos emancipacionistas de ruptura política.
B A transferência da capital brasileira, de Salvador
para o Rio de Janeiro, resultou, principalmente, do
processo de independência política em 1822, como
conotação de elemento subversivo da ordem colo-
nial.
C A transferência da capital para Brasília traduziu a
plataforma política do nacionalismo desenvolvi-
mentista de Juscelino Kubitscheck e concretizou as
estratégias das elites políticas e econômicas brasilei-
ras em distanciar a administração federal das gran-
O cartaz, que foi empregado na campanha para a Presi- des aglomerações urbanas do sudeste e, portanto,
dência da República em 1960, das pressões políticas dos diversos setores sociais.

A confirma a presença de Vargas como principal arti- D A ocupação histórica humana e econômica do Plano
culador da candidatura de Lott e relembra as dificul- Piloto de Brasília permitiu a redução das disparida-
dades na construção da nova Capital. des socioeconômicas existentes entre as diferentes
regiões brasileiras e também daquelas no interior
B demonstra a aliança do conjunto das classes sociais da própria capital federal.
brasileiras com Lott e defende a necessidade de uni-
dade política na busca pelo progresso do país. E O contexto histórico de transferência da capital fe-
deral para Brasília foi marcado pela repressão po-
C celebra o desenvolvimentismo dos governos ante- lítica da Era Vargas e representou a afirmação das
riores e alerta para o risco iminente de golpe militar. ideias do nacionalismo fascista do Estado Novo.
D ressalta a aliança partidária construída em torno do
nome de Lott e destaca a continuidade política que 09| UERJ
sua candidatura representa.
E apresenta a candidatura de Lott à presidência como
expressão do populismo e do esforço de incorporar
os setores trabalhadores à política.

08| IFGO Observe a figura do Projeto do Plano Piloto de


Brasília e assinale a alternativa correta sobre o processo
histórico de transferência da capital brasileira em dife-
rentes momentos.

Juscelino Kubitschek na inauguração da representação


da Volkswagen no Brasil, em 1959. folha.uol.com.br

Getúlio Vargas examinando o protótipo de um carro


COSTA, L. Projeto do Plano Piloto de Brasília. 1957.
Disponível em: <http://www.arquitetonico.ufsc.br/unidade-de-vizinhanca >
brasileiro produzido pela Fábrica Nacional de Motores,
Acesso em: 28 out. 2013. em 1951. carroantigo.com

59
SISTEMA DE ENSINO A360°

Os governos de Getúlio Vargas e de Juscelino Kubitschek 12| MACK Em fins de agosto de 1961, a imprensa anunciava
foram momentos marcantes da história econômica bra- que Ranieri Mazzilli assumia o governo em seguida à ines-
sileira, especialmente no que se refere ao desenvolvi- perada renúncia de Jânio Quadros. O presidente vinha
mento industrial do país. sendo alvo de agudas críticas, entre outras razões, porque
Uma semelhança entre o processo de industrialização A a política econômica adotada por Jânio assumia
brasileiro verificado no governo de Vargas e no de JK cada vez mais uma orientação efetivamente socialis-
está apontada em: ta, visível na aproximação das relações diplomáticas
A expansão do mercado interno e comerciais com Cuba e com a URSS.
B acirrava-se o desacordo entre o presidente e seu
B flexibilização do monetarismo
vice, João Goulart, eleito por outro partido, tornan-
C regulação da política ambiental do impossível a permanência de um e outro, junta-
mente, no comando político do país.
D autonomia do progresso tecnológico
C grande parte do empresariado nacional se descon-
10| UECE Jânio Quadros venceu as eleições de outubro de tentara com a política demasiado democrática do
1960 com 48% dos votos. Atente para as afirmações a presidente, que pusera em execução um sem-nú-
respeito de alguns dos seus atos, como Presidente. mero de planos de melhorias sociais, tanto nas cida-
des como no campo.
I. Ocupou-se de temas de menor importância como a
D setores conservadores da sociedade se opunham ao
proibição de brigas de galo, lança-perfume e uso de
caráter “independente” da política externa de Jânio,
biquínis nas praias brasileiras.
sobretudo após a inopinada condecoração, pelo
II. No âmbito político, combinou iniciativas simpáticas presidente, do ministro cubano Ernesto Guevara.
à esquerda, com medidas agradáveis aos conserva- E havia claros indícios de que, com o apoio das Forças
dores. Armadas, Jânio pretendia articular um golpe contra o
III. Criou conflitos em relação a sua política externa ao Congresso Nacional (as “forças ocultas” da carta-re-
declarar “uma vaga simpatia” pelo regime de Fidel núncia), fechá-lo e governar ditatorialmente.
Castro e ao condecorar Che Guevara.
13| ESCS Não foram poucas as crises que marcaram a expe-
Está correto o que se afirma em riência democrática protagonizada pelo Brasil — assim
A I, II e III. como pela América Latina — nas décadas que se segui-
ram ao fim da Segunda Guerra Mundial. Tentativas de
B I e II apenas.
interrupção da ordem institucional, golpes e contragol-
C I e III apenas. pes de Estado, presença ostensiva do segmento militar
D II e III apenas. na vida política foram fatores desestabilizadores de uma
ordem democrática que, com dificuldade, procurava se
11| FGV A eleição de Jânio Quadros, em 1960, significou cer- firmar. Relativamente a esse cenário de permanente ins-
ta alteração de rumos da política brasileira com relação tabilidade, assinale a opção correta.
ao período iniciado em 1945. Tal alteração baseou-se: A O golpe militar de 1964 colocou o Brasil na contra-
A No apoio que os comunistas emprestaram à candi- mão da América Latina, já que, naquele contexto
datura de Jânio em troca da legalização do PCB, que histórico, a partir do Cone Sul, a democracia se con-
ocorreria em 1961. solidava na região.
B Na primeira vitória das forças trabalhistas em plei- B Exemplos dramáticos das crises que se sucederam
tos nacionais e no fortalecimento de novas lideran- no Brasil entre o fim do Estado Novo e o golpe de
ças sindicais. 1964 foram, entre outros, o suicídio de Vargas, a re-
C No rompimento da hegemonia paulista e no des- núncia de Jânio e a destituição de João Goulart.
contentamento militar provocado pelas propostas C Os “50 anos em 5” de JK foram marcados pela ênfa-
eleitorais janistas. se na política social do governo, na qual se destaca-
D Na vitória de uma candidatura da UDN, que inter- ram a revolução educacional e a universalização do
rompeu a série de vitórias do PSD e do PTB, em ar- sistema oficial de saúde.
ranjo político orquestrado por Getúlio Vargas. D A ruptura institucional de 1964, que mergulhou o
E Na inauguração de um novo estilo político baseado país no autoritarismo, deveu-se à ação solitária dos
na valorização das estruturas partidárias e na defini- militares, dela sendo excluídos o empresariado, os
ção clara de propostas políticas programáticas. meios de comunicação e a hierarquia eclesiástica.

60
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
14| FAMECA Observe a charge do presidente João Goulart A celebra as reformas realizadas pelo presidente João
(1961-1964). Goulart e as interpreta como sendo resultado das
mobilizações populares.
B mostra que o golpe militar é iminente e que o presi-
dente João Goulart defende a necessidade de repri-
mir os movimentos sociais.
C critica o presidente João Goulart e faz alusão a
protestos, greves e forte crise política e social, que
ocorriam durante seu governo.
D rejeita a autoridade do presidente João Goulart e
defende a rebelião como única saída para superar
as dificuldades políticas e econômicas.
E destaca o uso político da mídia pelo presidente João
(Augusto Bandeira. Correio da Manhã, 03.10.1962. In: Rodrigo
Patto Sá Motta. Jango e o golpe de 1964 na caricatura, 2006.) Goulart e critica a influência do rádio e da televisão
no cotidiano dos brasileiros.
A charge satiriza
A a adoção do sistema parlamentar que, diferente-
mente do presidencialismo, permitia o confronto
entre a esquerda e a direita.
B a contradição entre a política externa, de claro apoio
aos países socialistas, e as medidas direitistas adota-
das pelo presidente.
C o caráter ditatorial do regime, que proibiu a radica-
lização ideológica dos partidos políticos e dos movi-
mentos sociais.
D a dificuldade do presidente em lidar com as diferen-
tes tendências ideológicas, que esteve ligada à que-
da desse governo.
E a ambiguidade do presidente, que se recusou a
apoiar as ideias esquerdistas defendidas pelos parti-
dos de oposição.

15| PUC

Augusto Bandeira. Correio da Manhã, 21.09.1963. Apud: Rodrigo Patto Sá Motta. Jango e o
golpe de 1964 na caricatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006, p. 104.

É correto afirmar que a charge, publicada em setembro


de 1963,

61
SISTEMA DE ENSINO A360°

DITADURA MILITAR NO BRASIL: A OBSTRUÇÃO DA DEMOCRACIA NO PAÍS


CONTEXTUALIZANDO O GOLPE
Os militares, através da justificativa de defender
o país da ameaça comunista, deram o golpe em 1964,
tirando João Goulart do poder e instaurando um regi-
me militar que perdurou de 1964 a 1985. Cinco mili-
tares sucederam-se no poder: Castelo Branco, Costa
e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo. Esses longos 21
anos foram marcados pela extrema violência por par-
te do militares: perseguindo, prendendo, torturando e
matando estudantes, jornalistas, políticos e qualquer
outra pessoa ou instituição que se colocasse contra o
regime. Um exemplo foi o incêndio no prédio da UNE
(União Nacional dos Estudantes) no Rio de Janeiro,
instituição a qual, naquele período, representava os
interesses dos estudantes mais politizados.
Uma das formas encontradas pelos militares de
legalizar o novo regime foi a criação dos Atos Insti- Figura 1- Militares perseguindo um manifestante em 1964.
tucionais, os quais consistiram-se em medidas, com Ver em: http://mercadopopular.org/2014/03/uma-visao-liberal-do-golpe-militar-
força de lei, impostas pelo governo sem que a popula- -de-1964/
ção, o legislativo e o judiciário tenham sido consulta-
dos. Em outras palavras, a partir de uma leitura mais crítica dos fatos, esses atos foram medidas antidemocráticas e antiliberais,
pelas quais o Estado buscava garantir seus interesses políticos, econômicos e sociais, que estavam ligados ao capital monopo-
lista internacional e ao grande capital nacional. Vale destacar, portanto, que a ditadura militar, no Brasil, adotou o modelo de
desenvolvimento dependente, subordinando nossa economia ao capital e a interesses estrangeiros.
No que tange à discussão envolvendo a relação de um determinado Estado com as empresas multinacionais, elas “não só
precisam de um Estado, como de um Estado realmente mais forte que o Estado nacional ‘clássico’ que as capacite, ao menos
em parte, a superar as contradições econômicas e sociais que periodicamente ameaçam seus gigantescos capitais” (Mandel,
1982, p. 232). O Estado militar no Brasil serviu categoricamente a essas necessidades, pois garantiu às empresas monopolistas
multinacionais e nacionais a reprodução de seus grandes capitais na região e ainda controlou qualquer reação social que ma-
nifestasse críticas ao sistema.

GOVERNO CASTELO BRANCO (1964-1967)


ANTECEDENTES
Com a deposição de João Goulart, quem assumiu
o poder de forma provisória foi o então presidente da
Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli. Ainda no mês
de abril de 1964, o Congresso Nacional foi reunido e,
sob forte pressão militar, elegeu para a presidência
da República, de forma indireta, o marechal Castelo
Branco. Poucos dias antes de o marechal assumir o
poder, já tinha sido decretado o Ato Institucional n°
1 (AI – 1). O primeiro dos AIs permitia ao presidente:
suspender os direitos políticos de qualquer cidadão;
cassar mandatos de parlamentares; decretar estado
de sítio (suspensão dos direitos individuais previstos
na Constituição); e modificar a Constituição.
Vale lembrar que vivíamos o contexto da Guer-
ra Fria e Castelo Branco, de prontidão, deixou clara a
posição do país em se aliar ao bloco capitalista lidera-
do pelos E.U.A, rompendo relações diplomáticas com Figura 2- Castelo Branco consolidou o regime militar.
Cuba. O golpe militar foi apoiado e patrocinado pelos Disponível em: http://www.brasilescola.com/historiab/castelo-branco.htm

62
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
E.U.A e por suas multinacionais, que visavam, consequentemente, garantir seus interesses políticos e econômicos no Brasil.
Diante da aliança, o país passou a seguir a Doutrina de Segurança nacional – doutrina elaborada por militares norte-america-
nos e aperfeiçoada por estrategistas brasileiros na Escola Superior de Guerra (ESG) –, a qual tinha como objetivo combater o
comunismo na América, os ditos “inimigos internos”, os subversivos.

INTENSIFICAVA-SE A CRISE ECONÔMICA


No que tange à economia, o país vivia uma forte crise, a qual vinha se intensificando desde o Governo JK, devido à grande
dívida externa que foi deixada pelo então presidente aos governos posteriores. Buscando controlar a crise, o ministro do Pla-
nejamento, Roberto Campos, e o ministro da Fazenda, Otávio Gouveia de Bulhões, elaboraram o Programa de Ação Econômica
do Governo (PAEG). Visando ao combate à corrupção, tal programa favoreceu o capital estrangeiro, restringiu o crédito, reduziu
os salários dos trabalhadores e aumentos os impostos. Percebe-se aí como se buscava um desenvolvimento econômico sem se
preocupar com o social, ou seja, atendiam ao grande capital externo e nacional (a elite brasileira), relegando à própria sorte as
camadas populares, que sofriam com a miséria e com a fome.

OS ATOS INSTITUCIONAIS CASTELISTAS


Visando reforçar o autoritarismo, foi decretado o Ato Institucional n°2 que, entre suas diversas medidas, extinguiu todos os
partidos políticos existentes, substituídos por dois únicos: a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), que apoiava totalmente o go-
verno militar; e o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que era uma oposição bem-comportada. Nesse contexto, foi criada
também a Lei de Segurança Nacional, a qual enquadrava como inimigos da pátria (e, portanto, criminosos) todos aqueles que se
opunham ao governo militar. Diante do cenário de revogação dos direitos democráticos dos cidadãos brasileiros, diversos intelec-
tuais e artistas do país reagiram ao golpe de 1964 por meio da música, do teatro, do cinema e de diversas outras manifestações cul-
turais. Assim, estouraram manifestações nas principais capitais do país, as quais foram duramente reprimidas pelas tropas oficiais.
Logo em seguida, veio o Ato Institucional n°3, que estabelecia eleições indiretas para governadores dos estados, os quais
nomeariam os prefeitos das capitais. Portanto, os cidadãos, por esse ato, perderam o direito de eleger seus próprios governan-
tes, demonstrando a total intolerância e autoritarismo dos militares. Ainda nesse governo, foi decretado o Ato Institucional
n°4, que dava ao executivo poderes para elaborar uma nova Constituição, o que logo em seguida aconteceu. Em 1967, foi
formalmente promulgada e materialmente outorgada (imposta) uma nova Constituição Federal que ampliava os poderes do
presidente, deixando claro seu objetivo de concentrar o poder no executivo, enfraquecendo o legislativo e o judiciário.
Ainda em 1967, o alto comando militar escolheu, para substituir Castelo Branco, o general da “linha-dura”, Artur da Costa
e Silva, que era o ministro da Guerra. Costa e Silva tornou-se presidente em 15 de março daquele ano.

GOVERNO COSTA E SILVA (1967-1969)


INTENSIFICAÇÃO DAS MANIFESTAÇÕES POPULARES
O general Costa e Silva foi o escolhido para suce-
der Castelo Branco pelo fato de ser da “linha-dura”,
ou seja, ala que defendia a intensificação da repres-
são. Contudo, à medida que foi aumentando a repres-
são, cresceram com a mesma intensidade as manifes-
tações contra o regime militar.
A primeira das manifestações de maior propor-
ção foi a Passeata dos Cem Mil, a qual ocorreu em
março de 1968 no Rio de Janeiro. Nesse ano, crescia
em várias partes do mundo o movimento estudantil
– e no Brasil não foi diferente. Os estudantes fizeram
manifestações protestando contra a qualidade da co-
mida fornecida no restaurante universitário calabou-
ço e, em uma destas manifestações, o paraense Ed-
son Luís foi morto pela polícia. Indignados com o fato,
estudantes, políticos, artistas e trabalhadores promo-
veram uma onda de protestos (sendo que o maior de-
les foi a Passeata dos Cem Mil) criticando duramente Figura 3- O povo nas ruas do Rio de Janeiro.
o fato de os militares estarem no controle do poder Ver em: http://www.anovademocracia.com.br/no-18/853-1o-de-abril-40-anos-
executivo. Queriam o fim do regime militar. -de-golpe

63
SISTEMA DE ENSINO A360°

CONTROLE DO PODER EXECUTIVO. QUERIAM O FIM DO REGIME MILITAR.


Outro movimento estudantil que se destacou no ano de 1968 foi o Congresso da UNE, realizado na cidade de Ibiúna, no
interior do Estado de São Paulo. Com mais de 700 participantes, os estudantes desafiavam os militares planejando mobilizar
sua categoria em torna da luta contra o regime; entretanto, o plano foi descoberto e a polícia invadiu o local, prendendo vários
integrantes.
No ano de 1968, também se destacaram os movimentos operários, os quais mostraram integração e mobilização em defesa
da democracia e em busca de melhores salários. Duas grandes greves foram as mais numerosas: em Contagem (MG), que con-
tou com cerca de 15 mil trabalhadores; e outra em Osasco (SP). Ambas foram reprimidas com muita violência – arma principal
dos militares contra todos os movimentos de crítica ao regime.

AI-5: O MAIS REPRESSOR DOS ATOS INSTITUCIONAIS


Diante do crescimento das manifestações e da pressão social em favor da democracia, o governo militar reagiu decretando
o Ato Institucional n°5 (AI-5), que foi o principal instrumento de força lançado pela ditadura.
Por meio do AI-5, o presidente passou a ter plenos poderes, sem restrições, para reprimir, perseguir e até matar membros
da oposição. Entre os diversos poderes concedidos ao presidente, os de maior relevância são: poder fechar o Congresso nacio-
nal, criar leis, cassar mandatos políticos e suspender o direito ao habeas-corpus (garantia constitucional outorgada que, segun-
do a Constituição, “beneficia quem sofre ou se acha ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção,
por ilegalidade ou abuso de poder”).
Logo após a decretação do AI-5, o presidente Costa e Silva sofreu um derrame e afastou-se do poder. Por lei, seu vice, o
civil Pedro Aleixo, deveria assumir a presidência, mas uma junta militar, composta pelos ministros do Exército, da Marinha e da
Aeronáutica, impediu sua posse e assumiu o poder. Essa Junta Militar ficou no poder por dois meses, setembro e outubro de
1969, período suficiente para alterarem a Constituição de 1967, dando origem a um novo texto constitucional.

GOVERNO MÉDICI (1969-1974)


O APOGEU DO REGIME MILITAR
O governo de Emílio Garrastazu Médici foi o mais repressivo da história brasileira: os considerados “subversivos” (qualquer
pessoa que fosse contra o regime militar) eram presos, torturados e mortos. Os cidadãos tiveram seus direitos fundamentais
suspensos, não podendo expressar sua própria opinião diante do contexto. Os meios de comunicação e entretenimento –
revistas, jornais, discos, livros, peças de teatro, etc. – eram vigiados permanentemente pela censura, e qualquer informação
que fosse contra o regime era imediatamente proibida de ser divulgada. Alguns jornais, devido à perseguição, fecharam suas
portas, além de casos de assassinato de jornalistas. Visando restringir as ações daqueles que lutavam pela democracia no país,
órgãos de repressão foram criados. Entre eles, devem-se destacar o Serviço Nacional de Informação (SNI) e o Departamento
de Ordem Política e Social (DOPS), através dos quais os militares controlavam a vida política e pública de instituições e pessoas
consideradas ameaça ao regime militar.
Além da violência, Médici recorreu à propaganda de massa, buscando encobrir a face autoritária e cruel de seu governo.
Milhões de cruzeiros (moeda da época) foram gastos para melhorar sua imagem frente ao povo. Foram criados slogans como a
famosa frase “Brasil: ame-o ou deixe-o”, ou seja, o cidadão deveria apoiar o regime militar ou abandonar o país.

64
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
RESISTÊNCIA CULTURAL E ARMADA: A LUTA PELA DEMOCRACIA
Diante do autoritarismo dos militares e da vio-
lência física e psicológica imposta por eles, diversos Região da Guerrilha
segmentos da sociedade reagiram através das mídias,
da música e também pegando em armas. Quanto à
do Araguaia
resistência cultural, podem-se mencionar a criação
do jornal “O Pasquim” que, através humor, fazia crí-
ticas ao regime autoritário instaurado e também as
chamadas canções de protesto. Diversos cantores,
através de sua arte, compunham músicas de crítica
ao regime; entre eles, vale destacar Chico Buarque e
Geraldo Vandré.
Houve aqueles que decidiram pegar em armas
contra o governo militar, dando início à resistência

T
armada. A oposição ao regime formou organizações
guerrilheiras e lideradas por personalidades como
Carlos Marighela e Carlos Lamarca – considerados os

ia
ua
principais líderes da esquerda no país naquele perío-

ag
do – que promoviam assaltos a bancos, para financiar

Ar
a guerrilha, e sequestros de diplomatas estrangeiros,
os quais eram utilizados como moeda de troca pela
libertação dos presos políticos. Os sequestros dos
embaixadores dos E.U.A e da Alemanha Ocidental fi-
caram registrados na história. Figura 4- Ver em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Guerrilha_do_Araguaia

Formaram-se grupos de guerrilha urbana e de guerrilha rural. Nesse sentido, vale destacar a guerrilha rural de maior pro-
porção e destaque, a Guerrilha do Araguaia. O conflito teve início em 1972, quando 69 membros do PC do B (Partido Comunista
do Brasil) se instalaram no Araguaia, na região denominada bico do papagaio – faixa que abrange desde marabá, no sul do Pará,
até Araguaína, então norte de Goiás e atual Tocantins, e se estendendo até São Félix do Araguaia, no norte de Mato Grosso. Em
1974, o governo (através do exército composto com mais de 10 mil soldados) massacrou os revoltosos no Araguaia, matando
praticamente todos os guerrilheiros.

“MILAGRE ECONÔMICO”: PASSAGEIRO!


Diante da grave crise econômica que vinha afe-
tando o país, Médici se viu obrigado a adotar drásticas
medidas para melhorar o campo econômico, as quais
trouxeram um significativo desenvolvimento, ficando
conhecidas como o “milagre econômico” ou milagre
brasileiro. O então ministro da Fazenda, Antônio Del-
fim Neto, foi o condutor desse desenvolvimento, le-
vando a economia a um crescimento de 10 % ao ano
e a uma baixa inflação. Para atingir seus objetivos, ele
fez empréstimos no exterior, atraiu capitais estrangei-
ros e adotou uma rígida política de arrocho salarial,
baixando os salários dos trabalhadores. Com dinheiro
nos cofres e almejando dar à sociedade a sensação
de pleno desenvolvimento, foram realizadas grandes
obras como, por exemplo, a Ponte Rio-Niterói, polos
petroquímicos, Estádio Serra Dourada, Autódromo de
Goiânia, entre outros.
Entretanto, esse desenvolvimento foi passageiro, Figura 5- Ver em: http://ghdobrasil.spaceblog.com.br/898989/Golpe-de-Estado-
-no-Brasil-em-1964/
pois essas medidas de caráter emergencial tinha pra-
zo de validade, já que depois desencadearam uma crise ainda mais profunda. O fim do “milagre” teve início em 1973, devido à
crise do petróleo no mercado internacional. Devido aos conflitos entre árabes e judeus, o preço do barril de petróleo triplicou,
uma vez que os países árabes eram (e ainda são) os principais produtores, mas, pelo fato de estarem envolvidos em conflitos,

65
SISTEMA DE ENSINO A360°

diminuíram a produção. Pode-se perguntar o porquê de o Brasil ter sido afetado


economicamente devido a conflitos internacionais. A resposta é simples: nesse pe-
ríodo, 80 % do petróleo aqui consumido era importado e, por isso, a crise do petró-
leo atingiu em cheio a economia nacional. Em consequência desse grande impacto
que sofreu a economia brasileira, houve o declínio do Produto Interno Bruto (PIB) e
o aumento da inflação, restando-nos uma grande dívida externa.
Tinha início uma crise econômica ainda mais grave, e o governo militar, sem
argumentos, perdia sua credibilidade. Então, as oposições se organizaram, exigin-
do a volta da democracia, já que a promessa dos militares de resolver o problema
econômico se definhou.

GOVERNO GEISEL (1974-1979)


INÍCIO DO PROCESSO DE DISTENSÃO
O sucessor de Médici foi Ernesto Geisel, o qual, diferentemente de seus dois
antecessores, era da chamada linha-moderada dentro do exército, ala dos milita-
res que eram favoráveis à devolução gradual do poder aos civis. Era o início do
processo de distensão. Conforme palavras do novo presidente, o poder deveria
ser entregue aos civis, porém a partir de um processo lento, gradual e seguro de
abertura democrática.
Dando inicio a suas ações em sentido democrático, Geisel diminuiu a censura
sobre os meios de comunicação, permitindo a propaganda eleitoral no rádio e na
TV. Ainda em 1974, permitiu, também, a realização de eleições livres para deputa-
Figura 6 - Fotografia da cela com o corpo do
dos, senadores e vereadores. Nesse contexto, o MDB, que era o único partido de jornalista Vladimir Herzog.
oposição aos militares, alcançou vitórias significativas nas eleições contra a ARENA, Ver em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Vladi-
o que consequentemente desagradou a linha-dura do exército. mir_Herzog

Desaprovando de forma categórica o processo de abertura democrática, os comandantes dos órgãos de repressão do regi-
me militar intensificaram a violência sobre os “subversivos”. Podem-se registrar, nesse sentido, dois casos da extrema violência
dos militares: a prisão e assassinato do jornalista Vladimir Herzog (1975) – diretor de jornalismo da TV Cultura – e do operário
Manuel Fiel Filho (1976), ambos considerados comunistas e mortos nas dependências do II Exército em São Paulo.

RETROCESSO DA ABERTURA POLÍTICA: UM PASSO PARA FRENTE, DOIS PASSOS PARA TRÁS!
Diante dos casos de violência que deixavam a sociedade escandalizada, as oposições ao regime cresciam e o então presi-
dente Geisel, o mesmo que deu início ao processo de abertura democrática, temendo o avanço das oposições, retrocedeu no
processo de abertura política. O primeiro recuo foi em 1976, quando Geisel aprovou a Lei Falcão, que proibia o debate político
ao vivo na imprensa e só permitia mostrar na TV a
fotografia do candidato, acompanhada de algumas
informações sobre ele e seu partido.
O segundo recuo foi com a imposição do Paco-
te de Abril (1977), medidas através das quais Geisel
dava um segundo passo atrás no processo de abertu-
ra. Entre essas medidas, cabe destacar: um terço dos
senadores seria escolhido diretamente pelo governo,
eram os chamados senadores biônicos, que serviam
de manobra do governo dentro do congresso nacio-
nal; e também a mudança do mandato presidencial
de cinco para seis anos.
Obras faraônicas: investimento nas indústrias
No plano econômico, Geisel elaborou o que fi-
cou conhecido como o II Plano Nacional de Desen-
volvimento (II PND), buscando manter o crescimento Figura 7- Charge criticando a Lei Falcão.
Ver em: http://www.historiadigital.org/curiosidades/25-curiosidades-sobre-as-
econômico e estimular a produção industrial. Nesse -eleicoes-e-o-voto-no-brasil/

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CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
contexto, foram construídas as chamadas obras faraônicas, devido ao seu grande porte, entre as quais podemos destacar: no
setor de energia, a construção das grandes usinas hidrelétricas de Itaipu (PR), Tucuruí (PA) e Sobradinho (BA); e no setor de
mineração, a exploração do minério de ferro da Serra dos Carajás e extração da bauxita através da Albrás e da Alunorte.
Essas obras exigiram grandes empréstimos no exterior, embora não fossem prioritárias devido aos graves problemas sociais
pelos quais o país passava, ou seja, o governo, para dar a impressão de pleno crescimento econômico-industrial, relegou à sua
própria sorte as camadas populares que necessitavam do fundamental para a sobrevivência. Isso é uma demonstração clara de
como os governos militares atenderam ao grande capital estrangeiro e ao grande capital nacional (elite), garantindo a expansão
do capital monopolista, que se perpetua a partir da miséria de muitos.
No cenário internacional, o mundo era afetado pela crise do petróleo, o que gerou um forte impacto em nosso comércio
exterior, agredindo consequentemente a economia nacional. Para enfrentar a crise do petróleo, Geisel continuou fazendo em-
préstimo em dólares no exterior, fazendo com que a dívida externa brasileira triplicasse. Aquela impressão de que a Ditadura
Militar trouxe grande crescimento econômico devido às grandes obras mostra-se errônea. De fato, foram realizadas grandes
obras, todavia, atendendo aos interesses exclusivos do capital monopolista – e, portanto, excluindo a maioria do povo brasi-
leiro –, gerando um dívida externa que o país levou anos para saldar.

RETOMADA DO PROCESSO DE ABERTURA POLÍTICA


Depois das várias medidas que representaram retrocesso na abertura democrática do país, Geisel, diante dos graves pro-
blemas econômicos e na tentativa de recompensar seus erros, retomou a abertura. Em 1978, ele extinguiu todos os atos insti-
tucionais, os quais representavam a legislação arbitrária dos militares.
No final de seu governo, houve uma certa disputa nas eleições indiretas para presidente. O fato de haver uma disputa na
corrida presidencial demonstra que a imposição dos militares estava se exaurindo. O vencedor eleito pelo colégio eleitoral foi
o candidato da ARENA, o general João Baptista de Oliveira Figueiredo.

GOVERNO JOÃO FIGUEIREDO (1979-1985)


O PANORAMA DO PAÍS EM SUA POSSE
Assim que assumiu o poder, o presidente João Figueiredo se deparou com um panorama de críticas da sociedade diante do
autoritarismo dos militares e da crise econômica que atingia em cheio o país. Pressionado pelas reivindicações de redemocra-
tização, o presidente se comprometeu em realizar a abertura política.
Os trabalhadores, em diversas regiões do país, faziam greves exigindo melhores salários. Nesse contexto, destacou-se a
greve dos metalúrgicos do ABC paulista, tendo como liderança sindical Luís Inácio Lula da Silva (que posteriormente se tornou
líder do Partido dos Trabalhadores – PT).

Figura 8 - Em março de 1979, 170 mil metalúrgicos pararam o ABC paulista. Na fotografia Lula discursando
aos seus companheiros.
Ver em: http://www.brasilescola.com/biografia/luiz-inacio-lula-da-silva.htm

67
SISTEMA DE ENSINO A360°

LUTA PELA REDEMOCRATIZAÇÃO: LEI DA ANISTIA E O FIM DO BIPARTIDARISMO


A partir da união entre operários, estudantes, artistas e líderes comunitários e religiosos, a sociedade brasileira conseguiu
avanços na luta pela redemocratização. Em 1979, Figueiredo aprovou a Lei da Anistia, a qual permitia que os brasileiros que
estivessem no exílio por motivos políticos regressassem ao país.
Ainda no mesmo ano, foi colocado fim ao bipartidarismo; com isso, a ARENA e o MDB foram extintos e formaram-se no-
vos partidos, tais como: o Partido Democrático Social (PDS), formado pelos membros da ex-Arena; o extinto MDB, que deu
origem ao PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), liderado por Ulisses Guimarães; o Partido Popular (PP), de
Tancredo Neves; o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB); e o Partido Democrático Trabalhista (PDT), fundado por Leonel Brizola.
Em 1980, foi fundado o Partido dos Trabalhadores (PT), liderado por Lula e formado por sindicalistas intelectuais ligados aos
movimentos sociais.

O MOVIMENTO “DIRETAS JÁ”


Em 1983, teve início a campanha por eleições diretas
para presidente da República. Tal campanha, que ficou co-
nhecida como “Diretas Já”, espalhou-se por todo o país.
O então deputado do PMDB do Estado de Mato Grosso,
Dante de Oliveira, favorável à campanha, propôs um pro-
jeto que exigia a volta imediata de eleições diretas para
presidente. Em contrapartida, quando houve a votação da
Emenda Dante de Oliveira, deputados liderados por Paulo
Maluf boicotaram o projeto, que não conseguiu os dois
terços exigidos para sua aprovação. Diante da decepcio-
nante não aprovação da Emenda, a eleição para a presi-
dência continuou sendo indireta.
Figura 9 - Ver em: http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/ha-30-anos-o-
Em 1985, enfrentaram-se para o cargo máximo do -1-grande-comicio-das-diretas-ja-em-sao-paulo
Executivo os candidatos Paulo Maluf, ligado aos militares,
e Tancredo Neves, candidato da Aliança Liberal formada pela aliança entre PMDB e parte do PDS. O candidato Tancredo Neves
venceu; todavia, às vésperas de sua posse, foi internado em estado grave devido a uma diverticulite, doença que causa inflama-
ção no intestino grosso. Em abril do mesmo ano, ele faleceu, e seu vice, José Sarney, assumiu a presidência.

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UNESP Presos políticos trocados pelo embaixador norte-a- excepcionais nas mãos do presidente da República. Acima
mericano sequestrado no Brasil em setembro de 1969. de tudo e de todos pairavam as punições decorrentes do
referido ato. Para os setores de oposição ao regime militar,
perdia sentido engrossar as fileiras da oposição consentida
(o MDB – Movimento Democrático Brasileiro), e em função
deste fechamento de alternativas políticas para a oposição,
alguns desses setores consideraram que a única forma de
extinguir o regime militar seria pela via da luta armada.
Assim, formam-se grupos políticos armados, que passam
para a clandestinidade e, através de ações ousadas de rou-
bos a bancos e empresas, obtêm fundos para financiar as
ações contra o regime. Os sequestros de personalidades
também foram utilizados como forma, entre outros aspec-
(Roberto Catelli Junior, História – texto e contexto.)
tos, de manifestar perante a população, a oposição armada
Considerando a imagem, explique o contexto histórico ao regime. No caso, foi sequestrado o embaixador norte-a-
e os objetivos da luta armada realizada por uma parcela mericano no Brasil, Charles Burke Elbrick, e exigiu-se para a
da esquerda brasileira. sua libertação a soltura de presos políticos e a divulgação
de um manifesto. O regime militar atendeu às exigências,
Resolução:
porém recrudesceu a repressão aos movimentos armados
Com a edição do Ato Institucional nº 5 (13.12.1968), ins- de contestação, lançando mão de métodos como a tortura
taurava-se um regime ditatorial que concentrava poderes para obter informações sobre os grupos ligados à luta ar-

68
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
mada, detenções sem culpa formada e a eliminação física 03| FUVEST Leia os textos abaixo:
de alguns líderes (ou sua morte dentro dos muros das pri-
Coube ao Gen. Mourão Filho, Cmt. da 4ª Região Militar,
sões, em condições que colocavam sob suspeita a afirma-
essa histórica iniciativa, a 31 de março, nas altaneiras
ção das autoridades de que as mortes teriam ocorrido por
montanhas de Minas. E a Revolução, sem que tivesse
suicídio ou resistência à repressão).
havido elaboradas articulações prévias entre os Chefes
Militares, ─ não teria havido tempo para isto ─ empolga
02| FGV Observe atentamente as duas imagens abaixo:
o Exército, a Marinha e a Aeronáutica, para ter seu epílo-
go às 11h45min do dia 2 de abril, no Aeroporto Salgado
Filho, em Porto Alegre, com a partida do ex-Presidente
João Goulart para o estrangeiro.
M. P. Figueiredo. A Revolução de 1964. Um depoimento para a história pátria.
Rio de Janeiro: APEC, 1970, p. 11-12. Adaptado.

Lembro-me bem do dia 31 de março de 1964. Era aluno


do curso de Sociologia e Política da Faculdade de Ciências
Econômicas da antiga Universidade de Minas Gerais e mi-
litava na Ação Popular, grupo de esquerda católica [...] No
dia seguinte, 1º de abril, já não havia dúvida sobre a vitó-
ria do golpe. Saí em companhia de colegas a vagar pelas
ruas de Belo Horizonte [...] Contemplávamos, perplexos, a
A Identifique e analise a mensagem política dirigida alegria dos que celebravam a vitória e assistíamos, assus-
aos cidadãos brasileiros em cada uma delas. tados, ao início da violência contra os derrotados.
B Em qual contexto histórico cada uma dessas mensa- J. M. de Carvalho. Forças Armadas e Política no Brasil.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005, p. 118.
gens foi formulada?
A Que denominação cada autor utilizou para se referir
C Qual foi o desfecho da campanha referida na segun-
ao regime instaurado após 31 de março de 1964? A
da imagem?
que se deve essa diferença de denominação?
Resolução:
B Tal diferença se relaciona com a criação da Comis-
A Na primeira, há uma mensagem autoritária, no im- são da Verdade em 2012? Justifique.
perativo, que corresponde a uma ordem que não
deve ser questionada e que, pela intimidação, es- Resolução:
tabelece a equivalência entre a Pátria e o Regime; A M. P. Figueiredo chama o movimento de 64 de “revo-
recomenda, ainda, o exílio para os seus críticos. lução” porque, em seu entender, tinha como objetivo
a principio modificar os rumos seguidos pelo País no
Na segunda mensagem, faz-se a convocação para
governo Goulart, identificados como sendo um pro-
uma manifestação pública e enfatizam-se os elemen-
cesso de esquerdização e subversão. Deve-se acres-
tos coletivos para uma mudança específica (eleições
centar que em 1970, quando o livro foi publicado, o
diretas para a Presidência) e mudanças gerais tam-
Brasil vivenciava o auge da repressão da ditadura
bém referidas a formas coletivas de uma cidadania
militar (governo Médici), durante o qual o termo
participativa (São Paulo, Brasil, povo, voto popular).
“golpe” sequer podia ser veiculado. J. M. Carvalho
B A primeira foi formulada durante o governo Médici considera o movimento de 64 um “golpe” por enten-
(1969-1974), período mais duro da ditadura mili- der que ele constituiu uma quebra das instituições
tar. A segunda, a chamada campanha das Diretas democráticas por meio da força, alterando a regula-
Já! em 1984, durante o governo Figueiredo (1979- ridade do processo constitucional brasileiro. Deve-se
1985), já no final da ditadura e no contexto da tran- acrescentar que a obra desse autor foi publicada em
sição democrática. 2005, em um contexto no qual o termo “revolução”
fora inteiramente abandonado, até mesmo pelos de-
C A emenda constitucional Dante de Oliveira, que es-
fensores daquele episódio de nossa História.
tabeleceria as eleições diretas para a Presidência
da República, obteve 22 votos a menos que o ne- B Sim, pois a Comissão da Verdade parte do princípio
cessário para a sua aprovação (320). A sucessão do de que o movimento de 64 constituiu um golpe – o
general João Baptista Figueiredo foi decidida pelo que o torna ilegítimo em sua origem –, contaminan-
Colégio Eleitoral, numa eleição indireta que esco- do com essa ilegitimidade toda a atuação de seus
lheu Tancredo Neves e José Sarney para ocuparem, agentes. Daí o fato de que o objetivo da Comissão
respectivamente, a presidência e a vice-presidência seja investigar a ação coercitiva da ditadura militar
da República em 15 de janeiro de 1985. contra seus opositores.

69
SISTEMA DE ENSINO A360°

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UFPA “As forças de repressão do governo realizaram 3 cite duas medidas adotadas por esses governos para
campanhas com o propósito de destruir o foco guerri- concretizá-lo.
lheiro do Araguaia. As campanhas no seu conjunto dura-
B Mencione e explique duas reações contrárias da so-
ram quase três anos, começando em abril de 1972 e en-
ciedade brasileira a esse modelo político.
cerrando em janeiro de 1975. Para reprimir a guerrilha,
o governo utilizou cerca de 10.000 homens, em todo o 03| Geisel – [...] O Brasil hoje em dia é considerado um oá-
período do conflito. Num primeiro momento, o gover- sis [...]. Coutinho – [...] Ah, o negócio melhorou muito.
no pensou que eram apenas jovens “subversivos” que, Agora, melhorou, aqui entre nós, foi quando nós come-
perseguidos nas cidades, haviam-se refugiado na selva çamos a matar. Começamos a matar. Geisel – Porque
amazônica”. antigamente você prendia o sujeito e o sujeito ia lá para
(ALVES FILHO, Armando. A Guerrilha do Araguaia. In: “Contando história...”, fora. [...] Ó Coutinho, esse troço de matar é uma barba-
ttp://www.amazon.com.br/historia). ridade, mas eu acho que tem que ser.
Fonte: GASPARI, Elio. A ditadura derrotada. São Paulo, Companhia das Letras, 2003, p. 324.
A partir da leitura do texto acima e dos estudos histó-
ricos sobre o tema, cite o contexto histórico em que O diálogo acima, ocorrido no dia 16 de fevereiro de 1974
surgiu a Guerrilha do Araguaia e qual grupo político a entre os generais Ernesto Geisel e Dale Coutinho, se deu
organizou, explicando quais os objetivos visados pelos um mês antes da posse do primeiro como Presidente da
guerrilheiros. República e do segundo como Ministro do Exército.
A Cite uma medida do Governo Geisel (1974-1979)
02| UFRN Durante o governo Médici, a propaganda foi am- que o aproximava das aspirações de parte da socie-
plamente utilizada para divulgar o projeto político-ideo- dade brasileira pela volta ao regime democrático.
lógico dos Governos Militares. O slogan abaixo é repre-
sentativo dessa propaganda. B Indique duas ações do mesmo governo que reforça-
ram o padrão autoritário do regime militar inaugu-
rado em 1964.

04| O ”Milagre brasileiro”, expressão que designa o contexto


econômico vivido pelo Brasil em uma determinada fase
da ditadura militar, marcou profundamente a história re-
Disponível em: www.mundovestibular.com.br. Acesso em: 20 jun. 2011. cente da economia brasileira.
A Justifique por que esse slogan é representativo do Indique duas características e dois efeitos desse “mila-
projeto político-ideológico dos Governos Militares e gre” para a sociedade nacional do período citado.

T ENEM E VESTIBULARES
01| ANHEMBI MORUMBI 1968 na Rua Maria Antônia, pré- A professora indica a porta, os soldados saem e esperam
dio da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. do lado de fora. Quando a aula termina os soldados en-
A porta da sala de aula é aberta como se tivesse levado tram de novo, mas o tal aluno já estava longe.
um coice e aparecem três soldados armados com metra- (Humberto Werneck. Notas sobre “Apesar de você”, 1978.)

lhadoras. Diante de 200 alunos, a professora de Ciências Considerando o momento político em que ocorreu o
Sociais, Jessita Nogueira Moutinho, de 24 anos, encara fato narrado no texto, a presença de soldados armados
bem os soldados e, com voz firme, pergunta: buscando um indivíduo dentro de uma faculdade pode
ser entendida como
– Vocês são meus alunos?
A reforço da autoridade dos professores sobre os alu-
– Não, mas é que estamos procurando uma pessoa nos, influenciados pelas rebeliões de maio de 1968
e... em Paris.
– Isto aqui é uma sala de aula e aqui dentro só ficam o B ação de guerrilheiros que buscavam desestabilizar o
professor e os alunos. De maneira que vocês podem regime por meio de demonstrações de violência.
se retirar. Se vocês querem pegar alguém não será C garantia da segurança de alunos e professores, ame-
em minha aula. Com licença, por favor. açados pelo crescimento do narcotráfico.

70
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
D expressão do conflito entre simpatizantes da oposi- res afirmam que não houve tortura durante o período
ção institucional e partidários da luta armada contra militar, outras afirmam que a tortura foi feita em circuns-
a ditadura. tâncias políticas específicas. Marque a opção que indica
a função da Comissão da Verdade corretamente.
E atuação do aparato repressivo da ditadura militar
sobre indivíduos ou grupos considerados subversi- A Estudar os arquivos referentes ao período e estabe-
vos. lecer punições.
B Estudar os arquivos e esclarecer a verdade sobre os
02| UEA Quando uma seca devastadora se abateu sobre o fatos ocorridos.
nordeste em 1970, Médici voou para Recife para uma
inspeção pessoal, e ficou profundamente chocado. Deze- C Analisar os documentos, esclarecer o destino dos
nas de milhares de flagelados rumavam para as cidades desaparecidos e julgar os culpados.
costeiras. Médici concluiu o óbvio: a região nordestina, D Julgar os criminosos e estabelecer as penas legais.
considerados os seus recursos, tinha excesso de popula-
E Analisar os documentos, estabelecer compensações
ção. De volta do Recife, Médici decidiu que o Nordeste
financeiras e divulgar o nome dos envolvidos no cri-
e a Amazônia deviam ser atacados como um só proble-
me de tortura.
ma. O Brasil construiria uma estrada transamazônica
que abriria o “despovoado” vale amazônico. O excesso
04| ESCS Pouco mais de duas décadas foi o período de dura-
de população do Nordeste seria levado para a Amazônia
ção do regime autoritário implantado no Brasil em 1964.
atraída pelas terras férteis e baratas. Médici chamou a Se, de um lado, houve a preocupação de se modernizar
isso “a solução de dois problemas: homens sem terra do a economia brasileira, ajustando-a às circunstâncias do
Nordeste e terras sem homens na Amazônia”. capitalismo internacional, de outro, a violência repres-
(Thomas Skidmore. Brasil: de Castelo a Tancredo, 1964-1985, 1988. Adaptado.) sora e o caráter centralizador do Estado foram caracte-
O projeto da Transamazônica tinha múltiplos significa- rísticas essenciais do período. Relativamente ao regime
dos para o governo do general Emílio Garrastazu Mé- militar (1964–1985), assinale a opção correta.
dici. Mas, em certa medida, a Transamazônica repetia A O caráter francamente autoritário do regime militar
um projeto reiteradamente aplicado pelos governantes instaurado em 1964 manifestou-se na decisão de fe-
brasileiros que char o Congresso Nacional ao longo de todo o período.
A ignoravam a miséria social provocada por secas pe- B Ao se recusar a conceder a anistia aos atingidos por
riódicas e a questão da tênue presença do Estado seus atos, o regime militar perdeu apoio popular e
em algumas regiões brasileiras. político, o que foi fatal para suas pretensões de per-
petuar-se.
B procuravam resolver problemas sociais do Nordes-
te por meio do desenvolvimento da Amazônia e, ao C Do primeiro presidente militar (Castelo Branco) ao
mesmo tempo, proteger um território de importân- último (João Figueiredo), a continuidade política,
cia geopolítica. administrativa e econômica caracterizou e susten-
tou o regime autoritário.
C favoreciam a elite social agrária do Nordeste brasi-
leiro, deslocando, para a selva amazônica, militantes D O Ato Institucional N.º 5, de dezembro de 1968,
políticos e camponeses ligados aos sindicatos rurais. aprofundou o caráter autoritário do regime, tornan-
do-o mais claramente ditatorial e discricionário.
D atendiam aos apelos das populações das cidades
litorâneas brasileiras, preocupadas com a periódica 05| UNIFOR O Tribunal Superior Eleitoral aprovou, em se-
invasão de flagelados e retirantes oriundos da Ama- tembro de 2013, a criação de mais dois partidos políticos
zônia. no Brasil: o Partido Republicano da Ordem Social – PROS
E insistiam na divisão, entre os camponeses sem ter- –, liderado pelo ex-vereador em Goiás Eurípedes de Ma-
ra, dos latifúndios nordestinos e, nesse meio tempo, cedo, e o Solidariedade, montado pelo deputado federal
transferiam parte da mão de obra excedente para o Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical. Os
território amazonense. dois partidos são, respectivamente, o 31º e o 32º do país.
A propósito da trajetória dos partidos políticos no Brasil,
03| UNIFOR Recentemente, o Governo Federal instituiu a é CORRETO afirmar que
Comissão da Verdade que tem por objetivo esclarecer os
crimes de tortura praticados no Brasil na história recen- A imediatamente após o golpe militar de 1964, foram
te. Apesar da tortura ser considerada um crime contra a extintos todos os partidos políticos que existiam no
humanidade, a Lei da Anistia brasileira garante proteção Brasil, situação que permaneceu até a redemocrati-
inclusive aos torturadores. Algumas autoridades milita- zação do país, no início da década de 1980.

71
SISTEMA DE ENSINO A360°

B no mês de outubro de 2013, a ex-ministra do Meio Esse excerto remete


Ambiente, Marina Silva, conseguiu criar o partido
A à temática popular que ainda identifica o Brasil no
Rede Sustentável, legenda sob a qual pretende con- exterior, exaltada nessa obra típica da propaganda
correr à presidência da república em 2014. da ditadura.
C durante quase todo o período da ditadura militar B ao “milagre” econômico gerador de boa distribuição
que se sucedeu ao golpe de 1964, conviveram no de renda, elogiado por todos os setores da sociedade.
Brasil apenas dois partidos políticos: a Aliança Reno-
vadora Nacional – ARENA e o Movimento Democrá- C ao processo de distensão política, que culminaria na
tico Brasileiro – MDB. revogação da anistia e na imposição do “terror de
Estado”.
D pela legislação eleitoral atualmente vigente à época
D às tensões entre os defensores de uma cultura na-
da criação do PROS e do Solidariedade, os políticos
cional e seus críticos, que apoiavam os padrões es-
detentores de mandatos eletivos que se transferi-
trangeiros.
rem para os novos partidos antes das próximas elei-
ções perderão, automaticamente, seus mandatos. E à repressão e à censura vigentes durante o regime mi-
litar, época em que muitos brasileiros foram exilados.
E com a criação do PROS e do Solidariedade, faltam
apenas três legendas para o atingimento do limite 07| PUC
máximo de 35 partidos políticos previsto no Artigo
17 da Constituição Brasileira promulgada em 1988.

06| FAC. DIREITO DE SOROCABA Leia trecho de Meu caro


amigo, composição de Chico Buarque e Francis Hime
(1976).
Meu caro amigo me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita
Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock’n’roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
É CORRETO afirmar que o evento caracterizado na capa
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá
da Revista Veja é a expressão:
preta
A do contexto político do Governo Médici, com a ins-
(...) tituição da ditadura e a proibição de qualquer mani-
Muita careta pra engolir a transação festação política de oposição.

Que a gente tá engolindo cada sapo no caminho B do clima libertário, relacionado ao movimento hi-
ppie internacional, que era compartilhado pelos
E a gente vai se amando que, também, sem um ca- estudantes brasileiros, compreendido como desre-
rinho gramento moral pelo governo brasileiro.

Ninguém segura esse rojão C de manifestações violentas de estudantes, vincula-


dos à União Nacional dos Estudantes, posta na ile-
(...) galidade desde o governo João Goulart, em 1962.
Meu caro amigo eu bem queria lhe escrever D do acirramento das tensões políticas que gerou mo-
bilização da sociedade contra as medidas autoritá-
Mas o correio andou arisco rias do governo e que culminou, no final de 1968, no
Se me permitem, vou tentar lhe remeter decreto do AI-5.

Notícias frescas nesse disco E da intolerância do regime militar a qualquer mani-


festação política, razão pela qual o Congresso Nacio-
(...) nal ficou fechado desde 1964.

72
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
08| UNIRG Leia o texto a seguir. B identificou os restos mortais desse desaparecido,
cuja morte não foi revelada devido à censura duran-
Nos últimos dias, após a saída dos militares, decidiram
te a ditadura militar.
as autoridades que deveria ser feita uma limpeza na
área, que consistiu no seguinte: os agentes de informa- C reconheceu oficialmente as causas da morte desse
ção, que sabiam onde estavam enterrados os corpos, jornalista, ocorrida após tortura em uma dependên-
indicavam os pontos. Um helicóptero ia a esse ponto, cia militar.
agentes desenterravam os restos, esses restos eram co- D comprovou a articulação entre os países sul-ameri-
locados em sacos plásticos, embarcados no helicóptero canos na Operação Condor, da qual esse militante
e levados para a Serra da Andorinha. foi vítima.
DEPOIMENTO do coronel Pedro Corrêa Cabral, piloto de helicópteros. In:
CAMPOS FILHO, Romualdo. Guerrilha do Araguaia: E vinculou as autoridades militares com os grupos de
a esquerda em armas. Goiânia: Editora da UFG, 2003. p. 157. (Adaptado).
extermínio, responsáveis pelo assassinato desse sin-
O relato apresentado registra a fase final da Guerrilha do dicalista.
Araguaia (1972-1974), que ocorreu da cidade de Xam-
bioá (TO) até Marabá (PA), na atual divisa do norte de 10| UFT
Tocantins e do sul do Pará, evidenciando um procedi-
mento do Exército brasileiro. Tal procedimento visava
A salvaguardar o direito das famílias das vítimas, pos-
sibilitando o devido sepultamento dos corpos na
Serra da Andorinha.
B adequar o sepultamento às novas determinações
do regime militar, que estabeleceu orientações le-
gais para o manejo dos restos mortais dos comba-
tentes.
C negociar com o PC do B, que reivindicava a retirada
dos militares e a entrega dos corpos de seus militan-
tes em troca do fim da guerrilha rural.
D restringir as possibilidades de informação e de escri-
ta da história, ocultando as evidências de prática de
extermínio dos guerrilheiros.

09| FAC. DIREITO DE SOROCABA SP


Observe a imagem:

Disponível em: < www.gazetadotocantins.com.br>. Acesso em: agosto 2013.

A partir de 1966, militantes do partido comunista do


Brasil se instalaram na região situada à margem esquer-
da do Rio Araguaia (PA) e iniciaram um movimento de
luta armada que, historicamente, foi denominado Guer-
rilha do Araguaia.
(http://www.dzai.com.br/aricunha/blog/aricunha?tv_pos_id=113576)
Em relação aos movimentos de resistência no período
A imagem refere-se à decisão, em setembro de 2012, da da ditadura militar no Brasil, implantada em 1964, assi-
Justiça de São Paulo, a pedido da Comissão da Verdade, nale a alternativa CORRETA.
que
A Os governos militares procuravam esconder da
A condenou os métodos violentos dos militares para maioria da população o violento combate que mo-
executar os opositores, como esse líder da Ação Li- viam contra grupos opositores de diversas tendên-
bertadora Nacional. cias políticas.

73
SISTEMA DE ENSINO A360°

B No governo do General Costa e Silva (1967/1969) D a oposição parlamentar do MDB e a atuação das
e, em menor escala, no governo do General Médici Comunidades Eclesiais de Base (CEB), vinculadas à
(1969/1974), os grupos identificados com a guerri- Igreja Católica.
lha urbana e rural foram eliminados.
E a posição do bloco nacionalista da ARENA e a luta
C Os movimentos foram caracterizados por extrema armada comandada pelo Partido Comunista Brasi-
fragilidade política não promovendo repercussão no leiro.
cenário nacional e internacional, logo, esgotaram-se
no início da década de 1970. 12| UPE A novela Amor e Revolução exibida pelo canal de
D A Comissão Nacional da Verdade (CNV), instalada televisão brasileiro SBT resgata os acontecimentos po-
em 16 de maio de 2012, foi criada para investigar líticos ocorridos no Brasil, a partir de 1964, culminando
violações de direitos humanos ocorridas apenas no com um golpe, o qual iniciou o longo período da Ditadu-
período da ditadura militar. ra Militar. Sobre esse período histórico, podemos con-
cluir que
E O uso da tortura não foi uma das práticas essenciais
da engrenagem repressiva posta em movimento A apesar da repressão, a arte foi utilizada como instru-
pelo regime militar que se implantou em 1964. mento de protesto e de denúncias políticas, alertan-
do para a situação do país. Foi marcado pelos festi-
11| FGV Leia a notícia. vais com as canções de protesto de Geraldo Vandré
e Chico Buarque, com o cinema de Cacá Diegues e
O projeto de lei que cria a Comissão da Verdade foi apro- Glauber Rocha.
vado hoje (26) no Senado, com apoio unânime dos sena-
dores. Com a presença da ministra de Direitos Humanos, B o Golpe de 1964 não conseguiu sufocar completa-
Maria do Rosário e de parentes de vítimas da ditadura mente as manifestações culturais no país, como de-
militar, o parecer favorável ao projeto foi lido pelo rela- monstra a emergência, no plano musical, dos “movi-
tor (...). mentos conhecidos como Tropicália, Reggae e Bossa
(Mariana Jungmann, Senado aprova criação da Comissão da Verdade para apurar Nova”.
crimes do Estado entre 1946 e 1988, 26.10.2011, agenciabrasil.ebc.com.br)
C o Pacote de Abril do presidente Ernesto Geisel insti-
Em geral, foram vítimas da ditadura militar (1964-1985),
tuiu eleições indiretas para os governos estaduais e
as pessoas que resistiram ao regime de exceção. Entre as
formas de resistência podem ser apontadas para um terço do senado, criando, pela primeira vez,
no Brasil, o sistema parlamentarista.
A a programação das principais redes de rádio e de
televisão e a ação dos governos dos estados nordes- D o Ato Institucional nº 5, editado no governo de
tinos nas mãos do MDB. Castelo Branco, restringiu a liberdade individual do
cidadão, mas assegurou os mandatos políticos e o
B as greves operárias organizadas pelos sindicatos direito ao habeas corpus.
paulistas no início da década de 1970 e as posições
progressistas da Escola Superior de Guerra. E o slogan “Brasil, ame-o ou deixe-o”, divulgava a ima-
gem do “Brasil Grande” por meio da política econô-
C a ação das principais entidades empresariais – como
mica denominada “milagre econômico”, não permi-
a FIESP – e a missão pastoral dos religiosos neopen-
tindo a entrada de capital estrangeiro no país.
tecostais.

GOVERNO SARNEY (1985 – 1989)


Com a morte do recém-eleito presidente Tancredo Ne-
ves, vítima de uma infecção generalizada em abril de 1985,
seu vice, o maranhense José Sarney, assume a presidência
em meio a uma conjuntura política incerta e no auge da crise
econômica e da dívida externa brasileira. Em um país ansioso
por mudanças, coube a Sarney, um político que havia apoia-
do os governos militares, conduzir a transição do regime di-
tatorial para o regime democrático.
Sob a tutela das Forças Armadas e mantendo o Ministério
escolhido por Tancredo Neves antes de adoecer, José Sarney
cumpriu suas obrigações de conduzir a democracia no Bra-
sil. O Congresso Nacional acabou com leis da época ditatorial José Sarney e Tancredo Neves. Disponível em: http://www.blogdaflores-
como, por exemplo, a censura aos meios de comunicação. ta.com.br/ha-30-anos-morria-tancredos-neves/

74
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
PLANO CRUZADO
No momento em que Sarney chegou à presidência, o país
era vítima de uma péssima distribuição de renda, encontran-
do-se em meio a greves trabalhistas, arrocho salarial, dívida
externa exorbitante, inflação e juros ascendentes. Esses pro-
blemas decorriam da nossa longa trajetória histórica nacio-
nal, deixando-nos uma pesada herança.
Para enfrentar esses inúmeros problemas econômicos, o
Governo elaborou vários planos para combater a inflação e
estabilizar a economia. O primeiro conjunto de medidas para
combater a inflação foi chamado de Plano Cruzado, adotado
em 1986.
Esse plano consistia na introdução de uma nova moeda, Em reportagem de 1986, Sarney convoca a população a fiscalizar estabe-
o cruzado, como substituição do desvalorizado cruzeiro. O lecimentos comerciais que não respeitavam o congelamento dos preços.
salário mínimo, os preços das mercadorias, aluguéis, passa- Disponível em: http://economia.estadao.com.br/blogs/reclames-do-es-
tadao/sarney-e-o-dragao/
gens e tarifas públicas como água e luz foram congelados. A
preocupação em aumentar o poder de compra ficou evidenciada pela adoção do “gatilho salarial”, no qual os salários seriam re-
ajustados automaticamente quando a inflação acumulasse um índice de 20%. Foi criado também o seguro-desemprego no país.
Nos primeiros meses após a implementação do Plano, a inflação diminuiu drasticamente. Os preços congelados e a valoriza-
ção da nova moeda proporcionaram à população um maior acesso aos bens de consumo, principalmente gêneros alimentícios.
Pelo rádio e pela televisão, o Presidente convocou a população a fiscalizar o congelamento dos preços nas prateleiras dos
supermercados e de outros estabelecimentos comerciais. Chamado de “Fiscais do Sarney”, o povo poderia exercer papel de
polícia ao dar voz de prisão quando flagrassem gerentes remarcando os preços que eram tabelados. A contenção da inflação e
o aumento do poder de compra gerou um clima de euforia nacional, de esperança.

CONSTITUIÇÃO DE 1988
Os parlamentares tiveram como missão elaborar uma nova Constituição, já que a que vigorava no momento era a Constitui-
ção imposta no período ditatorial. Foi promulgada, em outubro de 1988, a nova Constituição da República Federativa do Brasil.
Por meio dela, dentre outras diretrizes, o país passou a ter liberdade de imprensa e de organização sindical, livre exercício de
pensamento e expressão, além do reestabelecimento das eleições diretas para presidente e liberdade partidária, tirando da
ilegalidade os partidos comunistas e reatando relações diplomáticas com Cuba.
Também chamada de Constituição Cidadã, a elaboração da Constituição também contou com grande participação popular.
Por meio de emendas populares, organizações da sociedade enviaram para o Congresso Nacional propostas que foram incor-
poradas a Carta Constitucional. As leis trabalhistas foram ampliadas e melhoradas, e o racismo e a tortura tornaram-se crimes
inafiançáveis. A Constituição de 1988 contemplou também as minorias (como indígenas e negros) e o meio ambiente com
novas leis de preservação.
Veja, abaixo, algumas características da Constituição Cidadã:
 Voto obrigatório para pessoas entre 18 e 70 anos; voto facultativo a analfabetos, jovens entre 16 e 18 anos e pessoas
com mais de 70 anos;
 Igualdade jurídica – todos são iguais perante a lei;
 Liberdade de pensamento, de crença religiosa, de expressão intelectual, de locomoção e de associação;
 Garantia do direito de greve e liberdade sindical;
 Sigilo das comunicações – é inviolável o sigilo telefônico, telegráfico e de correspondências;
 Garantia dos direitos sociais – direito à educação, ao trabalho, ao lazer, à saúde, à segurança, à previdência social, à
moradia, à proteção à maternidade e à infância, assistência aos desamparados;
 Direito de propriedade e de herança;
 Jornada de trabalho de 44 horas semanais;
 Racismo como crime inafiançável;
 Condenação da tortura;
 Reconhecimento do direito dos grupos indígenas à manutenção de sua cultura e das terras que ocupam;
 Fixação do salário mínimo como base para o pagamento de pensões e aposentadorias, inclusive aos portadores de
deficiência física;
 Liberdade partidária.

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SISTEMA DE ENSINO A360°

INFLAÇÃO E CRISE
Apesar de o consumo e o poder de compra terem aumentado, inclusive entre a população pobre brasileira, essa estabilida-
de econômica era artificial. Em poucos meses, o plano começou a desmoronar.
A onda de consumo e o congelamento dos preços promoveram a falta de produtos no mercado, gerando uma crise de
abastecimento. O caso mais expressivo foi o da carne, que ficou totalmente ausente das prateleiras dos supermercados. Mui-
tos comerciantes, pecuaristas e produtores começaram a esconder as mercadorias para forçar o aumento dos preços. Diversos
produtos que haviam sumido das prateleiras eram vendidos
no mercado ilícito, por “debaixo dos panos”. Era o chama-
do ágio, que consistia em pagar pelo produto um preço mais
caro que o estipulado pelo governo. Na prática, isso repre-
sentava o retorno da inflação.
Sarney previa o sucesso de seu partido, o PMDB, nas
eleições legislativas e para governador que se aproximavam
e manteve rígido o congelamento das mercadorias, o que lhe
garantiu o apoio popular. O Plano Cruzado era o seu trunfo
eleitoral. Com isso, seu partido passou a ser maioria parla-
mentar.
Vencidas as eleições, o Governo criou um novo pacote
econômico, o Plano Cruzado II. Os preços de todos os pro- Prateleiras vazias nos supermercados do país. Uma reação dos em-
presários ao Plano Cruzado de José Sarney. Disponível em: http://
dutos foram liberados e, consequentemente, dispararam. As contandohistoria1977.blogspot.com.br/2013/08/o-brasil-e-o-mundo-em-
tarifas públicas tiveram aumento de 120% e os alimentos de -1986-ano-de.html
100%. Os bens de consumo, em geral, tiveram aumento des-
proporcional, levando a uma inflação jamais vista na história
brasileira, até então. A inflação, em 1987, chegou a 365,7%.
Os trabalhadores brasileiros se desesperaram, pois a
inflação desenfreada engolia seus salários rapidamente. A
economia do país estava tão desestruturada que o Governo
declarou moratória, ou seja, suspendeu o pagamento da dí-
vida externa.
No final do mandato de Sarney, em 1989, a inflação atin-
giu o seu recorde histórico, chegando a mais de 1.700% ao
ano, como podemos verificar na tabela abaixo.
Com o fracasso do Plano Cruzado II, o Governo decretou
outros dois planos semelhantes, o Plano Bresser e o Plano
Verão – ambos propondo novos congelamentos de preços e
salários –, além do aumento de impostos e tarifas públicas;
mas nenhum obteve êxito.
Aos problemas econômicos e políticos do governo Sar-
ney, somavam-se os problemas éticos de seu partido e do
Governo. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi
instaurada, acusando seu governo de nepotismo, corrupção
e lavagem de dinheiro. No entanto, contando com apoio de
parlamentares importantes, o processo foi arquivado e nada
foi apurado. Insatisfeitos com essa situação, um grupo do
PMDB, formado por Fernando Henrique Cardoso, Mário Co-
vas, Franco Montoro, José Serra, Pimenta da Veiga, entre
outros, rompeu com esse partido, fundando o Partido da So-
cial Democracia Brasileira, o PSDB.
Desse modo, O governo Sarney terminou em um am- Reportagem de 1989, do jornal O Estado de São Paulo sobre a hiperin-
biente de recessão econômica, especulação financeira e uma flação que assolou o país. Disponível em: http://economia.estadao.com.
br/noticias/negocios,inflacao-um-problema-que-nao-pode-ser-esque-
hiperinflação que desestabilizaram a economia do país. cido,83215e

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CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A

TEXTO COMPLEMENTAR

CHICO MENDES, UM LÍDER DA AMAZÔNIA


Chico Mendes (1944-1988) foi um líder seringueiro, sindicalista e ativista ambiental brasileiro. Lutou pela preservação
da Floresta Amazônica e suas seringueiras nativas. Recebeu da ONU o Prêmio Global de preservação ambiental.
Chico Mendes (1944-1988) nasceu em Xapuri, Acre, no dia 15 de dezembro de 1944. Filho do seringueiro Francisco
Alves Mendes e de Maria Rita Mendes, desde criança acompanhava seu pai pela floresta. Sem escolas na região, só foi
alfabetizado com 19 anos de idade.
Em 1975, iniciou sua atuação como sindicalista, foi nomeado secretário geral do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Basileia. No ano seguinte, iniciou sua luta em defesa da posse de terra para os habitantes nativos da região. Criou os
“empates” – forma de luta pacífica para impedir o desmatamento da floresta –, nos quais toda a comunidade se mobiliza-
va e fazia barreiras com o próprio corpo nas áreas ameaçadas de destruição pelos serralheiros e fazendeiros.
Em 1977, participou da fundação do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri. Nesse mesmo ano, foi eleito ve-
reador pelo MDB. Recebeu as primeiras ameaças de morte por parte dos fazendeiros. Em 1981, assumiu a direção do
Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente.
Em 1982, candidatou-se a deputado federal pelo PT, mas não conseguiu se eleger. Em 1984, foi acusado de incitar os
posseiros a praticarem violência. Julgado pelo Tribunal Militar de Manaus, foi absolvido por falta de provas. Em outubro
do ano seguinte, liderou o Primeiro Encontro de Seringueiros e criou o Conselho Nacional dos Seringueiros.
A liderança de Chico Mendes na luta dos seringueiros e na preservação da floresta atingiu repercussão nacional e
internacional. Em 1987, proferiu um discurso na reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em Miami
(EUA), denunciando a destruição da floresta e solicitando a suspensão do financiamento para a construção da BR – 364,
que atravessava o estado de Rondônia e chegaria ao Acre. O objetivo da rodovia seria criar um caminho para escoar a
produção gerada pelos estados amazônicos e pelo Centro Oeste, que chegaria ao Pacífico pelo porto peruano.
Nesse mesmo ano, Chico Mendes recebeu, em Xapuri, uma comissão da ONU, que viu de perto a destruição da flo-
resta e a expulsão dos seringueiros. Dois meses depois, o financiamento foi suspenso e o BID exigiu do governo brasileiro
o estudo do impacto ambiental na região. O Senado americano, onde Chico Mendes também foi convidado a falar, fez
recomendações a diversos bancos que também financiavam projetos na região. No mesmo ano, Chico Mendes recebeu da
ONU o Prêmio Global 500, de Preservação Ambiental.
Em 1988, foi criada, no Acre, a União Democrática Ruralista (UDR). Nesse mesmo ano, Chico Mendes participou da
criação primeira reserva extrativista do Acre. Após a desapropriação das terras do fazendeiro Darly Alves da Silva, Chico
Mendes recebeu ameaças de morte, por prejudicar o progresso da região, e denunciou às autoridades, pedindo proteção.
Durante o Terceiro Congresso Nacional da CUT, Chico Mendes voltou a denunciar as ameaças que vinha recebendo. A
tese que apresentou “Defesa do Povo da Floresta”, em nome do sindicato de Xapuri, foi aprovada por unanimidade. Chico
Mendes foi eleito suplente na direção da CUT.
No dia 22 de dezembro de 1988, ao sair de sua casa em Xapuri, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta,
deixando esposa e dois filhos pequenos. Em dezembro de 1990, a justiça brasileira condenou o fazendeiro Darly Alves a
dezenove anos de prisão pela morte de Chico Mendes.
Texto disponível em: http://www.e-biografias.net/chico_mendes/

O BRASIL E A NOVA DEMOCRACIA


Ao final do Governo Sarney, seriam realizadas as primeiras eleições diretas para a presidência da República. Desde 1960,
ou seja, há 29 anos, os brasileiros não elegiam o Presidente da República pelo voto direto. No final de 1989, o povo foi às urnas.
Mais de dez candidatos disputaram a Presidência, em primeiro turno.
Ameaçando a continuidade das forças conservadoras do Governo, a esquerda foi representada principalmente por Luis
Inácio Lula da Silva, do PT, e por Leonel Brizola, do PDT, que lançaram suas candidaturas. O Partido Comunista Brasileiro (PCB)
lançou Roberto Freire. Os candidatos de centro foram representados pelas candidaturas de Ulysses Guimarães, pelo Partido do
Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), e Mário Covas, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB). Os da direita con-
servadora foram representados por Paulo Maluf, Ronaldo Caiado, líder da União Democrática Ruralista (UDR), dentre outros.
Mas um dos candidatos surpreendeu a todos. Representando um partido inexpressivo, o Partido da Reconstrução Na-
cional (PRN), o jovem jornalista alagoano Fernando Collor de Mello, um candidato quase desconhecido no cenário político
nacional, liderou as pesquisas.

77
SISTEMA DE ENSINO A360°

Em um momento de indecisões e insegurança, a candidatura de Collor representava, para os setores conservadores, uma
possibilidade de impedir que a esquerda tomasse o poder e um candidato que poderia proteger seus interesses. Collor perten-
cia à tradicional elite alagoana, a uma família de políticos e empresários. Na política, havia sido deputado federal, prefeito de
Maceió e governador de Alagoas. Sabendo utilizar uma eficiente estratégia de marketing, colocando sempre a televisão a seu
favor, transmitia a imagem de um político jovem, moderno, dinâmico e “caçador de marajás” – funcionários públicos detento-
res de altos salários e funcionários “fantasmas”.
Nos programas eleitorais, ele se apresentava como ini-
migo número 1 da corrupção. Em seus discursos agressivos
e inflamados, prometia acabar com a inflação, governar para
os mais humildes – chamados de descamisados –, inserir o
país no mercado global e caçar os “marajás”, termo esse que
ganhou bastante popularidade na época.
O maior opositor de Collor na campanha presidencial de
1989 foi Luis Inácio Lula da Silva, mais conhecido como Lula.
Lula possuía um perfil bem diferente: tinha sido operário,
metalúrgico e líder sindical e havia ganhado popularidade
no país ao liderar as famosas greves iniciadas na região do
ABC paulista. Proveniente das classes populares, Lula apre- Fernando Collor de Mello, em agosto de 1989 se exalta durante uma
passeata no Rio de Janeiro. Collor fazia discursos inflamados cheios de
sentava-se como o candidato dos trabalhadores, defensor da gestos teatrais que impressionavam o grande público. Disponível em:
reforma agrária e propunha alterar a estrutura da sociedade http://andrebarcinski.blogfolha.uol.com.br/2013/05/09/olha-quem-es-
ta-de-volta/
brasileira.
Os conservadores temiam que Lula chegasse ao poder, uma vez que suas propostas não iam ao encontro dos interesses da
elite brasileira. Renasceu, assim, o discurso anticomunista, que veio de encontro à conjuntura internacional que assistia ao fim
da Guerra Fria, a reunificação alemã e o desmoronamento dos blocos socialistas. Os grandes empresários diziam que deixariam
o país, caso Lula vencesse.
Apoiado pelo grande capital nacional e internacional, pelos grandes partidos e pelos meios de comunicação de massa –
como as Organizações Globo –, além de usar imoralmente fatos da vida pessoal de seu oponente, Fernando Collor de Mello
venceu o candidato Lula no segundo turno, elegendo-se presidente da República, em 1989, com mais de 35 milhões de votos.
Iniciava-se o breve e tumultuado Governo Collor.

O GOVERNO COLLOR
Fernando Collor de Mello assumiu a presidência em 15 de
março de 1990, com a inflação a 84% ao mês e índice anual de
5000%. No dia seguinte ao da posse, o novo presidente, junta-
mente com a então ministra da Fazenda Zélia Cardoso de Mello,
apresentou o Plano Collor, um conjunto de medidas econômi-
cas que prometia estabilizar a economia. O Plano, entre outras
medidas,
 Extinguiu a moeda vigente, o cruzado, restabelecendo o
cruzeiro;
 Congelou preços e salários;
 Confiscou o dinheiro das cadernetas de poupança;
 Congelou contas e aplicações financeiras nos bancos; Durante cerimônia de posse em Brasília, o presidente eleito Fernando
Collor de Mello desfila em carro oficial ao lado de seu vice-presidente
 Extinguiu o apoio federal ao setor artístico e cultural; Itamar Franco. Disponível em: http://acervo.estadao.com.br/noticias/
personalidades,fernando-collor,535,0.htm
 Restringiu o fomento às pesquisas científicas.
O objetivo dessas medidas era tirar o dinheiro de circulação para conter o consumo e reduzir a inflação. Nesse contexto, foi
forçada a queda dos preços dos produtos nacionais, abrindo o mercado brasileiro às importações.

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CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
A indústria nacional, defasada tecnologicamente em relação à indústria estrangeira, não conseguiu concorrer com os pro-
dutos importados, vendidos em sua maioria a preços mais baixos que os similares nacionais. A produção industrial e as vendas
no comércio caíram, fazendo muitas empresas reduzirem salários e demitirem funcionários; outras simplesmente faliram.
Nesse mesmo momento de redemocratização do Brasil e de alguns países latino-americanos, em um âmbito econômico
internacional, as grandes potências mundiais se reuniram em Washington, nos EUA, a fim de deliberar formas de a América
Latina superar a crise econômica que se instalara – formas essas que fossem ao encontro dos interesses dessas grandes potên-
cias, claro.
A América Latina sofria pela elevada dívida externa, estagnação econômica, inflação e desemprego. Esse encontro de “gi-
gantes”, conhecido como Consenso de Washington, contou com a participação de representantes do FMI, do Banco Mundial,
do Banco Interamericano de Desenvolvimento e de economistas estrangeiros, e foi encabeçado pelo governo dos EUA. Estabe-
leceram diretrizes e preceitos neoliberais:
 A não interferência do Estado na economia, deixando o mercado agir livremente, ou seja, a subordinação da economia
às leis de mercado;
 Corte de gastos sociais, como saúde e educação;
 Abertura do mercado nacional para a entrada do capital estrangeiro;
 Abertura do mercado nacional para as importações, baixando as taxas;
 Privatização das empresas estatais;
 Limitação dos aumentos salariais.
Collor se mostrou plenamente de acordo com essas diretrizes, sendo essas medidas aceitas e implantadas durante seu
governo. Com isso, o desemprego aumentou de modo alarmante, as mazelas sociais se acentuaram e a economia novamente
entrou em recessão, agravando as dificuldades sociais. Em 1991, foi lançado o Plano Collor II que, assim como o anterior, não
obteve sucesso.

FORA COLLOR!
Após dois anos de mandato e em meio a um governo totalmente fracassado, denúncias de corrupção envolvendo ministros
abalaram ainda mais o Governo Collor. Escândalos envolvendo o governo eram noticiados na televisão diariamente. O maior
deles foi quando o irmão caçula do presidente, Pedro Collor de Mello, denunciou, através da imprensa, a existência de um
esquema de corrupção bilionário dentro do governo, chefiado por Paulo Cesar Farias (o PC Farias), tesoureiro de campanha e
amigo do presidente. Esse esquema ficou conhecido como Esquema PC.
Seu governo era acusado de tráfico de influências, arrecadando dinheiro das empresas para facilitar contratos, mediante,
claro, elevadas quantias destinadas às contas pessoais de Collor. Seu mandato foi marcado ainda por enormes irregularidades
financeiras e contas fantasmas nos paraísos fiscais que envolveriam o presidente, seus familiares e seus aliados políticos.
Frente a tantas denúncias graves e sob forte pressão da sociedade civil, foi instaurada no Congresso Nacional uma Comis-
são Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as acusações. À medida que as investigações da CPI avançavam, as irregula-
ridades eram comprovadas. A Polícia Federal chegou a estimar em 1 bilhão de dólares o total extorquido pela quadrilha.
As notícias causaram enorme indignação e impacto em todo o país. Setores organizados da sociedade como a Ordem dos Ad-
vogados do Brasil (OAB) e a Associação Brasileira de Imprensa
(ABI) exigiam a saída do presidente. Milhares de pessoas, em
sua maioria jovens estudantes com o rosto pintado de verde
e amarelo, conhecidos como “caras-pintadas”, com o grito de
“Fora Collor!”, tomaram as ruas das principais cidades brasilei-
ras para protestar e exigir ética na política, o fim da corrupção
e o impeachment (impedimento) do presidente.
Os congressistas sentiram-se pressionados pela população
e imprensa e deram início ao processo de impeachment. Em
setembro de 1992, o presidente foi afastado do cargo. Visando
preservar seus direitos políticos, Collor renunciou à presidência
da República, mas sua tentativa foi em vão. Em 29 de dezem-
bro de 1992, foi julgado e condenado pelo Senado e teve seu Manifestação popular pelo impeachment do presidente Fernando Collor
de Mello em São Paulo, em 1992. Disponível em: http://vejasp.abril.com.
mandato e seus direitos políticos cassados por oito anos. Seu br/blogs/listamania/2015/03/12/acontecimentos-brasil-1992-ano-impe-
vice-presidente, Itamar Franco, assumiu a presidência. achment/

79
SISTEMA DE ENSINO A360°

GOVERNO ITAMAR FRANCO (1992 – 1994)


Com a saída de Collor do poder, em dezembro de 1992, a presidência
foi assumida pelo seu vice Itamar Franco. Durante o Governo Collor, Ita-
mar procurou passar uma imagem pacata, tranquila, atraindo a simpatia
do povo brasileiro, enquanto crescia o repúdio em relação a Collor. Itamar
Franco encontrou amplo apoio político no Congresso Nacional; a maio-
ria dos partidos políticos o apoiava, especialmente o PSDB, que em seu
governo passou a exercer grande influência, tanto que nomeou para o
ministério da Fazenda, em maio de 1993, o sociólogo e político do PSDB,
Fernando Henrique Cardoso – conhecido como FHC.
Ao assumir o ministério, Fernando Henrique Cardoso juntou-se a um
grupo de economistas e começou a elaborar um plano para estabilizar
a economia. Ao fim, em fevereiro de 1994, foi lançado um novo pacote
anti-inflacionário: o Plano Real. Esse plano consistia em uma tentativa de
combater a crise que se instalara no país, sem congelamento de preços e
salários nem confiscos de contas bancárias, reacendendo o otimismo em
relação ao governo na sociedade, que já estava cansada de planos mira-
bolantes. A partir desse momento, uma nova moeda entrou em vigor no
país: o real.
O Plano Real foi posto em prática paulatinamente. Em um primeiro
momento, foi criada a “Unidade Real de Valor” (URV) que seria aplicada a
todas as mercadorias. Era uma espécie de moeda paralela, de referência,
destinada a corrigir diariamente preços, salários e serviços, cuja finalidade Capa da revista Veja de 1992, noticiando a saída de
era trazer de volta a percepção do real valor dos produtos, enquanto o Collor da presidência. Disponível em: http://veja.abril.
com.br/blog/reinaldo/geral/os-20-motivos-de-collor-
cruzeiro era retirado de circulação gradualmente. A URV foi atrelada ao -para-odiar-a-veja-ou-o-pt-de-antes-e-o-pt-de-agora/
dólar, ou seja, um dólar equivalia a um URV, desse modo, o cruzeiro se
desvalorizaria até ser substituído. A URV se mantinha estável e o governo a transformou em uma nova moeda, o real (R$). Nesse
ínterim, o governo concluiu que, para alcançar a estabilidade da moeda e o êxito do Plano Real, era preciso reformar o Estado
de acordo com os princípios neoliberais:
 Aumentando as taxas de juros, inibindo o consumo de mercadorias e forçando o rebaixamento dos preços, sobretudo
dos bens de consumo duráveis;
 Estabilizando e valorizando a moeda brasileira em relação ao dólar, para baratear os produtos vindos do exterior, for-
çando a diminuição dos preços dos produtos brasileiros;
 Cortando os gastos públicos e controlando o déficit, já que as despesas governamentais eram maiores do que a receita,
ocasionando a demissão de milhares de funcionários;
 Aumentando os impostos federais;
 Abrindo o país ao capital internacional, deixando-o circular cada vez mais rapidamente e livre de obstáculos;
 Privatizando as empresas estatais, inclusive os bancos.
A priori, o Plano Real se mostrou bem-sucedido, aquecendo a economia, controlando satisfatoriamente a inflação e estabi-
lizando a moeda, enquanto seus aspectos negativos só seriam percebidos a médio prazo. Com a entrada maciça das empresas
e do capital estrangeiro no país, somados a uma elevada taxa de juros, a indústria nacional sofreu um poderoso baque, em que
diversas indústrias foram levadas à falência, aumentando o desemprego significativamente. Além disso, durante o Governo
Itamar Franco, soube-se que o Brasil, o terceiro maior exportador de alimentos do mundo, possuía em seu território mais de
32 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza e milhares de comunidades esquecidas em meio a fome e a seca.
O Governo Itamar Franco também não saiu ileso do fantasma da corrupção: em outubro de 1993, descobriu-se um
desvio de mais de 100 milhões de dólares dos cofres públicos. As denúncias de irregularidade deram origem a uma investiga-
ção chamada CPI do Orçamento. Essa CPI apurou um grande esquema de corrupção que, por meio do tráfico de influência,
desviava sistematicamente verbas do Orçamento Nacional para entidades filantrópicas que não existiam, para empreiteiras e
para apadrinhados políticos. Esse caso ficou conhecido como o “escândalo dos anões do orçamento”. Concluiu-se o inquérito
comprovando o envolvimento de vinte e dois deputados federais, três senadores, seis ministros e três governadores de estado.

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CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Entretanto, apenas seis deles tiveram seus mandatos cassados
e perderam seus direitos políticos – os demais acabaram renun-
ciando ou sendo absolvidos.
Aproveitando a popularidade que lhe foi conferida como
ministro da Fazenda e idealizador do Plano Real e contando com
o apoio da base aliada, Fernando Henrique Cardoso se candida-
tou pelo PSDB às eleições para a presidência da República que
ocorreram no final de 1994, tendo como vice-presidente, Mar-
cos Maciel do PFL. Seu principal adversário foi o candidato do
PT, Luis Inácio Lula da Silva, sendo este novamente derrotado.
Apoiado e favorecido pela mídia que associava imagens suas à
prosperidade e à modernidade, pelo Plano Real e também por
grandes empresários, FHC elegeu-se presidente no primeiro O então ministro Fernando Henrique Cardoso fazendo a apresenta-
ção do Real. Disponível em: http://www.psdb.org.br/galeria/galeria-
turno, com 54,2% dos votos, enquanto Lula, segundo colocado, -de-imagens-19-anos-plano-real/
obteve pouco mais de 27% dos votos.

ERA FHC (1994 -2002)


Embalado pelo sucesso do Plano Real, que conseguiu con-
trolar a inflação após anos de descontrole, e pelo medo de uma
nova crise, Fernando Henrique Cardoso foi eleito Presidente da
República nas eleições de 3 de outubro de 1994, no primeiro
turno, com quase 55% dos votos. Assumiu a presidência em 1º
de janeiro de 1995, para cumprir um mandato supostamente
de quatro anos. No entanto, FHC continuou no poder ate 1º de
janeiro de 2002, devido à reeleição que ocorrera no seu gover-
no, tornando-se, assim, o primeiro presidente brasileiro a exer-
cer dois mandatos consecutivos. Durante os oito anos em que
Fernando Henrique Cardoso assume a presidência em 1º de janeiro
esteve na presidência, FHC fez da manutenção do combate à de 1995, ao lado de Itamar Franco. Disponível em: http://veja.abril.
com.br/blog/augusto-nunes/tag/brian-winter/
inflação seu principal objetivo e trunfo.

POLÍTICA ECONÔMICA NEOLIBERAL


Empossado, FHC retomou o programa de privatizações, buscando atrair o capital produtivo internacional, promovendo a
venda através de leilões de grandes empresas estatais, como a Companhia Siderúrgica Nacional (siderurgia), a Embraer (pro-
dutora de aeronaves), a Companhia Vale do Rio Doce (enorme mineradora), a Eletrobrás (distribuidora de energia elétrica), o
Banco Banespa, o Sistema Telebrás (companhias de telecomunicações), Copene e Copesul (setor químico) e outras empresas
de demais setores da economia nacional. Esses são apenas alguns exemplos de um processo de venda de estatais que resultou
em R$ 91 bilhões de dólares.
FHC sempre deixou bem claro que o seu governo romperia com o modelo do Estado Interventor, instalado na Era Vargas.
Em seu discurso de posse, FHC anunciou o “fim da Era Vargas no Brasil”, principalmente com o uso de uma economia baseada
nos preceitos neoliberais como o processo de privatizações das estatais, já que essas grandes empresas nacionais foram criadas
a partir da Era Vargas.
O governo argumentava que, para o Estado cumprir melhor seu papel de provedor e executor de políticas sociais nas áreas
de segurança, saúde e educação, por exemplo, era necessário fortalecer o Estado regulador em detrimento do Estado empre-
sário. As privatizações atrairiam o capital internacional que, em contrapartida, modernizaria e expandiria diversos setores da
economia. Abrindo a economia e facilitando as importações, o governo esperava aumentar a oferta e combater a inflação. Com
isso, forçaria as empresas nacionais a se tornarem mais competitivas para enfrentar a concorrência imposta pela globalização.
No caso do ramo de telefonia, a entrada do capital internacional resultou na ampliação das linhas telefônicas e na expansão do
mercado de telefones celulares.

81
SISTEMA DE ENSINO A360°

Ao longo de todo seu governo, sua política neoliberal foi


amplamente criticada pela oposição, pois abrindo mão do con-
trole das riquezas nacionais e dos setores estratégicos da eco-
nomia, FHC deixou o país extremamente dependente do capital
internacional, o que levou o Brasil a mergulhar numa recessão
e futura crise econômica, afetando sua soberania nacional.
Com a economia estagnada, o aumento do desemprego no país
foi enorme, chegando à casa dos 20% de desempregados. Isso
significou, além de uma séria questão social, um forte estímulo
à violência urbana, que cresceu bastante durante os mandatos
de Fernando Henrique.
Durante o governo FHC, as tensões no campo se intensi-
ficaram. O Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra
(MST) realizou inúmeras ocupações de fazendas consideradas
improdutivas. Invadiu sede de órgãos do governo, realizou vá-
rias manifestações públicas e ergueu acampamentos provisó-
rios em todo o país, ao som do slogan do movimento: “ocupar,
resistir e produzir”. O maior conflito rural durante esse período Charge de Angeli satirizando o governo FHC, com base na obra O
ocorreu em 1996, na cidade de Eldorado dos Carajás, no sul Grito de Edward Munch (1893), publicada no jornal Folha de São
Paulo, em 1996.
do estado do Pará. Acampados em terras devolutas ou em la-
tifúndios improdutivos na região, 1500 sem-terra decidiram fazer uma marcha contra a demora na desapropriação de terras
para assentamento das famílias. A polícia militar foi encarregada de tirá-los do local. Segundo relatos jornalísticos, os policiais
militares promoveram um verdadeiro massacre, atirando indiscriminadamente contra a multidão, que incluía mulheres e
crianças. Esse confronto ficou conhecido mundialmente como “O Massacre de Carajás”. Dezenove trabalhadores sem-terra
foram mortos e sessenta e nove foram feridos; destes, três viriam a falecer posteriormente em decorrência dos ferimentos.
Esse conflito tornou-se um símbolo das reivindicações no campo, e a ação irresponsável da polícia e do governo foi condenada
pela comunidade internacional.

O SEGUNDO MANDATO DE FHC (1998 -2002)


Em 1997, com o apoio da base aliada, o Congresso Nacional aprovou a emenda constitucional que autorizava à reeleição
para os cargos de presidente da República, governador e prefeito para um mandato consecutivo. Desse modo, FHC pôde se
lançar como candidato de sua própria sucessão – a forma como se alterou a Constituição, permitindo a reeleição do presidente,
ainda hoje é nebulosa. Disputando a presidência novamente com Lula, FHC venceu as eleições presidenciais de 1998, logo no
primeiro turno, obtendo 53% dos votos contra 31% dados a Luiz Inácio Lula da Silva, do PT.
Dando continuidade à política neoliberal que vinha praticando, FHC manteve a abertura às importações e os juros altos. Du-
rante os oitos anos de governo, Fernando Henrique buscou o equilíbrio fiscal, mantendo seus gastos dentro do limite arrecado.
Para tanto, foi aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal em 4 de maio de 2000. Essa lei limitava os gastos da União, de estados
e municípios, estabelecendo regras precisas para todo administrador público. O objetivo era alcançar o equilíbrio entre receitas
e despesas, ou seja, não se podia gastar mais do que o arrecadado. O desrespeito a essa lei prevê graves punições, como perda
dos direitos políticos, pagamento de multas pesadas ou até mesmo a prisão.

AVANÇOS SOCIAIS NO GOVERNO FHC


Durante o governo Fernando Henrique, as injustiças sociais não foram eliminadas, mas embora bastante criticado na área
social, o governo apresentou alguns avanços, sobretudo em setores como saúde e educação e no controle do gasto público
com a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Na saúde, o governo destacou-se por seu programa de combate à AIDS e pela distribuição gratuita de remédios contra o
vírus HIV, tornando-se referência em todo o mundo. O incentivo da produção e consumo de medicamentos genéricos foi um
sucesso. A mortalidade infantil, apesar de ter continuada alta, teve queda significativa graças às campanhas de vacinação e
expansão do atendimento médico-hospitalar. Ao assumir o governo em 1995, a mortalidade infantil era de 38,4 mortes por mil
nascidos vivos; já em 2002, no fim do governo, a mortalidade infantil caiu para 22 mortes por mil nascimentos.

82
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
No quesito educação, durante o governo FHC, ocorreu um grande aumento de crianças nas escolas: 97% das crianças entre
7 e 14 anos estavam dentro das salas de aula. A criação do Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef) ga-
rantiu mais recursos para o ensino fundamental. Além disso, houve uma significativa queda no analfabetismo no país como um
todo: de 20% de analfabetos em 1990, caiu para 12% em 2002 – vale ressaltar que, no tocante à taxa de analfabetismo de mui-
tos outros países, a do Brasil ainda é elevada. O governo introduziu importantes inovações no sistema educacional brasileiro,
aprovando uma nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) que ajudou a elevar a sua qualidade, possibilitando
ainda o surgimento de um grande número de instituições de nível superior. Foi criado também o Plano Nacional do Livro Didá-
tico, no qual todos os alunos do ensino fundamental de escolas públicas passaram a receber gratuitamente os livros didáticos
para serem usados durante o ano letivo. No entanto, sabemos que ainda havia um longo trabalho a ser desenvolvido quanto à
qualidade do ensino público e privado no país.
Entre os programas de distribuição de renda, foram criados o Bolsa-Escola, o Vale-Gás e o Bolsa-Alimentação, destinados
a beneficiar famílias necessitadas.

FIM DA ERA FHC


Assim como nos governos anteriores, o governo Fer-
nando Henrique não ficou livre de diversas denúncias de
corrupção e irregularidades. Muitas dessas denúncias
geraram investigações parlamentares, como a CPI dos
Bancos, CPI do Sivam e a CPI do Metrô de São Paulo.
Todos os processos envolvendo políticos principalmente
ligados ao governo não foram levados adiante, sendo ar-
quivados. Uma das maiores denúncias de corrupção do
governo foi a suposta compra milionária de votos de par-
lamentares para a aprovação da emenda constitucional
que garantiria a reeleição do presidente. Foram reunidas
inúmeras denúncias as quais renderam um imenso dos-
siê que sustentaria uma CPI; no entanto, devido ao em-
penho dos governistas em impedir que as investigações
tivessem prosseguimento, o processo foi arquivado.

Ainda durante o governo FHC, o país viveu a sua


maior crise de abastecimento de energia. A geração e a
distribuição de energia elétrica foram deixadas à mercê
dos lucros privados e, com isso, a qualidade do serviço Charge de Angeli satirizando a postura de FHC frente aos seus oito anos
de governo. Disponível em: http://consciencia.net/o-brasil-nao-esquecera-
piorou e as tarifas subiram. A falta de planejamento e de -45-escandalos-governo-fhc/
investimentos no setor elétrico levou a geração de ener-
gia a níveis insuficientes. Em virtude desses acontecimentos, no ano de 2001, o governo foi obrigado a adotar um programa
de racionamento de energia elétrica. Essa séria crise no fornecimento de energia elétrica ficou conhecida popularmente como
“apagão”, devido aos blecautes que chegavam a durar um dia inteiro. Esse fatídico episódio de racionamento prejudicou não só
a população brasileira, mas também a economia. Naquele ano, o PIB brasileiro cresceu irrisórios 1,5% e a produção industrial
teve uma queda de 9%. O apagão prejudicou não somente o desenvolvimento do país, mas também a imagem do presidente,
que ficou arranhada.
Em 2002, ocorreram novas eleições presidenciais. Fernando Henrique, sem poder se candidatar a um terceiro mandato,
apoiou a candidatura de seu ex-Ministro da Saúde, José Serra, também do PSDB. As desigualdades sociais, o apagão e a reces-
são econômica no governo FHC refletiram em José Serra. Dessa vez, a vitória coube ao candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva,
que concorria pela quarta vez ao cargo. A vitória de Lula renovou na sociedade o desejo de mudança. Os eleitores depositaram,
nesse novo governo, as expectativas de melhorias de que tanto precisavam.

83
SISTEMA DE ENSINO A360°

TEXTO COMPLEMENTAR

POLÍCIA BARRA POVO E FHC FAZ FESTA VIP DOS 500 ANOS
Dois episódios ocorridos nessa sexta-feira, dia 21, ajudam a entender o festival de selvageria em que se transformou
a festa dos 500 anos do Brasil, exaustivamente preparada para coroar o Governo da Bahia e, principalmente, catapultar
o senador Antonio Carlos Magalhães para a sucessão de Fernando Henrique Cardoso.
Por volta das 16 horas, policiais militares fortemente armados bloquearam a rodovia que liga Bahia a Porto Seguro.
Eles alegavam cumprir ordens da Defesa Civil, já que a cidade não comportava mais ninguém. Tudo perfeito, à exceção
de um mero detalhe: Porto Seguro não tem Defesa Civil. O objetivo era evitar que os sem-terra, acampados em Bahia,
entrassem em Porto. O bloqueio foi estendido a turistas e até aos moradores das duas cidades. Um turista que veio de
João Pessoa, na Paraíba, exibiu as reservas de hotel e afirmou que seu direito de ir e vir, garantido pela Constituição,
estava sendo desrespeitado.
A resposta do policial merece entrar para os anais da história do Brasil:
- Aqui na Bahia quem manda é o Antonio Carlos Magalhães. Ou seja, pega a Constituição e...
Por volta das 20 horas, foi realizada em Coroa Vermelha a plenária de encerramento da Conferência dos Povos In-
dígenas, que reuniu cerca de 3 mil índios de 150 tribos de todo o país. Exaltadas, lideranças indígenas se referiam a FHC
usando termos como “canalha”, “vagabundo”, “sem palavra”. O último a falar foi o pataxó Luiz Tiliá. Coube a ele dar o
tom da conferência:
- Amanhã nós vamos fazer uma caminhada até Porto Seguro e a polícia não vai deixar. Quero que cada tribo junte
os dez guerreiros mais fortes. Eles vão na frente, porque nós vai passar de qualquer jeito.
Um vidente previu chuvas e trovoadas em Porto Seguro durante o 22 de abril. Acertou na previsão do tempo e na
metáfora. Chovia torrencialmente em Coroa Vermelha, quando cerca de mil integrantes do movimento Outros 500, forma-
do principalmente por estudantes mal saídos da adolescência, marchavam para a área onde foi realizada a conferência
indígena. O objetivo era de se juntarem aos índios na caminhada até Porto Seguro.
Aí, surge a polícia militar. Um manifestante negro é agarrado pelos cabelos. Sua companheira tenta defendê-lo e é
jogada ao chão. O tumulto estava formado. Policiais atiram para o alto, jogam bombas de gás lacrimogêneo e espancam
quem aparece pela frente.
Assustados, os manifestantes correm para as casas dos pataxós e respondem às agressões com pedradas. Uma das
pedras atinge o índio Crispim na cabeça. Pronto. Estava dado o pretexto para que o comandante da operação, Wellington
Muller, prendesse cerca de 140 integrantes do movimento Outros 500. Alegou que estava agindo em defesa dos índios,
embora os próprios indígenas alegassem que a pedrada em Crispim fora acidental e provocada pela truculência com que
a polícia investiu contra os manifestantes.
Procuradores da República, a senadora Marina Silva, os deputados Haroldo Lima e José Dirceu e a deputada estadual
Alice Portugal tentaram, em vão, argumentar que as prisões eram ilegais e que a violência dos PMs era injustificada. A
todos, Muller respondia com um monocórdio “não reconheço sua autoridade”.
Estava armado o palco para um conflito de proporções maiores e ele evidentemente ocorreu. Por volta das 11 horas,
índios marchavam para Porto Seguro, quando encontraram uma barreira de PMs, incluindo o batalhão de choque. Antes
mesmo que os índios se aproximassem, os PMs, com o ensandecido Muller à frente, começaram a atirar com balas de
borracha e a jogar bombas de gás lacrimogêneo. Saldo: mais de 30 feridos, entre eles nenhum policial militar, prova maior
de que não houve confronto e que apenas uma das partes bateu.
E como bateu! Jornalistas de todo o Brasil e das várias partes do mundo comentavam que a repressão aos índios,
negros e sem-terra já era previsível. O que assustou a todos foi a violência com que a polícia militar agiu. Era como se
não bastasse apenas impedir que os manifestantes chegassem a Porto Seguro, mas, como disse a senadora Marina Silva,
deixar bem claro a todos que nesse país lugar de pobre é na senzala, enquanto a classe dominante goza os prazeres da
casa grande.
Corta, então, para a casa grande. No estreladíssimo hotel Vela Branca, cercado por um forte aparato de segurança,
Fernando Henrique e o presidente de Portugal Jorge Sampaio almoçam com convidados. A elite empresarial e política do
País. Num pronunciamento insosso, FHC falou dos avanços sociais do país, alfinetou os sem-terra e, por fim, fez um brinde
com a legítima cachaça brasileira.

84
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A

Do lado de fora do banquete, uma cena insólita. Impedidos de trabalhar (desta vez, a truculência ficou por conta dos
seguranças e dos burocratas do Itamarati), jornalistas sentaram no chão e cantaram o Hino Nacional. Minutos depois,
numa entrevista coletiva montada às pressas, FHC tentou ironizar e cantou também o Hino Nacional. Errou a letra duas
vezes. O que esperar de um presidente que já no segundo mandato, não sabe o hino do país que governa?
Para que a visita, prevista para durar quatro dias e encurtada sucessivamente até se limitar a meras três horas, não se
limitasse ao almoço, o presidente visitou a Cidade Histórica, reformada pelo Governo do estado. Cumprimentou a simpá-
tica família Schürmann que voltava de uma viagem de dois anos pelo mundo, plantou uma muda de Pau Brasil, acendeu
a Chama do Conhecimento, viu atores fantasiados de índios e posou para fotos abraçado a baianas do acarajé.
Os moradores da Cidade Histórica viram a festa da janela, porque estavam impedidos de sair de casa.
Era visível o desconforto do senador ACM e do governador César Borges. O primeiro, perguntado sobre a repressão
aos índios e sem-terra, respondeu que preferia não ver, porque aquele dia era um dia de festa, um dia para os brasileiros
comemorarem. O segundo afirmou que apenas mantiveram a ordem, garantindo a segurança do presidente.
Sensato, o senador Paulo Souto condenou a maneira como o processo foi conduzido:
- O Governo do Estado fez grandes obras em Porto Seguro, urbanizou Coroa Vermelha, construiu um Centro de
Convenções fantástico, mas o que vai repercutir no mundo todo são os tumultos.
Acertou na mosca. A imprensa brasileira (incluindo a Rede Globo, que em determinado momento tentou se apoderar
da celebração dos 500 anos) deu amplo destaque à pancadaria e pouco falou da visita ao Centro Histórico. Jornais como
o New York Times, dos EUA, o Libération, da França, e o Independent, da Inglaterra, falaram da violência contra o s
indígenas.
A foto do índio Gildo Terena, ajoelhado no asfalto e de braços abertos pedindo clemência aos policiais, saiu na capa
dos principais jornais do planeta. A mesma imagem, com a sequência em que Terena é atingido por uma bomba de gás
lacrimogêneo e em seguida pisoteado pelos PMs foi veiculada em centenas de emissoras de televisão.
Fernando Henrique foi embora
antes de assistir ao espetáculo. O
dia em que o Brasil nasceu misto de
teatro e cinema com luzes e fogos
de artifício. Escapou de um derra-
deiro constrangimento.
Revoltados porque o show era
apenas para convidados do governo
e pela colocação de um tapume que
impedia qualquer vista do espetá-
culo, turistas e moradores primeiro
protestaram com xingamentos. De-
pois, jogaram pedras aleatoriamen-
te. Antes que a revolta ganhasse
proporções incontroláveis, a polí-
cia chegou e, conhecedores do que
havia ocorrido com os índios, estu-
dantes e sem-terra, as pessoas pre-
feriram optar por programas menos Conflito entre a PM e manifestantes (em sua maioria índios) na festa de comemoração de
arriscados, como passear pela Pas- 500 anos do Brasil. Disponível em: http://www.rotadosertao.com/noticia/28029-estado-te-
ra-de-pagar-rs10-milhoes-por-reprimir-manifestacao-nos-500-anos-do-brasil
sarela do Álcool.
Os relógios marcavam duas horas e trinta minutos do dia 23 de abril quando voltou a chover torrencialmente em
Porto Seguro. Entre irônico e revoltado, um bêbado comentou:
- Depois de uma confusão dessas, na festa dos 1000 anos do Descobrimento eu não venho de jeito nenhum.
Provavelmente, nem FHC, ainda que na remota hipótese de sucessivas reeleições e da imortalidade que só os que se
julgam deuses costumam almejar. Nem FHC...
Texto de Daniel Thame, de Porto Seguro.
Disponível em: http://www2.uol.com.br/aregiao/art/massacre.htm

85
SISTEMA DE ENSINO A360°

GOVERNO LUIZ INÁCIO “LULA” DA SILVA(2002-2008)


Nas eleições presidenciais de 2002, ao concorrer pela quar-
ta vez pelo Partido dos Trabalhadores (PT), o ex-metalúrgico e
líder sindical e um dos fundadores do partido, Luiz Inácio Lula
da Silva, ganhou as eleições no segundo turno. Ele venceu as
eleições com 61,27% dos votos contra 38,72% dos votos dados
a José Serra, do PSDB, seu principal adversário. Pela primeira
vez na história republicana brasileira, uma pessoa de origem au-
tenticamente popular, oriunda dos meios operários (e não das
elites), assumia a presidência da República no Brasil.
Em 1º de janeiro de 2003, Lula tomou posse e, ao discursar
em Brasília em meio a milhares de pessoas, disse em um tom
emocionado: “a esperança venceu o medo”, em alusão ao temor
da classe conservadora com a sua vitória, pois acreditava que seu
governo implementaria medidas que romperiam com o modelo
neoliberal que tanto os favorecia. Lula foi escolhido presidente
por milhões de eleitores que ansiavam por grandes mudanças.

UMA ESQUERDA MODERADA


Antes das eleições, ao longo do ano de 2002, a perspectiva
de uma possível vitória de Lula provocou temores no mercado e
incertezas dos investidores nacionais e internacionais, agravan-
do a situação econômica do Brasil.
Buscando atrair a confiança, recuperar a credibilidade dos
investidores e equilibrar as contas públicas, o governo Lula deu
continuidade a alguns aspectos da política econômica neolibe-
Após quatro tentativas, Lula chega à presidência da República.
ral praticada no governo FHC. Tais tarefas foram confiadas ao Disponível em: http://g1.globo.com/politica/fotos/2010/12/veja-
ministro da Fazenda, Antônio Palocci, e ao presidente do Banco -imagens-dos-8-anos-do-governo-lula.html
Central, Henrique Meirelles. Alguns membros do PT deixaram o
partido por não concordarem com a continuação de uma política econômica que o próprio Lula e os demais membros tanto
haviam combatido. Alguns deles formaram outros partidos, como o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).
Apesar das semelhanças com a política econômica do governo antecessor, o governo Lula mostrou que tinha um projeto
político diferente: triplicou os investimentos em políticas sociais, interrompeu a política de privatizações das empresas estatais
e reforçou o papel do Estado na economia.
As medidas econômicas lançadas por Antônio Palocci e Henrique Meirelles deram resultados bastante positivos, o que
elevou a credibilidade do país no mercado financeiro internacional, havendo a queda da cotação do dólar e o recuo progressivo
do risco-país, diminuindo assim a inflação.
O Brasil retomou o avanço do crescimento econômico beneficiado pelo aumento geral do fluxo de comércio e capitais
internacionais. As exportações brasileiras cresceram e, na política externa, o governo apresentou uma política com maior
ênfase no cenário mundial, participando ativamente dos debates internacionais. O reforço do MERCOSUL também contribui
para essa mudança no cenário mundial, consolidando a posição de liderança exercida pelo Brasil na América do Sul. Assim,
o país deixou de depender basicamente dos EUA ao aumentar suas relações com a União Europeia e estreitar suas relações
comerciais e diplomáticas de países com economia emergente, como a China, a África do Sul, a Índia e alguns outros países
africanos e asiáticos. Liderou a criação do G-20, grupo composto por 20 países em desenvolvimento que buscam o aumento de
suas exportações e relevância na economia mundial. Atualmente, o G-20 vem assumindo uma importância cada vez maior na
comunidade internacional.

AVANÇOS SOCIAIS
Ao assumir a presidência, Lula declarou que a prioridade do seu governo seria o combate à fome e, para tal, lançou o
programa Fome Zero, que combinava políticas públicas voltadas para as causas da fome e da pobreza, como a geração de em-
pregos e um maior acesso à saúde e educação, além da criação do programa Bolsa Família, em que há a transferência direta

86
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
de renda às famílias, sendo que cada uma recebe um valor em
dinheiro por filho. A família beneficiada tem que manter os fi-
lhos na escola e manter a vacinação em dia, e as gestantes têm
de realizar o pré-natal acompanhando sua saúde e a do bebê.
Esse programa foi responsável por retirar milhões de pessoas da
miséria extrema, especialmente nas regiões Norte e Nordeste,
chegando a atender, em 2012, mais de 13 milhões de famílias.
Graças às ações desse programa, o nível de vida das famílias Slogan do programa Fome Zero e Bolsa-Família, lançados para er-
mais pobres passou a apresentar uma melhora concreta. Entre- radicar a miséria no país. Disponível em: http://pressroom.ipc-undp.
org/the-food-security-policy-context-in-brazil/
tanto, esse programa é criticado por vários especialistas, que o
taxam de assistencialista e incentivador do ócio.
As camadas mais pobres da sociedade também foram favorecidas pelo reajuste do salário mínimo acima dos índices da
inflação, com um aumento real que proporcionou uma maior oferta de crédito à população, aumentando o poder de compra
dos trabalhadores. Houve, ainda, a diminuição dos impostos sobre os produtos da cesta básica e de materiais de construção,
beneficiando diretamente os trabalhadores. O combate à pobreza durante o governo Lula se mostrou um sucesso, ampliando
sua popularidade e prestígio dentro e fora do país.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), entre 2003 e 2004, 24 milhões de brasileiros deixaram o es-
tado de extrema pobreza. Como resultado, o mercado interno brasileiro se fortaleceu e criaram-se 15 milhões de novos empregos.
Na área da educação, o governo Lula conseguiu junto ao Congresso Nacional a aprovação do Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), em substituição ao Fundef criado no governo FHC, atendendo e estendendo
o programa também para os alunos do Ensino Médio. Estendeu também aos alunos do Ensino Médio o direito de serem aten-
didos pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD). No governo Lula, os investimentos no campo da educação triplicaram
e foi retomado o apoio e incentivos financeiros às pesquisas científicas, que haviam sido suspensos pelo governo anterior. Em
relação ao Ensino Superior, foi criado o programa ProUni (Programa Universidade para Todos), que possibilitou o acesso à
educação universitária a estudantes que não têm condições de arcar com despesas de livros e de mensalidades.

O CASO “MENSALÃO”
Durante o governo Lula, no ano de 2005, explodiu uma
denúncia de corrupção milionária envolvendo integrantes de
vários partidos, inclusive importantes líderes do PT, como o
Chefe da Casa Civil, José Dirceu. Segundo relatório, o dinheiro
público estava sendo usado para um esquema de financiamen-
to das campanhas eleitorais do PT e para a compra de votos
de deputados federais de outros partidos – visando à obten-
ção de maioria parlamentar – em troca de apoio a projetos
do governo na Câmara dos Deputados. Esse escândalo ficou
conhecido como “mensalão”, devido a essa “mesada” mensal
que era dada pelo governo aos políticos e a empresários en-
volvidos no esquema. Esse escândalo abalou as estruturas do Charge ironizando a famosa máxima brasileira de que aqui tudo
governo, que teve sua imagem marcada negativamente por acaba em pizza. Disponível em: http://www.esmaelmorais.com.
essas denúncias e muitos de seus eleitores acusaram o parti- br/2012/08/03/

do de trair os seus próprios princípios e ideais.


Lula afirmou publicamente desconhecer a existência desse esquema. As denúncias foram investigadas por vários órgãos
policiais e judiciais, como a Polícia Federal que reuniu inúmeros relatórios os quais resultaram em várias CPIs e, como conse-
quência, alguns políticos foram julgados e condenados pelo Supremo Tribunal Federal, como José Dirceu e José Genuíno – um
dos principais líderes do PT e um de seus fundadores – e outros tiveram seus mandatos cassados. No entanto, vários outros
políticos e empresários ligados ao esquema de corrupção foram absolvidos.

SEGUNDO MANDATO
Apesar das várias denúncias de corrupção envolvendo o partido e o governo, nas eleições presidenciais em outubro de
2006, Lula conseguiu se reeleger para um segundo mandato, derrotando o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin do
PSDB, com mais de 60% dos votos do eleitorado. Alguns críticos do governo vincularam essa vitória ao Bolsa-Família e, outros
mais favoráveis, ao fato de que Lula ainda era visto pela grande maioria como um político comprometido com as causas sociais.

87
SISTEMA DE ENSINO A360°

Em seu segundo mandato, novas mudanças começaram a acontecer. A permanência da estabilidade econômica fez com
que o Brasil passasse sem muitos abalos pela crise econômica mundial de 2008-2009, que afetou fortemente vários países da
União Europeia e os Estados Unidos. A mídia nacional e internacional começou a falar positivamente do país, principalmente
do BRIC, bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia e China, sendo esses apontados como as potências do futuro. A
comunidade internacional mostrou-se com um otimismo inédito em relação ao potencial do país, tanto que, em 2009, o Comitê
Olímpico Internacional elegeu a cidade do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016, em detrimento
de cidades mais tradicionais dos países desenvolvidos. O Brasil também foi escolhido para sediar outro importante evento es-
portivo mundial: a Copa do Mundo de Futebol, em 2014.
O governo Lula ampliou os projetos sociais que já estavam em andamento, como o Bolsa-Família, o Luz para Todos – pro-
grama que ampliou significativamente o setor de eletrificação, atendendo diversas comunidades distantes –, o Minha Casa
Minha Vida – programa que atendeu milhões de famílias ao facilitar o acesso à casa própria através de financiamentos feitos
pela Caixa Econômica Feral – e o ProUni.
Em 2007, aumentaram ainda mais as perspectivas de crescimento da economia quando da descoberta de jazidas de pe-
tróleo no litoral sul e sudeste do Brasil, pela Petrobrás. Essas jazidas receberam o nome de pré-sal, porque se situam em águas
profundas e ultraprofundas, abaixo de uma grande camada de sal. A camada pré-sal é composta por grandes acumulações de
óleo leve, com alto valor comercial, por ser de boa qualidade. Foram desenvolvidas novas tecnologias para operarem em águas
tão profundas em parceria com fornecedores, universidades e centros de pesquisa.
Grandes investimentos foram realizados em setores de energia, de transporte e da agricultura. Visando melhorar e moder-
nizar o saneamento básico e a infraestrutura do país, foi lançado o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) com diversas
obras importantes em portos, estradas, aeroportos e usinas, por exemplo, financiadas pelo poder público em parceria com a
iniciativa privada. Essas obras de melhoria da infraestrutura foram importantes para o crescimento da economia que, em 2010,
foi de 7% ao ano.
Ao final do segundo mandato, em 2010, uma pesquisa comandada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou
que o índice de aprovação do presidente Lula era de 87%. Nesse mesmo ano, o PT lançou a candidatura para a presidência da
então ministra-chefe da Casa Civil e ex-ministra de Minas e Energia, Dilma Rousseff. Com esse índice de aprovação, Lula exerceu
bastante influência nas eleições presidenciais de 2010. Dilma Rousseff conseguiu se eleger, derrotando, no segundo turno, José
Serra, do PSDB, que em 2002 já havia sido derrotado por Lula. Em janeiro de 2011, Dilma tomou posse em Brasília, tornando-se
a primeira mulher na história política brasileira a assumir a presidência da República.

GOVERNO DILMA
Após tomar posse da presidência em 2011,
Dilma defendeu a continuidade e ampliação
das políticas sociais do governo anterior, dando
ênfase às ações que promovessem o desenvol-
vimento social e, ao mesmo tempo, ações que
visassem ao crescimento econômico. Muitos
críticos especularam que a influência de Lula
em seu governo era muito grande. No primei-
ro mandato, procurou sempre centralizar as
ações do governo, ou seja, todos os assuntos
importantes teriam que passar por suas mãos.
Ao se tornar presidente, Dilma iniciou seu
governo em meio a uma grave crise econômi-
ca internacional. Como consequência, no final
do primeiro ano, o PIB brasileiro cresceu me-
nos que nos anos anteriores. Para conter os
avanços dos efeitos dessa crise, em sua ges-
tão foram criados vários pacotes de estímulo Posse de Dilma Rousseff, a primeira mulher a chegar à presidência da República. Dispo-
nível em: http://artigolivre.blogspot.com.br/

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CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
à economia, a fim de tornar o país mais competitivo, conter a Inflação PIB
inflação e atrair investimentos. Apesar dessas iniciativas, a eco-
FHC - 1 9,7 % 2,5 %
nomia desacelerou nos dois primeiros anos de mandato, fazen-
do a economia do país crescer menos do que o programado. FHC - 2 8,8 % 2,1 %
Nesses dois anos, o Brasil foi um dos países que menos cresceu Lula - 1 6,4 % 3,5 %
economicamente na América Latina, ficando atrás do México e 5,1 % 4,6 %
Lula - 2
da Argentina, por exemplo.
Dilma - 1/2 6,2 % 1,8 %
No entanto, a taxa de desemprego permaneceu estável e Fonte: IBGE
os salários continuaram aumentando e a renda per capita tam-
Tabela que mostra a porcentagem da inflação e do PIB brasileiro
bém. Durante os governos Lula e Dilma, as exportações cres- alcançados durante os governos FHC, Lula e Dilma. Disponível em:
http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/blog/2013/04/10/
ceram consideravelmente. Entre os produtos primários expor- delfim-inflacao-alta-e-pib-baixo-vem-desde-fhc/
tados, destacam-se a soja, a carne, o café, a laranja, o álcool, o
trigo e o açúcar; o minério de ferro também é bastante exportado. Entre os produtos industrializados exportados pelo Brasil,
destacam-se os automóveis, os aviões, os combustíveis e o aço. O país figura hoje como uma das maiores economias do mundo,
conquistando um papel importante na Organização Mundial de Comércio (OMC).

DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Dando continuidade aos programas do governo Lula, como o Bolsa-Família, o PAC, o Minha Casa Minha Vida, o ProUni,
entre outros, Dilma também criou projetos para promover melhorias nas áreas da saúde e educação.
Dilma lançou o programa Brasil sem Miséria como complemento ao Bolsa-Família, com o objetivo de aumentar a renda de
pessoas que viviam em condições de extrema pobreza, garantindo a essas famílias uma renda mínima de R$ 70,00 por membro.
Esse programa garantia também o acesso a serviços públicos com maior qualidade, como creches e o fornecimento gratuito de
vitamina A e sulfato ferroso, além de remédios contra a asma.
Na saúde, com o objetivo de ampliar a assistência e reduzir a mortalidade infantil e materna, foi criada a Rede Cegonha
destinada às gestantes e seus bebês. Foi lançado, ainda, um polêmico programa chamado Mais Médicos, que promete melho-
rias no atendimento aos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e que prevê investimentos em infraestrutura dos hospitais
e demais unidades de saúde. Além dessas propostas, esse programa foi responsável por trazer ao Brasil diversos médicos de
outros países – principalmente de Cuba –, com o intuito de levar mais médicos para regiões onde há escassez desses profis-
sionais. O objetivo também é expandir o número de vagas de medicina e de residência médica, além do aprimoramento da
formação médica no país.
Na área da educação, criou o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego, o Pronatec. Esse programa foi
lançado para oferecer bolsas de estudos a alunos e trabalhadores que queiram fazer cursos técnicos e profissionalizantes, vi-
sando ao aumento da oferta de mão de obra especializada, além da construção de escolas técnicas federais por todo o país. Em
2012, Dilma sancionou a Lei de Cotas para o Ensino Superior que disponibiliza 50% das vagas nas Universidades Federais para
alunos pardos, negros, indígenas e provenientes de escola pública.
Em seu governo, foi criado também o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), que tem
como meta estimular a geração de renda e incrementar o uso da mão de obra familiar através da concessão de crédito para o
produtor rural.
Apesar das melhorias sentidas pela população em geral, infelizmente os índices negativos como um todo ainda não foram
sanados. Estamos longe de termos uma educação pública de qualidade e de um governo que a priorize. Ainda temos uma gran-
de maioria de professores recebendo baixos salários e milhares de escolas que continuam precárias, sem os requisitos básicos
para seu funcionamento. O Brasil apresenta o segundo pior índice de concentração de renda do planeta, atrás apenas de Serra
Leoa, na África. Dados revelam que a parcela mais rica da população brasileira, equivalente a 1% do total de habitantes, detém
cerca de 20% de toda a riqueza do país. Além disso, o Brasil apresenta elevados índices de concentração fundiária, o que poten-
cializa os conflitos no campo. Ainda hoje, existem milhões de pessoas analfabetas e outros milhões que sabem ler e escrever de
modo bastante precário. Cerca de 40% dos jovens que frequentam as escolas estão atrasados nos estudos. Na área da saúde,
ainda existem diversos problemas graves. Hospitais e demais unidades de saúde por todo o país enfrentam uma superlotação
imoral. Milhões de pessoas continuam tendo enormes dificuldades de acesso a serviços básicos de saúde, sendo que muitas

89
SISTEMA DE ENSINO A360°

deixam de ser atendidas. Atualmente, cerca de 50% dos domicílios permanecem sem saneamento básico. A falta de moradia
digna no país como um todo também é gritante. Ao lado dessa grande desigualdade social e má distribuição de renda entre a
população, caminham inúmeros casos de preconceito, violência e criminalidade que afetam toda a sociedade brasileira.
No entanto, apesar das duras críticas à primeira gestão de Dilma e das dificuldades enfrentadas, como os vários escândalos
de corrupção envolvendo seu partido e governo, uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística
(Ibope) realizada em março de 2013 revelou um bom índice de aprovação do governo: 62% das pessoas entrevistadas em 147
municípios consideraram o governo bom ou ótimo. Esses resultados refletiram nas urnas. Nas eleições presidenciais de 2014, Dil-
ma se reelegeu derrotando no segundo turno o ex-governador do estado de Minas Gerais e atual senador, Aécio Neves do PSDB.

CORRUPÇÃO NO GOVERNO DILMA


Logo nos primeiros nove meses de sua gestão, Dilma
teve que lidar com várias acusações de corrupção em di-
versos ministérios, o que acarretou no afastamento de seis
ministros de sua confiança. De acordo com as pesquisas
desse período, em um primeiro momento, a imagem da
presidente não sofreu grandes arranhões. Ela se mostrou
empenhada em averiguar as acusações de corrupção, sem-
pre se pondo, obviamente, em uma posição de que não
sabia de nada.
O maior escândalo de corrupção do governo Dilma foi
o chamado “Escândalo da Petrobrás”. As várias denúncias
de corrupção dentro da maior estatal brasileira tiveram
início quando houve a compra, em 2006, da refinaria de
petróleo em Pasadena, no estado do Texas (EUA). Foram
abertas investigações pelo Tribunal de Contas da União Charge ironizando o escândalo de corrupção da Petrobrás. Disponível em:
(TCU), pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público http://danmonteirofp.blogspot.com.br/2015/03/pp-um-partido-enrola-
do-32-congressistas.html
(MP), devido às várias denúncias de superfaturamento e
evasão de divisas envolvendo a negociação. O caso ganhou mais repercussão porque, na época da compra, quem presidia o
Conselho de Administração da Petrobrás e deu o aval foi a agora presidente Dilma Rousseff.
Após essa denúncia, varias outras foram divulgadas. Foi descoberto um esquema de lavagem de dinheiro e desvio de mais
de 10 bilhões dos cofres públicos, que vem tomando conta das manchetes do Brasil e do mundo – e, mais uma vez, envolvendo
a Petrobrás. Essas denúncias de corrupção chamadas de “petrolão” motivaram uma investigação da Polícia Federal intitulada
Operação Lavajato e a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), a CPI da Petrobrás.
As sucessões de escândalos envolvendo membros
do governo e de sua base aliada, especialmente os prin-
cipais partidos de sustentação, o PT e o PMDB, abalaram
o governo, fazendo com que o descontentamento com a
política brasileira se alastrasse na população em forma
de manifestações e protestos em todo o país, pedindo a
moralização da administração pública brasileira. A imagem
da atual presidente recentemente eleita em uma votação
apertadíssima sofreu várias manchas que serão difíceis de
ser limpas. Atualmente, Dilma Rousseff vem enfrentando
duras críticas no Brasil e no mundo, o que ocasionou uma
queda drástica de sua popularidade. Segundo pesquisas
feitas pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatís-
tica (Ibope) realizadas em março de 2015, o Governo Dilma
conta hoje com a aprovação de apenas 12% do eleitorado Charge criticando o aumento do combustível. Disponível em: http://www.
chargeonline.com.br
brasileiro.

90
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UFG A quebra do monopólio da Petrobrás na exploração 03| UERJ Sr. Presidente, Srs. Senadores, levamos a cabo a
do petróleo brasileiro significou mais do que uma mera tarefa da transição.
decisão econômica, repercutindo em todos os níveis da Acredito firmemente que o autoritarismo é uma página
sociedade brasileira, pois a exploração de petróleo é virada na história do Brasil. Resta, contudo, um pedaço
tema controvertido e polêmico. de nosso passado político que ainda atravanca o presen-
Apresente e justifique dois argumentos favoráveis e dois te e retarda o avanço da sociedade. Refiro-me ao legado
argumentos contrários à quebra do monopólio. da Era Vargas, ao seu modelo de desenvolvimento autár-
Resolução: quico e ao seu Estado intervencionista.
Esse modelo, que à sua época assegurou progresso e per-
I. A competição propicia maior produtividade, melho-
mitiu a nossa industrialização, começou a perder fôlego no
res serviços e menores preços. Este é o argumento
fim dos anos 70. Atravessamos a década de 80 às cegas. No
utilizado para defender a quebra do monopólio de
petróleo, o que não significa o mesmo que “privati- final da “década perdida”, os analistas políticos e econômi-
zação da Petrobrás”. Com a presença de novas em- cos mais lúcidos já convergiam na percepção de que o Bra-
presas na exploração petrolífera, o Estado se deso- sil vivia não apenas um somatório de crises conjunturais,
brigaria de investir em serviços não essenciais e a mas o fim de um ciclo de desenvolvimento a longo prazo.
concorrência poderia significar um passo à frente na FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
Discurso de despedida do Senado, em 15/12/1994
modernização do setor, desatando os laços políticos Adaptado de www.planalto.gov.br
e econômicos gerados pelo monopólio estatal.
Em seus dois mandatos como presidente, Fernando
II. A defesa da soberania (conhecimento das reservas Henrique Cardoso buscou apoio de diferentes forças po-
minerais por nações estrangeiras, dependência ex- líticas e partidárias para implementar um programa de
terna) é a principal tese a contrariar a tendência reformas que rompesse com o que chamou de “legado
liberal ora em alta. A ausência de uma estratégia da Era Vargas”. Essas reformas eram vistas pelo grupo
nacionalizante capaz de proteger nossas reservas e político ao qual pertencia como fundamentais para que
o risco de um rápido esgotamento das reservas (pois o país vencesse definitivamente as dificuldades enfren-
o petróleo é um recuso natural não renovável) com
tadas na “década perdida”.
a produção direcionada para o consumo externo co-
locaria em risco o desenvolvimento da nação. Explique o significado da expressão “década perdida”
para a economia brasileira.
02| UFJF As imagens abaixo simbolizam dois momentos da
Cite, ainda, duas ações desenvolvidas durante os gover-
República Brasileira. Embora os indicadores de ambos os
nos de Fernando Henrique Cardoso relacionadas a seu
períodos revelem crescimento da economia, em vários
rompimento com a “Era Vargas”.
aspectos os dois governos são distintos. Observe as ima-
gens e, em seguida, responda ao que se pede. Resolução:
A expressão caracteriza a grave estagnação econômica
que a sociedade brasileira sofreu nos anos 1980, mar-
cados por desemprego, altos índices de inflação, dimi-
nuição da capacidade de consumo e aumento do déficit
A A que governo refere-se cada uma das imagens e público e da dívida externa.
qual é a principal diferença entre eles do ponto de
vista político? Duas das ações:

B Analise as duas conjunturas, ressaltando dois aspec-  proposta de mudanças na legislação previdenciária
tos relevantes de natureza socioeconômica que per-  medidas promotoras de abertura maior à entrada
mitem afirmar que elas são distintas. de empresas estrangeiras
Resolução:  programa de privatização de estatais, tais como a
A Primeiro aspecto: Governo Médici: o crescimento Embraer e a Vale do Rio Doce
econômico se deu com base, inclusive, na retração  flexibilização de monopólios estatais, tais como o da
dos salários. No governo Lula houve crescimento Petrobras e o das telecomunicações
econômico e elevação salarial.
 propostas para diminuição do papel do Estado como
B Segundo aspecto: Governo Médici: altas taxas de in- produtor, valorizando seu caráter regulador
flação. Governo Lula: inflação sob controle.

91
SISTEMA DE ENSINO A360°

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| FUVEST Desde 1990, os governos brasileiros vêm des- político agravado no ano de 1992, acabariam levando ao
montando um modelo de Estado que se cristalizou no fim de seu governo, por decisão do Congresso Nacional.
período varguista (1930-1945). Que principais mudan- Explique duas consequências econômicas do Plano
ças estão ocorrendo no que respeita à intervenção do Collor.
Estado na economia e nas relações trabalhistas?
04| UNESP Expectativa de evolução da produção de energia
02| No governo de José Sarney foi promulgada a constitui- hidrelétrica no Brasil, 2009 – 2019
ção de 1988, a qual vigora até os dias atuais. Destaque,
Produção Sudeste/
no mínimo, três pontos estipulados por esta constitui- MW CO
Sul Nordeste Norte Brasil

ção que levou a redemocratização do país. 61 882 16 550 14 759 10 407 103 598
dez/09
(60%) (16 %) (14%) (10%) (100%)
03| UFRJ “A violência da inflação e a quase destruição do 77 508 23 614 26 708 39 248 167 078
Dez/19
(46%) (14%) (16%) (24%) (100%)
sistema de preços já ameaçavam o funcionamento da
economia [...]. Para sustentar de forma duradoura a es- Variação
25,3 42,7 81,0 277,1 61,3
(%)
tabilidade de preços, impõe-se uma reforma monetária
(Ministério de Minas e Energia. Plano Decenal de Expansão de Energia, 2010.)
austera, capaz de devolver ao Estado o controle sobre
a moeda. [...] não deve se traduzir apenas na mudança Indique as regiões brasileiras que sofrerão os maiores
de denominação do padrão de referência de preços e aumentos percentuais na capacidade de produção de
contratos, mas deve atingir profundamente as formas energia hidrelétrica instalada até 2019.
de acesso à liquidez e os processos de criação do poder Cite um exemplo de usina hidrelétrica que está em cons-
de compra. [...] As medidas [...] buscam, sobretudo, pre- trução no Brasil e aponte duas consequências socioam-
servar os direitos adquiridos pelos cidadãos.” bientais resultantes da sua instalação.
(Discurso do presidente Fernando Collor de Mello, apresentando o plano de estabilização,
na reunião ministerial de 16/3/1990) 05| UFPR Aponte e explique três consequências econômicas
importantes para a sociedade brasileira decorrentes da
Em 16 de março de 1990, dia seguinte a sua posse, Fer- implantação do Plano Real em 1994 e da política econô-
nando Collor de Mello anunciou um plano econômico mica adotada no contexto dos governos Itamar Franco
com diversas medidas. A impopularidade desse plano (1992-1994) e do primeiro governo Fernando Henrique
e a de outras medidas adotadas, somadas ao desgaste Cardoso (1995-1998).

T ENEM E VESTIBULARES
01| IFPE partir de 1985, o Brasil está em fase de redemo- E A presidência de Fernando Henrique Cardoso se
cratização. Deste momento em diante, governos civis caracterizou pelo processo de retomada, pelo Esta-
passam a exercer a soberania republicana do País. Neste do, das empresas privatizadas no Governo Collor de
sentido, leia os itens abaixo e assinale a opção que esti- Mello.
ver correta com relação ao período.
A Na presidência de Itamar Franco, foi realizado o plebis- 02| ENEM
cito que decidiu pela continuidade do sistema republi-
Texto I
cano presidencialista que o Brasil vive atualmente.
B Em 1985, o governo José Sarney, objetivando conter
a inflação, elaborou o seu plano econômico mais fa-
moso: plano real.
C Em 1988, foi aprovada a primeira Constituição do
Brasil republicano, cujo documento final foi chama-
do de “Constituição Cidadã”.
D O governo de Fernando Collor, praticando uma ad-
ministração neoliberal, iniciou o processo de privati-
zação das empresas de capital privado brasileiras.

92
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
Texto 2 A primeira imagem foi produzida em 1952, no momen-
A constituição Federal no título VII da Ordem Social, em to em que Getúlio Vargas foi até Mataripe (BA), visitar
seu capítulo VII, Art 226, § 7º, diz: reservas de petróleo, antes da criação da Petrobras
(1953). Já a segunda, foi realizada durante o governo de
“Fundado nos princípios da dignidade da pessoa hu- Luiz Inácio Lula da Silva, em uma de suas muitas visitas
mana e da paternidade responsável, o planejamento à Petrobras. Ao observar as duas imagens, fica evidente
familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado
a semelhança entre ambas: os dois presidentes referen-
propiciar recursos educacionais e científicos para o exer-
cício deste direito, vedada qualquer forma coercitiva por ciam o petróleo nacional a partir do mesmo gesto de
parte de instituições oficiais ou privadas”. apresentação de suas mãos embebidas no popularmen-
Disponível em: <www.planalto.gov.br>. Acesso em: 21 set. 2008.
te chamado “ouro negro”. Esse gesto não deixa dúvida
quanto aos propósitos dos governos de Vargas e de Lula
A comparação entre o tratamento dado ao tema do pla- em fazer do petróleo um instrumento de política eco-
nejamento familiar pela charge de Henfil e pelo trecho
nômica. Isoladas, essas imagens possuem significação
do texto da Constituição Federal mostra que:
apenas dentro de suas correspondentes conjunturas
A a charge ilustra o trecho da Constituição Federal so- político-econômicas. Apresentadas conjuntamente, elas
bre o planejamento familiar. adquirem um sentido histórico.
B a charge e o trecho da Constituição Federal mostram
a mesma temática sob pontos de Vista deferentes. Pensando nisso, observe as imagens e assinale a alternati-
va que melhor expresse a prática política comum dos go-
C a charge complementa as informações sobre plane-
vernos de Vargas e de Lula quando o assunto é Petrobras.
jamento familiar contidas no texto da Constituição
Federal. A A defesa neoliberal que se evidencia na proposta de
D o texto da charge e o texto da Constituição Federal privatização do sistema de exploração do petróleo.
tratam de duas realidades sociais distintas, financia-
B A proposição de uma política econômica liberal que
das por recursos públicos.
recusa qualquer ação intervencionista do Estado
E os temas de ambos são diferentes, pois o desenho
nos assuntos relacionados ao campo energético.
da charge representa crianças conscientes e i texto
defende o controle de natalidade. C A oposição às campanhas organizadas em torno da
defesa do lema “O petróleo é nosso!”.
03| IFGO Observe as imagens:
D O caráter autoritário e centralizador do governo,
Imagem I evidenciado na política de fortalecimento do Poder
Executivo e no impedimento à entrada de capital es-
trangeiro no Brasil.
E O apelo nacionalista que se revela na intervenção
política do Estado nos assuntos associados ao cam-
po energético.

04| ENEM

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/


petrobras50anos/ima ges/20031002-mat3.jpg>. Acesso em: 17 fev. 2014.

Imagem II

Disponível em: <http://www.tribuneiros.com/wpcontent/ Disponível em: http://tv-video-edc.blogspot.com.


uploads/2009/05/lula-petrobras.jpg>. Acesso em: 17 fev. 2014. Acesso em: 30 maio 2014.

93
SISTEMA DE ENSINO A360°

A charge revela uma crítica aos meios de comunicação, 08. Uma das grandes crises políticas brasileiras, no go-
em especial à internet, porque verno do Presidente Lula, relaciona-se ao escândalo
do Mensalão, envolvendo a acusação de pagamen-
A questiona a integração das pessoas nas redes virtu-
tos ilícitos a deputados que votariam em favor de
ais de relacionamento.
projetos do governo.
B considera as relações sociais como menos impor-
16. O grande desenvolvimento social alcançado pelo
tantes que as virtuais.
Brasil neste período, com eliminação das desigual-
C enaltece a pretensão do homem de estar em todos dades sociais, foi chamado de “milagre econômico
os lugares ao mesmo tempo. brasileiro”.
D descreve com precisão as sociedades humanas no A 12
mundo globalizado.
B 15
E concebe a rede de computadores como o espaço
C 22
mais eficaz para a construção de relações sociais.
D 17
05| Em 2012 completaram-se 20 anos do impeachment do
E 14
ex-presidente da República Fernando Collor de Mello.
Sobre o impeachment e seus desdobramentos posterio-
07| FAC. DIREITO DE SOROCABA Em seu curto período de
res, podemos afirmar que o ex-presidente
governo, o país cresceu e viveu um tempo de ousadia
A recebeu anistia política da Câmara dos Deputados e inovação. (...) ainda tenho fé de que a imprensa pro-
dois anos após sua cassação, mas manteve-se afas- duza, passado o tempo, a biografia exata de quem foi o
tado da vida pública. presidente Itamar Franco e do que foi seu governo. (...)
B ficou inelegível por oito anos, depois voltou à políti- O Brasil perdeu mais uma de suas melhores referências
ca e hoje exerce mandato de senador. políticas.
(Senador Pedro Simon, Época, 11.07.2011)
C foi condenado por corrupção e improbidade admi-
nistrativa pelo Superior Tribunal Federal,mas nunca Durante o “curto período de governo” desse presidente,
chegou a ser preso. falecido em julho de 2011, ocorreu a

D afastou-se voluntariamente da política por quatro A formação do Mercosul.


anos, depois se candidatou ao governo de Alagoas B implementação do Plano Real.
e foi eleito no primeiro turno.
C promulgação da atual Constituição.
E apelou ao Tribunal da Organização dos Estados
Americanos e conseguiu reverter o impeachment, D abertura do processo do mensalão.
retomando rapidamente sua atividade política. E privatização da Vale do Rio Doce.

06| Assinale a(s) alternativa(s) correta(s) sobre a economia, 08| UNIFOR O controle do processo inflacionário no Brasil
a política e a sociedade brasileira neste início do século ocorreu nos anos 1990 a partir da execução do Plano
XXI. Real, criado no governo do presidente Itamar Franco.
01. Ao assumir a Presidência da República, o Presidente Sobre o Plano Real, podemos afirmar que
Luiz Inácio Lula da Silva decretou o Plano Real, que A congelou os preços e salários por três meses e criou
rompeu com a política econômica do governo Fer- a moeda Real (R$).
nando Henrique Cardoso, que o antecedeu.
B criou a moeda Real (R$), elevou as taxas de juros e
02. Para assegurar recursos para programas sociais, tais estabeleceu o valor do Real (R$) próximo ao valor do
como o programa bolsa família, o governo do Presi- Dólar (US$).
dente Lula cortou gastos com os servidores públicos,
C criou a moeda Real (R$), diminuiu as taxas de juros
promovendo um grande enxugamento da máquina
e estabeleceu a paridade com o Dólar (US$).
administrativa.
D congelou preços por seis meses, elevou os juros e
04. Em uma conjuntura favorável, nos primeiros anos
criou o câmbio flutuante.
deste século, a economia brasileira apresentou um
ritmo de crescimento inferior a outros países, tais E criou o Real (R$), elevou as taxas de juros e congelou
como a China e a Índia. os salários por seis meses.

94
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente A
09| ENEM C Alguns meses após assumir a Presidência da Repú-
blica, Fernando Henrique Cardoso anunciou o Plano
MOVIMENTO DOS CARAS-PINTADAS Real, o qual passou a vigorar no País em 1º de julho
de 1994.
D Fernando Henrique Cardoso, na campanha eleitoral,
expunha uma imagem de político renovador, preo-
cupado em caçar “marajás”.
E No dia 2 de outubro de 1992, o vice-presidente Ita-
mar Franco assumiu, governando interinamente,
até 29 de dezembro, quando o Congresso Nacional
declarou vaga a presidência, por falecimento de
Tancredo Neves.

Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br


Acesso em: 17 abr. 2010 (adaptado)

O movimento representado na imagem, do início dos


anos de 1990, arrebatou milhares de jovens no Brasil.
Nesse contexto, a juventude, movida por um forte senti-
mento cívico,
A aliou-se aos partidos de oposição e organizou a
campanha Diretas Já.
B manifestou-se contra a corrupção e pressionou pela
aprovação da Lei da Ficha Limpa.
C engajou-se nos protestos relâmpago e utilizou a in-
ternet para agendar suas manifestações.
D espelhou-se no movimento estudantil de 1968 e
protagonizou ações revolucionárias armadas.
E tornou-se porta-voz da sociedade e influenciou pro-
cesso de impeachment do então presidente Collor.

10| ESPCEX A partir da eleição pelo Colégio Eleitoral do


Presidente Tancredo Neves, em 1985, inicia-se um novo
período republicano brasileiro, que alguns autores cha-
mam de Nova República.
Sobre esse período, assinale a única resposta que asso-
cia corretamente uma característica do governo ao res-
pectivo governante.
A No dia de sua posse, Fernando Collor de Mello confis-
cou cerca de 80% do dinheiro que circulava no país.
B No governo do Presidente Itamar Franco, restabele-
ceu-se o cruzeiro como moeda nacional, extinguin-
do- se o cruzado.

95
B HISTÓRIA GERAL

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA
Nesta Unidade estudaremos o período que a historiografia tradicional classifica como Idade Contemporânea.
A partir do século XVIII e com mais força nos últimos anos do século XIX, ocorreram significativas transformações nas di-
versas estruturas políticas, sociais e jurídicas dos Estados burgueses da Europa, que foram erigidos em uma perspectiva liberal.
São perceptíveis as mudanças impulsionadas por estes Estados em razão dos avanços do capitalismo naquele continente,
cujas preocupações se voltavam também para os direitos sociais e políticos, a exemplo da qualidade de vida da população e de
seu bem-estar.
A construção identitária e histórica dessas sociedades
contemporâneas ocorreu a partir de uma série de aconteci-
mentos marcantes, a considerar as ideias consolidadas pela
corrente filosófica iluminista, que passou a direcionar os ru-
mos do regime capitalista ocidental e que ganhou corpo com
a Revolução Francesa, de 1789.
Alguns eventos se destacaram revelando um fluxo de
acontecimentos de intensidade e complexidade incompará-
veis a qualquer outro momento histórico, tais como: a expan-
são da Revolução Industrial associada à questão social engen-
drada pelo próprio Capitalismo; a emergência de doutrinas
relacionadas à mobilização e organização da classe trabalha-
dora, inclusive em seus aspectos políticos, como apresentado
pelas ideias socialistas, anarquistas e comunistas; a constitui-
ção de novos Estados nacionais europeus; os grandes confli-
tos bélicos e suas significações históricas, desde as Revolu-
ções Burguesas às Guerras Mundiais.
Considerando a Idade Contemporânea como um cam-
po repleto de transformações, está evidente que seu estudo
perpassa a simples projeção do futuro das sociedades, mas
demonstra que as formas de se ver o passado estão conecta-
Ataque a Torre sul do World Trade Center, durante os ataques de 11 de
das aos valores do tempo presente, entendimento esse que
setembro, em Nova York. direcionará, a partir de agora, o estudo desse fascinante pe-
Foto: The Machine Stops. ríodo da História.

Aviões F-15E Strike Eagle da Força Aérea americana sobrevoa o norte do Iraque, em setembro de 2014. A operação objetiva a repressão à atuação do
Estado Islâmico na região. Foto: Matthew Bruch, do Departamento de Defesa dos EUA - US Air Force.

96
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
A REVOLUÇÃO FRANCESA (1789)
Caracterizada como um país absolutista, a França do século
XVIII era governada por um rei com poderes absolutos.
A sociedade encontrava-se fortemente estratificada e hie-
rarquizada. Primeiro e segundo estados eram sustentados com
a cobrança de altos impostos de trabalhadores urbanos, cam-
poneses e burgueses que sustentavam toda a sociedade.
A extrema miséria e o desejo por uma vida mais digna des-
pertou nos trabalhadores o ideal de mudanças políticas, sociais
e econômicas que lhes favorecessem. A burguesia, que almeja-
va maior participação política e liberdade econômica, enxerga-
va no Absolutismo uma barreira que precisava ser derrubada.
A ideologia iluminista propagou os princípios universais de
liberdade, igualdade e fraternidade que nortearam a Revolução
Francesa e favoreceu a consolidação do capitalismo e a ascen-
são econômica da burguesia.
Por outro lado, a Revolução possuía forte âmbito social, a
considerar a presença de grupos sociais como os jacobinos, os
girondinos e os sans-culottes que, apesar de desejarem refor-
mas comuns, possuíam concepções próprias que os levarão a se
opor em vários momentos.
Igualmente importante é a compreensão de que a Revo- O Terceiro Estado transportando o Clero e da Nobreza em suas
costas (1789). Imagem: Bibliothèque Nationale de France
lução Francesa serviu de inspiração a revoluções posteriores,
como a de 1830.
Por esses e outros motivos ocorreu a Revolução Francesa.
Caracterizada como uma revolução predominantemente bur-
guesa, o movimento transformará não somente a França e a
Europa, mas também o mundo, em razão dessa nova maneira
de conceber a política e as ideologias, bem como ao estabele-
cer as bases para a implantação e fortalecimento do sistema
liberal, conforme estudaremos a seguir.

ANTECEDENTES DA REVOLUÇÃO
Com uma economia predominantemente agrícola, mais de
80% da população francesa vivia no campo. Por um bom tempo
o país conheceu um período de prosperidade, que chegou ao
fim com o início de uma grave crise econômica que teve início
por volta de 1778.
A situação precária do país se tornou mais evidente ao re-
velar os bastidores da organização político-administrativa, eco-
nômica e social, levada adiante pelos monarcas absolutistas.
Neste momento, o país era governado por Luís XVI, um mo-
narca que pouco ou nada se preocupava com os interesses da
população. Governando do luxuoso palácio de Versalhes, Luís
XVI estabeleceu a alta cobrança de impostos da população mais
humilde e da burguesia, objetivando sustentar os privilégios
dos nobres. Essa postura favorecia a crescente insatisfação po- Retrato de Luís XIV da França, o Rei-Sol, um dos maiores
pular diante das gritantes desigualdades sociais e políticas da responsáveis pelo fortalecimento do Absolutismo no país.
Por Nicolas-René Jollain (1732–1804). Localização: Palácio de
França, que se explicavam por um conjunto de fatores. Versalhes.

97
SISTEMA DE ENSINO A360°

Retrato de Luís XVI, rei da França e de Navarra (1754-


Retrato da arquiduquesa Maria Antonia, esposa
1793), com 20 anos de idade.
de Luís XVI. Por Martin van Meytens (1695–1770).
Por Joseph-Siffrein Duplessis (1725–1802).
Localização: Palácio de Schönbrunn.
Localização: Palácio de Versalhes.

O primeiro fator mais evidente é a divisão social em três estados: clero, nobreza e povo. Os dois primeiros grupos possuíam
privilégios feudais que persistiam em existir, a exemplo do direito de cobrar tributos do povo, mas que se eximiam do dever de
pagá-los. A burguesia, por sua vez, custeava os excessivos gastos de Versalhes e, em contrapartida, não conseguia saltar de uma
economia agrária para outra industrial, o que a prejudicava enormemente.
A sociedade francesa era extremamente contraditória e estava dividida em três estamentos, cuja mobilidade social era algo
muito difícil. A condição econômica e os privilégios usufruídos por clérigos e nobres junto ao Estado revelavam a exclusão do
terceiro estado composto pelo povo e pela burguesia.
O primeiro estado era composto pelos clérigos, que se dividiam em Alto Clero e Baixo Clero. O primeiro se identificava
com os valores defendidos pela nobreza e, consequentemente, se opunha às reformas populares. O Baixo Clero, por sua vez, se
aproximava dos anseios populares, mas pouco opinava.
O segundo estado abarcava a nobreza, que estava classificada em nobres de sangue ou de espada (palacianos e provin-
ciais) e nobres togados (burguesia). Formada por famílias de antigos senhores feudais, a nobreza exercia, geralmente, funções
militares. A elite palaciana possuía ainda mais privilégios, pois habitava a Corte, vivia na ociosidade e sobrevivia às custa do
Estado absolutista. A nobreza provincial era formada por senhores de terras que sustentavam seus privilégios explorando os
feudos. A nobreza togada, ou não de sangue, era formada por alguns burgueses que adquiriram os títulos de nobreza por meio
de sua compra ou por algum mérito reconhecido e que podiam ser transmitidos por herança. Muitos burgueses acreditavam
que, obtendo o título de nobre, teriam o respeito e os mesmo privilégios da nobreza de sangue.
O terceiro estado compreendia o “povo”. Composto pela maioria da população, reunia diferentes grupos sociais, quais
sejam:
 Alta Burguesia (girondinos): constituída por banqueiros e poderosos comerciantes. Ao longo da Revolução, tentam
afastar os interesses populares e da baixa burguesia.
 Baixa Burguesia (jacobinos): composta por profissionais liberais e médios comerciantes. Intermediavam a ala mais
radical da Revolução (Sans-culottes) e os movimentos populares.
 Sans-culottes: esse grupo social urbano compreendia os artesãos, os aprendizes de oficio, os trabalhadores assalaria-
dos e a população desempregada. Tornaram-se a ala mais radical ao longo da Revolução, até mesmo em razão de sua
aproximação com o povo.

98
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
 Camponeses: composta por trabalhadores livres e população ainda em condições servis.

NO SÉCULO XVIII

PRIVILEGIADOS NÃO PRIVILEGIADOS

Terceiro Estado
Clero Nobreza Burguesia/Povo

Fonte: http://historiasdomundonet.blogspot.com.br/2010/03/organizacao-social-da-franca-pre.html

A partir de 1785, a crise econômica agravou-se e o governo faliu econo-


micamente.
A forte concorrência das mercadorias industrializadas inglesas freava
o avanço da indústria francesa, ainda iniciante. A isso somava-se a instabi-
lidade política causada pelas constantes demissões dos ministros por Luís
XVI, o que agitava a população.
O desemprego e as alterações climáticas, com destaque ao rigoroso
inverno, destruíram as colheitas, gerando um longo período de fome e
revoltas. A população havia aumentado consideravelmente nos últimos
anos e, embora ocorresse a expansão das técnicas de produção, ao menos
neste momento, elas foram insuficientes para a expansão da produção de
alimentos.
Politicamente, o rei absolutista Luís XVI ignorava a realidade dos novos
tempos, apegando-se ao poder divino que acreditava possuir e que o sus-
tentaria no poder. A centralização de seu poder político atingiu tamanha
dimensão que governava sem convocar a Assembleia dos Estados Gerais1,
o que já ocorria desde 1614.
Todavia, as classes abastadas continuavam ostentando uma vida lu-
Abertura do Estados Gerais de 1789, em Versalhes.
xuosa e de desperdícios, o que serviu de fagulha para acender o barril de
Por Auguste Couder ( 1836). pólvora que compunha a crise do final da década de 1780.

A REVOLTA ARISTOCRÁTICA E O INÍCIO DA REVOLUÇÃO


A questão econômica tornou-se mais tensa quando a nobreza resolveu reagir às propostas reformistas de Luís XVI para que
ela também pagasse impostos, isso em 1787. O rei propunha a criação de novos tributos para o terceiro estado e acabar com a
isenção tributária do primeiro e segundo estados.
O descontentamento com Luís XVI era geral e, em meio a isso, a nobreza resolveu unir-se à burguesia, em oposição ao rei,
o que ficou conhecido como a Revolta Aristocrática ou dos Notáveis (1787-1789).

1 Tratava-se de um órgão político constituído por representantes dos três estados. Possuía caráter consultivo e deliberativo, pois, os
reis poderiam consultá-lo antes de tomar alguma decisão.

99
SISTEMA DE ENSINO A360°

Loménie de Brienne, ministro das fi-


nanças, convocou a Assembleia de Notáveis
para discutir a criação de um novo imposto
sobre a propriedade de nobres e clérigos,
o que não foi aprovado por essas classes,
que passaram a exigir a convocação dos
Estados-Gerais para votar o projeto de re-
formas.
O novo Ministro das Finanças, Jacques
Necker, convocou então a Assembleia dos
Estados Gerais em maio de 1789, no Palácio
de Versalhes. A intenção das classes abas-
tadas era forçar a continuidade do terceiro
estado ao pagamento exclusivo de tributos.
Em meio às discussões veio à tona a
questão dos votos na Assembleia. Cada
estado tinha direito a um voto, sendo que
Gravura que representa a reunião na Assembleia dos Estados Gerais, em 1789. o clero e a nobreza somavam sempre dois
Imagem: Biblioteca Nacional, Paris. votos, em razão de seus interesses comuns.
O terceiro estado, por sua vez, continuava
desfavorecido e, não concordando mais com a maneira de votação, passou a questionar o clero e a nobreza, que, pressionados,
resolveram paralisar os trabalhos da Assembleia e remarcaram um novo encontro para 5 de maio de 1789.
O terceiro estado acreditava que a votação por cabeça2 lhe seria mais favorável e passou a panfletar as cidades, Paris em
especial, disseminando tal ideia.
O início dos trabalhos na Assembleia, em 5 de maio de 1789, reve-
lou-se bastante tenso desde o início, em razão dos interesses antagôni-
cos de seus membros.
Impossibilitado de conciliar a problemática questão relacionada
ao sistema de votação, Luís XVI tenta dissolver a Assembleia. Indigna-
dos, os representantes do terceiro estado se mantiveram reunidos e
decidiram pela indispensabilidade da elaboração de uma Constituição
para a França, o que ficou conhecido como o Juramento da Sala do
Jogo da Pela.
Em 9 de julho de 1789 teve início a Assembleia Nacional Consti-
tuinte.

Pintura de um típico sans- culottes. Durante a Revolução


se tornaram a ala mais radical. Por Louis Léopold
Boilly (1761–1845). O Juramento de Pela (1791). Por Jacques-Louis David (1748–1825).

2 “O que é o terceiro estado? Tudo. O que é que tem sido até agora na ordem política? Nada. O que é que pede? Tornar-se alguma
coisa” (Bispo Sieyès, 1789)

100
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
A ASSEMBLEIA NACIONAL (1789 – 1791)
A proclamação em “Assembleia Nacional Constituinte” pela burguesia, que contava, neste momento, com o apoio dos
deputados do baixo clero, compreendeu uma das primeiras ações dos revolucionários.
Como resposta ao terceiro estado, Luís XVI demitiu o ministro reformista Necker, o que insuflou ainda mais os ânimos da
população, que se mobilizou e tomou as ruas da cidade de Paris.
A população era chamada a pegar em armas e, temendo o pior, o rei decidiu fechar a Assembleia, mas foi impedido pela
sublevação popular. A revolução tinha início em Paris, mas em pouco tempo se espalharia por outras cidades, além do campo.
A perseguição aos nobres atingiu um alto descontrole pela violência popular empreendida, o que levou muitos deles a fugir
do país.
Os primeiros motins ocorreram em 12 de julho, em Paris. A própria burguesia temia a reação da população, o que a levou
a estabelecer um governo provisório de caráter popular, denominado Comuna.
Surgia uma milícia burguesa, a Guarda Nacional, que deveria impedir o retorno do rei e controlar a violência da população
civil, afinal a burguesia não queria perder o controle da Revolução.
No dia 14 de julho, os revolucionários tomaram de assalto a prisão da Bastilha, local que simbolizava o poder real absolu-
tista, pois detinha presos políticos. Desta forma, seu controle significava a fraqueza do rei.

A Queda da Bastilha (1789). Por Jean-Pierre Houël (1735 – 1813). A Bastilha nos primeiros dias de sua conquista pelo Terceiro Estado.
Localização: Francuska Biblioteka Narodowa Por Hubert Robert (1733 – 1808). Localização: Museu Carnavalet.

A partir desse momento, a Revolução estendeu-se violentamente ao campo, contra


os nobres e suas propriedades feudais. Castelos foram invadidos e queimados, bem
como seus moradores mortos.
Em resposta, a Assembleia Nacional Constituinte, controlada pela burguesia, aboliu
os direitos feudais, firmando a igualdade jurídica entre as pessoas. Aprovava-se a De-
claração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que, além dessa igualdade perante a lei,
garantia o direito à propriedade privada e à livre manifestação.
Os clérigos também não foram poupados. Além do confisco das terras da Igreja e
nacionalização de seus bens, foi determinada a Constituição Civil do Clero. Os padres
católicos passavam a ser funcionários do Estado.
Percebemos, porém, que a Revolução logo trataria de substituir alguns privilégios
por outros considerados atraentes para a burguesia. Um exemplo foi a aprovação da Lei
de Le Chapelier, que proibia a organização dos trabalhadores em sindicatos e a mani-
festação dos mesmos por meio de greves, punindo a desobediência com duras penas,
inclusive a pena de morte. Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão de 10 agosto de 1793.
Localização: Centre Historique des
A burguesia preparava, a partir de então, o terreno de sua dominação. Archives Nationales.

101
SISTEMA DE ENSINO A360°

A CONSTITUIÇÃO DE 1891
Em 1791 foi promulgada a primeira Constituição da França.
Entre suas medidas estavam:
 A implantação de uma Monarquia Constitucional: o rei perdia seus poderes absolutistas.
 A separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário: o rei exerceria o poder executivo, porém limitado pelo
poder legislativo, composto em sua maioria por burgueses. O monarca poderia, ainda, nomear seus ministros.
 Concessão dos direitos civis aos cidadãos.
 O voto censitário: somente os cidadãos que pagavam impostos e fossem ricos poderiam participar da vida política. As
mulheres estavam igualmente excluídas.
Essa Constituição fazia da França um país definitivamente
burguês. Todavia, a instabilidade política interna era evidente
entre os diversos grupos e suas ideologias.
A ala mais radical pretendia continuar com o processo re-
volucionário. Os nobres, por sua vez, refugiavam-se no exte-
rior e planejavam uma reação ao governo revolucionário e a
retomada do poder, com o apoio de poderosas Monarquias
Absolutistas, como a Áustria e a Prússia.
Após a tentativa frustrada de fuga da família real para a
Áustria, em 1791, o exemplo bem sucedido da Revolução
Francesa começava a incomodar as monarquias absolutistas
da Europa que, neste mesmo ano, firmaram a Declaração
Proclamação da Constituição francesa em Paris, em 1791. Placa
de Pillnitz, que objetivava restaurar a monarquia absolutista pertencente à coleção de pinturas históricas da Revolução Francesa,
francesa. Auber, Paris, 1804. Por Pierre Gabriel Berthault (1737-1831).

A AMEAÇA ESTRANGEIRA E O FIM DA ASSEMBLEIA NACIONAL CONSTITUINTE

Retorno de Luís XVI a Varennes, em 25 de junho de 1791. Por Jean Duplessis-


Bertaux (1750-1818).

A iminente ameaça de invasão estrangeira levou os jacobinos a proclamarem a “pátria em perigo” e a Assembleia Nacional
a aprovar a declaração de guerra contra a Áustria, em 1792. Luís XVI e Maria Antonieta foram acusados de alta traição ao país
e foram presos.
A população francesa, sob o comando dos jacobinos Danton, Marat e Robespierre, pegou em armas e lutou na Comuna
Insurrecional de Paris, marcada pela violência e pela morte de centenas de pessoas. Ao final, a coligação anti-francesa foi der-
rotada na Batalha de Valmy.

102
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

A Batalha de Valmy. Fonte: História Militar do exército francês e do mar (1792-1833).


Volume 1, Paris, 1835.

Não correspondendo mais aos anseios revolucionários, a Monarquia Constitucional foi abolida para dar lugar ao período
denominado Convenção Nacional.

A CONVENÇÃO NACIONAL (1792 – 1795)


A alta burguesia que, até então, havia liderado o movimento passou a defender a ideia de que as principais mudanças
almejadas já haviam sido instituídas, temendo o radicalismo popular. Na verdade a Revolução Francesa, no entendimento da
população mais humilde, pouco havia transformado a realidade de então.
Ao contrário do que os girondinos esperavam, a Revolução ingressaria em uma fase ainda mais radical.
Composta por maioria burguesa, a Convenção proclamou a República e promulgou uma nova Constituição, em 1792.
Diversos interesses pairavam naquela época. Os jacobinos, apoiados pelos sans-culottes e pelas massas populares, de-
sejavam aprofundar a Revolução. Os deputados da planície ou pântano não possuíam posição política claramente definida,
colocando-se, geralmente, ao lado daqueles que lhes trouxessem mais vantagens.
Inicialmente, a Convenção foi conduzida pelos girondinos, cuja política apresentava sérias contradições. Ao mesmo tempo
em que defendiam as ideias liberais e revolu-
cionárias no âmbito da política externa, ao se
contraporem aos valores e ideais absolutistas,
internamente adotavam uma posição política
conservadora, reprimindo os revolucionários
mais radicais.
Nesse momento, documentos secretos que
ligavam o rei Luís XVI ao rei da Áustria foram
descobertos. Os jacobinos e o povo desejavam
o julgamento do rei como traidor e sua execu-
ção. Chegava ao fim o controle girondino du-
rante essa fase da Revolução.
Com apoio dos sans-culottes, os jacobinos
assumiram o controle da Revolução.
A execução de Luís XVI levou Inglaterra, Espa-
nha, Áustria e Prússia a comporem a Primeira Coli-
gação contra a França, que nada mais foi que exér- Execução de Luís XVI. Gravura alemã de 1793. Por Georg Heinrich Sieveking. Fonte:
http://www.uncp.edu/home/rwb/louis16_execution.jpg
citos continentais sob o comando dos ingleses.

103
SISTEMA DE ENSINO A360°

A Inglaterra financiava a contrarrevolu-


PRIMEIRAS MAR DO
ção, pois a ascensão da burguesia francesa
OPERAÇÕES NORTE Amesterdã
era uma ameaça aos seus negócios lucrativos
EM 1792
na Europa. Haia
HOLANDA
Em junho de 1793, partidários de Herbert Rio Reno

exigiam a prisão dos deputados girondinos. Rio Mosa


Robespierre, Marat, Danton, Saint-Just e Her-
Breda
bert assumiram o controle político, inaugu- CANAL DA
rando o período da Convenção Montanhesa MANCHA
Antuérpia
(1793 – 1794). Furnes
Louvain
Em 1793, foi aprovada a Constituição do Courtrai
Bruxelas
Ano I que introduzia o sufrágio universal e de- Maastricht

mocratização política. Tournai


BÉLGICA
Lille
Baisieux Liége
O desequilíbrio da política interna e as St Amand Condé
Mons Namur
Jemappes
ameaças de invasões estrangeiras deixaram

Rio Mosela
Valenciennes

a França em uma situação caótica. Por fim,


revoltas populares eclodiam por toda parte, FRANÇA
como a famosa Revolta de Vendeia.
O controle da situação exigiu dos jacobi- Operações militares iniciais da Primeira Coligação antirrevolucionária. Autor: Manuel F. V.
G. Mourão. Disponível em: [Imagem:Guerra Primeira Coligação - primeiras ações 1792.jpg
nos soluções radicais.
O governo estabeleceu a Lei do Preço Máximo, que controlava o preço dos alimentos por meio de seu congelamento.
Bens da Igreja e de nobres emigrados passaram a ser comercializados a preços baixos. A escravidão foi abolida das colônias
francesas e o ensino público foi instituído. A supremacia do catolicismo foi abolida e em seu lugar foi incentivado o culto ba-
seado na razão.
O controle do governo, o combate aos contrarrevolucionários e a
defesa externa da França fizeram com que os jacobinos organizassem
os Comitês.
Sob o comando de Danton, o Comitê de Salvação Pública era
responsável pela administração e defesa externa da França. O Comitê
de Segurança Geral administrava a segurança interna e o Tribunal
Revolucionário cuidava do julgamento dos inimigos da Revolução.
O assassinato de Marat por uma jovem gironda, Charlotte Cor-
day, acirrou os conflitos internos entre os próprios jacobinos.

A Catedral de Notre-Dame (1997), Paris, foi convertida em O assassinato de Marat (1793). Por Jacques-
local dedicado ao culto da razão durante o Terror Jacobino. Louis David (1748–1825). Localização: Museus
Fotografia: Sanchezn. Reais de Belas-Artes da Bélgica

104
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Danton, além de preterido em favor de Robespierre, foi expulso do par-
tido justamente por ser considerado moderado.
Robespierre ampliava seus poderes, dando início a “fase do terror ja-
cobino”. Nesse momento, cerca de 40 mil pessoas foram guilhotinadas pu-
blicamente, sem chances do contraditório e da ampla defesa, dentre elas,
a ex-rainha Maria Antonieta e o criador da Química moderna, Antoine La-
voisier.
Em 1794, a Primeira Coligação foi derrotada. Internamente, Robespierre
assumia posicionamentos cada vez mais desastrosos e impopulares. Evitan-
do as oposições, ordenou os assassinatos de Herbert (por assumir posição
radical) e de Danton (por defender a estabilização da Revolução), o que o
conduziu ao isolamento político.
Retrato de Maximilien de Robespierre (1758-
O descontrole político de Robespierre levou os girondinos e os depu- 1794). Artista desconhecido. Localização: Museu
Carnavalet.
tados da planície a se unirem. Esses passaram a tramar o golpe conhecido
como o 9 Termidor, que culminou, no dia 27 de julho, na derrubada de Ro-
bespierre, que acabou guilhotinado juntamente com seus partidários.
A alta burguesia girondina assumia o poder político novamente, anulan-
do várias decisões montanhesas, como a Lei do Preço Máximo.
Em 1795, foi aprovada a Constituição do Ano III, que suprimiu o sufrágio
universal e reintroduziu o voto censitário excluindo, assim, a maior parte da
população.
A Convenção dava lugar à República do Diretório, composta por cinco
membros eleitos pelos deputados.

O DIRETÓRIO E A INSTALAÇÃO DO CONSULADO (1795 – 1799)


O Diretório marcou o retorno da ala mais conservadora da burguesia ao po-
der, ou seja, os girondinos. A noite do 9 de Termidor. Por Jean-Joseph-
François Tassaert (1765 - ca.1835).

Em 1799, o Exército francês alcançou considerável prestígio em virtude


das vitórias obtidas em campanhas militares no exterior, contra as forças
absolutistas da Segunda Coligação antirrevolucionária (Itália, Prússia, Ho-
landa e Espanha).

Por meio de uma nova Constituição ficou estabelecido que a República


do Diretório, no que se refere ao Poder Executivo, seria constituída por
uma comissão de cinco diretores que governariam por 5 anos. A constitui-
ção ainda determinava aos homens alfabetizados a prevalência do direito
ao voto.
Este período, quanto ao aspecto político interno, esteve marcado pela
instabilidade. Os latifundiários e boa parte da alta burguesia não se con-
formavam com a grave crise econômica. A população mais desprivilegiada
se opunha à revogação das conquistas sociais implementadas na época dos
jacobinos. Igualmente se opondo à administração gironda estavam os mo-
narquistas que ainda almejavam a volta da monarquia.
Mesmo perdendo espaço político, os jacobinos tramaram golpes con-
tra os girondinos nesta fase. Liderados por François Nöel Babeuf (conheci-
Europa em 1799, durante a Segunda Coligação.
Autor: Manuel F. V. G. Mourão. Disponível em: do como “Graco Babeuf”, em referência aos irmãos Graco) e com o apoio
Imagem: Europa Central 1799.jpg dos sans-culottes, os jacobinos organizaram a Conspiração dos Iguais, em

105
SISTEMA DE ENSINO A360°

1796. O movimento defendia a igualdade perante a lei e melhores condições


de vida aos cidadãos. Para isso, Babeuf defendia o fim da propriedade pri-
vada, fonte das desigualdades, no seu entendimento. O levante foi contido,
Graco Babeuf e seus seguidores foram condenados à morte na guilhotina.
A iminente ameaça de invasão estrangeira e a instabilidade política inter-
na incomodavam a alta burguesia, que passou a defender a instalação de um
governo militar que pudesse manter a organização política interna, que defen-
desse a França das ameaças estrangeiras e que restabelecesse o crescimento da
economia.
Era necessária a construção da imagem de alguém que simbolizasse, no ima-
ginário da população francesa, um elemento de união nacional com o qual todos
se identificassem. Essa figura correspondia à imagem do popular general francês
Napoleão Bonaparte.
Napoleão construiu uma meteórica carreira militar recheada de sucesso nas
O revolucionário francês Graco Babeuf (1760-
campanhas militares contra os países absolutistas. 1797). Autor desconhecido. História dos jornais
e dos jornalistas da Revolução Francesa, Paris.
Após uma campanha militar no Egito, Napoleão retornou à França e, com Escritório da empresa da indústria fraternal,
1846, Leonard Welsh.
o apoio dos girondinos, derrubou o Diretório e instaurou o Consulado, após o
Golpe do 18 de Brumário.

A ERA NAPOLEÔNICA
O Golpe do 18 de Brumário marca o fim da Revolução na França e o início do
período que ficou historicamente conhecido como a Era Napoleônica. A fim de
facilitar a compreensão do período, seu estudo será dividido didaticamente em
Consulado (1799 - 1804), Império (1804 – 1815) e Governo dos Cem Dias (1815).

Retrato de Napoleão Bonaparte, Primeiro


Cônsul da República (1803-1804). Por Jean-
Auguste Dominique Ingres (1780–1867).
Localização: Musée des beaux-arts de Liège.

Napoleão cruzando os Alpes (1800). Por Jacques-Louis


David (1748–1825). Localização: Kunsthistorisches Museum.

106
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
O CONSULADO (1799 - 1804)
Apesar de representado por três líderes (Napoleão, abade Emmanuel Sieyès e Roger Ducos), o poder executivo no Con-
sulado estava concentrado nas mãos de Napoleão Bonaparte que, ao final, foi um dos maiores responsáveis pela consolidação
das conquistas burguesas propagadas durante Revolução.
Como República comandada por militares, o Consulado logo estabeleceu instituições de caráter democrático, a exemplo
do Senado, do Legislativo e do Conselho de Estado, mas que, na prática, contrastavam com a própria centralização do poder
executivo.
Alguns fatores enalteciam a popularidade de Napoleão Bonaparte.
Como primeiro-cônsul, Napoleão passou a concentrar poderes em torno de si. Ele conduzia a política externa, comandava
o exército, nomeava membros da administração e elaborava leis, tudo com o apoio da alta burguesia. A oposição política prati-
camente desapareceu mediante o controle policial e investigativo, bem como a censura aos canais de imprensa.
Napoleão era respeitado e admirado como um militar estrategista. Serviu de exemplo e inspiração a jovens que compu-
nham as fileiras do Exército francês.
Ao mesmo tempo, angariou apoio popular ao distribuir terras da Igreja e dos nobres emigrados às populações rurais.
Napoleão proveu significativas reformas de caráter econômico, jurídico e administrativo na França.
Em 1800, criou o Banco da França e passou a regular a emissão de moedas com o objetivo de reduzir e controlar a inflação.
Adotou uma política econômica protecionista da produção nacional em relação à concorrência estrangeira, fortalecendo a
indústria francesa e incentivando o crescimento do mercado consumidor interno.
Utilizando a religião a favor de seus interesses políticos, Napoleão reconheceu o catolicismo como a religião da maioria dos
franceses, em 1801. Em troca, passou a nomear os bispos da Igreja.
Em 1804, Napoleão Bonaparte estabeleceu o Código Civil Napoleônico, que
consagrava os interesses liberais burgueses, mas mantinha aspectos conservado-
res. Defendia esse Código o direito à propriedade privada, a separação entre o
casamento civil e o religioso, direito à liberdade individual e a igualdade de todos
perante a lei. Porém, proibia a organização dos trabalhadores em sindicatos e
greves e restabelecia a escravidão nas colônias francesas.
A educação tornou-se prioridade durante a administração de Napoleão. A
formação educacional sob o comando do Estado formava cidadãos, não somen-
te quanto aos aspectos morais e sociais, mas também políticos, a exemplo dos
liceus, voltados à educação dos futuros oficiais do exército ou ocupantes de altos
cargos administrativos.
A administração napoleônica conseguiu estabilizar os vários conflitos inter-
nos da França, o que agradava a alta burguesia. A satisfação da elite com Napo-
leão fez com que este recebesse o título de cônsul vitalício, em 1802, o que na
prática significou a implantação de um regime monárquico, uma vez que esse
cônsul poderia indicar seu sucessor.

O IMPÉRIO NAPOLEÔNICO (1804 – 1815)


O sucesso da administração napoleônica, tanto em relação à burguesia,
quanto em meio ao povo, rendeu àquele a aprovação da implantação do Império
Coroação de Napoleão I (1805) no Palácio de
por meio de um plebiscito realizado em 1804. Napoleão foi coroado3 como Napo- Versalhes. Por François Gérard (1770–1837).
leão I na catedral de Notre-Dame naquele mesmo ano. Localização: Musée du château de Versailles.

3 Um momento emblemático da coroação de ocorreu quando, de maneira espontânea, Napoleão pegou a coroa das mãos do Papa
Pio VII  que deveria coroá-lo durante a cerimônia e se auto coroou. Simbolicamente, Napoleão afirmava sua autoridade indepen-
dente a da Igreja e inclusive superior a ela.

107
SISTEMA DE ENSINO A360°

Em seu governo, Napoleão conquistou vastos territórios para a França, com


seu poderoso e temido Exército, tornando-se uma ameaça à Inglaterra.
Não tardou para que os ingleses organizassem coligações internacionais
opositoras ao governo francês e ao seu considerável expansionismo. Do mesmo
modo, as monarquias absolutistas da Europa acreditavam a França revolucio-
nária serviria de exemplo aos rebeldes de outros países que ainda mantinham
reis absolutos.
Nessa fase, a Áustria, a Prússia e a Rússia absolutistas, comandadas pela
Inglaterra, organizaram uma coligação de ataque à França.
O excelente desempenho terrestre francês não era o mesmo em batalhas
navais. A “rainha dos mares”, como a Inglaterra era conhecida, utilizou todo seu
Arco do Triunfo, em Paris (2011). Napoleão I
potencial bélico na Batalha naval de Trafalgar, sob o comando do almirante construiu monumentos grandiosos na época.
Nelson, e derrotou os franceses em outubro de 1805. Fotografia: Alvesgaspar.

Navios na Batalha de Trafalgar, às 13 horas. Por Nicholas Pocock (1740-1821).

Mesmo amargando essa derrota para os ingleses, a França logrou êxito contra a Áustria na Batalha de Austerlitz (1805),
contra a Prússia na Batalha de Ulm (1806) e contra a Rússia, em 1807.
A supremacia francesa na Europa dependia, porém, da debilitação da Inglaterra. A localização geográfica desta (em uma
ilha), juntamente à sua superioridade naval em guerras, impedia Napoleão de consolidar a conquista e a submissão desse país.
Napoleão acreditava que poderia derrotar a Inglaterra economicamente se prejudicasse suas exportações e, para isso, de-
cretou o Bloqueio Continental ou Decreto de Berlim, em 1806. Por meio desta medida, os países europeus estavam proibidos
de comercializar com a Inglaterra, o que causaria, mais cedo ou mais tarde, na visão de Napoleão, uma crise em seu parque
industrial e enfraqueceria sua economia.
O maior entrave ao bloqueio de Napoleão era o fato de que a Inglaterra comercializava intensamente sua produção indus-
trial com vários países europeus de produção agrária que dependiam dos ingleses para fornecer aquele tipo de produto.
Por mais que a burguesia francesa se esforçasse em investir no desenvolvimento industrial do país e revendesse mercado-
rias industriais ao antigo mercado consumidor inglês na Europa, a França não conseguiu abastecer alguns países, que acabaram
prejudicados pela falta de recursos industriais.
Alguns países europeus próximos à Inglaterra e dependentes economicamente desta, como Portugal, relutavam em aceitar
o Bloqueio Continental.

108
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Portugal foi o primeiro país a desobedecer o Bloqueio, causando a ira de Napoleão Bonaparte, que acabou ordenando a
invasão do país por meio de três expedições militares conhecidas como Invasões Francesas. Com a invasão napoleônica, o prín-
cipe-regente D. João VI e toda a corte portuguesa (cerca de cerca de 15 mil nobres) fugiram de Portugal para o Brasil, instalando
no Rio de Janeiro a nova sede do governo português, em 1808.
Não foi somente Portugal que enfrentou o poderio francês nesse momento. Em 1812, o czar Alexandre I da Rússia rompeu
com o Bloqueio Continental e voltou a comercializar com os ingleses. Segundo relatos históricos, a Campanha Militar contra a
Rússia teria contado com cerca de 600 mil soldados.
Desesperados com o medo da derrota, os russos colocaram em prática a tática de guerra denominada “terra arrasada”.
Basicamente, a estratégia era a evacuação da população das cidades e a sua completa destruição, desfavorecendo seu uso
pelos inimigos. Com a aproximação do rigoroso inverno, o vasto território e a dificuldade de abastecimento das tropas, a
Rússia acreditava que poderia vencer Napoleão. De fato, a promissora campanha militar francesa terminou em um considerável
fracasso, uma vez que Napoleão retorna à França com aproximadamente 120 mil soldados.
Enquanto isso, internamente, a Fran-
ça enfrentava uma nova crise. Alguns seto-
res descontentes da burguesia e da antiga
nobreza começaram a tramar um golpe de
Estado contra Napoleão. Externamente, a
Sexta Coligação se preparava para mais uma
ofensiva contra a França, aproveitando-se do
enfraquecimento de Napoleão. Este acabou
derrotado na Batalha das Nações, em 1813,
sendo obrigado a abdicar o trono francês a
partir da assinatura do Tratado de Fontaine-
bleau. A dinastia Bourbon foi restabelecida e
Luís XVIII, irmão de Luís XVI, assumiu o trono
francês.
A partir de então o imperador viveria
exilado, separado de sua família, na longínqua
Ilha de Elba, no mar Mediterrâneo. Teria direi-
to a uma pensão equivalente a 2 milhões de Napoleão e suas tropas partindo de Moscou. Por Adolph Northen (1828–1876).
Reprodução.
francos e uma escolta com 400 soldados.

O GOVERNO DOS CEM DIAS


Já em Elba, Napoleão descobriu que poderia ser banido para uma ilha remo-
ta do Atlântico. Passou, então, a tramar seu retorno à França, o que se concreti-
zou alguns meses depois, em março de 1815.
Ao desembarcar em território francês, o Exército o aguardava. Napoleão
encarou os soldados e bradou: “Aqui estou eu! Matem seu imperador, se assim
o quiserem!”. Os soldados, dentre eles os comandados por Napoleão em várias
batalhas, descumpriram as ordens reais e festejaram a volta do imperador. Se-
guiram com Napoleão até Paris a fim de reconquistar o poder e Luís XVIII acabou
fugindo para a Bélgica. Tinha início o Governo dos Cem Dias.
Uma das primeiras medidas de Napoleão foi a proposta de elaboração de
uma Constituição liberal.
Externamente, os países coligados reorganizavam a luta contra o Exército
francês. Na Batalha de Waterloo (1815), Napoleão se deparou com a resistência
Napoleão Bonaparte após abdicar em anglo-prussiana e acabou derrotado. Novamente, o imperador abdicou o poder
Fontainebleau. Por Paul Delaroche (1797–
1856). Localização: Museu de Finas e foi exilado na ilha de Santa Helena, na costa africana, chegando o fim do pode-
Artes, Leipzig. roso Império Napoleônico.

109
SISTEMA DE ENSINO A360°

TEXTO COMPLEMENTAR 1

HOBSBAWN: REVOLUÇÃO À VISTA


A partir de uma esquina da História, as revoluções Industrial e Francesa, o escritor Eric
Hobsbawn traça o perfil de um mundo totalmente novo.
Por Fábio Metzer

De onde surgiu a ideia de Estado-nação? E a Democracia Moderna? Noções como Liberdade, Igualdade, Pátria?
Assim mesmo, tudo com letra maiúscula. Como nasceram as indústrias e de que forma elas se expandiram? Eric Hobs-
bawn, em A Era das Revoluções, identifica o momento-chave na história em que uma "dupla revolução" abalou as
estruturas das sociedades, iniciando uma nova era, a partir dos anos 1780. Para ele, a Revolução Industrial Inglesa e a
Revolução Francesa criaram um sistema de poder sem precedentes. De um lado, a Inglaterra, potência naval, expandin-
do seus lucros e garantindo mercado para suas indústrias lucrativas. De outro, a França, potência terrestre, com ideais
revolucionários exportados para o resto do mundo. Essas revoluções não foram antagônicas, mas complementares. É
verdade que os interesses franceses e ingleses, em determinado momento, digladiaram-se em guerras, mas, finalmente,
entraram num acordo. Celebrado no Congresso de Viena, esse casamento inaugurou um novo mundo.

CABEÇA PENSANTE
A um observador do século 18, a Inglaterra não pareceria o lugar apropriado para abrigar uma revolução tecnológi-
ca. Franceses e alemães estavam à frente nessa ceara. Só que os britânicos, um século antes, derrubaram seu rei e cria-
ram as condições políticas para a burguesia expandir os negócios. O campesinato inglês foi substituído pela estrutura
de grandes propriedades, que firmaram a agricultura como atividade empresarial. As leis que delimitavam as proprie-
dades agrícolas (os Enclousure Acts) permitiram grandes fazendas que funcionavam com uma dura lógica capitalista,
desempregando camponeses. Ao mesmo tempo, uma nova atividade industrial tinha impacto no país: máquinas de
tear surgiam nas fábricas, absorvendo a mão de obra vinda do campo. E, em meados do século 19, apareceram outras
indústrias, como ferro, aço e carvão, além de bens de Capital que ampliavam a escala na construção de máquinas e
novos meios de transportes.

Se na Inglaterra, a revolução limitou-se ao modo de produção, na França ocorreram transformações políticas pro-
fundas. A nobreza dependia de privilégios garantidos por lei, que a Monarquia não podia mais sustentar. E, nas classes
baixas, a situação também era insustentável: camponeses endividados perdiam suas terras e burgueses empobrecidos
reagiam à crise, clamando por reformas. Sem alternativas, o Rei Luís XVI convocou os Estados Gerais para resolver a cri-
se. Dois Estados, a nobreza e o clero, e um terceiro Estado, representando os comuns, entraram em confronto. Ciente
da força da maioria, o Terceiro Estado reivindicou a votação por cabeça, e não mais por Estado.

A partir daí, uma grande rebelião subjugou Paris. A tomada da Bastilha, uma prisão estatal, em 14 de julho de
1789, impulsionou a revolta para além da capital francesa. A Monarquia Absoluta caiu, e em seu lugar, surgiu um novo
regime, que tirou poderes do monarca. Não foi um processo indolor. Até a ascensão de Napoleão Bonaparte, revolucio-
nários das classes médias radicais e da burguesia moderada disputaram o poder até perderam o controle. De um lado,
os jacobinos, que desejavam levar adiante o processo revolucionário. De outro, os girondinos, que tentaram deter a
Revolução para dar continuidade à defesa dos interesses burgueses. No primeiro governo revolucionário, os jacobinos
tomaram o poder. Brigas internas e divisões deram espaço para um governo tirano. Enfraquecidos, foram derrubados
pelos girondinos, que restabeleceram os poderes da burguesia. Isto até o golpe de Napoleão, jacobino de origem e,
depois, defensor da burguesia.

O fato é de que não se tratou de uma revolução democrática. E sim, anti-feudal, sem partidos políticos ou mo-
vimentos sociais, mas com inspiradores, como o intelectual Jean-Jacques Rousseau ou o ativista político Tom Paine.
Significou a adoção de um projeto de racionalização dos Estados, com a criação de leis pela igualdade dos cidadãos,
renovação dos códigos jurídicos, padronização de medidas de peso e extensão, ensino laico e gratuito para todos, se-
paração do Clero e do Estado, formação das Assembleias Nacionais, etc. Enfim a revolução que gerou maior impacto
político e cultural do século 19.

110
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

NAPOLEÃO E A PAZ EM VIENA


Em meio ao caos instaurado pela ala radical da Revolução, apareceu o general Napoleão Bonaparte. Em pouco
tempo, ele conseguiu reunificar a França, formando um Império que expandiu os ideais revolucionários. Napoleão pro-
moveu conquistas militares de regiões ricas, de onde o exército retirava recursos. Mas, sua guerra, de fato, era travada
contra a Inglaterra. Enquanto a França se fortalecia como potência territorial, expandindo sua ideologia, a Inglaterra
mantinha-se como potência naval, preservando o comércio. O choque de interesses tornou-se inevitável. Como Ingla-
terra era imbatível no mar, a França não tinha como avançar, a não ser dentro do continente. Foi o que fez os franceses
decretarem, em vão, um bloqueio continental aos ingleses. No fim da briga, Napoleão acabou derrotado.

O conflito deixou um duro fardo para os dois países. A economia francesa quebrou, e a Inglaterra, ao se defender do
avanço francês e apoiar seus aliados contra Napoleão, teve gastos quatro vezes maiores do que os de sua rival. Restava
fazer um acordo de paz. Foi o que aconteceu no Congresso de Viena, que restabeleceu as fronteiras da Europa Continen-
tal pré-revolucionária, e afirmou o status da Inglaterra de grande potência do século 19. Para a França, restou a posição
de uma potência menor. A partir desse momento, a dupla revolução anglo-francesa, no entanto, já tinha se consolidado,
tornando fundamental para os novos regimes estabelecidos – e também os velhos – se proteger do furor revolucionário
da época. Pode-se dizer que ondas rebeldes protagonizaram as décadas seguintes.

Em 1820, ocorreu a primeira onda revolucionária, com a libertação de países latino-americanos do jugo espanhol,
e revoltas na Itália, na Espanha e na Grécia. Em 1830, a segunda, ameaçando Estados liberais moderados, com guerras
civis e revoltas populares. Essa sequência de acontecimentos eliminou os últimos vestígios de feudalismo na Europa.
E, em 1848, a terceira onda de revoluções tomou o continente como um todo, derrubando governos. Só que nenhum
dos governos rebeldes que assumiram o poder sobreviveria por muito tempo. No fim das contas, triunfou a organiza-
da articulação dos liberais. É bom lembrar que uma nova tendência somou-se aos democratas radicais da época: os
movimentos socialistas. Mas não havia nenhum projeto de consenso que pudesse dar consistência à luta de ambas as
correntes. O socialismo ainda era algo a ser construído e a ideia de democracia radical esbarrava nos interesses e no
poder das classes dominantes.

O LEGADO
O período chamado por Hobsbawm de Era das Revoluções deixou uma grande herança para o século 20. No âmbito
da política, as mudanças foram contundentes: predominou o ideário nacionalista; a separação entre Clero e Estado ga-
nhou força; aumentou a demanda pela criação de regimes democráticos e, por fim, começou a ser delineado um projeto
para contrapor o liberalismo e o capitalismo. Nas ciências, a racionalização impulsionou descobertas que propiciaram as
revoluções industriais, selando o destino das sociedades agrárias da Europa. Na seara cultural, literatura, música clássica
e pintura viveram um verdadeiro boom. Embora prevalecesse o Romantismo nas classes dominantes, tal movimento
artístico não tinha vez nas classes médias e baixas. Havia, sim, uma tendência não romântica, de contestação ao sistema,
que combinava doutrinas jacobinas, folclore popular e religioso reformista, adaptadas aos novos tempos. Foi, enfim, um
momento único, em que revoluções de fundo político, cultural e industrial se combinaram e se sobrepuseram, de forma
que nunca mais a Europa e, consequentemente, o resto do planeta, seriam os mesmos.
Disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/hobsbawm-revolucao-vista-434123.shtml

TEXTO COMPLEMENTAR 2

REMETENTE: NAPOLEÃO
D. JOÃO VI TROCAVA PALAVRAS GENTIS EM CARTAS QUE
BONAPARTE USOU PARA EXIGIR A LEALDADE DOS PORTUGUESES
Por Carolina Ferro
1/3/2013

“Estou interessado em contar com os sentimentos que Vossa Alteza Real mostrou-se disposto a demonstrar.” A
frase encontrada na correspondência escrita por Napoleão Bonaparte ao príncipe regente D. João é instigante. O

111
SISTEMA DE ENSINO A360°

documento localizado na seção de Manuscritos da Biblioteca Nacional revela a pressão sofrida pelo regente por-
tuguês para que ele tomasse partido, em 1803, na disputa entre as duas potências europeias mais importantes do
período: Inglaterra e França.

Após a Revolução Francesa (1789-1799) e os fatos que a sucederam, como a autonomeação de Bonaparte
como Cônsul vitalício (1802), Portugal não tinha muito o que fazer além de optar pela neutralidade. De um lado,
havia a Inglaterra com uma marinha fortemente armada e economicamente superior àquele reino que dependia de
trocas comerciais. Do outro, uma França militarmente fortalecida, com comércio desenvolvido e grandes preten-
sões expansionistas. A solução imediata foi tentar lidar com as duas potências, mas o futuro era incerto.

Para colocar em prática essa negociação dúbia, a troca de correspondências foi fundamental. Segundo o do-
cumento, Bonaparte viu “com prazer os sentimentos que Vossa Alteza Real o desejou” em “diversas cartas”. Era o
momento de provar o quão grandes e verdadeiros eram tais sentimentos.

A carta é datada com o calendário revolucionário, dia “27, floreal, ano Onze” (equivalente ao dia 16 de maio
de 1803 no calendário gregoriano) e foi escrita no castelo de Saint Cloud, residência construída no século XVI com
vista para o rio Sena, e ocupado por Napoleão. O assunto principal era o não cumprimento por parte da Inglaterra
do Tratado de Amiens (1802): “Eu fiz de tudo para salvar o mundo desta calamidade [a guerra], mas a Inglaterra se
recusa a cumprir o Tratado de Amiens”.

O tratado foi firmado entre o irmão mais velho de Napoleão, José Bonaparte (1768-1844), e o general britânico
Marquês de Cornwallis (1738-1805), na cidade de Amiens, na França, em 1802. Considerado um dos mais impor-
tantes acordos de paz da época, ele pôs fim, por um período, a 15 anos de guerras entre as duas potências. Suas
cláusulas diziam respeito, principalmente, aos territórios coloniais e foi a questão de Malta que mais provocou a
ira de Napoleão.

A Ilha de Malta, localizada no Mar Mediterrâneo numa posição militar estratégica para um assalto à França, foi
considerada um território neutro naquele documento. Isso significava que a Inglaterra deveria retirar suas tropas
da ilha para manter a paz. Um ano depois, com o descumprimento da cláusula, a intenção de Bonaparte era a de
invadir o Reino Unido. Napoleão escreveu ao príncipe regente D. João, pois queria contar com sua ajuda e lealda-
de: “As circunstâncias atuais vem se tornando cada vez mais graves, e a guerra parece à beira de acontecer entre
a França e a Inglaterra (...). O Ministro da República em Lisboa fará Vossa Alteza Real conhecer o andamento da
negociação. Nesta circunstância extraordinária, todos os Poderes, interessados na independência da ilha de Malta,
devem reunir seus esforços”.

Recém-saído da Guerra das Laranjas (1801) entre Portugal e Espanha (aliada da França), D. João não podia se
indispor. Já havia perdido muito e se sujeitado aos termos do Tratado de Badajoz (1801), que finalizou a guerra
entre os reinos ibéricos, e trouxe benefícios apenas para a Espanha e para a França, que impediu os navios ingleses
de chegarem aos portos portugueses. Mas Napoleão sabia que a influência inglesa em terras lusas assombrava
suas pretensões. Ao finalizar a correspondência, Napoleão pede “a Vossa Alteza Real que acredite no desejo que
eu tenho de contribuir com tudo que possa lhe ser agradável”, sugerindo que aqueles que lhe eram leais teriam
sua recompensa.

Entretanto, um reino não vive de promessas, e sim de ações. Já como imperador, Napoleão Bonaparte decretou
o Bloqueio Continental e pressionou Portugal a cortar qualquer tipo de relação com os ingleses. Como resposta, o
resultado foi a ação rápida da Coroa inglesa. Em 1807, uma convenção secreta entre Portugal e Inglaterra garan-
tiu a transferência da família real portuguesa para o Brasil. Logo depois dos nobres e de toda a comitiva, vieram
inúmeros livros, tratados, documentos e cartas, como a que Bonaparte escreveu para D. João e que a Biblioteca
Nacional guarda como um tesouro.
Disponível em: http://www.revistadehistoria.com.br/secao/por-dentro-do-documento/remetente-napoleao

112
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UEG Os franceses sofreram uma grande derrota militar B a unidade entre o público e o privado, pois a figura
quando tentaram invadir a Rússia em 1812. Atacando do rei com a vestimenta real representa o público e
com um contingente de cerca de 600 mil homens, retor- sem a vestimenta real, o privado.
naram com menos de 30 mil sobreviventes. Entre 1942 e C o vínculo entre monarquia e povo, pois leva ao co-
1943, foi a vez de a Alemanha tentar. Dos 250 mil solda- nhecimento do público a figura de um rei despre-
dos que foram, voltaram 130 mil. Novo fracasso. Sobre tensioso e distante do poder político.
isso, responda ao que se pede.
D o gosto estético refinado do rei, pois evidencia a
A Descreva pelo menos dois fatores que expliquem a elegância dos trajes reais em relação aos de outros
vitória russa nas duas tentativas de invasão. membros da corte.
B Quais eram os contextos políticos da França e da E a importância da vestimenta para a constituição
Alemanha quando tentaram conquistar o império simbólica do rei, pois o corpo político adornado es-
russo? conde os defeitos do corpo pessoal.
Resolução: Resolução:
A Nos dois casos, o primeiro e mais importante fator E a importância da vestimenta para a constituição
foi a reação do povo russo. Somado a isso, a intensi- simbólica do rei, pois o corpo político adornado es-
dade do inverno daquela região, que matou milha- conde os defeitos do corpo pessoal.
res de soldados, taticamente despreparados para A fabricação do mito político como instrumento de
uma campanha longa. O terceiro fator foi a utiliza- fortalecimento de um Estado Nação em torno da fi-
ção da tática chamada de “terra devastada”, onde gura do monarca. A questão por meio dos símbolos
as populações eram transferidas para retaguarda inerentes ao vestuário fortalece a ideia da etiqueta
do front, sem deixar para trás nada que pudesse ser como instrumento de padrão e diferenciação social
usado pelo inimigo, queimando campos e cidades. mediante o desenvolvimento do industrialismo de
B A França vivia a Era Napoleônica que, logo após a Re- luxo francês. Luis XIV é apresentado por meio de
uma imagem imponente, forte e impenetrável que
volução Francesa, elevou ao poder absoluto o general
esconde os reais vícios de seu corpo ou realmente do
Napoleão Bonaparte, que iniciou uma política expan-
Estado francês.
sionista pela Europa A Alemanha, por sua vez, encon-
trava-se sob o controle político do partido nazista de 03| ENEM Em nosso país queremos substituir o egoísmo
Hitler, que desencadeou a Segunda Guerra Mundial. pela moral, a honra pela probidade, os usos pelos princí-
pios, as conveniências pelos deveres, a tirania da moda
02| ENEM pelo império da razão, o desprezo à desgraça pelo des-
prezo ao vício, a insolência pelo orgulho, a vaidade pela
grandeza de alma, o amor ao dinheiro pelo amor à gló-
ria, a boa companhia pelas boas pessoas, a intriga pelo
mérito, o espirituoso pelo gênio, o brilho pela verdade,
o tédio da volúpia pelo encanto da felicidade, a mesqui-
nharia dos grandes pela grandeza do homem.
HUNT, L. Revolução Francesa e Vida Privada. In: PERROT, M. (Org). História da Vida Privada:
da Revolução Francesa à Primeira Guerra. Vol. 4. São Paulo: Companhia das Letras, 1991
(adaptado).

O discurso de Robespierre, de 5 de fevereiro de 1794, do


qual o trecho transcrito é parte, relaciona-se a qual dos
grupos político-sociais envolvidos na Revolução Francesa?
(Charge anônima. BURKE, P. A fabricação do rei. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.) A À alta burguesia, que desejava participar do poder
Na França, o rei Luís XIV teve sua imagem fabricada por legislativo francês como força política dominante.
um conjunto de estratégias que visavam sedimentar uma B Ao clero francês, que desejava justiça social e era
determinada noção de soberania. Nesse sentido, a char- ligado à alta burguesia.
ge apresentada demonstra
C A militares oriundos da pequena e média burguesia,
A a humanidade do rei, pois retrata um homem co- que derrotaram as potências rivais e queriam reor-
mum, sem os adornos próprios à vestimenta real. ganizar a França internamente.

113
SISTEMA DE ENSINO A360°

D À nobreza esclarecida, que, em função do seu con- Resolução:


tato, com os intelectuais iluministas, desejava extin-
B a completa transformação da economia capita-
guir o absolutismo francês.
lista seria fundamental para a emancipação dos
E Aos representantes da pequena e média burguesia operários.
e das camadas populares, que desejavam justiça so-
cial e direitos políticos. Partimos do pressuposto de que o capitalismo tem
escapado de suas crises de sobre a cumulação atra-
Resolução:
vés da produção do espaço. Para tanto, percebemos
E Aos representantes da pequena e média burguesia a utilização de uma série de estratégias que se reali-
e das camadas populares, que desejavam justiça so- zam no âmbito do lugar, contudo, na maioria das ve-
cial e direitos políticos. zes, são gestadas em cidades bem distantes – mais
A Ilustração, enquanto aplicação prática dos ideais especificamente nos escritórios das grandes empre-
Iluministas ao processo revolucionário burguês, en- sas. Se a produção do espaço se realiza através da
controu nos jacobinos um aprofundamento e amplia- tensão entre os diferentes agentes sociais, faz-se
ção dos ideais políticos e dos direitos naturais pro- necessário que os movimentos sociais tornem-se
postos por esse movimento intelectual. Robespierre instrumentos de transformação. É nesse sentido que
representa a radicalização de tal processo por meio caminha nosso trabalho; acreditamos que as mu-
do período conhecido como Convenção Montanhesa danças na apropriação do espaço dar-se-ão através
ou Jacobinista. O alcance real dos ideais, mediante a
da transformação dos ativismos em movimentos so-
ideia da Pátria em Perigo, levou ao aprofundamento
ciais de caráter mais amplo, que agrupem lutas mais
do radicalismo político em contraposição a um mode-
rado projeto girondino e à ordem do Antigo Regime. específicas – das ditas minorias – associando-as a
uma luta de âmbito global.
04| ENEM O movimento operário ofereceu uma nova res-
posta ao grito do homem miserável no princípio do sé- 05| ENEM O que se entende por Corte do antigo regime é,
culo XIX. A resposta foi a consciência de classe e a ambi- em primeiro lugar, a casa de habitação dos reis de França,
ção de classe. Os pobres então se organizavam em uma de suas famílias, de todas as pessoas que, de perto ou de
classe específica, a classe operária, diferente da classe longe, dela fazem parte. As despesas da Corte, da imensa
dos patrões (ou capitalistas). A Revolução Francesa lhes casa dos reis, são consignadas no registro das despesas do
deu confiança: a Revolução Industrial trouxe a necessi-
reino da França sob a rubrica significativa de Casas Reais.
dade da mobilização permanente.
ELIAS, N. A sociedade de corte. Lisboa: Estampa, 1987.
(HOBSBAWN, E. J. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 1977.)

No texto, analisa-se o impacto das Revoluções Francesa Algumas casas de habitação dos reis tiveram grande efe-
e Industrial para a organização da classe operária. En- tividade política e terminaram por se transformar em pa-
quanto a “confiança” dada pela Revolução Francesa era trimônio artístico e cultural, cujo exemplo é
originária do significado da vitória revolucionária sobre
as classes dominantes, a “necessidade da mobilização A o palácio de Versalhes.
permanente”, trazida pela Revolução Industrial, decorria
da compreensão de que: B o Museu Britânico.

A a competitividade do trabalho industrial exigia um C a catedral de Colônia.


permanente esforço de qualificação para o enfren- D a Casa Branca.
tamento do desemprego.
B a completa transformação da economia capita- E a pirâmide do faraó Quéops.
lista seria fundamental para a emancipação dos Resolução:
operários.
A o palácio de Versalhes.
C a introdução das máquinas no processo produtivo
diminuía as possibilidades de ganho material para O Palácio de Versalhes, construído por Luís XIV, o
os operários. “Rei-Sol” (1643-1715), destacou-se como elemento
D o progresso tecnológico geraria a distribuição de ri- arquitetônico representativo máximo do poder real
quezas para aqueles que estivessem adaptados aos absolutista durante o Antigo Regime francês. Essa lu-
novos tempos industriais. xuosa construção, entre os séculos XVII e XVIII, além
E a melhoria das condições de vida dos operários se- de centro das decisões políticas do país, tornou-se a
ria conquistada com as manifestações coletivas em residência dos membros da dinastia Bourbon, além de
favor dos direitos trabalhistas. abrigar uma considerável parte da corte francesa.

114
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UFG Leia o hino a seguir. Esta representação da Bastilha, prisão política do abso-
lutismo monárquico, foi pintada em 1789. Indique dois
Avante, filhos da Pátria,
elementos da tela que demonstrem a solidez e a força
O dia de glória chegou! da construção e o significado político e social da jornada
Contra nós da tirania, popular de 14 de julho de 1789.

O estandarte ensanguentado se ergueu 03| UNICAMP Observe a distribuição de custos dos campo-
neses franceses, em percentual da colheita, às vésperas
da Revolução de 1789. Esses custos referem-se ao arren-
Ouvis nos campos damento da terra, ao custo das sementes e aos impostos
Rugir esses ferozes soldados? pagos ao rei, ao senhor da terra e ao clero.
Vêm eles até os vossos braços Ao rei
10%
Degolar vossos filhos, vossas mulheres! Ao senhor da
Servo terra
35% 7%

Às armas, cidadãos, Ao clero


8%
Formai vossos batalhões,
Marchemos, marchemos!
Que um sangue impuro
Sementes
Banhe o nosso solo! 20%
LISLE, Joseph Rouget de. A Marselhesa. Disponível em:
Arrendamento
<www.ambafrance- br.org/A-Marselhesa>. Acesso em: 14 nov. 2012. (Adaptado).
20%
“A Marselhesa” foi apropriada como canção revolucio-
nária em 1793, no ano III. Passando por modificações (Adaptado de L. Bourquin (coord.), Histoire. Paris: Belin, 2003, p. 187.)

em sua letra, no final do século XIX, em meio à corrida A Relacione os dados apresentados com as condições
imperialista europeia, a composição tornou-se hino na- vividas pelos camponeses na França do final do Sé-
cional francês. Diante do exposto, culo XVIII.
A relacione um trecho da composição “A Marselhesa” B Por quais motivos a questão econômica foi um ele-
ao contexto revolucionário francês; mento importante para o Terceiro Estado durante a
B explique a mudança ocorrida na ideia de nacio- Revolução Francesa?
nalismo no final do século XIX, relacionando-a à
apropriação de “A Marselhesa” como hino nacional 04| FGV “A Grã-Bretanha forneceu o modelo para as ferro-
francês. vias e fábricas, o explosivo econômico que rompeu com
as estruturas socioeconômicas tradicionais do mundo
02| UNESP não europeu; mas foi a França que fez suas revoluções
e a ela deu suas ideias, a ponto de bandeiras tricolores
de um tipo ou de outro terem-se tornado o emblema
de praticamente todas as nações emergentes, e a po-
lítica europeia (ou mesmo mundial) entre 1789 e 1917
foi em grande parte a luta a favor e contra os princípios
de 1789, ou os ainda mais incendiários de 1793. A Fran-
ça forneceu o vocabulário e os temas da política liberal
e radical-democrática para a maior parte do mundo. A
França deu o primeiro grande exemplo, o conceito e o
vocabulário do nacionalismo. A França forneceu os códi-
gos legais, o modelo de organização técnica e científica
e o sistema métrico de medidas para a maioria dos pa-
(Hubert Robert. A Bastilha nos primeiros dias de sua demolição, 20 de julho de 1789. íses. A ideologia do mundo moderno atingiu as antigas
Museu Carnavalet, Paris, França.)

115
SISTEMA DE ENSINO A360°

civilizações que tinham até então resistido às ideias eu- 07| UERJ
ropeias inicialmente através da influência francesa. Essa
foi a obra da Revolução Francesa.”
HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções (1789-
1848). Trad. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, pp. 71-72.

A Na análise do autor, quais são as diferenças, em ter-


mos de importância, entre a Revolução Industrial
Inglesa e a Revolução Francesa?
B Explique por que a França “deu o primeiro grande
exemplo, o conceito e o vocabulário do nacionalismo”.
C O autor afirma que a Revolução Francesa contribuiu
para a difusão da ideologia do mundo moderno e
que influenciou antigas civilizações. Com relação à
América, aponte dois movimentos políticos influen-
ciados pelo Processo Revolucionário que culminou
com a Revolução Francesa de 1789.

05| UNESP Com a aliança entre jacobinos e sans-culottes, a


revolução dava um passo à frente, à esquerda, ganhan- O mapa político apresentado demonstra a fragmentação
do uma nova forma política e um novo conteúdo social.
ocorrida na América colonial espanhola, a partir dos mo-
(Modesto Florenzano, As revoluções burguesas)
vimentos de independência. Esse processo resultou não
No contexto da Revolução Francesa, explique duas me- só de fatores internos, mas também de fatores externos
didas que revelam o caráter inovador do governo jacobi- às colônias, como a tentativa de restauração levada a
no (1792-1794). cabo pela Santa Aliança, utilizando como regra básica
o princípio de legitimidade enunciado no Congresso de
06| FUVEST As Guerras Napoleônicas, entre o final do
século XVIII e as primeiras décadas do século XIX, ti- Viena (1814-1815).
veram consequências diretas muito importantes para Cite duas consequências políticas ou territoriais para a
diversas regiões do mundo. Mencione e explique uma
Europa pós-napoleônica da utilização do princípio de
delas relativa:
legitimidade. Em seguida, explique a influência desse
A ao Leste da Europa princípio nas lutas pela independência das colônias es-
B ao continente americano panholas na América.

T ENEM E VESTIBULARES
01| FUVEST Oh! Aquela alegria me deu náuseas. Sentia-me A discorda dos propósitos revolucionários e defende
ao mesmo tempo satisfeito e descontente. E eu disse: a continuidade do Antigo Regime, seus métodos e
tanto melhor e tanto pior. Eu entendia que o povo co- costumes políticos.
mum estava tomando a justiça em suas mãos. Aprovo B apoia incondicionalmente as ações dos revolucioná-
essa justiça, mas poderia não ser cruel? Castigos de to- rios por acreditar que não havia outra maneira de
dos os tipos, arrastamentos e esquartejamentos, tortu- transformar o país.
ra, a roda, o cavalete, a fogueira, verdugos proliferando
C defende a criação de um poder judiciário, que atue
por toda parte trouxeram tanto prejuízo aos nossos cos- junto ao rei.
tumes! Nossos senhores colherão o que semearam.
Graco Babeuf, citado por R. Darnton. O beijo de Lamourette.
D caracteriza a violência revolucionária como uma re-
Mídia, cultura e revolução. São Paulo: ação aos castigos e à repressão antes existentes na
Companhia das Letras, 1990, p. 31. Adaptado.
França.
O texto é parte de uma carta enviada por Graco Babeuf E aceita os meios de tortura empregados pelos revo-
à sua mulher, no início da Revolução Francesa de 1789. lucionários e os considera uma novidade na história
O autor francesa.

116
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
02| UFTM A Revolução Francesa não deve ser considerada D na procura de aumentar sua força política e
apenas como uma revolução burguesa. construir uma ordem social que garantisse sua
(Modesto Florenzano. As revoluções burguesas, 1982.) hegemonia.
Essa afirmação pode ser considerada E na liderança dos planejamentos econômicos, não
interferindo nas escolhas que sacrificassem as posi-
A correta, pois a burguesia obteve, por meio de alian- ções da nobreza.
ças com outros países, capacidade militar suficiente
para impedir o surgimento de mobilizações em ou- 04| FAC. DIREITO DE SOROCABA Artigo 1.º da Declaração
tros segmentos sociais. dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789): Os homens
B correta, pois a Revolução Francesa nasceu da vonta- nascem e vivem livres e iguais em direitos. As distinções
de burguesa de implantar a república e de impor a sociais só podem ter fundamento na utilidade comum.
política econômica mercantilista. Acerca do artigo citado, é correto afirmar que:
C errada, pois a burguesia contou com o apoio do alto A rompeu com os privilégios característicos do Antigo
clero na luta contra o iluminismo e a população re- Regime e propôs a igualdade perante a lei.
belada. B antecipou uma das principais características da pro-
D correta, pois, além das ações burguesas, a Revolu- posta socialista, a igualdade econômica.
ção Francesa contou com grandes mobilizações de C extinguiu a escravidão, mas os benefícios e privilé-
camponeses e trabalhadores urbanos. gios da nobreza continuariam a existir.
E errada, pois, à exceção da burguesia, os outros seg- D efetivou a sua realização apenas em 1948, com a
mentos sociais eram incapazes de transformar e re- Declaração Universal dos Direitos Humanos, feita
organizar a economia e a política francesas. pela ONU.
E provocou descontentamento de nobres e burgue-
03| FPS ses, pois era uma reivindicação de trabalhadores e
camponeses.

05| PUC “A Revolução Francesa constitui um dos capítulos


mais importantes da longa e descontínua passagem
histórica do feudalismo ao capitalismo. Com a Revolu-
ção (científica) do século XVII e a Revolução Industrial
do século XVIII na Inglaterra, e ainda com a Revolução
Americana de 1776, a Grande Révolution lança os fun-
damentos da História contemporânea.” [Mota, C. G. A
Revolução Francesa].
Entre as transformações promovidas pela Revolução na
França, iniciada em 1789, é CORRETO afirmar que:
A os privilégios feudais e o regime de servidão foram
abolidos destruindo a base social que sustentava o
Antigo Regime absolutista francês.
A Revolução Francesa reorganizou a maneira de atuar da B a Revolução aboliu o trabalho servil e fortaleceu o
política, buscando uma ampliação dos ideais iluministas. clero católico instituindo uma série de medidas de
Nem sempre, conseguiu realizar as promessas revolu- caráter humanista.
cionárias. A burguesia, sujeito histórico importante do
Movimento, atuou: C os revolucionários derrubaram o rei e proclamaram
uma República fundamentada no igualitarismo radi-
A na reformulação da ordem jurídica, não valorizando cal na qual a propriedade privada foi abolida.
as sugestões dos economistas clássicos ingleses.
D a Revolução rompeu os laços com a Igreja católica ini-
B na afirmação das ideias filosóficas de Voltaire e ciando uma reforma de cunho protestante que se apro-
Montesquieu, defensores da democracia no seu ximava dos ideais da ética do capitalismo moderno.
sentido pleno.
E a Revolução, mesmo em seu momento mais radical,
C no comando das estratégias militares, pouco se vin- não foi capaz de romper com as formas de proprie-
culando às discussões sobre política mais decisivas. dade e trabalho vigentes no antigo regime.

117
SISTEMA DE ENSINO A360°

06| UFPR Foi a Revolução Francesa, e não a Americana, ( ) A Revolução Francesa disseminou nova concepção
que ateou fogo ao mundo, e foi, consequentemente, do política e organizacional do Estado; suas ideias in-
curso da Revolução Francesa, e não do desenrolar dos fluenciaram a disseminação de guerras e conflitos e
acontecimentos na América, ou dos atos dos “Pais Fun- seus ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade
dadores” que o atual uso da palavra revolução recebeu passaram a ser buscados por quase todas as nações
suas conotações e matizes em todos os lugares, inclusive do mundo contemporâneo.
nos Estados Unidos. Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta,
(ARENDT, Hannah. Da Revolução. RJ: Ática e UnB, 1988, p. 44.) de cima para baixo.
A respeito do texto acima, considere as seguintes afir- A V–F–V–F
mativas:
B V–V–F–F
1. No seu uso atual, a palavra “revolução” significa
C F–V–V–V
uma profunda transformação política e social, capaz
de romper com as estruturas do passado e criar algo D V–V–V–V
novo, tal como fez a Revolução Francesa. E F–F–V–V
2. A Revolução Francesa extinguiu o Antigo Regime e
a estrutura feudal da França, enquanto que a Revo- 08| UFTM O esquema refere-se à situação da receita e da
lução Americana ficou restrita a mudar a realidade despesa do Estado francês na década de 1780.
das 13 colônias.3. O fato de a Revolução Americana Impostos
diretos Pagamento
não ter se baseado em ideais iluministas não a ca-
Impostos 46% da dívida
racteriza com uma revolução igual à Francesa. indiretos 50,3%
Outras Marinha,
32% receitas guerra,
4. A Revolução Americana teve menor influência polí- negócios Outras
22%
tica e social fora da América, enquanto que a Revo- Casa real exteriores despesas
(incluindo 17,2% 22,2%
lução Francesa influenciou movimentos sociais nas salários e
Américas e em quase toda a Europa. pensões:
4,3%)
Assinale a alternativa correta. 10,3%

A Somente a afirmativa 1 é verdadeira.


Receitas: 471,6
B Somente a afirmativa 2 é verdadeira. milhões de libras
Despesas: 633
milhões de libras
C Somente as afirmativas 3 e 4 são verdadeiras.
D Somente as afirmativas 1, 2 e 4 são verdadeiras. Déficit: 161,4
milhões de libras
E Somente as afirmativas 1, 2 e 3 são verdadeiras.
(Anne Bernet. Sem nenhum tostão em caixa. In História Viva, 2004.)
07| UDESC Entre 1789 e 1799, a França atravessou um pe-
ríodo profundamente transformador conhecido por Re- A partir da observação dos dados, pode-se inferir:
volução Francesa. Em relação às características desse A o equilíbrio da economia do país, obtido pela admi-
processo revolucionário e seus desdobramentos, anali- nistração centralizada, típica do absolutismo.
se cada proposição e assinale (V) para verdadeira ou (F)
B a fragilidade das contas públicas, agravada pelo en-
para falsa.
volvimento do país em guerras externas, que apro-
( ) A França foi inovadora, pois não havia notícias de fundaram a crise econômica.
uma Revolução de Caráter Burguês e Liberal na Eu-
C a importância das taxas pagas pela nobreza, que
ropa do século XVIII. compunham grande parte das receitas do poder
( ) Durante os dez anos do processo revolucionário, público.
houve uma série de acordos que garantiram uma D a necessidade de se aumentar o controle das fron-
transição tranquila e pacífica da Monarquia Absolu- teiras, para evitar a evasão de divisas para outros
tista para a República Federativa. países europeus.
( ) A Revolução Francesa pode ser subdividida em qua- E os efeitos das revoltas camponesas, que desestru-
tro momentos: a Assembleia Constituinte, a Assem- turaram a produção rural e diminuíram a arrecada-
bleia Legislativa, a Convenção e o Diretório. ção de impostos.

118
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
09| UFG Leia os fragmentos a seguir. 11| ESPCEX “A execução de Luís XVI, em janeiro de 1793,
abalou a nobreza europeia. No interior da França, eclo-
Nesta Revolução Francesa, tudo, até os crimes mais hor- diram revoltas (...). No exterior, formou-se a Primeira
ríveis, foi previsto e conduzido por homens que eram os Coligação europeia (...). A França foi novamente invadi-
únicos a conhecer o fio das conspirações urdidas duran- da. (...) Teve início então, o Período do Terror, que se es-
te muito tempo em sociedades secretas. tenderia até julho de 1794.” (ARRUDA & PILETTI, 2007)
Abade Barruel. Memórias para servir à história do jacobinismo, 1803. O Período do Terror, caracterizado pela radicalização do
processo revolucionário, ocorreu durante a fase da (o)
A miséria aumenta a ignorância, a ignorância aumenta a
miséria; o povo francês foi tão cruel durante a revolução A Monarquia Constitucional e era chefiado por jacobinos.
porque a ausência de felicidade conduz à ausência de B Diretório e era dirigido por girondinos.
moralidade. C Assembleia Legislativa e era comandado por “sans –
Madame de Stael Holtein. Considerações sobre os principais acontecimentos culottes”.
da Revolução Francesa, 1818.
SCHAFF, Adam. História e verdade. Lisboa: Editorial Estampa, 1974. p.14-23. D Assembleia Nacional Constituinte e era orientado
por girondinos.
Os dois textos exemplificam a compreensão da Revo-
E Convenção Nacional e era liderado por jacobinos.
lução Francesa por seus contemporâneos e expressam
como um mesmo evento pode produzir relatos distintos. 12| FGV Com a convocação dos Estados Gerais [em 1788],
Diante da diversidade de visões a serem comparadas, o a aristocracia esperava completar o processo que esva-
historiador, amparado por procedimentos metodológi- ziaria a monarquia de seu poder absoluto. Seu cálculo,
cos atuais, deve teoricamente correto, baseava-se na certeza de que con-
trolaria todas as decisões dos Estados Gerais. (…) essa
A garantir um conhecimento definitivo sobre o passa- instituição (…) tinha seus representantes eleitos inter-
do, apoiado em fontes orais que esgotem o tema. namente a cada ordem e, quando em funcionamento,
a votação era em separado, correspondendo um voto a
B alcançar um conhecimento verdadeiro sobre o pas- cada ordem. (…) Mas, na prática, o cálculo da aristocra-
sado por meio da reunião dos relatos. cia revelou-se um verdadeiro suicídio político para ela e
para o regime que representava (…)
C confrontar a visão de uma testemunha ocular sobre (Modesto Florenzano, As revoluções burguesas)

um evento com outras fontes históricas. Esse “suicídio político” consubstanciou-se, pois:
D privilegiar uma narrativa testemunhal de acordo A a aristocracia francesa, que defendia reformas nas
com o poder político exercido pelo agente. obrigações servis, objetivando ampliar os ganhos tri-
butários do Estado, foi forçada a aceitar o fim dos
E ignorar o julgamento dos atores históricos sobre os privilégios fiscais da nobreza togada e do baixo clero.
eventos a que assistiram.
B se estabeleceu um acordo tácito entre os jacobinos
e os girondinos, na Convenção, a partir de 1789, e
10| UESPI Uma análise da Revolução Francesa permite per-
uma série de reformas estruturais, baseadas nas
ceber sua importância política, sem deixar de ressaltar ideias iluministas, determinou a gradual extinção
sua violência e suas contradições. Na sua Declaração dos das obrigações feudais.
Direitos Humanos e do Cidadão:
C as reformas políticas propostas pela aristocracia ge-
A destacava-se a condenação à propriedade privada e raram uma maior participação das camadas sociais
ao capitalismo. presentes no Terceiro Estado, em especial a alta bur-
guesia, que comandou o Comitê de Salvação Públi-
B definia-se a vitória dos ideais do liberalismo, favorá- ca, em 1789.
veis à elite da época. D a tentativa da aristocracia francesa em limitar a in-
fluência que a alta burguesia exercia sobre o sobe-
C negava-se o valor da escravidão, embora não ata-
rano Luis XVI fracassou e abriu espaço para que o rei
casse a sua existência nas colônias europeias. convocasse uma Assembleia Nacional Constituinte
D afirmava-se a igualdade universal perante a lei, sem para julho de 1789.
respeitar os limites desejados pela burguesia. E após um pouco mais de um mês de funcionamento,
em junho de 1789, o Terceiro Estado transformou os
E defendia-se a submissão das colônias, mas se omitia Estados Gerais em Assembleia Nacional Constituinte,
em relação aos danos da censura e da propriedade. um dos momentos iniciais da Revolução Francesa.

119
SISTEMA DE ENSINO A360°

13| ESPM Leia o texto sobre a Revolução Francesa e responda: mércio francês com as nações europeias, durante o
qual a guilhotina simbolizava a eliminação dos res-
Para essa mentalidade revolucionária também contribu-
quícios feudais.
íram as grandes expectativas provocadas pela convoca-
ção dos estados gerais, pois, como os pobres urbanos, D do retorno da nobreza em uma ação contrarrevo-
também os camponeses esperavam que suas queixas lucionária, que eliminou as lideranças burguesas e
fossem ouvidas. Na primavera de 1789, os campone- populares que haviam iniciado o processo revolu-
ses atacavam comboios de alimentos e se recusavam a cionário e utilizou a guilhotina como protetora da
pagar impostos reais, dízimos e obrigações senhoriais. pátria ameaçada.
Esses levantes revolucionários intensificaram-se em fins
E resultante da Lei de Cercamentos, que provocou a
de julho de 1789, quando se divulgaram rumores de que
expulsão dos camponeses de suas terras e sua exe-
os aristocratas estavam organizando bandos de bandi-
cução sumária, através do uso da guilhotina.
dos para atacar os camponeses e roubar suas colheitas.
Os camponeses entraram em pânico e deram vazão a
15| UFMT A Revolução Francesa pode não ter sido um fenô-
um ódio secular contra os nobres, atacando os castelos
meno isolado, mas foi muito mais fundamental do que
e queimando os registros senhoriais onde estavam ins-
os outros fenômenos contemporâneos e suas consequ-
critas as suas obrigações para com os senhores.
ências foram portanto mais profundas.
(Marvim Perry. Civilização Ocidental. Uma história concisa)
(HOBSBAWM, E. J. A era das revoluções:
O texto deve ser relacionado com: 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1977.)

A o Período do Terror; Uma das consequências mais profundas, segundo Hobs-


B o Grande Medo; bawm, foi a Declaração dos Direitos do Homem e do Ci-
dadão. Sobre ela, analise as afirmativas.
C o Golpe do 18 Brumário;
I. Representou as exigências da maioria dos liberais
D a Reação Thermidoriana;
burgueses contra os privilégios da nobreza e do cle-
E a Tomada da Bastilha. ro, mas não um manifesto a favor de uma sociedade
democrática e igualitária.
14| UNIFICADO
II. Significou uma tentativa da monarquia absoluta de
“Santa Guilhotina, protetora dos patriotas, rogai por nós;
permanecer no poder, fazendo concessões à nobre-
Santa Guilhotina, terror dos aristocratas, protegei-nos; za descontente e aos burgueses jacobinos que luta-
Máquina adorável, tende piedade de nós; vam pela igualdade.

Máquina adorável, tende piedade de nós; III. Foi um manifesto revolucionário a favor de uma so-
ciedade efetivamente democrática e igualitária, do
Santa Guilhotina, livrai-nos de nossos inimigos.”
fim da monarquia e da nobreza, do desligamento da
(In ARASSE, Daniel. A Guilhotina e o Imaginário do Terror.
SP: Atica, 1989. p 106-107) Igreja do Estado e da ascensão do povo ao centro da
república democrática.
A leitura do texto remete ao período da Revolução Fran-
cesa conhecido como Terror, que pode ser identificado IV. Expressou a vontade de parte da burguesia de go-
como o momento: vernar a partir de uma monarquia regulada por uma
A de diversas revoltas lideradas por trabalhadores Constituição e apoiada numa oligarquia possuidora
rurais que pleiteavam o direito à terra, e contra os de terras.
quais o governo girondino utilizou a guilhotina indis- Estão corretas as afirmativas
criminadamente.
A III e IV, apenas.
B de medidas populares, tais como o controle de pre-
ços e a reforma agrária, sob a liderança jacobina, du- B II, III e IV, apenas.
rante o qual a guilhotina representava para muitos a
C I e IV, apenas.
justiça revolucionária.
D I, II e III, apenas.
C do apogeu do domínio burguês, caracterizado pela
criação do Banco de França e pelo aumento do co- E I, II, III e IV.

120
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
16| UNIFOR Analise cuidadosamente as informações apre- 17| UFG Analise a gravura a seguir.
sentadas no esquema.

CONVENÇÃO

Sans-culottes

Clube dos
jacobinos

Comitê de Comitê de
Segurança Salvação
Geral Pública

Tribunal Disponível em: <cache02.stormap.sapo.pt/fotostore02/fotos/b4/b6/8a/1811516_g5sZW.jpeg>.


Revolucionário Acesso: em 10 mar. 2009.
PARIS
PROVÍNCIA Essa caricatura é obra de um artista francês anônimo,
produzida no século XVIII, tematizando o contexto da
Sociedades
Representantes
populares Revolução Francesa. Nessa cena, a composição das per-
em missão
sonagens e de outros símbolos evoca a

Forças Departamento
A posição privilegiada do Exército na Era Napoleônica,
Armadas representada pelo soldado posicionado em cima da
nomeação e controle pedra.
pressão
B superioridade do Primeiro Estado em relação ao Se-
(Jean-Michel Lambim. Histoire. gundo, expressa pela posição ocupada pelas perso-
Paris: Hachette, s/d. p. 187) nagens na gravura.
A Revolução Francesa de 1789 foi um acontecimento C promessa da Primeira República em punir a desi-
histórico que representou mudanças significativas na es- gualdade entre os Estados, simbolizada pela vesti-
trutura do poder político absolutista que vigorou duran- menta das personagens.
te vários séculos. As informações do esquema mostram
D permanência, após a Revolução, dos privilégios do
as características das relações de poder
clero e da nobreza, retratados nos dois sujeitos que
A que vigoravam no período do governo de Luis XIV, se encontram sobre a pedra.
que era o chefe da Convenção e tinha plenos pode-
res sobre as províncias da França. E pressão sobre o Terceiro Estado para o pagamento
de mais impostos, traduzida pelo homem que se en-
B da primeira fase da Revolução, quando a burguesia contra esmagado pela pedra.
criou a Convenção com o objetivo de sufocar os mo-
vimentos contrarrevolucionários.
C do início do governo de Napoleão Bonaparte, quan-
do este invadiu a Convenção e tornou-se seu chefe
supremo, eliminando seus opositores.
D que marcaram a vida política francesa na fase da
Convenção, momento no qual a burguesia consoli-
dou as bases do desenvolvimento capitalista.
E da fase mais radical do período revolucionário, no
qual a Convenção tornou-se o órgão máximo de de-
liberações políticas revolucionárias.

121
SISTEMA DE ENSINO A360°

PROJETOS POLÍTICOS E DOUTRINAS SOCIAIS NO SÉCULO XIX


A formação do mundo contemporâneo ocorreu a partir de con-
sideráveis mudanças que seguiram seu curso, principalmente, na se-
gunda metade do século XVIII e por todo o século XIX.
Marcada por profundas transformações sociais, a Europa Ociden-
tal presenciou o fortalecimento da economia fundamentada nas in-
fluências da Revolução Industrial Inglesa, no século XIX. Já a política e
a ideologia foram edificadas sobre a égide da Revolução Francesa, de
1789. Esses fatos históricos propiciaram à Modernidade a elaboração
de novos conceitos relacionados ao pensamento e às vivências sociais.
Nesse contexto, a burguesia se consolidava, política e economi-
camente, mas havia paralelamente o crescimento do descontenta-
mento social, advindo das próprias contradições inerentes ao sistema
capitalista, que se desenvolvia amparado nas ideias estruturais do
Liberalismo propagado por Adam Smith.
Todavia, o Liberalismo revelou uma face negra paralela aos avan-
ços econômicos e capitalistas. O extraordinário crescimento popula-
cional, o deslocamento da população do campo em direção às cida-
des, o processo de urbanização juntamente aos problemas urbanos
e as péssimas condições de trabalho, aliados à excessiva exploração
do trabalho, tornaram-se o combustível para as transformações que
estavam por vir.
Surgiram, assim, teóricos que passaram a estudar esta nova re-
alidade política, econômica e social que se apresentava emergindo
ideias, projetos e propostas inovadoras.
O Socialismo e o Anarquismo nasciam como projetos concorren-
tes da proposta liberal, legitimando suas pretensões políticas e as re- Pôster original do filme “Tempos Modernos” de Charlie
formas sociais na construção de um mundo mais justo para todas as Chaplin (1936). Published by United Artists. Neste filme, a
personagem “O Vagabundo” tenta sobreviver no mundo
pessoas. Por outro lado, o Nacionalismo, como uma corrente ideoló- moderno e industrializado, sendo seu roteiro elaborado a
gica, defendia os princípios relacionados ao autogoverno e à sobera- partir da critica ao Capitalismo e as transformações sociais
advindas da Revolução Industrial.
nia dos povos, servindo de locomotiva à independência das colônias
e aos processos de unificação italiana e alemã.
A classe trabalhadora também se movimentou na defesa de seus interesses trabalhistas e sociais, geralmente, vinculados
às ideias socialistas, exemplo das Internacionais Operárias, conforme analisaremos adiante.

O LIBERALISMO
Como uma ideologia carregada de princípios e valores essencialmente burgueses, o Liberalismo orientou e organizou os
anseios políticos na perspectiva dessa classe.
Inicialmente, concentrou-se na França em razão da propulsão de seus fisiocratas, mas depois se expandiu para outros paí-
ses europeus que possuíam poderosas burguesias, vindo a justificar a tomada do poder pelas mesmas.
Essa filosofia política foi construída a partir das ideias iluministas que se propagaram com a Revolução Francesa, fundamen-
tando-se em algumas ideias principais: na defesa da propriedade privada, da democracia, da igualdade de todos perante a lei,
do individualismo, da liberdade comercial e produtiva, da liberdade de expressão, de pensamento e de religião.
A ideia central da liberdade humana era para os liberais uma presunção universal. Da mesma forma, acreditavam que o Es-
tado não deveria intervir nas relações econômicas tratadas como independentes, cabendo ao mesmo atuar de forma limitada
quanto ao mercado.
Essa concepção permitiu que as desigualdades sociais, expressas nas injustiças que se faziam presentes, uma vez que a
igualdade liberal existente entre os membros de uma sociedade possui natureza exclusivamente formal, avançassem de ma-
neira considerável.

122
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Considerado o pai do liberalismo econômico, Adam Smith (1723
– 1790) expôs em uma de suas principais obras, “A riqueza das Na-
ções”, seu pensamento. Para ele, a riqueza das nações procede da
atuação individual de seus cidadãos que, dentre outros aspectos,
seriam movidos por seus interesses egoísticos, mas que levaria di-
retamente ao crescimento econômico e ao bem-estar dessa mesma
sociedade.
Com base nesses princípios, Adam Smith justificava a defesa da
livre iniciativa privada, sem intervenção estatal ou, caso houvesse,
que esta fosse limitada.
Para ele, a livre concorrência entre os empresários conduziria à
queda do preço das mercadorias e ao avanço das inovações tecnoló-
gicas necessárias ao aumento da produtividade em menor tempo e
com menos custos, logo, a produtos mais baratos.
A expressão “mão invisível do mercado” revela que existe uma
natural harmonização dos interesses dos indivíduos na sociedade. A
disputa entre eles levaria a exigência da crescente eficiência produ-
tiva em acordo com as necessidades de mercado, o que dispensaria
a atuação estatal. Assim, essa “mão invisível” regularia automatica-
mente os mercados, sempre tendo em vista a relação: necessidade
Primeira página da obra “A Riqueza das Nações” de 1776,
de consumo e produtividade. edição de Londres. Por Gerhard Streminger.
Adam Smith tinha a convicção de que a atuação da “mão invisí-
vel” do mercado resultaria na composição de preços mais acessíveis e em maiores salários para a classe trabalhadora, o que
não se confirmou com o avanço do capitalismo.
Thomas Robert Malthus (1766 – 1834) realizou em suas obras,
“Primeiro Ensaio” e “Segundo Ensaio”, um estudo que justificava o
crescimento da população em progressão geométrica e o crescimen-
to da produção de alimentos em progressão aritmética, culminando
em um claro desequilíbrio que afetava diretamente o desenvolvi-
mento material das sociedades.
Malthus apresentou, então, algumas possibilidades para limitar
esse crescimento populacional, vindo a equilibrar o mesmo com a
produção de alimentos. O caos gerado pela miséria (pobreza, sofri-
mento e fome como seus propulsores), pelas guerras (com seus inevi-
táveis mortos) e pelas epidemias (que naturalmente seleciona quem
sobrevive e quem morre), seria necessário ao almejado equilíbrio.
Essa realidade contraditória passou a ser apreendida pela clas-
se trabalhadora, que percebia a grande exploração de sua força de
trabalho recompensada com salários miseráveis, que não atendiam
suas necessidades materiais básicas.
Ao mesmo tempo havia a redução da demanda por mão de obra
nas fábricas, em razão do crescente uso de máquinas. Tinha origem
uma grande reserva de mão-de-obra laboral desempregada que aca-
bava por se sujeitar ao pagamento de baixos salários.
A falta de emprego, as péssimas condições de trabalho, a ausên-
cias de direitos e a superexploração do trabalho despertava, aos pou-
cos, os trabalhadores para aquela deplorável realidade que viviam.
Corriam boatos por toda Europa de que um operário britânico
Publicado em maio de 1812, o cartum mostra os chamado Ned Ludd, teria quebrado as máquinas de uma fábrica têx-
trabalhadores comandados pelo lendário Nedd Ludd
destruindo uma fábrica têxtil. Unknown til após seu patrão se recusar a negociar com o mesmo alguns dos

123
SISTEMA DE ENSINO A360°

problemas antes expostos. Não há comprovação dessa história, todavia, ela inspirou o surgimento do Movimento Ludita, que
pretendia resolver os problemas inerentes à exploração do trabalhador e sua dura realidade com a destruição das máquinas,
consideradas as verdadeiras responsáveis por suas condições miseráveis, uma vez que substituíam os trabalhadores.
Tal fato levou o Parlamento inglês a aprovar, em 1812, a Frame Braking Act, ou seja, uma lei que punia a quebra das má-
quinas com a pena de morte.

DOUTRINAS SOCIALISTAS
A superexploração dos trabalhadores, advinda das contradições sociais e impulsionada pela Revolução Industrial, fez com
que ideias humanitárias e progressistas surgissem, propondo a construção de um mundo mais justo.
O Socialismo é uma doutrina política e econômica voltada à distribuição equilibrada de riquezas e de acesso à propriedade
privada entre os membros da sociedade, o que diminuiria, em seu entendimento, o abismo social entre ricos e pobres perpe-
trado pelo capitalismo.
Os primeiros críticos desta realidade pertenciam ao socialismo utópico. Críticos das consequências negativas do progresso
industrial propunham modificações na estrutura social em direção à construção de uma sociedade mais justa. Carregados de
valores, acreditavam que seria possível um acordo entre as classes sociais, entre dominante e dominado, demonstrando isso a
partir de modelos idealizados, daí sua denominação de utópicos.
Seguidor dessas ideias, Charles Fourier (1772 – 1837) defendeu a reorganização da sociedade a partir da criação de falans-
térios, ou seja, fazendas coletivas agroindustriais, mas não conseguiu que a burguesia aderisse ao projeto.
Outro socialista desses primeiros tempos foi Robert Owen (1771 – 1858). Como administrador de uma fábrica de algodão
em Manchester, pôde observar as contradições do capitalismo mais de perto. Sabendo das dificuldades de constituição de uma
sociedade justa e igualitária por livre iniciativa dos homens, criou um modelo de comunidade ideal, na Escócia e, posteriormen-
te, em New Harmony, nos EUA. Ao longo do tempo, ambas as comunidades fracassaram.
Surgiu paralelamente ao Socialismo Utópico o Socialismo Científico, que teve em Karl Marx (1818 – 1883) seu principal
teórico e que contou com a indispensável ajuda de Friedrich Engels (1820 – 1895) em vários de seus escritos. Observando as
contradições internas do capitalismo, estes pensadores propunham a
transformação da realidade ao constituírem uma doutrina voltada à
atuação revolucionária do proletariado.
Diferentes dos utópicos e seus modelos idealizados, Marx acredi-
tava que o socialismo só poderia ser implantado com o desnudar da
luta de classes e da ação revolucionária do proletariado.
O maior expoente do socialismo científico foi Marx, que, para es-
truturar seu pensamento, partiu da compreensão e da transformação
da realidade a partir de uma análise econômica e social do capitalismo.
Marx (com o apoio de Engels) realizou em uma de suas mais im-
portantes obras, o “Manifesto Comunista” (1848), e, de forma mais
profunda, em “O Capital”, a interpretação socioeconômica da História
(conhecida como materialismo histórico). Definiu, igualmente, con-
ceitos de suma importância, quais sejam: luta de classe, mais-valia e
revolução socialista.
O materialismo histórico revela que as sociedades são determi-
nadas pelo que Marx chamou de infraestrutura e superestrutura.
As forças de produção e as relações dela advindas compreendem
a infraestrutura. Podemos exemplificar com as condições de trabalho
impostas aos trabalhadores, a divisão do trabalho e as relações de
propriedade.
Marx afirma que essas relações determinam outras que ele con-
ceitua de superestrutura e que podemos identificar como a cultura, as Retrato de Karl Marx (1875). Foto: John Jabez Edwin
ideologias, as instituições, os organismos do poder político e o próprio Mayall (1813–1901). Localização: Instituto Internacional de
Estado. História Social. Amsterdam, Holanda.

124
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
As bases do sistema capitalista, dentre outros aspectos, encontrar-se-iam na concentração injusta de riquezas e no contro-
le político burguês, responsáveis pela existência das desigualdades sociais.
Ao controlar o capital e exercer a exploração dos trabalhadores, a burguesia permitia a potencialização dos extremos: de
um lado, uma pequena parcela da sociedade concentrando os maiores bens e riquezas, do outro, uma imensa maioria despri-
vilegiada e explorada em condições injustas e desiguais.
Neste contexto, Marx passou a divergir da ideia ricardiana do lucro como “resíduo”. Ele afirmava que a percepção do mes-
mo pelos capitalistas ocorria por meio do pagamento de baixos salários, em uma lógica de exploração dos trabalhadores. Esse
processo poderia ocorrer de duas maneiras:
1. Mais-valia absoluta: ampliação da jornada de trabalho dos operários, porém, mantendo os mesmos salários. Neste
caso, além da intensificação do ritmo de trabalho na unidade produtiva, aumentava-se o controle e a vigilância dos
operários durante o cumprimento de suas tarefas laborais. Tudo isso objetivando o aumento da produtividade;
2. Mais-valia relativa: aumento da produtividade física do trabalho a partir de investimentos no processo de mecaniza-
ção, ou seja, do incremento da produção.
Diante dessa realidade, a revolução proletária apresentava-se como a única opção capaz de destruir as estruturas do ca-
pitalismo.
Conscientes dos antagonismos e da existência histórica da luta de classes perpetrada por interesses opostos aos de seus
consignatários, os trabalhadores deveriam se unir e tomar o poder das mãos da burguesia. O resultado seria a implantação da
ditadura do proletariado, que teria lugar enquanto persistissem as desigualdades.
Nessa sociedade proletária, o Estado exerce o controle das mercadorias e
da produtividade em termos gerais, considerando as necessidades de consumo,
eventuais adicionais e um “fundo” de segurança para ser utilizado em situações
emergenciais. Contabiliza-se, também, as despesas administrativas, a prestação
dos serviços públicos e os incapacitados para o trabalho.
Deduzida as despesas, a “sobra” dos rendimentos do trabalho deveria ser re-
partida entre os trabalhadores, proporcionalmente ao quantum de trabalho que
cada indivíduo havia investido.
Destacamos, porém, que Marx enxergava a necessidade do Estado apenas
nesse período transitório, indispensável à cessação das contradições internas do
capitalismo, eliminando, definitivamente, a propriedade privada e todas as desi-
gualdades econômicas e sociais. Abrir-se-ia, enfim, o caminho para a consolidação Martelo e foice, dois símbolos universais do
Comunismo.
do Comunismo.

O ANARQUISMO
O Anarquismo é outra corrente ideológica, sobre cuja origem ainda não há
consenso entre os historiadores. Credita-se a William Godwin, em sua obra “A Jus-
tiça Política” (1793), a primeira acepção moderna do conceito. Para ele, os gover-
nos e suas leis exercem influências negativas às sociedades ao torná-las ignorantes
e dependentes de si.
Todavia, Pierre-Joseph Proudhon (1809 – 1865) é considerado o precursor da
ideologia anarquista moderna e a defende em sua obra “O que é a propriedade?”.
Fazendo oposição à religião e ao Estado, Proudhon justificou que as sociedades de-
veriam se organizar de forma espontânea, sem líderes ou leis, o que definiu como
“república de pequenos proprietários”.
Para ele, a propriedade privada é um roubo, sendo justificada a existência ex-
clusiva das pequenas propriedades cooperativas.
O russo Mikhail Bakunin (1814 – 1876) tornou-se um dos maiores expoentes
Fotografia de Pierre -Joseph Proudhon (1862).
do anarquismo. Ele refutou todo e qualquer tipo de sistema de governo político,
Foto: Félix Nadar (1820–1910) inclusive em suas possíveis formas.

125
SISTEMA DE ENSINO A360°

Pela liberdade, em sua acepção social, os homens conseguiriam desenvolver integralmente todas as suas faculdades, sem
que para isso fosse necessária a garantia do Estado. Ao contrário, no entendimento de Bakunin o Estado deveria ser extinto pela
violenta revolução organizada, pois, somente pela liberdade plena, os homens conseguiriam alcançar os ideais de igualdade,
felicidade e liberdade.
Bakunin contestava a submissão dos indivíduos a qualquer tipo de autoridade, seja ela em caráter divino, coletivo ou indi-
vidual, inclusive à ditadura do proletariado proposta pelos marxistas.

Bakunin em um cartaz político (1880)


Mikhail Bakunin. Foto: Félix Nadar (1820–1910). representado como um “Danton moderno”.
Autor desconhecido.

Apesar das expressivas diferenças entre anarquistas e marxistas, ambos acabaram compartilhando o objetivo final: a im-
plantação do comunismo. Para os anarquistas, porém, a implantação do comunismo ocorreria após a revolução social orga-
nizada, não-hierárquica e direta das massas. Não existiria o estágio intermediário que os marxistas defendiam (a ditadura do
proletariado), sendo esta a contradição fundamental que nos permite separá-los dos anarquistas.
O objetivo do comunismo era criar uma sociedade livre e igualitária. O Estado desapareceria. Não existiriam mais as classes
sociais. Haveria uma imediata instalação do comunismo.

TEXTO COMPLEMENTAR 1

OS FRAGMENTOS ABAIXO FORAM EXTRAÍDOS DO MANUSCRITO DE


BAKUNIN “IMPÉRIO KNOUTO-GERMÂNICO”.
In: GUÉRIN, Daniel. Bakunin. s/l: L&PM Editores, s/d. pp. 33-47.

“Não hesito em dizer que o Estado é o mal, mas um mal historicamente necessário, tão necessário no passado quanto
o será sua extinção completa, cedo ou tarde...

O Estado é a autoridade, é a força, é a ostentação e a enfatuação da força... Inutilmente tenta mascarar esta natureza
de violador legal da vontade dos homens, de negação permanente de sua liberdade. (...)

Impossível haver liberdade política sem igualdade política. Impossibilidade desta, sem igualdade econômica e social.

Necessidade de uma revolução social. (...)

Começará, pois, por destruir, em toda parte, todas as instituições e todos os estabelecimentos, igrejas, parlamentos,
tribunais, administrações, exércitos, bancos, universidades, etc., que constituem a própria existência do Estado. O Estado

126
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

deve ser radicalmente demolido e declarado em bancarrota, não apenas do ponto de vista financeiro, como também dos
pontos de vista político, burocrático, militar, judiciário e policial. (...)

Negação da existência de um Deus real, extra-mundial, pessoal e, portanto, de qualquer revelação e de qualquer
intervenção divina nos negócios do mundo e da humanidade. (...)

Existe apenas um dogma, uma única lei, uma única base moral para os homens, é a liberdade. Respeitar a liberdade
do próximo é dever; amá-lo, ajudá-lo, servi-lo é uma virtude.”

TEXTO COMPLEMENTAR 2

UM PARAÍSO MISTERIOSO CHAMADO BRASIL


Os trechos a seguir pertencem ao “Manifesto do Partido Comunista” de Karl Marx e Frederich
Engels. Sua leitura nos permite extrair alguns dos principais conceitos básicos dessa obra, tais como:
classes, dialética da luta de classes, capitalista, proletariado, alienação, Mais-Valia, ideologia e
consciência de classe. Tente identificar, em sua leitura, tais conceitos.
Mônica Cristina Corrêa

“A história de toda sociedade existente até hoje tem sido a história das lutas de classes” (P. 60).

“Homem livre e escravo, patrício e plebeu, senhor e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, o
opressor e o oprimido permaneceram em constante oposição um ao outro, levada a efeito numa guerra ininterrupta, ora
disfarçada, ora aberta, que terminou, cada vez, ou pela reconstituição revolucionária de toda a sociedade ou pela destrui-
ção das classes em conflito.

Desde épocas mais remotas da história, encontramos, em praticamente toda parte, uma complexa divisão da socie-
dade em classes diferentes, uma gradação múltipla das condições sociais. Na Roma Antiga, temos os patrícios, os guer-
reiros, os plebeus, os escravos; Na Idade Média, os senhores, os vassalos, os mestres, os companheiros, os aprendizes, os
servos; e, em quase todas as classes, outras camadas subordinadas

A sociedade moderna burguesa, surgida das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Ape-
nas estabeleceu novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta em lugar das velhas.

No entanto, a nossa época, a época da burguesia, possui uma característica: simplificou os antagonismos de classes. A
sociedade global divide-se cada vz mais em dois campos hostis, em duas grandes classes que se defrontam – a burguesia
e o proletariado (...) (p.26).”

“Na mesma proporção em que a burguesia, ou seja, o capital, se desenvolve, desenvolve-se também o proletariado,
a classe dos trabalhadores modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, e só encontram trabalho na medida
em que este aumenta o capital. Esses trabalhadores que são obrigados a vender-se diariamente, são uma mercadoria, são
um artigo de comércio, sujeitos, portanto, às vicissitudes da concorrência, às flutuações do mercado. (...) (p.32)

“Qual a posição dos comunistas em relação aos proletários em geral?

Os comunistas não formam um partido à parte, oposto aos outros partidos operários. Não tem interesses diferentes
daqueles do proletariado em geral. Não formulam quaisquer princípios particulares a fim de modelar o movimento pro-
letário.

O fim imediato dos comunistas é o mesmo que o de todos os outros partidos proletários: constituição dos proletários
em classe, derrubada da supremacia burguesa” (p.38).
Disponível em: http://www.pstu.org.br/sites/default/files/biblioteca/marx_engels_manifesto.pdf

127
SISTEMA DE ENSINO A360°

O NACIONALISMO
Apesar de ser classificado como uma ideologia moderna, que surgiu na Europa revolucionária, o Nacionalismo possui bases
antigas que podem ser identificadas em momentos históricos anteriores.
Durante o século XIX, (quem adotou??? O nacionalismo???) adotou uma estrutura socializante, que se opunha ao domínio
imperialista, evidenciado na exploração colonial pelos países europeus.
O ponto máximo (de que???? Do nacionalismo???) era a defesa da autonomia dos povos, que teriam o direito de se auto-
governar e exercitar a soberania territorial.

A UNIFICAÇÃO ITALIANA
Inicialmente, insta informar que o nacionalismo na Itália apresentou-se tanto entre monarquistas, quanto entre republica-
nos. Comum a ambos estava o desejo de unicidade territorial, organizando um só povo, os italianos, tendo em vista os elemen-
tos sócio-culturais e identitários que os permitiam se conectar.
A Península Itálica fragmentada deveria dar lugar a uma nação. Surgia uma consciência nacional que, influenciada pelas
ideias libertárias francesas, pregava a existência de um vínculo que unisse a população italiana. Mas esse ideal estava enfraque-
cido em razão da presença e do domínio austríaco no território.
Porém, desde já, destacamos que os projetos de republicanos e monarquistas voltados à unificação da Itália irão se chocar,
apesar de seus elementos comuns, a começar pela forma de governo defendida: monarquista ou republicana? As diferenças
entre tais propostas de organização estatal, quanto às suas instituições políticas e o exercício do poder, ficaram evidentes nas
lideranças de Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi, de um lado, e do conde Caveur e do rei Vitor Emanuel II, do outro, con-
forme analisaremos a partir de agora.

SUÍÇA

PIEMONTE TRENTINO
Milão
FRANÇA Turim ÁUSTRIA
Parma Veneza
Gênova ÍSTRIA
Módena
TOSC

Florença
ESPANHA IMPÉRIO
A

TURCO
NA

CÓRSEGA

Roma

SARDENHA Nápoles
Reino do Piemonte-Sardenha
Reino Lombardo-Veneziano
Estados Po ficios
N
Reino das Duas Sicílias
Ducados
Marsala
Territórios sob influência austríaca SICÍLIA 140 km
ÁFRICA
Península Itálica antes da Unificação.

Durante a Era Napoleônica, a Península Itálica permaneceu sob domínio francês. Napoleão instituiu vários estados na re-
gião, implementando reformas de caráter liberal e vindo a extinguir os privilégios feudais e eclesiásticos.
À derrota do imperador francês, seguiu-se o Congresso de Viena (1815) e a região foi novamente dividida e subjugada,
sendo estabelecido o absolutismo monárquico, com o apoio direto da Áustria.
Contudo, as ideias nacionalistas continuavam sendo propagadas, principalmente na região da Sardenha. O progresso eco-
nômico, a incrementação das comunicações entre os estados, com a construção de ferrovias, e a existência de uma língua
comum, fortaleciam tais ideias.

128
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Tinha início o  Risorgimento, movimento que objetivava a unificação da Itália e que
pode ser dividido em duas fases: de 1848 a 1849 e de 1859 a 1860.
Em um primeiro momento, detacou-se a resistência ao absolutismo e a defesa dos
ideais liberais propagados pela organização secreta dos carbonários, que neste momento
reuniam monarquistas e republicanos, objetivando a unificação do território italiano por
meio de uma guerra nacionalista contra o Império Austríaco.
Nesse contexto, Giuseppe Mazzini (1805 – 1872) aderiu aos carbonários, mas passou a
criticar as sociedades secretas, por sua reduzida presença social. Ele destacava a necessida-
de de lutar pela libertação das regiões italianas, sob domínio austríaco. Fundou-se, então,
em 1832, a Jovem Itália, que passou a organizar células revolucionárias por toda península,
com o apoio dos nacionalistas. A partir delas, iniciaram-se algumas rebeliões.
Expressiva foi a adesão do rei Carlos Alberto, governante de Sardenha, que assumiu o
trono de Piemonte, em 1831. Popular por seu posicionamento liberal, adotou como forma
de governo o parlamentarismo e chegou a promulgar uma constituição em tais moldes,
que ficou conhecida como “Estatuto Fundamental”.
Em 1847, alguns jornais, como o Risorgimento, já mencionavam a necessidade de ex- Camillo Benso, o conde Cavour
pandir a revolução. Essa idéia, que tinha como um de seus maiores propagadores o conde (1810-1861), como primeiro
Caveur, fortaleceu-se no ano seguinte entre os monarquistas liberais e a burguesia, em primeiro-ministro de Vitor
Emanuel II. Imagem: Furne Fils &
razão das revoluções européias, conhecidas como Primavera dos Povos. H. Turnier, Paris.
Atento às intenções de Carlos Alberto quanto à expulsão dos austríacos das regiões da
Lombardia e da Veneza, Cavour aconselhou o rei a declarar guerra à Áustria, em 1848, mas acabou sendo derrotado no ano
seguinte. Não se conformando com a vitória austríaca, o rei abdicou o trono, em 1849, a favor de seu filho, Vitor Emanuel II.  
O movimento a favor da unificação somente voltou a se fortalecer durante sua segunda fase, na década de 1860. O reino
de Piemonte-Sardenha era industrializado, dotado de expressiva
atividade comercial e possuía um exército fortalecido, qualidades
estas que lhe permitiram tornar-se o maior exemplo para os revo-
lucionários.
Vitor Emanuel II nomeou Caveur como chefe de seu gabinete,
no intuito de fortalecer o poderio militar e econômico de Piemon-
te-Sardenha e de desenvolver a aproximação diplomática de pos-
síveis aliados externos. Participando da Guerra da Criméia (1854-
1856), ao lado da Inglaterra e da França, contra a Rússia, o Reino
da Sardenha angariou o apoio
de Napoleão III da França, que
se comprometeu a apoiá-lo,
caso houvesse uma invasão
austríaca.
De fato, Piemonte-Sarde-
nha aproveitou-se do apoio
francês e deu início a mais um
conflito contra a Áustria, em
Estátua de bronze do rei Vitor Emanuel II em Perúsia, Itália, 1849. Todavia, acabou nova-
inaugurada em 1890. Por Giulio Tadolini (1849–1918). Foto: Roby
mente derrotada.
Já em 1860, as forças populares republicanas, chamadas de “camisas vermelhas” e co-
mandadas por Giuseppe Garibaldi, já haviam conquistado parte dos Estados Pontifícios, a
Toscana, Módena e Parma. Além disso, conseguiram libertar a Sicília e o sul da Itália, gover-
nado pelo monarca absolutista Francisco II. O republicano Giuseppe Garibaldi
(1808-1882), em 1869. Imagem
Contrário a união do território sob bases monarquistas, Garibaldi abandonou o projeto Duyckinick, Evert A. Portrait
político que liderava, a fim de não enfraquecer o movimento interno de unificação. Essa Gallery of Eminent Men and
atitude favoreceu diretamente a liderança do rei Vitor Emanuel II, a quem foi entregue o Women in Europe and America.
New York : Johnson, Fry & Co.,
controle das duas Sicílias. Vitor Emanuel II acabou sendo proclamado rei da Itália em 1861. 1869.

129
SISTEMA DE ENSINO A360°

Posteriormente, em 1866, Piemonte-Sardenha uniu-se à Prússia contra a Áustria, que


foi derrotada e obrigada a assinar a Paz de Viena (1868), abrindo mão do controle sobre
Veneza. Porém, a Áustria acabou invadindo Piemonte, o que levou o apoio francês aos ita-
lianos, que conseguiram conquistar o norte.
Nesse momento, Roma ainda não compunha o estado italiano. Após uma série de in-
cursões dos italianos, que queriam transformar Roma na capital do novo reino, a França de
Napoleão III foi pressionada a proteger a soberania do trono papal, enviando seu exército
para a região e pondo fim ao apoio dado aos unificadores, até aquele momento. Porém,
o início da Guerra Franco-Prussiana (1870 – 1871) enfraqueceu a presença francesa em
Roma, permitindo às tropas de Vítor Emanuel a ocupação do território e a derrubada do
papa Pio IX1. Fotografia do Papa Pio IX (1878).
Foto: autor desconhecido

SUÍÇA

IMPÉRIO
AUSTRO-HÚNGARO

IMPÉRIO
OTOMANO

Chegava ao fim o processo de unificação italiana, todavia, de maneira incompleta. Persistia o domínio austríaco sobre as
províncias irredentas (não libertadas) de Ístria, Trentino e Tirol, sendo suas reivindicações alguns dos motivos para a participa-
ção da Itália na Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

A UNIFICAÇÃO ALEMÃ
Até o início do século XIX, a Europa Central possuía inúmeras entidades políticas fragmentadas, tais como cidades impe-
riais livres, territórios eclesiásticos e estados dinásticos, sendo que a maioria delas integrava o antigo Sacro Império Romano
Germânico ou os domínios territoriais dos Habsburgos. Somente em 1806, Napoleão conseguiu dissolver definitivamente o
Sacro Império vindo a consolidar sua hegemonia política sobre esse território, que culminou com a criação da Confederação do
Reno ou Liga Renana, composta de dezesseis estados alemães.

1 Tinha início uma das maiores disputas entre o Estado italiano e a Igreja, o que ficou conhecido como Questão Italiana. Em resposta
a perda de seu poder, o Papa declarou-se prisioneiro voluntário do Reino da Itália e proibiu os católicos de votar nas eleições se-
guintes. O conflito só terminou em 1929 quando Mussolini, pretendendo o apoio da Igreja e dos católicos, assinou com o Papa Pio
XI a Concordata de São João Latrão, que criou o Estado do Vaticano

130
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Foi durante o controle francês e a reorganização do território que o nacionalismo germânico começou a ganhar contornos
mais nítidos, especialmente em razão do contato mais próximo com as ideias iluministas, o que veio a alterar as relações polí-
ticas, sociais e culturais no seio dos estados germânicos.

DINAMARCA
MAR BÁLTICO
MAR DO NORTE Tilsit

SCHLESWIG
Konigsberg
Schleswig

IA
Kiel Danzig
EAST PRUSSIA
HOLSTEIN N
A
Lubeck Rostock
ER WEST A
M PRUSSIA I
MECKLENBUR PO
Hamburg G
S
n
OLDENBURG Bremen

E
R S
H O V
Amsterdam
A
The Hague
N Hanover U Berlin P O S E N
HOLANDA Posen

ICK
Munster
BRU
NSW BRANDENBURG R U S S I A
WESTPHALIA
R Go gen ANH
A LT
Antwerp
Dusseldorf
Dorimund
POLONIA
Brussels Kassel
RHENISH Leipzig
S
BÉLGICA Aachen
Cologne Erfurt I
Breslau
P

PRUSSIA THURINGIA
resden
L
WETZLAR HESSE SAXONY E
Koblent S
NASSAU I
Franklust
A
Sedan
Luxembourg Darmstadt Prague Sadowa
1986
1870

B O E M I A
Metz PALATINATE Nuremberg
Verdun
A UNIFICAÇÃO DA ALEMANHA (1815-1871)
LOR
RAIN Karisrube
E Prússia em 1815 Aquisições (1815-1866)
Nancy
Strassburg gart
Fronteira da CONFEDERAÇÃO GERMÂNICA (1815)
WURTTEMBERG
HO B A V A R I A Fronteira da CONFEDERAÇÃO NORTE ALEMÃ (1866)
ACE

FRANÇA H Ulm
TERRITÓRIO IMPERIAL DA ALSÁCIA-LORENA (1871)
EN
ALS

ZO

Vienna
BADEN Munich
LL

Fronteira do IMPÉRIO ALEMÃO (1871)


ERN

Basle Ataque austro-prussiano à Dinamarca (1864)


Constance
Exército prussiano na guerra contra a Austria (1866)
A U S T R I A Exército alemão na guerra franco-Prussiana (1871)
SUIÇA

Elementos identitários, como o partilhar das fronteiras interiores e a existência de um idioma comum, propiciaram a emer-
gência dos sentimentos de pertencimento e unidade entre a população de origem alemã, que passava a enxergar os franceses
como invasores e detentores ilegítimos daquele território.
A definitiva derrota de Napoleão levou à substituição da Confederação do Reno pela Confederação Germânica2 (1815–
1866), durante o Congresso de Viena, cabendo a liderança da região ao Império Austríaco que, em sua posição privilegiada,
acabou negligenciando a presença política da Prússia.
A rivalidade austro-prussiano crescia consideravelmente, principalmente diante do desenvolvimento econômico da Prús-
sia, que não escondia o desejo de estabelecer um poderoso Estado Germânico e com força representativa frente a outras
nações. A unificação nacional representava o progresso desse Estado, que se destacava em razão de sua força econômica e sua
dimensão geográfica.
O clima competitivo entre os dois estados fomentou ainda mais os movimentos nacionalistas durante o século XIX.
Uma medida fundamental para a unificação dos estados alemães foi a criação do Zollverein (1834), uma união aduaneira
liderada pela Prússia, que almejava, a unificação política e econômica dos Estados alemães, reduzindo as potenciais barreiras
entre os mesmos. Desse modo, pretendia essa medida promover o desenvolvimento econômico com a expansão do mercado
consumidor, facilitando o transporte de matérias-primas e mercadorias de baixo custo, logo, mais acessíveis ao consumo. Tudo
isso impulsionaria a incipiente indústria em outras partes desse território.
O grande problema do Zollverein é que excluía a Áustria e esta, sentindo-se ameaçada pela presença prussiana, ameaçou
a Prússia, que acabou recuando.

2 Respeitando o princípio do equilíbrio do poder, o Congresso de Viena estabeleceu um novo sistema político-diplomático que, no
caso dos alemães, praticamente destruiu os propósitos nacionalistas quanto à formação de uma nação coesa. Foram consolidados
39 estados soberanos, destacando aí a Prússia, que estariam “confederados” sob a liderança do Império Austríaco.

131
SISTEMA DE ENSINO A360°

Os anos finais da década de 1850 estiveram marcados pela reorganização e fortalecimento do exército prussiano. O envol-
vimento austríaco na Guerra da Criméia (1854–1855) e na Guerra Italiana de 1859 influenciou no realinhamento da represen-
tação política dos estados alemães. A Prússia passou a se destacar durante o governo de rei Guilherme I Hohenzollern, que era
diretamente auxiliado pelo habilidoso primeiro-ministro Otto von Bismarck.

Estátua do kaiser Guilherme I, na Colônia. Por Retrato de Otto von Bismarck.


Friedrich Drake (1805–1882). Por Nikolay Repik.

Sob a administração de Bismarck, destacaram-se dois importantes eventos que contribuíram para o processo de unificação:
a Unificação Italiana (1866) e a Guerra Franco-prussiana (1870).
Quanto ao primeiro episódio, destaca-se que a própria relação conflituosa entre os italianos e os austríacos, durante seu
processo de unificação contribuiu com o apoio daqueles à Prússia, no decorrer da guerra contra a Áustria. Tal fato levou à reor-
ganização da Confederação Germânica do Norte, sob a liderança de Guilherme I.
No que diz respeito ao segundo episódio, havia uma insegurança francesa quanto ao crescente poder de Guilherme I,
que ameaçava as fronteiras orientais de seu território. A tensão aumentou quando, em 1869, o trono espanhol ficou vazio.
Pretendendo encontrar um sucessor católico dentre os príncipes europeus, Napoleão III da França atuou como uma espécie de
“intermediário” e, após longas discussões, opôs-se à coroação de Leopoldo de Hohenzollern, primo de Guilherme I da Prússia,
pois entendia o fato como favorável ao Kaiser.
Em meio a uma euforia nacionalista, os Estados do sul e do norte se uni-
ram durante a Guerra Franco-prussiana e acabaram vencendo a França na
Batalha de Sedan (1870). Com a conquista de Paris, Napoleão III foi captu-
rado junto com seu exército pelos prussianos e, para completar, Guilherme
I foi proclamado “Imperador Alemão” no Palácio de Versalhes. A França foi
obrigada, ainda, a assinar o Tratado de Frankfurt (1871) que previa a renún-
cia ao território de Alsácia-Lorena, bem como o pagamento de uma pesada
indenização. Tais fatos, entendidos como humilhantes, não seriam esqueci-
dos pela França, fazendo surgir o que ficou historicamente conhecido como o
“revanchismo francês”, umas das sementes que, associadas a outros fatores,
levaria ao início da Primeira Guerra Mundial.
Desse modo chegava ao fim o processo de unificação da Alemanha, inau-
gurando uma nova época de desenvolvimento econômico-industrial, que fa-
Otto von Bismarck e a rendição de Napoleão III após ria da Alemanha uma das maiores potências mundiais a ameaçar, mais adian-
derrota na Batalha de Sedan (1878). Por Wilhelm
Camphausen (1815-1885 ).
te, a hegemonia de outro poderoso país: a Inglaterra.

132
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
AS LUTAS DA CLASSE TRABALHADORA E AS INTERNACIONAIS OPERÁRIAS
Ao refletirmos sobre a sociedade capitalista podemos chegar á conclusão de que o sistema no qual ela está inserida revela
a existência de situações extremas e, na maioria das vezes, injustas e desiguais.
Ao mesmo tempo em que o capitalismo permitiu o desenvolvimento de tecnologias e o acesso a um mundo de consumo,
até então desconhecido pelos indivíduos, renegou à marginalização social uma boa parcela de pessoas. Muitos trabalhadores
venderão sua mão-de-obra por toda a vida e, nem por isso, terão acesso ao completo mundo do consumo que nos é apresen-
tado pelo capitalismo.

A imagem acima captura extremos de riqueza e pobreza na cidade de São


Paulo. De um lado, a imagem da favela de Paraisópolis e, do outro, condomínios
fechados do Morumbi. O capitalismo permite que cidades sejam constituídas
por mundos sociais e espaciais opostos e distantes o que revela as próprias
contradições do sistema. Foto: Tuca Vieira (2004).

Esse sistema assegura a apenas uma minoria de indivíduos o controle dos meios de produção. Do mesmo modo, o domínio
da propriedade, na ótica capitalista relacionada a esses meios de produção, garante o direito à renda gerada pela mesma. Essa
renda decorre, resumidamente, da exploração do trabalho e da alienação da classe trabalhadora.
Já no século XIX os operários conheceram essa situação de vida penosa e excludente, pois o capitalismo proporcionava
meios para que os trabalhadores permanecessem nessa situação, o que se tornou objeto de estudos de Marx e Engels.
Para as desigualdades e os problemas do mundo capitalista, bem como para a instabilidade do sistema e a piora das con-
dições do proletário, só haveria uma solução: a tomada de consciência de sua real situação, para que pudessem superar as
desigualdades que os afastavam da burguesia.
Por certo, algumas situações revelam essa nova postura assumida pelos trabalhadores, a exemplo do Cartismo, um movi-
mento social que surgiu na Inglaterra e se consubstanciou no documento intitulado Carta do Povo. Certos da necessidade de
representatividade política, os cartistas exigiam, den-
tre outros aspectos, o sufrágio universal masculino e
secreto, eleições anuais e a participação de represen-
tantes da classe operária no Parlamento inglês
Na década de 1860, as lideranças sindicais socia-
listas fundaram em Londres a Primeira Internacional
Operária, também conhecida como Primeira Associa-
ção Internacional dos Trabalhadores (1864). O objetivo
desta era reunir os trabalhadores orientados a partir
de sentimentos universais que os identificassem contra
a opressão sofrida.
A Primeira Internacional Socialista reuniu tendên-
cias ideológicas distintas, como os sindicalistas, socia-
listas, anarquistas, republicanos e democratas radicais,
Gravura de 1886 retratando um motim cartista em Londres. Livro “Verdadeiras
Histórias do Reinado da Rainha Vitória”, por Cornelius Brown.
que acabaram divergindo quanto a vários aspectos.

133
SISTEMA DE ENSINO A360°

De acordo com Marx, a Comuna de Paris (1871) pode ser consi-


derada a primeira experiência de revolução e de governo operários.
Ao mesmo tempo, tais acontecimentos aprofundaram as polêmicas
ideológicas entre Marx e Bakunin, especialmente, no que se refere à
concepção de Estado, poder e funcionamento da própria Internacio-
nal, que acabou desintegrada após a derrota da Comuna.
A Segunda Internacional Operária ocorreu em 1889, durante
plena expansão da industrialização e contratação de trabalhadores.
Consequentemente, os sindicatos encontravam-se mais fortaleci-
dos, houve a ampliação do direito ao voto e redução da jornada
de trabalho. O sentido reformista ditava o tom que agora pregava
uma postura menor revolucionária, conforme as ideias inerentes à
Social-Democracia Alemã.
Nesse momento, a Internacional estava dividida em três grupos:
os revisionistas, representados por Bernstein; os marxistas modera-
dos, liderados por Kautsky, e os marxistas revolucionários, coman-
dados por Lênin e Rosa Luxemburgo, sendo que os últimos se opu- Marx e Engels no Congresso de Haia, em 1872. Autor
desconhecido.
nham fortemente às ideias dos moderados.

Com a eclosão da Primeira Guerra Mundial (1914) muitos partidos que


estavam filiados à Segunda Internacional apoiaram seus respectivos gover-
nos durante o conflito, esvaziando, assim, a Internacional. Tal postura foi
considerada uma traição à social-democracia por muitos partidários, como
Rosa Luxemburgo.
A Terceira Internacional, também conhecida como Comintern, ocor-
reu em Moscou (1919) e reuniu partidos comunistas que surgiram a par-
tir das divisões da social-democracia em diferentes países.
Diferente das outras internacionais, a Terceira Internacional Comunista
constituiu uma espécie de “partido mundial da revolução socialista”. Neste
momento, foi estabelecido um programa revolucionário que se tornaria o
embrião de partidos comunistas de vários países.
A Terceira Internacional
chegou a organizar, na épo-
ca de Lênin, quatro congres-
sos para discutir assuntos
diversos, desde a adesão à
Internacional, o apoio do pro-
letariado, a participação em
eleições burguesas, a orga-
Retrato Rosa Luxemburg (1915). Origem Deutsches
Bundesarchiv (German Federal Archive), Bild 183-
nização dos sindicatos, até a
14077-006. Foto: autor desconhecido. libertação de colônias.

Destaca-se que foi neste momento que houve a cisão entre os moderados
e os revolucionários russos, que culminou na criação da Internacional Socialista
pelos primeiros, em 1923. Já em 1933, no entendimento de Trotsky, a política
stalinista teria levado à morte da Terceira Internacional, assim como à derrota
do proletariado alemão após a subida de Hitler ao poder.

Finalmente, a Quarta Internacional ocorreu em 1938, na França, após o fim


do Comintern. Liderada Leon Trótski, após sua expulsão da URSS, e composta por
seus seguidores, que continuaram com o projeto de condução dos trabalhadores
ao poder político. Retrato de Leo Dawidowitsch Trótski (1929). Autor
desconhecido. Acervo Arquivo Federal Alemão.

134
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

TEXTO COMPLEMENTAR

QUANDO A HISTÓRIA VIRA UMA ARMA DO NACIONALISMO


Marcelo Cândido da Silva, professor de história medieval da USP alerta para os riscos de buscar
uma base étnica para as nações modernas. Levada ao extremo pelos nazistas, a prática foi usada
para justificar as teses da superioridade racial
Bruno Fiuza
Professor de história medieval da Universidade de São Paulo,

LUIZ FERNANDO MACIAN


Marcelo Cândido da Silva é um dos que criticam o uso que os
movimentos políticos nacionalistas vêm fazendo desse campo do
conhecimento desde o século XIX. Em entrevista a História Viva,
ele explica como os Estados nacionais criaram mitos de origem
para estabelecer um vínculo entre as nações modernas e povos
de um passado remoto. Mesmo desacreditada após a queda do
nazismo, a reivindicação das origens étnicas de um país ainda é
usada para legitimar formas violentas de nacionalismo.
História Viva – No século XIX, os Estados nacionais criaram
um passado mítico para si mesmos, buscando suas raízes em
povos do passado. Qual foi o papel desempenhado pelos histo-
riadores nesse processo?
Marcelo Cândido da Silva – O nascimento da história como
disciplina científica está associado à emergência dos Estados na-
cionais europeus depois da derrota de Napoleão e ao longo do
século XIX. Desde muito cedo, os historiadores foram chamados
a participar desse debate. Na Europa daquele período, o interes-
se pela Idade Média se devia, em grande parte, à necessidade
de definir as raízes das nações modernas. Pela primeira vez, esse
período da história passou a ser visto como algo positivo pelos
estudiosos, como o espaço no qual as diversas identidades nacio-
nais se constituíram. Na segunda metade do século XIX, sobretu- Cândido: “A principal contribuição dos estudos sobre a
do, os historiadores na França e na Alemanha, particularmente os origem dos povos bárbaros foi colocar em xeque a ideia
da etnia como um dado objetivo”
medievalistas, tiveram um papel muito importante nesse debate.
HV – Onde os franceses foram buscar suas origens?
LUIZ FERNANDO MACIAN

Marcelo – No caso francês há, desde os tempos da monarquia, uma as-


sociação estreita entre a França e o passado galo-romano. Os reis franceses
espalharam estátuas por todo o país nas quais aparecem vestidos como im-
peradores romanos, de quem teriam recebido seu poder, segundo alguns es-
tudiosos. Um historiador que ousou dizer que os reis franceses eram herdei-
ros dos bárbaros foi jogado na Bastilha.
HV – E os alemães?
Marcelo – Os alemães buscaram uma associação com os povos germâ-
nicos. No século XIX, eles queriam identificar as raízes da “nação germânica”
como parte do esforço para construir uma unidade política. Historiadores se
voltaram para o período das invasões bárbaras e construíram o mito da “Ger-
mânia”, celeiro dos povos, das instituições e dos costumes que teriam presidi-
do a formação dos reinos bárbaros. Nessa perspectiva, a identidade germânica
repousaria sobre uma base étnica comum, ou seja, o mesmo sangue, a mesma
cultura e a mesma língua. De acordo com esses historiadores, os bárbaros en-
contraram um Império Romano em decadência e o regeneraram. Essa tese
Luís XIV vestido de imperador romano: a fez muito sucesso na Alemanha, mas alguns estudiosos lembraram que, ao
monarquia francesa acreditava ter recebido se integrarem ao mundo mediterrânico, os povos bárbaros perderam muitas
seu poder diretamente dos césares
de suas características e acabaram por entrar em certa decadência também.

135
SISTEMA DE ENSINO A360°

HV – Para esses historiadores, os povos germânicos teriam


se desvirtuado?
Marcelo – Eles teriam sido assimilados. A conversão ao cris-
tianismo é vista como algo negativo. As correntes mais radicais do
pangermanismo no fim do século XIX e início do XX defenderam,
por exemplo, o retorno ao paganismo tradicional. Isso vai ser le-
vado ao extremo pela ideologia nazista. O chefe das SS, Heinrich
Himmler, era fascinado pela história germânica e obcecado em
estabelecer uma linha direta entre os germanos do passado e os
alemães do século XX. O nazismo foi muito infl uenciado por essa
ideologia pangermanista, e algumas correntes do movimento
pregavam o paganismo.
HV – A mitologia nórdica entra nesse processo?
Marcelo – Sim, ela é fundamental na construção de um ide-
al guerreiro das SS. É bom lembrar que uma das divisões dessa
unidade se chamava “Viking”. Por tudo isso, é muito importante
ter em mente que estamos lidando não apenas com fatos que
aconteceram há mais de mil anos. Estamos lidando com história
contemporânea e com a maneira como esses fatos são recupera-
dos pelos movimentos políticos e usados a seu favor.
HV – A partir de quando os historiadores passaram a ques-
tionar a prática de buscar as raízes de uma nação em um passa-
do longínquo? De que forma as pesquisas mais recentes coloca-
ram em xeque a visão tradicional que vinculava nacionalidade
e grupos étnicos? O nacional-socialismo apresentava as SS como uma
versão moderna dos guerreiros da mitologia nórdica
Marcelo – A década de 60 marcou a emergência de uma pos-
tura crítica em relação à genealogia antiga e medieval das nações
modernas. Estudos recentes sobre a origem (“etnogênese”) dos bárbaros mostram que os povos chamados pelos roma-
nos de “francos” ou “godos” não eram fatos naturais, mas construções políticas e culturais que serviam para categorizar
pessoas que podiam diferir muito umas das outras e que podiam não ser tão diferentes das pessoas que não se integra-
vam nessas categorias. A principal contribuição dos estudos sobre etnogênese foi colocar em xeque a ideia da etnia como
um dado objetivo.
HV – Quais foram as transformações políticas que provocaram essa mudança no estudo da história?
Marcelo – O choque provocado por dois confl itos mundiais, que tiveram a Europa como palco principal e trouxeram
consigo morte e destruição em um nível sem precedentes, contribuiu muito para uma mudança de rumo da historiografia.
É importante lembrar que os regimes nacionalistas mais agressivos fundamentavam e ainda fundamentam suas reivindi-
cações territoriais no passado remoto, muitas vezes mobilizando historiadores na defesa de suas causas. A apropriação e
a radicalização da genealogia das nações pelos teóricos nazistas entre 1933 e 1945 desacreditaram esse modelo explicati-
vo. Isso não significa que a relação perniciosa entre história e ideologia nacionalista tenha desaparecido. A guerra civil na
antiga Iugoslávia, no início dos anos 90, é um bom exemplo da persistência de velhos fantasmas europeus.
HV – A estratégia de vincular as origens da nação a determinado grupo étnico funcionou muito bem na Europa do
passado. Mas o que aconteceu após essa revisão metodológica?
Marcelo – Eu diria que essa estratégia funcionou bem enquanto a ideia de nação era o principal cimento da identi-
dade dos povos da Europa ocidental. O que se observa hoje é uma profunda crise das “identidades nacionais”, forjadas
conscientemente no século XIX, e a emergência de outros marcos identitários. A obsessão pelas origens medievais da
Alemanha ou pelas origens medievais da França se enfraqueceu consideravelmente, mas também deu lugar à busca
pelas origens medievais da Europa. Os limites geográficos apenas foram deslocados. A invenção de uma identidade
europeia é um dos fenômenos mais interessantes da atualidade. Grosso modo, para os historiadores que pesquisam
esse tema, a união de povos germânicos e povos romanos sob a tutela do cristianismo teria sido o elemento que deu
origem à Europa.

136
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UFF “Os libertários – anarquistas e anarcossindicalis- 02| ENEM Na produção social que os homens realizam, eles
tas – concentram sua atuação na vida educativa, feita entram em determinadas relações indispensáveis e in-
através da propaganda escrita e oral – jornais, livros, fo- dependentes de sua vontade; tais relações de produção
lhetos, revistas, conferências, comícios, além de festas, correspondem a um estágio definido de desenvolvimen-
piqueniques, peças teatrais –, no sentido de disseminar to das suas forças materiais de produção. A totalidade
o ideal libertário de emancipação social (...)”
dessas relações constitui a estrutura econômica da so-
SFERRA, Giuseppina. Anarquismo e Anarcossindicalismo. São Paulo: Ática, 1987, p. 21.
ciedade — fundamento real, sobre o qual se erguem as
Tomando como referência o fragmento de texto acima: superestruturas política e jurídica, e ao qual correspon-
A indique duas ideias ligadas ao movimento anarquis- dem determinadas formas de consciência social.
ta na Europa do século XIX; MARX, K. “Prefácio à Crítica da economia política.” In: MARX, K.; ENGELS, F.
Textos 3. São Paulo: Edições Sociais, 1977 (adaptado).
B analise a concepção de Estado defendida pelos
anarquistas. Para o autor, a relação entre economia e política estabe-
Resolução: lecida no sistema capitalista faz com que

A Várias ideias podem ser associadas aos anarquis- A o proletariado seja contemplado pelo processo de
)

tas na Europa do século XIX, dentre elas a de que a mais-valia.


educação deve ser um agente revolucionário e ter
como objetivo destruir tudo que oprime e explora B o trabalho se constitua como o fundamento real da
)

o ser humano. Outra ideia central do movimento produção material.


anarquista é a da primazia do indivíduo sobre a so- C a consolidação das forças produtivas seja compatí-
ciedade, da qual decorre a noção de que o indivíduo
)

vel com o progresso humano.


é único e que possui, por sua natureza, direitos que
não podem ser discutidos por nenhuma forma de or- D a autonomia da sociedade civil seja proporcional ao
)

ganização social. O movimento também se posicio- desenvolvimento econômico.


na contra o sistema de representação característico
das democracias liberais, afirmando a ação direta E a burguesia revolucione o processo social de forma-
)

do indivíduo na sociedade. As idéias anarquistas ção da consciência de classe.


também contemplam a crítica a todas as formas de
Resolução:
preconceitos morais e ideológicos, com isso preten-
diam fazer do indivíduo um ser sem condicionamen- B o trabalho se constitua como o fundamento real da
)

tos mentais, garantindo a sua total liberdade. produção material.


Assim, podemos sintetizar essas ideias: defesa de Para Karl Marx e Friedrich Engels, o trabalho é o dis-
uma sociedade baseada na liberdade dos indivídu- pêndio de energia psíquica e física do ser humano.
os, solidariedade, coexistência harmoniosa, proprie- Por meio do trabalho, o homem transforma a na-
dade coletiva, autodisciplina, responsabilidade (in- tureza e a si mesmo. Essa condição foi alterada na
dividual e coletiva) e forma de governo baseada na sociedade capitalista, em que o homem passa a ex-
autogestão. plorar a força de trabalho do outro homem, por isso,
B Os anarquistas defendem que em lugar de se apode- Marx afirmava que no capitalismo ocorre a desuma-
rarem do Estado, os trabalhadores devem lutar pela nização do homem e a humanização do produto.
sua abolição radical e imediata. Da mesma forma,
acreditam que deve ser abolido todo o tipo de au- 03| ENEM A política foi, inicialmente, a arte de impedir as
toridade política opressora da liberdade humana. pessoas de se ocuparem do que lhes diz respeito. Poste-
Preconizam a autogestão. E também concordam riormente, passou a ser a arte de compelir as pessoas a
com a organização dos indivíduos. Essa organização decidirem sobre aquilo de que nada entendem.
deve levar em conta a ação consciente e voluntária
de seus membros, promovendo a total igualdade, VALÉRY, P. Cadernos. Apud BENEVIDES, M. V. M.
A cidadania ativa. São Paulo: Ática, 1996.
de modo a limitar as formas tradicionais de domínio
político. Os anarquistas defendem, desde o século Nessa definição, o autor entende que a história da po-
XIX, a criação de sociedades mutualistas, coopera- lítica está dividida em dois momentos principais: um
tivas, associações de trabalhadores (sindicatos e
primeiro, marcado pelo autoritarismo excludente, e um
confederações), escolas, colônias e experiências de
autogestão. segundo, caracterizado por uma democracia incompleta.

137
SISTEMA DE ENSINO A360°

Considerando o texto, qual é o elemento comum a esses 05| ENEM O movimento operário ofereceu uma nova resposta
dois momentos da história política? ao grito do homem miserável no princípio do século XIX. A
A A distribuição equilibrada do poder. resposta foi a consciência de classe e a ambição de classe.
Os pobres então se organizavam em uma classe específi-
B O impedimento da participação popular. ca, a classe operária, diferente da classe dos patrões (ou
C O controle das decisões por uma minoria. capitalistas). A Revolução Francesa lhes deu confiança: a
Revolução Industrial trouxe a necessidade da mobilização
D A valorização das opiniões mais competentes. permanente.
E A sistematização dos processos decisórios. (HOBSBAWN, E. J. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 1977.)

Resolução: No texto, analisa-se o impacto das Revoluções Francesa


C O controle das decisões por uma minoria. e Industrial para a organização da classe operária. En-
quanto a “confiança” dada pela Revolução Francesa era
Os textos refletem sobre duas dimensões da política. No originária do significado da vitória revolucionária sobre
primeiro, trata dos obstáculos que impedem as pessoas
as classes dominantes, a “necessidade da mobilização
comuns de participarem efetivamente da vida política.
Sendo as decisões mais importantes tomadas por uma permanente”, trazida pela Revolução Industrial, decorria
minoria que direciona os interesses. da compreensão de que:
A a competitividade do trabalho industrial exigia um
04| ENEM Homens da Inglaterra, por que arar para os se- permanente esforço de qualificação para o enfren-
nhores que vos mantêm na miséria? tamento do desemprego.
Por que tecer com esforços e cuidado as ricas roupas que B a completa transformação da economia capitalista
vossos tiranos vestem? seria fundamental para a emancipação dos operá-
Por que alimentar, vestir e poupar do berço até o túmulo rios.
esses parasitas ingratos que exploram vosso suor — ah, C a introdução das máquinas no processo produtivo
que bebem vosso sangue? diminuía as possibilidades de ganho material para
os operários.
SHELLEY. Os homens da Inglaterra. Apud HUBERMAN, L. História da Riqueza do
Homem. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. D o progresso tecnológico geraria a distribuição de ri-
quezas para aqueles que estivessem adaptados aos
A análise do trecho permite identificar que o poeta ro- novos tempos industriais.
mântico Shelley (1792-1822) registrou uma contradição
E a melhoria das condições de vida dos operários se-
nas condições socioeconômicas da nascente classe tra-
ria conquistada com as manifestações coletivas em
balhadora inglesa durante a Revolução Industrial. Tal
favor dos direitos trabalhistas.
contradição está identificada
Resolução:
A na pobreza dos empregados, que estava dissociada
da riqueza dos patrões. B a completa transformação da economia capita-
B no salário dos operários, que era proporcional aos lista seria fundamental para a emancipação dos
seus esforços nas indústrias. operários.
C na burguesia, que tinha seus negócios financiados Partimos do pressuposto de que o capitalismo tem es-
pelo proletariado. capado de suas crises de sobre a cumulação através da
D no trabalho, que era considerado uma garantia de produção do espaço. Para tanto, percebemos a utiliza-
liberdade. ção de uma série de estratégias que se realizam no âm-
E na riqueza, que não era usufruída por aqueles que a bito do lugar, contudo, na maioria das vezes, são gesta-
produziam. das em cidades bem distantes – mais especificamente
Resolução: nos escritórios das grandes empresas. Se a produção do
espaço se realiza através da tensão entre os diferentes
E na riqueza, que não era usufruída por aqueles que a agentes sociais, faz-se necessário que os movimentos
produziam.
sociais tornem-se instrumentos de transformação. É
No contexto da Revolução Industrial, as desigualda- nesse sentido que caminha nosso trabalho; acreditamos
des sociais eram acentuadas pelo domínio dos meios que as mudanças na apropriação do espaço dar-se-ão
de produção por uma elite burguesa que replicava
sua fortuna, na exploração da força de trabalho do através da transformação dos ativismos em movimentos
proletariado. Desse modo, a crítica de Huberman sociais de caráter mais amplo, que agrupem lutas mais
concentra-se na noção de que aqueles que produzem específicas – das ditas minorias – associando-as a uma
a riqueza não se beneficiam diretamente dela. luta de âmbito global.

138
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| FUVEST O cartaz abaixo, parte de uma campanha sindi- 03| UFJF As duas citações abaixo se referem à Revolução
cal pela redução da jornada diária de trabalho, foi divul- Francesa, desencadeada em 1789, e às revoluções de
gado em 1919 pela União Interdepartamental da Confe- 1848 (Primavera dos Povos). Elas ajudam a elucidar a
deração Geral dos Trabalhadores da Região do Sena, na visão da burguesia na chamada “Era das Revoluções”
França. (1789-1848). Após lê-las, responda ao que se pede.
“Um padrão mais típico da burguesia é clamar por li-
berdade, quando na oposição. E reprimi-la, uma vez no
poder.”
(BERMAN, Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar.)

“A Revolução Francesa, que aboliu todos os privilégios


e destruiu todos os direitos exclusivos, deixou contudo
subsistir um: o da propriedade. É necessário que os pro-
prietários não se iludam sobre a força de sua situação
e que não imaginem que o direito de propriedade seja
uma muralha intransponível (...). Logo, a luta política tra-
var-se-á entre os que possuem e os que não possuem.”
(TOCQUEVILLE, Aléxis. Lembranças de 1848.)

A Quais são os dois princípios do Liberalismo, defendi-


http://lewebpedagogique.com/ericdarrasse/category/non-classe. dos pela burguesia, mencionados nas citações apre-
sentadas?
Tradução dos escritos do cartaz: “União dos Sindicatos de
Trabalhadores do Sena”. “As 8 horas”. “Operário, a regra B Como explicar que burguesia e trabalhadores, que
foi aprovada, mas apenas sua ação a fará ser aplicada”. haviam sido coadjuvantes em diversas lutas travadas
A Identifique um elemento visual no cartaz que ca- durante a Era das Revoluções, tenham aprofundado
racterize a principal reivindicação dos sindicatos e o seus conflitos de classes a partir desse momento?
explique. C No mesmo ano em que ocorrem os levantes que
B Identifique e analise a visão de luta social que a cena encerram a Era das Revoluções, é publicado um
principal do cartaz apresenta. manifesto que se inicia com a seguinte frase: “Um
espectro ronda a Europa”; e termina assim: “Prole-
02| UNESP tários de todos os países, uni-vos!”. Qual é o ideal de
sociedade defendido nesse manifesto?

04| UFBA
Texto I
Trecho da Declaração de Independência dos Estados
Unidos
“São verdades incontestáveis para nós: que todos os ho-
mens nascem iguais; que lhes conferiu o Criador certos
direitos inalienáveis, entre os quais o de vida, o de liber-
dade e o de buscar a felicidade; que, para assegurar es-
ses direitos, se constituíram entre os homens governos,
(A Liberdade guiando o povo. Museu do Louvre, Paris, 1831.) cujos poderes justos emanam do consentimento dos go-
vernados; que, sempre que qualquer forma de governo
A tela de Eugène Delacroix celebra a revolução de julho tenda a destruir esses fins, assiste ao povo o direito de
de 1830 na França, que derrubou o rei Carlos X e encer- mudá-la ou aboli-la, instituindo um novo governo, cujos
rou o período da Restauração. princípios básicos e organização de poderes obedecem
Explique o significado do movimento de 1830 e identifi- às normas que lhes pareçam mais próprias para promo-
que, através da análise da tela, dois elementos que ates- ver a segurança e a felicidade gerais.”
tem sua relação com a Revolução de 1789. (AQUINO, 2005, p. 203).

139
SISTEMA DE ENSINO A360°

Texto II propriedade privada em si, mas a supressão da proprie-


dade burguesa. (...)
Declaração dos direitos do homem e do cidadão
A propriedade burguesa moderna constitui a última e
No dia 26 de agosto de 1789, a Assembleia Nacional
mais completa expressão do modo de produção e apro-
Constituinte proclamou a célebre Declaração dos Direi-
priação baseado em antagonismos de classe, na explo-
tos do Homem e do Cidadão, tendo como base o ideário
ração de uma classe por outra.”
burguês do Iluminismo. Entre os principais pontos de-
(In Reis Filho, Daniel Aarão (Org.). O Manifesto Comunista 150 anos depois. São Paulo:
fendidos por esse documento, destacam-se: Fundação Perseu Abramo, 1998, pp. 19, 20 e 21.)

 o respeito, pelo Estado, à dignidade da pessoa hu- A A Igreja toma posição sobre as idéias socialistas por
mana; meio da Encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII.
 a liberdade e a igualdade dos cidadãos perante a lei; Mencione um posicionamento da Igreja que contra-
dizia as idéias defendidas, pelo texto acima, por Karl
 o direito à propriedade individual; Marx e Friedrich Engels.
 o direito de resistência à opressão política; B Relacione o capitalismo industrial com o surgimento
 a liberdade de pensamento e de opinião. dos movimentos socialistas.

De maneira solene, a Declaração tornava explícitos os 06| UFSCAR Observe a figura.


pressupostos filosóficos sobre os quais deveria ser cons-
truída a nova sociedade liberal burguesa.
(COTRIM, 1994, p. 290).

Com base nas declarações que compõem os textos I e II,


cite duas características comuns que marcaram o mo-
mento histórico no qual foram produzidas essas duas
Declarações.

05| UFRRJ Leia os trechos a seguir, extraídos do Manifesto


Comunista de Karl Marx e Friedrich Engels, e responda
ao que se pede.
“O operário moderno ao invés de ascender com o pro- Neste cartaz do século XIX está escrito: oito horas de tra-
gresso da indústria, afunda-se cada vez mais abaixo das balho, oito horas de lazer e oito horas de repouso.
condições de sua própria classe. (...) A burguesia produz,
A Qual o contexto histórico que produziu essa frase?
antes de mais nada, seus próprios coveiros. Seu declínio
e a vitória do proletariado são igualmente inevitáveis. B Relacione o conteúdo da frase com a situação atual
(...) O que caracteriza o comunismo não é a supressão da dos trabalhadores brasileiros.

T ENEM E VESTIBULARES
01| UNESP Leon Trotski argumentava em 1904 que a tese 02| FATEC “Os sofrimentos dos combatentes e da retaguar-
política defendida por Lênin poderia “conduzir a organi- da levaram-nos a associar espontaneamente o regime
zação do partido a substituir o partido, o Comitê central capitalista e a guerra, a considerar que esta guerra não
a substituir a organização do partido, e finalmente um era a ‘sua guerra’; o prestígio das classes dirigentes, que
‘ditador’ a substituir o Comitê central”. não souberam evitar o conflito, nem abreviá-lo ou pou-
(Trotski, "NOSSAS TAREFAS POLÍTICAS", Brochura redigida e publicada em 1904, em Genebra).
par as vidas humanas, debilitou-se tanto mais quanto o
Assinale a alternativa com o nome do responsável pelo enriquecimento rápido e espetacular de toda uma par-
regime que, na prática, confirmou a previsão de Trotski. te dessas classes contrastava com o luto e a aflição das
massas. Por um momento submergidos, no início das
A Bukharin.
hostilidades, pela vaga nacionalista, os conflitos de clas-
B Stalin.
se reaparecem, mais vigorosos e exacerbados por qua-
C Kalinin. tro anos de miséria. As classes dirigentes têm consciên-
D Brejnev. cia do fato, e o medo do contágio revolucionário cria em
E Molotov. seu meio um intenso terror que se manifesta na vontade

140
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
de destruir este novo Estado, onde, pela primeira vez, o 04| FGV Considere os seguintes itens:
socialismo transporta-se do terreno da teoria para o das
I. “... nasceu de um movimento espontâneo de mas-
realidades. A união do mundo branco está rompida; do- sas e não de um plano ou de um programa previa-
ravante não haverá mais neutros; conscientemente ou mente elaborado por um partido operário...”
não, é em relação à Revolução Russa - objeto de receios
e repulsa para uns, de esperança para outros - que se II. “... revelou a tendência da classe operária para ultra-
classificarão governos, partidos e simples particulares.” passar o estágio puramente econômico da sua luta
(...) combinando simultânea e constantemente rei-
(CROUZET, M. - HISTÓRIA GERAL DAS CIVILIZAÇÕES 15 - A ÉPOCA CONTEMPORÂNEA)
vindicações econômicas e reivindicações políticas...”
A partir da descrição do autor, é correto afirmar que:
III. “... refletiu a tendência da classe operária para des-
A o socialismo seria a única solução para evitar uma truir o aparelho do Estado burguês, para substituir
luta de classes. a democracia burguesa por uma forma superior de
democracia...”
B o medo do socialismo levaria o empresariado a
apoiar ações contrárias, e isso provocou, mais tarde, IV. “... conduziu a classe operária, pela primeira vez, à
o estabelecimento do fascismo e do nazismo. conquista do poder político, ainda que na área de
uma única cidade...”
C a passagem das idéias do socialismo à prática levou
I, II, III e IV referem-se
toda a Europa a se conscientizar do perigo comum.
A à Comuna de Paris, que resumiu todas as tendências
D a união do mundo branco rompeu-se e, após a Re- que estavam na origem e na primeira expansão do
volução Russa, provocou reflexos imediatos na liber- movimento operário moderno.
tação dos povos coloniais.
B ao Ludismo, que representou uma forma de resis-
E a Europa saiu da guerra mais nivelada politicamen- tência clara à disciplinação do trabalho imposto pelo
te, pois a guerra acabou com as grandes fortunas, sistema fabril.
dando chances para uma estabilização sócio-eco- C ao Cartismo, que resultou da conscientização da
nômica. classe operária que passou a exigir melhores condi-
ções de trabalho.
03| FATEC “A queda da burguesia e a vitória do proletariado
são igualmente inevitáveis (...). Os proletários nada têm D às Trade Unions, que se caracterizaram pelo assis-
a perder com ela, a não ser as próprias cadeias. E têm um tencialismo paternalista.
mundo a ganhar. Proletários de todos os países, uni-vos”. E aos Sindicatos Profissionais de Londres, que surgi-
ram com o objetivo de garantir uma transformação
Esse trecho, extraído do Manifesto Comunista de Marx e
social ampla.
Engels, foi escrito no contexto histórico marcado
A pelo acirramento das contradições políticas, econô- 05| FGV Na distinção entre ‘socialistas utópicos e socialistas
micas e sociais decorrentes do processo conhecido científicos’, são representantes dos primeiros:
como Revolução Industrial. A L.Bianc, R. Owen e M. Bakunin;
B pelos conflitos entre trabalhadores e patrões que B C. Fouder, Saint-Simom e F. Engels;
começaram a pontuar os países capitalistas a partir C M. Bakunin, Proudhon e A. Bebel;
da ocorrência da Revolução Russa.
D R. Owen, F. Engels e A. Bebel;
C pela afirmação dos Estados Unidos como potência
E L. Blanc, Saint-Simom e Proudhon.
imperialista com interesses econômicos e políticos
em várias regiões do planeta. 06| FGV Leia com atenção as proposições abaixo:
D pelo confronto entre vassalos e suseranos, no mo- I. “A história de qualquer sociedade até aos nossos
mento de ápice da crise do modo de produção feu- dias foi apenas a história da luta de classes. Homem
dal e de enfraquecimento da autoridade religiosa. livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo,
mestre e companheiro, numa palavra opressores e
E pelo incremento das contestações  populares às di-
oprimidos em oposição constante, desenvolveram
retrizes políticas implantadas pelos regimes autori- uma guerra que acabava sempre ou por uma trans-
tários que floresceram na Europa, na primeira meta- formação revolucionária da sociedade inteira, ou
de do século XX. pela destruição das duas classes em luta.”

141
SISTEMA DE ENSINO A360°

II. “Se me pedissem para responder à pergunta - ‘O D Criticavam os socialistas Saint-Simon, Charles Fou-
que é a escravidão?’ e eu respondesse numa só rier e Robert Owen, que não se baseavam, como
palavra: ‘Assassinato!’, todos entenderiam imedia- eles, num estudo científico da história para apren-
tamente o significado da minha resposta. Não seria der as leis da sociedade e da economia.
necessário utilizar nenhum outro argumento para
demonstrar que o poder de roubar um homem de E As lutas de classes entre proprietários e trabalhado-
suas idéias, de sua vontade e sua personalidade é res eram percebidas por eles como uma contradição
um poder de vida ou morte e que escravizar um ho- fundamental do sistema capitalista e que levariam à
mem é o mesmo que matá-lo. Por que, então, não abolição da ordem burguesa e do Estado que sobre
posso responder da mesma forma a essa outra per- ela se sustentava.
gunta: ‘O que é a propriedade?’ com uma palavra
só: ‘Roubo’.” 08| MACK Os primeiros socialistas, ao formularem pro-
Assinale a alternativa CORRETA: fundas críticas ao progresso industrial, estavam ainda
impregnados de valores liberais. Atacando os grandes
A A primeira proposição reproduz um trecho de uma
proprietários, mas tendo, em geral, muita estima pelos
das mais importantes obras do filósofo alemão Karl
pequenos, esses teóricos acreditavam que pudesse ha-
Marx, que serviu de base para a ideologia liberal de-
senvolvida no século XIX. ver um acordo entre as classes.
Cláudio Vicentino e Gianpaolo Dorigo
B A segunda proposição refere-se ao manifesto cris-
tão proposto por bispos da Igreja, indignados com a Os historiadores acima estão se referindo aos:
miséria que assolava as classes trabalhadoras euro- A socialistas científicos.
péias no século XIX.
B socialistas utópicos.
C A “luta de classes” é um dos principais aspectos da
doutrina marxista e a definição da “propriedade C anarquistas.
como um roubo” tornou-se um dos principais lemas
D marxistas.
do anarquismo desde o século XIX.
D A segunda proposição é de Joseph Proudhon, te- E socialistas liberais.
órico liberal francês, indignado com a escravidão
ainda praticada em determinados continentes no 09| PUC Na segunda metade do século XIX, surgiu o “socia-
século XIX. lismo científico”, cujo teórico mais importante foi Karl
Heinrich Marx. São elementos fundamentais do pensa-
E A segunda proposição refere-se à região da Palesti-
mento marxista, EXCETO:
na na perspectiva sionista, desenvolvida na Europa
ao final do século XIX. A o materialismo dialético.
07| MACK No século XIX, o mundo do trabalho fez surgir no- B a interpretação econômica da história
vas perspectivas para a compreensão da sociedade con-
temporânea. O Manifesto Comunista (1848), de Marx C o conceito de luta de classes.
e Engels, indica a mudança de concepções abstratas e D a teoria da mais-valia.
utópicas sobre a sociedade, para outras mais concretas
e combativas. E o princípio de não-intervenção estatal.
(Carlos Guilherme Mota)
10| PUC A primeira “Internacional”, ou seja, associação
Sobre Karl Marx e Friedrich Engels é INCORRETO afirmar.
mundial de trabalhadores foi criada em Londres, no ano
A A obra que sintetizou as suas teorias econômicas, de 1864, por Marx e Engels e aglutinava entidades ope-
sociais, políticas e culturais foi O Capital, que reto- rárias de toda a Europa, de tendências político-ideológi-
mava a tradição do pensamento dialético, aprofun- cas as mais variadas. Em 1876, essa organização dissol-
dando-o na linha do Materialismo Histórico.
veu-se, em parte, pelas agudas divergências entre:
B A sociedade capitalista é contraditória, uma vez que
A anarquistas e marxistas.
produz um trabalho excedente que jamais retorna
ao trabalhador, isto é, a mais valia. B revisionistas e revolucionários.
C Formularam um socialismo de um novo tipo, basea- C trotskistas e stalinistas.
do na concepção de que o capitalismo deve progres-
siva e pacificamente evoluir para o socialismo. D socialistas e comunistas.

142
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
11| PUC O chamado socialismo científico, formulado por 14| UEG O movimento operário europeu conheceu, durante
Marx e Engels no século XIX, propunha: o século XIX, períodos de ascensão e refluxo, vinculados,
em certa medida, ao emprego progressivo de máquinas
A a superação do capitalismo pela ação revolucionária no processo produtivo, que levou à substituição gradual
dos trabalhadores, aglutinados em torno da Interna- da mão-de-obra operária.
cional Socialista.
Com base no exposto, julgue as proposições que se se-
B a redução do papel do Estado na economia para guem:
efetivar o controle direto pelo proletariado sobre os
I. O ludismo, no início do século XIX, propunha-se a
meios de produção.
resolver o problema da miséria social através da
C a supressão de toda legislação trabalhista e social, destruição do maquinário. Essa iniciativa possibili-
tida como mecanismo de alienação e cooptação do tou a resolução parcial da crise, visto que os traba-
proletariado. lhadores foram beneficiados com leis mais flexíveis
no que se refere à redução de sua carga de trabalho.
D a realização de sucessivas reformas na estrutura ca-
II. O cartismo, movimento popular que reivindicava re-
pitalista, possibilitando a gradativa implantação do
formas nas condições de trabalho e direitos políticos
comunismo avançado.
para os trabalhadores, representou uma das primei-
ras manifestações organizadas do operariado inglês.
12| PUC No início do século XIX, um grupo de operários
ingleses liderados por Ned Ludlam organizou um mo- III. As revoluções de 1848 representaram uma novida-
vimento de protesto contra as precárias condições de de para o panorama político europeu, resultando na
vida e trabalho do proletariado. O ludismo caracteri- emergência de ideologias políticas heterogêneas,
tais como nacionalismo, liberalismo e socialismo.
zou-se:
Marque a alternativa CORRETA:
A pela tomada do poder e instalação de um governo
revolucionário que suprimiu a propriedade particu- A Apenas as proposições I e II são verdadeiras.
lar e estimulou a criação de cooperativas. B Apenas as proposições II e III são verdadeiras.
B pela elaboração da chamada Carta do Povo exigindo C Apenas as proposições I e III são verdadeiras.
do Parlamento britânico a realização de uma série
D Apenas a proposição I é verdadeira.
de reformas sociais e políticas.
E Todas as proposições são verdadeiras.
C pela destruição de máquinas e equipamentos in-
dustriais considerados responsáveis pelo crescente 15| UERJ Os anarquistas, senhores, são cidadãos que, em
desemprego e depauperação dos trabalhadores. um século em que se prega por toda a parte a liberdade
D pela constituição de uma poderosa estrutura sindi- das opiniões, acreditam ser seu dever recomendar a li-
berdade ilimitada. (...)
cal e partidária, que permitiu a organização do pro-
letariado e o aumento de sua força política. Os anarquistas propõem-se, pois, a ensinar ao povo a
viver sem governo, da mesma forma como ele começa a
13| PUC Como o Marxismo, o Anarquismo foi um movimen- aprender a viver sem Deus.
to contrário ao Capitalismo. Talvez mais radicais que os Declaração dos Anarquistas, 1883.
marxistas, os anarquistas desejavam a destruição do (VOILLIARD, Odette et alii. Documents d’Histoire Contemporaine (1851-1971). Paris: Armand
Colin, 1964.)
Estado, que deveria ser substituído pela cooperação de
grupos associados. No texto acima, está apresentado o seguinte princípio
do anarquismo:
No Paraná, no século XIX, o agrônomo e músico italiano
A rejeição do poder instituído, negando a necessidade
Giovanni Rossi fundou uma experiência anarquista em:
do Estado
A Palmeira - Colônia Cecília
B recusa das eleições, substituindo-as pelo sindicalis-
B Cerro Azul - Colônia Assungui mo revolucionário
C Paranaguá - Colônia Superagüi C fim do Estado e da Igreja, pregando sua substituição
por ações de um cooperativismo associacionista
D Colombo - Colônia Alfredo Chaves
D superioridade da ação profissional sobre a da políti-
E Santa Felicidade - Colônia Senador Dantas. ca, buscando a independência dos partidos políticos

143
SISTEMA DE ENSINO A360°

16| UFMG Leia o texto. ( ) a socialização da propriedade territorial e a insta-


“O bem estar de grande número, único fim legítimo, lação de governos centralizados comandados por
deve ser a única preocupação também do governo. operários.
Como preliminar essencial a estas reformas e a outras ( ) o fim das hierarquias políticas, com a formação de
para assegurar ao povo os meios pelos quais seus inte- governos formados por assembleias populares so-
resses poderão ser eficazmente defendidos e assegura-
cialistas compostas de líderes dos partidos políticos.
dos, pedimos que, na confecção das leis, a voz de todos
possa, sem entraves, ser ouvida.” ( ) a vitória dos ideais socialistas divulgados pelo Mani-
(PETIÇÃO CARTISTA, Inglaterra, 1838) festo Comunista de 1848, escrito por Marx e Engels.
Todas as alternativas apresentam reformas defendidas ( ) a destruição do estado burguês e o fim da proprie-
pelo Movimento Cartista, EXCETO: dade privada dos meios de produção.
A A abolição do voto censitário. ( ) uma ação revolucionária contra os desmandos do
B A extinção do bicameralismo. capitalismo e a construção de uma outra sociedade
justa e igualitária.
C A realização de eleições anuais.
D O pagamento aos deputados. 19| UFPR No filme “Matrix” (1999), dos irmãos Andy e Lar-
ry Wachowski, a vida humana não passa de uma ilusão,
E O sufrágio universal.
pois os seres humanos vivem ligados às máquinas como
17| UFMG Em 1891, o Papa Leão XIII editou um documen- baterias de um amplo sistema de controle tecnológi-
to - a encíclica “Rerum Novarum” - que deixou marcas co. Esse filme suscitou inúmeras reflexões e debates
profundas na Igreja Católica. A importância desse docu- de natureza filosófica e religiosa, mas um aspecto que
mento transcende os muros da Igreja, haja vista que ele merece ser destacado é o político, pois é um filme que
redefiniu o pensamento católico e o modo como essa apresenta uma visão pessimista e antiutópica do futu-
Instituição se relacionava com as sociedades em que ro humano. Contudo, muito antes dos filmes de ficção
atuava. científica, as esperanças e os desejos de uma sociedade
Considerando-se a influência da “Rerum Novarum”, é ideal já inspiravam pensadores e escritores, que deixa-
CORRETO afirmar que essa encíclica ram em suas obras modelos de transformação social.
A significou uma condenação vigorosa da guerra e do Sobre a imaginação utópica e seus fundamentos, é cor-
colonialismo, pela manifestação do pacifismo e do reto afirmar:
humanismo inerentes aos valores cristãos. A As obras caracterizadas como utópicas são assim
B deu origem ao pensamento social católico, a partir chamadas devido à sua natureza ficcional, sem ne-
do impacto da expansão do capitalismo e do cresci- nhuma relação com a realidade.
mento do ideário socialista.
B “A República”, obra utópica escrita por Platão, pre-
C transformou a Igreja em aliada do movimento fas- via um mundo controlado pelos sacerdotes.
cista, abrindo caminho para a Concordata entre o
Papa e o Estado italiano. C Em seu livro “A Utopia”, o humanista inglês Thomas
More, ao defender a propriedade privada e o enri-
D representou uma tomada de posição do Vaticano quecimento, tinha como modelo ideal a seguir a so-
contra a religião muçulmana, que crescia em ritmo
ciedade inglesa de sua época.
acelerado e ameaçava a posição hegemônica do ca-
tolicismo. D Durante o século XIX, multiplicaram-se as utopias
18| UFPE A consolidação da sociedade capitalista foi o resul- de caráter socialista-comunista, como as de Owen,
tado de muitas lutas e confrontos entre projetos políti- Saint-Simon e Fourier, enfatizando a transformação
cos dos mais diversos. O século XIX foi cenário privilegia- das condições materiais da sociedade.
do desses confrontos e do surgimento de propostas que
denunciavam as injustiças sociais trazidas pela ordem E O livro “1984”, de George Orwell, é uma utopia so-
capitalista, entre elas, a proposta dos anarquistas que cialista inspirada na Revolução Russa e na admira-
defendiam: ção do autor pelo sistema político soviético.

144
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
20| UFRRJ “A criação de um proletariado despossuído, (...) A das revoluções anticapitalistas, ocorridas na Europa,
cultivadores vítimas de expropriações violentas repeti- contra as quais a burguesia determinou severa re-
das, foi necessariamente mais rápida que sua absorção pressão.
pela nascentes manufaturas. (...) Forma-se uma massa
B das revoltas operárias, como o ludismo, voltadas
de mendigos, ladrões e vagabundos. Desde o final do sé-
à destruição das máquinas e à exploração por elas
culo XV e durante todo o século XVI na Europa Ocidental
causada.
foi criada uma legislação sanguinária contra o ócio. Os
pais da atual classe operária foram castigados por te- C da Revolução Francesa, na qual os trabalhadores fo-
rem sido reduzidos à situação de vagabundos e pobres. ram transformados em massa de manobra dos inte-
A legislação os tratava como criminosos voluntários; ela resses burgueses.
pressupunha que dependia de seu livre arbítrio continu-
D de cercamento dos campos, com o deslocamento
ar a trabalhar como antes.”
de um grande contingente de despossuídos da sua
(MARX, Karl. «O Capital». Paris, Garnier-Flamarion, 1969.)
área rural de origem.
As transformações econômicas e sociais costumam ge- E da Revolução Industrial, quando os criminosos eram
rar profundas alterações no chamado “mundo do traba- expulsos das fábricas e proibidos de trabalhar em
lho”. A situação apontada por Marx refere-se ao proces- outra ocupação, pela legislação vigente.
so histórico

A EUROPA NO SÉCULO XIX


A Europa do século XIX presenciou as divergências de três grandes correntes ideológicas: o absolutismo, o liberalismo e as
correntes socialistas. Ainda atrelada aos privilégios da nobreza, os signatários do absolutismo ambicionavam o restabelecimen-
to do passado histórico anterior à Revolução Francesa de 1789. Por outro lado, a burguesia estimulava a definitiva derrubada
dos regimes absolutistas amparando-se nas ideias liberais para, enfim, implantar as políticas capitalistas. Surgiam ideias asso-
ciadas à classe operária emergente e ao trabalhador rural que passaria a exigir a plenitude de direitos políticos e trabalhistas,
bem como condições mais dignas de vida.
Apesar de particularmente não correr o risco do retorno do Absolutismo, a Inglaterra alcançará a supremacia mundial du-
rante a Era Vitoriana, no século XIX, graças ao seu progresso industrial.
Enquanto isso, a nobreza não conseguirá impedir os avanços dos movimentos revolucionários, muito menos da classe
operária, em outras regiões da Europa. Mais uma vez, a França será a maior expressão dessa realidade ao impulsionar a onda
revolucionária conhecida como Primavera dos Povos.
Após a análise desta unidade, chegaremos à conclusão de que os marcantes acontecimentos século XIX permitiram a
consolidação da economia capitalista industrial e o do Estado pela burguesia. Para tanto, os últimos obstáculos absolutistas
precisaram ser destruídos pela classe burguesa que, em alguns momentos, foi também obrigada a realizar concessões a classe
operária a fim de mantê-la sob controle. Preparava-se o terreno para a definitiva consolidação do sistema capitalista na Europa,
cuja exaltação não se limitaria às fronteiras desse continente, mas culminaria na famigerada expansão imperialista, uma das
principais causas da Primeira Guerra Mundial.

A SEGUNDA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL


Estudamos anteriormente que a Inglaterra foi o país pioneiro no processo de industrialização. Inicialmente, os ingleses
tentaram monopolizar esse processo em razão do domínio de novos mercados consumidores na Europa, principalmente, ao
dificultar a expansão da indústria de bens de capitais1. Mas no século XIX a aceleração da industrialização acabou alcançando
outros países europeus, como Bélgica, França, Alemanha, Itália e Rússia e a América, com os Estados Unidos.
Iniciada na segunda metade do século XIX, entre 1850 e 1870, esse conjunto de transformações ficou conhecido como
Segunda Revolução Industrial, o que, na verdade, representava apenas a continuação da Revolução Industrial sob o ponto de
vista sócio-tecnológico.

1 A indústria de bens de capitais, também conhecida como de bens de produção, compreende os equipamentos e as instalações,
além de bens ou serviços indispensáveis a produção de outros bens ou serviços. Estão aí incluídas as fábricas, o maquinário, as
ferramentas, os diversos equipamentos e construções utilizadas na produção de outras mercadorias ou produtos voltados ao con-
sumo.

145
SISTEMA DE ENSINO A360°

Alguns setores industriais e invenções se destacaram, como: a


indústria química, a transformação do ferro em aço2, a descoberta e
geração de energia elétrica, a produção de petróleo, a invenção do
motor de combustão interna, a expansão dos meios de transporte,
como o automóvel e o avião a partir da ampliação das ferrovias, a
introdução de navios de aço movidos a vapor e, por fim, dos meios
de comunicação, com o telefone eletromagnético e o telégrafo. Além
destes avanços, a produção de mercadorias em massa foi impulsio-
nada, com destaque à indústria alimentícia, diminuindo drastica-
mente o custo final das mercadorias que, por sua vez, estimulava o
consumo em massa.
Com o surgimento das linhas de produção houve maior ra- Conversor de Bessemer. Imagem retirada de “Descobertas e
cionalização da produtividade que se organizava tendo em vista a invenções do século XIX”, de R. Routledge. Publicado em 1900.
produção em massa e o alto consumo de mercadorias. Esse prin-
cípio foi seguido pelo fordismo, introduzido por Henry Ford, revolucionando a indústria automobilística. Ford introduziu
a linha de montagem automatizada, padronizada e simplificada com o uso das esteiras rolantes, além de verticalizar toda
a produção. Ford acreditava ser necessário, não apenas a dedicação a produção, mas também o controle das fontes de
matéria-prima.
Merecem considerações as ideias de Frederick Taylor, no que
se refere à sistematização racionalizada da produção quanto ao
controle das tarefas em nível operacional. O taylorismo pregava
a necessidade do fim de movimentos inúteis, tanto dos operários,
quanto das máquinas, objetivando a simples e acelerada execução
das tarefas em um tempo médio pré-determinado aumentando, as-
sim, a produção sem se esquecer de manter a qualidade dos produ-
tos. Esse modelo administrativo trata de uma técnica utilizada para
obrigar o operário a trabalhar cada vez mais e, automaticamente,
receber menos. Visto como uma “engrenagem do sistema produti-
vo”, o proletário torna-se, nesta lógica, cada vez mais passivo e, por
outro lado, mais explorado. Imagem extraída da entrevista de Henry Ford ao Literary
Digest, em 1928, demonstrando a produção em massa do
Assim como em sua primeira fase, a segunda revolução indus- automóvel Modelo A. Unknown.

trial esteve marcada pelo êxodo rural, em razão do desemprego no


campo e da busca de emprego nas indústrias, alimentando a reserva de mão-de-obra barata. Crianças e mulheres continuavam
sendo exploradas e recebendo baixos salários se comparado aos homens. Os baixos salários e a degradação das condições de
trabalho continuavam sendo uma triste realidade.
Destaca-se que, a partir de 1870, surgiram os cartéis, os trustes e os holdings. Essas corporações industriais e financeiras3
caracterizam o denominado capitalismo monopolista com a fusão de grandes empresas. Esse processo favoreceu, consequen-
temente, a concentração do capital em um grau elevado, ocasionando profundas transformações no sistema, sendo a principal
delas a substituição do capitalismo liberal da livre concorrência.

2 Henry Bessemer desenvolveu o processo industrial de produção em massa de aço a baixo custo a partir do ferro fundido o que
significou, por si só, uma verdadeira revolução, pois, antes o aço era muito caro. O processo foi nomeado de Processo de Bessemer.
3 CARTEL: é formado por empresas independentes de um mesmo ramo produtivo e que se reúnem com o propósito de definir preços
e estabelecer acordos quanto à produção de cada uma delas. O objetivo é fatiar o mercado o mercado consumidor entre as empre-
sas do cartel, sendo a própria concorrência monopólio do grupo. Esse tipo de associação foi vastamente utilizado na Alemanha e
no Japão, mas proibida nos Estados Unidos.
TRUSTE: trata-se do total controle da produção, desde as fontes de matérias primas até a distribuição da mercadoria. Desse modo,
o truste permite o controle da oferta das mercadorias e de seus preços e, consequentemente, do mercado consumidor. Na maioria
das vezes, empresas economicamente poderosas davam início a uma guerra comercial baixando drasticamente o preço das mer-
cadorias e mantendo-os até a destruição de seus concorrentes para, assim, facilitar sua incorporação. Então, abria-se o caminho
para a livre fixação dos preços das mercadorias.
HOLDINGS: nada mais é que a administração e coordenação de outras empresas do grupo por uma grande empresa. Aparente-
mente, predomina a autonomia das empresas integrantes do complexo industrial.

146
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
A ERA VITORIANA
Já no século XIX, a Inglaterra havia se consolidado como a
maior potência mundial. Alguns historiadores afirmam que este
período da história inglesa pode ser denominado de Pax Britanni-
ca em razão da prosperidade econômica e da paz alcançadas por
esta nação que estavam associadas à conquista de mercados con-
sumidores externos e a própria consolidação da segunda fase da
Revolução Industrial por nós anteriormente estudada. O afasta-
mento inglês de guerras neste momento e a ausência de uma real
ameaça estrangeira ao seu poder contribuíram para acelerar seu
desenvolvimento econômico.
A rainha Vitória (1819 – 1901) governou a Inglaterra por 63
anos e esse período ficou conhecido como Era Vitoriana. Sua política
abertamente liberal e burguesa impulsionou o desenvolvimento in-
dustrial e a expansão do Império Britânico. 
O setor produtivo têxtil continuava sendo o mais expressivo. A
siderurgia alcançou níveis espetaculares. Os avanços dos meios de
transporte quanto ao escoamento de mercadorias dinamizaram as
relações comerciais e permitia o rápido giro das mesmas.
Durante a Era Vitoriana houve o expressivo crescimento demo-
gráfico na Inglaterra que chegou a 32,5 milhões de pessoas. O fe-
nômeno pode ser explicado por alguns aspectos. Houve a melhoria
Fotografia da Rainha Vitória (1860).
das condições de vida em função da maior produção de alimentos, Foto: John Jabez Edwin Mayall.
das condições ambientais e de saúde, mais próximas do ideal, bem
como os avanços na medicina, a expansão das redes de esgotos, a maior qualidade da água potável e o aumento do número
de casamentos entre a população mais jovem. Essa sistemática acabou contrariando a teoria de Malthus ao demonstrar que o
crescimento populacional era sustentável.
A rainha Vitória enfrentou a ascensão de um forte mo-
vimento popular, o Cartismo. Esse movimento reivindicava
a ampliação dos direitos políticos à classe trabalhadora. O
nome do movimento origina o documento intitulado Carta
do Povo, que exigia o sufrágio universal masculino, a vota-
ção secreta, igualdade dos distritos eleitorais e eliminação do
censo.
Destacaram-se nesta época as conquistas trabalhistas pe-
las trade-unions. Consideradas antecessoras dos sindicatos,
dedicaram-se à luta da classe operária voltada a obtenção de
conquistas na relação com o empresariado, como a redução da
Gravura de 1886 extraída do livro “True Stories of the Reign of Queen
Victoria” de Cornelius Brown. Na imagem podemos verificar a ilustração
jornada de trabalho e salários mais dignos, com ênfase ao seu
de um motim cartista em Londres. principal instrumento de luta, a greve.

A FRANÇA DO SÉCULO XIX


A Revolução Francesa introduziu os ideais liberais burgueses que consolidaram significativas transformações na estrutura
social, política e econômica daquele país. Como estudamos anteriormente, a queda do Antigo Regime e da aristocracia fundiá-
ria permitiram que a sociedade francesa se orientasse, a partir de então, seguindo uma lógica burguesa.
Entretanto, o fim da Era Napoleônica permitiu a reestruturação do centralismo político absolutista mascarado em uma
Monarquia Constitucional com o retorno dos Bourbons representado pela figura de Luís XVIII, em 1815, como determinação
do Congresso de Viena.

147
SISTEMA DE ENSINO A360°

Aparentemente, Luís XVIII implementou várias disposições progressivas, porém, muitos valores liberais foram esvaziados a
exemplo da restituição do voto censitário e da limitação de direitos e liberdades consagrados durante a Revolução.
Luís XVIII não teve filhos e acabou sendo sucedido por seu irmão Carlos X, em 1824, cujo reinado terminará em 1830.
A Revolução de 1830, que teve início na França e se es-
palhou para vários países da Europa, objetivava difundir os
valores liberais e nacionalistas. Expressava igualmente a insa-
tisfação burguesa com a crise econômica e a falta de posicio-
namento do governo em relação a tal aspecto, bem como o
descontentamento generalizado da população com a alta dos
preços das mercadorias. Por fim, representava a aversão dos
operários ao alto índice de desempregados neste momento.
Quando assumiu o trono, Carlos X arriscou-se a empre-
ender medidas ousadas e impopulares com a restauração do
Antigo Regime, o que contrariava a postura moderada adotada
por seu antecessor. Seu objetivo era restabelecer a autoridade
absolutista do monarca, legitimada no poder divino dos reis,
bem como os privilégios dos nobres. Para tanto, reprimiu dura-
mente a burguesia e os ideais liberais.
Sob a expressiva liderança do duque Luís Felipe de Or-
léans, a oposição composta por liberais e constitucionalistas A Liberdade Guiando o Povo (1830). Pintura romântica que retrata a
revolução de julho de 1830, na França. Por Eugène Delacroix (1798–
pressionava o monarca cada vez mais. A situação tornou-se 1863). Localização: Museu do Louvre.
mais tensa com a vitória daqueles nas eleições legislativas da
Câmara dos Deputados. Inconformado e demonstrando autoritarismo, Carlos X dissolveu a Câmara em 1830 e convocou novas
eleições, mas acabou sendo novamente derrotado pela oposição.
Em resposta, o monarca publicou as Ordenações de Julho naquele mesmo ano, censurando a imprensa, enrijecendo o sis-
tema de voto censitário que limitava, ainda mais, a participação popular, além de anular o último processo eleitoral. Ademais,
dissolveu a Câmara de maioria liberal determinando que governaria a partir de decretos. Tais medidas tornaram-se a fagulha
responsável pela explosão da Revolução de 1830.
Em julho de 1830, a população de Paris liderada pela burguesia liberal reagiu às medidas de Carlos X tomando o controle
da capital. Temendo a Revolução, Carlos X e outros membros da família Bourbons se exilaram na Inglaterra em agosto do
mesmo ano.
Receosos do radicalismo popular e da perda do controle revolucionário, a alta burguesia elevou ao trono francês Luís Filipe
de Orleans, também conhecido como “Rei Burguês”. Luís foi um monarca liberal e defensor dos ideais constitucionais e nacio-
nalistas, apesar de manter o critério censitário em relação ao voto e as candidaturas aos cargos do legislativo.
Por outro lado, esse governo liberal e antiabsolutista progressivamen-
te reprimia a oposição republicana e os direitos da classe operária que, ao
se rebelar, aderia a forma de governo republicana e às ideias inerentes ao
socialismo utópico. Após inúmeros levantes, em fevereiro de 1848, teve
início uma nova onda revolucionária que contava com a presença de ope-
rários e populares e o apoio da Guarda Nacional. Pressionado, Luís Filipe
acabou abdicando ao trono.
Destaca-se o fato de que a incipiente revolução na França acabou
dando início a uma onda revolucionária insuflada pelas massas popula-
res, bem como a diversos movimentos nacionalistas que varreram o con-
tinente europeu nesta época o que ficou conhecida como Primavera dos
Charge da Revolução de 1848. Fonte: Wikicommons Povos4.

4 A Revolução de 1848 teve início com a crise econômica na França e se espalhou por toda Europa. Criticava duramente o autorita-
rismo dos governos monárquicos, as crises econômicas relacionada a baixa qualidade de vida e a falta de representação política
das classes emergentes. A ideologia nacionalista propunha a estes países reformas de caráter político e econômico. Esse conjunto
de revoluções liberais ficou conhecido como Primavera dos Povos.

148
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Por outro lado, a queda de Luís Felipe levou ao retorno do sistema re-
publicano dando início a Segunda República (1848 – 1852) controlada por
um governo provisório que assumiu no lugar do rei. Algumas conquistas
sociais podem ser identificadas neste momento, a exemplo do fim da pena
de morte, da redução da jornada de trabalho de 12 para 10 horas diárias e
do restabelecimento do sufrágio universal. Todavia, as fortes contradições
de interesses entre operários, burgueses, socialistas e liberais moderados
não tardaram a se evidenciar. Novos conflitos emergiam durante esta fase
e ganhavam força com a crise econômica que se agravava fomentando di-
retamente a organização e oposição política da classe operária.
Percebendo o clima de instabilidade política, a burguesia declarou a
necessidade de novas eleições para organizar uma nova Assembleia Cons-
tituinte. Socialistas e burgueses concorriam aos cargos de deputados e à
participação na elaboração de uma Constituição. Representando os gran-
des proprietários rurais, o Partido da Ordem passou a apoiar os modera-
dos e juntos conseguiram eleger a maioria absoluta dos membros da casa
legislativa transparecendo, ainda mais, a rivalidade entre a burguesia e os
socialistas.
Ao se opor às ideias socialistas, a Constituinte despertou a insurreição Napoleão III (1865). Por Alexandre Cabanel (1823–1889).
Localização: Musée du Second Empire (Compiègne).
operária de Paris liderada por Louis-Auguste Blanqui. Em resposta, a As-
sembleia Nacional Constituinte decretou estado de sítio (as reuniões públicas foram proibidas e as associações políticas passa-
ram a ser controladas pela polícia), suspendeu os direitos individuais e a liberdade dos jornais (inclusive suas publicações foram
suspensas) e atribuiu poderes ditatoriais ao general Cavaignac que conseguiu esmagar violentamente a insurreição.
Controlada a insurreição operária a nova Constituição foi promulgada estabelecendo a República Presidencialista com
respectivo mandato de 4 anos, sendo proibida a reeleição. O Poder Legislativo unicameral seria controlado por uma assembleia
eleita por sufrágio universal por um período de três anos.
Disputando as eleições presidenciais de dezembro de 1848 estavam o general Cavaignac e o sobrinho de Napoleão Bo-
naparte, Luís Napoleão Bonaparte. Apresentando-se como um progressista, mantedor da ordem, defensor da política das na-
cionalidades e utilizando-se do carisma atribuído a seu tio, Luís Bonaparte foi eleito presidente da França com 5,5 milhões de
votos, ou seja, 73% de aprovação popular.
Todavia, Luís Napoleão não estava disposto a abrir mão do poder em 1852, último ano de seu mandato. Articulou, então, um
golpe de Estado conhecido como “18 de Brumário de Luís Bonaparte” pondo fim a República, em dezembro de 1851. Por meio
de um plebiscito, Luís Bonaparte obteve poderes para a elaboração de uma nova Constituição, passando a governar sob o título
de Cônsul. Por fim, após uma nova consulta popular instaurou o Segundo Império Francês e recebeu o título de Napoleão III.

O Dezoito Brumário de Luís Napoleão, de Karl Marx foi publicado


no “Die Revolution”, em 1852 . De maneira impressionante, Marx
conseguiu captar em um momento histórico específico da França
o modo de como a política pode ser conduzida no Capitalismo. A
partir dos acontecimentos internos desse país, Marx apresenta um
profundo estudo baseado no materialismo histórico destacando as
teorias da luta de classes e da revolução proletária. A luta de classes
seria a responsável por produzir as transformações históricas mais
importantes. Para tanto, enfatiza que, ao derrubar a monarquia,
a burguesia havia se transformado na nova classe dominante e
conservadora que pretendia garantir a manutenção da ordem vigente
favorável a si mesma. Considerando essa realidade, o proletariado
tornava-se a classe oprimida e, consequentemente, os novos
revolucionários. Quanto à França do século XIX, Marx assevera: “Hegel
observa em uma de suas obras que todos os fatos e personagens
de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim
dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como
tragédia, a segunda como farsa”. Brilhantemente, descreve como a
burguesia francesa representada por Napoleão Bonaparte conseguiu
tomar para si a instituição “Estada” que, ao menos teoricamente,
deveria pertencer a todos os cidadãos. Esse processo seria a intitulada
“tragédia”. Igualmente, indaga-se acerca do golpe de Estado de Luís
Bonaparte por ele denominado de “farsa”, principalmente, por trair
as lideranças proletárias e esvaziá-las do governo. Ironicamente,
Marx refere-se a Napoleão III como um frágil herói que, disfarçado de
grande estadista, governava a favor da supremacia burguesa.

149
SISTEMA DE ENSINO A360°

Apesar de este ser um governo autoritário, o Segundo Império esteve marcado pela modernização e o desenvolvimento
econômico da França, a exemplo dos avanços na agricultura, na indústria e no comércio e na expansão da oferta de créditos.
Durante este período, a elegante Paris desenvolveu-se ainda mais com a construção de ferrovias, casas populares e canais. A
capital tornou-se um centro mundial ao atrair exposições culturais e industriais. Por outro lado, o imperador diminuiu a influ-
ência do legislativo, marginalizou as oposições e reprimiu a imprensa.
A partir de 1860 acenderam as pressões liberais e o imperador acabou ampliando os poderes da Assembleia Nacional, além
de suspender as restrições às liberdades civis.
Na política externa, Napo-
leão III adotou postura ambígua.
Apesar de defender a autonomia
e a liberdade das nações, com a
política das nacionalidades, a
França, sob seu comando, ten-
tou impor a dominação a outros
países demonstrando a clara in-
tenção do imperador em exercer
sua influência hegemônica sobre
toda Europa5.
Napoleão III destacou-se ao
apoiar, inicialmente, os unifica-
dores italianos durante o Risor-
gimento. Porém, a pressão dos
católicos franceses, que se opu-
nham aos ataques aos Estados
da Igreja, levou o imperador a Napoleão III foi capturado e 83.000 soldados se renderam aos alemães. Na imagem, o imperador é
apoiar o papa na luta contra os escoltado por Otto von Bismarck, montado no cavalo à esquerda (1877).
Por Wilhelm Camphausen (1818–1885). Localização: Museu Histórico Alemão, Berlim.
unificadores.
A França interviu, ainda, no processo de unificação alemã em oposição a Prússia, mas acabou derrotada em razão de seu
despreparo militar durante a Guerra Franco-Prussiana. Era o princípio da ruína do império francês. O próprio Imperador foi
capturado pelos prussianos durante a Batalha de Sedan. Além disso, perderam a região de Alsácia-Lorena e foram obrigados a
pagar uma pesada indenização aos vencedores.
Tinha início a Terceira República Francesa com a organização
de um governo provisório presidido por Louis Adolphe Thiers.
A política interna francesa continuava tensa durante o governo
provisório. O envolvimento em conflitos externos e as oposições
políticas favoreciam a crise e a oposição entre liberais, socialistas,
monárquicos e republicanos que, ao defenderem seus mais varia-
dos projetos, revelavam suas essências antagônicas.
A coexistência desarmoniosa desses grupos políticos eviden-
ciou-se em março de 1871 com o acirramento das divergências
de classe que culminaram na proclamação da Comuna de Paris.
Apesar de ter durado apenas 72 dias, a Comuna de Paris foi consi-
derada a primeira experiência histórica de administração direta do
Barricadas em frente a Igreja La Madelein durante a Comuna de povo. Os comunardos expressavam, de maneira incipiente, o que
Paris. Imagem: André Adolphe Eugène Disdéri (1819–1889). seria um governo operário.

5 Napoleão III participou, ainda, da Guerra da Criméia (1854 – 1856) contra a Rússia e selou sua derrota no Congresso de Paris, em
1856. Do mesmo modo, apoiou a formação da Romênia ainda sob o domínio do Império Turco-Otomano. Interviu na política de
pacificação da Argélia, em 1857. Juntamente aos ingleses enviou tropas à China durante a Segunda Guerra do Ópio (1856 – 1860)
o que lhe rendeu o domínio sobre a Cochinchina, ao sul do Vietnam. O imperador interviu em uma guerra no México entre 1862 e
1867 com o intuito de garantir o comércio francês na América e conter a crescente hegemonia dos EUA. 

150
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
A Comuna incluía tendências políticas radicais diversas que variavam do movimento operário e ao republicanismo radical
como proudhonianos, marxistas e bakuninistas. A administração de Paris ficava a cargo do Conselho da Comuna com-
posto por 71 delegados eleitos por sufrágio universal e que seriam remunerados com base no salário de um operário. Com o
desarmamento da Guarda Nacional, a defesa da cidade passou a ser realizada pela população armada.

Sob evidente inspiração socialista, a Comuna de Paris determinou, dentre outras medidas:
 a gratuidade do ensino e o afastamento da Igreja quanto ao mesmo;
 a absoluta igualdade civil entre homens e mulheres;
 o controle dos preços dos alimentos;
 a apropriação das fábricas abandonadas pelos operários;
 a abolição do trabalho noturno;
 o estabelecimento de pensões para viúvas e órfãos.

Representando iminente perigo às classes dominantes francesas, bem


como aos países europeus, a Terceira República franceses, contando com o
apoio dos alemães, cercou Paris e derrotou a Comuna. Estima-se que foram cer-
ca de 20 mil pessoas executadas e mais 70 mil exiladas para a Guiana Francesa. Cartaz da Comuna de Paris. Biblioteca Nacional de Paris.

A Comuna de Paris entrou para a história como o primeiro governo dos trabalhadores. Ela influenciou revoluções posterio-
res como a Russa, em 1917, a Alemã, em 1918, a Espanha, em 1936 e Portuguesa, em 1974.

TEXTO COMPLEMENTAR

A DINÂMICA IMPLACÁVEL DA DESIGUALDADE


Por Alice Béja e Marc-Olivier Padis — Publicado 28/08/2014 06h04

Em recente estrevista o economista francês Thomas Piketty

Charles Platiau/Reuters/Latinstock
prevê, quanto a crise econômica e o mercado sem contrapesos,
que as diferenças tendem a aumentar.

Ao elaborar O Capital no Século XXI considerado o mais impor-


tante tratado sobre a desigualdade desde O Capital, de Karl Marx,
Thomas Piketty transcendeu em muito a demonstração didática
da dinâmica do processo. Economista com qualidades de historia-
dor, o autor agiu movido, em grande medida, pelo “temor de que,
pouco a pouco, as estruturas sociais estejam mudando de maneira
irremediável, sem nos darmos conta”. A transformação não é pron-
tamente inteligível, e “há um risco real de que acordemos para des- "O 1% mais rico é formado por quem ocupa um grande
espaço e estrutura a ordem social"
cobrir uma sociedade ainda mais desigual que a do século XIX”. Em
um contexto de economia mundial fraca e retornos sobre o capital mais altos que os de crescimento, há uma tendência
de ampliação das diferenças de renda, alerta Piketty, na entrevista a seguir.
 Alice Béja e Marc-Olivier Padis: No seu livro O Capital no Século XXI, os resultados para diferentes países em
termos de distribuição de riqueza são notavelmente uniformes. Como o senhor explica a relativa falta de espe-
cificidades nacionais?
Thomas Piketty: O Capital no Século XXI delineia um esquema interpretativo geral para dados que foram cole-
tados por toda uma equipe. Mudar o enfoque da renda para os ativos, incluída a riqueza herdada, nos permitiu
transformar o modelo investigativo e aprofundar o quadro cronológico de volta à Revolução Industrial, estudan-
do a dinâmica em ação no século XIX. Quanto às semelhanças entre os países, precisam ser extraídas dos dados
e estabelecidas na análise. Tentei fazê-lo sem desprezar as histórias nacionais de riqueza, como, por exemplo,
o papel desempenhado pelo capital do comércio de escravos nos Estados Unidos, o modelo Rhineland na Ale-
manha ou a escala da dívida nacional britânica no século XIX, que inchou a riqueza privada ao criar os rentistas

151
SISTEMA DE ENSINO A360°

financeiros, além dos rentistas fundiários existentes. A situação era diferente na França, pois a dívida nacional foi
liquidada diversas vezes e a nacionalização teve um papel central. Assim, cada país tem suas especificidades e
sua própria história cultural. As reações nacionais à desigualdade também dependem de como o país percebe a
si mesmo em relação aos outros. Os Estados Unidos muitas vezes justificaram sua desigualdade interna por meio
de comparação com a europeia. Ou a Europa era vista como uma terra de privilégios, o que levou os americanos
a aplicar um imposto confiscatório às rendas mais altas no início do século XX, para evitar parecer-se com a velha
Europa, que eles consideravam extremamente desigual, ou, inversamente, eles denunciavam o coletivismo e o
igualitarismo europeus, como aconteceu em décadas recentes. Cada país considera seu modelo intrinsecamente
mais justo. No século XX, os Estados europeus partilharam a experiência de duas guerras mundiais. A dinâmica
da desigualdade evoluiu de modo semelhante em todos eles: as disparidades cresceram rapidamente durante
a Belle Époque, com uma concentração de riqueza inédita, depois declinou gradualmente após 1914 devido às
transformações sociais causadas pelo conflito, a descolonização e o desenvolvimento do Estado do Bem-Estar
Social. A partir da década de 1980, voltaram a crescer. Os países sofreram graus diferentes de destruição material
em 1914-1918 e em 1939-1945, mas os choques políticos e os pesos dos gastos de guerra tiveram efeitos seme-
lhantes sobre suas economias. Isso valeu para o Reino Unido, que sofreu menos destruição que a França ou a
Alemanha, entretanto saiu da Segunda Guerra Mundial com sua riqueza privada muito reduzida. Durante os “30
anos gloriosos”, essa redução nos níveis de riqueza privada levou à ilusão de que havíamos entrado em uma nova
fase de capitalismo, uma espécie de capitalismo sem capital, ou ao menos sem capitalistas. Mas o capitalismo
não havia sido superado de qualquer maneira estrutural. Ao contrário, esta era essencialmente uma fase transi-
tória de reconstrução. A riqueza foi restabelecida, embora gradualmente. É apenas hoje, no início do século XXI,
que encontramos os mesmos níveis de riqueza que nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial: cerca de seis
vezes a renda nacional anual, em oposição a pouco mais que o dobro da renda nacional nos anos 1950.

 AB-MOP: Como isso afetou os países?


TP: As diferenças nacionais persistem, é claro. Na Alemanha o índice de valorização do capital foi menor que na
França, porque, entre outras coisas, no modelo Rhineland a propriedade das empresas é dividida entre acionis-
tas e empregados. Apesar disso, ainda há tendências gerais, notadamente as de que os índices de crescimento
são menores que os retornos sobre o capital e, consequentemente, a tendência é de que as desigualdades au-
mentem em vez de diminuir. Isso aconteceu em longos períodos da história humana, com exceção do século XX.
A tese da convergência, de diminuição da desigualdade automaticamente conforme o capitalismo evolui, tem
frágeis bases teóricas e empíricas. Ela se baseia amplamente em uma hipótese formulada por Simon Kuznets nos
anos 1950. Ele observou um estreitamento das diferenças de renda nos Estados Unidos entre 1910 e 1940. Os
economistas quiseram acreditar nesses resultados otimistas e os transformaram em lei. Na realidade, essa redu-
ção das desigualdades se deveu em muito às guerras mundiais, mas os indivíduos puseram na cabeça que havia
algum mecanismo teórico universal que produzia uma tendência para a harmonia. Outro fator foi que na verdade
houve poucos estudos históricos da desigualdade, em parte por causa da separação disciplinar entre história e
economia. Eu pretendi dar uma visão equilibrada da dinâmica em jogo. Existem, é claro, algumas forças de con-
vergência, a mais notável a difusão do conhecimento. Atualmente, os níveis per capita de produção são muito
semelhantes entre os países capitalistas avançados: Europa, Estados Unidos, Japão têm renda média anual per
capita de aproximadamente 30 mil euros em todos eles. É possível que esse processo de convergência continue e
inclua alguns países emergentes. Mas, se examinarmos a dinâmica da riqueza, há pressões poderosas no sentido
da divergência, tanto no interior dos países quanto em nível global. Em um mundo de crescimento fraco, o fato de
os retornos sobre o capital serem mais altos que os índices de crescimento tende automaticamente a aumentar
as desigualdades de riqueza herdadas.

 AB-MOP: O crescimento pode compensar o processo de concentração?


TP: Sim, mas o crescimento fraco não pode compensar muito. A maior produtividade e o aumento da população
tornaram possível equilibrar a equação de Marx e evitar a queda tendencial dos retornos. Mas o ponto de equilí-
brio só pode ser alcançado em um nível extremamente alto de acúmulo e concentração de riqueza, incompatível
com os valores democráticos. Não há nada na teoria econômica que garanta que o nível de desigualdades no pon-
to de equilíbrio será aceitável. Tampouco algo garante a presença de mecanismos de estabilização automáticos
que poderiam criar um equilíbrio geral.

152
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

 AB-MOP: O que acontece com o capital?


TP: Alguns afirmaram que o índice de retorno sobre o capital declinará “naturalmente” até o nível da taxa de
crescimento. Historicamente, não há evidência disso. Ao longo da maior parte da história humana o índice de
crescimento foi zero, mas ainda havia um retorno sobre os ativos, geralmente um retorno médio de 4%, 5% do
aluguel da terra. Essa foi a base da ordem social, pois permitiu que um grupo, a aristocracia fundiária, vivesse des-
sa renda. O fato é que o índice de retorno sobre os ativos foi constantemente mais alto em longo prazo do que o
índice de crescimento. Isso não representa qualquer problema lógico, mas levanta a questão de se a reprodução
e o reforço da desigualdade que tal proporção cria é aceitável em um contexto democrático.

 AB-MOP: Como o senhor vê a Europa hoje?


TP: Quando o presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, é perguntado sobre o que se deve fazer para
salvar a Europa, diz que precisamos combater o rentismo, quer dizer, abrir setores protegidos como os táxis e as
farmácias, como se somente a concorrência pudesse expurgar a renda econômica. Mas o fato de que os retor-
nos sobre o capital são maiores que o índice de crescimento não tem nada a ver com monopólios, e não pode
ser resolvido com mais concorrência. Ao contrário, quanto mais puro e competitivo for o mercado de capitais,
maior a lacuna entre o retorno sobre o capital e o índice de crescimento. O resultado final é a separação entre
proprietário e administrador. Nesse sentido, o próprio objetivo da racionalidade do mercado vai contra o da meri-
tocracia. O objetivo das instituições de mercado não é produzir justiça social ou reforçar os valores democráticos.
O sistema de preços não conhece limites nem moral. Embora indispensável, há coisas que o mercado não pode
fazer, para as quais precisamos de instituições específicas. Com frequência se acredita que as forças naturais da
concorrência e do crescimento por si só embaralharão incessantemente as posições individuais. Mas no século
XX foram principalmente as guerras que deitaram por terra o passado e redistribuíram as cartas. A concorrência
em si não garantirá a harmonia social e democrática.
 AB-MOP: O Capital no Século XXI reafirma a importância da história econômica, o que exige o envolvimento
com as outras ciências sociais.
TP: Considero-me um cientista social tanto quanto economista. Quando você estuda questões como a distribui-
ção de riqueza, os limites são fluidos e as abordagens devem por necessidade ser combinadas. Depois de termi-
nar meu doutorado na École Normale Supérieure, passei o início dos anos 1990 nos Estados Unidos, no MIT, e em
outros lugares, e fiquei muito chocado com a autossatisfação dos economistas das universidades de lá. Eles esta-
vam convencidos de que seus métodos eram muito mais científicos que os de seus colegas nas chamadas ciências
“brandas”, como sociologia, história, antropologia. Mas sua “ciência” muitas vezes era altamente ideológica. Ao
contrário do que às vezes se ouve dizer, os dados históricos existem, basta ter tempo para reuni-los. Não tenho
nada contra a teoria, mas ela deve ser usada com parcimônia: uma pequena quantidade de teoria pode explicar
muitos fatos. Mas, na maior parte do tempo, os economistas fazem o oposto. Eles enchem o ar de teorias e dão
a si mesmos a ilusão de ser científicos, embora sua base factual possa ser extremamente frágil.
 AB-MOP: Em vários pontos o senhor usa a literatura para comunicar a natureza mutável da desigualdade. Nas
obras de Balzac e Austen, os ativos e as rendas dos personagens são anotados de maneira sistemática. Na li-
teratura contemporânea, essa escala se perde: há pouco registro das condições econômicas dos personagens.
As desigualdades adquiriram uma espécie de invisibilidade cognitiva, de forma a torná-las mais aceitáveis
socialmente?
TP: O livro deriva em grande parte do temor de que, pouco a pouco, as estruturas sociais mudem de maneira
irremediável, sem nos darmos conta. A dinâmica não é prontamente inteligível, e há um risco real de que acor-
demos para descobrir uma sociedade ainda mais desigual que a do século XIX, pois combinará a arbitrariedade
das desigualdades herdadas com um discurso de meritocracia que torna os “perdedores” responsáveis por sua
situação (sua produtividade é muito baixa, por exemplo). O potencial para representar essas desigualdades na
literatura foi reduzido, entre outras coisas, pelo desaparecimento dos parâmetros monetários. No século XIX,
quando não havia inflação, estes eram marcados em pedra. Todo leitor imediatamente entendia o que se preten-
dia pelas quantias mencionadas em Balzac e Austen. Mas o crescimento e a alta inflação do século XX eliminaram
esses parâmetros. Os números envelhecem rápido, e hoje podemos até achar difícil relacionar um salário dos
anos 1990 a um determinado padrão de vida ou poder aquisitivo.

153
SISTEMA DE ENSINO A360°

 AB-MOP: O mundo caminha para ser mais desigual que no século XIX?
TP: De maneira mais geral, a fé coletiva no progresso e na elevação dos padrões de vida significa uma recusa a
imaginar um mundo moderno tão desigual quanto o dos anos 1800. É claro que ainda não chegamos lá, e não
quero cair no catastrofismo. Mas, sob certas condições, poderia acontecer. Existe uma cegueira deliberada para
a lógica da dinâmica contemporânea. Os departamentos nacionais de estatísticas se negam a publicar as rendas
mais altas. Em geral elas não passam do 90º percentil. Oficialmente, para não “incitar o populismo” e a inveja.
Com essa lógica, teria sido possível fazer um relatório em 1788 dizendo que tudo estava bem, já que a aristocra-
cia formava apenas 1% ou 2% da população. Mas em um país como a França ou a Grã-Bretanha, 1% ainda são
500 mil ou 600 mil cidadãos. Nos Estados Unidos são 3 milhões. Essa quantidade ocupa um grande espaço. Eles
estruturam uma ordem social. O objetivo não é incitar o ciúme; as distinções sociais não representam problemas
se forem úteis para todos, como deixa claro o Artigo 1º da Declaração de Direitos do Homem e do Cidadão de
1789 (“As distinções sociais só podem se basear na utilidade comum”). Mas elas têm de ser reguladas quando
começam a ir contra o bem comum. Representa uma real abdicação da responsabilidade quando pesquisadores
e instituições públicas deixam de descrever as desigualdades existentes em termos precisos. Isso deixa o campo
aberto a rankings de riqueza de revistas como Forbesou os Relatórios de Riqueza Global feitos pelos grandes
bancos, que assumem o papel de “produtores de conhecimento”. Mas a base metodológica de seus dados per-
manece imprecisa. Os resultados são amplamente ideológicos, um hino ao empreendedorismo e às fortunas bem
merecidas. Além disso, o simples fato de enfocar os “500 mais ricos” é uma maneira de despolitizar a questão da
desigualdade. O número é tão pequeno que se torna insignificante. Parece mostrar as desigualdades extremas,
mas na realidade dá uma imagem emoliente. As desigualdades têm de ser apreendidas de maneira mais extensa.
Se tomarmos as fortunas de mais de 10 milhões de euros, em vez de mais de 1 bilhão, elas são uma proporção
muito significativa da riqueza total. Precisamos das ferramentas certas para representar a desigualdade. O movi-
mento americano do 99% foi uma maneira de fazê-lo. Enfocar o 1% mais rico torna possível comparar sociedades
diferentes que de outro modo seriam incomensuráveis. Falar sobre “altos executivos” ou “rentistas” pode pare-
cer mais acurado, mas esses termos são historicamente específicos.

 AB-MOP: Por que o senhor defende a taxação como uma solução?


TP: O que defendo não é apenas um imposto qualquer, mas um imposto progressivo sobre o capital, mais ade-
quado que o imposto de renda para o “capitalismo patrimonial” do século XXI, o que não quer dizer que o
imposto de renda deva ser abolido. Um imposto sobre o capital privado é crucial para combater as crescentes
desigualdades, mas também seria um instrumento útil para resolver crises de dívida pública, com contribuições
de cada um, segundo sua riqueza. Isso seria o ideal, difícil, mas indispensável de se alcançar. No centro de cada
grande revolução democrática do passado houve uma revolução fiscal, e o mesmo valerá para o futuro. A inflação
é um imposto sobre o capital dos pobres. Ela reduz o valor dos pequenos ativos – balanços de bancos individuais,
enquanto as ações e os imóveis são protegidos. Não é a solução certa, mas é a mais fácil. Outra possibilidade é
impor um longo período de penitência, como fez o Reino Unido no século XIX para eliminar sua dívida. Mas isso
pode demorar décadas, e no final se gasta mais em juros da dívida do que em investimento na educação. De
muitas maneiras, a dívida do governo é um falso problema: representa um empréstimo feito por nós mesmos.
Em termos de riqueza privada, a Europa nunca foi tão rica. Os Estados é que estão pobres. Então o problema é
de distribuição. Essa simples realidade foi esquecida. A Europa tem enormes vantagens: seu modelo social, seus
padrões de vida herdados. Ela representa 25% do PIB global. Tem espaço geográfico suficiente para regular o
capitalismo com eficácia. Mas não antevê seu próprio futuro.
 AB-MOP: O senhor confia que seus dados captam plenamente o acúmulo de riqueza em sociedades empresa-
riais, como o fundo de trilhões de dólares administrado pela BlackRock?
TP: O principal motivo pelo qual precisamos de transparência financeira, um registro global dos ativos financei-
ros, assim como um imposto global sobre o capital, é exatamente porque precisamos de um conhecimento mais
democrático de quem possui o quê. Há uma considerável incerteza hoje sobre o nível exato de concentração de
riqueza, e isso serve para minar a possibilidade de ter um debate informado e democrático sobre o ritmo e a
forma adequados da taxação. Com base nos dados imperfeitos que reuni, acho que precisamos de um imposto
sobre o capital acentuadamente progressivo para mantermos sob controle a dinâmica da concentração de ri-
queza global. Mas, em primeiro lugar, creio que precisamos de mais transparência financeira para produzir fatos
comumente aceitos.

154
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

 AB-MOP: Que papel a posição enfraquecida da força de trabalho teve no aumento das desigualdades desde os
anos 1980?
TP: A redução das desigualdades de renda entre 1914 e 1975 se deveu tanto aos choques das duas guerras mun-
diais quanto às reações políticas que se seguiram. Mudanças políticas radicais, entre elas o aumento da taxação
progressiva, a seguridade social, o trabalho organizado e assim por diante, tiveram um papel enorme. Minha tese
é simplesmente que essas mudanças, incluídas, é claro, a retosvolução bolchevique e a resultante ameaça no
Leste, foram amplamente produtos dos choques induzidos pelas guerras e a Grande Depressão. Antes de 1914,
não havia tendência natural à redução da desigualdade. O sistema político era formalmente democrático, mas
não reagiu realmente ao nível alto e crescente de concentração de riqueza. A redução da desigualdade durante
o século XX foi principalmente o produto de violentas rebeliões políticas, e não tanto da democracia eleitoral
pacífica. A queda do comunismo por volta de 1990 também contribuiu claramente para a ascensão de uma fé
ilimitada no capitalismo privado do laissez-faire nas décadas de 1990 e 2000.
*Entrevista cedida à revista Esprit

Disponível em: http://www.cartacapital.com.br/revista/813/a-dinamica-implacavel-da-desigualdade-3103.html

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| ENEM Um trabalhador em tempo flexível controla o lo- 1. Princípio de Intensificação: Diminuir o tempo de du-
cal do trabalho, mas não adquire maior controle sobre ração com o emprego imediato dos equipamentos e
o processo em si. A essa altura, vários estudos sugerem da matéria-prima e a rápida colocação do produto
que a supervisão do trabalho é muitas vezes maior para no mercado.
os ausentes do escritório do que para os presentes. O
trabalho é fisicamente descentralizado e o poder sobre 2. Princípio de Economia: Consiste em reduzir ao mí-
o trabalhador, mais direto. nimo o volume do estoque da matéria-prima em
SENNETT, R. A corrosão do caráter: consequências pessoais do novo capitalismo. Rio de
transformação.
Janeiro: Record, 1999 (adaptado).
3. Princípio de Produtividade: Aumentar a capacidade
Comparada à organização do trabalho característica do de produção do homem no mesmo período (produ-
taylorismo e do fordismo, a concepção de tempo anali- tividade) por meio da especialização e da linha de
sada no texto pressupõe que montagem. O operário ganha mais e o empresário
A as tecnologias de informação sejam usadas para de- tem maior produção.
mocratizar as relações laborais. Dessa forma, seria possível controlar melhor todos
B as estruturas burocráticas sejam transferidas da em- os processos que articulam a produção e canalizar
presa para o espaço doméstico. os mecanismos de controle deslocando para os re-
sultados do trabalho.
C os procedimentos de terceirização sejam aprimora-
dos pela qualificação profissional.
02| ENEM
D as organizações sindicais sejam fortalecidas com a
EMPURRADA

valorização da especialização funcional.


PRODUÇÃO

E os mecanismos de controle sejam deslocados dos


processos para os resultados do trabalho.
Origem Fluxo de Informações Fim
Resolução:
EMPURRADA

E os mecanismos de controle sejam deslocados dos


PRODUÇÃO

Requisição Requisição
Entrega Entrega
processos para os resultados do trabalho
A concepção deste modelos de produção consiste Cliente Produção Fornecedor
em organizar a linha de montagem de cada fábrica
Disponível em: http://ensino.univates.br. Acesso em 11 maio 2013 (adaptado).
para produzir mais, controlando melhor as fontes de
matérias-primas e de energia, os transportes, a for- Na imagem, estão representados dois modelos de pro-
mação da mão-de-obra. Ele adotou três princípios dução. A possibilidade de uma crise de superprodução é
básicos; distinta entre eles em função do seguinte fator:

155
SISTEMA DE ENSINO A360°

A Origem da matéria-prima. A A facilidade em se estabelecer relações lucrativas


transformava as cidades em espaços privilegiados
B Qualificação da mão de obra.
para a livre iniciativa, característica da nova socieda-
C Velocidade de processamento. de capitalista.
D Necessidade de armazenamento. B O desenvolvimento de métodos de planejamento
urbano aumentava a eficiência do trabalho in-
E Amplitude do mercado consumidor.
dustrial.
Resolução:
C A construção de núcleos urbanos integrados por
D Necessidade de armazenamento. meios de transporte facilitava o deslocamento dos
trabalhadores das periferias até as fábricas.
O 1º. Modelo representa o Fordismo, que é um siste-
ma de produção, criado pelo empresário norte-ame- D A grandiosidade dos prédios onde se localizavam as
ricano Henry Ford, cuja principal característica é a fábricas revelava os avanços da engenharia e da ar-
fabricação em massa. O objetivo principal desse sis- quitetura do período, transformando as cidades em
tema era reduzir ao máximo os custos de produção locais de experimentação estética e artística.
e assim baratear o produto, podendo vender para o E O alto nível de exploração dos trabalhadores indus-
maior número possível de consumidores. Dessa for- triais ocasionava o surgimento de aglomerados ur-
ma, os funcionários não precisavam sair do seu local banos marcados por péssimas condições de mora-
de trabalho, resultando numa maior velocidade de dia, saúde e higiene.
produção. Também não era necessária utilização de Resolução:
mão-de-obra muito capacitada, pois cada trabalha-
E O alto nível de exploração dos trabalhadores indus-
dor executava apenas uma pequena tarefa dentro
triais ocasionava o surgimento de aglomerados ur-
de sua etapa de produção, no entanto, a mesma esta
banos marcados por péssimas condições de mora-
ligada a uma produção com estoque contínua para dia, saúde e higiene.
atender a demanda, uma vez que quanto maior a
produção e a produtividade, mais barato se torna o A questão aborda o período da Revolução Industrial
custo de produção. Dessa forma, o estoque pode ser inglesa e sua relação com a urbanização nos séculos
XVIII e XIX. A exploração sobre o trabalhador, e a au-
um problema para o produtor , caso ocorra alguma
sência de uma legislação trabalhista, abriam espaço
disfunção do consumo.
para a proliferação de ambientes urbanos com con-
Já o 2º. Modelo é o Toyotismo. Sistema flexível de dições precárias de higiene e moradia. Desse modo,
mecanização, voltado para a produção somente do as metrópoles do século XIX assemelhavam-se mais
necessário, evitando ao máximo o excedente. A pro- a cavernas escurecidas pela fuligem e pela umidade,
dução deve ser ajustada a demanda do mercado. do que com espaços celebrativos das relações hu-
manas.
Aplicação do sistema Just in Time, ou seja, produ-
zir somente o necessário, no tempo necessário e na 04| ENEM A evolução do processo de transformação de ma-
quantidade necessária, sem estoques e armazena- térias-primas em produtos acabados ocorreu em três
mentos desnecessários, evitando crises quanto ao estágios: artesanato, manufatura e maquinofatura.
mercado de consumo.
Um desses estágios foi o artesanato, em que se
03| ENEM A Inglaterra pedia lucros e recebia lucros. Tudo A trabalhava conforme o ritmo das máquinas e de ma-
se transformava em lucro. As cidades tinham sua sujeira neira padronizada.
lucrativa, suas favelas lucrativas, sua fumaça lucrativa,
B trabalhava geralmente sem o uso de máquinas e de
sua desordem lucrativa, sua ignorância lucrativa, seu
modo diferente do modelo de produção em série.
desespero lucrativo. As novas fábricas e os novos altos-
-fornos eram como as Pirâmides, mostrando mais a es- C empregavam fontes de energia abundantes para o
cravização do homem que seu poder. funcionamento das máquinas.
DEANE, P. A Revolução Industrial. Rio de Janeiro: Zahar, 1979 (adaptado). D realizava parte da produção por cada operário, com
Qual relação é estabelecida no texto entre os avanços uso de máquinas e trabalho assalariado.
tecnológicos ocorridos no contexto da Revolução Indus- E faziam interferências do processo produtivo por téc-
trial Inglesa e as características das cidades industriais nicos e gerentes com vistas a determinar o ritmo de
no início do século XIX? produção.

156
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Resolução: C a introdução das máquinas no processo produtivo
diminuía as possibilidades de ganho material para
B trabalhava geralmente sem o uso de máquinas e de os operários.
modo diferente do modelo de produção em série.
D o progresso tecnológico geraria a distribuição de ri-
Diferentemente da manufatura e da maquinofatura, quezas para aqueles que estivessem adaptados aos
o artesanato não utiliza a divisão técnica ou social novos tempos industriais.
do trabalho, não há mecanização característica ine- E a melhoria das condições de vida dos operários se-
rente à indústria moderna ria conquistada com as manifestações coletivas em
favor dos direitos trabalhistas.
05| ENEM O movimento operário ofereceu uma nova resposta
Resolução:
ao grito do homem miserável no princípio do século XIX. A
resposta foi a consciência de classe e a ambição de classe. B a completa transformação da economia capitalista
Os pobres então se organizavam em uma classe específi- seria fundamental para a emancipação dos operá-
ca, a classe operária, diferente da classe dos patrões (ou rios.
capitalistas). A Revolução Francesa lhes deu confiança: a
Partimos do pressuposto de que o capitalismo tem
Revolução Industrial trouxe a necessidade da mobilização
escapado de suas crises de sobre a cumulação atra-
permanente.
vés da produção do espaço. Para tanto, percebemos
(HOBSBAWN, E. J. A era das revoluções. São Paulo: Paz e Terra, 1977.)
a utilização de uma série de estratégias que se reali-
No texto, analisa-se o impacto das Revoluções Francesa zam no âmbito do lugar, contudo, na maioria das ve-
e Industrial para a organização da classe operária. En- zes, são gestadas em cidades bem distantes – mais
quanto a “confiança” dada pela Revolução Francesa era especificamente nos escritórios das grandes empre-
originária do significado da vitória revolucionária sobre sas. Se a produção do espaço se realiza através da
as classes dominantes, a “necessidade da mobilização tensão entre os diferentes agentes sociais, faz-se
permanente”, trazida pela Revolução Industrial, decorria necessário que os movimentos sociais tornem-se
da compreensão de que: instrumentos de transformação. É nesse sentido que
A a competitividade do trabalho industrial exigia um caminha nosso trabalho; acreditamos que as mu-
permanente esforço de qualificação para o enfren- danças na apropriação do espaço dar-se-ão através
tamento do desemprego. da transformação dos ativismos em movimentos so-
ciais de caráter mais amplo, que agrupem lutas mais
B a completa transformação da economia capita-
lista seria fundamental para a emancipação dos específicas – das ditas minorias – associando-as a
operários. uma luta de âmbito global.

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UEL Leia o texto a seguir. 02| FUVEST Viver numa grande cidade implica o reconheci-
A tecnologia tem sido o catalizador da mudança social mento de múltiplos sinais. Trata-se de uma atividade do
olhar, de uma identificação visual, de um saber adquiri-
desde antes do matemático grego Arquimedes demons-
do, portanto. Se o olhar do transeunte, que fixa fortuita-
trar que a água pode ser levantada para irrigar um terreno mente uma mulher bonita e viúva ou um grupo de moças
ressecado acima de um fluxo de água, por meio de um voltando do trabalho, pressupõe um conhecimento da
mecanismo contínuo propulsor dentro de um tubo flexí- cor do luto e das vestimentas operárias, também o olhar
vel. Contudo, ao mesmo tempo, a diferença entre os con- do assaltante ou o do policial, buscando ambos a sua pre-
templados e os tecnologicamente carentes tornou-se um sa, implica um conhecimento específico da cidade.
abismo. Para cada um que agora compra sua passagem Maria Stella Bresciani, Londres e Paris no século XIX: o espetáculo da pobreza.
São Paulo: Brasiliense, 1982, p.16. Adaptado.
de avião, trem e ingresso de teatro online, milhões ainda
esperam pela eletricidade e por água limpa corrente. O texto mostra como o forte crescimento territorial e de-
(Adaptado de: JARDINE, L. Como a tecnologia afeta a
mográfico de algumas cidades europeias, no século XIX,
transformação social. In: SWAIN, H. Grandes questões da História. redefiniu formas de convivência e sociabilidade de seus
Rio de Janeiro: José Olympio, 2010. p.255-259.)
habitantes as quais, em alguns casos, persistem até hoje.
A Com base no texto, descreva duas características A Cite e explique dois motivos do crescimento de cida-
fundamentais da Revolução Industrial inglesa do sé- des como Londres e Paris, no século XIX.
culo XVIII.
B Indique e analise uma característica, dentre as men-
B Discuta as relações entre desenvolvimento tecnoló- cionadas no texto, que se faça presente em grandes
gico e bem-estar social no mundo contemporâneo. cidades atuais.

157
SISTEMA DE ENSINO A360°

03| UFU Leia o texto abaixo. 04| UFC Ao descrever o processo de desenvolvimento capita-
lista durante o século XIX, o historiador Eric Hobsbawm ar-
A enchente em Paris em 1910 foi o resultado da combina-
gumenta que o mundo se dividiu em “dois setores”: o pri-
ção de condições climáticas extremas e decisões humanas meiro identificado por países de economias avançadas e o
relativas à engenharia. O verão de 1909 havia sido extrema- segundo, em regiões onde o processo de desenvolvimento
mente chuvoso, e os níveis de água no solo permaneceram econômico e político foi menos intenso. Desse modo, se-
altos até 1910. Quando, em dezembro de 1909 e janeiro de gundo Hobsbawm, “existia claramente um modelo geral
1910, houve ainda mais precipitação, o solo não suportou referencial das instituições e estruturas adequadas a um
mais e deixou de absorver a água da chuva. As altas tem- país ‘avançado’, com algumas variações locais”.
peraturas para a época [era o meio do inverno europeu],
especialmente nas montanhas da França central, ajudaram A Indique três características de um país “avançado”
no século XIX.
a derreter a neve, carregando grande quantidade de água
para rios e riachos. [...] A infraestrutura urbana de Paris B Que continente se destacou como centro do pro-
acabou piorando ainda mais a situação. A água brotava das cesso de desenvolvimento capitalista durante o sé-
bocas de lobo e invadia ruas e porões. As galerias subter- culo XIX?
râneas, renovadas por Haussmann em 1860, não foram C Identifique três países considerados avançados du-
suficientes para suportar tal quantidade de água. Também rante este período.
invadiu os túneis do metrô, penetrou no principal canal sob
o Sena e atingiu áreas do outro lado do rio. O engenhei- 05| UFPR O texto a seguir narra o episódio da proclamação
ro-chefe do serviço de águas durante a reforma feita por da Comuna de Paris em 1871.
Haussmann, Eugène Belgrand, havia recomendado que os
muros dos cais fossem elevados para prevenir inundações, “Faz-se silêncio, as pessoas escutam. Os membros do Comi-
tê Central e da Comuna, com o lenço vermelho a tiracolo,
mas os engenheiros posteriores não seguiram o aviso. As
acabam de subir ao palanque. Ranvier: ‘O Comitê Central
reformas levadas a cabo por Haussmann necessariamente entrega seus poderes à Comuna. Cidadãos, meu coração
aumentaram a impermeabilização do solo. está tão transbordante de alegria, que não posso pronun-
Jeffrey Jackson em entrevista para a Folha de São Paulo. ciar um discurso. Permiti-me apenas glorificar o povo de
Caderno Mais, de 14 de fevereiro de 2010.
Paris pelo grande exemplo que acaba de dar ao mundo’.
Os fatores que explicam a catástrofe da inundação da [...] Os tambores rufam. Os músicos, duzentas mil vozes, re-
cidade de Paris em 1910, apresentados no texto, reme- começam a entoar a Marselhesa, não querem mais discur-
tem ao processo de urbanização e de reorganização das sos. Em uma oportunidade, Ranvier mal consegue bradar:
cidades no final do século XIX. ‘Em nome do povo, é proclamada a Comuna!’”
(LISSAGARAY, Prosper-Olivier. A História da Comuna de 1871. São Paulo: Editora Ensaio, 1991, p.
A Analise esse processo destacando as políticas de in- 118.)

tervenção no espaço público. A Analise o contexto histórico que permitiu a procla-


B Relacione o crescimento urbano às tragédias que mação da Comuna na França de 1871.
acometeram as cidades a partir de suas reestrutu- B Discuta o desfecho da experiência revolucionária de
rações. governo dos partidários da Comuna.

T ENEM E VESTIBULARES
01| FUVEST Maldito, maldito criador! Por que eu vivo? Por O trecho acima, extraído de uma obra literária publicada
que não extingui, naquele instante, a centelha de vida pela primeira vez em 1818, pode ser lido corretamente
que você tão desumanamente me concedeu? Não sei! O como uma
desespero ainda não se apoderara de mim. Meus senti- A apologia à guerra imperialista, incorporando o de-
mentos eram de raiva e vingança. Quando a noite caiu, senvolvimento tecnológico do período.
deixei meu abrigo e vagueei pelos bosques. (...) Oh! Que
B crítica à condição humana em uma sociedade indus-
noite miserável passei eu! Sentia um inferno devorar-me,
trializada e de grandes avanços científicos.
e desejava despedaçar as árvores, devastar e assolar tudo
o que me cercava, para depois sentar-me e contemplar C defesa do clericalismo em meio à crescente laiciza-
satisfeito a destruição. Declarei uma guerra sem quartel à ção do mundo ocidental.
espécie humana e, acima de tudo, contra aquele que me D recusa do evolucionismo, bastante em voga no período.
havia criado e me lançara a esta insuportável desgraça! E adesão a ideias e formulações humanistas de igual-
Mary Shelley. Frankenstein. 2ª ed. Porto Alegre: LPM, 1985. dade social.

158
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
02| FAC. SANTA MARCELINA Observe as imagens. O preço disso? Quase ninguém sabe hoje fazer nada sem
apertar um botão. Acender um lampião a gás ou manu-
sear um elevador hidráulico, por exemplo, são tarefas
consideradas dificílimas. Para comprovar essa situação,
na Califórnia, em 2001, foi feita uma pesquisa em esco-
las de segundo grau. Resultado: constatou-se que quase
30% dos alunos não faziam ideia de como usar um tele-
fone de disco.
(http://d10g0.sites.uol.com.br/fotos.htm)
(Álvaro Oppermann, revista Aventuras na História, maio de 2007. Adaptado)

As imagens apresentam duas das sequências do filme Com base nas informações do texto, é correto afirmar
Tempos Modernos, de Charlie Chaplin, que tem como que a
tema central o trabalho em uma fábrica, típica da 2.ª Re- A Central Electric Company, no final do século XIX,
volução Industrial. É correto afirmar que as sequências lançou os primeiros botões para acionar sofisticadas
contêm uma máquinas industriais.
A crítica ao trabalho no modelo de sociedade socialis- B pesquisa aplicada em escolas públicas de segundo
ta que despreza o lucro. grau comprovou que 30% dos alunos jamais haviam
B denúncia contra os sindicatos de trabalhadores que visto um telefone de disco.
defendiam os interesses dos patrões. C estatística, citada no início do texto, é curiosa e sur-
C apologia ao trabalho nas fábricas, pois, esse dignifi- preendente por constatar que, no dia a dia, espora-
cava o homem. dicamente apertamos botões.
D falta de conhecimento no manuseio de equipamen-
D abordagem neutra sobre o trabalho no sistema capi-
tos sem botão pode ser considerada um aspecto ne-
talista.
gativo da inovação trazida pela empresa americana.
E crítica ao fordismo que, entre outros aspectos, alie-
E substituição de sinos e manivelas por similares mo-
nava o trabalhador.
vidos a eletricidade ocorreu pela necessidade das
03| FATEC Leia o texto a seguir. empresas de baixar os altos custos de produção.

Como fazíamos sem botão 04| MACK Segundo Wallerstein (1991), o capitalismo “... foi,
desde o início, um elemento da economia mundial e não
Uma estatística curiosa: a gente aperta por dia, em
dos estados-nação. O capital nunca permitiu que suas
média, 125 botões. Isso apenas nas geringonças que
aspirações fossem determinadas por fronteiras nacio-
carregamos conosco: celular, laptop, iPod. Essa histó-
nais.” Considere as afirmações a respeito do modo de
ria do convívio humano com o botão começou por vol-
produção capitalista abaixo.
ta de 1893, quando a Central Electric Company, de Chi-
cago, lançou o primeiro interruptor de luz, com dois I. O capitalismo comercial marca o período dos esta-
botõezinhos: um branco para ligar e um preto para dos absolutos e do intervencionismo estatal na eco-
desligar. nomia, o que denominamos de mercantilismo.

Até então, apertar uma tecla não era atividade desco- II. O capitalismo financeiro globalizado acelera a con-
nhecida – já a utilizávamos em pianos, telégrafos e, a centração de capitais, gerando grandes conglomera-
partir de 1888, nas máquinas fotográficas da Kodak. dos econômicos; mas, em contrapartida ao avanço
capitalista mundial, ampliou-se a exclusão social e a
Mas foi só no fim do século XIX que ferramentas manu-
marginalização dos países periféricos.
ais consagradas, como sinos e manivelas, começaram
a ser substituídas por similares movidos a eletricidade. III. Tanto o capitalismo comercial quanto o capitalismo
E de utilização fácil: no século XX, para usar qualquer financeiro aplicam as diretrizes do liberalismo eco-
coisa, bastava apertar o botão. Em vez de tocar um sino, nômico, especialmente no que diz respeito ao livre
apertava-se a campainha. comércio e ao fim dos monopólios comerciais.

159
SISTEMA DE ENSINO A360°

É correto assinalar que A em meados do século XVIII, a primeira Revolução In-


dustrial teve como principais invenções: a máquina
A somente a afirmativa I está correta.
a vapor e a lâmpada elétrica.
B somente a afirmativa III está correta.
B em meados do século XIX, a segunda Revolução In-
C somente as afirmativas II e III estão corretas. dustrial desenvolveu a indústria química e o uso da
D somente as afirmativas I e III estão corretas. eletricidade.

E somente as afirmativas I e II estão corretas. C a segunda revolução Industrial desenvolveu o uso


de computadores, tanto nos processos industriais
05| UNESP Todo processo de industrialização é necessa- quanto no uso pessoal.
riamente doloroso, porque envolve a erosão de pa- D a primeira revolução Industrial aconteceu em vários
drões de vida tradicionais. Contudo, na Grã-Bretanha,
países simultaneamente: Inglaterra, França, Holan-
ele ocorreu com uma violência excepcional, e nunca
da, Espanha e Portugal, além de introduzir a organi-
foi acompanhado por um sentimento de participação
zação da produção na fábrica.
nacional num esforço comum. Sua única ideologia foi
a dos patrões. O que ocorreu, na realidade, foi uma E as inovações tecnológicas nos últimos vinte e cinco
violência contra a natureza humana. De acordo com anos aumentaram a percentagem de trabalhado-
uma certa perspectiva, esta violência pode ser consi- res no setor industrial em detrimento do setor de
derada como o resultado da ânsia pelo lucro, numa serviços.
época em que a cobiça dos proprietários dos meios
de produção estava livre das antigas restrições e não 07| UERJ Quando os auditores do Ministério do Trabalho
tinha ainda sido limitada pelos novos instrumentos de entraram na casa de paredes descascadas num bairro
controle social. Não foram nem a pobreza, nem a do- residencial da capital paulista, parecia improvável que
ença os responsáveis pelas mais negras sombras que
dali sairiam peças costuradas para uma das maiores re-
cobriram os anos da Revolução Industrial, mas sim o
des de varejo do país. Não fossem as etiquetas da loja
próprio trabalho.
coladas aos casacos, seria difícil acreditar que, através
(Edward P. Thompson. A formação da classe operária inglesa,
vol. 2, 1987. Adaptado.) de uma empresa terceirizada, a rede pagava 20 centavos
O texto afirma que a Revolução Industrial por peça a imigrantes bolivianos que costuravam das 8
da manhã às 10 da noite. Os 16 trabalhadores suavam
A aumentou os lucros dos capitalistas e gerou a con- em dois cômodos sem janelas de 6 metros quadrados
vicção de que era desnecessário criar mecanismos cada um. Costurando casacos da marca da rede, havia
de defesa e proteção dos trabalhadores.
dois menores de idade e dois jovens que completaram
B provocou forte crescimento da economia britânica 18 anos na oficina.
e, devido a isso, contou com esforço e apoio plenos Adaptado de Época, 04/04/2011
de todos os segmentos da população.
A comparação entre modelos produtivos permite com-
C representou mudanças radicais nas condições de preender a organização do modo de produção capitalis-
vida e trabalho dos operários e envolveu-os num ta a cada momento de sua história. Contudo, é comum
duro processo de produção. verificar a coexistência de características de modelos
D piorou as condições de vida e de trabalho dos ope- produtivos de épocas diferentes.
rários, mas trouxe o benefício de consolidar a ideia
Na situação descrita na reportagem, identifica-se o se-
de que o trabalho enobrece o homem.
guinte par de características de modelos distintos do ca-
E preservou as formas tradicionais de sociabilidade pitalismo:
operária, mas aprofundou a miséria e facilitou o
A organização fabril do taylorismo – legislação social
alastramento de epidemias.
fordista
06| UNIFOR A economista norte-americana Deirdre Mc- B nível de tecnologia do neofordismo – perfil artesa-
Closkey afirma que as inovações tecnológicas, baseadas nal manchesteriano
na criatividade, inventividade e liberdade, provocaram
C estratégia empresarial do toyotismo – relação de
o inigualável crescimento da renda média em diversos
trabalho pré-fordista
países, especialmente a partir do século XIX, continuan-
do durante o século XX. Sobre inovações, criatividade e D regulação estatal do pós-fordismo – padrão técnico
inventividade, podemos afirmar que sistêmico-flexível

160
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
08| MACK Podemos dizer que a tensão social identificada pelo tex-
to se associa
A à ampla presença de estrangeiros na França do início
do século XIX, provocada pelas ondas de migrações
oriundas das colônias francesas do norte da África.
B ao sucesso das reformas sociais promovidas pela Re-
volução de 1789, que permitiram a ampliação da ofer-
Na segunda metade do século XIX, em todo mundo oci-
ta de empregos nos meios urbanos e rurais franceses.
dental, verificou-se o crescimento das elites urbanas. A
existência de um público leitor urbano, com determi- C à organização de sindicatos e partidos políticos co-
nado nível de renda e de instrução, determinou a re- munistas e anarquistas, que preparavam os levantes
formulação da linguagem visual da época, como vemos sociais de 1848 e 1871 e iniciavam a gradual implan-
nas imagens de embalagem de sabonete acima. Além tação do socialismo na França.
das novas tecnologias introduzidas no setor gráfico,
permitindo a produção e a veiculação em maior esca- D ao avanço da industrialização, que acelerou o pro-
la de informações e de imagens, o outro fator decisivo cesso de evasão rural e provocou forte concentra-
para essa expansão foi ção de trabalhadores nas grandes cidades europeias
A a mudança na relação entre comerciante e consumi- do período.
dor que passou a depender muito mais do poder de
E à escassez de alimentos, originada pelas longas tem-
influência da publicidade e da embalagem dos pro-
poradas de seca e de peste nos campos franceses e
dutos, do que da real necessidade do consumidor
em adquiri-los. aprofundada pelos guerras ocorridas durante o pe-
ríodo napoleônico.
B o apoio irrestrito dos governos nacionais, que se uti-
lizaram dessa expansão inédita de impressos e do 10| PUC A autora francesa Josette François afirma: “depois
consumo tipográfico pela população urbana para
da humilhação de 1871, as crianças francesas passaram
anunciar e veicular símbolos patrióticos e incentivar
o nacionalismo. a ser educadas para um único fim: a vingança necessá-
ria. Todas as canções que se escutavam nas festas fami-
C a ávida necessidade, nessas novas sociedades urba-
liares falavam da Alsácia-Lorena”.
nas ocidentais, de informação e de ideais, como pá-
tria e liberdade, civilização e tecnologia, capazes de Apud SENISE, M.H.V. e PAZZINATO, A. L. . História moderna
e contemporânea. 12 ed. São Paulo: Ática, 1998, p. 217.
unirem, em torno de um mesmo ideal, os diferentes
grupos sociais. A “humilhação” mencionada refere-se ao resultado da
D a maior oferta de mão-de-obra especializada nos guerra _________. A “vingança necessária” era contra
grandes centros urbanos, capaz de atender a de- _________, sob cujo domínio encontrava-se a região
manda desse novo setor tipográfico e também de se mencionada. Um dos efeitos internacionais dessa posi-
tornarem futuros consumidores. ção francesa foi a assinatura, em 1907, da chamada Trí-
E a busca constante de novidades que pudessem au- plice Entente, com _________.
mentar as vendas no comércio, dado ao aumento
expressivo da capacidade de consumo das classes A da Crimeia a República Federal da Alemanha ; EUA e
trabalhadoras urbanas. Inglaterra

B franco-prussiana o império alemão ; Inglaterra e


09| FMABC “Os anos de penúria das décadas de 1830 e
1840, especialmente na França, só aumentaram a sensa- Rússia
ção de contrastes profundos. De um lado o crescimento C da Crimeia o “Segundo Reich” alemão ; EUA e Ingla-
vertiginoso da população francesa (29 milhões em 1816,
terra
36 milhões em 1850), concentrada nas cidades, condu-
zindo a um estado de mal-estar e de tensão social que D franco-prussiana o império alemão ; EUA e Inglaterra
explodia em violentos motins urbanos (...).”
E franco-prussiana a República Federal da Alemanha ;
Elias Thomé Saliba. As utopias românticas. São Paulo: Estação
Liberdade, 2003, p. 28. Adaptado. Inglaterra e Rússia

161
SISTEMA DE ENSINO A360°

11| UEPB O nacionalismo ajudou a redesenhar o mapa da O texto acima foi publicado em Paris, durante a Comuna
Europa no século XIX. Movimentos políticos, ancorados de 1871. Podemos dizer que a Comuna de Paris
em conceitos de identidade nacional, redefiniram as A foi a primeira revolução burguesa da história con-
fronteiras europeias e substituíram monarquias tradicio- temporânea e instaurou a República na França.
nais por nações-Estado. Assinale V para as alternativas
verdadeiras e F para as falsas: B representou um momento de aliança da burgue-
sia e do proletariado franceses contra o Segundo
( ) Os países que derrotaram a França napoleônica reu- Império.
niram-se em Viena (1814) para impedir que monar-
C foi alimentada pelas ideias sociais do século XIX e
quias destronadas pelos exércitos bonapartistas se
pela derrota francesa na Guerra Franco- Prussiana.
recompusessem. O resultado foi que Fernando VII,
da Espanha, foi banido da Europa; a Itália foi unifica- D representou a primeira tentativa bolchevique de
da e virou nação; Noruega e Suécia foram divididas expandir a hegemonia soviética para fora da Rússia.
e perderam suas coroas. E foi uma rápida experiência de poder burguês, cele-
( ) Os movimentos nacionalistas europeus aceitavam brada por teóricos como Karl Marx e Mikhail Bakunin.
depender economicamente de uma nação estran-
geira, desde que tivessem autonomia política, e de- 13| UFTM Pode-se apontar como característica comum das
fendiam subideologias nacionalistas, algumas limi- unificações da Alemanha e da Itália,
tadas à defesa de um idioma próprio. A a criação de uma república liberal, comanda pela
pequena burguesia e ligada às tradições românticas
( ) Otto Von Bismarck, estadista prussiano, viu um de-
do século XIX, em especial com a música.
sejo de unidade nacional ao defender a supremacia
da Prússia na Europa Central. O processo se inicia B a participação de todas as classes – em especial do
em 1864, quando Prússia e Áustria se unem para operariado – associada à constituição de uma mo-
anexar ducados dinamarqueses, e culmina em 1871 narquia que respeitava as culturas regionais.
com a proclamação do Império Alemão, tendo Bis-
C o apoio militar da Áustria para efetivar os interesses
marck como seu Chanceler.
nacionais dos povos que lutavam contra as forças
( ) A lealdade ao rei foi substituída, nos exércitos euro- reacionárias francesas e do papado.
peus, pela lealdade ao país - um patriotismo funda-
do no conceito de revolução social. Para defender D a ação inglesa contra as forças reacionárias que,
a pátria, a população contribuiria para a guerra e o apoiadas nas decisões do Congresso de Viena, im-
alistamento obrigatório foi introduzido na Europa. pediam a formação de novos Estados.

Assinale a alternativa correta: E o fato de esse processo ter sido liderado pelas clas-
ses dominantes de regiões de crescente industriali-
A F, F, V, V zação.
B F, F, F, V
14| UFV A expressão Risorgimento designa o conjunto de
C V, V, F, F
movimentos heterogêneos que desejaram a unificação
D F, V, F, V da Itália no século XIX. A vertente vitoriosa que promo-
veu a unificação da Itália foi:
E V, F, V, V
A o projeto republicano de Giuseppe Mazzini, que
12| FMABC “A revolução social está em marcha e ninguém criou o movimento Jovem Itália.
irá barrar seu caminho. (...) A Comuna pode salvar tudo!
Eu o juro! Eu o juro em nome de minhas lembranças do- B o movimento popular e secreto dos Carbonários, que
lorosas e das minhas altivas esperanças. (...) A burguesia defendeu a instituição de um Estado unitário e laico,
poderia ajudar a nos massacrar, mas seríamos apenas contra a influência da Igreja e do Império Austríaco.
alguns no cemitério, e ela rolaria amanhã, criminosa e
C o Papado, que defendeu a instituição de uma mo-
arruinada, ao abismo! Que ela se junte à Comuna! Nós
oferecemos isso hoje, amanhã talvez seja tarde demais. narquia teocrática com sede no Vaticano.
Decidam-se!” D o movimento liderado pelo reino do Piemonte-Sar-
Jules Vallès. “Decidiam-se!”, Le cri du peuple, 3/4/1871. denha, que adotou uma monarquia constitucional
Crônicas da Comuna. São Paulo: Ensaio, 1992, p. 23-24 laica e favoreceu a industrialização.

162
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
IMPERIALISMO
A compreensão do mundo contemporâneo perpas-
sa as noções de capitalismo e Imperialismo. Apesar das
sociedades ocidentais, em sua maioria, declararem-se
capitalistas, a verdade é que elas se encontram em di-
ferentes graus e formas de desenvolvimento. Mas uma
coisa é certa: o poder imperial norte-americano conse-
guiu hegemonizar o sistema político mundial.
Marx continua mais atual que nunca, apesar de ter
definido no passado os traços centrais das sociedades
capitalistas. Sob distintos contornos, a mais-valia conti-
nua alimentando os processos de acumulação privada
de capital. Destaca-se, ainda, o fato do sistema mundial
se organizar em torno do poder imperial norte-america-
no, superada a fase da bipolaridade mundial.
A Charge ironiza a sede estadunidense por petróleo.
Tais considerações são válidas, mas somente tendo Disponível em: www.historialivre.com/contemporanea/imperialismo.htm

em vista a verdadeira compreensão histórica do Impe-


rialismo intrínseco à expansão colonial das grandes potências europeias, nas décadas finais do século XIX. Essa época foi mar-
cada pela partilha e ocupação de grandes territórios da África e da Ásia com destaque à potência britânica.
A expansão colonial estava associada ao rápido desenvolvimento do sistema capitalista, sobretudo após a Revolução In-
dustrial. O liberalismo de Adam Smith legitimava o fenômeno do Imperialismo, cuja expressão máxima preconizava o “livre
mercado”, mas que dará lugar à fase monopolista do capitalismo, ainda no século XIX.
Disputas por mercados consumidores, territórios, matérias-primas e riquezas, mesclavam-se às teorias racistas de inferio-
rização e estigmatização cultural, ao domínio político e à incorporação à ordem europeia vigente. O auge da crise imperialista,
fomentada pela desenfreada disputa político-econômica entre as superpotências capitalistas, levará à eclosão da Primeira
Guerra Mundial, em 1914.

O FENÔMENO “IMPERIALISMO”
Conhecido também como Neocolonialismo, o Im-
O AVANÇO INDUSTRIAL
perialismo é um típico fenômeno do século XIX que
A partir do século XIX, a  Inglaterra não conseguiu mais conter a expansão
representou o processo de expansão do capitalismo industrial para outros países.
industrial europeu. A industrialização que havia se ini-
As minas de carvão e ferro garantiram a precoce industrialização da Bélgica.
ciado na Inglaterra expandiu-se para outras regiões, Os acontecimentos revolucionários na França permitiram o amadurecimento da
acirrando a competitividade entre as potências que ne- ideologia burguesa voltada ao progresso industrial efetivamente consolidado
com Napoleão III, apesar da perda das ricas jazidas de ferro da região de
cessitavam de quantidades cada vez maiores de maté- Alsácia-Lorena para a Alemanha. Quanto a alemães e italianos somente
rias-primas e de novos mercados consumidores. A saída a partir da unificação política foram possíveis as condições necessárias ao
foi a expansão dos domínios dessas nações industriali- desenvolvimento de seu parque industrial.

zadas europeias em direção às regiões dos continentes Os Estados Unidos destacou-se como o único país americano em condições
de industrializar-se. A descoberta de ouro na Califórnia, a Guerra de Secessão
africano e asiático, mediante acirrada concorrência. Os e os investimentos ingleses são fatores responsáveis por tal processo. Do
Estados Unidos e o Japão também adotaram a postura outro lado do mundo, no Oriente, a modernização japonesa empreendida
imperialista em suas respectivas zonas de influências pela Revolução Meiji assimilava tecnologias ocidentais que sistemáticamente
alimentavam o avanço industrial.
territoriais.
Distinto do colonialismo desenvolvido durante a Idade Moderna, os imperialistas tinham como principal objetivo a in-
corporação da população periférica a seus vastos mercados consumidores. O controle do fornecimento de matérias-primas
coloniais estava ligado à expansão da industrialização e ao incremento de novas tecnologias voltadas a diminuição dos custos
de produção. Além disso, as metrópoles atuavam nos espaços coloniais, com o evidente objetivo de ampliar suas riquezas. Já
na fase neocolonial, os Estados pretendiam, além do domínio econômico, o controle político das regiões coloniais periféricas,
muitas vezes sob a orientação de grandes empresas, acreditando ser essa postura necessária ao alcance de maiores lucros.
Aspecto relevante à compreensão do fenômeno imperialista está ligado ao crescimento demográfico europeu neste pe-
ríodo, que instigou as potências europeias a instalar parte desse excedente populacional nas regiões afro-asiáticas. De fato,
muitas pessoas estavam em busca de oportunidades econômicas considerando os investimentos de capitais nestas regiões. Por

163
SISTEMA DE ENSINO A360°

outro lado, o excedente populacional contribuía com o pagamento de


impostos e o fortalecimento dos exércitos, mediante a incorporação
de mais homens necessários ao controle das regiões dominadas.
Quanto às formas de dominação, o Imperialismo poderia assu-
mir dois contornos: formal e informal. O domínio formal consistia na
ocupação territorial direta e ocorreu predominantemente na Ásia e
na África. Está forma se tornou necessária em regiões densamente
habitadas, com vastos mercados consumidores e extensos recursos
naturais. Na maioria das vezes, as potências industrializadas fomen-
tavam os desentendimentos locais das regiões periféricas, o que fa-
cilitava a dominação e a divisão dessas áreas com outras potências.
Já o domínio informal ocorria de maneira indireta, ou seja, apesar
de aparentemente livres, os países mantinham-se dependentes eco-
nomicamente das potências industrializadas, o que também garantia
influência política dessas nas regiões periféricas. Um bom exemplo
dessa forma de dominação é o Brasil que, mesmo sendo uma nação
livre e soberana desde 1822, na prática tornou-se dependente da In-
glaterra, só que agora na esfera econômica.
Quanto à política econômica, percebemos que o Imperialismo
abandonava sistematicamente a ideologia liberal para dar lugar ao
capitalismo monopolista e oligopolista. Os princípios do laissez-fai-
re, ligados à política de livre-cambismo, não atendiam mais às neces-
sidades de expansão comercial e industrial dessas potências. A con-
corrência econômica entre os países crescia velozmente, o que exigia Caricatura de Cecil Rhodes após o anúncio da construção da
linha de telégrafo e da estrada de ferro Cabo-Cairo. É dele a
a violenta expansão territorial, política, econômica e militar desses famosa frase: “se eu pudesse, eu anexaria outros planetas”.
centros de produção industrializados. Nessa lógica de concentração Autor Edward Linley Sambourne (1844–1910). IN: Punch and
econômica, poderosas empresas industriais passavam a dominar am- Exploring History 1400-1900: An anthology of primary sources,
p. 401, por Rachel C. Gibbons.
plos mercados consumidores, dificultando, assim, a concorrência en-
tre estas e as pequenas e médias empresas.
Do mesmo modo, a expansão do mercado de ações e do sistema especulativo de créditos, dentre outros elementos, favore-
ceu a emergência do capitalismo financeiro, ou seja, a fusão do capital industrial com o bancário. Neste momento, instituições
bancárias e financeiras passaram a investir diretamente nas empresas e lhes fornecer vastos empréstimos, o que aumentava
desmedidamente a margem de lucros das primeiras, mas provocava também o endividamento de muitos empresários. Podia
corresponder, igualmente, aos financiamentos cedidos aos países periféricos, destinados à expansão de suas redes ferroviárias
e de comunicação. Isso gerava altos lucros e a dependência dessas economias emergentes em relação às superpotências.
Como podemos perceber, o Imperialismo conseguiu resolver momentaneamente o problema do excedente de capitais
após o domínio da África, da Ásia e da América Latina. Por outro lado, suscitou um estado de permanente tensão entre as
superpotências, provocando a ruptura do equilíbrio político europeu. Tinha início a corrida armamentista, que levaria à deno-
minada paz armada, conforme analisaremos adiante.

QUADRO-RESUMO
COLONIALISMO IMPERIALISMO
1.ÉPOCA (SÉCULOS) XV-XVIII XIX-XX
2. FASE Capitalismo comercial (Mercantilismo) Capitalismo Industrial (Financeiro e Monopolista)
3. FORMA Domínio político Domínio político (formal) domínio econômico (informal)
4. REGIÃO América Ásia e África (formal), América (informal) e Oceania
Aquisição de metais preciosos, produtos Domínios de mercados consumidores, matérias-primas
5. OBJETIVOS
tropicais e mercados consumidores e áreas para investimento de capitais excedentes
6. JUSTIFICATIVA Missão civilizadora
Expandir a fé cristão
IDEOLÓGICA (Espalhar o progresso pelo mundo)
Inglaterra, França, Holanda, Bélgica, Alemanha, Itália,
7. PAÍSES (PRINCIPAIS) Portugal e Espanha
EUA e Japão

164
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
JUSTIFICATIVAS IDEOLÓGICAS DO IMPERIALISMO O FARDO DO HOMEM BRANCO
Apesar das várias explicações econômicas para a intervenção das Tomai o fardo do Homem Branco -
Envia teus melhores filhos
superpotências nas zonas periféricas, foram formuladas justificativas Vão, condenem seus filhos ao exílio
ideológicas para a necessidade de sua dominação. Para servirem aos seus cativos;
Para esperar, com arreios
Em primeiro lugar, é preciso registrar que o Imperialismo estava Com agitadores e selváticos
camuflado por um discurso altruísta, ou seja, difundia-se a ideia de Seus cativos, servos obstinados,
Metade demônio, metade criança.
que a presença europeia nessas localidades periféricas era necessária
e indispensável ao desenvolvimento e progresso de suas populações. Tomai o fardo do Homem Branco -
As potências se apresentavam “preocupadas” com o bem estar colo- Continua pacientemente
nial e solidárias às necessidades daqueles povos “primitivos”, “atrasa- Encubra-se o terror ameaçador
E veja o espetáculo do orgulho;
dos” e “selvagens”. Pela fala suave e simples
Explicando centenas de vezes
Passemos a análise das perspectivas que ideologicamente legiti-
Procura outro lucro
mavam a política imperialista. E outro ganho do trabalho.

Destacamos inicialmente o etnocentrismo europeu que estava Tomai o fardo do Homem Branco -
fundamentado no conceito de superioridade de alguns povos em rela- As guerras selvagens pela paz -
Encha a boca dos Famintos,
ção a outros. Nesse caso, as populações europeias julgavam que seus
E proclama, das doenças, o cessar;
hábitos culturais encontravam-se em um patamar superior de desen- E quando seu objetivo estiver perto
volvimento, justificando, assim, a discriminação dos “outros” (africa- (O fim que todos procuram)
Olha a indolência e loucura pagã
nos, asiáticos e americanos). Esse “outro” era definido de maneira
Levando sua esperança ao chão.
preconceituosa a partir do ponto de vista específico europeu que, ao
não aceitar e compreender as diferenças, terminava por  repudiar e Tomai o fardo do Homem Branco -
Sem a mão-de-ferro dos reis,
até eliminar o que lhe era estranho. Mas, sim, servir e limpar -
A história dos comuns.
Uma segunda justificativa ideológica para o Imperialismo con-
As portas que não deves entrar
substanciou-se no racismo que, de maneira equivocada, construiu As estradas que não deves passar
suas percepções sociais em bases biológicas e cientificamente falsas. Vá, construa-as com a sua vida
E marque-as com a sua morte.
Assim como ocorre no etnocentrismo, a tese racista defende que a
existência das diferenças entre os povos ocorre em razão de uma Tomai o fardo do homem branco -
classificação natural entre superiores e inferiores. Sob esse ponto de E colha sua antiga recompensa -
A culpa de que farias melhor
análise, os europeus acreditavam que suas habilidades ou qualidades O ódio daqueles que você guarda
seriam herdadas biologicamente, do mesmo modo que os povos “in- O grito dos reféns que você ouve
feriores” herdaram suas inabilidades dos antepassados. Esse discurso (Ah, devagar!) em direção à luz:
"Porque nos trouxeste da servidão
legitimou o tratamento distinto a membros de “raças diferentes”. Nossa amada noite no Egito?"

Por fim, destacamos o darwinismo social, baseado na teoria


Tomai o fardo do homem branco -
da seleção natural do cientista Charles Darwin. Aproveitando-se da Vós, não tenteis impedir -
consolidada explicação quanto à diversidade e à evolução dos seres Não clamem alto pela Liberdade
Para esconderem sua fadiga
vivos, as ciências sociais passaram a defender a tese de que as carac-
Porque tudo que desejem ou sussurrem,
terísticas biológicas e sociais poderiam determinar a superioridade Porque serão levados ou farão,
de certos indivíduos em relação a outros. Logo, os europeus consi- Os povos silenciosos e calados
deravam que a própria natureza os havia selecionado biologicamen- Seu Deus e tu, medirão.

te, o que representava o auge do desenvolvimento das sociedades Tomai o fardo do Homem Branco!
humanas, quando comparados a africanos, americanos e asiáticos. Acabaram-se seus dias de criança
Esse discurso justificava, igualmente, as teorias anteriores, ou seja, a O louro suave e ofertado
O louvor fácil e glorioso
pretensa superioridade europeia, e afirmava sua hegemonia. Venha agora, procura sua virilidade
Através de todos os anos ingratos,
Conhecido como o “profeta do imperialismo britânico”, o poeta e
Frios, afiados com a sabedoria amada
escritor Rudyard Kipling tornou-se um dos maiores nomes do neoco- O julgamento de sua nobreza.
lonialismo. Ele foi o responsável por formular a “teoria do fardo do ho- Rudyard Kipling

165
SISTEMA DE ENSINO A360°

mem branco”, segundo a qual, com base em uma visão eurocêntrica


de mundo, havia uma explicação “moral” para o avanço imperialista.
De acordo com essa teoria, os países europeus seriam moralmente
legitimados a promover a expansão imperialista com o intuito de am-
pliar e difundir seus valores políticos, culturais e religiosos aos povos
inferiores. Tratava-se de uma missão humanitária, uma responsabili-
dade do homem branco em levar o desenvolvimento e a civilização a
esses povos “atrasados e ignorantes”, incapazes de produzir cultura e
história. Era praticamente o resgate dos povos inferiores do estado de
barbárie em que se encontravam.
Apesar desse discurso altruísta, a ação imperialista sempre esteve
acompanhada de violência e conflitos com os povos nativos, os quais
evidenciavam sua postura de resistência à dominação.

A AÇÃO IMPERIALISTA NA ÁFRICA E A


PRESENÇA NORTE-AMERICANA NA AMÉRICA
Sátira a teoria do fardo do homem branco de Kipling mostra
Durante a Idade Moderna, a presença colonial europeia no con- os “brancos” representando as potências coloniais sendo
tinente africano se concentrou basicamente nas regiões litorâneas, transportados como carga por seus súditos “de cor” (1899).
Imagem domínio público.
como Angola e África do Sul, e na região mediterrânea ocupada, até
então, pelo decadente Império Turco-otomano. O lucrativo tráfico negreiro, o comércio de ouro e de marfim marcaram, defini-
tivamente, a economia mercantil nesta fase. Contudo, a maior parte do continente africano continuava livre da dominação es-
trangeira.

A partir do século XIX, a presença europeia ocorreu de forma mais articulada e pode se fortalecer com a desestrutura-
ção cultural e linguística das inúmeras comunidades tribais. Do mesmo modo, fez uso do discurso altruísta e “civilizador”,
necessário ao desenvolvimento desse povo “selvagem”, o que demonstrava o profundo desprezo europeu pela diversidade
cultural da África e pelos milhares de anos de sua história. Levar esses povos rumo à civilização era a missão dos europeus,
mais que isso, era o “fardo do homem branco” ao qual estava preso, não por interesses humanitários, mas exclusivamente
econômicos.
Em todo o continente explodiram revoltas e mo-
Um dos principais destinos dos escravos traficados era o Brasil. Não raras
vimentos de resistência coloniais contrários à invasão vezes sofriam violências diversasa e maus tratos como relata o colono suíço
Thomas Davatz:
estrangeira. A Revolta Zulu, no Sul da África, a oposição
dos nômades tuaregues no Saara, as rebeliões sudanesa “É lamentável, em todo caso, a sorte desses negros. Eles sabem que são
espoliados e isso deve tornar-lhes ainda mais amargos os espancamentos e
e etíope que conseguiram manter suas liberdades por outros maus tratos que sofrem. Também é preciso ter em mente que muitos
negros deixam de trabalhar bem se não foram convenientemente espancados.
certo período, a luta argélia por dez anos comandada E se desprezássemos a primeira iniqüidade a que os sujeitam, isto é, sua
por Abd el-Kader e a resistência dos colonos bôeres ao introdução e submissão forçada, teríamos de considerar em grande parte
merecidos os castigos que lhes impõem os seus senhores.”
domínio inglês na África do Sul, são apenas alguns exem-
(DAVATZ, Thomas. Memórias de um Colono no Brasil. 2ª Ed. São Paulo: Livraria Martins Ed., 1951. pp. 62-63)
plos da aversão colonial ao domínio que se apresentava.

Impulsionados pelos progressos industriais dessa fase neocolonial, as potências europeias avançaram em direção ao
interior do continente. Conquistaram e dividiram territórios, povos e culturas, revelando o quão dramático foi esse processo
de ocupação. Estratégias de dominação distintas foram vastamente utilizadas, desde inovações tecnológicas e forças mili-
tares, até alianças com líderes locais para a exploração conjunta da região conquistada, legitimada a partir das discórdias
entre as próprias tribos. Em pouco tempo, grandes reinos africanos desapareceram para dar origem a mais de 50 Estados
demarcados indiscriminadamente e alheios às especificidades étnicas e culturais. Essa situação reverbera até os dias atuais
quando verificamos que as fronteiras africanas separam comunidades em duas ou mais nações ou reúne, em uma mesma
nação, tribos rivais.

166
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Dois fatores teriam despertado a atenção das potências euro-
peias sobre o continente e, consequentemente, a violenta disputa
e expansão territorial: a descoberta de diamantes na África do Sul
e a abertura do Canal de Suez, em 1869. O Canal de Suez denotava
importância estratégica àquele que o controlasse, pois, sua aber-
tura passou a permitir a rápida navegação entre os mares Verme-
lho e Mediterrâneo, encurtando as distâncias entre o Ocidente e o
Oriente. Do ponto de vista econômico, o Canal facilitou a integra-
ção entre os grandes centros industriais europeus e os mercados
asiáticos.
As maiores fatias territoriais ficaram com Inglaterra, França e Bél-
gica, seguidas da Alemanha. Entre 1830 e 1857, os franceses conquis-
taram a Argélia, o que simbolizava, de certa maneira, a recuperação
do prestígio francês perdido após as guerras napoleônicas. Garantin-
do lucros exorbitantes com a exploração daquele território, os france-
ses puderam se concentrar na conquista da Tunísia, do Marrocos, de
Madagascar e da África Ocidental e Equatorial Francesa.
Interessados na obtenção do Canal de Suez, os ingleses dire-
cionaram sua conquista imperialista para o Egito, o que elevava a
tensão em relação à França. Tendo conhecimento que a construção
do Canal provocou um considerável endividamento do Egito com os
bancos europeus, em especial os britânicos, a Inglaterra aproveitou
para ampliar suas atividades no país e, em 1881, passou a exercer
maior controle sobre a região. Destaca-se o fato de que o Egito era,
neste momento, o maior produtor mundial de algodão, matéria-pri-
ma indispensável à indústria têxtil inglesa. A Inglaterra implementou
no Egito o modelo de colonização indireta ao conservar no poder
uma elite local, todavia, submetida a seus interesses, que estavam
representados pelos Altos Comissários Gerais.
Imagem de satélite mostra a ligação entre o Mar Vermelho,
O projeto imperialista inglês empenhou-se, ainda, na conquis- ao Sul do Egito, e o Mar Mediterrâneo, ao norte, pelo Canal
ta de inúmeras outras regiões, como podemos verificar no mapa de Suez. Com 195 quilômetros de extensão sua construção
perdurou 10 anos e, ao final, pertencia a França e ao Egito
adiante. (NASA, 2011).

Interessado na exploração de riquezas como o marfim e a borra-


cha, o rei belga Leopoldo II promoveu, em 1876, a anexação de toda a bacia do Congo, que acabou convertida em propriedade
particular do mesmo, no ano seguinte. Esse é o caso mais surpreendente de dominação imperialista, pois, o monarca não
poupou o uso da extrema violência contra a população local contabilizando, ao final, milhares de mortos em um dos maiores
massacres da História. Somente em 1908, sob pressão internacional, o rei entregou suas possessões privadas no Congo ao
governo belga.
A concorrência entre as nações imperialistas, a insatisfação de algumas delas, a exemplo de Alemanha e Itália, bem como a
elevação da tensão, conduziu a organização da Conferência de Berlim, entre 1884 e 1885. Apesar de proposto por Portugal, o
encontro foi conduzido por Otto Von Bismarck, da Alemanha, cuja finalidade era a partilha do continente africano e a definição
de regras específicas quanto às conquistas territoriais. Novas anexações de territórios deveriam ser cientificadas por meio de
um documento oficial destinado aos demais governos imperialistas.
Como resultado da Conferência de Berlim, a Alemanha e a Itália adquiriram condições de partir para a corrida imperialismo
na África, mesmo nas últimas décadas do século XIX. O atraso desses dois países foi em consequência de seus respectivos pro-
cessos de unificação. Os alemães compuseram seus domínios em África Oriental Alemã (Ruanda-Burundi e Tangancia) e África
Ocidental Alemã (Camarões, Togo e a atual Namíbia). Já a Itália passou a exercer o controle do litoral da Líbia, da Eritreia e da
Somália, mas foi derrotada pelos etíopes na batalha de Ádua durante a disputa do “Chifre Africano”.

167
SISTEMA DE ENSINO A360°

Apesar dos esforços empreendidos com Congresso de Berlim, os conflitos entre os colonizadores e entre esses e os povos
nativos persistiram por muito tempo.
Domínios coloniais na África, década de 1880

MARROCOS TUNÍSIA
Mar Mediterrâneo ASIA
SAARA ARGÉLIA LÍBIA
OCIDENTAL EGITO

MAURITÂNIA
MALI NÍGER
SENEGAL ERITRÉIA
GÂMELA CHADE SUDÃO
BORKINA
GUINÉ DUIBUTI
FASSO
BISSAU GUINÉ HENIN
COSTA TOGO NIGÉRIA SOMÁLIA
SERRA LEDA DO GANA ETIÓPIA
LIBÉRIA MARFIM REP. CENTRO
AFRICANA
CAMARÕES
GUINÉ EQUATORIAL UGANDA
QUÊNIA
GABÃO REP. DEMOCRÁTICA
CONGO DO CONGO
Oceano RUANDA
SURUNDI
Oceano
Atlân o TANZÂNIA Índico
ANGOLA Possessão belga
ZÂMEIA
MALAMI Possessão francesa
ZIMBÁQUE
MOCAMBIQUE Possessão italiana
MADAGASCAR
NAMÍBIA Possessão portuguesa
BOTSWANA
Possessão espanhola
SOAZILÂNCIA Possessão inglesa
REP. DA
ÁFRICA LESOTO An as colônias alemãs
DO SUL
País independente

Adaptado de L'Atlas Jeune Afrique du continent africain. Paris: Les Editions du Jaguar, 1993

Por outro lado, o continente latino-americano enfrentava a ação colonizadora dos Estados Unidos. Já no século XIX, a inter-
venção desse país se fazia presente na Doutrina Monroe, com o lema “América para os americanos”. Essa Doutrina refutava a
criação de novas colônias na América e a intervenção europeia nos assuntos internos dos países americanos, principalmente, a
presença inglesa. Esse discurso ideológico permitiu que os norte-americanos expandissem suas fronteiras em direção ao Oeste,
o que resultou no genocídio de milhares indígenas.

Alegoria do Destino Manifesto (1872). Por John Gast.

A expansão territorial dos Estados Unidos ganhou impulso, sobretudo, em direção Oceano Pacífico, com o pressuposto do
Destino Manifesto. Esse pensamento difundiu a ideia de que a civilização da América ficaria a critério do povo daquele país, jus-
tamente por terem sido eleitos por Deus para tal missão, afastando igualmente a presença europeia no continente americano.

168
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Grande importância teve a política do Big Stick ao estender, ainda mais, as conquistas estadunidenses na região. “Fale com
suavidade e tenha à mão um grande porrete” tornou-se o slogan dessa política empreendida por Theodore Roosevelt, segundo
a qual a competência dos Estados Unidos era o exercício do papel de “polícia internacional” no Ocidente.

Cartum representando o controle territorial do Caribe por Theodore


Roosevelt e seu “grande porrete” (1904). Por William Allen Rogers.

Na verdade, o Big Stick objetivava proteger os interesses econômicos dos EUA na América Latina, favorecendo, assim, sua
atuação internacional nesse continente. Exemplos dessa atuação estadunidense são a construção do canal do Panamá, que
interligou os Oceanos Atlântico e Pacífico, facilitando o comércio marítimo internacional americano, e o estabelecimento da
Emenda Platt na Constituição Cubana, que autorizava a intervenção dos Estados Unidos naquele país quando diante de amea-
ças a seus recíprocos interesses.
Rota do canal do Panamá.
Mar do Mar do Caribe
Caribe Baía de Nicaragua Canal
Limón do Panamá
Cristobal
Costa
Rica
Dique do Gatún PANAMA
Lago Gatún El Limón COLÔMBIA
Oceano Pacífico
Barragem do
Lago Gatún

Ilha de Barro
tún

Escobal Chilibre
Colorado Gamboa
o Ga

Las Cumbres
ag

L Lago
Miraflores
Corte
Gaillard
CIDADE DO
PANAMÁ
Dique de Pedro
Miguel Balboa
PANAMÁ Dique de
Miraflores
Baía do Panamá

Por fim, o Corolário Roosevelt reafirmou as ideias anteriormente defendidas pela Doutrina Monroe e pela Política do Big
Stick ao consagrar o controle direto dos Estados Unidos sobre os países latino-americanos.
As ações imperialistas norte-americanas na América Latina estavam de tal modo legitimadas.

169
SISTEMA DE ENSINO A360°

O IMPERIALISMO NA ÁSIA
A atuação do Neocolonialismo europeu na Ásia foi impulsionada pelos mesmos motivos e objetivos que legitimaram a
conquista do continente africano. Buscavam-se regiões para o investimento do excedente de capitais e, principalmente, no-
vos mercados consumidores. Enquanto que na disputa territorial africana entre as superpotências se destacaram o controle
e a aquisição de matérias-primas, uma vez que a África não possuía um expressivo mercado consumidor quando comparado
ao asiático, na Ásia as potências europeias buscaram fortalecer suas presenças na região em razão das complexas economias
e dos amplos mercados consumidores disponíveis.
O crescimento demográfico chinês acabou despertando o interesse das potências imperialistas durante o século XIX,
pois viram no fenômeno a oportunidade para explorar seu vasto mercado consumidor. Fechada ao comércio europeu, a
China expressava desinteresse no consumo de seus produtos, com exceção do ópio.
Oportunamente, a presença britânica se estendeu na China quando os ingleses descobriram que poderiam comercializar
indiscriminadamente o ópio, uma planta com poderes entorpecentes e altamente viciante, mas que, até então, era utilizado
por aquela população apenas na forma medicamentosa.
A vasta produção de ópio indiano sob a administração inglesa foi direcionada ao consumo da população chinesa que,
em pouco tempo, estaria viciada. Inicialmente, os ingleses comerciavam o ópio ilegalmente forçando sua população ao con-
sumo que chegou a representar, no auge das exportações britânicas, mais da metade de tudo que era vendido para a China.
Insatisfeito com os prejuízos causados à saúde da população, o governo chinês proibiu o comércio do ópio em seu território
e empreendeu uma política de repressão ao contrabando da droga, prejudicando consideravelmente a atividade comercial
inglesa na região.
As divergências entre os governos chinês e inglês atingiram o auge em 1839, quando as autoridades chinesas exigiram
de representantes britânicos a entrega de aproximadamente 20 mil caixas de ópio que, em seguida, foram destruídas. A
atitude acabou resultando em uma série de conflitos que se estenderam entre 1839 e 1842 e entre 1856 até 1860 e com-
puseram a chamada Guerra do Ópio.
Esse conflito permitiu que os ingleses utilizassem das inovações tecnológicas em termos bélicos e de seu potencial mi-
litar contra a China, a exemplo dos navios de aço movidos à vapor. Como resultado do primeiro embate ocorrido em 1839
foi estabelecido, em 1842, o Tratado de Nanquim, no qual a China foi obrigada a abrir cinco portos ao livre-comércio, pagar
uma pesada indenização e entregar a Ilha de Hong Kong à Inglaterra.
Os conflitos ressurgiram alguns anos depois, em 1856, após o assassinato de um missionário francês. Este foi o pretexto
para a definitiva destruição da política protecionista chinesa que culminou novamente em sua invasão. Mas, desta vez, por
meio de uma coalizão de forças estrangeiras compostas por In-
glaterra e França e com o apoio dos Estados Unidos e da Rússia.
A capital Pequim foi tomada e a China obrigada à abertura de
mais sete portos ao comércio com o Ocidente, além de permitir
a instalação de embaixadas europeias e garantir a liberdade de
atuação dos missionários cristãos em seu território. No entanto,
a tensão armada na China estava longe de ser resolvida.
Em fins do século XIX, chineses nacionalistas radicais orga-
nizaram uma série de levantes e atentados conhecidos como
Guerra dos Boxers (1900). A intenção era libertar a China do
controle imperialista o que, desde o início, foi duramente com-
Guerra do Ópio. Navios britânicos destruindo os navios chineses.
batido pelas potências que atuavam na região. Litografia britânica, 1843. Por E. Duncan

O termo Boxers era uma alusão aos lutadores chineses que criaram uma sociedade secreta denominada “Punhos Har-
moniosos e Justiceiros”. Também conhecidos como “punhos fechados”, agiam com vandalismo e violência, destruindo tudo
aquilo que representasse o domínio ou a presença ocidental em seu país. A crescente hostilidade dos chineses forçou a
organização de uma força expedicionária internacional composta por Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, Japão e Estados
Unidos, que iniciou a retomada do controle territorial pelo centro dos conflitos, Pequim. O Protocolo de Pequim colocou um

170
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
ponto final à Guerra dos Boxers, impôs o pagamento de indeni-
zação em ouro aos vencedores e forçou o reconhecimento das
concessões já realizadas às potências imperialistas.
Durante a segunda metade do século XVIII, os ingleses de-
ram início à ocupação territorial da Índia por meio da fundação
de entrepostos comerciais nas regiões costeiras pela Companhia
das Índias Orientais. Durante o processo de conquista, os ingleses
procuraram anular a influência francesa na região e progressiva-
mente impuseram a sua autoridade aos líderes locais. No início
do século XIX, os ingleses já controlavam a cobrança de impostos,
a maior parte do comércio e exerciam a vigilância da população A captura do portão sul de Tianjin durante a Guerra dos Boxers (1900).

e do território.
Não bastasse a subjugação política e econômica, a Índia sofreu uma verdadeira devastação cultural durante o domínio
britânico. Sua tradicional história sobreviveu aos séculos e estava assentada nas mais de 70 mil aldeias de economia autossufi-
ciente, nas dezenas de línguas, nas centenas de dialetos, nas múltiplas etnias e religiões que abrigava em seu território. Todavia,
2a “missão civilizadora” inglesa mudou para sempre a História desse povo que, a partir de então, conheceu verdadeiramente
a miséria.
O impacto produtivo da Revolução Industrial inglesa levou ao abarrotamento do mercado consumidor indiano com diver-
sas mercadorias, o que prejudicava enormemente as manufaturas daquele país que não conseguiam enfrentar a concorrência.
Um típico exemplo dessa desestruturação ocorreu com o comércio da tecelagem indiana de alta qualidade. A Inglaterra com-
prava o algodão desse país e abastecia sua indústria têxtil que, ao final, revendia tecidos de pior qualidade para a Índia, mas a
baixíssimo custo. Ainda buscando manter seus privilégios, a Inglaterra forçou a instituição de tarifas alfandegárias que protege-
ram sua produção têxtil vindo a arruinar decisivamente a tecelagem indiana.
A presença inglesa gerou a revolta de diversos grupos indianos que empreenderam um conflito denominado Guerra dos
Sipaios, em 1857. O termo Sipaios denominava os soldados indianos que serviam à Companhia das Índias Orientais, mas que
deram início ao conflito nas unidades militares britânicas contra oficiais ingleses.
O movimento foi violentamente reprimido pela Inglaterra e
levou ao fim a atuação da Companhia das Índias Orientais. A par-
tir de 1876, teve início a administração direta de algumas regiões
indianas pela Coroa britânica ao transformar parte do território
em uma “extensão” da Inglaterra. A rainha Vitória foi coroada
imperatriz da Índia. Destaca-se que outras regiões conseguiram
manter uma aparente independência com governantes locais,
mas no fundo ainda mantinham a submissão à Coroa inglesa.
A derrota para os ingleses na Índia fez com que os franceses
voltassem seu projeto de conquista para outras regiões do conti-
nente asiático, como a Península da Indochina, correspondente
ao sul do atual Vietnã, o Camboja, o Laos e, em seguida, o restan-
te do território vietnamita.
Guerra dos Sipaios retratada em imagem (1859). The Granger
Os Estados Unidos também se empenharam na conquista Collection, NewYork.
de várias ilhas do Pacífico, sendo uma delas o Japão. A partir de
1854, os norte-americanos ameaçaram militarmente o Japão, caso o xogum1 não promovesse à abertura comercial de seus
portos aos navios ocidentais. Essa medida conduziu a entrada de mercadorias e capitais estrangeiros no país desestabilizando
a organização tradicional e milenar daquela sociedade.
Disposto a modernizar o país e elevar o Japão à condição de potência imperialista, o imperador Mutsuhito promoveu a cen-
tralização política do país com o apoio dos clãs inimigos do xogunato, a partir de 1868. Do mesmo modo, o imperador conduziu
o processo de modernização industrial e militar japonesa que ficou conhecida como Era Meiji.

1 Criado no século VIII, o Xogunato japonês se assemelhava ao regime feudal. O xogum compreendia o grande proprietário rural,
também um chefe militar. Era submisso ao imperador, mas, aqueles que comandava eram subvernientes somente a si. Com o
tempo, a família Tokugawa passou a exercer o controle do xogunato a partir da cidade de Edo, atual Tóquio. A instituição adquiriu
tamanho prestígio que, por vezes, acabou se sobrepondo a autoridade dos imperadores, conhecida como micado.

171
SISTEMA DE ENSINO A360°

A rápida e crescente industrialização do Japão esbarrou


na limitação do fornecimento de matérias-prima fazendo com
que o país partisse para a corrida imperialista em busca de ter-
ritórios e mercados consumidores a serem explorados. Resul-
tado dessa nova postura foi a guerra contra a China pela região
da Manchúria, em 1894. Mais adiante, em 1904, teve início a
Guerra Russo-Japonesa (1904 – 1905) motivada pela disputa
da Coréia e novamente da Manchúria por esses países. Ao fi-
nal, o Japão consagrou sua hegemonia perante a Rússia com a
tomada de Port Arthur e parte da Ilha Sacalina e o reconheci-
mento de sua vitória pelo Tratado de Portsmouth (1905).
A corrida imperialista garantiu que mais de 60% dos ter-
ritórios e povos do planeta passassem para o controle das su-
perpotências ocidentais, sendo a Inglaterra o maior império
Assinatura do Tratado de Portsmouth. Acima e a esquerda, a delegação
colonial do mundo. Essa disparidade entre os países imperia- russa e, abaixo e a direita, a delegação japonesa (1905). IN: Guerra
listas elevou as tensões e rivalidades existentes que fatalmen- Russo-Japonesa: Uma Revisão fotográfica e Descritiva do Grande
te levarão a eclosão da Primeira Guerra Mundial. Conflito no Extremo Oriente. Fotografia: P. F. Collier & Son.

TEXTO COMPLEMENTAR

IMPERIALISMO: ELE AINDA EXISTE?


Por Waldir José Rampinelli
Professor do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina.
Uma análise o livro de James PETRAS, Imperialismo e luta de classes no mundo contemporâneo.

O debate sobre o imperialismo e a luta de classes, abandonado por uma parte da esquerda e não considerado pela
maioria dos pós-modernos, sempre esteve presente na vida dos povos latino-americanos. Na América Central, no Ca-
ribe e no México, onde o imperialismo se manifestou de forma mais atuante e visível, os movimentos revolucionários
não apenas tomaram em armas, mas também apresentaram um projeto nacional para se contrapor ao Estado impe-
rialista. Essa luta começou no final do século XIX e início do XX, com José Martí, em Cuba, que denunciou a ideologia
colonizadora do pan-americanismo; passou por Emiliano Zapata e Francisco Villa, que expropriaram terras de estaduni-
denses em território mexicano para fazer suas reformas agrárias durante a Revolução de 1910; continuou com Augusto
C. Sandino, que lutou contra a ocupação estrangeira para construir um Estado nacional na Nicarágua; e chegou a Che
Guevara, que defendeu a tese da criação do segundo e do terceiro Vietnã para derrotar militarmente o imperialismo.
Hoje, líderes nacionalistas de esquerda começam a ganhar as eleições em vários países da América Latina, fazen-
do-o sobre os escombros das políticas neoliberais aplicadas a partir de meados dos anos 1970. Venezuela, Bolívia,
Equador, Nicarágua e a própria Argentina são os exemplos mais conhecidos. Todos estes governos têm implementado,
em menor ou maior grau, um projeto nacional de esquerda que se opõe frontalmente ao imperialismo. O Documento
de Santa Fé II (1988), que orientou a política externa do Departamento de Estado estadunidense, afirmava que “o ma-
trimônio do comunismo com o nacionalismo, na América Latina, representava o maior perigo para a região e para os
interesses dos Estados Unidos”.
(...)
Para Petras, as empresas multinacionais são um dos eixos que fundamentam o poder econômico do imperialismo.
Os EUA continuam sendo dominantes em termos absolutos e relativos: contam com 227 (45%) das 500 multinacionais
mais importantes, seguidos pela Europa Ocidental, com 141 (28%), e Ásia, com 92 (18%). Esses três blocos regionais
controlam 91% das principais multinacionais do mundo (p. 12). A dita globalização, para o autor, pode ser entendida
em seu sentido mais amplo como o poder derivado de tais empresas com sede nos três blocos citados, o que lhes per-
mite movimentar capitais e controlar o comércio, o crédito e o financiamento.
Cabe ressaltar que as multinacionais estadunidenses ocupam os primeiros lugares na lista das indústrias militares
relacionadas com a guerra e a construção de seu império. Isso significa que a corrida armamentista vem potencializan-
do sua expansão industrial nas últimas seis décadas, permitindo aos EUA sair da grande depressão dos anos 1930, em

172
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

detrimento das atividades industriais. Fred Halliday denominou “triângulo de ferro” a conexão entre o Congresso, o
Pentágono e o complexo industrial-militar destinado a aumentar os gastos com a defesa.
Os EUA e a Europa são duas entidades imperialistas que se diferenciam apenas no método de dominação e explo-
ração. Enquanto o imperialismo europeu adota uma estratégia diplomática de “comércio-investimento-mercado”, os
EUA utilizam a via neocolonial militarista; enquanto Bruxelas propõe um estilo de controle multilateral, consultivo e de
cooperação, Washington lança mão da ação unilateral e do monopólio do poder; enquanto a Europa busca estabelecer
uma cooperação com as elites dos países árabes e com Israel, Washington – influenciado pelos sionistas – prioriza uma
relação apenas com Tel Aviv.
Ao analisar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), Petras mostra que esta organização “proporciona ao
imperialismo estadunidense um amparo legal e de tomada de decisões para determinar o comércio, os investimentos,
as políticas sobre a propriedade e a legislação trabalhista, bem como a natureza, o gasto, a forma e o conteúdo dos sis-
temas de saúde e educação” (p. 71). Isso estabelece um novo sistema político, assim como a base legal para o controle
de toda a estrutura socioeconômica da América Latina.
Petras também discute o uso da educação pela ALCA como um mecanismo de transição do neoliberalismo ao neoco-
lonialismo. O exemplo mais visível é a interferência do Banco Mundial em favor de um maior profissionalismo, e contra a
ideologia, nos programas educacionais. Na verdade, o que o Banco Mundial promove é uma ideologia pró-imperial que
prepara tecnocratas para servirem às empresas multinacionais em oposição a toda idéia nacionalista.
O tema central do livro, no entanto, é o relato feito por James Petras e Robin Eastman-Abaya sobre a conexão
EUA-Iraque-Israel e o sionismo. Os analistas de política internacional costumam afirmar que o apoio estratégico-mili-
tar de Washington a Tel Aviv é fundamental na manutenção de um Estado forte, belicoso e expansionista. A doutrina
Nixon-Kissinger, ao reconhecer que os EUA “não poderiam mais fazer o papel de policial do mundo” e que, portanto,
“esperariam que outras nações fornecessem mais guardas para a ronda de sua própria vizinhança”, atribuiu a Israel,
bem como a outros países, entre eles o próprio Brasil, a função de atores regionais. Dentro desta perspectiva estraté-
gica, tanto Israel como o Brasil desempenharam uma função subimperialista em suas áreas de influência. Hoje, porém,
segundo Petras e Eastman-Abaya, é Israel que, por meio de sionistas estadunidenses importantes, detém o poder
dentro dos EUA. A Casa Branca chega a adotar políticas altamente prejudiciais aos seus interesses, somente com o
intuito de beneficiar a Tel Aviv. Um exemplo é a guerra contra o Iraque, cujo principal beneficiário é o Estado de Israel,
já que conseguiu a destruição de seu inimigo árabe mais forte no Oriente Médio, ou seja, o regime que dava apoio à
resistência palestina.
(...)
Não se pode esquecer que o imperialismo também transformou a natureza do Estado por meio da intervenção
militar, da chantagem econômica, dos golpes de Estado e dos processos eleitorais corruptos, ou seja, a manipulação de
eleições com a ajuda dos meios de comunicação de massa.
O Iraque, juntamente com a América Latina, são os lugares em que se verificam os maiores descontentamentos po-
pulares com a pilhagem do imperialismo e, concomitantemente, com a queda no nível de vida das pessoas. Os atores
deste movimento são, em sua grande maioria, trabalhadores pobres urbanos e rurais, estudantes de classe média bai-
xa, professores, religiosos, movimentos sociais radicais, grupos indígenas e organizações guerrilheiras e estão baseados
nos impactos negativos diretos sobre o nível de vida, empregos, produção agrícola e controle da política econômica.
James Petras finaliza seu livro analisando o grande debate que permeou todo o século XX e continua presente nos
dias de hoje: capitalismo versus socialismo. O autor mostra que as decisões econômicas, assim como as propriedades
nacionais, eram de domínio público no socialismo. Com o colapso deste sistema, as empresas multinacionais estadu-
nidenses e européias se apropriaram de todas as riquezas dos ex-países comunistas. Isso tem gerado desemprego em
massa, emprego temporário e uma grande imigração para outras partes do mundo.
Por fim, Petras compara o atual socialismo cubano com os novos países capitalistas surgidos no Leste europeu e
Ásia meridional e chega a conclusões, com base em dados econômicos, de que o “socialismo reformado” de Cuba, ape-
sar do embargo imposto à Ilha pelos EUA e da crise dos anos 1990, é superior, no índice de desenvolvimento humano,
aos países que transitaram para o capitalismo com o fim da União Soviética.

173
SISTEMA DE ENSINO A360°

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| FUVEST Leia este texto, que se refere à dominação eu- O cartum, publicado em 1932, ironiza as consequências
ropeia sobre povos e terras africanas. sociais das constantes prisões de Mahatma Gandhi pelas
autoridades britânicas, na Índia, demonstrando
Desde o século XVI, os portugueses e, trezentos anos
mais tarde, os franceses, britânicos e alemães souberam A a ineficiência do sistema judiciário inglês no territó-
usar os povos [africanos] mais fracos contra os mais for- rio indiano.
tes que desejavam submeter. Aliaram-se àqueles e so- B o apoio da população hindu à prisão de Gandhi.
maram os seus grandes números aos contingentes, em
geral pequenos, de militares europeus. C o caráter violento das manifestações hindus frente à
ação inglesa.
Alberto da Costa e Silva. A África explicada aos meus filhos. Rio de Janeiro: Agir, 2008, p. 98.

D a impossibilidade de deter o movimento liderado


A Diferencie a presença europeia na África nos dois
por Gandhi.
períodos aos quais o texto se refere.
E a indiferença das autoridades britânicas frente ao
B Indique uma decorrência, para o continente africano,
apelo popular hindu.
dessa política colonial de estimular conflitos internos.
Resolução:
Resolução:
D a impossibilidade de deter o movimento liderado
A A presença europeia na África, no século XVI, articu- por Gandhi.
lada a uma economia mercantilista e a uma cultura
fortemente cristã, foi marcada pela busca de mão O cartum faz referência ao processo político de in-
de obra escrava e pelo estabelecimento de alguns dependência da índia em relação à Inglaterra me-
portos e feitorias. diante o quadro histórico de descolonização. Mahat-
ma Gandhi apresenta-se como principal líder desse
No século XIX, a presença dos europeus, vinculada ao
processo de industrialização e aos valores associa- processo fazendo uso do Principio da desobediência
dos à suposta “missão civilizadora” (fardo do homem civil e na ideia da resistência pacifica. O movimento
branco), estava ligada à busca de mercados e à inte- independentista da Índia levou a um amplo processo
riorização da ocupação através da criação de colônias. de participação popular e influenciou o processo de
independência de outras colônias.
B Durante toda a história da colonização no continen-
te africano, os europeus usaram a tática de criar ri- 03| UFRN A charge abaixo, publicada na França em 1885, re-
validades e estimular conflitos entre os diversos po- fere-se a um episódio específico de um fenômeno histó-
vos africanos para efetivar seu domínio na região. rico, cujas repercussões atingiram diversos continentes
Após as independências das antigas colônias, em até as primeiras décadas do século XX.
vários novos países, a disputa pelo poder entre et-
nias gerou guerras civis ou mesmo genocídios como,
o massacre em Ruanda, em 1994.

02| ENEM

Disponível em: www.chaodeareia.agcolares.org. Acesso em: 20 jun. 2011.

Analise os elementos que compõem a charge e responda:


A Qual o fenômeno histórico a que ela faz referência?
LORD WILLINGDON’S DILEMMA Entre o século XIX e as primeiras décadas do século
Disponível em: www.gandhiserve.org. Acesso em: 21 nov. 2011. XX, que relações de poder existiam entre as nações?

174
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
B Mencione dois aspectos (acontecimentos ou ideias) Essa missão era vista como o “fardo do homem
que se relacionam a esse fenômeno histórico. branco”.
Resolução:  Difusão das ideias do “darwinismo social”, que
justificava, pela lei da seleção natural, o domí-
A Fenômeno Histórico nio da espécie mais evoluída.
- Novo colonialismo/neocolonialismo – século XIX ou  Expedições científicas e missões religiosas, que
possibilitaram o contato com realidades geo-
- Novo imperialismo/neoimperialismo – século XIX ou
gráficas, naturais e sociais ainda desconhecidas
- Imperialismo na África e na Ásia ou dos europeus.
- Partilha da África/Ásia pelos países europeus ou  Instalação de excedentes populacionais da Eu-
ropa nas áreas coloniais.
- Conferência de Berlim (1884-1885).
 Conquista de bases estratégicas para a segu-
Relações de poder: rança do comércio marítimo das nações euro-
peias.
As relações entre as potências europeias eram mar-
cadas por muitas tensões, conflitos e disputas pelo  Posse de armas sofisticadas, que garantiram a
domínio de vastas áreas na Ásia e na África. supremacia europeia por quase toda a África.
As relações entre as potências europeias e os terri-  Conhecimentos científicos, que preveniam do-
tórios “colonizados” eram marcadas pelo domínio enças (malária), e a navegação a vapor, que
facilitava o deslocamento para os territórios co-
político e econômico.
lonizados.
B ACONTECIMENTOS/IDEIAS QUE MARCARAM O NE-  Conflitos étnicos na África, em razão das fron-
OCOLONIALISMO teiras definidas pelos países europeus na Confe-
 Expansão do capitalismo industrial, que neces- rência de Berlim.
sitava de novos mercados para solucionar crises  Disputas por territórios coloniais pelas potên-
de superprodução. cias imperialistas, ocasionando a Primeira Guer-
ra Mundial.
 Investimento de capitais excedentes, que eram
aplicados na Ásia e na África.  Revoltas e rebeliões dos povos dominados:
Guerra dos Cipaios, Guerra dos Bôers, Guerra
 Implantação, nos territórios coloniais, de em- dos Boxers.
presas de serviços e de bancos.
 Difusão da cultura europeia nos territórios colo-
 Ideologia da missão civilizadora dos europeus. nizados.

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UFRJ “As potências européias tinham podido intervir na 02| UNICAMP No século XIX, surgiu um novo modo de expli-
África e reparti-la em conformidade com suas idéias pró- car as diferenças entre os povos: o racismo. No entanto, os
argumentos raciais encontravam muitas dificuldades: se
prias de equilíbrio de poder, porque nem os Estados Uni-
os arianos originaram tanto os povos da Índia quanto os
dos nem a Rússia estavam diretamente envolvidos nas da Europa, o que poderia justificar o domínio dos ingleses
questões políticas africanas. [...] No Extremo- Oriente, sobre a Índia, ou a sua superioridade em relação aos india-
não eram só as potências européias que, como na África, nos? A única resposta possível parecia ser a miscigenação.
davam as cartas.” Em algum momento de sua história, os arianos da Índia
teriam se enfraquecido ao se misturarem às raças aboríge-
Fonte: Barraclough, Geoffrey. Introdução à história contemporânea. nes consideradas inferiores. Mas ninguém podia explicar
São Paulo: Circulo do Livro, 1975, p. 96 realmente por que essa ideia não foi aplicada nos dois sen-
tidos, ou seja, por que os arianos da Índia não aperfeiçoa-
No que se refere ao Extremo-Oriente da passagem do
ram aquelas raças em vez de se enfraquecerem.
século XIX para o século XX, o equilíbrio de poder tam- (Adaptado de Anthony Pagden, Povos e Impérios. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p. 188-194.)
bém resultava da atuação de Estados Nacionais não eu-
A Segundo o texto, quais as incoerências presentes no
ropeus.
pensamento racista do século XIX?
Identifique dois desses Estados Nacionais não europeus. B O que foi o imperialismo?

175
SISTEMA DE ENSINO A360°

03| UFRJ A Guerra dos Bôeres (1899-1902), na África do mas transformou as sociedades nativas, sujeitas ao do-
Sul, levou a Inglaterra a mobilizar aproximadamente mínio das metrópoles européias.”
450 mil soldados, trazidos de todo o seu império. A (Serge Bernstein e Pierre Milza. História do Século XIX.)

vitória britânica fez com que fosse limitada a autono- A partir do texto:
mia dos estados bôeres. No entanto, o sistema eleito-
A indique e explique duas diferenças entre as expan-
ral permitiu que, terminada a guerra, os africânderes
sões européias dos séculos XV e XVI e do século XIX;
(bôeres) dominassem o poder político em diversas pro-
víncias. No mapa abaixo, pode-se observar o cenário B explique o porquê da partilha da África ter-se tor-
nado um dos principais elementos deflagradores da
dessa guerra e a indicação geográfica de fatores a ela
Primeira Guerra Mundial.
relacionados.
N RODÉSIA
Grande marcha
05| UFJF Observe o mapa abaixo:
BECHUANALÂNDIA
MOÇAMBIQUE
O L Natal 1839

S
TRANSVAAL Estados dos bôeres Orange 1843
Johanesburgo
Pretória
Transvaal 1852 TUNÍSIA
Vereeniging SUAZILÂNDIA
MARROCOS
BECHUANALÂNDIA
Brit.
Ocupação da Grã-Bretanha
OCEANO
ORANGE RIO DE ARGÉLIA LÍBIA EGITO
NATAL ÍNDICO Territórios anexados (domínio otomano sob
OURO controle britânico 1982)
ou controlados entre 1843 e 1899
OCEANO COLÔNIA Cidades governamentais em 1910
ATLÂNTICO BAZUTOLÂNDIA
DO CABO
Limites da República Sul-africana
GÂMBIA ERITREIA SOMÁLIA
0 610 1 220 km SUDÃO FRANCESA
Cidade do Cabo Ouro e diamante GUINÉ ANGLO-EGÍPCIO
1 cm - 610 km PORTUGUESA
COSTA NIGÉRIA ETIÓPIA SOMÁLIA
SERRA LEOA DO BRITÂNICA
(MAPA adaptado do Atlas Historique. Paris, Hachette, 1987, p.239) OURO
LIBÉRIA CAMARÕES
TOGO RIO SOMÁLIA
MUNI UGANDA ÁFRICA ITALIANA
ORIENTAL
A Apresente uma razão para o início dessa guerra. CONGO
BELGA
BRITÂNICA

ÁFRICA
B Explique o que permitiu aos bôeres obter o controle CABINDA ORIENTAL
ALEMÃ

político de diversas províncias, mesmo tendo perdi- ANGOLA


RODÉSIA
FRANCESES
do a guerra para os ingleses.
DO NORTE
INGLESES MOÇAMBIQUE
SUDOESTE RODÉSIA
ALEMÃES AFRICANO DO SUL MADAGASCAR
ALEMÃO
PORTUGUESES BECHUANALÂNDIA
04| UFF “Interesses econômicos, fatores demográficos, ra- BELGAS
ESPANHOLA UNIÃO DA
SUAZILÂNDIA

zões humanitárias, iniciativas individuais, mas, princi-


AFRICA BASUTOLÂNDIA
ITALIANOS DO SUL
CONDOMÍNIOS
palmente, motivos políticos encontram-se na origem do ANGLO-EGÍPCIO

grande movimento de colonização européia no mundo Disponível em: <www.culturabrasil.pro.br/neocolonialismo.htm>. Acesso em: 13 set. 2010.
durante a segunda metade do século XIX. Esta nova ex-
O mapa retrata a África partilhada por países europeus
pansão levou à constituição de vastos impérios coloniais
em um processo conhecido como imperialismo.
que permitiram às principais potências européias domi-
nar a maior parte da África, da Ásia e do Pacífico. Esta A Analise as repercussões desse processo de desenvol-
colonização, que pôs em contato a civilização industrial vimento do capitalismo desde o final do século XIX.
do século XIX com as velhas sociedades tradicionais, B Relacione os impactos desse processo sobre as ori-
tornou possível a valorização das riquezas inexploradas, gens da Primeira Grande Guerra Mundial.

T ENEM E VESTIBULARES
01| UDESC O excerto e a charge abaixo referem-se à coloni- lucionárias verificadas no domínio da tecnologia médica
zação da África no século XIX. e, em particular, devido à descoberta do uso profilático
As potências europeias puderam conquistar a África do quinino contra a malária, os europeus temiam me-
com relativa facilidade porque a balança pendia a seu nos a África do que antes de meados do século XIX. Em
favor, sob todos os aspectos. Em primeiro lugar, graças terceiro lugar, em consequência da natureza desigual do
às atividades dos missionários e dos exploradores, os comércio entre a Europa e a África até os anos de 1870
europeus sabiam mais a respeito da África e do inte- e mesmo mais tarde, bem como do ritmo crescente da
rior do continente – aspecto físico, terreno, economia revolução industrial, os recursos materiais e financeiros
e recursos, força e debilidade de seus Estados e de suas da Europa eram muitíssimo superiores aos da África. Por
sociedades – do que os africanos a respeito da Europa. isso, se as potências europeias podiam gastar milhões
Em segundo lugar, em função das transformações revo- de libras nas campanhas ultramarinas, os Estados afri-

176
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
canos não tinham condições de sustentar um conflito Assinale a alternativa correta.
armado com elas. Em quarto lugar, [...] a Europa podia
A Somente as afirmativas I e II são verdadeiras.
concentrar-se militarmente de maneira quase exclusiva
nas atividades imperiais ultramarinas, mas os países e B Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
os Estados africanos tinham suas forças paralisadas pe-
las lutas intestinas. Além disso, as potências europeias C Somente as afirmativas II, III e IV são verdadeiras.
conviviam pacificamente, conseguindo resolver os pro- D Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
blemas coloniais que as dividiam no decorrer da era da
partilha e até 1914 sem recurso à guerra. E Todas as afirmativas são verdadeiras.

02| ESPM (...) a questão colonial é, para os países voltados


a uma grande exportação, pela própria natureza de sua
história, como o nosso, uma questão de salvação.
No tempo em que vivemos e na crise que atravessam to-
das as indústrias européias, a fundação de uma colônia
é a criação de uma válvula de escape.
É preciso dizer abertamente que as raças superiores têm
direitos sobre as raças inferiores porque têm um dever
para com elas – o dever de civilizá-las.
(Discurso de Jules Ferry. In: José Jobson de Arruda. História Moderna e Contemporânea)

O texto apresenta um discurso que justifica:


A o Mercantilismo.
B o Antigo Sistema Colonial.
C o Neocolonialismo.
D o Conflito Leste-Oeste.
Charge representando Cecil Rhodes, agente britânico de colonização da África. Disponível em:
http://passapalavra.info/?p=26512 E a Guerra Fria.
UZOIGWE, Godfrey N. Partilha europeia e conquista da África:
apanhado geral In: BOAHEN, Albert Adu (org.) História geral
da África, VII: África sob dominação colonial, 03| UFPA Em 1909, o orientalista americano Duncan Mac-
1880-1935. 2. ed. rev. – Brasília: UNESCO, 2010. pp. 44-45. donald, estudioso do mundo muçulmano, fez a seguinte
Analise as proposições. afirmação:
I. Apesar de o Continente Africano já ser conhecido Os árabes não se mostram especialmente fáceis na
e ocupado, desde o século XV, pelos europeus, foi crença, mas teimosos, materialistas, questionadores,
no século XIX que a conquista de todo o território desconfiados, zombando de suas próprias superstições
africano foi consolidada, com a ocupação do interior e usos, gostando de testes do sobrenatural – e tudo isso
e da sua divisão entre os países colonizadores. de um modo curiosamente irrefletido, quase infantil.
II. A ocupação do território africano pelos europeus MACDONALD, Duncan. A vida e atitude religiosas no Islã, 1909.

diferenciou-se conforme as características econômi-


A imagem dos árabes construída por Macdonald, no
cas, políticas e culturais da população local, que era
muito diversa, dependendo da região do continente. início do século XX, em pleno período do Imperialismo,
demonstra claramente a concepção que os ocidentais
III. Entre as condições que possibilitaram a ocupação desenvolveram sobre as populações asiáticas e africanas
do território africano, pode-se citar a disponibilida- que estavam sendo conquistadas e submetidas ao domí-
de de recursos econômicos e o desenvolvimento da
nio imperialista das potências ocidentais. A alternativa
tecnologia.
que retrata essa concepção é:
IV. As diferenças entre os próprios estados africanos foi
um dos fatores que facilitaram o domínio das socie- A Os povos asiáticos e africanos ainda estavam na in-
dades africanas, no século XIX, uma vez que permi- fância do processo civilizatório, mas poderiam che-
tiram que acordos entre os governos europeus e os gar, por si mesmos, à fase adulta, bastando apenas
governos ou grupos locais fossem estabelecidos. aceitar o domínio Ocidental.

177
SISTEMA DE ENSINO A360°

B A Ásia e a África eram reconhecidas pelos europeus B a proposta da missão civilizadora dos europeus so-
como os continentes onde nasceu a civilização e, bre os continentes africano e asiático;
por isso, com fortes laços com a Europa, que herdou
C a urgência na aquisição de terras para os países cen-
os elementos civilizatórios que caracterizam a cultu-
trais em função do sistema socialista;
ra oriental.
C As populações asiáticas e africanas eram vistas pe- D a luta ideológica entre os mundos árabe e o ociden-
los europeus como inferiores, bárbaras, supersticio- tal pela disputa de novos mercados;
sas, e, por isso, incapazes de dirigir seus próprios E a consolidação do modelo mercantil europeu cau-
destinos, o que exigia a intervenção civilizadora dos sando a necessidade de novos mercados.
europeus.
06| ESPM A respeito do Imperialismo do século XIX, leia
D Para os europeus, a conquista da Ásia e da África re- este trecho de uma entrevista concedida por Cecil Rho-
vestia-se de um caráter meritório, já que represen- des, em 1895, a um jornalista:
taria a confirmação da tese do arianismo, ou seja,
da supremacia da raça branca. Caberia, assim, aos A ideia que mais me acode ao espírito é a solução do
europeus o dever de civilizar os outros povos. problema social, a saber: nós, os colonizadores, deve-
mos, para salvar os 40 milhões de habitantes do Reino
E O mundo muçulmano, criado pela expansão árabe,
Unido de uma mortífera guerra civil, conquistar novas
por meio da “Guerra Santa”, seria, na visão dos eu-
terras a fim de aí instalarmos o excedente da nossa po-
ropeus, o principal aliado do Mundo Cristão Ociden-
pulação, de aí encontrarmos novos mercados para os
tal na eliminação de seitas heréticas, que infestavam
produtos das nossas fábricas e das nossas minas. O im-
o Oriente.
pério, como sempre tenho dito, é uma questão de estô-
04| UFTM Em 1884 teve início a Conferência de Berlim, que mago. Se queres evitar a guerra civil, é necessário que
objetivava resolver disputas entre os países europeus vos torneis imperialistas.
pelo controle do continente africano. Dentre as conse- (Leonel Itaussu. História Moderna e Contemporânea)

quências das decisões tomadas, pode-se citar Assinale os fatores do Imperialismo, praticado no século
A a preocupação com o nível de consumo das popula- XIX, que são tratados no texto:
ções do continente africano, que deveriam ser capa- A busca de metais preciosos e de mercados externos
zes de comprar produtos europeus. para onde pudessem escoar o excedente da pro-
B a imposição de fronteiras, sem levar em conta et- dução;
nias, culturas e tradições, que apartaram grupos co- B busca de mercados externos para onde pudessem
erentes e mesclaram povos distintos. escoar o excedente da produção agrícola europeia e
C o desenvolvimento de vacinas e o estudo de doen- interesse por regiões fornecedoras de especiarias;
ças típicas da região, com o objetivo de proteger a C necessidade de novas terras para onde pudesse ser
saúde dos exploradores europeus. escoada a mão-de-obra excedente e propagação do
E a restituição do poder aos chefes políticos locais, cristianismo;
desde que concordassem em fornecer as maté- D necessidade de novas terras para onde pudesse ser
rias-primas que os europeus necessitavam. escoado o excedente da população europeia e bus-
E o declínio do poder britânico e francês e a ascensão ca de mercados externos para onde pudessem esco-
da Alemanha e da Itália, países que conseguiram im- ar o excedente da produção de suas fábricas.
por suas demandas na conferência. E defesa do livre-cambismo e legislação impeditiva
da evasão em massa dos excedentes demográficos
05| ESCS O termo imperialismo foi empregado para desig- europeus.
nar a expansão política e econômica das potências do
hemisfério norte sobre os continentes africanos e asiá- 07| UNESP O imperialismo colonial europeu do final do sé-
ticos a partir do final do século XIX. Uma justificativa de culo XIX e início do século XX mudou a geopolítica do
destaque para a implantação do Imperialismo foi: continente africano, fragmentando-o em fronteiras re-
A a necessidade de obtenção de mão-de-obra africa- presentadas pelo aparecimento de novos espaços lin-
na e asiática para o mercado europeu; guísticos e novas dinâmicas espaciais e econômicas.

178
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Observe a figura. C Diante da existência de capitais excedentes na Euro-
pa, procuravam-se novos mercados consumidores,
buscava-se controlar regiões produtoras de maté-
rias-primas e direcionar para as áreas coloniais ex-
cedentes populacionais europeus.
D Em função de um crescimento econômico sem prece-
dentes na Europa, os capitais excedentes precisavam
ser aplicados em áreas que necessitavam de investi-
mentos humanitários, daí a escolha da África e da Ásia.
E A Europa necessitava com urgência de metais precio-
sos, abundantes na África, e conflitos religiosos obri-
garam os governos da França e da Inglaterra a man-
darem para a Ásia parte dos religiosos mais radicais.

09| MACK “Podemos sempre nos deparar com dois mapas


encontrados em quase todos os livros didáticos (...): ‘A
África por volta de 1880’, e ‘A África em 1914’. No primei-
ro, vê-se um número bem pequeno de possessões euro-
péias na África; no segundo, virtualmente, a totalidade do
continente negro está dividida em colônias européias”.
(Marc Ferro, História das Colonizações, 1996. Adaptado.)
H.L. Wesseling. Dividir para Dominar: A partilha da África (1880-1914)

Analisando o mapa, pode-se afirmar que ÁFRICA EM 1880


A em 1895, França, Grã-Bretanha, Portugal, Espanha,
Alemanha e Itália fizeram um acordo de divisão da
totalidade do continente africano.
B os impérios coloniais, a partir da Conferência de
Berlim, dominaram a África para instalar indústrias,
visto que era algo inexistente na Europa.
C os países envolvidos nesse processo necessitavam
de mercados exteriores, matérias-primas agrícolas
e minerais para compensar o declínio da industriali-
zação na Europa.
D a repartição da África foi um projeto civilizador eu-
ropeu, que, para ser estabelecido, exigiu a destrui-
ção social das oligarquias locais.
E o imperialismo apoiou-se também nas rivalidades
nacionalistas britânica, francesa e alemã, que origi- ÁFRICA EM 1914
naram novos espaços linguísticos na África.

08| UFTM Assinale a alternativa que apresenta fatores que


explicam as práticas imperialistas, a partir da segunda
metade do século XIX, pelas potências capitalistas.
A Buscava-se controlar as regiões fornecedoras de
mão de obra escrava e ampliava-se a exploração
de regiões mais afastadas com o objetivo de des-
cobrir novas fontes energéticas e comprar metais
preciosos.
B Precisava-se de mão de obra da África e da Ásia para
trabalhar como colonos na zona rural das potências
europeias e realizar investimentos em áreas de urba-
nização, como transporte, saneamento e ferrovias.

179
SISTEMA DE ENSINO A360°

A diferença entre os mapas africanos, em 1880 e 1914, D A disputa pela colonização da China acirrou a riva-
apresentada no texto e ilustradas, é explicada lidade entre a Inglaterra e a França, contribuindo
para eclosão da Primeira Guerra Mundial.
A pelo fato de, no período citado, o continente ter
sido dividido por potências europeias, no contexto E A identificação cultural entre Japão, União Soviética
da corrida imperialista dos séculos XIX e XX. e China consolidou uma forte aliança entre essas na-
ções, no contexto da Segunda Guerra Mundial, em re-
B por acordos estabelecidos entre as potências euro- sistência à presença europeia no continente asiático.
peias desde o século XVI e que, na prática, foram
anulados em 1914, em virtude da predominância 11| UEFS A história do Reino Unido (ex-Império Britânico)
de colônias italianas e alemãs. registra o governo de três rainhas – rainha Elisabeth I
C por um pacto assinado entre Inglaterra e França, as (Isabel Tudor) / rainha Vitória / rainha Elisabeth II – em
maiores potências da época, que aceitaram a cujos governos importantes questões de caráter políti-
divisão pacífica do território africano. co-econômico foram estabelecidas e cujos desdobra-
mentos influenciaram não apenas a própria história in-
D pela resistência das nações africanas à divisão do glesa, como também o resto do mundo.
continente, o que obrigouos europeus a organiza-
rem força conjunta de ataque. A rainha Vitória e a rainha Elisabeth II
E pelas ambições imperialistas europeias, típicas do pe- A viram seus governos marcados pelo declínio do
ríodo citado, que promoveram a divisão do continente prestígio do país na política europeia.
e impediram a eclosão da Primeira Guerra Mundial. B estabeleceram regras rígidas de comportamento
moral e social, o que contribuiu para o atraso das
10| UEFS artes plásticas e cinematográficas no país.
C aprofundaram os laços entre a Coroa e a Igreja Cató-
lica, impedindo o exercício de outros cultos no terri-
tório do Reino Unido.
D tiveram seus governos marcados pela ascensão, ex-
pansão (rainha Vitória) e declínio (rainha Elisabeth
II), do seu império colonial, que incluiu terras nos
cinco continentes.
E sofreram uma redução de poder durante seus go-
vernos, em consequência da derrota do país na Pri-
meira Guerra Mundial (rainha Vitória) e na Guerra
do Vietnam (rainha Elisabeth II).

12| FAC. DIREITO DE FRANCA “No início do século XIX, o que


a França e a Inglaterra, os dois países que estavam à frente
da construção do moderno sistema capitalista, queriam da
África era basicamente matérias-primas e mercados con-
sumidores para os produtos que sua indústria produzia.”
Marina de Mello e Souza. África e Brasil africano.
São Paulo: Ática, 2007, p. 148
A partir da análise da charge e dos conhecimentos sobre
as relações entre o Ocidente e o Oriente, no decorrer do O efeito do interesse de países europeus, como França e
século XIX, pode-se afirmar: Inglaterra, em relação à África originou

A A expansão marítima e comercial europeia foi in- A uma nova rede de comércio entre os dois continentes,
centivada pela China, objetivando a dinamização que envolvia mercadorias como algodão e tinturas, e,
das relações econômicas entre as duas regiões. posteriormente, a colonização europeia da África.
B A Guerra do Ópio, promovida pela Grã-Bretanha, B o abandono das possessões coloniais europeias no
contribuiu para a transformação da China em área Sul e Sudoeste da Ásia e a imediata independência
de influência das potências imperialistas, abrindo das colônias portuguesas e espanholas remanes-
sua economia ao capital estrangeiro. centes no litoral atlântico da África.
C O fornecimento de mão de obra barata para as in- C a ocupação militar por tropas europeias do Oriente
dústrias europeias e a exportação de especiarias fo- Médio e do Norte da África, áreas de exploração de
ram os principais focos de interesse dos tratados de petróleo, e, posteriormente, o domínio franco-britâ-
cooperação entre a China e o Ocidente. nico sobre as rotas de especiarias.

180
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
D uma agressiva política de conquista de terras no Com base na charge e nos conteúdos referentes ao neo-
Centro da África e a imediata descolonização dos colonialismo, analise as seguintes afirmações:
territórios do litoral atlântico do continente.
E o explícito apoio diplomático franco-britânico à inde- I. Podemos afirmar que os pés do capitalista estão as-
pendência das colônias belgas e italianas na África e, sentados sobre as duas únicas possessões inglesas
posteriormente, inúmeros conflitos entre potências na África: Egito e África do Sul.
europeias pelo controle do continente africano.
II. A projeção do personagem em relação ao continen-
13| UPE A charge a seguir faz referência ao capitalista Cecil te expressa também a dimensão do interesse da In-
Rhodes, que investiu no expansionismo imperialista inglês. glaterra pelos territórios africanos.

III. Os países europeus dividiram a África entre si, res-


peitando suas especificidades étnicas, religiosas e
linguísticas.

IV. O Canal de Suez pode ser considerado uma conse-


quência da presença inglesa na África.

V. O preconceito dos ingleses com os africanos foi de


tal monta que deixou marcas até o presente, como
o Apartheid na África do Sul.

Estão CORRETAS

A I, II e III.

B I, II e V.

C II, IV e V.

D III, IV e V.
Disponível em: http://pos-aula.blogspot.com.br/2012/02/vozes-do-imperialismo.html E I, III e IV.

A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL (1914 – 1918)


INTRODUÇÃO: A GUERRA SEM PRECEDENTES
A guerra de 1914 a 1918 foi uma guerra sem preceden-
tes. Não por acaso, recebeu o rótulo de mundial. No passa-
do tivemos guerras mais duradoras, mas nunca uma guerra
com tantas pessoas envolvidas, direta ou indiretamente.
O historiador Augustin Wernet a definiu como “a primeira
guerra de massas, o primeiro conflito generalizado entre na-
ções-estados altamente organizadas que foram capazes de
mobilizar e dirigir as energias de quase todos seus súditos
e a capacidade produtiva de quase todas as indústrias, uti-
lizando recursos tecnológicos mais modernos e mais atuali-
zados”.
Na Primeira guerra mundial os Estados se transforma-
ram em máquinas de guerra: todas as esferas da sociedade
dos países envolvidos diretamente se organizaram para su-
prir as necessidades da guerra. Por isso, a guerra de 1914
a 1918 é considerada a primeira guerra total. Além disso,
pela primeira vez na história, as principais potências, países de todos os continentes, envolveram-se no mesmo conflito e
concentraram todos os recursos e o que havia de mais atual em tecnologia e ciência.

181
SISTEMA DE ENSINO A360°

A Primeira Guerra mundial é um marco do mundo contemporâneo, com ela nota-se o fim do domínio hegemônico do
Império Britânico, a desagregação do Império Austro-húngaro e Otomano, o fim da “era dos Impérios”, expressão de Eric
Hobsbawm, a emergência dos Estados Unidos da América e o surgimento da União da República Socialista Soviética.
As próximas páginas têm como objetivo situar os motivos, o desenrolar e as consequências desse conflito que mudou
definitivamente o mundo.
A Primeira Guerra mundial é um daqueles acontecimentos que podemos afirmar serem imprescindíveis para a com-
preensão do presente devido ao intenso processo de rupturas e continuidades históricas advindas e potencializadas pela
mesma.

DAS CAUSAS DA GUERRA: NEOCOLONIALISMO, NACIONALISMO E ALIANÇAS


A Segunda Revolução Industrial, que ocorreu em algumas nações no século XIX, trouxe uma nova realidade: as forças
produtivas haviam superado o consumo. O medo malthusiano se mostrou ilusório e avesso aos acontecimentos da virada
do século, a guerra e os conflitos não foram desencadea-
Inglaterra até 1909 dominava um território de 6 milhões
dos pela ausência de recursos produtivos, pelo contrário,
de km², cerca de 20% da terra firme do planeta, 57 milhões de
pelo excesso.
pessoas, 23% da população mundial. A França dominava um
As potências entraram em guerra pela busca de no- território de 5,8 milhões de Km², sendo que 95% desse espaço
vos mercados consumidores, pela necessidade dos países eram de áreas neocoloniais. A Bélgica dominava um território
industrializados de exportar os excedentes produtivos e a de 1,5 milhões de Km².
grande precisão de matéria-prima. Em parte, esses fato-
res explicam a nova expansão colonial, o Neocolonialismo, que dividiu parte do mundo, principalmente Ásia, África e Ocea-
nia, e que acirrou as rivalidades entre as potencias.
A Alemanha e a Itália entraram atrasadas na
corrida imperialista, isso se deve, principalmente,
ao processo de unificação política tardia. Contudo,
apesar de seus parques industriais terem sido for-
mados durante o século XIX, ambos países necessi-
tavam do mercado consumidor e da matéria-prima
oferecidos pelos continentes Africano, Asiático e a
Oceania.
As regiões dominadas por Alemanha e Itália
eram consideradas periféricas em relação às de-
manda do capitalismo, com pouco potencial para
mercado consumidor. Situação muito diferente dos
franceses e ingleses. Nesse contexto, os alemães
organizam uma forte marinha, apta a competição
com os ingleses.
A marinha alemã passa a ser uma das priorida-
des do Kaiser Guilherme II. Os germânicos precisa-
vam romper o grande poderio marítimo da “rainha dos mares”. Além do controle marítimo, os alemães atuavam pela terra,
especificamente por meio das locomotivas. Eles iniciaram a construção em 1903 da ferrovia Berlim-Bagdá que concretizaria
o acesso geoestratégico ao maior polo mundial de petróleo. O interesse econômico dos alemães pelo Oriente Médio choca-
va-se com o domínio Inglês e Russo na região.
O fortalecimento econômico e o imperialismo se consolidaram em um momento ímpar da História germânica. Durante
o século XIX, os alemães haviam realizado um processo de unificação extremamente militarizado, que se encerrou com a
vitória na guerra franco-prussiana contra os franceses (1870/1871).
A formação do Estado nacional alemão estabeleceu como lemas norteadores a guerra e o nacionalismo. O Imperialismo
germânico deve ser concebido como um prolongamento deste processo. Em contrapartida, a expansão alemã esbarrava no
revanchismo francês. Tal sentimento era amplamente difundido na sociedade deste país em virtude da derrota sofrida na
guerra que ocasionou a Unificação Alemã.

182
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Os franceses perderam a Alsácia e Lorena, pa-
garam indenização de guerra e foram humilhados
com a ratificação do Tratado de Frankfurt em Versa-
lhes. Tais fatos potencializaram neste país uma polí-
tica estatal de constante rememoração do fato. Por
meio de cartazes, slogans, músicas e, até mesmo,
política educacional, a França desenvolveu um sen-
timento de nacionalismo contaminado por anseio
de uma vingança coletiva.
Além dos conflitos nacionalistas entre france-
ses e alemães na região dos Bálcãs, a Sérvia, tam-
bém alimentada pelo nacionalismo, tentava formar
um Estado livre das potências estrangeiras na re-
gião. A radicalização do movimento, no início do sé-
culo XX, contribuiu para o aparecimento de vários
grupos paramilitares nacionalistas que promoviam a união dos servos sob um único país. Muitos desses bradavam o lema
“união e morte”, entre eles a sociedade secreta denominada de Mão Negra, que provocou o incidente que marcou o início
da primeira guerra mundial em Sarajevo.
No contexto que antecede a Primeira Guerra, o sistema de alianças típico da política diplomáticas do século XIX e início
do século XX foi um elemento essencial. A tentativa de Bismarck de organizar uma aliança entre Rússia, Alemanha e o Im-
pério Austro-húngaro não se consolidou pelos conflitos econômicos na região do Oriente Médio. O chamado entendimento
dos três Imperadores se mostrou frágil e inoperante. Essa fragilidade ficou mais evidente com o conflito entre Império Aus-
tro-húngaro e Rússia na região dos Bálcãs.
Em 1882, foi assinado o tratado da tríplice aliança entre Alemanha, Áustria-Hungria e Itália que determinava o apoio
mútuo em caso de guerra. Em 1891, França e Rússia selaram uma aliança buscando evitar a hegemonia alemã. Em 1904, foi
assinada a Entente Cordiale, acordo entre França, Inglaterra e Rússia que permitia plena liberdade a cada país nas regiões
de domínio na África e Ásia.
Podemos mapear, dentre os vários acordos bilaterais construídos, em 1907, duas grandes redes que se tencionavam,
cada uma procurando evitar a hegemonia e o controle da outra: a Tríplice Aliança (Alemanha, Itália e Áustria-Hungria) e
Tríplice Entente (Inglaterra, França e Rússia).
Em 1908, a Áustria-Hungria anunciou a anexação da Bósnia e da Herzegovina criando grandes problemas com a Rússia
e Servia, dando início a Primeira e Segunda Guerra dos Bálcãs. Esse clima bélico na região dos Bálcãs se alastrou graças ao
sistema de alianças e ao interesse imperialista.
Em julho de 1914, o assassinato
do herdeiro do trono austro-húnga-
ro, o arquiduque Francisco Ferdi-
nando, pelo grupo radical-nacio-
nalista mãos negras, na cidade de
Sarajevo, fez com que a guerra local
ganhasse projeção mundial. A mor-
te do arquiduque e sua esposa mo-
vimentaram os países envolvidos e
seus complexos sistemas de alian-
ças que levavam em consideração
os arranjos nacionalistas e os inte-
resses imperialistas. Tal episódio
ficou conhecido como o estopim da
Primeira Guerra Mundial.

183
SISTEMA DE ENSINO A360°

A GUERRA (1914-1918)

A evolução do conflito
A guerra na Impérios Centrais
Apoiantes Impérios Centrais

Europa
ISLÂNDIA
Aliados
Estados neutrais

desenvolveu-se Zonas de combate


Frentes em 1917

em 3 frentes FINLÂNDIA Ofensivas dos Aliados

A
EG
Ofensivas dos

RU
SUÉCIA
Impérios Centrais

NO
São Petersburgo
Mar
do
frente INGLATERRA
Norte Mar
Bál o
IMPÉRIO RUSSO

ocidental; OCEANO
ATLÂNTICO
Londres
IMPÉRIO
Berlim

ALEMÃO
IMPÉRIO

frente Paris AUTRO-HÚNGARO

M
SUIÇA

ar
FRANÇA Viena Budapeste

C
ás
oriental;

pi
ROMÊNIA

o
AL

Mar Negro
TUG

SÉRV
ESPANHA BULGÁRIA
POR

Roma

IA
frente Mar Mediterrâneo
IMPÉRIO TURCO

balcânica.
Sicília
GRÉCIA
ÁFRICA Chipre (Brit.)

A morte do arquiduque fez com que o Império austro-húngaro declarasse guerra à Servia e a Rússia organizou, imediata-
mente, suas tropas em defesa da mesma. A Alemanha se posicionou ao lado do Império Austro-húngaro e a França saiu em
defesa da Rússia e da Sérvia. Alemanha e França se autodeclararam guerra e os germânicos empreenderam a invasão da França
utilizando o território belga. A estratégia de invasão alemã, conhecida como Plano Schlieffen, previa uma guerra de movimento
marcada por ofensivas militares rápidas combinadas a ocupação territorial. A Inglaterra, temendo a expansão alemã, se aliou
aos franceses. A guerra estava armada.

Impérios Centrais
Apoiantes Impérios Centrais
ISLÂNDIA
Aliados
Estados neutrais
Zonas de combate
Frentes em 1917
FINLÂNDIA Ofensivas dos Aliados
A
EG

Ofensivas dos
RU

SUÉCIA
Impérios Centrais
NO

São Petersburgo
Mar
do
Norte Mar IMPÉRIO RUSSO
INGLATERRA Bál o
Londres
OCEANO Berlim
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IMPÉRIO
Paris AUTRO-HÚNGARO
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FRANÇA Viena Budapeste


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ESPANHA BULGÁRIA
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Roma
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IMPÉRIO TURCO
Mar Mediterrâneo
Sicília
GRÉCIA
ÁFRICA Chipre (Brit.)

184
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Tradicionalmente, a historiografia divide a Primeira Guerra em duas fases de acordo com suas características: Guerra do
Movimento e Guerra das Trincheiras. Essas etapas marcaram a Grande Guerra na frente ocidental. Já na frente oriental, houve
o predomínio da guerra de movimento.

O Plano Schlieffen orientou a estratégia da guerra de movimento na frente ocidental, cujo, esforço do exército alemão con-
sistia em romper as defesas franco-belgas forçando os franceses a deslocarem o governo para Bordeaux.
Outro fator que favoreceu o enfraquecimento da Alemanha na guerra foi o fato da Itália ter migrado para a Tríplice Enten-
te, em 1915. Esse episódio forçou os alemães a armarem uma ofensiva ocidental mais intensa contra a França, que não mais
contava com a ameaça italiana ao sudeste.
Na frente oriental, a Rússia avançou sobre a região da Prússia, na Alemanha, mas logo foi derrotada. Os russos lutavam
em duas frentes, uma contra os alemães e outra contra turcos. Após várias derrotas que lhes ocasionaram perdas humanas e
uma crise de suprimentos, muitas deserções de soldados ocorreram. As regiões do Chipre e da Pérsia foram dominadas pelos
ingleses com certa facilidade, após vencerem o Império Otomano. Na África, as conquistas bélicas dos japoneses e dos ingleses
fizeram com que a Alemanha recuasse, vindo a perder grande parte de suas colônias na região.

A partir de 1917, a guerra estacionou na frente ocidental em razão do equilíbrio das forças antagônicas. Esse foi um dos
principais motivos da organização das trincheiras. O desenvolvimento da guerra das trincheiras custou milhares de vida, princi-
palmente, pelo uso do intenso armamento bélico.

185
SISTEMA DE ENSINO A360°

AS TRINCHEIRAS, A GUERRA NO MAR E NO AR

A guerra na frente ocidental não progredia nesta fase em função do equilíbrio de forças. Ao longo de uma linha do Mar
do Norte até a fronteira suíça os exércitos se enterraram nas trincheiras protegidas. Contra ela a infantaria armada de rifles,
baionetas e granadas não conseguiam avançar. A Primeira Guerra Mundial foi, em primeiro lugar, uma guerra dos soldados da
infantaria e da artilharia, portanto, mais uma guerra na terra, do que no mar e no ar.

Os navios de guerra e os encouraçados da marinha de 1914 apresentavam significativo progresso. A guerra marítima sofreu
uma verdadeira revolução com a invenção do torpedo e os submarinos. Por volta de 1917, a Alemanha possuía mais de uma
centena de submarinos e sua ação mortal contra a marinha mercante e navios de combate colocaram grandes esquadras fora
do ataque inimigo.
Nos anos de 1914 e 1915, ocorreram alguns combates entre alemães e ingleses no mar do Norte, perto da linha de Helgo-
land, mas sem definir superioridade a nenhum dos lados. Apesar de enfraquecido, o domínio inglês nos mares não foi alterado.
No início da guerra, a Inglaterra possuía apenas 66 aviões, diante dos 156 da França e dos 260 da Alemanha. A aviação foi
usada para o reconhecimento, observações para tiros da artilharia e ocasionalmente para bombardeios.

OS ESTADOS UNIDOS NA GRANDE GUERRA


Inicialmente os EUA mantiveram a neutralidade. A ideia americana era que ocorresse um esgotamento entre as potências
combatentes, que levasse ao armistício. Economicamente, a eclosão da guerra foi extremamente positiva para os EUA que
conseguiu dominar os espaços antes ocupados pelo parque industrial europeu, em especial o inglês.

186
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
A posição de neutralidade dos EUA aos poucos foi questionada principalmente pela colaboração econômica dada à Ingla-
terra e à França. Os empréstimos realizados pelos grandes bancos norte-americanos exigiam uma vitória da Tríplice Entente
na guerra, de modo a garantir que os EUA não arcassem com os prejuízos advindos do não pagamento da dívida pelos países
beligerantes.
A Kaiser Guilherme pressionou o Presidente Wilson para que os EUA se mantivessem neutros no conflito e não beneficias-
sem a nenhum lado da guerra. Diante da recusa da neutralidade pelo chefe de estado americano, a marinha alemã bombardeou
o transatlântico Lusitânia levando à morte dezenas de civis. Tal episódio foi decisivo para que os EUA adentrasse ao conflito.
Outro fato que levou ao agravamento da questão envolvendo os EUA relaciona-se com a Revolução Russa de 1917. A fase
de outubro comandada pelos Bolcheviques previa a saída dos eslavos do conflito. A crise russa, impulsionada pelas sucessivas
derrotas na frente oriental, fez com que este país se retirasse da guerra por meio da assinatura do Tratado de Brest-Litovzki, em
1918. Esse documento firmado com os alemães fortaleceria os germânicos na frente ocidental, o que foi visto pelos EUA como
algo temeroso para os rumos da guerra.

DO ARMISTÍCIO AOS TRATADOS DE PAZ


Diante de várias tentativas fracassadas para criar um armistício ou tratado de paz com a Alemanha, Turquia, Bulgária e o
Império Austro-húngaro, países envolvidos no conflito, o presidente Wilson dos Estados Unidos apresentou uma proposta con-
tendo 14 pontos como forma de pedir trégua.
Wilson fez a distribuição de suas propostas, jogando cópias sobre as trincheiras alemãs, mostrando aos soldados e povos
que havia um grande interesse em estabelecer a paz. Essas sugestões foram aceitas pelo Governo da Alemanha, pondo fim ao
conflito mundial por meio da assinatura de um armistício que definia a rendição incondicional dos alemães.
Um dos principais pontos apresentado por Wilson foi a criação da Liga das Nações na qual todos os Estados, imperialistas
ou não, poderiam participar cooperativamente da preservação da paz. Também ficou estabelecido que a Alemanha devolvesse
a Alsácia e Lorena à França e que os povos Austro-húngaros e os não turcos adquirissem sua própria autonomia. Quanto à Polô-
nia, sua soberania foi restabelecida e seu território foi estendido com uma saída para ao Mar Báltico que, até então, pertencia
à Alemanha.
Thomas Woodrow Wilson propôs 14 pontos de paz com base em um armistício e na ideia de paz futura, quais sejam:
1. Abolição da diplomacia secreta, ou seja, os acordos públicos deveriam ser negociados publicamente;
2. Todos os mares e oceanos deveriam ser livres para navegação;
3. Que fossem eliminadas todas as barreiras econômicas entre as nações;
4. O armamento deveria ser limitado somente ao que fosse necessário a segurança nacional;
5. As nações colonizadas deveriam ter acesso a algum meio representativo que expusesse seus interesses;
6. As nações invadidas pela Rússia deveriam ter suas terras desocupadas;
7. Restauração da autonomia e da independência Bélgica;

Os pontos seguintes se relacionavam com aspectos concretos da resolução do conflito:


8. Devolução da Alsácia-Lorena à França;
9. Retificação das fronteiras italianas, respeitando a nacionalidade;
10. Autonomia dos povos do império Austro-húngaro e direito ao seu desenvolvimento autônomo;
11. Restauração dos territórios invadidos da Romênia, de Montenegro e da Sérvia;
12. Autonomia a parte da Turquia dentro do Império Otomano;
13. Independência da Polônia e acesso seguro e livre ao mar;
14. Criação de uma Liga das Nações que garantisse a independência política e a integridade territorial dos pequenos e
grandes Estados.
Esses 14 pontos formaram a base do armistício com Alemanha, Turquia, Bulgária e o Império Austro-Húngaro. Wilson con-
seguiu aprovar parte de seu programa na conferência do Tratado de Versalhes.

187
SISTEMA DE ENSINO A360°

Depois da devastação causada pela Primeira Guerra mundial, as potências vencedoras impuseram uma rigorosa série de
exigências aos países derrotados através dos tratados de paz. Esses países foram obrigados a ceder parte de seus territórios e
pagar reparações financeiras aos vencedores da guerra.
Após a imposição do tratado à Alemanha, outros tratados foram impostos aos países membros da Tríplice Aliança, quais
sejam: Áustria, Hungria, Bulgária e Turquia. Os pactos tinham em comum: a defesa dos princípios do direito das nacionalidades,
a tentativa de enfraquecer militarmente esses países e a proteção dos interesses políticos e econômicos dos países vencedores.
Vejamos o que previam alguns deles:
a) Tratados de Saint-Germain: assinado em 10 de setembro de 1919, determinou que a Áustria devolvesse parte de
territórios que pertenciam à Itália. O Império Austro- Húngaro foi desmembrado em novos Estados como a Tchecoslo-
váquia, Hungria e a Iugoslávia. Parte deste Império passou a configurar o território da Polônia. A República da Áustria
se tornou um território sem acesso ao mar.
b) O Tratado de Trianon foi assinado em Junho de 1919, na França. Destinava se a regular a situação do novo Estado
húngaro que substituiu o reino da Hungria, parte do antigo império austro-húngaro. Transformada numa Republica, a
Hungria perdeu os territórios da Croácia, da Eslováquia e da Transilvânia.
A Hungria perdeu dois terços de seu território, sendo o mesmo distribuído da seguinte maneira:
 A Romênia recebeu a Transilvânia;
 A Croácia, a Eslovênia e a Voivodina se uniram a Sérvia;
 A Tchecoslováquia recebeu a Ritênia e a Eslováquia,
 A Áustria recebeu a Burgenland.
A Hungria perdeu o acesso ao mar que possuía através da Croácia. O território Húngaro superava a extensão de 300 mil km2,
e ficou reduzido a pouco mais de 90 mil km2, O exército Húngaro foi reduzido a 35 mil homens.
O Tratado de Sevres, de 11 de agosto de 1920, foi elaborado sob pressão da Inglaterra que estava interessada na desinte-
gração do Império Turco. Foi um acordo de paz assinado na Suíça por Reino Unido, França, Itália, Japão, Grécia, Romênia, Reino
da Servia. O Acordo levou ao reconhecimento internacional da nova República da Turquia como sucessora do extinto Império.
Este tratado definiu as fronteiras da Turquia moderna e visava assegurar sua dominação inglesa sobre o oriente próximo. O
acordo reduziu o território deste Estado a uma parte da Anatólia mais uma área ao redor de Constantinopla. Pelo Tratado, a
Turquia perdeu a Trácia para a Grécia. O Curdistão passaria a ser uma região independente. A Silícica seria entregue à França e
as províncias árabes - Palestina, Arábia, Síria e Mesopotâmia – pertenceriam à França e Inglaterra na forma de mandatos da
Liga das Nações. Intimidado pelo poderio das forças aliadas, o governo do sultão concordou em assinar o tratado.
Tratado de Versalhes foi um tratado de paz que determinou os termos de paz na Europa, pondo fim, oficialmente, a Pri-
meira Guerra Mundial. Este importante documento foi assinado em Versalhes, no dia 28 de junho de 1919, e dispunha que a
Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-húngaro e Itália), deveria cumprir reparações causadas pela guerra a seus adver-
sários, a Tríplice Entente (Rússia, Inglaterra e França). De acordo com as cláusulas territoriais a Alemanha- julgada a principal
responsável pela guerra-, deveria: “entregar a Alsácia-Lorena à França; Eupen e Malmedy à Bélgica. Além de perder todas suas
colônias na África, Ásia e Oceania”.
Outro item da cláusula territorial dispunha que a Prússia Oriental se separaria do resto da Alemanha pelo corredor Polonês
e seria transformada, mais tarde, em uma cidade livre sob o comando da Liga das Nações, organização destinada a promover a
paz e a prevenir conflitos entre seus membros. Tal instituição foi posteriormente transformada na ONU.
Outro destaque são as cláusulas militares impostas aos germânicos. Neste setor, a Alemanha deveria reduzir seu exército
a, no máximo, 100 mil homens. Além de ser proibido possuir qualquer tipo de armamento estratégico como: forças aéreas,
canhões pesados e submarinos.
Além de todas essas reparações e restrições à Alemanha, ainda foi imposta uma indenização de US$ 33 bilhões. O Tratado
gerou na sociedade alemã um forte sentimento de revanche que seria estrategicamente impulsionado pelo Nazismo. Para
muitos alemães, o governo aceitou depressa as condições, sem procurar outra forma de revogar o tratado, causando revolta e
um sentimento de humilhação.
A I Guerra Mundial legou ao mundo um saldo de 14 milhões de mortos e decretou o paulatino fim da Belle Epoque. Muitos
analistas entendem que esta Guerra precipita o Início da Crise da Modernidade que se aprofundaria após a II Guerra Mundial.
Esta crise colocaria em cheque o modelo hegemônico burguês presente em vários aspectos da vida em sociedade. O Estado, a
Igreja e as crenças, o conceito de família nuclear, a estética são alguns aspectos que passariam por profundas revisões no século
XX. Para uma considerável parcela dos intelectuais das humanidades a Grande Guerra, foi o primeiro grande ponto de inflexão
de tais modelos.

188
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UNICAMP O relato a seguir é parte da biografia de um 02| PUC A Primeira Guerra Mundial foi um dos conflitos mi-
homem que passou sua infância no atual Mali. litares mais letais na história da humanidade. Suas ori-
gens podem ser mapeadas desde a Segunda Revolução
Em novembro de 1918, a África, como a metrópole,
Industrial, a emergência do nacionalismo e do imperia-
festejou o fim da Grande Guerra Mundial e a vitória da
lismo. Dentre os conflitos que sinalizavam no horizon-
França e seus aliados (…). Estávamos orgulhosos do pa-
te um embate de grandes proporções é possível citar a
pel desempenhado pelos soldados africanos na frente
Questão Balcânica, a Questão Marroquina e a Questão
de batalha. (…) Os sobreviventes que voltaram em 1918-
dos Estreitos do Mar Negro. Sobre esta última questão,
1919 foram a causa de um novo fenômeno social que
é CORRETO afirmar que:
influiu na evolução da mentalidade nativa. Estou falando
do fim do mito do homem branco como ser invencível e A estava relacionada com a busca por saídas para ma-
sem defeitos. res quentes por parte do Império Russo. Em função
BÂ, Amadou Hampâté. Amkoullel, o menino fula. São Paulo: Palas Athena/Casa das Áfricas, de sua localização geográfica, a Rússia tinha poucas
2003, p. 312-313.
saídas para as grandes rotas internacionais e tinha
Considerando o relato acima, é correto afirmar que a intenção de controlar os estreitos de Bósforo e
Dardanelos, próximos a Istambul e pertencentes ao
A a presença dos soldados africanos contribuiu para Império Turco-Otomano. A Grã- Bretanha, em espe-
construir uma identidade africana sustentada nos cial, pretendia manter o controle turco dos estreitos
princípios bélicos do imperialismo europeu. e impedir que a Rússia ameaçasse áreas estratégi-
B a presença de soldados africanos nos conflitos con- cas de seu interesse no Mediterrâneo Oriental e no
tribuiu para o questionamento do mito da superio- Oriente Médio.
ridade do homem branco. B estava relacionada com o nacionalismo eslavo no
C o autor, ao apresentar a fragilidade do homem bran- sul da Europa. O retrocesso do Império Otomano
co, instaurou um discurso inverso de superioridade liberou várias populações eslavas na região dos es-
dos africanos. treitos de Bósforo e Dardanelos, que solicitaram a
proteção do Império Russo contra tentativas de re-
D o autor, ao apresentar o norte da África como parte
conquista dos turcos e do estabelecimento de pro-
da França, exaltou o projeto imperialista francês e
tetorados britânicos na Romênia e na Bulgária.
suas estratégias de integração cultural.
C tinha relação com a tentativa russa de conter a re-
Resolução:
pressão dos turcos contra as populações armênias e
Somente a alternativa B está correta. A questão re- gregas nas regiões limítrofes aos estreitos de Bósfo-
mete as consequências da Primeira Guerra Mundial, ro e Dardanelos. Os armênios e gregos, de religião
1914-1918. O texto aponta para um aspecto importante ortodoxa como os russos, estavam sendo vítimas da
ocorrido a partir do fim da Primeira Guerra Mundial em prática de genocídio por parte dos otomanos de re-
1918. Nações europeias pediram apoio de suas colônias ligião muçulmana.
na África, ou seja, “colonizador e colonizado” lutaram
D estava conectada com a criação de um Estado ára-
juntos nos campos de batalha. Ao findar a guerra, a
be na região dos estreitos. O projeto era parte dos
Tríplice Entente formada pela França, Inglaterra e Rús-
interesses de controle britânico sobre a região. Os
sia conseguiu êxito diante da Tríplice Aliança constitu-
ingleses, fortes aliados dos líderes árabes do Orien-
ída pela Alemanha, Itália e Império Austro-Húngaro. A
te Médio, prometeram, em troca de apoio árabe
Europa como um todo sofreu muito com os efeitos da
contra os turcos, a criação de um lar nacional árabe
guerra, surgindo uma nova potência econômica, os EUA.
muçulmano na região dos estreitos do Mar Negro.
Isto contribuiu para relativizar o “Europocentrismo”
e valorizar outras culturas fora da Europa. A América E estava relacionada com a política expansionista ita-
Latina buscou compreender e valorizar suas raízes, o liana na região do Mediterrâneo Oriental. A Itália,
Brasil entrou no Movimento Modernista ressaltando os depois de sua unificação, pretendia colocar toda
elementos nacionais. O fato de soldados africanos luta- a bacia do Mar Mediterrâneo sob seu controle e
rem juntos aos europeus contribuiu sobremaneira para a presença de antigas colônias venezianas no Mar
o fortalecimento da mentalidade nativa, desenvolvendo Egeu deu pretexto para a interferência italiana na
um nacionalismo que culminou no processo de indepen- região dos estreitos, com o que a Itália poderia con-
dência da África, Ásia e Oceania denominado de “Desco- trolar o comércio de cereais e de petróleo na região,
lonização”. As demais alternativas estão incorretas. de grande importância geopolítica.

189
SISTEMA DE ENSINO A360°

Resolução: A Com o fim da Grande Guerra, os territórios do Im-


pério Turco Otomano ficaram sob a égide da Organi-
Somente a alternativa A está correta. A questão remete
zação das Nações Unidas e tiveram reconhecido seu
as causas da Primeira Guerra Mundial, 1914-1918. São
direito à autodeterminação.
muitas as causas desta grande guerra, tais como a busca
de mercado consumidor para produtos industrializados, B Os britânicos, logo após o fim da guerra, promete-
busca de matéria prima para as indústrias, o revanchismo ram independência aos árabes e construíram um lar
francês, a questão marroquina, a questão balcânica, o na- nacional para os judeus na Palestina, mediante a de-
cionalismo forte, a necessidade das grandes empresas de claração de Balfour.
investir capital, necessidade de escoar o excedente popula- C Ao aliar-se à Tríplice Entente na Primeira Guerra
cional, o pan germanismo, o pan eslavismo, entre outros. O Mundial, o Império Turco Otomano saiu fortalecido
Império Russo passava por um processo de modernização do conflito tanto política quanto economicamente,
econômica e social através dos czares da dinastia Romanov o que lhe proporcionou uma sobrevida até a Segun-
e necessitava de acesso as rotas internacionais como os es- da Guerra Mundial.
treitos de Bósforo e Dardanelos. Havia interesses políticos D Uma consequência direta da Grande Guerra foi o es-
e econômicos entre as potências sobre o “Velho Mediterrâ- tabelecimento de uma República Turco-Grega com
neo”. As demais alternativas estão incorretas. sede em Istambul e liderada por Mustafá Kemal.
E A Grande Guerra exauriu todos os recursos do sulta-
03| UPE No início de 1914, o Estado Otomano estava sob o
nato, deixando-o definitivamente à mercê das gran-
firme controle do Comitê União e Progresso, sobretudo
des potências, que, entre 1915 e 1917, negociaram
dos ministros Talaat Paxá, do Interior, Djemal Paxá, da a futura partilha do seu território.
Marinha e Enver Paxá, da Guerra. Apesar de seus pro-
cedimentos autoritários, eles contavam com bastante Resolução:
apoio popular. Em agosto, iniciada a Grande Guerra, es- A participação turca-otomana na Primeira Guerra con-
colheram ombrear-se com a Alemanha, apesar das opi- tribuiu para acentuar os problemas do Império, em es-
niões divergentes no gabinete governamental. pecial a difícil administração de um enorme território e a
(GONÇALVES, José Henrique Rollo. O Império Otomano e as Rivalidades Imperialistas. In: SIL- falta de capacidade de acompanhar a evolução tecnoló-
VA, Francisco Carlos Teixeira da (ORG). Impérios na História. Rio de Janeiro: Campus Elsevier,
2009, p. 220.) gica do século XX. Após o fim da Primeira Guerra, em es-
pecial depois Revolta Árabe, a partilha do Império Turco
O relato acima destaca um momento bastante singular Otomano foi sacramentada em 1920, com a assinatura
da história do Império Turco Otomano. do Tratado de Sèvres.
Sobre esse período, assinale a alternativa CORRETA. Alternativa E

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UERJ A Primeira Guerra Mundial não resolveu nada. As Indique duas transformações na geopolítica mundial de-
esperanças que gerou – de um mundo pacífico e demo- correntes desses tratados complementares.
crático de Estados-nação sob a Liga das Nações; de um
retorno à economia mundial de 1913; mesmo (entre os Em seguida, cite dois países que foram submetidos a eles.
que saudaram a Revolução Russa) de capitalismo mun-
dial derrubado dentro de anos ou meses por um levante 02| UFTM “Para os que cresceram antes de 1914, o contras-
dos oprimidos – logo foram frustradas. O passado esta- te foi tão impressionante que muitos (...) se recusaram
va fora de alcance, o futuro fora adiado, o presente era a ver qualquer continuidade com o passado. ‘Paz’ signi-
amargo, a não ser por uns poucos anos passageiros em ficava ‘antes de 1914’: depois disso veio algo que não
meados da década de 1920. mais merecia esse nome. Era compreensível.
ERIC J. HOBSBAWM
A era dos extremos: o breve século XX (1914-1991). Em 1914 não havia grande guerra fazia um século, quer
São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
dizer, uma guerra que envolvesse todas as grandes po-
O período entre-guerras (1919-1939) começou com tências, ou mesmo a maioria delas (...).”
uma combinação de esperança e ressentimento. (Eric Hobsbawm, Era dos Extremos: o breve século XX)

Diversos acordos foram impostos pelos Estados vence- A Na economia, o que caracterizou o período de “paz”,
dores aos derrotados. O mais conhecido deles é o Tra- citado pelo autor?
tado de Versalhes de 1919. Outros tratados complemen-
tares também foram assinados e igualmente tiveram B Explique um motivo da guerra a que Hobsbawm se
grande importância para a geopolítica mundial. refere.

190
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
03| UERJ razão para viver […] No ardor dos soldados russos se
percebe o entusiasmo que agita o coração dos antigos
A Europa antes... mártires se lançando para a morte gloriosa.
LE BON, Gustave. 1916 apud JANOTTI, Maria de Lourdes. A Primeira Guerra Mundial. O
confronto de imperialismos. São Paulo: Atual, 1992. p.17.

Após um ano de massacre, o caráter imperialista da


guerra cada vez mais se afirmou; essa é a prova de que
suas causas encontram-se na política imperialista e colo-
nial de todos os governos responsáveis pelo desencade-
amento desta carnificina. […] Hoje, mais do que nunca,
devemos nos opor a essas pretensões anexionistas e lu-
tar pelo fim desta guerra […] que provocou misérias tão
intensas entre os trabalhadores de todos os países.
CONFERÊNCIA DE ZIMMERWALD - 5 a 8 de setembro de 1915. Apud JANOTTI, Maria de
Lourdes. A Primeira Guerra Mundial. O confronto de imperialismos. São Paulo: Atual, 1992.
[Adaptado].

No início da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), esta-


e depois da Primeira Guerra Mundial beleceu-se, sobretudo na Europa, uma disputa de ideias
em torno do envolvimento nesse conflito. Com base na
leitura de cada um dos documentos, explique as posi-
ções assumidas sobre a participação na guerra.

05| UFG Observe os cartazes a seguir.

Adaptado de Jornal do Século, encarte do Jornal do Brasil, 12/11/2000

A Primeira Guerra Mundial provocou uma reorganiza-


ção político territorial da Europa, como se observa nos
mapas. Duas ideias orientaram essa reorganização: a do Cartaz militar inglês da I Guerra. Legenda: Mulheres da Inglaterra, digam: “vá!” Disponível em:
<http://historywiki.wikispaces.com/file/view/women_of_britain_say_go.jpg/
Estado-nação e, no caso da fronteira russa, a do cordão 31172833/women_of_britain_say_go.jpg>. Acesso em: 11 out. 2010.

sanitário.
A partir da análise dos mapas, identifique a mudança
ocorrida na organização política europeia após a Primei-
ra Guerra.
Em seguida, indique o motivo que levou ao estabeleci-
mento da política do cordão sanitário naquele momento.

04| UFG Leia os documentos a seguir.


Os camponeses partem para o front com incrível entu-
siasmo; e as classes superiores da sociedade, quer sejam Cartaz militar estadunidense da II Guerra. Legenda: Nós podemos fazer! Disponível em: <http://
liberais ou conservadoras, os aclamam, desejando-lhes postersdeguerra.blogspot.com>. Acesso em: 11 out. 2010.

boa sorte […] Habitualmente, os camponeses sentiam Na primeira metade do século XX, durante as duas
que não tinham nada a fazer a não ser beber; mas agora guerras mundiais, os cartazes foram importantes ferra-
não é mais assim. É como se a guerra lhes desse uma mentas para a mobilização de pessoas, orientando suas

191
SISTEMA DE ENSINO A360°

ações e seus sentimentos em relação aos conflitos. Com O testemunho do soldado demarca a experiência na
base na comparação entre os cartazes acima, guerra, assim como o monumento francês expõe a lem-
A descreva como a atitude da figura feminina é repre- brança sobre a Primeira Guerra Mundial (1914-1918),
sentada em cada um deles; que, para os países europeus, ficou conhecida como a
“Grande Guerra”. Diante do exposto e de acordo com o
B explique a utilização da força de trabalho das mu- texto e a imagem, explique de que forma
lheres no período de cada uma das guerras.
A a guerra nas trincheiras levou às manifestações pelo
06| UFG Leia o testemunho e analise a imagem. pacifismo, especialmente na França, findo o confli-
to, em 1918.
A alguns passos de nós, no fundo da trincheira, jaz um
corpo. É de um suboficial: está enterrado pela meta- B a memória sobre a Grande Guerra, expressa no
de; vê-se apenas a cabeça, um ombro anterior, o braço monumento, se relaciona à posição política france-
se enrijeceu e ficou estacado, e todos que andam pela sa diante das ofensivas alemãs durante os anos de
vala esbarram e tropeçam na mão e no braço. Seria 1930.
preciso cortar o braço ou retirar o corpo. Ninguém tem
coragem. 07| FUVEST Este livro não pretende ser um libelo nem uma
TESTEMUNHO DE UM SOLDADO FRANCÊS. Apud: VINCENT, Gérard. confissão, e menos ainda uma aventura, pois a morte
Uma história do segredo? In: PROST, Antoine; VINCENT, Gérard.
História da vida privada: da Primeira Guerra aos nossos dias. São Paulo: não é uma aventura para aqueles que se deparam face
Companhia das Letras, 1995, v. 5. p. 206. [Adaptado].
a face com ela. Apenas procura mostrar o que foi uma
geração de homens que, mesmo tendo escapado às gra-
nadas, foram destruídos pela guerra.
Erich Maria Remarque, Nada de novo no front. São Paulo: Abril, 1974 [1929], p.9.

Publicado originalmente em 1929, logo transformado em


best seller mundial, o livro de Remarque é, em boa par-
te, autobiográfico, já que seu autor foi combatente do
exército alemão na Primeira Guerra Mundial, ocorrida
entre 1914 e 1918. Discuta a ideia transmitida por “uma
geração de homens que, mesmo tendo escapado às gra-
nadas, foram destruídos pela guerra”, considerando:
A As formas tradicionais de realização de guerras in-
ternacionais, vigentes até 1914 e, a partir daí, modi-
ficadas.
B A relação da guerra com a economia mundial, entre
Dizeres do monumento francês: “Contra a guerra; às suas vitimas, à fraternidade dos povos. as últimas décadas do século XIX e as primeiras do
Que o futuro console a dor”. Disponível em:
<http://guerres-mondiales.xooit.fr/t165-Dardilly.htm>. Acesso em: 26 maio 2011. século XX.

T ENEM E VESTIBULARES
01| FUVEST Quando a guerra mundial de 1914-1918 se ini- continuar sob controle e muito provavelmente permane-
ciou, a ciência médica tinha feito progressos tão grandes cerá assim por algum tempo.
que se esperava uma conflagração sem a interferência Henry E. Sigerist, Civilização e doença.
de grandes epidemias. Isso sucedeu na frente ocidental, São Paulo: Hucitec, 2010, p. 130-132.

mas à leste o tifo precisou de apenas três meses para O correto entendimento do texto acima permite afirmar
aparecer e se estabelecer como o principal estrategista que
na região (...). No momento em que a Segunda Guerra
Mundial está acontecendo, em territórios em que o tifo é A o tifo, quando a humanidade enfrentou as duas
endêmico, o espectro de uma grande epidemia constitui grandes guerras mundiais do século XX, era uma
ameaça constante. Enquanto estas linhas estão sendo ameaça porque ainda não tinha se desenvolvido a
escritas (primavera de 1942) já foram recebidas notifica- biologia microscópica, que anos depois permitiria
ções de surtos locais, e pequenos, mas a doença parece identificar a existência da doença.

192
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
B parte significativa da pesquisa biológica foi abando- A a Grande Guerra foi travada em duas frentes de
nada em prol do atendimento de demandas milita- combate e em ambas a perda de vidas humanas al-
res advindas dessas duas guerras, o que causou um cançou a dimensão de verdadeiros massacres.
generalizado abandono dos recursos necessários ao
controle de doenças como o tifo. B na guerra de 1914-1918, foram utilizadas novas tec-
nologias de comunicação e transportes, proporcio-
C as epidemias, nas duas guerras mundiais, não afeta-
nando um avanço científico acelerado.
ram os combatentes dos países ricos, já que estes,
ao contrário dos combatentes dos países pobres, C por envolver grandes potências coloniais a Grande
encontravam-se imunizados contra doenças causa- Guerra atingiu populações não europeias o que deu
das por vírus. ao conflito uma dimensão mundial.
D a ameaça constante de epidemia de tifo resultava da D através de bombardeios aéreos, racionamentos de
precariedade das condições de higiene e saneamen- alimentos e produtos, a guerra envolveu, em grande
to decorrentes do enfrentamento de populações escala, a população civil dos países em conflito.
humanas submetidas a uma escala de destruição
incomum promovida pelas duas guerras mundiais. E a Grande Guerra decorreu da tensão política e ideo-
lógica entre americanos e soviéticos na disputa por
E o tifo, principalmente na Primeira Guerra Mundial,
foi utilizado como arma letal contra exércitos inimi- áreas de influência no continente europeu.
gos no leste europeu, que eram propositadamente
contaminados com o vírus da doença. 04| UFTM Analise a tabela.

GASTOS MILITARES DA ALEMANHA, ÁUSTRIA-HUN-


02| FAC. DE CIÊNCIAS DA SAÚDE DE BARRETOS A guerra GRIA, GRÃ-BRETANHA, RÚSSIA, ITÁLIA E FRANÇA
ficou conhecida como uma guerra de trincheiras.
VALOR (MILHÕES DE
Combater significava ficar sentado num buraco aper- ANO
LIBRAS)
tado e lamacento – com todo o sentimento de terror e
impotência – enquanto choviam explosivos do céu. Ali 1880 132
surgiu também um novo tipo de distúrbio, a neurose de 1890 158
guerra. Os sintomas, que iam da ansiedade às alucina-
ções, foram considerados inicialmente como resultado 1900 205
de danos cerebrais causados pelo barulho das explosões 1910 288
de granadas.
(Nosso Tempo – A cobertura jornalística do século. Jornal da Tarde, 1995. Adaptado.) 1914 397
A situação descrita no texto refere-se (Eric J. Hobsbawm. A era dos impérios, 1875-1914, 1988)

A à fase da guerra de trincheiras, ocorrida na 1ª Gran- Sobre o crescimento dos gastos militares, é correto afir-
de Guerra (1914-1918). mar que

B à utilização de armas nucleares ao final da 2ª Guerra A foi um subproduto das crescentes disputas que en-
Mundial (1936-1945). volveram esses países, que buscavam se fortalecer
no cenário externo.
C às consequências do uso do napalm durante a Guer-
ra do Vietnã (1960-1976). B foi motivado pela necessidade de enfrentar os mo-
vimentos armados nas colônias da África e Ásia, que
D à ação dos bombardeiros alemães na Guerra Civil começavam a se rebelar.
Espanhola (1936-1939).
C incentivou a formação de grupos pacifistas, que
E à operação dos mísseis cruise utilizados pelos norte- combatiam os gastos com armas por meio de cam-
americanos contra o Iraque (1991). panhas junto aos empresários.

03| PUC Em 1914, as tensões políticas entre as principais D deveu-se ao oligopólio da produção de equipamen-
potências europeias levaram a uma guerra que se tor- tos militares, cujos preços eram impostos pelas pou-
nou, ao longo dos anos seguintes, um dos mais trágicos cas empresas do setor.
momentos da história da humanidade. E resultou da necessidade de os Estados armarem-se
Em relação à Primeira Guerra Mundial, é INCORRETO para controlar a mobilização dos trabalhadores ur-
afirmar que: banos e suas greves.

193
SISTEMA DE ENSINO A360°

05| FGV A I Guerra Mundial (1914-1918) provocou mudan- 07| UFPR Com base nos estudos sobre as consequências da
ças importantes no mapa político da Europa. Entre es- Primeira Guerra Mundial para a Europa, é correto afirmar:
sas, é correto apontar a A Apesar de grande parte do território europeu ter
A devolução da Alsácia-Lorena, então com a Alema- sido devastado com a Guerra, o mapa geopolítico do
nha, para a França e a concessão de uma saída para continente permaneceu o mesmo, demonstrando a
o mar para a Polônia, criando o chamado Corredor força das monarquias nacionais.
Polonês. B A Primeira Guerra Mundial levou ao fim o Império
Austro-Húngaro e Otomano, que se dividiram em
B perda, pela Itália, da região de Trieste para a Iugos-
diversos países independentes e adotaram o socia-
lávia, e a cessão, pela França, da região basca para a lismo soviético, conforme acordado no Tratado de
Espanha. Brest-Litovski.
C anexação do norte da Bélgica pela França e o reco- C Essa Guerra marcou o final dos Impérios Austro-Hún-
nhecimento da independência da Grécia. garo e Otomano, a implantação do modelo democrá-
tico-liberal em vários países europeus, a afirmação
D incorporação de Montenegro ao território grego e a
do princípio de autodeterminação dos povos em
fragmentação do Reino Unido, com a independên-
bases étnicas e culturais e a grande penalização da
cia do País de Gales. Alemanha pelo Tratado de Versalhes.
E ampliação do Império Austro-Húngaro, com o ajun- D A Alemanha e a Itália foram as grandes derrotadas
tamento da Sérvia, e a devolução da Armênia para o nessa guerra, perdendo parte de seus territórios,
Império Turco. que se declararam independentes pelo princípio de
autodeterminação do presidente Woodrow Wilson.
06| UEPG A Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914
E Além do final do Império Otomano, essa guerra trou-
e 1918, entrou para a história como o primeiro grande xe o fim dos impérios coloniais de França e Alema-
conflito do século XX. Essa guerra produziu um grande nha, sem contar o fim do recém-implantado socialis-
número de mortes e assolou, principalmente, o territó- mo soviético, por conta do Tratado de Versalhes.
rio europeu. Com relação a esse assunto, assinale o que
for correto. 08| UCS O período entre guerras (1919-39) caracterizou-se,
entre outras coisas,
01. O desejo nacionalista de reunir, em uma úni-
ca nação, todos os países de origem germânica, A pelos contrastes econômicos no Ocidente, havendo
avassaladora crise econômica na Europa, mas tran-
pode ser compreendido como um dos motivos
quilidade e progresso financeiro contínuo nos Esta-
que contribuíram para o início da Primeira Guer- dos Unidos e nos países latino-americanos.
ra Mundial.
B pela presença de governos democráticos e pela po-
02. A formação das alianças políticas e militares na lítica exterior de neutralidade e autonomia em toda
Europa do início do século XX favoreceu o recru- a América Latina, destacando-se o peronismo na Ar-
descimento das relações entre os países no Velho gentina, o varguismo no Brasil e o cardenismo no
Continente e acentuou o clima de guerra entre México.
eles. C pelo predomínio dos regimes liberais e parlamenta-
ristas na Europa oriental, pois o envolvimento na I
04. A participação do Brasil nesse confronto limitou-se
Guerra Mundial havia liquidado com as tendências
ao envio de medicamentos e enfermeiros para os
politicas totalitárias da região.
campos de batalha.
D pelas ações intervencionistas desenvolvidas por
08. O ataque japonês à base naval de Pearl Harbour, no algumas das potências mundiais, manifestas, por
Havaí, foi considerado um dos episódios mais trági- exemplo, nas presenças francesa e inglesa no nor-
cos da Guerra. te da África ou na participação norte-americana na
Guerra do Vietnã.
16. Ao final da Guerra, de acordo com o Tratado de
Versalhes, a Alemanha teve que devolver a região E pela radicalização política entre esquerda e direita.
da Alsácia-Lorena para a França e ainda pagar os No primeiro caso, destaca-se a vitória do projeto bol-
prejuízos causados pelo confronto aos países ven- chevique na Revolução Russa; no segundo, a ascen-
cedores. são do nazi-fascismo em várias partes da Europa.

194
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
09| UDESC O período que vai da metade do século XIX até trono austro-húngaro, levou o Império austríaco,
a Primeira Guerra Mundial foi marcado por profundas juntamente com a Rússia, a declarar guerra à Sérvia,
transformações históricas. Sobre esse período e as dando início ao conflito.
transformações históricas ocorridas, assinale a alterna-
E ao final do conflito, a Alemanha impôs à França a
tiva incorreta.
devolução dos territórios da Alsácia-Lorena, ricos
A A expansão do capitalismo pelo mundo, a partir da em minério de ferro e carvão.
segunda metade do século XIX, implicou expansão
11| UEFS
territorial e nova ocupação colonial, também conhe-
cida como imperialismo. Os países industrializados
redividiram politica, geografica e economicamente
os continentes asiático, africano e americano.
B Nesse período o antigo trio baseado em ferro, car-
vão e máquinas a vapor (que marcou a Revolução
Industrial) foi substituído por outro, composto de
aço (e outros metais leves), eletricidade e petróleo
(e outros produtos químicos).
C As duas últimas décadas do século XIX apresenta-
ram transformações importantes, como o desen-
volvimento de novas fontes de energia baseadas na
eletricidade e no petróleo, permitindo que novas in-
dústrias fossem formadas, principalmente, na área
da metalurgia e da siderurgia.
D Nesse período, as potências industriais da época, Relacione com as áreas indicadas no mapa com 1, 2, 3,
como China, Rússia e Estados Unidos iniciaram um 4 e 5.
novo ciclo de expansão do capitalismo, também
conhecido como imperialismo. Essas potências re- Em 1, ocorreu, na década de 90 do século XX, grande
partiram politica, geografica e economicamente os conflito político, ideológico e étnico, do qual resultou o
continentes asiático, africano e americano. desmembramento da antiga Iugoslávia e a redistribuição
das fronteiras dos países do leste europeu.
E Foi nesse período que a ideia de modernidade as-
sociada à de progresso e civilização se disseminou, As raízes desse conflito estão relacionadas aos tratados
especialmente nos centros urbanos. Nesse período de paz impostos pelos vencedores da Primeira Grande
criou-se a ilusão de que a humanidade vivia em um Guerra (1914 – 1918), quando
contínuo avanço técnico-científico. A a política de unificação na Itália e na Alemanha di-
vidiu a região entre italianos e alemães, aumentan-
10| ESPCEX A Primeira Guerra Mundial foi um conflito de do seus territórios e lhes conferindo maior poder
enormes proporções, ocorrido entre 1914 e 1918, que militar.
envolveu quase todo o continente europeu e várias ou-
tras regiões do mundo. Sobre esse conflito é correto afir- B o Império Turco-Otomano (Turquia) recuperou a do-
mar que minação sobre a região, fato que se iniciara desde a
expansão árabe muçulmana no século XVII.
A a disputa por regiões coloniais acirrou as rivalidades
entre as grandes potências, levando ao fim grandes C a União Soviética, governada por Josef Stalin, es-
alianças, como é o caso do desmantelamento da Trí- tendeu seu domínio sobre a região, submetendo a
plice Entente. Iugoslávia ao Pacto de Varsóvia.
B a chamada “paz armada” foi imposta ao final do D povos de culturas e condições econômicas diferen-
conflito, quando os países europeus já encontra- tes foram reunidos num novo país — a Iugoslávia
vam-se desgastados com a guerra, com o objetivo — que congregava sob as mesmas fronteiras as an-
de cessar os combates e evitar novos conflitos. tigas Bósnia-Herzegovina, Croácia, Sérvia, Eslovênia,
C a entrada dos Estados Unidos, com seu apoio eco- Montenegro e Macedônia.
nômico e militar, ao lado da Entente, foi fundamen- E foi iniciada, por alemães e russos, a perseguição que
tal para a derrota da Tríplice Aliança. levaria, na década de 30 do século passado, ao ex-
D o assassinato de Francisco Ferdinando, herdeiro do termínio dos judeus.

195
SISTEMA DE ENSINO A360°

12| PUC Antes mesmo do indianismo e do regionalismo, dos pela vida urbana e pela infraestrutura existente
a ficção brasileira, desde os anos de 1840, se orientou nessas capitais.
para outra vertente de identificação nacional através B a celebração do pacifismo, do hedonismo e do “es-
da literatura: a descrição da vida nas cidades grandes, tilo de bem viver”, após o dramático período vivi-
sobretudo o Rio de Janeiro e áreas de influência, o que do pelas sociedades europeias durante a Primeira
sobrepunha à diversidade do pitoresco regional uma vi- Guerra Mundial.
são unificadora. Se por um lado isto favoreceu a imitação
C a retomada do classicismo, principal influência do
mecânica da Europa, e portanto uma certa alienação, de Art Nouveau, uma vez que o “culto ao belo” e a bus-
outro contribuiu para dissolver as forças centrífugas, es- ca da perfeição na reprodução da realidade orienta-
tendendo sobre o País uma espécie de linguagem culta ram o gosto e a estética predominantes nos grandes
comum a todos e a todos dirigida (...), que contrabalança centros culturais europeus.
o particular de cada zona.
D a expansão da cultura de massas, na França e na
(Antonio Candido. A educação pela noite. São Paulo:
Ática, 1987. p. 203)
Inglaterra, graças à difusão do rádio e do cinema,
permitindo que o gosto popular fosse incorporado
A influência exercida pelos costumes, valores e hábitos pela alta burguesia, não mais preocupada em se di-
europeus no Brasil teve grande expressão durante o pe- ferenciar do proletariado.
ríodo conhecido como Belle Époque. Entre as caracterís-
E o período de prosperidade econômica, na capital
ticas desse período, pode-se destacar
francesa, decorrente da administração moderna e
A a intensa difusão, em cidades como Paris e Viena, reformista exercida pela Comuna de Paris logo após
dos valores e hábitos da alta burguesia, como o cul- a Guerra Franco-Prussiana, que possibilitou uma
to ao lazer, às artes e ao entretenimento, favoreci- fase de efervescência cultural.

REVOLUÇÃO RUSSA - 1917


ANTECEDENTES
Até o início do século XX, vigorava na Rússia um modelo autocrático exercido
pelo poder pessoal do Czar. A chamada autocracia czarista era exercida pelos Ro-
manov desde 1613. A Rússia era um país imenso, quase 22 milhões de quilômetros
quadrados, com cerca de 170 milhões de habitantes. Aproximadamente 85% da po-
pulação vivia no campo e a maioria das propriedades pertenciam à nobreza czarista,
à Igreja Ortodoxa e a oficiais de alta patente do exército.
Mujique: sistema camponês russo adotado até 1861 no qual o camponês estava
preso à terra. O mujique é relatado, em várias obras literárias russas do século XIX,
sempre como grupo social de pobreza extrema.
Calendário Juliano e Gregoriano: No início do século XX, a Rússia utilizava o ca-
lendário Juliano, que possuí treze dias a menos que o calendário Gregoriano, adota-
do hoje pela Rússia e a maioria dos países ocidentais.

Mujique – Camponês russo


http://1.bp.blogspot.com/-3_Vkl6dv1Bw/
UWhkQr7SymI/AAAAAAAAJHg/t-
TtTMqpK4E/s1600/Mujique.jpg

Czar Nicolau II e família


http://spartacus-educational.com/00tsar4.jpg

196
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
No século XIX, vários czares tentaram modernizar a Rússia, com a construção de estradas de ferro e indústrias, mas a onda
modernizante foi essencialmente conservadora, aumentando mais as divisões da sociedade. No entanto, a modernização con-
servadora, experimentada no século XIX, aumentou a massa proletária, principalmente nas regiões de São Petersburgo, Odessa
e Moscou. Essa camada operaria urbana formada pela onda modernizante teve participação significativa no Ensaio Revolucio-
nário de 1905 e na Revolução Russa de 1917.
A proliferação dos grupos anarquistas e marxistas aumentou a tensão social no campo e na cidade. Os narodniks, populis-
tas, faziam propaganda junto à população rural, mas existia muita resistência às ideias mais radicais pela fidelidade dos cam-
poneses à Igreja Ortodoxa. Os niilistas, anarquistas, se destacavam pelo discurso anticzarista e o apelo às condições sociais da
Rússia. Além dos narodniks e os niilistas, várias sociedades secretas se organizavam, como Terra e Liberdade e Vontade do Povo,
que difundiam panfletos e organizavam atentados e sabotagens contra o Estado Czarista. A perseguição política radicalizou a
situação, em 1881 o Czar Alexandre II foi assassinado.
A morte do Czar sucedeu a organização de instituições repressoras pelo Estado Russo, durante o governo de Alexandre III
(1881 - 1894). Podemos destacar a Ochrana, polícia política, que, além da perseguição aos opositores do Estado, controlava as
universidades, escolas, imprensa e tribunal de justiça.
Com a morte de Alexandre III, seu sucessor, Nicolau II, insistia em um governo centralizado e teve que lidar com inúmeras
revoltas. O discurso nacionalista era uma ameaça ao vasto império russo, que conteve rebeliões na Finlândia, Ucrânia e na
região do báltico. Enquanto lidava com a tentativa de fragmentação do seu império, Nicolau II teve que conviver com a organi-
zação dos partidos de esquerda. Em 1898, foi fundado o Partido Operário Social Democrata Russo (POSDR). Em 1903, durante
a reunião do II Congresso do partido, houve um rompimento, surgindo duas tendências:

MENCHEVIQUES BOLCHEVIQUES
Minoria Maioria
Marxistas que pregavam o amadurecimento do
Marxistas que defendiam a revolução socialista
capitalismo antecedendo o socialismo
Revolução burguesa contra o czarismo Instalação de ditadura do proletariado
Liderança pela Duma (Parlamento) Base: Sovietes (Conselhos operários)
Aliança entre camponeses e operários para
Reformas e transformação progressista
transformação radical
Líderes: G. Plekhnov e Lulli Martov Líderes: Vladimir Lênin e León Trotsky
1914: Separação definitiva das tendências, que passaram a ser partidos distintos.

A cisão tem como principal ponto o papel da burguesia, que era visto pelos Mencheviques como necessária, para que a
Rússia atingisse o desenvolvimento pleno do capitalismo, e depois instaurar a Revolução do Proletariado. Já para os Bolchevi-
ques, a revolução não podia esperar, deveria ser feita de imediato e eram contrários à aliança com a burguesia. Para os últimos,
somente a Revolução Socialista podia tirar a Rússia do seu atraso.

ENSAIO GERAL DE 1905 E AS TENTATIVAS DE REFORMAS


Em 1905, a derrota da Rússia na Guerra Russo-japonesa
(1904-1905)- conflito imperialista pela região da Manchúria
e Coréia- funcionou como o estopim para uma série de mani-
festações contra o governo. Tais rebeliões foram severamen-
te reprimidas pelos cossacos, soldados russos conhecidos
pelo experiência militar.
No dia 22 de janeiro de 1905, uma manifestação popu-
lar em frente ao palácio de inverno foi reprimida com tiros.
Os manifestantes cantavam “Deus salve o Czar”, como uma
clara expressão de que se tratava de uma protesto pacífico.
Mulheres, crianças e idosos foram dizimados com tiros de
metralhadas. Tal episódio ficou conhecido como “Domingo

197
SISTEMA DE ENSINO A360°

Sangrento”.
A reação popular foi imediata, a revolta se
alastrou para todo país e uma greve geral foi
decretada. Grupos que, tradicionalmente, eram
associados ao Czar se rebelaram com grupos de
marinheiros do encouraçado Potenkin e a guar-
nição de Kronstadt. Os partidos de esquerda
aderiram a greve e conselhos operários se orga-
nizaram: era o início dos sovietes. Tal conselho,
formado por operários industriais urbanos, con-
tou com a adesão de oficiais militares. Sua base
ideológica era variada, composta por anarquis-
tas, mencheviques, bolcheviques, operários.
Contudo, havia um traço em comum: a oposição
política ao czar. Os sujeites funcionavam como
sindicatos politizados armados.
Para conter os ânimos, o Czar permitiu e realizou uma série de mudanças liberais, uma espécie de “pseudoconstitucio-
nalismo”, dentre elas a convocação do parlamento russo (DUMA), com forte controle do Czar. A instituição de uma Monarquia
Constitucional com a tripartição de poderes conferiu à Rússia um ambiente político democrático. Porém, com o tempo, o Czar
corrompeu o parlamento por meio de políticas escusas de favorecimento político.
Esta tentativa de neutralizar as revoltas populares com medidas liberais e pelo controle do parlamento se manteve até
1911, com a morte do ministro Stolypin; mais uma vez a radicalização ascendeu os dispositivos repressores. A situação só não
chegou a situações extremas pelo contexto pré primeira guerra mundial, o nacionalismo patriótico pré-guerra, que permane-
ceria até o início da guerra e a demonstração da fragilidade do Estado Russo.

ENQUANTO ACONTECIA A PRIMEIRA GUERRA, NA RÚSSIA...


A Primeira Guerra Mundial, inicialmente, estimulou o sentimento nacionalista, 13 milhões de soldados foram mobilizados,
mas esse sentimento, aos poucos, foi se desgastando no interior da sociedade russa devido às noticias das péssimas condições
que os soldados russos enfrentavam em campo de batalha, as milhares de mortes e a crise econômica provocada pela guerra.
A Rússia entrou na guerra do lado da tríplice entente, portanto, ao lado de França e Inglaterra. Não conseguiu defender o
estreito de Bósforo e Dardanelos. Os altos preços dos alimentos eram cobrados para manter a guerra; A inflação e a dificuldade
no abastecimento eram elementos comuns nas cidades russas no início de 1917.
Uma greve geral paralisou os transportes na cidade de Petrogrado, a falta de carvão
paralisou as fábricas, o mau tempo potencializou a crise agrícola. As manifestações
por comida, especialmente o pão, se avolumavam e, clamando pelo fim da guerra,
se multiplicavam, e logo se transformaram em grito pelo fim da autocracia czarista.
As pessoas foram às ruas, mas o exército se negou a marchar contra o povo, o que
evitou outro domingo sangrento. Sem o apoio do exército, o Czar renunciou.

REVOLUÇÃO DE MARÇO DE 1917


Com a abdicação do Czar, a Duma, parlamento russo, assumiu como governo
provisório. Houve uma ampla participação dos Mencheviques no governo instau-
rado em maço de 1917. Por isso, a pressão popular, a abdicação do Czar e a orga-
nização do governo provisório com a participação dos Mencheviques. Esta fase da
Revolução é nomeada como Revolução Branca, Menchevique ou de Março de 1917.
O governo provisório era presidido pelo príncipe Lvov, tendo o professor Miliou-
Alexander Kerenski
kov no Ministro das Relações Exteriores e o líder do partido Social-Revolucionário, http://russiapedia.rt.com/files/prominent-
Alexander Kerenski, no Ministério da Justiça. Com o andamento da Revolução, Ke- russians/politics-and-society/aleksandr-
kerensky/aleksandr-kerensky_3-t.jpg

198
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
renski passa a ser o principal líder da fase menchevique.
Apesar da pressão popular, o governo provisório manteve os russos na primeira guerra, a fim de atender os interesses
dos grupos burgueses russos e manter a Rússia no sistema de alianças. Porém, o país estava esgotado. Mais de 1,5 milhões
de soldados russos já haviam desertado. Nesse contexto, Lênin, líder bolchevique, publicou o programa chamado de Teses de
Abril, que era simbolizado pelo lema “Paz, Terra e Pão”. Tais teses propunham a transferência de todos os poderes aos sovietes,
nacionalização dos bancos, controle das fábricas pelos operários, terra para os camponeses e saída da Rússia da Guerra.
O governo provisório começou a reprimir as manifestações públicas e a perseguir os líderes bolcheviques. Os fracassos
de guerra tornavam a situação mais caótica, o príncipe Lvov, após intensa pressão popular, entregou o cargo. Outrossim, a
perseguição aos bolcheviques aumentava. Trótski, líder dos sovietes de Petrogrado, organizou uma milícia popular, a Guarda
Vermelha.

REVOLUÇÃO DE OUTUBRO DE
1917
Em Outubro de 1917, na noite de 24 de Ou-
tubro, os bolcheviques ocuparam os pontos es-
tratégicos de Petrogrado. O Encouraçado Aurora
bombardeou a sede do governo, o palácio de in-
verno. Todo o poder foi transferido aos sovietes,
no congresso pan-russo desses, no dia 7, além
de ser designado um Conselho dos Comissários
do Povo. Esse foi presidido por Lênin, Trotski era
responsável pelas relações exteriores e Stalin
pelas nacionais. As primeiras medidas foram:
 Grandes propriedades foram supri-
midas;
 Terras foram atribuídas aos campone-
ses e a comitês de camponeses;
 Fábricas estatizadas;
 Tratado de Paz de Brest-Litovsk: deter-
minante para a saída russa da guerra.
Vladimir Lênin
 A perseguição a czaristas e menchevi- http://marxismo.org.br/sites/default/files/pictures/articles/lenin_0.jpg
ques que culminou em um grande nú-
mero de assassinatos e exílios.

AS FASES DA REVOLUÇÃO RUSSA 1917


1ª Fase fevereiro de 1917 2ª Fase outubro de 1917
Ritmo Fase moderada Fase radical
Líder Kerensk Vladimir Lênin
Política Caráter liberal-burguês Socialista
 Abdicação do Czarismo  Saída da Primeira Guerra
Medidas Mundial
 Permanência na Primeira
Guerra Mundial  Início da Guerra Civil

DEFESA DA REVOLUÇÃO

199
SISTEMA DE ENSINO A360°

Na prática, a Revolução de Outubro, também chamada de Revolução vermelha ou bolchevique, se apoiou no Exercito
Vermelho e na Tcheka, polícia política bolchevique, criada para combater os contra-revolucionários. Seguiram-se três anos de
guerra interna para garantir a revolução. A disputa contra os russos brancos, os que se posicionaram contra a revolução, con-
tou com o apoio dos países europeus, em especial Inglaterra e França, que viam na Revolução Russa uma ameaça ao Sistema
Capitalista.

Trotsky Stalin Lênin


1879 - 1940 1878 - 1953 1870 - 1924
https://cpalexandria.files.wordpress.com/2012/04/0_437d0_fd0e49dc_xl.jpg

Trotski organizou um exército com mais de 3 milhões de homens e, em 1919, organizou o Komintern, Terceira internacional
comunista, cujo objetivo era levar a revolução aos outros países europeus.
A situação de guerra fez Lênin tomar medidas contra proprietários rurais e donos de fábricas, esta fase foi chamada de
comunismo de guerra. Caracterizada pela crise na produção, afinal os operários não estavam habituados a administrar fábricas
e gerir empresas, gerando uma crise generalizada, nas palavras de José Jobson de Arruda:
“As indústrias pequenas, entre cinco e dez operários, foram estatizadas; os camponeses deveriam entregar a colheita ao
governo, salvo a parte destinada ao autoconsumo. A resistência dos camponeses que escondiam suas colheitas foi quebrada
pela Tcheka. A produção industrial, em 1920, equivalia, no mesmo ano, a 30% da produção de 1913. O resultado foi a fome
generalizada de 1921. Ocorreram motins dos marinheiros de Kronstadt, que foram massacrados”.
A guerra civil russa foi vencida pelos Vermelhos- bolcheviques, garantindo as condições básicas iniciais para a concreti-
zação do projeto político socialista. No entanto, a crise econômica e social se agravara. Fome, miséria e revoltas camponesas
começavam a se tornar crônicas. Era necessário, então, recuperar a economia.

NOVA POLÍTICA ECONÔMICA


Em 1921, a revolução havia se consolidado, mas existiam muitos problemas a serem resolvidos, principalmente econô-
micos. Para superar esses obstáculos, Lênin criou o NEP (Nova Política Econômica). O NEP adotou algumas medidas que eram
consideradas capitalistas, com objetivo de dinamizar a economia russa, o lema era “dar um passo para trás, para avançar dois
passos à frente”. Podemos destacar entre os pontos do NEP:
 Investimentos dirigidos para setores fundamentais da economia – Energia e matéria prima básica;
 Organização de comerciantes e agricultores em cooperativas;
 Privatização das empresas com menos de 20 trabalhadores;
 Hierarquização de salários;
 Tentativa de atrair capital estrangeiro;

200
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Do ponto de vista econômico, a NEP foi bem sucedida, fez crescer o comércio, a produção agrícola e industrial. No entanto,
socialmente, essas práticas contribuíram para o enriquecimento de dois grupos, os Kulaks (ligado a produção agrícola) e os
Nepmen (ligados ao comércio), contrariando o caráter socialista.

DA RÚSSIA A URSS: ORGANIZAÇÃO POLÍTICA (1921 - 1924)


Em 1921, a Inglaterra reconheceu o novo regime na Rússia. Em 1922, as províncias que haviam se separada da Rússia,
formaram a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Em 1924, o congresso soviete adotou uma constituição que
ampliava a de 1918, que estabelecia:
 A base do poder política deveriam ser os sujeites;
 Congresso dos sovietes deveria ter o poder supremo;
 O congresso dos sovietes era delegado pelo comitê central executivo de poder legislativo;
 O povo participava da vida política pelos sindicatos e pelo partido comunista;

Na verdade, o poder político pertencia a uma minoria, que tomava decisões a partir do Comitê Central do Partido Comu-
nista, o Presidium.

URSS APÓS A MORTE DE LÊNIN


Com a morte de Lênin, em 1924, Trotsky e Stálin passaram a disputar o comando da Revolução. O primeiro era conhecido
pelo papel preponderante na Revolução de Outubro e pela ideia de revolução permanente, a revolução não podia parar na
URSS, ou seja, a Revolução deveria se estender a todos os países do mundo. Tal orientação ia ao encontro do universalismo
revolucionário proposto por Karl Marx em O Capital. Já Stálin defendia a consolidação do modelo na URSS para depois difundir
e implantar o modelo revolucionário em todo o mundo.
Joseph Stálin vence a disputa política com Leon Trotsky devido a um forte apoio da burocracia estatal socialista e do Partido
Comunista da URSS (União das Republicas Socialista Soviéticas). Trotsky sofreu o exílio, até ser assassinado, a mando de Stalin,
em 1940, no México. As ideias de Stálin deram uma nova dimensão ao modelo da URSS, o marxismo-stalinista, que defendia
transformações de maneira autocrática e autoritária, a partir do Estado, por meio de uma intensa exaltação nacional, em opo-
sição ao internacionalismo.
A Stalinização se caracterizaria por um profundo personalismo que delinearia a política soviética para as próximas décadas,
passando pela Segunda Grande Guerra e pela Guerra Fria.

TEXTO COMPLEMENTAR

RÚSSIA, CONDENADA AO AUTORITARISMO?


O governo centralizador do presidente Vladimir Putin reacendeu o debate sobre o espaço da
democracia diante de uma tradição de regimes de força que marca a história política do país
Ângelo Se Grillo

A chegada ao poder de Putin com um modelo centralizador e autoritário de governo trouxe de novo à baila o tema
do autoritarismo na Rússia. Estaria esse país condenado a não conseguir uma democracia plena e seguir sempre regi-
mes de força?

Os defensores de tal visão apontam para a experiência histórica do país. O czarismo, até o início do século XX, era
uma autocracia absoluta. Partidos políticos, uma Constituição e um parlamento (Duma) só foram legalizados, a contragos-
to, durante a chamada Revolução de 1905. Desde então, até 1917, a Rússia teoricamente passara a ser uma monarquia
constitucional. Mas, na prática, o regime era autoritário, pois o czar podia dissolver a Duma a qualquer momento, havia
censura à imprensa etc. Após 1917, o comunismo soviético também foi um regime autoritário (totalitário, segundo al-
guns). Assim, antes da abertura de Gorbachev o único período em sua história em que a Rússia foi um país democrático
foi entre as revoluções de fevereiro (democrático-burguesa) e de outubro (socialista) de 1917. Neste período o czarismo
caíra, todos os partidos tinham liberdade de ação e a imprensa era livre. Mas os críticos afirmam que esta foi a liber-

201
SISTEMA DE ENSINO A360°

dade provinda da anarquia, já que o período foi


caótico, com governos provisórios e duplo poder.
Os anos 90, sob Yeltsin, deram esperança de que
a Rússia pudesse seguir o caminho de uma ver-
dadeira democracia pluralista. Apesar da crise
econômica e o seriíssimo episódio autoritário do
canhoneio do parlamento em 1993, de maneira
geral a imprensa era livre e os partidos atuavam
livremente.

A chegada de Putin ao poder, com seu regi-


me centralizador e algo autoritário, fez os críticos
retomarem o velho tema: “Viu? a democracia
não consegue fincar raízes sólidas na Rússia”.

Como avaliar esse legado? Haverá mesmo


esse determinismo pairando sobre o povo de
Dostoievski?

Sem negar o peso dos legados culturais, é


importante notar que a história demonstra não Putin discursa em Moscou, em 2003: para alguns, o ex-agente da KGB pode se
tornar o czar do século XXI
haver fardos tradicionais que a modernidade (ou
pós-modernidade) não consiga, para o bem ou para o mal, romper. Povos que se diziam condenados havia séculos ao
imobilismo “de repente” mostram um dinamismo impressionante (veja-se o caso da China atual). A Rússia já demonstrou
seu potencial para transformações radicais, com rupturas profundas com o passado, como no caso da revolução soviética
em 1917. A própria perestroika de Gorbachev rompeu o estereótipo do totalitarismo soviético como um regime fechado
e impermeável a mudanças de dentro. Assim, os russos saberão encontrar seu próprio caminho. Não será por um apri-
sionamento do passado que a democracia não será possível no pais. Se há algo que a historia ensina é que o passado não
aprisiona o futuro.
http://www2.uol.com.br/historiaviva/artigos/russia_condenada_ao_autoritarismo_.html

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UNESP O Governo Provisório foi deposto; a maioria de O documento, divulgado em outubro de 1917, relaciona
seus membros está presa. O poder soviético proporá diversas decisões do novo governo russo.
uma paz democrática imediata a todas as nações. Ele Quais eram as principais diferenças políticas e sociais en-
procederá à entrega aos comitês camponeses dos bens tre o governo que se iniciava (Congresso dos Soviets) e
dos grandes proprietários, da Coroa e da Igreja... Ele o que se encerrava (Governo Provisório)? Cite uma das
estabelecerá o controle operário sobre a produção, ga- realizações do novo governo, explicando o contexto em
rantirá a convocação da Assembleia Constituinte para que se deu.
a data marcada... garantirá a todas as nacionalidades Resolução:
que vivem na Rússia o direito absoluto de disporem de si
Principais diferenças políticas e sociais entre o Governo
mesmas. Provisório (chefes: príncipe Lvov, e depois Kerensky) e o
O Congresso decide que o exercício de todo o poder nas Governo dos Sovietes (chefe: Lênin)
províncias é transferido para os Soviets dos deputados – O Governo Provisório era controlado pela burguesia
operários, camponeses e soldados, que terão de assegu- com apoio da aristocracia; o Governo dos Sovietes
rar uma disciplina revolucionária perfeita. O Congresso era controlado por intelectuais marxistas, em nome
dos Soviets está persuadido de que o exército revolucio- das camadas populares (operários, soldados e cam-
poneses).
nário saberá defender a Revolução contra os ataques
imperialistas. – O Governo Provisório foi legitimado pela Duma (As-
(Proclamação do Congresso dos Soviets, outubro de 1917. Apud Marc Ferro. A Revolução
sembleia Legislativa); o Governo dos Sovietes foi ins-
Russa de 1917, 1974.) taurado por um golpe de Estado.

202
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
– O Governo Provisório tinha caráter liberal; o Gover- 1917-1918 foram, acima de tudo, revoltas contra aquele
no dos Sovietes, de tendência socialista, pretendia holocausto sem precedentes, principalmente nos países
implantar a ditadura do proletariado do lado que estava perdendo. Mas em certas áreas da
Europa, e em nenhuma outra mais que na Rússia, foram
– O Governo Provisório reunia os partidos Constitucio-
mais que isso: foram revoluções sociais, rejeições popu-
nal Democrata (“Kadete”) e Social Revolucionário; o
lares do Estado, das classes dominantes e do status quo.
Governo dos Sovietes era dominado pelos bolchevi-
(Adaptado de Eric Hobsbawm, Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras,
ques, momentaneamente apoiados pelos menchevi- 1998, p. 262-263.)
ques.
A Relacione a Primeira Guerra Mundial e a situação da
– O Governo Provisório insistia em manter a Rússia na Rússia na época.
Primeira Guerra Mundial; o Governo dos Sovietes
retirou o país do conflito. B Cite e explique um princípio da Revolução Russa de
1917.
Realizações do novo governo:
Resolução:
– Assinatura de uma paz em separado com a Alema-
nha (Tratado de Brest-Litovsk), retirando a Rússia da A As derrotas militares sofridas pela Rússia na Primei-
Primeira Guerra Mundial. Contexto: situação militar ra Guerra Mundial causaram enormes perdas hu-
insustentável e necessidade, para o Governo dos manas e prejuízo material, contribuindo para agra-
Sovietes, de concentrar esforços na implantação do var a situação de crise econômica, revolta social e
socialismo. desgaste político do regime czarista. Tal cenário está
relacionado ao avanço da oposição (notadamente
– Socialização das terras em benefício do campesina- dos socialistas) e ao desenvolvimento das revolu-
to. Contexto: situação de miséria e de fome dos cam- ções russas de 1917.
poneses e esforço para viabilizar as “Teses de Abril”
de Lênin, sintetizadas no lema “Paz, Pão e Terra”. B Entre os princípios da Revolução de Outubro de
1917, destacam-se os fundamentos bolcheviques
– Gestão das fábricas pelos operários. Contexto: tam- sustentados por Lênin em suas “Teses de Abril”,
bém um esforço para viabilizar as “Teses de Abril” resumidas no lema: “Paz, Pão e Terra”. Esses prin-
de Lênin, dentro do projeto socialista de eliminar a cípios socializantes consistiam na retirada ime-
propriedade privada dos meios de produção. diata do país da I Guerra Mundial, na entrega do
governo aos trabalhadores (sovietes), na reforma
02| UNICAMP A Primeira Guerra Mundial abalou profun- agrária e na nacionalização dos empreendimentos
damente todos os povos envolvidos, e as revoluções de estrangeiros.

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UNICAMP Existem épocas em que os acontecimentos 02| UNESP A Revolução Russa é o acontecimento mais im-
concentrados num curto período de tempo são imedia- portante da Guerra Mundial.
tamente vistos como históricos. A Revolução Francesa e (Rosa Luxemburgo. A revolução russa. Lisboa: Ulmeiro, 1975.)
1917 foram ocasiões desse tipo, e também 1989. Aque-
A frase de Rosa Luxemburgo, polonesa então radicada
les que acreditavam que a Revolução Russa havia sido a
na Alemanha, associa diretamente a ocorrência da Re-
porta para o futuro da história mundial estavam errados.
volução Russa com a Primeira Guerra Mundial.
E quando sua hora chegou, todos se deram conta disso.
Nem mesmo os mais frios ideólogos da guerra fria espe- Indique e analise possíveis vínculos entre os dois processos,
ravam a desintegração quase sem resistência verificada destacando os efeitos da Guerra na vida interna da Rússia.
em 1989.
(Adaptado de Eric Hobsbawm, “1989 – O que sobrou para os vitoriosos”. Folha de São Paulo, 03| UFRJ “Como a Revolução Francesa, em fins do sécu-
12/11/1990, p. A-2.)
lo XVIII e começo do século XIX, as Revoluções Russas
A No contexto entre as duas guerras mundiais, quais que levaram à fundação da URSS modificaram a face do
seriam as razões para a Revolução Russa ter simbo- mundo. Para muitos deram início ao século XX. Seja qual
lizado uma porta para o futuro? for nossa opinião a respeito, é inegável que imprimiram
sua marca a um século que só terminou com o desapa-
B Identifique dois fatores que levaram à derrocada recimento dos resultados criados por elas”.
dos regimes socialistas da Europa após 1989.
(REIS FILHO, Daniel Aarão. As revoluções russas.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002, p. 37)

203
SISTEMA DE ENSINO A360°

A Identifique duas medidas adotadas pelos bolche- A De acordo com o texto, o que permitiu aos comunis-
viques entre 1917 e a criação da União Soviética tas a comparação entre os regimes de Robespierre e
(1922). de Stalin?
B Explique uma questão de ordem interna à União So- B Quais os princípios políticos que definiam o regime
viética que contribuiu para o seu fim em 1991. soviético?

05| UNESP Imediatamente após a sua ascensão ao poder,


04| UNICAMP Alguns comunistas franceses encontravam
Lênin disse:
conforto na idéia de que as atitudes de Stalin em rela-
ção aos opositores do regime político vigente na União “Este governo declara solenemente sua disposição de
Soviética eram tão justificadas pela necessidade quanto concluir imediatamente a paz. (…) igualmente justa para
havia sido o Terror de 1793-1794, liderado por Robes- todas as nções e nacionalidades, sem exceção.”
pierre. Talvez em outros países, onde a palavra Terror Em março de 1918 foi assinado o armistício de Brest Li-
não sugerisse tão prontamente episódios de glória na- tovsk e os soviéticos saíram da Primeira Guerra.
cional e triunfo revolucionário, essa comparação entre A Justifique por que a assinatura do armistício de
Robespierre e Stalin não tenha sido feita. Brest Litovsk foi um ato coerente com a política ex-
(Adaptado de Eric Hobsbawn. Ecos da Marselhesa: terna do governo bolchevista.
dois séculos revêem a Revolução Francesa.
São Paulo: Companhia das Letras, B Por que a Alemanha tinha interesse em concluir a
1996, p. 67-68.) paz com os soviéticos?

T ENEM E VESTIBULARES
01| UPE O período de duração da Primeira Guerra Mundial, O texto faz referência
entre 1914 e 1918, foi marcado por várias mudanças so-
A aos decretos nazistas de expropriação dos bens
ciopolíticas que redefiniram o mundo de então. Sobre
da população judaico-alemã no final da década de
esse contexto, assinale a alternativa CORRETA.
1930.
A A Rússia, potência diretamente envolvida no con-
B às propostas do presidente Roosevelt para comba-
flito, entrou num processo revolucionário interno,
ter a Grande Depressão causada pela crise de 1929.
que a levou à adoção do socialismo.
C às medidas adotadas pelo partido bolchevique após
B O Império Austro-Húngaro perdeu domínios com o
a tomada do poder na Rússia em 1917.
fim do conflito, embora tenha mantido dois terços
do seu território. D à Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
elaborada durante a Revolução Francesa de 1789.
C A França acabou por perder territórios para a Ale-
manha após a assinatura do Tratado de Versalhes. E às Reformas de Base propostas pelo presidente
João Goulart em seu comício realizado em março de
D O Império Otomano conseguiu manter sua hegemo-
1964.
nia na região dos Bálcãs, mesmo com o fim da guerra.
E A Inglaterra, após a eclosão da Revolução de 1917, 03| UFPE Último representante do regime absolutista na Eu-
impôs perdas territoriais à Rússia. ropa, a Rússia vivenciou, no início do século XX, um pro-
cesso revolucionário que destituiu o czarismo e instalou
02| UNISA o governo socialista. Sobre a Revolução Russa de 1917,
analise as seguintes proposições.
1. Fica abolida a propriedade privada da terra, sem
qualquer indenização. 00. Em princípios do ano de 1917, a Rússia dos czares
vivenciava uma grave crise socioeconômica, com
2. Todas as grandes propriedades territoriais, todas as
flagrante empobrecimento da população, deserção
terras pertencentes à Coroa, às ordens religiosas, à
de soldados e greves.
Igreja, compreendendo o gado, o material agrícola e
os edifícios com todas as suas dependências, ficam à 01. A desastrosa participação da Rússia na I Guerra
disposição dos comitês distritais agrários e de cam- Mundial agravou a crise política, que levou à abdica-
poneses até a reunião da Assembleia Constituinte. ção compulsória do czar e à instalação de um gover-
(John Reed. Dez dias que abalaram o mundo, 2002.) no provisório liderado pela “Duma”.

204
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
02. Com a subida de Lenin ao poder, formou-se a deno- 06| FATEC A Revolução de Fevereiro de 1917 derrubou Ni-
minada República Soviética Russa, em cujo governo colau II e estabeleceu a República da Duma. Era o fim do
foram estatizados bancos, fábricas, estradas de fer- regime czarista. Essa primeira fase da Revolução Russa
ro, entre outros. teve, como uma de suas características,
03. A vitoriosa campanha russa na I Guerra Mundial A a formação da União das Repúblicas Socialistas So-
garantiu a esse país a recuperação econômica, por viéticas (URSS) que tinha como tarefa construir o
retomar as minas da Alsácia-Lorena, e a estabilida- socialismo no mundo.
de política, com a instalação do regime de governo B a assinatura do Tratado de Brest-Litovsk com a Ale-
socialista. manha, pelo qual a Rússia entregava aos alemães a
04. Com a implantação do governo stalinista, a Rússia Letônia, a Lituânia, a Estônia, a Finlândia, a Polônia
aproximou-se das demais nações europeias, fortale- e a Ucrânia.
cendo os laços comerciais e estabelecendo alianças C a crença no avanço do capitalismo na Rússia e da em-
políticas. presa privada como fonte do progresso econômico.
D a criação do Politburo (birô político), um pequeno
04| UEFS Caracterizou a composição político-ideológica da grupo de dirigentes, nascido no interior do Comitê
URSS (União Soviética), no período compreendido entre Central, que determinava as políticas a serem ado-
o stalinismo e a dissolução da própria URSS, tadas no novo regime.
A o investimento maciço em propaganda externa. E a revolução permanente, inspirada nos ideais trot-
skistas de expansão imediata dos ideais revolucio-
B o culto à personalidade, associado à centralização
nários para outros povos.
burocrática.
C a representatividade das repúblicas socialistas, as- 07| UNESP Os operários das fábricas e das usinas, assim
sociadas no alto comando da URSS. como as tropas rebeldes, devem escolher sem demora
seus representantes ao governo revolucionário provisó-
D a doutrina do isolamento e da autossuficiência, re-
rio, que deve ser constituído sob a guarda do povo revo-
presentada pela expressão “Cortina de Ferro”.
lucionário amotinado e do exército.
E o pluripartidarismo como expressão das diferentes (Manifesto de 27 de fevereiro de 1917, in Marc Ferro.
correntes de interpretação do marxismo existentes A Revolução Russa de 1917, 1974.)
no país.
O manifesto, lançado em meio às tensões de 1917 na
05| FGV Com a NEP (Nova Política Econômica) o comércio Rússia, revela a posição dos
interno foi liberado, permitiu-se o funcionamento de pe- A czaristas, que buscavam organizar a luta pela reto-
quenas e médias empresas privadas, estimularam-se os mada do poder.
investimentos estrangeiros, instituiu-se o pagamento de B bolcheviques, que chamavam os operários a se mo-
horas extras e de prêmios aos trabalhadores e criou-se o bilizarem nos sovietes.
imposto sobre propriedades urbanas.
C social-democratas, que pretendiam controlar o go-
(Paulo Sandroni. Dicionário de economia, 1985.)
verno provisório.
Durante a Revolução Russa, a NEP foi aplicada no con- D mencheviques, que defendiam o caráter democráti-
texto co do novo governo.
A do fim da guerra civil (1918-1921), devido à destrui- E militares, que tentavam controlar a revolta popular.
ção da economia nacional e às tensões pela aplica-
ção do chamado comunismo de guerra. 08| UFAL A Revolução Russa de 1917 é considerada um dos
episódios mais importantes da história do século XX.
B da tomada do poder pelos bolcheviques, em outu-
Também reconhecida como Revolução Socialista Russa,
bro de 1917, pois a economia russa crescia em fun-
ela exerceu considerável influência na vida de centenas
ção da Primeira Guerra.
de milhões de seres humanos. Sobre esse tema, analise
C do fracasso dos planos quinquenais, que geraram a as afirmações a seguir.
estagnação da economia soviética a partir de 1930.
1. O cenário desolador composto na Rússia após sua
D da revolução de fevereiro de 1917, pois os menche- desastrosa participação na Primeira Guerra Mundial
viques apostaram na reestruturação da economia emoldurou o quadro da Revolução de 1917.
russa por meio das grandes obras de infraestrutura. 2. A disputa entre russos e japoneses pela posse dos
E da morte de Lênin e da ascensão de Stalin, que esta- territórios da Coréia e da Manchúria constituiu
beleceu um rígido e eficaz controle sobre as ativida- uma das motivações imediatas para se deflagrar a
des produtivas. Revolução.

205
SISTEMA DE ENSINO A360°

3. Os partidos de esquerda que se encontravam na não se pode entendê-los como parte de um mesmo
clandestinidade ressurgiram na conjuntura revolu- processo.
cionária, fazendo eco às exigências de derrubada da B O Decreto sobre a paz sobrepunha os interesses dos
monarquia russa. soldados aos dos camponeses e operários.
4. Os Bolcheviques liderados por Lênin preferiam ado- C O processo revolucionário russo estava ancorado na
tar estratégias de negociação, mas foram vencidos
indissociabilidade entre os interesses dos soldados,
pelo bloco liderado por Trotski.
operários e camponeses.
5. Os soldados russos encarregados de conter os mo-
D A paz democrática e a extensão da revolução russa
vimentos grevistas aderiram a eles, desobedecendo
às ordens dos generais czaristas. pela Europa eram indissociáveis, mas prejudiciais
aos camponeses.
Estão corretas apenas: E Os interesses dos soldados, operários e campone-
A 1, 2 e 3 ses não foram compreendidos pelos bolcheviques
B 1, 3 e 4 como parte de um único processo, apesar da junção
C 1, 4 e 5 desses interesses serem essenciais para a continui-
dade do processo revolucionário russo.
D 1, 3 e 5
E 2, 4 e 5 11| UFMT O campo, em 1922, colheu 50% a mais de grãos
do que no ano anterior. A indústria de consumo dava
09| UESPI Para que a Revolução Russa de 1917 chegasse à mostras de recuperação, sobretudo a têxtil. Embora o
vitória foi decisiva a participação dos bolcheviques no volume da produção fosse ainda um quinto, em 1922, do
poder. Com os bolcheviques na direção dos governos, que fora no período anterior à 1a Guerra Mundial, em
foram feitas mudanças na sociedade. Na sua relação relação ao ano anterior crescera aproximadamente 50 %.
com os anarquistas, os bolcheviques: O tráfego ferroviário fora reativado em todo o país.
A aumentaram sua força política, efetivando planos (HECKER, A. Revolução Russa: uma história em debate.

de ação socializantes aceitos pela maioria da popu- São Paulo: Expressão e Arte Editora, 2007.)

lação urbana. No trecho acima, o autor fala sobre a Nova Política Eco-
B mostraram as estratégias políticas dos desfavoreci- nômica (NEP), instalada por Lênin pouco tempo depois
dos contra as desigualdades criadas pelos capitalis- da tomada do poder na Rússia. Sobre a NEP, analise as
mo ocidental. afirmativas.
C construíram articulações com outros países da Euro- I. Representou uma suavização da política econômica
pa e da América do Sul, com a finalidade de divulgar anterior, admitindo algumas manifestações capita-
os princípios comunistas. listas ou de economia mista para reorganizar o apa-
D mantiveram tensões, com divergências na forma de relho produtivo.
pensar a Revolução, agindo com violência e falta de
diálogo político. II. Contribuiu para o surgimento de uma nova catego-
ria social, os nepmen, empresários da iniciativa pri-
E conseguiram formar um exército para combater a vada que colaborariam com o governo bolchevique
burguesia conservadora e legitimar um parlamento e dispostos a uma adaptação ao comunismo.
popular.
III. Expressou o rompimento definitivo da Rússia com o
10| UFT Entre abril e outubro de 1917, os bolcheviques ha- sistema capitalista e uma forte guinada ao comunis-
viam julgado indissociáveis a revolução russa, o fim da mo socialista.
guerra seguido por uma paz democrática e revolução IV. Significou melhoria nas condições do trabalhador
proletária pela Europa, sendo que as três coisas fariam industrial: aumento salarial e diminuição da jornada
parte de um mesmo e único processo. O Decreto sobre de trabalho.
a paz (26 de outubro de 1917) é, assim, o primeiro ato
de política externa do governo dos soldados, operários e Estão corretas as afirmativas
camponeses. A I e IV, apenas.
SALOMONI, Antonella. Lênin e a Revolução Russa: século XX.
São Paulo: Ática, 1997, p. 45. B II e III, apenas.
Com base no texto, é CORRETO afirmar que: C III e IV, apenas.
A A paz, a terra e o controle operário revelam o in- D I, II, III e IV.
teresse de soldados, operários e camponeses, mas
E I e II, apenas.

206
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
A CRISE DE 1929 E O NAZIFASCISMO
Desde 2007, o mundo enfrenta uma das maiores
crises globais da história do capitalismo. Seus efeitos
estão presentes em todos os continentes e atingem,
principalmente, a classe trabalhadora.
É importante destacar que a diversidade é uma ca-
racterística fundamental das crises do capitalismo, pois,
ela se manifesta, distintamente, nos países atingidos. As
condições internas relacionadas à política econômica e
ao aspecto social influem drasticamente em tais contex-
tos. Do mesmo modo, ao buscar a superação da con-
juntura econômica problemática, cada nação atravessa processos de desenvolvimento desiguais, o que é impulsionado pelo
próprio movimento cíclico dessas crises que, constantemente, atingem o sistema. A atual crise afetou principalmente os Esta-
dos Unidos, a Europa e o Japão e, em menor grau, os países que compõem o denominado grupo dos Brics. Na Europa, a crise
é generalizada, mas, na Grécia, identificamos que ela é mais agressiva se comparada, por exemplo, à situação da Alemanha.
Por vezes, os estragos causados por essas crises são consideráveis, a exemplo do ocorreu em 1929. Como a atual crise, os
anos de 1930 conheceram uma profunda depressão econômica desencadeada pelos Estados Unidos que, durante a década de
1920, havia se ascendido como a maior potência capitalista mundial. Passava-se a questionar até onde os Estados deveriam
intervir na economia.
A crise se espalhou para todos os países que possuíam relações econômicas com os Estados Unidos, inclusive para aqueles
que deram origem aos regimes políticos ditatoriais mais sangrentos da história: a Alemanha e a Itália. A derrota alemã durante
a Primeira Guerra Mundial, as sanções advindas ao final do conflito e a emergência da crise mundial do capitalismo fertilizaram
os ideais autoritário, revanchista e nacionalista do Partido Nazista liderado por Hitler. A Itália, apesar de sair vitoriosa do conflito
mundial, frustrou-se com suas pretensões territoriais e econômicas pelos países vencedores da Entente, o que, assim como na
Alemanha, impulsionaram as concepções totalitárias do Fascismo de Mussolini

A CRISE DE 1929 E A GRANDE DEPRESSÃO


No início do século XX, os Estados Unidos se transformaram no
maior exemplo mundial de consumo e prosperidade material. Muitas
nações adotaram a política de consumo americana e se apoiaram na
concessão de empréstimos realizada por esse país. Nos Estados Unidos,
tamanha era a euforia consumista que a classe média se tornou a maior
beneficiada pela queda nos preços dos produtos, do aumento salarial e
da aquisição de créditos. O American way of life despertava desejos e
necessidades de consumo cada vez maiores.
Toda essa realidade somente se tornou possível com o crescimento
econômicos dos Estados Unidos consolidado após a Primeira Grande
Guerra. O fornecimento de uma infinidade de mercadorias e bens aos
países beligerantes, os empréstimos realizados aos países após a guer-
ra e a consolidação de acordos econômicos fizeram com que esse se
tornasse o maior credor mundial, bem como o maior exportador de
mercadorias do planeta, ainda em 1918.
Entre 1920 e 1932, os Estados Unidos fortaleceram internamente a
política econômica liberal e difundiram as ideias inerentes à Doutrina
Monroe, o que acentuou uma atuação política isolacionista na América.
Tal fator explica, inclusive, a não ratificação do Tratado de Versalhes e
sua ausência na Liga das Nações, o que foi muito prejudicial aos países
europeus que, apesar de ainda fragilizados pela Guerra, tiveram que
A propaganda acima tem como tema central o desejo pelo lidar sozinhos com os problemas supervenientes, a exemplo da estrutu-
consumo consolidado pelo “american way of life” ou “estilo
americano de vida”. Imagem: reprodução internet. ração dos Estados Totalitários.

207
SISTEMA DE ENSINO A360°

Mesmo durante a expansão econômica, a economia norte-


-americana apresentava os primeiros sinais de crise entretanto
foram substancialmente ignorados. A produção crescia em uma
proporção nunca antes presenciada, mas, a recuperação econô-
mica dos países europeus após a Primeira Guerra favoreceu a in-
tensa disputa pelos mercados internacionais, o que prejudicou,
consideravelmente, o ritmo das exportações dos Estados Unidos.
Defensores do liberalismo, os presidentes americanos do pe-
ríodo tinham plena confiança nas leis racionalistas de autocon-
trole do mercado e, mesmo ciente das crises cíclicas do sistema
capitalista, pensavam ser aqueles sinais a representação de uma
crise passageira que seria facilmente superada pela engrenagem
do próprio sistema. Desse modo, refutou-se frontalmente qual-
quer intervenção do Estado na economia.
Aos poucos, a recessão econômica se revelava e um dos prin-
cipais sinais da crise se revelou com fim do conflito mundial. Os
Estados Unidos mantiveram o mesmo ritmo produtivo do perío-
do de guerra, o que claramente se mostrava exagerado frente ao
que a própria economia poderia suportar em tempos de tran-
quilidade. Refém da própria superprodução, os Estados Unidos
não conseguiam escoar a mercadoria entulhada e as empresas
procuravam meios de reduzir os gastos para equilibrar as finan-
ças. A recuperação das economias europeias agravou ainda mais
esse quadro ao fomentar a diminuição das exportações norte-a-
mericanas.
“A Mãe Emigrante”. O Retrato de Florença Thompson, emigrante
Por outro lado, os baixos salários eram incompatíveis com desempregada e acompanhada de seus filhos, tornou-se um dos
a produtividade e consequentemente, com o próprio consumo maiores símbolos da Crise de 1929. Estados Unidos, 1936. Fotografia:
Farm Security Administration.
interno de mercadorias. A queda da produção industrial e a re-
dução dos lucros empresariais e dos salários dos trabalhadores foi acompanhada, logo em seguida, por um dos aspectos mais
desesperadores da crise: a demissão em massa de trabalhadores.
A agricultura também sofria. O acúmulo dos gêneros perecíveis esperava que as ofertas pelos produtos cobrissem, ao me-
nos, as despesas finais com a produção.
Mesmo com o auge da crise se aproximando, os cidadãos americanos pa-
reciam não acreditar no que estava acontecendo. Habituados à estabilidade
econômica, continuavam contraindo dívidas e impulsionando a especulação
do mercado financeiro. Atraídos pela promessa do rápido e fácil enriqueci-
mento, a população passou a investir a maior parte de sua renda na compra
das ações de grandes empresas na Bolsa de Nova York. Porém, o cenário de
prosperidade econômica que se apresentava com a valorização fictícia das
ações, em 1928, na verdade, divergia da realidade como verificamos nas li-
nhas anteriores.

O CRASH DA BOLSA DE NOVA YORK E A RECUPE-


RAÇÃO ECONÔMICA
Apesar da onda de investimentos dos cidadãos assalariados na compra de
ações, a economia americana começava a encolher. A recuperação econômica
da Europa pós-guerra e a superprodução de mercadorias, aliada ao subconsu-
mo dessas, revelou a insustentabilidade do processo financeiro especulativo.
Na verdade, as empresas comercializavam suas ações com valores muito supe-
Multidão reunida nas proximidades da Bolsa de riores ao que de fato valiam. O raciocínio era justificado na crença da valoriza-
Valores de Nova York (1929). Fotografia: reprodução
internet. ção dos papéis independente dos lucros auferidos com as vendas da produção.

208
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Diante do evidente e inegável estado de crise, em 24 de outu-
bro de 1929, milhares de cidadãos, especuladores e empresários
colocaram suas ações a venda ao mesmo tempo, o que estimulou
uma abrupta queda no valor monetário das mesmas. O “crash”
da Bolsa de Valores de Nova York ocorreu de forma avassaladora
dando início ao período da Grande Depressão, que se estendeu
até o ano de 1933.
Repentinamente, a produção industrial caiu para menos da
metade, milhares de empresários faliram, bancos amanheceram
com as portas fechadas, os salários despencaram e um exército
de desempregados tomou conta do país.
Com exceção da União Soviética, a crise atingiu ferozmen-
te o mercado internacional, principalmente, aquelas nações que
tinham dívidas com Estados Unidos. O fenômeno pode ser ex-
plicado pela suspensão das importações pelos Estados Unidos
que, até este momento, era o maior consumidor mundial de mer-
cadorias e pelo repatriamento dos capitais investidos em outros
países. As nações agro-exportadoras, a exemplo do Brasil com
sua exportação de café, perderam um dos mais importantes mer-
cados consumidores do período.
A grande depressão exigiu a urgente reestruturação do sis-
tema capitalista. E foi com a apresentação de propostas inter-
vencionistas voltadas à resolução da crise que Franklin Delano
Roosevelt venceu as eleições presidenciais de 1932. Decidido a
inaugurar uma nova relação entre o Estado e a economia, Roose-
Franklin D. Roosevelt, o presidente que implementou o “New
velt lançou o “New Deal”, ou Novo Acordo, que passou a limitar Deal”. Imagem: Presidential Library & Museum
o liberalismo de Adam Smith para que o Estado interventor pas-
sasse a protagonizar a economia com legitimação nas ideias do economista John Maynard Keynes.
Em pouco tempo, a economia apresentava sinais de superação da crise. Para tanto, o Estado fomentou a geração de empre-
gos e o impulso a políticas assistencialistas. A expansão das obras públicas exigia a geração de mais empregos que, sistematica-
mente, contribuía para o crescimento do consumo interno de mercadorias, o que, em um processo cíclico, resultava em mais
empregos, mais consumo e a retomada da produtividade. Dessa forma, o
mercado financeiro passou a ser fiscalizado mais de perto pelo Estado.
Muitos países, ao perceberem a rápida recuperação econômica dos Es-
tados Unidos, adotaram internamente a política Keynesiana que predomi-
nou até meados de 1970. O capitalismo criava os próprios meios de sua re-
cuperação, porém, como antes afirmamos, sem desconsiderar as condições
internas e nacionais de cada um dos países atingidos pela crise.
Alternativamente, algumas nações europeias adotaram soluções distin-
tas para a crise que variaram das propostas socialistas, àquelas advindas
dos ideais totalitários. A Itália e a Alemanha se tornaram um campo fértil
para a ideologia nazifascista que, amparada em medidas radicais, prometia
a superação da miséria e o caos econômico que se encontravam. Com a
Crise de 1929, o ideário comunista se fortaleceu ao se apresentar como a
melhor solução para as contradições inerentes ao capitalismo, um sistema
injusto e desigual.
A atual crise do sistema capitalista iniciada em 2008 reacendeu os de-
bates entre os defensores das políticas neoliberais com os adeptos do inter-
vencionismo keynesiano. Todavia, ao contrário do que ocorrera em 1929,
os governos dos países desenvolvidos se organizaram rapidamente para
Os reflexos da Crise de 1929 na Alemanha abriram limitar os efeitos da crise com a instituição de políticas fiscais e monetárias,
espaço para a ascensão do Nazismo. Imagem: RDA / o que, de fato, garantiu que seus resultados tivessem um alcance muito
Rue de Archives
menor que aquele verificado na década de 1930.

209
SISTEMA DE ENSINO A360°

O NAZIFASCISMO
A crise do Estado Liberal, potencializada pela Primeira
Guerra Mundial e a Crise de 1929, apresentou ao mundo
regimes políticos alternativos que contrapunham ou desali-
nhavam a democracia liberal fundamentada no capitalismo.
Os fascismos, assim como a revolução socialista, devem ser
entendidos como soluções políticas adotadas por alguns Es-
tados que se encontravam em crise econômica e social.
É neste contexto que Benito Mussolini e Adolf Hitler se
fortaleceram politicamente na Itália e na Alemanha, respec-
tivamente. A fome, a miséria, o desemprego e a desespe-
rança coletiva funcionaram como aspectos condicionantes
de um agudo quadro de crise que exigia soluções drásticas
e imediatas. Os líderes fascistas se apresentaram como ho-
mens capazes de simbolizar o sentimento de convergência
sócio-cultural necessários para a recuperação econômica e Mussolini e Hitler (1938). Fotografia: Unknown
política daqueles Estados.

O FASCISMO DE MUSSOLINI
Quando a Itália abandonou a Tríplice Entente para se alinhar
à Tríplice Aliança durante a Primeira Guerra Mundial, em 1915,
essa almejava ser favorecida com a partilha financeira e territo-
rial pós-guerra. No entanto, a Paz de Versalhes não demonstrou
ser satisfatória aos italianos. As conquistas territoriais foram mí-
nimas e as vantagens econômicas insignificantes.
A Itália mergulhou em uma ampla crise econômica, política e
social, o que favoreceu o projeto político fascista de Benito Mus-
solini. Este líder se apoiou no caos e se fortaleceu com a fragili-
dade política italiana do pós-guerra.
Em 1922, os camisas negras marcharam sobre Roma. Parti-
dários de Mussolini de várias regiões da Itália adentraram a ca-
Camisas Negras marchando sobre Roma (1922). pital demonstrando intensa força política. Pressionado pela crise
instaurada, o rei Vitor Emanuel III nomeou o líder fascista como
Primeiro-Ministro e, paulatinamente, o Partido Fascista foi se fortalecendo politicamente em um complexo contexto de elei-
ções fraudulentas, perseguições políticas e assassinatos.
Em 1925, Mussolini se auto-intitulou Disse, ou “condutor
supremo da Itália”. A polícia fascista, industriais e considerável
popularidade sustentavam seu poder político.
A aliança do fascismo com a Igreja Católica ficou evidente
com a assinatura do Tratado de Latrão, em 1929, e colocava
fim à histórica Questão Romana. Foi criado, então, o Estado
do Vaticano por meio de uma escusa aliança entre o Duce e
o Papa Pio XI e o catolicismo se transformava na religião ofi-
cial da Itália, contribuindo com o aumento da popularidade
do líder.
A Crise de 1929 encerrou o relativo processo de recu-
peração econômica, que havia se iniciado na Itália, funda-
mentado na agricultura e na indústria. A estratégia fascista
para superar esse estado de crise consistiu na ampliação da
indústria bélica e no expansionismo territorial. Era o “resga-
te” do antigo Império Romano. Papa Pio XI. Fotografia internet.

210
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Este projeto político, bem como a aliança política firmada com a Alemanha e o Japão, foi decisivo para a eclosão da Segunda
Guerra Mundial.

A aliança nazifascista entre Hitler e Mussolini. Berlim, 1937.


Fotografia: Ladislav Luppa

A ASCENSÃO NAZISTA NA ALEMANHA

Adolf Hitler, líder do partido nazista. Fotografia: internet. Emblema do Partido Nazista. Autor Ratatosk

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, instituiu-se na Alemanha, a República Liberal de Weimar, composta por uma ampla
colisão política de socialistas, católicos e sociais-democratas.
A crise econômica e social era extrema e impediam respostas efetivas dadas pelo Governo alemão do presidente socialista
Friedrich Ebert e posteriores governos.
Diante desses fatos, houve o fortalecimento do Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães fundado em 1919.
O partido se opunha frontalmente à República Liberal de Weimar.
Os seguidores de Hitler, intitulados camisas-pardas, agiam como uma espécie de polícia paramilitar denominadas Sessões
de Assalto (SA). Judeus, socialistas e comunistas eram perseguidos por essa organização sob a justificativa do ideário político
nacionalismo que se legitimava na definição de seus inimigos.

211
SISTEMA DE ENSINO A360°

Em 1923, Hitler e seus seguidores proporcionaram o Putsch de


Munique. Tal episódio, desencadeado a partir de uma revolta em uma
cervejaria, ganhou as ruas de Munique, ocasionando o saque de esta-
belecimentos judaicos, linchamentos e agressões a opositores políti-
cos do Partido Nazista. Tal tentativa de golpe fracassou. Hitler foi preso
e na cadeia se dedicou a escrever o livro Mein Kampf, Minha Luta, que
continha os fundamentos do nazismo.
Até a Crise de 1929, o Nazismo não obteve significativo crescimen-
to. Contudo, a partir de tal fato, a situação econômica da Alemanha
tornou-se caótica. Miséria crônica, desemprego, inflação galopante e
descredibilidade política impulsionaram um crescimento vertiginoso
do Nazismo, tendo Hitler como o seu maior símbolo.
No ano de 1933, o Presidente Hindenburg transferiu a Hitler o
título de chanceler. Com a morte do Presidente em 1934, Hitler passou
a acumular as duas funções e a empreender, de maneira incessante, os
alicerces da política nazista que levariam, inevitavelmente, ao próximo
grande conflito mundial.
A ascensão do führer (líder) culminou na criação de órgãos capa-
zes de fortalecer a ação nazista, quais sejam: a Gestapo (polícia secreta
do Estado) e as Sessões de Segurança (SS, polícia política do Partido).
Hitler instituiu o unipartidarismo, eliminou a liberdade de imprensa
e expressão e concretizou o monolitismo político dentro do próprio
Partido. O último fato ficou expresso, em 1934, na Noite dos Longos
Punhais, quando líderes e milhares de nazistas que contrapunham a
Hitler foram eliminados pela SS, Gestapo e a SA.
O fortalecimento da imagem de Hitler levou, à criação do Terceiro Reich, o qual remontava os mitos fundadores dos povos
germânicos. O Terceiro Império resgataria o Sacro Império Romano-Germânico (962 – 1806) e o Império dos Kaisers Hohen-
zollern (1871 – 1919).
O progressivo fortalecimento do projeto político nazista levaria, fatalmente, à Segunda Guerra Mundial.

OS ALICERCES TEÓRICOS DOS ESTADOS TOTALITÁRIOS.

 Totalitarismo - Um Estado capaz de delimitar todas as esferas sociais, políticas e econômicas da nação. Um organismo
político harmônico em que o indivíduo (sujeito) torna- se parte integrante de um todo complexo e superior a ele. Tal
amplitude seria representada pelo Estado.
 Unipartidarismo - O Partido Fascista italiano e Nazista alemão comandaria todas as ações dos componentes da nação.
Cabia ao alemão compor as estruturas do partido como mecanismo de integração à ideologia e ao Estado.

212
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
 Nacionalismo exacerbado - A base legitimadora do discurso era a defe-
sa e fortalecimento da nação. Mais uma vez o sujeito era aniquilado em
prol de um todo harmônico construído por meio de mitos e constructos
teóricos históricos.
 Idealismo e romantismo - A capacidade idealizadora de um indivíduo
movido por seus anseios e convicção pessoal somada à visão romantiza-
da de fé, autossacrifício, heroísmo e entrega absoluta a toda manifesta-
ção de apoio ao governo.
 Autoritarismo – Um líder carismático e inquestionável. O Duce e o
Führer como homens capazes de sintetizarem o projeto político.
 Militarismo – Todos deveriam estar aptos à guerra para a defesa da
nação.
 Antissocialismo – Hierarquia e personalismo político eram duas marcas
do fascismo que não alinhava ao pensamento socialista. Além do fato da
alta burguesia de ambos os países terem apoiado os totalitarismos. Judeus explorados nos campos de
concentração nazistas (1945). Imagem:
 Antiliberalismo – A ascensão dos fascismos deve ser entendida como Department of Defense USA.
regimes políticos alternativos à crise do Estado e ao Capitalismo Liberal.

http://blog.comshalom.org/carmadelio/wp-content/ploads/sites/2/2015/01/nazismo-e-fascismo.jpg

O Nazismo apresentou algumas especificidades que fortaleceram a prática de seu totalitarismo. A defesa de uma raça supe-
rior, intitulada arianismo, legitimou a utilização de recursos pseudocientíficos para a classificação de seres humanos e justificou,
em parte, o extermínio de milhares de pessoas que não se enquadravam nos arquétipos estabelecidos pela política nazista.
A Teoria do Espaço Vital validou a política expansionista do Estado alemão. Essa consistia num espaço vivo habitado por
uma raça superior capaz de elevar a civilização aos mais altos graus de racionalidade expressos pela modernidade. Este projeto
se travestia de um pressuposto estético, racional, harmônico e eugênico.
A arquitetura da destruição envolvia aspectos excludentes quanto à forma e concepção do outro. Não caberia a diferença
em qualquer nível social, político, religioso e cultural. Assim, a exclusão encontraria terreno fértil nos amplos quadros sociais
alcançados pelo Nazismo.
A Política de Exclusão das Minorias foi decisiva na perseguição de Ciganos, Testemunhas de Jeová, Homoafetivos, pessoas
com insuficiência cognitiva e, principalmente, judeus.

213
SISTEMA DE ENSINO A360°

O antissemitismo encontrou legitimação em


falsos argumentos, tais como:
 Os judeus – marxistas haviam traído a
Alemanha na I Guerra Mundial em virtu-
de de interesses econômicos e políticos.
 Os semitas eram povos sem Estado – nação.
 Os judeus não acreditavam em Cristo.
Estes argumentos foram disseminados por
uma propaganda de Estado amplamente difun-
dida por meios de comunicação como jornais,
revistas, rádios e cinema. Além do fato do forte
denuncismo que envolveu os setores sociais da
época. Os campos de extermínio judaico expres-
saram um dos mais violentos crimes cometidos
contra a humanidade, em que a desumanização
do humano levou a um dos maiores etnocídios
da História. A banalização do outro alcançou pa-
http://virusdaarte.net/wp-content/uploads/2014/01/Somal12.png
tamares assustadores.

Fotografia do campo de concentração de Bergen-Belsen,


abril de 1945. Nela, podemos identificar o Dr. Fritz Klein, o mé-
dico do campo, em pé em uma vala comum. Klein nasceu no
Império Austro-Húngaro e foi um dos primeiros membros do
Partido Nazista. Juntou-se à SS em 1943. O médico trabalhou
em Auschwitz por um ano, onde ajudava na seleção de pri-
sioneiros enviados para as câmaras de gás. Posteriormente,
Klein mudou-se para Belsen, em 1945, e ao final da Guerra
acabou condenado por crimes de guerra e foi executado em
dezembro do mesmo ano. Fotografia: No 5 Army Film & Pho-
tographic Unit, Oakes, H (Sgt).
O fascismo italiano desenvolveu o corporativismo como
um organismo político harmonizador das possíveis lutas de
classe que emergiam na sociedade industrial italiana. O Parti-
do fascista representava as corporações sindicais que governa-
vam o Estado por meio da liderança do duce Benito Mussolini.
Qualquer fato político, social e econômico deveria estar de
acordo com a orientação do partido que poderia estabelecer
as devidas retaliações mediante a ação do Estado Totalitário.

Mussolini discursando às massas. Imagem: reprodução internet.

214
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

TEXTO COMPLEMENTAR

A CRISE DO CAPITALISMO E O DESENVOLVIMENTO DESIGUAL DAS NAÇÕES


Por Umberto Martins

O mundo vive, desde 2007, sob o signo da crise mais global da


história do capitalismo. Em maior ou menor medida, seus efeitos são
sensíveis em todos os continentes, sobretudo para a classe trabalha-
dora, sua principal vítima.

Mas uma característica fundamental da crise é sua diversidade.


Ela se manifesta de maneira diferente nos países e impulsiona, com
isto, o processo de desenvolvimento desigual das nações, que já vi-
nha se verificando anteriormente.

Os estragos são bem maiores nos Estados Unidos, na Europa e


no Japão do que na China e nos Brics. Dentro da Europa, a crise é
generalizada, mas a situação da Grécia elo mais frágil da cadeia im-
perialista, não é a mesma da Alemanha.

ASCENSÃO DA CHINA

A indústria chinesa sofreu com a contração do mercado nos Estados Unidos e na Europa, em 2008. Muitas empresas
faliram e milhões de operários foram demitidos. Mas a economia reagiu aos estímulos do Estado e se recuperou rapida-
mente, de modo que mesmo em 2009, quando o PIB mundial caiu 0,6% (os EUA recuaram 2,6%, a zona do euro 4% e o
Japão 6,3%), a China cresceu 9,2%. Em 2010, mesmo com as economias europeia e norte-americana estagnadas, o país
avançou 10,3% e ainda deve crescer mais de 9% este ano.

O crescimento desigual não é de hoje. Ao longo das últimas décadas o PIB chinês progrediu em média cerca de 10%
ao ano enquanto os EUA e outras potências ocidentais cresceram entre 2 e 3%. O resultado deste desenvolvimento de-
sigual foi uma revolução silenciosa na geografia econômica mundial, com o deslocamento da produção industrial, e por
extensão do poder econômico, do Ocidente para o Oriente e dos EUA para a China.

Refletindo o avanço da indústria, nas condições de uma “economia de mercado socialista”, o país ocupa o primeiro
lugar no ranking mundial das exportações, depois de superar a Alemanha e Estados Unidos. Acumula reservas superiores
a 3 trilhões de dólares, as maiores do mundo e se transforma, por consequência, num relevante investidor externo. É o
maior credor dos EUA, onde aplicou parte substancial de suas reservas.

Para um número crescente de nações da África, Ásia e América Latina as relações comerciais e financeiras com a Chi-
na já são mais relevantes que o intercâmbio com os EUA e a Europa.

CONVERGÊNCIA DAS CRISES

A particularidade mais notável da crise econômica em curso reside em sua convergência com o declínio da importân-
cia relativa das grandes potências e dos Estados Unidos em especial, que reflete o esgotamento da ordem econômica e
política mundial remanescente dos acordos de Bretton Woods, erigida de acordo com a realidade do capitalismo após a
Segunda Guerra, na época em luta com o socialismo soviético.

Ao longo das últimas décadas, em sintonia com a globalização neoliberal e a desregulamentação do sistema finan-
ceiro, moldou-se um modelo de desenvolvimento mundial sustentado no excesso de consumo dos EUA e alguns países
europeus, que alimentou a reprodução do capital em âmbito internacional e também contribuiu para a prosperidade
chinesa. O déficit americano passou a ser financiado pela poupança asiática numa relação que chegou a ser caracterizada
equivocadamente como uma perfeita simbiose.

Mas este padrão de reprodução do capital, fundado no crescente endividamento e na hipertrofia do sistema financei-
ro, entrou em crise e hoje parece insustentável. Os EUA não são mais a locomotiva do globo; as economias emergentes,
lideradas pela China, já respondem por mais de 50% do crescimento da economia mundial.

215
SISTEMA DE ENSINO A360°

Objetivamente, o mundo está mudando e demanda uma nova ordem internacional, uma nova moeda ou novas mo-
edas e novas instituições. A transformação da geografia econômica de certa forma sugere uma transição neste sentido,
mas a verdade, de resto evidente, é que o globo, em crise, ainda é prisioneiro da velha ordem, da liderança capenga e
instável do dólar, do arbítrio dos EUA e da Otan e de governos submissos ao capital financeiro. A transição para uma nova
ordem não se completará sem luta.

ACIRRAMENTO DA LUTA DE CLASSES

Outro aspecto fundamental é que a recessão e as perturbações no processo de reprodução do capital provocam um
notável acirramento da luta de classes entre capital e trabalho, verdade que se revela com força na Europa e nos países
mais afetados pela crise. Isto ocorre porque a estagnação da economia tem a sua tradução para a classe trabalhadora no
desemprego em massa, na redução de salários e direitos. O número de desempregados no mundo excede 200 milhões,
40 milhões nos países mais desenvolvidos.

Além disto, a intervenção dos governos para resgatar o sistema financeiro, derramando trilhões de dólares e euros
na economia, agravou os problemas, elevando os déficits públicos e detonando a crise da dívida. Frente à nova situação,
programas de ajuste fiscal são impostos, especialmente às nações mais frágeis da Europa, com doses de sacrifícios extras
para os trabalhadores. O FMI, refratário a reformas, cumpre a missão neocolonial de monitorar a execução dos pacotes
antissociais, a exemplo do que fez no Brasil e na América Latina durante os anos 1980.

A crise, em vez de arrefecer, ganha novo fôlego com as medidas que reduzem o nível de emprego e o poder de compra
dos salários, deprimindo o consumo e empurrando as economias para uma espécie de círculo vicioso no qual as políticas
econômicas, que deviam contornar a crise, reproduzem mais recessão. Para superar o drama, conforme recomendou a
presidente brasileira Dilma Rousseff, seria necessário estimular o consumo e os investimentos produtivos, ao contrário da
receita imposta pelo FMI, ditada pelos interesses dos banqueiros.

A burguesia europeia, embriagada de neoliberalismo, aproveita o ambiente de crise para desmantelar o chamado
Estado de Bem Estar Social e aumentar o grau de exploração da força de trabalho, de forma a se apropriar de uma parte
maior do excedente econômica (trabalho excedente) e enfrentar a concorrência asiática, cuja competitividade é também
lastreada em outros padrões salariais. É uma ofensiva capitalista radical, que está acirrando a luta de classes e despertan-
do uma notável revolta na classe trabalhadora.

PROTECIONISMO E GUERRA COMERCIAL

Ao lado da instabilidade monetária e financeira, a contração dos mercados acirrou a concorrência entre as grandes
empresas que dominam o comércio internacional, bem como as contradições entre as nações, desembocando no cresci-
mento do protecionismo e em guerras cambiais e comerciais.

É conveniente lembrar Lênin, que aponta a tendência do imperialismo em crise para o reacionarismo em toda linha. A
exacerbação da intolerância, voltada principalmente contra trabalhadores imigrantes, o fortalecimento da extrema direita
nos Estados Unidos e na Europa, são sinais preocupantes da manifestação desta tendência política, ao lado da intensifica-
ção da agressividade militar do imperialismo e dos conflitos políticos no Oriente Médio.

Os acontecimentos sugerem que não se deve esperar uma saída positiva para a crise do imperialismo, do ponto de
vista da civilização humana, nos marcos do capitalismo.

Os interesses do capital financeiro já não conduzem ao desenvolvimento e entraram em franca contradição com as
demandas sociais. Como em outras ocasiões da história, o sistema caminha para a barbárie. Uma solução progressista só
virá pelas mãos do povo.

DESAFIO DAS FORÇAS REVOLUCIONÁRIAS

A reação dos povos europeus, com protagonismo crescente da classe trabalhadora e de suas organizações, é de revol-
ta, resistência e luta. Eleva-se a dezenas o número de greves gerais realizadas na Grécia e em outros países do continente.
Manifestações de protesto pipocam em todo o mundo, inclusive no centro do império americano.

216
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

O desafio das forças progressistas e revolucionárias é pavimentar nas batalhas em defesa dos direitos sociais, dos
salários, das aposentadorias e do emprego, o caminho da luta maior contra o imperialismo e o capitalismo, entrelaçando
a peleja por uma nova ordem internacional, efetivamente democrática, solidária e multilateral, com o objetivo estratégico
e revolucionário de construir uma sociedade socialista.

O imperialismo, como disse Lênin, é o capitalismo dos nossos dias. Por isto, a luta contra o imperialismo não terá
maior consequência se não contemplar o objetivo de liquidar o modo de produção capitalista, que está na raiz do impe-
rialismo, e promover o socialismo.

A par de seus objetivos gerais, a desigualdade das realidades nacionais confere características e particularidades à
luta em cada país. A América Latina vive um novo cenário político, com um grande número de países governados por
forças políticas progressistas, que buscam uma alternativa ao neoliberalismo.

São experiências diferenciadas, em que o objetivo mais avançado é o do socialismo bolivariano, proclamado pela
Venezuela. Mas há em comum o objetivo de buscar uma maior integração econômica e política das nações latino-ame-
ricanas e procurar um modelo de desenvolvimento alternativo ao projeto dos EUA, sinalizado na rejeição da Alca e na
criação da Unasul, da Celac (Comunidade dos Estados Latinoamericanos e Caribenhos) e da Alba (Aliança Bolivariana para
os povos da Nossa América), entre outros fatos. São acontecimentos que confrontam objetivamente a hegemonia dos
EUA e apontam na direção de uma nova ordem mundial.

Cabe registrar que, diferentemente do que ocorre na Europa, os governantes latino-americanos não estão adotando
receitas recessivas ditadas pelo FMI para descarregar o ônus da crise sobre a classe trabalhadora. Os indicadores revelam
uma relativa valorização do trabalho e redução das desigualdades sociais em grande número de países da região.

Os comunistas apoiam a integração regional, compreendendo o seu caráter objetivamente antiimperialista, e lutam,
no Brasil, para que o processo de mudanças avance no sentido de novos projetos de desenvolvimento, antineoliberais e
antiimperialistas, ancorados nos movimentos sociais, nos quais a classe trabalhadora deve ter papel proeminente e que
abram caminho para o socialismo.
Disponível em: http://www.galizacig.gal/avantar/opinion/27-10-2011/a-crise-do-capitalismo-e-o-desenvolvimento-desigual-das-nacoes

TEXTO COMPLEMENTAR

JUVENTUDE HITLERISTA À BRASILEIRA


Na Alemanha, Hitler sonhava com jovens que iriam construir o novo mundo nazista. No Brasil de
Vargas, crianças cantavam hinos, em boa parte das vezes sem entender seu significado político.
Ana Maria Dietrich

É por meio da juventude que começarei minha grande


obra educacional. Nós, os velhos, estamos gastos. Não te-
mos mais instintos selvagens. Mas minha esplêndida juven-
tude! Nós temos uma das mais belas do mundo. Com eles,
poderei construir um mundo novo! Adolf Hitler
Em diversos momentos, Adolf Hitler se voltou às crian-
ças e jovens alemães. Ele acreditava que representariam o
futuro da raça ariana, porque os adultos já estariam "ve-
lhos" e "gastos". Para cooptar os jovens a se tornarem
"bons nazistas", o estadista, que permaneceu no poder na
Alemanha entre 1933 e 1945, não poupou esforços. O pri-
meiro passo foi a padronização do ensino secundário e a
introdução de novas disciplinas de eugenia e ciência racial. Em Presidente Bernardes, cidade do interior de São Paulo,
Ao estudá-las, as crianças aprendiam, entre outras coisas, crianças da Juventude Hitlerista fazem a saudação Heil Hitler,
que não poderiam se miscigenar com os considerados "não na década de 1930
Arquivo do Estado de São Paulo
arianos".

217
SISTEMA DE ENSINO A360°

Práticas como atividades físicas - que chegaram a ocupar cinco horas do dia dos estudantes em 1938 - foram intro-
duzidas, contrastando com o desprezo pelas atividades intelectuais e a queima de livros considerados prejudiciais ao re-
gime. Fotos de Hitler estavam nas escolas e os professores entravam na sala cumprimentando os alunos com a saudação
Heil Hitler.
Além das escolas, Hitler criou, em 1926, uma organização voltada para jovens e crianças, meninos e meninas. Funcio-
nando como braço do partido nazista, a Hitler Jugend (Juventude Hitlerista), cujas atividades iam desde acampamentos
com fogueiras e entoação de hinos até treinamento militar, chegou a ter, no seu apogeu, 8 milhões de membros. As meni-
nas se alistavam na BDM (Bund Deutscher Mädel - Liga das Jovens Alemãs) e aprendiam seus deveres de futuras "mães
e mulheres arianas" em tardes domésticas, de eventos esportivos e de patriotismo.
A americana Susan Campbell Bartoletti contou a história desses pequenos soldados de Hitler no livro Juventude Hi-
tlerista, a história dos meninos e meninas nazistas e dos que resistiram, recém-lançado no Brasil pela Relume Dumará.
Segundo Campbell, essa organização foi estruturada de maneira a funcionar como um exército. Havia regimentos e uma
hierarquia: o garoto que ingressasse como recruta poderia chegar a liderar um esquadrão, um batalhão e até um regimen-
to. A disciplina era rígida e quem a desobedecesse recebia castigos, como caminhar por horas em rios gelados. Para poder
vestir o uniforme marrom da Hitler-Jugend (HJ), porém, os ingressantes deveriam, em primeiro lugar, provar que eram
descendentes de "arianos", que estavam saudáveis e não tinham doenças hereditárias. As crianças judias foram impedi-
das de entrar e o mesmo acontecia quando os pais da criança não eram considerados "bons nazistas". Campbell afirmou
que, "não querendo ser excluídas, as crianças imploravam para os pais entrarem no partido nazista". Os jovens que se
negavam a participar tornavam-se marginais e dessa forma ficavam impedidos de entrar nas escolas e conseguir emprego.
Muitos jovens chegaram a perder a vida em nome da organização. No início do governo nazista, as brigas de rua com
os comunistas eram frequentes. Em uma delas, Herbert Norkus, jovem alemão de 15 anos participante da HJ, morreu e se
tornou mártir do regime. Já durante a Segunda Guerra Mundial muitos deles foram lutar nas frentes de combate alemãs.
Eram convocados como ajudantes de artilharia ou como cavadores de trincheiras. "Os meninos trabalhavam dez horas
por dia, sete dias por semana. Cavavam até as mãos ficarem calejadas (...)", contou Alfons Heck, ex-integrante da Juven-
tude, um dos entrevistados por Campbell.
Próximo do final da guerra, foi criada uma unidade especial - denominada HJ-SS, cujos participantes receberam
treinamento especial para participar do conflito. Tal unidade, apelidada pelos Aliados Divisão Leite de Bebê, lutou nos
campos da Normandia em 1944. Em combate, morreram 1.951 soldados, entre meninos e jovens, e 4.312 ficaram feridos.
Minha pesquisa de doutorado aborda a Juventude Hitlerista estabelecida no Brasil. Esse movimento era ligado ao par-
tido nazista no Brasil, que por sua vez era um braço do movimento nazista internacional da Organização do Partido Nazista
no Exterior conhecida pela sigla A.O., do seu nome em alemão, espécie de departamento do III Reich. Essa organização
estendeu-se pelos cinco continentes, em 83 países, com cerca de 29 mil componentes. Nesses territórios, os nazistas
criaram seus grupos, articularam suas bases e estruturaram suas organizações, entre elas a da Juventude. O Brasil foi o
país que contou com o maior número de filiados do partido nazista fora da Alemanha - com 2.900 membros espalhados
entre 17 estados brasileiros.
Entre eles, o maior grupo foi o de São Paulo, com 785 membros, seguido por Santa Catarina, com 528, e Rio de Ja-
neiro, com 447.

NAZISMO TROPICAL
Como organização ligada diretamente a esse partido, a HJ no
Brasil teve a adesão de 550 meninos e meninas alemãs e descen-
dentes, que foram seduzidos pelo discurso do regime nazista. Ape-
sar de ter como parâmetro o movimento alemão, o nazismo avan-
çou no Brasil de forma diferenciada. Participantes da comunidade
alemã - que somava 230 mil pessoas, entre alemães de nascimen-
to e descendentes -, os meninos e meninas não conheceram a
atmosfera de terror vivenciada por seus conterrâneos na Alema-
nha - definida, em um primeiro momento, pela luta contra os co-
munistas e, em um segundo, pela deflagração da Segunda Guerra Adepto do nazismo, com os netos. Presidente
Mundial. Nesse processo de transferência, foi como se a ideologia Bernardes, década de 1930
Acervo A.M Dietrich
nazista passasse a se vestir com as cores da sociedade brasileira.

218
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

Aqui os preceitos nazistas eram passados às crianças e jovens por meio da família e, principalmente, pela educação nas
escolas. Estima-se que na década de 30 existiam cerca de 1.260 escolas alemãs no país, com mais de 50 mil alunos. Todas
elas contavam com subsídio do governo alemão e algumas haviam sido fundadas ainda no século XIX. Desde a ascensão
de Hitler ao poder, as escolas passaram a ser vistas como importantes centros de difusão dos ideais nacional-socialistas.
Até o começo do Estado Novo (1937-1945), tais escolas funcionaram normalmente, sem preocupar o governo, já
que ajudavam na educação dos jovens, desonerando as escolas públicas. Porém, a partir de 1938, com a campanha
desencadeada por Vargas, que obrigou todas as instituições estrangeiras a se nacionalizar, as escolas alemãs passaram a
ser vigiadas. O governo estabeleceu a nacionalização integral do ensino primário. Novas leis do período de 1938 a 1942
restringiram cada vez mais a difusão de valores de outras culturas em território nacional.
O partido nazista e as instituições ligadas a ele entraram então para a ilegalidade. Até essa época, o governo tinha
feito vistas grossas à atuação do partido, dadas as boas relações comerciais entre o Brasil e a Alemanha e a simpatia do
ditador brasileiro pelo regime de Hitler. Os partidários do nazismo e os alemães em geral foram perseguidos somente de-
pois de 1942, quando da entrada do Brasil na guerra, ao lado dos Aliados. A questão estava centrada no combate à cultura
germânica - elemento de erosão da nacionalidade brasileira em construção - e não ao nazismo - enquanto "ideologia
exótica", como a chamava o Dops - Delegacia de Ordem Política e Social.
No caso da cidade de São Paulo, vários foram os colégios enquadrados como foco de disseminação de ideias consi-
deradas nocivas à nação brasileira, entre elas a nazista, no final dos anos 30. Em instituições como a Deutsche Schule,
mais conhecida como Escola Alemã de Vila Mariana, uma das mais vigiadas pelo Deops - Departamento Especializado
de Ordem Política e Social, de São Paulo, boa parte dos educadores era ligada à Associação dos Professores Nazistas, com
100 filiados no Brasil, e alguns vinham direto do III Reich para doutrinar a juventude local.
Nessa escola não era raro os professores alemães ministrarem aulas usando o uniforme cáqui com a suástica atada
ao braço. No início do dia letivo, era comum os alunos se cumprimentarem com a saudação Heil Hitler, como era usual na
Alemanha. As disciplinas eram ensinadas em língua alemã e o português era apenas mais uma aula na grade curricular. A
acusação mais constante por parte da polícia política era que as famílias e a escola não imbuíam as crianças de familiari-
dade com a cultura brasileira, mas sim incentivavam o germanismo atrelado à doutrina nazista. Grande parte dos alunos
era agremiada na Juventude Hitlerista instalada no Brasil, que cantava os mesmos hinos e propunha as mesmas atividades
da similar alemã.
O livreto oficial da Deutsche Schule continha fotografias de alunos e de interiores da escola, além de referências ao
uso de material didático e, em especial, aos filmes sobre a Alemanha. Parte desse material era importado de lá e tinha
como principal objetivo manter viva a relação dos pequenos alemães e descendentes com a cultura germânica. O livro de
canções alemãs apropriadas pelo nazismo, chamado Liederbuch, dava o tom do nacionalismo alemão que se cultivava.
O mapeamento feito pelo Deops constatou que havia 14 escolas alemãs na capital e no ABC paulista. Depois da na-
cionalização de 1938, foram fechadas ou enquadradas na lei. A Escola Alemã de Vila Mariana passou a chamar-se Ginásio
Benjamin Constant e teve seus professores alemães substituídos por brasileiros.
O que foi transmitido a essas crianças limitou-se ao
aparato de sedução do regime - símbolos, canções, livros.
Em grandes festas, eles desfilavam portando bandeiras
com a suástica e cantando hinos nazistas, participavam de
excursões e acampamentos, mas conviviam normalmente
com crianças tachadas como "inferiores" pela ideologia na-
cional-socialista.
Do lado dos brasileiros, a raça ariana foi até motivo de
zombaria. Em um samba de 1943, Carlos Cachaça cantou,
fazendo referência ao nazismo: "Saibam que este céu, este
mar, este lindo cenário, temos a defendê-lo os nossos expe-
dicionários, oriundos da raça de Caxias, de Barroso. Diante
desta gente tão pura e tão forte, nazista, quem és?".
Grupo nazista da cidade de Presidente Bernardes posa em uma A Juventude Hitlerista de Presidente Bernardes, pe-
plantação quena cidade do noroeste do estado de São Paulo, é um
Acervo A. M Dietrich
exemplo da forma como essas ideias nazistas foram trans-

219
SISTEMA DE ENSINO A360°

feridas para o Brasil. Nos anos 30 e 40, o local era um polo


de chegada de imigrantes de toda a Europa. Muitos desses
imigrantes vinham, desde o porto de Santos, em carros pu-
xados por bois e carregados com produtos tropicais. O des-
tino? Fazendas, sítios e chácaras. Construíam suas casas,
muitas vezes de barro e sapé, e plantavam o que comer:
arroz, feijão e milho. Um modo de vida muito diverso do
que estavam acostumados na Europa. Entre essas famílias,
encontravam-se os imigrantes alemães que aderiram ao
nazismo, como a família de K.B. (os nomes são aqui manti-
dos em sigilo para preservar os depoentes). Em entrevista,
ela contou a saga da família desde a saída da Alemanha em
crise da República de Weimar (1919-1933) até o envolvi- Grupo de nazistas fardados em sítio no interior de São Paulo.
As marcações à caneta feitas pela polícia política buscavam
mento com o nazismo. identificar os indivíduos
Arquivo do Estado de São Paulo
ÁLBUNS DE FAMÍLIA
K. B. foi membro da Juventude Alemã de Presidente Bernardes. Seu pai, G.B., era dirigente do partido nazista em São
Paulo. No acervo do Deops, encontram-se muitas fotos apreendidas de álbuns de família como a de K.B., onde se veem
grupos de nazistas em meio a palmeirais e parreiras. Porém ao ouvir essas histórias, tem-se uma nova dimensão de
como foram difundidas as ideias nazistas aqui. Elementos como o anti-semitismo ou racismo corrente na Alemanha não
aparecem no discurso de K.B. Ao contrário, o que há é algo mais romantizado, com colonos comemorando festividades
do calendário alemão e cantando hinos usuais no III Reich."Por que não gostar de judeus? Eu não conheço nenhum. (...)
Eu era criança naquela época e não tinha condições de entender nada. Eu só comecei a entender mais tarde, quando li
sobre o assunto. Mas não acreditava, porque meu avô era um santo homem", afirmou K.B.
K.B. se referiu ao seu avô F.D. como "um nazista fanático que amava sua família". Costumava acordar todos os dias
de manhã bem cedo e ensinava-as a fazer ginástica, a marchar e a cantar hinos nazistas. O que para K.B. era algo ingênuo
e saudável na verdade fazia parte do preceito nazista de culto ao corpo. Os membros da Juventude Hitlerista na Alema-
nha costumavam fazer esporte todos os dias e participar de treinamentos militares.
Ao descrever esses costumes, K.B. fez questão de enfatizar o lado bondoso do avô: "Ele fazia brinquedos para a
gente. Nos dias de festas alemãs, por exemplo Festa da Colheita, costumávamos cantar e marchar atrás dele. Lembro até
hoje [cantando em alemão o hino de Horst Wessel]: \\`Levanta a bandeira, as fileiras bem unidas e marcha com passos
calmos e firmes\\`. Só lembro de um momento em que ele ficou meio espinhento, foi quando a Inglaterra entrou na
guerra...".
Este trecho da entrevista demonstrou que essas crianças repetiam meramente ideias ensinadas pelos adultos, sem
ter noção do conteúdo ideológico das canções. Além dos depoimentos, as fotos são importantes testemunhos. Mos-
tram, por exemplo, como os nazistas no Brasil se vestiam, utilizando as mesmas insígnias e simbologia que os nazistas
na Alemanha.E.G., outra entrevistada de Bernandes, lembrou-se da mudança de tratamento em relação aos alemães a
partir de 1942: "Enquanto nós estávamos aqui com Getúlio do lado do Eixo não teve problemas. Depois, quando Getúlio
resolveu passar para o outro lado - por bons motivos - começaram a perseguir alemães, japoneses, todo mundo. Mas
os partidários continuaram fazendo as mesmas coisas, vestindo uniformes, usando suásticas e ia todo mundo para o
xadrez. Eles sabiam disto, então provocavam, cantando hinos nazistas a caminho da prisão". Quanto às crianças, K.B.
recordou as humilhações que sofreu na escola: "Porque eu era alemã, meus colegas de classe caçoavam de mim, puxa-
vam minhas tranças".
A triste realidade da Juventude Hitlerista não está tão distante da realidade atual do Brasil e do mundo. O conhe-
cimento desse capítulo da história serve para refletirmos sobre os rumos que a sociedade assume nos tempos atuais e
tomarmos providências enquanto há tempo.
http://www2.uol.com.br/historiaviva/reportagens/juventude_hitlerista_a_brasileira.htm

220
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| PUC “O que aconteceu, como muitas vezes acontece 02| UERJ Durante os últimos três meses, visitei uns vinte es-
nos booms de mercados livres, era que, com os salários tados deste belo país extraordinariamente rico. As estra-
ficando para trás, os lucros cresceram desproporcional- das do oeste e do sudoeste pululam de pessoas famintas
mente, e os prósperos obtiveram uma fatia maior do pedindo carona. As fogueiras dos acampamentos dos
bolo nacional. Mas como a demanda da massa não po- desabrigados são visíveis ao longo de todas as estradas
dia acompanhar a produtividade em rápido crescimento de ferro. Os fazendeiros estão sendo pauperizados pela
do sistema industrial [...] o resultado foi superprodução pobreza das populações industriais, e as populações in-
e especulação. Isso por sua vez provocou o colapso [do dustriais, pauperizadas pela pobreza dos fazendeiros.
sistema econômico mundial]” Nenhum deles tem dinheiro para comprar o produto do
(HOBSBAWM, E. A era dos extremos) outro; consequentemente há excesso de produção e ca-
rência de consumo, ao mesmo tempo e no mesmo país.
O trecho acima se refere à crise econômica ocorrida em
1929. Considerando a avaliação apresentada, faça o que Relato feito em 1932 por Oscar Ameringer à Câmara dos
se pede. Representantes dos Estados Unidos.
Adaptado de MARQUES, A. M. et al. História contemporânea através de textos.
A Caracterize duas medidas tomadas pelo governo São Paulo: Contexto, 1990.
americano no combate à crise.
O depoimento acima faz referência a efeitos da Crise de
B Explique como a crise mundial afetou a economia 1929 para a sociedade norte-americana.
brasileira.
Apresente dois fatores que contribuíram para deflagrar
Resolução: essa crise e cite seu principal desdobramento para a
A Após vencer as eleições F.D. Roosevelt, com apoio do economia europeia naquele momento.
congresso americano, criou e aprovou uma série de Resolução:
leis que foram nomeadas de New Deal (“Novo Acor-
Dois dos fatores:
do”). Estas leis forneceriam ajuda social às famílias e
pessoas que necessitassem, forneceriam empregos • especulação financeira
através de parcerias entre o governo, empresas e os • superprodução agrícola
consumidores. Diversas agências governamentais
foram criadas para administrar os programas de • superprodução industrial
ajuda social. A mais importante delas foi a Federal • desaceleração do consumo
Agency Relief Administration, criada em 1933, que
• quebra da Bolsa de Nova York
seria responsável pelo fornecimento de fundos aos
governos estatais, para que estes empregassem tais • reaquecimento das economias europeias
fundos em programas de ajuda social. Outros ór- A crise econômica e financeira, iniciada com a falência
gãos governamentais similares foram criados com o de empreendimentos agrícolas e industriais dependen-
intuito de administrar e/ou empregar trabalhadores tes de capitais norte-americanos, repatriados em função
na construção de obras públicas. Outros órgãos fo- da quebra da Bolsa de Nova York.
ram criados com o intuito de organizar programas
de recuperação, como a Agricultural Adjustment 03| UERJ O filme O Ovo da Serpente tem como cenário a
Administration, com o intuito de regular a produção cidade de Berlim, no ano de 1923. Trata-se, sobretudo,
de produtos agropecuários em uma dada fazenda. de uma fábula de advertência. Dez anos antes da subida
Outro órgão similar, o National Recovery Adminis- dos nazistas ao poder, já se podia ver um fantasma ron-
tration, criada em 1933, passou a reforçar leis an- dando as vielas da Alemanha e pressupor que, em meio
timonopólio, estabeleceu salários mínimos e limites à desordem, à crise econômica e ao vácuo político, uma
na carga horária de trabalho. semente de radicalismo e violência estava para brotar.
Como afirma um dos personagens, a vitória só chegaria
B Um dos aspectos mais relevantes da crise foi a que- em alguns anos, quando os jovens do país se tornassem
da dos preços agrícolas. Para países como o Brasil, adultos e se vissem cansados de viver em uma terra
cuja pauta de exportações nesse momento era do- amargurada. Ao cabo da trama, sentencia-se que o fas-
minada pela produção de café, a baixa nos preços e cismo era uma ameaça perceptível: “É como o ovo de
a perda de liquidez do mercado internacional atin- uma serpente. Através das finas membranas, você pode
giu profundamente a estrutura econômica do país. claramente discernir o réptil já perfeito”.

221
SISTEMA DE ENSINO A360°

o futuro da nação. Nesses projetos, os jovens deveriam


entender que só havia uma pessoa digna de ser amada e
obedecida, que era o líder. Tais movimentos sociais juve-
nis contribuíram para a implantação e a sustentação do
nazismo, na Alemanha, e do fascismo, na Itália, Espanha
e Portugal.
A atuação desses movimentos juvenis caracterizava-se
A pelo sectarismo e pela forma violenta e radical com
que enfrentavam os opositores ao regime.
B pelas propostas de conscientização da população
acerca dos seus direitos como cidadãos.
C pela promoção de um modo de vida saudável, que
mostrava os jovens como exemplos a seguir.
D pelo diálogo, ao organizar debates que opunham jo-
Adaptado de revistadehistoria.com.br.
vens idealistas e velhas lideranças conservadoras.
O filme O ovo da serpente retrata o contexto de crise
alemã após a Primeira Guerra Mundial, que favoreceu E pelos métodos políticos populistas e pela organiza-
a subida ao poder de Hitler, principal figura do Partido ção de comícios multitudinários.
Nazista. Resolução:
Retire do texto dois problemas da sociedade alemã que
A pelo sectarismo e pela forma violenta e radical com
contribuíram para a ascensão do nazismo ao poder em
1933. Indique, também, a ação tomada pelo Partido Na- que enfrentavam os opositores ao regime.
zista em relação a cada um desses problemas. Os regimes nazi-fascistas fizeram amplo uso dos
Resolução: meios disponíveis à massificação de suas ideologias.
Assim, a educação utilizada como instrumento de
Dois dos problemas e respectiva ação: dominação social e fortalecimento ideológico abran-
• desordem social / instauração do Estado corporati- gia desde os anos iniciais da infância, todavia, a ju-
vo e centralizador para enfrentar a crise das propos- ventude, em especial, era o principal objetivo de tal
tas liberais projeto. Os estados totalitários, por meio do carisma
de seus líderes, conseguiram arrebatar milhares de
• crise econômica / intervencionismo estatal para
jovens que passaram a se dedicar fervorosamente à
controlar os conflitos entre capital e trabalho
defesa do Estado, cuja obediência e fidelidade eram
• vácuo político / fim do sistema político representati- as principais ferramentas de dominação da juventu-
vo liberal, com o estabelecimento do partido único e de. A submissão e a lealdade cega a esses regimes
fortalecimento de Hitler como liderança nacional permitiram que os jovens aceitassem e difundissem
os ideais totalitários, mesmo que para isso deves-
04| ENEM Os regimes totalitários da primeira metade do sem recorrer à violência e a intolerância com os opo-
século XX apoiaram-se fortemente na mobilização da sitores, a exemplo dos socialistas, ou àqueles consi-
juventude em torno da defesa de ideias grandiosas para derados subversivos, como os críticos do regime.

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UFAL A crise de 1929, iniciada com o “crack” da Bolsa de 02| UNIFESP Numa quinta-feira, 24 de outubro de 1929,
Nova Iorque, se constituiu em um grave momento para a 12.894.650 ações mudaram de mãos, foram vendidas na
economia mundial. No Brasil, o setor agrícola, represen- Bolsa de Nova Iorque. Na terça-feira, 29 de outubro do
tado pela lavoura cafeeira, foi duramente atingido por mesmo ano, o dia mais devastador da história das bolsas
esta crise. de valores, 16.410.030 ações foram negociadas a pre-
ços que destruíam os sonhos de rápido enriquecimento
A O que ocasionou esta crise do capitalismo?
de milhares dos seus proprietários. A crise da economia
B Quais os efeitos da crise de 1929 na economia da capitalista norte-americana estendeu-se no tempo e no
região cafeeira do Sudeste do Brasil? espaço. As economias da Europa e da América Latina

222
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
foram duramente atingidas. Franklin Delano Roosevelt, A Qual a principal diferença de comportamento entre
eleito presidente dos Estados Unidos em 1932, procurou os empresários de 1929 e os atuais, expressa pela
combater a crise e os seus efeitos sociais por meio de charge acima?
um programa político conhecido como New Deal.
B Com base em seus conhecimentos, identifique uma
A Identifique dois motivos da rápida expansão da crise semelhança e uma diferença entre as duas conjun-
para fora da economia norte-americana. turas históricas.
B Caracterize de maneira geral o New Deal e apresen-
05| UERJ Exibido pela primeira vez em outubro de 1940, o
te uma de suas medidas de combate à crise.
filme “O Grande Ditador”, de Charles Chaplin, faz uma
crítica a um projeto político vigente na época.
03| UFSCAR Se nem todas as grandes crises econômicas,
como a atual, que, periodicamente acometem o capi- Observe abaixo o fotograma de uma cena do filme e o
talismo, levam a uma transformação no seu funciona- discurso apresentado em seu final:
mento, todas as grandes transformações pelas quais ele
passou foram desencadeadas por uma grande crise. Si-
tue historicamente e explique as crises que levaram ao
chamado capitalismo
A com participação estatal (keynesiano).
B desregulado (neoliberal).

04| UFJF No final de 2008, o mundo foi envolvido numa cri-


se financeira que atingiu, e ainda atinge, a vida de todos.
Neste período, muitas referências foram feitas à crise
econômica de 1929. A charge abaixo é exemplar:

http://passosdesvairados.blogspot.com

A aviação e o rádio nos aproximou. A própria natureza


dessas coisas é um apelo eloquente à bondade do ho-
mem, um apelo à fraternidade universal, à união de
todos nós. Neste mesmo instante a minha voz chega
a milhares de pessoas pelo mundo afora. Milhões de
desesperados: homens, mulheres, criancinhas, vítimas
de um sistema que tortura seres humanos e encarcera
inocentes. Aos que podem me ouvir eu digo: não deses-
pereis! A desgraça que tem caído sobre nós não é mais
do que o produto da cobiça em agonia, da amargura de
homens que temem o avanço do progresso humano.
Os homens que odeiam desaparecerão, os ditadores
sucumbem e o poder que do povo arrebataram há de
retornar ao povo. E assim, enquanto morrem homens, a
liberdade nunca perecerá.
Discurso final do filme “O Grande Ditador”
Adaptado de www.pedagogiaemfoco.pro.br

Identifique o projeto político-ideológico criticado e apre-


sente duas características desse projeto que se opu-
nham aos ideais defendidos no discurso final.

06| UFF “Em todo caso, a intervenção alemã (importante


também para a formação de oficiais e dos soldados) foi
Disponível em <http://agenciasubverta.blogspot.com> e capturado em novembro de 2009.
rapidamente julgada na Europa. Nos meios populares e
Com base na charge e em seus conhecimentos, respon- em certos círculos intelectuais, como prova da agressi-
da ao que se pede. vidade nazista, anúncio do perigo aéreo. Mas a paixão
conservadora e o medo das responsabilidades, na maior

223
SISTEMA DE ENSINO A360°

parte dos governos, determinaram uma total passivida- 07| UFRN Frequentemente o conhecimento histórico sobre
de diante daquilo que as “conventrizações [destruição a Segunda Guerra Mundial vem acompanhado de per-
por bombardeio] e os rasantes dos Stukas [aviação de plexidade, quando nos deparamos com os crimes come-
combate] anunciavam para um futuro próximo”. tidos por lideranças políticas da Alemanha, inspiradas no
VILAR, Pierre. A Guerra da Espanha. 1936-1939. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1989, p. 101. nazismo, amplamente divulgado entre o povo alemão. À
medida que os campos de concentração foram denun-
A partir das afirmações do historiador espanhol Pierre
ciados, todo um espetáculo de barbárie veio à superfí-
Vilar:
cie, revelando os horrores que esses campos ocultavam.
A destaque duas razões para a eclosão da Guerra Civil
A Explique duas características da doutrina político-i-
Espanhola;
deológica nazista.
B explique em que sentido a Guerra Civil Espanhola é
B Mencione e comente duas influências dessa doutri-
retratada pelos historiadores como o “ensaio geral”
na no Brasil.
da Segunda Grande Guerra.

T ENEM E VESTIBULARES
01| FGV Quando se processaram as eleições de novembro 02| UDESC O início do século XXI vem sendo marcado por
de 1932, o país estava numa situação pior do que nun- uma grave crise financeira e econômica mundial, cul-
ca. Todas as “curas” do Sr. Hoover não conseguiram dar minada por diferentes eventos. Alguns analistas com-
vigor ao paciente moribundo. Os trabalhadores eram as- param parte de seus efeitos com aqueles decorrentes
solados pelo desemprego; os lavradores eram arrasados da crise da primeira metade do século XX marcada pela
pela crise da agricultura; a classe média tinha perdido _____________. Ao contrário da precedente, a atual
suas economias nas falências dos bancos e temia pela crise não pode ser marcada por um único evento, mas
sua segurança econômica. sim eventos, como, por exemplo, o estouro da “bolha da
internet” (Índice Nasdaq), em 2001, a quebra de bancos
Em 8 de novembro de 1932 o povo americano ele-
de investimentos importantes nos EUA, em 2008, dentre
geu Franklin D. Roosevelt para presidente dos Estados
outros. Em suas diferenças e especificidades, porém, po-
Unidos.
de-se afirmar que ambas as crises são _____________
O “New Deal” do Sr. Roosevelt foi chamado de revolu- e geraram _____________. Igualmente que afetaram,
ção. Era e não era. Era uma revolução quanto às ideias, sem precedentes, a economia de diferentes países, sen-
mas não na sua parte econômica. do grande parte por causa da ______________.
[Leo Huberman, História da riqueza dos EUA (Nós, o povo)]
Assinale a alternativa que preenche corretamente os
Não era uma revolução econômica, pois espaços em branco, na sequência estabelecida, com as
respectivas informações que se integram ao contexto.
A o volume de recursos destinados à recuperação eco-
nômica era pequeno e beneficiou apenas as regiões A crise dos suprimes – nacionais – superinflação – cri-
industrializadas. se das moedas como dólar e o euro

B não ocorreu qualquer alteração no direito à proprie- B quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, em
dade privada, assim como foi mantida a mesma es- 1929 – mundiais – recessão – interdependência en-
trutura de classe. tre os mercados

C os operários e produtores rurais não tiveram ne- C Primeira Guerra Mundial, em 1914 – mundiais –
nhum ganho importante, uma vez que os benefícios guerra – indústria armamentista
atingiram exclusivamente as classes médias. D crise do café no Brasil, em 1929 – regionais – cresci-
D os principais causadores da crise - os grandes con- mento – commodities
glomerados oligopolistas - foram os que mais re- E quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque, 1929
cursos receberam do governo americano.
– diferentes, pois uma era local e outra mundial
E privilegiaram-se os investimentos diretos em agen- – medo do comunismo e agora medo do esfacela-
tes econômicos tradicionais, como as grandes casas mento da União Europeia – crise política e econômi-
bancárias e as principais corporações. ca na Europa e EUA

224
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
03| FGV O período entre as duas grandes guerras mundiais, Com base no texto, conclui-se que a crítica da charge se
de 1918 a 1939, caracterizou-se por uma intensa polariza- refere ao problema econômico, que nomeia aquela fase
ção ideológica e política. Assinale a alternativa que apre- histórica, conhecido como
senta somente elementos vinculados a esse período:
A Especulação
A New Deal; Globalização; Guerra do Vietnã. B Recessão
B Guerra do Vietnã; Revolução Cubana; Muro de Berlim. C Inflação
C Guerra Civil Espanhola; Nazifascismo; Quebra da D Depressão
Bolsa de Nova York.
E Deflação
D Nazifascismo; New Deal; Crise dos Mísseis.
E Doutrina Truman; República de Weimar; Revolução 06| FUVEST Foi precisamente a divisão da economia mun-
Sandinista. dial em múltiplas jurisdições políticas, competindo entre
si pelo capital circulante, que deu aos agentes capitalis-
04| ESCS A crise de 1929 criou um cenário de insegurança tas as maiores oportunidades de continuar a expandir o
social, impulsionado pelo desemprego crescente, e de valor de seu capital, nos períodos de estagnação mate-
incertezas econômicas. Para a economia mundial, a crise rial generalizada da economia mundial.
Giovanni Arrighi, O longo século XX. Dinheiro, poder e as
de 1929 significou: origens do nosso tempo. Rio de Janeiro/São Paulo:
Contraponto/Edunesp, p.237, 1996.
A o abalo na confiança dos agentes políticos e econô-
micos nos princípios do liberalismo econômico; Conforme o texto, uma das características mais marcan-
B o enfraquecimento da confiança das elites econô- tes da história da formação e desenvolvimento do siste-
ma capitalista é a
micas na eficácia do Fundo Monetário Internacional
como agente regulador da economia; A incapacidade de o capitalismo se desenvolver em
C a ampliação da confiança das elites econômicas na períodos em que os Estados intervêm fortemente
integração econômica mundial; na economia de seus países.
D o abalo da confiança nas soluções de caráter socia- B responsabilidade exclusiva dos agentes capitalistas
lista implantadas na União Soviética; privados na recuperação do capitalismo, após perío-
dos de crise mundial.
E a perspectiva de as elites latino-americanas rompe-
C dependência que o capitalismo tem da ação dos Esta-
rem com o padrão industrial de desenvolvimento.
dos para a superação de crises econômicas mundiais.
05| FM PETRÓPOLIS A Crise de 1929 teve como episódio D dissolução frequente das divisões políticas tradicio-
emblemático a quebra da bolsa de Nova Iorque, em de- nais em decorrência da necessidade de desenvolvi-
corrência do rápido e acentuado declínio das atividades mento do capitalismo.
econômicas. A crise norte-americana arrastou consigo os E ocorrência de oportunidades de desenvolvimento
países ligados à sua economia, numa conjuntura mundial financeiro do capital a partir de crises políticas ge-
que já apresentava elevado grau de interdependência. neralizadas.

07| MACK A partir de 1933, o governo de F. D. Roosevelt,


nos Estados Unidos, pôs em marcha uma série coorde-
nada de ações nas áreas social e econômica, conhecida
como New Deal, para fazer frente à depressão que se
estabelecera no país e no mundo capitalista a partir de
1929. Uma das principais ações do New Deal para supe-
rar a crise foi
A a extinção do financiamento do seguro social pelo
Banco Central norte-americano.
B a intervenção legislativa do Estado nas relações ca-
pital-trabalho.
C o fortalecimento do padrão ouro através da diminui-
ção do papel-moeda circulante.
D o ajuste das contas públicas por meio da supressão
de obras como estradas e hidrelétricas.
E o corte de subsídios à agricultura, visando a tornar a
AQUINO, R. et al. História das sociedades. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1993. p.273. produção do setor mais competitiva.

225
SISTEMA DE ENSINO A360°

08| UEPB Outras crises econômicas, como a que acompa- A idealização do império português, identificando-o
nhamos, ocorreram desde que o capitalismo tornou-se com as concepções do regime salazarista.
hegemônico. Analise as questões abaixo e atribua V para B opulência portuguesa na modernidade, comparan-
as verdadeiras e F para as falsas. do-a com a economia do país na Europa contempo-
( ) Forte crise econômica se abateu sobre a Europa em rânea.
1848, fechando fábricas, desempregando operários C relevância do comércio atlântico, patrocinando uma
e diminuindo salários. Em consequência, movimen- reinterpretação do tráfico de escravos.
tos revolucionários ocorreram em vários países, a D colonização portuguesa na América, reforçando a
exemplo da França com a “Primavera dos Povos”. contribuição dos colonizados para a nação ibérica.
( ) A crise econômica da metade do século XIX fez ru- E crença sebastianista, enfatizando a expansão terri-
írem as duas principais ideologias na Europa: o li- torial como expressão do imperialismo português.
beralismo e o socialismo. Apenas o nacional-socia-
lismo fortaleceu-se, dando lastro para a criação do 10| UERJ O direito ao solo e à terra pode se tornar um dever
nazismo alemão e do fascismo italiano. quando um grande povo, por falta de extensão, parece
destinado à ruína. Ou a Alemanha será uma potência
( ) A depressão de 1929 é considerada o mais longo pe-
mundial ou então não será. Mas, para se tornar uma
ríodo de recessão econômica do século XX. Ela cau-
potência mundial, ela precisa dessa grandeza territorial
sou a queda das taxas de produção industrial, dos
que lhe dará na atualidade a importância necessária e
preços de ações, do PIB dos países, sem contar com
que dará a seus cidadãos os meios para existir. O próprio
o desemprego em massa em diversas nações.
destino parece querer nos apontar o caminho.
( ) A atual crise econômica foi precisamente prevista Adolf Hitler Minha luta, 1925.
por Karl Marx em “O Capital”, pois ele afirmava que Adaptado de FERREIRA, Marieta de M. e outros. História em curso:
se o capital é um valor, quando se desvaloriza acaba da Antiguidade à globalização. São Paulo: Editora do Brasil;
Rio de Janeiro: FGV, 2008.
se contradizendo, negando sua própria existência.
As ideias contidas no projeto político do nazismo busca-
Assinale a alternativa correta vam solucionar os problemas enfrentados pela
A V, F, V, V Alemanha após o fim da Primeira Guerra Mundial.
B V, V, F, V Uma dessas ideias, abordada no texto, está associada ao
C F, F, V, V conceito de:
D V, F, V, F A xenofobia
E V, F, F, F B espaço vital
C purificação racial
09| UFG Analise a imagem. D revanchismo militar
11| FGV Em 1939, atendendo ao apelo do Papa Pio XII, o
Conselho de Imigração e Colonização do Ministério das
Relações Exteriores do Brasil resolveu autorizar a entra-
da de 3 000 imigrantes de origem “semita”. Condição
sine qua non para obter “o visto da salvação”: a conver-
são ao catolicismo. Pressionados pelos acontecimentos
que marcavam a história do III Reich, os judeus, mais
uma vez, foram obrigados a abandonar seus valores cul-
turais em troca do título de cristão.
[Maria Luiza Tucci Carneiro, O anti-semitismo na era Vargas (1930-1945)]

A situação apresentada tem semelhança com o processo


MONUMENTO AOS DESCOBRIMENTOS. Disponível em:
histórico da
<http://www.foto.turisplan.pt/mais.php?GALLERY_FORM_VARIABLE_
PREFIXitemN=136>. Acesso em: 8 out. 2012. A permissão apenas do culto católico no Brasil, con-
forme preceito presente na primeira Constituição,
Inaugurado em 1960, como parte das celebrações dos
de 1891.
500 anos da morte de Dom Henrique, o Monumento aos
Descobrimentos evoca a expansão marítima portuguesa B repressão ao arraial de Canudos, no sertão baiano,
dos séculos XV e XVI. Essa evocação associa-se à pois recaiu sobre os sertanejos a acusação de ateísmo.

226
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
C obrigatoriedade, conforme costume colonial, dos 13| UFTM Nós nos encontramos todos aqui e o milagre des-
negros alforriados de conversão ao catolicismo para se encontro enche nossa alma. Cada um de vocês pode
a obtenção da efetiva liberdade. me ver e eu não posso ver a cada um de vocês, mas eu
D conversão obrigatória dos judeus na Espanha e em os sinto e vocês me sentem. É a fé em nosso povo que,
Portugal, a partir do final do século XV, o que gerou de pequenos, nos tornou grandes, de pobres, nos fez ri-
a denominação cristão-novo. cos, de homens angustiados, desencorajados e hesitan-
tes que éramos, fez de nós homens corajosos e valentes,
E separação entre Estado e Igreja no Brasil, determi-
nada pelo Governo Provisório da República, coman- aos homens errantes que éramos, nos deu a visão e nos
dada por Deodoro da Fonseca. reuniu a todos.
(Adolf Hitler, discurso de 1936. Apud Alcir Lenharo.
Nazismo: “o triunfo da vontade”, 1986.)
12| MACK
(...) conceitualizar o fascismo como populista é um erro, Podemos dizer que Hitler se apresenta, no fragmento de
embora a intensidade da propaganda política, a mobi- discurso acima, como
lização das massas e o carisma pessoal aparentemente A o guia da comunhão nacional que permitira a supera-
possam identificar o populismo com fascismo. ção de um período crítico na economia e na política.
Mario Sznajder. “Fascismo e Intolerância”. In: Maria
Luiza Carneiro e Frederico Croci (orgs). Tempos de fascismos:
Ideologia – Intolerância – Imaginário. São Paulo: EDUSP/ Imprensa
B o herdeiro da tradição política imperial alemã,
Oficial/ Arquivo Público do Estado de São Paulo, 2010, p.30 que levou o país ao sucesso na Primeira Guerra
O erro citado consiste no fato de que Mundial.

A nos fascismos categorias inteiras são excluídas, com C o representante dos alemães no processo de forma-
base em definições de ‘inimigo’, ou seja, a negação da ção e consolidação do Estado nacional.
cidadania é uma consequência quase natural de não
D um líder que se sacrifica em nome dos interesses
se pertencer à comunidade. Ao contrário, no populis-
nacionais, mas reconhece a importância da ajuda
mo, as coalisões interclasses e entre diversos grupos
são a condição sine qua non de sua existência. divina.

B no populismo, a preocupação com a legitimação das E um alemão igual aos outros, que prega a união para
ações do líder forçou a criação de órgãos destinados a reconstrução nacional em meio a uma profunda
apenas à propaganda política e à censura. Nos fascis- crise econômica.
mos, por sua vez, a adesão em massa ao chefe de go-
verno excluiu ações propagandísticas mais incisivas, 14| UNESP
assim como o surgimento de oposições relevantes.
A Itália deseja a paz, mas não teme a guerra.
C no nazi-fascismo o centro de ações girou em torno
do combate ao comunismo e ao liberalismo, repre- A justiça sem a força é uma palavra sem sentido.
sentantes de uma época decadente e retrógrada. Nós sonhamos com a Itália romana.
No populismo, os discursos liberais e socialistas do
governo serviram, antes de tudo, para manipular as Os três lemas acima foram amplamente divulgados du-
massas, perpetuando líderes carismáticos no poder. rante o governo de Benito Mussolini (1922-1943) e reve-
D tanto nos fascismos quanto no populismo grupos lam características centrais do fascismo italiano:
que se pretendam autônomos ou aqueles que não A a perseguição aos judeus, a liberdade de expressão
tenham aderido ativamente ao nacionalismo extre- e a valorização do direito romano.
mo são perseguidos ou mesmo eliminados. No en-
tanto, a preocupação, dos governantes populistas, B o culto ao corpo, o pacificismo e a ânsia de voltar ao
com uma legitimação de ações obrigou-os a conce- passado.
der garantias a alguns desses grupos.
C o nacionalismo, a valorização do espírito clássico e o
E nos fascismos a liderança personificada exigia a materialismo.
radicalização com os opositores, eliminando-os e
criando um clima de insegurança, em que qualquer D a beligerância, o culto à ação e o esforço expansio-
pessoa, em potencial, era vista como inimiga do Es- nista.
tado. No populismo, apesar do autoritarismo, o plu-
ripartidarismo impedia ações eficazes no combate à E o revanchismo, a socialização da economia indus-
oposição. trial e a perseguição aos estrangeiros.

227
SISTEMA DE ENSINO A360°

15| PUCCAMP Como todas as revoluções das vanguardas nais à amplidão dos efeitos da crise. Nas sociedades aba-
históricas, o Futurismo traduz logo nos seus primeiros ladas em profundidade por ela, milhões de pessoas estão
textos o grito de ruptura de uma classe que não deseja dispostas a acolher todas as doutrinas.”
mais pactuar com a estabilidade do sistema. Mas o grito RÉMOND, René. O século XX: de 1914 aos nossos dias. 9ª ed.

de ruptura é dado com os elementos e valores típicos São Paulo: Cultrix, 1993, pp. 103-104.

do mesmo grupo contestado. Os elementos “perigo”, Sobre o nazifascismo e as causas que ajudam a explicar
“velocidade”, “energia”, “audácia”, “revolta”, “bofeta- a adesão de alguns países ao fenômeno, analise as pro-
da”, “soco” – inicialmente propostos com a finalidade posições abaixo:
de traduzir o vitalismo antiburguês do Futurismo – serão
I. Na Espanha destaca-se a crise experienciada pelo
os mesmos, desenvolvidos, que levarão o movimento a
país, traduzida por greves gerais, e os movimentos
concluir no fascismo.
separatistas (basco e catalão), após a derrubada
(Sílvio Castro. Teoria e política do modernismo brasileiro.
Petrópolis: Vozes, 1979. p. 34 e 35) da monarquia e a proclamação da república. Insa-
tisfeitos, os setores ultraconservadores apoiaram
O líder do movimento futurista italiano e membro do a Falange, grupo fascista ultraconservador, e as
Partido Fascista, Filippo Tommaso Marinetti, em um de forças nacionalistas, chefiadas pelo general Fran-
seus manifestos defendeu a beleza da guerra, com suas cisco Franco. Estavam dadas as condições para a
“espirais de fumaça pairando sobre aldeias incendiá- emergência da Espanha fascista de Franco.
rias”, bem como “os perfumes e os odores de decom-
posição”. A valorização da guerra era também parte dos II. Derrotada na Primeira Guerra, economicamente
ideais do fascismo, que destruída e sujeita às imposições dos vitoriosos,
como o pagamento de indenizações, a Alemanha
A mobilizava o sentimento anticlerical da população enfrentou desordens sociais que se seguiram às
italiana para combater a autoridade da Igreja e do crises econômicas. Essas são razões que contribu-
papa, e convencê-la a submeter-se apenas à auto- íram para explicar a grande adesão da Alemanha
ridade de Mussolini, após os chamados “acordos de ao nazismo.
Latrão”.
III. Na França, o nacional-socialismo foi motivado pela
B reivindicava expansão territorial por todo o norte da tradição nacionalista, pangermista, antissemita do
África, virando a recomposição do antigo Mare Nos- país. Mas a principal explicação da sua adesão ao
trum ou Império Romano. fascismo deve-se à grave crise econômica pela
C estimulava a organização de legiões inspiradas no qual passava, desde o fim da Primeira Guerra, de-
Império Romano para enfrentar os opositores do vido às pesadas indenizações que teve de pagar
fascismo, especialmente os monarquistas e militan- aos vitoriosos.
tes de direita, no espírito de uma verdadeira cruza- IV. No caso da Itália, o quadro político, econômico e
da interna. social do país era bastante crítico no pós-guerra.
D combatia os países democráticos alegando que ape- Além da crise – marcada por milhares de mortos,
nas o regime fascista seria capaz de conferir paz e devastação de algumas regiões, estagnação da
prosperidade ao mundo, eliminando, ainda as mi- produção industrial e agrícola, inflação, etc. –, o
norias e os povos considerados inferiores, como ju- sentimento nacional foi duramente abalado pelo
deus, africanos, asiáticos e ibéricos. modo rude com que os aliados trataram o país,
E exaltava valores como virilidade, heroísmo e espíri- após a Primeira Guerra, exemplificado no Tratado
to de combate, estimulando a juventude a partici- de Versalhes.
par de forças paramilitares e demonstrações de sua
Assinale a alternativa correta.
fidelidade ao “Duce”, da qual foi exemplo a Marcha
sobre Roma. A Somente as afirmativas I, II e III são verdadeiras.

16| UDESC Para o historiador René Rémond, “entre 1919 e B Somente as afirmativas II e III são verdadeiras.
1939, dificilmente se encontrarão países que não tenham C Somente as afirmativas I, II e IV são verdadeiras.
sido tentados pelo fascismo. Mas se alguns sucumbiram
D Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras.
a ele, outros lhe opuseram resistência. [...] Grosso modo,
podemos dizer que os êxitos do fascismo são proporcio- E Todas as afirmativas são verdadeiras.

228
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
17| PUCCAMP mais dez países, se tornou uma realidade irreversível.
Os antecedentes da União Europeia são assim, alguns
Uma família isolada mudava-se de suas terras. O
mais respeitáveis do que outros. Durante muito tem-
pai pedira dinheiro emprestado ao banco e agora o
po depois da tentativa de Carlos Magno de substituir
banco queria as terras. A companhia das terras quer
o império romano pelo seu, uma identidade europeia
tratores em vez de pequenas famílias nas terras. Se
se definia mais pelo que não era do que pelo que era:
esse trator produzisse os compridos sulcos em nos-
cristã e não muçulmana, civilizada em vez de bárbara
sa própria terra, a gente gostaria do trator, gostaria
(e, portanto, com o direito de subjugar e europeizar
dele como gostava das terras quando ainda eram da
os bárbaros – isto é, o resto do mundo).
gente. Mas esse trator faz duas coisas diferentes: tra-
(Luís Fernando Verissimo. O mundo é bárbaro.
ça sulcos nas terras e expulsa-nos dela. Não há quase Rio de Janeiro: Objetiva, 2008)
diferença entre trator e um tanque de guerra. Ambos
expulsam os homens que lhes barram o caminho, in- Em relação ao sonho de Hitler, a que o texto de Luís
timidando-os, ferindo-os. Fernando Veríssimo se refere, é correto afirmar que
(John Steinbeck. As vinhas da ira) A a criação do Segundo Reich e o Tratado de Frank-
(Heródoto Barbeiro, Bruna R. Cantele e Carlos A. Schneeberger. furt, que dava à Alemanha as ricas regiões da Al-
História: de olho no mundo do trabalho. São Paulo: Scipione, sácia e da Lorena, levou ao revanchismo francês
2004, p. 413) e à Segunda Guerra Mundial.

Com base no conhecimento histórico, é correto afir- B o sucesso econômico da Alemanha, sua expansão
mar que Steinbeck, em As vinhas da ira, trata dos colonial e seu exaltado internacionalismo fomen-
efeitos da taram o desejo do Führer de expandir o seu im-
pério e conquistar o “espaço vital”.
A Conquista do Oeste sobre as grandes proprie-
dades rurais no oeste americano e defende as C o ataque na maior base naval norte-americana
formas de exploração das grandes empresas pro- pelos alemães no Atlântico Sul foi produto da
prietárias de terras e capital. convicção estratégica de Hitler, que desejava des-
truir a frota americana ali estacionada.
B Grande Depressão sobre pequenas famílias de
fazendeiros do meio-oeste americano e ataca D a militarização do Terceiro Reich visava à expan-
os métodos industriais agrícolas e o poderio de são territorial, à conquista do “espaço vital”, que
grandes empresas e bancos. foi feita à custa de seus vizinhos e forjou o es-
topim da Segunda Guerra Mundial.
C Revolução Industrial sobre os trabalhadores do
meio rural da região sul norte-americana e do E a reivindicação europeia pela redivisão das áreas
desenvolvimento tecnológico que expulsava os coloniais na África e na Ásia aguçou a cobiça do
pequenos proprietários de terras. Terceiro Reich de conquistar domínios condizen-
tes com o crescimento e o poder alemão.
D Guerra de Secessão sobre os pequenos produto-
res agrícolas do oeste americano e critica as for-
mas de exploração da mão de obra que empobre-
cia as famílias dos fazendeiros.
E Primeira Guerra Mundial sobre as famílias de
camponeses da região norte-americana e conde-
na os meios utilizados pelos bancos nos emprés-
timos à produção agrícola familiar.

18| PUCCAMP
Napoleão Bonaparte e Adolf Hitler, entre outros, so-
nharam com a pan-Europa que, com a inclusão de

229
SISTEMA DE ENSINO A360°

A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL – (1939 – 1945)


Ao observarem o passado de nações e povos envolvidos em
uma guerra, muitas pessoas tendem a negar, ou legitimar tal con-
flito, sob o ponto de vista moral, pouco se interessando por suas
reais causas ou lógica racional. Limitada em sua essência, tal pre-
disposição interpretativa encontra respaldo na justificativa tempo-
ral da própria guerra, que é legitimada pelos governos, frente a sua
população. Cuidadosamente construído, esse discurso geralmente
irá apresentar uma visão dicotômica, com dois lados, como a luta
do bem contra o mal, do certo contra o errado, da democracia con-
tra a tirania.
Marcada como um conflito violento e de grandes proporções,
a Segunda Guerra Mundial apresenta raízes históricas, que não
podem ser desprezadas pelo discurso vazio da moral. Na verdade,
suas origens remontam as disputas imperialistas entre as super-
potências no século XIX. As ambições dessas nações, em nome de
ideais nacionalistas, resultaram na morte de milhares de pessoas
na Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes, com suas pu-
nições, bem como, restrições bélicas e econômicas impostas aos
perdedores, não conseguiu impedir a emergência de um novo
conflito mundial. A crise internacional do capitalismo, durante a
década de 1930 fomentou, igualmente, a ascensão de projetos po-
líticos extremamente nocivos ao mundo: o fascismo e o nazismo.
Assim, questões mal resolvidas, assentadas em interesses po-
líticos e econômicos irão, novamente, colocar frente a frente essas
potências que comporão dois poderosos exércitos: os Aliados e
o Eixo. Deixando rastros de destruição e altos índices de mortos, Com a derrota das potências do Eixo, o Exército dos Estados
Unidos passou a veicular a propaganda que preparava a
essa Guerra chegará ao fim com a derrota da Alemanha, Itália e o população para o ataque ao Japão com os seguintes dizeres:
“Japão... você é o próximo! Nós terminaremos o trabalho" (1945).
ataque nuclear ao Japão.
Dos escombros da Segunda Guerra Mundial emergirá um conflito ideológico e hegemônico que, da disputa entre Esta-
dos Unidos e União Soviética pela supremacia mundial, dividirá o mundo por muitos anos entre dois blocos: o capitalista e o
comunista. O caminho estava aberto para a instauração, e consolidação, da nova ordem mundial e a moderna globalização
econômica moderna que permeará o século XXI.

RAZÕES PARA O CONFLITO MUNDIAL


A invasão da Polônia pela Alemanha, em 1939, marca o início da Segunda Mundial. Antes disso, é necessário conhecer as
origens do conflito, que remontam uma sucessão de acontecimentos que não podem ser ignorados.
A Primeira Guerra Mundial não conseguiu eliminar as rivalidades entre as potências beligerantes. Esse conflito resultou
na derrota da Tríplice Aliança (Alemanha, Império Austro-Húngaro e Império Otomano) pela Tríplice Entente, que incorporou
novos territórios. Houve uma considerável alteração do mapa político europeu com a criação de novos Estados, a partir do des-
membramento da Áustria-Hungria, do Império Otomano e do Império Russo. Lembrando que, a Rússia abandonou a Primeira
Guerra em 1917, logo após a tomada do poder pelos bolcheviques que, adiante, levou a configuração da URSS.
O fato é que o Tratado de Versalhes (1919) e a Política de Apaziguamento não conseguiram conter o avanço dos naciona-
listas e dos sentimentos revanchistas, presentes em várias nações europeias, à exemplo do nazi-fascismo. A Alemanha alegava
significativas perdas territoriais, aproximadamente 13% de seu território, além de suas colônias. Ficou proibida de realizar
novas conquistas territoriais, foi condenada ao pagamento de uma pesada indenização aos vencedores e foi obrigada a limitar
seu exército. Aproveitando o impacto econômico da Crise de 1929, a Alemanha passou a desrespeitar Versalhes, ao iniciar uma
intensa campanha de rearmamento do país, ameaçando diretamente as fronteiras territoriais com a França. O momento coin-
cidia com a expansão das ideias nazistas e com a ascensão de Adolf Hitler como chanceler da Alemanha, em 1933.

230
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Segura das possibilidades de expansão
territorial, a Alemanha nazista progressiva-
mente expandiu seu território em direção à
Áustria, sob a justificativa da união austro-
-germânica de Anschluss, a partir de 1934, foi
consolidada a anexação em 1938. Os alemães
reincorporaram a região do Sarre, em 1935,
e invadiram a Renânia, em 1936. A ambição
seguinte era a conquista do Sudetos, que fazia
fronteira com Alemanha, Áustria e República
Theca. Justificavam que a maior parte da po-
pulação da região possuía origem alemã de-
vendo a mesma, portanto, integrar o território Guernica (1937). A obra de Picasso retrata os horrores da Guerra Civil Espanhola. Por
Pablo Picasso.
do Terceiro Reich.
Apesar de terminado a Primeira Guerra Mundial ao lado das potências da Entente, a Itália ficou insatisfeita com os ganhos
territoriais prometidos por Inglaterra e França que, em seu entendimento, foram irrisórios e não cumpridos plenamente. O
discurso de 1922 que legitimou a tomada do poder na Itália pelo fascista Benito Mussolini estava armado. Tentando recuperar
parte dos prejuízos, a Itália invadiu a Etiópia em 1935, sem que a França nada fizesse para impedi-la.
Essa movimentação na Europa demonstrava claramente que, a Liga das Nações não estava conseguindo evitar e interme-
diar os conflitos de interesses entre os países europeus, principalmente aqueles que envolviam as nações mais poderosas. A
corrida militarista entre as nações inconformadas com a hegemonia política e militar dos vencedores da Primeira Guerra Mun-
dial alimentava o discurso da guerra. Todavia, sob a justificativa de apaziguamento, as nações europeias assistiam aos avanços
territoriais de Alemanha e Itália sem fazer absolutamente nada.
Enquanto partidos nacionalistas emergiam na Europa, no Oriente, a violenta política expansionista japonesa prosseguia em
direção à China, sem maiores dificuldades. Em 1931, houve a consolidação da invasão da Manchúria e o avanço em direção às
ilhas do oceano Pacífico. A movimentação japonesa despertou a rivalidade com a URSS e outras potências ocidentais.
Mesmo preocupado com esses acontecimentos na Europa e na Ásia, os Estados Unidos preferiu manter uma política de
neutralidade frente aos fatos.  
A eclosão da Guerra Civil Espanhola (1936 – 1939), ao permitir o teste de novos armamentos e técnicas de guerra, foi uma
espécie de palco preparatório para o conflito subsequente. Hitler e Mussolini interviram nessa Guerra apoiando os nacionalis-
tas que, sob o comando do general Francisco Franco, derrotaram a República Socialista Espanhola, que lutando com o apoio da
URSS. Ao final, morreram 1 milhão de pessoas.
A participação de Alemanha e Itália no conflito es-
panhol permitiu a aproximação desses Estados que, em
1936, formaram a aliança denominada Eixo Berlim-Ro-
ma. A tensão provocada pelo Japão no Oriente, mais a
existência de interesses e de uma política expansionista
comum à dos países totalitários europeus, contribuiu
com sua união à Alemanha e Itália por meio da assi-
natura do Pacto Anti-Komintern, em um compromisso
de combate a expansão do comunismo internacional.
Formado estava o Eixo Berlim-Roma-Tóquio.
Diante da organização do Eixo e conhecendo as pre-
tensões alemãs sobre os Sudetos, Inglaterra e França se
reuniram com Alemanha e Itália, no intuito de evitar um
conflito direto com esses países e acabaram decidindo
pela permissão da almejada região, pelos nazistas. O
entendimento foi firmado no Acordo de Munique. To-
O Embaixador Visconde Kintomo Mushakoji, assessor de assuntos davia, exigiram que esses países não procedessem à
estrangeiros no Japão, e Joachim von Ribbentrop, representante da novas incursões territoriais sem o prévio conhecimento
Alemanha, assinam o Pacto Anti-Komintern, em 1936. Fotografia: Museu
Imperial da Guerra. franco-inglês.

231
SISTEMA DE ENSINO A360°

Entretanto, Inglaterra e França suspeitavam do interesse alemão sobre a região da Polônia. O motivo estava em sua com-
posição territorial, que havia, após a Primeira Guerra Mundial, incorporado parte do território da Alemanha, para assim, dar
origem ao famoso “corredor polonês”, sob determinação do Tratado de Versalhes, passando a permitir que esse país adquirisse
uma saída para o mar. A Alemanha não se conformava com a perda do Porto de Dantzig e começava a se preparar para uma
guerra de grandes proporções.

DINAMARCA
o LITUÂNIA
Mar do ltic
REINO Bá
UNIDO Norte Ma r Dantzig Königsberg
Prússia
Hamburgo Oriental
PAÍSES
BAIXOS R io
Ri V í s tula
Berlim o Od e r
R io R e R io

no

E lb
Varsóvia 52º N
Colônia

a
ALEMANHA POLÔNIA
Alemanha até 1933
BÉLGICA
Remilitarização (março/1936) LUX.
Sarre Praga
Território tcheco-eslovaco
anexado pela Hungria
Território tcheco-eslovaco bio ESLOVÁQUIA

anexado pela Polônia FRANÇA Da
R io Viena Bra‰slava
Anexações alemãs
Anschluss (13/3/1938) SUÍÇA ÁUSTRIA Budapeste
Sudetos (30/9/1938) HUNGRIA
Memel (março/1939)
Boêmia-Morávia (14/3/1939) 0 180 360
ITÁLIA
Dantzig (setembro/1939) km
12º L
Observe a disposição do “corredor polonês” (1939) e as anexações alemãs no mapa – Sarre (remilitarização, a partir de
1936), Renânia (1936), Áustria (1938), Sudetos (1938), Boêmia-Morávia (1939) e Memel (1939).

Seguindo seus planos, em 1939, Hitler esqueceu mo-


mentaneamente as rivalidades ideológicas com a URSS e
buscou uma aproximação de Stálin. Desse contato, ad-
veio o Pacto Germânico-Soviético, também conhecido
como Pacto Molotov-Ribbentrop, uma aliança secreta
esculpida na concepção de não agressão e neutralidade
mútuas por um período de dez anos. Depois de invadida,
a Polônia seria dividida entre os dois Estados. A intenção
nazista era estabilizar o leste europeu com a neutralidade
soviética, o que lhe garantiria tranquilidade para atacar
as outras regiões da Europa, caso eclodisse um conflito
mundial.

FASES DO CONFLITO
Apenas com a intenção de facilitar a compreensão di-
dática do conflito, dividimos o estudo da Segunda Guerra
Mundial levando em consideração duas fases de desen-
volvimento, as quais analisaremos, resumidamente, con-
siderando:
 1ª fase (1939 – 1942): marcada pela estratégia
militar da blitzkrieg ou guerra-relâmpago, o Eixo
conseguiu a maior parte de suas vitórias em bata-
lhas e conquistas territoriais;
 2ª fase (1942 – 1945): caracterizou-se pela con-
traofensiva bem-sucedida dos Aliados Sátira ao Pacto Ribbentrop-Molotov publicada pelo jornal "Mucha" (1939).
Reprodução internet.

232
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
O CONFLITO MUNDIAL E AS CONQUISTAS DO EIXO
Como anteriormente afirmamos, grandes coalizões militares compunham esse conflito mundial. De um lado, havia as
potências que compunham os Aliados, liderados por Inglaterra, França, União Soviética e Estados Unidos. Do outro, o Eixo
composto por Itália, Alemanha e Japão. Geograficamente, a Guerra se concentrou na Europa, no Norte da África e nos países
do Oceano Pacífico. Todavia, antes de analisarmos a guerra em si, veremos de que forma ocorreu esse conflito.
Em 1º de setembro de 1939, Hitler invadiu o território polonês. Diante do compromisso público firmado, dois dias depois,
França e Inglaterra declararam guerra à Alemanha. Tinha início a Segunda Guerra Mundial. Utilizando a estratégia do blitzkrieg1
ou "guerra-relâmpago", os alemães venceram os poloneses e tomaram o território em duas semanas. Ainda neste momento,
a URSS apoderou-se do território polonês ao leste e, para a surpresa das potências europeias, manteve-se inicialmente neutra
no conflito, conforme estabelecido no Pacto Germano-Soviético.
Com a derrota da Polônia, os nazistas voltaram suas atenções para oeste europeu. Em um curto prazo, a Alemanha domi-
nou a Dinamarca, Noruega, Bélgica e Holanda, que nesse momento, o principal alvo militar alemão, no entanto, era a França
que, em junho de 1940, finalmente caiu sob o domínio do invasor. Apenas uma pequena parcela da população resistiu aos na-
zistas, o que ficou conhecido como Resistência Francesa. Após a rendição francesa, a Alemanha passou a controlar diretamente
o norte do território francês e a costa atlântica, além disso, instituiu uma espécie de governo "fantoche" pró-alemão ao sul
do país, na cidade de Vicky, sob a administração do marechal Philippe Pétain. Ficou estabelecido, ainda, que a França deveria:
 Entregar todos os cidadãos judeus, de seu território, à Alemanha;
 Reduzir o contingente de soldados a 100 mil homens;
 Arcar com os gastos da ocupação alemã;
 Impedir que a população abandonasse o país.
4° 2° 0° 2° 4° 6° 8° 10°

Dunquerque

Administração
Lille militar da Bélgica
50°
e Norte da França 50°

Luxemburgo:
anexado ao
Fron Eixo em 1942
teira
Nord
este
Região costeira militarizada Território anexado
("Muralha do Atlântico")
ao Eixo
Acesso restrito Paris Zona Fechada
Estrasburgo
Zona Ocupada
Reservada
48°
Brest para
Front. N

colonização
48°

Ocupação militar alemã alemã


A partir de novembro de 42:
ordeste

Montoire Proibido o
Zona Norte retorno de
refugiados
HA DEM franceses
LIN AR
CA
DO
RA

46°
Vichy Zona
desmilitarizada
46°

(sede do
governo de facto) Lyon (50 km)

Grenoble

Bordeaux
Zona Livre Zona
ocupada
pela Itália
A partir de novembro de 1942:
Zona Sul Ocupação
italiana
44° 44°

(nov 42 - set 43) Menton


Nice (ocupada
pela Itália)

Marselha
Bastia
Toulon
Ocupação
italiana
42°
(nov 42 - set 43) 42°

Ajaccio
0 (km) 250

0 (mi) 150
Projeção de Lambert-93 - RGF-93 datum
4° 2° 0° 2° 4° 6° 8° 10°

Ocupação alemã da França durante a Segunda Guerra Mundial. Autor: Eric Gaba
(Sting - fr:Sting) for original blanck map
Rama for zones / Portuguese translation: 2(L.L.K.)2

1 A blitzkrieg foi consistia em utilizar forças móveis, como veículos blindados e aviação (no caso da Alemanha a Luftwaffe), em ata-
ques rápidos. O efeito-surpresa era seu maior trunfo, no sentido de impedir ou dificultar a organização defensiva das forças inimi-
gas. Do mesmo modo, a violência dos ataques era uma das principais características da Guerra Relâmpago que objetivava destruir
todas linhas de comunicação, o poder aéreo e as principais indústrias dos inimigos. Desse modo, abria-se o efetivo caminho para a
invasão territorial.

233
SISTEMA DE ENSINO A360°

Da França, a aviação alemã (a Luftwaffe) empreendia um violento e in-


cansável bombardeio a Inglaterra. No entanto, a Força Aérea Britânica (a
RAF) resistiu a aviação nazista e conseguiu impedir a conquista e ocupação de
seu território pelo inimigo.
Enquanto isso, a Itália investia na conquista da Grécia, mas com a iminen-
te derrota de suas tropas, algumas divisões do Exército alemão partiram para
a região em auxílio aos fascistas. As forças nazi-fascistas agiram igualmente na
conquista da Iugoslávia. Ao norte da África, os ingleses resistiam a expansão
italiana que objetivava o controle do Canal de Suez, região essa, estratégica
de passagem entre continentes europeu e asiático, bem como de comunica-
ção dos ingleses com suas regiões coloniais.
A possível vitória do Eixo parecia exibir contornos mais evidentes e, tal
sensação, teria levado Hitler a tomar uma decisão que mudaria completa-
mente o destino da Guerra em junho de 1941: o precoce rompimento do
Pacto Germânico-Soviético com a deflagração da Operação Barbarrossa. O
objetivo foi a invasão da União Soviética sob a justificativa do fornecimen-
to de petróleo, minérios e cereais indispensáveis à manutenção da indústria
bélica alemã. Porém, muitos historiadores consideram que este foi um grave
erro estratégico-militar de Hitler, uma vez que, a Inglaterra ainda não havia
sido dominada.
Utilizando-se da Blitzkrieg e da guarita de mais de 3 milhões de soldados
alemães acampados às fronteiras da URSS, a Alemanha obteve sucesso nas
primeiras batalhas travadas contra os soviéticos, o que lhes garantiu o contro-
le de Moscou, capital do país. Todavia, não contavam com algumas particula-
ridades desse conflito, quais eram: o elevado número de soldados russos, a Hitler, o segundo da direita para a esquerda, na capital
extensão territorial e a resistência popular à invasão inimiga. A partir de 1942, francesa, Paris. A fotografia foi tirada alguns dias após
a Alemanha começou a se deparar com importantes derrotas militares. a ocupação alemã da França (1940). Unknown.

UNIÃO SOVIÉTICA
REINO
UNIDO ALEMANHA
EUROPA
FRANÇA ÁSIA MANCHÚRIA
OCEANO ITÁLIA
ATLÂNTICO CHINA JAPÃO Havaí
PÉRSIA
LÍBIA OCEANO
ARÁBIA ÍNDIA
BIRMÂNIA PACÍFICO
ÁFRICA
FILIPINAS
ABISSÍNIA
(ETIÓPIA)
INDONÉSIA
NOVA GUINÉ
OCEANO
Extensão máxima do domínio ÍNDICO
alemão e italiano
Extensão máxima do domínio
japonês AUSTRÁLIA
90º L
Disponível em: http://almanaquemilitar.com/?p=477.
Repare o mapa: ele demonstra o auge das conquistas territoriais do Eixo, até 1942. Acesso em 20 de Maio de 2015.

Enquanto a Guerra caminhava na Europa, o Japão prosseguia


com seu projeto expansionista na Ásia, desafiando os interesses e a
autoridade dos Estados Unidos, principalmente após as conquistas
da Manchúria, na China, e da Indochina. As rivalidades imperialistas
entre esses dois países chegaram ao limite quando, em dezembro
de 1941, a base naval havaiana, Pearl Harbour, foi atacada pelo Ja-
pão. Esse episódio foi decisivo para a entrada dos Estados Unidos
no conflito. De fato, os norte-americanos já haviam se posicionado
na Guerra quando decidira auxiliar materialmente a Inglaterra.

Fotografia tirada de um avião japonês durante o ataque de torpedo ao navio


USS West Virginia, em Pearl Harbor. É possível observar que no local existem
vários outros navios americanos atracados. A imagem mostra, ainda, aviões
japoneses sobrevoando a região ao centro-direita, acima de Ford Island)
e sobre o Arsenal da Marinha, mais à direita. Fotografia: Official U.S. Navy
photograph NH 50930. Unknown.

234
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
A DERROTA DO EIXO E O FIM DA GUERRA
A entrada da União Soviética e dos Estados Unidos no conflito adqui-
riu um caráter verdadeiramente mundial.
Até meados de 1942, os países do Eixo obtiveram expressivas vitó-
rias, aspecto que, em parte, pode ser justificado pela antecipada organi-
zação dessas potências em relação ao conflito.
A partir de 1943, o promissor destino do Eixo começou a ruir. A pri-
meira frente de luta dos Aliados pode ser identificada com a ação da
União Soviética no que diz respeito a contenção do avanço alemão a
partir da Batalha de Stalingrado. Chegava ao fim a avassaladora expan-
são dos Estados Totalitários e, com a inversão da situação, o Exército sovi-
ético passou pressionar os nazistas fazendo com que recuassem de volta
a Alemanha.
Os russos forçando Hitler a engolir o amargo remédio
No Oriente, os norte-americanos obtiveram expressivas vitórias con- da derrota em Stalingrado.
Disponível em: https://chicomiranda.wordpress.
tra o Japão, a exemplo da importante e decisiva batalha aeronaval de com/2011/05/03/cartunismo-de-guerra-%E2%80%93-
Midway (1942). Nessa batalha, o Japão perdeu vários porta-aviões e ex- a-propaganda-engracada-%E2%80%93-parte-ii/#jp-
carousel-1716
pressivos pilotos navais, o que interferiu decisivamente em sua expansão
pelo Pacífico.
Enquanto isso, em 1943, os Aliados avançavam em direção ao norte
da África consagrando a segunda frente com a vitória na Batalha de El
Alamein, no Egito. Freava-se o avanço do Eixo na região e fortalecia-se o
controle dos Aliados sobre o Mediterrâneo. Com essa vitória, foi possível
o desembarque dos Aliados na Itália, que em pouco tempo, se rendeu,
bem como o prosseguimento do contra-ataque à Alemanha, a partir do
território italiano.
Encontrando dificuldades cada vez maiores para continuar no confli-
to, estava evidente que, a partir de 1944, o Eixo encontrava-se no limite
de sua resistência. Com o desembarque das forças anglo-inglesas na Nor- Os aviões SBD Dauntless, dos EUA, realizam
bombardeiros de mergulho sobre o cruzador japonês
mandia, no norte da França, em junho desse mesmo ano, a Alemanha foi Mikuma em chamas durante a Batalha de Midway.
obrigada a dividir suas tropas em duas frentes, dando início a terceira Fotografia: U.S. Navy; The original uploader was Palm
dogg at English Wikipedia, 2006-01-30 (first version);
frente. Essa invasão ficou conhecida como o Dia D. 2006-02-14 (last version).

Desse momento em diante,


as três frentes passaram a con-
vergir em direção à Alemanha.
Em 1º de maio de 1945, o Exérci-
to Vermelho chegou em Berlim
e, em 8 de maio, a enfraquecida
Alemanha se rendeu aos Alia-
dos. Adolf Hitler havia cometido
suicídio em 30 de abril de 1945
e, dois dias antes, Mussolini e
outros fascistas foram fuzilados
e tiveram seus corpos perdu-
Desembarque de soldados americanos na praia de Omaha, em junho de 1944. rados de cabeça para baixo em
Fotografia: Chief Photographer's Mate (CPHoM) Robert F. Sargent.
uma praça de Milão.

235
SISTEMA DE ENSINO A360°

Apesar de ter chegado ao fim na Europa, a Guerra pros-


seguiu no Oriente até de agosto de 1945, motivada pela resis-
tência japonesa. Aos poucos, os Estados Unidos enfraquecia a
presença do Japão na região do Pacífico até que, em 6 de agos-
to, lançaram sua arma secreta de destruição em massa sobre a
cidade de Hiroxima: a bomba atômica. Do mesmo modo, três
dias depois atacaram Nagasáqui com outra bomba nuclear con-
tribuindo decisivamente, para a rendição incondicional do Japão
em 19 de agosto de 1945.

BRASIL NA SEGUNDA GUERRA

O Brasil adentrou efetivamente na Segunda Guerra Mundial


em agosto de 1942, durante o Governo de Getúlio Vargas.

Inicialmente, o país permaneceu neutro, mas o ataque a


dois navios brasileiros levou o país a se aproximar dos Estados
Unidos. Em 1944, Getúlio Vargas enviou a Força Expedicionária
Brasileira (FEB) e a Força Aérea Brasileira (FAB) para uma cam-
panha na Itália.

O Brasil aderiu diretamente a Guerra considerando seus


interesses econômicos, políticos e estratégicos, principalmente
após a garantia da ajuda financeira e militar dos Estados Unidos.

CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA

Mesmo com a derrota do Eixo, as perdas humanas e eco- A manchete de um jornal do exército americano anuncia a morte
de Hitler (1945). National Archives and Records Administration.
nômicas de Inglaterra e França eram consideráveis. Nunca na
história havia se visto um grau de destruição material tão ele-
vado como a destruição das cidades europeias e os ataques
nucleares no Japão.

Apesar disso, muitos países tiraram proveito com a Guer-


ra, principalmente os EUA, que alcançaram um enorme cresci-
mento de seu parque industrial.

No pós-guerra, algumas conferências foram realizadas. A


Conferência de Teerã (1943), no Irã, decidiu pela intervenção
de forças anglo-americanas no território francês, compondo
a estratégia de pressão à Alemanha. Contando ainda com o
apoio das forças soviéticas, os Aliados conseguiram desembar-
car na Normandia. Discutiu-se também a divisão da Alemanha
e as extensões fronteiriças da Polônia. As fronteiras soviéticas
localizadas à leste da Polônia foram reconhecidas após a ane-
Da esquerda para a direita estão Joseph Stálin , Franklin D.
xação de Lituânia, Letônia e Estônia. Roosevelt e Winston Churchill durante a Conferência de Teerã, em
1943. Website claims US Army and so PD-USGov-Military-Army
A Conferência de Yalta, também conhecida como Confe-
rência da Criméia, ocorreu entre 4 e 11 de fevereiro de 1945. Roosevelt, Stálin e Churchill reuniram-se novamente para de-
cidir sobre o fim da Guerra e a repartição das zonas de influência entre o Oeste e o Leste europeu. O objetivo era determinar
as zonas de influência e ação dos blocos socialista e capitalista. Discutiram também sobre a criação das Organizações das
Nações Unidas (ONU).

236
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Em 2 de agosto de 1945 ocorreu a Conferência de
Potsdam. Estados Unidos, Inglaterra e União Soviética
decidiram pela desmilitarização e desnazificação da Ale-
manha. Criaram o Tribunal de Nuremberg para julgar os
criminosos de guerra nazistas. A Alemanha foi dividida
em quatro zonas de ocupação (norte-americana, inglesa,
francesa e soviética). Posteriormente, em 1961, a zona
norte-americana, britânica e francesa originou a Alema-
nha Ocidental ou República Federal da Alemanha, ao
passo que, a Alemanha Oriental ou República Democrá-
tica Alemã permaneceu sobre o controle soviético. Ber-
lim, que estava situada na parte soviética, também foi
dividida em quatro zonas.

Foi a partir dessa época que o mundo passou a ser


dividido conforme interesses ideológicos legitimados
nos sistemas propostos por socialismo e capitalismo. Ti- Clement Attlee, sucessor de Churchill, Harry S. Truman, sucessor de
Roosevelt, e Joseph Stálin reunidos na Conferência de Potsdam.
nha início a Guerra Fria.

TEXTO COMPLEMENTAR

A CORRIDA PELA BOMBA ATÔMICA


Nos bastidores da Segunda Guerra Mundial, físicos nucleares a serviço dos Aliados e dos nazistas
travaram uma das maiores batalhas científicas da história: a busca pela arma definitiva
François Kersaudy

No início do século XX, a pesquisa atômica era uma aventu-


ra emocionante, cuja única finalidade era desvendar os grandes
segredos da matéria. Essa nova ciência tinha seus templos e pa-
pas: Ernest Rutherford em Cambridge, Niels Bohr em Copenha-
gue, Max Born e Jacob Franck em Göttingen, Marie Curie em
Paris e Albert Einstein em Berlim. Seus discípulos constituíam
uma espécie de fraternidade poliglota de jovens superdotados:
os ingleses John Cockcroft e Ernest Walton; os russos Georgi
Gamow e Piotr Kapitza; os alemães Carl Friedrich von Weiszä-
cker, Otto Hahn e Werner Heisenberg; os austríacos Fritz Hou-
termans e Lise Meitner; os americanos Linus Pauling e Robert
Oppenheimer; os italianos Enrico Fermi e Emilio Segrè, os hún-
garos Leo Szilard, Edward Teller e Eugene Wigner e os franceses
Irene Curie e Frédéric Joliot.

Os pesquisadores mais experientes e ilustres, como Ma-


rie Curie, Ernest Rutherford, Niels Bohr e Albert Einstein, ha-
viam aberto o caminho no início do século com a descoberta
da radioatividade do rádio, a descrição do núcleo do átomo e
do elétron e, evidentemente, a teoria da relatividade. Seus dis-
cípulos dariam continuidade aos trabalhos: em 1932, o inglês
James Chadwick comprovou a existência do nêutron. Dois anos
depois, Frédéric e Irène Joliot-Curie geraram radioatividade ar-
tificial bombardeando átomos de alumínio com partículas alfa
(ver glossário), enquanto o italiano Enrico Fermi utilizaria os Enrico Fermi, um dos pais da bomba atômica americana,
nêutrons descobertos por Chadwick para bombardear o urâ- em seu laboratório na Universidade de Chicago
© UNIVERSITY OF CHICAGO/AMERICAN INSTITUTE OF
nio, desencadeando assim uma emissão de energia. Em 1938, PHYSICS/SPL/LATINSTOCK

237
SISTEMA DE ENSINO A360°

os alemães Otto Hahn e Fritz Strassman, com base na experiên-


cia de Fermi, provocariam a cisão do núcleo de urânio em duas
partes, como consequência da emissão de nêutrons desacele-
rados. Caberia, enfim, à austríaca Lise Meitner e a seu sobrinho
Otto Frisch medir a intensidade da energia assim emitida, e dar
ao fenômeno um nome: a fissão.

Tudo isso só foi possível graças a uma colaboração exem-


plar entre os centros de pesquisa do mundo inteiro. Porém, a
partir dos anos 30, essa cooperação internacional não conse-
guiria resistir ao nacional-socialismo. Na Alemanha de Hitler, a
economia, a indústria e a pesquisa militarizaram-se progressi-
vamente, isolando-se do mundo exterior.

As relações com os pesquisadores estrangeiros foram defi-


nitivamente cortadas em 1939. Bem antes disso, porém, a pes-
quisa atômica alemã seria violentamente atingida pelas per-
seguições anti-semitas, que excluíram os judeus dos serviços
públicos na Alemanha a partir de 1933. Inicialmente, o regime
evitou perseguir os físicos mais renomados, mas as humilha- Niels Bohr (à esq.) e Albert Einstein em 1925. Durante a
guerra, os dois papas da física nuclear trabalharam para
ções e as intimidações organizadas pelos militantes nazistas lados opostos: Einstein para os Aliados e Bohr para os
não os pouparam e, entre 1933 e 1939, os principais pesqui- nazistas
sadores alemães partiram para o exílio: Albert Einstein, Max
Born, Jacob Franck, Fritz Haber, Leo Szilard, Edward Teller, Eugene Wigner, Hans Bethe, John Von Neumann, Stanislaw
Ulman, Lise Meitner, Klaus Fuchs, Otto Frisch, Rudolf Peierls e muitos outros.

A partir de 1938, o regime de Mussolini, imitando servilmente o de Hitler, promulgou suas próprias leis racistas.
Como a esposa do maior físico italiano, Enrico Fermi, era judia, ele também emigrou e seus colegas do Grupo de Roma o
seguiram.

Muitos desses emigrados foram para os Estados Unidos, pois o país possuía universidades e laboratórios muito bem
equipados, permitindo que os cientistas continuassem seus trabalhos em boas condições. Além disso, Albert Einstein
havia imigrado para lá em 1933, o que influenciou seus colegas. Assim, Teller, Wigner, Bethe, Franck, Szilard, Fermi, Segrè,
Ulman e Von Neumann desembarcaram, um por um, no Novo Mundo.

Esses pesquisadores, no entanto, não deixaram de se


interessar pelo que se passava no Velho Continente. En-
quanto físicos nucleares compreenderam imediatamente
as implicações da descoberta de Hahn e Strassmann: caso
essa fissão que gerava uma grande quantidade de energia
pudesse ser reproduzida várias vezes por meio de uma re-
ação em cadeia, a tecnologia poderia permitir a fabricação
de um potente artefato explosivo. Sendo judeus, sabiam
que Hitler não deixaria de utilizar essa descoberta para ani-
quilar seus adversários.

Em março de 1939 surgiu o primeiro indício de que as


previsões dos físicos alemães estavam corretas. Ao ocupar
a Tchecoslováquia, os nazistas interromperam as exporta-
ções de minério de urânio proveniente das minas de Jo-
achimsthal. Até então, esse minério servia apenas para
colorir o cristal da Boêmia e fabricar letreiros luminosos.
A física austríaca Lise Meitner (à esq.) e o químico alemão A interrupção das exportações só poderia significar que a
Otto Hahn trabalhando juntos em Berlim nos anos 20
Alemanha pretendia utilizar o urânio exclusivamente para
HAHN-MEITNER-INSTITUT, BERLIM
a pesquisa atômica.

238
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

Nessa época, Szilard e os físicos exilados nos Estados


Unidos já estavam convencidos de que os alemães estavam
construindo sua própria bomba. Diante disso, o pesquisa-
dor se convenceu de que “só nos restava uma coisa a fazer:
desenvolvermos a nossa”. O plano, porém, esbarrava no or-
çamento limitado dos laboratórios nos quais trabalhavam
esses refugiados. Era preciso fazer com que o governo ame-
ricano se interessasse pelo assunto.

O contato entre os físicos e o governo dos Estados


Unidos foi um refugiado judeu chamado Alexandre Sachs,
que trabalhava como conselheiro econômico do presidente
Uma das instalações do Projeto Manhattan, a usina de
Franklin Roosevelt. Após uma reunião com Szilard no final Oak Ridge era responsável pela separação isotópica do
de julho de 1939, Sachs decidiu preparar uma carta redi- urânio 235. Ao lado dos laboratórios de Hanford e Los
gida a quatro mãos (por ele, Szilard, Teller e Einstein) que Alamos, formava o complexo construído para fabricar a
deveria ser entregue ao presidente Roosevelt. O objetivo bomba atômica nos Estados Unidos
DEPARTAMENTO DE ENERGIA DOS ESTADOS UNIDOS
era convencer as autoridades militares americanas a finan-
DA AMÉRICA
ciarem as pesquisas atômicas no país.

O documento foi assinado pelo próprio Albert Einstein e entregue a Roosevelt no dia 11 de outubro de 1939, cinco
semanas depois do início da guerra na Europa. A carta informava sobre a possibilidade de desenvolver a bomba atômica
e alertava sobre o suposto estado adiantado das pesquisas na Alemanha, pedindo, ao final, uma “ação rápida da parte
dos poderes públicos”.

Em resposta à carta, Roosevelt criou um comitê consultivo para o urânio que contaria com representantes do exército
e da marinha – todos americanos – e teria Szilard, Fermi, Teller, Wigner e Sachs como membros associados. Seria concedi-
da uma soma de 6 mil dólares para as pesquisas iniciais. Tudo isso era evidentemente simbólico e teria continuado assim
se o destino não tivesse seguido por outros caminhos.

ALERTA VERMELHO
Enquanto a comunidade de físicos exilados nos Estados Unidos
pressionava Roosevelt, um grupo de cientistas também alertava o
governo britânico. Em março de 1940, dois físicos nucleares exila-
dos na Inglaterra, Otto Frisch e Rudolf Peierls, enviaram ao conse-
lheiro científico do Ministério da Aviação britânico, sir Henry Tizard,
um memorando no qual mencionavam, pela primeira vez, a possi-
bilidade de construir uma super-bomba produzindo uma explosão
equivalente a mil toneladas de dinamite.

Diante do alerta, os ingleses também criaram um comitê con-


sultivo, o Maud Committee. Inicialmente céticos quanto à possibi-
lidade de desenvolver a bomba atômica, os britânicos mudaram de
opinião depois que os serviços de informação de Sua Majestade
detectaram indícios do avanço das pesquisas alemãs: em agosto de
1939, Werner Heisenberg, aluno de Niels Bohr e Prêmio Nobel de
Física, foi nomeado diretor do Instituto Kaiser Wilhelm de Berlim,
o principal centro de pesquisas nucleares alemão. Ao mesmo tem-
po, o instituto foi requisitado pelo Hilfswaffenamt, o escritório de
armas auxiliares nazista. Também se soube, na primavera de 1940,
O físico Robert Oppenheimer (à esq.) e o general Leslie
Groves visitam uma área de testes atômicos no deserto que agentes alemães haviam tentado comprar dos noruegueses
do Novo México toda sua produção de água pesada (ver glossário), que só poderia
© RUE DES ARCHIVES/RDA
servir para a fabricação da bomba.

239
SISTEMA DE ENSINO A360°

Em agosto de 1941, Winston Churchill finalmente deu sinal verde ao programa atômico inglês, que a partir de então
recebeu o codinome de Tube Alloys. Contudo, a batalha do Atlântico estava no auge, e os meios materiais e financeiros
continuavam insuficientes para concluir um projeto de tamanha envergadura.

A solução viria de um membro do Maud Committee, o professor Marcus Oliphant. Em visita aos Estados Unidos al-
gumas semanas depois, esse físico australiano causou pânico nas altas esferas americanas ao assegurar que os alemães
empregavam recursos consideráveis para obter uma reação em cadeia, e que a Inglaterra corria o risco de ser incinerada
antes que seus próprios trabalhos pudessem frutificar. Disse-lhes que somente os Estados Unidos, com seus meios consi-
deráveis e seu território a salvo da guerra, seriam capazes de ter êxito. Entre os ouvintes, estava o físico Vannevar Bush,
diretor do Escritório de Pesquisa e Desenvolvimento Científico, que supervisionava o comitê consultivo para o urânio.

Bush enviou dois físicos americanos para se informarem do estado dos trabalhos na Grã-Bretanha, e, no dia 9 de
outubro de 1941, ele explicou a situação ao presidente americano: “A vitória será de quem tiver a bomba primeiro”. Se
fossem os nazistas, a Grã-Bretanha seria riscada do mapa e os Estados Unidos deveriam capitular antes mesmo de entrar
na guerra. Desta vez, Roosevelt entendeu: era uma questão de vida ou morte. O presidente decidiu criar imediatamente
o Top Policy Group, um comitê restrito composto por ele mesmo, o vice-presidente Henry Wallace, o ministro da Guerra,
Henry Stimson, o chefe do estadomaior, George Marshall e os físicos Bush e James Bryant Conant. Nada de fazer econo-
mias: o programa gozaria de um fundo ilimitado. Dois dias depois, Roosevelt escrevia para Churchill propondo-lhe “uma
ação conjunta”.

Nessa nova etapa das pesquisas, os cientistas americanos e imigrados, que até então desenvolviam suas pesquisas
de modo isolado, deveriam coordenar seus trabalhos a fim de produzirem uma reação em cadeia controlada até julho
de 1942.

No dia 20 de junho de 1942, Roosevelt e Churchill reuniram-se em Hyde Park, Nova York. Os relatórios dos cientistas
indicavam que o princípio de uma reação em cadeia controlável estava definitivamente ao alcance dos pesquisadores. Os
dois líderes, então, selaram um acordo segundo o qual as usinas de produção seriam construídas nos Estados Unidos e os
ingleses instalariam um centro de pesquisas urânio-água pesada perto de Montreal.

AMEAÇA CLARA
Os Aliados corriam contra o relógio. Os serviços de informação britânicos haviam descoberto que as forças de ocu-
pação alemãs na Noruega exigiam que a produção de água pesada do complexo hidrelétrico de Vemork, na região de
Telemark, passasse de uma e meia para cinco toneladas por ano. A ameaça era clara e os Aliados decidiram destruir a
usina de Vemork.

A primeira tentativa, realizada no final


de 1942, foi um fracasso. Trinta e seis sol-
dados ingleses foram capturados e execu-
tados pelos alemães e o plano de ataque
a Vemork foi descoberto pela Gestapo,
que encontrou mapas da região com um
círculo vermelho em torno da usina junto
de um dos cadáveres. O objetivo só seria
alcançado em fevereiro de 1943, quando
um grupo de seis agentes secretos do Ser-
viço de Operações Especiais inglês na No-
ruega se infiltrou na usina e plantou uma
série de explosivos que destruíram todos
os aparelhos da instalação, além de meia
tonelada de água pesada.

A notícia foi recebida com entusias-


mo em Washington, cujas pesquisas
atômicas vinham progredindo a passos A hora da verdade: os Aliados temiam que os nazistas respondessem ao desembarque
largos. O programa agora era supervisio- na Normandia com um ataque nuclear

240
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

nado pelo exército americano e fora batizado com um nome que


entraria para a história: Projeto Manhattan. À frente da empreitada
estava o general de brigada Leslie Groves, que convenceu os gran-
des industriais americanos a colaborar com o projeto antes mesmo
de as pesquisas apresentarem resultados concretos.

Mas o produto de tamanho esforço científico não demoraria


a aparecer. No dia 2 de dezembro de 1942, Enrico Fermi e sua
equipe, em seu gigantesco laboratório instalado debaixo do es-
tádio da universidade de Chicago, conseguiram pela primeira vez
uma reação em cadeia controlada. O sucesso da experiência não
surpreendeu Fermi, mas o efeito que produziu nas altas esferas
políticas e militares foi considerável. No fim do mesmo mês, foi
dado o sinal verde para a organização de três imensos centros de
pesquisa e de produção: “X”, em Oak Ridge, no Tennessee, onde
seriam construídas duas usinas de separação isotópica do urânio
235; “W”, em Hanford, no estado de Washington, onde seriam
construídas as grandes pilhas de grafite produtoras de plutônio; e
“Y”, em Los Alamos, no Novo México, o “campo de concentração
dos Prêmios Nobel”, onde um milhão de cientistas trabalhariam Após meses de discussão, o governo americano decidiu
no desenvolvimento da bomba em si, sob direção do jovem físico lançar a bomba atômica sobre o Japão. Acima, o bom-
Robert Oppenheimer, que fora aluno de Ernest Rhuterford, Niels bardeio de Nagasaki em 9 de agosto de 1945
BIBLIOTECA DO CONGRESSO, WASHINGTON
Bohr e Jacob Franck.

Toda a operação era coberta por um véu de segredo tão espesso que os próprios cientistas – todos eles usavam pseu-
dônimos – tinham dificuldades para se comunicar entre si. Suas famílias eram isoladas e os parlamentares e a maioria dos
membros do governo americano eram mantidos na mais completa ignorância do que se estava tramando.

O clima de segredo absoluto chegou a tal ponto que, em janeiro de 1943, os americanos suspenderam o intercâmbio
de informações com os britânicos. A decisão provocou a ira de Churchill e sete meses depois Roosevelt acabaria voltando
atrás: o estado adiantado das pesquisas na Alemanha provocava novamente sérias preocupações.

Há algum tempo Hitler referia-se a terríveis armas secretas em seus discursos, e os aviões de reconhecimento aliados
haviam detectado instalações equipadas com rampas de lançamento de foguetes na costa báltica e no norte da França.
Mais grave ainda: descobriu-se, no começo do verão de 1943, que os alemães haviam reativado a usina de Vemork, que
passara a produzir mais água pesada do que antes da sabotagem de fevereiro.

Tudo isso gerou uma onda de pânico em Londres e Washington. O próprio general Groves deduziu que Hitler estava
muito próximo de fabricar a bomba e persuadiu os chefes militares americanos a bombardear novamente Vemork. Novo
fracasso: as mil toneladas de bombas lançadas sobre a usina, em 16 de novembro de 1943, mataram 22 civis e causaram
danos insignificantes à instalação.

O revés na Noruega aumentou a tensão entre os Aliados, e uma descoberta dos serviços secretos britânicos deixou
americanos e ingleses ainda mais preocupados: na Copenhague ocupada pelos alemães, o dinamarquês Niels Bohr, Prê-
mio Nobel e amigo pessoal do rei Cristiano X, levava adiante suas pesquisas sobre a fissão nuclear auxiliado por pesqui-
sadores judeus refugiados que acolhera em seu instituto. A Gestapo o deixava trabalhar em paz, ele tinha discípulos ale-
mães, e físicos como Heisenberg ou Von Weiszäcker, que trabalhavam no programa nuclear alemão, vinham consultá-lo.

A pedido dos serviços secretos britânicos, seu eminente colega, sir James Chadwick conseguiu enviar-lhe um discreto
recado para que interrompesse suas atividades na Dinamarca e as continuasse na Grã-Bretanha, mas Bohr recusou o
convite, afirmando que seu dever era proteger a liberdade das instituições científicas e garantir a segurança dos cientistas
exilados.

241
SISTEMA DE ENSINO A360°

Perigosíssimos trabalhos seriam então levados adiante no instituto de pesquisa teórica de Copenhague. Os cientistas
do Projeto Manhattan eram alunos do primário em comparação com Niels Bohr, e ninguém duvidava que esse professor
dinamarquês seria capaz de dar aos alemães, de forma completamente involuntária, todos os elementos que ainda lhes
faltavam para finalizar a arma suprema.

O FATOR BOHR
Foi mais uma vez o fanatismo dos nazistas que salvaria os Aliados. Em agosto de 1943, as autoridades da ocupação
organizaram um golpe em Copenhague e o próprio rei Cristiano X ordenou a Niels Bohr que deixasse o país. Após uma
fuga via Suécia, Bohr chegou a Londres e os britânicos imediatamente encararam a difícil tarefa de convencer esse paci-
fista irredutível a participar do Projeto Manhattan.

No final de janeiro de 1944, a resistência norueguesa comunicou a Londres uma informação inesperada: após o bom-
bardeio de novembro, os alemães, julgando a usina de Vemork pouco segura, decidiram enviar todo seu equipamento
para a Alemanha. Assim, na manhã do dia 20 de fevereiro de 1944, a balsa que transportava para a Alemanha 39 contê-
ineres de água pesada e 184 tubos de eletrólise, foi sacudida por uma gigantesca explosão provocada pelos sabotadores
britânicos e afundou em quatro minutos. No dia seguinte, Washington e Londres suspiraram de alívio. Assim como em
Oak Ridge e Los Alamos, onde os cientistas americanos trabalhavam em ritmo acelerado, auxiliados por seus colegas
britânicos e físicos de 11 outras nacionalidades – entre os quais, um eminente professor dinamarquês dissimulado sob o
pseudônimo de Nicolas Baker.

Os Aliados, porém, ainda não estavam tranqüilos. Temiam que os nazistas respondessem ao desembarque na Nor-
mandia com um ataque nuclear. Mas suas preocupações eram infundadas: quando as tropas do general George Patton
ocuparam Estrasburgo em novembro de 1944, um destacamento responsável por averiguar qual era o real estágio das
pesquisas atômicas nazistas descobriu que os alemães estavam muito atrasados em relação aos americanos.

Os militares americanos chegaram a essa conclusão ao confiscar documentos que também indicavam a localização
dos centros de pesquisa nuclear alemães: Oranienburg, Heidelberg, Frankfurt e Haigerloch, que seriam todos ocupados
entre março e maio de 1945. Em Haigerloch, descobriu-se um reator em um subsolo: só lhe faltavam 700 litros de água
pesada para atingir sua massa crítica. Um a um, os físicos alemães foram presos: Hahn, Von Laue, Bethe, Gertner, Guer-
lach, Diebner, Von Weiszäcker e finalmente Heisenberg. Seu interrogatório confirmaria que a Alemanha nunca esteve em
condições de construir a bomba, e isso por pelo menos meia dúzia de razões: rivalidade entre as equipes, falta de água
pesada, destruições contínuas devido aos bombardeios, hostilidade tenaz de vários físicos em relação a Hitler e seu regi-
me, orçamento insuficiente, falta de pessoal, e principalmente, desinteresse do Führer, que não tinha entendido nada do
problema e mandara concentrar os trabalhos nos foguetes V1 e V2.

A partir de março de 1945, as informações obtidas na Alemanha começaram a se espalhar entre os cientistas de Los
Alamos. Alguns ficaram aliviados, outros consternados. Leo Szilard chegou a tentar convencer Roosevelt a desistir do
projeto de construir a bomba, mas já era tarde: o presidente morreu no dia 12 de abril de 1945, deixando para seu vice,
Harry Truman, o maior segredo dos Estados Unidos.

Quando chegou à Casa Branca,Truman foi surpreendido primeiro pela notícia de que seu país possuía uma bomba de
efeitos aterradores e, em seguida, que teria de decidir se ela deveria ou não ser usada na invasão do Japão. O novo presi-
dente ordenou imediatamente a criação de um comitê para discutir a questão, formado pela alta cúpula do governo, das
Forças Armadas e por três homens do Projeto Manhattan: Vannevar Bush, Karl Compton e James Conant. Outros quatro
físicos seriam consultados: Robert Oppenheimer, Enrico Fermi, Arthur Compton e Ernest Lawrence. No dia 1º de junho
de 1945 o comitê finalmente emitiu seu parecer: “A bomba será usada contra o Japão, o mais rapidamente possível”.
Sabemos o que veio depois.

GLOSSÁRIO

PARTÍCULAS ALFA: Partículas carregadas positivamente, emitidas pelo núcleo de um átomo

ÁGUA PESADA: A partir da água, a eletrólise permite obter hidrogênio destinado à fabricação de amoníaco. A água
pesada é um subproduto desse processo e serve como elemento “moderador” que desacelera os nêutrons emitidos
para quebrar o núcleo dos átomos de urânio.

242
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UERJ Os anos de 1941 e 1942 foram decisivos para o B Considerando a situação militar da Ásia Oriental em
desfecho da Segunda Guerra Mundial. meados de 1945, mencione uma crítica aos bom-
bardeios dessas duas cidades japonesas.
Resolução:
A O candidato poderá apresentar como argumento do
governo norte-americano, entre outros, o de que era
preciso empregar todos os recursos militares dispo-
níveis para garantir a rendição japonesa e abreviar
o conflito; o de que era necessário intimidar o inimi-
go e aos demais Estados por meio da demonstração
do poder destrutivo da nova arma; e que não se de-
veria depender do apoio militar da União Soviética
para derrotar o Japão.
B O candidato poderá mencionar o fato de as forças
Aliadas, às vésperas das duas explosões, encontra-
rem-se em esmagadora vantagem militar sobre as
tropas japonesas na Ásia Oriental.

03| UFG As explosões das bombas atômicas, em agosto de


(BELMONTE. Caricatura dos tempos. São Paulo: Melhoramentos, 1982.)
1945, sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki, fize-
ram, em 1995, cinquenta anos. O fim da guerra e o início
Identifique, na caricatura acima, um episódio e seu res- da era atômica se anunciavam e o clarão escurecia os
pectivo desdobramento para o desfecho da Segunda olhares do mundo que oscilava entre o pavor e o medo.
Guerra Mundial. O desconhecido explodia em solo japonês. A bomba de-
Resolução: tonava os horrores da guerra, levantava a poeira atômi-
A Batalha de Stalingrado - marco da contenção do avanço ca das nações rivais e emitia sinais de que os tempos
nazista na União Soviética e do início da contra-ofensiva. seriam outros para as nações. Por certo, nunca mais se-
riam os mesmos para os filhos do clarão.
02| UFRJ Hiroshima, Japão. No exato momento em que 60 O Japão foi o país que sofreu mais drasticamente os efei-
anos antes a primeira bomba atômica da história devas- tos das bombas atômicas, mas foi também o país que
tava a cidade de Hiroshima no Japão, mais de 50 mil pes- conseguiu dar o maior salto tecnológico e industrial do
soas fizeram um minuto de silêncio em homenagem às pós-segunda guerra.
vítimas do ataque. Às 8:15 min [...] o mundo relembrou
a detonação da arma mais poderosa já vista no planeta Com base no texto e no processo histórico, explique
até então, que matou cerca de cem mil pessoas direta- duas razões distintas, quanto ao aspecto abordado, que
mente e outras milhares nos anos seguintes. lavram os E.U.A. a detonarem as bombas atômicas sobre
as cidades japonesas.
HIROSHIMA RELEMBRA 60 ANOS DE HORROR
Resolução:
A primeira razão que podemos apresentar é decorren-
te do próprio desenvolvimento da guerra onde, na visão
norte-americana, apressar a derrota japonesa significa-
va, entre outras coisas, evitar a participação direta da
URSS na frente oriental do combate, o que, por sua vez,
levaria, consequentemente, à expansão da área de influ-
ência norte-americana na região. Outra razão está na
questão de uma suposta “revanche” norte-americana ao
Fonte: Adaptado de O Globo de 06 de agosto de 2005, p.36.
Japão por ocasião do ataque surpresa à base naval dos
EUA, conhecida por Pearl Harbour. Por fim, poderíamos
A Apresente um argumento do governo norte-america- adicionar também o fato de que os EUA estariam de-
no em defesa da ação que devastou Hiroshima, no dia monstrando ao mundo sua supremacia e superioridade
06 de agosto de 1945, e Nagasaki, três dias depois. tecnológica frente às nações participantes da guerra.

243
SISTEMA DE ENSINO A360°

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UFRJ 03| UFRN Vinícius de Moraes, inspirado em acontecimentos
ocorridos em meados do século XX, escreveu o seguinte
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
poema:
(10.12.1948)

(...) A Assembleia Geral proclama: “Pensem nas crianças

A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos Mudas telepáticas


como o ideal a ser atingido por todos os povos e todas Pensem nas meninas
as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada
órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta De- Cegas inexatas
claração, se esforce, através do ensino e da educação, Pensem nas mulheres
por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e,
Rotas alteradas
pela adoção de medidas progressivas de caráter nacio-
nal e internacional, por assegurar o seu reconhecimento Pensem nas feridas
e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os
Como rosas cálidas
povos dos próprios Estados-Membros, quanto entre os
povos dos territórios sob sua jurisdição. Mas só não se esqueçam
Artigo I - Todas as pessoas nascem livres e iguais em Da rosa, da rosa
dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência
Da rosa de Hiroshima
e devem agir em relação umas às outras com espírito de
fraternidade. A rosa hereditária
Artigo II - Toda pessoa tem capacidade para gozar os di- A rosa radioativa
reitos e liberdades estabelecidas nesta Declaração, sem Estúpida e inválida
distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo,
língua, religião, opinião política ou de outra natureza, A rosa com cirrose
origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qual- A anti-rosa atômica
quer outra condição.(...).”
Sem cor, sem perfume
A Declaração Universal dos Direitos Humanos expressa
preocupações características do período pós Segunda Sem rosa, sem nada”.
Guerra Mundial. Entretanto, alguns de seus princípios MORAES, Vinícius de. Rosa de Hiroshima. Intérprete: Secos & Molhados. In: SECOS

revelam a influência de documentos assemelhados, ela- E MOLHADOS. Secos & molhados. São Paulo: Continental, p 1973. 1 CD. Faixa 9.
(Série Dois Momentos).
borados no século XVIII.
A Relacione a proclamação da Declaração Universal Considerando o poema,
dos Direitos Humanos às experiências dos regimes A identifique o fato histórico que inspirou o poeta;
nazi-fascistas.
B explique a relação desse acontecimento com o con-
B Identifique uma declaração fundada em bases se- flito internacional que ocorria naquele momento
melhantes, elaborada na Europa do século XVIII. histórico;

02| UFG Leia o fragmento abaixo. C analise dois efeitos ambientais provocados por esse
acontecimento no local a que o poema faz referência.
Em janeiro de 1941, a sorte da Europa e do mundo pa-
recia selada. Só um cego e um surdo voluntário podia 04| UFMG Leia este texto:
duvidar do destino reservado aos judeus numa Europa
alemã. “A guerra estava no fim e Hiroshima permanecia intacta.
LEVI, Primo. A tabela periódica. Rio de Janeiro: A população acreditava que a cidade não seria bombar-
Relume-Dumará, 1994. p. 55. [Adaptado]. deada. Mas infelizmente no dia 6 de agosto, às 8 horas e
O texto acima se reporta a um acontecimento decisivo li- 15 minutos, um enorme cogumelo de fogo tomou conta
gado à Segunda guerra Mundial (1939-1945). Com base da cidade destruindo a vida de milhões de pessoas ino-
nessas informações, responda qual era o destino a que o centes... A cidade acabara e, com ela, toda a referência
autor se refere no texto e explique o princípio que legiti- de uma vida normal.”
mava esse destino. http://www.nisseychallenger.com/hiroshima.html. Acesso: 4 jun. 2007.

244
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
A partir dessa leitura e considerando outros conheci- A Identifique TRÊS países representados no cartaz e
mentos sobre o assunto, explique UM motivo que propiciou a constituição
1. INDIQUE e ANALISE duas razões para a escolha do dessa aliança.
Japão como alvo das bombas atômicas. B Caracterize DUAS ações que permitiram às potên-
Razão 1 cias aliadas assegurar a organização da paz após a
Guerra.
Razão 2
07| UERJ
2. ANALISE os desdobramentos do lançamento das
bombas atômicas sobre o Japão no contexto da
Guerra Fria.

05| UEG “O principal aspecto do panorama histórico do


século XX é o das duas guerras mundiais. Elas são duas
grandes cadeias de montanhas sob cujas sombras nós
ainda agora vivemos. Elas mudaram o mundo mais do
que quaisquer das guerras mundiais e revoluções dos
séculos que as antecederam. Elas nos separaram do
mundo antes de 1914, que não somente para nós como
para a geração que se seguiu à Primeira Guerra Mundial
parece, e pareceu, extremamente remoto. A revolução
bolchevista na Rússia, a ascensão dos Estados Unidos à
posição de superpotência do mundo, o fim dos impérios
coloniais, a bomba atômica etc. etc., foram as consequ-
ências dessas guerras, não suas causas.”
Cidade de Hiroshima após o lançamento da bomba
LUKACS, John. O duelo Churchill X Hitler, 80 dias cruciais para a Segunda
atômica em 6 de agosto de 1945
Guerra Mundial. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2002.
http://pt.wikipedia.org
Sobre as duas guerras mundiais do século XX responda
ao que se pede. Os EUA enviaram, em 2010, pela primeira vez, um
embaixador, John Ross, para participar das comemo-
A Identifique dois acontecimentos que antecederam a
rações relativas ao ataque nuclear em Hiroshima. A
Primeira Guerra Mundial.
cidade industrial de Hiroshima foi bombardeada no
B Discuta duas situações históricas decorrentes da Se- dia 6 de agosto de 1945, o que resultou na morte de
gunda Guerra Mundial.
cerca de 140 mil pessoas. Essa é considerada a maior
06| PUC No cartaz de propaganda norte-americano “Aliados tragédia nuclear da história. Três dias mais tarde, os
quebrando a cruz gamada” (1945), os braços simbolizam EUA lançaram uma segunda bomba em Nagasaki,
países que se aliaram na Segunda Guerra Mundial con- causando mais 70 mil mortes. No âmbito das come-
tra as forças do Eixo. morações em Hiroshima, o Secretário Geral da ONU,
Ban-Ki-Moon, voltou a apelar pelo desarmamento nu-
clear no mundo.
Adaptado de http://dn.sapo.pt

O lançamento das bombas atômicas sobre Hiroshima e


Nagasaki possibilitou o fim da Segunda Guerra Mundial,
acarretando, para todos os países envolvidos no confli-
to, muitas transformações e inaugurando novas tensões
internacionais.
Aponte dois efeitos da Segunda Guerra Mundial para a
sociedade japonesa e dois efeitos da utilização de ar-
ENDERS, A.; FERREIRA, M.; e FRANCO, R. (coords.). mamentos nucleares para as relações internacionais no
História em curso: da Antiguidade à Globalização. SP:
Editora do Brasil; RJ: Fundação Getúlio Vargas, 2008, p. 319 pós-guerra.

245
SISTEMA DE ENSINO A360°

T ENEM E VESTIBULARES
01| ENEM As Brigadas Internacionais foram unidades de A capa da primeira edição norte-americana da revista do
combatentes formadas por voluntários de 53 naciona- Capitão América demonstra sua associação com a parti-
lidades dispostos a lutar em defesa da República espa- cipação dos Estados Unidos na luta contra
nhola. Estima-se que cerca de 60 mil cidadãos de várias A a Tríplice Aliança, na Primeira Guerra Mundial.
partes do mundo — incluindo 40 brasileiros — tenham
B os regimes totalitários, na Segunda Guerra Mundial.
se incorporado a essas unidades. Apesar de coordena-
das pelos comunistas, as Brigadas contaram com mem- C o poder soviético, durante a Guerra Fria.
bros socialistas, liberais e de outras correntes político-i- D o movimento comunista, na Guerra do Vietnã.
deológicas. E o terrorismo internacional, após 11 de setembro de 2001.
SOUZA, I. I. A Guerra Civil Europeia. História Viva, n. 70, 2009 (fragmento).
03| ENEM Os três tipos de poder representam três diversos ti-
A Guerra Civil Espanhola expressou as disputas em curso
pos de motivações: no poder tradicional, o motivo da obe-
na Europa na década de 1930. A perspectiva política co- diência é a crença na sacralidade da pessoa do soberano;
mum que promoveu a mobilização descrita foi o(a) no poder racional, o motivo da obediência deriva da crença
A crítica ao stalinismo. na racionalidade do comportamento conforme a lei; no po-
der carismático, deriva da crença nos dotes extraordinários
B combate ao fascismo. do chefe.
C rejeição ao federalismo. BOBBIO, N. Estado, Governo, Sociedade: para uma teoria geral da política.

São Paulo: Paz e Terra, 1999 (adaptado).


D apoio ao corporativismo.
O texto apresenta três tipos de poder que podem ser
E adesão ao anarquismo. identificados em momentos históricos distintos. Identi-
fique o período em que a obediência esteve associada
02| ENEM predominantemente ao poder carismático:
A República Federalista Norte-Americana.
B República Fascista Italiana no século XX.
C Monarquia Teocrática do Egito Antigo.
D Monarquia Absoluta Francesa no século XVII.
E Monarquia Constitucional Brasileira no século XIX.

04| ENEM A Idade Média é um extenso período da História


do Ocidente cuja memória é construída e reconstruída
segundo as circunstâncias das épocas posteriores. As-
sim, desde o Renascimento, esse período vem sendo
alvo de diversas interpretações que dizem mais sobre o
contexto histórico em que são produzidas do que pro-
priamente sobre o Medievo.
Um exemplo acerca do que está exposto no texto acima é
A a associação que Hitler estabeleceu entre o III Reich
e o Sacro Império Romano Germânico.
B o retorno dos valores cristãos medievais, presentes
nos documentos do Concílio Vaticano II.
(Disponível em: http://quadro-a-quadro.blog.br. Acesso em: 27 jan. 2012)
C a luta dos negros sul-africanos contra o apartheid
Com sua entrada no universo dos gibis, o Capitão che- inspirada por valores dos primeiros cristãos.
garia para apaziguar a agonia, o autoritarismo militar e D o fortalecimento político de Napoleão Bonaparte,
combater a tirania. Claro que, em tempos de guerra, um que se justificava na amplitude de poderes que tive-
gibi de um herói com uma bandeira americana no peito ra Carlos Magno.
aplicando um sopapo no Fürer só poderia ganhar desta-
que, e o sucesso não demoraria muito a chegar. E a tradição heroica da cavalaria medieval, que foi afe-
(COSTA, C. Capitão América, o primeiro vingador: crítica.
tada negativamente pelas produções cinematográfi-
Disponível em: http://revistastart.com.br. Acesso em: 27 jan. 2012 – Adaptado) cas de Hollywood.

246
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
05| ENEM A primeira metade do século XX foi marcada por B Ilustram o combate de japoneses e norte-america-
conflitos e processos que a inscreveram como um dos nos contra chineses e soviéticos, que tentavam es-
mais violentos períodos da história humana. tabelecer na região a hegemonia de Estados guiados
Entre os principais fatores que estiveram na origem dos pela ideologia socialista.
conflitos ocorridos durante a primeira metade do século C Desembocam na explosão das bombas atômicas em
XX estão Hiroxima e Nagasaki, responsáveis pela vitória final
A a crise do colonialismo, a ascensão do nacionalismo dos países Aliados sobre os países do Eixo e pela
e do totalitarismo. rendição incondicional de Alemanha e Japão.
B o enfraquecimento do império britânico, a Grande D Iniciam uma sequência de combates aéreos e na-
Depressão e a corrida nuclear. vais, dos quais participaram ativamente todos os
países envolvidos na Guerra, especialmente Alema-
C o declínio britânico, o fracasso da Liga das Nações e
nha e Itàlia, empenhadas em defender as posições
a Revolução Cubana.
japonesas.
D a corrida armamentista, o terceiro-mundismo e o
expansionismo soviético. E Abrem espaço para a proliferação do islamismo, que
acabou por conquistar, por meio de revoluções po-
E a Revolução Bolchevique, o imperialismo e a unifica- pulares, o controle de Estados como o Paquistão, a
ção da Alemanha. Índia ou as Filipinas.
06| ENEM Os regimes totalitários da primeira metade do 08| FURG A Segunda Guerra foi uma decorrência da crise de
século XX apoiaram-se fortemente na mobilização da 29, que colocou em risco os fundamentos do capitalismo
juventude em torno da defesa de ideias grandiosas para mundial. Um dos resultados deste conflito foi:
o futuro da nação. Nesses projetos, os jovens deveriam
entender que só havia uma pessoa digna de ser amada e A a derrota do nazi-fascismo, marcando o triunfo de
obedecida, que era o líder. Tais movimentos sociais juve- um certo tipo de nacionalismo por toda a América
nis contribuíram para a implantação e a sustentação do Latina.
nazismo, na Alemanha, e do fascismo, na Itália, Espanha
B o fortalecimento do comunismo como forma de go-
e Portugal.
verno por toda a América, uma decorrência da opo-
A atuação desses movimentos juvenis caracterizava-se sição ao capitalismo.
A pelo sectarismo e pela forma violenta e radical com C a aceleração da crise do neocolonialismo e as lutas
que enfrentavam os opositores ao regime.
de libertação nacional, devido ao enfraquecimento
B pelas propostas de conscientização da população das potências europeias.
acerca dos seus direitos como cidadãos.
D a crise econômica dos EUA, devido aos gastos de
C pela promoção de um modo de vida saudável, que guerra e à retração de seu parque industrial.
mostrava os jovens como exemplos a seguir.
E a confirmação da Europa como centro da política
D pelo diálogo, ao organizar debates que opunham jo- mundial e da diplomacia de equilíbrio de poder.
vens idealistas e velhas lideranças conservadoras.
E pelos métodos políticos populistas e pela organiza- 09| PUC Relacione os locais destacados no mapa, represen-
ção de comícios multitudinários. tativos de episódios importantes da Segunda Guerra
Mundial, com os fatos correspondentes abaixo relacio-
07| PUC Às 6 da manhã, do dia 7 de dezembro de 1941, avi- nados.
ões japoneses bombardearam a base norte-americana
de Pearl Harbor, no Havaí. A ofensiva iniciava o avança
japonês que, oito meses depois, controlava parte signifi-
cativa do Oceano Pacifico.
Sobre os conflitos na Pacifico, durante a Segunda Guerra
Mundial, pode-se dizer que:
A Demonstram a instabilidade política do Pacifico e do
sudeste asiático, antes dominados principalmente
pela França e pela Inglaterra, e alvo, durante a Guer-
ra, de interesses norte-americanos e japoneses.

247
SISTEMA DE ENSINO A360°

( ) Desembarque dos aliados, em junho de 1944, para C à aliança militar ofensiva entre a Alemanha e a
invadir a Alemanha, conhecido como DIA D. URSS, que permitiu as operações conjuntas desses
países de ideologias opostas no leste europeu.
( ) Vitória americana imposta aos japoneses, em junho
de 1942. D ao pacto germano-soviético de não-agressão, pelo
qual interesses de natureza estratégica sobrepuse-
( ) Derrota alemã para o exército russo; o exército ale-
ram-se ao antagonismo ideológico.
mão, que se dizia invencível, retira-se destroçado.
E ao programa germano-soviético de integração eco-
( ) Bombardeio da aviação japonesa, em dezembro de nômica, pelo qual se superava o antagonismo ideo-
1941, a uma base naval, destruindo parte da frota lógico para fazer frente ao capital norte-americano
norte-americana. na Europa Oriental.
( ) Suicídio de Hitler, em abril de 1945, em um abrigo
da chancelaria; na mesma época, as tropas aliadas 11| UFAC Nos Estados Unidos da América do Norte, uma
ocupam a região. das mais poderosas nações do mundo, a década de 1950
foi marcada por um clima de "histeria" e medo, onde
A numeração correta dos fatos, de cima para baixo, é: a "hipocrisia, o conformismo e a mediocridade" impu-
a) 1 – 5 – 3 – 4 – 2 nham-se de forma rápida e, "quase completamente".

b) 2 – 4 – 3 – 5 – 1 Essas particularidades da história dos EUA estão inseri-


das no contexto da:
c) 2 – 5 – 3 – 4 – 1
A Segunda Guerra Mundial
d) 3 – 4 – 1 – 2 – 3
B Guerra do Vietnã
e) 3 – 4 – 2 – 5 – 1
C Revolução Cubana
10| PUC Considerando o contexto internacional da segun- D Guerra Fria
da metade da década de 1930, é correto afirmar que a
E Guerra das Malvinas
charge abaixo reproduzida se refere, com ironia,
12| UFLA É histórica a aproximação ideológica entre Áustria
e Alemanha. Esse fato pode ser observado no contex-
to sócio-político europeu mais recente, como também
no contexto político que antecedeu à II Guerra Mundial,
nas relações que se deram entre a Áustria e o III Reich
naquele momento. Exemplo desse fato foi
A a realização do “Anchulus” por Adolf Hitler, por deci-
são de plebiscito.
B o incêndio do ReichTag Alemão.
C a criação da chamada “Linha Maginot”.
D a ocorrência da “questão balcânica”.
E o atentado ao arquiduque Francisco Ferdinando.

13| UFLA O mapa abaixo demonstra um momento específi-


co da II Guerra Mundial (1939-1945).
Frente final que
daria origem à
“corna de ferro”
Ofensivas
Soviécas Moscou
Berlim
A ao acordo de cooperação militar germano-soviético, Ofensivas
Aliadas
(Maio de 1945)

pelo qual as diferenças ideológicas eram superadas Paris


pelos interesses dos complexos industriais. Oceano
Viena
A
Atlânco Mar Negro
B ao fortalecimento da Sociedade das Nações, que era
instrumentalizada pelas potências com ideologias
antagônicas para reprimir os países não-industriali- Mar Mediterrâneo

zados.

248
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente B
Assinale a alternativa que o analisa CORRETAMENTE: A ao chamado holocausto do povo palestino.
A Trata-se do final do conflito na Europa, caracteriza- B ao chamado holocausto do povo judeu.
do pela rendição italiana em 1943 e pelo desembar- C à Primeira Guerra Mundial e à política de Anschluss.
que aliado na Normandia em 1944. D à Segunda Guerra Mundial e à política de Anschluss.
B Demonstra a última ofensiva nazista na Europa Ociden- E ao terror retratado pelo palestino Levi ao ver seu
tal, frustrada pelo desembarque aliado na Normandia. povo sendo dominado pelos ingleses.
C Explicita os acordos de áreas de influência, definidos
depois da Conferência de Teerã em 1943 e finalmen- 17| UEL A Segunda Guerra Mundial ocorreu entre 1939–1945.
te ratificados pelo encontro de Yalta em 1945.
Sobre o tema assinale a alternativa INCORRETA:
D Demonstra a ofensiva militar aliada no Pacífico.
A Não teve a participação da Suécia e Portugal, assim
E Demonstra a última ofensiva italiana na Europa Oci-
como a Suíça, cujas neutralidades foram respeitadas
dental, antes de sua rendição aos aliados em 1943.
pelos beligerantes.
14| UFMG Observe a charge. B A invasão alemã da Rússia, denominada “Operação
Barbarossa”, fez com que esse país tivesse o maior
número de mortos no conflito, em torno de 20 mi-
lhões de pessoas.
C Quando o Brasil entrou no conflito, internamente
existia o modelo político direitista chamado Estado
Novo.
D Quando Estados Unidos e Japão chocaram-se mili-
tarmente, houve a mundialização do conflito.
E Ao final da luta, irrompeu em todo o mundo a doen-
ça conhecida como “Gripe Espanhola”, responsável
pela morte de milhões de pessoas.

18| PUC Leia atentamente:


Todas as alternativas apresentam momentos signifi- “No caso de Hiroshima, trata-se da catástrofe mais con-
cativos da 2ª Guerra Mundial indicados pela charge, centrada que já se abateu sobre os homens. Numa passa-
EXCETO:
gem de seu diário, o dr. Hachiya [que testemunhou o fato]
A A entrada dos Estados Unidos na guerra em 1942. pensa em Pompéia. Mas nem mesmo esta oferece termo
B A derrota das forças alemãs em Stanligrado em 1943. de comparação. Sobre Hiroshima se abateu uma catás-
C A invasão da Iugoslávia, da Grécia e da Rússia em 1941. trofe que foi planejada e executada com a maior precisão
por seres humanos. A ‘natureza’ está fora do jogo.”
D A ocupação da Tchecoslováquia e a anexação da Al- Canetti, Elias. A Consciência das Palavras.
bânia em 1944. SP: Companhia das Letras, 1990.

O texto refere-se à explosão atômica:


15| UEL O Brasil participou da 2ª Guerra Mundial, tendo a
FEB - Força Expedicionária Brasileira, obtido sua maior A Com a qual os EUA conseguiram a capitulação dos
vitória, pelo valor estratégico, em solo italiano, no com- japoneses, último núcleo de resistência do Eixo, ao
bate de: fim do conflito mundial ocorrido entre 1939-45.
A Montese. B Que funcionou como demonstração do poder mili-
B Belvedere. tar americano, para intimidar a China que havia ade-
rido ao bloco comunista no fim da Segunda Guerra.
C Monte Castelo.
D Camaiore. C Cujo objetivo foi colocar fim ao conflito dos EUA com
o Vietnã, onde os guerrilheiros locais impunham der-
E Castel Nuovo.
rotas sistemáticas aos soldados americanos.
16| FATEC Até setembro de 1944, não existiam crianças em D Que resultou de acidente aéreo envolvendo caças
Auschwitz: eram todas mortas a gás na chegada. De- americanos e soviéticos, quando realizavam operações
pois dessa data, começaram a chegar famílias inteiras conjuntas com arsenal nuclear no Oceano Pacífico.
de poloneses: todos eles foram tatuados, inclusive os
recém-nascidos. E Resultante do bombardeio promovido pelos EUA,
(Primo Levi, Os afogados e os sobreviventes.)
durante o Segundo Conflito Mundial, a Pearl Har-
bour, base militar japonesa onde era desenvolvida a
O texto acima refere-se bomba de hidrogênio.

249
C CLIMATOLOGIA

HIDROGRAFIA
A palavra hidrologia está relacionada com o estudo da água, sua origem, sua distribuição, seus estados físicos da matéria,
seu comportamento, sua importância, sua influência no meio físico natural e na sociedade, seus principais usos e à contamina-
ção dos recursos hídricos.
A teoria que defende que toda a água
do nosso planeta era de origem extrater-
restre, que a cerca de 4,5 bilhões de anos,
quando a terra estava se formando, ela
foi bombardeada por meteoros e meteo-
ritos que colidiram antes da solidificação
da crosta terrestre e que esses corpos
trouxeram toda água existente no nosso
planeta além de micro-organismos que
deram origem à vida, foi enfraquecida.
Isso ocorreu por conta de dados co-
lhidos na missão Rosetta do cometa 67P/
Churyumov-Gerasimenko que passou
pela Terra, por conta de substâncias pre-
sentes na água do cometa, ele possui mais
Deutério1 cerca de 0,053%, enquanto os
padrões encontrados no nosso planeta é
de 0,017% a diferença parece pequena,
mas tal diferença colocou em “xeque” a Desgaseificação da água da crosta terrestre em área geotérmica, no Parque Nacional de
Geysir, Islândia.
origem extraterrestre da água, colocando
mais um ponto de interrogação na origem desse recurso tão importante. O que podemos afirmar é que vinda do espaço ou
não, no nosso planeta a origem da água ocorre por meio de “desgaseificação”, ou seja, liberação de gás de materiais líquidos ou
sólidos. Tal processo iniciou com o resfriamento da crosta do planeta e atua até hoje!

DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS NO PLANETA


A distribuição de água no planeta é extremamente irregular. Quase uma totalidade do recurso é considerada água salgada
(devido à grande quantidade de íons)e está presente nos oceanos (forma líquida). A água dita doce (com uma presença bem
menor de íons) é encontrada de várias formas: geleiras (sólido), na superfície de maneira geral- rios e lagos (líquida), no subsolo
- lençóis freáticos e aquíferos (líquida) e na atmosfera (gasosa).

DISTRIBUIÇÃO DE ÁGUA NO PLANETA


2,5%

Distribuição de água
doce no planeta
2,5%

Água Salgada
Geleiras Água subterrânea Atmosfera e
Água doce
super cie
69,5% 30,1% 0,4%
97,5%

1 O deutério é um dos isótopos estáveis do hidrogênio (símbolo ²H).

250
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente C
ESTADOS LÍQUIDOS DA ÁGUA
A água é encontrada no nosso planeta graças à gravidade. No entanto, ela é encontrada nos três estados físicos da matéria
(sólido, líquido e gasoso). É importante ressaltar que a distribuição latitudinal da água no globo é fundamental para determinar
o estado físico. A mudança do estado físico ocorre com a variação de pressão e de temperatura.

MUDANÇAS DE ESTADO FÍSICO


Aumento de temperatura e de pressão
fusão vaporização

solidificação liquefação
(condensação)

sublimação
Redução de temperatura e de pressão

CICLO HIDROGEOLÓGICO

251
SISTEMA DE ENSINO A360°

Aqui há toda a formação geológica com capacidade de armazenamento de água no país. O Brasil possui uma capacidade
de armazenamento de água subterrânea. Temos a presença no nosso território de aquíferos, os dois maiores são: o Guarani e
o Alter do Chão.

AP
AQUÍFERO
ALTER DO CHÃO

AM PA

BRASIL

AQUÍFERO
GUARANI
PARAGUAI

ARGENTINA
URUGUAI

Como dizia o poeta Ovídio (43-17 a.C) “Poucos rios surgem de grandes nascentes, mas muitos crescem recolhendo filetes
de água.” A grande maioria dos rios “nascem” em filetes de água, em regiões com altimetria maior que em todo o seu curso. Se
a origem da nascente for exclusivamente do regime de chuva esse rio é chamado de pluvial. Se a origem for exclusivamente de
neve é chamado de nival. Caso esse rio tenha sua nascente associada exclusivamente ao derretimento de geleiras é chamado
de glacial.
Caso o rio tenha mais de uma origem ele é chamado de misto ou complexo. Uma nomenclatura bastante usada como
referencial é montante e jusante. Montante significa lugar acima. Estou na montante do rio no alto curso dele, ou próximo à
nascente, já a jusante é quando estou no baixo curso do rio ou próximo da foz. A região de maior profundidade do rio é cha-
mada de Talvegue.

Cabeceira

Nascimento
Afluentes
Reservatório
Encurvamento Cachoeiras
Meandro
abalndonado

Meandros
alto
Foz Curso

mé dio
Curso
Delta
baixo
Curso

http://professoralexeinowatzki.webnode.com.br/hidrologia/aguas-superficiais-rios-/

252
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente C
Os rios possuem canais fluviais de acordo com a configuração de relevo, clima e solo no qual eles se encontram, sobretudo
o relevo.

Re líneo

Meandrante

Anastomosado

Barros

Entrelaçado
http://aquafluxus.com.br/?p=4899

Quanto mais acentuado ou maior a altimentria do relevo no qual o rio está, maior vai ser a energia potencial gravitacional.
Isso faz com que sua energia cinética seja alta do momento em que há o deslocamento de água no canal do rio, portanto esse
rio será mais retilíneo.

Os canais meandrantes são formados em regiões mais planas, nas quais se tem pouca energia potencial gravitacional, por-
tanto a energia cinética é menor, o que faz com que o escoamento das águas seja sinuoso.

253
SISTEMA DE ENSINO A360°

Canal Anastomosado são rios de canais múltiplos. Esse tipo de rio é comum em regiões de morros e colinas. Nessa catego-
ria,os canais se dividem e se entrelaçam, constituindo um rio sem canal principal.

http://aquafluxus.com.br/?p=4899

Rios perenes são rios que mesmo no período de seca não secam. Já os intermitentes ou temporários, são rios que durante
o período de estiagem acabam secando.

BACIAS HIDROGRÁFICAS
Rede de drenagem são canais conectados (rios afluentes) a um canal principal ou rio principal. O interflúvio - região mais
alta de um relevo serve como um divisor de água de uma bacia hidrográfica.
Nascente
Afluente
da margem
direita
Afluente da
margem
esquerda

Oceano Rio
principal

Foz

Toda extensão territorial de influência física natural no entorno do rio principal e seus afluentes é chamada de bacia hidro-
gráfica.

254
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente C
O território brasileiro é privilegiado devido à sua riqueza em recursos hídricos, possuindo a maior bacia hidrográfica do
mundo, a macro bacia hidrográfica amazônica. Além dessa bacia, o Brasil possui oito macro bacias hidrográficas.

Hidr. de Bacias Hidrográficas


Balbina
Hidr. de

ranco

Rio
Tucuruí

Rio U
Ilha de Equador

Tro
Rio Negro

Rio B
Marajó

mb
Rio Japurá

atum
Rio Amazonas

eta
s
ã
Rio Solimões
aja
ú Hidr. de

u
vari

ajó

a
Rio Ja Gr Xingó

Rio Xing

naíb
Rio

p
Ta

Par
R io
Jur

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be
s

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R io

ru
Hidr. de

Rio

guari
Pu

uaia
o
o
Sobradinho

Ri
Ri

Rio Ja
g
R io

Ara

Rio Tocan
Tel

Rio
es
Ilha do Hidr. de

Pir
Rio
Bananal

e
Rio Paraguaçu Paulo Afonso

Gu

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Rio das Conta

Fra
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Hidr. de nha
Três Marias nho

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OCEANO

al
Rio

Paraguai
Rio Gra

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Doce

an
nde

Pa
ATLÂNTICO

nt

io
Pa

á R
R io
Rio Tie raíba
Pa tê Rio Pa l

an
ra na do Su

ar
pa

oP
nem
pricórnio Hidr.
Ri
Trópico de Ca a
de Itaipu Rio Iguaçu Bacia Amazônica
Cataratas Bacia do Toca ns-Araguaia
do Iguaçu Bacia do São Francisco
OCEANO
i
ua

Bacia do Paraná
ug

Rio Jacuí
PACÍFICO
Ur

Bacia do Paraguai
o
Ri

Bacia do Uruguai
N Bacia do Sudeste
Bacias
Bacia do Leste secundárias
Escala Bacia do Nordeste
0 370 km

A bacia hidrográfica Amazônica drena 56% do território brasileiro e é delimitada pelas Cordilheiras dos Andes, pelos planal-
tos das Guianas e Central. Tem sua nascente no Peru ao entrar no território brasileiro, sendo lá chamada de Solimões até en-
contrar com o rio Negro, a partir daí é chamado de rio Amazonas. A grande maioria dos seus afluentes é oriunda dos planaltos,
portanto possui uma capacidade de geração de energia muito grande, tal como as usinas de Jirau, Usina Santo Antônio do rio
Madeira e a Usina de São Luiz de Tapajós.

A bacia hidrográfica Tocantins- Araguaia, drena cerca de 11% do território brasileiro. Nessa bacia está a maior ilha fluvial do
mundo, a ilha do Bananal, no sudoeste do estado do Tocantins. Os rios navegáveis da bacia são usados para o escoamento dos
grãos produzidos. No que se refere ao setor de geração de energia, a bacia possui a usina de Tucuruí no Pará.

255
SISTEMA DE ENSINO A360°

A bacia hidrográfica do rio São Francisco drena cerca de 7,5% do território. Há a presença de muitos rios intermitentes e
utilização dos rios para irrigação.
Na bacia hidrográfica do Paraná, com altíssimo potencial energético há mais de 16 usinas hidrelétricas, com destaque para
a usina de Itaipu que é a segunda maior do mundo. Ela está localizada no rio Paraná divisa com o Brasil e Paraguai e foi constru-
ída pelos dois países entre os anos de 1975 a 1982.

Usina hidrelétrica de Itaipu.

A bacia hidrográfica do Paraguai é a grande responsável pelo abastecimento de cheias do bioma pantanal. Um grave pro-
blema ambiental que afeta a bacia hidrográfica, é o assoreamento resultante do desmatamento do bioma cerrado, localizado
no planalto central, interflúvio da bacia.
A bacia do rio Parnaíba drena 3,9% do território brasileiro e é a segunda mais importante do nordeste. É uma bacia de
pequena vazão e de rios intermitentes.

DESPERDÍCIO E A CONTAMINAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS


O desperdício de água é um dos pro-
blemas socioambientais gravíssimos, pois
água é um recurso fundamental para o ser
humano. É preciso observar que os setores
que consomem mais água no Brasil são agri-
cultura 70%; indústria com 22% e o consu-
mo humano residencial 6%. Um simpósio
do dia mundial da águano dia 23 de março
2015, na cidade de Curitiba- Paraná levan-
tou a discussão sobre quais são os maiores
problemas de desperdício de água. Foram
apontados equipamentos mal regulados e
falta de planejamento no campo. Foi des-
crito a cada 100 litros de água usados para
irrigar plantações, 40 são jogados fora. Na
indústria de alimentos as perdas chegam a
20%, agravadas por equipamentos antigos
e leis ultrapassadas. Nas residências além
de equipamentos mal regulados, ainda há a
falta de consciência. http://geoquimicaatividadec.blogspot.com.br/

256
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente C
Apesar das leis ambientais existentes no país, a contaminação dos recursos hídricos é algo tido como “natural” nos grandes
centros urbanos. A situação é extremamente crítica, pois ela coloca em xeque a biodiversidade aquática e diminui a quantidade
de água potável disponível para o consumo.

ESTRESSE HÍDRICO
É caracterizado como estresse hídrico quando o número de habitantes (demanda) é maior que a oferta do recurso. Vários
lugares do planeta estão passando por essa situação hídrica. A falta de acesso à água potável deixa os países mais pobres ou mar-
cados por histórico de conflitos militares, instabilidades políticas e sociais, como no caso dos países do Oriente Médio e África.

RECURSOS HÍDRICOS RENOVÁVEIS


(em m3 por hab/ano)

De 0 a 1000 De 4000 a 30000

De 1000 a 4000 Acima de 30000


Países que u lizam Sem dados
mais de 50% de
seus recursos

PARTE DA POPULAÇÃO COM ACESSO


À ÁGUA SALUBRE
De 0 a 50% Acima de 90%
De 50 a 90% Sem dados

Principais conflitos relacionados à água

A situação de estresse hídrico no Brasil, sempre foi recorrente na região nordeste do país. No entanto, nos anos de 2014 e
2015 a situação foi vivida na região sudeste. O principal sistema de abastecimento da maior cidade do país chegou a utilizar o
volume considerado morto, devido aos baixos níveis das represas do sistema Cantareira no estado de São Paulo. A população
começou um racionamento de água, sendo abastecida com o recurso uma ou duas vezes por semana em algumas regiões do
estado.

Tal situação chegou a esse nível em grande parte, por falta de planejamento governamental.

257
SISTEMA DE ENSINO A360°

TEXTO COMPLEMENTAR

ISRAEL BUSCA DESSALINIZAR TODA SUA ÁGUA POTÁVEL


Por volta de 2020 toda a água potável de Israel será proveniente de dessalinização, essa foi uma das principais revela-
ções do coordenador de relações internacionais do Serviço Meteorológico de Israel (IMS) Giora Gershtein, que palestrou
no dia 02 de outubro no auditório da Embrapa Solos (Rio de Janeiro-RJ). Gershtein, que está em viagem particular pelo
Brasil, ministrou um curso para o pesquisador da Embrapa Solos Luciano Accioly em 2009, daí sua visita ao nosso centro
de pesquisa.
"60% do território de Israel está em
área de deserto, o que nos torna muito de-
pendentes da irrigação. Apesar de sermos
um país pequeno, possuímos oito zonas
climáticas e topografia complexa", disse o
cientista.
Devido às condições peculiares da
região, o tema água dominou a palestra.
Dos tempos bíblicos para os dias de hoje,
o consumo do recurso passou de seis litros
por dia por habitante, para 140. "Nossa
água vem de três fontes: a chuva, o Mar
da Galileia e três aquíferos. Todas passam
por dificuldades, a precipitação diminui e
os aquíferos sofrem com a contaminação
por fertilizantes", contou. Além da dessa-
linização, outras medidas também são to-
madas, por exemplo, 70% da água utilizada http://revistaplaneta.terra.com.br/secao/meio-ambiente/mar-doce

nas cidades é reaproveitada.


Sobre a agricultura no país, que tem que alimentar oito milhões de pessoas, Gershtein contou que é altamente tecni-
ficada, utilizando o mínimo de água. Israel tem um território pequeno e seus fazendeiros têm que competir com a Europa.
"Só 3% da nossa população trabalha no campo", disse. A religião também influencia. "Por motivos religiosos, a cada sete
anos o produtor rural deve abandonar a terra, para ela se renovar. Nem todos ainda seguem esse preceito, mas alguns
consumidores ortodoxos só compram dos que seguem essa diretriz".
https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/2114869/israel-busca-dessalinizar-toda-sua-agua-potavel

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UNESP A figura representa o ciclo hidrológico. Descreva o ciclo hidrológico a partir da precipitação, in-
Circulação atmosférica Energia solar: dicando a energia que o move, e aponte as diferenças
calor entre o ciclo hidrológico lento e o rápido.
Vapor de água

Gases vulcânicos + Resolução:


CO2 + H2O Precipitação
meteórica As principais etapas do ciclo hidrológico são:
Neve
Chuva 1. Precipitação atmosférica ou meteórica: chuvas,
Infiltração
Nível horizontal
da água
neve, granizo.
Lago 2. Evapotranspiração – evaporação direta causada
Água Oceano pela radiação solar e pelo vento e também pela
sa gua ce

subterrânea
transpiração da vegetação.
Á do

da

Litosfera Fluidos
ua

Água hidrotermais
lga

Água em rochas
ág

do mar
3. Infi ltração da água no solo e escoamento superfi cial
ce

metamórficas
rfa

e ígneas
te

da água.
In

Astenosfera Ciclo hidrológico lento: dinâmica interna


Ciclo hidrológico rápido: dinâmica externa 4. Evaporação das águas dos oceanos, que contribuem
(Ivo Karmann. Decifrando a Terra, 2010. Adaptado.) com 85% do total anual evaporado.

258
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente C
A energia solar é a responsável pelo ciclo da dinâmica O mapa acima destaca seis importantes bacias hidro-
externa. gráficas do mundo.
Quanto à diferença entre os ciclos rápido e lento, ob-
serva-se que a água do ciclo lento se refere a que está A Identifique a bacia localizada no hemisfério seten-
contida nas camadas mais profundas das rochas (me- trional, densamente povoada e cuja população se
tamórficas e ígneas) subindo para a atmosfera por dedica, majoritariamente, às atividades do setor
meio de fluidos hidrotermais ou gases vulcânicos (com primário.
participação do CO2). Já no ciclo rápido, a água circula
nas partes superficiais da rocha, geralmente solo, enca- B Explique a importância da bacia Amazônica para a
minhando-se rapidamente para as águas superficiais e economia da Região Norte do Brasil.
para a vegetação, evaporando (ou evapotranspirando),
por intermédio da energia solar, que é o processo básico Resolução:
para pôr em movimento o mecanismo.
A Das bacias apresentadas no mapa, a que possui es-
sas características é a bacia do Ganges.
02| UFRJ Bacia hidrográfica, ou bacia de drenagem, é uma
“área da superfície terrestre definida topograficamente B A importância econômica da Bacia Amazônica para
por um rio principal e seus tributários que drena água, se- a Região Norte é que seus rios constituem via histó-
dimentos e materiais dissolvidos para uma saída comum.” rica de penetração e de ocupação das terras; via de
(Adaptado de Ana Luisa Coelho Netto, 2001) circulação de bens e pessoas, via de escoamento das
riquezas naturais; via de transporte de mercadorias
(grãos, minérios, etc.) para os mercados externos à
região; fonte de água para o consumo e produção
de energia elétrica; fonte de alimentos e recursos
para as populações ribeirinhas.

Mississipi Danúbio

Ganges

Amazonas Congo

Paraná-Paraguai

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UFC Os rios são correntes naturais de água doce, Brasil - Uso dos Recursos Hídricos
com canais definidos e fluxos perenes ou intermi-
tentes que desembocam nos oceanos, lagos ou em
outros rios. Nessa condição, os rios realizam ações
de transformação das paisagens e têm grande im- Consumo Urbano
portância social. Captação

A Cite os processos associados aos rios a partir dos


quais ocorre a transformação das paisagens natu-
rais. 1980 1990 1996 2000

B Aponte três situações de uso dos rios pela sociedade. Países da OCDE - Uso dos Recursos Hídricos
C Aponte a maior e mais importante bacia hidrográfi-
ca do Ceará e nomeie os dois maiores açudes nela
localizados.
Consumo Urbano
c.I. Bacia hidrográfica: Captação

c.II. Maiores açudes nela localizados:


1980
02| UFRJ Observe os gráficos a seguir: 1990 1996 2000

259
SISTEMA DE ENSINO A360°

Explique a diferença entre o padrão brasileiro de uso dos O problema da escassez de água para consumo humano
recursos hídricos e o dos países membros da OCDE, con- tem motivado avaliações quasesempre pessimistas. A es-
siderando a relação entre o consumo urbano e a capta- cassez da água pode provocar muitos conflitos que podem
ção de água bruta. ocorrer ao longo do século XXI. Tendo em vista o exposto,
A identifique o continente que tem maiores proble-
03| FUVEST Considere os mapas abaixo e seus conhecimen- mas de escassez hídrica no mundo;
tos para responder.
B apresente uma consequência decorrente da escas-
USO DA ÁGUA EM RELAÇÃO AO TOTAL DISPONÍVEL sez de água potável em várias cidades dospaíses em
Mapa A - 1995 desenvolvimento.

05| UEL Leia o texto e as figuras a seguir.


O conhecimento da geografia contribui para que a socie-
dade tenha uma melhor compreensão dos problemas
ambientais. A falta d’água no Sistema Cantareira do esta-
do de São Paulo é um exemplo destes problemas. O Sis-
tema Cantareira é um dos maiores sistemas fornecedores
de água potável do mundo, com padrões de qualidade su-
periores aos exigidos pela Organização Mundial da Saúde
(OMS). Abastece cerca de 55% da Região Metropolitana
Mapa B - 2025
do Estado de São Paulo, 9 milhões de pessoas, nas zonas
Norte, Central, partes das zonas Leste e Oeste da capi-
tal, além dos municípios de Franco da Rocha, Francisco
Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuiba e São Caetano do
Sul, parte dos municípios de Guarulhos, Barueri, Taboão
da Serra e Santo André. As seis represas que compõem
o sistema estão em diferentes níveis de altitude, interli-
gadas por 48 km de túneis para aproveitar os desníveis
do terreno acumulando água por gravidade. Para chegar
à estação de tratamento, a água é bombeada a 120 m de
altura para ser tratada e distribuída. A geografia utiliza da-
3300 km
dos coletados em visitas locais e estudos em gabinetes,
LEGENDA mapas, gráficos e outras representações, em busca de so-
Acima de 40% 40% - 20% luções que visem amenizar os impactos ambientais.
20% - 10% Inferior a 10% Sistema Cantareira Represa
Águas Claras
Fonte:
Fonte:WMO,
WMO,1996;
1996;GEO,
GEO,2000;
2000;UNEP,
UNEP,1999.
1999.Adaptado.
Adaptado. Represas Represa ETA Guaraú
Jaguari e Jacareí Cachoeira Represa
A Compare o uso da água em relação ao total disponí- Abainha Túnel 1 Túnel 2
Represa
Paiva
vel do Brasil ao de países de clima temperado oceâ- Túnel 7
Castro

nico na Europa, considerando o Mapa A. Justifique Túnel 6

sua resposta. Túnel 5


Túnel 3
B Analise o Mapa B, considerando o uso da água em
relação ao total disponível, para os EUA. Explique, Volume Média
Pluviometria Pluviometria
identificando, ao menos, duas razões. 2014 armazenado
do dia mm no mês mm
histórica do
% mês mm
Janeiro 23,4 1,9 87,3 259,9
04| UFG Leia o texto a seguir.
Fevereiro 16,9 6,2 60,7 202,6
A existência ou não de água potável e de saneamento Março 14,3 0,1 181,6 184,1
básico pode promover ou, pelo contrário, impedir o de- Abril 11,4 0,1 85,6 89,3
senvolvimento humano. [...]. O acesso à água não cons- Maio 25,6 0,5 31,6 83,2
titui somente um direito humano fundamental e um Junho 21,5 0,1 15,5 56,0
importante indicador do progresso dos povos. Também (Adaptado de: <http://www2.sabesp.com.br/mananciais/
constitui a base a outros direitos humanos e é condição DivulgacaoSiteSabesp.aspx>. Acesso em: 26 jul. 2014.)

necessária para que se atinjam metas de desenvolvi- Com base no texto e nas figuras, explique a falta de água
mento humano mais exigentes. no Sistema Cantareira e descreva dois componentes ge-
Relatório do Desenvolvimento Humano. ONU, 2006, p. 27.
ográficos que influenciam nesse problema.

260
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente C
06| UEL Analise o mapa, a foto e leia os textos a seguir. Após estiagem de 20 horas, volta a chover em Londrina
Até as 15 horas de quarta, já choveu 264,6 milímetros na
cidade.
O número é mais de três vezes maior que a média pre-
vista para todo o mês de junho, de 87 milímetros.
(Jornal de Londrina, 21 jun. 2012, ano 23, n.7172.)

07| UFTM Analise os dados.


Regiões hidrográficas brasileiras segundo área, popula-
ção e disponibilidade hídrica, 2010

Disponi-
área população
Região hidrográfica bilidade
(%) (%)
hídrica (%)
1-Amazônica 45,1 4,9 81,0
2-Tocantins -
10,9 4,3 6,0
Araguaia
3-Parnaíba 4,0 2,1 0,4
4-São Francisco 7,5 7,4 2,1
(Adaptado de: <http://www.portalsaofrancisco.com

.br/alfa/baciashidrográficas/ imagens/bacia-hidrografica-2jpg>. Acesso em: 7 set. 2012.) 5-Paraguai 4,4 1,1 0,9
A O Brasil apresenta um cenário hídrico privilegiado. 6-Paraná 10,1 32,7 6,4
Dispõe de um dos maiores complexos hidrográ- 7-Uruguai 2,1 2,1 0,6
ficos superficiais, com aproximadamente 8% de 8-Atlântico
toda água doce que está na superfície do planeta, 3,5 12,5 0,1
Nordeste Oriental
e subterrâneos, como os aquíferos Guarani e Alter
do Chão, conforme o mapa ao lado. Possui a maior 9-Atlântico
3,1 3,1 0,3
bacia fluvial do mundo, a Amazônica. Somente o Nordeste Ocidental
rio Amazonas deságua no mar um quinto de toda 10-Atlântico Leste 4,5 8,1 0,3
a água doce que é despejada nos oceanos; apesar 11-Atlântico
da abundância desse recurso natural no cenário 2,5 14,7 1,2
Sudeste
hídrico brasileiro, os órgãos governamentais e não
governamentais têm intensificado sua preocupação 12-Atântico Sul 2,3 7,0 0,7
com relação à sua qualidade e quantidade. Apon-
te três motivos dessa preocupação e enumere três
ações que poderiam ser implantadas para assegu-
rar a qualidade e a quantidade da água destinada
ao abastecimento da sociedade e dos ecossistemas
1 9
naturais. 8
3
B A foto e a manchete do jornal, a seguir, apresentam 2
a ocorrência de enchentes nos últimos anos em Lon-
drina.Cite três alterações ambientais causadas pelo 4 10
processo de urbanização sobre o solo de uma bacia
hidrográfica. 5
6
11

7 12

(Disponível em: <http://molinacuritiba.blogspot.com.

br/2011/10/pior-enchente-ocorrida-em-londrina.html>. Acesso em: 21 jun. 2012.) (www.ana.gov.br. Adaptado.)

261
SISTEMA DE ENSINO A360°

A a partir dos dados apresentados, faça um contra- armazenamento da maior parte da água doce disponí-
ponto entre a região hidrográfica brasileira com vel para o consumo humano. No Estado de São Paulo,
maior disponibilidade hídrica e a região hidrográfica por exemplo, os aquíferos têm importância significativa,
com maior população. pois abastecem quase metade do território estadual.
(Adaptado de As águas subterrâneas do Estado de São Paulo.
B considerando conhecimentos geográficos sobre o Governo do Estado de São Paulo, Secretaria do Meio Ambiente.
uso dos recursos hídricos no território brasileiro, São Paulo: Instituto Geológico, 2012, p. 5.)
indique duas regiões hidrográficas onde a pressão
sobre os recursos hídricos seja muito elevada, apon- A O que é um aquífero e qual o seu processo natural
tando dois fatores que justifiquem essa pressão. de formação?

08| UNICAMP A água utilizada para os mais diversos fins B Explique como as águas superficiais (rios, lagos, la-
não provém apenas dos reservatórios aquáticos que se goas, etc.) relacionam-se com as águas dos aquífe-
podem ver (rios, lagos, lagoas, etc.), mas também fazem ros e aponte um tipo de atividade econômica que
parte dos recursos hídricos os aquíferos, importantes faz intenso uso das águas do Aquífero Guarani, es-
reservatórios subterrâneos que são responsáveis pelo pecialmente nos períodos de estiagem.

T ENEM E VESTIBULARES
01| ENEM Os dois principais rios que alimentavam o Mar A impedir a perfuração de poços.
de Aral, Amurdarya e Sydarya, mantiveram o nível e o
B coibir o uso pelo setor residencial.
volume do mar por muitos séculos. Entretanto, o pro-
jeto de estabelecer e expandir a produção de algodão C substituir as leis ambientais vigentes.
irrigado aumentou a dependência de várias repúblicas
D reduzir o contingente populacional na área.
da Ásia Central da irrigação e monocultura. O aumento
da demanda resultou no desvio crescente de água para E introduzir a gestão participativa entre os municí-
a irrigação, acarretando redução drástica do volume de pios.
tributários do Mar de Aral. Foi criado na Ásia Central um
novo deserto, com mais de 5 milhões de hectares, como 03| ESPM Observe o texto e os mapas que seguem: Respon-
resultado da redução em volume. sável por 12% das reservas de água doce disponíveis no
TUNDISI, J. G. Água no século XXI: enfrentando a escassez. São Carlos: Rima, 2003. mundo, o Brasil possui oito principais bacias hidrográ-
A intensa interferência humana na região descrita provo- ficas, distribuídas desigualmente em seu território. En-
cou o surgimento de uma área desértica em decorrência da quanto 70% do volume da água brasileira se concentra
na ______________, um volume inferior a 5% das reser-
A erosão.
vas estão na região Nordeste do País. Tal divisão dificulta
B salinização. o acesso nacional à água tratada e exige ainda mais de
C laterização. cada estado nos cuidados com o recurso natural.
Fonte: Governo Federal, 2009.
D compactação.
E sedimentação.

02| ENEM
VENEZUELA SURINAME GUIANA FRANCESA
COLÔMBIA GUIANA
RR AP
• A extensão super cial do Aquífero alter do Chão é
menor a do Guarani, mas maior volume de água
• Dados preliminares apontam um volume de água
AM
AQUÍFERO ALTER DO CHÃO A C E
superior a 86 mil km3 no Aquífero Alter do Chão. PA MA CE
A capacidade do Aquífero Guarani gira em torno de RN
3
45 mil Km . BRASIL PI
PB
PE
AC TO AL
RO SE
MT BA

Disponível em: http://sys2.sbgf.org.br.


Acesso em: 13 maio 2013 (adaptado).

A preservação da sustentabilidade do recurso natural


exposto pressupõe B D

262
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente C
A bacia hidrográfica que preenche o espaço no texto Essa notícia permite concluir que
está representada pela letra:
A o rio São Francisco encontra-se no momento da va-
A A zante, pois se trata de um rio em uma área tropical
marcado por uma estação chuvosa e por uma esta-
B B
ção seca.
C C
B mesmo que a estiagem esteja se estendendo, o
D D principal fator da crise do rio São Francisco nesse
momento é o armazenamento de água em suas re-
E E
presas, sendo, portanto, uma causa humana.
04| UEFS Com relação às bacias fluviais brasileiras e sua uti- C o projeto de transposição de águas no rio São Fran-
lização econômica, é correto afirmar: cisco pode ser realmente útil nesse momento, pois
A A bacia hidrográfica do Amazonas, a maior do mun- esta é uma maneira de trazer para o rio águas de
do, está localizada em ampla região de planaltos, outras localidades.
possui mais de 30 000km de rios navegáveis, com D o fato de a nascente do rio São Francisco estar seca
destaque para a hidrovia do rio Xingu, que liga Porto nesse momento vai afetar toda a área da bacia des-
Velho a Manaus. se rio, pois, por maior que um rio seja, sua fonte
B A bacia do Parnaíba é a região hídrica mais impor- principal de água é sua nascente.
tante do Nordeste Oriental, concentrando grande E com a nascente seca, o rio São Francisco só conse-
atividade agroindustrial no seu baixo curso. gue se manter como rio perene graças à água arma-
C A bacia hidrográfica do São Francisco domina am- zenada nos vários represamentos, caso contrário ele
plas áreas do Estado de Minas Gerais e de vários es- já seria um rio temporário.
tados nordestinos, sobressaindo-se economicamen-
06| UEL Observe a figura a seguir:
te com a moderna hidrovia Pirapora Xique-Xique.
D A bacia do rio Paraguai compreende terras do Brasil Bahia
e demais países platinos, percorre um imenso pla- Minas Gerais
Gerais
Goiás
nalto e detém grande aproveitamento hidrelétrico.
0 metros
metr
1 Sedimento São Paulo
Paulo 3
Aquí ro Bauru
Aquífe
400 metros
metr
E O rio Paraná nasce da junção dos rios Paranaíba e Depósito de Basalto
(lava dura)
Grande, abrange uma das áreas com o maior desen-
1000 metros
metr Aqu
ífer ní
2
o ara
Gu
volvimento econômico do país, com destaque para
seu aproveitamento hídrico. 4

05| UNICESUMAR Veja esta manchete e observe a imagem:


ESTIAGEM 24/09/2014 (Adpatado de: <http://www.daaeararaquara.com.br/guarani.htm> Acesso em: 22 set. 2009.)

Nascente do rio São Francisco está seca pela primeira vez O termo aquífero Guarani foi proposto em maio de 1996,
(In O POVO online, http://www.opovo.com.br/app/opovo/ brasil/ 2014/09/24/ numa reunião de pesquisadores de universidades de vá-
noticiasjornalbrasil,3319509/ nascente-do-rio-sao-francisco-esta-seca-pela-primeiravez. rios países, em Curitiba, como uma forma de unificar a
shtml, acesso 12/10/2014)
nomenclatura de um sistema aquífero comum a todos
eles, e em homenagem à nação dos índios guaranis, que
habitavam a área de sua abrangência.
Sobre esse aquífero, considere as afirmativas a seguir:
I. As rochas do Guarani constituem-se de um pacote
de camadas arenosas depositadas na bacia geoló-
gica do Paraná, entre 245 e 144 milhões de anos. A
espessura das camadas varia de 50 a800 metros, es-
tando situadas em profundidades que podem atin-
gir até 1800 metros. Em decorrência do gradiente
geotérmico, as águas do aquífero podem alcançar
temperaturas relativamente elevadas, em geral en-
tre 50 e 85°C.

263
SISTEMA DE ENSINO A360°

II. Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai partilham des- Para o aproveitamento máximo do potencial de geração
se imenso reservatório e não devem enfrentar difi- de energia hidrelétrica, na lógica do planejamento go-
culdades para abastecimento populacional ou para vernamental, deve-se utilizar a bacia hidrográfica repre-
outros usos da água. Entretanto, devem regulamen- sentada em
tar o acesso a ela para que não ocorra sua conta-
minação nem o esgotamento dos recursos hídricos. A 1.
Daí a necessidade de aprofundar estudos que ana-
B 2.
lisem a hidrogeologia do aquífero, para estabelecer
adequada gestão dos recursos hídricos. C 3.
III. Embora as reservas de água subterrânea estejam D 4.
em uso em diversas localidades, não existe uma es-
trutura organizada para a gestão dos recursos hídri- E 5.
cos do Sistema. Especula-se que o uso desequilibra-
do possa afetar a dinâmica da oferta de água. Por 08| FAC. DIREITO DE FRANCA
isso, é fundamental conhecer o arranjo institucional Escala no Equador Boa Vista

usado como parâmetro de gestão dos recursos hí- 0 200 400 km

dricos no Mercosul, uma vez que os países envolvi- 1 cm = 200 km Macapá

dos integram esse bloco econômico.


IV. Os projetos de uso e as controvérsias científicas Manaus

sobre a distribuição do aquífero estão resolvidos.


Sabe-se que o Guarani está confinado entre rochas

Rio X
vulcânicas, como um corpo poroso contínuo no qual

ingu
ocorre água. Essa regularidade leva à definição de
um recipiente único de água subterrânea que deve Porto velho

ser pensado como um conjunto sem transferência Rio Branco

interna, o que justifica a aplicação da gestão com-


partilhada dos recursos hídricos. LEGENDA: Capital estadual Cidade Rede hidrográfica Projeção: Policônica

Assinale a alternativa correta. Fonte: IBGE 2010

A Somente as afirmativas I e II são corretas. A bacia hidrográfica do Rio Amazonas se beneficia da in-
B Somente as afirmativas II e IV são corretas. tensa pluviosidade da região Norte do país, por isso ela
é uma rede de drenagem muito densa, constituindo-se
C Somente as afirmativas III e IV são corretas.
no maior sistema fluvial da Terra. Sobre essa bacia pode
D Somente as afirmativas I, II e III são corretas. ser dito que
E Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. A parte grande dos rios da bacia não é navegável em
razão da escassez de água no período da vazante e
07| CEFET Considere o cartograma abaixo. do excesso de águas no período das cheias.
B a bacia amazônica é a maior bacia do mundo, e tam-
bém, a maior bacia hidrográfica contida exclusiva-
mente no território nacional.
1 C uma bacia como a amazônica é constituída por gran-
2 des rios, mas o rio principal é aquele de que direta
ou indiretamente todos os outros são tributários.
3 D apesar das estações marcadas na área da bacia
amazônica, nenhuma outra bacia do mundo contém
tanta água, em função da pluviosidade imensa no
4 verão.
E a imensa floresta existente na zona da bacia é res-
5
ponsável pela dificuldade de navegação dos rios,
pois isso aumenta o volume de sedimentos nos rios.
Fonte: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas. 09| IFSC
Editora Ática: São Paulo, 2009. (Adaptado)

264
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente C
DISTRIBUIÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS, DA vou à importação de água de outros estados, assim
como de países do Cone Sul.
SUPERFÍCIE E DA POPULAÇÃO NO PAÍS (EM %)
B social e demográfica, já que políticas públicas de in-
Recursos centivo às migrações, na última década, promove-
Região Superfície População
Hídricos ram o crescimento desordenado da população em
Norte 68,50 45,30 6,98 áreas que seriam destinadas a represas e outros re-
servatórios de água.
Centro-
15,70 18,80 6,41
Oeste C climática e pedológica, pois as altas temperaturas
Sul 6,50 6,80 15,05 durante o ano provocaram a formação de chuva áci-
da e a consequente laterização dos solos.
Sudeste 6,00 10,80 42,65
D econômica e jurídica, levando-se em conta a flexibi-
Nordeste 3,30 18,30 28,91
lidade da legislação vigente em relação a desmata-
Total 100 100 100 mentos em áreas de nascente para implantação de
Disponível em: http://www.daescs.sp.gov.br/index.asp? atividades industriais e agrícolas.
dados=ensina&ensi=brasil. Acesso: 13 ago. 2014.
E ecológica e política, posto que a reposição de água
Considerando os dados apresentados no quadro acima, dos reservatórios depende de fatores naturais, as-
assinale a alternativa CORRETA. sim como do planejamento governamental sobre o
uso desse recurso.
A Não há relação entre o crescimento populacional e
o consumo de água, considerando-se que água é um 11| UCS O Brasil, apesar de possuir bacias hidrográficas im-
recurso renovável. portantes em todas as regiões, vem dando atenção à
B Infere-se do quadro acima que as maiores concen- questão da água, em virtude da sistemática deteriora-
trações de recursos hídricos estão no complexo re- ção dos recursos hídricos e da crescente escassez desses
gional da Nordeste, onde é registrada a maior con- recursos. No tocante a esse tema, assinale a alternativa
centração populacional do Brasil. que se relaciona a esta problemática ambiental.

C Nas regiões Sul e Sudeste, para suprir a carência dos A A degradação dos recursos hídricos, em especial
recursos hídricos, uma das alternativas é substituir das águas subterrâneas, é ocasionada pela poluição,
as hidroelétricas pelas termoelétricas, geradas a oriunda principalmente dos esgotos domésticos e
partir do carvão mineral, considerado fonte renová- dos rejeitos das práticas de aviação.
vel de energia como a água. B O esgoto urbano é o locus dos depósitos oriundos
D As maiores concentrações populacionais do Brasil das residências, empresas e indústrias, principal
encontram-se nas regiões, distantes dos grandes poluidor dos rios; entretanto, no caso do Rio Tietê,
rios brasileiros, como o rio Amazonas. que atravessa a região metropolitana de São Paulo,
a situação é crítica somente em virtude do regime
E Os dados apresentados no quadro 1 indicam que o de chuvas que é escasso na região.
Brasil é privilegiado no que diz respeito à quantida-
de de água, considerando-se que sua distribuição é C Ter rede de esgoto não significa que se está evitan-
uniforme em todo território nacional. do a poluição, pois canalizar e não tratar os efluen-
tes jogados nos rios apenas leva para mais distante,
10| FUVEST As perspectivas ficaram mais pessimistas por- a poluição produzida nas áreas urbanas e rurais.
que a seca atual do Sistema Cantareira é mais crítica que
a de 1953, até então a pior da história e que servia de D O país é rico em rios, de drenagem endorreica, a
parâmetro para os técnicos dos governos estadual e fe- maioria perene, porém alguns rios são temporários.
Estes estão, em sua maioria, compondo as bacias hi-
deral.
drográficas da região Nordeste do Brasil.
O Estado de S. Paulo, 17/03/2014. Adaptado.
E O tratamento dos rios poluídos se dá também por
Acerca da crise hídrica apontada no texto acima e vivida conta do desperdício de água, pois se esse recurso
pela cidade de São Paulo e pela Região Metropolitana, é fosse utilizado de modo controlado não haveria essa
correto afirmar que a situação apresentada é de nature- necessidade, pois o ciclo da água naturalmente eli-
za, entre outras, mina as impurezas.
A geográfica e geopolítica, dado que a grave crise no 12| UFPR O Brasil apresenta uma situação confortável, em
abastecimento experimentada por essa região le- termos globais, quanto aos recursos hídricos. A disponi-

265
SISTEMA DE ENSINO A360°

bilidade hídrica per capita, determinada a partir de va- ficas representadas com os números 1, 2, 3 e 4, respec-
lores totalizados para o País, indica uma situação satis- tivamente.
fatória [...]. Entretanto, apesar desse aparente conforto,
A Paraguai, São Francisco, Paraná e Jacuí.
existe uma distribuição espacial desigual dos recursos
hídricos no território brasileiro. [...] O conhecimento B Paraguai, Paraná, São Francisco e Uruguai.
da distribuição espacial da precipitação e, consequen-
C Paraná, Madeira-Mamoré, São Francisco e Jacuí.
temente, o da oferta de água, é de fundamental im-
portância para determinar o balanço hídrico nas bacias D Paraná, São Francisco, Araguaia-Tocantins e Uru-
brasileiras. guai.
http://arquivos.ana.gov.br/institucional/spr/conjuntura/webSite_relatorio
E Paraná, Araguaia-Tocantins, São Francisco e Uru-
Conjuntura/projeto/index.html., p.37. Acesso em 09 set. 2014 guai.
Sobre o uso, gestão e disponibilidade dos recursos hídri-
cos no país, assinale a alternativa INCORRETA. 14| UEFS A transposição das águas do rio São Francisco, no
Brasil, tem gerado discussões e suscitado paixões. Co-
A A disponibilidade espacial dos recursos hídricos nhecido como o rio da integração nacional, ele despeja
pode variar em função da sazonalidade, haja vista a no oceano Atlântico dois mil e seiscentos metros cúbicos
diferença da precipitação, segundo os meses do ano de água por segundo, o equivalente a três barragens do
e as regiões brasileiras. Sobradinho por ano.
B A região hidrográfica do rio São Francisco tem como Entre os aspectos positivos da transposição das águas do
característica os menores índices de precipitação do rio, segundo especialistas, encontra-se
Brasil, enquanto na região hidrográfica da Amazônia
são observados os maiores índices de precipitação. A o declínio do êxodo rural em razão da eliminação
das secas cíclicas.
C Uma das características do sistema de abastecimen-
to de água para consumo humano no Brasil é a pre- B uma melhor distribuição de renda em virtude da di-
ponderância do uso dos mananciais superficiais. minuição do preço dos alimentos.

D Há uma forte relação entre cobertura vegetal e C o aumento das precipitações, em função da modifi-
água, pois o desmatamento pode provocar aumen- cação do microclima.
to do escoamento superficial e redução da infiltra- D a redução do transporte fluvial, em decorrência da
ção, o que pode alterar o ciclo hidrológico. construção de grande número de eclusas.
E Os problemas de abastecimento de água observa- E a melhoria da qualidade das águas, contribuindo
dos no Brasil são consequências de alterações da para a redução das doenças endêmicas.
sazonalidade das chuvas causadas pelas mudanças
climáticas globais, e do aumento da demanda. 15| UEFS Sobre a questão hídrica, no Brasil, é correto afirmar:

13| IFRS Observe o mapa abaixo das bacias hidrográficas A A Região Norte apresenta o maior déficit hídrico do
brasileiras: país.
B A escassez de água no Nordeste é, tão somente,
atribuída às características geoambientais específi-
cas da região.
C A agricultura irrigada corresponde ao setor econô-
2
mico que menos consome água, pois é praticada
apenas no Sertão nordestino.
3
D A eutrofização, que leva à morte de animais e plan-
1
tas, pela falta de oxigênio e luz, comprometendo a
qualidade da água, é um dos fenômenos que mais
expõe os mananciais.
4
E O maior reservatório subterrâneo de água doce não
poluída do planeta está localizado na porção ociden-
Disponível em http://www.mapasparacolorir.com.br/mapabrasil. tal do Brasil, onde a densidade demográfica é alta,
php Acesso em: 22 set. 2013. mas o dinamismo econômico, incipiente.
Assinale a alternativa que apresenta as bacias hidrográ- 16| UEFS A rede hidrográfica brasileira apresenta, dentre

266
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente C
outras características, solo, pois o uso da água de rios aumenta a evapora-
ção dos sais existentes no solo.
A predomínio de rios com baixo potencial hidráulico e
drenagem endorreica. B a rápida urbanização e as mudanças climáticas ali-
viam a pressão por esse recurso e fazem a distribui-
B predomínio de foz em delta e, no sul do país, lagos
ção ocorrer de maneira igual no tempo e no espaço.
de origem tectônica e de grande profundidade.
C o Aquífero Guarani, que fica exclusivamente em ter-
C rios com regime de alimentação pluvial, drenagem
ritório brasileiro, tem capacidade plena para abaste-
exorreica e, predominantemente, de planalto.
cer as cinco regiões do país.
D ocorrência de rios intermitentes, além dos domínios
D a água é um solvente importante nos laboratórios,
do semiárido, e baixo potencial hidrelétrico no Sul e
nas indústrias e na agricultura e, nesta última, os
Sudeste do país.
fertilizantes NPK são dissolvidos e levados como nu-
E presença de rios autóctones em todos os ecossis- trientes às plantas.
temas e ocorrência de regime nival, sobretudo nas
E a água é um solvente apolar, por isso dissolve princi-
elevadas altitudes do Norte do país.
palmente os compostos que apresentam caracterís-
ticas polares.
17| FATEC Por que cooperação pela água?
18| UFG Leia o texto a seguir.
[...]
Pensei que seguindo o rio
eu jamais me perderia:
ele é o caminho mais certo,
de todos o melhor guia.
Mas como segui-lo agora
que interrompeu a descida?
Vejo que o Capibaribe,
como os rios lá de cima,
é tão pobre que nem sempre

A água é essencial para a vida no planeta e para o de- pode cumprir sua sina
senvolvimento socioeconômico, porém é um recurso li- e no verão também corta,
mitado e distribuído de maneira desigual no tempo e no com pernas que não caminham.
espaço.
[…]
Por isso, foi criada a campanha “Water Cooperation MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina. Recife:
2013”, que abrange o Ano Internacional de Cooperação Fundaj, Editora Massangana, 2009. p. 14. (Adaptado).

pela Água e o Dia Mundial da Água 2013. No trecho do poema, o retirante faz alusão a uma ca-
Essa campanha visa sensibilizar a sociedade sobre os racterística comum a vários cursos d'água que drenam o
sertão nordestino, que os diferencia em relação ao pa-
potenciais da cooperação pela água e seus desafios e
drão mais comum no território brasileiro. Essa caracte-
facilitar o diálogo entre os atores, promovendo soluções rística compreende a
inovadoras que favoreçam a cooperação pela água.
A velocidade do fluxo das águas nas terras altas.
(ambiente.sp.gov.br/acontece/2013-ano-internacional-de-cooperacao-pela-agua/ Acesso em:
04.04.2013. Adaptado)
B perenidade do fluxo das águas durante todo o ano.
A demanda pela água tem crescido para satisfazer os C intermitência do fluxo das águas na estiagem.
mais diversos tipos de necessidades humanas. Sobre a
D exogenia do fluxo das águas em direção ao mar.
água e seu uso, é correto afirmar que
E endogenia do fluxo das águas em direção ao inte-
A a constante irrigação promove a dessalinização do
rior.

267
D POPULAÇÃO

População é o conjunto de habitantes (pessoas) de uma determinada área. O ser humano sempre foi nômade, depois
passou a ser sedentário e fixou moradia no território durante o período neolítico. Todavia, o deslocamento de indivíduos não
cessou. E nessa primeira parte desse capítulo será abordado justamente isso, os fluxos e os porquês desse deslocamento.

MIGRAÇÃO
Podemos conceituar de maneira bem simples a migração, como o deslocamento populacional sobre o espaço. É necessário
entender os motivos que levam a esse processo e também as características de cada deslocamento.

SHUTERSTOCK
Os principais motivos são: conflitos religiosos, conflitos e perseguições (políticas, ideológicas e psicológicas), desastres na-
turais, fome, subnutrição e a busca por melhores condições financeiras e de infraestrutura. Tais movimentos podem ser classifi-
cados como voluntário (quando é livre, espontâneo) forçado (trabalho escravo ou perseguição de qualquer espécie) controlado
(quando o estado controla o fluxo).
Uma nomenclatura utilizada para se referir ao indivíduo que está saindo é emigrante, e quando se refere à chegada do
indivíduo no seu destino é usado o termo imigrante.
A origem e o destino também dão traços importantes para a caracterização do fluxo migratório. Os principais fluxos são:
Êxodo rural (migração campo- cidade) se refere à saída do indivíduo do campo para cidade.
Migração Pendular – esse tipo de migração é comum em regiões metropolitanas ou em regiões onde exista uma cidade
polarizadora. O indivíduo reside em um município X e se desloca diariamente ou com certa periodicidade para outro município
Y e retorna no mesmo dia para o município X.
Migração Intra regional - quando o indivíduo se desloca dentro da mesma região.
Migração regional - quando o indivíduo se desloca para outra região.
Migração sazonal ou temporária - quando o indivíduo se desloca para uma dada localidade por uma temporada, já com
uma data predeterminada de retorno.
Migração internacional - quando o indivíduo vai para outro país.
Migração de retorno - quando o indivíduo se desloca para uma dada localidade, estabelece sua vida e retorna para seu
ponto de partida.

268
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente D
TEORIAS DA POPULAÇÃO
Os estudos da dinâmica populacional não são recentes, os gregos já observavam essa dinâmica. Após o processo de in-
dustrialização, houve um crescimento populacional muito grande no qual as três mais importantes teorias da população foram
desenvolvidas após esse período de crescimento, são elas: Teoria Malthusiana, Teria Neomalthusiana e a Teoria reformista.
A teoria Malthusiana, proposta Thomas Robert Malthus no livro “Ensaio Sobre a População”, obra de 1798, na qual ele
afirmava que: a população crescia em progressão geométrica e que ela dobraria a cada 25 anos. Enquanto isso, a produção
de alimentos cresceria em progressão aritmética. Tais fatos justificariam a desigualdade e fome de parte da população. Pelo
fato de ser pastor anglicano, Malthus adotou como solução um controle de natalidade, no qual as pessoas só poderiam ter um
filho. A teoria de Malthus foi derrubada, pois o ritmo de crescimento diminuiu e a produção de alimentos aumentou, devido à
modernização das técnicas e das tecnologias de produção.
A teoria Neomathusiana foi proposta na conferência de São Francisco nos Estados Unidos no ano de 1945, na qual os
países desenvolvidos apontaram os motivos para a fome e desigualdade nos países de 3° mundo (nomenclatura utilizada para
os países capitalistas não desenvolvidos e industrializados, atuais países em via de desenvolvimento), a conclusão foi que isso,
era devido à sua população absoluta ser muito grande. A elevada taxa de natalidade, ou seja, a numerosa população era o
motivo da pobreza, pois tais países tinham que investir muito na saúde, na educação e não sobraria recurso para investimentos
em tecnologia, na agricultura e na indústria alimentícia. Além do fato de que uma numerosa população faz com que os índices
como renda per Capita, sejam menores nesses países. A proposta como solução era um forte controle de natalidade, utilização
de anticoncepcionais e programas de controle familiar para diminuir a taxa de natalidade.
Teoria reformista- Também foi criada na conferência de São Francisco, teoria proposta pelos países de 3° mundo (não
desenvolvidos) e é uma oposição à teoria Neomalthusiana. A população numerosa e jovem não é o problema. O problema é
socioeconômico, pois a falta de investimento nos setores sociais como educação e saúde, faz com que essa população tenha
níveis de pobreza e fome tão altos. Assim, a população não consegue se qualificar e a desigualdade tende aumentar.

POPULAÇÃO DO MUNDO
A população mundo já está próximo de 7,3 bilhões de pessoas nos quais 50,4% dessa população é masculina, segundo
o http://countrymeters.info/pt/World, que contabiliza a população do mundo em tempo real. Apesar de o número ser tão
expressivo, o crescimento vegetativo (crescimento vegetativo = taxa de natalidade – taxa de mortalidade) em algumas regiões
do mundo é negativo. No entanto, em outras o número é muito alto, existe uma concentração demográfica populacional em
dadas regiões do mundo.

No mapa é perceptível a concentração populacional em países como Índia e China no sudeste asiático. A distribuição lati-
tudinalmente e longitudinalmente também é concentrada, assim como retratam os dois mapas a seguir.

269
SISTEMA DE ENSINO A360°

A população mundial em 2000, pela latude

O eixo horizontal mostra a soma de toda a população em cada gr tude

A população mundial em 2000, pela longitude

180° 120°W 60°W 0° 60°E 120°E 180°


http://ambientesgeograficos.blogspot.com.br/2010/08/distribuicao-da-populacao-mundial-por.htmlx

Apesar de a população alcançar esse número, a ONU afirma que o crescimento da população mundial veio caindo de 2,1%
em 1970 para 1,1% em 2012. Isso está relacionado com a inserção da mulher no mercado de trabalho, o que faz com que a taxa
de fecundidade diminua. Nos anos 1970 a média de filhos era de seis por mulher e hoje a média mal chega a dois. O uso de an-
ticoncepcionais, alto custo de criação de um filho e o avanço da medicina também contribuíram para essa redução. Entretanto,
esse ritmo é desigual, pois os países em via de desenvolvimento apresentam um ritmo ainda muito acelerado de crescimento
populacional, enquanto nos países desenvolvidos esse ritmo é bem menor. Tais fatos podem ser analisados na pirâmide etária.
A pirâmide etária é um gráfico que retrata os números relativos e absolutos de habitantes por sexo e faixa etária de uma
dada região. Pode-se observar também, a taxa de natalidade e a expectativa de vida.

A pirâmide da esquerda é de um continente com características de subdesenvolvimento, portanto tem uma base da pirâ-
mide larga por conta da alta taxa de natalidade e um topo fino, pois apresenta uma pequena quantidade de população idosa,

270
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente D
porque a expectativa de vida é baixa. Já a pirâmide da direita, é de um continente com características de desenvolvido, ela se
apresenta bastante diferente da esquerda. A base é curta, o que significa que a taxa de natalidade é baixa e o topo é bem mais
largo, o que significa que a expectativa de vida é maior.

POPULAÇÃO BRASILEIRA
“O Brasil é um verdadeiro caldeirão étnico”. Falar em formação da estrutura populacional brasileira é tratar da heterogenei-
dade da população. Desde os portugueses e dos europeus (holandeses, franceses, espanhóis) que chegaram ao território bra-
sileiro no século XV e encontraram os autóctones (índios), começou uma mistura genética e cultural. É de extrema importância
lembrar que a chegada dos portugueses causou um verdadeiro etnocídio e quase um genocídio. Números exatos de quantos
índios existiam no território brasileiro são muito imprecisos, todavia houve quase uma unanimidade entres os pesquisadores
do massacre sobre os povos indígenas. No século XVI até o XIX a chegada de africanos “apimentou” ainda mais esse caldeirão.
No final do XIX e início do XX, chegaram mais europeus italianos, alemães e também os asiáticos e japoneses.
A população brasileira se configurou e reconfigurou durante os séculos e passou de uma estrutura rural, para uma estru-
tura urbana. Com o processo de industrialização e modernização do campo, o êxodo rural gerou um crescimento populacional
urbano.

http://www.brasildefato.com.br/node/12787

Nesse período, houve também um fluxo regional muito grande da região nordeste para a região sudeste, por conta da
concentração industrial.

FLUXO DE MIGRAÇÕES FLUXO DE MIGRAÇÕES FLUXO DE MIGRAÇÕES


ENTRE 1960 - 1980 ENTRE 1980 - 1990 DE 1990 EM DIANTE

http://sesi.webensino.com.br/sistema/webensino/aulas/repository_data/SESIeduca/ENS_MED/ENS_MED_F02_GEO/644_GEO_ENS_MED_02_03/investigando_caminhos.html

No final do século XX, houve o processo de migração de retorno para o nordeste e a consolidação da região centro-oeste,
por ser uma área de atração populacional.

271
SISTEMA DE ENSINO A360°

Dentre outras mudanças que ocorreram no final do século XX e início do XXI, uma que se destaca é a transição demográfi-
ca. No início da segunda metade do século, o ritmo de crescimento era de quase 3 % ao ano, o que faria com que a população
dobrasse em apenas 25 anos, mas no final da primeira década desse século o ritmo de crescimento era de 0,8 % ao ano, o que
faria com que a população dobrasse a cada 87 anos.

TAXA POR MIL HABITANTES


Natalidade
40
Mortalid
ade

30

20

10

Crescimento demográfico
0
TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA Regime
Regime demográfico
demográfico Primeira fase Segunda fase moderno
tradicional Redução da mortalidade Redução da natalidade
estabilizado
Crescimento acelerado Crescimento moderado

http://www.mundoeducacao.com/geografia/transicao-demografica.htm

A transição demográfica proporciona o que chamamos de janela demográfica.


O Brasil em 2010
Os jovens em idade va são hoje a maior parte da população brasileira. É o momento
de dar um salto no desenvolvimento e preparar o país para o envelhecimento

100 anos ou mais


95 a 99 anos

O Brasil em 2050
90 a 94 anos

O Brasil em 1960 85 a 89 anos


80 a 84 anos HOMENS MULHERES
80 anos ou mais
80 anos ou mais 75 a 79 anos
75 a 79 anos
75 a 79 anos 70 a 74 anos
70 a 74 anos 70 a 74 anos
65 a 69 anos
65 a 69 anos HOMENS MULHERES 65 a 69 anos HOMENS MULHERES
60 a 64 anos
60 a 64 anos 60 a 64 anos
55 a 59 anos
55 a 59 anos 55 a 59 anos
50 a 54 anos
50 a 54 anos 50 a 54 anos
45 a 49 anos
45 a 49 anos 45 a 49 anos
40 a 44 anos
40 a 44 anos 40 a 44 anos
35 a 39 anos 35 a 39 anos
35 a 39 anos
30 a 34 anos 30 a 34 anos
30 a 34 anos
25 a 29 anos 25 a 29 anos 25 a 29 anos
20 a 24 anos 20 a 24 anos 20 a 24 anos
15 a 19 anos 15 a 19 anos 15 a 19 anos
10 a 14 anos 10 a 14 anos 10 a 14 anos
5 a 9 anos 5 a 9 anos 5 a 9 anos
0 a 4 anos 0 a 4 anos 0 a 4 anos
8,5 7,5 6,5 5,5 4,5 3,5 2,5 1,5 0,5 0,5 1,5 2,5 3,5 4,5 5,5 6,5 7,5 8,5 4,5 3,5 2,5 1,5 0,5 0,5 1,5
(em % da população)
2,5 3,5 4,5
6,5 5,5 4,5 3,5 2,5 1,5 0,5 0,5 1,5 2,5 3,5 4,5 5,5 6,5
(em % da população) (em % da população)

Nesse momento a soma dos não pertencentes à PEA- População Economicamente Ativa é menor dos que pertencem, isso
dá a possibilidade de crescimento econômico, porém é uma situação preocupante para o futuro.

NO BRASIL, A PROPORÇÃO
É DE 2,4 PESSOAS E A GENTE TINHA

ECONOMICAMENTE
QUE PEGAR JUSTO
ESSE AQUI!

ATIVAS PARA UMA INATIVA.

272
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente D

TEXTO COMPLEMENTAR

‘BOLSA BEBÊ’ EM PORTUGAL PAGA ATÉ R$ 15 MIL PARA INCENTI-


VAR NATALIDADE
Portugal está com a mais baixa taxa de natalidade da União Europeia. Governos oferecem di-
nheiro, para portugueses se animarem a ter filhos.
Edição do dia 26/01/2015
26/01/2015 22h01 - Atualizado em 26/01/2015 22h05

Na semana passada, o Papa Francisco recomendou aos fiéis que não se reproduzam como coelhos, e se referiu ao
que chamou de paternidade responsável. Em Portugal, que é um país de maioria católica, é o governo quem incentiva os
casais a terem mais filhos.

População pode ser reduzida em 20% nos próximos 40 anos

Uma cena cada vez mais comum nas cidades do interior de Portugal: ruas quase vazias e uma população envelhecida.
Portugal está com a mais baixa taxa de natalidade da União Europeia. No ano passado, o número de nascimentos foi a me-
tade do que era há 35 anos. Alguns estudos apontam que a população pode ser reduzida em 20% nos próximos 40 anos.

Portugal está encolhendo. Há vários anos há mais mortes do que nascimentos. Mais portugueses deixam o país, do
que novos imigrantes chegam. E essa situação de esvaziamento é mais dramática ainda em cidades do interior, como
Pampilhosa da Serra. Por isso, apesar de toda a crise, os programas de incentivo à natalidade estão sendo ampliados. Os
governos oferecem mais dinheiro para os portugueses se animarem e ter mais filhos.

Casal português está no quarto filho

O sonho de consumo das cidades do interior de Portugal é uma sala de aula cheia de crianças. Mas está cada vez mais
difícil e caro conseguir. Em Pampilhosa da Serra, há uma espécie de ‘bolsa bebê’. Prêmio equivalente a R$ 4,5 mil, para o
primeiro e segundo filho, e 5 mil euros, cerca de R$ 15 mil, para quantos tiver a partir do terceiro.

O casal José e Belmira, já estão no quarto filho. É o maior programa de incentivo de Portugal. O prefeito diz que já
gastou 150 mil euros e no ano passado conseguiu incentivar 30 casais.

“Este incentivo faz com certeza que aconteça aquele ‘click’ no momento em que o casal está na dúvida se vai ou não
ter mais um filho”, diz José Brito, prefeito de Pampilhosa da Serra.

O dinheiro do ‘bolsa bebê’ só pode ser gasto na cidade e com artigos para a criança.

Florinda Monsanto está esperando o segundo filho, um irmão para Simão.

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UNESP Analise o mapa anamórfico. Explique essa representação cartográfica e mencione dois
exemplos de regiões geográficas mundiais com maiores e
Mortalidade infantil
dois com menores taxas de mortalidade infantil.
(Dados de 2002 que computam a morte no primeiro
ano de vida) Resolução:
A representação cartográfica é denominada anamorfose.
Ela mostra a intensidade da ocorrência de um fenômeno ge-
ográfico em determinada área. No caso dessa anamorfose,
o fenômeno em questão é o da taxa de mortalidade infantil
no mundo. A observação do fenômeno em questão permite
que se conclua, por exemplo, que as maiores taxas de mor-
talidade infantil ocorrem no continente africano e no Sul e
Sudeste asiáticos; as menores taxas de mortalidade infantil
(www.worldmapper.org) ocorrem na Europa e na América Anglo-Saxônica.

273
SISTEMA DE ENSINO A360°

02| UFC Os fluxos migratórios são fenômenos antigos e bas- pastos e a grande especulação imobiliária são também
tante complexos que envolvem pessoas de países, re- as causas dafuga da população do campo para a cidade.
giões e cidades de diferentes culturas e classes sociais. b.II. – Já os fatores de atração populacional dizem res-
Os motivos que levam as pessoas a se deslocarem são peitoà oferta de emprego gerada por algumas ati vida-
diversos e têm gerado consequências positivas e negati- des na construção civil e na indústria presente nosgran-
vas no campo e na cidade. Na perspectiva de entender des centros urbanos; à oferta de serviços, mesmo que
os fluxos migratórios, a Geografia trabalha com alguns temporários, na construção de rodovias,ferrovias, usinas
conceitos e relaciona alguns fatores que explicam tal fe- hidrelétricas, tanto no campo como na cidade. No que
nômeno. Sobre estes conceitos e fatores, faça o que se se refere à região Norte doBrasil, destaca-se o fl uxo de
pede a seguir. pessoas atraídas pelo garimpo, pela extração de madei-
ras e borracha epelas indústrias de mineração. Nessa
A Defina:
região, nas últi mas décadas do século XX, assiste-se à
a.I. êxodo rural: ampliação da fronteira agrícola ao sul de seus limites
a.II. migração pendular: territoriais, o que tem atraído grandes empresasagríco-
las de outras regiões. Os atrativos das cidades, veicula-
B Cite: dos pela mídia sobre uma população quecada vez mais
b.I. dois fatores de repulsão populacional. perde suas raízes com a terra, também contribuem para
o êxodo rural. Ao mesmo tempoem que o campo expul-
b.II. dois fatores de atração populacional. sa, a cidade atrai.
C Apresente: Item c) c.I. – Podemos considerar, como consequências-
c.I. uma consequência positiva ocasionada pelo des- positi vas ocasionadas pelo deslocamento das pessoas, a
locamento das pessoas no Nordeste brasileiro. oportunidade de trocar suas experiências favorecendo
assim o enriquecimento cultural por meio da troca de
c.II. uma consequência negativa ocasionada pelo valores através dos contatos, a possibilidade de sucesso
deslocamento das pessoas no Nordeste brasileiro. na vida profissional favorecido pela oportunidade de es-
D Indique dois fatores que explicam o crescimento po- tudos nos diversosníveis de ensino (fundamental, médio
pulacional de Fortaleza entre 1950 e 1960. e superior) e melhores condições de moradia em fun-
ção daacessibilidade aos serviços como água, energia e
Resolução: saneamento básico. c.II. – São várias asconsequências
Comentário: negati vas ocasionados pelo deslocamento das pessoas
de seu lugar de origem para outro.Quanto ao Nordeste
Item a) a.I. – O êxodo rural é a migração das pessoas brasileiro, podemos citar a perda da identidade do indi-
que moram no campo para a cidade. Vários são os moti - víduo causada pela ruptura com seu lugar de origem,
vos que levam a população rural a migrar para a cidade, ou seja, o distanciamento físico nas relações familiares
dentre estes sedestacam as oportunidades de melho- e de amizades, assim como pelo abandono das imagens
ria de vida, como a oferta de empregos, o acesso aos dos lugares que marcam o coti diano das pessoas:bair-
serviços deeducação, assistência médica, saneamento, ros, ruas, povoados etc. Outra consequência diz respeito
eletricidade. Contribuem também para o êxodo rural as- à condição de forasteiro, de estranho, e à necessidade
secas periódicas, as geadas e a questão agrária, como de integração com o novo espaço físico e social. A po-
a concentração fundiária, a mecanização daagricultura. pulação nordesti na, em algunscasos, sofre preconceito
a.II. – A migração pendular é o deslocamento diário de regional. Mais uma consequência é a discriminação
uma população entre municípios. Esse fl uxo de pessoas decorrente dos modos de falar e de vestir, do gosto
ocorre nas regiões metropolitanas, onde há uma forte musical etc. As condições de moradia dessa população
integração socioeconômica entre os municípios. Trata-se que migra paraas grandes cidades são precárias, pois
de um movimento diário de pessoas entre o local demo- poucos são os que conseguem moradia digna. Muitos
radia e o local de trabalho. Nesse movimento há o uso moramnas periferias dos grandes centros urbanos, onde
intenso dos meios de transporte coleti vo. faltam serviços básicos, como assistência à saúde, co-
leta de lixo, esgotamento sanitário, pavimentação das
Item b) b.I. – Podemos destacar, como fatores de repul- ruas, entre outros.
são populacional, a estagnação econômica das áreas de
repulsão, a concentração fundiária, que gera confl itos Item d) – O crescimentopopulacional de Fortaleza entre
nestas áreas, as catástrofes naturais, como as secas peri- os anos de 1950 e 1960 está inti mamente vinculado às
ódicas e as geadas, a ausência de serviços educacionais migrações provocadas pelas secas periódicas que ocor-
de boa qualidade. A ampliação das relações capitalistas rem no interior do estado do Ceará e à estrutura fun-
no campo, que desestrutura as anti gas relaçõestradicio- diária calcada na grande propriedade. A população de
nais de trabalho (a parceria, o arrendamento etc.), a me- Fortaleza entre 1940 e 1950 era de 89.984habitantes e,
canização da agricultura, a substituição da lavoura por de 1950 a 1960, passou para 244.649 habitantes.

274
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente D

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UERJ 2013 - POPULAÇÃO TOTAL: 198 043 320

Fluxos migratórios brasileiros Mais importantes na Idade


80
H M

segunda metade do século XX e no início do século XXI


Mapa 1 Mapa 2 60
entre 1960 e 1980 entre 1980 e 1990
68% da
população
40 total

20

0
1,2 0 1,2
Em milhões

2050 - POPULAÇÃO TOTAL: 215 287 463*

Idade
H M
80
Mapa 3
a parr de 1990
60
64% da
população
total
40

20

0
1,2 0 1,2
Em milhões

PEA *projeção

A largura das setas é proporcional ao número de migran- Com base nas informações acima e em seus conheci-
tes em cada fluxo. mentos, atenda ao que se pede.
Adaptado de sesi.webensino.com.br. A Na atualidade, o Brasil encontra‐se no período de-
Identifique, no conjunto dos três mapas, a macrorregião nominado “janela demográfica”. Caracterize esse
do país com os maiores fluxos emigratórios e a macror- período.
região com os maiores fluxos imigratórios. Em seguida, B Analise a pirâmide etária de 2050 e cite duas medi-
indique um fator de atração e um de repulsão para o das que poderão ser tomadas pelo governo brasi-
fluxo da região Sul para as regiões Norte e Centro-Oeste, leiro para garantir o bem‐estar da população nesse
observado no mapa 3. contexto demográfico. Explique.

02| FUVEST Os gráficos abaixo representam a composição 03| PUC


da população brasileira, por sexo e idade, nos anos de
1990 e 2013, bem como sua projeção para 2050. RAZÃO DE DEPENDÊNCIA NA POPULAÇÃO BRASILEIRA
Proporção para cada 100 adultos
Observe que, para cada ano, está destacado o percentu- 86
83
87

al da população economicamente ativa (PEA). 73


82
78 81 59
1990 - POPULAÇÃO TOTAL: 146 592 579 77
Crianças e
idosos
66
Idade 53 52
H M
80 46
31
45 somente
idosos
60 28 (65 ou mais)
60% da 33
40
população
total 24 28
somente
crianças
13 (0 a 14)
6 7 8
20 4 5 5
1900 1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2080

0
1,2 0 1,2 Disponível em: <http://www.medicinageriatrica.com.br/2007/
Em milhões
03/01/o-bonus-demografi co/>. Acesso em: 28 jul. 2013.

275
SISTEMA DE ENSINO A360°

O conceito de ‘bônus demográfico’ está ligado ao mo- do formulou a política de povoamento da Região Sul
mento em que uma sociedade possui uma estrutura etá- com populações imigrantes, especialmente euro-
ria capaz de facilitar o crescimento econômico. peus.
B Aponte duas características que predominaram no
Levando-se em consideração esse conceito:
tipo de povoamento empreendido pela colonização
A compare a capacidade de crescimento do país em dirigida na Região Sul, uma referente ao regime de
1960 e em 2020, explicando o seu diferencial entre propriedade da terra adotado e uma referente às
os períodos assinalados. formas de cultivo da terra.
B analise as tendências das curvas ‘somente idosos
(65 ou mais)’ e ‘somente crianças (0 a 14)’, a partir 05| UFG Observe a figura a seguir.
de 1960, e as associe com futuras políticas sociais 90°N

que devem ser implementadas no país, a partir de 60°N


agora. 30°N


04| UNICAMP A foto A mostra famílias de colonos imigran-
30°S
tes alemães que participaram do povoamento do Paraná
60°S
e a foto B mostra colonos italianos na cidade de Caxias
90°S
do Sul (RS). O eixo horizontal mostra a soma de toda a população em cada grau de latude

Figura 2 - Mundo: População por Longitude, 2000.

180° 120°W 60°W 0° 60°E 120°E 180°

Disponível em: <http://twistedsifter.com/2013/08/maps-that-


will-help-you-make-sense-of-the-word/>. Acesso em: 14 nov. 2013. (Adaptado).

A distribuição da população no globo terrestre obede-


FOTO A ce a fatores econômicos, sociais, culturais e também
(Fonte: http://www.infoescola.com/historia/colonizacaoalema- no-
naturais. As mudanças ocorridas a partir da urbaniza-
sul-do-brasil/. Acessado em 16/10/2012.)
ção da sociedade promovem configurações espaciais
particulares que podem ser representadas de diferen-
tes formas. Considerando a leitura da figura acima e
analisando os mapas em questão,
A identifique as projeções dos dois mapas apresenta-
dos na figura;
B justifique o motivo fisiográfico da distribuição de
população representada, analisando a primeira fi-
gura, relativa à latitude;
FOTO B C apresente, respectivamente, o nome de dois conti-
(Fonte: http://www.infoescola.com/historia/colonizacao-italiana- nentes com maior e menor concentração de popu-
nosul-do-brasil/. Acessado em 16/10/2012.) lação, analisando a segunda figura, relativa à longi-
A primeira grande política regional executada pelo nas- tude.
cente Estado nacional brasileiro foi a colonização dirigi-
06| UFRN As migrações internacionais são fluxos de popu-
da na Região Sul do Brasil.
lações que se deslocam dos países de origem para fixar
A Identifique os objetivos do governo brasileiro quan- residência em outros países. A história das migrações

276
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente D
internacionais pode ser dividida em duas fases distintas: Esquema da transição demográfica
de 1830 a 1939 e de 1945 a 2005.
Taxa por mil habitantes

Natalidade
Observe o mapa seguir. 40
Mortalidade
30
FLUXOS MIGRATÓRIOS INTERNACIONAIS
20

Ásia 10 Crescimento
América demográfico
do Norte
Europa
0
ISRAEL 1 2 3 4 Fases

América
Central África Com base na análise do gráfico, nos conhecimentos
América
acerca da população mundial e no modelo teórico da
do Sul
transição demográfica,
Austrália

A conceitue transição demográfica;


B caracterize cada uma das quatro fases da transição
Correntes migratórias de 1830 a 1939 demográfica.
Correntes migratórias de 1945 a 2005
08| UNICAMP O mundo chegou a sete bilhões de pessoas
0 3.000 6.000 N em 2011. Nossa espécie já ocupa tanto espaço, com
plantações, cidades, estradas, poluição e lixo que, para
alguns cientistas, entramos em um novo período geoló-
Disponível em: <http://clientes.netvisao.pt/carlhenr/9ano4.htm>. Acesso em: 14 jun. 2012.
gico, o Antropoceno. As atividades humanas já seriam a
[Adaptado].
força mais relevante para moldar a superfície da Terra.
A De acordo com o mapa, explique a diferença da di- Alimentar e dar conforto a toda essa gente pode exaurir
nâmica dos fluxos migratórios em relação à Europa, os recursos naturais.
considerando os períodos em que ocorreram. (Adaptado “O planeta dos humanos”. Revista Época, Especial População, 06/jun/2011, p. 87.)

B Explique, do ponto de vista econômico, por que o A Aponte duas explicações para a maior disponibili-
imigrante, na Europa, tem enfrentado problemas de dade de alimentos nas décadas recentes, situação
discriminação. nunca antes existente na história humana.
B Considerando a sustentabilidade ambiental, quais
07| UFBA
seriam os principais desafios para alimentar e dar
conforto a todos os seres humanos?

T ENEM E VESTIBULARES
01| ENEM A letra dessa canção reflete elementos identitários que
Minha vida é andar representam a

Por esse país A valorização das características naturais do Sertão


nordestino.
Pra ver se um dia
B denúncia da precariedade social provocada pela
Descanso feliz
seca.
Guardando as recordações
C experiência de deslocamento vivenciada pelo mi-
Das terras onde passei grante.
Andando pelos sertões D profunda desigualdade social entre as regiões brasi-
E dos amigos que lá deixei leiras.
GONZAGA, L.; CORDOVIL, H. A vida de viajante, 1953. E discriminação dos nordestinos nos grandes centros
Disponível em: www.recife.pe.gov.br. Acesso em: 20 fev. 2012 (fragmento). urbanos.

277
SISTEMA DE ENSINO A360°

02| ENEM A Em função de políticas de reforma agrária levadas a


Composição da população residente urbana por sexo, cabo no Norte do país, durante as últimas décadas,
a população rural da região superou, timidamente,
Composição dagrupos
segundo os população residente
de idade - Brasilurbana por sexo,
- 1991/2010
segundo os grupos de idade - Brasil - 1991/2010
100
95
100
90
Homens
Homens
Mulheres
Mulheres
sua população urbana.
95
85
90
B O aumento significativo da população urbana do Su-
80
85
75
80
70
75
deste, a partir da década de 1950, decorreu do de-
65
70
60
65
55
60
senvolvimento expressivo do setor de serviços em
50
55
45
50
40
45
pequenas cidades da região.
35
40
30
35
25
30
20
25
15
C O avanço do agronegócio no Centro-Oeste, a partir
20
10
15
5
10
0 %
da década de 1970, fixou a população no meio rural,
5
8,0
0 6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0%
8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0
1991 2010 fazendo com que esta superasse a população urba-
1991 2010
na na região, a partir desse período.
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991/2010
Composição da população residente urbana por sexo,
Composição dagrupos
segundo os população residente
de idade - Brasilurbana por sexo,
- 1991/2010
D Em função da migração de retorno de nordestinos,
100
segundo os grupos de idade - Brasil - 1991/2010 antes radicados no chamado Centro-Sul, a popula-
ção urbana do Nordeste superou a população rural,
95 Homens Mulheres
100 Homens
90
95 Mulheres
85
a partir da década de 1970.
90
80
85
75
80
70
75
65
70
E A maior industrialização na região Sul, a partir dos
60
65
55
60
50
55
anos 1970, contribuiu para um maior crescimento
45
50
40
45
35
40
de sua população urbana, a partir desse período,
30
35
25
30
20
25
acompanhado do decréscimo da população rural.
15
20
10
15
5
10
0
5 %
8,0
0 6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0%
8,0 6,0 4,0 2,0 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0
1991 2010 04| IFGO O Brasil ocupa o 77º lugar no ranking mundial de
1991 2010
expectativa de vida calculado pela ONU. Esse indicador
Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991/2010
BRASIL. IBGE. Censo demográfico 1991-2010. Rio de Janeiro. 2011 vem crescendo nos últimos anos, o que reflete a me-
lhoria geral das condições de vida e saúde no país. Se-
A interpretação e a correlação das figuras sobre a dinâ-
gundo estudo divulgado em 2013 pelo IBGE, o brasileiro
mica demográfica brasileira demonstram um(a)
atinge 74,5 anos de esperança de vida ao nascer. Entre
A menor proporção de fecundidade na área urbana. 2000 e 2012, esse número cresceu 4,2 anos, com uma
B menor proporção de homens na área rural. situação mais favorável para as mulheres. A expectativa
C aumento da proporção de fecundidade na área rural. de vida das mulheres, que era de 73,9 em 1999, subiu
para 78,2 em 2012. No caso dos homens, passou de
D queda da longevidade na área rural.
66,3 para 70,9 anos.
E queda do número de idosos na área urbana. Disponível em: <https://almanaque.abril.com.
br/materia/expectativade- vida-brasil>. Acesso em: 12 fev. 2014.
03| FUVEST Observe os gráficos.
Em relação à expectativa de vida no Brasil, é correto afir-
POPULAÇÃO URBANA E RURAL DO BRASIL
(em milhões de hab.) mar que
40 Nordeste 20 Norte A os maiores ganhos na expectativa de vida do país
20
0 0
ocorreram entre as décadas de 1950 e 1980. O fator
1950 1970 1991 2010 1950 1970 1991 2010
principal foram os avanços na área de saúde, como
20 Centro-Oeste a introdução dos antibióticos, a adoção de medidas
80
preventivas de saúde pública e a expansão da rede
Leste
60 0
40
1950 1970 1991 2010
de saneamento básico.
20
B por estados, Maranhão e Piauí registraram a maior
30 Sul
0
1950 1970 1991 2010 20
expectativa de vida, de 77,7 e 70 anos, em 2012.
Santa Catarina registrou a menor, de 69,4 anos. É
10
População urbana
importante notar que os números da ONU são dife-
0
População rural 1950 1970 1991 2010

rentes dos do IBGE, pois há uma defasagem e uma


www.seriesestascas.ibge.gov.br. Acessado e m julho de 2012.

Com base nos gráficos e em seus conhecimentos, assina- adequação dos dados para a elaboração de estatís-
le a alternativa correta. ticas internacionais.

278
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente D
C no ranking mundial do Índice de Desenvolvimento D Os deslocamentos em busca de novas áreas para o
Humano (IDH), que mede a qualidade de vida, o estabelecimento das aldeias eram decididos em as-
Brasil entrou em 2007 no patamar de alto desen- sembleias tribais, nas quais as mulheres indígenas
volvimento humano, estando a frente de alguns de tinham direito a expressar suas opiniões.
seus vizinhos, como Chile, Argentina e Uruguai. No
E Apesar de liderar a formação de novas unidades, os
relatório mais recente, divulgado em 2013 com da-
chefes raramente obtinham privilégios ou posição
dos de 2012, o Brasil fica em 1º lugar entre países da
social diferenciada, não raro, trabalhando ao lado
América Latina, com índice de 0,730.
de seus seguidores e parentes.
D a expectativa de vida ao nascer é calculada consi-
derando, além da taxa de IDH, a expectativa de so- 06| CEFET Considere o cartograma abaixo.
brevida da população residente na região em que o
individuo nasceu. Fatores como clima, relevo, situa- RR
AP
ção urbana, trânsito e meio ambiente, entre outros,
são determinantes para uma maior expectativa de
vida. AM PA
MA RN
E o aumento da expectativa de vida está diretamente TO PI
PB
AC PE
associado à melhoria das condições socioambien- AL
SE
tais da população. Os avanços nesses dados estão RO
MT BA
sendo obtidos desde 1950. Em 2010, constatou-se DF
um aumento de mais de 20 anos na expectativa de GO
MG
vida da população mundial nesse período (1950 – MS ES
2010). No entanto, esse aumento ocorreu de forma SP RJ
igual entre os países desenvolvidos, em desenvolvi- PR
mento e as nações subdesenvolvidas.
SC

05| FGV De qualquer modo, o que se sabe ao certo é que Principais fluxos migratórios
RS
estas aldeias não constituíam povoados fixos e perma- no período (1970 - 1990)
nentes, pois, após alguns anos, os grupos tendiam a mu- Fonte: IBGE. Atlas geográfico escolar.
dar-se para um novo local [...] Rio de Janeiro: IBGE, 2007. (Adaptado)

Diversos motivos podiam contribuir para o deslocamen- A direção dos fluxos migratórios para a região Norte do
to de uma aldeia: o desgaste do solo, a diminuição das Brasil pode ser explicada pela
reservas de caça, a atração de um líder carismático, uma
disputa interna entre facções ou a morte de um chefe. A elaboração de projetos militares para ocupação da
Amazônia.
MONTEIRO, J. Negros da terra - Índios e bandeirantes nas origens de São Paulo.
São Paulo: Companhia das Letras, 1994, p. 22. B participação do INCRA na compra de terras seten-
Considerando o texto acima, indique a alternativa que trionais do país.
apresenta uma afirmação correta sobre os povos indíge- C saturação do Nordeste para reduzir o deslocamento
nas do Brasil na época colonial. interregional.
A Apesar de haver uma maioria de povos nômades D construção de grandes aeroportos para consolidar o
ou seminômades, na região de São Paulo de Pira- setor agropecuário.
tininga, foram encontrados núcleos de agricultores
sedentários, o que permitiu o estabelecimento dos 07| UERJ O haitiano Guerrier Garausses, de 31 anos, era
jesuítas. motorista em seu país de origem. Como muitos conter-
râneos, ele veio ao Brasil em busca de emprego. Saiu da
B A questão da utilização da mão de obra indígena foi
capital haitiana, Porto Príncipe, até a capital da Repú-
um dos aspectos de concordância entre as práticas
blica Dominicana. Lá, foi de avião até o Panamá e se-
coloniais dos jesuítas e os interesses dos colonos lai-
guiu para o Equador. Dali foi para o Peru, até a cidade de
cos, sobretudo na região Sudeste.
Iñapari, que faz fronteira com Assis Brasil, no Acre.
C As unidades independentes indígenas estavam ar- Adaptado de g1.globo.com, 17/04/2014.
ticuladas num complexo sistema de representação
de cada aldeia que formava uma confederação de Debaixo de um sol inclemente, Juan Apaza formava fila
tribos sob o comando de uma elite guerreira. no Parque Dom Pedro II, centro de São Paulo. Costureiro
como quase todos os bolivianos na cidade, Juan está há

279
SISTEMA DE ENSINO A360°

menos de um ano no país, dividindo uma casa apertada 09| UFPR A população brasileira atingiu 202,7 milhões de
com outras dez pessoas. Com as rezas do xamã, incensos pessoas em primeiro de julho deste ano, segundo esti-
e um pouco de cerveja, acredita que sua casa própria se mativa do IBGE [...] O volume de pessoas que vivem no
transformará em realidade. país cresceu 0,86% em relação ao verificado em igual
Adaptado de redebrasilatual.com.br, 26/01/2014.
período do ano anterior. São Paulo continua sendo a ci-
O Brasil, na última década, tem atraído migrantes ori- dade mais populosa do país, com 11,9 milhões de habi-
ginários de países americanos, em especial haitianos e tantes. Em seguida, no ranking de cidades, vêm Rio de
bolivianos. Janeiro (6,5 milhões), Salvador (2,9 milhões), Brasília
A vinda desses migrantes para o Brasil na atualidade (2,9 milhões) e Fortaleza (2,6 milhões). Os 25 municípios
pode ser justificada pelo seguinte motivo: mais populosos do país somam 51 milhões de habitan-
tes e representam 25,2% da população.
A demanda de mão de obra qualificada http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2014/08/1507099-populacao-

B oferta de empregos em áreas diversificadas brasileira-atinge-2027-milhoes-de-habitantes-calcula-ibge.shtml. Acesso em 02 set. 2014

C facilitação para aquisição de dupla cidadania Com base nos conhecimentos de geografia da popula-
ção, assinale a alternativa correta.
D elevação da remuneração da força de trabalho
A O aumento populacional brasileiro é decorrente, so-
08| FCM Dezenas de milhares de migrantes sul-americanos bretudo, do crescimento vegetativo da população,
chegaram ao Brasil a partir dos anos 1990, de forma len- que incorpora os conceitos de natalidade e mortali-
ta e contínua. A recente chegada de alguns milhares de dade.
migrantes negros levou a política migratória brasileira à
pauta das grandes redações, quase sempre apresentando B O crescimento populacional evidenciado indica uma
a migração como "problema" ou "crise" a solucionar. O tendência de aumento nas taxas de natalidade e fe-
Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815), assinado pelo ge- cundidade e uma diminuição da taxa de mortalida-
neral João Figueiredo em 1980, tem como principais ca- de, associada ao envelhecimento da população.
racterísticas o alto grau de restrição e burocratização da C Esse acréscimo populacional tem como consequên-
regularização migratória, a discricionariedade absoluta cia a diminuição da renda per capita e o comprome-
do Estado, a restrição dos direitos políticos e da liberdade timento dos recursos naturais, como evidenciado
de expressão, além de explícita desigualdade em relação por Malthus, pois há um crescimento geométrico da
aos direitos humanos dos nacionais. Com relação ao mo- população e aritmético dos alimentos.
vimento migratório e a histórica dívida brasileira com re-
lação a uma lei de migrações, é correto dizer, EXCETO: D O aumento da população é impulsionado pelo cres-
cimento das periferias das grandes cidades, decor-
A Uma política migratória restritiva implica, no caso das
rente dos processos migratórios, que fazem com
porosas fronteiras do Brasil, um investimento desco-
que diminua o número de habitantes em cidades
munal no aparelho de segurança, em detrimento das
pequenas.
políticas públicas que nos fazem tanta falta.
E O fator que explica o aumento populacional é a imi-
B A lei vigente no Brasil permite que os estrangeiros
gração, pois o Brasil tem recebido grande contingen-
em busca de emprego ou que trabalhem no mer-
te populacional de outros países.
cado informal, como quase metade dos brasileiros,
permaneçam regularmente no país e muitos deles
10| UNICESUMAR Observe as Pirâmides Etárias do Brasil
são levados a solicitar refúgio apenas para ter algum
nas seguintes datas:
documento.
1990 BRASIL
C Diante da opinião pública, migração e refúgio pare- Pirâmide Etária Absoluta

cem ser a mesma coisa, embora nomeiem proces- 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050

sos bem distintos. O migrante se desloca por von-


80 +
75 - 79

tade própria, em busca de trabalho e vida digna; o 70 - 74


65 - 69

refugiado teme por sua integridade física e moral, 60 - 64

em seu país de origem.


55 - 59
50 - 54
45 - 49

D “Fechar as fronteiras” para a imigração em um con- 40 - 44


35 - 39

texto de intensa mobilidade humana e enorme de- 30 - 34


25 - 29

sigualdade entre os países não tem ajudado a dimi- 20 - 24

nuir as migrações, apenas tem ajudado a tornar os


15 - 19
10 - 14

trabalhadores imigrantes mais vulneráveis à explo- 5-9


0-4

ração e ao preconceito. HOMENS MULHERESS


MULHERE

280
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente D
2010 BRASIL B Diferentemente do que ocorreu no século XIX, os
Pirâmide Etária Absoluta

1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050


recursos envolvidos são um traço diferenciador na
80 + atualidade, pois remessas enviadas por migrantes
originários de nações pobres, como Haiti e Jamai-
75 - 79
70 - 74
65 - 69
60 - 64
ca, são, muitas vezes, utilizadas para sustentar suas
55 - 59
50 - 54
famílias no país de origem, além de representarem
45 - 49
40 - 44
parte significativa do PIB desses países.
35 - 39
30 - 34 C Países europeus, como Irlanda, Itália, Grécia e Espa-
nha, foram importantes emissores de migrantes no
25 - 29
20 - 24

século XIX e continuam a figurar, hoje em dia, dentre


15 - 19
10 - 14

os países com maior fluxo migratório para os EUA.


5-9
0-4
HOMENS MULHERESS
MULHERE

Fonte: http://www.ibge.gov.br/, acesso 07/10/2014. D No século XIX, a emissão e a recepção de migrantes


concentravam-se na Europa, enquanto, na atuali-
As diferenças notadas em 2010 podem ser descritas
dade, a emissão restringe-se à América do Sul e a
como
recepção tem alcance global.
A um elemento que pode agravar a economia do país,
visto o crescimento da população ativa, e a conse- E O movimento migratório do continente africano para
quente pressão sobre o mercado de trabalho, po- a Ásia foi significativo no século XIX e, atualmente,
dendo com isso, aumentar o desemprego. apresenta importante crescimento decorrente de
políticas de cooperação internacional (Ásia/África)
B um caso típico do que os demógrafos designam
para o desenvolvimento socioeconômico africano,
como transição demográfica, pois é notório que o
número de homens está aumentando substancial- especialmente para Angola e África do Sul.
mente, e isso modificará as futuras taxas de natali-
dade. 12| FATEC Observe as pirâmides etárias de Moçambique e
da África do Sul, respectivamente.
C a prevalência ainda de altas taxas de natalidade,
Moçambique - 2014
pois o aumento proporcional de adultos implica Homens
100+
Mulheres

mais uniões familiares e a consequente situação de 95 - 99


90 - 94
explosão demográfica que o país vive. 85 - 89
80 - 84
75 - 79
70 - 74
D resultado exponencial do crescimento do número 65 - 69
60 - 64
de idosos, tanto homens quanto mulheres, situação 55 - 59
50 - 54
essa resultante de envelhecimento populacional, 45 - 49
40 - 44
35 - 39
que afasta o Brasil da transição demográfica que foi 30 - 34
25 - 29
comum nos países ricos. 20 - 24
15 - 19
10 - 14
E expressão do que os demógrafos chamam transição 5-9
0-4
demográfica, visto a ampliação proporcional do nú- 3 2.4 1.8 1.2 0.6 0 0 0.6 1.2 1.8 2.4 3

mero de adultos e idosos em relação ao número de População (em milhões) Faixa etária Faixa Etária

crianças e jovens, o que nos aproxima de um certo (http://tinyurl.com/usbureau-mocambique Acesso em: 17.03.2014. Original colorido)
perfil europeu.
Homens África do Sul - 2014 Mulheres
100+
11| FUVEST Um tema recorrente no debate contemporâneo 95 - 99
90 - 94
é a migração global. A Organização das Nações Unidas 85 - 89
80 - 84
estima que existam 232 milhões de migrantes em todo 75 - 79
70 - 74
65 - 69
o mundo (ONU, 2013). Há, atualmente, mais mobilidade 60 - 64
55 - 59
que em qualquer outra época da história mundial. Com- 50 - 54
45 - 49
40 - 44
parando a migração atual com a do século XIX, é correto 35 - 39
30 - 34
afirmar: 25 - 29
20 - 24
15 - 19
A Até o século XIX, as nações norte-americanas desta- 10 - 14
5-9
0-4
caram-se como emissoras de migrantes, enquanto,
6 4.8 3.6 2.4 1.2 0 0 1.2 2.4 3.6 4.8 6
hoje em dia, encontram-se entre as principais re- População (em milhões) Faixa etária Faixa Etária

ceptoras desses fluxos, sobretudo os originários do (http://tinyurl.com/usbureau-africa-do-sul Acesso em: 17.03.2014. Original colorido)
continente africano.

281
SISTEMA DE ENSINO A360°

Considere como jovem a população com até 19 anos; A China, Índia e Estados Unidos - as três maiores
adulta, a população entre 20 e 59 anos e idosa, a popu- potências econômicas do planeta - permanece-
lação de 60 anos ou mais. Comparando-se as pirâmides rão nesta ordem como os três mais populosos,
etárias da África do Sul e de Moçambique, conclui-se que sendo que a Federação Russa e o Japão apresen-
A em relação ao total da população, há mais adultos tarão em 2050, recuo de sua população em rela-
na África do Sul do que em Moçambique. ção a 2008.

B a transição demográfica encontra-se mais avançada B O Brasil vem, há décadas, apresentando diminui-
em Moçambique do que na África do Sul, o que se ção nas taxas de crescimento populacional, fruto
depreende observando-se a base mais larga da pirâ- da redução da natalidade e da fecundidade, e au-
mide etária de Moçambique. mentando a esperança média de vida, com o con-
C o processo de urbanização da população está mais sequente aumento do número de idosos para o
adiantado em Moçambique do que na África do Sul, qual se exigirá aumento de preocupação e atenção
o que se observa pelo formato triangular de sua pi- por parte dos ativos.
râmide etária.
C Estados Unidos e Japão são os únicos representan-
D o crescimento natural da população da África do Sul tes na tabela dos chamados países desenvolvidos,
é maior que o de Moçambique, evidenciando o pre- enquanto que quatro deles formam o chamado
domínio da população jovem na África do Sul.
BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China.
E a expectativa de vida na África do Sul é menor do
D O Brasil, atualmente o quinto país mais populoso do
que em Moçambique, o que se verifica pelo predo-
mundo, com 189,6 milhões de habitantes, cairá para
mínio de adultos em detrimento da população idosa
o oitavo lugar em 2050 quando terá 215,2 milhões,
no conjunto da população.
fato previsto devido à redução no ritmo de cresci-
13| ACAFE Leia a tabela abaixo a respeito da população. mento da sua população.

POPULAÇÃO
14| FGV A partir de levantamentos demográficos, o órgão
2008 2050 da ONU que estuda a população elaborou as pirâmi-
Mundo 6.749.678 9.191.287 des etárias que representam modelos de estrutura
1. China 1.336.311 1.408.846 demográfica dos continentes.
2. Índia 1.186.186 1.658.270 Observe as pirâmides I, II e III, referentes ao ano de
3. Estados Unidos 308.798 402.415 2010, apresentadas a seguir.
4. Indonésia 234.342 296.885 I
5. Brasil 189.613 215.287
6. Paquistão 166.961 292.205
7. Bangladesh 161.318 254.084
8. Nigéria 151.478 288.696
9. Federação Russa 141.780 107.832
10. Japão 127.938 102.511
Fonte: IBGE in Especial 18 anos: Carta capital 03/10/2012

Sobre os dados apresentados na tabela é correto afir-


mar, exceto:
II
282
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente D

II A despeito das taxas de fecundidade apresentadas, a es-


tabilidade demográfica, projetada para vários países de-
senvolvidos em 2050, baseia-se em fenômenos atuais,
com destaque para:
A redução da natalidade, estabelecida pela maior ex-
pectativa de vida
B expansão da mortalidade, provocada pelo envelhe-
cimento dos grupos etários
C deslocamento populacional, condicionado pelas
disparidades socioeconômicas
D demanda por mão de obra qualificada, favorecida
por políticas governamentais
III
16| ESCS Os movimentos migratórios são mais intensos nos
países com maiores desigualdades regionais, ou seja, na-
queles onde poucas áreas muito ricas dividem o espaço
com outras muito pobres. Esse quadro é comumente en-
contrado em países subdesenvolvidos industrializados,
que, dependendo do ponto de vista, são também cha-
mados de países em desenvolvimento ou emergentes.
Esses movimentos ocorrem, também, entre países que
apresentam níveis de desenvolvimento muito díspares.
Internet: <www1.folha.uol.com.br > (com adaptações).

A partir das informações do texto acima, assinale a op-


ção correta a respeito dos movimentos migratórios no
(http://esa.un.org/wpp/population-pyramids/
mundo atual.
population-pyramids_percentage.htm) A Na África, as políticas de distribuição de renda e as
Considerando a dinâmica demográfica predominante de amparo à população pobre têm reduzido a saída
em cada continente, pode-se afirmar que a pirâmide de pessoas para países de outros continentes, prin-
cipalmente para a Europa.
A I é representativa da explosão demográfica observa-
da nas décadas de 1960/80 na América Latina. B Países cujas economias se baseiam no setor agrope-
cuário caracterizam-se por reduzidos deslocamen-
B II é característica da Ásia, onde o crescimento de- tos populacionais.
mográfico é garantido pelos imigrantes.
C O fenômeno descrito no texto não ocorre em eco-
C II é típica da Europa, que reduziu a natalidade a par- nomias emergentes como Brasil, Rússia e China.
tir das últimas décadas do século XX.
D A disparidade entre o nível de desenvolvimento da
D III é característica da África, onde a transição demo- América Latina e o dos Estados Unidos da América
gráfica encontra-se nas fases iniciais. provocou, nas últimas décadas, elevado êxodo dos
E III é típica da Oceania, onde os grupos humanos trabalhadores latinos para esse país.
apresentam elevada taxa de fecundidade. E Nos países da Europa Ocidental, há pouca migração
devido à elevada concentração de riqueza.
15| UERJ Taxa de fecundidade
Índice de reposição 2,1 17| UFT Em relação ás teorias demográficas (Malthusianas,
1,88
1,73 1,70
Neomalthusianas e Reformistas), analise as afirmativas
1,67
abaixo.
1,42
1,38 1,35
1,29 1,29 1,29 I. Thomas Robert Malthus (1766 -1834) defendia a
1,0
idéia que enquanto a produção de alimentos cresce
em progressão aritmética, a população cresce em
França Holanda Inglaterra Suécia Suíça Áustria Alemanha Espanha Japão Itália
Perspec a Não Não Não Não Não Não -10% Não -10% -10%
de redução
em 2050 progressão geométrica. Por isso segundo ele ocor-
Adaptado de veja.abril.com.br. reriam desequilíbrios entre população e produção

283
SISTEMA DE ENSINO A360°

de alimentos, tendo com conseqüência as guerras, C Segundo os econeomalthusianos é necessário ocu-


a fome e a miséria. par a Amazônia brasileira para que a população não
padeça por falta de comida.
II. As idéias de Malthus foram muito discutidas no final
do século XVIII e XIX, provocando uma divisão en- D A teoria neomalthusiana explica bem o desenvolvi-
tre os pessimistas, que as adotavam, e os otimistas, mento populacional do Brasil ao indicar que um país
que as criticavam. Mas a partir do final do século se torna rico quanto mais população houver, pois
XX, essas polêmicas foram superadas em função do haverá mão-de-obra excedente para a produção de
progresso técnico científico. riquezas.

III. A teoria reformista é contrária a teoria de Malthus. E A teoria populacional de Malthus, de 1789, se aplica
Suas afirmações negam o princípio Malthusiano, bem ao Brasil, já que vivemos atualmente a chama-
pois para eles a pobreza é o que gera a superpo- da “explosão demográfica” e temos uma das maio-
res populações absolutas do mundo, tornando-nos
pulação e com a revolução industrial e tecnológica
um dos países com maior densidade demográfica.
tanto a indústria quanto a agricultura aumentariam
sua capacidade produtiva resolvendo o problema da 19| UCS
produção.
TEORIAS DEMOGRÁFICAS
IV. Os Neomalthusianos analisam a aceleração popula-
cional segundo uma ótica alarmista e catastrófica, Com a Revolução Industrial, houve forte migração do
argumentando que, se o crescimento populacional campo para a cidade, em especial, naEuropa Ocidental.
não for impedido, os recursos naturais da terra se Embora ainda precárias, as condições de higiene e sa-
esgotarão em pouco tempo. Para conter o avanço neamento das zonasurbanas eram melhores do que as
populacional propunham a adoção de políticas vi- encontradas no campo, o que deu início à diminuição
sando o controle de natalidade a partir do planeja- das taxasde mortalidade.
mento familiar.
A aceleração no crescimento populacional fez com que
Marque a alternativa CORRETA. muitas pessoas se dedicassem àanálise desse fenôme-
A Todas as afirmativas estão corretas. no. Thomas Robert Malthus foi uma delas.
(MORAES, P. Geografia Geral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2001, p. 207 – Texto adaptado.)
B Somente as afirmativas I, II e III estão corretas.
C Somente as afirmativas II, III e IV estão corretas. Sobre a teoria de Malthus, analise a veracidade (V) ou a
falsidade (F) das proposições abaixo.
D Somente as afirmativas I, II e IV estão corretas.
E Somente as afirmativas I e IV estão corretas. ( ) Segundo esse teórico, a população cresceria em
progressão geométrica, e a produçãode alimentos
18| UNIOESTE Nos últimos anos o Brasil tem registrado mu- em progressão aritmética.
danças significativas em suas taxas de crescimento vege-
( ) Para Malthus, as áreas de cultivo só aumentariam
tativo. Em 1960 a taxa de crescimento da população era
de 2,99% e em 2010, de 1,17% . Várias teorias procuram na mesma velocidade do crescimentopopulacional
entender e explicar as mudanças populacionais regis- se fosse intensificado o processo de colonização.
tradas nos diferentes países e/ou sociedades. Quanto ( ) Conforme esse autor, a procriação deveria ser per-
às teorias populacionais e suas tentativas em explicar o
mitida somente àqueles que tivessemcomprovada-
desenvolvimento da população brasileira, assinale a afir-
mente condições de alimentar seus filhos.
mativa correta.
A A Teoria Reformista preconiza que, com maior aces- Assinale a alternativa que preenche corretamente os pa-
so à educação, saúde, emprego e distribuição de rênteses, de cima para baixo.
renda, as taxas de crescimento vegetativo começa- A VVF
rão a diminuir como consequência da melhor quali-
dade de vida da população brasileira. B VFV

B Segundo as fases de desenvolvimento da população, C FVV


o Brasil está na primeira fase, registrando elevadas D FFV
taxas de natalidade e mortalidade, que resulta em
sua baixa taxa de crescimento vegetativo. E VFF

284
FITOGEOGRAFIA
E
O estudo da espacialização dos animais e plantas no planeta e a configuração de cada região e suas características, as re-
lações autossustentáveis entre os animais e o meio é o que chamamos de ecossistemas. Essas relações acontecem no habitat,
que nada mais é do que o local (ambiente) no qual os seres vivos moram. Na sua moradia cada um exerce uma função socioam-
biental, no seu habitat, essa função é sua ocupação, chamada de nicho.

ZONAS DA VIDA
O termo zona da vida foi criado pelo geógrafo e pesquisador Alexander Von Humboldt em sua observação nos Andes Pe-
ruano.

Ele relaciona os ecossistemas com a altimetria e a distribuição latitudinal na superfície do globo.

285
SISTEMA DE ENSINO A360°

BIOMAS
O planeta terra é rico em biodiversidade e também em paisagens naturais. Podemos chamar de biomas os conjuntos de
ecossistemas.
OCEANO GLACIAL ÁRTICO
Círculo Polar Ár o

Trópico de Câncer

OCEANO
PACÍFICO
Equador
OCEANO OCEANO
PACÍFICO ÍNDICO
Trópico de Capricórnio
OCEANO
ATLÂNTICO

Círculo Polar Antá co

Tundra e vegetação de montanha Deserto


Floresta temperada ou floresta de coníferas Savana
Pradarias Floresta equatorial ou tropical
Vegetação mediterrânea Calota glacial
Semideserto e estepe

BIOMAS NÃO PRESENTES NO BRASIL


TUNDRA
Vegetação presente no extremo norte do planeta, de altas latitudes e regiões polares, clima abaixo de zero o ano todo. A
vegetação aparece nos meses do verão com o derretimento das geleiras e se apresenta na forma de musgos, liquens, de gra-
míneas e alguns arbustos.

286
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E
FLORESTA BOREAL
Presente no hemisfério norte em regiões de altas latitudes: Canadá, Finlândia e Rússia. A vegetação se apresenta em forma
de coníferas, pinheiros (aciculifoliadas- folhas em formas de alfinete, agulha) e também com a presença de musgos e liquens.

VEGETAÇÃO MEDITERRÂNEA OU CHAPARRAL


O maior volume desse tipo de vegetação está próximo ao Mar Mediterrâneo, mas é encontrado também nos Estados
Unidos, no Chile, na África do Sul e Austrália. Todas essas regiões possuem verões muito quentes. A vegetação se apresenta
em forma esclerofila- folhas duras, altura variando entre um a dois metros e com raízes bem profundas. A palavra Chaparral
significa arbusto sempre verde.

DESERTOS
Os desertos ocupam um terço do planeta. Caracterizados pelo baixíssimo índice pluviométrico que não chega a 250 mm
anuais,a vegetação desses locais é de xerófilas (plantas adaptadas com o baixo índice pluviométrico e com capacidade de arma-
zenamento de água) como os cactos.

287
SISTEMA DE ENSINO A360°

ESTEPES/ PRADARIAS E CAMPOS


É o bioma mais alterado do planeta. Nesse bioma estão presentes as regiões produtoras de grãos, além de ser propício à
pecuária e ao processo de urbanização. A vegetação se apresenta em forma de gramínea. A diferença na nomenclatura está
relacionada com o tamanho da grama. Pradaria (grama alta).

BIOMAS BRASILEIROS
Por conta da sua extensão territorial continental, o Brasil possui cerca de 20% da biodiversidade do planeta (fauna e flora).
O país abrange cerca de nove biomas: Mata dos Cocais, Caatinga, Pantanal, Vegetação litorânea (Mangue), Mata Atlântica,
Mata das Araucárias, Cerrado, Floresta Amazônica, Campos Sulinos.

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

FORMAÇÕES FLORESTAIS
Floresta Amazônica
Mata dos Cocais
Mata Atlân a
Mata dos Pinhais (ou de Araucária)
FORMAÇÕES ARBUSTIVAS E HERBÁCEAS
Cerrado
Caa ga
Campos
FORMAÇÕES COMPLEXAS E LITORÂNEAS OCEANO
Vegetação do pantanal
(cerrados, campos inundáveis)
ATLÂNTICO
Vegetação litorânea
(mangues, res gas e jundus)
0 Km 303 Km

288
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E
CAATINGA
Ocupa cerca de 10% do território brasileiro. Predominante na região nordeste do país, os índices pluviométricos da região
são baixos, cerca 400 mm por ano, portanto o clima da região é semiárido. A baixa quantidade de chuva na região faz com que
o solo seja pouco desenvolvido, jovem e pedregoso, mas ainda assim é um solo fértil. Apesar de ser um bioma pouco rico vi-
sualmente, é bastante rico em biodiversidade, já que várias espécies de fauna e flora são endêmicas. A vegetação apresenta-se
em forma de espécies xerófilas (plantas adaptadas com o baixo índice pluviométrico e com capacidade de armazenamento de
água), cactos e palmas. A expansão de frentes agrícolas vem causando o intenso processo de desertificação.

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
ATLÂNTICO

0 Km 303 Km

PANTANAL
Considerada a maior planície alagada do planeta abrangendo o território brasileiro, boliviano e Paraguaio. No território
brasileiro é considerado o menor bioma, mas é de uma riqueza em biodiversidade gigantesca. O Pantanal sofre influência direta
de três importantes biomas brasileiros: Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
ATLÂNTICO

0 Km 303 Km

MATA ATLÂNTICA
A floresta tropical está presente na porção leste do país. Atualmente há somente7% da sua extensão em relação ao que
havia quando os portugueses chegaram e começaram o processo de degradação do bioma. Ele é considerado um hotspots da

289
SISTEMA DE ENSINO A360°

biodiversidade, pois é um bioma de biodiversidade endêmica ameaçada de extinção. Tal destruição se deu por conta do intenso
processo de urbanização e industrialização. A vegetação é representada pela peroba, ipê, quaresmeira, cedro, jequitibá-rosa,
jacarandá, pau-brasil, entre outras.

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
ATLÂNTICO

0 Km 303 Km

CERRADO

Segundo maior bioma do território brasileiro, ocupa 22% do território e é o único presente em todas as regiões brasi-
leiras. É um grande divisor de águas do país, berço das nascentes de três bacias hidrográficas (Tocantins, São Francisco e
Prata), sua grande parte está localizada no planalto central. Clima característico com duas estações bem definidas, uma seca
e uma chuvosa. Os solos do planalto central são do tipo latossolo vermelho e amarelo. A vegetação tem características bem
definidas, raízes profundas (por conta da periodicidade da estação chuvosa e o longo período de seca), cascas grossas e bem
esparsas.

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
ATLÂNTICO

0 Km 303 Km

Existe uma grande diversidade de habitats que determinam uma notável alternância de espécies entre diferentes fitofi-
sionomias, tais como: cerradão (árvores altas, densidade maior e composição distinta), cerrado, mais comum no Brasil central
(com árvores baixas e esparsas), campo sujo e campo limpo (com progressiva redução da densidade arbórea). Ao longo dos rios
há fisionomias florestais conhecidas como florestas de galeria ou matas ciliares.

290
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E

FITOFISIONOMIAS DO BIOMA CERRADO


FORMAÇÕES FLORESTAIS FORMAÇÕES SAVÂNICAS FORMAÇÕES SCAMPESTRES

Mata de Cerrado Cerrado Cerrado Parque do Cerrado Cerrado Campo Campo


Mata Ciliar Mata Seca Cerradão Palmeiral Vereda
Galeria Denso Típico Raio Cerrado Rupestre Rupestre Sujo Limpo

http://paisagemnativa.com.br/

O bioma está ameaçado de extinção por conta do intenso processo de urbanização das cidades planejadas dentro do bioma
(Goiânia, Brasília e Palmas), além da industrialização crescente na região. Somando isso com a consolidação da agropecuária,
até o momento houve a destruição do bioma em quase 50%. Isso o coloca como hotspots da biodiversidade, já que possui a
presença de espécies de fauna e flora endêmicas.

MA

PI

TO
BA
MT

GO
MG
MS

Área central do Cerrado no Brasil. Adaptado de IBGE (1993)

PI

MA

TO
BA
MT

GO
MG
MS

Cerrado e os principais blocos remanescentes de vegetação nativa em 2002

291
SISTEMA DE ENSINO A360°

FLORESTA AMAZÔNICA

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
ATLÂNTICO

0 Km 303 Km

Maior floresta equatorial do mundo, uma de cada cinco espécies presentes no mundo estão nesse bioma. Sendo ele o
maior em todo o Brasil, está presente em cerca de 1/5 da fauna e flora do país. Por estar em uma região equatorial, possui
índice pluviométrico alto de quase 3000 mm anual e uma temperatura elevada o ano todo. Isso faz com que o solo seja do
tipo oxissolo (pouco fértil devido ao intenso processo de lixiviamento). A fertilidade da floresta vem dela mesma, por conta da
grande produção de matéria orgânica e a maior bacia hidrográfica do Brasil está localizada na região. A floresta é dividida em
3 grupos de biodiversidade diferentes: mata de igapó (sempre alagada), mata de várzea (alagada no período de chuva) e mata
de terra firme (nunca alagada).

http://geografiabemfacil.blogspot.com.br/2014/10/as-matas-amazonicas.html

Mata de igapó Mata de Várzea Mata de Terra firme

292
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E
O bioma enfrenta problemas como a biopirataria e o desmatamento. Por maior que seja o empenho das autoridades e dos
órgãos de fiscalização, a Floresta Amazônica ainda enfrenta problemas que geram consequências ambientais que são sentidas
não só na própria região, mas em diversas outras a curto e longo prazo. O desmatamento diminui e interrompe o ciclo da água
na região e por consequência diminui o volume dos “rios voadores” que são formados.

CAMPOS SULINOS
Vegetação localizada no extremo sul do país. Ocupa apenas 2,7% do território brasileiro. Estimativas indicam valores em
torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas e a presença de alguns arbustos pequenos. Desde
a sua ocupação essa região foi muito destruída por conta do processo de urbanização e industrialização. A pecuária também
tem uma forte contribuição para degradação do bioma, já que a região possui um histórico muito forte nesse ramo. O relevo
presente nessa região brasileira é o de colinas.

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
ATLÂNTICO

0 Km 303 Km

293
SISTEMA DE ENSINO A360°

MATA DOS COCAIS


Presente nos estados do Maranhão e Piauí é considerada uma vegetação de transição, por estar nesse bioma.
Possui características de vegetação bem distintas (Floresta amazônica, caatinga e cerrado) com a presença de palmeiras e
babaçu. O extrativismo vegetal do óleo de babaçu configura-se como uma atividade econômica importante da região.

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
ATLÂNTICO

0 Km 303 Km

“Carnauba ce” por Leonardo Barbosa - Flickr. Licenciado sob CC BY 2.0, via Wikimedia Commons - http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Carnauba_ce.jpg#/media/File:Carnauba_ce.jpg

VEGETAÇÃO LITORÂNEA (MANGUE)


Vegetação litorânea, mangue ou restinga são nomes dados a esse bioma de transição entre o ecossistema terrestre e mari-
nho. A biodiversidade dos ecossistemas na região é gigantesca, sendo esse bioma considerado como“berçário” natural para as
espécies características desses ambientes. Além de servir como exportador de matéria orgânica, os mangues produzem mais
de 95% do alimento que o homem captura do mar.

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
ATLÂNTICO

0 Km 303 Km

294
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E
MATA DAS ARAUCÁRIAS
Está localizada próximo ao Trópico de Capricórnio nas regiões sudeste e sul do país, em uma região de clima subtropical,
com um solo muito fértil, por conta da sua geologia. Possui vegetação de folhas aciculifoliadas- folhas com formado de alfinete,
agulha.

OCEANO
ATLÂNTICO
Equador

OCEANO
ATLÂNTICO

0 Km 303 Km

TEXTO COMPLEMENTAR

AMAZÔNIA, PATRIMÔNIO BRASILEIRO, FUTURO DA HUMANIDADE


Do alto, do solo ou da água, a Amazônia é um impacto para os olhos. Por seus 6,9 milhões de quilômetros quadrados
em nove países sul-americanos (Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa)
espalha-se uma biodiversidade sem paralelos. É ali que mora metade das espécies terrestres do planeta. São aproximada-
mente 40 mil espécies de plantas e mais de 400 tipos de mamíferos. Os pássaros somam quase 1.300 e os insetos chegam
a milhões.

No Brasil, que engloba cerca de 60% da bacia amazônica, o bioma cobre 4,2 milhões de quilômetros quadrados (49%
do território nacional) e se distribui por nove estados (Amazonas, Pará, Mato Grosso, Acre, Rondônia, Roraima, Amapá,
parte do Tocantins e parte do Maranhão). Ele é muitas vezes confundido com a chamada Amazônia Legal - uma região
administrativa de 5,2 milhões de quilômetros quadrados definida em leis de 1953 e 1966 e que, além do bioma amazôni-
co, inclui o Cerrado e o Pantanal.

Sob as superfícies negras ou barrentas dos rios amazônicos, 3 mil espécies de peixes deslizam por 25 mil quilômetros
de águas navegáveis: é a maior bacia hidrográfica do mundo, com cerca de um quinto do volume total de água doce do
planeta. Às suas margens, vivem mais de 24 milhões de pessoas, incluindo mais de 342 mil indígenas de 180 etnias distin-
tas, além de ribeirinhos, extrativistas e quilombolas.

Além de garantir a sobrevivência desses povos, fornecendo alimentação, moradia e medicamentos, a Amazônia tem
uma relevância que vai além de suas fronteiras. Ela é fundamental no equilíbrio climático global e influencia diretamente
o regime de chuvas do Brasil e da América Latina. Sua imensa cobertura vegetal estoca entre 80 e 120 bilhões de tonela-
das de carbono. A cada árvore que cai, uma parcela dessa conta vai para os céus.

Grandes também são as ameaças

Maravilhas à parte, o ritmo de destruição segue par a par com a grandiosidade da Amazônia. Desde que os portugue-
ses pisaram aqui, em 1550, até 1970, o desmatamento não passava de 1% de toda a floresta. De lá para cá, em apenas 40
anos, foram desmatados cerca de 18% da Amazônia brasileira – uma área equivalente aos territórios do Rio Grande do
Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

295
SISTEMA DE ENSINO A360°

Foi por volta da década de 1970 que a porteira se abriu. Numa campanha para integrar a região à economia nacional,
o governo militar distribuiu incentivos para que milhões de brasileiros ocupassem aquela fronteira “vazia”. Na corrida por
terras, a grilagem falou mais alto e o caos fundiário virou uma regra difícil de ser quebrada até hoje.

A governança e a fiscalização deram alguns passos, mas em boa parte da Amazônia, os limites das propriedades e
seus respectivos donos ainda são uma incógnita. Isso pode mudar com a consolidação do CAR (Cadastro Ambiental Rural),
ferramenta de regularização ambiental prevista no Código Florestal, mas que ainda está em processo de implementação.
Os órgãos ambientais correm atrás de recursos para enquadrar os que ignoram a lei, mas o orçamento para a pasta não
costuma ser generoso. O resultado visto do alto, do solo ou das águas, é impactante.

DESENVOLVIMENTO PARA QUEM?

Uma das últimas grandes reservas de madeira tropical do planeta, a Amazônia enfrenta um acelerado processo de
degradação para a extração do produto. A agropecuária vem a reboque, ocupando enormes extensões de terra sob o
pretexto de que o celeiro do mundo é ali. Mas o modelo de produção em geral, é antigo e se esparrama para os lados,
avançando sobre as matas e deixando enormes áreas abandonadas.

Ainda assim, o setor do agronegócio quer mais. No Congresso, o lobby ruralista por mudanças na legislação am-
biental, conseguiu aprovar o novo Código Florestal, que concedeu anistia a quem desmatou ilegalmente e enfraqueceu
a legislação. O objetivo é que mais áreas de floresta deem lugar à produção, principalmente de gado e soja. A fome por
desenvolvimento deu ao país a segunda posição dentre os maiores exportadores de produtos agrícolas. Mas os louros
desses números passaram longe da população local. As taxas anuais de desmatamento na Amazônia brasileira, que ha-
viam caído nos últimos anos, aumentaram 28% entre agosto de 2012 e julho de 2013.

A exploração predatória e ilegal de madeira continua a ser um enorme problema na região e tem como principal con-
sequência a degradação florestal, que é o primeiro passo para o desmatamento. Além disso, ela causa inúmeros conflitos
sociais, como ameaças e assassinatos de lideranças que lutam para proteger a floresta. Como se não bastasse, essa madei-
ra chega aos mercados nacionais e internacionais como se fosse legal, por meio de um processo de “lavagem” que utiliza
documentos oficiais para dar status de legalidade à madeira tirada de locais que não possuem autorização – incluindo
áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação. O sistema do governo que deveria controlar o setor
madeireiro é falho e está totalmente fora de controle.

As promessas de desenvolvimento para a Amazônia também se espalham pelos rios em forma de grandes hidrelétri-
cas, e pelas províncias minerais em forma de garimpo. Mas o modelo econômico escolhido para a região deixa de fora os
dois elementos essenciais na grandeza da Amazônia: meio ambiente e pessoas.

SOLUÇÕES
 Desmatamento zero: Ao zerar o desmatamento na Amazônia até 2020, o Brasil estará fazendo sua parte para
diminuir o ritmo do aquecimento global, assegurar a biodiversidade e o uso responsável desse patrimônio para
beneficiar a população local. Atualmente, o Projeto de Lei de Iniciativa Popular pelo Desmatamento Zero no
Brasil, já conquistou o apoio de 1 milhão de brasileiros. Não é preciso derrubar mais florestas para que o país
continue produzindo. Ações contra o desmatamento e alternativas econômicas que estimulem os habitantes da
floresta a mantê-la de pé devem caminhar juntas.
 Áreas protegidas: Uma parte do bioma é protegida legalmente por unidades de conservação, terras indígenas ou
áreas militares. Mas a falta de implementação das leis faz com que essas áreas continuem à mercê dos criminosos.
 Regularização fundiária: É a definição, pelo Estado, de quem tem direito à posse de terra. O primeiro passo é o
mapeamento das propriedades privadas para possibilitar o monitoramento de novos desmatamentos e a respon-
sabilização de toda a cadeia produtiva pelos crimes ambientais ocorridos.
 Governança: Para todas essas medidas se tornarem efetivas, o governo precisa estar na Amazônia, com recursos
e infraestrutura para fazer valer as leis de preservação. A proteção da Amazônia e a criação de um modelo de
desenvolvimento sustentável e justo, para que a região possa gerar oportunidades para os povos que dependem
da floresta.
Fonte do texto <http://www.greenpeace.org/brasil/pt/O-que-fazemos/Amazonia/> disponível em 30/05/2015.

296
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UERJ As florestas contribuem com a fixação de parte  vegetação homogênea, com pequena diversidade
do carbono atmosférico do planeta, amenizando o pro- de espécies
cesso do aquecimento global. As queimadas realizadas  floresta aberta, com presença de vegetação rasteira
nessas formações vegetais, contudo, possuem o efeito entre as árvores
inverso, agravando esse processo.

Quantidade de carbono armazenado nas florestas do 02| UNESP No mapa está representada, em verde, uma for-
mação vegetal.
mundo – 2005

(Maria E. M. Simielli. Geoatlas, 2009. Adaptado.)

Identifique-a e mencione três características da mesma.


Adaptado de Atlas do meio ambiente. Le Monde Diplomatique Brasil, 2007. Resolução:

Identifique os dois tipos de formações florestais com O mapa indica os locais onde há a formação vegetal
maior potencial para amenizar o aquecimento glo- mediterrânea (adaptada a verões quentes e secos e in-
vernos relativamente brandos). Dentre as características
bal. Em seguida, aponte uma característica das espé-
dessas formações destacam-se:
cies arbóreas encontradas em cada uma dessas duas
formações.  Presença de xerófilas (plantas adaptadas aos locais
secos);
Resolução:
 Formação esparsa, com baixa densidade;
Floresta Equatorial Amazônica e uma das características:
 Predominância de arbustos;
 folhas perenes
 Grande número de espécies com casca grossa, pou-
 árvores com folhas largas ou latifoliadas cas folhas e espinhentas.
 plantas adaptadas ao excesso de umidade
 floresta densa, com vários andares e sem vegetação
rasteira
 vegetação heterogênea, com grande diversidade de
espécies

Floresta boreal, de coníferas ou taiga e uma das caracte-


rísticas:
 folhas perenes
 plantas adaptadas a longos períodos frios e secos
 árvores com folhas em formato de agulha ou acicu-
lifoliadas

297
SISTEMA DE ENSINO A360°

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UFBA A ocorrência de um mesmo bioma em continen- A Estabeleça a correlação entre o binômio latitude/
tes distintos é determinada principalmente pelas condi- altitude e a diversidade de espécies encontrada nos
ções de latitude, de temperatura e de precipitação. biomas apresentados.
GRANDES BIOMAS B Desde a Eco-92, busca-se firmar o Tratado da Biodi-
-20
PERFIL LATITUDINAL
versidade, reconhecendo o pagamento de direitos
de propriedade sobre substâncias derivadas dos
Temperatura média anual (°C)

-10 Tundra Altas la


tudes biomas, para os países onde eles se encontram. Ex-
plique por que os países subdesenvolvidos seriam
Pradarias

0 I La
tudes médias os maiores beneficiados com esse tratado.
mais extremas

Bosques 03| FGV Analise a ilustração dos diferentes tipos de uso e


to

cobertura vegetal da Amazônia. Com base nela e em


Semideser

10 Arbus
va Floresta
temperada Floresta La
tudes médias
Campo pluvial
seus conhecimentos acerca desse contexto paisagístico,
es

temperada
Estep

20 Floresta responda:
Deserto

II tropical III Baixas la


tudes
sazonal

0 1000 2000 3000 4000 OCEANO


Precipitação anual média (mm) ATLÂNTICO
TAMDJIAN, J. O.; MENDES, I. L. Estudos de geografia:
como funciona o mundo. São Paulo: FTD, 2008, p. 204. Adaptada.

Com base no gráfico e nos conhecimentos sobre os bio-


mas terrestres,
A identifique os biomas indicados por
I
II
ZONAS DA AMAZÔNIA
III Desmatada
Sob pressão
B relacione duas características ambientais encontra- Florestal
das, respectivamente, nos biomas II e III, no territó- Não florestal
rio brasileiro.
A Discorra sobre a lógica da ocupação atual, atentan-
02| UERJ do para a sequência geral e os recursos naturais en-
volvidos em cada fase.
Floresta pluvial, deserto e campo
Plantas baixas, líquens e musgos

Campo e floresta temperada

B Aponte três processos ambientais decorrentes des-


ta ocupação envolvendo solos, relevo e hidrografia.
Florestas de coníferas

Floresta temperada

C Explique qual a influência da floresta amazônica no


clima regional e no clima global.
Neve e gelo

04| UFG Observe a figura.


Semelhante à polar
Semelhante à tundra
Semelhante à taiga
Semelhante à temperada
Semelhante à tropical
Tropical
Polar

Tundra

Taiga

Temperada

(Cesar e Sesar. In: MAGNOLI, D. e ARAÚJO, R . Projeto de ensino de geografia. São


Paulo: Moderna, 2002.)

Observe o gráfico acima, que relaciona a latitude e a al- Disponível em: <http://commons.wikimedia.org>.
titude com as diferentes paisagens climatobotânicas. Acesso em: 3 de mar. 2010.

298
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E
A vegetação predominante do Brasil Meridional era a Os manguezais são ecossistemas de alta produtividade
Mata de Araucárias ou Mata dos Pinhais, um tipo de co- biológica, sendo responsáveis por parte considerável
nífera que outrora forneceu produtos muito utilizados dos recursos marinhos.
na Região Sul e em outras áreas do país. Com base nesta
Ocupam grande extensão dos litorais tropicais e subtro-
afirmação,
picais, porém, apesar de sua grande relevância para a
A indique uma característica da vegetação de araucá- vida dos oceanos, estão entre os ecossistemas mais de-
rias e uma característica do clima subtropical; vastados do planeta.
B cite dois produtos do extrativismo vegetal dessa re- Com base nessas informações e na análise da ilustra-
gião. ção, indique as características ambientais dos mangues,
quanto ao solo e à vegetação, e cite duas ações predató-
05| UFU Examine o mapa com atenção. rias provocadas pelo homem.

07| UFC A cobertura vegetal é influenciada pelo clima. As-


sim, os grandes conjuntos vegetacionais se especiali-
zam, principalmente de acordo com o tipo climático
dominante. A partir do tema, responda o que se pede a
seguir.
A Mencione duas características das florestas equato-
riais.
B Cite uma característica fisionômica da vegetação da
caatinga.
C Cite dois elementos do clima que favorecem a maior
riqueza de diversidade de espécies vegetais.
D Mencione uma consequência negativa do desmata-
mento das florestas associada aos solos e à água.

08| UFG Leias os textos a seguir.


Além de causas naturais, a fragmentação do bioma
http://www.wwf.org.br/ Cerrado em Goiás tem sido associada à expansão das
O mapa do Brasil acima representa um bioma nacional. atividades humanas, resultando em uma expressiva
Tendo em vista esta afirmação, responda: quantidade de fragmentos vegetacionais, distribuídos
de forma desigual, formando muitos grupos pequenos e
A Qual é o bioma representado no mapa acima? isolados.
B Quais as principais bacias hidrográficas que cruzam CUNHA, H. F.; FERREIRA, A. A.; BRANDÃO, D. Composição

este bioma? e fragmentação do Cerrado em Goiás usando Sistema de Informação


Geográfica (SIG).Boletim Goiano de Geografia. Goiânia, v. 27, n. 2,
C Qual o clima predominante neste bioma? jan.-jun., 2007. p. 139-152. (Adaptado).

Art.1º Corredor entre remanescentes caracteriza-se


06| UFBA
como sendo faixa de cobertura vegetal existente entre
remanescentes de vegetação primária, em estágio mé-
dio e avançado de regeneração […].
Disponível em: <www.mma.gov.br/port/conama/res/res96/
res0996.html>. Acesso em: 17 abr. 2014. Resolução n. 09 de 24 out. 1996.

Considerando os textos apresentados,


A descreva um fator que evidencia a importância dire-
ta dos corredores ecológicos para a conservação da
biodiversidade do Cerrado;
B cite uma atividade humana que contribuiu para a
apropriação e consequente fragmentação do Cerra-
do goiano.

299
SISTEMA DE ENSINO A360°

T ENEM E VESTIBULARES
01| ENEM A moderna “conquista da Amazônia” inverteu 03| PUC Analise o mapa dos países com registros de casos
o eixo geográfico da colonização da região. Desde a de dengue no ano de 2011.
época colonial até meados do século XIX, as correntes PAÍSES COM REGISTROS DE CASOS DE DENGUE - 2011
principais de população movimentaram-se no sentido
Leste-Oeste, estabelecendo uma ocupação linear ar-
ticulada. Nas últimas décadas, os fluxos migratórios
passaram a se verificar no sentido Sul-Norte, conec- Isoterma de 10° C
(mês de janeiro)
tando o Centro-Sul à Amazônia.
OLIC, N. B. Ocupação da Amazônia, uma epopeia
inacabada. Jornal Mundo, ano 16, n. 4, ago. 2008 (adaptado).
Isoterma de 10° C

O primeiro eixo geográfico de ocupação das terras


(mês de julho)

amazônicas demonstra um padrão relacionado à cria-


ção de Países com registros de casos de dengue
Limites de sobrevivência do mosquito Aedes Aegyp
A núcleos urbanos em áreas litorâneas.
B centros agrícolas modernos no interior. A partir da análise desse mapa e de outros conhecimen-
tos sobre o assunto, é INCORRETO afirmar:
C vias férreas entre espaços de mineração.
A A incidência de casos de dengue na Ásia se concen-
D faixas de povoamento ao longo das estradas. tra na região de maior densidade populacional, difi-
E povoados interligados próximos a grandes rios. cultando e onerando os programas de erradicação
da doença.

02| ENEM A Floresta Amazônica, com toda a sua imensi- B A grande incidência de casos de dengue na América
dão, não vai estar aí para sempre. Foi preciso alcançar do Sul e África se deve às características ambientais
favoráveis ao mosquito transmissor e às condições
toda essa taxa de desmatamento de quase 20 mil qui-
socioeconômicas das populações.
lômetros quadrados ao ano, na última década do sécu-
lo XX, para que uma pequena parcela de brasileiros se C As regiões desérticas da África e Oceania apresen-
desse conta de que o maior patrimônio natural do país tam ecossistemas pouco favoráveis à sobrevivência
do mosquito transmissor, contribuindo para a di-
está sendo torrado.
minuição da incidência de casos de dengue nesses
AB’SABER, A. Amazônia: do discurso à práxis. São Paulo: EdUSP, 1996.
locais.
Um processo econômico que tem contribuído na atua- D O mosquito transmissor da dengue, originário de
lidade para acelerar o problema ambiental descrito é: ecossistemas de clima tropical, com temperaturas
médias elevadas e alta pluviosidade, sobrevive em
A Expansão do Projeto Grande Carajás, com incenti-
ecossistemas de clima frio com temperaturas mé-
vos à chegada de novas empresas mineradoras. dias baixas e com ocorrência de neve.
B Difusão do cultivo da soja com a implantação de
monoculturas mecanizadas. 04| FGV Analise a figura que relaciona temperatura, pluvio-
sidade e vegetação.
C Construção da rodovia Transamazônica, com o ob-
Precipitação / Evaporação (mm/ano)

jetivo de interligar a região Norte ao restante do 1 2 3 4


5
4
país. ecipitação
Temperatura (°C)

Pr
2 700

D Criação de áreas extrativistas do látex das serin- 1 500


Temperatu
ra
25
gueiras para os chamados povos da floresta. 300
15
5

E Ampliação do polo industrial da Zona Franca de


Manaus, visando atrair empresas nacionais e es-
[Wilson Teixeira et al. (orgs) Decifrando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2003. p. 154.
trangeiras. Adaptado]

300
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E
Considerando que a vegetação está diretamente relacio- 06| UFAL Os ecossistemas costeiros, sobretudo os mangues,
nada às condições climáticas, sobretudo da temperatura são muito frágeis e vêm sofrendo sérios impactos em di-
e da pluviosidade, identifique dois tipos de vegetação na versas áreas do mundo. Sobre esse assunto, analise as
figura. afirmações seguintes:

A 1 – tundra e 4 – deserto e semideserto. 1. no que diz respeito à energia e à matéria, os man-


guezais são sistemas fechados, mas que recebem,
B 1 – estepe e 3 – savana. do ambiente terrestre, um importante fluxo de água
doce e de nutrientes.
C 2 – tundra e 5 – savana.
2. o manguezal ameniza o impacto do mar na terra,
D 3 – taiga e 4 – estepe.
controla a erosão pelas raízes dos vegetais e funcio-
E 4 – savana e 5 – floresta tropical. na como filtro biológico.
3. entre os ambientes costeiros, o manguezal pode ser
05| UDESC Numere as colunas relacionando a vegetação à classificado, em termos de potencial de vulnerabili-
sua característica. dade a impactos de derramamento de óleo, como o
(1) Floresta de Coníferas ecossistema mais sensível.

(2) Vegetação Mediterrânea 4. o manguezal, apesar da importância que tem nos


países tropicais, é um dos ecossistemas que apre-
(3) Tundra senta a menor produtividade primária bruta.
(4) Pradaria Está(ão) correta(s):

(5) Savana A 2 apenas

(6) Estepe B 4 apenas


C 1 e 2 apenas
( ) Vegetação rasteira de ciclo vegetativo curto. Exem-
plo: musgos e liquens. D 2 e 3 apenas

( ) Vegetação herbácea, esparsa e ressecada. Surge em E 1, 2, 3 e 4


climas semiáridos, na faixa de transição de climas
07| MACK
úmidos para desertos.
( ) Formação florestal típica da zona temperada. É co-
nhecida como Taiga e predominam os pinheiros.
( ) Vegetação esparsa que possui três estratos. Um ar-
bóreo, um arbustivo e um herbáceo. Predomina em
regiões de clima mediterrâneo.
( ) Formação herbácea, composta por capim, que apa-
rece em regiões de clima temperado continental.
( ) Vegetação complexa que surge por influência do cli-
ma tropical, alternadamente úmido e seco. Ocorre
na África e abriga animais de grande porte como le- No mapa, estão destacadas, regiões
ões, elefantes e girafas.
A onde há a ocorrência de climas muito úmidos, com
Assinale a alternativa que contém a sequência correta, inf luências das “monções”.
de cima para baixo. B de grandes concentrações populacionais.
A 2 – 1 – 6 – 4 – 5 – 3 C com as principais áreas de vegetação adaptada a
B 1 – 2 – 3 – 6 – 5 – 4 ambientes secos.

C 3 – 6 – 1 – 2 – 4 – 5 D das mais importantes áreas de criação de bovinos


no mundo.
D 6 – 5 – 4 – 3 – 2 – 1
E onde se localizam as maiores jazidas de ferro e de
E 4 – 3 – 2 – 5 – 1 – 6 manganês no mundo.

301
SISTEMA DE ENSINO A360°

08| UFU Observe a figura abaixo. ( ) Formações vegetais adaptadas à alternância de


Latude verões chuvosos e invernos secos. Vegetação com-
Latude plexa com estratos arbóreo, arbustivo e herbáceo.

6 000 m
40° 80°
Neve e gelo
Amplamente utilizada para agricultura e pecuária.
Tundra

Marque a alternativa que apresenta a seqüência correta,

Atude 3 000 m
Floresta de coniferas

Altude
Floresta temperada decorrente do preenchimento da coluna da direita.
Deserto ou grassíand
A III, I, II e IV
B I, II, III e IV
Floresta
tropical

0m
Floresta Deserto Floresta
ou Floresta de Tundraa N
Neve e gelo
tropical temperada coníferas
C III, IV, I e II
grassland

VESENTINI, J. W. Sociedade e espaço: Geografi a geral e do Brasil - Caderno de Atividades. São


Paulo: Ática, 2000. D IV, I, II e III
Considerando a figura acima e o que se conhece sobre o E I, IV, III e II
assunto, é correto afirmar que:
A em grandes altitudes não há uma influência direta 10| IFRS Sobre os biomas brasileiros, analise as afirmações
da latitude nas formações vegetais. abaixo.

B quanto maior a altitude menor a temperatura, e I. O Bioma Mata Atlântica é constituído por um con-
quanto maior a latitude maior a temperatura. junto de formações florestais e ecossistemas asso-
ciados, que originalmente se estendia por 17 esta-
C a paisagem vegetal é a mesma tanto nas grandes la- dos brasileiros. Mesmo reduzido e fragmentado,
titudes quanto nas baixas altitudes. estima-se que esse bioma abrigue cerca de 35% das
D nas baixas altitudes não há uma influência direta da espécies vegetais existentes no Brasil, incluindo di-
latitude para as formações vegetais. versas espécies ameaçadas de extinção.

09| UFC Considerando as características das formações ve- II. O Bioma Pampa é típico de regiões com baixo índice
getais e as transformações impostas pelo homem, cor- de chuvas e sua vegetação consiste em árvores bai-
relacione corretamente as formações vegetais indicadas xas, arbustos e cactáceas. Estende-se pelos estados
na coluna da esquerda com as características descritas de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Pernambuco,
na coluna da direita. Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí, Sergipe e o nor-
te de Minas Gerais.
(I) Floresta temperada
III. A Amazônia, maior bioma do Brasil, é constituído
(II) Floresta estacional e savanas
de floresta equatorial, associada ao clima quente
(III) Vegetação mediterrânea e úmido da região. A exuberância da vegetação
(IV) Florestas pluviais equatoriais tropicais deve-se principalmente ao seu próprio material
orgânico o que torna esse bioma extremamente
( ) Formações vegetais em regiões de clima com verões sensível à ação antrópica.
quentes e secos e invernos amenos e chuvosos. As
maiores ocorrências estão no sul da Europa, onde IV. O Bioma Caatinga está restrito ao estado do Rio
foi muito desmatada para o cultivo de oliveiras e vi- Grande do Sul, onde ocupa 63% do território esta-
deiras. dual. As suas paisagens se caracterizam pelo predo-
mínio dos campos nativos, mas há também a pre-
( ) Formações higrófilas e latifoliadas, extremamente
sença de formações florestais e arbustivas.
heterogêneas, localizadas nas baixas latitudes, em
domínios quentes e úmidos. Nas últimas décadas, o Estão corretas
desmatamento provocou grande redução das áreas
A apenas I e III.
florestadas.
B apenas II e IV.
( ) Formações florestais caducifólias, encontradas em
latitudes intermediárias, com precipitação abun- C apenas I, II e III.
dante e regularmente distribuída. Devido a práticas
D apenas I, III e IV.
agrícolas intensivas e à intensa urbanização, restam
poucas áreas representativas. E I, II, III e IV.

302
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E
11| FUVEST Estas fotos retratam alguns dos tipos de forma- 12| ESCS Na Amazônia, vivem e se reproduzem mais de um
ção vegetal nativa encontrados no território nacional. terço das espécies existentes no planeta. A floresta abri-
ga 2.500 espécies de árvores e 30 mil das 100 mil espé-
cies de plantas que existem em toda a América Latina.
Além da riqueza natural, a Amazônia contém uma fan-
tástica diversidade cultural. A respeito dessa rica região
e dos diferentes aspectos a ela relacionados, assinale a
opção correta.
A O ecossistema da região amazônica é fértil, pois a
floresta extrai grande quantidade de nutrientes do
solo, que é rico em minerais essenciais aos organis-
mos.
B A Amazônia, devido a sua grande massa vegetal, li-
bera quantidade expressiva de água para a atmos-
fera por meio da evaporação e da transpiração das
plantas.
C A diversidade cultural a que o texto faz referência
está relacionada ao número cada vez maior de emi-
grantes estrangeiros na região.
D O aumento da qualidade de vida da população da re-
gião amazônica, verificado nos últimos anos, é atribu-
ído ao bom desenvolvimento econômico da região.
13| FGV No Brasil há a presença de variados biomas e ecos-
sistemas ricos em espécies animais, vegetais e micro-or-
ganismos. É o país com maior diversidade de anfí bios
do mundo: 516 espécies. Possui 522 espécies de ma-
míferos, das quais 68 são endêmicas; 468 espécies de
répteis, das quais 172 são endêmicas, e 1622 espécies
de aves (uma em cada seis espécies de aves do mundo
www.ibge.gov.br. Adaptado. G. Ferreira, Moderno Atlas Geográfico, 2012. Adaptado. ocorre no Brasil).
Correlacione as formações vegetais retratadas nas fotos Adaptado de Conhecer para conservar: As Unidades de Conservação do Estado de São
Paulo.
às áreas de ocorrência indicadas nos mapas abaixo. Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. 1999, p. 66.

A Essas informações sobre a biogeografia do território bra-


I II III IV V sileiro permitem concluir:
A O Brasil é um país com grande diversidade biológica
devido, antes de tudo, às políticas de conservação
B engendradas nos últimos 40 anos, com criação e
consolidação de diversas unidades de conservação
em todos os biomas de nosso território.
B O Brasil tem uma biodiversidade comprometida em
C
razão da excessiva invasão de espécies exóticas, o
que é demonstrado pelo baixo número de espécies
endêmicas de mamíferos. Isso coloca em risco de
D extinção espécies nativas, o que diminui nossa bio-
diversidade.
C A biodiversidade de espécies animais no Brasil não
E corresponde à biodiversidade de espécies vegetais,
essa, sim, muito ameaçada pelo desmatamento nas
diversas regiões do país. Diferentemente, as políti-
cas de proteção da fauna têm sido bem sucedidas.

303
SISTEMA DE ENSINO A360°

D A condição de elevada biodiversidade no Brasil só ( ) O clima da região é equatorial, apresentando gran-


não é mais importante porque a maior parte do de amplitude térmica, com duas estações definidas,
nosso espaço encontra-se na faixa intertropical, o elevados índices pluviométricos e temperaturas mé-
que homogeneíza as coberturas vegetacionais, di- dias anuais de 22°C.
minuindo o potencial de diversidade biológica.
A alternativa que indica a sequência correta, de cima
E O Brasil é um país de megadiversidade biológica em para baixo, é a
parte graças à sua extensão, que abrange por volta
A VFVFV
de 40º de latitude e 40º de longitude, o que corres-
ponde a condições ambientais múltiplas, fator im- B VVFFF
portante na determinação da biodiversidade. C FVFVV
14| UNIFACS Ao explicar de forma original e elegante a ori- D FVVFF
gem da biodiversidade amazônica, a ideia dos refúgios to- E VFFVV
mou de assalto a academia e se tornou dogma para duas
gerações de cientistas. No Brasil, seus principais defenso- 15| UEL PR Analise a figura a seguir.
res foram o geógrafo Aziz Ab´Saber e o zoólogo Paulo Van-
zolini, ambos com 86 anos. Na semana passada, o dogma,
fustigado há tempos pela nova geração de pesquisadores,
recebeu a extrema-unção. Os algozes são dois estudos in-
ternacionais publicados na revista Science.
O primeiro demonstra que a biodiversidade amazônica
não remonta ao término da idade do gelo. É muito an-
terior. Em boa parte dos últimos 60 milhões de anos, a
biodiversidade era igual ou superior à atual, como com-
provam os fósseis da antiga fauna e flora da região. O
segundo estudo questiona uma ideia recente, ligada às
possíveis consequências do aquecimento global. Espe-
cialistas preveem um aquecimento de 3 a 5 graus celsius Figura 13: Mangue no Rio Preguiças-Barreirinhas-MA.
de temperatura média anual da Amazônia nos próximos
100 anos. Em consequência, afirmam, o clima será mais Com base na figura e nos conhecimentos sobre os man-
árido. A perda de umidade poderia resultar na redução guezais, considere as afirmativas a seguir.
da biodiversidade, por meio de extinção de espécies. O I. São formados em ambientes de transição das águas
trabalho na Science diz o contrário. O clima mais quente fluviais para as águas oceânicas, nas zonas de conta-
deve expandir a biodiversidade. to entre terra e mar.
(MOON, 2010, p. 74).
II. Trata-se de um domínio morfoclimático que se de-
A partir da análise do texto e dos conhecimentos sobre a senvolve graças à biodiversidade ambiental que ca-
Amazônia, marque V nas afirmativas verdadeiras e F, nas racteriza as suas florestas.
falsas. III. Sua fauna representa importante fonte de alimen-
( ) Os diversos fenômenos naturais que ocorrem na ba- tos para o habitante, que depende deste ecossiste-
cia amazônica estão relacionados às diferenças de ma para extrair seu meio de subsistência.
propriedades físicas das águas dos rios envolvidos, IV. A ausência de legislação de proteção aos mangue-
como a densidade, a temperatura, a profundidade, zais resultou no seu desaparecimento em escala
a velocidade e o PH das águas. global.
( ) A morfologia da paisagem amazônica é modelada Assinale a alternativa correta.
por estruturas geológicas com diferentes caracte-
rísticas. A Somente as afirmativas I e II são corretas.

( ) A vegetação da Amazônia é predominantemente B Somente as afirmativas I e III são corretas.


aciculifoliada, perene, estratificada, com predomí- C Somente as afirmativas III e IV são corretas.
nio das formações herbáceas.
D Somente as afirmativas I, II e IV são corretas.
( ) Os solos da Amazônia são jovens, básicos, com hori-
zontes pouco definidos e do tipo azonais. E Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.

304
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente E
16| UNIOESTE O mapa abaixo apresenta a classificação dos A Todas as alternativas estão incorretas.
biomas brasileiros segundo o IBGE (2004). Considerando
B Apenas as alternativas I e V estão incorretas.
o mapa dos biomas, a diversidade de vegetação no país
e o processo de ocupação dos biomas brasileiros, analise C Apenas as alternativas III e V estão incorretas.
as afirmativas abaixo. D Apenas as alternativas I, III e V estão incorretas.
E Apenas as alternativas I, II e III estão incorretas.

17| MACK Floresta aciculifoliada com árvores que atigem


mais de 30 metros de altura, recobria originalmente a
Bioma Amazônia Região Sul do Brasil. Este ecossistema encontra-se em
Bioma extinção devido à intensa exploração econômica da ma-
nga
deira e da utilização dessas áreas para a agricultura.
Atualmente, restam apenas 2% de sua formação vegetal
Bioma cerrado original.
Bioma
Pantanal
Analisando o texto, assinale a alternativa que relaciona de
forma correta o bioma citado ao clima correspondente.
A Floresta Subtropical – Clima Temperado Úmido
Bioma mata
Atlân a B Floresta Decídua – Clima Tropical Úmido
N
Bioma C Mata dos Pinhais – Clima Subtropical
Pampa
D Mata de Araucárias – Clima Temperado Atlântico
Fonte: IBGE, 2004. E Floresta Mata de Cocais – Clima Subtropical
I. A maior parte do estado do Paraná encontra-se no
18| PUC Considere as afirmativas sobre o Pantanal.
bioma da Mata Atlântica, apesar de possuir algumas
áreas de campos. Os tipos de florestas encontrados I. Na época das secas, como resultado da fertilização
no Paraná são a ombrófila densa, ombrófila mista e das terras pela camada de húmus depositada no
estacional semi-decidual. período da subida das águas, surge um conjunto de
plantas herbáceas que servem de alimento ao gado.
II. Os mangues, restingas e dunas são formações lito-
râneas importantes, pois apresentam uma fragilida- II. A pequena velocidade no escoamento das águas do
de ambiental. Eles não foram destacados no mapa, Rio Paraná não consegue eliminar completamente
os sedimentos, formando um ambiente alagado, sa-
porém estão localizados no litoral brasileiro. Nesses
lobro e pobre em nutrientes.
ecossistemas predominam as chamadas formações
pioneiras. III. A combinação da topografia com o ciclo das águas
cria uma diversidade de ambientes que possibilita
III. O cerrado predomina no Centro-Oeste do Brasil, re-
a existência de diferentes espécies vegetais, criando
gião marcada pela pecuária bovina, onde a agricul-
um mosaico de formas, volumes e cores.
tura é uma atividade secundária e a estrutura fun-
diária é caracterizada por pequenas propriedades IV. Uma das maiores ameaças ao ecossistema se origi-
rurais. na fora do Pantanal, nas suas bordas, onde ocorre o
desmatamento das margens dos rios que o atraves-
IV. A caatinga é o principal bioma da região Nordeste, sam.
que, apesar da existência do Rio São Francisco em
seu território, apresenta os maiores períodos de Estão corretas apenas as afirmativas
seca do Brasil. A I e II.
V. Por estar em uma região onde as chuvas são bem B II e IV.
distribuídas, os pampas gaúchos não apresentam
C III e IV.
problemas relacionados a processos de erosão e
arenização dos solos. D I, II e III.
Assinale a alternativa correta. E I, III e IV.

305
F GLOBALIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO

Após a queda do muro de Berlim (1989) e o fim da Guerra Fria, houve muitas alterações nas relações políticas, econômicas e
culturais. O mundo deixou de ser bipolar (EUA X URSS) e estabeleceu uma nova ordem geopolítica global. A lógica seria uma or-
dem polar na qual os EUA dominaria único e soberano. No entanto, devido à concentração econômica e, sobretudo tecnológica,
isso não aconteceu. O mundo passou a ser multipolar concentrando os pólos nos EUA, Europa e Japão. A divisão Leste - Oeste
também deixou de existir e passou a ser Norte - Sul.

DIVISÃO
PAÍSES PAÍSES DESENVOLVIDOS SOCIOECONÔMICA
SUBDESENVOLVIDOS (NORTE X SUL

A imagem retrata as três grandes áreas de influências globais. Além da linha vermelha está representada a nova divisão
econômica mundial, acima da linha estão localizados os países do norte e abaixo da linha estão os países do sul, os países em
via de desenvolvimento. É importante ressaltar que essa divisão não é cartográfica, tendo em vista que ela não segue a linha do
equador. Sendo assim, ela é econômica.

A palavra globalização aparece como “sinônima” desse período pós Guerra Fria, uma vez que a estrutura política, social
e cultural é resultado dos processos oriundos da globalização. Entretanto, esse processo só foi possível devido ao avanço da
técnica e tecnologia da informação por meio do desenvolvimento de computadores, da própria internet, softwares, celulares,
fibra óptica e toda a gama de equipamentos de comunicação de altíssima velocidade.

O que torna o mundo cada vez menor ou dá a impressão de que ele está menor, é o fato de que a velocidade da informação
alterou a relação tempo-espaço geográfico.

306
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente F

1500 - 1840
Velocidade das carruagens e dos
barcos a vela: 16km/h

1850 - 1930
Velocidade das locomo as
a vapor: 100km/h; barcos a vapor: 57 km/h

Anos 1950
Aviões a propulsão: 480-640 km/h

Anos 1950
Jatos de passageiros: 800-1100 km/h

O livro Condição Pós-Moderna, de David Harvey, mostra o quanto a noção do espaço geográfico foi alterada com o desen-
volvimento das tecnologias da informação. Tal fato pode ser percebido hoje, uma vez que podemos assistir a uma partida de
futebol, uma corrida, um atentado, uma guerra ou qualquer fato ao vivo, mesmo que ele aconteça do outro lado do globo. Isso

307
SISTEMA DE ENSINO A360°

nos torna cada vez mais integrados, conectados uns aos


outros. Com a popularização da internet nos grandes cen-
tros e a massificação dessa via de comunicação, há a im-
pressão de que vivemos em um mundo no qual não exis-
tem fronteiras, numa aldeia global, que somos cidadãos
do mundo. Esse “mundo virtual” chega a desobedecer às
leis da física, já que um indivíduo pode estar presente em
mais de uma coordenada de maneira virtual.
Para o geógrafo Milton Santos, esse último estágio do
capitalismo tem como objetivo maior a busca desenfrea-
da pelo lucro, ao ponto de ser perversa. Ele inicia sua obra
intitulada, Por Uma Outra Globalização, dizendo que “o
mundo no qual vivemos é confuso e confusamente en-
tendido”. Nesse livro o autor trata a globalização de três
mundos distintos em um único mundo. Sendo o primeiro
“o mundo tal como nos fazem crer: a globalização como fábula.” O segundo mundo, “ o mundo como é: a globalização como
perversidade.” Por fim, o terceiro mundo é “ o mundo como pode ser: Uma outra globalização.”
Nesse primeiro mundo, as características da globali-
De Visu / Shu�erstock.com

zação são as que nos fazem crer que todos são integrados,
onde a quantidade de informações e a velocidade delas
criam um mundo que não existe, um mundo virtual, no
qual as noções espaciais e temporais são distorcidas. Um
mundo no qual o Estado está morto ou semimorto (neoli-
beralismo) e a força do capital internacional das multina-
cionais anestesiaram as ações dele. A força das multina-
cionais é simplesmente avassaladora, segundo Santos, ela
é capaz de homogeneizar os indivíduos, sendo o consumo
estimulado ao ponto do autor tratá-lo como um grande
fundamentalismo.
O segundo mundo é de perversidade, é o retrato da
globalização como ela é! A pobreza, a fome e a falta de
acesso à informação é algo característico da globalização.
O desabrigo, a falta de saneamento básico faz aumentar o número de doenças e também a mortalidade infantil. Além da de-
sumanização causada pelo consumo, que gera uma competitividade e legitima o discurso da meritocracia. Outro geógrafo que
faz menção à perversidade desse processo é Josué de Castro, no seu célebre livro Geografi a da Fome. Nele o autor afirma que
“metade da população do mundo não dorme pois tem fome e a outra metade não dorme com medo dos que têm fome!” Se-
gundo a FAO- Organização das Nações Unidas para alimentação e agricultura, cerca de 805 milhões de pessoas passam fome
no mundo.
O terceiro mundo é por uma outra globalização, seria uma globalização mais humana, menos perversa! O que levaria a
isso seria organizações dos países do sul,os que estão em via desenvolvimento a reorganizar a geopolítica global.

MOVIMENTO ANTIGLOBALIZAÇÃO
Os movimentos antiglobalização ganharam força na década de
1990. São organizações que em sua maioria é composta por civis e que
estão indignados com a situação econômica e social no qual estão ins-
taurados pelo modelo neoliberal.

BLOCOS ECONÔMICOS REGIONAIS


Neste contexto de mundo globalizado, integrado de aldeia global a
nova forma de regionalização mundial é por meios dos blocos econô-
micos regionais. Blocos econômicos regionais consistem numa união
multilateral entre países com proximidade/elo geográficos como obje-

308
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente F
tivos de fortalecimento nos seus sistemas econômicos. Essa união perpassa o campo econômico, pois, chega ao campo político
e cultural. Os blocos econômicos regionais estão classificados em quatro modalidades diferentes: Zona de livre comércio, União
Aduaneira, Mercado Comum e União econômica e monetária.
Zona de livre comércio é uma modalidade de bloco econômico que visa apenas às reduções e ou eliminações de tarifas
alfandegárias entre os países membros.

Zona de livre
comércio

União aduaneira

Mercado Comum

União Monetária

União aduaneira é uma modalidade de bloco econômico que visa às reduções e ou eliminação de tarifas alfandegárias
entre os países membros, todavia essa tarifa também pode ser aplicada a países não membros. Pois, na modalidade união
aduaneira adota a Tarifa Externa Comum-TEC
Mercado Comum é uma modalidade que adota todas as características da aduaneira, porem nesta modalidade é permitido
a livre circulação: de capital, mercadoria e pessoas entre os países membros do bloco.
União econômica e monetária é uma modalidade de bloco econômico regional que adota todas características de um mer-
cado comum, todavia possui uma moeda única entre os países membros.
Os principais blocos econômicos regionais são: Mercosul, NAFTA,União Europeia, APEC entre outros.

União Europeia -UE, tem seu projeto embrionário logo após o fim da segunda guerra uniram se Bélgica, Netherland ( Ho-
landa) e Luxemburgo ao BENELUX, com objetivo de troca de mercadoria (carvão e aço). Esse grupo deu tão certo que em 1952
juntou aos três países França, Itália e Alemanha Ocidental e criou a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço- CECA. Com in-
tensificação da guerra fria e a busca pelo mercado consumidor em 1957, foi assinado o tratado de Roma criando a Comunidade
Econômica Europeia CEE e novos membros foram integrados Inglaterra, Irlanda e Dinamarca (1973), Grécia (1981) Espanha e
Portugal (1986). Somente em 1991 UE alcança com todas as características de mercado comum, com assinatura do tratado de
Maastricht, neste tratado foi criada a moeda única o euro. Todavia, ela só entra em vigor e circulação em 2002.

309
SISTEMA DE ENSINO A360°

Com a criação do euro alguns países receberam ajuda financeira para fortalecimento da sua economia e torna assim o
euro uma moeda forte, contudo, com agravamento da crise de 2008 a UE entrou numa terrível crise uma vez que os países que
receberam ajuda deixaram de receber ajuda e assim pararam seu crescimento e esses países começaram a não cumprir com
seus compromissos financeiros. O grupo de países que estão nesta situação é: Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, tais
países receberam a sigla pejorativa em inglês PIIGS que significam porcos, “os porcos, mal pagadores da UE”. A situação mais
economicamente grave é da Grécia.

APEC- Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico, foi abordado em 1989 pelo ex- ministro australiano e foi criado em
1993 na conferência de Seattle nos EUA. É uma zona de livre comércio, que conta com os países que são banhados pelo oceano
pacífico e margeiam o círculo de fogo.

Atualmente tem 21 membros de economia e cultural bastante diferentes, dentre seus membros estão EUA, China e Austrá-
lia. O principal objetivo do bloco é o fortalecimento e da economia dos membros do bloco.

310
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente F
Nafta- Tratado Norte-Americano de Livre Comércio é um bloco econômico composto atualmente por EUA, Canadá e Méxi-
co. É uma zona de livre comércio. O bloco tem sua origem em um acordo dos EUA e Canadá em 1988. No ano de 1992 o México
foi anexado ao bloco que entrou em vigor no ano de 1994.O Chile é um país também associado ao bloco.

Mercosul- Mercado Comum do Sul, foi criado em 1991 por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai assinando no tratado de
Assunção no Uruguai, com objetivo é a maior integração das parte e a livre circulação de bens, serviços e fatores produtivos,
em 1994 entra em vigor a Tarifa Externa Comum- TEC. A Venezuela foi integrada como países membro em 2013. Os demais
todos os países da América do sul fazem parte do MERCOSUL como países associados. O Paraguai foi temporariamente suspen-
so em 2012 por causa do golpe de Estado sofrido pelo então presidente Fernando Lugo, que foi deposto por militares. Apesar
do nome o MERCOSUL não é um mercado comum, pois suas características estão mais próximas de uma modalidade de bloco
econômico regional de união aduaneira.

311
SISTEMA DE ENSINO A360°

BRICS- é um grupo econômico composto por países emergentes (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Somente em
2010, a África do Sul integrou o grupo.

O termo surge pelo economista inglês Jim O’Neill, num relatório Building Bett er Global Economic BRICs. Ele aponta carac-
terísticas em comum nos países que os tornavam atrativos para investidores, dentre elas estão: crescente econômica, grande
extensão territorial, grande mercado consumidor potencial e elevada quantidade de recurso natural. O surgimento do BRICS
reconfigura a geopolítica do planeta, uma vez que os cinco países representam nada mais que 26% das terras emersas do
planeta e sua população somada chega a representar 46% da população mundial e 23% do PIB mundial. Os países em via de
desenvolvimento mostram sua força econômica e política.

Em 2013 em Fortaleza-Ce- Brasil, foi sede da VI cúpula foi criado o banco dos BRICS que é fundo de 100 milhões no qual
será utilizado em auxilio aos países do BRICS ou de países emergentes.

312
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente F

R EXERCÍCIOS RESOLVIDOS
01| UFMG Leia este trecho: Argumento 1:
Eurocopa & eurocrises Argumento 2:
Sempre gostei da Eurocopa. O futebol é um porme- 2. Pode-se perceber pela leitura do trecho que o jor-
nor. As minhas razões são políticas. Gosto da Eurocopa nalista tem uma posição com relação à integração
porque ela é a expressão tangível (e bem ruidosa) da europeia.
diversidade nacional europeia que nenhuma constru-
ção federal será capaz de suprimir. EXPLIQUE qual é essa posição, justificando-a.
Dias atrás, a chanceler Angela Merkel [alemã] decla- Explicação e justificativa:
rou em entrevista: a solução para os problemas do
Resolução:
euro passa por mais “integração” dos países da zona
do euro. [...] 1. Argumento 1: A crise econômica vivenciada na
União Européia, com destaque para os países co-
Angela Merkel, claro, não lê a imprensa portuguesa.
nhecidos como PIIGS (Portugal, Itália, Irlanda, Gré-
Se lesse, veria o que escreveram a respeito do jogo
cia e Espanha) e as políticas de austeridade fiscal/
Alemanha x Portugal (que os portugueses, injustamen-
te, perderam por 1 a 0). A retórica antigermânica era social “impostas” pela Alemanha.
violenta, o que se entende; o país está sob resgate fi- Argumento 2: A tensão e submissão política, social
nanceiro internacional, com a bênção punitiva da Ale- e militar vivenciada pela Polônia em decorrência da
manha. atuação da ex-URSS durante o período da Guerra
Mas as rivalidades que a Eurocopa oferece não são Fria, na qual a Rússia era a grande república.
apenas explicadas por crises econômicas momentâne- 2. Percebe-se, pela leitura do texto, que o autor tem
as. Existem também memórias históricas que persis- uma posição de não acreditar na concretização
tem em retornar à superfície. de integração européia. Segundo ele, a diversida-
Jogos como Polônia x Rússia ou França x Inglater- de nacional e o interesse de sua manutenção por
ra são evocações fantasmagóricas de lutas seculares parte de alguns países dificultam a integração, já
que deixaram sua pegada arqueológica. Quando essas que muitos povos querem manter e resgatar a sua
equipes se voltarem a enfrentar na Eurocopa, não será identidade e a sua cultura. Além disso, o contexto
apenas de futebol que a mídia irá falar. histórico europeu é marcado por tensões e conflitos
[...] que marcam a história recente de vários Estados, o
que alimenta rivalidades entre parte da população
Na Europa, não existe um único país; nem sequer dessas nações.
como pretendem os federalistas, diferentes “regiões”
que podem fazer parte de um super Estado com capi- 02| UNICAMP Faz cerca de vinte anos que “globalização”
tal em Bruxelas. se tornou uma palavra-chave para a organização de nos-
O que existe são nações múltiplas que, na hora do sos pensamentos no que respeita ao funcionamento do
confronto desportivo, regressam a um sentimento pri- mundo. A palavra “globalização” entrou recentemente
mordial de pertença: a uma língua, uma cultura, uma em nossos discursos e, mesmo entre muitos “progres-
identidade. sistas” e “esquerdistas” do mundo capitalista avançado,
Coutinho, João Pereira. In: Folha de S.Paulo.p. E6. Ilustrada.12 de junho de 2012. (adaptado) palavras mais carregadas politicamente passaram a ter
um papel secundário diante de “globalização”. A globa-
A partir da análise e interpretação desse trecho, FAÇA
o que se pede: lização pode ser vista como um processo, uma condição
ou um tipo específico de projeto político.
1. O jornalista português João Pereira Coutinho es- (Adaptado de David Harvey, Espaços de Esperança. São Paulo: Edições Loyola, 2006. p. 79.)
tabelece uma relação entre o comportamento das
torcidas, a história e a situação econômica euro- A Identifique uma característica política e uma cultu-
peia atual. ral do processo de globalização.

APRESENTE dois argumentos que comprovam a rela- B Quais as principais críticas econômicas dos movi-
ção estabelecida pelo autor. mentos antiglobalização?

313
SISTEMA DE ENSINO A360°

Resolução: se de classes hegemônicas ou setores sociais a elas


vinculados.
A No plano políti co, a globalização do modelo liberal
democráti co do Estado a parti r das nações ociden- B Os movimentos sociais que se têm manifestado no
tais tem gerado confl itos com outras formas de or- senti do da anti globalização baseiam-se no acirra-
ganização das relações de poder, que resistem às mento das desigualdades sociais a parti r do aumen-
imposições das potências econômicas e militares. to do desemprego e da desvalorização do trabalho.
No plano cultural, a padronização das produções Denunciam também as agressões ao meio ambiente
da chamada indústria cultural aponta para a ho- e a degradação das condições de trabalho e mora-
mogeneização das mensagens de mídia no interes- dia, sobretudo nos grandes centros urbanos.

F EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO
01| UFJF Observe a figura abaixo. Perto, só quando dava
O ENCOLHIMENTO DO MAPA-MUNDÍ Quando muito, ali defronte,
1500-1840
E o horizonte acabava.”
Fonte: www.gilbertogil.com.br/letras/paraboli

B O mesmo fator que você identificou na letra a tam-


bém justifica as afirmações contidas na letra da mú-
sica? Explique sua resposta.

02| UFRJ O grupo de países emergentes conhecido pela si-


gla BRIC é composto por Brasil, Rússia, Índia e China.
Esses países têm apresentado ritmos de crescimento
superiores aos dos países da Organização para Coope-
1850-1930 ração e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Todos os
países que formam o BRIC têm ambições de se consoli-
dar como grandes potências regionais, com projeção em
escala global. No entanto, do ponto de vista geopolítico
e militar, o Brasil se diferencia dos demais integrantes do
grupo.
ANOS 1950
Apresente um aspecto que diferencie a geopolítica bra-
sileira da dos demais países integrantes do BRIC.

ANOS 1960
03| PUC O modelo de formação do bloco regional europeu
sofreu mudanças, ao longo da segunda metade do sécu-
Fonte: HARVEY, D. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre as
lo XX, de acordo com os caminhos traçados pela geopo-
origens da mudança cultural.2.ed. São Paulo: Loyola, 1992.
lítica mundial no período. Apesar de todos os seus pro-
Responda: blemas, esse modelo se mantém como referência para
outros processos de regionalização no mundo de hoje.
A Que fator explica o “encolhimento” do mapa-mundi?
Leia o trecho da música Parabolicamará, de Gilberto Gil: A Diferencie o objetivo de formação do Mercado Co-
mum Europeu (MCE), pelo Tratado de Roma, de
“ Antes mundo era pequeno 1957, do da União Europeia (UE) pelo Tratado de
Porque Terra era grande Maastricht, em 1992.

Hoje mundo é muito grande B Identifique dois processos geopolíticos geradores


de grandes mudanças territoriais e políticas ocorri-
Porque Terra é pequena.
dos na Europa, entre 1989 e 1991, que impulsiona-
Antes longe era distante. ram a expansão da UE para outras regiões.

314
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente F
04| UEG Uma das faces da globalização é a criação de mer- 07| UNICAMP Uma tendência marcante no mundo con-
cados comuns entre grupos de nações chamados de me- temporâneo é a formação de organismos regionais,
gablocos ou blocos regionais; é uma forma de regiona- como o Mercosul e a União Européia. Considerando
lização dentro do espaço mundial e, ao mesmo tempo, esse fato, responda às questões:
uma forma de aumentar as relações em escala global,
pois os países participantes de um bloco têm acesso a A A primeira “onda” de integração regional iniciou-
vários mercados consumidores, dentro e fora de seu blo- -se após a Segunda Guerra Mundial e perdurou até
co. Sobre alguns dos blocos da América, responda: cerca de 1970. Considerando esse período, apon-
te pelo menos duas organizações que surgiram na
A Cite os países que compõem o NAFTA e explique
quais são os reflexos dessa organização para o país América Latina, e comente os resultados dessa inte-
representante da América Latina. gração no subcontinente.

B A criação da ALCA sofreu várias críticas em função B Recentemente, a idéia de “regionalismo aberto”
dos prejuízos que pode representar para o Merco- tem sido utilizada para promover a convergência
sul. Explique. dos diversos acordos regionais existentes, visan-
do também à adesão de novos países ao proces-
05| UFRJ O aumento do número de acordos de integração so de integração. Neste contexto, quais seriam
regional foi um dos principais eventos nas relações in- os principais objetivos almejados pela integração
ternacionais nas últimas décadas. Praticamente todos os
regional?
países são membros de algum bloco e muitos participam
de mais de um. 08| UEG Observe o mapa a seguir.
A Apresente duas vantagens da criação de blocos eco-
nômicos para os países integrantes.
B Apresente uma característica que diferencia a União
Europeia de outros acordos de integração regional. 1 2
06| UFMG A 5a Cúpula das Américas, evento continental Trópico de Câncer

que reuniu 34 líderes das Américas, em abril de 2009, OCEANO OCEANO


ATLÂNTICO
em Trinidad e Tobago, reacendeu e levou para a mídia Equador
PACÍFICO

a temática dos organismos de integração e desenvolvi- OCEANO OCEANO


mento regionais que atuam nesse Continente. PACÍFICO
Trópico de Capricórnio 3 ÍNDICO

Um jornal, à época, relacionou os seguintes órgãos:


Comunidade do Caribe (Caricom); Sistema de Integra- 0 4 100
ção Centro-Americano (SICA); Alternativa Bolivariana km (no Equador)
para as Américas (ALBA); Organização dos Estados Círculo Polar Antá co

da América Latina e Caribe (Oealc), também chama-


da, não sem uma dose de ironia, de OEA do B; União MOREIRA, João Carlos; SENE, Eustáquio de.
das Nações Sul-Americanas (Unasul); Organização dos Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, Atual, 2007. p. 241.

Estados Americanos (OEA). E pode-se, ainda, citar al-


guns outros por exemplo, Tratado Norte-Americano A Identifique os blocos econômicos 1, 2 e 3, respecti-
de Livre Comércio (Nafta) e Mercado Comum do Sul vamente assinalados no mapa.
(Mercosul).
B Cite e explique duas vantagens que justifiquem a
Considerando essas informações, analise esta afirmativa: formação dos blocos econômicos no processo de
Avalia-se que a proliferação de tantos organismos de globalização.
cooperação, integração e desenvolvimento regionais é
desfavorável ao desenvolvimento sustentável do Conti-
nente.
Você CONCORDA com essa afirmativa?
SIM: NÃO:
JUSTIFIQUE sua resposta.

315
SISTEMA DE ENSINO A360°

T ENEM E VESTIBULARES
01| ENEM C a influência das grandes potências econômicas.
D a dissolução de blocos políticos regionais.
E o alargamento da força econômica dos países islâ-
micos.

02| ESPM A imagem abaixo foi bastante difundida nos anos


1990 especialmente a partir da publicação de uma obra
clássica do geógrafo britânico David Harvey, Condição
pós moderna. Guarda estreita relação com a mensagem
divulgada na canção:
1500 - 1840

A melhor média de velocidade das carruagens


e dos barcos a vela era de 16 km/h

1850 - 1930

As locomovas a vapor alcançavam em média


100 km/h; os barcos a vapor 57 km/h
Fonte: LÉVY et al. (1992), atualizado. Anos 1950

O espaço mundial sob a “nova des-ordem” é um emara- Aviões a propulsão: 480 - 640 km/h
nhado de zonas, redes e “aglomerados”, espaços hege-
Anos 1960
mônicos e contra-hegemônicos que se cruzam de forma
complexa na face da Terra. Fica clara, de saída, a polêmi- Jatos de passageirs: 800 - 1100 km/h
ca que envolve uma nova regionalização mundial. Como
A Terra! Terra! por mais distante, o errante navegante
regionalizar um espaço tão heterogêneo e, em parte,
quem jamais te esqueceria. "Terra", de Caetano Ve-
fluido, como é o espaço mundial contemporâneo?
loso.
HAESBAERT, R.; PORTO-GONÇALVES, C.W. A nova des-ordem mundial.

São Paulo: UNESP, 2006. B Há soldados armados, amados ou não, quase todos
perdidos de armas na mão. "Pra não dizer que não
O mapa procura representar a lógica espacial do mun-
falei das flores", de Geraldo Vandré.
do contemporâneo pós-União Soviética, no contexto de
avanço da globalização e do neoliberalismo, quando a C Pra começar, quem vai colar,os tais coquinhos da
divisão entre países socialistas e capitalistas se desfez e velho mundo? Pátrias, famílias, religiões e precon-
as categorias de “primeiro” e “terceiro” mundo perde- ceitos, chegou não têm mais jeito. “Pra começar”,
ram sua validade explicativa. Marina Lima e Antonio Cicero.
Considerando esse objetivo interpretativo, tal distribui- D Antes mundo era pequeno porque Terra era grande.
ção espacial aponta para Hoje mundo é muito grande, porque terra é peque-
na. "Parabolicamará", de Gilberto Gil.
A a estagnação dos Estados com forte identidade cul-
tural. E Terra, és o mais bonito dos planetas. Estão te mal-
tratando por dinheiro, tu que é a nave nossa irmã.
B o alcance da racionalidade anticapitalista. "O sal da Terra. Beto Guedes".

316
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente F
03| FAMECA A nova ordem mundial, conjunto de caracterís- IV. A globalização teve seu processo facilitado pela
ticas econômicas, políticas e sociais, consolidou-se com técnica, pelas formas de telecomunicação mediada
o fim da Guerra Fria. pela rede de computadores que constituem a base
de fluxos do capital financeiro.
Sobre essa nova configuração, é correto afirmar que
A Todas as afirmativas estão erradas.
A a organização de fóruns de debates internacionais
passou a se constituir elemento chave para o novo B Todas as afirmativas estão corretas.
cenário, resgatando o respeito pelos líderes mun- C Somente a afirmativa I é correta.
diais. D Somente a afirmativa III é incorreta.
B as superpotências passaram a ser definidas pela E Somente a afirmativa IV é correta.
elevada produtividade baseada no domínio técni-
co, científico e militar, conferindo maior competiti- 05| UEPA Estudos registram o surgimento, nos anos 1990, do
vidade. movimento antiglobalização ou alterglobalização que uniu
as críticas às causas da miséria, exclusão e conflitos sociais
C as lideranças se construíram de modo natural e as
e propõe a busca de um consenso que viabilize ações con-
novas potências assumiram seu papel de orienta- juntas e a construção de uma outra globalização, a da soli-
ção, criando um cenário positivo para debates de- dariedade. Neste contexto é correto afirmar que:
mocráticos.
A esses movimentos têm conseguido conter os avan-
D a capacidade militar se manteve preponderante nas ços da globalização, principalmente no aspecto cul-
definições das áreas de influência dos países, ele- tural, em razão do efetivo apoio de Instituições Ofi-
gendo novos líderes mundiais. ciais, a exemplo do MST (no Brasil) e Via Campesina
no Continente Africano.
E os grandes países de influência global foram esco-
lhidos a partir de instâncias políticas capitaneadas B algumas ONGs (Organizações Não Governamentais)
por órgãos internacionais, avaliando suas poten- a exemplo do Greenpeace, têm efetivado suas ações
cialidades. de resistência à globalização, atentando principal-
mente às questões ambientais.
04| UESPI A globalização remete ao caráter do capitalismo, C as populações tradicionais amazônicas pouco têm
em seu processo de reprodução, reordenando modos sido influenciadas pelas ações antiglobalização devi-
de vida e espaços já organizados e consolidados, atra- do ao completo isolamento geográfico que as atin-
vés da incessante incorporação de novos territórios. A ge, em especial as comunidades quilombolas.
ideia de globalização, no fim do século XX, refere-se a D na América Latina, em especial no México, o Movi-
uma homogeneização sociocultural, econômica e espa- mento Zapatista é responsável pela liderança conti-
cial. Sobre o processo da globalização na perspectiva nental, tendo, porém, nos últimos anos, atuado em
hegemônica leia as afirmativas e marque a alternativa outras frentes territoriais, como Estados Unidos e
CORRETA. Alemanha.

I. A globalização não ocorreu de forma hegemônica e E a atuação da OMC (Organização Mundial do Comér-
sem resistências, passou por fases e crises sociopo- cio) com sua eficiente ação antiglobalização viabili-
líticas e tecnológicas, e cada vez mais é subordinada zou a participação de Cuba e China na última Reu-
nião da Cúpula das Américas.
ao capital financeiro e os fluxos mercantis das gran-
des corporações transnacionais. 06| UFG Nos últimos anos, países como França, Inglaterra,
II. A globalização da atividade econômica capitalista Espanha e Itália viram se agravar os seus conflitos in-
trata-se de uma forma mais avançada e complexa ternos, em alguns casos com manifestações violentas e
da internacionalização das atividades econômicas confrontos entre manifestantes, a maioria envolvendo
jovens e forças policiais. Esses acontecimentos ocorre-
dispersas em escala planetária, em um crescimento
ram por causa
dos fluxos do capital financeiro de caráter volátil ou
fictício. A da intensificação dos movimentos antiglobalização
que se prolongam desde o final da década de 1990 e
III. A globalização econômica conduz a um processo de tiveram como fato marcante a grande manifestação
fragmentação e exclusão reforçando as desigualda- durante o encontro da OMC em Seatle, nos Estados
des sociais, políticas e econômicas. Unidos.

317
SISTEMA DE ENSINO A360°

B dos movimentos pontuais que acontecem na Euro- E a regionalização é uma ação antiglobalização, que
pa em protestos contra a União Europeia e a imposi- termina sendo uma ação antiacumulação do capital,
ção aos países do euro como moeda única, fator que a favor da presença dominante do Estado no proces-
teria ampliado o desemprego. so produtivo.
C da luta da juventude pela paz mundial, principal-
08| UFPI A afirmação de Marshall McLuhan de que “o mun-
mente contra a participação de seus países em mis-
do se tornou uma aldeia global” é muito utilizada para
sões militares no Afeganistão e Iraque, ao lado dos
expressar o processo atual de globalização. Essa afirma-
Estados Unidos.
ção significa que:
D do crescimento da migração de populações de ou-
A Os povos de todos os países se encontram hoje co-
tros países, envolvidos em guerras ou catástrofes
nectados por redes de comunicação e de transportes.
ambientais, aliado à falta de emprego para a juven-
tude, em virtude da extensão da crise econômica. B A mundialização ou a globalização da cultura e das
comunicações entre os povos do mundo permitiu
E da determinação da juventude que luta por reforma
que todas as informações continuem restritas à es-
educacional e por maior participação do Estado no
cala do lugar, como fruto da expansão do capitalismo
ensino superior com a finalidade de ampliar a gra-
tuidade desse ensino. C Quando se diz que “o mundo ficou pequeno”, refe-
re-se ao planeta Terra, e não mais a uma pequena
07| PUC “Quatro grandes desafios da 'regionalização' [MER- porção do globo, como acontecia antes da comuni-
COSUL, p. ex.]: 1. Limitar a erosão a que está sendo sub- cação quase instantânea entre os lugares
metido o Estado, mediante a recuperação da capacidade
D O lugar continua a corresponder ao espaço geográ-
de regulação; 2. Recuperar o papel da acumulação ca-
fico conhecido por determinado povo: um mundo
pitalista nacional (privada e estatal), em relação à acu-
dos europeus, um mundo dos americanos, um mun-
mulação mundializada (corporações transnacionais) [...]
do dos africanos, etc.
para o desenvolvimento nacional; 3. Fortalecer o papel
do setor privado nacional, com o propósito de que este E A atual revolução técnico-científica mudou a per-
se converta no ator modernizador, dinâmico e transfor- cepção que se tem de mundo, mesmo mantendo a
mador [...]; 4. Reverter as condições estruturais de sub- mesma relação anterior a ela com o espaço geográ-
desenvolvimento e enfrentar as tendências objetivas fico mundial e com o lugar em que se vive.
negativas da globalização.”
09| IFGO
(Raúl BERNAL-MEZA. America del Sur en el sistema mundial hacia el siglo XXI [Améri-
ca do Sul no sistema
mundial, no século XXI]. In: LIMA, Marcos Costa (org.). O lugar da América do Sul na
VENEZUELA
nova ordem mundial.
São Paulo: Cortez Editora, 2001. p. 35) COLÔMBIA

Tendo como referência o texto e a relação do processo EQUADOR


de integração regional com o processo de globalização
pode ser dito que
A não existe incompatibilidade entre os dois processos, PERU BRASIL

e que, embora haja por vezes alguma contradição, os


dois processos são, na essência, complementares. BOLÍVIA

B o caminho para a superação do subdesenvolvimen- PARAGUAI


to é o da associação de capitais nacionais, com capi-
tais de escala global, no âmbito dos mercados regio-
nais integrados.
CHILE OCEANO
C a globalização enfraquece os Estados nacionais e ARGENTINA ATLÂNTICO
URUGUAI
OCEANO
submete os capitais nacionais a regimes competiti- PACÍFICO
vos difíceis, o que pode ser combatido com merca-
dos regionais regulamentados.
D a regulamentação imposta pela globalização tem
sido positiva para os Estados nacionais, pois estes
estavam se enfraquecendo como gestores econômi-
Disponível em: <http://cultura.culturamix.com/blog/wp-content/gallery>.
cos e como referências políticas.
Acesso em 24 Nov. 2014.

318
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente F
Com relação ao bloco econômico Mercosul, assinale a 11| IFSP A criação do Euro, em 1999, abre uma nova fase
alternativa correta. nas relações entre os Estados Nacionais na Europa e
apresenta a rediscussão das fronteiras e do protecionis-
A Os países associados do Mercosul após 2012 e que o mo econômico e cultural no mundo. Sobre o Euro, assi-
compõem são: Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. nale a alternativa correta.
B Argentina, Brasil, Uruguai, Paraguai (em suspensão A O Euro e a moeda utilizada por todos os países
temporária) e Venezuela são países membros do membros da União Europeia.
bloco.
B Alguns países fora da Europa, como o Canada e a
C São países membros do Mercosul: Argentina, Brasil, Nova Zelândia, pediram o direito de utilizar o Euro
Peru, Colômbia, Equador e Chile. em substituição de suas moedas nacionais.
D O Chile e a Venezuela aderiram e tornaram-se paí- C Apenas a Dinamarca e a Inglaterra, membros da UE,
ses membros em 2012. não utilizam o Euro.
E O Paraguai foi permanentemente suspenso do bloco. D As sucessivas crises dos anos 2000 enfraqueceram
o Euro e alguns países, como Alemanha, Espanha e
10| ESPM Franca que estão pensando em retornar as suas mo-
edas nacionais.
E O Euro tornou-se a moeda mais estável do mundo,
suplantando o dólar e a libra esterlina.

12| PUC

A novidade, divulgada durante a 6ª. Cúpula do BRICS,


realizada em Fortaleza (CE), é a primeira ação significa-
tiva do grupo de países emergentes criado em 2006 em
busca de uma maior influência global. Até então, os en-
contros eram pautados por muitos discursos e intenções Disponível em: <http://www.currensee.com/pigs#register>.
Acesso em: 26 jul 2013. Adaptado.
comuns, sem grandes resultados práticos. Isso mudou
nesta semana e, segundo especialistas consultados por Com a crise econômica aprofundada em 2008, uma clas-
ZH, pode trazer benefícios ao país e ao estado em dife- se de países da Zona do Euro passou a ser chamada de
rentes áreas – embora não imediatamente. PIIGS.
(http:/zh.clicrbs.com.br/RS/notícias) 15/7/2014 Nesses países:
A 6ª Cúpula do BRICS lançou como novidade: A a arrecadação caiu, apesar de o emprego ter au-
A a criação de um banco do BRICS (Novo Banco de De- mentado, afetando a manutenção das políticas de
senvolvimento) e a formação de um Fundo de Emer- bem estar desenvolvidas há décadas.
gência contra Crises; B a pobreza estrutural é muito grande, já que são perife-
rias comunitárias localizadas no leste do continente.
B a formação de uma agência de pesquisas espaciais;
C as taxas de desemprego são as mais expressivas do
C a formação de uma comissão para fomentar o co-
continente, apesar de a suscetibilidade das econo-
mércio entre os membros do grupo;
mias nacionais ter diminuído.
D a formação de um foro permanente para análise D os gastos públicos são excessivos e o endividamen-
conjunta dos grandes temas da agenda internacio- to descontrolado, ao ponto de suas dívidas serem
nal; iguais ou superiores a 50% dos seus PIB.
E a formação de uma comissão para preparar a ado- E os investimentos do bloco econômico continuam
ção pelos membros do grupo de uma moeda co- sendo fortes, mas houve o aumento da desconfian-
mum. ça da população nacional devido à corrupção.

319
SISTEMA DE ENSINO A360°

13| UNIFOR A União Europeia vem enfrentando uma gra- B esse pacto abriu o país mais rico do mundo ao Mé-
ve deterioração econômica, desde 2007, sendo um dos xico e assim esses países continuaram a sua história
principais problemas representado pela crise da dívida compartilhada, agora de forma institucionalizada,
na chamada Zona do Euro. Analise as afirmativas a se- mostrando que países pobres se beneficiam com o
guir, relacionadas a esses temas: livre-comércio.
I. A crise da dívida começou com a difusão de rumo- C na era da globalização ocorrem vários pactos co-
res sobre o nível da dívida pública da Grécia e o merciais – regionais ou não, que nem sempre foram
risco de suspensão de pagamentos pelo governo (e são) bem sucedidos, e vários são vistos como con-
grego. trários à lógica do livre-comércio, já que privilegiam
II. A Inglaterra é a segunda maior economia Zona do os países membros dos acordos.
Euro, o que torna seu desempenho um elemento- D acordos comerciais regionais, como o citado, fracas-
-chave para a resolução da crise da dívida; saram em razão da condição desigual dos membros,
III. A crise econômica na Europa tem sido um fator e por isso só se insiste, no mundo globalizado, em
determinante nas eleições que vem ocorrendo no acordos e uniões com membros mais homogêneos,
Continente, contribuindo para derrubar governos como a União Europeia.
independentemente de sua orientação política; E tal como o Nafta, o Mercosul é bem sucedido pelas
IV. Os primeiros cinco países europeus que se revela- associação com os EUA formando a ALCA (Área de
ram mais afetados pela crise econômica foram Por- Livre Comércio das Américas), pois o sucesso está
tugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha, originando em combinar países de economias de pesos e for-
o grupo denominado pejorativamente de PIIGS; mas diferentes.
V. No papel de maior economia da União Europeia, a 15| UFAL Em 1 de Janeiro de 1994, o Acordo de Livre Co-
Alemanha vem impondo suas ideias para o comba- mércio da América do Norte (NAFTA) entrou em vigor.
te à crise, basicamente fundamentadas na expan- O NAFTA criou uma das maiores zonas de comércio livre
são dos gastos públicos como forma de acelerar o do mundo, que agora liga 450 milhões de pessoas que
crescimento e reduzir o desemprego. produzem 17 trilhões de dólares em bens e serviços. O
Marque a opção correspondente às afirmativas FAL- comércio entre os países do NAFTA vem crescendo des-
SAS: de que o acordo entrou em vigor.
Disponível em: http://www.ustr.gov. Acesso em: 08/12/2013
A I e II
O NAFTA se tornou um dos mais importantes blocos eco-
B IV e V nômicos do mundo, apesar de fazer parte dele apenas
C I, II e IV A EUA, Canadá, Venezuela e Brasil.
D III, IV e V B EUA, Canadá e Inglaterra.
E II e V C EUA, Canadá, Brasil e Argentina.

14| PUC “Se algum acordo de comércio tinha tudo para dar D EUA, Canadá e México.
certo foi aquele firmado entre México, Estados Unidos E EUA, Canadá, México e Brasil.
e Canadá. Sancionado em 1994, o Acordo de Livre Co-
mércio da América do Norte (NAFTA) criou o que era, 16| UEPA A multiplicação dos acordos bilaterais, tratados de
na época, a maior área de livre-comércio do mundo, livre comércio e de blocos econômicos regionais consti-
com 376 milhões de pessoas e um PIB de quase 9 tri- tui um dos fenômenos mais marcantes do cenário mun-
lhões de dólares.” dial pós Guerra Fria. Neste contexto, ocorre destaque
(Joseph E. Stiglitz. Globalização: como dar certo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007, p. 137)
para a União Europeia, considerado o bloco econômico
com maior nível de integração e que enfrenta nos últi-
Tendo em vista essa informação e considerando as mos anos uma grave crise econômica. Sobre a crise eu-
questões comerciais da chamada globalização, pode ropeia e o bloco União Europeia é correto afirmar que:
ser dito que
A o crescimento econômico deste bloco está em des-
A esse acordo comercial, mesmo considerando as compasso com o resto do mundo, uma vez que, en-
desigualdades entre México e EUA, foi bem suce- quanto seus países membros têm lento crescimento
dido e trouxe novas possibilidades à nação mexica- econômico, os países que compõem outros blocos
na, algo que no contexto da globalização é pratica- apresentam rápido crescimento, principalmente os
mente o único caso de sucesso. que compõem o NAFTA.

320
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente F
B a crise na Europa foi causada pela dificuldade de milhares de camponeses, a emigração de milhares
alguns países europeus em pagar as suas dívidas. de agricultores para os EUA, a elevação das impor-
Alguns países da região, a exemplo da Grécia e tações mexicanas de produtos agrícolas etc.
Portugal, não vêm conseguindo gerar crescimento
D Transformou o México no principal parceiro comer-
econômico suficiente para honrar os compromissos
cial do Canadá, que, dessa forma, deixou de ser o
firmados junto aos seus credores ao longo dos últi-
“quintal” do Reino Unido, com quem mantinha a
mos anos. Tal fato é grave e poderá ultrapassar as
maior parte de suas relações comerciais antes do
fronteiras da chamada "Zona do Euro".
bloco.
C alguns países, a exemplo da Alemanha e França, que
E Intensificou a transferência das fábricas maquilado-
possuem maior desenvolvimento tecnológico, estão
ras dos EUA para a região metropolitana da Cidade
isentos desta recente crise econômica. O término da
do México. A instalação dessas fábricas nessa aglo-
Guerra Fria e a reunificação alemã influenciaram na
meração urbana aprofundou a concentração terri-
reformulação do equilíbrio geopolítico europeu.
torial da indústria e da população mexicanas.
D a crise atinge todos os países integrantes do bloco
com a mesma proporção, sendo o desemprego es- 18| UFT Sobre o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL), é IN-
trutural e conjuntural um dos mais sérios problemas CORRETO afirmar.
dos países integrantes deste bloco econômico.
A Tem como membros plenos e fundadores Brasil, Ar-
E a economia mundial tem experimentado um cres- gentina, Uruguai e Paraguai.
cimento lento desde a crise financeira dos Estados
Unidos entre 2008 e 2009. A crise americana atra- B Foi criado em 1990, oficializado em março de 1992,
vessou fronteiras e influenciou no resto do mundo, através do Tratado de Maastricht.
inclusive na Europa e no contexto da União Euro-
C O bloco constitui uma união aduaneira, cujo estágio
peia, atingindo na mesma proporção todos os paí-
dessa integração econômica, não são cobrados im-
ses integrantes deste bloco.
postos no comércio entre os países membros, exis-
17| UFCG União Europeia, Nafta, Mercosul, Apec, Pacto An- tindo uma tarifa externa comum.
dino são alguns exemplos de blocos econômicos regio- D O Brasil possui a maior e mais industrializada eco-
nais definidos pelo processo de integração econômica nomia do MERCOSUL e é o principal mercado para
entre países. “Na realidade, esses mercados internacio-
exportação do Paraguai, Uruguai e Argentina.
nais constituem um dos caminhos ou etapas da globali-
zação, da interdependência crescente de todos os países E Em dezembro de 1994, foi aprovado o Protocolo de
e povos do mundo, de uma ampliação de mercados, en- Ouro Preto, que estabelece a estrutura institucional
tre outros”. do MERCOSUL e o dota de personalidade jurídica in-
(VESENTINI, J.W. Geografia: geografia geral e do ternacional.
Brasil. São Paulo: Ática, 2005, p. 210).
19| FAC. DIREITO DE SOROCABA O ex-presidente do Para-
Em relação ao Acordo de Livre-Comércio da América do guai, Fernando Lugo, afirmou na noite desta sexta-feira
Norte (Nafta), assinado em 1993, que representa a pro- que acatará a destituição sofrida no Senado e que en-
gressiva integração econômica entre os EUA, o Canadá e frentará na Justiça as investigações relativas ao impea-
o México, é correto afirmar que: chment. O mandato de Lugo foi cassado no Senado por
A Abriu, progressivamente, as fronteiras entre os pa- 39 votos a favor, quatro contra e duas abstenções.
íses membros, facilitando a livre circulação de mer- (http://www.estadao.com.br/noticias/internacional, lugo-...,890229,0.htm,
cadorias, serviços e mão-de-obra entre eles. 22.06.2012. Adaptado)

B Aproximou os padrões e os níveis de consumo da Um dos motivos desse impeachment foi


população mexicana aos padrões e níveis de consu- A a imposição de sanções comerciais pela Unasul.
mo das populações estadunidense e canadense.
B a comprovação de fraude na eleição do presidente.
C Desestruturou a agricultura mexicana. Com a cria-
ção desse bloco, os produtos agrícolas dos EUA C o envolvimento do presidente em esquema de cor-
(subsidiados, isentos de impostos e vendidos a rupção.
preços inferiores aos praticados no mercado inter- D a expulsão do país do bloco regional do Mercosul.
no mexicano) inundaram o México, provocando o
abandono de terras cultivadas, o desemprego de E a crise política gerada após um conflito agrário.

321
GABARITOS

FRENTE A 02| enquanto o Coronelismo dava sustentação


HISTÓRIA DO BRASIL a) O candidato deve indicar República Velha e respaldo à descentralização federativa na
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 27) ou Primeira República. República Velha, o Autoritarismo do Esta-
do Novo, com sua ideologia baseada no
01| b) O candidato deverá destacar que o Co- culto à Pátria, ao Poder Centralizado e aos
a) ronelismo é “datado” porque ele se re- valores nacionais, a ele se contrapôs, pro-
fere ao extremo federalismo vigente na movendo, além disso, o fim das barreiras
 Poder local controlado pelo coronel – Os
Primeira República que, com a grande fiscais interestaduais, consolidando o mer-
grandes proprietários de terras exerciam
autonomia dos estados, dificultava o con- cado nacional.
o controle político dos municípios e arti-
tato político direto entre os governantes
culavam-se às oligarquias dominantes em 03|
e a população rural, na medida em que
nível federal.
entre eles interpunha-se a figura do coro- a) Sobrevivência econômica — produção
 Mecanismo de sustentação do poder co- nel. Seria em torno dele que os homens agrícola de subsistência, comércio com
ronelístico – O clientelismo e a violência do campo e inúmeros agregados viviam, localidades próximas.
de suas milícias sustentavam o poder dos tomando-o como referência de prestígio, b) Prática espiritual — messianismo / ca-
coronéis, que se valiam de um sistema riqueza e proteção, embora fossem tra- tolicismo popular / atuação profética de
eleitoral fraudulento, que incluía o “voto balhadores por ele explorados. Seria esse Antonio Conselheiro.
de cabresto” e os “currais eleitorais”. conjunto de dependentes - eleitores -
que propiciava aos coronéis um instru- 04|
 Políticas de alianças no plano federal – A
“política dos governadores” (troca de fa- mento para barganhar com os governos O crescimento do Cangaço deve ser visto
vores entre os governos estaduais e o go- estaduais e federal, uma série de benefí- como uma manifestação de resistência
verno federal) e a política do “café-com- cios e benesses que lhe seriam concedi- (“banditismo social”), praticada por seg-
-leite” (acordos entre oligarcas mineiros dos em troca desse “maço de votos de mentos do campesinato contra a opres-
e paulistas, com o intuito de controlar a cabresto”, fundamental nas eleições re- são dos grandes proprietários. No perí-
Presidência da República). publicanas da República Velha. odo citado, essa opressão se fez sentir
Essa troca era a essência do chamado de forma mais intensa, tendo em vista o
b)
“compromisso coronelista” que, por um poder conferido ao coronelismo pela Re-
 Tenentismo – militares se sentiam mar- pública das Oligarquias.
ginalizados na República e protestavam lado, assegurava ao coronel um poder po-
lítico não mais compatível com sua situ- 05|
contra o sistema vigente. Faziam oposi-
ção ao governo central. A Revolta do For- ação econômica, que era de decadência. a) Contrário – as reformas tinham caráter
te, por exemplo, é um evento tenentista. Por outro lado, o coronelismo tornou-se elitista, não levando em consideração a
o pilar da política dos Governadores, ao situação da população pobre, como, por
 Coluna Prestes – organizada por Luís Car- assegurar com os votos de cabresto, a exemplo, na derrubada de habitações
los Prestes, a Coluna percorreu diferentes manutenção da própria Descentralização para a abertura de avenidas sem garan-
estados brasileiros, denunciando os des- Republicana. tia de moradia para os desabrigados. Fa-
mandos do sistema eleitoral.
Com a “revolução de 1930” e a subida ao vorável – o embelezamento da cidade e
 Fundação do PCB – O Partido Comunista poder de uma aliança de setores agrários a erradicação de diversas moléstias que
Brasileiro, fundado em 1922, protestava contrários à hegemonia dos cafeicultores assolavam o Rio de Janeiro.
contra a situação vivenciada pelo país e, paulistas, iniciou-se uma reestruturação b) Revolta da vacina.
em especial, pelo operariado. do regime político brasileiro. Ela se dava no
 Organização operária – possibilitou a sentido da progressiva CENTRALIZAÇÃO do ENEM E VESTIBULARES (P. 28)
formação de grandes greves: desde a poder político em torno do Executivo fede- 01| A 06| B 11| A 16| E
Proclamação da República, os operários, ral, que seria reforçado visando a superar
sobretudo os migrantes, reivindicavam os REGIONALISMOS. A ditadura do Estado 02| B 07| C 12| A 17| D
melhorias sociais, como o salário mínimo Novo foi o coroamento desse processo 03| A 08| B 13| C 18| E
e a jornada de trabalho de 8 horas diárias. centralizador. O novo regime lançaria mão 04| A 09| B 14| C 19| B
 Semana de Arte Moderna – ocorrida de de medidas que promovessem a centrali-
zação das decisões políticas, a nacionaliza- 05| B 10| C 15| 07 20| C
11 a 18 de fevereiro de 1922, propunha a
renovação da cultura e reforçava o nacio- ção da representação sindical das classes EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 39)
nalismo. trabalhadoras urbanas via sindicalismo
corporativista, além de estabelecer um 01|
 Cangaço – movimento surgido no sertão
sistema de ensino baseado em valores e O DIP (Departamento de Imprensa e Pro-
nordestino em razão das péssimas condi-
princípios válidos para todo o território na- paganda) foi um órgão de governo criado
ções de vida da população desfavorecida
cional. Além dessas, outras práticas auto- durante o Estado Novo para promover
economicamente e excluída dos privilé-
ritárias foram efetivadas durante o Estado uma imagem positiva do chefe de Esta-
gios sociais.
Novo, como o fechamento do Parlamento, do e seu regime, estreitando as relações
 Movimento Sufragista – lideranças femi- a Polícia Política etc., destinadas a assegu- entre ambos e os diversos segmentos da
nistas reivindicavam maior participação rar o reconhecimento, EM NÍVEL NACIO- sociedade. O DIP possuía um grande nú-
das mulheres no cenário político nacio- NAL, de uma só liderança política, no caso, mero de atribuições, desde a cooptação
nal. A luta pelo direito ao voto constituía Getúlio Vargas. Além disso, a expansão dos de intelectuais até a organização de even-
a bandeira desse movimento. meios de comunicação, sobretudo o rádio, tos esportivos, propagandísticos e ligados
 Criação do BOC – nesse contexto, as or- permitiu o acesso dos ocupantes do gover- aos meios de comunicação. Em relação à
ganizações operárias marcaram presença no federal aos trabalhadores do campo li- imprensa escrita ou falada e a manifesta-
no parlamento brasileiro, a exemplo da gados aos coronéis, não mais dependendo ções culturais como música, teatro e lite-
formação do Bloco Operário e Camponês, tão fortemente da intermediação corone- ratura, o DIP atuou como direcionador e
de considerável influência comunista. lística para sua propaganda. Nesse sentido, também censor.

322
GABARITOS

Quanto à “getulização dos textos esco- pensado (1936) intensificou as trocas co- cialismo, que aumentaria os poderes de
lares”, trata-se de uma importante área merciais entre o Brasil e o regime nazista. João Goulart na Presidência da Repúbli-
de atuação do DIP, visando inspirar, nas Por outro, o Itamaraty realizou intenso ca. Em contrapartida, os apoiadores de
crianças e adolescentes, admiração, entu- esforço diplomático para obter emprés- Jango desejavam fortalecê-lo, com vistas
siasmo e lealdade à pessoa do governante, timos do governo dos Estados Unidos, a promover as chamadas “reformas de
seguindo um paradigma criado pelos regi- com vistas a estabelecer uma indústria base”. Deve-se observar que JK (então
mes totalitários coevos. de base nacional, bem como a possibilitar senador e principal liderança do PSD)
02| o reaparelhamento das Forças Armadas. seria beneficiado pelo restabelecimento
b) O Estado Novo (1937-1945) caracteri- dos poderes presidenciais, visto que ele
a) A tensão entre o governo Vargas e o Esta-
zou-se pela adoção do nacionalismo em postulava ser novamente eleito presi-
do de São Paulo em 1932 pode ser obser-
bases autoritárias, pela incorporação dente, como sucessor de Jango. O acir-
vada no descontentamento dos paulistas
das massas urbanas ao projeto nacional, ramento dessa conjuntura resultaria no
com os rumos políticos após a derrubada
por intermédio da codificação de ampla golpe de 1964.
de Washington Luís em 1930, com a polí-
tica de interventores de Vargas e com as legislação trabalhista, e pela implanta- 03|
práticas autoritárias do governo central. ção de um regime autocrático e centrali- a) O candidato poderá citar:
O intervencionismo estatal na política de zador em torno da figura carismática de
Getúlio Vargas.  A importância do papel do líder (Presi-
valorização do café desagradou aos pro-
dente da República) no tipo de presiden-
dutores que compunham a base da elite c) Sim. Ao combater os países do Eixo ao cialismo da Constituição de 1946;
econômica do Estado. Também houve ma- lado dos Aliados, o regime varguista esta-
nifestações populares e trabalhistas de- beleceu profunda contradição entre suas  O protagonismo do Poder Executivo em
nunciando o caráter repressor do governo. políticas externa e interna. Essa contradi- comparação a outras instâncias políticas;
b) Para os paulistas, a convocação de uma ção mostrou-se irreconciliável, na medida  O intervencionismo econômico do Estado
Constituinte deveria restabelecer a ordem em que acirrou a polarização ideológica Brasileiro no projeto de desenvolvimen-
legal, encerrar o caráter excepcional e au- no interior da sociedade, abriu um flanco to;
toritário do governo provisório, incorporar vulnerável às pressões liberalizantes, ca-  A política de industrialização através da
a pauta trabalhista e, ao restaurar o fede- pitaneadas pelos Estados Unidos da Amé- substituição de importações;
ralismo, recuperar o prestígio político an- rica e corroeu as bases de sustentação do
 A manutenção da estrutura agrária con-
terior. regime, levando ao seu colapso em 1945.
centracionista;
03|  O controle das massas trabalhadoras via
ENEM E VESTIBULARES (P. 41)
Espera-se que o(a) candidato (a) possa, sindicalismo atrelado ao Estado.
01| A 04| D 07| A 10| 24
num texto claro e coerente, demonstrar b) O candidato deverá destacar que a for-
a pertinência da charge como documento 02| B 05| C 08| D 11| D
mação de partidos políticos nacionais
das manobras políticas de Getúlio Vargas, 03| A 06| D 09| C 12| D após 1946 se constituiu num elemen-
relacionando-a com o seu maquiavelismo, to novo na política brasileira. Deverá
demonstrado no aproveitamento político também analisar as características dos
do chamado Plano Cohen. Tratava-se de EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 58)
grandes partidos criados: o PSD, a partir
um falso plano, elaborado pelos integra- 01| da máquina getulista e das lideranças
listas, segundo o qual os comunistas ten- a) O candidato deveria indicar que a prin- regionais tradicionais, tendo como prin-
tariam tomar o poder no país, por meio cipal proposta diplomática do governo cipal força os municípios interioranos
do assassinato de autoridades e de outros Jânio Quadros foi a adoção da Política e as áreas mais conservadoras; o PTB,
atos terroristas. Vargas aproveitou-se des- Externa Independente (PEI), pela qual o formado com base na estrutura sindical
se falso plano para, com o apoio das forças Brasil se distanciava do alinhamento au- forjada na era varguista, herdeiro de um
armadas, dar um golpe institucional, im- tomático com os EUA. A condecoração de projeto nacionalista e a UDN, constitu-
plementando a Ditadura do Estado Novo, Che Guevara, revolucionário integrante ída pela reunião de políticos anti-getu-
sob o pretexto de livrar o país da ameaça do governo cubano, representava essa listas, com forte cunho anti-comunista,
comunista. nova política. contrário à intervenção do Estado na
04| b) A política externa de Jânio desagradou economia e favorável à associação com
 Política de socorro ao setor cafeeiro: aten- ao seu próprio partido, a UDN, às for- o capital internacional.
dimento às pressões das oligarquias cafe- ças armadas ideologicamente alinhadas 04|
eiras, canalizando recursos da economia aos EUA, e às demais forças conserva- a) O candidato poderá indicar e analisar uma,
nacional para esse objetivo. doras do país. dentre as seguintes características do Esta-
 Atuação do Estado como empresário no 02| do Novo: 1) vigência de regime ditatorial,
setor industrial, canalizando recursos na- Episódio Político: Extinção, por meio de que implicava na suspensão do Poder Le-
cionais privados e recursos estrangeiros um referendo (e não “plebiscito”) realiza- gislativo, permanecendo as grandes deci-
para a área da indústria de bens, em espe- sões políticas na dependência pessoal de
do em 1963, do sistema parlamentarista
cial a siderúrgica. Vargas e seus assessores; agravamento do
implantado durante a crise que se seguiu
05| processo de centralização política, com a
à renúncia de Jânio Quadros.
diminuição dos poderes dos governos es-
a) A “política de barganhas” executada pela Contexto político interno: Polarização taduais, em detrimento do Governo Fede-
diplomacia brasileira entre 1939 e 1942 entre a oposição a Jango, nucleada pela ral, que açambarcou para si alguns dos im-
caracterizou-se pela adoção de uma “equi-
UDN, e o bloco situacionista, formado postos de âmbito estadual e municipal; 2)
distância pragmática” entre os Aliados e
pela coalizão PSD-PTB e apoiado por se- agravamento do processo de centralização
os países do Eixo. Por um lado, a assina-
tores populistas e de esquerda. À oposi- política, com a diminuição de poderes dos
tura do Protocolo sobre Comércio Com-
ção não interessava a volta do presiden- governos estaduais, que passaram a ser

323
GABARITOS

exercidos, via de regra, por interventores forte sentido nacionalista, tendo como tir da arrecadação deste imposto; d) conti-
nomeados diretamente por Vargas, asses- exemplo paradigmático a criação da Petro- nuidade do Ministério do Trabalho como
sorados pelos Daspinhos – réplicas regio- brás - e a campanha “O Petróleo é Nos- “árbitro” dos conflitos entre operários e
nais do Departamento de Administração so”, de grande apelo popular – e da Eletro- empresários, atuando mediante as Juntas
do Serviço Público (DASP), encarregado brás; 3) o fim dos mecanismos do regime de Conciliação que via de regra apontavam
de fiscalizar os governantes estaduais; 3) de exceção, com o restabelecimento dos para soluções “negociadas” que impediam
incentivo claro à industrialização do país, três poderes do Estado e o fim dos órgãos os conflitos entre eles; e) a continuidade
mediante o investimento estatal junto a de censura e propaganda; 4) manutenção do investimento propagandístico que visa-
indústrias de base, com a criação da CSN, da legislação trabalhista e de todas as suas va manter viva a figura simbólica de Vargas
FNM, Cia Nacional de Álcalis e outras; 4) características, visando manter a classe como defensor dos trabalhadores, estrei-
estabelecimento da Legislação Trabalhis- trabalhadora urbana em estado de “mo- tando-se seus laços com estes mediante
apelos para que participassem dos sindi-
ta no país, com a criação do Ministério bilização controlada”; 5) manutenção do
catos de modo a ajudá-lo na luta contra
do Trabalho, Indústria e Comércio, ao sindicalismo corporativista verticalizado e
“os especuladores e os gananciosos”.
qual passou a ser afeta a gestão sobre as atrelado ao Estado; 6) suspensão da exi-
questões relacionadas aos trabalhadores, gência do atestado ideológico antes obri- O candidato deverá analisar, como pontos
lembrando que toda essa legislação esteve gatório para participação na vida sindical; de ruptura, um dentre os seguintes ele-
limitada ao âmbito da classe trabalhadora 7) ocorrência de algumas greves operárias, mentos: a) fim dos mecanismos políticos
urbana e não rural; 5) fim da pluralidade por aumento salarial e melhoria de condi- de exceção, com a suspensão de prisões
sindical e consolidação dos sindicatos cor- ções de vida, inclusive em empresas do arbitrárias, tortura e exílio de antagonis-
porativistas, únicos por ramo profissional setor público; 8) ênfase dos investimentos tas políticos do presidente; b) restabele-
e dependentes do Estado, que fiscalizava estatais em infra-estrutura de transportes cimento dos três Poderes constitucionais,
suas eleições, controlava suas mobiliza- e energia, além do reequipamento da ma- com a recuperação da Câmara e do Sena-
ções e os respaldava com recursos do Im- rinha mercante e do sistema portuário; do enquanto elementos fundamentais ao
posto Sindical criado em 1939; 6) criação 9) criação do BNDE (Banco Nacional de jogo político democrático, impedindo o
do Salário Mínimo em 1940, o qual para al- Desenvolvimento Econômico) orientado exercício de medidas personalistas e au-
guns segmentos de operários representou diretamente para acelerar o processo de toritárias do governante; c) extinção das
um ganho real – sobretudo para aqueles diversificação industrial; 10) agravamento instituições mais claramente ligadas ao
originados do campo, ao passo que para da oposição política entre os setores na- Estado Novo, tais como as Interventorias,
outros, os mais especializados, significou cionalistas e os chamados “entreguistas”, os Daspinhos e o DIP, encarregados de fis-
perdas salariais, sem contar com o fato de os primeiros, associados aos militares e calizar governadores estaduais e efetivar
que o salário mínimo passou a funcionar aos políticos defensores da industrializa- campanhas ideológicas de massa, desti-
como piso para os salários de todas as ca- ção autônoma e independente do capital nadas a valorizar a imagem “paternalista”
tegoriais profissionais do país, contribuin- internacional e os segundos, defensores de Vargas; d) restabelecimento do regime
do para rebaixar os custos dos empresários da menor intervenção do Estado na eco- político-eleitoral e do pluripartidarismo,
brasileiros; 7) a emergência, em função do nomia e da abertura ao capital estrangeiro que propiciou a organização de forças
Imposto Sindical, da figura do “pelego”, o como meio de promoção do desenvol- políticas de apoio e de oposição a Vargas
dirigente sindical que atuava mais no inte- vimento; 11) acirramento das oposições figurando, entre as primeiras, o PSD e o
resse próprio e do Estado do que no inte- políticas ligadas ao anticomunismo (sobre- PTB – originado das bases trabalhistas de
resse das classes trabalhadoras que repre- tudo alguns militares e a UDN), desconten- Getúlio – e, entre as segundas, a UDN,
sentava, amortecendo, assim, conflitos; 8) tes com o não-alinhamento automático do partido de permanente oposição a Var-
agravamento dos mecanismos de censura regime aos EUA. gas, pautado por freqüentes denúncias
política e artística, mediante a criação do relativas a suas ações, tendo como figura
b) O candidato deverá analisar, como pontos
DIP (Departamento de Imprensa e Propa- emblemática Carlos Lacerda; e) emergên-
de continuidade, um dentre os seguintes
ganda) que controlava conteúdos de obras cia de greves operárias que sinalizavam
elementos: a) o prosseguimento da polí-
críticas ao regime, além de fazer a apolo- para a dificuldade do regime e do “caris-
tica industrialista do Estado, calcada em
gia de Vargas junto à sociedade em geral e ma” de Vargas em manter sob controle as
investimentos públicos em empresas de
às escolas em particular, construindo uma classes trabalhadoras em seu conjunto.
bens de capital, tendo em vista as dificul-
imagem de Getúlio como protetor dos tra- dades e/ou oscilações do capital estrangei- 05|
balhadores mediante o uso intensivo de ro em participar deste processo; b) a ma- a) A interiorização da capital foi entendida a
meios de propaganda e cerimônias públi- nutenção do sindicalismo corporativista, partir do discurso da nova organização es-
cas, tais como as comemorações de 1º. de único por profissão e atrelado ao Estado, pacial do território brasileiro, com desta-
maio e programas radiofônicos; 9) utiliza- o que impedia, de fato, a consolidação que para a estratégia denominada “Mar-
ção de prisões arbitrárias, tortura e exílio democrática, já que os sindicatos – órgãos cha para o Oeste”. Integrando diferentes
de intelectuais e políticos de esquerda ou de organização política dos trabalhadores regiões do Brasil, fazendo “avançar” o
antagônicos ao regime; 10) oscilação da – eram definidos como “agências do Esta- progresso. Já nos anos 1940, comissões
política externa brasileira entre aproxima- do”, dificultando a mobilização operária e militares se encarregaram de delimitar o
ção/distanciamento ora com os EUA, ora impedindo a emergência de lideranças de local da nova capital. A caminhada para
com a Alemanha; fato combativas; c) a preservação de toda o Oeste fez parte de um projeto de am-
Quanto à gestão de Vargas já no período a legislação trabalhista, incluindo a do Sa- pliação das fronteiras econômicas, com
democrático o candidato poderá indicar, lário Mínimo e a do Imposto Sindical, sen- o intuito de alavancar a expansão capi-
analisando, uma dentre as seguintes ca- do que a primeira continuava definindo talista nacional. Com São Paulo à frente
racterísticas: 1) retorno das liberdades po- tão somente o “piso” salarial por categoria deste processo, não por acaso a figura do
lítico-eleitorais e do pluripartidarismo; 2) profissional e a segunda mantinha os sin- bandeirante se tornou modelo do nosso
aceleração da industrialização brasileira, dicatos dependentes do Estado na medida self-made man, cidadão que vende a par-
com a firme intervenção do Estado junto em que contavam com os recursos que tir do seu próprio esforço, arrojado, pro-
a indústrias de bens de capital, agora com lhes eram repassados pelo Governo a par- gressista, que desbrava o território.

324
GABARITOS

b) Brasília, a meta-síntese do governo JK, não  Utilização da tortura como instrumento b) REAÇÕES CONTRÁRIAS DA SOCIEDADE
estava originalmente no Plano de Metas. de intimidação. Desde 1964, e sobretudo  Luta armada. As guerrilhas urbana e rural
O programa cobria ao todo 30 metas, e após 1968, a tortura foi utilizada como tentaram mobilizar as massas e desesta-
Brasília só entrou no final, como um acrés- sistemático instrumento de intimidação bilizar o governo ditatorial, com a criação
cimo, passando a ser a meta número 31. dos adversários do regime militar. de diversas organizações clandestinas
Foi ao longo do governo que ela assumiu
 Instauração da censura às artes e aos contrárias à ordem estabelecida.
a função de condensar o programa de JK
meios de comunicação. A supressão do  Mobilizações estudantis. Secundaristas e
e de simbolizar a ideia de que era possível
direito à livre expressão foi uma das prin- universitários promoveram diversos atos
dar um salto no tempo, realizar “50 anos
cipais características do regime. Portanto, de repúdio ao regime, destacando-se a
em 5”. A construção de uma nova capital
as artes e os meios de comunicação de UNE – União Nacional dos Estudantes.
pretendia integrar o território desenvol-
massa foram duramente atingidos.
vendo a região central do país, modernizar  Imprensa alternativa. Com bom humor e
o Brasil, trazendo para um “novo tempo”,  Criação de amplo aparelho repressor. Ór- fina crítica, a exemplo do Pasquim, essa
incentivar o desenvolvimento econômico, gãos e operações articuladas, tais como o imprensa furava o bloqueio da censura e
principalmente na infraestrutura (rodo- DOI-CODI, DOPS, Operação Oban, Opera- propagava uma mensagem de contesta-
vias, hidrelétricas, aeroportos) e indústria. ção Condor, etc., foram responsáveis por ção ao regime.
ferrenho combate aos indivíduos ou mo-
 Arte engajada. Artistas de múltiplas áreas
ENEM E VESTIBULARES (P. 59) vimentos sociais engajados na luta contra
– compositores, cantores, atores e atri-
o regime (Sindicatos, associações, etc.)
01| B 06| B 11| D zes, chargistas e cartunistas, utilizaram
 Extinção de partidos políticos e implanta- sua arte para denunciar/criticar o regime
02| VVVFF 07| D 12| D
ção do bipartidarismo. Sob os auspícios militar.
03| C 08| C 13| B do Poder Executivo, todos os partidos
 Reação de parcela da Igreja Católica.
04| C 09| A 14| D existentes no Brasil foram oficialmente
Embora a igreja estivesse dividida (par-
05| C 10| A 15| C extintos. Junto com essa medida, foram
te considerável da Instituição apoiou o
criadas duas agremiações políticas: a
golpe), vários clérigos manifestaram sua
ARENA – Aliança Renovadora Nacional
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 72) oposição ao regime, destacando-se D.
(situacionista) e o MDB – Movimento De-
Paulo Evaristo Arns, D. Hélder Câmara e
01| mocrático Brasileiro (oposicionista).
D. Pedro Casaldáglia.
Inspirados no exemplo da Revolução  Exílio de adversários políticos. Artifício utili-
 Mobilizações dos trabalhadores. Algumas
Cubana, os guerrilheiros buscavam im- zado para enfraquecer a oposição ao regime
categorias promoveram paralisações em
plantar no Brasil focos de resistência con- que afastou, do cenário nacional, importan-
represália ao arrocho salarial e à repres-
tra a Ditadura Militar e o imperialismo, tes nomes de múltiplos setores sociais.
são política, tendo se formado, no final
gastando assim as condições favoráveis  Anticomunismo exacerbado. Em pleno da década de 1970, o chamado “novo
para implantação de um estado socialista contexto da Guerra Fria, o golpe militar sindicalismo brasileiro”, cujo berço foi o
no país. marcou o alinhamento oficial do Brasil à ABC paulista, o qual contestou a política
02| esfera política norte-americana. salarial imposta aos trabalhadores.
a) JUSTIFICATIVA DO SLOGAN  Suspensão de eleições diretas. A partir  Passeatas populares. Elas foram contrá-
Os governos militares tinham um projeto do golpe militar, foram suspensas as elei- rias à ditadura militar, como a “Passeata
ções livres para presidente da República, dos 100 mil”, no Rio de Janeiro.
para o crescimento do Brasil e fortaleci-
governadores de estado e prefeitos de
mento dos valores morais referentes à  Lutas pelas “Diretas Já”. No final do regi-
cidades estratégicas.
Pátria (patriotismo/ufanismo), fundamen- me militar, esse movimento reivindicava
tado na doutrina de desenvolvimento e  Criação e manipulação do Colégio Elei- a volta da eleição direta para a Presidên-
da segurança nacional. Tal projeto deveria toral. As eleições para presidente foram cia da República.
receber unanimidade da população. O im- delegadas a um Colégio Eleitoral progra-
 Denúncias à Anistia Internacional e à
mado para referendar os candidatos im-
perativo no slogan (“Ame-o ou deixe-o”) Organização das Nações Unidas (ONU).
postos pelo regime.
expressa o autoritarismo dos governos mi- Eram feitas denúncias relativas à violação
litares: quem não estivesse satisfeito com a  Criação dos senadores biônicos. Quan- dos Direitos Humanos no País.
política nacional deveria deixar o país. do a maioria governamental no referido
03|
Colégio foi ameaçada, o governo contra-
MEDIDAS ADOTADAS PELO GOVERNO -atacou criando a figura dos senadores a) O candidato poderá citar, dentre outras,
 Decretação de Atos Institucionais. Instru- biônicos (indicados). uma das seguintes medidas: o fim do AI-
mentos jurídicos que conferiam pseudo-  Severas restrições ao livre funcionamento do 5; a suspensão da censura prévia a parte
-legalidade aos atos autoritários do Poder Congresso Nacional. Em variadas situações, da imprensa; e a demissão de membros
Executivo, cujo principal símbolo foi o o regime ditatorial desrespeitou as prerroga- da alta hierarquia militar ligados à linha-
AI-5. Desrespeitavam direitos individuais tivas do Congresso Nacional. Em situações -dura do regime.
e coletivos e se sobrepunham à própria extremas, colocou-o em recesso forçado ou b) O candidato poderá indicar duas das se-
Constituição brasileira. sob os efeitos do “estado de sítio”. guintes ações: a elaboração de uma nova
 Cassação dos direitos políticos de par-  Construção das grandes obras como a legislação eleitoral – a Lei Falcão; o fecha-
lamentares, servidores públicos e lide- Transamazônica e a ponte Rio-Niterói. mento do Congresso Nacional; a formu-
ranças sindicais. Muitas das principais Estas foram utilizadas como base para a lação do Pacote de Abril; a cassação de
lideranças do país, que atuavam no par- propaganda governamental. parlamentares; e o combate a organiza-
lamento ou nos movimentos sociais, per-
 Uso da propaganda para enaltecer o go- ções de esquerda como o PCB e o PC do
deram seus direitos políticos em razão da
perseguição promovida pelos controla- verno. Essa propaganda veiculava diver- B, dentre outras, inclusive assassinando
dores do regime militar. sos slogans ufanistas/nacionalistas. militantes destas organizações.

325
GABARITOS

04| 03| ENEM E VESTIBULARES (P. 94)


I. Características: O candidato poderá explicar duas con- 01| A 04| A 07| B 10| A
1. Busca do crescimento econômico do país sequências econômicas do Plano Collor, 02| B 05| B 08| B
através da redução da inflação. dentre as quais: o bloqueio da liquidez
03| E 06| A 09| E
2. Crescimento da indústria. dos haveres financeiros (contas-corren-
3. Ampliação do crédito para facilitar o con- tes, poupança e outras aplicações), a re-
FRENTE B
sumo e assegurar a expansão industrial. dução da inflação e a recuperação, por
HISTÓRIA GERAL
parte do Estado, do controle sobre a mo-
4. Penetração do capital estrangeiro na eco- EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 117)
nomia, sobretudo no setor automobilístico. eda nacional.
04| 01|
5. Ampliação do comércio exterior com o
crescimento das exportações. a) “A Marselhesa” foi composta no perío-
Regiões brasileiras que, em 2009, possuí-
do de guerra entre a França e as outras
II. Efeitos: am a maior capacidade hidroelétrica ins-
monarquias europeias. Considerando-se
1. Aumento da dependência econômica do talada: Sudeste/CO, Sul, Nordeste e Norte.
suas distintas apropriações, muitas pas-
país ao setor financeiro externo. As regiões que até 2019 terão os maiores sagens da composição relacionam- se
2. Concentração da renda (aumento do aumentos de produção de energia elétrica ao contexto revolucionário francês, por
bolo) e ampliação da pobreza, aprofun- são, em valores absolutos: Norte, Sudeste/ exemplo (deve-se relacionar apenas um
dando os desequilíbrios sociais (má divi- CO, Nordeste e Sul. Há três grandes hidro- trecho da composição ao contexto):
são do bolo). elétricas em construção na Região Norte:
 “Avante filhos da Pátria” ou ainda “Às
3. Abandono ou retardamento dos progra- Belo Monte, no Rio Xingu, no estado do
armas, cidadãos”: nestas passagens, a
mas sociais do governo. Para, e Santo Antonio e Jirau, no Rio Ma- conclamação à guerra se sustenta no sen-
4. Obras faraônicas de eficácia duvidosa, dan- deira, estado de Rondônia. A construção timento nacional (daí a referência a filhos
do a impressão de grandes empreendimen- de grandes hidroelétricas geralmente da pátria e cidadãos), emergente durante
tos públicos, dando ensejo ao enriqueci- causa o deslocamento das populações ri- a era revolucionária.
mento de grupos econômicos nacionais. beirinhas próximas ao local de construção
 “Que um sangue impuro/banhe o nosso
das barragens/represas; afogam imensas
solo”: nesta passagem, a alusão à sangue
ENEM E VESTIBULARES (P. 72) áreas de florestas, deslocando ou mesmo impuro (do invasor) é uma metáfora da
01| E 04| D 07| D 10| A afogando animais; resultam em restos de ambiência da guerra. A composição expli-
02| B 05| C 08| D 11| D arvores que apodrecem submersas, alte- cita a presença dos inimigos (da revolução
rando a composição química das águas e/ou da mudança) e a ameaça à pátria.
03| B 06| E 09| C 12| A
das barragens e dos rios; atraem contin-  “Contra nós da tirania”: nesta passagem,
gentes de trabalhadores para as obras cujo encontra-se a exposição do princípio da
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 94)
contato social com os moradores locais Revolução: a luta contra a tirania, identi-
01| nem sempre e benéfico. ficada no privilégio aristocrático e repre-
A questão aborda o que hoje denomi- sentada, sobretudo, pela figura do Rei.
05|
namos de neoliberalismo. Com o fim da
O Plano Real foi elaborado por uma equi- b) No final do século XIX, há uma mudança
Guerra Fria e a Globalização, a hegemo-
nia econômica, política e ideológica pas- importante em relação à ideia de naciona-
pe liderada pelo ministro da Fazenda
sou para o domínio americano. A Nova lismo, definida pelo contexto de competi-
Fernando Henrique Cardoso em Julho de ção entre os estados nacionais europeus.
Ordem Mundial propõe, basicamente,
1994 no governo do presidente da Repú- Para explicar a mudança, é importante sa-
com o neoliberalismo e nos governos
Collor e Fernando Henrique, o seguinte: blica Itamar Franco. O objetivo do plano lientar que, no período jacobino, o nacio-
era controlar a inflação, estabilizar a eco- nalismo francês era uma expressão revo-
— Limitações na intervenção do Estado na
economia; nomia e buscar o crescimento econômico. lucionária e inclusiva, ou seja, ser cidadão
O plano valorizou nossa moeda, o Real, francês significava, mais do que simples-
— Ações do Estado para defender, a qual- mente nascer em território francês, defen-
quer custo, a estabilidade monetária; favorecendo a importação e contribuindo
para a concorrência entre os produtos na- der os princípios da Revolução, alicerçado
— Abertura comercial para o capital estran- na Declaração dos Direitos do Homem e
geiro; cionais e os importados. Esta concorrên-
do Cidadão. Entretanto, a partir da corrida
cia era fundamental para inibir a inflação.
— Liberdade de ação aos capitais interna- imperialista, o sentimento nacional passou
cionais; Porém, para o plano ter êxito, aumenta- a estar associado a viver em um território
ram as taxas básicas de juros da economia definido (ter uma nação), a ter uma língua
— Liberdade às Leis de Mercado;
para atrair investimento no país e manter e uma cultura (francesa, alemã, italiana,
— Privatizações das empresas estatais; a moeda forte. No entanto. Atrapalhou assim por diante), a possuir colônias e a se
— Autonomia sindical; aquele brasileiro que precisava emprestar sentir parte integrante do projeto civiliza-
— Livres negociações salariais; dinheiro para modernizar sua empresa e cional europeu. Em virtude disso, cada vez
fazer frente a concorrência. O Real, uma mais, o nacionalismo conclamaria à defesa
— Gradativa extinção de vínculos emprega-
moeda forte, facilitava a importação, mas da nação, à posse de territórios coloniais
tícios.
e à guerra. Assim, a apropriação de “A
02| atrapalhava a exportação contribuindo
Marselhesa” é bem-vinda, na medida em
para o desemprego. O Banco Central fa- que o hino, elaborado em um contexto de
1- Seu 5° artigo estipulou o racismo como
crime inafiançável. 2- Voto obrigatório zia a âncora cambial injetando dólares na invasão (a França lutava contra os regimes
para todos os cidadãos. 3- Eleições em economia doméstica para manter a moe- monárquicos da Europa, em 1792), exor-
dois turnos. 4- Permitiu o voto dos anal- da estável. A partir de 1994, intensificou- tava o sentimento nacional e qualificava a
fabetos. 5- Fim da censura. -se o Neoliberalismo no Brasil. guerra como heroica e gloriosa.

326
GABARITOS

02| b) A participação popular no processo revo- 07|


Elementos que demonstram a solidez e a lucionário francês estimulou o sentimen- Duas das consequências:
força da Bastilha: a existência de muralhas to de pertencimento à nação, em subs-
circundando a edificação e as grandes di-  dissolução da Confederação do Reno
tituição à ideia de fidelidade ao regime
mensões da construção em si, quando  ausência de partilha territorial da França
monárquico. A questão do nacionalismo
comparadas com o tamanho dos homens
ganhou maior impulso no contexto da  recolocação no poder das dinastias euro-
incumbidos de demoli-la.
Revolução Francesa a partir das guerras peias, destronadas durante a expansão
Significado político: manifestação violenta contra os Estados Absolutistas declara- napoleônica
contra um símbolo do absolutismo real, das, oficialmente, em 1792. A partir de  reorganização do mapa europeu, le-
prenunciando o início da queda do Antigo então, a defesa da França assume o signi-
ficado de defesa da Revolução e vice-ver- vando-se em consideração os direitos
Regime.
sa. As transformações do Exército, com o tradicionais das dinastias consideradas
Significado social: participação das cama- estabelecimento dos soldados-cidadãos, legítimas e restaurando-se as fronteiras
das populares no processo revolucionário não apenas oferecem maior eficácia e anteriores a 1791
sob a liderança da burguesia, evidencian- motivação para os confrontos com outras Explicação: Esse princípio, por tentar
do a revolta do Terceiro Estado em relação forças militares, como contribuem para o
frear os processos de autonomia que
ao status quo. fortalecimento dos sentimentos patrióti-
cos e nacionalistas ainda mais estimula- haviam se instalado na região, ampliou
03| dos durante o período napoleônico. ainda mais as insatisfações dos diferentes
a) A leitura do gráfico indica que os custos setores das aristocracias coloniais que,
c) Foram influenciados pelo processo revo-
com a produção e com os impostos repre- lucionário que culminou com a Revolução organizadas em cabildos livres, coman-
sentavam 65% da colheita realizada pelos Francesa: daram as lutas pela independência dos
camponeses. Desta forma, o usufruto do vice-reinos coloniais.
 a independência dos EUA.
menor percentual da colheita disponível  a revolução no Haiti. ENEM E VESTIBULARES (P. 118)
às pessoas do campo significava a existên- 01| D 06| D 11| E 16| E
 as independências na América espanho-
cia de precárias condições de vida para as la.
famílias numerosas, sendo que a miséria e 02| D 07| E 12| E 17| E
 a Conjuração Bahiana. 03| D 08| B 13| B
a fome eram riscos constantes no período
pré-revolucionário.  a Inconfidência Mineira.
04| A 09| C 14| B
b) A questão solicitava o estabelecimento  a Revolução Pernambucana de 1817.
05| A 10| B 15| C
da relação entre a crise econômica e o  a Confederação do Equador.
Terceiro Estado (burgueses, camponeses,  a independência do Brasil.
sans-culottes, profissionais liberais) du- EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 141)
05|
rante a Revolução Francesa. Os custos dos 01|
Os jacobinos somente ascenderam ao
impostos e a manutenção de um grupo de poder em 1793, depois de derrubarem a) Entre os elementos visuais presentes no
privilegiados (nobreza e clero) uniram o os girondinos. Portanto, não se lhes pode cartaz, podemos citar o relógio marcan-
Terceiro Estado em sua insatisfação contra atribuir a inovação eleitoral da Conven- do 8 horas, “As 8 horas” (Les 8 Heures)
o regime vigente. A conjuntura de endivi- ção formada em 1792: o sufrágio uni- e trabalhadores e patrões lutando pela
damento público e a ineficiência de medi- versal masculino. Assim, como medidas aplicação da lei. No início da Revolução
das contra a crise levaram à convocação inovadoras tomadas pelos jacobinos, po-
Industrial, a exploração do trabalho era
dos Estados Gerais e fizeram com que as demos citar a obrigatoriedade do ensino
primário, a abolição da escravidão nas feita de forma desregulamentada, o que
reivindicações do Terceiro Estado entras- justifica as lutas trabalhistas e a formação
colônias, o sistema métrico decimal e o
sem na pauta política francesa. A pobreza congelamento de preços por meio da Lei dos sindicatos naquele período. O cartaz
foi instrumentalizada pela burguesia, que do Máximo. também alerta o trabalhador a atuar para
se incomodava com a ausência de mobi- que as conquistas trabalhistas sejam efe-
06|
lidade social e exigia o fim do sistema de tivamente aplicadas.
privilégios e o estabelecimento de igualda- a) Ao final das Guerras Napoleônicas, o Con-
gresso de Viena foi realizado com o obje- b) A imagem do cartaz apresenta o Movimen-
de jurídica.
tivo de refazer o mapa político europeu. to Operário francês no século XX, no con-
04| No Leste do continente, a Rússia – na texto da reconstrução francesa após a 1ª
qualidade de uma das potências vence- Guerra Mundial. Estava em pauta a aplica-
a) A importância da Revolução Industrial In- doras de Napoleão – expandiu seu terri-
glesa, de acordo com Hobsbawm, decorre ção da lei da jornada de trabalho de 8 horas,
tório, incorporando a Finlândia, a maior já aprovada, porém não aplicada na prática.
das transformações socioeconômicas que parte da Polônia e alguns territórios to-
implicam no desenvolvimento industrial, mados ao Império Otomano. A luta social em questão envolve operá-
no salto tecnológico, no processo de am- rios e patrões (representando a antiga
b) As Guerras Napoleônicas contribuíram
pliação e redefinição do mercado mundial luta entre Capital e Trabalho), represen-
de forma relevante para a independência
e no desenvolvimento urbano. das colônias ibero-americanas. A invasão tada pelos grupos de pessoas que puxam
A importância da Revolução Francesa es- de Portugal pelos franceses, em 1807, os ponteiros do relógio. As da esquerda
tabelece-se no âmbito político-ideológico, forçou a transmigração da Família Real representam os operários e lutam pela
constituindo a partir de então, o modelo Portuguesa para o Brasil, criando as con- aplicação da lei, enquanto as da direita
privilegiado de revolução para inúmeros dições necessárias para que este pudesse representativas da burguesia tentam evi-
movimentos sociais. Associado a essa re- tornar-se um Estado independente. E a tar a implementação da medida.
ferência paradigmática, estabelece, tam- imposição de José Bonaparte como rei 02|
bém, um rico repertório cultural do ponto da Espanha levou as colônias espanholas
da América a criar Juntas Provisórias de A Revolução de 1830 na Franca foi o
de vista simbólico, conceitual e vocabular, epicentro de um movimento que se es-
Governo autônomas – primeiro passo em
político, jurídico e, até mesmo, de organi- palhou por outros países europeus. Em
direção à independência. Q.04
zação técnico-científica.

327
GABARITOS

Paris, ela constituiu uma reação liberal ENEM E VESTIBULARES (P. 142) vocação urbana da atividade industrial
contra as tentativas de Carlos X no sen- 01| B 06| C 11| A 16| B permanece até hoje.
tido de restaurar o absolutismo. A de-  A referência ao policial e ao assaltante,
posição desse rei pos fim ao período de 02| B 07| C 12| C 17| B
na medida em que as grandes cidades
retorno dos Bourbons ao trono francês 03| A 08| B 13| A 18| FFFVV são espaço de desigualdade social, uma
(Restauração) e elevou ao poder Luis Feli- 04| A 09| E 14| B 19| D vez que nem todos os seus habitantes en-
pe d’Orleans, que contava com a simpatia contram ocupação na economia urbana.
05| E 10| A 15| A 20| D
da classe burguesa.
03|
Elementos presentes na tela de Delacroix
que atestam sua relação com a Revolução EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 159) a) Deve-se argumentar acerca do processo
de 1789: 01| de constituição do sistema de fábricas e a
distinção entre burguesia e proletariado,
 participação das camadas populares, Conteúdo: Mundo na modernidade. A e com base nisso, analisar as mudanças
representadas pela turba em segundo revolução industrial: aspectos culturais, geradas a partir da constituição deste
plano, com destaque para as figuras do sociais e econômicos. O Mundo contem- sistema na concepção e organização das
garoto parisiense e do negro; porâneo. A consolidação do capitalismo: cidades.
 participação da burguesia, simbolizada dominação, conflitos e resistências. Glo- Uma boa resposta para a questão deve:
pelo personagem com cartola; balização, neoliberalismos, a questão am-
biental e a sociedade do conhecimento.  utilizar como argumento o inchaço das
 alusão a liberdade, que foi um tema recor- cidades no final do século XIX e todos os
rente nos dois movimentos revolucionários; a) Sobre a revolução industrial, deve-se problemas dali decorrentes que impulsio-
 a presença do barrete frígio, símbolo da articular uma resposta que aponte suas naram as novas idéias para se pensar a
liberdade adotado pelos insurretos de características: o surgimento da manu- cidade moderna de Haussmann buscada
1789 e utilizado ate os dias de hoje. fatura, a urbanização, o surgimento do a partir de Paris;
03| proletariado, o surgimento da indústria  mencionar as migrações campo-cidade, e
de bens de capital, a expulsão do homem algumas de suas implicações mais gerais
a) Liberdade e prosperidade.
do campo, o cercamento das terras, a ex- tais como a construção de novos espaços
b) Porque mesmo atuando em conjunto ploração do trabalho assalariado. habitacionais, os chamados bairros ope-
com os trabalhadores e em nome de
b) Devemos articular uma reflexão demons- rários que apresentarão problemas de
uma mesma causa – a derrocada da aris-
trando como o desenvolvimento tecno- insalubridade e infraestrutura, e do outro
tocracia e seus privilégios –, ao assumir
lógico pode contribuir para o desenvol- lado, os espaços jardins, pensados para a
o poder, a burguesia tende a alijar os an-
vimento humano e até mesmo para a nova classe de proprietários das fábricas,
tigos parceiros e governar sozinha, em
preservação ambiental. Essas tecnologias que também viveriam na mesma cidade
nome de seus interesses e em detrimen-
em condições diferentes dos operários;
to do ideal de igualdade defendido pelos não estão, contudo, disponíveis para to-
trabalhadores. dos, o que reforça a desigualdade exis-  políticas de intervenção no espaço urba-
tente. Em suma, devemos argumentar no, o deve-se demonstrar o conhecimen-
c) Comunismo (admite-se também socialis-
sobre os aspectos contraditórios das rela- to das políticas de higienização, reurbani-
mo e igualdade)
ções entre desenvolvimento tecnológico zação e controle das massas populares.
04|
e bem-estar social. b) Deve-se analisar o processo de cresci-
 Influência das ideias iluministas e da ex- mento e de urbanização das cidades e
pansão do liberalismo; 02|
o quanto é marcado pela força do argu-
 Ascensão da burguesia industrial (papel a) O expressivo crescimento territorial e mento científico que se instala e ordena
político e ideológico); demográfico de Paris e Londres, no sé- os diferentes espaços e seu destino. De
culo XIX, pode ser explicado em grande um lado, a preocupação com as questões
 Crise do Antigo Regime e contestação re- parte pela consolidação do capitalismo. da moradia, do esgoto, do meio ambien-
volucionária aos seus princípios: absolu- Esse período caracterizou-se pela indus- te, da qualidade de vida dos moradores;
tismo, dominação colonial. trialização das cidades e pela inserção do do outro, o controle das massas, a repres-
05| campo no processo produtivo urbano. são a determinadas práticas, o fomento
a) A preservação da propriedade privada, a Em consequência, acentuou-se o êxodo da disciplina, a higienização dos espaços.
recusa à ideia da luta de classes e a pro- rural, que produziu uma forte concen- Por fim, deve-se demonstrar ainda co-
posta da convivência harmoniosa entre tração populacional nas duas cidades em nhecimento acerca das implicações das
as classes sociais questão, estruturando ao mesmo tempo disposições impositivas de ordenamento
uma sociedade característica.
b) O crescimento dos movimentos reivin- do espaço urbano que não considerou as
b) Dentre as características mencionadas no formas de ser e de viver dos grupos po-
dicatórios, que propõem a superação do
texto, podemos citar: pulacionais que se deslocaram para os es-
capitalismo, relaciona-se aos aspectos do
capitalismo industrial relativos ao mundo  A vida na cidade enquanto experiência paços urbanos, atraídos pelos empregos
do trabalho (a concentração de trabalha- fundada no reconhecimento de códigos e que se criavam, ao lado da extinção de
comportamentos que permitem a socia- postos de trabalho em suas antigas vilas e
dores em centros urbanos vivendo em
bilidade. Os códigos são percebidos pelo cidades e sofrerão todos os tipos de pro-
situação de miséria e trabalhando em
olhar: trata-se de uma experiência cultu- blemas do espaço urbano.
condições degradantes etc.)
ral, um “saber adquirido” que implica o
06| “reconhecimento de múltiplos sinais”. 04|
a) Revolução Industrial  A referência ao grupo de moças voltando Identificam-se os países e as regiões
b) Embora o trabalhador brasileiro goze desses do trabalho identificadas como operárias. avançados durante o século XIX como
direitos teoricamente, na íntegra tem sofri- Muitas das grandes cidades do século XIX aqueles que desenvolveram intensos pro-
do com desemprego e com baixos salários. eram sobretudo centros industriais, e a cessos de expansão e crescimento econô-

328
GABARITOS

mico, acompanhados pelo fortalecimento os arianos poderiam ter aperfeiçoado os basicamente realizada através do negro
das instituições do Estado e sua relação aborígenes, e não ter sido enfraquecidos escravizado e/ ou trabalho compulsório
com a cidadania. As características bási- pela miscigenação com eles. dos indígenas, na forma do século XIX, foi
cas, segundo Hobsbawm são: b) No século XIX, o imperialismo foi a expan- realizada através de formas de trabalho
a) um Estado nacional homogêneo, capaz são das potências industriais europeias assalariado ou formas de servidão mais
de impulsionar o desenvolvimento eco- na busca por matéria-prima e mercado adaptadas ao processo de crescimento
consumidor, atuando especialmente na do mercado capitalista. Também é possí-
nômico;
África e na Ásia. vel diferenciar as duas colonizações com
b) a organização social e política representa- relação aos elementos culturais, pois na
tiva, do tipo Liberal-Democrática; 03|
primeira ocorreram processos de combi-
c) fortes noções de cidadania que têm rela- a) Devemos apresentar uma razão para o nação entre culturas, gerando trocas cul-
ção direta com as instituições do governo início da Guerra dos Bôeres (1899-1902), turais. Na colonização do final do século
nacional; considerando os seguintes elementos: dis- XIX, a radicalização da integração não le-
puta entre ingleses e bôeres pelo controle vou em conta qualquer tradição, impon-
d) um Estado soberano. O mundo avançado
das áreas de mineração de ouro e de dia- do modos de vida e culturas estranhas às
se destacou por altos índices de cresci-
mantes; o interesse inglês em dominar as regiões colonizadas.
mento comercial, pela expansão industrial,
rotas de comércio que vinham da Índia e
pelo rápido crescimento populacional e b) Essa política imperialista desenvolveu-se
passavam pela região; o objetivo britânico
pelo desenvolvimento de grandes centros em etapas, o que acabou por fazer com
de afirmar o domínio sobre determinadas
urbanos. Este crescimento foi acompanha- que as disputas por mercado tomassem a
áreas frente ao crescimento da influência
do pela democratização do acesso à educa- dimensão central desse processo de colo-
de outros grupos europeus na África – em
ção básica. O continente que se destacou nização. Com isso, juntou-se à política de
especial os alemães, que se expandiam na
como centro do processo de desenvolvi- dominação um ingrediente novo que deu
região meridional do continente e haviam
mento capitalista no século XIX foi a Euro- mais fôlego ao capitalismo: a militariza-
financiado os bôeres na construção de fer-
pa, e, entre os países, se destacaram como ção das principais economias capitalistas.
rovias em fins do século XIX.
sendo pertencentes ao primeiro mundo: a A conseqüência direta dessa militarização
Bélgica, a Grã- Bretanha, a França, a Ale- b) Devemos explicar que, embora militar- foi a disputa por áreas que pudessem
manha, a Holanda e a Suíça. mente derrotados, os bôeres obtiveram renovar constantemente os lucros das
o controle político de diversas províncias economias imperialistas. Isso se iniciou
05|
no pós-guerra pois eram majoritários na nas áreas de colonização e, pelo avanço
a) Os Alemães haviam tomado Paris, e a Co- população branca de várias dessas pro- da crise na Europa, acabou por atingi-la,
muna se levantou como manifesto social e víncias e os negros não tinham o direito levando ao reforço do binômio naciona-
nacionalista. de votar. lismo-imperialismo e, como suporte, a
b) Embora tenha durado pouco mais de 70 04| continuidade da política de armamentos
dias, a Comuna de Paris evidenciou os que, além de ser central para a proteção
a) As diferenças mais significativas envol-
anseios do proletariado por revolução, de conquistas, também possibilitava re-
vem a relação direta da colonização dos
mudanças, por cidadania, sob influência novação tecnológica. Entretanto, o efeito
séculos XV e XVI com as práticas mercan-
do manifesto Comunista, tendo irradiado dessas políticas não incidiu sobre a ques-
tilistas dos Estados centralizados moder-
essa possibilidade pela Europa. Poste- tão central da absorção de mão-de-obra,
nos e da colonização do século XIX com
riormente (início do século XX) nota-se a continuando a gerar desemprego. Mes-
a política imperialista desenvolvida pelo
formação dos Partidos Comunistas e os mo com a política de mobilização nacio-
liberalismo europeu numa fase de domí-
avanços do movimento. nalista, só a guerra poderia resolver essas
nio do capital monopolista. Outra dife-
ENEM E VESTIBULARES (P. 160) rença importante diz respeito ao modo questões – era o que achavam os ideólo-
de ocupação dos territórios coloniais que, gos do capitalismo. Contra a pressão de
01| B 05| C 09| D 13| E vários setores de esquerda, a guerra foi
durante a primeira colonização, foram
02| E 06| B 10| B 14| D inevitável nesse contexto.
espaços de experimentações agrícolas
03| D 07| C 11| A vinculadas à economia agroexportadora 05|
04| E 08| A 12| C as quais forneciam produtos para o mer- a) A partilha da África levou ao fortaleci-
cado europeu ou áreas de mineração que mento das potências europeias, mais
desenvolveram o potencial de riqueza especialmente Inglaterra e França. O ca-
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 177) dos Estados modernos. Já na segunda, pitalismo entra em sua fase monopolista,
01| os espaços de colonização sofreram uma aproveitando-se da disponibilidade de
Devemos identificar os EUA e Japão como radical modernização com a imposição
matérias-primas, mercados consumido-
Estados não-europeus que participaram de formas políticas e modos de produzir
res e mercados de trabalho provenientes
relacionados às crises vividas pelo capita-
do jogo de poder no Extremo-Oriente. das colônias africanas.
lismo. Desse modo, essas áreas transfor-
02| maram-se em mercados consumidores b) Para além de uma série de outros con-
a) As incoerências do pensamento racista do de produtos industrializados e tiveram flitos que acabaram por contribuir para
século XIX, segundo o texto, são: processos de urbanização que redunda- a eclosão da Primeira Guerra Mundial
ram em perda das características cultu- destaca-se o clima de disputa em torno
 justificar o domínio inglês sobre os india- rais dessas sociedades ou se destacaram da partilha da África, bem como de sua
nos com o argumento da superioridade como áreas de mineração e foram recor- expansão para a Ásia.
racial — incoerente, pois ambos os povos tadas em seus territórios por inovações
teriam sido originados dos arianos; tecnológicas como as estradas de ferro. A Alemanha, pouco beneficiada com a
Ainda podemos indicar as diferenças com partilha de territórios e incomodada com
 considerar que os indianos seriam inferio-
relação à utilização de mão-de-obra que, a expansão inglesa, buscou se fortalecer
res por serem fruto da miscigenação de
na primeira forma de colonização, foi estendendo sua área de influência à Eu-
arianos e aborígenes — incoerente, pois
ropa central.

329
GABARITOS

ENEM E VESTIBULARES (P. 178) receberam apoio da Rússia (eslavos) – visibilidade, pois era considerada antina-
01| E 05| B 09| A 13| C pan-eslavismo, e aqueles receberam tural à condição feminina. Já na Segunda
apoio da Alemanha (germânicos) – pan- Guerra Mundial (1939-1945), a força de
02| C 06| D 10| B -germanismo. Em função de rivalidades trabalho feminina adquire maior visibili-
03| C 07| E 11| D anteriores França e Inglaterra declaram dade, principalmente na indústria bélica,
apoio à Rússia, configurando o início da
04| B 08| C 12| A com o objetivo de substituir a mão de
guerra, que se tornaria mundial a partir
da entrada de EUA ao lado dos aliados. obra masculina, garantindo assim o incre-
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 192) mento da produtividade deste setor.
03|
01| 06|
Mudança: desmembramento de Estados
Duas das transformações: a) A experiência nas trincheiras implicou,
multinacionais, com a formação de dife-
 desaparecimentos de impérios centrais rentes Estados-nação. para parte dos soldados, na solidariedade
multiétnicos e pluriculturais, como o aus- entre os homens mobilizados que, dian-
tro-húngaro e o turco-otomano Motivo: temor das nações capitalistas te dos horrores assistidos a cada dia (o
europeias quanto ao avanço do bolche- uso de armas químicas, a fome, a sede,
 surgimento de novos Estados no leste
vismo russo para seus territórios. a impossibilidade de dormir, a convivên-
europeu: Tchecoeslováquia, Polônia, Iu-
goslávia, além da Áustria e da Hungria, 04| cia com os corpos despedaçados e em
separadas uma da outra No caso do primeiro documento, datado decomposição), passaram a questionar
 entrega de territórios anteriormente tur- de 1916, expressa-se uma posição favorá- o valor nacional (“morrer pela pátria”
cos ao Reino Unido (Palestina, Jordânia e vel à participação no conflito, em acordo não parecia mais tão glorioso). Associado
Mesopotâmia) e à França (Líbano e Síria) com o princípio nacionalista. Para os na- às mortes em massa, também fruto da
pela Liga das Nações cionalistas, a guerra associava-se à defesa experiência nas trincheiras, esse ques-
 reforço da política de isolamento impos- da Pátria, o que exigia a unidade do povo tionamento produziu manifestações de
ta à Rússia, com a criação de um cordão para defender os interesses internos. pacifismo, em especial na França, que
sanitário, formado também por países Nesse sentido, os nacionalistas atribuí- se envolvera numa exaustiva luta contra
surgidos da desagregação do império ram ao combate um caráter positivo e sa- os soldados alemães na fronteira. Basta
austro-húngaro neador, inclusive moral. No interior dessa lembrar a relevância da Batalha de Ver-
Dois dos países: atribuição, o soldado era visto como um dun para a memória francesa.
 Áustria herói e o entusiasmo articulava-se a um b) O monumento francês, que conclama à
 Hungria sentimento de dever para com a pátria fraternidade entre os povos, não serve
que, por sua vez, preenchia de sentido a apenas à memória do passado, mas pre-
 Bulgária
vida do combatente. tende chamar a atenção para os infor-
 Turquia túnios que não deixariam de existir caso
02| No caso do segundo documento, datado
houvesse o envolvimento em uma nova
a) A produção industrial em larga escala, de 1915, a posição é contrária à guerra, guerra. A Grande Guerra estava vívida na
principalmente de armas. sendo a expressão de um princípio so- memória da população civil. Para o caso
b) O crescimento econômico da Alemanha cialista. Mesmo considerando as tensões francês, as investidas alemãs, que ocorre-
gerou grande concorrência por mercados internas ao movimento e a existência de ram muito antes da Segunda Guerra ser
entre este país e a Inglaterra. O crescimento alguns socialistas que apoiavam a partici- declarada oficialmente, em 1939, foram
da Alemanha também está atrelado à sua pação no conflito, a guerra é interpreta- recebidas com apatia. A remilitarização
ingerência em territórios dominados por da, neste documento, como um sintoma alemã e a ocupação da Renânia (1935-
outros países, como França por exemplo. da disputa imperialista e como um entra- 1936), a anexação da Áustria (1938), a in-
Vale salientar que desde a Unificação Ale- ve aos interesses dos trabalhadores. vasão da Tchecoslováquia (1938) e a sua
mã, processo no qual a Alemanha tomou os anexação, permitida pela França e pela
territórios de Alsácia e Lorena (ricos em mi- 05|
Inglaterra, na Conferência de Munique
nérios), pertencentes à França – que foi hu- a) No primeiro cartaz, a mulher é represen- (1939), são eventos que indicam que a
milhada pelos alemães – os ânimos nacio- tada de maneira passiva, restrita ao am- França não pretendia se envolver em uma
nalistas de ambas as partes se rivalizaram. biente doméstico e às funções tradicio- nova guerra com a Alemanha, em virtu-
Alemanha e Rússia se afastaram em função
nalmente relegadas à condição feminina, de, dentre outros fatores, da dificuldade
de seus objetivos geopolíticos coinciden-
tes sobre Bálcãs, e essa crise diplomática como, por exemplo, o cuidado dos filhos. de convencimento de sua população civil,
era agravada por afirmações étnicas. Tais Neste sentido, o cartaz incita as mulhe- que ainda guardava a memória do massa-
afirmações consistiam no pan-eslavismo res a apoiarem moralmente os homens cre ocorrido na Primeira Guerra Mundial.
representado pela Rússia e o leste europeu, engajados militarmente. Já, no segundo 07|
sobretudo a região dos Bálcãs, que conta- cartaz, a representação da passividade
a) A referência a “uma geração de homens”
va com o apoio russo em detrimento do feminina é substituída por uma imagem
domínio do Império Austro-Húngaro e no aponta para a Primeira Guerra Mundial
ativa, que associa a mulher à força, à ca- como o primeiro grande confl ito gene-
pan-germanismo que vinculava Alemanha pacidade e à confiança no cumprimento
ao Império Austro-Húngaro. ralizado da era industrial. De fato, a mo-
de seu dever. Desse modo, o cartaz incita bilização tecnológica e industrial possi-
O quadro diplomático caótico da Europa a participação das mulheres no esforço bilitou não só a organização de exércitos
culminou na declaração de guerra, quan- de guerra norte-americano. formados por milhões de soldados, mas
do uma reação nacionalista do estudante
Gravillo Princip em Sarajevo assassinou b) Desde a Primeira Guerra Mundial (1914- também a produção, em larga escala, de
o arquiduque austro-húngaro Francisco 1918), as mulheres contribuíam com sua armas de grande efeito destrutivo.
Ferdinando, em 1914. O Império Aus- força de trabalho para a indústria, muito b) As últimas décadas do século XIX foram
tro-Húngaro (germânicos) declararam embora essa participação fosse reduzida. marcadas pelo rápido desenvolvimento
guerra aos Bálcãs (eslavos), mas estes Além disso, essa participação tinha pouca industrial de vários países europeus. Esse

330
GABARITOS

processo levaria a disputas imperialistas cheviques, que implantariam o primeiro são socialista, dos grandes expurgos no
pelo mundo que contribuiriam para o Estado socialista da História. partido e das inúmeras execuções. Para
desencadeamento da Primeira Guerra 03| os comunistas franceses, o terror justi-
Mundial. A guerra, enquanto um confl ito ficava-se pela glória nacional e o triunfo
industrial em larga escala, traria efeitos a) Podemos indicar, entre outras, as seguin- revolucionário, tanto da Revolução Fran-
para a economia mundial, como valori- tes medidas: instituição do Conselho de cesa como da Revolução Russa.
zação de matérias-primas. Para os países Comissários do Povo; proclamação dos
Decretos: sobre a Terra (reforma agrária), b) A antiga URSS (União das Repúblicas So-
diretamente envolvidos, implicaria a con- cialistas Soviéticas) era um estado cen-
versão da indústria convencional em béli- Paz (armistício imediato e negociações
para a retirada da Rússia da 1ª Guerra), tralizado e totalitário definido como uma
ca e o alto grau de endividamento, geran- ditadura de partido único, denominada
do grave crise econômica, desemprego e, Controle Operário (estatização e direção
operária das fábricas); Declaração dos “ditadura do proletariado”. Na fase sta-
portanto, um cenário desolador. Nesse linista (1924-1953), houve um esvazia-
contexto, o próprio modelo econômico Povos da Rússia (igualdade entre as na-
ções russas e o direito de cada uma delas mento dos órgãos colegiados iniciais do
liberal passaria por questionamentos. período Lênin (1917-1924) e uma maior
constituir um Estado nacional próprio);
ENEM E VESTIBULARES (P. 194) organização do Exército Vermelho para concentração de poderes no aparelho
01| D 04| A 07| C 10| C enfrentar os “exércitos brancos” na Guer- burocrático do Estado. Após o período de
ra Civil (1918-1921); adoção do “comu- Stálin, o chamado processo de desestali-
02| A 05| A 08| E 11| D nização não conseguiu diminuir o poder
nismo de guerra” (apropriação de bens e
03| E 06| 23 09| D 12| A terras; regulamentação da produção etc) da burocracia, sendo considerado um dos
durante a Guerra Civil; estabelecimento motivos da desintegração da URSS.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 205) da NEP (Nova Política Econômica), com 05|
01| a permissão para o ingresso de capital a) Porque os bolcheviques consideravam a
estrangeiro e da atividade de pequenas e guerra como uma disputa entre potên-
a) Na primeira metade do século XX, em médias empresas privadas (1921).
meio às transformações na sociedade cias imperialistas e prometeram para os
capitalista, o triunfo da revolução bol- b) Podemos desenvolver, entre outros, os se- soldados russos e retorno do front tão
chevista na Rússia foi interpretado pelas guintes aspectos: a perda de capacidade da logo eles tivessem tomado o poder.
esquerdas como a ruptura com o mode- URSS de manter taxas crescentes de desen- b) Porque a Alemanha tinha de lidar com
lo calcado na propriedade privada dos volvimento econômico, especialmente, na dois fronts de guerra, um a ocidente e ou-
meios de produção cuja crise culminaria virada para os anos 80; o esvaziamento do tro a oriente. Eliminando o front oriental
em 1929. Na visão das esquerdas, o futu- discurso igualitário desvelado, por exemplo, poderia concentrar seus esforços contra
ro apontava na direção do coletivismo. nas gritantes desigualdades que separavam as demais potências da Entente.
os membros do Partido e o resto da popu-
b) A derrocada dos regimes socialistas do lação; o fracasso da perestroika (reestrutu- ENEM E VESTIBULARES (P. 206)
Leste Europeu estava associada: ração), conjunto de iniciativas tentadas por 01| A 04| B 07| B 10| C
 às dificuldades econômicas de um mode- Gorbachev para reerguer a economia da 02| C 05| A 08| D 11| E
lo centralizador que não conseguia suprir URSS; o êxito parcial da glasnot (transpa-
as necessidades da sociedade; 03| VVVFF 06| C 09| D
rência), com a afirmação de um ambiente
 à censura estatal que inviabilizava críticas de liberdades e debates públicos acerca das
e discussões em torno dos problemas so- grandes questões que envolviam a URSS e EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 224)
cioeconômicos; o chamado socialismo realmente existente; 01|
o acirramento das disputas entre reformis-
 à excessiva concentração de gastos esta- a) Na década de 20 do século passado, o
tas (defensores de radicalizar a perestroika
tais no setor militar; continente americano passou por um sur-
e a glasnot) e os conservadores (receosos
 à corrupção em setores que controlavam to de crescimento econômico. No Brasil,
de que se perdesse o controle sobre as
a máquina burocrática; a industrialização acelerou-se, financiada
mudanças); a emergência da questão na-
pela cafeicultura. Entretanto, enquanto
 às pressões por reformas vindas de diver- cional, ou seja, a luta de inúmeras repú-
nos Estados Unidos, que então manti-
sos setores da sociedade. blicas, até então abrigadas na URSS, por
nham uma posição hegemônica frente às
suas identidades, autonomia e, em muitos
02| demais economias ocidentais, a especu-
casos, independência.
Antes de 1914, o regime czarista rus- lação crescia, aumentando-se artificial-
04| mente as ações das grandes empresas,
so já apresentava graves contradições
internas: o atraso econômico, devido a) Sendo o terror um instrumento a que o os salários deterioravam-se, aumentando
à preponderância da agricultura, prati- Estado recorre para se manter, podem os ganhos dos empresários. A quebra da
cada aliás de forma arcaica; a enorme ser feitas comparações entre o período Bolsa de Nova Iorque, em 1929, pode ser
desigualdade social, com o predomínio de Robespierre e de Stálin. Durante o pe- considerada como a culminância de uma
da aristocracia fundiária, uma burguesia ríodo de Robespierre, na fase mais radical crise gestada pelo exarcebamento do ca-
ainda pouco desenvolvida e a miséria da Revolução Francesa (1794), os julga- pitalismo, com forte repercussão nas so-
do proletariado e sobretudo do campe- mentos sumários no Tribunal Revolucio- ciedades ocidentais.
sinato; e a autocracia do czar, apesar da nário e as execuções na guilhotina de b) Entre os efeitos da crise de 1929, po-
recente existência de uma assembleia opositores aos jacobinos possibilitaram a dem ser citados: a queda significativa na
(Duma) com poderes limitados. Essas realização das reformas que o poder jul- exportação de café; o desemprego no
contradições agravaram-se com as derro- gava necessárias. campo e a aceleração do êxodo rural; a
tas do exército russo na Primeira Guerra No período Stálin (1924-1953), na União interrupção do fluxo de capital estrangei-
Mundial, que levaram à queda do czar Soviética, algo semelhante ocorreu com ro para o Brasil; a queima dos estoques
Nicolau II e a tomada do poder pelos bol- os julgamentos de opositores da sua vi- de café em São Paulo.

331
GABARITOS

02| destacadas: a crise de 1929 teve maior divisão e contradições da esquerda revo-
a) No transcorrer do século XX, a economia impacto sobre as economias do que a lucionária em face ao fascismo, algo que
capitalista foi ampliando a interdepen- de 2008. A crise de 1929 foi uma crise será recorrente nos países ameaçados
dência entre os países. Os Estados Unidos derivada da superprodução e do subcon- pelos fascistas.
ocupavam lugar central na importação de sumo e a de 2008 derivou de uma crise 07|
matérias-primas e manufaturados, além do sistema de financiamento imobiliário.
de serem grandes exportadores de merca- a) Duas características da doutrina nazista
A de 1929 ocorreu no contexto do entre
dorias e capitais. A interrupção dos fluxos Expansionismo – a ideia do “espaço vital”
- guerras, no âmbito do Liberalismo. Já a
de importação e exportação alimentou impulsiona nazistas e fascistas a conquis-
uma recessão econômica em nível mun- de 2008 ocorreu em período mais pacífi-
tarem novos territórios.
dial. co e no contexto do Neoliberalismo.
Militarismo – intimamente vinculada ao
b) O New Deal, formulado numa atmosfera 05| expansionismo, o rearmamento e a con-
keynesiana, representou uma ampliação Nazismo. tínua preparação para guerra foi uma
da presença do Estado na economia. Den- característica marcante do nazi-fascismo,
Duas das características:
tre as medidas adotadas, podemos ressal- que redundou na formação do Eixo Ro-
tar:  militarismo ma-Berlim-Tóquio.
 fundos de assistência aos desempregados;  governo totalitário Antiliberalismo – frontalmente contrá-
 empréstimos aos agricultores;  Estado intervencionista rio aos ideais liberais de valorização das
 realização de obras públicas. liberdades individuais e coletivas, o nazi-
 nacionalismo expansionista
-fascismo extinguiu o pluripartidarismo e
03|  restrição das liberdades individuais subordinou todos os cidadãos aos desíg-
a) A Grande Depressão, iniciada a partir da 06| nios do Estado.
quebra da Bolsa de Nova York em 1929, Totalitarismo – a exacerbação do antilibe-
a) O candidato poderá responder:
foi provocada pelo excesso de produção ralismo levou à formação de um Estado
industrial, pela elevada especulação finan- 1. O nacionalismo catalão
totalitário na Itália e na Alemanha, na
ceira e pelo não-intervencionismo (libera- 2. O nacionalismo basco qual todos os aspectos da vida social, in-
lismo). Caracterizada por desemprego, fa- clusive os do âmbito familiar, estavam su-
3. Os desequilíbrios regionais na Espanha
lências e deflação (sobretudo nos Estados bordinados aos mecanismos do aparelho
Unidos), a crise foi superada pela adoção 4. A crise econômica dos anos 30
estatal. Desde então, a censura aos meios
do keynesianismo. Tal política econômica 5. A crise agrícola de comunicação e a completa ausência
fundou-se na intervenção do Estado na de liberdade de expressão foram a tônica
6. Os partidos de direita e a hostilidade às
economia, tanto como regulador, quanto nas sociedades sob tais governos.
como agente econômico. autonomias regionais
7. O anticlericalismo Anticomunismo – ao emergir em um con-
b) A partir da primeira crise do petróleo em texto marcado pela polarização ideológi-
1973, as economias capitalistas avança- 8. A ascensão dos fascismos na Europa ca entre o capitalismo e o comunismo, o
das passaram a apresentar dificuldades, 9. A força dos anarco-sindicalistas nazi-fascismo se colocou como uma vio-
como elevada inflação, desaceleração lenta alternativa a ambos. Embora faça
econômica e falência do Estado. O retorno 10. A precária base política da jovem repúbli-
alusão a um vago nacional-socialismo, o
a certas práticas liberais, girando em tor- ca
Partido Nazista era completamente aves-
no da diminuição do papel do Estado na 11. As disputas entre grupos e/ou partidos so aos postulados marxistas.
economia, foi visto como uma forma de que formavam o governo.
dinamizar a economia, ainda que ao custo Antissemitismo – característica inerente
b) A Guerra Civil Espanhola é tida como o ao nazismo que serviu de base para a im-
da desmontagem do bem-estar social e do
ensaio geral da segunda grande guerra, placável perseguição aos judeus. A partir
aumento das desigualdades sociais.
porque os franquistas receberam apoio de sua disseminação, os judeus foram
04| militar dos países fascistas, Itália e Ale- identificados como os grandes inimigos
a) O candidato deverá responder que a ilus- manha. Ao invadirem a Espanha, ao lado da pátria alemã, a ponto de ser propos-
tração informa que na crise de 1929 os das forças franquistas, os fascistas não ta a exterminação desse povo. Apesar
principais prejudicados foram os próprios somente favoreceram a vitória de Franco, de não constituir uma característica do
empresários, ao passo que na crise de como também experimentaram várias tá- fascismo, Hitler contou com o auxílio dos
2008, para dela escapar, recorreram à de- ticas de guerras. italianos na perseguição aos semitas no
missão em massa, prejudicando os traba- contexto da Segunda Guerra.
lhadores. O candidato também poderá responder
Arianismo – crença na superioridade ét-
que a guerra civil espanhola foi o mais
b) SEMELHANÇA: nica dos povos de origem germânica, que
importante conflito militar do entreguer-
Entre os vários pontos em comum o can- contribuiu de forma considerável para
ras. Nesse sentido, ela também pode ser
didato poderá destacar que: ambas as a difusão da intolerância contra todos
considerada um “ensaio geral” das forças aqueles que supostamente estivessem
crises originaram-se nos Estados Unidos e políticas que se enfrentariam na segunda
se espalharam posteriormente para o res- aquém dos arianos em suas múltiplas
grande guerra, ou seja, a aliança entre os qualidades. Com base nessa concepção
tante do mundo. Ambas foram resolvidas
partidos de centro e de esquerda versus o preconceituosa, judeus, negros, eslavos,
a partir da intervenção do Estado sobre a
partido de direita fascista. homossexuais, religiosos e portadores
economia. Ambas derivaram também da
especulação financeira. O candidato também poderá destacar de deficiências, entre outros, foram con-
que essa guerra também pode ser con- siderados seres inferiores passíveis de
DIFERENÇA:
siderada um “ensaio geral” por revelar a extermínio.
Entre as inúmeras diferenças podem ser

332
GABARITOS

Corporativismo – característica inerente as armas. Aproveitando-se desse fato, os


EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 246)
ao fascismo italiano, tinha como pressu- EUA lançaram duas bombas, a primeira
posto a negação das lutas de classe. Para 01|
em Hiroshima (em 6 agosto de 1945) e a
tanto, buscou congregar burgueses e pro- a) O candidato deverá relacionar a Decla- segunda em Nagasaki (no dia 9 do mes-
letários sob o manto de um suposto bem ração de Universal de Direitos Humanos mo mês). Harry Truman foi o presidente
comum tutelado pelo Estado totalitário. às reações causadas pelas experiências americano que ordenou a ação militar.
Culto à personalidade – tanto o fascismo vividas durante os regimes nazi-fascistas
c) A explosão provocou um calor de cerca
como o nazismo, difundiram a crença des- (racismo; intolerância política; genocídio;
de 5,5 milhões de graus centígrados, si-
medida em suas lideranças carismáticas. campos de concentração etc)
milar às temperaturas próximas ao limbo
O Duce (Mussolini) e o Führer (Hitler) re- b) O candidato deverá identificar o exemplo do sol. Após o lançamento, um clarão (na
presentavam os timoneiros de seus povos histórico da Declaração de Direitos do forma de cogumelo) ergueu-se à altura
e foram diuturnamente mitificados pela Homem e do Cidadão elaborada na Fran- de 9.000 m, provocando ventos de 640 a
propaganda oficial. ça, em 1789, no contexto da Revolução 970 km/h e espalhando material radioati-
Nacionalismo – a defesa de um intransi- Francesa. vo numa espessa nuvem de poeira.
gente nacionalismo provocou uma defesa 02| Destruição das cidades. Quando atingiu
exaltada da pátria.
Numa Europa alemã, o destino reservado seu alvo, um furacão de fogo arrasou a
b) Influências do nazismo no Brasil aos judeus era o seu completo aniquila- cidade: centenas de milhares de pessoas
Criação da Ação Integralista Brasileira mento (''a solução final"). Para tanto, o feridas, cobertas de vidro e madeira ou
(AIB) – organização política cujas diretrizes Estado alemão organizou sistematica- com seus corpos queimados. Hiroshima
eram de natureza nazi-fascista e chegou a mente uma imensa indústria da morte, tinha, na época, cerca de 330 mil habi-
congregar considerável número de segui- deportando os judeus de vários países da tantes e era uma das maiores cidades
dores, entre estes, empresários, intelectu- Europa para campos de concentração e do Japão. O bombardeio matou cerca de
ais e oficiais das forças armadas. extermínio, dos quais destacava-se Aus- 130 mil pessoas e feriu outras 80 mil. A
Polarização ideológica – a AIB rivalizou chwitz. maioria das vítimas era formada pela po-
com as propostas difundidas pelos inte- pulação civil, que nada tinha a ver com a
O racismo legitimava a ação nazista. A
grantes da ANL – Aliança Nacional Liber- guerra. Milhares de pessoas foram desin-
tadora – de orientação política plural, mas ideia da superioridade natural da "raça
ariana" (alemã) sobre as demais deu ao tegradas e, em função da falta de cadá-
que contava com expressiva influência dos ver, as mortes jamais foram confirmadas.
comunistas. regime nazista as prerrogativas para a or-
ganização de um novo mundo, hierarqui- Prédios e vegetação sumiram, transfor-
Implantação do Estado Novo – resultou na zado racialmente. Nesse "novo mundo" mando a cidade num deserto. Num raio
organização de um governo nos moldes não havia lugar para os judeus. de 2 km, a partir do centro da explosão,
fascistas no Brasil, a exemplo da persegui- a destruição foi total. A bomba lançada é
ção aos adversários do regime, o estabele- 03|
até hoje a arma que mais mortes provo-
cimento da censura e o controle sobre os a) Trata-se do lançamento da bomba atômi- cou em pouco tempo (221.893 mortos é
meios de comunicação. ca, pelos EUA, sobre a cidade japonesa de
o total das vítimas da bomba reconheci-
Constituição de 1937 – A Constituição ou- Hiroshima.
das oficialmente).
torgada por Getúlio Vargas sofreu influência b) A resposta deverá apresentar uma das
Efeitos a médio e longo prazo. A bomba
do modelo autoritário do nazi-fascismo. A explicações a seguir:
também afetou seriamente a saúde de
Constituição foi apelidada de “Polaca”. A Segunda Guerra Mundial foi um con- milhares de sobreviventes. Os efeitos
Golpe de 1938 – após a implantação do flito bélico internacional ocorrido entre radiativos permaneceram durante muito
Estado Novo, apoiado pelos integralistas, 1939 e 1945. Na transição da década de tempo. A partir dos acontecimentos, mui-
suas lideranças entraram em choque com 1930 para a de 1940, dois blocos de pa- tas crianças ficaram cegas, outras já nas-
Vargas e tentaram derrubá-lo, sem êxito. íses se organizaram: de um lado, o EIXO ceram cegas; as casas e as árvores foram
Criação do DIP (Departamento de Impren- (formado pela Alemanha, Itália e Japão); destruídas, alterando a vida das pessoas.
sa e Propaganda) – O DIP promoveu a cen- do outro, os ALIADOS (formado inicial- Fala-se na "hereditariedade da bomba"
sura e o controle sobre os meios de comu- mente pela Inglaterra e França; poste- para referir-se aos efeitos que permane-
nicação e publicações – inclusive de livros riormente, recebeu a adesão dos EUA, da ceram por várias gerações.
didáticos –, além da promoção do culto à URSS, do Brasil e de outros países). A po-
lítica expansionista dos países do Eixo e 04|
personalidade expressa na exaltação à fi-
gura de Getúlio Vargas. a disputa ideológica têm sido apontadas 1. A não rendição de suas tropas ao término
como fatores que favoreceram a eclosão da guerra;
Neonazismo – doutrina assimilada do nazi- da guerra. Porém, é necessário conside-
-fascismo europeu, com predominância nas O fato do Japão ter atacado a base ianque
rar também o interesse expansionista dos
regiões Sul e Sudeste do Brasil, cuja carac- no Hawai - Pearl Harbor - em 1941 (de-
EUA e da Inglaterra.
terística central é a intolerância com grupos zembro).
sociais considerados inferiores, tais como O lançamento da bomba está relacionado
2. O bombardeio nuclear ao Japão configu-
negros, homossexuais e nordestinos. a uma série de acontecimentos ocorridos
em 1945: Em 28 de abril de 1945, Mus- rou uma demonstração de poder bélico
ENEM E VESTIBULARES (P. 226) solini foi preso e fuzilado pela resistência dos EUA à URSS, tendo o intuito de inti-
01| B 06| C 11| D 16| C italiana; no final de abril (possivelmente midá-la ante a possibilidade de um con-
dia 30), Hitler suicidou-se; em 7 de maio fronto direto entre as duas potências.
02| B 07| B 12| A 17| B
de 1945, o alto comando alemão se ren- 05|
03| C 08| D 13| A 18| D
deu aos aliados. Em agosto de 1945, a vi- a) O Imperialismo
04| A 09| A 14| D tória aliada já estava definida, apenas as
05| D 10| B 15| E  O sistema de alianças (Tríplice Aliança e
tropas japonesas se recusavam a depor

333
GABARITOS

Tríplice Entente)  reavaliação dos riscos decorrentes das que o incremento dos agronegócios so-
 A partilha da África guerras bretudo na produção de grãos (milho e
soja) e de algodão que contribuíram para
 Unificação e colonialismo tardios (caso da  desenvolvimento de políticas armamen- elevar a demanda por água.
Alemanha e da Itália) tistas nucleares
04|
b) Guerra Fria (identificar as tensões que
 concorrência entre os países pela posse a) O continente que tem maior escassez de
marcam o período)
de arsenal nuclear água é o africano.
 Surgimento da ONU (razões para sua criação)
b) Uma consequência decorrente da escas-
 Criação do Estado de Israel (justificativas ENEM E VESTIBULARES (P. 248)
sez de água potável em cidades dos paí-
políticas e ideológicas) 01| B 06| A 11| A 16| B ses em desenvolvimento, entre outras:
 Processo de descolonização (novas confi- 02| B 07| A 12| A 17| E  aumento dos riscos de doenças na popu-
gurações políticas e econômicas) 03| B 08| C 13| A 18| A lação;
 Plano Marshall (objetivos políticos e ide- 04| A 09| B 14| D  aumento da mortalidade infantil ou da
ológicos) subnutrição;
05| E 10| D 15| C
06|  aumento da demanda de serviços de saú-
a) Os países representados no cartaz são de pública;
GEOGRAFIA
União Soviética (URSS), Estados Unidos FRENTE C  aumento de gastos dos estados para con-
(EUA), Reino Unido e França. Os quatro CLIMATOLOGIA ter doenças;
países foram Aliados durante a II Guerra EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 261) 05|
Mundial para fazer frente aos regimes na- 01| A chuva é um dos componentes geográ-
zi-fascistas representados pelos países do ficos (meteorológicos) fundamentais para
a) erosão, transporte e sedimentação.
Eixo: Alemanha, Itália e Japão. o abastecimento dos rios que mantêm o
b) obtenção de água potável, abastecimento Sistema Cantareira. Outro componente
b) São exemplos de ações que permitiram às de cidades, produção de energia, trans- é a variação de altitude. As seis represas
potências aliadas assegurar a paz após a porte, dessedentação de animais, recrea- compõem o complexo e estão dispostas
Guerra: ção. em diferentes níveis de altitude, interliga-
 criação da Organização das Nações Unidas c) Rio Jaguaribe. Açude do Orós e Açude das por túneis que aproveitam os desní-
Castanhão. veis do relevo para a cumulação de água
(ONU);
02| por gravidade nas represas.
 divisão do território alemão em quatro Poderão ser considerados, ainda, outros
A diferença nos padrões de uso dos recur-
zonas de ocupação controladas por estes sos hídricos retratados nos gráficos, consi- componentes geográficos, como
países aliados, até 1949; derando o consumo urbano e a captação 1) a concentração populacional. O sistema
da água bruta, reside no fato de que nos atende cerca de 9 milhões de pessoas,
 o Plano de Recuperação da Europa (Plano quase metade da população da Região
países da OCDE há uma maior eficiência
Marshall); Metropolitana de São Paulo e parte dos
na distribuição, o que significa menor des-
perdício de água. Além disso, a água é, em municípios de Guarulhos, Barueri, Ta-
 a desnazificação da Alemanha e da Áustria; boão da Serra e Santo André.
grande parte, reutilizada nesses países.
 organização da nova ordem econômica 2) mudança da paisagem rural e urbana. As
03|
mundial, com a criação do Banco Mundial modificações da paisagem envolvem des-
a) Para uma análise comparativa entre o matamentos, assoreamento dos rios, cons-
e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
uso da água e sua disponibilidade en- truções, estradas, indústrias, entre outros.
07| tre Brasil e os países europeus de clima 06|
Dois dos efeitos para a sociedade japonesa: temperado oceânico, deve-se considerar
a área, o total populacional e a densida- Conteúdo: Apropriação e exploração dos
 destruição de cidades diferentes elementos da natureza. Dinâ-
de demográfica. No Brasil, o uso da água
micas das bacias hidrográficas e sua uti-
em relação ao total disponível é menor,
 proibição de rearmamento lização, apropriações e consequências;
isso se deve a uma maior oferta de re- impactos ambientais e suas implicações.
 prejuízos para a população civil cursos hídricos em áreas tropicais, uma A leitura de diferentes linguagens; análise
vez que as médias pluviométricas apre- e interpretação de mapa e fotografia.
 reconstrução nacional em bases capita- sentam-se mais elevadas. Outro fator re-
listas a) Entre os motivos da preocupação em rela-
levante é a grande extensão territorial e
ção à qualidade e quantidade da água es-
 aceitação da rendição incondicional pe- a baixa densidade demográfica, por isso tão: a sua contaminação pelo uso de agro-
o consumo relativo é baixo. tóxicos, a contaminação por esgotos não
rante os EUA
b) No período considerado a situação dos tratados e por produtos químicos indus-
 ocupação militar e intervenção política e Estados Unidos piorará comparando-se triais. Dentre as ações que poderiam ser
administrativa norte-americana as possibilidades de consumo de água implantadas destacam-se o efetivo con-
face a sua disponibilidade, por causa do trole e fiscalização do uso de agrotóxicos
 adoção de reformas políticas de restrição e dos produtos químicos utilizados pela
crescimento da demanda por sua econo-
ao poder exercido pelo imperador indústria, consumidos e não consumidos
mia e população em expansão e também
Dois dos efeitos para as relações interna- ao comprometimento de mananciais, re- pela sociedade; a ampliação de medidas e
flexo do inadequado manejo de uso do da infraestrutura de saneamento visando
cionais:
solo, sobretudo na bacia do Mississíppi, melhorar o processo de descontaminação
 instauração da Guerra Fria além da Costa Oeste. Devemos destacar do tratamento de esgoto domiciliar e in-

334
GABARITOS

dustrial (poluição); e a utilização racional Um dos fatores de repulsão: do dobro da população brasileira de 1960
da água dos aquíferos, visando à sua pre-  elevado custo da terra – 6%) e a possíveis 31% em 2060. Frente
servação; além da reconstituição das ma- a esse comportamento demográfico, as
tas ciliares dos cursos hídricos.  fracionamento da propriedade rural crianças das últimas quatro décadas do
b) Entre as alterações ambientais causadas  dificuldade de concorrência do pequeno século XX são os jovens/adultos de hoje e
pela sociedade no solo urbano estão o proprietário com a grande propriedade serão os idosos de 2020 em diante, e as-
desmatamento, o aumento das áreas im- mecanizada sim sendo, é vital que os adultos/jovens de
permeabilizadas e o assoreamento dos 02| hoje tenham mais empregos, possibilida-
cursos hídricos. des de qualificação profissional, formação
a) É o período no qual a população adulta
07| universitária e técnica e, no futuro, quan-
e ativa é superior em contigente aos não
do sejam idosos, tenham mais seguridade,
a) A região com maior disponibilidade hídri- ativos (jovens e idosos), situação obser-
hospitais, centros de recolhimento e ajuda
ca 1 (bacia amazônica) que esta na região vada no Brasil pela pirâmide de 2013, que
apresenta, do total, 68% de adultos. Num à terceira idade pelo Estado.
norte do Brasil é a região com menor po-
determinado momento do futuro, tal 04|
pulação e densidade demográfica do Bra-
situação terminará e, então, a situação a) O Estado nacional brasileiro, constituído
sil, já a região 6 (bacia paraná), que pos-
voltará ao desequilíbrio, pois aumentará em 1822, teve como um dos seus princi-
sui a maior concentração populacional do o número de idosos. Lembrando que, por
Brasil, pois compreende os estados de SP, pais objetivos a formulação de políticas
“janela demográfica” ou “bônus demo-
Sul de GO, sul de MS, Oeste de MG e PR regionais que garantissem o povoamento
gráfico”, entende-se o período no qual o
dos espaços de fronteira, a manutenção
b) 6 – Bacia do Paraná – pressão = maior número de pessoas em idade ativa (dos
da unidade nacional, o aumento da pro-
consumo devido o maior população, 15 aos 65 anos) é suficiente para susten-
dução de alimentos e adoção de regime
maior concentração urbana e industrial tar o contingente de crianças e idosos.
de trabalho livre com população branca
do país, poluição das águas. Poluição de- b) A pirâmide etária do Brasil em 2050 mostra- de origem europeia. Para tanto, o go-
vido ao uso de agrotóxicos na agricultura. rá um enorme contingente de idosos, uma verno imperial empreendeu, como uma
4 – Bacia São Francisco – pressão = semi- redução do número de adultos (de 68% de suas ações, a colonização dirigida na
-árido nordestino e projeto de transposi- em 2013 para 64% em 2050) e um contin- Região Sul do Brasil, especialmente nos
ção do velho Chico. gente reduzido do número de jovens. Esse Estados do Rio Grande do Sul e Santa
08| envelhecimento da população exigirá do Catarina, a qual consistia, entre outros
a) O aquífero é um reservatório de água lo- governo medidas como adoção de políticas aspectos, em incentivar a imigração de
calizado em áreas que apresentam rochas de apoio à população idosa. O sistema de população europeia para o país e a sua
permeáveis de origem sedimentar e/ou previdência social deverá procurar recursos instalação na mencionada região, sobre-
fraturas, com grande capacidade de ar- para sustentar uma população aposentada tudo em zonas fronteiriças com os países
mazenamento. Sua origem relaciona-se cada vez maior, o Estado deverá construir do Rio da Prata ou em áreas de baixo po-
principalmente à infiltração das águas das maior número de hospitais para dar atendi- voamento nos planaltos, pela presença
chuvas que ficam armazenadas em rochas mento À população idosa, esforços deverão de florestas, e nos vales dos rios.
porosas no subsolo. ser enviados na preparação de serviços ge-
b) O regime de propriedade adotado na colo-
b) Parte das águas que formam o Aquífero riátricos, como a formação de médicos en-
nização dirigida era o de pequena proprie-
Guarani se localiza em regiões denomina- fermeiros e cuidadores. Cursos especiais de
dade; o cultivo nos lotes, frequentemente
das “zona de descarga”, ou seja, áreas mar- terceira idade deverão preparar os idosos
com rotação de terras com várias culturas,
cadas pelo afloramento hídrico na superfí- para um provável reaproveitamento ativo
era realizado com instrumentos simples e
cie, permitindo a formação de rios, lagos, dessa população.
lagoas, etc. A principal atividade econômica força de trabalho familiar, voltado predo-
03| minantemente para a subsistência.
que utiliza suas águas é a agricultura, re-
lacionada à estrutura de irrigação. Além a) Com uma população de 87% de crianças 05|
disso, a atividade pecuarista de suínos e e idosos em 1960 e sua provável queda
a) A projeção da primeira figura é Mercator
bovinos também depende desse recurso para 46% em 2020, o Brasil terá muito
e a segunda figura é Peters.
hídrico de alta qualidade. Vale destacar mais condições de crescimento econômi-
que alguns setores industriais, em especial co daqui a sete anos do que teve há 53 b) O motivo fisiográfico é a maior incidência
aqueles ligados ao ramo alimentício, tam- anos (1960), pois 54% de população bra- de áreas terrestres no hemisfério norte.
bém utilizam os recursos do aquífero. sileira estarão em idade ativa (PIA) contra OU
ENEM E VESTIBULARES (P. 264) 13% em 1960; ou seja, em 2020, o Brasil O motivo fisiográfico é a menor presença
terá ‘bônus demográfico’, ampliando as de terras emersas no hemisfério sul.
01| B 06| D 11| C 16| C suas chances de geração de riqueza atra-
02| E 07| A c) Os continentes com maior concentração
12| E 17|D vés do trabalho formal.
de população, segundo o mapa, são: Asia
03| A 08| C 13| E 18|C b) Com as quedas abruptas na fertilidade das e Africa.
04| E 09| D 14| E mulheres brasileiras desde 1960, o percen-
Os continentes com menor concentração
05| A tual de crianças (de 0 a 14 anos) no país
10| E 15| D de população, segundo o mapa, são Amé-
vem caindo, significativamente, e continu-
rica E/OU Europa E/OU Oceania.
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 277) ará caindo até chegar aos pretensos 28%
da população total em 2060; já a curva de 06|
01|
idosos vem tendo um comportamento de a) Durante o século XIX até por volta de
Fluxo de emigração: Nordeste. mudança menos drástica desde 1960, sen- 1939, a Europa foi a mais importante
Fluxo de imigração: Sudeste. do que entre 2000 e 2020 há (haverá) um zona de repulsão demográfica do globo,
Fator de atração: expansão das áreas de incremento mais acelerado na expectativa com a ocorrência de fluxos migratórios
fronteira agrícola na Amazônia e no Centro- de vida da população, chegando essa po- para as Américas do Norte e do Sul, Ásia,
-Oeste. pulação a 13% do seu total em 2020 (mais Oceania e África do Sul. Esses fluxos fo-

335
GABARITOS

ram estimulados pelo crescimento popu- talidade e a diminuição do ritmo de cres- III. Florestas latifoliadas equatoriais
lacional, pela revolução técnica na agri- cimento da população (Crescimento De-  Chuvas abundantes o ano todo.
cultura, pelo processo de industrialização, mográfico Moderado).
pelas ocorrências de guerras e/ou epide-  Pequenas amplitudes térmicas anuais em
mias e pela busca de novas oportunida-  Quarta fase — considerada regime de- decorrência da posição latitudinal.
des de trabalho. Diferentemente, após a mográfico moderno, em que as taxas de
natalidade e de mortalidade são baixas e  Clima do tipo equatorial.
Segunda Guerra Mundial, a Europa passou
a ser uma zona de atração populacional o crescimento populacional fica próximo  Cobertura vegetal do tipo latifoliada, pe-
em decorrência de sua reconstrução eco- a zero, podendo ser até negativo. renifólia.
nômica, da necessidade de suprir mão de 08|  Rios com regime pluvial e grandes débi-
obra no mercado de trabalho, da política
de bem estar social, da formação da união a) A maior disponibilidade de alimentos nas tos anuais.
europeia, da busca de oportunidade de últimas décadas se deve a diversos fatores,
 Rios com tributários oriundos nos dois
trabalho pelo imigrante e das facilidades dentre os quais se destacam: desenvolvi-
hemisférios (Norte e Sul).
de acesso à mobilidade e à informação. mento de novas tecnologias agrícolas, como
b) O imigrante tem enfrentado problemas de maquinários e equipamentos; aprimora- 02|
discriminação, porque, em vários países eu- mento de técnicas de irrigação; desenvol- a) Quanto maior a latitude menor a diversi-
ropeus, são vistos pela população local como vimento de sementes geneticamente mo-
dade de espécies vivas.
concorrentes no mercado de trabalho, devido dificadas; melhorias de sementes naturais;
à diminuição no ritmo de crescimento econô- maior utilização de insumos agrícolas; técni- *Quanto maior a altitude menor a diver-
mico e aos avanços tecnológicos que ocasio- cas de correção e melhorias do solo. sidade de espécies vivas.
naram o aumento do desemprego.
b) A sustentabilidade ambiental implica b) Porque esses países estão localizados
ou
o uso do solo de forma não predatória, principalmente nas áreas de baixa latitu-
O imigrante tem enfrentado problemas de visando a preservá-lo para gerações fu- de, nas quais a biodiversidade é maior.
discriminação, porque, em vários países
turas. Esse cuidado envolve a valorização
europeus, são vistos pela população local 03|
de técnicas agrícolas que gerem menor
como concorrentes no mercado de traba- a) As áreas desmatadas apresentam, no ge-
lho, e a maior oferta de mão de obra tende impacto ambiental como: plantio em cur-
ral, um tipo de ocupação que se caracteri-
a manter e a reduzir os valores dos salários vas de nível; terraceamento em áreas de
za pela retirada de madeiras nobres, des-
pagos. elevada declividade; rotação de culturas;
matamento, queimadas, plantio de soja e
ou redução do uso de agrotóxicos; incenti- formação de pastos para a agropecuária.
vo à agricultura orgânica e aos sistemas Esta lógica apoia-se, entre outros aspec-
O imigrante tem enfrentado problemas de
agroflorestais — diferentemente, portan- tos, na abertura de estradas, na dificulda-
discriminação, porque, em vários países
europeus, são vistos pela população local to, do que ocorre no modelo dominante de de fiscalização e na impunidade.
como concorrentes no mercado de tra- nos dias atuais. b) Em relação aos solos, o desmatamento
balho por se submeterem a salários mais ENEM E VESTIBULARES (P. 279) promove alterações físicas e químicas. As
baixos. primeiras referem-se à desproteção, tor-
01| C 06| A 11| B 16| D nando-os suscetíveis à erosão; a segunda,
07|
02| A 07| B 12| A 17| A ao empobrecimento, já que sua fertilidade
a) Transição Demográfica: advém, em grande parte, do próprio ma-
03| E 08| B 13| A 18| A
 A transição demográfica consiste no pro- terial orgânico da floresta sobrejacente.
cesso de mudança no perfil de idade da 04| A 09| A 14| D 19| B
Em relação ao relevo, a retirada de florestas
população de um país e se caracteriza pela 05| E 10| E 15| C 20| D
promove transporte de materiais, gerando
redução das taxas de natalidade e de mor- processos erosivos (ravinamentos, voçoro-
EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 300)
talidade. camentos, deposições) modificando a dinâ-
01|
b) Fases da Transição Demográfica: mica e a estrutura superficial da paisagem.
a)
 Primeira fase — corresponde ao regime Em relação à hidrografia, como consequ-
demográfico antigo, cuja economia era I. Taiga (coníferas). ência dos dois processos anteriores, ocor-
predominantemente rural, as famílias ti- II. Savana (Cerrado). re assoreamento dos rios, diminuindo sua
nham muitos filhos (altas taxas de nata- III. Florestas latifoliadas equatoriais. capacidade de fluxo e sua navegabilida-
lidade), mas o número de óbitos era alto de; pelo fato de se tornarem mais rasos,
(elevadas taxas de mortalidade), devido às b) II. Cerrado ocorre também um aumento das áreas de
guerras e às epidemias. O aumento popu-  Ocorrência de duas estações do ano bem cheias e a erosão lateral das margens.
lacional era pequeno. marcadas: a seca e a chuvosa.
c) Regionalmente, ao emitir muita umidade
 Segunda fase — início de fato da transição  Presença de solos do tipo latossolo (solos pela evapotranspiração, a floresta atua
demográfica, na qual as famílias precisa- muito arenosos, com horizontes bem es- como um regulador térmico diminuindo
vam de filhos para aumentar a renda (ele- pessos). as amplitudes térmicas (diferença entre
vadas taxas de natalidade) e onde ocor-  Presença de rios de regimes pluviais. temperaturas mais quentes e mais frias) e
reram os avanços médicos com a queda tendendo (embora não necessariamente)
 Bioma com elevado grau de interferência
acentuada da mortalidade, resultando em a tornar o clima mais úmido. Globalmente,
antrópica (desmatamento, queimadas).
um crescimento acelerado da população pouco se pode afirmar a respeito da influ-
(Explosão Demográfica).  Recobrem, sobretudo, no Centro-Oeste, su-
ência da floresta amazônica, que pode se re-
 Terceira fase — é a segunda etapa da perfícies planálticas de estrutura cristalina.
sumir a uma provável e pequena queda de
transição, quando ocorre a queda da na-  São típicos de ambientes tropicais. umidade e aumento da amplitude térmica.

336
GABARITOS

04| bustivas e arbóreas dos mangues tiveram  Conservação dos recursos hídricos.
que desenvolver características morfofi- b) O candidato deve citar uma atividade hu-
a) Características da vegetação de araucárias:
siológicas especiais para absorver o oxi- mana dentre as seguintes: Agricultura OU
 adaptação ao clima de temperaturas bai- gênio, como as raízes aéreas e as pneu- pecuária OU exploração florestal OU mi-
xas no inverno; matóforas (respiratórias). Essas espécies, neração OU urbanização OU construção
de barragens OU construção de estradas.
 ocorrência em altitudes superiores a de modo geral, apresentam tronco fino,
1.000 m; pequena altura e são classificadas como ENEM E VESTIBULARES (P. 302)
 ambientes com alta umidade (chuvas e/ halófitas e higrófilas. O intenso processo
01| E 06| D 11| C 16| C
ou vales onde formam florestas-galerias); de urbanização das áreas litorâneas tem
levado à degradação desse ecossistema, 02| B 07| C 12| B 17| C
 formato de guarda-chuva invertido (re- 03| D 08| A 13| E 18| E
como o desmatamento, os aterros para
tenção de umidade e sustentação de pre-
expansão imobiliária e a contaminação 04| E 09| C 14| B
cipitação nival);
por resíduos sólidos, esgotos, vazamen- 05| C 10| A 15| B
 principais ocorrências em solos férteis tos de navios (petroleiros e outros),
(terra roxa); efluentes e/ou vazamentos industriais. EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO (P. 316)
 aciculifoliada (folhas duras e pontiagudas 07| 01|
em formato de agulhas/espinhos); a) As florestas equatoriais localizam-se em a) O “encolhimento” do mapa-mundi ocor-
áreas de clima equatorial (clima quente e reu porque houve um avanço nos meios
 árvores separadas por sexo (machos e
úmido), com chuvas bem distribuídas no de transporte e comunicação ao longo da
fêmeas); história, facilitando assim o deslocamen-
decorrer do ano, temperaturas elevadas e
 pinhões que alimentam os animais de pe- baixa amplitude térmica. São perenifólias, to e comunicação no planeta.
queno porte. adaptadas à grande umidade. Nelas pre- b) Sim. Pois em ambas situações há ênfases
domina o estrato arbóreo. As árvores são quanto ao processo de globalização eco-
Características do clima subtropical: altas, algumas atingem mais de 40 metros. nômica sedimentada no avanço tecnoló-
 estações do ano bem marcadas; São florestas ricas em espécies vegetais e
gico, portanto, elemento primordial para
abrigam riqueza de espécies animais. As
 grandes amplitudes térmicas anuais; as constantes modificações no espaço
florestas equatoriais possuem várias plan-
tas que são aproveitadas pelo homem. global.
 chuvas distribuídas durante todo o ano;
b) A vegetação da caatinga se caracteriza 02|
 índices pluviométricos acima de 1250
mm anuais; por apresentar estrato que varia entre A geopolítica brasileira se diferencia da
o arbóreo e o arbustivo, que pode ser dos demais países do grupo dos BRICs pe-
 temperatura média anual em torno de 18 °C. denso ou aberto. É formada por plantas los seguintes aspectos: o Brasil não pos-
b) Produtos do extrativismo vegetal da região: que perdem as folhas no período seco sui armamento de destruição em massa;
(caducifólias) e por outras que possuem estabeleceu com a vizinha Argentina la-
 a erva-mate (folhas)/chimarrão; espinhos, ou ainda por aquelas que pro- ços de cooperação pacífica nos setores
 a madeira (da imbuia, do ipê, do cedro ou duzem cera para revestir suas folhas. nuclear e militar; estabeleceu com os
São plantas que possuem um mecanis- países da costa africana e sul-americana
do pinheiro-do-paraná);
mo para diminuir a perda de água por
a Zona de Paz e Cooperação do Atlântico
 pinhão; transpiração. Após as primeiras chuvas,
Sul; sua projeção enquanto potência re-
 canela; as plantas reanimam-se, florescem e fru-
tificam rapidamente. gional se dá preferencialmente de forma
 xaxim. geoeconômica e não através da dissuasão
c) Os dois elementos do clima que mais in-
bélica.
terferem na diversidade de espécies são a
05| chuva e a temperatura. A umidade do ar 03|
a) Bioma: Cerrado. também pode ser considerada. a) O Tratado de Roma (1957), assinado pela
d) As florestas vêm sendo muito devastadas Bélgica, Holanda, Luxemburgo (BENELUX),
b) Bacia Hidrográfica do Paraná, Bacia Hi- para dar espaço aos mais diversos usos. França, Alemanha Ocidental e Itália, visa-
drográfica do São Francisco e Bacia Hidro- Uma das consequências dos desmatamen- va uma união econômica de fato entre
gráfica Tocantins-Araguaia. tos é a erosão superficial dos solos, com
esses países europeus, através de uma
perda da sua fertilidade natural e da ma-
c) Clima Tropical ou Clima Tropical SemiÚmi- téria orgânica. Esses solos causam o asso- política comum para os produtos agríco-
do ou Clima Tropical Típico ou Clima Aw. reamento dos rios e o aumento da turbi- las, transportes e outros setores econô-
dez da água, dentre outros problemas. micos estratégicos, além de definir regras
06| comuns para a concorrência entre os seus
08|
Os manguezais se desenvolvem em áreas mercados nacionais, a partir de uma co-
a) O candidato deve descrever um fator ordenação regional de política econômica
de águas pouco movimentadas ou alaga- dentre os seguintes:
entre os Estados membros. Pretendia-se
das nas reentrâncias dos litorais (baías,  Conexão entre os fragmentos de habitats uma união cada vez mais estreita des-
enseadas, estuários e deltas). Os solos ar- OU ses países mediante a eliminação das
gilosos e lodosos, ricos em matéria orgâ-  Possibilidade de circulação da fauna en- barreiras alfandegárias que dividiam os
nica, dão origem a um tipo de vegetação, tre os fragmentos OU mercados europeus, o que gerava, inclu-
que revela grande capacidade de adapta-  Facilitação da dispersão da flora ou pro- sive, conflitos armados. Ou seja, o MCE
ção a duas condições adversas: a salinida- pagação do fluxo de espécies OU buscava integrar a economia dos países
de do solo e a deficiência de oxigênio, em  Favorecimento de refúgios alternativos à membros com o estabelecimento de um
virtude do alagamento pelas oscilações fauna durante grandes perturbações e/ mercado comum. Já o Tratado de Maastri-
das marés. Por essa razão, as espécies ar- ou catástrofes OU cht ou Tratado da União Europeia (1992)

337
GABARITOS

representou um avanço nesse processo anteriormente, a ampliação do poder da também, como fator desfavorável, uma
de integração econômica para os âmbitos União Europeia sobre a região dos Balcãs intensa disputa pela liderança política
político e social, através da construção de devido ao interesse desses novos países nestas organizações.
uma ‘cidadania europeia’, alargando-se de saírem da órbita socialista e da cultura 07|
assim as competências comunitárias atra- unionista imposta por Joseph Broz Tito,
vés de políticas externas e de segurança desde os anos de 1950; 4) a fragmentação a) Organizações que surgiram na América
comuns, além de ampliar a cooperação en- da Tchecoslováquia através da Revolução Latina nesse período: Organização dos
tre eles nos âmbitos da justiça e assuntos de Veludo, em 1989, que criou dois novos Estados Americanos (OEA); Associação
internos. Portanto, Maastricht constituiu países no Leste europeu: a República The- Latino-Americana de Livre Comércio
uma nova etapa na integração europeia, ca e a Eslováquia. (ALALC ou ALADI); Sistema Econômico
dado ter permitido o lançamento da inte- da América Latina (SELA); Comissão Eco-
04| nômica para a América Latina (CEPAL);
gração política, assentando os parceiros
comunitários em três pilares: a união das a) Associação de Livre Comércio do Caribe
Comunidades Europeias, das Políticas Ex- – Estados Unidos, Canadá e México (CARIFTA ou CARICOM); Pacto Andino ou
ternas e de Segurança Comum (PESC) e da Comunidade Andina de Nações (CAN).
– Reflexos para o México: Essas organizações se mostraram pouco
cooperação policial e judiciária em matéria
penal (JAI). Ao instituir uma ‘cidadania eu-  Queda no crescimento da economia eficazes e a integração econômica regio-
ropeia’, Maastricht reforçou os poderes do  Aumento da dívida externa nal avançou pouco, tendo sido um perí-
Parlamento Europeu e criou a União Eco- odo condicionado pelo protecionismo de
 Presença das “maquiladoras”
nômica e Monetária (UEM), com a defini- alguns países. As primeiras iniciativas de
 Exploração da mão de obra mexicana integração se inseriram nas estratégias
ção do Euro como moeda regional. Assim
sendo, o tratado de 1992 ultrapassou o ob-  Dependência de importação de alimen- de substituição de importações, de forma
jetivo econômico do de Roma (1957), pelo tos que o regionalismo era complementar ao
desejo de constituir-se mais do que uma  Endividamento, vulnerabilidade e depen- desenvolvimento nacional.
região aduaneira, mas também por uma dência em relação aos EUA. b) Os principais objetivos dos processos de
nova proposta para a dimensão política e  Repressão nas áreas fronteiriças. integração regional são: aumentar o po-
jurídica entre os países comunitários. der econômico e político dos países per-
Adaptado de http://europa.eu/legislation_summaries/
b) A expectativa dos críticos ao projeto de tencentes ao bloco regional; buscar auto-
institutional_affairs/treaties/treaties_maastricht_ criação da ALCA é de que essa organi- nomia em relação aos países exteriores
pt.htm. Acesso em 30 jul. 2013. zação poderia desestruturar as econo- ao bloco; promover a circulação de mer-
b) Os processos geopolíticos de grande re- mias dos países membros do Mercosul, cadorias, pessoas, informação e inves-
percussão político territorial foram: 1) a uma vez que o poder de competição dos timento, ou seja, a concessão mútua de
reunificação das Alemanhas (Ocidental e americanos é muito maior do que o dos preferência e a complementaridade, por
Oriental) ocorrida em 1990 como reflexo demais países. Além disso, de fato have- meio de normas que facilitem esses flu-
da queda do Muro de Berlim (1989) no fim ria uma abertura econômica que estaria xos e harmonizem os acordos comerciais
da Guerra Fria (e o consequente desmonte limitada aos interesses dos norte-ameri- existentes, melhorando tanto a integra-
da Cortina de Ferro, que separava, ideolo- canos, não havendo efetivamente a livre ção dentro do bloco quanto como a parti-
gicamente, as Europas Ocidental e Orien- circulação de bens, tecnologia e pessoas. cipação regional no comércio internacio-
tal). Essa reunificação foi, na verdade, a 05| nal; obter adesão de novos membros, em
reanexação da então República Democrá- a) Entre as vantagens da criação de blocos patamar econômico e social compatíveis
tica da Alemanha (ou Alemanha Oriental, econômicos para os países integrantes para fortalecer o bloco.
socialista) pela então República Federal da estão: i) a expansão das trocas comer- 08|
Alemanha (ou Alemanha Ocidental, capita- ciais entre os países integrantes; ii) a
lista); 2) a fragmentação territorial da URSS a) Os blocos econômicos são: Nafta, União
redução ou isenção de taxas alfandegá-
(1991), que proporcionou o surgimento de Européia e Mercosul.
rias para determinados produtos; iii) o
15 novos países e finalizou a hegemonia estímulo à estruturação de cadeias pro- b) Dentre as diversas vantagens, o aluno po-
soviética no Leste europeu. A nova Alema- dutivas intra-blocos; iv) a transferência derá apresentar:
nha reunificada passou a ser fundamental de tecnologia; v) a criação de um fórum  a eliminação de barreiras alfandegárias e
no novo jogo de forças geopolíticas na Eu- de discussões entre países membros a padronização de legislação econômica e
ropa, pois com uma economia bastante para tratar de assuntos não apenas eco- fiscal;
forte (por ser uma potência monetária e nômicos; vi) o fortalecimento dos países
cambial), tornou-se a locomotiva europeia membros em negociações internacio-  a livre circulação de capital, mercadoria,
que possibilitou a adesão de novos países nais extra-bloco. serviços e pessoas;
à União Europeia, notadamente no Leste  a possibilidade de implantação de moeda
b) A principal característica diferenciadora
europeu. Os novos países surgiram como única e, sobretudo,
da União Européia é a criação de uma
mercados a serem conquistados pelos
unidade política supranacional materiali-  a existência de um mercado consumidor
objetivos da ordem regional europeia sob
zada na criação do Parlamento Europeu e e fornecedor.
forte influência alemã como a Polônia, Re-
do estatuto de cidadão europeu.
pública Tcheca, Eslováquia, Hungria, além
das repúblicas bálticas e novas repúblicas 06| ENEM E VESTIBULARES (P. 318)
balcânicas como a Eslovênia e a Croácia; Sim, com tantos organismos em uma 01| C 06| D 11| C 16| B
3) a fragmentação territorial da Iugoslávia, mesma região geográfica torna-se difí- 02| D 07| C 12| D 17| C
nos Balcãs. Com o fim da Guerra Fria, as re- cil estabelecer metas coletivas, uma vez
públicas autônomas da Eslovênia, Croácia que as atribuições, os estágios evoluti- 03| B 08| C 13| E 18| B
e Macedônia declaram-se independentes, vos, assim como os objetivos dessas or- 04| D 09| B 14| C 10| E
o que possibilitou como já foi observado ganizações se sobrepõem. Destaca-se, 05| B 10| A 15| D

338
CIÊNCIAS HUMANAS e suas Tecnologias Frente D
ANOTAÇÕES

339
SISTEMA DE ENSINO PREPARAENEM

ANOTAÇÕES

340

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