Texto 1 - O Que É Texto
Texto 1 - O Que É Texto
Texto 1 - O Que É Texto
1. O que é texto
Para nos comunicarmos, recorremos a textos cuja linguagem se apresenta de forma verbal (textos produzidos por
meio do uso das palavras de uma língua, no nosso caso a língua portuguesa) ou não verbal (uso de cores, desenhos,
imagem, gestos, expressões fisionômicas, sons, etc.). Sem texto, não há comunicação. Sob esse ponto de vista, texto é
a unidade básica de comunicação.
Uma palavra, uma frase, um parágrafo – ou mesmo imagens – por si sós não constituem textos se não estiverem
inseridos em uma situação de comunicação. Tome-se, como exemplo, a interjeição oi. Isolada, ela não é um texto. Mas,
se alguém diz oi ao encontrar um amigo em determinado lugar, a interjeição pode revelar certa intenção comunicativa:
cumprimentar, por exemplo. Se alguém nos chama pelo nosso nome e respondermos com um simples oi, pode revelar
outra intenção comunicativa: a intenção de que estamos atentos à conversa e dispostos a ouvir o que a pessoa tem a nos
dizer. Dessa forma, a existência do texto depende de uma cena enunciativa, composta dos seguintes elementos: o
enunciador (produtor do texto), que tem uma intenção comunicativa determinada (cumprimentar, interagir, convencer,
informar, emocionar, confundir...); o(s) coenunciador(es) [ouvinte(s)/leitor(es), alvo(s) da intenção comunicativa do
enunciador; e uma situação de enunciação – tempo e lugar concretos em que ocorre a produção do texto.
A comunicação escrita dependeu da invenção da linguagem, primeiro gestual e, depois, oral. Essa trajetória levou
milhares de anos e, antes disso, outros modos de comunicação foram experimentados, como, por exemplo, a utilização
da luz da fogueira, do som dos tambores e de desenhos, como as pinturas rupestres.
Geralmente, encontradas em pedras e cavernas, essas pinturas tornaram-se as
principais fontes do conhecimento que temos hoje acerca do modo de vida de nossos
ancestrais. Esses registros narram a história de seus autores, são sua biografia. Se
observarmos com cuidado a figura ao lado, percebemos que os desenhos representam
uma situação (cena enunciativa) vivenciada pelo seu produtor (enunciador) que desejou
contar para alguém (coenunciador) sua história, ou seja, é um texto.
Veja ainda no enunciado “Que belo dia!”, sem se levar em conta o contexto, não
se pode explicar o sentido desta frase. Poderia se imaginar que ela poderia se referir a
um dia agradável, que a rotina flui sem imprevistos, ou poderia ter sido dita por alguém
que ganhou na loteria. Não se sabe a que contexto se refere, se a um dia de sol após um
período chuvoso ou se é um dia de chuva após meses de sol escaldante. Como não foi apresentada a situação em que
esse enunciado foi proferido, há várias possibilidades de sentido nesta frase. Observe agora a seguinte situação: Marcos
acordou atrasado para o trabalho, tomou um ônibus lotado que quebrou durante o trajeto. Ele tomou um táxi para não se
atrasar tanto, mas teve de descer a três quarteirões do edifício onde trabalhava, pois, como chovia muito, uma árvore
caída na pista impedia a passagem de veículos. Chegou ao trabalho atrasado em uma hora e meia. Ofegante e nervoso,
ele brada: “Que belo dia!” (Nessa circunstância, essa mesma ocorrência equivale a: “Que dia horrível!”).
Conforme os exemplos acima, podemos observar que o texto não tem extensão predeterminada. Pode ser
constituído por uma palavra ou por milhares, tanto por uma só imagem quanto por uma série delas, articuladas entre si. O
texto verbal pode, pois, ser definido como uma “ocorrência linguística falada ou escrita, de qualquer extensão, dotada de
unidade sociocomunicativa, semântica e formal”.
Unidade sociocomunicativa
O texto é uma unidade de linguagem em uso e cumpre uma função que pode ser identificada num determinado
ato sociocomunicativo. Dessa forma, há uma série de fatores que são fundamentais para a construção do sentido do
texto: as intenções do produtor; a imagem que cada um constrói de si, do outro e do outro com relação a si mesmo e ao
tema do discurso; o fato de, na comunicação face a face, os interlocutores compartilharem o mesmo espaço de
percepção visual e acústica; e o contexto sociocultural no qual o discurso está inserido.
Unidade semântica
Para ser considerada texto, a ocorrência linguística precisa ser percebida pelo ouvinte/leitor como um todo
significativo, ou seja, precisa ter coerência. Ao ouvir a ocorrência “Eu amo sorvete. Perto de minha casa há um açougue.
Às vezes fico cansada, Meus amigos saem para passear”, o ouvinte depreende apenas um amontoado aleatório de
frases, não há uma progressão lógica e ordenada de ideias, portanto esse conjunto desordenado não é um texto.
Observe a próxima sequência: “Eu amo sorvete e perto de minha casa há uma sorveteria, que fica ao lado de um
açougue. Aos domingos, quando meus amigos saem para passear, costumam passar em minha casa. E, então, se me
convidam para ir até lá, mesmo que eu esteja muito cansada, não recuso o convite”. Observe que agora sim, temos um
conjunto organizado de frases que mantêm uma relação lógica e ordenada. Existe uma correlação entre as partes, há
coerência de argumentos, independentemente da simplicidade da mensagem, é um texto.
Unidade formal
A ocorrência do texto também depende da unidade formal, material, isto é, seus constituintes linguísticos devem
estar integrados de tal forma que o texto seja reconhecido como um todo coeso. Na frase _ ...sendo este domingo de
páscoa, pediremos à senhora Jandira que ponha um ovo no altar diante de todos os fiéis, para evitar a leitura absurda e
engraçada, seria necessário especificar de que ovo se está falando, no caso, e, preferivelmente, substituir o verbo “por”
por colocar, por exemplo: _ ...sendo este domingo de páscoa, pediremos à senhora Jandira que coloque um ovo no altar
diante de todos os fiéis. Ficaria bem melhor, não?
Competência linguística
Sem conhecer a língua, o enunciador não produzirá textos. Ele precisa compreender o funcionamento interno do
idioma: saber encadear orações, estabelecer a concordância devida entre as palavras, usar corretamente as convenções
ortográficas, pontuar de forma coerente, ter um bom vocabulário etc. O modo de dizer confere confiabilidade ao que se
diz. Se a competência linguística não for suficientemente desenvolvida, o enunciador ficará impossibilitado (ou terá
dificuldade) de produzir textos que requeiram construções sintáticas mais complexas.
Considere a seguinte situação comunicativa: Com a finalidade de anunciar seus produtos agroalimentares, seu José,
pequeno agricultor com Ensino Fundamental I incompleto, produziu o texto abaixo e o afixou em frente a sua quitanda.
Competência enciclopédica
A competência linguística é básica. Mas, se o enunciador não estiver suficientemente informado sobre o tema
(referente da mensagem) a ser desenvolvido, o texto pode se tornar redundante ou até mesmo incoerente. A
competência enciclopédica diz respeito ao conhecimento de mundo que o enunciador possui. Ela é imprescindível à
produção de textos. Observe o texto abaixo:
Desperdício de alimentos
O desperdício de alimentos é um problema mundial. Em todos os países as pessoas jogam fora comida que
poderia ser reaproveitada. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de um terço de todo
alimento produzido no planeta vai direto para o lixo, não é reaproveitado. No Brasil, o desperdício é considerado
alto, aproximadamente 64% do plantio é perdido ao longo da produção, além disso, a maioria da população não se
preocupa com o desperdício de comida. Logo não há nenhuma inciativa por parte da população para reduzir esse
desperdício.
(Texto adaptado para esta atividade)
Fazendo uma leitura atenta do texto acima, observamos uma repetição desnecessária de ideias, o que
compromete a progressão textual, responsável pelo desenvolvimento das informações que dizem respeito ao tema
abordado.
Conforme nosso conhecimento sobre competência enciclopédica, podemos constatar, pois, que o produtor
desse texto apresenta limitações nessa competência.
Competência comunicativa
Mesmo que o enunciador tenha competência linguística e competência enciclopédica, não se pode garantir que o
texto produzido cumpra o objetivo determinado. O enunciador precisa ter também competência comunicativa: fazer-se
entender pelo(s) ouvinte(s)/leitor(es), considerando a intenção comunicativa do produtor.
Essa competência diz respeito à capacidade de o enunciador adequar o texto à situação comunicativa, à imagem
que ele faz do(s) coenunciador(es) e ao gênero textual; bem como à capacidade do enunciador de articular
adequadamente os elementos constituintes do texto.
Ainda que o enunciador e o tema sejam os mesmos, uma palestra sobre dengue proferida para uma comunidade
de bairro, no clube de mães de um subúrbio, será diferente de uma outra palestra proferida para médicos especialistas
em doenças infectocontagiosas, no auditório da Secretaria Estadual de Saúde. Assim o enunciador adequa a linguagem
à situação de comunicação, ao coenunciador e ao gênero textual.
Leia atentamente o texto a seguir:
3. A leitura do texto
A leitura é uma atividade altamente complexa de produção de sentidos que se realiza com base nos elementos
linguísticos presentes na superfície textual, no gênero textual, na temática, na data de publicação, no meio de veiculação,
no contexto, no uso de estratégias (como inferências sobre o texto), etc.; o leitor deve ainda considerar seus objetivos,
seus conhecimentos, o ambiente, a situação pragmática. Ler, requer, enfim, a mobilização de um vasto conjunto de
saberes. Segundo Koch (2002), para atribuir sentido a um texto, o leitor recorre a três grandes sistemas de
conhecimento: o linguístico, o enciclopédico e o interacional.
Portanto, ao considerar todos os elementos, recursos, estratégias e conhecimentos disponíveis, o leitor
competente deve, no mínimo:
• Identificar a “chave de leitura” do texto (se ela se encontra na relação com outros textos, se no título, se na
interpretação do sentido figurado...);
• Resgatar a intenção comunicativa presente no texto (convencer o(s) coenunciador(es) de que...; informar o(s)
coenunciador(es) de que...);
• Investigar se todas as partes do texto convergem para a intenção comunicativa e se não há contradição entre as
informações apresentadas pelo enunciador;
• Posicionar-se em relação ao que o enunciador declara (se concorda com ele, discorda dele, considera-o muito
conservador, avançado...);
• Avaliar a adequação do texto à situação de enunciação e ao(s) suposto(s) coenunciador(es) (se o registro de
linguagem e o grau de informatividade estão adequados, por exemplo).
4. Gênero textual
Gênero textual é a expressão que utilizamos ao nos referir aos textos formalizados que encontramos no
cotidiano e que apresentam características sociais e comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais,
estilo e composição específicos.
Há muitos gêneros textuais. Eles surgem em função de cenas enunciativas novas (o e-mail, conversas no “What
App” eram inconcebíveis há sessenta anos); desaparecem quando a cena enunciativa em que foram produzidos não
existe mais (a carta de alforria, por exemplo); podem sofrer transformações no decorrer do tempo (diário das
adolescentes, por exemplo); ou até estabelecerem relações interdiscursivas entre si (o poema sob a forma de receita
culinária, por exemplo).
O conhecimento sobre gêneros é fundamental para a prática de leitura e de produção de textos, uma vez que o
texto se apresenta sempre sob a forma de um gênero específico. O acesso a esse conhecimento, no entanto, é mais
prático que teórico. Será, portanto, o exercício da leitura constante de gêneros variados (editoriais, notas, notícias,
reportagens, crônicas, contos, propagandas, propagandas publicitárias, enquetes, entrevistas, tirinhas, charges,
cartuns...) um dos responsáveis pelo aprimoramento da competência comunicativa do produtor de textos, sejam eles
orais ou escritos.
Os gêneros textuais se caracterizam muito mais por suas funções comunicativas que por suas peculiaridades
linguísticas e estruturais, ou seja, são atividades comunicativas que estão submetidas a várias condições de êxito. Essas
condições envolvem elementos de ordens diversas, apresentadas a seguir.
Um suporte material
Um texto pode passar somente por ondas sonoras (oralidade), ser manuscrito, impresso. Porém os gêneros que
surgiram no último século, no contexto das mais diversas mídias, criam formas comunicativas próprias com um
hibridismo que desafia as relações entre oralidade e escrita. Esses gêneros permitem maior integração entre signos
verbais, sons, imagens e formas em movimento. A linguagem se torna, assim, cada vez mais flexível.
Os gêneros se definem principalmente por aspectos sóciocomunicativos e funcionais, mas haverá casos em que
o suporte determinará o gênero textual. Portanto, o suporte não é um simples meio para transportar uma mensagem; ele
pode modificar radicalmente um gênero textual: um texto publicado numa revista científica constitui o gênero denominado
“artigo científico”, mas o mesmo texto publicado num jornal diário será “artigo de divulgação científica”.
SEQUÊNCIA NARRATIVA: marcada pela temporalidade. Como seu material é o fato e a ação, a progressão temporal é
essencial para seu desenrolar, ou seja, desenvolve-se necessariamente numa linha de tempo e num determinado
espaço. Gramaticalmente, percebe-se o predomínio de frases verbais indicando um processo ou ação; predomínio do
tempo passado; advérbios de tempo e de lugar. São exemplos de gêneros em que prevalece a sequência narrativa:
relato, crônica, romance, fábula, conto, piada, etc. A narrativa deve tentar elucidar os acontecimentos, respondendo às
seguintes perguntas essenciais:
SEQUÊNCIA DESCRITIVA: nesse tipo de sequência, não há sucessão de acontecimentos no tempo, de sorte que não
haverá transformações de estado da pessoa, coisa ou ambiente que está sendo descrito, mas sim a apresentação pura e
simples do estado do ser descrito em um determinado momento. Gramaticalmente, percebe-se o predomínio das frases
nominais, de orações centradas em predicados nominais; prevalecem formas verbais no presente ou no imperfeito.
Exemplos: folheto turístico, autorretrato, anúncio classificado, lista de compras, cardápio, etc.
A natureza
A árvore é grande, com tronco grosso e galhos longos. É cheia de cores, pois tem o marrom, o verde, o vermelho
das flores e até um ninho de passarinhos. O rio espesso com suas águas barrentas desliza lento por entre pedras
polidas pelos ventos e gastas pelo tempo.
SEQUÊNCIA DIALOGAL: caracteriza-se como uma sucessão de trocas de falas (turnos conversacionais), que se
apresenta de forma hierarquizada e coordenada. São exemplos de gêneros em que predomina a sequência dialogal:
diálogos, entrevistas, peças teatrais, autos, etc.
João Grilo: Não vai benzer? Por quê? Que é que um cachorro tem demais?
Chicó: Não vejo nada demais, é que esse povo é cheio de coisas. Eu mesmo já tive um cavalo bento.
João Grilo: Que é isso Chicó? (passa o dedo na garganta). Já estou ficando por aqui com suas histórias. É sempre
uma coisa toda esquisita. Quando se pede uma explicação, vem sempre com “não sei, só sei que foi assim”.
Chicó: Mas eu tive mesmo um cavalo, meu filho, o que é que vou fazer? Vou mentir, dizer que não tive?
João Grilo: É por isso que o povo diz que você é sem confiança, Chico.
(Trecho da obra “Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna)
SEQUÊNCIA ARGUMENTATIVA: é aquela em que se faz a defesa de um ponto de vista, de uma ideia, ou em que se
questiona algum fato. Exemplos: artigo de opinião, sermão, ensaio, editorial de jornal ou revista, crítica, monografia,
redações dissertativas, etc.
Texto científico
O texto científico deve apresentar frases curtas com linguagem clara, precisa, evitando-se adjetivos e advérbios
em excesso, pois o abuso do emprego de adjetivos e advérbios causa ao leitor perda do foco principal do texto,
prejudicando, por conseguinte, a compreensão exata do que o autor quer transmitir.
SEQUÊNCIA EXPLICATIVA OU EXPOSITIVA: intenta explicar ou dar informações a respeito de alguma coisa. O
objetivo é fazer com que o interlocutor/leitor adquira um saber, um conhecimento que até então não tinha. Os textos
explicativos tratam da identificação de fenômenos, de conceitos, de definições como, por exemplo, textos de divulgação
científica, de manuais, de revistas especializadas, de cadernos de jornais, de livros didáticos, de verbetes de dicionários
e enciclopédias, etc.
Toque de organização
LIMPEZA
1. Se durante o cozimento um alimento (massas, batatas, arroz) deixar manchas na parte interna, passe um pano com vinagre ou
suco de limão na hora da limpeza.
2. Nunca use colheres ou espátulas de metal para remover resíduos ou alimentos que acidentalmente tenham grudado. Isso
poderá remover a camada protetora que impede que metais passem para a comida. Encha a panela com uma solução de água
morna e vinagre até que o alimento desprenda.
3. Para manter a panela de aço inox sempre bonita e com brilho lave somente com detergente e esponja não abrasiva.
4. O cloro e algumas substâncias presentes na água podem deixar manchas na panela: finalize a lavagem, enxágue com água
quente e seque em seguida para conservar a panela com o brilho original.
Referências
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. p. 277-287. (Coleção Ensino Superior).
KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006
MAINGUENEAU, D. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2001.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela Paiva; MACHADO,
Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora (org.). Gêneros textuais e ensino. 2. ed. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p.
19-36.
VAL COSTA, Maria das Graças. Redação e textualidade. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. (Coleção Texto e
linguagem).
TERRA, Ernani; NICOLA, José de. Português: de olho no mundo do trabalho. 2. ed. São Paulo: Scipione, 2008.