Mito e Verdade Da Revolução Brasileira - Guerreiro Ramos
Mito e Verdade Da Revolução Brasileira - Guerreiro Ramos
Mito e Verdade Da Revolução Brasileira - Guerreiro Ramos
j~~o
MITb·--;í ;ERDADE
DA REVOLUÇÃO
BRASILEIRA
ZAHAR EDITôRES
RIO DE JANEIRO
©
A. GtJEUElllO RAMOS
Capa de
"'""
Exemplar N• 279 2
1963
lmJltt#O no Briull
Ao saudoso Presidente Vargas, mestre do
realismo polilico, fundador do trabalhismo
brasileiro.
O AUTOR
"A história nos diz que fatos de muita ilnpor1tn-
cia que Um mudado a face dos Escados, que lêm
do:idido da vida d05 povos, se tbn operado e con5u-
mado, nlo porque todos quises5Seln, nlo porque a
maioria quiseue, mas por que, servindo-me da frase
de TAci!o, nullo adwnante, por que ninguém 5e op6s".
Pre/dcio
CArlTULO 1
CAPhl'LO Jl
Revolução Direta e Socialismo
CArln•w Ili
Uma Conuptela d• Filoso6a: o Muxismo-Leninismo
CArfroLO V
De(esa do Rerisionismo
C:.o\PITVLO VI
Homem-Organi~ e Homem-Parentético
CA.riror.o vn
Revolução Brasileira ou Jornada de Ol:irios?
J'lõo1as .............................. ········' ................ 175
Ari:NDICE l
A Filoso6a do Guerreiro 1C111 SenlO de HWDOI'
A1•.bm1a; II
Trabalhiqao e Mlll1ilmo-Leninllmo . . .217
Prefácio
"Um fim que necasila de mclOI la)llllta.
nlo •um fim jwco."
"Não existe razão obwlula. Q11en1 tem razio d o mundo ... "
E contemplando os rinocerontes:
"liso i que é gente. Tdm um ar {diz, estão de Gedrdo com
iles mesmos. Níia ti!m aspet:to de loucos, slo oU bem noturail.
Devem ter lido razlíes.''
Sociologia e revolução
O criador do cêrrp_Q__:sp.9-l?!!?g!a", Augusto Com~e, conferiu
ao sistema que, sob aquêle nome, ãpreSêiitõil'CoiliO Cieittlfico,
sentido nitidamente conservador e até contra-revolucionário.
De plano, negou o caráter de necessidade histórica à revolução
e a considerou capítulo de patologia social. Em seu Curso de
Filosofia Positiva afirmou que '.'a influência conservadora do
positivismo ... enobrece a obediência e a autoridade". Refe-
ria-se, com mau humor, ao "espfrito revolucionário" de sua
época, confundia-o com uma espécie de lesão moral e psicoló-
gica cujos efeitos, julgados por êle negativos, poderiam e deve-
riam ser neutralizados pela "reforma da inteligência". Dêle
é a afirmativa de que "a reorganização final deve operar-se pri-
meiro nas idéias, para passar em seguida aos costumes e, em
último têrmo, às instituições". Com o lema Ordem e Progresso,
acreditava na chamada evolução contínua, em que as grandes
transformações reclamadas seriam feitas sem dramatismos e aba-
los, isto é, gradati\'amente, em consonânda com os avanços
PEQVE!liõO TRATADO aRA~ll.l::IRO DA RE\'OLU<.,:Ão 19
 conceJ1fão voluntarista
Na ordem de seqüência cronológica, cabe focalizar inicial-
mente a concepção voluntarista ou iluminista ela revolução,
que a considera criação histórica, imune da inílu!ncia do pas-
sado e mesmo do presente. Um texto de Feuerbach presta-se
às mil maravilhas para caracterizar êsse modo de ver. Reza o
seguinte: (9)
"A humanidade, se quer f1mdar nova era, deve cortar qual·
quer vinculo com o passado: deve estabelecer que tudo o que
houve até agora l nada. Sbmente assim adquiriril. ardor e f6rça
para novas criações; tudo o que tiver relação com as condições
atuais não poderia senão secar o manancial de sua atividade."
A concepção historicista
A concepção sincrética
Definição da revolução
Blanqui, Marx e Lênin não foram mencionados aqui por
acaso. Representam três momentos necessários no eníocamento
da tarefa revolucionária. No primeiro momento (Blanqui),
foi ressaltado o aspecto subjetivo. No segundo (Marx e Engels),
o intento de fazer ela revolução objeto de amtlise ciemífka
induziu os que o assumiram, não própriamente a excluir o
elemento subjetivo, mas a integrá-lo como componente inse-
parável das condições da realidade histôrico-social. No terceiro
momento (Lênin), embora não se tenha recusado a validade
genérica do segundo modo de entender, aprofundou-se o co-
nhecimento de como atua o "fator subjetirn" na din5mica da
revolução.
Estamos agora em condições de formular um conceito de
revolução, que, daqui em diante, norteará o nosso raciocinio.
Tal conceito, em que procuramos integrar os elementos posiLi-
vos contidos nas concepções anteriormente discutidas, pode
ser assim emitido; revolução é o movimento, subjetivo e obje-
tivo, em que uma classe ou coalizão de classes, em nome
dos interésses gerais, segundo as possibilidades concretas de
cada momento, modifica 011 sup1·ime a situação presente, deter·
minando mudança.de atitude no excrclcio do poder pelos ntunis
titulares e/ou impondo o advento de novos mandatários. Con-
tém êste conceito quatro principias que merecem realtc, a
saber: o principio da praxis, o princípio de limites, o princípio
da classe social e o principio de totalidade.
O princí#Jio da "praxii'
A medida em que o elemento subjetivo e o objeth·o par-
ticipam da revolução não é questão abstrata. Sàmente na prá-
tica ela se determina. t, no entanto, inconcebível uma transfor.
mação social, qualquer que seja o seu esporte, sem a participa-
ção do elemento subjetivo. Qualquer transformação social (e
a revolução o é) se efetua necessàriamente mediante a ativi.
dade humana, que supõe relação entre o homem e o mundo
dos objetos, na qual um e outro se influenciam reciprocamente.
A prática é criação simultânea do homem e de seu mundo exte-
rior, O homem se faz a si mesmo na medida e enquanto
PEQUE:"O l'RAl'ADO URASILEIRO DA REVOLUÇÃO 31
O princípio de "limite_s
O desempenho revolucionário tem limites. (1 11 ) A deter-
minação dêsses limites requer apur:ido esfôrço ele análise das
circunstâncias e nunca é obtida de uma vez por tt"xlas. :tsses
limiles variam incessantemente. Uma posição que, em dado
momento da luta de classes, afigura-se viável ou oportuna, em
outro, pode tornar-se o contrário. Não h:í regras lixas, receitas
uniformes nesse domínio. Em tôda situação revolucionária há
um número limitado de possibilidades objetivas. O êxito do
desempenho revolucionário requer a capacidade de tomar de-
cisões que não ultrapassem essas possibilidades. Existe o que
se poderia chamar competência revolucionária da qual é cons-
titutiva a aptidão de discernir, em determinadas circunstâncias,
o que é ou não é uma possibilidade objetiva. A revolução é
uma transformação consciente da sociedade e, portanto, em
certo sentido, uma questão de consciência. Mas de uma cons-
ciência portadora de qualificações específicas que a distinguem
PJ:Ql;l•::\O l'JtATAOO BRASll.F.IRO DA RF.VOl.UÇÃO
O princípio de totalidade
O princípio de totalidade deco1Te necessàriamente do obje-
tivo essencial de tôda revolução: modificai' ou suprimir uma
situação vigente. Lênin considerou o economismo e o sindica-
lismo formas menores ou bastardas de luta de class<:s, exatamente
porque se prendiam aos aspectos tópicos da realidade social,
sem compreendê-la em seu c:ar:iter geral. A luta econômica e
a luta sindical, quando não integradas numa estratégia e Lática
referidas à compreensão global da situação vigente, em última
análise reforça a minoria dominante, ou, quando muitD, pehl
capilaridade social e politic<i, apenas acarreta substituiçõe5 par-
dais dos titulares do poder, sem modificação de seu mntet\do
ideológico. Não subordinad<1 à consciência totalizame da socie-
dade e ao imperativo de substituir sua estrutura ;111;1crbnica
por outra, adequada às novas condições materiais, notad:i-
mente económicas, a luta sindical pode tornar-se sutil instru.
mento da minoria dominante para postergar a sua derrocad:i.
Deve-se levar à conta do que é lícito chamar a astúcia de tal
minoria a concessão de regalias a setores isolados d:i classe
operária, como por exemplo, vantagens salariais, partkipação
em setores da administração pública, acesso à Yida parlamentar.
Os beneficiários de tais vantagens se expõem ao emburguesa-
mento e dificilmente, graças à sua capacidade de agitação e à
eficácia do aparelho sindical de que dispõem ordini1riamcnt.e,
resistem a mistificar as massas, e a engDlhí-las, ao fazerem da
defesa de seus privilégios uma causa geral dos trabalhadores.
Um dos méritos de Lênin foi denunciar essa modalidade de
exploração do operariado pela aristocracia sindical, que fala
e decide em seu nome. Onde se forma tal aristocracia,
desfigura...se o movimento revolucionário, pela atuação de ver.
dadeiras "gangs", sindicais ou partidárias, que, graças aos oon·
trôles que têm nas mãos, exercem o coronelismo disfarçado em
38 MITO F. Vt-:RDADE DA RF.VOLUÇÁO BRASILEIRA
Internacionalismo e revolUfão
A luz dos princípios expostos, induzidos da prôpria pr:i-
tica, impõe-se observar que a revolução é menos um modêlo
do que uma atitude metódica. A Hhtória prova que t! teme-
rário afirmar em tese as condições da revolução, por exemplo,
dizer que onde não surge um operariado urbano não pode
ocorrer uma revolução socialista. A Histúria demonstra que
Marx e Engels fizeram extrapolações indéhitas, ao se deixarem
impressionar pela idéia modelai· de revolução. t.les, alias, o
confessam. Falando por seu nome e no de Marx, Engels de-
clara que suas considerações sôbre a revolução proclamada em
Paris, cm fevereiro de 1848, "estavam fortemente coloridas pela
lembrança dos modelos ele 1789 e 1830".(27 ) No entanto -
escreve Engels, em março de 1895 - "a História nos desmentiu
e a todos os que pensavam de maneira análoga". (28)
Não é dialético pensar em têrmos de modêlo de revolução.
Não é dialético subordinar o trabalho revoluciomírio num pais
a critérios externos, seja livremente adotados, seja muito
40 :\llTO E \'ERDADE DA u:vo1.1•ç.Ão BRASll.F.IRA
A atitude revolucionária
A história decorrida das lutas sociais revela que o elemento
decisivo que assegura o êxito de tôda revolução não é um mo-
dêlo prévio dt5ta, mas a objetividade da atitude revolucioná·
ria dos que a empreendem. t assim impossível uma teoria da
revolução, à maneira de receita a ser seguida em face de deter-
minada situação. Os êxitos de U:nin, de Fidel Castro e seu
grupo se devem menos a uma teoria revolucionária concluída
:\111"0 t: n:RllAl>t'. J>A RF.\'Dl.l:ÇÃO BRASILEIRA
A .situação revolucionária
A atitude revolucionária revela o seu realismo ao tirar
partido das possibilidades que lhe oferece a situação revolucio-
nária. A luz dos informes históricos existentes, é possJvel apon-
tar alguns dos mais constantes sintomas de tal situação. Essa
indagação não é ociosa, antes concsponde a requisito para o
cabal cumprimento da tarefa revolucionária. Queremos dizer:
é preciso conhecer os sintomas daquela situação não para con-
templá-los como quem se satisfaz com o mero prazer intelectual,
mas à guisa de reconhecimento prévio de um terreno que se
sabe vai ser teatro de decisiva ba1alha. Entre tais sintomas os
que, a seguir, serão discriminados, afiguram-se os mais salientes:
Modelos da revolução
A circulafão de elites
A derrocada
A revolução asmmida
NOTAS
(1) S6tne o car.ltcr conser-·ador do pensan1en10 de Comtc, vide Herbert M.ucv1r..
Rr&10n and Rrt10/urion. New York, l!HI. Vide 1ambfm jean LAC110P:,
La Sodolagi11 d'A11gus111 Comlr. Paris, 1956.
(2) 56bre as carac1erl11iC<11 do '"pcnsmncn10 com1erndor'", \·idc Karl l'.ho;N11r.m,
Iiko/ogfa )' Ulopla. Mêlico, 19U.
(3) Vide Alfredo PovrfA, Crmoi dr Sociologla. Córdob;i., 1945.
(-1) Vide Lul1 lleca&e111 SICllll, Tralado Grnrral dr Sotiologia. ~léxico, 1950,
ptg.2!8.
(5) Crane DtlNTOo;, Anolomio das Rrwluçãe1, Rio, 1958, p~g. '9.
(6) Vide Rodolfo MONDOLFO, E1pirilu Rniolutionorio '1 Con1rlt>11rio Hii/driril.
811enos AiRs, 1955, pjg. 15.
(7) IDIM, ~g. 18.
(8) IDEM, ~I· 1-1.
(9) Esi:a ~ a tcn;<!in du Tr#s l()b" Fcurrblll"h. Consulte o ter.to co1npctcntc·
mente tnduzldo e com ano1açües. por Maximilicn Ruu.1., cm seu llHo
K11rl AlorJC, Pog11 Choi1irs Pour pnc t/11i911c Sori11fült. Pari~. 19-111.
( 10) Vide R. Moo;DOLPO, op. til., ,~,. 24.
(ll)lnM,N.53.
(li) Daniel GulllN, Jr1<ncsw d11 Sorialismc I.ilu•l~irt'. Paris, 19rt!I.
(15) IW.M, ~g. 97.
(14) IDZM, ~I· 97.
(15)1nM,N.92.
(16) IDIM,~g.9,.
(17) Vldit Lhu.:, Obras E1ta/hid.u, Vul. 2, Q11c /o'aiaf Rio, 19.;i!>, P'I· 49.
(18) IDEM, p~g. '9.
62 '-llTO F. VF.RDADE DA REVOLUÇÃO BRASILEIRA
Presságio de Llnin:
socialismo pela barbárie
A referência mais satisfatória para responder à pergunta
se encontra em considerações que Engels escreveu em A Guerra
dos Camponeses. "O pior que pode acontecer - diz Engels -
ao chefe de um partido avançado é ser obrigado a tomar o
poder numa época em que o movimento não está maduro para
o domfnio da classe que êle representa e para a aplicação das
Socialinno e espontaneidade
Para os que estão vivendo a exigência cultural de nossa
época, não só no sentido de compreendê-la como de participar
das lutas sociais por imperatim humanlstico, cada \'ez mais o
socialismo assume o caráter de concepção-limite, tarefa sem fim,
que nunca se realiza definitivamente, nem tampouco se encerra
em regras e modelos rígidos. O socialismo não se realizará
nunca. É limice, para o qual se encaminha a história, sem
nunca atingi-lo. Transcende a tôda contingência. Eis que o
socialismo concepção-limite abre nova pauta de deveres para
a consciência humanística. Na medida em que o socialismo
se desconfina de países isolados, de campos estanques, e se torna
processo mundial, por isso mesmo passa a ser tarefa livre, que
não pode ser burocràticamente unificada e comandada, por
nenhuma agência exclusiva, seja ela potência ou partido.
O socialismo é tarefa !ivre em cada país. Em função dela,
é Ucito julgar o mundo não só capitalista como também "socia-
lista", lutar contra tôda sorte de mistificações, as capitalistas
como também as "socialistas".
E neste ponto voltamos ao tema que iniciou o presente
<:apitulo: o da revolução direta e sua relação com o socialismo.
Adquire, cm nossos dias, interêsse primordial certa nuan-
ça do pensamento de Marx, a respeito do que entendia como
revolução socialista. No Manifesto Co1nunisla, Marx disse que
o "movimento proletário é o movimento espontAneo de imensa
maioria em proveito da imensa maioria". Em primeiro lugar,
note-se o adjetivo espontâneo. Qual a inteligência da expressão
"movimento espont;"meo"? Cremos interpretar o pensamento
de Marx se observarmos que espontâneo, no caso em pauta, não
equivale a instinth•o, irracional, intempestivo, explosivo ou
RF.VOl.l'ÇÂO DIRFrA F. SOCIAi.iSMO 75
NOTAS
(1) Vide !.l11u-El<GJ1u, Obl'llJI E.rcolhi~. Vol. 1, Jllo, 1956, pJg. '5.
(1) Vide, obro ,;111dll an1erio:rmm1e, plg. 22.
(9) Vide Maxlmlllen R.uan., "De Man: au BolchCYisme: Partis ct Conscils, in
Argumirnll, n.o11 15-26, 1962. pq. 51. Marx, auinala 11.ubel, cinha em
alta conta "o dinamismo inven1i110 do prole11riido, sua capacidade de
ln1enrlr e1pon1ineamea1e no1 aoon1«imentos da história, sua von1ade revo-
lucionaria. O levante dos 1ccelGes 1ilcsianos em 18H, mais 1arde a Comuna
de Paris, lhe fornecen.m oca•iGes para magnificar esta S.lbsllWiglr.ell. Es1endc
sua confiança aos camp6nios dlS comunidada russu (mnlrapanlda, sem
dúvida, de sua ruuofobia, de sua crença num de11ino ''mongol" da Jlliuia).
Quan10 ao 1eórim do prolc1arlado, nlo tem uma amaciênda à parte. Aos
operários rcvo.luclcm:lrlm, defe nazer, o!le, ln1clectual burguH, uma "cons·
ciência soc:iali11a" l (Kauuky e seu diadpulo Lênln o admitem.) Nllo.
Sbmen1e pode comunica:r·lhes ..eleme111os de cul!ura•• (p;lg. '3).
(4) Vide Yvon llouaor.T, "Di!nmcn.1le, classe et panl d'apm Max Adln .., ln
Argununu, n.os 25·20, 19(12. Diz Max Abl.n: .. No 1cnorisino. é a mnioria
que é vlolenlada; na diladura, é a mil•oria ... O lcl'TGl'ismo é uma violência
"arlHornl.lka..: a di1adura, uma violência dcmuml.tica.. (pig. 4.1). Max:
Adler comJdera a den1ocracia, informa Bo1mle1, como "saci.Wacle solidária,
umfNl.rlido"(p;lg.4.2).
(5) Vide Karl K.\unn, TerTori,mo y Conumismo. Madri. Sem dala.
(6) "O de que se 1ra1a hoje - diz El«ll:u - nllo é um programa, ma1 a
rcvolu~. Quando cs1a se puser em maKl1a nllo serllo oa $Oda\istas, mH
os liberais que tomarllo o poder na Rllssla. O que é ncccsSõlrio hoje na
Rdula li reunir lodos os elementos din.1mlcos sem distiH(llO de )>T08Tllma,
em vista da açto. Plckhanov erra atacando os 1111rado110llJ)', que 1llo os
ónicos que fazem alguma coisa na RIUsia." (Vide Ru11., anigo ci1ado,
p;lg.!!.)
(7) S6bre a natureza do socialismo na Uni.lo SovWtic:a., \·ide o e1timulan1e
estudo de M. RUBIL, "La Croissance du Capital en U. R. s. $.", in &ono·
mie Appliq11t, n ... 2·S, tomo X, 1957.
(8) Vide ENCELI, La Rniolulion Demom11iqu1 Bourgeoi2 .-n Allem11g1111. Edi1ion1
Socialc1. Paris, 1951, p;lp. ~-97.
(9) Vide Hidoinr de la nholNlio11 RIWt'. Paris, 1950, tomo J, p:lg. 1!8 (AJmd
Yvon Bouuzr, 11rligo cilado.)
(10) Citado por KAUTSH, em Terrari1mo etc., p;lg. 217.
(li) Vide Isaac: D111une11n, A Ri!.uio Depoi~ de S111lin. Agir, Rio, 1956, p;\gs.
31·!2·!3.
(12) a o que afirma o oompeicnte marxólogo, r.f. llu•EL, no artigo citado acima
"De Marx au Dolchevi•mc ... ".
(IS) .. En un 11ena, Lenine fui le "marxiste" parfait: il a joué sem r6le hisiorique
oonfonnl!mcn1 à la "loi du monvcmen1 «onomique de la satiét~ buurgcoisc"
qui Marx disait avoir d~ilK ... Lninc el san panl l'ont joué en Rus&le
cl 1rts bico joull. Unine icail donc man:isie c:ommc nou1 10mme1 nrwto·
nistcs, nuus tous qul HOUI mouvom ct chutons cm gravl1ant .. (Ruur., idem,
p;lp. 57-38).
(14.) INM, p;lg. 57.
(15) K.l.ur1n, op. cil., pig. 265.
REVOLUÇÃO DIRJ::lºA •: sot:IAl.ISMU 83
(16) Declara(lo feita a sindicali11u aleinla, publlaida cm Vol.lsrl11<11dl, 27 de
novembro de 1869 (vide Ru11u, 'ºRema"lues 1us lt! Concept de P1ni Prolii-
1ariim chn Marx", ln R-• Franp1i~ de S«iolo&le, n.• S, 1961, p:lg. 168).
(J?) KAUTlllY, op. ril., pAgs. 231-2'2.
(18) IMM, pi(. 229.
(19)1DF.M,p:lg.266.
(20) IDF.M, p;l.g. 286.
(21) IDEM, pip. 247-248.
(22:) IDEM, p:lp. 2!i7·258.
(25) IDIM, p:lg. 200.
(lM)Im:1i1,p:lg.200.
(25) Ruau, "RCll11"1.UC!" CIC.
(26) EICfeve R.uBl!L no d1ado 111mdo: " •.• Marx el Engcll n'ont pas lavoriR la
naissance de parlis."marxli1111". lls 11e IOnl opposb: t. rmdoclrit1cme"nl au
nom de rcxplrknttt ouvrlf:re... Du vlvanl de Marx ct aprã sa mon,
Engels •vait llOU~imt b:ril aux premlen dlsclplrs françals, l1ali1m1, a~ri
aiin1, po11r ICl dinuader d'oricn1er t. leur 111ode la clauc uavailleuse: "Qu'clla
aicnt un mouYCnient 1 elles, quelle qu'en 110it la forinc, paurvu que ce
soit leur mcn11111m11N1" (A Snrge, 20 de novembre de 1886). "De Mant au
Bolchc:visllle:", p:lgs. "·34).
(27) Vide Daniel Gub.IN, ]H'lfflssr dn SOciofilmc Libttlllin. Paris, 1959, pág. 109.
(28) JnM, p:lg. 109.
(29) VidcGub1N, op. cil., p<lgs. 105-IOG.
(SO) Vide Wright MILLI, Th• M11ni1l1. Ncw York, 1962, p;tg. ,06.
(31) Vide Sidney Hoo11, Af(lrx anel lh• Marxlsu. Ncw York, 1955, p4r. 211.
CAPÍTULO III
::~uf,e;~;:in~;~:'gei:~t ~~~i:l~~~·~>;~~r:~~~~~~~~a~:~~a~~~
se sabe, a um Kozlov qualquer. Mas Kant remonta a Leibniz,
que remonta a Descartes, para dêlc separar-se, e por falla de
discernir soluções de continuidade nesta filiação mais ou me-
nos legítima arrisca-se a confundir tudo e a não rnmprccnder
nada_ Para quem é capaz dêste discernimento, o marxismo é uma
coisa, complexo e variável, o leninismo é outra, mais simples,
e o "marxismo-leninismo'', uma tcrc-eira que con1rasta ('Otn as
precedentes por diferenças profundas, malgradn as similitucles
verbais," (8 ) Lênin propôs em seu "te~Lamemo" a destituição
de Stalin do cargo de secretário-geral do Partido. Acusava-o
de brutalidade, falta de lealdade e arbitrário, atributos que o
contra-indicavam para o pôsto e com êlc rompeu relações, for-
m~lmente, antes de morrer, chocado com a insolênda com <1ue
tratou sua companheira Krupskaya. Os lideres bolchevistas
associados a Stalin ocultaram ao públko o "testamento" de
Lênin. Nunca foi publicado na URSS, senão quando Kruschev
julgou oportuno, por ocasião de seu discurso contra o c:ulto
da personalidade em 1956. t. tal conduta capciosa que se encon-
tra na raiz do mito do leninismo e no contrabando chamado
"marxismo-leninismo", Justo é, pois, o comentário de Souva-
rine: "A quinta-essência do stalinismo é a mentira. E o "mar-
xismo-leninismo" que reivindicam em nossos dias os herdeiros
de Stalin, seus cúmplices, não é outra coisa senão o stalinismo
<[UC não quer dizer seu verdadeiro nome. Um stalinismo
expurgado do "culto da personalidade" paranóica de Stalin
ao qual Kruschev e consertes substituem o culto abjeto de
Lênin, mas sempre um stalinismo em que .rnbsislc a mentira
fundamental." (9) Lástima é que essa memira .:.eja a verdade,
o alimento espiritual de muita gente de boa-fé.
O :\IARXl~'.\IO-U:Xli\bMO 89
O Caso Luluu:s
Lukacs é um dos maiores conhecedores de Marx e da filoso-
fia em geral, além de ser, também, filósofo a quem se devem
contribuições marcantes em nossa época. Desrendente da nobrc-
7.a judia-lul.ngara (seu pai era banqueiro). nasceu em Budapeste
em 1885. Freqüentando a Universidade de Herlim e outras fa.
mosas da Alemanha, teve formação intelectual privilegiada. En-
tre seus prolessôres e companheiros se incluem figuras como
Windelband, Rickert, Dilthey, Husserl, .Jaspers, Heidegger,
Korsch, Bloch, Max Weber, Simmel, l\lannheim, Gundolf,
Thomas Mann, nomes c.iue representam correllles dominantes
do nosso tempo: o hegelianismo, o marxismo, o neokantismo, a
D2 ~llTO f. n:RDAlll-'. llA Rr:nn 1;çÃo RRASll.F.IRA
O "Outubro" polonês
lntenneuo "lacerdista"
NOTAS
(1) Cana a Fteilign11h de 29 de fllvereiro de 11160, reprod11ilda cm MHx-Ermns,
Sur Ili Lllll!ra!ure Ili tA.r1. Edi1ions SOcialH, Pari•. l!l!it, pi113. 377-380. Neste
documenlo di~ Marx: "Sublinho prinieiramen1e que. a panir do monien10
em que a ""Liga"", a meu pedido. foi di'501vida cm non!lnbro de 1852,
nunm mais penencl a uma orpnizaçlo itcreta ou pública. nlo pertenço
hoje a nenhuma; assim o partido, comprMndido ne'1e sentido esscncialmen1e
efémero, deade oilO ann<, cessou de e~isiir para mim"". (Os grifOll do ~le
Marx). I!. ac:resc:erua " ... desde 1852 nlo me e11conuava em ri=li\r;lo com
nl'nhulJIG (o grifo i! de Manr.) organlaçlo e linha a firme convicr;lo de
que meus 1rabalho:11 1eóricos eram mais úiels à claMe opcnlria que uma
colaboraçto com orp.ni..,çõC!I que nlo linham mai• rullo de ..:r no conli·
nen1e". Con1inua ainda: "A '"Liga"" como a "soc:icdade das Esiaçlles" de
Pari1 e como cem outl'll• sociedades nllo lem sido oen~o epi..-..lio na lli11ória
do panido, o qual nasce c•pom:lneamentc do wlo da sociedade moc\C!rna."
(2) Cana de Engel1 a Marx de 13 de fevereiro de 1851. Vide Mux·ENcr.u,
Corresl>tmdtnu. Tomo li, Alfred Custe<, F.dlrcur, l'ari•, 19111.
(3) Carta de Engels a Paul l.a.brguc de 27 de outubro do: 11100. Vide M ... n.·
E:<c:mu, Sur Ili Lill~ralure ele., págs. 258.
(4) Carla de Engels a Bebei de 22 de junho de 1885. \'ide .'111r /11 l.illlra/Hrr ..
pig.257.
(5) Vide Max M. LAfilllll1', "l.a Sociologie lluue"", in G. (;u"·i1ch (editor),
l.G Soclologit au XXt. Siklt. Vol. li, Paris, 1947, p;tg. 697.
(6) Vide Boris SoUYAIUSI, ""La Qulnll.'5SCllCC du M'an:isme-U11ini•me", in IA
C1»1trat1 S«i11l. lofaio, 1960, \'ol. IV, n. 0 3... li n•est for1uit - db Souvarlne
- que l'i!pi11u!1e de .. bolduMk!"' oe soil \·i1c im~ po111 dilférencier Le·
nine e1 1e11 disc:iples des auue:s man:istcs qui, à lcur 1our, ont forg4! le
ierme de "b!-ninisme"" caracthi<anl lei opinions e! lc rompor1n1en1 ele le11n
frtmcnnemis"' (pilg. 130).
(7) IDIM.
(8) ID•M.
(9) IDEM.
(10) CJ. A.lberl CAuus, lil Milo dt Sl&i/o. E.I Homllrl!' Rt:llt:ldt. Losada, s. A.,
Buenos A.ires, 1957. p~g. 249. Xn e~ludo O llomtm Rell1Mt:, C:amus n:cons·
1i1ui e analisa o compor11mcn10 da in1.,l/ip111%ia, na qual •i1ua LOnin e
os bolchevi11a1. Rcssal1a C".amus a innuOncia do penumento alem!n na
lltbsia dur.1n1c o século XIX. "A primeira universidade ru1Ma, a de Mo.cn11,
fundada em 1750, i! alemll. A. lenta coloniz.1çJ.o da Rússia pelos educadora,
os buroc:nnas e os milltan:s alemães, iniciada sob Pedrn, o Grande, se
1ranlfonaa, graç:is à sollci1wle de Nicolau 1. cm gennani1aç(lo $\•tcmá1iar..
A in1dligm11i11 se apaixona por Sdielling ao mesmo tempo qm= pelo1 rr.m·
cme1 na d~ de 50; por Hegel na de 40; e, na segunda mc1adc do sfc:ulo,
pelo socialismo ale1nlo nascido de Hegel. A. ju•-.:ntudc ru55a verte enilo
DCSICll pensamentos abslr.1101 a fc)rça paaional desmedida que a carac1crlra
e \'j\•e alllfnlicamcmc csla• if\éias morr~s"" (p.1p. 2'14·245).
IOR :\llTO .- \'l'.RDAt'W !).\ R~:\·m.n;J.o llR,\Sll.F.IRA
(li) Vide Bu.DIAl!FF, Lt1 Sau~J C'I /e "'"' du C:ommunisme Ruue, Gallimanl,
Paris, 1938. Para Bcm:\iaeff, ""o ln1elUFDlli11a 1'\l!ISO aplica à clf,ncla os
métodOI idólatras" (p;\g. 29) e nlo d ponlvd co1npmmder o cumunisn10
russt> sem rcbcioná-lo com a inld/ig<!nlii11. Considera Unin herdeiro de
dua• lr~di\'ÕC': ··a lr.idiçlo da inlelligen1do revolucionhia, em suas lell·
<Wnci~• mai• c:i.;trcmas, e a nadiçllo russa do poder, cm suas mais despóllcas
1nani(C'lta~llc!'' (p,ãg. 164). S6brc o in1ernao:ionalismo nisso, emite as ill'-
gul111c; ob11el"l'açôcs: ··na reYolução comunl•a nwa o lnternacion1Jismo 1c111
uni cunho autóctone e nacional" (pjg. 156); "a Terceira ln1crnacioual 11lo
é11malll:ernacional,masldi!ian~11alrussa" (p:lg.195).
(12) "Marx •.• rcjected Slavophiliam; and 1'101hing made hlm ll'IO<e (urious than
lhe 1alt aboul Russia's socialiH mission." SJlo palavra1 de lsaae DF.unc:11u.,
numC!ltudodnati1udcsde f.fa(llem relação à R.Liula, "f.brx and R.ussiaº',
capbulo de /iussi11 i11 Transition (Ncw York, 1960). Ainda para um con·
~~'~º a..i: :!~:.Cl\:'::e:ro:a~~!11:: ::':.:!i1s~º~:ll~·~,,:::s7i~~,: :S~:~· 1~2~
(IS) Boa n111lcia biogrí(ica sôbre Lukacs slo os anl(os de J. Muszr.a e J. G.nK1.
~111 ..trgumeq/s (N. 0 3 - 195i) n:1pcaivamm1e lntllulados "'A Propus de
l.i1k.1e1"" e ··A Propo1 de l"articlc ele Munzer". Con111l1e também o pre·
(:ic:lo de Kos1as AxELOS à tradu~o (r.mccsa do lino de LUKAC:S, llisloire ri
Coqscienre dr C/11.sse, Paris. 1960.
(li) Vide Mnrri1 W,.r,.w.K, ""R.elativism. and Class Consciousnlllll: Gcotg Lulr.acs",
in l.eoj>old Labcd! (cdimr). Rn1iJioni1111, Essays on //u: liis/ory of Mtmcisl
/delU. l.ondrcw.1961.
(IS)IDEi\f.
{Ili) Vide François Fl:JTO," ··Gcorgca L11k.aes'", ln Espril. N.0 2. 1001.
(17)JDEM.
(Ili) Antigo clisclpulo (iel de J.ukaes, Bl:la Fog:irasi, hoje enquadrado na orto·
doxia. am ..1 o (ilúso(o de ambiglllcb.de. Em 5Cldo da AcadL'mia lhlngar.a
de Ciências ( 19511) dl1ia: '"Perguntam-nos por qm: espcram05 1an10 1empo
para criticar as ld~ias de Lukae1. Mlnlm resposta l: a 111ç11inte: sempre
1·i111os a ambigüldade 1111e ac manlre11a a1ravés de !&la sua obra. Mas
L.,,per.ivam1111 que i:le :u;ab.iria por se colocar ao lado do man.iamo-lcnlnl1mo.
F.nquanm t!lc pertencia ao campo marxista, nlo atribulamos multa Impor·
1;1.ncia aos st:111 dnvios u:óricos e polftico-litcri.rins. Mas depois de 1956,
aguardhamos.. esperando c:m vllo que t!!Sl;l veterano do panido e: do movi·
mento mar11.is1a acab.1...:: por compreender que esia~a 110 caminho errado.
DC"graçadam.cme, nói; nos enganamos." Lukaes decidiu nmo acompanhar Janos
Kadar. Enquamo hte c:s1;l. redimida, Lukaes !IC !ornou al1'0 de censuras.
Em l!lli8, u órglo lilosó!ico olicial do PCUS, l'ofJrossi l'i/<nafii, n.~ 100
acusa Lukaa de se ic:r "reunido em 1956, t!poca de sua participação, ao
Circulo Pelli[i e, mais tarde, durante 1 conlra 0 revol11çlo na Hungria, ao
nacionalismo ma;iar, bt~ nacio11a\ilmo dirigido contra a U11ila Sovléllca,
que tlnba, 110 emamu, libcnido a Hungria du jugo l.isci1ca". (Vide FBJTO,
op. ril.J A tllp11la SO\"i<'lica 111o es11u«e seus alas de çcnelOlildacle.
(19) Vide Martin F~us. nrtthl, lhr Mau tmd his ll'nrl!. Ncw York, 1961.
{20) lbEM.
(21) Vide M.ir1in E1oSl.IN, ··Artl1ur Adamov: the Cur1ble and lhe lneurablc",
capifulo de The TheslTe o/ Absurd. Xew York, 1961.
(22) Vide L LABJ:bZ, ""Spotlig11t oo Pol:u1d'". capllulo de Laqucor e Lichtheim,
Tlu: Souit:I Cnlmral .fteqe 19'6·1'1'7. ~ew York, 1!158.
(23) Vide o tHto do ar1igo de Ko1.AKOwsK1, sob o 1111110 "Lc r.ran.isnit: C".omme
lnHilullon et lc Manismc O>lnme Mt!lhodc:'", na n::vis1a La Nouwlle 11.i·
forme, 195i, n.0 1, Paris.
(2-1) Vide Palmiro TOGLIATII, ··os Proble1na1 da Democracia !nci1li11a" e ""A
Lu1a pelo Caminho ltalia110 ]>ata " Sncialismo", cm Que 1. o S/1lini1mo
(Edirnrial \'itória. Rio, !õenl damo.
CAPÍTULO IV
O Morto e o Vivo
no Internacionalismo Prolet;írio
A Internacional Bolchevista
e a consciência .socialista
2stes os fatos a respeito ela Internacional Hokhevist:i. Não
cabe examiná-los e julg;\.Jos de maneira rnmân1fr;1, isto é, romo
se houvesse um princípio ético eterno, extrínscrn i1os arontcci·
mentas. As originalidades da Internacional Bolchevista não são
fortuitas, nem resultam dos atributos individuais singul:lrissimos
dos líderes sovié;icos. São aspectos de uma totalidade histcírirn-
social, e sómente reíeridas a totalidade, potlcm ser rnmprcen-
didas. É óbvio <1ue o ad\·emo da União Sodétirn em 1917 1·omo
república oper:iria não poderia, por si sô, deixar de acarret:1r
para o movimento socialista c;u·acteristirns radirnlmente dis·
tintas daquelas prevalecentes nos períodos anteriores. O adven·
to, pela primeira vez no mundo, de um pais sorialista, quaisquer
que sejam as argüiçõe.~ <1ue susdtc no terreno tebrirn quanto
ao seu caráter sodalista, teria que mudar o sentido do inter-
nacionalismo. Agora não se tratava mais de disrntir, em tese,
i<léias, programas, doutrinas. Vinha de ser ,·itoriosa uma revo-
118 MITO E VERDADE DA REVOLUÇÃO BRASILEIRA
Lênin e o Comintem
NOTAS
(1) 56bte os pm:unores do iniemacionali•mo prolcldrio. \·ide "l.es Pn!cumun
Inu:mulonalisu:s de Manio" i11 Michel COL.UN&T, La Tmgftlie d• Mor:Kirme.
Parla,19t8.
(2) Pan uma misto do conttilo manioi•ta de "partido", vide Maximilien
Rt"UL, "Remarques sur lc concept de pani prolet:i.rien che:r. Max". i11
Rni1111 F,.nfGise de Sociologifl. Vol. li, n.• !I, 1961 .
(2a) Vide Carta de Mana Freiligraih de 29 de re1-erelro de 1860, reproduzida cm
hlAD·ENcF.1.s, $11r /., /.iufralurfl ri /.'Arl. F.clitions Socialcs, Paris, 19.;4,
J>'ga. 877·!80. AI dii )ofani;: ""Temei assim di..ipar o mal-cn1cnclitlo s6hre
o assunto do "'partido": como se, por CSS."1 palan·a, cu entcndl-S..C uma "Liga."
desapan:cida há oito anos ou uma rc.'C\a~3o de jornal dissolvida h:I itmc anos.
Por partido, eu cnicndia o t><inidn nn 5emido eminc111cmen1c hi•tóricn 1\a
p11lavra."
(2b) Vide M""ifeslo do ""•lido Com1111is10. ;,, )ol.\11.11-F.scl'a.5, Obt"lls E1<0//lid1u.
Rio, 1956, voL 1, ptg. !6.
(8) ln lgnazio Su.or.:11, "LI:• .<1.11;1rcils ct la D~mocralic", iN La Nom~llr ll~ft>rmr.
N.• 1, 1957, p;lg. 14.
(4) Consulte-se o Moni/11110 1/11 La11c1>mrnlo "" A.uot"iaçlo /nlerr111,ion11f dos
Trab11/h11dous e 01 F.Slo/UIOJ d" Arsoti.,(iio 1"lemui01111/ dar Tr.,ballu1dott1,
incluldo:s em Karl MARK e F. Er.:c;i;i.s, Obms /l.m>ll1idu, Vol. 1, Jlio, 1956.
(5) Confira Lb1s, Que 1-·.,:er t cm Obr"s .Esrolhidos. Vol. li, Rio, 1955, p:ls,'11.
U7·U8.
(G) Vide Lbm~. A Doc11r" lnfoutil 1/11 "faq11rrdisrno"" "" Com11ni11110. Ed. \'i·
uma. Rio. 1960, p:lg. 9 ..
(7) IDl.M, pág. li.
(8) lui.t,pq. 121.
(9) Vide o muito informa1ivo llcpoimclllo de anligo funcionário do CGmlntcm,
que se man1éttl an6ni1110, '"Comin1crn Re1ninisa:11ccs"', in Sm•irl S11rvry,
A Quar1ely Re~icw of Cul1u111.l Trcnds, n. 0 82, 1960.
( 10) Vide Alfred G11.ossn. '"Lcs 1n1enia1ionalcs de Par1i1 Poliliques" i11 Enrydo-
'JRdie F,.nraise. Tome XJ. La J'ie lnlem.,lionnkl.
(li) Vide JaaJ.UU AIUIAUD, Cuba ri lt M ..rx.iime. La Nou\Cllc C:ri1ique. N. 0 189,
1962.P'g.88.
(12) IDllN.
CAPÍTULO V
Defesa do Revisionismo
Aparecimento do 1'evisionismo
Revisão do revisionismo
Dois Catos, porém, marcam o surgimenlo de nova fase na
evolução do marxismo: o relatório secreto de Kruschev sôbre
os erros de Stalin, divulgado por ocasião do XX C.Ongresso do
Partido Comunista Russo, reunido de 14 a 25 de fevereiro de
1956, e a Revolução Húngara de outubro de 1956.
A luta contra o dogmalismo stalinista, no âmbito do pró-
prio comunismo internacional, já se processava muito antes
de 1956. Para ser fiel à história, desde 1918, logo após a Revo-
lução Comunista de 1917, ela surgira. Com efeito, um romu-
nista asiático, o mulçumano Mir Sayid Sultan Alioghly (em
russo, Sultan Galiev) previra nnquele ano os perigos da hege-
monia soviética para o socialismo em outras partes do mundo.
Por isso advogara a formação tle uma Internacional Colonial,
entidade destinada a impedir que se viesse a constituir na
Rússia um monopólio da interpretação do materialismo dialé-
tico e que garantisse condições para o ajustamento do marxismo
militante às necessidades dos povos mulçumanos. A tentativa
de Sultan Galiev (li) fracassou e êle mesmo Coi condenado em
1928 e executado em 1937.
Sultan Galiev é precursor de posições como Tito, Mao
Tse-Tung, Gomulka e Nagy. Hoje se conhece o alcance das
tensões que de há muito existiram entre êsses homens e o co-
mando stalinista, no setor político e ideológico do comunismo
mundial. Tito encaminhou a lugosl:ívia para um regime inde-
pendenlc tlo morlêlo so\'iélico. Mao Tse-Tung, conservando-se
135
eia social; sem a obra de Marx e outros marxistas, ela não seria
o que é hoje: apenas mm a contribuição dêlc.s não seria apro-
ximadamenLe ião satisfatória quanto ela é. Ninguém que não
tenha assimilado idéias do marxismo pode ser adequado den-
tista soda!: ninguém que arredi1c que o marxismo contém a
última palavra não o é por sua vez." (1:!) Superar o marxismo
obedece a um imperali\'O de desmis1ifüação. Significa siluar-sc,
do ponto de vista geral do sahrr, romo produto contínuo de
labor coletivo. Não é <·omlenar o marxismo, mas incorpor;ir,
confundir no pau·imônio geral da dênria sua contribuição po·
sitiva, do mesmo modo que ai se incluíram as contribuições <le
outros pensadores como Saint-Simon, Comte, Max \Vcbcr.
Na história da cultura, todos os grandes pensadores têm
sido objeto ele renovados revisionismos. Até hoje, Sócrates é
revisto. Como Platão, Aristóteles e outros, Marx não foge it
regra. O revisionismo, com respeito a Marx, é hoje a 1arefa
heróirn de iodo intelectual rebelde à tentativa de submeter o
pensamento a critérios estranhos ao seu domínio específico.
Liberar Marx dos marxistas é seguir-lhe o exemplo que, em
vida, êle deu. "Le marxisme n'est pas à revisei-'' disse Sartre,
certa vez, em carta a Garaucly. E acrescentava: "1.e marxisme
est à faire." E tinha ralão, porque de fato considera o marxis-
mo como "quadro formal do pensamento filosófico'', (13 ) !\las
a utilização concrew dêsse "quadro formal" <1ue passa por com;-
tiluir o marxismo é aberração, que lem largo efeito nod\'O à
inteligência no mundo de nossos dias. Na mesmõl carta, Sartre
reconhece que o marxismo "deixou-se gangrenar pelo posi1i-
vismo". E que positivismo! O mais sórdido que a história
dos íiltimos tempos 1em conhcciclo, porque fundado na ma-
quiavélica tentativa de substituir a razão filosófica pela razão
partidária. Defesa do revisionismo, sim. Não do revisionismo
entendido oomo volta a um horizonte cn1tural anterior a M;1rx,
por exemplo, como volta a Kant ou a Hegel. Revisionismo CO·
mo exercício da crítica, independen1e de todo critério .de con-
veniência, que não seja o da objetividade e da verdade.
141 :\TITO •: \'t:RIJADt: D.\ kt'.\'OLl!ÇÁO BRASILF.IRA
NOTAS
(1) Vide Leopold l ..nEDZ (edllor), Rn>i1io11i1m, F.MOJJ cm lhe 1li11ory o/ Mar·
:ri1u ld"'. Londres, 1961, pjg. 18.
(2) Vide ChriHlan GsEu.1111, "ffow 11 all Bcgan: Eduard Dl'Tns1cin", in RINi1ioni1111.
(li) IDEM, plgs. SS-39. E111 R.evisimiislfl, vide lambém o capliulo redigido por
7.bynek ZDIAf<, Fwm lhe Comm11nisl M•111i/rJ/o '" lhe D11rl1mllion o/ "li",
págs.IOJ.104.
(4) Con1ultc a colel.tnea dc arilgos de Lbm.:, C1m1t11 el Riroüioni1mo. Mmcou,
1959.
(!í) Sóbre Sullan G.1.1.no;v, •·ide E1pri1. N.~ 4, 1957.
(6) Vide LUKM~. ffi•loi" ti Co11~itnn de Clauc. Paris, 1960, p.;ig. 18.
(7)1DJ:)l,ptg.S7.
(8) IDr.M, plg. 37.
(9) IDEM, pág. 38.
(10) IHN,plg.44.
(li) Vide jean-Paul SA111a11, Criliq1111 dr /11 llaison Di1i1'diq11e. P;iri•, 1960, pAg. SS.
(12) Vide Wright M1u .., The A111rxi1ts. Ncw York, 1962, p.;ig. 11.
(13) Vido: Jo:an-Paul SA11111io.. ··~!antiame 0:1 l'llilosophit1 do: l"F.xislo:nc:c"", in Rogcr
GA11.l.UPV, Pt1rsJl«li1oe d11 r11amm11. Pari8, 1000. p~gii. 110.11s.
CAPÍTUI.O VI
Homem-Organização
e Homem-Parentético
A atitude parentético
O pensamento planificado
A imaginQfâo .sociol6gica
:tsse tipo de imaginação conferiu maturidade á Sociologia.
:~l!~~~: ªucs~mf;~~ ~;;rarop~f:~: a~e::~~I~~ ;:ln:.m_cl~I::~~
messa". A "promessa" da Sociologia é a de constituir-se num
saber liberador, consistente em possibilitar ao cidadão comum,
e não apenas aos especialistas, a qualidade mental que Mills
chama de "imaginação sociológica". Em meu livrn A lled11ção
Socioldgica (1958), publicado antes de The Soáologiral Imapi·
nalion (1959), de Mills, desenvolvi um pensamento muito afim
l·IO~U:,,HJR.CiA~IZAÇÂO 153
O honunn e o 7'obô
A normalidade patológica
Organizm;ão, problema
de teoria 1'evolucionária
NOTAS
(5) Vide Karl M"NNllllM, Lill,,r/11d 'J Pl1'"if~ió11 Sori11/. Mbico, UH6, pi(. 260.
(U)IDitu,p.1g.2!i!I.
(7) IDF.M, p;lg. 237.
(8) IOl.M, pig. 231.
(9) IDF.M, p~g. 216.
(10) Vide Wright M1u.s, Lo lm11gi1111ticl11 So,ioldgini. Mbico, 1961, ptx. 59.
(li) Vide Norberc WIP.NQ, Thtt H11ma1J u.,, o/ Human Bcings, Cybernetics and
SOCiety. New York, 19S4, p,g, UI.
(12)1na.r,pig. M.
(l!)IDEM,pqt.16·li.
(lf) "Meuages are themselYC!S a ronn of paucm and organlzation" (pllg. 21).
(15)1or.M:,plg.27.
(16) Vide William H. Wh)·le Jr., E/ Hambrt Organi1ttión. México, 1961, pllg. li.
(17)JDUl,ptg'.378.
(18) IDUI, P'gs. 386-387.
(19) IDEM, plg. 12.
(20) IDJiM, ptg. !110.
(21) Vide R.nbei1 M1mn ... Politirol P11rlies. The )'ra:: Pres. Glencoe, lllinob,
1949,p=ig.4.IM.
(22) lloben K.. Mf.Rnm, ''Burca11cr.uie Snucuu11 and Penonalit)"', in Robl'Tt
li.. Mr.aTOH e oUlros, Rnder in Bureauuacy. lllinnis, 19!i2.
(25) R. )hc11r.1.s, op. C'il., p;lg. 37.
(24) IDEM, JJ'g. 207.
(25) IDRM, p;lg. 228.
(26)lr1n1,p=IJ.401.
(27) U.NIN, A DoenfB iuf11nlil do '"E•q.,rrdiHNO" uo Comnnismo. Rio, 1960, p;lg. !il.
(211) lout, p:ig. <17.
(29) Consulle-sc ltlbre n :11-"U•Uo a nD\:lvel obra de Philip 51.U.'l;ICK, Tht1 OIJlll•
niz11fion1d Wupou. Illinois, 1960.
(JO) Vide Wrighl MILU, Thfl A/arxis/s, New York, 1002, p;ig. 308.
(51) Vide Luucs, lil•loil'fl fl/ Consrit1urt1 dt1 C/111M. Paris, 1960, p;'p. 335·336.
('2) lor.M, J>'g. ll&O.
(5') Con1ul1e La Nouwlk Rlfornte. 1957, n. 0 J.
(M) En1re os &Oclal-democra1as nclden1al1 corria, a rcspei10, a seguinte anedula,
depois da morte de l.ênin. t.ne, ao bater :I• por1as do Ct!u, é inquirido
por Slo P~ro: "Quem 1: voei i'" Responde Uniu: "Sou o juro da C11pi111/
de Maiii. Maiii e11;I. li çn1baixo e me balçU a. panas do inferno na çara."
l!.n1re os bolche~is1as, a anf;'d<Ha 1: CDnlada com a s11pn-u:llo da alus5o a
Marx. (Vidç Sidnçy HooK, O HrrOi mi Histdrlo. Rio, 1962..)
(35) Vide Mlchel Co1.1.111"r.T, Du Bokh.,•iJmfl, lttio/u1im1 ti VBri111ions lfu Mar.
•i1mt1-l.10ni11iJmfl. Paris, 19!i7, p;lg. 17.
(!6) Vide R.. M1c111.LS, op. n1., pq. 43.
(57) Vide Claude Lr.roar, "Organisa1ion ct Parll", in Snti11/iJIR# au llorb11rk.
1958.n.•26.
(38) Vicie Adolf Hnua, .Vi,,h• Lula, 5ao Pa11lo, 1!162, p;ig. 296.
CAPhuw vlf
Revolução Brasileira
ou Jornada de Otários?
E acrescentava:
"'Es1a gcn1e escreve ou rala por cscre\·e1· ou falar, niio li·
gtmdn, pensando que "polllica (: i3MI mesmo", nr.m $ilhem o
que dizem. Aos propagandislas marxistu, aqui, e5t:\ assim re-
servada, segundo parece, a trls!e sone do' rcpuhfüano' histó-
rico5. Serio tragados pela onda dos adesisras. Xiio lhe5 rcs1a,
por1a1110, se são ambiciosos, e desejam a glória ou o dumlnin,
senllo contramarchar ou parar. A 8Ua propawmcla é supérílua ...
Ao fazer1nos o maximalismo, entre nós. já n!lo haverá mais
conservadores.. Todo numdo ser;'\ maximalista." (12)
NOTAS
(1) Vide Nalhan A. ScmT, Jr., '"The Broken Cenler: ,\ Delinilioa nf lhe Cri~ll
in Modem Literamrc'", caplmlo de Rollo May (edilor), symboliJm in Re·
ligirm .rud Ll1ena1u..e. New York, 1960, p~g. 184.
(2) Vide Oi;ivio Tarqulnio de SouEA, llist6ri.r dos F1mdadoreJ do lmf"rio do
llruil. Vol. 1, }osl B011if1kio, Rio, 1957, J>llg. 251. Di• O. Tarqulnio de
Souza: ""Ganhar D. hdro ~ra a caullõl emancip.:ulnra pareceu com raZlo
ao grupo de pairiotu do Rio de janeiro da maior significaçto; teria dar
à revoluçlo da irulepeodência um carilrr nacional, TC•guardada a unidade
br.uilelra" (J>llg.161).
192 '.\flTO F. Vf.RDADE DA RP.VOLUÇÃO BRASILEIRA
....
(U) Vide Joaquim NAIUCll, Um E11adi1/a da l111J>hio. Tomo J, Rio, 1936, p'J.
A Filosofia do Guerreiro
sem Senso de Humor
Contradifão e magia
CRN é abundante em enunciados que se anulam reclpro·
camente. Diz-se aqui uma coisa e ali se diz o dito por não
dito. Vimos anteriormente como o Sr. AVP vê a nação superde-
senvolvida aprisionada na atitude ingênua. lsso não lhe impede
de afirmar exisLir uma correlação positiva entre desenvolvi-
mento e poder de objetividade. Na p:íg, 386, 2.0 vol., êle diz:
"A consciência do pais subdesenvolvido ~. por namreu.,
alienada."
Duas páginas adiante (pág. 388) afirma:
"A nac;lo desenvolvida é, por definição, dotada de cons·
cil'!ncia autl'!ntica."
Já agora mudou 180 graus o Sr. AVP. Se fôsse conseqüente
com o que escreveu à pág. 93 do I.º vol, já reproduzido, de-
veria afirmar que "a nação desenvolvida é, por definição, dota·
da de consciência ing!nua". Agora, porém, dá marcha à ré.
Escreve:
. . . só a oonscll'!ncia daqueles que pcrt~nccm ;b ci:1pas
mais avançadas do procc550 hist6rico universal, os expoentes da
cultura dos palses econõmicamente mais adiantados, para a
época considerada, têm condiçi!cs para representar com plena
veracidade o mundo real" (pág. 389 - 2.0 vol.).
Observe-se que o Sr. AVP diz que, "sendo atrasada a estru-
tura material" que serve de base "à consciência do país subde-
senvolvido", é esta consciência, por natureza, alienada (pág.
386 - 2.0 vol.). Por conseguinte, onde houver mais atraso ma.
terial, haverá mais alienação. Por exemplo, o Nordeste do Bra-
sil deveria ser, do ponto de vista da consciência coletiva, mais
retardado do que o Sul. Mas o Sr. AVP nega-se a si próprio:
"Nio tem sentido dizer que o Brasil adian1ado seja o do
1ul e o atrasado o do norte. Muito ao con1ririo, a rigor deve-
ria dizer.se que o Brasil adiantado, do ponto de vis1a da cons·
ciência nacional 1otal, tende a se encontrar em maior proporção
no Norte e no Nordeste, onde 1c estão gerando as condi~6cs de
um pensamenco renovador e revolucionário a1uantc, e por isso,
mais caracteri~do pelo sentido nacionalista. A menlalidade
nat:ionalis14 das regiões se1entrionai5 não se deve a rcslduos
coloniais, à reminisdncia de invaslies esuangeiras, ao primi·
tivismo da existl:ncia, mas exatamente ao progre"o da cons·
dilncia social, que, pelo mecanismo dialético jã apontado, se
m05tra mail adiantado ai do que nas áreas desenvolvidas"
(pig. 419 - 2.0 vol.), (O grifo é nosso - G. R.).
202 ~llTO F. \'t:RJ)ADF. DA u:vou:çÃo BRASILEJRA
Nacionalismo e alienação
como paradigma, Hegel, no caso. Aqui está uma das suas di-
versas proezas fraseológicas que nos remonta ao filósofo alemão:
"O ser alienado ~ aqu~le que nlo po55ui a sua essfocia
como falo alua!, mas lc:m de ad<111iri·la ao longo do seu processo
hiJtórico" (pág. 586 - 2.0 vol.).
Nacionalismo antioperário
O Sr. AVP é amador em prestidigitação. Como o Lógico d11
peça Rinoceronte, é capaz de demonstrar que um rnchorro é
um gato. Conhece o segrêdo de certos passes de m•ígica e aplica
bse conhecimento na sua teoria do nacionalismo. Assim, me-
diante desculpas esfarrapadas, procura ocultar o ~entido anli-
proletário de sua concepçio. Escreve o Sr. AVP:
'"Nio nos parece que tenhamos, por enquanl11. chegado a
uma e1apa de divido social de trabalho que permil;a a plena
aplicação do conceito de lula de classes, elevando-a à condição
de contradição social principal. No esiado de inicio de liberta-
ção do subdesenvolvimento a real dh·isão social do trabalho é
aquela que se d:I. entre o 1rabalho enl beneficio dos inle~s
internos do pais e o que é feito em provei10 dos exploradores
c<11Tangciros em regime imperialisla e colonial. Db1c ângulo
é que cnnv(!m apreciar a dM5lio e1n c:Jasses, sem dúvida presente
na sucied:ule subdesenrnlvida, mas é a primeira das divisõC$
apontadas que constitui 110 nmmcnlo a contradição do processo,
seu cuno se encaminha 1mra fases superiores, onde lerá vigi.ln-
cia prepoderanle a divisão cm classes segundo a modalidade
da expropriação do nabalho das ma55as por um grupo p1W111itlo1·
do capital.
Muit05 crilic05 e examinadorc5 dos lat05 sociais e1n 00550
meio deixam-se enganar por falta de suficiente percepção dêsre
fcnômeno de fase. Sem d1\vida é llci10 raciocinar cm tl-rmos de
rfgida conccpçio de lma de classes, e 11111i1as vl:zes com isso
se esclarecem aspcc:tos reais dos problemas, mas é preciso nllo
esquecer que não devem05 precipitar a aplic:ação de tal esquema.
quando as divergl:nda5 sociais são de uma ccono1nia ainda
primitiva e sujeita ao regi1nc de pressão e espolhu;ão externa,
que subverte os modelos habituais na 1it11ação metropolitana,
obrigando-nos a desc:obrir, por indução, quais os elementos que
compõcin no momcnco a contradição principal da nossa reali·
dadc"" (pág. ll.'i8 - 2.0 ,·oJ.).
Proclama-se ai incompatibilidade entre a "concepção ele
luta de classes" e o reconhecimento eventual de existência de
uma contradição principal. Não sabe o Sr. AVP que essa con-
cepção tem caráter metodológico. t. procedimento metodoló-
gico que serve para aclarar as relações sociais vigentes em qual-
quer (ase, no passado, no presente, no futuro. A classe operd-
ria jamais poderia deixar de lado esta concepção, em favor do
ponto de vista da nação, porque, dêste modo, se exporia à
mistificação e postergação de seus intcrêsses. Ademais, é à luz
da conrepção de luta de classes, que a dasse operária pode
determinar, segundo suas rnm·eniências, os têrmos ela união
A J'IU>SOl'IA l>O GI ·•:RREIRO 207
O riso é o limite
A consci.b&cia crítica
e a crise de uma consciência
Nacionalülade e totalülade
NOTAS
Trabalhismo e Marxismo-Leninismo
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