Firjan Publicacao Panorama Naval 2020
Firjan Publicacao Panorama Naval 2020
Firjan Publicacao Panorama Naval 2020
no Rio de Janeiro
2020
DEZ. 2020
Expediente
Firjan – Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro
Presidente
Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira
Diretor Executivo SESI SENAI
Alexandre dos Reis
Diretor de Competitividade Industrial e Comunicação Corporativa
João Paulo Alcantara Gomes
Diretora de Compliance e Jurídico
Gisela Pimenta Gadelha
Diretora de Pessoas, Finanças e Serviços Corporativos
Luciana Costa M. de Sá
APOIO
Gerente Geral de Competitividade
Luiz Augusto Carneiro Azevedo
Gerente de Estudos Econômicos
Jonathas Goulart Costa
Equipe Técnica
Anna Carolina Gaspar Gomes de Lima
PROJETO GRÁFICO
Gerente de Comunicação e Marca
Fernanda Marino
DEZ. 2020 Equipe Técnica
Francisco Lucchini
Luciana Sancho
www.firjan.com.br
Av. Graça Aranha, 1, 12º andar Viviane Pimentel
Centro, Rio de Janeiro
[email protected]
APOIO E COLABORAÇÃO Ficha Técnica - Convidados
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DAS EMPRESAS DE
SERVIÇOS DE PETRÓLEO - ABESPETRO
Diretor-Presidente
Adyr Tourinho
Diretoria
Anna Carvalho
Eduardo Chamusca
Jorge Mitidieri
Lauro Puppim
Ricardo de Luca
4
Apresentação
A quarta edição do Panorama Naval no Rio de Janeiro tem ca, fundamentais para toda estrutura da economia do
como propósito principal tornar mais claro o horizonte mar.
de negócios sobre a indústria naval fluminense. Como A Abespetro apresenta sua visão e perspectivas para
de costume, convidamos instituições governamentais e o mercado de serviços offshore voltados a produção e
grandes agentes de mercado, assim como entidades de exploração de petróleo nesse ambiente.
classe, com intuito de conciliar esforços para com aná- Com objetivo de explicitar o panorama do mercado de
lises qualificadas, apresentar as oportunidades que o apoio marítimo, a Abeam destaca os pontos positivos
Rio dispõe a todos aqueles que tenham interesse nessas do atual cenário e apresenta os caminhos que esse
informações. mercado deve seguir. Enquanto a Emgepron apresenta
A Firjan, através de seu corpo técnico da Gerência de as perspectivas e particularidades de um novo mercado
Petróleo, Gás e Naval e seu Núcleo Naval do Conse- para o Brasil, que é o mercado de descomissionamento.
lho Empresarial de Óleo, Gás e Naval trabalhou na Ainda no cenário das oportunidades do mercado
construção de dois artigos apresentando no primeiro nacional e fluminense, a Sobena expõe em seu artigo o
o contexto do mercado por novas embarcações tanto cenário do mercado de engenharia naval e offshore, e
pela ótica dos recentes acontecimentos, quanto pela a Emgepron traz luz ao tema do descomissionamento,
agenda positiva, para propulsionarmos nossa atrativi- tanto do ponto de vista técnico como de suas peculiari-
dade. Por fim, as considerações finais buscam mostrar dades de mercado.
a importância estratégica da política industrial de A publicação do Panorama Naval no Rio de Janeiro 2020
Estado para o desenvolvimento da economia do país. é um trabalho realizado em conjunto entre Firjan e
O segundo artigo, que trata do mercado de defesa e os diferentes agentes que atuam nesse segmento da
suas oportunidades, apresenta o Cluster Tecnológico indústria fluminense, com a intenção de pautar seus 5
Naval do Rio de Janeiro, cujo propósito é desenvol- associados com a importância da indústria naval para
ver, através das demandas da defesa, uma base de o Brasil e em especial para o Rio de Janeiro, o grande
fornecedores com capacidade tecnológica e econômi- protagonista desse mercado no país.
MERCADO OFFSHORE.......................................................................................................... 18
Logística.....................................................................................................................................................20
Perspectivas de retomada da demanda por embarcações de apoio marítimo.................20
OPORTUNIDADES.................................................................................................................23
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................... 31
No difícil e - por que não dizer - esdrúxulo ano de 2020, para as potenciais demandas da Indústria Marítima
o mundo como conhecíamos até 2019 transformou-se Brasileira.
drasticamente, muito em função da Covid-19, alterando No trabalho de 2018 definimos que o nosso interesse
de maneira indelével os nossos relacionamentos pesso- estava focado na identificação da existência de oportu-
ais e profissionais. Essa transformação é do inexorável nidades e, caso confirmada, na determinação das ações
avanço e domínio da informática; do trabalho home que cada “stakeholder” deveria implementar para elimi-
office; da forma como se conduzem os negócios (cres- nar os gargalos, pavimentando os caminhos para que a
cimento das políticas de ESG ); da crise da demanda ×
1
nossa Indústria Marítima pudesse concretizá-las. Entre
oferta de petróleo; da transição energética (fóssil para outras constatações, ressaltávamos o fato de que parte
fontes limpas e renováveis); dos conflitos político-ide- da Indústria de Construção Naval, particularmente a
7
ológicos dividindo vários países do mundo entre “nós” voltada para grandes embarcações (FPSOs, Tankers,
e “eles” (EUA, UK, e Brasil, por exemplo); do irreversível Porta-Containers) passava por uma grave crise de cre-
crescimento da consciência ecológica e preocupação dibilidade, fruto dos atrasos nas entregas, dificuldades
com o meio ambiente; da avalanche de incentivos financeiras dos estaleiros, cancelamento de contratos,
monetários dos Bancos Centrais versus a necessidade corrupção endêmica etc. Constatamos, entretanto, que
de controle fiscal; dos juros negativos; etc. Com isso, aquela “crise” felizmente não atingia todos os estaleiros,
é óbvia a conclusão de que a missão de dimensionar pois alguns apresentavam vários “cases positivos” na
demandas se transformou num desafio ainda maior do construção de embarcações offshore, rebocadores, fabri-
que sempre foi. cação e integração de módulos para FPSOs.
À luz dessas circunstâncias, nos pareceu mais adequa- O caminho que então nos parecia correto a ser trilhado
do dar forma diferente a esse nosso estudo, partindo pelos estaleiros nacionais era o de focar no atendimen-
para uma análise das projeções e diagnósticos apre- to das demandas eventualmente geradas internamente
sentados no Panorama Naval de 2018, no qual busca- pelo desenvolvimento da economia nacional e da defe-
mos identificar o que mudou nesses dois anos, quais os sa de nossa soberania e riquezas naturais, em especial
gargalos levantados e como foram abordados e que naqueles nichos de mercado em que a indústria tinha
propostas foram trazidas para discussão e implemen- logrado sucesso com os “cases positivos”, enquanto os
tação das possíveis soluções, tirando daí conclusões gargalos que impediam o desenvolvimento dos outros
mais objetivas e, esperamos, estimativas mais realistas nichos fossem adequadamente endereçados.
sociedade.
Tabela 1a Tabela 1b
Regime de Concessão (14º a 16º Rodada ANP) Regime de Partilha (2º a 6º Rodada ANP)
2022 81 10 2022 61 10
2023 86 11 2023 58 10
2024 86 11 2024 57 9
2026 86 11 2026 59 10
2028 86 11 2028 55 9
2030 98 12 2030 58 10
Fonte: Firjan - Elaboração própria 2020. Fonte: Firjan - Elaboração própria 2020.
Tabela 2. Visão da demanda offshore brasileira
2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029 2030 Fator de
correlação
Novas UEPs
2 1 4 4 3 5 4 0 0 0 1
esperadas
Novas UEPs
prováveis de
- - - - - 4 4 9 8 9
áreas ainda em
exploração
Total de UEPs 2 1 4 4 3 9 8 9 8 9
Frota de Sondas
11 20 20 21 26 21 26 20 25 22
esperada
Barcos de Apoio
demandados 8 4 16 16 12 36 32 36 32 36 4
pelas novas UEPs
PSV/OSRV 3 3 5 6 6 12 12 14 12 14 37,5%
LH/SV 2 2 2 3 3 6 6 7 6 7 19,0%
AHTS 1 1 1 2 2 4 4 4 4 4 12,0%
CREW/FSV 1 1 1 1 1 2 2 3 2 3 7,0%
PLSV 0 0 1 1 1 2 2 2 2 2 5,0%
9
RSV 0 0 0 1 1 1 1 1 1 1 4,0%
DSV 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 2,0%
MPSV 0 0 0 0 0 1 1 1 1 1 2,0%
WSV 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 1,0%
WIV 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0,5%
No caso das oportunidades de contratação de novas Já no caso da contratação no Brasil de novas UEPs
embarcações de apoio, a exemplo do que já acontecia (construção de cascos, conversões, módulos e integra-
em 2018, não vemos nenhum gargalo estrutural para ção de topsides), cabe relembrar que, apesar de termos
concretização da demanda, que fica sujeita apenas à constatado avanços no equacionamento dos gargalos
efetiva entrada em operação das novas UEPs. identificados em 2018, muitos ainda estão presentes, o
O mercado de Serviços de Manutenção e Reparos que pode comprometer a conversão das oportunida-
teve um de seus gargalos (alto custo da mão de obra) des identificadas em real demanda / contratações.
bastante aliviado, principalmente no polo de Niterói, Entre outros, destacamos os seguintes gargalos ainda
função da crise no setor que naturalmente fez com que a serem resolvidos (Tabela 3 - Comparação 2018 ×
os salários fossem ajustados. 2020):
1. Necessidade de reconstruir a confiança dos 1. Muito devido à crise vivida pela indústria,
operadores de modo a que voltem a contratar a agravada em 2020 pela Covid-19, não houve grandes
construção de UEPs no Brasil, uma vez que os atrasos, oportunidades para reverter a crise de confiança,
aditivos de preço, cancelamento de contratos, que ainda permanece, fazendo que os contratos para
corrupção, insolvência de estaleiros e, especialmente, novos FPSOs continuassem a ser direcionados para
as danosas consequências das postergações do início a China. Todavia existe uma luz no fim do túnel, com
da operação das unidades geram ceticismo quanto à a notícia (a ser confirmada) de que a Equinor estaria
capacidade dos estaleiros. disposta a aceitar propostas de estaleiros nacionais
para o projeto de Bacalhau.
Defesa
10 Ao lado do setor de O&G, a área de Defesa é a que criando o “Cluster Naval”, solução abrangente para
demonstra maior potencial de crescimento no médio envolver de maneira efetiva a iniciativa privada nos
prazo, sendo o setor que mais evoluiu no diagnóstico e projetos da Marinha.
implementação de alternativas para eliminar os garga- O “Cluster Naval” tem total condição de ser o elo que
los que poderiam inviabilizar a conversão das oportuni- faltava para que a Indústria Nacional (fabricantes e
dades em demanda concreta. prestadores de serviços) tenha acesso claro e tempesti-
O principal gargalo que identificamos em 2018 – “Finan- vo às demandas da Marinha do Brasil e se prepare ade-
ciamento limitado pelos esforços de Ajuste Fiscal e criação quadamente para atendê-las com qualidade, tecnolo-
de alternativas para permitir acesso aos recursos do FMM” – gia, prazos adequados, preços compatíveis e eficiência,
foi brilhantemente equacionado pelo sistema implemen- seja de maneira isolada ou via consórcios e parcerias.
tado para capitalizar a Emgepron, que permitiu solucionar o Com essas medidas, além da continuidade do Prosub,
entrave de forma inteligente sem comprometer o necessário os programas de aquisição de novas embarcações para
e urgente processo de Ajuste Fiscal. a Marinha (Tabela 4) vêm caminhando a passos largos,
Na verdade, a Marinha foi extremamente proativa ao como detalhadamente mostrado no artigo “A Defesa e
identificar e solucionar outro gargalo, este de caráter a Economia do Mar”, parte integrante desse Panorama
estrutural, não mencionado no documento de 2018, Naval 2020.
Tabela 4. Demanda Naval da Marinha
Submarinos Convencionais 3
Submarino Nuclear 1
Cabotagem
No Panorama 2018 vislumbramos o enorme potencial É importante ressaltar que, como definido pelo próprio
de demanda que a atividade de Cabotagem tem, um Ministro, o PL é um “Programa de Infraestrutura” e não
verdadeiro oceano de oportunidades a serem explora- uma “Política Industrial”. Não que essa última seja me-
das. nos importante, mas ela deve ser objeto de um projeto
Ressaltamos, entretanto, que era preciso destravar essa muito mais amplo do que o já famoso e controverso
demanda potencial, uma vez que é o tipo de navegação “BR do Mar”.
que mais e maiores gargalos precisa vencer para ser Nossa posição como uma Federação da Indústria
11
viabilizada. continua firme em defender um “projeto maior” para a
À época não tentamos dimensionar o potencial de Indústria Nacional como um todo, amplamente deba-
oportunidades em número e tipo de embarcações, tido pela sociedade, que possa levar à elaboração de
preferindo priorizar a identificação de quais eram esses uma “Política Industrial de Estado” e não de um único
principais gargalos. ministério, coerente com as vocações e possibilidades
Em função disso, foi com grande satisfação que rece- do país, focada em realmente promover condições
bemos a iniciativa do Ministério de Infraestrutura de legais, fiscais e de financiamento para que a Indús-
propor o Projeto de Lei da Cabotagem, pois ele aborda tria seja motivada e tenha meios reais para investir
praticamente todos os gargalos levantados no Panora- em PD&I, treinamento, modernização e crescimento
ma 2018 de maneira pragmática e até mesmo corajosa de instalações e Governança. Desse modo, a indústria
e, à medida que mexe com grandes interesses, nem pode ser mais eficiente, competitiva e integrada ao
sempre unânimes dos stakeholders, propõe mudanças mundo das novas tecnologias, tornando-se competen-
de normas, regulamentos, procedimentos e até relações te, competitiva e apta para atender às Demandas de
de trabalho, com soluções “fora da caixa” para proble- Mercado advindas do desenvolvimento do Brasil e até
mas que são conhecidos há anos, etc. do mercado internacional.
Recebemos a proposta também com muita esperança, Nosso apoio ao Projeto de Lei da Cabotagem não é
pois, sendo um Projeto de Lei, passará pelo crivo do incondicional, mas baseado no entendimento de que,
Congresso Nacional, foro adequado para debate de após discutido e aperfeiçoado no Congresso Nacional,
tema tão relevante para o desenvolvimento nacional em com a inclusão de necessárias emendas baseadas em
geral e da nossa deficiente infraestrutura de transporte. contribuições da Sociedade Organizada (Entidades de
120%
100%
19%
27%
35%
80% 43%
51% 50% Rodoviário
61%
34% Ferroviário
60%
14% Cabotagem
5% 55% 3%
Dutoviário
11% 27%
40% 25% Hidroviário
21% 3%
32% 3% 40%
44%
20%
22%
12% 23% 14%
4% 3%
2% 4% 5% 4% 4%
0%
12 Brasil Japão EU EUA China Austrália Canadá
Fontes: ILOS (Brasil); National Bureau of Statistics of China, Bureau of Transportation Statistics (EUA), Eurostat (UE), North American.
É relevante ainda destacar a resiliência e estabilidade tar crescimento, com 1,5% de expansão contra uma con-
da Cabotagem Brasileira, ao olharmos para as estatís- tração de 11,3% do PIB total de Transporte (Tabela 5) e
ticas da CNT – Confederação Nacional do Transporte um desempenho bastante estável em termos de volume
relativas ao 1º semestre de 2020, quando, durante a crise semestral transportado, muito diferente do sinuoso com-
gerada pela Covid-19, esse modal foi o único a apresen- portamento da navegação de longo curso (Gráfico 2).
Tabela 5. Quadro-Resumo dos resultados no 1º Semestre de 2020
Macro
EUA -4,6%
México -10,8%
Japão -6,0%
Coreia -0,8%
Modais
Rodoviário
Ferroviário
13
Movimentação (TU) -7,6%
Aquaviário
Cabotagem 1,5%
Aéreo
RPK -48,8%
400,0
250,0
200,0
Longo Curso
Cabotagem
150,0
Vias Interiores
100,0 68,5 69,3 68,8 69,3 69,1 68,6 69,5 69,2
61,3 63,9 65,6 66,4 66,8 67,9 66,7 67,0 66,1 66,9 67,4 68,2
59,1
50,0
11,8 12,5 12,5 12,2 12,7 11,9 11,1 10,6 10,1 10,5 10,2 11,1 12,2 13 13,8 13,9 13,6 12,9 11,9 10,8 10,1
0,0
dez/12
dez/11
mar/16
jun/18
mar/11
mar/12
mar/13
dez/13
mar/15
dez/15
dez/16
mar/18
dez/18
dez/10
set/11
set/12
set/13
mar/14
set/15
dez/19
dez/14
set/16
mar/19
set/14
jun/16
mar/17
jun/20
jun/17
set/17
jun/10
set/10
jun/11
jun/12
jun/13
jun/14
jun/15
set/18
jun/19
dez/17
set/19
mar/20
Fonte: Elaboração CNT com dados do Anuário Estatístico da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ).
2 SANTOS, Thauan; CARVALHO, Andrea. “Blue is the New Green”: The 3 OCDE. The Ocean Economy in 2030. Paris: OECD, 2016. Disponível
Economy of the Sea as a (Regional) Development Policy in Global Jour- em: <https://www.oecd.org/environment/the-ocean-economy-in-
tede2/bitstream/tede/7915/2/ANDREA_BENTO%20_CARVALHO_TES.pdf>
7 Ibid. atlas/mapas_brasil/brasil_distribuicao_populacao.pdf>
Cabe ainda ressaltar que, outros polos já despontam 1) Nível operacional local, a própria Associação do
com tendência de se integrarem ao CTN-RJ, como o da CTN-RJ
região do Porto do Açu, no litoral norte do Estado, e da Destinado à normatização, áreas focais, desenvol-
Baía da Ilha Grande, no litoral sul. vimento de negócios, mapeamento das cadeias
É nesse contexto que emerge um dos focos de inte- produtivas, spill over do conhecimento, estímulo à coo-
resse da Associação, no sentido de criar um ambiente peração, competição, especialização e complementa-
de eficiência de informação, aproximação de agentes ridade de atividades e alavancagem de recursos.
econômicos e promoção da inovação e desenvolvimen- 2) Nível regional, o Governo do Estado
to tecnológico, criando oportunidades para empreende- Nele ocorre o desenvolvimento de políticas públicas
dores e empresas já estabelecidas, independentemente regionais integradas para a infraestrutura logística, os
do porte. recursos energéticos, as comunicações, a segurança,
Um exemplo emblemático dessas oportunidades é o bem como para a regulação e estabilidade econômica.
conceito de e-Navigation, disseminado pela Internatio- 3) Nível federal, a Comissão Interministerial de Recur-
nal Maritime Organisation (IMO), que envolve a seguran- sos do Mar (Cirm) (através da Secretaria da Cirm,
ça do tráfego aquaviário, preservação da vida humana conduzida pela Marinha do Brasil, como Autoridade
no mar e monitoramento e controle ambiental, que Marítima do país).
pode empregar novas e inovadoras concepções tecno- Esse nível é dedicado à formulação de políticas e
lógicas, a partir da Internet das Coisas (IoT), Indústria estratégias nacionais, prioridades, planos, regulação e
4.0, Inteligência Artificial, Big Data, Blockchain, 5G e sustentabilidade orçamentário-financeira.
outras mais. Finalmente, a atuação da Associação do CTN-RJ,
Nesse sentido, a estrutura de governança do CTN-RJ como elemento de integração e governança para
(autoridade, responsabilidade e liderança) torna-se críti- uma interlocução mais próxima entre associados e
ca para que ocorra fluidez na sua articulação institucio- instâncias superiores, é fundamental para a consoli-
17
nal, por meio de seus processos gerenciais e de tomada dação de uma estrutura de um futuro cluster marítimo
de decisões, que deve se desenvolver em três níveis: nacional.
Abespetro
O setor de Óleo & Gás está enfrentando talvez um dos focou os investimentos nos grandes projetos do pré-
momentos de maior complexidade de todos os tem- sal. Outra mudança significativa foi a mudança no
pos. A indústria já vinha sendo desafiada em diversas ambiente regulatório. O país retomou um calendário
dimensões e a confirmação da pandemia da Covid-19 regular de licitações de novas áreas, flexibilizou a
potencializou ainda mais essa crise sem precedentes. entrada de novas operadoras para atuar no regime
O mercado offshore brasileiro também enfrenta esses do pré-sal, e garantiu a continuidade de regimes
desafios, mas com suas particularidades. de tributação como o Repetro (regime especial de
O mundo passa por um ponto de inflexão, no qual importação temporária de bens para o setor) de
vários fundamentos econômicos, sociais e políticos são forma a manter a atratividade do país frente a outros
questionados e desafiados. Observamos uma pressão mercados. Tudo isso gerou uma nova onda de otimismo
cada vez maior pela agenda global de redução de e o país voltou a ser um dos centros de interesse global
emissão de carbono e um aumento significativo de efici- de investimento no setor de O&G. Todas as grandes
ência energética e, de outro, a relação oferta e deman- empresas operadoras internacionais retornaram
18 da sendo autorregulada naturalmente por uma pressão ao Brasil com investimentos significativos no pré-
de excesso de capacidade. sal brasileiro. Houve também, com a sinalização do
Os grandes projetos estão sendo fortemente impacta- programa de desinvestimento de ativos da Petrobras, o
dos com a pressão por redução de custos. Apenas os surgimento de novas empresas nacionais independentes
projetos mais resilientes, que são viáveis com preços de e o aparecimento de algumas independentes
barril mais baixos, conseguiram seguir adiante nesse estrangeiras. Essas empresas entraram no mercado,
cenário. Nesse contexto, as grandes descobertas do Pré- através de capitação de recursos de private equities ou
-sal brasileiro vêm se mostrando bastante competitivas, financiamentos, com o propósito de comprar ativos
com poços de elevada produtividade de mais de 30 mil marginais ou maduros de forma a revitalizar a produção
barris por dia fazendo com que os campos sejam viáveis com baixo custo. O desafio se mostrava viável com
economicamente a preços de petróleo bem abaixo dos os níveis de preço do petróleo se recuperando acima
de outros projetos ao redor do mundo. dos USD 50-60 por barril. Ou seja, as perspectivas
O Brasil teve um componente adicional muito forte nos do mercado de O&G no Brasil eram muito positivas
últimos anos: a crise da Petrobras. Com níveis muito com três níveis de crescimento: 1) retomada e foco
elevados de endividamento, a empresa se viu obrigada da Petrobras nos grandes campos do presal, 2) a
a se reestruturar e focar nos projetos que apresentavam entrada das grandes empresas internacionais no
maiores retornos, uma vez que sua capacidade de desenvolvimento do presal aumentando a diversificação
investimentos era limitada. Iniciou então um programa de operadoras, e 3) surgimento de um novo mercado
de redução de custos, restruturação, venda de ativos de empresas independentes atuando nos campos
e uma governança de conformidade muito forte para marginais de forma a recuperar a produção em declínio.
que a empresa retomasse o rumo. Nos últimos 2 anos Tudo isso fez com que o setor de bens e serviços, que
a empresa se reinventou e reduziu drasticamente sua estava bastante debilitado, voltasse a ter expectativas
dívida, melhorou todos os indicadores operacionais, e de crescimento e recuperação. Várias empresas
voltaram a contratar e a se preparar para o aumento de início. Isso faz com que o mercado de O&G do Brasil
atividade que estava sendo sinalizado. O ano de 2020 siga bastante promissor no médio e longo prazo. A
começou com excelentes expectativas para o setor de preocupação está com o curto prazo. O país se tornou
O&G no país. um centro de excelência para as atividades de E&P
A propagação da Covid-19 em escala mundial, trans- de petróleo em águas profundas e ultraprofundas. Foi
formando-se numa pandemia, fez com que todas as construído um parque industrial e de serviços com ca-
projeções fossem fortemente abaladas. A economia pacidade para um nível de atividade muito maior que a
mundial iniciou um processo de retração sem propor- atual. Houve uma capacitação de competência profis-
ções em todos os setores, fazendo com que os preços sional comparável com os demais centros de E&P como
do barril despencassem. Os cortes de investimentos Houston e Aberdeen.
vieram de imediato. No Brasil as primeiras a sentirem A grande preocupação é que a falta de demanda no
foram as empresas que apresentavam posição de curto prazo possa comprometer essa enorme conquista
caixa com maior exposição e as que se alavancaram alcançada, com a desmontagem da indústria instalada
financeiramente. Muitos dos projetos de revitaliação de e o êxodo de profissionais do setor. Serão necessárias
campos maduros foram desafiados diante de um preço soluções que busquem o fortalecimento da cadeia como
de barril muito abaixo do ponto de equilíbrio. O balanço um todo. Essa crise tem mostrado o quanto a econo-
de receita e despesas operacionais passou a não fechar mia e a sociedade estão interligadas. A relação causa
e, com isso, os compromissos de repagamento dos fi- e efeito nunca foi tão estreita e visível. O setor de O&G
nanciamentos obtidos se colocaram em cheque. Outros precisa buscar soluções de curto prazo, mantendo os
projetos, que ainda estavam no papel, necessitaram projetos viáveis e consequentemente preservando a
ser colocados em compasso de espera. A atividade de capacidade instalada e os empregos e evitando o efeito
exploração também deixou de ser prioridade, passando cascata de destruição de valor. Também precisam ser
todo o foco para os projetos que geram fluxo de caixa encontradas alternativas que mantenham o Brasil com-
positivo no curto prazo. Apenas os projetos do Pré-sal petitivo no médio e longo prazo para que os projetos se 19
que apresentam grande resiliência a preços mais baixos mostrem atraentes quando comparados com outros ao
de barril não foram abalados. redor do mundo. O aumento de eficiência operacional,
Os grandes projetos de Libra, Búzios com o excedente com a utilização da digitalização industrial, e políticas
da cessão onerosa e outros projetos do Pré-sal perma- econômicas e fiscais que mantenham um ambiente
neceram inalterados. Alguns projetos de longo prazo regulatório previsível e atrativo permitirão que o Brasil
seguirão, mas, como a geração de caixa está mais para volte a se tornar um mercado altamente competitivo e
frente, provavelmente vão sentir algum atraso no seu promissor para se investir.
Logística
Perspectivas de retomada da demanda por embarcações de apoio
marítimo
2 2
0,6% 0,6% 1
3 0,3%
1
1% 0,3%
7
13 2%
4% 7
16 2%
4% PSV/OSRV MPSV
24 LH/SV WSV
7%
AHTS Flotel
600
22 400
363 364 363 376 Estrangeira
Nacional
324 325 331
Total
300 300 Em operação setembro
257 Cenário atual:
~63 embarcações
de 2020 + Projeção
ociosas contratações 2020 a 2023
205 243
200
139
107 112
100
93
39 39 32
32
0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020
A entrada em operações de novos sistemas de produ- 2000, foram mais de USD 10 bilhões de recursos do
ção e as diversas etapas de pesquisa e desenvolvimento FMM empregados na constituição da frota de bandeira
da produção de novos campos marítimos implicarão a nacional (mais de 200 embarcações), que hoje conta
utilização perene de embarcações de apoio marítimo. com embarcações técnica e tecnologicamente adequa-
É certo que a Política de Estado, iniciada através do das, de excelência operacional reconhecida pelos mais
Marco Regulatório setorial (Lei 9.432/1997) e fomentada elevados padrões internacionais. Parcela igual a 13% do
por meio da Lei 10.893/2004 (Lei do Fundo da Marinha nosso PIB pertence ao setor de O&G, 96% da explora-
Mercante), foi há muito consolidada para a navegação ção e produção de O&G brasileira se dá nos campos
de apoio marítimo brasileira. marítimos e, dessa forma, sem embarcações de apoio
Os números desse segmento falam por si. A partir de marítimo não se realizam essas atividades no mar.
Oportunidades
Sobena
Descomissionamento e desmantelamento de
plataformas e navios
Emgepron
Introdução
Embora o tema descomissionamento/desmantelamento da Petrobras e o desenvolvimento do mercado offshore
não esteja enquadrado no atual portifólio de negócios fizeram com que o setor avançasse, em média, 19,5% ao
da Emgepron, o seu setor de Inteligência de Negócios ano entre 2000 e 2013, segundo dados do Instituto de
está atento, acompanhando esse segmento, que vem Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea).
ganhando notoriedade nos eventos, notícias e merca- Esse crescimento expressivo resultou na construção de
dos do setor marítimo do país. 605 embarcações desde os primeiros anos 2000 até
24 Para uma melhor compreensão dessa euforia causada 2016, com a criação de mais de 80 mil empregos diretos
pelo assunto, deve-se inicialmente fazer um retrospecto e 400 mil indiretos, além da qualificação da mão de
do passado recente do setor marítimo, no que se refere obra da cadeia produtiva de óleo e gás, bem como do
ao descomissionamento/desmantelamento. desenvolvimento da economia dos municípios onde os
Por ano, em todo o globo, mais de 800 embarcações estaleiros estão localizados.
são descomissionadas/desmanteladas, a maioria no Nos últimos anos, como consequência da crise econô-
sul da Ásia e na Turquia. Assim, espera-se que mais de mica no país desde 2015, que causou uma forte retra-
500.000 toneladas de sucata sejam descomissionadas/ ção no setor de serviços e investimentos10, associada à
desmanteladas nos próximos 10 anos em todo o mundo. contínua queda do preço do barril de óleo11 e agravada
No Brasil, a descoberta de petróleo na camada de com a pandemia do Covid-19, a qual gerou uma grande
pré-sal em 2006, mais especificamente nas Bacias de recessão global, o mercado offshore acabou sendo forte-
Campos e Santos, resultou em significativo aumento de mente impactado.
investimentos no setor offshore. Esse evento desdobrou- Consequentemente, a Petrobras, principal demandante
-se em uma alavancagem da indústria naval, que viveu de navios e plataformas offshore no país, foi afeta-
um grande momento até 2014, após décadas de aban- da pela crise, interrompeu projetos, suspendeu novas
dono. Os altos preços do barril no mercado internacio- iniciativas e tem sido fortemente pressionada por uma
nal, a política de conteúdo local, as novas encomendas política de baixo conteúdo local.
vicos www.ibp.org.br/personalizado/uploads/2017/10/TD-Regula%C3%A7%-
C3%A3o-do-Descomissionamento-site2.pdf> p. 10
Dessa forma, a pujança do setor marítimo brasileiro, e neste último a exploração ocorre predominantemente
eminentemente do mercado offshore, coloca o Brasil em águas rasas13.
como terceiro maior polo de descomissionamento do Nesse contexto, estima-se que nos próximos 10 anos,
mundo, somente atrás dos Estados Unidos da América o Brasil possa ter mais de 100 plataformas petrolífe-
(EUA) e Mar do Norte, que visa o mercado europeu12. ras (30% flutuantes e 70% fixas) para serem des-
Esse posicionamento estratégico do país fica eviden- comissionadas. Daí o motivo do destaque que essa
ciado pela produção de petróleo, que chegou a 500 mil atividade vem ganhando na indústria naval, que
barris diários em apenas 8 anos, enquanto no Mar do pode chegar a um mercado que gira em torno de 90
Norte demorou 10 anos e no Golfo do México 20 anos, bilhões de reais.
13 https://petrobras.com.br/pt/nossas-atividades/areas-de-atuacao/ex- go-sobre-oportunidades-de-descomissionamento-no-rj/
-plataformas/ Materia?p_materia=982865
30 1,2 4 4,8
1 1,12 6 6,7
Fonte: IBP19.
19 ibid. p. 11.
Dessa forma, o conceito de GCV deve estar incorpo- de poços, remoção ou desativação de instalações de
rado ao Plano de Desenvolvimento dos Campos de produção e reabilitação de áreas terrestres. Assim, cla-
Petróleo e Gás Natural (PD) previsto na Resolução ramente, a referida resolução ressalta a relevância, não
da ANP nº 17/2015, a qual, em seu item 19, descreve o apenas do Custo de Obtenção (construção) e de Posse
processo de desativação de instalações do Campo, (manutenção e operação), mas também do Descomis-
focando o planejamento das operações de abandono sionamento.
Descomissionamento
O descomissionamento está relacionado ao ponto de ções e documentos”.
decisão em que a atividade desenvolvida por uma pla- Assim, conforme menciona a referida resolução, visan-
taforma ou navio é encerrada e o seu destino seguinte do a sua desativação ou a cessação da sua produção, o
é decidido, podendo ser a reutilização ou desativação descomissionamento de plataformas pode ser realizado
definitiva, com os respectivos desdobramentos, que das seguintes formas, conforme o resultado das respec-
serão abordados a seguir. tivas análises de risco:
De acordo com a Resolução ANP nº 17/2015, “Desco- • Remoção completa20 (fracionada em partes);
missionamento” pode ser definido como “o conjunto de
• Remoção parcial21 (somente a parte superior é des-
ações legais, procedimentos técnicos e de engenharia
montada);
aplicados de forma integrada a um sistema offshore que
• Tombamento no local22;
visam assegurar sua desativação ou cessação de produ-
ção, atingindo as condições de segurança, preservação • Reutilização; e
27
20 A remoção completa da plataforma é, basicamente, um processo 22 O tombamento da estrutura é bastante similar à remoção parcial.
de instalação reversa. As principais operações na remoção completa Consiste, primeiramente, na remoção dos topsides que podem ser
são o corte, o içamento, o carregamento e a disposição das seções. A reutilizados, refugados, abandonados no fundo do mar ou afundados
instalação pode ser seccionada em uma ou mais partes, dependendo com a subestrutura. Posteriormente, requer o tombamento de toda a
do tamanho e da capacidade da embarcação que fará o reboque. subestrutura no local, observando a existência de uma coluna d’água
21 A remoção parcial é recomendada pelas diretrizes da IMO e pela livre de modo a não interferir negativamente nas atividades de pesca e
poderá ser parcialmente removida desde que possibilite uma coluna 23 Manter a estrutura offshore no local é uma opção aceita somente
d’água desobstruída. A profundidade exata dependerá das exigências em caso de utilização alternativa, como por exemplo, a transformação
legais de cada localidade. As diretrizes da IMO exigem um espaço mí- da plataforma em centros de pesquisa, locais para o ecoturismo, cultivo
nimo entre a superfície de água e a porção remanescente da estrutura: marinho, base para fontes alternativas de energia (eólica), local de
uma coluna d’água livre de 55 metros para instalações localizadas em pesca esportiva etc.
1. DESCOMISSIONAMENTO
Poços de petróleo são fechados e abandonados. As peças são limpas e transferidas para
São retirados todos os equipamentos e estruturas balsas, que as levam para terra tracionadas
do fundo do mar e da superfície da platafiorma. por rebocadores. É feita uma limpeza completa
da base da plataforma para eliminar resíduos
acumulados.
2. REMOÇÃO
Paltaformas fixas têm as estruturas cortadas com Plataformas semissubmersíveis ou do tipo FPSO
maçaricos ou até explosivos. As peças de aço têm o sistema de ancoragem cortado e sua
são içadas por guindastes de alta capacidade e estrutura rebocada até um estaleiro.
levadas para terra por rebocadores.
28
3. DESMANTELAMENTO
O descomissionamento de uma plataforma demanda ou menos complexo, dependendo do seu tipo e o seu
uma série de recursos para a sua execução, que podem objetivo, seja pela desativação, seja pela cessação da
variar conforme a sua característica, que pode ser fixa, sua produção.
semissubmersível ou tipo Floating Production Storage and Ademais, essa complexidade se agrava, uma vez que
Offloading (FPSO), a qual pode tornar o serviço mais todo o serviço deve ser desenvolvido no mar. Cabe
ainda ressaltar que um dos grandes problemas para o acordo com o referido documento, o poço somente po-
descomissionamento é o risco ambiental envolvido no derá ser abandonado após autorização escrita da ANP.
encerramento das operações e abandono efetivo do Pode-se facilmente observar como é distinta a ativi-
campo. Assim, por ocasião do descomissionamento, dade de descomissionamento de navios, seja pelo fim
todos os resíduos a bordo devem ser identificados e do seu ciclo operativo, seja para venda e reutilização,
classificados em resíduos sólidos, líquidos e perigosos. apresentando-se como um serviço de complexidade
Nesse sentido, o abandono de campo consiste na “de- relativamente mais baixa, haja vista que pode ser reali-
sativação das instalações de produção”, que, segundo zado com a embarcação atracada em um cais ou dique
a Resolução da ANP nº 27/200624, “trata-se da retirada e os riscos ambientais envolvidos são bem menores.
definitiva de operação e a remoção de Instalações de Uma vez descomissionado o navio, analogamente à
Produção, dando-lhes destinação final adequada, e a plataforma, ele pode ser destinado à reutilização, afun-
Recuperação Ambiental das áreas em que estas insta- damento ou desmantelamento. O afundamento exige
lações se situam”. A referida resolução ainda faz uma o rígido cumprimento dos regulamentos nacionais e in-
distinção entre “abandono de campo” e “abandono de
25
ternacionais, que, associado às implicações ambientais,
poço” .26
acaba não sendo o mais recomendado, exceto quando
Adicionalmente, no que se refere ao descomissionamen- se tem interesse em estabelecer recifes artificiais, ob-
to, a ANP, no exercício da função de regulação técnica, viamente com a participação de órgão ambientais e da
normatiza o abandono de poços perfurados com vistas autoridade marítima28.
à exploração ou produção de petróleo e/ou gás, por Já o desmantelamento, como no caso das plataformas,
meio da Portaria ANP nº25/2002 . 27
deve ser devidamente preparado para o reboque ao
A mesma Portaria tem por objetivo disciplinar os pro- seu destino final, onde será desmantelado, caso não
cedimentos a serem adotados no abandono de poços seja realizado no mesmo local, base de operações ou
de petróleo e gás. Dessa forma, o abandono do poço se estaleiro de descomissionamento. No caso de navios,
configura numa série de operações destinadas a restau- uma vez descomissionados na sua base de operações 29
rar o perfeito isolamento entre os diferentes intervalos ou estaleiro, estarão prontos para o desmantelamen-
permeáveis para prevenir a migração do fluido entre as to no próprio local de descomissionamento, podendo
formações e o revestimento e até a superfície do terreno também ser rebocados para o local onde será realizado
ou fundo do mar. Assim, esse abandono pode ser per- o referido serviço.
manente, quando não houver mais interesse de retorno Ressalta-se ainda que, apesar das questões ambientais
ao poço, ou temporário, quando ainda houver interesse envolvidas, o processo de descomissionamento também
na exploração. gera uma expressiva quantidade de bens afetos àquela
O isolamento do poço poderá ser feito através de plataforma ou navio que podem ter uma destinação
tampões, de cimento ou mecânicos. Contudo, ainda de para reciclagem, reutilização ou venda.
24 Disponível em: http://legislacao.anp.gov.br/?path=legislacao-anp/ 26 Abandono de Poço - Série de operações destinadas a restaurar o iso-
25 Abandono de Campo - Processo que compreende abandono de nente, quando não houver interesse de retorno ao poço; ou temporário,
poços, desativação e alienação ou reversão de todas as instalações de quando por qualquer razão houver interesse de retorno ao poço.
portarias-anp/tecnicas/2002/marco&item=panp-25--2002.
28 https://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/10555-na-
vios-sao-afundados-para-pesquisa-e-turismo.
Disposições Finais
A oportunidade apresentada pela crescente oferta de No entanto, a demanda pelo domínio do ciclo de vida
unidades, plataformas e navios, para descomissionamen- das plataformas e navios demonstra-se cada vez mais
to deve ser analisada com cautela. Essa oferta, princi- presente. Dessa forma, a Fase de Desfazimento dos
palmente de plataformas, alavancada pelo “boom” do Navios e Plataformas terá uma crescente atenção, prin-
pré-sal, pode ser reduzida após a metade deste século, cipalmente na gestão de resíduos poluentes e danosos
dependendo dos investimentos feitos atualmente para a à vida humana.
exploração daquela região. Ademais, as restrições legais, Uma maior articulação se faz necessária com o envolvi-
no que se refere ao meio ambiente, tendem a ficar cada mento dos agentes públicos do governo, relativa à obten-
vez mais rígidas, o que pode resultar em demandas e ção das plataformas/navios, principalmente no exterior,
agregação de valor na atividade de desmantelamento, onde os investimentos alimentam o emprego e renda
com oportunidades de negócio mais promissoras. fora do país, o mesmo se aplica aos respectivos desco-
Além disso, deve haver uma análise mais aprofundada e missionamentos e desmantelamentos. Nesse sentido,
acompanhamento do preço do aço e outras ligas metá- ficam no país somente os investimentos para a operação
licas de elevado valor no mercado internacional, no que dessas unidades. Com essa condição atualmente instala-
tange à viabilidade econômica dos serviços relaciona- da, perdem-se intermináveis oportunidades de negócio e
dos ao descomissionamento. consequentemente, de emprego, renda e tributos.
pdf?expires=1602792901&id=id&accname=guest&checksum=B9F9FFE-
5DB28BC1AE08BD6973C2B3A42.
30 Ibid.
Considerações Finais
Dado o atual panorama do mercado naval no Brasil, é Mas o naval não se resume a petróleo e gás. A indústria
possível traçar um cenário de muitas oportunidades no marítima de defesa também tem sua cadeia de valor
horizonte de médio/longo prazo. Elos importantes da própria e relação direta com a proteção dos ativos de
cadeia de valor do mar, como a exploração e produção petróleo em alto mar. Toda revitalização dos navios de
de petróleo e gás natural no ambiente offshore, localiza- patrulha da Marinha do Brasil, os projetos de fragatas,
do predominantemente em águas fluminenses, trazem submarinos convencionais e nucleares, além do espera-
a previsibilidade de demandas de serviços por reparo e do projeto do navio de apoio Antártico, são encomen-
manutenção na fase de operação das plataformas. das relevantes e demonstram o retorno da atividade
Mesmo com excelentes oportunidades no olhar da estratégica para o país.
operação, ou seja, em Opex , também cabe viabili-
31
Nesse contexto, é preciso garantir ferramentas que bus-
zar essa mesma perspectiva para os investimentos na cam dar isonomia e competitividade para a totalidade
etapa de implantação dos projetos, ou em Capex . Para 32
dos atores do mercado. Desenvolver curva de aprendi-
fomentar a participação da economia nacional em um zado e garantir evolução regulatória são alguns fatores
mercado globalizado, em bases competitivas e susten- com potencial de contribuir para retomada e aproveita- 31
táveis, diversos setores dispõem de regimes de exceção. mento das oportunidades.
De tal sorte, o denominado Custo Brasil é amenizado e Novos mercados se apresentam, alguns com uma maior
mitigado para viabilizar o desenvolvimento local. previsibilidade, como o segmento de descomissiona-
O segmento de E&P , principal demandante da indús-
33
mento. Outras áreas têm grande potencial, como a
tria de construção naval e offshore no Brasil, tem hoje cabotagem e a produção de energia no offshore, seja
o Repetro-Sped como seu regime especial, dado que
34
eólica, seja solar. Isso evidencia que, ao deter vocação e
sem ele, a produção nacional de petróleo poderia ter riquezas naturais, o Brasil tem uma grande oportunida-
um custo inviável. Além de estar inserido em um contex- de na economia do mar. Em especial, no Rio de Janeiro,
to global de preços e concorrência por investimentos, que já tem grandes projetos anunciados, como parque
tem papel fundamental como indutor de desenvolvi- eólico offshore na região Norte do estado.
mento de todo encadeamento produtivo. Portanto, é Para cultivar as oportunidades e fazer com que os
natural que as mesmas condições se estendam para efeitos da economia reverberem localmente, o posicio-
fornecedores diretos e indiretos, em condições isonô- namento da Firjan sempre foi em prol de uma política
micas, o que foi alcançado somente nos primeiros elos industrial para desenvolvimento de mercados estratégi-
dessa cadeia com o Repetro Industrialização35. cos para o país. Curiosamente, o Brasil tem Conselhos
32