Firjan Publicacao Panorama Naval 2020

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Panorama Naval

no Rio de Janeiro
2020

DEZ. 2020
Expediente
Firjan – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro

Presidente
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira
Diretor Executivo SESI SENAI
Alexandre dos Reis
Diretor de Competitividade Industrial e Comunicação Corporativa
João Paulo Alcantara Gomes
Diretora de Compliance e Jurídico
Gisela Pimenta Gadelha
Diretora de Pessoas, Finanças e Serviços Corporativos
Luciana Costa M. de Sá

GERÊNCIA DE PETRÓLEO, GÁS E NAVAL


Gerente de Petróleo, Gás e Naval
Karine Fragoso
Coordenador de Conteúdo Estratégico Petróleo, Gás e Naval
Thiago Valejo
Equipe Técnica
Fernando Montera
Flávia Melo
Heber Bispo
Iva Xavier
Verônica França
Felipe Siqueira
Priscila Felippe

APOIO
Gerente Geral de Competitividade
Luiz Augusto Carneiro Azevedo
Gerente de Estudos Econômicos
Jonathas Goulart Costa
Equipe Técnica
Anna Carolina Gaspar Gomes de Lima

PROJETO GRÁFICO
Gerente de Comunicação e Marca
Fernanda Marino
DEZ. 2020 Equipe Técnica
Francisco Lucchini
Luciana Sancho
www.firjan.com.br
Av. Graça Aranha, 1, 12º andar Viviane Pimentel
Centro, Rio de Janeiro
[email protected]
APOIO E COLABORAÇÃO Ficha Técnica - Convidados
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE
SERVIÇOS DE PETRÓLEO - ABESPETRO
Diretor-Presidente
Adyr Tourinho
Diretoria
Anna Carvalho
Eduardo Chamusca
Jorge Mitidieri
Lauro Puppim
Ricardo de Luca

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE APOIO


MARÍTIMO - ABEAM / SINDICATO NACIONAL DAS
EMPRESAS DE NAVEGAÇÃO MARÍTIMA - SYNDARMA
Presidente
Luis Gustavo Bueno Machado
Vice-Presidente Executiva - Abeam
Lilian Schaefer

CLUSTER TECNOLÓGICO NAVAL DO RIO DE JANEIRO


Diretor Presidente
C Alte Walter Lucas da Silva
Presidente do Conselho de Administração
Carlos Erane de Aguiar - SIMDE

EMPRESA GERENCIAL DE PROJETOS NAVAIS -


EMGEPRON
Diretor Presidente
V Alte Edesio Teixeira Lima Junior
Gerente Executivo da Unidade de Negócios de Logística
CMG André Gabriel Sochaczewski

NÚCLEO NAVAL DO CONSELHO EMPRESARIAL DE


ÓLEO, GÁS E NAVAL DA FIRJAN
Luiz Césio Caetano Alves
Paulo de Tarso Rolim de Freitas

SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENGENHARIA NAVAL -


SOBENA
Presidente
Luís de Mattos
Agradecimentos
A publicação da primeira edição do Panorama Naval no Ao Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro, nosso
Rio de Janeiro, em 2015, a Firjan fortaleceu sua atuação agradecimento pela parceria e por liderar essa impor-
junto a indústria naval. Nesta quarta edição procuramos tante inciativa, que fortalece imensamente a indústria
mais uma vez, avaliar os principais pontos da indústria naval fluminense e do Brasil.
naval no Rio de Janeiro ante o mercado brasileiro. À Abeam – Associação das Empresas de Apoio Ma-
O Panorama Naval no Rio de Janeiro é o resultado do tra- rítimo, pela disponibilidade imediata e por contribuir
balho conjunto de diversas instituições que atuam neste ricamente com o conteúdo deste documento.
segmento, com o objetivo de dar robustez às análises das À Abespetro - Associação Brasileira das Empresas de
oportunidades e entraves no Rio de Janeiro. Explicitamos Serviços de Petróleo, pela parceria e percepções sobre
aqui nossos votos de agradecimento aos nossos Parcei- o contexto global e brasileiro da indústria do óleo & gás
ros, que não só contribuíram para tornar esse projeto rea- offshore.
lidade, como também agregaram conteúdo ao resultado. À Sobena, nossos sinceros agradecimentos pela forma
Registramos nosso reconhecimento aos parceiros elucidativa como trouxe as perspectivas para a enge-
governamentais, empresas e instituições, essenciais ao nharia naval brasileira.
desenvolvimento do documento. À Asscenon – Associação Conselho Empresarial Naval-
À Emgepron, que nos apoiou com suas colocações Offshore e Serviços de Niterói, pela parceria e atuação
sobre nosso potencial mercado de descomissionamento conjunta de longa data.
no Brasil.

4
Apresentação
A quarta edição do Panorama Naval no Rio de Janeiro tem ca, fundamentais para toda estrutura da economia do
como propósito principal tornar mais claro o horizonte mar.
de negócios sobre a indústria naval fluminense. Como A Abespetro apresenta sua visão e perspectivas para
de costume, convidamos instituições governamentais e o mercado de serviços offshore voltados a produção e
grandes agentes de mercado, assim como entidades de exploração de petróleo nesse ambiente.
classe, com intuito de conciliar esforços para com aná- Com objetivo de explicitar o panorama do mercado de
lises qualificadas, apresentar as oportunidades que o apoio marítimo, a Abeam destaca os pontos positivos
Rio dispõe a todos aqueles que tenham interesse nessas do atual cenário e apresenta os caminhos que esse
informações. mercado deve seguir. Enquanto a Emgepron apresenta
A Firjan, através de seu corpo técnico da Gerência de as perspectivas e particularidades de um novo mercado
Petróleo, Gás e Naval e seu Núcleo Naval do Conse- para o Brasil, que é o mercado de descomissionamento.
lho Empresarial de Óleo, Gás e Naval trabalhou na Ainda no cenário das oportunidades do mercado
construção de dois artigos apresentando no primeiro nacional e fluminense, a Sobena expõe em seu artigo o
o contexto do mercado por novas embarcações tanto cenário do mercado de engenharia naval e offshore, e
pela ótica dos recentes acontecimentos, quanto pela a Emgepron traz luz ao tema do descomissionamento,
agenda positiva, para propulsionarmos nossa atrativi- tanto do ponto de vista técnico como de suas peculiari-
dade. Por fim, as considerações finais buscam mostrar dades de mercado.
a importância estratégica da política industrial de A publicação do Panorama Naval no Rio de Janeiro 2020
Estado para o desenvolvimento da economia do país. é um trabalho realizado em conjunto entre Firjan e
O segundo artigo, que trata do mercado de defesa e os diferentes agentes que atuam nesse segmento da
suas oportunidades, apresenta o Cluster Tecnológico indústria fluminense, com a intenção de pautar seus 5
Naval do Rio de Janeiro, cujo propósito é desenvol- associados com a importância da indústria naval para
ver, através das demandas da defesa, uma base de o Brasil e em especial para o Rio de Janeiro, o grande
fornecedores com capacidade tecnológica e econômi- protagonista desse mercado no país.

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Sumário
O CONTEXTO.......................................................................................................................... 7

Potencial da Indústria Marítima Brasileira e Fluminense............................................................. 7


Elaborado pelo Núcleo Naval do Conselho de Petróleo, Gás e Naval.................................... 7
Petróleo & Gás............................................................................................................................................8
Defesa......................................................................................................................................................... 10
Cabotagem................................................................................................................................................ 11
Navegação interior, de travessia e apoio portuário..................................................................... 14

A DEFESA E A ECONOMIA DO MAR.................................................................................. 15

A iniciativa do cluster tecnológico naval do Rio de Janeiro (CTN-RJ)................................... 15


Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro................................................................................ 15

MERCADO OFFSHORE.......................................................................................................... 18

Cenário do mercado offshore brasileiro – Uma visão sob o olhar da cadeia de


fornecedores............................................................................................................................................. 18
Abespetro.................................................................................................................................................. 18

6 MERCADO DE APOIO MARÍTIMO......................................................................................20

Logística.....................................................................................................................................................20
Perspectivas de retomada da demanda por embarcações de apoio marítimo.................20

O impacto da pandemia da Covid-19 sobre o setor do apoio marítimo ..............................21

As perspectivas de retomada do crescimento da navegação de apoio marítimo


brasileira..................................................................................................................................................... 22

OPORTUNIDADES.................................................................................................................23

Mercado de engenharia naval e offshore brasileiro......................................................................23


Sobena........................................................................................................................................................23

Descomissionamento e desmantelamento de plataformas e navios.....................................24


Emgepron..................................................................................................................................................24

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................... 31

Retomada de uma Indústria Estratégica para o Rio e para o Brasil.......................................31


O Contexto

Potencial da Indústria Marítima Brasileira e


Fluminense

Elaborado pelo Núcleo Naval do Conselho de Petróleo, Gás e Naval


Elaborado por Paulo Rolim
Líder Especialista do Núcleo Naval

No difícil e - por que não dizer - esdrúxulo ano de 2020, para as potenciais demandas da Indústria Marítima
o mundo como conhecíamos até 2019 transformou-se Brasileira.
drasticamente, muito em função da Covid-19, alterando No trabalho de 2018 definimos que o nosso interesse
de maneira indelével os nossos relacionamentos pesso- estava focado na identificação da existência de oportu-
ais e profissionais. Essa transformação é do inexorável nidades e, caso confirmada, na determinação das ações
avanço e domínio da informática; do trabalho home que cada “stakeholder” deveria implementar para elimi-
office; da forma como se conduzem os negócios (cres- nar os gargalos, pavimentando os caminhos para que a
cimento das políticas de ESG ); da crise da demanda ×
1
nossa Indústria Marítima pudesse concretizá-las. Entre
oferta de petróleo; da transição energética (fóssil para outras constatações, ressaltávamos o fato de que parte
fontes limpas e renováveis); dos conflitos político-ide- da Indústria de Construção Naval, particularmente a
7
ológicos dividindo vários países do mundo entre “nós” voltada para grandes embarcações (FPSOs, Tankers,
e “eles” (EUA, UK, e Brasil, por exemplo); do irreversível Porta-Containers) passava por uma grave crise de cre-
crescimento da consciência ecológica e preocupação dibilidade, fruto dos atrasos nas entregas, dificuldades
com o meio ambiente; da avalanche de incentivos financeiras dos estaleiros, cancelamento de contratos,
monetários dos Bancos Centrais versus a necessidade corrupção endêmica etc. Constatamos, entretanto, que
de controle fiscal; dos juros negativos; etc. Com isso, aquela “crise” felizmente não atingia todos os estaleiros,
é óbvia a conclusão de que a missão de dimensionar pois alguns apresentavam vários “cases positivos” na
demandas se transformou num desafio ainda maior do construção de embarcações offshore, rebocadores, fabri-
que sempre foi. cação e integração de módulos para FPSOs.
À luz dessas circunstâncias, nos pareceu mais adequa- O caminho que então nos parecia correto a ser trilhado
do dar forma diferente a esse nosso estudo, partindo pelos estaleiros nacionais era o de focar no atendimen-
para uma análise das projeções e diagnósticos apre- to das demandas eventualmente geradas internamente
sentados no Panorama Naval de 2018, no qual busca- pelo desenvolvimento da economia nacional e da defe-
mos identificar o que mudou nesses dois anos, quais os sa de nossa soberania e riquezas naturais, em especial
gargalos levantados e como foram abordados e que naqueles nichos de mercado em que a indústria tinha
propostas foram trazidas para discussão e implemen- logrado sucesso com os “cases positivos”, enquanto os
tação das possíveis soluções, tirando daí conclusões gargalos que impediam o desenvolvimento dos outros
mais objetivas e, esperamos, estimativas mais realistas nichos fossem adequadamente endereçados.

1 Environmental, Social & Governance - ESG representa um conjunto

de valores e critérios éticos que uma companhia desenvolve como

objetivo melhorar o seu relacionamento com o meio ambiente e com a

sociedade.

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Petróleo & Gás
Como ressaltado no documento de 2018, o setor de Por outro lado, foi possível identificar novas oportu-
O&G, junto com a área de Defesa, tem potencial de nidades, na medida em que ficava mais claro como
gerar maiores e mais imediatas oportunidades para se desenvolverão os projetos de E&P oriundos dos
construção, modernização, reparo e outros serviços, en- últimos leilões da ANP. Isso nos permitiu fazer uma
tretanto, o advento da pandemia de Covid-19 provocou projeção, ano a ano, para a quantidade de sondas
uma drástica frenagem e reavaliação na alocação de necessárias para perfuração dos poços projetados
recursos pelas operadoras, preocupadas com a enorme (Tabela 1a e 1b) e estimar o número de novas UEPs
drenagem de caixa consequente da inesperada e for- que serão demandadas nos próximos anos, consi-
tíssima crise de demanda (pela primeira vez na história derando também aquelas que provavelmente serão
o preço do petróleo ficou “negativo”), o que nos obrigou requeridas para atender as áreas ainda em explo-
a rever a distribuição daquelas expectativas ao longo ração e, consequentemente, determinar a demanda
do tempo, em particular as que seriam provenientes dos por novas embarcações de apoio (adotamos um fator
novos projetos de exploração que, salvo algumas exce- de correlação de 4 embarcações para cada UEP) –
ções, tiveram seus cronogramas postergados. Tabela 2.

Tabela 1a Tabela 1b

Regime de Concessão (14º a 16º Rodada ANP) Regime de Partilha (2º a 6º Rodada ANP)

Ano Poços Sondas Ano Poços Sondas


8
2021 19 2 2021 55 9

2022 81 10 2022 61 10

2023 86 11 2023 58 10

2024 86 11 2024 57 9

2025 129 16 2025 60 10

2026 86 11 2026 59 10

2027 129 16 2027 57 9

2028 86 11 2028 55 9

2029 117 15 2029 62 10

2030 98 12 2030 58 10

Fonte: Firjan - Elaboração própria 2020. Fonte: Firjan - Elaboração própria 2020.
Tabela 2. Visão da demanda offshore brasileira

2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 Fator de
correlação

Novas UEPs
2 1 4 4 3 5 4 0 0 0 1
esperadas

Novas UEPs
prováveis de
- - - - - 4 4 9 8 9
áreas ainda em
exploração

Total de UEPs 2 1 4 4 3 9 8 9 8 9

Frota de Sondas
11 20 20 21 26 21 26 20 25 22
esperada

Barcos de Apoio
demandados 8 4 16 16 12 36 32 36 32 36 4
pelas novas UEPs

PSV/OSRV 3 3 5 6 6 12 12 14 12 14 37,5%

LH/SV 2 2 2 3 3 6 6 7 6 7 19,0%

AHTS 1 1 1 2 2 4 4 4 4 4 12,0%

CREW/FSV 1 1 1 1 1 2 2 3 2 3 7,0%

PLSV 0 0 1 1 1 2 2 2 2 2 5,0%
9
RSV 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 4,0%

DSV 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 2,0%

MPSV 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 2,0%

WSV 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1,0%

WIV 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,5%

Fonte: Firjan - Elaboração própria 2020.

No caso das oportunidades de contratação de novas Já no caso da contratação no Brasil de novas UEPs
embarcações de apoio, a exemplo do que já acontecia (construção de cascos, conversões, módulos e integra-
em 2018, não vemos nenhum gargalo estrutural para ção de topsides), cabe relembrar que, apesar de termos
concretização da demanda, que fica sujeita apenas à constatado avanços no equacionamento dos gargalos
efetiva entrada em operação das novas UEPs. identificados em 2018, muitos ainda estão presentes, o
O mercado de Serviços de Manutenção e Reparos que pode comprometer a conversão das oportunida-
teve um de seus gargalos (alto custo da mão de obra) des identificadas em real demanda / contratações.
bastante aliviado, principalmente no polo de Niterói, Entre outros, destacamos os seguintes gargalos ainda
função da crise no setor que naturalmente fez com que a serem resolvidos (Tabela 3 - Comparação 2018 ×
os salários fossem ajustados. 2020):

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Tabela 3. Principais gargalos a solucionar - Construção Naval

Situação em 2018 Situação em 2020

1. Necessidade de reconstruir a confiança dos 1. Muito devido à crise vivida pela indústria,
operadores de modo a que voltem a contratar a agravada em 2020 pela Covid-19, não houve grandes
construção de UEPs no Brasil, uma vez que os atrasos, oportunidades para reverter a crise de confiança,
aditivos de preço, cancelamento de contratos, que ainda permanece, fazendo que os contratos para
corrupção, insolvência de estaleiros e, especialmente, novos FPSOs continuassem a ser direcionados para
as danosas consequências das postergações do início a China. Todavia existe uma luz no fim do túnel, com
da operação das unidades geram ceticismo quanto à a notícia (a ser confirmada) de que a Equinor estaria
capacidade dos estaleiros. disposta a aceitar propostas de estaleiros nacionais
para o projeto de Bacalhau.

2. Desenvolvimento de processos integrados de 2. Devido à situação de total ausência de contratos,


cosntrução (conceito "Indústria 4.0"), que resultem em não houve espaço para investimentos em novos
aumento exponencial de produtividade. processos.

3. Necessidade de investimento em formação e 3. Idem item 2


aperfeiçoamento profissional, em especial da média
gerência.

4. Dominar e implementar o uso de inovações 4. Idem item 2


tecnológicas.

Fonte: Firjan - Panorama naval 2018 e Elaboração própria.

Defesa
10 Ao lado do setor de O&G, a área de Defesa é a que criando o “Cluster Naval”, solução abrangente para
demonstra maior potencial de crescimento no médio envolver de maneira efetiva a iniciativa privada nos
prazo, sendo o setor que mais evoluiu no diagnóstico e projetos da Marinha.
implementação de alternativas para eliminar os garga- O “Cluster Naval” tem total condição de ser o elo que
los que poderiam inviabilizar a conversão das oportuni- faltava para que a Indústria Nacional (fabricantes e
dades em demanda concreta. prestadores de serviços) tenha acesso claro e tempesti-
O principal gargalo que identificamos em 2018 – “Finan- vo às demandas da Marinha do Brasil e se prepare ade-
ciamento limitado pelos esforços de Ajuste Fiscal e criação quadamente para atendê-las com qualidade, tecnolo-
de alternativas para permitir acesso aos recursos do FMM” – gia, prazos adequados, preços compatíveis e eficiência,
foi brilhantemente equacionado pelo sistema implemen- seja de maneira isolada ou via consórcios e parcerias.
tado para capitalizar a Emgepron, que permitiu solucionar o Com essas medidas, além da continuidade do Prosub,
entrave de forma inteligente sem comprometer o necessário os programas de aquisição de novas embarcações para
e urgente processo de Ajuste Fiscal. a Marinha (Tabela 4) vêm caminhando a passos largos,
Na verdade, a Marinha foi extremamente proativa ao como detalhadamente mostrado no artigo “A Defesa e
identificar e solucionar outro gargalo, este de caráter a Economia do Mar”, parte integrante desse Panorama
estrutural, não mencionado no documento de 2018, Naval 2020.
Tabela 4. Demanda Naval da Marinha

Demanda visível 2020

Fragatas Classe Tamandaré (3455t) 4

Navios-Patrulha Oceânicos (1800t) 5

Navios-Patrulha Oceânicos (500t) 46

Navio de Apoio Antártico 1

Submarinos Convencionais 3

Submarino Nuclear 1

Fonte: Firjan - Elaboração própria 2020.

Cabotagem
No Panorama 2018 vislumbramos o enorme potencial É importante ressaltar que, como definido pelo próprio
de demanda que a atividade de Cabotagem tem, um Ministro, o PL é um “Programa de Infraestrutura” e não
verdadeiro oceano de oportunidades a serem explora- uma “Política Industrial”. Não que essa última seja me-
das. nos importante, mas ela deve ser objeto de um projeto
Ressaltamos, entretanto, que era preciso destravar essa muito mais amplo do que o já famoso e controverso
demanda potencial, uma vez que é o tipo de navegação “BR do Mar”.
que mais e maiores gargalos precisa vencer para ser Nossa posição como uma Federação da Indústria
11
viabilizada. continua firme em defender um “projeto maior” para a
À época não tentamos dimensionar o potencial de Indústria Nacional como um todo, amplamente deba-
oportunidades em número e tipo de embarcações, tido pela sociedade, que possa levar à elaboração de
preferindo priorizar a identificação de quais eram esses uma “Política Industrial de Estado” e não de um único
principais gargalos. ministério, coerente com as vocações e possibilidades
Em função disso, foi com grande satisfação que rece- do país, focada em realmente promover condições
bemos a iniciativa do Ministério de Infraestrutura de legais, fiscais e de financiamento para que a Indús-
propor o Projeto de Lei da Cabotagem, pois ele aborda tria seja motivada e tenha meios reais para investir
praticamente todos os gargalos levantados no Panora- em PD&I, treinamento, modernização e crescimento
ma 2018 de maneira pragmática e até mesmo corajosa de instalações e Governança. Desse modo, a indústria
e, à medida que mexe com grandes interesses, nem pode ser mais eficiente, competitiva e integrada ao
sempre unânimes dos stakeholders, propõe mudanças mundo das novas tecnologias, tornando-se competen-
de normas, regulamentos, procedimentos e até relações te, competitiva e apta para atender às Demandas de
de trabalho, com soluções “fora da caixa” para proble- Mercado advindas do desenvolvimento do Brasil e até
mas que são conhecidos há anos, etc. do mercado internacional.
Recebemos a proposta também com muita esperança, Nosso apoio ao Projeto de Lei da Cabotagem não é
pois, sendo um Projeto de Lei, passará pelo crivo do incondicional, mas baseado no entendimento de que,
Congresso Nacional, foro adequado para debate de após discutido e aperfeiçoado no Congresso Nacional,
tema tão relevante para o desenvolvimento nacional em com a inclusão de necessárias emendas baseadas em
geral e da nossa deficiente infraestrutura de transporte. contribuições da Sociedade Organizada (Entidades de

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Classe, Associações Empresariais, Sindicatos Patronais e Admitir um potencial de crescimento em torno de 8%
de Empregados, etc.), poderemos ter uma Lei da Cabo- a 10% a ser destravado para a Cabotagem Brasileira,
tagem que seja um instrumento hábil e eficaz para a eli- nos parece bastante razoável quando olhamos para as
minação de grande parte dos gargalos que impedem o estatísticas mundiais da distribuição do transporte entre
crescimento sustentável da Navegação de Cabotagem. os vários modais (Gráfico 1).

Gráfico 1. Matriz de Tranasporte nos países (% de TKU)

120%

100%

19%
27%
35%
80% 43%
51% 50% Rodoviário
61%
34% Ferroviário
60%
14% Cabotagem

5% 55% 3%
Dutoviário
11% 27%
40% 25% Hidroviário

21% 3%
32% 3% 40%
44%
20%
22%
12% 23% 14%
4% 3%
2% 4% 5% 4% 4%
0%
12 Brasil Japão EU EUA China Austrália Canadá

Fontes: ILOS (Brasil); National Bureau of Statistics of China, Bureau of Transportation Statistics (EUA), Eurostat (UE), North American.

É relevante ainda destacar a resiliência e estabilidade tar crescimento, com 1,5% de expansão contra uma con-
da Cabotagem Brasileira, ao olharmos para as estatís- tração de 11,3% do PIB total de Transporte (Tabela 5) e
ticas da CNT – Confederação Nacional do Transporte um desempenho bastante estável em termos de volume
relativas ao 1º semestre de 2020, quando, durante a crise semestral transportado, muito diferente do sinuoso com-
gerada pela Covid-19, esse modal foi o único a apresen- portamento da navegação de longo curso (Gráfico 2).
Tabela 5. Quadro-Resumo dos resultados no 1º Semestre de 2020

Descrição Variação 1º semestre

Macro

PIB Total do Brasil -5,9%

PIB do Transporte -11,3%

PIB de países e regiões selecionadas

EUA -4,6%

União Europeia -8,4%

México -10,8%

Japão -6,0%

Coreia -0,8%

Modais

Rodoviário

Fluxo pedagiado de pesados -5,5%

Fluxo pedagiado de leves -23,1%

Fluxo pedagiado total -18,8%

Ferroviário
13
Movimentação (TU) -7,6%

Produção (TKU) -5,2%

Aquaviário

Longo Curso -7,7%

Cabotagem 1,5%

Vias Interiores -15,2%

Aéreo

RPK -48,8%

RPK Voos Internacionais -55,4%

RPK Voos Nacionais -45,7%

Fonte: CNT Transporte em Números, 2020.

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Gráfico 2. Volume semestral transportado por tipo de navegação - Brasil
jan-jun/2010 a jan-jun/2020 - milhões de toneladas

400,0

335,1 342,3 345,8 346,2 349,0 335,8


350,0 332,9 330,1 329,3 322,7
319,9 323,9 321,1 322,3
304,1 310,3 307,0 303,7 306,5 308,4
292,8
300,0

250,0

200,0
Longo Curso
Cabotagem
150,0
Vias Interiores
100,0 68,5 69,3 68,8 69,3 69,1 68,6 69,5 69,2
61,3 63,9 65,6 66,4 66,8 67,9 66,7 67,0 66,1 66,9 67,4 68,2
59,1
50,0
11,8 12,5 12,5 12,2 12,7 11,9 11,1 10,6 10,1 10,5 10,2 11,1 12,2 13 13,8 13,9 13,6 12,9 11,9 10,8 10,1
0,0
dez/12
dez/11

mar/16

jun/18
mar/11

mar/12

mar/13

dez/13

mar/15

dez/15

dez/16

mar/18

dez/18
dez/10

set/11

set/12

set/13

mar/14

set/15

dez/19
dez/14

set/16

mar/19
set/14

jun/16

mar/17

jun/20
jun/17
set/17
jun/10
set/10

jun/11

jun/12

jun/13

jun/14

jun/15

set/18

jun/19
dez/17

set/19

mar/20
Fonte: Elaboração CNT com dados do Anuário Estatístico da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ).

Navegação interior, de travessia e apoio portuário


Esses setores, salvo a navegação de travessia, que xado de converter em contratos.
ainda padece de problemas estruturais, vêm mostran- Entre outros exemplos, podemos citar dois casos mar-
do significativo crescimento, com uma atuação muito cantes de sucesso: o crescimento da frota de reboca-
profissional dos armadores, que de maneira consistente dores portuários da Starnav, que mantém em grande
continuam a investir em novas e modernas embarca- atividade seu estaleiro em Navegantes (SC) (Estaleiro
ções, permitindo a manutenção e até certo crescimento Detroit) e o desenvolvimento impressionante da Hidro-
dos estaleiros dedicados a esses mercados. Os novos vias do Brasil, empresa fruto de investimentos privados,
investimentos em terminais portuários, tanto marítimos que desenvolveu um modelo consistente e sustentável
como fluviais, têm criado oportunidades de expansão para a navegação interior e hoje é listada na Bolsa de
das frotas, demanda essa que a armação não tem dei- Valores.
A Defesa e a Economia do Mar

A iniciativa do cluster tecnológico naval do Rio de


Janeiro (CTN-RJ)

Cluster Tecnológico Naval do Rio de Janeiro


O modelo dos clusters é decorrente dos conceitos e indiretamente relacionados aos recursos e atividades
efeitos da Economia da Aglomeração, ao considerar provenientes e destinados ao mar”2.
vantagens competitivas e comparativas na exploração A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
de um dado espaço geográfico; as influências de exter- Econômico (OCDE) prevê que, no período entre 2010 a
nalidades econômicas; e a existência de proximidades 2030, o que chama de Ocean Economy, como respon-
entre agentes econômicos que se organizam, cooperam sável por cerca de 5% de valor adicionado bruto (VAB)
e competem no seu ambiente de negócios. mundial ou aproximadamente US$ 3 trilhões, com par-
Os clusters são estruturas de desenvolvimento, onde ticipação em mais de 40 milhões de empregos diretos3.
cadeias produtivas se estabelecem, em função de No Brasil, estima-se que a “Economia do Mar” represen-
atividades econômicas focais, negócios, inovações e te em torno de 19% do PIB, em torno de R$ 1 trilhão4.
tecnologias. Entretanto, tais estruturas demandam um Consequentemente, sob ponto de vista da “Economia
ambiente de governança, gestão do conhecimento do Mar”, o Estado do Rio de Janeiro é natural e histori-
gerado pelo ambiente de negócios e relacionamento camente privilegiado, em termos de oportunidades. Do
institucional, por meio do qual esfera pública, empre- mesmo modo, outras regiões do país também possuem
15
sariado e mundo acadêmico, no conceito denominado grande potencial, como por exemplo, a cidade de Itajaí
como Tríplice Hélice, possam interagir e se articular (SC), que vem despontando no desenvolvimento de sua
em proveito da sociedade, principal beneficiária desse infraestrutura portuária e indústria naval.
modelo. Assim, três empresas públicas, a Empresa Gerencial de
Dessa forma, a partir do modelo dos clusters, pretende- Projetos Navais (Emgepron), Amazônia Azul Tecnologias
-se obter a promoção do mercado interno, capacitação de Defesa S.A. (Amazul) e Nuclebrás Equipamentos Pe-
e formação, inovação e tecnologia, sustentabilidade, va- sados S.A. (Nuclep), aliadas à empresa privada Condor
lorização da identidade local, adensamento das cadeias Tecnologias Não-Letais, como representante pioneira
produtivas, além da expansão do mercado externo. do capital privado, uniram-se no sentido de edificar o
Esse conceito de cluster também pode ser aplicado à CTN-RJ por meio de um instrumento de discussões sem
Economia do Mar, que, por sua vez, pode ser entendida fins lucrativos, a Associação do CTN-RJ, que teve a sua
como “a área da ciência econômica responsável por personalidade jurídica constituída ao final de 2019.
identificar e mensurar os setores econômicos direta ou A Associação vale-se da estratégia do “valor compar-

2 SANTOS, Thauan; CARVALHO, Andrea. “Blue is the New Green”: The 3 OCDE. The Ocean Economy in 2030. Paris: OECD, 2016. Disponível

Economy of the Sea as a (Regional) Development Policy in Global Jour- em: <https://www.oecd.org/environment/the-ocean-economy-in-

nal of Human-Social Science. Disponível em: <https://globaljournals.org/ -2030-9789264251724-en.htm>

GJHSS_Volume20/2-Blue-is-the-New-Green.pdf> 4 CARVALHO, Andrea. Economia do Mar: Conceito, Valor e importância

para o Brasil. Porto Alegre, 2018. Disponível em: <https://tede2.pucrs.br/

tede2/bitstream/tede/7915/2/ANDREA_BENTO%20_CARVALHO_TES.pdf>

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


tilhado” ou da cooperação para criar um ambiente • O Estado do Rio de Janeiro possui o segundo maior
favorável aos negócios no setor marítimo, por meio de PIB do país (10,2% PIB) e é o terceiro em termos de
um modelo de governança desse cluster, associado ao população (7,6% da população brasileira)8.
conhecimento obtido a partir do seu ambiente de ne- Tais condições colocam o Estado do Rio de Janeiro
gócios e ao relacionamento institucional, três elementos numa posição estratégica privilegiada, uma vez que
básicos para a manutenção da prosperidade e susten- 58% de toda a população brasileira vive na faixa até
tabilidade dos seus negócios. 200 km do litoral9.
Para tal, nessa sua fase inicial, atua em cinco importan- Em decorrência disso, o CTN-RJ está atualmente
tes segmentos de mercado: 1) construção e reparação estabelecido em dois polos conceituais para desenvol-
naval, 2) serviços marítimos, 3) descomissionamento e vimento das suas atividades. O Polo da Baía da Gua-
desmantelamento, 4) explotação de recursos do mar, nabara, pelas suas características naturais de grande
5) defesa e segurança. Embora também seja de grande hub logístico, proporciona as condições favoráveis para
relevância, o turismo costeiro e náutico será contempla- a alavancagem e prosperidade dos negócios no setor.
do como atividade prioritária em um segundo momento Adicionalmente, o Polo de Sepetiba apresenta crescente
de consolidação do cluster. relevância, dadas as características naturais únicas de
O Estado do Rio de Janeiro foi escolhido como modelo seu Porto, que permitem a entrada de embarcações de
para o estabelecimento dessa estrutura de governança, grande calado e transporte de carga.
uma vez que possui todas as condições e vantagens Além disso, também é nessa localidade onde ocorreu
comparativas e competitivas para desenvolver essas a aplicação de parte significativa dos investimentos do
atividades econômicas, dada a sua natural vocação Governo Federal para o Programa de Submarinos da
marítima. Ademais, apresenta características intrínsecas Marinha do Brasil (PROSUB), cerca de R$ 30 bilhões,
de um cluster e as proximidades geográficas, sociais, e onde vem ocorrendo um adensamento de cadeias
culturais, institucionais e tecnológicas entre os agentes industriais e tecnológicas, inclusive com contribuições
16 econômicos lá estabelecidos, viabilizando os chamados para a matriz de produção brasileira, tendo em vista
pipelines, que conectam outros clusters regionais. o elevado valor agregado produzido pela Pesquisa e
Alguns aspectos regionais claramente evidenciam a Desenvolvimento empregados na região, que resultam
escolha do Rio de Janeiro para o estabelecimento do em emprego e renda, além dos tributos que se revertem
modelo de cluster para a Economia do Mar: em benefícios para a sociedade local.
• O Estado possui 25 municípios litorâneos, que concen- No que se refere aos Programas Estratégicos da Ma-
tram 5,7% da população brasileira e, se fossem uma rinha, cabe ressaltar o Programa de Fragatas Classe
Unidade da Federação, seria a quinta maior5; “Tamandaré”, com investimentos na ordem de R$ 10
• É o terceiro Estado, em termos de número de muni- bilhões, o qual prevê a construção de navios militares no
cípios litorâneos (atrás da Bahia e Santa Catarina), Brasil, mais especificamente na região de Itaguaí (SC).
concentrando cerca de 33% de toda a população Contudo, tendo em vista que a operação desses futuros
litorânea do país ;
6
navios terá como base o Rio de Janeiro durante todo
• Os municípios litorâneos fluminenses são responsáveis o seu ciclo de vida de cerca de 25 anos, o Programa
por 3,3 milhões de empregos ou 4% da população também demandará uma série de produtos e serviços
ocupada no país7; durante todo esse período de operação.

5 IBGE, 2010 8 Ibid.

6 Ibid. 9 IBGE, 2017. Disponível em: <https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/

7 Ibid. atlas/mapas_brasil/brasil_distribuicao_populacao.pdf>
Cabe ainda ressaltar que, outros polos já despontam 1) Nível operacional local, a própria Associação do
com tendência de se integrarem ao CTN-RJ, como o da CTN-RJ
região do Porto do Açu, no litoral norte do Estado, e da Destinado à normatização, áreas focais, desenvol-
Baía da Ilha Grande, no litoral sul. vimento de negócios, mapeamento das cadeias
É nesse contexto que emerge um dos focos de inte- produtivas, spill over do conhecimento, estímulo à coo-
resse da Associação, no sentido de criar um ambiente peração, competição, especialização e complementa-
de eficiência de informação, aproximação de agentes ridade de atividades e alavancagem de recursos.
econômicos e promoção da inovação e desenvolvimen- 2) Nível regional, o Governo do Estado
to tecnológico, criando oportunidades para empreende- Nele ocorre o desenvolvimento de políticas públicas
dores e empresas já estabelecidas, independentemente regionais integradas para a infraestrutura logística, os
do porte. recursos energéticos, as comunicações, a segurança,
Um exemplo emblemático dessas oportunidades é o bem como para a regulação e estabilidade econômica.
conceito de e-Navigation, disseminado pela Internatio- 3) Nível federal, a Comissão Interministerial de Recur-
nal Maritime Organisation (IMO), que envolve a seguran- sos do Mar (Cirm) (através da Secretaria da Cirm,
ça do tráfego aquaviário, preservação da vida humana conduzida pela Marinha do Brasil, como Autoridade
no mar e monitoramento e controle ambiental, que Marítima do país).
pode empregar novas e inovadoras concepções tecno- Esse nível é dedicado à formulação de políticas e
lógicas, a partir da Internet das Coisas (IoT), Indústria estratégias nacionais, prioridades, planos, regulação e
4.0, Inteligência Artificial, Big Data, Blockchain, 5G e sustentabilidade orçamentário-financeira.
outras mais. Finalmente, a atuação da Associação do CTN-RJ,
Nesse sentido, a estrutura de governança do CTN-RJ como elemento de integração e governança para
(autoridade, responsabilidade e liderança) torna-se críti- uma interlocução mais próxima entre associados e
ca para que ocorra fluidez na sua articulação institucio- instâncias superiores, é fundamental para a consoli-
17
nal, por meio de seus processos gerenciais e de tomada dação de uma estrutura de um futuro cluster marítimo
de decisões, que deve se desenvolver em três níveis: nacional.

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Mercado Offshore

Cenário do mercado offshore brasileiro – Uma


visão sob o olhar da cadeia de fornecedores

Abespetro
O setor de Óleo & Gás está enfrentando talvez um dos focou os investimentos nos grandes projetos do pré-
momentos de maior complexidade de todos os tem- sal. Outra mudança significativa foi a mudança no
pos. A indústria já vinha sendo desafiada em diversas ambiente regulatório. O país retomou um calendário
dimensões e a confirmação da pandemia da Covid-19 regular de licitações de novas áreas, flexibilizou a
potencializou ainda mais essa crise sem precedentes. entrada de novas operadoras para atuar no regime
O mercado offshore brasileiro também enfrenta esses do pré-sal, e garantiu a continuidade de regimes
desafios, mas com suas particularidades. de tributação como o Repetro (regime especial de
O mundo passa por um ponto de inflexão, no qual importação temporária de bens para o setor) de
vários fundamentos econômicos, sociais e políticos são forma a manter a atratividade do país frente a outros
questionados e desafiados. Observamos uma pressão mercados. Tudo isso gerou uma nova onda de otimismo
cada vez maior pela agenda global de redução de e o país voltou a ser um dos centros de interesse global
emissão de carbono e um aumento significativo de efici- de investimento no setor de O&G. Todas as grandes
ência energética e, de outro, a relação oferta e deman- empresas operadoras internacionais retornaram
18 da sendo autorregulada naturalmente por uma pressão ao Brasil com investimentos significativos no pré-
de excesso de capacidade. sal brasileiro. Houve também, com a sinalização do
Os grandes projetos estão sendo fortemente impacta- programa de desinvestimento de ativos da Petrobras, o
dos com a pressão por redução de custos. Apenas os surgimento de novas empresas nacionais independentes
projetos mais resilientes, que são viáveis com preços de e o aparecimento de algumas independentes
barril mais baixos, conseguiram seguir adiante nesse estrangeiras. Essas empresas entraram no mercado,
cenário. Nesse contexto, as grandes descobertas do Pré- através de capitação de recursos de private equities ou
-sal brasileiro vêm se mostrando bastante competitivas, financiamentos, com o propósito de comprar ativos
com poços de elevada produtividade de mais de 30 mil marginais ou maduros de forma a revitalizar a produção
barris por dia fazendo com que os campos sejam viáveis com baixo custo. O desafio se mostrava viável com
economicamente a preços de petróleo bem abaixo dos os níveis de preço do petróleo se recuperando acima
de outros projetos ao redor do mundo. dos USD 50-60 por barril. Ou seja, as perspectivas
O Brasil teve um componente adicional muito forte nos do mercado de O&G no Brasil eram muito positivas
últimos anos: a crise da Petrobras. Com níveis muito com três níveis de crescimento: 1) retomada e foco
elevados de endividamento, a empresa se viu obrigada da Petrobras nos grandes campos do presal, 2) a
a se reestruturar e focar nos projetos que apresentavam entrada das grandes empresas internacionais no
maiores retornos, uma vez que sua capacidade de desenvolvimento do presal aumentando a diversificação
investimentos era limitada. Iniciou então um programa de operadoras, e 3) surgimento de um novo mercado
de redução de custos, restruturação, venda de ativos de empresas independentes atuando nos campos
e uma governança de conformidade muito forte para marginais de forma a recuperar a produção em declínio.
que a empresa retomasse o rumo. Nos últimos 2 anos Tudo isso fez com que o setor de bens e serviços, que
a empresa se reinventou e reduziu drasticamente sua estava bastante debilitado, voltasse a ter expectativas
dívida, melhorou todos os indicadores operacionais, e de crescimento e recuperação. Várias empresas
voltaram a contratar e a se preparar para o aumento de início. Isso faz com que o mercado de O&G do Brasil
atividade que estava sendo sinalizado. O ano de 2020 siga bastante promissor no médio e longo prazo. A
começou com excelentes expectativas para o setor de preocupação está com o curto prazo. O país se tornou
O&G no país. um centro de excelência para as atividades de E&P
A propagação da Covid-19 em escala mundial, trans- de petróleo em águas profundas e ultraprofundas. Foi
formando-se numa pandemia, fez com que todas as construído um parque industrial e de serviços com ca-
projeções fossem fortemente abaladas. A economia pacidade para um nível de atividade muito maior que a
mundial iniciou um processo de retração sem propor- atual. Houve uma capacitação de competência profis-
ções em todos os setores, fazendo com que os preços sional comparável com os demais centros de E&P como
do barril despencassem. Os cortes de investimentos Houston e Aberdeen.
vieram de imediato. No Brasil as primeiras a sentirem A grande preocupação é que a falta de demanda no
foram as empresas que apresentavam posição de curto prazo possa comprometer essa enorme conquista
caixa com maior exposição e as que se alavancaram alcançada, com a desmontagem da indústria instalada
financeiramente. Muitos dos projetos de revitaliação de e o êxodo de profissionais do setor. Serão necessárias
campos maduros foram desafiados diante de um preço soluções que busquem o fortalecimento da cadeia como
de barril muito abaixo do ponto de equilíbrio. O balanço um todo. Essa crise tem mostrado o quanto a econo-
de receita e despesas operacionais passou a não fechar mia e a sociedade estão interligadas. A relação causa
e, com isso, os compromissos de repagamento dos fi- e efeito nunca foi tão estreita e visível. O setor de O&G
nanciamentos obtidos se colocaram em cheque. Outros precisa buscar soluções de curto prazo, mantendo os
projetos, que ainda estavam no papel, necessitaram projetos viáveis e consequentemente preservando a
ser colocados em compasso de espera. A atividade de capacidade instalada e os empregos e evitando o efeito
exploração também deixou de ser prioridade, passando cascata de destruição de valor. Também precisam ser
todo o foco para os projetos que geram fluxo de caixa encontradas alternativas que mantenham o Brasil com-
positivo no curto prazo. Apenas os projetos do Pré-sal petitivo no médio e longo prazo para que os projetos se 19
que apresentam grande resiliência a preços mais baixos mostrem atraentes quando comparados com outros ao
de barril não foram abalados. redor do mundo. O aumento de eficiência operacional,
Os grandes projetos de Libra, Búzios com o excedente com a utilização da digitalização industrial, e políticas
da cessão onerosa e outros projetos do Pré-sal perma- econômicas e fiscais que mantenham um ambiente
neceram inalterados. Alguns projetos de longo prazo regulatório previsível e atrativo permitirão que o Brasil
seguirão, mas, como a geração de caixa está mais para volte a se tornar um mercado altamente competitivo e
frente, provavelmente vão sentir algum atraso no seu promissor para se investir.

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Mercado de Apoio Marítimo

Logística
Perspectivas de retomada da demanda por embarcações de apoio
marítimo

Elaborado pelo Syndarma/Abeam

A atividade da navegação de apoio marítimo no Brasil – breve histórico


A Navegação de Apoio Marítimo está diretamente vação dessa indústria e gerando milhares de empregos
inserida na cadeia produtiva do setor de Óleo e Gás diretos e indiretos, e economia de divisas. Além disso,
no Brasil, realizando apoio logístico às operações de a regulamentação atraiu significativos investimen-
exploração e produção, e atendendo instalações e em- tos, que resultaram na construção de embarcações
barcações (navios-sonda, plataformas fixas e flutuantes, de apoio de alta tecnologia, capazes de operar em
FPSOs etc.) que atuem nas atividades de pesquisa e águas profundas, para fazer frente às demandas da
lavra de minerais e hidrocarbonetos, ao longo de toda a Petrobras e atingir maior competitividade no mercado
costa brasileira. internacional.
A frota brasileira de embarcações de Apoio Marítimo, Assim, alicerçado no Marco Regulatório e na Lei
construídas e operadas dentro de padrões internacio- 10.893/2004 (Lei do Fundo da Marinha Mercante), e ain-
20
nais, são elo essencial na exploração e produção de pe- da nas diversas edições do Programa de Renovação da
tróleo, suprindo as Unidades Marítimas de todos os seus Frota de Apoio Marítimo (Prorefam), foram realizados
insumos e executando trabalhos de diversas naturezas e investimentos privados de cerca de USD 10 bilhões na
complexidades, tais como: reboque e manuseio de ân- construção de 210 embarcações, entre 2000 e 2019.
coras, movimentação de pessoal e suprimentos, retirada Após atingir em 2014 uma frota de 500 embarcações,
de resíduos, combate à poluição e incêndios, montagem sendo 50% de bandeira brasileira, o apoio marítimo
e lançamento de equipamentos e tubulações, estimula- experimentou, a partir de dezembro daquele ano, uma
ção de poços, manutenção de plataformas e estruturas forte retração. A vertiginosa queda do preço do barril
submersas. do petróleo (USD 120 para USD 30), que impactou o
O setor começou a se desenvolver nos meados da déca- setor de Óleo e Gás no mundo inteiro, acrescida da crise
da de 1970, utilizando primordialmente embarcações de econômico-institucional experimentada pela Petrobras,
bandeira estrangeira, operadas pela Petrobras. A partir resultou num encolhimento drástico, que fez mais de
da terceirização da atividade por parte da Petrobras, 200 embarcações estrangeiras deixarem de operar no
com a realização dos primeiros programas de incentivo Brasil.
à construção naval no Brasil, a frota de embarcações Hoje, a frota de apoio marítimo é composta de 363
de apoio marítimo de bandeira brasileira começou a se embarcações, sendo 90% de bandeira brasileira. A frota
desenvolver. brasileira se destaca no cenário internacional, represen-
Com o advento da Lei nº 9.432/1997, denominada Mar- tando 13% da frota mundial de AHTS acima de 16.000
co Regulatório do Setor, foi estabelecida a prioridade BHP e 14% da frota mundial de PSV acima de 4.000
de emprego de embarcações de bandeira brasileira, TPB. Uma evidência da modernidade da frota brasi-
e a navegação de apoio marítimo alcançou maior leira é a idade média das embarcações PSV e AHTS,
relevância em políticas de incentivos governamentais à 10,7 anos, em agosto/2020, contra 14,8 anos da frota
construção naval brasileira, contribuindo para a reati- mundial. (1)
O impacto da pandemia da Covid-19 sobre o setor
do apoio marítimo
O cenário projetado para o ano de 2020 era, de início, porém sem emprego.
de recuperação do setor de apoio marítimo. A indústria No Brasil, as EBNs de apoio marítimo sofreram com as
já vislumbrava a retomada do crescimento da frota, medidas de resiliência adotadas pelo principal contra-
tendo como indicativo claro o sucesso nos leilões dos tante do setor, a Petrobras, que reduziu significativa-
blocos exploratórios e de produção de O&G no mar, em mente as receitas esperadas, bem como com o custo
consonância com a política de incentivo ao setor produ- extraordinário suportado para a operação durante a
tivo e o consequente ingresso de novas concessionárias Covid-19, da ordem de 30%.
no mercado nacional, sobretudo nas áreas do Pré-Sal. Medidas governamentais de auxílio às EBNs, como o
Conforme Relatório da Frota de Apoio Marítimo Abeam Programa Stand Still do BNDES, que promoveu a sus-
– base setembro 2020 pensão do pagamento dos financiamentos inicialmente
A demanda por mais embarcações de apoio marítimo por 6 meses para todos os seus devedores e, recente-
já era esperada para o segundo semestre de 2020. mente, aplicou mais 6 meses para determinados setores,
O BNDES, na condição de Agente Financeiro de fomen- dentre eles o apoio marítimo, merecem ser prestigiados,
to do Governo, detentor da maior carteira de inves- pois emprestaram o fôlego financeiro necessário neste
timentos na construção e modernização da frota de momento da pandemia, alcançando ao menos parte
embarcações de apoio marítimo brasileira, apresentou das EBNs (aproximadamente 70% dos contratos foram
o estudo “Mercado de Embarcações de Apoio a Plata- contemplados com o Stand Still).
formas de Petróleo e Gás Natural”, com as projeções O chamado custo Brasil, verificado sobretudo no custo
verificadas em fevereiro de 2020, indicando a retomada da tripulação brasileira, também é fator de preocu-
do segmento. pação para o setor, justificando revisão dos acordos 21
No entanto, a pandemia da Covid-19, atingiu todos os coletivos de trabalho, de modo a adequá-los à realida-
segmentos da economia mundial, com grande impacto de das EBNs.
no O&G e, por consequência, no apoio marítimo. Assim, É nesse cenário que as EBNs estão se esforçando para a
hoje ainda contabilizamos mais de 60 embarcações preservação da frota de bandeira brasileira até a efetiva
de bandeira brasileira, perfeitamente aptas a operar, recuperação dos contratos operacionais.

Gráfico 3. O atual cenário

2 2
0,6% 0,6% 1
3 0,3%
1
1% 0,3%
7
13 2%
4% 7
16 2%
4% PSV/OSRV MPSV
24 LH/SV WSV
7%
AHTS Flotel

173 CREW/FSV WIV


44 48%
12% PLSV CTV
RSV SSV
DSV
70
19%

Fonte: Abeam, 2020.

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


• 140 empresas brasileiras de navegação de apoio ma- ra e 32 de bandeira estrangeira em setembro de 2020;
rítimo autorizadas pela Antaq; • Aproximadamente 300 embarcações em operação
• Cerca de 30% empresas efetivamente operando no (90% para a Petrobras);
apoio marítimo; • Cerca de 60 embarcações sem contrato operacional;
• 31 empresas associadas ao Syndarma/Abeam (78% • Emprega cerca de 11.000 trabalhadores marítimos e
da frota); 2.500 onshore (empregos perenes e de mão de obra
• Frota de 363 embarcações – 331 de bandeira brasilei- qualificada).

As perspectivas de retomada do crescimento da


navegação de apoio marítimo brasileira
Conforme demonstrado no Gráfico 4, entre 2021 a 2023, fruto da demanda por embarcações da Petrobras e das
espera-se um incremento da frota de bandeira brasilei- demais IOCs em operação no Brasil.
ra em operação e a manutenção da frota estrangeira,

Gráfico 4. Evolução da Frota e Projeção 2023

600

Lei 9.432, de 1997 Descoberta


Marco Regulatório do Pré-Sal
500
500
Resolução BACEN
3828/2009
Início do Lei 10.893, de 2004
PROREFAM Fundo da Marinha
Mercante

22 400
363 364 363 376 Estrangeira
Nacional
324 325 331
Total
300 300 Em operação setembro
257 Cenário atual:
~63 embarcações
de 2020 + Projeção
ociosas contratações 2020 a 2023
205 243
200

139
107 112
100
93
39 39 32
32

0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020

Fonte: Abeam, 2020.

A entrada em operações de novos sistemas de produ- 2000, foram mais de USD 10 bilhões de recursos do
ção e as diversas etapas de pesquisa e desenvolvimento FMM empregados na constituição da frota de bandeira
da produção de novos campos marítimos implicarão a nacional (mais de 200 embarcações), que hoje conta
utilização perene de embarcações de apoio marítimo. com embarcações técnica e tecnologicamente adequa-
É certo que a Política de Estado, iniciada através do das, de excelência operacional reconhecida pelos mais
Marco Regulatório setorial (Lei 9.432/1997) e fomentada elevados padrões internacionais. Parcela igual a 13% do
por meio da Lei 10.893/2004 (Lei do Fundo da Marinha nosso PIB pertence ao setor de O&G, 96% da explora-
Mercante), foi há muito consolidada para a navegação ção e produção de O&G brasileira se dá nos campos
de apoio marítimo brasileira. marítimos e, dessa forma, sem embarcações de apoio
Os números desse segmento falam por si. A partir de marítimo não se realizam essas atividades no mar.
Oportunidades

Mercado de engenharia naval e offshore brasileiro

Sobena

Cenário do mercado de engenharia naval e offshore brasileiro


A indústria naval nacional esteve muito ligada ao setor aos estaleiros asiáticos. Políticas como Conteúdo Local
de óleo e gás nas últimas duas décadas, sofrendo são práticas internacionais e vitais para o desenvolvi-
bastante com a queda na demanda por plataformas e mento da indústria naval, mas sozinhas não resolvem o
embarcações de apoio offshore nos últimos anos, ainda desafio da competitividade. É preciso em paralelo sim-
que outros segmentos também importantes para a plificar o regime fiscal e expandi-lo para toda a cadeia
construção naval estivessem indo bem, como o trans- produtiva, mitigando dessa forma o Custo Brasil.
porte de containers na cabotagem ou o escoamento da Mesmo assim, os próximos dois anos devem ser melho-
produção do agrobusiness pelas hidrovias. res para o setor. A chegada da vacina contra a Covid-19
O potencial da indústria naval no Brasil é proporcional à vai lentamente trazer a rotina de volta, incrementando
grandeza do país. Somos a 8ª economia mundial, temos o consumo de combustível. Ao mesmo tempo, o Progra-
o maior parque industrial da América Latina, temos a 5ª ma de Desinvestimento da Petrobras deve atrair novas
população do mundo e mais de 40 mil quilômetros de operadoras para o pós-sal, aumentando o investimento
vias navegáveis, sem contar 8.500 quilômetros de costa, e contratações de embarcações e diminuindo a depen-
23
a chamada Amazônia Azul. No agronegócio, estamos dência do cliente único e contratos de afretamento de
entre os maiores exportadores de milho, soja, café, longo prazo sem margem para investimentos.
açúcar, algodão, laranja, gado e frango, sem mencionar A indústria do petróleo também vive uma nova fase. As
nossa participação mundial na produção de minério e mudanças climáticas e a busca por energia renováveis
no óleo e gás. exigem das operadoras maior eficiência e competi-
São produtos industrializados que precisam ser trans- tividade, com impacto direto nos fornecedores. Isso,
portados e commodities que precisam ser escoadas. É somado aos novos marcos regulatórios como a IMO
uma demanda potencial que não precisa ser induzida, 2020, vai criar uma nova geração de embarcações,
erro comum no passado. o que também deve movimentar a engenharia naval
O principal nós já temos: estaleiros, indústria metalme- brasileira, além da necessidade de descomissionar, ou
cânica, empresas de serviços e reparos, empresas de engenhar a extensão da vida útil, de uma série de ativos
projeto, sociedades classificadoras, universidades de que se tornarão obsoletos.
engenharia naval reconhecidas internacionalmente e, o São várias oportunidades nos próximos anos, sem men-
mais importante, empresas de navegação. cionar o potencial enorme de setores pouco explorados,
Se focarmos na reforma tributária, na desburocratiza- como a intermodalidade no transporte aquaviário de
ção dos portos e terminais e na manutenção da trans- passageiros, necessária para a mobilidade urbana, ou a
parência através do combate a corrupção, o setor de modernização da frota da Marinha do Brasil, necessária
transporte marítimo vai progredir ainda mais, trazendo para o bom patrulhamento de nosso território.
junto a indústria naval. Para que todo esse potencial aconteça, além da
Obviamente algumas demandas específicas precisam de reforma tributária já mencionada, é preciso também
incentivos devido ao volume de investimento necessário. manter políticas de fomento como o AFRMM e o Fundo
É inviável falar em construir um FPSO no Brasil sem igua- da Marinha Mercante (FMM). O Fundo foi responsável
lar as condições de comercialização do estaleiro nacional pela viabilização de praticamente toda construção de

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


embarcações de apoio offshore no Brasil e vai ser crucial investimentos. Temos a eminente aprovação do novo
para viabilizar uma eventual retomada. marco regulatório do gás natural e já estamos no se-
Em paralelo, outras iniciativas propícias ao setor estão gundo ciclo de oferta permanente da ANP.
acontecendo. O Ministério da Infraestrutura criou o Selo O cenário nos próximos anos para o mercado de enge-
Infra + Integridade, parte do Radar Anticorrupção do nharia naval e offshore brasileiro pode ser prometedor,
próprio ministério, como forma de premiar empresas desde que façamos nosso dever de casa como país. É
com boa governança. A ANP colocou em discussão o um requisito sine qua non para recuperação da econo-
TAC do Conteúdo Local, revertendo multas em novos mia e da indústria.

Descomissionamento e desmantelamento de
plataformas e navios

Emgepron

Introdução
Embora o tema descomissionamento/desmantelamento da Petrobras e o desenvolvimento do mercado offshore
não esteja enquadrado no atual portifólio de negócios fizeram com que o setor avançasse, em média, 19,5% ao
da Emgepron, o seu setor de Inteligência de Negócios ano entre 2000 e 2013, segundo dados do Instituto de
está atento, acompanhando esse segmento, que vem Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).
ganhando notoriedade nos eventos, notícias e merca- Esse crescimento expressivo resultou na construção de
dos do setor marítimo do país. 605 embarcações desde os primeiros anos 2000 até
24 Para uma melhor compreensão dessa euforia causada 2016, com a criação de mais de 80 mil empregos diretos
pelo assunto, deve-se inicialmente fazer um retrospecto e 400 mil indiretos, além da qualificação da mão de
do passado recente do setor marítimo, no que se refere obra da cadeia produtiva de óleo e gás, bem como do
ao descomissionamento/desmantelamento. desenvolvimento da economia dos municípios onde os
Por ano, em todo o globo, mais de 800 embarcações estaleiros estão localizados.
são descomissionadas/desmanteladas, a maioria no Nos últimos anos, como consequência da crise econô-
sul da Ásia e na Turquia. Assim, espera-se que mais de mica no país desde 2015, que causou uma forte retra-
500.000 toneladas de sucata sejam descomissionadas/ ção no setor de serviços e investimentos10, associada à
desmanteladas nos próximos 10 anos em todo o mundo. contínua queda do preço do barril de óleo11 e agravada
No Brasil, a descoberta de petróleo na camada de com a pandemia do Covid-19, a qual gerou uma grande
pré-sal em 2006, mais especificamente nas Bacias de recessão global, o mercado offshore acabou sendo forte-
Campos e Santos, resultou em significativo aumento de mente impactado.
investimentos no setor offshore. Esse evento desdobrou- Consequentemente, a Petrobras, principal demandante
-se em uma alavancagem da indústria naval, que viveu de navios e plataformas offshore no país, foi afeta-
um grande momento até 2014, após décadas de aban- da pela crise, interrompeu projetos, suspendeu novas
dono. Os altos preços do barril no mercado internacio- iniciativas e tem sido fortemente pressionada por uma
nal, a política de conteúdo local, as novas encomendas política de baixo conteúdo local.

10 https://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-09/editada- 11 IBP. Regulação do Descomissionamento e seus Impactos para a Com-

-embargo-10h-queda-de-2015-interrompeu-ascensao-do-setor-de-ser- petitividade do Upstream no Brasil. Set. 2017.Disponível em: <https://

vicos www.ibp.org.br/personalizado/uploads/2017/10/TD-Regula%C3%A7%-

C3%A3o-do-Descomissionamento-site2.pdf> p. 10
Dessa forma, a pujança do setor marítimo brasileiro, e neste último a exploração ocorre predominantemente
eminentemente do mercado offshore, coloca o Brasil em águas rasas13.
como terceiro maior polo de descomissionamento do Nesse contexto, estima-se que nos próximos 10 anos,
mundo, somente atrás dos Estados Unidos da América o Brasil possa ter mais de 100 plataformas petrolífe-
(EUA) e Mar do Norte, que visa o mercado europeu12. ras (30% flutuantes e 70% fixas) para serem des-
Esse posicionamento estratégico do país fica eviden- comissionadas. Daí o motivo do destaque que essa
ciado pela produção de petróleo, que chegou a 500 mil atividade vem ganhando na indústria naval, que
barris diários em apenas 8 anos, enquanto no Mar do pode chegar a um mercado que gira em torno de 90
Norte demorou 10 anos e no Golfo do México 20 anos, bilhões de reais.

A situação atual brasileira


Atualmente, das 150 plataformas em águas brasileiras, sistemas flutuantes de produção, equipamentos subma-
mais da metade encontra-se em fase inicial de desco- rinos e dutos. Esses dois últimos, denominados sistemas
missionamento ou prontas para iniciar esse processo14, submersíveis ou subsea, nos campos de petróleo em
sendo contempladas nos planos de descomissionamen- águas profundas e ultraprofundas no Brasil, podem
to de plataformas (PDI) para os próximos cinco anos, atingir centenas de quilômetros, com um volume em
envolvendo recursos na ordem de R$ 26 bilhões, que tonelagem próxima à estrutura da própria plataforma.
devem dobrar para os próximos 20 anos15. A retirada completa de todo um sistema subsea em
Cabe enfatizar que, dessas plataformas atualmente em campos de elevada complexidade pode resultar em
atividade no Brasil, a maior parte é do tipo fixa, cerca custos extremamente altos. Assim, deve-se ter atenção
de 57% . Porém, das que estão em processo de desco-
16
ao que está previsto na Resolução ANP nº 17/2015, onde
missionamento, 72% estão concentradas somente na a chamada “Desativação Permanente” pode ser defi-
Bacia de Campos e a maioria dessas unidades é do tipo nida como a “retirada de operação do duto ou sistema
flutuante. submarino em caráter definitivo”. 25
Segundo a Petrobras, somente em 2020, será iniciado o Adicionalmente, a estimativa é de que cerca de 100
descomissionamento de 18 das suas plataformas, confor- navios de diversos portes e outras estruturas flutuantes
me prevê o seu Plano Estratégico 2020-2024 . 17
estariam disponíveis para desmonte e outras 60 encer-
Essa expectativa gera particular interesse nessas ati- rariam seu ciclo de vida nos próximos 3 a 5 anos, como
vidades, uma vez que uma plataforma petrolífera tem offshore support vessels (OSV), porta-containers, petrolei-
vida útil média de 20 a 25 anos e pode atingir cerca de ros, balsas e outros.
50.000 toneladas em aço, que teve um aumento signi- Por essa razão, as discussões sobre o desenvolvimento e
ficativo, recentemente, nas suas cotações do tipo scrap o aprimoramento de regulação do descomissionamento/
no mercado internacional. Esse aumento é justificado desmantelamento tendem a ser complexas e demoradas.
pela “guerra comercial” China-EUA, que encareceu o Ademais, existe um grande número de órgãos governa-
aço, importante insumo para a indústria, e tornou os mentais envolvidos no processo regulatório do desco-
negócios voltados para essas atividades ainda mais missionamento, como aqueles com atribuição setorial,
atrativos, e pelas próprias políticas ambientais que controle e fiscalização ambiental, segurança marítima
favorecem a reciclagem em muitos países. e regulação portuária, além da autoridade tributária e
Cabe ainda ressaltar que, na atividade de descomissio- dos órgãos governamentais de controle, como o Tribu-
namento, os ativos descomissionados são plataformas, nal de Contas da União (TCU) no Brasil18.

12 ibid. p. 10 e 11 15 Disponível em: http://sinaval.org.br/2020/10/ibp-sugere-maior-dialo-

13 https://petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/areas-de-atuacao/ex- go-sobre-oportunidades-de-descomissionamento-no-rj/

ploracao-e-producao-de-petroleo-e-gas/pre-sal/; 16 IBP. Regulação do Descomissionamento. p.40

14 Disponível em: https://pt.wilsonsons.com.br/descomissionamento-de- 17 Disponível em: https://www.agenciapetrobras.com.br/Materia/Exibir-

-plataformas/ Materia?p_materia=982865

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Em nível internacional, a Organização Marítima In- sensibilidade política, devido, principalmente, aos riscos
ternacional (IMO, sigla em inglês) estabeleceu a Hong ambientais diretos e indiretos. Consequentemente, o
Kong Convention, que define as bases para descomissio- tema acaba por envolver diversos atores governamen-
namento. Outra norma internacional de destaque é o tais e não governamentais, como o Instituto Brasileiro
Regulamento da União Europeia para descomissiona- do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
mento de navios de bandeira europeia. (Ibama), Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural
O tema descomissionamento/desmantelamento des- e Biocombustíveis (ANP), Marinha do Brasil (MB), IMO
perta muito interesse, mas tem sido tomado por certa entre outros.

A Gestão do Ciclo de Vida


Como se pode observar, o assunto é vasto e exige uma Como já mencionado, sabe-se que as plataformas,
análise aprofundada, tendo em vista os diversos aspec- por exemplo, têm um ciclo de vida entre 20 e 25 anos.
tos envolvendo características políticas, econômicas, Assim, na obtenção de uma plataforma, o operador já
legais e ambientais. No entanto, um conceito básico tem a sua avaliação de produtividade para o retorno
deve ser observado, pois conduz à grande causa-raiz do investimento, contemplando os riscos envolvidos.
das questões relacionadas ao tema, que é a Gestão Portanto, com a proximidade do fim do Ciclo de Vida
do Ciclo de Vida (GCV) dos navios/plataformas. Esse de um navio/plataforma ou mesmo com a decisão pelo
conceito se aplica à operação do novo bem, navio ou encerramento do ciclo produtivo para o qual o bem foi
plataforma, desde sua construção, passando pela sua previamente destinado, normalmente se faz uma análi-
operação e manutenção, até o fim de sua vida útil, se de viabilidade econômica, que pode resultar no seu
que inclui o descomissionamento, conforme prevê a descomissionamento, seja para desmantelamento, seja
ISO 15686 (Building and constructed assets - Service Life para reutilização. Tudo isso faz parte do Custo do Ciclo
Planning). de Vida (Life Cicle Cost – LCC) do bem em questão.
26
Tabela 6. Sumário de custos de descomissionamento de uma plataforma fixa na Bacia de Campos

Custo Unitário Custos Totais


Instalação Comprimento (km) Quantidade
(US$ milhões) (US$ milhões)

Poços de completação molhada 0 3 14 42

Poços de completação seca 0 0,3 15 4,8

Condutores 0 0,17 15 2,6

30 1,2 4 4,8

Pipelines 130 2,4 1 2,4

1 1,12 6 6,7

Risers flexíveis 0,22 0,06 8 0,5

120 0,9 1 0,9

Umbilicais 1,1 0,05 3 0,1

0,3 0,01 8 0,1

Fonte: IBP19.

18 IBP. Regulação do Descomissionamento. p. 11.

19 ibid. p. 11.
Dessa forma, o conceito de GCV deve estar incorpo- de poços, remoção ou desativação de instalações de
rado ao Plano de Desenvolvimento dos Campos de produção e reabilitação de áreas terrestres. Assim, cla-
Petróleo e Gás Natural (PD) previsto na Resolução ramente, a referida resolução ressalta a relevância, não
da ANP nº 17/2015, a qual, em seu item 19, descreve o apenas do Custo de Obtenção (construção) e de Posse
processo de desativação de instalações do Campo, (manutenção e operação), mas também do Descomis-
focando o planejamento das operações de abandono sionamento.

Descomissionamento
O descomissionamento está relacionado ao ponto de ções e documentos”.
decisão em que a atividade desenvolvida por uma pla- Assim, conforme menciona a referida resolução, visan-
taforma ou navio é encerrada e o seu destino seguinte do a sua desativação ou a cessação da sua produção, o
é decidido, podendo ser a reutilização ou desativação descomissionamento de plataformas pode ser realizado
definitiva, com os respectivos desdobramentos, que das seguintes formas, conforme o resultado das respec-
serão abordados a seguir. tivas análises de risco:

De acordo com a Resolução ANP nº 17/2015, “Desco- • Remoção completa20 (fracionada em partes);

missionamento” pode ser definido como “o conjunto de
• Remoção parcial21 (somente a parte superior é des-
ações legais, procedimentos técnicos e de engenharia
montada);
aplicados de forma integrada a um sistema offshore que
• Tombamento no local22;

visam assegurar sua desativação ou cessação de produ-
ção, atingindo as condições de segurança, preservação • Reutilização; e


ambiental, confiabilidade e rastreabilidade de informa- • Manter no local para utilização alternativa23.

27

20 A remoção completa da plataforma é, basicamente, um processo 22 O tombamento da estrutura é bastante similar à remoção parcial.

de instalação reversa. As principais operações na remoção completa Consiste, primeiramente, na remoção dos topsides que podem ser

são o corte, o içamento, o carregamento e a disposição das seções. A reutilizados, refugados, abandonados no fundo do mar ou afundados

instalação pode ser seccionada em uma ou mais partes, dependendo com a subestrutura. Posteriormente, requer o tombamento de toda a

do tamanho e da capacidade da embarcação que fará o reboque. subestrutura no local, observando a existência de uma coluna d’água

21 A remoção parcial é recomendada pelas diretrizes da IMO e pela livre de modo a não interferir negativamente nas atividades de pesca e

legislação internacional somente para grandes estruturas. A estrutura navegação.

poderá ser parcialmente removida desde que possibilite uma coluna 23 Manter a estrutura offshore no local é uma opção aceita somente

d’água desobstruída. A profundidade exata dependerá das exigências em caso de utilização alternativa, como por exemplo, a transformação

legais de cada localidade. As diretrizes da IMO exigem um espaço mí- da plataforma em centros de pesquisa, locais para o ecoturismo, cultivo

nimo entre a superfície de água e a porção remanescente da estrutura: marinho, base para fontes alternativas de energia (eólica), local de

uma coluna d’água livre de 55 metros para instalações localizadas em pesca esportiva etc.

lâminas d’água acima de 75 metros.

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


PARA TIRÁ-LAS DE PRODUÇÃO, PETROLEIRAS PRECISAM SEGUIR
PROCEDIMENTOS REGULAMENTADOS POR ANP, IBAMA E MARINHA

1. DESCOMISSIONAMENTO

Poços de petróleo são fechados e abandonados. As peças são limpas e transferidas para
São retirados todos os equipamentos e estruturas balsas, que as levam para terra tracionadas
do fundo do mar e da superfície da platafiorma. por rebocadores. É feita uma limpeza completa
da base da plataforma para eliminar resíduos
acumulados.

2. REMOÇÃO

Paltaformas fixas têm as estruturas cortadas com Plataformas semissubmersíveis ou do tipo FPSO
maçaricos ou até explosivos. As peças de aço têm o sistema de ancoragem cortado e sua
são içadas por guindastes de alta capacidade e estrutura rebocada até um estaleiro.
levadas para terra por rebocadores.

28

3. DESMANTELAMENTO

No estaleiro, os materiais são descontaminados É feita a retirada de sinais do coral-sol,


com atenção especial à remoção de borra prejudicial à biodiversidade marinha. As peças e
de petróleo radioativa encontrada em alguns equipamentos são separados para a destinação
equipamentos. final: sucata ou reciclagem.

Fonte: O Globo 11/10/2020.

O descomissionamento de uma plataforma demanda ou menos complexo, dependendo do seu tipo e o seu
uma série de recursos para a sua execução, que podem objetivo, seja pela desativação, seja pela cessação da
variar conforme a sua característica, que pode ser fixa, sua produção.
semissubmersível ou tipo Floating Production Storage and Ademais, essa complexidade se agrava, uma vez que
Offloading (FPSO), a qual pode tornar o serviço mais todo o serviço deve ser desenvolvido no mar. Cabe
ainda ressaltar que um dos grandes problemas para o acordo com o referido documento, o poço somente po-
descomissionamento é o risco ambiental envolvido no derá ser abandonado após autorização escrita da ANP.
encerramento das operações e abandono efetivo do Pode-se facilmente observar como é distinta a ativi-
campo. Assim, por ocasião do descomissionamento, dade de descomissionamento de navios, seja pelo fim
todos os resíduos a bordo devem ser identificados e do seu ciclo operativo, seja para venda e reutilização,
classificados em resíduos sólidos, líquidos e perigosos. apresentando-se como um serviço de complexidade
Nesse sentido, o abandono de campo consiste na “de- relativamente mais baixa, haja vista que pode ser reali-
sativação das instalações de produção”, que, segundo zado com a embarcação atracada em um cais ou dique
a Resolução da ANP nº 27/200624, “trata-se da retirada e os riscos ambientais envolvidos são bem menores.
definitiva de operação e a remoção de Instalações de Uma vez descomissionado o navio, analogamente à
Produção, dando-lhes destinação final adequada, e a plataforma, ele pode ser destinado à reutilização, afun-
Recuperação Ambiental das áreas em que estas insta- damento ou desmantelamento. O afundamento exige
lações se situam”. A referida resolução ainda faz uma o rígido cumprimento dos regulamentos nacionais e in-
distinção entre “abandono de campo” e “abandono de
25
ternacionais, que, associado às implicações ambientais,
poço” .26
acaba não sendo o mais recomendado, exceto quando
Adicionalmente, no que se refere ao descomissionamen- se tem interesse em estabelecer recifes artificiais, ob-
to, a ANP, no exercício da função de regulação técnica, viamente com a participação de órgão ambientais e da
normatiza o abandono de poços perfurados com vistas autoridade marítima28.
à exploração ou produção de petróleo e/ou gás, por Já o desmantelamento, como no caso das plataformas,
meio da Portaria ANP nº25/2002 . 27
deve ser devidamente preparado para o reboque ao
A mesma Portaria tem por objetivo disciplinar os pro- seu destino final, onde será desmantelado, caso não
cedimentos a serem adotados no abandono de poços seja realizado no mesmo local, base de operações ou
de petróleo e gás. Dessa forma, o abandono do poço se estaleiro de descomissionamento. No caso de navios,
configura numa série de operações destinadas a restau- uma vez descomissionados na sua base de operações 29
rar o perfeito isolamento entre os diferentes intervalos ou estaleiro, estarão prontos para o desmantelamen-
permeáveis para prevenir a migração do fluido entre as to no próprio local de descomissionamento, podendo
formações e o revestimento e até a superfície do terreno também ser rebocados para o local onde será realizado
ou fundo do mar. Assim, esse abandono pode ser per- o referido serviço.
manente, quando não houver mais interesse de retorno Ressalta-se ainda que, apesar das questões ambientais
ao poço, ou temporário, quando ainda houver interesse envolvidas, o processo de descomissionamento também
na exploração. gera uma expressiva quantidade de bens afetos àquela
O isolamento do poço poderá ser feito através de plataforma ou navio que podem ter uma destinação
tampões, de cimento ou mecânicos. Contudo, ainda de para reciclagem, reutilização ou venda.

24 Disponível em: http://legislacao.anp.gov.br/?path=legislacao-anp/ 26 Abandono de Poço - Série de operações destinadas a restaurar o iso-

resol-anp/2020/abril&item=ranp-27-2006&export=pdf. lamento entre os diferentes intervalos permeáveis, podendo ser perma-

25 Abandono de Campo - Processo que compreende abandono de nente, quando não houver interesse de retorno ao poço; ou temporário,

poços, desativação e alienação ou reversão de todas as instalações de quando por qualquer razão houver interesse de retorno ao poço.

produção. 27 Disponível em: http://legislacao.anp.gov.br/?path=legislacao-anp/

portarias-anp/tecnicas/2002/marco&item=panp-25--2002.

28 https://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/10555-na-

vios-sao-afundados-para-pesquisa-e-turismo.

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Desmantelamento
Em decorrência do descomissionamento, mais especifi- Apesar disso, os investimentos para a realização do
camente quando relacionado ao fim do ciclo de vida do desmantelamento em estaleiros podem ser relativa-
bem, seja um navio, seja uma plataforma, ocorre em seu mente baixos, em que pesem as restrições ambientais
desmantelamento. e agentes poluentes ou nocivos à vida humana que
Dessa forma, o “Desmantelamento” pode ser definido impactam no serviço (ex.: radioativos e cancerígenos),
como “uma prática comum realizada no fim da vida do tendo em vista que muitos dos recursos já existen-
navio ou plataforma para a recuperação de materiais tes nessas instalações podem ser também utilizados,
utilizados na sua estrutura”, que está ligada à decisão conforme a política da OCDE para a reciclagem de
pelo “Descomissionamento”. navios30.
O processo de desmantelamento pode ocorrer median- O serviço demanda uma avaliação detalhada que
te quatro métodos , baseados nas estruturas físicas
29
envolve, além do valor de mercado de scrap (sucata),
disponibilizadas para tal: que inclui ligas metálicas de elevado valor de mercado,
• Beaching (Praia); o tratamento certos de materiais já mencionados, mas
• Dry Dock (Dique seco); também do risco de poluição ambiental. Contudo, uma
tendência que não deve deixar de ser mencionada é o
• Quay (Cais e Pontões);
que esse processo de reciclagem deixa de lançar, em
• Slip Way (Rampas ou carreiras).
termos de poluentes e CO2 na atmosfera, para a ma-
O método Beaching tem sofrido grande resistência por nufatura de novos insumos para indústria quando esse
parte da Comunidade Europeia, que proibiu que quais- material é reaproveitado, o que seria ecologicamente
quer navio de bandeira europeia seja desmantelado correto.
por meio de métodos que tenham contato com a água. Tal fato, reforça a importância de contemplar o concei-
Sendo assim, o método em Quay e Beach tem suas de- to de ciclo de vida do navio completo nos seus custos,
30 mandas reduzidas. desde a sua obtenção até o seu desmantelamento.

Disposições Finais
A oportunidade apresentada pela crescente oferta de No entanto, a demanda pelo domínio do ciclo de vida
unidades, plataformas e navios, para descomissionamen- das plataformas e navios demonstra-se cada vez mais
to deve ser analisada com cautela. Essa oferta, princi- presente. Dessa forma, a Fase de Desfazimento dos
palmente de plataformas, alavancada pelo “boom” do Navios e Plataformas terá uma crescente atenção, prin-
pré-sal, pode ser reduzida após a metade deste século, cipalmente na gestão de resíduos poluentes e danosos
dependendo dos investimentos feitos atualmente para a à vida humana.
exploração daquela região. Ademais, as restrições legais, Uma maior articulação se faz necessária com o envolvi-
no que se refere ao meio ambiente, tendem a ficar cada mento dos agentes públicos do governo, relativa à obten-
vez mais rígidas, o que pode resultar em demandas e ção das plataformas/navios, principalmente no exterior,
agregação de valor na atividade de desmantelamento, onde os investimentos alimentam o emprego e renda
com oportunidades de negócio mais promissoras. fora do país, o mesmo se aplica aos respectivos desco-
Além disso, deve haver uma análise mais aprofundada e missionamentos e desmantelamentos. Nesse sentido,
acompanhamento do preço do aço e outras ligas metá- ficam no país somente os investimentos para a operação
licas de elevado valor no mercado internacional, no que dessas unidades. Com essa condição atualmente instala-
tange à viabilidade econômica dos serviços relaciona- da, perdem-se intermináveis oportunidades de negócio e
dos ao descomissionamento. consequentemente, de emprego, renda e tributos.

29 Disponível em: https://www.oecd-ilibrary.org/docserver/397de00c-en.

pdf?expires=1602792901&id=id&accname=guest&checksum=B9F9FFE-

5DB28BC1AE08BD6973C2B3A42.

30 Ibid.
Considerações Finais

Retomada de uma Indústria Estratégica para o Rio


e para o Brasil
Elaborado pela Firjan

Dado o atual panorama do mercado naval no Brasil, é Mas o naval não se resume a petróleo e gás. A indústria
possível traçar um cenário de muitas oportunidades no marítima de defesa também tem sua cadeia de valor
horizonte de médio/longo prazo. Elos importantes da própria e relação direta com a proteção dos ativos de
cadeia de valor do mar, como a exploração e produção petróleo em alto mar. Toda revitalização dos navios de
de petróleo e gás natural no ambiente offshore, localiza- patrulha da Marinha do Brasil, os projetos de fragatas,
do predominantemente em águas fluminenses, trazem submarinos convencionais e nucleares, além do espera-
a previsibilidade de demandas de serviços por reparo e do projeto do navio de apoio Antártico, são encomen-
manutenção na fase de operação das plataformas. das relevantes e demonstram o retorno da atividade
Mesmo com excelentes oportunidades no olhar da estratégica para o país.
operação, ou seja, em Opex , também cabe viabili-
31
Nesse contexto, é preciso garantir ferramentas que bus-
zar essa mesma perspectiva para os investimentos na cam dar isonomia e competitividade para a totalidade
etapa de implantação dos projetos, ou em Capex . Para 32
dos atores do mercado. Desenvolver curva de aprendi-
fomentar a participação da economia nacional em um zado e garantir evolução regulatória são alguns fatores
mercado globalizado, em bases competitivas e susten- com potencial de contribuir para retomada e aproveita- 31
táveis, diversos setores dispõem de regimes de exceção. mento das oportunidades.
De tal sorte, o denominado Custo Brasil é amenizado e Novos mercados se apresentam, alguns com uma maior
mitigado para viabilizar o desenvolvimento local. previsibilidade, como o segmento de descomissiona-
O segmento de E&P , principal demandante da indús-
33
mento. Outras áreas têm grande potencial, como a
tria de construção naval e offshore no Brasil, tem hoje cabotagem e a produção de energia no offshore, seja
o Repetro-Sped como seu regime especial, dado que
34
eólica, seja solar. Isso evidencia que, ao deter vocação e
sem ele, a produção nacional de petróleo poderia ter riquezas naturais, o Brasil tem uma grande oportunida-
um custo inviável. Além de estar inserido em um contex- de na economia do mar. Em especial, no Rio de Janeiro,
to global de preços e concorrência por investimentos, que já tem grandes projetos anunciados, como parque
tem papel fundamental como indutor de desenvolvi- eólico offshore na região Norte do estado.
mento de todo encadeamento produtivo. Portanto, é Para cultivar as oportunidades e fazer com que os
natural que as mesmas condições se estendam para efeitos da economia reverberem localmente, o posicio-
fornecedores diretos e indiretos, em condições isonô- namento da Firjan sempre foi em prol de uma política
micas, o que foi alcançado somente nos primeiros elos industrial para desenvolvimento de mercados estratégi-
dessa cadeia com o Repetro Industrialização35. cos para o país. Curiosamente, o Brasil tem Conselhos

31 Operational Expenditure. 35 Repetro Industrialização: regime especial de industrialização de bens

32 Capital Expenditure. destinados às atividades de exploração, desenvolvimento e produção

33 E&P: Exploração e Produção. de petróleo, gás natural e outros hidrocarbonetos fluidos.

34 Repetro-Sped: regime tributário especial e regime aduaneiro especial

de utilização econômica de bens destinados às atividades de explora-

ção, desenvolvimento e produção de petróleo e de gás natural.

Panorama Naval no Rio de Janeiro - 2020


Nacionais, como o de Política Criminal e Penitenciária grande política industrial de estado, é o que promove
e o de Política Energética, mas ainda carece de um competitividade para viabilizar a produção de riqueza.
Conselho Nacional de Política Industrial. Quanto mais valor agregado for gerado no Brasil e no
Cabe a reflexão sobre as implementações de regimes Rio, mais empregos, renda e desenvolvimento social
de exceção para o desenvolvimento de setores da retornarão como impactos positivos da atividade
economia. Independentemente do setor fomentado, a econômica.
solução não pode estar em desacordo com a funda- Por fim, a concretização das oportunidades partirá tam-
mental isonomia necessária para desenvolver a compe- bém da multiplicação de negócios no ambiente maríti-
titividade das cadeias produtivas locais. A definição de mo. A diversificação do atendimento é o que contribui
estratégico para o desenvolvimento do país deve visar a para a sustentabilidade da indústria de navipeças e a
sustentabilidade econômica no médio prazo.   prestação de serviços navais, possibilitando a evolução
Assim, a devida estruturação de mecanismos de tecnológica, com aplicação de soluções entre mercados
incentivo, de forma coordenada, como parte de uma demandantes.

32

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