TCC Pavan
TCC Pavan
TCC Pavan
REAIS
IFSP
São Paulo
2013
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Agradeço à minha noiva por estar ao meu lado nos momentos mais difíceis e
compreender as várias vezes em que deixamos de sair para eu estudar.
Ao prof. Dr. Armando Traldi por acreditar em nós nesses semestres como
coordenador, ao prof. Me. Amari Goulart pela força, conselhos e as melhores
“conversas filosóficas de boteco” que tive, à prof. Dra. Delacir Poloni por fazer as
coisas acontecerem, à prof. Dra. Mariana Baroni e à prof. Dra. Cristina Lopomo
Defendi pela ajuda e inestimáveis conselhos nesta reta final, à prof. Ma. Fabiane
Marcondes por me ouvir e discordar de mim (mesmo quando concordava) apenas
para enriquecer nossas discussões, ao prof. Me. César Adriano e ao prof. Me.
Eduardo Curvello pelas maravilhosas aulas, por sempre sanar (com extrema
paciência) todas as minhas dúvidas (e foram muitas) e ainda permitir que eu
dividisse um pouco dos meus problemas quando precisei.
Em especial ao prof. Dr. Rogério Ferreira da Fonseca não apenas por contribuir para
a minha formação com suas ótimas aulas, mas por me orientar de modo magistral
na elaboração deste trabalho e por preciosos conselhos que levarei para vida toda.
E, por fim, a dois professores que me marcaram não apenas pelo conhecimento
dividido, mas pelas horas que se colocaram no papel de amigo, por vezes até
psicólogo me guiando, aconselhando ou simplesmente me ouvindo, muito obrigado
Granero – muito obrigado Henrique.
Obrigado a todos.
RESUMO
ABSTRACT
Pág.
Pág.
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 19
2 ARITMETIZAÇÃO DA ANÁLISE ......................................................................... 21
2.1. Peano e sua Axiomática .................................................................................. 23
2.2. Critica à Axiomática de Peano......................................................................... 25
3 A NATUREZA DO NÚMERO: CORRENTES FILOSÓFICAS ............................. 27
3.1. Nominalismo .................................................................................................... 27
3.2. Conceitualismo e Intuicionismo ....................................................................... 29
3.3. Realismo e a tese Logicista ............................................................................. 31
4 A NOÇÃO DE COMPLEMENTARIDADE NA MATEMÁTICA ............................. 33
4.1. Complementaridade na teoria de Conway ...................................................... 34
5 TEORIA DE CONWAY ....................................................................................... 35
5.1. Números Surreais............................................................................................ 35
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 49
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 51
19
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho abordou os números reais pela sua importância frente ao seu papel
fundamental em várias áreas da Matemática, como o Cálculo Diferencial e Integral.
Como sabemos, os objetos matemáticos possuem uma natureza dual, tanto lhe
cabem uma teoria axiomática, como podem ser complementados por aplicações, ou
seja, modelos apoiados no mundo real que traduzem seus processos lógicos. Frente
a isso, buscaremos no conceito de complementaridade o quanto as teorias clássicas
dão conta da intensionalidade (axiomática) e da extensionalidade (aplicação ao
mundo real) e qual a potencialidade de uma nova construção frente a esse conceito
(complementaridade). Vale ressaltar que esse conceito foi cunhado pelo físico
1
“John Horton Conway nasceu em Liverpool no dia 26 de dezembro de 1937. Estudou em
Cambridge, realizando seu doutorado em 1964. Fez importantes contribuições em Teoria dos
Números, Teoria dos Grupos e Teoria dos Jogos Combinatórios. Atualmente é professor da
Universidade de Princeton” (FONSECA , 2010, p. 11).
20
teórico Niels Bohr e posteriormente utilizado por matemáticos como Michael F. Otte
para abordar aspectos epistemológicos e cognitivos de assuntos matemáticos.
A teoria de Conway (2001) será a base da pesquisa. Sua abordagem referente aos
números reais possibilitará o desenvolvimento de uma nova construção. A
comparação dessa teoria com as teorias clássicas mostrará o resultado referente à
abordagem de uma das problematizações propostas para a pesquisa, a de que a
primeira traz uma melhor contribuição frente à complementaridade.
Foram utilizadas obras voltadas ao ensino de Análise Real, obras que abordam os
Fundamentos e a Filosofia da Matemática e os trabalhos (dissertação e tese) do
professor e pesquisador do IFSP e PUC-SP Rogério Ferreira da Fonseca, entre
outras obras que julgamos necessário.
2 ARITMETIZAÇÃO DA ANÁLISE
Uma das primeiras sugestões para tal veio de Jean-le-Rond D’Alembert “ao observar
muito corretamente, em 1754, que era necessária uma teoria dos limites” (EVES.
2011, p.610) que possibilitasse fundamentar alguns conceitos essenciais para o
cálculo diferencial e integral, entre eles, uma teoria para os limites. “O mais antigo
matemático de primeiro plano a efetivamente tentar uma rigorização do cálculo foi o
ítalo-francês Joseph Louis Lagrange” (EVES, 2011, p.610) em 1797. Bolzano, em
1817, apresentou alguns resultados importantes, mas seu trabalho ainda continha
muito da intuição geométrica o que colocou em xeque várias de suas ideias.
Grandes matemáticos como Gauss também contribuíram para amadurecer as
discussões a respeito dos fundamentos. Sob o impulso de matemáticos como
Cauchy e Weierstrass iniciou-se o movimento de retorno aos fundamentos da
Matemática, conhecido como Aritmetização da Análise ou ainda redução dos
princípios da Análise ao conceito de número real.
2
Howard Eves cita que em 1829 Lobachevsky apresentou, “mas devido as barreiras da língua e a
lentidão com que as informações de novas descobertas se propagavam naqueles dias, seu trabalho
permaneceu ignorado na Europa ocidental por vários anos (2011, p.542).
22
Mas como o espírito humano não se aquietou, surgiram outras questões, por
exemplo, será que o máximo rigor tinha sido atingido? No final do século XIX, com o
trabalho de Richard Dedekind e Georg Cantor, novas construções para os números
reais foram propostas, reafirmando o movimento de Aritmetização da Análise.
Dessa forma, produziram-se duas grandes teorias “clássicas” que dão conta de
fundamentar o campo dos números reais, quais sejam Cortes de Dedekind e
Classes de Equivalência de Sequências Convergentes de Cauchy (de números
racionais), além de uma terceira teoria axiomática que será citada posteriormente.
Corte de Dedekind, ou simplesmente corte, é todo par (E,D) de conjuntos não vazios
de números racionais, cuja união seja Q, tais que todo elemento de E seja menor
que todo elemento de D (ÁVILA. 2006, p.58). É importante ressaltar a existência de
cortes que não possuirão um racional como elemento separador, de sorte que temos
aí caracterizada a descontinuidade do conjunto Q, sendo necessário acrescentar
novos elementos para "preencher" as lacunas deixadas na reta aceita como
representante geométrico de R. A partir dessa definição e uma série de proposições
munidas de duas operações, conseguimos construir os números reais como um
corpo ordenado e completo, tendo como ponto forte o teorema que diz: todo corte de
números reais possui um número real como elemento separador.
> 0, existe N tal que n, m > N | – |< (ÁVILA, 2006, p.97). De sorte
23
que, dentre tais sequências, existem as convergentes, mas também existe uma
infinidade de sequências que não convergirão para um racional e é justamente
desse fato que postulamos a existência dos números irracionais. Cantor,assim como
Dedekind, também parte do conjunto dos números racionais e de suas propriedades.
Uma vez que toda a teoria dos números reais podia ser reduzida aos números
naturais, o próximo passo foi reduzir os próprios números naturais ao menor número
de termos não definidos e premissas dos quais se pudessem derivar. Esse trabalho
foi realizado em 1889 por G. Peano através de um sistema axiomático.
Giuseppe Peano (1858 – 1932) foi um matemático italiano, tido como um dos
fundadores da Lógica simbólica e figura de extrema importância no já citado
movimento de Aritmetização da Análise. Sua obra influenciou Russel e Whitehead.
Publicou pela primeira vez em 1889 seus famosos axiomas, conhecidos como
axiomas de Peano que tomaram forma definitiva em 1898 e, a partir deles, podem-
se conceber os números naturais e suas propriedades. Os axiomas contêm três
termos não definidos, quais sejam, “zero”, “sucessor” e “número natural”.
24
Peano não tinha interesse algum em esclarecer o que é um número, pois segundo
ele, os axiomas são suficientes para deduzir todas as propriedades para tais
números, existindo ainda uma infinidade de outros sistemas que também se
verificariam por meio deles, sendo, portanto, número natural o que se obtiver por
abstração desse sistema axiomático. Acreditava também que por um ponto de vista
pragmático, não existe a necessidade de definir número, pois tal ideia já aparece
clara em demasia para todos, podendo alguma definição confundir ou ainda
obscurecer os pontos mais importantes em voga. Desse modo, além da total
consciência de que seus axiomas não respondem a questão “o que é um número?”,
também evitava qualquer definição para eles, afirmando que:
Acredita que não se deve definir o que servirá de definição, pois existe o perigo de,
ao fazer isso por meio de ideias aparentemente mais simples, cair em um círculo
vicioso, na qual se usa termos para definir outros e por meio dessa tentativa de
simplificação, torna-se tudo mais complexo. E, ao ser questionado, deixa claro o
porquê de sua escolha,
3
The concept of number is distinguished from many other concepts of the school course by its
primarity. This means that in the overwhelming majority of ways in which mathematics can be
developed as a logical system, the idea of number belongs to the set of those concepts which are not
defined in terms of other concepts, but together with the axioms enter into the ranks of the initial data.
It means that mathematics does not contain within itself an answer to the question ‘what is a number?’
– an answer, that is, which would consist of a definition of this concept in terms of concepts that had
been introduced at an earlier stage; mathematics gives this answer in a different form, by listing the
properties of a number as axioms.
25
Para Russel, a obra de Peano é de extrema importância uma vez que fundamenta
os números a partir de uma recursão lógica, porém está muito longe de concordar
com todas as suas ideias. Para Russel, no que tange a essa abordagem
(axiomática), não existe qualquer descrição, interpretação ou aplicação para o objeto
matemático, importando apenas as relações entre os objetos. Acrescenta que se
"suponhamos que '0' significa o número um e que 'número' significa o conjunto 1,
1/2, 1/4, 1/8,... e suponhamos que 'sucessor' significa 'metade'. Nesse caso, todos
os cinco axiomas de Peano se aplicarão a esse conjunto" (Russell, 2007, p.24).
4
To this question one can give different answers from various authors, seeing that simplicity can be
understood differently. For my part, the answer is that number (positive integer) cannot be defined
(seeing that the ideas of order, succession, aggregate, etc., are as complex as that of number).
5
Mathematics has a place between logic and the experimental sciences. It is pure logic; all its
propositions are of the form: ‘If one supposes A, then B is true.’ But these logical constructions must
not be made for the mere pleasure of reasoning about them. The object studied by them is given by
the experimental sciences; they must have a practical goal.
26
Entretanto devemos ressaltar que o principal esforço de Peano foi propor uma
axiomatização que permitisse fundamentar os números naturais e não responder à
questão “O que é número?”. Em outras palavras, entendemos que Peano busca
fundamentar as principais propriedades dos números. Por este motivo, é possível
afirmar que, enquanto Peano buscava mais o aspecto intensional do conceito de
número, Russell pretendia explorar mais o aspecto extensional, ou seja, enquanto o
primeiro observava mais os aspectos estruturais e as relações entre os objetos
matemáticos, o segundo focava possíveis interpretações, aplicações ou modelos
para os números. Mais adiante, no capítulo 4, abordaremos os significados das
palavras intensional e extensional com base na noção de complementaridade. Por
enquanto, vamos ver como as principais escolas filosóficas tratavam da questão do
que é o número.
27
3.1. Nominalismo
6
John Stuart Mill nasceu em Londres em 1806 e morreu na mesma cidade em 1873. Suas
contribuições abrangem diversas áreas do conhecimento como a Lógica, a Psicologia, o Direito, a
Economia e a Política. Publicou diversas obras, entre elas A System of Logic, composta por dois
volumes, publicada em 1843. Suas principais contribuições encontram-se no campo da Economia.
28
Uma das lacunas apontadas por Barker (1969) refere-se aos números naturais,
como 0 ou 1. Tais números são únicos conceitualmente. Quando dizemos “zero” ou
“um”, entendemos e queremos indicar o mesmo objeto mental. Se, ao contrário, o
número fosse simples representação de realidades empíricas, como defendido pelos
nominalistas, não nos compreenderíamos, pois cada pessoa poderia atribuir
realidades diferentes ao número.
Há números que abarcam entidades às quais não se pode fazer corresponder uma
realidade fora do pensamento; é o caso do número zero, dos números transfinitos 7
ou ainda de números não computáveis8. Se aos números devessem corresponder
necessariamente a entidades concretas, se tivéssemos que indicar realidade
concreta correspondente a cada número, grande parte da Matemática se tornaria
impossível.
7
São números que representam a cardinalidade de conjuntos infinitos.
8
São números reais que não podem ser obtidos através de um algoritmo finito.
29
Ainda segundo Barker (1969), o filósofo Kant é um dos mais ilustres representantes
do conceitualismo matemático, sustentando que as leis dos números, como as da
Geometria Euclidiana, eram ao mesmo tempo a priori e sintéticas. Sustenta ainda
que,
9
Luitzen E. J. Brouwer (1881-1966) nasceu em Overschie (Holanda) e realizou doutoramento na
Universidade de Amsterdam. Relizou célebres trabalhos em topologia algébrica. Toda a sua carreira
foi consagrada ao desenvolvimento das matemáticas intuicionistas.
10
Leopold Kronecker (1823-1891) nasceu em Liegnitz (Alemanha) e estudou em Berlim, Bona e
Breslau. Realizou o doutoramento em 1845 na Universidade de Berlim. Conforme afirma Jean
Dieudonné, seus textos de álgebra, de teoria dos números e de análise são de uma profundidade
notável.
30
Entretanto, tal noção entra em conflito com a teoria dos números transfinitos de
Cantor de 1874, bem como com as noções de infinito atual11 e potencial12, que são
consistentes do ponto de vista matemático. Assim, o conceitualismo também não
conseguiu fornecer definitivamente uma resposta às questões relacionadas à
natureza dos números.
11
Infinito atual faz menção a uma entidade já existente com um número infinito de elementos. Como
exemplo podemos tomar o segmento de reta de tamanho um, apesar de podemos até desenhá-lo e
visualizar seu início e fim, possui infinitos pontos.
12
Algo que pode ser aumentado indefinidamente, tanto quanto necessário.
31
Pelo exposto, conclui-se que a doutrina segundo a qual os números nascem da pura
intuição do processo de contagem é muito vaga e discutível, especialmente se
interpretada literalmente.
Dessa forma, ao contrário dos intuicionistas não existem motivos para se rejeitar
demonstrações não construtivas como, por exemplo, a demonstração da não
enumerabilidade do conjunto dos números reais, proposta por Cantor.
Ainda dentro da corrente realista, temos a que ficou conhecida como tese logicista.
Essa tese, como defende o matemático, lógico e filósofo alemão Frege sustenta que
é possível reduzir os números e todas as suas regras da Lógica. Posteriormente,
Russell e Whitehead irão além sustentando que não apenas os números, mas toda a
Matemática pode ser reduzida à Lógica, afirmando ainda que da mesma forma que a
Geometria se relaciona com seus axiomas, a Aritmética e todo o resto da
Matemática dos números se relacionam às leis da Lógica.
Barker (1969) afirma que não foi por acaso o fato de a tese logicista ter sido
desenvolvida pelos adeptos do realismo, pois tais concepções caminham juntas.
Com o avanço da tese, vários problemas começaram a ser percebidos, dentre eles
muitos paradoxos que foram corrigidos enunciando-se o axioma da redutibilidade e o
axioma do infinito13 que acabaram por levantar tantos opositores quanto
13
Existe um conjunto que tem o conjunto vazio como elemento e o sucessor de todo elemento seu.
32
simpatizantes. Temos também a teoria dos tipos formulada para superar as críticas
ao axioma da redutibilidade14 e que por sua vez também levantou dúvidas quanto ao
sistema.
Desse modo é possível concluir que a tese realista não deu conta do proposto
(reduzir a matemática à lógica) e consequentemente não tornou possível a
fundamentação dos números criando paradoxos que a cada tentativa de sanar, dava
à luz novos problemas.
14
Para toda propriedade de ordem maior que zero existe uma propriedade de ordem zero que lhe é
equivalente.
33
Por outro lado temos a visão extensional de objetos matemáticos que se caracteriza
por fornecer a descrição dos objetos, por meio de aplicações, interpretações ou
modelos matemáticos. Para Thorn (1972 apud Otte, 2003b, p. 203) o verdadeiro
problema pelo qual é confrontado o ensino da matemática não é o rigor, mas sim um
problema de desenvolver um significado para a interpretação a partir de objetos
existentes no mundo real.
Como podemos observar os objetos matemáticos possuem uma natureza dual, tanto
lhe cabe uma teoria axiomática, como podem ser complementados por aplicações,
ou seja, modelos apoiados no mundo real que traduzem seus processos lógicos.
34
A teoria do matemático britânico John Horton Conway, pode fornecer uma resposta
mais completa à questão. Conway (2001) afirmou que número é um “jogo”.
Certamente devemos considerar que ele não estava buscando responder a pergunta
“O que é número?” do ponto de vista filosófico, mas sua teoria pode ser usada para
apresentar uma resposta a essa questão, visto que garante a complementaridade na
conceituação de número.
A teoria formulada por Conway para a construção dos números reais satisfaz o
caráter intensional ao elaborar uma tese consistente baseada em axiomas e
definições da Teoria dos Conjuntos, e também satisfaz o caráter extensional já que
tal construção é possível também por meio de uma classe de jogos.
5 TEORIA DE CONWAY
Para provar que zero é realmente um número, precisamos mostrar que não é
-1 = ( {0}) e 1 = ({0}| )
que por (I) obtemos:
-1 = ( {0}) 0 e
1 = ({0}| ) 0
-2 = ( |{-1}) e 2 = ({1}| )
E novamente por (I) mostramos que são números de Conway:
-2 = ( {-1}) 1
2 = ({1}| ) 1
Repetindo esse processo, encontraremos sempre dois novos números do qual todo
número n é da forma n = ({n-1}| ) e respectivamente os números negativos são da
forma -n = ( {-(n-1)}).
Agora que obtemos vários números é pertinente estabelecer uma relação entre eles,
Prova 1: 0-1
Supomos por absurdo que 0 -1, teríamos então ( ) ( {0}) e por (II):
0 -1 y e x
-1 e 00
Prova 2: 10
1 0 y e x
00 e 1
Prova 3: 1-1
Supomos por absurdo que 1 -1, teríamos então ({0}| ) ( {0}) e por (II):
38
1 -1 y e x
0-1 e 10
Ora obtemos dois absurdos, pois sabemos que 0 e também que 1 0, dessa
É interessante ressaltar nesse ponto que apesar de parecer óbvio do ponto de vista
comum, não podemos afirmar que -1<1 apenas provando que -1<0 e que 0<1.
x y y e x
0 e 0
x y y e x
y e 0
CASO 3: X e Y= , teremos x = ( X) e y = ( | ) :
x y y e x
39
0 e x
x y y e x
y e x
Propriedade transitiva
(III) Se x y e y z então x z.
Para provar tal asserção, supomos por absurdo que existam três números x,y,z tais
que:
(i) z ou (ii) x
Então se (x,y,z) são três números que verificam ( ) e supondo sem perda de
generalidade que ocorra (i), temos então:
“arranjo” para ( )
(i) ou (ii) y
Então se (y,z, ) são três números que verificam ( ), e supondo novamente sem
perda de generalidade que ocorra (i), temos então:
40
Esse processo se estenderia infinitamente, mas devemos observar que cada nova
terna de números satisfazendo ( ) é composta por um número que faz parte de
conjuntos E ou D de outros números, ou seja, foi criado antes que o número
representado. De modo que se definirmos uma função d(x) tal que para um número
x, ela indica o passo em que foi construído (sendo zero construído no passo 1,
menos um e um, construídos no passo 2 e assim por diante), teremos para a terna
(x,y,z) inicial d(x) + d(y) + d(z) = n. Aplicando a função para os casos posteriores
obtidos, obtemos novas ternas com somas menores. Podemos prosseguir assim
infinitamente o que é um absurdo, pois não pode existir qualquer terna com soma
inferior a 3.
Se x y e y z então x z.
x x x ou x
um absurdo.
um absurdo. Logo x x.
ou
Vejamos (i):
absurdo. Logo x x .
Agora podemos provar que para dois números x e y , não teremos x y e yx
Tomando x y y ou x .
Sabemos que x x y y x.
Agora que temos uma série de números inclusive números negativos e também já
definimos o que é a igualdade para os números de Conway, vamos definir a soma
entre eles:
x + y = (( + y) (x + )| ( + y) (x + ))
= ({-1}|{1}) = ?
Sabemos também por (V) que 0 ({0}| ) 1, vamos então descobrir se ({0}| )=0
ou ({0}| ) =1.
Sabemos agora que 0 <({0}| )< 1, mas não sabemos ainda de que número se
trata. Nesse ponto o jogo Hackenbush propõe uma tarefa extremamente agradável e
divertida, descobrir de que número se trata jogando.
Em nosso trabalho apresento, sem prova, uma regra para a construção dos
chamados números racionais diádicos, ou seja, números da forma :
Dessa forma podemos esperar que ({0}| ) = vamos confirmar isso mostrando
= ({0}| )e - =( )
= ({0}| )e - =( )
= ({1}| )e - = ({-2}| )
= ({3}| ) e - =( |{-3})
= ({3}| ) e - =( )
Até agora, apresentamos apenas números racionais com sua representação finita,
um dos principais motivos é a dificuldade em representar uma configuração infinita
de peças. Problema esse que o matemático Elwyn Berlekamp16 resolveu utilizando a
representação binária desses números e, por conseguinte possibilitou também a
representação de qualquer racional não diádico.
Exemplos:
16
“Elwyn Berlekamp nasceu em Dover, Ohio, nos Estados Unidos, em 6 de setembro de 1940, é
professor emérito de Matemática, de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação na Universidade
da California, Berkeley, desde 1971. É conhecido por seus trabalhos na teoria de Informação e na
Teoria dos Jogos Combinatórios. Com John Horton Conway e Richard K. Guy, escreveu a coletânea
de livros Winning Ways for Your Mathematical Plays” (FONSECA, 2010, p. 36).
46
Exemplos:
Da mesma forma podemos tratar o número irracional e, que possui notação binária
10, 101101..., e que por meio de conjuntos é:
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por fim, a proposta por Frege e apoiada por Russel (que pode ser chamada de
logicismo) defende que a essência do conceito de número baseia-se apenas na
consideração de algumas leis do próprio pensamento. Número de acordo com essa
tendência é apenas uma consequência conceitual totalmente deduzida de alguns
princípios originais.
Como sabemos, “número” emerge com muitos sentidos. Mas qual desses sentidos
pode constituir um conceito, permitindo que algo singular seja proposto ao
pensamento sob este nome? Ou, dito de outra forma, o que é número?
Como se pode obter uma ideia única de número por meio de tal processo se todas
as abordagens envolvendo as extensões dos conjuntos privilegiam apenas os
aspectos operacionais do conceito de número, em outras palavras, podemos dizer
que apenas o aspecto intensional do conceito de número é explorado e o aspecto
extensional não é contemplado.
REFERÊNCIAS